curso de direito constitucional conteúdo extra - gilmar mendes - 2014

864

Upload: barbara-figueiredo

Post on 14-Aug-2015

52 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

  1. 1. CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL 9 EDIO (LEGISLAO E JURISPRUDNCIA REFERIDAS E QUESTIONRIO) Captulo 1 NOES INTRODUTRIAS Questes: 1. Aps um bem-sucedido golpe de estado, uma faco de militantes contrrios ao governo anteriormente estabelecido tomou a administrao daquele pas. Da em diante, passa a legislar sob a ideologia a que esto filiados. Ser necessrio que este novo governo reedite normas sobre todas as esferas da vida privada? As normas anteriormente vigentes, com o golpe, ficam automaticamente revogadas? 2. Suponha que em certo Estado da Federao se haja formado o costume de se convocar o Presidente do Tribunal de Justia para substituir o Governador, quando o Vice-Governador tambm se encontra impedido. A Constituio Federal, porm, prev um sistema diferente, pelo qual, antes do Presidente do Tribunal de Justia, deve ser chamado o Presidente da Assembleia Legislativa para a governadoria do Estado. O costume nesse Estado, porm, antigo, vem sendo observado desde antes da vigncia da Constituio de 1988 sem nunca motivar crtica ou resistncia de autoridades estaduais. Nessas circunstncias, pode-se considerar vlido o sistema adotado nesse Estado? 3. Diversas emendas constitucionais ao texto de 1988 alteraram as Disposies Transitrias. Pergunta-se, pois, se estas so normas cujo escopo principal regular o perodo de transio entre as duas ordens constitucionais subsequentes, seria vlida a alterao mesmo aps a mudana completa do regime? 4. Diz a smula 400-STF que a deciso que deu razovel interpretao lei, ainda que no seja a melhor, no autoriza recurso extraordinrio pela letra a do art. 101, III, da Constituio Federal. Neste sentido, poder-se-ia dizer que se uma determinada demanda foi decidida fundamentadamente, mesmo que em confronto com a jurisprudncia dominante, no se abre a instncia extraordinria parte vencida? 5. Comente a seguinte assertiva: a supremacia do Parlamento no se concilia com a ideia de supremacia da Constituio.
  2. 2. Captulo 2 PODER CONSTITUINTE Acrdos: HC 74675 / PA PAR HABEAS CORPUS Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES Julgamento: 04/02/1997 rgo Julgador: Primeira Turma Publicao: DJ 04-04-1997 PP-10523 EMENT VOL-01863-03 PP-00474 EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. AO PENAL CONTRA PREFEITO MUNICIPAL: DECRETO-LEI N 201/67: RECEPO PELA CONSTITUIO DE 1988. COMPETNCIA ORIGINRIA. PRESCRIO. PRAZOS DO MINISTRIO PBLICO E DO TRIBUNAL DE CONTAS. PROVAS. HABEAS CORPUS. 1. A competncia para o julgamento criminal de ex-Prefeito, por fatos ocorridos durante o exerccio do mandato, do Tribunal de Justia do Estado, como prescreve o inciso X do art. 29 da Constituio Federal, revogado, assim, nesse ponto, o art. 2 do Decreto-Lei n 201/67, que atribua competncia ao Juzo singular. 2. A extino da punibilidade, pela prescrio, ainda no ocorreu, ao menos com relao aos delitos apenados mais gravemente, no havendo, ademais, nos autos, elementos informativos seguros sobre a caracterizao desse fato extintivo, com relao aos delitos menos graves, o que ainda pode ser objeto de considerao pelo Tribunal de Justia. 3. Embora a Constituio de 1988 no inclua o Decreto-Lei como forma de processo legislativo, nem por isso revogou o Decreto-Lei n 201, de 27.02.1967, que regula a responsabilidade penal dos Prefeitos e Vereadores. 4. O atraso na elaborao de parecer pelo Tribunal de Contas dos Municpios e na apresentao da denncia pelo Ministrio Pblico no implica necessariamente o trancamento desta. 5. Quanto caracterizao, ou no, dos crimes imputados ao paciente, trata-se de matria dependente de provas, que ainda esto sendo produzidas perante o Tribunal competente, no podendo o S.T.F. antecipar julgamento a respeito. 6. H.C indeferido. Deciso unnime.
  3. 3. ADI 2 / DF DISTRITO FEDERAL AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. PAULO BROSSARD Julgamento: 06/02/1992 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 21-11-1997 PP-60585 EMENT VOL-01892-01 PP-00001 EMENTA: CONSTITUIO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAO. INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. 1. A lei ou constitucional ou no lei. Lei inconstitucional uma contradio em si. A lei constitucional quando fiel Constituio; inconstitucional na medida em que a desrespeita, dispondo sobre o que lhe era vedado. O vcio da inconstitucionalidade congnito lei e h de ser apurado em face da Constituio vigente ao tempo de sua elaborao. Lei anterior no pode ser inconstitucional em relao Constituio superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituio futura. A Constituio sobrevinda no torna inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as. Pelo fato de ser superior, a Constituio no deixa de produzir efeitos revogatrios. Seria ilgico que a lei fundamental, por ser suprema, no revogasse, ao ser promulgada, leis ordinrias. A lei maior valeria menos que a lei ordinria. 2. Reafirmao da antiga jurisprudncia do STF, mais que cinquentenria. 3. Ao direta de que se no conhece por impossibilidade jurdica do pedido.
  4. 4. AI 386820 AgR-ED-EDv-AgR-ED / RS RIO GRANDE DO SUL EMB.DECL.NO AG.REG.NOS EMB.DIV.NOS EMB.DECL.NO AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 24/06/2004 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 04-02-2005 PP-00007 EMENT VOL-02178-03 PP-00544 RDDP n. 26, 2005, p. 160-171 RTJ VOL-00193-03 PP-01103 EMENTA: EMBARGOS DE DECLARAO INOCORRNCIA DE CONTRADIO, OBSCURIDADE OU OMISSO PRETENDIDO REEXAME DA CAUSA EMBARGOS DE DECLARAO REVESTIDOS DE CARTER INFRINGENTE INADMISSIBILIDADE INOVAO TEMTICA IMPROPRIAMENTE SUSCITADA EM SEDE DE EMBARGOS DE DECLARAO INVIABILIDADE PRETENDIDO RECONHECIMENTO DE QUE O ART. 119, 3, C, DA CARTA FEDERAL DE 1969 TERIA SUBSISTIDO EM FACE DA NOVA CONSTITUIO DA REPBLICA (1988) RECEPO INEXISTENTE MATRIA J APRECIADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL CARACTERIZAO DO INTUITO PROCRASTINATRIO DOS EMBARGOS DE DECLARAO ABUSO DO DIREITO DE RECORRER MULTA EXECUO IMEDIATA DA DECISO, INDEPENDENTEMENTE DA PUBLICAO DO RESPECTIVO ACRDO POSSIBILIDADE EMBARGOS DE DECLARAO REJEITADOS. A QUESTO PERTINENTE S RELAES JURDICAS ENTRE UMA NOVA CONSTITUIO E A ANTERIOR CONSTITUIO POR ELA REVOGADA: REVOGAO GLOBAL E SISTMICA DA ORDEM CONSTITUCIONAL PRECEDENTE. A vigncia e a eficcia de uma nova Constituio implicam a supresso da existncia, a perda de validade e a cessao de eficcia da anterior Constituio por ela revogada, operando-se, em tal situao, uma hiptese de revogao global ou sistmica do ordenamento constitucional precedente, no cabendo, por isso mesmo, indagar-se, por imprprio, da compatibilidade, ou no, para efeito de recepo, de quaisquer preceitos constantes da Carta Poltica anterior, ainda que materialmente no conflitantes com a ordem constitucional originria superveniente. que consoante expressiva advertncia do magistrio doutrinrio (CARLOS AYRES BRITTO, Teoria da Constituio, p. 106, 2003, Forense) Nada sobrevive ao novo Texto Magno, dada a impossibilidade de convvio entre duas ordens constitucionais originrias (cada qual representando uma ideia prpria de Direito e refletindo uma particular concepo poltico-ideolgica de mundo), exceto se a nova Constituio, mediante processo de recepo material (que muito mais traduz verdadeira novao de carter jurdico-normativo), conferir vigncia parcial e eficcia temporal limitada a determinados preceitos constitucionais inscritos na Lei Fundamental revogada, semelhana do que fez o art. 34, caput, do ADCT/88. O Supremo Tribunal Federal, em virtude da revogao global da Carta Poltica de 1969 (a includo, portanto, o seu art. 119, 3, c), no mais dispe de competncia normativa primria para, em sede meramente regimental, formular
  5. 5. normas de direito processual concernentes ao processo e julgamento dos feitos de sua competncia originria ou recursal, pois, com a supervenincia da nova Constituio republicana, devolveu-se, em sua inteireza, ao Congresso Nacional, o poder de legislar sobre matria processual, mesmo tratando-se de causas sujeitas jurisdio da Suprema Corte. Consequente legitimidade constitucional da Lei n 8.950/94, que, ao reformular o art. 546 do CPC, restringiu a utilizao dos embargos de divergncia hiptese em que o acrdo embargado resultar de julgamento proferido em sede de recurso extraordinrio (CPC, art. 546, II). A FUNO JURDICO-PROCESSUAL DOS EMBARGOS DE DECLARAO. Os embargos de declarao, quando regularmente utilizados, destinam-se, precipuamente, a desfazer obscuridades, a afastar contradies e a suprir omisses que se registrem, eventualmente, no acrdo proferido pelo Tribunal. Os embargos declaratrios, no entanto, revelam-se incabveis, quando a parte recorrente a pretexto de esclarecer uma inexistente situao de obscuridade, omisso ou contradio vem a utiliz-los com o objetivo de infringir o julgado e de viabilizar, assim, um indevido reexame da causa, com evidente subverso e desvio da funo jurdico-processual para que se acha especificamente vocacionada essa modalidade de recurso. Precedentes. MULTA E ABUSO DO DIREITO DE RECORRER. O abuso do direito de recorrer por qualificar-se como prtica incompatvel com o postulado tico-jurdico da lealdade processual constitui ato de litigncia maliciosa repelido pelo ordenamento positivo, especialmente nos casos em que a parte interpe recurso com intuito evidentemente protelatrio, hiptese em que se legitimar a imposio de multa. A multa a que se refere o art. 538, pargrafo nico, do CPC possui inquestionvel funo inibitria, eis que visa a impedir o abuso processual e a obstar o exerccio irresponsvel do direito de recorrer, neutralizando, dessa maneira, a atuao censurvel do improbus litigator. Precedentes. UTILIZAO ABUSIVA DOS EMBARGOS DE DECLARAO. POSSIBILIDADE DE IMEDIATA EXECUO DA DECISO EMANADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DAQUELAS PROFERIDAS PELAS INSTNCIAS DE JURISDIO INFERIOR. A utilizao procrastinatria das espcies recursais por constituir fim ilcito que desqualifica o comportamento processual da parte recorrente autoriza o imediato cumprimento, no s das decises proferidas pelas instncias de jurisdio inferior, mas daquelas emanadas do Supremo Tribunal Federal, independentemente da publicao do acrdo consubstanciador do julgamento, por esta Suprema Corte, dos embargos de declarao rejeitados em virtude de seu carter protelatrio. Precedentes.
  6. 6. AI 235800 AgR / RS RIO GRANDE DO SUL AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 25/05/1999 rgo Julgador: Primeira Turma Publicao: DJ 25-06-1999 PP-00016 EMENT VOL-01956-13 PP-02660 EMENTA: Agravo regimental. No tem razo o agravante. A recepo de lei ordinria como lei complementar pela Constituio posterior a ela s ocorre com relao aos seus dispositivos em vigor quando da promulgao desta, no havendo que pretender-se a ocorrncia de efeito repristinatrio, porque o nosso sistema jurdico, salvo disposio em contrrio, no admite a repristinao (artigo 2, 3, da Lei de Introduo ao Cdigo Civil). Agravo a que se nega provimento.
  7. 7. RE 148754 / RJ RIO DE JANEIRO RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO Relator(a) p/ Acrdo: Min. FRANCISCO REZEK Julgamento: 24/06/1993 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 04-03-1994 PP-03290 EMENT VOL-01735-02 PP-00175 RTJ VOL-00150-03 PP-00888 EMENTA: CONSTITUCIONAL. ART. 55-II DA CARTA ANTERIOR. CONTRIBUIO PARA O PIS. DECRETOS-LEIS 2.445 E 2.449, DE 1988. INCONSTITUCIONALIDADE. I CONTRIBUIO PARA O PIS: SUA ESTRANEIDADE AO DOMNIO DOS TRIBUTOS E MESMO AQUELE, MAIS LARGO, DAS FINANAS PBLICAS. ENTENDIMENTO, PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA EC N 8/77 (RTJ 120/1190). II TRATO POR MEIO DE DECRETO-LEI: IMPOSSIBILIDADE ANTE A RESERVA QUALIFICADA DAS MATRIAS QUE AUTORIZAVAM A UTILIZAO DESSE INSTRUMENTO NORMATIVO (ART. 55 DA CONSTITUIO DE 1969). INCONSTITUCIONALIDADE DOS DECRETOS-LEIS 2.445 E 2.449, DE 1988, QUE PRETENDERAM ALTERAR A SISTEMTICA DA CONTRIBUIO PARA O PIS.
  8. 8. RE 74284 / SP SO PAULO RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. THOMPSON FLORES Julgamento: 28/03/1973 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO EMENTA: MAGISTRADO. APOSENTADORIA. PROVENTOS. DIREITO ADQUIRIDO. II. SE O DIREITO DE INATIVAR-SE FOI ADQUIRIDO PELO SERVIDOR NOS TERMOS DO ART. 177, PAR. 1 DA CONSTITUIO DE 1967, O FATO DE VIR A APOSENTAR-SE QUANDO EM VIGOR A CARTA DE 1969 (EMENDA N.1), EM HOMENAGEM A GARANTIA ESTATUIDA EM SEU ART. 153, PAR. 3, NO SE LHE APLICOU A RESTRIO IMPOSTA NO PAR. 2 DO ART. 102. MOTIVAO. PRECEDENTES DO S.T.F. III. RECURSO EXTRAORDINRIO NO CONHECIDO.
  9. 9. RE 94414 / SP SO PAULO RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 13/02/1985 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 19-04-1985 PP-05456 EMENT VOL-01374-02 PP-00217 RTJ VOL-00114-01 PP-00237 EMENTA: MAGISTRADO. INCIDNCIA IMEDIATA DA PROIBIO CONTIDA NO ARTIGO 114, I, DA CONSTITUIO FEDERAL NA REDAO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 7/77. NO H DIREITO ADQUIRIDO CONTRA TEXTO CONSTITUCIONAL, RESULTE ELE DO PODER CONSTITUINTE ORIGINRIO, OU DO PODER CONSTITUINTE DERIVADO. PRECEDENTES DO S.T.F. RECURSO EXTRAORDINRIO CONHECIDO E PROVIDO.
  10. 10. RE 140499 / GO GOIS RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 12/04/1994 rgo Julgador: PRIMEIRA TURMA Publicao: DJ 09-09-1994 PP-23444 EMENT VOL-01757-03 PP-00443 EMENTA: Penses especiais vinculadas a salrio mnimo. Aplicao imediata a elas da vedao da parte final do inciso IV do artigo 7 da Constituio de 1988. J se firmou a jurisprudncia desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais tm vigncia imediata, alcanando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mnima). Salvo disposio expressa em contrario e a Constituio pode faz-lo , eles no alcanam os fatos consumados no passado nem as prestaes anteriormente vencidas e no pagas (retroatividades mxima e mdia). Recurso extraordinrio conhecido e provido.
  11. 11. AI 139004 AgR / MG MINAS GERAIS AG.REG.NO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 04/08/1995 rgo Julgador: PRIMEIRA TURMA Publicao: DJ 02-02-1996 PP-00853 EMENT VOL-01814-02 PP-00228 EMENTA: Agravo regimental. A prescrio se situa no mbito do direito material e no do direito processual. O que prescreve no e o direito subjetivo pblico de ao, mas a pretenso que decorre da violao do direito subjetivo. Se a prescrio se consumou anteriormente a entrada em vigor da nova Constituio, e ela regida pela lei do tempo em que ocorreu, pois, como salientado no despacho agravado, no h que se confundir eficcia imediata da Constituio a efeitos futuros de fatos passados com a aplicao dela a fato passado. A Constituio s alcana os fatos consumados no passado quando expressamente o declara, o que no ocorre com referncia prescrio. Agravo a que se nega provimento.
  12. 12. ADI 3367 / DF DISTRITO FEDERAL AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 13/04/2005 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 17-03-2006 PP-00004 EMENT VOL-02225-01 PP-00182 REPUBLICAO: DJ 22-09-2006 PP-00029 EMENTAS: 1. AO. Condio. Interesse processual, ou de agir. Caracterizao. Ao direta de inconstitucionalidade. Propositura antes da publicao oficial da Emenda Constitucional n 45/2004. Publicao: superveniente, antes do julgamento da causa. Suficincia. Carncia da ao no configurada. Preliminar repelida. Inteligncia do art. 267, VI, do CPC. Devendo as condies da ao coexistir data da sentena, considera-se presente o interesse processual, ou de agir, em ao direta de inconstitucionalidade de Emenda Constitucional que s foi publicada, oficialmente, no curso do processo, mas antes da sentena. 2. INCONSTITUCIONALIDADE. Ao direta. Emenda Constitucional n 45/2004. Poder Judicirio. Conselho Nacional de Justia. Instituio e disciplina. Natureza meramente administrativa. rgo interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura. Constitucionalidade reconhecida. Separao e independncia dos Poderes. Histria, significado e alcance concreto do princpio. Ofensa a clusula constitucional imutvel (clusula ptrea). Inexistncia. Subsistncia do ncleo poltico do princpio, mediante preservao da funo jurisdicional, tpica do Judicirio, e das condies materiais do seu exerccio imparcial e independente. Precedentes e smula 649. Inaplicabilidade ao caso. Interpretao dos arts. 2 e 60, 4, III, da CF. Ao julgada improcedente. Votos vencidos. So constitucionais as normas que, introduzidas pela Emenda Constitucional n 45, de 8 de dezembro de 2004, instituem e disciplinam o Conselho Nacional de Justia, como rgo administrativo do Poder Judicirio nacional. 3. PODER JUDICIRIO. Carter nacional. Regime orgnico unitrio. Controle administrativo, financeiro e disciplinar. rgo interno ou externo. Conselho de Justia. Criao por Estado membro. Inadmissibilidade. Falta de competncia constitucional. Os Estados membros carecem de competncia constitucional para instituir, como rgo interno ou externo do Judicirio, conselho destinado ao controle da atividade administrativa, financeira ou disciplinar da respectiva Justia. 4. PODER JUDICIRIO. Conselho Nacional de Justia. rgo de natureza exclusivamente administrativa. Atribuies de controle da atividade administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competncia relativa apenas aos rgos e juzes situados, hierarquicamente, abaixo do Supremo Tribunal Federal. Preeminncia deste, como rgo mximo do Poder Judicirio, sobre o Conselho, cujos atos e decises esto sujeitos a seu controle jurisdicional. Inteligncia dos art. 102, caput, inc. I, letra r, e 4, da CF. O Conselho Nacional de Justia no tem nenhuma competncia sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo esse o rgo mximo do Poder Judicirio nacional, a que aquele est sujeito. 5. PODER JUDICIRIO. Conselho Nacional de Justia. Competncia. Magistratura. Magistrado vitalcio. Cargo. Perda mediante deciso administrativa.
  13. 13. Previso em texto aprovado pela Cmara dos Deputados e constante do Projeto que resultou na Emenda Constitucional n 45/2004. Supresso pelo Senado Federal. Reapreciao pela Cmara. Desnecessidade. Subsistncia do sentido normativo do texto residual aprovado e promulgado (art. 103-B, 4, III). Expresso que, ademais, ofenderia o disposto no art. 95, I, parte final, da CF. Ofensa ao art. 60, 2, da CF. No ocorrncia. Arguio repelida. Precedentes. No precisa ser reapreciada pela Cmara dos Deputados expresso suprimida pelo Senado Federal em texto de projeto que, na redao remanescente, aprovada de ambas as Casas do Congresso, no perdeu sentido normativo. 6. PODER JUDICIRIO. Conselho Nacional de Justia. Membro. Advogados e cidados. Exerccio do mandato. Atividades incompatveis com tal exerccio. Proibio no constante das normas da Emenda Constitucional n 45/2004. Pendncia de projeto tendente a torn-la expressa, mediante acrscimo de 8 ao art. 103-B da CF. Irrelevncia. Ofensa ao princpio da isonomia. No ocorrncia. Impedimentos j previstos conjugao dos arts. 95, nico, e 127, 5, II, da CF. Ao direta de inconstitucionalidade. Pedido aditado. Improcedncia. Nenhum dos advogados ou cidados membros do Conselho Nacional de Justia pode, durante o exerccio do mandato, exercer atividades incompatveis com essa condio, tais como exercer outro cargo ou funo, salvo uma de magistrio, dedicar-se a atividade poltico-partidria e exercer a advocacia no territrio nacional.
  14. 14. MS 22503 / DF DISTRITO FEDERAL MANDADO DE SEGURANA Relator(a): Min. MARCO AURLIO Relator(a) p/ Acrdo: Min. MAURCIO CORRA Julgamento: 08/05/1996 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 06-06-1997 PP-24872 EMENT VOL-01872-03 PP-00385 RTJ VOL-00169-01 PP-00181 EMENTA: MANDADO DE SEGURANA IMPETRADO CONTRA ATO DO PRESIDENTE DA CMARA DOS DEPUTADOS, RELATIVO TRAMITAO DE EMENDA CONSTITUCIONAL. ALEGAO DE VIOLAO DE DIVERSAS NORMAS DO REGIMENTO INTERNO E DO ART. 60, 5, DA CONSTITUIO FEDERAL. PRELIMINAR: IMPETRAO NO CONHECIDA QUANTO AOS FUNDAMENTOS REGIMENTAIS, POR SE TRATAR DE MATRIA INTERNA CORPORIS QUE S PODE ENCONTRAR SOLUO NO MBITO DO PODER LEGISLATIVO, NO SUJEITA APRECIAO DO PODER JUDICIRIO; CONHECIMENTO QUANTO AO FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. MRITO: REAPRESENTAO, NA MESMA SESSO LEGISLATIVA, DE PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL DO PODER EXECUTIVO, QUE MODIFICA O SISTEMA DE PREVIDNCIA SOCIAL, ESTABELECE NORMAS DE TRANSIO E D OUTRAS PROVIDNCIAS (PEC N 33-A, DE 1995). I Preliminar. 1. Impugnao de ato do Presidente da Cmara dos Deputados que submeteu a discusso e votao emenda aglutinativa, com alegao de que, alm de ofender ao par. nico do art. 43 e ao 3 do art. 118, estava prejudicada nos termos do inc. VI do art. 163, e que deveria ter sido declarada prejudicada, a teor do que dispe o n. 1 do inc. I do art. 17, todos do Regimento Interno, lesando o direito dos impetrantes de terem assegurados os princpios da legalidade e moralidade durante o processo de elaborao legislativa. A alegao, contrariada pelas informaes, de impedimento do relator matria de fato e de que a emenda aglutinativa inova e aproveita matrias prejudicada e rejeitada, para reput-la inadmissvel de apreciao, questo interna corporis do Poder Legislativo, no sujeita reapreciao pelo Poder Judicirio. Mandado de segurana no conhecido nesta parte. 2. Entretanto, ainda que a inicial no se refira ao 5 do art. 60 da Constituio, ela menciona dispositivo regimental com a mesma regra; assim interpretada, chega-se concluso que nela h nsita uma questo constitucional, esta sim, sujeita ao controle jurisdicional. Mandado de segurana conhecido quanto alegao de impossibilidade de matria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada poder ser objeto de nova proposta na mesma sesso legislativa. II Mrito. 1. No ocorre contrariedade ao 5 do art. 60 da Constituio na medida em que o Presidente da Cmara dos Deputados, autoridade coatora, aplica dispositivo regimental adequado e declara prejudicada a proposio que tiver substitutivo aprovado, e no rejeitado, ressalvados os destaques (art. 163, V). 2. de ver-se, pois, que tendo a Cmara dos Deputados apenas rejeitado o substitutivo, e no o projeto que veio por mensagem do Poder Executivo, no se cuida de aplicar a norma do art. 60, 5, da Constituio. Por isso mesmo, afastada a rejeio do substitutivo, nada impede que se
  15. 15. prossiga na votao do projeto originrio. O que no pode ser votado na mesma sesso legislativa a emenda rejeitada ou havida por prejudicada, e no o substitutivo que uma subespcie do projeto originariamente proposto. 3. Mandado de segurana conhecido em parte, e nesta parte indeferido.
  16. 16. MS 20257 / DF DISTRITO FEDERAL MANDADO DE SEGURANA Relator(a): Min. DECIO MIRANDA Julgamento: 08/10/1980 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO MANDADO DE SEGURANA CONTRA ATO DA MESA DO CONGRESSO QUE ADMITIU A DELIBERAO DE PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL QUE A IMPETRAO ALEGA SER TENDENTE A ABOLIO DA REPBLICA. CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANA EM HIPTESES EM QUE A VEDAO CONSTITUCIONAL SE DIRIGE AO PRPRIO PROCESSAMENTO DA LEI OU DA EMENDA, VEDANDO A SUA APRESENTAO (COMO O CASO PREVISTO NO PARGRAFO NICO DO ARTIGO 57) OU A SUA DELIBERAO (COMO NA ESPCIE). NESSES CASOS, A INCONSTITUCIONALIDADE DIZ RESPEITO AO PRPRIO ANDAMENTO DO PROCESSO LEGISLATIVO, E ISSO PORQUE A CONSTITUIO NO QUER EM FACE DA GRAVIDADE DESSAS DELIBERAES, SE CONSUMADAS QUE SEQUER SE CHEGUE A DELIBERAO, PROIBINDO-A TAXATIVAMENTE. A INCONSTITUCIONALIDADE, SE OCORRENTE, J EXISTE ANTES DE O PROJETO OU DE A PROPOSTA SE TRANSFORMAR EM LEI OU EM EMENDA CONSTITUCIONAL, PORQUE O PRPRIO PROCESSAMENTO J DESRESPEITA, FRONTALMENTE, A CONSTITUIO. INEXISTNCIA, NO CASO, DA PRETENDIDA INCONSTITUCIONALIDADE, UMA VEZ QUE A PRORROGAO DE MANDATO DE DOIS PARA QUATRO ANOS, TENDO EM VISTA A CONVENINCIA DA COINCIDNCIA DE MANDATOS NOS VRIOS NVEIS DA FEDERAO, NO IMPLICA INTRODUO DO PRINCPIO DE QUE OS MANDATOS NO MAIS SO TEMPORRIOS, NEM ENVOLVE, INDIRETAMENTE, SUA ADOO DE FATO. MANDADO DE SEGURANA INDEFERIDO
  17. 17. ADI 829 / DF DISTRITO FEDERAL AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 14/04/1993 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicao: DJ 16-09-1994 PP-24278 EMENT VOL-01758-01 PP-00062 RTJ VOL-00156-02 PP-00451 EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ANTECIPAO DO PLEBISCITO A QUE ALUDE O ART. 2 DO ADCT DA CONSTITUIO DE 1988. NO H DVIDA DE QUE, EM FACE DO NOVO SISTEMA CONSTITUCIONAL, O S.T.F. COMPETENTE PARA, EM CONTROLE DIFUSO OU CONCENTRADO, EXAMINAR A CONSTITUCIONALIDADE, OU NO, DE EMENDA CONSTITUCIONAL NO CASO, A N 2, DE 25 DE AGOSTO DE 1992 IMPUGNADA POR VIOLADORA DE CLUSULAS PTREAS EXPLCITAS OU IMPLCITAS. CONTENDO AS NORMAS CONSTITUCIONAIS TRANSITRIAS EXCEES A PARTE PERMANENTE DA CONSTITUIO, NO TEM SENTIDO PRETENDER-SE QUE O ATO QUE AS CONTM SEJA INDEPENDENTE DESTA, AT PORQUE E DA NATUREZA MESMA DAS COISAS QUE, PARA HAVER EXCEO, NECESSRIO QUE HAJA REGRA, DE CUJA EXISTNCIA AQUELA, COMO EXCEO, DEPENDE. A ENUMERAO AUTNOMA, OBVIAMENTE, NO TEM O CONDO DE DAR INDEPENDNCIA AQUILO QUE, POR SUA NATUREZA MESMA, DEPENDENTE. AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE QUE SE JULGA IMPROCEDENTE.
  18. 18. ADI 939 / DF DISTRITO FEDERAL AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES Julgamento: 15/12/1993 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicao: DJ 18-03-1994 PP-05165 EMENT VOL-01737-02 PP-00160 RTJ VOL-00151-03 PP-00755 EMENTA: Direito Constitucional e Tributrio. Ao Direta de Inconstitucionalidade de Emenda Constitucional e de Lei Complementar. I.P.M.F. Imposto Provisrio sobre a Movimentao ou a Transmisso de Valores e de Crditos e Direitos de Natureza Financeira I.P.M.F. Artigos 5, par. 2, 60, par. 4, incisos I e IV, 150, incisos III, b, e VI, a, b, c e d, da Constituio Federal. 1. Uma Emenda Constitucional, emanada, portanto, de Constituinte derivada, incidindo em violao a Constituio originria, pode ser declarada inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, cuja funo precpua e de guarda da Constituio (art. 102, I, a, da C.F.). 2. A Emenda Constitucional n. 3, de 17.03.1993, que, no art. 2, autorizou a Unio a instituir o I.P.M.F., incidiu em vcio de inconstitucionalidade, ao dispor, no pargrafo 2 desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, no se aplica o art. 150, III, b e VI, da Constituio, porque, desse modo, violou os seguintes princpios e normas imutveis (somente eles, no outros): 1. o princpio da anterioridade, que e garantia individual do contribuinte (art. 5, par. 2, art. 60, par. 4, inciso IV e art. 150, III, b da Constituio); 2. o princpio da imunidade tributria recproca (que veda Unio, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios a instituio de impostos sobre o patrimnio, rendas ou servios uns dos outros) e que garantia da Federao (art. 60, par. 4, inciso I, e art. 150, VI, a, da C.F.); 3. a norma que, estabelecendo outras imunidades impede a criao de impostos (art. 150, III) sobre: b): templos de qualquer culto; c): patrimnio, renda ou servios dos partidos polticos, inclusive suas fundaes, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituies de educao e de assistncia social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; e d): livros, jornais, peridicos e o papel destinado a sua impresso; 3. Em consequncia, inconstitucional, tambm, a Lei Complementar n. 77, de 13.07.1993, sem reduo de textos, nos pontos em que determinou a incidncia do tributo no mesmo ano (art. 28) e deixou de reconhecer as imunidades previstas no art. 150, VI, a, b, c e d da C.F. (arts. 3., 4. e 8. do mesmo diploma, L.C. n. 77/93). 4. Ao Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente, em parte, para tais fins, por maioria, nos termos do voto do Relator, mantida, com relao a todos os contribuintes, em carter definitivo, a medida cautelar, que suspendera a cobrana do tributo no ano de 1993.
  19. 19. HC 72131 / RJ RIO DE JANEIRO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURLIO Relator(a) p/ Acrdo: Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 23/11/1995 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 01-08-2003 PP-00103 EMENT VOL-02117-40 PP-08650 EMENTA: Habeas corpus. Alienao fiduciria em garantia. Priso civil do devedor como depositrio infiel. Sendo o devedor, na alienao fiduciria em garantia, depositrio necessrio por fora de disposio legal que no desfigura essa caracterizao, sua priso civil, em caso de infidelidade, se enquadra na ressalva contida na parte final do artigo 5, LXVII, da Constituio de 1988. Nada interfere na questo do depositrio infiel em matria de alienao fiduciria o disposto no 7 do artigo 7 da Conveno de San Jos da Costa Rica. Habeas corpus indeferido, cassada a liminar concedida.
  20. 20. HC 88240 / SP SO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. ELLEN GRACIE Julgamento: 07/10/2008 rgo Julgador: Segunda Turma Publicao: DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-10-2008 EMENT VOL-02338-01 PP-00199 RSJADV dez., 2008, p. 20-22 RT v. 98, n. 879, 2009, p. 176-180 RF v. 104, n. 400, 2008, p. 370-374 EMENTA: DIREITO PROCESSUAL. HABEAS CORPUS. PRISO CIVIL DO DEPOSITRIO INFIEL. PACTO DE SO JOS DA COSTA RICA. ALTERAO DE ORIENTAO DA JURISPRUDNCIA DO STF. CONCESSO DA ORDEM. 1. A matria em julgamento neste habeas corpus envolve a temtica da (in)admissibilidade da priso civil do depositrio infiel no ordenamento jurdico brasileiro no perodo posterior ao ingresso do Pacto de So Jos da Costa Rica no direito nacional. 2. O julgamento impugnado via o presente habeas corpus encampou orientao jurisprudencial pacificada, inclusive no STF, no sentido da existncia de depsito irregular de bens fungveis, seja por origem voluntria (contratual) ou por fonte judicial (deciso que nomeia depositrio de bens penhorados). Esta Corte j considerou que o depositrio de bens penhorados, ainda que fungveis, responde pela guarda e se sujeita a ao de depsito (HC n 73.058/SP, rel. Min. Maurcio Corra, 2 Turma, DJ de 10.05.1996). Neste mesmo sentido: HC 71.097/PR, rel. Min. Sydney Sanches, 1 Turma, DJ 29.03.1996). 3. H o carter especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis Polticos (art. 11) e da Conveno Americana sobre Direitos Humanos Pacto de San Jos da Costa Rica (art. 7, 7), ratificados, sem reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. A esses diplomas internacionais sobre direitos humanos reservado o lugar especfico no ordenamento jurdico, estando abaixo da Constituio, porm acima da legislao interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil, torna inaplicvel a legislao infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificao. 4. Na atualidade a nica hiptese de priso civil, no Direito brasileiro, a do devedor de alimentos. O art. 5, 2, da Carta Magna, expressamente estabeleceu que os direitos e garantias expressos no caput do mesmo dispositivo no excluem outros decorrentes do regime dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte. O Pacto de So Jos da Costa Rica, entendido como um tratado internacional em matria de direitos humanos, expressamente, s admite, no seu bojo, a possibilidade de priso civil do devedor de alimentos e, consequentemente, no admite mais a possibilidade de priso civil do depositrio infiel. 5. Habeas corpus concedido.
  21. 21. MS 24875 / DF DISTRITO FEDERAL MANDADO DE SEGURANA Relator(a): Min. SEPLVEDA PERTENCE Julgamento: 11/05/2006 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 06-10-2006 PP-00033 EMENT VOL-02250-02 PP-00284 RTJ VOL-00200-03 PP-01198 EMENTA: I. Ministros aposentados do Supremo Tribunal Federal: proventos (subsdios): teto remuneratrio: pretenso de imunidade incidncia do teto sobre o adicional por tempo de servio (ATS), no percentual mximo de 35% e sobre o acrscimo de 20% a que se refere o art. 184, III, da Lei 1711/52, combinado com o art. 250 da L. 8.112/90: mandado de segurana deferido, em parte. II. Controle incidente de constitucionalidade e o papel do Supremo Tribunal Federal. Ainda que no seja essencial deciso da causa ou que a declarao de ilegitimidade constitucional no aproveite parte suscitante, no pode o Tribunal dado o seu papel de guarda da Constituio se furtar a enfrentar o problema de constitucionalidade suscitado incidentemente (v.g. SE 5.206-AgR, 8.5.97, Pertence, RTJ 190/908; Inq 1915, 05.08.2004, Pertence, DJ 05.08.2004; RE 102.553, 21.8.86, Rezek, DJ 13.02.87). III. Mandado de segurana: possibilidade jurdica do pedido: viabilidade do controle da constitucionalidade formal ou material das emendas Constituio. IV. Magistrados. Subsdios, adicional por tempo de servio e o teto do subsdio ou dos proventos, aps a EC 41/2003: arguio de inconstitucionalidade, por alegada irrazoabilidade da considerao do adicional por tempo de servio quer na apurao do teto (EC 41/03, art. 8), quer na das remuneraes a ele sujeitas (art. 37, XI, CF, cf EC 41/2003): rejeio. 1. Com relao a emendas constitucionais, o parmetro de aferio de sua constitucionalidade estreitssimo, adstrito s limitaes materiais, explcitas ou implcitas, que a Constituio imponha induvidosamente ao mais eminente dos poderes institudos, qual seja o rgo de sua prpria reforma. 2. Nem da interpretao mais generosa das chamadas clusulas ptreas poderia resultar que um juzo de eventuais inconvenincias se convertesse em declarao de inconstitucionalidade da emenda constitucional que submeta certa vantagem funcional ao teto constitucional de vencimentos. 3. No tocante magistratura independentemente de cuidar-se de uma emenda constitucional a extino da vantagem, decorrente da instituio do subsdio em parcela nica, a nenhum magistrado pode ter acarretado prejuzo financeiro indevido. 4. Por fora do art. 65, VIII, da LOMAN (LC 35/79), desde sua edio, o adicional cogitado estava limitado a 35% calculados sobre o vencimento e a representao mensal (LOMAN, Art. 65, 1), sendo que, em razo do teto constitucional primitivo estabelecido para todos os membros do Judicirio, nenhum deles poderia receber, a ttulo de ATS, montante superior ao que percebido por Ministro do Supremo Tribunal Federal, com o mesmo tempo de servio (cf. voto do Ministro Nri da Silveira, na ADIn 14, RTJ 130/475,483). 5. Se assim e dada a determinao do art. 8 da EC 41/03, de que, na apurao do valor da maior remunerao atribuda por lei (...) a Ministro do Supremo Tribunal Federal, para fixar o teto conforme o novo art. 37, XI, da Constituio, ao vencimento e representao
  22. 22. do cargo, se somasse a parcela recebida em razo do tempo de servio patente que, dessa apurao e da sua aplicao como teto dos subsdios ou proventos de todos os magistrados, no pode ter resultado prejuzo indevido no tocante ao adicional questionado. 6. da jurisprudncia do Supremo Tribunal que no pode o agente pblico opor, guisa de direito adquirido, a pretenso de manter determinada frmula de composio de sua remunerao total, se, da alterao, no decorre a reduo dela. 7. Se dessa forma se firmou quanto a normas infraconstitucionais, o mesmo se h de entender, no caso, em relao emenda constitucional, na qual os preceitos impugnados, se efetivamente aboliram o adicional por tempo de servio na remunerao dos magistrados e servidores pagos mediante subsdio, que neste o subsdio foi absorvido o valor da vantagem. 8. No procede, quanto ao ATS, a alegada ofensa ao princpio da isonomia, j que, para ser acolhida, a arguio pressuporia que a Constituio mesma tivesse erigido o maior ou menor tempo de servio em fator compulsrio do tratamento remuneratrio dos servidores, o que no ocorre, pois o adicional correspondente no resulta da Constituio, que apenas o admite mas, sim, de preceitos infraconstitucionais. V. Magistrados: acrscimo de 20% sobre os proventos da aposentadoria (Art. 184, III, da L. 1.711/52, c/c o art. 250 da L. 8.112/90) e o teto constitucional aps a EC 41/2003: garantia constitucional de irredutibilidade de vencimentos: intangibilidade. 1. No obstante cuidar-se de vantagem que no substantiva direito adquirido de estatura constitucional, razo por que, aps a EC 41/2003, no seria possvel assegurar sua percepo indefinida no tempo, fora ou alm do teto a todos submetido, aos impetrantes, porque magistrados, a Constituio assegurou diretamente o direito irredutibilidade de vencimentos modalidade qualificada de direito adquirido, oponvel s emendas constitucionais mesmas. 2. Ainda que, em tese, se considerasse susceptvel de sofrer dispensa especfica pelo poder de reforma constitucional, haveria de reclamar para tanto norma expressa e inequvoca, a que no se presta o art. 9 da EC 41/03, pois o art. 17 ADCT, a que se reporta, norma referida ao momento inicial de vigncia da Constituio de 1988, no qual incidiu e, neste momento, pelo fato mesmo de incidir, teve extinta a sua eficcia; de qualquer sorte, mais que duvidosa a sua compatibilidade com a clusula ptrea de indenidade dos direitos e garantias fundamentais outorgados pela Constituio de 1988, recebida como ato constituinte originrio. 3. Os impetrantes sob o plio da garantia da irredutibilidade de vencimentos , tm direito a continuar percebendo o acrscimo de 20% sobre os proventos, at que seu montante seja absorvido pelo subsdio fixado em lei para o Ministro do Supremo Tribunal Federal. VI. Mandado de segurana contra ato do Presidente do Supremo Tribunal: questes de ordem decididas no sentido de no incidncia, no caso, do disposto no artigo 205, pargrafo nico e inciso II, do RISTF, que tm em vista hiptese de impedimento do Presidente do Supremo Tribunal, no ocorrente no caso concreto. 1. O disposto no pargrafo nico do art. 205 do RISTF s se aplica ao Ministro-Presidente que tenha praticado o ato impugnado e no ao posterior ocupante da Presidncia. 2. De outro lado, o inciso II do pargrafo nico do art. 205 do RISTF prev hiptese excepcional, qual seja, aquela em que, estando impedido o presidente do STF, porque autor do ato impugnado, o Tribunal funciona com nmero par, no sendo possvel solver o empate.
  23. 23. RE 74655 / SP SO PAULO RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. BILAC PINTO Julgamento: 27/03/1973 rgo Julgador: SEGUNDA TURMA Publicao: DJ 01-06-1973 EMENTA: CORREO MONETRIA; PRINCPIO DA LEGALIDADE. EXCEES. A CORREO MONETRIA SOMENTE PODE OCORRER EM FACE DE AUTORIZAO LEGAL. JURISPRUDNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EXCEES PERMITIDAS.
  24. 24. RE 104930 / PR PARAN RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. RAFAEL MAYER Julgamento: 23/04/1985 rgo Julgador: PRIMEIRA TURMA Publicao: DJ 10-05-1985 PP-06857 EMENT VOL-01377-04 PP-00739 EMENTA: DVIDA DE VALOR. CORREO MONETRIA. PRINCPIO DA LEGALIDADE. A CORREO MONETRIA CONFERIDA A DVIDA DE VALOR, INDEPENDENTEMENTE DA LEI 6899/81, COM BASE EM CONSTRUO JURISPRUDENCIAL FIRMADA EM PRINCPIO GERAL DE DIREITO, NO CONFLITA COM O PRINCPIO DA LEGALIDADE INSERTO NO ART-153, PAR-3. DA CF. RECURSO EXTRAORDINRIO NO CONHECIDO.
  25. 25. HC 82959 / SP SO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURLIO Julgamento: 23/02/2006 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 01-09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510 RTJ VOL-00200-02 PP-00795 EMENTA: PENA REGIME DE CUMPRIMENTO PROGRESSO RAZO DE SER. A progresso no regime de cumprimento da pena, nas espcies fechado, semiaberto e aberto, tem como razo maior a ressocializao do preso que, mais dia ou menos dia, voltar ao convvio social. PENA CRIMES HEDIONDOS REGIME DE CUMPRIMENTO PROGRESSO BICE ARTIGO 2, 1, DA LEI N 8.072/90 INCONSTITUCIONALIDADE EVOLUO JURISPRUDENCIAL. Conflita com a garantia da individualizao da pena artigo 5, inciso XLVI, da Constituio Federal a imposio, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligncia do princpio da individualizao da pena, em evoluo jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2, 1, da Lei n 8.072/90. Questes: 6. O constituinte originrio decidiu que os analfabetos so inelegveis. possvel arguir a inconstitucionalidade dessa norma por ferir o princpio da igualdade e por falta de razoabilidade? (ver ADI 4.097 AgR, DJ 21-11-2008 e ADI 815, DJ 10-5-1996). 7. Um ru condenado j na vigncia da Constituio de 1988 por crime capitulado no Decreto-Lei n. 201/67. Tendo em vista que a Constituio atual no mais prev a figura normativa do Decreto-Lei, possvel afirmar, por isso, que a condenao indevida? (ver STF: HC 74.675, DJ de 4-4-1997) 8. Numa apelao cvel, a turma de um tribunal entende que a lei que foi aplicada para resolver certa controvrsia, e que fora editada antes da Constituio de 1988, incompatvel com a Constituio da Repblica em vigor. Neste caso, a Turma deve suscitar o incidente de inconstitucionalidade para o Pleno ou deve, por ela mesma, afastar a incidncia da lei na espcie? (ver: ADI 02-DF, DJ 21-11- 1997) 9. Suponha que voc precise argumentar no sentido de que emenda Constituio no pode reduzir a maioridade penal (art. 228 da Constituio Federal). Que fundamentos voc desenvolveria para sustentar tal tese? 10. Que significa dizer que as normas do poder constituinte originrio so dotadas, ordinariamente, de
  26. 26. eficcia retroativa mnima? (ver RE 94.414, RTJ, 114/237) 11. correto afirmar que a disciplina conferida pelo constituinte originrio para matrias protegidas por clusula ptrea insuscetvel de alterao por emenda Constituio? (ver MS 23.047-MC, DJ de 14- 11-2003) 12. Pode um direito fundamental que no foi cogitado pelo poder constituinte originrio, mas que foi criado por emenda Constituio, ser abolido por outra emenda Constituio? 13. A Constituio de 1988 expresso do Poder Constituinte originrio, ou se trata de emenda Constituio de 1967-1969? Que importncia prtica tem essa questo? 14. possvel invocar direito adquirido contra disposio constante de emenda Constituio? (ver STF: MS 24.875, DJ 6-10-2006)
  27. 27. Captulo 3 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Acrdos: RMS 14557 / SP SO PAULO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANA Relator(a): Min. CANDIDO MOTTA Julgamento: 17/05/1965 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicao: DJ 23-06-1965 PP-***** EMENT VOL-00623-02 PP-00644 RTJ VOL-00033-03 PP-00330 EMENTA: ANULAO DE TTULOS DE EFETIVAO DE FUNCIONRIOS COM BASE EM LEI INCONSTITUCIONAL. A RECUSA DO CUMPRIMENTO DA LEI, POR INCONSTITUCIONALIDADE S POSSVEL QUANDO EVIDENTE. PECULIARIDADE DO CASO.
  28. 28. MS 15886 / DF DISTRITO FEDERAL MANDADO DE SEGURANA Relator(a): Min. VICTOR NUNES Julgamento: 26/05/1966 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 27-06-1967 PP-02023 EMENT VOL-00696-01 PP-00299 RTJ VOL-00041-03 PP-00669 EMENTA: REESTRUTURAO DE QUADROS DE AUTARQUIA DO MINISTRIO DA VIAO. MATRIA CONSTITUCIONAL. 1) Inconstitucionalidade de lei. Presuno de constitucionalidade. Recusa de ampliao de lei considerada inconstitucional pelo Executivo. Consequncias, a esse respeito, da E. C. 16/65. Ato, no caso, anterior a essa emenda. 2) Efeito, no tempo, da declarao judicial de inconstitucionalidade. 3) Iniciativa do Procurador-Geral quanto representao de inconstitucionalidade. 4) Procurador de autarquia. Efetivao mediante concurso de ttulos (L. 2.123/53). Sua admissibilidade pela jurisprudncia do STF Subsistncia da citada lei, apesar de mantido o voto a dispositivo de projeto que dispunha no mesmo sentido. 5) Nenhum aumento de despesa resultante da eventual efetivao de procurador de autarquia, que j se encontrava no exerccio interino do cargo, cuja supresso nem chegou a ser proposta. Procedncia da segurana. 6) Improcedncia do pedido, relativamente aos cargos de consultor jurdico, que foram suprimidos, porque, a juzo da maioria, havia matria de fato controvertida quanto ao alegado aumento de despesa. 7) Consideraes da minoria sobre o direito dos seus antigos ocupantes de serem considerados em disponibilidade, com vencimentos integrais, o que impediria a sua classificao em cargos de menores vencimentos. 8) Questo de ordem (no voto do Relator) sobre a proclamao do resultado, em face da presuno de constitucionalidade, favorecendo o governo em uma das questes, mas no na outra.
  29. 29. RE 271286 AgR / RS RIO GRANDE DO SUL AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 12/09/2000 rgo Julgador: Segunda Turma Publicao: DJ 24-11-2000 PP-00101 EMENT VOL-02013-07 PP-01409 EMENTA: PACIENTE COM HIV/AIDS PESSOA DESTITUDA DE RECURSOS FINANCEIROS DIREITO VIDA E SADE FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER PBLICO (CF, ARTS. 5, CAPUT, E 196) PRECEDENTES (STF) RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO SADE REPRESENTA CONSEQUNCIA CONSTITUCIONAL INDISSOCIVEL DO DIREITO VIDA. O direito pblico subjetivo sade representa prerrogativa jurdica indisponvel assegurada generalidade das pessoas pela prpria Constituio da Repblica (art. 196). Traduz bem jurdico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsvel, o Poder Pblico, a quem incumbe formular e implementar polticas sociais e econmicas idneas que visem a garantir, aos cidados, inclusive queles portadores do vrus HIV, o acesso universal e igualitrio assistncia farmacutica e mdico- hospitalar. O direito sade alm de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas representa consequncia constitucional indissocivel do direito vida. O Poder Pblico, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuao no plano da organizao federativa brasileira, no pode mostrar-se indiferente ao problema da sade da populao, sob pena de incidir, ainda que por censurvel omisso, em grave comportamento inconstitucional. A INTERPRETAO DA NORMA PROGRAMTICA NO PODE TRANSFORM- LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQUENTE. O carter programtico da regra inscrita no art. 196 da Carta Poltica que tem por destinatrios todos os entes polticos que compem, no plano institucional, a organizao federativa do Estado brasileiro no pode converter-se em promessa constitucional inconsequente, sob pena de o Poder Pblico, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegtima, o cumprimento de seu impostergvel dever, por um gesto irresponsvel de infidelidade governamental ao que determina a prpria Lei Fundamental do Estado. DISTRIBUIO GRATUITA DE MEDICAMENTOS A PESSOAS CARENTES. O reconhecimento judicial da validade jurdica de programas de distribuio gratuita de medicamentos a pessoas carentes, inclusive quelas portadoras do vrus HIV/AIDS, d efetividade a preceitos fundamentais da Constituio da Repblica (arts. 5, caput, e 196) e representa, na concreo do seu alcance, um gesto reverente e solidrio de apreo vida e sade das pessoas, especialmente daquelas que nada tm e nada possuem, a no ser a conscincia de sua prpria humanidade e de sua essencial dignidade. Precedentes do STF.
  30. 30. RE 161243 / DF DISTRITO FEDERAL RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO Julgamento: 29/10/1996 rgo Julgador: Segunda Turma Publicao: DJ 19-12-1997 PP-00057 EMENT VOL-01896-04 PP-00756 EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRABALHO. PRINCPIO DA IGUALDADE. TRABALHADOR BRASILEIRO EMPREGADO DE EMPRESA ESTRANGEIRA: ESTATUTOS DO PESSOAL DESTA: APLICABILIDADE AO TRABALHADOR ESTRANGEIRO E AO TRABALHADOR BRASILEIRO. C.F., 1967, art. 153, 1; C.F., 1988, art. 5, caput. I. Ao recorrente, por no ser francs, no obstante trabalhar para a empresa francesa, no Brasil, no foi aplicado o Estatuto do Pessoal da Empresa, que concede vantagens aos empregados, cuja aplicabilidade seria restrita ao empregado de nacionalidade francesa. Ofensa ao princpio da igualdade: C.F., 1967, art. 153, 1; C.F., 1988, art. 5, caput). II. A discriminao que se baseia em atributo, qualidade, nota intrnseca ou extrnseca do indivduo, como o sexo, a raa, a nacionalidade, o credo religioso, etc., inconstitucional. Precedente do STF: Ag 110.846(AgRg)-PR, Clio Borja, RTJ 119/465. III. Fatores que autorizariam a desigualizao no ocorrentes no caso. IV. R.E. conhecido e provido.
  31. 31. HC 71373 / RS RIO GRANDE DO SUL HABEAS CORPUS Relator(a): Min. FRANCISCO REZEK Relator(a) p/ Acrdo: Min. MARCO AURLIO Julgamento: 10/11/1994 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 22-11-1996 PP-45686 EMENT VOL-01851-02 PP-00397 EMENTA: INVESTIGAO DE PATERNIDADE EXAME DNA CONDUO DO RU DEBAIXO DE VARA. Discrepa, a mais no poder, de garantias constitucionais implcitas e explcitas preservao da dignidade humana, da intimidade, da intangibilidade do corpo humano, do imprio da lei e da inexecuo especfica e direta de obrigao de fazer provimento judicial que, em ao civil de investigao de paternidade, implique determinao no sentido de o ru ser conduzido ao laboratrio, debaixo de vara, para coleta do material indispensvel feitura do exame DNA. A recusa resolve-se no plano jurdico-instrumental, consideradas a dogmtica, a doutrina e a jurisprudncia, no que voltadas ao deslinde das questes ligadas prova dos fatos.
  32. 32. HC 76060 / SC SANTA CATARINA HABEAS CORPUS Relator(a): Min. SEPLVEDA PERTENCE Julgamento: 31/03/1998 rgo Julgador: Primeira Turma Publicao: DJ 15-05-1998 PP-00044 EMENT VOL-01910-01 PP-00130 EMENTA: DNA: submisso compulsria ao fornecimento de sangue para a pesquisa do DNA: estado da questo no direito comparado: precedente do STF que libera do constrangimento o ru em ao de investigao de paternidade (HC 71.373) e o dissenso dos votos vencidos: deferimento, no obstante, do HC na espcie, em que se cuida de situao atpica na qual se pretende de resto, apenas para obter prova de reforo submeter ao exame o pai presumido, em processo que tem por objeto a pretenso de terceiro de ver-se declarado o pai biolgico da criana nascida na constncia do casamento do paciente: hiptese na qual, luz do princpio da proporcionalidade ou da razoabilidade, se impe evitar a afronta dignidade pessoal que, nas circunstncias, a sua participao na percia substantivaria.
  33. 33. RHC 59104 / SP SO PAULO RECURSO EM HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 25/09/1981 rgo Julgador: SEGUNDA TURMA Publicao: DJ 03-11-1981 PP-10936 EMENT VOL-01232-01 PP-00213 EMENTA: HABEAS CORPUS. TROTTOIR. PEDIDO DE SALVO CONDUTO PARA PRATIC- LO. NO H DIREITO CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO PRATICA DE TROTTOIR, A QUAL CONTRRIA AOS BONS COSTUMES, OFENSIVA DA MORALIDADE PBLICA E FONTE DE CONSTRANGIMENTO PARA TRANSEUNTES E RESIDENTES. RECURSO ORDINRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
  34. 34. HC 82959 / SP SO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURLIO Julgamento: 23/02/2006 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 01-09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510 RTJ VOL-00200-02 PP-00795 EMENTA: PENA REGIME DE CUMPRIMENTO PROGRESSO RAZO DE SER. A progresso no regime de cumprimento da pena, nas espcies fechado, semiaberto e aberto, tem como razo maior a ressocializao do preso que, mais dia ou menos dia, voltar ao convvio social. PENA CRIMES HEDIONDOS REGIME DE CUMPRIMENTO PROGRESSO BICE ARTIGO 2, 1, DA LEI N 8.072/90 INCONSTITUCIONALIDADE EVOLUO JURISPRUDENCIAL. Conflita com a garantia da individualizao da pena artigo 5, inciso XLVI, da Constituio Federal a imposio, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligncia do princpio da individualizao da pena, em evoluo jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2, 1, da Lei n 8.072/90.
  35. 35. Rp 930 / DF DISTRITO FEDERAL REPRESENTAO Relator(a): Min. CORDEIRO GUERRA Relator(a) p/ Acrdo: Min. RODRIGUES ALCKMIN Julgamento: 05/05/1976 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO EMENTA: LEI N. 4.116, DE 27.8.62. INCONSTITUCIONALIDADE. EXERCCIO LIVRE DE QUALQUER TRABALHO, OFCIO OU PROFISSO (C.F., ART. 153, PAR. 23). INCONSTITUCIONAL A LEI QUE ATENTA CONTRA A LIBERDADE CONSAGRADA NA CONSTITUIO FEDERAL, REGULAMENTANDO E CONSEQUENTEMENTE RESTRINGINDO EXERCCIO DE PROFISSAO QUE NO PRESSUPE CONDIES DE CAPACIDADE. REPRESENTAO PROCEDENTE IN TOTUM.
  36. 36. Rp 1077 / RJ RIO DE JANEIRO REPRESENTAO Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 28/03/1984 rgo Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicao: DJ 28-09-1984 PP-15955 EMENT VOL-01351-01 PP-00018 RTJ VOL-00112-01 PP-00034 EMENTA: TAXA JUDICIRIA. TAXA JUDICIRIA E TRIBUTO DA ESPCIE TAXA. ESSA NATUREZA JURDICA NO FOI ALTERADA COM A EDIO DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 7/77. SE A TAXA JUDICIRIA, POR EXCESSIVA, CRIAR OBSTCULO CAPAZ DE IMPOSSIBILITAR A MUITOS A OBTENO DE PRESTAO JURISDICIONAL, ELA INCONSTITUCIONAL, POR OFENSAAO DISPOSTO NA PARTE INICIAL DO PAR-4 DO ARTIGO 153 DA CONSTITUIO. REPRESENTAO JULGADA PROCEDENTE EM PARTE, PARA DECLARAR-SE A INCONSTITUCIONALIDADE DAS EXPRESSES DOS PROCURADORES DO ESTADO NOS CASOS PREVISTOS NESTE CAPTULO, BEM COMO SOBRE TODOS OS ATOS EXTRAJUDICIAIS PRATICADOS POR TABELIES, OFICIAIS DE REGISTROS PBLICOS, DE DISTRIBUIO E DE PROTESTOS DE TITULOS, DAS SERVENTIAS OFICIALIZADAS OU NO E OU PELOS SERVENTURIOS, CONFORME PREVISTO NESTE ARTIGO DO CAPUT DO ARTIGO 112; DOS PARGRAFOS 1, 2. E 3. DESSE MESMO ARTIGO 112; DO INCISO VIII DO ARTIGO 114; DO ARTIGO 118 E DE SEUS PARGRAFOS; DO ARTIGO 123; DO ARTIGO 124; DO ARTIGO 125 E DE SEUS PARGRAFOS; DO ARTIGO 129; DOS INCISOS I E III, E DAS EXPRESSES OU CONFESSADA EM PEDIDO J EXISTENTE DO INCISO II, TODOS DO ARTIGO 130; DO ARTIGO 133; DO ARTIGO 134, CAPUT E INCISOS; TODOS ELES NA REDAO DADA PELA LEI 383, DE 4 DE DEZEMBRO DE 1980, DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, A QUAL ALTEROU A QUE VINHA DO DECRETO-LEI 403, DE 28 DE DEZEMBRO DE 1978 E DA LEI 289, DE 5 DE DEZEMBRO DE 1979, QUE J HAVIAM MODIFICADO O DECRETO- LEI 5, DE 15 DE MARO DE 1975, DO MESMO ESTADO; E INCONSTITUCIONAL, POR FIM, O ARTIGO 3 DA PRPRIA LEI 383, DE 4 DE DEZEMBRO DE 1980, ACIMA REFERIDA.
  37. 37. ADI 223 MC / DF DISTRITO FEDERAL MEDIDA CAUTELAR NA AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. PAULO BROSSARD Relator(a) p/ Acrdo: Min. SEPLVEDA PERTENCE Julgamento: 05/04/1990 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 29-06-1990 PP-06218 EMENT VOL-01587-01 PP-00001 EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE CONTRA A MEDIDA PROVISRIA 173, DE 18.3.90, QUE VEDA A CONCESSO DE MEDIDA LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANA E EM AES ORDINARIAS E CAUTELARES DECORRENTES DAS MEDIDAS PROVISRIAS NMEROS 151, 154, 158, 160, 162, 165, 167 E 168: INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE SUSPENSO CAUTELAR DA VIGNCIA DO DIPLOMA IMPUGNADO: RAZES DOS VOTOS VENCEDORES. SENTIDO DA INOVADORA ALUSO CONSTITUCIONAL A PLENITUDE DA GARANTIA DA JURISDIO CONTRA A AMEAA A DIREITO: NFASE A FUNO PREVENTIVA DE JURISDIO, NA QUAL SE INSERE A FUNO CAUTELAR E, QUANDO NECESSRIO, O PODER DE CAUTELA LIMINAR. IMPLICAES DA PLENITUDE DA JURISDIO CAUTELAR, ENQUANTO INSTRUMENTO DE PROTEO AO PROCESSO E DE SALVAGUARDA DA PLENITUDE DAS FUNES DO PODER JUDICIRIO. ADMISSIBILIDADE, NO OBSTANTE, DE CONDIES E LIMITAES LEGAIS AO PODER CAUTELAR DO JUIZ. A TUTELA CAUTELAR E O RISCO DO CONSTRANGIMENTO PRECIPITADO A DIREITOS DA PARTE CONTRRIA, COM VIOLAO DA GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. CONSEQUENTE NECESSIDADE DE CONTROLE DA RAZOABILIDADE DAS LEIS RESTRITIVAS AO PODER CAUTELAR. ANTECEDENTES LEGISLATIVOS DE VEDAO DE LIMINARES DE DETERMINADO CONTEDO. CRITRIO DE RAZOABILIDADE DAS RESTRIES, A PARTIR DO CARTER ESSENCIALMENTE PROVISRIO DE TODO PROVIMENTO CAUTELAR, LIMINAR OU NO. GENERALIDADE, DIVERSIDADE E IMPRECISO DE LIMITES DO MBITO DE VEDAO DE LIMINAR DA MP 173, QUE, SE LHE PODEM VIR, A FINAL, A COMPROMETER A VALIDADE, DIFICULTAM DEMARCAR, EM TESE, NO JUZO DE DELIBAO SOBRE O PEDIDO DE SUA SUSPENSO CAUTELAR, AT ONDE SO RAZOVEIS AS PROIBIES NELA IMPOSTAS, ENQUANTO CONTENO AO ABUSO DO PODER CAUTELAR, E ONDE SE INICIA, INVERSAMENTE, O ABUSO DAS LIMITAES E A CONSEQUENTE AFRONTA A PLENITUDE DA JURISDIO E AO PODER JUDICIRIO. INDEFERIMENTO DA SUSPENSO LIMINAR DA MP 173, QUE NO PREJUDICA, SEGUNDO O RELATOR DO ACRDO, O EXAME JUDICIAL EM CADA CASO CONCRETO DA CONSTITUCIONALIDADE, INCLUDA A RAZOABILIDADE, DA APLICAO DA NORMA PROIBITIVA DA LIMINAR. CONSIDERAES, EM DIVERSOS VOTOS, DOS RISCOS DA SUSPENSO CAUTELAR DA MEDIDA IMPUGNADA.
  38. 38. ADI 319 QO / DF DISTRITO FEDERAL QUESTO DE ORDEM NA AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 03/03/1993 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 30-04-1993 PP-07563 EMENT VOL-01701-01 PP-00036 EMENTA: Ao direta de inconstitucionalidade. Lei 8.039, de 30 de maio de 1990, que dispe sobre critrios de reajuste das mensalidades escolares e d outras providncias. Em face da atual Constituio, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do princpio da livre concorrncia com os da defesa do consumidor e da reduo das desigualdades sociais, em conformidade com os ditames da justia social, pode o Estado, por via legislativa, regular a poltica de preos de bens e de servios, abusivo que o poder econmico que visa ao aumento arbitrrio dos lucros. No , pois, inconstitucional a Lei 8.039, de 30 de maio de 1990, pelo s fato de ela dispor sobre critrios de reajuste das mensalidades das escolas particulares. Exame das inconstitucionalidades alegadas com relao a cada um dos artigos da mencionada Lei. Ofensa ao princpio da irretroatividade com relao a expresso marco contida no pargrafo 5 do artigo 2 da referida Lei. Interpretao conforme a Constituio aplicada ao caput do artigo 2, ao pargrafo 5 desse mesmo artigo e ao artigo 4, todos da Lei em causa. Ao que se julga procedente em parte, para declarar a inconstitucionalidade da expresso marco contida no pargrafo 5 do artigo 2 da Lei n. 8.039/90, e, parcialmente, o caput e o pargrafo 2 do artigo 2, bem como o artigo 4 os trs em todos os sentidos que no aquele segundo o qual de sua aplicao esto ressalvadas as hipteses em que, no caso concreto, ocorra direito adquirido, ato jurdico perfeito e coisa julgada.
  39. 39. Inq 1247 / DF DISTRITO FEDERAL INQURITO Relator(a): Min. MARCO AURLIO Julgamento: 15/04/1998 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 18-10-2002 PP-00026 EMENT VOL-02087-01 PP-00075 EMENTA: CRIME CONTRA A HONRA ELEMENTO SUBJETIVO O DOLO INVIOLABILIDADE PARLAMENTAR RETORSO ALCANCE. Tratando-se de hiptese a revelar prtica inicial coberta pela inviolabilidade parlamentar, sentindo-se o titular do mandato ofendido com resposta formalizada por homem pblico na defesa da prpria honra, nico meio ao alcance para rechaar aleivosias, cumpre ao rgo julgador adotar viso flexvel, compatibilizando valores de igual envergadura. A ptica ortodoxa prpria aos crimes contra os costumes, segundo a qual a retorso peculiar ao crime de injria, cede a enfoque calcado no princpio constitucional da proporcionalidade, da razoabilidade, da razo de ser das coisas, potencializando-se a inteno do agente, o elemento subjetivo prprio ao tipo o dolo e, mais do que isso, o socialmente aceitvel. Consideraes e precedente singular ao caso concreto.
  40. 40. Rcl 2040 QO / DF DISTRITO FEDERAL QUESTO DE ORDEM NA RECLAMAO Relator(a): Min. NRI DA SILVEIRA Julgamento: 21/02/2002 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 27-06-2003 PP-00031 EMENT VOL-02116-01 PP-00129 EMENTA: Reclamao. Reclamante submetida ao processo de Extradio n. 783, disposio do STF. 2. Coleta de material biolgico da placenta, com propsito de se fazer exame de DNA, para averiguao de paternidade do nascituro, embora a oposio da extraditanda. 3. Invocao dos incisos X e XLIX do art. 5, da CF/88. 4. Ofcio do Secretrio de Sade do DF sobre comunicao do Juiz Federal da 10 Vara da Seo Judiciria do DF ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte HRAN, autorizando a coleta e entrega de placenta para fins de exame de DNA e fornecimento de cpia do pronturio mdico da parturiente. 5. Extraditanda disposio desta Corte, nos termos da Lei n. 6.815/80. Competncia do STF, para processar e julgar eventual pedido de autorizao de coleta e exame de material gentico, para os fins pretendidos pela Polcia Federal. 6. Deciso do Juiz Federal da 10 Vara do Distrito Federal, no ponto em que autoriza a entrega da placenta, para fins de realizao de exame de DNA, suspensa, em parte, na liminar concedida na Reclamao. Mantida a determinao ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte, quanto realizao da coleta da placenta do filho da extraditanda. Suspenso tambm o despacho do Juiz Federal da 10 Vara, na parte relativa ao fornecimento de cpia integral do pronturio mdico da parturiente. 7. Bens jurdicos constitucionais como moralidade administrativa, persecuo penal pblica e segurana pblica que se acrescem, como bens da comunidade, na expresso de Canotilho, ao direito fundamental honra (CF, art. 5, X), bem assim direito honra e imagem de policiais federais acusados de estupro da extraditanda, nas dependncias da Polcia Federal, e direito imagem da prpria instituio, em confronto com o alegado direito da reclamante intimidade e a preservar a identidade do pai de seu filho. 8. Pedido conhecido como reclamao e julgado procedente para avocar o julgamento do pleito do Ministrio Pblico Federal, feito perante o Juzo Federal da 10 Vara do Distrito Federal. 9. Mrito do pedido do Ministrio Pblico Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para autorizar a realizao do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilizao da placenta recolhida, sendo, entretanto, indeferida a splica de entrega Polcia Federal do pronturio mdico da reclamante. ADPF-101/DF, Rel. Min. Crmen Lcia, Informativo STF n. 538, 9 a 13-3-2009: PLENRIO ADPF e Importao de Pneus Usados 1 O Tribunal iniciou julgamento de arguio de descumprimento de preceito fundamental, ajuizada pelo Presidente da Repblica, em que se discute se decises judiciais que autorizam a importao de pneus
  41. 41. usados ofendem os preceitos inscritos nos artigos 196 e 225 da CF (Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao. ... Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.). Sustenta o arguente que numerosas decises judiciais tm sido proferidas em contrariedade a Portarias do Departamento de Operaes de Comrcio Exterior DECEX e da Secretaria de Comrcio Exterior SECEX, Resolues do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA e Decretos federais que, expressamente, vedam a importao de bens de consumo usados, com especial referncia aos pneus usados. Inicialmente, por maioria, rejeitou-se a preliminar de no cabimento da ao. Reputou-se atendido o princpio da subsidiariedade, tendo em conta a pendncia de mltiplas aes judiciais, nos diversos graus de jurisdio, inclusive no Supremo, nas quais h interpretaes e decises divergentes sobre a matria, o que tem gerado situao de insegurana jurdica, no havendo outro meio hbil a solucionar a polmica sob exame. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurlio, que, salientando no estar includa a jurisdio na aluso, contida na parte final do art. 1 da Lei 9.882/99, a ato do poder pblico e, ressaltando no ser a ADPF sucedneo recursal contra decises judiciais, reputava inadequada a medida formalizada. ADPF e Importao de Pneus Usados 2 No mrito, a Min. Crmen Lcia, relatora, julgou parcialmente procedente o pedido formulado para: 1) declarar vlidas constitucionalmente as normas do art. 27 da Portaria DECEX 8/91; do Decreto 875/93, que ratificou a Conveno da Basilia; do art. 4 da Resoluo 23/96; do art. 1 da Resoluo CONAMA 235/98; do art. 1 da Portaria SECEX 8/2000; do art. 1 da Portaria SECEX 2/2002; do art. 47-A do Decreto 3.179/99 e seu 2, includo pelo Decreto 4.592/2003; do art. 39 da Portaria SECEX 17/2003; e do art. 40 da Portaria SECEX 14/2004, com efeitos ex tunc; 2) declarar inconstitucionais, tambm com efeitos ex tunc, as interpretaes, includas as judicialmente acolhidas, que, afastando a aplicao daquelas normas, permitiram ou permitem a importao de pneus usados de qualquer espcie, a includos os remoldados, ressalvados, quanto a estes, os provenientes dos Pases integrantes do MERCOSUL, na forma das normas acima citadas e que tenham incidido sobre os casos; 3) excluir da incidncia daqueles efeitos pretritos determinados as decises judiciais com trnsito em julgado, que no estejam sendo objeto de nenhum questionamento, uma vez que somente podem ser objeto da ADPF atos ou decises normativas, administrativas ou judiciais impugnveis judicialmente. ADPF e Importao de Pneus Usados 3 A relatora, ao iniciar o exame de mrito, salientou que, na espcie em causa, se poria, de um lado, a proteo aos preceitos fundamentais relativos ao direito sade e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cujo descumprimento estaria a ocorrer por decises judiciais conflitantes; e, de outro, o desenvolvimento econmico sustentvel, no qual se abrigaria, na compreenso de alguns, a importao de pneus usados para o seu aproveitamento como matria-prima, utilizada por vrias empresas que
  42. 42. gerariam empregos diretos e indiretos. Em seguida, apresentou um breve histrico da legislao sobre o assunto, necessria para o deslinde da causa. No ponto, enfatizou a incluso da sade como direito social fundamental no art. 6 da CF/88, bem como as previses dos seus artigos 196 e 225. No plano internacional, citou a Conveno da Basilia sobre o Controle de Movimentos Transfronteirios de Resduos Perigosos e seu Depsito, de 22.3.89 ratificada pelo Decreto 875/93 , adotada e reconhecida como documento de referncia mundial na Conferncia de Plenipotencirios, a qual, com reflexos diretos na legislao interna dos Estados signatrios, dentre os quais o Brasil, ensejou a edio, pelo Departamento de Operaes de Comrcio Exterior rgo subordinado Secretaria de Comrcio Exterior SECEX , da Portaria DECEX 8/91, que vedou a importao de bens de consumo usados. Mencionou, ademais, outras Portarias do DECEX, e do SECEX, Decretos e Resolues do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA em sentido semelhante. Registrou que, com a edio da Portaria SECEX 8/2000, que proibiu a importao de pneumticos recauchutados e usados, seja como bem de consumo, seja como matria-prima, classificados na posio 4012 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL, o Uruguai se considerou prejudicado e solicitou ao Brasil negociaes diretas sobre a proibio de importaes de pneus usados procedentes daquele pas, nos termos dos artigos 2 e 3 do Protocolo de Braslia. Explicou que isso deu causa ao questionamento do Uruguai perante o Tribunal Arbitral ad hoc do MERCOSUL, que, em 2002, concluiu pela ilegalidade da proibio de importao de pneus remoldados de pases integrantes do bloco econmico da Amrica do Sul, o que obrigou o Brasil a adequar sua legislao quela deciso, irrecorrvel. Em decorrncia, foi editada a Portaria SECEX 2/2002, que manteve a vedao de importao de pneus usados, exceo dos pneus remoldados provenientes dos pases-partes do MERCOSUL. ADPF e Importao de Pneus Usados 4 Prosseguindo, a relatora afirmou que a questo posta na presente ADPF seria saber, portanto, se as decises judiciais nacionais, que vm permitindo a importao de pneus usados de Estados que no compem o MERCOSUL, implicariam descumprimento dos preceitos fundamentais invocados. Realou a imprescindibilidade de se solucionar o trato judicial sobre a matria, que decorreu, sobretudo, da circunstncia de ela ter sido objeto de contencioso perante a Organizao Mundial do Comrcio OMC, a partir de 20.6.2005, quando houve Solicitao de Consulta da Unio Europeia ao Brasil. Disse que a Unio Europeia formulou referida consulta acerca da proibio de importao de pneus usados e reformados dela procedentes e alegou afronta aos princpios do livre comrcio e da isonomia entre os pases membros da OMC, em razo da mantena da importao de pneus remoldados provenientes dos Estados integrantes do MERCOSUL. Informou que as consideraes apresentadas no Relatrio do Painel, que circulou entre os Membros da OMC, levaram a Unio Europeia a apelar, tendo o rgo de Apelao da OMC mantido a deciso no sentido de que seria justificvel a medida adotada pelo Brasil quanto proibio de pneus usados e reformados, para fins de proteger a vida e a sade humanas, bem como a sua flora e fauna, mas concludo que a iseno de proibio de importao de pneus usados dada ao MERCOSUL e as importaes destes por meio de liminares configurariam uma injustificada e arbitrria discriminao (GATT, art. XX, caput). Em face disso, a relatora reafirmou a razo fundamental de se dar uma soluo definitiva sobre uma pendncia que, no plano internacional, justificaria a derrocada das normas proibitivas sobre a importao de pneus usados, haja vista que, para o rgo de Apelao da OMC, se uma parte do Poder Judicirio brasileiro libera empresas para import-los, a despeito da
  43. 43. vigncia das normas postas, porque os objetivos alegados pelo Brasil, perante o rgo internacional do comrcio, no teriam o fundamento constitucional que as validariam e fundamentariam. Acrescentou, no ponto, que, em 17.12.2007, o rgo de Soluo de Controvrsias DSB adotou os aludidos relatrios do Painel e do rgo de Apelao, e que, em 15.12.2008, o Brasil se comprometeu a implementar as recomendaes e as regras do rgo de Soluo de Controvrsias, de maneira consistente com as obrigaes da OMC. ADPF e Importao de Pneus Usados 5 Na sequncia, a Min. Crmen Lcia deixou consignado histrico sobre a utilizao do pneu e estudos sobre os procedimentos de sua reciclagem, que demonstraram as graves consequncias geradas por estes na sade das populaes e nas condies ambientais, em absoluto desatendimento s diretrizes constitucionais que se voltam exatamente ao contrrio, ou seja, ao direito sade e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Asseverou que, se h mais benefcios financeiros no aproveitamento de resduos na produo do asfalto borracha ou na indstria cimenteira, haveria de se ter em conta que o preo industrial a menor no poderia se converter em preo social a maior, a ser pago com a sade das pessoas e com a contaminao do meio ambiente. Fez ampla considerao sobre o direito ao meio ambiente salientando a observncia do princpio da precauo pelas medidas impostas nas normas brasileiras apontadas como descumpridas pelas decises ora impugnadas , e o direito sade. Afastou, tambm, o argumento de que as restries que o Brasil quer aplicar aos atos de comrcio no poderiam ser veiculadas por ato regulamentar, mas apenas por lei em sentido formal. No ponto, reputou plenamente atendido o princpio da legalidade, haja vista que o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior tem como rea de competncia o desenvolvimento de polticas de comrcio exterior e a regulamentao e execuo das atividades relativas a este, sendo que as normas editadas pelo seu Departamento de Comrcio Exterior DECEX, responsvel pelo monitoramento e pela fiscalizao do comrcio exterior, seriam imediatamente aplicveis, em especial as proibitivas de trnsito de bens, ainda no desembaraados, no territrio nacional. Citou diversas normas editadas pelo DECEX e SECEX que, segundo jurisprudncia da Corte, teriam fundamento direto na Constituio (art. 237). Aps relembrar no ter havido tratamento discriminatrio nas relaes comerciais adotado pelo Brasil, no que respeita exceo da importao de pneus remoldados dos pases do MERCOSUL, que se deu ante determinao do Tribunal ad hoc a que teve de se submeter, a relatora anotou que os pases da Unio Europeia estariam se aproveitando de brechas na legislao brasileira ou em autorizaes judiciais para descartar pneus inservveis tanto no Brasil quanto em outros pases em desenvolvimento. Ressaltou que, se a OMC tivesse acolhido a pretenso da Unio Europia, o Brasil poderia ser obrigado a receber, por importao, pneus usados de toda a Europa, que detm um passivo da ordem de 2 a 3 bilhes de unidades. ADPF e Importao de Pneus Usados 6 A relatora, tendo em conta o que exposto e, dentre outros, a dificuldade na decomposio dos elementos que compem o pneu e de seu armazenamento, os problemas que advm com sua incinerao, o alto ndice de propagao de doenas, como a dengue, decorrente do acmulo de pneus descartados ou
  44. 44. armazenados a cu aberto, o aumento do passivo ambiental principalmente em face do fato de que os pneus usados importados tm taxa de aproveitamento para fins de recauchutagem de apenas 40%, constituindo o resto matria inservvel, ou seja, lixo ambiental , considerou demonstrado o risco da segurana interna, compreendida no somente nas agresses ao meio ambiente que podem ocorrer, mas tambm sade pblica, e invivel, por conseguinte, a importao de pneus usados. Rejeitou, ainda, o argumento dos interessados de que haveria ofensa ao princpio da livre concorrncia e da livre iniciativa, ao fundamento de que, se fosse possvel atribuir peso ou valor jurdico a tais princpios relativamente ao da sade e do meio ambiente ecologicamente equilibrado, preponderaria a proteo destes, cuja cobertura abrange a atual e as futuras geraes. Concluiu que, apesar da complexidade dos interesses e dos direitos envolvidos, a ponderao dos princpios constitucionais revelaria que as decises que autorizaram a importao de pneus usados ou remoldados teriam afrontado os preceitos constitucionais da sade e do meio ambiente ecologicamente equilibrado e, especificamente, os princpios que se expressam nos artigos 170, I e VI, e seu pargrafo nico, 196 e 225, todos da CF. Aps, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista do Min. Eros Grau.
  45. 45. ADI 3540 MC / DF DISTRITO FEDERAL MEDIDA CAUTELAR NA AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 01/09/2005 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-00528 EMENTA: MEIO AMBIENTE DIREITO PRESERVAO DE SUA INTEGRIDADE (CF, ART. 225) PRERROGATIVA QUALIFICADA POR SEU CARTER DE METAINDIVIDUALIDADE DIREITO DE TERCEIRA GERAO (OU DE NOVSSIMA DIMENSO) QUE CONSAGRA O POSTULADO DA SOLIDARIEDADE NECESSIDADE DE IMPEDIR QUE A TRANSGRESSO A ESSE DIREITO FAA IRROMPER, NO SEIO DA COLETIVIDADE, CONFLITOS INTERGENERACIONAIS ESPAOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS (CF, ART. 225, 1, III) ALTERAO E SUPRESSO DO REGIME JURDICO A ELES PERTINENTE MEDIDAS SUJEITAS AO PRINCPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE LEI SUPRESSO DE VEGETAO EM REA DE PRESERVAO PERMANENTE POSSIBILIDADE DE A ADMINISTRAO PBLICA, CUMPRIDAS AS EXIGNCIAS LEGAIS, AUTORIZAR, LICENCIAR OU PERMITIR OBRAS E/OUATIVIDADES NOS ESPAOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS, DESDE QUE RESPEITADA, QUANTO A ESTES, A INTEGRIDADE DOS ATRIBUTOS JUSTIFICADORES DO REGIME DE PROTEO ESPECIAL RELAES ENTRE ECONOMIA (CF, ART. 3, II, C/C O ART. 170, VI) E ECOLOGIA (CF, ART. 225) COLISO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS CRITRIOS DE SUPERAO DESSE ESTADO DE TENSO ENTRE VALORES CONSTITUCIONAIS RELEVANTES OS DIREITOS BSICOS DA PESSOA HUMANA E AS SUCESSIVAS GERAES (FASES OU DIMENSES) DE DIREITOS (RTJ 164/158, 160-161) A QUESTO DA PRECEDNCIA DO DIREITO PRESERVAO DO MEIO AMBIENTE: UMA LIMITAO CONSTITUCIONAL EXPLCITA ATIVIDADE ECONMICA (CF, ART. 170, VI) DECISO NO REFERENDADA CONSEQUENTE INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. A PRESERVAO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE: EXPRESSO CONSTITUCIONAL DE UM DIREITO FUNDAMENTAL QUE ASSISTE GENERALIDADE DAS PESSOAS. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Trata-se de um tpico direito de terceira gerao (ou de novssima dimenso), que assiste a todo o gnero humano (RTJ 158/205-206). Incumbe, ao Estado e prpria coletividade, a especial obrigao de defender e preservar, em benefcio das presentes e futuras geraes, esse direito de titularidade coletiva e de carter transindividual (RTJ 164/158-161). O adimplemento desse encargo, que irrenuncivel, representa a garantia de que no se instauraro, no seio da coletividade, os graves conflitos intergeneracionais marcados pelo desrespeito ao dever de solidariedade, que a todos se impe, na proteo desse bem essencial de uso comum das pessoas em geral. Doutrina. A ATIVIDADE ECONMICA NO PODE SER EXERCIDA EM DESARMONIA COM OS PRINCPIOS DESTINADOS A TORNAR EFETIVA A PROTEO AO MEIO AMBIENTE. A incolumidade do meio ambiente no pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivaes de ndole meramente econmica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econmica, considerada a disciplina constitucional que a rege,
  46. 46. est subordinada, dentre outros princpios gerais, quele que privilegia a defesa do meio ambiente (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noes de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espao urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurdicos de carter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que no se alterem as propriedades e os atributos que lhe so inerentes, o que provocaria inaceitvel comprometimento da sade, segurana, cultura, trabalho e bem-estar da populao, alm de causar graves danos ecolgicos ao patrimnio ambiental, considerado este em seu aspecto fsico ou natural. A QUESTO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL COMO FATOR DE OBTENO DO JUSTO EQUILBRIO ENTRE AS EXIGNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. O princpio do desenvolvimento sustentvel, alm de impregnado de carter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obteno do justo equilbrio entre as exigncias da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocao desse postulado, quando ocorrente situao de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condio inafastvel, cuja observncia no comprometa nem esvazie o contedo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito preservao do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras geraes. O ART. 4 DO CDIGO FLORESTAL E A MEDIDA PROVISRIA N 2.166- 67/2001: UM AVANO EXPRESSIVO NA TUTELA DAS REAS DE PRESERVAO PERMANENTE. A Medida Provisria n 2.166-67, de 24/08/2001, na parte em que introduziu significativas alteraes no art. 4o do Cdigo Florestal, longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrrio, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no mbito das reas de preservao permanente, em ordem a impedir aes predatrias e lesivas ao patrimnio ambiental, cuja situao de maior vulnerabilidade reclama proteo mais intensa, agora propiciada, de modo adequado e compatvel com o texto constitucional, pelo diploma normativo em questo. Somente a alterao e a supresso do regime jurdico pertinente aos espaos territoriais especialmente protegidos qualificam-se, por efeito da clusula inscrita no art. 225, 1, III, da Constituio, como matrias sujeitas ao princpio da reserva legal. lcito ao Poder Pblico qualquer que seja a dimenso institucional em que se posicione na estrutura federativa (Unio, Estados-membros, Distrito Federal e Municpios) autorizar, licenciar ou permitir a execuo de obras e/ou a realizao de servios no mbito dos espaos territoriais especialmente protegidos, desde que, alm de observadas as restries, limitaes e exigncias abstratamente estabelecidas em lei, no resulte comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territrios, a instituio de regime jurdico de proteo especial (CF, art. 225, 1, III).
  47. 47. ADI 1969 / DF DISTRITO FEDERAL AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 28/06/2007 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJe-092 DIVULG 30-08-2007 PUBLIC 31-08-2007 EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DECRETO 20.098/99, DO DISTRITO FEDERAL. LIBERDADE DE REUNIO E DE MANIFESTAO PBLICA. LIMITAES. OFENSA AO ART. 5, XVI, DA CONSTITUIO FEDERAL. I. A liberdade de reunio e de associao para fins lcitos constitui uma das mais importantes conquistas da civilizao, enquanto fundamento das modernas democracias polticas. II. A restrio ao direito de reunio estabelecida pelo Decreto distrital 20.098/99, a toda evidncia, mostra-se inadequada, desnecessria e desproporcional quando confrontada com a vontade da Constituio (Wille zur Verfassung). III. Ao direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do Decreto distrital 20.098/99.
  48. 48. ADI 1969 MC / DF DISTRITO FEDERAL MEDIDA CAUTELAR NA AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. MARCO AURLIO Julgamento: 24/03/1999 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 05-03-2004 PP-00013 EMENT VOL-02142-02 PP-00282 EMENTA: AO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE OBJETO DECRETO. Possuindo o decreto caracterstica de ato autnomo abstrato, adequado o ataque da medida na via da ao direta de inconstitucionalidade. Isso ocorre relativamente a ato do Poder Executivo que, a pretexto de compatibilizar a liberdade de reunio e de expresso com o direito ao trabalho em ambiente de tranquilidade, acaba por emprestar Carta regulamentao imprpria, sob os ngulos formal e material. LIBERDADE DE REUNIO E DE MANIFESTAO PBLICA LIMITAES. De incio, surge com relevncia mpar pedido de suspenso de decreto mediante o qual foram impostas limitaes liberdade de reunio e de manifestao pblica, proibindo-se a utilizao de carros de som e de outros equipamentos de veiculao de ideias. Legislao: LEI N 6.815, DE 19 DE AGOSTO DE 1980. (vide Cap. 08) LEI N 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990. (vide Cap. 06)
  49. 49. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL DECRETO N 20.010, DE 10 DE JANEIRO DE 1999 Art. 1 Fica vedada, com a utilizao de carros de som ou assemelhados, a realizao de manifestaes pblicas, nos locais abaixo descriminados: I Praa dos Trs Poderes; II Esplanada dos Ministrios; III Praa do Buriti. Art. 2 Este Decreto entra em vigor na data de sua publicao. Art. 3 Revogam-se as disposies em contrrio, e, em especial o Decreto n 20.007, de 14 de janeiro de 1999. JOAQUIM DOMINGOS RORIZ Governador Publicado no DODF de 21.01.1999, pg. 1. Questes: 15. correto afirmar que todos os direitos fundamentais acolhidos pela Constituio de 1988 esto contidos no Ttulo II do Diploma (Dos Direitos e Garantias Fundamentais)? (ver ADI 939, DJ 17-12- 1993). 16. A obrigao do Estado de incentivar e valorizar manifestaes culturais torna legtimas prticas tomadas como antigas manifestaes culturais que envolvem crueldade com os animais? (ver STF RE 153.531, DJ 13.3.1998). 17. A deciso do indivduo por uma vida pblica, numa carreira poltica, leva perda do seu direito imagem e privacidade? (ver STF: HC 78.426, DJ 7.5.1999 e Inq 503, RTJ 148/73) 18. Analise, sob o ngulo da teoria dos direitos fundamentais, a validade de uma avena, em que, em troca de uma renda vitalcia para os seus filhos, uma das partes assuma a condio de escravo do outro contratante. 19. Como conciliar o disposto no 1 do art. 5 da Constituio ( as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata) com a afirmao de que certos direitos sociais dependem de desenvolvimento legislativo para surtirem os efeitos prticos a que esto vocacionados? 20. Suponha que algum, que est a dias de terminar o cumprimento de uma longa pena por homicdio, se insurja contra um programa jornalstico que pretende rememorar o crime cometido h 25 anos, anunciado para ser transmitido, no dia do trmino do cumprimento da pena, por uma estao de
  50. 50. televiso que costuma ter alta audincia. Que argumentos, centrados na teoria dos direitos fundamentais, voc poderia desenvolver em favor desse presidirio na sua pretenso de evitar que o programa venha ao ar? 21. Tendo em vista a vinculao da Administrao Pblica aos direitos fundamentais, pode o administrador realizar, ele prprio, juzo de inconstitucionalidade de uma lei negando a ela aplicao por entend-la violadora de um direito fundamental? 22. Suponha que uma empresa esteja recrutando novos empregados do sexo feminino e exigindo, como requisito para a seleo, a apresentao de exame relativo a estado de gravidez. Essa exigncia constitucional? Quais os direitos fundamentais violados no caso? Tais direitos so oponveis aos atos praticados por empresa privada? 23. H situaes que, embora semanticamente includas na norma de direito fundamental, no acham nela proteo. Pode-se dizer que o curandeirismo se inclui no mbito de proteo da norma relativa ao direito fundamental liberdade de culto? (RHC 62.240/SP, RTJ, 114/1038, Rel. Min. Francisco Rezek). 24. Roberto ru em ao de investigao de paternidade, tendo se recusado a retirar amostra de sangue para exame de DNA. Em face da recusa, o juiz da causa ordenou que Roberto se submetesse ao exame, por entender no ser invocvel, no caso concreto, o direito personalssimo de disponibilidade do prprio corpo, pois a ele se sobreporia o direito do menor conhecer sua filiao. O ru tentou obter a reforma da deciso nas instncias ordinrias, no alcanando xito. Estando prxima a data marcada pelo juiz para o exame de DNA, Roberto impetrou habeas corpus no STF alegando constrangimento decorrente do cerceamento da sua liberdade de locomoo. Analise a questo jurdica posta, dissertando sobre a razoabilidade da medida e ponderando os princpios constitucionais envolvidos no caso. (ver: HC 71.373/RS, DJ de 22-11-1996, Rel. Marco Aurlio) 25. Em relao interveno do legislador no mbito de proteo dos direitos individuais, por vezes autorizada pela prpria Constituio, diferencie as categorias de simples reserva legal e reserva legal qualificada, utilizando exemplos contidos no texto constitucional. 26. Comente sobre as diferentes posies dogmticas acerca da proteo do ncleo essencial dos direitos fundamentais. 27. Explicite e analise o contedo que tem sido atribudo pelo Supremo Tribunal Federal ao princpio na proporcionalidade por meio da sua utilizao como instrumento para solucionar colises entre direitos fundamentais. 28. O que se entende por concorrncia de direitos fundamentais?
  51. 51. Captulo 4 DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPCIE Acrdos: Ext 984 / EU ESTADOS UNIDOS DA AMRICA EXTRADIO Relator(a): Min. CARLOS BRITTO Julgamento: 13/09/2006 rgo Julgador: Tribunal Pleno Publicao: DJ 17-11-2006 PP-00048 EMENT VOL-02256-01 PP-00001 LEXSTF v. 29, n. 337, 2007, p. 315-322 EMENTA: EXTRADIO. HOMICDIO DOLOSO. ALEGAO DE QUE A ACUSAO IMPRECISA. PERSEGUIO POLTICA. NO COMPROVAO. EXISTNCIA DE FILHO BRASILEIRO DEPENDENTE DA ECONOMIA PATERNA. FATOR NO IMPEDITIVO DO PROCESSO EXTRADICIONAL. PEDIDO DE EXTRADIO DEFERIDO. I Ao contrrio do que sustenta a defesa do extraditando, o pedido est suficientemente instrudo, pois dele figuram a descrio precisa do fato criminoso, suas circunstncias, data, local e natureza. II Inexistncia de elementos, nos autos, que permitam a concluso de que o extraditando vtima de perseguio poltica pelo governo do Estado requerente. III A existncia de filho brasileiro, ainda que dependente da economia paterna, no impede a concesso da extradio. Precedentes. IV Pedido extradicional deferido sob a condio de que o Estado requerente assuma, em carter formal, o compromisso de comutar eventual pena de morte ou de priso perptua em pena de priso com prazo mximo de 30 anos. Precedente: Ext. 855, Rel. Min. Celso de Mello.
  52. 52. RE 372472 / RN RIO GRANDE DO NORTE RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO Julgamento: 04/11/2003 rgo Julgador: Segunda Turma Publicao: DJ 28-11-2003 PP-00033 EMENT VOL-02134-05 PP-00929 EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ATO OMISSIVO DO PODER PBLICO: DETENTO MORTO POR OUTRO PRESO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: CULPA PUBLICIZADA: FALTA DO SERVIO. C.F., art. 37, 6. I. Tratando-se de ato omissivo do poder pblico, a responsabilidade civil por esse ato subjetiva, pelo que exige dolo ou culpa, em sentido estrito, esta numa de suas trs vertentes - a negligncia, a impercia ou a imprudncia -, no sendo, entretanto, necessrio individualiz-la, dado que pode ser atribuda ao servio pblico, de forma genrica, a falta do servio. II. A falta do servio - faute du service dos franceses - no dispensa o requisito da causalidade, vale dizer, do nexo de causalidade entre a ao omissiva atribuda ao poder pblico e o dano causado a terceiro. III. Detento assassinado por outro preso: responsabilidade civil do Estado: ocorrncia da falta do servio, com a culpa genrica do servio pblico, dado que o Estado deve zelar pela integridade fsica do preso. IV. R.E. conhecido e no provido.
  53. 53. RE 271286 AgR / RS RIO GRANDE DO SUL AG.REG.NO RECURSO EXTRAORDINRIO Relator(a): Min. CELSO DE MELLO Julgamento: 12/09/2000 rgo Julgador: Segunda Turma Publicao: DJ 24-11-2000 PP-00101 EMENT VOL-02013-07 PP-01409 EMENTA: PACIENTE COM HIV/AIDS PESSOA DESTITUDA DE RECURSOS FINANCEIROS DIREITO VIDA E SADE FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER PBLICO (CF, ARTS. 5, CAPUT, E 196) PRECEDENTES (STF) RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO SADE REPRESENTA CONSEQUNCIA CONSTITUCIONAL INDISSOCIVEL DO DIREITO VIDA. O direito pblico subjetivo sade representa prerrogativa jurdica indisponvel assegurada generalidade das pessoas pela prpria Constituio da Repblica (art. 196). Traduz bem jurdico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsvel, o Poder Pblico, a quem incumbe formular e implementar polticas sociais e econmicas idneas que visem a garantir, aos cidados, inclusive queles portadores do vrus HIV, o acesso universal e igualitrio assistncia farmacutica e mdico- hospitalar. O direito sade alm de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas representa consequncia constitucional indissocivel do direito vida. O Poder Pblico, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuao no plano da organizao federativa brasileira, no pode mostrar-se indiferente ao problema da sade da populao, sob pena de incidir, ainda que por censurvel omisso, em grave comportamento inconstitucional. A INTERPRETAO DA NORMA PROGRAMTICA NO PODE TRANSFORM-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQUENTE. O carte