notícias de israel - ano 28 - nº 6

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www.Beth-Shalom.com.br JUNHO DE 2006 • Ano 28 • Nº 6 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

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• Ano 70 d. C.: o “Beco Sem Saída” Profético do Preterismo • Teologia Aliancista: o que Pensa Acerca de Israel? • O retorno dos judeus à Inglaterra • Como é possível negar o Holocausto?

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www.Beth-Shalom.com.br JUNHO DE 2006 • Ano 28 • Nº 6 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

É uma publicação mensal da ““OObbrraaMMiissssiioonnáárriiaa CChhaammaaddaa ddaa MMeeiiaa--NNooiittee”” comlicença da ““VVeerreeiinn ffüürr BBiibbeellssttuuddiiuumm iinn IIssrraaeell,,BBeetthh--SShhaalloomm”” (Associação Beth-Shalom paraEstudo Bíblico em Israel), da Suíça.

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EEddiiççõõeess IInntteerrnnaacciioonnaaiissA revista “Notícias de Israel” é publicadatambém em espanhol, inglês, alemão,holandês e francês.

As opiniões expressas nos artigos assinadossão de responsabilidade dos autores.

INPI nº 040614Registro nº 50 do Cartório Especial

OO oobbjjeettiivvoo ddaa AAssssoocciiaaççããoo BBeetthh--SShhaalloomm ppaarraaEEssttuuddoo BBííbblliiccoo eemm IIssrraaeell éé ddeessppeerrttaarr eeffoommeennttaarr eennttrree ooss ccrriissttããooss oo aammoorr ppeelloo EEssttaaddooddee IIssrraaeell ee ppeellooss jjuuddeeuuss.. Ela demonstra oamor de Jesus pelo Seu povo de maneiraprática, através da realização de projetossociais e de auxílio a Israel. Além disso,promove também CCoonnggrreessssooss ssoobbrree aa PPaallaavvrraaPPrrooffééttiiccaa eemm JJeerruussaalléémm e vviiaaggeennss, com aintenção de levar maior número possível deperegrinos cristãos a Israel, onde mantém aCasa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monteCarmelo, em Haifa).

ISRAELNotícias de

15

4 Prezados Amigos de Israel

HHOORRIIZZOONNTTEE

• O retorno dos judeus à Inglaterra - 15• Como é possível negar o Holocausto? - 20

índice5 Ano 70 d. C.: o “Beco Sem Saída” Profético do Preterismo

11 Teologia Aliancista: o que Pensa Acerca de Israel?

44 Notícias de Israel, junho de 2006

O resultado das eleições em Israel não foi umasurpresa. Como se esperava, o Kadima – sob aliderança de Ehud Olmert desde que Ariel Sharonadoeceu – passou a ser a maior força política eformou o novo governo. A grande surpresa foi osucesso do partido Gil, fundado por aposentadospouco antes das eleições. De saída, ele conseguiusete assentos no novo Parlamento israelense. Essademonstração de força é uma prova da vitalidadeda democracia israelense. Por outro lado, tambémtrata-se de um sinal de que a população não estámais disposta a aceitar cortes na área social emtroca de investimentos em setores aparentementemais importantes. Esse novo partido também foium dos primeiros a apoiar o governo chefiado porOlmert. Em resumo, a situação política israelensenão mudou substancialmente. O grande perdedorfoi o Likud, agora liderado por BenjaminNetanyahu, que rejeita a desocupação unilateraldos territórios palestinos se não vieracompanhada de um acordo com os palestinos.Ehud Olmert e seu partido Kadima, por sua vez,exigiram de todos os potenciais parceiros decoalizão uma declaração por escrito de que nãovão se opor à desocupações de outrosassentamentos.

Muitos em Israel se perguntam como EhudOlmert pode praticar tal política. Afinal, em 1978ele votou contra a resolução do bloco Likud e doentão primeiro-ministro Menahem Begin dedesocupar a Península do Sinai e de selar umacordo de paz com os egípcios. Nesse meio-tempo, Olmert chegou à conclusão de que otempo não trabalha em favor de Israel, que o“domínio estrangeiro” sobre os palestinos nãopode ser estendido indefinidamente e que umarejeição de “dois Estados” acarretará a queda deIsrael, uma vez que a taxa de natalidade dosárabes é muito mais elevada que a dos israelenses.Por ocasião do trigésimo aniversário da morte deBen-Gurion (que proclamou o Estado de Israel),Olmert o elogiou dizendo que foi um homem quenão apenas teve a grandeza de concretizar aesperança e a visão de várias gerações, mastambém se satisfez com o que foi possível realizarem sua época. Olmert citou as palavras de Ben-Gurion: “Quando chegou a hora de decidir sequeríamos um país em toda a extensão da terrade Israel, porém sem uma maioria judaica, ou seoptaríamos por um Estado judeu sem a extensão

territorial completa, decidimos por um Estadojudeu”.

Durante a campanha eleitoral, Ehud Olmertdeclarou-se disposto a desocupar a maioria dascolônias, com exceção dos grandesassentamentos. Essa foi uma reedição da visão deBen-Gurion acerca de um Estado judeu sem todaa terra de Israel. Aparentemente, não foi apenasOlmert a mudar de opinião. Os cidadãosisraelenses também apóiam majoritariamente aseparação dos palestinos.

Do ponto de vista humano, esses são osbastidores de passos decisivos na história deIsrael: a fixação de uma fronteira permanente. Mastambém existe o lado divino com suas muitaspromessas registradas na Bíblia. No final, aspromessas de Deus se realizarão mesmo quemuitos fatores pareçam conspirar em contrário.

Confiando na fidelidade de Deus, saúdo comum cordial Shalom!

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Em anos recentes, um sistemade interpretação da profecia bíblicaconhecido como Preterismo invadiua Igreja, gerando confusão e divisãoem muitas igrejas locais que histori-camente criam com firmeza na fu-tura volta de Cristo. Incentivadopor pregadores de grande audiênciano rádio, tais como R. C. Sproul,erudito de convicção reformada,autor do livro The Last Days Accor-ding to Jesus [Os Últimos Dias Se-gundo Jesus] que propaga a posiçãopreterista moderada, o Preterismotem feito incursões em semináriosevangélicos e estimulado debatespúblicos nos círculos universitárioscristãos e teológicos. Embora amaioria dos crentes em Cristo nun-ca tenha ouvido falar dos funda-mentos do Preterismo, tal perspec-tiva propõe uma abordagem da pro-

fecia bíblica que menospreza a es-perança profética da Igreja, en-quanto solapa o alicerce das pro-messas proféticas para Israel.

O que significaPreterismo?

O termo deriva da palavra latinapreter (i.e., “passado”). O Preteris-mo advoga a crença de que a maio-ria dos eventos proféticos (para nãodizer todos) registrados no Antigo eno Novo Testamento já se cumpri-ram. À semelhança do Historicismoque interpreta o livro de Apocalipsecomo uma simbologia da históriada Igreja, o Preterismo espiritualizaas profecias para que estas se encai-xem nos eventos históricos da Erada Igreja. Contudo, diferente do

Historicismo, o Preterismo procuraajustar certas profecias (para nãodizer todas) referentes à SegundaVinda de Cristo e à restauração deIsrael, a um acontecimento históri-co específico ocorrido no passado.

Como explica o preterista mode-rado Kenneth L. Gentry Jr.:

As predições de Mateus 24.1-34(e em relatos paralelos), proferidasno sermão do Monte das Oliveiras,cumpriram-se nos eventos relaciona-dos com a destruição de Jerusalémno ano 70 d.C. No Apocalipse, amaioria das profecias registradas an-tes do capítulo 20 encontra seu cum-primento na destruição de Jerusalém.1

Os preteristas argumentam queo uso por parte de Jesus da expres-são “esta geração” no sermão doMonte das Oliveiras exige seu cum-primento no primeiro século. R. C.

55Notícias de Israel, junho de 2006

Sproul, em especial, alega que seessa interpretação de cumprimentono primeiro século não for adotada,as palavras de Jesus falharam.

Em comparação, o Futurismo(posição na qual cremos) afirmaque o cumprimento literal das pro-fecias messiânicas referentes à Pri-meira Vinda de Cristo assegura queo ensinamento profético de Jesustambém deve ser interpretado lite-ralmente. Portanto, o sermão doMonte das Oliveiras e o livro deApocalipse terão seu cumprimentono futuro, mais especificamente du-rante a Tribulação e o Reino Mile-nar (i.e., o Milênio) de Cristo.

Hoje em dia, dois tipos de Prete-rismo disputam a primazia entre si.O Preterismo Parcial, ou Modera-do, é a versão mais popular. Apesarde alegar que a maioria das profe-cias (a exemplo dos acontecimentosreferentes à Tribulação) se cumpriuno ano 70 d.C., esse tipo de Prete-rismo reconhece que alguns ensina-mentos proféticos, tais como a Se-gunda Vinda de Cristo e a ressur-reição corporal, ainda se cumprirãono futuro.

Por essa razão, o PreterismoParcial acredita em duas SegundasVindas de Cristo: uma que teriaocorrido no ano 70 d.C., na quali-dade de parousia (do grego: “vinda”ou “advento”) e Dia do Senhor,com o propósito de exercer juízo

contra a nação de Israel, e outraVinda, de proporções universais,que acontecerá no clímax da histó-ria humana, como o último e defi-nitivo Dia do Senhor.

Dentre os que advogam o Prete-rismo Parcial e que já publicaramdefesas, popularizando sua posição,destacam-se: R. C. Sproul, GaryDeMar e Kenneth L. Gentry Jr.,além de David Chilton que, após apublicação de seus livros em defesado Preterismo Parcial, mudou deposição para o Preterismo Pleno.

O Preterismo Pleno, ou Extre-mo, defende a idéia de que os cren-tes foram espiritualmente ressusci-tados e que a criação foi espiritual-mente restaurada, de modo que aIgreja, atualmente, existe no estadoeterno de novos céus e nova terra.

Segundo Thomas Ice, diretor-executivo do Pre-Trib Research Cen-ter [Centro de Pesquisas Pré-Tribu-lacionistas] e um dos mais proemi-nentes especialistas em Preterismo,não há nenhuma evidência de qual-quer interpretação preterista na his-tória da Igreja Primitiva até a épocada Reforma Protestante.2

A concepção do Preterismo

acerca de IsraelO Preterismo ensina que Cristo

voltou no ano 70 d.C. para julgarIsrael e dar fim à Era Judaica.

À semelhança dos historicistas,os preteristas argumentam que aspromessas feitas a Israel foram en-tendidas erroneamente como pro-messas nacionais. Portanto, a partirdo momento em que Israel rejeitoua Cristo, tais promessas “espiri-tuais” foram transferidas à Igreja, o“verdadeiro Israel”.

Todavia, o Preterismo, que forçaa interpretação da maioria dos tex-

tos proféticos, principalmente da-queles que se referem à destruiçãode Jerusalém, para que seu cumpri-mento se encaixe nos acontecimen-tos relativos à Primeira Revolta Ju-daica, considera a destruição do po-vo judeu como o elemento centralda profecia. Tal como afirmou opreterista David Chilton:

O livro de Apocalipse não tratada segunda vinda de Cristo. Trata dadestruição de Israel e da vitória deCristo sobre Seus inimigos no estabe-lecimento do templo da Nova Alian-ça [...] o livro de Apocalipse profeti-za o juízo de Deus sobre o Israelapóstata; e embora, resumidamente,mostre eventos que estão além de seufoco de interesse, faz isso como um“pacote”, para demonstrar que os ím-pios nunca prevalecerão contra o Rei-no de Cristo.3

Para os preteristas, o povo judeué o verdadeiro inimigo de Cristo;sua ruína infligida pelo exército ro-mano, sob ordens de Cristo e porEle enviado, é o triunfo de JesusCristo sobre o Anticristo. Na reali-dade, dizem eles, Cristo voltou es-piritualmente no julgamento impos-to pelo exército romano (portanto,uma vinda para juízo), cumprindoSua promessa de “voltar sem de-mora”.

De igual modo, o templo judeu évisto pelos preteristas como o centroda apostasia espiritual, e sua des-truição é interpretada como o cum-primento da abominação da desola-ção, ou seja, o santo juízo de Deuscausado pela perversa crucificaçãode Cristo promovida pelos judeus.

Conseqüentemente, os preteris-tas rejeitam qualquer ponto de vistaque preveja um futuro para o Israelétnico (desassociado da Igreja) e re-putam por herético qualquer siste-ma escatológico que espere poruma restauração de Israel e de seutemplo, pois isso seria o mesmo querejeitar a Cristo e restaurar a blasfê-

66 Notícias de Israel, junho de 2006

Preterismo

procura ajustar

certas profecias

(para não dizer todas)

referentes à Segunda

Vinda de Cristo e à

restauração de Israel, a

um acontecimento

histórico específico

ocorrido no passado.

mia. O preterista Gary DeMar ex-plica:

Neste Evangelho [de Mateus] nãohá nada nos ensinos de Jesus que su-gira a ocorrência de uma restaura-ção após esse período de julgamento[...] O Discurso Apocalíptico (capítu-lo 24) afasta-se de Jerusalém [...] Se-rá que a Bíblia, em especial o NovoTestamento, prediz que o templo seráreconstruído? Não [...] fazer do tem-plo de pedras uma estrutura perma-nente à luz da obra expiatória de Je-sus seria uma negação do Messias ede Sua missão redentora.4

Os problemas doPreterismo:

1. A data do livro de Apocalipse

Para que as profecias de Apoca-lipse se encaixem na conquista deJerusalém pelos romanos, é neces-sário que a data de composição dolivro seja anterior ao ano 70 d.C.

Os preteristas percebem a neces-sidade de datar o livro no começodo reinado de Nero (64-67 d.C.),admitindo que “se o livro tivesse si-do escrito após o ano 70 d.C., seuteor, conseqüentemente, não se re-feriria aos eventos relacionados coma destruição de Jerusalém”.5

Entretanto, se datar o livro fossealgo tão crucial para sua interpreta-ção, por que o apóstolo João nãoindicou com exatidão a época desua escrita em algum lugar dos 404versículos de Apocalipse? Todavia,como concluiu Mark Hitchcock emsua dissertação de doutorado sobreesse assunto:

...eu realmente creio que o argu-mento em favor de uma data poste-rior (i.e., 95 d.C.) pode ser provado,se não indubitavelmente, pelo menospelo predomínio da evidência.6

Essa evidência externa a favor deuma data posterior inclui o teste-munho patente dos mais confiáveispais da Igreja, tais como Irineu(120-202 d.C.), que fez esta nítidadeclaração:

Pois se fosse necessário que o no-me dele [do Anticristo] tivesse de serrevelado neste tempo presente, teriasido dito por aquele que contemploua visão apocalíptica. Porque não foicontemplado [o Apocalipse] há muitotempo atrás, mas quase em nossa ge-ração, próximo ao fim do reinado deDomiciano.7

Além disso, a evidência internafavorece uma data posterior na épo-ca do imperador Domiciano. Talapoio inclui: 1) A situação e descri-ção das sete igrejas em Apocalipse1-3, que não faz nenhuma mençãoàs viagens missionárias de Paulo; 2)O exílio de João na ilha de Patmos,em vez de execução, conformeocorrida nos casos de Pedro e Pau-lo sob o governo de Nero; e 3) Aprofecia da Nova Jerusalém (Ap21.9-Ap 22.5), o que dá a entenderque a velha Jerusalém já tinha sidodestruída.

2. A ausência de uma concordância histórica quanto ao cumprimento noprimeiro século

Se a interpretação preterista daprofecia estivesse correta, o registrohistórico deveria confirmar os deta-lhes. Entretanto, ocorre exatamenteo contrário.

Por exemplo, a direção do ad-vento [i.e., chegada] de Cristo aJerusalém (Mt 24.27) é compara-da a um relâmpago, cuja clarida-de é vista do oriente para o ociden-te. Porém, o exército romano, in-terpretado pelos preteristas como ocumprimento dessa profecia, avan-çou contra Jerusalém do ocidente pa-ra o oriente. Ainda que entendêsse-mos isso simplesmente como o sig-nificado de que o exército romanoavançou “como o relâmpago” (i.e.,rapidamente), a história revela queo ataque contra Jerusalém foi bas-tante demorado; a guerra durou vá-rios anos até que Jerusalém che-

77Notícias de Israel, junho de 2006

O templo judeu é visto pelos preteristas como o centro da apostasia espiritual, e suadestruição é interpretada como o cumprimento da abominação da desolação, ou seja, o santo juízo de Deus causado pela perversa crucificação de Cristo promovida pelos judeus.

gasse, pelo menos, a ponto de sersitiada!

Em muitos casos, podem ser fei-tas apenas “correlações” baseadasna interpretação escatológica ten-denciosa [dos escritos] do historia-dor judeu Flávio Josefo, que viveuno primeiro século, tais como: 1)Associar os sinais divinos com aiminente conquista pelo exército ro-mano; 2) Reinterpretar o texto afim de ajustá-lo aos detalhes históri-cos preferidos como, por exemplo,dizer que “as nuvens do céu” signi-ficam a nuvem de poeira levantadapelo avanço das tropas romanas; ou3) considerar como hipérboles asdeclarações que não se enquadramnos eventos históricos, a exemplodo caráter inédito e insuperável daTribulação, a fim de reivindicar umcumprimento profético no primeiroséculo.

Até mesmo a concepção centraldo Preterismo – de que a volta deCristo para julgamento aconteceucom o objetivo de extinguir a naçãojudaica – não pode subsistir à luz dacontínua vitalidade do judaísmo eda realidade presente do Estado deIsrael.

As conse-qüências his-tóricas paraIsrael, no sal-do final doano 70 d.C.,de fato foramcríticas. To-davia, o povojudeu e seunacionalismonão só sobre-viveram, co-mo tambémaguardam, ca-da vez mais, ar e s t auraçãoprometida pe-los profetas.Além disso, a

“consciência do Templo”, perpe-tuada pelo judaísmo rabínico atra-vés da transferência espiritual paraa sinagoga, também se expressa demodo tangível.

Sempre que as circunstâncias fa-vorecem a reconstrução do Tem-plo, há ativistas judeus que voltama Jerusalém na tentativa de reedifi-cá-lo. O Império Romano desapa-receu há muito tempo, porém o po-vo judeu está novamente na TerraPrometida, tem o controle da Cida-de Santa e do Monte do Templo, efaz planos para a reconstrução doTemplo.

Seria justo considerar os aconte-cimentos do ano 70 d.C. como umcumprimento do plano de Deus pa-ra Israel e não considerar tambémesses acontecimentos posteriorescomo parte da continuidade do pla-no divino? Uma interpretação futu-rista harmoniza-se muito melhorcom a declaração de Jesus no ser-mão do Monte das Oliveiras, deque, quando Ele vier, o povo judeuterá de “erguer sua cabeça porque asua redenção se aproxima” (Lc21.28). No ensinamento desse tex-to, está claro que a Segunda Vinda

de Cristo implica a redenção de Is-rael, não a sua destruição.

Em face de tais incoerências his-tóricas e textuais, Robert Gundry fezo seguinte comentário acerca da in-terpretação preterista de um cumpri-mento profético no primeiro século:

Tendo sido escrito imediatamenteantes, durante ou logo depois do ano70 d.C., Marcos [ou qualquer outrodos Evangelhos] não estaria sujeito atamanha ignorância acerca do quese passava. [Pois,] do início ao fim,os acontecimentos e circunstânciasda Guerra Judaica divergem do textode Marcos [bem como do de Mateuse, em parte, de Lucas] ampla e sufi-cientemente para impedir que essetexto reflita aqueles acontecimentos ecircunstâncias.8

Se não existe correlação histó-rica entre um cumprimento profé-tico no ano 70 d.C. e o sermãodo Monte das Oliveiras, e, se oPreterismo depende de tal cumpri-mento para a sustentação de seusistema escatológico, logo o pró-prio Preterismo está reprovado co-mo uma interpretação escatológicaviável.

Os perigos do PreterismoTodo ensinamento traz suas

conseqüências para a vida espiri-tual. Essa é a razão pela qual os en-sinos do Preterismo devem ser leva-dos em consideração pelo perigoque representam na prática.

O Preterismo ensina que Cristojá voltou (espiritualmente) e, na suaforma extrema, que Jesus nuncamais voltará corporalmente a estemundo. Contudo, a declaração di-vina registrada em Atos 1.11 con-tradiz tanto o Preterismo Parcialquanto o Preterismo Pleno, nas se-guintes palavras: “Esse Jesus quedentre vós foi assunto ao céu virá domodo como o vistes subir”.

88 Notícias de Israel, junho de 2006

A direção do advento [i.e., chegada] de Cristo a Jerusalém (Mt24.27) é comparada a um relâmpago, cuja claridade é vista dooriente para o ocidente. Porém, o exército romano, interpretadopelos preteristas como o cumprimento dessa profecia, avançou contra Jerusalém do ocidente para o oriente.

Portanto, o ensino é falso. OPreterismo não apenas distorce oplano profético e nega a “bendita es-perança” (Tt 2.13), mas tambémpromove o engano de que não ha-verá um final para a história, de queo mal foi erradicado deste mundo(segundo o Preterismo Pleno) e deque os crentes vivem, agora, no es-tado eterno.

Tal doutrina falsa também im-pede que os crentes em Cristo obe-deçam às diversas ordenanças dasEscrituras dirigidas àqueles que es-tão à espera da volta de Cristo (1Ts 1.10). Admoestações práticasfeitas à luz da volta de Cristo – taiscomo: “...andemos [procedamos]dignamente” (Rm 13.11-13; cf. 1 Ts5.4-10); “vivamos, no presente século,sensata [sóbria], justa e piedosamen-te” (Tt 2.12); “E a si mesmo se puri-fica todo o que nele tem esta esperan-ça” (1 Jo 3.3) – não têm nenhumsentido para aqueles que crêem quea volta de Cristo já aconteceu.

O Preterismo também perverte acompreensão da obra atual de Sata-nás e de seus demônios, ao ensinarque o Diabo foi subjugado eamarrado na cruz, e queapostasia é coisa do passado.Contudo, as Escrituras afir-mam que a nossa luta é “con-tra os principados e potestades,contra os dominadores destemundo tenebroso, contra as for-ças espirituais do mal, nas re-giões celestes” (Ef 6.12); bemcomo afirmam que “o mundointeiro jaz no Maligno” (1 Jo5.19) e que “nos últimos tem-pos, alguns apostatarão da fé,

por obedecerem a espíritos engana-dores e a ensinos de demônios” (1Tm 4.1).

Se adotassem o Preterismo,como os crentes em Cristo po-deriam obedecer a determinadasordens, tais como, “resisti ao dia-bo” (Tg 4.7; cf. 1 Pe 5.9) e “Fogetambém destes [dos apóstatas]”(2 Tm 3.5)?

Além disso, a abordagem pre-terista da profecia influencia amaneira pela qual os cristãos en-tendem o propósito de Deus parao povo judeu, bem como o pontode vista dos crentes em Cristoacerca da existência do Estado deIsrael nos dias atuais. O Preteris-mo substitui Israel pela Igreja, pe-lo ensino de que “o Israel étnicofoi excomungado por causa desua apostasia e nunca mais será oReino de Deus”.9

Se a futura salvação e restau-ração de Israel, previstas no pla-

no de Deus (Rm 11.25-27), fossemrevogadas ou anuladas, também oseria, por conseguinte, a bênção pa-

99Notícias de Israel, junho de 2006

Sempre que as circunstâncias favorecem a reconstrução do Templo, há ativistas judeusque voltam a Jerusalém na tentativa de reedificá-lo. O Império Romano desapareceu hámuito tempo, porém o povo judeu está novamente na Terra Prometida, tem o controleda Cidade Santa e do Monte do Templo, e faz planos para a reconstrução do Templo.

A abordagem preterista da profecia influencia a maneira pela

qual os cristãos entendem o propósito de Deus para o povo

judeu, bem como o ponto de vista dos crentes em Cristo

acerca da existência do Estado de Israel nos dias atuais.

ra o mundo, prometida por Deus(Rm 11.12), em cumprimento daAliança Abraâmica (Gn 12.3).

O apóstolo Pedro sintetizou overedicto de Deus acerca do Prete-rismo, ao escrever: “tendo em conta,

antes de tudo, que nos últimos dias vi-rão escarnecedores com os seus escár-nios, andando segundo as própriaspaixões e dizendo: Onde está a pro-messa da sua vinda? Porque, desdeque os pais dormiram, todas as coisas

permanecem como desdeo princípio da criação”(2 Pe 3.3-4). Apesardisso, clamamos:“Vêm, Senhor Jesus!”(Israel My Glory)

Randall Price é arqueólogo,autor de livros e diretor-presi-dente do World of the BibleMinistries, Inc., uma organi-zação que se dedica a explo-rar e explicar o mundo bíbli-co antigo, atual e profético.

Notas:1. Gentry, Kenneth L. Jr. He Shall Have Domi-

nion: A Postmillennial Eschatology, Tyler, TX:Institute for Christian Economics, 1992, p. 159.

2. Ice, Thomas. “The History of Preterism”, pu-blicado na obra The End Times Contro-versy, organizada por Tim LaHaye e Tho-mas Ice, Eugene, OR: Harvest House,2003, p. 42-6.

3. Chilton, David. Paradise Restored: An Es-chatology of Dominion, Tyler, TX: Recons-truction Press, 1985, p. 43.

4. DeMar, R. Gary. Last Days Madness: Ob-session of the Modern Church, 4ª ed.,Atlanta: American Vision, 1999, p. 52 e 61.

5. Sproul, R. C. The Last Days according toJesus, Grand Rapids: Baker Books, 1998,p. 140.

6. Hitchcock, Mark. “The Stake in the HeartThe A.D. 95 Date of Revelation”, publicadona obra The End Times Controversy, p.125.

7. Irineu, Against Heresies, 5.30.3.8. Gundry, Robert H. Mark, Grand Rapids:

Eerdmans, 1993, p. 755.9. Chilton, p. 224.

1100 Notícias de Israel, junho de 2006

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O Surgimento doPreterismo

A interpretação preterista apareceupela primeira vez num comentário sobreo livro de Apocalipse escrito pelo jesuítaespanhol Luiz Alcazar (1554-1613). Eleinterpretou os símbolos descritos emApocalipse como a vitória da Igreja Ca-tólica Romana sobre o paganismo e,principalmente, sobre o povo judeu, cujarejeição divina, segundo ele cria, consu-mou-se definitivamente no ano 70 d.C.

Entretanto, Cornelius Lapide(1567-1637), um dos proeminentes co-mentaristas jesuítas, rejeitou o Preteris-mo de Alcazar, por considerá-lo “re-cente e contrário às interpretaçõesusuais”; “místico em vez de literal”;“alegórico”; e que “faz declarações semprová-las”.1

O primeiro preterista protestante foiHugo Grotius (1538-1645), um armi-niano holandês que também deu ori-gem à herética concepção governamen-tal da expiação, ainda que Henry Ham-mond (1605-1660), seguidor do pontode vista de Grotius, tenha sido o intro-dutor do Preterismo em solo britânico.Entretanto, esses dois homens erammais historicistas do que preteristas e

suas opiniões foram amplamente igno-radas, apesar de terem sido denuncia-das por grupos posteriores à Reforma,tais como os huguenotes. Um dos prin-cipais líderes destes, Pierre Jurieu(1637-1713), afirmou que o Preterismo“desonra seus autores” e se constituinuma “vergonha e desgraça, não so-mente para a Reforma, mas tambémpara o nome de cristão”.2

Mesmo assim, tal forma de Preteris-mo era branda. Apesar de John Light-foot, um erudito protestante inglês, tam-bém ter adotado um Preterismo brando,a interpretação preterista não foi vista naerudição protestante até os idos de1800, quando ela então surgiu como umproduto do racionalismo alemão. Essaescola liberal alemã, que rejeitou a reve-lação sobrenatural e deu origem à altacrítica, adotou o Preterismo para evitar aprofecia preditiva e oferecer uma inter-pretação naturalista para o livro de Apo-calipse, através de uma comparação coma literatura apocalíptica dos Apócrifos ePseudepígrafos.

Como a propagação do racionalis-mo alemão, a interpretação preterista sefirmou no protestantismo das Ilhas Bri-tânicas e dos Estados Unidos da Amé-rica, vindo a influenciar eruditos evan-gélicos tais como J. Stuart Russell

(1816-1895) e Moses Stuart (1780-1852), cujas obras representavam asmodernas formas de Preterismo.

A ascensão popular do PreterismoParcial entre os protestantes americanosde tradição reformada pode ser rastreadaaté as suas origens pelos idos de 1970 noMovimento de Reconstrução Cristã,através da influência de Greg Bahnsen, esua divulgação popular por intermédiodos seguintes alunos dele: David Chil-ton, Kenneth L. Gentry Jr., Gary De-Mar e R. C. Sproul (este tornou-se umpreterista pleno por volta de 1990).

O surgimento do Preterismo Plenopode ser atribuído às Igrejas de Cristoe, mais especificamente, a um de seuspastores, Max R. King, dentre cujosdiscípulos incluem-se os atuais preteris-tas plenos Don K. Preston, John L.Bray e John Noe. (Israel My Glory)

Notas:1. Citado em Leroy Froom, The Prophetic

Faith of Our Fathers: The Historical Deve-lopment of Prophetic Interpretation, Was-hington, D.C.: Review and Herald, 1950,vol. 2, p. 506, 512.

2. Citado em Jean-Robert Armogathe, “Inter-pretations of the Revelation of John: 1500-1800”, publicado na obra Encyclopedia ofApocalypticism, organizada por John J.Collins, Bernard McGinn e Stephen J.Stein, Nova York: Continuum, 2000, vol. 2,p. 198.

1111Notícias de Israel, junho de 2006

Teologia Aliancista (em contraste com a Teolo-gia Dispensacionalista, na qual cremos) é um

sistema teológico que procura desenvolver uma fi-losofia bíblica da história baseada em duas ou três

alianças ou pactos. Tal teologia enquadra todo o conteúdo das Es-crituras e da história nessas alianças.

A Teologia Aliancista não existia como sistema até os séculosXVI e XVII. Não se desenvolveu na época da igreja primitiva, nemna Idade Média.1 Kaspar Olevianus (1536-1587) foi o organizadorde uma Teologia Aliancista mais desenvolvida, “na qual o conceitode aliança, pela primeira vez, se tornou o princípio constituinte edeterminante de todo o sistema”.2

Esse sistema teológico começou a ser adotado nas igrejas refor-madas da Suíça e Alemanha, difundindo-se para os Países Baixos,Escócia e Inglaterra. Em 1647, a Confissão de Fé de Westminsterna Inglaterra tornou-se a primeira declaração de fé a fazer referên-cia à Teologia das Alianças ou Teologia Aliancista.3

Johannes Cocceius (1603-1669) retratou toda a história bíblicacomo uma realidade governada pelo conceito aliancista.4 HermanWitsius (1636-1708) vinculou a idéia das alianças aos decretoseternos de Deus.5 Isso instigou a idéia de que Deus, na eternidadepassada, decidiu dirigir todo o curso da história com base nasalianças.

As aliançasA maioria dos teólogos aliancistas crê que três alianças estão re-

lacionadas com a filosofia bíblica da história – as Alianças da Re-denção, das Obras e da Graça.

Alegam que na eternidade passada, uma Aliança da Redençãofoi firmada entre Deus, o Pai, e Deus, o Filho. Ciente de que a hu-manidade se afastaria dEle, Deus determinou proporcionar a re-denção aos eleitos durante o transcurso da história. O Pai prome-teu dar ao Filho a posição de Cabeça e Redentor dos eleitos e o Fi-lho assumiu o compromisso de propiciar aos eleitos a redenção,por meio da encarnação num corpo humano e da morte substituti-va em favor deles.6

Segundo a Teologia Aliancista, uma Aliança das Obras foi fir-mada entre Deus e Adão, no período decorrido entre a criação e aqueda da raça humana.7 Deus requereu de Adão “uma obediênciaabsoluta e perfeita”.8 Adão foi colocado, temporariamente, numasituação de teste, a fim de que ficasse provado se ele sujeitaria, ounão, a sua vontade à vontade de Deus.

Deus prometera a vida eterna (não vidabiológica) a Adão e seus descendentes emretribuição à perfeita obediência de Adão.9

Porém, se Adão, na qualidade conferidapor Deus de cabeça representativo da raçahumana, desobedecesse, ele e seus descen-dentes seriam penalizados com a morte,“que inclui morte física, espiritual e eter-na”.10

A Teologia Aliancista também sustentaque Deus firmou uma Aliança da Graça,pelo fato de que Adão não cumpriu aAliança das Obras. Louis Berkhof definiua Aliança da Graça como “aquele acordogracioso entre o Deus ofendido e o peca-dor ofensor, todavia eleito, no qual Deuspromete salvação pela fé em Cristo e o pe-cador a aceita, confiantemente, prometen-do uma vida de fé e obediência”.11 Assim,Deus é a parte iniciadora da Aliança daGraça. Os teólogos aliancistas alegam quea segunda parte envolvida nessa Aliança daGraça pode ser: 1) o pecador; 2) os eleitos;3) o pecador eleito em Cristo; ou 4) oscrentes e seus descendentes.12

Alguns teólogos aliancistas crêem que aAliança da Graça foi firmada imediata-mente depois da queda de Adão, enquanto

outros argumentam que não foi es-tabelecida até que Deus firmasseSua aliança com Abraão.13 Após tersido firmada, tal aliança mantém-seem vigor ao longo do tempo, nacondição de princípio unificador dahistória.

Problemas inerentes àTeologia AliancistaInfelizmente, o espaço que te-

mos é limitado para referir-me a to-dos os problemas inerentes a essaabordagem teológica, todavia, des-crevo os seguintes:

É muito limitadaO propósito final da história, de-

finido pela Teologia Aliancista co-mo a glória de Deus mediante a re-denção dos eleitos, é muito limita-do. No transcurso da história, Deusnão somente cumpre o Seu planode redenção referente às pessoasque são salvas, mas também cum-pre Seu plano referente àqueles quenunca serão salvos, bem como Seu

plano para as nações, para os gover-nantes, para os anjos, para Satanáse para a natureza. O propósito finalda história deve ser amplo o sufi-ciente para incluir todos os planosde Deus, não apenas um.

Nega distinçõesA Teologia Aliancista nega ou

enfraquece algumas distinções veri-ficadas na Bíblia, ao insistir que es-sas distinções são diferentes está-gios ou fases da mesma Aliança daGraça.

Por exemplo, alega que a Alian-ça Abraâmica e a Aliança Mosaica(i.e., a Lei) eram essencialmente amesma coisa. Contudo, o apóstoloPaulo acentua as distinções entreessas duas alianças no capítulo 3 daEpístola aos Gálatas.

Além disso, ensina que não hádiferença fundamental entre aAliança Mosaica e a Nova Aliança.Entretanto, o texto de Jeremias31.31-34 aponta para o fato de quea Nova Aliança seria uma aliançadiferente da Aliança Mosaica e

Paulo indica várias distinções im-portantes entre ambas as alianças (2Co 3.3-9).

A Teologia Aliancista nega a dis-tinção existente entre a nação de Is-rael e a Igreja; crê que a Igreja, aqual nas declarações dos aliancistaspode ser chamada de “o Israel deDeus”, já existia nos tempos do An-tigo Testamento e que a nação deIsrael caracterizava-se como umadas principais fases da Igreja naque-la época. A Teologia Aliancista de-fine a Igreja como a permanente co-munidade da aliança, composta detodas as pessoas que se incluem naAliança da Graça ao longo de todaa história.

Porém, se a Igreja já existia noAntigo Testamento e se Israel e aIgreja são a mesma coisa, por querazão Jesus situou a edificação dasua Igreja (Mt 16.18) em tempo fu-turo? Além disso, por que Pedrodesigna aquele acontecimento dodia de Pentecostes (At 2) como o“princípio” (At 11.15)?

A Teologia Aliancista tambémnega as distinções existentes entre o“evangelho do reino” e o “evange-lho” definido em 1 Coríntios 15.1-4. Ao sustentar a crença de que opropósito final da história é a glóriade Deus mediante a redenção doseleitos e que há somente um povode Deus, essa teologia ensina que,desde o começo até o fim da histó-ria, só existe um evangelho. Entre-tanto, o evangelho do reino – “Arre-pendei-vos, porque está próximo o rei-no dos céus” (Mt 4.17,23) – não faznenhuma comunicação sobre amorte, o sepultamento e a ressurrei-ção de Jesus Cristo. O Senhor Jesusordenou que o evangelho do reinofosse pregado exclusivamente aopovo de Israel (Mt 10.5-7). Emcomparação, o evangelho definidoem 1 Coríntios 15 consiste dos fa-tos referentes à morte, ao sepulta-mento e à ressurreição de Cristo.

1122 Notícias de Israel, junho de 2006

A catedral de St. Paul em Londres.

Jesus ordenou que esse evangelhofosse pregado a todo mundo (Mc16.15). Além do mais, só depoisque os apóstolos pregaram o evan-gelho do reino durante certo tem-po, Cristo começou a dizer-lhes quedevia ser morto e ressuscitar, o queinstigou a reação negativa de Pedro(Mt 1.21-22).

Viola um princípioA Teologia Aliancista postula

que cada aliança bíblica é uma novafase e continuação da Aliança daGraça. Argumenta, por exemplo,que a Aliança Mosaica era uma no-va fase da Aliança da Graça estabe-lecida anteriormente. Todavia, aAliança Mosaica instituiu condiçõesque não foram previamente adota-das. Se fosse uma nova fase daAliança da Graça, estaria acrescen-tando novas condições a essa alian-ça. Tal prática violaria o princípiode que nenhuma condição nova po-de ser acrescentada a uma aliançaque já tenha sido firmada (Gl 3.15).

É incoerenteA Teologia Aliancista emprega

um sistema ambíguo de interpreta-ção. Embora admita que o métodohistórico-gramatical de interpreta-ção da Bíblia seja o método normale que outro tipo de abordagem her-menêutica pode levar a um desas-tre, os teólogos aliancistas utilizamoutros métodos de interpretaçãoprincipalmente nas áreas que se re-lacionam com o futuro da nação deIsrael e com o futuro reino deDeus. Nesses assuntos, adotam ométodo alegórico, no qual as pala-vras não são tomadas em seu senti-do normal, usual e comum ao con-texto cultural e cronológico da pas-sagem bíblica.

Segundo tal método, a palavraIsrael pode significar a Igreja, não a

nação de Israel; e as promessas debênção futura, feitas a Israel, estãopara se cumprir na Igreja, não noâmbito da nação de Israel. Contu-do, o fato de que as Escrituras pro-féticas têm se cumprido, até agora,de acordo com o método histórico-gramatical de interpretação, nãoconforme o método alegórico, pare-ce indicar a maneira pela qual Deusplanejou que todas as passagensproféticas fossem interpretadas.

Rejeita o futuro de IsraelMuitos teólogos aliancistas ensi-

nam que, em virtude da nação deIsrael não ter recebido a Cristo co-mo seu Messias, por ocasião da pri-meira vinda dEle, Deus rejeitou anação de Israel, para sempre, e asubstituiu pela fase neotestamentá-ria da Igreja. Portanto, segundocrêem, Deus não tem nenhum pla-no futuro para a nação de Israel.

Porém, Samuel pronunciou asseguintes palavrasao Israel nacional:“Pois o Senhor, porcausa do seu grandenome, porque aprouveao Senhor fazer-vos oseu povo” (1 Sm12.22). Davi, numareferência à naçãode Israel que Deusresgatara do Egitopara tornar-se umpovo exclusivamen-te Seu, escreveu:“Estabeleceste teu po-vo Israel por teu povopara sempre e tu, óSenhor, te fizeste oseu Deus” (2 Sm7.24).

Deus prometeu,por boca de Jere-mias, que apesar dedar cabo de todas asnações para as quais

dispersara Israel, nunca daria caboda nação de Israel (Jr 30.11).

Além disso, o apóstolo Paulo de-monstra que, apesar dos israelitasserem inimigos do evangelho, a Suadivina eleição, na qualidade de po-vo de Deus, é irrevogável (Rm11.28-29).

É amilenistaJá que a Teologia Aliancista crê

que o propósito final da história éa glória de Deus mediante a re-denção dos seres humanos eleitos,a maioria de seus defensores nãovê nenhuma necessidade de um rei-no político de Cristo nesta terrapelo período de 1.000 anos literais.Deste modo, mantêm uma postu-ra amilenista acerca do futuro Rei-no de Deus predito na Bíblia. Es-sa posição alega ser o Reino, umreino espiritual que consiste daIgreja, ou do domínio de Cristo nocoração humano, e que foi estabe-

1133Notícias de Israel, junho de 2006

Davi, numa referência à nação de Israel que Deus resgatara do Egito para tornar-se um povo

exclusivamente Seu, escreveu: “Estabeleceste teu povoIsrael por teu povo para sempre e tu, ó Senhor,

te fizeste o seu Deus” (2 Sm 7.24).

lecido por Cristo quando se assen-tou no trono de Deus nos céus.Dessa maneira, a Teologia Alian-cista equipara o trono de Deus nocéu com o trono de Davi, tronoeste que, segundo a promessa fei-ta na Bíblia, será dado ao Messiasna ocasião em que o futuro Reinode Deus for estabelecido.

Há vários problemas nessa pers-pectiva teológica. O primeiro deles

é que várias décadas depois deCristo assentar-se no trono deDeus, o próprio Jesus marcou umadistinção entre esse trono e o Seutrono no qual se assentará em oca-sião futura (Ap 3.21).

O segundo problema é que ossonhos proféticos registrados emDaniel 2 e 7 revelam que o futuroReino de Deus não coexistirá com odomínio mundial gentílico. Em

comparação, a Igrejatem convivido com odomínio gentílico porséculos.

O terceiro proble-ma é que o sonho des-crito em Daniel 7 re-velou que o futuroReino de Deus seráestabelecido quando oMessias voltar sobreas nuvens dos céus co-

mo o Filho do Homem (v. 13-14).Cristo indicou que voltará dessamaneira em Sua Segunda Vinda,após a Grande Tribulação (Mt24.21,29-30), e que então se as-sentará no Seu trono, governará co-mo Rei e dará posse aos crentes pa-ra que adentrem ao Reino (Mt25.31-34).

O quarto problema é que Cristose assentará no Seu trono como oFilho do Homem quando a terrafor regenerada por um efeito sus-pensório da maldição (Mt 19.28),depois do arrependimento nacionalde Israel e da vinda de Cristo doscéus à terra (At 3.19-21). Esseevento ainda não aconteceu.

Uma minoria de teólogos alian-cistas, denominados pré-milenistashistóricos, crê na concretização doreino milenar de Cristo na terra,após Sua Segunda Vinda. Outraminoria defende uma posição pós-milenista, denominada Reconstrucio-nismo Cristão ou Teonomia, ao ale-gar que a Igreja assumirá o controlede todas as instituições e aplicará adivina legislação da Aliança Mosai-ca ao mundo inteiro, durante umlongo tempo, antes da volta deCristo no último dia da história.(Israel My Glory)Renald E. Showers é autor, professor e confe-rencista internacional a serviço de TheFriends of Israel.

Notas:1. Charles Caldwell Ryrie, Dispensationalism

Today. Chicago: Moody Press, 1965, p.179.

2. Louis Berkhof, Systematic Theology, ediçãorevisada. Grand Rapids: Eerdmans, 1953,p. 212.

3. Ryrie, op. cit., p. 179. 4. K. R. Hagenbach, A Text-Book of the His-

tory of Doctrines. Nova York : Sheldon &Company, 1869, v. II, p. 173.

5. Ryrie, op. cit., p. 182.6. Berkhof, op. cit., p. 269-71.7. Ibid., p. 215.8. Ibid., p. 216.9. Ibid.10. Ibid., p. 217.11. Ibid., p. 277.12. Ibid., p. 273.13. Ibid. p. 295.

1144 Notícias de Israel, junho de 2006

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O sonho descrito em Daniel 7 revelou que o futuro Reino de Deus será estabelecido quando o Messias voltar sobre as nuvens dos céus como o Filhodo Homem (v. 13-14). Cristo indicou que voltará dessa maneira em Sua Segunda Vinda, após a Grande Tribulação (Mt 24.21,29-30).

1155Notícias de Israel, junho de 2006

Há 350 anos, após séculos deexclusão, os judeus receberampermissão para voltar a viver nasilhas inglesas. Foi um arranjo in-formal, visto por alguns como umfracasso. Contudo, provou ser oque de melhor poderia ter ocorri-do, pois permitiu o surgimento daprimeira comunidade judaica mo-derna.

Era medievalAntes de analisar a readmissão

dos judeus na Inglaterra é precisoavaliar os eventos ocorridos à épocamedieval. Quando, em 1290, o reiEduardo I decretou sua expulsão doreino, encerrava-se o primeiro perío-do da história dos judeus nas ilhasbritânicas, iniciado quando da inva-são normanda de 1066. Apesar dealguns judeus lá viverem desde a épo-ca romana, a presença judaica tor-nou-se significativa somente quandojudeus franceses convidados por Gui-lherme, o Conquistador, estabelece-ram-se principalmente em Londres.Seu status civil e social permaneceu,de certa forma, ambíguo até ser le-galizado por Henrique I (1100-1135),que lhes garantiu direitos e privilé-gios. Ademais, por determinação daCoroa, somente os judeus podiamconceder empréstimos a juros. Os fi-nancistas judeus atendiam as neces-sidades monetárias dos soberanos ede seus súditos. A verba para a cons-trução do Palácio de Westminster, re-sidência real até o século XVI, por

exemplo, saiu dos cofres dos “ban-queiros” judeus.

Durante 200 anos exerceram im-portante papel na Inglaterra, estandoespalhados em comunidades por todoo país, inclusive em York, Winchester,Lincoln, Canterbury e Oxford. Protegi-dos pelos soberanos, prosperaram e,com eles, o Tesouro Real, pois eramobrigados a pagar à Coroa umagrande fatia de todas as transaçõescomerciais, assim como “contribuir”com vultosas somas para as insaciá-veis demandas reais. Um dos que maisimpostos pagou foi Aaron de Lincoln,cuja mansão ainda está de pé, sendo

das mais antigas da Inglaterra. Ao fa-lecer, em 1186, teve todas as suasposses confiscadas, num montante queequivalia a 75% da receita anual dofisco real.

Na Inglaterra do século XII, a po-pulação judaica vivia em relativa tran-qüilidade, pois fora poupada da vio-lência que se abatera sobre seus ir-mãos da Europa continental, porocasião da 1ª e 2ª Cruzadas. A Ingla-terra não participara ativamente nes-sas duas primeiras iniciativas. A partirda segunda metade do século, no en-tanto, tornaram-se freqüentes os senti-mentos antijudaicos. Em 1144, os ju-deus de Norwich foram injustamenteacusados de ter assassinado um meni-no, em uma cerimônia ritual. Apesarda pressão popular, as autoridades senegaram a abrir inquérito face à au-sência de provas. Foi a primeira acu-sação de assassinato ritual na Histó-ria. Nos anos seguintes, repetiu-se o li-

O retorno dos judeus à Inglaterra

História das comunidades judaicas

A verba para a construção do Palácio de Westminster, residência real até o século XVI, por exemplo,

saiu dos cofres dos “banqueiros” judeus.

belo em outras cidades inglesas, mas,por falta de provas, as denúncias nun-ca chegaram aos tribunais.

A vida dos judeus britânicos tor-nou-se cada vez mais difícil. Um inci-dente ocorrido em Westminster, em1189, quando a delegação judaica foiimpedida de assistir à coroação de Ri-cardo I, Coração de Leão, provocoudistúrbios violentos e a morte de 30 ju-deus. Um ano depois, quando o rei seengajou na 3ª Cruzada, as comunida-des se alarmaram, pois a pregaçãopara essas campanhas religiosas ine-vitavelmente trazia à tona sentimentosantijudaicos que acabavam em violên-cia. E assim foi. Antes de partir rumoa Jerusalém, os cruzados massacra-ram judeus em Lynn, Bury St. Edwards,Lincoln e Norwich.

Mas, o pior aconteceu em York, emmarço de 1190. Atacados por umamultidão enfurecida, 150 judeus se refu-giaram no castelo real, em busca deproteção. Em vão. A turba atacou a tor-re do castelo, Clifford’s Tower, onde es-tavam homens, mulheres e crianças ju-deus. Apesar de inferiores em número,defenderam-se com bravura, mas nãohavia como resistir. Negando-se ao ba-tismo forçado, a maioria optou por mor-rer pelo Sagrado Nome de Deus, Al Ki-dush Hashem. Quando o castelo foi do-minado, os judeus remanescentes forammassacrados, sem piedade.

No século seguinte, a situação sedeteriorou rapidamente. Antigos direi-tos foram abolidos, adotando-se seve-ras medidas antijudaicas. Extorquiamos judeus de todas as formas e, em1230, a Coroa confiscou um terço detodos os seus bens e créditos. Em1255, Lincoln foi palco de nova acu-sação de assassinato ritual, mas, destavez, 92 judeus foram aprisionados naTorre de Londres, tendo suas proprie-dades confiscadas. Destes, 18 foramexecutados. A história do suposto as-sassinato ritual de um menino cristão,Hugh de Lincoln, tornou-se parte dofolclore popular inglês e o escritor

Chaucer a incluiu em seus The Canter-bury Tales, a mais importante obra li-terária inglesa medieval.

Quando, em 1275, Eduardo I proi-biu aos judeus continuar na atividadefinanceira, foi o sinal de que sua utili-dade ao reino chegava ao fim. Em 18de julho de 1290, além de apreenderseus bens, o soberano decreta sua ex-pulsão da Inglaterra. No calendáriojudaico, era o fatídico dia 9 [do mês]de Av. Foi a primeira expulsão, naHistória da humanidade, a abranger atotalidade de um povo. A data limitepara deixarem as terras inglesas era1º de novembro. Podiam apenas levarconsigo seus pertences. Todos os bensimóveis e créditos foram confiscadospela Coroa. Não se sabe exatamentequantos judeus atravessaram o Canal– os números mencionados variam de2.500 a 16.000

O período antes dareadmissãoAté o final do século XV poucos ju-

deus viveram secretamente em solo in-glês. Mas, a partir de sua expulsão daEspanha, em 1492, e de Portugal, em1497, alguns conversos ibéricos bus-caram refúgio na Inglaterra. Na Euro-pa, as nações governadas por protes-tantes, em particular calvinistas, ofere-ciam aos judeus e aos conversosmelhores condições de vida.

Durante o reinado de Henrique VIIIhavia conversos vivendo em relativatranqüilidade em Londres e Bristol,graças à influência que a família Men-des exercia sobre a Coroa. Donos deverdadeiro império financeiro, osMendes haviam concedido vultoso em-préstimo ao soberano inglês. Quando,em 1535, Doña Gracia, viúva deFrancisco Mendes, foge de Lisboa,permanece algum tempo em Londres,assim conhecendo a pequena comuni-dade local de cripto-judeus.

Um dos membros dessa comunida-de era Hector Nunes, em cuja residên-

cia funcionava em sigilo, uma sinago-ga. Médico e comerciante, esse judeuportuguês entrou para a história ingle-sa por ter sido o primeiro a alertar arainha Elizabeth I de que a InvencívelArmada espanhola preparava-se paraatacar seu reino. Outro converso fa-moso durante o período elisabetanofoi Rodrigo Lopes, que se estabeleceem Londres, em 1560, após fugir daInquisição Portuguesa. Ele, que se tor-nara o médico de cabeceira da rainhaElizabeth I, foi vítima de intrigas políti-cas. Acusado de tentar envenenar asoberana, em 1594 foi julgado e con-denado à morte. O destino de Lopesfez com que muitos conversos deixas-sem o país e, os que ficaram, foramexpulsos por James I, em 1609, ao to-mar ciência de que praticavam o ju-daísmo em segredo.

No entanto, após algumas déca-das, uma nova leva de conversos seestabelece em Londres. Eram, namaioria, grandes comerciantes, comatividades econômicas que se esten-diam ao Oriente, às Américas e, prin-cipalmente, aos Países Baixos, Espa-

1166 Notícias de Israel, junho de 2006

Horizonte

Elizabeth I.

nha e Portugal. Em 1653, já viviam nacidade 20 famílias de conversos, oembrião da futura comunidade judai-ca. Apesar de procurar manter asaparências como católicos, não erasegredo para os membros do governoque eram judeus secretos. O líder dacomunidade era Antonio FernandezCarvajal, que chegara a Londres porvolta de 1635. Próspero e influente, éconsiderado um dos maiores nego-ciantes de prata da Inglaterra, de to-dos os tempos. Na década de 1640, oconfronto entre o rei e o Parlamento,agravado por divergências religiosas,resultara em uma guerra civil – a Re-volução Puritana. As forças parlamen-tares, puritanos chamados de “Cabe-ças Redondas”, eram lideradas porOliver Cromwell, um homem que teveimportância fundamental na históriajudaica e ao qual o líder judeu Carva-jal dá seu apoio. Além de ajudar fi-nanceiramente o esforço de guerra pu-ritano, este último repassa a Cromwellpreciosas informações sobre o entãoexilado Stuart, futuro Charles II, bemcomo sobre os planos que os realistasengendravam com a Espanha. As in-formações de Carvajal evitaram pelomenos um atentado à vida de Crom-well. Com a vitória dos puritanos se-guida pela tomada do poder em1653, por Cromwell, ele declara Car-vajal persona grata do governo. Em1655, ele e seus dois filhos recebem ostatus legal de residência, sendo osprimeiros judeus a merecer tamanhadistinção.

ReadmissãoA readmissão judaica à Inglaterra

deve ser vista como resultado da con-junção de vários acontecimentos histó-ricos e políticos. É quando entra a fi-gura do Menasseh Ben Israel (1604-1657), filho de conversos portuguesese rabino da comunidade de Amsterdã.Autor de várias obras, muitas dasquais em defesa do povo judeu e do

judaísmo, seguia com atenção o de-senrolar da política interna inglesa.Acreditava que a chegada dos purita-nos ao poder era uma oportunidadesingular para o restabelecimento dosjudeus na Inglaterra, país que poderiaservir de abrigo a milhares de refugia-dos.

Os puritanos eram fervorosos estu-diosos do que os cristãos chamam de“Velho Testamento”, a Torá, e nutriamuma percepção mais positiva dos Fi-lhos de Israel. O rabino lograra boareputação entre eles, principalmentepor suas idéias sobre a vinda do Mes-sias. Em meados do século XVII, curio-samente, coincidia entre judeus e cris-tãos um generalizado anseio messiâni-co. Do lado judaico havia os quepreviam a iminente vinda do Mas-hiach. O rabino Menasseh acreditavaque a dispersão dos judeus por todosos “cantos da terra”, Ketsê ha-Aretz,era uma das pré-condições para avinda do Mashiach. Em 1644, o relatode um explorador converso, Antôniode Montezinus, sobre sua viagem àAmérica do Sul, criara uma onda deentusiasmo no mundo judaico. Monte-zinus afirmava ter encontrado nas flo-restas do Equador nativos que falavamhebraico e diziam ser parte das TribosPerdidas. Convencido da veracidadedo relato, Ben Israel acreditava que seos judeus retornassem à Inglaterra, es-taria completa a dispersão. Em 1650expõe a idéia no livro “A Esperançade Israel”, encaminhando uma cópiaao Parlamento inglês, com um prefá-cio a eles especialmente dedicado.

Do lado puritano havia quem acre-ditasse estar próximo o “Segundo Ad-vento de Jesus”. Segundo a tradiçãocristã, uma das condições para tal eraa conversão dos judeus ao cristianis-mo. Outra, o retorno dos judeus à Ter-ra Prometida. Para muitos puritanos, ofato de os judeus viverem em contatocom o cristianismo inglês, sem as dis-torções do catolicismo, poderia facili-tar sua conversão espontânea. Essa

idéia fez com que encaminhassemuma petição em favor da readmissãojudaica, no entanto, malograda.

Cromwell também favorecia a vin-da dos judeus e isso foi decisivo. Es-sencialmente pragmático, seus interes-ses iam além de qualquer esperançamessiânica ou tolerância religiosa.Empenhado em erguer a economia dopaís e expandir seu comércio, enten-dia as vantagens da vinda dos comer-ciantes de Amsterdã, além de saberdas importantes conexões judaicas,que lhe tinham sido tão úteis na pres-tação de informações.

Em setembro de 1655, MenassehBen Israel foi a Londres, a convite deCromwell, para lhe apresentar a peti-ção sobre a readmissão dos judeus aopaís. No documento, o rabino aponta-va os benefícios econômicos que o ca-pital judaico e o empreendedorismode seus membros trariam, rechaçandoas acusações de que eram vítimas.Mas tal petição, iniciativa dele pró-prio, não representava os interessesda comunidade de conversos que, li-derada por Antonio Carvajal, estavasatisfeita com seu modo de vida.

O que se seguiu foi uma solução ti-picamente inglesa, que vale a penaexaminar. Cromwell, após receber fa-voravelmente a petição, submeteu-aao Conselho que, em novembro de1655, designou uma comissão paraanalisá-la. Sua surpreendente conclu-são foi apresentada numa Conferênciarealizada no mês seguinte, em White-hall. Não havia lei que impedisse areadmissão dos judeus à Inglaterra, aexpulsão de 1290 fora uma prerroga-tiva real e, como não tinha sido sus-tentada por nenhum ato Parlamentar,tampouco necessitaria de um para serrevogada.

Resolvida a questão da legalidade,passou-se a discutir os termos da ad-missão. Mas Cromwell, que se expres-sara a favor desse movimento, encon-trou uma oposição maior do que espe-rava. Comerciantes e certos setores

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Horizonte

religiosos, temendo a vinda dos ju-deus, condicionavam-na a muitas res-trições. Por outro lado, rumores fanta-siosos sobre as “reais intenções” judai-cas em relação à Inglaterra corriam opaís. Dizia-se até que pretendiamcomprar a Catedral de São Paulo pa-ra transformá-la em sinagoga. Temen-do um parecer negativo, Cromwell dis-solve a Conferência, abstendo-se dedeclarações públicas.

Como vimos, os conversos de Lon-dres não participaram da iniciativa doRabi Menasseh, mas a guerra com aEspanha (1656-1659) forçou-os a mu-dar de atitude. Por serem, formalmen-te, súditos da Coroa espanhola, o go-verno inglês poderia confiscar suaspropriedades. Quando, em março de1656, são de fato confiscados os bensdo comerciante Antonio Robles, um

dos mais ricos conversos, eles decidemapelar diretamente a Cromwell. A mis-são de Ben Israel conseguira provar àsautoridades que o banimento não ti-nha força legal, mas o “Caso Robles”demonstrava que os judeus precisa-vam de garantias “mais concretas” desua legitimidade em solo inglês.

Em 24 de março é entregue aCromwell uma petição na qual os sig-natários afirmam seu desejo de viverem paz, sob a autoridade do governoinglês e pedem permissão para condu-zir serviços religiosos judaicos em suascasas e adquirir um terreno a ser usa-do como cemitério. Apesar de assegu-rada sua posição legal por ter recebi-do direito de residência, Carvajal éum dos signatários, assim como BenIsrael. Em paralelo, Robles submeteoutra petição, na qual pede a devolu-

ção de suas propriedades jáque não era espanhol, mas“português da Nação Judai-ca”. Não era, portanto, inimi-go, mas “vítima do inimigo”.O Conselho respondeu em fa-vor de Robles, reintegrando-lhesuas posses. Mas não há regis-tros de uma resposta por escri-to à petição dos conversos.Contudo, segundo historiado-res, há fortes indícios de queCromwell tenha dado algumagarantia informal sobre o sta-tus da comunidade no país,pois, em dezembro de 1656,em um prédio em CreechurchLane, foi fundada a primeirasinagoga oficial. De Amsterdãvieram os Rolos da Torá e, me-nos de dois meses depois,comprava-se o terreno para ocemitério. Menasseh Ben Is-rael, acreditando que sua mis-são falhara, regressou desa-pontado para Amsterdã, ondefaleceu, pouco depois.

O arranjo informal quepermitiu aos judeus viver eprofessar abertamente sua fé

em solo inglês, demonstrou ser um be-nefício, não-intencional, de grandesconseqüências. Se a Comissão tivessechegado a um acordo, teria condicio-nado a volta dos judeus a vexatóriosregulamentos legais, semelhantes aosque vigoravam em outros países.

Reconhecimento formal dapresença judaicaEm 1660, é restaurada a monar-

quia na Inglaterra. A ascensão deCharles II ao trono foi vista comapreensão pela comunidade judaica,mas o desenrolar dos acontecimentosmostrou serem infundados os seus te-mores. Charles, bem como seu suces-sor, James II, protegeram a nova co-munidade, ignorando várias petiçõesde comerciantes da City de Londres.Os apelos iam desde pedidos de im-posição de sérias limitações às ativida-des econômicas dos judeus, até umanova expulsão dos mesmos.

Contudo, o status civil e legal dosjudeus se manteve informal e ambíguoaté ser formalmente reconhecido em1664, após a entrada em vigor deuma lei que proibia reuniões religiosasfora dos auspícios da Igreja Anglica-na. Isso era parte da campanha paradesestimular os seguidores do “não-conformismo” aos preceitos da IgrejaAnglicana. O alvo eram os cristãosnão-anglicanos, fossem eles protestan-tes ou católicos. Mesmo assim, a co-munidade judaica ficou receosa e ofez saber ao rei. Desta vez, o Conse-lho respondeu por escrito, asseguran-do que o soberano ordenara que nãofossem perturbados, que “poderiam vi-ver e trabalhar como sempre, desdeque mantivessem comportamento pací-fico e tranqüilo, com a devida obe-diência às leis de Sua Majestade esem escândalos para o Reino”.

Assim, sem alarde, os judeus torna-ram-se cidadãos ingleses. Quem nas-cia em solo inglês recebia a cidadaniabritânica, com as mesmas limitações

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Em dezembro de 1656, em um prédio em Creechurch Lane, foi fundada a primeira sinagogaoficial. De Amsterdã vieram os Rolos da Torá e,menos de dois meses depois, comprava-se o terreno para o cemitério.

impostas a qualquer cidadão não per-tencente à Igreja Anglicana. As exclu-sões referiam-se principalmente aoacesso à vida pública, tendo sido cria-das antes da Readmissão, como tenta-tiva de vetar o acesso de não-anglica-nos às esferas políticas. No caso ju-daico, havia só mais um impedimento,referente à necessidade de se fazervotos cristãos para ter permissão deexercer certas atividades profissionais.Durante as gerações seguintes, váriasdecisões judiciárias estabeleceram odireito aos judeus nos tribunais depleitear e prestar testemunho e de terreconhecidas as suas suscetibilidadesreligiosas.

A posição da comunidade se forta-leceu ainda mais a partir de 1688,quando o protestante Guilherme deOrange, Stadholder (governador) daHolanda, invade o país atendendo umpedido do Parlamento para libertar anação “da tirania católica” e, a se-guir, é coroado rei da Inglaterra. SobGuilherme III, nome que passa a usar,muitos financistas judeus se estabele-

cem em Londres, e tornam-se funda-mentais no mercado financeiro daCity, que, no período, registrou notá-vel crescimento. Nos anos seguintes,quando a comunidade judaica se sen-tia de alguma forma atacada, apelavadiretamente à Coroa, que reprimiaqualquer ação contrária a eles. Final-mente, uma lei de 1698 reconhece alegalidade do exercício da fé judaicana Inglaterra.

O crescimento dacomunidadeNos primeiros 50 anos após a

readmissão, estabeleceram-se em Lon-dres sefaraditas provenientes princi-palmente da Península Ibérica, Holan-da e França. Apesar de não ter ocorri-do um grande influxo, comoimaginara o rabino Menasseh, a co-munidade cresceu, já contando em1684 com 414 famílias. Eram próspe-ros e se estabeleceram nos moldes dacomunidade portuguesa de Amsterdã.Em poucas décadas,a sinagoga de Cree-church Lane se tor-nou pequena e, em1701, inauguraramoutra bem maior emais suntuosa, emBevis Marks, na Cityde Londres, onde vi-via a maioria dos ju-deus. Em grandeparte inalterada, asinagoga é usadaaté hoje como lugarde oração.

Levas de asquenazim também se es-tabeleceram em Londres, fundando suaspróprias comunidades e casas de ora-ção. A primeira destas, a Grande Sina-goga de Duke’s Place, de rito asquena-zita, foi inaugurada em 1690 e utiliza-da durante 250 anos, até ser destruídana 2ª Guerra Mundial, durante os bom-bardeios que devastaram Londres.

No final do século, quando Londresse torna um importante centro de co-mércio internacional, a comunidadejudaica da cidade acompanha o cres-cimento, em tamanho e importância.Apesar de representar apenas umaparcela minúscula da população ju-daica no século XVII, tem uma impor-tância especial por ter sido a precurso-ra da moderna história de nosso povo.Até então, era extremamente vulnerá-vel e sujeita aos caprichos de seus go-vernantes a situação legal, social eeconômica das várias comunidades ju-daicas mundiais. Sem nenhum tipo deamparo da lei, tanto em países cris-tãos como no Islã, as propriedades

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Oliver Cromwell, um homem que teve importância fundamental na história judaica.

Em poucas décadas, a sinagoga de Creechurch Lane se tornou pequena e, em 1701, inauguraram outra bem maior e mais

suntuosa, em Bevis Marks, na City de Londres, onde vivia a maioriados judeus. Em grande parte inalterada, a sinagoga é usada até hoje

como lugar de oração.

dos judeus eram passíveis de confiscose expulsões arbitrários. Apenas na In-glaterra e nas áreas sob domínio an-glo-saxão a situação foi diferente.Apesar de permanecerem vivos os an-tigos preconceitos e de serem os ju-deus vistos como uma “nação com há-bitos peculiares”, eram cidadãos comdireitos assegurados perante a lei.Quase não havia restrições às ativida-des comerciais ou à liberdade de resi-dência, nem havia guetos. Em rarasocasiões o governo inglês pressionoua comunidade a pagar impostos ex-tras, mas nunca confiscou bens judai-

cos – como ocorria em outras partesdo mundo. Além do que, os impedi-mentos legais não eram consideradosestigma social. E, nas colônias, os ju-deus gozavam dos mesmos direitosque na Inglaterra.

Não resta dúvida de que nos domí-nios anglo-saxões os judeus tinhammaior segurança política e um maiorgrau de aceitação social do que emqualquer outra comunidade judaicada época. E esse fato lhes conferiuuma estabilidade nunca dantes viven-ciada. Em decorrência, surge a pri-meira comunidade judaica moderna,

que vai ter impacto crescente e deter-minante na história judaica da EraModerna e na criação do Estado deIsrael. (extraído de www.moras-ha.com.br)

Bibliografia:– Endelman, Todd M, The Jews of Britain,

1656 to 2000, University of California Press.– Katz, David S., The Jews in the History of

England 1485 -1850, University Press of thePacific Binding.

– Hyamson, Albert Montefiore, A History ofthe Jews in England, Oxford UniversityPress.

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Não apenas os israelenses mas osjudeus de todo o mundo estão aborre-cidos com as declarações do presiden-te iraniano. Ele repetidamente negouem público que tenha acontecido o ge-nocídio do povo judeu e difamou o Es-tado de Israel e o sionismo.

Desde que Mahmud Ahmadinejadassumiu o cargo, ele repetidamente in-sultou os judeus e a memória dos mi-lhões assassinados pelo regime nazis-ta. Por isso, o Congresso Judaico Eu-ropeu, que representa 2,5 milhões dejudeus de 40 países, decidiu declararo presidente iraniano como “personanon grata”. “Queremos que o presi-dente iraniano seja proibido de pisarno continente em que há mais de 60anos aconteceu o genocídio do povojudeu”, afirmou Pierre Besnainou, pre-sidente do Congresso.

Paralelamente a essa decisão, umgrupo de cidadãos israelenses decidiuentrar com uma ação contra o presi-dente iraniano na justiça alemã. Aacusação apresenta diversos crimes:

negação do Holocausto, ataque àhonra das vítimas e difamação dos so-breviventes, agitação popular, viola-ção da Carta da ONU, das resoluçõesdo Conselho de Segurança e da CartaInternacional Contra o Racismo.

A acusação foi apresentada peloadvogado israelense Irwin Shachar aoTribunal Federal em Karlsru-he, na Alemanha. Esse tri-bunal é obrigado a exigir ainterferência da Procurado-ria da República e a dar se-guimento ao processo.

Os acusadores explica-ram ao jornal israelense“Yediot Aharonot” que de-ram entrada à acusação naAlemanha porque esse paísaprovou em 1993 uma leique declara a negação doHolocausto como um delito.Para eles é importante que opaís que foi reconstruído so-bre as ruínas do regime na-zista seja aquele que se ocu-

pe com a acusação contra o presiden-te iraniano. Afinal, foi ele quem envol-veu a Alemanha na questão quandoconclamou a Europa a receber de vol-ta os judeus.

Os acusadores israelenses tambémdeixaram claro que a sentença pro-mulgada pela Áustria contra David Ir-ving, conhecido negador do Holocaus-to, significou muito para eles e os ani-mou a tomar a decisão de processartambém o presidente do Irã. No mo-mento, eles avaliam a possibilidade dedar entrada à mesma acusação contraAhmadinejad também na Áustria. (ZviLidar)

Como é possível negar o Holocausto?

Israelenses acusam Ahmadinejad em tribunal alemão

Mahmud Ahmadinejhad (presidente do Irã), inimigodos judeus e negador do Holocausto,

cujo maior desejo é aniquilar Israel.