tipos e fontes. letter design. exemplar de prova de … · c onhecimentos amplos e trabalho muito...

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tipos & fontes Manual de Typeface Design, caligráfico e tipográfico, de Paulo Heitlinger. 2015 tipografos.net/ebooks

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tipos & fontesManual de Typeface Design, caligráfico e tipográfico, de Paulo Heitlinger. 2015

tipografos.net/ebooks

Como usar este e-bookEste documento digital proporciona um elevado grau de interactividade. O Índice de Temas permite saltar directa-mente para a página assi nalada. O Índi-ce Remissivo, no fim do livro, também. Um clique em «Temas» leva o leitor de volta à página 4. Clique em «Índice Re-missivo» para saltar até lá. Os links in-ternos – as referências cruzadas – tam-bém são interactivos. Os hyperlinks ex-teriores (URLs) activam o seu browser e abrem a página web em questão. Boa navegação!

Autor e paginação: Paulo Heitlinger.

Copyright © 2011-15 by Paulo Heitlinger.

Uma publicação da série e-books da tipografos.net.

Todos os direitos reservados para a língua

portuguesa e para todas as outras línguas.

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deste exemplar. Este exemplar pertence a

"Prova de Leitura".

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O >l< da fonte Eldorado da autoria de Dwiggins.

Conhecimentos amplos e trabalho muito metódico, experiências criativas, algum talento no desenho e muita atenção aos

detalhes são as virtudes essenciais para quem quer desenhar letras. Analise várias fontes e vai perceber que não são tão parecidas como supunha! Neste livro vai ver que muitas for-mas são derivadas da escrita à mão, a qual define os ritmos e proporções na Tipografia. Antes da Tipografia, sempre a Caligrafia!

Este livro, concebido como um manual práctico, cruzado com uma introdução histó-rica, abrange os seguintes temas: • Letras = riscos? • Evolução dos alfabetos fonéticos • Letras romanas: classificação sob aspectos

formais e funcionais. Tipometria básica. • Anatomia e estrutura das letras.

Proporções e relações mútuas. • Dos tipos de metal às fontes digitais:

semelhanças e diferenças. • Caligrafia: as formas produzidas por

cálamo ou pena de ave. • Alcançar legibilidade. Factores que

determinam as «formas típicas». • Desenhar letras com papel e lápis.

Exercícios práticos de construção de letras.

• Tipografia digital: glifos, fontes, famílias, formatos, cortes, estilos.

• Primeiros exercícios com pixel fonts digitais, realizados com o software online FontStruct. Pensar em módulos microtipográficos.

• Do esboço ao produto final: Produção sistemática de fontes digitais.

• Genealogia. Derivando as formas das letras com uma sequência racional de produção.

• Domínio da ferramenta de typeface design FontStudio para desenho vectorial.

• As particularidades do OpenType: incluir versaletes, algarismos antigos, Swash, ligaduras, etc. numa única fonte.

• O Tracing de scans. Depois da digitalização, preparação e posicionamento de gráficos vectoriais.

• Curvas Bézier. • Teste de fontes. • Sidebearings, Tracking, Pares de Kerning. • Ligaduras e formas contextuais. • Glossário da Terminologia tipográfica. • Os mais belos alfabetos. Uma selecção

das mais bem conseguidas criações tipográficas, de Gutenberg até hoje.

Manual de Letter Design, caligráfico e tipográfico

Intro

Intro / Temas / Temas / Registo / 4Procurar no texto: Ctrl+F

Temas

TemasIntro ......................................................................................3

Introdução ................................................................................................9

Prólogo ...............................................................................10Letras = riscos ........................................................................................ 11Escritas arcaicas: traçados simples ......................................................14Alfabeto fenício .....................................................................................18

Back to the roots: Gregas e Romanas ................................20As letras gregas ......................................................................................21A primeira letra global .........................................................................27Acentos fonéticos ..................................................................................31Uma primeira abordagem às formas das maiúsculas .......................33Pautas, as linhas auxiliares ..................................................................40Capitalis Monumentalis ......................................................................49Formas geométricas ..............................................................................54Formas sem serifas ................................................................................57Capitalis condensada ............................................................................59Letras largas ...........................................................................................64Rustica lapidar .......................................................................................65Cunhar letras .........................................................................................69

Renascença das Romanas ..................................................70A Caligrafia humanista ........................................................................71

Formas das Romanas ......................................................... 75Tipometria básica..................................................................................76Analisando as formas da Futura .........................................................77Anatomia das maiúsculas ....................................................................85

O tamanho da letra ...............................................................................95Proporções, em vez de medidas absolutas .........................................97Medidas tipográficas ............................................................................98

Do esqueleto ao corpo ..................................................... 101O peso da letra (weight) .....................................................................101Articulando diferentes pesos ............................................................105Grossura do traço afecta legibilidade ............................................... 112Desenhar no PC ..................................................................................1201º Exercício: letras de formas muito básicas ....................................121Papel e lápis (1) .....................................................................................127Exercícios com «pixel fonts» ...........................................................129Uma fonte elementar, mas não quadrada ........................................142O que são pixel fonts? ........................................................................ 144Do papel quadriculado ao computador ........................................... 152Uma óptima ferramenta para principiar ......................................... 153Um desenho simples, de pixel font, com BitFonter .......................160Variando proporções horizontais .....................................................161Pesos ópticos .......................................................................................162

Caligrafia .......................................................................... 165A importância da Caligrafia ..............................................................166As letras minúsculas ...........................................................................167Perceber as formas caligráficas ..........................................................170A pena faz a forma das letras .............................................................171Serifas e terminais ...............................................................................174Os ductos caligráficos .........................................................................179Ligaduras medievais .......................................................................... 200

Intro / Temas / Temas / Registo / 5Procurar no texto: Ctrl+F

Uma letra ligada: Bastarda de Lucas ................................................201Formas ornamentadas (Swash) ........................................................ 206

A modulação ................................................................... 208O contraste varia nas épocas e nos estilos ...................................... 209O método de iniciação Briem ........................................................... 211Letras moduladas, podem ser feitas com FontStruct ....................214

Análise em pormenor ...................................................... 215A parte de cima, a parte de baixo .....................................................216Percebendo as semelhanças e diferenças ..........................................217As proporções verticais ......................................................................220Altura do x ...........................................................................................221Abertura (overshoot) ..........................................................................223

Letras desenhadas à mão ................................................224O Lettering ..........................................................................................225Modelos para letreiristas ....................................................................230

Fontes bitmap e fontes vectoriais ................................... 253Preparando o desenho vectorial ........................................................254Relações e graus de parentesco entre as formas ..............................258A sequência de desenho das letras ................................................... 260Digitalização de imagens de letras, 1 ..............................................263Digitalização de imagens de letras, 2 ..............................................267Muita ou pouca História? ..................................................................270Ikarus e a primeira fonte digital .......................................................274O milagroso OpenType .....................................................................275Outline fonts .......................................................................................279Edição digital de fontes ......................................................................280O programa FontLab .........................................................................282

Desenhando com curvas Bézier ........................................................283Pontos nas extremidades ....................................................................288Combinando formas microtipográficas ..........................................289

Espaços ............................................................................ 290Métrica das letras ................................................................................291Letras, o seu ritmo ..............................................................................293Teste do espaçamento das maiúsculas .............................................294OpenType features no Fontlab .........................................................297Ligaduras ..............................................................................................298Construir ligaduras ............................................................................299Kerning, correcção óptica aos pares .................................................301Teste dos pares de kerning .................................................................304Corte itálico de uma fonte .................................................................306Algarismos normais, e antigos ..........................................................309Caractéres acentuados, diacríticos ................................................... 311Pontuação e sinais ............................................................................... 316Scripting no FontLab .........................................................................317Tabelas de substituição contextual ..................................................317Teoria da Interpolação .......................................................................317Hinting ................................................................................................. 318

Web-fonts .........................................................................320Fontes em páginas web .......................................................................321

Clãs de fontes ...................................................................324Com e sem serifas................................................................................325A Corporate ASE de Weidemann ....................................................327ITC Legacy .......................................................................................... 331Rotis: o conceito ..................................................................................332

Intro / Temas / Temas / Registo / 6Procurar no texto: Ctrl+F

O clã de fontes Cholla ........................................................................ 335Officina de Spiekermann ...................................................................337Metapolator ......................................................................................... 339

Fontes Standard ...............................................................340A Carolina ............................................................................................341A Gill Sans na LNER .........................................................................345DIN na Alemanha .............................................................................. 350

Glossário ........................................................................... 355Terminologia da Tipografia .............................................................. 356

Bibliografia .......................................................................393O desenho de letras no século xx ....................................................394Livros sobre Tipografia, em português ............................................399

Mostruários ..................................................................... 404Os mais belos alfabetos ......................................................................405Baker, Arthur .................................................................................... 406Os alfabetos de Adrian Frutiger ...................................................... 407Lange, Günter Gerhard .................................................................... 409Frere-Jones, Tobias ..............................................................................411Pool, Albert-Jan ...................................................................................413Fournier, Pierre-Simon .....................................................................414Grandjean, Philippe ........................................................................... 415Heine, Frank ........................................................................................416Licko, Zuzana .....................................................................................417Schneidler, F.H. ...................................................................................418Lubalin, Herb .....................................................................................419Hudson, John ..................................................................................... 420Renner, Paul ........................................................................................421

Jenson, Nicolas ....................................................................................423Glaser, Milton (1929—) .....................................................................425Garamond, Claude (1490—1561) .....................................................426Gutenberg, Johannes (~1400—1468) ..............................................428Johnston, Ed ward ...............................................................................431Shinn, Nick .........................................................................................432Breitkopf, J. Gottlob ...........................................................................433Bodoni, Giambattista .........................................................................434Lipton, Richard ...................................................................................436Mardersteig, Giovanni ......................................................................437Mandel, Ladislas .................................................................................438Winkow, Carlos ..................................................................................439Fernandes, Valentim .......................................................................... 441Montalbano, James ............................................................................ 443Miedinger, Max .................................................................................. 444Ballmer, Théo .................................................................................... 447Wilke, Martin ................................................................................... 448Belwe, Georg ........................................................................................450Bernhard, Lucian ................................................................................452Bell, John .............................................................................................. 453Bill, Max ...............................................................................................454Brody, Neville ......................................................................................457Cassandre, A.M. .................................................................................463Briem, Gunnlaugur S.E. .................................................................. 464Cavazos, Rodrigo Xavier ...................................................................465Slimbach, Robert ................................................................................471Blake, James .........................................................................................473Crouwel, Wim ....................................................................................474Quay, David .........................................................................................475Rocha, Cláudio ....................................................................................476

Intro / Temas / Temas / Registo / 7Procurar no texto: Ctrl+F

Jamra, Mark .........................................................................................477Jannon, Jean .........................................................................................478Granjon, Robert ..................................................................................479Doesburg, Théo van ............................................................................481Caflisch, Max ......................................................................................482Unger, Gerard ..................................................................................... 484Bilak, Peter ...........................................................................................485Kobayashi, Akira ................................................................................488Krimpen, Jan van ...............................................................................489Unger, Johann Friedrich ...................................................................491VanderLans, Rudi ..............................................................................492Walbaum, Justus Erich ......................................................................493Weiß, Emil Rudolf ..............................................................................494Tschichold, Jan ...................................................................................502Porchez, Jean François .......................................................................504Parkinson, Jim ....................................................................................505Grimshaw, Phill .................................................................................506Meier, Hans Eduard ...........................................................................507Mendoza y Almeida, José (1926—) ..................................................508Middleton, Robert Hunter ..............................................................509Morison, Stanley .................................................................................510Garrett, Malcolm ................................................................................512Rossum, Just van ................................................................................. 513Van Blokland, Petr ..............................................................................514Groot, Lucas de ................................................................................... 515Noordzij, Peter Matthias ................................................................... 516Trump, Georg ......................................................................................517Moser, Kolo .......................................................................................... 518Novarese, Aldo ................................................................................... 519

Santos, Dino dos ................................................................................520Zapf, Hermann ..................................................................................522Morris, William ..................................................................................523Feliciano, Mário ................................................................................524Shepard, David R. ..............................................................................526Rogers, Bruce ......................................................................................527Weidemann, Kurt .............................................................................528

Calígrafos notáveis ..........................................................530Antonius de Bozollo ........................................................................... 531Niccolò Niccoli ....................................................................................532Leonhard Wagner ..............................................................................534Tagli ente ...............................................................................................536Os manuais dos mestres calígrafos ...................................................538Vincentino Arrighi ............................................................................ 540François Gryvel ...................................................................................542Palatino .................................................................................................543Bennardino Cataneo ......................................................................... 546Gerardus Mercator ..............................................................................547Manuel Barata ..................................................................................... 552Joachim Bendel ...................................................................................554Neudörffer, Johann ............................................................................. 556Stephan Brechtel, o Velho ................................................................. 558Wolfgang Fugger .................................................................................562Caspar Neff ..........................................................................................563Juan de Ycíar ........................................................................................566Giovan Francesco Cresci ...................................................................568Jean de Beauchesne .............................................................................571Francisco Lucas ................................................................................... 574Pedro Morante ....................................................................................577

Intro / Temas / Temas / Registo / 8Procurar no texto: Ctrl+F

Van de Velde I ......................................................................................582David Roelands ...................................................................................588Baldericus van den Horick ................................................................590Louis Barbedor ....................................................................................596René Potier le Jeune ............................................................................598Johann Hering .....................................................................................599Joris Hoefnagel ................................................................................... 604Martin Billingsley .............................................................................. 609Paulus Franck ......................................................................................612Edward Cocker ................................................................................... 615Roelas y Paz .......................................................................................... 616Manuel de Andrade ............................................................................ 618Johann Stäps ........................................................................................620George Bickham .................................................................................622George Bickham, Jr.............................................................................626Rogers Spencer ....................................................................................627Austin Palmer ......................................................................................628Charles Zaner ......................................................................................630Rudolf Koch ........................................................................................631Karlgeorg Hoefer ...............................................................................633Georg Trump ....................................................................................... 635Roger Excoffon ....................................................................................636Alfred Fairbank ..................................................................................638Gabriel Meave .....................................................................................641Brody Neuenschwander .....................................................................642Bibliografia geral da Caligrafia ........................................................ 646

Prazer de desenhar ..........................................................650Alfabetos primitivos .......................................................................... 660

Notas ................................................................................ 660O desenho de letras a partir do século xv ......................................661Dü rer inventa os gráficos vectoriais, 1525 .......................................665

Registo ............................................................................. 668O autor..................................................................................................678

Intro / Introdução / Temas / Registo / 9Procurar no texto: Ctrl+F

O que é um typeface designer?

Pública - Que nome se dá à sua profissão?

Resposta - A designação clássica seria

tipógrafo...

Mas o tipógrafo é, na realidade, quem compõe

as letras e eu faço-as, mais do que as compor...

Eu sou um designer de tipos de letras, de fontes

tipográficas, se quiser um inventor de fontes

tipográficas. Quando é preciso, é assim que me

apresento. Em inglês é mais fácil de responder:

«type designer».

Mário Feliciano (página 524), na sua entrevista

com a revista «Pública»

Introdução

Depois da Conferência Tipográfica de 2006, realizada pela AtypI em Lisboa, constatamos que o número de type-

face designers portugueses pouco mais que duplicou. Hoje (Janeiro, 2015), na secção «pro-fissionais» contamos os seguintes nomes: Joana Correia da Silva, Pedro Leal, Rui Abreu, Ricardo Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa, Hugo Cavalheiro d'Alte, Aprígio Morgado, Dino dos Santos e Mário Felicia no. Na catego-ria «teóricos», contamos Vitor Quelhas, Pedro Amado, Cláudio Ferreira, Carolina Ferreira e Jorge dos Reis Tavares. Com toda a modés-tia, incluo o meu nome em ambas as catego-rias. Somando tudo, tirando a prova dos nove, temos cerca de uma dúzia de «entendidos» em Typeface Design. Talvez quinze, se esqueci alguém.

Apesar de alguns colegas estarem a pra-ticar docência, parece que este número não irá aumentar substancialmente nos

próximos anos. Como estimular aqueles que querem conhecer (ou mesmo estudar a fundo) uma matéria destas? Publicar um manual tal-vez seja uma maneira adequada para fomen-tar o desenho de letras em Portugal e no Bra-sil, na Espanha e na América Latina. Mas esta-

mos conscientes que a grande maioria dos que se interessam por este manual não vão que-rer ser typeface designers profissionais. No entanto, a perspectiva de vender fontes é ten-tadora. A «era digital» mudou o modo como as fontes são distribuídas, com plataformas de distribuição que permitem que qualquer desig-ner – não importa se amador, ou especialista – disponibilize as suas fontes. Nos primeiros anos da Internet, os designers ainda consulta-vam enormes catálogos ou faziam o download de amostras. Hoje, todas as fontes são licen-ciadas online, seja no mini-shop pessoal dum designer ou nas galerias dos gigantes da indús-tria, como o FontShop. Canais de distribuição como o MyFonts abriram o mercado até para principiantes no Typeface Design.

Muitos gostam do desenho de letras pelo seu próprio valor, por ser uma prática estimulante e criativa, por pertencer

à tradição de um país que, no passado, nunca teve uma Cultura Tipográfica (não conhece-mos um único puncionista portu guês), mas onde sempre se destacaram exímios calígra-fos e desenhadores de letras. Continuemos os desenhos, com novo vigor. Paulo Heitlinger

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Prólogo

Prólogo / Letras = riscos / Temas / Registo / 11Procurar no texto: Ctrl+F

Letras = riscos

Numa primeira aproximação, todos os glifos dos alfabetos fonéticos representam grupos de riscos.Ao longo dos séculos, a grafia dos riscos aparece cada vez mais ordenada, regular e sistematizada. Mas as formas repetem-se: linhas direitas, diagonais, traços curvos, formas redondas, triangulares e quadradas. Assim surgem as letras.

Prólogo / Letras = riscos / Temas / Registo / 12Procurar no texto: Ctrl+F

Letras riscadas numa telha romana. Foto: ph.

Prólogo / Letras = riscos / Temas / Registo / 13Procurar no texto: Ctrl+F

Letras riscadas numa parede romana.

Prólogo / Escritas arcaicas: traçados simples / Temas / Registo / 14Procurar no texto: Ctrl+F

Escritas arcaicas: traçados simples

Alfabeto Linear B. Foto: BM. página 660-1400 ... -1200

Prólogo / Escritas arcaicas: traçados simples / Temas / Registo / 15Procurar no texto: Ctrl+F

A Estela da Abóbada, achada no sítio arqueológico de Gomes Aires, em Almodôvar (Alentejo, Portugal),

é uma das poucas pedras inscritas, com figuração. No centro, emoldurado pelas bandas com glifos da Escrita do Sudo-este, vemos um guerreiro armado, em pose agressiva. Esta estela documenta o primeiro sistema de escrita alfabética usado no território que hoje é Portugal.

Muitas das estelas inscritas com a Escrita do Sudoeste provêm do Algarve / Baixo Alentejo e foram data-das – aproximadamente –, a partir das necrópoles a elas associadas. As datas das estelas funerárias oscilam entre os séculos VII e V a.n.e. Portanto, repre-sentam um sistema de escrita anterior à invasão romana da Península Ibérica. Este sistema de escrita foi desenvol-vido completamente independente da influência romana, pois é um derivado directo do alfabeto fenício.

–600

Prólogo / Escritas arcaicas: traçados simples / Temas / Registo / 16Procurar no texto: Ctrl+F

Violentos riscos. Escrita do Sudoeste. Foto: ph.

Prólogo / Escritas arcaicas: traçados simples / Temas / Registo / 17Procurar no texto: Ctrl+F

B ronze de Cortono. Proveniência desconhecida. Sistema de escrita:

Signário ocidental. Esta escrita exprime a língua celtibérica. É uma adaptação directa da Escrita Ibérica Nororiental. Como a maior parte das outras escritas páleo-hispânicas, esta integra glifos que representam consoantes e vogais, como os alfabetos, e signos que representam sílabas, como os silabários. Foi utilizada nos séculos II e I a.n.E. no interior da Península ibérica (Guadalajara, Sória, Zaragoza). Escrevia-se quase sempre da esquerda para a direita.

–200

Prólogo / Alfabeto fenício / Temas / Registo / 18Procurar no texto: Ctrl+F

Alfabeto fenício

Alfabeto fenício, fonte digital.

Prólogo / Alfabeto fenício / Temas / Registo / 19Procurar no texto: Ctrl+F

Escrita fenícia Museu ao ar livre de Karatepe-Arslantas, Turquia. Karatepe, uma fortaleza dos Hititas, é uma estação arqueológica perto do rio Jeihan, na Turquia meridional, escavada entre 1946 e 1949. As escavações puseram a descoberto lajes de pedra com cenas de caça, navegação e também religiosas, e forneceram inscrições bilingues (fenício e hieróglifos hititas) — o que facilitou muito a tarefa de decifrar a escrita hitita. Mais imagens em www.hittitemonuments.com/karatepe.

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Back to the roots: Gregas e Romanas

Back to the roots: Gregas e Romanas / As letras gregas / Temas / Registo / 21Procurar no texto: Ctrl+F

Estela funerária paleocristã. Mértola, Baixo Guadiana, Alentejo, Portugal.Foto: ph.

As letras gregas

Back to the roots: Gregas e Romanas / As letras gregas / Temas / Registo / 22Procurar no texto: Ctrl+F

O alfabeto grego deriva duma variante dos alfabetos semí-ticos, introduzidos na Grécia

por mercadores fenícios. Dado que o alfa beto semítico não tinha glifos para as vogais, os Gregos adaptaram algumas letras fenícias para as repre-sentar. As primeiras vogais foram: alfa, épsilon, iota, ómicron, ipsilon.

Das variantes do alfabeto grego, as mais importantes eram a ociden-tal (calcídica) e a oriental (jónica). A versão usada em Atenas, o alfabeto jónico, foi o padrão de referência para a Grécia clássica. Atenas adop-tou em 403 a.n.e. a variante orien-tal, dando lugar a que pouco depois desaparecessem as demais formas existentes do alfabeto grego.

Já nesta época o grego se escrevia da esquerda para a direita. A prin-cípio, a maneira de o escrever era alternadamente da esquerda para a direita e da direita para a esquerda, de modo que se começava pelo lado em que se tinha concluído a linha anterior, invertendo todos os caractéres.

Texto referente à lei sagrada da Acrópole e do Hekatompedon.485 a.n.E. Museu Epigráfico, Atenas.

Back to the roots: Gregas e Romanas / As letras gregas / Temas / Registo / 23Procurar no texto: Ctrl+F

Letras gregas, arcaicas, simples, sem serifas

Antes de usarem um alfabeto fonético, os Gregos já emprega-vam o silabário micénico (chamado Linear B), um sistema de escrita esteve em uso entre os séculos xiv e xii a.n.E. O abe-

cedário grego é um alfabeto de origem fenícia. Foi usado a partir do século ix a.n.E. – o primeiro alfabeto utilizado para escrever uma língua indo-europeia.

Foi o primeiro alfabeto a integrar vogais, uma necessidade para a transcrição dos idiomas indoeuropeios. Os gregos adapta-ram alguns símbolos fenícios sem valor fonético em grego para

representar as vogais. Na fase arcaica tinha basicamente duas variantes: uma ociden-

tal (da qual provem o alfabeto etrusco e o romano) e outra oriental (da qual provêm o alfabeto jónico, que foi considerado o clássico, e o cirílico, o arménio, etc.).

Dos Gregos, o alfabeto passou para os Etruscos, cuja cultura foi o berço da cultura romana. Por sua vez, os Romanos em expansão ter-ritorial, conhecidos pelo seu à-vontade em assimilar os mais diversos elementos culturais estrangeiros (que classificavam de «bárbaros»), adaptaram o alfabeto grego / etrusco à sua língua e à sua fonética.

Na sua versão «clássica», o alfabeto grego integrava 24 letras, que eram escritas ou esculpidas sem serifas – com impressionante cla-reza, legibilidade e sobriedade. Hoje em dia, o alfabeto grego conti-nua ser utilizado no seu país de origem, mas também é empregue em todo o mundo nos âmbitos da Matemática e Física. Na Astronomia, o grego é usado na nomenclatura das estrelas. Uma bela prática.

Os espaçamentos equidistantes das letras conferem ao texto uma regularidade com grande estética. Decreto referente à fundação da colónia grega em Brea, na Trácia. Cerca de 445 a.n.E. Museu Epigráfico, Atenas.

Back to the roots: Gregas e Romanas / As letras gregas / Temas / Registo / 24Procurar no texto: Ctrl+F

Estela funerária paleocristã. Inscrita em grego. Núcleo visigótico dos museus de Mértola. Foto: ph.

Letras gregas, arcaicas, simples, sem serifas

Back to the roots: Gregas e Romanas / As letras gregas / Temas / Registo / 25Procurar no texto: Ctrl+F

A fonte Lithos Pro (aqui as maiúsculas), que tira partido das vantagens do formato OpenType, inclui caractéres

do alfabeto grego que possuem a elegância dos traçados simples dos alfabetos arcaicos. A fonte Lithos faz parte de um par de «tipos epigráficos» que a Adobe publicou no

programa Adobe Originals, em 1990. A typeface designer Carol Twombly (*1959) foi buscar a inspiração para esta sua Lithos a inscrições gregas. A epigrafia pela qual se interessou Twombly teve a sua expressão no século iv a.n.e: letras com traços uniformes, geométricos, formando textos alinhadas na horizontal e também

na vertical. A Lithos põe à nossa disposição maiúsculas lapidares, inspiradas nos al fa be tos gregos mais antigos – quando ainda não usavam serifas. Não deve ser usada em corpo abaixo de 18 pontos, e os espaçamentos deverão ser rectificados «a olho», aconselha a Adobe.

Back to the roots: Gregas e Romanas / As letras gregas / Temas / Registo / 26Procurar no texto: Ctrl+F

Α α, Β β, Γ γ, Δ δ, Ε ε,Ζ ζ, Η η, Θ θ, Ι ι, Κ κ,Λ λ, Μ μ, Ν ν, Ξ ξ, Ο ο, Π π, Ρ ρ, Σ σ ς, Τ τ,Υ υ, Φ φ, Χ χ, Ψ ψ, Ω ω

E ntre nós, as letras do alfabeto grego quase só são aplicadas em documentos de carácter científico

ou académico. Em cima: o alfabeto grego da Times New Roman.

Back to the roots: Gregas e Romanas / A primeira letra global / Temas / Registo / 27Procurar no texto: Ctrl+F

No século i a.n.E, finalizando uma lenta evolução percorrida ao longo de 700 anos, os Romanos usavam um alfabeto

versal muito seme lhante ao nosso, no qual faltavam apenas as letras J, V, W e Z.

Os Roma nos não só desen vol ve ram o «nosso» alfabeto, com os seus valores foné -ticos, mas tam bém a for ma das letras, a sua esté tica e até as suas relações recíprocas – os espaçamentos entre as letras que hoje se chamam tracking e kerning, assim como os melhoramentos ópticos designados por ligaduras.

No decorrer do século i a.n.E., as formas das letras em inscrições romanas alteraram--se radical e permanentemente. Substituindo as letras monolineares (hastes de grossura constante) começam a aparecer cada vez mais frequentemente formas com modulação, ou seja, com nítidas diferenças entre traços for-tes e finos.

Surgem letras serifadas, surge a Capita-lis. Esta mudança de padrão estético tem sido

justificada com mudanças nos suportes, pois passou a usar-se mármore em vez de pedras mais brandas. Mas também os Gregos, já quatro séculos antes, gravavam as suas letras sobre mármore, e faziam belas letras peque-nas, geométricas, sem serifa e monolineares.

O que provocou a grande mudança foi que a tradição caligráfica romana existente – arte de alta sofisti cação e qualidade –, pene-trou no universo das letras gravadas em pedra. William Richard Lethaby, o fundador da Central School of Arts and Crafts, formu-lou em 1912:

«Os caractéres romanos que hoje são as nossas letras – embora as suas primeiras formas nos tenham chegado apenas em versões grava-das em pedra – devem ter sido escritas com um pincel largo e duro, ou ferramenta comparável (flat, stiff brush, or some such tool).

A disposição de traços fortes e finos, e tam-bém o feitio exacto das formas curvas, foram produzidos por uma ferra menta manejada com gestos rápidos. Penso que as grandes inscrições monumentais foram desenhadas in situ por um mestre calígrafo, e em seguida cortadas na pedra por um gravador, sendo a gravação ape-nas a fixação do escrito.»

A primeira letra global

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Alfabeto latim arcaico, com letras de grossura constante e de traçado simples. Digitalização do autor.

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Poucos anos depois de Lethaby ter formu-lado estes comentários decisivos, foram des-cobertas as pinturas murais de Pompeia, que as cinzas do vulcão Vesúvio tinham conser-vado intactas. Aí se pode confirmar a exce-lente escrita rápida (rapid writing) da qual Lethaby falára.

Mas será importante fixar que o estu-dioso britânico falava das «grandes inscrições monumentais». Neste livro, falaremos des-tas, mas também de muitas outros estilos de letras romanas, que terão sido desenhados de outro modo, seguindo outros padrões esté-ticos e beneficiando de outros processos de execução.

O s Romanos usaram, quase sempre em paralelo, sete diferentes tipos de letra. I. A Capitalis Monumentalis era

eleita para figurar em epígrafes de pom-pa e circunstância, para celebrar datas importantes, conquistas, feitos militares, chefes políticos e divindades.

II. A Capitalis Quadrata, variante manuscrita da Capitalis lapidar, era usada para todos os documentos importantes, escritos com um cálamo sobre papiro. A poesia e a prosa literária escreviam-se com a Quadrata.

III. A Capitalis Quadrata condensada, que proporcionava economia de espaço.

IV. A Rustica, letra de ducto muito caligráfico, quase sempre condensada, também proporcionava economia de espaço; pintava-se em paredes, esculpia-se em pedra, gravava-se em metal (por exemplo, para escrever diplomæ militaris) e escrevia-se em documentos de papiro.

V. Para a grafia de documentos menos importantes, muitas vezes fei tos à pressa, riscava-se a Cursiva em tabuinhas de cera ou de madeira, usando um estilete

(stilus). Esta tinha as características de uma minúscula, com hastes ascendentes e descendentes.

VI. Para cunhar marcas e logótipos, usaram letras de formas simplificadas, geométricas, com pouca modulação na grossura das hastes, muitas vezes sem serifas, ou com serifas muito pequenas.

VII. Além disso, desenvolveram uma anotação taquigráfica.

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A expansão à escala mundial

No sistema político e colonial que foi o maior, o mais potente e o mais duradouro império da Antigui-dade, os Romanos impuseram a primeira letra glo-

bal. Nos vastos territórios ocupados durante séculos, as letras romanas substituíram quase todos os outros sis-temas de escrita autóctones (só o grego foi tolerado). Conhecemos, por exemplo, lápides em língua lusitana, mas grafada com letras latinas.

O alfabeto latino é utilizado para escrever a língua portuguesa, as línguas da Europa Ociden tal e Central. Através do latim falado pelos invasores, o alfabeto latino expandiu-se com o Impé rio romano. Na metade oriental do Império, incluindo a Grécia, a Ásia Menor, o Ponto e o Egipto, continuou-se a usar o grego como língua franca, mas o latim foi falado na metade ocidental do Império. As linguas românicas – castelhano, francês, provençal, cata-lão, português, galego e italiano – evoluíram do latim e continuaram a usar o alfabeto latino. O alfabeto latino disseminou-se entre os povos germânicos do Norte da Europa durante a propagação do Cristianismo. Na Idade Média, o alfabeto latino entrou em uso entre os polacos, checos, croatas, eslovenos e eslovacos, assim que estes adoptaram o Catolicismo; os eslavos orientais adoptaram em geral o Cristianismo Ortodoxo e o alfabeto cirílico.

As línguas bálticas (lituano e letão), assim como o fin-landês, o estoniano e o húngaro, também usam o alfa-beto latino. Com a colo ni zação ultramarina, os idiomas castelha no, português, inglês, francês e holandês dissemi-naram o alfabeto latino pelas Américas, Aus trá lia, partes da Ásia, África e Pacífico.

Back to the roots: Gregas e Romanas / A primeira letra global / Temas / Registo / 30Procurar no texto: Ctrl+FNos alfabetos fonEticos, cada

letra representa um som. Escrevemos

como falamos!

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a á à ã ä å ā ă ą ǻ æ ǽe è é ë ĕ ė ě ē ęi ì í î ï ī ĭ į ij j ĵo ò ó ô õ ö ō ŏ ő ø ǿ œu ù ú ũ ŭ ů ų ű ÿ ŷ ȳ c ç ć ĉ ċ č d ď đg ĝ ğ ģ ġ h ĥ ħ k ķl ľ ŀ ł n ń ņ ň ʼn ñr ŕ ŗ ř s ś ŝ ş š ſ ß t ţ ť ŧ w ŵ z ź ž ż ž

Acentos fonéticos

Muitos linguistas consideram o uso de glifos fonéticos (com ou sem diacríticos) o sistema mais funcio-

nal de escrita. No entanto, a maioria das línguas ocidentais que adoptaram o alfa-beto latino não são «foneticamente cor-rectas», já que o mesmo som pode ser representado por caractéres diferentes (C, Q e K, por exemplo) ou dois sons diferen-tes pelo mesmo caractére (i de ministro e i de ideia). Uma experiência frustrante para qualquer criança portuguesa que aprende inglês (ou vice-versa) é constatar que até às simples vogais são associadas sons diferen-tes. Estas ambiguidades diluem o aspecto racional do alfabeto latino.

Para atenuar este efeito, introduzi-ram-se mais diacríticos, acentos foné ticos que servem para alterar

a pronúncia de cer tas letras, consoante o idioma para o qual são empregues. •

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Zoologia dos diacríticos

A s extensões fonéticas mais comuns feitas ao alfabeto latino, para adaptar os fonemas usados

em diversas culturas e idiomas. Trata-se das extensões contidas nos alfabetos Latin A e Latin B.

Um diacrítico (do grego διακρητικός, que distingue) é um sinal gráfico que se coloca sobre, sob ou através de uma letra para alterar a sua fonética, isto é, o seu som, a sua pronúncia.

O s diacríticos mais conhecidos são: acento agudo; acento grave; acento circunflexo; trema (ou

dierésis); til; macron; visto; caron; bráquia, cedilha. A página mostra as maiúsculas. A fonte aqui usada para mostrar glifos com diacríticos é a Adobe Garamond Premier Pro.

A Á À Ã Ä Å Ā Ă Ą Ǻ Æ ǼE È É Ë Ĕ Ė Ě Ē ĘI Ì Í Î Ï Ī Ĭ Į IJ J ĴO Ò Ó Ô Õ Ö Ō Ŏ Ő Ø Ǿ ŒU Ù Ú Ũ Ŭ Ů Ų Ű Ÿ Ŷ Ȳ C Ç Ć Ĉ Ċ Č D Ď ĐG Ĝ Ğ Ģ Ġ H Ĥ Ħ K ĶL Ľ Ŀ Ł N Ń Ņ Ň N ÑR Ŕ Ŗ Ř S Ś Ŝ Ş Š SS T Ţ Ť Ŧ W Ŵ Z Ź Ž Ż Ž

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O alfabeto latino foi tomado dos Gregos e dos Etruscos. A primeira alteração que o alfabeto sofreu, foi a introdução do

G para diferenciar os sons G e K – uma ini-ciativa de Spurius Carvilius Ruga, um liberto que abriu a primeira escola de Gramática em Roma. Nesta época terá sido abandonado o Z dos Etruscos.

Quando a Républica Romana terminou, depois da conquista da Grécia (146 a.n.E.) as letras gregas Ypsilon e Zeta foram adiciona-das ao fim do alfabeto, em forma do Y e do Z – para que os Romanos pudessem escrever adequadamente nomes e palavras gregas.

No século ii a.n.E. ficou fixado o alfabeto de 23 letras, que se manteve sem gran-des alterações durante todo o Império.

A, B, C, D, E, F, G, H, I, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, V, X, Y, Z

O glifo V corresponde tanto ao som vocá-lico /u/ como ao consonântico /v/, do mesmo modo que o I representa os sons /i/ e /j/. Em nenhuma inscrição romana vemos as grafias U e J. Estas foram introduzidas no Renasci-mento para distinguir os valores vocálicos dos consonânticos.

Uma primeira abordagem às formas das maiúsculas

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A única tentativa séria de alargar o espec-tro fonético do alfabeto latino foi a ini-ciativa do imperador Claudio de intro-

duzir três novas letras: o C invertido (anti-sigma) para o som /PS/, um F invertido (digamma inversum) para representar o /Ü/, e meio H (sonus medius), para representar o /W/. Estas chamadas letras claudianas não sobreviveram o seu inventor.

Assim como os Gregos, os Romanos usa-ram letras para representar os números. Uma barra horizontal sobre a cifra servia para multiplicar por mil, e uma caixa para multi-plicar por cem mil.

Nas inscrições também identificamos sinais diacríticos. No latim escrito, o diacrítico denominado apex (plural:

apices) era um acento fonético com a forma semelhante ao nosso acento agudo ( ´ ); era colocado sobre as vogais que deviam ser pro-nunciadas longas. A forma deste acento pode variar, mesmo no contexto de uma só inscrição.

O sicilicus, com forma parecida ao nosso acento circumflexo, indica que a letra sobre a qual vai posto deve ser lida duas vezes.

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O s Romanos usaram a pontuação para separar as palavras – e para fins deco-rativos, no princípio ou fim da linha.

Esta pontuação era colocada a meia altura da linha • A forma de pontuação mais frequente-mente empregue era o triângulo com o vértice para baixo; com menos frequência aparecem os quadrados. No século i n.E. aparece a forma de folha • (hedera distinguens), e no século ii também se usa o círculo.

A s formas das letras romanas seguem sim a ortodoxia dum padrão praticado em todo o Império, mas também mostram parti-

cularidades regionais e expressão individual, variando segundo o ordinator encarregado de

traçar as letras sobre a lápide, para depois ser gravada a cinzel.

As letras eram primeiro pintadas sobre a pedra com um pincel mais ou menos largo, segurado diagonalmente. Este método de pré--traçar as formas antes de aplicar o cinzel explica as variações de grossura de traço das letras latinas, a partir da Era Imperial – como no «A» mostrado em baixo.

Se também explica a existência, assim como as formas específicas e os alinhamentos das serifas, tem sido um tema muito discutido, mas os especialistas não chegaram a conclusões definitivas.

Ligaduras romanas e as ligaduras da fonte digital Capitalis condensata.A M TRVAHRCO

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Note que as letras das inscrições lapidares apre-

sentavam um belo efeito tridimensional, obtido pela gravura na pedra, um corte que tinha necessariamente alguma profundidade. Assim, o aspecto das letras gravadas variava con soante o ângulo de incidência da luz do dia. Porém, quando se transportavam as letras para o gesso liso de uma parede ou para um per-gaminho (e mais tarde para o papel), perdia--se este maravilhoso efeito... Foto: ph.

Luz e sombra

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Um ângulo de ilumi-nação pouco comum põe em evidência o

esmerado cuidado posto no traçado das finíssimas serifas. Estas formas termi-nais tornáram-se um ele-mento distintivo das mais elegantes letras elabora-das por lapicidas romanos. Museu de la Romaniza-ción, Calahorra.

Serifas

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E volução das serifas romanas, segundo a pesquisa de J. Muess. Da esquerda para a direita: 250-150 a.n.e.; século II a.n.e.; século I a.n.e. Inicialmente, as Romanas gravavam-se

sem serifas, como os alfabetos lapidares gregos.

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Edward M. Catich

Nascido em 1906 (Stevensville, Montana) e falecido em 1979 (Davenport, Iowa), o padre norte-americano Catich tor-nou-se uma das mais consideradas personalidades no

mundo da Epigrafia e do Typeface Design. Docente, calígrafo, ilustrador e lapicida, Catich é especialmente lembrado pela aná-lise das letras romanas inscritas no pedestal da Coluna de Tra-jano, em Roma. A sua principal tese é que a Capitalis Monumen-talis da época augustina foi sempre pré-desenhada com um pincel largo, daí originando as formas características, a modulação do traço e as serifas. Começou como aprendiz do letrista (sign-wri-ter) Walter Heberling. Catich formou-se no St. Ambrose College (1931 – 1934) e recebeu o seu Masters em Arte na University of Iowa. Partiu para Roma em 1935 para estudar na Pontifical Grego-rian University for Holy Orders, onde também estudou Arqueolo-gia e Paleografia. Aí descobriu a sua vocação para estudar as letras romanas. Fundou o Departamento de Arte da St. Ambrose Uni-versity e aí fez docência durante 40 anos, até à sua morte em 1979.

Dos apontamentos de Catich: a letra M, pré-desenhada com uma trincha (em verde), pelo ordinator e depois esculpida na pedra pelo lapicida (em vermelho).

Gravadas em pedra, mas pré-escritas com pincel...

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L inhas auxiliares são essenciais para garantir um conjunto de letras de tamanho homogéneo.

Já os artífices romanos o sabiam, e para tal, riscavam na pedra dois tra-ços auxiliares para cada linha de texto: a linha de base (baseline, na Tipografia moderna), e a altura das maiúsculas. Em trabalhos de gra-vado realizados mais apressada-mente, esses traços não eram apa-gados ou disfarçados. Mais adiante, vamos constatar que os programas de edição de fontes digitais permi-tem definir linhas auxiliares, para o mesmo efeito. Foto: ph.

U]lpiae fil[iae] / [---]A mater. Roman Museum em Butchery Lane, Canterbury, Kent. Foto: Linda Spashett.

Pautas, as linhas auxiliares