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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ERGONOMIA ROGÉRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANÁLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE PINTURA NA INDUSTRIA PESADA Recife-PE 2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ERGONOMIA

    ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA

    O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO

    RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE PINTURA NA INDUSTRIA PESADA

    Recife-PE 2015

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM ERGONOMIA

    ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA

    O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO

    RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE PINTURA NA INDUSTRIA PESADA

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Ergonomia da Universidade Federal de Pernambuco, para obteno do ttulo de Mestre em Ergonomia. Orientador: Prof. Walter Franklin M. Correia

    Recife-PE 2015

  • Catalogao na fonte

    Bibliotecrio Jonas Lucas Vieira, CRB4-1204

    O48d Oliveira, Rogrio Luiz Mota de

    O desempenho da ergonomia na anlise de custos humanos em atividades de alto risco: o caso do hidrojatista em linhas de pintura na indstria pesada / Rogrio Luiz Mota de Oliveira. Recife: O Autor, 2015.

    123 f.: il., fig.

    Orientador: Walter Franklin Marques Correia.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Artes e Comunicao. Design, 2015.

    Inclui referncias.

    1. Ergonomia. 2. Avaliao de riscos. 3. Indstria. 4. Pintura. I. Correia, Walter Franklin Marques (Orientador). II. Ttulo.

    745.2 CDD (22.ed.) UFPE (CAC 2015-104)

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESIGN

    PARECER DA COMISSO EXAMINADORA

    DE DEFESA DE DISSERTAO DO MESTRADO PROFISSIONAL DE

    ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA

    "O DESEMPENHO DA ERGONOMIA NA ANLISE DE CUSTOS HUMANOS EM ATIVIDADES DE ALTO RISCO: O CASO DO HIDROJATISTA EM LINHAS DE

    PINTURA NA INDUSTRIA NAVAL."

    rea de Concentrao: Ergonomia e Usabilidade de Produtos, Sistemas e Produo.

    A comisso examinadora, composta pelos professores abaixo, sob presidncia primeiro, considera o(a) candidato(a) ROGRIO LUIZ MOTA DE OLIVEIRA_______________________.

    Recife, 26 de fevereiro de 2015

    PROF. DR.: WALTER FRANKLIN MARQUES CORREIA

    PROF. DR.: FBIO FERREIRA DA COSTA CAMPOS

    PROF. DR.: NEY BRITO DANTAS

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus e Nossa Senhora que com sua infinita sabedoria guiou-me pelas veredas da incerteza, fazendo-me acreditar que com Eles tudo posso e tudo alcano. Aos meus pais, Joo Belarmino e Neide Mota pelo amor, dedicao e apoio em toda minha existncia, alm do exemplo de trabalho que comigo permanece. A meus Irmos Andr, Rafael e Gil. Aos meus filhos Matheus Mota e Ceclia Mota, pelos quais busco ser melhor, deixo meu exemplo de dedicao e amor ao estudo e ao trabalho, sempre com tica e respeito a vida humana. A Minha esposa Joelma Correia, e ao pequeno Gabriel Correia pela presena nesta nova fase de minha vida. Aos coordenadores do PPERG professores Dr. Marcelo Soares e Dra. Laura Bezerra Martins, por acreditar ser possvel a criao deste programa. Ao mestre, amigo e professor orientador Dr. Walter Franklin M. Correia, pelo apoio e estmulo a realizao deste estudo. Meu eterno agradecimento. Aos funcionrios e professores do PPERG, pelo empenho e dedicao na transmisso de seus saberes. Aos colegas de turma, atores protagonistas do 1 Mestrado Profissional de Ergonomia do Brasil. Aos gestores e funcionrios da indstria pesquisada pela irrestrita colaborao e acolhimento quando do desenvolvimento do estudo de campo. Por fim, a todos aqui no mencionados que direta ou indiretamente participaram de mais uma etapa do meu caminho profissional.

  • RESUMO

    O reaquecimento da indstria naval traz em seu lastro uma srie de benefcios, entre

    eles, o incremento social com o aumento da oferta de postos de trabalhos, que absorve

    uma mo-de-obra de cerca de 60.000 colaboradores, desse contingente 70% so

    trabalhadores especializados em diversas funes, entre elas, encontra-se o

    hidrojatista que desenvolve a atividade de limpeza, reparo, preparao de estruturas

    utilizando equipamento especial que injeta gua pressurizada que ultrapassa 2.000

    kgf/cm. O processo de hidrojateamento uma atividade que requer ateno e muito

    cuidado com o executante. Neste sentido o estudo buscou analisar os custos humanos

    nos postos operacionais do hidrojatista em uma linha de pintura industrial naval. A

    metodologia adotada utilizou diversos instrumentos, como a Anlise Ergonmica do

    Trabalho, observao direta com registros fotogrficos, e aplicao de questionrios

    aos colaboradores, com base no modelo Corlett, OWAS, Nrdico e a metodologia de

    interveno ergonomizadora de Moraes e MontAlvo. Como resultados foram

    identificados no posto de trabalho do hidrojatista, presena efetiva de agentes

    ambientais prejudiciais a sade, segurana e conforto humano, como o excesso de

    rudo e sobrecarga trmica, poeiras e nvoas, e deficincia de iluminao, problemas

    interfaciais, posturais e de segurana operacional no manejo dos equipamentos

    aplicados, por fim foram relacionadas algumas recomendaes ergonmicas visando a

    melhoria da qualidade da atividade de hidrojateamento.

    Palavras-chave:. Hidrojateamento, Ergonomia, Anlise de riscos

  • ABSTRACT

    The recovery of the shipping industry brings in its ballast a number of benefits ,

    including the social increase with increasing supply of workstations , which absorbs a

    skilled workforce of approximately 60,000 employees, 70 % of the quota are workers

    specialize in various functions , among them is the hidrojatista developing the

    cleaning activity , repair, preparation of structures using special equipment that injects

    pressurized water that exceeds 2,000 kgf / cm . The water jetting process is an

    activity that requires attention and great care with the performer . In this sense the

    study investigates the human costs in hidrojatista operational posts in a line of naval

    industrial painting . The methodology used various tools, such as ergonomic work

    analysis , direct observation with photographic records , and a questionnaire to

    employees, based on the model and the Corlett, OWAS, Nordico ergonomizadora

    intervention methodology Moraes and Mont'Alvo . The results were identified in

    hidrojatista the job , effective presence of harmful environmental health officers ,

    security and human comfort , such as excessive noise and thermal overload , dusts

    and mists, and lighting deficiency, interfacial problems , postural and security

    operating in the management of the applied equipment , finally were related some

    ergonomic recommendations aimed at improving the quality of water jetting activity.

    Key words: Hydrojetting , Ergonomics , Risk Analysis .

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................... 12 1.1 Justificativa ........................................................................................................... 15 1.2 Objetivos ............................................................................................................... 18

    1.2.1. Objetivo Geral: ........................................................................................ 18 1.2.2. Objetivos Especficos ................................................................................ 18

    1.3 Metodologia e Estrutura da Pesquisa ..................................................................... 18 2 REFERENCIAL TERICO .............................................................................................. 21

    2.1 Aspectos relacionados a Segurana do Trabalho e Ergonomia ............................... 21 2.1.1. Aspectos da Segurana no gerenciamento de riscos .................................. 22 2.1.2 Acidentes do trabalho e doenas ocupacionais .......................................... 25 2.1.3 A Atuao da Ergonomia: Conceituao ................................................... 28 2.1.4 AET Anlise Ergonomica do Trabalho sob o ponto de vista do

    SHTM ............................................................................................................ 31 2.1.5 Instrumentos de anlise ............................................................................ 34

    2.2 Atividade de Hidrojatemento ................................................................................. 37 2.2.1 Qualificao tcnica do hidrojatista .......................................................... 40 2.2.2 Funes do hidrojatista ............................................................................. 40 2.2.3 Atividades desenvolvidas no hidrojateamento ............................................ 40

    2.4 Fatores Humanos e Fatores Organizacionais dos Postos de Trabalho ..................... 42 2.4.1 Jornada de trabalho .................................................................................. 43 2.4.2 Trabalho em turnos e noturno.................................................................... 44 2.4.3 Motivao ................................................................................................. 45 2.4.4 Estresse ocupacional ................................................................................. 45 2.4.5 Monotonia e repetitividade ........................................................................ 46 2.5 Aspectos Fsicos dos Postos de Trabalho ...................................................... 47 2.5.1 Layout industrial ....................................................................................... 48 2.5.2 Aerodispersides e substncias qumicas ................................................... 48 2.5.3 Ambientes confinados ................................................................................ 49 2.5.4 Iluminao ................................................................................................ 50 2.5.5 Rudo ......................................................................................................... 51

  • 2.5.6 Temperatura .............................................................................................. 52 2.5.7 Umidade .................................................................................................... 53 2.5.8 Vibrao.................................................................................................... 53 2.5.9 Programa de preveno de riscos ambientais ............................................ 54 2.5.10 Programa de controle mdico de sade ocupacional e o Programa

    de proteo respiratria ................................................................................ 55 2.5.11 Custos Humanos do Trabalho .................................................................. 56

    3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 58 3.1 Apreciao ergonmica do sistema humano-tarefa-mquina .................................. 59 3.2 Diagnose ergonmica do sistema humano-tarefa-mquina ..................................... 59

    4 PESQUISA DE CAMPO ................................................................................................... 62 4.1 Apreciao ergonmica do posto de trabalho do hidrojatista .................................. 62

    4.1.1 Localizao ............................................................................................... 62 4.1.2 Estrutura fsica .......................................................................................... 63 4.1.3 Poltica de qualidade, segurana, meio ambiente e sade .......................... 63 4.1.4 Estrutura organizacional da empresa ........................................................ 64 4.1.5 Programa de preveno de riscos ambientais ............................................ 65 4.1.7 Programa de controle mdico e sade ocupacional ................................... 69 4.1.6 Programas de meio ambiente .................................................................... 70

    4.2 Apreciao ergonmica do posto de trabalho do Hidrojatista ................................. 71 4.2.1 Etapas da produo ................................................................................... 71 4.2.2 Descrio dos equipamentos e materiais ................................................... 73 4.2.3 Capacidade produtiva ............................................................................... 74 4.2.3 Ordenao hierrquica do sistema ............................................................ 78 4.2.4 Trabalho prescrito ..................................................................................... 78

    4.3 Fluxograma Ao-Deciso..................................................................................... 79 4.4 Anlise da Pesquisa de Campo .............................................................................. 80

    4.4.1 Problemas Interfaciais............................................................................... 80 4.4.2 Problemas fsico-ambientais ...................................................................... 82 4.4.3 Problemas Acidentrios ............................................................................. 83 4.4.4 Problemas Acionais ................................................................................... 84 4.4.5 Problemas Biolgicos ................................................................................ 85 4.4.6 Problemas Espaciais Arquiteturais ............................................................ 86

  • 4.5 Prognsticos assistemticos da atividade ............................................................... 86 4.6 Sugestes Preliminares de Melhoria ...................................................................... 87 4.7 Diagnose ergonmica do posto de trabalho do Hidrojatista .................................... 87 4.9 Anlise da Situao de Acordo com a NR 17 ......................................................... 89

    5 DISCUSSO .................................................................................................................. 107 6 CONCLUSO ................................................................................................................ 113

    6.1 Principais achados ............................................................................................... 113 6.2 Dificuldades encontradas ..................................................................................... 114 6.3 Consideraes finais ............................................................................................ 115 6.4 Sugestes para trabalhos futuros .......................................................................... 116

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................ 118 7.1 Websites .............................................................................................................. 118 7.2 Textuais ............................................................................................................... 118

  • CAPTULO 1

    INTRODUO

  • 12

    1 INTRODUO

    Segundo dados da Petrobras (2014), haver um investimento da ordem de

    mais de US$ 100 bilhes na indstria naval brasileira entre 2012 e 2020, dobrando a

    produo de petrleo at o ano citado. Somando-se as demandas, para o perodo sero

    mais de 200 navios e barcos de apoio, dos quais 60 j esto em construo e 26 j

    foram entregues. Alm disso, ainda sero construdas 40 plataformas de produo,

    que contribuiro para elevar a produo de petrleo at 2020. Esse reaquecimento

    da indstria naval vem alavancando diversos outros segmentos da indstria, como:

    mquinas, equipamentos pesados, caldeiraria, eltrica, automao, funilaria, e outros.

    Conforme afirmado pela Presidente do Brasil na Exame (2014): "Tenho

    orgulho de termos reconstrudo a indstria naval. Mudamos radicalmente a poltica de

    compra para escolher produo local", afirmou durante cerimnia de viagem

    inaugural do navio petroleiro Drago do Mar e batismo do navio Henrique Dias, no

    Estaleiro Atlntico Sul, em Ipojuca (PE) (Revista Exame, 2014).

    No ramo da industrial naval brasileira, percebe-se um ritmo acelerado de

    recuperao aps mais de trinta anos sem grande movimentao, a estagnao do

    setor ocorre desde os anos de 1970, naquele perodo alcanou o 2 lugar no ranking

    mundial em construo naval. Uma das razes para o soerguimento do setor pode ser

    sinalizada com a expanso da explorao de petrleo e gs, na costa brasileira, e a

    vontade poltica em modernizar e incrementar a indstria naval.

    Segundo organizaes do setor, a frota brasileira composta por 397

    embarcaes, entre navios de cabotagem, longo percurso e, navegao interior, no

    entanto, com o novo cenrio econmico existe uma defasagem de quase 600

    embarcaes para atender ao setor petroqumico nacional e internacional.

    Atualmente existem 48 estaleiros prontos no territrio nacional, dos quais 18

    estaleiros so para construo de plataformas off-shore, e foram construdos a partir

    de 2005, e 30 so para navios-sonda contratados, e mais 11 estaleiros encontram-se

    em construo. A fim de viabilizar a construo naval, o Fundo da Marinha Mercante

    (rgo do Ministrio da Marinha) vem investindo financeiramente em ordem

    crescente desde 2001, poca o valor foi de 305 milhes de reais, ao longo dos anos

    esses valores foram sendo incrementados, de forma que, o investimento em 2011

  • 13

    alcanou dois bilhes, cento e treze milhes de reais (SINAVAL, 2012).

    O setor absorve uma mo-de-obra de cerca de 60.000 colaboradores, dos quais

    10% so engenheiros, 10% so tcnicos, 70% so trabalhadores especializados, 5%

    so gestores, 5% relativos a outros. Para atender esse grande grupo, o Ministrio do

    Trabalho e Emprego publicou em 20 de janeiro de 2011, uma nova Norma

    Regulamentadora, a NR 34 Condies e Meio Ambiente de Trabalho na Indstria

    da Construo e Reparao Naval, que estabelece os requisitos mnimos e as medidas

    de proteo segurana, sade e ao meio ambiente de trabalho nas atividades da

    indstria de construo e reparao naval.

    Segundo Arajo (2013), com os mais de 300 navios em produo, com uma

    quantidade de quase 60 mil empregos gerados, alm de, como visto acima, uma

    indstria em ascenso acelerada, depois de mais de 20 anos falida, vem para ser um

    importante brao da indstria nacional, como fora em seu pico nos anos 60 80. Essa

    retomada pode ser resultado principalmente devido a descoberta do Pr-Sal (com

    mritos ao Brasil, quando os olhos do mundo voltam-se para ele). Abaixo tem-se

    um grfico (figura 1) demonstrando o crescimento e oscilao do setor nas ltimas

    dcadas.

    Figura 1 - Viso Geral da construo Naval no Brasil

    Fonte: Arajo (2013)

    Entre as funes que atuam no setor, encontra-se o hidrojatista referido na NR

    34 (BRASIL, 2011), no item 34.8 - Trabalhos de Jateamento e Hidrojateamento, que

  • 14

    em 11 itens aborda aes de segurana para o desenvolvimento da atividade. Vale

    ressaltar que o primeiro item destaca a importncia da capacitao do colaborador, o

    que significa que essa atividade de risco para a segurana e sade de quem a

    executa, uma vez que ultrapassa os 2.000 kg/cm, de presso dos jatos dgua. Durante

    a realizao do processo de hidrojato a gua em alta presso inserida em uma

    mangueira fabricada em material especial (em borracha sinttica resistente gua a

    alta presso,com reforo em tramas de ao de alta tenacidade e cobertura de borracha

    sinttica resistente a intempries, oznio e abraso), por onde se desloca at um bico

    localizado na sua extremidade. As caractersticas do servio vo determinar o tipo de

    bico a ser utilizado, preferencialmente em relao forma, dimenso e ao seu peso.

    Outro risco que merece destaque o de acidente, preocupao maior da

    Norma Regulamentadora, principalmente em espaos confinados. De acordo com

    Kulcsar Neto e Garcia (2010, p. 13) estatsticas apontam que no Brasil, os trabalhos

    no interior de espaos confinados representam 36% das mortes por tentativa de

    resgate feita por trabalhadores bem intencionados, porm, sem preparo. um

    percentual muito elevado o que explica a imprescindibilidade da elaborao da NR 33

    (BRASIL, 2006).

    Figura 2 - Viso Geral da construo Naval no Brasil

  • 15

    Fonte: Adaptado de Mascarenhas (2013)

    Conforme pode ser visto na figura anterior (figura 2), acerca da principais

    regies no Brasil com produo de navios (com estaleiros), e apontado por

    Mascarenhas (2013) a construo naval no Brasil passou, e ainda vem passando, nos

    ltimos dez anos, por um grande e acelerado processo de renascimento. Vale lembrar

    que a mais de 20 anos que o Brasil no recebia uma encomenda de navios de grande

    porte. Conquistar novos clientes uma demanda permanente para os setor.

    Os espaos confinados so identificados como: caldeiras, tanques, poos,

    transportadores, silos, tubulaes, torres, colunas de destilao, caixas de passagem,

    fornos, moinhos, secadores, prensas, dutos de ventilao, entre outros (SILVA, 2009).

    Outras normas regulamentadoras tambm contemplam o desempenho da

    funo de hidrojateamento, e a fim de conhecer os riscos e os mtodos que

    minimizam os impactos danosos importante verificar se esto sendo aplicadas na

    indstria de construo naval, ferramentas e tcnicas de anlises ergonmicas, em

    consonncia com a NR 17 Ergonomia (BRASIL, 1978), assim como a existncia de

    um programa estruturado de gerenciamento dos riscos ambientais em seus processos

    construtivos e de hidrojateamento.

    A proteo ao hidrojatista encontrada ainda na NR 15 Atividades e

    Operaes em Ambientes Insalubres e NR 06 - Equipamentos de Proteo Individual

    (BRASIL, 1978).

    1.1 Justificativa

    Os custos humanos so referidos por Alves Jnior (2005) como aqueles que

    esto presentes nos nveis fsico, cognitivo e emocional, e que apresentam tanto

    resultado positivo, quando o colaborador se defronta com desafios no trabalho, como

    tambm resultado negativo, quando h ocorrncia de obstculos no trabalho.

    Este cenrio validou a realizao de um estudo, que se props a identificar as

    no conformidades, analisando cada risco ergonmico encontrado e o impacto

    causado na segurana e sade do colaborador, atendendo aos parmetros das Normas

    Regulamentadoras; a investigao buscou ainda conferir, atravs de consulta direta se

    todos receberam treinamentos, alm de conferir se existem procedimentos escritos e

    esses so conhecidos pelos colaboradores; como tambm, conhecer as queixas de

    desconforto relativas a execuo do trabalho dos hidrojatistas.

  • 16

    Observa-se que so quatro normas regulamentadoras que podem ser

    relacionadas s atividades de hidrojateamento, o que assegura considerar que

    mltiplos so os riscos na execuo dessa ocupao, pois, segundo o Cdigo Nacional

    de Atividades Econmicas (CNAE) identificado como 351 Construo e Reparao

    de Embarcaes e a atividade referida como 35114 Construo e Reparao de

    Embarcaes e Estruturas Flutuantes, o grau de risco 3.

    A classificao de grau 3 permite considerar que vrios so os riscos da

    atividade de hidrojatemento, sendo difcil eleger qual(is) /so mais nocivo(s), se a

    manipulao do equipamento; se o espao confinado; se a exposio a poeiras e

    fumos; se a postura do hidrojatista por um perodo prolongado; entre outros.

    Esta atividade vem crescendo no somente por demanda, mas sobretudo, pela

    especificidade do tipo de trabalho. A participao mundial do Brasil no mercado de

    construo naval ainda muito pequena (como pode ser observado na figura 3 a

    seguir), porm, as exigncias so imensas.

    Figura 3 Porcentagem da participao do Brasil na construo naval

    Fonte: Adaptado de Mascarenhas (2013)

    Segundo Cabral (2008), o grande objetivo das empresas brasileiras alcanar

    o mercado internacional, alcanando as grandes potencias em termos de qualificao

    de seus produtos. certo, conforme ainda o autor explica, a longo prazo, a criao de

  • 17

    uma demanda apenas interna, e gerada por poucas empresas, no se mantm sozinha.

    Ser apenas subsistncia, por isso a necessidade de internacionalizar o mercado atual.

    claro que razes para tal atratividade no iro faltar dentro do mercado que est

    despontando (novamente). A nvel mundial o setor naval fatura mais de US$ 130

    bilhes por ano, passando por um momento de extremo aquecimento por conta das

    demandas de aproximadamente 4 mil novos navios, sem contar outras embarcaes,

    plataformas, etc.

    Segundo apontado por Rodrigues (2002), o histrico de ocorrncias de

    acidentes com leses graves representa uma curva crescente na atividade de

    hidrojateamento no somente no Brasil, tendo como um dos fatores mais destacados a

    utilizao de presses de jato d'gua cada vez maiores, para maior eficincia e rapidez

    do trabalho. O autor aponta ainda que os valores chegam a ultrapassar os 2.000

    kg/cm2, para finalidades bastante diversificadas, sendo esta presso capaz de cortar

    at pedras mais resistentes. Alm disso, a rea afetada pelo trabalho de alguns

    hidrojateamento, forma uma neblina que torna o trabalho ainda mais desgastante,

    conforme pode ser observado na figura 4 a seguir.

    Figura 4 Imagem do hidrojatista em atuao

  • 18

    1.2 Objetivos

    1.2.1. Objetivo Geral:

    Realizar uma avaliao do desempenho da ergonomia quando no uso e anlise

    de custos humanos: fsicos, cognitivos e emocionais, em atividades de alto risco,

    utilizando-se para tanto um estudo de caso junto a atividade de hidrojatista em linhas

    de pintura no setor de construo de navios de grande porte.

    1.2.2. Objetivos Especficos

    Atravs da aplicao de ferramentas e instrumentos de anlise ergonmica,

    mapear, qualificar e quantificar os custos humanos fsicos, cognitivos e

    organizacionais;

    Aplicar simultaneamente cinco instrumentos de anlise ergonmica,

    buscando fechar o nexo tcnico das queixas e constrangimentos

    ergonmicos presentes na atividade de hidrojateamento.

    Identificao e descrio do fluxograma e dos procedimentos existentes e

    conhecimento de todos os macro processos da organizao;

    Anlise prtica das disfunes ergonmicas presentes no sistema humano-

    tarefa-mquina (SHTM);

    Identificao do nvel de conhecimento sobre os riscos das atividades, os

    procedimentos executados, os produtos manuseados, as normas utilizadas,

    seus conhecimentos sobre segurana, cursos e treinamentos realizados;

    Comparao das medies quantitativas descriminadas no Programa de

    Preveno de Riscos Ambientais PPRA, com os parmetros

    estabelecidos na NR 15;

    1.3 Metodologia e Estrutura da Pesquisa

    Segundo Selltiz (1974), os passos que sero seguidos no decorrer do projeto

    representaro sua metodologia, devendo representar as tcnicas que sero utilizadas

    para a coleta e anlise dos dados (entrevistas, testes, tcnicas, elaborao de tabelas,

  • 19

    descrio, etc.). Deve-se evidenciar que os objetivos delimitam que caminho percorrer

    dentro de uma metodologia slida e coesa.

    A metodologia composta de diversas partes que procuram descrever no

    somente o locus da pesquisa, mas os sujeitos, o objeto de estudo, os mtodos e as

    tcnicas, que muitas vezes esto descritas como procedimentos da pesquisa.

    Sendo assim, e conforme ainda observado por Selltiz (1974), esta dissertao

    abordar o desenvolvimento baseado em uma pesquisa: (i) aplicada, pois visa

    gerao de conhecimentos para aplicao prtica, e (ii) Exploratria/descritiva porque

    no se encontram informaes produzidas cientificamente que atendam as

    necessidades da pesquisa nesta etapa e porque objetiva conhecer e descrever os

    objetos de um mercado especfico assim como entender o seu comportamento dentro

    desse mbito.

    Durante seu desenvolvimento, o uso de tcnicas especficas das reas de

    segurana do trabalho, avaliaes qualitativas, e de ergonomia industrial esto sendo

    fundamentais e estruturais para seu pleno desenvolvimento. Assim sendo, as etapas do

    ponto de vista de metodologia perfaro, de maneira sucinta:

    Levantamento bibliogrfico;

    Reviso crtica dos principais mtodos e normas vigentes;

    Apreciao para o aplicao da metodologia de AET, atravs de

    anlise exploratria;

    Testes comparativos de tcnicas de anlise do trabalho;

    Concluses finais e possveis recomendaes;

  • CAPTULO 2

    REFERENCIAL TERICO

  • 21

    2 REFERENCIAL TERICO

    Nesta etapa da pesquisa, sero apresentados os principais conceitos a serem

    trabalhados na dissertao, objetivando o pleno atendimento ao que se destina como

    trabalho de cunho acadmico profissional.

    2.1 Aspectos relacionados a Segurana do Trabalho e Ergonomia

    Conforme Rodrigues (1999) existem diversas medidas de competitividade no

    nvel empresarial, porm, em nenhum momento citado a segurana e a sade do

    trabalhador em prol desta competitividade. Os aspectos, segundo a autora, vo desde a

    participao de mercado em exportaes, onde o principal significado e o da

    porcentagem que uma organizao possui do volume global de bens ou servios, at

    mesmo proximidade com os consumidores, onde explorado o relacionamento mais

    prximo com estes para que suas necessidades sejam atendidas.

    A organizao dos processos laborais fundamental para diminuir o risco de

    desenvolvimento de doenas ocupacionais e, nesse contexto, a Ergonomia representa

    uma ferramenta ideal para identificar os riscos ambientais que podem estar presentes

    nos postos de trabalho, enquanto que a Engenharia de Segurana do Trabalho tem

    como carro chefe a preveno, antecipao e controle dos riscos potenciais de

    acidentes e leses em colaboradores. Neste sentido, o Engenheiro especializado na

    rea utiliza diversos mtodos de controle e programas de preveno desenvolvidos

    para assegurar a sade e segurana dos trabalhadores.

    Sua atuao na empresa, junto com outros profissionais e a Comisso Interna

    de Preveno de Acidentes (CIPA), referida pelo Cdigo Brasileiro de Ocupaes

    (CBO 0-28.40) com as seguintes atribuies: [...] estudar, planejar e programar a

    organizao dos processos de produo e as operaes comerciais e administrativas

    e assessora no que diz respeito aos mtodos utilizados para estes fins; planejar,

    orientar e interpretar os estudos de tempos e movimentos; desenvolver mtodos para

    a avaliao do trabalho fabril; assessorar no que concerne s medidas a serem

    adotadas para a segurana do trabalho; organizar e implantar mtodos de controle

    de qualidade. (BRASIL, 2013, p. 1).

  • 22

    Atravs da anlise do ambiente laboral aliada a observao do colaborador, em

    sua atividade, possvel detectar as falhas existentes na conduta e formular medidas

    que visem a melhoria do ambiente e a sade e segurana do trabalhador.

    E nesse sentido, a Ergonomia busca apresentar propostas e solues a fim de

    trazer melhorias para o setor laboral, centrada no ser humano, para o design de

    sistemas de trabalho onde considera relevante a prevalncia dos fatores fsicos,

    cognitivos, sociais, organizacionais e ambientais.

    Os riscos ergonmicos so observados em relao a sade e segurana do

    trabalho, como: postura inadequada, situao de estresse, jornada de trabalho

    prolongada, monotonia e repetitividade, imposio de rotina intensa, entre outros.

    O fato que a competitividade est sendo levada to enfaticamente como uma

    maneira de interagir no mercado, que deixa de lado aspectos primordiais ligados a

    segurana do trabalhador na indstria e nas organizaes. Na opinio de Zocchio

    (2000) tem-se que h muito no Brasil fala-se sobre a real necessidade de uma

    atividade integrada na rea da segurana e sade no trabalho, porm no se teve o

    retorno de que tanto se espera. Para que haja uma integrao eficiente nos moldes que

    se espera tem que se ir muito mais alm do que a simples atuao conjunta e

    harmoniosa das atividades de medicina do trabalho e da engenharia de segurana do

    trabalho. necessrio que se precisa de uma ao conjunta de todos dentro de uma

    organizao, especialmente por que o fator competitividade afeta no s um nvel,

    como o estratgico, mas todos os nveis dentro das organizaes, e

    independentemente de sua rea ou tamanho.

    Ainda segundo o mesmo autor, quando da utilizao de uma poltica muito

    bem definida e gerenciada, possvel manter estvel a operacionalidade de todas as

    atividades prevencionistas. Os dados estatsticos que possui o Brasil em relao aos

    aspectos de acidentes, segurana e problemas dentro da indstria ainda so muito

    tmidos, porm significativamente alarmantes se relacionados a outros pases como

    Estados Unidos e Japo, e muitos pases da Europa.

    2.1.1. Aspectos da Segurana no gerenciamento de riscos

    Para Hilson (2006) o gerenciamento de riscos vem desenvolvendo-se nos

    ltimos anos para uma disciplina cientfica mais aceita com uma linguagem, tcnica e

  • 23

    ferramentas prprias. O valor de uma abordagem bem definida e estruturada de

    maneira formal e em prol do trabalhador, da organizao e da sociedade para

    gerenciamento de incertezas foi largamente reconhecida e muitas empresas j

    procuram introduzir processos para o controle de riscos visando obter benefcios

    atravs de tais prticas.

    De acordo com Otway e Amendola (1990) percebe-se que at meados da

    dcada de 70 a questo de segurana na indstria de uma forma geral era tratada

    unicamente no mbito empresarial, sem maiores influncias externas, como do

    governo e/ou da sociedade. A partir desta poca, a produo teve uma nfase

    exacerbada e muitas vezes alguns aspectos de segurana eram negligenciados,

    aumentando com isso os riscos e a incidncia de acidentes de trabalho. Ainda segundo

    os autores, e no obstante, data desta poca que os acidentes de maior repercusso at

    aquele momento comeavam a ser vistos no mundo inteiro.

    Nos dias atuais, o imenso desenvolvimento tecnolgico seguido da acirrada

    competitividade econmica fazem o homem conviver com vrios tipos de risco e

    perdas. Perdas que podem ser de carter humano, material ou para o meio ambiente e

    sociedade de uma maneira geral. O risco faz parte do cotidiano do ser-humano, desde

    os primrdios, estimulando a todos a conhec-lo, desafi-lo e super-lo. De certa

    forma o risco vem sofrendo mutaes com o decorrer da histria, mesmo datando das

    pocas mais longnquas (para maiores detalhes verificar em Wynne, 1987) e com o

    passar do tempo e desenvolvimento das condies de vida, os riscos foram adquirindo

    novas e diferentes formas.

    Conforme Morgado (2000), os aspectos ligados a segurana do trabalho

    normalmente apontam para uma direo onde o entendimento acerca dos riscos dentro

    da atividade laboral pea-chave para a plena e completa compreenso das situaes

    em que incorram algum tipo de perigo aos trabalhadores. Sabe-se que acidentes

    acontecem, porm, o potencial destes tem crescido gradativamente com o

    desenvolvimento tecnolgico, e com eles, os riscos tambm aumentam. Neste

    contexto, necessria uma manuteno rigorosa sobre os sistemas de avaliao e

    gerenciamento destes riscos de forma a se reduzir as probabilidades de acidentes e a

    minimizar-se suas consequncias.

    O gerenciamento de riscos deve ser percebido em um mbito maior, onde faz-

    se necessria uma mudana no conceito de segurana em si, seja no aspecto da

  • 24

    preveno e planejamento como no de ao e implementao. Na interpretao de

    Fisher (1991) antigamente observava-se a segurana do trabalho como uma via nica

    de preveno, sendo apenas um meio de minimizar os acidentes com leso e perda de

    tempo, estando os agentes responsveis por toda a segurana dentro das organizaes,

    em sua maioria, centralizados em um nico rgo que tinha a funo de prevenir, ou

    pelo menos, minimizar os acidentes dentro de seus ambientes de trabalho. Por mais

    competncia que existisse a equipe nesse formato no podia estar em todos os lugares

    ao mesmo tempo e o tempo todo fazendo preveno.

    A diminuio das taxas de acidentes (sobretudo com afastamento) era vista

    como uma meta a ser cumprida exaustivamente, conduzindo a uma omisso daqueles

    acidentes com alto potencial de perdas, pois muitas vezes estes eram negligenciados e

    no analisados em busca de suas causas raiz, pois no chegavam a causar acidentes

    propriamente dito. As aes voltadas ao gerenciamento de riscos visam buscar todas

    as causas principais de todo e qualquer acidente que possa acontecer ou que

    porventura j tenha ocorrido. A nfase voltada no relato de todos os acidentes que

    causem ou que possuam o potencial de causar algum tipo de dano ou leso. Dentro

    desta viso, a preveno toma uma conotao onde a segurana passa a ser parte

    integrante de cada posto de trabalho por meio de seus responsveis e pela equipe de

    profissionais que conhecem os procedimentos operacionais, de manuteno, etc.

    Na opinio de Melo, Gueiros e Morgado (2002) a grande importncia que

    permeia o entendimento de situaes e mesmo a prpria condio de riscos reside no

    que as leis e normas no mbito nacional trazem acerca do chamado Grave e Iminente

    Risco (GIR). No Brasil, a legislao do trabalho define o que GIR atravs da Norma

    Regulamentadora n 3 (NR 03): Considera-se grave e iminente risco toda condio

    ambiental de trabalho que possa causar acidente do trabalho ou doena profissional

    com leso grave integridade fsica do trabalhador. As medidas legais cabveis

    estendem-se a interdio de estabelecimentos, de setores, de maquinrio,

    ferramentrio e de equipamentos, ou mesmo o embargo quando em situaes de obra.

    Diversos autores como Martini Junior (1999), Arajo, Lima Filho, Adissi e

    Moreira Junior (2001), entre outros, deixam claro a real necessidade de se ter um

    pleno e absoluto controle sobre todos os aspectos que envolvem a segurana do

    trabalho, sobretudo no que diz respeito aos riscos, e neste aspecto, a anlise de riscos

    e perigos preenche adequadamente esta lacuna.

  • 25

    Sob este aspecto em particular, tentar-se- utilizar para anlise neste trabalho,

    a metodologia proposta por Correia (2007) para rea de segurana, para fins de

    comparao com os resultado obtidos pela metodologia tradicional de Anamaria de

    Moraes e MontAlvo (2010). Mais adiante esta ser tratada com enfoque particular.

    2.1.2 Acidentes do trabalho e doenas ocupacionais

    O Ministrio da Previdncia Social com base na Lei 8.213, de 24 de julho de

    1991, em seu Art. 19, refere que acidente do trabalho : [...] o que ocorre pelo

    exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho,

    provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte, ou a perda

    ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho (BRASIL,

    2012, p. 1).

    Esse instrumento legal destaca ainda sobre a incidncia do acidente do

    trabalho salientando que o evento ocorre em trs hipteses quando ocorre leso

    corporal; ou perturbao funcional; ou mesmo resulta em doena ocupacional.

    A doena ocupacional registrada pelo exerccio do trabalho peculiar a

    determinada atividade e constante da relao elaborada pelo Ministrio do Trabalho e

    da Previdncia Social; no mesmo sentido, caracteriza-se a doena do trabalho, sendo

    que est desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho

    realizado e com ele se relacione diretamente (BRASIL, 2012).

    Deste modo a ocorrncia de leses ocupacionais, afeta a sade fsica e mental

    do trabalhador, reduzindo sensivelmente sua capacidade funcional, interferindo

    diretamente na produtividade e na qualidade de vida do trabalhador (SAAD et al.,

    2006).

    Em sendo assim o risco desses eventos so profundamente estudados em razo

    de seus resultados crticos na vida e segurana do trabalhador, incluindo neste

    cenrio, a possibilidade de bitos.

    De acordo com Saad et al. (2006) conhecer a proporo e gravidade em que

    ocorrem os acidentes importante, pois mostra a dimenso desses acontecimentos.

    Esses autores concordam com a literatura e destacam ainda que incidentes com perda

    material so indicadores da probabilidade do risco de acidentes, e que os gestores

    devem estar atentos a ocorrncia desses fatos, uma vez que esta situao geralmente

  • 26

    resulta em acidentes com danos sade do trabalhador. Portanto, as aes

    desempenhadas para impedir que ocorram incidentes e acidentes, deveriam estar

    voltadas correo e/ou preveno desses eventos.

    Neste mesmo sentido, Moraes (2009) alerta que incidente do trabalho quase

    um acidente j que houve um risco e uma exposio, assim, o controle de incidentes

    com alto potencial de perda ou acidentes para a sade do colaborador, poderia ser

    mais efetivo, pois, o que hoje um incidente amanh poder ser um acidente.

    A displicncia em relao a ocorrncia de incidentes no deve ser admitida,

    em razo do agravo decorrente da situao, como destacado pela literatura.

    Os dados apresentados pelo Anurio Brasileiro de Proteo de 2011 no so

    nada comparados com a realidade, j que desde 2000 o Brasil um dos 70 pases que

    no enviam seus registros de acidentes para a OIT (Organizao Internacional do

    Trabalho), de acordo com o prprio anurio Brasileiro de Proteo (MORAES,

    2009, p. 41).

    De acordo com o Anurio Brasileiro de Proteo 2011 (REVISTA

    PROTEO, 2011) a maior incidncia de acidentes do trabalho est na fundio,

    setor naval, aeroespacial e automotivo, com a estatstica de 11% de todos os acidentes

    de trabalho notificados de todos os ramos. Os dados disponibilizados pelos rgos

    oficiais no retratam a realidade de acidentes de trabalho no Brasil, isto acontece

    porque nem todos os casos so notificados pela Comunicao de Acidentes de

    Trabalho (CAT), do Ministrio do Trabalho. Alm disso, os trabalhadores

    terceirizados e os autnomos no esto includos nas estatsticas.

    A Agncia Nacional de Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis (ANP)

    registrou 375 incidentes de segurana operacional, uma alta de 40% em relao ao

    ano de 2009. Esse avano atribudo principalmente maior rigidez da fiscalizao e

    ao aumento das atividades ligadas ao petrleo no pas, que ainda no conta com um

    plano nacional de contingncia de segurana. Antes de 1999, segundo Cirilo Jnior

    (2011), as empresas seguiam critrios prprios para classificar um acidente e

    comunic-lo agncia reguladora, como resultado do total de acidentes registrados

    em 2010, atravs do encaminhamento da Comunicao de Acidente do Trabalho

    CAT, 10% tiveram mortos ou feridos com gravidade; foram constatadas trs mortes

    em plataformas em operao.

  • 27

    A Agncia classifica como incidente qualquer evento indesejado que tenha

    colocado em risco os trabalhadores ou o ambiente, e ainda, que um acidente

    resultado do alinhamento de falhas operacionais, decises gerenciais inadequadas e

    barreiras de segurana degradadas, que passam a ser denominados fatores causais,

    quando do estabelecimento de um processo investigativo para determinar a sequncia

    de eventos que culminaram com a concretizao de um dano (JUNIOR, 2011, p. 1).

    De acordo com Domingues e Macedo (2012) foram registrados 1.608

    acidentes em plataformas da Bacia de Campos, em 2011, o que d uma mdia de

    quatro por dia. Em 2010 foram comunicados 1.145 acidentes, ou seja em 2011 houve

    um acrscimo de 40% em relao ao ano anterior. Essas autoras apresentam ainda,

    que a maior parte dos acidentes ocorridos ano passado (75%) envolveu as empresas

    privadas, enquanto a Petrobras respondeu por 23% dos registros um total de 371

    Comunicao de Acidentes de Trabalho (CATs) seguida pela Transpetro, com 2%,

    (31 CATs). Do total de comunicaes, 178 geraram afastamento do trabalho: 60 na

    Petrobras, 8 na Transpetro e 110 nas demais empresas (DOMINGUES; MACEDO,

    2012, p. 1).

    A Petrobrs, em 2011, registrou 262 acidentes de trabalho com afastamento. A

    empresa atribuiu o nmero elevado s mudanas no sistema de notificaes a partir

    de 2010, quando passaram a incluir incidentes considerados corriqueiros, mas que

    geram afastamento do trabalho

    O Sindicato dos Petroleiros de Alagoas e Sergipe (Sindipetro AL/SE) recebeu,

    at agosto de 2012, cinquenta e trs Comunicaes de Acidentes de Trabalho (CATs)

    notificadas pelas empresas terceirizadas. O Sindicato adverte que os nmeros so

    maiores, pois as empresas na maioria dos casos no emite CAT, esconde os

    acidentes (SINDIPETRO AL/SE, 2012, p. 1).

    Especialistas apontam alguns fatores que contribuem para um nmero elevado

    de acidentes de trabalho, tais como ritmo acelerado, presso da chefia, pssimas

    condies de trabalho.

    Segundo o Sindipetro AL/SE (2012) as condies de trabalho colaboraram

    para a morte de 3 funcionrios terceirizados da Petrobrs no perodo de 45 dias.

    De acordo com a Central nica dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUTRJ)

    o nmero de bitos impressiona, pois a estatstica refere que de 1995 at 2010, foram

    registradas 283 mortes por acidentes de trabalho no Sistema Petrobrs, das quais 228

  • 28

    com trabalhadores terceirizados. A FUP e seus sindicatos tm denunciado as situaes

    de riscos a que so expostos constantemente os petroleiros, em consequncia de

    decises gerenciais que sempre priorizam o lucro e a produo, em detrimento da

    segurana (CUTRJ, 2010, p. 1).

    Pelas referncias obtidas na literatura a Bacia de Campos recordista no

    histrico de bitos de trabalhadores, como destacado nos estudos de Flvia

    Domingues e Rosayne Macedo, de que desde 1998, j foram registradas 119 mortes

    em plataformas da regio, cinco delas em 2011. A maioria das vtimas (85) era de

    empresas que prestavam servios terceirizados Petrobras e 44 eram funcionrios da

    companhia. Segundo a Federao nica dos Petroleiros (FUP), a categoria j chorou

    a morte de mais de 300 colegas de trabalho 37 deles em 16 de agosto de 1984, na

    plataforma de Enchova, na Bacia de Campos fora incontveis mutilaes e

    adoecimentos (DOMINGUES; MACEDO, 2012, p. 2).

    Observa-se que a populao que mais tem sido referida em acidentes do

    trabalho o pessoal terceirizado, a justificativa de que o crescimento do setor

    petrolfero no pas, as empresas passaram a terceirizar mais atividades para cumprir os

    cronogramas, e isto prejudica a capacitao e contribui para gerar acidentes, as

    empresas contratam terceirizados sem nenhuma experincia, aumentando o risco de

    acidentes.

    A indstria naval est distribuda nas regies Norte, Nordeste, Sudeste e Sul

    do Brasil, e hoje, emprega cerca de 60 mil trabalhadores, assim urge que se tenha uma

    poltica de proteo a segurana e sade desses colaboradores.

    Para tanto, deve-se valer dos Programas de proteo a sade e segurana do

    trabalho e o atendimento as determinaes das Normas Regulamentadoras (NRs)

    2.1.3 A Atuao da Ergonomia: Conceituao

    A Associao Brasileira de Ergonomia ABERGO (2012) define que o termo

    Ergonomia originado do idioma grego Ergon, ou seja, trabalho e Nomos (que

    significa normas, regras, leis). Deste modo pode-se dizer que a disciplina cientfica

    Ergonomia refere sobre normas para o trabalho humano.

    Neste sentido Dul e Weerdmeester (2004) destacam a Ergonomia como uma

    disciplina cientfica aplicada ao projeto de mquinas, equipamentos, sistemas e

  • 29

    tarefas, com o objetivo de melhorar a segurana, sade, conforto e eficincia no

    trabalho.

    A definio da Ergonomics Research Society que a ergonomia se refere ao

    estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e

    particularmente a aplicao dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na

    soluo surgida neste relacionamento (COUTO, 2007, p. 12).

    Diante dos conceitos expostos observa-se que autoridades em Ergonomia

    desenham a disciplina como o estudo da relao entre o homem e seus espaos, meios

    e mtodos de trabalho.

    Atravs das definies entende-se que a ergonomia o conjunto de

    conhecimentos do homem em atividade, o que leva idealizao de dispositivos que

    possam ser utilizados com o mximo de eficincia, conforto e segurana.

    Para Dul e Weerdmeester (2004, p. 37) muitos princpios de postura e

    movimentos derivam-se de conhecimentos das reas da biomecnica, fisiologia e

    antropometria.

    Neste mesmo sentido a Ergonomics Research Society (apud IIDA, 2009, p.

    284) define que Ergonomia o estudo do relacionamento entre o homem e o seu

    trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicao dos conhecimentos

    de anatomia, fisiologia e psicologia na soluo desse relacionamento.

    A fim de clarificar essa definio Marques (2009) declara que a Ergonomia

    preocupa-se primeiramente com os aspectos fisiolgicos do projeto do trabalho, isto ,

    o corpo humano e como este se ajusta ao ambiente.

    Ao considerar todas essas definies encontra-se em Vidal (2001, p. 23) a

    sntese de que a ergonomia rene conhecimentos relativos ao homem e necessrios

    concepo de instrumentos, mquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o

    mximo de conforto, segurana e eficincia ao trabalhador.

    Sendo assim, conclui-se que o papel principal da Ergonomia adequar na

    melhor forma as variveis homem, mquina, instrumentos, ambiente a atividade a ser

    executada respeitando as limitaes humanas visando garantir a integridade fsica e

    psicolgica, o bem estar do trabalhador, satisfao e eficincia do processo.

    E ainda esse autor complementa analisando a influncia que exerce no

    trabalho, ao afirmar que [...] a ergonomia trata desses assuntos cientificamente, tendo

    acumulado conhecimentos e metodologias para intervir, tanto durante o projeto como

  • 30

    durante a operao de sistemas produtivos, com razovel certeza de produzir

    resultados satisfatrios. (IIDA, 2009, p. 65).

    De maneira geral, os domnios de especializao da Ergonomia so

    classificados pela ABERGO (2007), como:

    Ergonomia Fsica, com as caractersticas da anatomia humana,

    antropometria, fisiologia e biomecnica e suas funes na atividade fsica;

    Ergonomia Cognitiva, que tem como assunto a movimentao operatria

    das capacidades mentais do ser humano em situaes de trabalho; e

    Ergonomia Organizacional, que trata de aspectos relacionados melhoria

    dos sistemas de trabalho e produo, estruturas organizacionais, processos

    e politicas administrativas.

    Geralmente dentro das organizaes as tomadas de decises so feitas com

    base em dados quantitativos, relacionados ao custo e beneficio. Sendo assim qualquer

    investimento s realizado se os custos forem menores que os benefcios que ele

    trar. Na aplicao da Ergonomia, dentro de uma organizao, os benefcios podem

    muitas vezes superar os custos, mas, para que isso ocorra fundamental o

    envolvimento de todos os colaboradores e gestores, e ainda, que seja realizada com

    seriedade.

    A relao custo-benefcio de forma melhor identificada e quantificada

    quando se compara os custos organizacionais e os benefcios que a Ergonomia pode

    proporcionar.

    Dentre os custos financeiro e material encontram-se, entre outros, os custos

    das mquinas, equipamentos, treinamento de funcionrios, mudanas de layout,

    adaptaes estruturais, novos exames mdicos especficos etc.

    Por outro lado os benefcios so representados pelos bens e servios

    produzidos. No caso de uma mudana proposta na produo, devem ser estimados os

    aumentos de produtividade e de qualidade, a reduo dos desperdcios, as economias

    de energia, mo de obra, manuteno, e assim por diante. Existem outros benefcios

    de mais difcil mensurao, como reduo das faltas de trabalhadores devido a

    acidentes e doenas ocupacionais. Finalmente, existem os benficos chamados de

    intangveis, que no podem ser calculados objetivamente, mas apenas estimados,

    mas nem por isso menos importantes, como a satisfao do trabalhador, o conforto, a

  • 31

    reduo da rotatividade e o aumento da motivao e do moral dos trabalhadores

    (IIDA, 2009, p. 106).

    No entendimento de Arajo (2002) Ergonomia a cincia que estuda a

    adaptao do trabalho ao ser humano, procurando adequar as condies de trabalho s

    suas limitaes.

    Pode-se considerar que um sistema que contemple homem-mquina deve ser

    bem estruturado de modo a alcanar o resultado esperado. E para isto, Iida (2009, p.

    106) destaca que para o projeto de um sistema envolvendo homens e mquinas,

    caber ao projetista decidir que tipos de funo sero alocados s mquinas e quais as

    que ficaro a cargo do operador humano.

    Em sntese, pode-se considerar a afirmao de Moraes e MontAlvo (2010, p.

    13) de que o objetivo da Ergonomia otimizar o desempenho dos sistemas e

    melhorar tanto a eficincia humana quanto a do sistema, a partir da modificao da

    interface entre o operador e os equipamentos.

    Dentro deste contexto, a Ergonomia se responsabiliza em avaliar e estudar os

    aspectos que envolvem as interaes do sistema humano-tarefa-mquina para assim,

    aplicar os conceitos nela estudada com a ideia de minimizar os efeitos nocivos ao

    homem dentro da atividade e, como resultado aperfeioar toda a cadeia do processo.

    2.1.4 AET Anlise Ergonomica do Trabalho sob o ponto de vista do SHTM

    Homem e mquina podem se combinar para formar um sistema, desde que

    utilizem suas respectivas qualidades, ao privilegiar a relao do ser humano com

    utenslios, equipamentos, mquinas e ambientes. Deste modo, segundo Moraes e

    MontAlvo (2010, p. 34), quando a comunicao homem-mquina passou a

    privilegiar a cognio em vez da percepo, os antigos modelos foram revistos e

    atualizado, uma vez que, as mquinas no controlam sozinhas o processo.

    Diante desse panorama possvel compreender que se faz necessria a

    interao do homem com a mquina, no intuito de agir e interpretar os dados do

    processo, pois, por mais que um sistema seja robusto, inteligente e complexo, se no

    houver uma mente humana para analisar os resultados, monitor-lo e regul-lo com

    segurana e eficincia, nas tomadas de decises a fim de chegar um objetivo, a

    atividade pode vir a se tornar uma catstrofe, um fracasso.

  • 32

    De acordo com McLuhan (1964 apud BRAGA, 2004, p. 11) as mquinas so

    extenses do ser humano, que possibilitam ao homem o cumprimento de tarefas que

    ele no poderia desempenhar sozinho, sendo subordinadas s aes do homem,

    agindo com eficincia, rapidez, fora, velocidade em situaes nas quais o corpo

    humano no alcana um determinado potencial.

    Logo, para que haja um sistema humano-tarefa-mquina (SHTM) existe a

    necessidade de que as aes sejam encadeadas umas com as outras, a fim de alcanar

    um objetivo nico. E ainda, as mquinas devem exercer um rendimento maior e

    executar atividades na qual o homem tenha limitaes, e assim, evitar que o homem

    seja sobrecarregado para alcanar seus nveis e seu ritmo.

    As funes homem-mquina so bem distintas, como referidas por Braga

    (2004, p. 18) ao exemplificar que: a mquina pode estar onde o homem no pode,

    como o rob que foi ao planeta Marte, mas todas as aes do rob, desde a explorao

    do solo do planeta at o momento de seu desligamento foi totalmente decidido pelo

    homem.

    Sendo assim cabe mquina otimizar a eficincia do processo, aumentar a

    velocidade, preciso, assim como, a melhoria da qualidade dos outputs; e ao homem a

    funo de projetar mquinas e sistemas, manipular e interpretar os dados, como

    tambm, tomar decises e executar suas tarefas interagindo com as mquinas.

    Uma interveno ergonomizadora tem por objetivo modificar uma situao de

    trabalho para torna-la mais adequada aos trabalhadores. De acordo com Moraes e

    MontAlvo (2010), pode ser dividida nas seguintes grandes etapas:

    apreciao ergonmica;

    diagnose ergonmica;

    projetao ergonmica;

    avaliao, validao e/ou testes ergonmicos;

    detalhamento ergonmico e otimizao.

    A apreciao ergonmica, que representa a primeira fase, segundo Diniz e

    Moraes (2001, p. 49) uma fase exploratria que compreende o mapeamento dos

    problemas ergonmicos. Consiste na sistematizao do sistema humano-tarefa-

    mquina e na delimitao dos problemas ergonmicos entre outras aes que iro

    compor a diagnose.

  • 33

    Para esses autores, esta primeira etapa concluda com a hierarquizao dos

    problemas, a partir dos custos humanos do trabalho, segundo a gravidade e urgncia;

    a priorizao dos postos a serem diagnosticados e modificados; sugestes

    preliminares de melhoria e predies que se relacionam provvel causa do problema

    a ser enfocado na diagnose (DINIZ; MORAES, 2001, p. 49).

    A diagnose a fase que permite aprofundar os problemas priorizados e testar

    predies, considerando-se a ambincia tecnolgica, o ambiente fsico e o ambiente

    organizacional da tarefa, o momento das observaes sistemticas das atividades da

    tarefa, dos registros de comportamento, em situao real de trabalho (op. cit.).

    Na concluso desta fase o resultado deve apresentar a confirmao ou a

    refutao de predies e/ou hipteses, e com base em uma reviso de literatura so

    desenhadas recomendaes ergonmicas em termos de ambiente, arranjo e

    conformao de postos de trabalho, programao da tarefa, pausas etc. (DINIZ;

    MORAES, 2001).

    Os estudos de Di Giovanni e Silveira (2013, p. 2) referem que a projetao

    ergonmica a fase onde se adapta a estao de trabalho, equipamentos e ferramentas

    s caractersticas fsicas, psquicas e cognitivas do operador.

    Para essas autoras nesta etapa feito o detalhamento de toda mudana a ser

    estabelecida futuramente e em sua concluso apresenta o projeto ergonmico, seu

    conceito, suas configuraes, dimensionamento, subsistemas de transporte e

    manipulao, entre outros (DI GIOVANNI; SILVEIRA, 2013).

    Em seqncia tem-se a fase da avaliao, validao e/ou testes ergonmicos; e

    a fase de detalhamento e otimizao, que os estudos de Di Giovanni e Silveira (2013)

    consideram como:

    1) A avaliao e validao e/ou testes ergonmicos: um processo feito com

    os usurios que trabalham nos locais onde houve alguma interveno

    ergonmica, atravs de simulaes e avaliaes de modelos de teste. Essa

    tcnica tem como objetivo conseguir a participao dos usurios nas

    solues a serem implantadas.

    2) A fase de detalhamento ergonmico: a reviso do projeto, aps sua

    avaliao pelo empresrio e aprovao pelos operrios, seguindo as

    restries de custos, as prioridades tecnolgicas da empresa e as solues

  • 34

    tcnicas disponveis. Termina com as especificaes ergonmicas para os

    subsistemas e componentes interfaciais, informacionais, acionais,

    comunicacionais, espaciais, entre outras.

    Em sntese pode-se entender que o projeto ergonmico segue um

    desenvolvimento sistmico e sistemtico que se inicia com a delimitao do

    problema, segue com o diagnstico ergonmico a partir da anlise da tarefa, continua

    com o projeto ergonmico de alternativas e termina com testes e avaliao

    ergonmicas. So exigncias e constrangimentos da tarefa que propiciam a concepo

    do sistema a configurao do produto em termos das funes a serem

    desempenhadas pelo homem ou pela mquina

    2.1.5 Instrumentos de anlise

    - Mtodo Owas

    Este mtodo foi desenvolvido na Finlndia para analisar as posturas de

    trabalho na indstria de ao e foi proposto por trs pesquisadores finlandeses

    (KARKU, KANSI e KUORINKA, 1977) para a Ovaco Oy Company. OWAS deriva

    de Ovaco Working Posture Analysing System. Os pesquisadores definiram setenta e

    duas posturas tpicas que resultaram de diferentes combinaes e efetuaram mais de

    trinta e seis mil observaes em cinqenta e duas atividades para testar o mtodo.

    Como todo mtodo de anlise de posturas, precisa de uma observao detalhada da

    tarefa que se est realizando e que se quer avaliar, devendo observar vrios ciclos de

    trabalho para selecionar as posturas a serem analisadas. O mtodo se baseia na

    amostragem das atividades em intervalos constantes ou variveis, verificando-se a

    freqncia e o tempo gasto em cada postura.

    Nas amostragens so consideradas as posturas das costas, braos, pernas, uso

    de fora e fase da atividade. Os autores do mtodo sugerem que sejam realizadas no

    mnimo 100 observaes para que se possa inferir corretamente sobre a tarefa

    analisada.

    Para cada conjunto de dados determina-se um cdigo de seis dgitos para uma

    escala que varia de 1 (um) condio aceitvel, tanto da postura quanto para a

    aplicao de fora, 7 (sete), pior condio para membros inferiores. Aps a etapa de

    mapeamento, os valores encontrados so confrontados com uma tabela, obtendo o

  • 35

    resultado final que indica a determinao do nvel de risco. Aps a determinao do

    nvel de risco, obtido o resultado final que indica a categoria de ao a ser tomada

    conforme tabela 1.

    Tabela 1: Verificao das categorias de ao mtodo OWAS.

    Categoria de ao Interveno

    Desnecessrio medidas corretivas Medidas corretivas em futuro

    prximo

    Medidas corretivas assim que

    possvel

    Medidas corretivas imediatamente

    Fonte: KARKU, KANSI e KUORINKA, 1977

    - Mtodo Corlett

    Conforme Lima (2002) o Mtodo de Anlise de Desconforto Postural de

    Corllet et al. trata-se de uma ferramenta formulada a base de questionrio podendo ser

    auxiliada por entrevista, atravs da qual o trabalhador expressa sua percepo

    respeito do posto de trabalho e da atividade que executa, informando se sente ou no

    desconforto, dificuldade ou fadiga, em que intensidade, se est relacionado ou no ao

    trabalho que executa e, ao mesmo tempo, propor sugestes do que melhorar.

    Com os resultados obtidos atravs dessa anlise se torna possvel a adequao

    e melhoria do processo produtivo visando sempre o conforto, sade e segurana ao

    trabalhador assim como tambm a maximizao da cadeia produtiva e

    consequentemente lucros organizao.

  • 36

    Figura 5: Diagrama corpreo, escala de desconforto postural de Corllet et al.

    Fonte: Corlett et al. 1986 apud LIMA, 2002

    A Figura 5 acima mostra o diagrama corpreo, com os principais pontos que

    norteiam a escala de desconforto postural de Corllet et al. O pesquisador deve utilizar

    esse diagrama de forma a facilitar a identificao das partes do corpo humano em que

    o entrevistado sente desconforto, e a escala de Corllet et al. auxiliar no registro do

    nvel da intensidade desse desconforto.

    - Mtodo Suzanne Rodgers

    Este mtodo foi desenvolvido por Suzanne e tem a finalidade de avaliar o risco

    da atividade realizada a partir da anlise de trs componentes: esforo, durao do

    esforo e freqncia do esforo. A avaliao atravs do esforo dividida por

    segmentos corporais. A durao do esforo dividida por segundos e a freqncia do

    esforo por minutos. Para cada segmento corporal avaliado, este relacionado com a

    tarefa realizada, atribuindo-se a durao e a freqncia do esforo. O resultado final

    do mtodo dado pelos segmentos corporais avaliados, a partir da anlise de um

    Software (MTODO SUZANNE RODGERS, 2008; ESQUEISARO JUNIOR, 2008).

    Um nmero com trs digitais formado, onde o primeiro representa o esforo,

    o segundo representa a durao do esforo e o terceiro representa a freqncia do

    esforo. A anlise dos resultados nos mostra uma cor, que reflete a prioridade das

    mudanas no trabalho. A cor verde reflete prioridade baixa de mudanas; a cor

  • 37

    amarela tem prioridade mdia; a roxa reflete prioridade alta e a cor vermelha,

    prioridade muito alta de mudanas.

    Questionrio Nrdico

    A atividade de registro de distrbios osteomusculares vem se tornado cada vez

    mais frequente entre os trabalhadores em diversas empresas. O Questionrio

    Musculo-esqueletal Nrdico (Nordic Musculoskeletal Questionnaire), foi

    desenvolvido com a proposta de padronizar tipos de mensurao de descries de

    sintomas osteomusculares e, assim, facilitar a comparao dos resultados entre os

    estudos. Em seu desenvolvimento no h indicao do mesmo como base para

    diagnstico clnico, mas para a identificao de distrbios osteomusculares, podendo

    constituir-se como um importante instrumento de diagnstico do posto de trabalho ou

    do ambiente. A figura 6 a seguir apresenta a configurao do questionrio Nrdico.

    Figura 6: Questionrio Nrdico.

    Fonte: arquivosedfisica.blogspot.com.br/2013/05/qnso-questionario-nordico-de-sintomas.html

    2.2 Atividade de Hidrojatemento

    A fim de proporcionar segurana na atividade hidrojateamento aliam-se a

    WJTA (2012), a NR 34 (BRASIL, 2011) e o Manual de Instrues do fabricante

  • 38

    (HAMMELMANN INDUSTRY, 2012) para destacar que na execuo dos trabalhos,

    devem ser tomados os seguintes cuidados:

    a) demarcar, sinalizar e isolar a rea de trabalho;

    b) aterrar a mquina de jato/hidrojato;

    c) empregar mangueira dotada de revestimento em malha de ao e dispositivo

    de segurana em suas conexes que impea o chicoteamento;

    d) verificar as condies dos equipamentos, acessrios e travas de segurana;

    e) eliminar vazamentos no sistema de hidrojateamento;

    f) somente ligar a mquina aps a autorizao do hidrojatista;

    g) operar o equipamento conforme recomendaes do fabricante, proibindo

    presses operacionais superiores s especificadas para as mangueiras

    h) impedir dobras, tores e a colocao de mangueiras sobre arestas sem

    proteo;

    i) manter o contato visual entre operadores e hidrojatista ou empregar

    observador intermedirio;

    j) realizar revezamento entre hidrojatista, obedecendo resistncia fsica do

    trabalhador;

    k) Nunca burlar, bloquear ou substituir inadequadamente os elementos de

    segurana;

    l) Evitar tencionar longitudinalmente (puxar) partes do equipamento

    juntamente com a mangueira.

    Complementando o item 34.8 (Trabalhos de Jateamento e Hidrojateamento) da

    NR 34 ressalta que os hidrojatistas devero utilizar os seguintes EPIs de proteo:

    - para olhos e cabea: os trabalhadores devem utilizar mscara de ar mandado

    e capacete com jugular.

    - para mos: os trabalhadores devem utilizar luvas impermeveis de

    preferncia de PVC.

    - auditiva: obrigatrio a utilizao de protetor auricular (tipo plug + tipo

    concha).

    - para os ps: os hidrojatistas devem utilizar calados de segurana com

    cobertura de ao com pelo menos 30% do comprimento do calado. Os

    calados devem ser de material impermevel. recomendado tambm a

    utilizao da perneira de aramida por cima da bota.

  • 39

    - para o corpo: obrigatrio a utilizao de vestimentas impermeveis de

    PVC (BRASIL, 2011).

    Com o intuito de melhor entendimento sobre essa ocupao vale ressaltar

    algumas definies contempladas em diretrizes da Petrobrs (PG - 2E7 00337 - C -

    MS - Segurana nos Trabalhos de Tratamento de Superfcie atravs de

    Hidrojateamento) e com as Prticas Recomendadas na utilizao de Hidrojateamento

    a Alta Presso aprovada pela WJTA (Water Jet Technology Association). As normas

    definem hidrojateamento como uma tcnica para remoo ou limpeza de superfcie

    que emprega energia de jato dgua sob presso (Sistema de Preparao de Superfcie

    com gua SPSA). Deste modo, no desgasta a superfcie jateada, retirando apenas

    borracha, ferrugem, plstico, tinta ou outro material que no faa parte da estrutura da

    superfcie metlica. E ainda, este processo no produz fasca, sendo desta forma

    vivel aplicao em reas de risco.

    De acordo com a WJTA (2012) existem trs tipos de presses operacionais:

    Hidrojateamento a alta presso (High Pressure Hydrojetting): consiste na

    limpeza com gua utilizando presses de operao de 5.000 psi (345 bars)

    at 10.000 psi (689 bars). Atravs do hidrojateamento a alta presso

    possvel remover incrustaes em equipamentos industriais, tais como:

    trocadores de calor, tanques, evaporadores, caldeiras e etc.

    Hidrojateamento a super alta presso (Super High Pressure Hydrojetting):

    a limpeza utilizando presses de operao de 10.000 psi (689 bars) at

    30.000 psi (2067 bars).

    Hidrojateamento a ultra alta presso (Ultra High Pressure Hydrojetting):

    Limpeza utilizando presses acima de 30.000 psi (2067 bars).1

    A Associao alerta que os trabalhadores devem estar devidamente protegidos

    contra os riscos decorrentes das atividades de hidrojateamento, em especial os riscos

    mecnicos.

    E ainda que a atividade de hidrojateamento de alta presso deve ser realizada

    em tempo contnuo de at uma hora; com intervalos de igual perodo, em jornada de

    trabalho mxima de oito horas (WJTA, 2012).

    1 Cada bar (unidade de medida de presso mecnica ou hidrulica) igual a 14,5 psi (pounds per square inch ou seja libra por polegada quadrada). (GOUVEIA, 2012).

  • 40

    2.2.1 Qualificao tcnica do hidrojatista

    Este profissional para ser habilitado, antes de tudo deve ser qualificado e

    certificado pelo fabricante do equipamento, ou ser treinado e aprovado pelo

    Engenheiro responsvel pela execuo dos servios de hidrojateamento, conforme

    determinado pela NR 34 - 34.8.1 (BRASIL, 2011).

    2.2.2 Funes do hidrojatista

    Dentre suas funes o colaborador responsvel por:

    realizar verificaes dirias e manutenes em mquinas, equipamentos e

    mangueiras;

    encomendar e manter peas de reposio para os equipamentos;

    limpar bens tubulares com a mquina de hidrojato; e

    operar a mquina de hidrojato (BRASIL, 2011).

    2.2.3 Atividades desenvolvidas no hidrojateamento

    O hidrojatista, a fim de retirar os resduos de superfcies deve aplicar o jato em

    altssima presso e velocidade de gua para que alcance o ponto de limpeza ou de

    corte. Esses parmetros vo depender do objetivo da atividade.

    Para esses fins, o equipamento a ser utilizado a bomba de hidrojateamento

    Ultra Alta presso, j que este equipamento eleva a presso da gua at que esse

    impacto remova por completo ferrugens, incrustaes, tintas, entre outras substncias,

    altamente aderidas nas estruturas. A potncia gerada por essa bomba permite ao

    hidrojatista cortar concreto, metal etc.

    Na atividade de corte o resultado alcanado devido a diminuio do orifcio

    de sada da gua, por meio de bicos calibrados que podem variar em sua forma,

    material de construo, vazo, entre outros. Os bicos mais conhecidos so os de

    discos internos feitos de safira ou rubi, mas existem bicos com discos internos de

    diamante, que so mais caros, porm de melhor rendimento.

    Segundo o que informa o fabricante, Hammelmann Industry, o jato dgua

    2.500 bars tem a velocidade aproximada de 580 m/s, maior que a velocidade do som

    que 340 m/s ao nvel do mar. O rudo gerado pelo jato pode atingir a escala de 120

    dB o que leva a considerar as advertncias da NR 15 Atividades e Operaes

    Insalubres (BRASIL, 1978), que trata dos limites de tolerncia de rudo contnuo ou

  • 41

    intermitente estipulando o nvel de 115 dB como limite mximo para o rudo, e

    determina 7 minutos para a exposio do colaborador a este risco fsico. Deste modo,

    o volume de 120 dB extrapola as recomendaes da NR 15 e coloca o hidrojatista em

    condio de risco de perda auditiva caso no utilize o EPI correto.

    Aprofundando a questo mecnica, o quadro abaixo (figura 7) mostra a linha

    evolutiva da velocidade versus a presso do jato dgua resultando na limpeza das

    superfcies.

    Figura 7 Velocidade x presso do hidrojato

    Fonte: Adaptado de Hammelmann (2012)

    Os dados mostrados no grfico acima demonstram a potncia do impacto,

    resultante da vazo de sada do fluxo de gua na pistola de hidrojato que oferece

    reao oposta ao operador, ou seja, o que se denomina fora de recuo ou fora de

    reao proporcional a vazo e a presso de aplicao do equipamento. Ao aproximar

    o jato da estrutura, tem-se uma vazo concentrada (rea menor); em contra partida ao

    afastar o jato o leque maior (rea maior) aumentando a fora de reao no

    colaborador.

    Diante desse panorama recomendvel que o hidrojatista quando estiver

    jateando deve posicionar a pistola de forma adequada de modo a lidar com a fora de

    reao, mantendo sempre a pistola prxima ao corpo e segurando o punho com a

  • 42

    outra mo, aumentado ainda mais a fora aplicada na sustentao da pistola, e

    garantindo a segurana no uso do equipamento.

    De acordo com Rodrigues (2002) o preparo qumico de superfcies para

    revestimentos tem sua eficincia acrescida em no mnimo 10 vezes, com

    hidrojateamento, em decorrncia da reduzida deposio de resduos salinos, como os

    cloretos, sais ferrosos, sulfatos, etc., o que proporciona um excelente grau de limpeza

    e simultaneamente um acabamento superficial correto, requer alguns requisitos

    mnimos de segurana a fim de evitar acidentes.

    Por fim, importante que o hidrojatista verifique se seu local de trabalho e

    reas prximas esto limpos, secos e sem agentes combustveis, inflamveis, txicos e

    contaminantes (SESI, 2012). Caso esteja de acordo com as normas de segurana ento

    a rea pode ser liberada, mas somente aps constatar a ausncia de atividades que no

    podem ser realizadas ao mesmo tempo e prximas aos trabalhos a quente (exemplo:

    trabalho de pintura).

    2.4 Fatores Humanos e Fatores Organizacionais dos Postos de Trabalho

    A relao entre o homem e a atividade diretamente influenciada por diversos

    fatores que alteram o desempenho e a eficincia do trabalhador versus atividade,

    dentro do campo da Ergonomia podem ser citadas alm das posturas e movimentos,

    os fatores ambientais, humanos e organizacionais.

    De acordo com Iida (2009) a Ergonomia estuda fatores importantes para o

    trabalho como, entre outros:

    O homem caractersticas fsicas, fisiolgicas, e sociais do trabalhador;

    influncias do sexo, idade, treinamento e motivao.

    A mquina entende-se por mquina todas as ajudas materiais que o

    homem utiliza no seu trabalho, englobando equipamentos, ferramentas,

    mobilirio e instalaes.

    O ambiente estuda as caractersticas do ambiente fsico que envolve o

    homem durante o trabalho, como a temperatura, rudos, vibraes, luz,

    cores, gases e outros.

  • 43

    As informaes refere-se s comunicaes existentes entre os elementos

    de um sistema, a transmisso de informaes, o processamento e a tomada

    de decises.

    A organizao a conjugao dos elementos acima citados no sistema

    produtivo, estudando aspectos como horrios, turnos de trabalho e

    formao de equipes.

    As consequncias do trabalho aqui entram mais as informaes de

    controles como tarefas de inspees, estudos dos erros e acidentes alm

    dos estudos sobre gastos energticos, fadiga e stress.

    Esses fatores levam esse autor a afirmar que os objetivos prticos da

    Ergonomia so a segurana, satisfao e o bem-estar dos trabalhadores no seu

    relacionamento com sistemas produtivos. A eficincia vir com resultado. Em geral,

    no se aceita colocar a eficincia como objetivo principal da ergonomia, porque ela,

    isoladamente poderia significar sacrifcio e sofrimento dos trabalhadores [...] (IIDA,

    2009, p. 193).

    Iida (2009) adverte que muitas vezes, projetos inadequados de mquinas,

    assentos ou bancadas de trabalho obrigam o trabalhador a usar posturas inadequadas.

    Dependendo do tempo mantido na tarefa podem provocar fortes dores localizadas

    naquele conjunto de msculos solicitados na conservao dessas posturas.

    Outros aspectos so referidos por Barbosa et al. (2007) como o planejamento e

    localizao de dispositivos e materiais de trabalho; as caractersticas do posto, tais

    como cadeiras, mesas, bancadas; a quantidade, qualidade e localizao da iluminao,

    indicadores sobre melhoria nas condies de rudo e seu controle, algumas questes

    individuais, como problemas de doenas crnicas degenerativas anteriores podem

    facilitar ou predispor o trabalhador ao desenvolvimento de LER/ DORT. Pode-se entender, ento, que uma anlise ergonmica do posto de trabalho o

    determinante bsico do desempenho, produtividade, sade, qualidade de vida do

    colaborador, o que benfico para o trabalhador e a empresa.

    2.4.1 Jornada de trabalho

    Segundo o Portal Brasil jornada de trabalho o tempo em que o empregado

    permanece em seu local de trabalho, ou disposio de seu empregador. A durao

    da jornada no poder exceder 44 horas semanais ou oito horas dirias, o que

  • 44

    configura hora extra. A hora extra pode ocorrer em algumas situaes, atravs de

    norma coletiva, assinatura de um acordo entre as partes, necessidade imperiosa de

    concluso de trabalho iniciado, a remunerao deve ser paga a partir de 50% do valor

    da hora normal.

    2.4.2 Trabalho em turnos e noturno

    De acordo com Pinto e Mello (2013) o trabalho por turnos caracterizado por

    formas organizadas da jornada diria, em que so realizadas atividades em diferentes

    perodos do dia e da noite.

    A Constituio Federal de 1988 prev em seu Artigo 7, inciso IX, que a

    remunerao do trabalho noturno seja superior ao diurno. O trabalho noturno ocorre

    entre as 22h do dia anterior at s 5h do dia seguinte, realizado por vigias, porteiros,

    seguranas, motoristas de transporte pblico e trabalhadores de fbricas e indstrias,

    contratados em regime CLT e recebem um adicional noturno de 20% acrescido em

    seu salrio.

    No entanto, quem trabalha em sistema de revezamento semanal ou quinzenal

    no tem direito a receber este adicional, por exemplo, profissionais que trabalham

    noite por uma semana, em sistema de planto, alternando com trabalhos durante o dia.

    No caso da jornada noturna urbana, a hora tem 52,30 minutos, diferentemente da

    diurna, de 60 minutos. Essa disposio legal reduz em 12,5% a hora noturna e o

    salrio deve ser pago com base nesse clculo.

    Existem pausas para repouso ou alimentao, que dependem das horas

    trabalhadas, assim as jornadas de at quatro horas no contemplam intervalos, de

    quatro a seis horas devem ter uma pausa de 15 minutos. J em perodos noturnos

    acima de seis horas obrigatria a parada para o repouso de no mnimo uma hora.

    Entretanto, vale destacar que o trabalho noturno dos empregados em indstria

    petroqumica regulado pela Lei n. 5.811, de 11.10.1972, no se lhe aplicando a hora

    reduzida de 52 minutos e 30 segundos prevista no art. 73, 2, da CLT.

  • 45

    2.4.3 Motivao

    A fim de controlar ou diminuir os efeitos da monotonia um aspecto

    psicossocial deve ser inserido na tarefa, que a motivao, entendida como os

    desejos, aspiraes e necessidades que influenciam o comportamento do indivduo.

    Com o mesmo entendimento, a importncia da motivao abordada por Itiro

    Iida quando refere que existe no comportamento humano algo que faz uma pessoa

    perseguir um determinado objetivo, durante certo tempo, que pode ser curto ou longo,

    e que no pode ser explicado somente pelos seus conhecimentos, experincias e

    habilidades. Esse algo conhecido como determinao, impulso, objetivo,

    necessidade ou mais genericamente chama-se motivao (IIDA, 2009, p. 183).

    Dentro do contexto da motivao, existem diversas teorias que procuram

    explicar a motivao e as suas causas, onde a mais conhecida a Teoria de Abraham

    Maslow, representada por uma pirmide na qual as pessoas so motivadas a alcanar

    certas necessidades bsicas relacionadas com o bem-estar fsico ou intelectual.

    Observa-se que as necessidades do ser humano partem da fisiologia at

    alcanar o nvel psicolgico de auto-realizao. Ao percorrer o caminho das

    necessidades bsicas at o pico, perpassam por segurana, relacionamentos sociais, a

    estima que vivenciada pelo status adquirido para finalmente chegar ao sucesso da

    auto-realizao, foco fundamental da motivao.

    Colaboradores motivados produzem melhores resultados, tanto para si

    mesmos, como para a empresa. Deste modo, deve ser um aspecto prioritrio para os

    gestores, manter seus funcionrios constantemente motivados.

    2.4.4 Estresse ocupacional

    De acordo com Gottlieb (2012, p. 1) o estresse ocupacional pode ser

    considerado um problema prevalente e oneroso que est muito presente nos locais de

    trabalho atualmente.

    Essa autora divide os estressores ocupacionais em trs categorias:

    1 categoria se refere a exigncias do trabalho e da tarefa em si e inclui: carga

    de trabalho elevada, excesso de trabalho, elevado ritmo de trabalho, trabalho em

    rodzio, em turnos, noturno, muitas horas extras, tarefas limitadas, fragmentadas,

  • 46

    invariveis, que proporcionam pouca estimulao e que exigem pouco uso das

    habilidades ou da expresso da criatividade. A alta exigncia de trabalho aliada ao

    baixo controle e ao baixo apoio social se relaciona negativamente com o bem-estar e,

    positivamente, com a tenso.

    2 categoria se refere aos fatores organizacionais e s exigncias de papis. O

    conflito de papis ocorre sempre que os indivduos enfrentam exigncias

    incompatveis de duas ou mais fontes. A forma mais comum de conflito de papis o

    conflito entre trabalho e famlia, quando ocorre um transbordamento negativo das

    demandas de trabalho para a famlia ou vice-versa. A ambigidade de papel reflete a

    incerteza que os funcionrios sentem acerca do que se espera deles no emprego. O

    contexto organizacional tambm pode ser considerado estressante quando, por

    exemplo, o estilo de gesto intolerante participao dos trabalhadores na tomada

    de deciso e h restries excessivas ao comportamento. Esse tipo de situao pode

    gerar baixa auto-estima, baixo nvel de satisfao e problemas gerais de sade fsica e

    mental. Relaes interpessoais insatisfatrias e lideranas inadequadas, como

    supervisores abusivos, tambm so elementos considerados estressantes.

    3 categoria se refere a condies fsicas como excesso de rudo, temperaturas

    extremas, ventilao ou iluminao inadequada e ergonomia imprpria.

    A Ergonomia pode contribuir para solucionar um grande nmero de

    problemas, relacionados com sade, segurana, conforto e eficincia. Quando

    consideradas adequadamente as capacidades e limitaes humanas, as condies de

    trabalho incluindo seu ambiente, com certeza o desempenho do trabalhador ser mais

    eficaz.

    2.4.5 Monotonia e repetitividade

    Os estudos de Iida (2009, p. 152) apontam que a monotonia a reao do

    organismo a um ambiente uniforme, pobre em estmulos ou com pouca variao das

    excitaes. Esses ambientes podem provocar sensao de fadiga, sonolncia,

    morosidade e uma diminuio da ateno, alm disso, as atividades prolongadas e

    repetitivas de pouca dificuldade tendem aumentar a monotonia.

    Neste mesmo contexto, Fabricio Motta analisa a monotonia sob dois aspectos,

    o ponto de vista da Psicologia e o ponto de vista da Fisiologia, e observa que o ponto

    de vista da psicologia cita que o trabalhador executar sua funo com maior

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    interesse, satisfao, motivao e bom rendimento se as atividades correspondentes a

    sua funo correspondem s capacidades e gostos da pessoa. Por outro lado, um

    operador que muito exigido, alm de sua capacidade, tambm no apresenta um

    bom rendimento. J sob o ponto de vista da fisiologia, necessrio haver variaes de

    excitao para que os rgos dos sentidos sejam estimulados e ativem as estruturas do

    crebro. Tarefas repetitivas diminuem o nvel de excitao do crebro e geram uma

    diminuio geral das reaes do organismo (MOTTA, 2009, p. 19).

    E ainda, acrescente-se a esses fatores, locais mal iluminados, muito quentes,

    ruidosos e com isolamento social tendem a fazer com que a atividade se torne

    montona e diminua a ateno, o que induz ao risco de incidente ou acidente.

    2.5 Aspectos Fsicos dos Postos de Trabalho

    Os postos de trabalho contemplam fatores ambientais que incluem rudo,

    iluminao, vibraes, ambiente trmico e qualidade do ar, deste modo suas

    consequncias podem afetar a sade, satisfao e bem-estar do trabalhador. Em

    decorrncia de aspectos fsicos no adequados, surgem alguns impactos causadores de

    diversos males que podem afetar a sade em geral do trabalhador, ocasionando assim

    um baixo nvel no desempenho e consequentemente uma queda na produtividade da

    empresa (TREBIEN et al., 2013).

    De acordo com Vidal e Carvalho (2008, p. 87), as aplicaes que a Ergonomia

    pode trazer para os postos de trabalho se fundamentam na sabida determinao da

    tecnologia fsica sobre a organizao do trabalho e as condies de trabalho,

    elementos que iro compor a equao dos resultados da empresa.

    Esses aspectos foram considerados na observao da atividade de

    hidrojateamento no campo de pesquisa, para tanto importante analisar, se no todos,

    mas pelo menos alguns aspectos, para copilar a demanda de riscos.

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    2.5.1 Layout industrial

    Os estudos de Borges (2001) referem que o layout industrial a disposio

    fsica do equipamento, incluindo o espao necessrio para movimentao de material,

    armazenamento, mo-de-obra indireta e todas as outras atividades e servios