notícias de israel - ano 29 - nº 5

21
www.Beth-Shalom.com.br MAIO DE 2007 • Ano 29 • Nº 5 • R$ 3,50 BETH-SHALOM Rembrandt e os judeus de Amsterdã Pág. 20

Upload: chamada

Post on 29-Mar-2016

232 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

• Seis Marcos Esclarecedores em Mateus 24 • O Fascinante Mundo dos Hassidim - parte 3 • O Gaon de Vilna: um Gênio Místico • Rembrandt e os judeus de Amsterdã

TRANSCRIPT

Page 1: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

www.Beth-Shalom.com.br MAIO DE 2007 • Ano 29 • Nº 5 • R$ 3,50 BETH-SHALOM

Rembrandt e os judeus de Amsterdã

Pág. 20

Page 3: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

É uma publicação mensal da ““OObbrraaMMiissssiioonnáárriiaa CChhaammaaddaa ddaa MMeeiiaa--NNooiittee”” comlicença da ““VVeerreeiinn ffüürr BBiibbeellssttuuddiiuumm iinn IIssrraaeell,,BBeetthh--SShhaalloomm”” (Associação Beth-Shalom paraEstudo Bíblico em Israel), da Suíça.

AAddmmiinniissttrraaççããoo ee IImmpprreessssããoo::Rua Erechim, 978 • Bairro Nonoai90830-000 • Porto Alegre/RS • BrasilFone: (51) 3241-5050 Fax: (51) 3249-7385E-mail: [email protected]

EEnnddeerreeççoo PPoossttaall::Caixa Postal, 168890001-970 • PORTO ALEGRE/RS • Brasil

FFuunnddaaddoorr:: Dr. Wim Malgo (1922 - 1992)

CCoonnsseellhhoo DDiirreettoorr:: Dieter Steiger, Ingo Haake,Markus Steiger, Reinoldo Federolf

EEddiittoorr ee DDiirreettoorr RReessppoonnssáávveell:: Ingo Haake

DDiiaaggrraammaaççããoo && AArrttee:: Émerson Hoffmann

Assinatura - anual ............................ 31,50- semestral ....................... 19,00

Exemplar Avulso ................................. 3,50Exterior: Assin. anual (Via Aérea)... US$ 28.00

EEddiiççõõeess IInntteerrnnaacciioonnaaiissA revista “Notícias de Israel” é publicadatambém em espanhol, inglês, alemão,holandês e francês.

As opiniões expressas nos artigos assinadossão de responsabilidade dos autores.

INPI nº 040614Registro nº 50 do Cartório Especial

OO oobbjjeettiivvoo ddaa AAssssoocciiaaççããoo BBeetthh--SShhaalloomm ppaarraaEEssttuuddoo BBííbblliiccoo eemm IIssrraaeell éé ddeessppeerrttaarr eeffoommeennttaarr eennttrree ooss ccrriissttããooss oo aammoorr ppeelloo EEssttaaddooddee IIssrraaeell ee ppeellooss jjuuddeeuuss.. Ela demonstra oamor de Jesus pelo Seu povo de maneiraprática, através da realização de projetossociais e de auxílio a Israel. Além disso,promove também CCoonnggrreessssooss ssoobbrree aa PPaallaavvrraaPPrrooffééttiiccaa eemm JJeerruussaalléémm e vviiaaggeennss, com aintenção de levar maior número possível deperegrinos cristãos a Israel, onde mantém aCasa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monteCarmelo, em Haifa).

ISRAELNotícias de

20

4 Prezados Amigos de Israel

HHOORRIIZZOONNTTEE

• Rembrandt e os judeus de Amsterdã - 20

índice6 Seis Marcos Esclarecedores em Mateus 24

13 O Fascinante Mundo dos Hassidim - parte 3

17 O Gaon de Vilna: um Gênio Místico

Page 4: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

44 Notícias de Israel, maio de 2007

“Naquele dia, levantarei o tabernáculocaído de Davi, repararei as suas brechas; e,levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-eicomo fora nos dias da antiguidade” (Amós9.11).

Depois de todos os terríveis juízos sobreIsrael, Deus fará algo novo. Antes de tratarmos arespeito, devemos enfatizar que o livro de Amós édirigido principalmente às dez tribos rebeldes deIsrael, mas não exclui Judá. No capítulo 1,versículo 3, Deus começa a pronunciar o juízosobre as nações vizinhas pelo que fizeram comIsrael: “Assim diz o SENHOR: Por trêstransgressões de Damasco e por quatro,não sustarei o castigo, porque trilharam aGileade com trilhos de ferro” (Amós 1.3).Apesar da distinção que fazemos entre Judá e asdez tribos, eles são um só povo. Todo o Israelexperimentará tribulação, e o pior ainda está porvir. Esse período é conhecido como a “angústia deJacó”, “...ele, porém, será livre dela”(Jeremias 30.7).

A constatação de que os juízos descritos nolivro de Amós são dirigidos principalmente às deztribos de Israel está baseada nas referênciasgeográficas: lugares como Samaria, Betel e Gilgalestão localizados fora de Judá. Mas, do mesmomodo como no início do livro de Amós, tambémvemos no seu final que todo o Israel está incluído.

O “tabernáculo de Davi” refere-se a Jerusalém,a capital de Judá. O que significa a frase “otabernáculo caído de Davi”? Sabemos que nãose trata do tabernáculo semelhante a uma tenda,que abrigou a arca da aliança até que Salomãoedificasse o templo. Uma dica são as palavras:“repararei as suas brechas; e, levantando-odas suas ruínas...” Essa é uma referência àJerusalém física e ao templo. Ruínas indicamconstruções de pedras, o que não pode ser ditodo tabernáculo descrito em Êxodo 25-31.

Mas, a seguir lemos a promessa: “...restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade”.Será que isso quer dizer que Jerusalém seráreconstruída exatamente como era nos dias deDavi? Penso que não. À medida que estudarmosos versículos seguintes, veremos que Deusrealizará algo completamente novo, pois Ele nãofaz consertos ou remendos.

Para melhor compreensão, será útil lerJeremias 31.31: “Eis aí vêm dias, diz oSENHOR, em que firmarei nova aliança com

a casa de Israel e com a casa de Judá”. Semdúvida, esse versículo fala da renovação do povojudeu como o escolhido de Deus.

Deus renova, Ele não conserta. A maior partedas pessoas procura melhorar sua vida, seuconforto, seu bem-estar. Até mesmo muitasigrejas acreditam que podem melhorar o serhumano. Essa é a razão porque existem tantosfalsos ensinos. As igrejas e os ministérios de maiorsucesso são os que prometem uma vida melhoraos seus membros, com o pretexto de que setornarão melhores cristãos. Sobre esse tipo defilosofia está baseada, por exemplo, a maçonaria,mas muitas igrejas seguem esse padrão,imaginando que homens corruptos podem seraperfeiçoados com o objetivo de contribuirempara uma sociedade melhor.

Deus, porém, fez uma Nova Aliança: “Porqueesta é a aliança que firmarei com a casa deIsrael, depois daqueles dias, diz o SENHOR:Na mente, lhes imprimirei as minhas leis,também no coração lhas inscreverei; euserei o seu Deus, e eles serão o meu povo.Não ensinará jamais cada um ao seupróximo, nem cada um ao seu irmão,dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todosme conhecerão, desde o menor até aomaior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei assuas iniqüidades e dos seus pecados jamaisme lembrarei” (Jeremias 31.33-34).

Quando chegará esse dia? Para sabê-lo, temosde nos voltar para o Novo Testamento, lendo aspalavras ditas por Tiago em Atos 15.14-18:“expôs Simão como Deus, primeiramente,visitou os gentios, a fim de constituir dentreeles um povo para o seu nome. Conferemcom isto as palavras dos profetas, comoestá escrito: Cumpridas estas coisas,voltarei e reedificarei o tabernáculo caídode Davi; e, levantando-o de suas ruínas,restaurá-lo-ei. Para que os demais homensbusquem o Senhor, e também todos osgentios sobre os quais tem sido invocado omeu nome, diz o Senhor; que faz estascoisas conhecidas desde séculos”.Observamos uma interrupção no plano de Deuspara Israel: “Deus, primeiramente, visitou osgentios”. Tecnicamente, isso não é correto,porque Ele visitou inicialmente o Seu povo Israel.No início, todos os crentes eram judeus, e oacréscimo dos gentios teria causado divisões e

Page 5: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

55Notícias de Israel, maio de 2007

mal-estar. O que Tiago quis dizer foi que o acréscimodos gentios à Igreja judaica teria que ser completado,primeiramente – para “constituir dentre eles (osgentios) um povo para o seu nome (de Deus)”.Depois disso, se daria o cumprimento de Amós 9.11.

É evidente que esse tipo de cumprimento nãopoderia ocorrer antes do estabelecimento dos judeusem uma nação soberana na terra de Israel. Esse processocomeçou no dia 14 de maio de 1948, quando foiproclamado o Estado de Israel, “como fora nos diasda antiguidade”, ou seja, Jerusalém, Israel, a TerraSanta de Deus.

O que virá a seguir? “...para que possuam orestante de Edom e todas as nações que sãochamadas pelo meu nome, diz o SENHOR, que fazestas coisas” (Amós 9.12). Ele se refere às nações(aos gentios), “que são chamadas pelo meu nome”(a Igreja de Jesus). Portanto, o ajuntamento e arestauração de Israel dependem da plenitude dos gentios(veja Romanos 11.25).

Tiago vai um passo além: ele fala sobre os gentios,sobre a ressurreição de Israel e, no versículo 17menciona “os demais homens”, para que “busquemo Senhor, e também todos os gentios sobre osquais tem sido invocado o meu nome. Portanto,podemos fazer uma distinção entre a Igreja de Jesus,Israel e aqueles que se converterão na GrandeTribulação, depois que a Igreja tiver sido arrebatada daterra. Após o restabelecimento de Israel e os juízossobre a terra, lemos em Apocalipse 7.9: “Depoisdestas coisas, vi, e eis grande multidão queninguém podia enumerar, de todas as nações,tribos, povos e línguas, em pé diante do trono ediante do Cordeiro, vestidos de vestidurasbrancas, com palmas nas mãos”. Essa grandemultidão não é a Igreja, pois trata-se dos “demaishomens”.

A seguir, Amós escreve sobre o tempo em que oreino de Deus será estabelecido na terra: “Eis quevêm dias, diz o SENHOR, em que o que lavra seguelogo ao que ceifa, e o que pisa as uvas, ao quelança a semente; os montes destilarão mosto, etodos os outeiros se derreterão” (Amós 9.13).Nessa época haverá colheitas ininterruptas esuperabundância.

Promessas especiais são feitas a “meu povo deIsrael”. Observe o versículo 14: “Mudarei a sorte domeu povo de Israel; reedificarão as cidadesassoladas e nelas habitarão, plantarão vinhas ebeberão o seu vinho, farão pomares e lhescomerão o fruto” (Amós 9.14). A eternidadeemergirá: “Plantá-los-ei na sua terra, e, dessa terraque lhes dei, já não serão arrancados, diz oSENHOR, teu Deus” (Amós 9.15). As promessaseternas de Deus ao remanescente de Israel não excluema terra, pois “dessa terra que lhes dei, [os judeus]já

não serãoarrancados”.

Meusprezados amigos:essa é a verdadeiraesperança de Israel. Apromessa irrevogável de Deusé que todos os inimigos dos judeus serão envergonhadose que Ele perdoará todos os pecados do Seu povo,renovando-o, desde o menor até o maior – todos elesconhecerão o Senhor!

Quanto à Igreja de Jesus, a ela não foi dada nenhumapromessa terrena (como as que foram dadas a Israel),mas promessas celestiais. Entretanto, o que Israelexperimentará é uma maravilhosa representação, umabela imagem do que nos espera: também ceifaremos semcessar e viveremos com abundância, porque temos aJesus e Ele tem a nós. Cristo deu a vida pela Sua Igreja, eé a Ele que esperamos ansiosamente!

Unido com vocês nessa firme esperança, saúdo comum sincero

Shalom!

Arno Froese

Page 6: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

66 Notícias de Israel, maio de 2007

Em Mateus 24, Jesus usa seis expressões que são muito úteisna subdivisão do capítulo e para sua melhor compreensão:

1. Ainda não é o fim (Mt 24.6).2. O princípio das dores (v.8).3. A tribulação (v.9).4. O fim (v.14).5. O abominável da desolação (v.15).6. Em seguida à tribulação (v.29).Essas seis expressões servem de marcos referenciais, uma vez que ca-

da uma delas delimita um tempo específico e introduz uma nova fasenos acontecimentos proféticos.

PPrriimmeeiirroo mmaarrccoo:: aaiinnddaa nnããoo éé oo ffiimm“E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque muitos virão

em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. E, certamen-te, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, por-que é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (Mt 24.4-6).

Aqui Jesus fala de um tempo que ainda não é o fim, mas que é umacondição imediatamente anterior a ele, ou seja, que conduz ao fim lentamas inexoravelmente.

Nos versículos 4 e 5 o Senhor Jesus menciona a primeira onda de enga-nos dos tempos finais, a sedução em nível político, ideológico e religioso.

Depois que o cristianismo havia se firmado e expandido na Ásia Me-nor e na Europa (até a Reforma), veio o grande engano. Novos arautosda salvação começaram a se manifestar e toda a Europa foi seduzida pe-lo engano. Alguns tópicos desse processo enganoso: o Iluminismo, otempo dos grandes filósofos, a teoria da evolução, as muitas seitas, ateologia do “Deus está morto”. Então veio o marxismo-leninismo; dosocialismo surgiu o comunismo (1917). A partir de 1932, quando o na-cional-socialismo se levantou na Alemanha, homens como Hitler,Goebbels e Himmler foram os novos salvadores (messias), e na Itália ofalso salvador foi Mussolini.

Norbert Lieth

Esse levante generalizado,oriundo do reino das trevas,do Iluminismo ao comunis-mo e ao nacional-socialismo(nazismo), intensificou-se noperíodo em que os judeusvoltaram para sua terra, apartir de 1882.

“E, certamente, ouvireis fa-lar de guerras e rumores deguerras...” (Mt 24.6). A Pri-meira e a Segunda Guerraforam chamadas de guerrasmundiais porque, até então,nada semelhante havia suce-dido na História da humani-dade. Ambas foram devasta-doras: a Primeira GuerraMundial ceifou a vida de 10milhões de pessoas, a Se-gunda Guerra Mundial cus-tou a vida de 55 milhões. Naverdade, elas tiveram deacontecer, mas ainda nãosignificavam o fim: “porque é

Page 7: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

necessário assim acontecer, mas aindanão é o fim” (v.6). Certamente elasse originaram no reino das trevas,porém, por direcionamento divinoforam fatores-chave para a funda-ção do Estado de Israel. A PrimeiraGuerra Mundial preparou uma ter-ra para um povo*; a Segunda Guer-ra Mundial preparou um povo paraessa mesma terra. É impossívelfrustrar os desígnios divinos!

SSeegguunnddoo mmaarrccoo:: oopprriinnccííppiioo ddaass ddoorreess

“Porquanto se levantará naçãocontra nação, reino contra reino, e ha-verá fomes e terremotos em vários lu-gares; porém tudo isto é o princípiodas dores” (Mt 24.7-8). Com es-sas palavras, em minha opinião, oSenhor Jesus descreve o tempo ime-diatamente anterior ao Arrebata-mento, que prenuncia e introduz aépoca da Tribulação.

“...se levantará nação contra na-ção, reino contra reino...” Isso signifi-ca revoluções, conflitos bélicos eterrorismo, assim como vimosacontecer após o fim da GuerraFria (depois do conflito entre oOcidente e o Oriente e da queda doMuro de Berlim) e como hoje acon-tece mundialmente (veja Lc 21.10).

Um jornal suíço noticiou:Que o mundo seja pacífico e está-

vel é refutado pelos fatos. Segundolevantamento de um renomado institu-to de Hamburgo, no ano de 2004houve 42 guerras e conflitos armadosno mundo, e conforme os dados deum instituto estratégico de Pequim,após o término da Guerra Fria eclo-diram em média dez novas guerraspor ano. A Índia e o Paquistão sãoduas novas potências atômicas, e adisseminação de armas de destruição

em massa e demísseis estratégi-cos avança. Emtempo previsível,de 30 a 40 paí-ses disporão des-ses artefatos deguerra. O mun-do tornou-se ins-tável e imprevisí-vel. Estabilidadepacífica é umaexceção...” (-Neue ZürcherZeitung)

“...e haveráfomes e terremotosem vários luga-res; porém tudoisto é o princípio das dores” (Mt 24.7-8). Fomes, epidemias (Lc 21.11) eterremotos são elementos que ca-racterizam de modo especial a atualsituação mundial; eles são comoque seu selo, sua marca registrada.Pela mídia somos confrontadoscom a miséria da fome. A epidemiada AIDS, os terremotos, os pavo-res, os maremotos e os atos de ter-rorismo não se concentram maisapenas em algumas regiões, mas semanifestam pelo mundo inteiro. Es-se é o “princípio das dores”. Dessaforma, o tempo da Tribulação estácada vez mais próximo do nossomundo. Portanto, aproxima-setambém o momento do Arrebata-mento (que se dará antes da Tribu-lação).

TTeerrcceeiirroo mmaarrccoo:: aa TTrriibbuullaaççããoo

“Então, sereis atribulados, evos matarão. Sereis odiados de todas asnações, por causa do meu nome. Nessetempo, muitos hão de se escandalizar,

trair e odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos profetas e engana-rão a muitos. E, por se multiplicar ainiqüidade, o amor se esfriará de quasetodos. Aquele, porém, que perseveraraté o fim, será salvo. E será pregadoeste evangelho do reino por todo o mun-do, para testemunho a todas as nações.Então, virá o fim. Quando, pois, vir-des o abominável da desolação de quefalou o profeta Daniel, no lugar santo(quem lê entenda)...” (vv.9-15).

Esse texto descreve a primeirametade da Grande Tribulação, eessas características perdurarão atéseu final.

Nessa ocasião o Arrebatamentoda Igreja já terá acontecido, pois es-tá escrito que “...aquele que perseve-rar até o fim, será salvo”. Isso querdizer: quem ainda estiver sobre aterra, terá de perseverar até o fimda Tribulação ou morrerá comomártir. Isso não pode se referir àIgreja, pois na época de Mateus 24-25 ela ainda era um mistério, nãosendo mencionada nesses capítulos.Somente dois dias após proferir SeuSermão Profético Jesus falou dela aSeus discípulos (veja Jo 14.2-3).

“Então, sereis atribulados, e vosmatarão. Sereis odiados de todas as

77Notícias de Israel, maio de 2007

* Pelo fato da Grã-Bretanha ter conquistado a Palestina em 1917 e ter apoiado a formação deum lar nacional judeu através da Declaração Balfour.

Marx, Lenin e Engels, do socialismo surgiu o comunismo (1917).

Page 8: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

nações, por causa do meu nome. Nessetempo, muitos hão de se escandalizar,trair e odiar uns aos outros” (vv.9-10). A aliança de Israel com o Anti-cristo e o último ditador mundialprovavelmente será firmada nessemomento, quando então começaráa perseguição daqueles que nãoaderirem a esse acordo.

“Levantar-se-ão muitos falsos pro-fetas e enganarão a mui-tos”. Agora se chega amais um patamar de en-gano e sedução (veja ov.4). É a segunda onda deenganos nos tempos fi-nais. O fator desenca-deante poderia ser o re-cém-sucedido Arrebata-mento da Igreja. Esseengano consistirá da hu-manidade toda unindo-senuma única comunidademundial. Haverá uma in-descritível solidariedadeentre os homens sob opoderio do Anticristo,

que provavelmente conduzirá a umgoverno mundial único, a uma uni-ficação política e religiosa. Tratar-se-á, assim, sem dúvida, do cumpri-mento de Apocalipse 3.10: “Porqueguardaste a palavra da minha perse-verança, também eu te guardarei dahora da provação que há de vir sobre omundo inteiro, para experimentar osque habitam sobre a terra”.

“E, por se multiplicar a iniqüidade,o amor se esfriará de quase todos” (Mt24.12). As leis serão mudadas, aLei de Deus será completamente ig-norada, a Bíblia será rejeitada e aconseqüência será uma apostasiaindescritível.

“Aquele, porém, que perseverar atéo fim, esse será salvo” (v.13). Aquitrata-se daqueles que se converte-rem durante a Tribulação e queperseverarem na fé até seu fim.

“E será pregado este evangelho doreino por todo o mundo, para testemu-nho a todas as nações...” (v.14). Na-da nem ninguém pode barrar essamarcha vitoriosa do Evangelho deJesus. Por mais de dois mil anosnão foi possível impedi-lo de se es-palhar, e isso também não aconte-cerá no tempo da Tribulação.

O Evangelho foi rejeitado, odia-do e combatido, mas mesmo na se-gunda metade da Tribulação ele se-rá proclamado até a volta de Jesusem glória.

QQuuaarrttoo mmaarrccoo:: oo ffiimm“...Então, virá o fim” (v.14). O

termo “o fim” significa provavel-mente as últimas e mais fortes do-res de parto antes que a nova vidairrompa e Jesus volte.

88 Notícias de Israel, maio de 2007

Na verdade, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial tiveram de acontecer, mas ainda não significavam o fim: “porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (v.6).

Fomes, epidemias (Lc 21.11) e terremotos são elementos que caracterizam de modo especial aatual situação mundial; eles são como que seu selo, sua marca registrada.

Page 9: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

QQuuiinnttoo mmaarrccoo:: ooaabboommiinnáávveell ddaa ddeessoollaaççããoo

“Quando, pois, virdes o abomi-nável da desolação de que falou oprofeta Daniel, no lugar santo...”(v.15). Aqui é descrita a metadedos sete últimos anos e o fator de-sencadeante dos últimos três anos emeio. O abominável da desolaçãoconsistirá do Anticristo se assentan-do no novo templo reconstruído emJerusalém (veja 2 Ts 2.3-4).

“Porque nesse tempo haverá grandetribulação, como desde o princípio domundo até agora não tem havido enem haverá jamais. Não tivessemaqueles dias sido abreviados, ninguémseria salvo; mas, por causa dos escolhi-dos, tais dias serão abreviados” (Mt24.21-22). Esse período da históriamundial será tão terrível como ja-mais houve na terra, incomparávelem sua magnitude, a maior angús-tia já experimentada pelos homens.Se ele não fosse abreviado, ou seja,limitado a três anos e meio, nin-

guém iria sobrevi-ver. Romanos9.28 faz alusão aum juízo executa-do de forma in-tensa: “Pois o Se-nhor executará naterra a sua senten-ça, rápida e defini-tivamente” (NVI).

“Porque surgi-rão falsos cristos efalsos profetas ope-rando grandes si-nais e prodígios pa-ra enganar, se pos-sível, os próprioseleitos” (Mt24.24). Na segun-

da metade dos sete anos de Tribu-lação haverá uma terceira e últimaonda de engano. Comparado às duasondas anteriores, dessa vez o enga-no virá acompanhado de milagres esinais. Isso levará a um completoendemoninhamento da humanida-de. Apocalipse 13.13 diz: “Tambémopera grandes sinais, de maneira queaté fogo do céu faz descer à terra,diante dos homens.” Três capítulosadiante, lemos: “porque elessão espíritos de demô-nios, operadores desinais, e se diri-gem aos reis domundo inteirocom o fim deajuntá-los para apeleja do grandeDia do Deus To-do-Poderoso . . .Então, os ajunta-ram no lugar que

em hebraico se chama Armagedom”(Ap 16.14,16).

Quando Jesus diz: “Onde estivero cadáver, aí se ajuntarão os abutres”(Mt 24.28), penso que Ele está sereferindo a Jerusalém, onde será es-tabelecida a abominação desoladorae sobre a qual as nações, seduzidaspelos demônios, se lançarão.

SSeexxttoo mmaarrccoo:: eemm sseegguuiiddaa àà TTrriibbuullaaççããoo

“Logo em seguida à tribula-ção daqueles dias, o sol escurecerá, alua não dará a sua claridade, as estre-las cairão do firmamento, e os poderesdos céus serão abalados. Então, apare-cerá no céu o sinal do Filho do Ho-mem; todos os povos se lamentarão everão o Filho do Homem vindo sobreas nuvens do céu, com poder e muitaglória. E ele enviará os seus anjos, comgrande clangor de trombeta, os quaisreunirão os seus escolhidos, dos quatroventos, de uma a outra extremidadedos céus” (Mt 24.29-31). Depois dosofrimento, depois da Grande Tri-bulação, o Senhor Jesus voltarácom poder e muita glória.

ÚÚllttiimmaasseexxoorrttaaççõõeess“Aprendei, pois, a

parábola da figueira:quando já os seus ra-mos se renovam e asfolhas brotam, sa-beis que está próxi-mo o verão. Assimtambém vós: quan-do virdes todas estascoisas, sabei que estápróximo, às portas”(Mt 24.32-33). Aparábola da figueira

e as palavras: “Assimtambém vós: quando vir-

des todas estas coisas, sabeique está próximo, às por-

99Notícias de Israel, maio de 2007

A aliança de Israel com o Anticristo e o último ditador mundial provavelmente será firmada durante a Tribulação,quando então começará a perseguição daqueles que nãoaderirem a esse acordo.

O “abominável da desolação” será o período da história mundial tão terrível como jamais houve na terra, incomparável em sua magnitude, a maior angústia já experimentada pelos homens.

Se ele não fosse abreviado, ou seja, limitado a três anos e meio, ninguém iria sobreviver.

Page 10: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

tas”, significam: quando as pessoasvirem os sinais da Tribulação, en-tão a vinda de Jesus está às portas.

“Em verdade vos digo que não pas-sará esta geração sem que tudo istoaconteça” (v.34). Quem é “esta ge-ração”? A geração dos judeus quevivenciará o começo da Tribulação,que não perecerá até que Jesus te-nha vindo.

“Passará o céu e a terra, porém asminhas palavras não passarão”(v.35). Com essa afirmação Jesusconfirma tudo o que dissera ante-riormente, tudo o que anunciara,enfatizando que tudo acontecerácom certeza, que seu cumprimentoé mais certo que a duração da exis-tência do céu e da terra. A Bíblia eas palavras de Jesus se cumprirãoem todas as suas declarações.

“Mas a respeito daquele dia e horaninguém sabe, nem os anjos dos céus,nem o Filho, senão o Pai” (v.36).Dia e hora ninguém sabe, mas esta-mos na expectativa de que Ele viráem breve, pois vivenciamos o cum-primento dos sinais que antecedemos juízos de Deus!

“Pois assimcomo foi nosdias de Noé,também será avinda do Filhodo Homem” (v.37). Antes davinda de Jesusa situação serásemelhante àdos dias deNoé. Até queo dilúvio inun-dasse a terra(Gn 7.17), aspessoas nãoac r ed i t a vamque o fim esta-va próximo, ea porta da arcafoi irremedia-velmente fe-

chada por Deus (v.16). Tambémno que diz respeito à primeira faseda volta de Jesus, o Arrebatamento,as pessoas dirão que tudo está co-mo sempre foi e que vai continuarassim. Elas não contarão com o Ar-rebatamento.

“Porque, assim como foi nos diasanteriores ao dilúvio comiam e be-biam, casavam e davam-se em casa-mento, até ao dia em que Noé entrouna arca” (Mt 24.38). Sete dias de-pois que Noé entrou na arca, o di-lúvio se derramou (veja Gn7.1,4,7). Quando o Arrebatamentoda Igreja tiver acontecido, em umespaço de tem-po não especifi-cado, mas rela-tivamente cur-to, a Tribulaçãosobrevirá deforma repentinae surpreendentesobre todos osque habitam aterra.

“Portanto,vigiai, porque

não sabeis em que dia vem o nossoSenhor. Mas considerai isto: se o paide família soubesse a que hora viriao ladrão, vigiaria e não deixaria quefosse arrombada a sua casa. Por is-so, ficai também vós apercebidos; por-que, à hora em que não cuidais, oFilho do Homem virá” (Mt 24.42-44). Não permita que sua “casa”seja arrombada! Coloque sua vidaà disposição do Senhor! Entregue-se completa e totalmente a Ele,permitindo que Ele seja o guardiãode sua casa! E mais: permita serenchido pelo Espírito Santo (vejaEf 5.18)!

“Quem é, pois, o servo fiel e pru-dente, a quem o senhor confiou os seusconservos para dar-lhes o sustento aseu tempo? Bem-aventurado aqueleservo a quem seu senhor, quando vier,achar fazendo assim. Em verdade vosdigo que lhe confiará todos os seusbens. Mas, se aquele servo, sendomau, disser consigo mesmo: Meu se-nhor demora-se, e passar a espancar osseus companheiros e a comer e bebercom ébrios, virá o senhor daquele servoem dia em que não o espera e em horaque não sabe e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali have-rá choro e ranger de dentes” (Mt24.45-51). Seja um servo prudente,uma serva boa e fiel. Atente à Pala-vra Profética, esteja esperando oSenhor Jesus a qualquer momentoe distribua a Palavra como alimentono tempo certo!

1100 Notícias de Israel, maio de 2007

“Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairãodo firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então,aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povosse lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.29-31).

Pedidos: 0300 789.5152www.Chamada.com.br

Recomendamos:

Page 11: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

Sem sombra de dúvida, o rabinoIsrael Ben Eliezer (também conhe-cido como o Besht e, ainda, comoBa’al Shem Tov) deixou permanen-temente sua marca no judaísmo. Omovimento hassídico (i.e., ultra-or-todoxo) floresceu sob os seus cuida-dos. Todavia, o ensino hassídiconão é uniforme e nem todos os ju-deus concordam com o hassidismo.

Embora o hassidismo conte commuitos líderes locais, cada seita in-terna tem um líder principal que éreverenciado, chegando a ser quaseadorado, pelos seus seguidores. Tallíder é o cabeça de uma dinastia eseu cetro de autoridade normal-mente passa para o seu herdeiro di-reto ou para algum membro de suafamília.

O Besht criou o clima para essasituação com sua doutrina do ofíciode tsaddik (i.e., “justo”). Os tsad-diks, conforme se crê entre os hassi-dim, são indivíduos que possuemqualidades espirituais superiores.Diferentemente da concepção bíbli-ca quanto à pessoa do Messias, umtsaddik não é visto como alguémque trará a paz ao mundo. Pelocontrário, ele é um facilitador espi-ritual que tem a missão de auxiliaras pessoas a atuarem com felicidadeno mundo em que vivem.

Além de tsaddik, um líder hassí-dico também pode ser chamado dereb (um termo iídiche que denotarespeito), ou rebbe, ou, ainda, rav.Os hassidim consideram o ofício dorebbe superior a todos os demais.

Assemelha-se ao guruhindu porque guiaseus seguidores emtodos os aspectos davida. Ele é quem lide-ra seu povo ao deve-kut, o apego leal aDeus. O tsaddik, ourebbe, é o responsávelpor conduzir seus se-guidores à salvação desuas almas através dacomunhão com Deus.

O Ba’al Shem Tovnão deixou nenhumdocumento escrito acerca de seusensinamentos, porém, seus segui-dores escreveram muitas históriassobre ele. Quando morreu em1770, esse líder, que era muito po-pular, tornou-se lendário. Suasidéias se propagaram para centenasde comunidades localizadas por to-do o território da Polônia, Lituâniae Ucrânia. Dezenas de rebbes surgi-ram nas cidades do Leste Europeue muitos judeus os seguiam, poracreditarem que eles detinham oconhecimento do caminho deDeus.

As cidades de Satmar, Belz,Kotzk e Lubavitch deram origem eseu nome às diferentes seitas dohassidismo que conhecemos naatualidade. Chaim Shneider, espe-cialista no assunto, escreveu:

Aos poucos, mas consistentemen-te, o hassidismo veio a ser aceito co-mo uma forma legítima de se guar-dar o judaísmo. Os hassidim ficaram

conhecidos por suas práticas de de-voção religiosa, tais como, participarassiduamente do mikva [i.e., um ba-nho ou lavagem ritual]. Algumas ve-zes eles não seguem a Halacha [i.e.,as prescrições instituídas da lei judai-ca], como, por exemplo, o davnen[i.e., recitar as orações prescritas naliturgia judaica] no final de cada dia.O hassidismo se ramificou literalmen-te em centenas de dinastias rabíni-cas.1

Antes da Segunda Guerra Mun-dial, havia 3 milhões e meio de ju-deus na Polônia. Conforme escreveShneider, a “esmagadora maioria”deles era de tradição hassídica.2

Belz’e: Tradição hassídica querecebeu esse nome por causa deuma cidade situada na Galícia(atualmente, sudeste da Polônia).Foi instituída no século XIX pelorav Dov. Seu traço distintivo é queos homens casados ficam na sinago-ga o dia todo para estudar o Talmud

1111Notícias de Israel, maio de 2007

O Fascinante Mundo dos Hassidim

Parte 3Steve Herzig

Page 12: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

e para orar. Eles vivem com o sus-tento proveniente de doações gene-rosas dos homens de negócios e co-merciantes da localidade. À seme-lhança de uma dinastia, o ofício detsaddik é transmitido de pai para fi-lho ou para membros da mesma fa-mília.

Satmar: É o tipo mais tradicio-nal de hassidismo. Originou-se nu-ma distante cidade húngara, na re-gião da Transilvânia. Os satmar dis-tinguem-se como um dos poucosgrupos judaicos que não dão apoioao estabelecimento do atual Estadode Israel, por crerem que o mesmosó deverá existir quando o próprioMessias o instituir. Os satmar argu-mentam que o sionismo e a criaçãodo Estado Judeu causaram o Holo-causto, como um juízo sobre o po-

vo judeu. Assim, escreveu Shnei-der, em 1948 o líder satmar “cho-rou desconsolada-mente [...] por causado dano que a cria-ção do Estado Judeucausaria e pela gravi-dade do pecado dosjudeus ao estabele-cerem seu própriopoder governamen-tal antes da chegadado ‘Mashiach’ [i.e.,Messias] para redi-mi-los”.3 Ele tam-bém lamentou a vi-tória israelense naGuerra dos SeisDias, em 1967, “aponto de dar ordenspara impedir qual-

quer pessoa que cresse na causasionista de entrar novamente pelasportas da Shul [i.e., sinagoga]”.4 Ossatmar não recrutam membrosoriundos da comunidade judaicanão-praticante.

Lubavitch: Um dos movimen-tos hassídicos mais conhecidos é oLubavitch, também designado pelotermo Habad, um acróstico com asiniciais das palavras hokmah, binahe da’at – que, respectivamente, sig-nificam: sabedoria, discernimento econhecimento.5 Os lubavitcher dese-jam que os judeus não-praticantesretornem à comunidade judaica quepratica o judaísmo. Eles dirigemaqueles “trailers mitzvah” [i.e., trai-lers de boas ações], que são uma es-pécie de ônibus adaptado em localde adoração ambulante, com a fina-lidade de transitar pelas comunida-des judaicas à procura de homensjudeus sem chapéu para convidá-losa usar filactérios e fazer as orações.Seu último rebbe foi o famoso Me-nachem Mendel Schneerson doBrooklyn, Nova York. Muitos deseus seguidores crêem que ele é omessias, mesmo depois da mortedele em 1994.

1122 Notícias de Israel, maio de 2007

Um judeu ultra-ortodoxo acende as velas de Hanukah em Mea Shearim (bairro ortodoxo) na cidade de Jerusalém. Hanukah, que significa “dedicação”, também denominado “Festa das Luzes”, é um feriado que comemora a reconsagração dotemplo de Jerusalém, após ter sido profanado por Antíoco Epifânio.

Moishe Arye Friedman, à esquerda, um hassidim anti-sionistaextremista, aperta a mão do presidente iraniano Mahmoud

Ahmadinejad, durante uma conferência de negação doHolocausto. Ahmadinejad tem afirmado que a tentativa dos

nazistas de exterminar o povo judeu é um “mito”.

Page 13: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

Os Detratores doHassidismo

Junto com uma grande multidãode adeptos, o Ba’al Shem Tov tam-bém atraía uma quantidade de críti-cos. Eles consideravam que priori-zar a alegria e o contentamento aci-ma do estudo da Torah [i.e., oPentateuco] era um perigoso sinalde declínio do judaísmo. No entan-to, a verdade mais chocante foi a deque, após a morte do Besht, seusensinos se propagaram ainda maisrapidamente do que quando ele eravivo. Os críticos perceberam queaquele movimento precisava ser de-tido. Doze anos depois da morte doBesht,6 levantou-se um grupo deno-minado os Mitnagdim, que traduzi-do quer dizer “oponentes”.7

O movimento de oposição real-mente começou com o aparecimen-to de um rabino chamado Elijah

Solomon Zalman (1720-1797). Eleviveu em Vilna, uma cidade cogno-minada de “Jerusalém da Lituâ-nia”,8 que estava repleta de sinago-gas e universidades, situada ao nor-te da região da Polônia onde ohassidismo era mais proeminente.Apesar de seu brilhantismo (Solo-mon fez um complexo discurso tal-múdico aos sete anos de idade), elerecusou todos os títulos ou ofíciospúblicos. Ao contrário do Besht,Solomon estudava o Talmude pordezoito horas todos os dias. Eletambém estudava matérias secula-res, tais como geometria, astrono-mia e medicina. “Dizem que ne-nhum tema judaico ou geral que ti-vesse alguma relação com ojudaísmo era estranho ao conheci-mento dele”.9

Ele estudava o tempo todo e eli-minava aquilo que poderia causar

distrações,fechando asvenezianasda janela atémesmo du-rante as ho-ras do dia, eestudava àluz de velas.Finalmente,ele ascen-deu para setornar omaior líderespiritual eintelectualda comuni-dade judai-ca nos tem-pos moder-nos.

O Gaonde Vilna,como veio aser conheci-do, tinha ap reocupa -ção de que

o hassidismo se alastrasse a tal pon-to que a Torah e o Talmude fossemcompletamente substituídos pororações emocionais, experiênciasmísticas e pela Cabala (veja, a se-guir, o artigo “O Gaon de Vilna:Um Gênio Místico”).

Ele considerava a posição dotsaddik como idolatria, por acreditarque promovia a adoração de sereshumanos. Em 1772, apenas doisanos depois da morte do Besht, oGaon determinou que os hassidimdeviam ser excluídos da comunhão.Ele foi ainda mais longe, a ponto dedeclarar: “Eu permanecerei deguarda e o dever de todo judeucrente é repudiá-los [i.e., repudiaros hassidim], persegui-los com todaespécie de aflição e subjugá-los,porque eles [os hassidim] pecaramem seu coração e são como uma fe-rida aberta no corpo de Israel”.10

Ao longo dos anos, os mitnagdimse tornaram menos hostis ao hassi-dismo, porque surgiu um oponentemais implacável que ameaçava aambos. O inimigo constituía-senum grupo de homens cuja inten-ção era a de levar todo o povo ju-deu, particularmente os judeus daPolônia e da Rússia, a adotar a cul-tura européia. Tal movimento rece-beu o nome de Haskalah, ou seja,Iluminação. As pretensões do Has-kalah visavam a assimilação – umafinalidade inaceitável para qualquerjudeu praticante. O czar da Rússia,Alexandre II, governou “com mãode ferro dentro de uma luva de peli-ca”.11 Ele tentou promover umaabertura nas grandes cidades paraos judeus ricos, com o intuito deque eles investissem suas habilida-des e seu capital na ampliação docomércio. Porém, a maioria dos ju-deus não seria beneficiada com es-ses decretos do governante russo eestava muito cautelosa com a “be-nevolência” dele. Em conseqüênciada desconfiança dos judeus, inter-

1133Notícias de Israel, maio de 2007

Um “trailer-mitzvah” dos Hassidim-Lubavitch trafega pelo centrode Manhattan. Uma foto do falecido rebbe de Lubavitch, Menachem Schneerson, com seus olhos voltados para os transeuntes, é exibida na lateral da carroceria do veículo.

Page 14: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

pretada como má vontade em coo-perar, os pogroms começaram seissemanas depois que Alexandre IIIsubiu ao trono.12

Foram esses pogroms – massacresautorizados pelo governo contra osjudeus – que provocaram a imigra-ção em massa de judeus para os Es-tados Unidos, a qual proporcionoua sobrevivência do movimento has-sídico.

Embora haja muitas diferençasde opinião dentro do movimentohassídico, a respeito de questõescomo, liderança, o Estado de Israele a identidade do Messias, existe,porém, um consenso maior na con-vicção de que, para os judeus, omundanismo e a assimilação cultu-ral num mundo gentílico são amea-ças perigosas. A moderna tendên-cia, verificada nas elites de Holly-wood, de combinar o “carma” daIoga e da Nova Era com o estudoda Cabala é um exemplo dessa assi-milação perigosa que preocupa oshassidim.

Os judeus hassídicos não estãointeressados na última moda; elesquerem preservar os elementos queos distinguem, com um desejo deagradar a Deus. Deveria ser um en-

corajamento para os crentes emCristo saber que há pessoas, espe-cialmente judeus, que têm esse de-sejo. Contudo, é de partir o cora-ção, quando se constata que elescanalizam seus esforços na direçãoerrada. Viver de modo agradável aDeus não implica líderes, roupas,aparência exterior, nem comidas es-peciais. Uma vida verdadeiramentepiedosa (i.e., hassídica) só é possívela partir do momento em que o co-ração for “kosher” [“purificado”,termo hebraico que designa alimen-tos preparados de acordo com ospreceitos judaicos, ou seja, “prepa-rado adequadamente”] pela fé noMessias vivo e verdadeiro identifi-cado na Bíblia. (Israel My Glory)

Steve Herzig é diretordos ministérios norte-americanos de TheFriends of Israel.

Notas:1. Chaim Shneider,

“The Roots of Hasi-dism”, publicado nosite www.nycchitec-ture.com/WBG/wbg-jewish.htm.

2. Ibid.

3. Chaim Shneider, “The Roots of Satmar”,publicado em 5 de novembro de 2001 nosite http://hasidicnews.com/Satmar.shml.

4. Ibid.5. “Hasidism”, publicado no site http://reli-

giousmovements.lib.virginia.edu/nmrs/ha-sid.html.

6. Yehuda Klausner, “The Hasidic Rabbinate,Part 1”, publicado no jornal on-line Rav-Sig:Online Journal, através do site www.jewis-hgen.org/Rabbinic/journal/hasidic1.htm.

7. “Mitnaggedim”, publicado na EncyclopaediaJudaica, edição em CD-ROM.

8. Deborah Pessin, The Jewish People, NovaYork: United Synagogue Commission onJewish Education, 1953, vol. 3, p. 107.

9. Samuel Kalman Mirsky, “Elijah Ben Solo-mon Zalman”, publicado na EncyclopaediaJudaica, edição em CD-ROM.

10. Israel Klausner, “Elijah Ben Solomon Zal-man”, publicado na Encyclopaedia Judai-ca, edição em CD-ROM.

11. Pessin, vol. 3, p. 161.12. Ibid., vol. 3, p. 167.

1144 Notícias de Israel, maio de 2007

Pedidos: 0300 789.5152www.Chamada.com.br

Recomendamos:

Um dos centros de falsa adoraçãoNo Parque Nacional de Tel-Dã, situado na regiãomontanhosa da Galiléia, os visitantes podem vero local onde os israelitas construíram santuáriosnos lugares altos e, assim, violaram a ordem di-vina de não adorar em nenhum outro lugar alémdo templo em Jerusalém. À direita, encontra-sea plataforma sobre a qual outrora se alicerçavao santuário. No centro, pode-se identificar o lu-gar onde ficava o altar sobre o qual os holocaus-tos eram oferecidos. Os fundamentos e as pe-dras datam dos tempos antigos, mas as estrutu-ras de proteção montadas na parte superior sãorecentes. O texto de 1 Reis 12.25-33 mencionaos dois locais de falsa adoração: Betel e Dã.Confira, também, 2 Reis 10.29.

Page 15: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

Em 1665, Zvi declarou ser omessias. Toda a Europa e o OrienteMédio se alvoroçaram de alegria.Zvi contava com o maior cortejo deseguidores messiânicos da históriajudaica, desde os dias de Bar Kokh-ba, o falso messias do século II d.C.Mas a esperança morreu rapidamen-te, depois que Zvi se converteu ao is-lamismo um ano mais tarde. As másnotícias se espalharam com muitarapidez, deixando a população judai-ca em profundo abatimento.

Além disso, a condição da edu-cação judaica também não ajudava.Muitos rabinos tradicionais ofere-ciam pouquíssimo apoio espiritual,porque davam ênfase à arte do pil-pul, um método de exposição e de-bate que procura solucionar contro-vérsias religiosas através de malicio-sas interpretações de pormenoresdo Talmude.

Em meio a todo esse ambiente,no dia 23 de abril de 1720, nasceuem Vilna, na Lituânia, aquele que

muito em breve se tornaria um gi-gante espiritual dentro da comuni-dade judaica. Seu nome era ElijahBen (que significa “filho de”) Solo-mon Zalman. Ele se tornou conhe-cido pelo cognome Gaon (termoque significa “gênio”) de Vilna, ousimplesmente, HaGra (i.e., umacróstico hebraico formado pelasiniciais de cada palavra do designa-tivo “O Gaon Rabbi Elijah”).

O Gaon de Vilna é uma persona-lidade tão venerada na história ju-daica que uma coletânea de histó-rias lendárias e feitos heróicos seavolumou a respeito dele. Hoje emdia, é difícil discernir entre o que éfato e o que é ficção em tal registro.

O que sabemos, com certeza, éque ele foi uma criança brilhante,muito provavelmente um meninoprodígio dotado de uma memóriafotográfica. Dizem que ele, aos 7anos de idade, já tinha aprendidotão bem o hebraico, o Antigo Tes-tamento e o Talmude, que era ca-

paz de pregar um sermão talmúdi-co. Aos 13 anos também dominavacom destreza as principais obras li-terárias da Cabala (o misticismo ju-daico). Ele devia ter uma capacida-de mental impressionante, visto quehá uma quantidade enorme de his-tórias sobre a sua habilidade delembrar praticamente de todos ostextos sagrados, bem como de citarde cor as palavras que completamqualquer frase das Escrituras que ti-vesse sido mencionada por alguém.Ele ganhou a reputação de ser umdedicado estudante de todos os es-critos judaicos reconhecidos oficial-mente (coletivamente denominadosde Torá). Além disso, ele buscava oisolamento nos bosques ou hiberna-va em seu próprio aposento, man-tendo sempre as janelas fechadaspara evitar distrações durante o seutempo de estudo da Torá. O Gaondormia apenas duas horas por noi-te, em vários períodos de sono quenão excediam trinta minutos.

1155Notícias de Israel, maio de 2007

No alvorecer do século XVIII, os judeus da Europa tentavamse recuperar de décadas marcadas por destruição e decepção.Em 1648, um ucraniano chamado Bodgan Chmielnicki liderouuma revolta contra a Polônia. Na violência que se seguiu, as tro-pas de Chmielnicki aniquilaram mais de 100 mil judeus e destruí-ram 300 vilarejos judaicos. Centenas de judeus que perderamsuas casas perambulavam na condição de refugiados. Todavia,das cinzas surgiu um raio de esperança – um judeu de 38 anos,chamado Shabbtai Zvi.

Page 16: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

O Gaon de Vilna também estu-dou matérias seculares, tais comohistória, matemática e astronomia,mas apenas para aumentar sua ca-pacidade de compreensão da Torá.O mesmo verificou-se no estudo domisticismo judaico. Ele acreditavaque a Cabala, conhecida como “aTorá secreta”, só seria proveitosapara alguém que estivesse bem ali-cerçado na “Torá revelada”, quecompreende os escritos bíblicos etalmúdicos. O Gaon denunciou oestudo especulativo da filosofia,opondo-se, assim, a muito do que ofamoso rabino medieval Moses benMaimon (ou Maimônides, tambémchamado de Rambam, que viveu em1135-1204 d.C.), usara como basepara seus ensinos.

O Gaon ainda arrumou tempopara se casar. Quando tinha cercade vinte anos de idade, ele se casoucom uma jovem chamada Hannah.Durante seus quarenta anos de ca-samento, o casal recebeu a bençãode ter sete filhos, os quais Hannahcriou praticamente sozinha, já queo Gaon dedicou a maior parte deseu tempo aos estudos.

Nos primeiros anos de seu casa-mento, o Gaon ficou longe de sua jo-

vem esposa durante um período emque viajou por toda a Europa. Nãose sabe a razão de tal viagem e afas-tamento da família. Alguns especu-lam que ele acreditava ser um perío-do no qual intensificaria seus estu-dos da Torá. Aos 28 anos de idadeele retornou ao convívio de sua fa-mília e determinou-se a uma vida deestudo, oração e meditação, susten-tando sua família com um modestoordenado semanal que seu tataravôreservara para estudiosos da Torá.

Embora desfrutasse de umagrande reputação por suas perspica-zes concepções desenvolvidas noestudo da Torá, o Gaon de Vilnanunca aceitou nenhuma função pú-blica importante. Ele se contentouem dar instrução particular a umpequeno grupo de discípulos, que,posteriormente, disseminou suasidéias e ensinamentos. O Gaon éconhecido por ter escrito, pelo me-nos, setenta obras, que variam decomentários do Antigo Testamentoa exposições explicativas do Talmu-de. Praticamente a metade de seusensinos trata exclusivamente da Ca-bala. Suas interpretações se torna-ram tão respeitadas que ele está in-cluído entre os grandes sistematiza-dores da lei judaica.

Quando já era um senhor demeia-idade, houve um momentoem que o Gaon de Vilna decidiuemigrar para a Terra Santa. Ele dei-xou sua família e partiu sozinho,com o plano de trazer, posterior-mente, seus familiares. Todavia,por alguma razão desconhecida, oGaon nunca concluiu seu projeto deimigração e retornou a Vilna. Elenunca chegou a dar explicaçõesmais detalhadas sobre as razões de

seu retorno, exceto esta: “Eu não ti-ve permissão do céu”.1 O Gaonnunca conseguiu ir à Terra Santa,mas alguns de seus seguidores con-seguiram e lá promoveram os ensi-namentos dele.

A Batalha Contra oHassidismo

Mais para o fim de sua vida, oGaon de Vilna se envolveu em bata-lhas que não se restringiram aos au-ditórios estudantis. Ele foi preso,pelo menos duas vezes, por ajudar aseqüestrar um menino judeu que seconvertera ao catolicismo, a fim detrazê-lo de volta ao judaísmo. En-tretanto, a batalha mais importantedo Gaon foi contra alguns de seuspróprios irmãos judeus.

O hassidismo, liderado pelo seufundador, Israel ben Eliezer (tam-bém chamado de Ba’al Shem Tov,ou seja, “mestre do bom nome”;1700-1760 d.C.), teve seu início nosudeste da Polônia e rapidamentese propagou pela Lituânia, inclusiveem Vilna. Os rabinos tradicionais, aexemplo do Gaon de Vilna, viamesse novo movimento como umaameaça a tudo o que criam ser maisprecioso. Eles acreditavam que ohassidismo dividiria a comunidadejudaica. Tinham receio da ênfasedo hassidismo na fé e na emoçãoacima do estudo objetivo da Torá econdenavam a revelação dos segre-dos da Cabala aos leigos. Acima detudo, eles consideravam o hassidis-mo como um rompimento com atradição, o qual menosprezava a au-toridade dos estudiosos da Torá eseus legítimos pareceres oficiais.Em conseqüência disso, o Gaon deVilna assinou dois decretos de ex-comunhão dos hassidim, um em1772 e outro em 1781. Para os tra-dicionalistas, o Gaon de Vilna lutoucontra as ondas de elementos radi-cais do hassidismo, enquanto de-

1166 Notícias de Israel, maio de 2007

O Gaon nunca conseguiu ir à Terra Santa, mas alguns de seus seguidoresconseguiram e lá promoveram os ensinamentos dele.

Page 17: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

fendia o judaísmo tradicional e aerudição.

Em 1797, no terceiro dia de cele-bração da Festa dos Tabernáculos(do hebraico Sukkot), o Gaon de Vil-na faleceu. O funeral dele atraiu cen-tenas de pessoas. Durante muitosanos, peregrinos judeus visitaram olocal onde o Gaon foi sepultado, poracreditarem que tal ato trazia recom-pensa e benção às suas vidas.

Seus Pontos Fortes e Fracos

Como acontece com qualquerpessoa, a vida multifacetada doGaon de Vilna foi marcada tantopor pontos fortes quanto por pon-tos fracos. Por exemplo, o Gaonacertadamente deu ênfase ao valorda oração, crendo que a corretamotivação era o que realmente im-portava. Ele também estava certona conclusão de que as soluções pa-ra as necessidades espirituais do serhumano se encontram dentro daPalavra de Deus e ensinava que achave para a memorização são ossentimentos legítimos: “O caminhopara se superar uma memória fracaé aprender com amor e temor aoCéu, ou seja, a Deus [...] aquiloque para alguém é precioso, perma-nece em sua memória”.2

O Gaon cria que o caminho parase dominar uma língua maldizenteé elogiar as outras pessoas. Ele tam-bém acreditava que o meio de seconfiar em Deus e ter vitória contraos desejos carnais é aprender a estarcontente com aquilo que se tem.

Naturalmente, o Gaon se distin-guiu mais no campo do conheci-mento da Torá. Ele desejava de-monstrar a absoluta unidade entre aTorá escrita e a, assim chamada,Torá oral [i.e., transmitida oralmen-te], provando que ambas se consti-tuem numa única obra divinamentetransmitida.

Contudo, apesar de ser tão ex-traordinário, ele também cometeuerros. O Gaon falhou ao conferiraos escritos extrabíblicos a mesmaautoridade que conferia à Bíblia.

Só existe uma Torá e esta nãoinclui o Talmude, nem os escritoscabalísticos, nem quaisquer outrostextos não-canônicos. Apenas os 66livros do Antigo e do Novo Testa-mentos constituem a Palavra deDeus revelada.

O Gaon de Vilna também seequivocou em seus princípios de in-terpretação. Tal como muitos ou-tros rabinos, o Gaon acreditava quetodo texto das Escrituras, até mes-mo cada letra, possui quatro níveisde interpretação: 1) o sentido claroou literal; 2) o sentido indireto oualegórico; 3) o sentido homilético; e4) o sentido místico ou oculto. Aspassagens bíblicas geralmente sãomal entendidas ou torcidas em seusignificado devido a esse tipo dehermenêutica. Em vez disso, a regrageral de interpretação devia ser aseguinte: não procure nenhum ou-tro sentido que não o sentido claroou literal, a menos que o texto níti-da e intencionalmente apresenteuma linguagem figurada, pois, docontrário, você pode chegar a umainterpretação absurda.

Talvez o erro mais clamoroso doGaon tenha sido o apoio que deu àCabala. Ele cria piamente na auto-ridade desses escritos místicos ju-daicos e ensinava que uma pessoanão podia compreender o texto cla-ro da Torá sem estudar a Cabala.Para dizer a verdade, ele tambémacreditava que o aprendizado daCabala era um requisito necessáriopara trazer o Messias.

As convicções mís-ticas do Gaon incorpo-ravam a “Cabala Práti-ca”, o uso de amuletose encantamentos quecontinham os nomes

de Deus ou de anjos. Certa feita,quando um convertido ao judaísmofoi preso, o Gaon se ofereceu paralibertá-lo através da aplicação deseus poderes oriundos da CabalaPrática. A participação do Gaon nomisticismo judaico também envol-via a comunhão com espíritos. OGaon alegava que conhecia segre-dos que lhe foram revelados pelospatriarcas Jacó e Moisés, bem comopelo profeta Elias e por falecidos ra-binos que praticavam a Cabala. Elechegou ao ponto de admitir que,antes de completar treze anos deidade, tentara criar um golem (i.e.,uma criatura inanimada feita debarro, que recebe fôlego de vida porintermédio de rituais cabalísticos).Essa aceitação do misticismo, atre-lado às distorções das Escrituras eao relacionamento com espíritosenganadores, mancha a reputaçãodo Gaon, a qual, do contrário, seriamaravilhosa.

Na maioria dos casos, a influên-cia dos heróis intelectuais ultrapas-sa os limites da realidade e o Gaonde Vilna não é exceção. Em virtudede seu conhecimento da Torá e desua piedade, dizem que ele possuíapoderes sobrenaturais. As bênçãosque ele proferia sobre o povo su-postamente se concretizavam. Eledava a entender que podia curar oscegos, predizer o futuro e protegersua comunidade dos ataques de in-surgentes que pilhavam os vilarejos.Chegam mesmo a dizer que ele te-ria evitado que uma bala de canhãoexplodisse.

Na verdade, esses relatos inacre-ditáveis são desnecessários para queo povo judeu seja agradecido aoGaon de Vilna pelo legado que dei-

1177Notícias de Israel, maio de 2007

Veja esclarecimentos e alertas sobre a Cabalae o misticismo no artigo Os Mistérios daCabala (na edição 4/07).

Page 18: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

xou. Perante os olhos de seu povo, ele foi um modelo dediligência, dedicação aos estudos e devoção. Em pratica-mente todas as comunidades judaicas, o impacto da vidadele ainda se faz sentir até o dia de hoje. (Israel My Glory)

Bruce Scott é representante regional de The Friends of Israel em NewHope, no estado de Minnesota, EUA.

Notas:1. Betzalel Landau, The Vilna Gaon: The Life and Teachings of Rabbi

Eliyahu the Gaon of Vilna, Brooklin, NY: Mesorah Publications, Ltd.,1994, p. 161.

2. Ibid. p. 54.

1188 Notícias de Israel, maio de 2007

Pedidos: 0300 789.5152www.Chamada.com.br

Recomendamos:

O Misterioso Golem

Um dos mais estranhos ensinos da Cabala trata da criação do legendário golem. Alguns cabalis-tas alegam que, com os ingredientes certos (tal como o barro) e o pronunciamento de fórmulasapropriadas, cabalistas piedosos podem criar e dar vida a seres sem alma, semelhantes a ho-mens, chamados golems.

Golem quer dizer “substância informe”. O termo aparece apenas uma vez nas Escrituras, quan-do o salmista declara que Deus o viu quando era “substância ainda informe” (Sl 139.16). O maisfamoso golem no folclore judaico é o que foi supostasmente trazido à vida pelo rabino JudahLoew, no século XVI, em Praga. Seu golem tinha mais de 3,30 metros de altura e conta-se que eleprotegeu os judeus de Praga contra aqueles que os acusavam através do infame “libelo de san-gue”. A lenda diz que, quando o golem continuou a crescer e a agir descontroladamente, o rabi-no Loew teve que destruí-lo. Muitos acreditam que essa história foi a base para a novela Franken-stein, escrita por Mary Shelley.

Um dos mais importantes ar-tistas de todos os tempos, o gran-de mestre do barroco holandês vi-veu e trabalhou durante duas dé-cadas em sua residência no bairrojudeu de Amsterdã, de onde saí-ram seus melhores trabalhos.

Rembrandt e sua obra ocuparam ocentro das atenções do mundo das ar-tes no ano de 2006, que marcou oquarto centenário de seu nascimento.Ao redor do mundo realizaram-se ex-posições, sobretudo na Holanda, terranatal do grande pintor. Em Amsterdã,

no antigo bairro judaico de Vlooien-burg, foram realizadas várias mostras.Quatro destas aconteceram no Rem-brandthuis, o Museu da Casa de Rem-brandt, residência do artista de 1639até 1658, que foi transformada emmuseu em 1911. E, a poucas quadrasdali, o Museu Histórico Judaico tam-bém participou, com a exposição “TheJewish Rembrandt”, em novembro de2006.

Desde o século XIX, a relação entreRembrandt e os judeus tem sido alvode estudo. Os historiadores são unâni-

Rembrandt e os judeus de Amsterdã

Page 19: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

mes em afirmar que foi pela mão domestre holandês que se percebeu umavisível mudança na forma como os ju-deus eram retratados nas artes plásti-cas. Há quem chegue a considerá-loum “artista judaico”, apontando o fatode ter vivido no bairro judeu e de umterço de suas obras retratarem perso-nagens ou temas bíblicos – fato poucocomum na Holanda protestante do sé-culo XVII, pois os temas religiosos nãotinham apelo para os protestantes ho-landeses.

Um artista extraordinárioRembrandt Harmenszoon van Rijn

nasceu em 15 de julho de 1606, na ci-dade holandesa de Leyden e morreuem Amsterdã, em 1669. Na época, aHolanda protestante, finalmente livredo domínio da Espanha católica, tor-nara-se potência econômica e oásis detolerância e abrigo para os persegui-dos. A prosperidade comercial, aliadaao respeito à individualidade, incenti-vara a criatividade dos artistas, desen-cadeando um período extraordinário:a Época de Ouro da pintura holande-sa (1584-1702). A arte deixara tam-bém de ser exclusividade dos nobres eda Igreja, passando a ser artigo deconsumo da burguesia comercial; eAmsterdã se tornou o maior mercadode arte não-estatal da Europa.

Nesse período, de extraordináriaprodução artística, resplandeceu o gê-nio de Rembrandt. Pintor, desenhista egravador, tecnicamente brilhante, foium dos grandes mestres do barroco.Além de dominar a técnica do chia-roscuro – a arte de jogar com contras-tes de luz e escuridão, o mestre atingiuuma nova percepção, a profundacompreensão da natureza humana.“Não há, na história da pintura, artis-ta que tenha penetrado tão profunda-mente, com tanta dúvida e angústia,no problema das relações entre o ho-mem e seu mundo”, escreveu o histo-riador de arte Pierre Cabanne. Nin-

guém antes dele fez as coisas “co-muns” da humanidade parecerem tãoprofundamente humanas, sérias e inte-ressantes.

Calcula-se que Rembrandt tenhacriado mais de 600 pinturas, estiman-do-se que tenha feito acima de 300gravuras e 1.400 desenhos. Alguns deseus quadros são um registro vívido daAmsterdã de sua época. Seus desenhos,a maior parte dos quais não assinados,são notáveis pela soltura dos traços, aopasso que os retratos e auto-retratos evi-denciam profunda sensibilidade às sutisnuanças das emoções humanas.

Rembrandt e os judeusEm 1631, o pintor radicou-se em

Amsterdã, logo se tornando conhecidoe próspero. Em pouco tempo se alçouà posição de principal retratista daHolanda. Em 1639, já casado, com-prou uma ampla casa no número 4 darua Breestraaat, na ilhota de Vlooien-burg, entre os vários canais da cida-de. Na época, o bairro era o centrodo mercado de arte e da vida judaica,pois grande parte de seus habitantes,elementos cultos e de posses, perten-ciam à “Nação Portuguesa” (a respei-to, leia o artigo “Os judeus portugue-ses de Amsterdã”, na edição 3/07).

Todas as casas vizinhas à mansãode Rembrandt eram ocupadas ou depropriedade de ricos comerciantes se-faraditas, como Daniel Pinto, os ir-mãos Rodrigues, Isaac de Pinto, Ba-ruch Osorio, entre outros. A poucasquadras da residência do artista viviao rabino Menasseh ben Israel, a maisimportante personalidade judaica dacidade e, provavelmente, uma dasmais famosas na Europa da época.Rembrandt manteve, durante anos,profunda amizade com o rabino, in-clusive tendo ilustrado, com quatro desuas gravuras, um de seus tratados,“Piedra Gloriosa”. É famoso em todoo mundo o portrait do rabino realiza-do por Rembrandt. O fato de viver,

durante quase duas décadas, no cora-ção da vida judaica foi, sem sombrade dúvida, fundamental para moldarsua visão sobre os judeus. Vale lem-brar que em nenhum outro país da Eu-ropa Rembrandt teria tido permissãode viver no bairro judaico. Segundoalguns teóricos, ao conviver tão deperto com o judaísmo, o pintor, pro-testante que estudara a Bíblia a fundo,identificou-se com a cultura e a reli-gião judaica. Para outros, essa convi-vência próxima e diária mudou a per-cepção do artista quanto aos judeus,permitindo-lhe construir uma imagemcalcada em sua experiência pessoal enão nos estereótipos carregados dospreconceitos vigentes na Europa doséculo XVII.

Ele não apenas morava em Vlooien-burg – interagia com os vizinhos, cons-truindo laços de amizade e profissionais.E, graças a isso, o mundo pôde vislum-brar através dos seus olhos a crônica da

1199Notícias de Israel, maio de 2007

Horizonte

Rembrandt Harmenszoon van Rijn: pintor,desenhista e gravador, tecnicamente

brilhante, foi um dos grandes mestres do barroco.

Page 20: Notícias de Israel - Ano 29 - Nº 5

vida judaica na Holanda. Conta-se, porexemplo, que o comerciante de diaman-tes Alphonso Lopez costumava receber oartista em sua casa, para que ele pudes-se apreciar e estudar sua coleção deobras de arte, que incluía quadros deRafael e Tintoretto, entre outros.

Muitos de seus trabalhos foram fi-nanciados e adquiridos por patronos eclientes judeus, principalmente de ori-gem sefaradita, grandes admiradoresdas artes plásticas, em geral, e osmaiores colecionadores da época, nacidade. Entre eles, contavam-se Sa-muel D’Orta, Caspar Duente, a famíliad’Acosta Curiel e Ephraim Bueno, fa-moso médico e pensador, também re-tratado por suas mãos.

Para os historiadores da arte, a re-lação de Rembrandt com os judeus po-de ser analisada através de suas obras.Apesar de, no início da carreira, tê-losrepresentado, em alguns de seus qua-dros, segundo os estereótipos negativoscostumeiros, não há como negar que

Rembrandt mudou sua forma de retra-tá-los. O artista descartou as velhasimagens de judeus, comuns na arte oci-dental – associadas a demônios, ga-nância, maldade e traços muitas vezesanimalescos. Os judeus de Rembrandtapresentam feições delicadas e transmi-tem profundas emoções, extraídas dasvárias situações da vida humana.

Suas obras são mais do que umdocumento histórico do período – per-mitem-nos perceber, a partir da temá-tica dos seus quadros, a cultura holan-desa e as relações entre as duas co-munidades. Ao retratar os “Homensda Nação” (ou “Nação Judaica Portu-guesa”, como os judeus portugueses seauto-designavam), Rembrandt não sepresta tão somente a captá-los comoem um instantâneo fotográfico; o seuolhar adiciona e soma a riqueza resul-tante do seu convívio entre esse povo.

Abraham Bredius, uma das grandesautoridades em Rembrandt, relacionou,no conjunto da obra do pintor, aproxi-

madamente duzentos retratos dehomens, excetuando-se os queele fez de si mesmo e de fami-liares: dentre esses, trinta e setejudeus. Entre as obras do MuseuCasa de Rembrandt constam osportraits de dois líderes comuni-tários judeus, com chapéus pre-tos de abas largas, barba curta,típicos membros da aristocraciade Amsterdã no período. Essestrabalhos comprovam a diferen-ça entre a vida judaica local eno restante da Europa.

Quando retratava cenas ins-piradas nos textos bíblicos, Rem-brandt tinha sempre a preocu-pação de reproduzir de manei-ra correta a simbologia judaica.A inclusão do alfabeto hebraico,por exemplo, em qualquer umde seus trabalhos, era sempreacompanhada por minuciososestudos, visando a perfeita re-produção das letras. Rembrandtnão era o único artista holandês

do século XVII a tratar temas judaicos,mas o que o diferenciava era o cuida-do que tinha ao retratar fatos, situaçõese personagens ligados ao povo dos“Homens da Nação”. Em sua tela“Moisés quebrando as Tábuas da Lei”,diferentemente do que se costumava verem outras reproduções artísticas, Rem-brandt mostra Moisés carregando duasTábuas e não um pedaço de rocha si-mulando a divisão em duas estelas.

A coleção de obras com temáticajudaica inclui vários óleos, entre osquais os mais famosos são dois com omesmo nome: “A noiva judia”. O pri-meiro, de 1665, representa um casalque alguns acreditavam ser o poetasefardita Miguel de Barrios (1625-1701) e sua esposa, no entanto, nãohá provas definitivas disso. O outroóleo foi pintado por Rembrandt em1684. Outros quadros famosos são:“O médico judeu Ephraim Bueno”, de1647; “Retrato de um judeu” e “Velhocom gorro vermelho de pele, em umapoltrona”, ambos de 1654. O Livro deEster inspirou obras como “O Triunfode Mordechai”, de 1641, e “Hamã eo rei Assuero no banquete de Ester”,de 1660. Entre as gravuras e dese-nhos podemos destacar os retratos deMenasseh ben Israel (1636) e de Eph-raim Bueno (1647), “Abrahão e Isa-que”, 1645, “Uma sílfide ou A grandenoiva judia”, de 1635. Este último re-trata uma noiva que tem nas mãos aketubá, o contrato judaico de casa-mento. Vemos ainda a famosa gravu-ra “Judeus na sinagoga”, de 1648,em que o pintor retrata membros dacomunidade asquenazi de Amsterdã.(extraído de www.morasha.com.br)

Bibliografia:– Cabanne, Pierre, Rembrandt, Ed. Profils de

l’art Chêne, 1991.– Bockemuhl, Michael, Rembrandt, Ed. Tas-

chen.– Artigo de Ivy Judensnaider Knijnik, “Rem-

brandt e os judeus em Amsterdã: algumasconsiderações entre arte e ciência”, RevistaDigital Art, abril de 2005.

– http://www.rembrandthuis.nl, Museu Casade Rembrandt.

2200 Notícias de Israel, maio de 2007

Horizonte

Em sua tela “Moisés quebrando as Tábuas daLei”, diferentemente do que se costumava ver emoutras reproduções artísticas, Rembrandt mostraMoisés carregando duas Tábuas e não um peda-ço de rocha simulando a divisão em duas estelas.