mendes, gilmar ferreira. curso de direito constitucional

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8/17/2019 Mendes, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. http://slidepdf.com/reader/full/mendes-gilmar-ferreira-curso-de-direito-constitucional 1/10 Mendes, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2014. Paulo Gustavo Gonet ranco !S "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S  1. P!$%( #$G)"&C! ( P!$%( *#GM+%&C! *! C#"S%&%'&-# *uas randes /artes da Constituião. "a /arte ornica: o constituinte se dedica a normatiar as/ectos de estrutura do (stado. $eras de3nem oraniaão do (stado, as com/etncias 5rãos essenciais sua e6istncia. *isci/linam 7ormas a8uisião do /oder e /rocessos seu e6erccio. $acionaliam e6erccio 7unes do (stado e esta;elecem limites rec/rocos 5rãos /rinci/ais. Parte dom<tica: o constituinte /roclama direitos 7undamentais, declarando e instituindo direitos e arantias individuais, econ=micos, sociais e culturais. "ortear a aão do (stado e os valores indis/ens<veis ordem comunidade. #utras normas não se en8uadram. %odas as normas /ostas no %e6to Constitucional mesmo status >ier<r8uico.  2. C!$!C%($?S%&C!S *!S "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S "ormas Constituião 7ormal /osião >ier<r8uica su/erior. "ão tm a sua validade a7erida /ela sua com/ati;ilidade com outra norma @urdica 8ue l>e este@a acima em uma escala >ier<r8uica. ! su/erioridade se e6/ressa na im/osião de 8ue todos os atos do /oder /oltico este@am em con7ormidade com elas, de tal sorte 8ue, se uma lei ou outro ato do /oder /A;lico contrari<Blas, ser< inconstitucional, atri;uto neativo 8ue corres/onde a uma recusa de validade @urdica. Somente /odem ser alteradas /elo /rocedimento /revisto no /r5/rio te6to constitucional. Su/erioridade se mani7esta no e7eito de condicionar do conteAdo de normas in7eriores. Constituem o 7undamento de validade de todas as outras normas in7eriores e, at certo /onto, determinam ou orientam o conteAdo material destas. !s normas in7raconstitucionais são condicionadas, mas não são interalmente determinadas, /elas normas constitucionais. (ssa li;erdade de con7ormaão não /lena, @< 8ue se ac>a su;metida a limitaes im/ostas /or normas constitucionais. !ssim, se o leislador /ode dis/or so;re /rovas no /rocesso, não /oder< admitir elemento de convicão

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8/17/2019 Mendes, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.

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Mendes, Gilmar Ferreira. Curso de direito constitucional. 9. ed. rev. e atual. –São Paulo : Saraiva, 2014. Paulo Gustavo Gonet ranco

!S "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S

  1. P!$%( #$G)"&C! ( P!$%( *#GM+%&C! *! C#"S%&%'&-#

*uas randes /artes da Constituião.

"a /arte ornica: o constituinte se dedica a normatiar as/ectos deestrutura do (stado. $eras de3nem oraniaão do (stado, as

com/etncias 5rãos essenciais sua e6istncia. *isci/linam 7ormasa8uisião do /oder e /rocessos seu e6erccio. $acionaliam e6erccio7unes do (stado e esta;elecem limites rec/rocos 5rãos /rinci/ais.

Parte dom<tica: o constituinte /roclama direitos 7undamentais, declarandoe instituindo direitos e arantias individuais, econ=micos, sociais e culturais."ortear a aão do (stado e os valores indis/ens<veis ordem comunidade.

#utras normas não se en8uadram. %odas as normas /ostas no %e6toConstitucional mesmo status >ier<r8uico.

  2. C!$!C%($?S%&C!S *!S "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S"ormas Constituião 7ormal /osião >ier<r8uica su/erior. "ão tm a suavalidade a7erida /ela sua com/ati;ilidade com outra norma @urdica 8ue l>eeste@a acima em uma escala >ier<r8uica.

! su/erioridade se e6/ressa na im/osião de 8ue todos os atos do /oder/oltico este@am em con7ormidade com elas, de tal sorte 8ue, se uma lei ououtro ato do /oder /A;lico contrari<Blas, ser< inconstitucional, atri;utoneativo 8ue corres/onde a uma recusa de validade @urdica. Somente/odem ser alteradas /elo /rocedimento /revisto no /r5/rio te6to

constitucional.

Su/erioridade se mani7esta no e7eito de condicionar do conteAdo de normasin7eriores. Constituem o 7undamento de validade de todas as outras normasin7eriores e, at certo /onto, determinam ou orientam o conteAdo materialdestas.

!s normas in7raconstitucionais são condicionadas, mas não sãointeralmente determinadas, /elas normas constitucionais.

(ssa li;erdade de con7ormaão não /lena, @< 8ue se ac>a su;metida a

limitaes im/ostas /or normas constitucionais. !ssim, se o leislador /odedis/or so;re /rovas no /rocesso, não /oder< admitir elemento de convicão

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derivado de tortura, /or e6em/lo, @< 8ue a Constituião /ro;e essa /r<tica e;ane de todo /rocesso as /rovas ilcitas. (ssa uma determinante neativaa 8ue o leislador est< su@eito /or 7ora de normas constitucionais. Contudo,o sistema /rocessual a ser conce;ido /elo leislador ter< 8ue conter/rocedimentos 8ue asseurem laras 7ormas de o acusado desacreditar a

acusaão 8ue /esa so;re eleD essa determinante /ositiva resulta da normaconstitucional 8ue arante a am/la de7esa no /rocesso /enal.

!ssim, as determinantes neativas e6/ressas nas normas constitucionais,com os vetos 8ue encerram, desem/en>am uma 7unão de limite /ara oleislador ordin<rio. !s determinantes /ositivas, de seu turno, reulam/arcialmente o conteAdo das normas in7raconstitucionais, /rede3nindo o8ue o leislador dever< adotar como disci/lina normativa, diriindo a aãodos /oderes /A;licos, ainda 8ue não o 7aendo de modo e6austivo.

'ma ve 8ue o direito constitucional convive com ;oa marem deautonomia dos demais ramos do *ireito, não >< como deduir uma soluãoleislativa necess<ria /ara cada assunto 8ue o constituinte dei6a aodescortino da lei. *eveBse recon>ecer 8ue o leislador o intr/rete econcretiador /rimeiro da Constituião, e as suas deli;eraes, sem/re 8uecondientes com o sistema constitucional e com os /ostulados da/ro/orcionalidade, devem ser acol>idas e /restiiadas, não /odendo sersu;stitudas /or outras 8ue acaso aentes /A;licos – do (6ecutivo ou do

 Eudici<rio – estimem /re7erveis.

  . *("S&*!*( ( !P&C!&&*!*( *!S "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S

! li;erdade do leislador na escol>a do conteAdo concretiador das normasconstitucionais ser< tanto maior 8uanto menor 7or a densidade dos/receitos constitucionais envolvidos.

H trao 8ue se re/ete nas normas constitucionais modernas serem elas

a;ertas I mediaão do leislador, a/resentando uma reulamentaãodeli;eradamente lacunosa, a 3m de ense@ar li;erdade /ara a com/osião de7oras /olticas no momento da sua concretiaãoJKL. Com isso, tam;m,via;iliaBse a ade8uaão das normas Is novas necessidades de cada tem/o.

! li;erdade de con7ormaão am/la, /orm, nas normas 8ue se valem deconceitos de sini3caão a;erta, vaadas, /or vees, com termos demAlti/las denotaes, ou na8uelas 7ormuladas de modo enrico.

! maior a;ertura da norma tende a ser uma o/ão do constituinte /araatender a um @uo so;re a convenincia de se con3ar a concretiaão danorma I com/osião /osterior de 7oras /olticas relevantes.

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<, contudo, escol>as 7undamentais 8ue devem so;re/airar ao de;ate dos/oderes constitudos e se im/or a interesses circunstanciais. ! necessidadede uma clara e imediata de3nião de as/ectos institucionais do (stado levaa 8ue alumas normas se@am conce;idas com maior minAcia e menora;erturaD vale dier, com maior densidade.

(ssa di7erena de a;ertura e densidade das normas constitucionais a7eta orau da sua e6e8ui;ilidade /or si mesmas e d< ense@o a uma classi3caão8ue toma como critrio o rau de autoa/lica;ilidade das normas.

"otaBse 8ue as normas de alta densidade são com/letas, estão /rontas /araa a/licaão /lena, não necessitam de com/lementaão leislativa /ara/roduir todos os e7eitos a 8ue estão vocacionadas.

*esde $ui ar;osa 8ue se con>ece, entre n5s, a distinão entre normas 8uesão e as 8ue não são autoe6ecut<veis. $ui di7undiu a doutrina norteB

americana 8ue coita dos sel7Be6ecutin /rovisions e dos not sel7Be6ecutin/rovisions. !s sel7Be6ecutin são as normas imediatamente a/lic<veis, /orreularem diretamente as matrias, situaes ou com/ortamentos de 8uecoitam. !s not sel7Be6ecutin de/endem de ela;oraão de lei ordin<ria/ara 8ue /ossam o/erar mais intensamente no /lano das relaessociaisJNL.

Para o constitucionalismo atual, todas as normas constitucionais sãoe6ecut<veis /or si mesmas, at onde /ossam sBlo.

!dvirtaBse 8ue todas as normas, em certo sentido, são incom/letas, at /orserem, /or de3nião, erais e a;stratas, necessitando, /or isso mesmo, dotra;al>o do intr/rete /ara serem a/licadas aos casos da vida social. !snormas autoa/lic<veis, de seu lado, não e6cluem necessariamente novosdesenvolvimentos /or meio de leislaão ordin<ria.

#utra classi3caão, 8ue tam;m en7oca o critrio da a/lica;ilidade dasnormas constitucionais e 8ue se di7undiu ;astante na doutrina e na

 @uris/rudncia ;rasileiras, a/onta trs es/cies ;<sicas de normas

constitucionais – as normas constitucionais de e3c<cia /lena, as normasconstitucionais de e3c<cia contida e as normas constitucionais de e3c<cialimitada Oou reduida.

 # car<ter /roram<tico de uma norma constitucional não sini3ca 8ue o/receito este@a destitudo de 7ora @urdica.

!s normas /roram<ticas im/em um dever /oltico ao 5rão comcom/etncia /ara satis7aer o seu comando, condicionam a atividadediscricion<ria dos a/licadores do direito, servindo de norte teleol5ico /araa atividade de inter/retaão e a/licaão do direito. &m/edem

com/ortamentos contr<rios a elas mesmas, /odendo erar /retenses aa;stenão. $evoam normas anteriores incom/atveis com o /rorama 8ue

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/romovem e, se atritam com normas in7raconstitucionais /osteriores, levamI caracteriaão de inconstitucionalidade. # dever de air decorrentedessas normas marcaBse, caracteristicamente, /ela marem dediscricionariedade dilatada, recon>ecida aos /oderes /A;licos /arasatis7aBlas em concreto, estando a sua e3c<cia de/endente não a/enas

de 7atores @urdicos mas tam;m de 7atores econ=micos e sociaisJ12L. O/.KQ

!lumas normas /roram<ticas o;riam ou se desenvolvem /or meio deedião de leis. #utras e6iem uma atividade material dos /oderes/A;licosJ1L. Muitas vees serão necess<rios es7oros materiais e /roduãoleislativaJ14L.

  4. ! C!$!C%($?S%&C! *! S!"-# &MP($F(&%!

!s normas constitucionais caracteriamBse, tam;m, /ela es/eci3cidade dosmeios de tutela e das sanes @urdicas 8ue as cercam. São, nesse sentido,c>amadas de normas im/er7eitas, /or8ue a sua violaão não se acom/an>ade sanão @urdica su3ciente /ara re/or a sua 7ora normativa, at /or8uenão >< nen>uma outra instncia su/erior 8ue l>e asseure a o;servncia/elos 5rãos da so;erania. !s normas constitucionais de/endem da vontade

dos 5rãos de so;erania de res/eit<Blas e cum/riBlas. !/onta Ronrad esse8ue a 7ora normativa da Constituião de/ende das /ossi;ilidades de suarealiaão, a;ertas /ela situaão >ist5rica, ;em como da vontade constantedos im/licados no /rocesso constitucional de realiar os conteAdos daConstituiãoJ1L.

  . M#*!&*!*(S *( "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S – $(G$!S ( P$&"C?P&#S

  K. "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S C!SS&F&C!*!S S(G'"*# ! S'! F'"-#

Critrio da 7unão 8ue elas e6ercem.

< normas 8ue esta;elecem um dever /ara os /oderes /A;licos,/rescrevem uma tare7a /ara o (stado. São as normas constitucionaisimpositivas.

< normas 8ue instituem garantias /ara os cidadãos, como a 8ue re/ele a

im/osião de sanão /enal sem lei 8ue de3na /reviamente a conduta comocrime.

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< normas 8ue recon>ecem e con7ormam direitos fundamentais.

#utras normas entroniam garantias institucionais. (las criam oure7oram instituies necess<rias /ara a /roteão dos direitos dosindivduos. !ssim, a norma 8ue arante a /roteão do (stado I 7amlia Oart.

22Q, a 8ue asseura a autonomia universit<ria Oart. 22K e a 8ue /roclamaa autonomia 7uncional e administrativa do Ministrio PA;lico Oart. 12K, T 2U.

< as normas c>amadas orgânicas, 8ue criam 5rãos. Por vees sãonormas ornicas e de com/etncia, /or8ue tam;m 36am as atri;uiesdos 5rãos.

<, ainda, normas ditas de procedimento, 8ue esta;elecem um modo deair /ara os seus destinat<rios, /or e6em/lo, as 8ue 36am o /rocedimento;<sico /ara a re7orma da Constituião.

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V&& &"%($P$(%!-# *! C#"S%&%'&-# – "#W(S ((M("%!$(S

  1. (V!"*# (M C#"%! ! (S%$'%'$! *!S "#$M!S C#"S%&%'C&#"!&S

&nter/retaBse um /receito /ara dele se e6trair uma norma Ouma /roi;ião,uma 7aculdade ou um dever e com vistas I soluão de um /ro;lema/r<tico. *a 8ue tanto o te6to como os 7atos a 8ue ele se re7ere sãoim/ortantes /ara a intelincia a se 7ormar. H sem/re o/ortuno o aviso de(ros $o;erto Grau, 8uando concita a 8ue não nos es8ueamos de 8ue Xoste6tos normativos carecem de inter/retaão não a/enas /or não seremunvocos ou evidentes – isto , /or serem destitudos de clarea –, mas sim/or8ue devem ser a/licados a casos concretos, reais ou 3ctciosYJL. Por issomesmo 8ue Xo intr/rete discerne o sentido do te6to a /artir e em virtudede um determinado caso dado O.... ! norma /roduida, /elo intr/rete,

não a/enas a /artir de elementos col>idos no te6to normativo Omundo dodever ser, mas tam;m a /artir de elementos do caso ao 8ual ela ser<a/licada, isto , a /artir de dados da realidade Omundo do serYJQL.

! norma, /ortanto, não se con7unde com o te6to, isto , com o seuenunciado, com o con@unto de sm;olos linusticos 8ue 7orma o /receito.Para encontrarmos a norma, /ara 8ue /ossamos a3rmar o 8ue o direito/ermite, im/e ou /ro;eJKL, /reciso desco;rir o sini3cado dos termos8ue com/em o te6to e deci7rar, assim, o seu sentido linustico. X!

dis/osião, /receito ou enunciado linustico – esclarecem Canotil>o e VitalMoreiraJNL – o o;@eto de inter/retaãoD a norma o /roduto dainter/retaão.Y Mas a tare7a do intr/reteZa/licador não se esota aD osini3cado da norma tam;m >aver< de levar em conta a realidade 7<tica8ue criou o /ro;lema 8ue suscitou a necessidade de inter/retaão. *a see6trair 8ue a norma constitucional 7ormada /or Xuma medida deordenaão e6/ressa atravs de enunciados linusticos O/roramanormativo e /or uma constelaão de dados reais Osetor ou domnionormativoYJ9L.

  ! inter/retaão orientada I a/licaão não se torna com/leta se ointr/rete se ;astar com a an<lise sint<tica do te6to. Como as normas tm/or vocaão /r5/ria ordenar a vida social, os 7atos 8ue com/em arealidade e l>e desen>am 7eião es/ec3ca não /odem ser releados notra;al>o do @urista. Para se de3nir o m;ito normativo do /receitoconstitucional, /ara se delinearem a e6tensão e intensidade dos ;ens,circunstncias e interesses atinidos /ela norma, não se /rescinde daconsideraão de elementos da realidade mesma a ser reida.

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  ! norma constitucional, desse modo, /ara 8ue /ossa atuar na soluão de/ro;lemas concretos, /ara 8ue /ossa ser a/licada, deve ter o seu conteAdosemntico averiuado, em coordenaão com o e6ame das sinularidades dasituaão real 8ue a norma /retende reer. Servem de e6em/lo disso asinovaes tecnol5icas traidas /ela in7orm<tica, 8ue não /odem dei6ar de

ser levadas em conta /ara a com/reensão atual de certas normasconstitucionais. !s /eculiaridades da internet, /or e6em/lo, inter7erem,certamente, so;re o tema da li;erdade de e6/ressão como con>ecida antesdo advento do am;iente virtual. "ormas constitucionais so;re mono/5lio/ostal tam;m so7rem o im/acto de inovaes tecnol5icas, como a doscorreios eletr=nicos. !s novas /ossi;ilidades de trocas de dados /or viastelem<ticas eram im/acto so;re a com/reensão do art. U, [&&, 8ue /rev a8ue;ra do siilo das comunicaes tele7=nicas /or ordem @udicial. $e/areBse, a esse /ro/5sito, 8ue, em 19NN, ainda não se di7undira o meio eletr=nicode troca de dados, realidade @< corrente em 199Q, 8uando o leislador

inter/retou 8ue a ressalva constitucional /ertinente I inviola;ilidade decomunicaes tele7=nicas tam;m se a/licava I interce/taão do \u6o decomunicaes em sistemas de in7orm<tica e telem<ticaJ10L.

  Como outra ilustraão, ca;e ressaltar 8ue não , tam/ouco, /ossvelcom/reender o conteAdo normativo do enunciado do art. U, [, daConstituião Federal Odireito I /rivacidade e I intimidade sem levar emconta o est<dio de desenvolvimento tecnol5ico. PenseBse, /or e6em/lo,8ue o /rorama normativo do /receito /arece dier 8ue a8uilo 8ue não

visvel ao /A;lico deve ser considerado do domnio /rivado, não /odendo,em /rinc/io, ser o;@eto de livre e6/osião /or terceiros, sem 7erir a/rivacidade de alum. # avano tecnol5ico, /orm, tornou /ossvel traerao ol>ar do /A;lico, /or meio de lentes teleo;@etivas, /essoas em situaes8ue, antes, eram estritamente /rivadas. # desenvolvimento da tcnicamudou a conce/ão do 8ue visvel ao /A;lico. (ssa evoluão tecnol5ica,esse dado de 7ato, deve ser levado em conta /ara a com/reensão doconteAdo normativo da /roteão constitucional do direito I /rivacidade.

  %udo isso d< raão I ideia de 8ue Xa concretiaão do conteAdo de umanorma constitucional, assim como a sua realiaão, somente são /ossveis8uando se incor/oram as circunstncias da realidade 8ue a norma c>amada a reularYJ11L.

  . !C'"!S

  ! di3culdade /ara o intr/rete da Constituião /ode estar nacircunstncia de de/arar com uma situaão não reulada /ela Carta, mas

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8ue seria de se es/erar 8ue o constituinte so;re ela dis/usesse. Maisin8uietante, /ode acontecer de um 7ato real se encai6ar /er7eitamente no8ue im/e uma norma, cu@a incidncia, contudo, /rodu resultadosinaceit<veis. "esses casos, 7alaBse em lacuna da Constituião. ! lacuna/ode ser de3nida, na 75rmula /recisa e concisa de Eore Miranda, como

Xsituaão constitucionalmente relevante não /revistaYJ21L.

  ]uando ocorre a /rimeira das situaes acima descritas, ser< necess<riodiscernir se o constituinte não dei6ou de disci/linar a matria, @ustamente/ara /ermitir 8ue o leislador o 3esse, con7orme as /eculiaridades domomento, sem a riide 8ue marcam as decises 36adas no %e6to Mano.

 %eramos, então, a/enas uma matria 8ue a Carta da $e/A;lica não reulou,/or >aver /re7erido situ<Bla no domnio da li;erdade de con7ormaão doleislador comum. # assunto e6traconstitucionalJ22L.

  #utros casos ><, /orm, em 8ue o /ro;lema so; a an<lise do intr/retenão encontra su;sunão em uma dis/osião es/ec3ca do %e6toConstitucional, mas não se \ara um /ro/5sito do constituinte de relear otema ao @oo /oltico ordin<rio da leislaão in7raconstitucional, /or8ue amatria, I /arte o t5/ico em 8ue ocorre a omissão, o;@eto de umtratamento direto e minucioso do constituinte. "essas >i/5teses, ointr/rete /ode verBse convencido de 8ue a >i/5tese concreta e6aminada

/elo a/licador não 7oi inserida /elo constituinte no m;ito de certareulaão, /or8ue o constituinte não 8uis atri;uir ao caso a mesmaconse8uncia 8ue liou Is >i/5teses similares de 8ue tratou e6/licitamente.! omissão da reulaão, nesse m;ito, ter< sido o resultado do o;@etivoconsciente de e6cluir o tema da disci/lina estatuda. FalaBse, em situaestais, 8ue >ouve um Xsilncio elo8uenteY do constituinte, 8ue o;sta ae6tensão da norma e6istente /ara a situaão não reulada e6/licitamente.

  &lustraão de silncio elo8uente, assim recon>ecido /elo S%F, o da

reulaão dos atos normativos 8ue /odem ser o;@eto de aão direta deinconstitucionalidade /erante a Su/rema Corte. # art. 102, &, a, alude a leise a atos normativos estaduais ou 7ederais. # silncio com relaão a leis eatos normativos munici/ais /ro/osital e e6cludente dessas modalidadesde normas da 3scaliaão a;strata /or meio de aão direta no S%FJ2L.

  "o entanto, o e6ame a/urado das circunstncias normativas, a /artir deuma com/reensão sistem<tica, /ode revelar 8ue >ouve, na omissão, a/enasum la/so do constituinte, 8ue não /retendera e6cluir da incidncia da

norma a cateoria de 7atos em a/reciaão. !8ui, >aver< uma Xlacuna de7ormulaãoY. Como e6em/lo, ve@aBse 8ue, at a (menda Constitucional n.

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4Z2004, na lista dos entes e /essoas 8ue estavam leitimados a /ro/or aaão direta de inconstitucionalidade /erante o Su/remo %ri;unal FederalOart. 10 da CF, a/arecia o Governador do (stado, mas não se mencionavao Governador do *istrito Federal. "ão o;stante o car<ter ta6ativo daenumeraão, o S%F entendeu 8ue a omissão não /retendia im/edir o

Governador do *istrito Federal de /ro/or aão direta /erante a Su/remaCorte, @< 8ue com/etncias do (stadoBmem;ro são estendidas ao *istritoFederal Oart. 2, T 1U e não >averia motivo /ara o tratamento di7erenciado,no /articularJ24L. ! >i/5tese con3uraria mera lacuna de 7ormulaão, umla/so material, 8ue não im/ediria a aão direta /ro/osta /elo Governadordo *istrito Federal. # dis/ositivo veio a ser, a3nal, reti3cado com a (C4Z2004J2L. $e/areBse 8ue o arumento da analoia /ro/cio /araremediar esse ti/o de lacuna.

  ! lacuna Is vees ocorre /or8ue o constituinte não c>eou a atinar com anecessidade de dis/or so;re o /erodo de ada/taão necess<rio, no /lanoda realidade, /ara 8ue a norma 8ue estatuiu /ossa /roduir e7eito. !ssim,/or e6em/lo, com o aumento do nAmero de tri;unais reionais do tra;al>o,no reime da Constituião de 19NN, veri3couBse a im/ossi;ilidade, emaluns casos, de se 7ormar lista de interantes do Ministrio PA;lico do

 %ra;al>o com mais de de anos de carreira /ara com/or o 8uintoconstitucional dos mem;ros da corte, o 8ue /oderia invia;iliar a /r5/riacom/osião /lural da corte dese@ada /elo constituinte. # S%F en6erou,a8ui, Xuma lacuna: a não reulaão das situaes e6ce/cionais e6istentes

na 7ase inicial de im/lementaão do novo modelo constitucional. "ão tendoa matria sido reulada em dis/osião transit5ria, /arece ade8uado – disseo Ministro Gilmar Mendes – 8ue o /r5/rio intr/rete /ossa 7aBlo emconsonncia com o sistema constitucionalY. !sseurouBse, então, 8ue aslistas de candidatos a @ui de %$% /ela vaa do Ministrio PA;lico /udessemser com/letadas, 8uando necess<rio, /or 8uem não /ossua ainda de anosde carreiraJ2QL.

  (sse Altimo caso a/ro6imaBse de um outro modelo de lacuna, tra;al>adona a/licaão da Constituião, 8ue an>a o nome de lacuna a6iol5ica. !8ui,como t/ico das lacunas constitucionais, uma circunstnciaconstitucionalmente relevante não 7oi /revista. # intr/rete sustenta, a/artir de uma /auta valorativa /or ele /ressu/osta, 8ue 7altou aoconstituinte esclarecer 8ue a situaão semanticamente enlo;ada na>i/5tese de 7ato de uma norma deve ser considerada como /or ela nãodisci/linada, /ara, desse modo, não se dar e7eito a uma soluão in@usta ouinade8uada ao sistema. "a lacuna a6iol5ica, >< uma soluão normativa7ormal /ara o /ro;lema, mas o intr/rete a tem como insatis7at5ria, /or8ue/erce;e 8ue a norma não tomou em conta uma caracterstica do caso 8uetem /erante si, a 8ual, se levada em consideraão, conduiria a outrodes7ec>oJ2KL. # intr/rete entende conveniente 8ue se inclua, su/rima ou

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8/17/2019 Mendes, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.

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modi38ue alum dos elementos 8ue a >i/5tese de 7ato da norma indicoucomo relevantesJ2NL.

  "a maioria das vees, e6/lica C>a^m Perelman, essas Xlacunas sãocriadas /elos intr/retes 8ue, /or uma ou outra raão, /retendem 8ue certa<rea deveria ser reida /or uma dis/osião normativa, 8uando não o e6/ressamenteYJ29L. # a/licador restrine, muitas vees, o alcance danorma, em nome da 3nalidade 8ue l>e seria /r5/ria ou 8ue seria a8uela dosistema em 8ue inserida.

  (6em/lo de desco;erta desse ti/o de lacuna temBse na @uris/rudncia doS%F em torno do art. 102, &, 7, da CF. (m;ora a norma, na sua 7ormulaão

literal, esta;elea a com/etncia oriin<ria do Su/remo %ri;unal Federal/ara Xas causas e os con\itos entre a 'nião e os (stados, a 'nião e o*istrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as res/ectivas entidades daadministraão indiretaY, o S%F, no 8ue o Ministro Se/Alveda Pertencec>amou de Xaudaciosa reduão teleol5ica na inter/retaão Jdo /receitoL,adstriniu Xa sua com/etncia oriin<ria /ara causas cveis em 8ueentidades da !dministraão indireta 7ederal, estadual ou distrital contendamentre si ou com entidade /oltica da Federaão diversa O..., nas 8uais, /eloo;@eto da aão ou a naturea da 8uestão envolvida, se recon>ea _con\ito7ederativo`YJ0L. Para o S%F, como o art. 102, &, 7, da CF tem o sentido de

investir a Corte no /a/el de /aci3cadora de atritos entre unidades daFederaão, os con\itos @urdicos 8ue não se@am /otencialmentedesesta;iliadores do e8uil;rio 7ederativo não estariam a;ranidos /elodis/osto no /receito de3nidor da com/etncia oriin<ria do S%F. (6cluramBse, /ortanto, do seu m;ito normativo v<rias situaes 8ue,semanticamente, se incluiriam no te6to da norma. # constituinte não teriaconsiderado 8ue certas 7rices entre as /essoas citadas no dis/ositivo não/ertur;am a ordem 7ederativa. !o não e6ce/cionar da rera eral dacom/etncia oriin<ria essas situaes, teria dei6ado de reular situaãoconstitucionalmente relevante, da se e6traindo a /resena de caso delacuna a6iol5icaJ1L.