rudolf steiner - a ciência oculta

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A ciência oculta

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9Rudolf SteinerA Cincia OcultaEsboo de uma cosmoviso supra-sensorial4 edioTraduo:Rudolf LanzJacira CardosoNota quarta edio brasileiraDecorridos quinze anos da primeira edio deste livro em portugus, pareceu-nos oportuno proceder a uma detalhada reelaborao da traduo, remanescente dos primeiros esforos para propiciar ao pblico leitor brasileiro o contato com a vasta e significativa obra de Rudolf Steiner. Tendo sido este o ttulo inaugural de nossas publicaes, coube-lhe tambm refletir a primeira e difcil tentativa de verter para o nosso idioma a linguagem reveladora da Antroposofia, que tambm em seu idioma original o alemo decorre em inusitadas e complexas construes lingsticas. Aps os incontveis ttulos subseqentes que hoje integram nossa j razovel produo editorial, cremos ser boa hora para conferir quarta edio deste texto o cunho de uma longa experincia adquirida no trabalho com as sucessivas tradues das obras do Autor. Uma formulao mais fluente, uma terminologia j unificada para certas expresses exclusivas da conceituao antroposfica, notas explicativas de fatos ou nomes estranhos nossa poca ou universo cultural, so resultados que buscamos oferecer nesta nova verso ora apresentada.Trs outros procedimentos vm acrescentar-se ao j exposto: o primeiro a substituio de palavras ou expresses de acordo com a trigsma edio revista do original em alemo (1989), cujas modificaes relativas a edies anteriores consignamos, para efeito informativo, em notas de rodap; o segundo a subdiviso de certos pargrafos excessivamente longos, bem como dos dois maiores captulos do livro assim estruturados pelo Autor nos pontos onde nos pareceu aceitvel faz-lo para facilitar e balizar a leitura; e o terceiro o acrscimo, no final do livro, de um quadro sinptico das hierarquias espirituais mencionadas no captulo A evoluo do Universo e o homem.E assim uma vez mais, cnscios de nossa grande responsabilidade, e conforme expressou o tradutor em nossa primeira edio, colocamos A Cincia Oculta nas mos dos que, por seu destino, sero seus leitores.A editoraObservaes preliminares primeira edio [do original]Quem publica um livro como este deve ser capaz de imaginar com serenidade toda espcie de crtica possvel, na atualidade, s suas exposies. Poderia acontecer, por exemplo, de algum comear a ler a presente explicao deste ou daquele assunto, j tendo sobre ele idias concebidas segundo os resultados da investigao cientfica, e chegar seguinte concluso: surpreendente como tais afirmaes so possveis em nossa poca. A forma como o autor maneja os conceitos mais simples das Cincias Naturais revela um ignorncia inconcebvel, mesmo das noes mais elementares. Ele emprega conceitos, como por exemplo o de calor, de um modo tpico de quem no teve contato algum com as concepes da Fsica contempornea. Bastaria algum conhecer rudimentos dessa cincia para demonstrar-lhe que suas teorias nem ao menos merecem a qualificao de dilentatismo, mas somente a de ignorncia absoluta. Muitos outros julgamentos desse tipo poderiam ser citados. Mas tambm se poderia chegar, segundo as declaraes acima, a uma concluso como a seguinte: Quem leu algumas pginas deste livro poder, conforme seu temperamento, coloc-lo de lado com um sorriso ou indignao e dizer: realmente estranho a que aberraes pode conduzir, hoje em dia, um modo equivocado de pensar. O melhor ser arquivar estas consideraes entre muitas outras curiosidades com que nos deparamos hoje em dia.Ora, o que dir o autor deste livro diante da possibilidade de realmente sofre tal ctica? No dever simplesmente, a partir de seu ponto de vista, considerar o crtico um leitor incompetente ou desprovido de boa vontade para chegar a um juzo compreensivo? A isso cabe a seguinte resposta: No, absolutamente o autor nem sempre faz isso. Ele pode muito bem imaginar que seu crtico seja uma personalidade muito inteligente, at mesmo um cientista capaz, que forme seus juzos de maneira bastante conscienciosa pois ele prprio, o autor, est em condies de colocar-se mentalmente no lugar desse crtico e compreender os motivos que o levariam a tal julgamento.Para tornar realmente compreensvel o que desejamos comunicar, julgamos necessrio algo que a ns mesmos parece descabido no geral, mas que justamente neste livro encontra motivo imperioso: falar sobre um assunto pessoal. Em verdade, nesse sentido nada ser exposto que no se relacione com a deciso de escrever esta obra. O que aqui se diz no teria, certamente, qualquer razo de ser se contivesse apenas um carter pessoal. Este livro deve conter exposies a que todo ser humano possa ter acesso, e de uma forma a ser evitado, na medida do possvel, qualquer matiz pessoal. Portanto, nesse sentido o elemento pessoal no deve ser considerado; s cabe relacion-lo com a inteno de esclarecer como o autor pode achar compreensvel a mencionada crtica s suas exposies e, mesmo assim, escrever esta obra. Na verdade, haveria uma possibilidade de tornar suprflua a exposio de tal aspecto pessoal: ressaltar todos os pormenores que evidenciassem como, na realidade, a exposio contida neste livro coincide com todos os progressos da cincia contempornea. Para isso, no entanto, seriam necessrios muitos volumes introdutrios; e como essa uma tarefa inexeqvel no momento, parece-nos necessrio dizer por quais circunstncias pessoais nos sentimos autorizados a considerar, de maneira satisfatria, tal coincidncia como possvel.Certamente nunca nos teramos proposto publicar o que, por exemplo, expomos neste livro acerca dos processos calricos, caso no pudssemos afirmar o seguinte: h mais de trinta anos, tivemos condies de dedicar-nos a um estudo da Fsica em seus diversos mbitos. No domnio dos fenmenos calricos, nessa poca ocupavam o ponto central as explicaes relativas chamada teoria mecnica do calor. E essa teoria mecnica do calor nos interessou de modo especial. A evoluo histrica das interpretaes pertinentes ao assunto, ligada ento a nomes como Julius Robert Mayer, Helmholtz, Joule, Clausius, etc. Julius Robert von Mayer (18141878), mdico e fsico, descobridor da lei da conservao da energia; Hermann von Helmholz (18211894) terico pioneiro da medicina, anatomista, fisilogo e fisico; James Prescott Joule (18181889), fisico ingls que determinou, entre outras coisas, a quantidade de calor produzido pelo trabalho mecnico; Rudolf Emanuel Clausius (18221910), fsico, fundador da teoria mecnica do calor. (N.E. orig.), fez parte de nossos contnuos estudos. Com isso criamos, nessa poca, a base e a possibilidade suficientes para continuar acompanhando de perto, at hoje, todos os efetivos progressos no domnio da teoria do calor, sem encontrar quaisquer dificuldades ao tentar penetrar em tudo o que a cincia realiza nesse campo. Se tivssemos de constatar nossa incapacidade para faz-lo, isso seria uma razo para nos abstermos de dizer ou escrever os assuntos expostos no livro. Ns nos impusemos realmente o lema de dizer ou escrever, no mbito da Cincia Espiritual, somente aquilo a cujo respeito tambm soubssemos falar satisfatoriamente no sentido da cincia atual.Com isso no desejamos, em absoluto, exprimir algo que seja uma exigncia genrica para todos os homens. Toda pessoa pode, com razo, sentir-se impelida a comunicar e publicar aquilo que esteja afeito ao seu prprio discernimento, seu sadio sentido da verdade e seu sentimento, mesmo ignorando o ponto de vista da cincia contempornea sobre o assunto. S que o autor deste livro prefere manter-se na atitude referida acima. Ele poderia, por exemplo, no ter escrito as poucas linhas relativas ao sistema glandular ou ao sistema nervoso humano, aqui contidas, se no estivesse em condies de procurar dissertar sobre esses temas da mesma forma como o faria um naturalista contemporneo, do ponto de vista cientfico.Portanto, embora seja possvel julgar que quem fala de calor, do modo como ocorre aqui, ignore os princpios da Fsica atual, certo que este autor se considera plenamente autorizado a proceder como fez porque realmente se esforou em conhecer a pesquisa contempornea, e porque teria desistido de seu intento se esta lhe fosse estranha. Ele sabe o quanto o motivo de seu mencionado lema pode facilmente ser confundido com imodstia. No entanto, com referncia a este livro necessrio dizer tais coisas, para que nossos verdadeiros motivos no se confundam com outros motivos inteiramente diversos sendo que essa confuso poderia ser muito pior do que a da imodstia.Ora, tambm de um ponto de vista filosfico seria possvel um julgamento, formulado da seguinte maneira: Quem ler este livro como filsofo perguntar a si prprio: Ser que o autor ignorou todo o trabalho gnosiolgico de nossa poca? No ter percebido que existiu um Kant Immanuel Kant (17241804), filsofo. (N.E.) e que, segundo este, filosoficamente inadmissvel dizer tal tipo de coisas? E assim se poderia prosseguir nessa direo. Porm a crtica tambm poderia concluir deste modo: Para um filsofo, tais disparates sem sentido crtico, ingnuos e leigos so insuportveis, e aprofundar-se neles seria perda de tempo.Pelo mesmo motivo citado acima, apesar de todos os mal-entendidos que possamos acarretar, tambm aqui preferimos apresentar algo pessoal. Nosso estudo de Kant teve incio aos dezesseis anos; e hoje realmente acreditamos poder julgar bem objetivamente, do ponto de vista de Kant, todo o contedo do presente livro. Ainda sob esse aspecto, teramos tido motivo para deixar de escrev-lo caso ignorssemos o que impele um filsofo a consider-lo ingnuo ao aplicar o critrio da atualidade. Contudo, sabemos muito bem como, no sentido de Kant, aqui se transcendem todos os limites de um conhecimento possvel; podemos imaginar como Herbart Johann Friedrich Herbart (17761841), filsofo e influente pedagogo. (N.E. orig.) consideraria isto um realismo ingnuo que no chegou elaborao dos conceitos, etc., etc.; possvel at sabermos como o pragmatismo moderno de um James William James (18421910), americano; psiclogo, filsofo e psiclogo da religio, fundador do pragmatismo. (N.E. orig.), de um Schiller Ferdinand Canning Scott Schiller (.18641937), filsofo ingls, ligou o pragmatismo ao humanismo. (N.E. orig.), etc. teria considerado ultrapassada [aqui] a medida das verdadeiras representaes mentais que podemos tornar prprias, valorizar, pr em vigor e verificar. Algum pode at mesmo ter-se dedicado seriamente ao estudo da filosofia do Como se [Als ob, de Hans Vaihinger (18521933)], ao bergsonisnio [escola filosfica de Henri Bergson (18591941)] e Crtica da linguagem [Kritik der Sprache, de Fritz Mauthner (18491923)]. (N.A. 4. ed. orig., 1913.) Algum pode saber tudo isso e, mesmo assim, ou justamente por causa disso, pode considerar-se autorizado a escrever as presentes explanaes. O autor deste livro se ocupou com as correntes do pensamento filosfico em seus livros Erkenntnistheorie der Goetheschen Weltanschauung [Gnosiologia da cosmoviso goethiana] Ed. bras. sob o ttulo Linhas bsicas para uma teoria do conhecimento na cosmoviso de Gethe, trad. Bruno Callegaro (So Paulo: Antroposfica, 1986). (N.E.), Verdade e cincia Ed. bras. trad. Rudolf Lanz (So Paulo: Antroposfica, 1985). (N.E.) , A filosofia da liberdade Ed. bras. trad. Alcides Grandisoli (2. ed. So Paulo: Antroposfica, 1988). (N.E.), Goethes Weltanschauung [A cosmoviso goethiana] 1. ed. 1897. Atualmente GA-Nr. 6 [8. ed. Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1990].(N.E. orig.), Welt-und Lebensanschauungen im neunzehnten Jahrhundert [Concepes do mundo e da vida no sculo XIX] 1. ed. 2 vol. (19001901). Ed. ampliada sob o ttulo Die Rtsel der Philosophie in ihrer Geschichte als Umriss dargestellt, 2 vols. (1914). Atualmente GA-Nr. 18 [9. ed. Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1985]. (N.E. orig.) e Die Rtsel der Philosophie [Os enigmas da Filosofia]. Obra mencionada a partir da 7. ed. orig., 1920. [V. n. 11.] (N.E. orig.)Muitos tipos de crticas possveis ainda poderiam ser citados. Pode tambm existir algum que, tendo lido uma de nossas primeiras obras por exemplo, Welt- und Lebensanschauungen im neunzehnten Jahrhundert ou nosso pequeno livro Haeckel und seine Gegner [Haeckel e seus oponentes] 1. ed. 1900. Atualmente em Methodische Grundlagen der Anthroposophie 1884 1901, GA-Nr. 30 [3. ed. Dornach: Rudolf Steiner Verlag, 1989]. (N.E. orig.), diga a si mesmo: verdadeiramente inconcebvel que a mesma pessoa tenha escrito esses livros e tambm, alm da j publicada obra Teosofia Ed. brasileira trad. Daniel Brilhante de Brito (5. ed. So Paulo: Antroposfica, 1996). (N.E.), agora esta. Como possvel, de um lado, tomar a defesa de Haeckel Ernst Haeckel (18341919), cientista natural continuador da teoria evolucionista de Darwin. (N.E.) e, de outro, dar uma bofetada no monismo sadio decorrente de suas pesquisas? Seria compreensvel que o autor desta Cincia Oculta arremetesse contra Haeckel a ferro e a fogo; mas que o tenha defendido e at lhe dedicado sua obra Welt- und Lebensanschauungen im neunzehnten Jahrhundert , seguramente, a coisa mais monstruosa que algum possa imaginar. Haeckel teria declinado dessa dedicatria com inconfundvel averso se soubesse que um dia o oferente escreveria um disparate como o que contm esta Cincia Oculta, com seu dualismo mais do que grosseiro.Ora, ns opinamos que possvel compreender muito bem Haeckel sem precisar acreditar que sua compreenso s seja vivel quando se qualifica como absurdo tudo o que no decorra de suas concepes e hipteses. Alm disso, somos da opinio de que no se chega compreenso de Haeckel combatendo-o a ferro e a fogo, e sim estudando o que ele proporcionou cincia. E acreditamos ainda menos na razo daqueles contra os quais defendemos o grande naturalista em seu livro Haeckel und seine Gegner. Realmente, quando transcendemos as premissas de Haeckel e estabelecemos uma concepo espiritual do Universo ao lado da concepo meramente naturalista de Haeckel, isto no significa que compartilhemos da opinio de seus oponentes. Quem se esforar em ver o assunto corretamente j poder perceber a concordncia entre nossos escritos anteriores e os atuais.Tambm nos parece totalmente compreensvel que algum crtico considere, sem mais nem menos, o contedo deste livro como efuses de uma fantasia exaltada ou como um jogo visionrio de conceitos. No entanto, o que cabe dizer a esse respeito est contido no prprio livro. Nele se evidencia como o pensamento racional pode e deve ser, em total medida, a pedra-de-toque do que foi exposto. Somente quem examinar este contedo racionalmente, do mesmo modo como costuma analisar objetivamente os fatos da Cincia Natural, poder decidir o que diz a razo em tal anlise.Aps tantos comentrios sobre as pessoas que primeira vista poderiam repudiar este livro, seja-nos permitido dizer algumas palavras acerca das que tm motivos para aprov-lo. Para elas, o essencial est contido no primeiro captulo, O carter da Cincia Oculta; porm aqui devemos acrescentar algo mais. Embora o livro se ocupe com pesquisas no verificveis pelo intelecto ligado ao mundo sensrio, nada se expe que no possa ser comprovado pela razo imparcial e pelo sentido sadio da verdade de qualquer pessoa disposta a fazer uso de tais faculdades. Este autor afirma sem rodeios: ele prefere sobretudo leitores que no aceitem o presente contedo com uma f cega, e sim que se esforcem para comprov-lo valendo-se dos conhecimentos da prpria alma e das experincias da prpria vida. Referimo-nos no apenas comprovao cientfico-espiritual pelos mtodos de investigao supra-sensvel, mas principalmente comprovao inteiramente possvel por meio do pensamento e do senso comum sadios e imparciais. [NA. 4.ed.orig., 1913.] Ele gostaria de ter principalmente leitores precavidos, que s reconheam argumentos com justificao lgica. Sabe que seu livro no teria qualquer valor se contasse apenas com a f cega, sendo til somente na medida em que possa justificar-se ante um critrio imparcial. A f cega pode confundir muito facilmente a insensatez e a superstio com a verdade. Algumas pessoas que de bom grado se satisfazem com a simples crena no supra-sensvel acharo que neste livro se exige demais da atividade pensante. Contudo, as comunicaes feitas aqui no pretendem apenas comunicar algo; a exposio foi elaborada de um modo adequado a uma observao conscienciosa desse domnio especfico da vida; pois trata-se do domnio onde as coisas mais elevadas e o charlatanismo leviano, bem como o conhecimento e a superstio, tocam-se muito facilmente na vida real, e onde, principalmente, podem tambm ser muito facilmente confundidos.Quem est familiarizado com a pesquisa supra-sensvel notar muito bem, ao ler este livro, que se procurou manter com preciso os limites entre o que se pode e deve comunicar atualmente, do mbito dos conhecimentos supra-sensveis, e o que s se dever expor mais tarde, ou ao menos de outra forma.Dezembro de 1909Rudolf SteinerObservaes preliminares quarta edio [do original]Quem decide expor resultados cientfico-espirituais da forma como estes so descritos neste livro deve, antes de mais nada, contar com o fato de tal forma ser considerada invivel em crculos mais amplos. Com efeito, as exposies seguintes relatam fatos dos quais o pensamento supostamente exato de nossa poca afirma que provavelmente permanecem indeterminveis para a inteligncia humana. Quem conhece e sabe avaliar as razes que induzem muitas pessoas srias a afirmar tal impossibilidade gostaria de fazer, sempre de novo, a tentativa de mostrar em quais mal-entendidos se baseia a crena de que o conhecimento humano seja incapaz de penetrar nos mundos supra-sensveis.Ora, nisso se subentendem dois aspectos. Em primeiro lugar, nenhuma alma humana, aps madura reflexo, poder negar incessantemente que suas mais importantes indagaes sobre o sentido e o significado da vida deveriam permanecer sem resposta caso no houvesse um acesso a mundos superiores. Teoricamente, algum pode enganar a si prprio sobre esse assunto; porm a profundeza da vida anmica no acompanha essa iluso. Quem no quiser dar ouvidos a essas profundezas da alma rejeitar, naturalmente, explicaes sobre os mundos supra-sensveis. No obstante, existem pessoas cujo nmero realmente no pequeno para as quais impossvel fazer-se de surdas diante das exigncias dessas profundezas. Elas sentem-se impelidas a bater sem cessar nas portas onde se encerra algo que, na opinio dos demais, inconcebvel.Em segundo lugar, no se deve em absoluto menosprezar as explicaes do pensamento exato. Quem se ocupa delas saber distinguir quando lev-las a srio. O autor deste livro no gostaria de ser considerado algum que passa ao largo do imenso trabalho intelectual dedicado a determinar os limites do intelecto humano. Esse trabalho intelectual no pode ser simplesmente descartado com algumas frases sobre sabedoria acadmica e semelhantes. Em muitos casos, ele tem sua fonte num verdadeiro esforo do conhecimento e em autntica perspiccia.Bem, muita coisa ainda deve ser admitida: tm sido apresentadas razes pelas quais o conhecimento atualmente vlido como cientfico no pode penetrar nos mundos supra-sensveis, e essas razes so, em certo sentido, irrefutveis.Pelo fato de isso ser reconhecido sem delongas pelo prprio escritor deste livro, a muitos pode parecer estranho que, apesar disso, ele decida dar explicaes relativas aos mundos superiores. De fato, parece quase contraditrio algum admitir em certo sentido as razes para a incognoscibilidade desses mundos e, no obstante, falar sobre eles.E no entanto tal procedimento possvel, podendo-se ao mesmo tempo compreender que parea uma contradio. De fato, nem todos esto dispostos a admitir as experincias que algum faz ao se aproximar com o intelecto humano da regio supra-sensorial. Ento fica evidente que as provas desse intelecto podem muito bem ser irrefutveis; e que, apesar de sua irrefutabilidade, elas no precisam ser decisivas para a realidade. Em lugar de todas as explicaes tericas, tentemos aqui proporcionar um entendimento por meio de uma comparao. O fato de as comparaes no serem comprobatrias em si algo que tem de ser admitido sem demora; porm isso no impede de elas tornarem muitas vezes compreensvel o que se deseja expressar.A atividade cognitiva humana, tal como atua na vida cotidiana e na cincia comum, realmente constituda de forma a no poder penetrar nos mundos superiores. Isto pode ser provado de maneira irrefutvel; s que para certa modalidade da vida anmica essa prova no possui mais valor do que aquela que algum quisesse fazer para mostrar que o olho natural do homem, com sua capacidade visual, no pode alcanar as pequenas clulas de um ser vivo ou a constituio de longnquos corpos celestes. No entanto, a prova de que a capacidade visual comum tem de deter-se diante das clulas nada decide contra a pesquisa das clulas. Por que ento a prova de que a capacidade cognitiva comum tem de deter-se diante dos mundos supra-sensveis deveria decidir contra a possibilidade de pesquisa desses mundos?Pode-se imaginar a sensao que essa comparao deve provocar em algumas pessoas. Pode-se at compreender que se duvide da possibilidade de algum ter a mnima idia de toda a seriedade do mencionado trabalho intelectual defrontando-o munido apenas de tal comparao. No entanto, o autor destas linhas no s est compenetrado dessa seriedade como tambm opina que esse trabalho intelectual figura entre as mais nobres realizaes da humanidade. Demonstrar que a capacidade visual humana no pode alcanar as clulas sem instrumentos adequados seria, certamente, uma tentativa suprflua; tornar-se, em atividade pensante rigorosa, consciente da natureza do pensar, esse sim um trabalho espiritual necessrio, O fato de quem se dedica a tal trabalho no perceber que a realidade pode contradiz-lo totalmente compreensvel. Do mesmo modo como as observaes preliminares a este livro no podem ser o local para detalhar as muitas objees s primeiras edies advindas de pessoas destitudas de qualquer compreenso do nosso objetivo, ou que nos dirigem ataques pessoais inverdicos , tambm cumpre ressaltar que s pode atribuir a este livro um menosprezo pelo srio trabalho intelectual cientfico quem deseje fechar-se ao carter das explanaes.A atividade cognitiva humana pode ser fortalecida, revigorada, do mesmo modo como se pode fortalecer a capacidade visual do olho. S que os meios para o fortalecimento do conhecer so de natureza inteiramente espiritual; trata-se de procedimentos interiores, puramente anmicos. Eles consistem naquilo que neste livro descrito como meditao, concentrao (contemplao). A vida anmica comum est ligada aos instrumentos do corpo; a vida anmica fortalecida se liberta deles. Existem mentalidades contemporneas para as quais tal afirmativa deve parecer totalmente absurda, no passando de iluso. De seu ponto de vista, elas acharo fcil comprovar como toda a vida anmica est ligada ao sistema nervoso. Quem compartilha do ponto de vista da elaborao deste livro compreende inteiramente tais comprovaes; e compreende as pessoas que afirmam ser mera superficialidade afirmar a existncia de uma vida anmica independente do corpo aquelas que esto perfeitamente convencidas de que para essas experincias anmicas existe uma conexo com a vida dos nervos, conexo que o diletantismo cientficoespiritual incapaz de descobrir.Aqui se contrapem to asperamente, ao contedo deste livro, certos alis, totalmente compreensveis hbitos de pensarnento, que com muitos deles uma conciliao fica atualmente invivel. Diante disso, cabe expressar o desejo de que na atualidade as pessoas no atribuam mais, na vida espiritual, a caracterstica de fantstica e visionria a toda orientao de pesquisa que se afaste terminantemente da sua prpria. De outro lado, porm, existe atualmente o fato de o tipo de pesquisa supra-sensvel exposto neste livro ser compreendido por um certo nmero de pessoas; essas pessoas se do conta de que o sentido da vida no se revela em palavreados genricos sobre a alma, o self, etc., s podendo resultar da verdadeira compreenso dos resultados da pesquisa supra-sensvel. No por imodstia, mas por grata satisfao, que sentimos a necessidade de publicar esta quarta edio aps um lapso de tempo relativamente curto.Para confirmar que no se trata de imodstia, declaramos sentir plenamente o quanto esta nova edio tambm carece de corresponder ao que realmente deveria ser um esboo de uma cosmoviso supra-sensorial. Mais uma vez se reelaborou todo o contedo para a nova edio; foram introduzidas muitas complementaes em passagens importantes, e houve um esforo por novos esclarecimentos. Contudo, em numerosas passagens sentimos quo rudimentares se mostram os meios de expresso disponveis frente ao que a pesquisa espiritual revela. Assim, mal pde ser mostrado um caminho para se chegar s representaes mentais do que, neste livro, corresponde evoluo de Saturno, do Sol, da Lua. Um importante ponto de vista, tambm nesse domnio, foi sucintamente reelaborado. Contudo, as vivncias com relao a essas coisas divergem tanto de todas as vivncias do mundo sensvel que a exposio gera uma luta constante em busca de uma expresso razoavelmente satisfatria. Quem quiser aprofundar-se na tentativa feita nesta exposio talvez note que, na impossibilidade de dizer certas coisas face aridez das palavras, fez-se um esforo quanto maneira de explanar. Esta difere, por exemplo, no caso da evoluo saturnina, da evoluo solar, etc.Muitos complementos e ampliaes que consideramos importantes foram feitos, na nova edio, para a segunda parte do livro, referente ao conhecimentos dos mundos superiores. Foi nossa inteno descrever claramente a natureza dos processos anmicos interiores, por cujo intermdio o conhecimento se liberta de seus limites existentes no mundo sensorial e se torna apto a vivenciar o mundo supra-sensvel. Procuramos mostrar que essa experincia, embora seja adquirida por meios e vias inteiramente interiores, no tem um significado meramente subjetivo para quem a adquire. Da exposio deveria evidenciar-se que dentro da alma abandonada a individualidade e a peculiaridade pessoal, alcanando-se uma experincia igual para todo ser humano que conduza corretamente seu desenvolvimento a partir de suas vivncias subjetivas. Somente concebendo o conhecimento dos mundos superiores com tal carter que se pode distingui-lo de todas as vivncias de uma mstica meramente subjetiva. Desta se pode muito bem dizer que se trata mais ou menos de um assunto pessoal do mstico. No entanto, a disciplina cientfico-espiritual da alma, no sentido aqui exposto, esfora-se em direo a tais vivncias objetivas, cuja verdade reconhecida num mbito bem interior e, justamente por isso, compreendida em sua validade genrica. Eis aqui tambm um ponto onde a conciliao com certos hbitos mentais de nossa poca fica bem difcil.Finalizando, gostaramos de solicitar que tambm de parte dos bem-intencionados estas exposies possam ser consideradas pelo que so, de acordo com seu prprio contedo. Hoje em dia, freqente a tendncia a dar a esta ou aquela direo espiritual este ou aquele nome antigo. S assim elas parecem vlidas para algumas pessoas. Contudo, cabe perguntar: o que ganhariam as explicaes deste livro se as classificassem de rosacrucianas ou algo semelhante? O importante procurarmos ter uma viso dos mundos supra-sensveis com os meios possveis e adequados alma na presente poca evolutiva, e que, desse ponto de vista, sejam observados os enigmas do destino e da existncia humana alm dos limites do nascimento e da morte. No se deve tratar de uma aspirao portadora deste ou daquele nome antigo, mas de uma aspirao rumo verdade.De outro lado, designaes hostis tambm foram utilizadas para a cosmovso exposta neste livro. Abstraindo-se do fato de aquelas destinadas a ferir e desacreditar mais gravemente o autor so absurdas e objetivamente mentirosas, tais designaes, em sua indignidade, caracterizam-se por denegrr um esforo totalmente independente em direo verdade, medida que tais pessoas no o julgam por si querem apresentar a outros, como juzo, a subordinao a esta ou aquela direo, inventada por elas ou aceita de modo infundado e depois levada adiante.Embora tais palavras sejam necessrias em vista de algumas agresses nossa pessoa, repugna-nos alongar o assunto neste contexto.Junho de 1913Rudolf SteinerPrefcio stima edio [do original]Para esta nova edio de minha Cincia Oculta, eu reformulei quase totalmente o primeiro captulo, O carter da Cincia Oculta. Acredito que com isto haja menos ensejo para os mal-entendidos que vi surgir a partir de sua redao anterior. De muitos lados eu pude ouvir: Outras cincias demonstram; o que aqui se apresenta como cincia diz simplesmente: a Cincia Oculta constata isto ou aquilo. Tal preconceito se estabelece, naturalmente, pelo fato de o comprovante do conhecimento supra-sensvel no poder impor-se pela exposio tal qual se expem relaes da realidade sensorial. Contudo, o fato de tratar-se apenas de um preconceito eu quis deixar mais claro, pela reelaborao do primeiro captulo deste livro, do que me parece ter conseguido em edies anteriores.Nas outras partes do livro procurei, mediante complementaes do contedo, salientar mais certos argumentos. Por todo o texto me empenhei, em inmeras passagens, em modificar a redao do contedo, o que me tornou necessrio repassar a leitura do que j havia exposto.Berlim, maio de 1920Rudolf SteinerPrefcio dcima sexta edio [do original]Agora, transcorridos quinze anos da primeira edio deste livro, parece-me oportuno dizer publicamente algo a respeito da disposio anmica que o motivou.Originalmente, era minha inteno colocar o contedo essencial desta obra como captulo final de meu livro Teosofia. Isto no ocorreu. Esse contedo ainda no assumira sua forma definitiva em mim como o da Teosofia, quando esta foi publicada. Em minhas imaginaes, eu tinha diante da minha alma o ente espiritual do ser humano isolado, e era capaz de descrev-lo; contudo, naquela poca eu ainda no visualizava da mesma forma as relaes csmicas que deveriam ser expostas em A Cincia Oculta. Elas estavam presentes em detalhes, mas no como viso de conjunto.Resolvi, portanto, publicar a Teosofia com o contedo que eu vislumbrara como a essncia na vida de um ser humano individual, deixando a elaborao de A Cincia Oculta para um futuro prximo, com toda a calma.De acordo com minha disposio anmica daquela poca, o contedo do livro deveria ser dado em pensamentos que, para a apresentao do mbito espiritual, fossem aperfeioamentos adequados dos pensamentos aplicados nas Cincias Naturais. Pelas Observaes preliminares primeira edio aqui reproduzidas, pode-se constatar o quanto, em tudo o que ento escrevi sobre conhecimento espiritual, eu me sentia responsvel perante as Cincias Naturais.Contudo, somente com tais pensamentos no se pode expor o que se revela viso supra-sensvel como mundo do esprito pois essa revelao no cabe num mero contedo intelectual. Quem conheceu, por experincia prpria, a essncia de tais revelaes sabe que os pensamentos da conscincia habitual so apropriados apenas para comunicar as percepes sensoriais, e no para revelar o que se observa espiritualmente.O contedo da viso espiritual s pode expressar-se por meio de imagens (imaginaes), atravs das quais falam inspiraes provenientes da entidade espiritual vivenciada de modo intuitivo. (Sobre a essncia da imaginao, da inspirao e da intuio, o necessrio encontra-se neste A Cincia Oculta e em meu livro O conhecimento dos mundos superiores.No entanto, quem descreve imaginaes do mundo espiritual no pode, atualmente, limitar-se apenas a apresentar essas imaginaes. Com isto colocaria ao lado do contedo cognitivo de nossa poca algo com um contedo de conscincia sem qualquer ligao com aquele. Ele deve preencher a conscincia atual com aquilo que uma outra conscincia, ao contemplar o mundo espiritual, capaz de conhecer. Ento seu relato ter por contedo esse mundo espiritual; porm tal contedo se apresenta sob forma de pensamentos aos quais ele tem acesso. Com isso tal contedo se tornar plenamente compreensvel conscincia comum, que pensa conforme a atualidade mas ainda no tem viso do mundo espiritual. Essa compreenso s faltar se a prpria pessoa lhe antepuser obstculos identificando-se com os modernos preconceitos relativos aos limites do conhecimento, criados por uma concepo errnea da natureza.No conhecimento espiritual, tudo est imerso em ntima vivncia anmica no apenas a contemplao espiritual em si, mas tambm o entendimento das comunicaes do vidente pela conscincia normal no-vidente. No faz a menor idia dessa intimidade quem afirma, por diletantismo, que o suposto entendimento no passa de auto-sugesto. Ocorre, porm, que aquilo que dentro da compreenso do mundo fsico se esgota apenas em conceitos, como verdade ou erro, torna-se vivncia frente ao mundo espiritual.Quando algum deixa seu juzo ser invadido mesmo s como leve sensao pela afirmativa de que a viso espiritual no pode ser compreendida pela conscincia comum, ainda no-vidente por causa de seus limites , esse juzo baseado em sensao se antepe ao entendimento como uma nuvem escurecedora; e a pessoa realmente nada pode entender. Contudo, para a conscincia imparcial no-vidente a viso ser plenamente compreensvel se o vidente a introduzir sob forma de pensamentos; ela ser compreensvel como , para um leigo, a tela pronta de um pintor. Na verdade, seu entendimento do mundo espiritual no ocorrer por sentimento artstico, como diante de uma obra de arte; ser absolutamente racional como diante do conhecimento da natureza. Para, no entanto, realmente possibilitar tal entendimento, quem expe vises espirituais deve vert-las corretamente em pensamentos, sem que elas percam seu carter imaginativo.Tudo isso estava diante de minha alma quando elaborei minha Cincia Oculta.Em 1909, senti que com tais premissas eu estava em condies de redigir um livro que, em primeiro lugar, trouxesse vertido em pensamentos o contedo de minha viso espiritual at certo grau, porm inicialmente satisfatrio; e, em segundo lugar, pudesse ser compreendido por qualquer pessoa pensante que no opusesse quaisquer obstculos compreensao.Digo isso hoje revelando, ao mesmo tempo, que naquela poca (1909) a publicao do livro me pareceu uma faanha, pois eu sabia que no podiam ter iseno de nimo justamente aqueles que se dedicavam proflssionalmente Cincia Natural, nem tampouco as inmeras personalidades que, em seus juzos, dependiam deles. No entanto, estava presente diante de minha alma o fato de, na poca em que a conscincia da humanidade se havia afastado ao mximo do mundo espiritual, as comunicaes desse mundo espiritual serem uma necessidade imperiosa. Eu contava com a existncia de pessoas que sentissem ora mais, ora menos o afastamento da espiritualidade como um impedimento to grave em suas vidas que assimilassem com ntima ansiedade as comunicaes do mundo espiritual.Os anos seguintes confirmaram tudo isso. Tanto Teosofia como A Cincia Oculta, que pressupem leitores com boa vontade para enfrentar um estilo difcil, tiveram ampla divulgao como livros.Eu me esforcei bem conscientemente para no fazer uma exposio popular, e sim uma que exigisse um autntico esforo mental para se penetrar no contedo. Com isso imprimi a meus livros um carter tal que sua leitura j constitui, por si, o incio de uma disciplina espiritual; pois o tranqilo e sereno esforo mental exigido por essa leitura revigora as foras anmicas e capacita-as a aproximar-se do mundo espiritual.O fato de eu ter dado ao livro o ttulo A Cincia Oculta suscitou imediatamente mal-entendidos. Segundo a objeo de alguns, o que pretende ser cincia no pode ser oculto. O quanto essa objeo foi pouco ponderada! Como se quem pblica um contedo quisesse faz-lo mantendo-o oculto...! O livro todo demonstra que nada designado como oculto ao contrrio, teve de ser apresentado de forma a tornar-se to compreensvel quanto qualquer cincia. Ou ser que, ao se usar a expresso Cincia Natural, no se quer indicar que se trata de um saber sobre a natureza? A Cincia Oculta a cincia daquilo que ocorre secretamente na medida em que no percebido l fora, na natureza, e sim na regio para onde a alma se orienta ao dirigir seu ntimo ao esprito.Cincia Oculta a anttese da Cincia Natural.s minhas vises do mundo espiritual tem sido repetidamente objetado que se trata apenas de reprodues modificadas de imagens que, nos tempos antigos, as pessoas faziam desse mundo espiritual. Argumentou-se que eu teria lido muitas coisas; que estas teriam sido assimiladas por meu subconsciente e que, acreditando serem produtos de minha prpria viso, eu teria passado a exp-las. Minhas descres teriam sido extradas de doutrinas gnsticas, de textos da sabedoria oriental, etc.Ao afirmar isso, certas pessoas tm mantido seus pensamentos totalmente na superfcie.Meus conhecimentos do mbito espiritual disso tenho plena conscincia so o resultado de viso prpria. Durante todo o tempo eu me controlei rigorosamente, tanto em todos os pormenores como nas grandes vises panormicas, para que a mais lcida conscincia acompanhasse cada passo de meu avano clarividente. Tal como o matemtico progride de pensamento em pensamento, sem que a inconscincia, a auto-sugesto, etc. desempenhe qualquer papel, assim tambm disse eu a mim mesmo a viso espiritual deve avanar de uma imaginao objetiva para outra, sem que nada viva na alma a no ser o contedo espiritual de uma conscincia claramente lcida.O conhecimento de que uma imaginao no uma imagem meramente subjetiva, e sim a reproduo pictrica de um contedo espiritual objetivo, obtido mediante uma vivncia interior sadia. No plano anmico-espiritual, isto se consegue do mesmo modo como, no domnio da observao sensorial em se tratando de um organismo saudvel , distinguem-se corretamente imagens ilusrias de percepes objetivas.Assim, pois, eu tinha diante de mim os resultados de minha viso. Inicialmente, tratava-se de contemplaes sem nome. Para transmiti-las eu necessitava de designaes verbais. Assim, s mais tarde eu as procurei em descries mais antigas do mundo espiritual, para poder expressar em palavras o que ainda no fora verbalizado. Usei essas designaes verbais livremente, de modo que s ocasionalmente alguma delas coincide, em minha terminologia, com seu sentido no contexto onde a encontrei. De qualquer modo, eu busquei a possibilidade de sempre expressar-me somente depois de o contedo ter despontado em mim por viso prpria.Quanto s leituras anteriores, eu sempre soube elimin-las durante minha prpria pesquisa vidente, graas disposio de conscincia recm-descrita. Pois bem, em minhas expresses foram encontrados ecos de antigas idias. Sem aprofundar-se no contedo, as pessoas se ativeram a tais expresses. Se eu falei em flores de loto no corpo astral humano, isso seria uma prova de que eu estaria reproduzindo doutrinas indianas, onde se encontra essa expresso. J ao falar em corpo astral, isso seria o resultado da leitura de escritos medievais. Por ter usado as expresses Anjos, Arcanjos, etc., eu estaria apenas restaurando as idias da gnose crist.Foi esse modo de pensar totalmente superficial que eu encontrei, repetidas vezes, fazendo-me oposio.Eu gostaria de apontar tambm, por ocasio desta nova edio de A Cincia Oculta, o seguinte fato: o livro contm o esboo da Antroposofia como um todo; portanto, ser especialmente atingido pelos mal-entendidos a que esta se expe.Desde a poca em que, em minha alma, as imaginaes reproduzidas nesta obra convergiram para um quadro global, eu continuei ininterruptamente a desenvolver a viso investigativa dos homens, da evoluo histrica da humanidade, do Cosmo, etc.; em pormenores, cheguei sempre a novos resultados. No entanto, o que apresentei h quinze anos como um esboo em A Cincia Oculta no sofreu, para mim, qualquer abalo. Tudo o que me foi possvel dizer desde ento aparece, ao ser inserido no lugar adequado deste livro, como uma ampliao do esboo feito naquela poca.Goetheanum [Dornach], 10 de janeiro de 1925Rudolf SteinerO carter da Cincia OcultaUma antiga expresso Cincia Oculta atribuda ao contedo deste livro. A denominao pode provocar, nas pessoas de nossa poca, as mais contraditrias sensaes. Para muitas, possui algo de repulsivo; suscita comentrios irnicos, sorriso de compaixo, talvez desprezo. Tais pessoas imaginam que um modo de pensar assim designado s possa consistir em sonhos ociosos, em vises fantsticas; que por detrs dessa pretensa cincia s possa ocultar-se a compulso de reativar toda espcie de supersties repudiadas, e com razo, por quem conheceu o verdadeiro esprito cientfico e o genuno anseio por conhecimento. Sobre outras pessoas, a expresso atua como se o sentido implcito lhes devesse proporcionar algo impossvel de ser alcanado por qualquer outro caminho, onde elas se sentem atradas, segundo sua predisposio, por um profundo anseio interior de conhecimento ou pela curiosidade sublimada da alma. Entre tais opinies to diametralmente opostas, existem todos os matizes possveis de estados intermedirios de repdio condicional ou aceitao daquilo que esta ou aquela pessoa imagina ao ouvir a designao Cincia Oculta. inegvel que, para alguns, o termo Cincia Oculta possui uma sonoridade mgica por parecer satisfazer sua fatal nostalgia em relao a um saber ignoto, misterioso enfim, obscuro , impossvel de adquirir por um caminho natural. Isso porque muitas pessoas no desejam satisfazer as aspiraes mais profundas de sua alma por meio de algo que possa ser claramente conhecido. Sua convico a seguinte: alm do que se pode conhecer no mundo, deve existir algo mais que se subtraia cognio. De forma estranhamente paradoxal, da qual no se do conta, elas recusam, em seus mais profundos anseios de saber, o que conhecido, desejando apenas a validade de algo considerado incognoscvel por meio da pesquisa aplicada natureza. Quem fala de Cincia Oculta faz bem em considerar as interpretaes errneas causadas por tais defensores de uma cincia desse gnero defensores que no aspiram a um saber, mas ao seu oposto.Estas explanaes destinam-se a leitores que no se deixam despojar de sua imparcialidade pelo fato de, sob diversas circunstncias, um a expresso provocar preconceitos. No se trata aqui de um saber que em qualquer sentido se possa considerar secreto, acessvel apenas a alguns por circunstncias especiais do destino. Faremos jus ao uso aqui proposto da expresso se considerarmos o que Gethe tem em mente ao referir-se aos mistrios manifestos nos fenmenos do Universo. Existem tantos mistrios manifestos porque o sentimento dos mesmos surge na conscincia de poucos, e estes, por temerem prejudicar a si prprios e a outros, no deixam um esclarecimento interior verbalizar-se. Gethe a Ch. L. F. Schultz (28.11.1821) em Goethes Werke (Weimar, 1906), t. IV, vol. 35, p. 192. (N.E. orig.) O que permanece oculto, no-manifesto nesses fenmenos, ao serem eles compreendidos apenas pelos sentidos e pelo intelecto a estes ligado, considerado como o contedo de uma forma supra-sensvel de conhecimento. Parece que a expresso Cincia Oculta tal como foi empregada por ns em edies anteriores foi impugnada justamente por se alegar que uma cincia no pode ser algo oculto para quem quer que seja. Haveria razo nisso se o assunto implicasse tal inteno, o que no o caso. Assim como a cincia da natureza no pode ser chamada de Cincia Natural no sentido de pertencer pela prpria natureza a cada um, tampouco este autor subentende por Cincia Oculta uma cincia escondida, e sim uma cincia relacionada com o que, para a forma comum de conhecimento, permanece irrevelado nos fenmenos do mundo uma cincia do oculto, do mistrio manifesto. Contudo, essa cincia no deve constituir mistrio para ningum que busque seus conhecimentos pelos caminhos adequados. (N.A.) Para quem considera cincia apenas o que se revela por meio dos sentidos e do intelecto a servio destes, naturalmente o que se subentende aqui como Cincia Oculta no cincia alguma. Contudo, se quisesse compreender a si prpria, tal pessoa deveria reconhecer estar recusando uma Cincia Oculta no por um discernimento fundamentado, mas por um julgamento arbitrrio oriundo de uma sensibilidade puramente pessoal.Para se enxergar isso, basta considerar como a cincia surge e que significado tem ela na vida humana. O surgimento da cincia, segundo sua natureza, no reconhecido nos objetos captados por ela; reconhecido no tipo de atividade anmica humana que surge no esforo cientfico. O modo como a alma se comporta ao elaborar a cincia, eis o que se deve ver. Quando se adquire o hbito de s colocar em ao esse tipo de atividade ao considerar as manifestaes dos sentidos, facilmente se forma a opinio de que essa manifestao sensria o essencial. Ento se deixa de ver que um certo comportamento da alma humana foi empregado apenas para a manifestao dos sentidos. No entanto, pode-se transcender essa autolimitao arbitrria e, abstraindo da aplicao especfica, considerar as caractersticas da atividade cientfica. isto o que se subentende aqui ao se dizer que o conhecimento de um contedo no-sensrio do mundo cientfico. A inteligncia humana quer estar to ativa junto a esse contedo do mundo quanto o no caso dos contedos cientfico-naturais desse mesmo mundo.A Cincia Oculta deseja emancipar o mtodo e a atitude investigativa das Cincias Naturais os quais, em sua esfera, se atm ao contexto e ao decorrer dos fatos sensrios dessa aplicao especial, porm conservando-os em sua caracterstica pensamental e outras. Ela quer falar sobre o no-sensvel do mesmo modo como as Cincias Naturais falam do sensvel. Enquanto a Cincia Natural permanece no mbito sensvel com esse mtodo de investigao e essa maneira de pensar, a Cincia Oculta deseja considerar o trabalho anmico junto natureza como uma espcie de auto-educao da alma, aplicando os frutos dessa educao ao mbito no-sensvel. Ela deseja proceder de modo a falar no sobre os fenmenos sensveis como tais, e sim sobre os contedos no-sensveis do mundo tal qual o pesquisador da natureza fala sobre os sensveis. Do procedimento cientfico-natural ela conserva a disposio anmica inerente a ele, ou seja, justamente o que faz do conhecimento da natureza uma cincia. Por isso lhe cabe designar-se como cincia.Quem considerar o significado da Cincia Natural na vida humana perceber que esse significado no pode esgotar-se com a aquisio de conhecimentos sobre a natureza, pois jamais tais conhecimentos podem conduzir a algo alm da vivncia do que a prpria alma humana no . O elemento anmico no vive naquilo que o homem conhece junto natureza, mas no processo cognitivo. E em sua atividade junto natureza que a alma vivencia a si prpria. O que ela adquire de modo vivaz algo diverso do prprio saber sobre a natureza; trata-se do autodesenvolvimento experimentado no conhecimento da natureza. A aquisio desse autodesenvolvimento o que a Cincia Oculta quer aplicar em domnios que transcendem a simples natureza. O ocultista no quer negar o valor da Cincia Natural, e sim reconhec-lo at melhor do que o prprio cientista natural. Ele sabe que sem a exatido de raciocnio que vigora na Cincia Natural no lhe seria possvel fundamentar qualquer cincia; mas sabe tambm que, uma vez adquirida mediante um autntico aprofundamento no esprito do raciocnio cientfico-natural, essa exatido pode ser conservada, pela fora da alma, para outros domnios.Sem dvida, aqui surge algo preocupante. Na observao da natureza, a alma guiada pelo objeto observado em medida muito maior do que no caso dos contedos no-sensveis do mundo. Neste ltimo caso, ela deve possuir em grau mais elevado, a partir de impulsos puramente interiores, a capacidade de conservar a essncia do raciocnio cientfico. Como muitas pessoas acreditam inconscientemente que essa essncia s possa manter-se pelos mtodos dos fenmenos naturais, sentem-se inclinadas a decidir, mediante uma declarao dogmtica, que to logo esse mtodo seja abandonado a alma tatear no vcuo com seus procedimentos cientficos. Tais pessoas no se conscientizaram da peculiaridade desse procedimento; em geral elas formam seus juzos a partir dos erros que necessariamente surgem quando a atitude cientfica junto aos fenmenos da natureza no est suficientemente consolidada e, apesar disso, a alma humana quer entregar-se considerao das esferas no-sensveis do mundo. Obviamente, disso decorre muita declarao no-cientfica sobre os contedos no-sensveis do mundo. Isso no porque tal manifestao no possa, por sua natureza, ser cientfica, mas porque nesse caso especial houve falha na auto-educao cientfica ao se observar a natureza.Quem deseja falar de Cincia Oculta deve, na verdade, em relao ao que acaba de ser dito, ter um sentido atento para todo tipo de fogo ftuo que surge ao se estipular sem convico cientfica algo sobre os mistrios manifestos do mundo. Contudo, no seria de proveito algum referir-nos precisamente aqui, no incio de exposies ligadas Cincia Oculta, a todos os possveis erros que levam pessoas preconceituosas a desdenhar qualquer pesquisa nesse sentido simplesmente por conclurem, ante existncia de tantos erros efetivos, que no se justifica todo o esforo. Como, no entanto, a recusa da Cincia Oculta por parte de cientistas ou crticos de mentalidade cientfica se baseia, em geral, no julgamento arbitrrio referido acima, e a referncia a erros muitas vezes inconscientemente apenas um pretexto, por ora uma discusso com tais opositores pouco frutfera. Na verdade nada os impede de levantar a objeo, certamente justificada, de que a priori impossvel determinar se quem considera o outro equivocado realmente possui o slido fundamento descrito acima. Por isso o estudioso da Cincia Oculta s pode apresentar o que acredita estar autorizado a dizer. O julgamento sobre seu direito de faz-lo s pode ser feito por outras pessoas, porm somente aquelas que, evitando qualquer manifestao arbitrria, sejam capazes de compreender sua maneira de comunicar os mistrios manifestos do suceder csmico. Na verdade, cabe-lhe mostrar como o que ele comunica se relaciona com outras conquistas do saber e da vida, quais so as objees possveis e em que medida a realidade sensorial imediata confirma suas observaes. Todavia, ele nunca deveria aspirar a fazer sua exposio atuar mais pela arte de persuadir do que por seu contedo.Pode-se ouvir freqentemente, a respeito de explicaes cientfico-esotricas, a objeo de que estas no provam o que apresentam simplesmente afirmando isto ou aquilo e dizendo tratar-se de constataes da Cincia Oculta. Interpretar mal as explanaes a seguir quem acreditar que nelas se apresente algo nesse sentido. O que se almeja aqui fazer desenvolver, na medida de suas possibilidades, o que desabrochou na alma durante o conhecimento da natureza, chamando depois a ateno para o fato de, nesse desenvolvimento, a alma ir ao encontro de fatos supra-sensveis. Nisso se pressupe que todo leitor capaz de aceitar o contedo deste livro v necessariamente ao encontro de tais fatos. certo que existe uma diferena em relao observao puramente cientfico-natural no momento em que se penetra no mbito cientfico-espiritual. Na Cincia Natural, os fatos se apresentam no campo do mundo sensrio; o cientista natural considera a atividade anmica como algo que se reporta ao contexto e ao curso dos fatos sensoriais. J o cientista do esprito deve colocar essa atividade anmica em primeiro plano, pois o leitor s alcana os fatos quando se apropria corretamente dessa atividade anmica. Esses fatos mesmo sendo incompreendidos no se apresentam, como nas Cincias Naturais, percepo humana at sem a atividade anmica; eles se manifestam a ela muito mais por meio da atividade anmica. O apresentador da Cincia Espiritual pressupe, portanto, que o leitor procure os fatos junto com ele. Sua apresentao ser de modo a relatar sobre o encontro desses fatos, no prevalecendo arbtrio pessoal em seu modo de fazlo, em sim um sentido cientfico educado conforme a Cincia Natural. Ele tambm ter, pois, necessidade de falar dos meios pelos quais se chega a uma observao do no-sensorial, do supra-sensvel.Quem se dispuser a aceitar uma exposio da Cincia Oculta logo perceber que por seu intermdio so adquiridas representaes mentais e idias nunca obtidas antes. Assim, chega-se tambm a um novo pensamento a respeito do que anteriormente se entendia como a natureza da comprovao. Aprende-se que para a apresentao cientfico-natural a comprovao algo que, por assim dizer, lhe trazida de fora. No pensar cientfico-espiritual, porm, a atividade que na Cincia Natural a alma dedica prova reside na busca dos fatos. No se pode descobri-los quando o caminho para eles j no comprobatrio. Quem realmente percorre esse caminho tambm j vivenciou o comprobatrio, no sendo possvel realizar coisa alguma por meio de uma prova acrescentada de fora. O fato de isso ser ignorado no carter da Cincia Oculta provoca muitos mal-entendidos.Toda Cincia Oculta deve brotar de dois pensamentos possveis de arraigar-se em qualquer ser humano. Para o ocultista tal como entendido aqui, esses dois pensamentos expressam fatos possveis de serem vivenciados quando para isso se utilizam os meios corretos. Para muitas pessoas esses pensamentos j constituem afirmaes altamente discutveis, sujeitas a muita contenda, quando no representam at mesmo algo cuja impossibilidade se pode comprovar.Esses dois pensamentos so os seguintes: primeiro, que alm do mundo visvel existe outro invisvel, inicialmente oculto aos sentidos e ao intelecto ligado a estes; segundo, que possvel ao homem, mediante o desenvolvimento de faculdades nele latentes, penetrar nesse mundo oculto.Tal mundo oculto no existe, diz um. O mundo percebido pelos sentidos humanos o nico; seus enigmas poderiam ser solucionados a partir dele prprio. Embora atualmente o homem ainda esteja longe de poder responder a todas as questes da existncia, logo chegar a poca em que a experincia dos sentidos e a cincia nela apoiada podero dar as respostas.No se pode negar a existncia de um mundo oculto atrs do visvel, dizem outros; porm as foras cognitivas do homem no so capazes de penetrar nesse mundo. Elas possuem limites que lhes so intransponveis. Por mais que a necessidade da f recorra a tal mundo, uma verdadeira cincia, apoiada em fatos seguros, no poderia ocupar-se com um mundo dessesUm terceiro grupo considera uma espcie de audcia o homem querer, mediante seu trabalho cognitivo, penetrar num domnio em relao ao qual deve renunciar ao saber e contentar-se com a f. Os partidrios dessa opinio sentem que injusto o frgil ser humano querer penetrar num mundo que s pode pertencer unicamente vida religiosa.Tambm se argumenta que seria possvel a todos os homens um mesmo conhecimento dos fatos do mundo sensvel, ao passo que sobre as coisas supra-sensveis s poderia entrar em questo a opinio pessoal de cada um, no se podendo falar de uma certeza universal nesse sentido.Outros afirmam muitas coisas mais.Pode-se ter certeza: a observao do mundo visvel prope ao homem enigmas que jamais podem ser solucionados a partir dos fatos desse mesmo mundo. Desse modo, por mais que a cincia desses fatos tenha progredido, eles permanecero insolveis. que, por sua natureza intrnseca, os fatos visveis apontam claramente para um mundo oculto. Quem no admite isso se fecha aos enigmas que, por toda parte, emanam nitidamente dos fatos do mundo sensrio; nem mesmo quer admitir certas questes e enigmas, acreditando, portanto, que todas as questes possam ser respondidas pelos fatos manifestos aos sentidos. Al. sinnenflligen Tatsachen (corr. de sinnflligen Tatsachen). Cf. ed. orig. cit. (N.T.) As perguntas que ele quer formular podero, todas elas, ser respondidas por fatos que, segundo ele afirma, sero descobertos no decorrer do futuro. Isso perfeitamente admissvel; mas por que deveria esperar respostas, em certos assuntos, quem no faz pergunta alguma? Quem aspira Cincia Oculta diz simplesmente que tais questes lhe so bvias por si, devendo ser reconhecidas como uma expresso plenamente justificada da alma humana. Ora, a cincia no pode ser comprimida dentro de limites pelo fato de se proibir ao homem o questionamento imparcial. opinio de que o homem possui, em seu conhecimento, limites intransponveis que o obrigam a deter-se diante de um mundo invisvel, cabe responder: sem dvida, pela forma de conhecimento a subentendida, no se pode penetrar num mundo invisvel. Quem admite apenas esse tipo de conhecimento no pode chegar seno opinio de que vedada ao homem a entrada num mundo superior porventura existente. Contudo, cabe tambm dizer o seguinte: sendo possvel desenvolver outro tipo de conhecimento, este poder perfeitamente conduzir ao mundo supra-sensvel. Ao se considerar essa forma de conhecimento como impossvel, chega-se a um ponto de vista a partir do qual toda aluso ao mundo supra-sensvel parece pura insensatez. Para um juzo imparcial, contudo, tal opinio no possui outro fundamento seno o fato de seus defensores ignorarem aquela outra espcie de conhecimento. Como, no entanto, se pode julgar a respeito de algo que se afirma no conhecer? Um pensar imparcial deve admitir que s se pode falar sobre o que se conhece, evitando qualquer pronunciamento sobre o que no se conhece. Tal raciocnio s pode reconhecer o direito de algum a comunicar o que tenha experimentado, negando-se porm a admitir que algum declare impossvel o que no conhece ou no quer conhecer. A ningum pode ser negado o direito de no se interessar pelo mundo supra-sensvel; mas jamais poder haver qualquer fundamento para o fato de algum se julgar apto a emitir juzos no apenas sobre o que ele capaz de saber, mas tambm sobre tudo o que um ser humano no capaz de saber.Aos que julgam uma temeridade penetrar no mbito supra-sensorial, uma observao segundo a Cincia Oculta pondera que isso possvel, e que seria pecar contra as faculdades outorgadas ao homem deix-las fenecer ao invs de desenvolv-las e utiliz-las.No entanto, quem acredita qe os pareceres sobre o mundo supra-sensvel devam pertencer inteiramente ao mbito pessoal das opinies e emoes, nega algo que comum a todos os seres humanos. certo que a compreenso dessas coisas deveria ser encontrada por cada um, mas tambm fato que todos os seres humanos que atingem um ponto suficientemente avanado chegam no a compreenses diferentes sobre essas coisas, mas mesma compreenso. A diversidade s existe quando os homens no querem aproximar-se das supremas verdades por um caminho cientificamente seguro, mas pelo caminho da arbitrariedade pessoal. Contudo, temos de admitir novamente que s poder reconhecer a exatido do caminho cientfico-espiritual quem se dispuser a familiarizar-se com suas particularidades.O caminho para a Cincia Oculta pode ser encontrado, no momento oportuno, por qualquer pessoa que reconhea ou apenas imagine, ou adivinhe , a partir do mundo visvel, a existncia de uma realidade oculta, e que, consciente da prontido das foras cognitivas para o desenvolvimento, seja compelida sensao de que essa realidade oculta poderia revelar-se a ela. A uma pessoa conduzida Cincia Oculta por essas vivncias da alma, abre-se no s a perspectiva de encontrar resposta a certas indagaes de seu impulso cognitivo, como tambm aquela, totalmente diversa, de vencer tudo o que lhe dificulte e debilite a vida. E, em certo sentido superior, significa um enfraquecimento da vida ou uma espcie de morte anmica o fato de um homem se ver obrigado a afastar-se do mbito supra-sensvel ou neg-lo. Sim sob certas condies, uma pessoa poder chegar ao desespero se perder toda a esperana de ter uma revelao do oculto. Essa morte e esse desespero, em suas mltiplas formas, so ao mesmo tempo adversrios anmicos, interiores, do esforo cientfico-espiritual, e surgem quando desvanece a fora interior do homem. Nesse caso, toda fora vital lhe deve ser administrada de fora, se que realmente ele deve receb-la. Ento ele passa a perceber os objetos, seres e ocorrncias que lhe afetam os sentidos analisando-os com o intelecto. Estes lhe causam prazer e sofrimento; impulsionam-no para as aes de que ele capaz. Mesmo continuando nesse processo por algum tempo, ele alcanar o ponto em que morrer interiormente, pois aquilo que se pode extrair do mundo para o homem se esgota. Esta no uma afirmao oriunda da experincia pessoal de um individuo, e sim o resultado de uma observao imparcial de toda a vida humana. O que preserva desse esgotamento o elemento oculto que repousa na profundidade das coisas. Caso se acabe no homem a energia para descer a essas profundidades, a fim de sempre extrair nova fora vital, no final nem mesmo o exterior das coisas se mostrar mais capaz de fomentar a vida.De maneira alguma esse assunto diz respeito apenas ao ser humano individual, com suas alegrias e dores pessoais. Justamente por meio de consideraes cientfico-espirituais verdicas o homem chega certeza de que, de um ponto de vista superior, as alegrias e as dores do indivduo se relacionam intimamente com o bem-estar e o infortnio de todo o Universo. Existe a um caminho pelo qual o homem chega convico de que estar prejudicando o mundo inteiro e todos os seres nele existentes caso no desenvolva adequadamente suas prprias foras. Tornando sua vida estril pela perda de contato com o supra-sensvel, o homem no s destri em seu ntimo algo cuja extino pode lev-lo ao desespero, como tambm cria, por sua fraqueza, um obstculo evoluo de todo o mundo onde vive.Ora, o ser humano pode equivocar-se. Pode ceder crena de que no existe um mundo oculto, e de que nas manifestaes aos seus sentidos e ao seu intelecto j est contido tudo o que possa existir. Entretanto, essa iluso s possvel para a superfcie da conscincia,e no para sua profundeza. O sentimento e o desejo no se encaixam nessa crena enganadora. De alguma maneira, eles voltaro sempre a ansiar por algo oculto cuja privao os faz lanar o homem na dvida, na incerteza da vida e at no desespero. Um conhecimento que torne o oculto manifesto apropriado para vencer toda desesperana, toda insegurana vital, toda aflio em resumo, tudo o que debilita a vida e a incapacita para o necessrio desempenho na totalidade do mundo.Eis o admirvel fruto cognitivo da Cincia Espiritual: proporcionar fora e firmeza vida, e no apenas a satisfao do desejo de saber. A fonte onde esses conhecimentos haurem sua fora para o trabalho e a confiana para a vida inesgotvel. Ningum que uma vez se tenha aproximado realmente dessa fonte sair, ao recorrer repetidamente a ela, sem estar fortalecido.H pessoas que nada desejam saber de tais conhecimentos por verem algo malso j no que acaba de ser dito. Para a superfcie e o exterior da vida, tais pessoas tm toda a razo. Elas no querem conhecer de modo atrofiado o que a vida oferece na chamada realidade; vem uma fraqueza no fato de o homem se afastar desta e procurar sua salvao num mundo oculto, que lhes parece fantstico e imaginrio. Se, em tal pesquisa cientfico-espiritual, no se quer cair em fantasia e fraqueza mrbidas, deve-se reconhecer a parcial justificativa de tais objees; elas se baseiam num critrio sadio s que este, por no penetrar na profundeza das coisas e sim manter-se em sua superfcie, no conduz a uma verdade plena, mas apenas a uma meia verdade. Se um esforo pelo conhecimento supra-sensvel fosse feito no sentido de debilitar a vida e afastar os homens da verdadeira realidade, certamente tais objees seriam fortes o suficiente para abalar as bases dessa orientao espiritual.Contudo, mesmo diante de tais opinies os esforos da Cincia Oculta no seguiriam o caminho correto se quisessem defender-se, no sentido comum da palavra. Mesmo nesse caso, eles s podem impor-se por seu valor reconhecvel a todo esprito imparcial, fazendo sentir como a fora vital e a energia se intensificam na pessoa que os adota no sentido correto. Esses esforos no podem conduzir alienao e fantasia; eles fortalecem o homem a partir das fontes vitais onde, segundo seu elemento anmico-espiritual, este se origina.Outros obstculos compreenso se colocam no caminho de algumas pessoas que se aproximam dos esforos da Cincia Oculta. De fato, fundamentalmente certo que na exposio da Cincia Oculta o leitor encontra uma descrio de vivncias anmicas por cujo seguimento ele poder acercar-se dos contedos supra-sensveis do Universo. S que na prtica isso tem de representar uma espcie de ideal. Inicialmente o leitor precisa absorver, sob forma de comunicaes, uma grande quantidade de experincias supra-sensveis que ele prprio ainda no vivenciou. Isso no pode ser de outra maneira, e ocorrer tambm no caso deste livro. Aqui ser descrito o que o Autor acredita saber sobre a natureza do ser humano, sobre suas condies no nascimento e na morte e em seu estado incorpreo no mundo espiritual; alm disso, ser narrada a evoluo da Terra e da humanidade. Assim sendo, poderia parecer que houvesse a premissa de certos pretensos conhecimentos serem apresentados como dogmas, cuja crena se apoiasse no principio de autoridade. Contudo, no esse o caso. Na verdade, o que pode ser conhecido dos contedos supra-sensveis do Universo acha-se presente no autor como contedo anmico vivo; e quando algum se familiariza com esse contedo anmico, essa familiaridade incandesce na prpria alma os impulsos que conduzem aos fatos supra-sensveis correspondentes. Ao ler conhecimentos cientfico-espirituais, tem-se uma vivncia diferente daquela provocada pela comunicao de fatos sensveis. Quando se lem comunicaes do mundo manifesto, l-se algo sobre ele; mas quando se lem comunicaes sobre o mundo supra-sensvel no sentido correto, penetra-se na corrente da existncia espiritual. Ao assimilar os resultados, assimila-se ao mesmo tempo o prprio caminho interior. bem verdade que, no incio, muitas vezes o leitor no se d conta do que subentendemos aqui. Costuma-se imaginar a entrada no mundo espiritual demasiadamente similar a uma vivncia sensorial, considerando-se por demais intelectual o que captado da leitura sobre esse mundo. No entanto, pela verdadeira acolhida no plano do pensamento a pessoa j est dentro desse mundo, s precisando ter bem claro que, sem o perceber, j vivenciou o que acreditava ter recebido apenas como uma comunicao intelectual. A verdadeira natureza dessa vivncia pode ser plenamente esclarecida ao se realizar, na prtica, o que descreveremos na segunda e ltima parte deste livro como senda para os conhecimentos supra-sensveis. Seria fcil supor que o correto fosse o contrrio: que essa senda devesse primeiramente ser descrita. No esse, porm, o caso. Para quem s faz exerccios a fim de penetrar no mundo supra-sensvel, sem dirigir o olhar anmico a determinados fatos que a ocorrem, esse mundo continua sendo um caos indefinido e conturbado. A pessoa se familiariza, de certo modo, ingenuamente com esse mundo medida que aprende certos fatos inerentes a ele, dando-se logo conta de como abandonando a ingenuidade ela prpria chega, com plena conscincia, s vivncias das quais havia obtido informaes.Aprofundando-se nas exposies da Cincia Oculta, a pessoa se convencer de que s esse pode ser um caminho seguro para o conhecimento supra-sensvel. Reconhecer tambm ser infundada qualquer opinio de que inicalmente os conhecimentos supra-sensveis atuariam, de certa forma, como dogmas pelo poder de sugesto. que o contedo desses conhecimentos adquirido numa vida anmica que lhes retira qualquer fora simplesmente sugestiva, dando pessoa apenas a possibilidade de falar a outra pela mesma via pela qual lhe falam todas as verdades que apelam ao seu critrio sensato. O fato de inicialmente a outra no perceber como ela vive no mundo espiritual no se deve a uma insensata aceitao sugestiva, mas sutileza e ao carter incomum do que foi vivencado na leitura. Assim, pela mera aceitao das informaes dadas na primeira parte deste livro, inicialmente o leitor se torna co-participante no conhecimento do mundo superior; mediante a realizao prtica das atividades anmicas, indicadas na segunda parte, ele se torna um conhecedor autnomo nesse mundo.De acordo com o esprito e o verdadeiro sentido, nenhum autntico cientista poder encontrar uma contradio entre sua cincia, edificada sobre os fenmenos do mundo sensvel, e o modo como se investiga o mundo supra-sensvel. Todo cientista se serve de determinados instrumentos e mtodos. Os instrumentos, ele os confecciona mediante a elaborao daquilo que a natureza lhe apresenta. O tipo supra-sensvel de conhecimento tambm se serve de um instrumento s que esse instrumento o prprio homem. Tambm tal instrumento deve primeiramente ser ajustado para a pesquisa superior. Nele, as capacidades e foras concedidas pela natureza sem a atuao humana devem ser transformadas em outras, superiores. Com isso o prprio homem pode tornar-se instrumento para a pesquisa do mundo supra-sensvel.A essncia da humanidadeAo se observar o ser humano do ponto de vista de um conhecimento supra-sensvel, entra logo em vigor o que caracteriza, de modo geral, esse tipo de conhecimento. Essa observao baseia-se no reconhecimento, pelo observador, do mistrio manifesto em sua prpria entidade. Os sentidos, bem como o intelecto que neles se apia, so apenas uma parte acessvel do que compreedido como entidade humana no conhecimento supra-sensvel, ou seja, o corpo fsico. Para esclarecer o conceito desse corpo fsico, deve-se inicialmente dirigir a ateno ao fenmeno que se estende como um grande enigma sobre toda observao da vida: a morte, e, relacionada com ela, a chamada natureza inanimada o reino mineral, que sempre contm em si a morte. Com isso nos referimos a fatos cujo esclarecimento completo s possvel por meio do conhecimento supra-sensvel, e aos quais deve ser dedicada uma parte importante deste livro. Por ora, contudo, sugeriremos apenas algumas idias como orientao.Dentro do mundo manifesto, o corpo humano fsico aquilo que o iguala ao mundo mineral. Em contrapartida, no pode ser considerado como corpo fsico aquilo que diferencia o homem do mineral. Para uma observao imparcial, sobretudo importante o fato de a morte expor a parte da natureza humana que, uma vez ocorrida a morte, igualvel ao mundo mineral. Cabe apontar no cadver a parcela do homem que, aps a morte, est sujeita a processos encontrados no mundo mineral. Pode-se sublinhar o fato de que nesse membro da entidade humana no cadver esto em atividade as mesmas substncias e foras atuantes no mbito mineral; cumpre porm ressaltar, e no menos, que com a morte esse corpo fsico fica sujeito decomposio. Contudo, tambm justo dizer o seguinte: sem dvida, no corpo fsico humano atuam as mesmas substncias e foras que no mbito mineral; porm sua atuao colocada, durante a vida, a servio de algo superior. Elas s atuam como no mundo mineral aps a chegada da morte; ento entram em cena como devem faz-lo segundo sua prpria natureza, ou seja, como dissolventes da formao corporal fsica.Convm, portanto, distinguir claramente, no homem, entre o manifesto e o oculto, pois durante a vida um elemento oculto deve empreender uma luta contnua contra as substncias e foras do elemento mineral no corpo fsico. Ao cessar essa luta, inicia-se a atividade mineral.Com isso tocamos no ponto em que deve entrar em cena a cincia do supra-sensvel. Ela tem de buscar o que conduz referida luta, e justamente isso se oculta observao dos sentidos, sendo acessvel apenas observao supra-sensorial. O modo como o homem consegue que esse elemento oculto se torne to manifesto quanto o so os fenmenos sensorais aos olhos fsicos ser abordado numa parte posterior deste livro. Aqui, porm, ser descrito o que se revela observao supra-sensvel.J dissemos que as comunicaes sobre o caminho que conduz viso superior s podem ter valor para o homem quando primeiramente este se familiarizou, pela simples narrativa, com as revelaes da pesquisa supra-sensorial. que nesse domnio justamente possvel compreender tambm o que ainda no se observa. Alis, o bom caminho para a contemplao o que parte da compreenso.Embora o elemento oculto que, no corpo fsico, luta contra a decomposio seja observvel apenas pela percepo superior, seus efeitos so claramente discernveis para o julgamento limitado ao manifesto. Tais efeitos exprimem-se na forma ou figura onde esto integradas, durante a vida, as substncias e foras minerais do corpo fsico. Ocorrida a morte, essa forma desaparece pouco a pouco e o corpo fsico converte-se numa parte do mundo mineral restante. Contudo, a viso supra-sensorial pode observar, como membro independente da entidade humana, aquilo que durante a vida impede as substncias e foras fsicas de seguirem seu prprio caminho, que conduz dissoluo do corpo fsio. Denominemos esse membro independente como corpo etrico ou corpo vital.Para que no surjam mal-entendidos logo de incio, cumpre considerar aspectos relativos a essas designaes de um segundo membro da entidade humana. A palavra ter empregada aqui num sentido diferente daquele usado pela Fsica atual. Esta designa, por exemplo, como ter o veculo da luz. Aqui, no entanto, o termo dever ser limitado ao sentido mencionado acima, sendo empregado para designar o que acessvel viso superior, dando-se a conhecer observao sensorial apenas em seus efeitos, ou seja, por sua propriedade de conferir determinada forma ou figura s substncias e foras minerais existentes no corpo fsico. Tampouco a palavra corpo deve ser mal-entendida. Para designar as coisas superiores da existncia, temos de usar justamente os vocbulos da linguagem comum e, para a observao dos sentidos, estes expressam apenas o aspecto sensorial. No sentido sensorial, naturalmente o corpo etrco nada tem de corporal, por mais sutil que se possa imagin-lo. O fato de que com a designao corpo etrico, corpo vital no se pretende renovar o antigo conceito cientfico-natural de energia vital, h muito superado, j foi explicado por ns no livro TeosofiaTendo chegado, na descrio do supra-sensvel, meno do corpo etrico ou corpo vital, alcanamos o ponto em que essa descrio encontra a oposio de vrias correntes da opinio contempornea. A evoluo do esprito humano levou nossa poca a considerar no-cientfica a referncia a tal membro da entidade humana. A concepo materialista chegou ao ponto de no ver no corpo vivo seno uma combinao de substncias e foras fsicas, tal como estas se encontram tambm no chamado corpo inanimado, mineral. A nica diferena que no ser vivo a combinao mais complexa do que no inanimado.Tambm na cincia comum se professavam, no muito tempo atrs, outros pontos de vista. Quem ler os livros de muitos cientistas srios da primeira metade do sculo XIX ver como tambm autnticos naturalistas estavam cnscios de existir no corpo vivo algo mais do que no mineral inanimado. Falava-se de uma energia vital. Na verdade, essa energia vital no era apresentada tal qual o que acabamos de caracterizar como corpo vital; mas a essa idia estava subjacente um pressentimento de que algo semelhante existia. Concebia-se essa energia vital como se esta se juntasse, no corpo vivo, s substncias e foras fsicas do mesmo modo como a fora magntica do m se junta ao ferro. Ento veio o tempo em que essa energia vital foi afastada do iderio da cincia. Para todos os mbitos se consideravam suficientes as causas fsicas e qumicas.Atualmente ocorreu, entre muitos pensadores naturalistas, certo recuo a esse respeito. De muitos lados se tem admitido que a aceitao de algo semelhante fora vital no , afinal, loucura alguma. No entanto, mesmo o cientista que admita isso no querer comungar do ponto de vista exposto aqui a respeito do corpo vital. Via de regra, entrar em polmica com tais opinies, com base no conhecimento supra-sensvel, no levaria a lugar algum. O objeto desse conhecimento deveria ser, muito mais, admitir que a mentalidade materialista uma necessria conseqncia do grande progresso cientfico de nossa poca. Esse progresso consiste num imenso aperfeioamento dos meios de observao sensorial. E inerente ao ser humano o fato de ele, no mbito da evoluo, levar certas capacidades, em detrimento de outras, a um certo grau de aperfeioamento. A observao sensorial exata, que de modo to significativo foi desenvolvida pela Cincia Natural, teve de relegar ao segundo plano o cultivo das capacidades humanas que conduzem aos mundos ocultos. Porm chegou novamente a poca em que esse cultivo necessrio. E o oculto no reconhecido pelo fato de se combaterem julgamentos que, pela negao desse oculto, se apresentam com seqncia lgica, mas pelo fato de se focalizar esse oculto corretamente. Ento ele ser reconhecido por aqueles cuja hora chegada.Foi necessrio dizer isto simplesmente para que no se supusesse ignorncia dos pontos de vista das Cincias Naturais ao falarmos aqui de um corpo etrico, que em certos crculos deve parecer totalmente fantstico.Esse corpo etrico , portanto, um segundo membro da entidade humana. O conhecimento supra-sensvel lhe atribui um grau de realidade superior ao do corpo fsico. Uma descrio de como ele se manifesta percepo supra-sensvel s poder ser feita nas partes subseqentes deste livro, quando se frisar em que sentido tais descres devem ser consideradas. Por hora bastar salientar que o corpo etrico permeia completamente o corpo fsico, devendo ser visto como uma espcie de arquiteto deste ltimo. Todos os rgos so mantidos em sua forma e estrutura pelas correntes e movimentos do corpo etrico. V., do Autor, A fisiologia oculta os rgos como sistema csmico interior, trad. Sonia Setzer, 5. conf. (2. ed. So Paulo: Antroposfica, 1996). (N.E.) Ao corao fsico subjaz um corao etrico, ao crebro fsico um crebro etrico, etc. O corpo etrico estruturado como o corpo fsico, sendo porm mais complexo; tudo nele est em vivo interfluxo, enquanto no corpo fsico existem partes bem delimitadas.Pois bem: esse corpo etrico, o homem o possui em comum com o vegetal, assim como possui o corpo fsico em comum com o mineral. Tudo o que vivo possui seu corpo etrico.Do corpo etrico a observao supra-sensvel ascende a outro membro da entidade humana. Para a formao de uma imagem desse membro, ela recorre ao fenmeno do sono, tal como, no caso do corpo etrico, aludiu morte.Toda ao humana, no mbito manifesto, baseia-se na atividade do estado de viglia. Porm essa atividade s possvel quando o homem procura no sono a recuperao das foras esgotadas. A atuao e o pensar desaparecem no sono; toda dor e todo prazer submergem em relao vida consciente. Como que procedentes de fontes ocultas, misteriosas, as foras conscientes do homem emergem, ao despertar, da inconscincia do sono. E a mesma conscincia que, ao adormecermos, submerge em profundidades obscuras e reaparece ao despertarmos. Aquilo que repetidamente desperta a vida, retirando-a do estado de inconscincia, , no sentido do conhecimento supra-sensvel, o terceiro membro da entidade humana. Pode-se denomin-lo corpo astral.Assim como o corpo fsico incapaz de manter sua forma por meio das substncias e foras minerais que contm, precisando para isso ser permeado pelo corpo etrico, tampouco as foras do corpo etrico podem, por si prprias, iluminar-se com a luz da conscincia. Um corpo etrico abandonado a si prprio teria de permanecer continuamente em estado de sono. Em outras palavras: ele poderia manter, no corpo fsico, apenas um grau de existncia vegetativa. Um corpo etrico em estado de viglia iluminado por um corpo astral. Para a observao sensorial, desaparece a atuao desse corpo astral quando o homem mergulha no sono. Para a observao supra-sensvel, ele continua existindo; s que aparece separado ou retirado do corpo etrico. A observao sensorial no tem contato com o prprio corpo astral, mas apenas com seus efeitos no mbito manifesto. Ora, estes no esto imediatamente presentes durante o sono. No mesmo sentido em que o homem tem seu corpo fsico em comum com os minerais e seu corpo etrico com as plantas, em seu corpo astral ele da mesma espcie que os animais.As plantas esto num estado permanente de sono. Quem no julgar com exatido essas coisas poder facilmente cometer o erro de atribuir tambm s plantas uma espcie de conscincia, tal como a possuem os animais e o homem quando despertos. Isso s pode acontecer a quem tenha um conceito inexato da conscincia. Ento essa pessoa afirma que, ao se provocar na planta um estmulo exterior, ela realiza alguns movimentos, como o animal. Fala-se da sensibilidade de certas plantas que, por exemplo, contraem suas folhas sob a ao de coisas externas. O demonstrativo da conscincia no o fato de um ser reagir a uma ao com certa reao, e sim o fato de o ser vivenciar em seu interior algo que venha acrescentar-se como elemento novo simples reao. Do contrrio, poderamos falar de conscincia quando um pedao de ferro se dilatasse sob a ao do calor. S existe conscincia quando o ser experimenta, por exemplo, uma dor sob a influncia do calor.O quarto membro que o conhecimento supra-sensvel atribui entidade humana j no compartilhado com o mundo manifesto em redor do homem. Trata-se justamente do que o diferencia dos demais seres algo que o torna pice de toda a Criao circundante. O conhecimento supra-sensvel d uma idia desse membro adicional da entidade humana indicando que tambm no mbito das vivncias de viglia existe mais uma diferena essencial. Essa diferena se evidencia de imediato observao de que, em estado de viglia, de um lado o homem se encontra continuamente no centro de vivncias que tm necessariamente de ir e vir e, de outro, tambm tem vivncias em que isso no ocorre. Tal fato ressalta especialmente ao se compararem as experincias do homem com as do animal. O animal experimenta com grande regularidade as influncias do mundo exterior e, sob a influncia do calor e do frio, adquire conscincia da dor e do prazer Al. ... und wird sich [...] unter dem Einflsse der Wrme and Klte des [corr. de Klte, des [corr. de Klte, des] Schmerzes und der Lust [...] bewusst. Cf. ed. orig. cit. (N.T.), bem como, sob certos processos regulares que ocorrem em seu corpo, adquire conscincia da fome e da sede. A vida do homem no se esgota em tais experincias, pois ele pode desenvolver cobias e desejos que transcendem tudo isso.Tratando-se do animal, sempre possvel desde que se investigue suficientemente descobrir onde, dentro ou fora do corpo, existe o motivo determinante de uma ao ou sensao. No caso do homem, isso no ocorre de maneira alguma. Ele pode criar desejos e apetites para cuja origem no haja suficientes motivos nem dentro nem fora de seu corpo. A tudo o que incide nesse domnio deve-se atribuir uma fonte especial. Essa fonte pode ser vista, segundo a cincia supra-sensvel, no eu do homem. O eu pode, portanto, ser considerado o quarto membro da entidade humana.Se o corpo astral estivesse abandonado a si mesmo, ocorreriam nele sensaes de prazer e dor, fome e sede; o que no ocorreria, porm, a sensao de existir em tudo isso algo permanente. No esse algo permanente que aqui designado como eu, mas aquilo que vivencia essa permanncia. Nesse campo preciso formular os conceitos com toda a nitidez, para que no surjam equvocos. Com a conscientizao de que h algo permanente e durvel no intercmbio das vivncias interiores, comea a despontar o sentimento do eu. No o fato de um ser sentir, por exemplo, fome que se pode conferir-lhe o sentimento do eu. A fome se instala quando os renovados motivos para ela se fazem valer no ser em questo; ento ele se precipita sobre o alimento justamente pelo ensejo dos motivos renovados. O sentimento do eu s surge quando no apenas se impem esses renovados motivos para a busca do alimento, mas quando da prvia satisfao da fome resultou um prazer e a conscincia desse prazer permaneceu, de modo que no somente a presente vivncia da fome, mas a vivncia passada do prazer suscitam o impulso para o alimento.Assim como o corpo fsico se desintegra quando o corpo etrico no o mantm, e assim como o corpo etrico imerge na inconscincia quando o corpo astral no o ilumina, o corpo astral teria de deixar repetidamente o passado cair no esquecimento se este no fosse transportado ao presente pelo eu. O que a morte para o corpo fsico e o sono para o corpo etrico, a mesma coisa o esquecimento para o corpo astral. Pode-se tambm dizer que ao corpo etrico pertence a vida, ao astral a conscincia e ao eu a recordao.Mais facilmente do que atribuir conscincia s plantas, pode-se incidir no erro de falar em recordao no caso do animal. muito natural pensar em recordao quando o co reconhece seu dono, que ele talvez no veja h longo tempo. Na realidade, porm, esse reconhecimento no depende de recordao, e sim de algo completamente diverso. O co sente uma certa atrao por seu dono, a qual resulta da natureza deste. Essa natureza causa prazer ao co na presena do dono; e a cada vez que essa presena ocorre, motivo para uma renovao prazer. A recordao, porm, s existe quando um ser no tem apenas sensaes provocadas pelas vivncias atuais, mas ainda conserva aquelas do passado. Poderamos at mesmo admitir isto e, no entanto, cair no erro de afirmar que o co tem recordao, dizendo, por exemplo, que o co entristece quando o dono o abandona, e que portanto guarda a lembrana dele. Tambm esse um julgamento incorreto. O convvio com o dono traz para o co a necessidade de sua presena, e assim este passa a sentir a ausncia da mesma forma como sente a fome. Quem no fizer estas distines no alcanar clareza sobre as verdadeiras correlaes da vida.Em razo de certos preconceitos ser objetado, contra esta exposio, que afinal no se pode saber se no animal existe ou no algo semelhante recordao humana. Tal objeo, porm, repousa numa observao inexperiente. Quem realmente capaz de observar, de maneira sensata, como o animal se comporta em relao s suas vivncias, percebe a diferena entre esse comportamento e o do homem. Ento ter bem claro que o animal se comporta de um modo correspondente ausncia de recordao. Para a observao supra-sensvel, isso absolutamente claro. No entanto, o que dessa observao supra-sensorial vem imediatamente conscincia pode ser reconhecido em seus efeitos nesse mbito tambm pela percepo sensorial e sua compenetrao pelo pensar. Ao se dizer que o homem sabe de sua recordao pela observao anmica interior, que no entanto ele no pode constatar no caso do animal, tal afirmao est fundada num erro fatdico. O que o homem tem a dizer sobre sua capacidade de recordao no pode, em absoluto, ser deduzido de uma observao anmica interior, mas apenas do que ele experimenta consigo mesmo em suas relaes com as coisas e processos do mundo exterior. Essas experincias, seja consigo, com outra pessoa e tambm com os animais, ele faz exatamente da mesma maneira. Trata-se apenas de uma iluso que ofusca o homem quando ele pensa julgar a existncia da recordao apenas pela observao interior.O substrato da recordao pode ser denominado intimamente; j o juzo sobre esse substrato adquirido, inclusive para a prpria pessoa, pela viso das relaes do mundo exterior. E o homem pode julgar essas relaes tanto em si mesmo como nos animais. Com respeito a essas coisas, nossa psicologia comum sofre por suas idias totalmente deficientes, inexatas e em alto grau ilusrias em conseqncia de erros de observao.Para o eu, a recordao e o esquecimento significam algo absolutamente semelhante ao que os estados de viglia e sono significam para o corpo astral. Assim como o sono faz as preocupaes e atribulaes do dia desaparecer no nada, o esquecimento estende um vu sobre as ms experincias da vida, apagando assim uma parte do passado. E do mesmo modo como o sono necessrio para que as foras vitais exaustas sejam revigoradas, o homem precisa eliminar da recordao certas partes de seu passado se quiser enfrentar novas experincias de maneira livre e despreconcebida. Contudo, justamente do esquecimento que lhe advm o fortalecimento para a percepo do novo. Pensemos em fatos como o aprendizado da escrita: todos os detalhes que a criana tem de atravessar para aprender a escrever so esquecidos. O que permanece a capacidade de escrever. Como poderia o homem escrever se, a cada vez que pegasse a caneta, lhe despontassem na alma, como recordao, todas as vivncias pelas quais ele passou ao aprender a escrita?Ora, a recordao se manifesta em vrios graus. Sua forma mais elementar j ocorre quando o homem percebe um objeto e depois, afastando-se dele, capaz de despertar novamente a representao mental desse mesmo objeto. O homem elaborou essa representao mental enquanto percebia o objeto. Ento se desenvolveu um processo entre seu corpo astral e seu eu; o corpo astral tornou consciente a impresso exterior do objeto. Contudo, o conhecimento do objeto s duraria enquanto este estivesse presente, caso o eu no o assimilasse e o incorporasse.Neste ponto, a percepo supra-sensvel distingue entre o corporal e o anmico. Fala-se de corpo astral ao se considerar a formao do conhecimento de um objeto presente. Porm o que confere durao ao conhecimento denominado alma. Ao mesmo tempo, pelo que foi dito se v quo estreita, no homem, a relao do corpo astral com a parte da alma que confere durao ao conhecimento. Ambos so, por assim dizer, unidos num s membro da entidade humana. Por isso se pode designar tambm essa unio como corpo astral. Querendo-se uma nomenclatura exata, pode-se designar o corpo astral do homem como corpo anmico, e a alma, na medida em que est unida a ele, como alma da sensao.O eu ascende a um grau superior de sua natureza quando dirige sua atividade quilo que ele, pelo conhecimento das coisas, tornou sua propriedade. Esta a atividade pela qual o eu se desliga cada vez mais dos objetos da percepo para atuar no que lhe prprio. A parte da alma relacionada com isso pode ser chamada de alma do intelecto ou da ndole. Tanto a alma da sensao como a alma do intelecto tm como caracterstica operar com o que assimilaram graas s impresses dos objetos percebidos pelos sentidos, conservando isso na recordao. Nisso a alma est completamente entregue a algo que, para ela, exterior. Ora, ela recebeu de fora tambm aquilo que transforma em sua propriedade por meio da recordao; no entanto pode transcender tudo isso, pois no apenas alma da sensao ou da ndole.A percepo supra-sensvel forma mais facilmente uma idia dessa transcendncia quando focaliza um fato simples, bastando apreci-lo em seu significado abrangente. Trata-se do fato de em toda a abrangncia da linguagem s existir um nome que, por sua natureza, se distingue de todos os demais: justamente o nome eu. Qualquer outro nome pode ser