nc? 2 1973 - equipes de nossa senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação,...

35
NC? 2 1973 Abril EDITORIAL - A Ascese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. O corpo e a prece . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 3 Como rezar hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 7 À escuta da palavra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 11 O ateísmo e os cristãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 14 Evangelho, base da nossa comunidade . . . . . . p. O casal responsável e sua equipe . . . . . . . . . p. 18 Um casal apóstolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 21 Um lema de estudo - O Evangelho . . . . . . . . p. 24 Notícias dos Setores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 26 Mini -sessão de formação de reg ionais . . . . . . p. 28 Encontro anual dos casais responsáveis de setor, regionais e Ecir . . . . . . . . . . . . . . . . p. 29 Notícias internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 31 Oração para a próxima reunião . . . . . . . . . . . . p. 32

Upload: donhu

Post on 07-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

NC? 2 1973

Abril

EDITORIAL - A Ascese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p.

O corpo e a prece . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 3

Como rezar hoje . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 7

À escuta da palavra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 11

O ateísmo e os cristãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 14

Evangelho, base da nossa comunidade . . . . . . p. 1ô

O casal responsável e sua equipe . . . . . . . . . p. 18

Um casal apóstolo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 21

Um lema de estudo - O Evangelho . . . . . . . . p. 24

Notícias dos Setores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 26

Mini-sessão de formação de reg ionais . . . . . . p. 28

Encontro anual dos casais responsáveis de setor, regionais e Ecir . . . . . . . . . . . . . . . . p. 29

Notícias internacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 31

Oração para a próxima reunião . . . . . . . . . . . . p. 32

Page 2: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretaria das

Equipes de Nossa Senhora no Brasil.

04530 - Rua Dr. Renato Paes de Barros, 33 - Te!.: 80-4850

04530 - SAO PAULO, SP.

- somente para distribuição interna -

Page 3: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

EDITORIAL

A ASCESE

Tenho a impressão de que são muitos os equipistas meio perdidos em relação à ascese. Ainda há poucos dias, três deles vieram falar comigo sobre o assunto. A conversa terminou com esta exclamação: "Se nos tivesse dito isso há mais tempo!". Ora, o "isto" é uma coisa muito simples.

Vou portanto ser simples, até mesmo simplista, como o fui com os meus três interlocutores daquele dia. Não vou argu­mentar, mas sim apelar para a experiência diária de cada um.

Se sabemos amar, sabemos também o que é a ascese. Os que praticam o amor praticam necessariamente a ascese. Não é uma exigência arbitrária de um pregador melancólico, mas sim a exigência fundamental do amor. Não há medalha que não tenha verso e reverso, nem moeda sem cara e coroa: o amor e a. ascese são as duas faces de uma realidade.

Impossível progredir no amor do outro, se eu não mortifi­car o meu amor próprio, enquanto ele for egoísta e reivindica­tivo. Com efeito, não posso ao mesmo tempo dar e receber, ter uma atitude de doação de mim mesmo e simultaneamente obe­decer à cobiça, ser ablativo e captativo, enjagar-me e esquivar­-me, ter como polo a minha própria pessoa e o outro.

Na verdade, o amor e o egoísmo coabitam no meu coração. Mas tal coexistência não é pacífica. Amor e egoísmo entendem-se mal, opõem-se. Estão, abertamente ou não, em perpétuo con­flito. A menos que assinem, com a minha cumplicidade, um protocolo de acordo, para dividirem entre si o meu coração, a minha vida. Contrato de ingênuos, entretanto: cada um, insi­diosamente, vai esforçar-se por exterminar o outro. Amor e egoísmo tendem cada um para a hegemonia.

Atenção, porém! Ao lermos estas considerações não entre­mos logo em especulações. Mas procuremos penetrar em nós mesmos, espreitemos os movimentos do nosso coração, entregue­mo-nos, mesmo que seja por somente um dia, a um exame in­flexível, não direi "de consciência" pois a palavra irrita, mas

-1-

Page 4: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

"do coração". A noite faremos então um estudo do nosso "car­diograma", que nos dirá provavelmente, entre outras coisas:

Amo a minha mulher, a meu marido. E desejo amar cada vez mais (pois já não existe amor no coração que diz "já chega!" e não deseja amar mais e melhor). Ora, constato que muitas coisas freiam, entravam, retardam o meu ímpeto de amor. É durante uma conversa, esse desejo de não ceder, de ter sempre razão; é, quando toca o telefone, o desejo secreto de que o outro o vá atender antes de mim; é o desejo do silêncio que me im­pede de dar o melhor de mim mesmo - durante a oração con­jugal, por exemplo; ou então é um demônio tagarela que me faz falar de mim próprio, enquanto cresce no outro a angústia secreta de não ser nunca escutado. E todas essas impaciências ... Serão elas geradas pelo amor do outro? Ao longo do dia, qual o polo que atrai a agulha de minha bússola? Será a felicidade, o bem do outro, ou será o meu "eu"? E na vida sexual?

Não seria destituído de interesse que nos interrogássemos também acerca das relações com os nossos filhos. Quantas cen­suras não são ditadas por um amor-próprio ferido, mais do que por uma verdadeira ternura! Mas detenho-me aqui, pois o cam­po é muito vasto ...

Terei conseguido demonstrar-lhes que todo amor implica numa exigência de ascese, sendo esta entendida como uma preo­cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse­verante, para modificar o egoísmo que, sem cessar, aberta ou insidiosamente, se torna um obstáculo ao amor, a fim de culti­var em nós tudo aquilo que nos fará ter acesso a um mais pro­fundo amor?

E se o amor humano exige a ascese, que dizer, com mais razão ainda, do amor a Deus!

HENRI CAFFAREL

-2-

Page 5: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

O CORPO E A PRECE

Ao ver, nas margens do Ganges, ao despontar do dia, aque­les inumeráveis hindus de pé, imóveis, olhos fechados . . . ao ver as multidões da Meca, prosternadas ante Alá ... como duvidar, observando-os, que o corpo tem um papel a representar na oração?

Recordo-me daquele padre que eu vi, certo dia, de joelhos, peito erguido, rosto plácido: foi para mim, aos dezoito anos, o mais eloqüente discurso sobre a oração silenciosa.

São tantos os cristãos que têm consciência do íntimo apelo a esta forma de oração e que ficam desolados por não consegui­rem ser-lhes fiéis. São tantos os que se afligem ante a pressão importuna das "distrações". Não seria isto devido a confiarem demasiado nos recursos do intelecto e do coração? O corpo es­quecido, desdenhado, entorpece ou emperra.

Sim, é certo, o corpo também quer rezar; aspira por Deus: "Meu coração e minha carne clamam pelo Deus vivo" (Salmo 84). Aí está, para comprová-lo, o testemunho de todos aqueles que tiveram um dia a feliz idéia de a ele recorrer: perceberam que o corpo estava pronto a colaborar. E sei de muitos que, nas horas em que a alma se acha por demais sucumbida, sentem­-se felizes em lhe dar procuração: "Senhor, já que não posso nem pensar em ti, nem dirigir-te a palavra, escuta no entanto a linguagem de meu corpo prosternado".

-3-

Page 6: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Entretanto, a idéia de associar o corpo à prece, não pode aflo­rar na mente daqueles que têm uma idéia falsa a respeito. É preciso pois, em primeiro lugar, pensar certo. Refutar as dou­trinas dualistas que consideram corpo e alma como duas rea­lidades mais ou menos independentes e antagônicas: para uns, a matéria é desprezível, quando não intrinsecamente má; outros só vêem no corpo uma prisão da qual a alma deve se evadir para encontrar Deus; para os descendentes de Descartes, o homem é constituído da justaposição de uma alma e de um corpo.

Na realidade, o homem é uma unidade, um corpo-animado, uma alma-encarnada, um todo-único. Não devo dizer, portanto, "o corpo que tenho", mas sim, "o corpo que sou". O corpo é a face visível da pessoa: é o "eu-que-atuo", o "eu-presente", o "eu-que-me-manifesto".

Mas pensar certo não é suficiente; é preciso agir de acordo: não se trata de atender ao corpo com a desenvoltura, por exem­plo, com que deixo de lado assim que cheguei, a bicicleta que acabo de pedalar; nem tão pouco de ceder aos seus caprichos -não é um cão a quem jogo um osso para que me deixe em paz; nem é um senhor ao qual me escravizo.

Digamos, isto sim, que é preciso amá-lo: está implícito no dever urgente de amar a si mesmo. E que, antes de tudo, é preciso cuidar dele: ficar atento ao alimento, à higiene, ao re­pouso, ao sono, à cultura física, ao esporte. . . Quantos pecados por omissão, neste terreno, e dos quais nunca nos sentimos cul­pados!

Mas, vamos subir mais um degrau: é preciso educá-lo com inteligência, paciência, perseverança, isto é, corrigir os seus de­feitos e cultivar as suas virtualidades. Mais ainda, é preciso "habitar o próprio corpo", realizar o "casamento do corpo e do espírito". Mas estas palavras não terão sentido para aqueles que ainda não se submeteram à experiência.

Mais elevada ainda é a ambição do cristão: trata-se, para ele, de adquirir um "corpo espiritual" (1 Co 15, 44) , todo "im­pregnado" do Espírito Santo. Ainda aos Coríntios, São Paulo propõe este incrível ideal: "O corpo é para o Senhor e o Senhor é para o corpo" (I Cor 6, 13). Na verdade, será isto tão sur­preendente, se considerarmos que o cristão se alimenta do corpo ressuscitado de Jesus Cristo?

Este preâmbulo um tanto longo era necessário antes de tra­tar da participação do corpo na oração. O mínimo que se pode pedir ao corpo é que não se oponha à prece, como uma criança rebelde, reivindicadora, sensual. E que, não se opondo, não a perturbe por suas enfermidades, seu cansaço, sua tensão física

-4-

Page 7: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

e nervosa - esta doença do homem moderno. Com freqüência o corpo perturba a oração, pela respiração desordenada, super­ficial, porque não se iniciou à arte de respirar. Outras vezes, se o corpo não ficar firme - e imóvel - o espírito dificilmente terá acesso à verdadeira calma: daí a grande importância das atitudes corporais de firmeza e estabilidade. Aliás, devem ser, ao mesmo tempo, atitudes de quem está bem desperto - por­quanto há atitudes estáveis que convidam ao sono.

Todo aquele que se exercita em dominar as flutuações bio­lógicas de seu corpo, constata muito cedo que se aplacam nele as flutuações mentais.

É preciso ser mais ambicioso ainda e obter do corpo o seu concurso positivo à oração. Fazer com que o espírito se bene­ficie de sua vitalidade, de seu equilíbrio, de sua paz. Treinar o espírito para o "relax" como também para o estímulo, para o abandono, a oferenda a Deus. É preciso saber, ainda, que o corpo é rico de energias: uma vez captadas, canalizadas, forti­ficam o espírito, sustentando-o na atividade da prece.

Ora, a alta vocação do corpo é a de ser linguagem - o que se compreende de maneira pungente na cabeceira de um ente querido que perdeu o uso da palavra e dos gestos. Utilizar os recursos do corpo para exprimir a vida profunda é uma grande arte: é verdade nas relações humanas e não menos verdade nas relações com Deus. Daí a importância de conhecer as atitudes que favorecem a estabilidade e a vivacidade do corpo, as que traduzem as diferentes atitudes internas daquele que reza. Cabe a cada um descobrir quais as que melhor respondem à intimi­dade de sua oração, conforme as disposições do momento.

E volto assim ao ponto de partida: é belo o homem absorto na oração, o corpo transparente à alma, e que, na sua atitude, nos seus gestos e movimentos exprime a vitalidade de uma alma ardente que adora e ama.

Como é desejável que o homem de oração consiga esta sin­tonia entre o corpo e · o espírito! E que, convencido de que tal coisa é possível, queira exercitar-se em atingí-la.

Entretanto, neste como em outros domínios, importa distin­guir o essencial do secundário. Em se tratando da oração, a atividade primeira cabe ao espírito, ao "coração", no sentido bí­blico do termo. Não esquecer a palavra do profeta: "Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim". (Isaías, 29, 13). Não obstante, o esquecimento da parte que cabe ao corpo pode comprometer a atividade primeira, a do espírito.

-5-

Page 8: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

É bem evidente, entretanto, que é possível rezar, e até mesmo com uma prece admirável, na doença e na enfermidade. Ao corpo torturado pelo sofrimento cabe então outra maneira de participar da oração oferecida a Deus: a de Cristo na cruz.

Sadio ou doente, feliz ou dolorido, o corpo do homem deve ser ostensório da alma em oração, uma transparência a Deus: "Glorificai pois a Deus no vosso corpo", escrevia São Paulo aos Coríntios (I Cor. 6, 20). E aos romanos (Rom. 12, 1):

"Eu vos exorto, irmãos, pela ternura de Deus, que ofereçais vossos corpos (é realmente a palavra corpo que se encontra no texto grego) como hóstia viva, santa, agradável a Deus: tal é o culto espiritual que vos cabe prestar".

HENRI CAFF AREL tdo opúsculo "Le Corps et la Priêre")

-6-

Page 9: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

COMO REZAR HOJE

É este o sub-título de um dos últimos capítulos do novo livro de Michel Quoist - CRISTO ESTA VIVO - editado pela Livraria Duas Cidades.

Michel Quoist já é largamente conhecido entre nós, através de seus livros "Poemas para rezar" e "Construir o Homem e o Mundo" ... O que caracte­riza este autor é a sua linguagem fácil e o seu estilo agradável que nada perde, no entanto, em profun­didade. E é também o conhecimento exato que tem das dificuldades com que se defronta o cristão de hoje, envolvido num mundo cada vez mais desumano. Por isso mesmo conhece ele o quanto é difícil o re­colhimento que a oração requer- como se depreende dos trechos de seu livro que a seguir transcrevemos.

"Não é fácil rezar. O que perturba o homem quando reza é ter ele a impressão de 'falar no vazio'. É verdade que, ao querer assegurar a transcendência de Deus, muitas vezes o ba­nimos da vida e o colocamos acima da vida, no céu".

Estas palavras sintetizam bem a queixa que ouvimos de muitos equipistas que, apesar da boa vontade, não conseguem fazer os dez minutos de meditação. Têm eles a impressão de que Deus está silencioso. Mas:

-7-

Page 10: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

"É absolutamente falso dizer que Deus se cala. Ele fala e, quase sempre, o homem não responde. No entanto o homem precisa rezar porque é feito por Deus e para Deus. Sem este contacto ele se asfixia progressivamente, como o peixe que morre fora da água".

"Deus ninguém jamais o viu, mas Jesus Cristo, os homens o viram, tocaram, ouviram. Se o procurarmos, poderemos encon­trá-lo, ouví-lo, responder-lhe".

Podemos encontrá-lo, ouvi-lo, responder-lhe, porquanto ele nos deixou o seu Evangelho que é a própria Palavra de Deus trazida aos homens por seu divino Filho. O que é preciso é

fortalecer a nossa fé em Cristo que nos fala no Evangelho:

"Cremos ou não cremos que Deus nos falou? Se cremos que: "Mais de uma vez e de muitas maneiras Deus falou ou­trora a nossos pais por meio dos profetas e ultimamente nos falou por seu Filho" (Heb. 1, 1); se cremos que Jesus Cristo, ao reve­lar-nos o Pai e seu infinito amor, exprimiu-se por uma vida e com palavras humanas; se cremos que quatro de seus apóstolos, guiados pelo Espírito Santo, escreveram o essencial de sua men­sagem, tanto para o ensino como para a vida litúrgica e missio­nária das primeiras comunidades; se cremos, enfim, que pelos Evangelhos, Deus falou, por Jesus Cristo, não somente a estes primeiros cristãos mas também aos homens de todos os tempos ... se cremos tudo isto mas não frequentamos regularmente essa Palavra, então somos totalmente inconseqüentes e não nos po­demos dizer cristãos, isto é, de Cristo".

"No Evangelho Jesus se dá a conhecer. Entrega o segredo de sua alma. Rezar é, antes de tudo, responder-lhe pura e sim­plesmente. É falar com ele, pedir-lhe esclarecimentos, admirá-lo, agradecer-lhe. É também dar-se a conhecer, contar a própria vida, confrontando-a com a dele".

Mas não é só através do Evangelho que Jesus Cristo nos fala. Ele o faz igualmente através dos acontecimentos que fazem a trama de nossa vida cotidiana, onde ele se acha pre­sente, realizando a sua promessa: "Eu estarei convosco até o

fim do mundo".

-8-

Page 11: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

"A partir da vida, deveríamos estar em diálogo contínuo com Cristo, já para pedir que a retifique, a purifique, já para ofere­cer-lha a fim de que ele a penetre totalmente e a viva conosco".

O Evangelho, os acontecimentos, eis "as duas dimensões da oração", na expressão de Michel Quoist. A partir do Evan­gelho e do acontecimento escolhido e olhado na fé, podemos entabolar conversa com Jesus Cristo. Mas há uma condição a preencher:

"Os verdadeiros amigos sentem necessidade de parar para conversar. É preciso também parar para falar com Jesus Cristo. É preciso fazer-lhe a difícil oferenda de um pouco de nosso tempo".

Oferenda realmente difícil, pois é justamente aí que está o grande obstáculo para o diálogo com Deus. Como parar se estamos envolvidos por uma multidão que nos arrasta no tor­velinho de ocupações múltiplas e absorventes. Como fazer silêncio dentro de nós, condição para a oração, se "fazer si­lêncio se torna psicologicamente impossível para o homem moderno"?

"É preciso não se desencorajar mas alegrar-se pois, através dessas dificuldades, Jesus Cristo nos ensina qual deve ser hoje nosso modo de rezar. . . Não se trata de expulsar as distrações mas de acolher a vida para oferecê-la a Deus. O que mais nos assalta o espírito é para nós o que mais importa. É o que de­vemos, muito especialmente apresentar ao Pai, por Jesus Cristo, nosso Senhor: quer para lhe pedir perdão, quer para agrade­cer-lhe ou pedir a sua ajuda e, seja como for, para que a pessoa, o acontecimento, a parcela de vida que nos preocupa, não sejam desviados de seu fim, mas desabrochem perfeitamente em Jesus Cristo segundo o desejo do Pai".

Não se trata, diz Michel Quoist, de "uma espécie de ten­tativa para tornar mais fácil a oração, trajando-a de acordo com a moda" . O ideal será sempre a palavra do Evangelho: "Quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta .. . " Mas, se ainda nos é muito difícil "desligar" para nos entretermos a sós com Deus, procuremos, apesar da agitação e do ruído, atender ao chamado de Deus que nos espera e "fazer-lhe a oferenda difícil de um pouco de nosso tempo" . Se formos perseverantes:

-9-

Page 12: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

"Mais tarde, e somente mais tarde, depois de uma longa e perseverante fidelidade, sem queimar etapas, alguns cristãos po­derão apresentar-se perante Deus enriquecidos por um profundo silêncio interior. Não será fruto de recalque ou demissão e fuga diante da vida, mas a justa recompensa dos que se tiverem ha­bituado a entregar tudo a Cristo e viver tudo nele ao ritmo da vida".

Por que não seríamos nós, cada um de nós, um destes cris­tãos que, pela sua perseverante fidelidade em dar a Deus alguns minutos de seu precioso tempo, chegam a merecer a graça do silêncio interior e, até mesmo, ascender ao grau mais alto da oração que é a contemplação? Com todo o realismo que o caracteriza, Michel Quoist afirma:

"A contemplação está ao alcance de todos. Como a oração, não está reservada a uma categoria especial de cristãos, a aris­tocratas da vida espiritual. Quem ama autenticamente pode tam­bém contemplar".

"A contemplação ao alcance de todos" é porém outro sub-titulo do livro que nos propusemos apresentar-lhes . CRIS­TO ESTA VIVO merece ser lido na integra .

-10-

Page 13: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

À ESCUTA DA PALAVRA

Segunda parte da conferência pronunciada pelo Revmo. Pe. Caffarel nas Sessões de Itaici e Flo­rianópolis.

Depois de termos visto ( cf. Carta Mensal de março) que a Palavra de Cristo faz a Igreja, vamos ver que esta mesma Pa­lavra, viva no Evangelho, faz também a pequena célula da Igreja que é a família.

* O Evangelho no lar

O sacramento do matrimônio incorpora a pequena célula conjugal ao Corpo de Cristo. Assim como faz a Igreja, o Evan­gelho "faz" a célula da Igreja e faz dela uma comunidade peni­tente, uma comunidade de fé , uma comunidade de esperança, uma comunidade de amor.

Comunidade penitente

A grande tentação do casal cristão praticante, que não come­te pecado grave, é a de comparar-se com os outros e julgar-se melhor do que eles. Pode ele observar a lei e por vezes adotar uma lei mais exigente ainda. Mas se não frequentar o Evan­gelho, muito cedo arriscar-se-á a cair num fatal contentamento de si. É o farisaísmo.

O Evangelho é um livro perturbador. Abala a nossa con­fiança. Com a sua leitura o cristão se reconhece pecador. Ou ele fecha o livro, ou se convence de pecado e começará a fazer penitência, isto é, a desviar-se dos bens que o cativam, para melhor se voltar para Deus.

Comunidade de fé

A fé não é somente adesão de meu cérebro, de minha inte­ligência, mas sim de todo o meu ser, de toda a minha vida. É

-11-

Page 14: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

adotar o ponto de vista de Cristo sobre tudo o que se passa ao redor de mim: paternidade, educação, uso do dinheiro, apelos da Igreja e do mundo. Só a meditação do Evangelho, assídua, inteligente, humilde, leal, permite entrar no pensamento de Cristo e adquirir a sua mentalidade.

O casal que passa a ler seriamente o . Evangelho, adquire uma nova visão das coisas e passa a reagir de acordo, de con­formidade com as normas evangélicas. Isto pode criar dificul­dades com o meio que o rodeia e provocar contradições, oposi­ções e até mesmo sorrisos irônicos. A força do casal residirá ~a certeza de que se apoia na palavra do Senhor. Ela não só nos mostra as exigências do Cristo, mas nos dá a força de seguí-lo.

Comunidade de esperança

O Evangelho leva à descoberta das admiráveis promessas de Cristo. E faz nascer a esperança: resposta do homem às pro­messas de Deus.

Promessa do Pai que zela pelos seus filhos: "Vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas essas coisas. Procurai primeiro o Reino de Deus e sua justiça" (Mat. 6, 32-33). Promessa do Cristo de que estará sempre com os seus: "Quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles" (Mat. 18, 20). Promessa de responder a nossos rogos: "Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vô-lo dará" (Jo. 16, 23). E principalmente a grande promessa do Espírito Santo: "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Advogado que estará convosco para sempre" (Jo. 14, 16).

Se nos deixamos dominar pela angústia, é porque não vive­mos em contato com estas promessas. O Evangelho faz nascer a esperança. A Esperança é o amor que espera o que o Amor prometeu.

Comunidade de amor

Todas as páginas do Evangelho revelam o amor de Cristo. A Paixão é a manifestação suprema deste amor: "Nisto conhe­cemos o Amor, em que Ele deu a sua vida por nós" (I J o. 3, 16). O coração humano precisa saber-se amado por outro; bem o sabeis, vós que sois casados. O amor de Deus declina no cora­ção do cristão que não é assíduo leitor da Palavra. É que o Evangelho é uma carta de amor, do amor de Deus, dirigida a mim. O amor suscita o amor. Onde reina o amor de Deus, se instaura necessariamente o amor mútuo. E este amor huma­no que tem sua fonte no amor de Deus, se chama caridade.

-12-

Page 15: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Um casal que se alimenta da palavra de Deus é um casal onde habita o amor caridade. Caridade que, em círculos con­cêntricos, transbordará além do casal, para estender-se a toda a família, se expandirá para os próximos, aclarando, aquecendo, reconfortando.

Exaltando o Evangelho, não estaríamos diminuindo os livros de espiritualidade? Não têm eles então valor?

Há quem diga que os livros de espiritualidade nada mais são do que o próprio Evangelho explicado, colocado ao alcance de nossa mentalidade. Entendamo-nos. A grande diferença en­tre o Evangelho e os livros de espiritualidade, é que os últimos transmitem idéias, ao passo que o Evangelho é a palavra viva, permanente, operante, do Cristo. A mesma que, outrora, acal­mava a tempestade, curava os doentes, ressuscitava os mortos. A mesma que perdoava os pecados e gerava filhos de Deus.

A palavra de Cristo no Evangelho nada perdeu em atuali­dade, nada perdeu de sua virtude, continua a possuir a mesma força criadora.

É na medida em que a Igreja está apegada à Palavra de Deus que ela é missionária. Sem isto ela se volta sobre si mesma: é um "gueto". Assim é para os casais. Os que se alimentam da Palavra de Deus, adquirem uma força explosiva e a necessi­dade de transmitir aos outros aquilo que os faz felizes.

O Evangelho, a Bíblia, são o remédio para uma equipe chegar ao transbordamento.

-13-

Page 16: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

O ATEíSMO E OS CRISTÃOS

Ghandi, ao conhecer as Bem-Aventuranças, demonstrou sua estranheza pelo fato de os cristãos não as viverem. Se nós, cris­tãos, vivêssemos as Bem-Aventuranças, sem dúvida Ghandi e inúmeros outros se converteriam ao cristianismo. Lemos, não sabemos onde, a frase de um pensador, que dizia mais ou menos o seguinte: "Basta olhar para a fisionomia de um cristão para ver que ele não possui a verdade" . . . Daí se conclui que não apenas os atos, mas até mesmo a fisionomia, podem fazer com que as pessoas desacreditem daquilo que afirmamos.

Os cristãos primitivos viviam realmente o ideal pregado por Cristo. Viviam esse ideal com simplicidade, sem artifícios e a fé impregnava todos os seus gestos, desde o amor que reinava entre eles, até a esperança que os fazia caminhar para o mar­tírio com a serenidade de quem tem a certeza de que escolheu o "único necessário".

Para isso, a exemplo de Cristo, romperam as estruturas da época em que viviam. Séculos se passaram e a história do cris­tianismo nos mostra altos e baixos. Assim como a nossa vida caminha numa linha· sinuosa, também assim foram as fases vivi­das pelos cristãos. Toda vez que os homens aderem a es­truturas puramente humanas, o cristianismo perde o seu ver­dadeiro sentido. Um São Francisco, numa época de profunda decadência, rompe as estruturas e cria um retorno maravilhoso -à simplicidade evangélica.

Hoje sentimos o peso da estrutura do mundo atual. Desne­cessário é dizer, entretanto, que o principal problema parte de dentro de nós mesmos. Lutamos por uma conversão interna, por uma atitude de verdadeiro amor para podermos seguir a Cristo. Buscamos um equilíbrio entre as necessidades que temos e o espírito cristão que deve impregná-las. Como é difícil em cada pequeno gesto encontrar esse equilíbrio. Vivemos numa época em que todo mundo precisa de um carro, boa casa, tele-

-14-

Page 17: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

VIsao, divertimentos, etc. Tudo isto é bom. "E Deus viu que tudo era bom". Mas cruzamos os braços quando sabemos que grande parte da humanidade não tem sequer o que comer. Lu­tamos pela "nossa" sobrevivência. E o que fazemos para que outros tenham chance de sobreviver? E o amor que deve estar presente em cada gesto? Temos consciência de que nos esfor­çamos para isso? Mas basta o esforço? Cada vez mais o ateísmo invade o mundo. Os marxistas dizem: "Vocês cristãos já ti­veram dois mil anos e praticamente nada fizeram. É hora de mudar e tentar fazer da nossa maneira". O que podemos res­ponder? Como cristãos não somos criaturas isoladas, mas sim, co-responsáveis uns pelos outros. É o Corpo Místico de Cristo que sofre pe1os séculos afora a falta de uma verdadeira e cons­ciente opção daqueles que se dizem cristãos. Não nos admira a onda de ateísmo existente no mundo. Nós particularmente nos sentimos bem longe ainda de podermos ser luz e sol da terra. Estamos ainda por demais ligados à estrutura atual.

(Transcrito do Equipetrópolis)

-15-

Page 18: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

EVANGELHO, BASE DA NOSSA COMUNIDADE

(Transcrito do Boletim da Guanabara)

A fé tem dimensão comunitária.

O Cristo nos insere na comunhão com Õ Pai, no Espírito. É este o princípio teológico das comunidades. E a sua justificação está na Bíblia, onde verificamos que Deus pronuncia a Sua pa-lavra, para constituir uma comunhão. '"

As Escrituras são a norma e o modelo de nossa vida. São o confronto da vida com a Palavra de Deus.

O que congrega a comunidade cristã? É o Evangelho. A comunidade deve viver em torno do Evangelho, isto é, no· Es­pírito de Jesus Cristo.

Será que vivemos assim? Será que se entende realmente o que é Evangelho? Vejamos: - O Evangelho é anúncio de um acontecimento (um fato histórico), que transform~t a vida dos homens. Torna-se fonte de felicidade, vida e verqade definiti­vas. E esta felicidade definitiva é um dom de Detts. (Atos -2,38-39). - O Evangelho anuncia a vida de um homem concreto que viveu, morreu e ressuscitou. E este homem é o enviado de Deus para salvar os outros homens. Mas este homem traz um "se­gredo" ou um mistério na sua identidade. Ele é o homem do Espírito. É o Cristo. E Cristo é mais do que homem e mais do que simples salvador. É realmente um mistério que aparece em plenitude na Ressurreição. Portanto ele é o Filho de Deus, a Palavra na qual Deus entra em relação com os homens e com o mundo. E o Evangelho é o anúncio da vida e missão deste homem que é o Filho e Palavra de Deus. - Podemos dizer também que Evangelho é o anúncio da che­gada do Reino de Deus. Entretanto, para isto, precisamos me­ditar um pouco sobre o que seja o Reino de Deus. Só o podemos perceber pela fé. Só por meio dela poderemos sentir o Reino como a presença pessoal de Deus na vida dos homens. O Reino

-16-

Page 19: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

está sempre prmamo e é inesgotável. É um contínuo apelo de crescimento e libertação. Resume-se na presença de Deus na vida dos homens, mas é uma presença que se dá a conhecer e a amar. Novidade constante. Deus não promete nada: Ele sim­plesmente se dá. E por isto o Reino de Deus suscita conversão. E só podemos entender conversão como resposta do homem ao apelo de Deus.

- O Evangelho é também o anúncio de uma nova vida, isto é, promessa de salvação. Salvação é o existir humano na esfera do divino: na verdade, no amor, na justiça. Salvação é a vida humana orientada pela verdade e bondade divina. Ela é: fé, amor e esperança.

v' - O Evangelho é também a missão dos discípulos, no Espírito de Jesus. Entre a Ressurreição e o final dos tempos, os discí­pulos de Jesus devem pregar o Evangelho a fim de que seja realizado em plenitude o desígnio de Deus de incorporar toda a humanidade na vida de seu Filho, o Cristo. E isto é uma gran­de responsabilidade para todos nós.

Portanto podemos concluir que a realidade do Evangelho é interior, possuindo o amor de Deus, que se deu, como centro de nossa existência, através de uma Palavra e promessa de uma vida nova. O Evangelho anuncia o que é absoluto e necessário.

Em suma o EVANGELHO é o próprio Cristo.

Em virtude da simplicidade e clareza evidentes, não podemos deixar de transcrever o que diz Frei Carlos Mesters em seu livro: "Deus, onde estás?"

"O Evangelho é antes de tudo uma nova vida, nascida no homem pela adesão a Jesus Cristo. Esta é a grande verdade, que provoca uma conversão, que tem como conseqüência um novo comportamento moral. Refletindo sobre essa realidade des­cobre-se a doutrina, fixando-a por escrito surge o livro, e cele­brando esta vida comunitariamente surge o culto com a cerimô­nia. O fundamento de tudo isso é a história de Jesus de Nazaré, que nasceu e viveu durante mais ou menos 33 anos, morreu as­sassinado e ressuscitou. Continua agora, presente e atuante na­queles que se abrem para Ele, pela fé. A história é o funda­mento, mas não só a história de Jesus. Também a nossa história hoje. Esta deve mostrar a veracidade do Evangelho, no qual acreditamos. Não adianta falar muito, se nada disso aparece na vida, se nós não ressuscitamos para uma vida nova, visível a todos".

Portanto as nossas Equipes têm tudo para serem comunida­des vivas de fé, à medida que venham tomar conhecimento mais profundo do Evangelho.

17-

Page 20: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

O CASAL RESPONSÁVEL E A SUA EQUIPE

Muitas são as funções e atribuições do Casal Responsável numa equipe de Nossa Senhora, mas todas elas convergem para um só objetivo: cabe ao casal responsável ajudar a sua equipe, conforme o caso, a deixar de ser apenas um grupo, para ser uma equipe; a crescer como equipe, se ela já deixou de ser grupo, e a se transformar em uma comunidade cristã.

Para isso, o C. R. tem muitos meios, muitas ferramentas, mas estas só funcionarão na medida em que forem usadas com entusiasmo e com amor.

Se a base da comunidade é vida e amor, só a partir de sua própria vida, de seu testemunho de amor, ele será capaz de ajudar sua equipe.

O Casal Responsável deve ser exigente em seus critérios, primeiro consigo mesmo, depois com os outros, mas uma exigên­cia de amor, de quem quer o bem do outro, de quem quer ajudar o outro a crescer. Tem que ser, portanto, uma exigência bem dosada e equilibrada com a tolerância e o respeito pelo outro.

Também com os quadros do movimento, ele deve ser exigente. Não desanimar diante dos obstáculos ou das imperfeições das pessoas.

Assim como o próprio Cristo, é nosso dever exigir dos outros, mas não impondo ou criticando, e sim animando, com caridade, transmitindo entusiasmo e confiança.

O casal responsável é o líder da equipe, e o verdadeiro líder não é aquele que dá ordens ou impõe sua opinião, mas aquele que influi, por suas atitudes, para levar o grupo a se encontrar e crescer.

-18-

Page 21: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Para isso é preciso estar atento e ligado à realidade que está à nossa volta. Para os problemas reais do grupo, dos casais, das pessoas.

Para construir alguma coisa, a primeira providência é anali­sar e assumir a realidade. Planos bolados a partir de sonhos são castelos de cartas que rapidamente desmoronam.

Para conhecer a realidade de sua equipe e poder agir de acordo com ela, é preciso estar presente. Presente ao grupo e presente a cada um dos equipistas. Não se trata de uma pre­sença só para fazer número e sim de uma presença "qualidade" -viva e atuante, de quem realmente está na presença de um irmão.

Se simplificarmos as coisas, podemos afirmar que ser cristão é estar presente.

O Cristo, em termos humanos, quase nada realizou em sua vida terrestre, não juntou riquezas, não comandou exércitos, não dirigiu empresas, não foi político, jamais deu ordens, nem impôs a sua vontade ou sua opinião.

Entretanto, foi aquele que esteve presente aos homens, e que está presente até hoje a cada um de nós.

Sua presença foi de tal ordem que marcou toda a história da humanidade. Claro que nenhum de nós pretende chegar a tanto, mas é nossa obrigação, como cristãos, procurar, com todo o nosso esforço e apesar das nossas limitações, imitar o Cristo, seguir seu exemplo, e, portanto, estarmos presentes. Ao Casal Responsável compete "apenas" isso: estar presente à sua equipe, para que ela cresça e possa estar presente no mundo que vive.

Está mais do que evidente que nenhum de nós teria capaci­dade para realizar a tarefa que nos compete se contássemos só com as nossas forças, por isso precisamos também estar presentes a Deus e ter Deus presente em nossas vidas, pela oração.

Muito se espera das ENS; incluive o Papa, no discurso que todo nós conhecemos, nos fala dessa expectativa. Entretanto, as ENS só poderão corresponder a toda essa esperança na me­dida em que contarem com equipes e equipistas efetivamente engajados e entusiasmados. Não adianta pensar em grandes obras das Equipes enquanto o próprio Movimento não tiver essa base e é ao Casal Responsável que compete, pelo menos durante um ano, essa tarefa dentro da sua equipe.

O nome do cargo que o Casal Responsável ocupa é um ne­gócio muito sério. Responsável é aquele que responde, que presta contas de alguma coisa. Não é ao Setor, ao Casal de Ligação ou à ECIR que ele vai responder pela sua equipe - é a Deus.

-19-

Page 22: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

"Não fostes vós que me escolhestes e sim Eu que vos escolhi".

Ao fim de um ano é a Ele que terão que responder: Senhor, que fizemos de nossa Equipe que nos confiastes

para apascentar?

Ajudamos nossa comunidade e cada um de seus casais a se promover, a crescer, no plano humano e espiritual?

Ou será, Senhor, que fomos para eles um obstáculo, um peso morto, que pelo nosso desânimo, pelo nosso pouco amor, pelo nosso comodismo, impedimos esse crescimento?

Dá vontade de desanimar, de desistir, mas a nossa fé nos ensina também a esperança e a confiança e, se sabemos que sozi­nhos nada poderemos, temos também a garantia, o seguro, da promessa que o Cristo nos faz: "Eu estarei convosco até o fim".

lSegunda parte da conferência de Luiz Sergio Widgerowitz - A primeira parte "De equipe a Co­munidade", foi publicada na C.M. de junho de 1972)

-20-

Page 23: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

UM CASAL APóSTOLO

O Boletim da Guanabara tem publicado uma série de entrevistas com casais equipistas. Para a prlmeira delas, da qual transcrevemos alguns trechos, foi escolhido um casal que está há 9 anos no Movimento e já teve nele muitas res­ponsabilidades, "destacando-se por seu espírito missionário: foi casal de ligação, casal Piloto, casal de informação, fun­dou a maior parte das Equipes do Setor B; dirigiu Curso de Noivos durante 5 anos; foi responsável pela publicação do primeiro jornal do Setor; preparou casais para ministrarem palestras nos colégios sobre diversos temas concernentes à familia, etc.

Com todas essas atividades, o casal é um exemplo de sim­plicidade, modéstia e hospitalidade cristãs".

Repórter: Como vocês conheceram as E.N.S. e porque aderiram ao Movimento?

Ele: Durante um almoço, um companheiro de firma falou­-me das E.N.S. Ele sempre foi entusiasmado pelas Equipes e me convidou a participar de uma em for­mação. Falou na hora oportuna, porque, na época, eu estava ansioso para aprofundar meus conhecimen­tos religiosos e me decidir finalmente pela minha ade­são ao Cristo. Não foi necessária muita persuasão em relação à minha mulher, que sempre tinha tido vontade de pertencer a um Movimento semelhante, mas estava esperando pela minha conversão.

Repórter: Vocês encontraram nas E.N.S. o objetivo que pro­curavam?

Ele: Foi realmente atingido o meu objetivo. O ambiente da equipe, as palestras que passei a ouvir, em par­ticular o encontro com o Pe. Charbonneau, a reunião de Responsáveis de Equipes em São Paulo, onde fui o único que ficou no banco na hora da comunhão; e,

-21-

.

Page 24: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

finalmente, uma longa conversa com o Padre Agero, em um retiro em Petrópolis, acabaram de me con­vencer, apontando-me a porta que eu devia escolher: a mais estreita.

Ela: Eu também acho que consegui o que buscava. É preciso nos convencermos que em tudo na vida há sempre uma fase de desânimo, quando pensamos não estar mais interessadas no que fazemos. Mas, jus­tamente nesse.s momentos, lembro-me do muito que tenho recebido das Equipes e meu entusiasmo retor­na . Creio que meu lar, minha profissão e as Equi­pes fazem parte do meu ser e acho que me sentiria desapoiada se uma dessas finalidades de minha vida viesse a faltar.

Repórter: Nos seus 28 anos de casados, qual foi a sua maior emoção?

Ela: É difícil selecionar um momento especial de maior emoção em 28 anos de vida de casada, pois Deus me tem dado momentos de muita alegria para compen­sar outros de grande tristeza.

Ele: Bem, evidentemente, foi de grande emoção para mim aquela missa em Petrópolis, quando voltei a comun­gar. Cheguei realmente a ficar com os olhos cheios d'água. Mas uma emoção que guardei foi a da mis­sa de nossas bodas de prata. Fomos viajar em come­moração e foi em uma igreja em Londres que as­sistimos à missa. Como queríamos a comemoração só nossa, não dissemos nada a ninguém do grupo de turistas, e, ainda escuro, no frio do inverno europeu, fomos à missa das sete da manhã. Só havia mais t rês pessoas e, na escuridão da igreja, só um altar lateral estava iluminado: era o de S. José, em cuja igreja nós tínhamos casado em Porto Alegre . Foi uma missa de recordações, em que o ambiente e a companhia de S. José favoreceram a lembrança da­quele outro dia, 25 anos atrás.

Repórter: E nas Equipes, qual foi a sua maior alegria?

Ela: Foi a formação de cada uma das equipes da Zona Norte. As sete primeiras tiveram sua primeira reu­nião aqui nesta sala, depois de termos dado a infor-

-22-

Page 25: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

mação a quase todos os casais. Gosto de mencio­nar este fato, não por me envaidecer, mas para pro­clamar, através dele, nosso reconhecimento às Equi­pes. Fizemos nossa Regra de Vida trazer outros ca­sais para se beneficiarem, como nós, deste Movimento.

Repórter: Já que foi o tema da última Inter-Equipes e é o as­sunto do momento, qual a sua opinião a respeito da introdução da meditação diária nos nossos Estatutos?

Ela: Acho a meditação diária um momento de serenidade durante o meu dia, no qual minhas funçõ-es de dona de casa e de professora me mantêm constantemente em agitação. Considero que é realmente um meio de aperfeiçoamento espiritual de grande valor. Fi­quei, porém, realmente surpresa ao ver a aceitação unânime pelos casais da reunião inter-equipes a que comparecemos. Senti, inicialmente, uma certa difi­culdade na realização da meditação e pensei que hou­vesse reação ao estabelecimento de mais uma "obri­gação". Essa aceitação geral mostra o amadureci­mento do Movimento aqui entre nós e a compreen­são, por todos os equipistas, do valor do encontro diá­rio com Deus .

Repórter: Qual a sua MENSAGEM para todos os equipistas através deste veículo de comunicação?

Ela: A mensagem que gostaria de enviar é a seguinte: que todos os equipistas participem de todos os aconteci­mentos do Movimento, "quebrando os galhos" que aparecem no caminho, e verão quanta alegria lhes será dada em troca.

Ele: Eu gostaria de dizer o que a minha Equipe chama de minha obcessão: procurem fazer alguma coisa por al­guém, dentro de suas capacidades, por menos capa­zes que vocês se julguem. Lembrem-se de que "nin­guém é tão rico que não possa receber nem tão po­bre que não possa dar". Analisando-se com vonta­de de achar um carisma para o apostolado, vocês sempre encontrarão alguma coisa, nem que sejam al­guns minutos de diálogo com alguém que precisa ser ouvido e aconselhado, ou uma roupinha para a Casa da Mãe Pobre ou para a Obra do Berço. Deus sa­berá devolver os talentos que vocês fizeram render .

-23-

Page 26: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

VIDA DE EQUIPE

UM TEMA DE ESTUDO - O EVANGELHO

Ao encerrarmos nossas atividades no ano de 1970 resolve­mos adotar como tema de estudos para 1971 - o Evangelho. Fizemo-lo na ocasião buscando uma renovação na linha conci­liar da volta à "origem", cansados do "intelectualismo" dos textos comuns de espiritualidade e sobretudo, provavelmente, atendendo às inspirações do Cristo vivo à nossa pequena comu­nidade.

Resolvemos também não seguir nenhuma "ordem". Fomos retirando trechos ao acaso, atendendo ao que achávamos mais adequado na ocasião. O texto de uma reunião era selecionado na reunião anterior, a fim de que houvesse tempo suficiente pa­ra reflexão e aprofundamento.

Por sugestão de um dos casais e tendo em vista maior uni­formidade e simplificação do trabalho de grupo, adotamos uma mesma técnica: misto de análise, transferência e sínteses. Ini­ciávamos pela análise: localização do trecho dentro do contexto global do Evangelho, levantamento dos dados vinculados à cul­tura histórica da época; passávamos então a focalizar separada­mente o cenário em que se desenrolava a ação, as atitudes, as instruções e as reações dos personagens, o comportamento do Cristo. A seguir passávamos a processos de transferência: como reagiríamos, colocados no lugar de cada um dos personagens? Co­mo seria transportada a cena para a nossa cultura e os nossos problemas do mundo de hoje? Como se comportaria o Cristo se a sua encarnação "histórica" fosse vivida hoje? E terminá­vamos num processo de síntese, buscando concretamente quais os pontos de nossa vida que precisariam ser reformulados a par­tir da conscientização das nossas reflexões.

E assim no decorrer daquele ano tentamos nos aproximar e conhecer de perto ao Jovem Rico, à Parábola dos Talentos, ao óbulo da viúva ...

Nós vínhamos de um período de estagnação. Os temas eram preparados à última hora, sem nenhuma profundidade. Claro que se continuássemos nesta linha, todo o esquema estaria "fu­rado". Para que isso não acontecesse, deliberamos promover pequenos encontros organizados (de 2 a 3 casais) com o objeti-

-24-

Page 27: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

vo exclusivo de trocar idéias sobre o trecho. A invenção deu resultado - a grande maioria dos casais sempre comparecia com as suas reflexões elaboradas e amadurecidas.

Que resultado colhemos de tudo isso? Sabemos bem que nenhum valor tem o testemunho que damos de nós mesmos, mas fomos unânimes em afirmar ao fim do ano, que acabáva­mos de viver dentro de novo clima, de um novo entusiasmo, de uma nova alegria.

E hoje, calmamente, à luz de novos conhecimentos, gosta­ríamos de tentar fundamentar a importância do caminho que se­guimos, quase intuitivamente e por conta própria, como um acréscimo ao convite para que outras Equipes também se pro­ponham a fazê-lo.

De fato há que se distinguir o Cristo histórico - Homem­Deus que viveu há 2.000 anos numa cultura e tempo determina­do e que veio completar a revelação do Pai sobre os seus desíg­nios a respeito da humanidade e do universo, tudo isso expresso segundo os meios que a cultura da época proporcionava - do Cristo "Místico", Deus "Vivo" entre nós, presente em todos os instantes de todos nós, a nos convidar incessantemente a com­pletarmos a Criação, a Redenção e a Ascenção do universo den­tro do Plano de Amor previsto desde a Eternidade .

Enxergar somente o Cristo "histórico", leva a uma defor­mação do cristianismo. É ver nele apenas um Deus morto e re­duzir a vivência da religião a uma "imitação" que, por receber apenas influência "externa", reduz-se logo a uma seqüência de ritualismo e preceito.

Por outro lado, considerar apenas o Cristo "Místico", per­dendo de vista o Cristo Histórico é arriscar-se a não saber iden­tificá-lo em meio a tantos "falsos" Cristos que foram colocados em lugar do verdadeiro.

Inconscientemente, o caminho que seguimos nos proporcio­nou identificar primeiro o Cristo "Histórico" para localizar o Cristo "Místico" em cada instante de nossas vidas.

Acreditamos sinceramente que a experiência valeu a pena.

(Tran.scrito do Boletim do Setor de Campinas)

Estão à disposição, no Secretariado, para as equipes de mais de 3 anos que se interessarem, os seguintes temas sobre o Evan­velho:

- O Evangelho de São Marcos - Meditações. - Plano de Leitura dos Evangelhos Troadec. - Meditações do Evangelho - J.a e 2.a séries.

-25-

Page 28: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

NOTíCIAS DOS SETORES

UMA EXPERti;NCIA DIFERENTE

(Extraído do Boletim do Setor de São José dos Campos)

Foi num Cursilho de Cristandade que João conheceu Frei Luiz Schizato, de Campos de J ordão e, batendo um longo papo com ele, falou sobre o Curso de Preparação para o Casamento.

Pouco tempo depois, Frei Luiz telefonou pedindo encareci­damente um "sacrifício" nosso: formar uma equipe disposta a ir a Campos de Jordão, pois havia grande número de noivos e ele não queria casá-los sem um preparo. Falou que havia con­vidado alguns casais de "boa-vontade" para assistirem às pales­tras e depois continuarem o trabalho em sua paróquia. Imedia­tamente aceitamos o convite e, com a devida autorização de Wil­ma e Amilton, organizamos a equipe e partimos para o "sacri-fício".

Frei Luiz, aliado à Irmã Maria José, do Sanatório Divina Providência, tudo providenciou para a nossa hospedagem. Fica­mos alojados, nós e nossos filhos, na casa de hóspedes do próprio Sanatório, pois tinha sido condição especial levarmos nossos fi­lhos conosco. Assim, além de cinco casais, na caravana, havia dez crianças. A acolhida foi a melhor possível: o lugar muito lmdo, a casa bem confortável e o carinho para conosco muito grande e sincero. Frei Luiz também nos recebeu calorosamen­te, não escondendo sua satisfação e confiança.

Mas não ficou apenas num curso a nossa atividade. Três meses depois, voltávamos para dar novo curso.

O primeiro cutso foi em junho, com a participação de 27 casais, e o segundo em setembro com 16 casais, sendo que 6 noivas estavam ainda internadas no sanatório, em fase de recuperação final. Ambos foram realizados na igreja matriz da paróquia de Santa Terezinha.

-26-

Page 29: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Antes de cada curso procuramos nos preparar adequadamen­te através de reuniões de planejamento e exercícios de piedade. Todas as manhãs íamos à capela, onde fazíamos as nossas ora­ções, meditação e intenções, todos presentes, incluindo nossos fi­lhos. Era realmente comovente e uma infinita alegria para nós vermos nossos filhos participando de tudo, principalmente das orações.

Tudo correu muito bem no decorrer do curso. As palestras foram ótimas, todos procurando dar o melhor e se preocupando em dar testemunhos de vivência, o que tocou profundamente os noivos.

Nos dois cursos, as missas de encerramento foram lindas e especiais para o momento. Houve benção das alianças, parti­cipação ativa dos noivos e grande número de comunhões. Após as missas, f:zemos a festinha de confraternização com sorteio de prendas e brincadeiras. Nessas reuniões também fomos home­nageados e cada casal recebeu uma lembrança, o que muito nos emocionou.

No último curso houve vários pontos altos: - casamento de Lúcia e Arivano, realizado sábado na Capela do Sanatório, du­rante a missa e com nossa participação ativa na liturgia. Ela, se restabelecendo, ele, aguardando que sua noiva tivesse alta de­finitiva, para então começarem a viver como casados. Foi, na verdade, muito emocionante e Terezinha comovida nos disse: "Estou me sentindo um personagem de "Floradas na Serra" ... Foi realmente um acontecimento que nos deu alegria e, princi­palmente, nos fez meditar muito sobre o amor, a coragem e a confiança do jovem casal. Outro ponto alto do dia foi a pre­sença, à missa de encerramento, do nosso casal Responsável de Setor e seus filhos, que nos foram prestigiar e incentivar ain­da mais.

Falar nas emoções e alegrias de um curso de noivos é um assunto apaixonante ...

Como coordenadores, recebemos o apoio e auxílio de todos, formamos mesmo uma verdadeira comunidade e tudo foi muito bacana!

Esperamos que Frei Luiz consiga formar uma equipe para continuar esse trabalho e que o Curso de Noivos se torne uma realidade em Campos do Jordão; caso contrário, estaremos pron­tos para uma outra vez . ..

-27-

Page 30: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

MINI-SESSÃO DE FORMAÇÃO DE REGIONAIS

A Ecir realizou nos dias 9, 10 e 11 de fevereiro deste ano o Curso de Formação de Responsáveis Regionais em Itapecerica da Serra, na Casa das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado.

Participou com a Ecir o Casal Responsável Regional da Re­gião SP / B, Nenê e Zinho, colaborando imensamente para o cli­ma de oração, conscientização e fraternidade que imperou nes­ses dias .

O Curso tomou o nome de Mini-Sessão de Formação de Re­gionais, pois foi destinado aos quatro novos casais Regionais: -Maria Lucia e Plinio - Guanabara, Terezinha e Ronaldo - Re­gião SP I A, Cidinha e Igar - Região SP /C e Marisa e Fleury - Região SP / F e constou de quatro palestras, trabalhos de du­plas, trabalho em equipe, plenários e momentos dedicados espe­cialmente a orações e meditações. Estes momentos ricos de es­piritualidade tiveram seu clímax na participação da missa cele­brada às 8 horas da manhã na Igreja de Capão Redondo. Em linguagem simples e bastante comunicativa, o vigário da Paró­quia deu a todos uma lição de humildade, sabedoria, esperança e amor .

Ao final , os Regionais participantes deram o seu testemunho de alegria, por sentirem o peso de sua responsabilidade, mas também as graças que recebem por isso; a extensão de suas obri­gações, aliadas à certeza da ajuda que Deus, pelo Espírito Santo, concede a todos aqueles que se propõem a trabalhar com todo o carinho para o engrandecimento de Seu nome e sua obra.

-28-

Page 31: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

ENCONTRO ANUAL DOS CASAIS RESPONSAVEIS DE SETOR

REGIONAIS E ECIR

O encontro teve lugar em Capão Redondo nos dias 23, 24 e 2·5 de fevereiro . Estiveram reunidos 35 casais participantes, re­presentando as equipes de todo o Brasil, desde Caxias do Sul até Manaus. Tivemos a grata presença de 3 Conselheiros espirituais de setor: Pe. Ivo, de Bauru, Côn . Tombolato, de S. Carlos e Pe. Boissinot, de Marília.

A equipe de serviço estava constituída por 4 casais da ECIR e pelo Pe. Harold Rahm e sua equipe de trabalho: Pe. Paiva e D. Maria Lamego .

A primeira palestra, de Ludovic, versou sobre o trabalho a ser desenvolvido a serviço da comunidade, dentro do Setor e da Região: presença constante, caridade fraterna e união de esfor­ços. Resumindo, sua palestra dizia: "O Setor nunca deve per­der de vista o objetivo das Equipes: a vivência cristã das famí­lias. Para chegar a essa meta deve refletir, planejar, arranjar instrumentos com creatividade, caridade e oração . Setor não é Departamento de reclamações, para ir quebrando os "galhos" que apareçam ...

Em qualquer movimento é preciso que haja hierarquia, com a conseqüente autoridade, que garante a unidade . Esta autori­dade está a serviço da vocação, da meta da comunidade e não das injunções individuais. Em um movimento como o nosso, a hierarquia quer, acima de tudo, ser, não uma estratificação de cargos, mas sim uma presença fraterna, uma responsabilidade solidária e não solitária ...

-29-

.

Page 32: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Não faltarão os desânimos e frustrações, mas no fim o tra­balho sempre produzirá seus frutos e estaremos unidos entre nós ~ com Cristo. "

Em seguida houve reuniões de cada Casal Regional com os responsáveis de Setor de suas regiões. Foi uma ótima oportuni­dade para troca de idéias, permuta de experiências entre os an­tigos responsáveis e os novos, de setor e região.

A palestra da tarde, de Marcelo, versou sobre a espirituali­dade conjugal. Entre outras coisas, disse:

"A espiritualidade conjugal é a fidelidade do casal ao Espí­rito, através da vida matrimonial, para se deixar revestir da vida de Deus. Para viver o casamento, que demanda sacrifícios: noi­tes mal dormidas por causa das crianças, ausência de tranqüili­dade, doenças dos filhos, contas para pagar. . . etc. . . . é preciso usar uma ótica especial. Ver nossos problemas à luz da fé e pedir a Deus, todas as manhãs, uma visão sobrenatural das coi­sas". Falou também sobre as bemaventurancas e terminou com a frase de S. Paulo: "De boa vontade me vangloriarei de mi­nhas fraquezas, a fim de que repouse em mim o poder de Cristo, porquanto quando me sinto fraco é então que sou forte."

A partir desse momento o Pe. Harold assumiu a direção do Encontro, procurando conduzí-lo para um novo Pentecostes.

Este sacerdote que trabalha entre os jovens do Brasil todo para uma renovação carismática da Igreja, se inspirou no livro "A cruz e o punhal" do Rev. David Willem, pastor protestante, o qual abre os olhos dos católicos sobre a ação do Espírito Santo à qual nós não damos o devido valor.

O Encontro tornou-se assim diferente, visando sobretudo a importância fundamental da verdadeira oração.

Depois de cada palestra sobre o "livro quente", como ele chamava a Sagrada Escritura, saíamos para a leitura a sós, du­rante 10 minutos, de um texto: era o "jardim"; em seguida reu­niam-se os cônjuges para uma troca de reflexões ou do "mel" extraído da leitura, e, por fim, reunidos em pequenos grupos, o "cenáculo", demonstrávamos nossos louvores e agradecimentos a Deus, dizendo o que recebemos durante a reflexão.

Foi uma experiência valiosa.

A noite, no plenário, houve reclamações de que se estava ensinando a orar, em lugar de aulas sobre a técnica de bem di­rigir um Setor ou uma Região.

30

Page 33: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

Porém, "Deus escreve direi to por linhas tortas" e a ação do Espírito Santo manifestou-se plenamente no dia seguinte, abrin­do os olhos de quantos duvidavam da sua eficácia.

E todos viram que, aprendendo a encontrar a Deus na ora­ção e a ouví-lo, a técnica e as soluções para os problemas virão por acréscimo .

O DOM do Espírito Santo nos dá a força que não temos. Quando entendermos que o nosso trabalho deve ser o DELE, tudo irá bem.

Chegou-se então a testemunhos edificantes e belíssimas con­clusões:

Se não orarmos e ouvirmos a voz de Deus na meditação e não nos colocarmos sob a ação do Espírito Santo, a melhor or­ganização humana será falha.

A nossa meta é sobrenatural, mas Deus quer a nossa cola­boração.

Devemos procurar dentro de nossas limitações realizar as ma­ravilhas que o Pai espera de cada um de nós.

O nosso trabalho exige cada vez mais maior aprofundamen­to e intensa vida de oração, sem a qual não se consegue nada.

Maria Enid e José Buschenelli

• NOTfCIAS INTERNACIONAIS

Novas Equipes:

Bélgica - 2 França - 9 Itália- 2 Portugal 2 Suíça- 1

Novos Setores:

INGLATERRA: Cheltenham

U.S.A.: Boston

-31-

Page 34: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

ORAÇÃO PARA A PR.óXJMA R.EUN IÃO

MEDITAÇAO: São João (cap. 12, vers. 24-33)

"Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perde-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conserva-la-á para a vida eterna. Se alguém me quer servir, siga-me; e onde eu estiver, estará ali também o meu servo . Se alguém me serve, meu Pai o honrará".

"Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?. . . Pai, salva-me desta hora. . . Mas é exatamente para isso que vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome!" Nisso veio do céu uma voz: "Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo".

Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isto, dizia ter havido um trovão. Outros replicavam: "Um anjo falou-lhe". Jesus disse: "Essa voz não veio por mim, mas, sim, por vossa causa. Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo. E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim". Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer.

ORAÇAO LITúRGICA

Salmo 4

Antífona: Fazei brilhar sobre nós a luz da vossa face.

- Quando chamo por vós, respondei-me, ó Deus, minha justiça!

- Soubestes aliviar-me na angústia, tende piedade de mim, atendei à minha prece!

- Até quando, vós, filhos dos homens, tereis o coração fechado, amareis o que é vão, buscareis a mentira?

- Ficai sabendo que o Senhor a seu eleito favorece. O Senhor me ouvirá quando eu o invocar.

- Convertei-vos, não pequeis mais, durante vosso repouso, meditai e fazei silêncio.

- Apresentai sacrifícios sinceros e confiai no Senhor.

- Dizem muitos: "Quem nos dará a felicidade?" Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face!

-32-

Page 35: NC? 2 1973 - Equipes de Nossa Senhora · ascese são as duas faces de uma realidade. ... cupação, um esforço corajoso, leal, inteligente, metódico, perse ... é constituído da

EQUIPES NOTRE DAME

49 Rue de la Glaciêre

Paris XIII

EQUIPES DE NOSSA SENHORA

04530 - Rua Dr. Renato Paes de Barros, 33 - Tel. : 80-4850

- São Paulo. SP -