o globo

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Quinta-feira, 21 de junho de 2012 SUPLEMENTO ENCONTRO DA INDÚSTRIA PARA A SUSTENTABILIDADE Novo modelo atribui valor aos recursos naturais e define as necessidades de investimentos em conservação. Página 2 Diagnóstico feito em 16 setores industriais revela os avanços no campo da sustentabilidade. Páginas 4 e 5 Pesquisa da CNI aponta as práticas sustentáveis incorporadas ao dia a dia das organizações. Página 6 A Confederação Nacional da Indústria (CNI), representando o setor produtivo, participou ativamente da construção da posição bra- sileira na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen- volvimento Sustentável (Rio+20). Como parte desses esforços, promoveu, dia 14 de junho, no Hotel Sofitel (RJ), o Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, que reuniu cerca de 800 em- presários para discutir a relação da indústria com os temas em pauta na Confe- rência, particularmente os desafios para promoção do desenvolvimento susten- tável, considerando os pilares econômico, social, ambiental e cultural. Durante o encontro, a CNI divulgou documento inédito, que traz radiografia detalhada dos avanços da indústria brasileira no campo da sustentabilidade. Re- sultado de mobilização que envolveu 16 segmentos representativos do setor pro- dutivo que, juntos, respondem por 90% do PIB industrial, o levantamento surpreen- deu ao identificar avanços concretos na adoção de práticas sustentáveis nos últimos 20 anos (desde a ECO 92). De acordo com os dados do documento, entregue pelo presidente da CNI, Ro- bson Braga de Andrade, à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Brasil tem feito o seu dever de casa, reduzindo gradativamente as emissões de gases de efeito estufa, reciclando, usando insumos renováveis e reaproveitando a água. O país tem um dos maiores índices de reciclagem de embalagens de alumínio do mundo, cerca de 97%. O papel produzido no país, classificado como grande responsável pelo desmatamento, é proveniente, integralmente, de florestas plantadas, preservando as nativas. As emissões de CO² na indústria quími- ca foram reduzidas em 47% na última década. E a participação das fontes renováveis de energia na matriz elétrica brasileira atingiu, no ano pas- sado, a meta traçada para 2020, chegando a 88,8%, superando a mé- dia mundial, de 19,5%. Criadora do conceito de desenvolvimento sustentável, a ex-primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brun- dtland destacou, durante o encontro, a importância da parceria entre setor público e privado para o desenvolvimento da cultura de sustenta- bilidade no país. Transição acelerada para a economia verde 100% do papel produzido no país é de florestas plantadas 88 , 8% da matriz elétrica brasileira tem fontes renováveis, superando a média mundial que é de 19,5% 97% das embalagens de alumínio são recicladas ©iStockphoto.com

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o globo cni final

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Page 1: o globo

Quinta-feira, 21 de junho de 2012Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade

Novo modelo atribui valor aos recursos naturais e define as necessidades de investimentos em conservação. Página 2

Diagnóstico feito em 16 setores industriais revela os avanços no campo da sustentabilidade. Páginas 4 e 5

Pesquisa da CNI aponta as práticas sustentáveis incorporadas ao dia a dia das organizações. Página 6

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), representando o setor produtivo, participou ativamente da construção da posição bra-sileira na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento Sustentável (Rio+20).

Como parte desses esforços, promoveu, dia 14 de junho, no Hotel Sofitel (RJ), o Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, que reuniu cerca de 800 em-presários para discutir a relação da indústria com os temas em pauta na Confe-rência, particularmente os desafios para promoção do desenvolvimento susten-tável, considerando os pilares econômico, social, ambiental e cultural.

Durante o encontro, a CNI divulgou documento inédito, que traz radiografia detalhada dos avanços da indústria brasileira no campo da sustentabilidade. Re-sultado de mobilização que envolveu 16 segmentos representativos do setor pro-dutivo que, juntos, respondem por 90% do PIB industrial, o levantamento surpreen-deu ao identificar avanços concretos na adoção de práticas sustentáveis nos últimos

20 anos (desde a ECO 92). De acordo com os dados do documento, entregue pelo presidente da CNI, Ro-

bson Braga de Andrade, à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o Brasil tem feito o seu dever de casa, reduzindo gradativamente as emissões de gases de efeito estufa, reciclando, usando insumos renováveis e reaproveitando a água. O país tem um dos maiores índices de reciclagem de embalagens de alumínio do mundo, cerca de 97%. O papel produzido no país, classificado como grande responsável pelo desmatamento, é proveniente, integralmente, de florestas plantadas, preservando as nativas. As emissões de CO² na indústria quími-ca foram reduzidas em 47% na última década. E a participação das fontes renováveis de energia na matriz elétrica brasileira atingiu, no ano pas-sado, a meta traçada para 2020, chegando a 88,8%, superando a mé-dia mundial, de 19,5%.

Criadora do conceito de desenvolvimento sustentável, a ex-primeira-ministra da Noruega Gro Harlem Brun-dtland destacou, durante o encontro, a importância da parceria entre setor público e privado para o desenvolvimento da cultura de sustenta-bilidade no país.

Transição acelerada para aeconomia verde

100% do papel produzido no país é

de florestas plantadas

88,8% da matriz elétrica brasileira tem

fontes renováveis, superando a

média mundial que é de 19,5%

97% das embalagens de

alumínio são recicladas

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2 l Quinta-feira, 21 de junho de 2012 Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade

“Precisamos de cortes nos impostos“ENTREVISTA ROBSON BRaga De aNDRaDe/Presidente da CNI

Por que a Confederação Nacio-nal da Indústria resolveu elaborar documento sobre sustentabilidade com 16 associações nacionais seto-riais da indústria?

Como está mencionado no pró-prio documento, A Indústria Brasilei-ra no Caminho da Sustentabilidade, estamos mostrando à sociedade, ao governo e aos atores interna-cionais envolvidos com a questão ambiental a visão da indústria so-bre a agenda do desenvolvimen-to sustentável. O documento, re-sultado de amplo processo de articulação com as federações de indústrias e as 16 associações se-toriais nacionais que representam 90¨% do PIB industrial, compro-va que fizemos o dever de casa. Com investimentos e inovação, a indústria brasileira reduziu con-sideravelmente o impacto de sua atividade no meio ambiente nos últimos 20 anos, desde a Eco-92. Diminuimos as emissões de gases de efeito estufa, ampliamos a re-ciclagem e o uso de insumos re-nováveis, reaproveitamos a água, entre várias outras iniciativas bem sucedidas de sustentabilidade. Hou-ve conquistas importantes. A in-dústria não é a vilã da preservação ambiental no país.

Se a indústria não é a vilã da pre-servação ambiental, o que mudou? Que avanços foram feitos?

São muitos os exemplos prá-ticos desses avanços. Vários deles estão sintetizados no documen-to. Hoje, 97,6% das embalagens de alumínio são recicladas no país, um dos mais altos índices do mun-do. A celulose e o papel produzi-dos no Brasil provêm integralmen-te de florestas plantadas, enquanto a indústria química reduziu em 47% suas emissões de CO² em dez anos. A geladeira fabricada atual-mente no país consome 60% me-nos energia do que há uma década e cada automóvel usa 30% menos água no processo de produção. A prosaica sardinha enlatada brasi-leira, que você compra numa de-licatessen ou na bodega da beira de estrada, é certificada interna-cionalmente em critérios da FAO, a instituição da ONU especializada em alimentação e agricultura, para preservação da biodiversidade ma-rinha. Esses são apenas alguns dos diversos exemplos de práticas sus-tentáveis disseminadas na indús-tria do país.

O que está faltando para que a in-dústria brasileira avance ainda mais

na transição para um modelo econô-mico de maior sustentabilidade?

Falta muita coisa. É verdade que a crise econômica internacio-nal, como se revelou nas nego-ciações da Rio+20, não favorece avanços institucionais significati-vos globalmente. No caso do Bra-sil, especificamente, persistem fa-tores conjunturais e estruturais que minam a competitividade da indústria brasileira. Como men-cionei no seminário Encontro da Indústria para a Sustentabilidade, na semana passada, no Rio, as po-líticas tributárias, monetárias e de crédito são tímidas para estimular os investimentos produtivos. Os custos de produção são altos no Brasil, a infraestrutura é deficien-te, a burocracia sufoca, o câmbio ainda sobrevalorizado atrapalha. Não só são necessários aperfeiço-amentos, como eles são possíveis.

Em que direção? Não é apenas fundamental res-

gatar a competitividade da indús-tria brasileira, como é preciso que esse resgate ocorra respeitando o meio ambiente. Isso pode ser fei-to com um corte de impostos mais agressivo para as empresas que usam com eficiência os recursos naturais e adotam processos sus-tentáveis de produção. É sabido que o aparelho tributário é nor-malmente avesso a abrir mão de receitas, mas ele tem de considerar a dimensão ambiental da atuação das empresas. A transição para um

modelo econômico mais sustentá-vel passa por riscos e aumento de custos, por exigir investimentos. É preciso que esses riscos e cus-tos sejam atenuados por iniciativas governamentais amplas e efetivas de apoio às empresas. Países que são nossos concorrentes diretos no mercado internacional já ado-tam nas suas políticas industriais o apoio à sustentabilidade. Não po-demos ficar para trás.

O Brasil tem alguma vantagem em relação a esses países?

Muitas. É esse nosso diferencial competitivo que tem de ser apro-veitado. Quando a discussão sobre a sustentabilidade é um fenôme-no globalizado, reforçado pela re-alização da Rio+20, a hora é essa. Senão vejamos: temos uma ma-triz energética das mais limpas do mundo, em que quase metade da energia produzida vem de fontes renováveis. Nossa biodiversidade é riquíssima: possuímos 15% das espécies conhecidas pela ciência e 30% das florestas tropicais. Nossa área florestal, a segunda mais ex-tensa do planeta, corresponde a 60% do território e inclui a maior área de floresta tropical do mun-do. O Brasil detém cerca de 12% da disponibilidade de água super-ficial do planeta e é dono do maior estoque de carbono armazenado na biomassa florestal. O desafio do desenvolvimento sustentável é enorme, mas o Brasil, com certeza, pode, sim, superá-lo.

O presidente da CNI, Robson Braga de andrade, alerta que, apesar dos avanços concretos da indústria no campo da sustentabilidade, ainda há muito por fazer em relação às polí ticas tributária e de incentivos para que a adoção de novas práticas sustentáveis resulte efetivamente em ganhos de eficiência e competitividade.

Houve muitos avanços. a indústria não é a vilã da preservação ambiental

Países que são nossos concorrentes diretos no mercado internacional já adotam nas suas políticas industriais o apoio à sustentabilidade

O desafio do desenvolvimento sustentável é enorme, mas o Brasil, com certeza, pode, sim, superá-lo

No Encontro da Indústria para a Sustentabilidade foi divulgado do-cumento inédito que, pela primeira vez, dimensiona o valor econômi-co da biodiversidade para o setor de negócios no Brasil e identifi-ca oportunidades de práticas sus-tentáveis, assim como os custos da conservação e da degradação do meio ambiente. O valor da biodi-versidade no planeta é estimado em US$ 33 trilhões por ano, valor dez vezes maior do que a quan-tia gasta por governos, indústrias e ONGs em proteção ambiental. Os custos de sua conservação no Bra-sil são estimados em US$ 36 bi-lhões anuais, 12% do valor da bio-diversidade no mundo.

O Brasil é o país com maior biodiversidade terrestre, tendo en-tre 15% e 20% dos 1,5 milhão de espécies descritas na Terra. Suas

florestas contribuem com serviços no valor de US$ 4,7 trilhões anu-ais, como ciclagem de nutrien-tes, provisão de matérias primas, regulação do clima e controle de erosão. Ciclagem de nutrientes é o serviço ecossistêmico de maior valor: US$ 17 trilhões do total de US$ 33 trilhões.

O TEEB, sigla em inglês de A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade, é a primeira ex-periência metodológica para atri-buir valor econômico aos recur-sos naturais, ativos denominados de capital natural. A partir des-se relatório, o Brasil vai criar um novo Sistema de Contas Nacio-nais e começar a regular a inser-ção dos ecossistemas na cadeia produtiva dos setores industriais e nas suas decisões de investi-mento. A ideia é que, uma vez va-

lorizado e negociável economica-mente, o capital natural passe a ser objeto de ações de preserva-ção e investimento por parte das empresas.

A iniciativa brasileira de ela-borar o estudo, que quantifica o valor da biodiversidade, é co-ordenada pela ONG Conserva-ção Internacional (CI-Brasil), em parceria com a CNI, o Centro de Monitoramento da Conserva-ção Mundial (UNEP-WCMC) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Tem o apoio das empresas Mon-santo, Petrobras, Vale e Natura.

ativo lucrativoPavan Sukhdev, líder do TEEB

global e consultor da ONU para a economia verde, quantificou o valor deste capital: “É o maior

ativo em desenvolvimento. São US$ 5 trilhões em serviços am-bientais, nas diferentes áreas e setores da economia envolvi-dos com biodiversidade e ecos-sistemas”, disse. O secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambien-te, Roberto Cavalcanti, informou que o MMA está trabalhando na incorporação de valores de ser-viços de ecossistemas e de biodi-versidade nas contas do gover-no. “O TEEB nos dará subsídios para criar um novo Sistema de Contas Nacionais”, afirmou.

A diretora de Relações Insti-tucionais da CNI, Mônica Mes-senberg, ressaltou que a com-preensão do valor econômico da biodiversidade é o primei-ro passo para uma política de conservação e uso sustentável.

Já o diretor-executivo da Con-servação Internacional, Andre Guimarães, lembrou que o Bra-sil cresceu 34% de 1990 a 2010, mas “se descontarmos o custo ambiental, o crescimento é de apenas 3%”.

Guimarães destacou a impor-tância de analisar o impacto do solo degradado no aumento da produção de alimento – 40% en-tre 2006 e 2012 – e alertou para o problema dos oceanos: “Se con-tinuar a degradação nos termos atuais, em 2050 acaba a pesca comercial”, advertiu. Outro aler-ta do presidente da Conservação Internacional: 42% dos remédios para câncer são advindos de re-cursos da biodiversidade.“Não conhecemos todos os recursos e eles já estão sendo excluídos”, assinalou.

O preço da biodiversidade Novo Sistema de Contas atribuirá valor aos recursos naturais, permitindo mensurar custos de conservação e degradação do meio ambiente

Eduardo Uzal/Infoglobo

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Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade Quinta-feira, 21 de junho de 2012 l 3

Indústria brasileira sela pacto pela sustentabilidade

Mobilização inédita da CNI em 16 setores da indústria aponta que a sustentabilidade já faz parte da agenda estratégica das empresas

No mesmo dia em que o Con-selho Empresarial para o Desen-volvimento Sustentável (CEB-DS), o Global Reporting Initiative (GRI) e o World Business Coun-cil for Sustainable Development (WBCSD) pediram ao secretário--geral da ONU, Ban Ki-moon, que endossasse a recomendação das três entidades de tornar obri-gatória a publicação de relatórios de sustentabilidade pelas em-presas, a Confederação Nacio-nal da Indústria (CNI) divulgou, no Encontro da Indústria para Sus-tentabilidade, o documento que mostra a redução do impacto da indústria brasileira no meio am-biente nos últimos 20 anos.

O documento lançado no dia 14, no Hotel Sofitel, em Copa-cabana, para plateia de mais de 800 representantes da indústria, expressa o esforço inédito da in-dústria nacional de informar à sociedade o seu desempenho sustentável. “Sabemos que o ce-nário internacional não favorece saltos institucionais significati-vos. No entanto, aperfeiçoamen-tos são fundamentais e devem ter como eixo a criação de incentivos e a remoção de obstáculos para a adoção de novos padrões de pro-dução e consumo”, ressaltou no encontro o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

O documento apresentado pela CNI alinha os avanços na conservação do meio ambiente de 16 setores da indústria, res-ponsáveis por 90% do PIB in-dustrial.

agenda estratégica

Segundo o presidente da CNI, que representa 27 federações de indústrias nos estados e no Dis-trito Federal, mais de mil sindi-catos patronais associados e 196 mil estabelecimentos industriais, o desenvolvimento nacional vem impondo um nível de cres-cimento da produção e do con-sumo que responda aos objetivos de distribuição de renda, prioritá-rios, sem que sejam comprome-tidos os recursos ambientais e os ecossistemas sensíveis.

A sustentabilidade passou a fazer parte da agenda estratégica das empresas, conforme mostra pesquisa da CNI com 60 CEOs de diversos segmentos indus-triais. “Hoje, as indústrias brasi-leiras não tratam da sustentabili-dade como manifestação de boas intenções. Elas incorporam seus princípios nos planos de negó-cios”, sustentou Andrade.

Lembrou que o Brasil conta, hoje, com quase metade da ofer-ta energética oriunda de fontes

renováveis no mundo; 15% do número de espécies conhecidas pela ciência e a segunda maior extensão de florestas do planeta, o maior estoque de carbono ar-mazenado na biomassa florestal e cerca de 12% da disponibilida-de de água superficial do planeta.

Principais impactos

Os principais impactos, desde a Eco-92, ocorreram na redução das emissões de gases de efeito estufa graças à reciclagem, uso de insumos renováveis e reaproveita-mento da água.

Andrade anunciou, ainda, o compromisso da CNI de divulgar os avanços da indústria em susten-tabilidade a cada quatro anos e pro-pôs ao governo desonerações tribu-tárias para a produção que preserve o meio ambiente.

A ministra do Meio Ambien-te destacou como fundamental a atuação da indústria na agenda da sustentabilidade. “Estamos saindo do idealismo para o pragmatismo, numa nova fase de diálogo entre in-dústria, governo e sociedade”, disse ela, acrescentando que o desenvol-vimento de novas práticas no setor industrial reduziu custos, aumentou a renda e gerou empregos.

O ministro das Relações Exte-riores, Antônio Patriota, ressaltou a

participação da CNI na elaboração de documento inédito do governo brasileiro, submetido à ONU, sobre o valor e os custos dos ecossistemas e da biodiversidade. “Sem a parti-cipação da indústria, nenhum país é capaz de implementar uma nova agenda na Rio+20”, enfatizou.

Também participaram da aber-tura do encontro o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), chefe da delegação do Congresso Nacional para a Rio+20, o ministro do Tri-bunal de Contas da União (TCU) Aroldo Cedraz, o presidente da Fe-deração das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, o presiden-te da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e o vice-prefeito do Rio de Ja-neiro, Carlos Alberto Muniz.

Na primeira mesa do dia, Opor-tunidades e Desafios para Susten-tabilidade Empresarial em Países Emergentes -, a ex-primeira minis-tra da Noruega, Gro Herlen Brun-dtland, defendeu a importância da parceria entre o setor público e privado para o desenvolvimento da cultura de sustentabilidade no país. Na parte da tarde, mais três sessões de discussões: Inovação e Pesquisa Tecnológica para Sustenta-bilidade, Uso Sustentável dos Recur-sos Naturais e Crescimento Susten-tável com Inclusão Social.

Sem a participação

da indústria, nenhum

país é capaz de

implementar uma nova

agenda na Rio+20Antônio Patriota

estamos numa nova

fase de diálogo entre

indústria, governo e

sociedadeIzabella Teixeira

Hoje, as indústrias

brasileiras não tratam

da sustentabilidade

como manifestação de

boas intençõesRobson Braga de Andrade

Encontro da Indústria para a Sustentabilidade reuniu, no Rio de Janeiro, 800 representantes da indústria. Durante o evento foi divulgado documento sobre iniciativas do setor produtivo brasileiro para promoção do desenvolvimento sustentável

Gro Harlem Brundtland é política, diplomata, médica e líder internacional em desenvolvimento sustentável e saúde pública. ex-primeira-ministra da Noruega, presidiu a Comissão para o Meio ambiente da ONU e, depois, publicou o relatório O Nosso Futuro Comum, quando ‘criou’ o conceito de desenvolvimento sustentável.

“O desenvolvimento sustentável dá resultados”

Quais foram os principais avanços no desenvolvimento sustentável nes-tes 20 anos?

Houve mudança considerável no uso de energia, nos padrões de eficiência energética. As coisas es-tão acontecendo, ainda que lenta-mente.

Qual o aspecto mais importante para se criar uma cultura de susten-tabilidade?

Em todo o mundo é crescente o ganho de capital. Como na épo-ca da Eco-92, há 20 anos atrás, a união entre o setor público e o pri-vado é crucial.

Como a crise econômica mundial pode afetar a questão da sustentabi-lidade?

Os países, principalmente os de-senvolvidos, não devem abrir mão da sustentabilidade em meio à crise econômica porque, a longo prazo, os investimentos nessa área trarão muitos retornos.

Quais os resultados da prática da sustentabilidade?

O desenvolvimento sustentável dá resultados. A pobreza no mundo diminuiu, as pessoas hoje têm mais acesso à energia, à comida, ao bem--estar, mas ainda falta muito.

O que podemos esperar em ter-mos de governança global para o de-senvolvimento da sustentabilidade?

Deve-se estabelecer o diálo-go e a troca de experiências de aprendizado entre os diversos se-tores das indústrias. É a única for-ma de conseguirmos um resulta-do melhor para a sociedade.

O que ainda pode e deve ser feito?Se pudermos economizar ain-

da mais energia e reduzir ainda mais o desperdício, teremos sub-sídios reduzidos, o que pode gerar investimentos sociais constantes. Nenhum país quer continuar de-gradando o meio ambiente.

Como o Brasil se enquadra na economia verde?

A desaceleração do desmata-mento da Amazônia está mui-to melhor agora do que quando estive aqui em 1985. Eu achava uma estupidez os ambientalis-tas virem dizer o que fazer com a Amazônia. Cubatão, um dos ca-sos mais graves de poluição in-dustrial, hoje é um exemplo de como as coisas mudam.

Eduardo Uzal/Infoglobo

Eduardo Uzal/Infoglobo

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Quinta-feira, 21 de junho de 2012 l 5Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade4 l Quinta-feira, 21 de junho de 2012 Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez levantamento inédito junto a 16 associações setoriais para mapear iniciativas das empresas na direção do desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, identificar expectativas e

desafios envolvidos na transição para a economia ver-de. O resultado detalhado desse trabalho foi reunido em um documento, apresentado durante o Encontro da Indústria para a Sustentabilidade.

As informações reunidas a partir do levantamento surpreenderam: a indústria registrou avanços enor-mes na adoção de práticas sustentáveis nos últimos 20 anos (desde a ECO 92). “A expectativa é de que o documento contribua para desfazer a percepção equi-vocada de que nada vem sendo feito ou de que a in-dústria é a grande vilã do meio ambiente”, observou a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg. O que fica evidente, segundo ela, é que hoje a indústria é parceira da sustentabilidade, con-siderando os pilares social, econômico, ambiental e cultural.

O avanço foi generalizado, em particular no que diz respeito à utilização de fontes de energia reno-váveis e alternativas. Como consequência, o que se verifica é uma redução das emissões de CO². Em ou-tra frente, houve integração de diferentes setores para gestão e aproveitamento dos resíduos industriais; e, por fim, ocorreu a adoção de novas técnicas de com-pensação e manejo florestal para redução dos impac-tos da atividade industrial na biodiversidade.

Mais competitividade

O levantamento apontou, ainda, que existe en-tendimento por parte da indústria de que a econo-mia de energia e a racionalização de água são fatores importantes no ganho de competitividade, uma vez que estes recursos têm impacto direto nos custos e na eficiência da produção.

Outro aspecto que merece destaque é o aumen-to dos investimentos da indústria em inovação, es-pecialmente para desenvolvimento de equipamentos e produtos menos poluentes e com mais eficiência energética.

Automotivo A prioridade são motores mais eficientes, de menor consumo e emissões, bem como o uso de combustíveis alternativos. O setor fez inovações, expandiu o uso de etanol em veículos, motocicletas e aviões. Um carro fabricado hoje emite 28 vezes menos poluentes do que o produzido 30 anos atrás. Reduziu em 30% a quantidade de água utilizada para produção de um veículo (de 5,5 m³ para 3,92 m³).

Alumínio Tem um dos mais elevados índices de reciclagem. É campeão há dez anos consecutivos na reciclagem de latas para bebidas, e a proporção de sucata de alumínio recuperada é superior a 36%, contra 28% da média mundial. O alumínio do país é “verde” em sua origem, com matriz energética limpa e renovável. O metal oferece reciclabilidade absoluta.

A Lafarge, empresa da área de cimento, é referência no uso de resíduos industriais, como pneus e óleos, para produção de energia. A substituição gradual de sua fonte de energia vem reduzindo a emissão de CO². Em relação a 1990, a queda nas emissões foi de 22%. Em 2011, em parceria com a WWF, anunciou meta para chegar a 33% até 2020.

A Siemens desenvolveu portfólio de soluções com a marca d’água de sustentabilidade, que hoje responde por mais de 40% das vendas.

A Iso-Block fez da sustentabilidade um negócio. Desenvolveu uma técnica para o aproveitamento de resíduos industriais na construção. Os blocos feitos pela empresa são resistentes, mais leves e ambientalmente corretos.

A ALPEX se destaca no segmento de logística reversa no Brasil. Dentro do setor de alumínio, a reciclagem é de quase 100%. As empresas que exploram a bauxita, matéria-prima do alumínio, fazem o replantio de mudas nativas.

A Vale considera as ações de sustentabilidade como vantagens competitivas por reduzirem custos de combustível e água. A empresa desenvolveu um combustível próprio, à base de óleo de dendê, e faz beneficiamento de minério a seco, com praticamente consumo zero de água.

A Pepsico desenvolveu um programa para reutilização das caixas de papelão usadas para a entrega de salgadinhos e mais de 200 agricultores participam de iniciativa que ensina técnicas de racionalização de água no plantio de batatas.

A Klabin, da área de papel e celulose, mantém parceria com 19 mil proprietários que cultivam 15 mil hectares de florestas. A madeira que a empresa adquire deles totaliza 10% do total consumido pelo grupo. Em 2012, esse volume deverá alcançar 20%.

Indústria brasileirafaz a sua parte

Investimentos feitos nos últimos 20 anos elevaram a indústria brasileira a novo patamar de sustentabilidade no cenário mundial

Celulose e papel Mantém 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas para fins industriais e 2,9 milhões de hectares de áreas preservadas. A cada hectare de floresta com finalidades produtivas preserva-se entre 0,7 a 1 hectare de ambiente natural. Dos 5,1 milhões de hectares de florestas, 2,7 milhões são certificados por instituições de reconhecimento internacional (FSC e PEFC).

Cimento A indústria brasileira do setor é amais ecoeficiente do mundo. De 1990 a 2002, a produção aumentou 50%. A emissão de CO² variou apenas 38%, resultante da redução das emissões, que caíram 8%. Levantamento do Cement Sustainability Intiative (CSI) em mais de 900 unidades fabris de 46 grupos industriais do mundo identificou o Brasil como o de menor emissão específica de CO².

Aço Uso do carvão a partir de florestas plantadas, com certificações, faz com que as emissões de CO² sejam compensadas pela fotossíntese. Cerca de 11% da produção brasileira é obtida a partir do uso do carvão vegetal de origem renovável como redutor em substituição ao coque. As empresas estão buscando projetos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) para gerar crédito de carbono.

Eletro-EletrônicaOferece cada vez mais serviços e produtos que demandam menos energia e consumo de água, a exemplo de sistemas de automação predial, geladeiras mais econômicas, que consomem menos energia, computadores e sistemas de TI utilizados em praticamente todas as áreas da chamada economia verde.

Máquinas e equipamentos Desenvolve o projeto Carbono Zero, que busca promover novo modelo de gestão a ser adotado pelas empresas para diminuir a emissão de CO². A estimativa da Abimaq é de que 90% das empresas adotam políticas para reduzir o impacto ambiental de suas atividades, a exemplo da produção de máquinas ecoeficientes. É pouco intensivo no consumo de energia.

AlimentaçãoDos 198 projetos de crédito de carbono, 85 são ligados à cadeia de alimentação. Até 2020 terão retirado da atmosfera ou evitado a emissão de 34,8 milhões de toneladas de CO². Em 2011, 43% dos projetos de crédito de carbono envolveram o setor industrial. Nada menos do que 95% da sua matriz energética é renovável; 75% da energia consumida vem do bagaço de cana-de-açúcar.

Mineração Reciclagem e o reaproveitamento de água chegam a 90% na exploração de ferro, ouro, bauxita e carvão mineral. Outros minérios têm índice igual ou superior a 50%. Construção de hidrelétricas próprias, utilização de painéis solares e biomassa são tendência no setor. Nas ações para preservação da biodiversidade, em 2010, foram mantidos 1,1 mil hectares de área protegida, houve 7 mil hectares de revegetação e se criaram 5 milhões de viveiros de mudas.

Têxtil e confecção Lançou o selo Algodão Responsável Brasileiro (ABR) para premiar quem investe em práticas sustentáveis. Investe em iniciativas de certificação e autoregulamentação, a exemplo do Selo QUAL. Usa novas técnicas de estamparia, sem vaporização e processos de lavagens. Neutraliza e trata efluentes. Elabora projetos de coleta e reciclagem de sobras de confecção.

QuímicaManteve a estabilidade das emissões de CO² entre 2001 e 2010. O crescimento das emissões de processos químicos foi inferior ao da produção na última década. Reduziu em 60% a intensidade de efluentes. Desafio é a redução de resíduos, que acompanhou o aumento da produção. Vai investir US$ 3,3 bilhões em manutenção, melhorias de processo, segurança e troca de equipamentos.

Construção Firmou na Rio+20 compromisso de desenvolver indicadores nacionais e metas de redução dos efeitos das mudanças climáticas. Adota projetos ambientais que incluem a reciclagem de materiais e a redução de gases de efeito estufa, além do uso do Light Steel Framing, que substitui paredes comuns por estruturas de aço revestidas, reduzindo o consumo de cimento, brita e areia.

Florestas Nativas Indústria de manejo sustentável produz cerca de 26 milhões de m³ de toras para serrarias e laminação de folhosas, o que representa 11% do comércio mundial. Em 2010, produziu 16 milhões de m³ de serrados de folhosas ou 15% da produção mundial. Garante a produção contínua de madeira com conservação da biodiversidade da floresta.

Energia elétricaCerca de 70% da capacidade da produção nacional é composta por usinas hidrelétricas. Investiu na constituição de matriz energética renovável e sustentável, apoiada por boas práticas de gestão socioambiental. A matriz brasileira é 7,5 vezes mais limpa do que a mundial, porque a sua característica é de uso de fonte não fóssil.

Sucroenergético Usinas de açúcar e etanol usam o próprio bagaço da cana-de-açúcar para gerar energia. Nos canaviais, fertilizantes industrializados estão sendo substituídos por adubos minerais. Desenvolve sistema de certificação voluntário que estabelecerá padrões para práticas responsáveis na produção de açúcar e etanol (combustível limpo e renovável, que reduz as emissões de gases de efeito estufa em cerca de 90%.)

Petróleo e gásReduziu a geração de resíduos da produção de petróleo. O volume médio de derrames de petróleo e derivados para o meio ambiente é 20 vezes inferior à média mundial. Adotou medidas para diminuir as emissões de gases de efeito estufa inovando no processo de refino. Produção nacional de etanol e biodiesel hoje equivale a 27% da produção nacional de petróleo.

O Grupo Orsa possui um programa desde 2001 que incentiva produtores rurais a plantar eucalipto e pinus em áreas ociosas e degradadas de suas propriedades. São 16 mil hectares plantados.

A Votorantim Metais passou a reaproveitar rejeitos de sua mina em Morro Agudo, em São Paulo. Com o aprimoramento dos processos debeneficiamento de minério a empresa transformou o pó de calcárioindustrial em pó de calcário agrícola, usado para correção da acidez do solo em áreas de plantio de café, milho e soja.

A Samarco alcançou a marca de 90% de reuso de água nos seus processos industriais na unidade de Mariana (MG). Isso só é possível porque a mineradora utiliza equipamentos de alta tecnologia (espessadores) na produção.

A Lorenzetti desenvolveu um chuveiro híbrido, que é um aquecedor solar com um chuveiro elétrico no ponto de uso. Estudo elaborado pelo Centro Internacional de Referência em Reuso de Água revela que esse sistema de aquecimento de água é o mais econômico. Um banho de oito minutos custa, em média, R$ 0,27 no chuveiro híbrido, contra os R$ 0,59 dos aquecedores a gás e R$ 1,08 com boiler. O produto é utilizado no programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal.

A Anglo American, da área de mineração, apoia o programa Biodiversidade Vai à Escola em Barro Alto e Niquelância (GO), desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A iniciativa inédita estabelece a capacitação científica de professores para ensinar sobre a riqueza da fauna e flora do Cerrado e a distribuição gratuita de material didático para as escolas da região.

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6 l Quinta-feira, 21 de junho de 2012 Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade

Uma nova lógicaempresarial

Pesquisa realizada com 60 dirigentes de empresas brasileiras aponta que práticas sustentáveis já são uma realidade e elevam a eficiência e a competitividade

A indústria mudou e o empresário brasileiro passou a enxergar a sustentabilidade como uma necessidade no mundo dos negócios. Pesquisa inédita da Confedera-ção Nacional da Indústria (CNI), feita com 60 executivos de grandes empresas do país, aponta que, para a maio-ria deles, ser sustentável tem impacto positivo na com-petividade. E, por outro lado, não aderir a essa postura, para 39%, coloca em risco a sobrevivência da empresa no mercado. Outros 18% temem imagem negativa da corporação.

“Hoje, o empresário tem noção clara de que a sua manutenção no médio e longo prazos no mercado só se dará de forma sustentável. Mas a velocidade com que isso vai se processar depende de estímulos à ino-vação”, afirmou a diretora de Rela-ções Institucionais da CNI, Monica Messenberg.

Inédita no Brasil, a pesquisa, feita pelo Instituto FSB neste ano, não só reforça os avanços registrados na in-dústria como demonstra a maturidade de algumas empresas em relação ao desenvolvimento sustentável. Algu-mas das corporações ouvidas já nasce-ram sob essa lógica, e muitos executi-

vos asseguram que projeto algum sai do papel ou recebe autorização de investimento se não tiver incorporado conceitos de sustentabilidade.

Entretanto, 70% dos entrevistados disseram que a sus-tentabilidade traz custos adicionais e, para 30%, essa é a principal barreira para a adoção de novas práticas. Na vi-são dos executivos, a redução de custos depende, funda-mentalmente, de ações em três frentes: políticas de ino-vação e de incentivo e mudança cultural, em especial no que diz respeito ao comportamento de consumo. Há con-senso de que o papel do governo é importantíssimo nes-se processo, em particular na criação de instrumentos for-mais que possam garantir condições de competitividade às empresas que abraçam a lógica da sustentabilidade.

O levantamento, inspirado em es-forço semelhante desenvolvido pela Global Compact, das Nações Unidas, em 2010, com 766 executivos de 10 pa-íses, aponta, ainda, haver convicção por parte da indústria de que a transição para uma economia sustentável é com-patível com os objetivos de crescimen-to econômico e melhoria das condições de competitividade. E que esse é o ca-minho para o futuro.

70% dizem que ser sustentável representa custo adicional para a empresa.

Geralmente, gera custos e reduz a rentabilidade no curto prazo, mas compensa em médio e longo prazo (Custo, nesse caso, deve ser visto como investimento em consultorias especializadas, P&D e inovação e capacitação e treinamento, entre outros)

93% consideram alto o impacto da sustentabilidade nas políticas de inovação

da empresa – como a procura por soluções de eficiência para o menor uso de recursos naturais e para o atendimento de demanda dos consumidores.

83% relacionam sustentabilidade à economia verde ou aos três pilares do conceito de

sustentabilidade (ambiental, econômico e social) – o que demonstra visão mais contemporânea e consciente em relação ao tema, em que já se superou a dicotomia crescimento econômico X preservação do meio ambiente.

76% acreditam que os investimentos em sustentabilidade vão crescer nos próximos

dois anos e 19% dizem que a tendência é a estabilidade, enquanto 4% crêem em redução.

86% das empresas concentram as ações de sustentabilidade no topo do organograma

– estão na presidência, diretoria ou vice-presidência.

65% das empresas têm áreas específicas para tratar de questões ligadas à

sustentabilidade.

86% das empresas ouvidas monitoram suas ações de sustentabilidade. Muitas utilizam

ferramentas sofisticadas – seja por sistemas próprios ou se submetem às regras rígidas de programas internacionais (como Global Reporting Initiative).

PRINcIPAIS RESulTAdoS dA PESquISA

Há certeza por parte da indústria de que a transição para uma economia sustentável é compatível com os objetivos de crescimento econômico

Fonte: Instituto FSB Pesquisa

PRóxImoS PASSoS Consulta a executivos e empresários buscou reunir conjunto de propostas comuns para desenvolvimento de ações futuras

Economia verde é aquela que resulta em melhoria do bem--estar humano e em mais igual-dade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamen-te os riscos ambientais e a es-cassez de recursos naturais. Tem algumas características prepon-derantes: é pouco intensiva em carbono, eficiente no uso de re-cursos naturais e socialmente inclusiva.

A ideia da economia verde ganhou força nos últimos anos e passou a ser um dos principais eixos de debate da Rio+20. Para os executivos entrevistados pela CNI, a economia verde, de forma simplificada, significa: produzir mais, para atender às demandas da humanidade, dos mercados emergentes, dos mais excluídos, com mais inteligência e menos impacto.

O equilíbrio e a harmonia apontados pela maioria apare-cem como indutores de justiça social e um reflexo da ética e in-tegridade nos negócios.

EcoNomIA VERdEMais inclusão social, menos impacto ambiental

SAIBA

MAIS

a pesquisa realizada pela CNI apontou que os desafios para os próximos 20 anos são tão grandes quanto os das duas últimas décadas. Nesse sentido, as principais conclusões da pesquisa apontam para ações do setor produtivo em três frentes: para dentro do próprio setor, no país e na esfera global.

Setor produtivo

l Promover a troca de experiências entre as empresas e o conjunto do setor produtivo, por meio da CNI e das associações setoriais;

l Criar centros de inovação setoriais, promover fóruns sobre sustentabilidade e qualificação do conceito de economia verde, superar o desafio da formação da mão-de-obra e da questão social;

l Mapear e relatar experiências bem-sucedidas de parcerias

do setor privado com ONGs e outras instituições da sociedade civil pode contribuir de forma importante para o fortalecimento e ampliação do diálogo entre os diversos segmentos industriais;

ações para o país

l É preciso construir políticas de incentivos e subsídios para a inovação e a sustentabilidade, o que inclui debate sobre compras sustentáveis por parte do governo e parcerias entre o Estado e a iniciativa privada;

da competitividade, de bons ambientes de negócios, de segurança social, jurídica, ambiental;

l Mobilizar incentivos e subsídios de inovação para a sustentabilidade, no nível global, com fundos específicos para a promoção da produção e consumo sustentáveis em países em desenvolvimento, bem como a transferência de tecnologias para esses países por parte dos países desenvolvidos;

l Avançar na criação de padrões mínimos globais de sustentabilidade, buscando evitar barreiras à importação de produtos intensivos no uso de recursos naturais e nas emissões de gases de efeito estufa.

l Mobilizar governo, sociedade e setor produtivo para a compreensão de que somente a inovação e a busca da eficiência vão criar um ambiente de negócios para produtos sustentáveis;

l É preciso avançar na definição de métricas com base em referências sólidas e confiáveis e na capacidade de avaliação e mensuração de impactos na área social.

governança internacional

l Fomentar fóruns e articulações do setor produtivo de diferentes setores e partes do mundo para troca de ideias e, principalmente, de visões e soluções para o desenvolvimento sustentável dentro da lógica

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Suplemento encontro da IndúStrIa para a SuStentabIlIdade Quinta-feira, 21 de junho de 2012 l 7

A indústria de cana-de-açú-car de São Paulo firmou, em 2007, o Protocolo Agro-ambiental do Setor Sucroalcooleiro Paulista, com o objetivo de antecipar para 2014 a data estipulada para o fim da queima da palha, 2021. Com isso, a colheita mecanizada de-verá alcançar 70% de toda a pro-dução já na safra de 2011/2012.

Bom para o meio ambien-te, pois consolida o etanol e

demais produtos como sus-tentáveis, e para a evolução tecnológica das empresas.

Mas o que fazer com milha-res de trabalhadores que têm no corte da cana o seu princi-pal meio de sustento? Para não deixá-los sem meios de sobre-vivência, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) desenvolveu amplo programa de requalificação profissional.

Maria Luiza Barbosa, geren-te de Responsabilidade Corpo-rativa da entidade, diz que os participantes não cortam mais cana, recebem salários, todos os benefícios e estudam.

O RenovAção já capacitou 4.550 trabalhadores rurais em 30 diferentes segmentos. Ao todo, as 140 usinas vinculadas à Única já requalificaram 22 mil trabalhadores.

Vida depois do corte de c anaFranklin L. Feder é o presidente para

a América Latina e Caribe da Alcoa Alu-mínio, gigante do setor. Mas nunca ti-nha administrado uma cidade. Pois foi o que teve de aprender depois dos investi-mentos de US$ 2 bilhões feitos pela Al-coa para extrair bauxita em Juruti, cidade de 45 mil habitantes na divisa entre Pará e Amazonas. O município fica a 12 horas de barco de Santarém e algumas de suas mais de 200 localidades só são acessíveis por barco. As reservas de bauxita – insu-mo do alumínio – são estimadas em 700 milhões de toneladas.

O povo de Juruti vivia da economia de subsistência. Nunca tinha visto de perto sequer uma autoridade pública, até a chegada da Alcoa e de seus 1.500 trabalhadores, em 2005. “Tivemos que aprender a ser ambientalmente e so-cialmente responsáveis. Sem isso, não conseguiríamos implantar a mina e muito menos integrá-la ao município”, afirmou o executivo.

Planejamento e capacitação

Os dirigentes da Alcoa tiveram que tomar decisões tradicionalmente de competência exclusiva de administra-dores públicos, para reduzir o impac-to de um empreendimento que incluiu a construção de um porto em pleno rio Amazonas e de uma ferrovia de 55 qui-lômetros para transportar o minério. Franklin Feder disse que a parceria com ONGs foi fundamental. A “adminis-tração” do município pela Alcoa incluiu desde a criação de Conselhos com parti-cipação de moradores para planejar o fu-turo da cidade, até Fundos cujos recursos são destinados a capacitar empreende-dores locais. A Fundação Getúlio Vargas foi contratada para, com a população, mensurar indicadores sociais de saúde, educação, etc.

Deu certo. A gigante do alumínio obteve 90% de aprovação da população local, segundo pesquisa do Ibope rea-lizada a cada dois ou três anos. “Mas o projeto será avaliado de fato pela nossa capacidade de devolver a área minera-da do mesmo jeito que encontramos”, assinalo Feder.

Aprovação popular

Desenvolvimento com cidadania Projetos e ações de empresas brasileiras evidenciam que é possível alinhar interesses organizacionais aos da sociedade

lixo com valor de mercadoA Camargo Corrêa se espe-

cializou em recolher e tratar o lixo dos canteiros, cozinhas e escritórios das grandes obras da empresa: restos de óleo, ba-terias, pneus, papéis, plásticos, madeiras e cinzas. A meta é pre-servar florestas e reduzir ga-ses de efeito estufa em 37% até 2020 e diminuir resíduos e cus-

tos da construtora. Ela lucra com o esforço de ser sustentável: o preço da sucata metálica, por exemplo, subiu de 60% a 80%, passando de 12 para 18 centavos o quilo. A troca das baterias de caminhões dá desconto na com-pra das novas.

A empresa administra cen-trais de triagem e composta-

gem de lixo e áreas especiais de armazenamento para coleta se-letiva, em parceria com prefei-turas locais e cooperativas de catadores. “Este ano, 47% dos resíduos serão destinados à re-ciclagem, 10% a mais do que em 2011”, adiantou o coorde-nador ambiental Ricardo Sam-paio Fernandes.

Como sobra lixo, a empresa criou a Bolsa de Resíduos online, por meio da qual encontrou inte-ressado em reciclar os 80 mil co-pinhos de plásticos usados pelos trabalhadores da Usina Hidre-létrica de Jirau, em Rondônia. O projeto deu tão certo que vai se expandir para as construções fora do país, na Argentina e no Peru.

Esperança que nunca seca Só chove durante três meses na região

do semiárido nordestino, onde vivem 22 milhões de pessoas. O resto é estio e es-perança da volta da chuva. Claudia Pires, gerente Sênior de Sustentabilidade e pre-sidente do Instituto PepsiCo, apostou no projeto da ASA – Articulação do Semi-árido, que constrói cisternas. “A empre-sa resolveu investir R$ 3,5 milhões em projetos de levar água para três milhões

de pessoas que vivem na região”, disse Claudia.

O projeto de construção de cisternas de água para beber é transformador. “Mui-tas mulheres voltam a estudar, porque dei-xam de caminhar 10 quilômetros com lata de água na cabeça”, revelou. Noventa por cento das cisternas têm nome de mulher.

No sertão da Bahia, a 150 quilômetros de Feira de Santana, não chove há 19 meses. O

que impressiona Claudia: as pessoas nunca deixam de sorrir, de confiar que a chuva vai voltar a cair. Outro projeto, em uma locali-dade a 220 quilômetros de Recife (PE), ca-pital pernambucana, já resultou na constru-ção de 450 cisternas de água potável. “Elas têm, cada uma, 18 mil litros. As famílias ge-renciam a água de tal maneira que uma cis-terna garante que cinco pessoas de uma fa-mília bebam água o ano inteiro”, diz.

Em vinte anos, de vilão a mocinho

A produção mundial de ci-mento, produto listado como um dos grandes poluidores do planeta, aumentou em 170% desde 1992. Mas a indústria brasileira não veste a carapu-ça de poluidora. Está no topo da lista dos países de melhor performance energética e am-biental e de maior potencial de redução de CO², de acordo com análise da Agência Inter-nacional de Energia.

A emissão total de CO² pelo Brasil é de 1,4%, índi-ce abaixo da média mun-dial. Quase todo o cimento no país é hoje produzido por via seca, em fornos equipados com pré-aquecedores e calci-nadores.

Menos poluentes Seus fabricantes passaram

também a adicionar outros resíduos menos poluentes. O uso de combustíveis alterna-tivos representa hoje 9% da matriz energética do setor.

O consumo aumentou de 40 milhões de toneladas para 65 milhões de toneladas ao ano entre 2006 e 2011. A ca-pacidade instalada dos 13 fa-bricantes passou de 63 mi-lhões anuais para 78 milhões. “A demanda elevou a expec-tativa para mais 33 milhões de toneladas por ano até 2016”, informou José Antônio Car-valho, presidente do Sindica-to Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).

coordenação de Produção: Link Comunicação IntegradaEdição: Cláudia BensimonSubeditor: Maurício SchelederReportagem: Henrique Brandão, Márcia gomes e Rosane de SouzaProdução: Bia PinillaFotografia: eduardo Uzal/Infoglobo, Fred Jordão e Divulgaçãodesenho: João Carlos guedes

Apoio editorial: FSB ComunicaçõesSupervisão Geral: Carlos alberto Barreiros, Diretor de Comunicação da Confederação Nacional da Indústria

a responsabilidade pela apuração das informações deste suplemento é da Link Comunicação Integrada

Divulgação

Fred Jordão/Divulgação

Com a mecanização da colheita, ex-cortadores de cana estão sendo qualificados para exercer outras atividades profissionais, como a de soldador

Projeto de implantação de cisternas no semiárido nordestino garante abastecimento de água para três milhões de moradores da região