nº 362 edição brasil

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OS GRUPOS ECONÔMICOS E SUA FORTALEZA ANTES CONDENADOS À MORTE, OS CONGLOMERADOS FAMILIARES CONTINUAM A DOMINAR O CENÁRIO CORPORATIVO DA AMÉRICA LATINA JORGE GERDAU ELIODORO MATTE CARLOS SLIM RICARDO SALINAS PLIEGO ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Nº 362 www.americaeconomia.com.br 11 DE AGOSTO, 2008 R$ 10 BRASIL EIKE BATISTA O MIDAS PERDEU O TOQUE? ARGENTINA COMO SE MANIPULA A INFLAÇÃO O O O O O O O O

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AméricaEconomia: Revista de Economia e Negócios Latino-americana

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OS GRUPOS ECONÔMICOSE SUA FORTALEZA

ANTES CONDENADOS À MORTE, OS CONGLOMERADOS FAMILIARES CONTINUAM A DOMINAR O CENÁRIO CORPORATIVO DA AMÉRICA LATINA

JORGE GERDAU ELIODORO MATTE CARLOS SLIM RICARDO SALINAS PLIEGO ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Nº 362

www.americaeconomia.com.br11 DE AGOSTO, 2008

R$ 10

BRASIL

EIKE BATISTAO MIDAS PERDEU O TOQUE?

ARGENTINACOMO SE MANIPULA A INFLAÇÃOOOOOOOOO

JOGOS OLÍMPICOS

51 PÓDIO ESQUIVOAmérica Latina quer vencer, mas a falta de boas políticas espor-tivas é um obstáculo para seus talentos.

ESPECIAL GRUPOS ECONÔMICOS24 Introdução26 Os maiores grupos econômicos da América

Latina33 Opinião: Os grupos e a intervenção do

governo, por Ben Ross Schneider

LATI

NST

OCK

4 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

NESTA EDIÇÃONº 362 / 11 DE AGOSTO, 2008

8 Índice10 Memo11 Cartas12 Pistas15 Editorial17 Movimentos

SEÇÕES50 Ferramentas75 Capital Aberto79 Negócio Fechado80 Raio X81 Visões82 Linha Direta

NEGÓCIOS

34 Fator “X” à provaEike Batista enfrenta as primeiras tur-bulências e dúvidas, mas não deixa de crescer.

37 Conquista inversaBanco equatoriano Pichincha querdesembarcar na Espanha.

38 Em construçãoGrupo de Carlos Slim quer transformar as carências do México em oportunidade.

40 Papel principal

O chileno Matte continua a expandir no exterior, agora com o banco Bice.

42 Delfi m do Pacífi coPeruano quer converter sua família em um importante grupo da região.

44 Energia concentradaNovo braço do Sindicato Antioqueño se concentra na eletricidade.

47 Visão verdeEmpresa transforma seu próprio resíduo em fonte de energia.

PMES GLOBAIS48 Banho de sol

Empresa brasileira se expande para o Chile para explorar mercado da ener-gia solar.

DEBATES

55 Senha para WashingtonQuestão trabalhista e efi cácia política explicam resultados de Peru e Colômbia na busca de um tratado comercial.

58 Números que mentemDados infl acionários contraditórios le-vam a confl itos sindicais na Argentina.

63 Problema de pesoNo México, a obesidade ameaça a saúde dos habitantes e do gasto fi scal.

65 EntrevistaDionisio Borda, ministro da Fazenda do go-verno de Fernando Lugo, do Paraguai.

66 PanorâmicaPara a América Latina, o que importa é o que ocorre na China, não nos EUA, diz Javier Santiso.

67 5a ColunaSegundo Susan Kaufman, experiência da Argentina ilustra as limitações do populismo autoritário.

FINANÇAS

69 Doce renascer

Baixos preços dos imóveis nos Estados Unidos geram boas oportunidades de investimento.

73 OpiniãoOs esforços para salvar o Freddie Mac e a Fannie Mae nos Estados Unidos implicarão em alto custo, diz John Edmunds.

I-BIZ

76 Elétrons, não octanos

Os motores híbridos elétricos ganham potência: só falta que seu custo se adapte ao bolso dos latino-americanos.

78 Clics & ChipsDerrote os vilões do videogame somente com o pensamento, graças ao capacete que registra a atividade do cérebro.

6 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

americaeconomia.com / 2.0O site de negócios globais da América Latina

EM qual país prefere investir em 2008?

AINDA NÃO LEU? RECEBA O QUE ACONTECE NA ECONOMIA E NOS NEGÓCIOS DA REGIÃO EM SEU E-MAIL. INSCREVA-SE.

PESQUISASão Paulo e Rio de Janeiro ganharam a liderança absoluta na lista das cidades mais caras da região segundo o ranking de custo

de vida 2008 elaborado pela consultoria Mercer. As duas metrópoles são seguidas de longe por Bogotá. No outro extremo do ranking se encon-tra a capital paraguaia, Assunção, como a cidade mais barata em nível mundial. São Paulo e Rio registraram altas signifi cativas em relação ao estudo anterior. Entre os motivos desse aumento indicados pela consultoria está a valorização do real em cerca de 18% em 2008, que provocou a alta no custo de vida. O relatório completo pode ser encontrado em www.americaeconomia.com

51%36% 13%

PERU

BRASIL COLÔMBIA

A empresa sueca de telecomunicações móveis Ericsson já não se satisfaz apenas com

novas tecnologias. Também quer ser líder em comunicações sustentáveis. Recentemente, inaugurou a primeira radio-estação de telefonia celular alimentada por energia solar na América Latina. www.americaeconomia.com

CHAMADA SOLAR

“Não esperamos que os alumos terminem seu MBA para ajudá-los

a buscar trabalho”. Quem garante é Nuria Guilera, diretora de marketing do MBA da espanhola Esade. Na Esade, desde o início do programa são organizadas entrevistas entre empresas e os alunos in-teressados em cada área, para facilitar o processo de seleção. “O MBA é um acelerador de qualidade profi ssional”, afi rmou Guilera em entrevista à AmericaEconomia.com.

DESDE O COMEÇO

AS MAIS CARAS

8 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

ÍNDICE DE EMPRESASOS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÃO CITADAS. EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

aAbeceb ............................ 59Absormex ....................... 41AIG ................................. 37Alaskan Star ................... 36Alicorp............................ 42Almacenes Éxito ............. 44Alstom ............................ 38Ambev Perú .................... 43América Móvil ............... 38Angelini .......................... 41Anglo American ............. 35Arseg .............................. 45Associated Estates

Realty Corporation .... 71

bBanchile Inversiones ....... 41Banco de Crédito

del Perú ..................... 43Banco Financiero

de Perú ...................... 37Banco Pichincha ............. 37BICE Corp ...................... 40BMP Cintra .................... 49BNP Paribas ................... 44Burson-Marsteller ........... 57

cCadenalco ....................... 44Carso Infraestructura y

Construcción ............. 38Carso Telecom ................ 38Centrum .......................... 43Citigroup ........................ 44CMPC ............................. 40Colbún ............................ 41Colombiana de

Inversiones ................ 44Colombiana Kimberly

Colpapel .................... 45Coltabaco ........................ 44

Credicorp ........................ 42dDatasul............................ 19Dell ................................. 18Deloite ...................... 39, 43Diageo ............................ 18Drypers Andina .............. 41

eEcolatina ......................... 59Ecoltec ............................ 47Emotiv Systems .............. 78Equity Consultores ......... 25

fFeller-Rate ...................... 41Fishkind & Associates,

Inc. ............................ 71Fitch ............................... 75Fortune International

Realty ........................ 71

gGávea Investimentos ....... 36Global Park Group LLC .... 57Google ............................ 50Grupo Argos ................... 45Grupo Carso ................... 38Grupo Condumex ........... 39Grupo Crescia ................. 25Grupo EBX ..................... 35Grupo Empresarial

Antioqueño ................ 44Grupo Financiero

Inbursa ...................... 38Grupo Luksic .................. 25Grupo Odebrecht ............ 25Grupo Rocca ................... 25Grupo Romero ................ 42Grupo Sanborns .............. 39Grupo Slim ..................... 25Grupo Unipar .................. 19

Grupo Votorantim ..... 21, 24

hHellerman Tyton ............. 50Holcim Apasco ............... 47Holcim ............................ 47Hotel de Pereira .............. 45

iICA ................................. 38Ideal ................................ 38Industria Licorera

Guatemala ................. 18ING ................................. 45Inversiones Argos ........... 45Inversiones e Industria .... 44Inversiones Mundial ....... 44Inversora Pichincha ........ 37IronX .............................. 35

k-lKS Deport ....................... 18Larrain Vial .................... 75Lifán Motor .................... 23LS9 ................................. 23

mMatte .............................. 40Maziplast ........................ 50Meriléctrica .................... 45Merrill Lynch .................. 36MMX Mineração &

Metálicos ................... 35MPX ............................... 35

nNCF Group ..................... 43Nova Petroquímica ......... 19

o-pOGX ............................... 35Pacífi co Peruano Suiza ... 43

Pass ................................. 45Patagonia ........................ 18Pentágono Asset

Management .............. 36Petrobras ................... 19, 35Philip Morris .................. 44PI Mabe .......................... 41Politec ............................. 19Porvenir y Proteccón ...... 45Promotora Hoteles

Medellín .................... 45Propersa .......................... 42q-rQuattor............................ 19Queiroz Galvão ............... 36Ransa .............................. 43Romer & Asociados ....... 60

s-tSantander .................. 35, 39Schroders ........................ 75Seal Shield ...................... 78Serfi nco .......................... 44Sparta Asset

Management .............. 75Stefanini ......................... 19Suramericana de

Inversiones ................ 45Telmex ............................ 38Termofl ores ..................... 45The Value Brand

Company ................... 41Totvs ............................... 19Transsen ......................... 48Treasure Valley ............... 35TVX................................ 35

u-vUPS ................................ 19Vale ................................. 35Votorantim Metais .......... 24Votorantim Siderurgia ..... 24

AMÉRICAECONOMIA magazine (USPS #023106) is published biweekly, except January, February in Santiago, Chile by AMÉRICAECONOMIA. AMÉRICAECONOMIAis distributes in the United States by DL Distribution Group, 7301 SW 100 Ct, Miami, FL. 33173-4651 PH: (305) 595-5505. Periodicals Postage paid at Miami,

Florida. POSTMASTER: send address changes to AMÉRICAECONOMIA 7301 SW 100 Ct, Miami, Fl. 33173-4651.

DIRETOR Elías Selman C.

Certifi cado Licitud de Título Nº 4090 . Certifi cado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. biweekly publication

VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur

DIRETOR-EDITORIAL Felipe Aldunate M.EDITOR-ADJUNTO Rodrigo Lara

DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya UrquizaEDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco

EDITOR MÉXICO Marisol RuedaEDITOR MIAMI Antonio María DelgadoEDITOR FINANÇAS Eduardo Thomson

EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel CandiaREPÓRTERES Francisca Vega (Chile), Arly Faundes (México)

CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso•COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino

•VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Vernic Gudiel

•MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz

COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell•Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso

DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P. •ILUSTRADORES Daniela Guglielmetti, Rodrigo Díaz Carrizo

REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE(Estudos e Projetos Especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz

•COORDENADOR-GERAL Jaime Contreras•ANALISTA SÊNIOR Pablo Hernández

•ANALISTA Daniela González

AMÉRICAECONOMIA.COM •EDITOR Franco Piccato

•REPÓRTERES Marcelo García, Daniela Cid, Magdalena Álvarez, Pablo Jamett, Karin Hernández•

GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río MorenoDIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva

DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto •GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez

• BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia•DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira

•GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves•GERENTES DE NEGÓCIOS Rosangela Bomtempo, Nícolas Cardoso Slamek

•GERENTE DE MARKETING Denise TerranovaRua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111-

São Paulo - SP - BrasilCEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588

ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071•MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510

• ARGENTINA Claudia DassoTel: 5411/4383-8410 - 4383-8416

•CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus

Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y MiñoTel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Ana Pazos Pastor

Tel-Fax: 511-4211852 - Cels: 511-97897272/ 511-97622230

REPRESENTANTES INTERNACIONAIS •ALEMANHA Gerd Bielenberg (GWP InternationalMedia Service) Tel: 49211/887-2328 Fax: 887-2919

• ESCANDINÁVIA Finn Greve Isdahl(International Media Sales A/S) Tel: 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA LuisAndrade (Luis Andrade Publicidad Internacional) Tel: 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA Patricia Goupy (PEM Groupe PEMA) Tel: 331/4143-7057 Fax: 4738-6329 •

ITÁLIA Carlo E. Calcagno (Studio Calcagno s.r.l.) Tel: 3902/670-73383 • REINO UNIDO David Todd (David Todd Associates Ltd.) Tel: 4420/7538-5811 Fax:

7538-4911 •SUÍÇA Hans Otto (Infoplus AG) Tel: 411/269-7070

REDAÇÕES • SANTIAGO: Tel 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO: Tel 5255/5254-2400 • BUENOS AIRES: Tel 5411/4383-8410 • MIAMI: Tel

305/648-9071

AméricaEconomia é uma publicação quinzenal da Nanbei Ltd. •Impressa na Plural Editora e Gráfi ca . México, franquia paga. Publicação periódica•Registro PP09-0011

PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

Delgado, em Miami:cautela nunca é demais

10 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

MEMO

Felipe Aldunate M.Diretor Editorial

SUPUNHA-SE que não seria assim. A abertura das economias e o desen-volvimento dos mercados de capitais iriam pôr um ponto fi nal na estrutura de grupos empresariais diversifi cados. Além disso, problemas de sucessão, a pouca transparência e a falta de profi ssionalização iriam pressionar ainda mais os grupos que estivessem sob uma estrutura familiar. Em pouco tem-

po, os conglomerados familiares iriam ser substituídos por organizações especializadas e teriam sua propriedade pulverizada.

E no entanto esses grupos continuam aí, como a mais poderosa forma de organização das grandes empresas latino-americanas. Essa é uma das

conclusões demonstradas por este especial dos grupos econômicos da América Latina elaborado pela AméricaEconomia Intelligence. É provável

que esse cenário se mantenha assim, diz o informe, porque os estímulos para a criação de grupos continuam vigentes. A seção de negócios deste

número foi em grande parte dedicada a entender as estratégias seguidas por muitos desses grupos, sejam eles tradicionais ou emergentes.

Esta edição ainda traz uma reportagem de nossa correspondente Anto-nieta Cádiz sobre os bastidores da negociação de Peru e Colômbia por um

tratado de livre comércio com os Estados Unidos – e por que um triunfou e o outro não. E, como estamos em ritmo de Olimpíadas, contamos em uma reportagem como a região prepara seus atletas olímpicos e em quais deles

são depositadas as maiores esperanças de medalhas.E não é só. De Miami, Antonio Delgado faz uma análise da situação das hipotecas nos EUA. Essa é uma crise que poderia estar chegando ao seu

fundo. Quando isso acontecer, signifi cará muitas oportunidades em forma de propriedades baratas. “Mas recomenda-se cautela: não é chegar e com-

prar qualquer coisa”, diz Delgado, venezuelano radicado em Miami que há três meses trabalha conosco. Antes disso, ele trabalhou como editor no escritório latino-americano da Reuters, posto que deixou para empreender

um negócio familiar em comércio exterior. “Aprendi muito nessa etapa”, lembra, “mas nem sempre é fácil fazer negócios em família, e por isso de-

cidi voltar ao jornalismo”. Quem lucra são os nossos leitores.

EM FAMÍLIA

CARTASGrau de investimentoO grau de investimento da Standard&Poor’s ao Peru (o segundo de uma classi-fi cadora grande e o tercei-ro em geral) pode iniciar um círculo virtuoso para mais investimentos, mais empregos e menor desocu-pação; com menos deso-cupados, menos pobreza; com menos pobreza, mais oportunidades e progresso, e assim continuamos até conseguir o desenvolvi-mento econômico e passar ao Primeiro Mundo. Uma ambição pela qual o Peru tem lutado muito. Sim, podemos!

César RomeroLima

Domínio brasileiro INo meu país, a Argentina, há gente que não entende de dimensões. Ainda há os que pensam que se po-de competir com o Brasil só porque podemos ga-nhar deles no futebol. Seu ranking das 500 Maiores

Domínio brasileiro IIParece-me que seu ranking das 500 Maiores Empresas da América Latina é total-mente tendencioso. Dizer que as empresas mexicanas estão abaixo das compa-nhias brasileiras é uma falta de respeito para com o país que tem o maior de-senvolvimento corporativo

Empresas da América La-tina (AméricaEconomia N° 361, 21de julho de 2008) deixa clara a diferença. Compatriotas, entendam: não podemos competir de igual a igual com o Brasil.

Manuel ArenasBuenos Aires

e que gerou as maiores em-presas da região em muitos âmbitos. Nota-se que não sabem do que estão fa-lando. O Brasil ainda está abaixo de nós.

Andrés FonsecaMonterrey, México

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GABRIELLI (À ESQUERDA):MAIS PERTO DOS COMBUSTÍVEIS.

TENTATIVA FRUSTRADAPUBLICAMOS: A reforma do presidente Felipe Calderón (sobre a Pemex) ainda conta com a resistência e as acusações de tenta-tiva de privatização do setor petrolífero feitas por Andrés Manuel López Obrador e seus seguidores. (“À deriva”, AméricaEconomia Nº 361, 21 de julho, 2008)

O NOVO: No último domingo de julho, a oposição novamente tentou entornar o caldo da reforma do setor petrolífero com uma consulta pública sobre o tema promovida pelo PRD que, para muitos, foi um tiro n’água. O resultado, com 87% votando pelo não à participação de empresas privadas na Pemex, foi considerado irrelevante em virtude do número de participantes – apenas 826 mil pessoas. Além disso, houve denúncias de fraude. Depois da iniciativa fracassada, as lideranças do PRD se comprometeram a continuar o debate sobre a reforma do setor petrolífero com os outros partidos e afi rmaram que entregarão sua própria proposta ainda no mês de agosto.

VIAJAR É PRECISOPUBLICAMOS: Um estudo con-clui que as viagens de avião no Brasil crescem a taxas superiores às da economia. A partir de dados da Infraero, constatou-se um aumento de 43% no movimento de passageiros nos aeroportos entre 2003 e 2006, de 71 milhões a 102 milhões. (“Quando sai meu vôo?”, AméricaEconomia Nº 341, 21 de maio, 2007)

O NOVO: O aumento da renda e o câmbio favorável têm colocado cada vez mais brasileiros na fi la do check in. Segundo o Banco Central, o défi cit na conta de turismo do Brasil (saldo entre o que os brasileiros gastaram no exterior e o que os estrangeiros deixaram no País) no acumulado de 12 meses encerrados em junho atingiu US$ 4, 83 bilhões, o pior de toda a série histórica iniciada em 1947. No acumulado de 12 meses, os brasileiros gastaram US$ 10,25 bilhões fora do País.

MULTICOMPANHIAPUBLICAMOS: “(em 10 anos mais) Vejo a Petrobras como uma empre-sa de energia, ou seja, estará muito mais diversifi cada, além da produ-ção de petróleo e gás”. (entrevista de José Sérgio Gabrielli, presidente executivo da Petrobras, AméricaEconomia Nº 338, 2 de abril, 2007)

O NOVO: Os desejos de Gabrielli estão se tornando realidade. A estatal inaugurou no fi nal de julho sua primeira usina de biodiesel. Instala-da em Candeias, na região metropolitana de Salvador, custou R$ 101 milhões e tem capacidade para produzir 57 milhões de litros do com-bustível por ano. Segundo a companhia, cerca de 58% da matéria-prima que abastecerá a usina terá origem na agricultura familiar. Este ano a Petrobras ainda pretende inaugurar mais duas usinas de biodiesel, uma em Quixadá, no Ceará, e uma em Montes Claros, em Minas Gerais. “Pretendemos chegar a 2012 com uma produção anual de 940 milhões de litros”, disse à imprensa Alan Kardec, presidente da recém-criada Petrobras Biocombustível.

VOZ DO POVO?PUBLICAMOS: “É necessário um mecanismo democrático (o referendo revocatório) para que quando haja uma von-

tade popular muito grande de derrubar um mandatário, se possa fazê-lo por uma via institucional” (Entrevista de Álvaro García Linera, vice-presidente de Bolívia, AméricaEconomia Nº 336, 12 de fevereiro, 2007)

O NOVO: A Justiça Eleitoral boliviana ratifi cou no fi m de julho a realização do referendo revocatório marcado para 10 de agosto. Com isso, os opositores do presidente Evo Morales fi cam de mãos atadas e correm um sério risco de se verem debilitados. Analistas do país acreditam que Morales conseguirá ser ratifi cado em seu posto, enquanto os oito

governadores, em sua maioria da oposição, podem perder a continuidade de seus mandatos.

12 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

SEGUINDO A PISTA

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 15

EDITORIALAP

CHINA EM JOGO

Que o governo chinês atualmente esteja mais preo-cupado com as ameaças do smog sobre Pequim

do que com os perigos de “contaminação” de sua população devido ao contato com estrangeiros, como há 30 anos, é um sinal de quão integradas estão agora as terras do antigo Império do Meio ao sistema econômico e de poder globais. Ninguém duvida que o Partido Comunista chinês, convertido em uma enorme burocracia tão nacionalista quanto industrial, pretende usar os Jogos Olímpicos como broche de ouro de sua nova posição global. E não faz mal. Que governo sensato não faria o mesmo? Como um noivo ainda nervoso que é apresentado à família de sua prometida, a China fez esforços notáveis para mostrar ao mundo o quanto sua sociedade pode ser dinâmica, criadora, poderosa e amigável.

Devido a isso, mais do que pensar nas Olimpíadas, e a menos que ocorra um atentado brutal, a China já conquistou sua medalha de ouro. É parte integral do sistema global. De fato, muitas nações desejariam que fosse uma força ainda mais poderosa no plano econômico do que é atualmente: um mundo com três locomotivas de demanda (EUA, Europa e China) é melhor que um com dois vagões que costumam acelerar e parar em uníssono.

Visto assim, a principal prova para a China já não será nos Jogos Olímpicos, mas depois que eles acabarem. En-frentar um fato novo para a elite chinesa: a transição de um país movido pela exportação para um no qual o mercado interno começa a se diversifi car e ganhar importância. Uma nação que caminha em direção ao alto consumo e enfrenta diferentes desafi os, como a valorização da moeda, a infl a-ção e a regulamentação fi nanceira. Com seu nacionalismo focado em temas pontuais e seu multilateralismo ativo, a China busca não gerar medo no mundo. Ainda assim, existe um desafi o importante. Uma China estável, próspera e não-

democrática indica que é possível um sistema em que os mercados operem com várias das liberdades básicas erodidas, e isso poderia se tornar – lamentavelmente – “inspirador” no médio prazo para os inimigos da pluralidade política e das liberdades civis no resto do mundo.

Por isso, é fundamental o debate sobre se o respeito aos direitos humanos na China é um assunto interno ou universal. Neste último “esporte”, a China ainda precisa demonstrar sua integridade. Isso é importante. Com a notável exceção dos EUA, as democracias não costumam ir à guerra. Seria uma feliz coincidência que a China também fosse uma exceção à regra que diz que as autocracias costumam ir à guerra, quando seu poder na Ásia seja incontestável.

FRACASSO NA OMCEm seu best-seller O mundo é plano, Thomas L. Friedman destacou que a globalização e as novas tecnologias nivelaram as condições de concorrência entre os países e as empresas. Mas, ao que parece, mais que ter uma pizza coberta de quei-jo, com apenas umas incômodas azeitonas ensimesmadas obstruindo a passagem (Coréia do Norte, Myanmar, Sudão, por exemplo), o que há é um prato de espaguete global: novelos (Nafta, União Européia, China-Cingapura, Mer-cosul) ou redes setoriais, em que cada “macarrão” tenta se colar por bem (ou às vezes por mal) em outros novelos. Aí temos lobistas privados, sindicatos e governos com suas tesouras. A Rodada Doha da OMC tem sido uma tentativa de colocar o mundo de acordo para que a ação das “tesou-ras” benefi cie mais a todos e o “prato” cresça. Seu fracasso indica que, assim como o tráfego da internet e de telefonia celular, que em 90% é local, as decisões comerciais dos governos também são. O espaguete emaranhado continua a predominar. Má notícia para todos.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 17

MOVIMENTOS

¡Olé!A CADA ANO NA ESCOLA de Tauromaquia de Madri inscrevem-se de três a cinco latino-americanos com em média12 anos de idade e um sonho: “estar um dia diante do touro mais bravo, numa praça repleta de afi cionados”. Assim resume Peter Motta Retamozo, que emigrou do Peru para a Espa-nha há cinco anos e ingressou na escola há quatro. Retamozo, de 19 anos, estuda desenho técnico e toda tarde, ao sair do colégio, vai para a Escola de Tauromaquia, onde treina por duas horas. Preservar a imagem de toureiro não somente representa um grande desafi o para jovens como ele, mas também a possibilidade de obter reco-nhecimento e uma posição econômica cômoda. Afi nal, um tou-reiro pode receber entre 18 mil e 100 mil euros por apresenta-ção. Só na Espanha o mercado “taurino” movimenta 4 bilhões de euros ao ano e atrai 45 milhões de espectadores. “Ser toureiro é quase um milagre”, diz o colombiano Sergio Blanco, outro dos 150 alunos que ingressam cada ano na Escola de Tauromaquia de Madri com o sonho de levar seu nome para as principais praças de touros do mundo. O diretor da escola, Felipe Díaz Murillo, não duvida de que consegui-rá. “Tourear é um sacerdócio. Implica uma disciplina e temperamento que poucos são capazes de tolerar. Mas estes meninos trazem uma força que se destaca”.

HEBE SCHMIDT / MADRI

TOUREAR: SONHO E SACERDÓCIO LUCRATIVO

LATI

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OCK

18 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

BlackPower

A EMPRESA PERUANA KS Deport decidiu investir no negócio das confecções de roupas orgânicas e acaba de lançar no país a marca Patagonia, cujo calça-do, de alta qualidade, é confeccionado organicamente (sem produtos químicos artificiais nem pesticidas) à base de resinas naturais e fibras vegetais. A ini-ciativa coloca a empresa em linha com a mais recente tendência industrial e

de consumo. “Se a tendência do orgânico nos últimos dez anos esteve asso-ciada somente aos alimentos, nos próximos dez estará associada a uma

gama mais ampla de produtos, como calçados e vestuário”, acre-dita María Alexandra Huertas, gerente de marca da Patagonia

no Peru. A próxima aposta de KS Deport será importar roupa ecológica, também sob as asas da Patagonia.

Em breve, parte do calçado que a empresa já distribui no mercado peruano usará

hemp, uma fibra natural obti-da da cannabis, a planta da maconha. Será que outros importadores peruanos se atreverão a seguir a nova moda? O futuro dirá.

MOVIMENTOS

A CORRIDA PARA elevar o rum a um nível premium está longe de chegar ao fi m. Um novo ator que entra na região é a Industria Licorera Gua-temala, que em abril fi rmou um acordo de distribuição com a Diageo para levar aos paladares latinos o Zacapa Centenario, seu produto de maior valor agregado. “É uma aliança perfeita”, diz Jorge Galbis, gerente da Divisão Internacional da companhia. “Nossa marca está alinhada às tendências do mercado mundial: um rum escuro e com poder de marca.” Com presença na Europa, nos Es-tados Unidos e no mundo dos duty free, a empresa quer co-locar na América Latina uma parcela cada vez maior das 1,2 milhão de garrafas que produz anualmente. Come-çará por México, Colômbia e Chile, e continuará pelo Brasil, pela Argentina, pela Vene-zuela e pelo Peru. Este ano, Galbis espera que as vendas do Zacapa cresçam entre 5% e 6%. No médio prazo, a expectativa é alcançar cifras de dois dígitos.

GALBIS:MARCA

DE PODER

WIEGANDT:CRIANDO ALIANÇAS

A caminho “deLL” expandir

ANTONIO MARÍA DELGADO / MIAMI

JUAN PABLO RIOSECO / SANTIAGO

Green fashion

FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN / LIMA

AS DIFICULDADES ECONÔMICAS nos Estados Unidos estão realçando o valor da América Latina para os fabricantes de computadores. Por isso a Dell está ampliando seu programa de associações com provedores, nu-ma tentativa de ganhar maior participação entre os estimados 25 milhões de PCs que serão vendidos este ano na região. O programa PartnerDirect busca atender um maior número de empresas que desejam um tratamento mais personalizado, facilitando o encontro com os provedores e possibili-tando “ver e tocar” os equipamentos antes de comprá-los. O vice-presiden-te da Dell América Latina, Peter Wiegandt, diz que o esquema complementa muito bem seu modelo de vendas diretas por intermédio da internet e do telefone. Esse comércio à distância rendeu bons resultados nos Estados Unidos, mas seu desempenho na América Latina não tem sido tão positivo. Uma falha em seu site levou-a recentemente a oferecer por engano vários laptops por menos da metade do preço de mercado. E isso acabou por se converter num problema de imagem para a Dell quando ela optou por não honrar o preço anunciado para as unidades em sua loja on-line.

MIG

UEL

CAN

DIA

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 19

A INSACIÁVEL DEMANDA chinesa pelas matérias-primas é um dos motores por trás do alto ritmo de crescimento econômico da América Latina, mas as pequenas e médias empresas da região vêem com certo desagrado a crescente importância do país asiático na economia mundial. No estudo Latin America Business Monitor (LABM), apresen-tado recentemente pela UPS, metade dos 580 re-presentantes de pequenas e médias empresas lati-no-americanas consultados afi rmaram achar que o país asiático instiga a prática de concorrência desleal nos mercados internacionais. Além disso, dois de cada dez garantiram que a manufatura desse país “rouba” oportunidades das empresas

da região. Os empresários também manifestaram preocupação pela giro à esquerda de alguns governos latino-americanos nos últimos anos. Dos empresários consultados, 46% afi rmaram que a tendência tem sido ne-gativa para América Latina, 27% disseram achar que não houve grandes mudanças, e somente 23% disseram que o efeito tem sido positivo.

MOVIMENTOS

PMES:AMIZADE INCÔMODA

Sabor agridoce

A AMÉRICA LATINA pode não ser a mina de ouro dos sonhos das empresas brasileiras de TI, mas parece cada vez mais atra-ente. Além da Datasul, que an-tes de ser comprada pela Totvs declarava seu interesse por esse mercado, outras companhias brasileiras do setor também estão de olho na região. É o ca-so da Politec e da Stefanini, que afi rmam pensar em aquisições como a forma mais rápida de entrar em outros países do con-tinente. A Stefanini já anunciou que pretende gastar entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões na América Latina em aquisições de empresas nos próximos anos para acelerar seu crescimento em novos mercados. “Acho que temos uma grande sinergia na região para trabalhar de forma integrada”, afi rma Marco Stefa-nini, presidente da companhia. Já a Politec tem um plano mais contido, mas nem por isso menos importante: atuar, além de no Brasil, também na Argentina, no Chile e na Colômbia, países nos quais planeja abrir escritórios dentro de um ano e meio. A companhia também possui recursos que podem ser destinados

a aquisições nesses mercados. “Va-mos ter operações nos três países, mas podemos fazer aquisições em todos, em dois deles ou apenas em um. Ainda estamos avaliando,” expli-ca o vice-presidente para negócios internacionais da Politec, Alexander Schmitz-Kohlitz.

Fonte: LABM

PAÍS SIM %

Argentina 33%Brasil 45%México 67%REGIÃO 53%

SERGIO SPAGNUOLO / SÃO PAULOJUAN DALMASSO / BUENOS AIRES

O MERCADO DE produtos verdes agora também quer conquistar parte da indústria petroquímica. Isso é o que mostra o conglomerado brasileiro Quattor, formado pela Petrobras e pelo Grupo Unipar, que, por intermé-dio da Nova Petroquímica, investirá US$ 50 milhões para produzir plásticos a partir da glicerina residu-al do biodiesel, produto cuja demanda cresce rapidamente. Segundo as estimativas da Quattor, o Brasil produzirá 250 mil toneladas de glicerina em 2013. Mas o País consome só 40 mil toneladas, o que gera sérios problemas de disposição. Aí é onde a Quattor entraria em ação. Fazendo uso de uma tecnologia desenvolvida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a empresa pode transformar os excedentes em 100 mil toneladas de polipropi-leno, o plástico utilizado, entre outras coisas, em embalagem e compo-nentes de veículos e de eletrodomésticos. Se isso não for sufi ciente, a UFRJ já tem um menu de pos-sibilidades, como aditivos para combustíveis, lubri-fi cantes e plastifi cantes, segundo explica Claudio Mota, responsável científi -co pela inovação.

ACHA QUE A CHINAINCORRE EM PRÁTICAS DE CONCORRÊNCIA DESLEAL?

ANTONIO MARÍA DELGADO / MIAMI

STEFANINI:SINERGIA PARA INTEGRAR

De olho nas oportunidades

Tudo soma

Toyota: rumo ao topo.

Toyota: rumo ao topo.Buffett & Gates: de volta à faculdade.

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ANTONIETA CÁDIZ / WASHINGTON

VERÓNICA GOYZUETA / SÃO PAULO

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 21

Caipirinha num instanteO DESAFIO DE UM amigo converteu em inventor o empresário Ricardo Ermí-rio de Moraes, um dos herdeiros do conglomerado Votorantim: como fazer uma caipirinha instantânea e 100% natural para vender na Europa? Depois de muita pesquisa, que levou ao desenvolvimento de uma cachaça exclusi-va, Moraes lançou a Caipirinha-one, bebida que vem preparada e descon-gela em contato com a água. Concebida para o mercado externo, a criação impressionou seu inventor. “Pensávamos que o mercado interno não seria relevante e nos surpreendemos”, diz Moraes, que conta que o produto já está em mais de 500 pontos-de-venda de São Paulo, depois de apenas seis meses do lançamento. A previsão do empresário é exportar este ano para a Euro-pa, a Ásia e os Estados Unidos. O sucesso do produto está na sua fórmula, que garante a fi delidade do sabor da caipirinha brasileira, e da embalagem especial, que mantém as frutas separadas da bebida até mesmo quando é inclinada. O conceito também serve para outras bebidas. “Temos tecnologia pronta para fazer mojito. Não é nossa prioridade agora, mas nossa fábrica está preparada”, garante Moraes.

MOVIMENTOS

TALVEZ os funcioná-rios dos governos dos

Estados Unidos e da Ve-nezuela não possam ver claramente como retornar às fraternas relações que ambas nações sustentaram

no passado. Mas se for as-sim, não será por falta de luz. A Embaixada da Venezuela

pensa distribuir gratuitamen-te cerca de 460 mil lâmpadas

elétricas fl uorescentes em 12 das principais cidades dos EUA, incluindo Nova York, Washington

e Houston, para ajudar milhares de famílias a conservar energia. A inicia-

tiva, que geraria uma economia total de 165 milhões de quilowatts por hora, é vista pelo embaixador da Venezuela

em Washington, Bernardo Álvarez, co-mo uma oportunidade para “melhorar as áreas de cooperação entre Estados

Unidos e Venezuela”. Mas se o presente procura promover a fraternidade, seu sig-nifi cado se perdeu na tradução. É como se estivessem dizendo, ressalta um editorial do Houston Chronicle, que “A República Bolivariana envia saudações em forma de petróleo e lâmpadas aos pobres dos Esta-dos Unidos, país mais rico do mundo que é incapaz de ajudar”.`É uma mensagem que difi cilmente ajudará a descongelar as frias relações entre os dois países.

Luz pouco clara

EUA:PRESENTE CURIOSO

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FERNANDO CONCHA

O chileno Fernando Concha foi nomeado diretor para a América do Sul do Citi, nova unidade da instituição que abrange Argentina, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela e é parte da nova estrutura do Citi, que muda de um modelo atomizado para o de banco universal.

O presidente do diretório do Banco Central do Equador, Roberto Andrade, apresentou sua renúncia depois de seis meses no cargo. Sua saída chega no momento em que se planeja eliminar a autonomia da autoridade monetária. Dias depois, Andrade foi eleito gerente geral do Banco Central.

O presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, designou como futuro diretor paraguaio da hidrelé-trica binacional (com a Argentina) o engenheiro Carlos Cardozo. Lugo fez da questão hidrelétrica um dos principais temas de sua campanha, prometendo reivindicar maiores benefícios para o Paraguai.

O Comitê de Representantes da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) designou seus futuros subsecretários. Os eleitos são o argentino Ricardo Hartstein e o chileno Óscar Quina, profi ssionais de antecedentes reconhecidos no campo da integração latino-americana.

Hans Eben, vice-presidente da D&S, apresentou seu pedido de demissão irrevogável depois de ser multado, com mais sete pessoas, pela Superitendência de Valores e Seguros (SVS) por faltar com o direito de reserva à época da fracas-sada fusão entre a supermercadista chilena e a Falabella.

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11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 23

MOVIMENTOS

Para fi carENQUANTO O GOVERNO CHILENO desenvolve seu programa para o turismo de interesses especiais, líderes da indústria do vinho lançam suas pró-prias estratégias para consolidar o país como destino do enoturismo. No final de agosto, se reunirão no congresso anual de Hotelga, asso-ciação hoteleira chilena, para discutir formas de incentivar a união desses dois ramos de exporta-ção: o turismo e o vinho.

“A indústria do vinho não tem representantes no cluster do governo, o que identificamos como um erro, porque há que potenciar os segmentos que já existem”, disse Mauro Magnani, segundo vice-presidente de Ho-telga, no dia do anúncio do congresso. O Vale de Colchagua, que será o anfitrião do evento este ano, é um exemplo: es-pera atrair investimento para impulsionar a re-gião como destino turísti-

co. “Em 1998, recebíamos a 500 pessoas ao ano; agora, são 100 mil”, conta Thomas Wilkins, presi-dente da Ruta do Vinho do Valle de Colchágua. “Queremos num futuro próximo aumentar as 250 camas hoje disponíveis para 700. Mas para isso necessitamos atrair ter-ceiros que venham para associar-se e desenvol-ver essas oportunidades, que não são o negócio principal das vinhas”, afirma.

BOM FARO FAZ UNIR VINHO E TURISMO

BEZADA :CRESCIMENTOEXPONENCIAL

PARA AUGUSTO BEZADA, gerente de marca da empresa chinesa Lifán Motor no Peru, o conceito de que os produtos com o selo “made in China” são de qualidade inferior não condiz com a realidade, pelo menos quando se diz respeito a automóveis. E parece que muitos compartilham da opi-nião de Bezada: em um ano e meio, vinte marcas chinesas que entraram no país já conseguiram abocanhar 6% do mercado total de veículos no Peru. Nos primeiros cinco meses do ano, as chinesas já venderam 2.028 unidades. “O crescimento tem sido progressivo”, disse Bezada. “Para o fi m do ano, calculamos que a participação dessas marcas será de entre 7% e 8%, sobre vendas estimadas em 100 mil veículos novos.” Assim, o lança-mento das marcas chinesas, que são em média 30% mais baratas que as marcas tradicionais, custará pelo menos dois pontos de participação para as automotoras de bandeira japonesa. Os carros Lifán são fabricados na província chinesa de Chungking e estima-se que suas vendas alcancem este ano 600 unidades. Bezada diz que nos próximos 12 meses ampliarão sua oferta de veículos com uma versão hatchback do modelo 520, um sedã médio, uma SUV e uma minivan para oito passageiros.

Rodas made in China

FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN / LIMA

SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

MARISOL RUEDA / CIDADE DO MÉXICO

O VALE DO SILÍCIO é fonte de grandes descobertas, e a última delas parece con-to de fi cção científi ca. Um

grupo de cientistas alterou geneticamente uma bactéria para expelir petróleo. O pro-cesso começa com cultivos

da bactéria E. coli, cujo ADN é modifi cado para eliminar a escassa diferença mole-

cular entre o petróleo bruto e os ácidos graxos que são expulsados pelo organismo unicelular. Greg Pal, diretor

de LS9, empresa que desen-volve o projeto, acha que o combustível eventualmente

poderia ser oferecido por US$ 50 o barril, nada despre-zível diante dos atuais preços

do petróleo. “A iniciativa é promissora”, diz Víctor Rodrí-

guez, pesquisador de temas energéticos da Universidade

Nacional Autônoma do Mé-xico. Não obstante, é muito o que a empresa, fundada com um capital de US$ 20

milhões, ainda tem por fazer. Até agora, conta com equipes que somente podem produzir um barril de petróleo por se-mana. Assim mesmo, também

há dúvidas sobre os custos. “Terá que esperar para ver se

os custos de produção são efetivamente de US$ 50 por

barril”, diz Rodríguez.

Petróleo renovável

SAN

DRA

ELI

AS

ESPECIALOS MAIORES GRUPOSDA AMÉRICA LATINA

24 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

Antônio Ermírio de Mo-raes é apaixonado por teatro. As treze obras

que escreveu rodaram várias cidades brasileiras, e seu inte-resse pela literatura rendeu a ele uma cadeira na Academia

Paulista de Letras.Essa é uma das muitas fa-

cetas desse engenheiro meta-lúrgico que ainda supervisiona de perto seus negócios nos setores bancário, de energia, de cimento, de celulose e de suco

de laranja por todo o Brasil. É seu papel como presidente do Conselho de Administração do Grupo Votorantim. Fundado há 90 anos, quando seu avô criou uma pequena empresa têxtil no interior de São Paulo, o grupo

é hoje um dos maiores e mais diversificados conglomerados do País. Mas nem por isso Moraes e sua família dormem sobre os louros. Ao contrário, continuam a procurar novas alternativas de investimento:

Negócio caseiroOs grupos familiares se adaptam, crescem mais rapidamente e continu-am dominantes entre os conglomerados empresariais latino-americanos

ESPECIALOS MAIORES GRUPOSDA AMÉRICA LATINA

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 25

no início de julho, por exem-plo, criaram a Votorantim Siderurgia, nova área opera-cional, separada da Votorantim Metais, destinada a operar os negócios do segmento do aço que o grupo foi comprando e desenvolvendo no Brasil, na Colômbia e na Argentina. É sua nona unidade, entre as quais está, precisamente, a de novos negócios.

A saúde do Grupo Voto-rantim, que coloca a família controladora entre as mais ricas do Brasil, não é um caso excepcional na América Latina. Do Grupo Slim, do México, ao Luksic, do Chile, dos Crescia, do Peru, aos Rocca, da Argentina, são vários os exemplos que demonstram que os conglomerados com controle familiar, inclusive os que optaram pela estra-tégia de diversificação dos negócios, se mantêm como a mais sólida forma de organizar a propriedade entre as grandes companhias da região.

Tal vigor é uma das conclu-sões deste especial preparado pela AmericaEconomia In-telligence, em que se analisam muitos dos maiores grupos privados da região, quase todos sob controle familiar.

“A estrutura familiar é aparentemente a mais funcio-nal para o desempenho dos conglomerados e responde ao padrão cultural da região”, diz o argentino Eduardo Fracchia, diretor da área de Economia da IAE Business School. Por isso, “quando acontecem cri-ses sucessórias, essa condição acelera a venda do grupo a outros proprietários ou a outro grupo familiar.”

Seu foco quase “biológico” no longo prazo, a unidade cultural e a identificação pessoal com os objetivos das empresas, além do acesso di-reto aos criadores de políticas

econômicas em seus países de origem, são vantagens de peso. “A evidência sugere que, quando tomam uma decisão, as famílias conquistam alta eficácia para transportar os elementos estratégicos para o núcleo da organização”, afirma Jorge Yúniz, presidente e fun-dador da Equity Consultores en Decisiones Estratégicas Empresarial y Bancaria. “Isso é conseqüência da proximidade com seus colaboradores e de adotar decisões em consenso e não por meio de votações frias e calculadas.”

Assim, embora em alguns países surjam novos sobre-nomes, a estrutura familiar dominante se mantém. “Com exceção das companhias aé-reas, as grandes empresas do México são todas grupos cujas ações se concentram nas famí-lias que as fundaram”, comenta o mexicano Roberto Sánchez de la Vara, professor do cur-so de mestrado em Estudos Empresariais da Universidade Iberoamericana.

Uma situação que contra-diz a visão, especialmente de acadêmicos norte-americanos, que garantiam que, assim que as empresas abrissem capital em Wall Street, estariam sujei-tas às pressões dos analistas e de investidores institucionais para que se focassem em seus negócios principais.

Isso não aconteceu. “Os grandes grupos empresariais chilenos se fortaleceram depois das privatizações”, exemplifi-ca Yúniz. Isso aconteceu não apenas devido à flexibilidade e à capacidade de adaptação demonstradas pelos grupos familiares. Também se deve ao fato de que muitas das restrições, dos estímulos e das políticas que deram origem a esses grupos perduraram nas principais economias da região.

Um desses casos é o das redes de relações informais entre pares, que costumam proporcionar preciosas van-tagens no acesso a restritos mercados de capitais em tem-pos de crise. E esses mercados, apesar de terem crescido, não se mostraram suficientes para neutralizar a importância da geração de tais fluxos. De fato, em muitos países os créditos entre empresas relaciona-das estão entre os principais mecanismos para conseguir capital. “Mesmo as empresas que abrem capital na Bolsa só colocam pequenas porções de sua propriedade, para manter o controle”, aponta Denise Fleco, professora de Estratégia do Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Outro fator é que a volati-lidade das economias latino-americanas – e especialmente a volatilidade dos negócios principais que deram origem a esses grupos – se mantém como o grande fator de ris-co de se operar na região. Diferentemente das grandes companhias de países desen-volvidos ou de outros grupos de regiões emergentes, os grandes negócios latino-americanos estão relacionados a recur-sos naturais e a commodities semi-processadas, mais al-guns serviços como banca e construção. Todos estão muito expostos aos altos e baixos da demanda. Isso gerou um tipo de resposta adaptada dos conglomerados: entrar em negócios não-relacionados, às vezes com baixa relação com sua atividade principal, para gerar diversificação e impulsionar a conquista de novos de mercados.

Já internamente, o maior temor em relação aos grupos familiares é sua tendência a não profissionalizar a gestão dos negócios e, conseqüen-

temente, a possibilidade de entrar em crise com a sucessão que deveria se dar a cada ge-ração. Mas eles encontraram soluções para esses perigos e colocam cada vez mais ên-fase na captação de equipes gerenciais de primeiro nível. O grupo brasileiro Odebrecht, por exemplo, mantém uma busca obsessiva pelo talento corporativo. “Uma das metas do gerente nas empresas do grupo é formar seu próprio sucessor”, explica Denise, do Coppead. “Isso proporciona um condicionamento para o crescimento e abre janelas de oportunidade para os execu-tivos, o que ajuda o grupo a reter talentos.” E, com isso, o grupo renova sua energia.

Mas isso não acontece em todos com a mesma intensida-de. Na Argentina, ainda que novos grupos tenham surgido com a ajuda dos governos do casal Kirchner, vários outros se debilitaram e passaram para mãos estrangeiras, prin-cipalmente brasileiras. Já na Venezuela e no Equador, eles subsistem porque aprenderam a fazer negócios com as regras de governos intervencionis-tas, embora costumem ser objeto de ameaças e estejam sujeitos a estatizações agres-sivas com características de expropriação.

Por isso, tudo indica que, agora e por muitos anos mais, os grupos continuarão a do-minar a cena empresarial da região.

-Com José Crettaz em Buenos Aires, Lucía Lezaca em Bogotá, Francisca Vegaem Santiago e Carlos Vascon-cellos no Rio de Janeiro.

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ESPECIALOS MAIORES GRUPOS DA AMÉRICA LATINA

CEMEXPresidente: Lorenzo ZambranoEmpresas: Cemex México, Cementos Tolteca, Francazal Enterprises, Cemex Corp., RMC USA, RMC Francia, Dalmacijacement, STA Cemex, RMC Malaysia, ReadyMix, Rinker Group, Embra AS, Akmenes Cementas, Solid Cement, APO Cement, e fi liais na Europa, Ásia e América Latina.Patrimônio: US$ 14,94 biVar. patrimonial 07/06: 11,3 %Cap. bursátil: US$ 20 biVendas: US$ 21,68 biLucro: US$ 2,39 biSetores em que opera: cimentoInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 18,08 bi

FEMSAPresidente: José Antonio FernándezEmpresas: Coca-Cola FEMSA, Cervecería Cuauhtémoc Moctezuma, Cadena Comercial Oxxo, Propimex, Corporación Interamericana de Bebidas, Panamco México, FEMSA Cerveja BrasilPatrimônio: US$ 5,05 biVar. patrimonial 07/06: 17,1 %Cap. bursátil: US$ 13,81 biVendas: US$ 13,51 biLucro: US$ 779,6 milhõesSetores em que opera: bebidas e cerveja, varejoInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 4,34 bi

GRUPO ALFAPresidente: Dionisio Garza MedinaEmpresas: Alpek, Sigma, Nemak, OnexaPatrimônio: US$ 3,49 biVar. patrimonial 07/06: 14,4 %Cap. bursátil: US$ 4 biVendas: US$ 9,78 biLucro: US$ 325,3 milhõesSetores em que opera: siderurgia e metalurgia, indústria de alimentosInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 5,29 bi

GRUPO BALPresidente: Alberto BailleresEmpresas: Industrias Peñoles, El Palacio de Hierro, Grupo Nacional Provincial Seguros, ValmexPatrimônio: US$ 3,37 biVar. patrimonial 07/06: N.D.Vendas: US$ 7,77 biCap. bursátil: US$ 6,74 biLucro: US$ 528 milhõesSetores em que opera: mineração, metalurgia, química, comércio, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

GRUPO BIMBOCEO: Daniel ServitjeEmpresas: Bimbo Panifi cación, Barcel, Gastronomía Avanzada, Bimbo Bakeries USA, Bimbo do Brasil, Ideal, Lagos del Sur, Los Sorchantes, Walter M. Doldán y Cía., Corporación PVC, Beijing Panrico FoodPatrimônio: US$ 2,55 biVar. patrimonial 07/06: 17,4 %Cap. bursátil: US$ 7,66 biVendas: US$ 6,62 biLucro: US$ 349,2 milhõesSetores em que opera: indústria de alimentosInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 2,21 bi

GRUPO SALINASPresidente: Ricardo B. SalinasEmpresas: TV Azteca, Azteca America, Grupo Elektra, Banco Azteca, Afore Azteca, Seguros Azteca, Unefon, Iusacell, Movil@ccess y Todito.comPatrimônio: US$ 2,49 biVar. patrimonial 07/06: N.D.Cap. bursátil: US$ 6,95 biVendas: US$ 5,61 biLucro: US$ 578,9 milhõesSetores em que opera: mídia, varejo, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

SLIMPresidente: Calos Slim HelúEmpresas: América Móvil, Telmex, USCom, IDEAL, INBURSA, Condumex, Sanborns, Sear’s, Hoteles Calinda.Patrimônio: US$ 14,62 bilhões.Var. patrimonial 07/06: 18,8 %Cap. estimada: US$ 37,29 biVendas: US$ 58,27 biLucro: US$ 4,56 biSetores em que opera: telecomunicações, varejo, indústria de metais, serviços fi nanceiros, agroindústriaInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

GRUPO MÉXICOPresidente: Germán Larrea Mota VelascoEmpresas: Americas Mining Corporation, Southern Copper Corporation, Infraestructura y Transportes México, FerromexPatrimônio: US$ 5,93 biVar. patrimonial 07/06: 21,6 %Cap. bursátil: US$ 5,86 biVendas: US$ 7,28 biLucro: US$ 1,68 biSetores em que opera: mineração, logística e transporteInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 5,06 bi

26 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

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VALE PARTICIPAÇOESPresidente: Roger AgnelliEmpresas: Caemi, MBR, Samarco, Nibrasco, Urucum, RDME, MRS, Albras, Valesul, Alunorte, MRN, Ferro Gusa Carajás, Usiminas, CPFL, Miski Mayo, Shandong Yankuang, Henan Longyu Energy Resources, AMCI Holdings.Patrimônio: US$ 32,19 biVar. patrimonial 07/06: 76,1 %Cap. bursátil: US$ 56,62 biVendas: US$ 36,56 biLucro: US$ 11,29 biSetores em que opera: mineração, metalurgia e siderurgia, energiaInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 7,9 bi

VOTORANTIMPresidente: Antonio Ermírio de MoraesEmpresas: Aracruz, Ripasa. CBA Companhia Brasileira de Alumínio, Cimento Rio Branco, St. Marys Cement, Engemix, Suwannee American Cement, S&W Materials, U.S.ZINC, Prestige y Praerie AcerBrag, entre outras.Patrimônio: US$ 13,67 biVar. patrimonial 07/06: 41,1 %Cap. bursátil: US$ 29,74 biVendas: US$ 17,14 biLucro: US$ 2,7 biSetores em que opera: papel e celulose, cimento, metalurgia e sider., serviços fi nanceiros, agroindústriaInst. fi nanceiras: simExport.: US$ 1,62 bi

GERDAUPresidente: Jorge Gerdau JohannpeterEmpresas: Gerdau Açominas, Gerdau América do Sul, Siderperú, Sipar Aceros, Gerdau Ameristeel, MacSteel, Enco Materiais, Chaparral Steel Company, Banco Gerdau, fi liais nos EUA, Espanha, República Dominicana, Venezuela, México e Chile. Patrimônio: US$ 7 biVar. patrimonial 07/06: 42 %Cap. bursátil: US$ 15,6 biVendas: US$ 15,81 biLucro: US$ 1,61 biSetores em que opera: metalurgia e siderurgia, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: US$ 1,19 bi

JBS FriboiPresidente: Joesley Mendonça BatistaEmpresas: Friboi, JBS USA (Swift Company)Patrimônio: US$ 1,72 biVar. patrimonial 07/06: 1.914 %Cap. bursátil: US$ 7,23 biVendas: US$ 7,98 biLucro: US$ -93 milhõesSetores em que opera: agroindústria Inst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 1,06 bi

CSN/STEINBRUCHPresidente: Benjamin SteinbruchEmpresas: MRS, Namisa, Galvasud, Usina Presidente VargasPatrimônio: US$ 4,25 biVar. patrimonial 07/06: 48,7 %Cap. bursátil: US$ 15,79 biVendas: US$ 6,45 biLucro: US$ 1,64 biSetores em que opera: metalurgia e siderurgiaInst. fi nanceiras: nãoExport. : US$ 881,9 milh.

USIMINASPresidente: Wilson Nélio BrumerEmpresas: Usiminas, Cosipa, Ternium, Unigal, Fasal, Usial, Rio Negro, Dufer, Usiroll, Usifast, MRS, Portos, Ríos Unidos, Usiminas Mecánica, UsipartsPatrimônio: US$ 7,04 biVar. patrimonial 07/06: 44,5 %Cap. bursátil: US$ 23,47 biVendas: US$ 7,8 biLucro: US$ 1,79 biSetores em que opera: metalurgia e siderurgiaInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 458,6 milh.

GRUMAPresidente: Roberto González BarreraEmpresas: Grupo Industrial Maseca, Molinos Nacionales, Derivados de Maíz Seleccionado, Molinera de México, Gruma Corporation, Gruma Centroamérica, Productos y Distribuidora Azteca, Investigación de Tecnología AvanzadaPatrimônio: US$ 1,45 biVar. patrimonial 07/06: 9,7 %Cap. bursátil: US$ 1,54 biVendas: US$ 3,28 biLucro: US$ 198,6 milhõesSetores em que opera: indústria de alimentosInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 2,2 bi

GRUPO XIGNUXPresidente: Eugenio R. Garza HerreraEmpresas: Viakable, Xignux Yazaki, Qualtia, ProlecPatrimônio: US$ 820,3 milhõesVar. patrimonial 07/06: 12,1 %Cap. bursátil: US$ 1,21 biVendas: US$ 3,58 biLucro: US$ 96,2 milhõesSetores em que opera: indústria de componentes automotivos elétricos e indústria de alimentosInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 2,28 bi

28 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

ESPECIALOS MAIORES GRUPOS DA AMÉRICA LATINA

ODEBRECHTPresidente: Emílio OdebrechtEmpresas: Braskem, Construtora Norberto Odebrecht, Águas de Limeira, Bento Pedroso Construções e Química e Petroquímica IpirangaPatrimônio: US$ 3,73 biVar. patrimonial 07/06: 76,1 %Cap. estimada: US$ 2,36 biVendas: US$ 14,88 biLucro: US$ 254 milhõesSetores em que opera: química e petroquímica, construçãoInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 6 bilhões

GRUPO ULTRAPresidente: Paulo G. A. CunhaEmpresas: Ultragaz, Oxiteno, Ultracargo, Distribuidora de Petróleo IpirangaPatrimônio: US$ 2,59 biVar. patrimonial 07/06: 187,2 %Cap.bursátil: US$ 5,08 biVendas: US$ 11,24 biLucro: US$ 102,7 milhõesSetores em que opera: petróleo e gásInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 131 milhões

CAMARGO CORRÊAPresidente: Rafael Nogueira Empresas: Camargo Corrêa Cimentos, Cauê, Loma Negra, Cia. Argentina de Cemento Portland, Camargo Corrêa Construcciones e Com. Internacional, Cyrela Empreendimentos Imobiliários, Camargo Corrêa Investimentos, Usiminas, São Paulo Alpargatas, entre outras.Patrimônio: US$ 3,63 biVar. patrimonial 07/06: 42,5 %Cap. estimada: US$ 6,82 biVendas: US$ 5,95 biLucro: US$ 677 milhõesSetores em que opera: construção, cimento, metalurgia, energia, têxtil, agropecuária, investimentosInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

CBD - Pão de AçúcarPresidente: Abílio dos Santos DinizEmpresas: Supermercados Pão de Açúcar, Extra, CompreBem, Sendas Distribuidora, Sé, Novasoc, Versalhes, PA Publicidade, Financeira Itaú CBD.Patrimônio: US$ 2,82 biVar. patrimonial 07/06: 24,9 %Cap. bursátil: US$ 5,04 biVendas: US$ 8,41 biLucro: US$ 119,1 milhõesSetores em que opera: varejoInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

TECHINTPresidente: Paolo RoccaEmpresas: Tenaris: Siderca, Tamsa, Dalmine, Confab, Tavsa, Nkk, Algoma, Silcotub, Maverick, Hydril. Ternium: Hylsa, Siderar, Imsa. Tecpetrol: Tecgas. Techint E&C, Tenova e Humanitas.Patrimônio: US$ 7,98 biVar. patrimonial 07/06: 23,6 %Cap. bursátil: US$ 30,77 biVendas: US$ 19,83 biLucro: US$ 1,84 biSetores em que opera: metalurgia e siderurgia, petróleo e gásInst. fi nanceiras: nãoExport.: N.D.

SADIAPresidente: Walter FontanaEmpresas: Sadia Internacional, Wella Food Logistics, Qualy.Patrimônio: US$ 1,64 biVar. patrimonial 07/06: 42,8%Cap. estimada: US$ 3,74 biVendas: US$ 4,86 biLucro: US$ 389 milhõesSetores em que opera: agroindústria, alimentos.Inst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 1,77 bi

GRUPO CLARÍNPresidente: Héctor Horacio MagnettoEmpresas: Cablevisión, Multicanal e Teledigital. Diário Clarín e outras publicações impressas, Editorial La Razón, Editorial Argentino, Artes Gráfi cas Rioplantense, Papel Prensa. Canais de TV aberta e por cabo. Radio Mitre e Radio Cien FM. Empresas prod. de conteúdos. CMD (Comp. de Medios Digitales).Patrimônio: US$ 710,1 milhõesVar. patrimonial 07/06: 42,0 %Cap. bursátil: US$ 1,48 biVendas: US$ 1,39 biLucro: US$ 66,5 milhõesSetores em que opera: mídiaInst. fi nanceiras: nãoExport.: não

MOLINOS RÍO DE LA PLATAPresidente: Luis Perez CompancEmpresas: Molinos de Chile, Molinos USA, Grupo Estrella, NovaceitesPatrimônio: US$ 420,3 milhõesVar. patrimonial 07/06: 27,2 %Cap. bursátil: US$ 853,8 milhõesVendas: US$ 1,91 biLucro: US$ 101,7 milhõesSetores em que opera: indústria de alimentosInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 1,35 bi

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 29

ESPECIALOS MAIORES GRUPOS DA AMÉRICA LATINA

ANGELINIPresidente: Roberto Angelini RossiEmpresas: AntarChile, Copec, Celulosa Arauco y Constitución, Abastible, Metrogas, Gasmar, Eléctrica Guacolda, Igemar, Colbún, Cruz del Sur, Corpesca, Eperva, Inversiones Siemel, Pesquera Iquique Guanaye.Patrimônio: US$ 3,07 biVar. patrimonial 07/06: 16,2 %Cap. bursátil: US$ 7,61 biVendas: US$ 12,29 biLucro: US$ 381,5 milhõesSetores em que opera: combustíveis e gás, celulose, energiaInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 1,56 bi

CENCOSUDPresidente: Horst Paulmann Empresas: Almacenes Paris, Jumbo, Easy Chile, Easy Argentina, Las Brisas, Santa Isabel, Mall Unicenter, Aventura Center, Mall Alto Las Condes, Florida Center, Las Palmas del Pilar, Portal La Dehesa, Administradora de Malls, Banco Paris, BSSF Chile, BSSFP, SCF Chile.Patrimônio: US$ 3,44 biVar. patrimonial 07/06: 35,6 %Cap. bursátil: US$ 6,33 biVendas: US$ 7,58 biLucro: US$ 421,8 milhõesSetores em que opera: varejo, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: não

MATTEPresidente: Eliodoro Matte Empresas: CMPC, Forestal Mininco, Minera Valparaíso, Colbún, Banco BICE, Inversiones CMPC, Entel, Puerto Lirquén, Inforsa, El Volcán, Constructora y Comercio del Pacífi co.Patrimônio: US$ 5,26 biVar. patrimonial 07/06: 6,2 %Cap. bursátil: US$ 7,38 biVendas: US$ 6,3 biLucro: US$ 407,7 milhõesSetores em que opera: papel e celulose, energia, telecomunicações, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: US$ 1,3 bi

LUKSICLíderes: Andrónico (foto), Guillermo e Jean Paul LuksicEmpresas: Antofagasta Minerals, Mineras Los Pelambres, Michilla, El Tesoro; Banco Chile, CCU, Quiñenco, Alusa, Aguas Antofagasta, Empresa El Peñón, Telefónica del Sur, Madeco, Viñas San Pedro, Santa Helena, Tabalí e ltair, e sociedades de investimento.Patrimônio: US$ 4,89 biVar. patrimonial 07/06: 28,7 %Cap. bursátil: US$ 10,35 biVendas: US$ 5,23 biLucro: US$ 1,08 biSetores em que opera: mineração, bancário, bebidas, fl orestal, telecomunicaçõesInst. fi nanceiras: simExport.: US$ 3,66 bi

RICARDO CLAROPresidente: Ricardo ClaroEmpresas: SudAmericana de Vapores, Cristalerías Chile, San Vicente T.I., Elecmetal, Viña Santa Rita, Mega TVPatrimônio: US$ 582 milhõesVar. patrimonial 07/06: 14,9 %Cap. bursátil: US$ 1,03 biVendas: US$ 4,81 biLucro: US$ 103,6 milhõesSetores em que opera: transporte e logística, mídia, agroindústria, manufaturaInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 107 milhões

CGEPresidente: Jorge Eduardo Marín CorreaEmpresas: CGE Electricidad, Gasco, Gasmar, Cemento Polpaico, Empresas Emel, CGE ArgentinaPatrimônio: US$ 1,32 biVar. patrimonial 07/06: 51,2 %Cap. bursátil: US$ 2,44 biVendas: US$ 2,58 biLucro: US$ 189,1 milhõesSetores em que opera: energia elétrica, combustíveisInst. fi nanceiras: nãoExport.: não

SOLARI – DEL RÍOPresidente: Reinaldo Solari MagnascoEmpresas: Falabella, Banco Falabella, Farmacias Ahumada, Sodimac, Plaza Vespucio, Plaza Trébol, Plaza La Dehesa, Plaza Oeste, Puente Alto, Servicios Falabella Pro Limitada.Patrimônio: US$ 2,75 biVar. patrimonial 07/06: 17,7 %Cap. bursátil: US$ 8,21 biVendas: US$ 5,69 biLucro: US$ 435,8 milhõesSetores em que opera: varejo, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: não

ARCORPresidente: Luis PaganiEmpresas: Arcor, Arcor USA, Colonia Caroya, Cartocor, Dulciora, Alimentos Dos en Uno, Alimentos Indal, Bagley, La Campagnola, Ingenio La Providencia, Alica, Converfl ex Argentina, Mundo Dulce, Candy, Van Dam, Unidal, Industria de Alimentos Deu, La Serrana, EstirenosPatrimônio: US$ 405,2 milhõesVar. patrimonial 07/06: 8,9 %Cap. bursátil: US$ 737 milhõesVendas: US$ 1,84 biLucro: US$ 62,5 milhõesSetores em que opera: indústria de alimentosInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 350 milhões

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 31

ESPECIALOS MAIORES GRUPOS DA AMÉRICA LATINA

GRUPO SANTO DOMINGOPresidente: Julio Mario Santo DomingoEmpresas: Propilco, Biofi lm, Caracol Television, Red Colombia, AlmagránPatrimônio: US$ 1,07 biVar. patrimonial 07/06: 10,1 %Cap. estimada: US$ 1,97 biVendas: US$ 1,48 biLucro: US$ 187 milhõesSetores em que opera: industrial, telecomunicações, mídia Inst. fi nanceiras: nãoExport.: N.D.

BENAVIDESPresidente: Alberto BenavidesEmpresas: Compañía de Minas Buenaventura, Minas Colquirrimi, Yanacocha.Patrimônio: US$ 935,5 milhõesVar. patrimonial 07/06: 15,8 %Cap.estimada: US$ 4,66 biVendas: US$ 1,88 biLucro: US$ 187,6 milhõesSetores em que opera: mineraçãoInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 1,33 bi

ROMEROPresidente: Dionisio RomeroEmpresas: Primax, Alicorp, El Pacífi co Peruano Suiza, Romero Trading, Tramarsa, Santa Sofía Puertos, Credibolsa, Banco de Crédito, AFP PrimaPatrimônio: US$ 689,7 milhõesVar. patrimonial 07/06: 22,4%Cap. estimada: US$ 1,40 biVendas: US$ 2,73 biLucro: US$ 89 milhõesSetores em que opera: alimentos, comércio, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

BRESCIAPresidente: Pedro BresciaEmpresas: Rímac Compañía de Seguros y Reaseguros, Rímac EPS, Minsur, Funsur, Tasa, Clínica Internacional, Minera Raura, Inversiones Nacionales de Turismo, Hotel Libertador, Hotel Tambo, Centro Comercial Molina, Plaza American Colors, Duralatex, CPP, partipações em BBVA Continental, AFP Horizonte.Patrimônio: US$ 983 milhõesVar. patrimonial 07/06: 40,2 %Cap. estimada: US$ 3,36 biVendas: US$ 1,81 biLucro: US$ 306 milhõesSetores em que opera: mineração, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

GRUPO GLORIAPresidente: Jorge Rodríguez RodríguezEmpresas: Gloria, Centro Papelero, Cementos Yura, Farmacéutica del Pacífi co, Industrial CachimayoPatrimônio: US$ 409,1 milhõesVar. patrimonial 07/06: 20,9 %Cap. estimada: US$ 1,06 biVendas: US$ 932 milhõesLucro: US$ 91,8 milhõesSetores em que opera: cimento, papel e celulose, química e farmácia, agroindústria, logística e transporteInst. fi nanceiras: nãoExport.: US$ 58 milhões

ARDILA LÜLLEPresidente: Carlos Ardila LülleEmpresas: RCN Televisión, Postobón, Coltejer, Ingenio del Cauca, Sonolux, Bananal, Coltefi nanciera, Crown Colombiana, Forestal Doña María, Iberplast, Sucromieles, Textil Río Negro, Club Atlético Nacional de MedellínPatrimônio: US$ 1,84 biVar. patrimonial 07/06: 9,6%Cap. estimada: US$ 1,75 biVendas: US$ 2,11 biLucro: US$ 74 milhõesSetores em que opera: mídia, agroindústria, bebidas, têxtil, serviços fi nanceirosInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

METODOLOGIAAs vendas dos grupos correspondem à soma das partes ou ao total consolidado informado. O patrimônio corresponde ao declarado como consolidado pela holding ou à ponderação das partes patrimoniais do grupo em cada empresa. A capitalização bursátil e a estimativa de capitalização correspondem somente à parte que está em mãos da família ou do grupo controlador.Para estimar a capitalização foram usadas diversas fontes. Quando disponível, usou-se a capitalização bursátil nas mãos da holding. Quando esta não existia, mas as empresas que formam parte do grupo estavam em bolsa, foram ponderadas as capitalizações de cada uma pela participação acionária do grupo nelas. Tais valores correspondem a junho de 2008.Nos casos em que não se encontrou informação, estimou-se a capitalização do grupo projetando-se o lucro dos últimos períodos no prazo de 20 anos e descontando-se uma taxa de 5% ao ano. A estimativa é um indicador de médio prazo do valor do grupo.

GRUPO EMPRESARIAL ANTIOQUEÑO

Presidente: David Bojanini Empresas: Suramericana de Inversiones, Grupo de Cementos Argos (Cementos del Caribe, del Valle, Diamante, Cloklinker), Grupo Nacional de Chocolates, Fabricato Téxtil, Acererías Paz del Rio, Colcafé, BancolombiaPatrimônio: US$ 5,05 biVar. patrimonial 07/06: 9,9 %Cap. estimada: US$ 3,88 biVendas: US$ 2,27 biLucro: US$ 121 milhõesSetores em que opera: cimento, serviços fi nanceiros, indústria de alimentos, têxtilInst. fi nanceiras: simExport.: N.D.

32 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

ESPECIALOS MAIORES GRUPOSDA AMÉRICA LATINA

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 33

Estudiosos costumavam pensar que os grupos empresariais eram como

uma espécie exótica. Diziam que eram vistos muito de vez em quando, e em ambientes de institucionalidade débil. Ainda assim, eles estão aí e aparecem por todo o plane-ta. Na América Latina e na Coréia do Sul, e também em Cingapura, na Índia, África do Sul, Bulgária, Itália e Suécia. Até em países onde hoje são raros, como os Estados Uni-dos, é preciso lembrar que os grupos foram a espécie domi-nante antes que a legislação de 1930 os levasse à extinção. Mas ainda hoje, se se observa bem, entre as corporações privadas norte-americanas de capital fechado e que não cotizam em bolsa há alguns grupos diversificados, como a Cargill e a Pritzker, que se mantêm imunes a pressões dos investidores institucionais e de Wall Street contrárias à diversificação.

Um dos motivos menos estudados para a sobrevivên-cia dos grupos é a influência dos governos, que afetam diretamente seu habitat e sua evolução por intermédio de diferentes regulamentos, permissões, incentivos ou mandatos.

Os grupos econômicos diversificados, que aqui de-finiremos como aqueles que têm operações em três ou mais setores, são difíceis de classificar pois estão em constante evolução à medi-da que compram e vendem

subsidiárias. Apesar disso, uma classificação, mesmo que tosca, é útil para sua análise. Há grupos, por exemplo, que se diversificam ao integrar-se verticalmente. A companhia argentina de doces Arcor é um exemplo: compra fabricantes de açúcar e de outros insumos, além de plantas de embalagem de seus produtos. Outros, como os chaebol, como são conhe-cidos os grupos industriais coreanos, têm estratégias mais orgânicas: empresas como a Hyundai e a Samsung cres-ceram seguindo um padrão que permite alavancar sua vantagem tecnológica ou de mercado para direcioná-la a outros setores relacionados.

Outros ainda adotam a estratégia contrária: buscam se diversificar em setores sem nenhuma relação (e, portanto, de baixa correlação) com suas atividades principais. Essa estratégia de portfólio, que busca reduzir riscos, é própria de grupos com presença em setores com demanda volátil, como a mineração (como o Grupo Luksic, no Chile, e o Grupo México) e a construção (como a Camargo Corrêa).

Embora haja grandes exce-ções, os grupos de manufatura do leste asiático seguem mais a estratégica de diversifica-ção orgânica, enquanto os latino-americanos preferem a diversificação de portfólio. A diferença não é absoluta – a Samsung, por exemplo, tem uma equipe de beisebol e uma companhia de seguros –, mas é um ponto de partida útil para

analisar o efeito dos governos. O caso mais extremo é o da Coréia do Sul, onde, nos anos 70, o regime militar indicava aos chaebol em quais setores deviam entrar. Menos diretos, mas igualmente eficazes, fo-ram os governos latino-ameri-canos nos anos 90. Com seus programas de privatização, colocaram à venda muitos e atraentes ativos, que em sua maioria acabaram nas mãos de grupos domésticos.

Além disso, os governos são também responsáveis por importantes parâmetros para a expansão dos grupos. Um dos mais claros é a regulação bancária. Nos países que per-mitem que os bancos formem grupos (ou que os grupos formem bancos), usualmente isso acontece. Até poucos anos atrás, os grupos da Coréia do Sul e do Brasil não tinham bancos porque a legislação não permitia. Mas em grande parte do mundo, do México à Suécia e ao Chile, os bancos têm sido centrais para a for-mação de grupos.

Além disso, os grupos respondem rapidamente a mu-danças na lei, tal como se vê no México. Antes de 1980, a maioria dos grupos mexicanos tinha se formado a partir de bancos ou comprou um. Isso mudou rapidamente depois de 1982, ano em que o setor bancário foi nacionalizado. No início dos anos 90, o Estado colocou os bancos à venda e muitos grupos os recompra-ram e os mantiveram em seu poder até o final da década,

quando o governo relaxou as restrições que impediam aos estrangeiros entrar no setor bancário.

Este último é justamente outro parâmetro que o governo fixa: a extensão e o foco das multinacionais na economia doméstica. Os governos da Ásia, especialmente do Ja-pão, de Taiwan e da Coréia do Sul, foram restritivos com os investimentos das multina-cionais do Primeiro Mundo. A maioria das economias latino-americanas, por sua vez, deu-lhes as boas-vindas, espe-cialmente às de manufaturas, no final do século 20 e, mais recentemente, às de serviços. E, uma vez estabelecidas, elas deixaram pouco espaço para que os grupos locais entrassem nesses segmentos. Já no leste asiático os locais puderam entrar sem a concorrência estrangeira. Uma diferença que gerou conseqüências de longo alcance.

Ainda que os governos tenham restringido a forma com que podem afetar o de-senvolvimento dos grupos econômicos, a história mostra que a ação estatal influi em sua conformação. Imagine quão diferente seria o Grupo Carso, o maior da região, sem a privatização da Telmex da forma como foi feita. Hoje essas intervenções são menos comuns. Mas não se surpre-enda se no futuro os governos continuarem a buscar formas de favorecer ou impulsionar alguns de seus grandes grupos locais.

Os grupos e a intervenção do governo

Ben Ross SchneiderProfessor visitante de Ciência Política do MIT e autor de Business Politics and the State in Twentieth Century Latin America (Cambridge 2004).

34 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

NEGÓCIOS EXPANSÃO

Batista:X multiplicadores.

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11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 35

Denúncias de supostas irregularidades e investida em petróleo fazem ana-listas questionarem a duração do toque de Midas de Eike BatistaMarcelo Kischinhevsky, Rio de Janeiro

Quando fundou o Gru-po EBX, em 1980, Eike Fuhrken Batista era um

rapaz de 23 anos, recém-for-mado em Engenharia Meta-lúrgica, movido pela ambição de enriquecer. Meteu-se na floresta amazônica, investiu em minas, atraiu grandes só-cios estrangeiros e, apesar de alguns tropeços, realizou ple-namente seu objetivo. Quase três décadas depois, sua holding tornou-se um conglomerado diversificado, com ativos nos ramos de mineração, energia, logística, incorporação imobili-ária, recursos hídricos, manejo de florestas e entretenimento. Eike surfou como ninguém a onda das aberturas de capital no mercado brasileiro de ações e amealhou uma das maiores fortunas do País, estimada em mais de US$ 17 bilhões. Suas subsidiárias focadas em minério de ferro e petróleo recrutaram a peso de ouro executivos expe-rientes de rivais como a Vale e a Petrobras, tornando-se, em tempo recorde, alternativas de investimento em setores alta-mente concentrados. A sucessão de transações espetaculares rendeu ao dono da EBX o apelido de Midas, referência ao rei frígio que, reza a lenda, tinha o dom de transformar em ouro tudo que tocasse. Nos últimos meses, contudo, muitos analistas acreditam que o Midas verde-e-amarelo perdeu o toque.

Eike notabilizou-se mesmo por um extraordinário senso de oportunidade para identificar potenciais negócios e passá-

los adiante pelo maior preço possível, atraindo investidores estrangeiros de peso. Seu braço no setor de energia, a MPX, nasceu na esteira da crise do racionamento de energia de 2001. Na ocasião, Eike investiu US$ 150 milhões numa usina termelétrica, a TermoCeará, depois comprada pela Petro-bras. Hoje, a MPX tem como meta se tornar a maior empresa privada em geração de energia elétrica na América Latina, com capacidade instalada de 10 mil MW.

MARCA DA AMBIÇÃOOs empreendimentos se con-centram no Brasil, mas há também uma unidade térmica no Chile, a UTE Castilla, com projeção de gerar 1,4 mil MW queimando carvão mineral. De acordo com Eduardo Karrer, presidente e diretor de Relações com Investidores da MPX, a usina está em fase de estudos ambientais, e as negociações de contratos de fornecimento de energia com futuros clientes estão na reta final. Crédito não é problema: o Santander, banco incumbido de buscar um parcei-ro estratégico para o negócio, estruturou um financiamento de longo prazo de US$ 500 milhões e ainda entrou com um empréstimo-ponte de US$ 100 milhões.

A ambição é a marca re-gistrada de todos os empre-endimentos do Grupo EBX. Segundo o pai do empresário, Eliezer Batista, ex-ministro de Minas e Energia do Brasil e responsável pela transforma-

ção da Vale numa potência logística, Eike tem o perfil de um “realizador compulsivo”, desde garoto. “Tem o tino para prospectar oportunidades e a coragem para transformá-las em realidade e negócios”, disse Eliezer, em depoimento autobiográfico, deixando esca-par uma ponta de preocupação com o filho workaholic. “Eu me preocupo muito com sua intensidade laboral. Sei o quanto isso custa para a saúde. Mas é a natureza dele.”

Eike passou a juventude na Alemanha, terra da mãe, onde se formou pela Universidade de Aachen. Impulsivo, chegou a vender apólices de seguros de porta em porta para suplementar a mesada. Mas logo entraria de verdade no mundo dos negó-cios, montando uma empresa de importação e exportação de produtos brasileiros, com clientes espalhados pela Europa e África. Essa rede de contatos o ajudaria posteriormente em sua volta ao Brasil, nos anos 80, quando aproveitou uma corrida do ouro no interior do Mato Grosso para intermediar operações de compra e venda do metal. Fez fortuna com as co-missões, a ponto de comprar sua própria mina e chamar a atenção de investidores estrangeiros, o que culminaria na fusão entre sua empresa e a canadense Treasure Valley, formando a TVX, em 1985. Uma década depois, após desentendimentos com os sócios, Eike venderia sua participação e ganharia novo fôlego para investir, por meio de sua EBX.

A MAIOR JOGADAFoi no Amapá, onde tinha ad-quirido um garimpo de ouro, que o empresário deparou com a descoberta que representaria a maior tacada de sua vida: sob o veio principal da mina de Amapari repousavam milhões de toneladas de minério de ferro. Eike pôs de pé, então, a MMX Mineração & Metálicos e manobrou para estender a concessão da mina e garantir os direitos de construção de uma ferrovia de 220 quilômetros até o porto amazônico de Santana. Hoje, estima-se que as reservas totais na região da Serra do Na-vio chegariam a 1,5 bilhão de toneladas, uma mini-Carajás. O braço de mineração da EBX teria ainda ativos em Corumbá, no Mato Grosso, e no eixo Mi-nas Gerais-Rio de Janeiro. Em menos de um ano, em julho de 2006, a MMX abria o capital e captava R$ 1,1 bilhão, a maior oferta pública inicial da história da Bovespa até então. Como se não bastasse, de lá para cá, o papel subiu mais de 200%, o melhor desempenho entre todas as companhias que se lançaram na Bolsa nos últimos anos.

Em março, a EBX surpre-endeu de novo, ao anunciar a cisão da MMX e a criação da IronX, cujo controle seria vendido à gigante multinacio-nal Anglo American por nada menos que US$ 5,5 bilhões. Pouco depois, em junho, a subsidiária de exploração de petróleo e gás do grupo, a OGX, batia novo recorde no mercado nacional, ao concluir uma captação primária de R$

FATOR “X” À PROVA

36 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

6,7 bilhões. Detalhe: sem um único barril de óleo extraído, a empresa já tinha recebido uma injeção de US$ 1 bilhão de grandes investidores, como o fundo de pensão dos profes-sores de Ontário, no Canadá, e o Gávea Investimentos, gestora de recursos de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Cen-tral do Brasil e discípulo de George Soros. Analistas de mercado afirmam que Eike Batista tornou-se uma grife. É o chamado “Fator X”, referência ao fato de que quase todas as empresas da holding têm X no nome – segundo Eike, a letra é símbolo de multiplicação e, portanto, de prosperidade.

O estilo de Eike incomoda muita gente. “Aventureiro”, “fanfarrão” e “megalomaní-aco” são alguns dos adjetivos que seus desafetos usam para classificá-lo. Sua vida de play-boy, apaixonado por lanchas de corrida e pela luz dos holofotes, delineia um perfil diferenciado, num país em que bilionários preferem a discrição. “Ele reúne as principais características de um empreendedor: capacidade de assumir riscos, perseverança, liderança, além de proatividade, competitividade agressiva e postura otimista” aponta José Cezar Castanhar, professor do mestrado em Gestão Empresa-rial da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ). “Eike tem o que nos EUA se chama de opportunity obsession, ou seja, está sempre buscando uma oportunidade de fazer bons negócios. Quando ele olha para um determinado setor, vê o que muitos não conseguem enxergar.”

Este ano, depois que se proclamou o homem mais rico do Brasil, coincidentemente começaram seus problemas. No mês passado, a EBX mi-grou das páginas de economia dos jornais para as policiais. A Polícia Federal deflagrou a Operação Toque de Midas,

cujo alvo principal era a MMX. Os policiais, que investigavam supostas irregularidades na concessão da Estrada de Ferro do Amapá, vasculharam des-de os escritórios da empresa, no extremo norte do País, até a casa de Eike, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Em um só dia, as ações da subsidiária chegaram a despencar 22% na Bovespa.

Afinal, a MMX era um exemplo de multiplicação de lucros. Só com a venda de par-ticipação majoritária nos ativos de mineração no Amapá e no eixo Minas-Rio, concentrados na IronX, Eike embolsaria US$ 3,3 bilhões da Anglo American. Eike precisou oferecer uma “in-

denização pessoal” para que o negócio não fosse sumariamente desfeito. Em 5 de agosto, a MMX finalmente anunciou que a Anglo American compraria as ações da IronX.

Se o negócio não vingasse, tampouco seria o primeiro re-vés de Eike. O irrequieto em-preendedor já havia quebrado na década passada com uma empresa de cosméticos que explorava a imagem de sua ex-mulher, a modelo Luma de Oliveira, e outra de entregas postais. Mas talvez o fracasso mais espetacular tenha sido o abandono do projeto de cons-trução de uma siderúrgica na Bolívia, depois do surto nacionalista desencadeado pelo presidente Evo Morales. Como a usina estava a menos de 50 quilômetros da fronteira com o Brasil, contrariando a legislação boliviana, a EBX acabou expulsa do país.

Mas analistas de mercado acreditam que a investida na prospecção de petróleo tem

potencial para ser um fias-co hors concours. A OGX ofereceu salários dez vezes mais altos e bônus milioná-rios para contratar um time de executivos, encabeçado pelo ex-presidente da Petrobras e do BNDES Francisco Gros e pelo ex-gerente de Exploração e Produção da estatal Paulo Mendonça, e arrematou 21 blo-cos de exploração por US$ 1,4 bilhão na rodada de licitações de novembro de 2007. Só que as áreas estão em águas rasas, longe, portanto, das cobiçadas reservas recém-descobertas na camada do pré-sal das Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo. E Eike tem tido trabalho para convencer

possíveis investidores sobre o potencial de retorno. Os road shows recebem mais atenção do que o core business: só no dia 8 de julho, a OGX anunciou o fretamento de sua primeira plataforma de perfuração, a modesta Alaskan Star, da empreiteira Queiroz Galvão, unidade semi-submersível em operação nas águas de Campos e Santos desde 1991. A previsão é de que os primeiros poços da OGX sejam perfurados apenas no segundo semestre de 2009.

Não é por acaso que os pa-péis do Grupo EBX acumulam queda mais forte do que a média do mercado, nos últimos dois meses. A OGX chegou a cair 39% em relação ao preço de lançamento. Após o tombo, no último dia 28, a Merrill Lynch recomendou a compra das ações da empresa, apesar de listar dez fatores de risco para os investidores, como o timingdo sucesso na exploração, “questões legais envolvendo

o Grupo EBX” e até a dispo-nibilidade de equipamentos de perfuração. “Eike Batista é um bom gestor. Mas, mesmo que ele fosse o Super-Homem, não poderia alterar uma conjuntura internacional desfavorável. A bolha das commodities estou-rou, e os papéis de empresas petrolíferas, mineradoras e siderúrgicas tendem a sofrer ainda mais nos próximos me-ses”, prevê Marcelo Ribeiro, estrategista da Pentágono Asset Management.

No momento, a EBX ainda enfrenta investigações sobre supostas condições degradantes de trabalho na usina siderúrgica de Corumbá e irregularidades no licenciamento ambiental de

um megaterminal portuário a ser instalado em Peruíbe, litoral de São Paulo, em terras dis-putadas por índios. Castanhar, da FGV-RJ, lembra que todo grande empreendedor tem uma face obscura, e que isso se deve à necessidade de construção de alianças. Quando a ativi-dade econômica depende de regulação, muitas vezes o em-presário opera na fronteira da transgressão de leis e normas. “Há uma expectativa de que a nova geração de empreendedo-res esteja comprometida com a responsabilidade social, mas isso ainda não passa de uma aspiração”, diz.

Os últimos acontecimentos, de fato, sugerem que o Midas brasileiro pode ter subitamente perdido o toque. Se esse for realmente o caso, resta saber se o rei dos negócios bilionários se conformará em ser um em-presário comum ou se buscará uma nova fórmula de alquimia para que seus empreendimentos voltem a verter ouro.

Analistas de mercado acreditam que a investida em petróleo pode ser um fiasco.

NEGÓCIOS EXPANSÃO

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 37

NEGÓCIOS BANCOS

CONQUISTAINVERSAO equatoriano Banco Pichincha pla-neja se instalar na Espanha María Teresa Escobar, Quito

Ahistória registra a ofensiva de bancos espanhóis inva-dindo a América Latina.

Mas o que pensariam os espa-nhóis da tendência contrária? Quem está perto de descobrir isso é o Banco Pichincha, do Equador, que já pediu auto-rização às autoridades locais

para se instalar na Espanha, com o objetivo de atender aos quase 1 milhão de imigrantes radicados no país.

O projeto é ambicioso. Não só significa competir no Primeiro Mundo, sob as regras da Basiléia 2, mas também conquistar rapidamente ao

Acostacruza o Atlântico

menos 300 mil clientes para tornar a operação rentável. Com US$ 5,16 bilhões em ativos, o Pichincha é o maior conglomerado financeiro do Equador. Seu banco adminis-tra 27% do total dos depósitos do sistema bancário do país, e essa posição fez com que os acionistas defendessem a busca por novos horizontes. “Ter mais de 30% de partici-pação de mercado não seria saudável para o Equador, nem para o sistema, nem para o banco”, diz Antonio Acosta, presidente adjunto da instituição.

O plano de chegar à Espa-nha foi divulgado logo depois de o grupo sair da Colômbia: em junho, sua subsidiária no país, a Inversora Pichincha, foi vendida para a norte-americana AIG por US$ 110 milhões. A venda alimentou rumores de insolvência do banco, desmentidos pelo próprio presidente Rafael Correa. Segundo as cifras da Superintendência de Bancos, o índice de liquidez do Pi-chincha é de 30%. Esse nível é considerado alto até num país como o Equador, onde as instituições financeiras se caracterizam por ter posições de liquidez elevada para en-frentar eventuais sustos. Afi-nal, a lembrança da crise de 1998, que provocou corridas aos bancos e o confisco de depósitos, continua fresca.

A história da internaciona-lização do Grupo Pichincha também passa pelo Peru, onde no final dos anos 90 comprou o Banco Financiero de Perú, instituição com ativos de US$ 2,3 bilhões que há três anos abriu uma operação on shore no Panamá com ativos de US$ 600 milhões. Além disso, também possui uma agência em Miami, que opera há 25 anos e que, embora ge-re lucro anual de apenas US$

1 milhão, é a ponta de lança para as operações de comércio exterior do grupo.

Até agora, das operações estrangeiras do Pichincha, o Financiero é a jóia da coroa, tanto assim que já recebeu muitas propostas de compra. “Ele não está à venda”, avisa Acosta. Para o grupo, o Peru é muito atraente, pois está co-meçando um importante ciclo de crescimento num período em que a economia de seu país está estancada. É isso, aliás, que tem levado muitas outras empresas equatorianas a se dirigir para o vizinho, on-de também podem aproveitar as vantagens de um tratado comercial com os Estados Unidos como o que Quito não quis concretizar.

Mas se as possibilidades no Peru parecem promissoras, o sonho de fincar o pé na Espa-nha ainda depende de um fator externo imprevisível: o efeito que as novas leis de imigração da União Européia terão sobre os latino-americanos. Acosta reconhece que ainda é preciso ver como termina o debate e observar detidamente a reação dos equatorianos que vivem na Espanha. “Não estamos tão loucos a ponto de pensar em brigar com os grandes ban-cos espanhóis pelos clientes espanhóis”, afirma.

Outro fator importante será o desenlace da crise hipote-cária na Espanha, que poderá reduzir significativamente a capacidade econômica dos imigrantes equatorianos, que trabalham sobretudo no setor da construção civil, o mais sensível a uma crise desse tipo. “Acho que a crise espanhola se resolverá mais rapidamente que a dos Esta-dos Unidos”, diz Acosta. De modo que, para o Pichincha, uma nova conquista, desta vez ao inverso, está prestes a acontecer.

38 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

NEGÓCIOS INFRA-ESTRUTURA

CONSTRUÇÃOGrupo Carso foca nas debilidades mexicanas para cres-cer em setores estratégicosMarisol Rueda, Cidade do México

Omagnata mexicano Carlos Slim gosta de viajar com estilo. Em junho passado,

o segundo homem mais rico do mundo converteu-se em protagonista do sistema de transporte urbano do México ao vencer, juntamente com a mexicana ICA e a francesa Alstom, a concorrência para a construção da linha 12 do metrô da capital, a maior

obra da atual administração federal.

Com um contrato de US$ 1,51 bilhão e participação de 25% no projeto, sua compa-nhia Carso Infraestructura y Construcción (Cicsa) avança na tática criada pelo empre-sário de origem libanesa de focar-se em setores com alto potencial de crescimento. Ele sabe bem que a falta de

infra-estrutura é uma pedra no sapato para o México. Ela trava o desenvolvimento de outros negócios no país, que amarga, nesse quesito, uma penosa 61ª colocação mundial, segundo o World Economic Forum. Por isso, em janeiro Slim propôs a criação de uma comissão nacional de infra-estrutura que fortaleça e promova o planejamento, a

EM

construção e a operação dos projetos.

A comissão acabou não sendo criada, mas Slim está tirando proveito do nutrido Programa Nacional de Infra-Estrutura (PNI) do governo de Felipe Calderón, que contempla um investimento de mais de US$ 94 bilhões no período 2007-2012 em projetos de transporte, abas-tecimento de água e comuni-cações, entre outros. A meta é alcançar desembolsos de 5% do PIB anual, contra os atuais 3,2%.

Tal estratégia é o motor do Grupo Carso, braço de Slim que controla e opera diversas companhias dos se-tores de consumo, industrial, infra-estrutura e construção. A Cicsa, sua divisão de infra-estrutura e construção, encaixa perfeitamente com a Ideal (Impulsora del Desar-rollo y Empleo en América Latina), cisão de seu Grupo Financiero Inbursa criada em 2005 voltada à implementa-ção e operação de projetos de infra-estrutura no México e no restante da região. A Carso Telecom (Telmex e América Móvil), a Inbursa, a Ideal e o Grupo Carso, os quatro braços de Slim, somam mais de 200 empresas, e alimentam sua riqueza, avaliada em cerca de 6,3% do PIB mexicano.

“Existem áreas que defi-nimos como estratégicas, so-bretudo a de infra-estrutura”, diz Jorge Serrano, diretor de relação com investidores do Grupo Carso. Já faz três anos que o olfato agudo de Slim o guiou para esse negócio. Um dos primeiros passos do grupo foi a reorganização de seu portfólio de ativos, vendendo os que não eram estratégicos e focando-se nos que eram. “O grupo vem se preparando para ter uma situação financeira sólida”, diz Serrano. “Assim,

Slim:forte aposta

AP

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 39

vendemos alguns ativos e utilizamos a geração de fluxo do grupo para o pagamento de passivos.”

O Carso, que no segundo trimestre do ano registrou vendas de US$ 1,89 bilhão (foi o terceiro em vendas do grupo de Slim), vendeu empresas dos ramos de ce-râmica, tabaco e celulose, entre outros. O consórcio, criado em 1980, foi forma-do pela Cicsa em 2005 para concentrar várias de suas companhias, dedicadas à ins-talação de dutos, à fabricação de produtos e à prestação de serviços para a indústria química e petrolífera, bem como para projetos de infra-estrutura e construção civil. O grupo constrói de casas a plataforma de petróleo. A Cicsa é a grande aposta do Grupo Carso para concorrer no PNI. Para impulsionar esse programa e reduzir o contágio da desaceleração econômica dos EUA, o presi-dente Calderón anunciou em fevereiro a criação do Fundo Nacional de Infra-estrutura, instrumento que conta com um montante inicial de US$ 4 bilhões, que se planeja in-vestir este ano.

De acordo com analistas, as companhias de infra-estrutura serão as primeiras a se beneficiar da iniciativa. “A oportunidade do Grupo Carso para os próximos três ou quatro anos está clara-mente na infra-estrutura”, diz Luis Miranda, analista do banco Santander. Com isso, o desafio do Carso é considerável, num entorno em que cada vez há mais concorrentes, nacionais e internacionais. De fato, a Cicsa não tem participado de tantos projetos quanto que-ria. “A concorrência é feroz. Gostaríamos de ter ganhado muito mais projetos.”

ADM. INTEGRAL DE ALIMENTOS

SACK’S5TH AVENUE

GRUPOSANBORN’S

SANBORN’S

CONDUMEX

PORCELANITE

MIXUP

SEARS

CONSTR.CICSA

HOTELESCALINDA

BANCOINBURSA

SEGUROS INBURSA

CASA DE BOLSAINVERSORA BURSÁTIL

AFOREINBURSA

OPERADORAINBURSA

GRUPOSLIM

GRUPOCARSO

IDEAL(INFRA.)

AMÉRICAMÓVIL

USCOM

CARSO GLOBALTELECOM

TELMEX

EMBRATEL

TELMEXINTERNAC.

INBURSA

CLARO

TELCEL

Fonte: Economática, AE IntelligenceCapitalização estimada em US$ bilhões

QUANTO VALE SLIM

10US$ 22,9 BILHÕES

US$ 37,29 BILHÕES

JUN-06 DEZ-06 JUN-07 DEZ-07 JUN-08

20

30

40

50

A Cicsa tem hoje um back-log, ou trabalhos por executar, que somam cerca de US$ 1,29 bilhão. Embora a empresa – que responde por 18,6% da receita do Grupo Carso – tenha regis-trado os melhores resultados de todas as divisões do Grupo Carso, eles ainda estão abaixo das expectativas. As cifras fo-ram afetadas, principalmente, pelas flutuações cambiais e pelo desempenho do setor de fabri-cação e de serviços da indústria química e petrolífera.

Mas o Carso ainda tem espaço para se movimentar. O consórcio também identifica oportunidades na mineração, por meio de sua divisão Grupo Condumex, que inclui empre-sas dedicadas à manufatura e à comercialização de produtos

para os setores de construção, eletrônico, automotivo e de telecomunicações. E quer ampliar suas atividades para a exploração mineradora. “Abrimos novas frentes para explorar diversos minerais, como outro, prata, chumbo, molibdênio, zinco e cobre”, conta Serrano.

A Condumex, que concen-tra cerca de 41% da receita do Grupo Carso, estará focada, sobretudo, nas linhas de negócio correspondentes a produtos para construção, telecomunicações e energia. Durante o segundo trimestre deste ano, a empre-sa registrou vendas de US$ 791 milhões, somente 1,8% a mais que o registrado no mesmo período de 2007. As margens operacionais foram

afetadas, em grande parte, por uma redução de mais de 40% no preço do zinco, principal metal produzido pela empresa, e por uma queda na produção de outros metais.

MENOS CONSUMOAlém de cumprir com seu objetivo de minimizar o in-vestimento em ativos não-produtivos, a aposta nos setores de infra-estrutura e mineração do Grupo Carso servirá para protegê-lo do moderado cres-cimento do consumo nacional. O consumidor mexicano tem se mostrado cauteloso em seus gastos e no uso de crédito de-vido à alta de muitos produtos e das taxas de juros.

A desaceleração se viu refletida no Grupo Sanborns, divisão de consumo da Carso composta por lojas de departa-mentos, discotecas, restaurantes e cafés. No segundo trimestre deste ano, a empresa, que res-ponde por 40,5% da receita do Grupo Carso, registrou vendas de US$ 769 milhões, 5,2% mais que as registradas no mesmo período de 2007. Entretanto, o lucro da operação caiu 15,1% como resultado da débil de-manda de consumo.

Além disso, a empresa te-ve de fazer desembolsos por conta da situação econômica. “O ambiente inflacionário que se começa a viver faz com que os varejistas lancem cam-panhas e ofertas”, diz Omar Camacho, sócio especialista em indústria de consumo da consultoria Deloitte para o México e a América Latina. A maior atividade promocional desenvolvida pela Sanborns afetou seus resultados ope-racionais. É por isso que a aposta do Grupo Carso é bastante segura. E, daqui al-guns anos, quem sabe Carlos Slim poderá ser visto viajando tranqüilamente no metrô da Cidade do México.

40 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

NEGÓCIOS INTERNACIONALIZAÇÃO

PAPEL PRINCIPALAlém dos negócios em papel e celu-lose, agora é o braço fi nanceiro do grupo chileno Matte que se expandirá para o exteriorFrancisca Vega, Santiago

Apesar de comandar uma das maiores companhias de papel e celulose da

América Latina, Eliodoro Matte Larraín não se sente bem no papel de protagonis-ta. Não gosta de aparecer na imprensa, não é o porta-voz das companhias em que tem participação acionária, não posa para fotógrafos e lhe incomoda que sua família seja classificada como um dos maiores grupos empresariais do Chile. Modéstia ou contra-dição? Não há quem responda. Uma das maiores exportadoras de celulose da região para o resto do mundo, com uma for-tuna avaliada, em junho deste ano, em pouco menos de US$ 7,4 bilhões, “a família Matte não quer aparecer. É assim tão difícil de entender?”, diz um executivo que trabalha em uma das companhias do grupo e que prefere o anonimato. “Os movimentos de suas empresas falam por si”.

Mas, para azar da família, o que os Matte fazem – ou deixam de fazer – está sempre em evidência, vira notícia. Em maio, por exemplo, Gonzalo García, secretário geral da Empresas CMPC e homem de confiança de Matte junto ao gerente geral, Arturo Ma-ckenna, anunciou a transfe-rência de uma das máquinas para fabricação de papel para lenços descartáveis do Chile para o Peru, em função dos menores custos de energia no

Eliodoro Matte:sem protagonismo

país vizinho. Os empresários chilenos que se surpreenderam com a decisão precisam tomar nota: mudar o foco dos inves-timentos deve ser a tônica dos Matte este ano.

Donos de negócios nos mercados de papel e celulose, mineração, energia, telecomu-nicações e serviços bancários, os Matte se preparam, agora, para um movimento que pou-cos esperavam: revitalizar a área de investimentos por in-termédio do Bice Inversiones, braço do banco do grupo, o Bice. “Estamos reaparecendo e nos preparando para ir para o mercado externo”, afirma Juan Carlos Eyzaguirre, diretor do Bice Inversiones. “Procuramos associações estratégicas com sócios locais no Peru, na Co-lômbia e no Brasil, já que eles conhecem melhor as culturas onde atuam”.

Esse movimento é outro indicativo de que o grupo Matte quer se globalizar ainda mais. A presença no México, na Colômbia, no Uruguai, na Argentina e no Peru, além dos escritórios comerciais ao redor do mundo, já não é suficiente. Tudo indica que os Matte querem estender grande parte das suas empresas além das fronteiras chilenas.

Dentro de aproximada-mente dois meses, o Bice In-versiones pretende anunciar o nome da empresa com a qual vai estabelecer sua primeira parceria estratégica no Peru.

“A idéia é manter um executivo chileno no exterior”, diz Eyza-guirre, que com essa jogada acelera fundo. “O processo todo já está bastante avan-çado”. Mesmo porque, além de ser uma boa oportunidade,

administrar parte da riqueza de latino-americanos não será novidade para o grupo. “Nós já temos experiência”, diz o executivo, lembrando que os Matte são o quarto maior ad-ministrador de fundos mútuos do mercado chileno, no qual têm participação de 5,5%.

A idéia é desenvolver uma carteira de investimentos nos mercados-alvo e, em seguida, oferecer produtos a investi-

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 41

CMPC PROD.DE PAPEL

FORESTALMININCO

CMPCCELULOSA

PUERTO LIR-QUÉN (61,2%)

CABO FORWARD(12,2%)

CMPCPAPELES

CMPCTISSUE

COLBÚN(35%)

NEHUENCO

INDUSTRIAL

AYSÉN

ANTIHUÉN

INV. ELECTROGAS

FORESTAL COMINCO (87,8%)

SARDELLIINVESTMENT

GUARDIAVIEJA

ELÉCTRICOQUILLOTA

GRUPOMATTE

CMPC(55,44%)

ALMENDRAL(32%)

ENTELCHILE

ENTELPCS

BANCOBICE

MINERAVALPARAÍSO (78%)

dores institucionais no exte-rior. “Essa decisão faz muito sentido”, diz Claudia Labbé, analista da empresa classifica-dora de risco Feller-Rate, de Santiago. “Faz algum tempo que a BICE Corp. se expan-de por meio de aquisições”. Procurar oportunidades de investimento em nichos nos maiores setores parece ser o objetivo. “Já era hora, porque no Chile o BICE não tem mais para onde crescer”, afirma um executivo da concorrência.

NADA É POR ACASOOs planos de expansão de seu braço financeiro não são as únicas ações preparadas pelo grupo. “Para 2008, a CMPC tem programados investi-mentos de cerca de US$ 350 milhões”, diz Gonzalo García. De acordo com levantamento da Feller-Rate, a companhia exporta para mais de 40 países da América Latina, Europa, Ásia e América do Norte.

Os investimentos de agora se somam aos cerca de US$ 2,1 bilhões que a companhia in-vestiu nos últimos quatro anos. Segundo García, a empresa comanda atualmente várias iniciativas, como a aquisição de terras, a administração de plantações, a ampliação da capacidade instalada de suas fábricas e o desenvolvimento de novos produtos, sem contar os avanços no processo de internacionalização. “Pos-sivelmente, o nível atual de investimentos vai se manter na média dos últimos quatro anos”, afirma García. “Isto é, entre US$ 350 milhões e US$ 500 milhões por ano”. O plano da companhia é continuar a crescer, com foco na região.

É nesse cenário que se enquadra a recente investida do grupo na Colômbia. Em dezembro de 2007, a CMPC Tissue, de sua propriedade,

comprou a Drypers Andina – companhia que fatura cerca de US$ 20 milhões por ano – da mexicana PI Mabe, num negócio que alcançou US$ 5,6 milhões.

De acordo com a compa-nhia chilena, o ingresso no mercado colombiano cons-titui um importante passo na internacionalização e no de-senvolvimento do negócio de fraldas na região. A aquisição, que se somou à compra da empresa mexicana Absormex há dois anos, permitiu à Matte consolidar sua posição nesse segmento.

Mas isso não é tudo. Já faz algum tempo que se diz que, da mesma forma que o grupo Angelini, também chileno, os Matte estão à procura de terras

no Brasil. García não nega. “É um mercado que estamos ana-lisando e que acompanhamos já faz algum tempo”, admite. “Na verdade, vendemos mui-tos produtos para o Brasil. E provavelmente estaremos presentes nesse mercado no futuro”, diz, sem dar maiores detalhes.

“Trata-se de uma simples coincidência”, garante Eyza-guirre quando lhe perguntam por que o Bice Inversiones tem foco exatamente nos mesmos países em que a CMPC está presente. “Claramente, é uma estratégia cuidadosamente definida”, diz Patrício Cortés, diretor executivo do Centro para o Empreendimento e a Inovação (CIE), da Univer-sidade do Desenvolvimento,

de Santiago. “O grupo sem-pre se preocupou com as sinergias”.

Faz sentido. Na verdade, Eyzaguirre afirma que o plano de internacionalizar o Bice Inversiones vinha sen-do estudado já havia algum tempo e que “decisões como essa passam pela diretoria”. Ou seja, quem deu o pontapé inicial em direção à interna-cionalização foi Bernardo Matte Larraín, filho de Patrí-cia Matte, irmã de Eliodoro, e provável sucessor do tio. “Não existem casualidades no mundo dos negócios”, afirma Cortés.

Por ora, a única empresa que parece dar dores de ca-beça à família Matte é a Col-bún, segunda maior geradora do Sistema Interconectado Central de Chile (SIC), e a terceira maior em nível na-cional. Confrontada com os cortes do gás proveniente da Argentina e com a seca no país, a companhia teve de renegociar com os credores o adiamento de obrigações financeiras e as condições de alguns convênios.

“Mas tudo indica que, a partir de 2009, haverá forte recuperação”, diz Rodrigo Martin, da Banchile Inver-siones, de Santiago. “Ela vai ocorrer com a normalização das condições hidrológicas e a chegada do gás natural li-quefeito (GNL)”. Além disso, poucos duvidam que Bernardo Larraín Matte será capaz de solucionar o problema – uma bênção, considerando que apenas 10% das famílias empresariais do mundo têm a sorte de poder contar com a terceira geração para au-mentar sua fortuna.

Sendo assim, ao que tudo indica, o nome dos Matte continuará a aparecer na imprensa, goste ou não seu maior gestor.

Fonte: Economática, AEIntelligence

Capitalização estimada, em US$ bilhões

EM SILÊNCIO

US$ 7,38 BILHÕES

DEZ-06 JUN-07 DEZ-07 JUN-08

10

8

4

6

42 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

NEGOCIOS BANCOSNEGÓCIOS SUCESSÃO

DELFIM SILENCIOSODionísio Romero Paoletti é reservado, mas não esconde seu objetivo: converter o Grupo Romero em um dos prin-cipais da região Cecilia Niezen, Lima

“Já estou indo”, diz, apres-sado, Dionisio Romero Seminario, patriarca

do Grupo Romero e um dos homens mais poderosos do Peru, ao sair de um evento em Lima. Sem falar com a imprensa, “El Zorro” - a raposa -, como costuma ser chamado por seus amigos, sempre tem a mesma resposta: “falem com meu filho”.

Ele se refere a Dionisio Romero Paoletti, 43 anos, dono de uma personalidade ainda mais reservada que a de seu pai. É inegável que sua presen-ça à frente do conglomerado industrial peruano é cada vez maior, ainda que para muitos a sombra paterna permaneça

presa em líder regional por meio de aquisições que lhe permitam incorporar redes de distribuição com as quais possa posicionar suas próprias marcas.

A SOMBRA DO PAIMas a estratégia do grupo não se limita a abrir novos mercados. Também passa por fazer do jovem Romero – cabeça de um conglomerado industrial que em 2007 vendeu aproximadamente US$ 1,4 bilhão – um líder com per-sonalidade no timão de uma transnacional de origem peru-ana. “Não se trata de que faça uma administração eficiente e operacional do grupo, mas de lançá-lo como uma pessoa que inspire credibilidade e com bom manejo político”, diz um executivo próximo do grupo, que prefere não se identificar.

O delfim não costuma

Imagem pouco comum:Romero Paoletti

em um evento público

pousada sobre os negócios. De fato, não deve ser fácil ser o único filho homem de Romero Seminario e demonstrar que chegou à liderança por méritos próprios.

Por enquanto, o processo sucessório, iniciado há alguns anos quando o negócio finan-ceiro foi separado do indus-trial – deixando Romero pai à frente da Credicorp, a holding financeira, enquanto o filho fi-cava a cargo do conglomerado industrial – não parece ter al-terado o ritmo do grupo. Prova disso são as recentes compras da colombiana Propersa, de higiene pessoal, por US$ 7 milhões, e da argentina The Value Brand Company, por

US$ 65 milhões, bem como a entrada do grupo no setor da pesca. Esses investimentos demandaram um desembolso superior a US$ 100 milhões, e indicam a capacidade de Romero filho para continuar a estratégia do grupo de diversi-ficar e consolidar os negócios no mercado interno, gerar mais valor a cada um e acelerar na América Latina.

A Alicorp, empresa de produtos de consumo e braço mais conhecido do conglome-rado, faturou US$ 914 milhões em 2007 (uma alta de 41,8% em relação a 2006) e possui operações na Colômbia e no Equador. O objetivo do grupo é converter essa em-

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 43

aparecer em público e vive numa espécie de cerca huma-na, protegido das tempestades midiáticas. “Pouco se sabe sobre ele”, diz o sociólogo e especialista em grupos de poder Francisco Durand. “Ele é muito protegido, não se sabe nada de sua vida”, comenta um líder empresarial.

As poucas declarações pú-blicas dadas por esse executivo formado pela universidades de Brown e Stanford que exibe uma calvície prema-tura e uma serenidade a toda prova parecem indicar ou um grande medo de errar ou uma prudência que, na opinião de analistas, já faltou a seu pai. É unânime o diagnóstico de que Dionísio pai é um homem de magnetismo singular e com uma liderança difícil de igualar - armas que lhe teriam servido para garantir boas relações com os governos de turno, bem como fazer a fortuna da família crescer.

Mas foram esse tempe-ramento e essa proximidade com os círculos mais altos que geraram o momento mais difícil do grupo: um vídeo que mostra o notório Vladimiro Montesinos - o homem de confiança do ex-presidente Alberto Fujimori acusado de corrupção, entre outros cri-mes - e Romero pai na saída do Serviço de Inteligência Nacional (SIN) negociando a redução da tarifa do trigo. Não cabe dúvida de que essa exposição fez com que per-desse pontos de credibilidade junto aos mercados.

Para o sociólogo Durand, esse episódio até fez acelerar os planos de sucessão, dando lugar a uma mudança nas estra-tégias de imagem institucional. Hoje, o grupo parece assumir a responsabilidade social co-mo um novo desafio. Nesse sentido, não surpreende que muitas das poucas vezes em

que Romero Jr. aparece em público tenham relação com iniciativas do gênero.

NÃO IMPORTA QUAL ROMEROMas, quando se trata de ne-gócios, o grupo não quer ninguém nos calcanhares para tomar seu lugar. “É um grupo de vanguarda e não pode dormir no ponto, pois outro emergente pode che-gar”, diz Héctor Gutiérrez, sócio-diretor da auditoria da Deloitte. Já Arturo Rodrigo, que trabalhou no grupo por 30 anos e foi gerente da Pacífico Peruano Suiza, uma das em-presas da Credicorp, é muito otimista sobre o futuro do grupo e diz vê-lo “em poucos

anos com valor e eficiência dobrados”.

Miguel Ferré, diretor do Programa de Alta Direção da Universidade de Piura, diz que o Grupo Romero tem capacidade para tourear fortes desafios porque o problema de sucessão foi solucionado “impecavelmente” e porque conta com uma equipe geren-cial de primeira, com metas financeiras claras e liberdade para trabalhar. “Se um sai, ficam os demais; há muita gente de primeiro nível nesse grupo”, diz Ferré. “Não me diziam o que tinha que fazer ou não”, confirma Rodrigo. “Os Romero sabem delegar a gestão, sabem que uma em-presa grande tem de ser ágil e tomar decisões rápidas.”

Outra chave do grupo tem sido prever quais negócios serão rentáveis no futuro. Para Ferré, o sucesso de Romero pai nos negócios se deve em gran-de medida à sua característica

de visionário. Mas pensar que o prudente Romero filho será uma cópia do pai é se enganar. Para Alejandro Indacochea, economista e professor da Centrum, “o filho precisa ter seu próprio estilo de fazer as coisas para se diferenciar. Se não for assim, correrá o risco de ficar à sombra do pai, o que poderia fazer com que perca a liderança necessária para dirigir a empresa.”

Para alguns analistas, os investimentos realizados pelo grupo no setor de biocom-bustíveis obedecem a essa característica de antecipação e significarão grandes vendas no futuro. A decisão que ain-da gera dúvidas é a entrada do grupo no setor de pesca.

Trata-se de um segmento que registra altos níveis de rentabilidade, mas que con-ta com a presença de muitos peixes gordos já consolidados. Romero filho anunciou que, além da produção de farinha de peixe, o grupo também investirá no desenvolvimento de mercados de consumo no interior do país.

A VACA LEITEIRAMas nunca faltam os céticos que, com a economia peruana crescendo acima de 7% e a maioria das empresas regis-trando crescimento em vendas e lucro, se perguntam quanto do crescimento do grupo tem relação efetiva com a gestão de Romero filho. José Lum-breras, chefe de pesquisa do Perú Top Publications, obser-va que muitos dos principais grupos empresariais do Peru têm baseado seu crescimento no alto preço das matérias-primas. Ou seja, aproveitam

a vantagem de ter uma vaca leiteira, ou melhor, mineira. Mas o caso do Grupo Romero é diferente. “É um dos poucos grupos industriais do Peru”, diz Lumbreras. “Enquanto muitos grupos econômicos mundiais tendem a centralizar seu foco de negócios, o conglomerado de Romero continua a se di-versificar.” Isso significaria gerar sinergias e proteger-se de tempestades, já que se distribui o risco. Por exemplo, segundo uma fonte, a participação do grupo na Ambev Perú não responde unicamente a um interesse no negócio da cer-veja. “Com isso, também se busca garantir um cliente para a empresa de logística Ransa”, aponta o pesquisador.

E se o grupo não tem uma vaca mineira, possui uma fi-nanceira, pela qual é o principal acionista do Banco de Crédito del Perú, o mais importante do sistema. “O Grupo Romero soube fortalecê-la, inclusive em tempos difíceis”, diz Fer-nando Romero, presidente do NCF Group, sem relação com o grupo. “Passaram-se 20 anos e eles continuam líderes.” O banco é uma importante fonte de receita: em 2007, registrou lucro líquido de US$ 331 milhões, 34% mais do que em 2006.

A pergunta que se escuta por todos os lados é: Romero filho terá os mesmos reflexos que o pai? Há quem garanta que seu caráter afável e menos carismático pode significar apenas uma questão de estilo. Afinal, conta um executivo que conhece o clã Romero de perto, já se escutou o pai dizer: “Não sei, tenho de consultar meu filho”.

Enquanto outros grupos concentram seus negócios, o Romero se diversifica.

44 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

O braço de investimentos do Grupo Empresarial Antioqueño não quer diversifi car, e sim focar-se no setor elétrico Lucía Valdés, Bogotá

NEGÓCIOS INVESTIMENTOS

Nunca é bom colocar todos os ovos numa mesma ces-ta. Essa máxima costuma

ser eficaz para os investimentos financeiros. Mas não necessa-riamente para os negócios. Isso é o que pensa Juan Guillermo Londoño Posada, presidente da Colombiana de Inversiones (Colinversiones), holding do Grupo Empresarial Antioqueño (GEA), mais conhecido como Sindicato Antioqueño, que nos últimos anos se dedicou a ordenar suas empresas em um portfólio leve e com um foco bem definido: a energia.

Nada mau para um grupo que passou quase sete anos sem essa preocupação. Em 2001, a Philip Morris comprou a parte ligada ao tabaco da Coltabaco e deixou para a Colinversio-nes 70% do grupo à qual ela pertencia, um heterogêneo conglomerado de empresas que incluía hotéis, fábricas de papel, financeiras e segurado-ras. A holding não sabia bem o que fazer com tudo isso, e em 2006 o Conselho decidiu entregar o problema para Lon-doño, que havia sido membro dos Conselhos de empresas

MENOS É MAIS

Londoño: nada de diversifi car

como a Almacenes Éxito e a Cadenalco – cuja fusão liderou –, além da Inversiones Mundial e da própria Coltabaco.

Onde muitos poderiam ter encontrado a virtude da diver-sificação, Londoño, de 55 anos, viu algo “não-sinérgico, não-relacionado, em posições mi-noritárias e conseqüentemente com baixa governabilidade”. A holding, com um patrimônio de US$ 1,2 bilhão e endividamento de 3%, avaliou se era atraente aos olhos do mercado e se teria boa projeção na geração de caixa e criação de valor para os acionistas. “A resposta foi não”, diz ele. Suas ações eram negociadas a 70% de seu valor intrínseco. “O mercado estava penalizando a falta de clareza”, diz David Santos, analista eco-nômico da Serfinco.

O Conselho da Colinver-siones – cuja propriedade hoje está nas mãos de um grupo de 8,5 mil acionistas encabeçados pela companhia Inversiones e Industria, que tem 23% das ações, pela Antioqueña de Inversiones, com 10,5%, e por seis fundos privados de pensão, que possuem 20% – contratou o BNP Paribas e o Citigroup para traçar uma visão mais clara de seu futuro. A conclusão foi que a holding seria uma jogadora atraente no mercado de capitais se iniciasse a construção de uma empresa

centrada em investimentos no setor de geração elétrica. Nada de portfólio diversificado.

Em junho de 2007 a Colin-versiones decidiu pôr mãos à obra. Hoje seu portfólio está dividido em duas unidades de negócio: energia, com 25,5% do total, e investimentos de portfólio nos 74,5% restantes. A idéia é de que estes últimos percam participação pouco a pouco, para que no médio prazo 80% estejam investidos em energia. Com um bom sistema de alavancamento, a holding terá uma capacidade de investimento maior que o patrimônio, fundamentada em expansões das plantas elétricas, na compra de projetos em anda-mento e no desenvolvimento de novos. “Gradualmente vamos formar um portfólio estratégico e já não mais um portfólio de investimentos para comprar e vender”, explica Londoño. Para Santos, seus acionistas se beneficiarão mais a medi-da que a empresa venda essas participações minoritárias e se concentre no segmento de geração elétrica.

O portfólio da Colinver-siones incluirá plantas a gás, hidrelétricas e usinas térmicas a carvão. Além disso, energias alternativas não estão descar-tadas. Para avançar nesse ob-jetivo, a primeira jogada foi a compra, em dezembro de 2007,

da geradora de energia elétrica Termoflores, localizada em Barranquilla, na qual a holding investiu US$ 320 milhões. A central, com 447 MW de ca-pacidade instalada, é composta por três plantas térmicas, que gerarão eletricidade a partir de gás natural. Sua capacidade instalada passará de 447 a 610 MW, o que implicará investi-mentos adicionais de US$ 510 milhões. Dessa forma, a Colin-versiones será responsável por 5% da capacidade de geração elétrica da Colômbia.

No começo deste ano, a holding apresentou uma pro-posta ao Grupo Argos – um de seus acionistas minoritá-rios – para a compra da usina térmica Meriléctrica. A Argos propôs uma troca de ativos no valor de US$ 112 milhões e se comprometeu a entregar 100% da geradora. Assim, com essa operação o Grupo Argos

passará a controlar 24,3% da Colinversiones.

Portanto, no final de 2008 – e depois da aprovação da Superintendência Financeira –, a composição acionária da holding será encabeçada pela Inversiones Argos (com 28%), seguida pelos seis fundos de pensão, liderados pelo ING, pelo Porvenir e pelo Protección (22%), enquanto a Surameri-cana de Inversiones continuará com 4%. As outras participa-ções minoritárias conformarão o total de 8,5 mil acionistas. Em março de 2008, os ativos da Colinversiones supera-vam US$ 589 milhões, num portfólio integrado por ações da Suramericana de Inversio-nes, da Colombiana Kimberly Colpapel, da Promotora de Hoteles Medellín, do Hotel de Pereira, da Bolsa de Valores da Colômbia (da qual é um dos quatro principais acionistas),

e das recentemente adquiridas empresas de segurança indus-trial Arseg e Pass.

“É uma boa notícia para a Colinversiones”, diz a ana-lista Marcela Giraldo. David Santos, da Serfinco, afirma que “com essa mudança se simplifica a estrutura societária da holding, o que redundará em melhor comportamento de suas ações no mercado, onde até há pouco eram negociadas bastante abaixo de seu valor de livro”. Londoño adverte que por enquanto não haverá um acionista controlador e que a empresa continuará a ter uma administração e um Conselho independentes, dada a diversi-dade dos sócios da companhia. Sobre sua participação nos setores de hotelaria e papel, a empresa investiu bastante – US$ 20 milhões na remo-delação dos três hotéis nos quais tem participação – para

vendê-los logo. Na filial da Kimberly Colpapel no Peru, da qual possui 31%, acaba de investir US$ 45 milhões em novas fábricas. Além disso, desembolsou US$ 25 milhões para ampliar uma planta em Barbosa, na Colômbia. Seja como for, o destino final desses ativos é a venda, que vai ser realizada quando o Conselho considerar que estão com bom preço e houver alternativas em geração elétrica. “A essência de uma holding é a forma como cria valor”, diz Londoño.

“Na Colômbia, o setor de energia apresenta grandes vantagens para investir. É um gerador importante de caixa, ao contrário do portfólio que tínhamos. É um setor sem risco da ameaça de oligopó-lios sobre nosso patrimônio. Por isso nos dirigimos a ele e ele representa nosso futuro”, conclui.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 47

VISÃO [email protected]

RESÍDUOS DE OUROAntes de jogar os restos de produção de sua indús-tria, leia esta estória Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

ColetaOs resíduos são recebidos a granelou em tambores.

Borracha de pneus, óleo usado, etc.

1

Tratamento

Processamentode resíduos

Os resíduos são trituradose misturados gerando ocombustível alternativo.

2

FornoSão queimadosa altas temperaturas.

4

TransporteSão levados aos fornosde Holcim Apasco.

3

MisturaTrituração

Temperaturasentre 1450 ºCe 2000 ºC

AO SE OUVIR FALAR DE PNEUS E óleo usados, água poluída, resíduos e serragem pensa-se automaticamente em lixo. Mas esses detritos têm seu valor: com um tratamento adequado, podem ser usados como combustível alternativo e, de quebra, diminuir o impacto ambiental.

É o que faz a Holcim Apas-co, sucursal mexicana da fabricante de cimentos suíça Holcim. Por intermédio de sua filial Ecoltec, ela se propõe a recolher, transportar, tratar e co-processar resíduos gerados por outras indústrias. O material é eliminado no processo de com-bustão dos fornos da Holcim Apasco, produzindo energia para a fabricação de cimento. Dessa forma, a companhia gera receita adicional à produção de cimento, atende à demanda de tratamento de resíduos e reduz suas próprias emissões de CO2 ao usar combustíveis menos poluentes que os derivados de petróleo.

A fabricação de cimento é uma das atividades do ho-mem que mais gera emissões poluentes – 5% do total –, por causa dos processos por que passa (a matéria-prima perde o ácido carbônico) e porque requer grande quantidade de energia. Nos últimos cinco anos, a Holcim investiu mais de US$ 100 milhões na Ecol-tec, somadas a aquisição de equipamentos e de tecnologia que atendem as exigências das leis ambientais locais e as

adaptações que tiveram de ser feitas nos fornos das fábricas da empresa para que possam funcionar com o combustível. Mas os fornos, por si sós, já cumprem com as exigências da Lei Geral para a Gestão Integral dos Resíduos (a inte-

gração ambientalmente segura dos resíduos de uma indústria ou fonte conhecida a outro processo produtivo) do México, graças às altas temperaturas com que funcionam – entre 1,45 mil e 2 mil graus Celsius –, o tempo em que os detritos

permanecem em seu interior e a alta turbulência, que garante a total integração dos materiais. Hoje, 18% do combustível usado pela Holcim Apasco são resíduos industriais, cifra que até 2010 deverá aumentar para 30%, limite exigido pelo Ministério do Meio Ambiente mexicano. Esse número deverá ser revisto uma vez que a empresa alcance sua meta e faça uma nova proposta de porcentual de emissões.

Para conseguir um pro-cesso eficiente e sustentável, a Ecoltec cumpre com certos requisitos, explica Carlos Juá-rez, gerente de comunicações e relações ambientais da Holcim Apasco. Somente são usados resíduos que não representem risco à integridade física dos trabalhadores, como os hospi-talares, nem que afetem o meio ambiente em seu processo de combustão, o que descarta os reativos e explosivos. Os resí-duos tampouco devem colocar em risco a qualidade e a ima-gem dos produtos que forem fabricados com o combustível resultante. Assim, os clientes da Ecoltec são principalmente das indústrias química, au-tomotiva e alimentar. “Além disso, recebemos alimentos e medicamentos vencidos”, explica Juárez.

Embora a Ecoltec tenha nascido no começo dos anos 90, seu crescimento, segundo Juárez, ganhou fôlego nos úl-timos cinco anos, por conta da crescente consciência de parte das indústrias mexicanas no tratamento de resíduos. No caso particular da Holcim Apasco, a empresa se impôs o objetivo de reduzir em 25% suas emissões de CO2 entre 1990 e 2010, e já conseguiu uma redução de quase 24%.

JOSÉ

LUI

S CA

TALÁ

N

PMES GLOBAIS

Enquanto o alto preço do petróleo, os desafios da geração elétrica e a

preocupação com o impac-to ambiental envolvem os governos da região em de-bates infindáveis, algumas empresas latino-americanas começam a mover-se cada vez mais ritmadas e crescem oferecendo alternativas para a questão energética.

Um desses exemplos é o da paulista Transsen, fabricante de equipamentos solares pa-ra banho e piscina, que este ano inaugurou sua primeira operação fora do país, em Santiago. A Transsen Chile é uma sociedade entre a bra-sileira – que possui maioria na propriedade – e um ex-representante dos produtos da empresa, o engenheiro chileno Rolando Chávez Gómez.

Chávez caiu como luva nos planos de internacionalização da Transsen Brasil. “Em nosso segmento, ter um produto bom não é suficiente: é necessário conhecimento técnico para dimensionar corretamente um projeto e instalá-lo per-feitamente, além de privile-giar atenção ao cliente”, diz Edson Pereira, presidente da Transsen Brasil. “O período em que ele foi nosso repre-sentante foi fundamental para comprovar seu compromisso e sua capacidade em fazê-lo.” Com a filial chilena, a em-

presa, que já vende a países como Argentina, Venezuela e África do Sul, espera que a participação das exportações em seu faturamento cresça de 5% para 15% nos próximos cinco anos, “levando em conta certa retração devido à questão cambial”, diz Pereira.

Além de ter um sócio bem-qualificado, a Transsen conta com outro atrativo no Chile: a débil situação energética do país, que importa mais de 90% do petróleo que consome e sofre com as incertezas do abastecimento de gás vindo da Argentina, o que se refle-te diretamente no bolso dos chilenos. “Há três anos, o retorno do investimento em equipamentos de energia solar era estimado em cinco anos; devido aos aumentos, hoje já baixou para dois anos e meio”, conta Chávez.

E, apesar desse cenário convidativo e de o mercado de energia solar já ter cerca de 20 anos no Chile, pouco foi feito para impulsioná-lo. Para se ter uma idéia, um estudo contratado pelo governo de Michelle Bachelet no final de 2006 estima que de 2003 a 2005 foram instalados apenas 6,7 mil metros quadrados de coletores solares térmicos em todo o país, embora a demanda potencial ultrapasse 6 milhões de metros quadrados – dos quais as residências, soman-

do novas e as já existentes, representariam mais de 90% do total. Condições climáticas não faltam para o país ampliar o uso do aquecimento solar: segundo Chávez, estima-se que a quantidade de radiação solar recebida no Chile per-mitiria autonomia do sistema para aquecimento de água sanitária em oito meses do ano, ou seja, em apenas quatro meses se dependeria de apoio de outra fonte. “Dependendo da região, de 55% a 75% das necessidades reais podem ser contempladas pela energia solar”, diz.

De certa forma, o panorama de incerteza energética visto atualmente no Chile não dife-re muito do que impulsionou os negócios da Transsen no Brasil. Criada há 21 anos, a empresa localizada no muni-cípio paulista de Birigüi viu seu negócio tomar fôlego sobretudo depois da crise energética deflagrada no Bra-sil no começo dos anos 2000. Com persistência e contínuo investimento em pesquisa e desenvolvimento, a empresa, que no início operava com cinco pessoas, hoje conta com 200 funcionários e é líder do mercado doméstico, com cres-cimento de 200% nos últimos cinco anos. “Conseguimos uma tecnologia adaptada aos padrões e daí fomos evoluin-do”, conta Pereira, acrescen-

Empresa brasileira internacionaliza suas operações explorando o mercado da energia solarSolange Monteiro, Santiago

IMPULSO NATURAL

48 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

MIG

UEL

CAN

DIA

Chávez e Pereira: a tomar sol

tando que a empresa produz soluções também para o setor industrial.

O mais curioso nessa histó-ria de crescimento, entretanto, está na grande demanda de aquecimento para piscinas, que no ano passado superou o de água para as casas: fo-ram 45 mil metros quadrados de coletores de energia solar instalados para banho, con-tra 66 mil metros quadrados para aquecimento de piscina. Atualmente a produção mé-dia da Transsen é de 109 mil equipamentos ao ano, capazes de atender a um fluxo de 40 milhões de litros de água.

Para acompanhar o ritmo de crescimento, a Transsen será integrada este ano a uma holding, a BMP Cintra, da qual farão parte outras empresas que cuidarão das áreas de construção e lazer, finanças e transportes. “Dessa forma, garantiremos uma melhor gestão em cada setor”, diz Pereira. Outra novidade é a construção de uma fábrica de tubos e conexões em Birigüi, com o objetivo de expandir a atuação no segmento em que já opera com sucesso.

Este ano, a Transsen es-pera crescer 30% no Brasil. Já no Chile, Chávez estima terminar 2008 com vendas de US$ 1 milhão e 4 mil metros quadrados de área de captação de uso térmico instalados. A estimativa otimista tem sua razão. “Desde que lançamos a Transsen Chile, em março deste ano, já registramos um aumento de 100% nas vendas”, afirma Chávez. Tal empol-gação quanto ao potencial do mercado justifica inclusive o plano de, no médio prazo, a Transsen instalar uma fábrica de seus produtos no Chile. “Queremos no futuro atender

todo o Pacto Andino”, afirma Pereira.

Para isso, entretanto, pri-meiro é preciso consolidar-se no mercado chileno, onde não faltam desafios. Três são os principais: uma maior divulgação da energia solar; convencer a população da efi-cácia do sistema – “empresas pouco profissionais que atua-ram no passado deixaram má reputação”, lembra Roberto Voigt, presidente da Acesol, agremiação que reúne empresas do setor no Chile –, e apoio governamental. “Não temos facilidade de financiamento ou lei de incentivo, como redução de impostos ou subvenções, que reduza o impacto do custo para quem desejar optar por essa tecnologia”, diz. No Chile, uma instalação em uma casa com três habitantes custa cerca de US$ 1 mil.

Essa é uma realidade sobre a qual a Transsen Brasil pode testemunhar, já que participou ativamente do apoio a leis de incentivo como na “cidades solares”, que contam com estímulos legais à implantação dessa tecnologia. “Em São Paulo, o uso de energia solar é compulsório para toda casa a ser construída com mais de quatro banheiros; em Diadema, há desconto no Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU); em Birigüi, o foco está na construção de casas populares”, exemplifica Pereira.

No Chile, apesar de o estu-do sobre o potencial da energia solar pedido pelo governo ter sido concluído há dois anos, ainda não houve uma conclusão sobre que tipo de incentivo será proposto. Seja qual for, espera-se que sua definição aconteça em breve. Para o bem da Transsen, e também do Chile.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 49

PMES GLOBAIS [FERRAMENTAS]

50 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

FEIRAS E EVENTOS

James Ballentine:auto-segmentação

PUBLICIDADE PRÉ-PAGAPequenas empresas que buscam alternativas pa-ra promover seus produtos e serviços de forma econômica apostam cada vez mais na web. Ao me-nos é isso o que refl ete o crescente interesse pelo Google AdWords (adwords.google.com.br ) – es-paço publicitário que fi ca do lado direito da tela do buscador Google.O diferencial do serviço é que o empresário só pa-ga quando um internauta clica em seu anúncio, que surgirá na tela caso a palavra-chave buscada pelo usuário tenha relação com o negócio anunciado. “Na internet há auto-segmentação”, diz o represen-tante do Google para o Chile, James Ballentine. “Is-so signifi ca que o anúncio é publicado para todos, mas que só alguns o vêem.” Além disso, pode-se defi nir previamente o gasto máximo que se terá por dia.A primeira regra para tirar o melhor proveito do serviço é utilizar palavras-chave ou frases que não sejam muito genéricas. Depois, escolher em quais países se deseja que o anúncio seja visto, por meio da especifi cação do código postal ou da escolha de palavras que possam ser associadas a determinada cultura ou estilo de vida.Nesse sentido, juntamente com o Adwords se reco-menda obter da internet o Google Analytics (www.google.com/analytics). Trata-se de uma aplicação gratuita que mostra aos anunciantes se os internau-tas estão clicando em seus anúncios e se esse inte-resse se traduz em visitas a seus sites.

- Daniela Cid

COMER E DORMIRNo começo de setembro a capital argentina sediará a Hotelga, feira que busca apresentar aos empresários do setor as últimas tendências em hotelaria e gastro-nomia. O evento, exclusivo para profi ssionais do setor, contará com cerca de 380 expositores e deve receber a visita de 25 mil pessoas.Além da feira, o evento contará com conferências e se-minários que oferecerão ferramentas de capacitação, além do Primeiro Salão do Chocolate BA, uma oportu-nidade para conhecer a produção dos artesãos argen-tinos do chocolate.Hotelga 20081 a 4 de setembroPredio Ferial de La Rural, Buenos Aires www.hotelga.com.ar

O caminho para a internacionalização de pequenas e mé-dias empresas é sempre cheio de obstáculos. Uma forma de conseguir levar seus produtos para além das frontei-ras é vendendo seu material para grandes multinacionais, como é o caso da Maziplast, empresa de São Paulo com só 23 funcionários que produz, entre outros itens, estojos de plástico para a indústria automobilística. O diretor da empresa, Luis Paulo Mazzi, afi rma que para se tornar fornecedor de empresas como a britânica Hellerman Tyton foi preciso investir em certifi cação de qualidade. “A Hellerman criou um certifi cado próprio, o TS 16949, que exige que todos os fornecedores sejam no mí-nimo certifi cados com o ISO 9000. Esse foi um fator deci-sivo para que eu tirasse a certifi cação”, conta. Há 25 anos no mercado, a Maziplast conquista novos clientes sempre por indicação de seus compradores já consolidados. A empresa não precisa se preocupar com as va-riações nos preços das matérias-primas que utiliza, pois os clientes são os encarregados de comprar todo o mate-rial necessário. Mas se a indústria automobilística deixa de exportar e, portanto, deixa de produzir, a Maziplast sofre as oscilações.

- Mel Bornstein

Ajuda de grandes

São 6 da manhã e quase não se avistam os primeiros raios de sol entre a espessa

vegetação amazônica. Apesar da escuridão e da umidade, o peruano Constantino León está preparado para correr. Tem pela frente 25 quilômetros de floresta, cruzados por rios e habitados por insetos e animais. León está sozinho, mas feliz. Esta será uma de suas últimas corridas de treinamento antes de competir na maratona das Olimpíadas de Beijing de 2008. “Embora a paisagem seja boni-ta, às vezes dá medo não estar acompanhado”, diz.

A carreira desse atleta co-meçou por casualidade aos 24 anos, ao participar de uma competição universitária: sem nunca ter corrido antes, derrotou atletas profissionais. Dez anos

mais tarde, vai pela primeira vez ao evento esportivo mais importante do mundo. Como não tem treinador, conforma-se em escutar os conselhos de um amigo ucraniano para melho-rar seu desempenho. A única ajuda que recebeu do governo chegou há só um mês – US$ 1 mil que, segundo ele, não foram suficientes. “Precisaria do triplo.”

Como a de muitos atletas na América Latina, a carreira esportiva de León tem sido marcada pela autogestão, pelo improviso e pela falta de apoio. Salvo poucas exceções, não existe na região programas ade-quados de seleção e treinamento de talentos esportivos. De um total de 6.855 medalhas ganhas em Jogos Olímpicos por países do continente americano em sua história, só 12,5% foram obtidas

por países latino-americanos (descontando Cuba).

Esses resultados discretos não fazem mais que confir-mar a ausência de estratégias de longo prazo para a criação de esportistas de alto nível na maioria dos países da região. Uns mais profundos e integrais que outros, os esforços para potencializar a capacidade dos esportistas locais não têm sido suficiente para colocar os atle-tas latino-americanos em pé de igualdade com os das grandes potências olímpicas.

“Nós, dos Comitês Olím-picos da América Latina, não estamos formando talentos”, admite Alfredo Deza, secretá-rio-geral do Comitê Olímpico Peruano (COP). Segundo ele, a tarefa de formar atletas de alto rendimento no continente depende das escolas, das ligas

esportivas e das federações de cada modalidade. Os Comitês Olímpicos só se comprometem se os resultados que obtiverem servirem para competir interna-cionalmente. “Até dois meses atrás dava aulas de Educação Física. Estou treinando desde maio, o que é muito pouco ”, queixa-se León. “E o COP só apareceu depois que me clas-sifiquei”.

No Chile a situação também é bastante precária. O ginasta mais importante do país, Tomás González, ficou de um dia para outro sem equipamentos para treinar. “Tudo foi arrematado por conta de uma dívida da Fe-deração. Ficaram só aparelhos antigos. Não tenho um local para praticar solo, onde meus resultados melhoram muito”, diz o ganhador da primeira medalha chilena de bronze num

Pódioesquivo

FALTA DE POLÍTICAS EFETIVAS NO ESPORTE É OBSTÁCULO PARA QUE TALENTOS DA REGIÃO GANHEM MEDALHAS OLÍMPICAS Carlos Palacios, Santiago

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 51

JOGOSOLÍMPICOS

LATI

NST

OCK

Mundial de ginástica. “Não consegui me classificar.”

De fato, o Chile se destaca por improvisar a gestão de seus bons atletas, que se destacam por méritos próprios. “O país tem muita carência no de-senvolvimento do esporte. A descoberta de talentos ocorre quase por acaso. O mesmo acontece com as competições infantis, que não contam com um programa estabelecido”,

diz Neven Ilic, presidente do Comitê Olímpico Chileno (Coch).

Apesar disso, houve progres-sos. Desde 2006, por meio do programa ADO-Chile (Asso-ciação de Esportes Olímpicos), no qual são investidos aproxi-madamente US$ 2 milhões ao ano, pretende-se gerar recursos provenientes do setor privado. “Atletas têm uma infinidade de necessidades econômicas, em

torno de US$ 80 mil ao ano cada”, diz Ilic. A contribui-ção serviria para cobrir gastos pessoais e de treinamento, concentrações e competições internacionais. “Mas tudo é muito amador, já que as con-dições oferecidas aos atletas não são das melhores. Tomar a decisão de ser esportista é um risco”, reconhece.

Devido à falta de infra-estrutura, muitos atletas chi-

lenos viajam periodicamente para treinar em centros de alto rendimento no exterior. Segundo Ilic, “os 27 esportistas que representarão o país em Beijing estão concentrados na Europa”. Mas as expectativas do Coch estão voltadas para o futuro. “Estamos focalizados num trabalho de longo prazo, voltado para as Olimpíadas de 2012, em Londres, e não em conquistar medalhas agora”,

52 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

JOGOSOLÍMPICOS

ALGUNS DOS ATLETAS MAIS COTADOS

QUANTO CADA GOVERNO PAGA POR UMA MEDALHA OLÍMPICA?

BRASILNão dá prêmios por medalha.

María Portilla Começou aos 25 anos e com o apoio de um patrocinador norte-americano conseguiu preparar-se para Beijing 2008.

MARATONA MARATONA

Constantino León Vai participar pela primeira vez de uma Olimpíada; preparou-se nos Andes e na Amazônia peruana.

Louis TristánComo lhe foinegado o visto italiano para competir na Golden League, o jovem preparou-se no Peru.

SALTO EM ALTURA

Óscar Figueroa Treina na Bulgária sob a tutela de Gancho Ka-rouskov e espera ganhar uma medalha.

LEVANTAMEN-TO DE PESO

Santiago Botero Depois de obter o oitavo lugar em CRI (Contra Relógio Indivi-dual) em Atenas 2004 está preparado para participar para sua terceira Olimpíada.

CICLISMO

Eleider Álvarez O jovem de 81k vai participar de uma Olimpíada pela primeira vez.

BOXE

Natalia DucóTornou-se uma revelação de-pois de ganhar a medalha de ouro no World Junior Championship da Polônia.

ARREMESSO DE PESO

Kristel KöbrichPassou do atletismo à natação e com-petirá pela primeira vez em águas li-vres em Beijing.

NATAÇÃO

Gonzalo Barroilhet Depois de obter a quinta melhor marca sul-americana em Iowa este ano, é um dos candidatos para as finais em sua modalidade.

DECATLO

Silvio Fernández Nome forte de sua equipe, terá de vencer dois dos quatros combates que terá pela frente para obter uma medalha.

ESGRIMA

Alfonso BlancoAtual capitão da equipe venezuela-na de pugilismo, começou aos 12 anos treinando no ginásio de uma pa-róquia em Caracas.

BOXE

Albert SubiratsTreina na Univer-sidade do Arizona; espera se tornar o segundo nadador venezuelano a subir no pódio olímpico.

NATAÇÃO

Ganhar uma medalha não é só uma questão de honra. Além da satisfação pessoal e do reconhecimento por ter alcançado o tão desejado pódio olímpico, muitos esportistas são premiados por seus governos com dinheiro, conforme o tipo de

medalha que trazem para casa. Estes são alguns casos. (Valores aproximados em US$. Fonte: Comitês Olímpicos dos respectivos países)

MÉXICOOuro: 500 milPrata: 300 milBronze: 200 mil(Valores estimados pelo Comitê Olímpico Mexicano. O governo ainda não se pronunciou em definitivo)

VENEZUELAOuro: 100 milPrata: 80 milBronze: 50 mil

COLÔMBIAOuro: 85 milPrata: 55 milBronze: 40 mil

PERUOuro: 50 milPrata: 25 milBronze: 12,5 mil

CHILEOuro: 40 milPrata: 20 milBronze: 12 mil

ARGENTINANão dá prêmios por medalha.

explica.No México há mais inves-

timento – e um pouco mais de otimismo. Para Armando López, subdiretor técnico do COM, “a política esportiva do país está melhorando. Este ano mais de US$ 100 milhões foram alocados para apoiar os atletas”. Efetivamente, o país até implantou um acampamen-to de diagnóstico para atletas olímpicos. “Além disso, os

melhores entram para o pro-grama Cima (Compromiso Integral de México com seus Atletas), por meio do qual, com base em parâmetros técnicos e segundo os resultados obtidos em competições, os esportistas vão recebendo estímulos eco-nômicos”, conta López.

PETRÓLEO POR MEDA-LHAS Outro país latino-americano

que tem procurado investir para melhorar o desempenho de seus atletas nas competições olímpicas é a Venezuela, que passou a destinar mais recur-sos à formação de atletas de elite. “Percorremos todo o país fazendo baterias de provas antropométricas e de aptidão física. Descobrimos possíveis candidatos bem jovens e os encaminhamos a uma unidade educativa, onde são submeti-

dos a um programa ao mesmo tempo acadêmico e esportivo”, relata Víctor Vargas, gerente de Projetos Especiais do Co-mitê Olímpico da Venezuela. Segundo ele, é desse modo que são encontrados os verdadeiros esportistas de elite. “De cada mil jovens que começam, somente 1% chegará a ser profissional”, calcula.

Em cada um dos 24 esta-dos venezuelanos existe uma

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 53

JOGOSOLÍMPICOS

PAÍS OURO PRATA BRONZE TOTALCUBA 66 53 53 172BRASIL 17 21 38 76ARGENTINA 15 23 22 60MÉXICO 10 19 23 52CHILE 2 6 4 12URUGUAI 2 2 6 10VENEZUELA 1 2 7 10VENEZUELA 1 2 7 10COLÔMBIA 1 2 6 9COSTA RICA 1 1 2 4EQUADOR 1 0 0 1

FONTE: COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL

MEDALHAS HISTÓRICAS

LEVANTAMENTO DE PESOS

Cristóbal QuirinoO maior ex-poente dessa modalidade no México con-centra-se num acampamento em Yucatán.

CANOAGEM

María del Rosa-rio EspinozaCampeã mundial em 2007, esta jovem de 19 anos confía em conseguir um lugar no pódio olímpico.

TAEKWONDO

Paola EspinozaRecebeu em 2007 o Prêmio Nacional do Esporte e es-pera um bom desempenho na China.

SALTO

ORNAMENTAL

Emanuel Ginóbili Este jogador da NBA é um dos atletas mais destacados de seu país.

BASQUETE

Santiago LangeArquiteto naval gra-duado na Inglaterra, além de competir desenhou barcos à vela usados em tor-neios internacionais.

VELA VELA

Carlos Espínola Com Lange, ga-nhou o bronze em Atenas 2004 na Classe Tornado.

Cesar CieloComeçou pratican-do judô. Radicado nos EUA, Cielo treina e estuda Administração.

Daiane dos SantosDescoberta por uma profes-sora quando brincava numa praça, é um dos expoentes da ginástica brasileira.

Walter MartínezParticipará em duas categorias de rifle, depois de se clas-sificar nos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.

Karla MorenoEsta jovem de 48 kg se classificou graças ao wild-card concedido pela Federação Internacional.

Jessica AguileraApesar de seu forte ser os 400 metros com obstácu-lo, competirá nos100 me-tros rasos.

Tiago CamiloNo Pan de 2007, conquistou o ouro com um ippon em dois minutos de luta. Sua primeira medalha foi aos 18 anos, em Sidney.

JUDÔ NATAÇÃO GINÁSTICA TIRO ATLETISMO

54 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

JOGOSOLÍMPICOS

desse tipo. Nelas os alunos têm alojamento e recebem alimen-tação, se forem provenientes de localidades distantes, e são submetidos a controles regula-res de permanência. “Os atletas treinam no mínimo 40 horas semanais e recebem uma bolsa de estudo mensal equivalente a US$ 90”, explica Vargas.

Por conta dos crescentes recursos que obtém com o petróleo, a Venezuela reserva anualmente US$ 300 milhões para a formação de esportis-tas. Graças a isso, vai estar representada por 109 compe-tidores em Beijing, mais que duplicando o recorde de 52 esportistas que foram a Sydney em 2000. “Esperamos superar nossos resultados anteriores”, afirma.

Menos complacente é a posição da Argentina. O país conta com a Secretaria de Es-portes da Nação, órgão estatal que assiste economicamente a seus esportistas segundo o nível alcançado por cada um. Além disso, o órgão contribui para as federações de cada modalidade com assistência médica e infra-estrutura para treinar. Mas não existe ajuda oficial para iniciar a formação de atletas. “Não há intervenção do governo nem do Comitê

Olímpico Argentino (COA) na etapa inicial”, reconhece Eduardo Moyano, chefe de imprensa do COA. Sem ênfase no desempenho individual de seus atletas, a esperança dos argentinos continua a depender do que podem fazer esportes de equipe como o futebol, o basquete, o hóquei e outras modalidades cujas federações têm alto desenvolvimento no país.

Na Colômbia a situação é diferente porque o Comitê Olímpico Colombiano (COC) tem participação indireta na formação de atletas. “Na Di-reção Esportiva do COC há um grupo que chamamos de ‘metodólogos’. Cada um é responsável por um esporte e supervisiona todos os clubes e federações, o que nos permite detectar os esportistas com bom potencial numa idade prematura e controlar melhor o trabalho das federações”, explica Edilson Ballisteros, chefe do setor de imprensa do órgão. Uma vez que obtenham rendimento alto, os atletas co-lombianos recebem uma ajuda econômica de cerca de US$ 1 mil, além de assistência médica e alimentícia.

Para atingir um nível ótimo, todo esportista de elite deve

treinar duro antes das Olim-píadas: duas vezes ao dia, seis dias por semana. O tempo livre disponível é mínimo. “A idéia é que o atleta não tenha outro trabalho ao mesmo tempo. Mesmo porque vários deles se dedicam a estudar à noite”, afirma Ballisteros.

Já no Brasil, o judoca Tiago Camilo, ganhador de duas medalhas de ouro nos Jogos Panamericanos, é um dos candidatos fortes do País nas Olimpíadas. Antes de encontrar sua vocação no judô, durante anos praticou diferentes esportes, sempre patrocinado por seu pai. É que, apesar de ser o segundo país com mais êxitos olímpicos do continente, o Brasil não oferece incentivos concretos à prática de esportes para jovens escolares ou universitários, que dependem de recursos próprios ou de sorte para se desenvolver nas etapas iniciais.

No segundo caso se enqua-dra Daiane dos Santos, uma das mais laureadas atletas brasileiras de todos os tempos. Aos 11 anos, quando brincava numa praça em Porto Alegre, uma professora percebeu seu potencial para a ginástica. Com mais de 10 medalhas de ouro em campeonatos

mundiais e pan-americanos, ela é uma das apostas fortes do Brasil nos Jogos Olímpicos de Beijing.

Como outros países, o Bra-sil oferece bolsas de estudos a seus esportistas à medida que eles vão avançando nos vários níveis de competição, com montantes que podem chegar a US$ 1,5 mil. Isso sempre e quando assinam um contrato com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), no qual concordam em renunciar a qualquer outra atividade ou patrocínio externo.

Assim, apesar da boa vonta-de dos Comitês Olímpicos dos países da região para promover e maximizar o desempenho de seus atletas, o fato é que praticamente não existem po-líticas de apoio à formação de jovens com potencial. Trata-se de um paradoxo: somente depois de atingir por conta própria um patamar mínimo é que os atletas se tornam aptos a receber ajuda. Como diz Constantino León, que treina correndo sozinho na selva peruana, o aperfeiçoamento costuma ser um caminho solitário. Em seu país, como no restante do continente, “o esporte é praticado unicamente por honra”.

Santiago Lange:esperança argentina

Constantino León:da selva para Beijing

Daiane dos Santos:já não se trata de brincadeira

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DEBATES COMÉRCIOAP

“Essa é a pessoa que pre-cisamos convencer?” A voz do presidente

Alan García soou quase como um sussurro em um dos cor-redores do Capitólio, sede do Poder Legislativo dos EUA. A pergunta era para Felipe Ortiz de Zevallos, embaixador do Peru em Washington, que res-pondeu com um curto “sim”. “Deixe-me um momento a sós com ele”, disse García.

Ambos se referiam a Char-les Rangel, presidente do Co-mitê para Questões Fiscais e de Comércio da Câmara dos Deputados. Enquanto Ortiz de Zevallos esperava do lado de fora nessa manhã de abril de 2007, García apresentou ao seu estilo os argumentos de por que os EUA deveriam aprovar o tratado de livre comércio (TLC) com o Peru. Saiu-se bem: ainda que pouco se saiba sobre o conteúdo da conversa, o presidente saiu sorrindo. “O Rangel me presenteou com o prendedor de sua gravata”, contou ao embaixador.

Ortiz de Zevallos teve pouco tempo para rir. Logo

SENHA PARA WASHINGTONNegociações do Peru e da Colômbia para tratado comercial com os EUA

deixam lições para os países que estão na fi la Antonieta Cadiz Vargas

Washington

depois, com o representante do Ministério de Comércio Exterior e Turismo de seu país e outro assessor, entrou numa reunião com a equipe do parlamentar democrata que durou das seis da tarde ao meio-dia do dia seguinte. “Nessas 18 horas, tivemos de responder todas as perguntas que eles tinham; faltava a eles muita informação adequada”,

Bush e García:o Peru levou a melhor

56 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

DEBATES COMÉRCIO

AFP

Uribe se despede:a Casa Branca não

foi sufi ciente

conta o diplomata, que só nos descontos da maratônica reu-nião conseguiu o que queria: o apoio de Rangel ao TLC e a promessa de visitar Lima.

O sucesso do encontro com Rangel foi apenas uma pequena parte do enorme esforço di-plomático que o Peru fez para obter o acordo comercial com a maior economia do mundo. Um esforço comparável ao que a Colômbia fazia quase simultaneamente em busca do mesmo objetivo, mas cujo final foi diferente: enquanto hoje o Peru se prepara para receber os benefícios do acordo assinado, o da Colômbia foi reprovado pelo Legislativo dos EUA e hoje o país espera para que seu pedido volte à agenda política norte-americana.

De fato, a Colômbia já tive-ra menos sucesso que o Peru ao se aproximar de Rangel. Segundo a Unidade de Registro de Agentes Estrangeiros (Fara, na sigla em inglês), que moni-tora as reuniões e os encontros envolvendo parlamentares dos EUA, bastou um encontro de representantes colombianos com o influente deputado de Nova York para que o acordo não prosperasse. “Nas atuais circunstâncias, não podemos apoiar um TLC com a Colôm-bia”, afirmou Rangel em um comunicado conjunto com Nancy Pelosi, a democrata que preside a Câmara de Represen-tantes dos Estados Unidos. O documento foi emitido depois da decisão do presidente Ge-orge W. Bush de submeter o acordo ao Congresso mesmo sem ter os votos necessários para sua aprovação. “Apesar dos avanços obtidos pelo presidente Álvaro Uribe, a Colômbia continua a ser um lugar perigoso para sindicalis-tas.Além disso, existem poucas ameaças para os que perpetram esse tipo de violência de que

sejam julgados e castigados.” Os dois parlamentares se re-feriam à violência e à difícil situação sindical na Colôm-bia, país que arrasta atrás de si o fantasma do assassinato de 26 sindicalistas somente entre janeiro e maio de 2008. Entre os democratas, existe a sensação de que o governo Uribe tem feito pouco para enfrentar essa situação.

Mas os que acompanha-ram as duas negociações de perto concordam que não foi só a situação trabalhista e sindical que fez diferença. Também influíram a rapidez e a flexibilidade do governo peruano em responder à mu-dança de cenário no Congresso norte-americano depois das eleições de 2006, nas quais o Partido Democrata recuperou a maioria. Foi algo que fez falta à Colômbia, que confiou demais no apoio que tinha da Casa Branca. “Lima foi mais flexível em sua reformulação dos termos do acordo”, diz Mi-chael Shifter, vice-presidente do think tank Diálogo Inte-ramericano, de Washington. “Marcou uma diferença que facilitou muito o apoio dos democratas.”

Quando a nova maioria democrata assumiu, o Peru passou a defender fortemente em Washington a realidade dos trabalhadores em Lima e a explicar as reformas que estavam a caminho no pa-ís. Muitos dos esforços se concentraram em um prédio localizado várias quadras a oeste do Capitólio, que abriga uma das instituições mais po-derosas do país: a Federação Americana de Trabalhadores e Congresso de Organizações Industrais (AFL-CIO, na sigla em inglês).

Essa entidade tem grande influência política, não somen-te por representar cerca de 10

milhões de trabalhadores de todo o país, mas também por sua estreita relação com o Par-tido Democrata, ao qual só no último ciclo eleitoral de 2006 deu US$ 40 milhões para gastos de campanha. “Sabíamos que não íamos conseguir o apoio da AFL-CIO, pela complexa postura que em geral ela apre-senta em relação aos TLCs, mas estávamos conscientes de que o simples fato de ela não se opor já era fundamental”, diz Ortiz de Zevallos.

De fato, em sua visita de 2007, Alan García conversou por um longo tempo com John J. Sweeney, presidente da or-ganização. A conversa girou

em torno da tradição social-democrata da Apra, o partido de García, e da defesa dos di-reitos trabalhistas. O presidente peruano respondeu perguntas sobre várias reclamações que Sweeney tinha ouvido de cen-trais de trabalhadores de seu país. Foi um encontro-chave, no qual García assegurou a “não-oposição” de Sweeney, que também foi convidado a ir a Lima para ver com seus próprios olhos a importância do TLC para o Peru.

A Colômbia também fez sua campanha junto à orga-nização sindical, mas não conseguiu o mesmo resultado. “O tratado com o Peru foi o

primeiro a incorporar padrões trabalhistas e ambientais mais rigorosos”, afirma Thea Lee, diretora assistente de políticas públicas da AFL-CIO. “Acho que isso também faz parte do acordo com a Colômbia, mas achamos que lá a situação é mais complexa.”

A conjuntura política tam-bém fez diferença. “O Peru conquistou o acordo, entre outros fatores, porque teve um pouco de sorte”, diz Carl Meacham, assessor-chefe para assuntos latino-americanos do Comitê de Relações Exterio-res do Senado dos EUA. “Os democratas não queriam ser vistos como opositores naturais

do livre comércio e já estava decidido que não iam aprovar o tratado com a Colômbia. Com o Peru, no fundo, eles quise-ram dar um sinal. Tratou-se de mostrar que os democratas estão a favor dos tratados de livre comércio que são bons, mas não dos que têm compo-nentes negativos importantes, que não podem ser ignorados.” Há quem descreva a mesma lógica com outras palavras: como muitos democratas viam o presidente Uribe como muito próximo a Bush, então o acordo com Bogotá não de-veria ser aprovado.

“O presidente García apre-sentou a idéia de que o Peru de-

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA57

veria ser um aliado estratégico dos EUA ao presidente Bush, mas também falou com Rangel e Sweeney e os convenceu de que sua projeção não é pró-empresarial, mas vem de um partido que tradicionalmente defende os trabalhadores”, diz Ortiz de Zevallos.

O resultado também com-pensou o investimento que o governo peruano fez em lobby. De acordo com a Fara, entre 2006 e 2008 o Peru gastou cerca de US$ 1,3 milhão em lobby em Washington, o que se traduziu em pelo menos oito reuniões com Rangel e outros parlamentares, entre os quais se destacam Nancy Pelosi, Sandy Levin e Roy Blunt. Já o lobby do governo da Colômbia usou intermediá-rios como a Burson-Marsteller e o Global Park Group LLC, entre outros. Bogotá investiu nisso US$ 1,6 milhão. Realizou encontros com republicanos e democratas e até divulgou documentos destinados a me-lhorar a imagem do presidente, tais como uma publicação de-nominada “Mitos e fatos sobre as acusações contra Álvaro Uribe”. Não adiantou.

CONSENSO LOCALMas a luta pelo TLC não ocorreu apenas em solo norte-americano. Além das gestões em Washington, outro ponto de destaque na estratégia pe-ruana foi o esforço realizado em nível local para convencer o país sobre a necessidade do TLC. O sucesso conquistado nessa área foi um elemento de peso na argumentação levada ao Capitólio. Patricia Teullet, gerente geral da Sociedade de Comércio Exterior do Peru (Comexperú), explica que a idéia do acordo foi aceita com facilidade pelas autoridades e pelo governo do país, mas que foi mais difícil convencer

o setor privado, sobretudo o setor farmacêutico.

Não obstante, depois que se conseguiu um consenso em nível empresarial, a Co-mexperú realizou um trabalho durante cerca de um ano para ganhar o apoio popular para o acordo. Com vários mem-bros do setor privado, Teullet procurou sindicalistas, estu-dantes, professores e meios de comunicação em cidades importantes do Peru, como Cuzco, Cajamarca, Arequipa, Iquitos, Piura e Ica, além de Lima. Especialmente dura, lembra ela, foi a apresentação do TLC para um sindicato de trabalhadores desempregados para convencê-los das vanta-gens do livre comércio. “Eu

pensava: por qual porta terei de sair agora? Mas quando se fala com paciência, consegue-se uma conexão com as pessoas.” O esforço serviu para desmentir mitos e dar informação, o que foi complementado por uma campanha publicitária por rá-dio promovida pelo governo. O resultado: somente os sin-dicatos resolveram reclamar contra o acordo.

Já no caso colombiano o consenso não foi tão forte. Ainda hoje há grandes seto-res empresariais, como o da indústria têxtil, que continuam a se opor ao tratado. Além disso, a Confederação Geral do Trabalho da Colômbia garantiu em um comunicado que “temas tão delicados como a soberania em alimentos; a

educação, principalmente nos níveis técnico, tecnológico e superior; a produção agropecu-ária, o acesso a medicamentos etc. já não serão regulados de acordo com os ditames de nos-sas necessidades normativas, mas se regerão pelas normas do TLC, que não são outra coisa que os mandatos das empresas transnacionais e seu interesse em garantir mercado sujeitos a excedentes de produção.”

A Colômbia trabalha com um horizonte que muitos ava-liam como inviável: aproveitar o período entre as eleições presidenciais e o fim do ano para impulsionar a aprovação do tratado. Caso não dê certo, o governo colombiano planeja concentrar seus esforços no mês

de janeiro. Para isso, tem uma nova estratégia. Hernando José Gómez, um dos negociadores do TLC Estados Unidos-Colômbia, diz que o foco do governo Uribe será mostrar todos os progressos feitos para garantir o livre exercício dos direitos sindicais no país, ou seja, para proteger a integridade e a vida dos sindicalistas. “Foi desenvolvida uma série de programas e gastou-se grande quantidade de recursos nisso”, afirma Gómez. “Há poucas observações da Organização Internacional do Trabalho sobre nossa normativa tra-balhista e já implementamos algumas leis que as levam em conta.”

Agora o governo de Bogotá – ajudado pela repercussão da

liberação de Ingrid Betancourt e de outros reféns, alguns deles norte-americanos – se dedica a difundir seus argumentos em outros lugares dos EUA além de Washington. O ministro do Comércio, o chanceler, os vice-ministros e representantes do setor privado colombia-no visitaram vários estados, como a Califórnia, o Texas, Nova York e Illinois. Houve também convites para que parlamentares e membros da AFL-CIO visitem o país. No fechamento desta edição, uma carta publicada no The New York Times pelo secretário de Defesa dos EUA e pelo mi-nistro de Defesa da Colômbia explicou os avanços que foram feitos e a importância do TLC,

pedindo sua aprovação. Mas não será tarefa fácil.

“Apreciamos a vontade do governo colombiano de com-partilhar suas informações”, diz Lee, da AFL-CIO. “Mas nosso contato são os sindicatos, e deles ouvimos estórias bem diferentes sobre as ações do governo Uribe para reformular a legislação, proteger os sin-dicalistas e fazer justiça aos responsáveis pela violência contra eles.”

O desafio para a Colômbia é enorme. O país terá de fa-zer com que os avanços que conquistou valham mais que os atuais problemas. Caso contrário, uma vez mais as negociações terminarão se perdendo entre os corredores do Capitólio.

Caso não consiga aprovar o trata-do até o fim do ano, o governo de Uri-be usará uma nova estratégia, focan-

do-se nos progressos realizados para garantir o livre exercício sindical.

58 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

DEBATE INFLAÇÃO

MORENO:cifras perigosas

“Vi, pessoalmente, pes-quisadores chorando e dizendo: o preço do

pão que eu trouxe é de 4 pe-sos, mas baixaram para 2,50.” Cynthia Pok, ex-encarregada da Pesquisa Permanente de Lares do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), da Argentina, tem algo desses personagens secundários das novelas de Tolstói: alguém perfeitamente anônimo que, de um momento para o outro, se vê encurralado no meio de uma ponte em plena batalha.

Batalha, no caso, não é metáfora. Tempos atrás foi com um grupo de empregados da área de estatística entre-gar um pedido de aumento de salário ao Ministério de Economia. “Eles sabiam que íamos. Fizeram-nos entrar e fecharam as portas. A luz estava fraca e no hall estava à nossa espera a gangue que nos ameaça aqui no Indec, que começou a bater na gente. Caí no chão. Os funcionários do Ministério tentaram contê-los, mas a briga durou cerca de meia hora. A Polícia Federal,

ÍNDICE DE LÁGRIMAS AO CONSUMIDORNa Argentina, tentativa de controlar expectativas infl acionárias intervin-do nas estatísticas resulta em guerra sindical e muita confusãoRodrigo Lara Serrano, Buenos Aires

que tem homens dentro do Ministério, viu tudo e não interveio.” A briga aconteceu entre membros da ATE (As-sociação de Trabalhadores do Estado), e da UPCN (União do Pessoal Público da Nação), majoritário no Indec, os dois sindicatos que convivem - mal - na instituição.

O que converteu os em-pregados do antes prestigio-so instituto em capuletos e montéquios foi uma discussão sobre aceitar ou não 10 a 12 pontos “extras” de inflação. A polêmica se instalou desde que, no primeiro trimestre de 2007, os encarregados de várias áreas da instituição começaram a ser transferidos. Especialistas como Cynthia passaram a ser colocados em outros postos por se negarem a manipular as estatísticas para reduzir o índice de inflação. O governo argumentou que, ao contrário, os transferidos eram vulneráveis a pressões para aumentá-lo, como, por exemplo, de investidores que têm bônus ajustados por um índice indexado à inflação. Investidores que, por sua vez, alegam que estão sendo “defaulteados” às escondidas pelas autoridades, que ocultam a taxa real de inflação.

Outra discussão que ocorre na Argentina é sobre o moti-vo da inflação em si. Com o país apresentando superávits fiscais sustentados acima dos 3%, as autoridades esgrimem o argumento de que a origem da inflação está na defasagem entre a demanda, que explodiu ao recompor-se a receita, e os gargalos de investimento e produção. Instituições de pesquisa como o Centro de Economia Regional e Expe-rimental (CERX) descrevem isso como “uma recomposição das margens de lucro dos se-tores produtivos, que tinham

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Ninguém questiona que a inflação está aí. A discussão real é por quê. E quan-

ta. As estimativas vão de 20% a 28%.

reduzido suas margens ao mínimo no período de crise”. Essa explicação está em con-sonância com os economistas que falam de uma classe mé-dia alta – ligada ao boom de commodities agrícolas e com padrões de consumo de país desenvolvido – subsidiada por meio de serviços públicos (gás, energia elétrica e água) com preços congelados. Como seu poder de compra é altís-simo, se os preços sobem ela paga. Já visões mais liberais defendem o argumento de que o que acontece é que o gover-no expande demasiadamente o gasto, acima da expansão da receita.

Mas de que níveis de in-flação estamos falando? Não é possível saber oficialmente. “Este ano a inflação ficará entre 20% e 22%”, responde o economista Mariano Lamote,

do centro de estudos Abeceb. “Nossa estimativa é de que fique em torno de 28%”, diz o também economista Ricar-do Delgado, da Ecolatina. O último informe de inflação do Banco Central argentino aponta que os preços ao va-

rejo indicados no IPC-Resto (medição do Indec da chamada “inflação subjacente”, que não inclui energia) chegou, em ju-nho passado, a 12%. E agrega uma frase para “entendidos”: “Os diferentes indicadores de preços disponíveis continuam mostrando variações diver-gentes”. Alguns, de cerca de 20%.

A Argentina é uma fede-

ração, de modo que várias de suas províncias medem seus próprios IPCs. Os resultados do primeiro semestre variam de 6,8% em Mendoza a 14,9% em Río Negro, passando por 14,8% em San Luis, 14,5% em Salta, 12,4% na Terra do

Fogo e 11,1% no Chaco. Não é preciso ser pessimista para se imaginar que a inflação vai superar 21% ao ano em 2008 mesmo se a taxa cair no segundo semestre. Ou atinja de 26% a 28%, se ela recrudescer depois da suposta queda ocorrida no bimestre passado.

Sobre esse último aspec-to, as opiniões novamente se

dividem. Lamote, do Abe-ceb, comenta que a inflação “vem caindo nos dois últi-mos meses”, fato que estaria diretamente relacionado ao esfriamento da economia. As vendas desaceleram, decai a produção industrial. Mas

não está claro se isso se deve aos efeitos da recente crise agrária, que congelou o consumo nas zonas mais ricas do país, ou se é um fenômeno de fôlego mais longo.

Em declarações à mídia, o prestigiado economista pró-governo Eduardo Curia disse que, conforme havia antecipado, “estamos numa trajetória como um serrote,

22-23 September 2008Shangri-La Hotel, Singapore

The annual Latin Asia Business Forum brings together top business and government leaders and experts from Latin America and Asia to highlight opportunities for partnership in trade, investment and services, and to share market experiences, insights and expertise.

A line-up of most distinguished speakers from business and government will provide delegates with the opportunity to gain insights into market trends, identify business opportunities and establish a platform for doing business between Asia and Latin America.

SUMMIT HIGHLIGHTS

PAST SPEAKERS INCLUDEHosted by

between Asia and Latin America

Latin Asia Business Forum 2008

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 61

DEBATE INFLAÇÃO

Funcionários do Indec afirmam que são realocados por se negarem a manipular as estatísticas. Outros dizem

que sua função não é discutir metodologias de cálculo. em que haverá altos e baixos na atividade vinculados a pressões no consumo contra a inflação”. Seria uma má notícia. Agora, além do índice informal mais de acordo com seus interesses, os agentes econômicos poderão escolher a parte do dente do serrote que mais lhe convier.

Para a analista política e titular da Romer & Associados Graciela Romer, as pesquisas mostram que as pessoas sofrem com o “serrote” que golpeia sua receita. E isso tem efeitos políticos. “Já no início do ano havia um profundo mal-estar sobre a crescente inflação.” A recente disputa sobre as tarifas de exportação “foi uma rebelião fiscal à qual aderiu a

classe média, que sofre o peso da inflação na deterioração de sua qualidade de vida. As pessoas estão sentindo no bolso”.

A derrota do governo de Cristina Kirchner, com a anula-ção do aumento impositivo, ge-rou a expectativa de que surja uma solução de consenso para o Indec. A oposição e vários partidários do governo pedem a renúncia de Guillermo Mo-reno, ministro do Comércio, que controla a instituição. Na Casa Rosada, que defendeu a mudança da metodologia de medição, impera o silêncio. Por outro lado, um juiz que investiga a manipulação dos índices pediu que a Justiça nomeie um observador que

restabeleça o cálculo da forma tradicional.

Para Damián Comas, se-cretário-geral da UPCN - sin-dicato acusado de obedecer a Moreno - no Indec, o problema é antigo. “Trabalho aqui há 15 anos. Sempre houve esse questionamento. Já Cynthia Pok, que é filiada à ATE, re-clama. “Ninguém conhece a nova metodologia. Não está publicada.” Ela garante que a UPCN apóia as autoridades porque “foram selecionadas 300 pessoas novas sem capaci-tação” ligadas a esse sindicato para trabalhar no Indec.

Uma fonte da instituição alheia aos dois grupos, que pede para não ser identificada, explica que, por um lado, “o

governo tinha aval para tirar de seus cargos certas pessoas vinculadas à ATE porque seus concursos tinham caducado”. Mas, por outro lado, “a forma com que isso foi feito foi hor-rível”. E agora “há gente da UPCN que ganha uma fortuna por tarefas insignificantes. Por exemplo, porteiros que recebem 6 mil pesos (US$ 2 mil) por mês”. Segundo Cynthia, esses funcionários somam 50 pessoas e estão ligados ao polêmico Moreno. “A verdade é que muitos de-les são boa gente. Defendem o novo índice porque onde vão ganhar o que ganham aqui? E a emboscada acon-teceu de verdade. Foi uma loucura.”

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11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 6311 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 63

DEBATES SAÚDE

Ambriz:eliminando riscos

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Com apenas 33 anos, o mexicano Alejandro Am-briz corria o risco de so-

frer de diabetes, hipertensão arterial, pancreatite e até ter uma morte súbita por doença cardíaca silenciosa. Tinha um excesso de peso de 22 kg, mas não sabia desses riscos até que o médico o informou que seu nível de triglicérides e colesterol era excessivamente alto, quatro vezes maior que o normal. “Não podia acreditar, pensei que isso só poderia me acontecer quando fosse muito mais velho ou mais obeso”, conta.

Ambriz também não sa-bia que sua má alimentação transcendeu o físico e chegou à economia do México. A obesidade está “devorando” os recursos do Estado desti-nados à saúde. Somente com atenção aos pacientes com diabetess, doença estreitamente relacionada à obesidade, os setores público e privado do país gastam mais de US$ 6 bilhões ao ano. O diabetes está se convertendo no maior problema de saúde do México: já é a primeira causa de morte entre as mulheres e a segunda entre os homens. Embora o Ministério de Saúde do país não tenha dados, se a isso se somar os gastos gerados por outras doenças vinculadas à obesidade, a cifra aumenta ainda mais. “Essa é outra área do gasto público que não se pode contabilizar”, diz Juan Pablo Pantoja, médico do Instituto Nacional de Ciencias Médicas y Nutrición Salvador Zubirán (INCMNSZ).

Sete de cada dez mexi-canos maiores de 20 anos têm sobrepeso ou obesidade, prevalência que aumentou de forma notável nos últimos 30 anos. Enquanto em 2000 24% dos adultos padeciam de obe-sidade, em 2006 o percentual havia subido para 30%, segun-

O México necessita reduzir urgentemente a obesidade e o sobrepeso de sua população Marisol Rueda, Cidade do México

PROBLEMA DE PESO

64 AMÉRICAECONOMIA/ 11 DE AGOSTO, 2008

DEBATES SAÚDE

No México, somente o diabetes envolve gas-

tos de mais de US$ 6 bilhões ao ano.

do dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (Ensanut). Com essas cifras, o México se coloca em segundo lugar no ranking mundial de obesidade. EUA e Grã-Bretanha ocupam, respectivamente o primeiro e o terceiro lugares.

A obesidade, que no México é um problema de saúde pública classificado como epidemia, é um importante fator de risco para o desenvolvimento de do-enças graves ou crônicas, como diabetes mellitus, diferentes tipos de câncer, hipertensão arterial e outros problemas cardíacos. Cálculos do Ins-tituto Mexicano del Seguro Social (IMSS) indicam que se a tendência atual perdurar, em 2025 cerca de 25% da população adulta do país se-rá diabética devido à sua má alimentação (hoje, quase 10 milhões de mexicanos sofrem de diabetes). No médio prazo, o problema fiscal poderia até levar ao colapso o sistema de saúde pública. “Se não fizer-mos algo radical, ele poderá quebrar”, diz Pantoja.

MITOS E HÁBITOSComo medida para enfrentar es-sa epidemia, em junho o IMSS reforçou sua campanha nacio-nal de prevenção. Por meio de uma cruzada, incentivou a população a perder 1 milhão de quilos em dois meses. Como? Chamando seus afiliados a se submeterem a uma avaliação e um tratamento para baixar de peso. E aos que não têm vínculo com a instituição, a inscrever seus dados em um site, baixar de peso por conta própria e contar quantos quilos perderam.

A cruzada, que terminou no dia 26, teve a participação de 1.727.944 pessoas, que perde-ram pouco mais de 1 milhão de quilos. “Foi um estímulo para medir o desejo das pessoas

de ganhar saúde”, diz Ernesto Krug, chefe da área de apoio técnico do IMSS e responsável pela campanha. Ainda que a cifra alcançada seja modesta, a instituição considera que o programa foi um sucesso pelo impacto que teve nos meios de comunicação. “A verdadeira meta é conquistar um estilo de vida saudável para sempre”, diz Krug. Por isso, ele espera que a campanha tenha sido um alerta aos que não sofrem de sobrepeso ou obesidade. “O propósito adicional era colocar em pauta a questão da alimen-tação saudável e da prática de exercício”, diz Krug.

Embora os mexicanos tenham uma predisposição genética ao sobrepeso, esse é um problema que pode ser combatido com medidas preventivas. De fato, as mo-dificações observadas na dieta dos mexicanos nos últimos anos estão entre os grandes culpados desse cenário. Au-mentou a ingestão de fast food e de alimentos hipercalóricos. “Estamos invadidos por co-mida norte-americana barata, mas prejudicial”, diz Pantoja, do INCMNSZ. “A culinária nacional é muito mais balan-ceada em termos de proteínas e outros nutrientes.” Além disso, o sedentarismo é um fator agravante. “Os programas escolares requerem cada vez mais novas matérias, mas elas não têm relação com a ativi-dade física”, comenta.

Conquistar um estilo de vida saudável será realmente difícil levando em conta que a obesidade já se instalou no país. “O problema é que não temos infra-estrutura para o que virá”, afirma Pantoja. No México, há somente cinco hospitais que realizam a cirur-gia da obesidade, e a lista de espera para essa intervenção é de um ano a um ano e meio.

“De toda a população de obe-sos, cerca de 10% necessitam de uma cirurgia.”

Pantoja afirma que é preciso intervir muito mais agressiva-mente em todos os níveis de saúde, especialmente na idade

escolar. Os dados da Ensanut revelam que a obesidade e o sobrepeso combinados afetam 26% das crianças mexicanas entre 5 e 11 anos. Nos adoles-centes, esse percentual sobe para 30%.

O rápido crescimento da obesidade infantil no México, o maior do mundo, é alarmante. Entre 1999 e 2006, aumentou 77% nos meninos e 47% nas meninas. As grandes causas continuam a ser a má alimen-tação e a falta de atividade física. Mas a publicidade da chamada fast food tampouco colabora. A ONG O Poder do Consumidor afirma que as crianças mexicanas estão expostas ao bombardeio anual de 12,4 mil comerciais de TV desse tipo de alimento. Um dado que salta à vista, por exemplo, é que o México é o maior consumidor de Coca-Cola do mundo. Além disso, as crianças não contam com nenhum tipo de orientação nutricional e desde cedo são alvo de certos mitos. “Coi-sas como pensar que o mais saudável é o mais gordinho e que é preciso comer tudo o que está no prato devem ficar para trás”, diz Krug.

Sem mais investimento e a criação de centros interdiscipli-nares, o México seguirá arras-tando seus quilos. “Precisamos de clínicas especializadas que

incluam psicologia, nutrição e tratamento médico de forma integrada”, defende Pantoja. “Em outros países, essa medida tem sido eficaz para atacar o problema e freá-lo.”

“Vamos por 1 milhão de quilos” é parte de uma campa-nha permanente de prevenção. O setor público manterá essa cruzada por intermédio de spots de rádio e TV e anúncios em mídia impressa, além da assessoria pessoal em unidades médicas de todo o México. Parte da iniciativa se destina a advertir a população dos riscos do consumo excessivo de produtos como frituras e refrigerantes. Entretanto, ela não contempla a abertura de hospitais especializados na atenção a pacientes obesos. Pantoja não minimiza os esforços do Estado, mas em sua opinião eles são insufi-cientes. “Não daremos conta da demanda”, afirma.

Sob a supervisão de um médico do IMSS, Alejandro Ambriz começou uma dieta balanceada e a fazer exercí-cios diários e perdeu, entre janeiro e julho deste ano, 23 quilos. Com isso, deixou de pertencer aos 30% de adultos mexicanos que padecem de obesidade (além dos outros 40% que têm sobrepeso). E sua vida mudou radicalmente. “Já não me dói o coração, nem os tornozelos. Deixei muito mal-estar para trás por ter emagrecido”, conta. Agora, a meta é que o restante dos obesos mexicanos faça o mesmo.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 65

Dionisio Borda, ministro da Fazenda do ParaguaiDionisio Borda, ministro da Fazenda do Paraguai

AP

O Paraguai pode crescer mais?Para reduzir a pobreza extrema não bas-ta crescer. Em 2007, o crescimento do PIB foi de 6,8%; entretanto, a pobreza extrema aumentou de 18% para 21%. O crescimento maior não gerou empre-gos suficientes; houve redução da taxa de desemprego, que está em 7%, mas também aumento da subocupação, que oscila ao redor de 26%.

Como esse quadro pode melhorar?Na administração pública há um gargalo muito sério, tanto pa-ra a definição de políticas públicas como para gerar um clima de negócios no qual o setor privado possa decolar. Para isso, definimos alguns objetivos: profissionalizar o serviço público, otimizar o gerenciamento, pois o Paraguai tem recursos, dispõe de empréstimos, mas nem sempre os executa bem. Focamos a capacidade de colocar uma política em ação, e que ela chegue à população. Priorizaremos os recursos humanos e as contra-tações públicas. Finalmente, há o elemento de controle, pois as auditorias no Paraguai nunca detectaram nada. Outra variável é a garantia jurídica, pois quem investe hoje precisa que a Justiça seja crível, aplicável, que as regras não mudem.Quais setores vão ser impulsionados?Impulsionar e desenvolver o mercado de capitais pode ser de grande utilidade, de forma que a poupança disponível não fique apenas nos bancos, mas vá ao mercado. Depois está a área das cooperativas. As grandes têm de ser objeto de maior controle, porque o fato de funcionarem bem hoje não implica que não apresentem risco amanhã. Também vamos estimular maior diversificação da produção primária e impulsionar a criação de um mercado mais diversificado. Hoje dependemos de dois setores primários (soja e algodão), que se transformam muito pouco e se orientam para um só mercado.Qual é a situação das empresas públicas?A maioria tem déficit financeiro, não pôde crescer, não rein-vestiu, não aumenta sua cobertura e tem serviço ruim. A idéia é formar um conselho de empresas públicas integrado pelos ministérios da Fazenda, de Obras Públicas e de Indústria e Co-mércio. Sua função será marcar as políticas de administração com que se deverá oferecer uma abertura ao capital privado sob uma modalidade de aliança público-privada de forma a injetar capital e capacidade gerencial a cinco empresas: a de cimento, a de telecomunicações, a de água, a de eletricidade e a refinaria de petróleo.Durante sua campanha, Fernando Lugo afi rmou que exigiria do Brasil melhores compensações pela administração conjunta dos recursos da hidrelétrica de Itaipu...O Paraguai tem de reivindicar melhor compensação dos preços de suas hidrelétricas num momento de crise energética. Não podemos manter um preço irrisório de 1973 a 2008.O que vai acontecer numa suposta reforma agrária? Será feita uma regularização imediata da posse de terras, dare-mos assistência técnica e de crédito, bem como serviços básicos de saúde e educação, e promoveremos uma mesa de diálogo para melhorar a distribuição de terra dentro de um programa de regionalização produtiva.

“PARA REDUZIR A POBREZA EXTREMA NÃO BASTA CRESCER”

Dionisio Borda, ministro da Fazenda do Paraguai no futuro governo de Fernando Lugo, vai repetir o prato. Representou o governo de Nicanor Duarte entre 2003 e 2005, quando

impulsionou uma política fiscal mais clara e uma reforma tri-butária. Agora espera implementar reformas que conduzam ao desenvolvimento sustentável, como abrir empresas públicas para o capital privado, dar mais competitividade às exportações do país e gerar mais empregos. “O objetivo prioritário para o governo é ter um crescimento econômico sustentado com uma média anual de 5% nos próximos cinco anos”, afirmou em conversa com José María Duarte, correspondente da Améri-caEconomia em Assunção.

DEBATES ENTREVISTA

66 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

Javier Santiso

DEBATES PANORÂMICA

Economista-chefe e diretor-adjunto do Centro deDesenvolvimento da OCDE.

Se o gigante asiático resistir ao contágio dos Estados Unidos, os mercados de bens básicos poderão se manter fortes.

HÁ DEZ ANOS não haveria nenhuma dúvida de que, dian-te de uma recessão econômica nos EUA, a América Latina desmoronaria como um castelo de cartas. Mas hoje a região pinta e borda enquanto a economia do vizinho do norte atravessa um momento complicado. A América Latina, se-guindo o caminho da Ásia, diversifi cou progressivamente as fontes exógenas de crescimento e continua em festa, sem se importar se os Estados Unidos entram ou não no baile.

Fala-se em descolamento, ainda que essa expressão faça pouca justiça ao fenômeno a que assistimos: o que estamos presenciando é uma mudança no equilíbrio da riqueza entre as nações. O conceito de descolamento pertence a um mun-do em vias de desaparecimento, no qual, supostamente, uma periferia se desprende de um centro. O problema é precisa-mente que o centro é cada dia menos “central” e a periferia cada vez menos “periférica”.

Os países da OCDE, que há 50 anos concentravam 75% do PIB mundial, hoje representam menos de 55% dele. A capitalização do mercado de ações norte-americano agora “só” representa 35% da capitalização mundial em bolsa, contra 50% dez anos atrás. Os termos “países da OCDE” e “países emergentes” parecem perder a vigência: México, Coréia do Sul e Turquia, três economias “emergentes”, já são membros da OCDE, e outros países, como Chile e Rús-sia, estão negociando sua adesão.

Essa situação também se aplica às corporações. Por exemplo, a cervejaria InBev, formada a partir da fusão de uma empresa belga e outra brasileira, acaba de comprar o ícone norte-americano Anheuser-Busch, ao passo que a companhia de cimento mexicana Cemex tem seu quartel-ge-neral em Monterrey, mas seu centro estratégico, fi nanceiro e de pesquisa econômica está na Espanha. Empresas brasilei-ras como a Vale, a Petrobras e a Odebrecht estão investindo cada vez mais na África, e a Embraer e a Marcopolo incre-mentam sua presença na China. Essas multilatinas globais seguem o caminho criado por empresas indianas, chinesas, sul-africanaas e russas. É irônico ver o grupo indiano Tata arrebatar jóias da coroa britânica por meio da compra de empresas como a Corus, a Jaguar e a Rolls Royce.

Isso não signifi ca que a América Latina seja imune aos embates provocados por uma desaceleração nos EUA. O México, claramente, está na linha de fogo: o crescimento de seu PIB está fortemente relacionado com a atividade indus-

Novo equilíbrio

trial dos EUA, e cerca de 85% de suas exportações vão para esse país, contra uma média de 40% do restante da América Latina. As exportações para os EUA representam 27% do PIB mexicano, comparados a menos de 3% do do Brasil, 8% do da China, 4% do da Índia e mísero 1% do da Rússia. Países centro-americanos cujas economias dependem das exportações aos EUA também estão expostos.

As remessas recebidas no México, que em 2007 chega-ram a US$ 24 bilhões, já mostram sinais de desaceleração, com uma queda de 2,66% durante os primeiros cinco meses do ano em relação ao mesmo período de 2007. No setor bancário, 85% dos ativos do México estão nas mãos de grupos estrangeiros, contra menos de 30% no Brasil. Apesar disso, o México se encontra em boa situação macroeconô-mica para enfrentar a previsível tempestade vinda dos EUA.

Em outros países da América Latina a situação é diferen-te. A disciplina fi scal e monetária segue de pé, e pela pri-meira vez em muito tempo os EUA já não são o único motor de crescimento. Hoje a região está se benefi ciando não de um ou dois motores exógenos de crescimento, mas de três:

EUA, Europa e Ásia.A pergunta do milhão em

2008 já não é o que acontecerá com os EUA, mas o vai ocor-rer com a China. Se o gigante asiático resistir ao contágio dos EUA, os mercados de bens básicos poderão se manter sufi -cientemente fortes para garantir que a América Latina não seja levada para o buraco.

As cifras demonstram os novos vínculos com o dragão asiático: em 2007, pela primeira vez na história, as exportações de países emergentes para a China superaram as destinadas aos EUA (15% do total). Por

sua vez, durante 2006 a China se expôs mais aos mercados emergentes que aos países do G7: no começo desta década, suas exportações para estes chegaram a quase 50% do total; desde então, caíram para 40%, enquanto as exportações para os mercados emergentes cresceram. Metade das exportações chinesas vai para países emergentes. Na América Latina, o Chile já exporta 35 de seus produtos para a Ásia, mais do que para qualquer outra região do mundo, com a China representando 15% do total.

O mais provável é que a América Latina, como outros mercados emergentes, não afaste completamente as nuvens vindas do norte. Mas a situação é incomparável em relação à de uma década atrás. Os antigos paradigmas que nos servi-ram para entender a América Latina – aos quais pertencem as teorias de descolamento – devem ser revisados. Estamos entrando num mundo novo, cada vez mais asiático, russo e também latino-americano.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 67

DEBATES 5a COLUNA

Diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade deMiami.

Susana Kaufman Purcell

Existe uma tradição de os argenti-nos buscarem a salvação econômica em personagenscaudilhescos.

O POPULISMO LATINO-AMERICANO parece ter chegado a seu ponto máximo. A recente derrota sofrida pelo governo argentino em seu plano de impor impos-tos draconianos ao setor agrícola é somente a última de uma série de descalabros de governos da região, como o da Bolívia e o da Venezuela, que constantemente têm recorrido a discursos carregados de epítetos racistas e classistas para despojar as classes médias e altas de seus respectivos países de poder político e econômico. Entre-tanto, permanece incerto se as derrotas desses populistas autoritários os convencerão a assumir posturas de gover-no mais pragmáticas e de consenso, ou se, ao contrário, decidirão prosseguir com seus esforços para concentrar poder político e econômico em suas mãos, tornando seus países menos estáveis e produtivos.

O que aconteceu na Argentina ilustra algumas das li-mitações do populismo autoritário. Segundo o governo de Cristina Fernández de Kirchner, os altos preços das com-modities agrícolas justifi cam um imposto variável sobre as exportações que poderia chegar a 40%. As autoridades argentinas também defendiam que a receita provenien-te desse tributo seria usada para ajudar os mais pobres. Inicialmente a presidente preferiu aprovar o imposto por decreto ao invés de enviá-lo ao Congresso para sua dis-cussão. E quando os agricultores protestaram contra o imposto por considerá-lo injusto e arbitrário, batalhões de piqueteiros pró-governo saíram às ruas.

Esse tipo de conduta era tolerada e até estimulada durante o governo de Néstor Kirchner, que em 2003 as-sumiu a Presidência depois de o país sofrer um colapso econômico. Naquele momento os argentinos buscavam um líder forte que pudesse solucionar a crise econômica e para isso se dispuseram a entregar-lhe poder sufi ciente. Suas políticas, que incluíram o default da dívida pública, conseguiram reativar a economia. Mas quando sua mu-lher assumiu o poder, os custos dessas políticas se torna-ram evidentes. Os estrangeiros se mostravam resistentes em investir num país cujo tratamento ao investimento estrangeiro é imprevisível; os subsídios decretados para aliviar os diferentes setores se tornaram insustentáveis; os custos da energia e da matéria-prima continuavam em alta, e o gasto desmedido do governo antes das eleições de 2007 só acentuava os problemas. Por isso, os argen-

Ponto morto

tinos já não se mostravam tão dispostos quanto antes a aceitar que se tomassem decisões populistas de forma autoritária.

Somente depois que os agropecuaristas demonstra-ram nas ruas maior poder de arregimentação que os manifestantes pró-governo é que a presidente decidiu apresentar a reforma ao Congresso. E o golpe fi nal foi dado por membros de seu próprio partido, o Peronista, que votaram contra. Isso refl etiu o poder econômico dos agricultores, que pressionaram seus respectivos represen-tantes no Legislativo para que apoiassem os interesses dos constituintes que os elegeram. Mas também refl etiu o descontentamento com a incapacidade dos Kirchner de se adaptar ao novo cenário global e interno.

Embora nenhum país seja igual a outro, outros gover-nos populistas autoritários da região estão enfrentando situações semelhantes. O presidente boliviano Evo Mo-rales enfrenta a oposição de movimentos pró-autonomia nas províncias mais ricas e produtivas do país. E, apesar da abundância de recurso que o petróleo proporciona, o

presidente Hugo Chávez, da Venezuela, viu seus esforços para obter o direito à reeleição indefi nida derrotados princi-palmente por dois grupos: os eleitores de baixa renda, que sentem que a riqueza petro-lífera venezuelana não está se refl etindo numa melhora de sua condição de vida, e os estudantes, que vêem como as destrutivas políticas de Chávez estão arruinando o país e hipo-tecando seu futuro.

A Argentina está em me-lhor situação que a Bolívia e a Venezuela para conquistar uma transição bem-sucedida do

populismo autoritário para um sistema econômico e po-lítico mais institucionalizado e funcional. Sua população tem maior grau educacional e é mais rica, e sua economia é mais sofi sticada e moderna. O problema é político: as instituições, incluindo os partidos políticos, são muito fracas, e existe uma tradição que fez com que os argenti-nos buscassem a salvação política e econômica em perso-nagens caudilhescos.

Depois da recente crise, o Partido Peronista – que mais parece um mostruário de feudos pessoais que um partido político moderno – está claramente dividido. Al-guns analistas temem que a Argentina se encaminha a um atoleiro político, ou algo pior. Esperemos que a presiden-te e os argentinos em geral aproveitem esse novo cenário para fomentar um sistema político aberto e transparente, sustentado na negociação e no pragmatismo. Somente en-tão a Argentina poderá viver de acordo a seu potencial.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 69

FINANÇAS REAL ESTATE

Mercado imobiliário: hora de comprar?

AP

Oque aconteceria com a economia dos Estados Unidos se 50 furacões

Katrina atingissem simulta-

neamente a costa do país? Ou com a economia do mundo, caso México, Argentina, Peru simplesmente parassem por

Baixos preços dos imóveis nos Es-tados Unidos geram boas oportuni-dades de investimentoAntonio María Delgado, Miami

NO FUNDO um ano? Bem, mais ou me-nos o mesmo que aconteceu com a crise hipotecária dos EUA: cerca de US$ 1,5 trilhão desapareceriam do mapa. O evento, que ficará registrado como um dos capítulos mais dispendiosos da história eco-nômica dos EUA, levou a maior economia do mundo à beira da recessão, os bancos a absorver US$ 435 bilhões em perdas e as famílias a enfrentar a perspectiva de

perderem seus lares.Mas depois da tempestade

vem a bonança. E o momento atual é de oportunidades: des-de o início da crise, em 2005, os preços das propriedades caíram entre 10% e 30%, no país. O suficiente para atrair a atenção de investidores, afirmam especialistas. “Este é um momento estupendo para a procura de propriedades nos Estados Unidos”, diz Jeffrey I. Friedman, presidente do fundo

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11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 71

FINANÇAS REAL ESTATE

de investimentos imobiliários Associated Estates Realty Corporation, que se dedica a comprar e administrar edifí-cios residenciais em diferentes pontos dos EUA. “O mercado está muito bom para quem quer comprar propriedades como investimento, para férias ou residência permanente”.

O que acontece agora, mais precisamente, é um aumento cada vez maior do número de analistas que acreditam que o mercado já caiu o que tinha de cair. Os últimos dados do setor mostram que a demanda, até agora de consistência ge-latinosa, ganha e continuará a ganhar firmeza nos próximos meses, o que tende a sustentar e até elevar os preços. Isso se, e somente se, a economia não entrar numa forte recessão.

Para a Associação Nacional de Agentes de Bens de Raiz (NAR), a recuperação se deve ao fato de que os consumidores estão retornando ao mercado, após deixá-lo, espantados com a violência da queda de preços. “Há uma grande demanda re-primida”, diz Lawrence Yun, economista-chefe da NAR,

ressaltando que, enquanto as vendas caíram, tanto a popu-lação como o número de em-pregos cresceram, criando um exército de potenciais compra-dores à espera da normalização da situação. “Muita gente vai comprar quando sentir que os preços pararam de cair”.

Yun diz que o fortaleci-mento da demanda é mais palpável nos lugares em que foram registradas as maiores

quedas, particularmente em Miami, Los Angeles e Las Ve-gas. “Esses mercados tiveram uma forte queda no valor das propriedades, de 15%, 20% e, em alguns casos, até de 30%. O fato de que os compradores estão regressando, nos merca-dos mais duramente atingidos, é um sinal encorajador de que o grosso da desvalorização provavelmente terminou”, diz o economista.

Miami, cidade que se trans-formou no ícone dos excessos cometidos no auge da bolha do setor imobiliário e, conse-qüentemente, da crise que se seguiu a ela, é também prota-gonista do atual movimento de recuperação. “De um ano para cá, o interesse dos fundos [de investidores especializados em imóveis] vem crescendo”, diz o argentino Edgardo Defortu-na, fundador e presidente da Fortune International Realty. “Primeiro vieram os grandes grupos de Wall Street, os mais poderosos, e, logo depois, cres-ceu o número de investidores internacionais.”

Muitos dos grupos que re-tornaram ao mercado não só

estão convencidos de que os atrativos de Miami – praias, vida noturna para todos os gos-tos e vínculos com a América Latina – não desapareceram com a crise financeira, mas também que os baixos preços e a valorização de suas mo-edas frente ao dólar criaram oportunidades que podem desaparecer no futuro.

No entanto, Defortuna afir-ma que investir hoje no sul da

Flórida requer certo cuidado, diante da super-oferta de pro-priedades, muitas das quais foram construídas no auge da bolha do setor imobiliário. “Nem todos os projetos deve-riam ter saído do papel e nem tudo o que brilha é ouro”. A verdade é que foram construí-dos muitos empreendimentos destinados a especuladores, que pensavam revendê-los em seguida. O risco de imóveis desse tipo é que tenham sido mal projetados e demorem mais para recuperar o valor original. “Por outro lado, os projetos de qualidade, bem pla-nejados e bem localizados são os que estão se valorizando”, diz o empresário, cuja com-panhia constrói e desenvolve apartamentos de luxo no sul da Flórida.

Henru Fischkind, presiden-te da empresa de consultoria Fishkind & Associates, Inc., afirma que os preços das propriedades na Flórida já passaram pelo pior momento. “Observamos pelos registros de compra de propriedades que já estamos no fundo do poço em quase todas as regiões da Flórida. Os volumes de venda se mantiveram essencialmente os mesmos nos últimos oito meses. Na maioria dos lugares, os preços se estabilizaram”, afirma. “O que não quer dizer que veremos melhoras signi-ficativas nos preços no curto prazo. Mas, sim, que as coisas não vão piorar”.

A recuperação dos preços seria lenta porque o Estado ainda conta com superoferta de imóveis. Fishkind, porém, afirma não ter dúvida de que ela será absorvida totalmente pelo mercado dentro de um ou dois anos, em função da cons-tante entrada de imigrantes na Flórida, vindos não apenas de outros lugares dos Estados Unidos, mas também de ou-

tros países, principalmente a América Latina.

Outro fator que deverá ajudar o mercado a se recu-perar é o plano de resgate do governo, aprovado no final de julho, que injetará mais de US$ 300 bilhões no sis-tema habitacional do país. O dinheiro será usado para ajudar muitos dos proprietá-rios que estão com problemas para reestruturar o pagamento dos arriscados empréstimos subprime que contraíram. A previsão é de que a iniciativa ajude por volta de 400 mil proprietários a se manterem dentro de seus lares.

A iniciativa é importante também porque ajudará a su-avizar um pouco os rigorosos pré-requisitos para a liberação de financiamentos, pré-requi-sitos estes que aceleraram a crise imobiliária. Assim que os bancos perceberam que muitas pessoas que recebe-ram crédito na verdade não tinham condições de quitar suas dívidas, aumentaram as exigências para concessão de financiamento.

Friedman, da Associated Estates, diz que a decisão do sistema bancário de congelar os empréstimos criou – em um mercado onde os preços subiram exageradamente há alguns anos – uma situação semelhante à brincadeira da dança das cadeiras. Com a decisão de fechar a torneira do crédito abruptamente, os bancos desligaram a música. “Muitos dos vendedores que tinham clientes na dependên-cia de financiamento para o fechamento do negócio, ou que precisavam de refinancia-mento, ficaram sem ter onde sentar”, explica Friedman. Agora, os participantes es-peram que, nesta nova rodada da brincadeira, haja cadeiras para todos.

Os agentes imobiliá-rios identificam uma de-manda acumulada re-tornando ao mercado.

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17-19 DE AGOSTO DE 2008 ATLANTA, GA, USA

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA73

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e co-autor de Wealth by Association.

John C. Edmunds

FINANÇAS OPINIÃO

Os EUA sozi-nhos não cau-sarão estrago na região.

A ALAVANCAGEM fi nanceira é magnífi ca quando fun-ciona. Multiplica o rendimento sobre fundos próprios e faz com que todos se achem gênios. Mas quando caminha no sentido contrário, aumenta as perdas e prejudica muita gente de uma vez; às vezes, até quem nunca obteve nenhum bene-fício dela.

Nos Estados Unidos, uma série de intermediários fi nan-ceiros quebrou. Os primeiros a cair foram os mais ativos na hora de conceder empréstimos hipotecários subprime. Agora outros caem ou estão a ponto de cair, golpeados pelos efeitos secundários da crise. Exemplo disso são a Fannie Mae e o Freddie Mac. A primeira foi fundada na década de 30, quando milhões de pessoas se viram diante da impossi-bilidade de comprar uma casa própria porque os bancos e as caixas econômicas sofriam sérios problemas de liquidez. O segundo surgiu na década de 70 para resolver o mesmo problema.

Ambos pertenciam ao governo e por um longo tempo gozaram de atribuições para emitir bônus com garantia do Tesouro dos Estados Unidos. Compravam empréstimos hipotecários emitidos a bancos e outros credores, e poste-riormente emitiam bônus a serem pagos com as prestações desses empréstimos. De certa forma, transformavam cré-ditos hipotecários em bônus. Os bônus emitidos por eles eram mais seguros que os créditos hipotecários subjacentes porque, embora seja possível que o dono de uma casa não pague a prestação de sua hipoteca, a maioria paga em dia. E também porque tinham atrás de si o governo americano.

O governo decidiu privatizar a Fannie Mae e o Freddie Mac e vender suas ações ao público investidor. Desde então os bônus que essas instituições emitem deixaram de contar com a garantia governamental. Assim, de garantidos pela “boa fé e o crédito” do governo dos Estados Unidos, passa-ram a ser simples “obrigações morais”. Com essa garantia menor, os bônus geralmente ofereciam rendimentos leve-mente maiores que os instrumentos do Tesouro.

As empresas privadas em sua maioria têm fi ns lucrativos, e o que aconteceu foi que a Fannie Mae e o Freddie Mac usaram sua condição de “pseudo-governamental” para in-crementar sua alavancagem. Durante muito tempo muitos viram isso com bons olhos, já que as duas instituições inje-tavam liquidez no mercado hipotecário e aceleravam a rota-ção nas carteiras dos clientes tradicionais, o que permitia a

Queda lenta

uma pessoa comprar uma casa sem ter de esperar que outra pagasse o sufi ciente ao banco local para receber um crédito.

Isso teve vários efeitos positivos. O mais evidente foi permitir a uma fatia maior da população ser dona de uma casa ao invés de viver como inquilinos por toda a vida. Ou-tro foi impulsionar o setor da construção. Não obstante, um efeito não-intencional foi tornar mais rentáveis algumas prá-ticas de crédito mais agressivas, já que o vínculo entre quem originou o crédito hipotecário e o dono fi nal deste se tornou cada vez mais distante, até que acabou se rompendo.

Um exame mais minucioso de todos os intermediários fi nanceiros nos Estados Unidos revelou dados escabrosos sobre a alavancagem dessas instituições. Segundo um ana-lista privado, a Fannie Mae tem US$ 68 em ativos por cada dólar de fundos próprios dos acionistas. Isso inclui passivos não consolidados no balanço. Assim, se os ativos da Fannie Mae só valessem um pouco menos que seu valor livro, ela estaria insolvente.

O problema se torna mais complexo ao se considerar que a China, o Japão, Taiwan e a Coréia do Sul, além de bônus

do Tesouro, compraram bônus do Freddie Mac e da Fannie Mae. Portanto, fi ca claro que o governo dos Estados Unidos não pode deixar que essas ins-tituições quebrem. Não é que sejam “grandes demais para cair”, mas também que estão muito entrelaçadas em outras complexas relações fi nanceiras.

Por isso, é óbvio que os US$ 5 bilhões em bônus emitidos por elas vão se converter, de fato, em obrigações do Tesouro dos Estados Unidos.

Quando se soma a esses bônus outras obrigações do Te-souro americano e se inclui os bônus que ele terá de emitir para pagar os serviços de saúde da geração baby boomer(nascida logo depois da Segunda Guerra Mundial), vê-se que ele vai dever nos próximos 20 anos muito mais do que devia nos últimos 20 anos. Isso afetará o valor do dólar. E a pres-são no curto prazo é fazer mais empréstimos a taxas prefe-renciais a instituições fi nanceiras e proprietários de imóveis. Essa é a única forma de evitar que a sobreoferta de casas arraste mais instituições fi nanceiras à quebra. Se o governo encontrasse alguma forma de elevar rapidamente o valor das casas, aliviaria a crise fi nanceira de uma só tacada. Por exem-plo, se os preços das casas subirem 30%, a maior parte das hipotecas que hoje registram atraso no pagamento terá um efeito colateral adequado e a crise fi nanceira se acaba.

Mas os latino-americanos podem continuar acompanhan-do de longe como os norte-americanos tratam de resolver a crise provocada por seus hábitos imprudentes e esbanjado-res. A situação é uma ameaça para as economias da Améri-ca Latina, mas não causará muito estrago enquanto o restan-te do mundo não entrar em recessão.

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 75

CAPITAL [email protected]

Fonte: empresas citadas

Variação em valor quota dos fundos citados em 12 mesesESPARTA VITORIOSA

LIQUIDEZAES Dom. BoaALL Acima da médiaDurango Abaixo da médiaSANLUIS BaixaKUO Na médiaTranstel BaixaVitro Na média

COMO ESTOU?LIQUIDEZ DE ALGUNS EMISSORES HIGH YIELD

Fonte: Fitch Ratings

500

400

300

200

100

029 JUN 07 14 DEZ07 27 JUN 08

SPARTA CÍCLICO FI MULTIMERCADO

SCHRODERS BRASIL

LARRAINVIAL BRASIL RETORNO TOTAL

LÍQUIDOS E FLUIDOSA CRISE de crédito nos EUA fez com que os bancos desse país se tornassem muito mais resistentes a emprestar dinheiro, tal como os investidores na hora de comprar um bônus. Essa situação fez declinar fortemente o número de novas emissões de bônus crossborder de empresas latino-americanas no país. Segundo um relatório recente da Fitch, até a metade do ano somente se registraram 11 emissões de bônus em moeda estrangeira por parte de corporações latino-americanas, por um valor total de US$ 5,1 bilhões, contra US$ 17,1 bilhões arrecadados no mesmo período de 2007 por 31 emissores.A Fitch agrega que em média os 31

SALVA-VIDASMercado acionário brasileiro continua a resga-tar os fundos mútuos da região

ENCONTRAR entre os fundos mútuos da América Latina algum que tenha registrado um desempenho decente no último ano não é tarefa fácil. Mas escavando se podem encontrar gemas.Na Argentina e no Chile, os fundos que mais renderam nos 12 meses encerrados em junho de 2008 foram os que investi-ram exclusivamente no Brasil. Segundo dados da Associação de Fundos Mútuos do Chile, o Fundo Mútuo LarrainVial Brasil Retorno Total acumulou uma rentabilidade real de 24% nos 12 meses até 30 de junho. Já na Argentina, quem levou o prêmio, segundo dados da Câmara Argentina de Fundos Comuns de Investimento, foi o fundo Schroders Brasil F.C.I., que registrou retornos reais de 47% no mesmo período. Am-bos investem exclusivamente em posições longas em renda variável, segundo seus gerentes.

Francisco Busquet, gerente de investimento para o Brasil da LarrainVial, afi rma que, ape-sar do desempenho pobre do mercado acionário brasileiro no acumulado de 2008, com uma queda do Ibovespa de 11%, o fundo experimenta entradas líquidas de capitais.Esse não tem sido o caso do fun-do que o Schroders administra na Argentina, que tem sofrido fugas líquidas de capital “devido à situação regulatória no país mais do que às características do fundo”, comenta Carlos Scretas, diretor do escritório do Schroders.Mas chama a atenção comparar essas alternativas de investi-mento com o fundo que mais rendeu no Brasil no mesmo período: o Sparta Cíclico FI Multimercado, da paulista Sparta Asset Management, registrou uma rentabilidade de nada menos que 392,8% no acumulado de 12 meses até 30

de junho.A grande diferença entre esses fundos é o alavancamento. Segundo explica Víctor Neh-mi, administrador do fundo brasileiro, este se endivida por um valor entre 3 e 4,5 vezes seus ativos sob administração, o que potencializa enorme-mente sua rentabilidade. Esse fundo está aberto a pequenos investidores com um valor mínimo de investimento de R$ 10 mil e investe em 14 diferentes mercados de fu-turos, sete deles no Brasil e sete fora do País, entre eles, futuros acionários, de energia e de commodities agrícolas. “As commodities agrícolas explicam em grande parte essa forte alta e achamos que é possível que tenhamos chegado ao teto. Por isso só esperamos uma rentabilidade de 40% ou 50% nos próximos 12 meses”, diz Nehmi.

-Eduardo Thomson emissores latino-americanos de bônus crossborder em moeda es-trangeira que qualifi caram abaixo do grau de investimento (B+ ou menor) têm uma boa situação de liquidez para enfrentar suas obrigações de dívida nos próximos 12 meses, já que muitas aproveitaram o cenário de muita liquidez em 2006 e parte de 2007 para fazer novas emissões, que não vencem antes de 2015.As empresas mais expostas à situação norte-americana são, claro, as mexicanas, e não surpreende que as empresas com problemas, acrescenta a Fitch, sejam as que estão fortemente vinculadas ao setor automotivo, como a KUO e a SANLUIS, ou as que não puderam repassar as altas de custo a seus clientes, como a também mexicana Durango.

ALEX

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I-BIZ

76 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

Mais elétrons, menos octanosAs propostas en-

volvem muita adrenalina. Mas nada se compara à sensação que se tem quando uma decisão é bem-sucedida. Isso é o que deve estar aconte-cendo com o mexicano Sean O’Hea de Icaza. Em meados dos anos 90, com o título de engenheiro quími-co da Universidade Ibero-americana recém-impresso e uma grande preocupação com a poluição na Cidade do México, ele aproveitou seus conhecimentos em química de baterias para se converter em um dos pio-neiros latino-americanos na corrida mundial para subs-tituir octanos por elétrons.

Em 1999, O’Hea se associou aos também mexicanos Enrique Vignau e Jorge Ruiz e fundou a Vehizero, empresa de desenvolvimento e fabri-cação de veículos híbridos elétricos (VHE). Um ano depois, já tinham constru-ído o primeiro protótipo: o Ecco, utilitário leve de estética escassa e estranha tração: um motor elétrico

alimentado por um conjun-to de baterias que consome energia só quando se pisa no acelerador, ao qual se soma um pequeno motor a combustão que move o veículo e recarrega as baterias quando o sistema detecta que elas apresen-tam determinado nível de descarregamento.

“Queríamos fazer algo que causasse impacto e conseguimos fazer isso em dobro”, orgulha-se O’Hea, atualmente diretor executi-vo da empresa. “Por um la-do reduzimos a poluição, e por outro cortamos os cus-tos operacionais ao reduzir o uso do combustível”, diz. A atual versão do Ecco atinge 120 km por hora, e, embora sua autonomia seja de apenas 150 quilômetros, sua fi cha técnica indica um consumo entre 50% e 80% inferior ao de veículos comparáveis. Seu preço também é bom - somente 15% acima do dos concor-rentes tradicionais.

O sucesso técnico se converteu em triunfo comercial. Este ano a

Vehizero recebeu apoio fi nanceiro de US$ 5,5 milhões do Conselho Nacional de Ciência e Tec-

nologia (Conacyt, na sigla em espanhol), da Nacional Financiera (Nafi nsa), por intermédio do Cleantech Fund, e do Estado mexica-no de Aguascalientes. Com essa quantia, quer construir uma linha de montagem em Aguascalientes capaz de produzir 8 mil unidades ao ano. Mas como os pedidos já superaram a capacida-de de um ano, a empresa decidiu ir além: planeja uma fábrica com capacida-

de de produção de 36 mil unidades. Enquanto isso, seus projetistas desenvol-vem um modelo para cinco

passageiros com autonomia de 300 km e economia de energia de 35% a 50% em relação a modelos simila-res, além de veículos de grande porte, como um ônibus para cem passagei-ros, e utilitários pesados.

Não se pode negar a importância do empurrão-zinho dado pelo governo, que oferece incentivos fi scais para os compra-dores, como a dedução de 100% de impostos

Motores híbridos elétricos ga-nham potência em meio à crise do petróleo. Só falta que seu preço se adeque ao bolso dos latino-americanos.Juan Pablo Dalmasso, Córdoba

Eletra:brasileira já desenvolveu um motor 100% elétrico

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 77

no primeiro ano. Mas a iniciativa acompanha o cenário internacional. Nos últimos cinco anos, aumentaram exponencial-mente as vendas de VHEs, que hoje representam 1% do mercado mundial. A de-colagem foi tão vertiginosa que os fabricantes viram a demanda ultrapassar a oferta e é consenso entre os analistas que só em 2009, quando chegarão ao merca-do 89 versões de diferentes marcas, é que será possível pensar num equilíbrio. Não surpreendentemente, essa é a única categoria que cres-ce atualmente no atribulado mercado norte-americano.

O motivo para tal furor é mais que evidente: a pro-cura por VHEs acompanha a curva ascendente do pre-ço do petróleo. É a mesma

razão que vai levar à apo-sentadoria do velho motor de combustão interna: um desperdício de energia de até 90% do combustível que devora, sem que tenha havido melhorias sensíveis no último quarto de século. É isso que indicam os papers de Jayme Buar-que de Hollanda, diretor do Instituto Nacional de Efi ciência Energética do Brasil, Inee, instituição entusiasmada com a nova

tecnologia veicular. Até os ambientalistas aplaudem a tecnologia emergente.

O menor consumo de petróleo representa por si só menos emissões, mas o sistema tem um plus: como o arranque e a aceleração estão a cargo do motor elé-trico, a fumaça dos carros pode ser reduzida em até 90%, indica um estudo de Marcelo Massarini, profes-sor de Engenharia Automo-tiva da Escola Politécnica da USP.

Margem para expansão“Além disso, é uma tecno-logia madura e que não gera nenhuma mudança na infra-estrutura”, diz Ieda Maria Alves, diretora geral da Ele-tra, fabricante de trólebus de Campinas, no interior de São Paulo. Em 1999, a

empresa decidiu apostar na tecnologia híbrida fabrican-do ônibus que vão de 12 metros até articulados de 18 metros. Chegou a dar um passo além ao desenvolver um motor completamente elétrico.

A nova tecnologia é mais cara, mas gera uma economia na fi ação de rua avaliada pela empresa em US$ 200 mil por quilôme-tro, sem contar a liberdade de trafegar que oferece aos

usuários.Para a Eletra, também

é importante que o híbrido seja compatível com as motorizações já lançadas no mercado. A empresa está desenvolvendo um híbrido elétrico-GNC (gás natural comprimido) que, para alívio do governo Lula, também não entraria em confl ito com os motores a biocombustíveis. Melhor: contribuiriam para reduzir a demanda por derivados do petróleo, algo que tem ani-mado o Inee a impulsionar a indústria do etanol.

Além disso, para tran-qüilidade dos investidores, os VHEs têm espaço para reinar. Seu rendimento não se aproxima dos 32 km de trânsito urbano do Honda Clarity, híbrido de hidrogênio que já está à

venda – mas somente no sul da Califórnia –, além de requerer equipamentos especiais como uma central doméstica ligada à rede de gás natural.

Tampouco está madura a tecnologia dos elétricos plug in, aqueles que só funcionam com baterias passíveis de serem recar-regadas na tomada. A Fiat Brasil e a Itaipu se asso-ciaram para a adaptação experimental de uma frota

de 30 Palios elétricos. Os veículos quintuplicaram seu percurso com o mesmo orçamento em combustível, mas a velocidade máxima só chegou aos 110 km por hora e a autonomia a 130 quilômetros, longe do aceitável por um usuário comum. Para piorar, a recarga demora excessivas oito horas. O objetivo da parceria das duas empresas é chegar, em cinco anos, a um carro que alcance a velocidade máxima de 150 km por hora e a baterias que permitam autonomia de 450 quilômetros e que sejam recarregadas em 20 minutos. “O problema é que o kit é muito caro e não poderia ser produzido em escala sem apoio do governo”, declarou à im-prensa Gaudesio Cavalieri, responsável pelo plane-jamento e estratégia de produto da Fiat Brasil.

O preço, defi nitivamen-te, não é um ponto a favor dos VHEs. “Com um custo de aquisição 50% superior ao de um veículo diesel tradicional, sem incentivos e com normas ambientais frouxas, é difícil expandir-se”, lamenta-se na Eletra, sobre sua experiência no mercado do transporte público paulistano.

Se é assim para um investimento de capital, o que será para o usuário fi nal? “Certamente esses veículos não serão para grandes mercados, mas para nichos”, diz Guido Vildozo, analista para a América do Sul e o Caribe da consultoria Global Insight, de Boston. “Será preciso esperar que baixem os custos por escala ou que o preço do petróleo suba ainda mais”, afi rma.

Um voto para que seja a primeira alternativa.

78 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

CLICS & CHIPS[gadget]Jogos da menteAgora você pode derrotar os vilões só com a força do pensamento. A compa-nhia Emotiv Systems criou um capacete para os fanáticos do videogame que registra a atividade elétrica do cérebro e os músculos faciais para transformá-los em uma ordem refl etida na tela. O aparelho inclui um jogo. Está à venda no fi nal do ano e custará US$ 299.

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11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 79

NEGÓCIO FECHADO>> ARCELORMITTALA companhia fortaleceu sua posição no Brasil com a compra de 70% da Manchester Tubos e Perfi lados, empresa especializada na transformação e distribuição de produtos siderúrgicos. Não foi divulgado o valor da operação. Em 2007 a Manchester registrou lucro de US$ 172 milhões.

>> BANCO DEL PICHINCHAO principal banco do Equador chegou a um acordo para vender sua fi lial na Colômbia, a Inversora Pichincha, para duas subsidiárias do grupo norte-americano American International Group (AIG), por US$ 105 milhões. A Inversora Pichincha está há 13 anos na Colômbia e conta com 19 agências.

>> BANCO ITAÚO banco começará a oferecer seus produtos de investimento a clientes no Japão por meio de uma aliança com a local Daiwa Securities Group. Em uma primeira fase, a Daiwa venderá a seus clientes bônus em reais e ações sul-americanas. A aliança também contempla atividades conjuntas em administração de

ativos, corretagem e banca de investimento.

>> GRUPO BRESCIAPor intermédio de sua fi lial Corporación Peruana de Productos Químicos, o grupo peruano adquiriu 100% da sua compatriota Teknoquímica, por US$ 30 milhões. Com isso, aumentou seu portfólio de produtos ao incorporar tintas, produtos de limpeza e itens das linhas escolar e artística.

>> HIPOTECARIA SU CASITAA espanhola Caja Madrid anunciou que comprará os 60% que ainda não possui da empresa mexicana de créditos hipotecários por US$ 342 milhões. Inicialmente a Caja Madrid tinha comprado uma participação de 25% na Su Casita por 45 milhões de euros, e em 2006 incrementou sua fatia para 40%.

>> INFINITY BIO-ENERGIAA empresa brasileira comprou uma fábrica de etanol de cana-de-açúcar da BER Brasil Energia Renovável Participações no interior de São Paulo. Por meio de uma troca de ações avaliada

em US$ 100 milhões, a Infi nity obtém 100% da Destilaria Guaricanga, que agregará 1,5 milhão de toneladas anuais à sua capacidade de moagem de cana, atualmente de 9,5 milhões. Além disso, negociou comprar a par-ticipação que não possuía na em-presa de açúcar e etanol Cridasa, por US$ 17 milhões.

>> INTERBOLSAO grupo colombiano anunciou a compra de 51% da corretora brasileira Finabank, o que permitirá que colombianos comprem instrumentos no mer-cado brasileiro e vice-versa. A principal atividade da Finabank é a corretagem de derivativos. Já a Interbolsa é a maior comissionis-ta da Colômbia.

>> LUPATECHA companhia brasileira de serviços para o setor de petróleo anunciou a assina-tura de um memorando de entendimento para a compra da Tecval Válvulas Industriais por US$ 39 milhões. A Tecval é especializada na produção de válvulas para as indústrias petro-lífera, petroquímica, química, de papel e mineradora.

>> MARFRIGA empresa brasileira do setor de carnes negociou a compra da marca Pemmican de beef jerky da norte-americana ConAgra Foo-ds por US$ 25 milhões. Além disso, ambas selaram um acordo exclusivo de distribuição e vendas por cinco anos no qual a ConAgra distribuirá a marca

Pemmican e a Marfrig embalará a marca de carne seca Slim Jim, da ConAgra.

>> MILLICOMA companhia negociou pagar aproximadamente US$ 510 milhões pela empresa de telecomunicações Amnet, principal operadora de TV a cabo e internet banda larga na Costa Rica, em Honduras e em El Salvador. A empresa, que começou suas operações em 1997, também provê serviços de telefonia em El Salvador e Honduras e de transmissão de dados nesses países, além de na Guatemala e na Nicarágua.

>> VIÑA SAN PEDROO grupo chileno CCU unirá sua fi lial Viña San Pedro com a Viña Tarapacá, do grupo Compañía Chilena de Fósforos. O CCU terá 44,9% da empresa resultante da fusão, enquanto a Fósforos fi cará com 30%. Os 25,1% restantes estarão distri-buídos entre os outros atuais acionistas da San Pedro. >> ZURICHO grupo suíço anun-ciou que pagará US$ 180 milhões por 87,4% da Companhia de Segu-ros Minas Brasil, fi lial do Ban-co Mercantil do Brasil, e 100% da Minas Brasil Seguradora de Vida e Previdência. Além disso, a Zurich anunciou um acordo com o Banco Mercantil para a distribuição de produtos do segmento de seguros.

>> TOTVSA empresa de software brasileira aliou-se à sua rival Datasul em uma fusão que criará a maior empresa do país de software enterprise resource planning, ou ERP. A operação está avaliada em US$ 450 milhões. A Datasul inicialmente se fundirá com uma fi lial da Totvs chamada Makira do Brasil, que será absorvida. Dessa forma, os donos da Datasul passarão a ter 14,3% do capital social da Totvs.

KSHMI MITTAL:REFORÇA PRESENÇA NO BRASIL

80 AMÉRICAECONOMIA / 11 AGOSTO, 2008

RAIO X

2002 2003 2004 2005 2006 2007 08E

POPULAÇÃO (MILH.) 26,7 27,1 27,5 27,9 28,3 28,8 29,2

PIB (VAR.%) 5,0% 4,0% 5,1% 6,7% 7,6% 9,0% 8,0%

PIB (US$ MILHÕES) 56.756 61.342 69.735 79.485 93.027 109.069 125.828

PIB PER CAPTA (US$) 2.122 2.260 2.531 2.844 3.281 3.794 4.316

INFLAÇÃO % 1,5% 2,5% 3,5% 1,5% 1,1% 3,8% 6,1%

DESEMPREGO% (LIMA) 9,4% 9,4% 9,4% 9,6% 8,5% 8,4% 8,0%

IED (US$ MILHÕES) 669 1.335 1.599 2.579 3.467 5.343 N.D.

SAL. COM. (US$ MILH.) 321 886 3.004 5.286 8.934 8.356 5.552

NO MEIO DO CAMINHO

[PERU]

FONTE: AEI, ISI EMERGING MARKETS, FMI, BANCO CENTRAL E UNCTAD E=ESTIMATIVA AE INTELLIGENCE

ISM

AEL

GUD

IÑO

Qual é o principal exportador de páprica do mundo? É a Hungria? Não, é o Peru. E o exportador Nº 1 de aspargos? Os EUA? De jeito nenhum. É o Peru. O

surgimento de nichos exportadores de classe mundial na economia peruana talvez seja a grande notícia dos últimos anos na região. Não porque as exportações de avião do Brasil sejam algo irrelevante, mas porque o Peru começa a livrar-se da maldição que o marcou nas últimas três décadas: ter sido a economia de crescimento mais decepcionante da América Latina em relação a seu potencial.

A confluência de um mercado mundial ávido por alimen-tos, de um ciclo de prosperidade amplo (pelo menos até a crise subprime), e de várias reformas administrativas pró-comércio permitiram a emergência de um círculo virtuoso: mais exportações (US$ 27,8 bilhões em 2007) e uma taxa de investimento de 21% que habilitou quatro anos de forte crescimento, o que levou a um aumento da arrecadação de impostos e a uma queda de dívida com relação ao PIB.

A aprovação do tratado de livre comércio com os EUA e o acesso ao grau de investimento são o começo do segundo capítulo: um convite para que o país possa manter os níveis de investimento com aportes externos e facilitar a expansão dos setores associados à exportação por acumulação de capital próprio. Os mais beneficiados de imediato são a mineração metálica e o petróleo. Espera-se que em dois anos o país passe a ser exportador de petróleo. Os projetos de cobre e ouro em marcha, principalmente os associados à China, no primeiro caso, poderiam colocar o país competindo com Chile e EUA nas vendas do metal vermelho.

Mas esse verdadeiro renascimento não está isento de ameaças. As mais óbvias são duas locais e duas externas.

BONANÇA E PROBLEMASPeru consolida exportações mas ainda gera inquietaçãoRodrigo Lara

As primeiras são o déficit em infra-estrutura e a eventual limitação do crescimento por falta de capacitação de recursos humanos. No segundo bloco estão o impacto inflacionário global dos preços de alimentos (o peru continua sendo um grande importador) e uma eventual crise no fornecimento de água, no médio prazo, na zona central do país.

Existe ainda outro elemento que poderia ter um impacto tão vasto quanto contraditório. Através do Decreto Legis-lativo 1015 (e mais outros três), o governo de Alan García alterou a norma que impedia a venda de terras comunitárias agrícolas sem a aprovação de dois terços de seus membros. Agora, para que isso ocorra, bastará que 50% mais 1 votem a favor. Não parece uma diferença importante se ignorarmos que cerca de 2 milhões de pessoas vivem em comunidades desse tipo, que se auto-abastecem de alimentos. Estima-se uma migração de 300 mil a 700 mil pessoas às cidades, isso se somente metade das comunidades abra mão de suas terras. O presidente afirmou que quer acabar com o “coletivismo que os mantêm na miséria”, mas tanto organizações agrícolas quanto indígenas se rebelam contra a iniciativa.

O DL 1015, como muitos dos 102 decretos que García emitiu nos últimos seis meses no âmbito econômico, poderão

ser revisados. Entretanto, casos como a eliminação da necessidade de “acordo pré-vio” entre as comunidades que já existiam e as empresas de mineração facilitarão os in-vestimentos, mas estimularão o apelo a recursos violentos na zona andina, uma tradição negativa que não deveria voltar.

A LÓGICA DO CISNE NEGRONassim Nicholas Taleb

Best Seller2008

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A LÓGICA DO CISNE NEGRO

11 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 81

O que você lê?

VISÕES

“É preciso sair da dúvida para produzir ciência; mas poucas pessoas levam em conta a importância de

não sair dela prematuramente.” Duvidar não é bom. É muito bom. É o que dizia Simon Foucher em sua Dissertação sobre a Busca da Verdade, publicada em 1673. O motivo? “Somos propensos ao dogma desde que estamos no seio materno.”

E o dogma, esse travesseiro que nos sussurra que as coisas são e serão sempre assim e não de outra forma, não vem só das idéias que temos, mas da experiência. “Nunca me envolvi em nenhum acidente digno de menção. Em todos os meus anos no mar só vi um barco em situação difícil”, comentou E.J. Smith em 1907. Cinco anos depois, afundou no timão do Titanic, o barco mais seguro já construído até então.

Tanto o fim quase instantâneo desse transatlântico como o colapso da indústria dos dirigíveis com o acidente do Hindenburg ou o surgimento de uma indústria totalmente nova como a de software têm algo em comum: nenhuma “experiência” prévia permitiria antecipá-los. Por isso, cabe classificar esses fatos na categoria de “cisnes negros”, diz o ex-corretor da Bolsa de Nova York Nassim Nicholas Ta-leb. Trata-se de fenômenos muito raros (“nada no passado pode apontar sua possibilidade de forma convincente”), de impacto tão amplo quanto violento, e cuja existência nos parece óbvia somente depois que emergiram.

Em A Lógica do Cisne Negro, Taleb, professor de Ciên-cias da Incerteza em Massachussets, quer demonstrar que os modelos preditivos usados por grandes traders, economistas, donos de empresas e governos são nada mais que tranqüili-zantes caríssimos, inúteis e até perigosos. Permitem ir com um sorriso soberbo em direção à quebra iminente.

Seu ataque é particularmente duro com modelos matemá-ticos como o GARCH. Em termos gerais, pode-se resumi-lo dizendo que economistas e executivos tendem a enganar e se

auto-enganar encurrala-dos entre duas pinças: primeira, a do falso sentimento de segurança proporcionado pelo uso de modelos matemáticos sofisticados que preten-dem descrever como o mundo real opera e que se baseiam em pressupostos cujo não-cumprimento costuma dinamitá-los pela base. Segunda, a síndrome da “narratividade”, ou seja, a tendência à construção de uma história passível de ser contada a terceiros sobre o próprio sucesso ou o sucesso da empresa que produz “a ilusão de compreender”. Ambos os recursos tendem a desprezar, diz Taleb, o impacto da sorte nos resultados.

O grande mérito de Taleb é conseguir que o tema da sorte, entendida menos como “fortuna” que como aleato-riedade, se converta em algo apaixonante e prático. Todo empreendedor, consultor, assessor ministerial ou simples cidadão latino-americano deveria ler as menos de cinco páginas que ocupam dois de seus comentários: “O caráter dos erros de predição” e “Não cruze o rio se ele tem em média 1 metro de profundidade”. Grandes, e talvez graves erros de investimentos, empresariais e pessoais, seriam evitados ou minimizados. Porque não podemos ver o futuro, mas sim aprender a estar com os olhos bem abertos para quando ele chegar. Por onde menos esperamos.

Reconhecer o enorme papel da ignorância e do acaso nos negócios e na vida é essencial para viver, garante especialista

AQUELE TREMENDO CISNE

“Pesquisa sobre Piero é um ensaio analítico sobre as mais reconhecidas obras do pintor Pie-ro Della Francesca. Também leio Europa en la Edad Media, de Georges Duby, e La Masacre de San Patricio, de Eduardo Kimel, um livro interessante sobre a história argentina recente, base de um documentário recomendável.

Horacio CristianiPresidenteGas Natural BAN Argentina

“Estou lendo La suma de los días, de Isabel Allende. É uma história muito real, que traz mui-tas mensagens da vida cotidiana sobre a importância da fa-mília. Pois nem tudo na vida é trabalho, mas sim saber desfrutar dos bons momentos com os entes queridos.”

Giuliana ReynaDiretora da Global Research MarketingPeru

“Leio The age of turbulence, de Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, um dos personagens mais infl uentes em ma-téria econômica do mundo. Busco con-hecer sua história na vida econômica dos EUA, além de entender sua visão do futuro da eco-nomia mundial em momentos de alta turbulência.”

Javier Martínez SchjetnanDiretor de marketing para a América Latina e Caribe daGrant Thornton InternationalArgentina

Rodrigo Lara Serrano

82 AMÉRICAECONOMIA / 11 DE AGOSTO, 2008

LINHA DIRETA

FELIZ DIA DA CONSTITUIÇÃOFoi um inesperado feriado nacional. Na tarde da últi-

ma sexta-feira de julho, os equatorianos tiveram permissão para não trabalhar. Um agrado de Rafael Correa: ele não quis que ninguém perdesse a proclamação de seu projeto constitucional, que poderá se converter na Consti-tuição número 20 do Equador em apenas 199 anos de vida republicana – em média, uma Carta por década – mas que, de acordo com Correa, marca o começo de uma segunda e, desta vez definitiva, independência do país.Ao menos na capital, Quito, o ambiente não era de celebra-ção: na verdade, ao meio-dia a cidade estava deserta. A maior parte das pessoas pegou a estrada para aproveitar um feriado caído do céu.Enquanto isso, em Guaya-quil, cidade onde o projeto do governo encontra maior resistência, dois adversários políticos competiam aberta-mente pelo título de melhor festa: o prefeito Jaime Nebot convidou a cantora porto-riquenha Olga Tañón, e o presidente patrocinou um evento que teve como ponto forte o cantor de salsa Willie Colón. Em ambas, a população dançou mais pelo aniversário de sua cidade que pela independência prometida por Correa.Acompanhar pela TV o trabalho dos membros da Assembléia Constituinte, que se reuniu na cidade costeira de Montecristi, não pode ser considerado um exercício cívico estimulante. Pressionados pelo presidente, que queria apressar a aprovação do texto, os constituintes aprovaram dezenas de artigos com debates apressados. É que, depois de oito meses de discussão, o tempo e a paciência de Correa se esgotavam – e isso com 90 dos 130 constituintes aliados a ele. E assim, na sexta-feira, 25 de julho, o Equador passou a contar com um novo texto constitucional, de 444 artigos, que deverá ser aprovado em plebiscito no mês de setembro.O documento está cheio de referências simbólicas que não são tradicionais. Reconhece o país como Estado laico, mas

invoca no prólogo “os espíritos de Deus, de Simón Bolívar, da Paccha Mama” (Mãe Terra, em quíchua) e até de “sumac kawsay” (algo como o bom viver). Uma mistura de indigenis-mo light e new age.Foram oficializadas as línguas quíchua e shuar – um para-doxo para um presidente que reconheceu publicamente que é melhor que as crianças equatorianas aprendam, depois do castelhano, a falar inglês, (ainda não se sabe de onde virão professores em número suficiente para ensinar o idioma nos colégios públicos), mas que buscou o apoio da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador ao novo texto.

“Trata-se de uma das Cons-tituições mais avançadas do mundo”, diz Correa. Mas o texto peca por hiperpre-sidencialista até na opinião dos setores que o defendem abertamente. Nesse aspecto, talvez o artigo mais polêmi-co seja o 150, que permite ao presidente dissolver o Congresso diretamente se este obstruir o Plano Nacio-nal de Desenvolvimento ou em caso de uma grave crise política. Quem definir a diferença entre crise política e “grave crise política” terá um grande poder nas mãos.

Também é polêmica a criação de uma poderosa Corte Consti-tucional, cujas decisões estariam acima inclusive das da Corte Suprema. E considera um detalhe nada menor: o Executivo poderá influenciar fortemente a escolha dos nove membros do novo Tribunal.As críticas surgem de vários setores, mas o presidente Correa e seu birô político insistem em dizer que os insatisfeitos fa-riam melhor se se calassem, porque não ganharam as eleições e o presidente sim – e de forma avassaladora.Portanto, ao que parece, no Equador “a maioria substitui a Lei”, como disse o filósofo liberal Friederich Von Hayek. O ideal democrático se confundiu com a tirania da estatística. E assim começa um novo período democrático para o Equa-dor. Vale mesmo um feriado.

María Teresa Escobar

[QUITO]

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