noções gerais de física atômica e ligações químicas · exigem um formalismo matemático que...

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Capítulo 6 Sérgio Muniz e Vanderlei Bagnato Estrutura da Matéria, curso de Licenciatura em Ciências, USP/Univesp. 1 Noções gerais de física atômica e ligações químicas 1. Introdução Vimos no último capítulo que a mecânica quântica é fundamental para explicar o comportamento dos átomos. Neste capítulo, veremos como são determinadas as chamadas funções de onda, que estabelecem a distribuição espacial dos elétrons ao redor do núcleo, nos diferentes orbitais, ou estados eletrônicos (níveis de energia internos). Esses orbitais têm simetrias bem definidas que dependem dos chamados números quânticos. Esses números definem os possíveis estados dos elétrons nos átomos. Como veremos neste capítulo, a simetria desses orbitais determina o tipo de interação eletrostática entre dois átomos próximos. É isso, juntamente com algumas propriedades quânticas do elétron (que é um férmion, e deve obedecer ao princípio de exclusão de Pauli), que ultimamente define a maneira como os átomos irão se ligar uns aos outros, nas chamadas ligações químicas. A solução detalhada das ligações moleculares, do ponto de vista da mecânica quântica é, em geral, um problema bastante complexo. Por isso, neste capítulo iremos nos concentrar numa discussão simplificada e mais qualitativa dos principais conceitos e processos físicos que determinam a natureza e propriedades das ligações químicas. Mesmo sem entrar em todos os detalhes, que são importantes mas exigem um formalismo matemático que está além do escopo deste curso, acreditamos que será instrutivo você se familiarizar com a linguagem usada pela física atômica. Você verá que apenas com alguns poucos conceitos e conhecimentos físicos é possível entender como ocorre os principais tipos de ligações moleculares entre os diferentes tipos de átomos: a ligação iônica, a ligação covalente, a ligação metálica e interações dipolares que dão origem às ligações secundárias de Van der Waals e pontes de hidrogênio. 2. Princípios gerais 2.1 O papel da distribuição de cargas A ligação entre os átomos é fundamentalmente de natureza eletrostática. Isto é, devido às forças elétricas atrativas e repulsivas entres os elétrons e os núcleos dos átomos envolvidos. Para haver uma ligação é necessário que a atração supere a repulsão, criando uma situação energeticamente mais estável. Essas interações irão depender fundamentalmente da distribuição (posição) das cargas nos átomos.

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  • Captulo 6

    Srgio Muniz e Vanderlei Bagnato Estrutura da Matria, curso de Licenciatura em Cincias, USP/Univesp.

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    Noes gerais de fsica atmica e ligaes qumicas

    1. Introduo

    Vimos no ltimo captulo que a mecnica quntica fundamental para explicar o comportamento

    dos tomos. Neste captulo, veremos como so determinadas as chamadas funes de onda, que

    estabelecem a distribuio espacial dos eltrons ao redor do ncleo, nos diferentes orbitais, ou estados

    eletrnicos (nveis de energia internos). Esses orbitais tm simetrias bem definidas que dependem dos

    chamados nmeros qunticos. Esses nmeros definem os possveis estados dos eltrons nos tomos. Como

    veremos neste captulo, a simetria desses orbitais determina o tipo de interao eletrosttica entre dois

    tomos prximos. isso, juntamente com algumas propriedades qunticas do eltron (que um frmion,

    e deve obedecer ao princpio de excluso de Pauli), que ultimamente define a maneira como os tomos

    iro se ligar uns aos outros, nas chamadas ligaes qumicas.

    A soluo detalhada das ligaes moleculares, do ponto de vista da mecnica quntica , em

    geral, um problema bastante complexo. Por isso, neste captulo iremos nos concentrar numa discusso

    simplificada e mais qualitativa dos principais conceitos e processos fsicos que determinam a natureza e

    propriedades das ligaes qumicas. Mesmo sem entrar em todos os detalhes, que so importantes mas

    exigem um formalismo matemtico que est alm do escopo deste curso, acreditamos que ser instrutivo

    voc se familiarizar com a linguagem usada pela fsica atmica. Voc ver que apenas com alguns poucos

    conceitos e conhecimentos fsicos possvel entender como ocorre os principais tipos de ligaes

    moleculares entre os diferentes tipos de tomos: a ligao inica, a ligao covalente, a ligao metlica

    e interaes dipolares que do origem s ligaes secundrias de Van der Waals e pontes de hidrognio.

    2. Princpios gerais

    2.1 O papel da distribuio de cargas

    A ligao entre os tomos fundamentalmente de natureza eletrosttica. Isto , devido s foras

    eltricas atrativas e repulsivas entres os eltrons e os ncleos dos tomos envolvidos. Para haver uma

    ligao necessrio que a atrao supere a repulso, criando uma situao energeticamente mais estvel.

    Essas interaes iro depender fundamentalmente da distribuio (posio) das cargas nos tomos.

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    Como j adiantamos num captulo anterior, esses processos envolvem principalmente os eltrons,

    j que o ncleo uma distribuio compacta de cargas positivas, muito menor do que o tamanho da

    eletrosfera (regio ao redor do ncleo onde os eltrons esto distribudos). Isso no significa que o ncleo

    jamais participa da interao, sendo irrelevante. Se no fosse o ncleo no haveria o tomo, e o nmero

    de prtons determina tanto o nmero de eltrons como a distribuio dos orbitais. O que se pretende

    dizer apenas que o ncleo normalmente no participa de forma direta da ligao molecular, e que a

    maior parte da interao que define a ligao se d entre os eltrons mais externos: eltrons de valncia.

    Os eltrons de valncia so aqueles que ocupam a ltima camada (mais externa) do tomo. Os

    eltrons mais internos interagem mais fortemente com o ncleo, a quem esto mais ligados. Por conta

    disso, esses eltrons mais internos tambm ajudam a blindar a interao dos ncleos no processo, pois

    ao observarmos de longe, parece que a carga do interior menor (devido ao cancelamento parcial das

    cargas do ncleo e eltrons mais internos). Tudo isso faz com que os eltrons da ltima camada, isto , os

    eltrons de valncia, sejam aqueles que tipicamente determinam o carter das ligaes moleculares.

    tambm a simetria da distribuio espacial (orbitais) desses eltrons que ir definir o tipo de ligao

    observada. Mais adiante iremos falar um pouco mais sobre isso.

    2.2. Minimizao da energia

    Todos os tipos de ligaes moleculares surgem por conta da mesma razo fundamental: a energia

    total da ligao molecular menor (mais negativa) do que a energia de interao dos tomos isolados.

    No fosse isso no haveria a ligao qumica. Essa interao que reduz a energia total do sistema o que

    faz com que haja uma fora de atrao efetiva entre os tomos, que os mantm ligados numa distncia

    caracterstica, chamada distncia de equilbrio molecular ou distncia de ligao.

    A figura 6.1 mostra uma curva tpica da energia de interao entre dois tomos, como funo da

    distncia internuclear. Observe que para grandes distncias a interao nula, o que corresponde

    situao onde os tomos neutros esto isolados. Porm, medida que eles se aproximam a energia

    diminui at um valor mnimo, que corresponde ao ponto de equilbrio da ligao. Neste ponto pode haver

    uma sobreposio parcial das nuvens eletrnicas dos dois tomos. Se a distncia internuclear for reduzida

    ainda mais, a maior sobreposio das nuvens eletrnicas, aliada a repulso entre os ncleos positivos, faz

    com que surja rapidamente uma fora repulsiva bastante intensa que impede uma aproximao maior.

    Figura 6.1 Energia de interao entre dois tomos neutros idnticos em funo da distncia internuclear.

    Ponto de

    Equilbrio

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    3. Resultados qunticos para o tomo

    Faremos aqui uma discusso breve, e bastante geral, sobre alguns dos principais resultados de

    fsica atmica, fornecidos pela soluo da mecnica quntica para o tomo de hidrognio. Essa uma

    discusso de carter mais informativo, portanto no se preocupe em entender todos os detalhes neste

    momento. Sobretudo, no se deixe intimidar. Para acompanhar todos os detalhes apresentados aqui seria

    necessrio uma discusso mais profunda, que est alm do escopo e tempo disponvel aqui. Tente seguir

    os aspectos gerais e a origem de algumas nomenclaturas e smbolos que voc provavelmente voltar a ver

    no seu curso de qumica, onde esses princpios fsicos voltaro a ser utilizados.

    3.1 A equao de onda de Schroedinger

    Aps a proposta de Louis de Broglie, outros importantes fsicos da poca

    buscaram uma forma geral de determinar as ondas de matria. Isto , achar a

    equao geral que descreve a chamada funo de onda de um sistema

    quntico, como o eltron ao redor de um tomo, por exemplo. O primeiro a

    propor uma equao diferencial para resolver esse problema foi o fsico

    austraco Erwin Schrdinger, em 1926, pelo que viria dividir o prmio Nobel de

    1933, com Paul Dirac. Por essa razo a equao de onda recebe o seu nome.

    A soluo da equao de Schrdinger (tambm pode ser grafado como Schroedinger) uma funo

    matemtica que descreve o comportamento do sistema quntico. Apresentamos a seguir algumas das

    formas mais gerais dessa equao, para o caso onde no h dependncia temporal, mas no se preocupe

    em entender todos os detalhes agora. Voc entender melhor a notao usada nessa equao no prximo

    semestre, no curso de Fundamentos de Matemtica II. O objetivo aqui apenas apresentar-lhe a forma

    matemtica de um dos resultados mais importantes da fsica moderna.

    ( ) ( ) ( ) ( ) (Eq. 6.1a)

    [ ( )] ( ) onde [ ] (

    [ ] ( ) [ ]) (Eq. 6.1b)

    Do ponto de vista matemtico, essa equao uma equao diferencial de mltiplas variveis, da

    funo de onda ( ), que pode depender, tambm do tempo, e das variveis espaciais (coordenadas:

    ) que descrevem o sistema fsico. Em linguagem matemtica, costumase dizer que a

    funo um operador matemtico, chamado de hamiltoniano (em homenagem a William Hamilton),

    que atua sobre a funo de onda que estiver dentro dos colchetes a sua frente, e descreve a energia total

    (soma das energias cintica e potencial) do sistema fsico representado pela funo de onda.

    Um dos resultados mais importantes dessa equao est na primeira parte da equao (6.1b). Nela

    o valor E representa a energia do sistema, quando no estado ( ). No caso geral, o sistema fsico ter um

    conjunto de valores (discretos) permitidos para a energia. Para cada valor da energia, haver uma

    funo de onda associada ao estado de ndice . Em linguagem tcnica, essas energias so chamadas

    de autovalores, ou auto-energias, do hamiltoniano que descreve o sistema fsico, enquanto e as funes

    so os chamados auto-estados, ou autofunes, da equao de Schroedinger.

    Erwin Schrdinger.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/De_brogliehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Erwin_Schrdingerhttp://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1933/schrodinger-bio.htmlhttp://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1933/schrodinger-bio.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Dirachttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mecnica_hamiltonianahttp://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1933/schrodinger-bio.html

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    Para usar um exemplo mais concreto, podemos lembrar do modelo do tomo de Bohr, por

    exemplo. No caso do tomo de hidrognio, os conjuntos { } e { } formam, repectivamente, os

    conjuntos de energias e estados estveis (orbitais) permitidos ao eltron, ao redor do ncleo. Na

    verdade, pode-se demonstrar que o mdulo ao quadrado da funo de onda, ( ) , proporcional

    distribuio de probabilidade de se encontrar o eltron em algum lugar ao redor do ncleo. Isto , a forma

    geomtrica (simetria) dos orbitais depende da funo de onda , de cada estado de energia .

    3.2. Soluo quntica do tomo de hidrognio

    No caso do tomo de hidrognio, a soluo geral pode ser escrita na forma da equao (6.2).

    Neste caso, a funo de onda do eltron est expressa em coordenadas esfricas, por ser mais

    conveniente. Os ndices { da funo de onda indicam um conjunto de nmeros inteiros que

    especificam os diferentes estados internos (possveis) do tomo de hidrognio. Esse conjunto de nmeros

    recebe a denominao de nmeros qunticos, e cada um deles tem um significado fsico importante.

    ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) (Eq. 6.2).

    O primeiro ndice, , o chamado nmero quntico principal, que indica o nmero da camada

    eletrnica onde se encontra o eltron. Quanto maior o nmero mais afastado est o eltron do ncleo,

    e, portanto, menor sua energia de ligao ao ncleo. No caso mais simples, como visto no modelo de

    Bohr, esse o nmero que define a energia,

    , do estado quntico com .

    O segundo ndice, , indica o momento angular do eltron, que tambm quantizado no modelo

    de Bohr. O terceiro ndice, , indica a projeo do vetor momento angular, na direo do eixo-z, e o

    ltimo ndice, , refere-se ao spin do eltron. A equao (6.2) indica apenas que a funo de onda pode

    ser escrita numa forma fatorada, isto , como um produto simples de funes matemticas que s

    dependem de uma das variveis espaciais e dos nmeros qunticos indicados. Assim, a funo ( ) s

    depende da coordenada (distncia radial do ncleo), enquanto as funes ( ) e ( ) s

    dependem das coordenadas angulares, e, finalmente, a funo ( ) s depende do spin. O coeficiente

    apenas uma constante numrica que depende conjunto de nmeros qunticos { .

    Existem regras bem definidas para os possveis valores permitidos a esses ndices, e para cada um

    deles existe um estado quntico do sistema, onde o eltron pode existir. Dessa forma, o ndice do

    momento angular s pode assumir valores ( ) . Como veremos logo mais esse nmero

    tem um papel importante na definio da simetria (forma geomtrica) dos orbitais, e convencionou-se

    chamar os diferentes estados de momento angular de estados . Essa nomenclatura tem

    razes histricas e recebe a denominao de notao espectroscpica. Para uma dado valor de , os

    valores de ficam restritos faixa de nmeros inteiros no intervalo . Por fim, o

    nmero quntico de spin, no caso do eltron, s pode tomar dois valores discretos: - e . Esse ltimo

    nmero quntico no afeta a forma espacial do orbital, mas determina como o orbital ocupado, atravs

    do princpio de excluso de Pauli que ser discutido mais adiante.

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    3.3. Orbitais atmicos

    Para entender como a dependncia espacial (simetria) dos diferentes estados do tomo de

    hidrognio, descrevemos abaixo alguns dos resultados do problema real. No se preocupe com a aparncia

    das funes matemticas, que so solues da Eq. (6.1). Nosso objetivo aqui apenas mostrar-lhes como

    essas coisas esto relacionadas.

    Para simplificar um pouco a discusso, ns indicaremos abaixo apenas a parte da funo de onda

    que depende das coordenadas espaciais, ignorando, por hora, a dependncia com o spin. Assim as funes

    de ondas indicadas abaixo trazem apenas os trs primeiros nmeros qunticos: ( ). A constante

    o chamado raio de Bohr, que representa o tamanho do estado fundamental ( ) do tomo de

    hidrognio. O valor de aproximadamente meio angstrom: .

    ( ) (

    ) (Eq. 6.3a).

    ( ) (

    ) (

    ) (Eq. 6.3b).

    ( ) (

    ) (

    ) ( ) (Eq. 6.3c).

    ( ) (

    ) (

    ) ( ) (Eq. 6.3d).

    A partir da funo de onda, podemos calcular a densidade de probabilidade de encontrar o

    eltron, numa regio em torno de um elemento de volume , atravs da relao abaixo:

    ( ) ( ) ( ) (Eq. 6.4).

    A expresso acima descreve o diferencial de probabilidade (cuja soma total deve ser normalizada)

    em todo o espao (tridimensional). Para deixar isso mais claro, vamos observar como a densidade de

    probabilidade ao longo da coordenada r, isto , a distncia radial do ncleo. Neste caso, podemos fazer a

    integrao sobre as variveis angulares e escrever simplesmente:

    ( ) (Eq. 6.5).

    Tomando como exemplos os estados 1s ( =1, =0, =0 ) e 2s ( =2, =0, =0),

    podemos ver, na figura 6.2, as regies onde mais provvel encontrar os eltron ao redor do ncleo. Note

    que para o estado 1s, isso corresponde ao valor : o raio de Bohr, com esperado.

    Figura 6.2: Distribuio de probabilidade radial das funes de onda (no normalizada) do hidrognio.

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    A figura 6.3 mostra algumas ilustraes tridimensionais de orbitais do tomo de hidrognio. Observe que

    os orbitais tm simetria esfrica, enquanto os orbitais tm uma simetria diferente, parecida com um

    haltere, ao longo de cada direo espacial. Isso d origem denominao de orbitais .

    Figura 6.3: Densidade de probabilidade espacial das funes de onda do eltron no tomo de hidrognio.

    importante perceber que a partir da densidade de probabilidade, podemos facilmente

    determinar a distribuio espacial de cargas eltricas, que fundamental para calcular a interao (fora)

    eletrosttica. Neste caso, basta multiplicarmos a densidade de probabilidade pela carga elementar do

    eltron. por isso que dissemos que a simetria dos orbitais (dado pela teoria quntica) determina a

    interao eletrosttica que mantm os tomos ligados numa molcula, e, assim, estabelece as

    propriedades qumicas e fsicas das ligaes moleculares. isso que dar origem, por exemplo, aos

    diferentes tipos de hibridizao que vocs iro estudar em qumica orgnica, no prximo semestre.

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    3.3. Princpio de excluso de Pauli

    No primeiro captulo deste curso ns falamos que o spin um atributo quntico da matria,

    segundo o qual podamos classificar as partculas como bsons ou frmions. Naquela ocasio, tambm

    mencionamos que isso tinha consequncias importantes no mundo microscpico dos tomos e partculas

    elementares, mas at agora no usamos o fato do eltron ser um frmion. Como veremos agora isso tem

    uma consequncia fundamental na maneira que os eltrons se distribuem nos orbitais atmicos, e tambm

    na forma com os tomos se ligam, para formar as molculas.

    De uma forma resumida, esse efeito pode ser expresso no chamado princpio de excluso de Pauli,

    que diz que dois frmions idnticos no podem ocupar o mesmo orbital (estado) simultaneamente. A

    forma mais rigorosa desse princpio quntico tem a ver com as propriedades de simetria da funo de

    onda de partculas idnticas, numa mesma regio do espao, como dentro de um tomo ou molcula, por

    exemplo. Outra forma, mais prtica, de expressar esse princpio dizer que dois eltrons no mesmo

    tomo (molcula) devem ter seus quatro nmeros qunticos diferentes. Como os trs primeiros nmeros

    representam o orbital (estado) eletrnico, isso equivale a dizer que para ocupar o mesmo orbital dois

    eltrons devem ter spins diferentes. Por sua vez, como o spin do eltron s pode assumir dois valores,

    disto resulta que a ocupao mxima de um orbital de dois eltrons, com spins antiparalelos.

    Figura 6.4 Interao molecular entre dois tomos, levando em conta o spin dos eltrons.

    Fisicamente, uma forma de entender como esse princpio se manifesta numa ligao molecular

    observar a energia de interao entre dois tomos idnticos que se aproximam, mas desta vez incluindo o

    efeito do spin. Neste caso, indicado na figura 6.4, pode-se perceber que dependendo do estado de spin

    dos eltrons a energia de interao poder diminuir, produzindo uma configurao mais estvel, ou

    sempre aumentar, impedindo a aproximao e formao de uma molcula estvel.

    4. Tipos de ligaes moleculares

    Como acabamos de ver, a simetria dos orbitais atmicos depende da funo de onda do estado em

    que se encontra o eltron no tomo: o chamado estado eletrnico. Essa simetria define a distribuio de

    carga ao redor do ncleo. Ao contrrio da mecnica clssica, a mecnica quntica fornece uma

    Interao para autofuno

    com spins paralelos

    Interao para autofuno

    com spins antiparalelos

    Ponto de

    Equilbrio

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    distribuio contnua de cargas (eltrons) em torno do tomo, ao invs de rbitas eletrnicas bem

    definidas, como no modelo de Bohr ou Rutherford. Isso fornece, finalmente, a explicao da estabilidade

    do tomo, pois na viso quntica o eltron no mais uma partcula em movimento circular (acelerado)

    numa rbita fixa, que deveria emitir radiao at decair no ncleo.

    Segundo a teoria quntica, o eltron comporta-se como uma onda delocalizada ao redor do

    ncleo, com uma distribuio de probabilidade contnua, cuja forma geomtrica depende da funo de

    onda, que define o orbital. Na mecnica quntica podemos apenas falar em densidades de probabilidades

    e no mais em posio e trajetria definidas. O eltron s volta a se comportar como uma partcula, com

    posio definida, quando tentamos realizar alguma medida que revele a sua posio. Nesse momento, ao

    realizar uma medida de posio, diz-se que a funo de onda do eltron colapsa, isto , manifesta-se

    fisicamente, com uma partcula cuja posio segue a distribuio de probabilidade da funo de onda.

    Assim, a soluo da equao de Schroedinger que determina a simetria dos orbitais e, portanto,

    como ser a interao eletrosttica que, em ltima anlise, determina o tipo de ligao qumica que ir

    correr entre dois (ou mais) tomos, formando as molculas.

    Ocorre, porm, que em geral a soluo da equao de Schroedinger pode ser bastante difcil.

    Embora um pouco complicada, a soluo para o tomo de hidrognio possvel mesmo analiticamente (de

    forma matematicamente exata, sem grandes aproximaes). Esses resultados concordam muito bem com

    os resultados experimentais, obtidos por espectroscopia (raias espectrais) do hidrognio.

    Para tomos com mais de um eltron, a soluo passa a ser complicada pela forte interao entre

    os eltrons, impedindo uma soluo analtica completa. Utilizam-se, ento, aproximaes ou ainda

    solues numricas, calculadas no computador. Essas solues j so complicadas mesmo para o segundo

    tomo mais simples, que o tomo de hlio. Num caso geral, de uma molcula com muitos tomos, a

    nica soluo vivel, do ponto de vista quntico, utilizar solues numricas, no computador.

    Ainda assim, mesmo para tomos com vrios eltrons, muito do que aprendemos sobre o tomo de

    hidrognio continua valendo. Em particular, a simetria dos orbitais essencialmente preservada, embora

    os parmetros numricos modifiquem-se um pouco, de modo que possvel ainda entender as ligaes

    moleculares em termos dos orbitais atmicos dos eltrons mais externos.

    4.1. Ligao inica.

    A ligao molecular entre os tomos depende essencialmente das

    caractersticas dos eltrons de valncia. Esses eltrons que realizam o contato

    entre os tomos, e, portanto, so os mais importantes nas ligaes qumicas.

    Dependo da distribuio eletrnica nos nveis (estados) mais internos, os eltrons

    de valncia podem sofrer um efeito de blindagem maior da carga efetiva do

    ncleo, o que resulta numa energia de ligao menor com o ncleo atmico. Em

    alguns tomos (como os metais alcalinos, da primeira coluna da tabela peridica dos elementos), h uma

    probabilidade maior do tomo ceder um eltron numa ligao qumica, enquanto em outros tomos (os

    no-metais, da coluna 7 da tabela peridica, por exemplo) h uma tendncia maior de receber um

    eltron extra numa ligao. A essa caracterstica fsica, associada e energia de interao dos eltrons de

    valncia com o ncleo, d-se o nome de afinidade eletrnica ou eletronegatividade.

    A eletronegatividade est relacionada ao potencial de ionizao, que, por sua vez, a energia

    necessria para remover um eltron do tomo, produzindo um on positivo. Embora essa tenha um

    significado fsico bem definido, comum, especialmente na qumica (cincia especializada no estudo e

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    controle das ligaes moleculares), utilizar-se o conceito de eletronegatividade seguindo a escala de

    intensidade proposta por Linus Pauling. Essa escala de afinidade eletrnica indicada na figura 6.5.

    A eletronegatividade est associada ao raio atmico que, assim como vrias propriedades atmicas, tem

    comportamento peridico como funo do nmero atmico. Na verdade, todas essas caractersticas

    peridicas, inicialmente observadas empiricamente, podem ser explicadas hoje pela mecnica quntica.

    Mais eletronegativo Menos eletronegativo

    Grupos

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

    Per

    odos

    1 H

    2.20

    He 0

    2 Li

    0.98 Be

    1.57

    B 2.04

    C 2.55

    N 3.04

    O 3.44

    F 3.98

    Ne

    3 Na

    0.93 Mg

    1.31

    Al 1.61

    Si 1.90

    P 2.19

    S 2.58

    Cl 3.16

    Ar

    4 K

    0.82 Ca

    1.00 Sc

    1.36 Ti

    1.54 V

    1.63 Cr

    1.66 Mn

    1.55 Fe

    1.83 Co

    1.88 Ni

    1.91 Cu

    1.90 Zn

    1.65 Ga

    1.81 Ge

    2.01 As

    2.18 Se

    2.55 Br

    2.96 Kr

    3.00

    5 Rb

    0.82 Sr

    0.95 Y

    1.22 Zr

    1.33 Nb 1.6

    Mo 2.16

    Tc 1.9

    Ru 2.2

    Rh 2.28

    Pd 2.20

    Ag 1.93

    Cd 1.69

    In 1.78

    Sn 1.96

    Sb 2.05

    Te 2.1

    I 2.66

    Xe 2.60

    6 Cs

    0.79 Ba

    0.89 I

    Hf 1.3

    Ta 1.5

    W 2.36

    Re 1.9

    Os 2.2

    Ir 2.20

    Pt 2.28

    Au 2.54

    Hg 2.00

    Tl 1.62

    Pb 2.33

    Bi 2.02

    Po 2.0

    At 2.2

    Rn 2.2

    7 Fr 0.7

    Rb 0.9

    II Rf Db Sg Bh Hs Mt Ds Rg Cn Uut Uuq Uup Uuh Uus Uuo

    I: Lantandeos

    La 1.1

    Ce 1.12

    Pr 1.13

    Nd 1.14

    Pm 1.13

    Sm 1.17

    Eu 1.2

    Gd 1.2

    Tb 1.1

    Dy 1.22

    Ho 1.23

    Er 1.24

    Tm 1.25

    Yb 1.1

    Lu 1.27

    II: Actindeos

    Ac 1.1

    Th 1.3

    Pa 1.5

    U 1.38

    Np 1.36

    Pu 1.28

    Am 1.13

    Cm 1.28

    Bk 1.3

    Cf 1.3

    Es 1.3

    Fm 1.3

    Md 1.3

    No 1.3

    Lr 1.3

    Figura 6.5 Escala de Eletronegatividade de Pauling para os Elementos Qumicos.

    Na escala de Pauling, o valor mximo da eletronegatividade 4,0, no tomo de flor, com maior afinidade eletrnica. O valor mnimo de 0,7 e corresponde ao tomo de frncio (Fr), que atrai menos os eltrons de valncia.

    Do ponto de vista da qumica, ao combinarmos dois elementos, e havendo as condies

    necessrias, a diferena das respectivas eletronegatividades ir determinar o tipo de ligao entre eles.

    Se a diferena de eletronegatividade for maior que 1,9, usando a escala de Pauling, teremos um tipo de

    ligao chamada: ligao inica. Este tipo de ligao ocorre geralmente entre um metal e um no-metal.

    Os compostos inicos apresentam pontos de ebulio e de fuso altos, so duros, frgeis (quebradios) e

    maus condutores de eletricidade e calor. No entanto, possuem estruturas moleculares ordenadas, que

    podem formar cristais. Quando derretem ou se dissolvem em solventes polares so bons condutores de

    eletricidade. Alguns exemplos so os sais: Cloreto de sdio (NaCl) e brometo de potssio (KBr).

    Na ligao inica, devido a grande diferena de afinidade eletrnica entre os tomos, h uma

    transferncia de carga efetiva de um tomo, que cede um eltron e torna-se um on positivo, para o

    outro, que recebe o eltron extra, tornando-se um on negativo. A ligao inica tem uma caracterstica

    bem peculiar: ela no direcional. Ela se caracteriza pela atrao eltrica entre os ons (cargas), e como

    consequncia disso, permite a formao de estruturas moleculares rgidas, chamados cristais inicos, onde

    um ction (on positivo) atrai o mximo nmero de nions (on negativos) ao seu redor, produzindo um

    ordenamento geomtrico caracterstico, que depende do tamanho relativos dos ons.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Linus_Pauling

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    10

    4.2. Ligao covalente.

    Vamos agora considerar outro importante tipo de ligao molecular, que ocorre mesmo entre dois

    tomos iguais (de mesma eletronegatividade). Nesse tipo de ligao tambm ocorre a interao

    eletrosttica entre as cargas eltricas do tomo, da forma indicada na figura 6.1, mas no h uma

    transferncia efetiva de carga de um tomo para outro. Ao invs disso, h um compartilhamento de um

    (ou mais) eltron(s) entre dois tomos. Neste caso, pode-se pensar que a nuvem eletrnica

    (compartilhada) fica distribuda numa regio entre os dois tomos, de modo a atrair os ncleos em sua

    direo, mantendo-os ligado atravs da interao eletrosttica entre essas cargas.

    Assim, se a diferena de eletronegatividade entre os elementos for menor que 1,9 podemos ter

    uma ligao covalente. Este tipo de ligao ocorre entre elementos no-metlicos. Os compostos

    covalentes apresentam uma grande variedade de pontos de fuso e ebulio. So isolantes trmicos e

    eltricos. E so formados por molculas com geometrias definidas. Alguns exemplos so: Metano (CH4),

    amnia (NH3), hidrognio (H2), nitrognio (N2), e oxignio (O2).

    Ao contrrio da ligao inica, a ligao covalente altamente direcional, e est diretamente

    ligada a simetria espacial dos orbitais atmico-moleculares dos eltrons envolvidos na ligao. Como nesta

    ligao a nuvem eletrnica localiza-se preferencialmente entre os ncleos, ao invs de ao redor de um dos

    ncleos, como na ligao inica, isso faz a ligao covalente ser mais direcional. Esse tipo de ligao

    pode ocorrer entre vrios tipos de orbitais atmicos, que se deformam a fim de produzir os orbitais

    moleculares hibridizados, como ocorre nas ligaes chamadas , que pode ocorre entre

    eltrons nos orbitais atmicos do tipo e .

    Tambm podem ocorrer mais de uma ligao entre o mesmos tomos, levando s chamadas

    ligaes duplas e triplas, como ocorre entre tomos de nitrognio e carbono. Nestas ligaes mltiplas,

    que envolvem orbitais , aps a formao da ligao , as demais ligaes resultam de deformaes dos

    orbitais atmicos em novos orbitais moleculares que recebem a denominao de ligao . Esses tipos de

    ligaes so muito importantes na qumica orgnica (consequentemente, tambm para a biologia) e,

    provavelmente, sero revistos no curso de qumica, no prximo semestre.

    Na ligao covalente entre tomos diferentes, dependendo das eletronegatividades, pode haver a

    formao de molculas polares. Essas molculas tm uma distribuio de cargas que lhes confere um

    dipolo eltrico permanente. Alm dos efeitos de ligaes secundrias (que sero vistos mais adiante), a

    presena desses dipolos afeta propriedade fsicas importantes, como a solubilidade dessas molculas em

    diferentes tipos de solventes. Em geral, molculas apolares no so solveis em solventes polares e vice-

    versa. A figura 6.6 mostra dois exemplos de molculas covalentes: uma polar (H2O) e outra apolar (H2).

    a) b)

    Figura 6.6 Exemplos de ligaes covalentes: (a) apolar e (b) polar.

    H2

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    Eltrons num metal

    Ligaes covalentes so bastante comuns entre compostos orgnicos, envolvendo o tomo de

    carbono, que possui trs orbitais semipreenchidos, isto , com apenas um eltron em cada orbital. Esses

    compostos tm uma propriedade importante, pela qual convertem uma ligao dupla (entre tomos de

    carbono) numa ligao simples, o que lhes permite criar cadeias moleculares gigantescas, denominadas

    cadeias polimricas. A ligao forte nessas cadeias ocorre entre os tomos de carbono. Por ser uma

    ligao forte, ela permite a deformao (plstica) dessas cadeias sem rompimento da ligao qumica. Isto

    faz que cadeias de polmeros se toram e contoram facilmente, conferindo-lhes grande flexibilidade, o

    que tem importante aplicao tecnolgica.

    4.3. Ligao metlica.

    H certos tipos de elementos que quando agregados promovem uma

    completa delocalizao da funo de onda dos eltrons de valncia. Essa

    delocalizao de carga faz com que os eltrons mais externos participem da

    interao com quase todos os tomos do material, ou seja, os eltrons

    comportam-se como se pertencessem a todos os tomos desse agregado

    molecular, ao mesmo tempo. como se a funo de onda abrangesse

    todo o slido. isso que ocorre nos metais, e graas a essa grande mobilidade

    eletrnica que os metais so tipicamente bons condutores de eletricidade.

    Por isso, esse tipo de ligao molecular chamada ligao metlica.

    Ao contrrio da ligao inica, onde a funo de onda localizada ao redor de cada ncleo e a

    interao majoritariamente eletrosttica, ou da ligao covalente, onde a funo de onda tem

    densidade de probabilidade mxima entre dois ncleos, o que lhe d um carter direcional, a ligao

    metlica produz uma funo de onda bastante delocalizada, o que faz com os eltrons se comportem

    quase com um gs livre. Na verdade, esse gs de eltrons mantido junto ao metal, devido

    interao com os ncleos (caroos) positivos, que por sua vez tendem a formar uma estrutura molecular

    regular e peridica, que recebe o nome tambm forma um retculo cristalino caracterstico dos metais.

    Devido as caracterstica desse tipo de ligao, os metais apresentam propriedades bem especficas

    de alta condutividade eltrica e trmica, maleabilidade e etc., que tm importantes aplicaes

    tecnolgicas. Por exemplo, ao deformar um slido esperado que ao aplicar uma tenso maior que a

    fora de ligao molecular, o material se rompe atravs de uma fratura dctil, tpica de materiais

    cermicos e outros. No caso dos metais, a nuvem eletrnica capaz de acompanhar as deformaes,

    produzindo um escoamento da distribuio de carga, antes da ruptura.

    Quanto mais fracamente ligados esto os eltrons externos, menor ser a rigidez do metal

    formado. Assim, os metais alcalinos (Na, K, Cs, Rb) apresentam ligaes metlicas mais fracas, como

    demonstrado pelo baixo ponto de fuso e sublimao, e grande maleabilidade do metal quando na forma

    slida. J os chamados metais de transio, com orbitais incompletos (Fe, Ni, Ti e W), no apresentam

    uma completa delocalizao de seus eltrons e suas ligaes so mais fortes, j apresentando um pouco

    de carter covalente. Como resultado, esses metais tm propriedades mecnicas bem diferentes: so mais

    rgidos e resistentes, alm de terem pontos de fuso e sublimao bastante elevados.

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    4.4. Ligaes secundrias: Van de Waals e pontes de hidrognio.

    As ligaes discutidas acima constituem o

    corpo principal das ligaes moleculares existentes nos

    materiais. H, porm, outro tipo de ligao muito

    menos intensa que as anteriores, que ocorre sem a

    transferncia ou compartilhamento de eltrons. Essa

    ligao surge devido a interao eletrosttica entre os

    dipolos moleculares, induzidos pela deformao da

    distribuio de cargas quando os tomos se

    aproximam. Elas so chamadas de secundrias por

    serem muito mais fracas que as anteriores,

    denominadas primrias. Existem dois tipos principais

    de ligaes secundrias, dependendo dos dipolos

    serem permanentes ou temporrios.

    Um tipo de ligao secundria que ocorre com dipolos temporrios a que ocorre nos gases

    nobres. Quando, por exemplo, dois tomos de argnio (Ar) se aproximam qualquer ocorrncia de

    flutuaes, faz com que ocorra uma leve interao dipolar, que resulta numa induo mtua entre os

    dipolos.

    a) b)

    Figura 6.7 Exemplos de ligaes do tipo ponte de hidrognio: (a) molculas de gua e (b) molcula de DNA, onde as pontes de hidrognio tem papel importante na formao de hlice-dupla.

    Outro tipo de ligao secundria, muito importante para a vida, aquela que surge entre

    molculas covalentes que apresentam dipolos eltricos permanentes. Isso ocorre, por exemplo, com a

    molcula de gua, onde os eltrons do hidrognio ficam mais presos (prximos) ao tomo de oxignio,

    criando uma regio mais negativa em torno do oxignio e positiva no hidrognio, causando um dipolo

    eltrico permanente, associado s molculas polares, como vimos antes (figura 6.6). Quando duas

    molculas de gua de aproximam, devido interao eletrosttica entre os polos eltricos das

    molculas. Isso gera uma espcie de ligao entre as molculas, denominada de pontes de hidrognio.

    Esse tipo de ligao bastante comum, e muito importante, nos materiais orgnicos, como os polmeros

    (plsticos, por exemplo), e tambm em molculas de valor biolgico, com protenas o prprio DNA. No

    caso do DNA, essas ligaes tm papel importante na sua estrutura molecular (como na formao da

    hlice-dupla), que determina muito da funo biolgica dessas estruturas.

    Ligaes de Van de Waals entre tomos de carbono em diferentes planos moleculares da grafita.

  • Simulao da formao de uma ligao covalente

    Clique aqui para iniciar (Requer Acrobat Reader)

    Esta animao tem propsito apenas didtico e no tem inteno de ser precisa.

    Produzida para o curso de Licenciatura em Cincias USP-Univesp, por Srgio R. Muniz (Junho/2012).

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