ministÉrio da educaÇÃo universidade federal de mato...

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1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL ANDRÉA DE SOUZA FERRÃO A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA E BRASIL/PARAGUAI CORUMBÁ - MS 2013

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

ANDRÉA DE SOUZA FERRÃO

A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS

NA FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA E BRASIL/PARAGUAI

CORUMBÁ - MS

2013

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

ANDRÉA DE SOUZA FERRÃO

A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS NA

FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA E BRASIL/PARAGUAI

Relatório de Qualificação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Linha de pesquisa: Saúde e Trabalho da População de Fronteira Orientador: Dr.Paulo Marco Esselin

CORUMBÁ - MS

2013

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ANDRÉA DE SOUZA FERRÃO

A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS NA

FRONTEIRA BRASIL/BOLÍVIA E BRASIL/PARAGUAI

Relatório de Qualificação apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em

Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal,

como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Aprovada em ____/___/____,

com conceito ____.

Banca Examinadora

______________________________________

Orientador:

Dr. Paulo Esselin

(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

_________________________________________

1ºAvaliador:

Dra. Ynes da Silva Felix

(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

_________________________________________

2º Avaliador:

Dra. Jacy Curado

(Universidade Federal da Região da Grande Dourados)

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Dedico a presente Dissertação a minha mãe, Deize Maria de Souza Ferrão.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo seu amor e por sempre estar junto de mim nos

momentos de aflição, tristeza, dor e desânimo, dando-me forças e fé para prosseguir.

Agradeço também por ter realizado esse milagre na minha vida e por ajudar-me a sonhar e

compreender os seus planos.

Agradeço à minha mãe Deize, um exemplo de vida para mim, por sua fé, coragem e

dedicação ímpar para comigo. Desde o iníco me apoiou e me ajudou a sonhar esse sonho,

chamado Mestrado. Inúmeras vezes, tentei desistir, mas com sua força, fé, amor e confiança,

sempre consegui olhar adiante em meio as muitas tempestades. Com o tempo, aprendi a não

olhar para trás, somente a seguir o meu caminho adiante e a confiar nos propósitos e designos

de Deus para minha vida. Muito Obrigada!

Agradeço ao meu irmão Denis, por ter confiado em mim, ter custeado esse projeto,

que antes era a idealização de um grande sonho. Minha vitória se deve em grande parte à

você, meu Grande Irmão, que amo e adoro de paixão. Simplesmente tenho orgulho de ser sua

irmã.

Agradeço a minha grande amiga Bruna Morillo. Nos conhecemos ao longo do

processo seletivo...Nossa, quantas lutas, desafios e hostilades passamos juntas, não é mesmo?

Até lanches, quartos de hotel, dividimos. Quantas lágrimas já derramamos juntas, você se

recorda? No entanto tivemos muitas vitórias e viagens insequecíveis, como a da Argentina, do

jacaré em Corumbá, dentre outras...Muito obrigada por ser você, minha amiga.

Agradeço ao Sr. Miguelito, um boliviano que em muito me ajudou na cidade de

Corumbá. Você foi um grande guia e pareciro nas minhas incurssões a campo. Muito

Obrigada!

Agradeço aos Consulados do Brasil em Puerto Suarez, da Bolívia em Campo Grande,

do Paraguai em Ponta Porã e em Campo Grande, como também ao Consulado Brasileiro em

Pedro Juan Caballero. Meu muitíssimo obrigado a todos os Consul e a todos os funcionários.

Agradeço em especial ao Ilustríssimo Presidente do Tribunal Regional do Trabalho-

24ª região, Desembargador Dr.Francisco das Chagas Lima Filho, o qual concedeu-me uma

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entrevista enriquecedora, esclarecendo inúmeras dúvidas e dando dicas valiosas. Muito

Obrigada, Excelência!

Agradeço ao casal de amigos, José Paulo Gutierrez e Alda Gutierrez. Vocês expressam

em minha vida, o verdadeiro significado da palavra amizade.

Agradeço aos servidores da Biblioteca do Tribunal do Trabalho 24ª região, na pessoa

de Lucenir Almeida G. De Menezes (Apoio Técnico/Doutrina), Silas Rodrigues de Lima

(Apoio Técnico/legislação) e a Gilza N. Brandão Marroni (Chefe da Seção de Biblioteca) que

em muito contribuiram com artigos, livros e atualizações jurídicas. Meus sinceros

agradecimentos aos senhores que tanto estimo.

Agradeço a minha colega Fátima Andrade e sua filha Andressa, pela hospitalidade,

amizade, carinho e ternura que sempre nos acolheu. Muito Obrigada, querida.

Agradeço a professora Dra Ynes Félix da Silva, que me ajudou em todos os momentos

desse projeto. Senti muito a sua falta no final desse percursso todo. Resssalto a sua

importância nesse projeto e seu grande conhecimento jurídico acerca do tema.

Agradeço ao meu orientador Professor, Dr Paulo Marco Esselin, por aceitar esse

desafio de orientar-me nesse momento, pela paciência e atenção dispensada a minha pessoa.

Muito Obrigada.

Agradeço ao meu mais novo amigo, que fiz, José. Muito obrigado por nos guiar em

Santa Cruz, por apresentar-me uma Bolívia apaixonante. Nunca me esquecerei da fritada de

queijo na Universidad Autonoma “Gabriel Rene Moreno” San Gabriel. Muito Obrigada por

tudo!

Agradeço a Professora Mestre Valdevina, por sua docilidade, atenção e carinho

dispensados a minha pessoa no inicio desse trabalho.

Agradeço especialmente a todos os atores sociais que em muito me ajudaram a

enriquecer essa pesquisa, sem os quais, esse trabalho não teria sentido. Não posso citar seus

nomes, mas deixo aqui meus sinceros agradecimentos e toda minha gratidão à vocês. Muito

Obrigado, amados!

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Agradeço ao meu amigo querido Giovanni França, parceiro, companheiro de viagens e

incurssões a campo. Muito Obrigada de todo coração. Para a realização desse sonho, a sua

ajuda foi preponderante e essencial. Sempre me apoiando, incentivando e dando-me forças.

Obrigada por me fazer feliz nesses últimos dois anos.

Agradeço as autoridades do poder público dos paises em comento, dos Ministérios do

Trabalho do Brasil, Bolívia e Paraguai, aos juízes dos três países que entrevistei, enfim a

todos os juristas que foram entrevistados e que acrescentaram em muito no meu trabalho.

Agradeço a todos os meus familiares, amigos e conhecidos, que diretamente ou

indiretamente ajudaram-me a alcançar este degrau e a realizar este projeto.

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“Se a humanidade ignora o sentido da vida(...), é impossível distinguir a justiça da iniquidade, o belo do horrendo, o criminoso do sublime, a dignidade do aviltamento”. (COMPARATO).

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FERRÃO, Andréa de Souza. A proteção jurídica dos trabalhadores domésticos na fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai. 122p. Dissertação de Mestrado (Curso de Pós-Graduação Stricto sensu em nível de Mestrado em Estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal, Corumbá- MS).

RESUMO

A presente dissertação analisa uma das mais antigas profissões existentes, as trabalhadoras domésticas, além de ser extremamente negligenciada no mundo do trabalho, no que se refere aos direitos trabalhistas, humanos e internacionais. A pesquisa sedimentou-se em análises bibliográficas, efetuadas em doutrinas, jurisprudências, artigos, leis, entrevistas com autoridades do poder público dos três países em análise e pesquisas a campo com os atores sociais. Com o advento da nova norma laboral internacional, a Convenção nº 189 da Organização Internacional do Trabalho- OIT, os trabalhadores alcançaram uma proteção jurídica específica, refletindo assim, em uma inovação para os direitos dos Trabalhadores Domésticos no mundo. Sabemos que é uma das profissões que sofrem discriminações veladas, todos os tipos de preconceito e são vistos pela sociedade como uma categoria invisível e silenciosa. Esses trabalhadores domésticos deixam os seus países e adentram na fronteira, movidos pelo ideal de auferir melhores condições de vida, de trabalho ou mesmo pelo sonho de integrar, todavia, o direito de acolher e o dever de ser acolhido permanecem somente na esfera contextual, pois recebem salários ínfimos, tem jornadas extensas e seus direitos violados. Assim, esta pesquisa tem como objetivo identificar os direitos trabalhistas previstos nas normas existentes nos países em comento, haja vista que para que se faça um estudo detalhado acerca dos direitos jus trabalhistas, é mister a análise da legislação a cerca dos trabalhadores domésticos dos três países. Analisar a fronteira sobre o aspecto não somente territorial, mas também histórico, pois como os fatores extrínsecos alteram a realidade da mesma e dos fronteiriços que por lá trafegam diariamente.

Palavras chaves: Trabalhador doméstico fronteiriço; Convenção 189 da OIT; Fronteira.

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FERRÃO, Andréa de Souza. A proteção jurídica dos trabalhadores domésticos na fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai. 122p. Dissertação de Mestrado (Curso de Pós-Graduação Stricto sensu em nível de Mestrado em Estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus do Pantanal, Corumbá-MS).

ABSTRACT

This dissertation examines one of the oldest existing professions, domestic workers, besides being extremely neglected in the world of work, in terms of labor rights, human and international. The research sedimented in bibliographical analysis, performed in doctrines, jurisprudence, articles, laws, interviews with government officials from the three countries under review and field research with social actors. With the advent of new international labor standard, Convention No. 189 of the International Labour Organization-ILO, workers achieved a specific legal protection, reflecting on an innovation for the rights of domestic workers worldwide. We know that is one of the professions that suffer discrimination veiled, all kinds of prejudice and are seen by society as a category invisible and silent. These domestic workers leave their countries and they enter the border, driven by the ideal of obtaining better living conditions, work or even the dream of integration, however, the right and the duty to accommodate be upheld only stay in the sphere contextual, as they receive meager wages, long hours and have their rights violated. So, this research aims to identify labor rights contained in existing standards in the countries under discussion, given that in order to do a detailed study about the justice labor rights, it is necessary to review the legislation about domestic workers in the three countries . Analyze the border on the aspect not only territorial but also history, because as extrinsic factors alter the reality of it and the frontier there daily travels.

Keywords: Domestic worker border; ILO Convention 189; Frontier.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12

2. O TRABALHO NO BRASIL ...................................................................... 17

2.1. PERÍODO DA ESCRAVIDÃO ................................................................... 22

2.2. TRABALHO DOMÉSTICO NO BRASIL E A EVOLUÇÃO DA

LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO ....................................................................... 26

2.2.1 A Emenda Constitucional nº.72/2013 ..................................................... 31

2.3. HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL E A

EVOLUÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS ..................................................... 39

2.4. TRABALHO DOMÉSTICO INFANTIL .................................................... 46

3. A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO-OIT E SUA

IMPORTÂNCIA PARA OS TRABALHADORES DOMÉSTICOS ........... 53

3.1 AS CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO

TRABALHO-OIT ............................................................................................... 60

3.2 CONVENÇÃO N. 189 DA OIT ................................................................... 63

3.3. TRABALHO DECENTE ............................................................................. 67

3.4. OS DIREITOS INERENTES AOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS I-

MIGRANTES NOS INSTRUMENTOS JURIDICOS INTERNACIONAIS .... 70

4. PROTEÇÃO JURÍDICA-TRABALHISTA DOS TRABALHADORES

DOMÉSTICOS FRONTEIRIÇOS .................................................................. 76

4.1 BRASIL/BOLÍVIA ....................................................................................... 76

4.2 BRASIL/PARAGUAI ................................................................................... 87

4.3A CONDIÇÃO DE TRABALHO NA REGIÃO FRONTEIRIÇA ............... 96

4.3.1 Inserção no Campo na Fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai ......... 97

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 108

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 114

ANEXO ............................................................................................................. 121

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1 INTRODUÇÃO

Vivenciamos atualmente a quebra de paradigmas em vários níveis na seara jurídica,

uma inversão de valores que vinham paulatinamente sendo instituídos com a existência de

maior formalização dos contratos de trabalho doméstico.

Todavia os veículos de comunicação de massa anunciavam a todo o instante os

prejuízos que a promulgação da Emenda Constitucional nº 72/2013 acarretaria na vida dos

empregadores domésticos, em contrapartida, os trabalhadores dessa categoria comemoravam

a vitória de uma luta traçada por cerca de vinte e cinco anos e somente agora trouxe a

isonomia de direitos, o que desencadeou rumores de demissões em larga escala.

O crescimento do desemprego, o aumento dos tributos aos empregadores domésticos e

a consequente oneração doravante exigida, somada à crescente informalidade de trabalho

devido às novas regras instituídas pela supracitada emenda trouxeram ao mundo jurídico e à

sociedade um universo repleto de dúvidas e incertezas.

Não restam dúvidas de que poderá ocorrer a inversão paradoxal de redução do padrão

de vida das famílias empregadoras de domésticos no que tange à questão financeira, pois

como estão acomodadas em ter alguém para realizar as tarefas do lar, até mesmo no período

noturno, nos finais de semana e também nos feriados, dificilmente irão abrir mão desse

conforto.

Assim, desde o ultimo dia 02 de abril de 2013, após a promulgação da Emenda

Constitucional nº 72/2013, foram questionados muitos pontos dessa nova emenda e muitas

críticas e debates foram feitos pela sociedade brasileira.

O fato é alarmante, porque as pessoas lutam por respeito, por igualdade de direitos,

por isonomia de tratamento, mas quando o assunto versa sobre empregado doméstico, tudo é

esquecido. Onde ficam a dignidade humana? Nessas relações que doravamente eram

preenchidas por respeito e confiança, agora ficam adistritas a pequenas lutas? Sem falar nas

muitas questões que poderão ser submetidas ao exame da justiça do trabalho.

O nosso entendimento é semelhante ao de Costa Bernardino (2013) ao mencionar que

os trabalhadores domésticos sofreram da colonialidade de poder1 e também da

1 A presença da Colonialidade do poder é evidente nos primeiros séculos de formação do Brasil, em que o

trabalho escravo e a servidão sustentaram a economia nacional. Naquele contexto, os lugares e papéis sociais dos homens e mulheres brancos, bem como de homens e mulheres negros e indígenas estavam fixados. Embora

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interseccionalidade2, fatos esses que explicam porque essa categoria de trabalhadores é tão

vulnerável, sofrem de desempoderamento, opressão, preconceito e discriminação, gerando

assim um grande abismo com desigualdade de classes, raça, poder, etnia e gênero.

Essa profissão carrega um estigma desde do período da escravidão, período em que a

mulher possuia seu lugar e seu papel bem desenhados dentro da nossa história, pois ainda que

livres após a abolição eram marcadas pelo colonialidade de poder.

As trabalhadoras domésticas negras, mesmo após a abolição sofrem de racismo,

opressões, dificuldades e agruras do dia a dia de trabalho.

São justamente estes aspectos da colonialidade do poder – que fixam atores sociais em

determinadas posições, a divisão sexual e racial do trabalho – conjugados a eixos dinâmicos

de opressão que estão presentes no dia a dia das trabalhadoras domésticas (BERNARDINO-

COSTA, 2011).

Essa categoria de trabalhadores luta não somente pela obtenção de suas reivindicações,

mas pela oportunidade de construção de um novo modelo de sociedade, em que as diferenças

existentes de raça, sexo e classes possam ser superados; lutam para que os valores sejam

recriados, superando o ideal de colonialidade de poder e re-inventando um novo estilo de

pensamento.

Podemos vislumbrar uma cadeia de exclusões, visto que esses movimentos que visam

a dominar ou até mesmo excluir outras pessoas, simplesmente pelo fato de não serem iguais

ou não pertencerem ao grupo, representado pelos “dominantes”, podem representar um

movimento desleal, um movimento excludente, gerando dessa forma agressões ilegítimas.

A divisão entre grupos, a desigualação e a hierarquização propiciadas por essas

ideologias levam ao embrutecimento cultural e podem, em casos extremos, legitimar

comportamentos violentos (LOPES, 2009, p. 139).

Esses trabalhadores procuraram se adequar ao longo do tempo de diferentes maneiras,

são dominados de forma consciente ou inconsciente, buscam sobreviver à medida do possível,

houvesse casos de negros e mulatos livres, sobretudo quando mais nos aproximamos historicamente da abolição da escravatura, isto não significava uma superação da hierarquia racial e de gênero constituída no período colonial.Colonialidade de poder é como se os negros e negras ainda que livres estivessem sob o julgo da dominação. Fato esse preponderante no período da escravidão. (COSTA BERNARDINO, 2013, p.45). 2 Este conceito pode ser complementado pelo conceito de interseccionalidade, uma vez que este nos remete a uma dimensão mais dinâmica da produção, manutenção, lutas e resistências às desigualdades e às identidades estigmatizadas e subalternizadas.[...] O conceito é utilizado para se referir à forma pela qual o racismo, as relações patriarcais, a opressão de classe e outros eixos possíveis de poder e discriminação criam desigualdades. Crenshaw (2002) enfatiza como a interseccionalidade de raça, classe e gênero produz opressões e desempoderamento (COSTA BERNARDINO, 2013, p.48).

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criticando ou silenciando, mas repetindo muitas vezes os diferentes significados dessa

sociedade que as repudia, mas que cria, recria, constrói e destrói, presentes em uma

coletividade repleta de anuências e confrontos (OSÓRIO, 2011).

Deste modo, são indivíduos movidos por frustrações, anseios, desejos podendo ser

conferidos por diferentes graus de sujeição. Essas passagens ou acontecimentos se

reproduzem em diferentes células sociais, tanto nas que há legalidade como nas que ocorrem

ilegalidades (OSÓRIO, 2011).

Dessa feita, a presente dissertação norteia-se na área do direito do trabalho,

especificamente Trabalhadores Domésticos Fronteiriços do Brasil/ Bolívia e Brasil/ Paraguai,

onde os dados levantados demonstrarão a realidade em que vivem e laboram esses

empregados.

Para a construção foram realizadas entrevistas com autoridades do poder público, do

poder judiciário e de órgãos internacionais, como os consulados dos três países em comento e

também dos atores sociais da pesquisa (trabalhadores domésticos fronteiriços).

Atentaremos para os pontos mais relevantes da pesquisa, que demonstrarão a condição

de trabalho de uma parte considerável dos atores sociais encontrados, não nos prenderemos ao

que o ordenamento jurídico preconiza, mas sim à realidade em que vivem esses trabalhadores

domésticos fronteiriços.

No primeiro capítulo contextualizaremos o trabalho no Brasil, explicitando o seu

significado e contrapontos, estabeleceremos que o trabalho doméstico é uma prestação de

serviços, pela natureza de não aferição de lucros. Abordaremos o trabalho doméstico no

Brasil, a legislação protetiva, a história do direito do trabalho no Brasil, o TID- Trabalho

doméstico infantil.

No segundo capitulo apresentaremos um breve histórico da Organização Internacional

do Trabalho (OIT), sua importância para os trabalhadores, dando ênfase aos Trabalhadores

Domésticos. Debateremos a relevância da Convenção nº189 da OIT para essa categoria de

trabalhadores, assim como os países que já a ratificaram, a saber: Uruguai, Filipinas, Ilhas

Maurício, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, Itália e África do Sul. Ainda, discorreremos sobre a

recente alteração do art.7º da CF, pela aprovação e promulgação da Emenda Constitucional nº

72/2013 que traz novas diretrizes ao empregado doméstico no Brasil.

Por fim, no terceiro capítulo intitulado de Proteção jurídica trabalhista dos

trabalhadores domésticos da fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai, faremos uma análise

da condição de trabalho dessa categoria, versando sobre as duas fronteiras em foco, suas

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singularidades, os constantes movimentos pendulares, fundada na pesquisa de bibliográfica,

assim como na de campo dentro da metodologia analítico-qualitativo, trazendo à baila quais

são as medidas jurídicas de proteção dos atores sociais das duas fronteiras em estudo, se as

leis são cumpridas e os direitos respeitados.

O presente estudo tem como objetivo geral identificar a presença de Trabalhadores

Domésticos Fronteiriços laborando nas cidades da fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai,

bem como demonstrar a proteção jurídico-trabalhista estendida a essa categoria antes e após a

aprovação da Convenção nº 189 da Organização internacional do Trabalho (OIT), a fim de

observar a condição de trabalho dessa categoria, bem como seus direitos trabalhitas.

Os objetivos específicos são: identificar e analisar a presença de mulheres se ativando

nesse grupo de trabalhadores, destacando as condições de igualdade em relação aos demais

trabalhadores; examinar as leis que regulamentam os direitos trabalhistas dos trabalhadores

domésticos nos três países em análise, bem como a recente Convenção nº 189 da Organização

Internacional do Trabalho - OIT.

A metodologia da pesquisa é qualitativa, utilizando-se da história oral, visando assim

analisar especialmente as mulheres envolvidas nessa problemática sem pretender uma

representação estatística integral da situação.

A historia oral permite o registro de testemunhos e o acesso a “historias de dentro da historia” e, dessa forma, amplia as possibilidades de interpretação do passado.” [...] É uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da historia contemporânea surgida em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participam de, ou testemunharam, acontecimentos e conjunturas do passado e do presente. Tais entrevistas são produzidas no contexto de projetos de pesquisa, que determinam quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como perguntar, bem como que destino será dado ao material produzido (ALBERTI, 2011,p .155).

A investigação visa enfocar o conjunto de Trabalhadores Domésticos encontrados na

Fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai no período de abril/2012 a julho/2013.

Para a construção dessa dissertação foram realizadas entrevistas com autoridades do

poder público, do poder judiciário e de órgãos internacionais, como os consulados dos três

países em comento, entidades e trabalhadores.

A pesquisa terá como método de procedimentos e análises, a pesquisa de campo, com

entrevistas em entidades públicas, bem como em órgãos judiciais competentes dos países:

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Brasil, Bolívia e Paraguai, assim como a pesquisa bibliográfica presente em livros e doutrinas,

legislações e artigos on line.

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2 O TRABALHO NO BRASIL

O conceito do trabalho propaga por vários momentos da história, desempenhando

importante papel na vida do ser humano. A economia o define de uma forma, a sociologia de

outra, assim como a filosofia e sucessivamente, portanto ter um conceito fechado sobre

trabalho é muito difícil, tendo em vista que “ele está intrincado em nossas relações e as

transformações sociais que influenciam diretamente o seu significado” 3 (VALENTE, 2013, p.

01).

Assim sendo, o instituto trabalho possui aspecto multidisciplinar e seu conceito pode

variar de acordo com o foco proposto pelo teórico ou ciência que o estuda. Podemos encontrar

estudos sobre o tema trabalho nos mais diversos ramos do saber, a exemplo, da psicologia,

ciência política, história, antropologia, direito, economia e sociologia.

A etimologia da palavra trabalho deriva do latim tripalium, uma espécie de

instrumento de tortura de três paus ou uma canga que pesava sobre os animais (MARTINS,

2006, p. 4). A visão sobre o trabalho estava intrinsecamente ligada à origem da palavra, que

significava tortura, castigo, dor, utilizados para corrigir falhas ou desvios de comportamento.

O que dá ao trabalho noção de sofrimento. As línguas européias, antigas e modernas,

apresentam duas palavras de etimologia diferente para designar o que, hoje, é a mesma

atividade, e conservam ambas a despeito do fato de serem repetidamente usadas como

sinônimas. Estas duas palavras são labor e trabalho, estando a primeira relacionada à dor,

sofrimento e adversidade e a segunda à atividade executada com as mãos (ARENDT, 2007).

Esse conceito atravessou os séculos, passando pela Idade Média e o Renascimento

sempre considerando o trabalho como um sinal de opróbrio, de desprezo e inferioridade, de

exclusão social. Porém, com a evolução das sociedades, os conceitos alteraram-se e na

modernidade o trabalho como maldição cedeu lugar a outros conceitos relacionados com a

realização pessoal e social; como fonte de dignidade e enobrecimento, e para alguns

argumentos religiosos, transfere-se à idéia do trabalhador como artífice que, à imagem e

semelhança de Deus, realiza uma obra.

Abordaremos o conceito na filosofia e na sociologia de forma sucinta, pois nosso

olhar está voltado para a ciência do direito.

3 Aula ministrada pelo professor Rubem Valente na disciplina de Sociologia do Trabalho do curso do CERS, 2013.

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O trabalho pode ser definido ainda como uma atividade intelectual ou física, realizada

pelo ser humano, tendo como finalidade a transformação, obtenção ou até mesmo a produção

de algo.

Para Engels (1999, p. 04):

O trabalho é a fonte de toda a riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

Desse modo, o trabalho é essencial na vida do homem para o seu desenvolvimento

econômico, tendo em vista que, ao longo das civilizações, foi buscado por inúmeros

trabalhadores, a fim de realizar suas satisfações e necessidades pessoais.

Os ensinamentos etimológicos da palavra trabalho na visão de Moraes Filho (2003, p.

59-60):

O sentido etimológico geralmente admitido é a do latim trabs, trabis, viga, de onde se originou em primeiro lugar um tipo trabare, que deu no castelhano trabar, etimologicamente obstruir o caminho por meio de uma viga (como embaraçar de barra) e logo depois outro tipo diminutivo de trabaculare, que produziu trabalhar.

Barata e Silva (1986, p. 24) define o trabalho como uma atividade humana aplicada à

produção.

No entanto, a quase totalidade dessas hipóteses já se encontra ultrapassadas, no

entendimento de Moraes Filho(2003, p.61-62):

Merece destaque unicamente a primeira, assim como admitida no século passado por poucos etimologistas. O mais credenciado é E.Littrê, que aponta trabs como a raiz originaria, lembrando igualmente que trabalhar teve o sentido de viajar, sentido que se liga ao de pena, de fadiga. É dessa acepção que deriva o inglês to travel. A origem certa, porém, e neste sentido se inclina na maioria dos filósofos e linguistas, é da palavras tripalium e tripaliare .

Nesta concepção, trabalho era toda e qualquer atividade humana, inclusive a

intelectual, que representava um esforço, um cansaço, uma pena e até mesmo um castigo

(FERRARI, 2011, p. 14).

Ainda acerca do significado da palavra trabalho, o dicionário de Ciências Sociais da

Fundação Getúlio Vargas e MEC- Fundação de Assistência ao Estudante remete que:

“o termo Trabalho tem significado geral- trabalho ou esforço frequentemente no sentido da lida penosa ou pesada- do qual deriva várias aplicações e usos análogos (como por exemplo, trabalhoso o que custa muito esforço e exige

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muita persistência em vez de habilidade). Como verbo, trabalhar tem o mesmo sentido geral. Dessa forma, trabalho tem em economia muitos sentidos” (FERRARI, 2011, p. 14).

Destarte, falamos que o trabalho deve ser analisado sob a exegese do homem, em

razão de sua habilidade, definido como animal racional que produz, “a par de ser, para o

homem, uma necessidade vital, é também, é aí sua importância maior, o seu libertador, tanto

individual como socialmente” (FERRARI, 2011, p. 15).

A expressão trabalho cita os seguintes pontos, tendo como referência o dicionário

supramencionado:

a) uma ação ou antes, uma obra b) desempenhada por seres humanos; c) que supõe determinado dispêndio de energia; d)dirigida para um fim determinado e conscientemente desejado; e)executada sempre mediante uma participação de energia física e inteligência; f) acompanhada geralmente de um auxilio instrumental; g) que de algum modo produz efeitos sobre a condição do agente. O fim prático, conscientemente desejado, que é elemento constituinte do trabalho, supõe sempre, por um lado, a pretensão de uma certa utilidade e, por outro, uma relação progressiva de domínio da natureza. Assi, H. Bergson afirma que o “trabalho humano consiste em criar utilidade e, enquanto o trabalho não está feito, não há nada, nada daquilo que se queira obter” (FERRARI, 2011, p. 15).

O Trabalho humano tem como mola propulsora a insatisfação, devido às privações e

necessidades inerentes ao ser humano, e desse descontentamento com o intuito de

transformar, criar e produzir surge o trabalho.

Todavia o trabalho ainda pode ser definido como:

(...) toda ação humana, realizada com dispêndio de energia física ou mental, acompanhada ou não de auxilio instrumental, dirigida a um fim determinado que produz efeitos no próprio agente que a realiza, a par de contribuir para transformar o mundo em que se vive (SILVA MARTINS FILHO, 2010, p.23).

Miguel Reale (apud FERRARI, 2011, p. 17) diz que nenhum assunto, como o de

trabalho, exige maior aderência ao concreto, ao que se põe no plano experimental, não

bastando o exame da questão visando sua determinação conceitual, ou procurando suas raízes

históricas.

Podemos explicitar o trabalho na visão filosófica, baseando-se na obra de Bagolini,

sobre a tese de Marx Scheler:

Para ele a qualidade do trabalho não está no próprio trabalho, mas depende dos sistemas de fins e de organização moral e jurídica nos quais o trabalho está inserido. Para Scheler, a igreja, o Estado e a família, são associações de vários gêneros que constituem sistemas de finalidades fundamentais, ou, por outra, de valores que não deriva do trabalho, mas que constituem a base e ao

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mesmo tempo o horizonte circunscrito de cada sistema social em cujo âmbito o trabalho realiza (BAGOLINI, 2003, p.20).

No entanto para Miguel Reale, o trabalho é criador de valores, pois ele é por si só um

valor :

(...) como uma das formas fundamentais de objetivação do espírito enquanto transformador da realidade física e social, visto como o homem não trabalha porque quer, mais sim por uma exigência indeclinável de seu ser social, que é um ser pessoal de relação, assim como não se pensa porque se quer, mas por ser o pensamento um elemento intrínseco ao homem, no seu processo existencial, que se traduz em sucessivas formas de objetivação. Trabalho e valor, bem como, por via de consequência, trabalho e cultura, afiguram-se termos regidos por essencial dialética de complementaridade (FERRARI, 2011, p.18).

No entendimento de Diniz (1988, p. 591) o trabalho pode ser definido como:

Para a história do direito. Na Grécia antiga, era um castigo. Para o direito do Trabalho a) conjunto de atividades humanas, intelectuais ou braçais que geram uma utilidade; b) ofício; c) emprego; d) tarefa; e) objeto de um contrato trabalhista f) ato ou efeito de trabalhar. Na economia política a) atividade produtiva, dirigida a um fim econômico b) bem de ordem econômica, que é protegido pelo direito. Para o direito constitucional é um direito e dever social assegurado a todos para que tenham uma vida digna.

Silva (2004, p.1413) conceitua trabalho da seguinte forma:

De trabalhar, genericamente, entende-se a ação de trabalhar, sendo assim, de significação equivalente à obra, ocupação, tarefa, função, ofício, serviço, mister emprego,missão, encargo, faina, etc.Trabalho então, entender-se-à todo esforço físico ou mesmo intelectual, na intenção de realizar ou fazer qualquer coisa. No sentido econômico e jurídico, porém trabalho não e simplesmente tomado nesta acepção física: é toda ação, ou todo esforço ou todo desenvolvimento ordenado de energias do homem, sejam psíquicas, ou sejam corporais, dirigidas com um fim econômico, isto é, para produzir uma riqueza, ou uma utilidade, suscetível de uma avaliação, ou apreciação monetária. Assim qualquer que seja a sua natureza, e qualquer que seja o esforço que o produz, o trabalho se reputa sempre um bem de ordem econômica, juridicamente protegido. Por esta razão, indicando-se o trabalho uma atividade produtiva, qualquer fato capaz de injustamente impedi-lo, ou que seja causa de uma inatividade, de que resulte prejuízo, ou perda, para o trabalhador, dá motivo à justa indenização. No computo desta indenização, pois, o trabalho é compreendido como qualquer espécie de atividade, de que se possa gerar uma utilidade, ou um bem econômico.

Sussekind (2010, p. 03) aduz que toda energia humana, física ou intelectual,

empregada com um fim produtivo, constitui trabalho.

Mesmo na antiguidade, o homem sempre trabalhou, na pré-história usava do trabalho para alimentar-se, defender-se e abrigo, no período paleolítico,

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produzia lanças, achados, para ampliar sua capacidade de defesa. A necessidade de agrupamento impôs a formação de pequenas tribos, que lutava entre si.[...] Surgia, assim, o trabalho em favor de terceiros, objeto de um ramo do Direito cuja autonomia viria a ocorrer somente na época contemporânea [...]

Desde os primórdios da antiguidade que o trabalho possui uma conotação material, era

uma coisa, havia uma desvalorização, pois na escravatura o trabalho era um castigo.

Não obstante, o trabalho pressupõe atividade que se manifesta por meio de aspectos

variados, os quais reclamam do ordenamento jurídico uma atenção diversa, dependendo da

época (BARROS, 2011, p. 45).

De modo geral o trabalho há de ser o centro dos valores numa visão ideal:

(FERRARI, 2011, p. 18)

(...) do Estado Moral, nele ínsito o Estado de Justiça, valores estes que, embora estejam no centro dos problemas econômicos, deveriam constituir “o progresso geral da força complexiva de trabalho, derivada do total desenvolvimento de suas potenciais capacidades”, de modo a permitir a todos os trabalhadores de participar do aperfeiçoamento geral da produtividade, da satisfação profissional, da segurança e do tempo livre.

No significado sociológico do trabalho, incumbe a tarefa de distinguir os diversos

tipos de coletividades humanas para estabelecer uma linguagem precisa, tendo em vista a

análise respectiva (FERRARI, 2011, p. 19).

O trabalho observado sob a ótica sociológica é a que iremos ressaltar, pela importância

que os grupos sociais e as categorias que se encontram coesos e também os valores e crenças.

O problema central na análise dos grupos talvez seja a natureza das relações existentes entre seus membros, levando-nos à indagação sobre, por exemplo, que forças conduzem uma categoria social a formar associações ou sindicatos para a proteção de seus interesses? Tais forças no campo do trabalho devem ser as da “solidariedade de interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas” e ou? Da similitude de condições de vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, a teor dos conceitos dados pelo art. 511,§ 1º e 2º, da CLT. Neste contexto, há a aplicação da sociologia com enfoque no trabalho (FERRARI, 2011, p. 19).

Ressalta-se que seja qual for o valor atribuído ao trabalho (humilhante, degradante,

ofensivo ou enobrecedor, valoroso, grandioso), ele sempre ocupará o lugar central na

organização de vida do ser humano.

Por esta razão que a sociologia tem um papel de relevância nos estudos, haja vista que

ela fundamenta-se em dois pilares básicos: o comportamento humano e a certeza de que os

seres humanos são animais sociais e não criaturas isoladas.

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O trabalho sempre preservou o homem da sua própria destruição e o impeliu a

interagir-se, unindo-se a outro ou a outros (FERRARI, 2011, p.21).

Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2005, p3), o trabalho é a via

fundamental para a superação da pobreza e da exclusão social.

Embora existam vários conceitos e definições sobre o assunto trabalho, nos

atentaremos para o termo “prestação de serviço”, exercido pelos trabalhadores domésticos,

foco da nossa pesquisa. Salientamos que o trabalho doméstico é tido como uma prestação de

serviço, por apresentar o caráter da habitualidade (continuidade) e por ser uma função

desempenhada sem aferição de fins lucrativos prestada ao seu tomador de serviços, ou seja, “o

empregador não pode auferir nenhum lucro com o trabalho doméstico, sob pena de

descaracterizar-lhe e considerar uma relação de emprego comum” (SOARES, 2010, p.384).

É preciso entender, entretanto, que a prestação de trabalho doméstico se refere, via de

regra, à entidade familiar como um todo, o que influi decisivamente na representação em

juízo.

O ser humano sobrevive e subsiste pelo trabalho e por ele exercer um papel de

conquistas individuais ou mesmo auferir valores sociais de cooperação na busca de idênticos

ideais.

Desse modo é que o ser humano mantém-se vivo de geração a geração pelo trabalho,

seja qual modo ou forma forem, estabelecendo relações sociais entre o ser humano de modo

coletivo ou cooperativo de trabalho, respeitando as regras de existência de cunho econômico,

voltadas à produção e troca de produtos, às éticas, respeitando as normas religiosas e as

jurídicas, essas são as que regem, regulamentam e estabelecem a vida de cada ser humano em

meio à corporação classe ou sociedade.

2.1. PERÍODO DA ESCRAVIDÃO

O trabalho em regime de escravidão que serviu de sustentáculo econômico, social e político à elite, formada por grandes proprietários rurais, e ao governo no Brasil, até 1888, quando foi abolido, é um tema que ainda desperta interesse dos pesquisadores, consideradas as profundas marcas deixadas na sociedade, nos costumes, na cultura e no próprio pensamento constitucional brasileiro, responsável pela fundamentação do ordenamento jurídico nacional (SOARES, 2010, p.366).

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A escravidão foi um período de grande antagonismo, de um lado estavam os

fazendeiros rurais em suas terras latifundiárias e do outro, os escravos, submissos àqueles,

viviam em condições subumanas, sem identidade própria, inobservância dos valores morais e

éticos, um total desrespeito, sendo tratados como animais e tendo como seu sustento o suor de

seus rostos, por meio de seus trabalhos, viviam cativos em nome da produção, onde a comida

era a sua única recompensa.

O regime da escravidão ocorreu no Brasil em meados do século XVI até o XIX. Época

essa em que os escravos negros eram trazidos em navios, acorrentados, sendo marcados em

seus corpos com ferro, semelhante ao que ocorre com os gados, com número além de sua

capacidade física de instalação, transportados em porões, como verdadeiros animais, sujeitos

a inúmeras doenças, parasitoses existentes e maus tratos, sendo considerados apenas “uma

coisa”, não um trabalhador, um ser humano, inexistindo o respeito mútuo tão essencial à

coesão social; prevalecendo assim somente o interesse da classe dominante, nesse caso os

colonizadores portugueses. Nessa viagem, a metade desses escravos negros morria de fome e

de doença.

É cediço que a escravidão retirou do negro o convívio social com seu povo, bem como

de sua família, sendo obrigado a conviver com pessoas estranhas e hostis a ele e a sua cultura.

A história nos revela que a primeira forma de escravidão no Brasil foi a dos indígenas,

na exploração do Pau Brasil, porém não durou muito, seja pela cultura deles ou mesmo pelo

modo de vida nômade, não conseguiram se incorporar ao sistema econômico do colonizador,

haja vista que foi muito brusca a passagem do nomadismo ao sedentarismo, da atividade

esporádica à continua e assim eles não atenderam às reais necessidades do colonizador

português, ressalta-se também o fato dos negros estarem numa evolução social mais adiantada

que os índios (FREYRE, 2003).

A escravidão marcou o destino do Brasil, conforme destaca Ferrari (2011, p.30):

(...) não só naquilo de humilhante para aqueles que a encetara, de forma negativa, como no que deixou de positivo no tocante à herança da cultura negra e dos fatores sociológicos da miscigenação tão bem descritos e cultuados por Gilberto Freyre em Casa Grande Senzala.

No entendimento de Martins (2006, p. 04):

(...) a primeira forma de trabalho foi a escravidão, onde o escravo não tinha qualquer direito, muito menos trabalhista. O escravo não era considerado sujeito de direito, pois era propriedade do dominus. Nesse período, constatamos que o trabalho do escravo continuava no tempo, até de modo indefinido, ou mais precisamente até o momento em que o escravo vivesse

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ou deixasse de ter essa condição. Entretanto não tinha nenhum direito, apenas o de trabalhar.

Para Nascimento (2011, p.43), a escravidão foi um período:

(...) na sociedade pré-industrial não há um sistema de normas jurídicas de direito do trabalho, tendo predominado a escravidão, que fez do trabalhador simplesmente uma coisa, sem possibilidade de se equiparar a sujeito de direito. O escravo não tinha pela sua condição, direitos trabalhistas.

Essa massa de trabalho foi tão indispensável que o fluxo do tráfico se manteve

constante e continuado frente ao acréscimo de atividades que necessitavam dessa massa de

trabalho.

Segundo Mattoso (1982, p. 96) a respeito do tema;

Os cativos foram mostrados em rebanho, geralmente emparedados na ignorância do que lhes sucede e no silêncio ao qual os reduz à diferença de idiomas e costumes, vendidos como mercadorias, ao serem transportados, nos entrepostos, cuidados, expostos, avaliados, jogados no trabalho forçado. [...] E assim foi que aos milhões, numa terra estrangeira, ao longo de três séculos, o africano cativo se fez escravo brasileiro [...] Ser escravo no Brasil é um fato certamente pouco invejável, mas é um destino em tudo diferente da sorte que espera o cativo africano entregue ao plantador de algodão da Virginia ou ao lavrador de cana das Antilhas. Quais esperanças, os artifícios, a labuta e a pena, enfim o sonho dessas vidas que se devem arrancar o anonimato onde parecem ter sido mantidas há tanto tempo pela aliança estreita da escravidão antiga com a estatística contemporânea?

Esse escravo era capturado à força, trazido da África para o Brasil como cativo

desarmado e posteriormente vendido como uma mercadoria, um objeto, ausente de vontade

própria, deixando-o destituído de qualquer personalidade jurídica e pública. Trata-se,

portanto, de um estado totalmente diferenciado dos demais, pois ele está sob o domínio do seu

senhor, onde explorados e explorador se mantém em lados opostos, mas o escravo permanece

sob o manto e domínio do explorador.

Diante dos excessos, das constantes humilhações sofridas, dos inúmeros abusos de

poder por parte dos seus senhores, da violência acirrada e das repressões, surge o porquê das

constantes fugas, das revoltas individuais e até mesmo dos suicídios desses negros escravos,

conforme preleciona Mattoso (1982).

Os escravos viviam num sistema de servidão, sendo-lhes entregue todo o tipo de

trabalho vil pela população branca, que não podia submeter-se a trabalhos manuais.

Relatos de historiadores nos mostram que o Brasil foi um dos últimos países a abolir a

escravidão em meados de 1889, pois esses escravos trabalhavam por longas horas (de 15 a 17

horas por dia), colocando a produção sempre acima da saúde e da vida do escravo e quando

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desobedeciam eram severamente punidos pelos capatazes e feitores com açoites de chicote, o

tronco, esmagamento de dedos, cortes de orelha, a máscara de ferro ou o pelourinho; esses

eram os meios utilizados para que o escravo se mantivesse nessa condição, submisso e

obediente ao seu senhor.

Os escravos fugitivos, quando encontrados eram explorados em proveito próprio de

quem os capturava, muitos deles eram roubados como forma de extorsão tomadias ou

gratificações (GORENDER, 1985, p.60).

Acerca do assunto, punições que eram feitas por meio de açoites requeria um escravo

especialista na aplicação desse castigo habitual e implicava a perda de dias de trabalho, pois o

escravo castigado ficava, no mínimo, temporariamente inutilizado (GORENDER, 1985).

Por fim, houve a promulgação de algumas leis que tinham o condão de “beneficiar”

esses escravos, a primeira foi a Lei Eusébio de Queiroz em 1850, que proibia o tráfico de

escravos no Brasil, em seguida veio a Lei do ventre Livre, assinada em 1871, conhecido

também como lei Rio Branco, concedia liberdade aos filhos das mulheres escravas, porém

eles ficariam sob o domínio dos senhores até os 08 anos de idade e os seus senhores recebiam

uma indenização no valor de 600 mil réis ou ainda podiam utilizar do serviço deles até

atingirem a maioridade aos 21 anos ou serem entregues ao governo (GORENDER, 1985).

Em 1885, foi assinada a Lei que permitia aos escravos com idade superior a 65 anos a

liberdade, chamada de Lei do Sexagenário. Todavia, na prática, assim como as outras, não

teve grande relevância a fim de proteger essa massa de escravos. Em 1888, a princesa Isabel

assinou a Lei Áurea, a qual abolia de vez a escravidão no Brasil.

A escravidão foi, sem dúvida, um período de intensas brutalidades e crueldades no

nosso país e isso reflete até os dias atuais, pois devido a esse processo político-econômico e

social, vivenciamos não o fruto de leis inexoráveis, mas sim o resultado de um processo

histórico de desigualdades e assimetrias, construídas por essas relações econômico-sociais.

Os negros nunca foram tratados como iguais e a liberdade que receberam com a

abolição foi incompleta, não passou de um plano jurídico. Nas inter-relações sempre

estiveram presentes as marcas herdadas da escravidão (FLORESTAN, 1978, p. 37).

Após a abolição, qual o caminho a ser traçado por esses ex- escravos negros? Eles

foram expulsos das fazendas, dos engenhos, sem qualificação, sem instrução e despreparados

para a inserção no mercado de trabalho, restou-lhes a migração para as áreas urbanas. Assim,

eles permaneciam perambulando pelas ruas em busca de sobrevivência e tentando se adaptar à

condição que foram irreversivelmente empurrados. Ora, a luta desses escravos agora livres,

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foi uma luta desumana e cruel, tendo em vista a omissão do Estado em proporcionar a eles

algum tipo de assistência ou mesmo a sua imersão numa sociedade competitiva, sendo

marginalizados e sujeitos de todo o tipo de discriminação, criminalidade, prostituição e a

rejeição social.

O sociólogo Florestan Fernandes, autor de muitas pesquisas sobre o tema, concluiu que os negros, a despeito da liberdade jurídica obtida, foram duplamente espoliados: não receberam nenhuma indenização pelos quase 350 anos de escravidão e ainda viram abalar-se o seu principal liame com a sociedade, ou seja, o trabalho (BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, 1988, p. 50).

A solução encontrada por muitos foi o trabalho doméstico, ocupando um lugar central

nas relações estabelecidas agora entre ex-escravos e ex-senhores. Tarefa essa exercida em sua

grande maioria pelas ex-escravas, que continuavam seus afazeres domésticos, seja nas tarefas

de limpeza, arrumação e cozinha.

Segundo Cunha e Gomes (apud PEREIRA, 2011, p.03):

[...] A sujeição, a subordinação e a desumanização, que davam inteligibilidade à experiência do cativeiro, foram requalificadas num contexto posterior ao término formal da escravidão, no qual relações de trabalho, de hierarquias e de poder abrigaram identidades sociais se não idênticas similares àquelas que determinada historiografia qualificou como exclusivas ou características das relações senhor - escravo.

Dessa feita, essas mulheres tiveram que se adaptar a uma nova realidade após o

término da escravidão, deixando de ser escravas domésticas e passando a ser empregadas

domésticas.

2.2. TRABALHO DOMÉSTICO NO BRASIL E A EVOLUÇÃO DA

LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO

O primeiro relato de trabalho doméstico no Brasil se deu no período da escravidão,

com as mulheres escravas. Eram escolhidas dentre as mais bonitas, obedientes e submissas,

dóceis e de confiança. A elas eram confiadas às tarefas das casas grandes, recebiam roupas

melhores e viviam com um pouco mais de dignidade. Em contrapartida, as mais bonitas eram

assediadas pelo seu senhor e em sua maioria eram violentadas sexualmente por eles.

Muitas dessas escravas perdiam os dentes, tinham suas unhas arrancadas, seus rostos

queimados ou mesmos seus mamilos cortados, como forma de castigo, a mando da baronesa,

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para ficarem mais feias e assim não despertarem desejo no seu senhor; um total desrespeito ao

ser humano. (FREYRE, 2003).

Quanto aos negros domésticos, escolhidos em geral entre os mais "sociáveis", cuidavam de praticamente todo o serviço das casas-grandes e habitações urbanas: carregar água, retirar o lixo, além de transportar fardos e os seus senhores em redes, cadeiras e palanquins (BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO, 1988, p.11).

Acerca do tema Graham (1992, p.18) afirma que:

[...] o âmbito do trabalho doméstico inclui, em um extremo, as mucamas, as amas-de-leite e, no outro, as carregadoras de água ocasionais, as lavadeiras e costureiras. Até mesmo as mulheres que vendiam frutas, verduras ou doces na rua eram geralmente escravas que, com frequência, desdobravam-se também em criadas da casa durante parte do dia. A meio caminho estavam as cozinheiras, copeiras e arrumadeiras. O que as distinguia não era apenas o valor aparente de seu trabalho para o bem-estar da família, refletindo no contato diário que cada um tinha com os membros desta, mas também o grau de supervisão. [...]

Já para Freyre (2003, p. 435):

Havia doçura nas relações de senhores com os escravos domésticos talvez maior no Brasil do que em qualquer outra parte da América. A casa grande fazia subir da senzala para o serviço mais intimo e mucamas, irmãos de criação de meninos brancos. Indivíduos cujo lugar na família ficava sendo não o de escravos, mas o de pessoas de casa.

Explica Mattoso (1982, p.11)

Os privilégios que gozam os escravos da cidade parecem ser os mesmos dos escravos domésticos. Falou-se muito que os senhores escolhiam para seu serviço pessoal os escravos próximos do modelo branco, os nascidos no Brasil, por vezes na própria família do proprietário. [...] Além disso, os escravos domésticos tornam-se facilmente indispensáveis aos seus senhores, aos quais se devotam cotidianamente ou lhes proporcionam o fruto do trabalho ou executam fora, além das tarefas da casa. Grande número de escravos domésticos saem com seus tabuleiros de doces e rendas que vendem nas ruas para o senhor, proporcionando-lhes lucros suplementares não-desprezíveis. Mas nem tudo e idílico na vida do escravo, sempre debaixo do olho do senhor, sempre controlado e vigiado. Para que possa subir na escala social e finalmente obter sua liberdade, o escravo doméstico, mais que qualquer outro, deve praticar a obediência, a humildade e a fidelidade, virtudes cardeais do ”bom escravo” nos termos em que o senhor o modela.

Desse modo, o escravo não tinha vontade própria, era considerada uma res (coisa) e

não um ser humano, que estava sob o domínio e poder do seu amo, senhor. O seu proprietário

podia dele dispor da forma e do modo que desejasse, podendo vendê-lo, trocá-lo, surrá-lo ou

até mesmo matá-lo.

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O escravo doméstico não era considerado uma pessoa, não podia ser sujeito de uma

relação jurídica, sendo incapaz de decidir sobre sua própria atividade (OLÉA4, 1969 apud

SUSSEKIND, 2010, p.04).

Por esse motivo, a escrava doméstica carregava esse estigma à sua prole, tendo em

vista que seus filhos tinham que se submeter também a tal trabalho.

Martins (2009, p. 01) assevera que:

O trabalho doméstico sempre foi desprestigiado no transcurso do tempo, sendo anteriormente prestado por escravos e servos principalmente por mulheres. Em Roma, os servos eram divididos em rústicos e urbanos. Entre os servos urbanos, existiam os familiares, que faziam o trabalho doméstico. [...] No século XVII, havia várias pessoas que faziam serviços domésticos como aias, despenseiros, amas, amas-de-leite, amas-secas, cozinheiros, secretários, criados, damas de companhia.

Nem sempre o trabalho encontrou proteção jurídica, haja vista que uma das primeiras

formas de trabalho foi à escravidão. Nessa época, o trabalho era considerado como um

castigo, sendo desempenhado por escravos e era analisado sob a exegese de algo desonroso.

Dentro do ordenamento jurídico mundial, a primeira lei que disciplinou o tema

trabalho doméstico, foi em 1867, em Portugal, com o Código Civil Português, nos artigos

1370 e 1390 (MARTINS, 2009).

Uma difícil tarefa é saber com precisão a origem do trabalho doméstico, no que se

refere aos direitos trabalhistas, pois o direito do Trabalho teve uma evolução no Brasil,

somente a partir de 1937, com o advento da Constituição, pois antes havia muitas leis

trabalhistas, porém sem eficácia.

Após legislação esparsa, em meados de 1943, foi editado no Brasil um Decreto-lei de

n. 5.452 que aprovava a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, reunindo as leis então

existentes e regulando matérias ainda não tratadas. Todavia, este diploma não contemplou os

trabalhadores domésticos em sua proteção, o que, somente em 1972, uma lei ordinária dispôs

sobre os direitos desses trabalhadores, a saber, a Lei nº 5.859/72. Em seu art. 1º, trouxe a

definição:

Art. 1º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas, aplica-se o disposto nesta lei (BRASIL, 2011).

Da definição legal decorrem várias espécies de trabalhadores que se enquadram como

domésticos, conforme o contexto jurídico-social, a saber: babá, caseiro (de sítio, de granja,

4 OLÉA, Alonso. Introdução ao Direito do trabalho. Porto Alegre: Sulina, 1969, p. 60.

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praia ou fazenda, desde que não haja atividades com fins lucrativos), cozinheira, enfermeira,

governanta, jardineiro, lavadeira, motorista particular, piscineiro e vigia residencial, além

daqueles trabalhadores que fazem tarefas tipicamente domésticas.

Aduz Martins (2009, p.02) a cerca da palavra doméstico:

A palavra doméstico provém do latim domesticus, da casa, da família, de domus, lar. Lar é a parte da cozinha onde se acende o fogo, mas em sentido amplo compreende qualquer habitação. O doméstico será a pessoa que trabalha para a família, na habitação desta. Usam-se também as expressões serviçal e fâmulo. [...] Na França, costuma-se empregar a denominação employés de Maison (empregados de casa), que são pessoas assalariadas por particulares para prestar serviços domésticos (Código do Trabalho, art.L, 772-I, Employés de Maison).

A referida lei brasileira, embora protetiva, não destinou aos domésticos mais que o

direito ao contrato de trabalho com anotação da Carteira de Trabalho e Previdência Social

(CTPS), para fins de proteção previdenciária e férias anuais remuneradas de 20 dias úteis.

No entanto, a Constituição Federal/88 ampliou a proteção dessa categoria concedendo-

lhe alguns dos chamados direitos sociais previstos no art. 7º, tais como: salário mínimo;

irredutibilidade salarial, salvo negociação, décimo terceiro salário, repouso semanal

remunerado, preferencialmente aos domingos, gozo de férias anuais remuneradas com um

terço a mais que o salário normal (ampliadas para 30 dias conforme o decreto 11.324/06, que

alterou o artigo 3º da Lei n. 5859/72), licença à gestante com duração de 120 dias, licença-

paternidade, aviso prévio, aposentadoria e integração à previdência social.

Com a Lei n. 10.208/2001 foi facultada a inclusão dos empregados domésticos no

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e no Seguro Desemprego. Mais tarde, na

linha da aproximação desses trabalhadores aos demais portadores de proteção (urbanos, rurais

e avulsos), a Lei nº 11.324/2006 proibiu os descontos no salário de despesas com moradia,

alimentação e produtos de higiene pessoal utilizados no local de trabalho, vedou a dispensa

arbitrária ou sem justa causa da gestante desde a confirmação da gravidez até 05 meses após o

parto e acrescentou o gozo das férias de 20 dias para 30 dias, assim como concedeu o direito

aos feriados civis e religiosos.

O aviso previo, após a Lei nº 12.506/2011, foi alterado para 30 dias aos empregados

com até um ano de serviço, com acréscimo de três dias por ano de trabalho para o mesmo

empregador, perfazendo um total de, no máximo, 90 dias.

Ao refletirmos sobre a evolução da legislação brasileira, podemos notar que houve um

grande avanço no que tange à proteção do trabalhador doméstico e paralelo a isso, a justiça

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em si, também acompanhou tal desenvolvimento, se tornando mais célere e eficaz, pois ao

compararmos os direitos dos empregados domésticos brasileiros aos demais países de

fronteiras, podemos vislumbrar que na seara dos direitos humanos muito se evoluiu, tendo em

vista os direitos que esses trabalhadores já conquistaram.

No entanto, ainda há muito a ser transformado, pois esses trabalhadores, na sua

maioria mulheres, ainda continuam laborando em trabalhos mal pagos, precários, trabalhos

informais, dentre outros aspectos que nos fazem analisar sob a ótica dos direitos trabalhistas,

humanos e internacionais, que há uma longa batalha a ser travada.

O trabalho doméstico é uma das profissões mais antigas que existe, sendo uma das

mais importantes formas de serviço, onde milhões de trabalhadores a exercem em todo o

mundo, merecendo destaque especial, as mulheres com baixo nível de escolaridade. O

trabalho doméstico é essencial para o funcionamento da economia de um país, embora seja

subestimado e ainda regulamentado de modo precário e deficiente.

Esse trabalho encontra muito preconceito e discriminação nos dias atuais, embora já

tenha ocorrido a abolição, essa profissão ainda é vista de modo perjorativo. Tal depreciação

advém do fardo histórico carregado pelas mulheres ao longo da evolução, onde as

capacidades são quase pré- requisitos para o ser mulher, atributos natos em situações sine

qua non (grifo nosso).

O empregado doméstico é regido pela Lei nº 5.859/72, regulamentada pelo Decreto nº

71.885/73, e pela Lei 11.324/2006, tendo seus direitos elencados na Constituição

Federal/1988 no parágrafo único do artigo 7º, bem como sua integração à Previdência Social.

Por fim, os direitos dos empregados domésticos no Brasil são: Carteira de Trabalho e

Previdência Social, devidamente anotada; salário mínimo fixado em lei, irredutibilidade

salarial, 13º (décimo terceiro salário) repouso semanal remunerado, preferencialmente aos

domingos, feriados civis e religiosos, férias de 30 (trinta) dias remunerados, com acréscimo

de 1/3 constitucional, férias proporcionais, no término do contrato de trabalho, estabilidade no

emprego em razão da gravidez, licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário;

licença paternidade de 5(cinco) dias corridos, auxílio doença pago pelo INSS, aviso prévio de

30 dias com até um ano de serviço, com acréscimo de 03 dias por ano de trabalho para o

mesmo empregador, aposentadoria, integração à previdência social, vale transporte, fundo de

garantia do tempo de serviço (FGTS), seguro desemprego concedido ao empregado

doméstico, incluído no FGTS.

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Desse modo, em todo o mundo, o trabalho doméstico é sub valorizado e carece de

regularizações mais efetivas e equitativas em relação aos outros trabalhos. (SANCHES, 2009,

p. 9)

Por fim, a instituição do trabalho doméstico é uma das mais antigas existentes, tendo

em vista a sua íntima relação com a organização social e familiar.

2.2.1 A Emenda Constitucional nº. 72/2013

A PEC nº 66/2012, conhecida como o Projeto de Emenda Constitucional das

Empregadas Domésticas, cujo autor é o deputado federal Carlos Gomes, ganhou grande

repercussão no último dia 26 de março do corrente, ao ser aprovada a Emenda Constitucional

n. 72/2013, a qual estabelece novos direitos constitucionais aos trabalhadores domésticos,

elencados no artigo 7º da Constituição Federal, que passa a estabelecer igualdade, isonomia e

equidade de direitos trabalhistas aos trabalhadores domésticos e os demais trabalhadores

(urbanos e rurais), até então não previstos para a categoria de trabalhadores domésticos.

As razões da ampliação da propositura da PEC 66/2012, de iniciativa do Deputado

Carlos Gomes são:

Sabemos que, seguramente, equalizar o tratamento jurídico entre os empregados domésticos e os demais trabalhadores elevará os encargos sociais e trabalhistas. Todavia, o sistema hoje em vigor, que permite a existência de trabalhadores de segunda categoria, é uma verdadeira nódoa na Constituição democrática de 1988 e deve ser extinto, pois não há justificativa ética para que possamos conviver por mais tempo com essa iniquidade (BRASIL, 2013).5

É bem verdade que a publicação da Emenda Constitucional no último dia 2 de abril de

2013, gerou uma enorme repercussão econômica e social no país e porque não dizer, grandes

incertezas; no entanto ela representa para Boucinhas Filho (2013, p. 87)

(...) ao fim e ao cabo, o mais importante cabo dado até aqui, em direção ao fim de uma das mais injustificáveis discriminações positivadas em textos legais do ordenamento jurídico brasileiro, a desigualdade entre os empregados domésticos e as demais formas de empregados urbanos. Um resquício cultural que guardamos desde a época colonial em que os senhores de engenho e suas sinhás mantinham mucamas para cuidar dos afazeres domésticos das “Casas Grandes”.

5 Disponível em: < legis.senado.leg.br/mateweb/arquivos/mate-pdf/123851.pdf> Acesso em: 20 jun. 2013.

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As críticas estão arraigadas no encarecimento de tributos aos empregadores

domésticos, que não são pessoas jurídicas e por ser uma profissão que não aufere fins

lucrativos, acarretará enormes despesas frente aos seus empregadores, pelo menos são esses

os fatores de maiores censuras até o momento.

Para Cassar (2013, p. 349):

Essa ampliação de direitos advinda da Constituição Federal de 1988 compreende um grande avanço histórico-social que veio eliminar o tratamento discriminatório” e desigual que a legislação brasileira conferia aos trabalhadores domésticos. Não fazia sentido, por exemplo, que em plena fase do constitucionalização dos direitos sociais trabalhistas, o doméstico continuasse a exercer o seu labor sem a estipulação de uma jornada mínima de trabalho.

A regulamentação do empregado doméstico estava prevista na Lei 5.859/726, em seu

artigo 1º, no entanto com a aprovação da PEC, houve uma ampliação desses direitos, a saber:

indenização por demissão sem justa causa, seguro-desemprego, FGTS, garantia de salário

mínimo para quem receba remuneração variável, adicional noturno, proteção do salário, sendo

crime a retenção dolosa de pagamento, salário-família, jornada de trabalho de oito horas

diárias e quarenta e quatro horas semanais, direito a hora extra, observância de normas de

higiene, saúde e segurança no trabalho, auxílio creche e pré-escola para filhos e dependentes

até cinco anos de idade, seguro contra acidente de trabalho, proibição de discriminação em

relação à pessoa com deficiência, proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos

menores de dezesseis anos.

Dessa forma o art. 7º, parágrafo único da Constituição Federal, passa a viger da

seguinte forma:

Art. 7º ..................................................................................... ..........................................................................................................

Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os

direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X , XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX,

XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendi das as condições estabelecidas

em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias,

principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os

previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XX VIII, bem como a sua integração à

previdência social. (BRASIL, 2013).

6 A definição legal, disposta no art. 1º da Lei nº 5859/72 já foi debatida na pagina 16 do presente trabalho.

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Nem todos esses direitos aprovados encontram-se em vigência, pois muitos desses

direitos ainda dependem de aprovação de leis que os regulamentem. Assim, o que passou a

viger imediatamente com a aprovação da EC 72/2013, foi jornada de oito horas diárias, sendo

quarenta e quatro semanais e o direito às horas extras.

No entanto, desde abril vivemos incertezas e contínuas especulações, pois essa

Emenda Constitucional poderia gerar um desemprego em massa? Como ficariam as questões

de controle de frequência nos lares, haja vista que muitos desses empregadores saem o dia

inteiro e não têm como fiscalizar a jornada de seus funcionários? E as horas extras? Vários

pontos dessa Emenda Constitucional ainda precisam ser discutidos, a fim de que haja uma

regulamentação coerente e justa, pois isso também poderia aumentar a informalidade dessa

categoria de trabalhadores.

Segundo recentes dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho estima-se que sete milhões o número de trabalhadores domésticos no país, porém, hoje apenas cerca de um milhão possuem carteira de trabalho assinada e, respeitados seus direitos trabalhistas. A formalização do trabalho doméstico tem como significado representar uma segunda Lei Áurea tendo positivo impacto na economia pátria acarretando a redução da pobreza e o cumprimento de relevante fundamento da república brasileira que é o respeito ao princípio da dignidade humana. A PEC das domésticas veio enfim efetivar a tão sonhada igualdade de direitos trabalhistas para os empregados domésticos e, por fim em injusta discriminação sócio jurídica.(LEITE & HEUSLER, 2013, p. 1).

E o caso das babás? Como elas receberiam, já que muitas delas dormem nos

empregos. Haveria necessidade de ter um piso salarial distinguido das demais?

Por enquanto os empregadores que possuem empregadas domésticas, na condição de

babá, ainda não têm que pagar horas extras, pois falta uma regulamentação, no entanto,

quando sair esta, será necessário sim o pagamento das horas extras.

Boucinhas Filho acerca do assunto jornada de trabalho assegura que:

Dentre os novos direitos atribuídos aos trabalhadores domésticos aquele que seguramente gerou mais celeuma foi a limitação da jornada de trabalho em 8(oito) horas diárias e 44 (quarenta e quatro) horas semanais e o consequente direito ao controle de jornada de trabalho e ao pagamento do excedente com o adicional de, no mínimo, 50% sobre o valor da hora de trabalho (BOUCINHAS FILHO, 2013, p.97)

Como há muitas dúvidas e incertezas sobre o assunto, coaduno do mesmo pensamento

de Bouchinhas Filho e de Alvarenga no que tange à jornada de trabalho, pois agora os

trabalhadores domésticos passam a ser tratados e regulamentados de modo isonômico aos

demais trabalhadores urbanos, tendo a mesma regra aplicada aos urbanos, como, por exemplo,

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a compensação da duração do trabalho, feita somente se lícito, por escrito e caso seja

compensada na mesma semana, tendo a ressalva de não ultrapassar as 44 horas semanais. A

respeito do banco de horas, somente será admitido caso tenha sido acordada com o sindicato

da categoria de modo coletivo, conforme preceitua a Súmula n. 85 do TST- Tribunal Superior

do Trabalho.

Súmula nº 85 do TST COMPENSAÇÃO DE JORNADA (inserido o item V) - Res. 174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011 I. A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. (ex-Súmula nº 85 - primeira parte - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se houver norma coletiva em sentido contrário. (ex-OJ nº 182 da SBDI-1 - inserida em 08.11.2000) III. O mero não atendimento das exigências legais para a compensação de jornada, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária, se não dilatada a jornada máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo adicional. (ex-Súmula nº 85 - segunda parte - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário. (ex-OJ nº 220 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001) V. As disposições contidas nesta súmula não se aplicam ao regime compensatório na modalidade “banco de horas”, que somente pode ser instituído por negociação coletiva (BRASIL, 2013)

Outro assunto polêmico e de grande repercussão nos noticiários nacionais é o controle

de jornada por parte do empregador.

Sabemos da grande dificuldade em controlar essa categoria de trabalhadores, pois em

primeiro lugar por ser uma profissão de difícil fiscalização nos lares, em segundo porque

muitos desses trabalhadores ao chegarem para laborar, seus patrões já não se encontram na

residência e ao retornarem aos seus respectivos lares, seus empregados já partiram. Como ter

um controle de jornada eficaz?

A Consolidação das Leis do Trabalho- CLT nos explica em seu artigo 74, § 2º, que

somente será obrigatório o registro de ponto seja ele na modalidade manual, mecânica ou

eletrônica, para estabelecimentos com mais de dez empregados, em conformidade com as

exigências elencadas pelo Ministério do Trabalho. A partir desse momento, surgem as

inúmeras controvérsias, pois há quem defenda o controle de ponto, independente do número

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de empregados no estabelecimento, tendo em vista que essa regra elencada no art 74, § 2º, não

seria aplicável aos empregados domésticos, por força do art. 7, a, da CLT, a saber:

Art. 7º – Os preceitos constantes da presente Consolidação, salvo quando for, em cada caso, expressamente determinado em contrário, não se aplicam: a) aos empregados domésticos, assim considerados, de um modo geral, os que prestam serviços de natureza não-econômica à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas; (BRASIL, 2013).

O controle de jornada, portanto não será obrigatório até que venha uma lei que

especifique e regulamente o assunto para os domésticos. Assim, aplicar-se-ia esse dispositivo,

somente se houvesse mais de dez empregados na residência.

No entanto, com a aprovação da EC. 72/2013, a jornada de trabalho, faz-se necessária,

tendo em vista que Saraiva7, nos explica que a eficácia é imediata e para que seja assegurada

alguma efetividade é imperioso que o empregador doméstico controle a jornada de trabalho de

seu empregado doméstico seja por meio de ponto eletrônico, livro, folha de ponto, o quadro

de ponto ou ainda por meio de câmeras audiovisuais.

Saraiva ainda critica o Congresso Nacional no que tange ao controle de jornada, ao pagamento de horas extras ao empregado doméstico, em função do tipo de atividade desenvolvida por essa categoria e também em função do local em que ele presta os seus serviços e por considerar que as atividades domésticas em sua maioria são intermitentes e intermináveis. A grande dificuldade em controlar a jornada de trabalho. Como garantir que a trabalhadora doméstica estará trabalhando mesmo? A crítica de Saraiva é em relação ao Congresso Nacional que aprovou uma lei visando interesses políticos, que sequer foi debatida com a sociedade. Aprovaram uma lei em que o próprio país trouxe muitos benefícios, porém trouxe muitos problemas à sociedade e principalmente aos empregadores. (SARAIVA, 20138).

Para Saraiva (2013), no momento não há nada que obrigue o empregador a colocar

ponto eletrônico ou mesmo ao controle rigoroso de jornada em consonância com o artigo 74 e

art 7, a, da CLT. Todavia, o empregador tem que encontrar um modo eficaz a fim de que a

jornada de trabalho do seu empregado doméstico seja fiscalizada, ainda que exista uma

grande dificuldade no controle dessa jornada e suas reais implicações.

Sabemos que essa nova relação que se estabelecerá por conta dos novos direitos

concedidos a essa categoria não será fácil. Embora não exista, ainda, dentro do ordenamento

jurídico uma regulamentação específica que obrigue o empregador doméstico a manter

7 Aula ministrada pelo Prof. Renato Saraiva em “Atualização Jurídica- Nova Lei das empregadas domésticas. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=MDBZXEKuIdk. Acesso em: 06 abril 2013. 8Aula ministrada no site do CERS, acerca de Atualizações jurídicas sobre novas regras das empregadas domésticas. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=MDBZXEKuIdk>. Acesso em: 8 abr. 2013.

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cartões de ponto, é recomendável que ele encontre algum recurso para controlar a jornada do

seu empregado.

Saraiva (2013, p. 01) nos explica que:

Pode ocorrer que em função da hipossuficiência do empregado, o Magistrado Trabalhista em eventual litígio, inverter o ônus da prova, passando o empregador doméstico a ter que demonstrar que não foram prestadas horas suplementares pelo obreiro do lar.

Dentre os requisitos fáticos jurídicos para a caracterização do empregado doméstico,

merece destacar a pessoalidade, por ter natureza intuitu personae, acarretando assim a

infungibilidade da prestação de obrigação de fazer (LEITE & HEUSELER, 2013).

Convém mencionarmos outros requisitos ensejadores da caracterização de empregado

doméstico, além da pessoalidade: a continuidade da relação de serviço (não eventualidade),

subordinação jurídica, atividade sem fins lucrativos e por fim a onerosidade.

Nesta seara, verifica-se que na relação laboral doméstica estão presentes todos os elementos fático-jurídicos da relação empregatícia, quais sejam, a pessoalidade, a onerosidade, a subordinação e a continuidade (em substituição à não eventualidade), além de outros três específicos a tal modalidade, entre os quais a finalidade não lucrativa dos serviços, a apropriação dos serviços por pessoa física ou por família e prestação dos serviços no âmbito residencial dos tomadores (DELGADO, 2010, p. 347).

Moreira Souto9 (2013, p.3) a respeito da EC n. 72/2013, nos esclarece:

Alguns dos novos direitos terão aplicação imediata como à jornada de trabalho de 44 horas semanais e o pagamento de hora extra, outros necessitarão de regulamentação e instruções dos órgãos competentes, tais como: proteção contra demissão arbitrária e sem justa causa, salário-família, auxílio-creche, seguro contra acidente de trabalho, recolhimento obrigatório do FGTS, seguro-desemprego e adicional noturno. Acredito que com o tempo tudo se ajustará, como ocorreu com a Lei 5.859/1972, que tratou de definir os primeiros direitos para esta categoria, com a promulgação da Constituição de 1988, que ampliou estes direitos, como ocorreu também com a Lei nº 11.324/2006 e agora com a Emenda Constitucional nº 72/2013, é uma questão de tempo, ajustes e de maiores esclarecimentos.

Saraiva (2013) acredita que essa EC nº 72/2013 poderá trazer consequências nefastas

para milhões de famílias, aponta o Congresso Nacional como o maior responsável por isso

tudo, tendo em vista que na opinião do Procurador do Trabalho, os congressistas não

consultaram, não debateram com a sociedade e isso tudo em um futuro próximo poderá gerar

9Moreira Souto, Paulo Manuel. Emenda Consitucional nº 72/2013. Disponível em: <http://direitodomestico.com.br/?p=3487>. Acesso em: 20 mai. 2013.

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grandes informalidades para essa categoria de trabalhadores, pois os empregadores não terão

como arcar com “os altos custos da mão de obra do empregado”.

É verdade que estamos vivendo em meio a muitos dilemas, expectativas e incertezas,

portanto ainda é muito cedo para emitir um juízo de valor concreto. Temos observado muitas

entrevistas que são absurdas nos meios televisivos à população. O que precisamos fazer é

procurar informações coerentes e atualizadas, por meio dos órgãos jurisdicionais, como

Ministério do Trabalho e emprego, Tribunais Regionais do Trabalho, Ministério Público do

Trabalho, sites do Planalto, dentre outros e não nos alienarmos aos noticiários que muita das

vezes são manipuladores de opiniões e não nos informam corretamente.

Por conseguinte, dizer que ainda é muito cedo, prematuro para expressarmos qualquer

opinião, frente a muitas incertezas e ausência de regulamentação para muitas mudanças que a

Emenda Constitucional trouxe a baila.

Para a Ministra do Tribunal Superior do Trabalho, acerca do tema EC nº 72/2013:

Os direitos sociais estendidos aos trabalhadores domésticos hão de ser regulamentados de acordo com as especificidades que caracterizam esse importante trabalho, secularmente marcado pela discriminação e super-exploração. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, um aprendizado para patrões e empregados. Mas agora, o ponto de partida é outro: o trabalhador doméstico é um cidadão de direitos (ARANTES, 2013 apud GUNTHER E MANDALOZZO, 2013, p.12).

Ainda acerca do tema, a relatora da Emenda Constitucional, Senadora Lídice da Mata,

afirma que:

Dois de abril é uma data histórica, na qual foi consagrada a correção de uma injustiça social em relação a mais de 7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras domésticas do Brasil. A promulgação da Emenda Constitucional 72/13 passa a lhes garantir os mesmos direitos dos demais trabalhadores. Esse é o resultado de anos de uma luta que teve início com Laudelina Campos Melo, que fundou a primeira associação da categoria, em Campinas, em 1936”. E conclui: “Estamos iniciando uma profunda mudança cultural, comportamental e do próprio mercado de trabalho doméstico. Da luta e das conquistas dos trabalhadores domésticos, tiramos uma grande lição (MATTA, 2013, apud GUNTHER E MANDALOZZO, 2013, p.12).

Alguns incisos da Emenda Constitucional ainda dependem de lei que regulamentem

esses direitos, dentre eles: relação de emprego protegida contra despedida arbitrária, seguro-

desemprego, FGTS - fundo de garantia de tempo de serviço, remuneração do trabalho noturno

superior a do diurno ( adicional noturno), salário-família, assistência gratuita aos filhos e

dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas (auxílio-

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creche) e seguro contra acidentes de trabalho, reconhecimento de convenções e acordos

coletivos de trabalho.

No ultimo dia 11 de julho de 2013, o Senado aprovou a PLS 224/2013, que

regulamenta os direitos dos trabalhadores domésticos presentes na EC 72/2013 como: seguro-

desemprego, indenização por demissão sem justa causa, FGTS, salário-família, adicional

noturno, auxílio-creche e seguro contra acidente de trabalho.

Alguns doutrinadores falam que a referida Emenda Constitucional irá dirimir o

enorme abismo social e econômico a que essa categoria de trabalhadores sempre foi exposta.

Outros expõem a precipitação dentre do poder legislativo em aprovar uma emenda,

sem debater, sem analisar conscientemente quanto aos aspectos positivos e negativos dessa

regulamentação, que poderá gerar uma maior informalidade dessa categoria e um aumento

substancial de ações trabalhistas na Justiça do Trabalho.

A referida Emenda Constitucional está sendo muito debatida nos últimos meses,

apesar das incertezas e dúvidas quanto aos resultados que poderá ser desencadeado. Assim, a

EC 72/2013 representou para as trabalhadoras domésticas uma grande conquista, pois são

unânimes em afirmar que agora terão um tratamento mais igualitário.

Dessa feita, somente após vinte e cinco anos de promulgação da Constituição

Federal/88 e quarenta e um anos após a promulgação da Lei que trata especificamente dos

direitos dessa categoria de trabalhadores ( Lei nº 5859/72), nas dificuldades e

impossibilidades desses trabalhadores em manterem sua subsistência pela atividade de labor,

é que essa categoria está recebendo um tratamento constitucionalmente igualitário.

Mesmo com o advento da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943 e esta ter-se mostrado como um considerável marco na regulamentação e proteção dos direitos sociais trabalhistas dos empregados urbanos, na redação do art. 7º, alínea “a”, há expressa exclusão dos empregados domésticos do seu âmbito de proteção (DELGADO, 2010, p. 355), o que fez com que o trabalho doméstico permanecesse num limbo jurídico,vulnerável e sem qualquer regulamentação específica, passando-se quase 30anos até o advento da Lei 5.859/72, que trata do trabalho doméstico ( CAMPAGNOLI E NEIVERTH, 2013, p.19).

Nesta seara é importante ressaltar que a Constituição Federal constituiu uma mudança

de paradigma elevando os princípios e direitos fundamentais em suas múltiplas dimensões à

condição de cláusulas pétreas (CAMPAGNOLI E NEIVERTH, 2013, p.19).

O estigma dos trabalhadores domésticos persistiu por longos anos,

tendo sido traçado um visível desnível entre a proteção destinada à referida categoria e àquela destinada aos demais trabalhadores urbanos e rurais, uma vez que vários direitos deferidos aos empregados urbanos e rurais e

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mesmo a trabalhadores avulsos foram deliberadamente sonegados ao empregado doméstico, entre estes, o salário-família, constituindo flagrante desrespeito a essa classe ( CAMPAGNOLI E NEIVERTH, 2013, p. 20).

Por último, sabemos que há muitos direitos que foram excluídos, ou melhor, dizendo,

ocultados dessa categoria ao longo dos anos, sempre arraigada “na patente discriminação ao

expor que tal trabalho era diferenciado dos demais por exigir certo nível de fidúcia e

pessoalidade das partes contratantes” (CAMPAGNOLI, 2013), e com o advento da

promulgação da Emenda Constitucional nº 72/2013 estão sendo gradativamente atribuídos e

estendidos a essa categoria, apresentando-se como um sinal para uma futura normatização.

2.3 TRABALHO DOMÉSTICO INFANTIL

O trabalho doméstico infantil - TID é enfadonho, alvitante, mal remunerado, pois

retiram da criança suas etapas necessárias para o desenvolvimento emocional, físico e

psicológico, ensejando nelas vivencias precoces. Uma das formas de exploração mais difíceis

de combater.

O TID ou trabalho infantil doméstico é ilegal em nosso país para crianças em idade

tênue de 05 a 13 anos.

Sabemos que na prática esse fenômeno ocorre com muita frequência, por estar

inserido no contexto social e histórico brasileiro, desde o século XVI e perdurar até o XIX,

quando enfim foi abolida a escravidão.

A exploração do trabalho infantil no Brasil perdurou mesmo após a abolição. Na

época de Revolução Industrial ocorrida na Europa no final do sec. XIX e início do XX, época

essa em que foi substituído o trabalho artesanal pela utilização das máquinas e acarretou no

trabalho assalariado, houve relatos de muitas crianças que laboravam em atividades fabris.

Ainda, que desde o início tal exploração tenha sido denunciada, ela ainda permanece nos dias

atuais, como um fenômeno social de grandes proporções.

Trabalho infantil doméstico - TID é definido como uma atividade exercida por

crianças ou adolescentes (menores do que a legislação brasileira estabelece) no âmbito

residencial de outra pessoa, longe do controle de sua família, onde seu salário, em muitas

vezes, é a comida e a sua habitação.

A Organização Internacional do Trabalho - OIT define o TID como:

O trabalho infantil doméstico em casa de terceiros é uma das formas mais comuns e tradicionais de trabalho infantil. As meninas, meninos e

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adolescentes que realizam atividades domésticas são "trabalhadores invisíveis", pois seu trabalho é realizado no interior de casas que não são as suas, sem nenhum sistema de controle e longe de suas famílias.Este grupo é provavelmente o mais vulnerável e explorado, bem como o mais difícil de proteger. Trabalho infantil é toda atividade econômica realizada por meninos e meninas que estão abaixo da idade mínima para o trabalho permitida pela legislação nacional. Para o caso de adolescentes (acima da idade mínima, mas menores de 18 anos), são consideradas como trabalho infantil todas as atividades que interferem em sua educação, que se realizam em ambientes perigosos e/ou em condições que afetem seu desenvolvimento psicológico, físico, social e moral, ou seja, todo trabalho que priva meninos e meninas de sua infância, sua educação e sua dignidade.(OIT, 2011, p.01)

Esse trabalho é ausente de fiscalização, pois como adentrar os diversos lares de família

existentes em nosso país?

Russomano (1990, p.32) nos admoesta que:

A garantia constitucional da inviolabilidade de domicílio impede qualquer forma de fiscalização do Poder Público (Delegacia Regional do Trabalho, atualmente superintendência) e o maior obstáculo para uma melhor proteção legal ao contrato de trabalho doméstico. Complementa afirmando que de nada adianta existirem leis protetoras se o Estado não pode fiscalizá-las e consequentemente, fazer cumpri-las.

Tal fato desencadeia uma grande ilegalidade e uma violação aos direitos trabalhistas

referente às jornadas de trabalho exercidas por essas crianças e adolescentes, que trabalham

por longas horas, seus salários são baixos, muitas não recebem, somente percebem as

refeições e a habitação. Grande parcela dessas crianças, para disfarçar a ilegalidade, mora no

emprego sob o pseudo de que são “afilhadas, sobrinhas ou parentes” do empregador. Ora, o

ponto crucial é que a maioria dessas crianças ou adolescentes são meninas e que estão a

serviço da exploração do trabalho sofrendo constantes abusos, explorações sexuais e

humilhações; perdendo seus sonhos, suas inocências e sua dignidade humana, sendo expostas

a trabalhos perigosos, insalubres, penosos e prejudiciais para sua idade.

Muitas das vezes sofrem castigos físicos e agressões físicas por parte de seus

empregadores domésticos, por errarem no desenvolvimento de suas tarefas domésticas ou

mesmo por estarem em situação desigual de poder, onde o domínio é exercido pelo mais forte.

A Organização Internacional do Trabalho cita 08 condições de riscos ou perigos em

potencial no TID, são eles:

Longas horas de trabalho, trabalho físico pesado, abuso físico ou emocional, abuso sexual, deficientes condições de vida, salários baixos ou in natura, falta de oportunidades educativas, falta de oportunidades para o desenvolvimento emocional e social. (OIT, 2011)

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Entender o porquê de esses fatores continuarem tão presentes nos dias atuais, em que

possuímos inúmeras legislações proibindo tal trabalho, não é uma tarefa fácil.

Chaves (2010, p 01) explicita que:

Não é possível falar de um país como o Brasil de maneira geral, porque temos diversas e múltiplas realidades no país. E, em alguns pontos, de fato, essas realidades ainda nos remetem a um atraso cultural, histórico, social e econômico.

Poderíamos analisar sob a exegese da condição econômica presente nos grandes

centros urbanos em suas periferias, nos campos e fazendas e mesmo nas regiões fronteiriças

em que há o diferencial fronteiriço 10.

Flavia Piovesan (apud MELO, 2009, p.01) nos ensina que: “morrer sob tortura é tão

grave quanto morrer de fome”.

Esse tipo de trabalho expõe a criança a inúmeros riscos, onde lhe é imposta uma

condição moralmente degradante, iniciando a trabalhar muito cedo, assumindo

responsabilidades muito precoces, enquanto, na verdade, deveriam estar nas escolas,

aprimorando seus conhecimentos, exercendo seu direito de ser criança e aproveitando sua

infância por meio das brincadeiras, aprendizados e até mesmo dos sonhos e fantasias tão

inerentes a elas.

O trabalho infantil não encontra amparo legal na Constituição Federal/88 que nos

ensina:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL, 2012) (Grifo Nosso).

A legislação brasileira impõe a todos uma idade mínima de 16 anos para o ingresso no

mercado de trabalho, no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal/88:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (BRASIL, 2012).

Há também um sistema de garantia e de direitos garantidos no Estatuto da Criança e

Adolescente, Lei nº 8069 /90, previstos a partir do artigo 60 até o art.69. Esse assunto também 10 Oliveira, Giovanni França. Costa, Gustavo Villela. Redes Ilegais e Tráfico de Drogas. Disponível em: < http://seer.ufrgs.br/bgg/article/viewFile/37323/24104 >. Acesso em: 20 agos. 2012

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encontra amparo na Consolidação das Leis do Trabalho- CLT, no título III, capítulo IV, que

fala da Proteção do Trabalho do Menor, alterado pela lei nº 10097/00.

Art. 402. Considera-se menor para os efeitos desta Consolidação o trabalhador de quatorze até dezoito anos. (Alterado pela L-010.097-2000) Parágrafo único. O trabalho do menor reger-se-á pelas disposições do presente Capítulo exceto no serviço em oficinas em que trabalhem exclusivamente pessoas da família do menor e esteja este sob a direção do pai, mãe ou tutor, observado, entretanto, o disposto nos arts. 404; 405 e na Seção II. (BRASIL, 2012)

No que tange ainda aos direitos concernentes à criança há também as Convenções nº

138, institui que crianças com idade inferior a 14 anos não podem trabalhar e Convenção

nº182, traz à baila sobre as piores formas de trabalho infantil, ambas da Organização

Internacional do Trabalho.

O Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao

Adolescente Trabalhador (2011-2015) também dispõe sobre o tema:

(...) é fruto do empenho da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil (CONAETI), um organismo quadripartido composto por representantes do poder público, dos empregadores, dos trabalhadores, da sociedade civil organizada e de organismos internacionais, sob a coordenação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com finalidades específicas tais como a elaboração de um Plano Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, a verificação da conformidade das Convenções 138 e 182 da OIT com os diplomas legais vigentes, elaborando propostas de regulamentação e adequação e proposição mecanismos de monitoramento da aplicação da Convenção 182. O Plano constitui-se num instrumento fundamental na busca pelas metas de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2015 e de erradicar a totalidade do trabalho infantil até 2020, assumidas pelo Brasil e pelos demais países signatários do documento “Trabalho Decente nas Américas: Uma agenda Hemisférica, 2006-2015”, apresentado na XVI Reunião Regional Americana da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ocorrida em 2006.

Para o Plano Nacional de Prevenção (2011-2015), o conceito de Trabalho Infantil,

refere-se

(...) às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, ressalvada a condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos, independentemente da sua condição ocupacional. Para efeitos de proteção ao adolescente trabalhador, será considerado todo trabalho desempenhado por pessoa com idade entre 16 e 18 anos e, na condição de aprendiz, de 14 a 18 anos, conforme definido pela Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998.

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Apesar da relevância do tema, segundo dados da OIT ainda existem muitas barreiras,

devido às inadequações e limitações de mecanismos existentes para assegurar o cumprimento

dessas legislações, de acordo com o quadro a seguir podemos verificar tal fato.

América Latina e Caribe - Menção ao trabalho infantil doméstico nas listas de trabalhos perigosos

País Lista de trabalhos perigosos Trabalho infantil doméstico Referência direta

Trabalho infantil doméstico Referência indireta

Bolívia Elaborada mas não promulgada

Nesta lista, se determinou que o trabalho doméstico daqueles que moram no domicílio é trabalho perigoso por sua natureza; para aqueles/as que não no domicílio, é considerado trabalho perigoso por sua condição

Brasil Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil.

Decreto Nº 6.481, 12/06/2008

Entre as atividades proibidas se encontra o trabalho doméstico, porque os jovens que trabalham nestas atividades estão sujeitos, por exemplo, a esforços físicos intensos; isolamento; abuso físico, psicológico e sexual; longas jornadas de trabalho; trabalho noturno; calor; exposição ao fogo, posições antiergonômicas e movimentos repetitivos, podendo comprometer seu processo de formação social e psicológico.

Paraguai Decreto Nº 4951 pelo qual se regulamenta a

Lei 1657/2001 e se aprova a lista de trabalho

infantil perigoso, 22/03/2005.

Considera trabalho infantil perigoso o trabalho infantil doméstico e o criadazgo. Estabelece que se poderá autorizar trabalho doméstico a partir de 16 anos, sempre que estejam plenamente garantidas a educação, saúde, segurança e a moralidade dos/as adolescentes, e que estes/as tenham recebido instrução ou formação profissional adequada e específica no ramo de atividade correspondente.

Fonte: OIT, 2011. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/gender/pub/notas_oit_3_559_733.pdf>.

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Fonte IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de trabalho e rendimento, Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios, 2006.11

Fonte: Instituo Brasileiro de Pesquisas e Estatísticas- IBGE/2010. Tabela 2.24.6.1 - Pessoas de 10 anos ou mais de idade, por grupos de idade, condição de atividade e de ocupação na semana de referencia, segundo os municípios. Mato Grosso do Sul-2010.

11 Dados extraídos do Gráfico 10-número médio de horas habitualmente dedicadas por semana aos afazeres domésticos das pessoas de 5 anos ou mais de idade, que exerciam afazeres domésticos na semana de referência, por grupos de idade, segundo o sexo. Brasil-2006.IBGE

0

5

10

15

20

25

30

5 a 13 anos 14 ou 15

anos

16 ou 17

anos

5 a 17 anos 18 anos ou

mais

Crianças desepenhando afazeres domésticos

Total

Homens2

Mulheres2

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

450000

500000

Campo Grande Corumbá Ponta Porã

Crianças com mais de 10 anos no Trabalho Infantil no estado do MS

2059722,918

ocupadas

desocupadas

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Segundo a OIT, em seu Programa Internacional para La Erradicación del Trabajo

Infantil:

Cerca de 10 millones de niñas, niños y adolescentes en todo el mundo, muchos de ellos con apenas 10 años o incluso menos, trabajan "ocultos" en las viviendas de sus empleadores sin que sus actividades puedan, en la mayoría de los casos, ser controladas. El trabajo infantil doméstico abarca a todos las niñas y niños que trabajan en el servicio doméstico que no han cumplido la edad mínima legal de admisión al empleo y a los que superan esa edad pero que son menores de 18 años y trabajan en condiciones peligrosas o de explotación. La explotación es económica cuando la niña o niño debe trabajar durante horarios prolongados sin disponer de tiempo libre y recibe un salario bajo o ninguna remuneración. A los trabajadores infantiles domésticos se los explota porque normalmente carecen de protección social y jurídica y se los somete a duras condiciones de trabajo y a realizar tareas peligrosas como la manipulación de sustancias tóxicas. A estas personas menores de edad se les niegan los derechos que, como niñas y niños, les concede el derecho internacional, a estudiar, a jugar, a la salud y a estar a salvo del abuso y el acoso sexual; a visitar a su familia o ser visitados por ella, a reunirse con amigos, a un alojamiento digno y a la protección contra el maltrato físico y mental (OIT, 2012).

Aliado aos problemas financeiros, relativo principalmente ao desemprego de seus país,

a pobreza, a total desinformação quanto aos males e transtornos causados nessas crianças, são

fatores preponderantes para que as mesmas adentrem e permaneçam nesse modo de vida, tão

destruidor e maléfico para elas. Uma profissão desempenhada majoritariamente por meninas,

que continuam sob o manto do silêncio e da invisibilidade.

Ressalta-se que dentro do nosso ordenamento brasileiro há vedações quanto ao

trabalho que é permitido aos adolescentes: trabalho noturno, realizado entre as 22 horas e 5

horas (Constituição Federal/88, art. 7°, inc. XXIII e art 404 da CLT), trabalho perigoso,

insalubre ou penoso (Recomendação nº 190 que complementa a Convenção nº 182 da OIT,

art. 405, I da CLT e art. 67 da lei nº 8069/90, conjuntamente com a Convenção nº 138 da

OIT) e aquele realizado em locais prejudiciais ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e

social do adolescente, bem como a sua formação (Declaração Universal dos Direitos da

Criança, art. 2), realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola.

Tanto no âmbito internacional como no nacional, existem medidas protetivas do

trabalho do menor, que visam proibir determinadas formas de trabalhos que desencadeiam

deveres e responsabilidades no que tange a esse menor, ressaltando a importância do trabalho

aprendiz, desde que em conformidade com os preceitos legais.

Não obstante existirem dentro do nosso ordenamento jurídico leis que protegem as

crianças e os adolescentes, ainda existem inúmeras e crescentes violações a esses direitos,

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decorrentes do abandono dessas crianças e adolescentes, assim como dos abusos, maus tratos

e exploração infantil no ambiente de trabalho.

Assim, dentro dessa estrutura jurídica, destacamos a importância e a compreensão de

que as crianças e os adolescentes devam ter resguardados e protegidos seus direitos em todas

as suas formas.

2.4. A HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL E A EVOLUÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS

Ao iniciarmos o estudo relativo à história do direito do trabalho, encontramos um

grande obstáculo, pois a grande maioria dos doutrinadores aceita somente a concepção do

direito do trabalho após a Revolução Industrial mundial.

Pistori (2007, p.19) diz que o início da História do Direito do Trabalho por diversos

autores,

(...) vê-se uma delimitação de sua formação a partir do período industrial, principalmente com relação ao século XIX. Assim, o período anterior à chamada Revolução Industrial não é visto como parte da história do justrabalhismo, mas como sua pré-história ou proto- história, pois se afirma, entre vários argumentos que a relação de trabalho até o momento industrial, não e uma relação de emprego, não há o assalariamento, não ocorre um trabalho como conjunto humano fixo e determinado espaço físico [...]

Nesse entendimento, Sussekind (2010, p.13) diz que o direito do trabalho:

(...) é um produto da reação verificada no século XIX contra a exploração dos assalariados por empresários. Estes se tornaram mais poderosos com o aumento da produção fabril, resultante da utilização dos teares mecânicos e da máquina a vapor e com a conquista de novos mercados, facilitada pela melhoria dos meios de transporte (Revolução Industrial); aqueles se enfraqueceram na razão inversa da expansão de empresas, sobretudo porque o Estado impunha aos empregadores a observância de condições mínimas de trabalho e ainda proibia a associação dos operários para defesa dos interesses comuns.

Delgado (2002, p. 81) enfatiza que o sistema capitalista é o cerne para a caracterização

do Direito do Trabalho como ciência e, portanto diz que:

[...] apenas no período da Revolução Industrial é que esse trabalhador seria reconectado, de modo permanente, ao sistema produtivo, através de uma relação inovadora hábil a combinar liberdade (ou melhor, a separação em face dos meios de produção e seu titular) e subordinação. Trabalhador separado dos meios de produção (portanto juridicamente livre), mas subordinado no âmbito da relação empregatícia ao proprietário (ou possuidor, a qualquer título) desses mesmos meios produtivos- eis a nova equação jurídica do sistema produtivo dos últimos dois séculos.

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Nascimento (2010, p.31) ao abordar o tema histórico do direito do Trabalho menciona

as lições de Miguel Reale dizendo que:

(...) o direito é dinâmico. Não é um fenômeno estático, sendo que na formação da norma jurídica encontram-se presentes fatos, valores atuando uns sobre os outros pondo-se a norma jurídica como síntese integrante que se expressa como resultado dessa tensão. A formação do direito do trabalho não se afasta dessa regra. Ao contrário, confirma. O direito do trabalho surgiu como consequencia da questão social que foi precedida pela Revolução Industrial do sec. XVIII e da reação humanista que se propôs a garantir ou preservar a dignidade do ser humano ocupado no trabalho com as indústrias que, com o desenvolvimento da ciência deram nova fisionomia ao processo de produção de bens na Europa e em outros continentes. A necessidade de dotar a ordem jurídica de uma disciplina para reger as relações individuais e coletivas de trabalho cresceu no envolvimento das “coisas novas” e das idéias novas.

Na visão de Garcia (2011, p. 38) a revolução industrial, iniciada no século XVIII, foi a

principal razão econômica que:

(...) acarretou o surgimento do Direito do Trabalho com a descoberta da máquina a vapor como fonte de energia, substituindo a força humana. A necessidade de pessoas para operar as máquinas a vapor e têxteis impôs a substituição do trabalho escravo, servil e corporativo pelo trabalho assalariado.

É bem verdade que as condições de trabalho eram ruins nessa época, pois os

trabalhadores assalariados laboravam de forma excessiva, com jornadas árduas e havia

exploração do trabalho das mulheres e das crianças. O Estado começa a intervir nas relações

de trabalho entre empregado e empregador, estabelecendo diretrizes, impondo limitações a

ambos, com elaborações de legislações que proibiam o abuso do empregador. Isso foi

conquista dos trabalhadores: greves, paralisações, assim a máquina estatal sempre esteve à

disposição da classe dominante.

A Revolução Industrial acarretou mudanças no setor produtivo e deu origem à classe

operária transformando as relações sociais (BARROS, 2011, p.51).

Saegusa (2008, p. 15) narra acerca da situação dos trabalhadores, no início da

Revolução Industrial, como um período de exploração e desproteção.

No período antecedente ao ano de 1888 não existiu relação de emprego, tendo em

vista que as existentes eram tão desprezíveis e desumanas que não contemplaram os meios

necessários e ensejadores do ramo justrabalhista, para sua aplicação.

Assim as lutas dos trabalhadores hipossuficiente por melhores condições de trabalho

são de longa data, pois desde o século XIX que trabalhadores lutam pela isonomia, tratamento

digno, leis protetivas e mais justas, pelo respeito e por condições humanas no ambiente de

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trabalho. Temos que olhar essa parte da história do direito do trabalho com “um olhar de

questionamentos e indagações, não podendo dessa feita analisar essa história de modo

isolado, utilizando-se somente do período pós Revolução Industrial” (Pistori, 2007, p. 125).

Porém, a maioria dos estudiosos e doutrinadores dispõe de dois modos; narrando a

partir da ordem cronológica dos acontecimentos e outros a dividem pelos fatos marcantes, que

tiveram grande relevância na história.

Nascimento (2010, p.32) o faz da seguinte forma:

De acordo com a ordem cronológica: -1800 a 1917 (período inicial); -1917 a 1927(período de constitucionalização); -1927 a 1945 (período pós-corporativista); -1945 a 1970 (período pós-corporativista) -1970 aos nossos dias (período de flexibilização). Fatos marcantes: Revolução Industrial (sec.XVIII e a questão social); pensamento liberal; intervencionismo do Estado; as primeiras leis; a construção dogmática; a concepção heterotutelar do trabalhador, a concepção econômica da flexibilização; as transformações no mundo do trabalho, o direito do trabalho pós-moderno ou contemporâneo.

Todavia, devemos fazer uma diferenciação no que tange à história do trabalho e à

história do direito do trabalho (NASCIMENTO, 2010).

Assim, a história do trabalho deve ser analisada e estudada sob o prisma da

infraestrutura social e a forma que se desenvolveu o sistema de produção de bens e a

prestação de serviços, enquanto que a história do direito do trabalho deve ser analisada sob a

exegese dos instrumentos normativos e suas finalidades, bem como o modo de aplicabilidade

em cada época, suas causas que ensejaram o seu início (NASCIMENTO, 2010).

No que tange aos instrumentos que desencadearam o início da história do direito do

trabalho no Brasil, poderíamos assim defini-los como;

Fatores intrínsecos:- movimento operário, que surgiram muitas greves no final de 1800 e início de 1900, o surto industrial, criando muitas fábricas e com isso surgindo muitos operários (cerca de 12.000 fábricas e 300.000 operários), por fim a política trabalhista de Getulio Vargas. Fatores extrínsecos: - influencias de outros países surgindo dessa forma a elaboração de leis trabalhistas no Brasil, devido às fortes pressões ocorridas na Europa e à edição de instrumentos de proteção ao trabalhador. Por fim, o Tratado de Versalles de 1919, que firmou o compromisso do Brasil de ingressar na Organização Internacional do Trabalho (NASCIMENTO, 2011).

Alguns fatores também contribuíram para o desenvolvimento da nossa legislação

trabalhista, desde a abolição da escravatura e a promulgação da república em 1889, período

esse liberal para o direito do trabalho, formando leis que tivessem o condão de proteger o

trabalhador subordinado. Insta ressaltar que o Estado se mantinha omisso e ausente, alheio a

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qualquer reivindicação ou exigência, daí o porquê das inúmeras greves e dos movimentos

políticos.

A evolução das leis trabalhistas representou um avanço para a história do direito do

trabalho, como demonstramos a seguir, baseando-se na cronologia de Amaury Mascaro

Nascimento (de 1891 até 1972).

Ano Decreto Disposição Legal 1891 Dec. 1.313 Fiscalizava o trabalho de menores nas

instituições fabris. Proibição do trabalho noturno a menores de 15 anos, limitação da jornada de 07 horas, prorrogáveis ate 09 horas, vedação do trabalho de menores de 12 anos.

1904 Dec. 1.150 Instituía a caderneta de poupança. Concedia privilégios ao pagamento de dívidas, oriundas do salário dos trabalhadores rurais.

1916 Lei 3.071 Código Civil, com correções elencadas pela Lei 3725/19, tratando do dispositivo legal dos contratos de locação de serviços (atual Contrato de Trabalho)

1923 Lei 4.682 Denominada de Lei Elói Chaves, instituía a caixa de aposentadoria e as pensões aos ferroviários, estabelecia, ainda, estabilidade decenal aos trabalhadores, salvo falta grave ou força maior. Permitia a rescisão contratual, mediante inquérito para apuração de falta grave.

1923 Dec. 16.027 Cria o Conselho Nacional do Trabalho, órgão constitutivo dos poderes públicos, no que se refere à organização da justiça do trabalho.

1925 Dec. 4982 Cria o instituto das férias, com duração de 15 dias. Ressalta-se que foi um dos seis países do mundo a tratar sobre o tema. Esse benefício se estendia aos: empregados e operários de estabelecimento comercial, indústrias, bancários, instituições de caridade e beneficência do DF e dos demais Estados.

1927 Dec. 17.934 Código de menores institui medidas de assistência e proteção aos menores de 18 anos, de modo geral. Vedava o trabalho de menores de 12 anos, menores de 14 anos que não estivessem completados a instrução primária, proibição de menores de 14 anos em atividades perigosas à saúde, à vida, à moralidade...

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1930 Dec. 19.433 Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e comércio.

1930 1931

Dec. 19.482 Dec. 19.740

Lei dos Dois Terços valoriza o trabalho com medidas de proteção ao trabalhador em âmbito nacional.

1931 Dec. 20.251 Regulamenta o serviço dos estivas. 1932 Dec. 21.175 Criação da Carteira Profissional - CP 1932 Dec. 21.186 Duração da Jornada de trabalho no

comércio. 1932 Dec. 21.364 Duração da Jornada de trabalho na

indústria. 1932 Dec. 21.417 A Regulamentou o trabalho das mulheres nos

estabelecimentos industriais e comerciais. 1932 Dec. 22.042 Disciplina acerca do trabalho exercido

pelos menores. 1932 Dec. 23.084 Duração da Jornada de trabalho nas

farmácias. 1933 Dec. 23.152 Duração da Jornada de trabalho nas casas

de diversões. 1933 Dec. 23.316 Duração da Jornada de trabalho nas casas

de penhores. 1933 Dec. 23.322 Duração da Jornada de trabalho nos

Bancos e casas bancárias. 1934 Dec. 23.766 Duração da Jornada de trabalho nos

transportes terrestres. 1934 Dec. 24.696 Duração da Jornada de trabalho nos

hotéis. 1935 Lei. 62 Foi o 1º diploma legal aplicável aos

industriários e comerciários garantindo-lhes diversos direitos, dentre eles: indenização de dispensa sem justa causa; contagem de tempo de serviço na sucessão de empresas ou alteração na estrutura jurídica; privilégio dos créditos trabalhistas na falência; enumeração das figuras por justa causa; efeito de força maior os créditos trabalhistas.....

1936 Lei n. 14 Estabelece o salário mínimo, sendo publicada a primeira tabela em 1940.

1943 Dec. 5452 Edição de leis reunidas num diploma legal, versando sobre o direito individual, direito coletivo, direito processual do trabalho, denominado de Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.

1949 Lei n. 605 Dispunha sobre o DSR- Descanso Semanal Remunerado e feriados.

1952 Dec. 31.546 Aplicabilidade ao menor aprendiz.

1955 Lei n. 2.573 Regula o adicional de periculosidade.

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1956 Lei n. 2.959 Dispõe sobre o contrato por obra certa.

1957 Lei n. 3.207 Disciplina as relações de emprego do vendedor viajante e o pracista.

1962 Lei n. 4.090 Décimo terceiro salário - 13º.

1963 Lei n. 4.212 Refere-se ao Trabalhador rural.

1963 Lei n. 4.266 Dispõe acerca do Salário Família.

1964 Lei n. 4.330 Disciplinou sobre o direito de greve

1966 Lei n. 5.107 Institui o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço- FGTS

1970 Lei n. 5.584 Previa a homologação do recibo de quitação nas rescisões contratuais do empregado com mais de um ano de salário.

1972 Lei n. 5.859 Dispõe sobre a profissão do empregado doméstico.

Fonte: Nascimento, Amaury Mascaro. História do Trabalho, do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho.3ª ed. São Paulo: LTR, 2011. pag. 142-149.

Por fim, ressaltamos a importância da Constituição Federal de 1988, a qual

representou dentro do ordenamento jurídico um grande avanço democrático do país,

denominado de “constitucionalismo contemporâneo, haja vista ter o objetivo de sedimentar os

textos num importante conteúdo social, constituindo normas programáticas que nada mais são

que metas a serem cumpridas pelo Estado”, programas de governo (LENZA, 2007).

A justiça do Trabalho surge do desmembramento de uma parcela do Direito Civil

relativo aos contratos de locação e como corolário da independência da nova norma jurídica

(NASCIMENTO, 2011, P. 161).

Justificamos que antes da criação da justiça do trabalho competia à Justiça Comum

dirimir, apreciar e julgar as lides e as controvérsias relativas aos contratos de locação, regidos

pelas leis civis e comerciais.

Delgado (2002, p. 38) entende que a promulgação da Constituição Federal da

República/88 é a terceira fase da evolução do Direito do Trabalho no Brasil: “uma fase de

superação democrática das linhas centrais do antigo modelo autoritário-corporativo de

décadas atrás”.

A Constituição de 88 se distingue das outras, por romper com os antigos padrões e

preservar institutos do modelo justrabalhista.

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Tal Constituição trouxe mudanças de grande relevância para o direito do trabalho,

dentre elas: - aumento de 1/3 da remuneração das férias; - a licença gestante foi ampliada para

120 dias; - institui a licença paternidade de 05 dias; - a redução da jornada de trabalho

semanal de 48 horas para 44 horas, a generalização do regime do fundo de garantia; -

supressão da estabilidade decenal – elevação do adicional de horas extras para o mínimo de

50 %, dentre outras medidas.

Nesse sentido, faz-se necessário entender a história do direito do trabalho, para assim

percebermos dentro de um contexto histórico –político- econômico e social as diversas facetas

que permitiram ao longo dela, a evolução dos instrumentos reguladores das relações de

emprego.

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3. A OIT E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS TRABALHADORES

DOMÉSTICOS

Procuramos neste capítulo trazer um breve histórico da Organização Internacional do

Trabalho- OIT, assim como a sua grande importância para os trabalhadores, em especial para

os trabalhadores domésticos. Trataremos também das Convenções Fundamentais da OIT, que

versam sobre temas como eliminação do trabalho forçado, abolição do trabalho infantil,

eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação, liberdade sindical,

negociação coletiva.

Por fim, debateremos sobre a recente Convenção nº189, o trabalho decente e ainda a

respeito dos direitos inerentes aos trabalhadores domésticos i-migrantes nos instrumentos

jurídicos internacionais.

A Organização Internacional do Trabalho - OIT foi criada em meados de 1919, após a

Primeira Guerra Mundial, pela Conferencia da Paz, que decorreu o Tratado de Versalhes. No

preâmbulo do presente tratado em seu artigo 387, havia a previsão legal de unir-se à

organização permanente encarregada de trabalhar pela realização do programa, vinculando os

membros da Liga das Nações (atual ONU) aos membros fundadores da organização.

Este Tratado para o Direito do Trabalho foi muito importante, pois por meio dele que

surgiu a elaboração do projeto para a Organização Internacional do Trabalho – a OIT.

(DONZELE, 2004).

Alvarenga (2007, p. 02) nos ensina que:

A criação da OIT baseou-se em argumentos humanitários e políticos, que fundamentaram a formação da justiça social no âmbito internacional do trabalho. O argumento humanitário baseou-se nas condições injustas e deploráveis das circunstâncias de trabalho e vida dos trabalhadores durante a Revolução Industrial, que se deu em virtude das mudanças no sistema de produção durante o século XVIII, na Inglaterra. A burguesia industrial, em busca de maiores lucros e menores custos, buscou acelerar a produção de mercadorias por intermédio da exploração do trabalhador, numa fase histórica em que a Revolução Industrial propiciava o fortalecimento da empresa. Inúmeros empregadores, valendo-se da plena liberdade contratual e do Estado Liberal, impuseram aos trabalhadores a aceitação das mais vis condições de trabalho. Dessa maneira, os problemas sociais gerados por aquela revolução (miséria, desemprego, salários irrisórios com longas jornadas, grandes invenções tecnológicas da época, inexistência de leis trabalhistas) contribuíram para consolidar o capitalismo como modo de produção dominante.

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É bem verdade que, no início das relações de emprego, inexistia regulamentação sobre

o trabalho, assim quando o salário foi atribuído nas relações de emprego, fez surgir os direitos

sociais, onde a classe de proletariado lutava por melhores condições de trabalho e de vida,

acarretando, assim, as regras da justiça presentes nas relações de trabalho, inerentes aos

trabalhadores.

Nesse limiar, em que há a eclosão de reivindicações, luta por parte da classe operária

almejando melhores condições de trabalho e de sobrevivência, o Estado se vê obrigado a

interferir, a fim de promover um regulamento que assegure direitos e proteção aos indivíduos,

até então inexistente nessas relações, proteção esta arraigada no Direito do Trabalho. A luta

deles subsidiou o início do direito social ao trabalho, que é analisado como sendo um dos

pilares dos direitos fundamentais da segunda geração.

Assim surge a OIT no plano político, como o mais importante organismo internacional

responsável em assegurar bases sólidas para a paz mundial e obter melhores condições

humanas para a classe trabalhadora (ALVARENGA, 2007, p. 03).

A OIT contém um papel relevante, pois desde sua criação está fundamentada na paz

universal e permanente, sendo alicerçada na justiça social, procurando promover uma vida

melhor para todos, conforme inserido na Constituição da OIT.

Creada por el Tratado de Versalles en 1919, al mismo tiempo que la Sociedad de Naciones, la OIT consiguió, no sólo atravesar el período de la II Guerra Mundial manteniendo sus principios, métodos y objetivos intactos, sino que además los mismos se vieron reafirmados y reforzados. A través de la guerra y de la paz, de la depresión y del boom económico, de la descolonización y de la globalización, la OIT ha reunido siempre a los actores del mundo del trabajo para forjar las soluciones a algunos de los problemas más acuciantes de nuestros tiempos y ha sabido aportar ideas, opciones e instrumentos de política, siempre con el objetivo de la justicia social (OIT, 2012).

É uma agência das Nações Unidas com estrutura tripartite, sendo compostas de

representantes de governos de todos os países membros, organizações de empregadores e

empregados, com preocupações políticas, humanitárias e econômicas, que participam em

situação de igualdade, cuja finalidade é a “promoção do trabalho decente e produtivo, para

mulheres e homens em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana” 12.

Hussek ( 2002, p.184) preconiza que corresponde a um compromisso de representação dos

12 OIT, 2012. Disponível em:< http://www.oit.org.br/content/apresenta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 01 set. 2012

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Estados, dos indivíduos e dos grupos” e, por isso, torna a OIT a organização “mais

democrática que qualquer outra”.

A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do

trabalho (convenções e recomendações). As convenções, uma vez ratificadas por decisão

soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil está entre os

membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho desde sua

primeira reunião13.

As recomendações da OIT compõem-se de instrumentos facultativos, que abordam a

respeito dos mesmos temas que as Convenções, e apresentam apenas orientações para a

política e as ações nacionais.

As convenções internacionais são consideradas fontes normativas heterônomas do

direito, desde que seja realizada a ratificação pelo estado membro da OIT, ao passo que a

recomendação é considerada fonte jurídica material. (DELGADO, M, 2006, p. 155).

Segundo Süssekind (1987, p. 133) o objetivo da OIT não se restringe a melhorar as

condições de trabalho, mas a melhorar a condição humana no seu conjunto.

Para Donzele (2004) a Organização Internacional do Trabalho consiste em:

(...) uma organização internacional criada para amenizar as diversas espécies de problemas ligados à injustiça social, na tentativa de extingui-los ou pelo menos amenizá-los. É importante relembrar que o objetivo da OIT não se restringe a melhorar as condições de trabalho, mas a melhorar a condição humana no seu conjunto, daí a importância maior desta Organização. Devido ao fato de as normas da OIT possuírem as características de universalidade e flexibilidade, alcançam as mesmas aplicação e validade em escala mundial, baseadas em situações mais realistas, uma vez que no processo de elaboração das mesmas participam os homens ao lado dos Estados.

No que diz respeito ao Brasil, a OIT está presente desde a década de 1950, com

programas e atividades que refletem os objetivos da Organização ao longo de sua história.

Além da promoção permanente das Normas Internacionais do Trabalho, do emprego, da melhoria das condições de trabalho e da ampliação da proteção social, a atuação da OIT no Brasil tem se caracterizado, no período recente, pelo apoio ao esforço nacional de promoção do trabalho decente em áreas tão importantes como o combate ao trabalho forçado, ao trabalho infantil e ao tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e comercial, à promoção da igualdade de oportunidades e tratamento de gênero e raça no trabalho e à promoção de trabalho decente para os jovens, entre outras (OIT, 2012b).

13Dados obtidos da Organização Internacional do Trabalho- OIT. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/hist%C3%B3ria. Acesso em: 02 set. 2012.

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No Paraguai há somente oficinas de projetos da OIT, localizada em Assunção,

integrando a Oficina da OIT do Cono Sur da América Latina, tendo sua sede em Santiago do

Chile, encarregada de dar apoio técnico e cobrir as atividades no Chile, Paraguai e Uruguai.

A Bolívia tem uma oficina na cidade de Santa Cruz, bem como em La Paz, todavia a

sede da OIT está em Lima no Peru, integrando a OIT dos Países Andinos, que são: Colômbia,

Equador, Peru, Venezuela e a Bolívia, tendo como missão de proporcionar ajuda técnica aos

seus constituintes (governos, empregadores e trabalhadores) com consultorias para o

desenvolvimento de políticas e programas.

Também colabora com outras instituições, agências de desenvolvimento, ONGs e outras organizações que trabalham sobre o trabalho ou social. As áreas específicas de cooperação que não são cobertos por especialistas da OA14 são atendidos por especialistas da sede da OIT em Genebra15. (OIT, 2012)

As oficinas da OIT da Bolívia e do Paraguai diferem da do Brasil por não terem em

seu país uma sede como a do nosso, todavia nesses países existem oficinas de projetos,

procurando dar todo o suporte básico e necessário para o desempenho dos respectivos projetos

e ações.

Vejamos a seguir no mapa a oficina dos países Andinos, no qual a Bolivia é

integrante. La Oficina los Paises Andinos

Fonte: OIT, 2012. Disponível em: http://www.oitandina.org.pe/?page_id=6. 14

OA é a oficina Andina da OIT. 15

Texto traduzido pela autora.

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A Criação da OIT foi a primeira iniciativa marcante na área internacional referente aos

direitos humanos e trabalhistas.

Lafer (apud LOPES, 2011, P. 224) nos mostra que:

A fundação da OIT deveu-se em boa medida à necessidade de dar-se uma resposta à inquietação operária e ao desafio da Revolução Bolchevista, bem como de evitar que discrepâncias muito grandes entre os custos da mão-de-obra trouxessem prejuízos ao comércio exterior dos países onde os direitos sociais já haviam conhecido importantes avanços.

Essa citação mostra que a OIT surge em 1919, dois anos após a revolução russa. Foi

um recurso do mundo capitalista temeroso com a possibilidade de a revolução se espalhar

mundo afora.

Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho é a:

(...) via fundamental para a superação da pobreza e da exclusão social. E não qualquer trabalho, mas sim um Trabalho Decente, entendido como uma ocupação produtiva adequadamente remunerada, exercida em condições de liberdade, equidade, segurança e que seja capaz de garantir uma vida digna. Nos últimos anos, tem se fortalecido a compreensão de que a pobreza e a exclusão social possuem diferentes dimensões e que se tornam mais dramáticas quando considerados os padrões de desigualdade presentes em cada sociedade. Ao mesmo tempo, aumenta o reconhecimento de que as condições e causas da pobreza são diferentes para mulheres e homens, negros e brancos e que as dimensões de gênero e raça são fatores que determinam, em grande parte, as possibilidades de acesso ao emprego, assim como as condições em que ele é exercido (OIT, 2012)

Os órgãos que compõem a OIT são: a Conferência Internacional do Trabalho (onde

todos os membros são representados), o Conselho de Administração (seu órgão executivo) e o

Bureau Internacional (seu secretariado) a saber, é o escritório central da OIT, o qual atua sob

a direção de um conselho da administração.

A Conferência Internacional do Trabalho é o órgão soberano da OIT, tendo como

competência a elaboração de Convenções e Recomendações, planeja as regras gerais

obstantes à politica social adotadas pela OIT, assim como fiscaliza e delibera os Estados

Membros no devido cumprimento das normas internacionais do trabalho ratificadas por esses

países. Cumpre ressaltarar que a Conferência Internacional do Trabalho é integrada por quatro

representantes de cada um dos estados membros: dois delegados do governo, um delegado

representante do povo e o outro do empregador.

A direção da OIT é feita pelo Conselho de administração, tendo como prerrogativa a

elaboração e o controle na execução das políticas e programas da organização. Esse conselho

organiza as diretrizes para a adoção pela conferência de uma convenção ou recoendação,

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consultando previamente os membros interessados. Trata-se, portanto, de um estudo

preliminar através de uma conferência técnica, precedida de um aprofundamento técnico.

O Conselho é composto de 56 pessoas, sendo: 28 representantes dos governos (10

nomeados pelos Estados Membros com maior importância industrial e 18 serão designados

pelos delegados governantes), 14 representantes dos empregados e 14 representam os

empregadores. Dessa forma, os representantes dos empregados e os dos empregadores serão,

respectivamente, eleitos pelos delegados dos trabalhadores à conferência, bem como pelos

delegados dos empregadores.

A repartição internacional do Trabalho ou Bureau Internacional institui seu

secretariado técnico-administrativo, constituído por setores e departamentos voltados para a

realização dos objetivos da OIT, sendo dirigida por um diretor-geral, designado pelo conselho

de administração, responsável pelo funcionamento da repartição e pela realização de

todos os trabalhos que lhe forem confiados.

Nesse sentido Alvarenga (2007, p. 05) diz que a repartição internacional do trabalho

terá por funções:

(...) centralizar e distribuir todas as informações referentes à regulamentação internacional da condição dos trabalhadores e do regime do trabalho; em particular, o estudo das questões que lhe compete submeter às discussões da conferência para concluir as convenções internacionais assim como realizar todos os inquéritos especiais prescritos pela conferência ou pelo conselho de administração.

Desse modo, a Organização Internacional do Trabalho incide em uma organização

internacional situada para abrandar e amenizar os inúmeros problemas existentes

correlacionados à injustiça social, na tentativa de extingui-los ou pelo menos amenizá-los.

Sussekind (1987, p. 124) afirma que:

A OIT, visa adotar uma política social de cooperação e de desenvolvimento social entre todos os sistemas jurídicos nacionais para a melhoria das condições de trabalho, mediante o implemento de normas protetivas sociais universais para os trabalhadores e o reconhecimento internacional dos Direitos Humanos do Trabalhador.

A norma da OIT possui características de universalidade e flexibilidade, alcançando as

mesmas aplicações e validade em escala mundial, onde em seus processos de elaboração de

referidas normas há uma equidade e isonomia, pois homens participam ao lado dos Estados,

abarcando em situações mais realistas.

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Ao imaginarmos que a OIT passou a existir somente para enfrentar os problemas

difíceis, degradantes e as constantes injustiças e negligência ocorridas na seara do direito do

trabalho, cometemos um grande equívoco, pois a própria Constituição/1919 da OIT,

preconiza que seus objetivos são: a justiça social, a paz universal e melhores condições de

trabalho, acarretando em melhores situações de vida também.

A preocupação da OIT ao tratar do tema trabalhador doméstico é antiga, assim como

em conceder melhores condições de trabalho, pois as primeiras resoluções sobre o assunto

datam de 1940. Para Lopes (2011) as normas internacionais da OIT vivem uma fase de

descrédito e desrespeito, nós não coadunamos do mesmo entendimento.

O Trabalho doméstico é o trabalhado realizado em sua grande parte por mulheres sem

nomes, chamadas de Maria, mulheres essas que abstém-se de cuidar de seus próprios filhos,

para cuidar de “filhos estranhos”, deixando seus lares e sua família para laborarem em outros

lares, propiciando, assim, tranquilidade, segurança e oportunidades para que seus

empregadores possam trabalhar. O que representam para seus empregadores e para a

sociedade ou até mesmo para o mercado de trabalho? Elas nada representam, são vistas como

uma mão invisível e silenciosa que em sua grande maioria não tem direitos, sofrem

desrespeitos em todas as esferas.

Delgado (2006, G, p. 207) acentua que:

Não há como se concretizar o direito à vida digna se o homem não for livre e tiver acesso ao direito fundamental ao trabalho também digno. Da mesma forma, não há possibilidade real do exercício do trabalho digno se não houver verdadeira preservação do direito fundamental à vida humana digna. Onde o direito ao trabalho não for minimamente assegurado (por exemplo, com o respeito à integridade física e moral do trabalhador, o direito à contraprestação pecuniária mínima), não haverá dignidade humana que sobreviva.

Por conseguinte, é pelo trabalho que o homem descobre o real sentido da vida, sua

evolução pessoal e moral, pois quando o homem não trabalha, não há que se falar em uma

vida com dignidade e saúde, não há respeito à sua dignidade humana, preceito esse presente

em um Estado Constitucional Democrático. Dessa forma, vivifica o princípio fundamental

internacional de que o trabalho não é uma mercadoria.

Ainda, no que tange ao trabalho doméstico, é realizado no âmbito residencial, um

ambiente privativo, de “portas fechadas”, tornando-se essa ocupação complexa de ser

fiscalizada, medida e averiguada pelos órgãos competentes.

Esse trabalho, tido por grande parte da sociedade como invisível, uma ocupação que

segundo estatísticas é difuso e difícil de ser mensurado, pois como aferir se as pessoas

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laboram por dia ou por mês, como prever se eles têm a seguridade social, pois muitos deles

são i-migrantes indocumentados, sendo meninas em idade tênue, trabalhando na

irregularidade.

O novo padrão internacional sobre trabalho doméstico, recentemente adotado pelos

183 países que fazem parte da OIT, é um evento sem precedentes, pela primeira vez dirigida

especificamente a um local de trabalho em que a informalidade prevalece, e com a

discriminação frequente , exploração e outros abusos.

Na América Latina existem mais de 14 milhões de mulheres envolvidas em trabalho

doméstico, em casas que não são suas, recebem salários baixos, jornadas longas e em muito

dos casos não gozam de proteção social.

Na América Latina, menos de um terço dos trabalhadores domésticos são registrados

nos sistemas de segurança social; o número de acesso à aposentadoria é ainda menor. Em

nossa região os trabalhadores ocupam uma das notas mais baixas na escala de pagamento, e

sua renda média é sempre menor do que os trabalhadores em geral, e também para outras

mulheres empregadas.

3.1 AS CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO

TRABALHO-OIT

Ao longo da história da OIT já foram aprovadas 189 Convenções. No entanto, há oito

convenções que são fundamentais; elas foram apregoadas na Declaração dos Princípios e

Direitos Fundamentais no Trabalho, sendo aprovadas em 1988.

Estas convenções abordam temas de relevância como: eliminação do trabalho forçado,

abolição do trabalho infantil, eliminação da discriminação em matéria de emprego e

ocupação, liberdade sindical, negociação coletiva.

São oito as convenções que são tidas como fundamentais, então vejamos.

A Convenção N. 29 de 1930 que versa sobre o Trabalho Forçado, foi ratificada pelo

Brasil em 25 de abril de 1957.

A definição para o trabalho forçado está descrita em seu art. 2º, I, da Convenção como

sendo todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual

não se tenha oferecido espontaneamente (OIT, 2012).

Em contrapartida há a Convenção N. 105, preconiza ao Estado que ratificar a

Convenção N. 29 tomará nota de supressão de trabalho forçado: como medida de coerção ou

de educação política ou como punição por ter ou expressar opiniões políticas ou pontos de

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vista ideologicamente opostos ao sistema político, social e econômico vigente; como método

de mobilização e utilização da mão-de-obra para fins de desenvolvimento econômico; como

meio de disciplina no trabalho; como meio de punição por haver participado em greves; como

medida de discriminação racial, social, nacional ou religiosa.

Em seguida a OIT tratou do segundo principio fundamental, a abolição do trabalho

infantil. O Brasil ratificou também as duas convenções que abordam o tema, a Convenção N.

138 (idade mínima para admissão) do ano de 1973, ratificada pelo Brasil em 28 de junho de

2001, como também a Convenção N.182 de 1999, ratificada em 02 de fevereiro de 2000.

A Convenção N. 182 dispõe das piores formas de trabalho infantil, a saber: todas as

formas de escravidão ou de práticas análogas à escravidão; utilização, recrutamento ou ofertas

de crianças para prostituição, produção ou atuações pornográficas; utilização, recrutamento ou

oferta de crianças para atividades ilícitas, em particular a produção e o tráfico de

entorpecentes; trabalho que, por sua natureza ou condições de execução, possa causar danos à

saúde, segurança ou moralidade das crianças.

A Liberdade Sindical tem uma grande importância como princípio fundamental,

através da Convenção N. 98 de 1949, que dispõe sobre o Direito de Sindicalização e a

Negociação Coletiva, que o Brasil ratificou em 18 de novembro de 1952, e que confirma a

posição do país frente à relevância do tema. Insta ressaltar que o Brasil não ratificou a

Convenção N. 87 de 1948. A referida Convenção concede liberdade aos empregados e

empregadores de se associarem livremente, sem a necessidade de autorização prévia ou

tampouco interferência estatal, podendo inclusive o sindicato ter autonomia para redigir seus

estatutos e regulamentos, eleger seus representantes, assim como formular programas de ação.

A Convenção N. 100 disciplina sobre a não discriminação no emprego ou profissão de

1957, sendo ratificada pelo Brasil em 25 de abril de 1957, dispondo inclusive sobre a

igualdade de remuneração entre homem e mulher.

Essa Convenção significou um grande avanço, principalmente para a mão de obra

feminina, determinando assim a não discriminação em função do sexo.

O trabalho realizado por mão de obra masculina tem o mesmo valor que o executado

por mão de obra feminina. Portanto, subsiste como inadmissíveis ações discriminatórias com

base no gênero, na raça ou a orientação sexual da pessoa ou ainda por determinadas condições

de saúde.

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A Consolidação das Leis do Trabalho em seu art. 373-A inovou ao tratar sobre a

proteção da mulher no mercado de trabalho e certas especificidades estabelecidas nos acordos

trabalhistas.

A Convenção N. 111 de 1958 que trata da discriminação em função do emprego e da

profissão, ratificada pelo Brasil em 15 de junho de 1960, que visa promover:

(...) a igualdade de oportunidades e de tratamento e formular uma política nacional que elimine toda e qualquer discriminação no emprego (formação profissional e condições de trabalho por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião pública, ascendência nacional e origem social) e que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão (ALVARENGA, 2007, p.17).

É importante trazer à baila, que nem todos os países ratificaram as convenções

fundamentais, no entanto a Declaração dos Princípios de 1998 declara que:

(...) todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as convenções aludidas, têm um compromisso derivado do fato de pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação (DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA OIT).

Nesse diapasão, as normas internacionais do Trabalho não podem ser avaliadas como

simples e mero instrumento, mas devem ser cumpridas pelos Estados Membros que a

ratificaram, a fim de que se promovam os direitos humanos de cada trabalhador.

Devemos falar dos direitos fundamentais, direitos esses inerentes a todo ser humano,

instituídos na Organização das Nações Unidas- ONU, na Declaração Universal dos Direitos

Humanos (1948) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais-

PIDESC (1966).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos elenca os direitos fundamentais, a

saber:

Art. 1º ao estabelecer que todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Em seu art.2º preconiza o direito à igualdade. No art 3º dispõe do direito à vida, à liberdade e à segurança nacional.

O acesso à justiça está presente também nos art. 8º e 10 da Declaração.

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Em seu art. 18 dispõe sobre o direito de liberdade de pensamento, consciência e

religião. O art 19 assegura a toda pessoa o direito à liberdade de opinião e expressão. Toda

pessoa tem o direito de participação política por meio do voto é o que preleciona o art. 21 da

Declaração Universal dos Direitos Humanos. O direito ao trabalho também se encontra

presente no art. 23, assim como uma remuneração justa e satisfatória (art. 23, III). A proteção

social das crianças tem previsão no art. 25. Toda pessoa tem direito à instrução (educação) art.

26, assim como a cultura, presentes no art. 27da referida Declaração e no art. 15 do Pacto

Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais- PIDESC (1966).

O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais- PIDESC, adotado

pela Assembléia Geral da ONU em 1966:

(...) é o principal instrumento internacional de proteção dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Consolida uma série de direitos já declarados na Declaração Universal de Direitos Humanos e também, entre estes, o direito ao trabalho, à liberdade de associação sindical, à previdência social, à alimentação, à moradia, ao mais elevado nível de saúde física e mental, à educação, à participação na vida cultural e no progresso científico. Possui 146 signatários, incluindo o Brasil (que o ratificou em 1992). (BRASIL, 2012).

Os direitos dos trabalhadores são direitos humanos, acima de tudo, e a luta desses

trabalhadores, sejam homens, mulheres contribuem para a concepção e ampliação dos direitos

humanos. Desse modo, os direitos sociais, são fruto de organizações, da luta e do sofrimento

dos trabalhadores e hoje assim como os direitos civis e políticos, eles se universalizam.

Nesse diapasão, as normas internacionais do Trabalho não podem ser avaliadas como

simples e mero instrumentos, mas devem ser cumpridas pelos Estados Membros que a

ratificaram, a fim de que se promovam os direitos humanos de cada trabalhador.

3.2 CONVENÇÃO N. 189 DA OIT

A tutela do trabalho digno que está abarcada ao princípio constitucional da dignidade

da pessoa humana, recebeu a partir do século XXI um novo olhar, principalmente pela

atuação da Organização Internacional do Trabalho, tendo em vista a preocupação e a atuação

da organização na valorização do trabalho humano e da justiça social.

Nesse discurso, a Organização Internacional do Trabalho- OIT avançou ao aprovar a

Convenção N. 189, juntamente com a Recomendação 201. Na sua 100ª Conferência em

Genebra, na sede da OIT, realizada no dia 16 de junho de 2011, avalizou a todos os

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trabalhadores domésticos do mundo, a garantia de um trabalho digno, em equidade e

igualdade de direitos.

Os motivos ensejadores para a aprovação da Convenção N. 189 abarcam no sentido

que o trabalho doméstico “é um trabalho que continua subvalorizado e é executado por

mulheres e meninas, muitas das quais são migrantes e, portanto, vulneráveis à discriminação

em relação às condições de emprego e trabalho, bem como abusos de direitos humanos”

(ZAPATA, 2011, p.102).

Outro ponto de evidência na aprovação da Convenção, segundo Zapata (2011, p. 103),

(...) encontra-se no fato de que os países em desenvolvimento historicamente têm escassas oportunidades no mercado de trabalho formal, sendo que os trabalhadores domésticos constituem uma proporção significativa da força de trabalho nacional e permanecem entre os mais marginalizados.

Insta trazer à baila que essa convenção não está em vigência, nem na esfera

internacional nem tampouco na nacional, pois para que ocorra a sua aplicabilidade faz-se

necessária a ratificação de dois Estados-membros. Recentemente dois países a ratificaram, a

saber: Uruguai e Filipinas, mas de acordo com a OIT a vigência passara a existir somente 12

meses após a ratificação desses dois países, portanto a vigência deverá ocorrer no ano de

2013.

Trata-se de uma inovação dentro do ordenamento jurídico internacional, tendo em

vista que essa categoria de trabalhadores é tida como invisível e silenciosa, onde há a

predominância da informalidade, da discriminação pelo gênero, exploração e constantes

abusos.

Porém, sabemos que há ainda muito a ser feito por essa categoria de trabalhadores que,

segundo a OIT, visa proteger cerca de 53 a 100 milhões de trabalhadores domésticos em todo

o mundo, onde 83% desses trabalhadores são meninas que se tornam mulheres antes do tempo

e que saem de seus países e tornam-se migrantes16.

Dessa forma, os Direitos Humanos do trabalhador significam assegurar a não

coisificação do seres humanos e de resguardar a dignidade da pessoa “que trabalha, nas suas

dimensões jurídica, econômica e política” (CARDOSO, 2005, p.66).

Segundo a OIT (2011, p. 2):

16 Dados informados pela Organização Internacional do Trabalho - OIT. Disponível em: http://www.oit.org.br/node/436. Acesso em: 01 ago. 2011.

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Convenções: são tratados internacionais juridicamente vinculantes que normalmente estabelecem os princípios básicos que os países devem aplicar ao ratificá-las. Recomendações: servem como diretrizes não vinculantes e complementam a Convenção, fornecendo orientações mais detalhadas sobre como se poderia proceder para avançar na implementação dos direitos e princípios enunciados na Convenção.

Em outras palavras, as convenções são tratados multilaterais abertos, cuja natureza é

normativa, adotados pela Conferência Internacional do Trabalho, com a finalidade de regular

o trabalho no âmbito internacional, onde 183 Estados Membros da OIT a compõem por

delegados dos governos, dos trabalhadores e dos empregadores, portanto é a única

organização pertencente à ONU, com estrutura tripartite. Enquanto que as recomendações

são orientações possíveis sobre as medidas a serem adotadas no poder legislativo,são

instrumentos internacionais, mas não tem natureza de tratado.

Aduz Gamba (2011, p.132) sobre o tema: a criação de uma recomendação pode se dar,

dentre outros motivos, pelo fato de as disposições aprovadas pela Conferência da OIT não

terem contado com número suficiente de adesões.

A referida Convenção N. 189 recebeu 396 votos a favor, 16 contra e 63 abstenções;

sua recomendação obteve 484 votos a favor, 8 votos contra e 42 abstenções.

Quanto à apreciação dos dispositivos da Convenção, Franco Filho (2011, p. 70) diz

que:

Na parte dispositiva são 27 artigos, onde 19 narram do tema trabalhador doméstico e oito artigos, especificamente os artigos 20 a 27, designam sobre regras de procedimento para vigência, ratificação, registro, denúncia, idiomas, que são habituais em todas as convenções internacionais do trabalho.

O art. 1º da Convenção define o que é trabalho doméstico e o que é trabalhador

doméstico, vejamos.

O trabalho que é realizado em ou para um ou vários domicílios. Este trabalho pode incluir tarefas tais como: limpar a casa, cozinhar, lavar roupa e passar a ferro, tomar conta de crianças, ou de membros da família idosos ou doentes, jardinagem, guarda da casa, transporte da família (motorista) e até cuidar de animais domésticos. (OIT, 2012).

O trabalhador doméstico é definido como qualquer pessoa encarregada de prestar

trabalho doméstico no âmbito de uma relação laboral (OIT, 2012).

A definição da OIT, se comparado à definição da Lei nº 5859/72, é compatível, sendo

que essa última acrescenta a natureza contínua, a finalidade não lucrativa e o âmbito familiar.

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A Convenção N. 189 é chamada de tratado de direitos humanos stricto sensu e todos

seus direitos estão elencados no quadro a seguir.

ARTIGOS CONTEÚDOS

1 e 2 Definições e cobertura: Trabalho doméstico: aquele realizado em ou para domicílio

(s); trabalhador: (sexo feminino ou masculino) quem realiza o trabalho doméstico no

âmbito de uma relação de trabalho, estando excluídos aqueles/as que o fazem de

maneira ocasional e sem que seja um meio de subsistência. A convenção se aplica a

todos/as trabalhadores/as domésticos/as. Há possibilidade de exclusão de categorias,

desde que justificadas (outra proteção equivalente ou questões substantivas).

3 e 4 Direitos humanos e direitos fundamentais do trabalho: Implementação de medidas

efetivas para garantir estes direitos. Trabalho Infantil Doméstico: Estabelecimento de

idade mínima, em consonância com convenções associadas ao tema (nº 138 e 182), e

adoção de medidas com relação a trabalhadores/as com menos de 18 anos.

5 Proteção contra abusos, assédio e violência: adoção de medidas nestes temas.

6 Condições de emprego equitativas e trabalho decente: adoção de medidas efetivas

nestes temas.

7 Informação sobre termos e condições, quando possível em contratos de trabalho.

8 Proteção às/aos trabalhadoras/es domésticas/os migrantes: oferta de emprego por

escrito/contrato de trabalho com condições estabelecidas no artigo 7, ainda no país de

origem.

9 Liberdade para decidir moradia, se acompanha ou não membros do domicílio em

suas férias e quanto a manter em posse seus documentos.

10 Jornada de trabalho: medidas para assegurar jornada, compensação de horas extras e

períodos de descanso diários, semanais (24 horas consecutivas) e férias. Tempo em

que trabalhadores/as estão à disposição conta como horas de trabalho.

11 Estabelecimento de remuneração mínima.

12 Remunerações e proteção social: pagamentos em dinheiro, em intervalos regulares e

pelo menos uma vez ao mês. Possibilidade de pagamento in natura, desde que

estabelecidas condições para que não seja desfavorável.

13 e 14 Medidas de saúde e segurança no trabalho; proteção social e proteção à maternidade.

15 Agências de emprego privadas: condições de funcionamento; proteção contra abusos

de agências de emprego mediante obrigações jurídicas.

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16 Acesso à instâncias de resolução de conflitos.

17 Inspeção do Trabalho: adoção de medidas e possibilidade de acesso ao domicílio,

com respeito à privacidade.

18 As disposições da Convenção deverão ser colocadas em prática por meio da

legislação nacional, de acordos coletivos e de outras medidas adicionais com relação

aos/às trabalhadores/as domésticos/as.

19 a 27 Procedimentos para adoção, ratificação e implementação

Fonte: OIT, 2012. Disponível em:< http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_protect/---protrav/---travail/documents/publication/wcms_169517.pdf>. Acesso em: 10 agos. 2012.

Inobstante dizer que a OIT, após ter votado e aprovado a Convenção Nº 189 sobre os

Trabalhadores Domésticos, “decidiu tomar a forma de uma recomendação que

complementasse seu sentido, cujo teor pode ser devidamente consultado na 5ª Nota

Informativa do Escritório da Organização Internacional do Trabalho no Brasil”. (ZAPATA,

2011, p.103-104)

Diante do exposto, concluímos que essa Convenção N. 189 tem o condão de promover

melhorias nas condições sociais dessa categoria de trabalhadores, proporcionar isonomias e

igualdades de direitos entre os trabalhadores domésticos e os demais.

3.3 TRABALHO DECENTE

O Trabalho Decente é uma condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável. Em inúmeras publicações, o Trabalho Decente é definido como o trabalho produtivo adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna (MTE, 2013, p.01)17.

Trabalho decente é definido como qualquer ocupação produtiva adequadamente

remunerada e exercida em condições de liberdade, equidade e segurança e que seja capaz de

garantir uma vida digna para as pessoas (OIT, 2009, p. 9).

Para Costa (2010, p. 2):

Entende-se como ‘oportunidade de emprego produtivo’ a garantia a todos que queiram trabalhar, da chance de efetivamente encontrar um emprego, o qual seja instrumento que permita o alcance de um nível de bem-estar aceitável ao trabalhador e sua família. ‘Emprego em condições de liberdade’ refere-se ao fato de que o trabalho deve ser livremente escolhido e o direito

17 Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: < http://portal.mte.gov.br/antd/>. Acesso em: 15 mar. 2013

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de participação dos trabalhadores em organizações sindicais. ‘Emprego em condições de equidade’ traduz a necessidade de tratamento justo e equitativo aos trabalhadores, respeitando-se as diferenças, repugnando-se as discriminações, além de possibilitar a conciliação entre trabalho e família. Já ‘emprego em condições de segurança’ sublinha a preocupação com a proteção à saúde dos trabalhadores, assim como sua proteção social, em caso de problemas nessa área. Por fim, ‘emprego em condições de dignidade’ pressupõe o respeito aos trabalhadores e a possibilidade de participação nas decisões relativas às condições de trabalho.

Vale ressaltar que a definição de Trabalho decente sempre foi objeto das

recomendações e ações da Organização Internacional do Trabalho, tendo como aspecto

principal, se tratar agora de um conceito universal, multidimensional, acrescendo desse modo

uma conotação de trabalho decente como de um emprego de qualidade, com novas dimensões

de caráter normativo, segurança, participação e representação (COSTA, 2010).

Para a Organização Internacional do Trabalho a noção de trabalho decente se apóia

em quatro pilares estratégicos: (OIT, 2010, p.11).

a) respeito às normas internacionais do trabalho, em especial aos princípios e direitos fundamentais do trabalho (liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; eliminação de todas as formas de trabalho forçado; abolição efetiva do trabalho infantil; eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação); b) promoção do emprego de qualidade; c) extensão da proteção social; d) o fortalecimento do diálogo social.

Como é possível superar os déficits de trabalho decente? Como o conceito de trabalho

decente pode ser aplicado em níveis e processos de desenvolvimento tão diferentes ao redor

do mundo? (OIT, 2012, p.8).

A reflexão em torno a essas questões resultou na proposta da Agenda de Trabalho Decente, que expressa um acordo do entre os constituintes tripartites da OIT de um determinado país, estado ou região quanto aos objetivos e metas capazes de levar uma sociedade a um novo patamar de trabalho decente. Esses objetivos e metas, em cada caso, dependerão dos valores, prioridades e possibilidades de cada sociedade e poderão ser modificados com o tempo. O compromisso com as Agendas de Trabalho Decente é crescente no âmbito nacional e internacional. O compromisso com as Agendas de Trabalho Decente é crescente no âmbito nacional e internacional. O Brasil lançou sua própria Agenda em 2006, com o objetivo de gerar trabalho decente para combater a pobreza e as desigualdades sociais. A Agenda Nacional de Trabalho Decente (ANTD) do Brasil estrutura-se em torno a três prioridades: a) gerar mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento; b) erradicar o trabalho escravo e o trabalho infantil, em especial nas suas piores formas; e c) fortalecer os atores tripartites e o diálogo social como um instrumento de governabilidade democrática.A ANTD previa a elaboração posterior de um Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (PNETD). Esse Plano foi formulado por um Comitê Executivo Interministerial (co-ordenado pelo

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Ministério do Trabalho e Emprego e instituído por Decreto Presidencial em junho de 2009), em diálogo com as confederações de empregadores e as centrais sindicais. O PNETD, lançado em 2010, reafirma as prioridades da Agenda Nacional e estabelece 12 resultados esperados, associando, a cada um deles, várias metas e indicadores (OIT, 2012, p. 9).

A apresentação do Plano Nacional de Emprego e Trabalho decente diz que:

(...) foi construído por meio do diálogo e cooperação entre diferentes órgãos do governo federal e envolveu um amplo processo de consulta tripartite. Ele representa uma referência fundamental para a continuidade do debate sobre os desafios de fazer avançar as políticas públicas de emprego e proteção social. O seu objetivo é o fortalecimento da capacidade do Estado brasileiro para avançar no enfrentamento dos principais problemas estruturais da sociedade e do mercado de trabalho, entre os quais se destacam: a pobreza e a desigualdade social; o desemprego e a informalidade; a extensão da cobertura da proteção social; a parcela de trabalhadoras e trabalhadores sujeitos a baixos níveis de rendimentos e produtividade; os elevados índices de rotatividade no emprego; as desigualdades de gênero e raça/etnia; as condições de segurança e saúde nos locais de trabalho, sobretudo na zona rural (OIT, 2010)

Quanto à Agenda Nacional de Trabalho Decente- ANTD18,

No Brasil, a promoção do Trabalho Decente passou a ser um compromisso assumido entre o Governo brasileiro e a OIT a partir de junho de 2003, com a assinatura, pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo Diretor-Geral da OIT, Juan Somavia, do Memorando de Entendimento que prevê o estabelecimento de um Programa Especial de Cooperação Técnica para a Promoção de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente, em consulta às organizações de empregadores e de trabalhadores. Em maio de 2006 foi elaborada a Agenda Nacional de Trabalho Decente. Aderir à convocação global para o debate do Trabalho Decente é reconhecer o trabalho como cerne do desenvolvimento e de inclusão social, é reconhecer o valor do trabalho como aspecto central na nossa sociedade, é apresentar disposição para dirigir esforços a fim de consolidar as conquistas e mobilizar a sociedade para a busca de alternativas para esses desafios. Em 2006, em adesão a esse objetivo global assumido pelo Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego consolidou suas diretrizes de ação na Agenda Nacional de Trabalho Decente. A instituição de uma agenda de Trabalho Decente, nesse sentido, tem para o Governo, papel essencial no cumprimento dos direitos sociais, na medida em que direciona políticas públicas de atendimento às prioridades dessa agenda. Além do mais, para o atendimento dessas prioridades, faz-se necessário o investimento conjunto em políticas de saúde pública, assistência social e atendimento ao cidadão, o que representa a maior efetividade que essa categoria de direitos vem sendo inserida nos programas de governo e isso, certamente, é reflexo da elevação dos Direitos Sociais à condição de Direitos Fundamentais.

A apresentação do Plano Nacional de Emprego e Trabalho decente diz que: 18 Agencia Nacional de Trabalho Decente- ANTD. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/antd/> Acesso em: 04 julh.2013.

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(...) foi construído por meio do diálogo e cooperação entre diferentes órgãos do governo federal e envolveu um amplo processo de consulta tripartite. Ele representa uma referência fundamental para a continuidade do debate sobre os desafios de fazer avançar as políticas públicas de emprego e proteção social. O seu objetivo é o fortalecimento da capacidade do Estado brasileiro para avançar no enfrentamento dos principais problemas estruturais da sociedade e do mercado de trabalho, entre os quais se destacam: a pobreza e a desigualdade social; o desemprego e a informalidade; a extensão da cobertura da proteção social; a parcela de trabalhadoras e trabalhadores sujeitos a baixos níveis de rendimentos e produtividade; os elevados índices de rotatividade no emprego; as desigualdades de gênero e raça/etnia; as condições de segurança e saúde nos locais de trabalho, sobretudo na zona rural. (OIT, 2010).

Mais uma vez, resta-nos demonstrar que as inovações teóricas que assentam os

direitos sociais no campo dos direitos fundamentais é uma disposição coerente e sucedida,

haja vista ter o direito do trabalho uma atuação específica no que tange a esse sentido.

Ressaltamos que é fundamental a garantia de condições mínimas de subsistência, por meio

das quais o cidadão não pode ser livre, ao se encontrar aprisionado economicamente,

principalmente no que tange a sua vida laboral e a sua capacidade financeira.

A despeito de todo o arcabouço normativo e preocupações nacionais e internacionais em torno do tema Trabalho Decente, é notório que muito ainda há que se construir, debater e colocar em prática para a sua expansão no Brasil e no mundo. Por isso, é necessário colocá-lo na pauta das discussões jurídico-acadêmicas. Ou seja, é preciso que reste claramente aceito por todos que, possuindo relação direta com a proteção da dignidade humana do trabalhador, deve ser contínua e urgente a preocupação de todos com a efetiva implementação do conceito de Trabalho Decente na dinâmica social do trabalho (COSTA, 2010, p.1).

Analisando sobre o enfoque do Trabalho Decente, faz-se necessário pensarmos no

trabalhador sob um novo prisma, não somente como um mero trabalhador que aufere

lucratividade ou mesmo como objeto no manuseio da sua força humana. Deve ser visto como

um sujeito de direitos e deveres, sobretudo quanto aos direitos fundamentais elencados na

Constituição Federal, especialmente, na promoção da dignidade da pessoa humana (art1º, III,

CF/88) desse trabalhador.

3.4 OS DIREITOS INERENTES AOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS I-

MIGRANTES NOS INSTRUMENTOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS

A história do trabalho brasileiro foi construída e embasada por décadas na

subordinação e no abuso do hipossuficiente; apesar de grande parte da doutrina denominá-la

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de paternalista, a tentativa de proteger, amparar e resguardar tem sido muitas vezes frustrada.

Essa categoria de trabalhadores, na sua grande maioria mulheres, crianças e negras são

expostas a todo o tipo de discriminação, preconceito e exploração de trabalho.

Essa profissão nem sempre encontrou proteção jurídica, tendo em vista que a primeira

forma de trabalho doméstico se deu durante a escravidão, um trabalho vil, desonroso e visto

por muito como castigo.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho- OIT19 o número de trabalhadores

domésticos existentes em todo o mundo é estimado em 53 a 100 milhões, sendo que 83%

desses trabalhadores são meninas que se tornam mulheres antes do tempo e que saem de seus

países e tornam-se migrantes.

Há um paradoxo, pois aqueles que detêm o poder, uma minoria, têm acesso às

informações e também atêm o poder de comando nas relações de emprego, em contrapartida

há uma massa populacional que desconhece seus direitos e que são vítimas nessas relações,

com inúmeras violações aos direitos humanos, justrabalhista e internacionais.

Nessas linhas, conhecemos o processo de desigualdades materiais, sociais, culturais, que desencadeiam a desigualdade no processo de divisão social do trabalho, que são milhões de excluídos no mundo e que pouco se faz para mudar a ordem das coisas que prejudica a maioria da população mundial. (LOPES, 2009, p. 107)

Já existiam imigrantes no Brasil, porém após a abolição da escravatura inúmeros

imigrantes migram para trabalharem nas grandes fazendas de modo assalariado.

Muitos desses imigrantes tentam a sobrevivência na informalidade, pois são

marginalizados pela sociedade em que vivem, não querem retornar ao seu país de origem,

pois isso denotaria fracasso e ademais vivem como andarilhos em movimentos crescentes

(grifo nosso).

Para Sayad (1998, p. 45) uma das características fundamentais da imigração é que,

fora algumas situações excepcionais, ele contribui para dissimular a si mesmo sua própria

verdade.

Essa verdade está intrinsecamente ligada aos fatores sócio-políticos- econômico,

gerando na maioria dos casos, uma ilusão duradoura ao real e um condicionamento a

situações degradantes e desumanas nos imigrantes.

19 Dados informados pela Organização Internacional do Trabalho - OIT. Disponível em: http://www.oit.org.br/node/436. Acesso em: 01 ago. 2011.

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Segundo Albuquerque (2008, p. 01) a imigração fronteiriça apresenta singularidades

em relação às imigrações de longa distância e às migrações em contextos nacionais.

Pois sabemos que o estrangeiro difere do trabalhador fronteiriço, já que esse último,

apesar de ser um estrangeiro, vive nessa região de fronteira e se amolda a ela para sua

sobrevivência.

Diante disso, surge a figura do trabalhador fronteiriço, ou seja, aquele que reside em

municípios fronteiriços limítrofes e desloca-se de um lado e outro da fronteira internacional

para exercer suas atividades profissionais.

O conceito de trabalhador fronteiriço, segundo Lopes (2011, p.429) é de que:

A palavra fronteiriço é um adjetivo que designa aquele que vive na fronteira. A legislação brasileira define o fronteiriço como o natural de país limítrofe em cidade contígua ao território nacional (art. 21 da Lei 6815/80).

Para compreendermos melhor esse tema, é necessário enfrentar e analisar os aspectos

jurídicos e sociais que envolvem o trabalhador fronteiriço, o amparo dentro do ordenamento

jurídico que o difere do trabalhador migrante e do estrangeiro, sob a exegese do princípio da

igualdade, da isonomia e da equidade jurídica, cujo objetivo é alcançar todas as classes.

Santos (2011) esclarece que o processo migratório de trabalhadores na Europa possui

igualdade de tratamento e direitos quanto aos demais trabalhadores nacionais de qualquer país

que integre a União Européia, trata-se, portanto, de um fenômeno social do mundo

globalizado.

A definição de Trabalhador Fronteiriço foi feita na Convenção da ONU de 1990, que

visava à proteção dos Trabalhadores migrantes e seus familiares, dispôs:

[...] como sendo todo trabalhador migrante que conserve sua residência habitual no país vizinho ao que trabalha e para onde retorna a cada dia ou ao menos uma vez por semana (art. 2.2 a). Ou seja, trata-se de um tipo sui generis, especial, de trabalhador que vive na região de fronteira do país vizinho e retorna à sua residência, diariamente, ou no final de semana, não se tratando de processo migratório definitivo ou mesmo temporário.

Logo, no caso do MERCOSUL, o conceito “trabalhador que reside e exerce suas

atividades laborais nos municípios fronteiriços limítrofes, com liberdade de locomoção e de

residência em qualquer lado da fronteira política desses municípios” (SANTOS, 2011, p.2).

A despeito do que há nos países europeus, como a proteção e a liberdade de

locomoção dessas pessoas, é bem possível que ocorra no Mercosul - Mercado Comum do Sul,

esse fato, fazendo assim que haja uma autoridade supranacional.

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Salientamos que esse poder supranacional, ou mesmo uma uniformidade de tratamento

ainda não ocorre no Mercosul.

Sua vocação natural foi o desenvolvimento das relações comerciais. A preocupação sócio laboral surgiu posteriormente, praticamente imposta pela realidade. Portanto, encontro não ha leis uniformes em todos os países membros do Mercosul, a solução para os trabalhadores migrantes tem sido a celebração de acordos bilaterais, ou multilaterais, que venham a atender ás peculiaridades e interesses dos trabalhadores destes países (SANTOS, 2011, p.2)

A Convenção n. 97 da Organização Internacional do Trabalho dispõe sobre os

Trabalhadores Migrantes e traz o seu conceito no art.11:

ARTIGO 11: 1.Para os fins da presente Convenção, o termo «trabalhador migrante» designa uma pessoa que emigra de um país para outro com vista a ocupar um emprego que não seja por sua conta própria; inclui todas as pessoas dmitidas regularmente na qualidade de trabalhador migrante (OIT, 2011).

Por conseguinte, faz-se necessário diferenciar trabalhador migrante de trabalhador

fronteiriço, sendo que o segundo está especificado no Estatuto do Estrangeiro, Lei n.

6815/1980 em seu art. 21:

Art. 21. Ao natural de país limítrofe, domiciliado em cidade contígua ao território nacional, respeitados os interesses da segurança nacional, poder-se-á permitir a entrada nos municípios fronteiriços a seu respectivo país, desde que apresente prova de identidade (BRASIL, 2001).

Segundo Felix (2005, apud, Oliveira, p.257):

A legislação internacional é vasta no campo das conceituações quanto aos trabalhadores migrantes e fronteiriços.Um dos conceitos de Roma diz que o trabalhador fronteiriço é o trabalhador assalariado ou não assalariado que exerce sua atividade em um Estado signatário diferente daquele onde reside, regressando a este último pelo menos uma vez por semana. [...] define com propriedade trabalhador fronteiriço como o “trabalhador migrante que conserva a sua residência habitual num Estado vizinho a que regressa, em princípio todos os dias, ou pelo menos uma vez por semana “(CONVENÇÃO DE NOVA YORK, art. 2º, item 2, a).

Por fim, vale destacar que aos fronteiriços são lhe atribuído um regime especial,

porque vivem em uma região de jurisdições divididas ou sobrepostas: uma zona de transição

entre duas realidades nacionais. (LOPES, 2009, p. 431)

A fronteira por ser um lugar único, em suas especificidades, deveria dispensar um

tratamento igual para ambos os lados, porque desse modo facilitaria a integração e a

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aproximação dos fronteiriços, que muita das vezes têm necessidades comuns e sofrem pelo

tratamento desigual que lhes é conferido.

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4. PROTEÇÃO JURÍDICA-TRABALHISTA DOS TRABALHADORES DOMÉSTICOS FRONTEIRIÇOS

Neste capítulo, buscamos conceituar fronteira e limite, haja vista que os sujeitos/atores

sob análise da pesquisa residem na região de fronteira e primeiramente se faz necessária tal

definição. A posteriori discutiremos acerca da Proteção Jurídico-Trabalhista estendida aos

Trabalhadores Domésticos Fronteiriços, assim como os institutos jurídicos que protegem essa

categoria de trabalhadores, sobre a égide do direito humano e do direito internacional como a

Organização Internacional do Trabalho.

Abordaremos também os diferentes fatores que incidem na origem do trabalho

doméstico na fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai e de que forma eles se articulam,

enfocando os motivos ensejadores na busca constante pelo país vizinho e as mobilidades

humanas constantes dessa região. Demonstraremos também a condição dos trabalhadores

domésticos fronteiriços, enfatizando a condição econômica desses trabalhadores que tem

gerado desigualdade social e que em alguns casos aceitam inclusive crianças desempenhando

tal função.

Não pretendemos esgotar o debate, apenas problematizar as questões mais

controvertidas e dar um pouco mais de evidência aos aspectos sociais, culturais e jurídicos, os

quais julgamos que devem ser mais aprofundados.

4.1 BRASIL/BOLÍVIA

O tema fronteira nos impõe um grande desafio: sua conceituação, haja vista não ser

uma tarefa muito fácil, devido à complexidade que se apresenta, considerando a

multiculturalidade e a multiplicidade étnica ali existente (CARDIA, 2009). Portanto ao

analisarmos o tema é imprescindível a definição e a distinção entre fronteira e limite.

Para Machado (1998, p.41) o termo limite e fronteira não possuem o mesmo

significado, pois fronteira historicamente significa “o que está na frente, enquanto limite

palavra de origem latina, foi criado para designar o fim daquilo que mantém coesa uma

unidade territorial, ou seja, sua ligação interna”.

A fronteira é um lugar em constante transformação, originário do fenômeno social que

nos remete ao mundo habitado, enquanto que o limite nos revela aos conceitos legais e

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jurídicos do Estado, tendo “o marco de fronteira como o símbolo visível do limite”.

(MACHADO, 1998).

Segundo Machado (1998, p. 41) a fronteira está orientada para fora (forças

centrífugas), enquanto os limites estão orientados “para dentro” (forças centrípetas).

Visto dessa forma, o limite não está ligado a presença de gente, sendo uma abstração, generalizada na lei nacional, sujeita às leis internacionais, mas distante, frequentemente, dos desejos e aspirações dos habitantes da fronteira. Por isso mesmo, a fronteira é objeto permanente da preocupação dos estados no sentido de controle e vinculação. Por outro lado, enquanto a fronteira pode ser um fator de integração, na medida que for uma zona de interpenetração mútua e de constante manipulação de estruturas sociais, políticas e culturais distintas, o limite é um fator de separação, pois separa unidades políticas soberanas e permanece como um obstáculo fixo, não importando a presença de certos fatores comuns, físico-geográficos ou culturais (MACHADO, 1998, p.41).

Assim, a fronteira pode ser dita como uma área de largura variável, habitada por

pessoas, sujeita às transformações sociais, culturais e políticas, marcada pelo seu processo

histórico e geográfico, contendo sua especificidade e tornando-a única e distinta das demais

fronteiras. “Igualmente a realidade fronteiriça possui sua identidade específica, refletindo

conexões (culturais, econômicas, administrativas e sociais), que se contrapõe aos múltiplos

interesses internos e externos” (MACHADO, T, 2009. p.2).

Na fronteira ocorre um fluxo contínuo de bens, capitais, mercadorias e pessoas, de

modo conjugado ou isolado, contínuo ou descontínuo, com amplitude diferenciada rumo ao

interior do território.

Seja como for, no sentido mais geral, a noção de fronteira como lugar de interação, de

comunicação, de encontro, de conflito, advém do a priori, de que estamos na presença de

sistemas territoriais diferentes e de nacionalidades distintas (MACHADO, T, 2002, p.8).

Raffestin (1993) dispõe que as fronteiras são regulamentadas pela sociedade em que

vivem e que podem ser analisadas sob o enfoque político e sociocultural.

A fronteira vai muito mais além do fato geográfico que ela realmente é, pois ela não é só isso. Para compreendê-la, é preciso retomar a expressão “regere fines� que significa traçar em linha reta as fronteiras, os limites. É o mesmo procedimento utilizado pelo padre na construção de um templo ou de uma cidade, quando ele determina esse espaço consagrado sobre o terreno. Nessa operação o caráter mágico fica evidente: trata-se de delimitar o interior e o exterior, o reino do sagrado e o reino profano,...pois segundo Benveniste, a noção de fronteira é ao mesmo tempo material e moral. Assim, uma fronteira não é somente um fato geográfico, mas também é um fato social de uma riqueza considerável pelas conotações religiosas nele implícitas. (RAFFESTIN, 2005, p. 10)

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Vale destacar que embora o limite esteja intrinsecamente ligado à fronteira, ela não se

resume somente a ele, o seu conceito é muito mais amplo e abrangente. A fronteira é vista

sobre o ponto de contato entre elementos distintos, não sendo interpretada como um

obstáculo, uma barreira, enquanto que o limite remete-nos à ideia de separação, de divisão

entre países, cidades.

Ademais, a fronteira é um espaço de mudanças quantitativas e qualitativas na vida das

pessoas e populações envolvidas, ela é um terceiro espaço, em constante expansão-retração,

portanto repleta de atratividade, do novo, do desconhecido, enquanto que “o limite é o lugar

onde o Estado exerce sua soberania” (MACHADO, 1998).

A região fronteiriça é formada pelas fronteiras de dois ou mais países vizinhos

independentemente da existência, ou não, de faixas legais de fronteiras, ou seja, a região de

fronteira acaba formando uma identidade própria, não por decisão política ou legal, mas

decorrente das relações que se estabelecem ao longo do tempo

Por conseguinte, devemos mencionar a faixa de fronteira, regulamentada pela Lei nº

6634/79, que dispõe como sendo uma área indisponível à Segurança Nacional sendo uma

faixa interna de 150 (cento e cinquenta) km de largura, paralela à linha divisória terrestre do

território nacional, conforme mapa abaixo.

Fonte: IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/fronteira.shtm?c=3>. Acesso em: 10 out.2012.

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Fonte: IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/fronteira.shtm?c=3>. Acesso em: 10 out.2012.

O Brasil, por meio da Constituição da República Federativa/88, instituiu como bens da

União a faixa de fronteira, a saber:

Art. 20. São bens da União: [...] § 2.º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei (BRASIL, 2012).

No caso da Bolívia e do Paraguai, esta faixa de fronteira é de 50 quilômetros de

largura. Nessa faixa há a incidência de regras diferenciadas para o uso do solo, para a

circulação de pessoas, mercadorias.

Para Machado (T, 2009, p. 3):

A fronteira não pode ser entendida, apenas, como uma linha pontilhada sobre o mapa, ditada pela fria cartografia, mas sim, como um elemento de diferenciação, comunhão e comunicação que, muitas vezes, interpõe a ordem e a desordem, o formal e o funcional, como equilíbrio dinâmico das regras e dos ritos.

Cardia (2009) descreve que as fronteiras representam verdadeiro marco simbólico,

haja vista que nesse espaço novo que se cria, recria; surge uma outra fala, uma nova cultura, a

saber, a cultura da fronteira.

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Nesse mesmo contexto, a fronteira que ora aproxima, ora separa esses habitantes, tem

a necessidade de impor um limite para que esses habitantes sejam diferentes dos outros e para

buscarem vínculos de interação entre nós (CARDIA, 2009).

A fronteira, como espaço concreto se apresenta como um âmbito longínquo, hostil. É o espaço por colonizar, por domesticar. É o espaço deslocado dos imigrantes. (CARDIA, 2009, p. 112).

Nogueira (2005, p.1) ao abordar o termo fronteira cita três concepções fronteiriças:

(...) uma fronteira controlada, em que ambos os países exercem seu controle a partir de aparatos militares; uma fronteira percebida, em que discutimos a visibilidade distinta desta região de fronteira por ambos países; e uma fronteira vivida, em que apresentamos a vida cotidiana de uma sociedade fronteiriça que sabe apropriar-se das diferenças entre os Estados- Nacionais.

A fronteira controlada, vista pelo Estado, tendo como objetivo principal a fiscalização

por parte da polícia federal com intuito de combate e repressão ao contrabando, tráfico de

droga e o controle da entrada e saída de estrangeiros. Já a fronteira percebida, própria da

sociedade do interior do Estado, como é vista e analisada pelos que estão de fora, “espaço

percebido pelo outro” (Nogueira 2005). Por fim, a fronteira vivida, que demonstra os

sentimentos dos que vivem nela, suas emoções, seus contrastes; o modo de vivência dos

cidadãos que a integram.

A fronteira é um espaço de tensão e contradição entre o cruzador de fronteiras e o

reforçador de fronteiras e não está centrada apenas nas zonas fronteiriças próximas ao limite

político (ALBUQUERQUE, 2009, p.160).

Ante o exposto, é importante pensar no amplo deslocamento de cidadãos de um país

na zona de fronteira da nação vizinha, que ocorre diariamente, como às mobilidades humanas

dos bolivianos em Corumbá e dos brasileiros na Bolívia (ALBUQUERQUE, 2009).

Ao atentarmos quanto à linearidade da fronteira, percebemos que os seus habitantes

sentem-se no direito de ultrapassar a fronteira no sentido de ir e vir , constituindo os laços

sociais da localidade e desencadeando as mobilidades humanas (grifo nosso).

Sendo assim, as fronteiras estão presentes no imaginário social como limite,

aparecendo como naturalizados. Entretanto, elas são mais que isso, são elementos simbólicos

carregados de ambiguidade, pois ao mesmo tempo em que impedem, permitem a passagem

(MÉLO, 1997, p.69).

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Nas regiões fronteiriças, as relações existentes são balizadas por ambiguidade,

hostilidade, preconceitos e distinções, não obstante, em alguns momentos ocorre a integração

entre esses sujeitos/atores tão similares, mas ao mesmo tempo tão opostos, imbuídos por

diversos sonhos e anseios, mas principalmente em auferirem melhores condições econômicas.

A fronteira Brasil-Bolívia tem a maior parte de sua população concentrada na cidade

de Corumbá (103. 703 mil habitantes20), localizada no meio do Pantanal de Mato Grosso do

Sul, presente na latitude de Capricórnio, com uma baixa altitude de 120 metros, inserida na

laje calcária, em uma área de 64.962,836 km2, fazendo fronteira com a Bolívia (são dois

municípios bolivianos, Puerto Quijarro e Puerto Suarez, todos nas margens do Rio Paraguai).

Partindo em direção às margens da baía de Tamengo, chega-se à Bolívia, mais

precisamente no distrito de Arroyo Concepción, e ao caminhar cerca de dois quilômetros à

frente depara-se com Puerto Quijarro e, em seguida, com Puerto Suarez, província de German

Bush (que é um departamento de Santa Cruz de La Sierra).

Essa fronteira apresenta uma seara de vulnerabilidade enorme, devido ao alto índice de

pessoas que por lá trafegam, desencadeando, assim, uma situação desigual de direitos, de

poder, de posição social, idades, pois são colocados a todo tipo de exploração no que tange ao

trabalho, seja nos subempregos, nos trabalhos sujos, onde todo o “sentido de culpa: a sujeira

da cidade, a degradação dos logradouros, a expansão das bocas de fumo, e tudo mais, passam

a ser culpa da fronteira, ainda que esta possibilite uma série de compensações” (OLIVEIRA,

T, 2008, p.39).

De fato, a população nas fronteiras apresenta grande diversidade, pois é mesclada por

pessoas de diferentes origens, etnias, níveis econômicos, sociais e educacionais que tentam se

misturar, mas vivem em uma sociedade estranha e hostil a eles.

A condição fronteiriça marca a região, criando a possibilidade de formação de outra identidade. A hegemonia das circulações advindas das complementaridades (capital, trabalho, terra e serviços, segundo House, 1980) entre brasileiros e bolivianos consolida um cotidiano que, mesmo absorvido de modo diverso no conjunto populacional, as pessoas convergem para um comportamento coletivo muito próximo, seja de aversão ou de acessão (COSTA, 2008, p.37).

Por isso, a mobilidade humana que ocorre entre países limítrofes do Brasil

(Corumbá/Ladário) e da Bolívia (Puerto Quijarro/ Puerto Suarez), demonstra a difícil arte de

aceitar, acolher e conviver com o diferente, com o outro, com o estrangeiro, com o imigrante,

20

Dados obtidos do IBGE. Senso 2010.

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constituindo dessa feita um grande desafio a ser vencido diariamente. É cediço que essa

região fronteiriça apresenta inúmeras singularidades, que ora as une, ora as separa, pois as

mobilidades humanas nessa região são intensas e constantes, principalmente pelo comércio de

mercadorias localizado no entorno da feira de Arroyo Concepción ou até mesmo pela

possibilidade de emprego na cidade de Corumbá, pelo contrabando de mercadorias ou até

mesmo pelo tráfico de drogas.

Vale lembrar que as migrações acabam sendo desencadeadas em razão da maior

demanda de mão de obra bruta e barata dos países industrializados, no caso, o Brasil, para

atender setores como: construção civil, alimentação, indústria têxtil, serviços domésticos,

dentre outros.

A predominância de trabalhadores migrantes em situação irregular ou clandestina

corrobora para que seus direitos sejam violados tanto na esfera dos direitos humanos e dos

direitos fundamentais do trabalho, haja vista que muitos deles desconhecem seus direitos

trabalhistas, bem como a legislação brasileira. Insta ressaltar que a legislação boliviana

também é desconhecida por brasileiros que residem na Bolívia (Puerto Suarez/ Puerto

Quijarro). Vivendo na informalidade, esses trabalhadores são constantemente explorados

pelos nacionais que se aproveitam de suas fragilidades para lograr maiores ganhos.

De uma maneira geral, os migrantes abandonam seu Estado Nacional por diversos

motivos como a pobreza, o processo acelerado de urbanização, a falta de oportunidades de

trabalho, fatores esses que, no caso dos bolivianos, se aliam à proximidade com o Brasil

proporcionado pela fronteira seca, motivo esse que contribui para sua migração, com a

finalidade de almejar novas alternativas de sobrevivência.

Por conseguinte, essa mobilidade humana desencadeia a presença do novo, do

estranho, que pode gerar efeitos degradantes nesses migrantes, como o preconceito, a

discriminação, a xenofobia e principalmente a ausência de políticas de migração na esfera

internacional. Por outro lado favorece o país receptor desse migrante, beneficiando seu

crescimento econômico, e tornando mais pobre o país que estes migrantes partiram.

Independentemente da situação em que se encontra no país, o migrante participa do

processo produtivo e presta seu labor nas mesmas condições que o trabalhador nacional,

portanto, é de se argumentar sobre a proteção jurídico-trabalhista que lhes emprestam os

sistemas normativos internos e internacionais do trabalho.

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Quanto à proteção jurídica estendida a essa categoria de trabalhadores, encontram-se

protegidos na Bolívia sob a exegese da Lei nº Lei 2450/2003 que é intitulada “Ley de la

Trabajadora del Hogar”, promulgada em 03 de abril de 2003. Referida lei define esse

trabalhador no seu artigo primeiro:

Artículo 1º: Trabajo asalariado del hogar, es aquel que se presta em menestres propios del hogar, em continua, a um empleador o família que habita bajo el mismo techo. Están considerados em este sector, los(as) que realizan de cocina, limpieza, lavanderia, aseo, cuidado de ninõs, assistência y outros que se encuentren comprendidos em la definicón, y Sean inherentes al servicio del hogar. No se considera trabajo asalariado del hogar, el desempenado em locales de servicio y comercio, aunque se realcen em casas particulares (BOLÍVIA, 2011).

Essa lei retrata uma luta de doze anos de reivindicações desses trabalhadores, mais

especificamente das mulheres bolivianas, por melhores condições de trabalho, no que tange

aos direitos humanos, tendo em vista que muitas delas são submetidas a extensas jornadas de

trabalho, desrespeitando assim o que a norma estipula, caracterizando em alguns casos

trabalho forçado. Dados revelam que se trata de uma luta por direitos e respeito por uma

categoria acostumada a guardar o silêncio, sendo vista por muitos como uma profissão

invisível21.

Muitos desses trabalhadores são mulheres e não recebem salários, são assediadas

moralmente e sexualmente (principalmente na região de La Paz22) iniciam a trabalhar em

idade tênue, acostumadas a receber somente alimentação por desempenhar essa profissão e

por morarem no emprego, tem todos os seus direitos violados.

Essa categoria de trabalhadores, tanto no sistema boliviano como no brasileiro tem

garantias contra a renúncia de direitos, em face do Princípio da irrenunciabilidade de direitos

vigente em ambos países (art. 2º da Lei Boliviana e art. 7º, da Constituição Federal

Brasileira).

Artículo 2 (Irrenunciabilidad de Derechos). Los derechos reconocidos por la

presente Ley son irrenunciables (BOLÍVIA, 2012).

21

Dados da OIT- Organização Internacional do Trabalho. Vídeo as série Trabalho Doméstico, Trabalho Decente, fruto da parceria entre o canal Integración/TV Brasil e o UNIFEM Brasil e Cone Sul (Fundo de desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher), por meio do programa gênero, raça e etnia desenvolvida no Brasil, Bolívia, Guatemala e Paraguai. Disponível em: http://www.oit.org.br/content/trabalho-dom%C3%A9stico-trabalho-

decente e em: http://www.youtube.com/watch?v=Bt_xdYA40wY. Acesso em: 04 out. 2011. 22 Dados obtidos da Subsecretaria de Assuntos do gênero de La paz, revelam que as mulheres de 17 aos 46 anos, são as que mais sofrem violência sexual em casa, no trabalho.

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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo (BRASIL, 2012).

No que tange ao Contrato de Trabalho na Bolívia, ele pode ser verbal ou escrito, sendo

escrito quando exceder a um ano e na falta de estipulação, presume-se indefinido, essa

disposição está prevista no art. 3º da Lei nº 2450/03 da Bolívia.

Na legislação brasileira os contratos de trabalho estão dispostos no Título IV, do

Contrato Individual do Trabalho, Capítulo em Disposições Gerais, nos Arts. 442 até 456,

podendo ser verbais ou escritos, por prazo determinado ou por prazo indeterminado, de forma

tácita ou expressa. O contrato por prazo determinado somente pode ser firmado em situações

especiais relacionadas à transitoriedade da atividade empresarial ou do serviço a ser

executado na empresa, bem como na hipótese de experiência. No caso do trabalhador

doméstico, torna-se aplicável apenas a modalidade de experiência, por analogia da norma

prevista na CLT.

Insta ressaltar que a lei especial na Bolívia não foi omissa ao especificar sobre o

trabalho de adolescentes nessa categoria dispondo em seu art. 5º:

Artículo 5º (Trabajo de Menores de Edad):

Todo niño, niña o adolescente que preste servício em el hogar, sea ajeno AL núcleo familiar, pariente conseguíneo o mantenga algún grado de afinidad, se sujeita a lo previsto em el Código Ninão, Ninã o Adolescente, la Ley General del Trabajo, su decreto Regulamentario y normas conexas (BOLÍVIA, 2011).

A Constituição Brasileira veda terminantemente o trabalho infantil no Brasil,

proibindo o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18 anos e qualquer

trabalho a menores de 16 anos, salvo como aprendiz , a partir de 14 anos de idade, conforme

preleciona em seu art. 7, inciso XXXIII, da CF/ 88.

A lei 10.097/2000, conhecida como a lei do Menor Aprendiz também dispõe nesse

mesmo sentido, vedando o trabalho à menor de dezesseis anos, exceto para maiores de 14

anos, na condição de menor aprendiz.

A respeito da jornada de trabalho dessa categoria de trabalhadores, a lei boliviana

relata em seu art.11º que a jornada de trabalho será de dez (10) horas para aqueles

trabalhadores que habitam no seu local de trabalho, chamados de cama a dentro, todavia para

os que não habitam no seu local de serviço será de oito (08) horas. Dispõe que cada pessoa

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terá um dia por semana de descanso e que nos dias de feriado não trabalhará, conforme

previsto no art. 12º da referida lei boliviana.

No Brasil, a jornada de trabalho dos empregados domésticos não está definida na lei

específica, não se aplicando a disposição da lei geral (Consolidação das Leis do Trabalho),

nem a norma constitucional, posto que o inciso XII do art. 7º que prevê a duração máxima da

jornada diária e semanal não foi estendido a esses trabalhadores. De forma diversa, com

referência ao repouso semanal, esses trabalhadores foram abarcados pela CF/88.

Averigua-se que na Bolívia, os direitos dos trabalhadores domésticos necessitam de

ajustes e mudanças, pois a Lei nº. 2450/03 trouxe alterações significativas para essa categoria,

todavia, faz-se necessário que ocorram transformações que dêem maior respaldo aos direitos

dessa categoria.

Por outro lado, ao verificar a evolução da legislação brasileira, nota-se que houve um

grande avanço no que tange à proteção do trabalhador doméstico, porém, aspectos

fundamentais como o direito a uma jornada máxima diária ainda não foi alcançado.

Constatamos que muitos pontos precisam ser transformados, pois esses trabalhadores,

na sua maioria mulheres, ainda continuam laborando em trabalhos mal pagos, precários,

trabalhos informais, dentre outros aspectos que nos fazem analisar sob a ótica dos direitos

trabalhistas, humanos e internacionais, que há uma longa batalha a ser travada.

Inobstante citar a Lei nº 181, por meio da Circular nº023/11/11, o qual aprovou em 25

de outubro de 2011, pelo Governo Plurinacional da Bolívia, instituindo o dia 30 de março de

cada ano, para ser comemorado como o dia das Trabalhadoras Domésticas bolivianas23. No

Brasil, o dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas é comemorado no dia 27 de abril24.

Essa categoria de trabalhadores bolivianos, conta com o apoio da Federación Nacional

de Trabajadoras del Hogar de Bolivia- FENATRAHOB, uma associação sindical sem fins

lucrativos, tendo sido fundada em 28 de março de 1993, cujo objetivo principal é melhorar as

condições de vida, trabalho e salário das Trabalhadoras domésticas bolivianas e informá-las

dos direitos humanos e trabalhistas. Essa associação está localizada em La Paz. Ressaltamos

que no município de Puerto Quijarro e Puerto Suarez não existem sindicatos, nem tampouco

23Dados obtidos do site da FENATRAHOB. Disponível em: <http://www.fenatrahob.org/index.php?page=norma&cont=decreto>. Acesso em: 01 abr. 2012. 24Dados obtidos do site da Amatra 1ª região. Disponível em: <http://www.amatra1.com.br/visualiza_not.asp?cod=1817&notcli=1&direct=comunicacaohome.asp&codredirect=1817>. Acesso em: 01 abr. 2012.

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associações de empregadas domésticas, segundo informações do Chefe do Departamento do

Ministério do Trabalho, Emprego e Previdência Social de Puerto Suarez.

Na cidade de Corumbá também não há sindicatos ou associações. Somente na cidade

de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, há uma associação de empregada

doméstica.

Recentemente o salário mínimo na Bolívia sofreu alterações, feitas pela Resolución

Ministerial No. 659/12, em seu articulo primeiro, cujo valor passou a ser de Bs 1000,00 (mil

bolivianos), cerca de R$ 333,00 (trezentos e trinta e três reais). Caso o empregador não pague

esse valor, terá que pagar uma multa instituída pelo Banco da União localizado no distrito de

Arroyo Concepción.

Artículo Primeiro Ampliar el plazo previsto en el artículo quinto de la

Resolucion inisterial Nº 335/12 de 28 de mayo de 2012 para la presentacion

de los Convenios Salariales referidos en el Decreto Supremo Nº 1213, hasta

el dia viernes 28 de septiembre de 2012

impostergablemente.............................................................(BOLÍVIA, 2012).

A Resolución Ministerial No 335/1225, instituída em 28 de maio de 2012 estabelece

que:

Articulo Segundo- El incremento señalado em el Articulo Primeiro debe

considerar los siguientes criterios de forma

obligatoria:.............................................................................

[...]

VI. La remuneración basica inferior al salario mínimo nacional debe ser

nivelada a Bs 1.000 (Um Mil 00/100 Bolivianos). Em los casos eu dicha

nivelación importe um porcentaje inferior al ocho por ciento (8%), se

aplicará lo dispuesto em el artículo 7º del Decreto Supremo Nº

1213.....................................................................................(BOLIVIA, 2012).

Atualmente, o salário mínimo vigente no Brasil é de R$ 678,00 (seiscentos e setenta e

oitoo reais).

Por fim, os direitos trabalhistas das trabalhadoras bolivianas estão disciplinados na Lei

nº 2.450/2003 e são: jornada laboral de 08 horas para as empregadas que não moram no 25Ministerio de trabajo, empleo y previsión social. Disponível em: < http://www.mintrabajo.gob.bo/NormativaLaboral.asp>. Acesso em: 10 mar. 2013.

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emprego e 10 horas para aquelas que moram no emprego; férias; dia de descanso aos

domingos e feriados, 13º salário; indenização por anos de trabalho para as trabalhadoras com

mais de 05 anos laborando na mesma residência; despejo em caso de despedida injustificada

ou imotivada, direito de estudar e frequentar as escolas em turnos compatíveis; aviso prévio

por parte do empregador ao empregado de 45 dias e do empregado doméstico ao empregador

de 15 dias; contrato de trabalho escrito, licença maternidade e salário mínimo nacional para

aqueles empregados sem experiência.

Em face de todo o processo de discriminação, preconceito e dificuldades, estas

mulheres rompem com estas situações limitantes e migram para outras cidades e até mesmo

para as regiões fronteiriças, em busca de propostas de trabalho e melhores oportunidades de

vida, imbuídas pelos sonhos. Iniciam o labor na cidade de Corumbá de modo irregular e ainda

que percebam um salário mínimo menor que o salário mínimo brasileiro, continuam

trabalhando, pois ao fazerem a conversão da moeda boliviana para o real, essas trabalhadoras

ainda ganham mais do que ganhariam se estivessem na Bolívia.

Cumpre destacar que em função da discriminação, essas mulheres enfrentam maiores

dificuldades, tendo reduzidas suas oportunidades de inserção no mercado de trabalho.

Essa é uma das categorias profissionais historicamente mais negligenciadas do mundo

do trabalho, inclusive no Brasil, na Bolívia e no Paraguai. Sabe-se que a maioria não tem nem

mesmo sua carteira de trabalho assinada, recebem salários ínfimos e trabalham em jornadas

extensas, muito além das quarenta e quatro horas semanais.

No Brasil, por ser uma atividade executada no âmbito residencial, torna-se muito

difícil a fiscalização por parte do poder público.

Essas categorias de trabalhadores são invisíveis para a sociedade e para os órgãos de

proteção e fiscalização como Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, ficando esses órgãos

impedidos de realizar uma inspeção eficaz e aplicar as penalidades cabíveis, quando há o

descumprimento da legislação trabalhista.

Sabemos que essa categoria de trabalhadores domésticos, representa cerca de 14

milhões de mulheres da America Latina e Caribe, constituindo uma porcentagem de 16% da

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força de trabalho26, uma profissão tipicamente feminina, desempenhada por mulheres negras,

que fazem parte do grupo das pessoas mais pobres da população brasileira.

Esses trabalhadores são vítimas frequentes de violação dos direitos humanos, dos

direitos fundamentais no trabalho e são explorados por meio do trabalho forçado, do trabalho

infantil e da discriminação. Considerando as discriminações de gênero e raça envolvidas, tem

estreita relação com a questão mais ampla da igualdade de oportunidades e tratamento no

mundo do trabalho. Assim, o trabalho doméstico é uma das atividades para as quais a noção

de trabalho decente tem especial importância.

A Convenção N. 189 visa garantir a essa classe de trabalhadoras, tão desprezadas e

invisíveis para a sociedade, maltratadas e exploradas, uma proteção de direitos e garantias em

equidade aos demais trabalhadores de outras classes de trabalho.

No mês de outubro, os deputados aprovaram por unanimidade o projeto de Lei nº

552/2012-2013 que visa ratificar a Convenção de Trabalho Decente para as Trabalhadoras

Domésticas, a saber, a Convenção N. 189 da OIT.

Esta propuesta determina que el Ministerio de Gobierno, la Gobernación del departamento de Pando y el Municipio de Cobija buscarán el financiamiento internacional para la implementación de este proyecto. Una vez aprobadas estas dos normas las mismas fueron remitidas al Senado Nacional, para su tratamiento y posterior aprobación (OBESS, 2012, p. 01).

Esse projeto de lei significa um grande avanço na esfera dos direitos humanos e dos

direitos trabalhistas internacionais, principalmente para as mulheres, por ser uma profissão

realizada quase que exclusivamente pelo gênero feminino.

Por fim, a Convenção 189 da OIT foi ratificada pela Bolívia no dia 20 de novembro de

2012, pelo Presidente da Bolívia, Evo Morales Ayma. Com a ratificação, a Bolívia passa ser o

5º (quinto) país dos 183 (cento e oitenta e três) países membros a ratificar referida Convenção,

pois o primeiro país a ratificar foi o Uruguai em abril de 2012, seguido por Filipinas em julho

de 2012, por Ilhas Maurício e Nicarágua.

A ratificação da Convenção 189 da OIT simboliza sem dúvida nenhuma, uma luta

acirrada de milhares de mulheres engajadas em prol de seus direitos.

4.2 BRASIL/PARAGUAI

A população da região fronteiriça vive algo diferenciado, estabelecido por

especificidades singulares, porquanto, ao mesmo tempo em que vislumbramos diferentes 26 Dados obtidos do Proyecto de Convenio y Recomendación sobre Trabajo Decente. Disponível em: http://www.cotidianomujer.org.uy/oit2011_es.pdf. Acesso em 15 set. 2012.

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povos, etnias, costumes, moedas, limites jurídicos próprios, regras diferenciadas em função do

lado em que esteja situado, observamos ainda discriminações, hostilidades, preconceitos

velados, integrações, destruições e alteridades entre àqueles que se encontram nas chamadas

fronteiras em movimento.

Pensar na dinâmica das fronteiras ou fronteira em movimento é pensar em um espaço

fronteiriço de forte presença de “brasileiros e seus descendentes, onde a proximidade entre os

dois países gera intensos fluxos e produz diversas barreiras e travessias que se cruzam e

redefinem a compreensão dos limites nacionais”. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 138)

Albuquerque (2009, p. 161) define as fronteiras em movimento,

(...) são as representações, identificações e hibridismos culturais nessa

complexa região de fronteiras como uma dinâmica própria e instável que

congrega a dimensão do conflito, da diferença, da integração e do poder

entre os grupos locais e os Estados Nacionais.

Para estudarmos e tentarmos conhecer as fronteiras é preciso voltar nossos olhares e

observar os atores sociais (moradores) que fazem parte dela, pois as fronteiras estão em

constantes movimentos e mudanças, antes de ser um território de divisão geopolítica, ela é um

espaço social e sabemos que não há ambiente sem a existência de pessoas.

Essa abordagem é bastante útil para pensar a imigração brasileira no Paraguai como uma frente de expansão em território paraguaio, pois também naquele espaço geográfico do outro lado do limite internacional brasileiro,existem essas diferentes frentes em movimento e em conflito por terras, recursos naturais e pela faixa do território nacional (ALBUQUERQUE, 2008, p.55).

A fronteira do Brasil (Ponta Porã) /Paraguai (Pedro Juan Caballero) é uma fronteira

seca, cuja divisão é uma linha de cerca de 13.800 metros de extensão dentro do perímetro

urbano, este separa as duas cidades por meio de um eixo longitudinal com 50 metros de

largura, sendo 25 metros para cada país.

Esta linha de fronteira é, possivelmente, o espaço mais importante para as duas cidades: trata-se de um símbolo que representa a identidade da região, por onde as cidades nasceram e se desenvolveram, e dialeticamente separam e integram os dois países (Brasil e Paraguai): é o espaço de circulação mais aguda de encontros, de trabalho, de serviços, de comércio formal e informal entre os dois povos e as duas culturas (GEO PONTA PORÃ, 2009, p. 23- 24).

Ponta Porã é a segunda maior cidade fronteiriça do Estado e é a maior cidade de

fronteira seca (PEREIRA, 2012).

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O município brasileiro de Ponta Porã, localizado no sul do Estado de Mato Grosso do

Sul, com população estimada em 77.872 mil habitantes (IBGE, 2010 [sp]) faz divisa com

Pedro Juan Caballero, capital do Departamento de Amambay no Paraguai, com

aproximadamente 88.020 mil habitantes. O município de Ponta Porã possui uma área de

5.330,461 km², representando 1,49% da extensão territorial do Estado de Mato Grosso do Sul

segundo informações do IBGE (2010, [sp]). Ponta Porã é uma cidade cravada na parte mais alta do território sul mato-grossense, com uma altitude no entorno dos 700 metros, com clima extremamente agradável e aprazível. Sua população, de muitas etnias e origens, forjou uma gente amiga, simples e simpática. Assim, Ponta Porã convive harmonicamente com a cultura paraguaia em um entrelaçamento de culinária, cantos, comportamentos e linguagens. É sobre esta cidade de atividades multinacionais e de território complexo que se realizou o diagnóstico do meio ambiente urbano sintetizado (GEO PONTA PORÃ, 2009, p. 22).

Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, formam um ambiente conurbado de simbiose

múltipla onde a natureza, onde há o entrelaçamento de culturas e pessoas a tal ponto que em

muitos casos a diferenciação entres eles, torna-se confusa. (GEO PONTA PORÃ, 2009, p)

Por esse motivo, a condição fronteiriça não pode ser desconsiderada, pois é “um local

de trocas (saudáveis e angustiantes) nas relações ambíguas de suas acomodações que definem

um comportamento invulgar, leve, mas também ríspido nas fronteiras” (MACHADO, 2005).

As trabalhadoras domésticas paraguaias estão protegidas pelo Código do Trabalho Lei

nº 213/93, no Livro I que versa sobre as Disposições Gerais e o Contrato Individual do

Trabalho, no Título III- Os contratos especiais de trabalho, no capítulo IV que trata

especificamente sobre o tema em seus artigos 148 ao 156.

A definição legal encontra-se no art. 148 do Código do Trabalho:

Art. 148. Trabajadores domésticos son las personas de uno u otro sexo que desempeñan en forma habitual las labores de aseo, asistencia y demás del servicio interior de una casa u otro lugar de residencia o habitación particular. Son considerados trabajadores domésticos, entre otros: a) choferes del servicio familiar; b) amas de llave; c) mucamas; d) lavanderas y/o planchadoras en casas particulares; e) niñeras; f) cocineras de la casa de familia y sus ayudantes; g) jardineros en relación de dependencia y ayudantes; h) cuidadoras de enfermos, ancianos o minusválidos; i) mandaderos; y

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j) trabajadores domésticos para actividades diversas del hogar (PARAGUAY, 2012).

Os Trabalhadores domésticos poderão trabalhar na residência, residindo nela ou não,

para os que trabalharem sem dormir no emprego perceberá de forma completa ou parcial essa

é a leitura do art. 149 do Código do Trabalho Paraguaio.

Quanto à remuneração dessa categoria de trabalhadores, a lei estipula que não poderão

receber menos que 40% do salário mínimo vigente no país e cujo valor deverá ser pago em

dinheiro e que ainda poderão ser fornecido aos trabalhadores, o alimento. O valor atual do

salário mínimo em 1.658.232 guaraníes. Portanto, esses trabalhadores não podem receber

menos que 40% de 1.658.232 guaraníres, conforme dispõe o art. 151 do Código do Trabalho.

No que tange ao aviso prévio caso o trabalhador esteja em período de experiência ou

proa, conforme a lei paraguaia menciona, qualquer das partes poderá rescindir o contrato

desde que o faça com 24 horas de antecedência. Todavia após o período de experiência, caso

o empregado esteja laborando há mais de um ano terá que o fazê-lo com 15 dias de

antecedência, ou pagar ao seu empregador a quantia. O empregador pode rescindir o contrato

de emprego sem aviso prévio, se assim o fizer terá que pagar ao trabalhador doméstico os dias

trabalhados salvo se o empregado faltou por abandono de suas obrigações, negligência,

desonestidade, falta de moralidade.

Os trabalhadores domésticos poderão de comum acordo trabalhar em dias feriados,

estabelecidos na lei e o que dispõe o art 154:

Art. 154. Los trabajadores domésticos, de común acuerdo con el empleador, podrán trabajar los días feriados que la ley señale, pero gozan de los siguientes descansos: a) Uno absoluto de doce horas diarias. Para aquellos que no tienen retiro por lo menos diez horas se destinará al sueño y dos horas a las comidas; y b) vacaciones anuales remuneradas como todos los trabajadores, en cuanto a duración y remuneración en efectivo (PARAGUAY, 2012).

Ainda concernente aos direitos trabalhistas paraguaios, podemos fazer menção da

Constitucion de La Republica del Paraguay sancionada e promulgada em 20 de junho de 1992

que dispõe os direitos laborias de modo generalizado a partir do art. 86 ate ao art. 100, no

capítulo VIII, na Seção I.

Iniciando pelo art. 86 que diz que: todos os trabalhadores, sem exceção, tem direito a

um trabalho lícito e de livre escolha em condições justas e dignas e a lei dará proteção ao

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trabalho em todas as suas formas, não podendo haver irrenunciabilidade de direitos aos

trabalhadores.

O art. 88 especifica acerca da discriminação entre os trabalhadores, pois é vedada a

discriminação entre os trabalhadores seja por motivo étnico, idade, religião, condição social,

política ou mesmo sindicais.

Já o art. 89 trata especificamente das mulheres, pois versa que não deve haver

diferença no que tange ao sexo para obtenção de direitos e obrigações laborais, todavia a

maternidade terá uma proteção especial dos serviços assistenciais e no que tange aos

descansos semanais, descansos esses não inferiores há 12 semanas. A gestante não poderá ser

demitida na gravidez, nem tampouco durante a licença da maternidade. A lei prevê também a

licença de paternidade.

A respeito dos menores, o art. 90 dá ênfase dizendo que eles poderão trabalhar desde

que respeitados o seu pleno desenvolvimento físico, intelectual e moral, poderão laborar.

No que tange à jornada de trabalho, o art. 91 diz que os trabalhadores não poderão

laborar mais de 08 horas diárias, totalizando 40 horas semanais, exceto por razões

estabelecidas por lei. Assim, a lei estabelece dias mais favoráveis para as tarefas insalubres,

perigosas. As pausas para descanso e férias anuais serão pagas de acordo com a lei.

A Constituição paraguaia prevê ainda sobre a retribuição pelo serviço prestado, a

saber, remuneração; onde a lei fixa o salário mínimo, como sendo vital. Os trabalhadores

terão direito também ao bônus anual, o da família. Ainda aborda sobre o o trabalho insalubre,

perigoso, horas extras, noites e feriados.

O art. 94 traz a previsão legal sobre a estabilidade e a indenização, como sendo ambos

uma garantia dos trabalhadores, caso ocorra a demissão de forma ilícita, o trabalhador tem

direito a indenização.

A respeito da organização sindical o art. 96 dipõe que todos os trabalhadores têm

direito de se filiarem ao sindicato sem prévia autorização, sejam eles públicos ou privados,

todavia estão excluídos os membros das forças armadas, bem como os membros da polícia.,

sendo terminantemente proibido a determinação de pertencer a um determinado sindicato, a

escolha é livre. Ao dirigente sindical é assegurada a estabilidade provisória.

O direito à greve esta disposto no art. 98, onde todos os trabalhadores tem esse dirieto

assegurado, tanto os do setor público quanto os do privado. A lei assegura esses direitos,

desde que não afete os serviços públicos essenciais á comunidade.

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Por fim, ha a previsão legal no que tange ao desrespeito do cumprimento das normas

trabalhistas, presentes no art. 99, tendo em vista que deve ocorrer a suprevisão das autoridades

constiuídas por lei, e prevê, ainda, penalidades para os que violarem.

Segundo Vallejos (2012) o trabalho doméstico no Paraguai compõe a segunda

categoria de ocupação feminina. É um dos setores em que há precárias situações laborais e

que trazem maiores desvantagens se comparadas a outras profissões, devido às desigualdades

e discriminações.

Essa categoria abrange cerca de duzentas mil mulheres paraguaias, que moram em

Assunção e na área central do país. Tem em média 30 anos de vida, baixa escolaridade e

muitas delas se submetem a esse emprego, por serem extremamente pobres (36% abaixo da

linha de pobreza) e desqualificadas. Geralmente trabalham em longas jornadas, chegando a

trabalhar por 50 horas semanais.

Ao contrário da Bolívia e do Brasil, no Paraguai não há uma lei específica que trate

somente dos direitos dos trabalhadores domésticos. Sabemos que há um projeto de lei da

Camara de Comissão de Justiça Trabalho e Previdência Social presidida pelo Deputado

Clemente Barrios, que visa assegurar o trabalho decente para as Trabajadoras del Hogar e que

os direitos humanos e os direitos internacionais do trabalho serão respeitados. Essa lei visa

aprovar a Convenção nº 189 da OIT.

No Paraguai há o CATD- Centro de Apoio aos Trabalhadores Domésticos, com

atendimento de mediação entre empregadores e empregados, trata-se de oficina especializada

criada pelo Ministério de Justiça e Trabalho do país.

En Paraguay existe desde 1989, el Sindicato de Trabajadoras Domésticas del Paraguay, (SINTRADOP), afiliado a la Central Nacional de Trabajadores (CNT) y forma parte de la Red de Centros de Atención a Trabajadores Domésticas, cuya coordinación está a cargo del Viceministerio de Trabajo y Seguridad Social (VMTSS). Además, existen dos sindicatos en formación: el Sindicato de Trabajadoras de Hogar del Paraguay (SINTRAHOP) y la Asociación de Empleadas del Servicio Doméstico del Paraguay (AESD).Las organizaciones han participado en las consultas para la “elaboración de posibles cambios legislativos” y en el trabajo por la ampliación del IPS, además de actividades nacionales e internacionales. Otro de sus proyectos conjuntos en la Red fue la reciente publicación de un Manual de Intervención para el Trabajo Doméstico. La campaña de información sobre el Trabajo Doméstico Remunerado se realiza como una iniciativa inédita, reúne a varias instancias del Estado y busca sensibilizar y aumentar el conocimiento de la población sobre los derechos laborales que corresponden a las y los trabajadores remunerados en casas de familia (MINISTERIO DE LA MUJER, 2012).

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É cediço que, no caso do Paraguai há uma grande batalha a ser vencida, a começar

pela interpretação da norma, e seu artigo 151 do Código do Trabalho, que estipula que essa

categoria não poderá receber menos que 40% do mínimo legal estipulado no Paraguai. O que

ocorre na prática é que devido à má informação ou a uma interpretação errônea da lei, muitos

ao fazê-lo pagam somente até 40% do salário mínimo, fazendo com que o que a lei estabelece

não seja cumprido; gerando assim uma situação desigual de direitos e obrigações.

A referida lei é omissa no que tange à jornada de trabalho, não possuem um limite de

trabalho, isso prejudica a categoria porque desse modo ficam mais sujeitas à exploração de

trabalho, por longas horas. Não tem direito à aposentadoria e não possuíam direito a

Seguridade Social (IPS) até pouco tempo. Esse benefício foi estendido a toda a categoria de

trabalhadoras domésticas no âmbito nacional do Paraguai, no dia 11 de setembro de 2009, por

meio do Decreto 89-012/2009 o qual todos têm direito à seguridade social.

1931 Dec. 20.251 Regulamenta o serviço dos estivas.

1932 Dec. 21.175 Criação da Carteira Profissional- CP

1932 Dec. 21.186 Duração da Jornada de trabalho no comércio.

1932 Dec. 21.364 Duração da Jornada de trabalho na indústria.

1932 Dec. 21.417 A Regulamentou o trabalho das mulheres nos estabelecimentos industriais e comerciais.

1932 Dec. 22.042 Disciplina acerca do trabalhado exercido pelos menores.

1932 Dec. 23.084 Duração da Jornada de trabalho nas farmácias.

1933 Dec. 23.152 Duração da Jornada de trabalho nas casas de diversões.

1933 Dec. 23.316 Duração da Jornada de trabalho nas casas de penhores.

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1933 Dec. 23.322 Duração da Jornada de trabalho nos Bancos e casas bancárias.

1934 Dec. 23.766 Duração da Jornada de trabalho nos transportes terrestres.

1934 Dec. 24.696 Duração da Jornada de trabalho nos hotéis.

1935 Lei. 62 Foi o 1º diploma lega aplicável aos industriários e comerciários garantido-lhes diversos direitos, dentre eles: indenização de dispensa sem justa causa; contagem de tempo de serviço na sucessão de empresas ou alteração na estrutura jurídica; privilégio dos créditos trabalhistas na falência; enumeração das figuras por justa causa; efeito de força maior os créditos trabalhistas.....

1936 Lei n. 14 Estabelece o salário mínimo, sendo publicada a primeira tabela em 1940.

1943 Dec. 5452 Edição de leis reunidas num diploma legal, versando sobre o direito individual, direito coletivo, direito processual do trabalho, denominado de Consolidação das leis do Trabalho - CLT.

1949 Lei n. 605 Dispunha sobre o DSR- Descanso Semanal Remunerado e feriados.

1952 Dec. 31.546 Aplicabilidade ao menor aprendiz.

1955 Lei n. 2.573 Regula o adicional de periculosidade.

1956 Lei n. 2.959 Dispõe sobre o contrato por obra certa.

1957 Lei n. 3.207 Disciplina as relações de emprego do vendedor viajante e o pracista.

1962 Lei n. 4.090 Décimo terceiro salário- 13º.

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É de suma importância destacar que a luta pelo fim da desigualação, bem como da

violação dos direitos desses trabalhadores domésticos fronteiriços, é uma luta em prol dos

Direitos Humanos, onde fazer justiça nada mais é do que combater a impunidade. Nessa

seara, os países devem formular e aplicar políticas para promover a igualdade de

oportunidades, com o objetivo de eliminar toda a discriminação que impeça o exercício do

trabalho e do emprego decentes.

No último dia oito de maio de 2013, o Paraguai ratificou a Convenção nº 189 da OIT,

conforme notícia a seguir:

En Paraguay, el Convenio 189 fue aprobado el 6 de noviembre de 2012 en la Cámara de Diputados, después de haber entrado a fines de julio del mismo año a esta instancia. Fue gracias al trabajo del Ministerio de la Mujer y el de Justicia y Trabajo, que realizaron los trámites preliminares ante la Presidencia de la República y el Ministerio de Relaciones Exteriores, para que el documento se sometiera formalmente al Parlamento, con un pedido de Ratificación. Posteriormente el proyecto fue discutido en diversas Comisiones, entre ellas,

1963 Lei n. 4.212 Refere-se ao Trabalhador rural.

1963 Lei n. 4.266 Dispõe acerca do Salário Família.

1964 Lei n. 4.330 Disciplinou sobre o direito de greve

1966 Lei n. 5.107 Institui o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço- FGTS

1970 Lei n. 5.584 Previa a homologação do recibo de quitação nas rescisões contratuais do empregado com mais de um ano de salário.

1972 Lei n. 5.859 Dispõe sobre a profissão do empregado doméstico.

1988 Constituição Federal Institui o Estado democrático de Direito, destinando assim a assegurar os direitos sociais e individuais, a liberdade, segurança, o bem estar, desenvolvimento, a igualdade e a justiça.

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la Comisión de Legislación, Comisión de Justicia y Trabajo y la Comisión de Equidad, Género y Desarrollo Social, las que también aconsejaron la aprobación. Por último, el 10 de diciembre de 2012 el Presidente de la República promulgó la Ley 4819/12 que ratifica este Convenio. Luego del depósito de la norma internacional, el plazo para que el Convenio entre en vigor es de 12 meses. Cabe destacar que las disposiciones del Convenio 189 son presentadas en términos generales, dando a los Estados ratificantes una oportunidad de revisar y fortalecer en forma continua sus legislaciones nacionales. Lo fundamental es que el Convenio 189 establece un piso mínimo, por lo que si existen normas nacionales más favorables para los trabajadores domésticos, éstas siempre prevalecen. Cuando un país ratifica un Convenio de la OIT, su Gobierno hace un compromiso formal de aplicar todas las obligaciones establecidas en él, y periódicamente informar a la OIT sobre las medidas adoptadas en este sentido. Los países miembros quedan también sujetos al sistema de control regular de la OIT para garantizar su aplicación (PARAGUAY, 2013).

Atualmente, oito países já ratificaram a Convenção nº 189 da OIT, a saber: Uruguai,

Filipinas, Ilhas Maurício, Nicarágua, Bolívia, Paraguai, Itália e África do Sul.

4.3 A CONDIÇÃO DE TRABALHO NA REGIÃO FRONTEIRIÇA

A pesquisa baseou-se em uma metodologia qualitativa, sem pretender uma

representação estatística integral da situação, devido à grande dificuldade em adentrar os lares

onde esses atores sociais trabalham e principalmente a dificuldade em encontrar dados e

informações reais da situação, haja vista não possuírem27, por ser uma região de fronteira. A

investigação focalizou o conjunto de Trabalhadores Domésticos encontradas na Fronteira

Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai no período de abril/2012 a agosto/2013.

Para a construção foram realizadas entrevistas com autoridades do poder público, do

poder judiciário e de órgãos internacionais, como os consulados dos três países em comento,

entidades, trabalhadores e alguns empregadores.

Nós nos atentaremos para os pontos mais relevantes da pesquisa, que demonstrarão a

real condição desses trabalhadores, não nos prendendo ao que o ordenamento jurídico

preconiza, mas sim a realidade em que vivem essas trabalhadoras domésticas.

Por fim, salientamos a importância do acesso ao conhecimento das leis, da Convenção

N. 189 da OIT, assim como dos direitos desses trabalhadores, a fim de que recorram ao poder

judiciário em busca de seus direitos violados. Ressaltamos ainda o desconhecimento de

27 Nas entrevistas com os órgãos institucionais da Bolívia, todos foram unânimes em afirmar não possuírem dados concretos que condizem com a realidade encontrada, a exemplo podemos citar o Ministerio del Trabajo e Emprejo de Puerto Suarez. O Consulado do Brasil em Pedro Juan Caballero, afirmou desconhecer dados reais de trabalhadores domésticos na região, inclusive nos encaminhou ao seu advogado, que não nos atendeu.

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algumas autoridades envolvidas no processo de entrevista da pesquisa, onde muitas delas não

conheciam tais leis, convenções, mostrando assim falta de informação, despreparo, ignorância

sobre o assunto em análise.

4.3.1Inserção no Campo na Fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai

A pesquisa foi dividida em dois momentos distintos, a saber: o primeiro momento a

condição das trabalhadoras brasileiras trabalhando na Bolívia (Puerto Quijarro e Puerto

Suarez) e as bolivianas trabalhando no Brasil (Corumbá) com intuito de elucidar e esclarecer

as questões pertinentes ao tema.

Em um segundo momento, pesquisamos a fronteira Brasil/Paraguai, procurando os

trabalhadores domésticos brasileiros em Pedro Juan Caballero (Paraguai) e os paraguaios em

Ponta Porã (Brasil).

O fato de não conhecer a cidade, ser de outro município, somado ao fator distância,

foram motivos preponderantes que dificultaram ainda mais a pesquisa de campo.

Como iniciar a pesquisa? Com quem falar? Como agir? Quem poderia ser a peça

chave nessa caminhada?

Brasil/Bolívia

A partir das narrativas dos trabalhadores constatou-se que a experiência de trabalho a

que são submetidas alcança índices de grande informalidade no quesito anotação da CTPS-

Carteira de Trabalho e Previdência Social, principalmente nos trabalhadores domésticos

bolivianos analisados na cidade de Corumbá (Brasil)28.

Identificou-se que essas trabalhadoras, são mulheres, com idade variando entre 20

anos a 55 anos, não possuem carteira de trabalho anotada, pois embora morem no Brasil

acerca de 05, 08, 10 e 18 anos temem e muito os órgãos de fiscalização do Trabalho (MTE) e

a Polícia Federal, por encontrar-se em situação irregular no país (Brasil) e não possuem

condições financeiras para tirar toda documentação necessária29 para regularizar sua situação.

28 Nos outros países (Bolívia e Paraguai) não há carteira de trabalho para registrar e especificar os dados dos trabalhadores. O que existe é um contrato de trabalho escrito, mas que na grande maioria das vezes, ele é somente verbal. 29 O ator social entrevistados não tem o documento transfronteiriço, nem o visto permanente. O que possuem são: Cadastro de Pessoa Física- CPF e Registro Geral- RG.

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Pesquisadora: Porque você não regulariza a sua situação aqui no Brasil? Não tira a documentação toda? R.A30: Olha, eu não tenho condições. Para tirar o visto é muito documentação exigida, tem que pagar muito e eu estou bem assim. Só temo ser mandada embora do emprego, porque daí seria muito difícil encontrar um emprego como esse (ENTREVISTA REALIZADA COM R.A)

Em outra fala, a empregada doméstica A. sobre o tema anotação na CTPS conta que

também não tem carteira de trabalho anotada.

A: Sabe, eu não tenho Carteira de trabalho registrada, porque eu não tenho a documentação toda e também é muito caro para tirar todos os documentos (ENTREVISTA COM A.)31

Entre as muitas trabalhadoras domésticas entrevistadas, identificou-se somente uma

com CTPS anotada, conforme entrevista a seguir.

Pesquisadora: Você é registrada? Tem Carteira de Trabalho? Há quanto tempo? M: Sou registrada sim, mas tem um problema. Como te falei, minha patroa tem um comércio e eu sou registrada como funcionária de lá. Não sou registrada como doméstica. Mas fico muito chateada, porque sou a que ganho menos de todos de lá e tenho na carteira a mesma função delas.32

É importante reconhecer que de todas as domésticas bolivianas entrevistadas,

encontramos somente uma com anotação na CTPS. Todas entrevistadas na fronteira

Brasil/Bolívia não tinham carteira de trabalho. Porque muitas delas trabalham na

informalidade? E os direitos previdenciários? Quando ficarem doentes ou mesmo acontecer

algum acidente de trabalho? Estarão resguardadas pela lei?

O que podemos observar é que muitas temem ficar desempregadas e por isso

sujeitam-se a trabalhar na informalidade. Quanto ao tema documentação, afirmaram não tirar

por causa do preço alto que custa.

Já em relação às trabalhadoras domésticas brasileiras laborando em Puerto Suarez

(Bolívia) não existe a carteira de trabalho lá, porque o contrato de trabalho é verbal, inclusive

a remuneração, a estipulação de jornada de trabalho, os itens são todos acertados verbalmente.

Pesquisadora: Aqui você tem direitos trabalhistas? Você tem algum documento que comprove que trabalha para seu patrão?

30 Irei manter somente as iniciais para evitar qualquer modo de identificação dos atores sociais entrevistados. R.A. é uma trabalhadora doméstica, boliviana, que reside há 05 anos em Corumbá. Trabalha como doméstica na residência de seu patrão nos fundos e também trabalha na loja dele no período da manhã. 31 A. Entrevista realizada com a empregada doméstica A. na cidade de Corumbá no dia 20/09/2012. Ela é boliviana e reside a 18 anos em Corumbá. Atualmente vive somente com a filha em um bairro afastado do Centro de Corumbá. Trabalha nessa residência já faz 05 anos e o imóvel é central. 32 M é uma jovem boliviana, de 23 anos que reside na cidade de Corumbá há 05 anos e trabalha nesse serviço há pelo menos três anos. Não irei citar o tipo de comércio exercido por sua empregadora, para evitar identificação do entrevistado.

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R33: aqui tudo é combinado de boca. Nada é escrito. Por isso que quase ninguém quer mais trabalhar de doméstica, nem de faxineira. Pesquisadora: Por quê? Porque pagam pouco? Qual o motivo? R: É porque na faxina, por exemplo, eles pagam por cômodo. Se a casa tem 05 peças, cada peça eles falam que vão pagar para você 20 Bo, só que depois que você já limpou tudo eles chegam e não te pagam o combinado. E aqui todo mundo se conhece, então as mulheres preferem trabalham na feirinha, ou mesmo para a prefeitura do que nas casas de família (ENTREVISTA COM R).

Ao entrevistarmos M.S34 e R.A35disseram o mesmo relato, conforme a seguir:

M.S: Aqui, Andréia, ninguém quer saber de trabalhar de doméstica ou de faxineira. Primeiro, porque não podemos almoçar tomar um café, nada. Temos que fazer as tarefas do lar e só depois de terminado todo o serviço é que podemos descansar. Daí, a gente limpa tudo certinho e na hora do pagamento, eles pagam na faxina, por exemplo, se a casa tinha cinco cômodos, o certo seria receber 100 Bo, pagam 50 somente e se você reclama, corre o risco de ser xingada e nem receber. R.A: Aqui é tudo muito injusto, porque se a trabalhadora pede adiantamento de 100 Bo e seu salário por mês é de 400 Bo, quando chega o dia do pagamento, eles ficam enrolando e te pagam mais 100 Bo. Daí o que acontece, eles sempre ficam te devendo e você nunca recebe o que tinha direito. Fica uma bola de neve. Eu trabalho de doméstica, porque preciso estou velha e não tem outro jeito para mim.

Na busca em encontrar um maior número de trabalhadoras domésticas em Puerto

Suarez e de constatar como funcionam os contratos de trabalho e as formalidades exigidas em

lei, procuramos o Jefe Regional de Trabajo-Puerto Suarez/Bolívia, que informou a existência

de duzentas (200) trabalhadoras domésticas bolivianas cadastradas desempenhando a referida

função em Puerto Suarez. Questionado sobre a existência de trabalhadoras domésticas

brasileiras laborando em Puerto Suarez ou Puerto Quijarro, respondeu que não tinha

conhecimento sobre essas trabalhadoras. Ele nos informou que o contrato de trabalho na

Bolívia é verbal na maior parte, embora existam contratos escritos.

Enquanto na Bolívia, a lei que trata dos direitos das Trabajadoras del Hogar é a Ley N.

2450 do ano de 2003, a qual estabelece dois tipos de trabalhadoras: cama adentro, que é

quando a empregada trabalha e mora na casa da patroa e cama afuera, quando a trabalhadora

termina o expediente às 18h e retorna ao seu lar. As trabalhadoras que se submetem ao

trabalho cama adentro, são as que vêm do campo, não tem onde morar, precisam de trabalho

e dessa forma moram no emprego, porque ele lhes garante um teto. 33 R é uma trabalhadora doméstica brasileira que vive em Puerto Suarez há 12 anos, tem dois filhos, é casada e trabalha nessa residência há quatro anos. Entrevista realizada em 09 abril. 2012. 34 M.S. é uma brasileira, advinda do Paraná, que está.... 35 R.A. é brasileira, mãe de R. e trabalha também como empregada doméstica. Tem 60 anos de idade e está trabalhando de doméstica há oito meses. Está em Puerto Suarez acerca de 35 anos.

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No Brasil, conforme demonstrado no item 2.2 que trata do tema Trabalho Doméstico

no Brasil, a lei dessa categoria é a Lei nº 5859/72 e mais recentemente a Emenda

Constitucional nº 72/2013.

A CLT sobre o tema anotação da carteira de trabalho dispõe que:

Art. 29 - A Carteira de Trabalho e Previdência Social será obrigatoriamente apresentada, contra recibo, pelo trabalhador ao empregador que o admitir, o qual terá o prazo de quarenta e oito horas para nela anotar, especificamente, a data de admissão, a remuneração e as condições especiais, se houver, sendo facultada a adoção de sistema manual, mecânico ou eletrônico, conforme instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) § 1º As anotações concernentes à remuneração devem especificar o salário, qualquer que seja sua forma de pagamento, seja êle em dinheiro ou em utilidades, bem como a estimativa da gorjeta. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967) § 2º - As anotações na Carteira de Trabalho e Previdência Social serão feitas: (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) a) na data-base; (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) b) a qualquer tempo, por solicitação do trabalhador; (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) c) no caso de rescisão contratual; ou (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) d) necessidade de comprovação perante a Previdência Social. (Redação dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) § 3º - A falta de cumprimento pelo empregador do disposto neste artigo acarretará a lavratura do auto de infração, pelo Fiscal do Trabalho, que deverá, de ofício, comunicar a falta de anotação ao órgão competente, para o fim de instaurar o processo de anotação. (Redaçãod dada pela Lei nº 7.855, de 24.10.1989) § 4o É vedado ao empregador efetuar anotações desabonadoras à conduta do empregado em sua Carteira de Trabalho e Previdência Social. (Incluído pela Lei nº 10.270, de 29.8.2001) § 5o O descumprimento do disposto no § 4o deste artigo submeterá o empregador ao pagamento de multa prevista no art. 52 deste Capítulo (Incluído pela Lei nº 10.270, de 29.8.2001) (BRASIL, 2013)

Sobre o tema trabalhadoras domésticas e sua condição de trabalho, a OIT (2011, p. 9)

dispõe:

[...] São vítimas frequentes de violação dos direitos humanos e dos direitos fundamentais no trabalho, como o trabalho forçado, o trabalho infantil e a discriminação. Considerando as discriminações de gênero e raça envolvidas, tem estreita relação com a questão mais ampla da igualdade de oportunidades e tratamento no mundo do trabalho. Assim, o trabalho doméstico é uma das atividades para as quais a noção de trabalho decente tem especial importância.

Muitas indagações acompanharam a realização desta pesquisa: Porque mesmo diante

de falta de comprometimento por parte dos empregadores, essas trabalhadoras brasileiras

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continuam trabalhando e morando na Bolívia? Porque as trabalhadoras brasileiras preferem

laborar na informalidade? Porque não regularizam suas situações. Porque as trabalhadoras

bolivianas ainda permanecem laborando em Corumbá, mesmo percebendo salários menores

aos das brasileiras? Porque aceitam trabalhar na informalidade? (estamos nos referindo às

trabalhadoras bolivianas trabalhando em Corumbá).

Sem sombra de dúvida, o fator determinante da imigração das brasileiras para Bolívia

são laços afetivos, enquanto que das bolivianas para o Brasil, são as aspirações econômicas e

financeiras e isso explica porque muitos desses atores sociais permanecem em países distintos

ao da sua nacionalidade, mesmo frente a situações humilhantes, de violações aos direitos

humanos e trabalhistas, de informalidade, dentre outros.

A condição de trabalho dessas brasileiras que trabalham e residem na Bolivia, é

distinta da encontrada no Brasil, pois os atores sociais entrevistados relataram que sofrem

abusos e violações frente aos seus direitos, exercem dupla função de trabalho, pois ao

adentrarem em seus lares, tem os afazeres de seus domicílios, mas que mesmo diante de um

total desrespeito aos seus direitos, a sua dignidade humana, permanecem agarradas a ele,

como se fosse o único meio de sobrevivência para elas, e na verdade é, porque tomaram para

si esse fato, como a verdade de suas vidas36.

Isso corrobora para que o Estado prevaleça apenas sobre uma minoria dominante com

leis injustas e normas que visam o coletivo, mas, todavia, são regulamentadas somente para

ser cumprido pelo menos favorecido na escala hierárquica do poder. O Estado está tomado

pela classe dominante e as leis são elaboradas para atender as camadas dominantes

Outro aspecto digno de abordagem foi o tema remuneração desses trabalhadores, que

segundo relatos dos atores sociais envolvidos, ambos (aqui menciono tanto as brasileiras na

Bolívia, quanto as bolivianas no Brasil) não percebem igual aos nacionais de seus países.

Pesquisadora: Você ganha o mínimo vigente no Brasil ou ganha o mínimo vigente na Bolívia? Pergunto isso, porque embora você trabalhe aqui em Puerto Suarez, sua patroa é brasileira. R.: Eu ganho menos que o salário mínimo daqui da Bolívia37. Minha patroa é brasileira e fala que a casa dela é muito pequena, que me dá, alimentação, as vezes eu ganho roupas usadas dela, que trabalho pouco, que isso que ganho é

36

Quanto à escolaridade desses atores sociais brasileiros entrevistados na Bolívia (Puerto Suarez), elas afirmaram ter estudado até a terceira série do ensino fundamental. 37

Atualmente o salário mínimo vigente na Bolívia é de 1000 Bo, ratificado pela Resolucion Ministerial No. 659/12. Segundo o Jefe do Regional de Trabajo-Puerto Suarez/Bolívia quem pagar valor menor ao salário mínimo estipulado por essa resolução, pagará multa no Banco Union.

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suficiente.[...] Por esse motivo, eu ganho somente 400 Bo. Mas pretendo procurar outro emprego, só não saí ainda porque tenho filhos pequenos e eles dependem de mim e meu esposo ganha muito pouco.

Para legitimar o tema remuneração, segue trechos de outra entrevistada brasileira

residente em Puerto Suarez.

M.S: [...] aqui ninguém ganha bem, Andréia. Pesquisadora: Mas o empregador que não cumprir e pagar os mil bolivianos será multado? Você conhece essa resolução que fala sobre esse assunto? M.S: Isso não funciona na Bolívia. Aqui tudo é diferente. Eles falam de leis, mas na prática, a coisa muda de figura. Ninguém paga certo. Te falei que ninguém quer mais trabalhar de doméstica aqui, por causa disso. Eles enganam a gente.

A condição das trabalhadoras brasileiras encontradas é distinta das bolivianas, pois

elas afirmaram receber todos os direitos elencados em lei, com exceção de terem suas

carteiras de trabalho registradas. Algumas relataram não receber o vale transporte, porém

todas afirmaram receber o salário mínimo atual, vigente no Brasil (atualmente o salário

mínimo no Brasil é de R$ 678,00).

Todavia, é importante reconhecer que em sua grande maioria, as bolivianas que

trabalham aqui no Brasil recebem de acordo com o salário mínimo vigente em nosso país.

Afirmaram ganhar entre R$ 678,00 reais e algumas com mais tempo de serviço ganham até

R$ 850,00 mensais.

O tema jornada de trabalho também foi abordado em nossa análise e encontramos no

Brasil, brasileiras trabalhando a partir das 07h e 30min. da manhã e com horário de saída as

15h e 30 min. Inobstante falar, que todas as entrevistas nesta fronteira foram realizadas antes

da aprovação da emenda constitucional nº 72/2013, pois caso fosse realizada nos dias de hoje,

talvez encontrássemos mudanças significativas devido a estipulação da jornada diária em oito

horas e em quarenta e quatro horas semanais.

Na Bolívia a situação é bem distinta, pois elas entram as 07 h e sai às 13h e 30min,

laboram em lugares afastados, de difícil locomoção, no entanto ainda tenham que se deslocar

para o trabalho, destacamos que elas não recebem o vale transporte. Muitas vão caminhando

para o trabalho.

Na Bolívia, a Convenção N. 189 da OIT já foi ratificada, aqui no Brasil ainda não,

embora estejamos passando por muitas mudanças de grande importância para o ordenamento

jurídico brasileiro.38

38 Ver mais sobre o tema no item 2.2.1 intitulado Emenda Constitucional nº 72/2013.

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No que tange ao TID, o Jefe Regional de Trabajo mencionou que antigamente havia

muitas crianças trabalhando como empregadas domésticas na região, sendo muitas delas

assediadas e violentadas, mas que hoje, há um acompanhamento por parte das autoridades o

que tem diminuído sensivelmente esses abusos devido a uma fiscalização mais acirrada por

parte do órgão e esse fato não ocorre mais.

Brasil/Paraguai

Essa fronteira de Ponta Porã (Brasil) com Pedro Juan Caballero (Paraguai), é uma

fronteira seca, constituída por cidades gemas, “limitadas por uma longa avenida que

acompanha a ocupação humana de ambos os lados”. (BANDUCCI, 2012, p. 1).

Após ter terminado a pesquisa de campo na fronteira Brasil/Bolívia, iniciamos os

estudos em meados de março/abril sobre essa fronteira, totalmente distinta da primeira.

Resolvi primeiramente entrevistar as autoridades dos países em análise, a saber,

Brasil/Paraguai.

Primeiramente, entrevistei o Cônsul do Paraguai em Ponta Porã, que nos deu

informações muito valiosas: “Acredito que não há trabalhadoras brasileiras exercendo a

função de domésticas no Paraguai (Pedro Juan Caballero) pelo valor da moeda e também

porque lá ganham menos que aqui no Brasil”.

Por intermédio de uma autoridade local, conheci a minha interlocutora L39 que em

muito me auxiliou.

Pesquisadora: Você já trabalhou de doméstica, porque desistiu? L: Porque ganho mais como faxineira. Mais durante muito tempo, trabalhei como doméstica e ficava indo e vindo de Pedro Juan para Ponta. Agora, já moro aqui em Ponta.

Em seguida, L. nos apresentou uma colega sua C40 nos relatou sobre sua condição

laboral em Ponta Porã (Brasil)

Pesquisadora: Você exerce essa profissão, há quanto tempo? C: Eu trabalho já faz uns 10 anos mais ou menos. Porque não tenho muito estudo e aqui é bem difícil. As mais jovens e bonitas trabalham no comércio em Pedro Juan. Pesquisadora: Você tem contrato escrito?

39 L. é uma trabalhadora paraguaia. Foi minha interlocutora na cidade de Ponta Porã. Ela tem 36 anos, é solteira, tem uma filha e trabalha como faxineira atualmente. 40 C. é paraguaia, trabalha em Ponta Porã há quase 10 anos como empregada doméstica, mas também faz faxina aos sábados para complementar a renda.

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C: Não tenho. Aqui eles fazem contrato por escrito, mais no meu caso não tenho. Pesquisadora: Quanto a sua remuneração, você ganha um salário mínimo vigente no Brasil? C: Eu ganho cerca de R$ 500,00 reais, porque eu não trabalho nos sábados. Sábado eu faço faxina em duas residências.

Outra narrativa de D41 a seguir:

D: Eu trabalho como doméstica já faz uns quatro anos nessa casa. Ganho um salário certinho, inclusive tenho passe de ônibus e minha patroa é muito boa para mim, não tenho do que reclamar. Pesquisadora: Você ganha uma salário mínimo do Brasil ou do Paraguai? D: Eu ganho R$ 615,00 reais por mês, fora o passe, mas não tenho a documentação brasileira42

Entrevistei S43 acerca do tema remuneração e jornada de trabalho que relatou:

S: Eu ganho mais que minhas colegas e familiares, porque recebo por mês cerca de R$ 800,00, além do passe de ônibus. Trabalho todos os dias das 7 da manhã até as 2 horas da tarde. Sou cozinheira e estou com essa minha patroa há 12 anos. Pesquisadora: Você conhece seus direitos? S: Olha, posso até ter direitos, mais minha patroa é tão boa para mim e também estou muito feliz aqui.

Observamos que todos os atores sociais entrevistados ganham a partir de R$ 500,00,

tem jornada laboral de cerca de sete horas com variante de uma hora, alguns conhecem seus

direitos, outros não. Todos os entrevistados não possuem CTPS anotada, além de não

conhecerem nada sobre a Convenção nº 189 da OIT44.

No Ministério del Justicia y Trabajo, conversei com o fiscalizador del M.J.T45, Sr.

Nazario Benitez Ortiz, que nos forneceu explicações acerca da mediação feita entre

trabalhadores e empregadores, mas que não foi feita nenhuma mediação entre trabalhadoras

domésticas brasileiras laborando em Pedro Juan Caballero e seus patrões, a não ser entre

empregados brasileiros do comércio e seus respectivos patrões, isso sim é comum. Esse

mesmo assunto, foi abordado também quando fizemos a entrevista com o Dr. Perfecto

Orrego, Juiz Civil e Laboral, Comercial lotado no Juzgado da 1ra Instancia em lo Civil,

Comercial y Laboral 1er Turno em Palacio del Justicia, onde o mesmo afirmou ser antigo no

cargo e até aquele momento nunca ter proferido nenhuma sentença em que umas das partes

41 Uma trabalhadora doméstica, de 28 anos, Labora nessa residência acerca de 04 anos nessa mesma residência. 42 Nesse instante a entrevistada faz referência a CTPS. 43

S. é uma trabalhadora doméstica paraguaia que labora há 12 anos nessa residência. Tem 42 anos. 44

Insta lembrar que as entrevistas ocorreram aqui em meados de abril, maio, julho. Após a Emenda Constitucional 72/2013. 45 M.J.T.- Ministério del Justicia y Trabajo.

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fosse brasileira exercendo a função de trabalhadora doméstica. Ressaltou ainda, que no

comércio há muitas demandas entre funcionárias brasileiras (pólo ativo) em desfavor de seus

patrões, isso é comum lá.

Ainda tentamos o setor de mediação que fica localizado no Palacio da Justicia no

subsolo do prédio, conversamos com duas mediadoras (obtivemos essa informação no

Ministerio del Trabajo y Justicia de Pedro Juan Caballero), mas elas nos disseram que lá não

há mediação entre essa categoria de trabalhadores, que isso ocorre com muita frequência no

Ministerio.

Minha ultima tentativa era o consulado brasileiro. Chegando lá, o Cônsul nos

informou a mesma coisa, que desconhecia esse fato e quem talvez pudesse nos ajudar seria o

advogado do consulado brasileiro, mas não obtive êxito.

Trechos da entrevista com P46;

Pesquisadora: Você sabe me dizer se há domesticas brasileiras aqui em Pedro Juan? P: Acho muito difícil, porque aqui se ganha muito pouco. Pesquisadora: Elas ganham no mínimo 40% do salário mínimo do Paraguai, não é? Por isso não querem trabalhar de doméstica? P: Olha Sra, é muito difícil alguém ganhar aqui um salário mínimo em Pedro Juan. Há muitas paraguaias trabalhando em Ponta, isso eu conheço. Pesquisadora: Você poderia me dizer se conhece alguma trabalhadora em Ponta? Onde poderia encontrá-la? P: Eu não conheço ninguém trabalhando aqui como doméstica, ainda mais brasileira. Só conheço as brasileiras que trabalham na Casa China. (ENTREVISTA REALIZADA COM P.)

Foram realizadas várias entrevistas com autoridades do poder judiciário e elas foram

unânimes em afirmar não conhecerem também, principalmente pelo que preconiza no Codigo

del Trabajo, articulo 151 del Paraguay que dispõe:

Art. 151. La retribución en dinero a los trabajadores domésticos no podrá ser inferior al 40% (cuarenta por ciento) del salario mínimo para tareas diversas no especificadas de la zona del país donde preste servicio (PARAGUAY, 2013).

A remuneração destinada a essa categoria de trabalhadoras domésticas, deve ser no

mínimo de 40% do salário mínimo vigente no país (Paraguai). Infelizmente lá menor ainda na

região do Alto Chaco e no interior do Paraguai não é o que acontece, segundo relatos de um

46 P: Trata-se de uma atendente paraguaia, de 19 anos, que trabalha em uma padaria na região central de Pedro Juan Caballero.Entrevista realizada em 23 maio, 2013.

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documentário da OIT47. No entanto essa região não é objeto de nossa pesquisa, por não tratar-

se de região fronteiriça.

Por fim, observamos que a condição de trabalho dessas trabalhadoras domésticas é

similar em alguns aspectos da já estudada anteriormente, pois ambas não tem a CTPS (já

explicamos que no Paraguai e na Bolívia não há esse documento e sim um contrato escrito,

que na prática, esse contrato é somente verbal). Esses atores sociais recebem até um salário

mínimo vigente no Brasil. Algumas narraram que ganham vale transporte, possuem um

descanso semanal preferencialmente aos domingos, não estão afiliadas a nenhum sindicato ou

associação de classe, todas as entrevistadas desconheciam a Convenção N. 189 da OIT, ou

seja, as trabalhadoras fronteiriças desconhecem os seus direitos. Suas idades variam entre 23

a 60 anos, todas são mulheres. O que as distingue é a jornada de trabalho, pois as imigrantes

aqui no Brasil laboram a partir das 07 h da manhã até as 15h e 30 m ou 16 h, enquanto que as

brasileiras em Puerto Suarez laboram das 7 h até as 13h ou 14 h da tarde.

Outro fator diferenciador foi à remuneração, onde as brasileiras, não percebem o

salário mínimo vigente no país em que estão trabalhando (neste caso, Puerto Suarez),

ganhando muito menos. Todas as brasileiras afirmaram que não existe o cumprimento das

leis, então ou você procura outro emprego ou se conforma com o que ganha.

Quanto a escolaridade, as trabalhadoras domésticas brasileiras na Bolívia estudaram

até o ensino fundamental (3º e 4º ano), já as bolivianas possuem o ensino o médio completo (

pois concluíram na cidade de Corumbá) e as paraguaias no Brasil (Ponta Porã), afirmaram

em sua maioria terem estudado até o ensino fundamental.

Salientamos ainda, que no quesito assistência a saúde, quando ficam doentes recorrem

aos hospitais da rede pública no Brasil, pois ambas entrevistadas disseram que a saúde em

seus países é muito precária, um verdadeiro caos.

Quanto à condição de trabalho, tanto as bolivianas quanto as paraguaias afirmaram

que desenvolvem suas atividades laborais em ambientes de higiene e com boas condições de

trabalho, sendo-lhes oferecido materiais necessários para a realização de suas tarefas laborais.

Por derradeiro, gostaríamos de mencionar que não encontramos nenhum que ator

social que morasse ou mesmo dormisse no ambiente laboral, por isso, quanto ao aspecto de

suas condições de dormitório e acolhimento da família, preferimos nos abster de detalhes, por

não ter conhecimento direto através da pesquisa de campo.

47

Para maiores informações acerca do Tema Paraguai- Série “Trabalho doméstico, trabalho decente”. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ebEaD3krZeg>. Acesso em: 10 maio, 2012.

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Esses trabalhadores são silenciados pelo medo da fala e da perda de seus empregos,

trabalhadores apagados48 ou mão invisível e silenciosa frente a uma sociedade que se cala

diante da violação aos direitos trabalhistas e humanos, mas que clama e reclama frente a

alterações benéficas a essa categoria de trabalhadores. Assim sendo, entrar neste universo é ir

além da concepção de categoria de trabalhadores, pois a identidade desses trabalhadores

imigrantes é construída em confronto com a sociedade que ora acolhe, ora repudia.

48

Acerca do tema trabalhadores apagados, ver: COSTA, Fernando Braga da. Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social. São Paulo: Globo, 2004.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao elaborarmos nosso projeto de pesquisa, indispensável nas buscas teóricas e

empíricas, estávamos conscientes de que abordaríamos temas polêmicos, por se tratar de uma

categoria em que a invisibilidade, humilhação e sujeição são fatos constantes nessa profissão.

No decorrer da pesquisa, nosso projeto passou por algumas mudanças na estrutura

inicialmente concebida, haja vista a própria dinâmica da pesquisa.

Deste modo, procuramos identificar a presença de trabalhadores domésticos

fronteiriços trabalhando nas cidades de fronteira Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai a fim de

demonstrar a proteção jurídica trabalhista estendida a essa categoria de trabalhadores.

Uma profissão exercida em sua maioria por mulheres e que muitas das vezes por ter

receio de procurar o judiciário ou mesmo por desconhecimento de direitos, se submetem a

situações degradantes e humilhantes no que diz respeito a suas condições laborais.

Feita a identificação, analisamos a presença de mulheres se ativando nesse grupo de

trabalhadores, procurando avaliar as condições de igualdade em relação aos demais

trabalhadores. Haja vista que a divisão sexual do trabalho não é um dado rígido e imutável,

onde os princípios norteadores dessa separação são os mesmos, o trabalho reprodutivo, lugar

estabelecido das mulheres dentro do trabalho mercantil, dentre outros.

Nessa busca, encontramos trabalhadores do sexo feminino (mulheres, na maior parte),

com idades que variam entre 21 a 65 anos, com escolaridade até o ensino médio (com exceção

de R49), suas nacionalidades são distintas, tendo em vista que encontramos muitas bolivianas

trabalhando em Corumbá, algumas brasileiras em Puerto Suarez, paraguaias em Ponta Porã,

mas todas exercendo a função de empregada doméstica.

Sabemos que embora existam diversas leis protetoras, elas não vêm sendo respeitadas,

apesar dos órgãos jurisdicionais afirmarem que desconhecem ilegalidades e que há muitas

campanhas de cunho informativo (segundo informações levantadas nesses órgãos) nas regiões

fronteiriças do Brasil/Bolívia e Brasil/Paraguai , a realidade encontrada foi diversa da exposta

por esses agentes, que confirmaram nossas hipóteses de irregularidades e descumprimento das

leis.

49

R é uma trabalhadora boliviana que trabalhava como empregada doméstica e também como funcionária em um comércio central de Corumbá. Formada em Enfermagem na Bolívia. Está no Brasil por conta de uma casamento desfeito e em busca de melhores condições de vida e de trabalho.

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Dentre os fatores que dificultam o cumprimento ou mesmo a denúncia da violação

desses direitos, estão à dificuldade de fiscalização nas residências, o reduzido número de

denúncias efetuadas por essa categoria de trabalhadores (seja maus tratos, trabalho forçado,

trabalho infantil, violações de direitos humanos e trabalhistas, dentre outros) e problemas com

fortes implicações sócio-econômicas e culturais que ultrapassam o contorno exclusivo de

aplicação de leis que regem o assunto.

São vários os motivos que desencadeiam essa imigração na região de fronteira dessas

mulheres que movidas por sonhos e ideais pessoais saem de seu país e adentram no Brasil em

busca de emprego e acabam trabalhando como empregada doméstica.

Mas porque essas trabalhadoras não buscam auxilio ou mesmo ajuda nos consulados

dos seus países? Não recorrem à justiça? Em nossas pesquisas jurisprudenciais, encontramos

somente um acórdão no TRT-24ª Região de uma trabalhadora paraguaia.50 Poderíamos dizer

que o acesso à justiça tem a finalidade pela qual as pessoas possam exigir e reivindicar seus

direitos e até mesmo solucionar suas lides (litígios) recorrendo ao Estado. Esse sistema deve

ser acessível a todos de modo indistintamente.

É bem verdade que a grande maioria das domésticas fronteiriças pesquisadas trabalha

na informalidade, o fato dela estar irregular no país não pode ser fator inibidor de direito. Não

reclamam por medo, alienação, insegurança, temor em não conseguir outro emprego,

desconhecimento de informações, por falta de consciência, pela própria cultura, por

ignorância, são esses fatores que desencadeiam a invisibilidade e sujeição. Em muitos casos

estão moralmente coagidas e por isso não reclamam ou até porque sequer tem consciência de

seus direitos.

Entendemos que ainda que esse trabalhador doméstico fronteiriço esteja em situação

irregular no país, ele é sujeito do ordenamento jurídico, portanto pode recorrer ao judiciário

na busca por seus direitos violados ou ameaçados. A ausência da identificação, aliado ao

desconhecimento da lei é uma das barreiras para o exercício efetivo e concreto do direito.

No Brasil, a situação é diferente, pois essas trabalhadoras possuem informações acerca

de seus direitos, seja nos veículos de comunicação em massa, seja nos programas televisivos

ou nas campanhas realizadas pelos órgãos do poder judiciário.

Como modificar esta situação na fronteira? Desenvolver e implementar políticas

integrais em consonância com a Convenção nº 156 é a solução?

50

Processo N. 0075/2009-066-24-01-0-RO.1

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Art 6º: As autoridades e órgãos competentes de cada país devem adotar medidas apropriadas para promover a informação e a educação que gerem uma compreensão pública mais ampla do princípio da igualdade de oportunidades e tratamento para trabalhadores e trabalhadoras e dos problemas daqueles e daquelas com responsabilidades familiares, bem como uma opinião pública favorável à solução desses problemas (OIT, 2013, p. 11).51

Uma das alternativas é fazer campanhas de cunho informativo para essa categoria de

trabalhadores através de cartilhas (manuais) com conteúdo explicativo, contendo leis de

proteção desses trabalhadores fronteiriços, telefones úteis e ainda os direitos elencados desses

empregados domésticos.

Ainda poderiam ser firmadas parcerias com organizações internacionais (OIT), órgãos

do poder judiciário (TRT, MTE, MPT), governo federal dos três países em comento (Brasil,

Bolívia e Paraguai), consulados dos três países. As cartilhas poderiam ser distribuídas

gratuitamente nessas regiões e teríamos a certeza de que a divulgação aconteceria, não seria

uma mera folha de papel em branco, sem nenhuma eficácia.

Assim, após muitos estudos e observações, iniciamos a pesquisa a campo, que durou

cerca de quase um ano e meio.

Analisar duas fronteiras distintas, com suas constantes permeabilidades e

singularidades não foi fácil, mas podemos afirmar que foi recompensador pelo resultado

atingido.

Entrar nesse universo de pesquisa de campo foi um grande desafio e na busca de

preservar o nome dos atores sociais entrevistados (trabalhadoras domésticas) resolvemos não

colocar pseudônimos, somente iniciais de nomes.

Iniciamos nossa pesquisa pela fronteira do Brasil/Bolívia. Primeiramente em Puerto

Suarez e depois em Puerto Quijaro entrevistando autoridades que demonstraram

desconhecimento sobre o tema em análise. Terminada essa fase, começamos a analisar a

fronteira e sua peculiaridade.

Na coleta de informações com as trabalhadoras domésticas brasileiras residentes em

Puerto Suarez (Bolívia), elas afirmaram que pretendiam mudar de profissão, por vários

motivos, dentre eles: não são respeitadas por seus empregadores, não recebem o valor

51

Convenção 156- Recomendação 165. Sobre a Igualdade de Oportunidades e de Tratamento para Trabalhadores e Trabalhadoras com Responsabilidades Familiares. Disponível em: < http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/discrimination/pub/convencao_156_228.pdf.>. Acesso em: 28 set. 2013.

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acordado ao final do mês, não se alimentam na casa de seus patrões, sofrem constantes

humilhações, submetem-se a esse serviço por falta de outro emprego. Uma situação desigual

de direitos e obrigações. Talvez seja esse o motivo que nessa fronteira (Brasil/Bolívia) não

haja muitas trabalhadoras brasileiras laborando.

Por isso, que a grande maioria das brasileiras encontradas trabalhando lá, prefere

exercer outra função, a trabalhar de doméstica ou diarista.

Do outro lado da fronteira, a saber, no Brasil (Corumbá) encontramos muitas

bolivianas, exercendo a função de doméstica e elas narraram que recebem todos os direitos

que as brasileiras, salvo a CTPS- Carteira de Trabalho e Previdência Social anotada, porque

não tem toda a documentação e algumas delas não recebem vale transporte.

Especificamente na cidade de Corumbá (Brasil) os atores sociais bolivianos52 narraram

que: percebem um salário mínimo vigente no Brasil (90%), 95% não querem voltar ao seu

país de origem e estão felizes com seus empregadores, 70% conhecem seus direitos

trabalhistas, mas dizem não lutar por seus direitos por falta de documentação ou mesmo pelo

medo de perderem seus empregos.

Fato bem distinto das brasileiras que moram e trabalham na Bolívia (Puerto Suarez),

que muitas delas não conhecem nada sobre seus direitos.

Na segunda fronteira, Brasil/Paraguai, a realidade encontrada foi diferente. As

paraguaias conhecem seus direitos e muitas delas preferem trabalhar de diaristas a trabalhar

de doméstica, porque para elas, o rendimento como diarista é maior. Não encontramos

brasileiras exercendo a função de doméstica ou mesmo de diarista em Pedro Juan Caballero

(Paraguai), somente de vendedoras no comércio local.

Os motivos de não encontrarmos trabalhadoras domésticas brasileiras em Pedro Juan

podem ser vários, como a alta rotatividade do comércio nessa região de fronteira, o valor da

moeda, dentre outros53.

Vários questionamentos foram levantados, dentre eles, como averiguar os direitos

trabalhistas, humanos desses trabalhadores domésticos fronteiriços?

52 Todos os atores sociais entrevistados nas duas fronteiras são mulheres, com idades que variam entre 20 a 65 anos de idade. A grande maioria tem somente o ensino fundamental, porém há uma entrevistada que tem curso superior, é boliviana e trabalha em Corumbá, exercendo a função de doméstica. 53

Encontramos muitas brasileiras laborando no comércio de Pedro Juan Caballero e todas falaram que preferem laborar no comércio, é mais rentável e apresenta melhores condições de trabalho.

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De tal modo, ainda que exista dentro do ordenamento jurídico de cada país uma

legislação específica, como controlar esses atores sociais? Como saber se seus direitos estão

sendo respeitados em conformidade com o que a lei dispõe?

Recentemente no Brasil, foi promulgada a Emenda Constitucional nº72/201354 que

dispõe acerca de novos direitos aos trabalhadores domésticos brasileiros, dentre eles, a

jornada de trabalho. Mas como realizar essa fiscalização pelo Ministério do Trabalho e

Emprego? Existe uma incompatibilidade da fiscalização da jornada, pois a nossa Carta Magna

trata da inviolabilidade do domicílio do indivíduo, que é uma prerrogativa constitucional,

onde conforme o art. 5º, XI da CF que:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; (BRASIL, 2011).

Há muitas dificuldades, principalmente a inviolabilidade do domicílio do empregador

e assim como adentrar nessas residências a fim de fiscalizar esses direitos concedidos?

Esse é um dos fatores que dificulta os órgãos de fiscalização de ter conhecimento mais

preciso e correto do número exato de trabalhadoras domésticas, de suas condições laborais, de

seus direitos. Sem sombra de dúvida, essa dificuldade de fiscalização é muito mais acirrada

nos países de fronteira, devido à difícil fiscalização também por parte da Polícia Federal nos

postos de fiscalização55.

Indaga-se, será que com a promulgação dessa EC nº72/2013 aqui no Brasil e a

ratificação da Convenção N. 189 da OIT pela Bolívia e pelo Paraguai, a situação desses

trabalhadores domésticos alcançará uma promoção na dignificação desse trabalho?

Encontrarão melhores condições laborais? Terão seus direitos respeitados? Serão tratados

com equidade e isonomia de direitos frente aos demais trabalhadores? O Brasil irá ratificar a

Convenção n. 189 da OIT?

54 Tema debatido e explanado no item 2.2.1 do presente trabalho. 55 Para saber mais sobre o assunto, ver a Audiência Pública intitulada de Policiais Federais Motivados, Sociedade Protegida. Disponível em: < http://www.al.ms.gov.br/Default.aspx?tabid=56&ItemId=38837>. Acesso em: 08 set. 2013.

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Há muitos questionamentos a serem respondidos ainda sobre o tema Trabalho

Doméstico e sua real aplicação quanto às recentes alterações. No entanto faz-se necessário

não somente que as leis sejam alteradas, mas principalmente que haja uma mudança na

mentalidade das pessoas, que lutam por seus direitos, mas quando o assunto versa sobre a

concessão de direitos, isso muda de figura. Podemos verificar essa fala, através da grande

repercussão nos últimos meses, após a promulgação da EC 72/2013, onde várias especulações

e criticas foram levantados.

Além dessa conjuntura, o trabalho doméstico explanado ao longo desta pesquisa por

meio das entrevistas realizadas com os atores sociais ainda é apontado como um trabalho

precário e repleto de iniquidade de direitos. Assim faz-se necessária urgência tanto a

efetivação de ações que visem consolidar o trabalho doméstico remunerado como decente,

quanto uma execução de ações governamentais que visem dar um maior respaldo a essa

categoria.

Vivenciamos políticas públicas insuficientes, ausência de programas e ações que

apontem conciliar o trabalho e a vida familiar e assim podemos vislumbrar que as relações

sociais não evoluem no mesmo compasso de tempo e espaço, devido à alta complexidade na

mudança, onde as categorias sociais ainda são pré- definidas pelos dominantes. Talvez seja

esse o motivo que os indivíduos constroem suas vidas pautadas em práticas ambíguas e

contraditórias e por isso a sujeição dessas mulheres que trabalham com um total desrespeito

aos seus direitos.

Por fim, o trabalho doméstico será no século XXI uma ocupação primordial no

cotidiano das pessoas, ocupando uma relevância na economia dos países.

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ANEXO 1

QUESTIONÁRIO DE ENTREVISTA PARA OS TRABALHADORES DOMÉSTICOS NO BRASIL/ BOLÍVIA E PARAGUAI

1-)Qual é o seu nome, idade e sexo?

2-)Qual é a sua nacionalidade?

3-)Qual é o seu grau de instrução?

4-)Sua carteira de Trabalho é anotada (assinada)? Desde quando?

5-) Faz tempo que você trabalha com carteira assinada? Quanto tempo você trabalha nessa residência?

6-) Porque você não trabalha com carteira assinada?

7-) Seu empregador (Chefe) recolhe FGTS- Fundo de Garantia e Previdência Social?

8-) Você recebe até um salário mínimo vigente no seu país?

( ) R$ 622,00 no Brasil

( ) Bo 815,30 na Bolívia

( ) $ 1.658,200 no Paraguai

9-)Qual a sua jornada de trabalho?

10-) Você tem conhecimento dos seus direitos trabalhistas?

11-) Caso seja um migrante, qual o motivo real da sua escolha para esse país ou cidade?

12-) Você está afiliado em algum sindicato de sua categoria?

13-) Qual é o bairro que você trabalha?

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ANEXO 2

PREGUNTAS DE LA ENTREVISTA DE TRABAJADORAS DEL HOGAR EN BRASIL / BOLIVIA Y PARAGUAY

1- Cuál es tu nombre, edad y sexo? 2- Cuál es tu nacionalidad? 3- Cuál es tu grado de instrucción? 4- Tenés tarjeta de trabajo?Desde cuando? 5- Hace tiempo que trabajas con tu tarjeta de trabajo? Cuanto tiempo vos trabajas en esta residencia? 6- Por qué vos trabajas con la tarjeta de trabajo? 7- Tú empleador(jefe) recoje tu Previsión Social? 8- Vos recibis hasta un sueldo minimo vigente en tu país? ( ) R$ 622,00 en Brasil

( ) Bs 815 en Bolívia

( ) $ 1.658,200 en Paraguay

9- Cuál es tu jornada de trabajo? 10- Vos tenes conocimientos de tus derechos laborales? 11- Caso sea un imigrante, cuál es el motivo real de tua elección para este país o ciudad? 12- Vos esta afiliado en algun sindicato de tu categoria? 13-Cuál es el distrito que usted trabaja?