mundo verne 3

Upload: fred-j

Post on 07-Apr-2018

226 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    1/22

    Jane

    Fevere

    2

    ISSN: 1996-7

    30000 lgu

    de viagem

    sem cor

    Por terras

    alems

    Mistrio na

    Transilvn

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    2/222

    Janeiro - Fevereiro 2008

    Ariel Prez

    Chega o terceiro nmero da re-vista, e com ele a sua entrada nabase de dados do registo de pu-blicaes seriadas mundiais, comos seus escritrios principais emParis (que casualidade, a terra dohomem a que se dedicam estaspginas!). importante esclarecerque se quis atrasar o processo dolanamento da revista (original-mente deveria ter sido nos primei-ros dias de Janeiro), am de deixara sua publicao o mais perto pos-svel de 8 de Fevereiro, dia em que

    completaro os 180 anos do nasci-mento do escritor das Viagens Ex-traordinrias.

    Nesse nmero analisa-se, numartigo, as razes que, a juzo do re-dactor, convergem, para que Ver-ne e a sua obra perdurem at hojedepois de tantos anos e seja lidouniversalmente, sendo o terceiroescritor mais traduzido em todo omundo.

    Quero agradecer aos dois no-vos colaboradores neste nmero:Brian Taves e Bernhard Krauth. Oprimeiro comprometeu-se, pelomenos, oi o que me ez saber,que posso contar com ele paraque se encarregue da seco decinema, e quem melhor poderiaser do que Taves, especialista noassunto e que escreveu um livrosobre o tema das verses cinema-togrcas das obras de Verne. O

    segundo, Bernhard, da Alemanha,uma excelente pessoa que colabo-

    rou enviando-me um texto sobrea relao do escritor com o seupas natal, e espero que no tenhasido a sua ltima colaborao. Emsuma, so sete os colaboradoresdas trs primeiras edies, e creioque uma cira interessante.

    No posso deixar passar que nonal de Fevereiro ir ser inaugura-do no site de Zvi HarEl uma novaopo para os vernianos em todoo mundo. Trata-se de uma revistaelectrnica sobre o escritor, quequalquer um poder colaborar

    enviando artigos que sero anali-sados por um comit editorial deluxo, onde estaro vrios dos maisimportantes estudiosos vernianosdo planeta. Esta opo constituirum valioso repositrio de inorma-o para os amantes do tema. Lon-ga vida para a Verniana!

    Como parte desta edio espe-cial de princpio de ano, o artigo deWilliam Butcher sobre os manus-critos de Hatteras ser publicadoseparadamente na sua orma com-pleta com as imagens originais eestar disponvel para leitura des-de o site em que esta revista oipublicada.

    Ns, os editores, desejamos atodos os leitores da Mundo Verne,um prspero ano novo, com novosxitos no plano prossional e pes-soal, muita sade e, sobretudo, odesejo e a vontade de se continuar

    verneando, por mais 180

    Nestenmero

    Universo verniano

    A

    o

    p

    in

    i

    o

    d

    o

    e

    d

    ito

    r

    O novo ano, novos desafos

    e os 180 anos do mestre...

    3A imagem... e semelhana

    4Uma viagem ao extraordinrio

    5 Mistrio naTransilvnia

    Terra Verne

    8

    Especial

    30000lguas de

    viagem sem cor

    Cartas gaulesas

    22

    20Pierre-Jean.Captulo 3Sem publicao prvia

    2008. Mundo Verne.Revista bimensal em castelhano e portugus sobre a vida e obra de Jules Verne.

    Edio e desenho: Ariel Prez.Comit editorial: Ariel Prez, Cristian A. Tello e Yaikel guila.

    Traduo portuguesa: Frederico Jcome e Carlos Patricio. Distribuio gratuita.Correio electrnico: [email protected].

    Internet: http://jgverne.cmact.com/Misc/Revista.htmReproduo gratuita permitida se se citar a onte.

    Por terrasalems

    As verdadeiras aventurasdo capito Hatteras (2)

    10

    18

    volta do mundo

    180 razes paracontinuar verneando 14

    No grande ecr

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    3/223

    Nmero 3

    Faleceram dois vernianos

    O ano 2007 no traz apenas am notcia da morte de Jean Ches-neaux, escritor de livros de estudosobre Jules, e de Stanord Luce. An-tes de terminar o ano, outros doisamosos vernianos aleceram: Ro-bert Pourvoyeur e Julien Gracq. .

    Pourvoyeur nascido em Bru-xelas, era doutorado em Direito,licenciado em Cincias Econmi-cas e ensinava Economia e DireitoInternacional na Universidade deAnvers. Era vice-presidente da So-ciedade Jules Verne com sede emParis e publicou numerosos artigossobre o escritor, principalmente osrelativos ao teatro. Foi o especialista

    que mais dominava este assunto deentre os manuscritos de Verne.

    Gracq, alecido aos 97 anos, porsua vez, oi um escritor que vene-rou Jules Verne e comeou a l-lodesde que tinha seis anos, segun-do conessou a Jean Paul Dekissh uns anos antes numa entrevistana Revue Jules Verne. Consideravaas Aventuras do capito Hatterascomo uma obra-mestra. Houve umJules Verne. Venero-o um pouco -lialmente. No apoio os que dizemmal dele, disse uma vez o prprioGracq.

    Viagem em 3D

    Journey 3D um remake cine-matogrco (em trs dimenses)de Viagem ao Centro da Terra. Umlme realizado por Eric Brevig, quetem como actores Brendan Frasier,Anita Brian e a nova atraco dos jovens cinlos: Josh Hutsherson.A sua estreia dever ser em 11 deJulho nos Estados Unidos e prova-velmente um ms mais tarde naEuropa.

    Selo sobre a visita a

    Portugal em circulao

    O selo que o nosso amigo e es-

    treito colaborador Frederico Jco-me elaborou, oi posto em circula-o. Comemora o 130 aniversrioda visita do autor das Viagens Ex-traordinrias a Portugal. Recorde-seque na edio passada da revista,Fred escreveu, no seu artigo, sobrea possibilidade da edio ocial porparte dos correios do seu pas.

    Lamentavelmente, a tirada oilimitada. Muito obrigado Fred porpensar na sua terra natal, e em Ver-

    ne e por azer com que o escritorseja conhecido e divulgado em ter-ritrio lusitano.

    Nova revista on line

    Neste 8 de Fevereiro, como par-Neste 8 de Fevereiro, como par-te das celebraes pelo 180 aniver-srio do nascimento de Jules Verne,surgir a Verniana, uma nova revistade acesso livre on-line, que estaralbergada no site de Zvi HarEl. Osautores que queiram enviar artigospodem az-lo livremente. O regu-lamento estipula que os idiomasociais da publicao sejam o ran-cs e o ingls. No caso de um artigoestar noutro idioma, o texto serenviado a especialistas vernianos,para que se possa traduzir o conte-do.Os artigos sero analisados por oitoespecialistas que incluem Jean-Mi-

    chel Margot, Volker Dehs, WilliamButcher, Daniel Compre, ArthurBruce Evans, Terry A. Harpold, Gar-mt de Vries e Walter James Miller. Oprprio Zvi ser o editor da revistaque ter a peculiaridade de publi-car os volumes anualmente. Os ar-tigos sero agregados ao volume medida que estiverem prontos eno nal do ano colocar-se-o dis-posio dos leitores num arquivoPDF para cil leitura e download. Arevista est colocada num sistemadenominado Open Journal Systems(OJS) e distribui-se livremente pelalicena GNU

    Colaboraram neste nmero

    J escreveu uns quarenta artigos sobre Verne,a maioria em rancs. Publicou, em 2006, JulesVerne: The denitive biography que recebeu cr-ticas muito avorveis. J colaborou com MichaelCrichton para vender 50 000 exemplares por ano.

    William [email protected]://home.netvigator.com/~wbutcher/

    Engenheiro peruano, mantm um site sobreVerne desde 2004. um dos vernianos maisactivos na Amrica-latina. J escreveu artigose traduziu vrios textos do escritor rancs.

    Cristian [email protected]://www.geocities.com/paginaverniana/ctd.htm

    Presidente da Sociedade Jules Verne na Ale-manha. Segundo a infuncia de Verne, nave-gou durante 14 anos em barcos mercantes ehoje continua no negcio como piloto de porto.Edita a revista Nautilus da sociedade alem.

    Bernhard [email protected]://www.bernhard-krauth.de

    Doutor em Estudos de cinema e Hist-ria Americana. Trabalha como arquivadorde lmes na Biblioteca do Congresso dosEstados Unidos. Foi co-autor de The Ju-les Verne Encyclopedia (Scarecrow, 1996).

    Brian [email protected]

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    4/224

    Janeiro - Fevereiro 2008

    Juntando a cincia e a antasia, a narrao de OCastelo dos Crpatos no antstica, mas sim ro-manesca, diz Verne no incio do seu relato. Nesta his-tria renem-se todos os elementos de uma aventu-ra antstica, onde a ignorncia e a credulidade doshabitantes de Werst na Transilvnia, permitem ao ba-ro de Gortz e ao seu el e cientco Oranik, planear,no castelo, um bem montado mistrio.

    Mas o enigmtico baro, dono de uma ortalezasupostamente encantada, encontrar no jovem con-de Franz de Tlek, no s um rival de amores, mastambm um ousado intruso disposto a desbarataras velhas lendas em torno do seu arruinado eudo.Assim, a aventura de Tlek e o seu criado Rotzko, con-

    verte-se numa viagem inicitica, pois o conde, en-louquecido depois da morte da Stilla, dever superaruma srie de provas obscuras e antigas para desco-brir a verdade no meio de um lugar estranho.

    Aectado pela prematura morte dos seus pais, oconde decide viajar por diversas cidades de Itlia,am de aliviar a sua dor. em Npoles que ca des-lumbrado pela beleza da cantora Stilla numa das suasvisitas ao teatro San Carlo. A repentina morte da artis-ta envolve-o numa depresso ainda maior, que o leva

    quase loucura. Este acontecimento e o abandonoda sua casa, posteriormente morte dos seus pais,tm laos estreitos que se repetem no conde comoecos, com tons e alturas dierentes, ou como refexos.Tlek no pode recuperar Stilla do lugar sombrio emque est; para ele apenas representa uma imagem danoite que subsiste no labirinto do pensamento, dodesejo e da lamentao.

    Dada a singularidade da personagem, alguns es-tudiosos pensam que o autor se inspirou em hist-rias mitolgicas da antiga Grcia para chamar Tlekao seu protagonista. Marc Soriano assegura que estenome deriva de Telmaco, lho de Ulisses e prottipode jovem iniciado. Lionel Dupuy, outro especialista,

    prope que Tlek representa em orma cirada Teseo,o heri que vence o temvel Minotauro do labirintode Creta construdo por Ddalo. Por isso, cr na pos-sibilidade de existir na obra o paralelismo: labirinto-castelo, Minotauro-baro de Gortz, Ariadne-Stilla eDdalo-Oranik. Teorias sugestivas que intentam de-terminar o perl do conde, a quem poderamos resu-mir como o homem decidido a ressuscitar e manterviva a memria da sua amada Stilla, ao preo da suasanidade

    Como se tivesse atado algum lao invisvel cantora, seguia-a em todas as representaesque o entusiasmo do pblico transormava em

    verdadeiros triunos.

    Por m estava naquele castelo em que Rodolode Gortz retinha Stilla, e sacricaria a sua vida

    para chegar at ela.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    5/225

    Nmero 3

    Cristian A. TelloMistrio na Transilvnia

    A presumida amante de VerneEm O Castelo dos Crpatos, ve-

    mos um Verne interessado em recu-perar o seu apogeu de anos ante-riores, pois ainda que as suas obrasapaream sucessivamente, a crticamostra-se indierente e silenciosa.Em 1889, o autor armava que olivro j estava pronto, mas aquelaobra peculiar, to dierente dos res-tos dos seus relatos, no coube naMagasin at Janeiro de 1892. De-volvo-lhe os originais dos Crpatos,anuncia-lhe o seu editor em Marodesse ano, ao mesmo tempo quelhe diz que as leu minuciosamente.

    Parece-me que no h nada nelasque os leitores da Magasin possamter estranhar e ui o mais reservadoe comedido possvel em torno darelao do protagonista e da can-tora.

    compreensvel que o lho deHetzel tenha cado perturbadocom o tom e o argumento e que daresultassem riscos comerciais, po-rm o prprio autor responde-lhenuma carta: Afige-me ver que emtodos os jornais ala-se de livros semqualquer interesse, apesar de usarem

    poucas linhas, e do que ns publica-mos, nada... O pblico no quer oslivros com que eu contava, Bombar-nac, Crpatos. para desanimar. certo que no se pode estar sempreem voga, eu sei. Digo-lhe, estou de-sanimado e, portanto, no termineia obra da minha vida, no acabei de

    pintar a Terra.

    Quem sabe se a pouca aceitaoda obra, se deveu ao inusual temaabordado pelo autor. No era co-mum em Verne criar um argumentobaseado em temas como a imorta-lidade, e por isso se atribui a elabo-rao da obra sua crise de melan-colia daqueles anos. Esta vontadede esconder a sua interioridade,refecte-se num seu relato, quando

    diz: H eridas que s terminamcom a morte.

    Uma destas eridas no cicatri-zadas no escritor, segundo algunsdos seus bigraos, oi originadapela morte em Dezembro de 1865,de uma suposta amante de vin-te anos. Estelle Hnin, esposa deum notrio de nome Duchesne, eoriunda de Asnires, a dama quepoderia ter inspirado na sedutorapersonagem de Stilla ( de notar aextrema similaridade de ambos osnomes), que tambm morreu emplena juventude. Esta a protago-nista ausente do livro e uma das

    personagens mais enigmticas eatraentes de toda a sua obra.

    Estes estudiosos pensam queVerne precipitou a mudana dasua amlia de Paris para Le Crotoy,na baa do Somme, em 1865, com anica inteno de permanecer jun-to a Estelle durante a sua agonia. Aaproximidade capital, a uma horade comboio (trem), permitia ao es-critor azer rpidas viagens de ida evolta que nem sempre aziam eliz a

    sua esposa, e com justa razo, poiscom o pretexto de que necessitavavisitar Hetzel, se reunia com a su-posta amante com quem tinha umaapaixonada relao secreta. A mor-te de Estelle Duchesne dAsniresproduziu em Verne uma depressoda qual nunca se recuperaria. Dao paralelismo entre o autor e a suapersonagem, ao no reconhecerambos a morte da sua amada.

    Na actualidade, o nome de Es-telle recuperou ora no mundoverniano e em 2006, o Boletim daSociedade Jules Verne publicouuma investigao, na qual revelaque uns meses antes da sua morte,Estelle deu luz uma lha chamadaMarie, que vinte anos depois se ca-saria, em 1886.

    Esta descoberta iniciou um novodebate sobre a paternidade de Ma-rie, pois como de se supor, h mui-tos que indicam Verne como o paida jovem.

    Caractersticas e estrutura da

    obra.O Castelo dos Crpatos oi pu-

    blicada em ascculos na MagasindEducation et de Rcration, de1 de Janeiro a 15 de Dezembro de1892, apesar de ter sido escrito trsanos antes, em 1889. uma dasobras menos conhecidas do autor,pois trata-se de uma obra antsticae romntica, saindo da sua conheci-da temtica cientca. Baseada em

    assuntos como as lendas, supersti-es, encantamentos e bruxarias,alguns crticos catalogaram-nacomo uma das melhores e mais ro-mnticas histrias vampricas daLiteratura.

    A obra divide-se em duas partessensivelmente parecidas; no de-correr dos sete primeiros captulosdescreve-se rapidamente a vida

    Provvel retrato de Estelle Hnin,mulher que tinha inspirado Verne paraa personagem de Stilla. Impresso

    original de uma oto de 1873 de FlixTournachon, Nadar

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    6/226

    Janeiro - Fevereiro 2008

    corrente da aldeia de Werst antes decomear com a narrao da ousadatentativa de Nic Deck e do Dr. Patakpara penetrar no castelo dos Crpa-tos. A partir do oitavo captulo, umnovo heri, Franz de Tlek, acompa-nhado com o seu criado Rotzko re-nova a aventura de Nic e prope-se

    a investigar os estranhos enmenosque ocorrem na orticao paracompreender o seu verdadeiro ca-rcter e reduzi-los realidade cien-tca.

    A segunda parte do livro pareceser apenas a repetio da primei-ra mas com um nvel de realidadedierente. Sem dvida, que a deta-lhada explicao tecnolgica az oautor possivelmente perder o eitioda obra, porm o seu objectivo era

    adaptar o conto gtico para conver-t-lo numa histria apropriada paramentes simples das amlias queliam a publicao de Hetzel. Mas nasmos de Verne, at o sobrenaturalpode inspirar modelos uturos. Estaobra tinha sido a mais inverosmilque tinha criado. O senhor do caste-lo est apaixonado por um antasma,uma cantora de pera, muito belaem vida, e inesquecvel na morte. A

    dierena dos contos de mistrio doseu admirado Poe, que Verne d aoseu relato uma surpreendente volta,numa soluo baseada na cincia eno no sobrenatural. A antasmag-rica cantora apenas um hologramacriado por uma mquina a partir doseu retrato, e a sua voz, um disco obti-do mediante gravaes onogrcas.Dadas estas caractersticas, pode-searmar que O Castelo dos Crpatosprevisse o primeiro lme com uma

    dcada de antecipao e o primeirolme sonoro com quarenta anos.

    Verne atravs das suas obras nos resumia as maravilhas da vida mo-derna da sua poca, como tambm asua prpria, e nesta obra de dezoi-to captulos (sem ttulos), que vem apergunta: Pode a tecnologia resolvero problema da morte? evidenteque se trata de uma iluso, mas o es-

    critor joga com a ideia de que a cin-cia pode devolver os entes queridosj mortos.

    O argumentoO Castelo dos Crpatos comea

    no teatro da pera de San Carlo deNpoles, onde Stilla, uma bela e ex-

    traordinria cantora, aclamada pelopblico e elogiada pela crtica, esta actuar pela ltima vez. Na obra, adeslumbrante Stilla conta com doisapaixonados admiradores. Um de-les, o poderoso Rodolo de Gortz, umenigmtico e assduo espectador ssuas actuaes, com meios sucien-tes para seguir a artista por todo omundo, a sua nica paixo, e que seacompanha do no menos miste-rioso Oranik, um inventor zarolhoe macilento que vive custa do seuamo. O outro, Franz de Tlek, um jo-vem conde proveniente da Romnia,que numa viagem por Npoles seenamora proundamente por Stilla elhe pede a sua mo em casamento.

    Assediada e ator-mentada pela perse-guio do baro deGortz, Stilla decideabandonar o palco

    no auge da sua car-reira, e aceita, por suavez, ser condessa deTlek. O rumor da suasada dos palcos es-palha-se rapidamen-te e a notcia provo-ca cime e dio aoconde, que chega areceber ameaas dasquais no d impor-tncia. No entanto,

    o deprimido barode Gortz assiste aoltimo espectculoda pera O Orlando,onde Stilla interpre-tar o papel de Ang-lica. No ltimo acto, acantora aterrorizadareconhece novamen-te o baro ora do

    palco, e enquanto entoa a ria nal,cai e morre em cena.

    A histria prossegue na distan-te Transilvnia, terra de bruxarias evampiros, onde o castelo dos Cr-patos se localiza no alto planalto deOrgall. Esta ortaleza em runas, ro-deada de sombrios mistrios segun-

    da a viva e ardente imaginao dapopulao da aldeia de Werst, vi-sitada por espritos de outro mundo,os antasmas dos antigos moradores,os senhores de Gortz. Apenas unsmeses depois da morte de Stilla, oshabitantes do local alam de umaa,imagens e de uma voz prodigiosaque surge do castelo supostamenteabandonado. Depois de numerosasdiscusses, os habitantes decidemdesvendar o mistrio. Assim, Nic

    Deck, um jovem guarda-forestal, e odoutor Patak, tentaro azer a proezade entrar no castelo, porm voltamatemorizados aldeia depois da suarustrada aventura.

    O conde de Tlek recupera-se na

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    7/227

    Nmero 3

    sua ptria e parte de viagem tursti-ca pelos arredores das suas posses, junto com o seu el criado Rotzko.Aps percorrer toda a regio, Transil-vnia, recolhendo inormaes sobreo baro de Gortz, e presumidamentedesaparecido havia algum tempo, oconde aproxima-se do castelo, e ali,

    assombrado, aparece-lhe Stilla como seu traje de Anglica, cantando OOrlando.

    Transtornado com a viso, segurode que a sua amada tinha ressusci-tado graas s artes do seu inimigo,crendo no seu poder, Franz sobe aocastelo essa mesma noite e ca per-

    plexo quando a ponte

    do castelo echadaantes que ele pudessevoltar povoao.

    Convencido de quea magia de Gortz tinhamantido o esprito deStilla prisioneiro no cas-telo, Tlek escapa doseu esconderijo e diri-ge-se s dependncias

    particulares do Baro. Ali encontra-o,

    imvel, sentado com uma caixa nassuas mos. Quando o ataca, a voz ea imagem de Stilla inundam a sala eGortz acorda, enquanto que o con-de cai, repetindo que a sua amadaest viva. O baro agarra numa acae ataca a imagem de Stilla, que separte em mil pedaos de cristal, pro-clamando que a voz da bela artista apenas sua

    Os personagens da obraStilla, 25 anos. Cantora por quem rivalizaram Franz de Tlek e o barode Gortz.Franz de Tlek, 27 anos. Conde de Krajowa, estado de Romnia.Rotzko. Soldado romano de 40 anos ao servio de Franz de Tlek.Rodolo de Gortz, 55 anos. Baro e proprietrio do castelo dos Cr-patos.

    Oranik. Inventor zarolho e macilento ao servio do Baro de Gortz.

    Nic Deck, 25 anos. Guarda-forestal.Patak, 45 anos. Pequeno e gordo mdico da povoao.Koltz, 55 anos. Juiz da aldeia de Werst.Miriota, 20 anos. Filha de Koltz e noiva de Nic Deck.Jons, 60 anos. Proprietrio judeu da taberna da povoao.Hermod, 50 anos. Mestre da escola da aldeia. Crente e divulgador dasantigas lendas da Transilvnia para os meninos.Frik. Velho comerciante-viajante judeu de bugigangas.

    Bibliograa

    Herbert Lottman. JulesVerne. Editorial Anagrama,Barcelona, 1998.Jean Roudant. Verne: unrevolucionario subterrneo.El castillo de los Crpatos.Editorial Paids, Buenos Aires,1968.Revista Selecciones. Julio

    Verne. El inventor del uturo.Junho, 2005.Volker Dehs. LhistoriquedEstelle. Frum Jules. Vernede Frdric Viron. Junho, 2007Wikipdia. El castillo de losCrpatos. http://es.wikipedia.org/wiki/El_castillo_de_los_C%C3%A1rpatos

    Ilustraes da obra

    O castelo dos Crpa-tos. esquerda, emcima, Nic Deck tratade entrar no castelo.Em baixo, direita,o momento em queFranz de Tlek cai

    perplexo em rente imagem de Stilla.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    8/228

    Janeiro - Fevereiro 2008

    Bernhard KrauthPor terras alems

    Para os melhores estudiosos ale-mes de Verne constitui uma prio-ridade, desde h muito tempo, co-nhecer qual a data em que o autorrancs ez a sua entrada na litera-tura do pas.

    A maioria deles pensa que a pri-meira traduo ou publicao deveter sido eita por Hartleben umaeditora de Viena , devido suacoleco de Verne ser a mais com-pleta e conhecida. Hartleben come-ou, em 1874, a publicar o escritor.Porm, descobriu-se que em 1866o Ungarisher Lloyd e o PesterLloyd, jornais hngaros que

    publicavam nessa poca emalemo, traduziram e imprimi-ram algumas obras de Jules.

    A pesquisa continuou edescobriu-se uma traduoalem de Cinco semanas embalo numa revista de 1863,de maneira que estamos a a-lar do mesmo ano em que sepublicou o original. Nenhumadata anterior a esta pode serpossvel.

    Contudo, por determina-das circunstncias no meperguntem como descobriu-se, em lngua alem, um textodo autor rancs anterior aesse ano e que estava dispon-vel desde h alguns anos.

    Tratava-se de uma pequena re-vista que publicou, em 1857, umtexto annimo titulado Die Lian-nenbrcke. Trata-se, nem mais, nem

    menos, do primeiro captulo e argu-mento bsico do conto Um Dramano Mxico, publicado em Museds amilles em 1851.

    As obras de Jules Verne conver-teram-se num grande xito na Ale-manha e oi assim que o seu nomeoi renomeado Julius Verne. Umgrande nmero de alemes pensouque o escritor era um novelista lo-

    cal. Este xito perdurou at pocada Primeira Guerra Mundial, ocor-rendo, logo depois um silncio quedurou vrios anos. A ressurreiodeu-se quando os lmes e as sriesde televiso chegaram ao cinema,e isto ocorreu volta da dcada desessenta do passado sculo. Passoa passo novas publicaes, escritaspor ele ou acerca da sua vida e obra,viram a luz. Aparecem tambm al-gumas novas tradues que che-garam nos anos sessenta e setenta,incluindo em 1894 a reimpresso

    de todas as realizadas anteriormen-te por Hartleben.

    Algumas novas biograas orampublicadas nos nais dos anos 70

    (quo ms devem ter sido) e nal-mente, na poca do centenrio damorte de Verne, az agora trs anos,outro avano trouxe novos livros aomercado.

    Desde os meados da dcadade 80, est activo Volker Dehs, umdos mais conhecidos estudiosos deVerne no mundo. Publicou uma pri-meira biograa em 1986, pequena

    mas com inormaes precisas, quepassou a ser desde esse momento,a primeira escrita em lngua alem(este livro oi impresso vinte anosdepois em espanhol, pela editoraEDAF, com traduo de A. V. Mar-tn).

    Em 2005, o prprio Volker re-gressou com uma volumosa bio-graa, da maior qualidade que temsido considerada como uma dasmelhores que j se escreveu. Umatraduo para o espanhol ou outralngua, constituiria, em qualquer

    caso, uma vantagem para ampliar oconhecimento sobre ele em todo omundo.

    Da srie das Viagens Extraor-

    dinrias todas as suas obras oramtraduzidas para alemo com a ex-cepo de O Caminho de Frana.No existem razes para justicar oacto de que o publico alemo noter lido esse texto. Diz-se que a obracontm muitos maus comentrioscontra os alemes (Jules Verne noera, precisamente, como a maioriados ranceses da sua poca, um

    Capa de um dos nmeros do Nautilus,boletim da Sociedade Jules Verne na Alemanha.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    9/229

    Nmero 3

    amigo da Alemanha). No obstante,ao ler Os 500 milhes da Begum ouCludio Bombarnac (ambas oramtraduzidas imediatamente) estes ar-gumentos parecem s-lo sem qual-quer explicao.

    A segunda obra que permanecesem traduo, at hoje, O Naragodo Cynthia, provavelmente devido aeste no pertencer srie.

    Pode-se armar, portanto, que setraduziram apenas as publicaes deHetzel, excepto alguns poucos textosque apareceram nos ltimos anoscomo a verso de A Caa ao Meteoro,Paris no sculo XX, O Tio Robinson econtos que oram publicados (muitosdeles) pela Sociedade alem.

    Em resumo, Verne ainda conhe-cido hoje na terra germnica, mascom o passar do tempo, mais devidoaos lmes que se zeram baseados

    nas suas obras do que pelos prprioslivros.

    A Sociedade Jules Verne, unda-da alguns anos atrs, reactivou-seem 2005, tem-me como presidente epode considerar-se como a represen-tao alem on-line e nas publicaesimpressas. No nosso jornal, o Nautilus,que sai duas vezes ao ano, escreve-sesobre actualidades e eventos, novas

    publicaes ou actos, imprimem-senovas tradues ou reimprimem-seas viagens que no oram publicadasdurante muito tempo, culminam-seresultados de investigao (como porexemplo, o meu trabalho pessoal so-bre as ilustraes de Hetzel, tambmdisponvel on-line), e discute-se so-bre a obra do autor. Trato de assistir aentrevistas em programas dos meiosde comunicao, de ser inormati-vo com os nossos membros e comqualquer outra pessoa interessada.O site da Sociedade multilingue ealgumas partes podem ser lidas emespanhol.

    Pode-se concluir que no existe,no nosso pas, um interesse to pro-undo sobre Verne e a sua vida. dointeresse geral em muitos aspectosconhecidos como as invenes daFico-Cientca ou algum interesse

    mais ou menos regional noutra or-ma, mas o detalhe e a investigaoprounda parece no existir no nossonmero reduzido de membros. Ostempos mudaram, a vida mais rpi-da e pouco a pouco menos pessoasprocuram a inormao especcadevido grande quantidade de in-ormao que fi hoje em dia

    Pgina de inicio do web site da Sociedade Jules Verne germnica.Contm inormao em vrios idiomas, entre eles espanhol.

    Publicaes alemsCinco semanas em balo

    A casa a vaporAventuras do capito Hatteras

    A galera Chancellor

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    10/2210

    Janeiro - Fevereiro 2008

    As verdadeiras aventuras do capito Hatteras (2)William Butcher

    Os preparativos do duelo

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    11/2211

    Nmero 3

    Desde que os dois combatentes ha-viam chegado ao iceberg, um atentoobservador teria podido ver o aun-damento gradual que se produzia de-baixo dos seus ps. Pelo calor relativoque o mar oerecia supercie, o ex-terior do bloco de gelo cedia poucoa pouco. Hatteras e Altamont no setinham dado conta, mas o mar mo-lhou os seus tornozelos e ao m dedois minutos, tinham gua at aos jo-elhos. [A] luta continuava e apesar desentirem que os seus ps perdiam oponto de apoio, prosseguiam sendoatingidos por uriosos golpes. Nemum nem outro queriam desistir.Em pouco tempo, as guas avana-ram at metade do corpo, e logo de-pois os seus corpos desaparecerammas ainda assim batalhavam.Por m, o mar engoliu-os. As suas ca-

    beas apareceram, por um instante,por cima da gua. Logo desaparece-ram sem terem emitido uma s ex-clamao, mas pela agitao do marpor encima de sus cabeas, podia-seperceber que ainda combatiam.Todavia, a chalupa, abandonada suasorte, [aastava-se] do lugar do com-bate e golpeou, por uma casualidadeprovidencial, num desses blocos degelo dispersados sobre a superciepolar.Johnson abriu os olhos, despertado

    pelo choque.As suas primeiras palavras oram: O capito! Altamont!Ao ouvi-lo, o doutor e Bell levanta-ram-se e compreenderam a situao.O doutor, alcanou com a luneta a ex-tenso lquida e reparou num pontoonde a gua deslumbrante girava emlargos crculos concntricos como volta de um objecto evidentemente[precipitado]. Ali -disseOs remos, rapidamente activados,

    zeram voltar a chalupa at ao lugarindicado e no momento em que o in-gls e o americano ainda combatiamquase suocados pela supercie domar, os seus companheiros agarra-ram-nos com ora e subiram-nos abordo. Ah! Desgraado! Desgraado! gri-tou o doutor.E algumas lgrimas vieram aos seusolhos. Hatteras e Altamont, separa-

    dos um do outro, lanaram olharesde dio. O doutor molhava as suasmos com as suas lgrimas, o seu co-rao transbordava. Todo o que a suaalma pereita lhe pode inspirar orampalavras amargas, [sem] censura, di-tas certamente com [sic] paixo. Mos-trou a vanidade das suas pretenses,da sua rivalidade, desse necessrioacordo agora corrompido entre oshomens abandonados e longe dosseus pases. As xxx, as lgrimas, ascarcias, as splicas. Tudo vinha docorao. Ah, vocs tambm! Meus pobresamigos! Bateram-se, mataram-se,por uma miservel questo de nacio-nalidade! E que interessa Inglaterrae Estados Unidos nisto tudo! Se sechegou ao Plo Norte, que importaquem o descobriu! Porque [questio-

    nar] assim [o pas] dos seres e dizer-se americano ou ingls se podemoscham-los homens!O doutor alou deste modo durante

    muito tempo, -lo xxx em puro dano.A euso da sua alma, xxxa esses se-res rudes, por assim dizer selvagens?Esses dois [adversrios] xxx as lgri-mas que arrancaram ao melhor doshomens? No se podia duvidar pelosolhares carregadas de dio que oscapites lanavam um ao outro.A noite passou com a ateno sobreeles (II XXII87-88XXIII).Nesse ponto, uma violenta tem-

    pestade declarou-se e, mais adiante,o captulo parece-se ao do texto im-presso, que, alm disso, j comeoua aparecer.

    Qual o eeito deste captulo e dainterveno eliminada de um golpee pancada?, a melhor parte retirada, j que as suas duas mil setecentaspalavras, no eliminadas, oram re-

    tiradas enquanto estavam no esta-do de provas da impresso, deciso,sem dvida, do editor. O corte in-

    A morte de Hatteras.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    12/2212

    Janeiro - Fevereiro 2008

    quo para o desenrolar da obra. O de-saparecimento deste crescente ultradramtico, mas um pouco cmico,atinge o sonho de Hatteras. Mais gra-ve a sua censura -digamos, por m,a palavra- que demove o tema darivalidade anglo-americana e, dessa

    maneira, desenlaa completamentea intriga. Altamont reduz-se buscahipcrita da passagem do noroes-te, j descoberto, segundo Verne,e que, em todo caso, est longe deconstituir um igual digno dos heri-cos projectos de Hatteras. A sobrevi-vncia do capito americano e o seudescobrimento debaixo da neve, noservem para nada mais, porque, paraencontrar o Porpoise, Hatteras temnecessidade de Altamont ou das co-ordenadas, mas no dos dois.

    Altamont no servir mais paraembelezar a rivalidade anglo-sax-nica, no ter importncia dentro dahistria e depois de todas as palavrasreescritas impostas, at sua disputacom Hatteras se diminuir ao pontoda insipidez.

    Verne seguramente lamentou o

    sacricio das to ascinantes cenas,to vivas, to indispensveis paraa intriga, urdidas desde o princpiocom tanta sutileza.

    O destino de HatterasContinuando a sua navegao, a

    expedio chega aos 89, descobrin-do uma ilha deserta no Plo Norte enela um vulco em plena actividade.Obstinado pela sua ideia de chegarao prprio ponto do Plo e apesardas cinzas que caam e do magmaque vertia, o capito continuou. Nes-ta comemorao impressionante dodestino de Hatteras, uma parte per-manece ainda indita1:

    Hatteras! Hatteras!

    [O doutor] viu ento o desgraadoavanar sobre uma supercie lan-ando-se no abismo, no meio daschamas, sem se preocupar com ospedaos de rocha que choviam suavolta. Duk seguia-o a dois passos, e oel animal parecia resistir vertigemque ameaava arrast-lo. Hatterasondeou a bandeira nacional que se

    1 O princpio do captulo XXVI.

    iluminou com estranhos refexos, eo undo vermelho aparecia negro naincandescente claridade.Hatteras agitava-a com uma mo ecom a outra mostrava o znite, o ploda esera celeste.De pronto, desapareceu. Um gritoterrvel dos seus companheiros che-gou at ao cimo do monte. Passouum quarto de minuto, parecia umsculo. Logo se viu o inortunadolanado pela exploso vulcnica atuma imensa altura, e a sua bandeiradespregava-se com o sopro da crate-ra.Logo, caiu no prprio vulco, dondeDuk, el at morte, se precipitoupara partilhar o seu tmulo.

    Captulo 276

    O regresso O Hans Christien xxx pintar o desespero que se apo-derou do doutor e dos seus quatrocompanheiros xxx capito, seu ami-go, vtima da sua tentativa, e doscompanheiros do desgraado Hat-teras que acabava de perecer diantedos seus olhos ao preo de xxx.Com a esperana de recuperar osrestos do inortunado, descerampela montanha e chegaram, logo das

    Fotocopia da pgina 107 do volume II onde se l o texto m dasaventuras do capito Hatteras.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    13/2213

    Nmero 3

    diculdades, sobre a ladeira sul. Pe-las encostas vulcnicas que se opu-nham, era impossvel chegar ao topoda cratera.Constatou-se que no havia rasto deHatteras, e que tinha encontrado amorte no xxx do vulco. A tumba eradigna de ele. O doutor xxx descen-deu e logo de trs horas de marchaos quatro sobreviventes desta gran-de companhia expedio encontra-ram-se na gruta (II XXV-XXVI 102-103XXVI-XXVII).O m de Hatteras coerente e

    de acordo com a sua personalida-de, porque os captulos precedentespreparam-no explicitamente. A suamorte representa, em particular, anica orma de alcanar o Plo ab-soluto, o propsito da sua vida e do

    sentido da obra.A sua loucura, na verso publica-da, proceder seguramente da suarustrao por no ter chegado, de-vido interveno do seu rival ame-ricano, ao ponto onde nalmente osmeridianos se encontram.

    As linhas nais so igualmentemuito belas:

    Alguns dias mais tarde, Altamontpartiu para os Estados Unidos depoisde ter recebido os slidos abraos

    dos seus companheiros de misria eglria. O doutor, Bell e Johnson re-gressaram a Liverpool onde os acla-maram [sic] pelo seu regresso depoisde crerem que j tivessem mortos hmuito tempo.Mas, esta gloria, o doutor reconhe-ceu-a sempre para todos aqueles quea merecem Na descrio da sua via-gem intitulada Os ingleses no PloNorte, publicado no ano seguintepela solicitude da Real SociedadeGeogrca, ez de John Hatteras e,

    igualmente, de John Franklin, comosendo as duas vitimas audazes daCincia e das lembranas da sua ex-pedio rctica, mas o mais indelveloi aquele do Monte Hatteras, ume-gando no horizonte, a tumba de umcapito ingls, localizada no Plo bo-real do mundo (II XXVI 107 XXVII).

    Efeitos da censuraOs espectros das cenas desapare-

    cidas continuam espreitando o livropublicado e seus membros antas-mas seguem escarpando at trans-ormar o relato.

    Na sua carta, Verne aceita eliminaro duelo porm, ainda cr que Hatte-

    ras ter sempre o direito de se matar.Portanto, no texto impresso, o suic-dio do quinto acto desapareceu.No prprio momento onde o capitose lana ao vulco, Altamont surgedo nada, contra toda verosimilitudee apanha-o (o que ao menos o repor-ta numa uno mnima na econo-mia global da obra) mas, devido aoseu racasso, o capito enlouquece.

    O descontentamento de Verne

    perante as obrigadas alteraes v-se em varias impossibilidades e in-coerncias nas verses publicadas: ocapito chega ilha a nado; uma pe-dra sepulcral continua sobre a ilha;Hatteras, de orma misteriosa, se au-senta durante o regresso e a reentra-da gloriosa na Gr-Bretanha. Nos ca-ptulos precedentes, os leitores com-preendem bem a inverosimilhanada posio declarada de Altamont,da razo que d de uma presena

    americana colonizadora to longeda ptria, da solido surpreendenteda explorao britnica. A obra queVerne prope tem a vantagem, de-cisiva, de estar bem ancorada na re-alidade geopoltica contempornea,visto que a partir de 1859, data emque se descobre os vestgios docu-mentais da tripulao perdida doFranklin, que a ateno se vira parao Plo e que os americanos tomama srio o Grande Norte e pensam, emcontornar a Amrica britnica.

    Podemos tambm lamentaramargamente as linhas onde Claw-bonny se condencia pela primeirae ultima vez, onde desoprime o seucorao, meio ingls, meio escocs,mas completamente rancs, ondedeclara uma losoa poltica excep-cional, onde Verne ataca o chauvinis-

    mo ambiente para se declarar, comuma modernidade assombrosa, umpacista convencido e cidado domundo. O que estava estabelecidode agora em adiante, em resumo, que uma grande parte do captulo IIXXI e da metade do II XXII da obra de-sejada por Verne est ausente de to-

    das as verses publicadas. Este texto,de algumas mil palavras, de que nun-ca se suspeitou a sua sobrevivncia, crucial. Representa, sem dvida, aexcluso mais importante exigidapor Hetzel pai de um texto que so-breviveu. igualmente um dos epi-sdios mais dramticos de todas asViagens Extraordinrias.

    Dado que os anglo-saxes no re-alizavam mais duelos, o empenho de

    Hetzel por suprimir o tema do dioanglo-americano, e sobretudo, a pr-pria cena do combate mortal sobre oiceberg, demonstra um sentido his-trico mais desenvolvido que o deVerne, porm o parecer comercial eliterrio do editor parece seriamentedeeituoso. Se se aceita a valorizaoda posteridade sobre o trabalho deHetzel, escritor, innitamente ine-rior ao de Verne, a sua sensibilidadeliterria tambm necessariamente

    menos desenvolvida.O seu desejo de encurtar partes da

    obra de um autor j estabelecido azpensar, de uma parte, numa questode zelo prossional e, da outra, umavontade de esconder, ao jovem leitor,as cenas de violncia, claramente vi-sveis, sem dvida, noutros escritoresdo seu grupo e at nos seus prpriosmanuscritos.

    Quaisquer que sejam as razes dasua incompreensvel reaco, o co-nhecimento do manuscrito transor-ma a nossa concepo de Hatteras.J no se pode ler a obra sem pensarconstantemente no que poderia edeveria ser, no que estava original-mente e na maneira em que podera-mos constituir o modelo, em termosde magnitude poltica e humana, dasobras seguintes

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    14/2214

    Janeiro - Fevereiro 2008

    180 razes para continuar verneandoAriel Prez

    Jules Verne em 1902 aos 74 anos

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    15/2215

    Nmero 3

    de Verne, conhecida at o momento,editada em dois volumes.

    Piero tambm teve o privilgiode ser o primeiro a encontrar, nosarquivos da amlia Hetzel, uma sriede documentos inditos que lana-ram, de orma imediata, novas luzese hipteses sobre a autenticidadedos ltimos romances escritas porVerne. Ele achou uma srie de cartasassinadas por Michel Verne dirigidasa Hetzel lho e as cpias das cartasde resposta deste ltimo. Alm disso,encontrou as cpias datilograadasde quase todas as novelas pstumasde Jules, que invariavelmente tinhamestampado, na capa, as palavras tex-to original. Segundo a explicaodada por della Riva, estas cpias

    devem ter sido eitas aps a mortede Verne por um copista que nemsempre compreendia a na caligraado autor e que, por conseguinte, dei-xava em branco as palavras que lhepareciam incompreensveis. O inves-tigador italiano no demorou muitoa perceber que estas cpias no cor-respondiam aos romances pstumostal como haviam sido publicados. Onmero de captulos era menor, al-tavam muitos personagens e o estiloera mais lento, cheio de numeraese digresses geogrcas e histricasmuito longas. Ao comparar estas c-pias com os manuscritos originaisapresentados por Jean-Jules Verne,Piero comprovou que ambos coinci-diam palavra por palavra.

    Esta descoberta rapidamente deulugar a uma srie de estudos e aointeresse cada vez maior pela inves-tigao verniana, que se mantm at

    os nossos dias.

    As publicaes peridicasNo h dvidas de que uma das

    ormas nas quais os investigadoresde todas as pocas tm podido ex-pressar seus critrios e os resultadosde suas pesquisas atravs das pu-blicaes peridicas, que comea-ram nos anos trinta do sculo pas-

    sado, quando se criou o Boletim daSociedade Jules Verne, que, ainda quetenha sido interrompido durante operodo da II Guerra Mundial, reini-ciou sua publicao a partir de 1966e se mantm at os nossos dias comoa principal onte de inormao nomundo sobre o escritor. publicadaquatro vezes por ano e em suas p-ginas tm aparecido, pela primeiravez, obras de teatro, contos, poemase outros textos inditos do escritorrancs. Assim mesmo, a Sociedade instituio, por certo, que tem re-cebido muitas crticas ultimamenteao ser considerada elitista tem pu-blicado muitos dos romances escri-tos originalmente por Jules ao nalde sua vida. Em que pese os ltimos

    comentrios, a Sociedade tem sidodurante mais de meio sculo a insti-tuio de reerncia sobre os textosdo gauls. A Revue Jules Verne, quese publica na Frana duas vezes porano, outra das publicaes peri-dicas divulgadoras da investigaoverniana. Cada nmero se dedica aum tema dierente e nela escrevemespecialistas de prestgio..

    Adems de estas dos publicacio-

    neslm dessas duas publicaes, semdvida, as mais importantes e dura-douras, existe outro grande nmerode revistas e boletins editados pelassociedades ou clubes existentes. DeVerniaan, da Sociedade Holandesa,Bilten da Crocia, Extraodinary Voya-ges, dos Estados Unidos, Nautilus,que compartilha seu nome no casode duas publicaes das Sociedadesda Polnia e Alemanha. Por ltimo,o mais recente da amlia, resta estaprpria publicao que surgiu emsetembro do ano passado, e que anica entre as mencionadas que sepublica de orma gratuita e em or-mato eletrnico. O uturo prximotrar uma nova opo tambm deacesso livre e disponvel pela Inter-

    net. Trata-se da Verniana, a revista deestudos albergada no website de ZviHarEl que comear seu unciona-mento em evereiro deste ano..

    O descobrimento dos manus-

    critos originaisDa mesma orma que o descobri-

    mento de Paris no Sculo XX e suaposterior publicao na Frana, em1984, provocou uma nova ideia do

    que se havia pensado sobre o autor,tambm o aparecimento dos ma-nuscritos originais de Verne levou aoutros estudos e mudanas de pen-samento.

    Primeiro oram os escritos ori-ginais das obras pstums de Julesque oram publicados durante asdcadas de oitenta e noventa. Maisrecentemente, a leitura dos manus-critos originais de muitos dos roman-ces de Verne, entre eles alguns dos

    mais lidos e amosos, sem a censurade Hetzel. Ainda restam por serempublicados estudos proundos so-bre o tema. Nestas mesmas pginasj se publicou um artigo de WilliamButcher que ala sobre as dierenassubstanciais entre o nal de Vernee o imposto por seu editor, no casode As Aventuras do Capito Hatte-ras. Da mesma orma, pode ser que

    Capa do livro onde sepublicaram vrias obras de teatro.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    16/2216

    Janeiro - Fevereiro 2008

    existam dierenas para vrios outrostextos.

    Obras de teatro, contos, car-

    tas, entrevistasDesde uns quinze anos atrs, at

    hoje, o corpus verniano tem-se enri-

    quecido de orma notvel com a pu-blicao de muitos livros com mate-rial biogrco e com novas obras deJules Verne que tm sido descober-tas. Primeiro oram os manuscritospublicados pela cidade de Nantesem tiragem limitada com um grandenmero de obras desconhecidas ataquele instante, que inclua obras deteatro e contos. Muitos desses textosteatrais oram publicados posterior-

    mente no Thtre indit (2005), umvolumoso livro de mais de mil pgi-nas. Em 1989, oi publicado o livroPosies indites, que incluiu a cpiados dois cadernos de poemas escri-tos pelo gauls principalmente emsua adolescncia.

    Outra importante srie de publi-caes para investigadores e leitoresde Verne surgiu no nal da dcada denoventa, com o livro de entrevistasde Jean-Michael e Daniel Compre

    em 1998. Um ano mais tarde, o pri-meiro de um conjunto de cinco volu-mes, at aqui, com a correspondn-cia indita de Jules Verne, primeirocom seu editor Jules Hetzel, depoiscom o lho deste e, para este quintovolume, a de Michel com Hetzel lho.A importncia desses documentos crucial. Constituem os livros de con-sultas mais importantes sobre a vidae a obra do autor, dada a ausncia deuma autobiograa.

    A atualidadeA partir do ressurgimento inves-

    tigativo da dcada de setenta, umnovo grupo de especialistas ormou-se entre os anos oitenta e noventa.Falamos de Jean-Michel Margot,William Butcher, Olivier Dumas,Volker Dehs, Jean-Paul Dekiss e ou-

    tros. Eles se encarregaram de levaro mundo da busca verniana ao seumximo esplendor.

    Com o passar dos anos tem-seconseguido dados que esclarecemdeterminados perodos obscuros;tem-se derrubado, de igual orma,antigos mitos; oram descartadas

    velhas teorias, e isso proporcionou apublicao de novas biograas comgrande atualidade e qualidade. Em2005, ano do centenrio da morte doautor, oram publicados mais de 50 li-vros sobre o tema, incluindo ensaios,estudos e biograas, entre elas a doalemo Volker Dehs, tida como umadas mais completas e que s estdisponvel em lngua alem. Nessemesmo ano, Jolle Dusseau escre-

    veu a biograa mais completa emrancs e no ano seguinte chegou ade William Butcher, que a apresentacomo a biograa denitiva, tam-bm com muitos dados atualizadose inormaes que se baseiam emnovas ontes de consulta que nuncaantes oram exploradas, principal-mente uma tese de mestrado inditade um pesquisador rancs.

    O prprio Butcher descobriu tam-bm os originais de Le Salonde 1857,

    uma crtica de arte escrita por Vernedurante a celebrao desse evento,naquele ano em Paris. O texto serpublicado proximamente em umaedio comentada que resultar,sem dvida, em leitura obrigatria.

    Por outro lado, nos pases de ln-gua inglesa, o nmero de traduesdas obras de Verne tem crescido nosltimos tempos, sobretudo por cau-sa do grande nmero de pssimaspublicaes editadas anteriormentenos Estados Unidos e na Inglaterra.Os novos tradutores tm se assegu-rado de que seus trabalhos sejam osmais is possveis aos originais deJules.

    Na rede das redesOs meios de comunicao muda-

    ram muito. Nessa aldeia global que

    vivemos, a Rede de redes tem apre-sentado novos conceitos e aproxi-mado o mundo. Duas pessoas, pormais distantes que estejam, podemcomunicar-se entre si sem maioresdiculdades usando a tecnologiaatual. A Internet no est dissociadado enmeno Verne. O primeiro site

    com seriedade que se criou a pro-psito do tema oi o do israelita ZviHarEl por volta de 1995 e se mantmainda como local de reerncia emmatria verniana. O site, que se podeler no idioma ingls, tem um rumde discusso que possui mais de du-zentos membros de vrios pases, etem entre suas caractersticas prin-cipais listar a bibliograa completado autor, uma pgina de perguntasmais reqentes, uma biblioteca vir-

    tual com mais de cem textos em setecategorias e outras opes para o vi-sitante.

    A este se seguiram outros, emrancs e em ingls. Um dos maioresentusiastas vernianos, o holandsGarmt de Vries criou tambm seuprprio site com elementos parti-culares que o identicam por si s.Tambm Andrew Nash, canadense,

    Capa de uma das biograasrecentes escritas sobre Verne

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    17/2217

    Nmero 3

    criou seu espao assim como DennisKytasaari e Jean-Alain Marquis, quepossui um excelentesite sobre as edi-es Hetzel. Mais recente a criaode um site de notcias por algumque se az chamar Passepartout, e narealidade ele honra seu nome, por-que realmente passa por todos os

    lugares, e recolhe inormaes paramostrar em seu blog. Ningum sabeonde ele obtm, mas a est para darnovidades aos vernianos a cada ma-nh, com um texto de um livro, umaimagem nunca antes vista ou umai n o r m a oque no se co-nhece.

    Em 2001,surge a pri-

    meira pginasobre Verneem espanholna rede, quese converteu,com o passardo tempo, nosite de reern-cia nesse idio-ma na Internet.Mencionadopor vrias pu-

    blicaes eincludo, pelosegundo anoconsecutivo,como reerncia na enciclopdia En-carta da Microsot, a pgina goza deboa sade e seguir trazendo inor-maes para os vernianos de lnguaespanhola. Dois anos depois, umperuano, Cristian Tello, criou seu pr-prio site em espanhol. Ostenta, emsuas pginas, a biograa mais com-pleta da rede, em espanhol, e vriostextos on line, assim como uma ex-tensa biblioteca de imagens. Cristian,que tambm colabora com a MundoVerne, segue desenvolvendo seu sitee aumentando o banco de dados.

    No idioma alemo existe uma p-gina muito bem documentada: a deAndreas Fehrmann. Outro colabora-

    dor desta revista, Frederico Jcome,tem seu site e blog sobre o autor emportugus. Enm, a globalizaopela Internet tem auxiliado para quese conhea Verne alm das ronteirasrancesas. Basta dizer que quase a to-talidade dos romances do autor estdisponvel on line (mais de cinqen-

    ta) de orma gratuita para ser lida eque a quantidade de inormao naInternet sobre o tema vem aumen-tando.

    ... e Verne?At aqui, alamos de alguns dos

    motivos que tm infuenciado natranscendncia do autor da srieconhecida como Viagens Extraordi-nrias, cento e oitenta anos depoisde seu nascimento, mas seria injustodeixar de lado o principal elementoimpulsionador: o prprio Jules Ver-ne. O escritor, com sua obra em si,tem conseguido perpetuar-se e ins-pirar as pesquisas e investigaesincessantes de pistas sobre perodosde sua vida. A aura de incgnitas e,ao mesmo tempo, de proeta que ro-deia sua gura tem motivado todasessas pessoas que hoje tratam de

    esquadrinhar os proundos segredosde um homem que no ez mais doque descrever a Terra com os meiosque tinha a seu alcance e com umpouco de imaginao.

    So suas viagens extraordinriaso smbolo de uma poca e seuautor um homem que, cada vez de

    orma mais evidente, mostra uma in-teressante dualidade ante o mundomoderno.

    Estamos na presena de um Ver-ne que claramente se divide em dois,que nada tem a ver um com o outro.

    Um um cone,o do escritor queevoca os submari-nos, as inovaestecnolgicas e as

    aventuras extraor-dinrias. o autordos escritos emque se baseiam osantsticos lmesque se produzemem Hollywood, o escritor que ali-menta a imagina-o popular e quecontinuar agra-dando aos que o

    lem e que bus-cam os elementosde Fico-Cient-ca em suas obras.

    Por outro lado, h um outro Verne,que o verdadeiro, o escritor da srieque o imortalizou, o homem, ele quese ergue como o criador da Cinciaromanceada no seio da Literaturarancesa. desse que nos ocupamosdia a dia com nossas investigaese dele que procuramos diundir asobras, completas, ntegras ou adap-tadas e traduzidas o mais elmentepossvel. Estes dois Verne ainda po-deriam ser conundidos anos atrs,porm j h algum tempo a dieren-a entre eles se az cada vez maior eassim ser com o passar do tempo,quem sabe por mais cento e oitentaanos

    Pgina de incio do site de Zvi HarEl

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    18/2218

    Janeiro - Fevereiro 2008

    30000 lguas de viagem sem corBrian Taves

    Poster que anuncia o lme.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    19/2219

    Nmero 3

    desconsoladamente, e o Nautilusacaba por chocar contra os restosda Atlntida. Certamente, nenhumlme anterior tinha oerecido umquadro to lastimoso do heri dasproundidades de Verne.

    No se trata que Lorenzo Lamas

    oerea mais como Aronnax ou Na-talie Stone como Conceil. Os actorestm pouca oportunidade aqui, sem

    dvida, devido ao roteiro e reali-zao de Gabriel Bologna, que pou-co alterna entre normais e extremosplanos. Se, pelo menos, a verso de2004 de Around the world in 80 daysou a de 2005 de Mysterious islandoe-receram alguns pontos de interesse

    ou discusso, o certo que 30000 le-agues under the sea tem, lamentavel-mente, poucas virtudes

    30000 lguas

    submarinas

    Ttulo original: 30000 leaguesunder the seaRealizao: Gabriel Bologna.

    ElencoLorenzo Lamas(Tenente decorveta Aronnax)Natalie Stone ... Capitoda corbeta RollinsSean Lawlor ... Capito NemoKim Little ... Especialista SustinDeclan Joyce ... Cooper

    Sinopse: Verso libre da obra20000 lguas submarinas deJules Verne.Roteiro: Eric Forsberg.Produo:Anthill Productions eThe Global Asylum.Distribuio: The Asylum.Msica original: David Raiklen.Pas: Estados Unidos.Idioma: InglsFormato: Em cores, com aspecto2,35:1.Gnero: Ficco-Cientca.Durao: 90 minutos (na versoDVD)

    Data de estreia: 9 de setembrode 2007 nos Estados Unidos.

    Cena do lme 30000 lguas submarinas ondese observam os protagonistas no Nautilus e com uniormes

    tpicos de uma era bem dierente que se desenrolam osacontecimentos da obra em que se baseou o lme.

    As verses cinematogrfcas de Vinte mil lguas submarinas

    A primeira verso cinematogrca desta obra de Verne chegou em 1905 pela realizao do norte-americanoWallace McCutcheon, em preto e branco, com somente 18 minutos de durao. Dois anos mais tarde, apesar deGeorges Mlis (o do Viagem Lua) ter titulado um lme com o mesmo nome do da obra, no est relacionadode orma alguma com o relato de Verne. Uma nova produo norte-americana de 1916 dos estdios Universalapareceu nos cinemas mais de dez anos depois da primeira. Tratava-se de uma verso livre da histria, dirigida

    por Stuart Paton. Aps vrias pardias animadas e alguns projectos no nalizados, produziu-se, em 1954, umlme com 122 minutos de lmagem- por parte dos estdios Disney. Dirigida por Richard Fleischer e com asactuaes de Kirk Douglas como Ned Land, James Mason no papel de capito Nemo, Paul Lukas como PierreAronnax e Peter Lorre como Conseil. Ganhou um scar pelos seus magncos eeitos especiais, e esta adaptaoda obra de Jules considerada como uma das melhores j eitas baseada nesse livro do escritor gauls. A partirdesse momento, a maioria das tentativas de levar a obra aos cinemas, sobretudo nas dcadas de setenta e oitenta,oram revertidos em sries televisivas com menos xito. A tentativa mais recente oi 30000 leagues under the seaproduzida para vdeo. Segundo o IMDB, existe um projecto de lme para o ano de 2010 baseado na histria deJules, de Nemo e do seu submarino.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    20/2220

    Janeiro - Fevereiro 2008

    Traduo: Estela dos Santos Abreu

    Pierre Jean - Captulo 3

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    21/2221

    Nmero 3

    ram ao hotel.Pierre-Jean ainda no se rezera

    da surpresa; como aquele homempodia conhecer to bem as diversascircunstncias de sua vida? Por quemotivo lhe havia alado da me? Porque Jeanne Renaud tinha um belotmulo sombreado de rvores? Queinteresse teria esse homem em liber-t-lo? De qualquer orma, aceitou debom grado o que lhe era oerecido eresolveu preparar tudo para ugir.

    Primeiro teve de comunicar aocompanheiro o que pretendia azer;coisa indispensvel, porque o eloque os prendia no podia ser rompi-do sem que os dois se dessem conta.Talvez Romain quisesse aproveitar a

    uga, o que diminuiria as possibilida-des de xito.

    O velho prisioneiro s tinha decumprir mais dezoito meses a erros.Por isso, Pierre-Jean o exortava a -car, mostrando que, por to pouco,no devia arriscar-se ao aumentoda pena; mas Romain, que pressen-tia dinheiro no m de tudo isso, noqueria dar-lhe ouvidos e recusava-se

    a seguir o raciocnio docompanheiro. No entan-to, quando Pierre-Jeanlhe acenou com milha-res de rancos que esta-riam espera do velhono momento em quesasse do crcere, este

    deixou de azer-se desurdo e prestou atenoao que dizia o rapaz. Adiculdade estava emacertar o modo de paga-mento; depois de muitaconversa, na qual Ro-main demonstrou totaldesprezo por promessase garantias de honradez,cou combinado comoadiantamento um pu-nhado de diamantes,que ele guardaria emlugar seguro; quanto aorestante, ava-se na le-aldade de Pierre-Jean,com o acrscimo de ju-

    ros taxa do dia.O rapaz comeou ento a pro-

    curar um modo de ugir. A questoera sair do porto sem ser percebido;precisava escapar dos olhares expe-

    rientes das sentinelas e dos carcerei-ros. Devia empregar a audcia ou aastcia? Talvez uma e outra! Quandochegasse aos povoados, antes quea polcia osse prevenida, seria ciloerecer dinheiro aos camponeses,e os interessados pela recompensaque a justia oerecia pelo evadidodecerto no resistiriam ao ascniode uma quantia mais polpuda.

    Pierre-Jean achou que a noite erao momento mais avorvel a seu pla-

    no; embora no osse condenado priso perptua, dormia, excepcio-nalmente, nas salas em vez de voltarpara o crcere futuante num dos ve-lhos navios; sair das salas era dicil, oimportante era nem chegar a entrar.Os ancoradouros praticamente de-sertos lhe oereciam alguma possi-bilidade, pois o nico modo de ugirdo arsenal era pelo mar. Chegando a

    terra, cabia a seu protetor indicar-lheo caminho.

    Disposto a conar no desconheci-do, resolveu esperar por suas suges-tes e, antes de tudo, saber se con-rmaria as promessas que em nomedele zera a Romain. Impaciente, otempo lhe parecia lento a passar.

    No dia seguinte, o marselhs veiodireto at ele.

    - E ento?- Est tudo arranjado, senhor, e

    com sua ajuda vai dar certo. - O quealta?

    - Prometi trs mil rancos a meuparceiro quando ele sair daqui.

    - Ele os ter. E que mais?- Ele no cona em promessas e

    pede uns diamantes como adianta-mento.

    O Sr. Bemardon vericou se noestava sendo observado e deixoucair seu alnete de gravata aos psdo velho, que deu sumio imediatona jia. Entregou tambm um saco aPierre-Jean.

    - A est - disse -, ouro e uma limabem temperada.

    - Obrigado, senhor. Aonde devochegar?

    - Perto de Notre-Dame-des-Mau-

    res2

    , no alto da montanha.- Combinado!- Quando vai ser?- Esta noite. E vou a nado.- Est certo. Procure chegar ao

    cabo do Garona3. L encontrar aroupa necessria. Coragem e pru-dncia!

    - E gratido - acrescentou Pierre-Jean.

    Os grilhetas voltaram ao traba-lho. O Sr. Bemardon, rio e impass-

    vel, examinou com grande minciaos trabalhos do arsenal e conversoumuito tempo com dois clebres ga-lerianos que o consideraram um ar-quilantropo

    2 Cerca de vinte quilmetros aleste de Toulon.3 Atual cabo de Carqueiranne,ponta leste da grande enseada de Tou-lon.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 3

    22/22

    Janeiro - Fevereiro 2008

    Duas cartas ao seu pai em 1848

    Pars, [quarta-eira] 6 de Dezembro de 1848

    Meu querido pai:Sinto que a serpente do cime invade lentamente,

    com o seu veneno, a minha alma! Estou com inveja deEdouard! Recebeu de Nantes, pelo menos, trs cartase eu apenas uma! H tantas pessoas que me poderoescrever! E eu as responderei!

    Em relao s calas negras que me alaste, meuquerido pai, tenho-as no corao e nunca as coloqueinas pernas.

    Foi Paul quem mandou e provou essas calas quan-do tratou a questo de que vinha a Paris. No me pediupara usar as calas negras, ainda que a necessidade seez sentir. Gostaria que estabelece-se a minha conta decada mes porque perco-me nela. Em qualquer caso,tenho necessidade de dinheiro antes do doce!

    Tenho agora uma paixo maldita! Estou no meio deuma privao mais aterradora de livros de literatura, etenho crispaes nervosas quando passo rente deuma livraria!

    No posso viver sem livros, impossvel! Irei-os pa-gar dos undos da caixa de aorros! Desta maneira, por16 r. 50 centavos, a edio Charpentier, que vale 25

    rancos e comprei as obras completas de Shakespea-re. um excelente negcio, porm pouca coisa. Oh!Se estivesses em Paris arias excelentes negcios! UmWalter Scott completo e bem encadernado, 32 volu-mes por 60 rancos! Um Scribe completo encadernado,

    24 volumes por 50 rancos! Todo isto admirvel e h

    mil por cada estilo.O Paul j oi? Noticias, necessito de notcias. Comovai a me? Que se az e que se ala em Nantes? Loucosnanteses partidrios de Cavaignac1 , que est admira-velmente instalado em Paris; todos os jornais concen-tram-se em Napoleo!

    No se sabe se haver problemas. Em qualquer casono me junto.

    Comprei sapatos de lustro. Amanh a senhora deBarrre ir me apresentar no sei onde. Em todo caso,conhecerei um jovem homem, amigo ntimo de VictorHugo; Qual homem jovem poder cumprir o mais an-

    siado dos meus sonhos! Estamos perdidos, nas altasconsideraes literrias do dia e temos passado revistaa uma parte das luzes actuais.

    O exame de Direito aproxima-se, para o ms deJaneiro, muito cansativo, mais aborrecido que dicil.

    Adeus, meu querido pai, te beijo de igual modocomo me, a todas as irms, boa ama, que pro-meteu escrever-me, aos tios, a toda a amlia e esperocartas em breve. No deixem de as ranquear... no meoenderei!!

    Teu lho que te quer, Jules Verne

    1 Louis-Eugne Cavaignac (15 de Outubro de 1802 -28 de Outubro de 1857). General rancs. Segundo lho deJean-Baptiste Cavaignac. Nasceu em Pars. Tomou parte narevoluco de 1848

    Traduo: Ariel Prez

    Paris, quinta-eira 3 de Agosto de 1848

    Meu querido pai:Recebi duas brancas e duas vermelhas - tendo

    portanto Oudot e Ducaurroy!! Vi que me correu melhordo que esperava dada a srie de proessores os quais,com o tempo, me oprimia. Parto para Provins esta tar-

    de com Charles, os detalhes esto prontos. Por m, omeu segundo ano elizmente terminou. Que seja assimtambm o terceiro.

    Teu lho que te abraa como tambm me e a toda aamlia. J. Verne

    Interessantes cartas de Agosto e Dezembro de 1848, onde Jules diz ao seu pai de como vai o seu curso deDireito, que sente a necessidade de ter mais comunicao com a amlia e onde antecipa que a sua paixopelos livros o envolve ao ponto de gastar uma grande parte da sua mesada em material para ler.