notícias de israel - ano 29 - nº 6

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www.Beth-Shalom.com.br JUNHO DE 2007 • Ano 29 • Nº 6 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

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• A Síndrome de Sansão • O Cânon das Escrituras Hebraicas - De Gênesis a Crônicas • O xeique antiterrorista que apóia Israel • O caso Dreyfus • Uma viagem ao mundo de Anne Frank

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Page 1: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 6

www.Beth-Shalom.com.br JUNHO DE 2007 • Ano 29 • Nº 6 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

Page 3: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 6

É uma publicação mensal da ““OObbrraaMMiissssiioonnáárriiaa CChhaammaaddaa ddaa MMeeiiaa--NNooiittee”” comlicença da ““VVeerreeiinn ffüürr BBiibbeellssttuuddiiuumm iinn IIssrraaeell,,BBeetthh--SShhaalloomm”” (Associação Beth-Shalom paraEstudo Bíblico em Israel), da Suíça.

AAddmmiinniissttrraaççããoo ee IImmpprreessssããoo::Rua Erechim, 978 • Bairro Nonoai90830-000 • Porto Alegre/RS • BrasilFone: (51) 3241-5050 Fax: (51) 3249-7385E-mail: [email protected]

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CCoonnsseellhhoo DDiirreettoorr:: Dieter Steiger, Ingo Haake,Markus Steiger, Reinoldo Federolf

EEddiittoorr ee DDiirreettoorr RReessppoonnssáávveell:: Ingo Haake

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Assinatura - anual ............................ 31,50- semestral ....................... 19,00

Exemplar Avulso ................................. 3,50Exterior: Assin. anual (Via Aérea)... US$ 28.00

EEddiiççõõeess IInntteerrnnaacciioonnaaiissA revista “Notícias de Israel” é publicadatambém em espanhol, inglês, alemão,holandês e francês.

As opiniões expressas nos artigos assinadossão de responsabilidade dos autores.

INPI nº 040614Registro nº 50 do Cartório Especial

OO oobbjjeettiivvoo ddaa AAssssoocciiaaççããoo BBeetthh--SShhaalloomm ppaarraaEEssttuuddoo BBííbblliiccoo eemm IIssrraaeell éé ddeessppeerrttaarr eeffoommeennttaarr eennttrree ooss ccrriissttããooss oo aammoorr ppeelloo EEssttaaddooddee IIssrraaeell ee ppeellooss jjuuddeeuuss.. Ela demonstra oamor de Jesus pelo Seu povo de maneiraprática, através da realização de projetossociais e de auxílio a Israel. Além disso,promove também CCoonnggrreessssooss ssoobbrree aa PPaallaavvrraaPPrrooffééttiiccaa eemm JJeerruussaalléémm e vviiaaggeennss, com aintenção de levar maior número possível deperegrinos cristãos a Israel, onde mantém aCasa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monteCarmelo, em Haifa).

ISRAELNotícias de

6

11

4 Prezados Amigos de Israel

A Síndrome de Sansão

HHOORRIIZZOONNTTEE

• O xeique antiterrorista que apóia Israel - 11• O caso Dreyfus - 12• Uma viagem ao mundo de Anne Frank - 16

índice

10 O Cânon das Escrituras Hebraicas - De Gênesis a Crônicas

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44 Notícias de Israel, junho de 2007

“O SENHOR levanta a voz diante do seuexército; porque muitíssimo grande é o seuarraial; porque é poderoso quem executa assuas ordens; sim, grande é o Dia do SENHORe mui terrível! Quem o poderá suportar?”(Joel 2.11).

Joel proclamou o juízo vindouro de Deussobre Judá, Israel e o mundo inteiro. Aqui está amensagem: “Tocai a trombeta em Sião e daivoz de rebate no meu santo monte;perturbem-se todos os moradores da terra,porque o Dia do SENHOR vem, já estápróximo” (Joel 2.1). Sião é o alvo imediato, oque corresponde ao que o apóstolo Pedroescreveu no Novo Testamento: “Porque aocasião de começar o juízo pela casa deDeus é chegada...” (1 Pedro 4.17).

Aqui lemos como o juízo começará: “dia deescuridade e densas trevas, dia de nuvens enegridão! Como a alva por sobre osmontes, assim se difunde um povo grande epoderoso, qual desde o tempo antigo nuncahouve, nem depois dele haverá pelos anosadiante, de geração em geração. À frentedele vai fogo devorador, atrás, chama queabrasa; diante dele, a terra é como o jardimdo Éden; mas, atrás dele, um desertoassolado. Nada lhe escapa” (Joel 2.2-3).Trata-se de algo único, pois lemos: “qual desdeo tempo antigo nunca houve, nem depoisdele haverá pelos anos adiante”. Portanto,esse acontecimento é incomparável na história,sem precedentes e jamais voltará a ocorrer. Issonos faz lembrar das palavras do Senhor JesusCristo em Mateus 24.21: “porque nesse tempohaverá grande tribulação, como desde oprincípio do mundo até agora não temhavido e nem haverá jamais”. Por essa razão,devemos ser cautelosos em nossas tentativas deidentificar rapidamente “um povo grande epoderoso”. Aqui temos a descrição do juízo deDeus sobre um mundo rebelde, mas o executordo juízo não é claramente identificado.

Que espécie de juízo é esse? Antes lemos:“Ah! Que dia! Porque o Dia do SENHOR estáperto e vem como assolação do Todo-Poderoso” (Joel 1.15). Trata-se claramente daação de Deus: “vem como assolação doTodo-Poderoso”. Baseado nesse e em outrosfatos que analisaremos a seguir, temos deconsiderar a possibilidade de que a referência não

é a um exército terreno, mas a forçassobrenaturais.

Vamos ler a descrição a seguir, que é diferenteda de inimigos representados por nações vizinhas:“À frente dele vai fogo devorador, atrás,chama que abrasa; diante dele, a terra écomo o jardim do Éden; mas, atrás dele,um deserto assolado. Nada lhe escapa. Asua aparência é como a de cavalos; e, comocavaleiros, assim correm. Estrondeandocomo carros, vêm, saltando pelos cimos dosmontes, crepitando como chamas de fogoque devoram o restolho, como um povopoderoso posto em ordem de combate”(Joel 2.3-5).

Obviamente, trata-se de destruição sobre aterra: a vegetação será queimada, restando apenaso deserto. Mas, observe quem está fazendo isso:não se trata de pessoas, mas de criaturas “comocavalos” e “como cavaleiros”. Além disso, lemos:“como carros”, “como chamas”. Essa descriçãoindica que se trata de forças demoníacas.Entretanto, esses poderes estão nas mãos doDeus Todo-Poderoso e são Seus instrumentos dejuízo.

A seguir vem um descrição detalhada dasatividades desse exército: “Diante deles,tremem os povos; todos os rostosempalidecem. Correm como valentes;como homens de guerra, sobem muros; ecada um vai no seu caminho e não se desviada sua fileira. Não empurram uns aosoutros; cada um segue o seu rumo;arremetem contra lanças e não se detêmno seu caminho. Assaltam a cidade, corrempelos muros, sobem às casas; pelas janelasentram como ladrão” (Joel 2.6-9). Esse seráo evento mais chocante que já foi visto pelosseres humanos. Somos lembrados das palavrasque Jesus usou quando se referiu aos temposfinais: “haverá homens que desmaiarão deterror e pela expectativa das coisas quesobrevirão ao mundo; pois os poderes doscéus serão abalados” (Lucas 21.26). Semdúvida, essas são referências à Grande Tribulação,o julgamento sobre as nações que o Todo-Poderoso executará utilizando os poderes dastrevas.

O versículo 7 revela outro detalhe com asfrases “Correm como valentes; comohomens de guerra, sobem muros” (Joel

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2.7). Novamente, esses não são valentes, não sãohomens de guerra, mas entidades diferentes de qualquercoisa que já vimos no planeta Terra. Em linguagemmoderna, poderíamos chamá-las de “super-homens”,pois “sobre a mesma espada se arremessarão, enão serão feridos” (Joel 2.8, Almeida CorrigidaFiel – ACF).

Na terra estará acontecendo algo que nenhumhomem experimentou, nem jamais experimentará.Nesse tempo será “...expulso o grande dragão, aantiga serpente, que se chama diabo e Satanás, osedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para aterra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse12.9). Qual será o resultado? “Por isso, festejai, ócéus, e vós, os que neles habitais. Ai da terra e domar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grandecólera, sabendo que pouco tempo lhe resta”(Apocalipse 12.12).

Outra indicação que reforça a idéia de que se trata deforças demoníacas é que a linguagem usual relacionada aguerras e vítimas não está sendo usada. Não há mençãoa matanças, mortes, saques e pilhagens. Apesar dessascriaturas entrarem pelas janelas como ladrões, nadalemos sobre roubos.

Que tipo de guerra será essa? Eu arriscaria dizer quese trata de uma guerra das trevas, da qual ninguémconseguirá escapar. Até mesmo o Universo estaráenvolvido: “Diante deles, treme a terra, e os céusse abalam; o sol e a lua se escurecem, e asestrelas retiram o seu resplendor” (Joel 2.10).Nenhum exército na terra é capaz de fazer tremer aterra, de abalar os céus, de afetar o brilho do sol, da luae das estrelas. Portanto, temos a confirmação de que asforças demoníacas autorizadas por Deus terão plenoacesso ao planeta Terra e seus habitantes. Seperguntarmos porque Deus o permite, temos a respostaem João 1.5: “E a luz resplandece nas trevas, e astrevas não a compreenderam” (ACF).

Observe no versículo introdutório que “O SENHORlevanta a voz diante do seu exército; porquemuitíssimo grande é o seu arraial”. Essa é a ação deDeus, não de um inimigo humano. Quando o Seu juízose abater sobre a terra, o povo reconhecerá que não setrata da ação de homens, mas da interferência de Deus.Este será o testemunho dos homens do mundo: “Osreis da terra, os grandes, os comandantes, osricos, os poderosos e todo escravo e todo livre seesconderam nas cavernas e nos penhascos dosmontes e disseram aos montes e aos rochedos:Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele quese assenta no trono e da ira do Cordeiro,”(Apocalipse 6.15-16). Não haverá arrependimento enão haverá conversões, apenas tentativas vãs de seesconder da ira do Cordeiro.

Tudo isso será iniciado pela “trombeta em Sião”.Muito poderia ser escrito sobre trombetas – elas são

mencionadas portoda a Escritura,começando em Êxodo19.13 e terminando emApocalipse 9.14. Mas amaioria dessas trombetas éespecífica; elas servem a um certopropósito e não devem ser confundidas entre si. Hátrombetas de ajuntamento e de guerra, de júbilo e dealegria, de paz e de confraternização. Há tambémtrombetas de juízo, sobre as quais lemos principalmenteno livro do Apocalipse. Aqui, porém, a “trombeta emSião” é dirigida ao povo de Israel. Eu a chamarei detrombeta de graça, de convite, de reconciliação,indicando um espaço de graça para o Seu povo. Por isso,ouvindo Sua voz, não endureça seu coração. Tome adecisão de seguir o Messias, tendo em vista aaproximação do juízo!

Shalom!

Arno Froese

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66 Notícias de Israel, junho de 2007

Milhões de americanos estão sofrendo da “Síndro-me de Sansão”. Quase 20 milhões já compraram o li-vro Uma Vida com Propósitos, de Rick Warren, com-provando o fato de que esta geração está buscandodesesperadamente um propósito e significado parasua vida. As pessoas sentem que têm potencial, maslhes falta a percepção e a disciplina necessárias pararealizá-lo. O homem mais forte que já existiu tambémera assim, e o seu fracasso ficou registrado na Bíblia pa-ra que pudéssemos aprender com seus erros.

O livro de Juízes relata os feitos de vários indivíduos le-vantados por Deus para libertar Israel do castigo divino. Emgeral, eles eram pessoas comuns, que derrotavam os opres-sores de Israel depois que a nação se arrependia de seu pe-cado e clamava pelo Senhor. Sansão foi o único designadocomo juiz antes mesmo de sua concepção.

Esse livro bíblico mostra os repetidos ciclos de rebelião,opressão, arrependimento e restauração (através de umjuiz), pelos quais o povo de Israel passava periodicamente.Deus sempre foi fiel para restaurar Israel, mas cada novo ci-clo provocava uma degradação total na condição espiritualda nação israelita (Jz 2.19). Cada novo juiz que surgia eraum líder menos espiritual que seu antecessor, e Sansão foi oúltimo da lista.

O AnúncioA profecia do nascimento de Sansão foi cheia de promes-

sas. A mãe de Sansão viveu sem filhos por um tempo sufi-ciente para ser considerada estéril, até que recebeu a visitado Anjo do Senhor*, trazendo-lhe a maravilhosa notícia deque teria um filho. Ele lhe ordenou que não tomasse vinho,

nem bebida forte, e não comesse nada impuro,porque seu filho seria nazireu por toda a vida; atémesmo sua existência pré-natal era importante pa-ra Javé.

A mulher contou a epifania a seu marido, Ma-noá, e narrou as exigências do nazireado que o fi-lho prometido deveria cumprir. Dedicado a Deusdesde a concepção, ele começaria “a livrar a Israeldo poder dos filisteus” (Jz 13.5), após anos de opres-são.

Imagine só a surpresa de Manoá. Ele pediu aDeus que tornasse a enviar o mensageiro e lhe des-se mais informações. Assim, o Anjo de Javé visitoua mulher novamente. Quando ela trouxe seu mari-do, este perguntou: “Qual será o modo de viver domenino e o seu serviço?” (v. 12). Mas as instruçõesdadas a Manoá repetiam apenas tudo o que já ha-via sido dito à sua mulher, principalmente o quedizia respeito à sua dieta. A Palavra de Deus afirmaexplicitamente que aquela criança seria um nazireudesde o ventre até o túmulo. Depois disso, o casalofereceu sacrifícios ao Senhor. O Mensageiro acei-tou a oferta e subiu aos céus na chama do altar (Jz13.20), enfatizando a origem divina da profecia.Então, Manoá temeu por sua vida e pela de sua es-

* Quanto à identidade do Anjo do Senhor, recomendamos ler o artigo Quemé o “Anjo do Senhor”? na revista Chamada da Meia-Noite 6/07.

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posa: “Certamente, morreremos, por-que vimos a Deus” (Jz 13.22). Massua esposa argumentou que eles es-tavam seguros, porque Deus tinhaaceitado sua oferta e prometera umlibertador. Isso nos leva a pensarque, possivelmente, a falta de visãoespiritual de Manoá contribuiu parao fracasso de seu filho.

Uma visita angelical e uma de-claração sobre o destino de Sansãojá teriam sido suficientes, mas a re-petição enfatizou de forma aindamais clara o potencial da criança.Cumprindo as palavras que o anjodissera, nasceu Sansão (Shimshonem hebraico), o “brilho do sol”, o“raio de luz” do casal.

Os Primeiros AnosA introdução (“E o Espírito do

SENHOR passou a incitá-lo”, Jz13.25) e o sumário (“Sansão julgoua Israel, nos dias dos filisteus, vinteanos”, Jz 15.20), englobam os capí-tulos 14 e 15 num único bloco. Co-mo essa inserção mostra de formainequívoca, os eventos que cercamo casamento de Sansão represen-tam a descrição geral do seu perío-do como juiz. A ausência de atos debravura realmente positivos, e degrandes livramentos de Israel daopressão dos filisteus, reforçam oretrato de seu ministério como ex-tremamente ineficaz. A narrativa é

uma mistura frustrante da capacita-ção sobrenatural de Deus (força) eda negligência de Sansão em rela-ção ao seu chamado.

Mas, por que Sansão desdenhoutudo o que foi profetizado antes deseu nascimento? Por que preferiusatisfazer sua própria vontade, emvez de obedecer a Deus, demons-trando não ter a menor noção deseu destino? Por que ele não de-monstrou ter consciência do propó-sito de Deus para sua vida? A Bíblianão menciona nenhum ato singularde patriotismo ou qualquer interes-se de Sansão em libertar seu povo.Fica claro que “o Espírito do SE-NHOR de tal maneira se apossou dele”três vezes (Jz 14.6,19; Jz 15.14), re-velando que havia força e habilida-de sobrenaturais à sua disposição.Mas ele não usava essa capacitaçãodivina eficazmente, exceto para suaprópria preservação ou gratificação.

A única preocupação de Sansãoera satisfazer seus próprios desejos.Vivendo em território danita, elegastava seu tempo livre procurandoprazer no vizinho reino filisteu. Aoinvés de buscar uma esposa israeli-ta, como Deus havia ordenado,Sansão insistiu em se casar comuma mulher timnita, dizendo “sódesta me agrado” (Jz 14.3). Emborapareça incrível, sua insistência “vi-nha do SENHOR, pois este procuravaocasião contra os filisteus” (Jz 14.4).

Deus usou a proximidade de San-são com os filisteus para cumprirtodo o propósito da vida daquelehomem – quebrar o jugo dos filis-teus – embora Sansão e seus paisparecessem não enxergar esse fato.

Em sua festa de casamento, San-são propôs um enigma a trinta ra-pazes (convidados pelos parentes danoiva), tendo como prêmio, paraquem achasse a resposta, uma rou-pa nova para cada um. O clima mu-dou quando, não conseguindo deci-frar o enigma, os convidados amea-çaram a mulher e seus parentes.Desesperada, ela chorou e imploroua Sansão que lhe dissesse a respos-ta. Imagine como Sansão deve ter-se sentido traído quando viu que aesposa com quem estava recém-ca-sado tinha revelado o segredo aseus novos “amigos”. Enfurecido,ele atacou e matou trinta filisteuspara pagar o que havia prometido e,muito provavelmente, aplacar suamágoa. Depois disso, em vez de re-tornar para sua esposa, ele voltoupara a casa de seus pais.

Passado algum tempo, ele voltouà casa de seu sogro, mas não lhepermitiram entrar, porque sua es-posa tinha sido dada a um de seus“amigos”. Irritado e desgostoso,Sansão deve ter gasto uma quanti-dade enorme de tempo e energiapara apanhar 300 raposas, juntá-lasde duas em duas pelas caudas e sol-tar cada par, com tochas ardentesamarradas ao rabo, nas plantaçõesde cereais dos filisteus. Quando osfilisteus se vingaram queimando suaex-esposa e o pai dela, Sansão ata-cou-os impiedosamente “com gran-de carnificina”, dizendo: “Se assimprocedeis, não desistirei enquanto nãome vingar” (Jz 15.7-8).

Enfurecidos com o que tinhaacontecido, os filisteus marcharamcontra Judá para capturar Sansão.Os habitantes de Judá estavamamedrontados e frustrados, pois,

77Notícias de Israel, junho de 2007

> > umprindo as palavras que o anjo dissera, nasceu Sansão (Shimshon em hebraico), o “brilho do sol”, o “raio de luz” do casal.

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aos olhos deles, Sansão era maisuma grande dor de cabeça do queum líder teocrático. Assim, 3.000homens de Judá foram atrás delepara amarrá-lo e entregá-lo aos filis-teus; e ele se deixou prender. Ao serentregue, Sansão, capacitado peloEspírito de Deus, matou 1.000 filis-teus com uma queixada de jumen-to. Feito isso, ele se gabou de suaproeza e depois clamou a Deus,porque estava com sede. Surpreen-dentemente, Deus o abençoou fa-zendo jorrar água fresca de uma ro-cha. Ele fez a vontade de Deus, masfoi movido apenas por razões egoís-tas.

Em conseqüência dessa buscada satisfação de seus desejos car-nais, Sansão desprezou o estilo devida nazireu que lhe fora impostopor Deus. Os nazireus não podiamconsumir nenhum produto da vide,nem cortar o cabelo, nem tocar emnenhum corpo morto (Nm 6.1-8).A palavra nazireu vem do verbo he-braico nazir, que significa “separarou consagrar”, indicando a total se-paração do indivíduo para Deus,

enquanto durava o voto. Sansãopraticou alguns aspectos físicos des-se voto (ele nunca cortou o cabelo),mas ignorou o espiritual: a consa-gração a Javé. Seus contatos comcoisas mortas (leão, carcaça, roupasdos homens mortos, queixada, etc.)não parecem ter representado nadademais para ele. Da mesma forma,a charada que propôs mostra suaatitude negligente em relação à suaconsagração, assim como a peçaque pregou com as raposas, animaiscerimonialmente impuros.

Embora não fossem explicita-mente condenados pela lei do nazi-reado, o casamento de Sansão comuma filistéia e seus outros relacio-namentos amorosos certamentecontradizem sua separação paraDeus. Sansão confraternizou com acomunidade filistéia em vez decombatê-la, e foi guiado, principal-mente, pelo impulso de seus dese-jos egoístas. Esse homem não eranenhum Josué, Samuel, Gideão oumesmo Jefté. Quando examinadomais de perto, o ministério de San-são se desfaz como uma miragem.

A Queda

A derrota e a morte acabamocorrendo porque Sansão conti-nuou a se relacionar com aquelesque tinha nascido para destruir. Domesmo modo que (literalmente)prostituiu sua consagração ao Deusque o criou, ele também prostituiuo propósito e o destino de sua vida.Como numa tragédia grega, sua vi-da, tão cheia de potencial e de pro-messas, desgastou-se melancolica-mente até o triste final.

Apanhado numa armadilha du-rante um encontro amoroso comuma prostituta filistéia em Gaza,Sansão usou a força que Deus lhedeu para se livrar. Levantando-se àmeia-noite, ele arrancou os portões,ombreiras e trancas da cidade e le-vou-os para o alto da montanha.Mais uma vez, ele escapou ileso de-pois de desobedecer abertamente àlei de Deus. Mas ninguém zombade Deus indefinidamente.

Surge Dalila. Nesse relaciona-mento mais duradouro, o embota-mento espiritual e emocional deSansão demonstrou claramente queele tinha a ilusão de que poderia vi-ver eternamente na beira do preci-pício. Dalila, uma filistéia, tentoupersuadi-lo a revelar a fonte de suaforça para que os filisteus pudessemescravizá-lo. A Bíblia diz: “Importu-nando-o ela todos os dias com as suaspalavras e molestando-o, apoderou-seda alma dele uma impaciência de ma-tar” (Jz 16.16). Ignorando os ób-vios sinais de alerta, ele finalmentecontou-lhe seu segredo. Dalila o fezadormecer nos seus braços, raspou-lhe a cabeça e o entregou (vv. 19-20). O mundo de Sansão desmoro-nou; ele desprezara sua consagraçãopela última vez. O Senhor “se tinharetirado dele”, e ele perdeu toda aforça (v. 20). É claro que Sansão ja-mais imaginou que uma coisa des-sas pudesse acontecer.

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> > ansão deve ter gasto uma quantidade enorme de tempo e energia para apanhar 300 raposas, juntá-las de duas em duas pelas caudas e soltar cadapar, com tochas ardentes amarradas ao rabo, nas plantações de cereais dos filisteus.

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Page 9: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 6

Seus senhores filisteus foram tãoimpiedosos com ele quanto o peca-do. Primeiro, eles vazaram seusolhos – as portas do caminho desensualidade que ele havia trilhado.Depois, o levaram para Gaza e oprenderam com correntes de bron-ze à roda do moinho da prisão.Dessa vez, não houve saída. Prova-velmente substituindo um boi, eleagora servia, sem qualquer dignida-de, ao povo cuja destruição tinha si-do o propósito de seu nascimento.

Porém, Deus muitas vezes é mi-sericordioso até mesmo com aque-les que desprezam Seu chamado.Pouco tempo depois, os filisteus sejuntaram para adorar seu deus, aquem atribuíam o mérito de entre-gar Sansão em suas mãos. Trans-bordantes de alegria por causa dacomemoração, eles mandaram bus-car Sansão para divertir-se às suascustas no templo, mas não sabiamque seu cabelo já havia crescido.Sansão implorou a Deus que o ca-

pacitasse pela últi-ma vez e, deslo-cando os pilarescentrais que sus-tentavam o teto,fez ruir o edifício,matando todos osque ali estavam.Assim, destruiumais filisteus nahora da morte doque durante suavida inteira.

Que exemploimpressionante deuma vida desper-diçada! O homemque Deus haviacapacitado paraacabar com aopressão realizoumais na sua mortedo que ao longode seus vinte anoscomo juiz. Será

que as pessoas irão dizer o mesmosobre nós? Que fizemos mais emprol do reino de Deus no nosso fu-neral do que durante a vida toda?

A Síndrome deSansão pode sermortal. Suas ca-racterísticas são:ignorar nosso cha-mado celestial, vi-vendo exclusiva-mente para a sa-tisfação de nossosapetites carnais;desprezar a santi-dade que Deusexige para satisfa-zer nossos anseiosterrenos; e anularnossa eficácia noReino de Deuspela busca do pra-zer em outro rei-no.

Como pode-mos evitar a Sín-

drome de Sansão? Do mesmo mo-do que Sansão poderia tê-la evita-do. A chave do sucesso foi registra-da para ele por Moisés (Dt 30.15-20) e Josué (Js 1.8): amar aoSenhor, meditar na Sua Palavra,obedecer a Ele e servi-lO. Paulo re-sumiu muito bem esse princípio pa-ra os romanos (Rm 12.1-2; 13.13-14). Chafurdar na lama do mundotraz destruição.

Em sua primeira visita à Ingla-terra, D. L. Moody ouviu o evange-lista Henry Varley dizer: “O mundoainda está para ver o que Deus po-de fazer com, através e pelo homemque se consagra inteiramente aEle”. Moddy respondeu: “Farei tu-do o que puder para ser esse ho-mem”. E você? (Israel My Glory) ■

Richard D. Emmons é professor titular de Bí-blia e doutrina na Universidade Bíblica da Fi-ladélfia e pastor presidente da Bible BaptistChurch, em Hamilton/NJ (EUA).

99Notícias de Israel, junho de 2007

> > ansão implorou a Deus que o capacitasse pela última vez e, deslocando os pilares centrais quesustentavam o teto, fez ruir o edifício, matando todos os que ali estavam. Assim, destruiu mais filisteus na hora da morte do que durante sua vida inteira.

>> chave do sucesso é: amar ao Senhor, meditar na Sua Palavra, obedecer a Ele e servi-lO. Chafurdar

na lama do mundo traz destruição.

S

A

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➜ O cânon das Escrituras He-braicas (o Tanakh) não está dis-posto na mesma ordem em quese encontra o nosso Antigo Tes-tamento. Dividido em três se-ções – a Lei [no hebraico, Torá],os Profetas [no hebraico, Nevi-yim] e os Escritos [no hebraico,Ketuvim] – o cânon das Escritu-ras Hebraicas começa pelo livrode Gênesis e se encerra no livrode 2 Crônicas.

Essa ordem explica a razãodo comentário de Jesus acercados líderes religiosos corruptosregistrado em Mateus 23.34-35:

“Por isso, eis que eu vos envioprofetas, sábios e escribas. A unsmatareis e crucificareis; a outrosaçoitareis nas vossas sinagogas e per-seguireis de cidade em cidade; paraque sobre vós recaia todo sangue jus-to derramado sobre a terra, desde osangue do justo Abel até ao sanguede Zacarias, filho [i.e., descendente]de Baraquias, a quem matastes entreo santuário e o altar”.

Jesus se referia aos justos queforam assassinados desde o pri-meiro até o último livro das Es-crituras Hebraicas. O assassinatode Abel foi relatado em Gênesis4.8; o assassinato de Zacarias foidescrito em 2 Crônicas 24.20-22,onde se faz o registro de que o reide Judá, Joás, numa atitude dedesprezo para com o amor lealque o falecido sumo sacerdoteJoiada lhe devotara, mandou as-sassinar Zacarias, neto de Joiada,no templo do Senhor.

A Bíblia Hebraica segue estadisposição:

Torá: Gênesis, Êxodo, Leví-tico, Números e Deuteronômio.

Neviyim: Os Primeiros Profe-tas – Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel,1 e 2 Reis. Os Últimos Profetas –Isaías, Jeremias, Ezequiel e OsDoze (i.e., os doze Profetas Me-nores).

1100 Notícias de Israel, junho de 2007

Ketuvim: Os Livros Poéticos – Salmos, Provérbios, Jó. Os Cinco Megil-loth (i.e., Rolos) – Cantares de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes,Ester. Os Livros Históricos – Daniel, Esdras, Neemias, 1 e 2 Crônicas. (Is-rael My Glory) ■

Thomas C. Simcox é diretor de The Friends of Israel no Nordeste dos EUA.

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1111Notícias de Israel, junho de 2007

Nos dias atuais, poucos muçul-manos têm a coragem de darapoio à existência de Israel e decondenar o terrorismo. Dentre es-ses poucos, destaca-se o xeiqueAbdul Hadi Palazzi, um homemtremendamente culto que é ima-me [i.e., líder religioso muçulma-no], professor, co-fundador e co-diretor da Islam-Israel Fellowship[Associação Islã-Israel], além deser líder da comunidade islâmicaitaliana.

Ele conversou recentementecom Jamie Glazov, editor-chefeda revista eletrônica FrontPage-Magazine.com, o qual nos deupermissão para publicar as opi-niões e comentários do Prof. Pa-lazzi. Seguem, abaixo, trechos se-lecionados dessa entrevista.

Palazzi: Israel existe por Direito Di-vino que se confirma tanto na Bíbliaquanto no Alcorão. Eu constato no Al-corão que Deus concedeu a Terra deIsrael aos filhos de Israel e que lhesdeu ordens para que lá se estabeleces-sem (cf., Alcorão, Sura 5:21). Consta-to, ainda, que antes do Último Dia,Deus levará os Filhos de Israel a reto-marem a posse de sua terra, trazendo-os de diversos países e nações para láreuni-los (cf. Alcorão, Sura 17:104).Por conseguinte, como um muçulmanoque permanece fiel ao Alcorão, creioque opor-se à existência do Estado deIsrael significa colocar-se contra umdecreto divino.

Todas as vezes que os árabes luta-ram contra Israel sofreram derrotashumilhantes. Ao contrariarem a vonta-

de de Deus guerreando contra Israel,os árabes, na realidade, guerreavamcontra o próprio Deus. Eles ignoraramo Alcorão e Deus os puniu. Agora, de-pois de sucessivas derrotas e de nãoaprenderem nada com isso, os árabestentam obter através do terrorismoaquilo que não conseguiram por meioda guerra, ou seja, a destruição do Es-tado de Israel. O resultado de tais in-tentos é completamente previsível, poisassim como foram derrotados no pas-sado, serão novamente derrotados.

Em 1919, o emir Feisal (i.e., líderda família hashemita, ou seja, o líderdos descendentes do profeta Maomé)chegou a um acordo com ChaimWeizmann para a criação de um Esta-do Judeu e de um Reino Árabe sepa-rados pela fronteira natural do rio Jor-dão. O emir Feisal escreveu: “Percebe-mos que árabes e judeus são primos,quanto à raça, e que sofreram opres-sões semelhantes nas mãos de potên-cias mais fortes do que eles, mas que,por feliz coincidência, foram capazesde, juntos, darem os primeiros passosrumo à conquista de seus ideais nacio-nais. Os árabes, particularmente osmais cultos e esclarecidos entre nós,olham com a mais profunda simpatiapara o Movimento Sionista”.

Na época de Feisal, ninguém ale-gou que o ato de aceitar a criação doEstado de Israel e de ser simpático aoMovimento Sionista era contra o islã.

Até mesmo os líderes árabes que eramcontrários ao acordo entre Feisal eWeizmann nunca lançaram mão deum argumento islâmico para condená-lo. Infelizmente, esse acordo nuncachegou a ser concretizado, porque osbritânicos se opuseram à criação doReino Árabe e optaram por entregarnas mãos dos saqueadores de IbnSa’ud [os antepassados da família deSa’ud, ou seja, da família real “saudi-ta”], a soberania sobre a Arábia.

A partir do momento em que ossauditas começaram a governar umreino rico em petróleo, também come-çaram regularmente a investir umaparte de sua riqueza na propagaçãodo wahhabismo ao redor do mundo.O wahhabismo é uma seita totalitáriaque apóia o terrorismo, o massacre decivis, bem como a guerra permanentecontra judeus, cristãos e muçulmanosque não sejam adeptos do wahhabis-mo. No mundo árabe da atualidade,a influência do wahhabismo é tão

O xeique antiterroristaque apóia Israel

O xeique Abdul Hadi Palazzi.

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grande, que muitos árabes muçulma-nos mantêm a convicção de que paraser um bom muçulmano é precisoodiar Israel e almejar sua destruição.

Conseqüentemente, nos países on-de o wahhabismo não se difundiu, es-sa idéia avessa a Israel não se consoli-dou. Uma organização chamada Mus-lims For Israel [“Muçulmanos em Prolde Israel”] foi recentemente fundadano Canadá. Uma jornalista muçulma-na pró-Israel afirma que alguns muçul-manos a apóiam declaradamente, en-

quanto muitosoutros lhe dizem:“Nós concorda-mos com você,mas temos medode dizê-lo”. Omesmo acontececomigo.

A Al-Qaida éuma organiza-ção saudita, cria-da pela famíliade Sa’ud, finan-ciada pela famí-lia real saudita

com o lucro dos petrodólares e utiliza-da pela família de Sa’ud para realizaratos de terrorismo em massa primeira-mente contra o Ocidente e, também,contra o resto do mundo.

Glazov: Para onde vai a alma deum terrorista suicida a exemplo doshomens-bomba?

Palazzi: Todas as pessoas quemorrem na prática de pecados capi-tais, tais como suicídio e assassinato,serão lançadas no fogo do inferno,com exceção daquelas que se arre-

penderem antes que a morte as atinja.No islamismo, tanto assassinato quan-to suicídio são pecados capitais de cu-ja natureza nenhum muçulmano podeduvidar, muito menos alegar ignorân-cia. Todo muçulmano tem a obrigaçãode saber que as práticas de suicídio eassassinato são proibidas no islã, exa-tamente como todo muçulmano sabeque as orações diárias são em númerode cinco, que o mês do jejum é o Ra-madã, que o destino da peregrinaçãoé Meca, etc.

Logo, aquele que morre na condi-ção de um homem-bomba suicida, poracreditar erroneamente que seu atoestá de acordo com o islã, na realida-de, morre sem ter uma correta fé dou-trinária e sem qualquer outra oportuni-dade de arrependimento. Desse modo,tal pessoa nunca será admitida no céue passará sua existência eterna no fo-go do inferno. (Israel My Glory) ■

Site oficial do xeique Abdul Hadi Palazzi(em inglês): www.amislam.com

“A Al-Qaida é uma organização saudita, criada pela família deSa’ud, financiada pela família real saudita com o lucro dos petrodólares...”

No dia 12 de julho de 2006a França celebrou 100 anos dareabilitação do capitão AlfredDreyfus. O jovem oficial judeu foiprotagonista do infame e mun-dialmente conhecido “Caso Drey-fus”.

Acusado de espionagem a favorda Alemanha, o militar foi julgado su-mariamente por alta traição, submeti-do à degradação militar em 1895, econdenado à prisão perpétua na fami-gerada prisão na Ilha do Diabo (naGuiana Francesa). Apesar das contun-dentes provas de sua inocência, foicondenado por um tribunal militar, pe-

la segunda vez, em 1899,sendo em seguida indultado.Sua inocência só foi verda-deiramente reconhecida em

1905 e, no ano seguinte, foi reabilita-do pelo governo francês.

Na verdade, Dreyfus foi vítima fla-grante do anti-semitismo fortemente ar-raigado na sociedade e nas ForçasArmadas francesas. Sua primeira con-denação, baseada em provas forja-das, foi puramente “ideológica”. Parao exército, ele se encaixava “comouma luva” no papel de culpado, ouseja, era o bode expiatório perfeito.Ainda mais grave foi o fato de quequando a verdade veio à tona, ofi-ciais franceses de alta patente tudo fi-zeram para a ocultar. O Caso Drey-fus foi, sem sombra de dúvida, uma

das mais escandalosas fraudes judi-ciais da história moderna da França.

Origens de um dramaA longa e dramática trajetória que

envolveu o jovem oficial Alfred Dreyfusteve início em meados de 1894, quan-do uma agente de contra-espionagemfrancesa, que servia na Embaixada daAlemanha, em Paris, disfarçada de fa-xineira, descobriu no cesto de lixo doadido militar uma carta, em francês,que continha a promessa de passaraos alemães preciosas informações so-bre a artilharia francesa. Imediata-mente, entregou-a ao coronel Sand-herr, chefe do Departamento de Inteli-gência Militar, e ao seu subordinado,o coronel du Paty de Clam. As evidên-

O caso Dreyfus

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cias eram claras: havia um traidor nasfileiras do exército que precisava serdescoberto. Peritos em caligrafia fo-ram, em vão, convocados para deter-minar o autor do “Le Bordereau”, co-mo passou a ser chamado o documen-to. Mas as Forças Armadasprecisavam de um culpado e Sandherrse deixou facilmente convencer porseu ajudante, o coronel Hubert-JosephHenry, de que o “provável” culpadoera o capitão da artilharia AlfredDreyfus.

Dreyfus era judeu e rico, o “traidorideal”, e evitaria que um francês cristãofosse apontado traidor da pátria. Poucoimportava que sua caligrafia só tivesseuma vaga semelhança com aquela doautor da carta. Nascido na Alsácia-Lo-rena (região então ligada à Alema-nha), filho de uma família abastada ebastante assimilada, era o primeiro ju-deu a servir no Estado-Maior do Exérci-to, e sua presença irritava os oficiais,todos eles da elite, todos católicos.

As Forças Armadas e o governofrancês agiram rapidamente para dar

um desfecho ao caso. O próprio coro-nel du Paty de Clam se incumbiu deefetuar a prisão, aconselhando ao ofi-cial judeu que “a melhor solução era osuicídio”, por serem incontestáveis asprovas de sua traição. InutilmenteDreyfus jurou inocência. Nem os doismeses de prisão, em meio aos quaisum confinamento na solitária, nem ou-tras formas de tortura psicológica fo-ram suficientes para provocar sua con-fissão. Um julgamento sumário, reali-zado por um tribunal militar a portasfechadas, em dezembro de 1894,condenou-o à prisão perpétua. O tri-bunal hesitara em condená-lo frente às“provas”, escassas e inconsistentes,apresentadas, a principal sendo lau-dos periciais que atestavam uma “se-melhança” entre a letra de Dreyfus e ado documento encontrado. Mas, apóso testemunho do coronel Henry, queafirmara ter “outras” importantes in-formações que implicavam Dreyfus,que, no entanto, não podiam ser reve-ladas sem colocar em risco a seguran-ça militar da França, o tribunal o con-siderou culpado de traição.

Em janeiro de 1895 foi realizada acerimônia pública de degradação mili-tar, os galões de sua patente arranca-dos e a espada, quebrada ao meio.Enquanto Dreyfus clamava sua inocên-cia, do lado de fora se ouvia o bradoda turba que pedia “morte aos ju-deus”. No dia 21 de fevereiro ele foiembarcado para a prisão, na Ilha doDiabo, onde sofreria por longos anos,acometido por malária, disenteria emuitas outras enfermidades físicas, to-das, no entanto, infinitamente menoresque a dor da injustiça e do abandono.O caso parecia encerrado; ninguém,àquela altura dos acontecimentos, po-deria sonhar com a tormenta que de-sabaria sobre a França, nos anos se-guintes.

O pano de fundo para o casoDreyfus era uma França assolada porforte crise econômica, tensões sociais econfrontos políticos. O país estava di-

vidido entre uma direita reacionária,fortemente ligada às Forças Armadase à Igreja; os republicanos liberais eas forças de esquerda. Enquanto osconservadores pediam o retorno damonarquia, os republicanos e a es-querda defendiam a continuidade daRepública. Nessa confrontação, asForças Armadas desempenhavam umpapel importante, principal sustentácu-lo da ordem vigente que eram. Desta-ca-se também o papel da imprensa dedireita – muito ativa, ultra-reacionáriae anti-semita, na incitação do povocontra os judeus – especialmente o jor-nal La Libre Parole, de Édouard Drum-mont, que se aproveitou do episódiopara desencadear uma generalizadacampanha antijudaica. Drummont, umanti-semita intrínseco e militante, pu-blicara, em 1886, um “devaneio” anti-judaico de dois volumes, intitulado LaFrance Juïve (A França Judaica). Dossegmentos conservadores se ergueramas principais forças de acusação con-tra Dreyfus. Mesmo quando confronta-dos com provas contundentes da farsa

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O capitão Alfred Dreyfus.

Em janeiro de 1895 foi realizada a cerimônia pública de degradação militar,os galões de sua patente arrancados e a

espada, quebrada ao meio.

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cruel que fora montada para condenaro oficial judeu, recusaram-se, aindaassim, a aceitar mudar o veredito,afirmando que tal atitude poderia de-negrir a imagem das Forças Armadasjunto à sociedade francesa, desestabi-lizando o país.

Vale a pena lembrar que entre asvozes que se levantaram em defesa deDreyfus encontrava-se a de Rui Barbo-sa, brilhante advogado e escritor bra-sileiro. Vivendo, à época, na Inglater-ra, onde se auto-exilara após seu rom-pimento com o governo do MarechalFloriano Peixoto, Rui Barbosa escreveuum inflamado artigo denunciando osfatos que envolveram o oficial judeu.Datado de 7 de janeiro de 1895, doisdias antes da degradação do capitãofrancês, foi publicado no Brasil, noJornal do Comércio, no mês seguinte.

A história da “diabólica conspira-ção”, como diria o famoso escritorÉmile Zola, provavelmente ter-se-ia en-cerrado com o desterro de Dreyfus,não tivesse o tenente-coronel Picquartassumido a chefia do Departamentode Contra-Espionagem do Exército.

Em março do ano seguinte, a mesmaagente do caso Dreyfus encontrou, nomesmo escritório do adido militar ale-mão, uma nova carta na qual o reme-tente prometia entregar aos alemãesmais segredos militares franceses.Com Dreyfus encarcerado, era maisdo que evidente que o traidor estava àsolta. Picquart tomou a si as investiga-ções e conseguiu relacionar a letracom a de outro oficial, o major Char-les Ferdinand Esterhazy, aventureirode origem húngara com vultosas dívi-das de jogo. Mas, ao revelar suas des-cobertas a seu assistente, o coronelHenry, Picquart ficou surpreso com areação do subordinado que, enraive-cido, lhe perguntou como cogitava pe-dir que as Forças Armadas francesasadmitissem ter errado. Henry alertouseus superiores de que Picquart estavaprestes a reabrir o caso. Assim, antesque Picquart pudesse agir, foi transfe-rido para a Tunísia. Porém, na véspe-ra de sua partida, o tenente-coronelcomunicou suas suspeitas a seu advo-gado que, por sua vez, as revelou aAuguste Scheurer-Kestner, deputado li-beral e vice-presidente do Senado. Pa-ra o deputado, a determinação dasForças Armadas em preservar sua“honra” minava o princípio da igual-dade dos cidadãos perante a lei, umconceito que incorpora a própria es-sência de qualquer governo republica-no. E, tanto ele quanto outros deputa-dos liberais iniciaram uma campanhapela reabertura do caso, com um novojulgamento.

Desde a condenação a família deDreyfus estava se movimentando paraconseguir a reabertura do processo.Mathieu, irmão de Alfred, conseguiuum fac-símile do memorando originalusado para a acusação e o submeteua vários peritos que, em poucas sema-nas, determinam que a letra era, comefeito, de Esterhazy, não de Dreyfus.Quando a informação chegou à im-prensa, o exército não teve outra saí-da a não ser levar Esterhazy à corte

marcial. Ainda que sobre ele pesas-sem graves provas, mesmo assim foiabsolvido. Os juízes militares acredita-vam que as dúvidas levantadas contraa sentença imposta a Dreyfus atingi-riam em cheio as Forças Armadas, en-fraquecendo seu poder de mando eseu prestígio. Um exército falível signi-ficava uma França fragilizada. A ver-são original da traição judaica seriamantida a qualquer preço.

Theodor Herzl, então um jovem jor-nalista sediado em Paris, disse poste-riormente que o Caso Dreyfus conven-ceu-o de que não havia nenhum lugarseguro para os judeus na Diáspora, oque tornava imperativo terem seu pró-prio Estado.

Em 1898 o “Caso Dreyfus” incen-diou a opinião pública francesa e dila-cerou o país, que se dividiu em doiscampos: de um lado, os que acredita-vam na culpa de Dreyfus e viam comojusta sua condenação, opondo-se,portanto, à reabertura do processo –de outro, os que acreditavam na ino-cência do condenado e denunciavamas irregularidades do julgamento, lu-tando pela revisão imediata do pro-cesso. A família de Dreyfus e BernardLazare, um influente jornalista judeu,conseguiram o apoio de figuras públi-cas, como os escritores Anatole Francee Émile Zola, e de políticos republica-nos, como George Clemenceau e Aris-tide Braind. Pouco depois, Lazare pu-blicou um trabalho chamado “O errojudiciário: a verdade sobre o casoDreyfus”.

Em agosto daquele ano os aconte-cimentos chegaram ao clímax. Um pa-rente de Esterhazy denunciou que as“provas” secretas contra Dreyfus eramum embuste. O novo chefe das ForçasArmadas, General Cavaignas, apesarde não ser partidário da Repúblicanem amigo dos judeus, viu-se obriga-do a investigar as acusações. Convo-cou Henry e exigiu a entrega imedia-ta do suposto “dossiê secreto” do Ca-so Dreyfus. Descobriu, em questão de

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Vale a pena lembrar que entre as vozes que se levantaram em defesa de Dreyfus encontrava-se a de Rui Barbosa, brilhante advogado e escritor brasileiro.

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minutos, que os documentos entreguespelo coronel Henry – forjados por elepróprio – eram falsos. Henry admitiuo crime e foi sumariamente preso. Namesma noite, suicidou-se na prisão. OCaso Dreyfus estava em plena eferves-cência. Aumentavam as pressões po-pulares para um novo julgamento. Umdos mais conhecidos símbolos dessaluta foi a célebre “Lettre à la France”(Carta à França), de autoria de ÉmileZola, endereçada ao então presidentefrancês, Félix Faure, intitulada “J´Ac-cuse!” (“Eu acuso!”). Publicada na edi-ção do dia 13 de janeiro de 1898,foi impressa em letras enormes na pri-meira página do jornal L’Aurore, queteve mais de 300 mil exemplares ven-didos em um só dia. No artigo, Zolarevelou sua profunda indignaçãodiante da teia de intrigas e preconcei-tos que envolveram o caso. Acusou,um a um, os ministros do governo eos oficiais do Estado-Maior de cons-

piração, complô, falso teste-munho, mentira e fraude. Dezdias mais tarde, Zola foi pre-so. Processado, foi condena-do a um ano de prisão e aopagamento de 3.000 francosde multa, além de posteriorexílio na Inglaterra. O pro-prietário do L’Aurore, por suavez, foi condenado a 4 me-ses de prisão e 3.000 fran-cos de multa.

Em junho de 1899 o casofoi finalmente reaberto. Opresidente eleito, Émile Lou-bet, liberal e defensor convic-to de Dreyfus, preparou a re-visão do processo. Além dedividir a França, o CasoDreyfus estava assumindoproporções internacionais,pondo em risco a tão acalen-tada entrada de investimentosestrangeiros para a grandeExposição Internacional de1900, em Paris. No fim doséculo 19, a doutrina de

igualdade perante a lei ocupava umplano importante e o seu desrespeitodespertava mais indignação do queum pogrom*.

Dreyfus, que desde o início de1895 apodrecia, já meio enlouqueci-do, em uma cela na Ilha do Diabo, foitrazido de volta para a França. Nosanos em que ficara preso acreditavater sido esquecido, pois nunca lhe forarevelado o furor que sua prisão provo-cara na França.

A Corte de Cassação, o mais altoTribunal de Justiça da França, anulouo veredicto anterior e determinou arealização de novo julgamento militar,desta vez aberto ao público, na cida-de portuária de Rennes. Centenas dejornalistas de vários países assistiram,estarrecidos, ao espetáculo de ódio e

preconceito despudorados contra oacusado. Não havia dúvida de que oúnico objetivo era confirmar a conde-nação do réu. Apesar de todas as irre-futáveis evidências da falsificação dasprovas e de que o traidor era Este-rhazy, em apenas uma hora os oficiaisdo tribunal voltaram a pronunciar overedito de culpado a Dreyfus, destavez condenando-o a “apenas” dezanos de prisão. A sentença provocouindignação generalizada na França eno resto do mundo.

Em uma tentativa de pacificar opaís e o capital estrangeiro, o pre-sidente Émile Loubet indultou Dreyfusem 19 de setembro de 1899. O per-dão devolvia-lhe a liberdade, masnão a dignidade perdida. Dentre osdefensores do oficial judeu haviaquem o criticasse por ter aceitado oindulto. Para estes, ele respondeu quenão teria sobrevivido mais tempo naprisão e, morto, não poderia conti-nuar lutando para provar sua ino-cência, o que, de fato, fez. Em ju-nho desse mesmo ano, Émile Zola,uma das mais fortes vozes da defe-sa de Dreyfus, fora autorizado a re-gressar do exílio na Inglaterra. Ogrande defensor não conseguiria, noentanto, ver a reabilitação de Drey-fus. Foi encontrado morto, asfixiado,em seu apartamento, em circunstân-cias misteriosas e, até hoje, não es-clarecidas, em 29 de setembro de1902. Em seu enterro, Dreyfus foi pu-blicamente insultado.

Somente em 1906, quando Cle-menceau, um dos defensores de Drey-fus, assumiu a presidência da França,fez-se justiça. Em 12 de julho desseano, a Corte de Cassação finalmenteanulou o julgamento de Rennes e o ca-pitão Dreyfus foi reabilitado, reinte-grado ao exército como major e con-decorado com a Legião de Honra. Emparalelo, Picquart foi nomeado minis-tro da Guerra.

A resposta da Justiça foi tardia efoi preciso recorrer a um subterfúgio

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Theodor Herzl, então um jovem jornalista sediadoem Paris, disse posteriormente que o Caso Dreyfusconvenceu-o de que não havia nenhum lugar seguro para os judeus na Diáspora, o que tornava imperativo terem seu próprio Estado.

Movimento popular de violência contra os judeus.

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legal, pois, como ressaltou HannahArendt, renomada cientista política ju-dia, a Corte de Cassação não tinhacompetência legal para julgar casos

militares. Somente um tribunalmilitar poderia reverter o vere-dicto dado por um outro tribu-nal militar e nenhum destes ja-mais chegou a fazer a pronún-cia da não-culpabilidade deDreyfus.

Em 1985, o presidente Fran-çois Mitterrand ofereceu umaestátua de Dreyfus à Escola Mi-litar. O Exército recusou-se aexibi-la e, hoje, ela está expos-ta nos Jardins das Tulherias. So-mente em 1995, mais de um sé-culo após a deportação do ca-

pitão para a Ilha do Diabo, suainocência foi reconhecida pelas ForçasArmadas. Esse fato ocorreu apenasdepois que um historiador oficial do

Exército provocou um escândalo aoquestionar publicamente a injustiçahumana e histórica cometida. (extraí-do de www.morasha.com.br) ■

Bibliografia:– Sachar, Howard, The Course of Modern Je-

wish History, Vintage Books, 1990– Cain, Fabrice, “L’Affaire Dreyfus”, publicado

em março de 1994 no Rak Rega, publica-ção do Departamento de Juventude e Heha-lutz do O.S.M.

– Baltz, Matthew, “The Dreyfus Affair, Its Cau-ses, and its Implications”, 25 de janeiro de1999.

– Schechter, Ronald, “The Ghosts of AlfredDreyfus”, publicado no jornal “Forward, TheJewish Daily”, 7 de julho de 2006.

Em 1985, o presidente François Mitterrand ofereceu uma estátua de Dreyfus à Escola Militar, mas o Exército recusou-se a exibi-la.

Milhões de pessoas leram “An-ne Frank: Diário de uma Jovem”,obra que narra o cotidiano deuma garota judia e sua família, de1942 a 1944, enquanto viviam noanexo secreto, um esconderijo emAmsterdã (Holanda).

O diário é um comovente testemu-nho sobre a maldade perniciosa dosnazistas. Sobre a obra, o escritor so-viético Ilya Ehrenburg escreveu: “Umavoz fala pelos 6 milhões de judeusmortos; a voz não é de um sábio, nemde um poeta, mas de uma jovem comotantas e tantas outras”. A voz de Annerevestiu o Holocausto de uma face tan-gível, dando-lhe uma dimensão maisfácil de ser entendida, apesar da difi-culdade da mente humana em lidarcom tamanho horror.

Ao ler o diário, o leitor é pessoal-mente confrontado com a realidadeda perseguição contra os judeus, sen-

do, portanto, compreensível o interesseem ver de perto o lugar onde Anne, amais conhecida e discutida vítima doHolocausto, escrevia. Desde a primei-ra publicação do diário, em 1947, o“Anexo” tem sido visitado por milha-res de pessoas. Em 1960 foi transfor-mado no museu denominado The An-ne Frank House.

A visita ao museu é uma viagemno tempo ao mundo de Anne, dos“ocupantes” do “Anexo” e de seus“Ajudantes” – os quatro funcionáriosde Otto Frank, pai de Anne, que osajudaram e protegeram nos dois anosem que viveram escondidos. O panode fundo são os terríveis anos da Shoá(Holocausto). Há, no entanto, uma di-ferença em relação ao livro. Enquantoa narrativa do diário termina algunsdias antes dos ocupantes serem presospela Gestapo (a polícia política nazis-ta), o museu vai além, revelando o

destino de cada um deles medianteimagens, documentos e depoimentos.

Para recordar o 75º aniversário donascimento da jovem, o museu publi-cou o livro Inside Anne Frank’s House,an Illustrated Journey through Anne’s

Uma viagem ao mundo de Anne Frank

Anne Frank.

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World (Por Dentro da Casa de AnneFrank – Uma Jornada Ilustrada Atra-vés do Mundo de Anne). O título daobra revela o intuito de seus editores –permitir a um número ainda maior depessoas conhecerem a adolescente e omundo em que viveu. Não há dúvidade que as imagens reproduzidas sãoparte do testamento e do legado deAnne, que permanece vivo. Um lega-do sobre o qual ela se manifestou nodia 5 de abril de 1944, ao escrever:“Eu quero continuar a viver depois daminha morte e, por isso, sou grata aDeus por ter me presenteado com odom de escrever, de conseguir expres-sar tudo o que está dentro de mim”.

Uma curta vidaA vida da jovem destinada a ser a

voz dos milhões de judeus mortos du-rante o Holocausto foi curta, mas sig-nificativa. Annelise Marie nasceu em12 de junho de 1929, em Frankfurt, eera a segunda filha de Otto e EdithFrank, abastados judeus alemães. Ospais a chamavam de Anne.

Em 1933, com a ascensão deAdolf Hitler ao poder, os Frank decidi-ram viver em Amsterdã, na Holanda.Otto se mudou imediatamente, pois seapresentara a oportunidade de montar

uma franquia, a Opekta Works, paraa comercialização de pectina, subs-tância usada na fabricação de geléias.Edith, Anne e a irmã Margot se junta-ram a ele, tempos depois. Em Amster-dã, voltaram a desfrutar de liberdadee relativa tranqüilidade, apesar dasalarmantes notícias sobre a intensifica-ção da discriminação aos judeus emoutras partes.

Nem a tolerante e pacífica Holan-da conseguiu escapar da fúria que seabateu sobre a Europa. Em maio de1940, os exércitos alemães ocuparamo país, a monarquia foi deposta e oaustríaco Artur Seyss-Inquart, conheci-do por seu brutal anti-semitismo, assu-miu o governo, dando início à campa-nha de perseguição judaica.

Otto, que não tinha ilusões sobreos nazistas, imediatamente tomou me-didas para proteger sua família. Emsetembro de 1941 transferiu a titulari-dade da firma a um dos ajudantes, Jo-hannes (Jo) Kleiman, apesar de conti-nuar à frente do empreendimento.Kleiman o ajudou a planejar o “mer-gulho”, como era chamada a passa-gem de judeus para a vida na ilegali-dade. Eles transformaram num escon-derijo perfeito um anexo vazio nacasa 263 da rua Prisengracht. Era umprédio atrás do escritório onde ficava

o depósito da firma. Algum tempo de-pois, Otto pediu ajuda a mais três an-tigos e fiéis funcionários: Victor Kru-gler, Miep Gies e Bep Voskuij. Juntocom Jo Kleiman, compunham o quar-teto dos “Ajudantes”.

No dia do seu 13º aniversário, 12de junho de 1942, Anne recebeu depresente um diário. Ela não imaginavaa importância que este teria. Quando,em 5 de julho, sua irmã Margot foiconvocada pela Gestapo, os Frank de-cidiram que não podiam adiar nemmais um minuto o “mergulho”. Assim,

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Margot, Otto, Anne e Edith Frank emMerwedeplein (Amsterdã), 1941.

Otto Frank, pai de Anne. O diário de Anne.

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no dia seguinte, passaram para aclandestinidade. Uma semana maistarde, juntou-se a eles o casal VanPels, sócios e amigos, e o filho Peter.Em novembro chegou o último ocu-pante, Fritz Pfeffer.

Um velho rádio, ao qual viviam co-lados, era, além dos “Ajudantes”, seuúnico contato com o mundo exterior.Todos os cuidados eram necessáriospara que a vizinhança e os demaisfuncionários da empresa, principal-mente os que trabalhavam no depósi-to, não suspeitassem que ali havia ju-deus escondidos.

Surpreendendo pela sua maturida-de apesar dos 14 anos, Anne descre-veu no diário, com pormenores, seucotidiano e o dos outros “ocupantes”.A sensação de estarem presos sem po-der ver ainda que uma nesga do céu eo medo de serem descobertos estavamsempre presentes. Em vários trechosAnne dá detalhes das crescentes restri-ções e perseguições nazistas contra osjudeus. Em março de 1944, a adoles-cente ouviu uma transmissão da rádioinglesa em que Gerrit Bolkestein, mi-nistro do governo holandês no exílio,

convidava os cidadãos a preservaremdocumentos e histórias pessoais sobrea guerra. A jovem então decidiu que,ao término do conflito, publicaria umlivro baseado em seu diário.

Apesar do medo e do sofrimento,Anne ainda nutria esperanças – provade que desconhecia a real face do Ho-locausto. Em uma de suas últimas ano-tações, em 15 de julho de 1944, es-creveu: “Vejo o mundo se transformar,gradualmente, em um grande deserto,ouço o trovão se aproximando, o mes-mo que nos destruirá a todos. Sofrocom o sofrimento de milhões e, no en-tanto, se levanto os olhos aos céus, seique tudo acabará bem, toda essacrueldade desaparecerá...”. O diáriode Anne Frank termina no dia 1º deagosto, três dias antes de sua prisão.Foram as últimas palavras que escre-veu.

A prisãoEm 4 de agosto de 1944, após a

denúncia, a Gestapo invadiu o escritó-rio da empresa e imediatamente se di-rigiu à entrada do “Anexo Secreto”,obrigando Victor Kugler a abri-lo. Seusocupantes, o próprio Victor e Jo Klei-man foram presos. Assim que os nazis-tas deixaram o local, Miep Gies e BepVoskuijl voltaram ao esconderijo e en-contraram cadernos e anotaçõesde Anne espalhados pelo chão,que recolheram e guardaram jun-tamente com vários álbuns de fo-tos. As jovens decidiram, então,que Miep os guardaria para de-volvê-los a Anne assim que aguerra terminasse. A mobília doAnexo foi confiscada e removida,por ordem da Gestapo.

Os presos tiveram destinos diferen-tes. Os oito ocupantes foram levadospara o campo de trânsito de Wester-bork, de onde saíam os trens “rumoao Leste”. Por não serem judeus, osdois “Ajudantes”, Victor e Johannes,foram enviados para Amersfoort, umcampo de trânsito. Kleiman acabousendo libertado e Kugler conseguiu fu-gir.

No dia 3 de setembro todos osocupantes do Anexo foram juntados aoutros mil judeus, no último trem quesaiu de Westerbork para Auschwitz,na Polônia. Testemunhas contam queAnne, Margot e Edith ficaram juntasaté as duas irmãs serem transferidas,em outubro, para Bergen-Belsen, naAlemanha. No mês seguinte, Edithadoeceu, morrendo em janeiro de1945, aos 44 anos.

Em Bergen-Belsen, para onde asjovens foram levadas, as condições devida eram ainda piores que em Aus-chwitz e as duas irmãs logo contraí-ram tifo. Doente e muito fraca, Margotnão resistiu, vindo a falecer em março,com apenas 19 anos. A morte da irmãfez em Anne o que nada até então fo-ra capaz de fazer – quebrar seu espí-rito. Alguns dias mais tarde, faleceu.Não se sabe ao certo quando, mas adata universalmente aceita é 31 demarço de 1945. Anne tinha 15 anos.

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Vista atual da casa de Anne Frank.

A entrada para o “Anexo”,escondida por uma estante de livros.

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Apenas algumas semanas depois, em15 de abril, o campo foi libertado pe-lo exército inglês.

Das oito pessoas do “Anexo Secre-to”, apenas Otto sobreviveu, por mila-gre. Havia sido enviado para o barra-cão de doentes de Auschwitz, em no-vembro de 1944, enquanto outrosprisioneiros do campo, cerca de 11mil, evacuados pelos nazistas à medi-da que os russos avançavam, foramlevados a pé nas terríveis Marchas daMorte, das quais poucos sobrevive-ram. E o pai de Anne se encontravaainda lá quando, no dia 27 de janeirode 1945, o campo foi libertado pelasforças soviéticas.

Dos 140 mil judeus que viviam naHolanda e se registraram junto às au-toridades alemãs, 107 mil foram de-portados. Desse total, apenas 5.500retornaram. Cerca de 24 mil pessoasconseguiram esconder-se, 8 mil dasquais foram capturadas. Apenas 35mil judeus conseguiram sobreviver aoHolocausto na Holanda. Ou seja, 70%dos judeus holandeses foram vítimasda Shoá, um índice superior a qual-quer outro registrado nos países ocu-pados pela Alemanha, na EuropaOcidental.

A viagem de Otto de volta paraAmsterdã durou vários meses. No tra-

jeto, foi informado por uma amiga deEdith sobre a morte dela, em Aus-chwitz. Em junho, ele chegou à capitalholandesa, onde encontrou, ainda fun-cionando, sua empresa Opekta, agoradirigida por Jo Kleiman. Procurou, de-sesperado, qualquer informação sobreo paradeiro das duas filhas, mas nomês seguinte foi obrigado a aceitar ofato de que não haviam sobrevivido.Miep lhe entregou então os cadernosque encontrara, dizendo: “Este é o le-gado de sua filha Anne para você”.

Otto nunca desconfiara da existên-cia daqueles registros. Estimulado poramigos, decidiu publicar o diário, masnão encontrou nenhuma editora inte-ressada. Os manuscritos acabaramnas mãos do casal Romein, historiado-

res holandeses. Impressionado com omaterial, o Dr. Romein escreveu umartigo, “A Voz de uma Criança”, parao renomado jornal Het Parool, ondeafirmou: “Este diário de aparência in-fantil incorpora toda a hediondez donazismo de forma muito mais visível econtundente do que todo o conjuntode evidências apresentadas perante oTribunal de Nuremberg”.

O artigo despertou o interesse deuma editora e, em junho de 1947, o“Diário de Anne Frank” foi publicadona Holanda, pela primeira vez. Ottoconseguira realizar o desejo da filha:ser escritora. Desde sua publicação, o“Diário” foi traduzido para 67 idio-mas, tornando-se um dos livros maislidos no mundo. Seu texto deu origema produções de televisão, cinema, tea-tro e, até mesmo, uma ópera.

Museu Anne FrankComo vimos acima, a publicação

da primeira edição do “Diário” des-pertou o interesse do público sobre olocal onde aconteceram os eventosnarrados por Anne. Assim, de manei-ra informal, começou a visitação ao“Anexo Secreto”.

Entre 1950 e 1953, a construtoraBerghaus, interessada na aquisição depropriedades antigas para transformá-las em novas edificações comerciais,adquiriu vários imóveis da rua Prin-sengracht, inclusive a casa onde ficava

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O campo de concentração de Bergen-Belsen.

Fritz Pfeffer.O casal Van Pels.

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o Anexo. Paralelamente, crescia a fa-ma do “Diário”. Nos Estados Unidosanunciou-se também o projeto demontagem de uma peça. O diretor doespetáculo visitou o Anexo e pediu àfotógrafa Maria Austria fotos detalha-das de todos os ângulos do local.Quando a peça “O Diário de AnneFrank” estreou na Holanda, em no-vembro de 1956, fez aumentar, aindamais, a fama do esconderijo.

Otto Frank passou a se dedicar in-tegralmente ao diário da filha. Com aajuda principalmente de Kleiman, lu-tou pela preservação do edifício ondea família se escondera. Entre a popu-lação de Amsterdã havia um consensogeral de que o local deveria ser pre-servado. O jornal holandês Het VrijeVolk organizou, em 23 de novembro,data em que o prédio seria derruba-do, um protesto no local contra a de-molição. Como resultado, a empresarecebeu ordens de interromper os tra-balhos. O governo municipal de Ams-terdã, em troca, ofereceu à companhiaum terreno alternativo.

No dia 3 de maio de 1957 foicriada a fundação The Anne FrankHouse que visa a preservação e a re-novação do número 263 da Prisen-gracht, além da divulgação do legadode Anne. Em outubro, a construtoraBerghaus fez a doação oficial do pré-dio. Após dois anos de restauração,no dia 3 de maio de 1960, a AnneFrank House foi oficialmente aberta aopúblico. Mais de nove mil pessoaspassaram pelo local, em seu primeiroano, multiplicando-se rapidamente es-te número na década seguinte. O vo-lume crescente de visitantes tornou ne-cessárias algumas reformas – a pri-meira, em 1970. As demaisocorreram entre 1996 e 1999, sendoampliado o museu. Foram incorpora-dos novos espaços para exposições,um novo prédio foi construído próximoao museu, facilitando a reconstituiçãoda frente da casa – onde ficava o es-conderijo – ao seu estado original.

Os escritórios, que ficavam emfrente, foram reconstruídos exatamentecomo eram em 1940. Os trabalhosduraram até 1999. Durante todo otempo da reforma o “Anexo Secreto”permaneceu aberto ao público. Em2004, o museu recebeu aproximada-mente um milhão de visitantes.

O local é estruturado para contar ahistória das oito pessoas que lá se re-fugiaram e também daqueles que asajudaram. Os visitantes podem ver deperto objetos pessoais dos ocupantescomo, por exemplo, um pôster com fo-tos de artistas de cinema colocado naparede por Anne; um papel de paredeno qual Otto Frank registrava a alturade suas filhas em fase de crescimentoe um mapa no qual marcava os avan-ços das forças aliadas. Nos quartosestão expostos trechos do diário deAnne, para que as pessoas possam teruma idéia de como transcorriam osdias no “Anexo Secreto”.

Viagem no tempoO livro Inside Anne Frank’s House

conduz os leitores através da mesmarota que os visitantes fazem no tourpela casa e reproduz páginas do“Diário” expostas no museu, bem co-mo o testemunho de Otto e de váriaspessoas que ajudaram ou tiveram con-tato com a jovem. Há também comen-tários sobre o impacto que suas im-pressões causaram nos leitores.

Muitas das fotografias em preto ebranco, tiradas em 1954 por MariaAustria, podem ser vistas no livro. Fo-ram também incluídas outras imagenscoloridas do mobiliário provisório, pa-ra que os leitores pudessem ter umamelhor percepção da vida dos ocu-pantes do “Anexo Secreto”.

Através de imagens da famíliaFrank, da casa, dos amigos de Anne edas pessoas que os ajudaram, pode-se reviver a época. Essa documenta-ção fotográfica representa parte cru-cial na reconstituição da história dos

judeus durante a 2ª Guerra Mundial edo Holocausto. Coloridas ou em pretoe branco, as imagens provocam pro-funda emoção.

Em 9 de abril de 1944 Anne escre-veu: “Um dia, esta guerra terrível aca-bará. Há de chegar a hora em quenovamente seremos considerados se-res humanos e não apenas judeus”.

Como já dissemos, seu diário ter-mina no dia 1º de agosto de 1944.Ela não deixou nada escrito sobre osmeses que passou nas mãos dos nazis-tas e sobre os campos de concentra-ção. Anne Frank tornou-se para mui-tos a “face” de milhões de vítimas daShoá, sem rosto e sem nome. O escri-tor Primo Levi, que sobreviveu a Aus-chwitz, explica: “Uma única AnneFrank nos emociona mais do que mi-lhares de outros que sofreram tantoquanto ela, mas cujos rostos permane-ceram na sombra. Talvez seja melhordesta forma, pois se tivéssemos queabsorver o sofrimento de todas essaspessoas, talvez não estaríamos maisvivos”. (extraído de www.moras-ha.com.br) ■

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