mostras de cinema super -8 na escola técnica federal do paraná: um resgaste histório

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL GEVERSON BISPO RODRIGUES MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO PARANÁ NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE HISTÓRICO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2010

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Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Institucional da UTFPR sobre as Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná.

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Page 1: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL

GEVERSON BISPO RODRIGUES

MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO PARANÁ

NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE HISTÓRICO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA

2010

Page 2: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

GEVERSON BISPO RODRIGUES

MOSTRAS DE CINEMA SUPER-8 NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL

DO PARANÁ NO FINAL DA DÉCADA DE 70: UM RESGATE

HISTÓRICO

CURITIBA

2010

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado à disciplina de Trabalho de Diplomação, do Curso Superior de Tecnologia em Comunicação Institucional, do Departamento de Comunicação e Expressão – DACEX, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para obtenção do título de Tecnólogo.

Orientadora: Professora Mestre Selma Suely Teixeira

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TERMO DE APROVAÇÃOAluno: Geverson Bispo Rodrigues (887129)

Mostras de Cinema Super-8 na Escola Técnica Federal do Paraná no Final da década de 70: um resgate histórico

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II do Curso Tecnológico de Comunicação Institucional do Departamento Acadêmico de Comunicação e Expressão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Banca Examinadora:

Prof. Msc. Almir Correa, UTFPR/DACEX

Profª. Dr. Angela Maria Rubel Fanini, UTFPR/DACEX

Profª..Dr. Denise Rauta Buiar, UTFPR/GEREP

Orientadora: Profª. Msc. Selma Suely Teixeira, UTFPR/DACEX

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Aos meus pais por acreditarem.Aos meus amigos por não esquecerem.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço o entusiasmo incessante da minha professora e orientadora Mestre Selma

Suely Teixeira com esse trabalho, mesmo quando ainda nem sabíamos que ele se

transformaria no meu TCC. Sua orientação cuidadosa fez com que essas páginas pudessem

crescer em segurança.

Através da Professora Mestre Maurini de Souza A. Pereira quero reverenciar todos os

professores do Curso de Comunicação Institucional que, no decorrer do Curso, me fizeram

enxergar a Comunicação como uma área instigante.

Fica registrado aqui o carinho que recebi dos servidores da Cinemateca de Curitiba

que abriram os seus arquivos sobre cinema paranaense com sorrisos estimulantes. Agradeço

também a Biblioteca Pública do Paraná, principalmente a Divisão de Documentação

Paranaense, onde pude consultar uma infinidade de pastas durante as manhãs preguiçosas de

sábado. Também agradeço ao Núcleo de Documentação Histórica da UTFPR (NUDHI) onde

encontrei verdadeiras preciosidades.

Espero que esse trabalho seja parte do meu agradecimento aos entrevistados que se

mostraram extremamente prestativos e solidários ao revelarem suas participações nas

Mostras. Fico grato ao Jorge Luiz Bostelmann por abrir para mim as portas da sua casa aqui

em Curitiba e, também àqueles que, mesmo longe, como Hélio Lemos, Francisco Simões e

Elisabeth Karam, responderam meus e-mails com muita atenção e carinho.

Não posso deixar de agradecer a meus colegas de turma por compartilharem comigo

as alegrias, angústias e a dedicação inerentes ao cursar uma universidade.

Por fim, mas não menos importante, meu agradecimento a Bruna, por me fazer rir

sempre.

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“Nunca se deve subestimar o poder de compartilhamento da experiência humana”

Paul Thompson

“O trabalho (de pesquisa) deve ser assumido no desejo. Se essa assunção não se dá, o trabalho é moroso, funcional, alienado, movido apenas pela necessidade de prestar um exame, de obter um diploma, de garantir uma promoção na carreira”.

Roland Barthes

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RESUMO

Este trabalho apresenta o resgate histórico das cinco Mostras de Cinema Super-8 que

ocorreram na Escola Técnica Federal do Paraná, hoje Universidade Tecnológica Federal do

Paraná, no final da década de 70. Sob esse aspecto procura encontrar, nesse passado, fatos

que possam reverberar no presente da Instituição, além de contextualizar e retomar a

importância dessa manifestação cultural como parte integrante da história do cinema

paranaense e brasileiro dos anos 70. Para realizá-lo, foi feita, inicialmente, uma breve revisão

bibliográfica sobre o que hoje se denomina História Empresarial, para logo depois

divulgarmos como transcorreram essas cinco edições, por intermédio de jornais da época,

documentos que se mantinham até o momento depositados nos arquivos da UTFPR e relatos

orais de participantes.

Palavras-chave: Super-8, UTFPR, Resgate Histórico, Cinema Paranaense, Memória

Empresarial.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................71.0 MEMÓRIA: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO...........................................8

1.1 MEMÓRIA EMPRESARIAL ........................................................................................... 9 1.2 MEMÓRIA SOCIAL ..................................................................................................... 11 1.3 MEMÓRIA E ACONTECIMENTO ............................................................................. 11 1.4 MEMÓRIA E IDENTIDADE ...................................................................................... 13 1.5 AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA EMPRESARIAL .......................... 15

2.0 O Super-8 na ETFPR: elementos para uma história...........................................................17 ..................................................................................................................................................17

2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.....................................................17 2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE.....................................................17 2.1.2 BREVE HISTÓRIA DO SUPER-8 ............................................................................ 18 2.1.3 A I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR - 1975 ........................................... 20 2.1.4 GODARD E ALAIN RESNAIS NA ETFPR ............................................................. 23 2.1.5 A CENSURA E a Mostra DE 1975 ............................................................................ 23 2.1.6 RELATO – Jorge Luiz Bostelmann ............................................................................ 24 2.1.7 A PEDRA FUNDAMENTAL DO CINEMA PARANAENSE ................................. 26 2.1.9 A III Mostra Nacional DO FILME Super-8 - 1977 .................................................... 29 2.1.10 RELATO – Hélio Lemos .......................................................................................... 30 2.1.11 A CENTRAL DE PRODUÇÃO DE FILMES DIDÁTICOS da ETFPR ................. 31 2.1.12 A IV Mostra de Filme Super-8 da ETFPR- 1978 ..................................................... 32 2.1.13 RELATOS: Francisco Simões e Elisabeth Karam ................................................... 35 2.1.14 A V Mostra de Filmes Super-8, na ETFPR - 1979 .................................................. 37 2.1.15 UM FIM NÃO ANUNCIADO ................................................................................. 38

3.0 CONCLUSÃO....................................................................................................................39ANEXOS..................................................................................................................................40Anexo 1: Capa do suplemento especial dedicado à I Mostra Internacional de Filme Super-8, da ETFPR..................................................................................................................................41REFERÊNCIAS........................................................................................................................51

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INTRODUÇÃO

No final da década de 60 e início da de 70, uma tecnologia fílmica despontava no

Brasil e também no exterior: era a câmera Super-8. Em um formato mais simples que as

existentes naquele tempo, ela era voltada para o público amador. No entanto, em pouco tempo

essas câmeras passaram a ser utilizadas também de forma profissional. É nesse momento de

ascensão que surgem festivais e mostras de cinema que procuravam apresentar a produção

que se acumulava e debater as limitações do formato Super 8.

Esses festivais tiveram fundamental importância para a divulgação da intensa

produção feita tanto aqui como no exterior e que recebe, hoje, uma atenção especial por parte

dos estudiosos do cinema brasileiro.

Ao nos aprofundarmos nas cinco edições de Mostras Super-8 que ocorreram

anualmente na ETFPR, de 1975 a 1979, procuramos resgatar parte da história da instituição

que parece desconhecida, assim como retirar, dessas edições, elementos que ainda encontrem

ecos no presente.

É preciso lembrar que esse acontecimento, que durou cinco anos, ocorreu no momento

em que o país atravessava um período politicamente conturbado. O regime militar vigorava

sob o comando do General Ernesto Geisel que, apesar de assumir o governo prometendo um

processo gradual e seguro de retorno à democracia, a conhecida “distensão”, deixou que

continuasse presente a censura e repressão. Basta recordarmos que em 1975 ocorre o

assassinato do jornalista Vladimir Herzog na sede do DOI-CODI em São Paulo e que, durante

os anos que se seguiram, a imprensa e as atividades artísticas e culturais continuaram sendo

alvos de perseguições.

Na primeira edição da Mostra de Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná, em

1975, filmes internacionais inscritos no evento não foram exibidos devido à censura. Essa

mesma atmosfera de ameaça e coerção vai permear as Mostras dos outros anos e estar

presente de forma mais direta na edição de 1977, como nos conta Hélio Lemos, participante

da III Mostra Nacional do Filme Super-8, em seu depoimento. Dessa forma, o resgate das

Mostras de Super-8 da ETFPR deve entendido também a partir desse contexto histórico.

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1.0 MEMÓRIA: UMA POSSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO

“Nunca se deve subestimar o poder de compartilhamento da experiência humana”,

essa frase do estudioso britânico Paul Thompson, que se transformou em uma das epígrafes

que abre esse trabalho, consegue condensar, de maneira clara, aquilo que iremos tratar nessas

primeiras páginas durante a abordagem teórica sobre Memória Empresarial.

Mas, antes de começarmos a tratar da Memória Empresarial, é necessário que façamos

algumas considerações sobre a memória, “esse espaço móvel de divisões, de disjunções, de

deslocamentos e de retomadas, de conflitos de regularização... Um espaço de desdobramentos,

réplicas, polêmicas e contra-discursos.”(PÊCHEUX, 1999, p. 56).

A partir do conceito expresso por Michael Pêcheux é possível entender que a memória

apresenta contornos fluídos e que o seu caráter movente tem a possibilidade de transitar em

diversas direções.

Tais características nos são importantes porque é a partir delas que podemos entender

que “A memória em sua potencialidade permite reacender utopias, reconstituir outros tempos,

representar diferentes idéias e ideais, reativar emoções, rememorar convivências ou

conflitos”. (NEVES, 2000, apud CAPRINO; PERAZZO, 2008, p.117).

Não sendo matéria imutável, a memória apresenta, portanto, variações na sua

construção e na sua posterior sedimentação permitindo que, em determinadas situações, ela

reconstrua os fatos assimilados no passado, a partir do contexto atual. Se pudéssemos tomar

de empréstimo a adjetivação “líquida”, criada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, para

definir a pós-modernidade, poderíamos estabelecer o termo memória líquida, pois, ao

contrário da matéria sólida que se caracteriza pelo seu caráter inflexível e estável, a matéria

líquida guarda entre suas características a capacidade de reorganização, expansão e

mobilidade, como a memória.

Vista sob essa ótica, pode-se afirmar que a memória não se constrói somente a partir

dos fatos que vivenciamos e guardamos. Segundo Pollack:

A memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa. A memória também sofre flutuações que são em função do momento em que ela é articulada, em que ela está sendo expressa. As preocupações do momento constituem um elemento de estruturação da memória. (POLLACK, 1992, p. 4)

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Apesar de ser relativamente mais fácil para nós concebermos a memória como uma

construção individual, é preciso incluir em nosso entendimento que a memória também é uma

construção coletiva e, principalmente, social, sendo, assim, submetida a variações e

transformações (POLLACK, 1992).

1.1 MEMÓRIA EMPRESARIAL

Nos últimos anos, artigos e livros começam a apontar a denominada Memória

Empresarial como um elemento valioso que pode, desde que corretamente gerenciado, gerar

nas organizações a ratificação dos seus discursos e também uma análise mais profunda de

cultura organizacional. Isso acontece porque,

ao compreender a vida de uma organização disposta na linha do tempo, podemos distinguir quão importantes foram e são os fatos históricos, as reações, as linhas de comando e o perfil que ela vai incorporando, traduzindo-se na própria maneira de ser da organização (MARICATO, 2006, p.126)

Paulo Nassar, Diretor-Presidente da Associação Brasileira de Comunicação

Empresarial - ABERJE conceitua história empresarial, em seu livro Relações Públicas na

construção da responsabilidade histórica e no resgate da memória institucional das

organizações como um:

Campo controverso de pesquisas que, na atualidade, se debruça, cada vez mais, sobre os acontecimentos das organizações, os seus integrantes e dirigentes, bens e serviços e seus relacionamentos com a sociedade e os seus públicos, configurando o que se denomina história empresarial. (NASSAR, 2007, p. 111)

Classificada como um “campo controverso”, a História Empresarial sistematiza o

relacionamento entre a instituição e os seus públicos, enquadrando esse relacionamento em

um contexto histórico e social. Essa preocupação com os acontecimentos da organização tem

suas raízes nas Relações Públicas, que tem como uma de suas principais finalidades

satisfazer os interesses de todos os públicos da organização.

Segundo Flávia Borges, no artigo “A memória da empresa: construindo arquivos

empresariais” publicado no livro Memória e Cultura: a importância da memória na formação

cultural humana:

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Para as empresas, sem dúvida, a preservação da memória serve de suporte para redefinições estratégicas de negócios e de comunicação interna e externa e, neste sentido, é um instrumento valioso para a gestão da cultura e do conhecimento em um cenário marcado por transformações sociais e econômicas em um mercado extremamente competitivo. (BORGES, 2007. p.285)

Quando implementados, os programas de Memória Empresarial podem oferecer às

instituições uma série de benefícios e ser uma grande aliada da organização como exposto

pela autora. Além disso, essa tendência se revela importante também porque as empresas

perceberam que tantos os registros físicos do passado como as pessoas que vivenciaram os momentos históricos estavam ser perdendo. Com eles, ia-se também a compreensão dos processos passados, e consequentemente, de seus reflexos no presente. (TOTINI; GAGETE, 2004, p.119)

Sob essa ótica, a história da organização acabou por se tornar uma manifestação clara

da sua cultura e da sua identidade, pois é a história que:

[...] constrói, a cada dia, a percepção que o consumidor e seus funcionários têm das marcas, dos produtos, dos serviços. O consumidor e o funcionário têm na cabeça uma imagem, que é histórica. Uma imagem viva, dinâmica, mutável, ajustável, que sofre interferências de toda natureza. A imagem, somada à reputação, é determinante para o cidadão, nas inúmeras situações em que se relaciona com a empresa, e para o empregado, na hora de se aliar á causa da empresa. Por isso, todo cuidado é pouco e toda atenção é necessária. (NASSAR, 2007, p.139)

Dessa maneira, ela se tornou a principal fonte em que, tanto o público interno quanto o

externo procuram como primeiro referencial. Analisar esse processo histórico em que a

empresa está inserida e evidenciá-lo da maneira mais adequada se tornou indispensável para o

fortalecimento da marca de uma empresa.

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1.2 MEMÓRIA SOCIAL

Para melhor compreender o resgate que estávamos das Mostras de Super-8 realizadas

na Escola Técnica Federal do Paraná na década de 70, que estávamos realizando recorremos

também a outras classificações de memória. Umas dela foi a de memória social que Marilena

Chauí, em seu livro Convite à Filosofia, vai conceituar como aquela que:

É fixada por uma sociedade através de mitos fundadores e de relatos, registros, documentos, monumentos, datas e nomes de pessoas, fatos e lugares que possuem significado para a vida coletiva. Excetuando-se os mitos, que são fabulações, essa memória é objetiva, pois existe em objetos (textos, monumentos, instrumentos, ornamentos, etc.) e fora de nós; (CHAUÍ, 2002, p.129).

Cientes da importância dos depoimentos e fontes impressas que constituem a memória

histórica e social, direcionamos o nosso trabalho de reconstrução da história das Mostras de

Super-8 da ETFPR para a pesquisa em jornais publicados no final dos anos 70 e para a

tomada de depoimentos de quem participou ou presenciou a realização dos eventos.

1.3 MEMÓRIA E ACONTECIMENTO

Ao realizar o resgate histórico que compõem o corpo desse trabalho nos foi importante

chegar à noção de acontecimento histórico. Para Paulo Veyne (1983, p.54 apud WORCMAN;

PEREIRA, 2006, p.202) “os acontecimentos não são coisas, objetos consistentes, substâncias;

são um corte que operamos livremente na realidade, um agregado de processos onde agem e

padecem substâncias em interação, homens e coisas”. Nesse sentido, o acontecimento seria

aquilo que submerge a simples realidade para modificá-la, como se fosse, usando uma

metáfora, uma cicatriz.

Segundo Davallon (1999, p.25)

Para que haja memória, é preciso que o acontecimento ou o saber registrado

saia da indiferença, que ele deixe o domínio da insignificância. É preciso que

ele conserve uma força a fim de poder posteriormente fazer impressão.

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Essa força que poderia fazer com que as Mostras de Cinema Super-8 na ETFPR

saíssem do esquecimento estava no resgate desse acontecimento e também na aceitação do

que Barthes expõe no seu ensaio “Da história ao real”, de que:

O prestígio do que aconteceu tem uma importância e uma amplitude verdadeiramente históricas. Há um gosto de nossa civilização pelo efeito de real, atestado pelo desenvolvimento de gêneros específicos como o romance realista, o diário intimo, a literatura de documento, o fait divers, o museu histórico, a exposição de objetos antigos e, principalmente, o desenvolvimento maciço da fotografia, cujo único traço pertinente (comparada ao desenho) é precisamente significar que o evento representado realmente se deu. (BARTHES, 1984, p. 178 - 179).

Procuramos esse efeito de real em nosso projeto a partir das notícias extraídas de

jornais sobre as Mostras, procuramos também destacar as peculiaridades de cada edição e

contextualizá-las no quadro maior que seria o de seu reconhecimento como parte integrante da

história da UTFPR, instituição que se tornou centenária no ano de 2009, e também na história

do cinema paranaense e nacional da década de 70 com o cuidado necessário para comprovar a

sua relevância porque:

Lembrar um acontecimento ou um saber não é forçosamente mobilizar e fazer jogar uma memória social. Há necessidade de que o acontecimento lembrado reencontre sua vivacidade; e, sobretudo, é preciso que ele seja reconstruído a partir de dados e de noções comuns aos diferentes membros da comunidade social. (DAVALLON, 1999, p. 25)

Essa vivacidade de que fala Davallon é encontrada quando o fato histórico resgatado

ainda encontra ecos no presente. É preciso que o objeto do resgate tenha alguma relação de

importância ou mesmo de continuidade com a atualidade.

O cuidado com a comprovação da importância das Mostras Super-8 da ETFPR se

deveu, principalmente, pelo conhecimento de que ao lidarmos com um acontecimento inscrito

no passado nós podemos correr alguns riscos como orienta Burke:

À medida que os acontecimentos retrocedem no tempo, perdem algo de sua especificidade. Eles são elaborados, normalmente de forma inconsciente, e assim passam a se enquadrar nos esquemas gerais correntes. Na cultura esses

Page 15: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

esquemas ajudam a perpetuar memórias, sob custo, porém de sua distorção. (BURKE, 2005, p.88)

Trabalhando com fatos ocorridos há trinta anos atrás tínhamos consciência das

dificuldades que encontraríamos ao tentar tecer uma história completa, com todos os fatos que

permearam as Mostras, assim como das dificuldades inerentes à distância temporal de

conseguirmos um resgate preciso dos acontecimentos a partir de depoimentos e também dos

materiais coletados nos jornais da época. Ao realizar um resgate é preciso o

Reconhecimento do fato de que sempre é possível interpretar de outra forma o mesmo complexo e, portanto, a admissão de um grau inevitável de controvérsia, de conflito entre interpretações rivais; em seguida, a pretensão de dotar a interpretação assumida com argumentos plausíveis, possivelmente prováveis, submetidos à parte adversa; finalmente, a confissão de que, por trás da interpretação, subsiste sempre um fundo impenetrável, opaco, inesgotável, de motivações pessoais e culturais, do qual o sujeito jamais acabou de dar conta. (RICCEUR, 2007, p.351)

Assim, procuramos respeitar os diferentes enfoques dados pelos depoimentos, assim

como registramos as informações de jornais e documentos da época.

Ao entrar em contato com pessoas que participaram de forma ativa das Mostras,

observamos que:

Retomar a memória pela possibilidade narrativa das pessoas, permite, de forma inovadora na sociedade pós-moderna, recolocar o papel do comunicador social, dessa vez como mediador e não como informante ou meramente emissor ou reprodutor (CAPRINO; PERAZZO; 2008, p.119)

Esse papel que os autores delegam ao novo comunicador social, um ator que apenas

faz a mediação, mais do que informar ou repetir a informação foi um dos caminhos pelos

quais decidimos seguir, porque só como meros informantes teríamos um trabalho mais

limitado, além de uma interpretação mais restrita.

1.4 MEMÓRIA E IDENTIDADE

Segundo Paul Argenti, a identidade de uma empresa é:

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A manifestação visual de sua realidade, conforme transmitida através do nome, logomarca, lema, produtos, serviços e instalações, folheteria, uniformes e todas as outras peças que possam ser exibidas, criadas pela organização e comunicadas a uma grande variedade de públicos. Os diferentes públicos formam, então, percepções baseadas nas mensagens que as empresas enviam de forma tangível. Se essas imagens refletirem com precisão a realidade organizacional, o programa de identidade terá obtido êxito. (ARGENTI, 2006, p.81)

Essa identidade pode ser modificada, amplificada ou mesmo ratificada através da

faceta que escolher para trabalhar a história da empresa. A memória, dessa forma, se relaciona

com a identidade, porque ela

é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual

como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente

importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de

um grupo em sua reconstrução de si. (POLLACK, 1992, p.5)

As organizações hoje necessitam de uma identidade clara e coesa principalmente

porque ela “costura (ou para usar uma metáfora médica,“sutura”) o sujeito à estrutura.

Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos

reciprocamente mais unificados e predizíveis”. (HALL, 2006, p.12). Nesse sentido, ressaltar

os elementos que formam a identidade corporativa de uma organização como: valores,

filosofias, padrões e objetivos da empresa, a partir da sua história pode contribuir para

coerência que toda a instituição busca. (Argenti, 2006)

Quando a Memória Empresarial é trabalhada visando a um fortalecimento de

identidade e, ambos os elementos, ficam suficientemente amarrados, Pollack argumenta que,

[...] os questionamentos vindos de grupos externos à organização, os problemas colocados pelos outros, não chegam a provocar a necessidade de se proceder a rearrumações, nem no nível da identidade coletiva, nem no nível da identidade individual. Quando a memória e a identidade trabalham por si sós, isso corresponde àquilo que eu chamaria de conjunturas ou períodos calmos, em que diminui a preocupação com a memória e a identidade. (POLLACK, 1992, p.7)

Page 17: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

No caso especifico do resgate da história das Mostras de Super-8 da ETFPR, os fatos

projetaram a Instituição para além de seus limites físicos levando-a a fazer parte da história do

cinema brasileiro e colocando a Escola Técnica Federal do Paraná como um importante

reduto do cinema produzido no país no final da década de 70, fortalecendo, dessa maneira sua

identidade.

1.5 AÇÕES PARA PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA EMPRESARIAL

Atualmente, uma série de ações para preservação da memória empresarial ocorrem em

organizações de todo o Brasil. Isso se deve, principalmente, pelo fato de que:

[...] ações, tem sido cada vez mais cobrada pela sociedade. Desta forma, o conhecimento da história da empresa passa a ser um novo critério a ser observado, em razão de seu potencial em agregar valor aos produtos e serviços das organizações. Como efeito dessa nova tendência surge o desafio por parte das empresas em valorizar sua história e resgatar sua memória. (MARICATO, 2006, p. 128)

Apesar dessa movimentação ser uma tendência atualmente, e, consequentemente, mais

sistematizada e estudada, na década de 80, no Brasil, algumas empresas já realizavam

investimentos em Centros de Documentação e Memória embora com outro enfoque. Como

expõe Borges,

Na época, os modelos de gestão mais inovadores incorporavam novos conceitos de marketing social e cultural. As empresas procuravam maior agilidade e mudanças culturais, e a História era vista então como uma ferramenta de análise de suporte para a gestão das áreas de Comunicação e Recursos Humanos. Por outro lado, as empresas familiares viam no trabalho histórico um reforço de suas culturas, identidades, valores e “mitos”. (BORGES, 2007, p.284)

Presentemente se sabe que “fortalecer o senso de pertencimento e de autoria de cada

um, somado à possibilidade de fazer-se “ouvir” é o grande sentido social que um projeto de

memória pode adquirir.” (WORCMAN; PEREIRA, 2006, p. 204).

Nesse campo, as narrativas orais também começam a ganhar mais prestígio. Nos dias

atuais áreas das Ciências Humanas e também das Ciências Sociais estão se voltando com mais

atenção para aquelas narrativas que, de certa forma, ficaram à margem do que denominamos

Page 18: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

de “história oficial”. Por isso, criações pioneiras como a do Museu da Pessoa, em São Paulo,

passam a ganhar mais espaço.

Constituído como organização da sociedade civil de interesse público, sem fins

lucrativos,

O Museu da Pessoa tem sua sede de trabalho na cidade de São Paulo. Em 1997 estreou seu primeiro site e, em 2003, lançou o portal (www.museudapessoa.net), com ferramentas para pessoas e comunidades criarem sua própria coleção de histórias. (WORCMAN; PEREIRA, 2006, p. 199)

Todo esse esforço aparenta estar mais forte, porque:

A memória está na ordem do dia, a memória está presente na multiplicação dos museus, nas “instituições da memória”, centros de memória, arquivos, memórias de empresas, memórias de partidos, de igrejas, de famílias, de clubes, de ONGs, nos documentários, novelas de época, moda retrô, movimentos sociais de preservação de bens culturais, reivindicações de identidade e cidadania, etc. ( MENESES, 2007, p.20)

A expressão “ordem do dia”, empregado por Meneses pode indicar uma insinuação de

modismo, no entanto, a memória empresarial e suas ramificações passam a ter agora, além de

um material bibliográfico ainda mais consistente, também mais ações por parte de grandes

organizações. O que torna essa preocupação irrevogável, já que, a partir dela, se consegue

melhorar o relacionamento com os públicos da organização, fortalecer sua identidade e

compreendermos melhor os processos internos da instituição.

Page 19: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

2.0 O Super-8 na ETFPR: elementos para uma história

“Os festivais de cinema em Super-8 organizados pelo Teatro Guaíra e pela Escola Técnica Federal do Paraná, (atual Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET-PR) revelaram importantes curtas-metragistas, como os irmãos Wagner (Helmut Jr., Rosana, Ingrid e Elizabeth), que iniciaram sua carreira com Metamorfose (Super-8, 1977) e seguiram fazendo cinema de animação até os anos 90.”

ENCICLOPÉDIA DO CINEMA BRASILEIRO – ORGANIZADORES: FERNÃO RAMOS E LUIZ FELIPE MIRANDA

“O que possibilitou a expansão do movimento superoito, no Paraná como em outros estados, foram os festivais. Um dos dois mais importantes realizados em Curitiba, o Festival Nacional de Cinema em Super 8, coordenado por Silvio Back (1974 e 1975), evidenciou a heterogeneidade na bitola. Mas foi a então Escola Técnica Federal do Paraná (hoje Centro Federal de Educação Tecnológica) que, com a Mostra Nacional de Filme em Super-8 (1975-1979), consolidou o movimento local e permitiu o intercâmbio de informações, o que contribuiu para a formação de profissionais do cinema.”

CINEMA DO PARANÁ - ELEMENTOS PARA UMA HISTÓRIA – CELINA ALVETTI

2.1.1 POR UMA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE

Page 20: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Voltamo-nos para as edições das Mostras de Cinema Super-8 (1975-1979) ocorridos

na então Escola Técnica Federal do Paraná (ETFPR), hoje, Universidade Tecnológica Federal

do Paraná (UTFPR), com um distanciamento de quem não viveu essa história. Pretendemos

revisitar o que restou desse acontecimento que, embora curto, foi suficiente para que ficasse

inscrito na trajetória do cinema paranaense e do cinema nacional da década de 70. Buscamos

uma limitada reconstituição desse passado que só foi importante por possibilitar certa

compreensão do presente.

É preciso que se reconheça já no início dessa apresentação, a impossibilidade desse

resgate apresentar explicações que sejam categóricas sobre o começo, término e meandros de

todas as edições. Trabalha-se, aqui, antes de tudo, com vestígios. Grande parte desse trabalho

foi possível a partir de dois grandes estudiosos do cinema paranaense: Francisco Alves do

Santos e Celina Alvetti, cujo trabalho pioneiro sobre a história do cinema paranaense é um

referencial. Nosso projeto, inclusive, referencia esse trabalho tomando de empréstimo parte

do título de seu livro Cinema Paranaense: elementos para uma história.

2.1.2 BREVE HISTÓRIA DO SUPER-8

As câmeras e cartuchos de Super-8 passaram a ser comercializados na metade da década

de 60, mas foi na década de 70 que a novidade começava a se consolidar como instrumento

democratizador do registro das imagens em movimento. Apresentando um manuseio mais

simples e, por conseguinte, mais dinâmico, esse novo formato modificou a memória dos

acontecimentos caseiros e, por um efêmero período, o modo de se fazer cinema. A câmera de

Super-8, voltada ao público amador, era o equipamento ideal para realizar pequenos vídeos

que podiam captar desde aniversários infantis até imagens de viagens de lua-de-mel. No

entanto, não tardou para que essa função “caseira” da câmera fosse substituída para se tornar

uma ferramenta de produção artística. Assim, na década de 70, no Brasil e no exterior,

cineastas começaram a utilizá-la para realização de filmes de ficção e documentários. A

expansão foi intensa e, para abrigar todas essas realizações fílmicas, festivais e mostras foram

criadas no exterior e também em território nacional com a intenção de apresentar essas

produções.

No Paraná, pode-se dizer que a história do Super-8 tem início em 1974 no FESTIVAL

NACIONAL DA BITOLA que teve à frente, como coordenador, o cineasta Sylvio Back. Esse

Festival aconteceu no Teatro Guaíra, e teve apenas duas edições, uma em 1974 e outra em

Page 21: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

1975, o bastante, no entanto para que despertasse a atenção da crítica e movimentasse os

realizadores paranaenses de Super-8 ainda tímidos e sem espaço de exibição no estado.

No Brasil, dois festivais incontestavelmente são essenciais para observar o desenrolar

do Super-8 no país. Um dos maiores foi a Jornada da Bahia que surgiu em 1972, três anos

antes da primeira edição da mostra na ETFPR, e que resiste até hoje, obviamente cedendo

espaço a outros formatos e suportes de filmes. O outro festival significativo da época foi o

notório GRIFE, nome como ficou conhecido o Super Festival Nacional do Super-8, em São

Paulo. Realizado entre 1973 e 1983, tornou-se um dos mais importantes festivais de bitola do

país, premiando vários realizadores paranaenses.

Comum a esses festivais era a motivação dos diretores que, antes da premiação e o do

reconhecimento, tinham por objetivo apresentar suas produções ao grande número de pessoas

que frequentavam esses eventos. Sem esses canais, os filmes produzidos na nova bitola

ficariam limitados a restritas sessões caseiras, ou mesmo às realizadas em pequenos

cineclubes.

O que diferenciava um festival do outro, além da localização e abrangência, eram as

suas propostas. Enquanto o GRIFE e a Jornada da Bahia propunham uma discussão mais

centrada sobre o Super-8, os festivais realizados na ETFPR, buscavam algo a mais do que

isso.

Realizado por uma instituição de ensino, as edições contemplavam, além das

categorias comuns a eventos similares, a produção de filmes didáticos como uma das

categorias passíveis de premiação. O incentivo dado a essa categoria deu origem, em 1977, a

uma Central de Produção de Filmes Didáticos sediada pela Escola Técnica que produziu, até

sua extinção, um acervo de cerca de 300 filmes que registraram atividades didáticas de todas

as áreas de ensino da Escola.

Aos poucos, o Super-8 passou a ganhar espaço em outras mídias. Na TV Cultura havia

um programa semanal chamado “Ação Super-8” que teve início em 1975 e que tinha como

proposta entrevistar realizadores, gravar reportagens sobre os festivais de bitola e exibir

trechos de filmes em Super-8. Já nos jornais impressos havia alguns veículos que mantiveram

inclusive colunas exclusivas ao Super-8, como a Folha da Tarde, em São Paulo, a revista Íris,

e até mesmo O Pasquim, cuja coluna era mantida pelo jornalista Carlos Sampaio, jurado da

Primeira Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR. Nos veículos paranaenses, podemos

destacar os jornais O Estado do Paraná, principalmente a coluna Tablóide, de Aramis

Millarch, Gazeta do Povo, Jornal do Estado, Diário do Paraná e A Voz do Paraná.

Page 22: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

2.1.3 A I MOSTRA INTERNACIONAL DE SUPER-8, DA ETFPR - 1975

A NEVE QUE VI PELA PRIMEIRA VEZ

A Primeira Mostra dedicada ao filme Super -8 realizada pela então Escola Técnica

Federal do Paraná, hoje UTFPR, ganhou o nome de “Primeira Mostra Internacional do Filme

Super-8” e aconteceu de 22 a 28 de setembro sob a coordenação da Professora Rosane

Saldanha Câmera e do cineasta José Augusto Iwersen (v. Anexos 1, 2 e 3). Foram sete dias

em que os filmes Super -8 tiveram um espaço amplo e propício a sua exibição e discussão.

Passou pela Primeira Mostra toda uma produção fílmica que, analisada hoje, nos ajuda a

compreender porque a década de 70 é frequentemente vista como a década em que ocorreu o

Boom do filme Super-8.

Vagotomia super seletiva, Desarticulação interescapulotorácica, Chuleio de varizes

esofageanas. Títulos estranhos para filmes Super-8? Sim, pois todos esses termos fazem parte

do jargão médico usados pelo médico-cineasta Dr. Alfredo Duarte para nomear três

documentários científicos feitos por ele, a partir cirurgias que o médico realizou em vários

hospitais de Curitiba, e inscritos na Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8, da

ETFPR.

Apesar da especificidade dessas produções elas foram apresentadas sem nenhuma

restrição ao público. Consideradas pela crítica como bem realizadas e produzidas, essa

películas não obtiveram nenhuma premiação tendo em vista a inexistência de uma categoria

onde pudessem ser encaixadas.Coincidência ou não, os primeiros inscritos na Mostra foram

médicos curitibanos, conforme comprova a nota publicada pelo jornalista Aramis Millarch em

sua coluna no jornal Estado do Paraná do dia 21 de agosto de 1975, aproximadamente

quatro meses antes do início da Mostra. No texto, o jornalista e crítico de cinema informava

que os primeiros quatro filmes inscritos na Mostra eram dos médicos João Alfredo Duarte,

João Batista Marchesine e João Batista Neon.

De todos os Joões, João Alfredo Duarte foi o único a ser premiado. O seu

documentário A Neve ganhou como “melhor filme sobre a neve”, categoria criada sobre

inspiração dos flocos brancos que os curitibanos enxergaram descer em 17 de julho de 1975.

A disputa não foi muito acirrada, já que só havia outro filme inscrito, A neve que vi pela

primeira vez, de Edson Kolbe, Super-8 que, assim como o filme vencedor, documentou a

neve se adensando sobre toda a capital em um dos dias mais frios que cidade já atravessou.

Page 23: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

CORPO DE JURADOS

Ao contrário das mostras que se seguiram, a Primeira Mostra não apresentou júri

popular, apenas um júri oficial que durante todas as edições tradicionalmente foi composto

por profissionais reconhecidamente notórios em seus campos de atuações. Na primeira edição

podemos destacar a presença de Ozualdo Candeias, Carlos Sampaio, Aramis Millarch,

Valêncio Xavier e Francisco Alves dos Santos, crítico de cinema e autor do Dicionário de

Cinema Paranaense, entre outras publicações. Abaixo podemos conhecer um pouco sobre

cada um dos profissionais que compuseram o júri oficial da I Mostra.

CARLOS SAMPAIO

Publicitário e Desenhista, foi professor de cinema em Super-8 e escreveu sobre o

assunto, sendo um de seus livros lançado em Curitiba, em 1977, Super 8 e quadrinhos,

produto derivado da coluna que mantinha no jornal Pasquim.

OZUALDO CANDEIAS

Ozualdo Candeias, falecido em 8 de fevereiro de 2007, aos 88 anos, foi um dos

percussores do chamado Cinema Marginal, movimento que surge na década de 70, pós-

Cinema Novo, e que apresenta em seus filmes características como a ideologia da

contracultura e uma crítica ácida à sociedade do consumo.

Sua primeira experiência cinematográfica é com o curta-metragem Tambau – Cidade

dos Milagres (1955), mas é no longa A margem que faz um filme emblemático que logo se

torna referência ao grupo de cineastas que, assim como ele, durante um curto período de

tempo fez um tipo de cinema marcado por uma estética que buscava contestar a própria

linguagem cinematográfica, contrariando em alguma parte o mote principal do Cinema Novo

que buscava levar radicalmente às telas o processo político e cultural pelo qual o Brasil

passava.

Candeias estabeleceu com Curitiba uma relação muito particular. Além de ministrar

cursos de direção de atores a convite do Museu da Imagem e do Som na década de 80,

realizou aqui, em parceria com Valêncio Xavier, A visita do velho Senhor. Já o curta-

metragem Mister Pauer (1988) foi confeccionado durante um curso na Cinemateca.

Page 24: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

ARAMIS MILLARCH

Foi sem dúvida o maior jornalista cultural que o Paraná conheceu e um dos mais

importantes do Brasil. Um dos fundadores da Associação dos Pesquisadores da Música

Popular Brasileira foi também o seu primeiro Presidente. Millarch ao longo da carreira

ganhou vários prêmios, inclusive o cobiçado Esso de Jornalismo. Deixou para a história mais

de 30 anos de relatos jornalísticos sobre o que de mais importante aconteceu no Brasil e no

exterior em termos de cultura.

VALÊNCIO XAVIER

Escritor e cineasta foi primeiro diretor da Cinemateca Guido Viaro, ligada à Fundação

Cultural de Curitiba. Sem nenhuma dúvida, é a figura principal do cinema na década de 70 e

80 em Curitiba, porque centralizou em torno de si toda uma geração de cineastas que teve

nele apoio em suas primeiras realizações. À frente da Cinemateca, além de realizar filmes que

entraram para a história do cinema paranaense, também coordenou atividades de restauração e

cursos livres. Paulistano radicado em Curitiba, tornou-se um célebre escritor, ganhador

inclusive de um prêmio Jabuti. Emprestou a suas obras literárias, muitas vezes, o seu olhar de

cineasta.

CATEGORIAS

As categorias de premiação dessa Primeira Mostra contemplaram 20 áreas, desde as

mais comuns como a de melhor filme, direção, ator e atriz, até algumas curiosas como

“melhor uso do som”, “melhor apresentação”, filme com “melhor mensagem humana”,

“melhor temática paranaense”, oferecido pela Cinemateca do Museu Guido Viaro que acabou

não sendo atribuído, e o já comentado “melhor filme sobre a neve”.

A GEOGRAFIA DOS INSCRITOS

Muitos filmes brasileiros se inscreveram na Mostra. Na geografia dos inscritos, a

maioria dos participantes era do Paraná, incluindo, além de Curitiba, cidades como Maringá,

Londrina e Paranaguá. Dos outros estados brasileiros houve presença maior de São Paulo,

mas estados como o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco também estiveram

presentes.

Page 25: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

PREMIAÇÃO

Os prêmios da primeira edição da Mostra foram, em sua maioria, oferecidos pelos

apoiadores. O Grupo Importador Sosecal (v. Anexo 4) ofereceu projetores sonoros (Bauer

Hertieur – Royal_, Filmadoras (Minolta), iluminadores (Taurolux) Gravadores (Monarch) e

Tripés (Velbon); a Escola Técnica Federal do Paraná ofereceu troféus confeccionados pelo

Curso de Decoração que a Escola Técnica abrigava e certificados, o Instituto Nacional do

Cinema ofereceu cinco mil cruzeiros, o jornal Voz do Paraná premiou os ganhadores com

filmes virgens, a Cinemateca do Museu Guido Viaro ofereceu a produção de filmes , o

Diretório Acadêmico César Lattes ofereceu troféu e dois mil cruzeiros, o Studio 8, ofereceu a

assinatura da revista Super 8 Filmaker, a Esferatur, passagem aos Estados Unidos.

2.1.4 GODARD E ALAIN RESNAIS NA ETFPR

Em nota publicada na seção Tablóide, do jornal O Estado do Paraná, o jornalista

Aramis Millarch divulgou que três filmes de Jean-Luc Godard e Alain Resnais estariam

concorrendo na I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR (v. Anexo 5). A notícia fez

brilhar os olhos de todos aqueles que tinham Godard e Resnais como os ícones da Nouvelle

Vague, movimento cinematográfico que buscou transgredir a velha forma de se fazer cinema.

Apesar de todo o alvoroço diante da possibilidade desses nomes fazerem parte da

Mostra, o evento ocorreu e desses cineastas não há nenhum resquício, não se sabe nem ao

menos se os filmes foram inscritos e, caso tenham sido, se foram inscritos por eles, ou por fãs

que usaram o nome dos diretores como pseudônimos.

O registro da I Mostra confirma a inscrição de filmes internacionais, mas nenhum

deles chegou a ser exibido.

2.1.5 A CENSURA E A MOSTRA DE 1975

Em 1975, o regime militar vigorava sob o comando de Ernesto Geisel, o país vivia sob

estado de forte repressão, e a censura aqui instalada pela Ditadura não deixou de assombrar a

I Mostra Internacional de Super-8, da ETFPR, e seus realizadores, ao limitar a apresentação

dos filmes internacionais inscritos no evento apenas para os jurados.

Page 26: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

De acordo com os registros da I Mostra, os filmes Super-8 internacionais inscritos no

evento foram:

The Angel´s – Filme sueco. Relatando os excessos cometidos por um grupo de motociclistas,

o filme abordava temas como sexo e drogas tendo, por esse motivo, sua exibição limitada a

alguns críticos que manifestaram sua opinião no suplemento especial lançado no final da

Mostra. Para eles, o filme era originas e, apesar das cenas sexo, conseguia escapar da

pornografia e registrar ótima fotografia, música e direção.

The Conference – Filme de Chicago E.U.A., documentava uma reunião em um escritório

entre um homem de negócios, uma mulher de biquíni, Jesus, um cowboy, um jovem radical e

um palhaço. Antes do final do filme Jesus era assassinado.

Seashore – Filme de Atlanta E.U.A. Filme premiado no Festival Internacional de Chicago,

em 1972, pelo seu discurso ecológico. Dirigido por Fred Hudson, mostrava o oceano sob

diferentes aspectos focando, principalmente, os animais que vivem no mar.

2.1.6 RELATO – JORGE LUIZ BOSTELMANN

Jorge Luiz Bostelmann de Oliveira entrou na Escola Técnica Federal do Paraná para

cursar o ensino técnico. Segundo ele, desde muito pequeno desejava se tornar jornalista. No

entanto, previa que o caminho seria mais difícil se não tivesse uma profissão antes de se

formar por isso optou por fazer, junto com a Escola Normal, o Curso Técnico de Edificações

da ETFPR, muito tradicional na época. Na Escola Técnica da década de 70 ele disse ter

encontrado, além do ensino de qualidade, um apoio muito grande a várias formas de artes que

surgiam como atividades extracurriculares. Foi assim que ele teve o primeiro contato com o

grupo de Teatro da ETFPR que naquele ano passara a contar com José Maria Santos, uma

verdadeira lenda do teatro paranaense. Bostelmamm lembra também da premiadíssima Banda

Marcial da Escola. Não demorou para que logo começasse a participar do Centro Acadêmico

e foi junto com esses estudantes que fundou, na Escola, o CineClube Atlântida.

Page 27: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

O CINECLUBE ATLÂNTIDA

Na década de 70, devido a toda uma tecnologia inexistente na época, a projeção de

filmes se restringia ou aos cinemas, ou aos cineclubes, ambientes que tinham uma tradição

muito forte no Paraná. São daquele tempo as atividades realizadas no Colégio Marista, na

Universidade Federal do Paraná e, em 1975, na Cinemateca da Fundação Cultural de Curitiba.

Com uma logística um tanto inusitada para a época, o CineClube Atlântida exibia

filmes aos sábados, geralmente em duas sessões, em sua maioria lotadas. Bostelmann destaca

que eles se preocupavam para que, em cada sessão, houvesse um aluno ou convidado que

ficasse responsável por fazer um estudo prévio antes das projeções para tecer comentários

sobre o diretor, ou a forma de produção dos longas exibidos.

Para conseguir os filmes, ele se dirigia até o Cine Vitória, local em que hoje funciona

o Centro de Convenções de Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco e de lá trazia um saco com

vários rolos de filmes em 16mm. O preço da locação era alto e quem financiava o empréstimo

eram os recursos que o Atlântida recebia da ETFPR. Os filmes eram também repassados para

os colegas da UFPR.

Um ano depois de iniciadas as atividades do CineClube Atlântida, os alunos ficaram

sabendo que a Escola Técnica iria produzir a Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8.

Bostelmann diz não saber muito bem quem foi o idealizador da idéia. No entanto, destaca que

muito daqueles eventos culturais aconteciam por iniciativa do professor Ivo Mezzadri, Diretor

da Escola Técnica que, apesar de agradar uma grande parcela de estudantes inquietos e que

desejavam uma formação mais completa era, por outro lado, criticado por uma parcela mais

conservadora da Escola, que desejava a centralização em um ensino mais técnico.

OS FILMES

Como ainda não tinha nenhuma experiência em feitura de filmes, Bostelmann diz que

recorreu a manuais que tratavam didaticamente sobre como elaborar roteiros. Reunido com

alguns amigos eles trabalharam em uma história baseada em quadrinhos. Como ainda não

tinham câmera, foram socorridos pela Cinemateca que emprestou uma para eles. Para

finalizar o filme contaram com o apoio de Percy Tamplin, cineasta e professor de música, e de

Valêncio Xavier, jurados da Primeira Mostra de Filmes Super-8, da Escola. Foi assim e com a

ajuda também do grupo de teatro da ETFPR que filmaram Enigma, que acabou se tornando o

primeiro filme produzido pela Cinemateca Guido Viaro.

Page 28: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Entre essas idas e vindas até a Cinemateca Jorge viu, em uma lata de lixo, uma série

de filmes Super-8 revelados que haviam sido descartados. Recolheu-os e levou-os para casa.

Inspirado por uma retrospectiva que havia visto anteriormente sobre o cineasta canadense

Normam Mclaren (1914-1987), com uma agulha de costura e um projetor começou a

desenhar uma história na própria película do Super-8, um trabalho artesanal e delicado. Após

vários desenhos ele tinha uma animação que receberia o nome de Cotidiano, filme que

tratava de cenas corriqueiras do dia-a-dia.

Apesar de despretensioso, o filme recebeu elogios de Aramis Milarch que disse que,

apesar das circunstâncias de feitura, o filme era muito criativo. O público também se

entusiasmou, mas como na Primeira Edição não havia Júri Popular, o filme não chegou a ser

premiado.

Bostelmann também participou como ator no filme Apoio, de Mario Braga que venceu

a I Mostra como Melhor Filme Estudantil. O enredo centrava-se no sonho de uma pessoa com

deficiência física sobre sua aceitação pela sociedade.

Após terminar o curso técnico, Bostelmann trabalhou por um breve período na área de

Edificações, passou no vestibular de Jornalismo na UFPR e lá se tornou o primeiro calouro

Presidente do Centro Acadêmico.

Hoje, jornalista do Ministério da Saúde, Jorge Bostelmann destaca que foi uma

experiência fantástica seu envolvimento com o cinema, teatro e atividades do Cineclube, na

ETFPR. Apesar de não ter enveredado para área do audiovisual, o jornalista diz ainda que

isso o ajudou muito no inicio da sua profissão, quando trabalhou na Rede Paranaense de

Televisão.

2.1.7 A PEDRA FUNDAMENTAL DO CINEMA PARANAENSE

1975, além de ser o ano que guarda a primeira edição da Mostra de Filmes Super-8 da

ETFPR e o último do Festival Brasileiro do Filme Super-8 que ocorria no Teatro Guaíra, é

também o ano em que é fundada a Cinemateca do Museu Guido Viaro, instituição que

influenciará positivamente no rumo do cinema paranaense.

Inaugurada em 23 de abril por Valêncio Xavier, seu diretor durante os oito primeiros

anos, a Cinemateca logo se transformou em um pólo centralizador de toda cultura

cinematográfica de Curitiba dos 70 e 80. A partir da visão de Valêncio, o local que poderia

ser só mais uma instituição municipal, representou um verdadeiro alento para os jovens

Page 29: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

cineastas, cinéfilos, ou simplesmente amadores, além de outros profissionais do audiovisual

paranaense que lá encontravam um pequeno refugio seguro para criar e dirigir filmes

paranaenses.

As atividades da Cinemateca não envolviam somente a produção cinematográfica, mas

também a elaboração de cursos práticos, recuperação de filmes, preservação do acervo fílmico

paranaense e atividades de cineclube. Ela também estava recebia cineastas de destaque que

passavam por lá para repartir o que sabiam através de mini-cursos, como Ozualdo Candeias,

Sylvio Back, Rogério Sganzerla e Jean-Claude Bernardet, entre outros. Todo esse apoio e

centralização fizeram com que o cinema paranaense ganhasse um novo capítulo conhecido

como “A geração Cinemateca” que englobava nomes que, a partir daquele espaço, tornaram-

se grandes diretores. Dentre eles podemos citar Peter Lorenzo, Beto Carminatti, Fernando

Severo, Rui Vezaro e Berenice Mendes.

Em 1996, a Cinemateca mudou do antigo endereço na Travessa Nestor de Castro/Rua

São Francisco para a Rua Carlos Cavalcanti, 1174, onde se mantém até hoje oferecendo

cursos de prática de cinema, abrigando lançamentos de filmes e oferecendo para a

comunidade em geral uma programação especial de filmes que não chegam ao circuito

comercial.

Modernizada por uma reforma feita em 2007, hoje ela possui duas salas. Uma com

equipamentos de última geração, batizada de “João Batista Groff”, em homenagem a um dos

cineastas pioneiros do Paraná, exibe filmes clássicos e inéditos filmes de arte que não são

exibidos em outros cinemas. A outra, denominada “Limite”, em homenagem ao clássico de

Mário Peixoto, é dedicada à exibição e apresentações de filmes de diretores locais, mantendo

a tradição de incentivo ao cinema paranaense.

A Cinemateca também possui uma biblioteca especializada em cinema, além de um

acervo de filmes e de materiais preciosos como pastas com recortes de inúmeros jornais sobre

cinema paranaense que nos ajudam a tecer um panorama da nossa história cinematográfica.

2.1.8 A II MOSTRA NACIONAL DO FILME DOCUMENTÁRIO - 1976

SUPER-8 ECONÔMICO

Após realizar a Primeira Mostra Internacional do Filme Super-8 com uma repercussão

além da esperada, pois a Mostra foi muito bem aceita pela imprensa, o organizador da mostra

Page 30: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

José Augusto Iwersen junto com o então diretor da ETFPR, professor Ivo Mezzadri, decidiu

buscar um novo foco. Deixava-se agora toda a abrangência da primeira Mostra para abrigar os

documentários (v. Anexo 6).

Estávamos na década de 70, e o documentário se tornara a forma corrente de denúncia

de uma realidade que gritava, priorizando, em geral, temas de nossa cultura que iam da

religiosidade à cultura popular. Nesse sentido Iwersen, ele próprio um exímio documentarista,

anuncia a primeira mostra do gênero na cidade.

A MOSTRA DO FILME DOCUMENTÁRIO DEIXOU A DESEJAR

Apesar de todo o contexto favorável a uma Mostra dedicada a um gênero

cinematográfico tão popular na época, a Mostra Nacional do Filme Documentário foi

prejudicada pela falta de divulgação. Uma falha grave afinal para um evento que se pretendia

nacional, esse erro comprometeu toda a promoção. Um número reduzido de cineastas se

inscreveu, chegando a haver quem propusesse o adiamento da Mostra.

Com o auxílio das Cinematecas Guido Viaro e a do Museu de Arte Moderna, do Rio

de Janeiro, e também de participantes da edição anterior, a Mostra foi realizada contando com

40 filmes inscritos sendo que a maioria das películas já havia sido exibida na Mostra anterior

ou em outros festivais.

A MOSTRA

Os filmes inscritos na Mostra Nacional do Filme Documentário concorreram em três

categorias: artes plásticas, técnico e cientifico, dificultando o trabalho do júri formado por

integrantes do eixo Rio – São Paulo que encontrou filmes que não se enquadravam em

nenhum desses gêneros.

Tentando encontrar uma solução para o impasse, o corpo de jurados decidiu, em

consenso, avaliar os filmes como “cientificamente didáticos”, destinados a serem utilizados

em sala de aula, como um auxílio no ensino.

Como o novo foco, o prêmio de melhor filme foi para Há uma gota de sangue em

cada poema, denominado também de Maciel. Dirigido por Tuna Espinheira, o filme tratava

de um bairro de Salvador, famoso pela prostituição, miséria, promiscuidade e degradação.

Page 31: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Na categoria de filme técnico foi vencedor o conjunto de filmes que documentavam

cirurgias relevantes e inovadoras na área da saúde, exibido pelo curitibano J. A. Duarte na

edição anterior do Mostra na Escola Técnica.

Na categoria de artes plásticas, o vencedor foi um documentário curto sobre um pintor

primitivo nordestino, dirigido por Pedro Jorge com fotografia de Valter Carvalho.

A Menção Honrosa foi dada aos filmes Sob o ditame de rude almajesto, de Olney São

Paulo, que documentava a previsão da chuva feita pelo nordestino a partir de interpretação ou

leitura dos sinais encontrados na própria natureza, e Palmas para Jesus, em que a diretora

Mariza Leão falava sobre o pentecostalismo que, naquela época, crescia como um fenômeno

religioso considerável. George Jonas levou outra Menção Honrosa pelo conjunto de filmes

Sementinha, que tratava da reprodução de plantas.

O diretor de cada filme selecionado recebeu 7 mil cruzeiros. O júri também concedeu

um prêmio de incentivo para o filme Proteus, uma produção de Cornélio Procópio que

tratava do lançamento frustrado de um foguete construído pelos alunos de uma escola.

2.1.9 A III MOSTRA NACIONAL DO FILME SUPER-8 - 1977

O ano de 1977 marca, no cinema mundial, o surgimento da saga Star Wars, dirigida

por George Lucas, e tido, por muitos, como o marco inicial da era dos chamados

Blockbusters.

No mesmo ano, no dia três de novembro tinha início a III Mostra Nacional do Filme

Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná (v. Anexo 7). Diferente da II Mostra, essa

terceira edição volta a privilegiar todos os gêneros fílmicos.

Aberta a diferentes estilos, a III Mostra recebeu aproximadamente 60 filmes inscritos.

Dentre as inscrições, 20 inscrições foram de cineastas curitibanos, duas de Londrina, duas de

Paranaguá e duas de Cornélio Procópio.

Os prêmios chegaram a 70 mil cruzeiros, sendo 45 mil do Fundo Nacional de

Desenvolvimento e 25 mil da Embrafilme.

Com o objetivo de divulgar o evento em circuito nacional, ao mesmo tempo em que

trazia para a Mostra profissionais da crítica de cinema a prática de incluir jornalistas do eixo

Rio - São Paulo foi mantida nessa III Mostra sendo a escolhida, para essa edição, a jornalista

do jornal O Estado de São Paulo, Pola Vartuk.

Page 32: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

OS VENCEDORES

Favelando, de Hélio Lemos, do Rio de Janeiro, foi o grande vencedor da III Mostra

Nacional do Filme Super-8, recebendo os prêmios de Melhor Documentário (10 mil

cruzeiros), Melhor Filme Estudantil (6 mil cruzeiros) e Melhor Apresentação (3 mil cruzeiros)

.

Tabela, de Henrique de Oliveira/Bernardo Caro e Berenice de Oliveira, de Campinas,

recebeu os prêmios de Melhor Filme de Arte e Melhor Trilha Sonora (6 e 3 mil cruzeiros,

respectivamente). O prêmio de Melhor Filme Didático ficou para Uma viagem em vitrais, de

Hugo Mengarelli e equipe que levou 10 mil cruzeiros. O de Melhor Ficção ficou para Lona

Suja, de Francisco Simões.

Os irmãos Wagner, de Curitiba, receberam, com o filme Ensaios, o segundo lugar na

categoria Didáticos, e filme na de Animação (5 e 6 mil cruzeiros, respectivamente). O de

Melhor Documentário ficou para Círio de Nazaré, de Paes Loureiro, de Belém do Pará. O de

Melhor Fotografia, para Urubu, da Bahia. O de Melhor Roteiro, para Contraponto, de Brasília

e a Menção Honrosa foi para Fausto, de Londrina. O prêmio de incentivo foi para O estranho

mensageiro, de Ciro Matoso.

2.1.10 RELATO – HÉLIO LEMOS

“O Favelando foi feito, inicialmente, como trabalho de grupo de faculdade. Eu era

aluno da ECO, Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas já

tinha certeza que queria fazer filmes. Tinha 21 anos.

Favelando é a história de um grupo de estudantes de jornalismo de classe média

tentando fazer um trabalho sobre remoção de favelas e desigualdade social no Rio. É uma

colagem bastante anárquica sobre poder e cidadania. O filme fez muito sucesso dentro da

faculdade, e resolvemos inscrevê-lo no Festival de Curitiba.

Quando o festival começou, ficamos sabendo pelo Simões – eu ficara no Rio – que o

filme tinha sido proibido pela censura de ser exibido na competição, mas que o Júri decidira

que iria mantê-lo no festival mesmo assim e que ele, mesmo censurado, poderia ser premiado.

Na véspera do dia do encerramento do Festival decidi ir a Curitiba, incentivado pelo

Simões que me dizia que os jurados elogiavam muito o Favelando. O presidente do Júri era o

escritor, professor e cineasta, Marcos Margullies, já falecido.

Page 33: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

A festa de premiação estava para começar quando ficamos sabendo que havia uma

possibilidade de liberação do filme para exibição.

Logo de início, o Favelando ganhou um prêmio de Solução de Apresentação, pois o

filme utilizava, no lugar dos créditos, uma profusão de documentos dos participantes,

arrumados de forma criativa.

Eu subi ao palco super feliz e satisfeito: pronto, já podia voltar para o Rio, o filme

havia ganhado algum prêmio. Segue a premiação e novamente sou chamado ao palco para

receber o prêmio de Melhor Montagem – o filme tinha uma linguagem nova, um jeito de

relacionar som e imagem que provocava e instigava. Eu fiquei muito feliz com este segundo

prêmio, pois adorava montagem e tinha sérias pretensões de me tornar um montador

profissional, o que de fato aconteceu e acontece até hoje.

Começaram a anunciar os vencedores em cada categoria. A nossa chamava Estudantil

e novamente ganhamos como Melhor Filme Estudantil. Neste ponto eu já estava eufórico,

jamais imaginara que pudéssemos ganhar três prêmios. Para encerrar, o apresentador

anunciou o Grande Vencedor do Festival: Favelando, e a minha emoção foi muito forte, pois

logo em seguida as luzes se apagaram e o filme foi exibido – já como grande premiado –

sendo muito ovacionado e bem recebido pelo público. Houve depois um coquetel e nele fiquei

sabendo que o Marcos Margullies havia avisado ao censor, antes da premiação, que dariam

quatro prêmios ao Favelando e conseguiu convencê-lo de que seria melhor liberá-lo para

exibição.

Depois, me formei jornalista, fui estudar cinema em Londres, e trabalhei por mais de

10 anos como editor e montador de longas do cinema brasileiro, até criar minha própria

produtora, a Quadro a Quadro Produções. O Favelando, ainda em 1977, ganhou o segundo

lugar no Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curtas.”

HÉLIO LEMOS, que participou da Mostra Nacional de Filmes Super-8, de 1977 com o

filme Favelando.

2.1.11 A CENTRAL DE PRODUÇÃO DE FILMES DIDÁTICOS DA ETFPR

A Central de Produção de Filmes Didáticos da Escola Técnica Federal do Paraná,

criada com o objetivo de abrir um espaço em que houvesse condições de produzir filmes que

Page 34: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

pudessem melhorar a técnica de ensino na ETFPR, iniciou suas atividades no mesmo ano da

III Mostra Nacional de Super-8. (v. Anexo 8).

A ideia era dar condições para o corpo docente da Escola produzir e utilizar filmes

documentários como elementos pedagógicos. Previa-se também que, a partir de um

laboratório para produção de filmes didáticos, servidores da Escola pudessem ser preparados

para a produção de filmes didáticos para o ensino profissionalizante, além de criar uma

opção de atividade extra classe para os alunos, na área de educação artística. No projeto de

criação da Central (v. Anexo 9)é evidenciado como o cinema havia se tornado, para a Escola,

uma ferramenta educacional:

“É indiscutível a eficácia da linguagem cinematográfica como forma de

apresentação de idéias e conhecimentos. Como recurso didático áudio visual,

o cinema é, até o presente momento, a técnica de maior poder de

esclarecimento e convicção.”

Pela Central passaram grandes nomes do cinema paranaense sendo deles Ruy Vezzaro

que ali atuou de 1982 a 1986 dirigindo filmes técnicos e lecionando sobre técnica

cinematográfica. Vezzaro realizou, na Central, mais de 60 filmes abrangendo as áreas

tecnológicas.

Fernando Severo, hoje um dos mais importantes cineastas paranaenses, também foi

um dos técnicos que atuou na Central.

2.1.12 A IV MOSTRA DE FILME SUPER-8 DA ETFPR- 1978

A IV Mostra de Filme Super-8 foi realizada no Centro Federal de Educação

Tecnológica, nova denominação da Escola Técnica Federal do Paraná, a partir de 1978.

Iniciada no mesmo Auditório que abrigou as edições anteriores, a IV Mostra contou com um

grande público e com a expectativa dos participantes diante da possibilidade de exibir seus

filmes para uma platéia repleta.

Em depoimento ao jornal Correio de Notícias publicado em 9 de novembro de 1978,

Elisabeth Karam, jornalista e diretora do filme Até quando? Inscrito no evento, confirmou a

importância da Mostra para os produtores de Super-8:

“Não há outro jeito. A única maneira da gente poder mostrar um filme

é num festival. Se não mostrar em festivais, ou num encontro de amigos, o

Page 35: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

filme acaba ficando na gaveta. A não ser um possível prêmio num festival, não

há retorno de investimento. No Brasil não há campo, ainda, de exibição para

essa bitola.”

Naquele ano, os prêmios se tornaram ainda mais atrativos estando distribuídos nas

categorias de Melhor Filme da Mostra (20 mil cruzeiros); dos três melhores filmes didáticos

(respectivamente 20,15 e 10 mil cruzeiros); do Melhor Filme Estudantil (10 mil), de Melhor

Documentário (10 mil), de Melhor Filme de Arte (10 mil) e de Melhor Filme de Animação

(10 mil). Para as categorias Roteiro, Fotografia e Melhor Apresentação, a premiação seriam

feitas em forma de material cinematográfico.

A IV Mostra abria também um espaço para discussão em torno do Super-8, estando

incluídas, na programação, palestras sobre cinema no período da tarde. Entre os palestrantes

a Mostra trouxe Abraaão Berman que falou sobre “O super-8 em ação”, André Margulis que

tratou do tema “A importância do cinema como pesquisa e informação” e, por último, Marcos

Margulis que falou sobre “O cinema na educação”.

O júri oficial composto por vinte e um profissionais de diferentes áreas do

conhecimento contou com o professor de estética da Universidade Católica do Paraná,

Roberto Figurelli; com o cientista Freire Maia; com o arquiteto Rubens Meister; com os

jornalistas Francisco Alves do Santos, Marilu Silveira e Aroldo Murá; com o ex-professor da

ETFPR, Guilherme Bender; com os professores do CEFET-PR Ingo Toedler, Antonio

Sokoloski, José Carlos Laurindo, Edson Iwamura, Antonio Venevides e com o representante

da Ótica Boa Vista, Eloir, Baglioli, além do Diretor do Departamento Profissionalizante da

EMBRAFILME, Reinaldo Knittel Dias; de Frederico Góis, Diretor do Departamento de

Assuntos Não Comerciais da EMBRAFILME; de Pedro Natal, representante da Kodak do

Brasil; de Cesar Braga de Oliveira, representante do MEC; de Marcos Margulis, professor da

UFPRJ; de André Margulis, representante da Rede Globo de televisão e Abraão Berman,

cineasta e diretor do GRIFE.

INSCRITOS

Os filmes inscritos na IV Mostra passaram por uma seleção prévia composta por

profissionais ligados à arte, educação e cinema que seguiram os critérios de:

a) adequação do filme aos objetivos da Mostra enunciados no item 2 do Regulamento que

dizia que a IV Mostra Nacional do Filme super-8 era de caráter nacional e que tinha por

objetivo estimular a produção de filmes educativos e de documentários técnicos e científicos

Page 36: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

que poderiam efetivamente contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem

em nosso país;

b) qualidade técnica do filme;

c) adequação à categoria proposta pelo responsável na ficha de inscrição;

d) do prazo de chegada do filme e ainda a falta de ficha de inscrição de alguns filmes que não

puderam ser identificados.

Ao todo foram inscritos 89 filmes sendo 37 do Paraná, 14 do Rio de Janeiro, 18 de São

Paulo, 4 de Brasília, 13 de São Luiz do Maranhão, 1 de Belém do Pará, 2 de Santa Catarina e

1 da Bahia. Desses 89 inscritos foram selecionados 50 filmes.

DESTAQUES

Um dos destaques da IV Mostra foi a temática social explorada pelos 13 filmes que

vieram de São Luís do Maranhão, no total de 13. Entre outros temas os filmes abordaram o

problema do êxodo rural, da baixa condição de vida nordestina e o registro de características

da própria região.

Em 1978, a Central de Produção de Filmes Didáticos do CEFET-PR participou da

Mostra na categoria de Filme Didático, com a produção coletiva Arriamento da Bandeira, que

registrava o ritual cívico da descida da Bandeira Nacional.

PREMIADOS

A IV Mostra do Filme Super-8 foi encerrada no dia 11 de novembro, com entrega de

prêmios e exibição dos filmes premiados.

Epílogo, filme de Claudine Perina, foi o grande vencedor, tematizando os abusos do

homem contra a natureza e a desumanização do mundo moderno. Foi pena Q foi eleito o

Melhor Filme da mostra pelo Júri Popular. Dirigido pelos Irmãos Wagner, de Curitiba, o

trabalho era uma sátira sobre o Descobrimento do Brasil.

Na categoria Didática os três premiados foram: A vida a 18.000 a.c, de Ito Pedro de

Souza, de Curitiba, Movimento Retilíneo Uniformemente Acelerado, de Luiz Roberto Gomes,

de Curitiba e Spelaion, de Clayton Lino que também ganhou na categoria Melhor Fotografia.

Na categoria Estudantil o melhor filme foi Caminhando, de Nelson Martins e Antônio

Domingues, de Curitiba. A cidade dos executivos, também dos Irmãos Wagner, ganhou como

Melhor Filme de Animação e Ora bolas venceu na categoria Artes, com a Melhor Trilha

Sonora e Apresentação.

Page 37: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

O documentário vencedor da Mostra foi Pescadores da Raposa, de Jorge Martins, de

Brasília. O filme teve por tema uma colônia de pescadores do Nordeste.

A Menção Honrosa ficou para Gran Circo Natal, de Francisco Simões. O filme Até

quando, de Elisabeth Karam e o filme Marionete, de Varli Martins recebem os prêmios Voz

do Paraná e Cinemateca do Museu Guido Viaro, por apresentarem relevância à cultura local.

Adaptado de um conto de Dalton Trevisan, o filme O besouro produzido por Hugo

Mengarelli e alunos da Universidade Católica do Paraná recebeu o prêmio de Melhor

Produção da IV Mostra Nacional do Filme Super-8.

2.1.13 RELATOS: FRANCISCO SIMÕES E ELISABETH KARAM

GRAN CIRCO DO NATAL

“Nesse filme tive a intenção de fazer críticas ao ambiente festivo da época natalina

que, infelizmente, não alcança a todos nem a todas as famílias. Expus à crítica também a

exploração comercial levada a efeito naquele período, exibindo um autêntico festival de

anúncios, tanto de revistas quanto da TV.

Mostrei a festa realizada no Estádio do Maracanã, repleto de crianças, com

apresentação de artistas de circo, músicos e cantores e a triunfal chegada de Papai Noel, de

helicóptero. Estive lá com Zezé e filmei todo o acontecimento naquele ano. Durante o filme as

cenas se intercalam num ritmo alucinante e se mesclam com a filmagem que eu fizera na casa

de minha cunhada, Joamar, irmã de Zezé, durante uma noite de Natal com ceia farta, e muita

gente reunida. Essas cenas começam com a lenta arrumação da mesa onde todos iriam se

banquetear mais tarde.

Usei cenas de rua e também a rotina de um menino pobre, na mesma noite, sem festa,

sem ceia, sem Papai Noel. O pequeno ator que desempenhou este papel foi o meu sobrinho

Glauco Fernandes, hoje um excelente e respeitado violinista, músico e arranjador.

O fundo musical foi escolhido com muito carinho. Algumas músicas natalinas além de

interpretações do conjunto MPB-4 (“A fome tem que ter raiva de interromper/A raiva é a

fome de interromper”...), músicas circenses, a bonita Gente Humilde, de Chico Buarque,

cantada por Ângela Maria, além de duas excelentes interpretações de Ivan Lins e Elis Regina.

Nas cenas finais do filme, justamente quando o espetáculo do Maracanã também

caminhava para o encerramento, sobe a música interpretada por Elis cuja letra, ao final, diz:

“... somos todos bons demais/sufocados pelo mal/só queremos acreditar/ que isso tudo pode

acabar”...

Page 38: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Este trabalho seguiu a linha mestra da grande maioria do que produzi em curta-

metragem, naquela grande fase do cinema Super-8, ou seja, a crítica política e social. Todos

os filmes estiveram em algum Festival, alguma Mostra, pelo Brasil afora, geralmente no

circuito universitário.

Alguns foram excluídos pela censura oficial da época, outros retirados pelos próprios

organizadores que se curvavam àquele absurdo monstruoso procurando agradar aos senhores

do poder autoritário que se impunham pela força.

Gran Circo do Natal, com duração de 12 minutos, foi apresentado em um Festival na

Universidade Federal do Maranhão, em São Luis, onde mereceu Menção Honrosa e outra no

CEFET, em Curitiba. Era a segunda vez que eu comparecia à Mostra de Super-8, na primeira

me haviam concedido o primeiro lugar, em Ficção, com o filme Lona Suja.

Foi muito gratificante para mim a decisão que o júri da mostra do CEFET, em

Curitiba, tomou, ao criar um prêmio que não existia para atribuir ao meu Gran Circo do

Natal. O prêmio denominado Solidariedade Humana. Creio que não preciso dizer mais nada.”

FRANCISCO SIMÕES participou da Mostra de Filme Super-8, de 1978 com o filme

Gran Circo Natal.

Até Quando

“Na época, eu estava bastante envolvida com cinema, assim como com um grande

grupo de pessoas que vivia bastante o cinema em Curitiba no final da década de 70, liderado

pelo Valêncio Xavier. Ele foi meu professor de Cinema no curso de Jornalismo que fazia na

Católica. Mas ele aglomerava um grupo em torno da Cinemateca com sessões de cinema,

mostras e festivais, cursos e mais cursos rápidos - de dois dias, uma semana, com pessoal que

o Valêncio trazia de fora. Enfim, encontrávamos quase sempre as mesmas pessoas nesses

locais. E se falava e se conversava sobre cinema.

Sempre gostei de cinema, estava fazendo Jornalismo (me formei em 1976). Estagiava

como repórter – e também comecei a fazer comentários de filmes no extinto Diário do

Paraná e também no jornal Pólo Cultural que circulava na época. E tinha também uma idéia

de fazer um filme em Super-8 com a máquina que ganhei do meu pai de presente de

formatura.

Foi minha primeira experiência – e única. Não lembro do dia da premiação, não.

Depois desse filme, estava com um projeto para fazer um outro em 16 mm, quase tudo

acertado, mas aí me mudei para Florianópolis e o projeto parou. Em Florianópolis continuei

Page 39: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

com o projeto, estava conseguindo verba, parei também. Continuei no Jornalismo, fazendo

durante muitos anos a cobertura cultural.

O filme está ainda só em Super 8, sempre penso em passar para outro formato, como

forma de preservá-lo, mas até hoje não fiz. Eu acho que[a Mostra] tinha boa cobertura da

imprensa, é só ver os jornais da época.

Naquela época havia uma movimentação em torno de cinema, cinemateca, festivais,

cursos, um grupo estava se formando. Muitos deles seguiram em frente, assim como alguns

que foram chegando depois. Acho que muitos dos nomes do cinema paranaense de hoje são

oriundos daquela época fomentada pelo Valêncio Xavier, em torno da Cinemateca, da

Fundação Cultural de Curitiba. Não só de cinema. Tinha exposições, lançamentos de livros,

muita coisa acontecia. A Fundação Cultural de Curitiba, especialmente, promovia muita

coisa.”

ELISABETH KARAM participou da Mostra de 1978 com o filme Até Quando?

2.1.14 A V MOSTRA DE FILMES SUPER-8, NA ETFPR - 1979

A V Mostra Nacional do Filme Super-8 foi uma das mais atribuladas da história do

evento. Já no primeiro dia, uma onda de protestos pela eliminação do filme O Mágico, de

Hugo Mengarelli tomou conta da Mostra. Não selecionado pelo júri da seleção prévia porque

infrigia o regulamento da V Mostra que só aceitava filmes realizados por brasileiros ou

estrangeiros naturalizados, o filme foi exibido em sessão especial apenas para alguns

membros do Júri Oficial, revelando-se um ótimo trabalho segundo o corpo de jurados.

Diante da qualidade do filme, o júri sugeriu a Mengarelli que desse o crédito de

direção para os alunos orientados por ele para a elaboração do documentário. Sem atender ao

pedido dos jurados, Hugo Mengarelli remontou os créditos colocando um “x” em cima de seu

nome, ocasionando a eliminação definitiva da Mostra.

Exibindo um total de 45 filmes, a V Mostra encerrou suas atividades com um debate

em que se discutiu a necessidade de serem criadas Mostras ao dos filmes premiados desde

1970 que poderiam circular por todo o país e serem conhecidos pelo grande público.

Seguindo a tradição de trazer para compor o júri nomes de relevância nacional a V

Mostra Nacional do Filme Super-8 contou com a presença de Jairo Ferreira, jornalista da

Folha de São Paulo e diretor dos longas metragens O vampiro da Cinemateca e O Insigne

Page 40: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Ficante, e dos curtas O Guru e os guris, O M de Minha mão, Antes que eu me esqueça e

Horror Palace Hotel. Além dessas atividades, Jairo Ferreira publicou o livro Cinema de

Invenção, considerado um clássico da bibliografia sobre o cinema marginal brasileiro. Sobre a

Mostra de Super-8 do CEFET-PR, escreveu três matérias para a Folha de São Paulo em que

discorrreu sobre as “Misérias e Glórias do Super-8 em Curitiba”.

OS VENCEDORES

Anunciados pelo Presidente da Mostra e Diretor do CEFET-PR, professor Ataíde

Moacyr Ferrazza, os vencedores da V Mostra de Filmes Super-8, do CEFET-PR foram:

Mané da Paz, fabricante de viola, de Celso Luck, vencedor nas categorias Documentário (Cr$

20 mil) e Melhor Filme (Cr$30 mil); Aluminosa Espera do Apocalipse, de Rui Vezzaro, na

categoria Estudantil (Cr$ 20 mil) e do Prêmio Especial do Júri (Cr$ 20 mil em materiais

cinematográficos). Nas categorias Artes(Cr$ 20 mil) e Júri Popular, o vencedor foi o cineasta

Perina.

2.1.15 UM FIM NÃO ANUNCIADO

O Super-8 que nascera no cinema paranaense de forma tímida em meados de 1974

avançou durante meia década trazendo consigo adeptos que acreditam que “é fazendo cinema,

que se aprende cinema”. Aquilo que surge de uma vontade amadora toma forma até ser

reconhecida como uma obra artística de nível profissional.

Em 1979 já não se discutia as limitações do formato Super-8, mas sim as

possibilidades que ele podia trazer ao cinema paranaense e brasileiro que se expandia para

caminhos então desconhecidos. É nesse sentido que podemos dizer que a edição de 1979 das

Mostras realizadas pela ETFPR completou um ciclo que se inscreveu na história do cinema

paranaense e nacional. O Super-8 havia realmente despertado novos cineastas, ganhou a

crítica e um certo espaço, conforme atesta nota publicada no jornal Diário do Paraná de 3 de

dezembro de 1982 (v. Anexo 10).

Não foi encontrado nenhum registro sobre a extinção das Mostras de Super-8 da

ETFPR/CEFET-PR. Uma suposição pode ser feita a partir da carência de patrocínios para a

área cultural que permeou a década de 80. Outra possibilidade é a grande aceitação que os

Page 41: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

aparelhos de videocassete passaram a ter no período, praticamente extinguindo os filmes de

bitola de 8 mm.

3.0 CONCLUSÃO

Ao realizar o Trabalho de Conclusão de Curso, Mostras de Cinema Super-8 na Escola

Técnica Federal do Paraná no Final da Década de 70: um resgate histórico, descobrimos

que em uma pesquisa, por mais que nos aprofundemos, sempre que a encerramos a sensação

de incompletude é maior do que a sensação de finalização. Talvez porque seja difícil unir

todas as pontas sobram arestas abertas que não podemos fechar completamente. Descobrimos

também que a pesquisa é, antes de tudo, uma interpretação, ainda que baseada em

documentos e fontes confiáveis, e, por isso, ela é passível de contestações e questionamentos.

O trabalho que realizamos apresentou os meandros das cinco edições das Mostras de

Cinema Super-8 que ocorreram no final da década de 70, na Escola Técnica Federal do

Paraná. Essas Mostras possibilitaram a toda uma produção em Super-8 que estava sendo

realizada pudesse ter um espaço apropriado de exibição e, mais do que isso, permitiu que

essas obras também fossem discutidas, avaliadas e premiadas. Talvez seja adequado dizer, ao

final desse trabalho, que mais do que Mostras, o que a ETFPR promoveu foram verdadeiras

celebrações, pois no período de duração do evento, estiveram em evidência o formato Super-

8, os cinéfilos, os novos e velhos cineastas e a reunião estimulante de nomes da cultura

paranaense e nacional que, durante as cinco edições, se alternaram na composição do júri.

Todo esse conhecimento dos elementos que compuseram essa história se transforma,

aqui, no elo de ligação entre passado e presente trazendo para os dias atuais um dos fatos mais

representativos da história centenária da Universidade Tecnológica Federal do Paraná e

também do Cinema Brasileiro e Paranaense da década de 1970.

Page 42: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

ANEXOS

Page 43: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 1: Capa do suplemento especial dedicado à I Mostra Internacional de Filme Super-8, da ETFPR

Page 44: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 2: Nota assinada pelo jornalista Aramis Millarch divulgando a apresentação da I Mostra

Internacional de Filmes Super-8

O cineasta José Augusto Iwersen, diretor do Studio 8 e professor de Cinema na Escola Técnica

Federal do Paraná, anunciou ontem, oficialmente, uma grande promoção: I Mostra Internacional do Filme

Super 8. Patrocinada pela Escola Técnica Federal do Paraná, através de sua coordenação de Educação

Artística, dirigida pela professora Rosane Camera, esta grande promoção cinematográfica será realizada de

22 a 28 de setembro de 1975. Com a participação de filmes de vários países, realização paralela de um

festival do cinema brasileiro e distribuição de Cr$ 100 mil em prêmios, a Mostra idealizada por Iwersen (ex

Cine Clube Pró-Arte, ex-cine de arte Rivieira, editor de livros sobre cinema etc.), deverá alcançar

promoção internacional. Pelo seu relacionamento em todos os Estados e livre trânsito junto aos setores de

comunicação e cultura do Estado, tem todas as condições de fazer de seu festival Super 8, um

acontecimento da maior importância, entre tantas outras promoções semelhantes realizadas em várias

cidades brasileiras.

ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 18/03/1975

Page 45: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 3: Foto 1 - Diretora do Museu da Imagem e Som do Paraná , Mauro Alice e Percy Tamplin,

membros do júri da I Mostra Internacional de Filmes Super-8. Fotos 2 e 3 - Rosane Saldanha Câmera

e José Augusto Iwersen, organizadores da I Mostra. Foto 4 - Grupo reunindo intérpretes e realizadores

de dois filmes do Paraná – A pedra fundamental e Enigma

Page 46: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 4: Anúncio de projetores da empresa Sosecal, patrocinadora da I Mostra de Filmes Super-8, da

ETFPR.

Page 47: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 5: Texto assinado por Aramis Millarch anunciando a inscrição de filmes de Godard e

Resnais, na I Mostra de Super-8, da ETFPR.

O cineasta José Augusto Iwersen recebeu ontem telefonema de monsieur Amy Courvisier, diretor da

Unifrance, comunicando que três filmes em super-8, realizados por um cineasta chamado Jean-Luc Godard

e Alain Resnais, estarão concorrendo na I Mostra Internacional em Super-8, que Zé Iwersen coordena para

a Escola Técnica Federal do Paraná em setembro próximo. Prestígio e bom relacionamento é isso! A

propósito: Godard e Alain Resnais, caso recebam passagens, virão a Curitiba para participar do Festival da

ETFPR.

ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 19/04/1975

Page 48: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 6: Texto de Aramis Millarch notificando a realização da II Mostra de Filmes Super-8, na

ETFPR, com a inclusão de novas categorias.

Reunido com o cineasta José Augusto Iwersen e a professora Rosane Câmera, terça-feira, o professor Ivo

Mezzadri, o poderoso diretor da Escola Técnica Federal do Paraná já deu instruções para que se iniciem os

preparativos da II Mostra Internacional do Filme Super 8. A grande repercussão da mostra realizada na

semana passada, o bom nível dos filmes premiados e, principalmente, o fato de toda a promoção ter custado

à escola menos de Cr$ 20 mil (os prêmios foram oferecidos pelo grupo importador Sosecal/Focal e algumas

entidades) animaram o professor Mezzadri a estimular novos eventos, abertos inclusive a outras categorias,

em especial o cinema cientifico, didático e esportivo. O pequeno custo da promoção mostrou o que pode

fazer a boa organização, a honestidade da coordenação e o empenho em realizar um acontecimento sério e

sem auto-promoções.

ARAMIS MILLARCH - ESTADO DO PARANÁ – SEÇÃO -TABLÓIDE - 03/10/1975

Page 49: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 7: Nota publicada no Nosso Jornal, órgão de divulgação da ETFPR, sobre a realização da III

Mostra de Filmes Super-8.

De 3 a 5 de novembro terá lugar na Escola a III Mostra Nacional do Filme Super 8. Além das diversas

categorias da Mostra, haverá a Didática que será a de maior interesse. A mostra começará a ser divulgada

em setembro e os interessados já poderão começar a pensar na produção de filmes para concorrer

NOSSO JORNAL, AGOSTO DE 1977

Page 50: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 8: Nota de Aramis Millarch sobre a criação, na ETFPR, da Central de Produção de Filmes

Didáticos.

A Escola Técnica Federal do Paraná acaba de ganhar da EMBRAFILME uma Central de Produção de

Filmes Didáticos. A Central deverá funcionar ainda este ano e é resultado de um Projeto apresentado pela

Escola àquela entidade. No final do mês de agosto estarão em Curitiba representantes da Embrafilme que

virão para assinar o Convênio de instalação da Central. Professores e alunos da Escola já poderão pensar na

produção de filmes didáticos. Nossa escola será a única do País que terá esta condição.

ARAMIS MILLARCH - O ESTADO DO PARANÁ - SEÇÃO: TABLÓIDE - 05/11/1977

Page 51: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 9: Capa do projeto de criação do Laboratório de Filmes Didáticos, criado na Escola

Técnica Federal do Paraná, em colaboração com a Embrafilme .

Page 52: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

Anexo 10: Nota publicada pelo jornal Diário do Paraná sobre a posição atingida pela última

edição da Mostra de Filmes Super-8, da ETFPR.

O superoito no Paraná chega ao auge em 1979 (última edição da Escola Técnica), quando os filmes

revelam incrível maturidade tanto a nível artístico como técnico alcançando o reconhecimento nacional em

festivais de expressão como Gramado, Salvador, São Paulo e Campinas. Os prêmios se multiplicam.

Nomes como Celso Luck, Ciro Matoso, José Augusto Iwersen, Irmãos Wagner, Fernando Severo, Peter

Lorenzo, Rui Vezaro, Pedro Merege, Hugo Mengarelli, Aparecido Bueno Marques, Nivaldo Lopes,

Manfredo Osterroht, dentre outros, fazem do superoito veículo de expressão cultural tão importante quanto

as bitolas de 16mm e do 35 mm.

Diário do Paraná, 08-12-1982

Page 53: Mostras de Cinema Super -8 na Escola Técnica Federal do Paraná: Um Resgaste Histório

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