o arauto 14

16
abril de 2010 www.arauto.info circulação em Salto e Itu distribuição gratuita O Jornal O Arauto é uma publicação da Faculdade de Comunicação e Artes do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - CEUNSP Nº 14 TV CELA Trem republicano Pouco pano Veja no Jornal do CEUNSP: Detentas da cadeia de Votoran- tim/SP pautam, entrevistam e produzem um programa de TV no qual podem mostrar sua visão do mundo. Embarque na “Maria Fumaça” que irá ligar Itu e Salto. Projeto de Turismo saiu de Trabalho de Conclusão de Curso de formandos do CEUNSP. Estudante de Moda confeccionou biquínis para concurso da Lycra e foi selecionado entre mais de mil concorrentes. pág.10 pág.15 Fotos: Lincoln Franco e Caio Cézar Parissoto Nunca tanta energia e comprometimento atingiram tantos em tão pouco tempo: Veja como foi a gravação de um clipe musical de dublagem feito pelo pessoal da FCA. pág.03 Olhar diante do CAOS (em duas partes) 1) Jovem jornalista conta como foi sua primeira grande cobertura: a enchente que arrasou Capivari. 2) Militar brasileiro da Força de Paz da Onu relata o que viveu no Haiti, antes e pós terremoto. Que tal a luz solar como fonte de alimento? pág.14 A vacinação contra a Gripe A pág.10 Morreu o cartunista Glauco, mas seus traços seguem vivos pág.06 André Timex / O Arauto

Upload: jean-frederic-pluvinage

Post on 08-Mar-2016

241 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

O Arauto, Jornal-Laboratorio da FCA-CEUNSP. Edicao de abril de 2010.

TRANSCRIPT

Page 1: O Arauto 14

abril de 2010www.arauto.info

circulação em Salto e Itudistribuição gratuita

O Jornal O Arauto é uma publicação da Faculdade de Comunicação e Artes do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - CEUNSPNº 14

TV CELA

Trem republicano

Pouco pano

Veja no Jornal do CEUNSP:

Detentas da cadeia de Votoran-tim/SP pautam, entrevistam e produzem um programa de TV no qual podem mostrar sua visão do mundo.

Embarque na “Maria Fumaça”que irá ligar Itu e Salto. Projeto de Turismo saiu de Trabalho de Conclusão de Curso de formandos do CEUNSP.

Estudante de Moda confeccionou biquínis para concurso da Lycra e foi selecionado entre mais de mil concorrentes.

pág.10

pág.

15

Foto

s: L

inco

ln F

ranc

o e

Caio

Céz

ar P

aris

soto

Nunca tanta energia e comprometim

ento atingiram tantos

em tão pouco tempo: Veja como foi

a gravação de um clipe

musical de dublagem feito pelo pes

soal da FCA.

pág.03

Olhar diante doCAOS

(em duas partes)

1) Jovem jornalista conta como foi sua primeira grande cobertura: a enchente que arrasou Capivari.

2) Militar brasileiro da Força de Paz da Onu relata o que viveu no Haiti, antes e pós terremoto.

Que tal a luz solar comofonte de alimento?

pág.

14

A vacinação contra a Gripe A

pág.

10

Morreu o cartunista Glauco,mas seus traços seguem vivos

pág.

06

And

ré T

imex

/ O

Ara

uto

Page 2: O Arauto 14

DA MESA DO REDATOR pág.02O Arauto / abr.10

www.ceunsp.edu.br

expe

dien

te

Publicação da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP).

Jornalista Responsável: Pedro Courbassier (MTb.: 23.727).Diagramação: Jean Pluvinage. Revisão e normatização da língua: Profª Maria Regina Amélio. Coordenador de Imagens e Fotografia: Carlos Oliveira (Arfoc-SP 23.862).Conselho Editorial: Prof. Edson Cortez; Prof. Ms. Filipe Salles; Profª Ms. Maria Paula Piotto S. Guimarães; Prof. Esp. Pedro Courbassier; Prof. Dr. Rubens Anganuzzi Filho.

O Arauto tem apoio da Agência Experimental de Comunicação e Artes (AECA) e parceria acadêmica com os estudantes de Comunicação Adriane Souza, Beatriz Silva, Gisele Gutierrez, Jean Pluvinage, Jéssica Bonatti, Lígia Martin, Luana Oliveira, Luiz Carlos Pesseudonimo, Marcos Freddi, Mariana Sugahara, Nelson Lisboa e Samuel Peressin (Jornalismo); André Timex, Fabiana Ritta, Josevane Victor e Paulo Henrique Baldini (Fotografia).Coordenador Geral da FCA: Prof. Edson Cortez. Gerente do Núcleo de Jornalismo da AECA: Prof. Esp. Pedro Courbassier.

Tiragem: 20.000 exemplares

Se a natureza é (todos sabem...) sábia, quem sou para não permitir maturação nos processos que envolvem a comunicação da FCA? Esse é o motivo deste O Arauto ter demorado um pouco mais (alguns dias) para ser lançado. Tínhamos a edição pronta quando fomos obrigados a nos reorga-nizar e reestruturar a equipe que faz o jornal.

Primeiro, o comunicólogo responsável pelo planejamento gráfico – e estampa – de O Arauto, o professor Murilo Santos, precisava reorganizar as tarefas na instituição. O trabalho dele mescla o envolvimento com o jor-nal, as atividades pedagógicas em salas de aula e ainda orientações sobre futuros projetos a serem feitos pela FCA (esses são segredos e serão infor-mados nas próximas edições). Arranjado tudo isso na agenda, a produção dos trabalhos melhorou. Vocês verão esse avanço nos próximos números.

Depois, as mesmas condições acima descritas envolvem este editor, também professor entre outras atividades. Com a nova organização, pode-rei conduzir O Arauto para que nada falhe.

Mas, mais importante, depois de 18 meses de bons serviços prestados, nosso redator universitário, o estudante Jean Frédéric Pluvinage, respon-sável por toda execução do Jornal do CEUNSP - ou “JC” - muda de ende-reço profissional: foi contratado pelo mercado e vai trabalhar na revista Desktop, de Itu, que trata de assuntos ligados à artes, eventos e softwares gráficos. E antes de desejar boa sorte ao Jean, é bom informar que ele pu-blicou texto na edição março/abril da revista Continuum (da Itaú Cultu-ral), coisa para poucos. Talento que sai para o mercado.

Escrevendo um pouco mais sobre o que acontece na FCA, não podemos ignorar a gravação do Lip Dub. Espécie de desafio entre faculdades, trata-se da execução de um vídeo com dublagem de uma canção (no caso da FCA, Vou Deixar, do Skank). Esse material é postado na internet e estudan-tes do mundo inteiro podem ver e votar na performance. A gravação foi uma festa, um verdadeiro carnaval nos blocos K e W do Campus V: ensaios, fantasias, companheirismo, sorrisos, música, sincronismo e até tirolesa. Vale a pena ver as fotos dos bastidores (páginas 6 e 7).

Os destaques da edição são dois textos de outro membro do 5º semes-tre de Jornalismo, Samuel Peressin. Ele foi o responsável por trazer dois assuntos trágicos ao debate Um Olhar Diante do Caos: enchente arraasa-dora em Capivari e o terremoto no país mais pobre das Américas, o Haiti.

Além dessas três reportagens, também mostramos que vem por aí a vacinação contra a Gripe A e um passeio numa “maria fumaça”, que pre-tende levar para o alto os números do turismo na região. Boa leitura! (Pedro Courbassier - editor)

Tarda mas não falha

Contato: [email protected] Blog: arautomania.blogspot.com Todos os textos são de responsabilidade de seus autores

Comunicação do LeitorOlá! Sou estudante de Direito no CEUNSP (4º ano) e sempre leio O Arauto. Gosto do

belo visual e das belas matérias, bem redigidas. Gostaria de escrever uma coluna sobre Direito, com temas, por exemplo, como direitos do consumidor e do cidadão, curiosida-des do Direito, novidades em leis. Mas seria numa linguagem mais acessível às pessoas que não tenham o conhecimento jurídico (leigos). Uma redação mais descontraída. O que acha? Acredito que irá enriquecer ainda mais algo que já está ótimo. Desde já agradeço o espaço.

Vinicius Mantovani ([email protected])– estudante de Direito, por e-mail.

Resposta da Redação – Agradecemos os elogios e a sugestão. Estamos estudando a possibilidade e a melhor maneira de usarmos a sua colaboração. E também sugerimos: Que tal a própria Faculdade de Direito ter sua publicação? A FCA pode dar o apoio necessário.

Bem interessante a reportagem sobre Bullying. Tema atual. Parabéns pelo jornal!

Daniel Huertas ([email protected]) – geógrafo de Sào Paulo/SP, por e-mail.

ACONTECE NA FCA

Recepção dos calouros foi movida a “Foto-Trote” e “Café com Bicho” O período de volta às aulas no Brasil costuma ser acompanhado por notícias de bar-

bárie. Trotes violentos são usados como um pedágio para a vida acadêmica, cuja única “justificativa” é a continuação de um ciclo de violência. Mas aqui na FCA temos uma visão diferente, muito diferente, desse rito de passagem. É o que demonstraram duas turmas, veteranos do curso de Fotografia e de Eventos, ao organizarem trotes muito criativos!

Os veteranos de Fotografia discutiam como iram recepcionar os ingressantes de seu curso quando a estudante Adriana Cruz teve uma ideia: fazer uma exposição com as fotos dos novatos. Os calouros, entuasiasmados, posaram para a câmera, esperan-do ansiosamente pelo resultado. “Ficou horrível!” disseram em coro ao verem as fo-tos. Com o uso do Photoshop todos os retratos viraram caricaturas, formando as figu-ras engraçadas. “Queríamos fazer um trote que interagisse com os novos alunos. Criar algo engraçado mas sem agredir!” explica Adriana. “O meu sorriso está igual mas o res-to é tudo surpresa!” brincou Paulo Henrique Baldini diante de sua versão “animada”.

“Breakfast” - Já os veteranos de Eventos organizaram um café da manhã especial. De-ram uma lista de comidas e bebidas para os novatos buscarem numa padaria próxima. Com todos os produtos em mãos eles prepararam em poucos minutos uma grande festa. Entre sucos e salgadinhos, alunos, professores e funcionários se integraram com muita descontração. “É um momento único. Essa reunião já permite a soma de experiências, uma bagagem de novas ideias”, explicou o veterano Fernando Branco.

Caricaturas feitas com fotos dos novos estudantes ficaram expostas no bloco K

Tartaruga é pescada (e devolvida) no rio Tietê

O pescador estava na ponte, perto do Campus V, em Salto, quando sentiu a linha puxar. Fisgou e trouxe à tona um réptil ao invés de um peixe: uma tartaruga. O flagra foi do estudante de Fotografia André Timex, que faz parte dos trabalhos práticos de Jornalismo Impresso, dos quais O Arauto faz parte.

Veja as fotos do Foto-Trote no link - http://bit.ly/trotefca

Edva

ldo

Santi

non/

O A

raut

o

And

ré T

imex

/O

Ara

uto

Page 3: O Arauto 14

pág.03O Arauto / abr.10

www.ceunsp.edu.br

Em 1610, foi oficialmente fundado o primeiro povoado pertencente à chamada pa-ragem, ou região, de “Outu-guassu”, que na língua tupi significa “Salto Grande” devi-do à queda d’água existente na hoje cidade de Salto. Na-quele ano, o bandeirante pau-lista Domingos Fernandes e seu genro Cristóvão Diniz construíram uma capela em homenagem à Nossa Senho-ra da Candelária, nos chama-dos “Campos de Pirapitingui”. Consta que a família Fernan-des possuía terras nesta re-gião em que se encontravam os “Campos” desde pelo me-nos 1604, mas não as habita-va. Parte da família se estabe-leceu nas terras próximas à Capela durante muitos anos nos quais Utuguassu foi “ter-mo”, ou seja, um bairro mais afastado e subordinado juri-dicamente à vila de Santana de Parnaíba. Apenas no ano de 1657 houve a sua elevação à categoria de “Vila de Nos-sa Senhora da Candelária de Utuguassu”, que com o passar dos anos tornou-se vila de Utu.

Apenas 185 anos depois,

em 1842, a “vila de Itu” foi reconhecida enquanto cida-de, após ter modificado muito a sua paisagem urbana. Em 1769, há registros da exis-tência de 2.700 habitantes e 1.230 escravos de origem africana. Também havia sete lojas de “secos e molhados”, sete sapatarias, sete carpinta-rias, sete alfaiatarias e vinte e seis engenhos de açúcar nos quais trabalhava a maioria dos escravos citados. Desde 1790 o calçamento das ruas já fora iniciado, e nessa época a ainda vila de Itu já era um centro comercial e econômico que dominava a região. Deste mesmo século XVIII datam as construções de seu patri-mônio arquitetônico mais fa-moso: as Igrejas. A capela de Santa Rita é de 1728, a Igreja do Bom Jesus data de 1765, a do Carmo é de 1777, a Matriz de 1780 e a do Patrocínio, já no século XIX, é de 1820.

Em 1798 já podiam ser contados 107 engenhos pro-duzindo açúcar e 60 fazendas de café. Para 1803 os núme-ros computados sobem para 8.000 habitantes e as recla-mações sobre a falta de água já eram frequentes. Muitos edifícios importantes e ainda conservados foram construí-dos no século XIX: o Hospital dos Lázaros de Padre Bento em 1807, o Colégio Nossa Se-nhora do Patrocínio em 1859. Logo após a chegada da ilu-

Os 400 anos de Utuguassu De paragem a vila. De vila a cidade conhecida em todo país

Maior que um orelhão:

Itu é sinônimo de patrimônio

colonial,republicano e

industrial

minação pública em 1864, foram inaugurados a Santa Casa de Misericórdia e o Co-légio São Luís (atual Quartel) em 1867, a Fábrica de Tecidos São Luís em 1869, o Cemité-rio Municipal em 1884 e o Mercado Municipal em 1905. Não podemos nos esquecer da importante participação da cidade na fundação do Par-tido Republicano Paulista em sua Convenção realizada no ano de 1873, com a inaugura-ção do Museu Republicano no antigo sobrado oitocentista da Família Almeida Prado, no ano de 1923.

Fazer uma linha do tempo com os principais aconteci-mentos dos 400 anos de Itu não serve apenas como lem-brança das antigas aulas de História, nas quais tínhamos que decorar datas e nomes; ainda bem que isso já mudou muito. Mas serve, na verdade, para termos ideia do proces-so pelo qual a cidade passou para chegar até este momento

And

ré T

imex

/ O

Ara

uto

Profª Drª Milena Fernandes Maranho - Pesquisadora e colaboradora do IFCH/Unicamp

de 2010. Serve também para fazer com que, ao passarmos em frente a tantas construções preservadas na cidade, as admiremos com olhos diferentes, com olhos de respeito.

Conservar o Patrimônio Histórico é também conhecer a própria História do lugar onde vivemos, trabalhamos ou estudamos, e fazer com que todos conheçam essas riquezas históricas e culturais, o que faz de nós “agentes his-tóricos”, ou seja, pessoas atuantes em nosso presente e no futuro de todos. Como já dizia o historiador inglês Char-les Boxer, “um povo que não é dono de sua própria história, nunca será dono de seu destino”, e para ser dono é pre-ciso conhecer, valorizar, conservar e defender.

Um passo importante para que mais pessoas conheçam e valorizem a rique-za cultural de Itu foi dado durante os

desfiles das Escolas de Samba de São Paulo. A Escola “Império da Casa Ver-de” apresentou o samba enredo “Itu: Fidelíssima terra de gigantes” e des-tacou principalmente a importância histórica da cidade. Uma curiosidade interessante... O título de fidelíssima foi dado a Itu no ano de 1822 porque alguns movimentos contrários à In-dependência do Brasil foram repre-endidos na então vila. Samba também é História... Mais resultados podem ser alcançados de forma individual, e apresentar a mesma eficácia para a conscientização do papel de todos en-quanto cidadãos, ou agentes históricos. Na verdade, muitas dessas ações estão ocorrendo exatamente neste momento de reflexão. Como será possível? Bom, se você leu este artigo até o fim, pode ter certeza de que está começando a fa-zer a sua parte.

Page 4: O Arauto 14

ESPECIAL

Água. Muita água. Re-sume-se a isso aquela que considero como mi-nha primeira grande ex-periência jornalística. O cenário dessa história é Capivari. Município com pouco mais de 46 mil ha-bitantes, que fica a cerca de 130 km de São Paulo e 40 km de Salto e que, de pacata cidade interio-rana, tornou-se assunto em rede nacional. Era a primeira semana de de-zembro e eu acabara de completar um mês de es-tágio no jornal A Gazeta - meu primeiro trabalho na área – quando ocorreu a primeira das quatro en-chentes que atingiram o município, entre os dias 7 de dezembro a 19 de janeiro, em decorrência das fortes e prolongadas chuvas que caíram na re-gião. Foram dias em que a água assombrou a cida-de, espalhando tristeza, desespero e destruição. Não irei apontar aqui quem ou o que acredito ser os responsáveis por tudo que aconteceu. Ape-nas pretendo relatar tudo de mais marcante que vi, ouvi, senti e pensei, mas que, ainda, não havia ou-sado dar vida, por meio de palavras.

Dias de “Atlântida” - Fui pego totalmente de surpresa. Óbvio. Não há como se preparar, pois,

Estudante de Jornalismo do CEUNSP e estagiário de A Gazeta de Capivari, conta como foi cobrir a inundação que assolou a cidade.

Samuel Peressin, do 5º semestre de Jornalismo, acompanhou o drama das

famílias de sua cidade.

O caosdiante

dos olhos

parte 1

infelizmente, desastres naturais não têm hora e data para acontecer. Com papel, caneta e uma câ-mera na mão, lá fui eu, cheio de dúvidas e incer-tezas, que, naturalmente, desapareceram depois de uma ou duas entrevis-tas e meia dúzia de fotos. Casas e ruas foram “abo-canhadas” pela água bar-renta. O que se via eram imensos “lagos” que tra-ziam consigo “partes” da tragédia. Boiavam sob a água peças de roupa, cal-çados, alimentos, peda-ços de móveis e brinque-dos, além de muito lixo. Moradores ignoravam o risco de contaminação e enfrentavam a água para resgatar seus bens ou, até mesmo, protegê-los, pois muitos demonstravam medo de que a casa fosse furtada. O ambiente era tenso, pesado. Incrédulas, as vítimas carregavam no semblante a desolação. Foi grande o número de pessoas que perderam absolutamente tudo. Casa, móveis, documen-tos. Para essas vítimas só restou a roupa do corpo e a esperança, mesmo que mínima, de seguir em frente. Esperança que me surpreendia num primei-ro momento dada a gran-de destruição. Mas que, depois de uma reflexão, parecia normal. Afinal, a vida tinha que conti-

nuar. Trabalhar para re-construir tudo aquilo que foi conquistado durante anos e perdido em minu-tos, era a única opção.

Vítimas - Nas palavras e gestos dos atingidos, os reflexos de quem queria, apenas, que tudo aquilo acabasse logo. Uma situ-ação que me lembro bem e dificilmente irei esque-cer, foi quando um se-nhor, de aparência saudá-vel, pele branca, cabelos grisalhos e aparentando ter uns 50 anos, surgiu em meio à rua alagada, saindo de sua casa, com água na altura do quadril, carregando uma garrafa de conhaque cheia e um copo. Já em “terra firme”, com a garrafa na mão, ele disse para duas mulheres que também haviam per-dido tudo: “Olhem o que consegui salvar. Agora, a única coisa que nos res-ta é beber. Já perdemos tudo mesmo”. Fiquei no local por mais uns dez minutos e vi os três, di-vidindo o mesmo copo, degustarem a bebida e a oferecerem para todos os “companheiros de tra-gédia” que por ali pas-savam. Foi como se eles tivessem encontrado na-quilo uma solução, mes-mo que momentânea, para esquecer o pesade-lo que estavam vivendo.

And

ré T

imex

/ O

Ara

uto

Sam

uel P

eres

sin

/ A

Gaz

eta

Samuel Peressin

Page 5: O Arauto 14

pág.05O Arauto /abr.10

www.ceunsp.edu.br

As enchentes• Ao longo dos muitos dias de chuva e das quatro enchen-

tes do rio Capivari, os desabrigados e desalojados, somados, beiraram a marca de quatro mil pessoas. O nível do rio chegou a ficar três metros acima do normal. Mais de 200 residências (em área verde ou área de risco) foram condenadas pela Defe-sa Civil. Foram ou estão sendo demolidas.

• Centenas de pessoas passaram o ano novo nos alojamen-tos da Prefeitura. Cinco casos de leptospirose foram confirma-dos. Nenhuma morte foi registrada.

• Uma ponte caiu e mais de 15 sofreram danificações e te-rão que ser recuperadas. Unidades de captação, tratamento e distribuição de água foram atingidas, comprometendo a dis-tribuição em diversos bairros.

• Comércios foram alagados e produtos perdidos.

• Como muitos pontos ficaram intransitáveis, para ir de um bairro a outro, era necessário trilhar caminhos alternativos - sempre mais demorados do que os normais.

• Doações, como roupas, calçados, alimentos, produtos de higiene pessoal e domésticos e colchões chegaram de diversas cidades, enviadas por empresas, prefeituras e moradores - o CEUNSP fez uma campanha interna e também colaborou com donativos.

• O governo municipal estimou em quase R$ 25 milhões os prejuízos. Foi decretada situação de emergência.

• Atualmente, 69 famílias (269 pessoas) estão em aloja-mentos da prefeitura. O restante, que também não pôde voltar para casa, alugou outro imóvel ou se fixou na casa de parentes ou amigos.

• Para algumas destas famílias, o drama chamado enchen-tes tem data para acabar. Estão sendo construídas 323 casas populares na cidade e parte delas deverão ser destinadas a fa-mílias atingidas. O acordo firmado entre a prefeitura e a Com-panhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), prevê que as casas sejam construídas em seis meses. As obras começaram no início de fevereiro.

Com toda a inocência das crianças, meninos – em sua maioria –, con-seguiam encontrar graça na tragédia. Eles tinham uma grande “piscina” na porta ou dentro de casa. Sem ter ideia que cor-riam riscos de contrair doenças, se divertiam. Nadavam, pulavam, brin-cavam com bolas. Logo imaginei que, talvez, to-dos os adultos atingidos quisessem ser como eles, para ver, mas não enten-der direito, tudo o que estava acontecendo.

A natureza - Já era janeiro e a cidade ainda estava alagada quando algo inusitado aconteceu. Em uma quarta-feira, 13 de janeiro, li, pela ma-nhã, um texto do escri-tor e jornalista gaúcho Luís Fernando Veríssi-mo, no qual ele defende que somos inquilinos de passagem pelo planeta. Porém, inquilinos que não respeitam os regu-lamentos do prédio cha-mado Terra. E como é natural, quando um mo-rador de um condomínio não cumpre as regras dos direitos e deveres, ele acaba punido. Baseando-me no pensamento de Veríssimo, presumi que com o planeta, realmente não há de ser diferente.

Neste mesmo dia, na parte da tarde, o Secretá-rio Chefe da Casa Civil de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira Filho, foi até Ca-pivari para anunciar a li-beração de R$ 2 milhões do governo estadual para ajudar na recuperação da cidade. Eu estava lá e du-rante a entrevista coleti-va ele disse uma frase que soou como resposta para minhas indagações sobre

o texto de Veríssimo. “A natureza cobra suas dívi-das. Muitas destas casas já estavam condenadas, há muito tempo, sem seus donos saberem. Es-tes acontecimentos nos ensinam que devemos ser mais cuidadosos no futuro”, declarou o secre-tário. Realmente o “bicho homem” não tem cuidado muito bem da sua casa e está pagando um alto preço por isso.

Ao final desse grande desastre, que acompa-nhei como estudante, fo-ram dias e situações en-riquecedoras, que jamais esquecerei. Como pessoa, um choque e um confli-to de realidades. Somos mais de seis bilhões de indivíduos espalhados pelo planeta. Seis bilhões de realidades. Senti que, quando inserido em uma que não é a minha, ques-tionamentos e valores são postos à prova e ten-dem a mudar.

Emocional x Profis-sional - A todo instante, ver, mas não se deixar en-volver pela dor daquelas pessoas, era um desafio. Separar o emocional do profissional foi difícil. Acredito que foi algo na-tural. Sou humano, ain-da. Digo ainda pois me questiono se a prática não enrijece o profissio-nal. Será que lidar com a desgraça de terceiros e fazer daquilo um ganha pão, com o tempo, não se torna algo normal, que não exerce sobre o jorna-lista nenhum sentimen-to? Ainda não encontrei a resposta. Não sei se um dia encontrarei. Mas sigo me questionando.

Frases dos moradores sobre o caos da cheia

“Falaram (a Defesa Civil) que a casa estava em risco. Eu gritei para o homem do trator: Deus está vendo o que vocês estão fazendo. A máquina só encostou e a casa foi pra baixo. Foi a última vez que eu vi meu barraco em pé.”Sandro José da Silva, 43 (Ele se recusou a ir para os alojamentos da Prefeitura e passou a morar em

um já desgastado Corcel azul, de um vizinho).

“O que conquistei em 13 anos, perdi em 13 minutos. Só consegui salvar minha esposa e meus filhos.”Vanderlei Silva, 45

“Comprei um pernilzinho, mas nem deu tempo de sentir o gosto, a água levou.”Roberto Bueno, 51 (Faltavam quatro dias para o ano novo e a semana que deveria ser de festa,

transformou-se em pesadelo para sua família).

Sam

uel P

eres

sin

/ A

Gaz

eta

Page 6: O Arauto 14

www.ceunsp.edu.br

VIDA UNIVERSITÁRIA

Lip Dub: As fotos mostram a agitação

ocorrida na noite (8 de março) em que foi

gravado o plano-sequência (gravação contínua,

sem cortes) que originou uma espécie de

videoclipe: encenação que dubla uma música

(a escolhida pela FCA foi Vou Deixar, do Skank)

ao mesmo tempo que mostra as instalações do

local.

O material está postado na web, precisamente

no Youtube e no University Lip Dub. Este último

motivou toda a agitação, pois provoca as

faculdades de todo mundo a fazer esse projeto

de “dublagem labial” (em tradução livro para o

inglês: lip dub). A FCA planejou (roteirizou)

e ensaiou por três dias e executou quatro

filmagens até finalizar o produto. A TV Tem.

A TV Tem, afilhiada Rede Globo gravou tudo e

exibiu no programa Revista de Sábado.

Fotos: André Timex, Fabiana Ritta, Paulo Henrique Baldini / O Arauto

Page 7: O Arauto 14

www.ceunsp.edu.br

O Arauto / abr.10pág.07

http://bit.ly/voudeixar

Page 8: O Arauto 14

REGIÃO

www.ceunsp.edu.br

O Arauto / abr.10pág.08

O ministro do Turismo, Luiz Barretto, esteve em Salto e em Itu, em fevereiro, para o lançamento da licitação para a implantação do Trem Republicano, um comboio pu-xado por uma “maria fumaça”, que percorrerá 7 quilômetros entre as duas cidades. O ministro afirmou à reportagem de O Arauto que o tu-rismo é cada vez mais uma opção de vida profissional para os jovens por ser a atividade econômica que mais cresce no mundo. “O turismo é sim uma grande possibilidade de inserção profissional do jovem. É uma indústria do futuro, que é limpa, que não polui e que gera in-tegração, gera renda e qualidade de vida”, destacou.

A aposta do turismo como op-ção de emprego e de vida para os jo-vens é referendada pela professora Sandra Rigatto, do curso de Turis-mo do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). Para ela o turismo é uma área in-teressante, vibrante, onde cada dia é uma nova experiência. “É um segmento que surge e que neces-sita de profissionais cada vez mais qualificados e competentes já que o consumidor do turismo é exigente e curioso. Quem entrar na área deve sempre investir, ao longo de sua carreira, na qualificação e na atua-lização porque é uma área que vive em constante mudança”, finaliza.

Números - Hoje, além de gerar 3 milhões de postos de trabalho em toda a sua cadeia econômica, o turismo também responde por 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, com amplas possibilidades de elevar mais ainda esse índice. Essa projeção deve-se ao fato do tu-rismo estar sendo estruturado em várias partes do país, indo além do turismo de passeio, principalmente no Rio de Janeiro e Nordeste, e o de negócios, em São Paulo.

Para o ministro, as possibilida-des do turismo são imensas porque o Brasil tem dimensões continen-

Trem Republicano agita turismo e deve gerar

mais empregos

Nome da atração vai relembrar aConvenção Republicana do século XIX

Copa de 2014 deve trazer novos negócios

A realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil deve atrair inúmeros novos negócios, inclusive no turismo regional. À imprensa, o ministro diz que a tradição ituana no futebol, a existência do Estádio Municipal “Dr. No-velli Júnior” e o plano do município de transformá-lo em uma arena multiuso poderão auxiliar na conquista de uma seleção europeia para por aqui treinar. Caso o projeto de construção da arena se viabilize, o Ministério do Turismo poderá auxiliar no aporte de verbas, caso as futuras instalações também con-templem o turismo.

tais, com uma natureza exuberante, como o Pantanal, a Floresta Amazô-nica e o litoral. Ele aponta a diver-sidade cultural como outro diferen-cial. “Além disso, nosso potencial industrial e comercial tem se am-pliado e colocado o país na rota do turismo de negócios. A chegada da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 também elevarão em muito o turismo”, aposta.

O trem deve ser instalado até junho de 2011, desde que a licita-ção federal seja concluída em maio, antes do início da vigência da Lei Eleitoral. Há a previsão do investi-mento de R$ 10 milhões em todas as instalações, tanto em Itu quanto no trajeto em Salto. A verba será usada na adequação das duas es-tações ferroviárias: uma na praça Gaspar Ricardo, no centro de Itu, e a outra no bairro da Estação, em Salto. Assim como na implantação dos trilhos e dormentes do trajeto de 7 quilômetros.

Estrangeiros – A renda recor-de gerada pelo turismo no ano de 2008 deve-se, em grande parte, à vinda de turistas estrangeiros, que somente em 2008 deixaram quase 6 bilhões de dólares no país. Dados atuais divulgados pela Embratur apontam que em janeiro deste ano os turistas deixaram no país U$ 566 milhões. No mesmo mês do ano passado este valor foi de US$ 495 milhões. O resultado é o segundo melhor da série histórica do BC, iniciada em 1947, para o mês de ja-neiro e fica atrás apenas da receita obtida no primeiro mês de 2008, quando os gastos de estrangeiros somaram US$ 595 milhões. “Este é um sinal claro de que o turismo brasileiro, além de ter sofrido me-nos do que outros países, está se re-cuperando rapidamente dos efeitos da crise econômica”, avaliou a pre-sidente da Embratur, Jeanine Pires.

“Temos recebido muitos turis-tas de lazer, o que é esperado para esta época do ano, mas também re-gistramos o crescimento dos turis-

Coordenadora do curso do CEUNSP aposta no crecimento do turismo

A professora Sandra Rigatto (foto abaixo), coordenadora do curso de Turismo do Ceunsp, cujas aulas são em Itu, banca a aposta do ministro que o turismo vai se desenvol-ver cada vez mais em nossa região, gerando empregos em diversas áreas, como na de hotelaria, eventos, gastronomia. “Hoje a nossa região tem muitos empregos gerados nessas áreas, como em agências de viagens, hotéis, restaurantes, organização de eventos públicos e empresariais, postos de apoio ao turista, guia de turismo e também em órgãos pú-blicos e ONGS qeu atuam em nossa região”, aponta.

Quanto ao trem republicano, a professora diz que ele vai ampliar a base da oferta turística de Itu e de Salto e também resgatar a importância histórica da região, con-tribuindo ainda para a preservação do patrimônio férreo.

Roteiro – Sandra lembra que o trem em fase de im-plantação em nossa região vai integrar os Roteiros Brasi-leiros de Trens, como Trem da Mantiqueira; Maria Fumaça da Serra Gaúcha; Trem de Jundiaí; Maria Fumaça de Cam-pinas.

Diferencial – Questionada sobre o diferencial do curso de Turismo do Ceunsp, a professora afirma que o aluno tem a seu dispor excelentes laboratórios e um corpo do-cente qualificado e atuante no trade turístico. A estrutura curricular está em sintonia com os grandes centros de for-mação do país e as aulas são sempre participativas, base-adas na prática da profissão, com atividades curriculares fora da sala de aula, que envolvem os alunos e estimulam os professores. “Nosso aluno saí formado com a possibili-dade de atuar como guia de turismo regional credenciado pela Embratur”, finaliza.

tas de negócios, sobretudo pela boa situação econômica do País e pelo interesse causado com a realização da Copa do Mundo e das Olimpía-das no Brasil”, ressaltou Jeanine.

Tendência – No contato com a imprensa regional, após a assina-tura da primeira licitação para o trem, de R$ 4 milhões e do compro-misso de empenhar outro R$ 1 mi-lhão até março, o ministro afirmou que o Trem Republicano Itu/Salto segue uma tendência nacional de revigoramento da sua malha ferro-viária para fins de transporte e de turismo. Ele lembra a inauguração do trem da “Volta do Pantanal”, no Mato Grosso, ocorrida no fim de 2009, além da restauração de um trem de “maria fumaça” no Espíri-to Santo. Outras atrações turísticas com locomotiva antigas estão pre-sentes na Serra Gaúcha, em Jagua-riúna/SP, na Serra da Graciosa, no Paraná, e entre São João Del Rey e Tiradentes/MG.

Em Salto – Antes de assinar o convênio de liberação de recursos em Itu, o ministro, na companhia de Geraldo Garcia e Herculano Passos Júnior – além de vereadores, secre-tários municipais e deputados – vi-sitou as instalações do Complexo da Cachoeira, ao lado do prédio histó-rico do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio.

FGV avaliará - A Fundação Ge-túlio Vargas, contratada pelo Go-verno Federal, em parceria com o Governo Estadual, fará um inventá-rio do turismo de Salto e Itu, para apontar deficiências e formas de ampliação de seu potencial. A ideia é qualificar as duas cidades para que possam lucrar com o turismo durante a Copa de 2014.

O Trem Republicano, pretendido pela administração de Itu como marco das comemorações dos 400 anos do municí-pio – em conjunto com Salto – relembra a Convenção Repu-blicana realizada em Itu, em abril de 1873, quando grandes nomes da política nacional, comerciantes e fazendeiros se reuniram para discutir a implantação da república no país. O encontro foi o primeiro que tratou do assunto e foi a semente da adoção do regime de oposição à monarquia, em 1889.

Nelson Lisboa

Ass

esso

ria

Impr

ensa

Sal

to

Carl

os O

livei

ra /

O A

raut

o

Page 9: O Arauto 14

www.ceunsp.edu.br

SENSIBILIDADE O Arauto / abr.10pág.09

www.ceunsp.edu.br

A primeira impressãoé a que fica?

Cientistas dizem que em 30 segundos

conseguimos formular até 200 impressões a

respeito de alguém que acabamos de conhecer

Todo começo pode ser di-fícil. É difícil por que é novo. E tudo o que é novo assusta. Quem disse a primeira vez que “a primeira impressão é a que fica” nunca se permi-tiu viver a vida de forma ple-na. Viver plenamente não é apostar apenas na primeira impressão. Por que não apos-tar na segunda? O que seria do primeiro encontro, em que geralmente estamos tão ansiosos que nem ao menos conseguimos desfrutá-lo?

Passamos por várias pri-meiras vezes, várias primei-ras impressões, boas ou nem tanto. Tivemos dificuldade em aceitar o irmão mais novo quando crianças, o novo cole-ga de classe que se destacava em sala, o novo colega de tra-balho. Temos dificuldade em aceitar o novo, nossa primei-ra reação é de rejeição.

Exemplos não faltam. Quem não se lembra do se-gundo prefeito negro do es-tado de São Paulo (sim, o se-gundo, o primeiro foi Paulo Lauro, que governou a capital paulista de agosto de 1947 a agosto de 1948). A primeira impressão? Anos de escravi-dão enfim seriam vingados na figura de um negro no po-der. Doce engano. Honestida-de nada tem a ver com cor da pele.

Várias personagens que permeiam o pensamento co-letivo se revelaram diferentes da nossa primeira impres-são. E afinal, onde está Bin Laden? O terrorista mais te-mido e procurado de todos os tempos? Há até quem no-ticiou que ele planejava um atentado ao Cristo Redentor! E qualquer pessoa pode ga-rantir que ele continua lá, no mesmo lugar de sempre, de braços abertos, velando pelos cariocas. Mas afinal, quem é ele? Terrorista ou defensor de um país invadido pelos ame-ricanos, seu principal alvo? Qual sua primeira impressão?

Susan Boyle - Foi exata-mente isso que aconteceu na Inglaterra em janeiro de 2009. Quando uma senhora

Pesquisa realizada entre os ingressantes de todos os cursos da FCA, com o objetivo de co-nhecer as primeiras impressões sobre a facul-dade, indicaram os seguintes resultados: 98% dos 159 alunos pesquisados fizeram uma boa avaliação dos professores, da in-fraestrutura e dos funcionários. Mesma quantidade que afirma que indicaria a FCA para um amigo.

Enquanto isso, na FCA...

Nem sempre conseguimos nos sair bem num primeiro encontro. Mas o mundo não vai acabar por conta disso. Mas para quem quer arrasar de primeira, essas dicas valem ouro:

• O corpo fala tudo. Braços estendidos ao longo do corpo indicam recepcividade e atenção.

• Chame a pessoa pelo nome dela. De-monstra atenção. Elogios também funcionam, mas sem exageros.

• Converse olhando nos olhos.

• Seja você mesmo. Tentar ser o que não é sempre acaba em desastre.

• Saiba ouvir.

• Aceite opiniões diferentes das suas; seja flexível.

• Seja educado sempre.

• Cuide de sua aparência.

• Seja pontual.

de quase 48 anos entrou no palco do programa Britain’s Got Talent. Jurados e plateia deixaram claro, com suas ex-pressões, que não acredita-vam na capacidade daquela senhora. Não demorou mui-to para vermos todo o teatro aplaudindo de pé a apresen-tação de “I dreamed a dream”. Atuação que deveria - pela primeira impressão - ter sido o fracasso da noite. Essa se-nhora é Susan Boyle e dificil-mente alguém não a conhece, afinal foi um dos vídeos mais acessados na internet. Gra-vou CD. Vendeu milhões.

Realmente, a 1ª impres-são bate, mas será que fica? Há primeiras impressões que são verdadeiras e o melhor de tudo, positivas. Às vezes se faz necessário causar uma boa impressão, pois ela fica-rá de fato. Exemplo: em uma entrevista de emprego. “A pessoa chega toda suja do seu lado, você julga de cara”, diz o estudante Jean Lucas Pine.

Pesquisa - As palavras de Jean são confirmadas por um estudo realizado nas fa-culdades de Ohio e Minneso-ta, pelos cientistas Artemio Ramirez Jr. e Michael Sunna-frank e publicada em 2004, no Journal of Social and Per-sonal Relationships. Segundo esses especialistas, nos pri-meiros três minutos de um primeiro encontro decidimos o tipo de relacionamento que desenvolveremos com essa pessoa. A primeira impres-são seria tão marcante que dificilmente mudaríamos de opinião. “Se a primeira impressão foi negativa, a co-municação em seguida passa a ser restrita, dificultando o desenvolvimento de qualquer tipo de amizade”, afirmou Ra-mirez em seu artigo.

O estudante de Comuni-caçao Thales Puglia não con-corda e é categórico: “Só não muda o que está morto!” e

DICAS PARA UMA BOA IMPRESSÃO

And

ré T

imex

/ O

Ara

uto

Gisele Guitierrez

continua “Já mudei diver-sas vezes a minha primeira impressão.” Já Paula Pires, também universitária, acre-dita no ditado: “A primeira impressão é algo profundo e marcante. Em mais de 80% dos casos isso acontece mes-mo”, diz ela. Porém, Paula completa lembrando que “é uma situação mutável”.

Julgamos pela aparência basicamente. Observamos a fisionomia, analisamos a linguagem corporal e incons-cientemente o nosso cérebro entende e classifica o que é positivo e negativo. Braços cruzados na frente do corpo, por exemplo, o cérebro inter-preta como uma atitude de defesa.

Mas será que três mi-nutos são suficientes para esse julgamento? Pesquisa-dores das Universidades de Tufts, Harvard e Nova York, afirmam que sim. Eles exami-naram a atividade cerebral no momento em que duas pesso-as se conhecem e observaram que a amígdala cerebral (que funciona como um alarme contra perigos, tanto físicos como emocionais) e o córtex cingular posterior (responsá-vel pela formação de valores e decisões) ficam extrema-mente ativos neste período. De acordo com esse estudo, dirigido por Elizabeth Phelps, o ato de conhecer alguém en-volve processos neurológicos complexos. As avaliações são feitas rapidamente, de forma inconsciente na maioria das vezes, de acordo com nossos próprios valores e de caracte-rísticas que julgamos impor-tantes. Segundo os estudos, a química que acontece no nosso corpo quando nos de-paramos com o novo existe, mas não quer dizer que não podemos errar nos nossos julgamentos. Afinal, como ou-tro ditado bastante popular diz, “as aparências enganam”

e muitas vezes nos deixamos levar pelo pre-conceito. E aquela ruguinha no meio da testa, que o nosso cérebro interpreta como sendo uma expressão de raiva, pode não ter nada a ver com você.

Page 10: O Arauto 14

www.ceunsp.edu.br

O Arauto / abr.10pág.10SAÚDE

OS INIMIGOS OCULTOS

Gripe A: começou vacinação preventiva

Conheça a história de vida do parasitólogo e pesquisadorErney Plessmann, que gerenciou instituições de combate aos vírus

Dr. Plessmann, conte sua tra-jetória acadêmica.

Formei-me em 1959 na Facul-dade de Medicina da USP. Logo em 1961, no começo da carreira docen-te, fui contratado como auxiliar de ensino pela aquela Faculdade, lota-do no Departamento de Parasito-logia, conhecido como o “Departa-mento Vermelho” por suas posições ditas de esquerda. Na realidade, o Departamento lidava com doenças que interessavam às populações menos favorecidas da sociedade (Malária, Doença de Chagas, Es-quistossomose, verminoses intesti-nais e outras) o que nos dava uma percepção aguda da grave situação sanitária do país diante da qual não conseguíamos nos calar. Por causa disso, em 1964, durante o golpe mi-litar, alguns de nós foram demitidos da USP. Fui para os Estados Uni-dos contratado como docente pela Universidade de Wisconsin, em Madison. Lá fiquei por cinco anos. Aprendi muito e conheci a ciência do primeiro mundo, da qual nunca mais me afastei.

Voltei ao Brasil para a Escola Paulista de Medicina, hoje a Unifesp, onde fiquei 15 anos como professor titular e chefe do Departamento de Parasitologia. Durante esse perío-do, passei um ano e meio em Paris, no Instituto Pasteur, apreendendo Biologia Molecular. Em 1986 pres-tei concurso para professor titular do Departamento de Parasitologia da USP, onde acabei ficando até me aposentar aos 70 anos, em 2005. Inicialmente, na USP, geri um pro-grama de modernização para alo-car computadores e servir os campi com um sistema de comunicação por fibras ópticas. Isso ocorreu mui-

to antes da Internet se popularizar. Acho que o sucesso desse programa teve a ver com o convite do Reitor José Goldemberg para que eu assu-misse o recém-criado cargo de pró-reitor de Pesquisa da USP. Cumpri meu mandato com o Goldemberg e mais dois mandatos com o reitor que o sucedeu, Roberto Leal Lobo e Silva Filho. Devo ter tido gestões satisfatórias, porque um segmento considerável da USP exigiu que eu me candidatasse a reitor. Felizmen-te perdi por 14 votos.

Estive em sossego no meu labo-ratório com meus alunos e minha pesquisa até 2001, quando o gover-nador me convidou para assumir a direção do Instituto Butantan. Me-ti-me outra vez em gestão, mas não foi ruim. Gostei muito. O Butantan é uma instituição de renome cien-tífico internacional e igualmente popular por causa das cobras, co-nhecido tanto quanto o Pelé por to-dos os lugares da Terra onde andei. Infelizmente não pude ficar muito tempo no Butantan, porque logo no início do governo Lula fui con-vocado a assumir a Presidência do CNPq. Fiquei lá 5 anos e parece que minha gestão foi importante para restabelecer o CNPq como agente maior do financiamento à pesqui-sa no país. Porém o CNPq me deu muito trabalho, além de me obri-gar a morar em Brasília, longe de minha família. Resolvi voltar à USP, aos prazeres de minhas pesquisas.

Quais foram suas principais pesquisas no campo da parasito-logia?

Desde os tempos da Faculdade de Medicina que estudo doença de chagas, uma doença de complica-

Já há novos casos de gripe A pelo Brasil. A doença é causada pelo vírus H1N1 e popularmente conhecida como gripe suína. Mas ao contrário do ocorrido ano passa-do, desta vez há uma vacina sendo aplicada para evitar uma nova epi-demia. A vacinação contra a gripe suína em São Paulo começou em março. Desde o dia 8, com a vaci-nação dos profissionais de saúde realizados pela Secretaria Estadual de Saúde.

A segunda fase de vacinação da gripe suína começou no dia 22 de março, para atender gestantes, crianças a partir de seis meses e menores de dois anos de idade e

portadores de doenças crônicas, asmáticos graves, diabetes, pesso-as imunodeprimidas, cardiopatas, portadores de doenças respirató-rias crônicas, dentre outros. Ges-tantes poderão ser vacinadas en-tre 22 de março e 21 de maio. Já as crianças de seis meses a dois anos e os portadores de doenças crônicas entre 22 de março e 2 de abril.

A terceira fase de vacinação ocorrerá entre os dias 5 e 23 de abril. Todos os jovens entre 20 e 29 anos do Estado de São Paulo pode-rão ser vacinados.

Na quarta fase, entre os dias 24 de abril e 7 de maio receberão

a vacina os idosos a partir dos 60 anos que portem doenças crônicas, os demais idosos irão tomar vacina contra a gripe comum.

Na quinta e última fase, entre os dias 10 a 21 de maio, serão va-cinados adultos entre 30 e 39 anos de idade.

A Secretaria de Saúde também convoca os paulistas a doarem sangue antes de tomar a vacina, para assegurar que haverá sangue disponível durante a campanha de vacinação. É recomendado não doar sangue nas próximas 48h depois de tomar a vacina. (da redação)

Mais informações sobre a campanha

de vacinação no site:

www.cve.saude.sp.gov.br

Dr. Plessmann (à direita) durante encontro

com o ministro de Ciência e Tecnologia

de Moçambique

Jean Pluvinage

Inimigas sem rosto e forma, as do-enças infecciosas precedem a existência dos homens e irá nos acompanhar por toda a história. Sua presença constante já infectou inclusive nossa arte e cultura: na Ilíada a peste era um castigo de Apolo sobre os gregos; na Bíblia Deus adoece os egípcios captores dos hebreus. Narrativas contemporâneas como “A Peste” de Albert Camus e “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago abandonam a visão de uma pu-nição divina e apontam o caos social que as epidemias provocam - com as institui-ções derrotadas todos se vêem diante do absurdo, o que não tem sentido.

O medo que sempre acompanha do-enças e epidemias não tem vacina, mas a melhor arma contra ele é muita informa-ção. Para isso entrevistamos o Dr. Erney Plessmann, autoridade nacional do cam-po da Parasitologia [ciência que estuda a relação biológica onde um organismo tira proveito de outro]. Formado em medicina pela USP, Erney tem um extenso currículo que inclui a chefia do Departamento de Parasitologia da UNIFESP, a pró-reitoria de pesquisa na USP, a direção do instituto Butantan, e a direção do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Atualmente Erney se dedica as pesquisas sobre Filogenia [ciência que estuda as relações ancestrais entre espé-cies conhecidas]. Ele revela para O Arauto sua trajetória de vida, informações sobre a gripe A H1N1 [a gripe suína], malária e dengue e a posição global do Brasil na produção de pesquisas científicas.

Page 11: O Arauto 14

O Arauto / abr.10pág.11

www.ceunsp.edu.br

Gripe A: começou vacinação preventiva

Dr. Erney Plessmann com

pacientes na África.

ções cardiológicas e digestivas que afligia milhões de brasileiros e hoje ainda mantém sob ameaça dezenas de milhões de latino-americanos. Felizmente o Brasil conseguiu con-trolá-la. Nunca me ocupei da parte médica da doença, apenas de seu causador, o Trypanosoma Cruzi. Dediquei-me ao estudo de sua bio-química e sua biologia molecular e acho que minha contribuição teve alguma importância.

Mais tarde passei a estudar tam-bém o parasita da malária e a sua epidemiologia molecular [ciência que ajuda a determinar os padrões de ocorrência de uma doença] na Amazônia. A malária acomete anu-almente dezenas de milhões de africanos e cerca de três milhões de latino-americanos. A doença é mais grave em crianças e fatal em alta percentagem na África, mas mui-to pouco no Brasil. Felizmente. Em função dessas parasitoses [doenças causadas por parasitas] acabei per-correndo todo o mundo, seja a ser-viço da OMS (Organização Mundial da Saúde) ou do governo brasileiro ou em função de meus projetos de pesquisa.

Hoje estou mais tranquilo. Ocupo-me muito mais, embora não exclusivamente, de estudos de biodiversidade e ecologia de tri-panossomas [microorganismos do grupo dos protozoários] do que das doenças humanas. Ainda viajo com frequência pelo Brasil e África coletando animais, cobras, lagartos, morcegos e sobretudo insetos, que são reservatórios desses tripanos-somas. A Filogenia e a evolução dos tripanossomas são meu assunto atual de pesquisa. Divirto-me. Não aceitarei qualquer outro cargo ad-ministrativo. Basta já o que tenho como presidente da Fundação Zer-bini, gestora do Incor (Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas). É o suficiente. Há poucos meses fui levado à Presidência da Fundação Butantan, mas foi em caráter pro-visório enquanto se aparavam al-gumas arestas. Já foram aparadas. [A Fundação Butantan passou por problemas administrativos no ano passado].

Para o senhor a epidemia da gripe A, conhecida como gripe suína, voltará? Quais os melhores tratamentos contra ela?

Não pesquiso ou tenho traba-lho com o vírus da gripe suína. Ninguém no Brasil trabalha com este vírus nem com o vírus da gri-pe sazonal [conhecida como gripe comum]. No país se trabalha com a clínica e a epidemiologia da virose [doença causada por um vírus], não propriamente com o vírus. O Butan-tan produz vacinas contra a gripe,

mas usa linhagens importadas dos vírus para produzi-las em ovos de galinha embrionados.

A gripe sazonal percorre o mun-do inteiro em levas epidêmicas, todo ano. Ela tem trajetória defi-nida. Todo ano o vírus é novo e re-sulta de recombinações genéticas geralmente entre virus de aves, su-ínos e humanos. Logo que a onda epidêmica começa, já se conhece o novo vírus e já se começa a produzir vacinas contra ele. No Brasil o vírus começa a chegar em abril, pouco antes ou pouco depois, e quando ele chega já dispomos de vacinas fabri-cadas pelo Butantan.

A gripe suína não é do tipo sazonal. Ela foi um in-cidente esporádico. Um novo tipo de vírus surgiu das recombinações gené-ticas mencionadas. E foi erroneamente chamada de suína. Ninguém a esperava e ninguém estava prepara-do para ela. Felizmente foi um terror mais midiático do que médico. Parece que está voltando, mas o mun-do já dispõe de vacina con-tra ela e o Butantan começa a fabricá-la para o Brasil. Não antecipo grandes pro-blemas.

Quando não há disposição de uma vacina, recorre-se a outros ex-pedientes para evitar a propagação da epidemia. Aspirina e repouso são boas medidas para aliviar os sinto-mas, mas não têm nenhum efeito sobre o vírus. Os antivirais do tipo Tamiflu têm a capacidade de evitar a invasão e proliferação do virus na mucosa respiratória. Mas devem ser tomados precocemente. Álcool gelificado é tão bom como lavar as mãos com frequência. Sem para-noias! Já as máscaras cirúrgicas, se usadas em larga escala pela popula-ção e trocadas com frequência, são sem dúvida muito eficientes para evitar a transmissão do vírus entre humanos.

Há também pesquisas volta-das para a malária e a dengue? Há empenho da indústria farma-cêutica para criar essas vacinas?

A vacina contra a dengue está no forno. A vacina contra a malária ain-da é um sonho remoto. A indústria farmacêutica e os serviços públicos das nações têm o maior interesse em produzir essas vacinas. O pro-

blema é que elas ainda dependem, principalmente a malária, de muitos estudos. O parasita da malária vem, a pelo menos 50 mil anos, driblan-do as defesas imunológicas do ho-mem e não descobrimos ainda um jeito de evitar seus dribles. Quando descobrirmos todo mundo estará interessado em produzir a vacina, principalmente a indústria farma-cêutica.

Como o senhor vê a posição do Brasil na produção científica mundial?

Vamos muito bem. Em termos de produção científica (número de tra-balhos científicos publicados) esta-mos já entre os países do primeiro mundo. Na rabeira, é verdade, mas na frente da Índia e dos demais paí-ses do terceiro mundo. Juntos com a China. Em algumas áreas, como a da parasitologia, em que eu trabalho, ocupamos o segundo lugar no mun-do, apenas atrás dos Estados Uni-dos e na frente de Inglaterra, Fran-ça e Alemanha. Não era assim há vinte anos. Hoje é. Em outras áreas importantes, como imunologia, mi-crobiologia e bioquímica, oscilamos entre o 14º e 18º lugar.

Quais os principais desafios para o desenvolvimento de mes-tres e doutores no Brasil?

Não há problemas quanto a for-mação de doutores e mestres. As agências estaduais (FAPs) e as fe-derais (CNPq e CAPES) atendem sa-tisfatoriamente as necessidades na-cionais de bolsas de Pós-Graduação. Não há carência. Pelo contrário, até há um excesso de oferta. Isso pode ser ruim porque facilita o surgimen-to de cursos de Pós-Graduação de qualidade questionável.

E para estimular a produção da pesquisa científica no país?

Os recursos para a pesquisa científica, tanto federais como es-taduais, aumentaram muito nos últimos dez anos. Estados que não investiam em pesquisa passaram a investir com entusiasmo. Gosto de imaginar que eu contribui para que isso acontecesse quando estive na presidência do CNPq.

Quais os seus principais con-selhos para um jovem que quer estudar ciências e tecnologia?

Que pena, mas não os tenho. Se um jovem não gosta de ciência, não adianta dar conselhos. Se gosta, não precisa de conselhos. As oportuni-dades são muitas. Frequentem as páginas do CNPq e da FAPESP e fi-carão sabendo quem faz e o que se faz em ciência. Há lugar para todos. Sejam bem-vindos!

Page 12: O Arauto 14

MUNDO

www.ceunsp.edu.br

vagas para participar da missão de paz no Hai-ti. Caio se candidatou e após seis meses, ao final do treinamento prepara-tório, veio a resposta. Ele iria ao Haiti.

Em 1º de julho, após escala em Boa Vista, Ro-raima, teve início a maior experiência de sua vida. “Eu percebi que eu estava em um lugar diferente, na hora que eu vi a clarida-de do sol, que é absurda, e senti o calor”, lembrou.

O país - Pobreza. adje-tivo que, na visão de Caio, retrata com exatidão a realidade do Haiti. Para explicar tal afirmação, ele recorre a uma compa-ração: “Lá é uma pobreza total. Imagine um lugar rico, é a favela da Roci-nha. Agora imagine um lugar pobre perto da Ro-cinha, é o Haiti”.

Biscoitos de barro eram feitos e consumidos a céu aberto, por todos que queriam se manter vivos e não tinham nada, além daquilo, para co-mer. Segundo ele, grande parte da população vive sem nenhum saneamen-to básico e a falta de ali-mentos é uma constante. “Tudo lá é assim. Eles vi-vem no meio da rua junto com os porcos. O cheiro é insuportável. As pessoas defecam no meio da rua. Isso é comum lá.”

Nem tudo... - O país, banhado ao norte pelo oceano Atlântico e ao sul e oeste pelo mar do Cari-be, tem seu lado belo. O soldado elogia as praias e paisagens de algumas cidades vizinhas a Porto Príncipe. “Tem lugares lindos. Tem montanhas e mares lindos, maravilho-sos. O calor e a tempera-tura da água do mar não têm igual. Você entra seu

corpo relaxa”, lembra, ex-pondo a paisagem cari-benha.

O dia a dia - O Pelotão Sparta, do qual Cézar fa-zia parte, se alternava em três diferentes tipos de missão: patrulhamento, segurança da base e ocu-pação do “ponto forte”, pontos estratégicos, que ficam em áreas de risco, como favelas. Todos os soldados, devidamente equipados com equipa-mentos que pesavam 30 kg, trabalhavam diaria-mente para estabelecer a ordem e segurança no país. Desde 2004 o país é castigado por uma guerra entre gangues, favoráveis e contrárias ao ex-presi-dente Jean Bertrand Aris-tide. Guerra que espalha violência e criminalidade pelas cidades.

A tragédia – No dia 12 de janeiro, 16h53, hora local (19h53 de Brasí-lia), Cézar estava só, de bermuda, do lado de fora do alojamento, composto por quatro andares. Ele se distraia juntamente com um amigo no com-putador.

O Haiti, país mais pobre do continente americano, passou seus últimos 200 anos (desde sua indepen-dência em 1804), refém da desordem. Com uma história marcada por ca-tástrofes naturais, fome, corrupção, golpes mili-tares e violência, o país foi, no dia 12 de janeiro, o cenário daquela que foi considerada pela Organi-zação das Nações Unidas (ONU), a maior tragédia da história.

Um terremoto que atin-giu 7 graus na escala Ri-chter, considerado “muito forte”, destruiu a capital Porto Príncipe. Estima-se que, no mínimo, 200 mil pessoas morreram, 300 mil ficaram feridas, um milhão ficou desabriga-da e quatro mil sofreram amputações. Ao menos 21 brasileiros morreram, sendo 18 militares, além da médica e fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, e do diplomata Luiz Carlos da Costa. O caos se estabeleceu na cidade. Serviços públicos para-ram de funcionar, a infra-estrutura foi destruída, o ambiente foi devastado.

Em meio a este cená-rio de destruição, um sol-dado do 28º Batalhão de Infantaria Leve (28º BIL) de Campinas, Caio Cézar Parissoto, morador de Elias Fausto, estava en-tre os militares brasilei-ros que faziam parte da missão de paz da ONU. Ele fala sobre o país e o povo haitiano, os desafios encontrados na missão, sua rotina e o terremoto.

Pelo Atlântico - Seguir a carreira militar. Era este o desejo de Parissoto. Aos 18 anos entrou para o 28º BIL e tornou-se o soldado Cézar. No início de 2009, foram abertas

O caos diante dos olhos

Parte 2

Haiti pós-terremoto: um lugar com tudo para ser reconstruído

Haiti pré-terremoto: estruturas precárias e muita pobreza

Samuel Peressim

Page 13: O Arauto 14

www.ceunsp.edu.br

Militar brasileiro que participou da Força da Paz da Onu e sobrevi-veu ao terremoto em Porto Prín-cipe fala da experiência no Haiti, “um país sem Deus”

O Arauto / abr.10pág.13

Ocorreu um primeiro tremor, de menor inten-sidade, que durou cerca de dois segundos. “Olhei para meu amigo, ele me olhou e ouvimos alguém gritando que caíra um avião. Quando ouvi esse grito, daí deu o terremo-to forte mesmo.”

Ele conta que sua pri-meira reação foi ver se havia alguém dentro do seu alojamento. Nesse momento, viu um amigo sair correndo do banhei-ro. “Quando ele saiu, veio mais um monte de gente pelada, vestindo roupa, só de toalha. Todos cor-rendo pra fora”, disse, mostrando o desespero que tomou conta do pes-soal.

Quando os tremores pararam todos se dirigi-ram para o lado de fora da base, porém sem sa-ber ao certo o que acon-tecia. Foram informados que construções haviam caído e pessoas estavam soterradas e receberam ordens para ir até o local ajudar.

“As ruas ficaram con-gestionadas. Tinha cor-pos no chão. Os haitianos iam pegando os corpos e jogando na rua. Fomos ti-

rando os corpos. Tiramos 18 militares, 16 estavam mortos. Só tiramos dois vivos”, afirmou. A Casa Azul foi o local onde se registrou o maior núme-ro de mortes de militares brasileiros no país.

Como sua base foi des-truída, na noite do terre-moto, Caio e seu pelotão ficaram em outra base, a Charlie. “Vi os dois lados da moeda. Fiquei com dó dos meus amigos e com dó dos haitianos. Quando cheguei na Charlie, aqui-lo parecia um hospital gigante. Eles colocaram colchões no chão e esta-vam operando os milita-res ao ar livre.”

Nas ruas, o reflexo da tragédia: “Era comum ver corpos na rua e o fe-dor era insuportável. Mas depois do que vimos na Charlie, nada mais afeta-va a gente. Você ver uma pessoa morta, na rua, é normal. O ruim é você ver uma pessoa agonizando sem perna, sem braço”, contou horrorizado.

Cézar e seus compa-nheiros foram direciona-dos a outro ponto forte, receberam equipamen-tos e deram sequencia ao trabalho de ajuda e

segurança à população e às bases. Foram cinco dias com água racionada e pouca alimentação, até que começou a chegar ajuda dos Estados Unidos e de outros países.

Gringos - De acordo com Caio, a cada três mi-nutos chegavam aviões dos EUA trazendo manti-mentos. Ele elogia a atu-ação dos americanos e revela: “Fiz amizade com um soldado americano. A admiração que eles sen-tem pelo soldado brasi-leiro é incontestável. O equipamento deles não pesava mais que 10 kg. Eles viam a gente andan-do com 30 kg. Vem daí a admiração deles”.

No dia 21 de janeiro, sua missão no Haiti che-gou ao fim. Hora de vol-tar para casa.

Estaca zero - Ao todo, Parissoto relata que fo-ram 15 tremores. Uma tragédia que pôs abaixo todo o trabalho do exér-cito brasileiro e demais entidades que buscavam melhorar a vida do povo haitiano. “Tudo voltou à estaca zero. Vão levar muitos anos para se re-cuperar. Vão ter que re-construir o país todo”, analisou.

O caos diante dos olhos

Parte 2

Do Haiti, Caio trouxe uma experiência marcan-te, que o fez rever valores e conceitos. “Eu confiava 100% nos meus compa-nheiros. Confiava a mi-nha vida a eles. Confiava neles como hoje eu não confio em amigos de in-fância. Hoje eu sei o que é ter um amigo. Ali você entende o que é respei-tar o próximo. Sabe os seus limites. Aprendi a dar valor às coisas. Valor aos amigos. Valor à comi-da que temos. Valor aos banhos quentes, porque foram quase sete meses de banho gelado todos os dias”, desabafou.

Depois de passar fé-rias em casa, com a famí-lia, ele se reapresentou ao Batalhão no dia 22 de março. Tinha em mente permanecer no Brasil: “Acho que não vou querer voltar ao Haiti. Não sei como vai ser, como vou estar me sentido.”

O soldado finali-za definindo o Haiti com uma frase: “Es-quecidos por Deus”. E revela seus princi-pais desejos para o povo haitiano: “Em 1º lugar, paz. Em 2º saúde e em 3º Deus”.

Foto

s: A

rqui

vo p

esso

al/C

aio

Céza

r Pa

riss

oto

Page 14: O Arauto 14

O cérebro é o centro de comando do corpo humano. Executa tarefas desde o controle temperatura corpórea, racio-cínios e sentimentos. Mas ele pode ir além. É o que afirma a meta-física brasileira Evelyn Tor-rence, integrante do grupo Viver de Luz. Esse orga-nização é formado por pessoas que optaram em viver, ou viveram por um tempo, sem a alimentação comum de nossa civilização. O grupo acredita que os únicos limi-tes da mente hu-mana são aqueles que acreditamos ter. “Tendo o pleno controle do equilí-brio mente/corpo, é possível passar um período prolongado sem ingerir sólidos.

O processo é simples, trata-se de um jejum pro-longado, uma limpeza orgânica profunda”, comenta Evelyn. É isso mesmo: segundo esta teoria, o ser hu-mano pode prolongar a ausência da inges-tão de comida. Antes de explicar melhor a tese, é bom lembrar que a própria medici-na considera outras fontes de alimentação do corpo que não o tradicional arroz com feijão: oxigênio, água e raios solares são es-senciais à vida. Analisando por esse ângulo é um pouco mais fácil entender a idéia do “Viver de Luz”.

Os passos - “Na primeira semana, reti-ram-se todos os sólidos e líquidos, inclusi-ve água. É a parte mais difícil, chamamos de travessia do deserto. Neste período provamos que estamos dispostos a reali-zar a limpeza orgânica, astral e espiritual. Na segunda semana ingerimos água e su-cos diluídos a vontade. Na terceira semana ingerimos água e sucos de frutas naturais. Depois disso é escolha de cada um comer ou não”, explica a metafísica. Ela decidiu realizar esta experiência para acompanhar o marido, o norte-americano Steve Torren-ce. “Paramos de comer em abril de 1999 e continuamos somente nos líquidos por mais três anos”, conta Evelyn.

Preconceitos - Contar para a família, se-

gundo a metafísica, foi mais complicado do que a “dieta”. Evelyn lembra que só informa-ram do novo estilo de vida quando estavam terminando a experiência. “Minha família me conhece e sabe que vivo de experiên-cias metafísicas, mas a família de Steve me acusou de assassina e bruxa. Falaram que o hipnotizei para ele parar de comer e me dar tudo o que ele tinha nos Estados Uni-dos... que eu era uma aproveitadora bra-sileira”, relata. O casal foi processado pela

Você tem fome de quê?

CONTRACULTURA

SOL = COMIDA?

família de Steve e realizou exames médicos a pedido da Justiça. Todas as análises apre-

sentaram resultados excelentes, segun-do Evelyn. “A ex-mulher dele tirou o

filho com apoio da família dele. E, no final, acabamos abrindo

mão de tudo e viemos para o Brasil”, diz.

Hoje, Evelyn diz que não possui mais hábi-tos alimentares, di-gamos, ortodoxos. “Não ingiro carne há 25 anos e evito os alimentos indus-trializados”, escla-rece. Ela diz levar uma grande certe-za pela vida toda: “Não morrerei se me

faltar comida.”. Hoje ela diz comer apenas

quando sente vontade, sem ser escrava de ne-

nhum hábito alimentar.

O que dizem os especia-listas - O nutricionista Luís Ri-

cardo Alvez revela que nosso cére-bro se desenvolveu devido a ingestão

de proteínas como carnes e peixes. “O cé-rebro humano realmente é capaz de coisas fascinantes, porém, ficar sem se alimentar é um retrocesso na evolução humana. A falta de ingestão de proteínas acabaria levando o indivíduo ao óbito no máximo em 3 meses. Toda a evolução da vida do nosso planeta está relacionada e ingestão de alimentos. Os animais caçadores evoluíram para fica-rem mais fortes e rápidos. Até os animais precisam ingerir alimentos. As células do nosso corpo são dependentes dos alimen-tos para realizarem todas as suas funções. Precisamos de energia para viver e no caso mamíferos essa energia vem dos alimentos.

Perigos - Já Adriana Campos, psicóloga especializada em Saúde Mental Clínica, diz não poder afirmar se tal controle mental é impossível de ser feito. “A mente pode ser treinada a controlar muita coisa sim e o que pensamos e sentimos interfere em nosso sistema biológico e imunológico”. Adriana acha que é um comportamento difícil de ser sustentado por muito tempo, por ou-tro lado, o cérebro é muito complexo e ele demanda coisas que não conseguimos con-trolar totalmente. Ela alerta: “Pode surgir outros sintomas pra compensar a desregu-lação fisiológica, ou seja, somos “interliga-dos” mente e corpo. Então pode ser que ela esteja conseguindo controlar a necessidade de ingestão de comidas sólidas, mas vão aparecer outros problemas de saúde mais tarde, como arritmias cardíacas, problemas respiratórios, queda de cabelo, problemas renais e digestivos e outros efeitos “cola-terais” que, no primeiro momento, podem não ser associados a esse comportamento.”.

Adriane Souza

www.ceunsp.edu.br

Page 15: O Arauto 14

O Arauto / abr.10pág.15

Geraldão ficou órfão

Falemos agora de um grande observador da re-alidade brasileira e que nos deixou no início de março: o cartunista Glau-co. A morte dele e do fi-lho Raoni foi violenta: assassinato a sangue frio, segundo testemunhas e também o que indica as investigações policiais. mas deixemos o factual por conta do jornalismo diário. Vamos tentar re-sumir aqui o quanto o criador do “Geraldão” influênciou gerações.

Glauco Villas Boas nas-ceu em Jandaia do Sul, no Paraná, em 1957. Ele era da família dos sertanis-tas Orlando, Claudio e Leonardo Vilas Boas. Como cartunista, publi-cou seus primeiros traba-lhos em 1976, no “Diário da Manhã” de Ribeirão Preto, e em 1977 ganhou seu primeiro prêmio no Salão do Humor de Pira-cicaba. Ainda em 1977, passou a fazer parte do elenco de cartunistas do jornal “Folha de S. Paulo”, onde consagrou perso-nagens como Geraldão, Geraldinho, Dona Mar-ta, Zé do Apocalipse, Casal Neuras e Doy Jor-ge.

Dono de um traço mar-

cante e de um estilo de humor ácido e de piadas visuais rápidas, Glauco criou personagens que de certa forma repre-sentavam suas próprias experiências na São Pau-lo dos anos 1980: com referências a sexo, dro-

Glauco deixa como legado traço “rock’n roll ” e linguagem direta que influenciou gerações

Personagens neuróricos e ‘tarados’ marcaram as criações do cartunista

gas e violência urbana.Em 1991, participou ao lado de Angeli e Laerte da criação da tira “Los 3 Amigos”, uma brincadei-ra do trio de cartunistas com o universo dos fil-mes de bangue-bangue e seu retrato dos persona-gens mexicanos.

Na TV - Glauco tam-bém fez parte da equipe de redatores dos progra-mas “TV Pirata” e “TV Colosso”, da Globo. Atual-mente, Glauco publicava tiras diárias e charges no jornal “Folha de S. Paulo”. Seus quadrinhos antigos vinham sendo republi-cados por editoras como Opera Graphica e L&PM.

Há anos Glauco mora-

va em uma chácara nas proximidades do Pico do Jaraguá em São Paulo, onde também mantinha um centro de ritual do Santo Daime. Sua opção pela vida na serra em oposição à vida urbana era citada com frequên-cia nas tiras do Cacique Jaraguá. Glauco retratava ainda a violência nas ci-dades através das HQ do personagem Faquinha.

Em uma entrevista pu-

blicada na “Folha de S. Paulo” em 2004, Glauco lamentou a suposta falta de sintonia com as novas gerações. “Meu traço não é bom para re-tratar o futuro. Corro o risco de não falar a língua da moçada.” (da Redaçao)

www.ceunsp.edu.br

Page 16: O Arauto 14