mundo verne 8

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    Nmero 8Novembro - Dezembro de 200

    Edio em portugus ISSN: 1996-7454

    A vida e obra de Jules Verne desde a ptica ibero-americana

    Verne e opovo Inca

    Disponvel em: http:// jgverne.cmact.com/Misc/MVActual.htm

    A obra deSecesso

    procurade... Verne

    EspeciOs mil olhos de Tarrieu

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    2/30Novembro - D ezembro De 2008

    Termina 2008 e impe-se azerum balano de matria verniana.

    Neste ano que est a terminar ce-lebramos o 180 aniversrio do nas-cimento do escritor a quem se dedi-

    cam estas pginas.Na minha opinio, o sucesso doano no que toca a Verne e ao seuuniverso oi, sem dvida, a publica-o em Setembro e Outubro de umarecompilao de artigos do escritorpara a exposio de Paris de 1857.

    Dois livros, duas maneiras de vero material, uma nica onte. Dessa

    orma podemos catalogar as duasverses que recebemos, primeiro deBill Butcher e depois de Volker Dehs.O livro sobre oSaln de 1857 apre-senta Verne numa nova aceta nuncaantes vista: crtico de arte.

    Por outro lado, o ATV Jules Verne,veculo da estao espacial interna-cional cumpriu a sua misso depoisde cinco meses no espao areo, le-vando no seu interior vrias ediesoriginais de Hetzel e um mapa docu desenhado pelo prprio Verne.

    Um novo lme baseado em Via-

    gem ao Centro da Terraestreou no

    Vero, com crticas avorveis, in-cluindo a de Brian Taves que oi pu-blicada nesta mesma revista.

    Em Fevereiro deste ano, lanou-se online, pelas comemoraes doseu aniversrio, a revista eletrnicaVerniana com uma publicao anuala partir de colaboraes da comuni-dade.

    O seu undador, Zvi HarEl, morreupoucos dias antes da sua sada para o

    ciberespao. A sua perda como a de

    outro verniano, Robert Pourvoyeur,constitui algo irreparvel desde oponto de vista humano e investiga-tivo.

    No nal do ano tambm apare-

    ceu, na Sua, o Espao Jules Verne,a que se dedicam algumas palavras,de orma especial, neste nmero darevista.

    A comunidade verniana na Inter-net cresce mais a cada dia e algunsentusiastas animam os runs darede cibernauta. Os exemplos so:Cristian no mundo hispnico, Frede-rico nos pases de lngua portuguesa.Sobretudo, satis az-me muito ao vera grande quantidade de jovens queestudam Verne.

    Mundo Verne echa o ano comuma nova seco. Alexandre Tarrieuaceitou, de orma muito amvel, pu-blicar na revista a sua seco,Os mil olhos de Tarrieu, que apareceu pelaprimeira vez em 2000, no nmero10 (pertencente ao segundo semes-tre desse prprio ano) da Revue JV ,que o Centro Internacional Jules Ver-ne edita. Trata-se de uma seco decuriosidades e temas interessantesrelativas ao cosmos vernianos e suacriao.

    Sem adiantar o nome nem o as-sunto, in ormo que Volker, numa en-trevista que se publica nesta edio,revelar o nome de um texto inditode Verne que ser, seguramente, gra-ti cante ler um dia.

    Mundo Vernee toda a sua comu-nidade deseja a todos um eliz m deano e um prspero 2009!

    O resumo de um ano de celebraes,viagens no grande ecr e crtica de arte

    2008. Mundo Verne.Revista bimestral em castelhano eportugus sobre a vida e obra do

    escritor rancs Jules Verne.

    Director e desenhador

    Ariel Prez.Conselho editorialAriel Prez

    Cristian A. TelloYaikel guila.

    Traduo portuguesaFrederico Jcome

    Carlos Patricio.Edmar Guirra

    Internethttp://jgverne.cmact.com/Misc/

    Revista.htmCorreo [email protected].

    Distribuio gratuita .

    Os artigos colocados expressamexclusivamente a opinio dos autores.

    permitido copiar, distribuir, mostrar e azertrabalhos derivados dos materiais que estonesta revista, sempre que se cite a onte deonde oi obtida, no se pode retirar materialpara produzir produtos com ns comerciaise se se zerem trabalhos derivados deve-secompartilh-los com esta mesma licena.Publica-se sob a licenaCreative Commons

    Universo verniano

    A imagem e semelhana

    Uma viagem ao extraordinrioA obra de Secesso

    Esboos ibero-amercianosVerne e o povo dos Incas

    In unciasLer Verne na escola

    Terra VerneA cincia na aventura lunar

    ala com... procura de... Verne

    Os mil olhos de Tarrieu

    Sem publicao prviaO cerco a Roma. Captulo 3

    Cartas gaulesasA Pierre, em outubro de 48

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    Sumrio

    Extrada do livro volta da Lua. A imagem ilus-tra o momento em que se resgatam os passa-geiros do voo lunar logo depois de ter chega-do a Terra. Uma bandeira ondulava sobre umaespcie de bia: o projtil, que havia regres-sado super cie depois de submergir at spro undezas do oceano.

    Sobre a imagem da capa

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    4/30Novembro - D ezembro De 2008

    valor desigual, mas cuja importnciadocumental no se questiona.

    apresentado tudo o que oi pu-blicado sobre Verne desde 1860 ataos nossos dias, o que permitiu aJean-Michel publicar anteriormente,em 1989, a Bibliographie documen-taire sur Jules Verne(Amiens:Centre

    de documentation Jules Verne, 334p.) que continua ainda a ser uma daserramentas mais preciosas para um

    investigador que se interesse pelavida e obra de Verne. A estas juntam-se numerosos trabalhos, jornais, re-vistas e outras publicaes (muitasdelas que j no se encontram) queserviram de documentao e inspi-rao a Verne para escrever as suashistrias.

    A Sua pode-se elicitar por pos-suir, a partir de agora, este imenso

    undo verniano que apenas temequivalncia nas colees de Amiens(o material recompilado da amliaCompre, no Centro Internacional de Amiens, desa ortunadamente inaces-svel na atualidade, e a antiga coleo

    de Piero Gondolo della Riva na Biblio-teca municipal) e Nantes (bibliotecae museu). Cada uma destas coleesconstitui um pequeno universo emsi mesmo, conservando, por sua vez,um carcter muito particular. Faz-seagora o inventrio, um imenso traba-lho que, sem dvida alguma, ir to-mar muito tempo, mas que ir bene-

    ciar e explorar todos esses tesouros,e que ser til para se azer uma ideia

    de tudo o que contm. Parece-meque um catlogo posto online seriamuito bem-vindo a este projeto quepassaria a ser internacional.

    Enquanto se espera, agradece-mos a Jean-Michel Margot pelo seugesto nico de generosidade e a to-dos os responsveis por terem reali-

    zado aquilo que, ao comeo, parecias uma vaga ideia.As atas do colquio a 5 de Outu-

    bro vo ser editadas em livro, ao quese adicionar um grupo de contribui-es dos amigos vernianos que Jean-Michel tem em todas as partes domundo o que constitui tambmuma viagem extraordinria cheia desucesso

    Outubro de 2008Maison dAilleurs

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    5/30Nmero 8

    Texar tinha trinta e cinco anos, era deestatura media, constituio vigorosa,

    adquirida por uma vida ao ar livree aventureira. A sua sionomia indicava

    um homem audaz e violento.

    H que uzilar o autor da matana deKissimmee.

    - Qual de vocs oi? - Eu!- responderam em unssono

    os dois irmos Texar .

    Quinze anos antes do Estado do Texas se rebelar contrao Mxico e ormar parte da Unio, dois meninos oramabandonados e educados pela caridade pblica. Igno-rava-se a que amlias pertenciam, e dos vinte aos trin-ta anos tinham vivido separados sem que se tivessemnotcias deles. Por vezes encontravam-se e exerciam oo cio de contrabandistas de escravos. O trabalho era ode transportar carregamentos de negros desde as cos-tas a ricanas aos estados do Sul. Foi ento que decidiramaproveitar-se das suas enormes parecenas, para realizardelitos donde saam livres utilizando sempre pretextosque se baseavam nas suas semelhanas sicas.

    Os Texar, personagens principais deNorte contra Sul ,tinham nascido numa cidade algures no Texas, e era da que derivava o seu nome. A origem espanhola da quedescendem no bem quali cada por Verne, que ao lon-go da sua produo inclui poucos personagens da ditanacionalidade. Os aventureiros gmeos chegam Flo-

    rida, atrados pela contnua luta eroz, sustentada pelosndios semnolas contra os americanos e a povoao dacidade, constituda na sua maioria por espanhis comoeles.

    Apenas a questo da escravido dividiu os EstadosUnidos em duas metades, Texar apresentou-se comoo mais decidido de ensor secessionista, aumentando aambio dos agitadores leais sua causa, empurrando-os para o roubo, o incndio e at o assassinato dos ha-bitantes ou colonos que partilhavam as ideias do Norte.Esta ideologia converte-o no inimigo do abolicionistaJames Burbank, a quem tenta eliminar sistematicamentedurante o trama. O re gio que abrigava os Texar era um

    orte abandonado numa recndita lagoa: Enseada Ne-gra. Apenas Squamb, um ndio semnola aos seus servi-os, conhecia o segredo daquela existncia. Quando umse ausentava, o outro substitua-o nas suas unes.

    Todavia, a paixo da raternidade um elevado senti-mento que est at nos indivduos mais canalhas comoos Texar, que partilham uma solidariedade at morte.

    No momento da execuo em que um deles se dis-pe a morrer, surge um homem do bosque e, com umsalto, coloca-se a seu lado. o segundo Texar. A impres-

    sionante parecena con unde o o cial, pois apenas umdeles pode ser o culpado de uma matana de militaresederais.

    Algum acredita poder identi c-lo por uma tatua-gem que levava no brao, mas ambos mostram idnticastatuagens. Depois, quando o o cial pergunta: Qual devocs o autor da matana de Kissimmee?, os dois res-pondem em unssono eu. E caem uzilados, irmanadosna morte como o estiveram em vida

    Se ala de... os irmos Texar

    A imagem...e semelhana

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    Sobre o autor

    Os Estados Unidos de Am-rica apenas estavam uni-dos h pouco mais de oi-tenta anos quando a nao

    oi sacudida pela guerracivil.Os dois grupos que se

    en rentavam eram os Esta-dos do Norte, contra os re-cm ormados Estados Con-

    ederados, integrados portreze Estados do Sul quetinham proclamado a suaindependncia.

    Era na realidade a luta entre dois tiposde economias totalmente distintas, uma

    industrial-abolicionista por parte dos nor-tistas, e outra agrria-escravista por partedos sulistas.

    Esta guerra teve lugar entre 1861 e1865, com cinco anos de batalhas, com avitria para o exrcito do Norte, lideradopelo general Ulisses Grant e o presidenteAbraham Lincoln, rente aos regimentossulistas comandados pelo general RobertE. Lee.

    Cabe realar que a literatura in uen-ciou tambm o aumento da tenso entreo Norte e o Sul durante o perodo anteriorao da guerra civil, com a apario em 1852de, A cabana do tio Tom, obra da escritoraabolicionista Harriet Beecher Stowe, a qualcontribuiu para a divergncia poltica en-tre os Estados.

    Outro acontecimento que agudizou acrise, oi a rebelio de escravos organizadaem 1859 por John Brown, um amoso mr-tir cujos es oros por acabar com a escra-vido oram realados por Verne em vrias

    obras suas.Brown, o heri da libertao da raa ne-gra norte-americana, acabou en orcado nopatbulo, e podemos encontrar o seu retra-to colocado na galeria de pinturas do Nau-tilus, junto ao de Abraham Lincoln, comorepresentantes das causas libertrias pro-pugnadas pelo mtico capito Nemo.

    A guerra civil criou um marco na histriade Estados Unidos e no passou inadverti-da para Jules Verne, que sempre oi atrado

    pelos movimentos polticos e sociais dasua poca.

    Algumas das suas obras oram escritascom este tema como pano de undo. O in-

    cio de A ilha misteriosa, por exemplo, temcomo marco a Guerra de Secesso, quan-do cinco prisioneiros ogem de uma priso

    ederal em Richmond usando um balo,no momento que ocorria o con ito.

    O escritor tambm az re erncia aotema na Da Terra Lua. Ali ala-nos doGun-Club, um grupo de notveis artilheiros un-dado em Baltimore durante a guerra.

    Os membros deste singular clube, diri-gidos pelo seu presidente Impey Barbica-ne (o seu carcter e sionomia oi inspira

    do em Lincoln), depois de terminados oscombates, concebem o audaz projeto deviajar Lua utilizando um potente projtildisparado pelo Columbiad , um canho depropores gigantescas.

    Outra histria de Verne em que aparecea Guerra de Secesso a obraOs violado-res do bloqueio, que narra as complicaesde um barco comercial que tenta trocar oseu carregamento de armas por algodo,material escasso na Europa devido con-

    agrao norte-americana. A histria con-ta tambm a luta de uma jovem que tentasalvar o seu pai, um jornalista abolicionis-ta, da priso.

    Das obras citadas anteriormente, ne-nhuma desenvolve a Guerra de Secessocomo tema central. Em todas elas, o con i-to usado como ponto de partida ou mo-tivo do trama.

    No entanto, el ao seu estilo, Verne de-dicou uma obra completa, como era de seesperar, a esta con rontao blica.

    Sob o sugestivo ttulo de Norte contraSul , o autor apresenta-nos a dramticahistria de um campons anti-escravista,cuja azenda est localizada no Sul norte-americano e que roubada por um grupode bandidos liderados por um antigo con-trabandista de escravos, conhecido por terescapado impunemente de crimes ante-riores.

    Cristian TelloA obra de Secesso Com o decorrer da guerra civil norte-ameri-cana, Verne inspirou-se na luta entre o sul agrrio

    e o norte industrial para ambientar uma das suasobras menos conhecida.

    Uma viagem ao extraordinrio

    Inspirado na Guerrade Secesso, Verne escreveu

    vrios dos seus relatos.Norte contra Sul a

    obra dedicada integralmentea este acontecimiento.Nela, o autor evidenciaas suas simpatias pelacausa abolicionista.

    Engenheiro perua-no, mantm um sitesobre Verne desde2004. um dos ver-

    nianos mais ativosna Amrica-latina.J escreveu artigossobre o escritor quepublicou no seu site.Tambm j traduziuvrios textos indi-tos do escritor ran-cs para castelhano. dos undadores daMundo Verne.

    [email protected]

    Cristian AlexanderTello de la Cruz(Lima,Peru, 1977)

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    Estados Unidos: smboloda liberdade

    Verne, em toda a sua prol ca pro-duo literria, no perde a opor-tunidade de atacar a escravido eelogiar aqueles que lutaram pela suaabolio, mas a Guerra de Secessoque permite desenvolver, com maiorn ase, a sua simpatia pelos EstadosUnidos como uma terra de liberda-de. Para ele, a disputa entre ederaise con ederados, a guerra que temsido o triun o da justia e da lei. Oescritor junta-se ao lado dos norte-nhos, anti-escravistas, abolicionistase ederais e mostra-se contrrio sideias de endidas pelos sulistas, es-cravistas, secessionistas e con ede-rados.

    Aos olhos de Verne, os EstadosUnidos no s o pas da expansoeconmica do pas e do progresso, tambm uma terra de liberdade, vi-so que o vincula a outros grandesadmiradores ranceses da Amricado Norte dos meados do sculo XIX.Na sua opinio essa liberdade que

    undou o poderio da nao america-na, uma terra onde o aparato repres-sivo do Estado e as restries sociaisso menores. Sob esta perspectiva,

    a tradio da revoluo de 1848 naEuropa, democrtica e republicana, oque lhe az simpatizar com os povosque en rentam as monarquias impe-riais, e no a tradio sansimonianarepresentada nas suas obras pelassociedades per eitas baseadas notrabalho em conjunto, no progressoindustrial e na raternidade.

    Para criar Norte contraSul , o autor rancs no ezmais que recolher as ideiasdo seu meio social, j que nasegunda metade do sculoXIX, as sociedades industriaiseram anti-escravistas, masao mesmo tempo racistas.A imagem avorvel que se

    orma dos Estados Unidos, portanto, um resumo dassuas convices polticas.Este pas da liberdade, cujaevoluo ocorreu devido emancipao dos negros, oagrada e sintoniza com o seu espritoindividualista de discretas simpatiaslibertrias.

    Parece que a atitude contra aescravido daquela poca oi maispela degradao moral que repre-senta para os brancos apoiantes dosdireitos humanos, do que pela pr-pria condio servil dos negros. Osescravos e criados de cor so consi-derados como seres in eriores commentalidade de criana, por isso, noNorte contra Sul , os negros libertadospelo amo generoso que se preocu-pa pelo seu bem-estar, quebram asua cdula de libertao para podercontinuar a seu mando. Situao que

    se repete em A ilha misteriosa, quan-do Nab, um jovem criado negro aoservio de Cyrus Smith, que, depoisde ter sido declarado homem livrepelo bondoso engenheiro, decidepermanecer junto a ele desa andoos perigos de sua aventura, uma vezque sempre se sentiu tratado de igualpor igual pelos seus companheiros.

    A ideologia poltica de Ver-ne em torno da escravido mostrada em Norte contra Sul ,ao se re erir a James Burbank, oabolicionista dono da azendaCamdless Bay : Os seus negroseram-lhe absolutamente is,e ele esperava com grande im-pacincia, que as circunstnciaspermitissem a libertao deles.E noutra passagem a rma quelutar por esta causa, era com-bater pela libertao de umaraa humana e, em suma, pela

    liberdade. A sua caraterizao daguerra tambm re erida no roman-ce ao consider-la como uma guerralamentvel e gloriosa para sempre.Glorioso para o escritor, no sentidoem que acabou com a escravidodos negros americanos; ainda que averdadeira luta pelos seus direitos ci-vis tenha sido ganha um sculo maistarde, na dcada de 1960, enquantoque o Apartheid da rica do Sul seria totalmente abolido em 1991.

    Caractersticas e estrutura daobra

    Norte contra Sul , oi publicada emascculos naMagasin dEducation e

    de Rcration, de 1 de Dezembro de1887. Em Maio, aparece a primeiraparte em ormato de livro, e em in-cios de Novembro, o segundo volu-me. Em meados deste ms publica-se a verso completa em edio du-pla acompanhada das ilustraes deLeon Benett. A obra oi escrita entr1885 e 1886, poca em que Vernemani esta uma tendncia de escre-ver sobre temas polticos, pois em1887 tambm publica O caminho deFranae Gil Braltar .

    No surpreendente, ento, queo escritor se apresentasse s elei-es para conselheiro da cidade deAmiens, em 1888, atrado, segundoas suas palavras, pelo servio pbli-co e no pelos interesses polticosde qualquer partido. A sua gestocomo membro da comisso que tema seu cargo a educao, belas artes,museus, teatros e as estas, ser reco-

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    nhecida pelos cidados que o reele-geram por mais dois mandatos.

    Norte contra Sul tambm o livroque ajudou Verne a combater a de-presso. Foi o companheiro das se-manas e meses seguintes ao ataquedo seu sobrinho que o deixou semi-coxo, e ao alecimento da sua me edo seu editor Hetzel.

    Trata-se de uma ambiciosa sagado velho Sul norte-americano du-rante a Guerra de Secesso. A suahistria tem lugar na Florida e des-creve um nortista que possui escra-vos e que est espera do momentoem que possa libert-los. Na obra, oautor aproveita a oportunidade paradar largas aos sentimentos que a es-cravatura lhe inspira e sua no dis-simulada simpatia pela causa aboli-cionista.

    No entanto, necessrio apon-tar que Verne deixa entrever vriasmani estaes racistas em algumaspassagens da obra. No que diz res-peito aos escravos, um personagema avor da escravatura a rma queum negro deve ser parte integrantedo domnio com os mesmos ttulosdos animais ou das erramentas parao cultivo (...) um negro que no es-cravo vai contra a natureza.

    Texar, o contrabandista da obra, apresentado como o lder dos ho-mens mais detestveis da cidade. Operigoso mal eitor era um espanholde nascimento que no mentia a suaorigem. Entre os seguidores de Te-xar estavam tambm de um grupo

    de ndios semnolas, que, depois deterem sido derrotados e praticamen-te exterminados, se dedicavam a as-saltos e pilhagens de propriedadesprivadas.

    Norte contra Sul oi laureado pelaAcademia Francesa de Literaturapela sua contribuio educao e cultura. O seu argumento, dedicado

    inteiramente ao re etir do aconteci-mento mais importante da histriaamericana daquele sculo, poderiaresumir-se na advertncia j estipu-lada na sua obra Paris no sculo XX :Olhe para os americanos e para essaterrvel guerra de 1863

    O argumento

    No decorrer da guerra civil norte-americana, perto de Jacksonville, Flo-rida, reside James Burbank, que, em-bora vivendo no sul do pas, nasceuem Nova Jersey, um estado do Norte,e azia vinte anos que havia estabele-cido sua plantao conhecida comoCamdless Bay com a sua amlia.

    Dada a sua provenincia nortis-ta, era a avor da abolio da escra-vatura e esperava a interveno dastropas ederais na Florida a m delibertar os setecentos escravos que

    trabalhavam dentro dos seus do-mnios, situao que incomodava aseus vizinhos.

    Entre os rivais de James, destaca-se Texar, um antigo contrabandistade escravos de origem espanhola.H um tempo atrs, Texar e Burbank

    assistiram a um leilo de escravos eentre os dois disputaram Zermah,uma negra que Burbank queria comomadrasta para a sua jovem lha Dy.Finalmente Burbank compra Zermah juntamente o seu marido Mars. Almdisso, Texar havia sido expulso vriasvezes da sua propriedade, por ser umhomem de reputao suspeita. Da o

    rancor de Texar por Burbank e sua amlia.O espanhol era conhecido na Flo-

    rida por ter escapado impunementea muitos crimes, mediante libis ha-bilmente construdos. De ensor daescravatura, Texar procurava no meioda guerra, derrubar as autoridadesde Jacksonville.

    Uma vez proprietrio do conda-do, teria o campo livre para exerceras suas vinganas pessoais com aajuda dos seus amigos e dos vriosndios semnolas.

    Procurava vingana contra Bur-bank, pois era quase certo que o seu

    lho prestava servio no exrcito ederal.

    Os juzes, pressionados por Texar,ordenaram que Burbank compare-cesse perante o Palcio da Justia deJacksonville para que este respon-desse s graves acusaes que o in-

    dicam como simpatizante nortista eanti-escravista.Burbank reconhece a sua posio,

    e tambm admite que o seu lho a-zia parte da conspirao, pelo queresolve abolir a escravido dos seushomens, eito que nunca havia acon-

    As personagens da obraJames Burbank, 46 anos. Rico colono, proprietriode Camdless Bay , uma plantao de trs mil hec-tares.Gilbert Burbank, 24 anos. Filho de James ao servi-o do exrcito ederal pronto a atacar Florida.A senhora Burbank, esposa de James.Diana, Dy. Filha pequena de Burbank, 6 anos.Texar, 35 anos. Che e do partido avanado dos es-cravistas da Florida.Squamb, ndio semnola ao servio de Texar.Zermah, 31 anos. Negra escrava criada de James.Mars, 35 anos. Marido de Zermah e companheirode Gilbert no exrcito ederal.

    Edward Carrol, cunhado de James Burbank, encar-regado da contabilidade da plantao.Walter Stannard, vivo e amigo de James Burbank.Reside em Jacksonville.Alice Stannard, 19 anos. Filha de Walter e noiva deGilbert.Perry, administrador geral da plantao. Partid-rio da escravatura.Pigmalio, Pig, jovem negro escravo de 20 anos.Ridculo, vaidoso, preguioso, mas de quem, porbondade, os seus amos toleravam muitas coisas.O senhor Harvey, correspondente de James.John Bruce, empregado do senhor Harvey.

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    tecido em nenhum estado do sul.O urioso grupo, liderado em se-

    gredo por Texar, ataca Camdless Bay ,mas James junto com os seus escra-vos decide en rent-lo apesar da in-

    erioridade numrica e de armamen-to.

    No entanto, com a ajuda de umempregado do senhor Harvey, o cor-

    respondente de James que apenasteria de o in ormar, pode tirar Alice,a Sra. Burbank, Dy e Zermah, atra-vs de uma passagem secreta. Masem plena batalha ouvem-se tirosprovenientes das balas dos canhesde Jacksonville, sinal da chegada doexrcito ederal cidade e alerta paraa retirada dos bandidos.

    A plantao oi devastada e osnegros dispersos, enquanto que Dye Zermah so raptadas por Texarao tentarem escapar atravs do t-nel. Ambas so levadas pelo ndioSquamb, colaborador principal deTexar, para a Enseada Negra, umasombria e recndita lagoa que serviacomo re gio ao espanhol.

    Por outro lado, enquanto Bur-bank e Edward Carrol tentavam en-contrar Texar explorando as ilhas e asmargens do rio San Juan, sem xito,surgem subitamente Gilbert e Mars,

    que haviam abandonado a otilhaarriscando as suas vidas.A rota ederal no avanava por

    causa da alta de gua no rio, peloque Gilbert e Mars pretendiam re-gressar a ela antes do amanhecer.Mas no regresso ambos so desco-bertos pelos homens de Texar quelogo capturam Gilbert, e este, nopodendo negar as acusaes do es-panhol, condenado morte. O co-mit corrupto declara James, comotambm o seu lho, culpado, sendodetido e condenado tambm penade morte.

    Ao amanhecer do dia da execu-o, a rota ederal, graas subidaguas, aportou nalmente em rentede Jacksonville. Em poucos minutos,a milcia evacuou a cidade e Mars,que se acreditava ter-se a ogado, re-apareceu. Foi ento que os ex-juzesrecuperam a sua usurpada autorida-

    de, libertando o pai e o lho. No ata-que, Texar capturado, mas no ad-mite a autoria do sequestro da lha eempregada de James Burbank.

    Com todas as evidncias, organi-za-se uma expedio em busca deZermah e Dy.

    Durante a procura, Gilbert e Marsencontram o re gio do espanhol e

    l veem uma nota deixada por Zer-mah onde diz que oi Texar quemas sequestrou e as levou para a ilhaCarneral, localizada nos pantanososterrenos dos Everglades.

    Mais tarde eles encontraram ves-tgios de uma tropa que descia at osEverglades.

    Eram uns duzentos soldados nor-tistas que queriam vingar a mortedos vrios o ciais assassinados porum grupo de con ederados destina-dos a organizar o bloqueio do litoral.

    Tambm eles perseguiam Texar,que era o autor da emboscada rea-lizada alguns dias antes em Kissim-mee, um local situado a umas du-zentas milhas de onde mantinhamprisioneiras Zermah e Dy.

    Como possvel que Texar pudes-se estar em dois lugares ao mesmotempo? Pensava-se que o espanholno poderia ser o autor do atentado

    aos o ciais ederais, visto que se en-contrava na Enseada Negra.No entanto, Zermah pode reco-

    nhecer que duas pessoas alavamcom o mesmo tom de voz do outrolado da parede da sua cela. Haviadescoberto o seu segredo, tratava-sede dois irmos gmeos que utiliza-vam a sua extraordinria semelhan-a sica como um libi para encobrirseus muitos crimes! Portanto, por tervisto os irmos Texar, signi cava paraela a pena de morte.

    Perante a sua angustiante situa-o, Zermah tenta escapar da celaem que estava presa, e o consegueusando uma aca com a qual ura aparede. Num ato herico, durante asua uga, lana-se a um rio in estadode crocodilos a m de se escapar dasbalas disparadas por Texar e seus ho-mens. Quando as ugitivas estavamprestes a ser capturadas, providen-

    cialmente aparece o destacamentoederal que procurava Texar, ocorren-

    do deste modo a sua captura.No momento em que um dos Te-

    xar seria uzilado, o outro, conscienteda condio do primeiro, junta-se aele num ato de delidade. Ambos secon essavam pelas mortes dos ede-rais em Kissimmee.

    Com o objetivo de identi car overdadeiro Texar, Zermah argumen-ta que este tinha um brao tatuado,mas depois de inspecion-los, v-seque ambos o tinham. Os irmos deci-diram morrer juntos de mos dadas.Aps o incidente, todos voltaram aCamdless Bay e a plantao recupe-rou a normalidade. Os beligerantesainda lutaram mais trs anos. Em1863, Lincoln aboliu a escravaturaapesar de a guerra ter terminado em1865, quando o General Lee se ren-deu com todo o seu exrcito ao ge-neral Grant.

    Foram cinco anos de incansvelluta entre Norte e Sul, que matoumais de meio milho de homens,mas o supremo objetivo que moti-vou a guerra ganhou-se, ao ser aboli-da, de nitivamente, a escravatura naAmrica do Norte

    Bibliografa

    Verne, Jules . Norte contraSur.Editorial Aguilar, Madrid,1978.Chesneaux, Jean. Una lectura poltica de Julio Verne.SigloXXI Editores, 1973Navarro, Jess. Sueosde Ciencia. Universitat deValncia, Valencia, 2005Prez, Ariel. Los movimientos polticos y los ViajesExtraordinarios.On line,http://jgverne.cmact.com/Articulos/MPoliticos.htmWikipedia. Guerra Civil Estadounidense. On line,http://es.wikipedia.org/wiki/Guerra_Civil_Estadounidense

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    Cristian TelloVerne e o povo dos Incas

    No existe qualquer canto do planetaque no tenha sido alcanado de or-ma precursora pela imaginao rtilde Verne, um trabalhador que nodescansava e regular leitor de todasas publicaes cient cas e geogr-

    cas de seu tempo. E, como espera-do, a longnqua Amrica do Sul nopodia escapar de sua incomparvelsede de descoberta. Martin Paz , obrade 1852, uma curiosidade na suavasta produo literria: ambienta-seno Peru. Uma curta novela de juven-tude que corresponde poca desua iniciao como novelista, antes

    de ganhar o prestgio que lhe deram,mais adiante, seus livros uturistas.Mas no se pense que esta oi a

    nica vez em que Verne dirigiu seuolhar terra ancestral dos Incas, pois,como veremos, a sua relao com opas peruano muito maior do quese supe.

    A novela colonial

    Desde 1850, o jovem provincianoVerne, de 22 anos, ganhava sua vidaem Paris, escrevendo peas de teatrode pouca importncia. Em 1851, Ver-ne consegue que a revista Muse des

    amilles publique seu primeiro con-to, Os Primeiros Navios da MarinhaMexicana, a primeira histria escritasob a in uncia de seu bom amigoJacques Arago, cujo irmo Jean par-ticipou da guerra independncia doMxico, onde oi nomeado general

    do exrcito. Neste trabalho inicial,Verne j deixa transpareceralgumconhecimento da geogra a do Peru.Descreve que o vasto planalto deAnahuac uma sucesso de plan-cies, muito mais amplas e no menosmontonas que as do Peru e de NovaGranada.

    Naquela poca, Ignacio Merino, oilustre pintor peruano, retorna Eu-ropa e ganha seus maiores prmios,

    entre os quais, a Terceira Medalha deHonra na Exposio de Belas Artes emParis, com o seu belo quadroColom-bo diante dos sbios de Salamanca,obra conservada em Lima, adquiridapelo governo do presidente Balta.Segundo Chevalier-Pitre, diretor doMuse des amilles, Merino havia trazi-do do Peru um lbum de aquarelas eautorizou aos distribuidores da revis-ta a publicarreproduesdas melhorespinturas destacoleo indi-

    ta. As gravu-ras do Perudaquela po-ca serviramde inspiraoa Verne paraescrever umoutro conto.Desta vez, suahistria seriaambientadano Peru colonial. Portanto, o escritordocumentou-se mais sobre a histriae os costumes do pas e alou comtodos os turistas vindos de Lima comos quais teve acesso para recolher in-

    ormaes mais con veis, con ormeseu mtodo de trabalho. Desta or-ma, em meados de 1852, oMuse des

    amillespublicou Martin Paz , sua pri-meira obra narrativa, na qual colocouem cena os personagens coloniais

    criados por Ignacio Merino em suasaquarelas. No entanto, para a data desua publicao, parece que as in or-maes que Verne tinha sobre o Peruainda no eram muito slidas, pois oautor menciona que, em nossa p-tria, o sol se pe atrs das montanhasdos Andes, e que o mar de Chorrillosest in estado de tubares.

    Ambientado no incio da Rep-blica, em Lima, em 1830, durante o

    governo conturbado de AgostinhoGamarra (Gambarra na ortogra a deVerne), o relato enlaa uma intrigaamorosa com uma revolta de ndiosque explode no dia da esta popularde Amancaes.

    O jovem ndio Martin Paz, umdos mais corajosos descendentes deManco Capac, o lho do lder deum grupo de insurgncia indgena

    que prepara uma revoltapara tomar o poder. Nahistria, Martin se apaixo-na por Sara, uma bela mu-lher espanhola, prometida

    ao rico mestio Andr Cer-ta e, como se cr, lha deSamuel, um agiota judeu.Em uma de suas aes, Paz

    ere a Certa e oge e consegue encontrar re gio nacasa de um generoso mar-qus espanhol. Enquanto

    isso, seu pai inicia a revolta contralderes brancos.

    O pai de Sara a vende para AndrCerta e lhe revela que , na realidade,uma crist. Sara , na verdade, a lhado marqus espanhol.

    Acontece que, em anos anterio-res, o judeu Samuel tinha salvadoSara de um a ogamento, quando

    esta era uma criana e, desde ento,ele ez com que ela se passasse porsua lha, escondendo a sua verda-deira identidade. Apesar de Martinconseguir convencer Sara a ugircom ele, no o consegue ao ser presopelo marqus.

    Depois desse ato, Paz adere re-belio, mas quando tenta protegerSara dos ndios, seus irmos de raae seu prprio pai se viram contra ele.

    Verne, apaixonado pela geogra a, pelo mar e por viagens a pases distantes, se inspirou no Peru

    na sua histria e em seu povo para escrever vrios dseus textos. Aqui, um retrato da verdadeira relao

    entre Verne e da terra dos Incas.

    Esboos ibero-americanos

    Capa de Martin Paz, relatohistrico de Jules Verne,

    ambientado no Peru.

    Foi publicado em 1852.

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    Martin Paz morto quando tenta sal-var. Sara, que tambm morre, batizao ndio antes de seu ltimo suspiro.Samuel ca com o dinheiro pago aele e continua explorando com suausura os aristocratas da cidade deLima.

    Este argumento parece ser um ar-ti cio copiado de Romeu e Julieta, de

    Shakespeare, onde Verne utilizandoo pretexto de uma histria de amorentre dois lados em disputa, destacaos graves con itos inter-raciais doPeru colonial entre espanhis, ndiose mestios.

    O desconhecidohistoriador dos Incas

    O visionrio romancista tinha conhe-cimentos enciclopdicos dos quaisse serviu para descrever, ao longo dasua produo, diversas cultu-ras da humanidade. Suaconstante preocupaopela histria dos povosconquistados, az comque o autor rancsmencione algumas ve-zes o Imprio Inca que,como se sabe, oi colo-nizado pelo exrcito es-

    panhol. Ao azer um es-tudo de seus romances,encontraremos algu-mas aluses aos Incas eseus costumes.

    Em Vinte mil lguassubmarinas, a autornarra que, no undo dabaa de Vigo, o mtico Capito Nemoabastecia-se de suas necessidades ecarregava o submarino Nautilus comtodas as riquezas dos navios espa-nhis a undados l. Descreve quepara ele apenas tinha entregue Amrica seus metais preciosos. Eleera o nico herdeiro direto de to-dos os tesouros arrancados dos In-cas e vencidos por Hernan Cortez.Da mesma orma que, emOs lhosdo Capito Grant nos az menoao condor, este magn co pssaro,adorado em outros tempos pelos In-cas, rei das aves meridionais do sul,

    regies em que podem chegar a umextraordinrio desenvolvimento.

    No entanto, a re erncia maisimportante que Verne az dos Incaspode ser encontrada na Histria dasgrandes viagens e dos grandes viajan-tes, um trabalho de undo histrico egeogr co publicado entre os anosde 1878 e 1880, que custou ao autor

    muitos anos de estudo e investiga-o.Esta obra,

    pouco conhe-cida, descrevede orma bemresumida ahistria daconqu i s t ado Imp-rio Inca eas guerrascivis que sesucederam

    entre Pizarro eAlmagro.

    O livro servede vitrine paraexpor uma desuas muitas qua-lidades: a de his-toriador.

    Verne az,neste relato, uma

    crtica sistemtica a esta tirania eambio com que os espanhis in-vadiram Peru: Maldades das maishediondas e das mais odiosas eitaspelos espanhis na Amrica, ondese mancharam com todos os crimesimaginveis!.

    Enquanto que de Francisco Pizar-ro, disse que ele reconhece sua as-tcia e sua per dia, que so as maisnotveis caractersticas da sua perso-nalidade.

    Embora se mostre severo com osconquistadores, o autor expressa suainsatis ao com a rapidez que os in-

    cas oram derrotados, explicando queos conquistadores ibricos tiveram asorte ao seu lado, para tirar partidodas imbatveis condies em quechegaram ao Peru: No uma coisaestranha de perceber que, tanto noPeru como no Mxico, os espanhis

    oram avorecidos por circunstnciaabsolutamente excepcionais? (...) No

    Peru, a luta eroz entre os dois raternos inimigos impediu que ndiosvoltassem todas as suas orascontra os invasores, que po-deriam acilmente ter exter-minado.

    As Viagensextraordinrias ao Peru

    So muitos os livros em queVerne partilha o assunto Peruou peruanos, com importn-cia relativa. J em 1861, an-tes de alcanar a ama comas suas Viagens Extraordin-

    rias, Verne cita nosso pas comoum dos lugares que desejavavisitar. Trata-se deMisrias elizes de trs viajantes na Escandinvia, um romance escrito a

    partir de uma nota real de viagem.Na obra ele comenta: Cheguei a

    estar absolutamente de acordo comos grandes viajantes, cujos traba-lhos absorvia (...) tomavam posse emnome da Frana, das ilhas em queplantavam sua bandeira (...) Sempree por toda a parte rancs, quer ossem as Ilhas Labrador, Mxico, BrasiGuin, Congo, Groenlndia, Peru ouCali rnia.

    A jangada uma outra novela quese ambienta, em parte, em territrioperuano. Nela se recria uma viagemnuma espcie de balsa gigante atra-vs do lendrio rio Amazonas.

    Na travessia, que comea em Iqui-tos, Peru, e culmina em Belm, Brasilos personagens de Verne alternama contemplao das paragens poronde vo passando com a discus-so que consiste em demonstrar-sea inocncia de um acusado de ho-micdio mediante deci rao de umdocumento, alm de gerar a bordo,

    Limea e ndio peruano dapoca colonial.

    Gravuras de Igncio Merino.

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    simultaneamente, dois romnti-cos idlios. A obra , por outro lado,o meio utilizado pelo escritor paracon rmar que o Amazonas nasce nonosso pas: Hoje, no h dvida queo Amazonas nasce no Peru, no distri-to de Huaraco, intendncia de Tarma,e que parte do Lago Lauricocha (...)Alguns pretendem que este nasce na

    Bolvia, mas na verdade, esto o con-undindo com o Ucayali.Em seu popular romance Da Ter-

    ra Lua, o Peru mencionado tam-bm como um dos pases que apoia

    nanceiramente o extravagante pro- jeto dos membros do Gun-Club, queconcebem um plano de viagem paraa Lua atravs de um projtil que serdisparado pelo Columbiad , um enor-me canho construdo para o lana-mento espacial.

    Para Verne, o Peru encabea as lis-tas dos pases da Amrica do Sul como Chile, o Brasil, a Colmbia e as pro-vncias de La Plata, que contriburamcom um total de trs mil dlares parao intento.

    Outra re erncia ao Peru estnas Histrias de Juan Mara Cabidou-lin, romance que narra a histria deum velho marinheiro acostumado asemear o pnico entre a tripulao

    dos barcos em que trabalhava, espa-lhando a lenda da existncia de umagrande serpente marinha.

    Nesta obra, Verne relata, utilizan-do como onte de in ormao o quo-tidiano Journal du Havre, que noOceano Pac co tinha-se produzidoo seguinte enmeno (...) Depois deum enorme terremoto na costa doPeru, uma grande ondulao no oce-ano se estendeu at a costa Austra-liana. Ns peruanos sabamos dessetremor de terras em nossas costas?

    Nas Aventuras de trs ingleses e trsrussos na rica Austral , histria queconta a viagem de uma delegaocient ca para a rica do Sul com oobjetivo de medir o arco de um meri-diano, o autor a rma que, at ento,

    oram particularmente estudiososranceses que trataram dessa medi-

    o. Verne descreve que uma destas

    aconteceu no nosso pas: Em 1745,no Peru, La Condamine, Bouguer,e Godin, ajudados pelos espanhisJuan e Antonio Ulloa, acusaram cin-quenta e seis mil setecentos e trintae sete ps como o valor do arco pe-ruano.

    O autor ainda surpreende comseu conhecimento de um dos smbo-

    los da ptria peruana, como em Nor-te contra Sul, um romance baseadona cruel Guerra de Secesso, ondedescreve: Aqui e ali cresciam gruposde arbustos de quina que eram sim-ples plantas arborescentes, em vezde serem esplndidas rvores comoas cultivadas no Peru, seu pas natal.Neste caso, Verne enaltece a quina, arvore que representa, no braso na-cional, a rica ora peruana.

    Quando ocorrem eventos an-tsticos em suas histrias, Verne diz

    requentemente que, no Peru, est-vamos cientes deles. Assim, temosque o Albatros, a nave que surpre-endente o mundo em Robur, o Con-quistado, curiosamente tambm vista em nosso pas: Os peruanos,na ponta da echa metlica de suacatedral, podiam ver uma bandei-ra utuando sobre cada um destespontos di cilmente acessveis.

    Assim tambm, em O Testamen-to de um excntrico, onde esto asaventuras de sete rivais que jogam opopular jogo do ganso, no qual cadacasa corresponde a um Estado daUnio, disse com respeito ser a eu-

    oria que desatou o jogo: Esta cor-rente oi canalizada no somente nosEstados Unidos (...) di undia-se logopara a Amrica do Sul: Colmbia, Ve-nezuela, Brasil, Argentina, Peru, Bol-via e Chile.

    Em alguns romances, o autor ten-ta levar seus heris a terras peruanase, em outros, envolve personagensperuanos em suas histrias. Porexemplo, temos Dick Sand, persona-gem principal de Um capito de quin- ze anos, que tenta levar o navio sobseu comando para a costa sul-ame-ricana. Dick, no nal, acreditava terchegado ao Peru, j que ao desem-

    barcar, pergunta: Queira dizer-noscom mais preciso onde estamos. Nacosta do Peru, creio eu? - No amigo,

    um pouco mais a sul (...) - Ns estamos muito distantes de Lima? - Oh!At Lima um longo caminho... Porali, ao norte.

    Em Uma cidade utuante, um ro-mance inspirado em uma jornadapessoal de Verne aos Estados Unidos,a bordo do gigantesco navio GreatEastern, o escritor narra que entreos passageiros haviam alguns pe-

    Ilustraes originais deMartin Paz ,por Jules Frat..

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    ruanos: Eles logo embarca-ram, cali ornianos, peruanos,hispano-americanos, britni-cos, alemes e muitos rance-ses. Inclu-se, no desenrolarda histria, a presena emcena de um jovem casal pe-ruano: Nos distraiu, naquelemomento, um jovem casal

    peruano que parecia pro un-damente aborrecido. Soperuanos, me disse o mdico,casados h um ano. Passaramsua lua-de-mel em todos oshorizontes do globo.

    vido leitor da mais im-portante revista do seu tem-po, o Le tour du monde, Verneestava a par de todas as ex-pedies realizadas no mar.No surpreende tambm quetenha conhecido as viagensrealizadas por alguns barcosperuanos, assim como o mo-vimento comercial desta par-te do mundo.

    Em Mistress Branican, anica novela em que a personagemprincipal uma mulher que vai embusca de seu marido perdido no mar,relata: Alguns anos antes,La Sonora,uma escuna peruana, havia a unda-

    do na entrada de Coronado Beach ea tripulao oi considerada perdidaat que se estabelecesse contato dobarco com a terra.

    Outro navio peruano mencio-nado em Dois anos de rias, um ro-mance em que um grupo de crian-as compem uma pequena colniaaps nau rgio em uma ilha desertano Oceano Pac co: Na verdade,embora os vapores no tenham en-contrado a Sloughi , recolheram pelomenos alguns dos seus restos, taiscomo os destroos dos tombadilhoscados no mar aps a coliso com otransatlntico peruano Quito.

    Alm disso, em seu mais bem su-cedido romance, A volta ao mundoem oitenta dias, Phileas Fogg, Passe-partout e Aouda chegam Amricanuma das docas em San Francisco,onde se acumulam produtos de um

    comrcio que se estende para o M-xico, Peru, Chile, Brasil, Europa, sia etodos os Ilhas do Pac co.

    E, em Os lhos do Capito Grant ,toma como re erncia o principalporto de Callao: No oi preciso pro-

    curar por um longo tempo, pois logodisse com um sotaque de satis ao:30 de maio de 1862! Peru! O Callao, ocarregamento para Glasgow, a raga-ta Britannia, Capito Grant!

    Como se viu, sem dvida em nos-so pas que convergiram as primeirasinquietaes literrias de Verne, umescritor que, embora nunca tenha vi-sitado a nossa terra, nos dedicou dasua distante terra natal, a Frana, noapenas uma histria ambientado nantegra aqui, mas tambm um estu-do da histria dos Incas e numerosasre erncias ao Peru e seu povo dentrode sua prol ca obra, mostrando todaa riqueza natural e histrica destasparagens; eito que re ete tambm,alm de sua capacidade visionria,a gura de um homem que sempreprocurou cumprir a obra de sua vida:terminar de pintar a Terra

    No livro histrico de Jules Verne,Histria das GrandeViagens e dos Grandes Viajantes, o autor rancs

    descreve Pizarro como pr do e ambicioso.

    O Peru um pas situado aoeste da Amrica do Sul. limitado ao norte pelo Equa-dor e Colmbia, a leste peloBrasil, ao sudeste com a Bo-lvia, e para o sul com o Chi-le e a oeste com o OceanoPac co. Tem uma complexa

    geogra a dominada princi-palmente por elevaes daCordilheira dos Andes e ascorrentes do Pac co, o quecon gura climas e paisagensto amplamente variadascomo a costa desrtica, aspontas do elevado Andes oua oresta tropical da bacia doAmazonas, todos ambientesque identi cam o pas comoum territrio de grande va-riedade de recursos naturais.At ao sculo XVI, o ImprioInca desapareceu e a regio

    oi conquistada pelos colo-nizadores espanhis com oapoio das etnias inimigas dodomnio Inca.A Espanha estabeleceu assimum Vice-reinado que incluiua maior parte das suas col-nias sul-americanas.

    Em 28 de julho de 1821, omovimento libertador diri-gido pelo general argentinoJos de San Martn, vindo doChile, declarou independn-cia e estabeleceu um novoEstado: a Repblica do Peru,cujo nome consigna tacita-mente ao ato de indepen-dncia deste pas. Mas oi em1824, que o general venezue-lano Simn Bolvar conseguiuexpulsar de nitivamente astropas realistas com base nasmontanhas Sul aps as bata-lhas de Junn e Ayacucho, em6 de agosto e 9 de dezembrode 1824, respectivamente. Osprimeiros anos de indepen-dncia se desenvolveram soblutas caudilhescas.

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    Joan Manuel SoldevillaLer Verne na escola

    Verne uma leitura oportuna para se de-senvolver nos ltimos anos do ensino pri-mrio? Verne tem realmente uma grandevariedade de romances, e se verdadeque algumas histrias podem ser dema-siadamente longas, complexas ou di ceispara meninas e meninos entre dez e dozeanos, tambm o que alguns ttulos - Doisanos de rias, A volta ao mundo em oitentadias, Vinte Mil Lguas Submarinas, Viagemao Centro da Terraou Miguel Strogof , entremuitos outros - poderiam apaixonar esses jovens leitores. No se atrevem muitos de-les com os enormes volumes de J. K. Ro-wling? Tolkien no lido com paixo por

    muitos pr-adolescentes? Vinte Mil Lguassubmarinas ou o enciclopdico Os Filhosdo Capito Grant poderiam ser livros ex-cessivos para muitos alunos, mas tambm verdade que aqueles que j descobriramo prazer da leitura e so vorazes leitoresencontrariam nestes livros um espao ma-ravilhoso para explorar e para crescer.

    Verne no um autor para crianas,mas tambm pode ser um grande escri-tor para quem, s portas da primeira ase juvenil, comece a ter o hbito da leituracomo uma de suas atividades avoritas emseu tempo livre.

    Suspeitamos que cada leitor tenha seuVerne, atravs da proposta de ttulos queo pro essor pode escolher, com a ajuda decertas pistas que sero propostas e com acumplicidade que pode ser estabelecidacom os alunos, acreditamos que possvelreivindicar a narrativa Jules Verne desde osltimos anos do ensino primrio.

    Ao longo dos vrios livros que com-

    pem a narrativa de Verne encontramosum conjunto de eixos que compem aespinha dorsal de seu universo ccional;cada livro, ainda que seja uma unidade

    echada, uma experincia cultural de ex-trema complexidade e indelvel intensi-dade, a verdade que este experincia enriquecida quando integrada ao corpode sua narrativa.

    Nesta grelha de re exes transversaisordenamos um conjunto de propostas

    que permitem trabalhar em sala de aula aexperincia de leitura realizada pelos alu-nos e que poderia ser aplicvel de igualmaneira tanto a um determinado ttuloquanto a todas as novelas.

    As nossas propostas, em conjunto, soaplicveis dentro das reas de conheci-mento que o aluno desenvolva ao longodos cursos de ensino primrio em seu ciclosuperior (10/12 anos), apesar do ato deque antes dessa idade, o estudante podeter cado mais perto dos romances de Ver-ne e talvez tenha eito o mesmo em seutempo livre, ainda que atravs de lmes oudesenhos animados claro que alguns

    aspectos a complexidade das aventuras,a ocorrncia requente de dados de divul-gao cient ca, etc. aconselham a come-ar a trabalhar Verne a partir dos 10 anos,quando os undamentos da al abetizaoesto plenamente consolidados.

    Lingua

    A rea de lngua o local de ormao privilegiado onde, mais intensamente, Vernepode atuar. Seus romances so isso, ro-mances, e a partir disso que desde a aulade lngua onde se podem trabalhar estaspropostas destinando os es oros a desen-volver as competncias lingusticas dosalunos ao mesmo tempo em que se tentedesenvolver neles o interesse pela leitura.Embora possa ser interessante que cadaaluno escolha um romance de Verne op-o que desaconselhamos-, acreditamosque a tare a do educador ser signi cati-vamente simpli cada se concentrar todos

    os seus es oros em uma leitura comumpara todos os alunos.

    Compreenso oral e escritaNa primeira ase, a ligao essencia

    mas no a mais simples: que o aluno leia,mas que o aluno compreenda. No pe-quena nem simples tare a.

    A estrutura episdica dos romancesacilita em parte o trabalho. A maioria do

    romances de Verne oi publicada noMaga-

    Neste artigo exploraremos um conjunto de propostas que permitem trabalhar em aula a expe-rincia de leitura que tm realizado os alunos e que poderia ser aplicada igualmente a toda a srie de

    romances do escritor rancs.

    Infuncias

    Sobre o autor

    Lecionou na Univer-sidade de Girona e,h anos, pro es-

    sor no Instituto deRamon Muntanerde Figueres. Foi cu-rador da exposio Verne, ces(KoldoMitxelena, Donostia,2005) e tem servidocomo arquivista naexposio Mn Verne (Institut de Culturade Barcelona, Ajun-tament de Barcelo-na, 2005) e Merci,

    Jules, (Museu delCinema de Girona,Museu de la pescaPalams, Museu delJoguet da Catalunha / Figueras, 2005). Ele autor, com M. M.Cuartiella, da novelaCapitn Verne(Barce-lona, Editorial Sirpus,2005).

    [email protected]

    Joan Manuel Soldevi-lla Albert (Barcelona,Espanha, 1964)

    As re exes e propostasse ordenam seguindo aorganizao do sistema

    educacional espanhol - oqual conhecemos - masintumos que, em linhasgerais, todo o exposto aplicvel a qualquer sis-tema.

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    sin illustr dducation et de rcratione por isso que a maior parte doscaptulos no so muito extensos,mantendo uma inegvel unidade deespao, tempo e ao, e muitas vezesacabam em um momento emocio-nante que conduz leitura do prxi-mo captulo.

    Desta perspectiva pode-se o ere-

    cer aos alunos uma leitura individualde um desses segmentos- leitura quepode ser desenvolvida em sala deaula ou em casa- e avaliar esse pro-cesso atravs de um breve controleoral ou escrito que ajude a consoli-dar a leitura.

    O recolhimento e a seleoda in ormao

    Dicionrios, enciclopdias, e, evi-dentemente, a Internet devem tor-nar-se companheiros de viagem queenvolvem a leitura dos romances deVerne.

    Di erenciar a utilizao de cadaum destes instrumentos, praticar abusca rpida de palavras, ampliar ovocabulrio e aumentar o conheci-mento de muitos campos da realida-de e da cincia que temos diante dens so os valores inquestionveisque os alunos devem ver re orados

    na medida em que desenvolvem oprazer pela leitura.

    Tipologias textuaisNo processo de leitura de um

    texto um estudante percebe, semdi culdades, talvez intuitivamente,a existncia de di erentes tipos detexto.

    s vezes a ao avana, por vezesse detm, retratando uma exticapaisagem e, muitas vezes, alam en-tre si os personagens: o aluno dir,con orme o caso e seus gostos, que orelato muito emocionante, que svezes muito lento que, por vezes,nada acontece, que como um do-cumentrio.

    Esta diversidade que o aluno en-contra na sua leitura particular per-mite desenvolver uma srie de exer-ccios destinados a caracterizar cadaum dos modelos textuais que os

    leitores e oradores conhecem e uti-lizam narrao, descrio, dilogoe exposio, desta orma potenciali-zando as nossas habilidades comuni-cativas.

    Conhecimento domeio social e cultural

    Os romances de Jules Verne so umabela porta de entrada para o mun-do; desde a sua concepo o autor

    rancs estava ciente de que muitosdos seus leitores seriam jovens e queseus livros possuiriam uma dimensopedaggica e ormativa.

    Durante mais de cem anos, milha-res de meninos e meninas de todosos pases tm descoberto o mundoatravs das palavras escritas por Ver-ne, que esboaram um excepcionalretrato da realidade.

    O estudante de hoje dia conheceo mundo atravs no s do ensino,mas tambm atravs dos meios decomunicao audiovisual, principal-mente da televiso e da Internet; noobstante, a palavra do autor rancscontinua tendo uma capacidade deevocao to intensa que o mundo,atravs de suas palavras, ainda umlugar maravilhoso que podemos des-

    cobrir atravs da leitura.

    Geografa universal O lso o rancs Michel Serres

    se recorda de como desde a idadede oito anos, Jules Verne me acom-panhou pelo mundo. Era impossvelpara romances como Os lhos do Ca- pito Grant , Miguel Strogof , Vinte mil lguas submarinas e muitos outros,proceder a leitura sem a anlise de-talhada de um atlas: graas a ele metornei um apaixonado gegra o.

    A geogra a, a mais romntica dascincias, uma das principais pai-xes que sustentam a obra de Verne.Ler seus romances como azia Serresquando criana, acompanhado deum atlas, uma experincia maravi-lhosa que no apenas intensi ca oprazer de leitura, mas permite que oaluno tenha uma aproximao pes-soal com o territrio; estes deixam

    de ser meras representaes gr case se tornam espaos concretos expe-rimentados atravs da leitura, marese continentes onde a aventura pos-svel.

    Meios de transporteA viagem um dos principais te-

    mas vernianos e este possvel gra-

    as aos meios de transporte que, aolongo do sculo XIX viram um excepcional desenvolvimento. Veculos decaminho-de- erro, embarcaes quevariam desde veleiros a navios tran-satlnticos, passando por baleeiros,escunas, submarinos, bales, avies,

    oguetes... todos os meios imagin-veis povoam as pginas dos roman-ces levando os leitores aos lugaresmais desconhecidos.

    O aluno da escola primria a partirde sua experincia pessoal e atravsde seus estudos em anos anterioresconhece a diversidade e a importn-cia dos meios de locomoo; sugeri-mos que os estudantes aproximem-se dos arte atos criados por Verne,que entendam atravs deles comoeste campo no sculo XX so reu umasrie de trans ormaes espetacula-res que tiveram sua origem na pocaem que o autor rancs viveu: com-

    parar as mquinas de Verne com osmeios de hoje em dia, classi ca-loscomo meios de transporte reais ouimaginados, compreender as di -culdades e riscos que, para os maisde cem anos, signi cava viajar somuitas as possibilidades que nos soo erecidas e que sempre esto ao al-cance do educador e o material quepode preparar e selecionar previa-mente.

    Conhecimento domeio natural

    Os romances de Jules Verne so ex-traordinrias enciclopdias da na-tureza. Quando seus personagensviajam pelo mundo, o azem acom-panhados por um narrador que vo mundo ascinado e descreve commincia e rigor as caractersticas doambiente natural em que se encon-

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    16/30Novembro - D ezembro De 2008

    tram.Em um momento, o sculo XIX,

    em o que a cidade est se tornandoncleo da vida econmica, polticae social, em uma poca em que ar-tistas descobrem as possibilidadesartsticas da realidade urbana, Verne,atravs de seus livros, sai da cidadee se lana explorao de territrios

    ainda virgens, daquelas reas queainda estavam em branco nos ma-pas, lugares nos quais nenhum car-tgra o havia se atrevido pisar.

    A diversidade da auna e da orae dos ecossistemas to avassalado-ra que qualquer abordagem suanarrativa representa uma descober-ta ascinante do mundo que nos ro-deia. Educao artstica

    Desde o seu surgimento, o mundode Jules Verne sempre esteve acom-panhado da imagem.

    A segunda metade sculo XIX,est experimentando um notveldesenvolvimento tecnolgico quepermitiu a di uso de imagens im-pressas com uma intensidade desco-nhecida at hoje; jornais, peridicos,os semanrios satricos e as primeiras

    publicaes in antis comearam a terum grande desenvolvimento graasa popularizao da imagem e a in-tensidade da linguagem gr ca uti-lizada pelos autores desse momentohistrico, que aproveitavam as van-tagens o erecidas por este novo ca-nal de comunicao de massa.

    Analisar as recreaes gr cas deVerne, contemplar com olhar crticoe, ao mesmo tempo, omentar a cria-tividade dos alunos, so atividadesque podem no s completar leiturados textos, mas tambm ajudar a re-

    etir criticamente sobre os mesmos.

    Educao em valores

    Integrados nas diversas reas de co-nhecimento e nas relaes interpes-soais que se estabelecem na escola,os alunos trabalham diariamente nasala de aula uma srie de valores que

    os ajudam a crescer como pessoa edesenvolverem-se como seres so-ciais que so. Para alm das muitasaplicaes espec cas que temos de-senvolvido at agora, ao longo destaguia didtica, os livros de Jules Verneso tambm uma escola de valores.Todas as aventuras mostram umaluta contra a injustia, uma preocu-

    pao em preservar a amizade, umade esa daqueles que so racos, umadenncia da opresso e da alta deliberdade.

    Mostrar aos alunos esses valorese az-los pensar sobre o seu signi-

    cado algo que no s os ajudara compreender melhor os livros queleram, mas principalmente, ir ajud-los a crescer como pessoas. A seguiresto alguns dos valores que pode-riam ser trabalhados em sala de aulaa partir da leitura dos livros.

    Do racismo a multicuturalidadeO mundo em que Verne viveu oi

    um mundo que hoje quali caramosde racista; negar esta evidncia seriauma de ormao da realidade emque o autor rancs viveu e de algunsaspectos que aparecem nos seus ro-mances.

    inegvel que a Europa do nal

    do sculo XIX estava muito de cien-te de alguns aspectos de nossa atualpercepo da diversidade de raase culturas que existem no planeta;para o europeu de ento, h mais dedez dcadas existia uma cultura su-perior: a do homem branco ocidentale, abaixo, uma srie de povos in erio-res que deveriam ser colonizados (ospovos a ricanos, as tribos americanasdo norte e do sul) ou dos quais deve-ria se de ender (o Imprio Otomanoou os enigmticos orientais).

    Mas apesar de tudo isto at agora,classi car Verne como sendo racistaseria uma imperdovel simpli cao;Verne o lho de seu tempo, mas emmuitos de seus romances, h nuan-ces emocionantes que permitemleituras mais complexas do que sim-plesmente reducionistas.

    Talvez o seu olhar no seja tole-rante nem multicultural, mas um

    olhar vivo, ansioso para aprendercom os outros. Mais de que os de-talhes espec cos de muitos de seusromances, nessa atitude aberta aomundo que ns encontramos valo-res que podem assumir a propostade uma leitura excitante.

    A amizade

    Raramente os personagens deVerne viajam sozinhos pelo mundo;um parente, um empregado e, namaioria dos casos, um amigo - porvezes, duas destas coisas ocorremem uma nica personagem- acom-panham os protagonistas em suasviagens extraordinrias.

    Hans, um indivduo parco em pa-lavras, acompanha at o corao doplaneta com pro essor Lidenbrock eseu sobrinho Axel emViagem o cen-tro da terra; Ned Land, o pro essoAronnax e o el Conseil so reram des rutaram juntos o cativeiro noNautilus, que viajouVinte mil lguassob o mar ; A ilha misteriosa, entreoutras muitas coisas, um hino ami-zade e capacidade que os indivdu-os tm para ajudar uns aos outros. Eassim tantos e tantos exemplos.

    Praticamente no h romance deVerne sem uma intensa relao de

    amizade, chegando a ser, at mesmo,a espinha dorsal da histria.A leitura das aventuras de uma

    gangue de jovens nu ragos emDoisanos de riasnos mostra um dos mo-tivos principais, as tenses que sur-gem entre um grupo de meninos deuma escola que se vem obrigados aconviver por muito tempo em meio acondies extremas.

    S a amizade, generosa e desin-teressada, os permitir sobreviver esuperar as muitas di culdades quevo encontrar.

    O aluno da escola primria conhe-ce a importncia que tem a amizadeem nossas vidas.

    Ler Verne proporcionar que estetema surja em sala de aula e gereum territrio de re exo de onde osalunos possam integrar suas experi-ncias vivenciais com as leituras dasobras do rancs

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    17/30Nmero 8

    Pasqual BernatA cincia na aventura lunar

    Viajar at Lua oi sempre um sonho co-biado pela humanidade ao longo da his-tria. A Lua e o espetculo do cu noturnotem sido uma constante onte de inspira-o de artistas e literatos.

    Durante o sculo II, o escritor grego Lu-ciano de Samosata escreveu uma narraosobre uma viagem antstica Lua e ao Sol.Ariosto (1474-1533), no canto XXXIV do seupoema Orlando Furioso(1516), az com queAstol o viaje Lua na companhia do aps-tolo Joo, de Enoque e de Elias. Francis Go-dwin (1562-1633) escreveu a obraO homenna Lua, ou Relato de uma viagem por l por Domingo Gonzlez , na qual o protagonista,

    um cavalheiro de Sevilha, chega, graas aum grupo de gansos, a uma Lua habitadapor seres hospitaleiros e a veis. Cyrano deBergerac (1619-1655)em O outro mundo, ouOs Estados e Impriosda Lua az com que oprotagonista chegue Lua graas a um bl-samo de medula devaca, substncia quesegundo o autor

    ortemente absorvidapelo satlite terrestre.

    J no sculo XIX,Edgar Allan Poe(1809-1849) comUma Aventura sem paralelode um certo Hans P a-al e Alexandre Dumaspai (1803-1870) comO universo ilustrado eUma viagem Luaso

    os antecedentes lite-rrios mais prximosde Da Terra LuadeJules Verne, obra quedi ere de todas as ante-riores pois nela apareceo rigor dos conceitos cient cos.

    Antes de comear com a anlise doscontedos cient cos da aventura lunarde Verne vejamos resumidamente o argu-mento. A narrativa comea com a apresen-tao do pitoresco Gun-Club, uma associa-

    o norte-americana de antigos artilheirosociosos pela inatividade que representouo m da recente Guerra da Secesso. Osartilheiros abatidos pelo tdio passam otempo recordando os bons tempos. Derepente, este estado de letargia muda ra-dicalmente. Impey Barbicane, presidentedo clube, irrompe com uma proposta queaumenta os nimos de todos os scios: ir Lua com uma bala de canho. Sem duvidarda viabilidade do projeto, os membros dasociedade pem mos obra e comeam adesenhar o projtil, o canho que ir lan-la e o telescpio que seguir a trajetria dabala.

    Todo o pas se mostra entusiasmadocom o projeto. S um homem, o capito Ni-choll, um perito construtor de placas para

    blindagem de naviose rival de Barbicane,se ope. Seguindoa lgica do antago-nismo entre projtile blindagem, Nicholldedica-se a atacar oprojeto do Gun-Club com todo o tipo deargumentos.

    Quando os pre-parativos do lana-mento j esto muitoadiantados, recebemum telegrama de umaventureiro rancs,Michel Ardan, anun-ciando a sua vontadede viajar at Lua nointerior do projtil.

    Depois de um intensodebate sobre a pos-sibilidade de enviar

    homens ao espao ede se terem eito diver-sas provas, o projtil

    disparado indo no interior os antigos rivaisagora reconciliados- Barbicane e Nicholl.

    Desde o observatrio construdo nasmontanhas Rochosas, J. T. Maston, o secre-trio perptuo do Gun-Club, e uns quantosscios, seguem a trajetria da bala. No in-

    O presidente da Sociedade Catal Jules Vernechega com uma interessante anlise sobre a cincianas obras lunares, qual o seu papel nelas e alguns

    dos pontos que as azem ainda interessantesdepois de muitos anos.

    Terra Verne

    Doutor em Histriada cincia pela Uni-versidade Autnomade Barcelona e mem-bro da SociedadeCatal Jules Verne.J escreveu nume-rosos artigos sobrea histria da cinciae atualmente est acomear uma inves-tigao sobre a obraverniana e as suas re-laes com a cinciado sculo XIX.

    [email protected]

    Pasqual Bernat (Barce-lona, 1958)

    Sobre o autor

    Publicadas originalmenteem ascculos sucessivosno Journal des dbatse se-paradas entre si por qua-tro anos, Da Terra Luae volta da Luaesto entreas obras mais representa-tivas dos romances de an-tecipao cient ca.Alguns anos depois deter publicado a primeira,aparece a continuaodo drama da Lua que considerada por muitosuma histria aborrecidae cheia de descries,sendo o relato que nosd a conhecer o nal damisso do Gun Club, as-sim como uma completadigresso pelas paisagenslunares. Conhecer a Lualendo a histria de Verneconverte-a numa leituraobrigatria.

    Os preparativos do lanamento dabala numa das ilustraes

    do livro publicado por Hetzel.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 8

    18/30Novembro - D ezembro De 2008

    cio as nuvens no deixam ver nadae perde-se o rasto da nave. Quando

    nalmente as condies de visibili-dade melhoram, descobre-se que oprojeto oi retido pela atrao lunare orbita como se osse um satlite volta da Lua. A novela naliza com aincerteza do uturo dos cosmonau-tas. Apenas J. T. Maston acredita no

    regresso Terra dos seusaudazes companheiros.O suspense no se

    desvendou at 1872 como aparecimento da se-gunda parte, volta daLua, que relata as perip-cias dos trs tripulantesem torno do satlite edo seu regresso Terra.Os leitores inteiram-seque a aproximao deum meteorito ao projtil

    oi a razo do desvio dasua trajetria levando aorbitar em torno da Lua.Os astronautas, depoisde numerosas peripciasnas quais chegaram in-clusive a observar a aceoculta da Lua, voltam aser alvo de perturbaesde um novo meteorito

    que modi ca o rumo danave permitindo o seuregresso Terra. Final-mente, os nossos prota-gonistas amararam noPac co, a uns quatro-centos quilmetros dacosta cali orniana, numlocal onde casualmentese encontrava um barcoque os pode resgatar. O re-lato termina com o passeiotriun al dos viajantes pelos EstadosUnidos.

    Um dos elementos mais notveise que melhor carateriza a obra deVerne a sua proximidade Cincia.O objetivo cient co claro na maio-ria das suas obras e obedece a umavontade do escritor que desde osincios literrios havia construdo oque ele mesmo nomeou como obrada cincia. Tratava-se de introdu-

    zir o conhecimento cient co numcontexto literrio onde a aventura eas peripcias dos protagonistas, re-quentemente conduzidos ou acom-panhados por uma personagemcom uma slida ormao cient ca,conseguiam aquilo que o prprio Ju-les Hetzel, editor de Verne, a rmava:ensinar entretendo.

    Na expedio lunar de Verne esteobjetivo plenamente alcanado.A narrao est recheada de conte-dos cient cos e constantementenos apercebemos de uma vontadepedaggica e divulgao explcita.Verne sempre se documentava e seaconselhava muito cuidadosamenteantes de escrever as suas obras. Nocaso da viagem Lua pediu a ajudaaos matemticos Joseph Bertrand e

    do seu primo Henri Garcet, pro essode matemtica no liceu Henri IV deParis, uma das instituies rancesasonde se preparavam os exames deacesso aos centros superiores que

    orneciam as elites do Estado rancs.

    Os contedos cient cos da hist-ria vo aparecendo de orma gradual,

    atribuindo as in ormaesao observatrio de Cam-bridge ou aos artilheiros.Assim, no caso das condi-es de lanamento, Cam-brige in ormou que serianecessrio uma velocida-de superior a 12 000 jardaspor segundo (uns 11,2 kmpor segundo) para que umobjeto conseguisse esca-par do campo de atraoda Terra. um clculo ideal j que no se tem em con-ta a passagem do objetopela atmos era. Verne tinhaconscincia da ao da at-mos era mas minimiza-a

    azendo Barbicane a rmarque, com uma velocidadede 12 000 jardas por segun-do, o projtil atravessaria aatmos era em menos de

    cinco segundos, tornandoa ao da atmos era insig-ni cante.

    A in ormao de Cambridge continua com da-dos relativos orbita daLua e da distncia entreesta e a Terra.

    Aps clculos minucio-sos conclui-se que o projtildemoraria a chegar Lua,4 dias, 1 hora, 17 minutos e

    20 segundos. Cambridge aconselhaque a distncia percorrida pelo pro- jtil seja a menor possvel. Por isso, olanamento ter que se e etuar ver-ticalmente no preciso momento emque altem Lua 4 dias, 1 hora, 1minutos e 20 segundos para chegarao znite. A m de melhorar o lana-mento, o observatrio in orma queeste ter que estar entre o 28 de la-titude norte e o 28 de latitude sul.

    A gravidade como um dos elementos da cincianas obras lunares do escritor rancs Jules Verne.

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    assim pois o eixo de rotao da Terraest inclinado 2327 em relao aoplano da eclptica, e a rbita da Lua

    az um ngulo de 5 com este plano.Apenas entre estas latitudes se podeconseguir um lanamento verticaldo projtil at Lua, se se escolhero momento adequado. NosEstados Unidos, a pennsula

    da Florida e o sul do estadodo Texas esto dentro destaranja de latitudes. Verne,

    depois de encenar a rivali-dade dos dois estados, si-tuou o local do lanamentona Florida.

    Verne teve que abordartambm a questo do con-tragolpe do lanamentopara tornar a sua narraoverosmil.

    No lanamento, o pro- jtil sairia do canho comuma acelerao 26 000 ve-zes a da acelerao da gra-vidade na super cie terres-tre. Isso signi caria que osnossos astronautas cariam

    ulminados no momentodo lanamento. Verne ten-tou resolver este problemacriando um sistema com-

    plexo, eito com tbuas demadeira e gua depositadano undo da bala com o obje-tivo de atenuar o golpe destaenorme acelerao.

    Apesar desta soluo noresolver o problema, h que reco-nhecer o es oro de Verne em supe-rar, de uma orma undamentada,este obstculo.

    A sobrevivncia dos viajantes nointerior do projtil era asseguradamediante uma srie de dispositivosengenhosos.

    A respeito da respirao, Verne,depois de explicar detalhadamentea mecnica do intercmbio de gasesproduzida nesta uno siolgica,chega concluso que a tripulaonecessita consumir uns 2 400 litrosde oxignio por dia.

    A regenerao do ar az-se comprocedimentos qumicos e graas

    a um aparelho idealizado por Rei-set e Regnaut em que aquecendo a4 000 C o clorato de potssio se ob-tm oxignio. Com uns recipientescom hidrognio de sdio pousadosno cho do projtil absorva-se o di-xido de carbono. Com estas reaes

    qumicas consegue-se o equilbriogasoso que garante a normal respi-rao dos astronautas. Para que nohaja nenhuma dvida, Verne testoueste sistema antes da descolagem. ento quando J. T. Maston passaalguns dias asilado no interior doprojtil echado hermeticamente ecom o dispositivo qumico ativado. Oresultado: Maston sai so e salvo mascom uns quilos a mais devido suainatividade.

    No deixa de ser surpreendenteao leitor que muitas das provises deVerne so exatas: a trajetria do pro- jtil, o seu peso e altura; o projtil que lanado desde a atual localizao

    do Cabo Canaveral; o telescpio quetem que seguir a sua trajetria e queest situado no mesmo lugar no qualse encontra agora o Monte Palomar;o dimetro do telescpio pratica-mente idntico com uma di erenade centmetros; J. T. Maston subme-te-se a uma prova dentro do veculo,o que antecipa os treinos actuais dos

    cosmonautas; o cair no pac co noregresso a Terra; e muitas outras pre-vises que tornariam esta lista dema-siado grande. Esta verosimilitude ezcom a narrao se converta, apesardos seus elementos antsticos, numrelato altamente crvel.Da Terra Lua

    oi publicada em captulos no peri-dico Le journal ds dbats, com uminesperado xito.

    Quando se publicou o episdioem que Michel Ardan ez chegar aoGun-Clubo seu telegrama, chega-ram ao jornal telegramas e cartas deleitores que se o ereciam como vo-luntrios para ir tambm Lua. Este

    eito uma amostra do impacto queesta histria causou na opinio p-blica rancesa de ento. Um interes-se que na poca se tornou extensivoao resto da obra verniana e que hojeainda continua vivo tanto entre os jo-vens como entre os adultos de todo

    o mundo

    Bibliografa

    Clamen, M . Jules Verne et lessciences. Cent ans ans aprs.Belin, Paris, 2005.De la Cotardire, P. JulesVerne. De la science limaginaire.Larousse, Paris,

    2004.Navarro, Jess. Somnis decincia. Un viatge al centre de Jules Verne. Alzira. EdicionsBromera. Barcelona, 2005Verne, Jules. De la Terra a laLluna.Barcanova. Barcelona.1992.Verne, Jules. Al voltant de laLluna.Barcanova. Barcelona.1993.

    O projtil sai do canho com uma acelerao de26 000 vezes a acelerao da gravidade

    na super cie terrestre.

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    Ariel Prez procura de... Verne

    Trabalha em casa na sua obra li-terria, convive desde h muitotempo com o seu companheirode apartamento que tem um

    lho de cinco anos e que esta maior parte do tempo comeles. Alm de Jules Verne, o seuescritor pre erido, gosta de ler Dostoievski, Maupassant e Sta-nislaw Lec e tem um gosto apai- xonado pela msica clssica.

    Nasceu h quarenta e qua-tro anos na cidade alem deBremen e um dos principaisinvestigadores nos crculos ver-

    nianos.Graas ao seu trabalho derecompilao devemos-lhe a bi-bliogra a do escritor rancs no stio de Zvi HarEl.

    Este trabalho apenas uma amostra deum mais detalhado que deve aparecer embreve. Os cinco volumes com as cartas deVerne devem-se a um trabalho em conjuntode dois reconhecidos especialistas. Publicouem 2005, lamentavelmente s em alemo,uma das biogra as mais completas sobre Jules at data.

    O seu primeiro artigo re erente ao temaapareceu numa revista, em 1977, mas assuas primeiras investigaes de orma siste-mtica remontam a 1980. Ele Volker Dehs e o nosso convidado.

    Para alar de Volker, teramos que alar das suas investigaes, da sua exatido, dasua excelente memria, da grande quanti-dade de dados que possui, da sua paixo na procura de textos desconhecidos nas biblio-

    tecas ou nos centros que dedicam os seus es-tudos ao autor das Viagens Extraordinrias.Para ele a investigao o nmero um, o ponto de partida, de desenvolvimento e de-senlace. Dedica horas, dias e anos na buscado absoluto na matria verniana.

    Volker conta que o seu primeiro encontrocom Jules oi aos seis anos enquanto, no seuambiente, gozava de uma boa reputaocomo especialista em dinossauros. Via l-mes na televiso, eitos a partir das obras de

    Verne onde surgiam esses animais. Foi entquando se props a ler os citados livros, sem pre procura dos dinossauros que nuncencontrou, preciso dizer, na quantidadeesperada. Porm, mantm o gosto pelos lvros de Verne at aos dias de hoje. O hume as descries vernianas da Natureza, sos dois elementos que mais aprecia na surelao com o escritor rancs, que autoclassi ca como um pouco excntrica ou odo normal. De Verne pre ereO raio verde ,Aventuras do magn co Anti er ,Viagem aoCentro da Terra e O Chancellor , sem esque-cer os contosUma antasia do Doutor OxeFrritt-Flacc.

    Entre as adaptaes cinematogr cas pre ere uma de 1981:Fitzcarraldode Werner Herzog. Ainda que no seja uma adaptaono real sentido da palavra, encontra-se l aobsesso do capito Hatteras com a paixode Castelo dos Crpatose a estrutura deA

    Jangada . Entre os seus bons momentos, dmuitos que passou neste universo vernianoem mais de 25 anos, diz que o seu primeirovro sempre o mais importante e lembradoNo entanto, para um homem que deve tertido poucos momentos desa ortunados, conta com muita tristeza uma das suas maioresdecepes e que est relacionada com umacolaborao recente com outro investigadorverniano que no chegou a um eliz trminacabando abruptamente.

    Mundo Verne entrevista um dos grandesinvestigadores atuais da vida e obra do autor de

    Viagens Extraordinrias.Volker ala sobre o presente o uturo da investigao em torno do tema e da su

    paixo pelas pesquisas.

    ala com...

    Um dos mais pro undos investigadores vernianos,Volker Dehs, na sua casa.

    Sobre o autor

    Licenciado em Cin-cias da Computao.Desempenha a un-o de in ormtico naEmpresa Nacional doSo tware em Cuba. Jtrabalhou como ad-ministrador de rede,programador e de-senhador de pginasWeb em di erentesempresas desde hmais de dez anos.Desde 2001, donode um stio na Web

    dedicado a Jules, quehoje uma re ernciainternacional. J pu-blicou imensos arti-gos que exploram as-pectos da vida e obrade Verne em Espanha,Mxico, Argentina eCuba. membro doFrum InternacionalJules Verne. Em Agos-to de 2007 undou arevista digital Mundo

    Verne da qual actu-almente seu director edesenhador. Tem emprocesso editorial umlivro de ensaio sobre oescritor rancs. J tra-duziu para castelhanomuitos textos de Ver-ne inditos em espa-nhol tendo-os publi-cado no seu stio.

    [email protected]

    Ariel Prez Rodrguez(Santa Clara, Cuba,1976)

  • 8/6/2019 Mundo Verne 8

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    O prestigioso investigador alemoaceitou compartilhar com os leitoresalguns dos seus pontos de vista sobre omundo verniano e da sua atualidade.Entrando no assunto de Verne e a suaaceitao, perguntei, como v o uturodo autor? Ser lido e procurado pelas

    uturas geraes? Acredito que Verne se encontra

    entre os autores que sero semprelidos pois as suas obras apresentamquestes undamentais sobre o ho-mem e o mundo, sobre o seu com-portamento na e com a Natureza. Ealm disso, a sua obra po-de-se adaptar acilmenteaos novos tipos de meios.Neste sentido e para justi -car que Jules pode interes-sar aos leitores do sculoXXI, basta ler a obra Forados Eixos e se saber queeste escritor um dos maisatuais.

    Na sua opinio, que re-gio geogr ca do planetaleva o prmio em relao sinvestigaes ou estudos so-bre Verne?

    A comunidade ranc-ona, sem dvida, mas a In-

    ternet ajuda muito e, daqui

    em adiante, outras regiestambm o aro.Como v a recepo de

    Verne na Ibero-Amrica? Sobre isso sei pouco,

    como da recepo do au-tor na sia ou Gronelndia.Mas tenho a impresso queos ibero-americanos tmuma relao muito emo-cional e sensvel com Jules.H vinte anos conheci emParis, num hotel, um poeta chi-leno, Teodoro El-Saca, que aca-bava de publicar um livro de poesia,sendo uma delas dedicada a Verne eao Castelo dos Crpatos. Apesar dasdi erenas de idiomas, entendemo-nos bem e recordo sempre a ormamuito direta e ranca pela qual me

    alou sobre Verne, como se alasse dealgum prximo e que lhe ora muitoquerido.

    Desde a dcada de 60, a descobertados manuscritos originais e de muitostextos inditos veio impulsionar as in-vestigaes na rea. Qual acredita ser o descobrimento que mais contribuiu para o conhecimento verniano nestesltimos tempos?

    A colocao online dos manus-critos de Nantes (prevista nalmen-

    te para os nais deste ano, j comatraso devido a razes tcnicas) e apublicao da correspondncia deVerne com os seus editores.

    Depois, a publicao de Paris no

    sculo XX oi um tremor de Terra ben-eitor.

    Na sua opinio, quem oi o melhor investigador de Verne, vida e obra?

    O maior, o mais rigoroso, o me-lhor No me atrevo a dizer quem. Mas, estimo de orma muito pes-soal Charles-Nol Martin que o oi opioneiro da investigao biogr ca

    sobre Verne (in elizmente nunca oconheci) e Ccile Compre do an-tigo Centro de documentao JulesVerne, hoje Centro Internacional. Ela

    ez muito pelos outros, por estimularas investigaes em detrimento dassuas prprias publicaes.

    O ensaio de Michel Butor sobreLe point suprme dans quelques oeuvre

    de Jules Verneque data de 1949 meparece o primeiro estudo srio sobrea obra de Jules. Vrios estudos se ins-piraram nesses textos que ainda nopassaram de moda, ao contrrio de

    muitos textos mais re-centes que sim.

    E dos investigadorescontemporneos?

    Se responder, issodar lugar a umaguerra de rivalidades,polmicas e quemsabe, de injurias, eportanto no seriabom para ningum.Tambm certo que ocampo muito vasto:existem aqueles quese interessam apenaspela biogra a, outrospela obra, bibliogra aou traduo, sem a-

    lar daqueles que, semserem investigadores,animam os stios na In-ternet e outros locais(em Nantes, Amiens eYverdon). Todos tmum rol complementare considero arti cial e,portanto, improdutivocriar uma lista o me-lhor de ainda que

    isso esteja na moda. um pro undo inve

    tigador de Verne; gostas-lo ou pre ere, por exemplo, a trduo ou outro trabalho relacionadocom a temtica?

    A procura nos arquivos, nas bi-bliotecas, nos al arrabistas umapaixo. Acumulo os resultados, porvezes, durante muitos anos antesde comear a escrever sobre eles. Selesse apenas as notas, convertia-me

    Frente ao computador em trabalho

    e, no undo, a sua vasta biblioteca.

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    22/30Novembro - D ezembro De 2008

    com certeza num violoncelista muitoreputado mas isso ser para outravida.

    No passado traduziu para o ale-mo alguns textos de Jules Verne. Qual resultou ser o mais interessante que

    ez? E pode dizer, como tradutor deVerne, qual o texto que considera que pudesse ser o mais di cil para levar

    para outra lngua? Sem dvida, Aventuras da amliaRato e Frritt-Flacc so os textos deVerne que considero mais interes-santes. Em relao segunda per-gunta, sem dvida, a obra de teatroOs castelos na Cali rniae o conto Omatrimnio do senhor Anselmo dosTillos, so os textos mais di ceis a tra-duzir pelos seus complicados jogosde palavras e voltas.

    Tem a reputao de ser organiza-do nas suas investigaes. Comporta-se assim com outros aspectos na suavida?

    Sim, onde or necessrio. Ao con-trrio, a mesa e o quarto onde traba-lho sempre esto dispostos de uma

    orma que pode ser considerada ca-tica.

    Recentemente, publicou um textoque mostra Verne como crtico de arte.Depois de ter lido esses seis artigos so-

    bre a exposio de Paris, acredita queele teve sucesso nesse papel? Pessoalmente, considero o resul-

    tado bastante decepcionante. Deuma maneira geral, Verne no teriao talento analtico e crtico, e issopode-se apreciar tambm nas en-trevistas, na correspondncia ou noseu estudo sobre Poe. Quando se lo texto sobre o Saln de 1857, ca-secom a impresso que ez o trabalhode orma precipitada, Se bem que

    comea o texto com algumas piadas,o texto degrada-se cada vez mais ese perde em enumeraes que noso de todo muito divertidas. Issono quer dizer que no seja um textoimportante para a investigao peloseu prprio carcter de citrio.

    H 18 anos est a escrever uma im- portante bibliogra a dos trabalhos deVerne. Quando pensa que estar pron-ta para publicao? H algum editor interessado?

    Sim, tenho o editor desde h oitoanos, ao menos que a esta altura te-nha perdido o interesse. Um traba-lho deste tipo no pode jamais seralgo de nitivo ou exaustivo porquesempre se encontraro coisas novas,mas antes de public-lo quero ter aconvico subjetiva de estar conten-te e de ter eito o mximo que podia.Esse momento chegar, creio, na pri-mavera ou vero de 2009. Sem ser

    pro eta, acredito poder dizer que olivro ser publicado em 2010.O nome desse trabalho Catalogue

    raisonn ou seja,Catlogo unda-mentado das obras de Verne para osnosso leitores lus onos. Porqu esnome de undamentado?

    um termo especial que se apli-ca a este gnero de publicaes quepretendem seguir uma ordem siste-mtica e metdica.

    Quais so os seus projetos em curs

    para o uturo no que respeita publcao de artigos ou livros sobre JuleVerne?

    Durante algum tempo, tive a in-teno de deixar Verne para os ou-tros e no ocupar-me mais da suaobra o cialmente, mas esse umprojeto que se tornou irrealizvel.

    Ouvi notcias da ormao de umgrupo que ter a seu cargo a ediocrtica de um volume com as obras dVerne conhecida como Corpus vernienParticipa nesse projeto?

    H uma equipa de cinco ou seispessoas, entre elas eu, que se voocupar de um primeiro grupo de 5obras para conhecer melhor as di-

    culdades do projeto ou para pro-por, por assim dizer, os modelos quemostrem aos colaboradores uturosas condies de trabalho e o nvelque necessrio respeitar.

    Limitamos esse trabalho inicial,

    primeiro que nada, a ns, visto queainda esto por resolver muitas ques-tes: em primeiro lugar, as nancei-

    Os livros que Volker publicou relacionados com a temtica Verne

    Jules Verne. Reinbek:Rowohlt 1986, 158 p .

    Jules Verne: Aventures dela amille Raton. Paris:

    Socit Jules Verne 1989,56 p. Edio rancesa.

    Ilustrada.

    Jules Verne.Traduoespanhola do libro de1986. Madrid EDAF.

    2005, 230 p.

    Jules Verne: Un Filsadopti .Paris: Socit

    Jules Verne 2002, 48 p.Edio comentada, com

    ilustraes.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 8

    23/30Nmero 8

    Os livros que Volker publicou relacionados com a temtica Verne

    ras; depois as tcnicas e jurdicas. importante no se ter iluses e verse os resultados desses ensaios sopositivos para continuar com o pro- jeto que necessitar de alguns anose muitas colaboraes. Daqui a doisconhecero-se os primeiros resulta-dos.

    Volker, se o nomeassem, por exem-

    plo, presidente da Sociedade Jules Ver-ne, que era a primeira coisa que aria? Dar esse posto ao vice-presiden-

    te. Sinceramente, um lugar que nome interessa, no estou preparadopara esse gnero de atividades. Pre-

    ro a investigao e deixar a direodas instituies a outros. Acreditoque seria necessrio haver re ormas,no apenas cosmticas, a essa que-rida e velha dama que gosto tantoapesar do todo o mal que muitos a-lam dela.

    Ao chegar a este ponto da conversana que Volker respondeu amavelmen-te a todas as minhas perguntas, decidi lanar-me mais a undo e investigar, minha maneira, dentro da bibliotecade um investigador que pode ter, comomuitos outros, novas cartas dentroda manga que esperam o momentoapropriado para serem lanadas sobrea mesa.

    Volker, de entre todos os documen-tos disponveis na biblioteca de Amiensou Nantes, qual era o que gostaria decompartilhar com o pblico?

    Ltron et le dvoiement 1, uma pe-quena bula ao estilo de la Fontaine,por vezes escabrosa e muito moralis-ta, uma pequena jia ainda indita.Existem ainda um bom nmero de1 interessante alar do sentido destaspalavras. tron um pequeno acumular de

    ezes ecais de orma consistente como asque produzem, por exemplo, os ces, os se-res humanos, etc No caso de dvoiement , o sentido das ezes ecais num estado bemmais lquido, como a que se produz quandose est doente do estmago. Pode-se entoimaginar o porqu desta poesia no ter sidopublicada na poca. importante e, por suavez, curioso, ver como um texto indito deVerne completamente desconhecido, podetratar de um tema vinculado a questes mo-ralistas dentro da sociedade: as ezes slidasque so orgulhosas e burlam das miserveis

    ezes lquidas, devem misturar-se com estasultimas quando, durante uma tempestade,a gua num osso transborda e as pem,por assim dizer, em igualdade de condiesquando se misturam. Isto az recordar o temade uma bula de La Fontaine bem conhe-cida em Frana. Neste caso, este texto podeser comparado em relao censura, qui,ao da poesia Lamentations dun poil de cul de

    emme. Apenas adicionar que os manuscritosde que orma parte o poema re erido na en-trevista, no oram ainda publicados por altade autorizao.

    textos inditos e muitos outros porencontrar.

    E de entre todas as coisas desconhecidas que puderam ter sido escrita pela mo de Verne, qual a que queriencontrar um dia no meio das suas investigaes?

    O texto intitulado Con tebor,opsculo sobre o primeiro campo-

    ns rancs segundo a primeira bio-gra a de Charles Lemire e cuja existncia parece mtica. O que tambmme agradaria muito seria a apariode um quarteto a cordas, de pre e-rncia na menor ou mi bemol maior.E se o manuscrito estivesse dedicadoa Volker, caria literalmente encantado!

    Depois de ter partilhado com os letores desta publicao a notcia em primeira mo sobre os textos inditode Verne e conhecer que ainda h muitas coisas por descobrir, qual a sumensagem, recomendao para todosaqueles que leem estas pginas?

    J que esta revista com grandeentusiasmo existe, aproveitem paraenriquec-la com as vossas impres-ses, crticas e contribuies. Asideias novas s surgiro atravs dointercmbio de ideias, por mais con-traditrias e di erentes que sejam

    Correspondance inditede Jules et de Michel Verneavec lditeur Louis-Jules

    Hetzel (1886-1914).TomoI (1886-1896). Genve:Slatkine 2004, 293 p.

    Jules Verne. Stimmenund Deutungen zu

    seinem Werk.Wetzlar:Frdergreis Phantastik

    2005, 367 p.

    Guide bibliographique travers la critique

    vernienne 1872-2001.Wetzlar: Frderkreis

    Phantastik 2000, 438 p.

    Em 2005, Volkercolaborou com Ral Junkerjrgen paraeditar um volume emalemo com artigosacerca da obra deVerne.

    Juntamente com Piero Gondolo della Riva eOlivier Dumas publica,entre 1999 e 2006,cinco volumes comas cartas de Verne aosseus editores.A sua Guia bibliogr cade 2000 contmre erncias a textosem alemo e rancs.Est prevista uma novaatualizao deste livro.

  • 8/6/2019 Mundo Verne 8

    24/30Novembro - D ezembro De 2008

    Os mil olhos de Tarrieu

    Jules Verne situa France-ville em Osquinhentos milhes da Begumnos 43 11 3 delatitude norte e 124 41 17 de longitude aooeste de Greenwich, cando em pleno ocea-no Pac co, prxima ao Cabo de Arago. JulesVerne, admirador de Arago no selecionouesse lugar sorte! (Jean- Yves Paumier, JulesVerne voyageur extraordinaire, Glnat 2005, p.

    209).

    Ferdinand Brunetire (1849-1906) membro do comit de redao de Magasindducation et de Rcrationde 1902 era tambm diretor da Revue d