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1 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL DENILSON ALMEIDA DOS SANTOS PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NA COMUNIDADE DO PORTO AMOLAR, NA FRONTEIRA BRASIL - BOLÍVIA: A RELAÇÃO DO PANTANEIRO RIBEIRINHO COM O MEIO AMBIENTE CORUMBÁ - MS 2013

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

DENILSON ALMEIDA DOS SANTOS

PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NA COMUNIDADE DO PORTO

AMOLAR, NA FRONTEIRA BRASIL - BOLÍVIA: A RELAÇÃO DO

PANTANEIRO RIBEIRINHO COM O MEIO AMBIENTE

CORUMBÁ - MS

2013

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DENILSON ALMEIDA DOS SANTOS

PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NA COMUNIDADE DO PORTO

AMOLAR, NA FRONTEIRA BRASIL - BOLÍVIA: A RELAÇÃO DO

PANTANEIRO RIBEIRINHO COM O MEIO AMBIENTE

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação Mestrado em Estudos

Fronteiriços da Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul, Campus do

Pantanal, como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre.

Linha de Pesquisa: Desenvolvimento,

Ordenamento Territorial e Meio

Ambiente

Orientador: Dr. Gustavo Villela Lima da

Costa

CORUMBÁ - MS

2013

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DENILSON ALMEIDA DOS SANTOS

PERCEPÇÕES SOCIOAMBIENTAIS NA COMUNIDADE DO PORTO

AMOLAR, NA FRONTEIRA BRASIL - BOLÍVIA: A RELAÇÃO DO

PANTANEIRO RIBEIRINHO COM O MEIO AMBIENTE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre. Aprovada em____/____/____, com

conceito_________________.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________

Orientador: Dr. Gustavo Villela Lima da Costa

(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

_____________________________________________

1º Avaliador: Drª. Iria Hiromi Ishii

(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

_____________________________________________

2º Avaliador: Drª. Vanessa Bodstein dos Santos Bivar

(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

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Aos pantaneiros ribeirinhos que

nasceram e se criaram nestes

rincões de meu Deus, às margens

do rio Paraguai, em especial aos

moradores do Porto Amolar, com

quem aprendi a amar e a respeitar

o Pantanal.

“Lá vai uma chalana, bem longe se vai,

riscando o remanso do rio Paraguai... (Mario

Zan e Arlindo Pinto, 1954)”

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter iluminado os meus caminhos e por ter me dado forças para vencer mais esta fase;

Ao meu orientador Dr. Gustavo Villela Lima da Costa pela paciência, pela orientação, pela

parceria e por ter acreditado e confiado no meu trabalho;

A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul por ter me concedido afastamento de minhas

funções laborais;

Ao professor Dr. Marco Aurélio Machado de Oliveira pela amizade, pelo incentivo e pelos

ensinamentos;

Ao professor Dr. Edgar Aparecido da Costa pelos ensinamentos, sugestões e incentivo;

A professora Drª. Iria Hiromi Ishii pelos ensinamentos, solidariedade e incentivo;

A professora Drª. Vanessa dos Santos Bodestein Bivar pelos ensinamentos, sugestões e incentivo;

A professora Drª. Marivaine da Silva Brasil pelo apoio para a concessão do meu afastamento,

enquanto chefe do antigo Departamento de Ciências do Meio Ambiente/CPAN/UFMS;

A professora Drª. Rosane Manhães Prado pelas sugestões durante o trabalho;

Ao professor Dr. José Luis dos Santos Peixoto pelos ensinamentos;

A Ramona Catarina Ortiz dos Santos, minha querida esposa, pela compreensão incontestável, pelo

apoio nos momentos mais difíceis desta trajetória, pelo incentivo antes e durante a execução deste

trabalho, pelo auxílio na coleta de dados e, por sonhar e acreditar junto comigo que eu poderia

alcançar esta vitória. Saiba que sem a sua ajuda não seria possível;

Ao sr. Durvalino Paredes (in memorian) meu pai, pelo amor, pelo incentivo aos estudos e por ter

me dado, juntamente com a minha mãe, o bem mais precioso para a formação de um cidadão:

Educação;

A d. Nair minha mãe, pela educação, por ter igualmente me incentivado aos estudos, pelo amor e

carinho dedicados a mim, e pelo apoio e compreensão durante o trabalho;

Ao sr. Martinho (in memorian) e Agripina (in memorian) por terem me dado a oportunidade de

vivenciar o Pantanal, pelos saberes a mim repassados e por terem me dado a honra de fazer parte

de suas famílias.

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Aos meus filhos queridos Danielle Renata, João Gabriel, Rafael Vinícius e Ana Luíza pelo amor,

carinho, pela confiança em mim e pela compreensão quando tive que devotar o tempo a este

trabalho.

Aos professores e a secretaria do Programa de Pós-Graduação em Estudos Fronteiriços do Campus

do Pantanal da Universidade Federal de Mato grosso do Sul com que convivi durante os dois

últimos anos;

Aos colegas servidores Técnico-Administrativos e funcionários do CPAN/UFMS;

Aos sr. Waldemar Magalhães, d. Iracy Magalhães, sr. Dailton de Campos pela amizade,

hospitalidade, companheirismo e colaboração.

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RESUMO

Este estudo tem um caráter etnoecológico e traz consigo as percepções de pantaneiros ribeirinhos,

moradores de uma comunidade tradicional conhecida como Porto Amolar, situada na sub-região

do Pantanal do Paraguai, no município de Corumbá, no estado do Mato Grosso do Sul, na

fronteira entre o Brasil e a Bolívia, sobre as suas relações com o meio ambiente. A partir destas

percepções, tentamos evidenciar possíveis conflitos socioambientais produzidos por diferentes

atores sociais, em torno da gestão ambiental e territorial de ambientes naturais. A Comunidade do

Porto Amolar é uma comunidade tradicional, centenária, que tem importância histórica regional e

apresenta particularidades que subsidiaram nosso estudo. Tal comunidade está inserida em um

ecossistema que compõe o bioma Pantanal, o qual é transfronteiriço, e está postada entre áreas

pertencentes a várias RPPN’s que constituem um mosaico de conservação ambiental, delineado ao

longo da Bacia do Alto Paraguai (BAP). Faz parte, ainda, da zona de amortecimento do PARNA

Pantanal Matogrossense. Buscamos verificar o modo de vida do pantaneiro ribeirinho e a

produção de saberes locais por parte destes, associando suas práticas cotidianas a uma provável

conservação ambiental, que se desenvolve ao longo do tempo, pelo menos desde meados do

século XIX e analisamos algumas ações desenvolvidas por entidades particulares de conservação

ambiental, instaladas ao longo do rio Paraguai, procurando entender como estas se inserem no

contexto local.

Palavras chave: Fronteira, Pantanal, comunidade tradicional, conservação ambiental

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RESUMEN

Este estudio tiene un caractér etnoecológico y trae consigo las percepciones de costeros pantaneros

de una comunidad tradicional conocida como Puerto Amolar, en la sub-región del Pantanal del

Paraguay, en la ciudad de Corumbá, departamento del Mato Grosso do Sul, frontera Brasil-

Bolívia, a cerca de sus relaciones con el médio ambiente. Con estas percepciones, buscamos

mostrar possibles conflictos socio-ambientales produzidos por diferentes actores sociales, a cerca

de la gestión ambiental y territorial de ambientes naturales. La Comunidad del Puerto Amolar és

una comunidad tradicional con más de cien años, que tiene importancia en la historia regional y

presenta particularidad que ayudan en nuestro estúdio. La comunidad se encuentra dentro de un

ecossystema que forma el bioma Pantanal, que és fronterizo, y se encuentra postada médio las

areas de propriedad de RPPN’s que constituyen un mosaico de conservación ambiental, definido

por la Cuenca del Alto Paraguay (BAP). Participa, sin embargo, de la zona de impactación de el

PARNA Pantanal Matogrossense. Buscamos la verificación del modo de vivir del costero

pantanero y la produción del conocimiento local por parte de ellos, en associación a sus actividads

cotidianas a una probable conservación del médio ambiente, que san desarrolladas al largo del

tiempo, desde médio del siglo XIX e investigamos algunas aciones desarrolladas por instituiciones

particulares de conservación del médio ambiente, al largo del rio Paraguay, para compreender

como están situadas dentro del contexto local.

Palabras clave: Frontera, Pantanal, comunidade tradicional, conservación del médio ambiente

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ABSTRACT

This study is a ethno-ecological character and brings the perceptions of wetland bordering,

residents of a traditional community of the Porto Amolar, located in the sub-region of the Pantanal

of Paraguay, in the Corumbá, state of Mato Grosso do Sul, on the border between Brasil and

Bolivia, on its relations with the ambient. From these perceptions, we tried to show potential

environmental conflicts produced by different social actors, around the environmental and

territorial management of natural environments. The Community of Porto Amolar is a traditional

community which has historical importance regional and special features which supported our

study. This community is inserted in an ecosystem that composes the Pantanal biome, which is

cross-border, and is posted between areas belonging to several RPPN's that are a mosaic of

environmental conservation, outlined along the Upper Paraguay Basin (BAP). It is part, still, the

area of damping of the National Park of the Pantanal Matogrossense. We try to verify the mode of

life of the wetland bordering and the production of local knowledge on the part of these,

associating their daily practices to a likely environmental conservation, that develops over time, at

least since the century XIX and analyze some actions taken by private entities to environmental

conservation, installed along the Paraguay river, trying to understand how these fall in the local

context.

Key words: Border line, Pantanal, traditional community, environmental conservation

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Mapa da Bacia hidrográfica do rio Paraguai 30

Figura 2- Divisão das sub-regiões pantaneiras ou pantanais 32

Figura 3- Distribuição da planície pantaneira entre os territórios do Brasil, da

Bolívia e do Paraguai

33

Figura 4- Fronteira Brasil-Bolívia nas proximidades de Corumbá-MS 46

Figura 5- Fogo consumindo morraria pantaneira na RPPN Penha 48

Figura 6- Fogo consumindo morraria próxima a RPPN Acurizal 48

Figura 7- Queimada em uma área do Pantanal 49

Figura 8- Situação ambiental durante uma queimada no Pantanal. Verificar

comunidade faunística refugiando-se junto a um pequeno lago (nesga

d’água)

51

Figura 9- Unidades de Conservação no Brasil 61

Figura 10- Anfíbio do gênero Scilax ocorrente na Comunidade do Porto Amolar 67

Figura 11- Ofídio da espécie Philodryas Olfersii, ocorrente na região 67

Figura 12- Lacertílio do gênero Tropidurus, ocorrente na região 68

Figura 13- Lacertílio do gênero Ameiva, ocorrente na região 68

Figura 14- Formigas “correição” (Hymenoptera), compondo a fauna edáfica

(serapilheira) em uma área da Comunidade do Porto Amolar

68

Figura 15- Formiga “bico-doce” (Hymenoptera), compondo a fauna edáfica em

uma área da Comunidade do Porto Amolar

69

Figura 16- Inseto Louva-Deus (Manteidae) associado à vegetação arbórea de

uma área da comunidade do Porto Amolar

69

Figura 17- Família de patos selvagens nadando, livremente, no rio Paraguai em

frente à Comunidade do Porto Amolar

69

Figura 18- Trecho do Rio Paraguai (margem direita), tendo ao fundo a “morraria

do Castelo”.Acidentes geográficos (rio e morraria) delimitando a

fronteira Brasil – Bolívia

75

Figura 19- Vista parcial da Comunidade da Baía do Castelo 76

Figura 20- Vista parcial de uma propriedade rural na Baía do Castelo 76

Figura 21- Moradores locais e pequena embarcação atracada no Porto Amolar.

Essa embarcação denominada “Pachamama” pertence a um morador

local. O nome “Pachamama” designa uma

divindade andina, o que demonstra o fluxo cultural nesta fronteira

77

Figura 22-

Vista parcial da mata ciliar na margem esquerda do rio Paraguai, em

frente à comunidade do Porto Amolar. Ao fundo em primeiro plano o

“morro das Cabras” e em segundo plano o “morro do Chané”

78

Figura 23-

Vista lateral (margem direita do rio Paraguai) da Comunidade do

Porto Amolar

78

Figura 24- Vista parcial da curva do rio Paraguai em frente à Comunidade do

Porto Amolar, à direita. À esquerda entrada do “riozinho da Penha”.

Ao fundo o “morro do Campo”, um dos principais sítios arqueológicos

do Brasil

78

Figura 25- Família “amolarense” constituída por genitores de descendência

brasileira (pai) e boliviana (mãe)

82

Figura 26- Avião monomotor na pista de pouso da Comunidade do Porto Amolar 84

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Figura 27- Barco de turismo aportado à margem esquerda do rio Paraguai 84

Figura 28- Lancha-boiadeira ou freteira, transportando gado na baía do Castelo 85

Figura 29- Pantaneiro-ribeirinho em uma “canoa de um pau só”, na baía do

Dourado, próximo ao Porto Amolar

85

Figura 30- Bote de alumínio com motor de popa ou “voadeira” na Região do

Castelo

85

Figura 31- Chalana-pantaneira ou puc-puc, no rio Paraguai. Ao fundo a Serra do

Amolar

86

Figura 32- Moradia tradicional (pau-a-pique e palha) pantaneiro-ribeirinha na

Comunidade do Porto Amolar

88

Figura 33- Moradia feita com tábuas aplainadas e telhas de amianto na

Comunidade do Paraguai-Mirim

88

Figura 34- Gado criado solto aproveitando a pastagem natural 89

Figura 35- Jirau com sabão (caseiro) feito de forma artesanal com material

reciclável

92

Figura 36- Criação de gado bovino é uma das principais culturas dos pantaneiros 94

Figura 37- “Traia” de montaria utilizada para a lida de campo 94

Figura 38- Pantaneiro ribeirinho do Porto Amolar segurando dois (2) pacus recém

pescados por ele

95

Figura 39- Pantaneiros ribeirinhos, da mesma comunidade limpando pacus para o

almoço. Ao lado a canoa de um pau só

95

Figura 40- Moradores antigos da Comunidade do Porto Amolar limpando pacu-

pevas para o almoço. Notar, ao fundo, a presença de canoas de um

pau só

96

Figura 41- Pedras de amolar 100

Figura 42- Imagem de satélite mostrando a Lagoa Mandioré (cuja metade está

em território brasileiro e metade em território boliviano, a Morraria

do Amolar e o Porto Amolar

102

Figura 43- Serra do Amolar em sua face brasileira. Atrás desta formação rochosa

pode-se avistar o território boliviano

102

Figura 44- Mapa mostrando o conceito de Mosaico formado pelas áreas de

conservação ambiental particulares (RPPN’s) e pelo PARNA do

Pantanal Matogrossense

106

Figura 45- Núcleo da Ecoa no Porto Amolar (primeira edificação à esquerda) 106

Figura 46- Sede da RPPN Eliezer Batista, na sub-região do Pantanal do Paraguai 107

Figura 47- Escola Municipal do Jatobazinho, à margem esquerda do rio Paraguai 110

Figura 48- Ação da Marinha do Brasil junto à população ribeirinha na

Comunidade do Porto Amolar, no período de 18 a 20 de novembro de

2009

111

Figura 49- Técnico da ANA (Agência Nacional de Águas) coletando e

registrando dados referentes ao rio Paraguai na Comunidade do Porto

Amolar

111

Figura 50- Técnicos da ANA (Agência Nacional de Águas) registrando dados

referentes ao rio Paraguai na Comunidade do Porto Amolar

112

Figura 51- Régua de medição do nível d’água do rio Paraguai (medição

referente ao dia 18/07/11), instalada no Porto Amolar

112

Figura 52- Moradores do Porto Amolar durante o trabalho de “farinhação” 114

Figura 53- Moradores do Porto Amolar fazendo a manutenção de um motor

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(bomba) d’água. Verifica-se aqui a ajuda mutua na comunidade

115

Figura 54- Moradores do Porto Amolar reunidos em conversa, no período

vespertino. Nesses momentos pode ser verificado o repasse de

saberes locais dos mais antigos para os mais jovens

116

Figura 55- Moradores da Comunidade do Porto Amolar comemorando um

aniversário, no período noturno. Notar que a iluminação é feita com o

auxílio de lanternas, o qual é um elemento indispensável no Pantanal

117

Figura 56- Vista interna de uma lancha freteira/boiadeira. Nota-se moradoras do

Porto Amolar e do Palmital, em viagem para Corumbá-MS

118

Figura 57- Antigo morador (de chapéu) da comunidade do Porto Amolar com

dois “lancheiros mascates”. Notar que o “lancheiro” adquiriu ovos

caseiros junto ao morador

119

Figura 58- Moradores da Comunidade da Barra do São Lourenço com os

Termos de Autorização de Uso Sustentável

120

Figura 59- “Amolarenses” antigos pertencentes à mesma família 122

Figura 60- Moradores do Porto Amolar participando de uma festividade na sede

da antiga Fazenda Novos Dourados, na década de 1950

126

Figura 61- Nascer do sol no Porto Amolar 128

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Comparativo de dispositivos legais dos governos brasileiro e

boliviano

53/54

Quadro 2- Demonstrativo de famílias de origem estrangeira que

contribuíram na formação da Comunidade do Porto Amolar

82

Quadro 3- Porcentagem dos Municípios Inseridos na Zona de

Amortecimento do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense

105

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26

26

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29

32

35

35

45

52

58

62

73

73

77

89

96

123

129

SUMÁRIO

1 – Introdução 13

2 – Pantanal: da pré-história aos dias atuais

2.1– Alguns eventos geológicos que complicaram na formação do Pantanal

2.2– O Pioneirismo Humano no “Novo Mundo”

2.3– O Pantanal Brasileiro

2.4– O Pantanal Boliviano

3 – O ambientalismo, as Unidades de Conservação e a Fronteira

3.1 – O ambientalismo

3.2 – O ambiente fronteiriço

3.3 – A legislação ambiental na fronteira

3.4 – Unidades de Conservação

3.5 – A conservação ambiental na fronteira

4 – Comunidade do Porto Amolar: os saberes locais e os possíveis conflitos

socioambientais percebidos a partir de uma “população tradicional”

4.1 – A cultura e o Pantanal

4.2 – A comunidade ribeirinha do Porto Amolar

4.3 – Algumas estratégias de sobrevivência do pantaneiro ribeirinho

4.4 – O Porto Amolar e os possíveis conflitos socioambientais que ocorrem na

região do Pantanal do Paraguai

Considerações Finais

Referências

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15

1 Introdução

A temática desta pesquisa é a conservação ambiental de um dos mais importantes biomas

ocorrentes no Brasil denominado Pantanal onde apresentamos um enfoque ecológico, porém, com

um viés antropológico, com o intuito de captar a percepção de moradores de uma comunidade

tradicional (pantaneiros ribeirinhos) fixada no Porto Amolar, sobre as questões socioambientais

em uma das divisões setoriais desse complexo natural em sua porção sul-matogrossense,

denominada sub-região do Pantanal do Paraguai, conforme preceituam SILVA e ABDON (1998) e,

que faz fronteira com a Bolívia. Segundo SEN GUPTA (1993, apud BORGES et al., 2000) a

importância de estudos de percepção centra-se no fato de que “a percepção dos moradores está

estreitamente associada ao ambiente particular no qual vivem, às suas práticas socioeconômicas e

às suas exposições a esses conjuntos”. Ressaltamos que LEAL et al. (2009), fizeram um estudos

com o objetivo de captar as percepções de ribeirinhos, porém sobre o fluxo de embarcações ao

longo do rio Paraguai.

Justifico o destaque a esta sub-região da seguinte forma: primeiro por ser fronteiriça,

segundo por ser uma área que possui grande biodiversidade1, além de ser um manancial hídrico

que apresenta importantes corpos d’água e terceiro por conter em seus domínios várias

comunidades tradicionais, dentre elas a Comunidade do Porto Amolar, a qual teve uma importante

expressividade, principalmente a partir da segunda metade do século XIX, fazendo parte

ativamente do desenvolvimento das Cidades de Corumbá e Ladário, e consequentemente da

história local e possivelmente regional. Segundo ALHO et al. (2000), na prática o termo “local”

refere-se sempre à área amostral de um determinado estudo. Pelas razões acima elencadas,

elegemos e definimos a Comunidade do Porto Amolar como a nossa área de estudo.

Entretanto, antes de avançarmos em relação a nossa área de estudo que é um ambiente

inserido em um ecossistema2 que compõe o Pantanal enquanto bioma, iremos considerar algumas

definições sobre essa unidade ecológica a fim de alicerçarmos nosso entendimento em relação à

mesma no decorrer deste trabalho, dada a complexidade em defini-la. A FBDS (2004) e PEROBA

(2006) conceituam bioma como uma grande região ecológica e todos os seres vivos nela contidos.

Um bioma pode conter vários ecossistemas, como é o caso da Amazônia, que contém diferentes

tipos de florestas e até campos, em Roraima. WHITTAKER (1975), diz que um bioma é um

agrupamento de ecossistemas terrestres em um dado continente, com semelhanças na estrutura da

vegetação ou fisionomia. COUTINHO (2006, 18) define bioma como sendo:

1Variabilidade quantitativa e/ou qualitativa relacionada às espécies de animais, vegetais e microorganismos, à carga

genética que estes possuem e às funções ecológicas que ocorrem, nos mais variados ecossistemas. 2Unidade ecológica básica; comunidade de seres vivos que tem seus processos vitais se relacionando entre si; conjunto

formado pelo meio ambiente físico (biótopo).

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16

Uma área do espaço geográfico, com dimensões de até mais de um

milhão de quilômetros quadrados, que tem por características a

uniformidade de um macroclima definido, de uma determinada

fitofisionomia ou formação vegetal de uma fauna e outros organismos

vivos associados, e de outras condições ambientais, como a altitude, o

solo, alagamentos, o fogo, a salinidade entre outros. Estas características

lhes conferem uma estrutura e uma funcionabilidade peculiares, uma

ecologia própria.

Porém, BATALHA (2011, 22) entende que:

Da maneira como vem sendo usado no Brasil, o conceito de bioma

adquiriu erroneamente uma conotação florística. Usado dessa maneira

errônea por biólogos, não por acaso passou a ser usado equivocadamente

por um público mais amplo, como agências governamentais e

organizações não governamentais. Hoje em dia, esse erro está enraizado.

Todavia, embasados nos estudos de CLEMENTS e SHELFORD (1939), consideramos que

um bioma é constituído por um conjunto de diferentes ecossistemas, que apresentam um

determinado padrão homogêneo, sendo que nesse conjunto de ecossistemas ocorrem interações

das comunidades biológicas entre si e com o meio.

Especificamente, COUTINHO (2006, 21) diz que:

O Pantanal Matogrossense é constituído por um complexo ou mosaico de

diferentes biomas florestais de hidrobiomas e helobiomas (carandazais e

paratudais), savânicos de piro-peinobiomas (cerrados das cordilheiras

entre lagoas), florestais de litobiomas (florestas tropicais estacionais

caducifólias sobre afloramentos rochosos e solos rasos), campestres de

hidro-helobiomas (campos inundáveis), em meio a rios, lagoas de água

doce (baías), lagoas de água salobra e alcalina (salinas) etc., todos

pertencentes ao Zonobioma II.

Também, em relação ao Pantanal SILVA et al. (2004) dizem que:

Não se observam no Pantanal, grandes áreas contínuas de um único tipo

de vegetação, o que o torna naturalmente fragmentado. O Pantanal é

composto pela interseção de quatro grandes regiões fitoecológicas

regionalmente conhecidas por Mata Decídua, Mata Semidecídua,

Cerrado e Chaco. Além dessas quatro Regiões, em várias porções do

Pantanal observa-se a ocorrência de contatos florísticos entre as Regiões

fitoecológics e a vegetação pioneira, que são aquelas influenciadas pelo

alagamento dos rios e das baías, formando os campos alagados e brejos.

Mesmo sendo o Pantanal ocupado há mais de 250 anos, suas

fitofisionomias formam um imenso mosaico abrigando uma grande

diversidade de espécies de plantas e animais adaptados a dinâmica

definida pelo clima e pelos pulsos de inundação da região

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Neste sentido, os ensinamentos de CLEMENTS e SHELFORD (1939), COUTINHO

(2006) e de SILVA et al. (2004) vêm nos dar suporte em relação ao nosso singelo entendimento

sobre o complexo denominado Pantanal, quando dizemos que este apresenta diferentes

fitofisionomias, considerando-se as diferenças de relevo, clima, pluviosidade, altitude,

temperatura, dentre outros fatores que estão associados às bacias hidrográficas existentes em sua

área de abrangência. O Pantanal (considerando-se as porções brasileira, boliviana e paraguaia)

não apresenta uma só faceta nem um só biótipo3, visto ter sofrido diversos processos erosivos

4 ao

longo de sua formação e de sofrer influência de diferentes ecossistemas que compõe outros

biomas, é dependente do ciclo das águas (cheia e seca) que inundam a planície pantaneira. A área

de abrangência de sua porção brasileira é dividida em 11 sub-pantanais ou sub-regiões pantaneiras,

considerando-se fatores como clima, hidrologia, pluviosidade, temperatura, fauna e flora dentre

outros, conforme nos ensinam SILVA e ABDON (1998). Porém, tais nuances certamente

conferem ao Pantanal, uma característica própria e única que se repete ano após ano, mesmo que

com intensidades diferentes, de forma cíclica e que, possivelmente, não se verifica em nenhuma

outra parte do planeta, pois essas sub-regiões ecossistêmicas são de algum modo interdependentes.

Entendemos que esses fatos determinam, portanto, um padrão homogêneo.

Minha relação com a comunidade do Porto Amolar, e consequentemente com a área de

estudo, teve início no final dos anos 80 (mais precisamente em 1989) e se estende até hoje,

havendo inclusive fortes ligações familiares e compadrescas, além da amizade existente com

várias pessoas que compuseram e ainda compõe tal comunidade. Quando iniciei minhas incursões

àquela localidade, havia pelo menos 58 pessoas (moradores fixos) distribuídas em 15 famílias, e

várias outras que trabalhavam por empreitada em diferentes épocas e/ou pessoas com alguma

relação de parentesco com os residentes, que iam para lá no decorrer do ano, principalmente no

período de férias escolares. Fazendo uma rápida totalização, estimo em aproximadamente 35

pessoas que integravam a comunidade de forma temporária. Não elencamos aqui os pilotos de

avião, os lancheiros e os vários turistas que por lá passavam (e ainda passam). Ao longo de mais

de 20 anos pude presenciar (e ainda presencio), em diferentes oportunidades, o dia-dia dessa

comunidade, integrando-me a ela e participando de muitas atividades tradicionais dentre elas: a

limpeza de roça5; o cultivo (plantio e/ou colheita) de mandioca, arroz, feijão, abóbora, etc; o acero

e o concerto de cercas; a “estrovenguiação”6; a criação de víveres; a farinhação

7, a qual diga-se de

passagem, é bastante demorada e cansativa; o corte de lenha a partir de galhos secos de árvores

3 Conjunto dos aspectos físicos e químicos de um determinado ambiente; área física na qual determinada comunidade

vive. 4 Ressaltamos que ainda ocorrem processos erosivos dentro do Pantanal Matogrossense.

5Plantação de monoculturas, tais como, mandioca, milho, feijão-rasteiro, abóbora, etc.

6 Limpeza do capim, nativo ou não, feita com a ferramenta cortante denominada estrovenga.

7 Modo artesanal e tradicional de se fazer farinha de mandioca, na região do Pantanal do Paraguai.

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para abastecer o fogão à lenha que além de ser utilizado para preparar comidas rusticas, porém

saborosas, durante o inverno servia como um verdadeiro aquecedor; a pesca de “pacu” e de “pacu-

peva” (peixes encontrados com certa abundância na região) com “anzol de bater”8 e iscas de

“tucum”9ou de pirão

10, embarcado em canoas-de-um-pau-só, quando iniciávamos a pescaria às

04h da manhã subindo o “riozinho da Penha”11

para alcançar os melhores pontos de pesca e

voltávamos “rodando”12

em torno das 07 h e chegávamos mais ou menos às 10 h, trazendo peixes

frescos para o almoço. Tinham ainda as rodas de mate chimarrão13

, as quais são tradicionais no

âmbito pantaneiro ribeirinho. Este fato pode ser entendido como um momento de transmissão de

saberes através da oralidade, pois, em tais rodas, independentemente do tamanho delas pode-se

verificar as várias conversações e entendimentos sobre o cotidiano local.

A história de vida daquelas pessoas, os “causos” tristes e/ou alegres, os problemas com as

roças, a canoa que está estrondando14

causados por intempéries ou por “atropelo dos bichos”15

, as

novidades existentes nos centros urbanos que às vezes chegam à localidade, etc., são alguns dos

diferentes temas postos para a análise conjunta em uma prática herdada dos paraguaios, que foi

passada de pai para filho ao longo de gerações e que tem a erva mate tomada em forma de

chimarrão (sendo este mais apreciado do que o tereré), como pano de fundo. A partir de

informações obtidas com moradores locais mais antigos, ousamos e nos permitimos explicar que

um dos prováveis motivos de se apreciar mais o mate chimarrão em relação ao tereré, nas

conversas onde se observa a transmissão de saberes locais, é o seguinte: o tereré, por ser ingerido

com água fria ou gelada, tende a circular mais rapidamente entre os participantes da “roda16

enquanto o mate chimarrão, por ser ingerido com água quente demora mais para circular,

propiciando assim mais tempo para se conversar e consequentemente transmitir o saber local.

Devemos considerar, também, que normalmente são os mais velhos que usam desta forma de

ingerir a erva mate. Muitas vezes os mais novos participam, porém, apenas da conversa. Não

posso deixar de citar as viagens realizadas tanto de ida para o Porto Amolar como de volta a

8Vara de pesca feita de bambu, com linhada de nylon e anzol médio, para pescar pacu e pacu-peva.

9Espécie de palmeira de médio porte, do gênero Bactris, que produz um fruto pequeno, azedo e avermelhado, bastante

utilizado pelos ribeirinhos como isca para a captura do pacu. Ocorre em matas alagáveis e beiras de capão. 10

Isca feita com massa de trigo e/ou farinha de mandioca, própria para a pesca do pacu e da pacu-peva. É também

usada para pescar sardinha, piraputanga, bagre, jeripoca e jurupensém. 11

Braço do rio Paraguai que liga o Porto Amolar até a boca da antiga Fazenda Penha. 12

Ao sabor das águas, sem remar, aproveitando a correnteza do rio; o remo é utilizado somente para dar ao

direcionamento à canoa. 13

Erva mate preparada com água quente, a qual se adiciona outras ervas e/ou raízes medicinais, tais como boldo,

caninha-do-brejo, nó-de-cachorro, chapéu-de-couro, velame, etc. 14

Expressão muito comum entre os ribeirinhos que significa que a madeira da canoa está com rachaduras; a madeira

está abrindo. 15

Quando determinadas espécies de animais silvestres e /ou de insetos invadem as plantações para se alimentarem

delas. 16

Forma típica de se posicionar, sentados em mochos (banquinhos de madeira) ou em cadeiras, para ingerir o mate

chimarrão ou tereré, a fim de que todos possam participar igualmente da ingestão do mate e da conversa.

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Corumbá, feitas primeiramente em navios boieiros que pertenciam à extinta Empresa de

Navegação da Bacia do Prata (SNBP) criada pelo Decreto-Lei de nº 5.252 de 16 de fevereiro de

1943, vinculada naquela época ao Ministério da Viação e Obras públicas e a Comissão de Marinha

Mercante, conforme nos informa BRAZIL e PEREIRA (2008, 119), e depois somente em lanchas

freteiras/boiadeiras17,18

ou de voadeiras19

.

Não devo esquecer os lancheiros mascates, tais como o “Domingão” que navegam nesse

trecho comercializando diversos produtos e que dão passagem em caso de emergência. Lembro

também do fato corriqueiro, porém, interessante e de grande importância que é “chamar as

lanchas” que estão de descida (descendo o rio Paraguai rumo à cidade de Corumbá-MS), com

lampejos de lanterna sinalizando, desta forma, “quem tem morador pedindo passagem”. Isto

ocorre por que, normalmente, tais lanchas descem de retorno à cidade no período noturno, sendo

esse um meio bastante eficaz e muito difundido nas margens do rio Paraguai. Isso pode ocorrer,

também, de subida (rio acima, partindo de Corumbá). Essas viagens, atualmente têm um caráter

nostálgico e saudosista, considerando a ausência de pessoas importantes daquela comunidade, que

inclusive pertenciam ao meu círculo familiar, tais como meus sogros e que atualmente não se

fazem mais presentes em nosso plano material, aos quais por inúmeras vezes acompanhei nessas

incursões. Lembro-me das conversas com os viajantes em sua grande parte moradores ribeirinhos

de algum porto no trecho entre Corumbá e a Barra do São Lourenço, o qual inclui o Porto Amolar,

durante essas viagens, as quais podiam – e ainda podem – durar de 18 até 30 horas. Nas lanchas, o

salão ficava “encordoado”20

de redes, nas quais dormíamos e descansávamos esperando o

momento da chegada para, então, desembarcar as nossas “traias”, empunhando nossas lanternas de

dois ou três elementos, pois, tal desembarque acontecia normalmente a partir das 18 horas, ou seja,

“já de noite”, e sem as lanternas durante esse período, os pantaneiros praticamente se sentem

“nus”. Muito raramente se faz o desembarque durante o dia.

É interessante lembrar que as lanternas juntamente com os rádios portáteis de pilha,

preferencialmente da marca “MOTORÁDIO”, são itens indispensáveis para a população

ribeirinha, pois, a lanterna além de ser um instrumento de sinalização para as lanchas, substitui a

iluminação pública externa e interna ausente na maioria das localidades pantaneiro-ribeirinhas e

através do rádio os ribeirinhos do Pantanal recebem as diferentes notícias que lhes são

importantes, tais como: o nível das águas dos rios Cuiabá e Paraguai, e dos seus afluentes; quais

lanchas sobem ou descem o rio Paraguai; se trazem ou não mercadorias ou familiares, etc.. Na

17

Barcos freteiros particulares que transportam gado, mercadorias e pessoas pelo rio Paraguai, no trecho entre

Corumbá e Barra do rio São Lourenço. 18

Neste caso destacamos as lanchas Laura Vicuña, J. Pinheiro, Aline, Nova Santa Laura, Nova Laurinha e Ipê III. 19

Barco de alumínio com propulsão a motor de popa. 20

Expressão usada pelos pantaneiros ribeirinhos para se referir ao modo como são armadas e dispostas as redes, nas

lanchas freteiras, durantes as viagens ao longo do rio Paraguai; significa enfileirado.

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Comunidade do Porto Amolar ouvem-se muito os programas “A Hora do Fazendeiro e Alô

Pantanal”, transmitidos pelas emissoras AM “Rádio Clube e Rádio Difusora”, respectivamente,

sediadas na cidade de Corumbá. Entretanto, é possível captar, também, o sinal de emissoras de

rádio paraguaias, argentinas e bolivianas que atuam em ondas curtas.

Pelo fato de conhecer a exuberância paisagística da localidade e de saber que existe nela

uma das principais diversidades biológicas do mundo, emoldurando um complexo natural que se

renova sob a regência do ciclo das águas que avançam e se retraem sobre esta porção da vasta

planície inundável, conhecida como Pantanal do Paraguai, somados a importância dela no

contexto histórico regional e a existência de uma população ribeirinha que se distribui em várias

comunidades tradicionais ao longo do rio Paraguai no trecho compreendido entre a Barra do São

Lourenço, na divisa com o estado de Mato Grosso e a Cidade de Corumbá, no estado do Mato

Grosso do Sul, me permiti lançar questionamentos sobre como, por que e pra quem devemos

conservar tal área. No decorrer das décadas de 1990 e 2000, várias ações de caráter

conservacionista, referentes ao Pantanal como um todo, foram e continuam sendo implantadas por

agentes públicos e/ou privados, havendo uma proeminente intensificação de estudos, os quais

conduziram à produção de importantes conhecimentos acerca dos variados ambientes pantaneiros.

Tal fato não foi diferente na sub-região do Pantanal do Paraguai, ao longo do rio que recebe o

mesmo nome e que é o principal corpo d’água desse sistema biológico, banhando os vários

“portos” situados às suas margens. Atualmente, é percebida a atuação de redes de proteção

ambiental, instituídas a partir da união de algumas reservas particulares de caráter

conservacionista (RPPN’s), além do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, as quais estão

instaladas em áreas adquiridas, ao longo do rio Paraguai, dentro do da sub-região do Pantanal do

Paraguai. Assim, a nossa área de estudo, incluindo o seu entorno, se tornou um dos lugares mais

importantes para a realização de pesquisas, principalmente para as ciências naturais (Biologia e

Geografia).

Por todos esses motivos elencados e considerando que o Pantanal é habitado, há tempos,

pelo elemento humano, conforme preceituam PEIXOTO e ARRUDA (2011) me propus a

pesquisar como é vista e entendida a conservação ambiental no ambiente pantaneiro-ribeirinho da

região do Pantanal do Paraguai, porém, a partir do olhar simplório, mas não menos criterioso, do

homem que lá vive, mais precisamente dos moradores da Comunidade do Porto Amolar.

Consideramos, também, a visão das entidades conservacionistas que atuam na área de estudo.

Assim, surgiram-nos outros questionamentos, tais como: o homem pantaneiro ribeirinho é um

agente degradador ou conservador do ambiente em que vive? Quais os discursos que são

produzidos pelos diferentes atores sociais que atuam naquele cenário? Ocorrem conflitos naquela

área? Caso ocorram, então, quais são estes e por que ocorrem?

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Em relação à metodologia, este é um estudo etnográfico de caráter ecoantropológico. O vi-

és antropológico associado aos conceitos de ecologia possibilitou-nos a análise da “trama” socio-

ambiental existente no ambiente pantaneiro-ribeirinho, considerando que neste há populações hu-

manas que se relacionam intensamente com populações silvestres pertencentes tanto à fauna como

à flora, e que, de certo modo, constituem uma determinada organização. O entendimento de

CORTEZ (2011, 29), auxilia-nos quando a autora diz que “em termos de interferência no meio

ambiente, sabe-se que em um dado momento da história do homem sobre a terra ele podia ser con-

siderado um elemento natural da mesma maneira que qualquer espécie animal”. Evidentemente,

que o homem primitivo não dispunha de uma quantidade de energia mecânica suficientemente

grande para que seu impacto sobre a natureza pudesse ultrapassar certos limites circunscritos

(CORTEZ, 2011, 29-30).

Além das observações e identificação dos fatores naturais (bióticos ou abióticos)21

que

incidem sobre aquele meio ambiente, nos valemos também, da coleta e posterior interpretação da

história oral daquela população tradicional, bem como das argumentações e objetivos das

entidades conservacionistas que desenvolvem projetos naquela região. Acompanhando os

ensinamentos de LÈFREVE e LÈFREVE (2003), com a finalidade de analisar os dados coletados

dando voz aos atores sociais, nos valemos da técnica do Discurso Sujeito Coletivo. Através dessa

história oral buscamos, então, conhecer e entender como as pessoas que nascem e vivem nessa

comunidade percebem e se relacionam com o meio ambiente pantaneiro, a fim de contemplar um

dos nossos objetivos, pois, as populações ribeirinho-pantaneiras se valem dos recursos naturais

desde que acordam até a hora em que vão dormir. Buscamos também registrar as transformações

ocorridas na comunidade pantaneiro-ribeirinha do Porto Amolar, a partir da instalação de

Unidades de Conservação naquela área de interesse. Mesmo nos dias atuais, é amplamente visível

uma intrínseca relação homem-natureza, que se desenvolveu há pelo menos 5.500 anos atrás na

planície pantaneira. Permitimo-nos considerar, então, que o homem pantaneiro ribeirinho e o

Pantanal se complementam ecologicamente e socialmente.

Foi vislumbrada por nós, orientador e orientando, a possibilidade de transpormos as

possíveis barreiras existentes em tal relação e nos propusemos, então, a constituir uma ousada

parceria, onde procuramos unir os conhecimentos em Antropologia e Ecologia, visando entender

as práticas desenvolvidas pela população ribeirinho-pantaneira, as quais estão arraigadas no seu

modo de viver, tornando os saberes locais em conhecimento tradicional, ou seja, em cultura

pantaneira. Portanto, acreditamos que não há modo mais seguro e mais eficaz de se conhecer um

21

Fauna, flora, paisagem, relevo, hidrologia, clima, enfim, as interações ecológicas existentes naquele ambiente.

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determinado grupo social, do que se fazendo presente junto a ele. Somos corroborados por

RODRIGUES (2008, 10), quando a mesma diz o seguinte:

A significação do termo etnografia tem duas raízes: a palavra grega

ετηνοσ (ethnos) e a palavra também grega γραφια (grafia). Ethnos quer

dizer um povo, uma raça ou um grupo cultural. Juntas, ethnos e grafia,

referem-se às características de um povo, como uma raça é, qual o

universo cultural de determinado grupo social. O convívio com a cultura,

a intimidade, a experiência intensa, a visão a partir da própria raça,

enfim, a observação do que acontece no momento e no contexto do

acontecimento.

Viver o dia-a-dia de uma comunidade tradicional com toda a sua dinâmica própria, mesmo

que intercaladamente foi algo extremamente valioso, pois assim, pude ter a real percepção de

como e por que são desenvolvidas determinadas atividades de subsistência ou não, por parte

daqueles atores sociais. Segundo o IPHAN (s/d):

Povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente

diferenciados e que se reconhecem como tais, possuem formas próprias

de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais

como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral

e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas geradas e

transmitidas pela tradição, conforme reconhece o Decreto nº. 6.040 de

07/02/2007.

Assim embasado, questionei-me, ainda, sobre qual o significado das várias e diferentes

atividades realizadas por eles? Qual o significado de se viver no Pantanal? O que esse lugar (Porto

Amolar) representa para aquelas pessoas? Que importância tem o rio Paraguai, os animais e a

vegetação para a vida deles? Como as pessoas daquela comunidade se relacionam com os

elementos da Natureza? Qual o significado de possuir uma canoa e consequentemente saber

utilizá-la? A partir desse ponto pude, então, dimensionar e avaliar se as atividades antrópicas

desenvolvidas naquele ambiente são causadoras ou não de degradação ambiental. Baseio-me nos

ensinamentos de HASSEN (2005, 25), que diz o seguinte:

O chamado pai-fundador da etnografia, Malinowski, a partir dos anos

vinte, preconizou que apenas pela "observação participante" seria

possível ao pesquisador conhecer o outro em profundidade e, por meio

de tal conhecimento, superar os pressupostos evolutivos e o

etnocentrismo (visão pela qual o homem branco europeu letrado seria

superior a todos quantos apresentassem diferentes constituições, formas

de vida e de pensamento). Para isso, a etnografia deveria ser uma

pesquisa intensiva, de longa duração; o etnógrafo precisaria viver no

local etnografado, aprender a língua, e, sobretudo, observar a vida

cotidiana. O pesquisador deveria dar conta da totalidade da vida tribal,

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ancorada no tripé: arcabouço da constituição da sociedade,

imponderáveis da vida real e espírito do nativo.

Realizei três visitas à Comunidade do Porto amolar, durante o ano de 2011, nos meses de

janeiro, julho e novembro/dezembro, com duração de 15 dias cada, onde presenciei o cotidiano

dos moradores daquela comunidade. Para o registro desse cotidiano realizei capturas de imagem e

som utilizando o auxílio de câmera fotográfica digital SONY, mod. DSC – W510, ISO – 800,

multiponto, abertura 19 mm, 4.000 x 3.000 pixels, 230 EXIF, além de apontamentos manuscritos.

Como alguns moradores do Porto Amolar têm parentes e, até mesmo, residências em Corumbá

necessitando vir a esse centro urbano durante o ano, para tratar de assuntos de ordem particular

pude, então, colher seus depoimentos sem precisar me deslocar àquela comunidade. É válido

lembrar que me faço presente junto à Comunidade do Porto Amolar desde o final dos anos 80

(mais precisamente desde 1989), tendo durante esse período a possibilidade de conviver com os

integrantes da mesma e presenciar, intensamente, as particularidades do local, incluindo as de

cunho familiar. Porém, achei necessário separar bem as fases vivenciadas “antes e durante” a

realização do curso de Mestrado em Estudos Fronteiriços e, consequentemente, desta pesquisa a

fim de manter a lisura e a veracidade dos fatos. Participar diretamente de um contexto social e

ainda observá-lo cientificamente, não é tarefa das mais fáceis, mas, acredito que foi possível, pois

mantivemos a imparcialidade, principalmente na análise de possíveis situações conflitantes.

Corrobora-me, ESTEVES (1998, 41) quando diz que:

É histórica e reconhecida a dificuldade de sistematizar e codificar os

procedimentos da observação etnográfica, quer quando esta é feita por

quem, sendo-lhe estranho, pretende observar “de dentro” a vida de um

grupo – a clássica “observação-participante” – quer quando é efetuada

por quem, sendo membro de um grupo, tenta criar condições de ganhar a

compreensão e a inteligência dos processos sociais em que suas vida

quotidiana é experienciada – a denominada “participação-observação”.

Ainda, segundo o referido autor:

Esta metodologia, tanto numa forma como noutra, baseia-se no papel que

o próprio investigador constrói e desempenha no curso de uma interação

social prolongada no tempo, o qual acaba sempre, em cada quadro

espaço-temporal, por ser posto à prova como modo de construir

conhecimento sobre uma realidade social já socialmente construída e

historicamente mais ou menos determinada (ESTEVES, 1998, p.41).

Justifico o quantitativo de incursões feitas à área de estudo, considerando a duração do

curso que é de apenas 24 meses, sendo que nesse espaço de tempo são realizadas várias e

diferentes atividades relacionadas à pesquisa (pesquisa bibliográfica, reuniões com o orientador,

organização do projeto de pesquisa, confecção do material dissertativo, participação em eventos

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científicos, entrevistas, conversas informais e ocasionais com pessoas que tenham certa relação

com a área de estudo e conversações com alguns representantes de entidades conservacionistas e

com profissionais que trabalham com conservação ambiental, além da realização das disciplinas

presenciais constantes na grade curricular.

Para a coleta de informações, inicialmente elaborei um pequeno roteiro (questionário

qualitativo), com perguntas rápidas e sucintas para nortear as entrevistas, mas, como pré-existia

uma relação de parentesco, amizade e confiança construída muito anteriormente a esta pesquisa,

tais entrevistas fluíram de forma simples, evoluindo e se constituindo em “conversas amistosas”,

onde dei voz às pessoas, as quais tiveram a liberdade de expressar e repassar vários e diferentes

saberes e traços culturais, os quais às vezes se carregavam de emoção. Talvez, com a aplicação de

um questionário, não tivesse conseguido a mesma eficácia que o relato oral e livre da história

daquela população produziu. Ressaltamos que fizemos a opção de preservar a identidade dos

pantaneiros ribeirinhos que colaboraram com os nossos estudos, a fim de interferir o menos

possível no contexto local. Conversei com alguns profissionais vinculados a ONG’s e RPPN's

instaladas na área de estudo e/ou no seu entorno, além de visualizar seus conceitos, objetivos e

ações em suas páginas da web, disponíveis na Internet. Pude perceber que as informações e os

discursos relacionados às entidades conservacionistas, disponíveis na internet em sites próprios ou

em sites de entidades com as quais elas mantêm vinculo, são os mesmos produzidos durante as

conversas que tivemos e por isso têm credibilidade. Não consegui conversar pessoalmente com os

representantes das RPPN’s Penha e Acurizal. Outrossim, analisamos também alguns estudos já

realizados, que tratam especificamente da conservação ambiental da sub-região do Pantanal do

Paraguai.

Estruturalmente esta dissertação traz no seu primeiro capítulo uma discussão teórica sobre

o Pantanal, traçando uma pequena historicidade em torno do macroambiente, elencando os

eventos geológicos que, possivelmente, acarretaram na formação da planície alagável, explanando

sobre a ocupação dessa planície realizada pelo homem, há pelo menos 5.500 anos atrás, em um

verdadeiro pioneirismo humano e caracterizando os Pantanais brasileiro e boliviano e suas

divisões internas, preconizadas por alguns estudiosos, a partir da análise de fatores diversos

existentes em seus domínios.

O segundo capítulo trata do ambientalismo no mundo e, consequentemente, no Brasil e

traz uma discussão sobre os conceitos e fundamentos teóricos que norteiam essa temática. Trata,

também, dos vários ambientes em que o ser humano age e interfere de alguma maneira, e quais as

consequências produzidas a partir disto. Especificamente aborda a conservação do bioma

Pantanal, considerando, também, o fato do mesmo ser transfronteiriço. Traz, ainda, uma

abordagem do panorama geral e local sobre as UC’s (Unidades de Conservação), comentando

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sobre a tipologia, a organização e a distribuição destas no território brasileiro, além da legislação

que normatiza e regulamenta tais unidades.

O terceiro e último capítulo traz uma discussão ecoantropológica da conservação

ambiental, a partir da visão dos moradores de uma Comunidade constituída por uma “população

tradicional”, fixada há pelo menos 100 anos, no meio da sub-região do Pantanal do Paraguai.

Trata, empiricamente, da cultura, alicerçada em saberes locais, costumes e tradições, que são

repassados de pais para filhos, ao longo do tempo e as estratégias de subsistência usadas pelos

moradores da Comunidade do Porto Amolar para viver em um ambiente natural e distante dos

centros urbanos. De forma empírica, o ambiente pantaneiro ribeirinho e, consequentemente,

fronteiriço serviu de pano de fundo para a realização de um estudo etnográfico buscando, também,

verificar e, consequentemente, evidenciar a possível ocorrência de conflitos socioambientais

naquela região pantaneira.

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2 Pantanal: da pré-história aos dias atuais

2.1 Alguns Eventos Geológicos que Implicaram na Formação do Pantanal

Várias mudanças ocorreram e ainda ocorrem naturalmente no planeta Terra, desde a sua

formação à aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Isso se dá pelo fato de que a Terra é um planeta

dinâmico, segundo o entendimento de TASSINARI (2000, 98). Uma dessas mudanças pôde ser

observada com o fenômeno natural da expansão do gelo, decorrente da queda acentuada da

temperatura na crosta terrestre, com maior intensidade no hemisfério norte, ao qual comumente

chamamos de “a última glaciação”, tendo o seu glacial máximo, também denominado

“Wisconsin”, ocorrida há mais ou menos 20.000 anos atrás, no Wisconsiniano, que corresponde à

parte final do Pleistoceno22

(ROCHA-CAMPOS E SANTOS, 2000, 243). Muitas e variadas

estruturas fossilizadas, após datação com carbono 14, indicam a ocorrência e abundância da mega-

fauna no Wisconsiniano. Salientamos que, o eon Fanerozóico teve início à aproximadamente 550

milhões de anos atrás, estendendo-se até os dias atuais.

Entretanto, anteriormente23

ocorrera no hemisfério sul, outro fenômeno natural entendido

como choque ou colisão de placas tectônicas24

, mais precisamente da placa Sul-Americana25

com

a placa Nazca26

, devido ao deslocamento destas em sentido horizontal, o qual provocou a

subducção27

desta última sob a primeira, produzindo um arco magmático na borda do continente28

(TASSINARI, 2000, 106). Este fenômeno geológico, também denominado orogênese, resultou no

soerguimento da Cadeia Andina29

, e consequentemente no surgimento de uma grande depressão, a

qual é entendida por vários estudiosos como bacia de drenagem aluvial, na parte central do atual

continente sul americano.

Com o passar do tempo, a grande depressão, passou a receber sedimentos vindos dos

planaltos, trazidos com o escoamento da precipitação pluvial, o qual segundo o entendimento de

KARMAN (2001, 116), se dá em decorrência da superação da capacidade de absorção de água

pela superfície, sendo este escoamento impulsionado pela gravidade. O acúmulo sedimentar deu

origem a um “aterramento”, que continuou a receber água das partes mais altas e/ou dos

22

Período de tempo geológico no qual ocorreu também a evolução do homem em sua forma atual. 23

Aproximadamente há 60.000 milhões de anos. 24

Compartimentação da crosta terrestre em falhas ou fraturas. 25

Placa continental. 26

Placa oceânica. 27

Deslocamento para baixo. 28

Atualmente a placa Sul-Americana se desloca a uma velocidade de 10,1 cm/ano, em direção da placa Nazca, na

costa Pacífica, configurando uma margem continental ativa. 29

Elevação rochosa também conhecida como Cordilheira dos Andes.

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27

afloramentos provenientes de reservatórios subterrâneos30

que se formaram nesse interim,

originando corpos d’água sinuosos, que extravasam em períodos de alta pluviosidade, inundando a

planície a qual conhecemos como Pantanal. Porém, segundo COSTA (1999), somente em meados

do século XVIII, esta região passou a ser denominada como Pantanal, pelos monçoeiros31

ao se

referirem aos campos alagados.

A ocorrência desses vários eventos de ordem geológica, fez com que as paisagens, antes

estabilizadas, sofressem grandes alterações ao longo do tempo. Porém, vale salientar que as

paisagens continuam a sofrer alterações, visto que o desenvolvimento da Terra é contínuo e têm

uma dinâmica própria, sendo que boa parte das alterações, na maioria das vezes não são possíveis

de serem observadas em tempo real, mas sim em tempo geológico. Também, salientamos que o

planeta Terra está sofrendo determinados eventos geológicos, observáveis pelas gerações atuais.

2.2 O Pioneirismo Humano no “Novo Mundo”

O Holoceno32

teve início há aproximadamente 10.000 anos atrás33

, e favoreceu o

desenvolvimento e o aumento quantitativo e qualitativo da fauna e da flora em todo o planeta,

inclusive nas Américas. Isto, também se aplicou às populações humanas, viventes nesse período.

Surgem então, alguns questionamentos, tais como: “quando o homem teria chegado ao continente

norte americano”?

Existem inúmeras discussões acerca de quando esses pioneiros chegaram às Américas.

Nesse campo fértil de discussão, duas correntes de pensadores se destacam, debatendo e

divergindo entre si sobre a cronologia da ocupação dos primeiros homens no chamado “Novo

Mundo”: os Clovistas e os Pré-Clovistas. Os Clovistas sugerem que os primeiros grupos humanos

chegaram há aproximadamente 11.000 anos atrás e os Pré-Clovistas dizem que isto se deu muito

antes, pelo menos há 15.000 ou 14.000 anos atrás.

Outrossim, também discute-se amplamente o seguinte: “como e por onde esses grupos

humanos teriam chegado ao continente americano”? Seria caminhando através do estreito de

Bering34

até a Sibéria35

ou pelo Oceano Pacífico, por cabotagem da Polinésia até as Américas? A

cabotagem era (ou ainda é) uma prática de comércio ou de pesca, das várias tribos existentes no

Pacífico sul, feita costeando o continente ou de ilha em ilha, utilizando-se pequenas embarcações

30

Aquíferos. 31

Navegadores, exploradores e aventureiros que se locomoviam em comboios de embarcações de pequeno porte,

pelos rios e lagoas da região pantaneira durante a colonização do oeste brasileiro. 32

Período pós-glacial; época geológica atual. 33

Alguns estudiosos consideram como sendo há 12.000 anos atrás ou mais. 34

Nordeste Asiático. 35

Noroeste da América do Norte.

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28

de madeira. Conforme MALINOWSKI (1984, p.21), com raras exceções, as populações costeiras

das ilhas do sul do Pacífico são (ou foram, antes de sua extinção) constituídas de hábeis

navegadores e comerciantes. Os motu36

navegam centenas de milhas em suas toscas e pesadas

canoas, chamadas lakatoi, munidas de características velas em forma de “pinça de caranguejo”

(MALINOWSKI, 1984, p.21).

Outro questionamento é: “quando o homem passou a utilizar técnicas agrícolas

rudimentares, para a sua subsistência”? No período holocênico, o homem que ainda se encontrava

no estágio nômade, de caçador-coletor, passa a tomar sentido de que o cultivo de sementes de

determinados vegetais comestíveis e o manejo de determinados animais, poderiam lhe favorecer

com relação ao fornecimento de alimento para a manutenção do grupo em que estava inserido. É

importante lembrar que essas práticas eram desenvolvidas de forma rudimentar. Teria surgido

assim, a agricultura? Segundo BINFORD (1992, p.243), as especulações sobre a origem da

agricultura devem ser tão antigas quanto a nossa consciência de termos uma história. Conforme

BRAIDWOOD (1962, apud BINFORD, 1992, 245), no final do Pleistoceno o homem havia se

familiarizado com o seu ambiente ao ponto de ter obtido os conhecimentos necessários para

manipulá-lo em seu proveito. Esta ideia, parte do princípio Darwinista de que o fator crítico e

determinante para o começo da agricultura era o saber (BINFORD, 1992, 243).

Entretanto, teses e princípios foram postulados, sugerindo possíveis formas de se entender

as mudanças ocorridas no modo pelo qual o homem realizava a obtenção do eu alimento, naquele

período. Segundo BINFORD (1992, 248-250), a tese do Jardim do Éden ou do Paraíso sugere que

haveria determinados locais onde o homem teria à sua disposição, alimento suficiente para suprir

suas necessidades. Uma espécie de oásis, em meio a uma paisagem rústica. O mesmo autor nos

ensina que, o princípio da preguiça diz que se o homem encontrasse esses locais, com alimento

disponível e em abundância, teoricamente, não precisaria se deslocar a procura de mais alimento,

deixando assim de ser nômade e passando a ser sedentário evitando assim, o desperdício de

energia. Apesar destes argumentos não implicarem necessariamente que tenha sido o idílico

sedentarismo propiciado por um determinado Jardim do Paraíso a causa da invenção da

agricultura, há alguns arqueólogos que têm defendido precisamente essa posição (BINFORD,

1992, 250-251).

Todavia, buscando novas áreas que fornecessem melhores condições de vida37

, alguns

grupos humanos pré-estabelecidos no hemisfério norte se deslocaram para o hemisfério sul.

NEVES e PILÓ (2008) nos ensinam, que estudos arqueológicos, tais como o da Missão Franco-

Brasileira, nos anos 70 na Lapa Vermelha IV – região de Lagoa Santa-MG, coordenada pela pré-

36

Tribo costeira das ilhas do Pacífico Sul. 37

Temperaturas amenas, abundância de alimento, de origem animal e vegetal, disponibilidade de água e abrigo.

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29

historiadora Annette Laming-Emperaire, que encontrou um esqueleto feminino fossilizado,

denominado Luzia, que data aproximadamente de 11 a 11,5 mil/anos atrás, nos mostram que o

elemento humano está presente em solo, que atualmente pertence ao Brasil, a mais de 10.000 anos.

2.3 O Pantanal Brasileiro

Reconhecidamente, a planície intermitentemente inundada pela bacia do Alto Paraguai é

denominada Pantanal. Porém, conforme o entendimento de SILVA e ABDON (1998), esse

contorno não é claro, principalmente nas áreas de contato entre planalto e planície. Tanto a divisão

geopolítica quanto a divisão fisiomorfológica (considerando os aspectos ecológicos) podem ser

utilizados para delimitar o Pantanal. Conforme o entendimento de ALHO et al. (2000) uma

planície inundável, como o Pantanal é universalmente definida como um sistema ecologicamente

produtivo. Tais autores ainda dizem que desse modo três elementos caracterizam o Pantanal como

planície de inundação: água, substrato (características físico-químicas) e biota.

Situado entre os paralelos 15° e 20° S e os meridianos 55° e 60° W (BEZERRA et al.,

2002), o pantanal destaca-se como a maior área úmida contínua do planeta, localizado no centro-

oeste do Brasil, região média da América do Sul. Estende-se aproximadamente 600 km no sentido

Norte-Sul e 300 Km Leste-Oeste compreendendo 140.000Km², numa faixa tropical ao nível do

mar. Apresenta-se como uma planície sedimentar aluvial quaternária (holocênica), parcial e

periodicamente alagável em função da sua baixíssima declividade, que em longas áreas atinge 2–5

cm/Km de N-S e 30-50 cm/Km de L-O (BRASIL, 1979).

O pantanal apresenta clima tropical sub-úmido do tipo Aw (KÓEPPEN, 1931), com média

pluviométrica de 1.100mm anuais. Caracteriza-se por duas estações definidas, sendo uma chuvosa

(outubro a março) e uma relativamente seca (abril a setembro). A temperatura média anual é de

26° C, podendo ocorrer geada esporádica (CADAVID GARCIA, 1984). Em seus estudos

SORIANO (1997) observou temperaturas máximas absolutas em torno de 40º C e mínimas

absolutas em torno de 0º C.

Segundo GONÇALVES (2002), o Pantanal é formado por várias planícies e leques aluviais

que fazem parte da Bacia do Alto Paraguai (BAP), situando-se em uma área rebaixada da

depressão do rio Paraguai. Portanto, trata-se de uma área cronicamente inundável, submetida a

inundações de diversas ordens de grandeza e diferentes periodicidades. A depressão é circundada

por planaltos e elevações residuais como: os planaltos de Taquari-Itiquira e de Maracajú-Campo

Grande, a Leste; a Província Serrana, a Norte; os Planaltos residuais da Bodoquena, a Sul e os

planaltos residuais do Urucum-Amolar, a Oeste. Para CARVALHO (1986), essa bacia sedimentar

é parte integrante da bacia do rio Paraguai, sendo que 28% de sua área total pertencem a Bolívia e

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30

ao Paraguai – o restante está distribuído entre dois Estados brasileiros: Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul.

Segundo GRIZIO e SOUZA FILHO (2009, 7), o rio Paraguai tem suas nascentes em terras

altas da Província Serrana e ao atingir os terrenos da depressão apresenta grande número de aflu-

entes pela margem direita. O rio Paraguai constitui o principal canal de drenagem da bacia. Seus

tributários mais importantes na margem direita são os rios Jauru, Cabaçal e Sepotuba ao norte e o

rio Negro ao sul, na divisa entre Bolívia e Paraguai. Na margem esquerda os afluentes principais

são os rios Cuiabá - com seus afluentes São Lourenço e Piquiri, Taquari, Miranda - com seu aflu-

ente Aquidauana - e Apa, este se constituindo no limite sul do Pantanal brasileiro e a fronteira ter-

ritorial do país com o Paraguai (WWF, 2001). Além dos afluentes há no rio Paraguai, em sua

margem direita e conectadas a ele, uma série de lagoas - baias - extensas e cercadas por áreas mais

altas - morrarias - que recebem o nome de Uberaba, Gaíba, Mandioré, Vermelha, Castelo, Jacadigo

e Cáceres. Estas “baías” funcionam hidrologicamente como grandes reservatórios que têm sua

água liberada lentamente durante os períodos de vazante e seca.

Figura 1: Mapa da Bacia hidrográfica do rio Paraguai. Fonte: BRAZIL, 2007.

Segundo CALHEIROS e FERREIRA (1997) sabe-se muito pouco sobre essas “baías” e

sobre o papel ecológico que esses grandes ambientes exercem no funcionamento e na

produtividade do sistema. A Bacia do Alto Paraguai é ainda muito pouco conhecida no que

concerne ao meio físico. A maior parte dos trabalhos realizados apresentam abordagem regional,

como é o caso dos levantamentos das folhas Cuiabá (SD.21) e Corumbá (SE.21) realizados pelo

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31

RADAMBRASIL (BRASIL, 1982). Neste aspecto, merece destaque como importante fonte de

dados os resultados do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai-Pantanal (PCBAP, 1997),

que teve como objetivo a realização de levantamentos das características físicas e biológicas, dos

recursos naturais e das áreas de risco na bacia o Alto Paraguai. A área da Bacia do Alto Paraguai

sofre inundações sazonais. Os rios existentes nas planícies apresentam características muito

diferentes de rios em outras regiões do Brasil sendo comum, rios com padrão de drenagem

distributário que formam sistemas de leques aluviais de variadas dimensões (ASSINE e SOARES,

2004).

BUCHER et al. (1994), entendem que a área contém um dos maiores sistemas contínuos de

áreas úmidas, formado pela coalescência dos cursos da Bacia do Alto Paraguai, que merece uma

atenção especial por se tratar de uma "área crítica" de importância nacional e internacional.

Segundo SILVA e ABDON (1998), são identificados 16 municípios na área definida pela

planície Pantaneira no Brasil, sendo 7 munícipios no Mato Grosso (Barão do Melgaço, Cáceres,

Itiquira, Lambari D’Oeste, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Santo Antônio do Leverger) e

9 municípios no Mato Grosso do Sul (Aquidauana, Bodoquena, Corumbá, Coxim, Ladário,

Miranda, Sonora, Porto Murtinho e Rio Verde). Com relação à participação na formação da área

do Pantanal, Corumbá, Poconé, Cáceres e Aquidauana participam com 44,74%, 10,21%, 10,11% e

9,36%, respectivamente. Isto significa que apenas estes quatro municípios contribuem com

74,42% na formação da área do Pantanal, ou seja, 102.823 km2 de área (SILVA e ABDON, 1998).

Podemos observar que o município de Corumbá é o grande diferencial na formação do

Pantanal brasileiro, abrangendo praticamente a metade da área definida pela planície pantaneira no

Brasil. Isso nos permite dizer que este município contém em seu território a maior parte da fauna,

da flora e da população humana, existentes no Pantanal brasileiro.

Porém, devemos distinguir por várias questões, mas principalmente pela formação

geológica, o Pantanal da cidade de Corumbá, a qual está situada à margem direita do Rio Paraguai,

no sentido Norte-Sul. A formação geológica do solo pantaneiro data de aproximadamente 20.000

anos atrás, mais precisamente no Pleistoceno e a formação geológica do solo de Corumbá data de

aproximadamente 3,5 bilhões de anos, no Pré-Cambriano. Com uma determinada naturalidade, por

vezes, se confunde a cidade de Corumbá (área urbana) com a área total do município de Corumbá

(64.960 km²), que abrange algumas regiões do Pantanal. A cidade de Corumbá trata-se, então, da

área com a maior concentração de pessoas em um raio de aproximadamente 400 km. Em nosso

entendimento, quando o senso comum rotula Corumbá como capital do Pantanal, talvez não seja

mera presunção, nem tampouco sensacionalismo, mas sim o reflexo da importância que a mesma

representa em relação ao bioma Pantanal e à fronteira Brasil-Bolívia.

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32

Conforme SILVA e ABDON (1998), o Pantanal é subdividido, internamente em 11 sub-

regiões pantaneiras, sendo elas: Cáceres, Poconé, Barão do Melgaço, Paraguai, Paiaguás,

Nhecolândia, Abobral, Aquidauana, Miranda, Nabileque e Porto Murtinho. Vale salientar que,

cada uma dessas 11 sub-regiões possui características culturais, econômicas, fisionômicas,

hidrológicas e ecológicas próprias, com diferenciações em seus ciclos e nas formas de percepção

da vida nessas áreas. Trataremos mais especificamente da sub-região denominada Pantanal do

Paraguai, ao longo do qual esta disposta a maior parte do complexo na zona fronteiriça, entre

Brasil e Bolívia.

Figura 2: Divisão das sub-regiões pantaneiras ou pantanais.

2.4 O Pantanal Boliviano

Para MONTAÑO (2000), o Pantanal Boliviano talvez seja, em seu conjunto, a porção

melhor preservada de todo o Pantanal. Aparentemente, esta parte da planície alagável apresenta

um bom padrão de conservação da fauna e da flora, fornecendo subsídios que possam sustentar tal

proposição. Segundo CARVALHO et al. (2011, 3), as fronteiras entre Brasil e Bolívia

caracterizam uma das regiões mais belas e ricas do continente Sul Americano, pois está constituída

por áreas de grande interesse ambiental.

O Pantanal boliviano possui clima subtropical monçônico, com temperatura média entre

21°C e 31°C, podendo chegar à 2ºC por causa do vento sul, no inverno. Conforme informações do

SERNAP (Serviço Nacional de Áreas Protegidas) da Bolívia, O Pantanal Boliviano ou de Otuquis,

localiza-se a sudeste do Departamento de Santa Cruz, nas Províncias de Gérman Bush e

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33

Cordillera, sob as seguintes coordenadas geográficas: entre os paralelos 19° e 20° S e os

meridianos 58° e 59º W.

Esse Pantanal é também chamado de Pantanal de Otuquis, por conta da existência do

Parque Nacional e Área Natural de Manejo Integrado (PN-ANMI) de Otuquis, que foi

primeiramente criado como Reserva de Imobilização em 1995 e elevado, pelo governo da Bolívia,

à categoria de Parque em 1997, abrangendo praticamente toda a área do ecossistema.

Figura 3: Distribuição da planície pantaneira entre os territórios do Brasil,

da Bolívia e do Paraguai. 55.76W – 15.40S. Fonte: www.google.com.br,

acessado em 15/03/2011.

A área do Parque Nacional de Otuquis se divide em dois setores: um maior ao sul entre os

municípios de Puerto Suarez e Charagua e um menor chamado Rio Pimento, acima de Puerto Sua-

rez no município de Puerto Quijarro (BOLÍVIA, s/d). Os rios Tucuvaca e San Miguel, situados a

nordeste, são os principais corpos d’água do Pantanal boliviano, e se unem e ajudam a formar os

alagados desse ecossistema, aproximando-se geograficamente dos rios Paraguai e Negro, situados

em solo brasileiro. Entretanto, uma análise vulnerabilidade identificou as bacias do Tucavaca e de

Caceres como vulneráveis, além de serem chaves para a conservação do fluxo hidrológico na parte

sul do Pantanal boliviano. No mesmo sentido, foram identificadas na parte norte as bacias do Cor-

rereca e Curichi Grande, que proveem de água aquela região pantaneira (WWF, 2012). Além des-

ses rios, o Pantanal boliviano possui uma das maiores lagoas da região: a baía de Cáceres, a qual

desagua no rio Paraguai através do canal do Tamengo, propiciando um ponto de ligação flúvio-

lacustre entre as áreas urbanas e rurais da Bolívia e do Brasil, sendo este o único ponto de saída do

país vizinho para o mar. Podemos observar então o caráter agregador da fronteira, unindo dois

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34

estados nacionais através de um curso d’água que transpõe os limites impostos pelo homem. A

baía de Cáceres tem uma importância sócio-econômica-cultural-ambiental muito grande, pois no

seu entorno estão fixadas várias famílias que compõe a população ribeirinha boliviana.

3 O Ambientalismo e as Unidades de Conservação

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35

3.1 O Ambientalismo

O ambientalismo há muito é relacionado a "modelos alternativos de desenvolvimento",

mas apenas há pouco tempo se transformou em interlocutor dos principais agentes do campo

desenvolvimentista (RIBEIRO, 1992). O mesmo autor preceitua, também, que além da própria

dinâmica interna ao ambientalismo e das apropriações parciais de algumas de suas proposições,

nesta transformação teve um papel fundamental o abandono, em maior ou menor grau, da

assunção radical de um caráter "alternativo". Para este autor, tal fator progressivamente se

transformou em indesejável foco de disputa com diferentes vozes do campo em questão. Nesse

sentido MENDONÇA (2000, 86), entende que a história do último quarto do século XX

encontrou-se fortemente marcada pelo debate acerca da questão ambiental.

O tema ambientalismo pelo seu próprio caráter polissêmico proporciona a existência de

vários discursos proferidos pelos mais variados segmentos sociais tais como os ambientalistas, a

Igreja, os empresários e industriários, os latifundiários, as populações tradicionais, etc.. Apesar de

tratar de um mesmo tema, esses vários discursos possuem objetivos e significados diferentes,

causando muitas vezes divergências entre os atores sociais, as quais podem ser entendidas como

conflitos socioambientais. No entendimento de LOPES et al. (2004, 18), a ambientalização dos

conflitos sociais está relacionada à construção de uma nova questão social, uma nova questão

pública.

Acompanhando o raciocínio de SILVA (2008), antes de avançarmos no desenvolvimento

acerca do campo do ambientalismo é interessante estabelecer uma diferença entre meio ambiente e

ecologia. De acordo com SOARES (2003), a ecologia se caracteriza como um ramo da biologia

que estuda os seres vivos, conjuntamente com a sua dependência em relação ao ambiente onde

estão inseridos. Desta forma, essa ciência estuda os seres vivos, mas se pauta pelos princípios

positivistas da neutralidade axiológica, ou seja, busca não apresentar crítica ou algum viés político

ou ético em seus desenvolvimentos científicos, por exemplo.

Já o meio ambiente acabou por se transformar no objeto de várias ciências diferentes38

e

apresentar múltiplos significados, incluindo as atividades humanas no seu ambiente assim como as

transformações provocadas pelos seres humanos no habitat de outros seres vivos. Segundo

DAJOZ (1983, 13-14), em 1866, o biologista alemão E. Haeckel empregou pela primeira vez a

palavra ecologia, cunhada a partir da junção de duas palavras gregas: oikos que significa casa e

38

Ciências da vida, sociais e humanas.

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36

logos que significa ciência, discurso, ou simplesmente “estudo da casa”, ou ainda “ciência do

habitat ou mais apropriadamente discurso racional sobre o habitat”.

Consideramos que, a Ecologia busca entender como uma única espécie, ou uma população

ou uma comunidade se relacionam com seu meio, além das variações da abundância das espécies

existentes em determinado espaço. Para DAJOZ (1983, 14), a Ecologia “não separa o ser vivo de

seu contexto, mas o estuda em sua totalidade”. A distinção de meio aproxima-se fortemente da

noção dada pela Ecologia, ou seja: meio é tudo aquilo que cerca o ser vivo. Neste sentido, o ser

vivo pode encontrar-se “envolto” de ar, mesmo considerando espécies de hábitos cavernícolas e

terrícolas (TOMASONI e TOMASONI, 2003).

Conforme os ensinamentos de LITTLE (2006, 87), a partir do conceito de “ecologia

natural”, concebido no início do século XX surge um paradigma ecológico com várias

ramificações propostas por vários estudiosos, tais como a ecologia neofuncionalista, a ecologia

processual, a ecologia humana, a ecologia espiritual e a ecologia cultural, na qual se destaca a

etnoecologia. Ainda, segundo o mesmo autor, essas múltiplas ramificações deste paradigma

atestam uma constante ampliação do escopo de estudo, ao mesmo tempo em que representam

respostas da ciência ecológica para as novas realidades políticas e ambientais que as sociedades

confrontam hoje.

Os diferentes argumentos sobre como se concebe a natureza, propiciam o surgimento de

variadas ideologias ambientalistas. No entendimento de MELO e SOUZA (2004, 2) verifica-se o

seguinte:

Ao situar Ecocentrismo, Antropocentrismo e Biocentrismo como posturas

ideológicas no âmbito do movimento ambientalista, o que se pretende

evidenciar é o caráter por vezes até antagônico adotado por entidades e

ambientalistas individuais no emprego dessas orientações discursivas

enquanto embasadoras de sua atuação.

Para LOPES et al. (2004, 19), corroborado por COSTA (2010, 68), o processo histórico de

ambientalização assim como outros processos similares, implicam simultaneamente

transformações no Estado e no comportamento das pessoas39

. Essas transformações têm a ver

com cinco fatores: o crescimento da importância da esfera institucional do meio ambiente entre os

anos 70 e o final do século XX, os conflitos sociais ao nível local e seus efeitos na interiorização

de novas práticas, a educação ambiental como novo código de conduta individual e coletiva, a

questão da “participação” e a questão ambiental como nova fonte de legitimidade e de

argumentação nos conflitos (LOPES et al. 2004, op. cit.; COSTA, op.cit.)

39

No trabalho, na vida cotidiana e no lazer.

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37

Em nosso entendimento, isso ocorre porque o ambientalismo é palavra-chave para vários

setores da sociedade, os quais apresentam uma diversidade muito grande de discursos sobre a

proteção do meio ambiente, criados a partir do momento em que o mesmo é adotado para justificar

as suas atividades. O ambientalismo pulula entre o legal e o ilegal, podendo ser aceito por

conveniência ou descartado por puro descaso. É um tema que não é unívoco, e que pode ser

discutido tanto em reuniões caseiras como em academias, pelas várias áreas de conhecimento, pois

é altamente político, atual no cenário mundial, e por si só conflitante, pois vai de encontro a

diversos interesses.

Segundo LOPES et al. (2004, 29-30), a questão ambiental pode ser vista como fonte de

legitimidade e de argumentação em conflitos sociais, sendo que a manifestação desse fator pode

ser vista em várias instâncias. No entendimento do referido estudioso, essas instâncias vão desde

as áreas jurídicas, até Associações de Moradores, passando pelas escolas e empresas. Para

TOMASONI e TOMASONI (2003), podemos perceber o sentido polissêmico de “meio

ambiente”, especialmente quando tentamos compreendê-lo no âmbito de outras áreas de

conhecimento. Conforme BOEIRA (2007), o ambientalismo é visto como multissetorial,

pluriclassista e transnacional, constituindo-se no conjunto de agentes potencialmente capazes de

promover o desenvolvimento sustentável ou ecodesenvolvimento. Não se define como meramente

social, mas sim como histórico por atingir diversos setores sociais, dentro ou fora do governo e

das empresas, além de ter uma perspectiva ampla; trata-se de um movimento civilizatório por

questionar os valores fundamentais da civilização ocidental40

.

A história do movimento ambientalista, das suas bases ideológicas e fundamentos éticos, e

da proteção de áreas naturais como uma de suas mais expressivas reivindicações, aos poucos se

consolida e se amplia (WORSTER, 1977 e 1989; CARVALHO, 1967; VIOLA, 1986; PÁDUA,

1987; DRUMMOND, 1988; NASH, 1989; FORESTA, 1991; McCORMICK, 1992; DIEGUES,

1996; BRITO, 1995; BARRETO FILHO, 1997). Os autores parecem concordar em situar a origem

dessa prática jurídica e administrativa em 1872, com a criação do primeiro parque nacional do

mundo, o de Yellowstone, vinculando-a conceitualmente à noção de wilderness - “terras

selvagens”, “terras indômitas”, ou ainda, “qualquer extensão de terra ou paisagem não civilizada

ou não controlada pelos humanos (no sentido ocidental) ou a própria condição de não civilização

de terras ou seres” (DRUMMOND, 1988). Segundo DIEGUES (2000, 10), esse neomito, no

entanto, foi transposto dos Estados Unidos para países do Terceiro Mundo, como o Brasil, onde a

situação é ecológica, social e culturalmente distinta. Nesses países, mesmo nas florestas tropicais

aparentemente vazias, vivem populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas, de pescadores

40

Separação sujeito-objeto, razão-emoção, etc.

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artesanais, portadores de uma outra cultura (chamada [...] de tradicional), de seus mitos próprios e

de relações com o mundo natural distintas das existentes nas sociedades urbano-industriais

(DIEGUES, 2000, 10).

A Conferência da ONU sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo (Suécia), em 1972,

desencadeou a criação de uma série de instituições voltadas para novas atividades referentes aos

assuntos dessa ordem. Embora o governo brasileiro tenha se pronunciado contra a preocupação e

os controles ambientais da Conferência, receando um cerceamento internacional do processo de

industrialização, iniciado nas décadas de 30 e 40, e continuado pelo regime militar, o qual

apostava no efêmero milagre econômico brasileiro da época, no entanto, não deixou de criar e

institucionalizar logo em 1973, uma secretaria do meio ambiente (SEMA), subordinada ao

Ministério do Interior (LOPES et al., 2004). Também em 1972, a Conferência Geral de Genebra,

realizada pela UNESCO, estabeleceu a categoria patrimônio cultural da humanidade para

classificar os monumentos históricos de valor excepcional para todos os povos.

DINIZ (2004) nos ensina o seguinte:

Da valorização turística resultou a ampliação do público voltado para o

patrimônio não enquanto possibilidade de apropriação de um passado

específico, mas como fonte de fruição de beleza e informação muitas

vezes mesclada com doses de nostalgia.

Porém, os paradigmas tais como o de “terras indômitas, selvagens ou não civilizadas”, que

fundamentaram a preocupação com a destruição da natureza, da flora, da fauna, dos cursos d’água,

mudaram de forma significativa desde então (BARRETO FILHO, 1997). Tal autor nos ensina

que:

A criação de áreas reservadas tem sido um importante instrumento

regulador da política ambiental brasileira. Importando o modelo de

planejamento e gestão territorial e ambiental surgido nos Estados Unidos

em meados do século XIX, o “Código Florestal” de 1934 introduziu na

legislação brasileira a noção de área reservada - ainda que de forma

limitada - reconhecendo naquele momento três categorias básicas:

parques nacionais, florestas nacionais, estaduais e municipais, e florestas

protetoras.

Vivemos um processo de transformação que se caracteriza como um indicativo da

exigência de uma nova lógica de civilização, baseada em novos modelos e novos padrões de

acumulação (MUNIZ, 2009). Podemos notar em várias situações a apropriação, por parte de

grupos privados, de determinados mananciais e de seus recursos naturais disponíveis, culminando

na exploração e no uso indevido destes, além de impedir que a população tenha acesso a tais

recursos gratuitamente.

CAPRA (2002) nos ensina que:

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Com relação à sustentabilidade da Teia da Vida por parte da natureza,

não precisamos criar comunidades sustentáveis a partir do zero. Podemos

aprender com as sociedades que se sustentaram durante séculos.

Podemos também, moldar sociedades humanas de acordo com os

ecossistemas naturais, que são comunidades sustentáveis de plantas,

animais e microrganismos.

Para DELÉAGE (1997), com a industrialização maciça do século XX, particularmente

após a Segunda Guerra Mundial, atingiu-se um limiar nas relações entre os homens e a biosfera, e

a poluição e a degradação do ambiente se tornaram um verdadeiro fato de civilização, adquirindo

dimensões planetárias. Segundo LOPES et al. (2004, ), a preocupação ambiental, antes quase

específica de movimentos minoritários, parece ter se generalizado, incluindo as próprias -fontes

tradicionais de poluição, a empresas industriais. O movimento formado inicialmente por

diferentes entidades e ONG’s, incluindo militantes dos movimentos dos anos 60 na Europa e

EUA, torna-se cada vez mais concensual, ao menos discursivamente (LOPES et al., 2004, 229).

Percebe-se então, que a evolução da humanidade está atrelada ao aumento do processo

degradatório do meio ambiente, pois há a necessidade de se expandir fronteiras agrícolas, espaços

habitacionais, polos industriais, vias de acesso de um lugar para o outro, visando à integração dos

territórios nacionais e/ou internacionais, ações estas que normalmente geram perturbação e

alteração dos sistemas naturais. O ser humano para produzir bens e serviços, promove atividades

que causam impacto ao meio.

Uma característica fundamental desse processo é a chamada crise ambiental evidenciada a

partir da década de 1960, a qual suscita a necessidade de novos padrões de relacionamento com a

natureza e seus recursos. A crise ambiental se constitui na crise do pensamento ocidental, da

metafísica que fez a disjunção entre “o ser e o ente”, que produziu um mundo fragmentado e

coisificado no controle e domínio da natureza (MUNIZ, 2009).

Segundo LEFF (apud MUNIZ, 2009), a crise ambiental não se constitui, necessariamente,

em uma catástrofe ecológica, mas nas mudanças do pensamento com o qual temos construído e

destruído o mundo globalizado e nossos próprios modos de vida. Ele a denomina de uma “crise

civilizatória”, a qual se apresenta como um limite no real que significa e reorienta o curso da

história. Quando falamos em crise socioambiental, já suspeitamos que não podemos separar tão

simplesmente o cenário cultural do cenário natural, e dizemos que o homem faz parte da natureza

(FARIAS, 2008, 1). Para TOMASONI e TOMASONI (2003), a crise ambiental contemporânea

reflete dupla crise: a vivida pela humanidade (se é que assim pode-se intitular o atual estágio

evolutivo da sociedade planetária) e a das transformações globais dos sistemas naturais, ainda que

dinamizadas ou encadeadas pela ação humana.

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DOYLE e McEACHERN (2008) consideram que a relação entre política e ambientalismo,

está diretamente relacionada com o próprio significado do que é o meio ambiente, pois, a partir do

momento que os seres humanos são considerados parte da natureza, existe um reconhecimento de

que as relações entre os homens e o mundo “não-humano” são tanto socialmente quanto

biofisicamente construídas. Desta forma, os estudos ambientais incluem as relações entre os seres

humanos e a natureza, entre as diferentes esferas da natureza e entre os homens com eles mesmos.

Esta afirmação nos remete a outro ensinamento de CAPRA (2002), o qual diz que:

Uma vez que a característica mais proeminente da biosfera é a sua

capacidade inerente de sustentar a vida, uma comunidade humana

sustentável terá que ser planejada de maneira tal que os seus estilos de

vida, tecnologias e instituições sociais respeitem, apoiem e cooperem

com a capacidade inerente da natureza de manter a vida.

Uma primeira constatação, ao se pensar em preservação ambiental, diz respeito à

necessidade de reconhecer o grau de complexidade desse tema, que está relacionado a diversos

fatores como: o caráter intergeracional da questão, ou seja, a preocupação com as condições de

vida das futuras gerações no planeta Terra; o desenvolvimento econômico mundial frente à

escassez dos recursos naturais, principalmente, dos recursos não renováveis; o caráter

transnacional das consequências da degradação ambiental, pois os problemas oriundos dessa

degradação não ficam restritos às fronteiras dos países poluidores (SILVA, 2008).

Ao pensarmos em conservar determinada região ou área, que engloba um bioma,

ecossistema ou ambiente ecológico, que apresenta diversidade biológica relevante, paisagens com

atributos de monumento natural ou mananciais hídricos, devemos pensar também, no

desenvolvimento humano, pois não há como desvincular o elemento homem da ecologia e vice-

versa. Segundo ALMEIDA JR. (2000, 4), nas culturas ocidentais em contraste com as culturas

orientais, costuma-se tratar natureza, ambiente e homem como entidades separadas, realidades

diferentes e até mesmo antagônicas.

Porém com o desenvolvimento surgem questões de ordem sócio-econômico-político-

cultural, as quais na maioria das vezes são conflitantes com as ações de preservação/conservação

do local. Conforme o raciocínio de LITTLE (2006), além dos problemas propriamente

planetários, como o aquecimento da atmosfera, o crescimento do buraco na camada de ozônio e as

mudanças nas correntes oceânicas, no plano regional existem recorrentes crises ambientais

manifestas pela desertificação, inundações, esgotamento de recursos naturais, contaminação do ar,

água e solo, modificações climáticas e perda de biodiversidade. O efeito-estufa, em escala

planetária ou global, assim como as inversões térmicas em áreas urbano-industriais, em escala

local, dentre outros, revelam a interação negativa estabelecida entre a sociedade e a natureza, bem

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41

como a criação de situações de risco e de impacto ambiental climático decorrente da interferência

humana na dinâmica climática (MENDONÇA, 2000).

Em nosso entendimento, as ações antrópicas são fatores preponderantes e limitantes que

influenciam e interferem diretamente no equilíbrio físico-químico-biológico da Terra. Repensar

estas ações, significa subsidiar mecanismos que possibilitem desenvolvimentos de várias

categorias e magnitudes vinculados a uma efetiva conservação ambiental globalizada. Para

TOMASONI e TOMASONI (2003), perceber que as mudanças globais em curso afetam e são

afetadas pelas ações humanas requer que compreendamos a própria contradição do estilo de vida

que leva à excessiva competitividade, hierarquização social e consequente esgotabilidade das

relações entre a humanidade e a natureza.

Conforme MENDONÇA (2000), alguns dos mais importantes fenômenos que contribuíram

para a eclosão da questão ambiental na atualidade estão diretamente relacionados ao clima, ou

seja, à interação negativa estabelecida entre este e a sociedade. O mesmo, cita que a elevada e

preocupante mortalidade decorrente da fome que se repercutiu sobre a população do Sahel na

década de 60, consequência direta de uma longa seca que se abateu sobre a região, constituiu-se

num dos principais problemas do século e despertou a atenção da sociedade e dos governantes

para os graves problemas sociais que tomam proporções avassaladoras quando intensificados por

fenômenos naturais.

Segundo DUARTE (2004), o período da década de 1980 ficou marcado pelo surgimento de

novos problemas ambientais e pelo aprofundamento dos já existentes, acompanhado da crise de

recessão mundial, fruto dos choques de petróleo. Foi no início dos anos 80 que surgiram as

primeiras informações acerca da existência do buraco na camada de ozônio, a intensificação do

efeito estufa, em função da ação humana, começaram a ser disseminadas para a opinião pública.

As múltiplas ramificações do paradigma ecológico atestam uma constante ampliação de seu

escopo de estudo, ao mesmo tempo em que representam respostas da ciência ecológica para as

novas realidades políticas e ambientais que as sociedades confrontam hoje. Duas das mais

importantes forças contemporâneas são a vertiginosa aceleração no último meio século, do

processo da globalização e a crescente gravidade da crise ambiental no plano mundial (LITTLE,

2006).

Isto nos permite dizer que o homem não mais se utiliza dos recursos naturais disponíveis

para sobreviver. Ele vive para utilizar os bens de consumo provenientes da exploração desses

recursos naturais. Em determinadas situações, a preocupação com o meio ambiente deixou de ser

lírica, perdendo em grande parte o seu caráter poético e por vezes o seu perfil unicamente

ecológico e ganhou conotação sócio-político-econômica, atingindo patamares estratégicos na

fronteirização entre determinados estados nacionais.

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Segundo FARIAS (2008), o imaginário romântico da Natureza-Paraíso tinha produzido

uma ideia de Natureza muito superficial e até ingênua frente aos problemas revelados pela

ecologia. Um dos trabalhos mais importantes e difíceis da compreensão crítica da crise ambiental

consiste em desromantizar a ideia de natureza intocada e a dificuldade vem do fato de que esse

imaginário romântico está ainda na base do pensamento ecológico, e é a peça fundamental para a

construção do discurso da crise ambiental. DIEGUES (2000, 9-10), nos ensina o seguinte:

Para o naturalismo da proteção da natureza do século passado, a única

forma de proteger a natureza era afastá-la do homem, por meio de ilhas

onde este pudesse admirá-la e reverenciá-la. Esses lugares paradisíacos

serviriam também como locais selvagens, onde o homem pudesse refazer

as energias gastas na vida estressante das cidades e do trabalho monóto-

no. Parece realizar-se a reprodução do mito do paraíso perdido, lugar de-

sejado e procurado pelo homem depois de sua expulsão do Éden. Esse

neomito, ou mito moderno, vem impregnado, no entanto, do pensamento

racional representado por conceitos como ecossistema, diversidade bio-

lógica etc.

A conservação de determinados ambientes, principalmente os que estão situados em linhas

limítrofes entre dois ou mais países, pode significar a imposição da presença do estado naquele

local visando à manutenção da segurança nacional e a afirmação do domínio de áreas que possuem

mananciais hídricos e reserva de material biológico e/ou minerosiderúrgico. Na concepção

biológica a conservação do meio ambiente, vai mais além das fronteiras e dos limites impostos

pelos governos e sociedades. Em termos ecológicos, a biocenose presente em um ecossistema ou

bioma, não se restringe a um espaço delimitado pelo homem. Ela é autônoma, tem movimento

próprio e se desloca continuamente dentro dos limites impostos pela própria natureza, onde as

pressões do meio são os fatores limitantes para o controle natural das comunidades biológicas.

Algumas ações antrópicas influenciam diretamente no equilíbrio natural, e neste caso oca-

sionam descontinuidades no sistema. Havendo a descontinuidade do sistema previamente organi-

zado, há a necessidade de reorganização deste, o que reflete direta ou indiretamente em todas as

formas de vida existentes na Terra. Nota-se então, de forma natural, a aplicação da Lei da Física

de Ação e Reação, ou seja, o homem age e a natureza reage. Descaracterizar um determinado am-

biente conduz certamente à diminuição ou até mesmo à perda da diversidade biológica local, ge-

rando um défict qualitativo e quantitativo em relação às espécies vegetais e animais que ali estão

instaladas, alterando ou às vezes extinguindo nichos ecológicos. Segundo HUTCHINSON (1957),

nicho ecológico é toda a gama de condições sob as quais o indivíduo ou a população vive e se

substitui a si mesma. ODUM (1988), diz que nicho ecológico é a posição ou o status de um orga-

nismo dentro de sua comunidade e ecossistema, resultante das adaptações estruturais, consideran-

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do sua fisiologia e seu comportamento específico. Nesse sentido, seguindo os ensinamentos de

PILLAR (2002, 1), vale ressaltar que um ecossistema é um sistema de organismos vivos e do meio

com o qual trocam matéria e energia. Um ecossistema contém componentes bióticos (plantas, a-

nimais, microrganismos) e abióticos (água, solo, etc.) que interagem para formar uma estrutura

com uma função.

Entendemos que a conservação e consequente manutenção dos vários nichos ecológicos

que existem em um sistema natural é primordial para a própria existência deste. Cada indivíduo,

de cada espécie populacional, que compõe uma determinada comunidade ecológica, é responsável

por desempenhar uma ou mais atividades específicas de caráter individual ou coletivo, em um

determinado ambiente proporcionando interações de vários níveis, entre si e os demais organismos

vivos, ali existentes.

Por vezes, um ecossistema ou um bioma abrange dois ou mais estados nacionais

fronteiriços, o que implica em ações conjuntas de conservação ambiental, porém diferenciadas em

vários aspectos, na maioria das vezes. A existência ou não de políticas públicas de gestão

ambiental, implantadas pelos estados nacionais que convergem, comumente, um ecossistema ou

um bioma é uma preocupação. Se não há políticas públicas de gestão ambiental, a possibilidade de

degradação de tal ecossistema ou bioma evidencia-se. Em havendo políticas públicas dessa

natureza, torna-se necessário saber a dimensão das diretrizes que norteiam tais mecanismos,

entender os níveis de compartilhamento das Unidades de Conservação, no tocante as suas gestões

ambientais e entender os traços culturais existentes em cada lado da fronteira.

Igualmente, quando falamos em políticas públicas de gestão ambiental estamos incluindo

os aparatos legais que o caso requer, a fim de embasar e sustentar juridicamente, as ações de

preservação/conservação, que giram em torno de uma determinada área. Para MORAES (1994,

29-30), o estabelecimento de medidas jurídicas e administrativas para a proteção de áreas naturais

de excepcionalidade ecológica e/ou que escapam à banalidade topográfica e paisagística, como

instrumento de preservação ou conservação da diversidade biológica e da paisagem natural, tem se

revelado uma importante faceta das políticas públicas territoriais - isto é, das ações estatais de

modulação do espaço, qualificando-o como condição para outras e futuras espacializações.

A conservação do Pantanal Matogrossense, mais precisamente a sub-região do Pantanal do

Paraguai, situado na fronteira Brasil-Bolívia é, possivelmente, um exemplo típico dessa afirmação.

Segundo OLIVEIRA (2008), esta área fronteiriça é complexa e intrinsecamente ligada por

diversos fatores que vão da semi-conurbação das cidades gêmeas de Corumbá-Ladário/Puerto

Quijarro-Puerto Suarez à exploração de recursos naturais. O privilégio, por parte do Brasil e da

Bolívia, de possuir em seus territórios, uma das áreas ecológicas mais exuberantes do mundo, que

é a planície inundável da sub-região do Pantanal do Paraguai, cuja fronteira entre os dois estados

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nacionais, não apresenta um povoamento intenso e possui aproximadamente 3.400km de extensão,

conforme OLIVEIRA (2008), no sentido N-S, traz consigo a grande responsabilidade de manter

este hotspot para a conservação da biodiversidade (grifo nosso). Uma das observações mais

interessantes, do ponto de vista ecológico, é que essa fronteira tem permeabilidade e porosidade,

conforme nos ensina MACHADO (1998), além de autonomia e fluxo contínuo, apresentando mais

de um ponto de ligação entre os dois países, o que propicia a existência de corredores ecológicos

transversais. Esses corredores são verdadeiros elos, de ligação fronteiriça, tanto de plantas,

animais e microrganismo, quanto de humanos, os quais interagem entre si, e contribuem com o

fluxo de energia e de carga genética, nesta zona.

A linha limítrofe que separa o Brasil da Bolívia apresenta uma paisagem peculiar

constituída por lagoas de médio e grande porte, que se ligam ao Rio Paraguai e por uma cadeia

montanhosa denominada Serra do Amolar, desde a divisa dos estados de Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul até a divisa entre as cidades de Corumbá/BR e Puerto Quijarro/BO, formando assim

o complexo natural da Bacia do Alto Paraguai (BAP). Existem grandes lagoas onde massas de

água foram represadas nos sinuosos contornos dos maciços residuais e terras firmes da faixa de

fronteira entre Brasil e Paraguai. Já as lagoas de médio porte, no interior do Pantanal, diz respeito

ao setor em que o rio Paraguai encosta na Serra do Amolar, cruzando uma planície lacustre do

passado e dando origem a numerosas lagoas semicirculares e elípticas (AB’SÁBER, 1988).

Para GONÇALVES (2002), toda a planície fluvio-lacustre é constituída por “lagoas” de

várias dimensões, que possivelmente prendem-se a movimentações tectônicas do final do

Terciário, sendo que as mais expressivas são as do Jacadigo, Cáceres, Negra, Castelo e Vermelha.

Incluímos, também, como sendo de caráter expressivo as lagoas Mandioré, Gaíva e Uberaba.

Segundo BEZERRA et al. (2002), as áreas de inundação são consideradas biologicamente muito

produtivas e, portanto, as diversas lagoas distribuídas por toda a planície pantaneira são

fundamentais para a manutenção da biodiversidade. O ciclo anual de cheia e seca (“pulso” do rio)

é o fenômeno ecológico mais importante da planície de inundação de um rio, controlando sua

estrutura e funcionamento e atuando na ciclagem de nutrientes e disponibilidade de água (WWF,

2001). As espécies aquáticas e terrestres procuram esses ecossistemas ou áreas de inundação

principalmente para fins alimentares, reprodução e proteção. Outro sim, as comunidades

planctônicas e bentônicas, encontram um ambiente favorável ao seu desenvolvimento.

Consequentemente, essas são áreas ricas em alimento, o que estruturou cadeias alimentares e

atraiu o homem durante toda sua existência na região.

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3.2 O Ambiente Fronteiriço

O ambiente fronteiriço constitui-se, por si só, em um lugar de inúmeros e diferentes

encontros que podem gerar ou não, possíveis conflitos de diferentes magnitudes, devido conforme

o nosso entendimento, à sua disposição geográfica, à sua heterogeneidade populacional e às suas

variações jurídicas, além de outras particularidades. As nuances existentes, por conta das

atividades sócio-econômico-culturais desenvolvidas naquele ambiente, demonstram a riqueza da

diversidade de ralações humanas, produzidas por diferentes povos, que convergem a um mesmo

espaço.

Segundo ROCHEFORT (2002, 10-11), devemos entender a fronteira como um local de

encontro, de reunião, de enriquecimento mútuo e não como um local de separação, de demarcação

e até mesmo de obstáculo. A fronteira entre o Brasil e a Bolívia, mais precisamente entre as

cidades brasileira de Corumbá-MS e a cidade Boliviana de Puerto Quijarro-SC, é possivelmente

mais um local de encontro do que de separação, mesmo existindo em determinados momentos, em

determinadas situações e com determinados grupos de pessoas, um certo preconceito de nacionais

brasileiros para com nacionais bolivianos. É possível que haja reciprocidade em relação a esse

preconceito.

O fluxo constante e contínuo de pessoas com suas tradições e costumes, de materiais e até

mesmo da macro e da microfauna e flora, leva-nos a crer que essa fronteira seja, na maior parte do

tempo, amistosa e convergente. As fronteiras, mesmo sendo um espaço de fixos41

, são muito mais

um espaço de fluxos42

,43

. Porém, essa convivência amistosa, reserva períodos de segregação,

principalmente quando a segurança nacional e tranquilidade social, mesmo que aparentemente, é

ameaçada por conta de atividades ilícitas que também ocorrem ao longo e através da linha de

fronteira.

41

Casas, lojas, praças, monumentos, etc. 42

Moradores de lado a lado, turistas, caminhoneiros, comerciantes, trocas, etc. 43

Agradeço ao Prof. Dr. Edgar Aparecido da Costa pelas suas explanações sobre fronteira, durante a disciplina Gestão

do Território Fronteiriço/PPGEF, no 1º semestre letivo de 2011.

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Figura 4: Fronteira Brasil-Bolívia nas proximidades de Corumbá-MS, 2011. Fonte:

Ravaglia, 2011.

Na concepção de COSTA (2008), “a linha fronteiriça não significa fronteira”. O limite

internacional é tão somente um simbolismo que indica a posse de um determinado território.

Segundo esse mesmo autor, a fronteira é uma forma simbólica de indicar a posse de um dado

território na superfície terrestre, não sendo tangível nem observável. Entretanto, devemos ressaltar

que a Lei nº 6.634/1979 considera uma faixa interna de 150 km de largura, paralela a linha

divisória terrestre do território nacional, como área indispensável à segurança nacional (BRASIL,

1979). Embasados nos ensinamentos de GRIMSON (2000), nos permitimos afirmar que o

cotidiano fronteiriço entre o Brasil e a Bolívia também é constituído pela tensão entre o legal e o

ilegal. Em nosso entendimento, os possíveis ilícitos que por ventura venham a ser praticados em

uma região de fronteira, podem ter vários motivos e consequentemente vários significados.

Portanto, quando praticados, a maioria desses ilícitos tem, primeiramente, de algum modo44

incidência direta sobre a sociedade local fronteiriça e, posteriormente, sobre as demais esferas das

sociedades em geral. Entendemos ainda, que esses fatos são elementos que, também, dão

vivacidade às fronteiras, o que não poderia ser diferente em nosso caso.

Então, sem utopias, é válido questionar o seguinte: será que o significado de um ato,

considerado como ilícito pela legislação de estados nacionais que se fronteirizam, é o mesmo tanto

para as suas autoridades como para os fronteiriços que os pratica? E para quem é fronteiriço, não

44

Positiva ou negativamente.

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pratica ilícitos, mas está em uma situação de proximidade às atividades ilícitas e/ou às pessoas que

praticam tais ilícitos e dependem, inclusive, dessas práticas para sobreviver?

Em nosso entendimento, possivelmente, quem realiza determinados atos considerados ilíci-

tos, talvez, não esteja transgredindo a “fronteira” propriamente dita, mas, transgride sim o “limite”

estabelecido entre dois ou mais estados nacionais, por conta da segurança nacional. Provavelmen-

te, as regras e normas que resguardam os limites entre estados nacionais não necessariamente, são

as que sustentam as fronteiras vividas pelos fronteiriços. Talvez isso ocorra porque a fronteira

possui mobilidade e dinamismo, e o limite é estático e apático. Além dos ilícitos “urbanos”45

, vei-

culados pelas mídias local, nacional e, muito provavelmente internacional, por vezes, também,

podem ser observados e apontados ilícitos “silvestres” ou “rurais”46

, porém, em menor escala os

quais afetam diretamente a biota pantaneira, pois, a região do Pantanal do Paraguai em sua face

ocidental, acompanha a linha de fronteira desde a divisa dos estados de Mato Grosso e Mato Gros-

so do Sul até o município de Corumbá, onde fronteiriza ao sul com o Pantanal boliviano, também

chamado de Pantanal de Otuquis, por conta do Parque Nacional existente nessa área e ao norte

com o Bosque Chiquitano.

Um dos principais ilícitos verificados nessa região está relacionado à utilização do fogo pa-

ra limpeza de áreas destinadas, principalmente, à pecuária e à agricultura, a qual se denomina de

queimada e que se não for feita com o devido cuidado, pode gerar incêndios florestais que muitas

vezes atingem grandes proporções. Para GUEDES et al. (2010, 2), o homem é agente principal

dessa situação preocupante, mesmo com leis e sanções criadas para coibir essa prática, existe o

lado cultural tão arraigado no brasileiro que somado com atitudes irresponsáveis comprometem

áreas enormes de terras, inclusive dentro de Unidades de Conservação. Tal situação, possivelmen-

te ocorre de forma parecida em território boliviano, pois em relação ao manejo do solo, animais e

vegetação nessa zona fronteiriça, são identificadas mais semelhanças do que diferenças.

45

Tráficos diversos, contrabandos, subtração e desvio de bens móveis, etc. 46

Desmatamentos, caça e pesca predatórias, uso de agrotóxicos, queimadas, etc.

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Figura 5: Fogo consumindo morraria na RPPN Penha. (Foto: Prevfogo / MT,

Fonte: www.oeco.com.br, 2008).

Figura 6: Fogo consumindo morraria próxima a RPPN Acurizal. (Foto: Brant;

Fonte: www.oeco.com.br, 2008).

Ainda segundo GUEDES et al. (2010, 6), as degradações das queimadas provocam efeitos,

tanto imediato atingindo solo e a biodiversidade, como em longo prazo, contribuindo para efeito

estufa (responsável por 70% da emissão de gás carbônico).

Conforme o entendimento de CRUZ (s/d, 6):

A queima de matéria orgânica (no caso, da palha da cana-de-açúcar)

produz a liberação, para a atmosfera de gases tóxicos primários

(monóxido de carbono, dióxido de carbono, metanos, hidrocarbone-

tos). Esses gases são altamente tóxicos para o ser humano – provo-

cam e agravam doenças respiratórias e cardio-vasculares. Esses ga-

ses (que por si só já são altamente danosos para a saúde e o bem es-

tar da população) são precursores do ozônio, na medida em que ao

reagirem fotoquimicamente na atmosfera transformam-se neste gás,

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49

gerando a alta acumulação de ozônio na baixa atmosfera. Tal fenô-

meno é conhecido como “smog fotoquímico”.

Figura 7: Queimada em uma área do Pantanal. Fonte:

www.ecodebate.com.br, 2009.

É possível que o fogo que ocasiona determinados incêndios no Pantanal seja de origem

espontânea e/ou natural, porém dados demonstram que o elemento humano é o principal agente

causador de focos de queimadas na região pantaneira, visto que a utilização do fogo é prática usual

nas comunidades rurais e tradicionais, estando arraigada na cultura destas. Conforme informações

obtidas junto à EMBRAPA Pantanal, as queimadas provocadas por raios e reflexões de vidros

normalmente ocorrem sobre uma área de vegetação seca, provocando grandes incêndios e as an-

tropogênicas em quaisquer das vegetações (ECOA, 2007). Entretanto, em relação à região do A-

molar o chefe do Prevfogo/MT disse o seguinte: raio só provoca grandes queimadas quando existe

acúmulo de combustível. E no Amolar, há muito. O mato está seco e vem crescendo desde o últi-

mo grande incêndio na região, em 2003. “Incêndio no Pantanal é sempre muito difícil, mas essa

situação poderia ser evitada se houvesse manejo de fogo” (www.oeco.com.br, 2008). Outrossim,

SAKAMOTO (2002) nos informa que, segundo pesquisadores da EMBRAPA Pantanal:

"O gado é o grande bombeiro do Pantanal, pois evita o acúmulo de mas-

sa que seria queimado na época seca", [...]. Isso faz com que as ocorrên-

cias de incêndio sejam menos graves. Além disso, garante que as espé-

cies de pasto de porte mais alto, como o rabo-de-burro e o capim-

vermelho, não se sobreponham às menores. [...].

Acompanhando o raciocínio de SANTOS et al. (2006, 93), entendemos que maior parte

das queimadas tem origem humana, provocadas intencionalmente, em função do trabalho dentro

do pantanal e talvez até por outros motivos. Mas são fatores climáticos, como seca e velocidade

do vento, ou o relevo do local que influenciam a sua propagação e determinam os seus efeitos de-

vastadores SANTOS et al. (2006, 93). Uma das medidas de precaução para tal atividade é a pro-

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50

dução de acero47

para conter a propagação do fogo para outras áreas, o que poderia provocar aci-

dentes florestais de grandes proporções causando danos à natureza, às vezes, irreparáveis. Uma

reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo em agosto de 2012 nos informa o seguinte:

Segundo o INPE, as queimadas no Pantanal aumentaram 525%, neste ano em relação a 2011

(CANCIAN e TUROLLO JR., 2012).

No entendimento do Diretor de Políticas Públicas e Chefe de Ações da ECOA, na região

do Amolar a preocupação anual em relação às queimadas é mais um argumento para fortalecer o

trabalho dos atores locais na prevenção e combate de queimadas na região (ECOA, 2009). Obser-

vemos a seguinte sugestão feita pelo chefe do Prevfogo/MT, em 2008:

Para evitar tanto combustível, [...] recomenda que seria ideal estudar a

região e fazer queimas controladas a cada três anos, entre janeiro e mai-

o, o que não comprometeria a saúde da vegetação. “Isso vale para todo

o Brasil. Antes investir nesse tipo de prevenção do que gastar milhares

de reais tentando enfrentar fogo no alto da montanha com 10% de umi-

dade relativa do ar e 40 graus de temperatura”, [...]. Raio na Serra do

Amolar nunca foi novidade para quem vive e cuida do local. “Em geral

queima esparsamente e permite que a vegetação se recupere”, [...]. A di-

ferença é que, somada a essa condição de secura e falta de manejo, na

visão do analista, as consequências podem ser permanentes. “Infeliz-

mente a parte baixa do Amolar há anos sofre pressão de fogo provocado

por pessoas, portanto ela já esta bastante pressionada com capacidade de

recuperação reduzida”, observa o analista (www.oeco.com.br, 2008)

Com base nos estudos de RODRIGUES et al. (2002,11), relacionados ao fogo em áreas na-

turais temos os seguintes conceitos:

Fogo: é a forma visível de oxidação que produz uma chama ou brilho visível (Dicionário

de Ecologia e Ciências Ambientais, 1998).

Incêndio Florestal: é a ocorrência de fogo sem controle, em qualquer forma vegetativa. As

causas variam de natural a criminosas, podendo também ser acidental (IBAMA, 2002).

Queimada: é a prática agrícola rudimentar, que consiste na queima da vegetação natural,

quase sempre em matas, com o fim de preparar o terreno para semear (FEEMA, 1990).

Queima controlada ou prescrita: é o método de manejo florestal no qual incêndios relati-

vamente pequenos e controlados são ateados, sob condições favoráveis, para evitar a formação de

grandes quantidades de matagal ou de madeira morta (Dicionário de Ecologia e Ciências Ambien-

tais, 1998).

De um informe da Procuradoria Federal de Mato Grosso do Sul, publicada pelo site

www.ecodebate.com.br (2009), extraímos o seguinte:

47

Desbaste da vegetação formando um espaço limpo, o que ajuda a impedir a propagação do fogo.

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51

O Ministério Público Federal (MPF/MS), Ministério Público do Traba-

lho (MPT) e Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP/MS) expe-

diram recomendação conjunta a todos os proprietários rurais dos muni-

cípios de Corumbá e Ladário, determinando a elaboração de plano de

contingência destinado a prevenir e combater incêndios florestais em

suas respectivas áreas. O conteúdo mínimo obrigatório do plano é defi-

nido pelo termo de referência elaborado pelo Comitê Municipal de Pre-

venção e Combate a Incêndios Florestais no Pantanal de Corumbá.

A utilização do fogo na fronteira Brasil – Bolívia, mais especificamente no Pantanal, é um

assunto que demanda ampla discussão, pois se trata de uma área comum entre dois países, que

engloba ecossistemas que constituem um dos mais importantes biomas que se estende tanto pelo

território brasileiro quanto pelo boliviano. Assim, é possível verificar em diversas ocasiões, prin-

cipalmente quando ocorrem incêndios florestais ao longo da Serra do Amolar, “brasileiros dizerem

que os bolivianos são responsáveis pelas queimadas que perdem o controle e vice-versa”: [...]O

fogo veio do lado de lá. Eles tacam fogo no mato, perde o controle, pega na morraria, ai vira um

fogaréu brabo.

Figura 8: Situação ambiental durante uma queimada no Pantanal. Verificar

comunidade faunística refugiando-se junto a um pequeno lago (nesga

d’água). Fonte: www.cpap.embrapa.br, 2005.

A amplitude do tema fronteira permite que esta seja visualizada de diferentes pontos de

vista e, consequentemente, entendida de várias maneiras, o que dificulta a sua conceituação. Po-

rém, devemos esclarecer que, no âmbito científico, a fronteira não deve ser entendida meramente

como sinônimo de ilicitudes, desvios, tráficos, contrabandos, contravenções, prostituição, margi-

nalidades, etc. Conforme o entendimento de VALCUENDE e CARDIA (2009):

A fronteira pode ser entendida como um elemento de separação, mas

também é um elemento articulador e constitui um potencial recurso para as

populações locais em regiões como a pesquisada, onde a presença do

Estado tem sido limitada. Como já assinalamos na parte teórica, as

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populações fronteiriças aprenderam a instrumentalizar esta posição, a partir

do ponto de vista econômico, social, simbólico e político, quatro eixos que

devem ser analisados para compreender a significação última dessa área de

fronteira.

3.3 A Legislação Ambiental na Fronteira

As relações humanas e, por conseguinte sociais, são compostas por uma diversidade de

situações possivelmente conflitantes, inerentes ao cotidiano de uma sociedade ativa quanto às

atividades sócio-político-econômico-culturais. Esses possíveis conflitos podem assumir diferentes

proporções, em diferentes escalas e por diferentes motivos, alterando ou não a harmonia existente

em um determinado ambiente. Um desses motivos geradores de conflito é o trato com meio

ambiente natural.

Atualmente o nível de desenvolvimento econômico no Brasil, bem como em outras partes

do mundo é avassalador e tem por consequência a necessidade imperativa de gerar lucro

constante, mesmo que este conduza ao desarranjo estrutural e organizacional de ecossistemas que

compõe determinado bioma. A sociedade civil se depara cada vez mais com situações de

degradação onde determinadas indústrias, determinados agropecuaristas e empreendedores

diversos e etc., devidamente regulamentados ou não discutem na maioria das vezes de forma

litigiosa, com entidades e instituições protetoras do meio ambiente, visto ser este o objeto

principal de uma disputa entre o homem e a natureza, a qual em nosso entendimento não deveria

existir. Tais pelejas se tornam mais acirradas quando as áreas que sofrem degradação se encontram

mais isoladas dos grandes centros urbanos, tais como as fronteiras entre Estados Nacionais.

É absolutamente certo que, o ponto de chegada em prol do bem-estar de toda a sociedade é

o integral e total cumprimento da legislação quer sejam as leis em geral quer sejam as normas

regulamentadoras, portarias e instruções normativas específicas [...] MS/MPT (2009, 20). O

Brasil através de seus órgãos competentes, não obstante, cria leis, normas e demais instrumentos

legais com o intuito de dar embasamento jurídico aos profissionais ligados à área do Direito. A

normatização jurídica das questões relacionadas com a degradação ambiental é um campo novo e

exprime aspectos inusitados no que diz respeito à estruturação do Direito, comprometendo de

certo modo os princípios básicos do Direito Liberal (ALVES, 1996, 28). Segundo LOPES et al.

(2004, 257), a partir da segunda metade dos anos 80 houve a formação de um corpus legal

especializado na questão ambiental, que acabou por se constituir numa nova especialidade do

Direito.

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53

Além dos elementos teóricos, em ciências ambientais, que nos dão suporte para o

entendimento e o manejo sustentável dos recursos naturais, e consequentemente nos conduzem à

conservação ambiental, se tornam imprescindíveis, os instrumentos legais que nos dão

embasamento para tal intento. Mas como aplicar a lei ambiental vigente no Brasil, em um bioma

que ultrapassa os limites fronteiriços, e se estende por vários quilômetros, em território estrangeiro

(Bolívia). Os vários fatores48

que agem no ambiente pantaneiro em ambos os países, interferem de

forma positiva ou negativa, na paisagem natural, podendo modificá-la, por determinados períodos

de tempo ou definitivamente.

Em nosso entendimento, em relação às intempéries ou “forças da natureza”, teoricamente,

independe da vontade humana a ocorrência ou não daquelas e com que intensidade elas ocorrem.

Porém, com relação às ações antropogênicas, uma série de medidas técnicas e legais, foram e são

adotadas, visando à proteção e conservação do meio ambiente, ou a minimização de processos de

degradação ambiental, já existentes.

Elencamos então, no quadro abaixo, alguns dos diversos dispositivos legais criados para

atender a demanda das questões ambientais existentes, inclusive no ambiente fronteiriço, tanto no

Brasil quanto na Bolívia:

BRASIL BOLÍVIA

O Código Florestal – Lei nº 4.771, de 15 de

setembro de 1965, alterada pela Lei nº 7.803 de

18 de julho de 1989 (BRASIL, 1989)

La Ley nº 1333/92 (Ley del Medio

Ambiente), Capítulo V, artículo 29º -

Assuntos del Medio Ambiente en el Contexto

Internacionale (BOLÍVIA, 1992)

O Decreto Presidencial da República

Federativa do Brasil nº 4.340/02, artigo 41, do

Capítulo XI – Das Reservas da Biosfera

(BRASIL, 2002)

La Nueva Constitución Política del Estado

Boliviano de 2008, Capítulo V – Derechos

Sociales y Económicos, Sección I –

Derechos ao Medio Ambiente, artículos 33º y

34º, y Sección III – Áreas Protegidas, artículo

385º (BOLÍVIA, 2008)

A Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que

regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e

VII da Constituição Federal de 1988, criando o

sistema Nacional de Unidades de Conservação

da Natureza - SNUC (BRASIL, 2000)

La Ley Forestal nº 1700 de 12 de julho 1996

(BOLÍVIA, 1996)

48

Intempéries e ações antrópicas.

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54

A Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (Lei

de Crimes Ambientais), em seu Art. 77, Cap.

VII – Da Cooperação Internacional para a

Preservação do Meio Ambiente (BRASIL,

1998);

A Lei 5197 (Lei de proteção à Fauna), de 03 de

janeiro de 1967 (IBAMA , 1967)

A Resolução CONAMA 302 de 20/03/2002

(BRASIL, 2002);

Quadro 1: Comparativo de dispositivos legais dos governos brasileiro e boliviano (Fonte: Santos,

2013).

Em seus estudos, SANTOS et al. (2011, 6-7), citam o seguinte:

A Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 – Lei de Crimes Ambientais, do

Governo Federal Brasileiro, em seu Art. 77, do Cap. VII – Da Cooperação

Internacional para a Preservação do Meio Ambiente, diz o seguinte:

“Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes,

o Governo Brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a

necessária cooperação ao outro país, sem qualquer ônus, quando

solicitado” (BRASIL, 1998).

SANTOS et al. (2011, 7) dizem também, que é importante indagar como os órgãos

responsáveis pela fiscalização ambiental, nas cidades de Corumbá – MS (Brasil) e Puerto Quijarro

– SC (Bolívia), visualizam e tratam as questões ambientais na fronteira.

Segundo a Lei nº 1333/92 (Ley del Medio Ambiente) da República da Bolívia, em seu

Capítulo V, artigo 29 - Dos Assuntos do Meio Ambiente no Contexto Internacional:

El Estado debe promover los tratados y la acción internacional de

preservación, conservación y control de la fauna y flora, de las áreas

protegidas, de los sistemas ecológicos compartido con un o más Estados

Nacionales (BOLÍVIA, 1992, 7).

Entretanto, a Bolívia não tem solicitado nenhum tipo de cooperação a fim de realizar a

conservação ambiental em seu território (SANTOS et al., 2011, 7). Trata-se então de uma situação

curiosa, pois conforme se vê, não cabe ao Brasil propor o pedido de apoio. É importante indagar

como os órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental, nas cidades de Corumbá – MS (Brasil) e

Puerto Quijarro – SC (Bolívia), visualizam e tratam as questões ambientais na fronteira?

A Lei nº 1333/92 (Lei de Meio Ambiente) da República da Bolívia prevê em seu Capítulo

V, artigo 29 - Dos Assuntos do Meio Ambiente no Contexto Internacional, que o Estado

promoverá tratados e ações internacionais de preservação, conservação e controle da fauna e flora,

de áreas protegidas, ecossistemas compartilhados com um ou mais países (BOLÍVIA, 1992, 7).

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55

Igualmente, como a utilização dos recursos naturais existentes e disponíveis, nessa região,

influência a população fronteiriça? A Constituição Política do Estado Boliviano de 2008, em seu

Capítulo V – Dos Direitos Sociais e Econômicos, Seção I – Dos Direitos ao Meio Ambiente, artigo

33, prevê o seguinte:

Las personas tienen derecho a un medio ambiente saludable, protegido y

equilibrado. El ejercicio de este direcho debe permitir a los indivíduos y

colectividades de las presentes y futuras generaciones, además de otros

seres vivos, desarrollarse de manera normal y permanente (BOLÍVIA,

2008).

O compartilhamento de biomas, ecossistemas ou complexos naturais, que possuam ou não,

áreas de proteção ambiental - Unidades de Conservação - em seus domínios, por parte de dois ou

mais estados nacionais, é uma questão que suscita inúmeras discussões acerca dessa temática, pois

além de ter a conservação ambiental como pilar principal, apresenta mesmo que indiretamente, a

segurança nacional como ponto de sustentação de estratégias geopolíticas, as quais na maioria das

vezes atrapalham e até mesmo impedem a implantação de políticas públicas referentes à

conservação do meio ambiente.

O artigo 41, do Capítulo XI – Das Reservas da Biosfera, do Decreto Presidencial da

República Federativa do Brasil nº 4.340/02, diz o seguinte:

A Reserva da Biosfera é um modelo de gestão integrada, participativa e

sustentável dos recursos naturais, que tem por objetivos básicos a

preservação da biodiversidade e o desenvolvimento das atividades de

pesquisa científica, para aprofundar o conhecimento dessa diversidade

biológica, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o

desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das

populações (BRASIL, 2002).

O artigo 42, do mesmo Decreto diz que:

O gerenciamento das Reservas da Biosfera será coordenado pela

Comissão Brasileira para o Programa “O Homem e a Biosfera” –

COBRAMAB, de que trata o Decreto de 21 de setembro de 1999, com

a finalidade de planejar, coordenar e supervisionar as atividades

relativas ao Programa (BRASIL, 2002).

Todavia, sem desmerecimento, percebemos que a legislação brasileira visa atender

somente aos propósitos brasileiros, em uma visão unilateral do problema, se é que assim podemos

chamar. Reservando-se as diferenças dimensionais, o Pantanal abrange tanto o Brasil como a

Bolívia, ocupando especificamente dois territórios distintos, e consequentemente, fronteirizando-

os.

Contudo, em nosso entendimento, mesmo sendo composto por vários e diferentes

ecossistemas, o Pantanal é um complexo natural único, declarado Reserva da Biosfera pela

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UNESCO em 1981, dada a sua relevância. Isto posto surge-nos a seguinte pergunta: podemos

considerar então, que a gestão desta Reserva da Biosfera é plenamente eficaz, visto que o

complexo natural denominado Pantanal é transfronteiriço e extrapola os limites entre estados

nacionais?

Portanto, segundo SANTOS et al. (2011, 7), é importante a proposição de políticas

públicas, tanto no Brasil como na Bolívia, que visem à conservação ambiental, com ações

educativas, de planejamento e até mesmo de controle, coerção e autuação de infratores, por parte

de órgãos governamentais responsáveis. Igualmente, a existência de acordos de cooperação

bilateral, buscando a efetiva gestão ambiental fronteiriça (SANTOS et al., 2011, 7).

Vários e diferentes empreendimentos foram - e ainda são - implantados na região

pantaneira, gerando divisas que movimentam a economia local além de possíveis impactos, em

diferentes proporções, que certamente interferem na harmonia do meio ambiente. No tocante aos

empreendimentos implantados com impacto ambiental significativo, a Resolução CONAMA nº

371/06, baseada no Princípio da Participação, consagrado pela Declaração do Rio sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (Princípio 10) e pela Constituição Federal (Art. 225), diz o seguinte:

Estabelece diretrizes aos órgãos ambientais para o cálculo, cobrança,

aplicação, aprovação e controle de gastos de recursos advindos de

compensação ambiental, conforme a Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000,

que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza

– SNUC e dá outras providências (BRASIL, 2006).

O Art. 15 dessa mesma Resolução diz que:

O valor da compensação ambiental fica fixado em meio por cento dos

custos previstos para a implantação do empreendimento até que o órgão

ambiental estabeleça e publique metodologia para definição do grau de

impacto ambiental (BRASIL, 2006).

O MPT (2009, p. 27) cita o seguinte:

Considerando que o sistema de consumo exige a produção em larga escala

de bens de consumo e serviços, o Estado enxergou a necessidade de

conter os excessos do setor produtivo, a fim de torna-lo seguro,

ambientalmente equilibrado e socialmente justo, sendo que daí surgiu a

ideia de submeter as atividades poluidoras ao prévio licenciamento

ambiental (MS/MPT, 2009).

A Resolução CONAMA nº 237/97 em seu artigo 1º diz o seguinte sobre o Licenciamento

Ambiental:

Procedimento Administrativo pelo qual o órgão ambiental competente

licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de

empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,

consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob

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qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as

disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao

caso (BRASIL, 1997).

Outros instrumentos legais existentes, relacionados às questões ambientais em geral, são

observados, e podem produzir efeitos positivos em relação ao meio ambiente fronteiriço. Segundo

LOPES et al. (2004, 262), duas leis anteriores à Constituição de 1988 criaram elementos jurídicos

importantes para a defesa dos “interesses difusos”: a Lei 6938/81 e a Lei 7.347/85.

A Lei nº 6.938/81 institui a política nacional de meio ambiente e produziu duas inovações:

A responsabilidade do agente poluidor independentemente da existência

de culpa e a atribuição de um novo papel ao Ministério Público que

passou a ter “legitimidade para as ações de responsabilidade por danos

causados ao meio ambiente (LOPES et al., 2004, 262).

Já a Lei nº 7.347/85 criou, então:

A possibilidade de intervenção ambiental do Ministério público através da

ação civil pública e do inquérito civil, permitindo ao promotor de Justiça

– Ministério Estadual - e ao procurador da República – Ministério Federal

– a possibilidade de apurar a ocorrência de danos ambientais, o que pode

ser visto como um refinamento da lei de 1981 (LOPES et al., 2004, 262).

Ainda, conforme estes mesmos autores, a Lei nº 7.347/85 conferiu não só ao Ministério

Público, mas também ao IBAMA e outras entidades, e as associações da sociedade civil, o direito

de agir juridicamente, a fim de proteger o meio ambiente. Acompanhando ainda o raciocínio de

LOPES et al. (2004, 262), a ação civil pública e o inquérito civil são considerados os instrumentos

legais mais eficazes, no trato das questões ambientais.

Entretanto, muito provavelmente, associado às questões de ordem ambiental, está o

trabalho forçado ou escravo, onde um indivíduo ou grupo de indivíduos explora a mão de obra de

pessoas, sem que haja remuneração qualquer pelo o labor desempenhado, expondo tais pessoas a

condições desumanas de trabalho. Segundo PARENTE (2010, 3), a Convenção nº 29 da OIT49

,

define trabalho forçado como “todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de

sanção e para o qual ela não tiver se oferecido espontaneamente”. No Brasil, segundo a OIT (apud

Parente, 2010, 3) o termo trabalho escravo é o mais utilizado para se referir às práticas coercitivas

de recrutamento e emprego. Tais práticas são utilizadas a fim de recrutar trabalhadores para

atuarem na derrubada de mata para a formação de pasto ou plantio de monoculturas, em grande

escala, em áreas isoladas de várias regiões do Brasil.

PARENTE (2010, 2), em seus estudos também informa o seguinte:

A maioria dos trabalhadores rurais libertados pelo Grupo Especial de

Fiscalização Móvel (Secretaria de Inspeção do Trabalho/Ministério do

49

Organização Internacional do Trabalho

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Trabalho e Emprego – MTE) estava em serviço de derrubada de árvores e

retirada de tocos e raízes para a preparação do terreno visando à

implantação de pastos e lavouras (SAKAMOTO, 2007).

Segundo PARENTE (2010, 4), a rápida expansão da fronteira agrícola na Amazônia,

impulsionada pela estratégia imposta pelo governo militar do período de 1964 a 1985, criou para

os trabalhadores rurais uma situação extremamente adversa.

Outrossim, em relação à fronteira, apresentamos também, o seguinte entendimento:

A noção de fronteira, aqui apresentada, extrapola a concepção geográfica

de fronteira física entre países. [...], o conceito de fronteira diz respeito a

situações mais gerais e abrangentes, em que ocorre uma desconcentração

espacial de certas atividades econômicas, que encontram condições

favoráveis em um espaço onde elas estavam ausentes ou pouco

representadas (LÉNA E OLIVEIRA, apud PARENTE 2010, 4).

Segundo esta autora, as atividades agrícolas e pastoris são, historicamente, as primeiras

formas de ocupação do espaço na região de fronteira.

Especificamente, por se tratar de uma região fronteiriça, como é o Pantanal do Paraguai,

com exuberância paisagística e de difícil acesso, e baseando-nos nos ensinamentos de GRIMSON

(2000), tanto o lícito como o ilícito fazem parte do cotidiano desta, torna-se possível esta prática.

Assim, considerando o intervalo de tempo de março de 2011 a março de 2013, destinado aos

nossos estudos, devemos ressaltar que durante este período houve o registro de um caso de

possível prática de trabalho escravo, que ocorria há alguns anos em uma fazenda localizada a

aproximadamente 350km de Corumbá-MS, na sub-região do Pantanal do Paraguai, na divisa entre

os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que foi denunciado pelo Ministério Público

Federal/MS, tendo sido tal denúncia, aceita pela Justiça Federal/MS em 04 de março de 2013,

conforme informações contidas no site Aquidauana News50

(www.aquidauananews.com.br, 2013).

Entretanto, tal assunto por não se tratar do objeto de nosso estudo e por ser um tema altamente

polêmico, carece de maiores investigações.

3.4 Unidades de Conservação

Como já vimos, as unidades de conservação ou áreas protegidas têm se constituído em

importantes instrumentos da política ambiental dos Estados Nacionais contemporâneos. A

Conferência da ONU sobre o meio ambiente, realizada em Estocolmo (Suécia) em 1972,

desencadeou a criação de uma série de instituições voltadas para novas atividades referentes aos

assuntos dessa ordem. Embora o governo brasileiro tenha se pronunciado contra a preocupação e

50

Tal notícia também foi divulgada por diversos veículos de informação da cidade de Corumbá e região.

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os controles ambientais da Conferência, receando um cerceamento internacional do processo de

industrialização, iniciado nas décadas de 30 e 40, e continuado pelo regime militar, o qual

apostava no efêmero milagre econômico brasileiro da época, no entanto, não deixou de criar e

institucionalizar logo em 1973, uma secretaria do meio ambiente (SEMA), subordinada ao

Ministério do Interior (LOPES et al., 2004).

Segundo MENDEL JUNIOR et al. (2003), as Unidades de Conservação são porções

delimitadas do território nacional, especialmente, protegidas por lei, pois, contém elementos

naturais de importância ecológica ou ambiental. Em geral, ao se definir uma área a ser protegida,

são observadas suas características naturais e estabelecidos os principais objetivos de conservação

e o grau de restrição à intervenção antrópica. Esta área será, então, denominada segundo uma das

categorias de Unidade de Conservação previstas por lei, das quais as principais são: Parque

Nacional (PARNA), Estação Ecológica (EE), Reserva Biológica (REBIO), Reserva Ecológica

(REECO), Área de Preservação Permanente (APP), Área de Proteção Ambiental (APA), Reserva

Particular de Patrimônio Natural (RPPN), Reserva Extrativista (RESEX) e Área de Relevante

Interesse Ecológico (ARIE). Só no Estado de São Paulo existem mais de 20 categorias de

Unidades de Conservação, com diferentes objetivos de proteção e estratégias de manejo

(OLIVEIRA, 1996).

A primeira Unidade de Conservação criada no Brasil, em 1937, foi o Parque Nacional de

Itatiaia, situado no Estado do Rio de Janeiro. A partir da década de 70, as Unidades de

Conservação passaram a receber maior atenção por parte do governo federal, motivado pelo

próprio contexto mundial em favor da conservação ambiental. Atualmente, mais de 33 milhões de

hectares por todo o país estão protegidos por Unidades de Conservação federais, não sendo

contabilizadas aqui as várias áreas criadas nos níveis estaduais e municipais (EMBRAPA, s/d).

A International Union for Conservation of Nature (IUCN), sugere seis categorias de

manejo para unidades de conservação que nos últimos anos vem sendo adotadas como categorias

padrão em todo o mundo. Conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (2000) e a

IUCN (2008), no Brasil, uma destas é a categoria II, Parques Nacionais:

Área destinada a proteger a integridade ecológica de um ou mais

ecossistemas para as gerações presentes e futuras, excluindo exploração

ou ocupação inadequada aos objetivos; provê visitação, recreação e usos

científicos e culturais.

Estão inclusos ainda, na categoria II, os Parques Estaduais e Parques Municipais, o que

divide a administração destas unidades em três diferentes níveis, originando assim, três sistemas

de gestão diferentes (SNUC, 2000; IUCN, 2008). A aprovação da Lei nº 9.985 de 18 de julho de

2000 e regulamentada pelo Decreto nº 4.340 de 22 de agosto de 2002, que instituiu o Sistema

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Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), um marco aos órgãos públicos em todos os

níveis, responsáveis pela gestão das unidades de conservação e para toda a sociedade civil

(MAGALHÃES et al., 2010).

Conforme mapeamento elaborado pelo Núcleo de Geoprocessamento/DAP/Geo, do

Ministério do Meio Ambiente/BR, existem no Brasil aproximadamente 70 Unidades de

Conservação de uso sustentável e 50 de proteção integral, distribuídas pelo território nacional,

sendo que as maiores concentrações ocorrem, consecutivamente, nas Regiões Norte e Nordeste e

as menores ocorrem nas Regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. As RPPN’s, as APP’s e as APA’s se

apresentam em uma distribuição mais ampla, possivelmente, por razões de ordem burocrática e

financeira mais favoráveis, tornando mais ágil e freqüente a criação e a instalação de tais Unidades

Conservacionais, normalmente por intermédio de Organizações Não-Governamentais (ONG’s).

Outros interesses e motivações, possivelmente devem estar relacionados à criação e à instalação

dessas categorias de UC’s, em determinadas áreas, tais como o sub-Pantanal do Paraguai, sendo

que estes poderão ser estudados em um momento oportuno. Contudo, entendemos que há um

número muito pequeno de UC’s, se considerarmos o tamanho do território brasileiro e a urgência

que requerem as questões de conservação do meio ambiente, visto que vivemos uma crise

ambiental de proporção mundial, conforme preceitua MUNIZ (2009). Outrossim, percebemos que

os biomas que ocorrem no território brasileiro estão contemplados, porém, de forma desigual tanto

em relação à distribuição das Unidades de Conservação como na dimensão destas.

No Estado de Mato Grosso do Sul há a presença de Unidades de Conservação, porém,

estas na maioria das vezes são constituídas por RPPN’s ou APA’s, dados os possíveis motivos

elencados acima, como ocorre principalmente na Bacia do Alto Paraguai (BAP), sendo que

existem poucos Parques Nacionais, Estaduais e/ou Municipais, tais como o Parque Estadual das

Várzeas do Rio Ivinhema e o Parque Nacional da Serra da Bodoquena. É interessante notar que

não há nenhum Parque de origem Estatal instalado na faixa de fronteira entre o Brasil e a Bolívia,

nos domínios territoriais do Estado do Mato Grosso do Sul, sendo que a sub-região pantaneira do

Paraguai, situada na BAP é uma das mais ricas em cultura e biodiversidade, além de possuir o

maior e mais importante corpo d’água da fronteira entre esses dois Estados Nacionais, que é o rio

Paraguai.

A gestão dessas mais variadas Unidades de Conservação está subordinada, principalmente,

aos Grupos ou Conselhos Gestores, públicos ou privados que deliberam sobre os planos de manejo

e estratégias a serem utilizadas com relação à conservação ambiental. Porém, mais recentemente

houve a disseminação da ideia de Gestão Participativa, na qual ocorre a participação efetiva, tanto

da sociedade civil urbana como das comunidades tradicionais, que estão dentro ou no entorno das

Unidades Conservacionais. Tal participação se dá através de seus representantes junto aos

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diversos Grupos ou Conselhos instituídos, onde, além da conservação ambiental do local, visa-se

também a sustentabilidade daquela sociedade civil urbana e daquelas comunidades tradicionais.

Figura 9: Unidades de Conservação no Brasil, 2011. Fonte: Núcleo

de Geoprocessamento/DAP/Geo, Ministério do Meio

Ambiente/BR. Costa, 2011.

Segundo LIMA et al. (2010), o plano de manejo é um instrumento de planejamento, que

vem sendo utilizado no Brasil desde 1970, embora tenha sido reconhecido somente em 2000,

através da Lei nº 9.985 que afirma:

É um documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos

gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e

as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos

naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à

gestão da unidade (SNUC, 2000).

Porém, para se alcançar os resultados esperados, é primordial que a sociedade civil e as

comunidades tradicionais, que fazem parte do contexto de uma Unidade de Conservação, estejam

engajadas e participem ativamente da gestão dessas unidades, seja auxiliando na elaboração de

planos de manejo ou simplesmente cobrando ações que resultem em preservação ambiental com

sustentabilidade, como preceituam inúmeros documentos que embasam políticas públicas, nesse

sentido51

.

De acordo com COZZOLINO E IRVING (2006), em algumas Unidades Conservacionais é

utilizado o conceito da Governança, para orientar e avaliar a gestão de áreas protegidas, conforme

51

Recomendação do V Congresso Mundial de Parques da UICN, realizado em 2003, a Lei do SNUC/2000 e o

Decreto nº 5.758/2006, que institui o Plano Nacional de Áreas Protegidas.

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sugerem GRAHAM, AMOS e PLUMPTRE (2003). Estes três autores, ainda propõem cinco

princípios-chaves para tratar dessa orientação e avaliação: Legitimidade e Voz, Direcionamento,

Desempenho (Performance), Prestação de Contas e Equidade.

Outrossim, a educação ambiental é utilizada como um instrumento que contribui para

disponibilizar informações qualificadas e atualizadas, compartilhar percepções e compreensões e

ampliar a capacidade de diálogo e de atuação conjunta comprometida com a missão de uma UC

(IBASE, 2006).

3.5 A Conservação Ambiental na Fronteira

O caráter polissêmico imputado à fronteira de modo geral, nos permite divagar sobre as

mais variadas formas de concebê-la. A terminologia fronteira, por sua derivação latina de

fronteria ou frontaria, que significa parte frontal de um território, parte situada in fronte, ou até

mesmo parte marginal ou borda daquele, pode nos dar uma ideia da sua localização, apesar de

comumente se considerar a fronteira como o final de um território e não o começo dele. As

origens políticas desse conceito estão associadas à própria formação dos Estados-nacionais que no

seu processo de consolidação tiveram - e ainda têm - que demarcar claramente as linhas divisórias,

visto implicar no limite da ordem, da norma e do poder instituído (NOGUEIRA, 2009, 29).

Grandes conflitos e disputas territoriais marcaram a história da formação das fronteiras

entre possessões espanholas e portuguesas na América do Sul (Andersen, 2008, 1). Segundo

MEIRA MATTOS (1990), o Tratado de Madri de 1750 é responsável pelas atuais fronteiras

brasileiras, distinguindo-as em fronteiras naturais (89 %) e artificiais (11 %). Para ANDERSEN

(2008), as fronteiras naturais são assim consideradas porque formam barreiras naturais de valor

humano defensivo, podendo ser cadeias de montanhas, vales, lagos e rios, onde os limites são

inquestionáveis e facilmente reconhecidos.

Inicialmente a fronteira, pode nos induzir a entendê-la como um mecanismo de segregação,

separando e/ou isolando povos e suas culturas, por conta da delimitação territorial imposta pelos

Estados Nacionais, visando à soberania e a segurança destes. Porém ROCHEFORT (2002, 10-11),

considera que ao invés de se entender a fronteira como local de separação, de demarcação ou até

como obstáculo pode-se entendê-la como local de encontro, de reunião, de enriquecimento mútuo

e de amizade. Acompanhando o raciocínio de COSTA (2011), teoricamente abordaremos a ideia

de fronteira como espaço em movimento, indo além das visões das fronteiras baseadas apenas no

dogma da soberania nacional, que a vê como limite estático e definitivo do Estado.

Especificamente em nosso caso, temos como objeto de estudo a questão da conservação do

meio ambiente na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, considerando o bioma Pantanal que faz parte

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dos dois territórios, porém mais precisamente na sua porção ecossistêmica denominada sub-região

do Pantanal do Paraguai, que se estende ao longo da faixa de fronteira entre esses dois países.

Portanto, torna-se necessário então, considerar as características sócio-político-econômico-

culturais de cada região, visto que estas norteiam as discussões e tomadas de decisões que dizem

respeito à conservação ambiental. Os sistemas ecológicos presentes na região fronteiriça da borda

oeste do Brasil, mais precisamente na fronteira entre o Brasil e a Bolívia, estão intrinsecamente

ligados e sujeitos praticamente às mesmas intempéries, e expostos a interferências antrópicas

constantes.

Os objetivos e a magnitude das interferências antropogênicas, ocorrentes na região, podem

modificar diferentemente as paisagens, a produção dos diversos nichos ecológicos e o fluxo de

energia, e consequentemente podem causar redução da diversidade biológica do ambiente. Por

conta da expansão das fronteiras agrícolas, que visam uma maior produção em função do aumento

populacional, as ações antrópicas sem fundamentos de sustentabilidade têm fragmentado florestas

e campos (WINK et al., 2005).

Devemos considerar que a faixa limítrofe está contida no bioma Pantanal, o qual abrange

cerca de 150.000 km² (2% do território brasileiro), sendo que o Complexo de Conservação do

Pantanal Brasileiro (Reserva da Biosfera, declarado como Patrimônio Mundial pela UNESCO em

1981, Patrimônio Nacional pela Constituição Brasileira em 1988, e Sítio Ramsar52

em 1993)

incluindo o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, criado em 1981, pelo Decreto-Lei nº

86.392, abrange somente 2.000 km². O Complexo de Conservação do Pantanal Boliviano

denominado Parque Nacional de Otuquis (PN-ANMI), com aproximadamente 10.000 km², foi

instituído em 1997, pelo governo daquele país (STEPHANES, 2010).

Salientamos que os sistemas ecológicos não obedecem aos limites impostos e

convencionados pelo homem, ou seja, eles são delimitados pelos eventos geológicos que ocorrem

naturalmente, os quais também têm caráter modificador. As mesmas espécies de vegetais e/ou de

animais podem ocorrer tanto em território Brasileiro como em território Boliviano,

desempenhando os mesmos nichos ecológicos. As interações entre essas populações,

normalmente culminam em trocas de cargas genéticas, o que ocorre naturalmente e

aleatoriamente, proporcionando a manutenção da diversidade biológica do bioma.

Percebemos então, a existência de diferentes redes, as quais nos auxiliam a entender as

interferências realizadas pelo elemento humano e as interações que ocorrem entre os organismos

da fauna e da flora, nos vários ecossistemas que compõem o vasto bioma Pantanal. Segundo

52

Tanto o Brasil quanto a Bolívia possuem 11 Sítios Ramsar, cada. Porém, a área brasileira atinge 6.568.359 hectares e

a área boliviana atinge 14.842.405 hectares.

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SILVA e ABDON (1998) o Pantanal está dividido em 11 sub-regiões. Essas sub-regiões, também

denominadas de sub-pantanais em determinadas ocasiões, possuem características

ecossistemáticas próprias, se interligando e formando “retículos”53

que proporcionam a ligação

entre o Pantanal Brasileiro e outros biomas, tais como o Cerrado, a Floresta Amazônica e os

Chacos (Pantanal) boliviano e Paraguaio, fato esse que contribui para a manutenção da riqueza

biológica de todo esse complexo da natureza e, ainda, leva à constituição de uma possível grande

rede ecológica (grifo nosso).

Para MACHADO (1998), as redes também nos ajudam a compreender a relação entre

território e ação à distância, a qual está associada à extensão territorial, e esclarecem igualmente o

próprio conceito de território. Segundo RAFFESTIN (1993), as redes constituem um meio de

produzir o território. MACHADO (1998) considera que há uma diversidade de redes e as

classifica da seguinte forma: redes naturais (fluvial, de caminhos), redes infraestruturais ou

técnicas (transporte, comunicação), redes transacionais (economia, política) e redes

informacionais (cognitivas).

Sugerimos uma possível rede ecológica (grifo nosso), pelo fato de existirem grupos

populacionais de animais e plantas, e muito provavelmente também de microrganismos que

utilizam de caminhos específicos, de mão dupla ou não, para se alimentarem e se reproduzirem,

interagindo entre si e com o meio, conservando o fluxo energético e genético, que dá origem a

diversidade biológica local. São muitas as comunidades constituídas por populações silvestres que

integram a fauna e a flora do Bioma Pantanal, tanto no lado brasileiro como no lado boliviano, as

quais se favorecem deste mecanismo, onde ocorrem várias tramas naturais que visam à

sobrevivência e a consequente manutenção dessas comunidades.

O ser humano presente nos vários ambientes pantaneiros fronteiriços (grifo nosso),

também se favorece dessas tramas naturais. Os grupos populacionais ribeirinhos ao rio Paraguai

ou localizados à margem de lagoas interiores, que fazem divisa com o país vizinho ou nele

situadas, participam dessa possível rede ecológica (grifo nosso), visto que, esses utilizam

elementos da fauna e flora para a sua subsistência.

Para entendermos a necessidade da manutenção de áreas naturais é imperativo refletir

sobre o desenvolvimento sócio-econômico-cultural da humanidade. A sociedade se depara com

uma situação onde a má distribuição das riquezas globais, é um fator condicionante e também

limitante. Ao mesmo tempo, o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico,

influenciam na degradação ambiental. As reservas minero-siderúrgicas existentes, tanto em

53

Pequenas redes ecológicas.

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território brasileiro como em território boliviano, alavancam grandes polos industriais com

influência marcante na economia dessa zona fronteiriça. A navegação (mercantil ou turística) ao

longo do Rio Paraguai, incluindo baías e braços navegáveis, associados a este, também

influenciam ativamente nessa economia, constituindo assim um ciclo de produção. Conforme

escreveu OLIVEIRA NETO (2008, 47):

De inicio, uma ideia de produção da natureza pode parecer paradoxal, ou

até mesmo absurda, pois a natureza é comumente vista como tudo aquilo

que não é produto do homem. Entendida assim, o território natural,

substrato dos elementos oferecidos naturalmente pela natureza, apresenta-

se, num primeiro momento, como a base material da vida diária de todos

os animais, incluindo o homem. Mas analisada num contexto histórico,

essa aparência que, na verdade, é o resultado do desenvolvimento do

território natural, apresenta-se como um processo de produção da

natureza, resultante da produção geral da humanidade a partir da relação

do homem com a natureza, tendo como base um domínio territorial.

Partindo desse ponto de vista, o homem tem a possibilidade de mudar o ambiente do qual

faz parte, em seu benefício, e as mudanças que, possivelmente, venham a ocorrer são entendidas

como uma produção da natureza, a partir do domínio de um determinado território. Porém

dominar um território não significa dominar as forças naturais que o constituíram, e que

certamente o regem, ciclicamente.

Em seus estudos ALMEIDA JR. (2000) diz o seguinte:

A natureza é sempre uma realidade espaço-temporal que pode ser material

apenas não-transformada pelo homem (nesse caso, ambiente ou meio

natural); ou pode ser material e simbólica ao mesmo tempo, transformada

pelo homem (nesse caso, ambiente ou meio artificial ou antrópico; ou,

simplesmente, meio ambiente).

Consequentemente, a produção da natureza tende a ir mais além do que o homem possa

imaginar. Assim sendo, a concepção de domínio não deve ultrapassar a “fronteira” do entender,

manejar e conservar, de forma sustentável, os bens naturais contidos num determinado território

físico. Esse território constituído legalmente, pelo homem, na maioria das vezes, está contido em

um “território natural”, ao qual podemos chamar de bioma, imposto pelas pressões naturais do

meio (temperatura, pluviosidade, umidade, altitude, relevo, etc.), as quais têm fortes influencias

sobre a população que o constitui.

Segundo COSTA (2008, 65), o uso do território é uma forma que se pode denominar

territorialidade. Segundo SACK (apud SAQUET, 2007, 83) a territorialidade é entendida “[...]

como estratégia para influenciar ou controlar recursos, fenômenos, relações e pessoas”.

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RAFFESTIN (1993, 160-161), define a territorialidade como “[...] um conjunto de relações que se

originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior

autonomia possível, compatível com os recursos do sistema”.

Para COSTA (2008, 65) a territorialidade é entendida como uma ação individual, de um

grupo, uma empresa ou um Estado sobre determinado espaço geográfico, impondo suas vontades,

suas virtudes, não sendo necessário o domínio físico do território, mas sua submissão. Costa

também define que as territorialidades atravessam frequentemente outros territórios provocando

distúrbios de variadas grandezas, mesmo nas zonas fronteiriças.

Entendemos que os territórios fronteiriços, além de possuírem suas particularidades,

possuem movimento próprio determinado pelas necessidades da população que os utiliza. Sendo

assim, tendem a se expandir em direção à fronte oposta (grifo nosso) e vice-versa, evidentemente

com velocidades e intensidades diferentes. Segundo nos ensina MACHADO (2000), na medida

em que os padrões de civilização foram se desenvolvendo acima do nível de subsistência, as

fronteiras entre ecúmenos tornaram-se “lugares de comunicação”, considerando que o sentido de

fronteira é o de começo do Estado e não o de fim deste. Porém, essa expansão gera impactos de

várias ordens, inclusive ambiental. CARVALHO et al. (2011) nos diz que:

Nas fronteiras as estratégias de integração são de corpo a corpo, ou seja,

de contato humano e de culturas, a integração sócio-cultural deve ser

considerada juntamente com a integração física, premissa para que se

busque o desenvolvimento numa dimensão regional.

De acordo com a NBR - ISO 14001 (1996), impacto ambiental é qualquer alteração

benéfica ou adversa causada pelas atividades, serviços e/ou produtos, de uma organização, ou seja,

é qualquer interferência antrópica no meio (CAMPOS e OLIVEIRA, 2005). A impactação de um

ambiente natural, normalmente, resulta na modificação de uma paisagem e, consequentemente, na

produção de um espaço. Para COSTA (2008, 64) a paisagem é o reflexo da produção do espaço

num determinado tempo, sendo estática, mas que possui elementos que só podem ser

compreendidos numa perspectiva transtemporal, unindo o velho e o novo, já que o espaço é

dinâmico. “A paisagem é o conjunto de formas, que num dado momento, exprimem as heranças

que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza” (SANTOS, 2002,

83). “O espaço são as formas mais a vida que as anima” (SANTOS, 2002, 103).

Portanto, é possível considerar que o espaço pantaneiro na fronteira Brasil-Bolívia é

animado por populações biológicas (animais, vegetais, fungos, microrganismos, etc.) de extrema

riqueza e importância, a qual se denomina biocenose, além do elemento humano, e que estes

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moldam a paisagem através de suas ações e interações. A constância de alteração dessa paisagem

dependerá dos tipos de ações e interações desenvolvidas pelo homem e pela biocenose.

Figura 10: Anfíbio do gênero Scinax ocorrente na Comunidade

do Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

Figura 11: Ofídio do gênero Philodryas ocorrente na região

(acervo do autor, 2011).

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Figura 12: Lacertílio do gênero Tropidurus, ocorrente na região

(acervo do autor, 2011).

Figura 13: Lacertílio do gênero Ameiva, ocorrente na região

(acervo do autor, 2011).

Figura 14: Formigas “correição” (Hymenoptera), compondo a

fauna edáfica (serapilheira) em uma área da Comunidade do

Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

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Figura 15: Formiga “bico-doce” (Hymenoptera), compondo a

fauna edáfica em uma área da Comunidade do Porto Amolar

(acervo do autor, 2011).

Figura 16: Inseto Louva-Deus (Manteidae) associado à

vegetação arbórea de uma área da comunidade do Porto

Amolar (acervo do autor, 2011).

Figura 17: Família de patos selvagens ou bravos (Cairina sp.)

nadando, livremente, no rio Paraguai em frente à

Comunidade do Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

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Para CARVALHO et al. (2011), a diversidade dos conceitos e das abordagens sobre a

fronteira, torna importantíssima a percepção, a qual nos permite identificar e entender diversas

fronteiras e limites, e os mais variados fluxos estabelecidos nas comunicações e nas formas de

expressão. Entendemos que por ser capaz de expressar-se por meio da linguagem falada, além de

outras linguagens e por ser capaz de modificar o meio em que vive, adequando-o ao seu modus

vivendi, conforme a sua necessidade, o ser humano se torna o principal e/ou talvez o único

elemento responsável pelas degradações ambientais ocorridas e ainda ocorrentes na Terra. Assim

é, portanto, o principal elemento no tocante a conservação do meio ambiente. O homem, através

da ciência é capaz de criar mecanismos que propiciem a conservação ecológica dos sistemas

naturais, do qual ele ainda é dependente direta ou indiretamente.

A sub-região do Pantanal do Paraguai, mesmo não tendo em seus domínios, uma área de

proteção integral, apresenta cenários naturais praticamente intactos, em alguns pontos ao longo da

linha limítrofe. Consideramos que tal fato ocorre por conta das dificuldades de acesso a esses

locais, os quais apresentam relevo geograficamente acidentado e na maioria das vezes são

ambientes inóspitos, dada à diversidade da vida silvestre ali presente. Isso por si só estabelece

determinadas dificuldades quanto à transposição dos “obstáculos naturais” existentes no ambiente

pantaneiro-fronteiriço. Porém, somente isso não é fator impeditivo para um possível

adentramento às áreas mais internas daquela paisagem. No senso comum, a ausência de áreas de

conservação ambiental, principalmente os Parques Nacionais e/ou Estaduais (categoria II da

IUCN), os quais são de origem governamental, ao longo da linha limítrofe entre o Brasil e a

Bolívia, pode soar como contradição em relação à defesa da soberania nacional.

No Plano de Manejo do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense BRASIL (2003, 5),

assim é entendida a fronteira:

A situação de liminaridade, típica das áreas de fronteira, possibilita a

emergência e consolidação de um conjunto de relações sociais,

econômicas, culturais e políticas marcadas pela combinação das partes. A

fronteira, de certo modo, delimita a diferença (no caso estudado, a

diferença de línguas, costumes, legislação, etc.) e enquanto tal se

configura como o território onde se faz necessário relativizar a

diversidade. Na realidade são espaços de passagem, de entrada e saída,

“espaços da vigilância” que, embora administrados segundo as regras/leis

do “Poder Central”, situam-se distantes do mesmo. As cidades de Porto

Suarez (Bolívia) e Corumbá (Brasil) configuram essa fronteira.

Há de se considerar que, as fronteiras estão muito além disso. Na concepção de

BACKHEUSER (1926, 32), as fronteiras deveriam ser ocupadas por assentamentos humanos,

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“cheios de vitalidade” e subordinadas ao governo central, visto que as autoridades locais “não

expressam nenhuma sensibilidade em relação aos problemas nacionais”. Para ele as fronteiras

constituíam a “epiderme do organismo estatal”. Na concepção de Turner, na fronteira (norte-

americana) o individualismo foi colocado acima de um governo forte em razão de o povo

discordar de ter alguém lhe ditando o que fazer (STADNIKY, s/d). Assim sendo, ao analisarmos

do ponto de vista da geopolítica brasileira, e acompanhando o entendimento de ANDERSEN

(2008), verificamos que tais áreas foram e continuam sendo fator de risco, que geram grande

preocupação, dada a necessidade imperiosa de proteção das fronteiras. Segundo CORREIA

(1973), a criação de parques nacionais ou qualquer categoria de área verde legalmente protegida

em zonas de fronteira sempre foi considerada pelos militares brasileiros como “uma aventura

extremamente perigosa”.

Um dos pensamentos geopolíticos de Maquiavel, descritos por MARTINS (apud,

MAQUIAVEL, 1996, 9-10), diz que a soberania política de um território depende de exército

próprio, constituído por soldados leais e convictos que lutam pela causa da pátria. Entretanto,

muitos geopolíticos brasileiros principalmente na época da ditadura militar no Brasil, tais como

Teixeira Soares, concebiam e defendiam também, o conceito de “fronteiras vivas”, onde estas

deveriam ser povoadas, vivificadas, preenchidas por uma população civil, a qual serviria de

retaguarda para as forças armadas, posicionadas estrategicamente, em situação de alerta constante,

atentos a qualquer movimentação fora dos padrões considerados normais, para àquelas zonas.

Não obstante, as medidas legais tomadas para a nacionalização das fronteiras do Brasil nas

décadas de 30 e 40, a ideia da maioria dos geopolíticos brasileiros sempre foi vivificá-las

(ANDERSEN, 2008, 8). SOARES (1972 apud, ANDERSEN, 2008, 8), em seu livro Fronteiras do

Brasil, preconiza o seguinte:

Se a fronteira é o resultado condicionante da política torna-se vital, então,

conceber uma política de fronteiras. Esta política deve ser vigilante,

previdente e construtiva, para que as fronteiras sejam estáveis e

protegidas, assim como importantes demográfica e economicamente (...).

As fronteiras vivas são zonas de alta sensibilidade política. O contrário

delas serão fronteiras mortas, ermas, desprotegidas, esquecidas. Fronteiras

vivas serão sempre afirmações de um espírito forte de nacionalidade.

Fronteiras mortas darão imagem pouco favorável a um país que não cuida

de suas lindes como deveria cuidar, porque fronteiras protegidas e

povoadas enaltecem o espírito de previdência e de organização de um

povo.

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Conforme nos ensina ANDERSEN (2008, 9), o general Golbery do Couto e Silva, foi um

dos principais estrategistas geopolíticos dos governos militares, ajudando a transformar a

concepção das “fronteiras vivas” em programas de governo. Demonstra-se aí, a grande

preocupação do Estado, durante aquele período, em relação à segurança nacional na fronteira,

incentivando o avanço e concomitantemente, o povoamento da borda oeste do território brasileiro.

Porém, percebe-se também que, a preocupação com o meio ambiente fronteiriço foi bem escassa,

havendo pouquíssimas “boas intenções”, tais como a criação do Parque Nacional do Pantanal

Matogrossense em 1981.

Segundo o entendimento de KMITTA (2012):

A ocupação das terras nos pantanais, nesse contexto, está estreitamente

ligada ao processo histórico da ocupação de terras no Norte e Centro

Oeste do Brasil, não diferindo muito de outras regiões do território

nacional onde as terras eram vistas como elemento essencial para o

desenvolvimento das atividades agrícolas e pastoris, cujo intuito era

alavancar a economia do país. Envolvia grandes concentrações

latifundiárias e um monopólio defendido pelo Estado, responsável em

propiciar condições e regularização dos processos de produção que

envolvia a venda de terras especialmente no período que compreende os

anos de 1940 a 1970.

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4 A Comunidade do Porto Amolar: os saberes locais e os possíveis conflitos vivenciados a

partir de uma comunidade ribeirinha

4.1 A Cultura e o Pantanal

Através da história o homem tem usado sua cultura para utilizar os recursos naturais que

estão em sua volta, e segundo GAESSE et al. (2006), com o crescimento da população e com o

aumento da demanda, exige-se grande exploração de recursos em diferentes níveis da comunidade

natural, causando muitas perdas nos recursos genéticos.

Porém, quando falamos em cultura automaticamente estamos falando do homem e de suas

identidades e alteridades, considerando as diferenças existentes, conforme o entendimento de

NOGUEIRA (2009). Acompanhando o prisma antropológico, podemos considerar que a cultura é

o modo como o homem interage com o meio ambiente. Para DA MATTA (1981) a cultura é um

conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado.

As derrubadas de matas ciliares semi-deciduais e a realização de queimadas para plantio de

monoculturas ou de culturas rotativas (arroz, feijão, milho, mandioca etc.) e/ou para a formação de

áreas de pastagem, são práticas que persistem desde o início da colonização do território

brasileiro, no século XVI. Essa técnica agrícola é denominada “coivara”, e é bastante difundida

entre as comunidades ribeirinhas, sendo por elas, ainda utilizadas. Esse fato pode nos permitir

considerar tais práticas como tradição, em determinadas regiões e consequentemente são

identificadas como cultura das populações que nelas vivem. No Pantanal podemos verificar em

vários setores da vasta planície, a ocorrência desses tipos de manejo do meio ambiente, visto que a

criação extensiva de gado, na planície pantaneira, remonta pelo menos dois séculos, quando da

efetiva ocupação da mesma por parte da Coroa Portuguesa.

Seguindo os ensinamentos de GEERTZ (1973), ao interpretar as culturas, devemos então,

questionar qual a importância das práticas e ações desenvolvidas e desempenhadas pelo elemento

humano em relação à natureza? Qual a representação que estas possuem? O que é transmitido

quando da ocorrência destas práticas? GEERTZ (1973, 15), defende o conceito semiótico de

cultura, em que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, e a

cultura é assumida como sendo essas teias. Para BOAS (2009, 45), todas as formas culturais

aparecem, com maior frequência, num estado de fluxo constante e sujeitas a modificações

fundamentais. No entendimento de DA MATTA (1981), mesmo que cada cultura contenha um

conjunto finito de regras, suas possibilidades de atualização, expressão e reação em situações

concretas, são infinitas. Entretanto, devemos ressaltar que há uma diferença fundamental entre os

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dados biológicos e os dados culturais, o que torna impossível transferir os métodos de uma ciência

para outra (BOAS, 2009).

Porém, vale salientar que os problemas da relação do indivíduo com a sua cultura e

consequentemente com a sociedade na qual ele vive, têm recebido pouca atenção, das autoridades

competentes. Segundo DA MATTA (1981), há sociedades na Amazônia onde o controle da

natureza é muito pobre, porém com uma enorme sabedoria relativa ao equilíbrio entre os homens e

os grupos cujos interesses são divergentes.

Em nosso estudo a abordagem das tradições das comunidades ribeirinhas ao longo do rio

Paraguai se faz importante e necessária para que possamos tentar entender como o homem

pantaneiro ribeirinho se relaciona com a questão da conservação ambiental da paisagem

pantaneira. GUARIM (2000, 13), afirma que “os ribeirinhos, seres humanos instalados às

margens dos rios desenvolvem, permanentemente, uma estreita relação com o ambiente, a qual se

manifesta numa intensa interação. O pantaneiro ribeirinho, consequentemente fronteiriço entre o

Brasil e a Bolívia, que vive às margens do rio Paraguai (sentido N-S), desde a barra do rio São

Lourenço (divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul) até a cidade de Ladário-MS,

apresenta uma forma diferenciada em relação ao manejo de animais, vegetais e solo. Conforme os

ensinamentos de MALINOWSKI (1984), as regularidades existentes nas instituições nativas são

resultado automático da ação recíproca das forças mentais da tradição e das condições materiais

do meio ambiente.

Assim, como os demais pantaneiros, os ribeirinhos sofrem as influências relacionadas ao

ciclo das águas (cheia e seca) na planície alagável. Porém, por estarem fixados em um ambiente,

cuja paisagem apresenta relevo irregular, vivem entre as águas do rio Paraguai e as elevações

rochosas que compõem o complexo da Serra do Amolar. Salientamos, conforme os ensinamentos

de ANDERSEN (2008), que o Tratado de Madrid, definia os acidentes naturais como linhas

demarcatórias para áreas de ocupações, controladas pelos reinos de Portugal e Espanha.

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Figura 18: Trecho do Rio Paraguai (margem direita), tendo ao fundo

a “morraria do Castelo”. Acidentes geográficos (rio e morraria)

delimitando a fronteira Brasil – Bolívia (acervo do autor, 2011).

Segundo BANDEIRA et al. (2009, 3), o território para as comunidades tradicionais, sejam

esses permanentes ou não, é o espaço onde obtém os recursos naturais necessários a sua

sobrevivência. O território não é apenas um local de onde retiram esses recursos, mas sim um

espaço de significados onde as relações e representações sócio-culturais se expressam

(BANDEIRA et al, 2009, 3).

Os estudos realizados por BANDEIRA et al. (2009, 3), dizem o seguinte:

O Decreto 6.040/2007 também reporta sobre a importância da garantia,

reconhecimento, valorização e permanência desses grupos em seus

territórios, local onde ocorrem suas expressões sócio-ambientais,

econômicas e culturais que se dá por meio da vivência em seu dia-a-dia.

VALCUENDE E CARDIA (2009) consideram que:

Habitualmente as análises sobre as fronteiras incidem na perspectiva dos

Estados e nas perpectivas das populações locais. A articulação dessas

duas perspectivas é fundamental para comprender uma dinâmica onde a

fronteira política, apesar de sua aparente inmobilidade, adquire um

significado mutante para as populações locais. A fronteira política não

tem uma mesma significação para uns e outros grupos sociais, que vivem

nos limites territoriais do Estado-nação. Portanto, seu sentido muda não

só considerando as relações de colaboração ou rivalidade que são

produzidas entre as populações situadas em países distintos, mas também

em função das relações internas de cada uma dessas populações.

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Figura 19: Vista parcial da Comunidade da Baía do Castelo (acervo

do autor, 2011).

Figura 20: Vista parcial de uma propriedade rural na Baía do Castelo

(acervo do autor, 2011).

Entretanto, SANTOS et al. (2011, 13), entendem que a gestão territorial das áreas

fronteiriças do Pantanal é comprometida pela própria dinâmica do ambiente pantaneiro, que

excede os limites nacionais brasileiros. Estes autores ressaltam também, a necessidade de se

propor ações conjuntas com a Bolívia, considerando que possíveis agravos nas partes mais

elevadas da bacia hidrográfica podem refletir nas partes mais baixas.

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Figura 21: Moradores locais e pequena embarcação

atracada no Porto Amolar. Essa embarcação denominada

“Pachamama” pertence a um morador local. O nome

“Pachamama” designa uma divindade andina, o que

demonstra o fluxo cultural nesta fronteira. (acervo do

Autor, 2011).

4.2 A comunidade ribeirinha do Porto Amolar

A partir da vivência do autor, principalmente junto à comunidade do Amolar, desde o ano

de 1990, com visitas constantes e frequentes ao local, e da convivência de ordem familiar com

pessoas que fazem ou fizeram parte da comunidade, pode-se verificar inúmeros fatos interessantes

de relações homem-natureza, que chamaram a atenção, principalmente pelo caráter

conservacionista, representados em tais relações. Segundo GUARIM (2000, 7), as comunidades

ribeirinhas caracterizam-se pela diversidade de suas atividades produtivas, atributo que assegura

sua sobrevivência, contanto que essa diversidade produtiva esteja relacionada com o padrão de

necessidades e recursos disponíveis no local.

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Figura 22: Vista parcial da mata ciliar na margem esquerda do rio

Paraguai, em frente à comunidade do Porto Amolar. Ao fundo em

primeiro plano o “morro das Cabras” e em segundo plano o

“morro do Chané” (acervo do autor, 2011).

Figura 23: Vista lateral (margem direita do rio Paraguai) da

Comunidade do Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

Figura 24: Vista parcial da curva do rio Paraguai em frente à

Comunidade do Porto Amolar, à direita. À esquerda entrada do

“riozinho da Penha”. Ao fundo o “morro do Campo”, um dos

principais sítios arqueológicos do Brasil (acervo do autor, 2011).

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BORTOLOTTO (2006), a partir de informações colhidas junto aos próprios moradores do

local, cita que a Comunidade do Amolar foi formada a mais de cem anos em áreas anteriormente

ocupadas por grupos indígenas. Vale salientar que, indígenas pertencentes à etnia Guató, se

faziam presentes, junto às comunidades pantaneiro-ribeirinhas, principalmente, na comunidade do

Porto Amolar, com as quais realizavam trocas e aquisições de vários materiais, além de

participarem de festejos e empreitadas. Em alguns casos chegaram a se unir maritalmente com

pessoas dessas comunidades, passando aos seus descendentes vários traços de suas culturas. Além

de indígenas em épocas passadas, fazem parte desse contexto, nacionais bolivianos e paraguaios

do sexo masculino principalmente, que trabalhavam tanto na Bolívia (na empresa de serraria

conhecida localmente como Serradeiro ou até mesmo Saladeiro) e na “mina de pedras semi-

preciosas do ANAI” como no Brasil (nas várias fazendas da região) e que por algum motivo

acabaram se fixando junto à comunidade. Em conversa ocasional, na cidade de Corumbá, um

nacional paraguaio, que trabalhou na “mina do ANAI/BO” em meados dos anos 60, nos informou

que:

“eles desciam (da lancha-freteira ou do navio boieiro) no Porto Amolar

e ficavam descansando embaixo de uma mangueira perto da margem do

rio Paraguai, próximo a um curral. Quando chegava a hora de

seguirem viagem, eles pegavam seus pertences (normalmente uma bolsa

de couro ou saco de lona) e seguiam a pé por “picadas” abertas na

mata, e andavam mais ou menos uns 70 km. A caminhada levava um dia

e uma noite, até chegarem ao poço da mina, sendo que tal mina era

bem vigiada por soldados bolivianos. Eles entravam no buraco e

desciam até o local onde iam escavar. Lá tiravam (quando coseguiam

achar) a pedra roxa semi-preciosa (ametista). Segundo ele as vezes

faltava ar lá embaixo, que nem dava para acender uma vela direito.

Disse também que as vezes a mina dava uns estalos que parecia que ia

cair tudo em cima deles, o que lhe dava medo. Porém conforme ele nos

disse, precisavam trabalhar. O serviço e o “rancho” (comida) era por

conta deles mesmos, e chegavam a trabalhar uns noventa dias direto.

Segundo ele “era sofrido”. Retornavam pelo mesmo caminho até o

Porto Amolar, para esperar lanchas-freteiras ou navios boieiros, para

voltarem para Corumbá”(transcrição nossa conforme o que nos foi

informado).

Outra hipótese é que, possivelmente, com o fim da guerra do Paraguai nacionais

paraguaios que sobreviveram ao conflito, ou desertaram de seu exército por conta da fome,

doenças e dificuldades inerentes ao campo de batalha, se refugiaram em vários locais dentro do

Pantanal e através do desempenho de trabalhos braçais como peões ou praieiros junto às mais

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diversas fazendas que existiam (e ainda existem) nas diferentes sub-regiões pantaneiras, muito

provavelmente acabaram por constituir famílias com brasileiras. Assim, como bolivianos e

paraguaios compuseram a mão de obra extrativista da “mina do Anai”, muitos brasileiros,

inclusive moradores da Comunidade do Porto Amolar e vizinhança, também fizeram parte de tal

mão de obra demonstrando desta forma que o fluxo de pessoas, e consequentemente, de suas

culturas neste setor da fronteira teve determinada intensidade no decorrer da história local. A

partir dos estudos de VALCUENDE e CARDIA (2009), nos permitimos destacar a importância

sócio-econômica-cultural que esta fronteira possuiu (e ainda possuí) para aqueles que nela se

fixaram.

Acompanhemos as seguintes falas de antigos moradores da Comunidade do Porto

Amolar:

Morador 1 - O meu pai, era um paraguaio “ingreido” (expressão

paraguaia que pode significar sistemático, intolerante, impaciente,

complicado, etc.) da cidade de Luque (cidade Paraguaia vizinha a

Assunção), e com dezoito anos ele saiu de lá e foi p’ra Bolívia, depois

de estranhá cum outro paraguaio. Lá ele teve uma muié boliviana, num

sei si ele teve filho com ela, nem que fim ela levô. Sei que depois ele

foi trabaiá cô pluma (pena de pássaro) p’ra vendê p’ros estrangeiro.

Naquele tempo num era fácir, as coisa se ressorvia na bala ou na faca.

Ele veio p’ro Brasil pela Bolívia, acho que trabaiô pelo Anai (mina), em

arguma fazenda, pois ele sabia amuntá bem e atirá também, e acabô

chegando pur essas banda do Amolá. Ele tomô minha mãe do marido

dela, pois o tar num cuidava dela e levô ela co’s filho que ela teve cô tar

de J. T.. A minha mãe era boliviana, filha de Dom A. S. e se chamava C.

S.. Nós marava no “morro do campo”, já quase na divisa cô Mato

Grosso. Antes num tinha essa divisa. Só em mir novicentus e setenta e

nove qui formô mesmo a divisa do Estado. Depois de já cricido é que

nós fômo morá nos “Dorado Véio” (antiga sede da Fazenda Dourados),

na bera do rio e depois meu irmão comprô uma terra no Amolá

(comunidade) em 1950. Os véio foram morá pur lá e eu também fui.

Nós tinha uma roça grande no “Passa Vinte” (local afastado da parte

frontal da comunidade onde muitas famílias abriam suas roças e

criavam seu gado). (A. é um antigo morador, que atualmente vive na

cidade de Corumbá, no auge dos seus 90 anos de idade).

Morador 2 – Meu pai E. E. era filho de um boliviano chamado A. E..

Esse meu avô pur parte de pai criava gado, plantava roça, e sabia lidá

cum a zagaia. O home era corajoso: respeitava, mas num tinha medo de

onça. Sabia como lidá cô bicho. Ele morava no Parmitá (local que dá

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continuidade à Comunidade do Porto Amolar e que fica situado atrás da

morraria do Amolar de fronte para a baía Mandioré na divisa com a

Bolívia) onde eu nasci e morei. Depois fui p’ro Amolá pr’a estudá no

colégio de lá cum a minha tia, irmã de minha mãe, que era professora.

Meu avô e minha avó por parte de mãe morava tudo no Amolá. Também

tinha um gadinho e prantava roça. Era uma purção de gente, primaiada,

tio, tia. Tinha fartura e nós ia pouco na cidade. (E. é um antigo morador

do Porto Amolar que veio para Corumbá por questões de serviço, mas

que depois de aposentado, voltou para viver na comunidade).

Percebemos que na região do Porto Amolar (comunidade) ao longo da história, desde o

passado das populações indígenas, as pessoas cruzam essa fronteira, compartilhando não apenas

de um ecossistema (sub-região do Pantanal do Paraguai), mas também, conforme nossas pesquisas

demonstram, de uma “cultura” pantaneira. É sabido que a pesca em embarcações pequenas do

tipo canoas de um pau só, o pequeno comércio e/ou troca de produtos horti-fruti-granjeiros e de

víveres, a lida na roça incluindo o roçado-de-a-meia54

ou no campo com o gado, as rodas de tereré

e/ou chimarrão, a churrascada e as festas em louvor a santos católicos (São Sebastião, São Jorge,

Santo Antônio, São João, São Pedro, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Conceição,

Senhor Divino Espírito Santo), as quais eram (e na maioria das vezes ainda são) acompanhadas

pelo Chamamé (estilo musical paraguaio tocado com violão, acordeão e/ou harpa), Cururu e/ou

Siriri (estilos musicais tocados com a viola de cocho e ganzá) dentre outras, são formas de

expressão e representação que constituem um patrimônio cultural imaterial e que contribuíram

para o entrelaçamento de grupos humanos que de algum modo estavam ligados ao Pantanal, na

fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Segundo o IPHAN (s/d):

A UNESCO define como patrimônio cultural imaterial “as práticas,

representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os

instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são

associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os

indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio

cultural. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e

constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu

ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um

sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para

promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.

Com base nos estudos de VALCUENDE e CARDIA (2009), nos permitimos dizer que

tanto o Pantanal quanto a Amazônia são construídos no imaginário nacional, como parte do

54

Sistema de plantio onde duas pessoas ou duas famílias realizam o cultivo de determinada espécie vegetal e dividem

a produção de forma igualitária (ao meio).

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território brasileiro, quando, de fato, são biomas compartilhados por diferentes países (no caso do

Pantanal por Brasil, Bolívia e Paraguai).

Portanto, a Serra do Amolar para os nossos estudos têm significados importantes, pois

além de apresentar uma fitofisionomia peculiar e abrigar importantes nichos ecológicos é um

monumento natural fronteiriço de aspecto separador, mas que em determinadas ocasiões

possibilitou (e provavelmente ainda possibilita) a interação de pessoas de diferentes

nacionalidades e de diferentes grupos étnicos.

Figura 25: Família “amolarense” constituída por genitores de

descendência brasileira [pai] e boliviana [mãe] (acervo do autor,

2011).

Apresentamos a seguir, quadro informando algumas famílias que compõem a Comunidade

do Porto Amolar, que foram formadas a partir de imigrantes. Ressaltamos que temos informação

de que outras famílias foram constituídas a partir de estrangeiros, porém, não pudemos precisar a

nacionalidade desses.

Família* País de Origem**

Estigarribia Bolívia

Nogales Bolívia

Ortiz Paraguai

Mosciaro Itália

Sigarini Itália

Total --------------------

Quadro 2: Demonstrativo de famílias de origem

estrangeira que contribuíram na formação da

Comunidade do Porto Amolar. Fonte: Santos, 2013.

Obs: *consideramos o sobrenome do chefe da família.

**consideramos o país de origem do chefe da família.

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Todavia, não é nossa intenção aprofundarmos acerca das questões indígenas, visto que essa

não é a temática deste estudo, porém em nosso entendimento os grupos humanos que ocuparam

inicialmente a planície pantaneira, são antecessores e, por conseguinte, prováveis ancestrais dos

grupos indígenas que também ocuparam esse ambiente natural e que de algum modo,

remanescem, coexistindo com o homem moderno, na atualidade. A ocupação dos pantanais mato-

grossenses por habitantes não índios iniciou-se por volta do século XVI pelos europeus, através

dos caminhos desenhados pelo rio Paraguai e seus afluentes55

(ROSSETO e BRASIL JR., 2003).

Consta no Plano de Manejo do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense BRASIL (2003, p.27),

que:

“Na primeira metade do século XVI, momento do início da Conquista

Ibérica da região platina, o Pantanal apresentava-se como um

extraordinário mosaico cultural, provável área de confluência para onde

grupos de agricultores e ceramistas deslocaram-se desde o período pré-

histórico”.

Sobre os Guató, MANGOLIM (1993) os considera “índios canoeiros que viveram e vivem

nas cercanias das grandes lagoas e dominaram extenso trecho do Rio Paraguai e parte do Rio São

Lourenço”. Consta também no Plano de Manejo do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense

BRASIL (2003, 39), que:

“Os índios Guató formam o grupo étnico remanescente na região, tendo

sua área de ocupação limitada exclusivamente ao Pantanal e estando hoje

parte destes aldeados em Reserva Indígena de mesmo nome,

desenvolvendo atividades extrativistas, como a coleta e extração de

recursos naturais renováveis, e agricultura de subsistência”.

Segundo MANGOLIM (1993), os Guató além de habilidosos caçadores de onças, logrando

esposas pela quantidade de onças caçadas, eram agricultores que plantavam mandioca, milho e

cereais. O hábito de plantar, ainda que em sua forma rudimentar, foi transmitido para os seus

descendentes, geração após geração, traduzindo-se então em conhecimento tradicional. Esse

conhecimento tradicional foi disseminado entre os vários povos que se formaram em diferentes

regiões, sendo adequado às necessidades e particularidades de cada um destes. Uma técnica

presente entre vários povos indígenas é o de confeccionar (secar, trançar e costurar) esteiras

utilizando folhas de palmeiras. OLIVEIRA (1996, apud BORTOLOTTO e GUARIM NETO,

2004, 332) citou vários tipos de tecelagem e trançados com palmeiras pelos índios Guató no

Pantanal brasileiro. Há relatos de que os Guató utilizavam, também, a fibra de outras espécies

vegetais para tal intento, tais como o camalote (Eicchornia crassipes), porém, conforme nos

55

Monções.

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informam BORTOLOTTO e GUARIM NETO (2004, 332), não há menção do seu uso artesanal,

em trabalhos científicos.

É possível verificar a aplicação das práticas de manejo acima citadas, por exemplo, no

relacionamento dos pescadores com o rio Paraguai, o qual resulta numa cultura particular, sob a

influência dos mais idosos, conforme nos ensina LEAL et al. (2009). O acesso aos locais (portos)

onde são fixadas as moradias se dá, somente por avião (normalmente monomotor) ou embarcações

fluviais (barcos-hotéis ou barcos de turismo, lanchas boiadeiras ou freteiras, chalanas com motor

de centro (pucpuc), voadeiras e/ou canoas-de-um-pau-só, a maioria dessas, já referenciadas

anteriormente por LEAL et al. (2009).

Figura 26: Avião monomotor na pista de pouso da Comunidade do

Porto Amolar (acervo do autor, 1999).

Figura 27: Barco de turismo aportado à margem esquerda do rio

Paraguai (acervo do autor, 1999).

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Figura 28: Lancha-boiadeira ou freteira, transportando gado na baía

do Castelo (acervo do autor, 2011).

Figura 29: Pantaneiro-ribeirinho em uma “canoa de

um pau só”, na baía do Dourado, próximo ao Porto

Amolar (acervo da ECOA, www.riosvivos.org.br).

Figura 30: Bote de alumínio com motor de popa ou “voadeira”

na Região do Castelo (acervo do autor, 2011).

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Figura 31: Chalana-pantaneira ou puc-puc, no rio Paraguai. Ao

fundo a Serra do Amolar (acervo Correio do Estado,

www.nationalpark.org.br).

Vale ressaltar que nestas cercanias, existem poucas áreas destinadas ao pouso de aviões,

sendo que a maioria está dentro de propriedades particulares. Outrossim, o custo deste meio de

transporte ainda é demasiado caro. Isto nos permite dizer que, o rio Paraguai se apresenta como

principal via de transporte e a mais viável para o pantaneiro ribeirinho. Além de utilizar o rio para

transporte, o pantaneiro ribeirinho utiliza-o também, para a sua subsistência, visto que a pesca é

uma atividade cotidiana na vida dessas pessoas. No entendimento de LEAL et al. (2009), o rio

Paraguai representa o sustento e a própria condição de vida para as famílias de pescadores

ribeirinhos.

Com relação às moradias tradicionais, estas são simples, normalmente com apenas dois

cômodos anteriores (quartos ou quarto e sala) e dois cômodos posteriores (cozinha e dispensa), e

geralmente construídas de “barrote” de varas de taquara (Bambusoidae), comumente chamadas de

pau-a-pique e barroteadas (rebocadas) com um tipo de massa feita de barro e cinzas de madeira, e

são cobertas com folhas (palha) de palmeiras, preferencialmente acuri56

(Attalea phalerata).

Anteriormente a isso, os esteios (vigas de sustentação da casa) que são feitos do cerne de árvores,

principalmente de aroeira (Myracrodruon urundeuva), após serem “lampinados” (aplainados

rusticamente) com instrumentos cortantes (machados ou facões), são erguidos e fixados em

buracos feitos no solo, delimitando assim um quadrante pré-definido para a moradia. As varas e o

oitão, também são retirados de árvores, porém das suas partes mais finas. No caso das varas pode-

se usar também, a taquara e do oitão, o tronco de carandá. O piso interno, comumente, é de chão

batido.

56

Espécie de palmeira de médio porte que ocorre na região do Pantanal do Paraguai.

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As canoas de um pau só (canoas monóxilas) são meios de transporte produzidos a partir de

um único tronco de árvore. Normalmente, para tal, utiliza-se o cambará (Vochysia divergens) ou a

ximbúva (Enterolobium contortisiliquum), espécies estas ocorrentes na área de estudo, das quais

se utiliza a madeira, que segundo SOUZA (1973, 142), é escavada a fogo e entalhada

rusticamente, moldando-se uma estrutura apropriada para a navegação leve. BRANDÃO et al.

(2008), determinam três etapas no processo de manufatura de tais embarcações: escolha da árvore,

derrubada da árvore e determinação do tamanho e forma da canoa (tiração de machado) e,

acabamento da canoa (limpação de ferro fino). Normalmente, para tal intento, usa-se a enxó

(instrumento de carpintaria feito de chapa de aço).

Os remos e as zingas, instrumentos auxiliares para a propulsão destas embarcações,

também são confeccionados a partir de partes mais finas destas madeiras. Pode ser utilizada a

madeira de outras árvores, tais como o louro-preto (Cordia glabrata), mas são preferidas as

espécies acima citadas. É valido lembrar que a arte de confeccionar canoas a partir de um único

tronco de árvore, foi desenvolvida pelos índios Guató, exímios canoeiros que dominaram o alto rio

Paraguai e as suas lagoas internas (SOUZA 1973, 142). Entretanto, outro grupo étnico indígena

também utilizou com maestria este tipo de embarcação e fez das águas pantaneiras, principalmente

as do rio Paraguai, um de seus domínios: os Paiaguá. Sobre os Paiaguá, MAGALHÃES (1999,

17) diz que a adaptação a um habitat diversificado influencia o tipo de habitação, o equipamento

doméstico, a subsistência e principalmente a valorização da canoa, fundamental para a

sobrevivência e para a identificação do grupo.

As técnicas desta arte foram absorvidas por ribeirinhos não indígenas, que passaram a

habitar a região, e incorporadas na forma de tradição. O ato de fabricar e utilizar a canoa mostra

uma forte identidade cultural, revelando-se uma autoafirmação de ser pantaneiro (BRANDÃO et

al., 2008). Nota-se então, o estreito relacionamento entre o homem pantaneiro e a natureza,

cercado de uma determinada “sapiência informal” que é transmitida de pai para filho, geração

após geração, através das práticas cotidianas e/ou da oralidade. Isso nos permite dizer que é

inapropriado se referir às populações que vivem mais afastadas dos centros urbanos, como sendo

aculturadas. Essas populações, na verdade, apresentam maneiras diferenciadas de expressão

cultural, em relação às culturas que comumente identificamos.

Porém, devemos ressaltar que atualmente, também podem ser observadas construções

feitas com madeiras aplainadas (tábuas) e/ou até mesmo de alvenaria com cobertura feita com

telhas de zinco, de cerâmica (francesa ou romana) e/ou de amianto, com piso de cimento puro ou

queimado com corantes (vermelhão).

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Figura 32: Moradia tradicional (pau-a-pique e palha) pantaneiro-

ribeirinha na Comunidade do Porto Amolar (acervo do autor,

1999).

Figura 33: Moradia feita com tábuas aplainadas e telhas

de amianto na Comunidade do Paraguai-Mirim (acervo

do autor, 2011).

Em algumas situações os ribeirinhos já contam com motores geradores movidos a óleo

diesel ou gasolina, ou com placas solares, para obtenção de energia elétrica para as moradias

destes. Com tais instrumentos é possível alimentar bicos de luz, freezers e geladeiras e às vezes,

outros equipamentos eletroeletrônicos. Pode-se observar também, que vários ribeirinhos já

possuem botes (barcos de alumínio) com propulsão a motor de popa, o que facilita a locomoção

pelas águas pantaneiras, dando-lhes maior mobilidade, entre as áreas rurais e as cidades de

Corumbá e Ladário. Entretanto, segundo BRANDÃO et al. (2008), o uso da canoa foi condição

essencial para a ocupação do Pantanal pelos povos indígenas no passado, e no presente, mantém a

sustentabilidade da vida cotidiana das famílias de baixa renda.

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89

4.3 Algumas Estratégias de Sobrevivência do Pantaneiro Ribeirinho

O homem pantaneiro ribeirinho, ao longo de muitos anos tem utilizado técnicas de manejo

agrícola, adquiridas junto aos seus ancestrais57

, principalmente através da oralidade. Segundo

SANTOS (2011), o pantaneiro ribeirinho e, por conseguinte, fronteiriço entre o Brasil e a Bolívia,

que vive às margens do rio Paraguai, apresenta uma forma diferenciada em relação ao manejo de

animais, vegetais e solo.

Figura 34: Gado criado solto aproveitando a pastagem natural (acer-

vo do autor, 2011).

Para os moradores dessa região o cultivo de vegetais (herbáceas, trepadeiras, raízes,

tubérculos, etc.) tais como a mandioca (Manihot esculenta), o feijão-rasteiro (Phaseolus vulgaris),

o milho (Zea mays), o arroz “branco” (Oriza sativa), a cana-de-açucar (Saccharum officinarum), a

abóbora (Cucurbita pepo), a melância (Citrullus lanatus), a banana (Musa spp.), e a batata-doce

(Ipomoea batatas) se trata de estratégia de sobrevivência que se tornou tradicional, ao longo do

tempo. Devemos citar que além do arroz “branco” também pode ocorrer, a utilização do arroz

“nativo” ou “do campo” ou “silvestre” (Oryza latifolia e Oryza glumaepatula), o qual é

encontrado nos campos inundáveis do Pantanal, segundo BERTAZZONI e DAMASCENO JR.

(2011). Porém, BORTOLOTTO (2006) cita que, durante os seus estudos o arroz nativo era citado

como “comida dos bugres” pelos moradores da Comunidade do Porto Amolar e que tais espécies

de arroz não eram utilizadas na alimentação. Tal autora também verificou esta situação na

Comunidade do Castelo.

Alguns vegetais arbóreos frutíferos de médio e grande porte, nativos ou exóticos, por vezes

também são cultivados, tais como a laranja (Citrus spp.), o limão (Citrus limon), a tangerina

(Citrus spp.), a acerola (Malpighia emarginata), o caju (Anacardium spp.), a ata (Annona

57

Avós, pais e tios.

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squamosa), a goiaba (Psidium guayava), o figo (Ficus carica), a manga (Mangifera indica), o

abacate (Persea spp.), o tamarindo (Tamarindus indica), o pequi (Caryocar brasiliense Cambess.),

o cumbaru (Dipteryx alata), a mangava (Hancornia speciosa), o jenipapo (Genipa americana), as

várias espécies de jatobá (Hymenaea spp.), a bocaiuva (Acrocomia aculeata), o cupari ou acupari

(Garcinia gardneriana), o romã (Punica granatum), o coco-da-Bahia (Cocos nucifera).

Porém, estes são disponibilizados e posicionados ao redor da moradia ou nos fundos do

terreno em forma de pomar, o qual tem três funções: o sombreamento a fim de amenizar o calor

nas épocas mais quentes do ano, o fornecimento de frutas comestíveis para abastecer a casa e para

servir de anteparo para o vento sul, que incide sobre a região no período de inverno. Notam-se,

então, mais algumas estratégias de sobrevivência dos pantaneiros ribeirinhos. Outros vegetais

arbóreos de caráter essencial para as estratégias de sobrevivência são encontrados nas morrarias,

nos campos ou nas margens dos rios58

. Servem para a retirada da casca para remédios caseiros e

de madeira para a construção de moradias59

, cercas, mangueiros e currais60

, utensílios

domésticos61

, além da confecção de canoas. Para tais intentos são usados, de preferência, a aroeira

(Myracrodruon urundeuva), o angelim-amargoso (Vatairea sp.), o louro-preto (Cardia glabrata), o

guatambu (Aspidosperma parviflorum), o angico (Anadenanthera colubrina), o Gonçalo

(Astronium fraxinifolium) ou sucupira-preta (Bowdichia virgilioides) a sucupira (Pterodon

emarginatus), a ximbuva (Enterolobium contortisiliquum), o cambará (Vochysia divergens), o

paratudo (Handroanthus aureus), o novateiro (Triplaris americana), entre outros. Alguns são

utilizados para a coleta de iscas, para a pesca artesanal do pacu (Piaractus mesopotamicus e

Colossoma sp.) e/ou da pacu-peva (Mylossoma sp.), sendo estes preferencialmente o tucum

(Bactris glaucescens), a laranjinha de pacu (Pouteria glomerata) e o ingá (Inga vera).

Outrossim, a madeira destes arbóreos é utilizada estrategicamente como lenha. Porém,

salientamos que segundo relatos e o que pudemos observar o pantaneiro ribeirinho não derruba as

árvores para a retirada de lenha, mas aproveita as que já estão caídas e mortas, para tal finalidade.

Vale ressaltar que muitos destes vegetais, também, germinam naturalmente auxiliados pela

dispersão (não antrópica) de suas sementes, seja de forma biótica, através dos animais (zoocorica)

ou abiótica, através do vento (anemocorica) ou da água (hidrocorica). Tal afirmação é corroborada

por BERTAZZONI e DAMASCENO JR. (2011), quando dizem que a dispersão das sementes

ocorre na vazante por barocoria, hidrocoria e zoocoria, e estas permanecem viáveis, por cinco

meses, até o período da seca.

58

Mata ciliar. 59

Esteios, varões, tábuas. 60

Postes, mourões, palanques e cochos. 61

Gamelas, colheres-de-pau e tábuas-de-cortar-carne.

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Nas comunidades ribeirinhas presentes ao longo do rio Paraguai, a existência de roças62

onde os moradores cultivavam esses vegetais, era comum. Segundo SILVA (2011, 19), nas roças

eram cultivados gêneros como arroz, feijão, milho, mandioca, cana-de-açúcar, batata, carás, dentre

outros. Isso ainda pode ser observado nos tempos atuais, porém com menos frequência e

abundância, visto que boa parte dos moradores dessas comunidades migrou, parcial ou

integralmente, para os centros urbanos, em busca principalmente de trabalho para os adultos e

educação formal para as crianças, dada a escassez e, às vezes, até mesmo a ausência destas

atividades naqueles rincões, por inúmeras razões. Em algumas situações a migração se deu por

motivos de doença grave em algum membro da família. Quando a migração de uma família

pantaneira ribeirinha é integral, pode se observar então o abandono total da gleba63

, normalmente

um sítio de pequeno ou médio porte, medindo em torno de 1,5 a 50 Ha, no máximo. Isso pode

ocorrer também, por motivo de morte dos proprietários, verificando-se então um vazio

demográfico e uma lacuna territorial, à qual os próprios moradores remanescentes denominam

singularmente de “tapera”. É comum ouvirmos, quando em conversa com pantaneiros ribeirinhos

da comunidade do Porto Amolar, ao longo do rio Paraguai, expressões tais como: [...] a tapera de

fulano tá cheia de mato [...], [...] a onça andou lá pela tapera de ciclano [...], [...] depois que

beltrano morreu aquilo lá virou uma tapera [...].

Além dos vegetais cultivados para fins alimentares em espaços específicos para o plantio, o

homem pantaneiro ribeirinho se vale dos vegetais para outras finalidades. A “medicina alternativa,

caseira e/ou tradicional” é muito utilizada nestas cercanias, por conta da distância dessas áreas em

relação aos centros urbanos mais próximos ou pela própria cultura proveniente dos mais antigos e

de seus antepassados. Em um misto de fé e sapiência, associados à disponibilidade desses

elementos florísticos na natureza, que ao longo do tempo se transformaram em conhecimento

tradicional, as pessoas dessas localidades se valem de inúmeros métodos que podem ou não ser

eficazes, dependendo de uma série de fatores.

62

Áreas destinadas às plantações. 63

Área rural delimitada pelo INCRA, incluindo as moradias nela existentes.

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Figura 35: jirau com sabão (caseiro) feito de forma artesanal com

material reciclável (acervo do autor, 2011).

Assim, herbáceas tais como o capim-cidreira (Cymbopogon citratus), a camomila

(Chamomilla recutita), a erva-doce (Pimpinella anisum), o boldo-chileno (Peumus boldus), a

marcela-do-campo ou simplesmente marcela (Achyrocline satureioides), a insulina (Cissus

verticillata), o guaco (Mikania glomerata), a erva de Santa Luzia (Pistia stratiotes), a espinheira

santa (Maytenus ilicifolia), o quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.), o saião (Kalanchoe

brasiliensis), a carqueja (Baccharis trimera) a colônia (Alpinia sp.), a caninha-do-brejo (Canna x

generalis), o assa-peixe (Vernonia ferruginea), o fedegoso (Senna occidentalis), o cravo-de-

defunto (Tagetes sp.), etc., são usadas nessa “medicina caseira e/ou tradicional”, de caráter

alternativo, como remédios fitoterápicos cujos extratos utilizados em fricções, inalações ou

infusões, auxiliam em associação a outros métodos ou são, em determinadas situações,

exclusivamente utilizados no tratamento de diferentes afecções, traumas e distúrbios orgânicos

que acometem o pantaneiro ribeirinho, de modo geral. A erva-doce (Pimpinella anisum) e a

camomila (Chamomilla recutita) não são cultivadas na comunidade havendo, portanto, a

necessidade de se adquirir tais ervas no comércio das cidades de Corumbá e/ou Ladário64

. É

sabido, cientificamente, que essas ervas utilizadas pelos pantaneiros ribeirinhos como medicinais

possuem substâncias fundamentais ou princípios ativos, os quais são base de inúmeros remédios

alopáticos. Todavia, não é nosso intuito incentivar o uso de remédios, mesmo que fitoterápicos,

sem a observância de dosagens devidamente recomendadas pela medicina científica. Porém,

devemos ressaltar os conhecimentos tradicionais do pantaneiro ribeirinho, visto que este se vale de

tais há muitos séculos, inclusive como estratégia de sobrevivência. Segundo POTT et al. (2004),

no Pantanal há longa tradição de uso de plantas medicinais, porque a farmácia do mato

frequentemente é a única solução longe do centro urbano. O reconhecimento e o resgate do saber

64

Cidades brasileiras situadas à margem direita do rio Paraguai, na fronteira com a Bolívia, no Estado de Mato Grosso

do Sul.

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local sobre as plantas medicinais são fundamentais em comunidades rurais, pois os remédios

caseiros surgem como alternativa de cura, muitas vezes a única devido à falta de outros recursos

para cuidar da saúde (CUNHA e BORTOLOTTO, 2011, 686).

Além dos vegetais, o homem pantaneiro ribeirinho está intrinsecamente associado aos

diversos elementos faunísticos que ocorrem na planície pantaneira, pois desde os primórdios da

colonização humana no Pantanal até os dias atuais, ele se relaciona com as mais variadas espécies

de animais de diferentes maneiras, seja por simples defesa ou por necessidade de alimentação.

Segundo PRESOTTI (2011, 136-137), a fauna é diversa, principalmente aves de variadas cores e

tamanhos: biguás, tuiuiús, garças, emas. Ganha destaque a grande quantidade de mosquitos

causadores dos maiores incômodos [...].

Vivendo em um ambiente exuberante, porém inóspito, o elemento humano teve que se

adaptar ao mesmo, a fim de lograr êxito em sua empreitada. Grandes felídeos tais como a onça-

pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma concolor), répteis peçonhentos ou não tais como

sucuri (Eunectes notaeus), caninana (Spilotes pullatus ssp.), boca-de-sapo (Botrhops neuwiedii

matogrossensis), cascavel (Crotallus durissus ssp.), cobra-coral (Micrurus frontalis), jacaré-do-

pantanal (Caiman yacare), jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), anfíbios venenosos tal

como o sapo-cururu (Rhinella marina), peixes tais como a arraia (Potamortrygon sp.) e a piranha

(Serrassalmus natereri) e invertebrados peçonhentos tal como escorpião (Tityus sp.), lacraia

(Scolopendra cf. gigantea), aranha-caranguejeira (Grammostola sp.), aranha-marron (Loxosceles

sp.), etc., além de insetos tais como abelhas, vespas, marimbondos e formigas (Hymenoptera),

mosquitos e mutucas (Diptera) são alguns dos representantes faunísticos com os quais o homem

pantaneiro ribeirinho conviveu e ainda convive, sendo que estes, podem ou não lhes causar

determinados danos.

SOUZA (1973, 142) diz que, os Guató eram valentes caçadores, destros zagaieiros65

e

atacavam ousadamente as onças em seus esconderijos. Segundo o mesmo autor, eles usavam arcos

de amplas dimensões e flechas com pontas de osso com que alvejavam animais e peixes.

Contudo, a fauna pantaneira não é composta tão somente de animais que teoricamente podem ser

perigosos ao elemento humano. O homem pantaneiro ribeirinho aprendeu com os seus

antepassados a utilizar determinados animais silvestres para a sua subsistência. Deste modo,

podemos listar alguns destes, tais como a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), o porco-

monteiro66

(Sus scrofa), a queixada (Tayassu pecari), o caititu (Tayassu tajacu), a cutia

(Dasyprocta aguti), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), a anta (Tapirus terrestris), o

tatu-galinha (Dasypus sp.), o arancuã (Ortalis sp.), o pato-do-mato, selvagem ou bravo (Cairina

65

Índios lanceiros que caçavam onças; manuseadores da zagaia. 66

Forma selvagem do porco doméstico.

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sp.), a marreca (Dendrocygna sp.), o pacú (Piaractus mesopotamicus e Colossoma sp.), a pacu-

peva (Mylossoma sp.), o pintado (Pseudoplathystoma corruscans), o cachara (Pseudoplathystoma

fasciatum), a piranha (Serrasalmus spp.), o dourado (Salminus maxilosus), o bagre (Pimelodus

sp.), a piraputanga (Brycon sp.), entre outros.

Ressaltamos que, atualmente nem toda a “população tradicional” pantaneira se vale de

todos esses animais silvestres para a sua subsistência, seja por não praticarem a caça de

subsistência, seja por não apreciarem a carne de alguns destes animais, ou por outro motivo não

evidenciado. Conforme preceitua WOLF (2009, 10), salientamos que, mesmo não estando

expressamente prevista na Lei 5.197/67, que dispõe sobre a proteção da fauna, a caça de

subsistência é respeitada e permitida às “populações tradicionais”, as quais se incluem os grupos

étnicos indígenas em suas reservas. No caso da Comunidade do Porto Amolar boa parte dos

moradores possui pequenas criações de gado (Bos sp.) e/ou galináceos (Gallus gallus domesticus).

Alguns chegam a criar suínos (Sus sp.), caprinos (Capra sp.) e/ou ovinos (Ovis sp.), porém em

menor escala.

Figura 36: Criação de gado bovino é uma das principais culturas dos

pantaneiros (acervo do autor, 2011).

Figura 37: “Traia” de montaria utilizada para a lida de campo

(acervo do autor, 2011).

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No entanto, verificamos que o consumo de peixes, principalmente o pacu (Piaractus

mesopotamicus e Colossoma sp.) e a pacu-peva (Mylossoma sp.), seja fresco ou seco67

, é prática

natural e usual, sendo que a pesca destas espécies faz parte do cotidiano das pessoas daquela

comunidade ribeirinha, há décadas.

Figura 38: Pantaneiro ribeirinho do Porto Amolar

segurando dois (2) pacus recém-pescados por ele

(acervo do autor, 2011).

Figura 39: Pantaneiros ribeirinhos, da mesma comunidade limpando

pacus para o almoço. Ao lado a canoa de um pau só (acervo do

autor, 2011).

67

Forma tradicional pantaneira de conservação de peixes com sal, expondo-os posteriormente ao sol, em varais, para a

secagem.

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Figura 40: Moradores antigos da Comunidade do Porto Amolar

limpando pacu-pevas para o almoço. Notar, ao fundo, a presença de

canoas de um pau só (acervo do autor, 2008).

4.4 O Porto Amolar e os possíveis conflitos socioambientais que ocorrem na Região do

Pantanal do Paraguai

As comunidades pantaneiro-ribeirinhas do alto rio Paraguai, no estado de Mato Grosso do

Sul, na sub-região do Pantanal do Paraguai, se valem de práticas de manejo da vegetação, de

animais, do solo, da pesca, etc., que foram herdadas em sua maioria, dos seus ancestrais68

. Em

nossa área de estudo, considerando-se a relação homem-natureza, percebe-se que desde criança se

aprende a lidar com a terra para a formação de roças, com as plantas e com a criação de animais

domesticados, os quais lhes dão auxílio em várias situações, inclusive no sustento familiar. Em

tenra idade já se aprende a pescar, a andar de canoa, etc., pois os filhos tendem a acompanhar os

pais em suas tarefas cotidianas. Aprende-se também a se fazer distinção entre os animais

silvestres “amigáveis ou não” e entre as plantas que podem ser “úteis ou não”. A observação e o

entendimento dos mínimos detalhes referentes aos fenômenos naturais que regem a vida no

Pantanal, em ciclos anuais, são outros ensinamentos importantes que estão presentes no dia-a-dia

do homem pantaneiro ribeirinho, o que inclusive lhes dá um status de pertencimento ao ambiente

pantaneiro. Podemos verificar as afirmações acima, nas seguintes falas de antigos moradores da

Comunidade do Porto Amolar:

68

Pais, avós, tios, etc.

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Morador 3 – Ah, aqui no mato a gente aprende desde pequeno a amuntá

cavalo, a remá e piloteá canoa. Aprende pescá, carpi, roçá, tudo nós

aprende desde guri. Aprende a andá por esses mato tudo, entrá e sai

dessas baía, dessis curixo. Tem que sabê onde que tá os pêxe. Se ocê

vive no meio desse mato e num sabi lidá cum nada disso, ocê num faz

nada. Aqui no Amolá tudo depende de canoa. Pra carregá páia de acuri;

quem tem roça d’otro lado pra atravessá o rio. Ocê tem que sabê prantá

nem que seja uma rama de mandioca, tem que sabê pescá um pacu, uma

pacu-peva que seja, si não ocê num tem o qui comê. Quem tem um

gadinho num vai carneá todo dia. Aí a gente tem sempre uma carne seca

ou então tem que criá uma galinha ou pescá de vez em quando né. Agente

pesca pra dá um ajutório no “rancho” e porque uma pexada de vez em

quando é bom né.

Morador 4 - Ocê tem que prestá atenção nas coisa que acontece em

vórta d’ocê. Quando vai virá o tempo a correição fica arvoroçada,

saracura começa a piá “três pote, três pote...”, a água do rio fica escura,

passarinhada vai prucurá pouso, o céu fica “xadrez” (provavelmente

quando ocorrem nuvens do tipo Altocumulus). Antes de batê vento sur

venta primero o norte durante uns três dia, bem entendido. Então ocê

pode fica certo que o sur vai respondê. Ele vem por de trás dessa

morraria, urrando brabo. “sim sinhô...aí é tomá uma dose de pinga, si o

sinhô bebe, e chorá na cama que é o lugá mais quente.

Morador 5 – Quando vai batê dequada, a água do rio fica vermeaça,

depôs começa escumá, aí ocê pode ficá certo que vem a dequada. Os pêxe

começa subi pra busca fôlego na frô d’água. Coitado, dá até dó deles pôs

os pobri não têm o que fazê, num tem ar. Fica tudo agonizando, abrindo

boca. Aqueles que guenta vive os que num guenta morre tudo. Fica uma

pudriquera. A água num servi pra bebê, aí tem que passa mão no remo,

embarca na canoa e busca água nos córgo ou intão nas baía.

Morador 6 – Ah rapaz..., aí o negócio fica dificir, purque o musquito

atrupela mesmo. Tem dia que agente tem que passa esse “Repelex”, pra

pode trabaiá. De dia nós sorta o gado cedo, pra eles ir pro campo. Aí eles

dão jeito. Enquanto eles tá pastando, tá movimentando pr’um lado e pru

outro. Agora, quando vai escurecendo, nós tem que recoiê o gado um

poco más cedo e fazê fumaça pr’eles, sinão eles num consegui sussegá.

Os musquito atrupela eles noite intera, num dá sussego rapaz. Essas vaca

pena, ainda más quando elas tão cum bizerro novo. Agente faz fumaça

de cupinzeiro, de “cavaco” de pau, de caroço de manga, aí espanta os

musquito, branda más eles e o gado fica sussegado. Sinão eles bate noite

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intera, num tem sussego.

Morador 7 – Eu já vi muita coisa pr’esses mato ai. Coisa boa e bunita.

Mas quando cê dá de cara cua onça, guri ai o troço fica diferente. Se ocê

for mole, meio bestão, cê tá na unha do bicho, pur que o animar é prático

e ele pula longe e corre duro. Eu mesmo já fui atrupelado pur ela i si eu

num sô ligero tava lascado.

Morador 2 – Amolá já foi Amolá. Tempo que tinha fartura, era gado pra

tudo quanto era lado. Tinha serviço, tinha festa o ano intero. Vinha

moçada de uma purção de lugá, só pra festá. O povo daqui também ia

nas festa pur essas fazenda tudo. Daqui até no Parmitá era um estradão

limpo. A turma ia amuntado ô intão de apé mesmo. Hoje tá um

bamburrá. Tá tudo sujo, mato fechado. Tempo di fica perdido pur ai, se

ocê num conheci bem a estrada. Si ocê bestiá, cê dá de cara cum

macharrão.

Considerando as duas últimas falas acima descritas, é imperativo destacar a relação do

homem pantaneiro-ribeirinho com os grandes felídeos do Pantanal, a qual em nosso entendimento

além “temorosa e até mesmo admirativa” também é conflitante e gera determinado atrito, pois

tanto onças pintadas (Panthera onça) como onças pardas (Felix concolor) ocorrem com

determinada frequência e abundância na região e interagem com o elemento humano. Isso

provavelmente ocorre por conta de uma “sobreposição territorial”, que acontece por vários e

diferentes motivos. As onças são animais territorialistas e de grande mobilidade, sendo que o

território de domínio (caça, acasalamento, etc.) destes felídeos normalmente atinge grandes

distâncias. Em nosso caso salientamos que os domínios destes felídeos são transfronteiriços, pois,

podem abranger os territórios brasileiro e boliviano, ultrapassando os limites convencionados pelo

homem, de um lado para o outro. O elemento humano está presente no Pantanal há pelo menos

5.500 anos ocupando, concomitantemente, áreas de domínio das onças. Cientificamente, os seres

humanos não fazem parte da dieta alimentar destes animais, porém, desenvolvem atividades

pastoris onde criam bovinos, caprinos, suínos e galináceos, os quais são confinados em áreas mais

altas nos períodos das cheias que acometem as diferentes regiões pantaneiras. Normalmente as

onças, também, procuram abrigo nestas áreas mais altas durante tais períodos, encontrando certa

fartura e determinada facilidade na obtenção de alimento. Ocorre assim, uma relação predador-

presa, porém com a presença do elemento humano que “toma conta de seu rebanho”, o qual tende

a defender sua criação e a si mesmo, em muitas ocasiões. Todavia, a legislação brasileira possuí

vários instrumentos normativos que visam a proteção da fauna silvestre, porém, destacamos o Art.

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99

3º da Instrução Normativa do IBAMA nº 08/2010 que diz o seguinte:

“Ficam proibidos quaisquer atos de caça de espécies consideradas

pragas, que afetem a agricultura, a flora nativa ou coloquem em risco a

integridade humana sem que estudos prévios e pesquisas assim o

determinem (SCHENEIDER, s/d).”

O Projeto Onça Pantaneira do Instituto pró-Carnívoros com o apoio do Programa Pantanal

para Sempre da WWF-Brasil tem como objetivo usar o conhecimento científico para orientar os

pecuaristas a usarem técnicas de manejo que reduzam o ataque de onças ao rebanho, umas das

principais causas de atrito (WWF, s/d).

A WWF (s/d), se referindo a onça pintada, diz que “a ocorrência desses felinos em uma

região indica que ela ainda oferece boas condições que permitam a sua sobrevivência”. Portanto,

as onças são indicadores de qualidade ambiental.

Entretanto ressaltamos que, segundo GARCIA-WATANABE (2006, 5), “de forma

controversa, a população ribeirinha não é chamada de pantaneira. Atribui-se esta denominação aos

fazendeiros e donos de terra”.

Entendemos que, os ensinamentos passados de geração a geração, fazem parte da identida-

de dessas “populações tradicionais” e se traduzem em saberes locais. LITTLE (2002) nos lembra

que os diversos grupos humanos costumam ser agrupados sob diversas categorias – “populações”,

“comunidades”, “povos”, “sociedades”, “culturas” – cada uma das quais tende a ser acompanhada

pelos seguintes adjetivos: “tradicionais”, “autóctones”, “rurais”, “locais”, “residentes”. No enten-

dimento de DIEGUES (2000), o surgimento de outras identidades socioculturais, como a caiçara,

é fato mais recente, tanto de estudos antropológicos quanto de auto-reconhecimento dessas popu-

lações como portadoras de uma cultura e um modo de vida diferenciado de outras populações. Ao

tratar das populações “caiçaras” do litoral brasileiro, de “pantaneiros” do pantanal e de outras “po-

pulações tradicionais”, DIEGUES (1996, apud LITTLE, 2002) descreve as variadas formas comu-

nitárias de apropriação de espaços e recursos naturais” baseadas num “conjunto de regras e valores

consuetudinários, da ‘lei do respeito’ e de uma teia de reciprocidades sociais onde o parentesco e o

compadrio69

assumem um papel preponderante”. Segundo MENDES (2004), a partir do Decreto

6.040/2007 ficou regulamentado também o direito das populações tradicionais aos seus territórios

tradicionais e a manutenção de seus modos de vida. Consideramos que, o modus vivendi de “po-

pulações tradicionais”, tais como a do Porto Amolar, também estudado por BORTOLOTTO et al.

(2005), possivelmente foi moldado ao longo do tempo, levando-se em conta vários fatores, dentre

os quais destacamos os de ordem linguística, ambiental, psíquica, credulários e territorial, que ten-

69

Quando uma comunidade se forma as pessoas estabelecem laços de compadrio [...]. LANA, M. A estrutura

sacrificial do compadrio: uma ontologia ou desigualdade? Ciências Sociais Unisinos, vol. 45, nº 1, enero-abril, 2009,

pp.5-15.

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100

dem a possibilitar àquelas pessoas “significarem o seu mundo” conforme as suas necessidades,

produzindo então, saberes locais. Esses saberes locais, certamente, diferenciam dos saberes con-

vencionais pela forma como são produzidos, pois, aos olhos do mundo tecnológico ainda estão

atrasados, não evoluídos, em estágio primário ou até mesmo “primitivo”, como muitas pessoas

preferem e tendem a dizer. BENEDICT (s/d, 15), vem corroborar as nossas afirmações quando

diz que:

A história da vida individual de cada pessoa é acima de tudo uma aco-

modação aos padrões de forma e de medida tradicionalmente transmiti-

dos na sua comunidade de geração para geração. Desde que o indivíduo

vem ao mundo os costumes do ambiente em que nasceu moldam a sua

experiência dos factos e a sua conduta. Quando começa a falar ele é o

frutozinho da sua cultura, e quando crescido e capaz de tomar parte nas

atividades desta, os hábitos dela são os seus hábitos, as crenças dela as

suas crenças, as incapacidades dela as suas incapacidades.

Para falarmos da Comunidade do Porto Amolar devemos, também, nos reportar à

etimologia do nome reservado à mesma, a qual se ampara nas famosas pedras de amolar – e/ou

afiar – facas, facões e demais instrumentos cortantes utilizados pelas pessoas que viviam – e ainda

vivem – naquela região, sendo eles ameríndios ou não. O Porto Amolar é emparedado por um

feixe de morro que apresenta em sua base afloramentos de rochas abrasivas as quais, por atrito,

possibilitam o desbastamento de lâminas, produzindo e/ou afiando faces cortantes.

Figura 41: Pedras de amolar (acervo do autor, 2012).

A Morraria das Pedras de Amolar (Morraria do Porto Amolar ou simplesmente Morro do

Amolar)70

faz parte do complexo de elevações rochosas denominado Serra do Amolar, que possui

relevo residual, existente no município de Corumbá e que se prolonga desde a região do Castelo

70

Ressaltamos que o Morro do Amolar é confundido erroneamente, em certas ocasiões, com a Serra do Amolar.

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101

até a divisa dos Estados de Mato grosso do Sul e Mato Grosso, Brasil, no bordo oeste da região do

Pantanal do Paraguai, fronteirizando com a Bolívia sendo, muitas vezes, entendida como marco

divisor entre esses dois estados nacionais. Ainda, podemos dizer que a Serra do Amolar além de

ser um monumento natural, pode ser entendida como uma barreira natural ao longo da linha

divisória entre o Brasil e a Bolívia. TOZIN et al. (2011, 1), em seus estudos citam as “[...] áreas

alagadas da Serra das Pedras de Amolar no município de Corumbá, Pantanal de Mato Grosso do

Sul [...]”, e nos dão auxílio em nosso embasamento teórico. Salientamos que a Serra do Amolar

está inserida nos domínios da BAP (Bacia do Alto Paraguai). O Plano de Manejo do PARNA

PANTANAL (BRASIL, 2003, 22)71

diz que:

“A BAP tem sua maior porção em território brasileiro, nos estados de

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Seus limites abrangem áreas de

litologias pré-cambrianas que sustentam dois espessos pacotes de

material rochoso paleomesozóico, com cobertura cretácea e terciária, que

deram origem à região de planaltos, onde a maior parte da área da mesma

está situada. Já na sua porção central, deprimida e plana, estão

localizadas as planícies do Pantanal.”

O Porto Amolar é banhado pelo rio Paraguai (porção Leste) e é “avizinhado” por RPPN’s,

por algumas propriedades rurais de médio e pequeno porte, além de outras populações ribeirinhas

que vivem às margens daquele corpo d’água, distribuídas em outras comunidades. Esse

logradouro é bifacetado, unindo-se estratégica e naturalmente ao Palmital, o qual é uma espécie de

extensão comunitária interdependente ao Porto Amolar, estando este situado defronte à lagoa

Mandioré (porção Oeste), a qual é transfronteiriça entre o Brasil e a Bolívia. Outro fator que une o

Porto Amolar ao Palmital é a relação familiar, “parentesca e compadresca” que existe entre as

pessoas naturais de ambos os lugares. Pequenas lagoas, tais como as do Saquarema (porção

Norte) e do Taquaral (porção Sul), ladeiam a comunidade. Didaticamente, podemos entender o

Porto Amolar como sendo uma “ilha”, visto que só é possível chegar ao local por via fluvial ou via

aérea.

71

Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.

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102

Figura 42: Imagem de satélite mostrando a Lagoa Mandioré (cuja metade

está em território brasileiro e metade em território boliviano) a Morraria do

Amolar e o Porto Amolar, além de terras de propriedade das RPPN’s Penha

e Eliezer Batista e da ONG ECOA. (imagem: Google Earth, 2004, fonte:

Google Earth, 2012/ adapatado).

Figura 43: Serra do Amolar em sua face brasileira. Atrás desta

formação rochosa pode-se avistar o território boliviano. (Fonte:

www.google.com.br, 2009)

O Porto Amolar é um distrito administrativo do Município de Corumbá onde, em épocas

passadas, segundo informações de antigos moradores, havia desde armazéns, cemitérios e escola

até um posto avançado da Delegacia de Corumbá, além de uma quantidade expressiva de pessoas

que constituíam a comunidade. Informaram-nos, ainda, que no decorrer de um ano, um pároco

vindo de Cuiabá responsabilizava-se por celebrar casamentos e batizados72

e dar a extrema unção,

caso fosse necessário. Historicamente, o Porto Amolar fez parte de um complexo de entrepostos

72

O batismo significa pertencimento, incorporação em uma comunidade moral. KOTTAK, C. Kinship and class in

Brazil. Ethnology, 1967. 6:427-443.

Porto Amolar

RPPN Eliezer Batista

Rio Paraguai

Limite entre

Brasil e Bolívia

Morraria do Amolar

RPPN Penha

ECOA

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103

comerciais da região, no qual se destacava a cidade de Corumbá, havendo até meados do século

XX o fornecimento de lenha para abastecer os navios vapores, dentre eles o Rio Verde e o

Guaporé, além de outros, que navegavam no trecho entre Cuiabá e Corumbá e vice-versa. Havia,

também, o comércio ou o escambo73

de doces em compota (de leite, de caju, de goiaba, de

mangava, etc.), de queijo da “terra”, de rapadura, de melado, de farinha de mandioca, de licores

(feitos do pequi e/ou do jenipapo), de frutas (manga, laranja, caju, melancia), além do embarque

de peças de “couro especado”74

, proveniente do gado e da caça de animais silvestres. O transporte

de pessoas também ocorria e se dava ao longo de todo o ano. MOUTINHO (1869, apud ESSELIN,

2003, 199), nos ensina que “já no ano de 1858, foi criada a Companhia Nacional de Navegação a

Vapor, que manteve, a partir de então, uma viagem mensal entre Corumbá e Montevidéu”.

Segundo BRAZIL e PEREIRA (2008, 105):

Na década de 40, a Empresa Miguéis, por exemplo, [...] navegava até

Porto Murtinho. [...]. A Empresa levava charque, rapadura, gordura, carne,

peixe e couro seco. Era couro de boi e de caça, por que nessa época a caça

era livre [..].

É necessário lembrar que, naquele período as leis vigentes não consideravam ilegais ou,

em certos casos, até permitiam a extração de madeira para lenha e a caça de determinados animais

silvestres, bem como a realização de outras atividades relacionadas à extração e utilização de

recursos naturais, hoje vedadas. Salientamos que, os moradores das comunidades pantaneiro-

ribeirinhas, incluindo o Porto Amolar, procuram obedecer às determinações e disposições da

legislação ambiental em vigência, até por que aquelas atividades, hoje consideradas ilegais, não

fazem mais parte da base da economia local e/ou regional, há no mínimo 50 anos.

Outrossim, mais recentemente a navegação comercial de grande porte se traduz em um

problema de ordem sócio-econômica-ambiental que de certo modo interfere na relação do

pantaneiro ribeirinho com a natureza, independentemente da sua vontade. As matas ciliares são

devastadas pelo choque e consequente arrasto dos comboios de chatas75

durantes suas manobras

de navegação no rio Paraguai, por conta da necessidade de transpor as curvas do rio, provocando a

perda da proteção vegetal marginal. Comumente, o pantaneiro ribeirinho faz as suas roças

próximo às matas ciliares e estas muitas vezes são levadas juntamente com o barranco para o leito

do rio, quando os comboios realizam suas manobras. Erroneamente, por vezes pessoas

desavisadas tendem a creditar este tipo de dano ambiental aos pantaneiros ribeirinhos, pois

consideram que estes derrubam porções das matas ciliares para fazer seus roçados, deixando as

73

Troca de produtos manufaturados, bens móveis, víveres e até mesmo serviço prestado. 74

Forma de curtimento rustico do couro, realizado em nesses arredores; couro seco de gado ou animais silvestres. 75

Barcaças apropriadas para o transporte de grãos e minério, tracionadas por navios empurradores, formando às vezes

comboios de 10 chatas (balsas) ou mais. Uma chata pode ter em média 60m de comprimento.

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margens nuas e frágeis, facilitando assim o desbarrancamento. Porém, um estudo realizado pela

WWF (1999), ao longo do rio Paraguai, no trecho Cáceres/MT – Porto Murtinho/MS, resultou em

um relatório que constatou que uma grande área da mata ciliar está devastada pelo embate das

chatas contra as margens, inclusive nos sítios arqueológicos existentes ao longo do rio. Mesmo

em pontos com aumento significativo da largura do rio, observam-se locais degradados [...].

Ao longo de pelo menos 100 anos, a Comunidade do Porto Amolar vem desenvolvendo

suas atividades de subsistência, interagindo com o meio ambiente e produzindo os saberes locais,

os quais foram transformados em conhecimento tradicional76

. Porém, tal comunidade tem enfren-

tado nos últimos 15 anos um considerável declínio populacional, visto que, a grande maioria dos

seus membros faleceu, em decorrência da idade ou de problemas de saúde, ou migrou, parcial ou

definitivamente, para os centros urbanos, em um êxodo causado por vários e diferentes motivos.

Também, nesse intervalo de tempo, várias empresas de turismo e de navegação mercantil intensi-

ficaram suas atividades ao longo do rio Paraguai, além das Unidades de Conservação (RPPN’s) e

entidades ambientalistas de caráter conservacionista (ONG’s) que se instalaram na região e até

mesmo na própria Comunidade do Porto Amolar, implantando e desenvolvendo suas ações. Sobre

as áreas ocupadas por determinadas UC’s, AZEVEDO (2002, 9) diz o seguinte:

Em sua maioria, estas áreas protegidas se caracterizam pela proibição de

assentamentos humanos e atividades econômicas, à exceção do turismo.

Esta visão se baseia em dois pressupostos: primeiro, o de que há uma na-

tureza em estado virgem a ser preservada; segundo, o de que a ação do

homem é necessariamente devastadora, e portanto nociva ao meio ambi-

ente.

Acompanhando os ensinamentos de COSTA (2010, 2), “É importante destacar que muitas

dessas áreas em que se instauram mecanismos de proteção ambiental se tornaram, ao longo do

tempo, locais extremamente valorizados do ponto de vista imobiliário, o que implica a mobiliza-

ção de interesses do grande capital na gestão desses territórios”. Segundo VALCUENDE e CAR-

DIA (2009):

O interesse por parte dos Estados em controlar os “espaços vazios” é um

fato habitual, para o que utilizam diferentes estratégias. A ideia de espa-

ço vazio acompanha, habitualmente, os processos de colonização. A ne-

gação ou desumanização do outro faz parte de um processo que facilita

a apropriação territorial, um fato que se visualiza de forma especialmen-

te clara na Amazônia, representada em nível discursivo como a quinta

76

O art. 16 da Convenção da Biodiversidade (CB ou Rio-92) trata da propriedade intelectual, inclusive de

comunidades tradicionais, ao qual se denomina conhecimento tradicional ou saberes locais. Foi assinado por 168

países, incluindo a Bolívia.

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105

essência “do natural”, apesar de a presença dos povos indígenas ter sido

realmente importante.

Atualmente se fazem atuantes no entorno da comunidade, as RPPN’s Engenheiro Eliezer

Batista, em associação à ONG Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e Penha. Na área de influência

da comunidade atuam as RPPN’s Fazenda Santa Teresa, Acurizal, Rumo Oeste e Dorochê, além

do PARNA do Pantanal Matogrossense, do qual o Porto Amolar integra a sua área de amorteci-

mento.

Município Porcentagem (%)

Cáceres 2,8

Poconé 8,2

Corumbá 8,5

Quadro 3 – Porcentagem dos Municípios Inseridos na Zona de

Amortecimento do Parque Nacional do Pantanal

Matogrossense. Fonte: Resumo Executivo do Plano de Manejo

do PNPM (2003, p.8).

É interessante notar que, 8,5 % do município de Corumbá abrange a Zona de

Amortecimento do Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, o que nos permite dizer que a

área onde se encontra a Comunidade do Porto Amolar, já está inserida, automaticamente, em um

plano de manejo de uma Unidade de Conservação de categoria II77

. Em nosso entendimento, outro

fato a ser destacado é que a área da Comunidade do Porto Amolar não faz parte, diretamente, do

Mosaico de Unidades de Conservação estando, a mesma, ladeada e limitada externamente, pelas

áreas de propriedade das Reservas Particulares Engenheiro Eliezer Batista (2) e Penha (3),

respectivamente. Internamente, há o encontro com áreas pertencentes à Organização Não

Governamental Ecologia e Conservação – ECOA. Somos corroborados por CAMPOS (2012),

que entende que o Mapa do Mosaico de Áreas protegidas chama atenção por sua base cartográfica

ser constituída apenas de Unidades de Conservação (UCs) de um dado território. Ainda, conforme

tal autora, isso causa conflitos ligados à sobreposição de territórios e jogos de interesse, visto que os

mosaicos tendem a desprezar comunidades tradicionais.

77

Conforme o IUCN (União internacional para a Conservação da Natureza) a categoria II inclui os Parques Nacionais

e/ou Estaduais.

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106

Figura 44: Mapa mostrando o conceito de Mosaico formado pelas áreas de conservação ambiental particulares

(RPPN’s) e pelo PARNA do Pantanal Matogrossense que fazem parte da Rede de Conservação (fonte: Instituto

Homem Pantaneiro, 2011).

Figura 45: Núcleo da Ecoa no Porto Amolar (primeira edificação à

esquerda). Fonte: (www.riosvivos.org.br/canal/ecoa/37, acessado

em 10/07/2012).

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Figura 46: Sede da RPPN Eliezer Batista, na sub-região do

Pantanal do Paraguai. Fonte: (www.capitaldopantanal.com.br,

2011, acessado em 18/03/2013).

Porém, ressaltamos que dentro da Comunidade do Porto Amolar, especificamente, ocorre a

presença física da Organização Não Governamental Ecoa – Ecologia e Conservação, a qual se

estabeleceu no local a partir de 2004. Por estarem localizadas mais próximas da nossa área de

estudo, inclusive influenciando-a, consideramos as RPPN’s Engenheiro Eliezer Batista e Penha,

além da Organização Não Governamental ECOA – Ecologia e Conservação, respectivamente, para

fins de uma análise dos vários discursos produzidos por esses atores sociais ou por diferentes

agentes de comunicação. Elencamos, abaixo, alguns desses discursos, referentes à RPPN

Engenheiro Eliezer Batista, disponíveis na internet:

“Em 2008, a MMX criou a Reserva Particular de Patrimônio Natural

(RPPN) Eliezer Batista, uma reserva natural de aproximadamente 20 mil

hectares na margem direita do Rio Paraguai, na Serra do Amolar, em

Corumbá (MS). [..]. Atualmente, a RPPN Engenheiro Eliezer Batista

desenvolve projetos científicos e de educação ambiental. Conheça

algumas iniciativas, desenvolvidas em parceria com o Instituto Homem

Pantaneiro(IHP).”

(http://www.mmx.com.br/pt/sustentabilidade/Paginas/sistemacorumba.as

px, 2011)

“Para implantar a RPPN dentro dos padrões necessários, a MMX firmou

parceria com o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), organização não

governamental sediada em Corumbá, que tem como objetivo atuar na

promoção do desenvolvimento e melhoria da qualidade ambiental do

Pantanal. O IHP deu início ao processo de reconhecimento da RPPN e

conduziu os trabalhos de realização do plano de manejo, incluindo duas

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108

expedições científicas ao local, que contaram com a presença de

experientes pesquisadores da Embrapa Pantanal, IBAMA e UFMS.

Patrimônio Natural ou RPPN é uma categoria de área protegida prevista

nas legislações Federal e do Estado de Mato Grosso do Sul, na qual a

decisão de proteger recursos naturais e paisagens parte do proprietário,

sem desapropriação. Criada em perpetuidade, sem restrição quanto ao

tamanho, a RPPN pode abrigar atividades de pesquisa científica, turismo

ou educação ambiental.” (http://www.pantanalecoturismo.tur.br, 2008).

“Inserida numa região bastante remota e ainda pouco conhecida, é

caracterizada pelo encontro repentino entre a planície inundável e as

morrarias da Serra do Amolar, que resulta numa grande diversidade de

ambientes e uma paisagem de rara beleza. Ao longo de duas expedições

científicas conduzidas na área, já foram registradas 219 espécies de aves,

31 espécies de mamíferos de grande porte, quase 50 espécies de anfíbios

e répteis, além de aproximadamente 300 espécies de plantas. A região

onde se encontra a reserva foi declarada pelo Ministério do Meio

Ambiente como de alta prioridade para a preservação da biodiversidade.

Margeada pelo Rio Paraguai e pela Baía do Mandioré, na fronteira com a

Bolívia, ela é permeada por quatro tipos de biomas: Cerrado, Pantanal,

Amazônia e Floresta Chiquitana (ambiente típico da Bolívia). Além

destas características, a região do Parque Nacional do Pantanal

Matogrossense e reservas particulares no seu entorno foi reconhecida

pela UNESCO como reserva da Biosfera e Patrimônio Natural Mundial.”

(www.repams.org.br, s/d, acessado em 15/07/2012).

Aqui apresentamos um discurso informativo referente à RPPN Penha, produzido pela

SEMA/MS78

, e disponibilizado eletronicamente pela REPAMS79

:

É parte integrante do complexo de Unidades de conservação do Parque

Nacional do Pantanal, Patrimônio Natural do Pantanal, Patrimônio

Natural Mundial reconhecida pela UNESCO e zona núcleo da Reserva da

Biosfera do Pantanal. Seu manejo é feito de forma integrada com a

RPPN Acurizal, uma vez que forma contínuo com esta Unidade.

Compreende numa faixa de terras entre a margem direita do rio Paraguai

e a Serra do Amolar. É composta por ambientes que vão desde vales

alagados até florestas densas em relevo acentuado. A paisagem é

exuberante e a Serra do Amolar destaca-se acima das áreas inundáveis.

[...], as RPPN’s Penha e Acurizal preservam uma riqueza biológica

inestimável. (www.repams.org.br, s/d, acessado em 15/07/2012).

78

Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso do Sul. 79

Associação de Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Mato Grosso do Sul.

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109

Ressaltamos que tais RPPN’s são vinculadas, respectivamente, à MMX (Mineração e

Metálicos S/A.), a qual é uma das empresas do grupo EBX, do empresário Eike Batista e à

Organização Não Governamental Fundação Ecotrópica (Fundação de Apoio à vida nos Trópicos),

com sede em Cuiabá-MT. Igualmente, são associadas à REPAMS (Associação de Proprietários de

Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Mato Grosso do Sul), com sede em Campo

Grande – MS. Conforme informação veiculada em seu próprio site, a REPAMS é:

Uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, sem caráter

político-partidário, que tem o objetivo de promover a preservação do

meio ambiente [...], contribuindo, desta forma, para o crescimento em

área e qualidade desta categoria de Unidade de Conservação em Mato

Grosso do Sul. (www.repams.org.br, s/d, acessado em 15/07/2012).

Sobre a Organização não Governamental ECOA- Ecologia e Ação, reportamos o seguinte:

A ECOA foi criada em 1989, em Campo Grande - MS, por um grupo de

pesquisadores de diversas áreas profissionais, dentre elas as de biologia,

comunicação, arquitetura, ciências sociais, engenharia e educação, para

estabelecer um espaço de reflexão, debates e formulações e também

desenvolver projetos e políticas públicas para a conservação ambiental e

a sustentabilidade tanto no meio urbano quanto no rural. Nesta

perspectiva o Pantanal e a bacia hidrográfica do rio da Prata foram

identificados como as regiões prioritárias, sendo que no caso Pantanal

concentraram-se as ações de base comunitária, o que indica, também,

uma das razões para a criação da organização. (www.riosvivos.org.br,

2004).

Entretanto, atualmente e, a partir da análise do Mosaico postulado pela Rede de Unidades

de Conservação, passa-nos a impressão de que a abrangência para os moradores da Comunidade

do Porto Amolar foi restringida e que o trecho que vai da divisa entre os estados de Mato Grosso e

Mato Grosso do Sul até a Escola Municipal do Jatobazinho80

foi transformada em uma espécie de

“área tutelada”, “subordinada” e “vigiada”, onde praticamente tudo o que se pretende fazer,

envolvendo o meio ambiente, tem que passar por uma espécie de controle subjetivo, exercido

pelos agentes externos (pessoas) ligados a determinadas Unidades de Conservação, as quais de

forma implícita tenham, talvez, a finalidade de legitimar e, quem sabe, dar legalidade às

atividades, atualmente, desenvolvidas naquela região. COSTA (2010, 1), nos corrobora quando diz

que:

Os conflitos sociais existentes entre a legislação ambiental brasileira que

trata das Unidades de Conservação e as populações locais que habitam

no interior dessas áreas adquirem uma grande heterogeneidade em todo o

80

Comunidade tradicional existente ao longo do rio Paraguai, situada entre a Cidade de Corumbá e o Porto Amolar,

pertencente ao município de Corumbá, onde está instalada uma Escola Municipal.

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110

país. As diversidades locais e “culturais” de grupos sociais, assim como

as condições geográficas e o tipo de Unidade de Conservação (mais ou

menos restritiva em relação à presença humana) configuram cenários es-

pecíficos nos quais ocorre a interação entre a administração pública, re-

presentada diretamente por seus funcionários, e os moradores locais, que

passam a conviver com uma nova ordem jurídica em seu local de mora-

dia. Essa nova ordem jurídica impõe um disciplinamento do território,

que implica não apenas a exigência da proteção da natureza dessas Uni-

dades de Conservação, mas tem como efeito social o controle das pesso-

as e dos grupos sociais que vivem nesses territórios.

Figura 47: Escola Municipal do Jatobazinho, à margem esquerda do

rio Paraguai (acervo do autor, 2011).

Assim, questionamos o seguinte: existiriam outros motivos e interesses vinculados à

questão da conservação do meio ambiente pantaneiro ribeirinho? É certo que a distância do centro

urbano mais próximo em relação àquela região é considerada pelos órgãos fiscalizadores como um

fator que dificulta o controle e a verificação de possíveis ilícitos que podem ocorrer nessa porção

do Pantanal. É válido lembrar que, a região do Pantanal do Paraguai tem uma determinada

vigilância e fiscalização, que são exercidas com certa intensidade e regularidade, pela Polícia

Militar Ambiental/MS e pelo IBAMA, por se tratar de um ambiente pertencente ao Bioma

Pantanal, sujeito a ações degradadoras e pelas Forças Armadas (Marinha do Brasil, Exército

Brasileiro e, também, Força Aérea Brasileira), por conta da segurança nacional, visto estar inserida

em uma faixa de fronteira. O Corpo de Bombeiros Militar/MS também desenvolve atividades na

referida região, porém de cunho socorrista, quando da ocorrência de acidentes com animais

silvestres ou de queimadas, que por vezes acabam evoluindo para incêndios florestais. São

verificadas, também, várias ações de cunho social, tais como a Ação (Programa Social) Povo das

Águas realizada pela Prefeitura Municipal de Corumbá em conjunto com Organizações não

Governamentais, dentre elas a ECOA – Ecologia e Ação, e com o apoio da Marinha do Brasil.

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Outros órgãos, tais como a ANA (Agência Nacional de Águas), desenvolvem monitoramento do

nível e qualidade da água do rio Paraguai, tendo instalados na comunidade instrumentos, tais

como régua medidora e balizador, para o uso dos seus técnicos durante as coletas de dados.

Figura 48: Ação da Marinha do Brasil junto à população ribeirinha

na Comunidade do Porto Amolar, no período de 18 a 20 de

novembro de 2009 (fonte: ECOA, www.riosvivos.org.br).

Figura 49: Técnico da ANA (Agência Nacional de Águas) coletando

e registrando dados referentes ao rio Paraguai na Comunidade do

Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

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112

Figura 50: Técnicos da ANA (Agência Nacional de Águas)

registrando dados referentes ao rio Paraguai na Comunidade do

Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

Figura 51: Régua de medição do nível d’água do

rio Paraguai (medição referente ao dia 18/07/11),

instalada no Porto Amolar (acervo do autor,

2011).

Outra ação de cunho social, porém com caráter jurídico, tem sido desenvolvida pelo

Ministério Público Federal (MPF) em conjunto com a Secretaria do Patrimônio da União e em

parceria com a ECOA - Ecologia e Ação, visando garantir o direito à permanência de “populações

tradicionais” ribeirinhas em áreas da União. Citamos aqui trecho da reportagem publicada pelo

jornal eletrônico Pérola do Pantanal News, referente à Ação Social Povo das Águas:

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113

A ação Povo das Águas foi iniciada na última segunda-feira (23), dispo-

nibilizando atendimentos médicos, odontológicos, sociais, educacionais e

fisioterápicos às comunidades ribeirinhas, residentes em regiões de difícil

aceso. Esta semana, as crianças estão também ganhando brinquedos, do-

ados pela Receita Federal, além de doces. O atendimento começou no

Porto Maracangalha beneficiando a comunidade da região de São Do-

mingos. Na terça-feira, os trabalhos foram desenvolvidos no Porto do

Zequinha, no Castelo, das 8h às 12 horas, e na Ilha Verde (Porto Laran-

jeira), região do Paraguai Mirim, das 14h às 17 horas. Teve sequência

quarta-feira na extensão do Paraguai Mirim com atendimento às famílias

ribeirinhas que residem no São Francisco, Bonfim, Mato Grande e Porto

Chané. Os trabalhos aconteceram na Escola Municipal Rural Pólo Porto

Esperança, Extensão do Paraguai Mirim. Na quinta, a ação beneficiou as

comunidades do Amolar e da barra do São Lourenço.

(www.perolanews.com.br/noticias, 2012).

Conforme informação da Agência Brasil, publicada pelo site Pantanal Ecoturismo, salien-

tamos que foi assinado, no mês de julho de 2012, um Termo de Cooperação Técnica entre o Mi-

nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e a Marinha do Brasil, para a construção

de lanchas que transportaram profissionais da Assistência Social, os quais participaram das ações

do “Plano Brasil Sem Miséria” que vai contemplar as populações ribeirinhas do Pantanal e da

Amazônia (www.pantanalecoturismo.com.br, 2012).

Percebemos que, o relacionamento entre determinados moradores da região e os membros

das entidades ambientalistas (RPPN’s), aparentemente, é amistoso e salutar, resguardando-se as

devidas particularidades. Todavia, acreditamos que estes últimos, possivelmente, sejam percebidos

de forma involuntária como “alheios” àquele mundo, como “exóticos”, como “gente de fora”. E-

videnciam-se, nesse caso, as alteridades relacionadas àquele ambiente. Talvez esse sentimento não

seja demonstrado a todos que não pertencem à comunidade, mas é possível que haja “um provável

constrangimento produzido pela presença de quem não tem raízes fincadas” no local, visto que, de

certo modo ocorre determinada interferência na rotina das pessoas que lá vivem. Analisemos as

seguintes falas de antigos moradores:

Morador 5 – Esse povo que vem de fora é bom. Os homi, as muié, tudo

eles são bom e gosta de cunversá, mas só que eles chega sempre quando

a gente tá mais ocupado. A gente tem que dexá de fazê o que tá fazendo

pra ir atendê eles. O sirviço d’gente fica tudo atrasado. Eles fica fazendo

uma purção de pergunta, ispeculando a vida da gente e às vez eles pede

pra gente acumpanhá eles pur esses mato. Tem vez que o musquito tá

atrupelando nós, e eles qué i assim mesmo. Eles fala que tão istudandu as

pranta e os bichu, pra cuntinuá tendu sempre prus filho e prus neto. Eu

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num tenho filho nem neto. Tenho uma purção di subrinho, e num intendo

muito das coisa deles, mas mesmo assim a gente ajuda como pode,

purque a gente também cuida desse Pantaná.

Morador 2 – Olha, eu num sei direito o que esse povo faz. Sei que eles

estuda as pranta e os bichu. Mas como já teve uma purção de gente que

passou pur aqui e só cunversô fiado, a gente às vez nem acridita muito

em certas coisa que’les fala. De vez em quando eles tão pur aqui no

Amolá. Tem vez agente pensa: quar a vantaji di não podê fazê isso ou

aquilo? Mas como eles fala que é pra ajudá conservá as pranta e os

bicho...A genti sempre teve um pexê, uma capivara, um caititu pra gente

comê, mas agente nunca disperdiçô. Só qui agente que nasceu e criô aqui

no Pantaná num pode mais mexê cum nada. Até p’ra prantá roça tá

dificir. Parece até que o pantaneiro é que qué acabá cô as coisa.

A relação, por mais que seja amistosa, não nos parece convergente nem unânime, pois, o

contato certamente carece de mais durabilidade e mais intensidade e, talvez, de mais

cumplicidade. As pessoas que vivem nessas comunidades são um tanto acanhadas e, quiçá,

ressabiadas, além de possuidoras de sentimentos que são fundamentados na questão do convívio e

do respeito familiar, no trabalho, na fé e na autoridade dos mais antigos, fatores tradicionais que

são passados de pai para filho, ao longo do tempo. Outro fator é a manutenção da amizade e da

confiança no outro, as quais são conquistadas, também, com o decorrer do tempo, em um processo

lento, porém, consistente. É possível notar que, por conta desses vários fatores convergentes,

existe em vários momentos uma integração comunitária, onde um ajuda o outro colaborando de

certo modo com alguma coisa para o andamento de alguma atividade cotidiana, em um ciclo que

persiste geração após geração. Sendo assim, “isso não ocorre da noite para o dia”, ou seja,

demanda tempo, pois, os costumes do pantaneiro ribeirinho e o ritmo do Pantanal são outros e,

certamente, muito diferentes dos existentes no ambiente urbano.

Figura 52: Moradores do Porto Amolar durante o trabalho de

“farinhação” (acervo do autor, 1999).

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Figura 53: Moradores do Porto Amolar fazendo a manutenção de

um motor (bomba) d’água. Verifica-se aqui a ajuda mutua na

comunidade (acervo do autor, 2011).

Uma situação que, possivelmente, influencia na relação entre os moradores e os agentes

externos (pessoas que não fazem parte da comunidade) ao Porto Amolar, talvez, seja a urgente e

imperiosa necessidade de se levantar dados referentes às várias pesquisas que são realizadas na-

quele ambiente e/ou no seu entorno, em um espaço de tempo, teoricamente, reduzido. Citamos

esse fato por que, em determinadas ocasiões, algumas pessoas (às vezes todas dependendo da pes-

quisa) da comunidade acabam entrando no ritmo “frenético” de uma coleta de dados científicos, e

deixam de lado o que de repente mais lhe interessa: o seu “cotidiano pantaneiro”81

. Apesar de

muito receptivos e de darem valor a uma boa prosa, principalmente, se for numa roda de tereré ou

de mate chimarrão é, sem dúvida, um engano achar que os pantaneiros não têm muito coisa para

fazer, vivendo nesses rincões. Nesse sentido, sobre o pantaneiro, VIEIRA (2004) diz o seguinte:

É um povo que vive da natureza com os elementos, terra e água cujas

limitações imprimem à sua vida uma forma integrada e bem diferencia-

da dos outros povos. Um estilo de vida aparentemente duro e difícil para

quem não está habituado com aquele modo de viver. Entretanto, com o

tempo passou a ser parte intrínseca do seu meio, onde convive em har-

monia com a natureza, com a família e consigo mesmo. O homem do

campo, como também é chamado pelos habitantes locais, entende os fe-

nômenos naturais sem mesmo nunca tê-los estudado em escola formal.

Sabe quando plantar, quando colher, quando apartar o gado. [...].

81

Quando nos referimos ao cotidiano pantaneiro, nos referimos às atividades de lidar com a roça de subsistência, lidar

com o trato de cavalos e com a criação de gado (onde também se faz a “cura de umbigo de bezerro novo”, além de

outros serviços), galináceos e outros víveres, arrumar cercas, bretes, mangueiros e currais, retirar palha de acuri para

cobrir casas quando necessário, pescar, cuidar das ferramentas de lida no campo e das traias de montaria, ouvir

noticiário regional, tomar o mate-chimarrão ou tereré, entre outras atividades.

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Figura 54: Moradores do Porto Amolar reunidos em conversa, no

período vespertino. Nesses momentos pode ser verificado o

repasse de saberes locais dos mais antigos para os mais jovens

(acervo do autor 1992).

Mesmo vivendo em um ritmo, teoricamente, mais lento e considerando que no Pantanal,

naturalmente, “escurece mais cedo”, além do que não se têm energia elétrica em todas as casas, os

pantaneiros ribeirinhos têm inúmeros afazeres que lhes são importantes, os quais são

desenvolvidos ao longo do dia. Por isso dormem mais cedo e, consequentemente, acordam mais

cedo. Aqueles moradores que têm geradores de energia ao seu dispor, ligam-nos somente das 18h

às 22h no máximo, porém, quando há necessidade. Os que não têm geradores de energia elétrica

se valem de lanternas e/ou lamparinas para desenvolver atividades no período noturno.

Segundo DIEGUES (2000, 53), [...] o modo de vida caipira é marcado pela estreita ligação

das representações simbólicas e religiosas com a vida agrícola, a caça, a pesca e a coleta”. Assim,

entendemos que os moradores da região, objeto de nosso estudo, constituem diversos territórios

que se convergem ou não, apresentando suas territorialidades. Segundo BANDEIRA et al (2009,

3), o território para as comunidades tradicionais, sejam esses permanentes ou não, é o espaço onde

obtém os recursos naturais necessários a sua sobrevivência. O território não é apenas um local de

onde retiram esses recursos, mas sim um espaço de significados onde as relações e representações

socioculturais se expressam (BANDEIRA et al., 2009, 3). DIAS (2010, 23), a partir de

HAESBAERT82

, cita LÈFEBVRE83

quando este distingue:

Apropriação de dominação (“possessão”, “propriedade”) – o primeiro

sendo um processo muito mais simbólico, carregado das marcas do

“vivido”, do valor de uso; o segundo mais concreto, funcional e

vinculado ao valor de troca. Nesta ótica, considera o território como

funcional e simbólico, pois é utilizado tanto para a realização de ações

como na produção de significados. É considerado funcional quando

82

HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. Anais do X Encontro de Geógrafos da

América Latina. Universidade de São Paulo, 2005. 83

LÈFEBVRE, Henri. La production de l’espace. Paris: Anthrops, 1986.

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usado como recurso para atender as necessidades humanas e variam de

acordo com cada contexto ou sociedades.

Figura 55: Moradores da Comunidade do Porto Amolar

comemorando um aniversário, no período noturno. Notar que a

iluminação é feita com o auxílio de lanternas, o qual é um

elemento indispensável no Pantanal (acervo do autor, 1992).

Entretanto, entendemos que o simbolismo e as significações produzidas pelos moradores

de uma comunidade pantaneiro ribeirinha, são importantes diferenciais na relação homem-

natureza ocorrente naquele ambiente e que influenciam diretamente no modo como tais atores

sociais percebem e entendem a conservação do Pantanal. O conhecimento ambiental das pessoas

da região é fundamentado em uma prática cotidiana, observada, vivenciada e experimentada nas

diferentes situações dos espaços comuns, conforme discutem DIEGUES e MOREIRA (2001), ou

não-comuns, que estão sob o seu domínio, estando dessa forma adaptadas às condições reinantes,

em épocas diversas (GUARIM NETO e GUARIM, 2008). Segundo ESTEVES e AZEVEDO

(1998, 16), o simbolismo produz orientações subjetivas e sistemas de orientação objetivados. As

pessoas que agem de maneira comunicacional, pela mediação da linguagem, entendem-se no

horizonte de um mundo vivido. Consequentemente, se tais diferenciais influenciam diretamente

na conservação ambiental, possivelmente, podem surgir discordâncias de ideias entre os atores

sociais envolvidos (pantaneiros ribeirinhos e entidades conservacionistas que atuam na área de

interesse). Segundo BOAS (1962), uma das grandes dificuldades da vida moderna é apresentada

pelo conflito de ideias. [...], tradição contra a lógica dos fatos.

Porém, tais discordâncias, de algum modo são conflituosas, e na maioria das vezes ficam

restritas àquele local, não sendo evidenciadas. Assim, nos permitimos chamá-los de conflito

socioambiental silencioso (grifo nosso). DIEGUES (2000, 9) vêm nos corroborar, quando diz

que a imposição de neomitos (a natureza selvagem intocada) e de espaços públicos sobre os

espaços dos "comunitários" e sobre os mitos bioantropomórficos (o homem como parte da

natureza) tem gerado conflitos graves.

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A presença de entidades conservacionistas e, consequentemente, das pessoas

(pesquisadores, auxiliares de pesquisa, e até turistas) que agem sob os seus preceitos e conceitos é,

sem dúvida, uma forma de ocupação territorial, e as ações desenvolvidas por esses atores sociais

representam novas territorialidades. Isso, possivelmente, é também um fator conflitante, pois, a

presença de “outros” agindo nos locais simbólicos para os “nativos” daquela região, pode levar,

talvez, a uma ressignificação daquilo que outrora tinha um determinado significado para eles. É

possível que haja o entendimento, por parte dos moradores do local, de que um lugar “sagrado”

para eles está sendo “violado”. Considerando isto, podem ocorrer, ainda, mudanças de certos

hábitos tradicionais ou até mesmo a supressão destes, em decorrência da presença dos “agentes

externos” (pessoas) ligados às RPPN’s. É importante salientar que, a grande maioria dos

moradores ribeirinhos não tem a mesma impressão em relação aos “lancheiros”. Isto, talvez, se

deve ao fato de que estes transportam não só esses moradores ao longo do rio Paraguai, mas,

também parentes, mercadorias, animais adquiridos para criação, maquinário e ferramentas, etc., ou

seja, transportam, rotineiramente, pessoas e bens que lhes são de grande importância, fazendo com

que os laços de amizade sejam estreitados com o passar do tempo.

Figura 56: Vista interna de uma lancha freteira/boiadeira. Nota-

se moradoras do Porto Amolar e Palmital, em viagem para

Corumbá-MS. (acervo do autor, 1999).

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Figura 57: Antigo morador (de chapéu) da comunidade do Porto Amolar com

dois “lancheiros mascates”. Notar que o “lancheiro” adquiriu ovos caseiros junto

ao morador (acervo do autor, 2006).

Ressaltamos que, “em hipótese alguma queremos, aqui, descaracterizar, desmerecer ou até

mesmo denegrir as várias ações conservacionistas e os vários trabalhos científicos desenvolvidos

por qualquer entidade ambientalista (RPPN ou ONG) que seja ou por pesquisadores vinculados a

essas, até por que não é nosso propósito nem tampouco o objetivo de nosso estudo, sem falar que

não temos nenhuma autoridade para isso”. Além do mais é de grande valor técnico-científico o

conhecimento produzido a partir dos estudos realizados por e através delas. O nosso estudo tende

a fornecer subsídios que possam fomentar as diversas discussões a respeito das questões

socioambientais na sub-região do Pantanal do Paraguai.

Entretanto, o conflito socioambiental que, inicialmente, era silencioso começou a ganhar

voz, junto a outras comunidades da região do Pantanal do Paraguai, tais como a Comunidade da

Barra do São Lourenço e do Paraguai-Mirim, a partir da mobilização dos moradores junto ao

Ministério Público Federal/MS, sediado em Corumbá-MS. Analisemos, agora, um trecho da

reportagem publicada pela ECOA, referente à permanência dos ribeirinhos em áreas tradicionais

do Pantanal:

“Famílias ribeirinhas das comunidades do Paraguai-Mirim e da Barra do

São Lourenço, distantes, respectivamente, 130 e 240 quilômetros da ci-

dade de Corumbá (MS), receberam entre os dias 13 e 14 de julho um

Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS) – documento que con-

fere a permanência das populações tradicionais em áreas da União ocu-

padas há centenas de anos no Pantanal. O termo foi expedido pela Secre-

taria do Patrimônio da União (SPU) após recomendação do Ministério

Público Federal (MPF), que durante o diálogo com as famílias ribeiri-

nhas, observou que o direito ao território era uma das preocupações mais

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recorrentes, devido às diversas denúncias de expulsão de membros de

comunidades em razão da criação de Reservas Particulares do Patrimônio

Natural (RPPNs).” (www.riosvivos.org.br, 2012).

Nesse caso, ocorreu a saída (ou retirada) de moradores dos lugares onde viviam por conta

da instalação de algumas RPPN’s. Podemos verificar tal afirmação na fala de uma moradora da

Barra do rio São Lourenço “lembrando o sofrimento que passou no passado, quando foram

criadas as reservas particulares”, disponibilizada eletronicamente pela Comunicação Ecoa (com

informações do MPF/MS):

V. I. S. F. - “Tive que deixar minha casa de um dia pro outro. Deixamos

nossas coisas pra trás, apenas pegamos a mala e colocamos no barco.

Grávida e com muito medo, acabei perdendo a criança. Era pra se chamar

Ana Rosa. Hoje, com esse documento, tenho uma paz e uma alegria.

Esse lugar agora é nosso, posso dormir tranquila porque vou acordar no

que é meu e ninguém vai me expulsar daqui”. (www.riosvivos.org.br,

2012).

Porém, verificamos e, consequentemente, nos permitimos entender que provavelmente

existe um determinado conflito de ideais entre as RPPN’s e a ECOA, entidade esta que desenvolve

trabalhos de cunho socioambiental e trata não só da conservação do meio ambiente, mas também,

da conservação da “população tradicional” da região do Pantanal do Paraguai convergindo,

involuntariamente, com o foco do nosso estudo.

Figura 58: Moradores da Comunidade da Barra do São Lourenço

com os Termos de Autorização de Uso Sustentável (fonte: E-

COA - www.riosvivos.com.br, 2012).

Todavia, urgem algumas preocupações, as quais nos levam a alguns questionamentos

pontuais em relação à Comunidade do Porto Amolar: 1. a Comunidade do Porto Amolar estaria em

processo de extinção? 2. a transmissão dos saberes locais findar-se-ia juntamente com a possível

extinção dessa comunidade? Todavia, tais questionamentos necessitam de estudos específicos que

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possam lhes apontar respostas substanciais.

Contudo, a partir da (s) representação (ões) social (ais) produzida (s) pelos moradores da

referida comunidade, podemos visualizar, empiricamente, o grau de engajamento daquelas pessoas

a questão ambiental, e talvez até traçar um referencial de valoração da simbologia local em relação

ao meio ambiente pantaneiro. Segundo MOSCOVICI (apud REIGOTA, 1998), “uma representa-

ção social é o senso comum que se tem sobre um determinado tema, onde se incluem também os

preconceitos, ideologias e características específicas das atividades cotidianas (sociais e profissio-

nais) das pessoas”. Para um pantaneiro-ribeirinho, e consequentemente para o “amolarense”84

, o

rio Paraguai é a sua principal via de locomoção. Navegar em suas canoas de um pau só85

, domi-

nando-as com maestria, desde tenra idade, é sinônimo de liberdade e de contato com a própria

natureza. Este fato por intermédio de um objeto, no caso a canoa, simboliza uma forma de perten-

cimento único e exclusivo, de quem nasce, vive e, normalmente, morre nas comunidades ribeiri-

nhas da região do Pantanal do Paraguai. LUBAR e KINGERY (2007, 11), nos corroboram quan-

do dizem o seguinte:

A relação humana com os objetos e /ou artefatos é uma realidade

incontestável e incontornável. Não podemos viver sem eles. O objeto é

elemento identificador e caracterizador de grupos e comunidades e com

eles estabelecemos uma relação tão próxima, quanto a que temos com os

outros seres humanos com quem convivemos diariamente.

Em muitos casos, a fartura de peixes (principalmente pacu e pacu-peva), e uma plantação

de mandiocas, podem ser sinônimos de “boa alimentação” para uma família ribeirinha. As árvores

de grande porte, que em condições normais vivem por um longo período de tempo, podem

simbolizar a própria cronologia de uma família ribeirinho-pantaneira, além de que os seus galhos

secos podem ser utilizadas como lenha nas cozinhas locais. A palha de acuri (Attalea phalerata),

mesmo que usada em menor escala, ainda significa a possibilidade de proteção, pois a mesma é

utilizada para cobrir as casas de taipa (pau-a-pique). Respirar o ar livre do Pantanal pode significar

saúde para aquelas pessoas, até por que segundo POTT et al. (2004), o Pantanal não é uma região

insalubre.

84

Expressão usada para se referir àquele que nasce ou vive no Porto Amolar. 85

Canoas monóxilas; pequenas embarcações feitas a partir de um único tronco de árvore.

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Figura 59: “Amolarenses” antigos, pertencentes à mesma família

(acervo do autor, 2011).

E assim, foram e ainda são construídos diversos símbolos com inúmeras significações, que

provavelmente conduziram e continuam conduzindo a conservação daquele ambiente, os quais, no

singelo entendimento dos pantaneiros ribeirinhos certamente, não carecem de uma pedagogia

externa para que sejam produzidos, pois, fazem parte do seu cotidiano.

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123

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema fronteira foi o pressuposto básico para o alicerce edificador desta dissertação. A

grande dificuldade de se abordar tal tema é explicita, por conta das várias formas de visualizá-la,

entende-la e até mesmo concebê-la. Como já considerado anteriormente, a fronteira entre o Brasil

e a Bolívia é ao mesmo tempo harmoniosa e conflitante, pois, apresenta uma gama enorme de

temas transversais que pululam em várias esferas de discussão, considerando os diferentes

entendimentos das diversas áreas do conhecimento. Dentre esses temas transversais, destacamos a

conservação ambiental, a qual é tão conflitante quanto a própria fronteira, e fomentou a nossa

conversação com o leitor. Ao apresentarmos uma Ecologia enviesada pela Antropologia, tivemos

a oportunidade de percorrer algumas tramas relacionadas à conservação do meio ambiente

pantaneiro ribeirinho, e evidenciar possíveis conflitos produzindo em tal ambiente, a partir da

visão de atores sociais pertencentes a uma comunidade composta por uma “população

tradicional”, situada às margens do rio Paraguai, encravada no meio do Pantanal do Paraguai, que

é uma das sub-regiões do complexo natural denominado Pantanal.

A dinâmica recente de ações antrópicas, principalmente de pessoas “alheias”86

ao ambiente

pantaneiro ribeirinho, revela a preocupação com a manutenção das interações ecológicas que

ocorrem harmoniosamente, sendo que a relação homem – natureza, provavelmente, se dá de

maneira sustentável. Conforme preceitua o MMA/SBF (2002, 12) a humanidade retira alimento,

remédios e produtos industriais da biodiversidade [...]. Porém, é importante ressalvar que

conforme o entendimento de HARIS et al. (2005, apud SANTOS JUNIOR et al., 2006, 68) as

populações de plantas têm sua estrutura e dinâmica afetadas por herbívoros, patógenos ou por

alteração do hábitat por atividades humanas, ou pela associação destes fatores. Entretanto, no

Pantanal, mais especificamente na sub-região do Pantanal do Paraguai, é possível considerar que o

ambiente natural é muito bem conservado, e que tal conservação tem como principal ator o

homem pantaneiro ribeirinho. Assim, vem nos corroborar a seguinte publicação da Comunicação

da ECOA, a partir das informações do MPF/MS: “Para o Ministério Público, as práticas

tradicionais asseguraram, ao longo dos séculos, a conservação do Pantanal, o que impõe o respeito

ao modo de vida das comunidades e aos seus direitos territoriais, tanto pelo poder público, quanto

por particulares” (www.riosvivos.org.br, 2012). Sustentamo-nos, também, em SILVA et al. (2007)

quando dizem que o bioma Pantanal [...], ainda se apresentava bastante conservado, com 88,46%

de sua área ocupada coberta por vegetação natural, contra 11, 54% de área antrópica e em

BORTOLOTTO et al. (2005), quando dizem que “o modo de vida dos moradores e a tradição foi o

que permitiu sua permanência na região por longos anos sem que o ambiente fosse degradado”.

86

Pessoas que não fazem parte diretamente do cotidiano das comunidades; pesquisadores, auxiliares, estudantes,

turistas, etc.

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Não obstante, também, nos dão suporte POTT et al. (2004) quando dizem que [...] a baixa

população humana deixa o Pantanal praticamente livre de contaminação do solo e da água.

Atualmente, notam-se algumas mudanças no aparato legal havendo, inclusive, a criação de

novas leis ambientais, seja a nível municipal, estadual e/ou federal. Esse aparato legal é

necessário para delimitar determinadas ações antrópicas que podem incidir de forma negativa

sobre determinados ambientes naturais, embasando teoricamente, as instituições responsáveis pelo

cumprimento das leis e normas vigentes, no que se refere ao meio ambiente. Entretanto, a partir

dos anos 90, quando começam a surgir as primeiras RPPN’s (Reservas Particulares do Patrimônio

Natural) associado ao avanço cientifico-tecnológico, surgem também novas formas de se entender

a conservação ambiental. Criar uma RPPN é uma iniciativa louvável e idealista de particulares

que acreditam na proteção da biodiversidade como meio de garantir qualidade de vida às gerações

presentes e futuras (MMA/ICMBio, 2011).

A necessidade de se conservar um dos principais biomas brasileiros, consequentemente,

conduz a preservação de um patrimônio natural da humanidade, colocando o Pantanal em um

patamar de essencialidade, cujo status a ele atribuído, é o de hotspot87

. Porém, conservar o

Pantanal talvez não seja tão somente conservar a vida silvestre e os recursos naturais desse

complexo natural. Na verdade, isso vai muito mais além das ações realizadas por instituições

públicas e privadas, as quais exercem papel fundamental nas questões técnico-científica-

operacionais. Vale ressaltar, que são várias as ações que RPPN’s, ONG’s e Universidades, em

específico a UFMS, têm desenvolvido na região do Pantanal do Paraguai, principalmente àquelas

que atuam diretamente junto à Comunidade do Porto Amolar e vizinhança e que, inclusive, já

produziram – e continuam produzindo – determinados efeitos.

Entendemos, porém, que ao pensarmos na conservação daquela área, talvez devêssemos

visualizá-la holisticamente, de modo mais amplo, não só como meio ambiente natural, mas tam-

bém como meio ambiente sociocultural, pois nela estão fixadas várias famílias que compõe a po-

pulação pantaneiro-ribeirinha, que se distribui ao longo do rio Paraguai e integram o cenário bio-

cenótico dessa porção do Pantanal. Amparados por SILVA et al. (2007), nos permitimos dizer

que historicamente, o elemento humano ocupa o Pantanal há mais de 250 anos. Segundo COR-

TEZ (2011, 29), [...] uma nova área de pesquisa está se abrindo [...] no campo das temáticas ambi-

entais, ou seja, um estudo e uma análise da forma como os homens instituem suas relações sociais

e seu modo de produção. Este último está diretamente ligado a um conceito holístico de investiga-

ção extremamente dinâmica das interações homem/natureza.

87

Região ou área biogeográfica com grande diversidade biológica que tem prioridade para a conservação.

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Essas famílias pantaneiro-ribeirinhas, sempre se valeram dos recursos naturais para a sua

subsistência e fizeram da vasta planície alagável uma extensão de seus lares. Observamos que, o

quantitativo da população pantaneiro-ribeirinha da Comunidade do Porto Amolar foi diminuído

consideravelmente nos últimos 23 anos (em 1989 havia 21 famílias fixas na comunidade, com

pelo menos 80 pessoas no total), por diversas razões tais como o êxodo parcial ou total que ocor-

reu por conta de tratamentos da saúde, trabalho, estudo ou por ter havido a venda da gleba para

terceiros. Outra razão é atribuída aos falecimentos de membros daquela comunidade (no mesmo

período faleceram 20 pessoas, todos de causas naturais, com idade entre 60 e 96 anos). Atualmen-

te restam menos de 1/3 das famílias que lá existiam no início da década de 1990. As famílias que

ainda permanecem fixas na Comunidade do Porto Amolar mantém agricultura de subsistência ou

pequena criação de gado leiteiro e de galináceos, e os seus chefes são em geral aposentados pelo

INSS como produtores rurais. Apenas um chefe de uma das famílias restantes ainda não é aposen-

tado, visto ter menos de 65 anos de idade.

Todavia, com as atividades de determinadas entidades conservacionistas de caráter

particular que visam, exclusivamente, a conservação ambiental, os pantaneiros-ribeirinhos podem,

involuntariamente e instintivamente, enxergar os “agentes conservacionistas” e entender

determinadas ações por eles desenvolvidas, como cerceadores e formas de cerceamento,

respectivamente, de uma “liberdade” que existe naturalmente e de um modo de vida diferente que,

por vezes, tem as suas atividades básicas cotidianas confundidas, por eles mesmos, como

atividades não permitidas legalmente percebendo-se, inclusive, certo constrangimento por parte

dos moradores locais em relação a pessoas externas à comunidade, que está implícito em

determinadas ocasiões. É valido lembrar que todas as reservas particulares (RPPN’s) atualmente

instaladas naquele perímetro, foram em épocas passadas fazendas, com as quais os moradores do

Porto Amolar mantinham relações trabalhistas, comerciais, de amizade e, até mesmo, familiares,

conforme informação de moradores mais antigos. Havia a participação das famílias pertencentes à

comunidade do Porto Amolar nas festas que eram realizadas nas sedes das fazendas, assim como

havia, também, a participação dos proprietários e empregados daquelas, nas festas realizadas no

Porto Amolar e redondezas. Lembramos, também, que as festividades eram na maioria das vezes

de cunho religioso e podiam durar até três (3) dias seguidos, ou mais. É válido informar que as

atuais RPPN’s Acurizal, Penha e Engenheiro Eliezer Batista estão instaladas em áreas antes

pertencentes às antigas Fazendas Acurizal, Penha e Novos Dourados (anteriormente chamada de

Dourados).

Essas relações, acima citadas, findaram-se e nos últimos 15 anos, pelo menos, tenta-se

construir novas relações, porém, em nosso entendimento com diferentes laços e intenções, os

quais ainda não foram totalmente assimilados. Como dizem os mais antigos: “não é mais a

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mesma coisa”. Entendemos que, antigamente a relação era de respeito mútuo, e atualmente, por

mais amistosa que seja parece-nos ser, também, de “receio unilateral”. Provavelmente, é receio de

se estar cometendo algum ilícito ambiental, com alguma ação contra a natureza, da qual são

dependentes diretamente, quando se valem dela para a subsistência, e unilateral por que é dos

“moradores” para com os “agentes conservacionistas”. Contudo devemos ressaltar, que durante os

nossos estudos não registramos nenhum relato de imposição de força ou destrato verbal por parte

de nenhum agente ligado a qualquer entidade conservacionista em relação aos moradores locais,

mas é imperioso ressaltar que, aparentemente, ocorreu – e talvez ainda ocorra - em determinadas

situações, uma possível pressão socioeconômica sobre algumas famílias que ocupam áreas de

interesse na sub-região do Pantanal do Paraguai, o que provavelmente possa ter produzido certas

animosidades.

Figura 60: Moradores do Porto Amolar participando de uma

festividade na sede da antiga Fazenda Novos Dourados, na

década de 1950 (acervo de SANTOS, R. C. O.).

Todavia, para os pantaneiros, a liberdade de ir e vir pelos rios, campos e matas, pode ser

entendida como uma necessidade básica e natural daquelas pessoas, pois, para eles que nasceram e

se criaram naqueles rincões, o Pantanal é a sua casa e, todos que nele nascem e vivem são seus

zeladores, até porque dependem diretamente dele. Assim, independentemente da sub-região em

que esteja fixado “um pantaneiro de verdade cuida do lugar onde vive: o Pantanal”. A vida no

Pantanal é impregnada de simbolismos locais e significados próprios que podem ser considerados

de forma inadequada como aculturamento ou atraso tecnológico, os quais teoricamente são

produzidos por um aparente isolamento das populações tradicionais dos centros urbanos e/ou por

puro desconhecimento por parte de pessoas que assim os entendem. Se de um lado a Constituição

Brasileira de 1988 claramente reconhece direitos à diversidade cultural brasileira (art. 225) e aos

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territórios, modos de vida, costumes e línguas indígenas (art. 231 e 232), por outro lado, ainda

hoje, vinte anos passados da promulgação da referida Constituição, não é fácil operacionalizar a

garantia destes direitos (MENDES, 2004, 2).

Ora, se o Pantanal permite aos pantaneiros que nele nascem e vivem simbolizar e significar

as coisas existentes em seus domínios territoriais é por que há uma interação entre homem e

natureza e, certamente, uma relação de dependência de um para com o outro, o que possivelmente

se dá de forma harmoniosa, há muito tempo. E se existem símbolos e significados, é por que há a

produção de saberes locais que, consequentemente, se transformaram - e continuam sendo

transformados - em conhecimento tradicional. Portanto, entendemos que há cultura.

Segundo NOGUEIRA (2009), quando falamos em cultura automaticamente estamos

falando do homem e de suas identidades e alteridades, considerando as diferenças existentes. Para

DA MATTA (1981), a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser

classificado. LÉVI-STRAUSS (1998), diz que:

Para compreender como e em que medida as culturas humanas diferem

entre si, se estas diferenças se anulam ou contradizem, ou se concorrem

para formar um conjunto harmonioso, devemos em primeiro lugar traçar

o seu inventário. Mas é aqui que as dificuldades começam, porque nós

devemos aperceber-nos de que as culturas humanas não diferem entre si

do mesmo modo nem no mesmo plano. Estamos, primeiro, em presença

de sociedades justapostas no espaço, umas ao lado das outras, umas

próximas, outras mais afastadas, mas, afinal, contemporâneas. Depois,

devemos ter em conta as formas da vida social que se sucederam no

tempo.

Assim, nos permitimos dizer que pode ser verificado, também, um possível conflito

ideológico-cultural, que só será desmistificado a partir do momento em que os agentes públicos e

privados compreenderem que conservar o Pantanal (considerando as suas várias partições) é

conservar o homem pantaneiro também e vice-versa, pois, em nosso entendimento um depende do

outro, fato que evidencia uma das muitas interações ecológicas e as relações socioambientais

ocorrentes no ambiente pantaneiro-ribeirinho. Permitimo-nos, também, considerar que o homem

pantaneiro-ribeirinho e o Pantanal do Paraguai se complementam ecológica e socialmente. Nesse

sentido, entendemos que as Unidades de Conservação implantadas na região deveriam ser de uso

sustentável e, consequentemente, os atores sociais que dariam subsídios à continuidade da história

local e auxiliariam na manutenção das interações ecológicas e das relações socioambientais, acima

citadas, a partir do entendimento da cultura e do conhecimento tradicional produzidos no ambiente

pantaneiro-ribeirinho. Amparamo-nos na hipótese de COSTA (2010, 2), a qual diz que: “as

Unidades de Conservação de Uso Sustentável tem como prerrogativa o “empoderamento”

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(“empowerment”) das populações locais, que passariam a exercer maior poder sobre os territórios

em que vivem e sobre os rumos de sua própria história”.

Outrossim, segundo RIEDER et al. (2000, 6) qualquer proposta de educação ambiental só

terá as melhores chances de produzir os resultados almejados se a sua concepção estiver alicerçada

num diagnóstico prévio das percepções e significados para o pessoal-alvo a respeito do ambiente,

conforme também afirmam WUNDER et al. (1998) e MATA et al. (1998). BORGES et al. (2000)

consideram que, a participação social em assuntos que envolvam usos, gestão e planejamento de

recursos naturais é um tema de suma importância nas discussões sobre desenvolvimento sustentá-

vel. BOAS (1962) nos ensina que, “[...] um entendimento claro dos princípios da Antropologia

esclarece os processos sociais de nossa época e pode mostrar-nos, se estivermos prontos a ouvir o

seu ensinamento, o que fazer e o que evitar”.

Assim, acreditamos que, tanto conservacionistas quanto pantaneiros ribeirinhos têm inú-

meras coisas a ensinar e a aprender uns com os outros, porém, desde que sejam respeitadas as cul-

turas (com os seus elementos simbólicos e seus respectivos significados) e as representações de

cada ator social envolvido nesse contexto e que sejam mantidos os diálogos pré-estabelecidos en-

tre ambas as partes. Entendemos que, o aprendizado tem que ser mútuo, transitando por uma via

de mão dupla, constituindo-se em uma parceria, onde o interesse maior seja a conservação não só

do ambiente pantaneiro, mas também, da cultura de um povo que interage com o ambiente biodi-

verso em que vive e que faz parte da diversidade cultural brasileira, confirmando assim, a proposta

ecoantropológica deste trabalho.

Figura 61: Nascer do sol no Porto Amolar (acervo do autor, 2011).

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