newsletter nº 3

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1 de Junho Envelhecimento Activo e Políticas Públicas pelo Prof. Doutor Manuel Villaverde Cabral 14 de Junho Segurança de Informação pelo Prof. Doutor Carlos Salema 15 de Junho Política Externa Portuguesa na História de Portugal pelo Embaixador Leonardo Mathias 16 de Junho* Cerimónia Pública de Encerramento do Ano Lectivo 2010-2011 do Instituto de Estudos Académicos para Seniores, que inclui a palestra Desafios da Lusofonia pela Profª. Doutora Ana Laborinho, e Concerto pela Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana dirigida pelo Maestro Sargento-Mor Armindo Pereira Luís. * Dado o seu vasto programa, esta sessão começa às 16:30h. Haverá um breve intervalo antes da actuação da Banda Sinfónica da GNR, prevista para as 18:30h INSTITUTO DE ESTUDOS ACADÉMICOS PARA SENIORES PROGRAMAÇÃO DE JUNHO Palestras às 17 horas na sede da Academia das Ciências de Lisboa (Entrada Livre) ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA Nº 3 • JUNHO 2011 MEYRELLES DO SOUTO. Um aluno do Instituto faz-nos o seu retrato. Descreve-nos os passos mais importantes da sua vida. Fala-nos dos seus principais interesses culturais e dos seus hobbies. E deixa-nos algumas sugestões. (Pág. 3) AS FLORESTAS EM CONTROVÉRSIA. Em pleno Ano Internacional da Floresta, os alunos do IEAS puderam assistir a um vivo debate entre cientistas acerca da problemática das Florestas, da Economia e do Ambiente em Portugal. (Pág. 7) CONCERTO DE PÁSCOA. Um momento de grande elevação artística no Curso do IEAS. O Coro de Câmara de Montargil veio ao Salão Nobre da Academia realizar um concerto de música popular portuguesa e europeia. (Pág. 5) JOÃO CARLOS DE BRAGANÇA, 2º DUQUE DE LAFÕES. A propósito do seu busto esculpido por Machado de Castro, falamos do primeiro Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, grande figura do Iluminismo. (Pág. 8)

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Newsletter do IEAS nº 3

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Page 1: Newsletter nº 3

1 de Junho Envelhecimento Activo e Políticas Públicaspelo Prof. Doutor Manuel Villaverde Cabral 14 de JunhoSegurança de Informaçãopelo Prof. Doutor Carlos Salema 15 de JunhoPolítica Externa Portuguesa na Históriade Portugalpelo Embaixador Leonardo Mathias

16 de Junho*Cerimónia Pública de Encerramento do Ano Lectivo 2010-2011 do Instituto de Estudos Académicos para Seniores, que inclui a palestraDesafios da Lusofoniapela Profª. Doutora Ana Laborinho,e Concerto pela Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicanadirigida pelo Maestro Sargento-Mor Armindo Pereira Luís.

* Dado o seu vasto programa, esta sessão começa às 16:30h. Haverá um breve intervalo antes da actuação da Banda Sinfónica da GNR, prevista para as 18:30h

INSTITUTO DE ESTUDOS ACADÉMICOS PARA SENIORES

PROGRAMAÇÃO DE JUNHOPalestras às 17 horas na sede da Academia das Ciências de Lisboa (Entrada Livre)

ACADEMIADASCIÊNCIAS DELISBOA N

º 3

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NH

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201

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MEYRELLES DO SOUTO. Um aluno do Instituto faz-nos o seu retrato. Descreve-nos os passos mais importantes da sua vida. Fala-nos dos seus principais interesses culturais e dos seus hobbies. E deixa-nos algumas sugestões. (Pág. 3)

AS FLORESTAS EM CONTROVÉRSIA. Em pleno Ano Internacional da Floresta, os alunos do IEAS puderam assistir a um vivo debate entre cientistas acerca da problemática das Florestas, da Economia e do Ambiente em Portugal. (Pág. 7)

CONCERTO DE PÁSCOA. Um momento de grande elevação artística no Curso do IEAS. O Coro de Câmara de Montargil veio ao Salão Nobre da Academia realizar um concerto de música popular portuguesa e europeia. (Pág. 5)

JOÃO CARLOS DE BRAGANÇA, 2º DUQUE DE LAFÕES. A propósito do seu busto esculpido por Machado de Castro, falamos do primeiro Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, grande figura do Iluminismo. (Pág. 8)

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Além disso, têm um outro traço comum: em todas, o essencial das respectivas doutrinas está vertido em livros que reconhecem a existência de uma tradição profética com raízes no patriarca Abraão: a Tora (para os Judeus), a Bíblia (para os Cristãos) e o Alcorão (para os Muçulmanos).Depois de traçar uma breve resenha de índole histórica, o P.e Peter Stilwell fez a defesa da prossecução de um espírito de diálogo envolvendo as três religiões, visando o entendimento crescente entre os crentes de cada uma. Como afirmou na sua palestra, “tão importante como a busca da Verdade, deve ser a daquilo que nos une, daquilo que temos em comum”. A segunda palestra esteve a cargo do sacerdote franciscano P.e Vítor Melícias. Centrou-se fundamentalmente no movimento do Ecumenismo, que visa a aproximação entre as Igrejas de denominação cristã, as principais das quais são a Católica, a Ortodoxa e a Protestante. Teve assim a oportunidade de mostrar os progressos feitos nos últimos anos tendo em vista, não a fusão daquelas diferentes tradições, mas pensar e enfrentar em comum os desafios que a Globalização coloca nos nossos dias a toda a Humanidade.

A lição acerca do Judaísmo esteve a cargo do Rabino da Sinagoga de Lisboa, Shai di Martino, que começou por situar a evolução do Politeísmo para o Monoteísmo e esclareceu longamente todos os alunos sobre alguns dos principais tópicos associados à religião hebraica, a começar pelos dois corpus das respectivas doutrinas: a Tora Escrita (ou Bíblia) e a Tora Oral (ou Talmude), e satisfez a curiosidade dos presentes sobre diversos outros aspectos da cultura judaica, quer no passado quer nos nossos dias.

Para falar da terceira Região do Livro – o Islamismo -, recebemoso líder da Comunidade Islâmica de Lisboa, Dr. Abdool Karim Vakil, que, sem deixar de enunciar os principais preceitos da religiãomuçulmana, se deteve numa clarificação de temas como a Compaixão, a atitude para com as outras Religiões do Livro, o pensamento Sufi, as principais famílias do povo muçulmano (Xiistas e Sunitas), e os princípios doutrinais relacionados com a Mulher, a Jihad, o Dinheiro,o Zakat, o Ramadão, a Hadith, etc.

Em resumo, quatro aulas muito ricas de ensinamentos, e umaorientação comum no sentido do bom entendimento e convergência entre os praticantes das chamadas Religiões do Livro.

Religiões do Livro – diálogo em direcção ao entendimento

Na programação de Abril e Maio, quatro palestras foram dedicadas às Religiões Abraâmicas: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. A primeira foi como que uma introdução ao tema, proferida

pelo P.e Peter Stilwell, Vice-Reitor da Universidade Católica Portuguesa, que salientou o facto de estas religiões (surgidas no Médio Oriente) estarem historicamente associadas à emergência

do sentimento religioso monoteísta (crença num só Deus).

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Legendas:1 - P.e Peter Stilwell; 2 - P.e Vítor Melícias; 3 - A nossa Directora, Prof.ª Maria Salomé Pais, trocando lembranças com o Presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa; 4 - Apresentação do Rabi Shai di Martino

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MEYRELLES DO SOUTOUma História de Paixão pela Medicina

Embora provenha de famílias tradicionais do Norte do País, tanto pelo ramo materno como pelo paterno, nasceu e mora em Lisboa, nas imediações do Jardim Botanico Tropical, em Belém. Somente por duas vezes viveu fora da capital: em jo-vem, quando seu avô (que fora Lente de Obstetrícia e Cirurgia na Escola Médico-Cirúrgica do Porto) se jubilou e se instalouna Figueira da Foz, e, já adulto, quando serviu como oficial-médico em Moçambique, e de onde regressou com louvor e agraciado com a Medalha de Mérito Militar.

Até se reformar, em 1980, desenvolveu a vida profissional como Cirurgião Ortopedista. Formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Clássica de Lisboa em 1960, ainda frequentou os dois primeiros anos nas velhas e históricas instalações do Campo de Santana, fazendo depois parte do Cur-so que, em 1953, inaugurou o Teatro Anatómico do Hospital de Santa Maria.

Iniciou a carreira de médico-cirurgião no Hospital de Arroios, mas, quando regressou das campanhas de África, foi colocado, durante alguns meses, como Tenente-Médico, no Hospital Militar Principal. Exerceu depois durante longos anos as funções de Cirurgião de Ortopedia do Hospital de São José, após ter defendido a tese inaugural intitulada Estudo Comparativodos Meios de Conservação do Enxerto Ósseo. Por motivode doença, viu-se forçado a pôr termo à carreira aos 46 anosde idade, trabalhava então no Hospital do Outão.

- Para começarmos esta primeira conversa com alunos do IEAS, conte-nos como chegou até ao instituto…

- Foi através da consulta à página na Internet que soube que a Academia das Ciências ia criar um Instituto para Seniores. Resolvi comparecer à sessão de lançamento, em Outubro, e encontrei lá pessoas minhas conhecidas, tanto entre as que estavam interessadas em frequentar as palestras como entre os futuros palestrantes. O nível dessas pessoas – cito, por exemplo, o Professor Luís Mendes Vítor, o Professor Daniel Serrão e outros com quem me relaciono pessoalmente – deu-me logo a garantia de que era um projecto de grande qualidade, e resolvi ficar.

- E essa expectativa confirmou-se?

- Sem dúvida. Ainda agora, no ciclo de palestras sobre as Religiões do Livro, tivemos algumas lições brilhantes, com especial relevo para a do Rabino Shai di Martino, acerca do Judaísmo. E, noutros temas, tivemos também momentos de grande elevação intelectual.

- Há outros aspectos, na forma como funciona o IEAS, que queira pôr em evidência?

- Para além da programação, gostaria de referir um aspecto

É, desde o início, um dos mais assíduos participantes nas iniciativas do Instituto de Estudos Académicos para Seniores (IEAS). Assíduo e interventivo, com os seus comentários, as suas perguntas, a sua interacção

com palestrantes e outros participantes. Falamos de Meyrelles do Souto, o primeiro dos alunos que apresentamos nesta Folha Informativa.

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que, para mim, tem sido muito enriquecedor do ponto de vista humano: a oportunidade de encontrar e conviver com pessoas com experiências de vida e maneiras de pensar muito diferentes entre si. Essa diversidade e a camaradagem que se constituiu entre nós tem sido algo muito agradável.

- Tendo em vista a programação do próximo ano, ocorre-lhe fazer algumas sugestões?

- Sim, já tive até oportunidade de falar a esse respeito com a Professora Maria Salomé Pais, nossa Directora, e pus à sua consideração a possibilidade de organizar algumas sessões em painel, com três ou quatro especialistas de disciplinas afins. Julgo que resultaria um debate interessante, mais aprofundado, igualmente com maior proveito para quem assista.

- Fale-nos agora um pouco mais a seu respeito. Quais os seus principais interesses culturais?

- Sempre me interessei muito pela História. Lembro-me de que, ainda jovem, lia entusiasmado as obras do Alexandre Herculano e, como sucedeu com o Monge de Cister, ia logo a seguir a Alfama para fazer o reconhecimento de todos aqueles locais que ele referia no livro. Além disso, como o meu pai era membro da Academia Portuguesa de História, tive sempre à minha disposição um grande manancial de obras desta disciplina.

- Actualmente, há algum domínio da História a que se dedique mais regularmente?

- Há vários anos que me interesso pela História da Medicina. Primeiro, participei na respectiva secção especializada da Sociedade de Ciências Médicas, de que fui sócio. Após a sua extinção, ajudei igualmente a reabrir uma secção de História da Medicina Portuguesa na Sociedade de Geografia, secção de que já fui Secretário, Vice-Presidente e Presidente.

- No âmbito dessa sua ocupação como estudioso da História da Medicina, que trabalhos é que lhe deu maior prazer levar a cabo?

- Posso citar, por exemplo, estudos sobre os médicos árabes nascidos na Península Ibérica, sobre a Escola Médica de Salerno ou sobre o combate e tratamento da tuberculose em Portugal. Mas talvez a principal investigação tenha sido a que fiz por ocasião do 8º centenário do nascimento de Pedro Hispano (o Papa João XXI). Juntamente com o de outros investigadores da Academia Portuguesa de História e da Academia das Ciências, esse trabalho deu origem a um número especial da revista Acção Médica.

- Além da intensa actividade intelectual, e da frequência do Curso do Instituto de Estudos Académicos para Seniores, também dedica algum do seu tempo à actividade física ou desportiva?

- Sim, fui um praticante regular de equitação, menos em picadeiro e mais em passeios pelo campo, e mais recentemente dediquei-me ao golfe, até pelos benefícios físicos que me proporciona.

Sugestões aos colegasPROPOSTAS CULTURAIS DE MEYRELLES DO SOUTO

Um Livro – O Bobo, de Alexandre Herculano. Numa época em que as pessoas tanto se interessam por romances históricos, recomendo vivamente o regresso a este clássico da nossa literatura. Uma Ópera – Otelo, de Giuseppe Verdi. Além da magnífica componente musical e teatral, o seu enredo leva-nos também a uma época histórica aliciante. Encontram-se facilmente à venda algumas excelentes versões em DVD. Um Museu – O Museu Nacional de Arte Antiga. O nosso museu nº 1, a que é sempre um prazer regressar. Especialmente para mim, que conheci de perto a obra incomparável do seu antigo Director João Couto, amigo de meu pai. Um Passeio – À Quinta de São Francisco, em Eixo. Localizada perto de Aveiro, dispõe de um arboreto notável com mais de 150 espécies, 100 das quais variedades de eucalipto. Um autêntico santuário de biodiversidade.

Para se manter regularmente informado acerca das actividades doINSTITUTO DE ESTUDOS ACADÉMICOS PARA SENIORES

contacte-nos através da Internet, e envie-nos o seu endereço de e-mail e/ou o seu telemóvel para:

[email protected]

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Outra actividade foi o Concerto de Páscoa realizado nas lindíssimas instalações do nosso Salão Nobre. Concerto que esteve a cargo do Coro de Câmara de Montargil, que interpretou peças de música popular e foi dirigido pelo Maestro Manuel Ferreira Patrício.

O acolhimento ao grupo coral esteve a cargo da nossa Directora, Prof.ª Maria Salomé Pais (em baixo à esquerda), e do agradecimento final encarregou-se a aluna Isabel Sousa Oliva (à direita).

O Maestro Manuel Ferreira Patrício, sócio correspondente da classe de Letras da ACL , desenvolveu uma notável actividade de pedagogo em todos os graus de ensino, ascendendo a Professor Catedrático da Universidade de Évora (hoje aposentado), de que foi também Reitor. Complementarmente, no campo musical, tem estado ligado à criação e direcção de diversos agrupamentos, tendo sido Maestro do Coro da Academia dos Amadores de Música, quando este era dirigido por Fernando Lopes Graça.

Aproveitando a realização de mais uma mostra na Galeria de Exposições Temporárias da Academia das Ciências de Lisboa, patente durante os meses de Maio e Abril, os alunos do I Curso do Instituto de Estudos Académicos para Seniores receberam mais uma magnífica lição do Prof. Doutor Miguel Telles Antunes.A exposição era dedicada ao Papel de Carta Real em Portugal,particularmente do casal real D.Luís I – D.ª Maria Pia de Sabóia, filha do rei unificador de Itália, Vítor Emanuel II.

A colecção visitada, a primeira do género trazida a público em Portugal, pretendeu trazer “para o mundo real o ícone do papel de carta e envelope e envelope elevados e materializados ao seu expoente máximo de beleza e sofisticação na família real portuguesa”. Característica bem evidente na peça reproduzida ao lado, na qual foi pós-impresso o ménu de uma requintada refeição no Palácio de Sintra em 29 de Março de 1905.

De visita à Galeria de Exposições

Música na Páscoa com o Coro de Câmara de Montargil

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Três palestras no final de Março e princípio de Abril trouxeram até nós os Profs. Doutores Viriato Soromenho-Marques, Filipe Duarte Santos e Manuela Ribeiro para tratar uma temática particularmente momentosa e que gera sempre grande expectativa entre os alunos. Diz ela respeito às condições de vida na nosso planeta e à inevitabilidade de uma mudança de paradigma como condição indispensável à sustentabilidade da espécie humana e dos ecossistemas.

O Prof. Doutor Viriato Soromenho-Marques, docente de filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, centrou a sua comunicação nas condições necessárias para instruir um novo paradigma de cultura científica, em que a Ciência deve visar a verdade, e não estar ao serviço das solicitações do mercado. “Do que se trata é, afinal, de um regresso à Terra.”

Por sua vez, o Prof. Doutor Filipe Duarte Santos, grande especialista do tema do Ambiente, que dedicou já uma vasta bibliografia, veio falar-nos da questão do Aquecimento Global.

A Terra Que Queremos – Uma Questão de ParadigmaComeçou por traçar um panorama bastante completo da evolução do estudo científico das alterações da temperatura sobre a Terra, suas causas e consequências, e culminou com a referência ao desenvolvimento de modelos de análise a partir da década de 60 do século passado. Caracterizou ainda o Sistema Climático e seus subsistemas, e elucidou-nos acerca do que hoje a Ciência sabe acerca das variações forçadas da temperatura, quer dos factores astronómicos quer dos terrestres.

Por último, a Prof.ª Doutora Manuela Ribeiro deu-nos uma magnífica lição acerca da Água. Falou em primeiro lugar da água como recurso, definindo o seu valor económico e o seu valor ambiental. Depois, da água como risco, abordando-o do ponto de vista da quantidade (a escassez) e da qualidade (nomeadamente da degradação por mau uso do solo ou devido a sobreexploração). A fechar a sua comunicação, apresentou algumas soluções que podem contribuir para a redução do problema da água, sem dúvida um dos mais sérios desafios que se colocam à Humanidade num horizonte de prazo já reduzido.

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Os alunos do IEAS foram convidados a assistir a um interessante debate promovido pela Academia das Ciências de Lisboa no âmbito das iniciativas que assinalaram o Ano Internacional da Floresta, actualmente em curso. A sessão teve lugar na Aula Maynense e reuniu especialistas de diversas instituições de Ensino Superior. Quanto à organização, esteve a cargo das Prof.as Doutoras Maria Salomé Pais e Manuela Chaves, ambas sócias efectivas da Academia.

A fim de tratar o tema “As Florestas, a Economia e o Ambiente: Controvérsias”, foram convidados os Eng.os João M. Alves Soares, administrado da Portucel/Soporcel, e Henrique Miguel Pereira, investigador do Centro de Biologia Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que apresentaram as suas comunicações sob moderação do Prof. Doutor João Santos Pereira, do Instituto Superior de Agronomia.

O Eng.º João Alves Soares intitulou a sua apresentação de “Para Uma Conversa sobre o Eucalipto”. Começou por referir aquilo a que chamou Os mitos da floresta europeia, falou a seguir do Crescimento mundial da procura de madeira para todos os usos, e da Importância das plantações. Momento importante da sua intervenção foi a referência a que “a madeira

vai ser a curto prazo a grande fonte mundial para a produção de Energia (tal como sucedeu já na Idade Média”. Em conclusão, disse: “Os factos não comprovam os mito ligados aos malefícios do eucalipto. A espécie eucalyptus globulus é uma alternativa decisiva para a nossa economia agrária.”

Já o Eng.º Luís Miguel Pereira fez uma avaliação do estado da floresta portuguesa numa óptica totalmente divergente da do orador que o precedeu, fazendo a apologia da floresta de carvalhos. Segundo ele, “a diversidade de plantas e aves é maior nas florestas de carvalhos, a seguir nas florestas de pinheiros, e só depois nas florestas de eucaliptos”.

No que diz respeito à vulnerabilidade à destruição provocada pelos incêndios, apresentou as conclusões de alguns estudos que apontam para que os eucaliptais sofrem uma destruição superior, assim como para o facto de a regeneração ser maior nos carvalhais, devendo por isso ser essa a opção da política florestal portuguesa.

O debate que se seguiu, com numerosas intervenções dos participantes, foi um exemplo eloquente do que deve ser o trabalho desenvolvido a nível académico.

Debate Académico a propósito do Ano Internacional da Floresta

A mesa com os três especialistas convidados (Prof. Doutor João Santos Pereira, Eng.º Luís Miguel Pereira e Eng.º João Alves Soares, por esta ordem na coluna de fotos da direita) e a assistência, no meio da qual se reconhecem alguns alunos do Instituto Académico para Seniores.

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D. JOÃO CARLOS DE BRAGANÇA, 2º DUQUE DE LAFÕES FUNDADOR DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA

E GRANDE FIGURA DO ILUMINISMO E DA CULTURA EUROPEIA

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IANa Sala das Sessões da Academia das Ciências de Lisboa, sobranceiro à cadeira da Presidencia, pode-se apreciar este busto de mármore representando D. João de Carlos Bragança, 2º Duque de Lafões. Obra do grande esculor Joaquim Machado de Castro foi inaugurada em Junho de 1817. Está colocado sobre um pedestal de mármore executado por Henrique de Campos alguns anos mais tarde.

Quem percorre as instalações da Academia das Ciências de Lisboa ou consulta o seu vastíssimo espólio editorial não pode deixar de sentir a profunda veneração que, ao longo dos anos, muito justamente, a instituição tem dedicado ao seu fundador, D. João de Carlos de Bragança, 2º Duque de Lafões.

Vários são os estudos em que foi biografado e diversas as representações da sua figura sob forma artística. Uma delas, sem dúvida trabalho de rara beleza, é o busto existente na Sala das Sessões, olhando de frente todos os académicos que ali periodicamente se reúnem.

Pressente-se que o seu autor terá sido artista de alta virtude, e efectivamente assim acontece. Joaquim Machado de Castro, um dos maiores, senão o maior, dos escultores portugueses foi quem deu forma em pedra ao busto do primeiro Presidente da Academia, que permanece sobranceiro à sala com o cadeiral dos académicos.

A decisão de a encomendar, tomada em 1814 (oito anos depois da morte do Duque), foi concretizada devido a uma subscrição aberta entre todos os sócios. A respectiva inauguração terá ocorrido em Julho de 1817, e primitivamente o busto assentava num pedestal de madeira, substituído em 1816 pelo actual de mármore, executado por Henrique de Campos.

Alguns portugueses sabem que esta personagem da nossa Nobreza esteve na origem da criação da Academia das Ciências de Lisboa, cuja primeira sessão ocorreu em 24 de Dezembro de 1799, e muito pouco mais saberão acrescentar. Todavia, trata-se de uma interessante figura da nossa História e da nossa Cultura, que merece ser mais bem conhecida.

Os seus mais recentes biógrafos - Nuno Gonçalves Monteiro e Fernando Dores Costa – destacaram com grande perspicácia o facto de a sua vida ser “assinalada por um conhecimento, sem paralelo entre os portugueses, dos grandes cenários

e dos grandes actores da vida europeia da segunda metade do século XVIII”.

Quem, como ele, pode dizer, no final da vida, que visitou e conheceu os grandes centros e as grandes personagens da política e da cultura de uma vintena de países que eram, naquele tempo de Setecentos, o verdadeiro Centro do Mundo? Documentados, existem registos de permanência, ao longo de 21 anos, em Inglaterra, Áustria, Suíça, Itália, França, Grécia, Egipto, Trácia, Rússia, Frígia, Lídia, Tessália, Mesopotâmia, Prússia, Polónia, Suécia, Dinamarca, Lapónia.

Manifestações de reconhecimento, teve-as numerosas, fosse de instituições fosse de personalidades de primeira grandeza. A 17 de Novembro de 1757, correspondendo à grande reputação intelectual que granjeara, a centenária Royal Society of London elegeu-o sócio, tal como a Academia Imperial de São Petersburgo o haveria de eleger, por unanimidade, membro honorário em 1774.

Figuras da política mundial, como o Imperador D. João II da Áustria ou a Imperatriz Catarina II da Rússia, mais que admiração testemunharam em diversas circunstâncias amizade e apreço pessoal por D. João Carlos de Bragança. Manteve também relacionamento, mais ou menos íntimo, com Maria Teresa de Áustria, Frederico II da Prússia, José II, Kaunitz. Dentre as figuras da Ciência e da Arte com quem conviveu, podemos citar Wolfgang Amadeus Mozart, Benjamin Franklin, Christof Willibald Gluck, que compôs uma ópera em sua honra.

De seu nome completo João Carlos de Bragança Sousa e Ligne Tavares Mascarenhas e Silva, recebeu honras de Marquês e foi-lhe outorgado o tratamento de “sobrinho d’El Rei” por carta de D. João V de 1738. Efectivamente, seu avô era o ex-monarca D. Pedro II, que, além do filho legítimo que seria Rei com o nome de D. João V, teve um filho bastardo de nome Miguel (pai de D. João Carlos e de D. Pedro Henrique).

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Actualidade da figura do 2º Duque de LafõesDois factos recentes atestam como a figura de D. João Carlos de Bragança, 2º Duque de Lafões, conda a Europatinua a estar presente na vida cultural, mesmo decorridos mais de séculos sobre a sua morte.

Referimo-nos, em primeiro lugar, à escolha de um seu retrato para ilustrar a capa do IV volume da História Crítica da Literatura Portuguesa, dedicado ao período literário do Neoclassicismo e Pré-Romantismo, editado recentemente pela Verbo. O original do retrato está exposto nas instalações da Academia das Ciências de Lisboa, sendo seu autor o pintor e escultor naturalista da Escola do Porto Alves de Sousa, que o executou com base numa gravura setecentista de Juste Chevillet.

Entretanto, surgiu também no mercado uma gravação da ópera Paride ed Elena, de Christoff Willibald Gluck, que, no seu tempo, frequentava os salões da casa que D. João Carlos de Bragança possuía em Viena e que lha ofereceu em preito de admiração. Na respectiva dedicatória escreveu: “Ao dedicar a Vossa Alteza esta nova obra invoco menos um protector que um juiz. Uma alma forte contra os preconceitos e os hábitos, um espírito inspirado nos graves princípios da Arte, gosto formado pelo Belo, pelo Verdadeiro...”

Christoff W. Gluck viveu no séc. XVIII. Compositor de ópera do período clássico, é considerado um reformador do género Ópera, combinando o estilo francês e o italiano. Ao longo da vida, viveu em quase todos os grandes centros operáticos europeus, como Londres, Milão, Paris e Viena.

Terá sido tratado com estima pelo rei Magnânimo, que fez Duque de Lafões a D. Pedro Henrique (título mais tarde herdado por D. João Carlos) e destinara à carreira eclesiástica o nosso biografado, que, no entanto, não manifestava vocação para tal, não tendo dado continuidade aos estudos de Direito Canónico que fora cursar em Coimbra. A sua inclinação sempre foi para a vida da Corte, os exercícios físicos, as artes, as viagens, o estudo das línguas e das belas-letras.

Com a morte do seu tio rei, a subida ao trono de D. José I e o início do consulado de Sebastião José de Carvalho e Melo, julga-se que terá caído no desagrado do monarca, e esse facto determinou o curso restante da sua vida.

D. João Carlos pediu então ao novo rei autorização para se ausentar do Reino, com “licença para de passar aos Exércitos da Alemanha para neles se exercitar na arte da guerra, em que não aproveita a especulação estudada nos livros sem a prática, que só se pode tirar do exercício da mesma guerra, e que a Misericórdia Divina tem preservado este reino depois da paz de Utrech, e de que esperamos que o preserve por dilatados anos ao favor da sua situação”.

Alistou-se como voluntário nos exércitos austríacos contra a Prússia, fazendo as campanhas da Guerra dos Sete Anos, onde seria ferido numa perna. Embora tenha alinhado do lado perdedor, adquiriu grande soma de conhecimentos de guerra, que o guindaram às mais altas funções militares quando finalmente regressou a Portugal em 3 de Janeiro de 1779.

Inspirado na experiência que recolhera nas suas viagens em 21 anos de um exílio de causas ainda hoje mal esclarecidas, e ciente do muito que havia a fazer para dotar Portugal de modernas estruturas de ensino, ciência e técnica, e promover

A gravura original de Jules Chevillet, sobre a qual o portuense Alves de Sousa executou o conhecido retrato a óleo

o desenvolvimento do comércio, da agricultura e da indústria, consagrou o resto da sua vida à mais relevante realização pública da sua vida: a fundação da Academia a que hoje chamamos das Ciências de Lisboa

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INSTITUTO DE ESTUDOSACADÉMICOS PARA SENIORES

DIA 16 DE JUNHO NO SALÃO NOBREDA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA

SESSÃO DE ENCERRAMENTODO CURSO DE 2010-2011

PROGRAMA

16:30 h – I PARTEAbertura pelo Prof. Doutor Adriano Moreira, Presidente do Instituto de Altos Estudos da A.C.L.

Alocução pela Prof.ª Doutora Maria Salomé Pais, Directora do IEASEntrega de Diplomas

Conferência “Desafios da Lusofonia” pela Prof.ª Doutora Ana Laborinho, Presidente do Instituto Camões

18:30 h – II PARTEOrquestra de Câmara e Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana

interpretando peças de Wolfgang Amadeus Mozart, Jules Massenet, Tomaso Albinoni, Bedrich Smetana, Álvaro Cassuto e Marco Putz

ENTRADA LIVRE