o operario analise psicologica

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JOGO DA FORCA Trevor Reznik está começando a duvidar de sua própria sanidade. Na cena de abertura de “O Operário”, ele está dentro de seu apartamento enrolando algo num tapete – um cadáver. Mas seus problemas começaram um pouco antes. Nas suas próprias palavras, ele “não dorme há um ano”. Extremamente magro, ele parece às portas da morte. Ele trabalha como operador de maquinário numa fábrica e, obviamente, é visto com estranheza pelos colegas. Chega um novo operário na fábrica, o sinistro Ivan, mas aparentemente só Trevor parece conhecê-lo. Um sério acidente provocado por Trevor só o deixa em situação pior com os outros operários. Sua única amiga é a prostituta quarentona Stevie, de quem ele é cliente regular. Por causa da insônia, ele frequentemente vai até o aeroporto para conversar com a mãe solteira Marie, que trabalha como garçonete. Alguém está deixando recadinhos para ele grudados na porta de sua geladeira. Ao abandonar o corpo no tapete num local deserto, ele é surpreendido por um homem com uma lanterna, que pergunta: “Quem é você?”. Essa pergunta é a chave do filme “O Operário”, suspense psicológico dirigido com precisão e maestria por Brad Anderson e conduzido pela extraordinária performance de Christian Bale como Trevor, mais um discípulo do Método que levou seu papel às últimas consequências. Quem é Trevor? Quem ele matou e enrolou no tapete? Quem o está atormentando e o levando à paranoia? E principalmente, o que aconteceu com ele para trazê-lo a tal estado de desintegração física e posteriormente psicológica? Como se trata de uma narrativa subjetiva, onde o protagonista está presente em todos os momentos, este é o tipo de filme onde a performance do ator principal é fundamental. E Christian Bale impressiona tanto pela intensidade da sua atuação quanto pelo próprio aspecto físico do personagem, que neste caso é primordial para a história. O visual “campo de concentração” do ator chega a contribuir para o clima de angústia da história (para fazer o papel, Bale aparentemente vivia apenas com uma lata de atum e uma maçã por dia, chegando mesmo a despertar preocupação no diretor Brad Anderson). É uma atuação sem reservas e com entrega total de um ator que reconheceu um bom roteiro e a possibilidade de

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JOGO DA FORCA

Trevor Reznik est comeando a duvidar de sua prpria sanidade. Na cena de abertura de O Operrio, ele est dentro de seu apartamento enrolando algo num tapete um cadver. Mas seus problemas comearam um pouco antes. Nas suas prprias palavras, ele no dorme h um ano. Extremamente magro, ele parece s portas da morte. Ele trabalha como operador de maquinrio numa fbrica e, obviamente, visto com estranheza pelos colegas. Chega um novo operrio na fbrica, o sinistro Ivan, mas aparentemente s Trevor parece conhec-lo. Um srio acidente provocado por Trevor s o deixa em situao pior com os outros operrios. Sua nica amiga a prostituta quarentona Stevie, de quem ele cliente regular. Por causa da insnia, ele frequentemente vai at o aeroporto para conversar com a me solteira Marie, que trabalha como garonete. Algum est deixando recadinhos para ele grudados na porta de sua geladeira. Ao abandonar o corpo no tapete num local deserto, ele surpreendido por um homem com uma lanterna, que pergunta:Quem voc?.

Essa pergunta a chave do filme O Operrio, suspense psicolgico dirigido com preciso e maestria por Brad Anderson e conduzido pela extraordinria performance de Christian Bale como Trevor, mais um discpulo do Mtodo que levou seu papel s ltimas consequncias. Quem Trevor? Quem ele matou e enrolou no tapete? Quem o est atormentando e o levando paranoia? E principalmente,o que aconteceu com elepara traz-lo a tal estado de desintegrao fsica e posteriormente psicolgica?

Como se trata de uma narrativa subjetiva, onde o protagonista est presente em todos os momentos, este o tipo de filme onde a performance do ator principal fundamental. E Christian Bale impressiona tanto pela intensidade da sua atuao quanto pelo prprio aspecto fsico do personagem, que neste caso primordial para a histria. O visual campo de concentrao do ator chega a contribuir para o clima de angstia da histria (para fazer o papel, Bale aparentemente vivia apenas com uma lata de atum e uma ma por dia, chegando mesmo a despertar preocupao no diretor Brad Anderson). uma atuao sem reservas e com entrega total de um ator que reconheceu um bom roteiro e a possibilidade de mergulhar num personagem de forma completa. O filme apresenta um personagem extremo e s funciona porque o ator tambm foi a extremos para represent-lo.

Trevor (Christian Bale)

Acima, o retrato da dedicao de um ator ao seu papel

Bale domina, claro, mas o resto do elenco slido tambm, com atuaes simples e consistentemente boas. Jennifer Jason Leigh tima como Stevie, Aytana Snchez-Gjon adorvel como Marie e Michael Ironside (lembrado por seus papis de vilo) apropriadamente suspeito como Miller, operrio da fbrica que pode ou no culpar Trevor pelo acidente. Mas o destaque entre os coadjuvantes John Sharian no papel de Ivan: basta ele aparecer em cena para perturbar o espectador.

Trevor e Marie (Aytana Snchez-Gijon)

Ivan (John Sharian): cara simptico...

O Operrio cria um clima de paranoia que deixaria Alfred Hitchcock e Roman Polanski orgulhosos. No toa que o filme tenha referncias ao trabalho de ambos. O clima claustrofbico do apartamento do protagonista, onde algumas das mais importantes cenas se passam, evoca lembranas dos suspenses de apartamento de Polanski, como O Inquilino (Le Locataire, 1976) ou O Beb de Rosemary (Rosemarys Baby, 1968), de quem tambm herda o clima permanente de paranoia e intriga. O pequeno papel da senhoria do prdio de Trevor feita pela veterana Anna Massey, que trabalhou com Hitchcock e tambm no clssico controverso A Tortura do Medo (Peeping Tom, 1960). A trilha, composta pelo espanhol Roque Baos, remete s famosas trilhas dos suspenseshitchcokianoscompostas por Bernard Herrmann.

O filme tambm competentssimo no aspecto tcnico. O Operrio foi rodado na Espanha com uma equipe predominantemente espanhola, pois de acordo com o roteirista Scott Kosar, nenhum grande estdio americano se interessou pelo projeto. Mesmo com um oramento pequeno, a produo conseguiu reconstituir perfeitamente ruas americanas em Barcelona e encontrar as locaes perfeitas para a histria. Em nenhum momento o pblico duvida da autenticidade do filme. A fotografia, feita por Xavi Gimnez, exemplar, trabalhando com cores frias (verde, marrom, preto) para incluir perfeitamente o espectador no universo opressivo do filme - como se o permanente estado de insnia de Trevor lhe tivesse tirado a capacidade de perceber cores mais fortes. Quando uma cor forte finalmente aparece como o carro vermelho de Ivan a ateno do espectador imediatamente atrada para esse objeto, que acaba se revelando importante para a trama.

Bale e o diretor Brad Anderson

Tambm um filme rico em detalhes que teimam em aparecer em novas assistidas. Os relgios que parecem sempre indicar a mesma hora, as imagens recorrentes dos peixes e de instrumentos de pescaria (a vara dentro do armrio do protagonista), a repetio do tema visual das encruzilhadas (frequentemente Trevor se v diante de dois caminhos a seguir, e quase sempre pega o errado)... Esses pequenos detalhes deixam a experincia do filme mais rica e interessante, medida que o espectador se pega juntando as peas do quebra-cabea para v-las se encaixarem no final.

Estrada para o inferno ou rodovia para a salvao?

Em dado momento Trevor quase adormece com o livro O Idiota do escritor russo Dostoivski nas mos. Em outro momento o ttulo de Crime e Castigo aparece em um cenrio. So justamente esses os temas principais de O Operrio: como Rasklnikov, protagonista de Crime e Castigo, Trevor atormentado (embora, no seu caso, no perceba porqu), e sua jornada para entender a si mesmo e ao mundo sua volta tero desfechos semelhantes. O Operrio termina sendo uma histria sobre o que um homem precisa fazer para conseguir dormir, mesmo que sua conscincia no deixe.

Disponvel em DVD no Brasil pela Paramount Home Entertainment.

Ttulo Original:The MachnistTempo de Durao: 102 minutosAno de Lanamento (Espanha): 2004Direo:Brad AndersonRoteiro: Scott KosarProduo: Julio FernndezMsica: Roque BaosFotografia: Xavi Gimnez e Charlie JimenezEdio: Luis de la Madrid

ElencoChristian Bale (Trevor Reznik)Jennifer Jason Leigh (Stevie)Aitana Snchez-Gijn (Marie)John Sharian (Ivan)Michael Ironside (Miller)Larry Gilliard Jr. (Jackson)Reg E. Cathey (Jones)

Sinopse:Trevor Reznik ( Christian Bale) um operrio que est a um ano sem dormir. Desde ento, o cansao vem destruindo sua integridade fsica e mental. Tentando levar uma vida normal apesar da angstia, Trevor faz de tudo para manter seu emprego e pagar suas contas at que um acidente na fbrica aparentemente causado por sua desateno provoca grande parania em sua vida.

E o filme comea pelo fim. noite, as primeiras seqncias de O Operrio apresentam o personagem principal, Trevor ( Bale ) realizando um ato suspeito. Ele caminha at um penhasco e de l atira um corpo envolto por um carpete. Uma luz de lanterna denuncia-o , ele se assusta, no entanto, estranhamente, no levado nem preso. H um corte brusco para uma seqncia onde Trevor j se encontra em seu apartamento lavando as mos possivelmente sujas de sangue. elementos como lembretes de papel grudados na geladeira que aparecero como peas de ligao durante todo a narrativa tambm so apresentados . Os primeiros 4 minutos do filme "jogam" o espectador para dentro da histria sem nenhum tipo de orientao. O enigma ser difcil, quatro histrias so contadas : a do diretor, a criada por Trevor, a do espectador e a quarta; originria da descoberta de Trevor e do espectador ao fim do quebra-cabea.Uma montagem fragmentada , cheia de elipses sem "coerncia" mas que tem seus espaos "cortados" preenchidos ao fim do quebra-cabea como um processo de memria recuperada. Todas as explicaes para a histria esto fora do filme primeiramente apresentado. Apesar dos excessos de elipses , a narrativa se faz compreensvel , angustiante, direcionada para um desfecho, at o momento em que ela mesmo apresenta indcios de que algo est errado. Como exemplo, temos o constante desgaste fsico e mental do personagem Trevor, que, ao se olhar no espelho constantemente percebe que est ficando cada vez mais magro. Sua degradao fsica chocante . Descobre-se que Trevor est um ano sem dormir . Esta revelao traz a dvida se o que Trevor vive real ou um pesadelo, alucinaes causadas pela insnia crnica. A seqncia das imagens e o comportamento de outros personagens ( funcionrios da fbrica onde Trevor trabalha, uma prostituta apaixonada por ele, uma garonete e um amigo extico que s ele v) aumentam as suspeitas. As atitudes estranhas de Trevor e sua vida sedentria incomodam os "companheiros" da fbrica, a situao torna-se cada vez mais tensa at o momento em que um acidente causado pela desateno de Trevor. Um homem perde um brao e todos da fbrica se revoltam contra Trevor.Todas as noites de sexta Trevor Reznik se encontra com uma garonete em um aeroporto ( um lugar que a princpio parece estranho j que ele no vai viajar). No balco do aeroporto Trevor olha pra um relgio que marca sempre 1h30. Mais uma informao do quebra-cabea.O terror psicolgico vai ganhando maiores dimenses. Nunca vemos o personagem dormir. Descobrimos que a histria acontece no tempo cronolgico de dois dias na vida de Trevor no entanto, a montagem torna essa compreenso difcil, a sensao que temos de uma no cronologia, perdemos a noo do tempo, compreendemos a histria como um conjunto de fatos isolados.Surge a personagem Ivan ( John Sharian) , um tipo estranho que s visto por Trevor. A personagem Ivan parece criar uma situao bem parecida com a que temos em Clube da Luta ( David Fincher,1999), o seu desfecho tambm semelhante, descobrimos que ele no existe, na verdade, que ele o prprio Trevor, um ser criado pelo seu transtorno mental . Esse personagem causa o acidente na fbrica ao distra-loOs bilhetes amarelos pregados na geladeira so progressivamente mudados. Trevor se desespera porque sabe que no ele quem os escreve. A suspeita de ter algum brincando com sua casa e com sua vida faz com que o personagem comece a desconfiar de todos que esto em sua volta.Os cortes tornam-se cada vez mais incoerentes, as fuses ligam situaes com tempos diferentes, a sensao de realidade interrompida por sonho, dormimos com o personagem e acordamos to desnorteados quanto ele. Trevor cochila dentro do carro em um cruzamento durante o sinal vermelho ( este lugar aparece mais de uma vez na trama).Sobre efeito do lcool, Trevor, em um bar , reencontra Ivan ( mais um indcio que Trevor cria certas situaes). Durante uma ida de Ivan ao banheiro, Trevor rouba sua carteira ( na verdade descobrimos que a carteira do prprio Trevor) ele busca provas que tenham relao com o acidente da fbrica.Em uma outra seqncia, Trevor est em uma parque de diverses com a garonete e seu filho. Ele tira fotos e se lembra de j ter freqentado aquele local durante sua infncia. A situao surreal, Trevor, com uma aparncia mrbida consegue sair com a moa da lanchonete que lhe d muita ateno, convidando-o at para tomar uma bebida em casa. A cena de um possvel envolvimento amoroso entre os dois, no entanto no revelada ( mais uma elipse que ao final descobrimos no acontecer).Trevor est na busca de Ivan, no entanto, o personagem ( como num pesadelo) some e aparece a todo instante. Trevor tenta de qualquer maneira ach-lo e simula um acidente em que atropelado ( Trevor anota a placa do " carro" de Ivan ) afim de ach-lo na cidade. D queixa na polcia e informa a placa de Ivan. A revelao: A placa do seu prprio carro. Este terror psicolgico apresenta durante toda a narrativa essas "doses de conscincia" do personagem e do espectador. Trevor foge da polcia, ele sente que cometeu um grande erro e o sentimento de culpa ( antes de alienao) toma conta do personagem que busca consolo na prostituta que tem uma grande afeio por ele. Tomado pela loucura e pela desconfiana, Trevor discute com a mulher, acusando-a de ter envolvimento com Ivan e com seu estado de transtorno. Trevor sai da casa da prostituta e vai at o aeroporto na busca da garonete. Ao chegar na lanchonete do aeroporto, Trevor se assusta ao perceber que a "sua garonete" na verdade nunca existiu, nunca trabalhou l. Uma mulher estranha vem atend-lo. Percebe-se que ele ia naquela lanchonete e permanecia sentado , imvel, mudo, imaginando todo seu dilogo com a moa. Mais uma vez parte desnorteado. Durante a fuga encontra Ivan, h uma perseguio, ele mata Ivan. A cena do incio do filme aparece nestas ultimas seqncias. Ivan que est enrolado no carpete lanado do penhasco e o mesmo Ivan que se aproxima com a lanterna. Temos certeza da loucura de Trevor e da fragmentao da histria.Mais revelaes: Trevor cometeu um crime, atropelou uma criana e fugiu, ainda em estado fsico e mental normais, descobrimos que no momento do acidente Trevor bloqueou aquele acontecimento da memria, entretanto a angstia da culpa continuou acompanhado-o at se materializar em um personagem: Ivan. A garonete a me do menino que corre para socorr-lo durante o atropelamento. nica vez que Trevor v a imagem daquela mulher, a partir daquele momento ele a grava na memria e comea a criar histrias com ela, faz com que ela vire sua amiga , uma espcie de redeno. O menino atropelado est morto, em uma das cenas excludas do filme e disponveis nos extras do DVD possvel ver o encontro real de Trevor com a me do garoto em um cemitrio. A cena foi suprida pelo diretor que afirma que a grande "paz do sono" que Trevor busca no vir do perdo da mulher e sim da tomada de sua conscincia, recuperao da memria e reconhecimento do erro. Trevor abandona a casa e se entrega a polcia, seu nico desejo de dormir. Trevor se despede dos fantasmas e descansa na cama da priso. Temos a ltima seqncia ( a do momento do acidente novamente ) .Trevor dirige, ele est em um tnel, percebemos que durante sua sada algo acontece. Fade out, luz branca invade a tela.O Operrio consegue chegar ao patamar de filmes como Clube da Luta e Amnsia, compreendendo-se como um inteligente trailler de terror psicolgico que envolve o espectador colocando-o no mesmo ritmo da personagem principal. A montagem fragmentada que omite informaes importantes. tem suas lacunas preenchidas gradualmente por Trevor e pelo pblico. Este recurso narrativo somado a um ambiente sinistro e misterioso desempenha sua funo. Os flash-backs so mas que inserts de lembranas, so plot points poderosos. Paradoxalmente a montagem de O Operrio traz um ritmo lento, diferente de Clube da Luta e Amnsia que aceleram os acontecimentos. Neste filme os planos so longos, existe o tempo para a compreenso , para concluses que mais tarde sero destrudas. "Quanto mais ele ( personagem) souber, menos ele vai querer saber" , explica o diretor Brad Anderson.

Insnia e o aparelho psquico: O operrio existente em nsbyCristiane Luzia Dos Santos Vazon24 de agosto de 2009inTrabalhos de Concluso de Curso ou de Disciplina PsiTrabalho de Concluso de Curso: Sujeitos da PsicanliseCogeae Coordenao Geral de Especializao, Aperfeioamento e Extenso.Professoras:Paula R PeronAlessandra BarbieriElizabete AntonelliAluna:Cristiane Luzia dos Santos Vaz.IntroduoO homem passa a maior parte de seu tempo acordado entretido ou engajado com o trabalho, estudo e nas realizaes de projetos. Mas, se importante este dia a dia para a construo de sua identidade importante tambm uma boa noite de descanso, no apenas para revitaliz-lo para assim produzir a energia para o longo dia que ter pela frente como para que seja possvel o descanso de seu aparelho psquico to brilhantemente postulado por Sigmund Freud.A insnia a dificuldade de iniciar ou manter o sono, bem como podemos considerar tambm um sono no reparador, ocasionando assim a fadiga, o cansao, alteraes de humor e at um melhor desempenho profissional alm de ocasionar problemas de ordem emocional e afetiva.Podemos notar que a clnica Freudiana enfrenta grandes transformaes, as chamadas histricas que tiveram o prazer em refutar o div psicanaltico de Freud e atravs de mtodos como a associao livre e terem a oportunidade de entrar em contato com seu inconsciente e assim trazer a tona contedos adormecidos, mas que as impediam de ter uma vida normal, hoje buscam na Psiquiatria e atravs das plulas mgicas a soluo para seus problemas, inclusive a insnia.Podemos dizer que vivemos divorciados de nossas culturas e afastados de nossas histrias pessoais, nos aproximamos a cada dia de um cotidiano meramente racional, onde a Lei que rege todo este movimento dirio vai muito alm de qualquer teoria postulada por Darwin. As pessoas buscam a similaridade acreditando ser este o modo de vida considerado normal, invalidando qualquer modo possvel de subjetividade. E assim buscam atravs de medicamentos ou novas frmulas revolucionrias a cura de seus males, estes que muitas vezes lhes atravessam a alma e encontram-se enraizados em cada espao de seu inconsciente.Segundo Pereira, professor na Unicamp (2006), uma boa plula no ataca os problemas concretos, existenciais. Diante disso torna-se fato a importncia de uma terapia que supre a busca almejada de boas noites de sonhos.Antes mesmo de Freud postular A Interpretao dos Sonhos em 1900 o sonho j tinha sido estudado por algumas civilizaes, que interpretavam os sonhos como pressgios ou premunies. Psicanaliticamente podemos pensar que o sonho nada mais do que a vida real levada fantasia, trazendo consigo contedos significativos e at ento inconscientes. O que dizer ento dos indivduos que no dormem? Quo sofrvel o seu encontro com contedos que teimam em surgir mesmo que maquiados e que parecem no ter lgica alguma?O presente trabalho busca a discusso psicanaltica a respeito do sono e nosso aparelho psquico, tendo como papel de fundo o filme O Operrio, que tornou possvel a discusso de termos apresentados sobre Sonhos, assim como tem o intuito de incitar novos questionamentos e possibilidades de um problema que se torna mais comum na atualidade, a insnia.O aparelho Psquico- Discusso TericaEm 1900, com a Interpretao dos sonhos, Freud procura descrever sobre sua clnica e as experincias sobre seus pacientes e seus sonhos. Desta forma, postulou que durante o sono contedos inconscientes poderiam surgir condensados ou deslocados, ou seja, haveria nos sonhos supostamente sem sentido contedos disfarados de desejos reprimidos em busca de uma elaborao.Se analisarmos o filme O operrio, o protagonista Trevor, j est h um ano sem dormir e definha-se a cada dia, emagrecendo mais e mais. A princpio o que vemos nada mais alm de um comportamento compulsivo, onde lava as mos, ou o piso do banheiro com uma escova de dente, pelas madrugadas j que no consegue dormir, numa busca desenfreada de alguma interpretao.Segundo Gevertz (2009) os sintomas compulsivos so maneiras do indivduo de elaborar um material psquico indigesto ao seu psiquismo. Tendo por objetivo livr-lo da angstia trazida por idias, pensamentos e afetos. Ainda sobre a autora ela nos traz a o que j foi aferida por Freud em sua clnica da neurose, de que o trabalho do psicanalista propiciar possibilidades da edificao de uma personalidade menos rgida e mais flexvel ao invs de possibilitar o aparecimento de sintomas.No filme nosso protagonista em seu trabalho tem a sensao que est sendo perseguido, havendo um compl contra ele. E neste desenrolar dos fatos, vemos situaes mascaradas e conseguimos fazer um paralelo entre a teoria psicanaltica e a estria.O protagonista no consegue dormir, como se buscasse o controle de suas aes o tempo todo. Eis, que comea a ver e conversar com um homem, surgindo assim um comportamento esquizofrnico e situaes que ocasionam uma srie de acontecimentos desagradveis que o levam at a causar um acidente de trabalho, o que resulta claro no pice de seu comportamento ansioso, alucinatrio e o permite aos poucos lembrar fatos de seu inconsciente que explicam muito de seu cotidiano, o fazendo questionar-se sobre o que seria real do ilusrio.O que nos remete a elaboraes e associaes assim como ocorre na interpretao de sonhos. Ele mesmo que lutasse para que isso no fosse permitido com o sono, acaba facilitando esta elaborao na busca do real trazendo a tona contedos condensado de carter flico, pois, nos abordada a deficincia nos dedos e nos faz pensar se ele fosse nosso paciente em como faramos uma investigao quanto dissoluo de seu complexo de dipo, j que seu pai o abandonou quando era criana. Podemos pensar tambm na garonete e na figura materna que esta despertava nele.O filme que nos traz uma srie de interpretaes ao final, assim como em um final de terapia nos surpreende com todo o percurso transcorrido para chegar cena original resultante de tantos fatos e tamanha angstia.O operrio nos convida a uma viagem pelo seu inconsciente, passando por suas represses e seu contedo no elaborado de uma culpa eminente que busca a todo o momento suprir a necessidade de encobrir um erro do passado. Vemos que personagens que aparecem no seu cotidiano real ou por ele resignificados, ou seja, personagens pr- determinadas de como sero e o que faro para ele so traos mnmicos de seu desenvolvimento psquico. A garonete que aparece na fico a figura da me do menino que ele atropelou e no socorreu com traos de sua parenta maternal, trazendo de suas lembranas mais tnues objetos os quais sua prpria me tinha, como por exemplo, um vaso.O operrio com deficincia na mo traz traos de seu carter e de seu fsico antes do acidente, o que nos remete ao seu falo, por causa dos dedos e o que nos liga a sua amiga prostituta que repete a seus ouvidos que ele se ele fosse mais magro no existiria o questionando at mesmo o papel de homem que estaria ali representando para ela. Assim como a partir destas falas representa a sua parania, pois segundo Freud (1900) as malformaes verbais nos sonhos se assemelham a parania, portanto se pensarmos que mesmo sem adormecer faz este movimento elaboratrio utilizando de seus delrios podemos ento pensar em suas linguagens faladas como resultantes desta parania que surge a partir destas condensaes e deslocamentos de idias.Desta forma, nesta pequena viagem pelo seu inconsciente ele buscou no acreditar na culpa que teria porque tudo foi como se no tivesse acontecido. E foi preciso assim como na cena em que caminha sobre uma fossa em meio aos ratos que chegasse, ao fundo do poo para que se deparasse sobre si mesmo, aprendendo sobre o mundo, as pessoas, mas tambm se conhecendo como um sujeito que pode vir a mudar seu destino e assumindo as suas escolhas.Se Trevor conseguisse, ou melhor, se permitisse dormir, teria j trazido toda esta bagagem psquica anteriormente, segundo Freud a maioria das idias reveladas em anlise, j esto em ao durante o processo do sonho. Da podemos pensar em todo este seu trajeto mesmo que solitrio como uma espcie de analise e o quanto de toda a sua angstia no transitou pelos seus sonhos.O personagem ao final de sua jornada lembra-se da culpa e assim permite-se dormir. Como se a sua conscincia estivesse livre como h muito tempo no sabia como era. As vises se dissolveram como um sonho sem sentido e ele pode entender que no importa para onde v sua conscincia de tudo o que causou no o abandonar.

ConclusoComo possvel acordar de um pesadelo se no se est dormindo?O filme nos questiona exatamente isso, o que nos faz refletir sobre a dificuldade da sociedade atual em acordar de seus pesadelos e do mundo em que est inserido uma vez que no se est dormindo. preciso cortar as amarras de tudo o que nos foi imposto ou eliminar o que foi injetado em nossas veias subjetivas para que possamos nos responsabilizar por ns mesmos, por nossos destinos e tenhamos conscincia de nossas aes. o momento que deixemos frmulas mgicas e passemos a olhar para ns mesmo, assim como Trevor o fez, mesmo que isso nos custe abandonar aparente tranqilidade de nossas conscincias e que sejamos chamados as nossas razes.Competem a ns terapeutas a conscientizao da importncia de nossas aes e de nossa tarefa. Freud em A Interpretao dos Sonhos (1900) j nos chamou ao trabalho quando disse:Estamos, portanto, diante de uma nova tarefa que no tinha existncia previa, ou seja, a tarefa de investigar as relaes entre o contedo manifesto dos sonhos e os pensamentos onricos lactentes, e de desvendar os processos pelos quais estes ltimos se transformaram naquele.Destarte devemos reavaliar esta sociedade onde a insnia se faz presente comumente, para que tenhamos mais pessoas bem resolvidas a pessoas que buscam a felicidade nas realizaes materiais. Sei que a felicidade subjetiva e desta forma no h receitas como as de bolo, mas devemos nos aferir mais sobre o que estamos fazendo dos nossos dias. Por que as noites so solitrias para aqueles que as passam diante das janelas ou em frente a televisores? Ser que na busca de conhecermos melhor mais e mais pessoas no estamos nos distanciando de quem realmente ns somos?Desta forma o presente trabalho tem como intuito propagarmos a importncia da terapia numa sociedade liberal, onde os jovens tm liberdade de expresso e de ir e vir, mas sociedade esta que tambm que discriminalista ao ponto de julgar o que certo ou no, independente da individualidade de cada um e ditaduralista, onde quem dita s regras a minoria, embasada em pr- supostos, onde cada vez mais se tem menos tempo para si, pois, o trabalho consome a maior parte do tempo, em pr de um melhor desenvolvimento e uma vida com supostas possibilidades e maiores prosperidades.Assim, fica a proposta para os tantos psiclogos que temos como colegas de trabalho a sugesto de elaborarmos um projeto com essa massa populacional que tende a insnia para descobrirmos assim novas discusses psicanalticas e quem sabe elaborarmos novas teorias complementares as j existentes postuladas brilhantemente pelos nossos pensadores psicanalistasBibliografia- Freud, S. Obras Psicolgicas Completas. A Interpretao dos Sonhos (I). v. IV. Rio de Janeiro: Imago, 2006.- Freud, S. Obras Psicolgicas Completas. A Interpretao dos sonhos e Sobre os Sonhos (II) v. VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.- Available from:http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/ju334/pag09.pdf.(21 a 27 de Agosto de 2006).- Gevertz, S. Material Psquico Indigesto. Revista Psique,So Paulo, V. 40, 2009.O que Catarse:Catarse um termo de origem filosfica com o significado de limpeza ou purificao pessoal. O termo provm do grego ktharsis e era utilizado por Aristteles para designar o efeito causado no pblico durante e aps a representao de uma tragdia grega. A catarse era o estado de purificao da alma experimentada pela plateia atravs das diversas emoes transmitidas no drama.O termo tambm utilizado para designar o estado de libertao psquica que o ser humano vivencia quando consegue superar algum trauma como medo, opresso ou outra perturbao psquica. Atravs de terapias clnicas como a hipnose ou a regresso, possvel resgatar as memrias que provocaram o trauma, levando o indivduo a atingir diferentes emoes que podem conduzir cura.A catarse como processo de cura emocional atravs da psicanlise era defendida por Sigmund Freud, que integrou os estudos sobre hipnose, j desenvolvidos pelo austraco Joseph Breuer, nas suas anlises sobre a influncia das memrias do inconsciente no comportamento humano.No sentido religioso, a catarse o estado de purgao espiritual que o indivduo almeja, por exemplo, atravs da confisso. As emoes manifestadas pelos participantes de um ritual religioso so tambm demonstraes de catarse ou de purificao da alma.Osignificado de Catarseest na cate