novembro 2018 | n.o3 | facebook.com/sindicatodeestudantes ... · tectos a cair em cima de alunos...

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O rasto de destruição deixa- do pelo furacão PSD/CDS-PP permaneceu intocado ao longo destes 3 anos de governo PS, com apoio parlamentar do BE, PCP e PEV. Após quase uma década de austeridade as escolas conti- nuam em degradação. O Or- çamento do Estado para 2019 não prevê quaisquer recursos para corrigir esta situação. Durante os governos de José Sócrates (PS), a Parque Esco- lar realizou várias obras de re- qualificação por todo o país. No entanto, nem todas as escolas beneficiaram deste programa e mesmo as que foram incluídas sofrem agora com o contínuo desinvestimento — não tendo recursos para manter o aque- cimento nas salas, por exem- plo. Além disso, essas obras serviram, acima de tudo, os in- teresses de empreiteiros, cons- trutores civis e responsáveis políticos — apenas uma gestão democrática das obras pela co- munidade educativa garantiria que nem um cêntimo seria des- perdiçado para empresários lu- crarem com a nossa educação. Para pagar uma dívida pú- blica que só enriquece espe- culadores e para aumentar os lucros dos grandes patrões e grandes empresas sacrifica-se o direito à educação, à habita- ção, à saúde, à mobilidade. O governo de António Costa tem desviado 8 mil milhões de eu- ros por ano para pagar um dívi- da que não nos pertence e des- de o início da crise de 2010 já foram enterrados cerca de 20 mil milhões de euros na banca privada. Em contrapartida, cortou- -se nas escolas, nos hospitais, nos transportes, nos salários de todos os trabalhadores. Em suma, atirou-se a conta da crise para cima da classe trabalha- dora e pobres. Neste momento o governo PS dá com uma mão o que vai tirar com outra. Repõe alguns rendimentos mas au- menta os impostos indirectos, sendo estes mais injustos por- que não têm em conta o rendi- mento de quem é taxado — ex.: o imposto sobre um refrigeran- te é igual para um estudante pobre como para um multimi- lionário, 23% de IVA. A situação material das es- colas põe em risco estudantes, professores e funcionários. Os edifícios não se encontram pre- parados para enfrentar tanto o frio como o calor extremos, há tectos a cair em cima de alunos durante as aulas e inúmeras escolas não têm cantinas ou espaços desportivos capazes de cumprir a sua função. A forma como acontece esse desinvestimento não é despro- vida de carácter de classe. São as escolas da periferia, onde vive a classe trabalhadora, que ficam para trás. São as escolas de “segunda categoria” que mais sofrem com a discrimina- ção na altura de decidir para onde vãos os recursos. As que obtêm piores resultados, de- vido ao facto de nessas estu- darem os nossos colegas com piores condições de vida, são as que recebem menos apoio. Então testemunhamos uma concentração de recursos nas melhores, enquanto que as que estão pior classificadas conti- nuam a estar órfãs de investi- mento. Uma educação demo- crática combate esta tendência de aprofundamento das desi- gualdades, alocando os recur- sos necessários para contrariar a degradação e o afastamento entre a qualidade de ensino oferecida em cada escola. É evidente que se tratam de opções políticas dos que gover- nam para os ricos e não para a maioria. O governo entre ajudar centenas de milhares de estu- dantes ou ajudar as concessio- nárias das PPP (Parcerias Públi- co-Privado) e a banca privada, opta pelos últimos. Diminuem o valor das propinas mas não resolvem o problema da habi- tação, diminuem o custo dos transportes mas não investem neles, “oferecem-nos” manuais mas aumentam os impostos in- directos. Este governo atira-nos migalhas aos olhos enquanto entrega o pão à elite. Ao longo dos últimos anos milhares de estudantes por todo o país têm-se organizado contra esta situação. Mas é im- portante identificarmos o nosso inimigo se quisermos ganhar — esse inimigo é o Estado e os seus governos! As acções que se têm desenvolvido a nível de cada escola devem ser cada vez mais coordenadas em direcção a um movimento nacional, ca- paz de exigir a quem decide o orçamento para a educação as obras que precisamos. A nossa luta deve também juntar-se à dos nossos professores, auxi- liares e pais. Uma verdadeira maré pela Escola Pública é o que precisamos para vencer. Os exemplos de lutas vito- riosas não são escassos e no Chile, Brasil, Inglaterra, Esta- do Espanhol, os estudantes e os jovens trabalhadores dão o mote à luta: basta, não aceita- remos a miséria que o capitalis- mo nos reserva! Convidamos todos e todas as estudantes que queiram lutar a juntar-se ao Sindicato de Estudantes. Queremos ser uma ferramenta para os estu- dantes de classe trabalhadora, ajudando a coordenar o movi- mento por todo o país, unindo estudantes e trabalhadores na luta por obras, por mais inves- timento e por condições dignas de trabalho para quem constrói a nosso ensino. Novembro 2018 | N.o3 | facebook.com/sindicatodeestudantes | Contribuição Livre o estudante João Reberti ESTUDANTES SINDICATO DE Protesto de estudantes da escola secundária Fernão Mendes Pinto em Almada, 24 de Outubro de 2018. Fonte: Sindicato de Estudantes. Chega de Austeridade, Obras Já! «As acções que se têm desenvolvido a nível de cada escola devem ser cada vez mais coordenadas em direcção a um movimento nacional. »

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Page 1: Novembro 2018 | N.o3 | facebook.com/sindicatodeestudantes ... · tectos a cair em cima de alunos durante as aulas e inúmeras escolas não têm cantinas ou ... todo o país têm-se

O rasto de destruição deixa-do pelo furacão PSD/CDS-PP permaneceu intocado ao longo destes 3 anos de governo PS, com apoio parlamentar do BE, PCP e PEV.

Após quase uma década de austeridade as escolas conti-nuam em degradação. O Or-çamento do Estado para 2019 não prevê quaisquer recursos para corrigir esta situação. Durante os governos de José Sócrates (PS), a Parque Esco-lar realizou várias obras de re-qualificação por todo o país. No entanto, nem todas as escolas beneficiaram deste programa e mesmo as que foram incluídas sofrem agora com o contínuo desinvestimento — não tendo recursos para manter o aque-cimento nas salas, por exem-plo. Além disso, essas obras serviram, acima de tudo, os in-teresses de empreiteiros, cons-trutores civis e responsáveis políticos — apenas uma gestão democrática das obras pela co-munidade educativa garantiria que nem um cêntimo seria des-perdiçado para empresários lu-crarem com a nossa educação.

Para pagar uma dívida pú-blica que só enriquece espe-culadores e para aumentar os lucros dos grandes patrões e grandes empresas sacrifica-se o direito à educação, à habita-

ção, à saúde, à mobilidade. O governo de António Costa tem desviado 8 mil milhões de eu-ros por ano para pagar um dívi-da que não nos pertence e des-de o início da crise de 2010 já foram enterrados cerca de 20 mil milhões de euros na banca privada.

Em contrapartida, cortou--se nas escolas, nos hospitais, nos transportes, nos salários de todos os trabalhadores. Em suma, atirou-se a conta da crise para cima da classe trabalha-dora e pobres. Neste momento o governo PS dá com uma mão o que vai tirar com outra. Repõe alguns rendimentos mas au-menta os impostos indirectos, sendo estes mais injustos por-que não têm em conta o rendi-mento de quem é taxado — ex.: o imposto sobre um refrigeran-te é igual para um estudante pobre como para um multimi-lionário, 23% de IVA.

A situação material das es-colas põe em risco estudantes, professores e funcionários. Os edifícios não se encontram pre-parados para enfrentar tanto o frio como o calor extremos, há tectos a cair em cima de alunos durante as aulas e inúmeras escolas não têm cantinas ou espaços desportivos capazes de cumprir a sua função.

A forma como acontece esse desinvestimento não é despro-

vida de carácter de classe. São as escolas da periferia, onde vive a classe trabalhadora, que ficam para trás. São as escolas de “segunda categoria” que mais sofrem com a discrimina-ção na altura de decidir para onde vãos os recursos. As que obtêm piores resultados, de-vido ao facto de nessas estu-darem os nossos colegas com piores condições de vida, são as que recebem menos apoio. Então testemunhamos uma concentração de recursos nas melhores, enquanto que as que

estão pior classificadas conti-nuam a estar órfãs de investi-mento. Uma educação demo-crática combate esta tendência de aprofundamento das desi-gualdades, alocando os recur-sos necessários para contrariar a degradação e o afastamento entre a qualidade de ensino oferecida em cada escola.

É evidente que se tratam de

opções políticas dos que gover-nam para os ricos e não para a maioria. O governo entre ajudar centenas de milhares de estu-dantes ou ajudar as concessio-nárias das PPP (Parcerias Públi-co-Privado) e a banca privada, opta pelos últimos. Diminuem o valor das propinas mas não resolvem o problema da habi-tação, diminuem o custo dos transportes mas não investem neles, “oferecem-nos” manuais mas aumentam os impostos in-directos. Este governo atira-nos migalhas aos olhos enquanto entrega o pão à elite.

Ao longo dos últimos anos milhares de estudantes por todo o país têm-se organizado contra esta situação. Mas é im-portante identificarmos o nosso inimigo se quisermos ganhar — esse inimigo é o Estado e os seus governos! As acções que se têm desenvolvido a nível de cada escola devem ser cada vez mais coordenadas em direcção a um movimento nacional, ca-paz de exigir a quem decide o orçamento para a educação as obras que precisamos. A nossa luta deve também juntar-se à dos nossos professores, auxi-liares e pais. Uma verdadeira maré pela Escola Pública é o que precisamos para vencer.

Os exemplos de lutas vito-riosas não são escassos e no Chile, Brasil, Inglaterra, Esta-do Espanhol, os estudantes e os jovens trabalhadores dão o mote à luta: basta, não aceita-remos a miséria que o capitalis-mo nos reserva!

Convidamos todos e todas as estudantes que queiram lutar a juntar-se ao Sindicato de Estudantes. Queremos ser uma ferramenta para os estu-dantes de classe trabalhadora, ajudando a coordenar o movi-mento por todo o país, unindo estudantes e trabalhadores na luta por obras, por mais inves-timento e por condições dignas de trabalho para quem constrói a nosso ensino.

Novembro 2018 | N.o3 | facebook.com/sindicatodeestudantes | Contribuição Livre

o estudante

João Reberti

ESTUDANTESSINDICATODE

Protesto de estudantes da escola secundária Fernão Mendes Pinto em Almada, 24 de Outubro de 2018. Fonte: Sindicato de Estudantes.

Chega de Austeridade, Obras Já!

«As acções que se têm desenvolvido a nível de cada escola devem ser cada vez mais coordenadas em direcção a um movimento nacional.»

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2 | novembro 2018 | Sindicato de Estudantes Sindicato de Estudantes | novembro 2018 | 3

A forma como o capitalismo opera implica a exploração e a opressão das mulheres

para a reprodução social e de capital. É às mulheres trabalha-doras que são designados os trabalhos mais precários e com as piores remunerações.

Actualmente, na maioria dos países europeus, as mulheres representam mais de 50% da mão de obra activa. Dados de 2011 do Banco Mundial repor-tam que as mulheres, a nível global, continuam a receber en-tre 10% a 30% menos do que os homens; mesmo em países industrializados a desigualdade não é menor.

Com níveis mais elevados de escolaridade básica e superior, as mulheres continuam a ter re-munerações médias inferiores, sendo ainda as principais res-ponsáveis pelo trabalho não-re-munerado que é realizado no espaço da casa.

São as mulheres as princi-pais vítimas de violência do-méstica e de crimes sexuais. Nas escolas e universidades, nos locais de trabalho, o assé-dio contra as mulheres é recor-rente, sem encontrarem nas di-recções das instituições justiça ou sequer apoio, apenas silên-cio e invisibilização.

O surgir de um movimento feministaÉ bem sabido que em situ-

ações de crise, os direitos das mulheres são os primeiros a ser atacados. Os cortes e falta de investimento em serviços públicos como creches públi-cas e gratuitas, gentrificação e aumento das rendas ou degra-dação dos transportes públicos têm graves consequências prin-cipalmente sobre as mulheres trabalhadoras.

Vemos um aumento do de-semprego e da precariedade e, por conseguinte, uma situação de maior dependência econó-mica e psicológica em parceiros e familiares abusivos. Ligado à degradação das condições de vida das famílias trabalhadoras e ao aumento da dependência financeira da mulher, assisti-mos ainda ao aumento dos ca-sos de assédio e de violência —- só durante o primeiro semestre de 2018 foram reportados 16 feminicídios cometidos por par-ceiros em Portugal!

A denúncia de casos de vio-lência machista e o desprezo da justiça burguesa ao não con-denar os agressores têm sido factores decisivos e mobiliza-dores no despoletar de lutas de mulheres jovens e trabalhado-ras. A única esperança de uma vida segura e digna encontra-se na nossa luta organizada.

Em todo o mundo temos da-

dos passos na construção de um movimento feminista, como resposta aos recuos e ataques machistas. As marchas contra Trump, a campanha pela legali-zação do aborto na Argentina e a vitória do referendo para a le-galização do mesmo na Irlanda, a vitoriosa greve no 8 de Março de 2017 no Estado Espanhol que levou cerca de 5 milhões de trabalhadoras e trabalhado-res às ruas e, mais recentemen-te, os protestos contra o candi-dato Jair Bolsonaro liderados pelas mulheres brasileiras em vários países ou os protestos contra a nomeação de Brett Ka-vanaugh para o Supreme Court nos EUA são exemplos disso. E em todos estes movimentos, tal como nos recentes protestos em Portugal contra a justiça e violência machistas, é claro o papel decisivo e inspirador de uma nova geração de mulheres trabalhadoras que saem à rua.

Por uma Greve Feminista no 8M de 2019!

Um movimento feminista tem de ser construído em fun-ção dos interesses da maioria e não de uma minoria, mesmo ela sendo feminina! A partici-pação de todas as mulheres no movimento é bem-vinda desde que as nossas exigências, de quem é oprimida no trabalho e na família, não sejam compro-metidas. Queremos o direito à educação, à saúde, à seguran-ça, ao lazer, à cultura, não que-

remos ser escravizadas como cuidadoras domésticas ou como objectos sexuais. E esta é uma luta de toda a classe tra-balhadora, pelo fim de toda a exploração e opressão, é uma luta pelo socialismo.

É por isso que o movimento feminista tem que abrir o diálo-go aos sindicatos, aproximan-do-se das mulheres e homens trabalhadores que podem cons-truir este projecto feminista so-cialista, e reforçando ao mesmo tempo as nossas organizações de classe.

O Sindicato de Estudantes, enquanto organização de es-tudantes e jovens de classe trabalhadora, não pode senão defender uma verdadeira greve feminista — e não apenas uma greve de mulheres —, como um passo na luta contra o patriar-cado, como um passo de união da classe trabalhadora contra a violência machista e contra o sistema que a suporta.

Reconhecendo nos homens de classe trabalhadora os seus verdadeiros camaradas de luta, organizados nas ruas, nos bair-ros, nas escolas e nos locais de trabalho, seremos capazes de combater as agressões ma-chistas, e todos os ataques aos nossos direitos laborais e so-ciais. Só a nossa organização e mobilização nos trará justiça e o fim da violência.

Lutemos por um ensino que não reproduza a discriminação, um ensino para todas e todos, não um ensino cujos currículos e manuais escolares ignorem a violência sobre as mulheres e sobre os nossos corpos. Lu-temos por uma escola onde o abuso não é silenciado por um qualquer director e onde as ví-timas não são abandonadas sem qualquer rede de apoio.

Educação sexual inclusiva!

Controlo democrático dos manuais e currículos escolares, livres de discriminação!

Plano nacional contra a violência machista nas escolas!

Os pobres empobrecem

Com a crise de 2008 os es-tudantes de classe traba-lhadora sofreram um duro

golpe. O retrocesso brutal nas condições de vida, o valor das propinas e a situação financei-ra das famílias pioraram com o programa da Troika. Em 2008 a taxa de pobreza era de 17,9 (1) e em 2016 afecta 18,3 (2). Apesar dos discursos triunfais por parte do Governo e dos seus aliados, a realidade é que quase nada mudou para quem vive do seu trabalho. A pobreza laboral é uma realidade que afecta ainda mais as famílias monoparentais e numerosas. As famílias tiveram de substi-tuir o Estado e para muitas os custos associados à educação são incomportáveis.

Os ricos enriquecemO número de multimilioná-

rios aumentou 13% a cada ano desde 2010. Em 2017, os CEO das empresas do PSI-20 ga-nharam, em média, 33 vezes mais do que os trabalhadores das mesmas empresas. Com-parativamente a 2010, no ano passado a média salarial dos trabalhadores sofreu uma des-cida de 6,2%. Ainda teríamos de contabilizar o lucro ocultado na fuga ao fisco, o lucro obtido através de estágios não remu-nerados e trabalho precário.

CapitalismoA acumulação por parte

duma minoria privilegiada é a base da exploração e da misé-ria da maioria explorada. Esta

é a face do capitalismo, a acu-mulação do lucro a qualquer custo, seja ele social ou am-biental. Os recursos naturais, os progressos tecnológicos e os progressos económicos não se organizam à volta da conquista de uma vida digna, mas na con-centração das condições para a acumulação de capital. Para ocultar esta faceta vendem-nos a ideia de que simplesmente não há condições para garan-tir uma vida digna a todos os seres humanos. Sabemos que isto é mentira. Nunca houve tanta abundância como hoje. As crises capitalistas não são crises de escassez, são crises de abundância. Só nos EUA as empresas deitaram fora 40 milhões de toneladas de comi-da, anualmente, para poderem manter a sua taxa de lucro, o que seria o suficiente para ali-mentar os mil milhões de tra-balhadores que se deitam sem uma refeição no estômago.

BarbárieO capitalismo não nos reser-

va apenas a pobreza e miséria, como também nos ameaça com a guerra patrocinada pelas potências imperialistas. Países inteiros são destruídos, obri-gando os trabalhadores destes países a procurar refúgio nes-ses mesmos países imperialis-tas, arriscando a sua vida. São recebidos nas fronteiras euro-peias e estadunidenses, cen-tros nevrálgicos do capitalismo, da maneira mais indigna e de-sumana possível.

Nas crises capitalistas o ra-cismo, machismo e LGBTfobia

sofrem picos de incidência. A opressão em capitalismo não é apenas reflectida nas folhas salariais das mulheres traba-lhadoras e imigrantes clandes-tinos. As agressões racistas, exploração laboral e margina-lização de que são vítimas os trabalhadores não-brancos tem vindo a aumentar. Com a des-truição dos cuidados de saúde, dos cuidados infantis e geriátri-cos, as mulheres trabalhadoras foram empurradas a desempe-nhar a tarefa de “cuidadoras do lar”, numa espécie de pri-são domiciliar que muitas das vezes significa a perda da sua independência financeira. Os femicídios, casos de violência sexual, violência doméstica, a discriminação racial e de géne-ro tem vindo a reflectir o profun-do estado de vulnerabilidade destas vastas camadas da clas-se trabalhadora. Esta é a nossa realidade, que nos acompanha em casa, na rua, nas escolas, nas faculdades e nos nossos locais de trabalho.

A resposta está na classe trabalhado-ra e na juventude

Temos visto um aumento dos protestos e mobilizações orga-nizados pelas camadas mais jovens da classe trabalhadora. Sabemos que não basta lutar por uma educação pública, te-mos consciência de que temos toda a sociedade para transfor-mar. A força transformadora só pode vir daqueles que a exer-cem todos os dias, os trabalha-dores. Sabemos que apenas o controlo dos recursos naturais, do ensino, da ciência, da cultu-ra, dos setores da economia e

da banca conquistaram as rei-vindicações da maioria. Está nas mãos dos trabalhadores a protecção do meio-ambiente, diminuição das jornadas labo-rais, o acesso à cultura, ciência e educação para todos, inde-pendentemente de raça, géne-ro, orientação sexual, nacionali-dade ou credo.

Um programa e uma organização anti-capitalista e revolucionária

A boa-fé e o parlamentaris-mo não mudam nada. É por isso que construímos uma or-ganização que torne a luta pela educação pública e democrá-tica numa luta conjunta com o resto da classe trabalhadora. O Sindicato é novo, mas temos uma herança histórica para nos guiar e ensinar. Aprendemos com os nossos camaradas do Estado Espanhol, com as lutas da classe trabalhadora ao lon-go da história e com as nossas atividades. Os nossos métodos de organização e discussão ba-seiam-se na necessidade de agregar estudantes numa ac-ção unida com os trabalhado-res, através de uma discussão livre e democrática. As nossas finanças permitem-nos manter a nossa independência de clas-se, sem dependermos da apro-vação e coação da burguesia.

Defendemos a necessidade da organização e mobilização em solidariedade com todos os oprimidos do Mundo. Somos os herdeiros e o fio condutor das maiores lutas do passado. So-mos o futuro das lutas que virão e das que travamos agora.

por uma greve feminista em 2019!

Porque somos anticapitalistas

Ângela Sankara

Tomás NunesManifestação a 8 de Março em Madrid, 2018. Foto: Susana Vera/REUTERS.

Protesto de estudantes contra a austeridade em Milão, Outubro de 2013. Foto: Eugenio Marongiu / Shutterstock.com.

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[email protected]

Organiza-te!Junta-te ao Sindicato!

ESTUDANTESSINDICATODE

Desde o ensino básico que nós, jovens não-brancos e imigrantes, somos margi-

nalizados e afectados pelo ra-cismo institucional. O racismo entre os próprios alunos, ao invés de ser combatido nas ins-tituições de ensino, é reforçado com a separação de turmas de estudantes racializados e dis-criminação pelos próprios pro-fessores. Além disso, por todo esse percurso são promovidos conteúdos racistas e colonialis-tas nos manuais e nos progra-mas de ensino, excluindo toda a história que não a eurocêntri-ca e estimulando o racismo na sociedade desde a juventude.

Na transição para o ensino secundário surge já mais uma barreira para a igualdade entre os alunos: o encaminhamento para o ensino profissional, que actualmente atinge perto de 50% dos estudantes. Entre os jovens negros, ciganos e imi-grantes, a maioria é forçada a seguir essa via de ensino. E são ainda maiores as barreiras existentes para o acesso ao en-sino superior, sendo suas taxas de acesso para os jovens afro-descendentes de 16%. Esses obstáculos manifestam-se pri-meiramente na própria conclu-são do secundário, em que as taxas de reprovação para alu-nos de nacionalidades PALOP é superior em 30% aos demais,

e nos exames nacionais, que exigem a capacidade financeira para o pagamento de explica-ções e instituições de ensino de qualidade — o que com o desinvestimento na educação pública, também passa a ser algo exclusivo para as famílias que podem pagar pelo ensino. E posteriormente, para os que conseguem aceder ao superior através das notas, também são impedidos através das propinas

extremamente elevadas, taxas e altos custos de vida nas cida-des — habitação, transportes etc.

As famílias não-brancas e imigrantes são uma grande parte da classe trabalhadora, sendo empurradas para essa situação por diversos meca-nismos racistas do sistema, e vivendo em condições ainda piores que o resto da classe. Os trabalhadores imigrantes são, além disso, impedidos de ter acesso à legalização de sua estadia com processos burocrá-ticos demorados e que exigem diversas taxas, os privando de

direitos fundamentais na vida e no trabalho, levando a con-dições ainda mais precárias. E essa situação se alarga a seus filhos mesmo sendo nascidos em território português, que atualmente não têm direito à nacionalidade, se encontrando privados também de direitos na educação. A consequência directa disso é que os jovens afectados pelas barreiras eco-nómicas do ensino são em sua

maioria negros, ciganos e imi-grantes, mostrando a relação directa entre classe e raça. E esse ciclo de precariedade é impulsionado pelo ensino sub-metido a um Estado parte de um sistema racista que neces-sita de manter a discriminação racial entre os trabalhadores de forma a aumentar a sua explo-ração, produzindo através das instituições de ensino mão-de--obra qualificada cada vez mais barata e precária.

Não queremos ser mão-de--obra precária! Queremos um ensino inclusivo e que permita o desenvolvimento pessoal e

social de toda a juventude em que se garanta os seus direitos! Só a organização dos estudan-tes aliados à classe trabalha-dora pode fazer frente a este sistema explorador e opressor! Só a organização dos estudan-tes aliados às camadas mais oprimidas pode conquistar um ensino plenamente democrá-tico em que a diferença seja sinónimo de riqueza e não de discriminação!

Reivindicamos a gestão democrática do ensino pelo fim do racismo na educação!

Pelo fim das barreiras como exames e propinas!

Por plenos direitos aos imigrantes e suas famílias e pela alteração da Lei da Nacionalidade!

Por um ensino inclusivo e anti-racista!Sofia Costa

Mobilização nacional contra o racismo em Lisboa, Setembro de 2018. Foto: Nelson Lima.

«Queremos um ensino inclusivo e que permita o desenvolvimento pessoal e social de toda a juventude em que se garanta os seus direitos!»