o marketing interno e as unidades de informação
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O crescimento vertiginoso do segmento de serviços em face da complexidade dos produtos, do desenvolvimento da tecnologia, da educação continuada, da competitividade e do próprio sistema de vida das pessoas faz com que seja apontado como a primeira economia da atualidade. Para tudo há serviço, para tudo há um especialista e isso alimenta o sistema econômico, gerando demandas, oportunidades e recursos, fazendo com que o marketing de serviços esteja cada vez mais presente.Essa realidade pode ser muito bem percebida nos serviços das Unidades de Informação, que hoje contam com as redes de comutação, transferência de arquivos, pesquisas na internet, atendimento remoto, catálogos, livros e artigos eletrônicos, discussões em tempo real, etc., para atender a uma clientela cada vez mais exigente e específica nos seus interesses.TRANSCRIPT
O Marketing interno e as unidades de informação
Ana Luiza Chaves1
O crescimento vertiginoso do segmento de serviços em face da complexidade
dos produtos, do desenvolvimento da tecnologia, da educação continuada, da
competitividade e do próprio sistema de vida das pessoas faz com que seja
apontado como a primeira economia da atualidade. Para tudo há serviço, para
tudo há um especialista e isso alimenta o sistema econômico, gerando
demandas, oportunidades e recursos, fazendo com que o marketing de
serviços esteja cada vez mais presente.
Essa realidade pode ser muito bem percebida nos serviços das Unidades de
Informação, que hoje contam com as redes de comutação, transferência de
arquivos, pesquisas na internet, atendimento remoto, catálogos, livros e artigos
eletrônicos, discussões em tempo real, etc., para atender a uma clientela cada
vez mais exigente e específica nos seus interesses.
O Marketing de serviço das Unidades de Informação é denominado por Amaral
(2007, p. 21) como Marketing da Informação e é assim definido por ela:
[...] o processo gerencial de toda variedade de informação
(tecnológica, científica, comunitária, utilitária, arquivística,
organizacional ou para negócios) utilizado em todo tipo de
organização, sistema, produto ou serviço sob a ótica de marketing,
para alcançar a satisfação de diversos públicos [...].
No Marketing de Serviços da Informação atuam as unidades que coletam,
selecionam, tratam, organizam, disseminam e usam a informação, dentre elas,
os arquivos, as bibliotecas, os centros de informação e documentação, as
videotecas e quaisquer outras que tenham esse processo no seu escopo.
Referidas unidades devem ser vistas como um negócio e o usuário como
1 Bibliotecária (UFC), Especialista em Gestão de Arquivos Empresariais (FESPSP), Especialista em Marketing
Estratégico para Unidades de Informação (FESPSP), Especialista em Pesquisa Científica (UECE).
blog: http://leituraecontexto.blogspot.com/. e-mail: [email protected]
cliente consumidor, para tanto, é imprescindível a adequação de seus produtos
e serviços às necessidades desses usuários (AMARAL, 2007).
Essa adequação não é tarefa fácil em função da natureza do segmento de
serviços. Para explicar melhor o segmento de serviços, Lovelock e Lauren
(2006, p. 5) se posicionam:
Serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte a outra.
Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o
desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta
em propriedade de nenhum dos fatores de produção.
Portanto, os serviços, por sua natureza, têm que ser geridos e administrados
com a devida atenção, pois dependem diretamente e unicamente do fator
humano e esse fator é que vai fazer o diferencial no momento do atendimento
ao cliente.
a) “processamento com pessoas = envolve ações tangíveis nos
corpos das pessoas” ;
b) “processamento com bens = inclui ações tangíveis nos bens e
outras posses físicas pertencentes aos clientes” ;
c) “processamento com estímulo mental = refere-se a ações
intangíveis dirigidas à mente das pessoas”;
d) “processamento com informações = descreve ações intangíveis
dirigidas aos bens de um cliente”.
A partir da categorização desses autores e da caracterização prévia das
Unidades de Informação como unidades de serviço, pode-se visualizar que a
informação enquadra-se como produto de bem intangível. Para sistematizar as
quatro situações acima, têm-se dois processos de serviços com ação tangível e
dois com ação intangível, onde se enquadram os serviços de informação.
Tentando concluir sobre os serviços de informação, observa-se um serviço que
é intangível por ser uma ação e uma ação que também é intangível por ser
dirigida à mente das pessoas. Como se vê, qualquer ação de marketing nos
serviços de informação tem que ser implementada de forma efetiva que garanta
resultados, superando a questão do “intangível”, do que é difícil de mensurar e
de ser percebido.
Kotler e Armstrong (2003) vão mais além do intangível e dizem que para se
aplicar alguma ação de marketing no segmento de serviços há de se
considerar quatro características:
intangibilidade = os serviços não podem ser vistos, tocados,
sentidos, ouvidos ou cheirados antes da compra;
inseparabilidade = Os serviços não podem ser separados de
seus provedores;
perecibilidade = Os serviços não podem ser armazenados para
venda ou uso posterior;
variabilidade = A qualidade dos serviços depende de quem os
executa e de quando, onde e como são executados.
Figura 1 – Quatro características dos serviços
Fonte: Kotler e Armstrong (2003, p. 234)
Para Kotler e Armstrong (2003, p. 226) essas características indicam que o
marketing de serviços requer marketing interno para “treinar e motivar
efetivamente seus empregados que entram em contato com os clientes e todo
o pessoal de serviços de apoio para que trabalhem em equipe no sentido de
fornecer satisfação aos clientes. Portanto, o marketing interno precede o
marketing externo.”
Retomando os autores Lovelock e Wright (2006, p. 39), enfoca-se o trecho em
que afirmam: “Informação é a forma mais intangível de produto dos serviços,
mas pode ser convertida em formas mais duradouras e tangíveis como cartas,
relatórios, livros, vídeos ou disquetes”.
Kotler (2000, p. 457) observa que "as empresas prestadoras de serviços têm
de enfrentar três tarefas: aumentar a diferenciação, a qualidade dos serviços e
a produtividade."
Resumindo sobre os autores já mencionados, temos a seguinte construção: a
natureza problemática dos serviços pode ser minimizada a partir da
implantação de três ações:
transformação da informação em bens mais tangíveis e duráveis
Para Padilha (2001, p. 32), “A intangibilidade dos serviços gera
um problema de marketing: a Credibilidade. Todo processo de
compra envolve um certo risco percebido pelo cliente”, pois ele
não pode ver, sentir e tocar. É necessário que o fornecedor de
serviços tenha a sensibilidade para captar quais evidências
físicas o cliente procura ao contratar um serviço e tentar
materializá-las de forma que ele tenha a sensação de algo
concreto e possa efetivamente confiar e contratar o serviço.
maximização da diferenciação, da qualidade e da produtividade
Para as Unidades de Informação atingirem esses conceitos, a
preocupação dos profissionais da informação deve se concentrar
na interpretação das necessidades dos clientes; valorização do
bom atendimento; valorização das avaliações e definição de
prioridades.
marketing interno
As de Marketing Interno deixa os funcionários mais motivados.
Eles se sentem reconhecidos e satisfeitos com o investimento da
empresa na melhoria da qualidade do ambiente interno e mais
preparados para vender os produtos e serviços da empresa em
função da preparação que receberam.
Algumas unidades de informação têm desenvolvido estratégias de marketing
interno enfocando o usuário, as suas necessidades, os seus desejos e o
limitado tempo e esforços que o usuário destina à obtenção de informações.
Os funcionários devem ser bem informados e treinados para prestar um
atendimento de qualidade. A imagem e a capacidade das unidades de
informação podem ser habilmente promovidas para guiar as pessoas no uso
dos recursos disponíveis. Mas, para isto requer que os profissionais
desenvolvam um novo nível de habilidades técnicas e humanas, deslocando o
enfoque do serviço para o público alvo, o usuário.
Unidades de informação atuantes devem estar atentas às mudanças atuais,
mudanças sociais, econômicas e tecnológicas se querem manter credibilidade.
Elas podem ter múltiplos objetivos, pois buscam oferecer serviços
educacionais, informacionais, culturais, recreativos e sociais para uma
população heterogênea.
Conforme Oliveira apud Lima (1990?), as unidades de informação oferecem
informação em troca de tempo do usuário, de sua atenção e podem oferecer
também outros bens como ambiente confortável e desenvolvimento cultural.
Quaisquer que sejam as ações voltadas ao serviço de marketing a serem
implementadas só terão efeito positivo se seguirem a filosofia caracterizada
pelo marketing diferenciado:
orientação mais para o usuário do que para o serviço/produto;
preocupação com qualidade mais do que com quantidade;
ênfase em efetividade do que em eficiência;
benefício do destinatário (público alvo) mais do que como mérito
intrínseco de serviço oferecido.
Essas ações Implicam no seguinte processo:
conhecer o que o usuário deseja;
estudar a produção dessa necessidade;
produzi-la;
distribuí-la;
vendê-la ao usuário;
ensinar-lhe também a consumir esse produto.
Para adotar essa filosofia de marketing na Unidade de informação é preciso
responder:
que é uma unidade de informação?
qual é a sua finalidade?
qual é a visão para esta unidade de informação?
qual é a imagem da unidade de informação?
qual é a orientação apropriada para esta unidade de informação?
O primeiro passo é identificar o composto de marketing (mix de marketing), que
na linguagem de Kotler (2000, p. 98) é o “conjunto de ferramentas que a
empresa usa para atingir seus objetivos de marketing no mercado-alvo”, o qual
foi identificado como os 4Ps (produto, preço, praça e promoção), por Edward
McCarthy. Aplicando os 4Ps nas unidades de informação, têm-se:
produto: a informação como utilidade para as pessoas que dela
necessitam. Hoje a informação é tão importante quanto os
recursos materiais, humanos e tecnológicos. A informação, seja
ela estratégica para tomada de decisão, científica, para
desenvolvimento de pesquisa, cultural para suprir conhecimento,
é a matéria prima das Unidades de Informação e para chegar ao
usuário tem que conter valor agregado, o que corresponde ao
produto diferenciado para o cliente;
preço: a “comercialização” da informação é um fenômeno recente,
e hoje se admite que informação é negócio – um grande negócio
– e as tarifas devem ser estabelecidas. O preço será, portanto, a
representação de todos os custos envolvidos até a prontidão da
informação para o usuário. Cada diferencial agrega valor a esse
preço;
praça: Os mecanismos de distribuição estão mudando, e as
unidades de informação têm que estar atentas para a localidade,
acessibilidades, ambientes, tecnologia moderna, com potencial de
disseminar informação estabelecendo contato direto com o
usuário remoto, através de catálogos e relatórios on-line de
acesso ao público. A questão básica de distribuição dos Serviços
de Informação é viabilizar a forma de tornar os
programas/serviços disponíveis e acessíveis aos
clientes/usuários;
promoção: É um termo geral que envolve publicidade,
propaganda e relações públicas. Mudanças e inovações
realizadas nas unidades de informação devem ser anunciadas ao
público alvo, através de mala direta, cartazes, Internet, jornal,
revistas, rádio e TV, como também através de formadores de
opinião.
Uma vez identificado o composto poder-se-á retomar as perguntas anteriores
respondendo todas num único pronunciamento: As unidades de Informação da
atualidade são instituições voltadas para a aquisição, processamento,
armazenamento e disseminação de informações e estão comprometidas com o
atendimento diferenciado, agregando valor a produtos e serviços, tornando-os
mais atraentes a seus clientes e mantendo um relacionamento duradouro,
valorizando, dessa forma a sua atuação junto à sociedade.
O Marketing Interno existe dentro de grandes companhias para atrair e reter
seu primeiro cliente: o cliente interno tentando com essa estratégia obter
significativos resultados para as empresas, e por conseqüência atraindo e
retendo clientes externos também. Afinal, funcionários insatisfeitos com as
condições de trabalho e com os próprios produtos lançados, irão fazer uma
contra-propaganda cada vez que multiplicam fora da empresa a sensação de
descontentamento que os dominam. E, caso estejam satisfeitos com a
empresa, poderão "vendê-la" para o cliente externo. Essa atitude estratégica
visa dar aos funcionários uma noção da importância de um serviço orientado
para atender aos clientes, fazendo-os ter a capacidade de responder qualquer
dúvida que surja dentro da companhia, e isso inclui envolvimento,
comprometimento, valorização e, principalmente, qualificação do funcionário,
visando assumir responsabilidades e iniciativas, conhecendo todas as rotinas
de serviço da empresa onde atuam. Afinal, uma informação errada dada ao
cliente externo ou uma imagem negativa pode comprometer todo o
desenvolvimento de um projeto. O funcionário deve saber a importância do
lugar onde trabalha e da sua própria importância, pois só assim ele poderá ter
um bom ambiente de trabalho e equipe.
Agora, já entendido o que é o processo Marketing Interno dentro das Unidades
de Informação e conhecidas as principais ferramentas para sua aplicação, não
será tarefa difícil tentar minimizar as características enumeradas por Kotler e
Armstrong (2003), que “atrapalham” na consecução dos serviços.
Como fazer nas unidades de informação para diminuir o efeito dessas
características?
Intangibilidade = Criação de portifolio dos serviços já executados
expostos nas vias de comunicação, pode, pelo menos, aguçar o
sentido da visão antes da compra.
Inseparabilidade = Utilização de serviços à distância através de
provedores remotos;
Perecibilidade = O processo executado para determinado serviço
pode ser registrado para ser usado posteriormente, a partir de
uma customização;
Variabilidade = sintonizar e sincronizar todas as pessoas diminui
o efeito da instabilidade.
Adotando a mesma Figura de Kotler e Armstrong (Figura 1), idealizou-se a
Figura 2, que representa o novo cenário dos serviços de informação, com
aplicação de ações de marketing interno, percebe-se, através da
argumentação, que seus efeitos podem ser minimizados.
Figura 2 – O novo cenário dos serviços de informação
Fonte: Construção da autora
Tanto as questões da diferenciação, como a qualidade e da produtividade
podem ser conquistadas através de uma ação constante de marketing interno,
com os funcionários antenados com os objetivos e as estratégias da
organização:
diferenciação = ofertar produtos diferenciados, tais como: visitas
orientadas, novos argumentos de busca em pesquisas, novos
formatos de apresentação dos resultados, catálogos remotos,
etc., sempre privilegiando o cliente que tem pouco tempo a
perder e precisa da informação;
qualidade = Tudo tem que ter qualidade, mas, sobretudo no
atendimento ao cliente, que se evidencia no serviço de
referência, a ponto de provocar o efeito dominó.
produtividade = Com diferenciação e qualidade a produtividade
alcança excelentes patamares, funcionários que pensam em
oferecer serviços diferenciados com qualidade estão contribuindo
positivamente para a organização.
Da Figura 2 podem-se extrair quatro elementos essenciais às Unidades de
Informação: as pessoas; os processos; os recursos tecnológicos e os
produtos/serviços. As pessoas devem atuar como agente de transformação
para atender às exigências do setor em que atua, sendo o profissional da
informação profissionais bibliotecários, arquivistas, documentalistas com o
propósito de tornar produtivo o setor de informação, evidenciando sua imagem
de forma positiva e agregando valor ao consumo da informação, com seu
reprocessamento e reempacotamento, principalmente com o uso da tecnologia.
REFERÊNCIAS
AMARAL, Sueli Angelica do (Org.). Marketing na ciência da informação. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2007. KOTLER, Philip. Administração de marketing: edição do novo milênio. 10. ed.
São Paulo: Prentice Hall, 2000. 464 p. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de marketing. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. 593 p. ISBN 85-87918-19-2. LIMA, Regina Célia Montenegro de. Marketing, Informação e bibliotecas.
Apostila de Curso [1990?] LOVELOCK, C.: WRIGHT, L. Serviços: marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2006. PADILHA, Ênio. Marketing para Engenharia, Arquitetura e Agronomia. 3.ed.
Brasília: CONFEA, 2001.