monografia idosos

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ELAINE MARTINS PASQUIM ALIMENTAÇÃO E ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS ENTRE DIFERENTES POVOS BRASILEIROS Monografia apresentada ao Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Nutrição Humana e Saúde, para a obtenção do título de especialização. Orientadora Prof. Dra. Maria de Fátima Píccolo Barcelos

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Page 1: monografia Idosos

ELAINE MARTINS PASQUIM

ALIMENTAÇÃO E ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS ENTRE DIFERENTES POVOS BRASILEIROS

Monografia apresentada ao Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Nutrição Humana e Saúde, para a obtenção do título de especialização.

Orientadora

Prof. Dra. Maria de Fátima Píccolo Barcelos

LAVRASMINAS GERAIS – BRASIL

2003

Page 2: monografia Idosos

ELAINE MARTINS PASQUIM

ALIMENTAÇÃO E ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS ENTRE DIFERENTES POVOS BRASILEIROS

Monografia apresentada ao Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Nutrição Humana e Saúde, para a obtenção do título de especialização.

APROVADA em ___ de _________ de 2003.

Prof. ________

Prof. _________

Prof. Dra. Maria de Fátima Píccolo BarcelosUFLA(Orientadora)

LAVRASMINAS GERAIS – BRASIL

Page 3: monografia Idosos

“Viver por mais tempo não necessariamente

significa viver bem, a relação com a qualidade de

vida neste processo de envelhecer é um desafio

que a área de nutrição pode dar grande

contribuição”

(OPAS, 1999).

Page 4: monografia Idosos

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo comparar a alimentação e nutrição da população brasileira em geral com a população indígena. Sendo escassos os trabalhos com a população idosa indígena, realizou-se uma meta-análise de diversos trabalhos em que estes dados foram passíveis de ser retirados. O que se percebeu foi que há uma baixa atenção a esse grupo da população apesar de também ser considerado um grupo vulnerável e ser comum a perda ponderal entre os mesmos. Notou-se também que a aposentadoria tem uma contribuição importante para indígenas e não indígenas. No entanto, entre os idosos urbanizados existe uma desvalorização não encontrada entre os povos indígenas. Não obstante, entre idosos indígenas observou-se relatos de exploração por comerciantes o que acarreta em aumento da fome e do alcoolismo.

Page 5: monografia Idosos

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS 2

LISTA DE TABELAS 3

1. INTRODUÇÃO 4

1.1.Objetivo geral 5

1.2.Objetivos específicos 6

2. REFERENCIAL TEÓRICO 7

2.1. Considerações Gerais 7

3. METODOLOGIA 10

4. RESULTADOS

4.1. Epidemiologia

11

11

4.2. Alimentação e Nutrição 14

4.2.1. Alimentação entre idosos não indígenas 15

4.2.2. Estado nutricional entre idosos não indígenas 17

4.2.3. Alimentação entre idosos indígenas 20

4.2.4. Estado nutricional entre idosos indígenas 23

5. CONCLUSÃO 28

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30

1

Page 6: monografia Idosos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fatores que influenciam o processo de envelhecimento.........................8

Figura 2. Prevalência da obesidade em duas regiões brasileiras segundo idade.

Populações adulta e idosa das Regiões Nordeste e Sudeste, 1975, 1989

e 1997....................................................................................................19

Figura 3. Mapa da fome entre os povos indígenas do Brasil (I), 1994.................21

Figura 4. Distribuição das médias de Índice de Massa Corporal (IMC), por faixa

etária e sexo. Aldeia Parkatêjê, 1994....................................................24

Figura 5. Distribuição das médias de Índice de Massa Corporal (IMC), por faixa

etária e sexo. Aldeia São José, 1997.....................................................25

Figura 6. Distribuição das médias de Índice de Massa Corporal (IMC), por faixa

etária e ano, entre homens. Aldeia Etenhiritipá....................................25

Figura 7. Distribuição das médias de Índice de Massa Corporal (IMC), por faixa

etária e ano, entre mulheres. Aldeia Etenhiritipá..................................26

Figura 8. Distribuição das médias do Índice de Massa Corporal (IMC), segundo

grupos etários e sexo, para os Xavante de Etéñitépa e São José, Mato

Grosso, Brasil........................................................................................26

2

Page 7: monografia Idosos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. População residente, total e indígena, por sexo e grupos de idade –

Brasil. Percentual indígena sobre o N2.................................................12

Tabela 2. População residente, total e indígena, por sexo e grupos de idade –

Brasil. Percentual indígena sobre o N1.................................................13

Tabela 3. Categorias de idade e conteúdo nos Tikúna..........................................24

3

Page 8: monografia Idosos

1 . INTRODUÇÃO

O envelhecimento ativo inclui todas as dimensões da vida física, mental,

social, espiritual do indivíduo. Por isso, a Organização Mundial de Saúde, OMS,

assumiu o compromisso de fomentar o envelhecimento ativo como um

componente indispensável de todos os programas de desenvolvimento, daí, em

1999, o tema ‘Sigamos ativos para envelhecer bem’ do Dia Mundial da Saúde

(Sanches-Gavito, 2000).

Há em todo o mundo cerca de 600 milhões de pessoas com mais de 60 anos,

portanto considerada pela OMS, devendo dobrar até 2025 (OMS, 2003). Ocorre no

mundo a transição epidemiológica e nutricional caracterizada pela redução das doenças

infecto-contagiosas e aumento das doenças crônicas não transmissíveis.

Quanto ao ambiente social, os idosos enfrentam discriminação por ser

comum uma soma de perdas. Dentre as necessidades para este setor da população se

está promovendo a renovação dos conceitos que se tem sobre o envelhecimento, tanto

social como individualmente, ao transmitir conhecimentos que consideram o

envelhecimento como uma etapa normal da vida, cheia de possibilidades e

capacidades, tanto para o idoso como para a família e a sociedade. O envelhecimento

não é uma doença, é uma fase natural da vida e suas doenças devem ser cuidadas e

vigiadas como ocorreria a qualquer estágio de vida (Sanches-Gavito, 2000).

Segundo Pérez-Gil (2001), o velho indígena parece ter um papel social

importante no que se refere aos ritos, à cultura. Em seu estudo sobre a iniciação

xamânica, períodos sucessivos de resguardo e do aprendizado de técnicas diferentes

repassado dos mais velhos aos mais jovens, descobriu que vários especialistas –

assim chamados aqueles que dominam as técnicas – comentaram que, depois de se

iniciarem, ficaram envergonhados, sem colocar seus saberes em prática abertamente

por muito tempo, receosos de que os outros, em especial seus mestres, rissem deles.

Portanto, somente com a morte do mestre é que a pessoa começa a exercer a prática

xamânica de forma aberta. Nesse processo, a figura do mestre é essencial. É ele que

incentiva o iniciante, dirige o processo, acompanha-o quando ingere as substâncias

4

Page 9: monografia Idosos

xamânicas, e, durante as provas, é quem dita as dietas, a fonte dos saberes que serão

aprendidos. O mestre é geralmente um parente próximo, pois ninguém quer por

armas nas mãos de inimigos. Quando o jovem não tem parentes próximos há

aqueles que ficam espreitando os velhos, às escondidas, para aprenderem seus

ensinamentos.

Nesse sentido, parece que os idosos indígenas ainda mantêm um certo grau de

valorização em suas comunidades, o que não ocorre entre idosos não indígenas. Daí

acontece comumente de os idosos se entregarem para a morte por não terem mais alegria

em viver. Portanto, como bem referido por Magalhães (2003) a morte social pode

anteceder a morte biológica, assim como o nascimento social ou a idade cronológica

podem ser estabelecidos a partir de etapas anteriores ao nascimento biológico.

O princípio das políticas sociais de atenção à velhice deve ser o de manter

o idoso fora do ambiente institucionalizado, sempre que suas condições

biopsicossociais permitam. Nesse sentido, são necessárias ações mobilizadoras de

todas as forças e de todos os sistemas da comunidade, para implementação de

programas que atendam as principais fragilidades desse grupo etário, estimulando

sua autonomia e independência (Brasil, 1997).

Neste trabalho serão abordados temas relativos à alimentação e nutrição de

pessoas idosas no Brasil. Para tanto, serão estudadas as diferenças existentes entre os

idosos residentes nas cidades e os idosos indígenas dos diversos povos existentes no

País. Serão trabalhados alguns conceitos antes de se iniciar a discussão dos temas.

1.1. OBJETIVO GERAL

Comparar a situação alimentar e nutricional entre idosos indígenas das regiões

brasileiras que apresentavam esse tipo de informação e idosos não indígenas.

5

Page 10: monografia Idosos

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Estudar mudanças alimentares freqüentes no envelhecimento entre o idoso

indígena e não indígena.

Identificar a relação alimentar do idoso com a alimentação entre os dois grupos

através de meta-análise.

Comparar dados de estado nutricional do idoso indígena e não indígena através

de meta-análise.

6

Page 11: monografia Idosos

2 . R E F E R E N C I A L T E Ó R I C O

2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O conceito de qualidade de vida tem a ver com as qualidades valorizadas

pelos idosos, com sua sensação de bem-estar e satisfação, que resultam na

manutenção da função física, emocional e intelectual de maneira razoável, assim

como a conservação das atividades que consideram importantes como participar da

família, do trabalho e da comunidade. A qualidade de vida é algo individual, interior

e mutável (Sanches-Gavito, 2000).

A qualidade de vida deve ser interpretada de duas formas: uma objetiva

(necessidades de saúde, educação, alimentação, emprego, condições de trabalho,

condições econômicas, condições do meio ambiente, tempo de lazer); e outra

subjetiva (satisfação, autorealização, desenvolvimento pessoal) (Sanches-Gavito,

2000).

Outro conceito importante é a diferenciação entre geriatria e gerontologia.

Geriatria é uma especialidade médica, relativamente nova, dedicada ao cuidado da

saúde dos idosos. Gerontologia estuda o processo de envelhecimento em toda a sua

universalidade como biológico, psicológico e socioeconômico. Contempla os

aspectos positivos (acumulação de conhecimentos, experiências e aprimoramento

intelectual) e os negativos (debilidade física, sensação de inutilidade) tratando de

aumentar os primeiros e suavizar os últimos (Sanches-Gavito, 2000).

Ambas são complementares e inseparáveis tendo como objetivo comum o

bem-estar da pessoa idosa.

O envelhecimento é um processo fisiológico que inicia no momento da

concepção e se faz mais evidente com o amadurecimento. Não é uma doença, mas

gera uma vulnerabilidade. O envelhecimento é individual, pois se dá de acordo com o

uso, abuso e desuso das potencialidades de cada pessoa (Sanches-Gavito, 2000).

7

Page 12: monografia Idosos

FIGURA 1. Fatores que influenciam o processo de envelheci mento.

O autocuidado busca proporcionar experiências que permitam reconhecer

quais são os problemas de saúde menores e quais são os que requerem assistência

de um profissional ou de uma instituição de saúde (Sanches-Gavito, 2000). O

cuidado representa a essência do viver humano, assim exercer o ‘auto-cuidado’ é

uma condição humana. E ainda cuidar do outro sempre representa uma condição

temporária e circunstancial, na medida em que o outro está impossibilitado de se

cuidar, daí o conceito de cuidador de idosos. O cuidador formal é a pessoa

capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para realizar as atividades

e tarefas da vida cotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e serviços de saúde

ou da comunidade (MPAS, 1999).

Os idosos sem condição de prover o próprio sustento devem saber que seus

filhos maiores e capazes têm o dever de ampará-los e assisti-los até o final de suas

vidas. O governo também deve ajudar aos que precisam de ajuda financeira,

previsto no Programa de Prestação Continuada (LOAS – art. 20). Já se encontram

em funcionamento os Conselhos Estaduais e Municipais de Idosos, nos quais o

cidadão pode levar suas preocupações e participar de reuniões sobre as políticas a

serem adotadas para a velhice (MPAS, 1999).

A Promoção da saúde, segundo a Carta de Ottawa de 1986 (Brasil, 2001) é

o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de

Estilo de vida(uso-abuso-desuso)

Características genéticas (história familiar) Doenças

(físicas, emocionais, sociais)

8

Page 13: monografia Idosos

sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse

processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social os

indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e

modificar favoravelmente o meio ambiente. Para tanto, a Declaração de Alma-Ata

(1988) identificou cinco campos de ação para a promoção da saúde: 1. construção

de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes favoráveis à saúde;

desenvolvimento de habilidades; reforço da ação comunitária; reorientação dos

serviços de saúde.

9

Page 14: monografia Idosos

3. METODOLOGIA

O estudo foi realizado através do levantamento de dados secundários para a

organização em meta-análise. Poucos são os dados disponíveis para a fase do

envelhecimento especialmente o relacionado à alimentação e nutrição.

No que se refere a estudos com populações indígenas, ainda é menor a

quantidade de informações disponíveis. E em se tratando de idosos indígenas maior

dificuldade é encontrada, especialmente quanto a estado nutricional e alimentação.

Portanto, este estudo tem a finalidade de consolidar as poucas informações

disponíveis no tema a fim de iniciar um levantamento sobre o assunto.

10

Page 15: monografia Idosos

4. RESULTADOS

4.1. Epidemiologia

O progressivo incremento absoluto e relativo do contingente populacional

de idosos impõe ao sistema de saúde financiar a elevação dos custos da atenção às

doenças crônico-degenerativas e adequar sua organização às necessidades próprias

desse grupo etário. Estudo realizado no estado do Rio Grande do Sul mostrou que

os pacientes idosos hospitalizados não recebiam adequada assistência médica e

psicossocial (Brasil, 1998).

Segundo projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde, entre

1950 e 2025 a população de idosos no País crescerá 16 vezes contra 5 vezes da

população total. Este crescimento populacional é o mais acelerado no mundo e só

comparável ao México e à Nigéria (Brasil, 1997).

Muito embora o Brasil esteja posicionado entre as primeiras economias do

mundo, ainda apresenta indicadores sociais equiparados aos da sociedade afro-

asiáticas, sendo um País caracterizado por marcantes contrastes. Assim, é comum,

para um grande percentual da população brasileira, a acumulação sucessiva de

deficiências sociais ao longo do ciclo de vida, com agravamento substancial com o

avançar da idade. A tradição de hierarquizar as questões sociais em níveis de maior

e menos importância, estabelecendo prioridade para uma ação de política social,

tem secundarizado a questão social da velhice (Brasil, 1997).

No que se refere aos povos indígenas, estes se apresentam, de maneira

geral, sob precárias condições de vida e de saúde, derivadas de sua desprotegida

interação com a exploração econômica predatória, que historicamente tem causado

a progressiva redução da ocupação territorial das áreas demarcadas, a deterioração

ambiental e a perda de identidade cultural indígena (Brasil, 1998). Segundo dados

da OPAS/ OMS (Brasil, 1998) coletados da Fundação Nacional de Saúde (dados de

11

Page 16: monografia Idosos

1996), a população indígena está atualmente reduzida a cerca de 300 mil indivíduos

(0,2% da população brasileira), agrupados em 206 etnias que ocupam 554

‘territórios indígenas’, distribuídos em 24 estados. Aproximadamente 50% da

população indígena está localizada na região Norte, seguindo-se as regiões Nordeste

(20%), Centro-Oeste (17%), Sul (10%) e Sudeste (3%). No estado do Amazonas

encontram-se 25% dos indígenas do país (3,2% da população total do estado), e

Roraima é o estado com maior proporção de população nativa (10,4% do total). A

tabela 1 revela que a proporção de idosos na população total e na população

indígena é muito semelhante. Ressalta-se que os cálculos são por população

residente e não por população nascida no local, e que N1 é a amostra da população

total e N2 é amostra da população indígena.

TABELA 1 - População residente, total e indígena, por sexo e grupos de idade – Brasil. Percentual indígena sobre o N2.

Sexo e grupos de idade População residente

Total (1) IndígenaN1 % N2 % N2

Total da população (2) 169.799.170 100,00 701.462 100,00

60 a 69 anos 8.300.220 4,89 35.783 5,10

70 a 79 anos 4.638.225 2,73 18.848 2,69

80 anos ou mais 1.804.444 1,06 9.833 1,40

Total/ Idosos 14.742.889 8,68 64.464 9,19

Homens (2) 83.576.015 49,22 354.986 50,61

60 a 69 anos 3.795.013 2,24 18.049 2,57

70 a 79 anos 2.048.030 1,21 8.731 1,24

80 anos ou mais 734.255 0,43 4.142 0,59

Total/ Homens Idosos 6.577.298 3,87 30.922 4,41

Mulheres (2) 86.223.155 50,78 346.477 49,39

60 a 69 anos 4.505.207 2,65 17.734 2,53

70 a 79 anos 2.590.195 1,53 10.117 1,44

80 anos ou mais 1.070.189 0,63 5.690 0,81

Total/ Mulheres Idosas 8.165.591 4,81 33.541 4,78Fonte: Adaptado de IBGE, Censo Demográfico 2000.

(1) Inclusive as pessoas sem declaração de cor ou raça.

(2) Inclusive as pessoas com idade ignorada.

12

Page 17: monografia Idosos

Pela tabela 2 percebe-se que a população total de idosos é bem inferior à

população total residente no Brasil. Conseqüentemente, a população de idosos

indígenas chega a parecer insignificante. Na verdade, é uma parte da população

brasileira excluída por natureza, sendo ainda mais esquecida ao se pensar na fase da

vida referente ao envelhecimento.

Cabe destacar que de acordo com dados oficiais da FUNASA em (Brasil,

2003) -

Fundação

Nacional de Saúde/

Ministério da

Saúde,

segundo dados

do Sistema de

Informação da

Atenção da Saúde

Indígena – SIASI,

estes dados estão

superestimados, provavelmente por contar com indígenas urbanizados. Conforme o

SIASI, o total de indígenas seria de 392.550, enquanto o total de idosos acima de 60

anos seria de 28.869, destes 14.659 homens e 14.210 mulheres.

TABELA 2 - População residente, total e indígena, por sexo e grupos de idade – Brasil. Percentual indígena sobre o N1.

Sexo e grupos de idade População residente

Total (1) Indígena N1 % N2 % N1

Total da população (2) 169.799.170 100,00 701.462 0,413

60 a 69 anos 8.300.220 4,89 35.783 0,021

70 a 79 anos 4.638.225 2,73 18.848 0,011

80 anos ou mais 1.804.444 1,06 9.833 0,006

Total/ Idosos 14.742.889 8,68 64.464 0,038

Homens (2) 83.576.015 49,22 354.986 0,209

60 a 69 anos 3.795.013 2,24 18.049 0,011

70 a 79 anos 2.048.030 1,21 8.731 0,005

80 anos ou mais 734.255 0,43 4.142 0,002

Total/ Homens Idosos 6.577.298 3,87 30.922 0,018

Mulheres (2) 86.223.155 50,78 346.477 0,204

60 a 69 anos 4.505.207 2,65 17.734 0,010

70 a 79 anos 2.590.195 1,53 10.117 0,006

80 anos ou mais 1.070.189 0,63 5.690 0,003

Total/ Mulheres Idosas 8.165.591 4,81 33.541 0,020Fonte: Adaptado de IBGE, Censo Demográfico 2000.

(1) Inclusive as pessoas sem declaração de cor ou raça.

(2) Inclusive as pessoas com idade ignorada.

13

Page 18: monografia Idosos

4.2. Alimentação e Nutrição

Desde muitos anos, as investigações confirmam a ligação entre a nutrição e

a saúde. Muitos idosos estão preocupados em ter uma alimentação mais saudável,

porém não sabem como fazê-lo.

Todos os órgãos do sentido podem sofrer alterações durante a velhice,

menos o tato. Este somente é prejudicado por doenças e somente em regiões

específicas. A visão sofre várias alterações como dificuldade para distinguir cores

e/ou profundidade, o que pode reduzir o desejo de comer que sentimos

normalmente ao vermos certos alimentos. A audição está diminuída em

aproximadamente 30% nos idosos. O paladar e o olfato também estão diminuídos,

fazendo com que o idoso perca muitas vezes o interesse pela comida. Para isso, é

importante temperar bem os alimentos, não com muito sal, mas com cebola, alho,

cheiro verde e outros temperos (MPAS, 1999).

O ditado “Somos o que comemos” é apropriado no sentido de que se

comendo adequadamente pode-se diminuir o risco de problemas de saúde, como

hipertensão, osteoporose, diabete, doenças do coração e câncer.

A desnutrição presente entre idosos geralmente se deve à insuficiência

alimentar e/ou diminuição da utilização biológica dos alimentos. A primeira se deve

a paralisias, problemas de mastigação, por estados depressivos, isolamento social,

dificuldades sócio-econômicas. A segunda, por problemas no metabolismo dos

nutrientes (Sanches-Gavito, 2000).

A obesidade apresenta um risco de desenvolver doenças correlacionadas e

complicar as existentes, incluindo diabete, hipertensão, doenças do coração e do

pulmão por esforço excessivo para se realizar tarefas (Sanches-Gavito, 2000).

Todo indivíduo realiza diariamente uma série de atividades essenciais à

vida cotidiana como se levantar da cama, vestir-se, tomar banho, escovar os dentes,

pentear o cabelo, comer, etc. O idoso apresenta doenças que dificultam a realização

14

Page 19: monografia Idosos

destas atividades. Para isso a Terapia Ocupacional se encarrega de reiniciar essas

atividades ajudando o paciente a ser independente (Ruipérez & Llorente, 1999).

Quanto à alimentação é importante que a postura seja correta, e que o

doente esteja suficientemente próximo à mesa para evitar derrubar a comida e

favorecer o acesso à mesma. O idoso não deve se debruçar, pois isso dificulta a

deglutição. Os que apresentam maior dificuldade são aqueles que perderam a

movimentação do seu lado predominante, o lado com que comiam. Com a prática,

pode-se utilizar o lado contrário. Para isso, é preciso colocar o braço afetado sobre a

mesa, de modo esticado e com o apoio da palma da mão (Ruipérez & Llorente,

1999).

Existem instrumentos especiais, mas adaptações podem ser feitas como

engrossar os talheres com algodão e esparadrapo para facilitar a manipulação dos

mesmos pelos idosos com deformidade ou perda da força nas mãos (Ruipérez &

Llorente, 1999).

É fundamental deixar que o ancião como por si só, estando acompanhado

apenas para dar-lhe confiança e segurança. Somente devendo haver intervenção

quando for imprescindível. Deste modo, a habilidade e a coordenação serão

adquiridas aos poucos para comer de forma independente (Ruipérez & Llorente,

1999).

Estudos diversos revelam que o fator limitante não é a doença, mas a

redução da autonomia. Portanto, é possível ter hipertensão ou diabetes e ainda assim

ter uma vida normal (Paraná, 1999).

4.2.1. Alimentação entre Idosos Não-Indígenas

A transição nutricional apresentada no Brasil, segundo Monteiro (2002),

respondeu às intensas mudanças demográficas, econômicas, culturais, ambientais.

Por exemplo, redução da fertilidade, aumento do número de idosos, maior

urbanização, aumento do PIB, melhoria de serviços essenciais (saúde, educação,

15

Page 20: monografia Idosos

transporte, energia, comunicação), maior acesso a produtos duráveis, aumento da

desigualdade social (mais ricos ficaram mais ricos e os mais pobres ainda mais

pobres).

Soma-se a esses fatores, o rápido declínio de energia relacionado a

trabalhos que demandam menos energia física e atividades sedentárias de lazer

(como televisão). Ainda importante é o aumento do consumo de gordura, dietas

ricas em energia (Monteiro, 2002).

Ramos & Oliveira (2002) reforçam o quanto é freqüente no mundo

Ocidental doenças como a constipação intestinal e relatam que este problema é

queixa constante na população idosa.

A crescente educação em massa para combater o sedentarismo e promover

hábitos alimentares saudáveis, podem ser os responsáveis pelo declínio da

obesidade entre as mulheres de mais alta renda do sudeste (com maior acesso à

educação). Além disso, a divulgação pela mídia da promoção da imagem magra

(muitas vezes irreal) da mulher em programas voltados para este público (Monteiro,

2002).

O hábito alimentar de um indivíduo, principalmente de um idoso, se faz

através dos anos de sua vida e depende de alguns fatores como país em que vive,

costumes regionais, hábitos familiares, situação sócio-econômica, o marketing cada

vez mais forte sobre determinados produtos, a falta de informação sobre a

importância da alimentação correta, e muitas outras variáveis que podem influenciar

os costumes de cada pessoa (Ramos & Oliveira, 2002).

Diante das condições sociais dos idosos na última década algumas

dificuldades que podem ser destacadas são: segundo o IBGE 2000, existem

1.603.883 idosos que vivem sós, destes 67% são mulheres; as doenças crônicas

degenerativas comuns à velhice do idoso brasileiro constituem uma ameaça à

autonomia e independência do idoso, agravada pelas dificuldades de acesso ao SUS;

a sobrevivência do idoso pobre depende dos benefícios previdenciários e da

assistência social; segundo o IBGE, três anos e quatro meses é a média brasileira de

16

Page 21: monografia Idosos

anos de estudo do idoso; segundo o censo 2000, verificou-se que 62,4% dos idosos

eram responsáveis pelos domicílios brasileiros. Destes domicílios, 37.6% são

comandados por mulheres idosas (Brasil, 2002).

Como se sabe o isolamento social tem influência direta na anorexia/

inapetência alimentar, a dificuldade de assistência à saúde na presença das doenças

crônicas não transmissíveis compromete sua renda e piora sua condição geral, o

baixo grau de escolaridade e os altos índices de analfabetismo agravam a situação

sócio-econômica o que dificulta a compra de alimentos, a chefia dos domicílios por

eles revela que os idosos deixam de atender suas próprias necessidades, agravando

entre elas, a sua saúde e sua alimentação com conseqüente deterioração do estado

nutricional.

Soma-se a isso, as alterações fisiológicas próprias do envelhecimento que

interferem no estado nutricional, como diminuição do metabolismo basal,

redistribuição da massa corporal, alterações no funcionamento digestivo, alterações

na percepção sensorial e diminuição da sensibilidade à sede. Com exceção das duas

primeiras, todas as outras podem interferir, diretamente, no consumo alimentar

(Campos, Monteiro, Ornelas, 2000).

4.2.2. Estado Nutricional entre Idosos Não-Indígenas

Atribuem-se às doenças do aparelho circulatório 47% dos óbitos

registrados, em 1994, na população brasileira de 60 ou mais anos de idade. Seguem-

se as neoplasias (16%) e as doenças do aparelho circulatório (14%). Estima-se que,

em 1997, 60% dos óbitos por neoplasias malignas no Brasil ocorram no grupo de 60

e mais anos de idade. O progressivo incremento absoluto e relativo do contingente

populacional de idosos impõe ao sistema de saúde financiar a elevação dos custos

da atenção às doenças crônico-degenerativas e adequar sua organização às

necessidades próprias desse grupo etário (Brasil, 1998).

17

Page 22: monografia Idosos

Segundo consolidação feita por Monteiro (2000) e apresentada na figura 2,

o que se percebe em todos os anos estudados –1975, 1989, 1997 é que com o

envelhecimento a população de forma geral tende a perder massa muscular. Isso

ocorre de forma mais evidente no Nordeste brasileiro, caracteristicamente uma

região mais pobre. Apesar disso, o que se nota ainda na figura 2 é que ao longo dos

anos, tem havido um aumento de peso entre os idosos, conforme já relatado por

Campos, Monteiro e Ornelas (2000).

18

Page 23: monografia Idosos

FIGURA 2. Prevalência da obesidade em duas regiões brasileiras segundo idade. Populações adulta e

idosa das Regiões Nordeste e Sudeste, 1975, 1989 e 1997 - escaneado de Campos, Monteiro e

19

Page 24: monografia Idosos

Ornelas, 2000.

4.2.3. Alimentação entre Idosos Indígenas

Cerca de 85% da população indígena no Nordeste convive regularmente

com a fome e a carência alimentar (Sampaio, 1995). Os dados sobre a fome e a

carência alimentar para o Sul e Sudeste do país são os mais alarmantes: em todas as

terras levantadas foram indicados quadros de carência alimentar ou de fome

(Leite, 1995). Observar figura 3 a seguir (Brasil, 1994).

Nestas sociedades o presente (o ato de dar) é o princípio básico de

interação social. As três refeições diárias bem compartimentadas e o equilíbrio

nutricional nos costumes alimentares são apenas expectativas. A fome é um

fenômeno crônico que se repete a cada ano e que atinge muitas comunidades

indígenas. Estas, inclusive já desenvolveram mecanismos adaptativos aos períodos

de escassez, ajustando os seus padrões de consumo e as suas formas de

sociabilidade às diferentes fases do ciclo anual. Enquanto a estação das chuvas,

posterior ao plantio e anterior à colheita, normalmente reduz drasticamente os

estoques de alimentos da unidade familiar, que se volta para si mesma para poder

sobreviver, o período das colheitas traz de volta as trocas sociais, as atividades

coletivas (Oliveira, 1995).

Segundo Sahlins (apud Schuch, 2001), a sociedade de caça e coleta é

tratada como uma sociedade atrasada e ineficiente por dispender muito esforço e

tempo para sobreviver e ser julgada como pobre por se contentar com pouco. Na

verdade, os povos caçadores/ coletores não podem ser compreendidos dentro de

uma lógica do mundo capitalista, de mercado, se assim forem vistos, teremos um

povo com uma condição de vida muito precária.

20

Page 25: monografia Idosos

FIGURA 3 – Mapa da fome entre os povos indígenas no Brasil (I), 1994.

Page 26: monografia Idosos

Segundo Schuch (2001), para índios Kaingáng a economia baseia-se na

caça, pesca, coleta e pratica da agricultura por meio de cultivos de milho, feijão,

mandioca, abóboras, batata doce. No entanto, atualmente, a alimentação das

famílias pesquisadas é constituída, em grande parte, de alimentos industrializados.

A mesma autora, relata que a mudança de hábito alimentar dos Kaingáng é

reconhecida pelas pessoas da comunidade, percebida no relato a seguir de um

senhor de 77 anos:

“Nos tempos em que era mais moço, tinha mato e caçavam tatu, jaguatirica e cateto pra comer. Hoje não tem mais estes bichos porque não tem mato. Nos tempos de hoje as crianças não gostam mais de comida boa do mato, só do mercado. É porque depois que os índios velhos aposentaram, o velho leva o neto e o filho pro mercado porque o sustento do dinheiro da pra todos. Aqui, quando é tempo de pegar a aposentadoria avisa o patrão que vem nos buscar pra ir pegar o dinheiro e comprar comida no mercado”.

Cabe ressaltar que o patrão relatado no discurso acima é o dono do

mercado. Essa relação entre os comerciantes locais foi citada, segundo a autora, por

vários agentes da comunidade e também foi observada por ela e sua equipe. Os

comerciantes recolhem os idosos, pois estes têm dificuldade de transporte dentro da

reserva, levam-lhes aos bancos para receberem o valor da aposentadoria. Em

seguida, vão ao local de comércio para que estes efetuem suas compras de

alimentos.

Observa-se dessa forma, o vínculo com o comércio regional. A renda da

aposentadoria e a comercialização da produção também parecem criar uma forma

de dependência. O comércio vende a prazo – normalmente alimentos que devem ser

pagos com a safra ou ao final do mês quando os idosos recebem o dinheiro da

aposentadoria. Segundo a autora, os mais velhos especialmente, reconhecem que a

alimentação de “antes” era mais saudável. Estes também se esforçam para manter

algumas práticas tradicionais, apesar da pressão exercia pela sociedade envolvente.

Soma-se a isso dados do SISABI Sistema de Informação de Saneamento em Áreas

22

Page 27: monografia Idosos

Indígenas (2003), que revela que de 1812 aldeias, 444 não tem tratamento de água,

734 criam gado, 1614 criam galinhas, 203 criam ovelhas e 659 criam porcos.

Em relação à renda na comunidade, é importante destacar que cerca de

36% das famílias apresentavam rendimento através da aposentadoria. Sendo esta,

segundo a autora, uma importante fonte monetária utilizada principalmente na

aquisição de alimentos, movimentando o comércio em torno da reserva indígena.

4.2.4. Estado Nutricional entre Idosos Indígenas

Segundo Santos (1993), até o presente não foram realizados esforços, seja

por parte dos grupos de pesquisa ou por instituições governamentais voltadas para a

problemática nutricional, no sentido de prover um perfil abrangente dos padrões de

estado nutricional das populações indígenas.

Há uma diversidade considerável em termos de orientação dos estudos

antropométricos com populações indígenas, o que decorre da multiplicidade de referenciais

teórico-metodológicos, a partir dos quais eles têm sido gerados (Santos, 1993).

O autor revela que é dada pouca ênfase no estudo antropométrico devido a

uma menor participação de profissionais que comumente conduzem este tipo de

estudo (nutricionistas e epidemiologistas).

Entre os problemas comuns às diversas comunidades, destacam-se por sua

magnitude, em 1996, as infecções respiratórias agudas e as diarréias. São também

freqüentes os registros de desnutrição, verminose, anemia, tuberculose e afecções

dermatológicas. As mudanças de estilos de vida levam ao aumento do alcoolismo e

das lesões acidentais e violentas. Em 1996, foram realizados investimentos

relevantes em saneamento básico, beneficiando 39 mil indígenas com a construção

ou reforma de 481 sistemas simplificados de abastecimento de água e com a

implantação de 2.269 melhorias sanitárias domiciliares (Brasil, 1998).

Um fato interessante é que as categorias de idade

empregadas nos censos seguem o modelo de classificação usual,

23

Page 28: monografia Idosos

que não reflete os recortes específicos através dos quais as

populações estudadas classificam seus indivíduos, como por

exemplo, os Tikúna estudados por Erthal (2001). Verificar tabela

3.

Tabela 3 – Categorias de idade e conteúdo nos Tikúna.

Sexo Nome dado pelos Tikúna para faixa

de 0-12 anos

Nome dado pelos Tikúna para faixa

de 12-18 anos

Nome dado pelos Tikúna para faixa

de 18-25 anos

Nome dado pelos Tikúna para faixa

de 25-60 anos

Nome dado pelos Tikúna para faixa de

+60 anosTermo

traduzidoM Criança “rapaz” “homem” “velho” “vovô”

F “moça” “mulher” “velha” “vovó”

Termo nativo

M Pakobê Pakê Mareãmakê Djaguanta Oi

F Iakobê Ngeutákê Mareatakê Djakêdjê noé

Conteúdo categoria

“até formar” Casado ou solteiro Casado até 3 filhos Casado + de 3 filhos

Todos os anciãos

Capelli e Koifman (2001) perceberam que, para distribuição de Índice de

Massa Corporal para maiores de 60 anos entre indígenas Parkatêjê residentes na

Área Indígena Mãe-Maria em Bom Jesus do Tocantins no Pará, a média de peso

para homens foi de 25,7kg e para mulheres a média encontrada foi de 25,2kg, o que

revela uma leve tendência ao sobrepeso (figura 4).

Sendo que ao se

comparar com a média

encontrada em outras faixas

etárias, percebe-se que houve

uma perda de massa corporal

no caso das mulheres. A

média de IMC para homens

acima de 60 anos foi de 25,7

kg/m2, variando de 23,4 a

24

Page 29: monografia Idosos

28,4 kg/m2. Para mulheres acima de 60 anos, a média foi de 25,2 kg/m2, variando de

21 a 29,2 kg/m2.

Leite (1998) apresenta em seu estudo valores antropométricos da

população

Xavante de São

José, Terra

Indígena de

Sangradouro –

Volta Grande

(Mato Grosso). As

médias de IMC

para indivíduos

com mais de 60

anos foi de

25,05kg/m2 para homens e 29,07kg/m2 para mulheres. A figura 5 mostra uma

tendência de perda corporal segundo dados do trabalho do autor, especialmente para

os homens.

Gugelmin (1995) analisou o estado nutricional da população indígena Xavante

de Etenhiritipá,

pertencente à Área

Indígena de Pimentel

Barbosa. A autora

comparou os resultados

de 1994, com pesquisas

anteriores de 1962 e

1977 (figuras 6 e 7).

Infelizmente, os dados

das pesquisas somente

apresentam IMC para a

25

Page 30: monografia Idosos

idade de 50 anos ou mais. No entanto, dá para se ter uma idéia de tendência

temporal da massa corpórea da população estudada.

A perda de massa corporal, com a aproximação do envelhecimento foi mais

evidente para as mulheres

em todos os três anos

estudados. Além disso,

outro dado importante

que se percebe é que a

variação de peso em

quaisquer faixas etárias,

especialmente entre os

mais velhos, foi muito

pequena, revelando que

apesar de terem se

passado mais de 30 anos, não houve incremento do IMC entre essa população.

Dados de Gugelmin e Santos (2001), apresentados na figura 8, revelam que

com o início do envelhecimento, há uma tendência de perda da massa muscular,

especialmente entre as mulheres idosas indígenas.

FIGURA 8. Distribuição das médias do Índice de Massa Corporal (IMC), segundo grupos etários e sexo, para os Xavante de Etéñitépa e São José, Mato Grosso, Brasil.

26

Page 31: monografia Idosos

Estudos internacionais em populações indígenas submetidas a mudanças

em seus estilos de vida têm mostrado prevalências elevadas de hipertensão arterial e

de outros fatores de risco cardiovascular. Foi feito um estudo de prevalência desses

fatores de risco na população adulta das aldeias indígenas Sapukai, Paraty-Mirim e

Araponga no Rio de Janeiro. As prevalênicas em toda a amostra foram

respectivamente para: hipertensão arterial (4,8%; 2,6%; 7,45); sobrepeso (26,7%;

19,5%; 34,8%) e obesidade (4,8%; 3,9%; 5,8%); alterações lipídicas do colesterol

total (2,8%; 2,7%; 2,9%) e dos triglicerídeos (12,6%; 9,5%; 15,9%). Todas as

prevalências foram superiores no sexo masculino e maiores nas idades mais

avançadas. Os resultados sugerem que a população se encontra em risco

intermediários para as doenças crônicas (Cardoso, Mattos, Koifman, 2001).

Dados de Arantes, Santos, Coimbra Jr (2001), revelam tendência à

deterioração das condições de saúde bucal entre os Xavante. Argumenta-se que

mudanças na dieta (notadamente consumo de açúcar e de outros produtos

industrializados), relacionados a alterações sócio-econômicas e ambientais advindas

da interação com a sociedade nacional envolvente, aliadas à falta de programas

preventivos, estão entre as principais causas da deterioração nas condições de saúde

bucal dos Xavante.

Segundo Escobar, Coimbra Jr, Camacho, Portela (2001), há indícios de que

as populações indígenas de Rondônia apresentam riscos de adoecer e morrer

superiores aos dos demais habitantes do estado. Soma-se ao fato de que a proporção

de idosos na média nacional é de 9,1% em 1999, enquanto na população indígena

esse valor é de 7,35% em 2003, mostrando baixo envelhecimento da população

(Brasil, 2002).

27

Page 32: monografia Idosos

5 . C O N C L U S Ã O

De acordo com o discutido neste trabalho, percebe-se que apesar da

população idosa estar crescendo em um ritmo acelerado, o que se nota é que

pouca atenção é dada a este grupo vulnerável, quando comparados a outros

grupos.

A população idosa apresenta um grande número de atividades sociais

importantes, apesar de estar em segundo plano na visão da sociedade. Entre elas e

relacionado à alimentação, percebe-se que tanto para idosos indígenas ou não

indígenas a contribuição da aposentadoria na chefia dos domicílios é fundamental.

Quanto aos idosos indígenas, percebe-se que há indícios de exploração

dos mesmos pelos comerciantes das localidades pela má-utilização da

aposentadoria a que muitos têm direito. Com isso, permanece o problema da fome

e o alcoolismo aumenta.

A falta de valorização dos idosos não indígenas é freqüentemente

relatada em artigos, dificultando a integração do idoso com a família, levando

ao isolamento social, à anorexia, além de outros problemas reduzindo muito a

qualidade de vida dessas pessoas e revelado ainda na perda ponderal

apresentada nesse trabalho. No entanto, a perda de peso se mostrou freqüente

entre idosos indígenas ou não o que pode aumentar a mortalidade nesta faixa

etária.

De acordo com Frei Beto (2003), existem espaços de interação no Brasil

para os idosos, como algumas universidades que lhes facultam o livre acesso a

seus cursos, sem exigência de vestibular e freqüência regular, empresas que têm

dado preferência a idosos na ocupação de certos cargos. No entanto, falta muito

para que os idosos sintam-se de fato valorizados, respeitados e, sobretudo,

venerados, como ocorre nas aldeias indígenas. Ali, segundo ele, quando morre um

velho, é toda uma biblioteca que desaparece, pois é através da memória que a

28

Page 33: monografia Idosos

história é registrada e transmitida, embalada numa sabedoria que o nosso

academicismo cartesiano custa a apreender.

"A luta contra o poder é a luta da Memória contra o Esquecimento"

29

Page 34: monografia Idosos

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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