metodologia e redação científica – newsletters

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MÉTODOLOGIA E REDAÇÃO CIENTÍFICA Newsletters Por Gilson Luiz Volpato Sumário 01 Newsletter nº 1: TÍTULO DO TRABALHO 02 Newsletter nº 2: RESUMO DO TRABALHO 03 Newsletter nº 3: INTRODUÇÃO DO TRABALHO 04 Newsletter nº 4: MÉTODOS 05 Newsletter nº 5: RESULTADOS 06 Newsletter nº 6: DISCUSSÃO 07 Newsletter nº 7: CITAÇÕES 08 Newsletter nº 8: ESTILO CIENTÍFICO INTERNACIONAL Campo grande, Novembro de 2015

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MÉTODOLOGIA E REDAÇÃO CIENTÍFICA

Newsletters

Por Gilson Luiz Volpato

Sumário

01 Newsletter nº 1: TÍTULO DO TRABALHO

02 Newsletter nº 2: RESUMO DO TRABALHO

03 Newsletter nº 3: INTRODUÇÃO DO TRABALHO

04 Newsletter nº 4: MÉTODOS

05 Newsletter nº 5: RESULTADOS

06 Newsletter nº 6: DISCUSSÃO

07 Newsletter nº 7: CITAÇÕES

08 Newsletter nº 8: ESTILO CIENTÍFICO INTERNACIONAL

Campo grande, Novembro de 2015

Newsletter Best Writing nº 1, 2015. GL Volpato. Título do trabalho.

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TÍTULO DO TRABALHO

Por Gilson L. Volpato

1 – Seu artigo pode ser usado por cientistas mesmo fora de sua especialidade.

Você não consegue dimensionar precisamente quem usará o conhecimento que você apresenta em

seu trabalho. As conexões possíveis com outras especialidades ou áreas mais amplas podem ser

muitas. Assim, não escreva o título pensando no especialista de sua área. Tente contornar isso com

os revisores e editores caso a revista não seja muito avançada.

2 – O título é a primeira parte do artigo a ser vista.

Hoje o excesso de publicações é evidente. Coloque duas ou três palavras-chave na base de dados e

geralmente terá muitos artigos à disposição. O acesso primário é ao título do trabalho. É comum

que muitos leitores nem leiam integralmente todos os títulos, abandonando vários na metade da

leitura. Evite que façam isso com o título do seu trabalho.

Do título é comum que os leitores examinem rapidamente a revista de publicação e os autores;

posteriormente, ou até antes, vão ao Resumo. Então, o título é como o letreiro de uma loja. Deve

ser visto e atrair os leitores. Mas quando eles entrarem na loja não podem se decepcionar.

3 – A partir do título o leitor pode ignorar seu trabalho, ou se interessar por ele.

Atualmente, devido ao excesso de trabalhos publicados, a tarefa desses leitores mudou. Eles

precisam fazer uma boa triagem entre os diversos artigos disponíveis para não perderem tempo

lendo coisas que se revelam, posteriormente, equivocadas. Assim, mostre logo de início qual é o

grande diferencial e novidade do seu estudo. Na atualidade, se você ficar escondendo sua grande

novidade, possivelmente pouca gente terá teimosia para chegar ao final para descobrir qual é essa

novidade.

A essência de um artigo científico são as conclusões sólidas que apresenta. É nelas que o leitor

geralmente está interessado. Assim, nada mais óbvio que mostra-las rapidamente ao leitor, já no

título. Para isso, é necessário que o próprio autor saiba muito bem qual é a novidade de seu artigo

no cenário da ciência.

A máxima de hoje é que: o leitor não lê o artigo para saber o que ele trouxe de novidade; mas por

saber qual é a novidade e para verificar como os autores chegaram a ela e poderem aceita-la ou

não.

4 – Seu título precisa ser lido; portanto, deixe-o curto.

Título curto é lido. Como deixa-lo curto?

Mire nas suas variáveis teóricas. Elas encurtam a informação. Por exemplo, você pode ter medido

ou qualificado 4 variáveis que, se presentes no título, o deixarão longo. Mas é possível que algumas

dessas variáveis sejam apenas indicadores de uma variável mais ampla. Se investigou renda familiar,

Newsletter Best Writing nº 1, 2015. GL Volpato. Título do trabalho.

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nível escolar, classe social e otimismo, é possível que possa considerar as três primeiras variáveis

como sendo uma única variável (nível socioeconômico). Com isso, usará apenas “nível

socioeconômico” e “otimismo” para o seu título. Podemos, então imaginar que seu título pode ter

sofrido a seguinte modificação:

LONGO: Maior renda familiar, nível escolar e classe social promovem maior otimismo em idosos.

CURTO: Melhora no nível socioeconômico promove otimismo em idosos.

Retire palavras vazias, como: “Estudo sobre”, “Um relato de”, “Contribuição ao” etc.

Seja objetivo: “aumenta” ao invés de “promove aumento”; “inibe” ao invés de “causa uma inibição”

etc.

Cuidado com nome de lugar: “... em Botucatu, SP, Brasil”. Só coloque indicação de lugar no título

caso tenha certeza de que faria a mesma pesquisa, no mesmo lugar, se estivesse residindo numa

região distante dessa. Do contrário, o lugar fica apenas no Material e Métodos.

5 – Seu título deve ser honesto: portanto, fiel aos seus achados.

Foque na principal conclusão do seu estudo. Se sua conclusão estiver correta, ele será honesto, fiel

aos seus achados. Lembre-se que conclusão é escrita no tempo presente. Portanto, escreva no

tempo presente. O título pode perfeitamente incluir verbos.

Se seu estudo é descritivo, ou seja, descreveu alguma variável, deixe claro no título que o leitor

encontrará no trabalho essa descrição. Se após fazer a descrição notar que há algum diferencial

muito interessante nela, enfatize isso também no título.

Não há desonestidade alguma em fazer um título atraente, exceto se seu estudo é enganoso; mas

aí o problema não é do título.

Se descreveu, diga que é descrição: Descrição de...; Caracterização de...; Composição de... Etc.

Se há relação, seja explícito sobre a relação: X é um indicador de W; Presença de Y está associada a

X... Etc.

Se a relação é de interferência, explicite-a: X reduz Y; AB interagindo com XY bloqueia W; A controla

B... Etc.

6 – Seu título deve ser compreensível: use palavras de fácil entendimento.

Abra o seu texto. Muitas vezes uma palavra que só é entendida por quem estuda diretamente

aquele assunto pode eliminar leitores. Às vezes é preferível que o título fique com uma ou duas

palavras a mais, mas que aumente muito o entendimento. Veja alguns exemplos que tornam seu

título mais fácil de ser entendido, sem perder em profundidade.

Se usou Senciência, use “consciência de sofrimento”

Se usou “estimulação do eixo HPA”, use “estresse” ou equivalente

Se usou “sono REM”, use “sonho”

Newsletter Best Writing nº 1, 2015. GL Volpato. Título do trabalho.

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Se usou “tesoura”, “cunhal”, “clinquer” ou similares, imagine que poderá ser lido por um “não

engenheiro”.

Os jargões técnicos são usados para reduzirem palavras no texto. Mas, eles pressupõem que você

está se dirigindo apenas para pessoas da sua especialidade, com os mesmos vieses de linguagem.

Veja quantos termos técnicos são usados normalmente por cada especialista (e.g., médicos,

advogados, economistas, geneticistas, engenheiros). Os termos estão corretos, mas apenas os

engajados na especialidade se entendem. Mas a ciência é, por definição, multidisciplinar, de forma

que “abrir o texto” é necessário. Um termo não entendido no título pode ser motivo para que o

leitor desista do artigo, em meio a tantos outros.

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Newsletter Best Writing nº 2, 2015. GL Volpato. Resumo do trabalho.

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RESUMO DO TRABALHO

Por Gilson Luiz Volpato

1 – O que é um Resumo?

É uma mostra reduzida do que existe em algum todo maior.

2 – Tipos de Resumo

Há 2 tipos lógicos de Resumo:

a) Resumo para o qual não possui texto completo. Aplicável no caso de Anais de Congresso;

b) Resumo para o qual há um texto completo (artigo, TCC, dissertação, tese e livro).

O primeiro tipo de Resumo deve, necessariamente, conter mais informações, podendo ser no

formato completo (= “miniatura do estudo”), pois não há nada além dele (havia uma

apresentação oral ou um pôster, mas que já terminou). Por outro lado, no segundo tipo de

Resumo há um texto completo após ele e, portanto, é desnecessário incluir a estrutura completa

do trabalho. Defendo que neste segundo caso devemos preferir o Resumo Criativo.

3 – A Lógica de um texto científico

Basicamente, o texto possui uma Introdução, que mostra ao leitor a pergunta que originou a

pesquisa e as razões pelas quais os autores propuseram determinado(s) objetivo(s). Em seguida,

há descrição dos procedimentos usados (Material e Métodos), dos Resultados obtidos e uma

Discussão na qual os autores, a partir desses procedimentos e resultados, acrescido do que já se

conhece e aceita na ciência (literatura), defendem as conclusões. É uma síntese dessa estrutura

total que é mostrado no Resumo Completo e no Resumo Estruturado.

Se o texto é fora da ciência empírica, não haverá necessariamente resultados. É comum que

Material e Métodos e Resultados sejam eliminados, resultando no capítulo “Desenvolvimento”,

que culmina com “conclusões” [Introdução + Desenvolvimento + Conclusões].

4 – Resumo Completo

Contém sinteticamente: a) as razões para se fazer esse estudo; b) a metodologia básica; c) os

principais resultados; d) as principais conclusões. Note que foi formado por um resumo de cada

parte tradicional do texto. Sua desvantagem é que é longo (geralmente com mais de 200

palavras), podendo ser abandonado sem que o leitor o leia completamente.

5 – Resumo Completo Estruturado

Este Resumo parte do mesmo princípio do Resumo Completo, mas separa cada parte em itens

que seguem a lógica do texto científico. Pode ser dividido, por exemplo, em “Background”,

“Methods”, “Results” e “Conclusions”. Tem a vantagem de facilitar ao leitor a identificação das

partes do texto na procura de informações. É comum na área de saúde. Sua desvantagem é que

geralmente é extenso. A vantagem é que as partes estão destacadas, podendo o leitor ler apenas

o essencial. Para melhorar este Resumo, sugiro escrever o mínimo possível em cada parte.

Newsletter Best Writing nº 2, 2015. GL Volpato. Resumo do trabalho.

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6 – Resumo Criativo

Deve ser curto (aprox. até 100 palavras) e centrado nas novidades do trabalho. Não há regras

sobre o que incluir e nem sobre a sequência das informações. Pode iniciar com a conclusão ou

qualquer outra informação. Mas deve ser claro sobre a relevância e conclusões do trabalho, sem

ser apelativo e enganoso. É uma das melhores opções de Resumo na atualidade e tem sido mais

frequente nas revistas de boa qualidade internacional. Basicamente, pode ser feito com apenas

3 frases. Por exemplo, a primeira pode: a) dar informações necessárias para o leitor entender as

duas frases seguintes ou b) mostrar o contexto ou problema que originou a pesquisa. A segunda

pode apresentar seus principais achados (conclusões mais específicas e mais próximas de seus

resultados). A terceira finaliza com a grande conclusão teórica, indicando o que seu estudo muda

na ciência. Mas, não há regras... é criativo!

7 – Resumo Gráfico (Graphical Abstract)

Consta de uma figura (gráfico, foto, desenho ou qualquer tipo de esquema) que representa a

principal conclusão do estudo. É vantajoso porque a mensagem é captada com o mínimo esforço

do leitor. É desvantajoso porque precisa ser da especialidade para entende-lo.

8 – Resumo em Vídeo (Video Abstract)

É um vídeo curto (aconselho menos de 5 min de duração) contendo a essência do estudo,

podendo incluir quaisquer elementos compatíveis com um filme.

9 – Resumo Expandido (Expanded Abstract)

Costumo chama-lo de “Resumo Prolixo”. Se é Resumo, não deve conter todas as informações

que validam o texto principal; portanto, é, como os demais, uma carta de intenções (como é

grande, é prolixo). Não deve ser confundido com artigo curto (short communication, brief

communication etc.), os quais defendem plenamente as conclusões. O Resumo Expandido é

aceitável para anais de congresso. Como divulga uma essência detalhada do estudo, pode

provocar rejeição do trabalho completo em algumas revistas (a novidade já foi divulgada!).

SUGESTÃO

Aconselho o uso do Resumo Criativo sempre que a revista permitir. Lembre-se que texto curto

é lido, particularmente num ambiente onde há excesso de textos alternativos!

CURIOSIDADE

O Resumo mais curto que eu conheço é do trabalho intitulado “Can apparent superluminal

neutrino speeds be explained as a quantum weak measurement?” [J. Phys. A: Math. Theor. 44

(2011) 492001 (5pp) - doi:10.1088/1751-8113/44/49/492001].

Abstract: probably not.

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Newsletter Best Writing nº 3, 2015. GL Volpato. Introdução do trabalho.

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INTRODUÇÃO DO TRABALHO

Por Gilson Luiz Volpato

1 – O que é uma Introdução? Universalmente, introduzir um texto científico ou um palestrante requer informar a

relevância do tema a ser tratado e a importância específica do texto (ou do palestrante)

nesse tema. Isso significa contextualizar o problema e o objetivo do estudo (ou

palestrante), justificando-o.

2 – A Introdução como um argumento lógico Conceba a Introdução como um argumento lógico. No argumento temos premissas e

conclusões. As premissas são todas as informações necessárias para que elaboremos a

conclusão. Na Introdução, a conclusão do argumento será nosso objetivo. Assim como

num argumento lógico, a Introdução não pode conter premissas desnecessárias e nem

faltar premissas necessárias. Portanto, se tiver dúvida se uma informação deve ou não

fazer parte da Introdução, pergunte-se: é uma informação necessária para o leitor entender

e aceitar a plausibilidade do objetivo do estudo? Se sim, mantenha; se não, elimine.

Assim, defino o tamanho exato de uma Introdução: nem mais, nem menos que o

necessário (aplicável a qualquer outra parte do texto científico).

3 – Introdução de Projeto e Introdução de pesquisa completa (artigo, TCC, tese etc.). Num projeto de pesquisa temos apenas intenção (objetivo e metodologia) e, geralmente,

solicitamos apoio financeiro. Num texto completo, já temos as conclusões. Ou seja, no

projeto a Introdução deve ser robusta para convencer outras pessoas a apostarem no seu

sonho (proposta da pesquisa). No texto completo, a Introdução não é tão crucial para

sustentar o objetivo, pois seja o que for que tenhamos idealizado, temos agora a conclusão

e é ela que sustenta o estudo. Nesse texto, a força da argumentação na Introdução só será

mais necessária caso tenhamos negado nossa hipótese.

4 – Um Introdução curta significa que esteja errada ou fraca? É possível encontrarmos em revistas de altíssimo nível internacional introduções com

cerca de 3 frases. Por exemplo, no trabalho de Cheour et al. [Nature 415, 599-600, 2002

- doi:10.1038/415599b ], a primeira frase diz que ainda há polêmica sobre se o ser humano

consegue aprender enquanto dorme. Na segunda, os autores apresentam seu principal

achado: recém-nascidos a termo foram ensinados a discriminar sons similares de vogais

enquanto dormiam. Na terceira, dizem que esse achado pode ter implicações em situações

clínicas ou educacionais. Está feita a Introdução numa das principais revistas científicas

do mundo! Lógico, é um artigo curto (brief communication), mas se transformar cada

uma dessas frases num parágrafo, a Introdução continuará curta e suficiente.

5 – Devo incluir a revisão da literatura? Não. A revisão da literatura não é um item para se colocado no texto científico. Ela lhe

fornece informações que você poderá, ou não, usar em qualquer lugar de seu texto, desde

que necessárias. Assim, use as informações obtidas na revisão da literatura para construir

a Introdução. Leia textos científicos internacionais de boa qualidade e raramente

encontrará algum tópico sobre “revisão da literatura”, enquanto que quase sempre verá

informações da literatura (citações) sendo usadas para comporem a argumentação da

Newsletter Best Writing nº 3, 2015. GL Volpato. Introdução do trabalho.

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Introdução. Não confunda a revisão da literatura feita nesse contexto com “artigos de

revisão da literatura”.

6 – Por que alguns orientadores ou instituições insistem que seja colocada a Revisão

da Literatura no trabalho científico? Possivelmente isso decorra de uma confusão entre o que é o trabalho científico e o que é

um trabalho escolar. No trabalho científico apresentamos apenas as evidências e

argumentações necessárias para sustentar seu discurso (suas conclusões). No trabalho

escolar queremos saber se o aluno leu o que recomendamos... se fez a lição de casa. Essa

confusão incute no aluno erro sobre a construção de uma Introdução, mesmo quando a

revisão da literatura é solicitada em item independente da Introdução.

7 – Como inicio a redação da Introdução? Escreva com clareza seu objetivo e veja que informações necessitará para mostrar aos

leitores que esse objetivo faz sentido (vale a pena ser perseguido). Dessas informações,

explique essa argumentação para colegas. Fale bastante dela. Verá que, na realidade, o

que sustenta a Introdução são poucas informações. Após pensar bastante sobre ela,

expressando-a oralmente várias vezes, faça o outline da Introdução. O outline será uma

lista de informações que colocará na Introdução, organizadas na sequência com que

aparecerão. É similar à planta de uma casa. Primeiro a planta, depois as paredes. Portanto,

critique bastante esse outline até achar que é a melhor opção, a melhor estratégia para

introduzir seu trabalho para outros cientistas.

8 – Estratégias para Introduções A forma de estruturar sua introdução pode variar muito. É um processo criativo, onde

você deverá achar a melhor argumentação. Pode iniciar de diversas formas e seguir vários

caminhos. A essência você já sabe (itens iniciais deste texto). Livre-se de regrinhas, pois

elas nunca levam à excelência; apenas às obviedades.

Mire no seu objetivo, mas poderá iniciar com ele, ou colocá-lo no meio da introdução, ou

no final; enfim, onde quiser, desde que coerentemente com as demais informações da

introdução. Poderá iniciar com a pergunta que originou o trabalho, ou com algum fato

importante que poderá conduzir o leitor para a essência de seu trabalho.

Uma inovação mais interessante é colocar na Introdução as principais conclusões do

estudo, ao invés dos objetivos. Não detalhará as conclusões, mas mostrará o ponto forte

do estudo. Neste caso, faz as mesmas fundamentações, mas ao invés de dizer que “aqui

testou...”, dirá que “aqui encontrou que...”. Veja em revistas de alto nível,

como Science e Nature, e verá que esta opção realmente cabe e é interessante.

SUGESTÃO Leia Introduções em artigos de revistas de alto nível internacional e que sejam gerais

(publicam estudos de várias especialidade e áreas). Extraia delas o outline e veja as várias

estratégias usadas. Por exemplo, leia semanalmente um artigo (mesmo que fora de sua

especialidade) numa destas revistas: Science, Nature, PNAS, PLoS ONE, entre algumas

outras.

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MÉTODOS

Por Gilson Luiz Volpato

Bestwriting, Newsletter nº4. Junho 2015 – GL. Volpato - Métodos

1 - Por que Métodos?

A ciência é caracterizada, principalmente, pela importância que dá às bases

empíricas (resultados – qualitativos ou quantitativos) para construir conhecimento.

Embora seja claro que os dados não determinam as conclusões, para elaborar

conclusões o cientista deve se basear nesses resultados (bases empíricas) e/ou em outras

conclusões com base empírica. Porém, essa base empírica deve ser universal entre os

cientistas e não impressões de uma única pessoa ou grupo. Nesse contexto, o tópico

Métodos dá aos outros cientistas o caminho para encontrarem as mesmas bases

empíricas do trabalho. Nos Métodos encontramos o sujeito (objeto) e o planejamento do

estudo, incluindo os detalhes metodológicos e formas de análise dos resultados. Ou seja,

encontramos o relato de como o trabalho foi feito.

2 – Método ou Técnica?

Óbvio que Método é diferente de Técnica, mas também pode ser sinônimo. Se

olharmos pela essência das palavras, são mesmo coisas diferentes: o método é algo mais

geral, mais estratégico; há quem considere apenas dois métodos (dedutivo e indutivo).

Se olharmos pelas publicações, o uso desses termos é mais flexível e Método significa o

conjunto de procedimentos realizados na pesquisa. Ou seja, a estratégia geral do estudo

(study design), procedimentos mais específicos e a forma como os resultados foram

analisados. Assim, essa seção pode ser chamada de Métodos, mas não de Técnicas.

Óbvio que os materiais aparecerão nessa descrição dos procedimentos metodológicos!

3 – Esta é a parte mais fácil de redigir?

Não acredite nisso. O item Métodos é geralmente um item chato de ser lido

(embora necessário e fundamental). Tornar esse item num tópico agradável é,

realmente, uma arte difícil, principalmente para os menos experientes.

4 – Divisão lógica dos Métodos

A partir do Método Lógico, sugiro dividir os Métodos em 4 partes:

a. Sujeito da pesquisa: caracterize seu sujeito. O leitor deverá conhecer detalhes dele

que possam ser relevantes para encontrá-lo, ou conseguir mais representantes dele,

ou ainda para entender a interpretação dos resultados. Assim, cabe aqui todo e

qualquer critério que você tenha usado para escolher cada elemento (indivíduo,

material etc.) que foi investigado (critérios de inclusão), bem como os critérios que

eliminariam esse elemento da sua pesquisa (critérios de exclusão). Informação que

não cumpre com essa função de suporte para a replicação do estudo ou entendimento

dos resultados deve ser eliminada da caracterização do sujeito.

b. Delineamento do estudo: o termo delineamento é usado aqui em sentido amplo, como

a estratégia intelectual do estudo. É o desenho macro do plano de ação para

consumar a pesquisa. Ele norteará os procedimentos específicos. Imagine que

pretende saber o papel do círculo de convívio de idosos sobre a felicidade desses

indivíduos. Poderá dizer que estudou a felicidade dos idosos em três situações: i -

vivendo com a família, ii - vivendo sozinhos e iii - vivendo em instituições de apoio

a idosos, terá mostrado suas variáveis independentes. Diga agora quantos idosos

foram investigados em cada situação. Pronto, já indicou seu plano geral de pesquisa e

o leitor já domina seu estudo. O restante são detalhes que são especificados no item

abaixo. Uma boa estratégia para mostrar delineamentos mais complexos é apresentá-

los em forma de desenho ou tabelas. Se fizer isso, não o descreva novamente no

texto; apenas acrescente no texto os elementos que não estão nessa representação

gráfica, referindo-se a ela.

c. Procedimentos específicos: aqui você dá a receita de bolo de como o estudo foi

montado e inclui como as variáveis foram consideradas e registradas. Note que não é

interessante repetir o delineamento do estudo aqui, mesmo que aos pedaços. Ele já

foi escrito no item anterior. Apenas explicite o que falta para o leitor conseguir

montar o estudo e desenvolver a coleta de dados. Considerando o exemplo anterior,

você mostraria agora como registrou “grau de felicidade”, i.e., que variáveis

registrou diretamente para inferir “felicidade”. Com isso o leitor saberá o que você,

de fato, viu (variável operacional) e o que inferiu disso (variável teórica; por ex.,

felicidade). Ressalto que é importante dizer exatamente o que foi registrado (por ex.,

quantas vezes ele ri por dia, se relata sentir-se feliz ou triste, se tem vontade de viver

muito ainda etc.). Ao apresentar uma técnica de coleta de dados, não precisa

descrevê-la novamente caso já esteja publicada; apenas cite a fonte onde o leitor a

encontrará descrita (se mudou algo, indique o que mudou). Com isso, o leitor sabe

exatamente como você estudou a variável teórica “grau de felicidade”. Note que os

registros (variável operacional) podem ser quantitativos e/ou qualitativos.

d. Análise dos resultados: indique aqui apenas que ferramentas usou para analisar os

resultados. Se usou estatística, indique o nome dos testes ou cálculos usados (o

pacote estatístico não é necessário), incluindo todo referencial estatístico que seja

relevante para garantir que os testes usados tenham sido adequados. Se fez algumas

transformações nos dados, mostre claramente tudo o que fez. Se usou análise

qualitativa, mostre o método empregado e, se necessário, seu referencial teórico (em

poucas palavras) que guiou essa prática.

Os nomes dos quatro tópicos acima podem ser alterados. Por ex., “sujeito” da

pesquisa, pode ser “objeto”, “animais”, “plantas”, “pacientes”, “equipamento”,

“empresa” etc.; i.e., aquilo que melhor caracterize a “coisa” estudada (não é sua

variável, mas a “coisa” na qual as variáveis foram estudadas). O termo sujeito é

genérico e significa um organismo vivo (incluindo o homem), uma região, um material

físico (por ex., uma barra de concreto), uma obra literária, partitura etc. Na gramática,

por ex., aprendemos “Sujeito + Verbo + Predicado” – que sujeito é esse? É apenas

humano, ou apenas um organismo vivo? Então, sujeito é a “coisa” genérica.

5 – Esses itens dos Métodos devem ser sempre apresentados nessa ordem?

Não. Use sua “didática” para saber a melhor forma de apresentação. É comum

que os dois primeiros possam ser trocados de lugar entre si, que o terceiro seja

deslocado para o final do artigo (como na maioria das boas revistas internacionais), ou

mesmo que fique como material suplementar, e que o último item apareça junto com os

resultados (quando restrito às técnicas de análise de dados). Se o editor da revista não

permitir que apareçam em tópicos, por questão puramente de estilo da revista, apenas

escreva-os na melhor sequência que encontrar.

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Newsletter Best Writing nº 5, 2015. GL Volpato. Resultados.

www.bestwriting.com.br

RESULTADOS

Por Gilson Luiz Volpato

1 – Quais resultados devo incluir?

ATENÇÃO: não deve haver em seus dados nenhum resultado que negue suas

conclusões; caso haja, mude as conclusões. Note também que o artigo não é um

relatório; inclua apenas os resultados relevantes para suas conclusões. Ou seja, o leitor

não quer saber o que você fez, mas o que de interessante tem para contar. A qualidade

de seu artigo não depende do número de resultados, mas da força (base empírica) e

novidade de suas conclusões.

2 – Como escolher a forma de apresentação dos resultados?

Há 5 formas: descrição no texto; tabelas; figuras (incluem gráficos, fotos, desenhos ou

esquemas); vídeos; e arquivos de som. Cada resultado deve ser apresentado em apenas

um desses formatos (se é tabela, não é figura, nem texto; se é figura, não é tabela, nem

texto; se é texto, não é figura, nem tabela). Os formatos vídeo e arquivo de som são de

escolhas óbvias. As dúvidas ficam na escolha entre texto, figuras e tabelas.

Para decidir qual forma é a preferível para cada resultado, reflita sobre os aspectos

abaixo.

o Faça uma analogia entre a redação do texto científico e a preparação de uma

palestra. Nem toda informação que você obteve entrará em sua palestra e a

forma de apresentação dependerá da ênfase e importância de cada informação no

discurso.

o Não há padrões de área para mostrar os resultados. Pode haver costumes, mas no

Método Lógico defendo que no discurso científico devemos priorizar a lógica e

preceitos comunicacionais de amplo alcance. O texto é uma argumentação

lógica que nem sempre é considerada pelo costume (vício de área).

o O texto científico deve expressar sua argumentação em defesa das conclusões.

o Nessa argumentação, os resultados não fornecem informações inequívocas, pois

podem ser lidos pelo cientista dentro de determinada óptica ou enfatizados por

determinado ângulo. Assim, o cientista deve mostrar o que considerou mais e

menos relevante nos resultados. Lembre-se que vídeos e figuras enaltecem a

informação.

Baseie-se nos critérios abaixo, parte de meu Método Lógico para Redação Científica.

Uma avaliação dos três critérios, conjuntamente, lhe permitirá fazer uma boa opção.

Note que não é um checklist e nem uma regra mágica; é uma ferramenta para o

raciocínio do cientista. Afinal, a redação é a expressão do pensamento em palavras.

a) Critério Lógico: use a lógica de sua pesquisa.

o Pesquisa descritiva – nela você descreve alguma variável (sem qualquer

associação com outras variáveis). Se seus dados são quantitativos, use tabela

(pois na descrição conhecer os valores de cada número é fundamental – veja, por

ex., que um exame de sangue nos fornece valores numéricos). Se forem dados

qualitativos, dependerá de cada caso, mas cabem também tabelas para

Newsletter Best Writing nº 5, 2015. GL Volpato. Resultados.

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apresentarem palavras (note que “quadro” é invenção de brasileiro e não é

corrente na ciência internacional).

o Pesquisa com hipótese – nesta pesquisa você certamente trabalha com duas ou

mais variáveis e sua intenção é avaliar a relação entre essas variáveis. Há 2 tipos

de relação: com ou sem interferência (que é uma relação) de uma variável sobre

a outra. Seja como for, a melhor forma de mostrar ao leitor essa relação, ou

ausência dela, entre as variáveis quantificadas (numéricas) é por meio de

gráficos. Note também que atualmente a expressão dos resultados em figuras

tem sido prioritária, pois em meio a tantos artigos publicados e um leitor nascido

cada vez mais no mundo visual, outras expressões ficam em segundo plano.

Antes de ler seu artigo, ou mesmo fazer o download dele, o leitor examinará as

figuras e tabelas. Em pesquisas que testam hipótese, o fundamental não é o valor

das variáveis. Numa repetição do estudo, outros valores surgem, mas a

conclusão se expressa das relações entre as variáveis, o que deve ser mantido. Se

for qualitativa, o teste da hipótese pode ser feito por outras comparações

(palavras incluídas por meio de tabelas; desenhos em figuras etc.).

b) Critério da Ênfase: use a ênfase de cada resultado para o discurso que apresenta. Se o

resultado é muito importante, evidencie-o (por ex., por meio de figura); se é secundário,

lhe dê menos ênfase (por ex., tabela ou texto). Essa modulação da informação faz com

que o leitor melhor entenda seu discurso, acompanhando suas ênfases. Se ressaltar um

resultado de menor relevância, ou minimizar resultado fundamental, apenas causará

confusão no leitor. Lembre-se da analogia entre o texto científico e uma palestra.

c) Critério do Foco: veja qual é o foco de seu discurso. Se a história que você conta

foca para a comparação entre duas variáveis, escolha formato que evidencie e facilite ao

leitor perceber essa comparação. Se, por outro lado, o foco for na análise de cada

variável, sem compará-las, então apresente os dados de forma a separar esses resultados

e permitir mais facilmente a visualização de cada um deles. Por ex., se avaliou a

evolução de peso entre homens e mulheres sedentários ao longo de 10 anos, poderá

ocorrer que: i) seu discurso foque na evolução temporal das diferenças entre homens e

mulheres – neste caso, faça um gráfico que mostre essas diferenças ao longo do tempo;

ii) seu discurso foque na evolução do peso das mulheres, sendo que o resultado dos

homens não trouxe grande novidade à ciência – assim, faça gráficos separados, um para

mulheres e outro para homens, mesmo que incorporados numa mesma figura (o texto

evidenciará a importância das mulheres).

3 – Como escrever o texto referindo-se a Figuras e Tabelas?

Não diga quais variáveis estão na figura/tabela, pois elas estarão mesmo lá. Diga ao

leitor o que você viu na figura/tabela. Os resultados são interpretados pelo autor e,

portanto, essa interpretação deve ser explicitada para os leitores. Diga a eles o que

devem olhar na figura/tabela. Ao dizer isso, automaticamente já lhes disse que variáveis

estão por lá. Não descreva dados de tabelas no texto, pois já estão na tabela. Limite-se a

dizer o que você encontrou de interessante naqueles resultados. Poderá, por ex., ressaltar

um ou outro valor da tabela (ressaltar não é simplesmente repetir). A lógica básica da

proposta deste item é que o leitor deve entender suas ênfases em relação aos resultados.

Ou seja, você apresenta resultados em Figuras, Tabelas, Vídeos ou Arquivos de Som e,

no texto, diz ao leitor o que usou de cada um deles. Certamente esses aspectos

reforçados no texto dos Resultados serão usados na Discussão para sustentarem suas

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conclusões. Essa é a engrenagem do texto científico, dos Métodos à Discussão. Caso o

leitor interprete diferentemente seus resultados, poderá negar seu discurso e descartar

seu artigo. Esse é o debate franco na ciência, sem esquivas e com chance constante de

ser negado.

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DISCUSSÃO

Por Gilson Luiz Volpato

1 – Qual a função da Discussão?

A função é mostrar ao leitor a validade de suas conclusões. É um texto argumentativo,

onde você conversa com os leitores. Para isso, demonstra como seu estudo sustenta as

conclusões. A literatura será usada quando informações já publicadas forem necessárias

nesse argumento. Portanto, a Discussão não é o local onde comparamos os dados com a

literatura, mas onde usamos toda informação relevante (do seu estudo e da literatura)

para uma argumentação sólida que valide as conclusões.

2 – O que podemos incluir na Discussão?

Antes de redigir a Discussão, exponha-a oralmente várias vezes. Quando essa exposição

estiver clara e forte, escreva-a; inicialmente com as palavras que usou na exposição oral

e, finalmente, trazendo esse texto para o estilo científico e com acréscimos de literatura

nos locais necessários.

Na Discussão certamente aparecerá sua fundamentação que o permite aceitar as

conclusões do estudo. Com isso, certamente aparecerão também as suas conclusões, as

quais decorrem de sua argumentação. É principalmente na Discussão e nas conclusões

que o autor mostra seu nível de ciência.

Por ser um texto argumentativo (como no caso da Introdução), faça conexões lógicas

entre as ideias apresentadas. Mas lembre-se que seu leitor é um cientista; não precisa

incluir conexões óbvias e nem informações primárias.

Além dessa argumentação, que é o corpo central de toda Discussão, você pode incluir

outros aspectos, como limitações do estudo, estudos futuros, sugestões e

recomendações. Na área da saúde, por ex., é muito comum que esses tópicos sejam

considerados como parte do checklist para redação. Mero equívoco! Eles podem

aparecer, mas não precisam aparecer. Vejamos isso com mais detalhes.

Se há limitações, apresente-as, supere-as e mostre que o trabalho se sustenta mesmo

assim. Aliás, tenho sugerido uma forma para enfrentar as limitações do estudo. Digamos

que seu estudo foi feito em certas condições específicas (a, b e c) que, de certa forma,

limitam o alcance de suas conclusões (essas são as limitações). Ao invés de dizer que há

essas limitações, diga que seu estudo mostrou determinadas coisas interessantes e que

isso estimula investigações em outras condições, tais como x, y e z. Ou seja, em vez de

dizer que seu copo estava meio vazio, diga que está meio cheio. Olhe o lado positivo de

seu estudo. Isso não significa fazer apologia do “estou certo”, mas saber conduzir o

debate sem excesso de euforia e sem excesso de humildade. Mostre o que tem de bom e

o que falta avançar (sem desmerecer o que conquistou). Por outro lado, se sua limitação

é que a amostra é insuficiente ou que as técnicas não são as melhores para se medir o

que se pretendia, então supera-as antes de escrever o artigo.

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Cuidado com os tais estudos futuros. Só aponte alguma continuidade se for algo natural

e necessário no contexto. Por exemplo, você mostra algum efeito e diz que resta agora

determinar quais os mecanismos envolvidos em tal efeito (note que não precisa usar a

célebre frase “estudos futuros”). Inventar estudos futuros só para dizer que cumpriu

mais uma etapa da Discussão é muita ingenuidade. Só inclua se for a bola da vez;

mesmo assim, em poucas palavras, uma ou duas frases são suficientes. A inclusão de

estudos futuros não lhe dá reserva de mercado sobre eles; vence quem publica o estudo!

“Sugestões” são afirmações que indicam possibilidades. Não são conclusivas, são

palpites. Podem ter base em resultados do estudo, mas por serem “sugestões” essa base

de dados deve ser insuficiente. Você pode sugerir um mecanismo ou mesmo ação de

outros fatores. Pode também sugerir novas metodologia, ou mesmo novas

interpretações. Será sempre uma sugestão; ao contrário, a conclusão é algo que se

espera aceitação, pois tem uma forte base de evidências que a sustenta.

Caso a revista exija um tópico extra chamado “Conclusões’, limite-se a reescrever nele

as conclusões (seja em forma de itens ou como um parágrafo único). Não caberá

argumentações nesse tópico “Conclusões” (elas já foram feitas na Discussão), nem

inclusão de novas conclusões (pois seriam conclusões sem fundamentação) e menos

ainda elucubrações sobre o futuro.

3 – Como iniciar a Discussão?

Inicie forte. A melhor forma é escrever um parágrafo que mostre o final da história. Por

exemplo, ele pode conter alguns de seus principais resultados (apenas essenciais) para

sustentar as conclusões que apresentará nesse mesmo parágrafo. Poderá, ainda, incluir

alguma possível utilidade para sua conclusão principal. Esse parágrafo, se bem escrito,

poderá lhe guiar na construção de todo o seguimento da Discussão. Note que ele será

uma carta de compromisso que assume perante o leitor (aqui mostrarei x, y e z!!).

A ideia de iniciar o primeiro parágrafo com o final de história – as conclusões – é uma

estratégia bastante presente em revistas de alto nível e decorre de assumir que o leitor

não lerá seu artigo para saber o que tem de interessante nele. Ele já sabe o que tem de

interessante e, nesse primeiro parágrafo, você tem mais espaço para reforçar essa

novidade; ele lerá o restante da Discussão para entender sua argumentação e decidir se

concorda ou não com ela.

Veja um exemplo, adaptado de Saramäki et al., PNAS 111(3): 942-7, 2014.

“Our results establish three unique findings: (i) There is a consistent, broad, and robust pattern in

the way people allocate their communication across the members of their social network”… “(ii)

within this general pattern, there is clear individual-level variation so that each individual has a

characteristic social signature”… “and (iii) this individual social signature remains stable and

retains its characteristic shape over time”… “Thus, individuals appear to differ in how they

allocate their available time to their alters, irrespective of who these alters are. Further, our

subsidiary analyses (SI Text) suggest that this finding applies not just to call frequencies, because

the frequency of calls to an alter correlates with emotional closeness and frequency of face-to-face

interactions.”

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4 – Devo usar bastante literatura?

Não. Deve usar apenas a necessária. Quantidade de citações não significa qualidade do

trabalho. Há estudos com poucas citações e que foram fundamentais para a ciência.

Outros, com várias dezenas de citações, sequer mudaram a carreira do próprio autor. Só

use mais de uma citação para fundamentar uma mesma informação quando estritamente

necessário. Seja econômico nas citações e não cite o que não leu (exceto se afirmar que

alguém já estudou determinado item, independentemente do que obteve no estudo – isto

será detalhado na Newsletter sobre citações).

Evite o que costumo chamar de “Discussão Fofoca”. Fofoca todos sabem o que é; mas

discussão, nem todos. A Discussão Fofoca aparece quando existe apenas a comparação

passiva de dados originais do trabalho com aqueles da literatura. Só não será Discussão

Fofoca se essa comparação for um pré-requisito para defender algo importante na

fundamentação do trabalho (por ex., mostrar que seus dados são válidos comparados

aos de outros cientistas).

5 – Como termino a Discussão?

Não há regras. Costumo dizer que dever “terminar terminando”. O brasileiro se

preocupa demais com o fecho, quando deve ser preocupar mais com a abertura (veja

item 3). Poderá simplesmente terminar de discutir o último tópico do conjunto de partes

de seu trabalho e parar por aí. Poderá também chegar novamente à principal conclusão

(já expressa no primeiro parágrafo, mas aqui repetida com outros dizeres ou até com

mais detalhes). Poderá incluir algum adendo à sua conclusão principal, como alguma

sugestão de aplicação desse conhecimento, ou mesmo possibilidade de continuidade

dentro das questões que se abriram a partir de suas conclusões. Não termine com algo

muito especulativo (se o for, que seja apenas uma frase ao final do último parágrafo).

Afinal, o texto científico não deve trazer especulações, mas soluções.

6 – Posso juntar Resultados com Discussão? Lógico que pode. Antigamente, quando as revistas científicas não eram uma realidade,

os cientistas trocavam cartas entre si, na qual contavam suas histórias aos colegas sem a

divisão entre resultados e discussão. Era uma coisa só, coesa e guiada pela grande

conclusão.

Já ouvi editor de periódico estrangeiro internacional dizer que revista que junta

Resultados com Discussão é fraca. Tem lá sua verdade nisso. De análise que fiz, quando

busco separar desse item conjunto o que é resultado e o que é discussão, percebo que

geralmente há muito resultado e quase nada de discussão, exceto a tal Discussão Fofoca.

Mas, poderá juntar desde que seja apenas a melhor forma de apresentar seu discurso ao

leitor. Em trabalhos com vários experimentos independentes, geralmente é uma boa

opção a junção, pois apresenta uma breve discussão e conclusão de cada parte, até que

com os últimos resultados a discussão fecha o discurso todo, mostrando as conclusões

mais gerais do trabalho (mesmo aqui, já indicadas no primeiro parágrafo).

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Newsletter Best Writing nº 7, 2015. GL Volpato. Citações.

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CITAÇÕES

Por Gilson Luiz Volpato

1 – Citação ou Referência?

A citação você faz dentro do texto e a referência é geralmente localizada no final do

trabalho (ou em nota de rodapé) contendo informações suficientes para o leitor obter a

obra citada. Atualmente, nas revistas mais conhecidas, aparece a citação no texto, cujo

link leva direto a ela nas Referências, onde há a opção de ver o contexto em que essa

referência aparece citada no texto. Aparece também um local para ver essa citação no

artigo, que significa voltar ao local do texto aonde ela foi citada, criando um looping

que remete o leitor do texto às referências e de lá de volta ao texto, uma estratégia que

evita que o leitor logo abandone o artigo.

2 – Por que devemos citar?

Na ciência empírica, a principal função da citação não é dizer quem foi o autor da ideia

citada. Sua função é dar ao leitor a possibilidade de obter a obra original que sustenta a

informação apresentada no texto. Em outras palavras, a citação serve para mostrar a

base (geralmente empírica, mas algumas vezes apenas lógica argumentativa) que

sustenta a informação. Por essa razão, toda revista científica deve ser perene; o que já

foi publicado não pode desaparecer, mesmo que a publicação da revista seja

interrompida.

3 – Como selecionar as obras a serem citadas?

Pelo exposto no item 2, fica claro que a seleção deve visar a citação da obra que melhor

sustente a informação apresentada no texto. Isso significa uma obra clássica, ou uma

obra recente e em revista de alto padrão, ou às vezes, contrariando a lógica científica, de

alguém famoso. Este último caso, embora praticado, representa uma má conduta

científica, pois o “argumento da autoridade” não é (ou não deveria ser) válido na

ciência. Caso a obra a ser citada seja mais antiga, muitas vezes é importante adicionar

uma citação mais recente, de forma que estaríamos dizendo aos leitores que essa

informação é antiga e se sustenta ainda hoje.

4 – Como devemos Citar?

O formato da citação depende da revista. Não há padrão geral, embora alguns sejam

bem conhecidos. Basicamente os dois modelos principais são: a) citação por meio do

sobrenome do autor seguido do ano da publicação (Nome, ano) (bastante usado na

maioria das áreas) e b) citação por colocação de numeração arábica que indicará a

respectiva obra na numeração nas Referências (por ex., norma de Vancouver, muito

usada na área de Saúde). Assim, o tipo de norma a ser usada não é importante para o

autor, mas uma vez que haja uma norma, siga-a corretamente e integralmente. Muitos

pesquisadores deixam isso para um segundo plano, o que apenas mostra seu descuido

com o trabalho científico, permitindo que pensemos que tal descuido possa também ter

ocorrido na coleta de dados, assim levantando suspeitas sobre seu trabalho. Afinal, se

trocou ou esqueceu uma referência, ou mesmo não seguiu um padrão, por que não faria

isso também na coleta e análise dos dados?

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5 – Padrões de Referência?

Como já mencionei, cada revista decide o padrão que deseja usar e deve segui-lo

fielmente. Os padrões podem ser diversos, com mais ou menos detalhes, mas suficientes

para que o leitor encontre a obra referida sem possibilidade de erro. Temos códigos que

levam o leitor diretamente ao artigo (DOI) ou ao livro (ISBN). Mesmo assim, ainda é

costume que se mostrem alguns detalhes da obra. Isso pode alegrar ao pesquisador, mas

pela lógica científica da citação não é necessário na atualidade. A colocação dos códigos

(DOI ou ISBN) num buscador na Internet o colocará em contato direto com a obra que

deseja. As formas de se apresentar as Referências, apesar desses códigos, ainda variam.

Veja abaixo um mesmo exemplo expresso em diferentes revistas científicas de bom

nível.

A Cancer Journal for Clinicians

Singh R, Xu JB, Berger B. Global alignment of multiple protein interaction networks with

application to functional orthology detection. Proc Natl Acad Sci USA. 2008;105:12763–12768.

Nature

Singh, R., Xu, J. B. & Berger, B. Global alignment of multiple protein interaction networks with

application to functional orthology detection. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 105,12763–12768 (2008)

Science

R. Singh, J. B. Xu, B. Berger. Global alignment of multiple protein interaction networks with

application to functional orthology detection. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 105, 12763–12768 (2008).

PNAS

Singh R, Xu JB, Berger B (2008) Global alignment of multiple protein interaction networks with

application to functional orthology detection. Proc Natl Acad Sci USA 105:12763–12768.

PLOS ONE

Singh R, Xu JB, Berger B. (2008) Global alignment of multiple protein interaction networks with

application to functional orthology detection. Proc Natl Acad Sci USA 105:12763–12768.

Physiology & Behavior

Singh R, Xu JB, Berger B. Global alignment of multiple protein interaction networks with

application to functional orthology detection. Proc Natl Acad Sci USA 2008;105:12763–8.

Para saber exatamente qual o formato das citações na revista que deseja publicar, o

indicado é olhar as instruções que aparecem na página da revista e, mesmo assim,

conferir com o que aparece em artigos recentemente publicados nessa revista. Em caso

de contradição, siga o que aparece no artigo recente.

Há softwares (EndNote, Reference Manager) que colocam as referências nas normas da

revista. Porém, é muito importante que não haja referência a textos não citados no

trabalho, bem como que não haja citações que não foram incluídas nas Referências.

6 – Como devemos Citar? [o que as revistas não nos dizem]

Enalteça a informação e não o autor (veja item 2). Prefira: A lisina afeta a agressividade nos vertebrados (Smith, 1994).

Ao invés de: Segundo Smith (1994), a lisina afeta a agressividade nos vertebrados.

Ao invés de: Smith (1994) mostrou que a lisina afeta a agressividade nos vertebrados.

Num parágrafo, colocar o autor na primera ou na última frase não garante que esse

autor seja o responsável pelo conjunto de informações do parágrafo. É necessário

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escrever de tal maneira que explicite que tudo o que está no parágrafo é de determinado

autor, ou mostrar as citações de cada informação contida no parágrafo.

Nem tudo requer citação. O que todos sabem, não precisa de citação. Portanto, não é

necessário citar aquela informação que já está solidamente estabelecida nos livros

textos. Por ex., ao dizer “O coração dos mamíferos tem quatro câmaras”, não precisa

incluir citação, pois qualquer um sabe disso.

Se numa frase você se refere a mais de uma “coisa” (processo, material, organismo etc.), a

colocação das citações apenas no final da frase não garante que cada uma se refire a uma dessas

coisas. É mais lógico imaginar que todos esses trabalhos citados ao final da frase sustentam

todas essas “coisas” citadas. Se não for esse o caso, então faça como mostrado abaixo.

Prefira: O estresse social prejudica processos como apetite (Smith, 2005), aprendizagem

(Pires, 2008), reprodução (Hünt, 2012) e resposta imunológica (Hung et al., 2014).

Evite: O estresse social prejudica processos como apetite, aprendizagem, reprodução e

resposta imunológica (Smith, 2005; Pires, 2008; Hünt, 2012; Hung et al., 2014).

7 – Devo usar bastante literatura?

Não. O número de citações nada nos diz sobre a qualidade do estudo. No caso de um

artigo de revisão da literatura, espera-se que não haja poucas, mas essa quantidade

depende do assunto (há temas nos quais há muitas pesquisas desenvolvidas e outros

bem menos investigados). O número de citações não é uma qualidade a ser perseguida.

Ele decorre logicamente da necessidade da informação no texto, sendo sempre uma

consequência natural do conteúdo.

8 – O que acontece se o trabalho que eu citei tiver sido, ou vir a ser, eliminado da

revista (retracted)?

Se vier a ser retirado da revista, então não há muito que fazer. Se for uma informação

muito importante para sustentar sua conclusão, certamente prejudica seu argumento.

Uma medida honesta é informar a revista que publicou seu artigo, indicando que isso

reduz o poder de sua conclusão. Caso a citação seja de artigo que já havia sido retirado

da revista, então mostra que você não se atentou a esse fato que deveria ser de seu

conhecimento. Assim, comunique a revista que um artigo importante de seu discurso foi

ou estava retirado da circulação. Ainda não temos uma forma simples e rápida para esse

tipo de checagem. Portanto, ao concluir seu manuscrito, aconselho checar se os artigos

mais recentes estão ainda listados na revista em que foram publicados.

9 – Por que não devemos citar informação pessoal, dados não publicados ou

informações de sites pessoais ou outras fontes sem credibilidade científicas? Essas informações são consideradas “palpites” e não podem ser base sólida para a

ciência (veja item 2). Caso essa informação apareça na Introdução, apenas como um

insight para a criação de sua proposta de estudo, geralmente não há grande problema

que seja usada. Mesmo assim, se é uma informação que sustenta a validade para você

propor certa hipótese, caso essa hipótese seja negada com o seu estudo terá dificuldade

para publicar (afinal, partiu de um palpite muito vago, sendo provável que a hipótese

fosse equivocada). Se essa informação for menos relevante, não há problema que seja

citada. O que não pode ocorrer é que informações desse tipo sejam usadas para sustentar

metodologias ou mesmo conclusões do trabalho.

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Newsletter Best Writing nº 8, 2015. GL Volpato. Estilo Científico Internacional.

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ESTILO CIENTÍFICO INTERNACIONAL

Por Gilson Luiz Volpato

1 – Estilo ou Gramática?

Gramática é lei que define regras para organizar as palavras e o conjunto delas na

transmissão escrita de ideias. Ela varia entre países e idiomas (e.g., diferenças

gramaticais entre inglês britânico e o americano). Estilo é outra coisa. Trata do jeito de

comunicarmos ideias, sempre cumprindo com as regras gramaticais. Na questão 3

mostro os principais elementos de estilo (não gramática) na comunicação científica

internacional. Mais do que conhecer o estilo científico, é necessário conhecer as bases

teóricas que sustentam cada elemento desse estilo, pois algumas áreas ainda insistem em

seguir o caminho equivocado e talvez você precise fundamentar suas escolhas de estilo.

2 – Existe um estilo científico internacional?

Sim, embora esteja presente geralmente apenas nas revistas de melhor qualidade. Note

que a ciência internacional (aquela onde debatem cientistas de vários países) é

dominada por povos ricos de regiões frias. Essas pessoas pensam e agem diferentemente

do povo latino. São mais objetivas e diretas, o que fere nosso jeito de ser. Para entrar

nessa ciência, deverá usar esse jeito predominante. Mas o estilo não é apenas imposição

de domínio; é também exigência lógica e comunicacional, as duas vertentes que regem a

composição do texto científico (vide o Método Lógico para Redação Científica).

Mesmo com o estilo científico seguindo os costumes dos povos dominantes na ciência

internacional, ele está sob as rédeas da ciência e da comunicação.

Além dessa certa rigidez do estilo científico, costumes de áreas podem impor

modificações que, mesmo equivocadas, se mantêm pelo Erro Comum do Grupo. Isso é

mais complicado de lidar, mas em revistas que publicam em diversas áreas podemos

contar com editores (geralmente Chief Editors) que perambulam nessas áreas e

conseguem perceber o que é Erro Comum do Grupo e o que faz sentido na ciência. Por

isso é mais gostoso escrever para revistas desse perfil, como a PLOS ONE, Scientific

Reports, PNAS, Nature Communications, Science e Nature.

3 – Quais os principais elementos do estilo científico internacional e suas

justificativas?

a. Escreva na primeira pessoa (1 autor = Eu; > 1 autor = Nós) - A lógica científica

exige que a conclusão do artigo seja pessoal, pois os dados apresentados no trabalho são

interpretados pelos autores conduzindo-os às conclusões; ou seja, as conclusões não

decorrem estritamente dos resultados, como a lógica positivista clássica pressupunha.

Sendo assim, ao concluir no impessoal estará transmitindo que a conclusão não depende

da pessoa que a elabora (é impessoal), o que não é verdade. Veja, por ex., o salto que

Watson e Crick deram entre a imagem do raio X do DNA e a estrutura tridimensional

que propuseram. Sendo a conclusão no pessoal, por coerência, escreva todo o texto no

pessoal (inclusive a seção Métodos). Mas isso não significa ficar usando eu/nós em toda

frase; seja elegante e criativo. Revistas como Nature, Science, PNAS e outras de bom

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nível científico usam francamente a primeira pessoa. Por outro lado, ABNT insiste no

impessoal, advogando conceitos de ciência do século XVII.

b. Fundamente as informações – Se usar a palavra “importante”, certifique-se que deu

subsídios suficientes para o leitor aceitar que é realmente importante. No discurso

científico tudo deve ser bem embasado e fundamentado. Não use fundamentação

baseada no “argumento da autoridade” (por ex., citação de famosos).

c. Seja conciso. Não use 5 palavras se pode usar 4 para dizer exatamente a mesma coisa.

No passado, este quesito atendia à economia para a impressão da revista (algumas

palavras a menos poderiam economizar uma folha inteira). Hoje, atende mais ao alto

número de publicações, o que coloca ao leitor a difícil tarefa de ler mais artigos. O leitor

prefere ler artigos mais curtos. Em 2009, foi mostrado que os cientistas estão lendo mais

artigos por ano e gastando menos tempo nas leituras de cada artigo, o que sugere

redução na extensão dos artigos. Atente para estes exemplos.

[causar aumento] = [aumentar]

[provocar redução] = [reduzir]

[O objetivo deste estudo foi avaliar...] = [Aqui avaliamos...]

[Como é bem sabido, X > Y] = [X > Y].

[Como visto na tabela 1, W < Z] = [W < Z (Tabela 1)]

[Lifestyle has been shown to reduce diabetes] = [Lifestyle reduces diabetes]

[e também] = [e]

Retire do texto palavras em excesso e informações desnecessárias. Lembre-se, é

mais difícil fazer um texto forte e conciso do que um texto forte e prolixo. O excesso

não significa que você é um bom cientista; ao contrário, pode significar que você não

sabe exatamente qual é o mínimo suficiente para o que pretende dizer.

d. Prefira a voz ativa – Em geral a frase fica mais curta, atendendo ao preceito acima.

Além disso, a informação é dita de forma mais forte e, por acompanhar a ordem natural

dos fenômenos (agente motivador efeito), fica mais simples de ser entendida. Isso é

válido para qualquer parte do texto científico, incluindo a seção Métodos. Por exemplo:

Ao invés de “Learning is impaired by social stress”

Prefira “Social stress impairs learning”

Há situações em que pode usar voz passiva por razões de ênfase, quando se busca

ligação entre duas frases ou ideias numa frase. Por exemplo, se a frase acima fosse

seguida de frase enfatizando o estresse social, ficaria melhor escrevê-la na passiva para

melhor conectar o final da primeira frase (onde fica a informação importante, que

chama mais a atenção do leitor) com o sentido da frase seguinte. Ficaria:

Ao invés de: Social stress impairs learning. Stressors are common in

nature and can impair other processes too.

Prefira: Learning is impaired by social stress. Such stressors are

common in nature and can impair other processes too.

e. Prefira palavras simples – você escreve para ser entendido. Então, evite jargões da

especialidade. O conceito de que seu texto será lido apenas por especialistas não

encontra suporte na ciência. Embora os especialistas leiam seu texto, a ciência é uma

atividade por natureza interdisciplinar. Isso significa que os conhecimentos produzidos

podem ser usados de diferentes maneiras e contextos para que os cientistas apreendam o

mundo. Isso dá liberdade ao cientista para usar as ideias publicadas. Você não é dono do

desdobramento da informação a partir de sua publicação. Geralmente o especialista

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consegue enxergar possibilidades de desdobramento de seus achados em contextos de

sua especialidade, mas a ciência é maior que isso. Ela não é dividida em “caixinhas do

saber”. Portanto, use palavras “de gente”, aquelas que todos entendem. Por exemplo:

Ao invés de “Several studies corroborated fish as sentient beings”

Prefira “Several studies supported fish as conscious of suffering”.

Os jargões de área podem ser necessários para reduzir o texto. Pondere bem o

quanto ganha e o quanto perde com essas opções de palavras especializadas. Às vezes é

preferível ser mais simples no Título e no Abstract e explicar os conceitos na

Introdução, garantindo que mais cientistas se aproximem do seu texto.

f. Cuidado com indicativos – se houver dúvidas de que o indicativo (o qual, aquele,

esse, este etc.) será claramente entendido, então o substitua pela palavra que subentende

esse indicativo. Nesse sentido, não há problema você repetir palavras (contrário ao que

aprendemos na literatura não científica), desde que para evitar interpretação equivocada.

g. Uma ideia em cada frase. Facilita a leitura. Evite frases longas, prefira as curtas.

Desconfie: frases com mais de 20 palavras geralmente incluem duas ou mais ideias!

Com o ponto final da frase, o leitor tem maior tempo (na casa de milissegundos) para

melhor assimilar a ideia, o que é importante para perceber o raciocínio que une esse

conjunto de ideias. Frases longas não significam que você é mais cuidadoso ou que sabe

escrever bem; ao contrário, só mostra que você não tem muita experiência na ciência

internacional.

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