o novo partido chega à galiza as interrogantes do podemos...

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número 145 15 de FeVereiro a 15 de março de 2015 2 € periódico galego de informaçom crítica o mito do miniFúndio 9 A pequena agricultura familiar foi atacada durante décadas como causa de atraso. Com O pequeno é grande, Xoan Carlos Carreira e Emilio Carral revisam esse mito e formulam umha revalorizaçom do minifúndio galego. as contas de corcoesto 11 A mineraçom continua a ser umha ameaça para Bergantinhos. Ante as crí- ticas, as empresas do setor nom cesam de repetir o mesmo argumento: os no- vos postos de trabalho. O economista Xabier Villares desmonta esta falácia. N ovas da G ali a “A promoçom acrítica de qualquer produto ‘em galego’ neutraliza a discrepáncia” isAAC lOuridO investigador e crítico, autor de ‘livros que nom lê ninguém’ pág. 22 e 23 oPiniom em defesA dA AssembleiA por Joám evans / 3 A CAixA de pAndOrA por teresa moure / 3 venHAm merdeirAs! venHAm merdeirOs! por Aarón l. rivas / 28 sUPlemento central a reVista O pAtrOm dA sexuAlidAde pOpulAr De todo o santoral relacionado com o amor, o sexo e a produçom, o Santo António de Lisboa era o favorito da Galiza tradicional. ObservAtóriO dO AudiOvisuAl dA GAlizA A nefasta política audiovisual da Junta levou à criaçom deste organismo independente por parte de profissionais do sector. Afectadas pola Hepatite C acusam Junta de Galiza de obstruir deliberadamente o acesso aos seus fármacos. / PÁG.15 As interrogantes do Podemos galego o noVo Partido cheGa à Galiza Podemos acaba de escolher a sua direçom autonómica, mas as interrogantes sobre as suas pro- postas para Galiza estám ainda longe de se despejar. Os bons re- sultados que lhe auguram os in- quéritos obrigam a preguntar-se como o novo partido pode mu- dar o mapa político galego ou co- mo vai encarar a questom nacio- nal. Por agora, é difícil ter algum- ha resposta sobre seguro. O poli- tólogo Xaime Subiela e o jorna- lista Anxo Lugilde dam algum- has das chaves para entender o Podemos galego / PÁG. 16-17 Pôr o estado policial no foco mediático ‘ciUtat morta’ denUncia imPUnidade Fazer pública a verdade da montagem policial do 4 de fe- vereiro de 2006 em Barcelona, expor as torturas sofridas polas pessoas detidas, e denunciar a cumplicidade de poder judicial e político na manipulaçom de provas e o encobrimento dos crimes policiais. Esta é a natu- reza do documentário ‘Ciutat Morta’, cuja emissom pola tele- visom pública catalana véu provocar um debate que irrom- peu em todas as agendas me- diáticas e atingiu todos os es- tratos da sociedade. / PÁG. 12-14 26F: GreVe estUdantil Qual é o preço dumha vida? cara Um ensino elitista diriGido Polo emPresariado Umha nova greve convocada polo estudantado pom de relevo as consequências do novo modelo educativo do ministério de Educaçom. As medidas da Lomqe exponhem um sistema educativo baseado na segre- gaçom e o controle do dia-a-dia nos centros de ensino. Por outra banda, as empresas, às que o Estado consi- dera agentes sociais indispensáveis, irám ganhando poder mesmo em órgaos de decissom de instituiçons educativas, tal como estabelece a Estrategia Universi- dade 2015. Para além, um sistema de bolsas enfra- quecido denega ajudas mesmo por carecer de “recur- sos económicos suficientes” para estudar. / PÁG. 18-19 ENRIC CATALÀ LIGA ESTUDANTIL GALEGA

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Page 1: o noVo Partido cheGa à Galiza As interrogantes do Podemos ...novas.gal/wp-content/uploads/2016/10/ngz145.pdf · de relevo as consequências do novo modelo educativo ... Joám evans

número 145 15 de FeVereiro a 15 de março de 2015 2 €

p e r i ó d i c o g a l e g o d e i n f o r m a ç o m c r í t i c a

o mito do miniFúndio 9A pequena agricultura familiar foiatacada durante décadas como causade atraso. Com O pequeno é grande,Xoan Carlos Carreira e Emilio Carralrevisam esse mito e formulam umharevalorizaçom do minifúndio galego.

as contas de corcoesto 11A mineraçom continua a ser umhaameaça para Bergantinhos. Ante as crí-ticas, as empresas do setor nom cesamde repetir o mesmo argumento: os no-vos postos de trabalho. O economistaXabier Villares desmonta esta falácia.

Novas da Gali a

“A promoçomacrítica dequalquer produto‘em galego’neutraliza adiscrepáncia”

isAAC lOuridOinvestigador e crítico,autor de ‘livros que nomlê ninguém’pág. 22 e 23

oPiniom

em defesA dA AssembleiA por Joám evans / 3

A CAixA de pAndOrA por teresa moure / 3

venHAm merdeirAs! venHAm merdeirOs!por Aarón l. rivas / 28

sUPlemento central a reVista

O pAtrOm dA sexuAlidAde pOpulArDe todo o santoral relacionado com o amor, o sexo e a produçom,o Santo António de Lisboa era o favorito da Galiza tradicional.

ObservAtóriO dO AudiOvisuAl dA GAlizAA nefasta política audiovisual da Junta levou à criaçom desteorganismo independente por parte de profissionais do sector.

Afectadas pola Hepatite C acusam Junta de Galiza de obstruirdeliberadamente o acesso aos seus fármacos. / PÁG.15

As interrogantes doPodemos galego

o noVo Partido cheGa à Galiza

Podemos acaba de escolher asua direçom autonómica, mas asinterrogantes sobre as suas pro-postas para Galiza estám aindalonge de se despejar. Os bons re-sultados que lhe auguram os in-quéritos obrigam a preguntar-secomo o novo partido pode mu-

dar o mapa político galego ou co-mo vai encarar a questom nacio-nal. Por agora, é difícil ter algum-ha resposta sobre seguro. O poli-tólogo Xaime Subiela e o jorna-lista Anxo Lugilde dam algum-has das chaves para entender oPodemos galego / PÁG. 16-17

Pôr o estado policialno foco mediático

‘ciUtat morta’ denUncia imPUnidade

Fazer pública a verdade damontagem policial do 4 de fe-vereiro de 2006 em Barcelona,expor as torturas sofridas polaspessoas detidas, e denunciar acumplicidade de poder judiciale político na manipulaçom deprovas e o encobrimento dos

crimes policiais. Esta é a natu-reza do documentário ‘CiutatMorta’, cuja emissom pola tele-visom pública catalana véuprovocar um debate que irrom-peu em todas as agendas me-diáticas e atingiu todos os es-tratos da sociedade. / PÁG. 12-14

26F: GreVe estUdantil

Qual é o preço dumha vida?

cara Um ensino elitistadiriGido Polo emPresariado

Umha nova greve convocada polo estudantado pomde relevo as consequências do novo modelo educativodo ministério de Educaçom. As medidas da Lomqeexponhem um sistema educativo baseado na segre-gaçom e o controle do dia-a-dia nos centros de ensino.Por outra banda, as empresas, às que o Estado consi-

dera agentes sociais indispensáveis, irám ganhandopoder mesmo em órgaos de decissom de instituiçonseducativas, tal como estabelece a Estrategia Universi-dade 2015. Para além, um sistema de bolsas enfra-quecido denega ajudas mesmo por carecer de “recur-sos económicos suficientes” para estudar. / PÁG. 18-19

ENRIC CATALÀ

LIGA ESTUDANTIL GALEGA

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02 oPiniom Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

Se tés algumha crítica a fazer, algum facto a denunciar, ou desejas transmitir-nos algumha in-quietaçom ou mesmo algumha opiniom sobre qualquer artigo aparecido no NGZ, este é o teulugar. As cartas enviadas deverám ser originais e nom poderám exceder as 30 linhas digitadasa computador. É imprescindível que os textos estejam assinados. Em caso contrário, NOVAS DA

GALIZA reserva-se o direito de publicar estas colaboraçons, como também de resumi-las ou ex-tratá-las quando se considerar oportuno. Também poderám ser descartadas aquelas cartasque ostentarem algum género de desrespeito pessoal ou promoverem condutas antisociaisintoleráveis. Endereço: [email protected]

o PeloUrinho do noVas

em lUita contra a mineira Yanacocha

Longe de ser unicamente umhacausa legal, o caso Máxima con-tra Yanacocha (filial da NewmontMining) está no centro de umproblema político que sacudiuCajamarca e o Peru nas últimasdécadas: a relaçom entre os gran-des investimentos mineiros e osdireitos das famílias e comunida-des camponesas que nom dese-jam o desenvolvimento de ativi-dades extrativas na sua contorna.

Umha vez um mineiro dixo-lhea Máxima Acuña que se estava aolado da mina ia ter o céu, mas quese se punha em contra ia remataresmagada, tal como um elefanteesmaga umha formiga

A sua casa fica frente à LagoaAzul, umha das lagoas que seráafetada polo Projeto MineiroConga e que forma parte da cabe-ceira de conca de Celendín: estalagoa é o coraçom de muitos riosque irrigam o campo onde milha-res de camponeses semeiam ecultivam a terra. E dessa terranasce o nosso alimento.

Máxima vive ali, acima, onde

nasce a água e o sol, entre chuvastorrenciais e brétema turbulenta,entre ambiciosos mineiros e cor-rompidos “agentes da lei”. Aquinasceu a sua coragem.

Como umha mulher enfrentadaao poder de umha grande empre-

sa converteu-se num símbolo pa-ra os cajamarquinos, e para todosos que luitam por defender omeio ambiente contra a barbárie.

O 2011 foi para Máxima Acuñao ano do início de umha batalhadesigual contra a poderosa minei-

ra Yanacocha, que tenta tomarcontrole dos seus terrenos, des-conhecendo, alega Acuña, o certi-ficado em que consta que ela ad-quiriu a propriedade à comunida-de de Sorocucho. Estas terras,nas quais ela vive e trabalha com

a sua família desde 1994, somcontíguas à Lagoa. A história pré-via é que a empresa quixo com-prar e Máxima nom quixo vender.

Máxima e a sua família fôromatacados por polícias em várias oca-sions, as mais graves em maio e emagosto de 2011. Houve queimas,desfeitas; operários introduzírommaquinaria nos seus terrenos, osseus filhos fôrom golpeados. Masela nom suportou em silêncio o abu-so, denunciou umha e outra vez.

O passado 3 de Fevereiro de2015, o advogado de Máxima Acu-ña dixo à prensa que polo menos200 polícias entraram nas suas ter-ras em Tragadero Grande (Soro-chuco, Cajamarca) e derrubároma ampliaçom da casa desta, reali-zada para reforçar a estrutura davivenda contra as chuivas.

Máxima Acuña é um símbolona luita contra os abusos da me-gamineraçom e na defesa da suaterra perante a barbárie destruti-va do colonialismo.

Todas e todos somos MáximaAcuña!

Conga nom vai!!!

Plataforma pola defesa de Corcoesto e Bergantinhos

Cada dia doze pessoas mor-rem por Hepatite C no Es-tado espanhol. O governo

obstrue o reparto do fármaco ca-paz de curá-la valendo-se de um-ha listagem de critérios que de-vem cumprir as doentes. Basica-mente som dous: estar na fasequatro da doença -a terminal- e terpassado por um transplante.

A Junta da Galiza tem competên-cia avondo para flexibilizar estesrequisitos e ampliar as doentes tra-tadas assumindo essa parte do fi-

nanciamento, tal como fai o gover-no catalám. Por contra, o governogalego opta pola postura contrária.

Nos últimos meses impediu queas doentes recebam com normali-dade o fármaco financiado polo Mi-nistério. Por um lado, extraviam-seas petiçons do medicamento e, poroutro, as pessoas que tenhem apro-vada a solicitude do fármaco nomo estám a receber. É mais, durantetrês meses, as galegas tivérom osrequisitos mais restritivos do Esta-do para acederem ao fármaco polo

mero facto de que a SubcomissomGeral de Farmácia da Junta da Ga-liza nom actualizara ao seu devidotempo os critérios em vigor.

A identidade desta Subcomis-som foi revelada este mês polaPlataforma de Afetadas pola He-patite C ressaltando os cargos po-líticos que há dentro dela. Som odiretor geral de assistência sanitá-ria do Sergas, Félix Rubial; a sub-diretora geral de farmácia, Caroli-na González; José Antonio Valcár-cel, Direçom Geral de Assistência

Sanitária; chefe do Serviço Dixes-tico do CHUAC, Juan Turnes; mé-dica especializada em enfermida-des infecciosas, Ángeles Castro;o hepatólogo Santiago Tomé Mar-tínez; Ignacio Martín e FranciscoSuárez, serviço digestivo e o far-macéutico, Luis Margusino.

Através desta engrenagem ad-ministrativa, o medicamento ape-nas se está dispensando e, portan-to, o financiamento público domesmo é quase nulo. Este descaropor parte dos governos -espanhol

e galego- impede-nos chamar-lhesmortes ao que som assassinatos.

E se agora matam as enfermaspola Hepatite C, quem seremos asseguintes? Os valores e as medidasneoliberais estám a se incrustar nosistema sanitário galego piorandonotavelmente a sua qualidade. Sóhá que lembrar a imagem dos hos-pitais a começos de ano: os corre-dores do andar de urgências colap-sados, as camas instaladas nos cor-redores, pessoas sentadas no chaoe umha lista de espera que supera-va as dez horas. O governo está apôr preço à nossa vida. Que quanti-dade de dinheiro pode ser capaz delegitimar a morte de umha pessoa?

O governo que matava o seu povoeditorial

hUmor rUth caramés

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçom respeitando a ortografia e citando procedência.

editOrAA.C. minHO mediA

COnselHO de redAçOmAarón lópez rivas, rubén melide, xavier miquel, raul rios, xoán r. sampedro, Olga romasanta, beti vázquez, Alonso vidal e Ana viqueira

COOrdenAçOm: xoán r. sampedro

seCçOnsCronologia: iván Cuevas / economia:raul rios / mar: Afonso dieste /

media: xoán r. sampedro e Gustavo luca / Além minho: eduardo s. maragoto / povos:José Antom ‘muros’ / dito e feito: Olga ro-masanta / A denúncia: iván García / despor-tos: Anjo rua nova e xermán viluba / Consu-mir menos, viver melhor: xan duro / A Crian-ça natural: maria Álvares rei / Agenda: ireneCancelas / A revista: rubén melide / A Gali-za natural: João Aveledo língua nacional:isabel rei samartim / Criaçom: patricia Ja-neiro / Cinema: xurxo Chirro, iván GarcíaAmbruñeiras e Julio vilariño

mAQuetAçOm: H. Carvalho, manuel pintor

fOtOGrAfiAArquivo nGz, sole rei, Galiza independente(Gzi-foto), zélia Garcia, borja toja

AdministrAçOm: Carlos barros Gonçales

AudiOvisuAl: Galiza Contrainfo

HumOr GrÁfiCOsuso sanmartin, pestinho, xosé lois Hermo,Gonzalo, ruth Caramés, pepe Carreiro, mincinho, beto

feCHO de ediçOm: 19/02/2015

COrreçOm linGÜÍstiCAxiam naia, f. Corredoira, vanessa vila verde, mário Herrero, Javier Garcia, iván velho, José dias Cadaveira, Albano Coelho

COlAbOrAm neste nÚmerOruth Caramés, Joám evans pim, teresamoure, Carlos C. varela, xabier i. villares,ramón serra, maria Álvares, víctor serri,Celso Álvarez Cáccamo, Alberte lousada eÉire García Cid.

Polas Filhas dos nossos Filhos

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Os calendários da políticasão cíclicos, como os daagricultura. Em vez de

primavera, verão, outono e inver-no, os nossos tempos convulsosincluem pré-campanhas, campa-nhas, eleições, valoração das táti-cas e volta começar. Talvez por is-so, porque sabemos do ritmo roti-neiro das agendas, a política pre-cisa ser resgatada desse panora-ma institucional que a sufoca.Chega a estação das eleições eninguém tem já capacidade parase surpreender. Políticos imputa-dos, veneráveis corruptos, escân-dalos de quem acaba de chegar: o

circo abre as suas portas. Nos mi-tos gregos, Pandora era um per-sonagem feminino desenhado pa-ra seduzir e dotado, portanto, detodas as virtudes de uma boa can-didata: sabedoria, atrativo e capa-cidade de persuasão. Mas, comoera uma criatura presta a fascinar,como os deuses a conceberam pa-ra captar o interesse alheio... tam-bém colocaram nela a semente dacuriosidade. Quando Pandora te-ve nas mãos uma caixa com a in-dicação expressa de que não deviaser aberta, a curiosidade pôdecom ela. Tirou da tapa e viu comotodos os males se dispersavam pa-ra sempre pelo mundo. Assustada,Pandora fechou a caixa rapida-mente, de modo que ficou dentro

apenas uma virtude que, sabe láporquê, também estava na caixa:a esperança. A humanidade jánunca poderia tê-la.

O mito, para além doutras leitu-ras –como a inevitável conexãocom a Eva bíblica e a tendência adescarregar nas mulheres toda aresponsabilidade das decisões fu-nestas– pode aplicar-se à situaçãopolítica atual na Galiza: partidos,corpúsculos, círculos, grupos esubgrupos, desavidos, reviradas,dissidentes, restos do que antesfoi, marés e assembleias prepa-ram-se para batalhar. Haverá in-sultos, desqualificações e o riscode que candidatas e candidatos,seguramente tão magníficos co-mo Pandora, abram por acaso a

tapa e deixem escapar o que de-viam ser apenas ilusões. As orga-nizações procuram algumas carasbrancas, não desgastadas, paracolocarem nos seus cartazes. Al-guns rostos assomam de novacom plataformas cívicas que nãoconcorrem, mas pretendem ani-mar o panorama. As mensagensbatem de maneira tão repetitivaque é difícil parar-se a entenderos matizes. Porém, a ferocidadedas ruas não olha para as eleições;tenta armar-se contra os despejosou ativar-se nos escrachos às gen-tes ilustres de escassa ética. A re-sistência cultural não concorre àsurnas: só tece redes. Os relatos denovas formas de vida que seadiantam ao esgotamento do pe-

tróleo não se apresentam a elei-ções. A maioria dos ativismos nãoolham para as instituições. Comosão minoritários, como não estãobastante organizados, como nãoressoam nos meios de in-comuni-cação ficam fora de foco. Resguar-dados. Como a esperança.

03oPiniomNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

oPiniom

Com a “estética assem-blear” do após 15 de maioe o discurso oco da “radi-

calidade democrática”, a “assem-bleia aberta” relegou o mítin nagíria política, desnaturalizandoaberrantemente a noção de as-sembleia como espaço popularpara a decisão política, e procu-rando uma confusão interessadaentre autogoverno (que nos go-vernemos nós, e não os “políti-cos”) com o discurso de uma novacaste de partidos social-democra-tas embandeirados na miragemda “participação”.

Cumpre lembrar que as organi-zações de políticos profissionaisna Galiza não só não deram nosúltimos trinta anos qualquer pas-so firme para criar uma estruturade autogoverno assemblear des-centralizado desenvolvendo aprecária previsão estatutária dereconhecimento da personalida-de jurídica da paróquia, mas tam-pouco o fizeram a partir do âmbi-to municipal onde existem vias,mesmo que igualmente limitadas.Não o fizeram porque mesmo asversões adulteradas do espaço dedecisão assemblear representamuma concretização do antagonis-mo entre autogoverno e represen-tação, entre política profissional esoberania real exercida direta-mente no dia-a-dia.

Do mesmo jeito que devemosdiferenciar entre comida de ver-

dade e substâncias comestíveiscom aparência de comida, comoexplica Pollan em Defense ofFood, é necessário diferenciar au-togoverno assemblear do McDo-nald's da “radicalidade democrá-tica” e “democracia real” em con-corrência por comercializar umamiragem de opções políticas sal-víficas, reduzíveis a diversas for-mulações da estatolatria bem-es-tarista de sempre.

O seu parlamentarismo oferecesoluções “mágicas” com decisõesexecutivas pré-cozinhadas comos grupos de interesse, processa-das polos políticos profissionais econservadas no congelador até o

momento certo, que vem determi-nado pelos inquéritos após aconstrução social da opinião, re-duzindo os comensais infantiliza-

dos a fantoches devoradores depropaganda que reduzem a suanatureza “política” a votar cadaquatro anos ou a dar um “gosto”nalguma rede social.

Ao contrário, o autogoverno as-semblear requer de uma cozinhalenta, que começa com o cuidadoe cultivo da terra e continua coma ajuda mútua na colheita, fomen-tando a responsabilidade, o cui-dado e os consensos que acabam,após os trabalhos acordados nojantar coletivo do albaroque.

Haverá quem defenda que a de-mocracia “direta” pode limitar-se àrealização de referendos ocasio-nais e a organizar assembleias in-

formativas para poder escolher doMacMenu num orçamento partici-pativo. Mas nada há mais desmo-bilizador do que a restrição da de-liberação assemblear plena. Quan-do à assembleia se lhe subtrai o seucaráter deliberativo (deliberar édiscutir e avaliar os diferentes pon-tos de vista para tomar uma deci-são), horizontal (todas as pessoaspodem participar em igualdade decondições e com a necessária in-formação) e decisório (as decisõeslevam a fazer ou não determinadasações) fica reduzida a uma carica-tura de si própria, útil apenas parasuster a miragem “democrática”da ditadura parlamentar.

Em defesa da assembleiaJoám evans pim

A caixa de Pandorateresa moure

Quando à assembleia

se lhe subtrai o seu

caráter deliberativo,

horizontal e decisório

fica reduzida a uma

caricatura de si própria

A ferocidade dasruas não olha paraas eleições; tenta armar-se contra osdespejos ou ativar-senos escrachos às gentes ilustres de escassa ética

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NGZ / As declaraçons dos agentesiniciárom o juízo de faltas por de-sobediência e resistência à autori-dade contra quatro ativistas que o19 de setembro procurárom impe-dir o despejo de umha família naparóquia compostelana de Arins.Segundo o atestado, Brais Gonzá-lez -ativista de STOP DespejosCompostela e mediador da famí-lia- saltou o cordom policial, foi in-terceptado por vários agentes aosque ele lhe dá cotovelaços e, por-tanto, é arrestado. Por contra, du-rante a vista oral do juízo -celebra-do este dezoito de fevereiro- osagentes policiais que participáromna operaçom oferecérom versonscontraditórias. Por exemplo, umagente assegurou que o seu chefelhe comunicou a Brais G. que de-via sair da zona de seguridade,mais o chefe assegurou nom ter-se referido ao acusado.

Além disso, Sandra Tarrío, ad-vogada que exerce a defesa deBrais González, apresentou vá-rias gravaçons de meios de co-municaçom como prova para de-monstrar que o seu defendido es-tava dentro do cordom policial,polo que nom puido saltá-lo, enom amossou resistência quandoos agentes o reduzírom. A advo-

gada entende que o atestado po-licial é falso e que a detençom doseu defendido foi incausada poloque se emitiu umha denúncia noJulgado Penal contra os agentesimplicados por falsidade docu-mental e detençom ilegal.

Anxo Noceda, Rafa Peña e Is-mael Da Silva também estámacusados de saltar o cordom po-licial e lançar insultos concretoscontra os polícias. Por contra,nenhumha das testemunhas po-

liciais puido relacionar nenhumdos insultos que aparecem noatestado policial com os acusa-dos. A Fiscalia solicita multas de80 euros para os que alegamnom terem ingressos e 120 € pa-ra o resto. Este pena, estipuladacomo mínima, é qualificada porSTOP Despejos como “umhaevidência de que nom tenhemprovas contra eles e querem sal-var a papeleta de todo o circoque montárom”.

04 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

aconteceCifras reconhecidas pola Junta assinalamum incremento de sinistros em setores co-mo a pesca ou a construçom. Do total de23.214 acidentes laborais, 59 resultáromem morte e a maioria estám relacionadoscom afundamento de barcos pesqueiros.

63 acidentes laborais Por dia dUrante 2014

Concentraçons no conjunto do Estadoexigem que Interior conceda asilo políti-co ao ativista Hassana Aalia, condenadoa cadeia perpétua por um tribunal militardo Marrocos por participar num protestonum acampamento do Saara Ocidental.

esPanha neGa asilo ao saraUí hassana aalia

10.01.2015 / Mais de cem pes-soas participam na décimo-quinta Marcha a Teixeiro.

12.01.2015 / Audiência Nacionalespanhola considera provadoque dous avions da CIA comprisioneiros de Bagdade paraGuantánamo figérom escalaem Vigo.

13.01.2015 / Emigrantes retorna-dos do Salnês manifestam-seem Vila Garcia contra as multasde fazenda.

14.01.2015 / Conselharia do Maracorda paro biológico pola caí-da do molusco na ria da Arouça.

15.01.2015 / Umhas oitocentaspessoas reclamam numha ma-nifestaçom que a cámara de Vi-go renuncie a colocar o barco'Bernardo Alfageme' na rotun-da de Coia.

16.01.2015 / Anulado o despedi-mento de sete educadoras daArmada de Ferrol que se nega-ram a assinar a baixa volunta-

ria para acolher-se a um novoconvénio, mais restritivo.

17.01.2015 / Marcha às cadeiasorganizada por Que Voltem des-loca-se aos cárceres espanhóiscom presos independentistas.

18.01.2015 / Comuneiros deFontenla (Ponte Areias) recla-mam-lhe a graniteira Gramol-que restaure os seus terrenos.

19.01.2015 / Audiência Nacionalcita como acusados a Julio

Fernández Gayoso e outrosquatro ex-diretivos da NovaCaixa Galicia polas indeniza-çons milionárias.

20.01.2015 / CGT denuncia queRenfe deixa várias povoaçonsgalegas sem trens diretos aMadri e Barcelona sábados.

21.01.2015 / Presidente da Soga-ma, Luis Lamas, demite trás co-nhecer-se que participou na ad-judicaçom dum contrato públi-co ao seu bufete de advogados.

22.01.2015 / Trabalhadores daRede Galega de Quiosques fe-cham-se na sede da Cogamipara reclamarem o pago dassuas nóminas.

23.01.2015 / Direçom da Povisaanuncia um ERE extintivo quevai afetar 56 trabalhadores.

24.01.2015 / Dúzias de pessoasreclamam em Santiago a con-cessom de asilo a Hassana Aa-lia, saariano condenado porRabat a cadeia perpétua.

cronoloGia

As defesas dos denunciadosno despejo de Arinsdesmontam a versom policial

o ministério Fiscal solicita a mUlta mínima

NGZ / A Sala do Penal do TribunalSupremo considera que nom exis-tem provas suficientes para conde-nar Carlos Calvo por integraçomem banda armada, um delito quelhe impusera a Audiência Nacionalem maio de 2014. O falho do altotribunal estima parcialmente o re-curso, já que mantém umha penade 7 anos de prisom polo delito decolaboraçom com banda armadana sua modalidade de posse etransporte de explosivos.

Carlos Calvo encontra-se em re-

gime de isolamento penitenciáriodesde setembro do 2011 quandofoi detido em Vigo junto com Xur-xo Rodríguez. Este último pactuoucom a fiscalia a sua rebaixa de pe-na de 18 a 6 anos de cárcere tendode incriminar Carlos Calvo no juí-zo celebrado na Audiência Nacio-nal. O passado 18 de janeiro, Calvofoi trasladado à prisom de Estre-meda, no sul de Madrid, enquantoo penal de Topas -onde se achavadeslocado- permanece em obrasnos módulos de isolamento.

O Tribunal Superiorrebaixa 5 anos a condenado preso independentistaCarlos Calvo Varela

excUlPa-o de 'inteGraçom’

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NGZ / Desde que a Syriza ga-nhou as eleiçons gregas de ja-neiro, a Grécia nom deixa de sernotícia. Nas últimas semanas aatençom mediática estivo cen-trada no pulso que mantém oEurogrupo com o país heleno,que se nega a pagar umha dívidaque considera abusiva. Mas hou-vo umha notícia que apesar dasua transcendência internacio-nal nom apareceu nos grandesmanchetes da imprensa conven-cional: Grécia anuncia que nomratificará o Tratado Transatlân-tico de Comércio e Investimen-

tos (TTIP, polas suas siglas eminglês) que os governos de Esta-dos Unidos e a Uniom Europeialevam anos preparando.

Quem fijo o anúncio nom foi na-da menos que o novo ministro ad-junto para Reformas Administrati-vas, Georgios Katrougkalos. E porse havia dúvidas, repetiu-no antese depois de ganhar as eleiçons.

Antes dos comícios, o que da-quela ainda era deputado do Par-lamento Europeu declarava antea agência internacional EurActivque um governo de Syriza emGrécia jamais ratificaria esse

acordo comercial entre os EUA ea UE. Segundo indica a citadaagência, Katrougkalos chegou aafirmar que a Grécia utilizaria asua capacidade de veto para de-ter o TTIP, o que seria suficientepara botá-lo por terra.

Umha vez Syriza chegou ao go-verno, a mesma agência voltouacudir ao já ministro adjunto Ka-trougkalos para comprovar se apromessa seguia em pé. A respos-ta nom deixa lugar a ambigüida-des: “Podo assegurar-lhes que umParlamento onde a Syriza tem amaioria nunca ratificará o acor-

do”. “Este é um grande presentenom apenas para o povo grego,mas para toda a cidadania euro-peia”, acrescentou.

Se bem Syriza nom goça demaioria absoluta, os seus sócios degoverno do partido conservadorGregos Independentes tambémnom se mostram favoráveis aoTTIP. Outras forças como o comu-nista KKE poderiam contribuir aaumentar essa maioria parlamen-tar contra o tratado supranacional.

Assim, a Grécia terá até duasoportunidades para rejeitar o tra-tado. A primeira, quando o docu-

mento seja objeto de umha vota-çom anónima no Conselho Euro-peu, onde estám representados os28 estados-membro da UE. Nestarolda, os votos poderám ir encami-nhados à modificaçom do projetoou diretamente ao seu bloqueio.

Caso de o TTIP superar esta fa-se, deverá ser aprovado por todosos parlamentos estatais da UE, oque supom umha nova oportuni-dade para vetar o tratado. Em am-bas roldas de votaçons, é suficien-te com que um só país vote contrao tratado para que este nom che-gue a ser aprovado.

05aconteceNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

Grécia nom ratificará a aprovaçom do TTIPnoVo ministro qUaliFica de “Presente” Para os eUroPeUs o Veto contra o acordo comercial eUa-Ue

Educaçom incorreu numha ilegalidade ao despedir o pro-fessorado Celga. Já vários tribunais do social o sentencia-ram e agora voltou fazê -lo o Tribunal Superior de Justiçada Galiza ao desestimar um recurso da Junta. O conflitovem de 2013, quando Inspeçom de Trabalho denunciou ascondiçons das e dos docentes, sem contrato laboral.

edUcaçom desPediU ileGalmente o ProFessorado celGa

A cruz do Monte do Castro, principal símbolo fascista nacidade olívica, nom será derrubada. Assim o dispom asentença em que o Tribunal Superior de Justiça da Galizadá a razom ao alcalde, Abel Caballero, e considera que omonumento, inaugurado pelo próprio Franco em 1961,nom exalta o golpe de Estado nem a ditadura.

cÁmara mUniciPal de ViGo mantém crUz FranqUista

Georgios Katrougkalos é o novo ministro adjunto para Reformas Administrativas da Grécia

26.01.2015 / Concentraçom frenteao Hospital Provincial de PonteVedra solidariza-se com JavierGuerrero Carvajal, preso ingres-sado trás manter greve de famedesde o 11 de dezembro.

28.01.2015 / Stop Depejos Com-postela entrega mais de 200auto-inculpaçons pola protestade Arins.

29.01.2015 / Corunha, Lugo, Fer-rol e Compostela, por debaixoda média estatal no relatório de

Transparência InternacionalEspanha sobre o grau de trans-parência nas cámaras munici-pais.

30.01.2015 / Comunicado da RAGalerta sobre o retrocesso do ga-lego e reclama a derrogaçom do“decreto do plurilingüismo”.

31.01.2015 / Vizinhança de Vis-ta Alegre e Pinheiro apresentaalegaçom na casa do Conce-lho contra o traçado da varian-te de Padrom.

01.02.2015 / Vizinhança de Leres(Ponte Vedra) corta a N-550 paraexigir maior segurança na via.

02.02.2015 / PP e PSdeG acordamreduzir o número de perguntas einiciativas parlamentarias quepodem apresentar AGE e BNG.

03.02.2015 / Renato Núñez, se-cretário de organizaçom daCIG Compostela, condenado apagar 1.700 euros polos protes-tos na tomada de possessomde Agustín Hernández.

04.02.2015 / Juíz instrutor doacidente de Angrois apercebeRenfe por nom entregar docu-mentaçom que se lhe requereuhá oito meses.

05.02.2015 / Marcial Dorado,condenado a seis anos e umdia de prisom por branquea-mento de dinheiro.

06.02.2015 / Pessoal de Lante-ro chega a um acordo com acompanhia que supom zerodespedimentos e a readmis-

som dos trabalhadores afeta-dos polo ERE.

07.02.2015 / M.N.A, de 72 anos,falece em Noia atropelada poloreboque do seu trator.

08.02.2015 / Vinte e cinco mil pes-soas manifestam-se em Com-postela em defesa do galego.

09.02.2015 / Morre um operáriono cemitério de Sam Romám(Sam Tisso) enquanto realizavatrabalhos de roça.

cronoloGia

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06 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

Junta outorgou 1.675.000€ para a imprensa em espanhole 182.000€ para os meios integralmente em galego em2014. As cabeceiras que integram a Associaçom de Meiosem Galego, entre as que se encontra o NOVAS DA GALIzA,denunciam a injeçom milionária nos grandes grupos decomunicaçom em troca "de publicidade e propaganda".

JUnta FaVorece meios de comUnicaçom em esPanhol

A UVigo abriu um web escrito na íntegra em espanholpara difundir pensamento e obra de Castelao. Ante asqueixas recebidas, a instituiçom argumentou a exclu-som inicial da língua própria de Castelao "porque se tra-ta de um projeto a cargo do Ministério de Educaçom".Dias depois, o espaço estava disponível em galego.

UniVersidade de ViGo PromoVe castelao em esPanhol

“Investigámos, começámos a falar comgente e vimos que nos enganaram”

JesUs dominGUez, Porta-Voz da ‘PlataForma de Vitimas alVia 04155’

A. LOPES / Ano e meio depois datragédia de Angrois e enquan-to o procedimento judicialaberto está a absolver altoscargos da administraçom pú-blica, a Plataforma de VítimasAlvia 04155 decide dar umpasso e iniciar a realizaçomde um documentário que ex-ponha à luz pública toda a in-formaçom que estám a reco-lher nestes meses de ativida-de. A sua indignaçom e a suademanda de justiça estám abater com umha série de inte-resses que dificultam o escla-recimento das responsabili-dades políticas do acidenteferroviário que deixou umhas80 pessoas mortas. Assim,desde um primeiro momentoos dous grandes partidos es-tatais, PP e PSOE, impedíroma criaçom de umha comissomde investigaçom no Congres-so dos Deputados.

Recentemente lançastes umcrowdfunding e conseguistes ofinanciamento necessário para aelaboraçom de um documentá-rio. O que foi que vos levou a to-mar esta iniciativa?O nosso acidente tivo muita reper-cussom ao princípio, mas depoisas pessoas vam esquecendo. Ade-mais quase sempre se procura umque fale das vítimas, da nossa dor...Nós o que queremos é verdade ejustiça, assim que começamos a fa-lar com expertos e engenheiros pa-ra intentar averiguar o que ocor-reu. A verdade oficial só se centrano maquinista de forma interessa-da. Nom tem lógica nem sentidocomum. Investigamos, começa-mos a falar com gente e vimos quenos enganaram. Vendérom-nos al-ta velocidade com alta tecnologia ecom frenado automático, publica-do a bombo e prato polos meios em2011, e todo era mentira. O únicoque era verdade era a velocidade.Isso gera-nos mais indignaçom epor isso queremos fazer um docu-

mentário para que a gente saiba averdade e denunciar os responsá-veis políticos que nos enganárom.Em memória dos que nom estám epara que nom volte ocorrer. Sus-tentamos que além das responsa-bilidades penais, e nom esqueça-mos que a instruçom de um juízopode levar dez anos, há responsa-bilidades políticas, assim como naRenfe e na Adif.

A que fai referência o título'Frankenstein-04155'?Assim chamam coloquialmentena Renfe ao modelo de Alvia 730.É umha modificaçom da série an-terior, à que lhe acrescentam dousfurgons diesel por diante e portrás. Estas mudanças figérom queo acidente fosse muito mais grave.Houvo descarrilamentos similaresdo modelo original com um oudous mortos. De aí o nome que in-ternamente a própria empresa lhedá a este redesenho mau.

A vossa associaçom exige que sedepurem responsabilidades polí-ticas. Em quais momentos con-

cretos considerais que o Estadocometeu irregularidades?O acidente poderia ter-se evitado.Várias decisons do governo ante-rior e do atual comprometérom aseguridade dos viajantes. Teria-seevitado se nom se mudasse o pro-jeto inicial em 2010, quando eraministro José Blanco, por interes-ses comerciais, tal e como di o au-to do juiz. Todo aponta a que apoupança no tempo de viagem eadiantar a inauguraçom fôrom as

razons principais. Os peritos con-firmam que com o projeto inicialnom teria ocorrido o acidente.

Tampouco teria sucedido se nomse desligasse o sistema de condu-çom automática ERTMS em junhode 2012, sendo já ministra Ana Pas-tor: Depois da mudança de projetode 2010, o ERTMS estava instaladoaté o km 80, com um custo de 164milhons de euros em dinheiro pú-blico. Umha vez mais, interessescomerciais figérom que a Adif e aRenfe desconetassem o ERTMSsem nenhumha avaliaçom de riscoe sem estabelecer medidas alterna-tivas. Os peritos confirmam que deter estado ativo o ERTMS, o aciden-te evitaria-se.

Ademais, teria-se evitado se seatendesse a advertência de perigodo chefe de maquinistas de Ou-rense, a 26 de dezembro de 2011.Os altos cargos da Renfe e a ADIFque recebérom o aviso nom tomá-rom medidas para corrigir o risco.Também nos vendérom que essalinha era de alta velocidade, assifigura no BOE, nas notas de im-prensa dos atos de inauguraçom

da linha e o comboio, onde nos di-gérom que contava com maior se-guridade, última tecnologia e sis-temas de conduçom automática.

Logo, as vítimas vimos como ospossíveis responsáveis políticos,começando por José Blanco, mi-nistro de Fomento durante a cons-truçom da linha, Alberto NúñezFeijóo, que assistiu à inaugura-çom, o entom Secretário de Esta-do de Infraestruturas, Transportee Vivenda, Rafael Catalá – hojeministro de Justiça-, Ana Pastorou o presidente da Renfe nem de-mitírom nem assumírom que algose fijo mal. É mais, muitos delesfôrom premiados com ascensos epromoçons. Em qualquer outropaís demitiriam.

A Audiência Provincial da Coru-nha nom está mantendo as impu-taçons a cargos da Adif. Comovalorades o desenvolvimento dainstruçom?Nom há colaboraçom com a justi-ça por parte do ministério de Fo-mento, da Adif e da Renfe, pésie àpromesa que nos fijo pessoalmen-

“fomento, Adif e renfe nom

estám a colaborarcom a justiça”

“muitos possíveisresponsáveis fôrom

premiados com ascensos e promoçons”

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07aconteceNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

A plataforma cidadá que reclama os serviços para o Hos-pital de Lugo prometidos por Feijóo em 2011 e que se-guem pendentes convocou uma manifestaçom em massapara o 21 de maio, três dias antes das eleiçons munici-pais. Figérom no após a titular de Sanidade, Rocío Mos-quera, negar a atençom 24 horas para os enfartes.

mobilizaçom reclamarÁ serViços Para o hosPital de lUGo

Gas Natural Fenosa renunciou ao seu projeto de arma-zenamento de energia renovável no parque eólico deCabo Vilám, incluído na Rede Natura. A Junta já tinhaautorizado a tramitaçom sem solicitar nengum relatóriode impacto ambiental, mas tal iniciativa provocou a res-posta dos movimentos sociais e da oposiçom política.

Pressom social Paralisa ProJeto da Fenosa no cabo VilÁm

te a ministra Ana Pastor. Isto assi-nalou-no o juiz Aláez em váriasocasions, requerindo-lhes reitera-damente documentaçom quenom entregavam. Também, assis-timos à negativa a declarar dosimputados, numha clara estraté-gia por parte da Adif.

A fiscalia o único que fijo somdous recursos contra a imputa-çom dos altos cargos da Adif, pe-se a que nos reunimos e lhe soli-citamos que investigasse algum-has questons.

O nosso maior problema é anom independência da comissomde acidentes, da fiscalia e do po-der judicial. É importante salien-tar que o presidente da Audiênciaé eleito polo Conselho Geral doPoder Judicial e que o fiscal de-pende hierarquicamente do fiscalgeneral do Estado, ambos elegi-dos polo poder político.

Viu-se-vos em mobilizaçons a péde rua, umha delas durante a en-trega das Medalhas de Galiza.Surpreendeu-vos o dispositivopolicial daquele dia?Encontrámo-nos com que umhaauténtica muralha de polícias, ar-mados com pistolas e porras, im-pediu-nos a entrada a pesar deque portávamos os certificados dedefunçom dos familiares faleci-dos ou os certificados do hospital.Todo em ordem. Ante a nossa sur-presa e indignaçom, os políciasdigérom-nos que cumpriam or-dens e que acudiria um responsá-vel nuns minutos para dar-nos ex-plicaçons. Ninguém viu, nom senos deu nenhumha explicaçom.

E a dia de hoje, com que energiascontades e que linhas de atua-çom tendes previstas para o fu-turo próximo?Seguiremos a investigar com osnossos meios e denunciando to-das as irregularidades. Tambémestamos aguardando a respostapor parte do Parlamento Europeuperante as duas denúncias queapresentamos. Continuaremos aluitar pola verdade e a justiça.

“O maior problemaé a nom indepen-

dência da fiscalia edo poder judicial”

NGZ / Visto para sentença. Assimficou o julgamento contra Santia-go Mendes, vizinho do Condadoe umha das doze pessoas acusa-das pola promotoria por ter con-testado a manifestaçom que o 8de fevereiro de 2009 foi convoca-da polo grupo Galicia Bilingüecontra o uso da nossa língua. A petiçom inicial de quatro anosde prisom tivo que ser reduzidadurante a vista oral pois, tal comotinha ocorrido durante o julga-mento das outras 11 pessoas acu-sadas, nenhum dos quatro teste-munhos policiais chamados a de-clarar foi quem de individualizarem Mendes a autoria de açonsque poderiam constituir delito.

Assim, do escrito da acusa-çom foi retirado o delito de 'de-sordens públicas'. E é que ochefe da Unidad de Interven-ción Policial destinada aquele8 de fevereiro na Alameda deCompostela, de onde partia amarcha contra a língua, decla-rou a respeito do arguido que''nom sei nem se tem estado'' eacrescentou que ''nom sei oque fijo este senhor em concre-to''. Apesar disso, e sem seacompanhar de provas que as-sim o demonstrem, o políciaespanhol facilitou a sua opi-niom a respeito de que “haviaalgo de doutrina entre eles” eque os contra-manifestantes

“eram um grupo organizado”.A existência de umha investi-

gaçom prévia encaminhada paraa criminalizaçom do movimentoindependentista ficou novamentede manifesto, igual que tinhaacontecido também durante oanterior julgamento por estesfactos, realizado em setembro de2014 e ao que Santiago Mendesnom pudo ir, razom pola qual foideclarado em rebeldia. O inspe-tor policial encarregado dos rela-tórios sobre os confrontos de2009, quem declarou por video-conferência, assinalou que co-nhecia o arguido “previamente,como militante” e que “faz partede um dos coletivos que prepara-

ram a manifestaçom”. Por sua vez, a defesa de Men-

des solicitou a livre absolviçomargumentando que contra elenom existem provas e que duran-te as cargas policiais “apanharamo primeiro que encontraram”, emreferência às e aos participantesna marcha contra Galicia Bilin-güe. À espera da sentença, cabelembrar que no julgamento de se-tembro foram condenadas 6 das11 pessoas encausadas a um totalde 11 anos e 5 meses de privaçomde liberdade. Uma das penas, de4 anos e 3 meses de cárcere im-posta a Bernardo M., implicaria oseu rendimento em prisom. Asentença está recorrida.

Julgam independentista por contestar em2009 um protesto de ‘Galicia Bilingüe’

retiram acUsaçom de desordens Públicas mas mantenhem a de atentado

NGZ / Na manhá de 8 de fevereiro milha-res de pessoas manifestárom-se porCompostela numha populosa marcha,somando-se à convocatória encabeçadapola plataforma Queremos Galego baixo

o lema 'Polas filhas dos nossos filhos'. Amobilizaçom vissava denunciar as políti-cas da Junta conducentes à desapariçomda língua. O reintegracionismo fijo atode presença, com um bloco laranja dos

centros sociais e umha comitiva daAGAL que reclamava "um new deal parao galego". Também um bloco lilás femi-nista se fijo visível numha marcha desta-cada por umha grande assistência.

milhares tomam compostela pola língua

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crónica GrÁFica

08 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

Mais um mês celebrárom-se em várias localidades concentraçons em solidariedade com os presos e as presas independentistas. Nesta ocasiom, a convocatória parabenizou ao Antom Santos, interno na cadeia de Dueñas, em Palencia, polo seu aniversário / CEIVAR

Um forte dispositivo policial assegurou a instalaçom do barco 'Bernardo Alfageme' na rotunda de Coia, em Vigo. Resultárom feridas várias ativistas do movimento vicinalque está a denunciar o esbanjamento de dinheiro público do Concelho / GZ FOTO

Pessoal dos hospitais de Vigo iniciárom mobilizaçons em defesa da sanidadepública, denunciando as intençons privatizadoras da Junta / GALIZA CIG

Os merdeiros, figura do Entroido viguês recuperada polos movimentos sociais, voltárom sair à rua para brincar com a vizinhança / ICR PHOTOGRAPHER

Trabalhadoras e trabalhadores das empresas Lantero e Cleanet, imersas em longos conflitoslaborais, levárom até o Parlamento Europeu as suas reivindicaçons / AGE EN EUROPA

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09aconteceNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

aGro

CARLOS C. VARELA / Conta-seque durante a carreira espa-cial os astronautas demora-ram muito em inventar umacaneta que funcionasse naausência de gravidade. Oscosmonautas, pola contra,utilizaram o tradicional lá-pis. Agora a vanguarda datecnologia agrária é a “agri-cultura de precisão” –queatravés de máquinas dirigi-das por GPS adapta as se-mentes, fertilizantes e trata-mentos às necessidades es-pecíficas de cada pequenazona das grandes culturas-.Xoán Carlos Carreira Pérez eEmilio Carral Vilariño, auto-res de ‘O pequeno é grande.A agricultura familiar comoalternativa: o caso galego’(Através Editora, 2014), vêmde recordar que na Galizasempre se usou lápis.

A pequena agricultura fami-liar, da qual o minifúndio é em-blema, foi atacada durante déca-das como causa do atraso. Dizia-se que o futuro passava pola mo-dernização, entendida esta comoconcentração, maquinização emonocultura –nomeadamente aleiteira-, e não se pode dizer queo agro galego não fizesse esfor-ços nesta direção: uma reconver-são agrária, mais ou menos silen-ciosa, expulsou do setor 400.000pessoas nos últimos anos. A pro-posta de Carreira Pérez e CarralVilariño é revisar com todo o ri-gor este mito, revalorizar a estig-matizada agricultura tradicionalgalega, invisibilizada na macroe-conomia, e pôr de destaque o seuvalor social e ecológico, imelho-rável herdança para transitar aosnovos paradigmas pós-neolibe-rais e à soberania alimentar. Isto

é, O pequeno é grande encontrauma oportunidade para o paísonde só se via um obstáculo.

O colapso da petroagricultura“¡Lección terrible! No es América,no son los grandes centros y em-porios de la industria los que másnos deben atraer. La tierra, elcampo, la agricultura, es siempredonde la vida descansa más segu-ra (…) El coloso parecía todo deoro, con sus aúreos fulgores fasci-naba al mundo y ahora se le vanviendo los pies de barro!”; “(é pre-cisa uma industrialização limita-da,) nunca excesiva para que lascrisis industriales que padecen lospaíses de economía artificial nonos afecten jamás en sus trastor-

nos”. Estes dous trechos foramextractados de notícias de jornaisgalegos publicados trás a GrandeDepressão. Nos EUA o dinheiro fi-cara da noite para a manhã redu-zido ao seu valor-de-uso: papelpintado, e milhões de pessoas des-cobriram da maneira mais trau-mática que o papel pintado nãoalimenta. A explosão da bolha es-peculativa dera num êxodo maci-

ço ao campo, e o resto do mundorecebia a advertência de uma cou-sa que ainda não tinha nome: a so-berania alimentar, “donde la vidadescansa más segura”. Um outrojornal galego até louvava o mini-fúndio no meio desta corrente deopinião: “por encima de todo Ga-licia es el país típico del policulti-vo, es decir, de la mayor variedaden las producciones, cuya prácticaconstituye, además, el mejor mo-do de luchar contra la crisis quesufre el campo”. A lição durou oque tardou o capital em entrarnum novo ciclo altista, e a agricul-tura entrou numa nova bolha mui-to mais grande.

Na década de 1970 o modeloagroindustrial já dava sinais decolapso em termos energéticos.Os antropólogos estadounidensesavisavam de que nas granjas mo-dernas, quando se quantificavamtodos os gastos energéticos, o sal-do era negativo: cada caloria deoutput em forma de alimento pre-cisava, para ser produzida, de 8calorias de input, entre trabalho,combustível, pesticidas, etc. Estaproporção de 8:1 não deixou deagravar-se, polo que HowardOdum certificou que “o homemindustrial já não come patacas fei-tas com energia solar; agora comepatacas feitas de petróleo”. Masnão preocupou em absoluto osmultimilionários de agronegócio,pois, como dissera Henry D. Tho-reau, “os seus frutos não estãomaduros para ele(s) até que seconvertem em dólares”, e o petró-leo barato tornava mui rendívelessa agricultura de combustão. Amagia capitalista fazia do dispên-dio de 8 calorias de petróleo paraobter 1 de alimento um bom ne-gócio, e até falavam de “produ-ção”, enquanto a aldeia chinesade Luts’un, que antes do maoísmo

produzia 50 calorias de alimentopor 1 de input, era um exemplo deatraso. Xoán Carlos Carreira eEmilio Carral recolhem múltiplasinvestigações que demonstram amaior eficiência e produtividadedas pequenas explorações, refu-tando a ideia do bigger is betterque dominou a agronomia con-vencional, e indicando que é naagricultura de pequena escala on-de está a saída à crise alimentarda agricultura petrodependente.

‘Soluções’ para as que não existem problemasQuando G. K. Chesterton ouviacousa como que a vida tradicionalnão se prestava à moderna vidade negócios, replicava que era tãoestúpido como dizer que “as cabe-ças não se adaptam à classe desombreiros que estão agora namoda” e, por conseguinte, se de-creta-se cortar cabeças para fazerfronte ao défice sombreireiro. Jus-tamente isso foi o que sucedeucom a maquinização do agro ga-lego: em vez de escolher um siste-ma produtivo e de maquinariaapropriados à estrutura territorialexistente, decidiu-se gastar quan-tidades ingentes de dinheiro pú-blico à reorganização da estruturaterritorial à medida de máquinase sistemas forâneos. Para Carreirae Carral o lógico “seria que o quad(ou algo parecido) se tivesse in-

A modernização nomundo do agro expulsou

do setor 400.000pessoas nos últimos anos

do Valor ecolóGico e social da aGricUltUra Familiar tradicional

O fim do mito do minifúndio?nos ‘70 o modelo

agroindustrial já davasinais de colapso em

termos energéticos

‘O pequeno é grande’, de Carreira pérez e Carral vilariño,procura revalorizar a estigmatizada agricultura tradicional

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10 acontece Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

mar

Alerta vermelha nas rias galegasContaminaçom, epidemiasque causam altas mortan-dades em bivalvos... impa-tos diretos na produtividadee saúde duns ecosistemasúnicos no mundo.

A.DIESTE / Há uns dias a ministrade Pesca visitou Galiza. Numhadas suas paragens, em Camba-dos, num ato programado pujobotas de água e baixou à secaacompanhada de mariscadoraspara ver que era isso de extrairameija e berberecho. Ali as mu-lheres pedirom-lhe que o gover-no atuasse para solucionar a gra-ve situaçom que atravessa a Riade Arouça, com altas mortanda-des de ameija e berberecho. Um-ha demanda feita há meses polosector -confrarias, agrupaçonsde mariscadoras, bateeiros...- àConselharia do Mar.

Que é o que acontece nasRias? Em dezembro de 2013 aEurocámara aprovava o relató-rio sobre a contaminaçom dasrias galegas. Fijo-o com o votocontra de 2 dos 3 integrantes dadelegaçom europeia que visitouas rias e que consideravam quehavia que ser mais contundentesnas atuaçons. Cumpre lembrarque um estudo da Junta detetouem 2011 a existência nas nossasrias de 864 pontos de verquidos,metade dos quais eram qualifi-

cados como “contaminantes”.A contaminaçom é um dos

problemas das rias mas nom oúnico. Biólogos da Junta dete-tárom há três anos umha pa-tologia que afetava o berbere-cho e que se foi estendendodaquela, convertendo-se numandaço que causou altíssimasdoses de mortandade em ber-berecho e também ameija. Asconfrarias da Ria de Arouçacifram em 10 milhons de eu-ros as perdas em apenas dousanos para o setor do mar.

Segundo os próprios dadosoficiais da Junta de Galiza, omar é a principal empresa deGaliza. Gerava em 2011 um to-tal de 17.499 empregos diretos,quer na pesca extrativa (12.522,marinheiros e mariscadoras)quer na aquicultura do mexi-lhom (4.947 bateeiros/as). Em-pregos diretos, aos que somarindiretos e induzidos. Laboral eeconomicamente, um alicercefundamental para Galiza, e nomsó a costeira. Um sector com-plexo, heterogéneo e fulcral pa-ra Galiza e que está a capearumha crise em que coincidemdiversas causas e fatores. Mari-nheiros, mariscadoras e bateei-ros faturárom em 2013 por voltade 46.700.000 euros menos queno exercício anterior. Umhaqueda de 128.000 euros diários.

ventado na Galiza, mas aqui o queinventamos foi como tirar os vala-dos e as sebes para que entrassemas grandes máquinas. Basta verem Taramúndi os carros que seutilizavam para subir a erva nosprados de grandes pendentes, ouo trem que se utiliza nos socalcosda Ribeira Sacra para transportaras uvas, ou mesmo a adaptação depequenos tratores à Galiza. Mas,infelizmente, ninguém lhes dáapreço frente a um bom trator de150 cavalos ainda que tenhamosque derrubar os valados para quepossa circular”. Triste exemplodessa crítica de Jacques Ellul àtecnologia que “facilita um grandenúmero de 'soluções' para as quenão existem problemas”. Há querecordar, aliás, a grande impor-tância das sebes como refúgio defauna útil no controlo de pragasassim como no freio da erosão.Resulta paradoxal observar como,a cada incêndio florestal, se têmque reconstruir a pressa sebes‘modernas’ por ter destruído antesas tradicionais, símbolo do atrasoe o mal suposto individualismo.

O estigma ‘proprietarista’Com a queda da URSS Cuba ex-perimentou um prematuro peak-oil que demonstrou que a grandepropriedade agroindustrial, em-bora coletivista ou estatista, éigual de improdutiva –económicae ecologicamente- que a grandepropriedade capitalista. Em aque-les momentos, as pequenas ex-plorações familiares da ilha –queocupavam apenas 20% da terra-foram as que melhor resistiram acrise, e começaram a defender-secomo o modelo mais eficiente esustentável. O mito comunista dokulak, o pequeno labrego conser-vador e contrarrevolucionário, ia-se esvaecendo. O próprio Marxinsistira em O Capital em distin-guir a pequena propriedade cam-ponesa da propriedade privadacapitalista: é o capitalismo –ad-vertia- o que remata com a peque-na propriedade, em contra do quediz a sua propaganda. Justamentea pequena propriedade, combina-da com as comunais, é a fórmulade vários socialismos indígenasque se estão a ensaiar em Latinoa-mérica, que visam superar os pro-blemas da grande propriedade es-tatal do socialismo clássico. As-sim, Félix Patzi fala em Sistema

comunal, uma proposta alterna-tiva ao sistema liberal, da “pro-priedade coletiva dos recursos eo manejo ou usufruto privadodos mesmos”, mas excluindo aexploração ou apropriação dotrabalho alheio. Igualmente, aszapatistas reclamam a terra “pa-ra poder trabalhá-la em indivi-dual ou em coletivo, mas semprecuidando que o benefício de umnão seja polo prejuízo aos ou-tros”. Durante o agrarismo, oscomunistas galegos lutaram por-que a pequena propriedade la-brega fosse considerada apenasuma ferramenta de trabalho, enão se classificasse à par daspropriedades capitalistas. Aliás,a pequena propriedade parecesuperar os problemas de produ-tividade da agricultura da lati-fúndio –capitalista ou socialista-;a Deccan Development Societyda Índia assegura que “possuiruma propriedade pessoal podeincrementar a produção tanto oumais do que o uso de sementesgeneticamente modificadas”.

O minifúndio como metáforaCriticam Carreira Pérez e CarralVilariño que “o minifúndio conti-nua a ser uma caraterística defi-nidora da Galiza, origem de mui-tos dos nossos problemas indivi-duais e coletivos. Assim, por si-militude, quando queremos criti-car algo falamos de minifúndiomental, minifúndio industrial,

minifúndio das organizações so-ciais, etc”. As parcelinhas do mi-nifúndio, vistas da perspetiva aé-rea, parecem espelhar um ferozindividualismo. Mas esta meto-dologia de guerra não é a melhorpara compreender que o mini-fúndio como organização social,com os seus sistemas de ajudamútua, pode ser mais cooperati-vista do que uma grande pro-priedade estatalizada. Aliás, asmodernas focagens sobre o ruralminifundista costumam esque-cer um elemento fulcral: que es-ta pequena propriedade familiarsó se podia entender em combi-nação com o comunal.

O antropólogo Enrique AlonsoPoblación, no seu estudo do con-celho de Lage, verificou como aconcentração parcelária provo-cou individualismo e soidade nasvizinhas. Antes, quando tinhamque ir trabalhar em várias leiras,encontravam-se mais, e o agroera um importante espaço de so-cialização. Quiçá o minifúndio,mais do que expressão de um in-dividualismo irremediável, fosseuma solução de equilíbrio à ten-são entre o individual e o comum.Neste sentido a esquerda galega,na sua insistência na unidade, fa-la amiúde da necessidade de “fa-zer a concentração parcelária”,com certeza ignorando a confli-tuosidade que esses processos dehomogenização sempre criaramno rural, ao serem desrespeita-dos antigos equilíbrios consuetu-dinários. (No campo da língua, J.M. Outeiro tem chamado à “abo-liçom do regime do partido únicoortográfico no campo comunalda língua”). Novos paradigmasorganizativos, provenientes so-bretudo dos indigenismos, inspi-ram-se nestas combinações pro-dutivas entre o comunal, o usu-fruto privado, e as pequenas pro-priedades de autonomia pessoal.

Talvez haja que ir desterran-do o imaginário nocivo do mi-nifúndio. Substituir, por exem-plo, a própria expressão poruma outra noção, técnica masque pode abrir novos imaginá-rios, como é a de “paisagem emmosaico”: das fotografias aé-reas em branco e preto à terramulticor que pintava Maside,do estigma do minifúndio à rei-vindicação do sustentável e so-lidário mosaico galego.

A pequena propriedade,combinada com as

comunais, é a fórmula desocialismos indígenas

O minifúndio pode sermais cooperativista do

que uma grande propriedade estatalizada

enrique Alonso verificoucomo a concentração

parcelária provocouindividualismo

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11economiaNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

economia

Nestas semanas vimos deconhecer o interesse daconstrutora Sacyr (fortemen-te relacionada coma bolhaimobiliária estoupada napassada década) por deter-minados direitos mineiros dacomarca de Bergantinhos. Éeste um bom momento paralembrar as promesas de cria-çom de emprego realizadaspor Mineira de Corcoesto- fi-lial galega da transnacionalcanadiana Edgewater- tam-bém de recente atualidadepolo litígio que mantém coma Junta da Galiza à que recla-ma 20 milhons de euros.

O principal argumento esgrimi-do polas empresas da indústriamineira para defender os seusprojetos publicamente é o dacriaçom de emprego. Poderia-mos mesmo afirmar que consti-tue a ponta de lança de todo oseu discurso. Apoiam-se na ne-gativa situaçom socio-económi-ca do território onde pretendemasentar-se, mostrando-se comoumha saída à situaçom capaz demelhorar a qualidade de vida dapopulaçom residente. Nom obs-tante, o atual carácter intensivodo capital na indústria mineirafai duvidar sobre a sua capaci-dade à hora de gerar emprego.Para contra-arrestar essa reali-dade, as empresas valem-se dacontrataçom de analistas exter-nos, encarregados de realizarinformes favoráveis do impatosobre o emprego ou a economialocal no território objetivo, jo-gando para este fim com as esta-tísticas disponíveis.

Falseando as cifrasNo caso concreto do projeto mi-neiro de Cabana de Bergantinhosa primeira questom que devemostratar é o próprio número de pos-tos de trabalho que se previamcriar no território. Assim, pode-mos afirmar que os dados de cria-çom de emprego anunciados porMineira de Corcoesto nom seajustavam à realidade. A empresaanunciara em diversas ocasionsque se criariam até 271 postos detrabalho diretos, com um impatototal a través do emprego induzi-

do de até 1.641 empregos. Deve-mos adiantar que o primeiro dadoé falso e o segundo é muito ques-tionável. Umha simples olhada aoplano de exploraçom apresentadopola empresa à Junta é suficientepara saber que desses supostos271 empregos diretos, só 138 po-dem ser qualificados desta manei-ra, é dizer, seriam contrataçons di-retas da empresa, cujas nóminasdependessen de Mineira de Cor-coesto. Pola contra, os 133 empre-gos restantes seriam indiretos,fruto de serviços externalizadospola empresa. Por outra banda, os1.641 empregos aos que se alude,induzidos graças ao arranque doprojeto e às rendas que este gera,estám estimados sob supostospouco críveis, considerando que ogasto das rendas do trabalho e docapital se realizariam integramen-

te no próprio território e duranteo período subseguinte. Frente a is-to, basta com pensar na quantida-de de bens e serviços que umhafamília pode demandar e que seatopam fora dos três concelhosafetados pola mina ou da própriaComarca de Bergantinhos, repa-rando ademais na proximidade(umha hora escasa) dunha urbecomo a Corunha.

Postos com data de caducidadeA segunda questom importante atratar é a duraçom estimada queteriam estes empregos. En primei-ro lugar devemos assinalar queesta nom seria em nengum casomaior de 9 anos, atendendo aopróprio projeto de exploraçom deMineira de Corcoesto. Em segun-do, a duraçom exata desconhece-se pois no citado plano nom apa-rece exposto de jeito explícitonem implícito a qual das diferen-tes fases da exploraçom perten-cem cada um destes postos de tra-balho. Assim, o único certo é queo grosso dos mesmos se ofertariano primeiro ano polo processo dedesmonte da zona e a criaçom denovos caminhos que comunica-riam a exploraçom mineira comas estradas principais.

Emprego local num setor tam especializado?Umha terceira questom é a daprocedência desta força de tra-balho. Certamente, resulta pouco

realista pensar que a maioria dascontrataçons se fariam na co-marca onde teria lugar a explo-raçom. Esses empregos diretoscriados (muitos deles em planta)precisariam dumha especializa-çom que singelamente nom exis-te numha zona com tan baixatradiçom no setor da minaria au-rífera moderna. Ademais, a ideiaanunciada pola empresa de for-mar quadros para estes postos através de cursos acelerados paraa populaçom parada da zona re-sulta pouco crível- e mesmo in-compatível com os estándares desegurança exigidos. O mais pro-vável e lógico, é a contrataçomde força de trabalho especializa-da e com experiência procedentemesmo de outros países, da qualpolo demais resultaria impossí-vel asegurar o seu asentamentono território levando em conta acitada proximidade da cidade daCorunha. Esta ideia vê-se refor-çada polo facto de que nom exis-tisse em momento nengum com-promisso escrito algum de queesses postos iam ser ocupadospola populaçom do território,com o que todo se reduzia a um-ha declaraçom verbal por parteda empresa.

Um perigo para o emprego Num quarto ponto caberia falarda afetaçom que a abertura da ex-ploraçom poderia ter sobre o teci-do produtivo da zona, e conse-

cuentemente sobre os empregos jáexistentes. Apesar de que Mineirade Corcoesto tem reiterado a nomafetaçom a outros setores da aber-tura da mina, sim existe um in-questionável e intrínseco perigodada a contaminaçom à que o ter-ritório se expom com esta ativida-de. Das balsas con lodos ricos emarsénico até o emprego da lixivia-çom por cianeto como método pa-ra separar os estéreis do ouro (todoprojetado no plano de explora-çom), os riscos associados a estaatividade som grandes para umhacomarca que guarda relaçom comatividades extrativas no mar (por-tos de Laje e Corme, esteiro do An-lhons...) e especializada en diver-sos produtos na terra (pataca, gre-los...). Mais de 1.500 empregos noterritório poderiam ver-se direta-mente afetados, bem pola mesmaexposiçom aos diferentes velenos(que se podem propagar pola águae polo ar), ou bem polo dano pro-vocado às diferentes marcas e de-nominaçons de origem dum pontode vista comercial.

Em definitivo, devemos ter pre-sente que a questom da criaçomde emprego adoita ter moitasarestas, e que nom todas estám àvista. A promesa dalguns postosde trabalho pode fazer duvidarquando se joga com as necessida-des da gente, mais ainda quandoo ambiente de corruçom geraliza-da parece asulagar todo. Porém,precisa-se analisar devagar ospros e contras à hora de abrir asportas a umha indústria tam con-taminante e de vocaçom tam cur-to-prazista como a minaria de ou-ro, onde os empregos som poucos,precários e dos quais nem tam se-quer podemos ter a certeza da suafutura existência.

As contas da leiteira de Corcoestoas emPresas mineiras Usam a criaçom de emPreGo como Ponta de lança do seU discUrso

Os analistas de edgewater jogam com as estatísticas disponíveis para tentar contra-arrestar os argumentos contra a mineraçom

xabier i. villares

A estimaçom de postos de trabalhoparte de supostos

pouco críveis

nengum emprego duraria mais de nove

anos, o tempo de exploraçom da mina

O setor mineiro requere umha

mao-de-obra muito especializada

A contaminaçom da mina afetaria cercade 1.500 empregos

já existentes

SALVEMOS CABANA

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12 internacional Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

a terra treme

XOÁN R. SAMPEDRO / Cinco pes-soas acusadas e condenadasa prisom, contra todas as pro-vas, numha sucessom de pro-cessos dignos do modelo dascaças de bruxas. Concelho,meios e juízes aliados arredordum relato policial construídoà medida para amparar tortu-ras e detençons arbitrárias, epara levar adiante umha vin-gança cega. E no pano de fun-do, a construçom da 'MarcaBarcelona', com os seus con-sequentes processos de gen-trificaçom. É o que retrata Ciu-tat Morta. O fenómeno vividona Catalunha com a sua emis-som no passado janeiro polatelevisom pública dá umhanova perspetiva sobre o po-tencial ainda por explorar deumha outra comunicaçom,ativista e rigorosa, enfrentadaàs versons oficiais e o discur-so único da indústria informa-tiva. Abre, também, interro-gantes. Sobre como manteresta capacidade para abrirfendas, evitar que se conver-tam em mais um processo derecuperaçom, com debates li-mitados e convertidos emanedota. Xavier Artigas, co-di-retor com Xapo Ortega do fil-me, acha inevitável que des-bordamentos do estreito cau-ce mediático por parte da so-ciedade ativa sejam cada vezmais frequentes.

O documentário arredor da mon-tagem policial do caso do 4F de2006 tivo a sua pré-estreia em ju-nho de 2013 numha sala okupadapor umhas oitocentas pessoas nocentro de Barcelona, batizada Ci-nema Patricia Heras. É o nomedumha das vítimas do caso que re-colhe Ciutat Morta, a que padeceua consequência mais dura.

“A equipa que conformamos Xa-po mais eu, nasceu como coletivopoucas semanas após o suicídio dePatri. E sempre estava mui presen-te, de modo latente, o termos quefazer algum trabalho sobre isso”.Som sociólogo e arquiteto de vo-caçom, mas confluírom “na PlaçaCatalunha, no marco do 15-M. Nocontexto da Comissom Audiovi-sual, que cobria o que aconteciana praça, começamos a decidirdar voz a casos de repressom queos meios nunca recolhiam”.

Neste processo atopárom decompanheiros ao periódico quin-zenal La Directa -“o único meioque recolhia estes testemunhos”-.Com o portal web deste meio com-partilham trabalhos em vídeo, “so-bre repressom após greves gerais,mortes baixo custódia policial -co-mo a de Yassir El Younoussi em ElVendrell ou Juan Pablo Torrijosem Girona, ou mais recentementeJuan Andrés Benítez. O caso do 4Fera de algum modo o grande temanom resolvido a nível comunicati-vo. O primeiro número de La Di-recta, de 2006, já trata como temaprincipal o caso 4F”.

Umha casualidade abre a viaSe há um momento pontual im-portante para a investigaçom jor-nalística do caso 4F, e que fai ar-rancar Ciutat Morta, é “quando seconheceu a coincidência de os po-licías que tinham torturado Iuri, ofilho do diplomático, terem sidotestemunhas chave no julgamentodo 4F, que decidimos fazer um tra-balho”. Refere-se Artigas a um ou-tro caso, em que dous policiaissom condenados a inabilitaçom emais de dous anos de prisom porterem torturado um moço negro,mentirem e manipularem provaspara o fazerem passar por trafi-cante de drogas. A casualidade

quixo que o fosse filho dum em-baixador de Trinidad e Tobago. Amontagem cai, desta vez. Osagentes condenados Víctor Bayo-na e Bakari Samyang coincidemcom os que detiveram e tortura-ram três das vítimas da monta-gem do 4F. Naquela ocasiom deorigem sudamericano, nesta decor negra, e polo caminho um nú-mero inquantificável de vítimasdumha prática policial sistemáticae impune. Contou logo Iuri Jardi-ne que, estando nos calabouçosna noite da sua detençom, em es-tado de shock polo sofrido, outrosdetidos de origem maiormenteafricano nom podiam entender asua surpresa. Era o habitual. Per-gunta-se Artigas “quantos Rodri-go Lanza (um dos detidos no 4F),quantos 'sudacas' ou 'moros demierda' tenhem que passar polasmaos de torturadores antes deaparecer um caso como o de Iurique desvende essa realidade?”.

A cooperaçom jornalística“A nível de material de investiga-çom, para dar a outra parte da his-tória, a que nom era a oficial, con-távamos quase em exclusiva com ainvestigaçom que tinha realizadoLa Directa. E foi umha simbiosemui bonita, na que eles puideromvoltar publicar sobre o tema atra-vés da filmaçom do documentário,que nós começávamos a investigarde forma autónoma enquanto dá-vamos visibilidade ao seu trabalhoprévio. Foi umha mui boa colabo-raçom entre meios livres e um gru-po de gente com vontade de mudara narrativa do vídeo político”.

Incide aqui na vontade de con-seguir efetividade na transmis-som da mensagem. Era relevanteconseguir um público amplo, ex-ceder as fronteiras do público mi-litante. “Umha das primeirasquestons que nos formulamos foique há graves problemas na co-municaçom audiovisual ativista,por manejar sempre uns códigosfeitos para ativistas que fam muidifícil transcender cara outragente. Isto fixo com que come-çássemos a fazer vídeos que ra-chavam totalmente com este es-quema e ao tempo tinham um ri-gor jornalístico que nos dava esteapoio da Directa. Eram zero ten-denciosos, zero panfletários... Aí

começou-se a marcar umha dife-rência com muitas cousas a nívelaudiovisual que se tinham feitoantes em Barcelona”.

“A longamentragem do 4F foi oponto em que confluírom na má-xima expressom todas estas li-nhas em que tínhamos ido traba-lhando, e procuramos experimen-tar com a linguagem cinemato-gráfica para provocar certas cou-sas no espetador, para além dasimples denúncia explícita”.

Atravessar até o centro da agenda mediática“Acho que nos meios livres, na co-municaçom alternativa, há comoum certo complexo, ou medo, aque o que tu fas poda chegar a con-verter-se em 'mainstream'. Nestesenso, para La Directa era mui raroque de súpeto os resultados das in-vestigaçons que vinham levando acabo foram vistos em festivais co-mo o de Donóstia com centos de

“decidimos começara dar voz a casos de

repressom que osmeios nom recolhiam”

conVersa com xaVier artiGas, co-diretor do docUmentÁrio ‘ciUtat morta’ sobre o caso 4F

‘Nom é umha maçá, é o cesto todo’Xavier Artigas apresenta o filme no

CSOA Escárnio e Maldizer de Compostela

‘Ciutat morta’ procuraumha linguagem queexceda as fronteirasdo público militante

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pessoas no público, na mesma sec-çom que por exemplo Ocho apelli-dos vascos. Levar o trabalho a umnível deste tipo era, para eles comopara nós, novo e estranho. Chega-mos a público que nom estava alipola vontade de desvendar a reali-dade a nível de repressom, masporque se passava um filme do quese estava a falar”.

E o falar foi sendo cada vez maisamplo, saindo dos festivais de ci-nema para alargar-se polas redessociais, até o ponto de a televisompública catalana ver-se obrigada ao emitir. Fixo-o logo de tê-lo anun-ciado, ter tentado incumplir oanúncio polas pressons políticas enom poder evitar finalmente aemissom pola pressom popular.“Penso que Ciutat Morta fixo umbom trabalho neste senso, e quequando menos durante uns diasna Catalunha criou-se umha he-gemonia a nível de discurso queaceita que os corpos de segurançacataláns torturam, e ademais deforma habitual. É inquestionávelagora mesmo, e a gente exige in-vestigaçons e cámbios”.

Aponta que todas as informa-çons a respeito do tema apereci-das nestas semanas nom podemesquivar citar La Directa. “Sair dogueto pode dar vertigem, mas nofinal é o que procuramos. Criarhegemonia. Durante uns dias con-seguimo-lo, e é umha grande vitó-ria para os meios livres cataláns,que devem reflexionar, e estám afazê-lo, sobre o potencial que háneste tipo de alianças”.

Esquivar a recuperaçomFica a pairar a questom de como éque se dá esse debate, em que ter-mos. De se pode ver-se canalizadopolos meios sistémicos, cara um-ha análise reducionista que instaleno imaginário do público umhasorte de infortúnio ateigado de'maçás podres': dous agentes sádi-cos, umha juíza tola... E um siste-ma que simplesmente foi incapazde detetar esses falhos e essa vio-lência que nom som para nada es-truturais nem representativos damaquinária estatal. “Por suposto,e haverá muita gente que o estea aver assim. Mas essa é a grande lui-ta agora, a grande responsabilida-de que temos. Como nom lhes fi-cou outra que falarem do tema, le-vam o debate cara aspeitos pon-tuais. Mas nom se pom em causaque os relatórios policiais e as sen-tenças mentem. Fala-se do vergo-nhoso de que os dous policiais quesom torturadores convictos te-

nham sido pré-jubilados, reduzin-do só a eles dous. Mas está-se a fa-lar de torturas, e de jubilaçons ir-regulares. Abre-se umha fenda,coloca receptividade. A gente que-re saber mais cousas que o quelhes dim os meios 'mainstream'”.

Artigas salienta a necessidadede nom abandonar a mobiliza-çom na rua. E comenta neste sen-tido que estám à expetativa damobilizaçom do 4F, umha sema-na após o momento da entrevis-ta, que levará justamente, como

palavra de ordem, 'No és una po-ma. És tot el cistell' ('Nom é umhamaçá. É o cesto todo').

E de que cada quem aproveite

o momento para dizer o que te-nha que dizer, e “desvendar elembrar outros casos. É o que fi-gêrom três jovens da Vila de Grà-cia que foram torturados em2005, pola mesma unidade dechoque da Guàrdia Urbana daque fam parte Samyang e Bayo-na, um caso arquivado que sevolve tratar. A ideia é seguir des-bordando com informaçons pa-ralelas que obliguem aos meios alevar o debate onde queremosnós e nom onde querem eles”.

A resposta dos mediaPara além das dúvidas sobre comose desenvolve este debate, estátambém a dúvida sobre como rea-cionarám os media e os poderes fa-ce o futuro. Se se re-armarám, sepodem fazê-lo, para evitarem novasdisrupçons deste tipo no fluxo nomconflituoso da agenda mediáticapatuada. “Há duas hipóteses”, con-sidera Artigas. “Umha é que as di-reçons se ponham duras e chamema nom permitir que isto aconteçade novo nunca, jamais. A outra éaceitarem que há umha dinámicaimparável que acontecerá cada vezmais, a de as redes desbordarem oslimites dos meios de comunicaçomconvencionais. Um periódico temum status por estar impresso, é umobjeto limitado à venda em quios-ques. Mas num entorno digital, oweb do El País ou o El Periódicotem o mesmo valor aparente que oblogue de qualquer umha pessoabem informada e rigorosa. Segui-rám a arrastar esse status acumu-lado, mas as redes sociais permi-tem informar-se a muita mais velo-cidade do que os dinossauros quesom os periódicos, som mais diná-micas, mais democráticas, e é cadavez mais difícil manipular nelas.Por isso as situaçons em que des-bordam os meios convencionais,forçando-os a falar do que se recla-ma desde a sociedade civil, vam eseguirám a medrar. E penso que, sequerem sobreviver, nom lhes vaiquedar mais que refletir e ter emconta esses temas, ou a sensaçomque já tem a gente de que os mediaocultam cousas, mentem e censu-ram, irá em aumento.”.

O assunto nom deixa de deitaralgo de luz, ademais, sobre as ver-gonhas do sistema mediático, fa-zendo ademais saltar algumhasdas costuras que o fecham. Acon-tecu assim com El Periódico, quepublicou após a emissom do filmeumha capa com as palavras dumpolicia, num atestado ao que umjuiz nom deu validez, que acusavaumha das vítimas da montagem do4F de mofar-se e do polícia que fi-cou tetraplégico na noite do 4F.“Foi umha mostra mui evidentedos fios que se movem por trás daindústria informativa desde ins-táncias políticas. Todo o mundo oviu, que aí havia uns interesses de-terminados que tinham pouco me-nos do que comprado a portada”.Mesmo os e as trabalhadoras doemitírom um comunicado em quese distanciavam e instavam o diá-rio a pedir desculpas.

A ‘marca Barcelona’ mataTambém alguns jornalistas dogrupo Godó, ao que pertence LaVanguardia, figérom umha espé-cia de reconhecimento público denom terem tratado o tema ajeita-damente no seu momento. ParaArtigas a ironia é tremenda: “La

13internacionalNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

“sair do gueto podedar vertigem, mas

no final procuramos criar hegemonia”

A história que recolhe CiutatMorta pode nom ser completa-mente nova para algumhas daspessoas que lem estas linhas.Sem necessidade de conheceremeste caso, nom poucas pessoastenhem vivido em primeira pes-soa, como vítimas ou como co-nhecidas destas, a imediatez comque umha mentira uniformada seconverte em verdade judicial eem condena penal. Mas a magni-tude da montagem policial ope-rada no caso 4F fai justo o quali-ficá-lo de “um dos piores casosde corrupçom policial”, comofam os creadores do filme na car-ta de apresentaçom deste.

Conhecemos o ponto de par-tida: na noite do 4 de fevereirode 2006 arredor dum antigo tea-tro okupado, convertido já num-ha discoteca ilegal com pouco aver com o movimento okupa,umha carga policial remata comum polícia em coma. É atingido,sem portar o casco regulamen-tário, por umha maceta na cabe-ça, por palavras do alcaide deBarcelona da altura, Joan Clos.

Três jovens som detidos na-quela rua. Na rua desde a que,como asseguram num posterior

julgamento os peritos forenses,nom se pudo realizar nengumlançamento de objetos quecoincidisse com as lesons dopolicia. Três jovens 'com aspei-to de antisistema', três jovens'sudacas', som detidos naquelarua e brutalmente torturadasnos calabouços da esquadrapolicial, só como ponto de ar-ranque dum suplício que lhesroubará vários anos de vida emprisom preventiva, medida apli-cada de jeito imparcial pola juí-za só contra os três detidos comorigem sudamericana.

A caçaria de vingança dosagentes policiais completa-secom duas vítimas mais aquelanoite. Um moço e umha moçacom a mala sorte de se atopa-rem na sala de espera dumhospital logo da noite de festa,na mesma sala de espera polaque passárom polícias aos queresultou suspeita a sua indu-mentária e peiteado. Suspeitae, já que logo, culpável.

A história posterior resume-se, a traço grosso, numha ver-som oficial que muda da noitepara o dia, contradizendo pro-vas forenses e testemunhos vi-

suais para acomodar-se comple-tamente ao relato da GuàrdiaUrbana, responsável polas de-tençons e torturas. Em julga-mentos de puro trámite, em queo tribunal se demonstra puracorreia de transmissom dessamesma versom policial, que é jápara entom a do concelho.

Anos de prisom, com entra-das e saídas, de cinco pessoasculpadas só polo seu aspeito,identificável com o inimigo pú-blico que os média construíam,o inimigo contra o que se acaba-va de aprovar umha 'ordenançade civismo'. Pessoas condena-das judicial e mediaticamente,as suas vozes e as da sua gentesilenciadas cada vez que procu-ravam denunciar o despropósitoque estavam a sofrer.

E umha morte, que fica naconta de assassinatos da vio-lência estatal. Nom houvonengum fardado em abril de2011 a apertar um gatilho, masquando Patricia Heras salta aovazio numha saída de prisomé inevitável imaginar o pesodos dous anos de espera polojuízo, dos três anos de prisominjustificados.

nove anos de infámia

A grande repercussompermitiu recuperar

mais casos ocultosde violência policial

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14 internacional Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

MARIA ÁLVARES, X. R. S. / Jesús Rodrigueztem umha dilatada carreira como jorna-lista de investigaçom. Segundo ele “oúnico jornalismo que deveria existir”. Através da Directa destapou numerososcasos de corruçom e brutalidade poli-cial. Estes dias compagina o trabalhono seu meio com dúzias de entrevistasapós a difussom na tv pública catalá dodocumentário Ciutat Morta, que sacudiumuitas consciências e destacou a ne-cessidade de contar com meios inde-pendentes para tirar à luz pública verda-des incómodas para o sistema.

Como começa a investigaçom do 4F? Que im-pressons conservas de ir afundando no tema?Desde o início houvo muitas dúvidas sobre agente implicada, a casa nom tinha muito a vercom o movimento okupa e era umha cousa umtanto escura e completamente despolitizada, etratámos o assunto mais pola denúncia da si-tuaçom penintenciária das pessoas detidas.Comecei a fixar-me na unidade policial que asdetivo, soubem que havia mais casos de bruta-lidade policial e tiramos vários artigos.

O momento chave é a morte da Patri, namanifestaçom de protesto e quando conheçoo Artigas e o Xapo. Eles tinham muito claroque havia que fazer algo com todo isto. Co-meçamos a ver quem está por trás da unidadepolicial, contatamos advogados, pessoas de-tidas por eles torturadas... e topamos entredez e quinze expedientes de torturas. Cruza-mos os números de placas dos agentes envol-vidos e aqui estamos conscientes de que to-dos coincidem: os dous polícias que detivê-rom a Patri, que é o Bayona, e Samyang quedetivo o Alex e o Rodri.

Isto é o ponto chave, nom só falamos de tor-turas porque estes dous agentes detivérom trêspessoas, desconhecidas entre elas, em douspontos completamente diferentes da cidade.Falamos de falsidade documental e manipula-çom de atestados. Isto diz a sentença judicial.Apartir desta deduçom óbvia investigamospor onde se movem estas duas personagense descobrimos um submundo criado por es-tes dous polícias sem nengum tipo de contro-lo com muitos mais casos deste tipo.

Como se translada um tema assim para umfilme projetado para audiências geralistas?O que mais custou sem dúvida, foi trabalharos códigos de linguagem. Quando trabalhasnum meio como La Directa, com o seu públi-co concreto, há cousas que nom tés que ex-plicar à hora de redigir. Moves-te num am-biente conhecido.

Mas com o documentário a ideia foi chegarao maior número de gente possível, de qual-quer faixa de idade, condiçom social e ideolo-gia. Esta denúncia tinha que agitar muitasconsciências. E queríamos explicá-lo dum jeitomuito singelo mas ao mesmo tempo ser muitorigorosas. Explicá-lo todo nom é umha tarefafácil -a primeira montagem ficou em cinco ho-ras- mas fico satisfeito com o resultado final.

A TV3 desprogramou em duas ocasions aemisom do documentário, finalmente emite-se no segundo canal, um sábado às 22.30. Sa-

bes que se cozinhou por tras este vaivéns?Nom o sabemos exatamente, estamos certasque houvo pressons de altos estamentos. Oque sim sabemos é que o apresentador de 'Sa-la 33' tivo sempre muita vontade de emitir ehouvo em várias ocasions problemas com adireçom da TV3.

O próprio diretor da tv3 foi interpelado po-lo diputado David Fernández numha compa-rencência sua no Parlament por este tema ementiu, dixo que nom tinha contato com nósquando já tiveramos várias reunioms por estetema, finalmente demonstrou-se que mentiae que houvo umha tentativa claríssima de ve-to mas tivo de retificar.

O filme emite-se com cinco minutos censura-dos por ordem judicial. Que supom que umtrabalho rigoroso seja questionado assim?A estratégia da censura é muito arcaica, eademais hoje em dia nom tem sentido nen-gum e ademais leva ao efeito contrário: oscinco minutos censurados fôrom mais vistospola gente na Internet que o próprio docu-mentário. O que conseguiu esta tentativa decensura foi que o nosso trabalho fosse vistopor mais gente.

Neste caso as redes convertem-se em aliadas...Bom... nom todo é rede, de feito nela há poucainformaçom e muitas jornalistas recorrem a elaconstantemente. Mas para investigar é básicomover-se polos locais onde ocorrem as novas,buscar em arquivos analógicos e pisar a rua.

Como vives o momento em que umha inves-tigaçom de muito tempo consegue irromperna agenda mediática? Pode haver risco emque os mass-media desvirtuem a denúnciareduzindo-a a um caso pontual?

A nossa resposta ao dia seguinte de emitir-seCiutat Morta é única e muito clara: seguir atrabalhar. Levamos seis anos trabalhando nis-to. Durante uns dias os meios fam-se eco, en-trevistam-nos, questionam-se cousas...

Mas nós já nom estamos centrados nisto, so-mos formiguinhas e estamos trabalhando e co-zinhando o próximo caso. Frente à montanharusa informativa, temos constáncia, perseve-ráncia e vivemos no dia a dia. Para demonstrarque nom é só umha maçá podre, senom que étodo o sistema o que esta apodrecido.

Que releváncia tem o jornalismo de investi-gaçom e quais som as limitaçons -técnicas,económicas,...- num meio independente?Nós temos a vocaçom do jornalismo intata,umha vocaçom que já nom existe nos gran-des meios, que buscando o puro negócio pro-duzem precariedade nas redaçons, desinte-resse nas e nos jornalistas e diminuiçom daqualidade informativa. E sentimo-nos partedumha comunidade, sabemos que nos deve-mos às nossas subscritoras.

Tens sofrido ameaças ou pressom por inves-tigar e publicar abusos policiais e judiciais?Numha ocasiom dixérom-me uns subalter-nos policiais que me iam cortar o pescoço...erespostei-lhes: 'e onde o ides fazer? aqui nomeio da rua?'. Noutra ocasiom cortárom-meas rodas da bici, e a um companheiro de LaDirecta, enquanto cobria umha 'mani', berrá-rom-lhe polo nome enquanto lhe disparáromumha bola de borracha. Que sejas testemu-nha, incomoda-lhes. Mas som isso: fanfarro-nadas, bravatas... só funcionam de te deixasamedrontar. E contra elas, sempre há quecontestar da mesma maneira: denunciá-las efazê-las públicas. É o jeito de combatê-las.

Jesús rodríGUez é redator de inVestiGaçom de ‘la directa’

“Temos a vocaçom jornalística intata”Vanguardia som, nos primeirosanos dos 2000, os principais res-ponsáveis da construçom socialdo suposto inimigo público que éo 'antisitema', ou o 'okupa', que dealgum modo chega a Barcelonapara desestabilizar a paz social.Famosas fôrom as suas capas cri-minalizando os okupas. E somtambém os grandes impulsores da'Ordenanza de Civismo', umha leitotalmente repressiva sobre ascousas que se podem fazer no es-paço público, e que é a culmina-çom dumha campanha de anos deLa Vanguardia denunciando ativi-dades que tachavam de incívicasna cidade. Tiravam fotos de gentea mijar na rua, fotos de trabalha-doras sexuais, ... todo aquilo quesupostamente devia molestar à ci-dadania. E que provavelmentenom molestava tanto, mas o diáriocriou um ambiente de alarme so-cial. E no caso do 4F estava claroque era o inimigo perfeito que lhesconvinha para rematar de conde-nar o movimento okupa”.

E noutra banda, situa os proces-sos de gentrificaçom que sofreuBarcelona, e nomeadamente obairro onde se desenvolvêrom osfeitos “Trata-se do caso do Forat dela Vergonya, em que a vizinhançamantinha um parque comunitáriocomo alternativa aos plans do con-celho para montar um parking eumha praça de cimento. Ao conce-lho convinha-lhe criminalizar estaluita, sinalando os okupas e con-fundindo-os com os 'alvorotadores'do teatro okupado. Este já era re-chaçado polo movimento okupa,pois se tinha convertido num ne-gócio. E, enquanto as outras oku-paçons duravam semanas, esta le-vava anos a funcionar ininterrom-pidamente nos fins de semana,sem atuaçom do concelho, causan-do ruído e moléstias à vizinhança”.

É importante para o co-diretorde Ciutat Morta nom desligar estecontexto da montagem policial do4F: “o poder consegue que nos ob-sesionemos com os portadores domonopólio da violência, quandoem realidade isto responde a um-ha lógica muito mais complexa.No caso de Barcelona a uns inte-resses, já nom políticos senomeconómicos, mui fortes. Chamaro filme Ciutat Morta e nom 'Lapolicía tortura y asesina' tem a vercom isto, com deixar claro que is-to responde a um modelo de cida-de que permite que aconteçam es-tas cousas. Porque a cidade vemsendo concebida como umhamarca desde há umha cheia deanos, desde os jogos olímpicos doano 92, e como toda marca há quea vender. Há uns responsáveis degerir a venda dessa marca queevidentemente lucram com estecomércio. E defendem umha pazsocial determinada que exige um-ha oganizaçom e ordem que im-plicam violências contra quemnom encaixe neles”.

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Cumpriam todos os requisitospara receber o tratamento con-tra a hepatite C mas os seus re-querimentos nom fôrom aten-didos. Depois de dous protes-tos da Plataforma de Afetadaspola Hepatite C, a administra-çom galega dixo que os pedi-dos se extraviaram acidental-mente. Outras pessoas afeta-das nem sequer sabiam quepodiam obter o sofosvubir por-que a administraçom nom atua-lizara os critérios de admissompara se receber o fármaco. Es-tes supostos incidentes figê-rom passar os gastos médicosdo 2014 -os orçamentos pré-vios às eleiçons municipais-para o 2015. O porta-voz da Pla-taforma de Afetadas, QuiqueCostas, pergunta-se: “Qual é opreço legítimo para deixar um-ha pessoa morrer?”

ANA VIQUEIRA /Só tinha que aguan-tar seis meses mais. Era outubrode 2013 quando o médico de ca-beceira de Quique Costas lhe co-municou que em meio ano iaaprovar-se um medicamento quelhe curaria a hepatite C. “Nessemomento deu-me um impactoemocional. Deixei de sentir sobremim umha pena de morte”.

O sofosvubir permite tratar ahepatite C com umha percenta-gem de êxito maior - superior a90 por cento - e com menos efei-tos secundários que os tratamen-tos anteriores, como o Interfe-rom. Tam só na Galiza, a apari-çom deste novo fármaco afeta avida de 50.000 pessoas que pade-cem a hepatite C e, especialmen-te, as 3.000 que estám em fasegrave de fibrose avançada e após-transplante segundo dados daPlataforma.

Dépois de negociaçons, o fár-maco entra em outubro no catálo-go do Sistema Nacional de Saúde.Ora bem, o governo coloca um fu-nil na distribuiçom do tratamentosob forma de requisitos que asdoentes devem cumprir. “Estescritérios deixam fora quase todaa gente”, afirma Quique Costas.Sem compreender porque um Es-tado restringe até esse ponto umfármaco, ele sentencia: “buscam

quadrar as contas”. O pulso do ca-pitalismo farmacêutico acompa-nha este fármaco desde a sua pró-pia criaçom.

Gilead: as vidas cotizam na BolsaNo começo, o Sovaldi -marca co-mercial do sofosvubir- foi criadopola Pharmasset, empresa que,pouco depois de registar esta pa-tente, foi adquirida por um totalde 11.000 milhons de euros polaGilead. Esta empresa está forma-da por um portfólio de açonsconformado por fundos de capi-tal risco e fundos de pensons es-tado-unidenses, fundamental-mente especulativos. Por exem-plo, o principal acionista é a Ca-pital Research Global Investorscom açons num valor maior que13 mil milhons de dólares. Na lis-ta também figuram grupos como:State Street Corporation, Inves-co, Bank of New York MellonCorporation, Vanguard Group ouo JP Morgan Chase & Companysegundo dados da bolsa de valo-res estado-unidense NASDAQ.No que respeita à cúpula direti-va, o Conselho de Administra-çom da Gilead estivo ocupadapor dous ex-secretários de Esta-do de três administraçons repu-blicanas dos USA: Donald Rums-feld e George Schultz.

Estados como o de Philadelphiademandárom o laboratório por

violar as leis antimonopólio e o Se-nado dos USA investiga a mercan-tilizaçom do medicamento já quenom entendem como a Pharmas-set ofertava o fármaco por 20.000euros ao tratamento e Gilead ele-va-o para 60.000. Em Espanha ainformaçom sobre o preço de ven-da é opaca mas, segundo informa-çons de imprensa, o preço seria20.000 euros por tratamento.

A Junta restringe o acesso aosofosbuvir em finais de 2014Quique Costas opom-se a falar dahepatite C e a sua cura em termoseconómicos. “Nós nunca entra-mos num debate de natureza eco-nómica. Seria repugnante. Qual éo preço legítimo para deixar um-ha pessoa morrer?”. Afirma que oGoverno, no seu discurso, fala desondagens e estatísticas mas“nós, de pessoas”. E pom o focona atuaçom da Junta da Galiza.

Em 28 de janeiro a SubdireçomGeral de Farmácia da Junta co-munica que acaba de pôr em diaos requisitos com que o Ministé-

rio dá acesso ao tratamento con-tra a hepatite C. Essa atualizaçomabarca três meses, tempo em queo governo espanhol estabeleceunovos critérios, que ampliavam oleque de doentes que podiam be-neficiar do fármaco. Nesses trêsmeses a Junta “deixou a galegas egalegos sem o tratamento por,simplesmente, nom ter ao corren-te os requisitos”.

Nom este foi o único entrave aoacesso do sofosvubir que houvona Galiza em finais de 2014. Emjulho e outubro desaparecerampedidos de tratamento, mui gra-ves nalguns casos mui graves.Houvo por isso duas denúnciaspúblicas e, depois da segunda, aadministraçom emitiu umha notaalegando que foi um extravio nocircuito do pedido. As afetadas ti-vérom que reiniciar os trámites esó em janeiro pudérom começarum tratamento que deveria ter co-meçado em outubro.

Estes supostos incidentes pas-sárom para o ano 2015 uns gastosmédicos que deveriam ter-se reali-zado em 2014 e, portanto, incluí-dos nos orçamentos finais de 2014,prévios às eleiçons municipais.

Mentres explica o processo,pom exemplos - citando de memó-ria - de particulares que compo-nhem a Plataforma. Conta comoÁngel Parada Piñeiro, home de 71anos, de Marim, alérgico ao Inter-

ferom, transplantado no 2008 e cli-nicamente cirrótico com umha fi-brose de grau 3 -de 4-, nom podereceber o tratamento porque o re-quisito que impom o Ministério éo encontrar-se na fase 4 da enfer-midade. O pessoal médico de Pa-rada Piñeiro apresentou as suasalegaçons no dia 9 de janeiro mashoje, um mês mais tarde, as alega-çons nom tenhem resposta e elecontinua sem tratar.

Pessoas afetadas exigem transparênciaA Plataforma de Afetadas pola He-patite C exige “transparência ab-soluta”. “Queremos que a Conse-lharia quinzenalmente informedos pedidos que se apresentam, osque vam a trámite para a gerência,os que som avaliados pola comis-som, quantos som aprovados equantos tratamentos som dispen-sados”. Sem essa transparência,afirma Costas, o processo que ges-tiona o processo volta-se “sinistro”.

Mentres vai narrando, QuiqueCostas pom exemplos - citando dememória - de particulares quecomponhem a Plataforma. Contacomo Ángel Parada Piñeiro, homede 71 anos, de Marim, alérgico aoInterferom, transplantado no2008 e clinicamente cirrótico comumha fibrose de grau 3 -de 4-,nom pode receber o tratamentoporque o requisito que impom oMinistério é o encontrar-se na fa-se 4 da enfermidade.

Contodo, Quique Costas ad-verte que cara o mês de abril,com a proximidade das eleiçonsmunicipais, pode dar-se a situa-çom de que o governo galegoatenda algum dos seus pedidos.Mas isso, longe de contentá-lo,entristece-o.“Fam-te sentir comoum piom no tabuleiro de xadrez,que podes sacrificar um com talde ganhar a partida...” Bem sejaeconómica ou eleitoral.

15em anÁliseNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

em Galiza há 50.000pessoas em fase defibrose avançada e

após transplante

doentes da hePatite c FicÁrom sem soFosbUVir PorqUe a JUnta nom atUalizoU os critérios de admissom

“Somos pacientes impacientes porquesabemos que nom temos tempo”

em anÁlise

A Junta deixou galegassem tratamento pornom ter ao corrente

os requisitos

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16 a FUndo Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

O discurso do novo partido tenta evitar aquelas questons que podamrestar amplitude à sua heterogénea base social e eleitorala FUndo

como Vai encarar a qUestom nacional Umha Força com tanta caPacidade de Penetraçom social?

A chegada de Podemos sementa de incertezas a política galegaA eleiçom das cúpulas autonómicas do Podemos representa formalmen-te o final do seu processo de constituiçom como partido político, inicia-do há um ano com o manifesto “Mover Ficha”. O facto de contar já comumha estrutura tradicional de partido, com direçom estatal, direçons au-tonómicas e agrupamentos locais ou “círculos” nom significa que as in-certezas existentes a respeito da formaçom e das suas propostas este-

jam perto de serem resolvidas. Particularmente, os bons resultados au-gurados polos inquéritos (primeira formaçom em votos e segunda emnúmero de eleitos no Congresso) obrigam a perguntar-se polas implica-çons que o fenómeno Podemos pode ter no mapa político galego e, so-bretodo, como vai encarar a questom nacional umha força com tanta ca-pacidade de penetraçom social no momento presente.

RAUL RIOS / Nom é simples tentarresponder a esta pregunta, poisum dos traços caraterísticos dodiscurso do Podemos é a sua in-definiçom, quanto menos nascoordenadas ideológicas clássi-cas. Com um discurso perfeita-mente medido, o Podemos esfor-ça-se por fugir daquelas etiquetasou significantes que consideramdesgastados, nomeadamente dode “esquerda”, enquanto somsubstituídos por outros signifi-cantes que consideram mais efi-cientes para transmitir a sua men-sagem ao grosso da sociedade,“os de baixo”.

Xaime Subiela, prémio RamónPiñeiro 2012 com o livro Para quenos serve Galiza? (Galaxia, 2013),situa esta tática na procura dumha“posiçom de confronto que aspiraa ser hegemónica”. “As alternati-vas de esquerda que pretendiamromper o quadro estabelecido dobipartidismo situavam-se comoaquilo que estava para alá doPSOE e, portanto, era difícil que ti-vessem umha vontade maioritá-ria”. Para o politólogo, isto nomquer dizer que o Podemos “queirarejeitar o conjunto da tradiçomemancipadora da esquerda, mas oque pretendem é jogar com umquadro interpretativo que permitasituá-los na centralidade do deba-te”. “Centralidade” que nom terianada a ver com o “centro”, enten-dido como o espaço que já tentouser ocupado por partidos como aUPyD ou o Ciudadanos.

Mais duramente se expressaAnxo Lugilde, autor de De Beirasa Podemos. A política galega nostempos da troica (Praza Pública eMeu Book, 2014), que vê nessa tá-tica “umha parte da sua viragempossibilista” para se converternum partido “apanha todo” apóso seu êxito nas eleiçons europeiase com os olhos postos nas gerais.O jornalista considera que “é umerro que acabará pagando porque

pom de manifesto o oportunismodo seu núcleo dirigente”.

A verdade é que por trás de “osde baixo” há umha série de pro-postas programáticas perfeita-mente identificáveis com a eti-queta de “esquerda”. Basta olharpara o programa apresentado po-la formaçom que dirige PabloIglesias às eleiçons para o Parla-mento Europeu, onde se defen-dia a renda social básica, a audi-toria da dívida, a banca públicaou a nacionalizaçom dos setoreseconómicos estratégicos; embo-ra alguns destes pontos já te-nham sido reduzidos a “objetivostendenciais” após essas eleiçons.A mesma identificaçom dá-secom a proposta económica ela-borada por Vicenç Navarro e

Juan Torres para este partido,pois constitui um programa tipi-camente social-democrata – as-sim foi definido por Podemos -muito similar ao da maioria deformaçons políticas espanholassituadas à esquerda do PSOE.

Questom nacional, tema incómodoPara a perceçom que a opiniom pú-blica pode adquirir de um determi-nado partido político, muito maisimportante do que os programasou os textos oficiais, o fundamentalsom as suas atuaçons e o seu dis-curso público através dos meios decomunicaçom social. E dado que aaçom institucional do Podemos fi-ca reduzida a cinco lugares no Par-lamento Europeu, a maior partedas informaçons sobre as propos-tas políticas do partido vam che-gando através de declaraçons naimprensa, um espaço onde o Pode-mos se remexe bem.

Assim, o seu calculado discursocentra-se nuns poucos temas forçaque já eram hegemónicos social-mente antes da apariçom do parti-do - caso da defensa dos serviços

públicos - ou noutros que, apesarde nom estarem ainda tam sociali-zados, estám intimamente ligadosaos anteriores – caso da auditoriada dívida. No entanto, evitam tocarna medida do possível aquelas pro-blemáticas sobre as quais nomexiste um amplo consenso, poisum posicionamento demasiadoclaro nesse tipo de temas poderiasubtrair amplitude à sua heterogé-nea base social e eleitoral.

A questom nacional é possivel-mente a mais incómoda neste sen-tido, embora Podemos se tenhamanifestado formalmente a favordo direito de autodeterminaçom,isso sim, sem que esta questomocupasse nunca um lugar de cen-tralidade mediática. O direito a de-cidir é concebido pola formaçomcomo a fórmula que permitiria “en-caixar” dentro do Estado espanholaquelas comunidades com reivin-dicaçons nacionais, no quadrodumha república federal que per-mitisse aliviar as tensons indepen-dentistas. Umha posiçom nomisenta de contradiçons.

Umha amostra dessas contradi-

çons pode ser o aperto em que asCUP pugérom Podemos com mo-tivo do primeiro grande comíciode Pablo Iglesias em Barcelona.Através dumha carta aberta comampla difusom mediática, a for-maçom independentista pergun-tava-lhes diretamente se se com-prometiam a habilitar um referen-do de autodeterminaçom para aCatalunha caso ganhassem aseleiçons gerais. O mais parecidocom umha resposta foi a crítica dePablo Iglesias a David Fernándezpor abraçar Artur Mas no dia daconsulta. Posteriormente pediria-lhe desculpas, mas a respostanunca chegou.

Onde é que fica a Galiza?A questom galega também pare-ce ser um tema incómodo paraPodemos. Dos poucos pronun-ciamentos públicos existentes atal respeito, a grande maioriaprocede de entrevistas onde osdirigentes da formaçom erampreguntados explicitamente polotema. As declaraçons com maisrepercussom neste sentido fôrom

por trás de “os debaixo” há propostas

identificáveis com “a esquerda”

Membros do círculo de Ogrove no percursoda ‘Marcha del Cambio’ em Madrid.

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17a FUndoNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

as da galega Carolina Bescansa,secretária de análise política esocial de Podemos e umha daspessoas com maior poder dentroda formaçom. Declaraçons quepara Anxo Lugilde “poderiamser assinadas polos dirigentes doPP de Galiza”.

Assim, Bescansa manifestouque a questom nacional é um de-bate “falso”, “que a sociedade naGaliza resolveu há muito tempo”para, na mesma entrevista de ElPaís (26/12/14), concluir que agente se ergue de manhám “per-guntando-se se vai poder pôr oaquecimento ou vai poder pagara fatura da luz”, num esforço pordesligar a questom nacional daquestom económica e social.

Preguntada noutra entrevista deTempos Novos pola questom lin-guística (dezembro 2014), Bescan-sa despachava o assunto afirman-do que a “gente na rua está mui deacordo com os temas de língua” eque o problema está “numha for-ma de artelhamento do debate po-lítico, que continuamente quer le-var as cousas aos dous eixos quelhe foram bem. Ou seja, esquer-da/direita, nacionalismo espa-nhol/nacionalismo periférico”. Erao reconhecimento implícito de quenom estavam dispostos a entrarnaqueles campos de debate quelhes som incómodos.

Este discurso foi levementemodulado durante o processoconstitutivo a nível galego. Cer-tas problemáticas especifica-mente galegas ou mesmo a de-fesa do autogoverno começá-rom a emergir à superfície me-diática relacionada com Pode-mos ao concentrarem osrepresentantes autonómicos daformaçom umha maior atençomda imprensa. Ainda assim, a te-mática galega continua a ocu-par umha posiçom mui secun-dária no seu discurso.

Para Xaime Subiela, essa“prevençom” a respeito da ques-tom nacional explica-se em boamedida pola importáncia quePodemos atribui às eleiçons ge-rais, “dando primazia aos ele-mentos menos conflituosos daquestom enquanto tentam ocu-par a centralidade”. Neste caso,a questom nacional (galega oucatalá) nom parece um assuntoefetivo para ganharem a hege-monia entre o eleitorado espa-nhol. Mas Subiela também ad-verte de que, umha vez passa-das as eleiçons, o proceder doPodemos galego poderia “mu-dar completamente”.

“Nom seria descartável que depoisdas gerais o proceder de Podemosao nível da Galiza fosse muitomais acorde com a trajetória dosmovimentos de emancipaçomcom que se identifica muita genteque está em Podemos”, vaticinaSubiela. “De facto, o que suposta-mente é o setor avalizado pola di-reçom estatal tem umha certa sim-patia pola questom nacional e a ló-gica é de confluência com as for-ças que sempre representárommovimentos de emancipaçom li-gados à questom nacional”.

Com efeito, a candidaturaapoiada polo setor de Pablo Igle-sias e finalmente ganhadora, Cla-ro Que Podemos Galicia, é a maispróxima das teses nacionalistas.O novo líder galego, BreogánRiobóo, procede do ámbito na-cionalista (BNG e Anova) e o seusetor é o mais proclive a partici-par das marés cidadás nas elei-çons municipais junto a forçascomo Anova, como de facto jáfam em cidades como Corunha.

Sobre o seu discurso, Lugildeconsidera que “semelha umhaempada ideológica com recheiode Alhariz, polo discurso nacio-nalista em defensa dos setoresprodutivos e os ecos dum certonacionalismo amável, e com pamde Vilalva, pola apelaçom ao factode que a maioria dos galegos sesente muito à vontade em Espa-nha e cumpre atuar dentro dumhaforça estatal como Podemos”.

Segue sendo necessária umhagaleguizaçom dos partidos políti-cos com visos de trunfar no país,como aconteceu historicamentecom o PPdeG ou o PSdeG? O re-sultado dos comícios europeuscolheu muita gente por surpresaneste sentido. Umha força semnengum discurso em chave gale-ga conseguia ultrapassar ao BNGe ficar a apenas 20.000 votos deAGE, sendo quartos no pódioeleitoral. Para Subiela esta situa-çom é facilmente explicável, pos-to que “nas europeias se vota nou-tra chave, igual que nas gerais”.“A lógica predominante em cadaeleiçom é distinta, nas gerais pre-domina a quem se apoia no Go-verno do Estado [...] Por dizê-lode forma rápida, se as eleiçons es-panholas tendem a situar o deba-te num plano espanhol, as elei-çons galegas também tendem asituá-lo no plano galego”. Sendoassim, Subiela tem claro que“nom há nengumha força quepretenda ser hegemónica na Ga-liza que nom tenha assumida um-ha posiçom com a centralidadena Galiza”. O politólogo descreveessa via nom apenas como umhafórmula para o sucesso eleitoral,mas também para conseguir quemais gente aderir o projeto.

Em qualquer caso e polo deagora, as questons especificamen-te galegas seguem a ocupar um lu-gar residual no discurso de Pode-

mos. O mais possível é que hajaque aguardar até as gerais paraver, com o partido já centrado nasautonómicas, que rumo toma essaeventual galeguizaçom.

Sós ou acompanhados?Outra das interrogantes funda-mentais que se vai ir respostandoconforme vaia passando este anoeleitoral noutras comunidade au-tónomas vai ser a que aponta ca-ra a política de alianças de Pode-mos, que no caso galego implica-ria principalmente às forças inte-gradas em AGE. Polo de agora,em Andaluzia já integrárom nasua lista militantes da CUT, o par-tido independentista liderado porJuan Manuel Sánchez Gordillo.

Em qualquer caso, a participa-çom de Podemos nas marés mu-nicipalistas já está estabelecendo“alguns espaços de encontro” que,para Subiela, “muitíssima genteestá desejando”. Por parte da Ano-va, vários dirigentes mostráromboa disposiçom a entender-se comPodemos no quadro da sua estra-tégia de ampliar e superar AGE,embora sempre com cautela. Opróprio Xosé Manuel Beiras co-mentava aquando dum encontrocom David Fernández que os pos-síveis pactos iam depender mais“de questons que nom tenhem de-finidas” em Podemos.

Por outra parte, o facto de quea cúpula madrilena apoiasse o se-tor mais galeguista pode ser in-terpretado também como umhapreparaçom do terreio para pos-síveis colaboraçons.

Apesar dos fatores que pressa-

giam um futuro entendimento, es-se caminho nom está isento de di-ficuldades. Por umha parte, de-penderá em boa medida da posi-çom da Esquerda Unida, que a ní-vel estatal está submersa numconfronto entre o setor que apostanumha certa confluência com Po-demos e o que se nega rotunda-mente. Mas, se calhar, o impedi-mento mais importante vem daprópria atitude que mantiver Po-demos. A nível estatal, o partidointerpreta que umha aliança coma IU pode fazer perder mais doque ganhar, já que ao seu entendeririam ligados “a mais do de antes”.“Nom tenho claro se estám no cer-to ou nom”, aponta Subiela.

No contexto galego, a esta von-tade de “preservaçom da marcaPodemos” acrescenta-se-lhe ou-tra dificuldade: a que tem a vercom a incómoda questom nacio-nal, como já deixou entrever Bei-ras. Segundo Subiela, “um posi-cionamento mais definido queseria demandado pola AGE e quedalgum jeito seria delicado paraa proposta de Podemos poderiaser um ponto de desencontro”.

Por último, o politólogo tam-bém assinala umha “certa arro-gáncia” na atitude de Podemos. Ofacto de terem tam boas perspeti-

vas eleitorais, “que quase fagam oque figerem veem que tenhemapoio igual”, colocaria-os numhaposiçom de “certa arrogáncia, di-fícil de levar para qualquer agenteque queira confluir com eles”.

Ainda resta muito calendárioaté as autonómicas de 2016. Po-rém, parece claro que se Pode-mos é capaz de manter a sua ten-dência mostrada no campo esta-tal e importá-la para a Galiza, aformaçom de Pablo Iglesias po-deria transformar notavelmenteo panorama institucional galego.

A militáncia galegaUmha das principais chaves pa-ra transladar o seu êxito estatalpara a Galiza vai ser o papel dasua militáncia no país. Como jáaconteceu com a AGE, o Pode-mos colheu um inusitado suces-so eleitoral sem quase militán-cia mas, ao contrário dos de Bei-ras, a partir das europeias nomdeixárom de crescer no númerode inscritos. Isso sim, inscrever-se em Podemos nom requer pa-gamento de quota e pode-se fa-zer de forma telemática.

O facto de serem um “wishfulthinking party”, em palavras deSubiela, “um partido onde cada-quém vê o que deseja”, dá emque a lógica de cada círculo seja“casuística pura”. O politólogoconcorda em que padecem um-ha ausência de quadros, algo“interessante” na medida emque consegue ativar politica-mente gente que antes nom o es-tava, mas que também apresen-ta um “problema”. “As cousasque vês às vezes, as atas ou oque se comenta nos sítios... somcomo mui pobres ou semelhaque a gente anda algo perdida”.

Som as marés um bom espa-ço para captar esses quadrosque faltam? Para o mesmo poli-tólogo a resposta é afirmativa,mas as marés nom seriam oúnico movimento com poten-ciais militantes: “Nos sítios on-de a gente se move e onde háumha opçom que se vê pujanteacaba por haver umha decanta-çom cara essa opçom”. Issosim, avisa que seria um erro pa-ra as marés deixarem-se absor-ver pola formaçom.

O partido de Pablo Iglesiasacaba de chegar à Galiza e demomento quase todo som in-cógnitas. De como irá evoluir aformaçom e de como isto afe-tará o mapa político galego épouco o que se pode dizer aocerto. Os múltiplos fatores daequaçom irám resolvendo-secom o tempo, ao ritmo do tam-bor das sucessivas convocató-rias institucionais.

“As declaraçons debescansa poderiamser assinadas polos

dirigentes do ppdeG”

de como se definirpodemos dependerámas eventuais alianças

com forças galegas

Galeguizar o partido?

Breogán Riobóo, secretáriogeral de Podemos na Galiza.

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18 em anÁlise Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

A.L. RIVAS / A greve estudantilpara o 26F vem a denunciarumha situaçom insustentávelno ensino público. As contí-nuas iniciativas privatizado-ras estám a provocar umhaqueda do alunado universitá-rio e a conformar um ensinomedio cada vez mais restritivoe privatizado. No mundo uni-versitário, com o desenvolvi-mento das linhas marcadaspola Estratégia Universidade2015, e no ensino meio, com aLomqe e a implantaçom da FPBásica e FP Dual, está a dese-nhar-se das administraçonsum ensino focado às necessi-dades das empresas.

O conhecido como Decreto 3+2 éa reforma mais recente impulsa-da polo governo espanhol para oensino universitário. Esta nova re-forma vem rematar com o sistemade graus que, já de jeito provisó-rio, se instalara durante a imple-mentaçom do Plano Bolonha.Com esta nova volta de porca, osgraus ficariam com umha dura-çom de três anos e os pós-grausatingiriam os dous anos. As orga-nizaçons estudantis galegas de-nunciam que o valor formativodos graus se fai ainda mais precá-rio, obrigando na prática a fazerum pós-grau para contar com um-ha formaçom de qualidade. E

aqui é onde entra o salto privati-zador e elitizador. Segundo sa-lienta Aarom Curbeira, da organi-zaçom Agir, “a inscriçom nasmestrias nom só é muito mais ca-ra do que a dum ano académicono grau senom que muitas somofertadas por empresas privadase com um custe que podemoschamar desorbitado, ultrapassan-do os 10.000 euros”.

Este Decreto 3+2 é apenasmais um passo do processo quese encetou com a implementaçomdo Plano Bolonha e o desenvolvi-mento da Estratégia Universida-de 2015. O discurso por parte das

administraçons públicas que es-tám a realizar estas transforma-çons fala da integraçom do Espa-ço de Ensino Superior Europeuou de por o conhecimento ao ser-viço da sociedade. Mas todo istona prática está a implicar a desin-tegraçom da universidade públi-

ca, abrindo a porta da sua gestomàs grandes corporaçons empresa-riais. E apenas um dado sobre es-sa desintegraçom da universida-de pública: segundo o InstitutoGalego de Estatística, nos últimosanos o número de inscriçons nauniversidade está a cair estrepito-samente. Se a começos dos 2000o censo universitário galego esta-va por cima das 90.000 inscriçons,em 2014 estas apenas eram já al-go mais de 59.000.

Lomqe e elitizaçomMas os cámbios nom estám aacontecer apenas no ensino uni-

versitário, senom que o Governoespanhol está a esforçar-se emre-estruturar profundamente omodelo educativo estatal. Em de-zembro de 2013 aprovava-se aLei Orgánica para a Melhora daQualidade Educativa (Lomqe),que promove reformas tanto a ní-vel curricular como na própriaorganizaçom dos centros de en-sino. Assim, entre outras iniciati-vas, intensifica-se o controlo doEstado sobre o processo de sele-çom das equipas diretivas docentro de ensino e reduzem-se ascompetências de órgaos colegia-dos como o Conselho Escolar.Também se estabelecem diversasprovas de avaliaçom individuali-zada (popularmente conhecidascomo 'reválidas') após o terceiroe sexto ano de primária, após aESO e após o Bacharelato. Noacesso à Universidade, a Lomqeaposta no modelo norteamerica-no e permitirá às Universidadesa realizaçom das provas de aces-so que considerem oportunas.

O caráter conservador da Lom-

em anÁlise

Um ensino cada vez menos públicoo recente decreto 3+2 é mais Um Passo na desinteGraçom da UniVersidade Pública

O estado intensifica o seu controlo sobre

a direçom dos Centros de ensino

ANA VIQUEIRA / Desde que AlbertoNúñez Feijoo ocupa a presidênciado executivo galego até hoje, aConselharia de Educaçom, Cultu-ra e Ordenaçom Universitária re-cebe 568 milhons de euros me-nos. É dizer, em seis anos, A Juntacortou 20 por cento dos orçamen-tos dedicados a esta Conselharia.Agora bem, dentro dos dados or-çamentais da Conselharia, existeum separaçom de créditos porfunçons onde se detalham os flu-

jos das receitas de educaçom, in-vestigaçom e a normalizaçom dogalego entre outras.

EducaçomHoje o governo galego dedica 93milhons de euros menos à Edu-caçom que há seis anos. Se bemo último ano do governo Fragaachegou a este departamento1,84 mil milhons de euros, a cifraascendeu com o bipartido comuns orçamentos por volta dos

2,30 mil milhons. A tendênciapositiva interrompeu-se com avolta do Partido Popular à chefiado executivo galego. No primeiroano legislativo de Feijoo, os orça-mentos baixam 50.000 milhonsde euros. Seguindo o ritmo dedescenso, a partida situa-se neste2015 em 2.034.993.411 euros.

InvestigaçomUm dos dados mais impatantesencontra-se nos orçamentos de-

dicados à investigaçom, desen-volvemento e inovaçom. Em2005, adjudicárom-lhe umhapartida de 82 milhons de eurossubindo nos anos seguintes atéchegar, em 2008, aos 131 mi-lhons. Atualmente, esta receitaconta com um orçamentoo de 49milhons de euros.

LínguaO orçamentos dedicados à pro-moçom do idioma próprio tam-

bém caem em picado. A normali-zaçom do galego recebia uns 23milhons de euros em 2007 e 2008.Este ano, a Junta da Galiza só lhededica um orçamento de 6,7 mi-lhons de euros, o que significaumha reduçom de 72 por cento.

A escaseza de investimentoda Junta da Galiza na educa-çom alia-se com um sistemaeducativo impulsado polo Mi-nistério espanhol que a maioriade organizaçons estudantis ris-cam de “neoliberal”, “patriar-cal” e “colonialista”. Todas asorganizaçons entrevistadas en-tendem que no ensino há umconfrontamento entre o neoli-beralismo e o popular e público,nisto a greve do 26F -sinalam-será umha batalha chave.

Junta corta 20 por cento dosorçamentos da Conselharia

As universidades galegas perdem maisde 30.000 estudantesao longo de 14 anos

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qe explicita-se também nas dispo-siçons em que aborda o tema doensino da religiom, mantendo ascompetências das autoridades re-ligiosas para a elaboraçom do cur-rículo desta matéria, e da línguaespanhola, onde contempla quedeve estar presente numha “pro-porçom razoável” e que de nomestá-lo a administraçom públicaassumiria os custes da escolariza-çom num centro privado onde siexistisse essa “proporçom razoá-vel” da língua castelá.

FP: elitizaçom e privatizaçomSe bem algumhas das medidas ex-postas na Lomqe se consideravamde aplicaçom imediata, especial-mente as referidas à organizaçomna direçom dos centros de ensino,

as mudanças curriculares, as ava-liaçons individualizadas e demaisnovidades irám implementando-se ano a ano. As primeiras avalia-çons individualizadas realizarám-se em 2017, mas nom será até oano seguinte que estas tenhamefeitos académicos. Neste ano2014-2015 tocava a implantaçomdos novos currículos para primei-ro, terceiro e quinto anos de Ensi-no Primário, assim como o primei-ro ano da FP Básica.

A FP Básica cumpre com umhadas premissas básicas da Lomqe,que é a flexibilizaçom de itinerá-rios. Assim, a esta modalidadeacederám estudantes de entre 15e 17 anos, que superarám polomenos até o segundo ano da ESOe por proposta da equipa docente.

Porém, as organizaçons estudan-tis criticam a elitizaçom que estainiciativa oculta, denunciando quenom se estám a afrontar os pro-blemas de rendimento escolar, eque afinal serám as estudantesdumha menor capacidade econó-mica as que se verám apartadasdos ensinos superiores. XurxoVázquez, da Liga Estudantil Gale-ga e estudante de FP, acrescentaque o título que se obtém com a

FP Básica “nom tem efeitos aca-démicos diretos. Nom se está apermitir que os alunos que cursa-ram esta formaçom acedam àsprovas de acesso ao título de gra-duado na ESO nem sequer polasensinanças adquiridas”.

Umha das vias através das queestám a entrar as empresas noensino público é através da cha-mada FP Dual. Xurxo Vázquezexplica que “a caraterística prin-cipal da modalidade dual é que aformaçom do ciclo formativo épartilhada entre o centro educa-tivo e a empresa, a qual facilitaos seus espaços e as suas insta-laçons, como também as pes-soas expertas para realizar par-cialmente determinados módu-los profissionais”. Desde o ano

2013, a Junta da Galiza assinouconvénios com mais de umhadúzia de empresas, entre as quese encontram Coremain, Boschou Media Markt, para o desen-volvimento da formaçom profis-sional dual, em que também seenquadram os contratos de tra-balho para a formaçom e aaprendizagem que aprovara oConselho de ministros em 2011.

Ademais da colaboraçom em-presa-centro de ensino já expos-ta, neste tipo de formaçom é aempresa a que seleciona atravésde diversas provas o estudantadoque fará parte da FP. O ciclo podetambém estender-se até os trêsanos, tempo em que a aluna rea-lizará, ademais da formaçom,umha atividade profissionaliza-dora, é dizer, trabalhará, para aempresa. Os convénios assina-dos com a Conselharia de Educa-çom estipulam que a estudanteperceberá umha bolsa com umhaparte proporcional do salário mí-nimo interprofissional em fun-çom do tempo dedicado à chama-da atividade profissionalizadora.Deste jeito, o empresariado con-segue aproveitar-se da andamia-gem estatal para a consecuçomdumha mao de obra barata.

19em anÁliseNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

Coletivos estudantisdenunciam o

elitismo que há portrás da fp básica

O Ministério tira as bolsas às pobrespara lhas dar às de melhores notasANA VIQUEIRA / A elitizaçom e pri-vatizaçom do ensino está aprovocar que as classes po-pulares fiquem fora do ensinonom obrigatório. As bolsasestatais reduzem as bolsaspor renda -que só pode che-gar a 1.500 euros- para incluirumha parte variável da bolsasegundo os méritos académi-cos. Este ano, por primeiravez -que saiba este jornal- oMinistério de Educaçom es-panhol nega as bolsas às pes-soas em risco de exclusom.

“Denegárom-me a bolsa por faltade recursos”. É o caso de umhamoça que este ano se inscreveuno ciclo superior de Turismo e so-licitou a bolsa do Ministério deEducaçom. Umha ajuda que se

lhe denegou por nom ter os sufi-cientes recursos económicos. Se-melha paradoxo como o Estadoespanhol nega umha bolsa a um-ha pessoa por ser demasiado po-bre. A estudante já presentou ale-gaçons à administraçom recla-mando o seu direito a bolsa.

“Suspender umha matériaanual deixaria-che sem bolsa”O Governo subordina a contia dasbolsas aos méritos académicos.Umha açom que a organizaçomestudantil Agir considera que é“roubar o conhecimento regladoàs classes populares”. Do Coleti-vo de Estudantes Libertários(CEL) de Compostela ressaltamos “privilégios para quem nom re-cebe bolsa” pois enquanto a estasabonda com um 5 para continuar

o seus estudos, com a reformadas bolsas, as bolseiras devem terde méia um 6,5 exceito nas Enge-nharias Ténicas onde se lhes soli-cita ter um 6 de nota media. Algoque também acontece no ensinonom universitário. O alunado daESO que quera receber ajudas aopassar ao bacharelato deve terumha méia de 6 e, a partir de aí,de 5,5 pontos. Para acceder à For-maçom Profissional a nota mediatambém deverá ser de 5,5.

Ademais, também é requisitoter aprovados 65 por cento doscréditos inscritos para os cursosde Arquitetura e Engenharia e en-tre 80-100 por cento para o resto.“Deste jeito, no caso de suspenderumha matéria anual -há cursoscomo Relaçons Laborais que con-servam esta modalidade- já nom

podes optar a bolsa. Isto afetamuito como estudante porque ob-riga a estar sempre medindo asnotas”, alertam de Agir. Do CELressaltam como há “estudantesque lhes importa mais tirar boanota num exame que a sua com-panheira nom poda continuar es-tudando o ano seguinte”.

Administraçom obriga a de-volver a bolsa de nom apovar50 por cento dos créditosA Liga Estudantil Galega sublinhaa suba dos limiares de patrimónioe a reduçom das quantias das bol-sas. “O máximo que se concedemsom uns 3.000 euros: 1.500 € embase à residência e outros tantossegundo méritos académicos”.

De facto, o Ministério de Edu-caçom espanhol reformula os

critérios da bolsa segundo a ren-da eliminando os tramos inter-médios. Agora, as unidades eco-nómicas de convivência compos-tas por 3 pessoas tenhem que vi-ver com menos de 11.143 eurosao ano para acadar a quantia má-xima da ajuda enquanto o míni-mo -a exençom de pago de ins-criçom- está nos 38.000 €/ano.

Os requisitos do governo nomrematam umha vez adjudicam abolsa. Na letra pequena do repar-to de ajudas sinalam que o estu-dantado do ensino superior teráque devolver o dinheiro da bolsaquando nom aprove metade doscréditos inscritos. Antes ficavamexcluidas de fazê-lo aquelas alu-nas que se apresentasem a umterço dos exames das matériascursadas nesse ano.

A Junta assina convéniosde formaçom com

empresas como mediamark ou bosch

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20 tribUna Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

tribUna

Complementando as opi-nions recolhidas por RubénMelide em 'Normalización':fracasso ou sucesso? nopassado número, recolhe-mos esta comprida análisedo realizado até agora e daspossíveis vias de trabalho fa-ce à “naturalizaçom” da lín-gua da Galiza num futuro.

Celso Álvarez Cáccamo

1. A diagnosePeriodicamente repete-se na Gali-za a pergunta se a “normalizaciónlingüística” foi um fracasso ou umsucesso. Desta vez o motivo pare-cem ser os novos dados do Institu-to Galego de Estatística que po-dem ler-se como uma indicação deque por primeira vez o galego éminoritário entre setores sociaiscomo a mocidade.

A pergunta tem tipicamenteduas respostas, baseadas na biva-lência da própria expressão “nor-malización lingüística”, que estásimultaneamente em galego da

RAG e em espanhol: (1) A “norma-lización” foi um fracasso porque,sobretudo, o espanholismo do PP,a grande besta negra, a impediu, eos outros partidos também não fi-zeram o suficiente. (2) Noutro sen-tido (ou não), diz-se que é um su-cesso porque, como projeto de eli-te, sempre se tratou da “normali-zación” definitiva do espanhol naGaliza, não do galego, e esse planosegue-se ponto por ponto. Achoque esta é a tese (ou polo menos aênfase) mais estendida no reinte-gracionismo no geral.

A minha particular resposta nãoé nem uma nem a outra como tais.Julgo que devemos considerarmais em detalhe certas condiçõesde possibilidade atuais que pode-riam permitir ou impedir o que euprefiro chamar a naturalização dogalego na sociedade.

O elemento mais negativo da si-tuação é, sem dúvida, que por pri-meira vez na história possivelmen-te os usos do galego sejam minori-tários em geral (e vinculados a âm-bitos menos formais). O elementomais positivo é que talvez tambémpor primeira vez haja, contudo,

uma naturalidade no uso do galegopor novas gerações não falantesmas que o estudaram ainda comosegunda língua. Isto contrasta como padrão de há décadas da pessoafalante de galego ora como vincu-lada só a classes sociais subalter-nas, ora ideologizada cultural e po-liticamente. O que existe agora,subproduto da “normalización” eem certa medida da banalização dogalego, é este setor potencialmenteaberto ao uso do idioma.

Um terceiro elemento é que háum consenso generalizado entre oativismo linguístico de várias ten-dências de que sem o recurso a es-tes setores não utilizadores habi-tuais de galegos como potenciais“neofalantes” não há futuro para o

idioma. Daí, por exemplo, as linhasestratégicas da AGAL para atrairfalantes com discursos sobre a uti-lidade natural e internacionalizáveldo galego como português emboraum pouco diferente.

Perante este panorama, dada ahistória da “normalización” atéagora, as duas perguntas centraispara o futuro são: (1) quem podeser então o agente e sujeito políti-co que leve adiante uma recupera-ção do idioma na Galiza? e (2) embase a que lógica, que critérios eportanto que discursos novos e di-ferentes se deve fazer? As pergun-tas não são triviais (nem as res-postas óbvias), porque as hipóte-ses são variadas.

Quanto a (1), é evidente que dosmesmos agentes políticos de eliteque estão a impor a máxima ofen-siva de classe conhecida na histó-ria do capitalismo, isto é, dos agen-tes do ultraliberalismo do PP (oudo social-liberalismo do PSOE),não se pode esperar qualquer im-pulso de naturalização do galego.Isto não é assim por alguma aver-são intrínseca ao idioma (que exis-tirá, sim, em setores dos “perfeitos

burgueses” urbanos), mas poruma razão elementar: que, na or-dem atual, o necessário investi-mento público para a recuperaçãodo galego como imenso recurso eimportantíssima prática social nãoserve em absoluto para o seu pro-jeto de dominação de classe. Se oidioma lhes servisse dalguma ma-neira, podemos ter a certeza deque o capital se interessaria porele. Portanto, nesta altura do jogodeveria estar claro que de qual-quer política linguística da direitado capital não se pode esperaruma orientação para o mesmo ob-jetivo que o das classes que falame falaram secularmente o idiomapor razões e com valores muito di-ferentes do que se entende agorapor um uso “normal” duma línguana cultura do capitalismo.

Tampouco do setor nacionalistainserido na política institucionalse pode esperar muito protagonis-mo ou agencialidade na hipotéticarecuperação do idioma, precisa-mente polo seu submetimento(parcialmente por opção, parcial-mente por coopção) às lógicas dalíngua impostas desde há quatro

O protagonismo nanaturalização do idioma

só se pode esperarduma nova maioria

dada a história da "normalización", qUais sUJeitos e critérios dotarÁm de FUtUro à nossa línGUa?

Autodeterminação e socialização tambémlinguísticas ou não há nada que fazer

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21tribUnaNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

décadas na Galiza, lógicas que seresumem na sua ritualização,ideologização e mercantilização,num jogo de troca de valores queexporei logo. A confluência “táti-ca” com a direita para a cocção de“unanimidades” parlamentaresem torno da Lei de NormalizaciónLingüística e do Plano Xeral deNormalización da Lingua Galegademonstrou-se inefetiva. De facto,é essa unanimidade nominal quepode ver-se como fundamento dadupla (e compatível) leitura ante-rior de que a já morta “normaliza-ción” foi simultaneamente um fra-casso e um sucesso.

2. A proposta: agentes e discursosO protagonismo na naturalizaçãodo idioma da Galiza só se pode es-perar duma nova maioria social,isto é, um novo sujeito político pa-ra um novo projeto de emancipa-ção e de autodeterminação geralno político, no social, no económi-co, no cultural, etc. etc., isto é, nu-ma nova ordem sócio-económicaemancipadora e igualitária. Já nãohá lugar para quaisquer ingenui-dades a respeito da hipótese deque um regime desenhado para osubmetimento, o domínio, a ex-ploração e a sujeição das popula-ções e das consciências possa seinteressar alegremente por umadimensão coletiva imaterial (a fa-la) que, polo que tem de coesivo,não só pode representar umaameaça às elites, mas que mesmonão lhe gera qualquer benefício.Nunca o capital falou línguas,nem as falará, nem exibiu nemexibirá qualquer “lealdade lin-guística” além da sua adesão ins-trumental ora às línguas dominan-tes ora a qualquer farça de “nor-malización” para os seus própriosinteresses. O galego deve ser re-cuperado nem polas elites nempolas instituições, mas pola mes-ma maioria social que contemplee aspire a uma Galiza diferente.A segunda pergunta é, então, qualdeveria ser a nova lógica de recu-

peração do idioma, visto aondenos conduziram as lógicas e táti-cas (?) anteriores. Alguém espera-rá que me refira agora ao eixo ecisma isolacionismo / reintegra-cionismo, mas não é isto o que te-nho de todo em mente, ainda querelação tem. Refiro-me aos princí-pios de gestão dos diversos valo-res da língua, nomeadamente, dasua produção, circulação, conver-são, acumulação e transmissão,por parte de agentes sociais espe-cíficos em cada fase.

A história destes valores do ga-lego é longa e não poderia expô-lainteiramente aqui. Imaginemos,simplesmente, um tetraedro, a fi-gura de quatro caras, isto é, umapirâmide de três caras e uma base,todas triangulares. Nos três vérti-ces da base, imaginemos os valoresmaterial, cultural e social da lín-gua; no vértice superior, o valor eproduto simbólico, vinculado aopoder (e violência) simbólica. Osquatro vértices são as dimensõesdos “capitais” de que falou exten-samente Pierre Bourdieu no seumodelo dos mercados linguísticose culturais, e que eu prefiro chamarvalores: a língua como recurso deavanço económico, como fonte decriação e referente ideológico, co-mo veículo de relações sociais, e,no cimo, como instrumento de do-minação des-reconhecida.

A pergunta é, o que aconteceuaté agora com a “produção”, con-versão, circulação e acumulaçãodestes diversos valores associadosà língua da Galiza, isto é, à línguaestruturalmente portuguesa masconcebida e construída nominal-mente como “propia” galega (masnão com todas as suas consequên-cias!)? Basicamente, o que se pro-duziu em quatro décadas é mais va-lor cultural para o galego, mas quecirculou sempre nalguns camposdefinidos (o cultural num sentidoamplo, o educativo, o técnico da fi-lologia, e o político) em retroali-mentação constante. A conversãodeste valor foi pouca: traduziu-se

ocasionalmente em valor económi-co no literário e intelectual (pré-mios, publicações), em bonos sala-riais e financiamento de projetosno campo técnico (universidades,instituições), em valor social decoesão e reconhecimento mútuoentre as respetivas e solapadas eli-tes, e, finalmente, em valor simbó-lico de dominação não só de classe“intelectual” sobre outras, mas desetor de campo (sobre e contra oreintegracionismo), com diversosgraus de patetice nas práticas esco-lhidas para falar e não deixar falarsobre a língua, por exemplo.

Em todo este processo de dinâ-micas de produção, circulação econversão de valores, deram-seduas caraterísticas fundamentais:(a) A acumulação de valores(prestígio, reconhecimento, etc.)nos membros individuais das eli-tes mascarou o facto de o princi-pal beneficiado ter sido sempreum estado que, por sistema, ameio das instituições públicas desaber, absorveu os ganhos varia-dos da produção simbólica (osmais-valores) sob a miragem dosubsídio desinteressado; porém,com a des-intervenção ultralibe-ral, esse jogo está a reduzir-se,prestes a acabar. E (b) não houvepraticamente transformação dovalor cultural e do social em valoreconómico fora dos campos cita-dos, isto é, não o houve no mundodo comércio, indústria ou finan-ças; o galego não é língua da “eco-nomia”, só da força de trabalhonas suas práticas diárias, e da“produção” cultural solipsista.

Paralelamente a isto deu-se umfenómeno importante e comple-

mentar quanto ao fundamental va-lor social das línguas, isto é, a suadimensão interacional nas rela-ções, nas diversas formas de coe-são social, e na sua potencialidadede influência. O que infelizmenteaparece como patrão geral desdehá décadas (mas não séculos: nasúltimas décadas) é que a sociedadegalega no seu conjunto, nesse nívelgeral de abstração, apostou e estáa apostar polo espanhol como fon-te de valor social. Portanto, a “nor-malidade” concebe-se de cada vezmais em termos de relações sociaishabituais maioritariamente em es-panhol, em todos os setores e clas-ses. Isto esteve e está ligado, natu-ralmente, à prevalente miragemque existe a respeito da potenciali-dade deste valor social do espanholpoder se traduzir a valores econó-micos (de avanço de classe).

Dentro desta lógica, e dados osagentes estratégicos dos campos,não há exatamente nenhuma hi-pótese de futuro para o galego. Aúnica possibilidade, para um novosujeito político exercer o seu pa-pel, é também uma nova lógicaque descapitalize e desvalorize alíngua. Só o potenciamento da di-mensão social no tetraedro da lín-gua, como fonte de relacionamen-to e coesão, mas desligada doprincípio mercantil da convertibi-lidade noutras cousas (dinheiro,prestígio, “cultura”: afinal, distin-ção) poderia abrir uma fenda nalógica dominante.

E isto só será possível se o quehá por trás é um projeto diferentede emancipação social em todosos aspectos, de recuperação dassoberanias, em plural, como estáa acontecer em movimentos seto-riais, mas no nível sem dúvidamuito local galego, que é a únicahipótese (in-dependentista) decriar algo diferente, fora dosconstrangimentos jurídicos e po-líticos do Estado Espanhol e daEuropa. Precisamente pola cha-mada “crise” atual do capitalismo,caracterizada pola crescente sub-

missão da força de trabalho e daspopulações em geral, da agudiza-ção do conflito de classe, da con-centração extrema dos capitais, ede submetimentos cada vez maispoderosos ao jurídico e ao militar(não é certo que o estado do capi-tal esteja debilitado), de cada vezhá mais evidência de que só a par-tir de formas e experiências de in-dependência social se podem ge-rir igualitariamente os recursosmateriais e imateriais coletivos.

Para este projeto também lin-guístico é precisa portanto a con-fluência de duas pequeníssimascondições: (1) o exercício da so-berania coletiva; (2) o estabeleci-mento duma ordem económicanão capitalista, ou, polo menos,dum sistema transicional condu-zente a uma ordem assim. Por-que é o capitalismo que cria aconvertibilidade e acumulabili-dade das formas de valor (tam-bém da língua), e é isso o que háque quebrar. Nomeadamente(como se fosse pouco), há quequebrar duas das propriedadesdos valores no mercado da línguaque operaram até hoje: a suaconvertibilidade, e a sua acumu-labilidade. Isto é, as dimensõesda língua (a social como fonte derelacionamento; a cultural comofonte de criação) não se podemconceber como recursos trocá-veis noutros e acumuláveis naforma de fontes de distinção. Anaturalização da língua, de sedar, consistirá na sua pervivênciadentro duma diversidade difícilde prever, mas dentro doutra ló-gica da relação entre as dimen-sões materiais e imateriais da lín-gua, da cultura e das práticas so-ciais em geral. Qualquer outroprojeto, encaminhado a manterou domesticar o mercado capita-lista, simplesmente não vale paraa língua tampouco (como não va-le para o feminismo ou para ou-tras lutas), porque, como a histó-ria da acomodação do capitalis-mo às lutas setoriais vem de-monstrando, continuará a repro-duzir no seu seio contradiçõesirresolúveis entre os eixos do re-conhecimento cultural (direitos,identidades) e da redistribuiçãomaterial (estrutura de produção,posse dos meios, estrutura declasses), em termos dos esque-mas teóricos de Nancy Fraser.

Ficam, por último, outras duaspequeníssimas (continuando coma ironia) questões: (1) exatamentecom que táticas e práticas de so-cialização (distribuição do valor)se deve quebrar a convertibilidadee acumulabilidade dos valores dalíngua?; e (2) em que poderá con-sistir o novo objeto e instrumento“língua da Galiza”, protagonistada tarefa coletiva da sua recupe-ração como veículo e sintomadum projeto emancipador maisamplo? Talvez isto mereça espaçopróprio de reflexão mais adiante.

só a partir da independência se podemgerir igualitariamenteos recursos coletivos

GALIZA CONTRAINFO

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22 Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015cUltUra

cUltUra

“A promoçom acrítica de qualquer produto ‘em galego’neutraliza a discrepáncia e o pensamento crítico”

conVersa com isaac loUrido, aUtor de ‘liVros qUe nom lê ninGUém’

Afirmas que nom existe nem de-ve existir umha definiçom "devalidade universal e trans-histó-rica" para as poesias. No entan-to, quando colocas esta palavrano título do livro é porque parati sim há umha definiçom, umsignificado. Qual é?O que proponho é pensar o que“funciona” como poesia em espa-ços e períodos temporais concre-tos. No nosso contexto, durantemuito tempo a ideia de poesia es-tivo restringida às ideias da ex-pressom individual e espontáneados sentimentos, materializada noformato livro e pensada para um-ha leitura íntima e pessoal. Obvia-mente, essa ideia nom servia para

a maior parte das culturas do pla-neta nem serve já para a culturagalega. No livro tento trabalharcom um conceito de poesia maisabrangente, que tenha em conta aconfusom com outros géneros li-terários, com outras práticas ar-tísticas, com suportes nom literá-rios e, num dos aspetos de maiorpeso, a consideraçom como 'poéti-cas' de muitas das práticas de mo-bilizaçom realizadas polos movi-mentos sociais.

O livro que apresentas nom estápensado para todos os públicos.Embora haja fragmentos maisdivulgadores --penso, por exem-plo, nas páginas dedicadas a Ma-

nolo Pipas--, no seu conjunto émarcadamente académico. Por-que escolheste este estilo?Quando a imensa maioria dostextos fôrom escritos nom tinhaainda a ideia do livro. Portanto,muitos deles, como bem dizes,tenhem esse tom académico, re-

lacionado com o meu trabalhocomo investigador na universi-dade. Ao ir dando forma ao pro-jeto da publicaçom pareceu-meinteressante combinar os textosmais teóricos e académicos comaqueles outros que aparecerampublicados em meios nom espe-cializados, com o objetivo deprocurar complementaridades econtrastes entre uns e outros.

Porque foi Manolo Pipas o escolhido?O interesse por Manolo Pipastem origem numha pequenapesquisa que figem sobre poéti-cas libertárias na literatura gale-ga dos últimos anos. Junto com

outros autores como AlfonsoRodríguez / Minus Bálido, Sa-muel L. París ou o site expopla-netarium.net, o trabalho de Pi-pas interessou-me polos seusvínculos claros com o movimen-tos sociais de Vigo. Decidim de-dicar-lhe um capítulo do livro,inédito, para estudar as funçonsque pode cumprir a poesia noámbito do ativismo e a mobiliza-çom social. Umhas funçons quetenhem mais a ver com o reforçodo grupo e a diversificaçom deestratégias de intervençom doque com os critérios de 'qualida-de' que funcionam no campo li-terário. Por outro lado, estudan-do o periférico, o que fica tam

BETI VÁZQUEZ / “… e converterá-se num poema / dentro dum desses livros depoesia / que nom lê ninguém”. O investigador e crítico Isaac Lourido tomou es-tes versos do Séchu Sende para intitular o seu último trabalho. Editado pelaAtravés, Livros que nom lê ninguém. Poesia, movimentos sociais e antagonis-mo político na Galiza recolhe umha série de textos escritos ou publicados entre

2005 e 2012 com o fio comum da poesia e a sua relaçom com os movimentossociais e com o antagonismo político na Galiza. Porque também fora dos livroshá poesia, Lourido reclama para este género um significado “mais abrangente”.Aliás, combate as estratégias da normalizaçom com alternativas de resistênciacultural. Porque a poesia nom quer ser normal.

“podem-seconsiderar poéticas

muitas práticas de mobilizaçom dos

movimentos sociais”

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23cUltUraNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

longe dos centros literários,penso que podemos entendermelhor as dinámicas do conjun-to da poesia galega.

Manifestas-te contra a 'normali-zaçom' porque supom aplicarmodelos de estados assentadosque na Galiza nom som válidos.Propões falar de 'diferença'. Sea primeira implicaria ignorar adependência e anular o confli-to... que implicaria a segunda?Implicaria apostar num caminhopróprio para a nossa construçomcultural e comunitária. Atendendoaos modelos aplicados noutroscontextos, sem dúvida, mas rejei-tando importaçons mecánicas eacríticas que quase sempre pas-sam por assumir as lógicas domercado. Se queremos ler um li-vro, porque o mais normal conti-nua a ser 'comprá-lo' e nom requi-sitá-lo na biblioteca? Porque o ca-nal mais 'normal' para a literaturacontinua a ser o livro impresso enom nos preocupamos por reva-lorizar umha rica tradiçom oral?Porque vivemos preocupados comas decisons periódicas dos nossossábios académicos e nom conce-demos o mesmo valor aos sabe-res, relatos e eventos organizadosde forma popular? Som estes osdebates que nos podem conduzira umha definiçom coletiva, sem-pre aberta, dialética, autocrítica,da nossa 'diferença cultural'.

Defendes que na construçom daliteratura galega nom se reco-nhece o conflito com a culturaespanhola, hegemónica e nom-discutida. Que tem de acontecerpara que o referente cultural daGaliza nom seja Espanha?Nom tenho fórmulas mágicas pa-ra isso, mas penso que entre ou-tras cousas é necessário que omundo do nacionalismo (do ga-leguismo mais cordial ao inde-pendentismo mais combativo)

faga autocrítica. Umha reflexomsobre as estratégias adotadas nasúltimas décadas, os êxitos e osfracassos, e as causas da situa-çom atual. Essa reflexom deveincluir, sem dúvida, reflexons so-bre a língua, mas também sobrea gestom do poder institucional eas políticas aplicadas. Umha con-ceçom menos restringida da cul-tura, umha atualizaçom dos dis-cursos que rejeite o essencialis-mo (sobre a língua ou a pátria), ovínculo entre cultura e justiça so-cial ou o reforço do papel dosmovimentos de base, com respei-to para a sua autonomia, pare-cem-me algumhas vias que me-rece a pena experimentar.

Reclamas estudos rigorosos so-bre o consumo literário na Ga-liza. Ajudariam nessa constru-çom cultural?Nom temos dados fiáveis sobrequais som os livros mais vendi-dos e mais lidos, sobre as tira-gens habituais das editoras, so-bre as percentagens de leituraem espanhol e em galego... Infor-maçom rigorosa ajudaria a inter-vir com melhor critério nalgunsdebates que periodicamente sedam sobre esse tipo de questons.Poderíamos saber, deste jeito, seé verdade que o sistema editorialgalego vive dos subsídios, se sompublicados demasiados livros emgalego ou se Manuel Rivas é maislido em espanhol ou em galegono nosso país. Ter dados sobre is-so ajudaria, com efeito, no traba-lho de planificar mais eficazmen-te a cultura galega, fora de inte-resses corporativos, mas tam-bém serviria para dotar-nos deargumentos fortes contra os inte-ressados em manter a hegemo-nia do sistema espanhol.

E ajuda o facto de que se promo-va, muitas vezes de maneiraacrítica, qualquer produto que

utilize a língua galega?É umha das estratégias mais per-niciosas da 'cultura da normaliza-çom'. Pola via da promoçom dequalquer produto 'em galego', oque fazemos é suspender as dife-renças e as tensons (normais, ló-gicas, positivas) que se dam no in-terior da nossa cultura, em nomedum objetivo maior, quer seja alíngua, a naçom ou a própria 'cul-tura'. Isso atrofia o dinamismo dosistema, neutraliza a discrepánciae o pensamento crítico. Iniciativascomo a do website agasallo.eu, di-to com todo o respeito, nom só re-cuncam neste tipo de estratégiassenom que também as combinamcom a induçom ao consumo acrí-tico. Outro exemplo: é admissívelque o mundo da cultura galega seuna na rede para reclamar aAbanca o uso do galego, mas nomseja capaz de combinar esse gestocom umha soa palavra sobre aspreferentes, os despejos ou o sis-tema bancário em geral?

No artigo Confiar em Lois Perei-ro diferencias três vias a res-peito da maior ou menor con-fiança na Real Academia Gale-ga. Em qual te situas?À Real Academia Galega exi-gem-lhe demasiadas cousas quenom pode cumprir. É um modeloinstitucional doutro século, fun-dado numha conceçom elitistada cultura. Aliás, no caso galego,o seu percurso foi encetado e de-senvolvido fora do 'tempo típico'

das Academias nacionais. Por is-so a minha confiança na sua ca-pacidade de intervençom socialé escassa, em parte porque nomlhe vejo capacidade para atuarfora do quadro legal e adminis-trativo de que fai parte, e do qualdepende também economica-mente. Como dizia antes, pensoque há outras possibilidades eoutras estratégias que paga a pe-na reforçar, ainda que sejamconsideradas menos 'normais',baseadas numha conceçom maisdescentralizada e menos hierár-quica do saber e da cultura.

Entom nom reclamas o Dia dasLetras para Carvalho Calero?O que reclamo para CarvalhoCalero é um verdadeiro debatesobre a sua trajetória intelectuale a extensom dum conhecimentocrítico sobre a sua obra teórica,historiográfica e crítica, e sobrea sua produçom literária. Nomsó sobre a sua ideologia ortográ-fica e linguística. Isso nom tempor que acontecer necessaria-mente como consequência deum Dia das Letras Galegas, um-ha efeméride criada há mais decinquenta anos e cujas bases ecritérios de nomeaçom ninguémse preocupou por discutir ouatualizar neste tempo.

A última parte do livro recolheautocríticas de críticas assinadaspor ti a livros de integrantes docoletivo poético-político RedesEscarlata. Há uma bofetada a es-te género quando se baseia uni-camente no que gosta ou nom.Mas também há uma bofetada aeste género quando se escrevede maneira militante, pela faltade distanciamento. De qual des-tes dois defeitos pecas? Suponho que estou mais próximode pecar do defeito de umha de-terminada militáncia, baseada nadivergência ou na convergência(mais ou menos consciente) comas propostas políticas e estéticasdo objeto de estudo. O importanteé refletir sobre esses posiciona-mentos próprios, tentar dar-lhesumha explicaçom e nom pensarque som espontáneos. A reflexomsobre o próprio trabalho de críticae sobre o lugar (social, institucio-nal, ideológico) de que é realizadofoi umha das linhas que tentei in-corporar ao livro.

A respeito dos repertórios para aresistência cultural, gostaria departilhar contigo o exemplo que

me veu à cabeça ao te ler. Ala-meda de Compostela, 8 de feve-reiro de 2009. Manifestaçom dogrupo Galicia Bilingüe e duascontra-manifestaçons em defen-sa da língua: uma 'convencional'e outra ridiculista. Qual vês maiseficaz e porquê?É um exemplo mui sugestivo,mas é difícil avaliar qual dasduas opçons foi mais eficaz. Oato de Galicia Bilingüe foi umhaprovocaçom tam grande para omovimento em defesa do galego,que nom surpreende que emer-gisse umha mobilizaçom de tipomais clássico e combativo. Estatática é mais previsível, mais fácilde reprimir e de criminalizar po-los aparelhos do Estado, mas aomesmo tempo avisa que o confli-to 'simbólico' pode pontualmentetransitar para o distúrbio e o con-flito material. A aposta ridiculistaé, contrariamente, mais dinámi-ca, mais difícil de neutralizar ecriminalizar, e aspira a provocardeterminadas fendas nos discur-sos do nacionalismo espanhol.Nom deveria ser obrigatório po-sicionar-se a favor exclusiva-mente de umha ou outra tática.A força de um movimento mede-se pola variedade de recursos e acapacidade para escolher asmais eficazes em cada situaçomconcreta. E ainda que isso geretensons no interior do movimen-to, a mim essa tensom, esse de-bate, feito com generosidade, pa-rece-me positivo.

Permites-me exercer de crítica?É verdade que no teu livro figes-te umha leitura em chave de gé-nero das escolhas repertoriais,mas também teria gostado dever umha aproximaçom aos es-tudos de género.Essa é, sem dúvida, umha dasmelhores críticas que se pode fa-zer ao livro. Os textos fôrom es-critos de forma descoordenada,sem pensar na publicaçom con-junta, mas é verdade que as prá-ticas do feminismo nom tenhemumha presença relevante. É omovimento social mais forte e di-námico na atualidade, com um-ha importante variedade de re-pertórios e estratégias para in-tervir socialmente de forma efi-caz. Se pensarmos em termosmais estritamente poéticos, tra-jetórias como as de Andrea Nu-nes Brións, Maria Rosendo ou AsCandongas do Quirombo inte-ressam-me especialmente. Tam-bém é certo que algumhas pos-turas do movimento, como aque-le manifesto do 'Jogo das cadei-ras', que reclamava a presença demulheres na RAG, encaixam cla-ramente nessa 'cultura da norma-lizaçom' que eu critico. Dito todoisto, penso também que neste enoutros debates, o melhor quepodemos fazer os homens é calar,observar e aprender.

“A minha confiançana sua capacidade

de intervençom social da rAG

é escassa”

“O que reclamo para Carvalho Calero

é um verdadeiro debate sobre a sua

trajetória inteletual”

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24 cUltUra Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

cUltUra Arquitectos como Álvaro siza, nuno portas ou eduardo sotoparticiparam do projeto habitacional da revolução de Abril

ALBERTE LOUSADA / No passadomês de maio a Cinemateca Portu-guesa comemorava os 40 anos daRevolução de abril com um ciclode trabalhos cinematográficoscom o título A distância das coi-sas. Acolhia principalmente tra-balhos feitos depois de abril navontade de reinterrogar o proces-so revolucionário com certa dis-tância. Uma das peças recolhidasna programação era o documen-tário As operações SAAL do ci-neasta João Dias. Neste ano reali-zaram-se, também, outras ativida-des centradas no SAAL, entre asquais destaca a exposição que oMuseu Serralves tem aberta atéfevereiro de 2015.

As operações SAAL é a desco-berta dum grande desconhecidode abril, um programa focado nasproblemáticas de acesso à habita-ção que tinham grande parte dascamadas populares nessa altura.É nesse contexto social onde po-demos situar a criações como Osíndios da Meia Praia do zecaAfonso. Gerado pelo governo quesurgiu do processo revolucionário,o SAAL (Serviço de Apoio Ambu-latório Local) tencionava darapoio às populações que viviamem situação precária habitandoem construções abarracadas. No-mes com grande reconhecimentona arquitetura portuguesa, comanos andados na arquitetura in-ternacional, como Àlvaro Siza,Nuno Portas ou Eduardo SoutoMoura participaram desta expe-riência. O SAAL punha, assim, emcontato a intelectualidade com osmoradores e organizações popu-lares. Havia uma ideia partilhadada cidade, do território como es-paço que havia que ganhar às ló-gicas do capital. O documentáriotransita por muitos dos espaçosonde se desenvolveram as políti-cas do SAAL realizando entrevis-tas a responsáveis do programa,moradores e arquitetos.

A distância é um dos grandesvalores deste documentário. Otempo permite aprender do pro-cesso SAAL, observar os conflitose os erros. Transcende como nopróprio processo houve diferen-

tes visões e debates sobre comodeviam ser desenvolvidas as polí-ticas. Muitas das questões quetransitam por esta peça são deatualidade, e de modos não muidiversos, estão presentes nos de-bates sobre a cidade e as políticasde habitação. Entre outras proble-máticas interessantes de destacarque surgem em diferentes mo-mentos do documentário está anoção de autoria e as políticas departicipação, o direito a habitar eo direito ao lugar; ou a questão dadefesa da propriedade e os pro-cessos de ocupação.

O eixo central do programa doSAAL visava melhorar as condi-ções de habitabilidade da popula-ção empobrecida, tanto do espaçodas cidades como dos assenta-mentos localizados nas periferiasdas mesmas. Para atingir este ob-jetivo desenvolveram-se linhas deatuação que nalguns casos estimu-lavam processos de autoconstru-ção com os moradores, onde hou-ve espaços de participação e de in-tervenção. Na peça há momentospara o questionamento dos méto-dos, como quando um moradorlembra como os técnicos iam per-guntar à gente "que vivenda é quequer?" O homem respondia: "Vo-cês é que sabem disso". Talvez apergunta devesse ter sido outra:"Que vivenda é que precisa?".

No documentário é bem curiosover como os arquitetos têm queenfrentar a visita aos projetos dehabitações desenhados por elesnaquela altura. Passadas décadas,as mesmas foram transformadaspor parte dos seus moradores

num processo de apropriacionis-mo da “obra” nisso que há quemdefina arquitetura sem arquitetos.

Habitações e o direito ao lugarNo Porto, qualquer política de ha-bitação não podia esquecer osgrandes conjuntos de casas ope-rárias: as ilhas. Por ilhas são co-nhecidas os conjuntos de habita-ções construídas no interior dosquarteirões das vivendas burgue-sas. Ocultas ao olhar da rua, con-figuravam espaços autónomos.Problemas de salubridade, altadensidade de população e casasprecárias caracterizavam esta rea-lidade. No SAAL estabeleceu-seuma política de realojamento emhabitações sociais que garantis-sem condições de qualidade, mastopou-se com a oposição de partedos moradores das ilhas. Então?O que é que foi?

Por vezes pode acontecer quedecisões tomadas com boa von-tade não conseguem o apoio daspessoas que vão beneficiar. Nodocumentário, moradores dasilhas apontam como tão impor-tantes eram para eles as condi-ções das habitações como as re-lações de vizinhança. As caracte-rísticas das ilhas facilitam que

espaço privado e espaço públicoconfluam. E os espaços comunsadquirem um espaço de centrali-dade na vida das pessoas. Habi-tar também são as relações, osespaços, as memórias, o senti-mento de pertença. Tudo o queconfigura o direito ao lugar.

OcuparOutra das linhas está referida aosprocessos de ocupação que se vive-ram durante o SAAL. Grande parteaconteceram no que se deu emchamar Verão Quente de 1975. Es-tas ações estiveram vinculadas aoSAAL Norte, principalmente. Res-pondiam à lógica, tão de atualida-de, de «não deve haver casas semgente enquanto houver gente semcasa» e mesmo chegaram a contarcom o apoio das forças armadas.

Esta ações não estiveram isen-tas de polémica dentro mesmo dasforças revolucionárias. Num mo-mento do documentário alguémdestaca as declarações de quemera nessa altura o máximo dirigen-te do PCP, Álvaro Cunhal, nasquais demarcava a sua militânciadestas iniciativas e vinculava-as a

sectores esquerdosos e ao lúmpen. Interessado por estas questões,

refletia eu sobre a relação da es-querda transformadora do país e aideia de propriedade, sobre comono nosso país o convívio entre es-querda e ocupação foi mínimo,num contexto tão diferente do deoutras esquerdas que introduzi-ram a ocupação nas suas práticas;veja-se a aposta da esquerdaaberztale nos gaztetxe no seu mo-mento. Agora, quando estou a es-crever estas linhas, conheço o con-flito em Carvalho pela medida doconcelho de cobrar as taxas do li-xo às casas vazias e a negativa dosproprietários a uma medida assim.O sentido duma medida assim,presente junto com outras medi-das nas políticas que se desenvol-vem em diferentes países, é forçara disposição para o aluguer das vi-vendas vazias. Ante qualquer polí-tica que questione o status atualda propriedade, os “proprietários”constituem-se em afectados.

A experiência do SAAL podeser uma aprendizagem para umapolítica de vivenda transformado-ra para este tempo e este lugar.

o docUmentÁrio Fixo Parte do ciclo cinematoGrÁFico ‘a distância das coisas’

As operações SAAL, olhares sobre uma política de habitação

As condições de vizinhança eram

tão importantes comoas de vivenda

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25desPortosNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

d desP

orto

sUm FerrolÁm Para a seleçom anGolana

A dependência de correr ou ‘runnore-xia’ está enquadrada dentro das adi-çons a comportamentos. A doença é pa-decida por quem supedita as suas ativi-dades diárias à necessidade do despor-to. A sua base biológica está nas endor-finas que se libertam ao correr.

PsicóloGos detetam mais Um Vício: a ‘rUnnorexia’

Moncho López, técnico do CB Breogáne da seleçom espanhola de basquete, se-rá o novo selecionador de Angola nestedesporto. O ferrolám vai assinar atéagosto, quando se disputa na Tunísia oAfrobasket'2015, prova classificatóriapara os Jogos Olímpicos de 2016.

Testemunhas oculares confirmam umha emboscadafascista aos Riazor Blues no assassinato de 'Jimmy'

Exigem à Junta “medidas políticas”contra o acosso sexual no Leis 26

Conta atrás paraumha seleçomgalega de futebolgaélico num mundial

NGZ / Três mil folhas e onze to-mos de sumário onde nom apa-rece nem a primeira referência à“quedada” entre “ultras” do Atlé-tico de Madrid e do Dépor daqual falavam o Ministério de In-terior e a imprensa oficial. Assimestá a dia de hoje a investigaçomjudicial do assassinato do RiazorBlues Francisco Javier RomeroTaboada, alias Jimmy. Em frenteda teoria da “quedada”, as pro-vas apontam para um ataquepremeditado por parte da ultra-direita organizada na penha des-

portiva Frente Atlético. Assim, os depoimentos recolhi-

dos no atestado policial assina-lam como um neonazi “vestidocom um casaco negro e um bonénegro com a bandeira de Espan-ha e o símbolo do Frente Atlético”entrou num café situado nos arre-dores do estádio Vicente Calde-rón e, após conseguir uma ban-deja cheia de facas de cozinha,“repartiu-as entre todo o grupo”.A descriçom encaixa com um dosidentificados nas fichas policiaispela sua participaçom no ataque.

Outra testemunha afirma nosumário que o grupo atacante es-tava liderado por dois homens:um “corpulento mas de baixa es-tatura, armado com um pau degrandes dimensons” e um outroque agitava “duas navalhas de ti-po borboleta”. A televisom públi-ca espanhola, TVE, emitiu umareconstruçom da investigaçomna qual sostem que os ultras doFrente Atlético emboscárom @sRiazor Blues quando tomavam opequeno-almoço. Neste sentido,o proprietário do restaurante em

que se encontrava a torcida gale-ga no momento da agressom afir-ma no sumário ter ouvido alguémgritar “que venhem” e que, ime-diatamente, “um grupo armadobotou-se-lhes em cima”.

O mesmo testemunho queidentifica o neonazi que repartiuas facas assinalou que com oFrente Atlético iam aquele diapessoas que, pela indumentariae o sotaque, situa na Europa doLeste. Experientes em grupos ne-onazis advertiram de que o Fren-te recebe “reforços” estrangei-

ros. Neste caso seriam, segundoo aficionado, “polacos” que “rep-tavam” @s Riazor Blues “com ospunhos como para boxear e gri-tando 'fight! fight!'” (do inglês'Peleja! Peleja!').

Som 82 as pessoas detidas nabatizada como 'Operação Neptu-no', que investiga o assassinatodo seguidor do Dépor e os dis-túrbios ocorridos o 30 de novem-bro de 2014 em Madrid, nas ho-ras prévias ao jogo que enfren-tou o conjunto galego com oAtlético de Madrid.

NGZ / Escusas para ficar a soascom elas, 'convites' a se provar di-ferentes t-shirts com ele diante oufrases como "no futebol sala ousom todas putas ou som todas les-bianas". É o trato que tivérom quesuportar por 15 meses três joga-doras da equipa pontevedresaLeis 26 por parte do presidente doclube, José Antonio Nieto San-juan. Assim consta na denúnciaque apresentárom e que chegouao Parlamento galego da mao deEva Solla (AGE). Pese a isso, aJunta demorou dous meses em seinteressar pelo caso e em aceder aumha reuniom com as jogadoras.

O encontro produziu-se nestesdias e nele estivérom presentes astrês denunciantes, representantesda Marcha Mundial das Mulheresna Galiza, representantes da Di-reçom geral de Desportos e a se-

cretária geral de Igualdade, Susa-na López Abella. O posicionamen-to da Junta é que nom pode fazernada com este caso concreto por-que se encontra, dizem, em maosdos tribunais. O que sim vam fa-zer é publicar um código ético pa-ra a prevençom do acosso sexualno desporto e intermediar entre oclube e as jogadoras para que es-tas voltem ao campo pois, após fa-zerem público o que qualificam de"trato degradante", fôrom elas asapartadas do Leis 26 e nom o de-nunciado, quem continua à frenteda equipa de futebol sala.

Também nom vai fazer nada aJunta com as subvençons públi-cas que recebe o clube que pre-side Nieto Sanjuan, acusado portrês jogadoras de tê-las vexado,insultado e humilhado nom sóna relaçom desportiva senom

também no ámbito privado e du-rante mais dum ano. Assim, se-gundo a denúncia, Nieto San-juan teria pedido fotos em biqui-ni a umha das jogadoras, menorde idade, por via telefónica; e te-ria lançado um preservativo aumha outra, de 19 anos, enquan-to esta desfrutava do seu tempode lazer num bar de copas.

Porém, os jogadores do Leis 26masculino apoiam o denunciadoe o tribunal de instruçom de PonteVedra, onde foi apresentada aquerela, reconhece vexames, masdiz que nom há delito. Amparan-do-se nas provas apresentadas --mensagens telefónicas e imagens-- e no relato de dez das jogadorasdo clube em que aprecia "abusode poder" por parte do presidente,o advogado das denunciantesanunciou um recurso.

NGZ / Narom, 20 de julho de2012. Com uma vitória de 23 a17 ante Bretanha começa a an-dadura da seleçom galega mas-culina de futebol gaélico. A femi-nina nasce dois anos depois,também ganhando. O seu pri-meiro encontro foi na Estrada,onde vencêrom por 57 a 12 ocombinado de Madrid. Agora,entre o 5 e o 8 de março, Galizaquer participar com nome pró-prio e pela primeira vez numhaTaça do Mundo: a primeira com-petiçom internacional de sele-çons de futebol gaélico em 130anos de história deste desporto.

Devido aos elevados custosda deslocaçom de 26 pessoasentre jogadoras, jogadores equadro técnico até Abu Dhabi(Emiratos Árabes), a seleçommantém em marcha umha cam-panha de financiamento coleti-vo na plataforma Sponsorto. AAssociaçom Galega de FutebolGaélico chama toda a gente afazer possível a primeira pre-sença de seleçons oficiais gale-gas numha Taça do Mundo, pa-ra o que cumpririam uns 5500euros dos quais, ao fecho destaediçom, fôrom arrecadados per-to dos 3.500.

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26 temPos liVres Novas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

C.C.V. / Com A dominação e a arteda resistência. Discursos ocultos,a editora lusa Letra Livre disponi-biliza pola primeira vez na nossalíngua o trabalho central de Ja-mes C. Scott. O antropólogo esta-dunidense, mui influente na his-toriografia rural galega, questio-na as teorias sobre a dominação ea hegemonia que, de Gramsci aBourdieu, se tornaram ortodoxianas ciências sociais. Isto não pas-saria de ter um interesse mera-mente académico se não fosseporque, essas mesmas teoriastambém monopolizam a visão daesquerda e os movimentos so-ciais. Scott invita, sobretudo, aver as relações de poder com umaperspetiva que não é a dos pró-prios dominantes, a detetar for-mas de resistência quotidianas in-

visíveis ao conceito moderno de“política”, e a pôr em questão al-gumas lendas sobre a resignaçãoe o fatalismo das classes subalter-nas.

Através da um método ecléticoque combina materiais historio-gráficos, etnográficos, literários emesmo experimentos de psicolo-gia social, Scott ataca os pontosfracos de teorias habituais nasanálises políticas, como a da “vál-vula de escape”, conforme a qualo omnipresente poder facilitariapseudotransgressões inócuas (oEntrudo, o 15M...) que coutariamo surgimento de respostas real-mente revolucionárias. Matizatambém a teoria de ideologia co-mo naturalização das arbitráriasrelações de poder: se bem o poderintenta impor essa naturalização

(“mijam por nós e há que dizerque chove”), e muitas vezes comêxito, tampouco há que esquecerque as classes subalternas nunca

deixaram de tentar controlar, po-liticamente, mesmo fatores real-mente naturais como a climatolo-gia. O alvo constante de Scott é aideia, tipicamente leninista, deque todas as pequenas resistên-cias da gente comum –jamais re-conhecidas como políticas- sãoou bem inúteis ou bem contrapro-ducentes para a transformaçãosocial. Pola contra, Scott propõeolhar estas práticas infrapolíticasnão como um placebo substitutoda verdadeira política senão co-mo a sua condição e infraestrutu-ra simbólica.

Por tudo isto, é desejável que Adominação e a arte da resistênciatraspasse os muros da academiaem ajuda de uma esquerda quecontinua chocada perante umtransbordamento, por baixo, de

infrapolíticas que não entende.Mas convém ter em conta umapeculiaridade que pode condicio-nar a receção das teses scottia-nas: na Galiza desnaturalizou-seaté tal ponto o desafio aberto aopoder que as armas dos domina-dos e os discursos ocultos –a re-tranca, a raposaria etc.- foram es-sencializados como “identidadegalega”, estrangeirizando qual-quer forma de desafio aberto. Ummito que o arredismo leva déca-das a tentar desconstruir, à pro-cura dessa “eletricidade política”que cita Scott.

James C. Scott.

A dominação e a arte da resistên-

cia. Discursos ocultos.

Trad. De Pedro Serras Pereira.

Lisboa. Letra Livre. 2013.

temPos liVres

umhas eleiçons municipais diferentes

entrelinhas reconsiderando a inFraPolítica

consUmir menos

XAN DURO / No próximo 24 demaio vai haver eleiçons munici-pais em todo o Estado. Nom somumhas eleiçons correntes. A con-figuraçom das múltiplas iniciati-vas cidadás que aparecem no nos-so país fazem que seja um proces-so desconhecido até o momento,com possibilidades reais de trunfoem muitos lugares e perspetivascertas de mudanças fundas, parti-cularmente no processo de elabo-raçom de programa e no controloposterior sobre a ação de gover-no.

Do meu ponto de vista resultapositivo que em muitos dos pro-cessos insiram termos e propostascomo princípios éticos, sustenta-bilidade, soluçons ambientais depequena escala, justiça social ouequidade nos seus princípios fun-dacionais. Isto mesmo já se dounoutros partidos com um efeitomarcadamente cosmético, masneste caso é fruto dumha refle-xom transversal de pessoas pro-cedentes de origens políticas dife-rentes e mochilas vitais variadas.

Agora toca concretar essesprincípios filosóficos em açons noámbito municipal, açons que do-tem de conteúdo e sustento essesprincípios e que dem coerência aotrabalho desenvolvido.

Os campos que um municípiotem para atuar e plasmar a sus-

tentabilidade nom som poucos,mas eu gostava de sugerir apenastrês.

É imprescindível refazer as po-líticas de gestom dos resíduos só-lidos urbanos, o foco nom deve es-tar na sua gestom final senom nareduçom e na reutilizaçom. Paraisto é preciso combinar medidaseducativas e facilitar as ferramen-tas para fazê-lo com medidas fis-cais e sancionadoras se forem

precisas. A energia também é um ele-

mento central na reduçom do im-pacto ambiental do ser humano ena reduçom das emisons de gasescausantes da mudança climática.A cámara municipal deve promo-ver umha auditoria energéticados equipamentos municipais,para posteriormente adotar asmedidas tendentes a umha dimi-nuiçom do consumo, por exem-

plo, de 20% na legislatura. Pro-mover e apoiar a instalaçom e uti-lizaçom de energias renováveis,apostando na produçom energéti-ca distribuída, e as iniciativas deeconomia social relacionadascom este campo.

Por último, recuperar os concei-tos próximo e local em todas aspropostas: umha compra públicaresponsável que prime o produtopróprio, a empresa local social-

mente responsável. O conceito deproximidade deve ser antepostoao de mobilidade. A proximidadecomo atitude na gestom e no con-tacto com a cidadania. O local co-mo ámbito mais próximo ondeaplicar os direitos humanos e co-mo rede cooperativa de municí-pios que velem polo Bem Comumpara garantir umha vida digna eum entorno saudável ao conjuntoda cidadania

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27temPos liVresNovas da GaliZa 15 de fevereiro a 15 de março de 2015

qUe Fazer

14.02.2015 / CURSO DE MÚ-SICA DE 1 A 3 ANOS / 11:00em Semente (Rua DoutorCorbal, 102). VIGORepete-se no dia 7 de março àmesma hora. Por SonsolesMartínez e Xandre Outeiro, daA.C. Trépia.

14.02.2015 / CURSO DE MÚ-SICA DE 4 A 6 ANOS / 12:00em Semente (Rua DoutorCorbal, 102). VIGORepete-se no dia 7 de março àmesma hora.Por Sonsoles Mar-tínez e Xandre Outeiro, da A.C.Trépia.

17.02.2015 / VISITA AO EN-TRUDO RIBEIRAO / Ao meio-dia no C.S. Mádia Leva (RuaSerra dos Ancares, 18). LUGOSaída do centro social -cumprefazer a inscriçom antes- a San-tiago de Riba (Chantada).

17.02.2015 / PROJEÇOM DELÉOLO, DE JEAN-CLAUDELAUZON / 19:00 no AteneuFerrolano (Rua Magdalena202-204). FERROLDentro do ciclo 'INFAM(c)IAS'.

18.02.2015 / PROJEÇOM DEMARTIN, DE GEORGE A. RO-MERO / 21:30 no C.S. O Pi-chel (Rua Santa Clara, 21). COMPOSTELAOrganiza o Cineclube de Com-postela. VOSG.

20.02.2015 / CURSO DE BAI-LE TRADICIONAL DE 4 A 10ANOS / 17:00 em Semente(Rua Doutor Corbal, 102). VIGOTodas as sextas-feiras. A cargode María Prego.

20.02.2015 / CONCERTO DESOKRAM / 20:00 no C.S. Ca-sa Tomada (Estaçom de Ren-fe). CORUNHA

21.02.2015 / PILATES SOLI-DÁRIO COM ASSOCIAÇOMABEIRO / 11:00 no C.S. O Pi-chel (Rua Santa Clara, 21).COMPOSTELAAula dumha hora em troca dematerial (alimentos para gatose cans) para Abeiro.

21.02.2015 / RUMBO DE CO-LISIÓN. FESTIVAL SOLIDÁ-RIO COM A CULTURA MARÍ-TIMA DO SALNÊS / 18:00 noSalom de Penha. CAMBADOSPolo 17º aniversário do ClubeMarinho Salnês. Programamexibiçom de embarcaçons tra-dicionais, atividades infantís,jogos populares, projeçons e asatuaçons -a partir das 21:00- deSkalopendra, Leo i Arremecág-hona ou Trópico de Grelos.

21.02.2015 / II KATASTRO-FEST / 20:00 no Tronko-Bar(Avenida Matos, s/n). PONTE VEDRA

Atuam Agresiva, Kollum,Witchfyre e Bloodhunter, entreoutros grupos.

21.02.2015 / CONCERTO DENARF TRIO / 21:00 no Multiú-sos da Junqueira (Passeioda Junqueira, s/n). REDONDELACiclo ‘Rede de músicas soltas’.

21.02.2015 / MASTERCLASSDE CESTARIA / 22:00 no C.S.A Cova dos Ratos (Rua Ro-mil, 3). VIGO

21.02.2015 / CONCERTO DESANNY / 22:00 no C.S. Distri-to 09 (Rua Figueirido, 89 -Coia). VIGO

22.02.2015 / ROTEIRO POLO

BOSQUE DE RIBEIRA DE SÁ-RRIA / 09:00 frente à Facul-dade de Formaçom do Pro-fessorado (Avenida RamónFerreiro). LUGOOrganiza Adega-Lugo. Há quereservar em [email protected] ou ligando ao 982 240299.

22.02.2015 / ‘UM PASSEIOPOLOS VINHEDOS GALE-GOS’ / 13:00 na AssociaçomÍtaca (Rua do Pombal, 18).COMPOSTELACata-combinaçom de vinhos equeijos galegos e concerto deLeo i Arremecághona (umhamúsica por cada combinaçom).

23.02.2015 / MERCADO EN-TRE LUSCO E FUSCO / 17:00

no parque de Belvis. COMPOSTELAFeira de produtos locais, bioló-gicos e de comércio justo. To-das as terças-feiras.

25.02.2015 / PROJEÇOM DEO ROSTRO ALHEIO, DE HI-ROSHI TESHIGAHARA / 21:30no C.S. O Pichel (Rua SantaClara, 21). COMPOSTELACineclube de Compostela. VOSG.

26 e 27.02.2015 / CURSO BÁ-SICO DE RETOQUE FOTO-GRÁFICO / 20:30 no C.S. OPichel (Rua Santa Clara, 21).COMPOSTELAAulas de duas horas e meia; nodia 27 começam às 19:00. Con-hecimentos sobre ferramentasbásicas de Photoshop.

28.02.2015 / ENCONTRO EDI-TATÓN DA GALIPEDIA / 10:00na Residencia Altamar (RuaCesáreo González, 4). VIGOReuniom para editar a Wikipe-dia em galego. Organiza o Gru-po de Amigos de Linux de Pon-te Vedra (GALPon).

28.02.2015 / REPRESSENTA-ÇOM DE AVESTRUZ EN TE-RRA ALLEA / 22:00 na Casada Cultura (Rua Rainha DonaUrraca, s/n). SALVATERRADE MINHOOrganiza SCD Condado. Obracriada, dirigida e protagoniza-da por Berrobambán Teatro.

28.02.2015 / CONCERTO DETERBUTALINA / À noite naAssociaçom Xebra (Rua Le-andro Cucumy, 19). BURELA

06.03.2015 / APRESENTA-ÇOM DE ‘UMHA MAE TAMPUNK’, DE TERESA MOURE /20:30 na Fundaçom Artábria(Travessa de Batalhons, 7 -Esteiro). FERROLCom a presença da autora.

07.03.2015 / SAIDA POLOBAIRRO DA MADALENA REI-VINDICANDO O 8 DE MARÇO/ À tarde na Fundaçom Artá-bria (Travessa de Batalhons,7 - Esteiro). FERROL

07.03.2015 / ESMORGA FEST/ À noite na Sala Litmar (RuaAmeneirizas, 1). SÁRRIAAtuam za!, Guerrera, PumaPumku, Jay, Cuchillo de Fuegoou Pálida.

13.03.2015 / PALESTRA SO-BRE 'PINHEIRISMO, A OU-TRA VIA QUE NOM FOI' / Àtarde na Fundaçom Artábria(Travessa de Batalhons, 7 -Esteiro). FERROLCom Carlos Velasco.

14.03.2015 / CURSO DE IN-TRODUÇOM AO TEATRO DAOPRIMIDA / 10:00 na AVV AXuntanza (Rua das Fráguas,37). COMPOSTELADecorre nos fins de semana do14 e 15 e 28 e 29 de março, emhorário de manhá e tarde. Maisinformaçom [email protected] ounos telefones 679 921 499 e 629281 680.

14.03.2015 / CURSO DE PER-CUSSOM DOMÉSTICA / 20:30no C.S. O Pichel (Rua SantaClara, 21). COMPOSTELAHistória das músicas tradicio-nais ibéricas, europeas e sud-americanas e curso de percus-som com objetos domésticos.

programaçom feminista cultural, académica ereivindicativa para preparar o 8 de marçofevereiro está cheio de programa-çom feminista, nas prévias da co-memoraçom do dia da mulhertrabalhadora (8 de março).no dia 20 celebra-se na faculda-de de Cc. da educaçom da uni-versidade da Corunha o ‘i femina-rio Centro de estudos de xénero efeministas’. A partir das 09:00vam ser apresentados relatórios

sobre cuidados, género e ensino,diferentes discursos e focagens fe-ministas, ou prostituiçom. maisinformaçom no site da udC.por outro lado, a plataforma de crí-tica literária A sega convoca a jor-nada 'rosalía de Castro aterece'para comemorar o nascimento daescritora, no 24 de fevereiro. Con-vocam, para esse dia, a cobrir com

um cachecol todas as estátuas derosalia e compilar fotografias dasmesmas.também está previsto que a femi-nista itziar ziga apresente o seu li-vro 'umha estirpe transfeminista'na Corunha (Gomes Gioso, dia18), Compostela (lila de lilith,dia 19), Ourense (A Galleira, dia20) e lugo (mádia leva, dia 21).

Curso de apicultura ecológicaAbella lupa organiza um cursode apicultura ecológica. vai serno Centro Cultural de paranhos(Covelo) e inclui umha visitaguiada ao Centro de interpreta-çom da ceraria de paranhos, fa-vum. será no 28 de fevereiro enos dias 1, 7 e 8 de março, em

horário de 10:00 a 14:00. incluiumha parte de história, da evo-luçom das técnicas de apicultu-ra, biologia e manipulaçom dasabelhas, manipulaçom biológicade colmeias, ou comercializa-çom do mel. mais informaçomem http://abellalupa.com/.

O paço de feiras e Congressosde lugo acolhe, nos dias 27 e28 de fevereiro, o ii festival ACandeloria, que inclui jogospopulares, cantos de taverna,umha churrascada (no sábado28), e música. Atuam os grupos ruxe ruxe,nao, boikot, los Chikos delmaíz, Habeas Corpus, ou so-kram, entre outros. O bono pa-ra assistir dous dias custa 16euros. mais informaçom [email protected].

festival ACandeloriaem lugo

FeVereiro

dia da mUlher trabalhadora

coVelo

ENVIA CONVOCATÓRIAS aocorreio [email protected] do dia 12 de cada mês.

Anuncia os teus atosno NOVAS DA GALIZA.

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Novas da Gali a Apartado 39 (15701) COmpOstelA [email protected]

Há lugares do país emque o entruido nom éépoca de correr diante

dos peliqueiros, escapandodumha chuva de aranhas e fa-rinha. Há lugares em que é di-fícil encontrar o grande cozido,já dos últimos que comeremosdurante o inverno, que dá calore energia para continuar a es-morga dos disfarces. Há vilase cidades em que as datas deentruido som apenas dias detomar umha cerveja triste nobalcom dum bar baleiro, poisa gente foi celebrar o entruidonoutro lado, ou em que a únicaparticipaçom da gente adultaé acompanhar as suas crian-ças cara a porta dum 'pub' on-de se celebra umha festa in-fantil.

O entruido, ali onde nom so-brevivérom as figuras tradicio-nais, é também umha épocade esquecimento e um tempoonde se notam as feridas quea modernidade infringiu, e con-tinua a infringir, às tradiçons.Assim, nos anos 20 e 30 doséculo passado chegava a mo-da de organizar carnavais desalom, com bailes de disfarcesadaptados a umha burguesiaque nom gostava dos balbor-dos nas ruas. no franquismo,o grande escárnio dos enterrosna quarta-feira de cinza eraproibido. longas noites de pe-dra que deixárom impresso oselo da dominaçom.

O êxodo festeiro a vilas comoverim ou laza, onde o entrui-do tradicional sobreviveu dejeito admirável, coneta dalgumjeito com essas feridas da mo-dernidade. porém, tambémnas vilas de entruido abatidoexistem figuras aguardando aque as suas vizinhas e vizinhosos resgatem. um exemplo foi orealizado nos últimos anos nacidade de vigo, com a recupe-raçom do merdeiro por partedo centro social A revolta e aassociaçom Casco velho.

pode ser que nom sejam fi-guras dignas de postais pito-rescas, mas som ferramentasde lazer que nos conetam coma história. se vivemos numhavila de entruidos tristes talveznos toque reviver as tradiçonsmais próximas, já sejam singe-los 'choqueiros' ou 'vascalhei-ros', e revolver as ruas duranteo breve reinado do meco.

Aarón l. rivas

Venham merdeiras!Venham merdeiros!

Como nasce a ideia de criar o pro-jeto audiovisual Em todas as maos?Conhecíamos um pouco da reali-dade do monte vizinhal, e víamosque muito do que estava a acon-tecer nom transcendia, e mesmohavia umha leitura negativa destatradiçom. Nós, porém, víamosumha realidade viva e muito posi-tiva. Ao pensar no melhor jeito demostrar este mundo, escolhemosa ferramenta audiovisual, enten-dendo que com ela podíamos che-gar a mais gente e propiciar o de-bate da gestom do território nasociedade galega.

O caminho que está prestes a fi-nalizar com a apresentaçom dodocumentário foi longo, nom foi?Sim. Arrancamos há três anos, efomos de vagar porque somosumha entidade pequena, e querí-amos fazer um produto de quali-dade. Quando se nos ocorreu aideia, contactamos com a cineastaDiana Toucedo, e começamos aprocurar financiamento. Identifi-camos as comunidades de montescom as que queríamos trabalhare fomos filmando material emduas fases diferentes, em 2013 e2014. A dinámica de partida foi oconvívio com cada umha destascomunidades; nom queríamoschegar, filmar e marchar à pressa.Passamos em cada um dos oito lo-cais uns quatro ou cinco dias, pa-ra conversar com a gente do lu-gar, e que se foram afazendo àpresença das cámaras. Agora es-tamos na pós-produçom, e aguar-damos estrear em abril!

Porque escolhestes essas oitocomunidades? Funcionam todasde forma semelhante?As comunidades escolhidas fô-rom as de Lira, zobra, Covelo, ORosal, Teis, Abadim, Ramirás, eVilarinho. A verdade é que o maisjusto é falar “dos montes vizin-hais”, em plural: as realidadessom mui diferentes nas comuni-dades da costa, onde prima a ex-ploraçom florestal, das do inte-rior, onde tem mais peso o uso ga-deiro. Há projetos que apostamna multifuncionalidade, outros nopatrimónio histórico-arqueológi-co, outros que se constituem aopé das grandes cidades, como nocaso dos arredores de Vigo… Qui-

gemos achegar-nos também a umexemplo de Portugal, onde con-tam com os “baldios”, umha reali-dade com a mesma origem que omonte vizinhal, ainda que os mar-cos legais sejam diferentes.

Que aprendestes do processo?Levastes surpresas?Aprendemos muito! Sabíamos oque era o monte vizinhal e o quesignificava, mas depois destestrês anos, e ainda sem considerar-nos expertos, sentimos como setivéssemos feito um 'master' no te-ma. Algo que nos chamou a aten-çom foi a falta de vínculo entre asnovas geraçons das paróquiascom esta realidade. Estas gera-çons serám as que tenham quegerir estes territórios, assim quenos parece mais necessário quenunca reestabelecer essas unionsentre as pessoas e o monte. Aliás,reafirmamo-nos no de que os ga-legos somos privilegiados por teresta figura do comuneiro. Essepoder de decisom direto sobreumha superfície determinada éumha forma de participaçom muimoderna; um luxo. Consideramosimportante que se estudasse nasescolas, que as crianças saibamque significa ser comuneiro! Esseé um trabalho que teremos queempreender nos próximos anos.

Comentavas que vos chamou aatençom ver que há bastantesmulheres nas comunidades demontes, e também gente nova. Sim! O caso das mulheres é muiinteressante. Araceli Freire estu-dou o seu papel nos conflitos do

franquismo, onde as mulheresdesenvolvêrom um rol mui ativo,mas o certo é que nas novas juntasdiretivas que vinhérom depois ogénero feminino nom estivo tampresente. Na atualidade, há cadavez mais comunidades que con-tam com mulheres nas juntas, co-mo é o caso de Abadim. A nossaperceçom é que isto é algo muitopositivo, já que elas ajudam a re-baixar as tensons, propiciam oconsenso e introduzem novas vi-sons e novas vias de projetos. Omesmo passa com a gente novadas comunidades, que indaga no-vas possibilidades de exploraçom,na procura dum monte multifun-cional em que também se tenhaem conta o aproveitamento sociale ambiental. Todo isto, sem me-nosprezar o trabalho da gente queestivo antes, já que a memória éneste tema um recurso chave.

No website falades dum com-promisso com o monte vizinhalpara além da criaçom do docu-mentário. De que se trata?Já se materializou em refloresta-mento em duas comunidades demontes, com parte do financia-mento. Umha foi em Redondela ea segunda no Rosal, numha co-munidade que se viu mui afetadapolos lumes, que arrasárom 700das suas 2000 hectares. Tínhamosido filmá-los em 2013, e vimos co-mo tinha um papel de autênticogerador de emprego, contandocom 18 trabalhadores. Quigemosvoltar para ver como se reconstróie aposta polo futuro um coletivodepois dum episódio assim.

Há esperança para o monte vi-zinhal, ou é um sistema conde-nado à desapariçom?Há muitas realidades, nom só um-ha. No interior, o despovoamentoé um problema mui grande, por-que a lógica do monte vizinhal éque só há gestom coletiva se hápopulaçom. Cada vez mais super-fície fica em maos da administra-çom, que tenta abrir portas a em-presas. Ainda assim, há muito di-namismo, e um vínculo muitomais forte com esta realidade doque em Portugal, por exemplo. Éumha oportunidade para a trans-formaçom do País, e a adminis-traçom deveria acompanhar eapoiar estas figuras, fazendo quese valorizem na sociedade comoparte do nosso património imate-rial, introduzindo-o nos planos deestudo. Fica muito caminho porpercorrer; a questom vai além deque se plantem ou nom eucalip-tos. Em Direito, nom existem es-tudos sobre umha realidade ju-rídica que abrange 25% do nos-so território. Há que trabalhartambém os vínculos da gentecom o monte, porque, como di otítulo do documentário, o seu fu-turo está nas nossas maos. Se fa-zemos como sociedade as apos-tas ajeitadas, certeza que vai so-breviver; nom será o mesmomonte que no século XIX, maspode jogar outro papel. Cremosque a do comuneiro é umha fi-gura com futuro, já que propíciaa integraçom, e, ainda sem serum mundo idílico, é muito de-mocrática. Para nós, o futuro é,quando menos, ilusionante.

alberte romÁn da cooPeratiVa tresPés, imPUlsora do docUmentÁrio ‘em todas as maos’

“O monte vizinhal é único na europa”O.R. / A gestom do nosso território e a tradiçom do monte vi-zinhal importam. Isso, quando menos, crem as mais de duzen-tas pessoas que apoiárom economicamente o projeto audiovi-sual Em todas as maos, que pretende divulgar a figura do co-

muneiro e reivindicá-la como parte do património imaterial ga-lego. Alberte Román, um dos impulsores, explica o intensoprocesso de gestaçom dum projeto sincero, calmado e neces-sário para a sociedade que queremos construir.

Paulo Jablonski, Alberte Román e Tania Martínez,membros da Cooperativa Trespés.