missão piloto 3.0

MISSO PILOTOA histria de como Deus pode usar um homem David Gates

por

Eileen E. Lantry

2014 ASDEIH Brasil / Terceiro AnjoAlameda Sapucaia 32113165-000 Engenheiro Coelho-SP Brasil

PERMITIDA A CPIA E DIVULGAO GRATUITA.

Ttulo do original em Ingls:Mission Pilot The David Gates Story

Traduo: Eric Rosa e Adonias SousakReviso: Srgio, Daniel e Betsy, Ester Klein e Arlete ScalioniEditorao: Daniel SilveiraDesign e Ilustrao da Capa: Griselda Amorim, Hlio, iStockphotoFotos no interior: Ted Burgdoff

IMPRESSO NO BRASIL/Printed in BrazilEileen E. Lantry, Daniel Spencer e Daniel Silveira nos ltimos dois captulos.

3 Edio em Portugus 2014

ISBN 10: 0-8163-1870-0ISBN 13: 978-0-8163-1870-4

ndice | 3

ndice1 Prefcio 52 Sequestro 73 Tempo de Recordar 194 Vida na Priso 275 Does Lembranas 356 Grandes Desafios 457 A Nuvem Comea a Dissipar 578 A Noite Infindvel 639 De Volta ao Lar 7310 Protegido pelos Anjos 7911 Estresse 8712 Sob Nova Administrao 9313 Surge a SAMAG 10314 De Miami a Kaikan 11115 A Escola Vocacional 11716 Problemas na Escurido 12917 O Rio Jordo se Abre 13318 Surpresas e Enfermidades 13919 Deus Impulsiona 14720 Um Chamado ao Sacrifcio 15122 Sem Limites 16523 O Leo Ruge 17324 O Deus do Impossvel 17725 Um Milho de Dlares 187

4 | Misso Piloto A Histria do Tio David Gates

26 O Brasil Aparece no Horizonte 197Apndice 1 Como Est a Famlia Gates Hoje 209Apndice 2 A Expanso da GMI 211Apndice 3 Uma Conversa com o Tio David Gates 213

1 PrefcioNs cremos em Deus, sabemos que Ele existe, vemos a obra de

Suas mos, e dizemos confiar nEle incondicionalmente. Ento, por que ficamos surpresos quando Ele faz maravilhas em nossa vida?

Misso Piloto proclama ao mundo as grandes obras de Deus e Sua interveno direta e notvel na vida de David e Becky Gates.

Voc reconhecer a mo milagrosa de Deus na manipulao dos rgos internos de David, quando ele era beb, para que funcionassem. Voc saber por que Deus impressionou David, quando tinha apenas oito anos, para pedir a uma menina que se casasse com ele quando eles cresces-sem. Entender porque que Deus salvou David de um acidente areo aos dez anos de idade, e sentir calafrios quando ler que David sentiu um revlver nas suas costas quando seu pequeno avio era assaltado. Voc no ter dvidas de que Deus escolheu David e Becky para um servio especial quando Ele os chamou, preparou, conduziu e guiou para levar os seus cinco filhos a um povoado da selva, sem nenhum respaldo econmico, dependendo totalmente de Deus.

Para ns que temos admirado David atravs dos anos, este livro confirma a nossa apreciao. A parte bonita que o final da histria no pode ser contado, porque ainda no foi vivido. Enquanto eu escrevo, Da-vid, sua amada Rebeca e filhos ainda servem nas selvas da Amrica do Sul.

Quase que diariamente Deus abre novos horizontes com sinais e intervenes diretas para a expanso de seu trabalho missionrio. Neste livro voc ler muitas histrias que aumentaro seu amor a Deus e sua admirao por um casal missionrio que, com alegria escolheu essa forma de vida para honrar a Deus e servi-Lo em lugares perigosos.

Nesta poca, quando as coisas materiais absorvem o mundo, eu sinto um alvio ao saber e ver como Deus ainda chama, prepara, e envia missionrios que dependem completamente dEle no servio. Sua vida ser abenoada e enriquecida pelo dedicado servio da famlia Gates. Assim, com sua mente e esprito, una-se a eles na vida simples da selva, voe por cima de vastas reas da floresta tropical, experimente a proteo de um


anjo quando os ladres os assaltaram nas cidades, sabendo que Deus tam-bm cuidar de voc.

Enquanto voc ora por David, por sua famlia e pelos indgenas da Amrica do Sul, conte suas bnos. Depois se pergunte: Pratico eu uma vida de contrio, de constante confiana na direo de Deus na obra que Ele tem me chamado a fazer?

Israel Leito, Presidente da Diviso Interamericana da IASD. Miami, Flrida, Setembro de 2001.

No avio (Cessna 185) para iniciar o voo ao Mxico.

2 SequeStro As coisas no me parecem bem professor. A neblina cobriu as

montanhas.David Gates, um piloto missionrio americano de uns vinte e pou-

cos anos, se inclinou para frente na cabine da avioneta Cessna 185 Sky-wagon e observou o horizonte. Densas nuvens se estendiam na plancie da Serra Madre ao sul do Mxico.

Deve ter chovido fortemente durante todo o dia por aqui con-tinuou dizendo. Eu estou com medo de que a pequena pista de aterris-sagem do nosso hospital esteja totalmente insegura para aterrissar falou em espanhol claro e preciso com sotaque boliviano ao velho mexicano, chamado Chente, que estava sentado no assento do copiloto.

Qual o problema capito? A pista de aterrissagem est num lugar baixo. Se a relva curta

estiver coberta com gua a superfcie se torna escorregadia como gelo. Mesmo aterrissando lentamente os freios se tornam inteis. Perderia o controle da avioneta e chocaramos contra uma rvore.

Com mais de dez anos de experincia como piloto, David conhecia o perigo que enfrentavam. Estava tenso e preocupado.

Ento o que vamos fazer? perguntou o professor Chente. Vou voar baixo e sobrevoarei a rea vrias vezes. Quem sabe pos-

samos encon-trar um lugar plano em um terreno mais alto.A avioneta comeou a baixar a altitude e ficou por baixo das nu-

vens. L est.Ele apontou esquerda. Os raios do sol poente ressaltavam o

acampamento do hospital da misso, do colgio e da escola de enferma-gem. Apinhados ao redor do permetro ficavam as casas dos mdicos, das enfermeiras e de outros obreiros.

Olha aquela casinha prxima da pista de aterrissagem, l que vive minha famlia. Estou seguro que Becky e as meninas esto olhando


para o cu nos esperando. Como no terminaram de consertar meu rdio, no aeroporto, no posso ligar para ela.

Voltou a sobrevoar a rea, baixando ainda mais. Justo o que eu pensava, um lenol de gua sobre a relva curta.

No vamos nos atrever a aterrissar ali. Mas tambm arriscado deixar a avioneta em uma zona desprotegida. O nico lugar seguro dentro do hangar.

Voc est certo concordou Chente, que alm de professor era tambm supervisor das escolas da Igreja Adventista do Stimo Dia. Tenho escutado que nos ltimos meses foram assaltados vrios avies particulares.

O indicador de combustvel mostra que estamos na reserva mn-ima, e j est quase escuro. Sem iluminao ns temos que tomar uma deciso agora.

Naquele momento a promessa bblica favorita de David passou por sua mente: Aquele que te chama fiel, e tambm cumprir. Ento orou em silncio: Obrigado Senhor. Por favor, ajuda-me a tomar a deciso correta.

L est a pista paralela ao hospital. Est em um lugar alto e seco, e muito raramente usada a essa hora da tarde.

Sobrevoou a escola at que viu algum agitando a mo. Ento ele examinou a pista. No havia veculos na pista. Baixando at ao solo, ater-rissou e estacionou a avioneta em um lugar amplo ao lado da pista. Um professor e um guarda de segurana logo chegaram numa caminhonete.

Eu estou feliz que no tenha tentado aterrissar na pista. Choveu o dia inteiro comentou o guarda. Eu ficarei na avioneta esta noite. Pode me trancar dentro dela.

Voc pode sair a qualquer hora que quiser disse David. s girar a maaneta.

Com temor na voz, o guarda exclamou: No, no. No quero que ningum saiba que possvel entrar ou

sair. No h nada seguro neste lugar.

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Voltarei bem cedo pela manh. Boa noite, e que Deus te acom-panhe.

David caminhou pela estrada de brita atravs do brilhante campo verde e olhou como as montanhas escureciam distncia. Enquanto se aproximava do caminho de sua casa suas duas filhas gritaram com alegria:

Papai, voc est de volta!Carlos, de um ano de idade, se aproximou cambaleante com suas

pernas rechonchudas e com as mos estiradas. Toda sorridente, sua amada e loira me correu para encontrar o homem que amava.

Nem um rei receberia uma melhor recepo do que essa disse David alegremente enquanto abraava e beijava a cada um.

Becky se assegurou que todos se dirigissem direto para a mesa de jantar. Depois que David terminou a orao, Becky serviu as crianas e se sentou ao lado de David. Ela apertou sua mo, sorriu e disse:

O som de sua avioneta quando est para aterrissar sempre me emociona e elevo uma orao de gratido a Deus.

E eu sinto um tipo de gozo celestial ao estar sentado do teu lado, comendo tua comida deliciosa e escutando a conversa das crianas. Depois de todos os problemas que enfrentei l fora, isso paz.

Depois que terminaram de comer, Becky sugeriu: Vou recolher a mesa

mais tarde, vamos para a sala escutar o que o papai fez hoje.

Os trs filhos subiram no colo do pai, olhando-o com expectativa.

Tentei inmeras vezes, mas no consegui tirar o dente infeccionado de uma garota. Parece que as razes eram curvas e se uniam nas pontas. Talvez seja necessrio quebrar a man-dbula. Quando ela gritou de dor, eu prometi que retornaria o mais breve


possvel com um cirurgio dentista. Seu olhar de gratido foi mais do que um pagamento pelas muitas outras paradas que fizemos hoje.

Sempre simptica, a pequena Lina interrompeu: Sinto pena dela por ter dodo tanto. Vou orar para que Jesus a

cure. Obrigado, filhinha. Fico feliz que vai orar por ela. David con-

tinuou O professor e eu visitamos vrias escolas isoladas que necessita-vam de ajuda e estavam enfrentando problemas. Ns temos mais algumas visitas para amanh. Devo comear cedo porque necessito de combustvel.

Vejo alguns pequeninos dorminhocos Becky chamou a ateno com um sorriso. hora de todos ns irmos para cama. As crianas veem to pouco o pai, que eu disse que poderiam esperar por voc acordados.

***s seis horas da manh seguinte um casal de estudantes do ensino

mdio bateu porta de entrada do lar dos Gates. Capito, alguns soldados esto ao redor de sua avioneta, e querem

ver seus documentos. No h problema. Diga-lhes que vou em seguida.David se dirigiu Becky. Estou certo de que todos os meus documentos esto em ordem.

Vamos ver disse, contando nos seus dedos. Tenho uma carta do pres-idente do pas que agradece ADRA pelo trabalho que faz, alm das minhas credenciais da ADRA. Tenho autorizao do diretor de aviao civil, uma da imigrao e outra da aduana. Tudo que necessrio para operar uma aeronave est aqui em ordem.

David se virou para sair pela porta, depois parou e se voltou para Becky. Brincando ele disse:

Oh, eu quase me esqueci de te beijar. Em caso de no voltar a te ver, quero te dar um beijo.

Ele estava brincando, mas a abraou fortemente por um momento. Becky disse que no via nada engraado naquilo. Logo em seguida ele saiu

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e se encontrou com o professor. Juntamente com os estudantes eles foram, na camionete da escola, at o lugar onde ele havia deixado a avioneta.

Bom dia, cavalheiro! David cumprimentou os soldados que estavam junto da avioneta. Entendo que vieram ver meus documentos. Vero que est tudo em ordem.

O soldado encarregado, um capito, tomou os papis, observou com cuidado, e admitiu que David dizia a verdade. David notou a etiqueta com seu sobrenome: Gonzles.

Voc o piloto que esteve voando nessa avioneta dois anos atrs? perguntou o capito Gonzles.

No, tenho estado a voar nessa avioneta por somente um ano e meio. O piloto anterior se foi h cerca de dois anos. Eu sou David Gates.

O capito Gonzles pareceu estar confuso com a resposta. Voltan-do camionete, os soldados se amontoaram e conversaram enquanto o capito falou pelo seu rdio. Logo os soldados regressaram at David e o professor.

Temos que esperar instrues disse o capito. Por favor, fiquem aqui.

Cavalheiros, tenho planejado fazer visitas urgentes a muitos po-voados hoje. Acabo de receber um telegrama que disse que um homem est morrendo e precisa ser transferido. Eu estava esperando poder ajudar tambm uma jovem garota com o dente infeccionado.

Bem, voc no pode sair at que o general d as ordens.David se sentiu impaciente pela demora. Ele estava inquieto e an-

dava ao redor da avioneta enquanto os soldados esperavam e esperavam.Dirigindo-se ao capito, perguntou: Vocs estiveram aqui por toda a noite? Sim, estivemos. Vocs jantaram ou tomaram desjejum? Nenhum dos dois ele respondeu.David contou os soldados. Chamou um dos estudantes que estava

perto e disse:


Por favor, vai at o hospital e traz dez bandejas de comida para esses soldados. Eles esto com fome. Os estudantes subiram na camionete e se foram.

Pouco depois regressaram com o desjejum para cada um dos dez soldados. David fez parar um caminho que passava e comprou uma caixa de refrigerante. Ele deu uma garrafa para cada homem. Depois de co-merem e beberem, o capito Gonzles sorriu para David e disse:

Tivemos uma boa refeio. Muito obrigado.Finalmente os soldados escutaram a voz do general pelo rdio.

Correndo camionete, eles ouviram por alguns momentos e ento retor-naram com a mensagem:

O oficial de comando quer que vocs voem para uma pista espe-cial.

David reconheceu o nome do lugar e disse: Mas essa uma pista abandonada! onde ele nos encontrar.Um sentimento de pavor invadiu David, que comeou a suar. Or-

dens de aterrissar em uma pista abandonada rodeada por soldados arma-dos! Algo parecia estar terrivelmente errado.

Senhor. Prefiro aterrissar na pista comercial que fica s a sete quilmetros dali. No h nenhuma razo para eu ir l. Voc sabe que tudo est em ordem, ento no h problemas.

Voc vai estar de volta logo. Ser uma breve parada para que o general verifique seus papis.

David no acreditou no capito. Sentindo-se cada vez mais inco-modado, continuou a resistir.

Finalmente, um soldado enfiou um revlver nas costas de David e ordenou:

Entre na avioneta.Ele sabia que no tinha alternativa. Discutir no funcionaria. O

capito e outro soldado entraram para o fundo da avioneta, e o professor e David foram frente.

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Eu tenho um costume disse David olhando para trs onde es-tavam os dois soldados. Antes de cada voo oro ao Deus do cu pedindo Sua proteo. Poderiam por gentileza tirar seus chapus e fechar os olhos?

Eles consentiram ento David orou: Meu Pai celestial, pedimos a Tua beno para cada um dos soldados, para o professor e para mim. Por favor, proteja-nos do perigo e do mal, com Teus santos anjos. Agradeo-te em nome de Jesus. Amm.

David decolou com muita apreenso.Por ter retirado o rdio para ser consertado, no tinha como infor-

mar a ningum sobre suas circunstncias ou sobre seu destino. Ele teria dado qualquer coisa para falar com Becky.

Enquanto voavam, decidiu atuar como se estivesse se comunicando por rdio. Colocando o microfone na boca, ele fingiu chamar o escritrio da Associao.

Por favor, avisem a Cidade do Mxico imediatamente que esta-mos nos dirigindo ao aeroporto abandonado. Pode ter algum problema com os documentos. Enviem um advogado de imediato para cuidar do assunto.

O capito Gonzles, sentado atrs de David, escutou cada palavra. Ele no sabia que David estava falando atravs de um rdio inexistente.

David terminou dizendo: Roger, Roger. Sim, vamos aterrissar em poucos minutos. Por fa-

vor, enviem um assessor legal imediatamente.Ainda duvidoso de aterrissar em uma pista abandonada, David se

dirigiu ao capito: Vou aterrissar na pista comercial. No, no, voc no pode. Tenho ordens do general de que voc

deve aterrissar como ele instruiu. Mas voc me disse que eu voarei de volta pra casa dentro de pou-

cos minutos. Eu preciso de combustvel, pois no terei o suficiente. No! ele disse com firmeza as ordens so para que voc ater-

risse onde o general disse.


Ento voc ter que atirar em mim, porque estou aterrissando na outra pista.

O capito Gonzles comeou a ficar extremamente nervoso.No cho do aeroporto comercial, David encheu o tanque com gas-

olina. Ele ouviu a voz do general gritando atravs do rdio que o capito tinha na mo.

Por que voc o deixou pousar l? gritava a voz com raiva. O piloto se negou a obedecer, ele disse que precisava de com-

bustvel explicou Gonzles.Enquanto isso, David falou calmamente com o operador de txi

areo do aeroporto: Oua cuidadosamente. Estou sendo sequestrado. Ligue para

minha esposa ou para algum do hospital da misso. Diga a eles que eu acho que serei mantido na base da fora area.

David se sentiu confiante de que algum tentaria encontr-lo, ou faria contato com as pessoas certas.

Com os quatro homens de volta avioneta, David decolou e voou at a pista abandonada. Assim que aterrissaram, David sentiu uma onda de emoes crescentes. Um dos soldados educadamente lhe ordenou:

Com licena, saia da avioneta e permanea aqui. Por favor, ponha suas mos atrs das costas enquanto eu te algemo. Por gentileza fique contra a parede enquanto coloco uma venda em seus olhos. Logo David escutou outra ordem.

Coloquem as armas em suas costas. Se eles se mexerem, atirem neles.

Isso real? Pensou David. Como ficou perfeitamente imvel ele podia ouvir os soldados ruidosamente saqueando a avioneta. Logo depois, colocaram David e o professor na parte traseira de uma camionete. Con-hecendo as estradas da rea, David podia sentir as curvas na rota que os levava para a base da fora area. Ele pensou em Joo Batista, de quem a Bblia diz: Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele ( Joo 1:7). Por favor, Deus, ele orou di-

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ante de qualquer coisa que esteja para acontecer, permanea junto a mim e ajuda-me a testemunhar de Ti.

A camionete parou, e os soldados os conduziram, ainda com os olhos vendados, rapidamente atravs de longos e estreitos corredores com portas baixas. Temeroso de golpear a cabea David se agachava tanto quanto podia. Finalmente entraram em uma sala.

Sentem-se ordenou a rude voz de um interrogador. Depois de alguns minutos, os guardas levaram o professor outra sala enquanto David permaneceu. Imediatamente comeou um interrogatrio. Por uma hora os soldados o interrogaram, ento eles puseram David na outra sala enquanto interrogavam o professor tambm por uma hora. O ciclo se repetiu vrias vezes. David pensava consigo: Isso parte de um plano bem elaborado. Confuso pelas tantas perguntas irrelevantes, David re-spondia com cuidado, pedindo sabedoria a Deus.

Vocs todos so pessoas boas, no so? Sim, somos. No faria nada ilegal, faria? Claro que no. Mas vocs estiveram distribuindo Bblias.Sabendo que a lei proibia os estrangeiros distribuirem Bblias Da-

vid nunca o havia feito, ento ele respondeu: No, eu no estive distribuindo Bblias. Eu sou um enfermeiro

licenciado. Eu fao obra mdica. Coloque a que ele tem distribudo Bblias. Se voc puser isso, eu no vou assinar esse documento. Est bem, risca isso.O vaivm do interrogatrio durou o dia todo. Finalmente o capito

Gonzles parou tudo. Sua voz soava amvel. Voc sabe esses homens no comeram. Eles nos deram um bom

desjejum esta manh. O mnimo que podemos fazer dar a eles uma re-feio. Traz o outro cara. Tire as vendas dos olhos deles e os algeme com as mos para frente.


Podemos trazer sanduches de frango pra vocs?O professor respondeu: Sim, obrigado.David acrescentou: No quero parecer exigente, mas, no se importaria de me trazer

um sanduche de ovo? De maneira nenhuma. Traga um sanduche de frango para ele, e

para o piloto um sanduche de ovo.Depois de umas poucas mordidas de sanduche, David se lembrou

de um pequeno pedao de papel no seu bolso com uma lista de informa-es de contatos de amigos e lderes da igreja. Com letras pequenas es-tavam escritos nomes, nmeros telefnicos e endereos. Em mos erradas, a informao poderia ser mal usada. Ele no queria que nenhum oficial da igreja fosse preso com acusaes falsas.

Que devo fazer? Eu preciso de sabedoria Deus, ele pensou. Ento teve uma ideia. Olhou em volta da sala. Os soldados estavam coversando baixinho. Levando as mos algemadas em seu bolso David tirou o ped-acinho de papel, colocou dentro de sanduche de ovo e o comeu. Depois de ter mastigado o duro sanduche, se sentiu aliviado.

Quando terminaram de comer, novamente com os olhos vendados e as mos algemadas nas costas, o professor foi levado de volta sala de in-terrogatrio. O ciclo de uma hora de interrogatrio comeou novamente. Ao final da tarde, David pde escutar pela primeira vez as respostas do professor. Algum tinha deixado uma porta aberta, acidentalmente.

Eu mal conheo o capito Gates. Faz poucos dias que nos con-hecemos. Eu no sei o que ele faz.

David se contorceu. O professor e ele haviam trabalhado juntos desde que David tinha comeado seu trabalho como piloto missionrio. Ento ele est se entregando pelo medo e precisa de encorajamento, pensou David.

Quando os soldados trouxeram David para mais perguntas, ele disse ao professor:

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Voc tem que dizer a verdade. Se comear a dobrar a verdade Deus no poder te proteger. Se eles te pegarem dizendo uma inverdade voc vai se machucar. Sabemos que temos anjos ao nosso redor. Os sol-dados no podem nos tocar sem a permisso de Deus. certo que agora parecemos ser prisioneiros, mas a verdade que eles so os prisioneiros e s podem fazer o que Deus permitir que faam. Por favor, no tenha medo de dizer a verdade.

O professor se voltou para os interrogadores e disse: Me desculpe, eu deveria ter dito a verdade. Trabalho com David

Gates e o conheo bem. Por quase dois anos temos feito tudo juntos. Por favor, corrije a minha declarao. Eu fiquei com medo.

O capito Gonzles anotou tudo. Em seguida tiraram as vendas dos olhos deles. David viu que um secretrio tinha datilografado cerca de vinte pginas em uma velha mquina de escrever.

Nada do que os soldados diziam deu a David uma pista da razo por que ele tinha sido preso.

Leia e assine disse o capito.David e o professor fizeram como foi ordenado. Ento, novamente

vendados, foram levados pelos soldados para o fundo da camionete. David imaginou que eles estavam em uma longa viagem atravs das montanhas at a priso. Ele podia dizer quando eles estavam passando pelos povoa-dos por causa dos rudos ao seu redor. A poucos quilmetros de distn-cia, sua preciosa esposa e as duas meninas, Lina e Katrina, e Carlos, seu filhinho recentemente adotado, o esperavam. Agora sabia como se sentiu Jos quando os comerciantes que o levavam ao Egito passaram pelas co-linas onde vivia seu pai Jac. Por que havia Deus permitido isso quando David havia orado pedindo sabedoria e direo? Tinha Ele um plano ao mand-lo a um lugar estranho como uma testemunha para pessoas que no conheciam a Deus, assim como Ele enviou Jos?

Confuso e solitrio, David ansiava estar com sua famlia. Seu cora-o comeou a se quebrantar. Voltaria a v-los?

3 temPo de recordarA chuva caa sobre David e sobre o professor enquanto se aperta-

vam contra a cabine. A estrada sinuosa e as marchas baixas da camionete diziam a David que eles estavam iniciando uma jornada pelas montanhas. Ele havia sado de sua casa naquela manh com uma camisa de manga curta e sem blusa. Podia sentir o vento frio em seus ossos e comeou a tremer.

Voc parece estar com frio capito disse o guarda. Sim, sinto um pouco de frio.Tirando sua jaqueta, o soldado a colocou em cima do corpo de

David e disse com uma voz amvel: Tome meu casaco. Pode ficar com ele. Muito obrigado disse David em voz alta. Silenciosamente ele

orou: Senhor esses atos de bondade por ter sido alimentado e por esse jovem ter me dado seu casaco me dizem que o Senhor est no comando. Por favor, me d discernimento para mostrar pequenos atos de bondade para com as pessoas desafortunadas que eu venha a encontrar nessa via-gem.

De olhos vendados, saltando ao longo da sinuosa estrada da mon-tanha aquela noite, David teve tempo para pensar. No preciso me preo-cupar com o que vir. Ele ps tudo nas mos de Deus.

Na escurido e frio sua mente se concentrou em sua amada Becky. Os anos desapareceram enquanto evocava preciosas recordaes.

David se lembrou de que seus pais haviam contado a ele sobre o milagre que Deus realizou para salv-lo quando era um beb. Nascido com atresia intestinal e m rotao (intestinos que se fecham continuamente e problemas no lado esquerdo do apndice), David no tinha peristaltismo no tinha ao nervosa que movesse o bolo alimentar. O mdico se aproximou de sua me, Meraldine, que na altura era instrutora de enfer-magem na Universidade Missionria de Washington, em Maryland (o pai de David, Richard, estava estudando no seminrio prximo) e disse:


Senhora Gates, o seu filho primognito vai morrer. No h pos-sibilidade de ele viver, mesmo que tenhamos tentado fazer uma cirurgia restaurativa.

Durante as primeiras trs semanas de vida David foi operado trs vezes. O mdico procurou reparar os pequenos intestinos, mas isso no funcionou. Depois ele tirou uma grande parte dos intestinos, mas isso tambm no deu soluo. Na terceira tentativa, alterou parte do estmago de David, fazendo uma conexo especial para ver se a gravidade faria com que a comida se movesse para baixo. Nada parecia ajudar o beb, e ne-nhum alimento passou por seus intestinos naquelas trs primeiras sema-nas de vida.

Ns sentimos muito, mas no podemos fazer mais nada disse o mdico com tristeza. O seu filho vai morrer.

Com f os pais de David pediram ao Dr. Leslie Hardinge que un-gisse seu beb. No final de vinte e quatro horas uma enfermeira comeou a escutar rudos intestinais pela primeira vez. O mdi-co pediu que fizessem uma radiografia do abdmen do beb. Emocionado, o mdico declarou:

O apndice est agora na posio certa. Os intestinos parecem estar funcionando normalmente ainda que o beb tenha nascido sem um sistema peristltico nervoso que funcionasse. Esse mdico agnstico con-tinuou:

Se existe um Deus, Ele salvou a vida desse beb. Estou certo de que Ele deve ter grandes planos para ele.

David tinha apenas um ano de idade quando seus pais, que eram missionrios, o levaram para a selva da Bolvia. Cresceu falando espanhol.

David com 10 anos de idade na Bolvia.

3 Tempo de Recordar | 21

Seu pai, um pastor e piloto missionrio, levou a famlia para visitar a ci-dade de La Paz, quando David tinha trs anos, a partir das selvas de terras baixas. Os 3.800 metros de altitude fizeram mal ao garotinho. Ele ainda se lembra da primeira vez que viu uma linda menina loira. A me da menina disse a ele:

David, esta nossa filha de seis anos, Becky Sue. Becky trouxe jogos e quebra cabea, mas antes deles jogarem ela

disse com um sorriso: Te incomodaria se eu penteasse teu cabelo bagunado? Sua

ateno maternal o fez se sentir bem.Mais tarde ela sugeriu: Vamos fazer pintura com os dedos. Podemos pintar as mon-

tanhas cobertas com neve, como vemos pela janela.

Cheia de todo tipo de ide-ias, ela o manteve ocupado at que ele se esqueceu de sua dor de ca-bea e nuseas.

O pai da Becky, Mon-roe Dale Duerksen, tesoureiro da Misso Boliviana dos Adventistas do Stimo Dia, com frequncia visitava as plancies da selva onde David morava. Ele ocasionalmente trazia consigo sua famlia.

David alegremente sugeria projetos e Becky o seguia. Camin-hando descalos pela selva, eles col-hiam flores e caavam borboletas coloridas e raros escaravelhos. Algumas vezes trabalhavam juntos em pro-jetos de pintura de nmeros.

Precisamos de dinheiro para comprar sorvetes e chicletes. Voc tem alguma ideia? perguntou David um dia.

Becky com 15 anos de idade e o seu macaquinho Jojo.


Vamos cada um pintar um quadro do Jojo, meu lindo macaco sugeriu Becky. Isso lhes tomou muito tempo porque Jojo no parava qui-eto para posar.

Quando eles acabaram David disse: Eu gosto dos quadros do seu macaco de estimao. Vamos pro-

curar tampas de latas, fazer buracos e colocar linhas nos buracos para fazer uma moldura. Ns colaremos os nossos quadros do macaco e o melhor de nossas pinturas de nmeros nas molduras de tampas e os venderemos.

Os pequenos empresrios encontraram muitos compradores ao chegar s casas do povoado.

As famlias Gates e Duerksen certa vez viajaram juntas na lancha da misso, parando para atender aos enfermos de cada povoado. David se lembrou de ter passado seu quinto aniversrio nessa viagem.

Quando David e Becky estavam um pouco mais velhos, amavam ir pescar no arco da lancha. Ele amava ouvir a risada da Becky quando eles atiravam os peixes de volta na gua e os viam nadando para longe.

Vamos construir uma casa na rvore sugeriu David certo dia. Mas ns no podemos subir a essa altura no tronco Becky ob-

jetou. No, mas vamos trazer a rvore para baixo at ns. Ento fazemos uma casa nos galhos. Eu sei como usar um machado e um faco.

Com milhes de rvores compondo a selva boliviana, a perda de uma no incomodava os pequenos construtores. Durante trs dias macha-daram at que caiu. Descalos foi fcil subir no tronco horizontal para fazer uma acolhedora casa na rvore. Mas quando as folhas se secaram eles acharam a casa menos convidativa e se voltaram para outras aventuras.

A misso comprou propriedades nas plancies, e as duas famlias estiveram envolvidas na construo de uma fazenda de gado. Nesse lugar os estudantes locais podiam trabalhar durante um ano para ganhar din-heiro e poder pagar os estudos.

A famlia de Becky vivia em uma casa pequena. Quando a fam-lia de David ia de visita todas as crianas tinham que dormir no mesmo quarto.


Que bom! disse Becky risonha. Podemos contar histrias e nos divertir antes de dormir.

Naquela noite David dormiu numa rede por cima de Becky. Com o p, ela empurrava a rede dele, balanando-o para que dormisse. De re-pente David enjoou e vomitou. Becky fingiu estar dormindo, temendo ser acusada de t-lo feito enjoar.

Quando David chegou idade de oito anos, ele anunciou Becky: Quando eu crescer eu vou me casar com voc. Verdade? Est bem, eu ficarei feliz em me casar com voc quando

tivermos idade suficiente respondeu a menina de onze anos.Decidindo que precisava dar a Becky um presente de compromis-

so, David levou suas economias a uma loja no pequeno povoado de Santa Ana.

Quero comprar um frasco de perfume. Voc quer um perfume? Voc j est pensando em uma namo-

rada? perguntou a atendente. Mais ou menos ele respondeu de maneira prtica.Satisfeito com sua compra, ele deu para Becky o bonito frasquinho.

Poucos dias depois, Jimmy, o irmo de Becky se aproximou de David e disse:

Sabe o que Becky faz com aquele perfume que voc deu pra ela? Ela o coloca em seu macaco depois do banho.

David se sentiu desconsolado. Ela estava usando o seu presente de compromisso em um macaco. Ele no entendia as meninas, nem havia se dado conta de que o macaco era muito especial para Becky. Por sete anos ela havia levado o macaco para todos os lugares aonde ia. Ela colocava roupinhas nele e o amava muito. Todas as sextas-feiras depois que tomava banho, ela dava banho no Jojo. Quando se perfumava, o perfumava tam-bm.

Quando Becky completou treze anos, seus pais regressaram aos Estados Unidos para que seu pai estudasse na Universidade de Loma Lin-da, na Califrnia. Durante seus anos de ensino mdio, Becky andou de


colgio em colgio em Louisiana, Arkansas, Kentucky e Tennessee. David e Becky no se viram por muitos anos. David nunca soube que Becky no tinha rejeitado o perfume, presente de seu amor. Muitos anos depois ele entendeu os seus motivos. Ela havia partilhado o seu estimado presente com o animal que mais amava.

A famlia de David saiu da Amrica do Sul e se dirigiu Universi-dade Andrews (Andrews University) em Michigan quando ele tinha onze anos. Posteriormente, viveram por dez anos em Collegedale, Tennessee. David se lembrou da emoo que sentiu quando voltou a ver Becky. Mas o tempo e as circunstncias os haviam mudado, e ele comeou a se sentir incomodado. Teria ela, uma estudante da Universidade Missionria do Sul (Southern Missionary College), alguma coisa a ver com um garoto do ensino mdio?

Em seu corao, Becky sabia que ainda tinha sentimentos por Da-vid. A cada ano no seu aniversrio ela pensava nele e na distante promessa feita um ao outro. Ser que um dia namorariam?

Certo sbado, a famlia Gates, que vivia perto da universidade, con-vidou Becky e a sua companheira de sala, Joy, para um almoo. Depois de comerem, David sugeriu:

Tenho que ordenhar uma vaca. Vocs gostariam de vir comigo, garotas?

Enquanto se encaminhavam ao estbulo, David disse a Joy:

Seu cabelo loiro e comprido muito bonito.Becky sentiu uma pontada de cimes e pensou a ateno dele

est voltada para ela e no para mim! Foi nesse instante que decidiu deixar o cabelo crescer.

Nem David nem a Becky alguma vez mencionaram a promessa da infncia. As diferenas de idade e de educao pareciam massacrantes, e

Monroe Dale e Patrcia Duerksen, Pais de Becky, em Kaikan


cada um deles j namorava algum. Com o corao partido, David chegou concluso de que nunca mais teria oportunidade de se casar com Becky.

Na verdade, quando acontecia de se encontrarem, eles sempre se falavam brevemente como amigos. Mas ainda quando se falavam, Becky pensava: ele s um garoto e no tem interesse em mim agora. E David achava que era muito jovem para ela. Parecia significar o fim daqueles sonhos de infncia.

De repente, os sonhos prazenteiros de David chegaram a uma parada abrupta quando a camionete freou e parou. Ele ouviu um ran-gido de porto e percebeu que eles haviam chegado priso. O capito Gonzles tirou as vendas dos olhos deles e ordenou que o seguissem. Da-vid olhou em seu relgio. Trs horas da manh! Os homens conversavam enquanto caminhavam quase como se fossem amigos. O guarda da priso os cumprimentou quando entraram.

Tenho dois presos para voc disse o capito. Coloque-os na cela A, logo ali, mas no quero que voc tranque a porta da cela.

Capito, o que foi que voc disse? Eles so prisioneiros, e voc diz que no quer que eu tranque a porta da cela?

No, esses cavalheiros no vo escapar. E tambm quero que voc deixe a porta aberta. Isso uma ordem. Voc entendeu?

Sim, senhor!Enquanto o capito saa, ele disse: Boa noite, cavalheiros.O guarda se aproximou de David e do professor. Trabalho aqui h muito tempo disse o guarda, e nunca tive

um preso que no pude trancar. Isso estranho. Mas deixem-me dizer uma coisa. No coloquem nem um p fora dessa porta ou eu atirarei.

Ao deitarem em suas esteiras, David se voltou para o professor. Este o terceiro ato de bondade para conosco desde que fomos

presos ele disse. Poderiam as atitudes de o capito significar que somos presos, mas no realmente prisioneiros? Certamente a mo de Deus est por trs disso. Eu no entendo agora, mas estou confiante que Deus tem


um plano. Ele nos chamou. Ele fiel, e podemos confiar nEle. Ao Seu prprio tempo Ele o far.

4 Vida na PriSoDavid e o professor permaneceram na cadeia por dois dias. Para

passar o tempo compartilhavam promessas bblicas. Estava Deus dando-lhes uma pausa para fortalec-los para o que estava por vir, ou como Joo Batista, eles tambm estavam na cadeia para serem preparados para dar testemunho da luz ( Joo 1:8)?

Ser interessante ver como Deus trabalha para o bem daqueles que o amam, os que foram chamados conforme o Seu propsito disse David.

Ao terceiro dia o guarda ordenou: Venham comigo.A camionete os levou ao povoado mais prximo, para o escritrio do

advogado do distrito. Numa sala de audincias, vrios secretrios estavam datilografando em suas mquinas. Um oficial levantou-se e comeou a ler as acusaes contra David e o professor. S ento eles se inteiraram da razo do sequestro.

Voc est sendo acusado de vrios crimes que envolvem o uso do avio. David ouviu uma grande lista de atividades ilegais, todo tipo de acusao que algum poderia pensar.

Vocs esto presos e foram acusados de tudo isso disse o porta voz.

David sabia que nunca havia pilotado ilegalmente, mas o homem encarregado pela audincia no deu oportunidade de fazerem nenhuma declarao. David pensou: parece que esses oficiais do governo planejam estar a curta distncia disparando de uma escopeta seus tiros e projteis.

Temos uma testemunha que confirma a veracidade das acusaes.David ouviu o nome do homem que tambm era um preso. Ele est disposto a testemunhar contra vocs. Levem-nos para a cadeia gritou o oficial.


David recordou o nome da testemunha e pensou: quando chegar-mos cadeia eu confrontarei esse homem, vou averiguar por que decidiu testemunhar sobre algo totalmente falso.

De regresso caminhonete, David viu que estavam levando-os para uma cadeia federal. Ao entrar na cadeia David havia decidido que encon-traria o homem que o acusara falsamente. O guarda fechou o porto por detrs deles e tomou suas impresses digitais. A partir desse momento, o pensamento de enfrentar o seu acusador desapareceu da mente de David.

Os guardas levaram David e o professor para um crcere interno. Imediatamente vrios presos os rodearam.

Ento, vocs so os grandes criminosos! gritaram eles. Que querem dizer com isso? perguntou David.Nas mos deles estava o ltimo jornal. A notcia da primeira p-

gina dizia:Suspeitas de que o Hospital Adventista do Stimo Dia usa dou-

tores, enfermeiras, e uma avioneta para atividades ilegais. E treinam estu-dantes de enfermagem para cometer crimes. Lderes esto presos.

David viu que se tratava de uma manobra poltica para desonrar a igreja de Deus. Ele se dirigiu aos presos e disse:

Vocs acreditam em tudo o que leem na primeira pgina do jor-nal? Algum est mentindo. A verdade que somos missionrios da igreja.

No, no so. Ns sabemos que vocs tm dinheiro. Vemos que esto bem vestidos e isso prova que tem dinheiro como todos os crimino-sos.

No, ns no temos dinheiro. Sim, tem. Vocs devem ter muito dinheiro. Eu sinto muito rapazes, mas vocs esto equivocados. Ns nunca

lidamos com o crime e no temos dinheiro. Escutem. Temos algo a dizer pra vocs! gritou o porta-voz dos

presos. Nesta cadeia ns, os presos, controlamos tudo. Ns queremos que vocs nos paguem. A menos que nos paguem com dinheiro, vocs sero forados a limpar todas as privadas duas vezes ao dia.

4 Vida na Priso | 29

Srio? Vocs no vo querer limpar essas privadas. obvio que vocs

so pessoas com cultura que nunca fariam um trabalho desses. Eu sou um enfermeiro. Sou missionrio da Igreja Adventista do

Stimo Dia. No sou muito bom para limpar privadas. Senhor Gates, voc no vai querer limpar essas privadas. As fezes

flutuam por todas as partes. Todo o encanamento est com problemas. A gua entra durante a poca de chuva e os dejetos flutuam por todo o ban-heiro. Voc vai ter que recolher toda essa sujeira todos os dias. Eu estou certo de que voc no vai querer lidar com essas coisas malcheirosas.

Penso que voc est me julgando mal. Eu disse que sou enfer-meiro e estou acostumado a limpar a retaguarda das pessoas que cuido. Certa vez trabalhei em um asilo. No me incomodava em nada limpar os idosos. Faa a prova.

No senhor Gates. Ns vamos te dar uma oportunidade. Sabe-mos que voc no quer fazer esse trabalho. Vamos te dar dois dias para que pense bem. Ento se no pagar, ter que fazer esse trabalho.

Agora mesmo eu te respondo. Por favor, me d um balde e uma p, e eu comeo o trabalho. Em dois dias voc ter a mesma resposta. No vou pagar nem um centavo.

O professor interrompeu David. Eu no estou de acordo. Talvez devamos pagar. David olhou para ele e disse: Voc livre para pagar se quiser. Voc tem que tomar as suas

prprias decises, mas eu no me importo de fazer trabalhos sujos. Para as mes no nenhum trabalho trocar fraldas. Elas no gostam da primeira fralda suja, mas depois de duas, trs, se acostumam sem problemas.

Naquela noite os guardas alinharam os presos em cinco grandes filas. Ordenaram a David e ao professor que fossem para filas diferentes. Depois de cada fila ter sido contada, ordenaram aos presos para voltarem para as suas respectivas celas, setenta homens em cada cela e trancaram os portes.


Na cela onde David ficou ele viu que havia uma grande fileira de camas de concreto com um espao de um metro entre cada fileira, que se estendia quase at o teto. O lder de cela informou aos novos presos:

Vocs tm que pagar trs dlares por uma cama. Se no, dormem no cho.

Sentindo-se teimoso, David percebeu que se comeasse a pagar por cada coisa os subornos no cessariam. Eles iriam querer mais e mais dinheiro o tempo todo. Alm disso, as camas de concreto eram to duras quanto o cho.

Eu prefiro dormir no cho ele disse ao lder da cela. Como novo ter de dormir perto da minha cama ordenou o

lder.Sabendo que iria dormir profundamente, David teria que resolver

um novo problema. Ele pensou: Estes sujeitos vo roubar tudo o que tenho. Que devo fazer? Devido cela estar muito quente e sufocante decidiu: Vou colocar minha carteira, minhas chaves, minha caneta dentro dos sapatos. Logo amarrarei minha camisa ao redor dos sapatos e os usarei como travesseiro e dormirei s de calas. Tendo feito isso, ele deitou-se. No momento em que encostou a cabea no travesseiro improvisado, lembrou-se de algo importante. Havia se esquecido de orar.

Ele levantou-se e ajoelhou esperando que lhe jogassem objetos ou que lhe xingassem. Mas nada aconteceu, assim comeou a abrir seus sen-timentos ao seu Amigo: Senhor, eu preciso de ti. No sei por que que Tu ests permitindo que eu passe por este trauma. No gosto deste tratamen-to. Eu me sinto deprimido e frustrado. Tu sabes quantas pessoas depen-dem das nossas visitas com a avioneta. Quem os ajudar agora? Quem far a obra que Tu me designaste? Deste jeito ela no ser completada. Con-seguir a igreja recuperar a avioneta? Por que que Tu permitiste que eu acabasse neste terrvel lugar? Qual a Tua razo para me colocares aqui? Tenho que te dizer quo mal eu me sinto. Eu sei que Tu ests comigo. Por favor, ajuda-me a sobreviver a isto. Ensina-me a confiar em Ti. D-me sabedoria para dar testemunho de ti mesmo quando eu no entenda. S com a minha querida esposa e com as crianas, e quando for da Tua von-


tade, que voltemos a estar juntos novamente. Amo-te apesar de eu ser um miservel. Oro em nome de Jesus que sofreu muito mais por mim. Amm.

David voltou a se deitar. Logo escutou um grito forte: Ei, voc a! Voc religioso ou algo assim? Sim eu sou. Sou missionrio de Deus. Eu trabalho para a Igreja

Adventista do Stimo Dia. Voc cr em Deus? Sim eu creio. Voc cr que Deus existe? Sim, sei que Ele existe. Conheo-O pessoalmente. Ento responda as minhas perguntas.David orou silenciosamente pedindo sabedoria. Setenta pares de

ouvido escutavam enquanto eles conversavam. Logo, outra voz inter-rompeu. E neste instante outro fez uma pergunta, logo outro, e outro, por mais de duas horas. E outra vez o Esprito Santo trazia mente de David textos bblicos. Na escurido esses homens abriram seus coraes e fa-ziam perguntas acerca do Deus que ansiavam conhecer. Todos escutavam, fascinados. David sabia que o Esprito Santo havia disponibilizado esta audincia em cativeiro.

No dia seguinte David despertou e imediatamente e se ajoelhou no cho para orar.

Espere, espere, espere disse um jovem preso que se aproxi-mando rapidamente dele perguntou:

Se importa que eu ore contigo? No de maneira nenhuma. Fico feliz em t-lo comigo.Os dois homens oraram juntos, e David sabia que Deus estava sor-

rindo.Na noite seguinte, quando David se ajoelhou para orar, um terceiro

homem se uniu a eles. Agora Deus estava escutando a trs de seus filhos. Logo foram quatro, cinco, seis, sete at onze. Deus conhecia as necessi-dades daqueles coraes. Ele entendia o desejo de estarem em Sua famlia. Seria por isso que havia Deus enviado David para estar com eles, para levar nimo a esse lugar sombrio?


Muitos presos se aproximaram de David em particular e lhe con-taram a sua histria. Um homem lhe disse:

Tenho uma esposa e filhos. Sou inocente. Algum me acusou in-justamente estou sentenciado a dez anos de priso e minha esposa e meus filhos esto sofrendo.

Outro homem com os olhos cheios de lgrimas, disse: No fiz nada de mal, mas tenho que estar quinze anos aqui, sem

ningum para cuidar da minha famlia.Uma onda de tristeza invadiu David. Ele sabia que no poderia

esperar justia tambm. Quantos anos ele estaria condenado a viver ali? E como sua esposa faria com duas meninas de cinco anos e trs, e Carlos de um ano?

***Nos trs dias de priso de David, sua esposa no tinha nem ideia

de onde ele estava ou se alguma vez voltaria a v-lo. Viviam na fronteira com a Guatemala, e ela se lembrou de como outro missionrio, Lon Cum-mings, havia sido sequestrado.

Haveria o mesmo sucedido com David? Ser que os guerrilheiros haviam levado David para um cativeiro na selva? Ou o estariam tortu-rando? Exigiriam um resgate ou o matariam? Pensamentos horrveis en-chiam sua mente enquanto implorava a Deus: Por favor, traga-o de volta para mim.

Durante aqueles dias, Becky sentia como se seu estmago estivesse amarrado com ns. No podia comer. Ao subir na balana que ficava no banheiro, viu que registrava s cinquenta quilos. O que significava que havia perdido trs kilos e meio em trs dias. Ela tentou comer mesmo sem ter vontade, mas o estresse fazia com que fosse quase impossvel engolir.

Sabendo que deveria suportar tudo pelo bem dos seus filhos, caiu de joelhos e rogou: Senhor, o Senhor tem que me ajudar. Sinto como se fosse morrer. Preciso da tua paz em meio a esta confuso. Preciso agora mesmo. Tu sabes quanto amo tua promessa de Joo 14:27 que diz: A paz vos deixo, a Minha paz vos dou; Eu no a dou como o mundo a d. No se turbe vosso corao, nem tenham medo.


Nesse momento ela sentiu a paz de Deus invadindo-a. Por poucas horas ela se sentiu normal novamente. Mas logo aquela horrvel ansiedade voltou a domin-la.

Caiu novamente de joelhos e repetiu o pedido: Por favor, Deus, eu preciso da tua paz. Estou perdendo-a.

Durante todo o dia, e suas turbulentas noites, ela reclamava Joo 14:27 inmeras vezes. Ela se apegava a essa promessa como uma pessoa que est se asfixiando e buscando ar.

Os amigos que vinham visit-la perguntavam: Becky, como voc consegue ser to forte? Eu no sou forte ela respondia. Estou me apoiando forte-

mente em Jesus. Sem as Suas promessas, no poderia suportar isso, por que eu no tenho nem ideia do que est acontecendo com David. Mas Deus sabe. Uma coisa eu sei: Deus nos d foras especiais para momentos especiais.

Certa noite, Katrina, de trs anos, viu sua me chorar. Mame, o anjo pode abrir a porta.Confusa, Becky perguntou: Que porta? Voc sabe, como Pedro.Becky recordou-se que havia lido para os filhos a histria bblica

sobre o escape do apstolo Pedro algumas semanas antes. Ela inclinou-se e abraou Katrina.

Queridinha voc tem mais f do que a mame. Obrigada por me fazer recordar.

Cada hora Becky experimentava a dura prova que Pedro menciona em sua primeira carta (ver I Pedro 4:12 e 13). Ela entendeu que Deus estava permitindo que ela participasse dos sofrimentos de Cristo. Mas durante o sofrimento, ela no podia se alegrar. S mesmo pela f poderia compreender que algum dia se regozijaria quando a glria de Cristo fosse revelada.

5 doeS LembranaSDavid sabia que muitos olhos o observavam enquanto se preparava

para dormir a segunda noite, e dois presos juntavam as mos para orar. Quando se deitou e o silncio encheu a cela, sentiu a doce presena de Jesus.

Mas o sono no vinha. No podia deixar de pensar. As avionetas haviam sido parte importante na sua vida, e agora os seus pensamentos se dirigiam para aquilo que acabara de perder razo pela qual havia sido preso e encarcerado e s outras avionetas que havia voado. Ele se recor-dava como Deus o havia abenoado com sua primeira avioneta.

Havendo voado com frequncia com seu pai quando criana, an-siava ter aulas de voo durante seus anos de ensino mdio. Decidido a en-contrar a forma para obter o dinheiro para as aulas, encontrou um trabalho na universidade.

Logo ficou scio de dois amigos que tinham uma avioneta. As longas horas de trabalho finalmente tiveram resultado e ele pde ento comprar a parte deles. Antes de se formar no ensino mdio com a idade de dezoito anos, j tinha sua prpria avioneta.

Um dia, antes que David recebesse a licena de piloto, seu pai, um piloto experiente na selva, o levou para voar na pequena pista pavimentada do colgio secundrio Georgia-Cumberland Academy, ao norte da Geor-gia. Tentaram aterrissar duas vezes, mas cada vez notavam que havia uma segadeira que cortava milho em um campo junto pista.

David queria experimentar uma aterrissagem por si mesmo. Esta situao est muito melindrosa para voc admoestou seu

pai. No quero que aterrisse com essa segadeira trabalhando to prxima da pista. Tenho que desviar para os lados para contorn-la. Vou aterrissar e pedir que a afastem mais um pouco antes de voc assumir os controles.

O pai de David fez uma aterrisagem normal, mas imediatamente depois de tocar o solo, a engrenagem de aterrisagem esquerda se dobrou e a roda esquerda soltou da avioneta. A asa esquerda da avioneta caiu e saiu disparada pelo campo. A segadeira, que estava trabalhando em crculos,


veio parar na frente deles. Sem ter controle da velocidade da avioneta, o pai de David puxou a frente da avioneta para baixo e chocou-se com a frente da segadeira a cento e dez quilmetros por hora. Com essa rpida manobra o homem que trabalhava com a segadeira no foi atingido.

Seguiu um silncio mortal. Quando David e seu pai voltaram a si, o sangue escorria pelos cortes em suas cabeas e braos. Os cintos de segurana haviam salvado suas vidas. Tanto a avioneta como a segadeira estavam com grandes danos.

O mdico de um pronto-socorro da regio que os atendeu disse: Seus ferimentos no so graves, mas vai levar algum tempo para

curar.Durante a recuperao, David recebeu um bilhete de Becky que

havia voltado para casa por um semestre. Sinto muito que a sua avioneta tenha sido destruda ela es-

creveu. Eu sempre quis aprender a voar e tinha esperanas de faz-lo em sua avioneta. Fico feliz em saber que nenhum de vocs dois se feriu grave-mente.

Por sua avio-neta estar assegurada, David logo comprou outra. Uma leve espe-rana cruzou a mente de David. Estaria Deus usando o acidente para que houvesse esse con-tato positivo de Becky? Como a sua namorada havia terminado com ele, se sentiu livre para responder ao bilhete. Logo as cartas se tornaram frequentes.

Pouco tempo depois Becky e seus pais foram visitar os pilotos que se recuperavam. Depois que foram embora, o pai de David disse:

A Cesna 140 Becky Sue

5 Does Lembranas | 37

Tenho notcias para voc. A me da Becky disse tua Me que Becky acabou de terminar com o namorado porque ele no tinha muito interesse no trabalho missionrio, que o seu objetivo de vida. Ela deu a entender que Becky ainda fala da tua promessa de infncia, David.

Verdade papai?! Por algum tempo eu me senti deprimido por isso, pensando que no teria chance com a Becky. Isso maravilhoso!

David se lembrava da promessa de Filipenses 1:6: Estou con-fiante de que aquele que comeou a boa obra em vs h de complet-la at ao dia de Cristo Jesus. Ele orou: Obrigado meu Deus. No h nada demasiado difcil para Ti. Se Tu queres que Becky e eu trabalhemos juntos para Ti, por favor, mostra-me o que devo fazer.

Sempre rpido nas mudanas, David saiu da depresso para comear a andar nas nuvens. Ele escreveu uma carta Becky, enviou, mas a recebeu de volta quatro dias depois. Em seu entusiasmo havia se esque-cido de colar o selo na carta.

A amizade entre eles de-senvolveu rapidamente. Becky fez o mximo para estar na for-matura do ensino mdio de Da-vid do Colgio de Collegedale. Ela se sentia muito orgulhosa dele enquanto ele marchava pelo corredor. Depois da cerimnia, ela procurou no tremer quando estavam l fora na brisa fria. Seu corao quase deixou de bater quando ele colocou a capa de for-mando suavemente sobre os seus ombros.

Logo comearam a falar dos seus interesses comuns pelas misses. Becky havia estudado tecnologia mdica na universidade. Certa noite en-quanto eles caminhavam no campus da universidade, David lanou um desafio a ela.

Formatura de David do Ensino M-dio de Collegedale


Se ns dois queremos ser missionrios temos que estudar enfer-magem. Para onde quer que Deus nos chame a enfermagem pode ajudar as pessoas.

Mas, David, eu sempre disse que nunca seria uma enfermeira. Voc no acha que pelos nossos pais j serem enfermeiros j chega de profisso mdica na famlia?

David ficou calado, dando tempo para a Becky pensar. Eu estou certa de que no quero que a enfermagem seja a minha

profisso, continuou dizendo lentamente mas se no tiver que fazer planto num hospital, tudo bem, talvez o conhecimento pra ajudar os doentes enriquea nosso servio missionrio.

Eu tambm no tenho interesse de que a enfermagem seja minha profisso, mas que seja nada mais do que uma ferramenta valiosa para ajudar as pessoas.

Est bem David, estou disposta. Vamos ao departamento de en-fermagem para nos inscrever.

A diretora do curso de enfermagem balanou a cabea. Lamento. J temos todos os alunos que podemos aceitar para

o curso deste ano. Podemos coloc-los na lista de espera. Vocs seriam os excedentes de nmero setenta e oito e setenta e nove dos que esto se inscrevendo. Vocs tero de passar por um teste para nos certificar de suas aptides.

Poucos dias depois David e Becky, voltaram ao departamento de enfermagem para saber os resultados.

Vocs foram bem disse a diretora. Vocs subiram para os nmeros sete e oito da lista de espera.

Mesmo assim, vocs esto muito longe na lista para serem chamados este ano.

Trs semanas depois, no primeiro dia de confirmao para a matrcula na universidade, David sugeriu a Becky:

Eu estou certo que Deus quer isto para ns. No nos matri-culemos em nenhum curso hoje, vamos esperar e orar.


Na manh do segundo dia, voltaram a perguntar. Sinto muito. No h nada.Ainda assim, o ansioso casal esperou o dia inteiro lembrando-se

de Deus frequentemente, que com Ele todas as coisas so possveis (ver Marcos 10:27).

Se esta for a vontade de Deus para ns, Ele resolver todas as coisas. Se no, Ele nos mostrar planos melhores disse Becky com con-fiana.

As matrculas fecham as quatro balbuciou David olhando para seu relgio.

S temos cinco minutos para nos matricularmos. Vamos ver se h algum progresso. Eles se aproximaram da mesa da assessora de enfer-magem.

H duas vagas, mas acreditamos que as duas moas viro lhes disse a diretora de enfermagem.

As matrculas esto abertas h dois dias, e at agora no aparece-ram. Eu vou falar com o encarregado dos estudantes comentou David.

Se voc desejar ela respondeu, sinalizando com a mo em di-reo ao escritrio do encarregado dos estudantes ao outro lado do cor-redor.

David compartilhou com o encarregado o desejo de fazer enferma-gem para fazer um servio missionrio melhor qualificado.

Mas ns temos um problema disse David. Se ns no entrar-mos este ano, no podemos esperar pelo prximo ano. Ns simplesmente no faremos enfermagem. Ou fazemos agora, ou continuaremos nas pro-fisses que tnhamos em nossos planos.

Venham comigo. Vamos falar com a diretora do curso de enfer-magem.

Ao chegar mesa da diretora o encarregado perguntou: verdade que h dois estudantes na lista que no se matricu-

laram nem entraram em contato com voc? Se assim for, parece razovel como j est tarde, que deixemos estes dois entrarem na enfermagem.


Poucos minutos depois de terem encerrado as matrculas, David e Becky foram matriculados e foram aceitos no curso de enfermagem de dois anos. Becky se voltou para David enquanto se afastaram da mesa de matrcula, dizendo:

Deus no maravilhoso? Agora podemos estudar enfermagem juntos. Para mim no importa minha rea principal ainda que esteja no meu ltimo ano. Eu sei que esta a vontade de Deus.

O casal comeou a fazer tudo juntos, no entanto Becky sentia que deveriam esperar para casar s depois de terem terminado o curso de en-fermagem. Mas David a questionava.

Becky, voc arrasta o p em tudo. Voc simplesmente no quer se mover depressa. Talvez eu ande muito depressa, mas voc no deixa de ol-har para trs na direo oposta. Creio que voc o arado e eu sou o trator.

Ser que Deus sabe que precisamos de equilbrio? Eu prefiro esperar no Senhor, e voc mais como Paulo sempre correndo a corrida Becky riu, e David no teve como refutar.

Poucos meses depois do incio do curso, eles participaram no casa-mento de uns amigos; ela como madrinha e ele padrinho. Durante a re-cepo um amigo perguntou:

E vocs dois, esto planejando se casar?Os pais de Becky, por acaso, ouviram a pergunta e responderam: Ns acreditamos que qualquer dia eles nos diro que pensam em

se casar. Que querem dizer com, qualquer dia? interrompeu David.

Becky disse que queria esperar at que terminssemos o curso. Como que estaramos possivelmente pensando em qualquer dia quando os seus planos so para daqui um ou dois anos?

Quando David foi passar o Natal em casa naquele ano, seu pai o confrontou:

Voc j est comprometido? No papai, jamais me comprometeria com algum sem falar com

voc primeiro. Eu o respeito o suficiente para pedir a sua opinio.


Voc acha que vai se casar com a Becky? Eu estou certo de que vou me casar com ela. Voc tem certeza que encontrou a pessoa que a ama, e com quem

quer se casar? Oh, sim, eu a encontrei. Ela tudo o que eu quero. Ns dois

amamos o Senhor e temos um grande objetivo; ser missionrios e servir aos que necessitam de ajuda.

Nesse caso, j esto basicamente comprometidos, ainda que ofi-cialmente voc no a tenha pedido.

Bem, emocionalmente de fato ns estamos comprometidos. Eu perteno a ela e ela a mim.

Sua me e eu estvamos conversando, e temos visto que vocs formam um par perfeito. Deus os preparou enquanto os dois cresciam na Bolvia. Vocs sempre foram amigos. Mas ns tememos por vocs. Se seu relacionamento se tornar mais ntimo e vocs esperarem por muito tempo, pode ser que cometam um erro que poderia destruir ou no mnimo marcar o casamento negativamente. Ou, para preservar o relacionamento poderi-am se separar e esperar alguns anos. Qualquer dos dois caminhos pode ser negativo. Ento, se voc quiser se casar, tem a nossa beno e permisso.

Surpreso, David se deu conta de que agora os pais de ambos apoia-vam o seu casamento. Sem perder mais tempo, David ligou para Becky.

Voc est ocupada agora? Est um dia to bonito. Pensei que talvez fosse bom buscarmos a Becky Sue e sair pra dar umas voltas.

Me parece divertido respondeu ela. A gente se encontra l.Ela sorria enquanto pensava nele. Como ela amava seu jeito de

brincar e seus olhos castanhos, seus grandes clios e seu sorriso de lado. Quando ela comeou a chama-lo de: alto, moreno e bonito ele comeou cham-la de: baixinha, loirinha e lindinha. Ela ainda se lem-bra do dia em que entusiasticamente ele a levou para ver como ele havia nomeado a sua pequena avioneta Cessna 140. Em grandes letras estava escrito na fuselagem da avioneta o nome Becky Sue.


Momentos depois, Becky chegou ao aeroporto e encontrou David inspecionando a Becky Sue.

Estarei com voc num instante disse ele com um sorriso. Rapi-damente ele terminou e foi ao seu encontro. Com ternura tomou as suas mos nas dele. Olhando profundamente nos seus olhos azuis, disse:

Eu sei que j te pedi uma vez, mas quero perguntar novamente e ao lado da Becky Sue... Voc quer se casar comigo?

O rosto de Becky brilhou com um lindo sorriso. Eu adoraria casar com voc sussurrou. David pensou que o seu

corao iria explodir de alegria. Falemos dos detalhes enquanto voamos ele sugeriu. Ele nem

sabia por onde estava voando. S sabia que essa linda moa sentada ao seu lado seria sua para sempre.

Enquanto David colocava a avioneta numa ltima aproximao, o cu crepuscular, de alaranjado e vermelho vivo, se estendia em derredor do potente sol. Enquanto se deleitavam na beleza que tinham perante si, a Becky exclamou:

Olha, Deus est decorando o mundo para celebrar este momento especial!

Pouco antes de aterrissar, ele aproximou-se de Becky e a beijou na boca; seu primeiro beijo.

No acha que est sendo muito rpido? ela perguntou. De maneira nenhuma disse ele com sinceridade. David, eu sugiro que voc espere pelo prximo beijo at ao dia

dos namorados. M sugesto disse ele sorrindo. Mas j que sua ideia no

tenho alternativa.Eles decidiram que David deveria pedir permisso aos pais de

Becky antes que o compromisso se tornasse oficial. Ento eles viajaram a noite inteira chegando de manh no hospital, era dia primeiro de janeiro de 1979.


Os pais dela estavam fazendo planto durante a noite, o pai como tcnico mdico, e a me como enfermeira na sala de emergncias. David encontrou primeiro o pai.

O que que vocs esto fazendo aqui a esta hora da madrugada? Vocs acabaram de vir aqui para o Natal.

David encheu o pulmo e disse: Eu gostaria de me casar com a sua filha.Dale Duerksen sorriu. Deixe-me pensar sobre esse assunto fez uma pausa, seus olhos

cintilavam. Bem, para te dizer a verdade eu j havia pensado nisso. Para mim ser um prazer.

O feliz casal correu at a sala de emergncias onde Pat, a me da Becky, trabalhava. Concentrada em uma paciente brava, que gritava com ela por causa de uma aplice de seguro que no permitia o tratamento naquele hospital, Pat no os viu. Eles escutaram as suas palavras cheias de tato. Gostaramos muito de atend-la, mas o seu seguro no nos permite. Por favor, v ao hospital que fica a poucos quilmetros rua abaixo e eles iro cuidar de voc.

Repentinamente ela olhou para cima e gritou: David, Becky! e correu at eles.A paciente continuou gritando at que se deu conta de que estava

falando sozinha.Pat suspeitou imediatamente: Vocs firmaram compromisso? ela perguntou emocionada en-

quanto abraava os dois. Seus rostos lhe deram a resposta.A irm da Becky, Betsy e seu noivo Ted Burgdorff, tambm um

missionrio que cresceu na Bolvia, planejavam se casar em pouco tem-po. Os quatro decidiram ter um casamento duplo debaixo das arvores no jardim prximo lagoa na granja da famlia Gates perto de Collegedale, Tennessee. As rosas em pleno florescer foi suficiente para toda a decora-o. O pai da Becky, Dale, caminhou pelo corredor com uma filha em cada brao.


Deitado no cho de cimento duro da priso, David no conseguia parar de pensar em sua linda noiva. Ele quase podia ouvir as palavras de seu pai e de seu av quando realizavam a cerimnia. Seu corao bateu mais forte ao recordar a doce voz de Becky dizendo: Sim, eu aceito.

Em 17 de Junho de 1979, Becky se tornou sua companheira para toda a vida. A idade j no importava mais, ele completara vinte anos e ela vinte trs. E agora eles eram um em Cristo Jesus.

Um forte ronco estremeceu David e o fez sair de suas lembranas e voltar triste realidade que o golpeou novamente. Quando voltaria a ver a Becky? Por quanto tempo mais estaria confinado a essa priso?

Casamento de David e Becky em Apison, Tennessee

6 GrandeS deSafioSNo sbado pela manh, David e o professor conversaram. Devemos guardar o sbado adorando a Deus aqui na priso. Ele

deve ter um plano especial para que celebremos a escola sabatina juntos disse David.

Mas como? perguntou o professor. Voc sabe que no podem-os pedir aos oficiais da priso para fazermos um culto. Eles no nos per-mitiriam.

Eu tenho uma ideia. Apresentemos outro pedido.Juntos eles foram ao diretor da priso. Senhor, poderamos fazer alguma obra mdica para os outros

presos?Ele pareceu interessado. Como isso? Eu sou enfermeiro licenciado. O professor aqui dirige as escolas

de nossa igreja em todo o sul do Mxico. Gostaramos de falar aos presos sobre sade e educao. Estaria bem?

Claro que sim! Aqui, tomem o microfone. Ele o entregou a David. Faa um anncio.

Escutem todos. s 9 horas e 30 minutos vamos dirigir uma reunio especial para todos os que querem saber mais sobre educao e sade. Se voc tem alguma pergunta relacionada sade, vamos procurar responder. Venham, por favor.

Obrigado disse o diretor da priso, e David devolveu o micro-fone.

Mais tarde David descobriu que Deus havia realizado um milagre naquela manh. Os presos tm uma lei rgida, e havia uma regra, no es-crita, que ningum poderia usar o microfone at que tivesse passado cinco anos na priso.

Mas o diretor da priso pulou os cinco anos de David no momento que disse: Voc anuncia a reunio.


A priso abrigava mais de quatrocentos homens. Cerca de trezen-tos e cinquenta foram para escutar. Os guardas nunca tinham visto tantos homens irem a uma reunio. Prontos para qualquer problema, eles se alin-haram ao fundo e aos lados do salo com suas armas, vigiando o grupo de presos.

Quando David viu os homens se aproximarem, orou em silncio: Deus, Tu sabes que eu duvidei da Tua fidelidade ao permitir o sequestro e o nosso aprisionamento, mas agora tenho uma ideia do por que o per-mitiste. Ns nunca teramos tido esta quantidade de gente reunida para a escola sabatina em parte alguma. Estou vendo que Tu cumpres a Tua promessa Ele o far! e ests realizando outro milagre. Usa-nos durante esta hora de adorao para trazer glria ao Teu nome.

Eles dirigiram um louvor para os presos com vrios hinos cristos vivificantes. O professor orou e logo mostrou as vantagens da educao crist no sul do Mxico. Em seguida David contou a histria do plano de Deus para a humanidade; falou acerca da criao com a sua sade e dieta perfeitas; explicou sobre a entrada do pecado e do mal, e sobre a degrada-o da humanidade. Depois ele explicou o maravilhoso plano de Deus para restaurar as pessoas Sua imagem. Ele mostrou como que as oito leis naturais da sade beneficiariam a todos.

Se to somente Ado e Eva houvessem escutado a Deus ao invs de escutar o inimigo, ns ainda estaramos no paraso. No necessitara-mos de prises. Satans degradou a humanidade ao pecado e egosmo. Alguns de vocs esto aqui porque so culpados de pecado e vivem para si mesmos. Outros de vocs talvez estejam aqui injustamente por causa do egosmo e dio de outra pessoa. Mas existe esperana para cada um de vocs se aceitarem o amor incondicional de Deus e o dom gratuito da sal-vao em Jesus Cristo. Lembrem-se, Ele sofreu e morreu em vosso lugar.

Depois que David explicou o significado do calvrio e o plano da redeno ele perguntou se tinham perguntas. Mos se levantaram de todas as partes do salo.

Finalmente, quando era 1 hora da tarde, ele anunciou:

6 Grandes Desafios | 47

Amigos, precisamos de um intervalo para almoar, mas se vocs desejarem regressar novamente nesta tarde, ns continuaremos.

Eles retornaram em grande nmero, e o programa continuou por toda tarde.

Quando a reunio terminou, os homens rodearam David. Eu tenho tido uma dor severa aqui h dias disse um homem.

Voc pode me ajudar?Outro exclamou: Eu tenho sofrido dores de cabea h semanas. Sinto nuseas e

no consigo manter a comida no estmago. Eu tenho um inchao em meu olho e di continuamente.As queixas continuaram chegando. Finalmente David disse: Vamos ver o diretor da priso. Eu no posso examinar aqui.

Talvez ele tenha uma sugesto.O diretor da priso disse: Ns temos um ambulatrio. Um mdico costumava vir priso

para ver os pacientes, mas isso foi h muito tempo atrs. Se voc conseguir us-lo, faa-o. Venha, vou mostrar o lugar. Est vazio agora.

Eu no sou mdico, sou enfermeiro. Mas se eu puder ajudar al-gum, ficarei feliz em tentar explicou David enquanto caminhavam at sala.

Ele olhou ao redor e encontrou um equipamento escasso, mas ne-nhum livro de medicina ao qual pudesse recorrer.

Talvez voc possa anunciar que eu estarei vendo pacientes aman-h de manh depois do desjejum.

Daquele dia em diante David viu no mnimo cinquenta pacien-tes por dia. Ele logo percebeu que alguns dos prisioneiros estavam em condies graves que requeriam intervenes cirrgicas. O diretor da priso autorizou David ligar para o diretor mdico do hospital da misso perto da sua casa. Novamente David viu a mo de Deus porque ele pode-ria enviar uma mensagem sua querida Becky. Ele imaginava como ela


estaria enfrentando essa crise em casa com as crianas, e ele ansiava con-tat-la diretamente.

A oportunidade de falar com Becky veio somente uma vez e em outro momento. Depois de receber permisso para usar o telefone, David fez uma ligao casual casa de um amigo h muitos quilmetros do hospital, sendo que no hospital no havia telefone. Becky tinha ido at l para ver sua amiga Jane, depois de ter terminado as compras. Seu principal propsito era perguntar se tinham alguma notcia de David. Momentos depois de Becky ter entrado na casa, o telefone tocou. Era David ligando da priso.

David ansiava dividir com ela a nuvem negra de desespero que estava sobre ele.

Parece que se eu for ficar aqui por quatorze anos, voc ter que se mudar para aqui, assim poderemos estar juntos nos dias de visita ele disse.

Voc continuar assalariado pelos prximos quatorze anos? Eu no sei, mas nesse momento o diretor jurdico me disse que

pode chegar a esse ponto. David, eu tenho que te contar o que aconteceu na noite passada.

As meninas estavam na cama comigo ouvindo a histria da noite sobre a fuga de Pedro da priso. A Katrina perguntou,

Mame, voc no acha que Jesus pode abrir as portas da priso para o papai assim como Ele fez para Pedro?

Sim, Ele pode. Voc no acha que deveramos orar essa noite para que Jesus faa

o mesmo para o papai? Eu acho que deveramos. E Jesus far isso? Se isso for da Sua vontade eu assegurei a ela. Mas, David, assim que oramos Ele verteu uma enorme paz sobre

mim. Eu soube que Deus est em viva presena encorajando a todos ns com Seu amor protetor.


A conversa ao telefone durou apenas alguns minutos, mas signifi-cou um mundo para ambos.

No hospital da misso, o mdico fez arranjos para realizar cirurg-ias na priso. No dia seguinte ele fez uma longa viagem pelas montanhas desde o hospital com pacotes cirrgicos. Ele no teve problema algum para entrar na priso.

Ol, Dr. Maurcio David o saudou. Voc no tem ideia de como eu estou feliz em v-lo.

Capito, eu no posso suportar te ver atrs das grades da priso. Voc no parece o mesmo.

Eu no sou o mesmo.O guarda imediatamente comeou a revistar os pacotes cirrgicos.

Assim que ele abriu o primeiro, David gritou: Voc no pode abrir esses pacotes esterilizados. Voc ir con-

tamin-los e arruinar a esterilizao. Ns temos ordens de que devemos revistar cada pacote que entra

na priso. Espere um momento. Chame o diretor da priso disse David

com firmeza.David explicou ao diretor: Senhor, os guardas no podem abrir esses pacotes. O mdico os

trouxe do hospital para fazer cirurgias. Ele deve mant-los esterilizados para que os pacientes no contraiam infeco.

No abram mais nenhum ordenou o chefe da priso. Qual-quer coisa que o Gates trouxer no precisa abrir. Entenderam?

Sim, senhor.Todo o equipamento e pacotes foram diretamente para o ambu-

latrio. O mdico, com a assistncia de David, realizou quinze cirurgias menores aquele dia, e mais no dia seguinte. Alguns homens precisaram de maiores cirurgias para as quais o mdico fez arranjos com um cirurgio local.


Por causa da visita do mdico, o escritrio de Ao Solidria Ad-ventista recebeu permisso de trazer roupas para a priso. Mulheres das igrejas prximas, quando ouviram que o piloto missionrio havia sido posto na priso, trouxeram refeies de arroz, vegetais e frutas. David e o professor no poderiam comer toda a boa comida que lhes haviam trazido. David perguntou ao diretor:

Por favor, permite-nos distribuir alimento para os outros prisio-neiros.

Muitos vieram ansiosos para receber o alimento. Um homem sus-surrou a David:

Eu perteno a sua igreja. Posso ter um pouco da sua comida? Claro que pode. Mas eu tenho uma pergunta para voc. Isso sig-

nifica que voc s como peixe s sextas-feiras? Sim. E voc s come porco aos sbados? Sim.David riu. Da prxima vez, por favor, no minta pra mim. Voc no precisa

pertencer a minha igreja. Qualquer um que precise de comida poder t-la no importa a que igreja ele assista. Voc poder ter comida a qualquer hora, mas, por favor, diga a verdade.

Os prisioneiros, encerrados nas celas das seis da noite at s seis da manh, desfrutavam de certa liberdade durante o dia. Pela manh, esposas e familiares poderiam encontrar-se com eles no ptio da priso. Algumas traziam comida para cozinhar e vender aos outros prisioneiros. David ob-servou e encontrou coisas positivas sobre essa priso, tanto que escreveu uma carta ao diretor da mesma.

Prezado senhor,Eu estou impressionado com a maneira como voc conduz esta priso.

Voc tem uma comisso que inclui os mais respeitados prisioneiros, que podem participar na disciplina dentro da priso. Voc convida a famlia dos presos para


virem aqui. As crianas tm o privilgio de estarem com ambos os pais durante o dia. Eu duvido que isso acontea alguma vez nos Estados Unidos.

Eu entendo que a Embaixada dos EUA tenha enviado uma mensagem dizendo que se eu for condenado eu posso cumprir a minha sentena nos EUA. Eu no tenho inteno de cumprir sentena alguma, aqui ou nos EUA, mas isso problema de Deus, no meu. O que quer que acontea, eu escolho ficar no Mxico onde eu posso ver minha esposa e filhos todos os dias. bom que tambm voc permite visita conjugal duas vezes na semana de maneira que as esposas dos prisioneiros mais antigos possam passar a noite com eles, e as esposas dos prisioneiros mais recentes possam visit-los durante o dia.

Eu tambm aprecio o time de vley organizado. Isso prov bom exerccio e uma chance de esquecer, por algumas horas, que se vive na priso. Os outros prisioneiros apreciam minha estatura e habilidade e me pediram para ficar na priso para ajudar seu time ganhar. Eu escolhi no aceitar o convite.

Voc tem feito bastante para fazer a vida na priso suportvel. Ob-rigado.

David Gates

Alguns prisioneiros rotineiramente subornavam o guarda para per-mitir que suas namoradas entrassem nas teras-feiras e suas esposas nas quintas-feiras. Certa tarde, um pouco antes da hora de trancar, David ou-viu um alto alvoroo e gritaria, acompanhado de risos e palmas vindo do ptio da priso. Eles viram um homem n correndo pelo ptio da priso sendo caado por uma mulher que o estava batendo na cabea dele com o sapato de salto. Alguns espectadores gritavam com gosto: D-lhe sen-hora! Continue batendo!.

O guarda havia cometido um erro. Ele havia permitido que a namorada do prisioneiro entrasse, mas se esqueceu dela quando a esposa do homem veio mais tarde. Encontrando o seu marido ocupado com a namorada, pegou o seu sapato, e comeou a bater nele. Ele corria para todos os lados enquanto ela gritava e o surrava, e isso serviu para a alegria dos presos entusiasmados.

***


David achou a tediosa monotonia da vida na priso difcil de su-portar. Todos os dias pareciam uma eternidade. Sua natureza ativa estag-nou na priso. Entretanto, o trabalho mdico continuou. David percebeu que esse trabalho no somente aliviava a dor dos prisioneiros como tam-bm sua prpria dor no corao. Ele perguntou a si mesmo: Pode o amor estar em ao mesmo quando me sinto com raiva ou ferido? Pelo menos, ele se consolava que o comit da priso nunca o havia mandado limpar as privadas.

Durante os primeiros dias de encarceramento ele notou um ancio de cabelos brancos a observ-lo. Ele parecia americano, mas falava muito bem o espanhol. Um dia o homem se aproximou de David.

Ol. O meu nome Donovan. Eu ouvi dizer que voc est aqui por ofensas criminais disse o homem.

por isso que estou aqui respondeu David, mas no porque sou o culpado de faz-lo. A verdade que sou um mdico missionrio.

Verdade? A que igreja voc pertence? Adventista do Stimo Dia. Onde que voc aprendeu o espanhol? Voc fala como um na-

tivo. Eu fui criado na Bolvia. Oh, voc cresceu na Unio Incaica o homem disse com um

sorriso conhecedor. S um minuto! Como que voc sabe sobre a Unio Incaica? Os meus pais missionrios me criaram e educaram como um Ad-

ventista do Stimo Dia. Meu pai e eu abrimos a obra de Deus na Colm-bia. V essa cicatriz de buraco de bala na minha perna? Uma multido, liderada por um padre, se ops ao meu pai e a mim por partilharmos nossa f. Eles atacaram a igreja e comearam a cortar as pessoas enquanto elas corriam pela porta. O meu pai teve cortes de faco nas costas, mas ns dois escapamos. O outro missionrio que estava com a gente no conseguiu. Eles o cortaram em pequenos pedaos, jogaram os pedaos em um saco de juta, e o atiraram aos ps da igreja com a mensagem: Isso o que fazemos com todos os missionrios estrangeiros. Eu vivi em tempos violentos. Em


muitos dos pases da Amrica do Sul os missionrios encararam grandes dificuldades e horrvel perseguio. Apesar de tudo isso, eu escolhi en-trar no servio missionrio. Eu estudei teologia na Pacific Union College (Universidade da Unio do Pacfico). Depois eu terminei um mestrado e doutorado em educao. Quando foi inaugurada a Antillian College (Universidade das Antilhas) em Cuba, fui apontado como o diretor. Meu pai era secretrio da Diviso Sul Americana.

Eu conheo o seu irmo interrompeu David. Quando os meus pais e eu trabalhamos na Bolvia, ele costumava enviar o nosso paga-mento mensal do escritrio da Diviso.

Sim, ele trabalhou l como tesoureiro associado.Cheio de compaixo, David perguntou gentilmente: Ento, por que que voc est aqui na priso? Bem, eu me permiti amargar contra a igreja. Deixei a minha

esposa e minha famlia. Por alguns anos eu fiz turismo, mas depois vim a me envolver com trfico de drogas. Durante 10 anos supervisionei a carga de avies com drogas e o seu envio para fora da Colmbia. Eu fui pego no Mxico e sentenciado para cumprir treze anos. Eu j paguei nove deles.

Agora eu sei por que Deus me enviou aqui exclamou David. Deus me trouxe aqui por voc.

Mas eu havia escolhido nunca olhar para trs. Eu achei que poderia, mas eu no posso.

Donovan, Deus quer que voc olhe para trs agora. Ele me co-locou aqui, um filho de missionrios da Amrica do Sul assim como voc, para que voc possa ver o grande quadro. Voc desistiu da sua famlia, da sua esposa, dos seus filhos, do seu lar, e do seu Deus. Voc um homem ferido e solitrio, mas pode encontrar a paz ao se voltar para Deus. Voc formou um novo lar?

Sim, eu tenho uma esposa de Costa Rica, e dois filhos que vm me ver na priso todos os dias. Eu no quero que os meus filhos sejam como eu e passem pelo que eu tenho passado.

Eles esto na escola?


Sim, eles vo escola pblica, mas eu gostaria que eles fossem escola da igreja e tambm assistissem igreja. Voc poderia me ajudar?

Claro. Eu posso fazer arranjos para voc. Eu gostaria de conhecer a sua esposa e os seus dois filhos.

David conversou com a famlia de Donovan quando eles visitaram a priso no dia seguinte.

Com ajuda dos membros da igreja e lderes da Associao, David arranjou uma bolsa de estudos para as crianas para assistirem escola da igreja. Logo eles comearam a assistir Escola Sabatina.

Frequentemente os dois homens se encontravam para visitar, orar, e estudar a Palavra de Deus. Inmeras vezes o prisioneiro se perguntava: Deus ainda est interessado em mim depois de todas as coisas que eu fiz? Qual a vontade de Deus para mim agora?

David o inundou com a esperana e a confiana da Palavra de Deus. Deus trouxe de volta o Seu filho perdido e escreveu perdoado sobre cada um dos seus pecados.

Para David, a luta interna aumentou. Cada dia na priso adiciona-va peso profunda e pesada nuvem que se estendia sobre ele. A Unio Sul Mexicana tinha agido rapidamente, enviando o seu diretor jurdico, pas-tor Hayasaka, para tentar libertar os dois homens. Entretanto, ele trouxe pouca esperana.

Depois de muitas horas de tentativas fteis para libertar os dois prisioneiros, o diretor jurdico veio priso solicitando ver David e o pro-fessor.

Sinto muito em dizer, mas eu temo que no possamos fazer nada disse-lhes o pastor Hayasaka. Os militares esto determinados a fi-car com a avioneta. Para isso, eles vo fazer qualquer coisa, mesmo que isso signifique mant-los na priso. Ao chegar o momento da sua sen-tena, eles provavelmente fabricaro evidncias que provem a vossa culpa. Depois que eles tenham verificado todas as acusaes com testemunhas e tenham provado a culpa com evidncias, no h como vocs sarem. Inmeras vezes tenho pedido autorizao para entrar na corte para ver os registros, mas eles no me deixam. Eu no posso encontrar nenhum


advogado catlico que defenda um protestante. Eu temo que no haja de-fesa para vocs nesse povoado ele continuou. Eu s tenho uma esper-ana. Eu tenho ouvido de um nazareno, o nico advogado do povoado que poderia tomar o caso de um protestante. Os relatos dizem que ele bem respeitado, mas ningum me dir onde eu posso encontrar o seu escritrio. Eu tenho andado e perguntado h dias e nem sequer posso encontrar uma pista. Sabe, eu tenho orado muito. Agora eu vim orar com vocs. S Deus pode ajudar nessa situao desesperadora.

Pois com Deus nada impossvel. David mencionou enquanto eles se ajoelhavam.

7 a nuVem comea a diSSiParA sesso de orao encheu o pastor Hayasaka de coragem e f.

Ele comeou a sua busca ao advogado protestante bem cedo na manh seguinte. Ele caminhava, olhava e perguntava a cada um que encontrava. Ningum dava nenhuma informao.

Depois de vrias horas ele parou em um lugar tranquilo e supli-cou ao Senhor: Precioso Senhor, eu no consigo olhar mais adiante. Se Tu queres que eu encontre o advogado nazareno que poder defender o capito Gates e o professor, tens de guiar-me at ele. Eu no sei pra onde me virar. Por favor, d-me a Tua divina direo.

O diretor abriu os olhos e olhou acima de sua cabea. Ele viu uma pequena placa que dizia: Notrio Pblico. Ele sabia que na Amrica La-tina esse ttulo sempre era usado para um advogado. Ele entrou no es-critrio.

Eu estou procurando por um advogado nazareno nessa vila. Voc poderia me dizer onde que ele est?

Por que que voc entrou neste escritrio? perguntou a secre-tria.

Eu tenho procurado h horas e parei para descansar. Eu vi a placa ele respondeu, apontando para a mesma. Ento eu entrei aqui no primeiro escritrio. Voc poderia me dizer onde que ele est?

Sim, eu posso dizer. Poucas pessoas sabem que este o escritrio dele, mas ele est no andar de cima nesse momento.

Sussurrando uma orao de gratido, o pastor Hayasaka a seguiu pelas escadas at ao escritrio do advogado. Depois de se apresentar, o pastor Hayasaka explicou os detalhes do caso.

O advogado disse: Sim, eu estou interessado em ajudar esses homens. Vamos corte

examinar os registros.Na corte, o advogado estudou os registros por algum tempo.


Eu no deveras posso encontrar nenhuma evidncia para con-den-los. Ambos os homens responderam todas as perguntas dizendo a coisa certa. Mesmo se eu estivesse sentado ao lado deles, eu no poderia t-los ajudado a responder de forma diferente do que eles o fizeram. Deus certamente deu sabedoria a eles durante o interrogatrio. Entretanto, se o governo produzir evidncias, ns teremos uma luta em nossas mos. Eu no conheo nenhuma maneira da defesa provar que a evidncia total-mente falsa. Se eles produzirem qualquer evidncia do que eles dizem que encontraram na avioneta, e testemunhas que jurem que eles a tiraram da avioneta, como vamos ns, em defesa, provar que esses dois homens so inocentes?

Ele fez uma pausa, moveu a cabea, e sugeriu: Vamos orar juntos pedindo a Deus por sabedoria.A obra mdica na priso continuava com David tratando de muitas

pessoas a cada dia. Exteriormente ele parecia ser um amvel enfermeiro cristo, feliz pela oportunidade de servir a Deus cuidando das necessi-dades daqueles que estavam sofrendo. Interiormente ele lutava com pens-amentos negativos, depresso e desnimo. Pensamentos como: O que me importa o que voc sente? brotavam dentro dele.

Um paciente poderia reclamar: Est doendo aqui. Estou tendo essa drenagem. Eu no consigo dormir a noite por causa dessa dor nas cos-tas. Coberto por uma nuvem de desespero e com suas emoes fervendo dentro de si, David pensava: Grande coisa! Voc no acha que eu tenho problemas maiores do que os seus, camarada?.

Ele lutava em vo para mudar essa atitude. Finalmente ele concluiu que o amor no sempre uma emoo. O amor cristo uma ao. Ele poderia ouv-los. Ele poderia cuidar de suas necessidades. Embora no se sentisse como um cristo amoroso, ele poderia expressar simpatia. Ele iria depender de Deus para demonstrar a compaixo que ele no sentia.

Interiormente, ele ansiava por liberdade. Ele queria estar com Becky e com as crianas; fugir de atender as necessidades fsicas dos presos. Em desespero orou: Deus, tudo que posso fazer depender de Ti para mudar a minha atitude. Entretanto, d-me o fruto do Esprito para continuar a

7 A Nuvem Comea a Dissipar | 59

obra como Jesus o fez. Eu sei que Tu queres aliviar meu sofrimento. D-me a mente e o amor de Jesus.

Depois de orar essa orao, David se maravilhou pela maneira como Deus deu poder para ser paciente quando se sentiu impaciente. Dia aps dia ele sentia a presena de Deus abaixando-se para ensinar a ele a lio da confiana. Previamente, David havia usado a sua hbil mente para resolver a maioria dos seus prprios problemas e dificuldades. Agora ele se sentia impotente. Ele no poderia fazer nada exceto submeter-se a Deus.

Finalmente ele tomou a dura deciso de completa submisso. Sen-hor, mesmo se eu tiver que ficar aqui por quatorze anos (oh, eu espero que Tu no me mantenhas aqui por tanto tempo), eu estou disposto confiar em Ti. Eu prefiro ser liberto da priso, pois Tu sabes que eu sou inocente do crime pelo qual estou sendo acusado. Mas se Tu no me libertares, eu continuarei a confiar em Ti completamente. Eu mal comecei a minha car-reira missionria, mas se essa for a minha misso pe

missão piloto 3.0

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