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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ERGONOMIA
ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA
O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO
RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE PINTURA NA INDUSTRIA PESADA
Recife-PE 2015
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ERGONOMIA
ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA
O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO
RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE PINTURA NA INDUSTRIA PESADA
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Ergonomia da Universidade Federal de Pernambuco, para obteno do ttulo de Mestre em Ergonomia. Orientador: Prof. Walter Franklin M. Correia
Recife-PE 2015
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Catalogao na fonte
Bibliotecrio Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204
O48d Oliveira, Rogrio Luiz Mota de
O desempenho da ergonomia na anlise de custos humanos em atividades de alto risco: o caso do hidrojatista em linhas de pintura na indstria pesada / Rogrio Luiz Mota de Oliveira. Recife: O Autor, 2015.
123 f.: il., fig.
Orientador: Walter Franklin Marques Correia.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Artes e Comunicao. Design, 2015.
Inclui referncias.
1. Ergonomia. 2. Avaliao de riscos. 3. Indstria. 4. Pintura. I. Correia, Walter Franklin Marques (Orientador). II. Ttulo.
745.2 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2015-104)
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESIGN
PARECER DA COMISSO EXAMINADORA
DE DEFESA DE DISSERTAO DO MESTRADO PROFISSIONAL DE
ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA
"O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE
PINTURA NA INDUSTRIA NAVAL."
rea de Concentrao: Ergonomia e Usabilidade de Produtos, Sistemas e Produo.
A comisso examinadora, composta pelos professores abaixo, sob presidncia primeiro, considera o(a) candidato(a) ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA_______________________.
Recife, 26 de fevereiro de 2015
PROF. DR.: WALTER FRANKLIN MARQUES CORREIA
PROF. DR.: FBIO FERREIRA DA COSTA CAMPOS
PROF. DR.: NEY BRITO DANTAS
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AGRADECIMENTOS
A Deus e Nossa Senhora que com sua infinita sabedoria guiou-me pelas veredas da incerteza, fazendo-me acreditar que com Eles tudo posso e tudo alcano. Aos meus pais, Joo Belarmino e Neide Mota pelo amor, dedicao e apoio em toda minha existncia, alm do exemplo de trabalho que comigo permanece. A meus Irmos Andr, Rafael e Gil. Aos meus filhos Matheus Mota e Ceclia Mota, pelos quais busco ser melhor, deixo meu exemplo de dedicao e amor ao estudo e ao trabalho, sempre com tica e respeito a vida humana. A Minha esposa Joelma Correia, e ao pequeno Gabriel Correia pela presena nesta nova fase de minha vida. Aos coordenadores do PPERG professores Dr. Marcelo Soares e Dra. Laura Bezerra Martins, por acreditar ser possvel a criao deste programa. Ao mestre, amigo e professor orientador Dr. Walter Franklin M. Correia, pelo apoio e estmulo a realizao deste estudo. Meu eterno agradecimento. Aos funcionrios e professores do PPERG, pelo empenho e dedicao na transmisso de seus saberes. Aos colegas de turma, atores protagonistas do 1 Mestrado Profissional de Ergonomia do Brasil. Aos gestores e funcionrios da indstria pesquisada pela irrestrita colaborao e acolhimento quando do desenvolvimento do estudo de campo. Por fim, a todos aqui no mencionados que direta ou indiretamente participaram de mais uma etapa do meu caminho profissional.
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RESUMO
O reaquecimento da indstria naval traz em seu lastro uma srie de benefcios, entre
eles, o incremento social com o aumento da oferta de postos de trabalhos, que absorve
uma mo-de-obra de cerca de 60.000 colaboradores, desse contingente 70% so
trabalhadores especializados em diversas funes, entre elas, encontra-se o
hidrojatista que desenvolve a atividade de limpeza, reparo, preparao de estruturas
utilizando equipamento especial que injeta gua pressurizada que ultrapassa 2.000
kgf/cm. O processo de hidrojateamento uma atividade que requer ateno e muito
cuidado com o executante. Neste sentido o estudo buscou analisar os custos humanos
nos postos operacionais do hidrojatista em uma linha de pintura industrial naval. A
metodologia adotada utilizou diversos instrumentos, como a Anlise Ergonmica do
Trabalho, observao direta com registros fotogrficos, e aplicao de questionrios
aos colaboradores, com base no modelo Corlett, OWAS, Nrdico e a metodologia de
interveno ergonomizadora de Moraes e MontAlvo. Como resultados foram
identificados no posto de trabalho do hidrojatista, presena efetiva de agentes
ambientais prejudiciais a sade, segurana e conforto humano, como o excesso de
rudo e sobrecarga trmica, poeiras e nvoas, e deficincia de iluminao, problemas
interfaciais, posturais e de segurana operacional no manejo dos equipamentos
aplicados, por fim foram relacionadas algumas recomendaes ergonmicas visando a
melhoria da qualidade da atividade de hidrojateamento.
Palavras-chave:. Hidrojateamento, Ergonomia, Anlise de riscos
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ABSTRACT
The recovery of the shipping industry brings in its ballast a number of benefits ,
including the social increase with increasing supply of workstations , which absorbs a
skilled workforce of approximately 60,000 employees, 70 % of the quota are workers
specialize in various functions , among them is the hidrojatista developing the
cleaning activity , repair, preparation of structures using special equipment that injects
pressurized water that exceeds 2,000 kgf / cm . The water jetting process is an
activity that requires attention and great care with the performer . In this sense the
study investigates the human costs in hidrojatista operational posts in a line of naval
industrial painting . The methodology used various tools, such as ergonomic work
analysis , direct observation with photographic records , and a questionnaire to
employees, based on the model and the Corlett, OWAS, Nordico ergonomizadora
intervention methodology Moraes and Mont'Alvo . The results were identified in
hidrojatista the job , effective presence of harmful environmental health officers ,
security and human comfort , such as excessive noise and thermal overload , dusts
and mists, and lighting deficiency, interfacial problems , postural and security
operating in the management of the applied equipment , finally were related some
ergonomic recommendations aimed at improving the quality of water jetting activity.
Key words: Hydrojetting , Ergonomics , Risk Analysis .
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SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................... 12 1.1 Justificativa ........................................................................................................... 15 1.2 Objetivos ............................................................................................................... 18
1.2.1. Objetivo Geral: ........................................................................................ 18 1.2.2. Objetivos Especficos ................................................................................ 18
1.3 Metodologia e Estrutura da Pesquisa ..................................................................... 18 2 REFERENCIAL TERICO .............................................................................................. 21
2.1 Aspectos relacionados a Segurana do Trabalho e Ergonomia ............................... 21 2.1.1. Aspectos da Segurana no gerenciamento de riscos .................................. 22 2.1.2 Acidentes do trabalho e doenas ocupacionais .......................................... 25 2.1.3 A Atuao da Ergonomia: Conceituao ................................................... 28 2.1.4 AET Anlise Ergonomica do Trabalho sob o ponto de vista do
SHTM ............................................................................................................ 31 2.1.5 Instrumentos de anlise ............................................................................ 34
2.2 Atividade de Hidrojatemento ................................................................................. 37 2.2.1 Qualificao tcnica do hidrojatista .......................................................... 40 2.2.2 Funes do hidrojatista ............................................................................. 40 2.2.3 Atividades desenvolvidas no hidrojateamento ............................................ 40
2.4 Fatores Humanos e Fatores Organizacionais dos Postos de Trabalho ..................... 42 2.4.1 Jornada de trabalho .................................................................................. 43 2.4.2 Trabalho em turnos e noturno.................................................................... 44 2.4.3 Motivao ................................................................................................. 45 2.4.4 Estresse ocupacional ................................................................................. 45 2.4.5 Monotonia e repetitividade ........................................................................ 46 2.5 Aspectos Fsicos dos Postos de Trabalho ...................................................... 47 2.5.1 Layout industrial ....................................................................................... 48 2.5.2 Aerodispersides e substncias qumicas ................................................... 48 2.5.3 Ambientes confinados ................................................................................ 49 2.5.4 Iluminao ................................................................................................ 50 2.5.5 Rudo ......................................................................................................... 51
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2.5.6 Temperatura .............................................................................................. 52 2.5.7 Umidade .................................................................................................... 53 2.5.8 Vibrao.................................................................................................... 53 2.5.9 Programa de preveno de riscos ambientais ............................................ 54 2.5.10 Programa de controle mdico de sade ocupacional e o Programa
de proteo respiratria ................................................................................ 55 2.5.11 Custos Humanos do Trabalho .................................................................. 56
3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 58 3.1 Apreciao ergonmica do sistema humano-tarefa-mquina .................................. 59 3.2 Diagnose ergonmica do sistema humano-tarefa-mquina ..................................... 59
4 PESQUISA DE CAMPO ................................................................................................... 62 4.1 Apreciao ergonmica do posto de trabalho do hidrojatista .................................. 62
4.1.1 Localizao ............................................................................................... 62 4.1.2 Estrutura fsica .......................................................................................... 63 4.1.3 Poltica de qualidade, segurana, meio ambiente e sade .......................... 63 4.1.4 Estrutura organizacional da empresa ........................................................ 64 4.1.5 Programa de preveno de riscos ambientais ............................................ 65 4.1.7 Programa de controle mdico e sade ocupacional ................................... 69 4.1.6 Programas de meio ambiente .................................................................... 70
4.2 Apreciao ergonmica do posto de trabalho do Hidrojatista ................................. 71 4.2.1 Etapas da produo ................................................................................... 71 4.2.2 Descrio dos equipamentos e materiais ................................................... 73 4.2.3 Capacidade produtiva ............................................................................... 74 4.2.3 Ordenao hierrquica do sistema ............................................................ 78 4.2.4 Trabalho prescrito ..................................................................................... 78
4.3 Fluxograma Ao-Deciso..................................................................................... 79 4.4 Anlise da Pesquisa de Campo .............................................................................. 80
4.4.1 Problemas Interfaciais............................................................................... 80 4.4.2 Problemas fsico-ambientais ...................................................................... 82 4.4.3 Problemas Acidentrios ............................................................................. 83 4.4.4 Problemas Acionais ................................................................................... 84 4.4.5 Problemas Biolgicos ................................................................................ 85 4.4.6 Problemas Espaciais Arquiteturais ............................................................ 86
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4.5 Prognsticos assistemticos da atividade ............................................................... 86 4.6 Sugestes Preliminares de Melhoria ...................................................................... 87 4.7 Diagnose ergonmica do posto de trabalho do Hidrojatista .................................... 87 4.9 Anlise da Situao de Acordo com a NR 17 ......................................................... 89
5 DISCUSSO .................................................................................................................. 107 6 CONCLUSO ................................................................................................................ 113
6.1 Principais achados ............................................................................................... 113 6.2 Dificuldades encontradas ..................................................................................... 114 6.3 Consideraes finais ............................................................................................ 115 6.4 Sugestes para trabalhos futuros .......................................................................... 116
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 118 7.1 Websites .............................................................................................................. 118 7.2 Textuais ............................................................................................................... 118
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CAPTULO 1
INTRODUO
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1 INTRODUO
Segundo dados da Petrobras (2014), haver um investimento da ordem de
mais de US$ 100 bilhes na indstria naval brasileira entre 2012 e 2020, dobrando a
produo de petrleo at o ano citado. Somando-se as demandas, para o perodo sero
mais de 200 navios e barcos de apoio, dos quais 60 j esto em construo e 26 j
foram entregues. Alm disso, ainda sero construdas 40 plataformas de produo,
que contribuiro para elevar a produo de petrleo at 2020. Esse reaquecimento
da indstria naval vem alavancando diversos outros segmentos da indstria, como:
mquinas, equipamentos pesados, caldeiraria, eltrica, automao, funilaria, e outros.
Conforme afirmado pela Presidente do Brasil na Exame (2014): "Tenho
orgulho de termos reconstrudo a indstria naval. Mudamos radicalmente a poltica de
compra para escolher produo local", afirmou durante cerimnia de viagem
inaugural do navio petroleiro Drago do Mar e batismo do navio Henrique Dias, no
Estaleiro Atlntico Sul, em Ipojuca (PE) (Revista Exame, 2014).
No ramo da industrial naval brasileira, percebe-se um ritmo acelerado de
recuperao aps mais de trinta anos sem grande movimentao, a estagnao do
setor ocorre desde os anos de 1970, naquele perodo alcanou o 2 lugar no ranking
mundial em construo naval. Uma das razes para o soerguimento do setor pode ser
sinalizada com a expanso da explorao de petrleo e gs, na costa brasileira, e a
vontade poltica em modernizar e incrementar a indstria naval.
Segundo organizaes do setor, a frota brasileira composta por 397
embarcaes, entre navios de cabotagem, longo percurso e, navegao interior, no
entanto, com o novo cenrio econmico existe uma defasagem de quase 600
embarcaes para atender ao setor petroqumico nacional e internacional.
Atualmente existem 48 estaleiros prontos no territrio nacional, dos quais 18
estaleiros so para construo de plataformas off-shore, e foram construdos a partir
de 2005, e 30 so para navios-sonda contratados, e mais 11 estaleiros encontram-se
em construo. A fim de viabilizar a construo naval, o Fundo da Marinha Mercante
(rgo do Ministrio da Marinha) vem investindo financeiramente em ordem
crescente desde 2001, poca o valor foi de 305 milhes de reais, ao longo dos anos
esses valores foram sendo incrementados, de forma que, o investimento em 2011
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alcanou dois bilhes, cento e treze milhes de reais (SINAVAL, 2012).
O setor absorve uma mo-de-obra de cerca de 60.000 colaboradores, dos quais
10% so engenheiros, 10% so tcnicos, 70% so trabalhadores especializados, 5%
so gestores, 5% relativos a outros. Para atender esse grande grupo, o Ministrio do
Trabalho e Emprego publicou em 20 de janeiro de 2011, uma nova Norma
Regulamentadora, a NR 34 Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria
da Construo e Reparao Naval, que estabelece os requisitos mnimos e as medidas
de proteo segurana, sade e ao meio ambiente de trabalho nas atividades da
indstria de construo e reparao naval.
Segundo Arajo (2013), com os mais de 300 navios em produo, com uma
quantidade de quase 60 mil empregos gerados, alm de, como visto acima, uma
indstria em ascenso acelerada, depois de mais de 20 anos falida, vem para ser um
importante brao da indstria nacional, como fora em seu pico nos anos 60 80. Essa
retomada pode ser resultado principalmente devido a descoberta do Pr-Sal (com
mritos ao Brasil, quando os olhos do mundo voltam-se para ele). Abaixo tem-se
um grfico (figura 1) demonstrando o crescimento e oscilao do setor nas ltimas
dcadas.
Figura 1 - Viso Geral da construo Naval no Brasil
Fonte: Arajo (2013)
Entre as funes que atuam no setor, encontra-se o hidrojatista referido na NR
34 (BRASIL, 2011), no item 34.8 - Trabalhos de Jateamento e Hidrojateamento, que
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em 11 itens aborda aes de segurana para o desenvolvimento da atividade. Vale
ressaltar que o primeiro item destaca a importncia da capacitao do colaborador, o
que significa que essa atividade de risco para a segurana e sade de quem a
executa, uma vez que ultrapassa os 2.000 kg/cm, de presso dos jatos dgua. Durante
a realizao do processo de hidrojato a gua em alta presso inserida em uma
mangueira fabricada em material especial (em borracha sinttica resistente gua a
alta presso,com reforo em tramas de ao de alta tenacidade e cobertura de borracha
sinttica resistente a intempries, oznio e abraso), por onde se desloca at um bico
localizado na sua extremidade. As caractersticas do servio vo determinar o tipo de
bico a ser utilizado, preferencialmente em relao forma, dimenso e ao seu peso.
Outro risco que merece destaque o de acidente, preocupao maior da
Norma Regulamentadora, principalmente em espaos confinados. De acordo com
Kulcsar Neto e Garcia (2010, p. 13) estatsticas apontam que no Brasil, os trabalhos
no interior de espaos confinados representam 36% das mortes por tentativa de
resgate feita por trabalhadores bem intencionados, porm, sem preparo. um
percentual muito elevado o que explica a imprescindibilidade da elaborao da NR 33
(BRASIL, 2006).
Figura 2 - Viso Geral da construo Naval no Brasil
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Fonte: Adaptado de Mascarenhas (2013)
Conforme pode ser visto na figura anterior (figura 2), acerca da principais
regies no Brasil com produo de navios (com estaleiros), e apontado por
Mascarenhas (2013) a construo naval no Brasil passou, e ainda vem passando, nos
ltimos dez anos, por um grande e acelerado processo de renascimento. Vale lembrar
que a mais de 20 anos que o Brasil no recebia uma encomenda de navios de grande
porte. Conquistar novos clientes uma demanda permanente para os setor.
Os espaos confinados so identificados como: caldeiras, tanques, poos,
transportadores, silos, tubulaes, torres, colunas de destilao, caixas de passagem,
fornos, moinhos, secadores, prensas, dutos de ventilao, entre outros (SILVA, 2009).
Outras normas regulamentadoras tambm contemplam o desempenho da
funo de hidrojateamento, e a fim de conhecer os riscos e os mtodos que
minimizam os impactos danosos importante verificar se esto sendo aplicadas na
indstria de construo naval, ferramentas e tcnicas de anlises ergonmicas, em
consonncia com a NR 17 Ergonomia (BRASIL, 1978), assim como a existncia de
um programa estruturado de gerenciamento dos riscos ambientais em seus processos
construtivos e de hidrojateamento.
A proteo ao hidrojatista encontrada ainda na NR 15 Atividades e
Operaes em Ambientes Insalubres e NR 06 - Equipamentos de Proteo Individual
(BRASIL, 1978).
1.1 Justificativa
Os custos humanos so referidos por Alves Jnior (2005) como aqueles que
esto presentes nos nveis fsico, cognitivo e emocional, e que apresentam tanto
resultado positivo, quando o colaborador se defronta com desafios no trabalho, como
tambm resultado negativo, quando h ocorrncia de obstculos no trabalho.
Este cenrio validou a realizao de um estudo, que se props a identificar as
no conformidades, analisando cada risco ergonmico encontrado e o impacto
causado na segurana e sade do colaborador, atendendo aos parmetros das Normas
Regulamentadoras; a investigao buscou ainda conferir, atravs de consulta direta se
todos receberam treinamentos, alm de conferir se existem procedimentos escritos e
esses so conhecidos pelos colaboradores; como tambm, conhecer as queixas de
desconforto relativas a execuo do trabalho dos hidrojatistas.
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Observa-se que so quatro normas regulamentadoras que podem ser
relacionadas s atividades de hidrojateamento, o que assegura considerar que
mltiplos so os riscos na execuo dessa ocupao, pois, segundo o Cdigo Nacional
de Atividades Econmicas (CNAE) identificado como 351 Construo e Reparao
de Embarcaes e a atividade referida como 35114 Construo e Reparao de
Embarcaes e Estruturas Flutuantes, o grau de risco 3.
A classificao de grau 3 permite considerar que vrios so os riscos da
atividade de hidrojatemento, sendo difcil eleger qual(is) /so mais nocivo(s), se a
manipulao do equipamento; se o espao confinado; se a exposio a poeiras e
fumos; se a postura do hidrojatista por um perodo prolongado; entre outros.
Esta atividade vem crescendo no somente por demanda, mas sobretudo, pela
especificidade do tipo de trabalho. A participao mundial do Brasil no mercado de
construo naval ainda muito pequena (como pode ser observado na figura 3 a
seguir), porm, as exigncias so imensas.
Figura 3 Porcentagem da participao do Brasil na construo naval
Fonte: Adaptado de Mascarenhas (2013)
Segundo Cabral (2008), o grande objetivo das empresas brasileiras alcanar
o mercado internacional, alcanando as grandes potencias em termos de qualificao
de seus produtos. certo, conforme ainda o autor explica, a longo prazo, a criao de
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uma demanda apenas interna, e gerada por poucas empresas, no se mantm sozinha.
Ser apenas subsistncia, por isso a necessidade de internacionalizar o mercado atual.
claro que razes para tal atratividade no iro faltar dentro do mercado que est
despontando (novamente). A nvel mundial o setor naval fatura mais de US$ 130
bilhes por ano, passando por um momento de extremo aquecimento por conta das
demandas de aproximadamente 4 mil novos navios, sem contar outras embarcaes,
plataformas, etc.
Segundo apontado por Rodrigues (2002), o histrico de ocorrncias de
acidentes com leses graves representa uma curva crescente na atividade de
hidrojateamento no somente no Brasil, tendo como um dos fatores mais destacados a
utilizao de presses de jato d'gua cada vez maiores, para maior eficincia e rapidez
do trabalho. O autor aponta ainda que os valores chegam a ultrapassar os 2.000
kg/cm2, para finalidades bastante diversificadas, sendo esta presso capaz de cortar
at pedras mais resistentes. Alm disso, a rea afetada pelo trabalho de alguns
hidrojateamento, forma uma neblina que torna o trabalho ainda mais desgastante,
conforme pode ser observado na figura 4 a seguir.
Figura 4 Imagem do hidrojatista em atuao
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18
1.2 Objetivos
1.2.1. Objetivo Geral:
Realizar uma avaliao do desempenho da ergonomia quando no uso e anlise
de custos humanos: fsicos, cognitivos e emocionais, em atividades de alto risco,
utilizando-se para tanto um estudo de caso junto a atividade de hidrojatista em linhas
de pintura no setor de construo de navios de grande porte.
1.2.2. Objetivos Especficos
Atravs da aplicao de ferramentas e instrumentos de anlise ergonmica,
mapear, qualificar e quantificar os custos humanos fsicos, cognitivos e
organizacionais;
Aplicar simultaneamente cinco instrumentos de anlise ergonmica,
buscando fechar o nexo tcnico das queixas e constrangimentos
ergonmicos presentes na atividade de hidrojateamento.
Identificao e descrio do fluxograma e dos procedimentos existentes e
conhecimento de todos os macro processos da organizao;
Anlise prtica das disfunes ergonmicas presentes no sistema humano-
tarefa-mquina (SHTM);
Identificao do nvel de conhecimento sobre os riscos das atividades, os
procedimentos executados, os produtos manuseados, as normas utilizadas,
seus conhecimentos sobre segurana, cursos e treinamentos realizados;
Comparao das medies quantitativas descriminadas no Programa de
Preveno de Riscos Ambientais PPRA, com os parmetros
estabelecidos na NR 15;
1.3 Metodologia e Estrutura da Pesquisa
Segundo Selltiz (1974), os passos que sero seguidos no decorrer do projeto
representaro sua metodologia, devendo representar as tcnicas que sero utilizadas
para a coleta e anlise dos dados (entrevistas, testes, tcnicas, elaborao de tabelas,
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descrio, etc.). Deve-se evidenciar que os objetivos delimitam que caminho percorrer
dentro de uma metodologia slida e coesa.
A metodologia composta de diversas partes que procuram descrever no
somente o locus da pesquisa, mas os sujeitos, o objeto de estudo, os mtodos e as
tcnicas, que muitas vezes esto descritas como procedimentos da pesquisa.
Sendo assim, e conforme ainda observado por Selltiz (1974), esta dissertao
abordar o desenvolvimento baseado em uma pesquisa: (i) aplicada, pois visa
gerao de conhecimentos para aplicao prtica, e (ii) Exploratria/descritiva porque
no se encontram informaes produzidas cientificamente que atendam as
necessidades da pesquisa nesta etapa e porque objetiva conhecer e descrever os
objetos de um mercado especfico assim como entender o seu comportamento dentro
desse mbito.
Durante seu desenvolvimento, o uso de tcnicas especficas das reas de
segurana do trabalho, avaliaes qualitativas, e de ergonomia industrial esto sendo
fundamentais e estruturais para seu pleno desenvolvimento. Assim sendo, as etapas do
ponto de vista de metodologia perfaro, de maneira sucinta:
Levantamento bibliogrfico;
Reviso crtica dos principais mtodos e normas vigentes;
Apreciao para o aplicao da metodologia de AET, atravs de
anlise exploratria;
Testes comparativos de tcnicas de anlise do trabalho;
Concluses finais e possveis recomendaes;
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CAPTULO 2
REFERENCIAL TERICO
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21
2 REFERENCIAL TERICO
Nesta etapa da pesquisa, sero apresentados os principais conceitos a serem
trabalhados na dissertao, objetivando o pleno atendimento ao que se destina como
trabalho de cunho acadmico profissional.
2.1 Aspectos relacionados a Segurana do Trabalho e Ergonomia
Conforme Rodrigues (1999) existem diversas medidas de competitividade no
nvel empresarial, porm, em nenhum momento citado a segurana e a sade do
trabalhador em prol desta competitividade. Os aspectos, segundo a autora, vo desde a
participao de mercado em exportaes, onde o principal significado e o da
porcentagem que uma organizao possui do volume global de bens ou servios, at
mesmo proximidade com os consumidores, onde explorado o relacionamento mais
prximo com estes para que suas necessidades sejam atendidas.
A organizao dos processos laborais fundamental para diminuir o risco de
desenvolvimento de doenas ocupacionais e, nesse contexto, a Ergonomia representa
uma ferramenta ideal para identificar os riscos ambientais que podem estar presentes
nos postos de trabalho, enquanto que a Engenharia de Segurana do Trabalho tem
como carro chefe a preveno, antecipao e controle dos riscos potenciais de
acidentes e leses em colaboradores. Neste sentido, o Engenheiro especializado na
rea utiliza diversos mtodos de controle e programas de preveno desenvolvidos
para assegurar a sade e segurana dos trabalhadores.
Sua atuao na empresa, junto com outros profissionais e a Comisso Interna
de Preveno de Acidentes (CIPA), referida pelo Cdigo Brasileiro de Ocupaes
(CBO 0-28.40) com as seguintes atribuies: [...] estudar, planejar e programar a
organizao dos processos de produo e as operaes comerciais e administrativas
e assessora no que diz respeito aos mtodos utilizados para estes fins; planejar,
orientar e interpretar os estudos de tempos e movimentos; desenvolver mtodos para
a avaliao do trabalho fabril; assessorar no que concerne s medidas a serem
adotadas para a segurana do trabalho; organizar e implantar mtodos de controle
de qualidade. (BRASIL, 2013, p. 1).
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Atravs da anlise do ambiente laboral aliada a observao do colaborador, em
sua atividade, possvel detectar as falhas existentes na conduta e formular medidas
que visem a melhoria do ambiente e a sade e segurana do trabalhador.
E nesse sentido, a Ergonomia busca apresentar propostas e solues a fim de
trazer melhorias para o setor laboral, centrada no ser humano, para o design de
sistemas de trabalho onde considera relevante a prevalncia dos fatores fsicos,
cognitivos, sociais, organizacionais e ambientais.
Os riscos ergonmicos so observados em relao a sade e segurana do
trabalho, como: postura inadequada, situao de estresse, jornada de trabalho
prolongada, monotonia e repetitividade, imposio de rotina intensa, entre outros.
O fato que a competitividade est sendo levada to enfaticamente como uma
maneira de interagir no mercado, que deixa de lado aspectos primordiais ligados a
segurana do trabalhador na indstria e nas organizaes. Na opinio de Zocchio
(2000) tem-se que h muito no Brasil fala-se sobre a real necessidade de uma
atividade integrada na rea da segurana e sade no trabalho, porm no se teve o
retorno de que tanto se espera. Para que haja uma integrao eficiente nos moldes que
se espera tem que se ir muito mais alm do que a simples atuao conjunta e
harmoniosa das atividades de medicina do trabalho e da engenharia de segurana do
trabalho. necessrio que se precisa de uma ao conjunta de todos dentro de uma
organizao, especialmente por que o fator competitividade afeta no s um nvel,
como o estratgico, mas todos os nveis dentro das organizaes, e
independentemente de sua rea ou tamanho.
Ainda segundo o mesmo autor, quando da utilizao de uma poltica muito
bem definida e gerenciada, possvel manter estvel a operacionalidade de todas as
atividades prevencionistas. Os dados estatsticos que possui o Brasil em relao aos
aspectos de acidentes, segurana e problemas dentro da indstria ainda so muito
tmidos, porm significativamente alarmantes se relacionados a outros pases como
Estados Unidos e Japo, e muitos pases da Europa.
2.1.1. Aspectos da Segurana no gerenciamento de riscos
Para Hilson (2006) o gerenciamento de riscos vem desenvolvendo-se nos
ltimos anos para uma disciplina cientfica mais aceita com uma linguagem, tcnica e
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ferramentas prprias. O valor de uma abordagem bem definida e estruturada de
maneira formal e em prol do trabalhador, da organizao e da sociedade para
gerenciamento de incertezas foi largamente reconhecida e muitas empresas j
procuram introduzir processos para o controle de riscos visando obter benefcios
atravs de tais prticas.
De acordo com Otway e Amendola (1990) percebe-se que at meados da
dcada de 70 a questo de segurana na indstria de uma forma geral era tratada
unicamente no mbito empresarial, sem maiores influncias externas, como do
governo e/ou da sociedade. A partir desta poca, a produo teve uma nfase
exacerbada e muitas vezes alguns aspectos de segurana eram negligenciados,
aumentando com isso os riscos e a incidncia de acidentes de trabalho. Ainda segundo
os autores, e no obstante, data desta poca que os acidentes de maior repercusso at
aquele momento comeavam a ser vistos no mundo inteiro.
Nos dias atuais, o imenso desenvolvimento tecnolgico seguido da acirrada
competitividade econmica fazem o homem conviver com vrios tipos de risco e
perdas. Perdas que podem ser de carter humano, material ou para o meio ambiente e
sociedade de uma maneira geral. O risco faz parte do cotidiano do ser-humano, desde
os primrdios, estimulando a todos a conhec-lo, desafi-lo e super-lo. De certa
forma o risco vem sofrendo mutaes com o decorrer da histria, mesmo datando das
pocas mais longnquas (para maiores detalhes verificar em Wynne, 1987) e com o
passar do tempo e desenvolvimento das condies de vida, os riscos foram adquirindo
novas e diferentes formas.
Conforme Morgado (2000), os aspectos ligados a segurana do trabalho
normalmente apontam para uma direo onde o entendimento acerca dos riscos dentro
da atividade laboral pea-chave para a plena e completa compreenso das situaes
em que incorram algum tipo de perigo aos trabalhadores. Sabe-se que acidentes
acontecem, porm, o potencial destes tem crescido gradativamente com o
desenvolvimento tecnolgico, e com eles, os riscos tambm aumentam. Neste
contexto, necessria uma manuteno rigorosa sobre os sistemas de avaliao e
gerenciamento destes riscos de forma a se reduzir as probabilidades de acidentes e a
minimizar-se suas consequncias.
O gerenciamento de riscos deve ser percebido em um mbito maior, onde faz-
se necessria uma mudana no conceito de segurana em si, seja no aspecto da
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preveno e planejamento como no de ao e implementao. Na interpretao de
Fisher (1991) antigamente observava-se a segurana do trabalho como uma via nica
de preveno, sendo apenas um meio de minimizar os acidentes com leso e perda de
tempo, estando os agentes responsveis por toda a segurana dentro das organizaes,
em sua maioria, centralizados em um nico rgo que tinha a funo de prevenir, ou
pelo menos, minimizar os acidentes dentro de seus ambientes de trabalho. Por mais
competncia que existisse a equipe nesse formato no podia estar em todos os lugares
ao mesmo tempo e o tempo todo fazendo preveno.
A diminuio das taxas de acidentes (sobretudo com afastamento) era vista
como uma meta a ser cumprida exaustivamente, conduzindo a uma omisso daqueles
acidentes com alto potencial de perdas, pois muitas vezes estes eram negligenciados e
no analisados em busca de suas causas raiz, pois no chegavam a causar acidentes
propriamente dito. As aes voltadas ao gerenciamento de riscos visam buscar todas
as causas principais de todo e qualquer acidente que possa acontecer ou que
porventura j tenha ocorrido. A nfase voltada no relato de todos os acidentes que
causem ou que possuam o potencial de causar algum tipo de dano ou leso. Dentro
desta viso, a preveno toma uma conotao onde a segurana passa a ser parte
integrante de cada posto de trabalho por meio de seus responsveis e pela equipe de
profissionais que conhecem os procedimentos operacionais, de manuteno, etc.
Na opinio de Melo, Gueiros e Morgado (2002) a grande importncia que
permeia o entendimento de situaes e mesmo a prpria condio de riscos reside no
que as leis e normas no mbito nacional trazem acerca do chamado Grave e Iminente
Risco (GIR). No Brasil, a legislao do trabalho define o que GIR atravs da Norma
Regulamentadora n 3 (NR 03): Considera-se grave e iminente risco toda condio
ambiental de trabalho que possa causar acidente do trabalho ou doena profissional
com leso grave integridade fsica do trabalhador. As medidas legais cabveis
estendem-se a interdio de estabelecimentos, de setores, de maquinrio,
ferramentrio e de equipamentos, ou mesmo o embargo quando em situaes de obra.
Diversos autores como Martini Junior (1999), Arajo, Lima Filho, Adissi e
Moreira Junior (2001), entre outros, deixam claro a real necessidade de se ter um
pleno e absoluto controle sobre todos os aspectos que envolvem a segurana do
trabalho, sobretudo no que diz respeito aos riscos, e neste aspecto, a anlise de riscos
e perigos preenche adequadamente esta lacuna.
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Sob este aspecto em particular, tentar-se- utilizar para anlise neste trabalho,
a metodologia proposta por Correia (2007) para rea de segurana, para fins de
comparao com os resultado obtidos pela metodologia tradicional de Anamaria de
Moraes e MontAlvo (2010). Mais adiante esta ser tratada com enfoque particular.
2.1.2 Acidentes do trabalho e doenas ocupacionais
O Ministrio da Previdncia Social com base na Lei 8.213, de 24 de julho de
1991, em seu Art. 19, refere que acidente do trabalho : [...] o que ocorre pelo
exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho,
provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte, ou a perda
ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho (BRASIL,
2012, p. 1).
Esse instrumento legal destaca ainda sobre a incidncia do acidente do
trabalho salientando que o evento ocorre em trs hipteses quando ocorre leso
corporal; ou perturbao funcional; ou mesmo resulta em doena ocupacional.
A doena ocupacional registrada pelo exerccio do trabalho peculiar a
determinada atividade e constante da relao elaborada pelo Ministrio do Trabalho e
da Previdncia Social; no mesmo sentido, caracteriza-se a doena do trabalho, sendo
que est desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho
realizado e com ele se relacione diretamente (BRASIL, 2012).
Deste modo a ocorrncia de leses ocupacionais, afeta a sade fsica e mental
do trabalhador, reduzindo sensivelmente sua capacidade funcional, interferindo
diretamente na produtividade e na qualidade de vida do trabalhador (SAAD et al.,
2006).
Em sendo assim o risco desses eventos so profundamente estudados em razo
de seus resultados crticos na vida e segurana do trabalhador, incluindo neste
cenrio, a possibilidade de bitos.
De acordo com Saad et al. (2006) conhecer a proporo e gravidade em que
ocorrem os acidentes importante, pois mostra a dimenso desses acontecimentos.
Esses autores concordam com a literatura e destacam ainda que incidentes com perda
material so indicadores da probabilidade do risco de acidentes, e que os gestores
devem estar atentos a ocorrncia desses fatos, uma vez que esta situao geralmente
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resulta em acidentes com danos sade do trabalhador. Portanto, as aes
desempenhadas para impedir que ocorram incidentes e acidentes, deveriam estar
voltadas correo e/ou preveno desses eventos.
Neste mesmo sentido, Moraes (2009) alerta que incidente do trabalho quase
um acidente j que houve um risco e uma exposio, assim, o controle de incidentes
com alto potencial de perda ou acidentes para a sade do colaborador, poderia ser
mais efetivo, pois, o que hoje um incidente amanh poder ser um acidente.
A displicncia em relao a ocorrncia de incidentes no deve ser admitida,
em razo do agravo decorrente da situao, como destacado pela literatura.
Os dados apresentados pelo Anurio Brasileiro de Proteo de 2011 no so
nada comparados com a realidade, j que desde 2000 o Brasil um dos 70 pases que
no enviam seus registros de acidentes para a OIT (Organizao Internacional do
Trabalho), de acordo com o prprio anurio Brasileiro de Proteo (MORAES,
2009, p. 41).
De acordo com o Anurio Brasileiro de Proteo 2011 (REVISTA
PROTEO, 2011) a maior incidncia de acidentes do trabalho est na fundio,
setor naval, aeroespacial e automotivo, com a estatstica de 11% de todos os acidentes
de trabalho notificados de todos os ramos. Os dados disponibilizados pelos rgos
oficiais no retratam a realidade de acidentes de trabalho no Brasil, isto acontece
porque nem todos os casos so notificados pela Comunicao de Acidentes de
Trabalho (CAT), do Ministrio do Trabalho. Alm disso, os trabalhadores
terceirizados e os autnomos no esto includos nas estatsticas.
A Agncia Nacional de Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis (ANP)
registrou 375 incidentes de segurana operacional, uma alta de 40% em relao ao
ano de 2009. Esse avano atribudo principalmente maior rigidez da fiscalizao e
ao aumento das atividades ligadas ao petrleo no pas, que ainda no conta com um
plano nacional de contingncia de segurana. Antes de 1999, segundo Cirilo Jnior
(2011), as empresas seguiam critrios prprios para classificar um acidente e
comunic-lo agncia reguladora, como resultado do total de acidentes registrados
em 2010, atravs do encaminhamento da Comunicao de Acidente do Trabalho
CAT, 10% tiveram mortos ou feridos com gravidade; foram constatadas trs mortes
em plataformas em operao.
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A Agncia classifica como incidente qualquer evento indesejado que tenha
colocado em risco os trabalhadores ou o ambiente, e ainda, que um acidente
resultado do alinhamento de falhas operacionais, decises gerenciais inadequadas e
barreiras de segurana degradadas, que passam a ser denominados fatores causais,
quando do estabelecimento de um processo investigativo para determinar a sequncia
de eventos que culminaram com a concretizao de um dano (JUNIOR, 2011, p. 1).
De acordo com Domingues e Macedo (2012) foram registrados 1.608
acidentes em plataformas da Bacia de Campos, em 2011, o que d uma mdia de
quatro por dia. Em 2010 foram comunicados 1.145 acidentes, ou seja em 2011 houve
um acrscimo de 40% em relao ao ano anterior. Essas autoras apresentam ainda,
que a maior parte dos acidentes ocorridos ano passado (75%) envolveu as empresas
privadas, enquanto a Petrobras respondeu por 23% dos registros um total de 371
Comunicao de Acidentes de Trabalho (CATs) seguida pela Transpetro, com 2%,
(31 CATs). Do total de comunicaes, 178 geraram afastamento do trabalho: 60 na
Petrobras, 8 na Transpetro e 110 nas demais empresas (DOMINGUES; MACEDO,
2012, p. 1).
A Petrobrs, em 2011, registrou 262 acidentes de trabalho com afastamento. A
empresa atribuiu o nmero elevado s mudanas no sistema de notificaes a partir
de 2010, quando passaram a incluir incidentes considerados corriqueiros, mas que
geram afastamento do trabalho
O Sindicato dos Petroleiros de Alagoas e Sergipe (Sindipetro AL/SE) recebeu,
at agosto de 2012, cinquenta e trs Comunicaes de Acidentes de Trabalho (CATs)
notificadas pelas empresas terceirizadas. O Sindicato adverte que os nmeros so
maiores, pois as empresas na maioria dos casos no emite CAT, esconde os
acidentes (SINDIPETRO AL/SE, 2012, p. 1).
Especialistas apontam alguns fatores que contribuem para um nmero elevado
de acidentes de trabalho, tais como ritmo acelerado, presso da chefia, pssimas
condies de trabalho.
Segundo o Sindipetro AL/SE (2012) as condies de trabalho colaboraram
para a morte de 3 funcionrios terceirizados da Petrobrs no perodo de 45 dias.
De acordo com a Central nica dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUTRJ)
o nmero de bitos impressiona, pois a estatstica refere que de 1995 at 2010, foram
registradas 283 mortes por acidentes de trabalho no Sistema Petrobrs, das quais 228
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com trabalhadores terceirizados. A FUP e seus sindicatos tm denunciado as situaes
de riscos a que so expostos constantemente os petroleiros, em consequncia de
decises gerenciais que sempre priorizam o lucro e a produo, em detrimento da
segurana (CUTRJ, 2010, p. 1).
Pelas referncias obtidas na literatura a Bacia de Campos recordista no
histrico de bitos de trabalhadores, como destacado nos estudos de Flvia
Domingues e Rosayne Macedo, de que desde 1998, j foram registradas 119 mortes
em plataformas da regio, cinco delas em 2011. A maioria das vtimas (85) era de
empresas que prestavam servios terceirizados Petrobras e 44 eram funcionrios da
companhia. Segundo a Federao nica dos Petroleiros (FUP), a categoria j chorou
a morte de mais de 300 colegas de trabalho 37 deles em 16 de agosto de 1984, na
plataforma de Enchova, na Bacia de Campos fora incontveis mutilaes e
adoecimentos (DOMINGUES; MACEDO, 2012, p. 2).
Observa-se que a populao que mais tem sido referida em acidentes do
trabalho o pessoal terceirizado, a justificativa de que o crescimento do setor
petrolfero no pas, as empresas passaram a terceirizar mais atividades para cumprir os
cronogramas, e isto prejudica a capacitao e contribui para gerar acidentes, as
empresas contratam terceirizados sem nenhuma experincia, aumentando o risco de
acidentes.
A indstria naval est distribuda nas regies Norte, Nordeste, Sudeste e Sul
do Brasil, e hoje, emprega cerca de 60 mil trabalhadores, assim urge que se tenha uma
poltica de proteo a segurana e sade desses colaboradores.
Para tanto, deve-se valer dos Programas de proteo a sade e segurana do
trabalho e o atendimento as determinaes das Normas Regulamentadoras (NRs)
2.1.3 A Atuao da Ergonomia: Conceituao
A Associao Brasileira de Ergonomia ABERGO (2012) define que o termo
Ergonomia originado do idioma grego Ergon, ou seja, trabalho e Nomos (que
significa normas, regras, leis). Deste modo pode-se dizer que a disciplina cientfica
Ergonomia refere sobre normas para o trabalho humano.
Neste sentido Dul e Weerdmeester (2004) destacam a Ergonomia como uma
disciplina cientfica aplicada ao projeto de mquinas, equipamentos, sistemas e
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tarefas, com o objetivo de melhorar a segurana, sade, conforto e eficincia no
trabalho.
A definio da Ergonomics Research Society que a ergonomia se refere ao
estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e
particularmente a aplicao dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na
soluo surgida neste relacionamento (COUTO, 2007, p. 12).
Diante dos conceitos expostos observa-se que autoridades em Ergonomia
desenham a disciplina como o estudo da relao entre o homem e seus espaos, meios
e mtodos de trabalho.
Atravs das definies entende-se que a ergonomia o conjunto de
conhecimentos do homem em atividade, o que leva idealizao de dispositivos que
possam ser utilizados com o mximo de eficincia, conforto e segurana.
Para Dul e Weerdmeester (2004, p. 37) muitos princpios de postura e
movimentos derivam-se de conhecimentos das reas da biomecnica, fisiologia e
antropometria.
Neste mesmo sentido a Ergonomics Research Society (apud IIDA, 2009, p.
284) define que Ergonomia o estudo do relacionamento entre o homem e o seu
trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicao dos conhecimentos
de anatomia, fisiologia e psicologia na soluo desse relacionamento.
A fim de clarificar essa definio Marques (2009) declara que a Ergonomia
preocupa-se primeiramente com os aspectos fisiolgicos do projeto do trabalho, isto ,
o corpo humano e como este se ajusta ao ambiente.
Ao considerar todas essas definies encontra-se em Vidal (2001, p. 23) a
sntese de que a ergonomia rene conhecimentos relativos ao homem e necessrios
concepo de instrumentos, mquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o
mximo de conforto, segurana e eficincia ao trabalhador.
Sendo assim, conclui-se que o papel principal da Ergonomia adequar na
melhor forma as variveis homem, mquina, instrumentos, ambiente a atividade a ser
executada respeitando as limitaes humanas visando garantir a integridade fsica e
psicolgica, o bem estar do trabalhador, satisfao e eficincia do processo.
E ainda esse autor complementa analisando a influncia que exerce no
trabalho, ao afirmar que [...] a ergonomia trata desses assuntos cientificamente, tendo
acumulado conhecimentos e metodologias para intervir, tanto durante o projeto como
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durante a operao de sistemas produtivos, com razovel certeza de produzir
resultados satisfatrios. (IIDA, 2009, p. 65).
De maneira geral, os domnios de especializao da Ergonomia so
classificados pela ABERGO (2007), como:
Ergonomia Fsica, com as caractersticas da anatomia humana,
antropometria, fisiologia e biomecnica e suas funes na atividade fsica;
Ergonomia Cognitiva, que tem como assunto a movimentao operatria
das capacidades mentais do ser humano em situaes de trabalho; e
Ergonomia Organizacional, que trata de aspectos relacionados melhoria
dos sistemas de trabalho e produo, estruturas organizacionais, processos
e politicas administrativas.
Geralmente dentro das organizaes as tomadas de decises so feitas com
base em dados quantitativos, relacionados ao custo e beneficio. Sendo assim qualquer
investimento s realizado se os custos forem menores que os benefcios que ele
trar. Na aplicao da Ergonomia, dentro de uma organizao, os benefcios podem
muitas vezes superar os custos, mas, para que isso ocorra fundamental o
envolvimento de todos os colaboradores e gestores, e ainda, que seja realizada com
seriedade.
A relao custo-benefcio de forma melhor identificada e quantificada
quando se compara os custos organizacionais e os benefcios que a Ergonomia pode
proporcionar.
Dentre os custos financeiro e material encontram-se, entre outros, os custos
das mquinas, equipamentos, treinamento de funcionrios, mudanas de layout,
adaptaes estruturais, novos exames mdicos especficos etc.
Por outro lado os benefcios so representados pelos bens e servios
produzidos. No caso de uma mudana proposta na produo, devem ser estimados os
aumentos de produtividade e de qualidade, a reduo dos desperdcios, as economias
de energia, mo de obra, manuteno, e assim por diante. Existem outros benefcios
de mais difcil mensurao, como reduo das faltas de trabalhadores devido a
acidentes e doenas ocupacionais. Finalmente, existem os benficos chamados de
intangveis, que no podem ser calculados objetivamente, mas apenas estimados,
mas nem por isso menos importantes, como a satisfao do trabalhador, o conforto, a
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reduo da rotatividade e o aumento da motivao e do moral dos trabalhadores
(IIDA, 2009, p. 106).
No entendimento de Arajo (2002) Ergonomia a cincia que estuda a
adaptao do trabalho ao ser humano, procurando adequar as condies de trabalho s
suas limitaes.
Pode-se considerar que um sistema que contemple homem-mquina deve ser
bem estruturado de modo a alcanar o resultado esperado. E para isto, Iida (2009, p.
106) destaca que para o projeto de um sistema envolvendo homens e mquinas,
caber ao projetista decidir que tipos de funo sero alocados s mquinas e quais as
que ficaro a cargo do operador humano.
Em sntese, pode-se considerar a afirmao de Moraes e MontAlvo (2010, p.
13) de que o objetivo da Ergonomia otimizar o desempenho dos sistemas e
melhorar tanto a eficincia humana quanto a do sistema, a partir da modificao da
interface entre o operador e os equipamentos.
Dentro deste contexto, a Ergonomia se responsabiliza em avaliar e estudar os
aspectos que envolvem as interaes do sistema humano-tarefa-mquina para assim,
aplicar os conceitos nela estudada com a ideia de minimizar os efeitos nocivos ao
homem dentro da atividade e, como resultado aperfeioar toda a cadeia do processo.
2.1.4 AET Anlise Ergonomica do Trabalho sob o ponto de vista do SHTM
Homem e mquina podem se combinar para formar um sistema, desde que
utilizem suas respectivas qualidades, ao privilegiar a relao do ser humano com
utenslios, equipamentos, mquinas e ambientes. Deste modo, segundo Moraes e
MontAlvo (2010, p. 34), quando a comunicao homem-mquina passou a
privilegiar a cognio em vez da percepo, os antigos modelos foram revistos e
atualizado, uma vez que, as mquinas no controlam sozinhas o processo.
Diante desse panorama possvel compreender que se faz necessria a
interao do homem com a mquina, no intuito de agir e interpretar os dados do
processo, pois, por mais que um sistema seja robusto, inteligente e complexo, se no
houver uma mente humana para analisar os resultados, monitor-lo e regul-lo com
segurana e eficincia, nas tomadas de decises a fim de chegar um objetivo, a
atividade pode vir a se tornar uma catstrofe, um fracasso.
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De acordo com McLuhan (1964 apud BRAGA, 2004, p. 11) as mquinas so
extenses do ser humano, que possibilitam ao homem o cumprimento de tarefas que
ele no poderia desempenhar sozinho, sendo subordinadas s aes do homem,
agindo com eficincia, rapidez, fora, velocidade em situaes nas quais o corpo
humano no alcana um determinado potencial.
Logo, para que haja um sistema humano-tarefa-mquina (SHTM) existe a
necessidade de que as aes sejam encadeadas umas com as outras, a fim de alcanar
um objetivo nico. E ainda, as mquinas devem exercer um rendimento maior e
executar atividades na qual o homem tenha limitaes, e assim, evitar que o homem
seja sobrecarregado para alcanar seus nveis e seu ritmo.
As funes homem-mquina so bem distintas, como referidas por Braga
(2004, p. 18) ao exemplificar que: a mquina pode estar onde o homem no pode,
como o rob que foi ao planeta Marte, mas todas as aes do rob, desde a explorao
do solo do planeta at o momento de seu desligamento foi totalmente decidido pelo
homem.
Sendo assim cabe mquina otimizar a eficincia do processo, aumentar a
velocidade, preciso, assim como, a melhoria da qualidade dos outputs; e ao homem a
funo de projetar mquinas e sistemas, manipular e interpretar os dados, como
tambm, tomar decises e executar suas tarefas interagindo com as mquinas.
Uma interveno ergonomizadora tem por objetivo modificar uma situao de
trabalho para torna-la mais adequada aos trabalhadores. De acordo com Moraes e
MontAlvo (2010), pode ser dividida nas seguintes grandes etapas:
apreciao ergonmica;
diagnose ergonmica;
projetao ergonmica;
avaliao, validao e/ou testes ergonmicos;
detalhamento ergonmico e otimizao.
A apreciao ergonmica, que representa a primeira fase, segundo Diniz e
Moraes (2001, p. 49) uma fase exploratria que compreende o mapeamento dos
problemas ergonmicos. Consiste na sistematizao do sistema humano-tarefa-
mquina e na delimitao dos problemas ergonmicos entre outras aes que iro
compor a diagnose.
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Para esses autores, esta primeira etapa concluda com a hierarquizao dos
problemas, a partir dos custos humanos do trabalho, segundo a gravidade e urgncia;
a priorizao dos postos a serem diagnosticados e modificados; sugestes
preliminares de melhoria e predies que se relacionam provvel causa do problema
a ser enfocado na diagnose (DINIZ; MORAES, 2001, p. 49).
A diagnose a fase que permite aprofundar os problemas priorizados e testar
predies, considerando-se a ambincia tecnolgica, o ambiente fsico e o ambiente
organizacional da tarefa, o momento das observaes sistemticas das atividades da
tarefa, dos registros de comportamento, em situao real de trabalho (op. cit.).
Na concluso desta fase o resultado deve apresentar a confirmao ou a
refutao de predies e/ou hipteses, e com base em uma reviso de literatura so
desenhadas recomendaes ergonmicas em termos de ambiente, arranjo e
conformao de postos de trabalho, programao da tarefa, pausas etc. (DINIZ;
MORAES, 2001).
Os estudos de Di Giovanni e Silveira (2013, p. 2) referem que a projetao
ergonmica a fase onde se adapta a estao de trabalho, equipamentos e ferramentas
s caractersticas fsicas, psquicas e cognitivas do operador.
Para essas autoras nesta etapa feito o detalhamento de toda mudana a ser
estabelecida futuramente e em sua concluso apresenta o projeto ergonmico, seu
conceito, suas configuraes, dimensionamento, subsistemas de transporte e
manipulao, entre outros (DI GIOVANNI; SILVEIRA, 2013).
Em seqncia tem-se a fase da avaliao, validao e/ou testes ergonmicos; e
a fase de detalhamento e otimizao, que os estudos de Di Giovanni e Silveira (2013)
consideram como:
1) A avaliao e validao e/ou testes ergonmicos: um processo feito com
os usurios que trabalham nos locais onde houve alguma interveno
ergonmica, atravs de simulaes e avaliaes de modelos de teste. Essa
tcnica tem como objetivo conseguir a participao dos usurios nas
solues a serem implantadas.
2) A fase de detalhamento ergonmico: a reviso do projeto, aps sua
avaliao pelo empresrio e aprovao pelos operrios, seguindo as
restries de custos, as prioridades tecnolgicas da empresa e as solues
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tcnicas disponveis. Termina com as especificaes ergonmicas para os
subsistemas e componentes interfaciais, informacionais, acionais,
comunicacionais, espaciais, entre outras.
Em sntese pode-se entender que o projeto ergonmico segue um
desenvolvimento sistmico e sistemtico que se inicia com a delimitao do
problema, segue com o diagnstico ergonmico a partir da anlise da tarefa, continua
com o projeto ergonmico de alternativas e termina com testes e avaliao
ergonmicas. So exigncias e constrangimentos da tarefa que propiciam a concepo
do sistema a configurao do produto em termos das funes a serem
desempenhadas pelo homem ou pela mquina
2.1.5 Instrumentos de anlise
- Mtodo Owas
Este mtodo foi desenvolvido na Finlndia para analisar as posturas de
trabalho na indstria de ao e foi proposto por trs pesquisadores finlandeses
(KARKU, KANSI e KUORINKA, 1977) para a Ovaco Oy Company. OWAS deriva
de Ovaco Working Posture Analysing System. Os pesquisadores definiram setenta e
duas posturas tpicas que resultaram de diferentes combinaes e efetuaram mais de
trinta e seis mil observaes em cinqenta e duas atividades para testar o mtodo.
Como todo mtodo de anlise de posturas, precisa de uma observao detalhada da
tarefa que se est realizando e que se quer avaliar, devendo observar vrios ciclos de
trabalho para selecionar as posturas a serem analisadas. O mtodo se baseia na
amostragem das atividades em intervalos constantes ou variveis, verificando-se a
freqncia e o tempo gasto em cada postura.
Nas amostragens so consideradas as posturas das costas, braos, pernas, uso
de fora e fase da atividade. Os autores do mtodo sugerem que sejam realizadas no
mnimo 100 observaes para que se possa inferir corretamente sobre a tarefa
analisada.
Para cada conjunto de dados determina-se um cdigo de seis dgitos para uma
escala que varia de 1 (um) condio aceitvel, tanto da postura quanto para a
aplicao de fora, 7 (sete), pior condio para membros inferiores. Aps a etapa de
mapeamento, os valores encontrados so confrontados com uma tabela, obtendo o
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resultado final que indica a determinao do nvel de risco. Aps a determinao do
nvel de risco, obtido o resultado final que indica a categoria de ao a ser tomada
conforme tabela 1.
Tabela 1: Verificao das categorias de ao mtodo OWAS.
Categoria de ao Interveno
Desnecessrio medidas corretivas Medidas corretivas em futuro
prximo
Medidas corretivas assim que
possvel
Medidas corretivas imediatamente
Fonte: KARKU, KANSI e KUORINKA, 1977
- Mtodo Corlett
Conforme Lima (2002) o Mtodo de Anlise de Desconforto Postural de
Corllet et al. trata-se de uma ferramenta formulada a base de questionrio podendo ser
auxiliada por entrevista, atravs da qual o trabalhador expressa sua percepo
respeito do posto de trabalho e da atividade que executa, informando se sente ou no
desconforto, dificuldade ou fadiga, em que intensidade, se est relacionado ou no ao
trabalho que executa e, ao mesmo tempo, propor sugestes do que melhorar.
Com os resultados obtidos atravs dessa anlise se torna possvel a adequao
e melhoria do processo produtivo visando sempre o conforto, sade e segurana ao
trabalhador assim como tambm a maximizao da cadeia produtiva e
consequentemente lucros organizao.
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Figura 5: Diagrama corpreo, escala de desconforto postural de Corllet et al.
Fonte: Corlett et al. 1986 apud LIMA, 2002
A Figura 5 acima mostra o diagrama corpreo, com os principais pontos que
norteiam a escala de desconforto postural de Corllet et al. O pesquisador deve utilizar
esse diagrama de forma a facilitar a identificao das partes do corpo humano em que
o entrevistado sente desconforto, e a escala de Corllet et al. auxiliar no registro do
nvel da intensidade desse desconforto.
- Mtodo Suzanne Rodgers
Este mtodo foi desenvolvido por Suzanne e tem a finalidade de avaliar o risco
da atividade realizada a partir da anlise de trs componentes: esforo, durao do
esforo e freqncia do esforo. A avaliao atravs do esforo dividida por
segmentos corporais. A durao do esforo dividida por segundos e a freqncia do
esforo por minutos. Para cada segmento corporal avaliado, este relacionado com a
tarefa realizada, atribuindo-se a durao e a freqncia do esforo. O resultado final
do mtodo dado pelos segmentos corporais avaliados, a partir da anlise de um
Software (MTODO SUZANNE RODGERS, 2008; ESQUEISARO JUNIOR, 2008).
Um nmero com trs digitais formado, onde o primeiro representa o esforo,
o segundo representa a durao do esforo e o terceiro representa a freqncia do
esforo. A anlise dos resultados nos mostra uma cor, que reflete a prioridade das
mudanas no trabalho. A cor verde reflete prioridade baixa de mudanas; a cor
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amarela tem prioridade mdia; a roxa reflete prioridade alta e a cor vermelha,
prioridade muito alta de mudanas.
Questionrio Nrdico
A atividade de registro de distrbios osteomusculares vem se tornado cada vez
mais frequente entre os trabalhadores em diversas empresas. O Questionrio
Musculo-esqueletal Nrdico (Nordic Musculoskeletal Questionnaire), foi
desenvolvido com a proposta de padronizar tipos de mensurao de descries de
sintomas osteomusculares e, assim, facilitar a comparao dos resultados entre os
estudos. Em seu desenvolvimento no h indicao do mesmo como base para
diagnstico clnico, mas para a identificao de distrbios osteomusculares, podendo
constituir-se como um importante instrumento de diagnstico do posto de trabalho ou
do ambiente. A figura 6 a seguir apresenta a configurao do questionrio Nrdico.
Figura 6: Questionrio Nrdico.
Fonte: arquivosedfisica.blogspot.com.br/2013/05/qnso-questionario-nordico-de-sintomas.html
2.2 Atividade de Hidrojatemento
A fim de proporcionar segurana na atividade hidrojateamento aliam-se a
WJTA (2012), a NR 34 (BRASIL, 2011) e o Manual de Instrues do fabricante
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(HAMMELMANN INDUSTRY, 2012) para destacar que na execuo dos trabalhos,
devem ser tomados os seguintes cuidados:
a) demarcar, sinalizar e isolar a rea de trabalho;
b) aterrar a mquina de jato/hidrojato;
c) empregar mangueira dotada de revestimento em malha de ao e dispositivo
de segurana em suas conexes que impea o chicoteamento;
d) verificar as condies dos equipamentos, acessrios e travas de segurana;
e) eliminar vazamentos no sistema de hidrojateamento;
f) somente ligar a mquina aps a autorizao do hidrojatista;
g) operar o equipamento conforme recomendaes do fabricante, proibindo
presses operacionais superiores s especificadas para as mangueiras
h) impedir dobras, tores e a colocao de mangueiras sobre arestas sem
proteo;
i) manter o contato visual entre operadores e hidrojatista ou empregar
observador intermedirio;
j) realizar revezamento entre hidrojatista, obedecendo resistncia fsica do
trabalhador;
k) Nunca burlar, bloquear ou substituir inadequadamente os elementos de
segurana;
l) Evitar tencionar longitudinalmente (puxar) partes do equipamento
juntamente com a mangueira.
Complementando o item 34.8 (Trabalhos de Jateamento e Hidrojateamento) da
NR 34 ressalta que os hidrojatistas devero utilizar os seguintes EPIs de proteo:
- para olhos e cabea: os trabalhadores devem utilizar mscara de ar mandado
e capacete com jugular.
- para mos: os trabalhadores devem utilizar luvas impermeveis de
preferncia de PVC.
- auditiva: obrigatrio a utilizao de protetor auricular (tipo plug + tipo
concha).
- para os ps: os hidrojatistas devem utilizar calados de segurana com
cobertura de ao com pelo menos 30% do comprimento do calado. Os
calados devem ser de material impermevel. recomendado tambm a
utilizao da perneira de aramida por cima da bota.
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- para o corpo: obrigatrio a utilizao de vestimentas impermeveis de
PVC (BRASIL, 2011).
Com o intuito de melhor entendimento sobre essa ocupao vale ressaltar
algumas definies contempladas em diretrizes da Petrobrs (PG - 2E7 00337 - C -
MS - Segurana nos Trabalhos de Tratamento de Superfcie atravs de
Hidrojateamento) e com as Prticas Recomendadas na utilizao de Hidrojateamento
a Alta Presso aprovada pela WJTA (Water Jet Technology Association). As normas
definem hidrojateamento como uma tcnica para remoo ou limpeza de superfcie
que emprega energia de jato dgua sob presso (Sistema de Preparao de Superfcie
com gua SPSA). Deste modo, no desgasta a superfcie jateada, retirando apenas
borracha, ferrugem, plstico, tinta ou outro material que no faa parte da estrutura da
superfcie metlica. E ainda, este processo no produz fasca, sendo desta forma
vivel aplicao em reas de risco.
De acordo com a WJTA (2012) existem trs tipos de presses operacionais:
Hidrojateamento a alta presso (High Pressure Hydrojetting): consiste na
limpeza com gua utilizando presses de operao de 5.000 psi (345 bars)
at 10.000 psi (689 bars). Atravs do hidrojateamento a alta presso
possvel remover incrustaes em equipamentos industriais, tais como:
trocadores de calor, tanques, evaporadores, caldeiras e etc.
Hidrojateamento a super alta presso (Super High Pressure Hydrojetting):
a limpeza utilizando presses de operao de 10.000 psi (689 bars) at
30.000 psi (2067 bars).
Hidrojateamento a ultra alta presso (Ultra High Pressure Hydrojetting):
Limpeza utilizando presses acima de 30.000 psi (2067 bars).1
A Associao alerta que os trabalhadores devem estar devidamente protegidos
contra os riscos decorrentes das atividades de hidrojateamento, em especial os riscos
mecnicos.
E ainda que a atividade de hidrojateamento de alta presso deve ser realizada
em tempo contnuo de at uma hora; com intervalos de igual perodo, em jornada de
trabalho mxima de oito horas (WJTA, 2012).
1 Cada bar (unidade de medida de presso mecnica ou hidrulica) igual a 14,5 psi (pounds per square inch ou seja libra por polegada quadrada). (GOUVEIA, 2012).
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2.2.1 Qualificao tcnica do hidrojatista
Este profissional para ser habilitado, antes de tudo deve ser qualificado e
certificado pelo fabricante do equipamento, ou ser treinado e aprovado pelo
Engenheiro responsvel pela execuo dos servios de hidrojateamento, conforme
determinado pela NR 34 - 34.8.1 (BRASIL, 2011).
2.2.2 Funes do hidrojatista
Dentre suas funes o colaborador responsvel por:
realizar verificaes dirias e manutenes em mquinas, equipamentos e
mangueiras;
encomendar e manter peas de reposio para os equipamentos;
limpar bens tubulares com a mquina de hidrojato; e
operar a mquina de hidrojato (BRASIL, 2011).
2.2.3 Atividades desenvolvidas no hidrojateamento
O hidrojatista, a fim de retirar os resduos de superfcies deve aplicar o jato em
altssima presso e velocidade de gua para que alcance o ponto de limpeza ou de
corte. Esses parmetros vo depender do objetivo da atividade.
Para esses fins, o equipamento a ser utilizado a bomba de hidrojateamento
Ultra Alta presso, j que este equipamento eleva a presso da gua at que esse
impacto remova por completo ferrugens, incrustaes, tintas, entre outras substncias,
altamente aderidas nas estruturas. A potncia gerada por essa bomba permite ao
hidrojatista cortar concreto, metal etc.
Na atividade de corte o resultado alcanado devido a diminuio do orifcio
de sada da gua, por meio de bicos calibrados que podem variar em sua forma,
material de construo, vazo, entre outros. Os bicos mais conhecidos so os de
discos internos feitos de safira ou rubi, mas existem bicos com discos internos de
diamante, que so mais caros, porm de melhor rendimento.
Segundo o que informa o fabricante, Hammelmann Industry, o jato dgua
2.500 bars tem a velocidade aproximada de 580 m/s, maior que a velocidade do som
que 340 m/s ao nvel do mar. O rudo gerado pelo jato pode atingir a escala de 120
dB o que leva a considerar as advertncias da NR 15 Atividades e Operaes
Insalubres (BRASIL, 1978), que trata dos limites de tolerncia de rudo contnuo ou
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intermitente estipulando o nvel de 115 dB como limite mximo para o rudo, e
determina 7 minutos para a exposio do colaborador a este risco fsico. Deste modo,
o volume de 120 dB extrapola as recomendaes da NR 15 e coloca o hidrojatista em
condio de risco de perda auditiva caso no utilize o EPI correto.
Aprofundando a questo mecnica, o quadro abaixo (figura 7) mostra a linha
evolutiva da velocidade versus a presso do jato dgua resultando na limpeza das
superfcies.
Figura 7 Velocidade x presso do hidrojato
Fonte: Adaptado de Hammelmann (2012)
Os dados mostrados no grfico acima demonstram a potncia do impacto,
resultante da vazo de sada do fluxo de gua na pistola de hidrojato que oferece
reao oposta ao operador, ou seja, o que se denomina fora de recuo ou fora de
reao proporcional a vazo e a presso de aplicao do equipamento. Ao aproximar
o jato da estrutura, tem-se uma vazo concentrada (rea menor); em contra partida ao
afastar o jato o leque maior (rea maior) aumentando a fora de reao no
colaborador.
Diante desse panorama recomendvel que o hidrojatista quando estiver
jateando deve posicionar a pistola de forma adequada de modo a lidar com a fora de
reao, mantendo sempre a pistola prxima ao corpo e segurando o punho com a
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outra mo, aumentado ainda mais a fora aplicada na sustentao da pistola, e
garantindo a segurana no uso do equipamento.
De acordo com Rodrigues (2002) o preparo qumico de superfcies para
revestimentos tem sua eficincia acrescida em no mnimo 10 vezes, com
hidrojateamento, em decorrncia da reduzida deposio de resduos salinos, como os
cloretos, sais ferrosos, sulfatos, etc., o que proporciona um excelente grau de limpeza
e simultaneamente um acabamento superficial correto, requer alguns requisitos
mnimos de segurana a fim de evitar acidentes.
Por fim, importante que o hidrojatista verifique se seu local de trabalho e
reas prximas esto limpos, secos e sem agentes combustveis, inflamveis, txicos e
contaminantes (SESI, 2012). Caso esteja de acordo com as normas de segurana ento
a rea pode ser liberada, mas somente aps constatar a ausncia de atividades que no
podem ser realizadas ao mesmo tempo e prximas aos trabalhos a quente (exemplo:
trabalho de pintura).
2.4 Fatores Humanos e Fatores Organizacionais dos Postos de Trabalho
A relao entre o homem e a atividade diretamente influenciada por diversos
fatores que alteram o desempenho e a eficincia do trabalhador versus atividade,
dentro do campo da Ergonomia podem ser citadas alm das posturas e movimentos,
os fatores ambientais, humanos e organizacionais.
De acordo com Iida (2009) a Ergonomia estuda fatores importantes para o
trabalho como, entre outros:
O homem caractersticas fsicas, fisiolgicas, e sociais do trabalhador;
influncias do sexo, idade, treinamento e motivao.
A mquina entende-se por mquina todas as ajudas materiais que o
homem utiliza no seu trabalho, englobando equipamentos, ferramentas,
mobilirio e instalaes.
O ambiente estuda as caractersticas do ambiente fsico que envolve o
homem durante o trabalho, como a temperatura, rudos, vibraes, luz,
cores, gases e outros.
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As informaes refere-se s comunicaes existentes entre os elementos
de um sistema, a transmisso de informaes, o processamento e a tomada
de decises.
A organizao a conjugao dos elementos acima citados no sistema
produtivo, estudando aspectos como horrios, turnos de trabalho e
formao de equipes.
As consequncias do trabalho aqui entram mais as informaes de
controles como tarefas de inspees, estudos dos erros e acidentes alm
dos estudos sobre gastos energticos, fadiga e stress.
Esses fatores levam esse autor a afirmar que os objetivos prticos da
Ergonomia so a segurana, satisfao e o bem-estar dos trabalhadores no seu
relacionamento com sistemas produtivos. A eficincia vir com resultado. Em geral,
no se aceita colocar a eficincia como objetivo principal da ergonomia, porque ela,
isoladamente poderia significar sacrifcio e sofrimento dos trabalhadores [...] (IIDA,
2009, p. 193).
Iida (2009) adverte que muitas vezes, projetos inadequados de mquinas,
assentos ou bancadas de trabalho obrigam o trabalhador a usar posturas inadequadas.
Dependendo do tempo mantido na tarefa podem provocar fortes dores localizadas
naquele conjunto de msculos solicitados na conservao dessas posturas.
Outros aspectos so referidos por Barbosa et al. (2007) como o planejamento e
localizao de dispositivos e materiais de trabalho; as caractersticas do posto, tais
como cadeiras, mesas, bancadas; a quantidade, qualidade e localizao da iluminao,
indicadores sobre melhoria nas condies de rudo e seu controle, algumas questes
individuais, como problemas de doenas crnicas degenerativas anteriores podem
facilitar ou predispor o trabalhador ao desenvolvimento de LER/ DORT. Pode-se entender, ento, que uma anlise ergonmica do posto de trabalho o
determinante bsico do desempenho, produtividade, sade, qualidade de vida do
colaborador, o que benfico para o trabalhador e a empresa.
2.4.1 Jornada de trabalho
Segundo o Portal Brasil jornada de trabalho o tempo em que o empregado
permanece em seu local de trabalho, ou disposio de seu empregador. A durao
da jornada no poder exceder 44 horas semanais ou oito horas dirias, o que
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configura hora extra. A hora extra pode ocorrer em algumas situaes, atravs de
norma coletiva, assinatura de um acordo entre as partes, necessidade imperiosa de
concluso de trabalho iniciado, a remunerao deve ser paga a partir de 50% do valor
da hora normal.
2.4.2 Trabalho em turnos e noturno
De acordo com Pinto e Mello (2013) o trabalho por turnos caracterizado por
formas organizadas da jornada diria, em que so realizadas atividades em diferentes
perodos do dia e da noite.
A Constituio Federal de 1988 prev em seu Artigo 7, inciso IX, que a
remunerao do trabalho noturno seja superior ao diurno. O trabalho noturno ocorre
entre as 22h do dia anterior at s 5h do dia seguinte, realizado por vigias, porteiros,
seguranas, motoristas de transporte pblico e trabalhadores de fbricas e indstrias,
contratados em regime CLT e recebem um adicional noturno de 20% acrescido em
seu salrio.
No entanto, quem trabalha em sistema de revezamento semanal ou quinzenal
no tem direito a receber este adicional, por exemplo, profissionais que trabalham
noite por uma semana, em sistema de planto, alternando com trabalhos durante o dia.
No caso da jornada noturna urbana, a hora tem 52,30 minutos, diferentemente da
diurna, de 60 minutos. Essa disposio legal reduz em 12,5% a hora noturna e o
salrio deve ser pago com base nesse clculo.
Existem pausas para repouso ou alimentao, que dependem das horas
trabalhadas, assim as jornadas de at quatro horas no contemplam intervalos, de
quatro a seis horas devem ter uma pausa de 15 minutos. J em perodos noturnos
acima de seis horas obrigatria a parada para o repouso de no mnimo uma hora.
Entretanto, vale destacar que o trabalho noturno dos empregados em indstria
petroqumica regulado pela Lei n. 5.811, de 11.10.1972, no se lhe aplicando a hora
reduzida de 52 minutos e 30 segundos prevista no art. 73, 2, da CLT.
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2.4.3 Motivao
A fim de controlar ou diminuir os efeitos da monotonia um aspecto
psicossocial deve ser inserido na tarefa, que a motivao, entendida como os
desejos, aspiraes e necessidades que influenciam o comportamento do indivduo.
Com o mesmo entendimento, a importncia da motivao abordada por Itiro
Iida quando refere que existe no comportamento humano algo que faz uma pessoa
perseguir um determinado objetivo, durante certo tempo, que pode ser curto ou longo,
e que no pode ser explicado somente pelos seus conhecimentos, experincias e
habilidades. Esse algo conhecido como determinao, impulso, objetivo,
necessidade ou mais genericamente chama-se motivao (IIDA, 2009, p. 183).
Dentro do contexto da motivao, existem diversas teorias que procuram
explicar a motivao e as suas causas, onde a mais conhecida a Teoria de Abraham
Maslow, representada por uma pirmide na qual as pessoas so motivadas a alcanar
certas necessidades bsicas relacionadas com o bem-estar fsico ou intelectual.
Observa-se que as necessidades do ser humano partem da fisiologia at
alcanar o nvel psicolgico de auto-realizao. Ao percorrer o caminho das
necessidades bsicas at o pico, perpassam por segurana, relacionamentos sociais, a
estima que vivenciada pelo status adquirido para finalmente chegar ao sucesso da
auto-realizao, foco fundamental da motivao.
Colaboradores motivados produzem melhores resultados, tanto para si
mesmos, como para a empresa. Deste modo, deve ser um aspecto prioritrio para os
gestores, manter seus funcionrios constantemente motivados.
2.4.4 Estresse ocupacional
De acordo com Gottlieb (2012, p. 1) o estresse ocupacional pode ser
considerado um problema prevalente e oneroso que est muito presente nos locais de
trabalho atualmente.
Essa autora divide os estressores ocupacionais em trs categorias:
1 categoria se refere a exigncias do trabalho e da tarefa em si e inclui: carga
de trabalho elevada, excesso de trabalho, elevado ritmo de trabalho, trabalho em
rodzio, em turnos, noturno, muitas horas extras, tarefas limitadas, fragmentadas,
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invariveis, que proporcionam pouca estimulao e que exigem pouco uso das
habilidades ou da expresso da criatividade. A alta exigncia de trabalho aliada ao
baixo controle e ao baixo apoio social se relaciona negativamente com o bem-estar e,
positivamente, com a tenso.
2 categoria se refere aos fatores organizacionais e s exigncias de papis. O
conflito de papis ocorre sempre que os indivduos enfrentam exigncias
incompatveis de duas ou mais fontes. A forma mais comum de conflito de papis o
conflito entre trabalho e famlia, quando ocorre um transbordamento negativo das
demandas de trabalho para a famlia ou vice-versa. A ambigidade de papel reflete a
incerteza que os funcionrios sentem acerca do que se espera deles no emprego. O
contexto organizacional tambm pode ser considerado estressante quando, por
exemplo, o estilo de gesto intolerante participao dos trabalhadores na tomada
de deciso e h restries excessivas ao comportamento. Esse tipo de situao pode
gerar baixa auto-estima, baixo nvel de satisfao e problemas gerais de sade fsica e
mental. Relaes interpessoais insatisfatrias e lideranas inadequadas, como
supervisores abusivos, tambm so elementos considerados estressantes.
3 categoria se refere a condies fsicas como excesso de rudo, temperaturas
extremas, ventilao ou iluminao inadequada e ergonomia imprpria.
A Ergonomia pode contribuir para solucionar um grande nmero de
problemas, relacionados com sade, segurana, conforto e eficincia. Quando
consideradas adequadamente as capacidades e limitaes humanas, as condies de
trabalho incluindo seu ambiente, com certeza o desempenho do trabalhador ser mais
eficaz.
2.4.5 Monotonia e repetitividade
Os estudos de Iida (2009, p. 152) apontam que a monotonia a reao do
organismo a um ambiente uniforme, pobre em estmulos ou com pouca variao das
excitaes. Esses ambientes podem provocar sensao de fadiga, sonolncia,
morosidade e uma diminuio da ateno, alm disso, as atividades prolongadas e
repetitivas de pouca dificuldade tendem aumentar a monotonia.
Neste mesmo contexto, Fabricio Motta analisa a monotonia sob dois aspectos,
o ponto de vista da Psicologia e o ponto de vista da Fisiologia, e observa que o ponto
de vista da psicologia cita que o trabalhador executar sua funo com maior
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interesse, satisfao, motivao e bom rendimento se as atividades correspondentes a
sua funo correspondem s capacidades e gostos da pessoa. Por outro lado, um
operador que muito exigido, alm de sua capacidade, tambm no apresenta um
bom rendimento. J sob o ponto de vista da fisiologia, necessrio haver variaes de
excitao para que os rgos dos sentidos sejam estimulados e ativem as estruturas do
crebro. Tarefas repetitivas diminuem o nvel de excitao do crebro e geram uma
diminuio geral das reaes do organismo (MOTTA, 2009, p. 19).
E ainda, acrescente-se a esses fatores, locais mal iluminados, muito quentes,
ruidosos e com isolamento social tendem a fazer com que a atividade se torne
montona e diminua a ateno, o que induz ao risco de incidente ou acidente.
2.5 Aspectos Fsicos dos Postos de Trabalho
Os postos de trabalho contemplam fatores ambientais que incluem rudo,
iluminao, vibraes, ambiente trmico e qualidade do ar, deste modo suas
consequncias podem afetar a sade, satisfao e bem-estar do trabalhador. Em
decorrncia de aspectos fsicos no adequados, surgem alguns impactos causadores de
diversos males que podem afetar a sade em geral do trabalhador, ocasionando assim
um baixo nvel no desempenho e consequentemente uma queda na produtividade da
empresa (TREBIEN et al., 2013).
De acordo com Vidal e Carvalho (2008, p. 87), as aplicaes que a Ergonomia
pode trazer para os postos de trabalho se fundamentam na sabida determinao da
tecnologia fsica sobre a organizao do trabalho e as condies de trabalho,
elementos que iro compor a equao dos resultados da empresa.
Esses aspectos foram considerados na observao da atividade de
hidrojateamento no campo de pesquisa, para tanto importante analisar, se no todos,
mas pelo menos alguns aspectos, para copilar a demanda de riscos.
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2.5.1 Layout industrial
Os estudos de Borges (2001) referem que o layout industrial a disposio
fsica do equipamento, incluindo o espao necessrio para movimentao de material,
armazenamento, mo-de-obra indireta e todas as outras atividades e servios