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Memórias do II Workshop Integração de saberes ambientais Programa de Pós-graduação em unesp Sorocaba

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Memórias do II Workshop

Integração de saberes

ambientais

Programa de Pós-graduação em

unespSorocaba

Produção

Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais - UNESP

Composição eletrônica

Felipe Hashimoto Fengler e Bruno Vicente Marques

Capa

Felipe Hashimoto Fengler

W926m

Workshop de Integração de Saberes Ambientais (2., 2014: Sorocaba, SP) Memórias do II Workshop de Integração de Saberes Ambientais / II Workshop de Integração de Saberes Ambientais, 26 de novembro de 2014, Sorocaba, SP ; Admilson Írio Ribeiro... [et al.]. – Sorocaba : Unesp - Câmpus Experimental de Sorocaba, 2014. 190 f. : il. E-book ISBN: 978-85-64992-11-5 Evento realizado na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Câmpus Sorocaba pelo Programa de Pós

Graduação em Ciências Ambientais da Unesp Câmpus Sorocaba.

1. Ciências ambientais. 2. Recursos hídricos. 3. Geoprocessamento. 4. Proteção ambiental. I. Ribeiro, Admilson Írio. II. Martins, Antonio Cesar Germano. III. Marques, Bruno Vicente. IV. Machado, Fernando Henrique. V. Medeiros, Gerson Araujo de. VI. Mello, Giovanna Frederici de. VII. Roveda, José Arnaldo Frutuoso. VIII. Fraceto, Leonardo Fernandes. IX. Roveda, Sandra Regina Monteiro Masalskiene. X. Silva, Sheila Cardoso da. XI. Campos, Valquiria. XII. Carlos, Viviane Moschini.

CDD 333.7

Organizadores

Acadêmicos

Bruno Vicente Marques

Felipe Hashimoto Fengler

Fernando Henrique Machado

Giovanna Federici de Mello

Professores

Admilson Irio Ribeiro

Antonio Cesar Germano Martins

Gerson Araujo de Medeiros

Jose Arnaldo Arnaldo Frutuoso

Roveda

Leonardo Fernandes Fraceto

Sandra Regina M. Masalskiene

Roveda

Sheila Cardoso-Silva

Valquiria Campos

Viviane Moschini Carlos

Apresentação

O II Workshop de Integração de Saberes Ambientais vem consolidar uma iniciativa

do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) da UNESP, Campus de

Sorocaba, lançada em 2013, ano da primeira edição do evento.

Naquela ocasião buscava-se organizar um fórum voltado à integração e

disseminação dos saberes desenvolvidos nas disciplinas de abrangência do PPGCA, como

forma de fomentar o paradigma da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade,

permeando as DISCUSSÃO das questões ambientais contemporâneas.

Na segunda edição do evento houve uma participação de alunos de todas as

disciplinas oferecidas no segundo semestre letivo, por meio do envio de resumos

expandidos, com base nos conteúdos desenvolvidos em Hidrogeologia, Modelagem

Matemática, Processamento de Imagens Digitais, Limnologia, Gestão Ambiental e

Recuperação de Áreas Degradadas.

Em relação à edição passada também houve um acréscimo de 40% na quantidade de

textos acadêmicos publicados, passando de 25 para 35 artigos, o que demonstra um

envolvimento crescente do quadro discente.

Nesse contexto organizou-se o presente livro em três temáticas, relacionadas às

linhas de pesquisa do PPGCA: Recursos hídricos, manejo e monitoramento ambiental;

Geoprocessamento e modelagem matemática ambiental; Tratamento de efluentes,

preservação e recuperação ambiental.

O preocupante quadro da escassez dos recursos hídricos, suas causas e

desdobramentos, motivaram o desenvolvimento de estudos de caso envolvendo a bacia

hidrográfica como objeto de estudo da temática Recursos hídricos, manejo e

monitoramento ambiental. Nessa temática inseriram-se as disciplinas Gestão Ambiental e

Limnologia.

Na disciplina de Limnologia o estudo de caso foi no lago do Parque Natural dos

Esportes “Chico Mendes”, em Sorocaba – SP. Nesse estudo avaliou-se a qualidade da água

por meio do levantamento de variáveis limnológicas, além de se caracterizar o uso e

ocupação do solo da microbacia hidrográfica da Água Podre, na qual se insere o corpo

hídrico avaliado.

A bacia do rio Jundiaí Mirim constituiu outro objeto de estudo desse tema, na

disciplina de Gestão Ambiental. O local fornece água para o reservatório de abastecimento

do município de Jundiaí. Os trabalhos endereçaram diversos aspectos relacionados à gestão

sustentável dos recursos hídricos como: aspectos históricos da reversão de água na bacia,

qualidade física, química e biológica dos recursos hídricos, uso e ocupação do solo, riscos

para a saúde humana, diagnóstico do lixo difuso, manutenção de reservatórios, entre outros.

Destaca-se, nessa temática, a inserção das disciplinas na realidade ambiental

regional de Sorocaba e Jundiaí, promovendo o avanço do entendimento das questões

ambientais contemporâneas desses municípios.

Na temática relacionada à Geoprocessamento e modelagem matemática ambiental

explorou-se a potencialidade de ferramentas de análise ambiental como o processamento de

imagens digitais e a lógica fuzzy, por meio dos estudos desenvolvidos nas disciplinas

Processamento de Imagens Digitais, Modelagem e Processamento da Incerteza em

Informação Geográfica e Modelagem Matemática. Nesse viés o processamento de imagens

digitais é uma importante técnica de análise e inferências do uso e ocupação do solo. Já a

lógica fuzzy demonstrou ser uma abordagem metodológica para estudos de recuperação de

áreas degradadas. Tais metodologias permeiam os estudos desenvolvidos nas demais

temáticas, demonstrando o seu forte caráter transdisciplinar.

Estudos em área de mineração envolvendo diagnósticos ambientais e avaliação do

potencial de uso da água de cavas desativadas caracterizou o perfil dos resumos expandidos

desenvolvidos na temática: Tratamento de efluentes, preservação e recuperação ambiental.

Tais estudos de caso foram desenvolvidos na abrangência das disciplinas Recuperação de

Áreas Degradadas e Hidrogeologia.

No tema mineração foram desenvolvidos estudos em uma área degradada com

histórico de exploração de cascalho, localizada no Centro de Engenharia e Automação do

Instituto Agronômico de Campinas, em Jundiaí – SP. Os estudos envolveram a

estratificação do ambiente, que embasou planos de amostragem de parâmetros físicos,

químicos, hídricos e biológicos do solo, além de um levantamento da interação de espécies

vegetais na área degradada e em seu entorno.

Já a escassez de recursos hídricos foi abordada em um estudo de caso da região de

Cordeirópolis, onde foi levantada a discussão referente ao uso da água armazenada em área

de cava desativada para abastecimento público, com desdobramentos ambientais, legais e

de saúde pública.

Por meio desses relatos justifica-se o presente livro de memórias, como um registro

das DISCUSSÃO, paradigmas e desenvolvimentos metodológicos que surgem frente a

demanda por uma abordagem interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar da

temática ambiental contemporânea.

Prof. Gerson Araujo de Medeiros

Conteúdo

TRANSPOSIÇÃO DA BACIA DO RIO ATIBAIA PARA O RIO JUNDIAÍ-MIRIM: ASPECTOS

HISTÓRICOS E DESDOBRAMENTOS AMBIENTAIS ................................................................... 1

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PAISAGEM NA BACIA

HDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM ................................................................................... 7

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-

MIRIM UTILIZANDO SONDA MULTIPARÂMETROS ............................................................... 13

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE FÁRMACOS NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ MIRIM . 20

ANÁLISE DE CARBONO ORGÂNICO TOTAL E CARBONO ORGÂNICO DISSOLVIDO NA

SUB-BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ - SP ................................................................ 27

ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES POTENCIAIS PARA A SAÚDE

HUMANA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ – SP .................. 31

VARIÁVEIS MICROBIOLÓGICAS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE ÁGUA DA

MICROBACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ – SP ............................................................ 36

ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO E ANÁLISE QUALITATIVA DA COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA EM PONTOS ESTRATÉGICOS NA MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO

RIO JUNDIÁI-MIRIM, JUNDIAÍ – SP ........................................................................................... 42

IMPACTOS AMBIENTAIS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO ATIBAIA EM BARRAGENS NA

BACIA DO RIO JUNDIAÍ MIRIM ................................................................................................. 49

INTERVENÇÕES NAS MARGENS DEGRADADAS DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM COM

BIOENGENHARIA DE SOLOS ..................................................................................................... 55

RESÍDUOS DE SISTEMAS DE BOMBEAMENTO D‟ÁGUA: ESTUDO DE CASO NA BACIA DO

RIO JUNDIAÍ-MIRIM .................................................................................................................... 62

RESÍDUOS SÓLIDOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM ......................... 69

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO

RIO JUNDIAÍ-MIRIM .................................................................................................................... 74

MAPEAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PARQUE NATURAL DOS ESPORTES

“CHICO MENDES”, SOROCABA, SP. .......................................................................................... 81

COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS BENTÔNICOS EM UM LAGO DO PARQUE NATURAL

DOS ESPORTES “CHICO MENDES” ............................................................................................ 88

CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO TRÓFICO DE UM LAGO NO PARQUE NATURAL DOS

ESPORTES “CHICO MENDES” .................................................................................................... 94

COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA E ZOOPLANCTÔNICA NO LAGO ARTIFICIAL DO

PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES” – SOROCABA/SP ........................... 98

VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS E MICROBIOLÓGICAS NO LAGO DO PARQUE NATURAL

DOS ESPOSTES “CHICO MENDES”, SOROCABA-SP .............................................................. 104

Tema 2: Geoprocessamento e modelagem matemática ambiental

CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA FUZZY DE APOIO À ANÁLISE ESPACIAL DA AUTOSUSTENTABILIDADE APLICADO AO MONITORAMENTO DA RECUPERAÇÃO DE

ÁREAS DEGRADADAS .............................................................................................................. 111

INTEGRAÇÃO DA MODELAGEM POR EQUAÇÕES DIFERENCIAIS A UM SISTEMA DE INFERÊNCIA FUZZY APLICADA À GESTÃO E RECUPERAÇÃO DE ÁREAS VERDES

URBANAS DEGRADADAS ........................................................................................................ 117

ANÁLISE TEMPORAL DA COBERTURA VEGETAL ATRAVÉS DE CÁLCULO DO NDVI ... 122

SEGMENTAÇÃO DE ÀREAS URBANAS EM IMAGENS DE SATÉLITE UTILIZANDO

LIMIARES .................................................................................................................................... 128

IDENTIFICAÇÃO DE NUVENS E SOMBRAS EM IMAGENS DE SENSORIAMENTO REMOTO

...................................................................................................................................................... 133

IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIAIS CANAIS DE ESCOAMENTO DE CARGAS ANTRÓPICAS

DA MINERAÇÃO DE CARVÃO EM MOATIZE, MOÇAMBIQUE ............................................ 138

DIFERENTES TÉCNICAS DE SEGMENTAÇÃO DE ÁREA DE CLAREIRA EM PLANTIO DE

EUCALIPTO................................................................................................................................. 143

APLICAÇÃO DE MÉTODOS PARA A SEGMENTAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE USO DE

SOLO DE UMA ÁREA CONTRIBUINTE DO RIO IPANEMINHA DE BAIXO .......................... 149

PARÂMETROS PARA BUSCA DE REGIÕES EM IMAGENS AMBIENTAIS ........................... 154

Tema 3: Tratamento de efluentes, preservação e recuperação ambiental

ESTRATIFICAÇÃO DE AMBIENTES NA GESTÃO DE ÁREAS DEGRADADAS .................... 159

ANÁLISE DAS RELAÇÕES BENÉFICAS ENTRE PLANTAS .................................................... 164

DE ÁREAS DEGRADADAS. ....................................................................................................... 164

ESTRATIFICAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS POR MEIO DO ESTUDO DE ATRIBUTOS

FÍSICOS DO SOLO ...................................................................................................................... 169

CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA SATURADA NOS DIFERENTES ESTRATOS DE UMA ÁREA DEGRADADA PELA MINERAÇÃO NO CENTRO DE ENGENHARIA E AUTOMAÇÃO

(CEA-IAC), JUNDIAÍ-SP ............................................................................................................. 174

ANÁLISE DA FERTILIDADE DO SOLO EM ÁREA DEGRADADA PELA ATIVIDADE DE

MINERAÇÃO COMO SUBSÍDIO PARA RECUPERAÇÃO ........................................................ 178

ANÁLISE DA DIVERSIDADE DA ATIVIDADE BIOLÓGICA DO SOLO NA BACIA DO

JUNDIÁI MIRIM - SP................................................................................................................... 185

ENSAIOS DE PENETROMETRIA EM ÁREAS DEGRADADAS PARA FINS DE GESTÃO:

ESTUDO DE CASO NO CEA/IAC-JUNDIAÍ ............................................................................... 190

ANÁLISE DO CARÁTER DE DEFINIÇÃO DO USO DE MINAS DESATIVADAS NO MUNICÍPIO DE CORDEIRÓPOLIS, COMO ALTERNATIVA PARA O ABASTECIMENTO DE

ÁGUA ........................................................................................................................................... 196

Disciplina

Gestão Ambiental

Responsáveis

Prof. Dr. Gerson Araújo de Medeiros

Prof. Dr. Admilson Írio Ribeiro

1

TRANSPOSIÇÃO DA BACIA DO RIO ATIBAIA PARA O RIO JUNDIAÍ-

MIRIM: ASPECTOS HISTÓRICOS E DESDOBRAMENTOS AMBIENTAIS

PIACITELLI, Leni Palmira¹; BIAGOLINI, Carlos Humberto²; MACHADO, Fernando Henrique³; PECHE-FILHO, Afonso4; RIBEIRO, Admilson Írio5; MEDEIROS, Gerson Araujo5 1Administradora, doutoranda, PPGCA/UNESP/Sorocaba, e-mail: [email protected]

2Adm./Bio./Pedagogo, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 3Adm. - Gestor Ambiental, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba

4Agrônomo, pesquisador científico nível VI, CEA/IAC,doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 5 Eng. Agrícola, docente da disciplina de Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP/Sorocaba

RESUMO

Transposição é o processo pelo qual parte da água de um determinado rio é transportada

para outro local, podendo ser um reservatório, canal ou mesmo outro rio, fazendo com que

a água desviada chegue até determinados lugares onde há carência hídrica. Nesse contexto,

este trabalho se propôs a apresentar os aspectos históricos e desdobramentos ambientais

resultantes da transposição de águas da bacia hidrográfica do rio Atibaia para a do rio

Jundiaí-Mirim, bem como avaliar as vantagens e desvantagens desta transposição. Visando

atingir esse propósito foi realizado um levantamento bibliográfico e um trabalho de campo

no dia 24 de setembro de 2014 visando ter um melhor entendimento da bacia. Por fim, foi

constatado que se por um lado a transposição resolve parcialmente problemas como a seca

ou a falta d‟água para irrigação, por outro, afeta o meio ambiente, muitas vezes de forma

adversa, provocando danos que nem sempre são reversíveis.

Palavras-chave: Transposição de águas; UGRHI-05; Rio Jundiaí-Mirim; Rio Atibaia.

INTRODUÇÃO

O termo transposição, em seu sentido lato, de acordo com Ferreira (1988) apud

Khran et al. (2006) é o ato ou efeito de transpor. Enquanto transpor é colocar algo em lugar

diverso daquele em que estava ou devia estar (...), transportar (...). A compreensão sobre os

processos que envolvem a transposição de águas é importante, pois a preocupação deve

estar voltada para a sustentabilidade das bacias hidrográficas envolvidas. Buscando

aproximar um conceito para transposição de águas, a partir desta discussão, poder-se-ia

dizer que é o ato de levar água de uma bacia hidrográfica para outra, através de leitos

naturais ou artificiais, a partir de estudos socioambientais tanto da fonte provedora, quanto

2

da receptora. Esse processo visa transpor barreiras de natureza física, social e econômica,

imposta pela escassez de água e, assim, criar condições para a existência da vida.

Embora o processo já seja conhecido a mais de 2000 anos, ainda causa muita

discussão, pois, há fatores positivos e negativos nesta ação. Na história, há vários casos de

transposição que tiveram êxito, levando prosperidade para regiões afetadas pela falta de

água, mas há também casos em que causaram catástrofes ecológicas como na China da

antiguidade. Os Estados Unidos só conseguiram transformar a Califórnia num grande

celeiro de grãos devido à transposição de rios, no entanto, como efeito colateral da

transposição, acabou secando sua foz. Em 1947, 85% da água de transposição iam para

irrigação, hoje, este percentual baixou para 38% com o resto dividido entre consumo

humano e industrial (SANDES, 2011).

No Brasil, durante o processo de construção de hidroelétricas, ocorreram obras de

transposição que por falta de informação caíram no esquecimento e poucos registros há

sobre elas. Um destes casos é a transposição do rio Piumhi que aconteceu entre o final da

década de 1950 e início da década de 1960, quando estava sendo construída a usina

hidrelétrica de Furnas, que se situa no centro-oeste de Minas Gerais. Na ocasião da

construção, um dos problemas encontrados foi que com o alagamento da represa, as bacias

do rio Grande e do rio São Francisco foram conectadas pelo rio Piumhi. Sendo assim, o rio

Piumhi, que era afluente do rio Grande foi desviado de seu curso e passou a ser afluente do

rio São Francisco. Segundo Moreira (2006) e Assis (2010), havia um pantanal por onde

corria o leito do rio Piumhi, por isso foi feito um sistema de drenagem e o rio passou a

correr por um canal artificialmente construído, desviando as águas do pantanal e de seus

afluentes para o córrego Água Limpa. Este último deságua na margem esquerda do

Ribeirão Sujo, um dos afluentes da margem direita do rio São Francisco.

No contexto paulista, pode-se mencionar a transposição do rio Atibaia para o rio

Jundiaí-Mirim, na região de Jundiaí-SP. O rio Atibaia é formado pela junção dos rios

Atibainha e Cachoeira; entre os municípios paulistas de Bom Jesus dos Perdões e Atibaia.

A região metropolitana de São Paulo (RMSP), ainda que não esteja geograficamente

inserida nesta bacia, utiliza seus recursos hídricos e faz dela um importante manancial de

3

abastecimento público, o que agrava a disponibilidade hídrica e os problemas ambientais da

bacia principalmente em períodos de estiagem. Esta bacia é a principal responsável por

abastecer habitantes das duas maiores concentrações urbanas do estado, além de servir à

indústria e agricultura; assim a sub-bacia do rio Atibaia, vem sofrendo as consequências de

escassez e poluição. Esta bacia abastece 75% da população de Atibaia e 95% da população

de Campinas entre outras cidades paulistas. Durante períodos de seca, a cidade de Jundiaí

possui outorga, ou seja, autorização para promover a transposição de água do rio Atibaia

para a bacia do rio Jundiaí-Mirim, aumentando o volume de água disponível para

tratamento e distribuição como água potável (DEMAMBORO, 2013).

Dentro dessa abordagem, este estudo visou analisar a transposição da bacia do rio

Atibaia para a do rio Jundiaí-Mirim, abordando os aspectos históricos e desdobramentos

ambientais do processo.

METODOLOGIA

A bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim possuí uma área de drenagem de 118

km2, vazão de 350 L/s e abrange 3 municípios paulistas, dos quais: Jundiaí (55%), Jarinú

(36,6%) e Campo Limpo Paulista (8,4%), sendo o principal manancial de abastecimento

público de Jundiaí, fornecendo 97% da água consumida pelo município (Moraes, 2003).

Jundiaí fica a 58 km da capital do estado, possui uma população estimada de 370.126

(IBGE, 2014).

Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica em artigos científicos

e em estudos de caso sobre transposição de águas. Um trabalho de campo ao longo da bacia

foi realizado no dia 24 de setembro de 2014 visando ter um melhor entendimento da bacia.

Uma entrevista informal também foi realizada com o pesquisador do CEA/IAC Afonso

Peche Filho, do qual desenvolve estudos ambientais na região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O crescimento populacional e industrial está relacionado com o aumento do

consumo de água, evidenciando a necessidade de transposição de águas de áreas com maior

4

disponibilidade para áreas com menor disponibilidade. Jundiaí encontra-se nesta última

situação, necessitando da transposição de águas do rio Atibaia para o rio Jundiaí-Mirim. As

primeiras instalações de captação de água na bacia do rio Jundiaí-Mirim datam da década

de 50, mas já a partir da década de 60 devido ao crescimento populacional e industrial de

Jundiaí houve a necessidade de transposição das águas do rio Atibaia (rio de classe 2),

captadas no município de Itatiba, para o rio Jundiaí-Mirim (rio de classe 1). Essa

transposição visou reforçar as vazões do Jundiaí-Mirim nos períodos de estiagem, sendo

que no ano de 1998 foi outorgado o bombeamento de até 1.800 L/s de água do rio Atibaia

para o rio Jundiaí-Mirim (GRAMOLELLI JR., 2004).

Entretanto, a vazão transposta nos dias atuais é na ordem de 700 L/s (MORAES,

2003), o que equivale ao dobro da vazão do rio Jundiaí-Mirim. Na Figura 1 é apresentado o

ponto de recebimento da transposição, processo que beneficia a qualidade da água e,

consequentemente, os organismos aquáticos nela existentes, uma vez que neste

revolvimento de descida, há maior incorporação de oxigênio na água. Entretanto, esse

incremento de vazão causa diversos impactos, dentre os quais pode-se destacar os impactos

físicos de solapamento das margens (Figura 2) e o excesso de carreamento de sedimentos,

que formam bancos de sedimentos ao longo do curso d‟água (Figura 3). Esses fatos

decorrem, principalmente, pelo fato do canal natural do rio não ser concebido naturalmente

para receber esse aumento de vazão.

Figura 1. Ponto de

transposição

Figura 2. Solapamentos das

margens

Figura 3. Banco de

sedimentos

s23°06.002'w046°46.381' s23°08.900'w046°49.378' s23°08.883'w046°49.347'

5

Portanto, a transposição das águas da bacia hidrográfica do rio Atibaia para a bacia

do rio Jundiaí-Mirim coloca em discussão os pontos positivos e negativos do processo. Em

períodos de estiagem é feita a transposição, fato que beneficia a cidade de Jundiaí com o

aumento da oferta de água. Em contrapartida, a bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim

sofre alterações significativas devido ao volume de sedimentos que são arrastados e que se

depositam ao longo do canal do rio e, principalmente, no reservatório de abastecimento do

município, diminuindo sua vida útil e aumentando os gastos de manutenção.

Embora o processo de transposição cause danos tanto na redução do volume de

água do rio Atibaia, como também no acúmulo de sedimentos no rio Jundiaí, é possível

constatar que a transposição se faz necessária. A alta e crescente demanda de água para

consumo humano e a baixa pluviosidade enfrentada no período de estiagem em Jundiaí

sinaliza a necessidade da transposição.

Também é necessário destacar que o Rio Atibaia, na região das cidades de

Campinas e Paulínia, Estado de São Paulo, apresenta-se sob o impacto de uma grande carga

poluidora proveniente do esgoto doméstico in natura das cidades presentes em sua bacia

hidrográfica. Estudos têm mostrado que as presenças de matéria orgânica e amônia são

responsáveis em grande parte pela degradação da qualidade destas águas, afetando o

equilíbrio das comunidades aquáticas (SILVA & JARDIM, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o processo de transposição de águas traga impactos ambientais adversos

nos aspectos físicos e bióticos do meio, é essencial para que o município supra sua carência

hídrica. Destaca-se que deve ser considerado o uso múltiplo das águas e que o rio Atibaia

pode não ter água suficiente para disponibilizar para transposição nos períodos de estiagem,

o que pode por em risco a segurança hídrica de Jundiaí. Sendo assim, deve ser incentivada a

criação de políticas públicas que visem à preservação da bacia do rio Jundiaí-Mirim, com o

intuito resguardar a qualidade ambiental da área e, assim, contribuir para a melhoria e/ou

conservação da qualidade e quantidade de água produzida pela bacia. Investimentos em

6

ações de educação ambiental e o uso eficiente de água no município também devem ser

adotados.

REFERÊNCIAS

ASSIS, A. T. Resgate histórico da percepção dos moradores locais em relação à transposição do rio Piumhi para o rio São Francisco. Revista Uniara, v. 13, nº.1, 2010.

DEMANBORO, A. C.; LAURENTIS, G. L.; BETTINE, S. C. Cenários ambientais na bacia do rio Atibaia. Eng. Sanit. Ambient., v.18, nº.1, 2013.

GRAMOLELLI JR., F. Diagnóstico do uso da água na irrigação de culturas na bacia do Rio Jundiaí-Mirim- SP. (Mestrado em Engenharia Agrícola). FEA/UNICAMP, 2004.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Cidades: Jundiaí – SP. Infográficos: Dados gerais do município, 2014.

KHRAN, F.S.; MACIEL, S.; DOURADO, T.M. Transposição de águas e bacias: aspectos teóricos e conceituais. Universidade Federal de Tocantins – UFT, 2006. 49 p.

MORAES, J. F. L. (coord.) Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do rio Jundiaí-Mirim. Relatório Final - 2ª Fase. IAC/IEA/PMJ/DAE. Campinas, 2003.

MOREIRA-FILHO, O. Uma transposição de rio esquecida. Revista UFG, ano VIII (2), 2006.

SANDES, G. Consorcio definirá política tarifária. UOL Notícias. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/JC/especial/transposicao/politica_tarifaria.html>. Acesso em: 08 nov. 2014.

SILVA, G . S.; JARDIM, W. F. Um novo Índice de Qualidade das Águas para Proteção da Vida Aquática Aplicado ao Rio Atibaia, Região de Campinas/Paulínia-SP. Quim. Nova, vol. 29(4), 2006.

7

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DA ANÁLISE DE PAISAGEM NA BACIA

HDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM

MARQUES, Bruno Vicente1; PECHE FILHO, Afonso2; FENGLER, Felipe Hashimoto3;; MEDEIROS, Gerson Araujo4; RIBEIRO, Admilson Irio5

1 Mestrando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais, e-mail: [email protected]

2 e 3 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais 4 e 5 Professor, doutor, UNESP Sorocaba - Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais

RESUMO

O estudo ambiental das bacias hidrográficas é muito importante, pois permite compreender

de uma forma sistêmica os impactos ambientais que a ocupação humana pode causar. Uma

das maneiras para avaliar uma área é observar a paisagem, pois nos permite compreender o

quanto as ações antrópicas podem alterar o ambiente natural resultando em danos

ambientais, muitas vezes irreversíveis. O objetivo do trabalho foi avaliar 7 pontos na bacia

hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim através da análise de paisagem, disposta entre os meios

físico, biótico e antrópico. Os resultados mostraram uma situação preocupante para a bacia

hidrográfica com índice de eficiência ambiental de 38,95%. Mesmo todos os meios

apresentarem baixos índices de eficiência, o meio biótico foi o que recebeu as piores notas.

A metodologia aplicada se mostrou muito eficiente, seus resultados podem colaborar para a

construção de um plano de gestão ambiental que contemple promova o aumento dos índices

apresentados.

Palavras-chave: Análise de paisagem, bacia hidrográfica, gestão ambiental.

INTRODUÇÃO

As bacias hidrográficas tem um papel muito importante para a gestão territorial,

consistem na integração dos aspectos físicos, biológicos, sociais, econômicos e suas

interações com os diversos recursos ambientais, sendo de extrema importância para a

manutenção da qualidade ambiental dos municípios e da vida de sua população. A

ocupação humana aliada a falta de planejamento trouxeram consigo significativos impactos

ambientais que podem ser classificados em benéficos ou adversos, diretos ou indiretos,

8

reversíveis ou irreversíveis, imediatos ou em longo prazo, temporários ou permanentes

(FREITAS, 2012).

Cada vez mais as pesquisas e os dados levantados ao longo desses anos nos

mostram que os caminhos percorridos até agora não podem mais ser a nossa realidade, é

perceptível que nossa ocupação modifica a paisagem natural e causa danos ambientais

extremos.

Para Breda & Zacharias (2010), a leitura do espaço implica em compreender as

paisagens a ele relacionadas, assim refletidas no resultado da vida dos homens, da

sociedade na busca da sobrevivência e satisfação de suas necessidades. Demmer & Perreira

(2011) afirmam que a leitura da paisagem quando utilizada como instrumento didático,

pauta a criatividade, tendo em vista que sua metodologia (pesquisa – ação – participante) é

desencadeada pelo sujeito efetivamente emergido na construção do processo de análise.

Estes autores concluem que a leitura da paisagem possibilitou caminhas sobre a teoria

ambiental proporcionando uma ferramenta que permite a partilha, a ressignificação e a

produção de saberes em cada tempo e contexto. Ao analisar uma paisagem percebe-se

impactos e danos ambientais decorrentes das atividades antrópicas. É preciso criar

ambientes harmoniosos, com solos bem consolidados, interagindo com a dinâmica natural e

inserindo a variável ambiental em todas as atividades.

Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma avaliação

ambiental na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, utilizando a técnica da análise de

paisagem, adaptada da metodologia proposta por Peche Filho et. al. (2014), e visa entender

quais os impactos ambientais, sejam eles negativos ou positivos, causados pelas atividades

cotidianas do local sobre os meios bióticos, físicos e antrópicos. Esse trabalho nos permite

um entendimento pleno de quais são os reais problemas do local, fornecendo assim

subsídios para a elaboração de um plano de Sistema de Gestão Ambiental.

METODOLOGIA

As avaliações ocorreram em 7 pontos da bacia hidrográfica, localizada entre os

municípios de Campo Limpo Pailista, Jarinú e Jundiaí (Figura 1), onde foi utilizada a

9

metodologia da análise de paisagem para avaliação agroambiental em campo, cada local

visitado foi fotografado, marcado com GPS, através de uma matriz de interação, utilizando

critérios indicadores de impactos ambientais para os meios biótico, físico e antrópico com

base numa escala de 1 (alta intensidade) a 5 (baixa intensidade) com valores subjetivos

(Tabela 1).

Figura 1. Localização dos pontos de avaliação na bacia hidrográfica.

Após o processamento dos dados calculou-se o Índice de Eficiência dos pontos através

da equação a seguir (Equação I).

( ) ∑

10

Onde,

corresponde ao Índice de Eficiência Ambiental da paisagem;

corresponde ao número de pontos avaliados;

x corresponde ao valor obtido no processo de avaliação;

y corresponde ao valor máximo na escala de avaliação.

Tabela 1. Indicadores ambientais para análise de paisagem.

MEIO INDICADORES

Biótico

Densidade vegetal Diversidade vegetal

Indícios de regeneração natural Contaminação biológica

Proteção ciliar Cobertura do solo

Físico

Cicatrizes de erosão Deposição de sedimentos

Selamento superficial Enxurrada

Antrópico

Ocupação do solo Potencial de carga difusa Práticas conservacionistas

Tráfego de veículos Condição da estrada Risco de acidentes

Risco de contaminação Resíduos sólidos Risco de incêndio

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As avaliações realizadas nos sete pontos ao longo da bacia mostraram um índice de

eficiência ambiental de 38,95%, isso mostra uma situação muito preocupante, dada a

importância da bacia hidrográfica para o município de Jundiaí e região. De acordo com os

resultados da avaliação é muitos indicadores receberam nota 1 e nenhum ponto obteve nota

5.

11

Dentre todos os aspectos avaliados o meio biótico foi oque apresentou os menores

índices, apresentando-se com 38,21%, seguindo pelo meio antrópico com 39,18% e o meio

antrópico com 40%, estes resultados são observados no gráfico abaixo (Figura 2).

Figura 2. Índice de eficiência ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As avaliações mostraram um cenário preocupante para a bacia hidrográfica do rio

Jundiaí-Mirim, portanto algumas ações são necessárias para promover o aumento dos

índices de eficiência ambiental para a região, assim, podemos concluir que:

1. A metodologia aplicada se mostrou eficiente para avaliar as situações de

impactos e danos ambientais em bacias hidrográficas.

2. De uma maneira geral a bacia hidrográfica encontra-se em um estado crítico

do ponto vista ambiental, principalmente nos meios bióticos.

3. Faz-se necessário abranger o estudo em mais pontos de avaliação para

verificar com maior exatidão a eficiência ambiental da bacia hidrográfica.

4. De acordo com os resultados apresentados, fica evidente a necessidade de

um plano de gestão ambiental para a bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, que

37,00

37,50

38,00

38,50

39,00

39,50

40,00

40,50

Global Biótico Físico Antrópico

Global

Biótico

Físico

Antrópico

12

contemple o constante aumento dos índices de eficiência ambientais nos meios bióticos,

físicos e antrópicos.

REFERÊNCIAS

Breda, T.V.; Zacharias, A.A. Leitura de Paisagens através de trabalhos de campo: Um relato da experiência vivenciado no Município de Ourinhos – SP. Revista Geográfica de Pesquisa, V.4 N.2. UNESP – Ourinhos, SP. 24p. 2010.

Demmer, B.C.; Perreira, Y.C.C. Educação ambiental e estudo da paisagem: A percepção para responsabilidade sócio ambiental. Revista “Olhar de Professores”. Ponta

Grossa – PR, N.14. p255-272. 2011. Acesso em 18/01/2014. Disponível em: http//www.revistas2.uepg.br/índex.php/olharesdeprofessores.

FREITAS, E. P. Análise integrada do mapa de uso e ocupação das terras da microbacia do Rio Jundiaí-Mirim para fins de gestão ambiental. 2012. 110f. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) - Instituto Agronômico de Campinas-IAC, Campinas.

Peche Filho, A.; Ribeiro, A. I.; Fengler, F. H.; Medeiros, G. A.; Freitas, E. P.; Storino, M.; Marques, B. V.; Queiroz, D. F. A. Método de estratificação de ambientes para gestão de áreas degradadas. In: XI Congresso Nacional de Meio Ambiente de Poços de Caldas. Anais. v. 6. Poços de Caldas, 2014.

13

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DA BACIA DO

RIO JUNDIAÍ-MIRIM UTILIZANDO SONDA MULTIPARÂMETROS

PIRES, Ariane Apª Felix1; PASETTO, Sabrina2; SANTOS, Larissa Gonçalves3; MACHADO, Leila Santos4; FILHO, Afonso Peche5; RIBEIRO, Admilson Írio6; MEDEIROS, Gerson Araújo7.

1Bacharel em Química, IMAPES, Doutoranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, [email protected] 2Tecnóloga em Gestão Ambiental, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba;

3Bióloga, PUC – Sorocaba, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba; 4Bióloga, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba;

5Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC); 6,7Professor, Recuperação de áreas degradadas e Gestão Ambiental, Unesp – Sorocaba.

RESUMO

Segundo CUNHA (2008), a qualidade da água de uma bacia pode ser influenciada por

fatores como: cobertura vegetal, topografia, geologia, uso e manejo do solo. Esses fatores

são responsáveis por disponibilizar e regular a quantidade de sedimento e nutrientes que

serão levados nos cursos d‟água e, consequentemente, modificar suas características físicas,

químicas e biológicas (CUNHA, 2008). A qualidade físico-química e biológica da água da

Bacia do Jundiaí-Mirim foi avaliada com a Sonda Multiparâmetros em seis pontos

selecionados ao decorrer da bacia, o que permitiu conhecer a qualidade em que se

encontram as águas da bacia do rio Jundiaí-Mirim e compreender a influência que o estado

do meio ambiente que envolve o corpo hídrico exerce sobre a qualidade de sua água.

Palavras-chave: parâmetros físico-químicos, abastecimento hídrico, gestão ambiental.

INTRODUÇÃO

Impactos causados pelo homem causam alterações no sistema aquático. Em áreas

adjacentes aos cursos de água com o uso do solo, a descarga de efluentes domésticos e

industriais, aumente de níveis de nutrientes por fontes pontuais são exemplos cotidianos

que afetam a qualidade e disponibilidade de recursos hídricos (BUSS, et al 2002).

Além da erosão, alterações no uso do solo têm provocado modificações no

comportamento das bacias hidrográficas logo nos canais fluviais, alterando a qualidade da

água (FREITAS, 2012).

Segundo CUNHA (2008), a qualidade da água de uma bacia pode ser influenciada

por fatores como: cobertura vegetal, topografia, geologia, uso e manejo do solo. Esses

fatores são responsáveis por disponibilizar e regular a quantidade de sedimento e nutrientes

14

que serão levados nos cursos d‟água e, consequentemente, modificar suas características

físicas, químicas e biológicas (CUNHA, 2008).

Para se conhecer a qualidade da água em bacias hidrográficas, a sua avaliação se

tona fundamental. A avaliação da qualidade das águas de bacias deve ter como base as

características físicas, químicas e biológicas, no sentido de fornecer um espectro completo

de informações para um manejo adequado dos recursos hídricos (CALLISTO & ESTEVES,

1998).

O rio Jundiaí Mirim é a principal sub-bacia do rio Jundiaí, sendo principal

manancial de abastecimento do município, abastecendo a represa de acumulação

(construída para armazenar a água que chega da bacia do Rio Jundiaí-Mirim) e captação (às

margens da Rodovia Vereador Geraldo Dias) do Jundiaí Mirim (Departamento de Água e

Esgoto).

Para a preservação dos recursos hídricos, segundo TAVARES (et al, 2005), a

identificação de variáveis ambientais de uma área deve subsidiar o diagnostico e

planejamento de uso e ocupação do solo, o qual é uma etapa para minimizar a erosão do

solo.

Com a utilização de ferramentas como Sistema de Informação Geográfica (SIG) por

TAVARES (et al, 2005) e FREITAS (2012), é possível reconhecer o diagnostico do risco

de erosão, pela uso e ocupação do solo entorno da bacia na zona de área de proteção

permanente (APP). Essa ferramenta, juntamente a avaliação da qualidade da água,

contribui para que medidas norteadoras de gestão sejam tomadas em relação à bacia.

O objetivo deste trabalho foi avaliar as qualidades físico-químicas e biológicas da

água da Bacia do Jundiaí Mirim com a utilização da Sonda Multiparâmetros em seis pontos

selecionados ao decorrer da bacia.

METODOLOGIA

O rio Jundiaí-Mirim é afluente da margem direita do rio Jundiaí, nasce em

Mairiporã e percorre os municípios de Campo Limpo Paulista, Várzea Paulista, Jundiaí,

Itupeva, Indaiatuba e Salto. Abrange uma área de 11750 km² situada entre as latitudes

15

23º00‟ e 23º30‟ Sul e longitudes 46º30‟ e 47º15‟ Oeste; distribuída em três municípios

vizinhos: Jundiaí com 58,5 % da área, Jarinú e Campo Limpo Paulista com 34 % e 7,5 %

respectivamente (MORAES et al., 2002). Os dados foram analisados por Análise dos

Componentes Principais (ACP), com base em uma matriz de correlação, a fim de

identificar as variáveis mais importantes na formação dos padrões espaciais. A matriz de

correlações elimina o efeito das diferentes unidades de mensuração, tornando desnecessária

a padronização da matriz escalar (Valentin, 2000).

Sólidos Totais

Para o cálculo dos sólidos totais na água utilizou-se a fórmula:

ST= (P2 - P1)/V x 1000

Em que ST = sólidos totais (mg/L); P1 = Peso do béquer seco em estufa sem a

amostra (g); P2 = Peso do béquer seco em estufa com a amostra (g) e V = Volume da

amostra utilizado para evaporação (L).

Clorofila a

Para a análise da clorofila a, efetuou-se a filtragem da água em filtros analíticos de

microfibra de vidro utilizando-se de bomba de sucção e erlenmeyer. Para a extração do

pigmento, os filtros foram macerados com auxílio de pistilo acrescentando 10 ml de

acetona 90% conservada em geladeira e alcalinizada, em seguida, as amostras foram

despejadas em tubos falcon enrolados em papel alumínio e levados até a geladeira por 24

horas antes da leitura. Após este período, levam-se os tubos a centrífuga a 3000 rpm por um

período de 5 minutos e em seguida realiza-se a leitura do sobrenadante em cubetas de 10

mm de passo ótico em espectrofotômetro contra o branco (acetona 90%), nos seguintes

comprimentos de onda: 750 e 665 nm. Para a obtenção dos pigmentos degradados,

acidifica-se com algumas gotas de HCL 1 N, deixando o pH por volta de 3,0.

Fósforo

A análise de fósforo total foi realizada por meio de kit comercial (Test´N Tube total

phosphate -0 - 3,5 mg/LReagent Set 2742645, Marca Hach Lange.

Sonda Multiparâmetros

16

A sonda utilizada para avaliação das propriedades físicas da água foi Horiba

modelo U50. Os parâmetros avaliados foram pH, condutividade elétrica, temperatura,

oxigênio dissolvido e turbidez.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o Decreto 10.755/77, o qual dispõe sobre o enquadramento dos

corpos d´água, o rio Jundiaí-Mirim e seus afluentes, até o ponto de captação de água para

abastecimento do município de Jundiaí, são enquadrados dentro da Classe I. A Tabela 1 a

seguir apresenta os valores encontrados para os parâmetros analisados nos pontos

amostrados na bacia do rio Jundiaí-Mirim. Observa-se que os coeficientes de variação

correspondentes aos parâmetros físico-químicos sólidos totais, fósforo total e turbidez são

os parâmetros de maior variação ao longo da bacia, indicando a existência de

heterogeneidade na qualidade ambiental da água de acordo com a localização do curso

d‟água, podendo-se dizer que há influência das condições ambientais (meio urbanizado,

poluído ou de represamento, por exemplo) em o corpo hídrico se encontra envolvido. Da

mesma forma, o parâmetro biológico analisado, clorofila a também apresentou elevada

variabilidade dentre os pontos de coleta.

Comparando com a Resolução CONAMA 357/2005 para águas doces classe I,

temos que os valores: i) sólidos totais, nitrogênio total, oxigênio dissolvido e pH

encontram-se dentro dos limites estabelecidos, sendo 500mg/L, 3,7mg/L, ≥ a 6mg/L e entre

6,0 e 9,0, respectivamente. Por outro lado, os valores de clorofila a analisados, exceto para

o ponto 3 – valor nulo-, excedem consideravelmente os níveis tolerados pela resolução, que

é de 10μg/L, assim como a concentração de fósforo está muito superior ao limite (0,1mg/L)

em todos os pontos, contudo, no ponto 6 há uma grande redução da sua concentração,

mostrando que o represamento da água da bacia no reservatório proporciona a auto-

depuração da água, além de ser um indício da ocorrência de sedimentação no fundo do

reservatório. A turbidez ultrapassou o limite (até 40 NTU) nos pontos 3, 4 e 5,

corroborando à observação paisagística realizada nestes locais em que era perceptível a

17

escura coloração da água decorrente da maior concentração de sólidos, como pode ser

verificado na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros analisados nos seis pontos de coleta na bacia do rio Jundiaí- Mirim.

Pontos amostrados ST (mg/L)

Cla (mg/L)

NT (mg/L)

PT (mg/L)

T (°C) pH CE

(mS/cm) Turb

(NTU) OD

(mg/L)

P1 Transposição 30,5 0,67 1,2 290 22,01 6,99 0,115 6,6 8,81

P2 Reservatório agrícola 12,22 2,67 0,95 270 23,22 6,98 0,109 16,9 9,68

P3 Ponte na estrada 15,78 0 0,95 410 20,99 7,37 0,105 143 10,38

P4 Restaurante 18,89 0,89 1,3 360 21,73 7,47 0,105 186 10,54

P5 Antes do reservatório 52,8 1,07 1,5 790 20,94 7,51 0,108 132 11,35

P6 Depois do reservatório 10,89 0,89 1,15 70 20,97 7,43 0,097 2,9 10,69

Média 23,51 1,03 1,18 365,00 21,64 7,29 0,11 81,23 10,24

Desvio 15,97 0,89 0,21 238,47 0,89 0,24 0,01 81,50 0,88

CV 67,90 86,09 18,00 65,34 4,13 3,32 5,56 100,33 8,63

Dados: CV = coeficiente de variação. ST = sólidos totais; Cla = clorofila a; NT = nitrogênio total; PT =

fósforo total; CE = condutividade elétrica, Turb = turbidez; OD = oxigênio dissolvido.

Relativamente à ACP, os dois primeiros eixos explicaram 76,13% da variação total

dos dados, sendo 47,97% pelo eixo 1 e 28,16% pelo eixo 2. Os parâmetros que mais

influenciaram o arranjo no eixo 1 foram sólidos totais e fósforo total, com seus valores para

todos os pontos, conforme discutido anteriormente, todavia, os pontos 4 e 5 foram os que

mais apresentaram influência desses parâmetros sobre a avaliação realizada. A influência

desses parâmetros sobre esses pontos pode ser compreendida pelo ambiente entorno do

curso hídrico da bacia, nos quais há intensa urbanização (circulação de pessoas e

automóveis), além da poluição gerada por essas atividades no meio ambiente (presença de

lixo sólido e potencial presença de esgoto não tratado, devido à ocupação imobiliária

extremamente próxima no curso da bacia). No eixo 2 destacou-se, principalmente, a

condutividade elétrica, porém os valores obtidos para esse parâmetro não apresentaram

grande variação dentre os pontos de amostragem, além de não compor um requisito básico

indicativo da qualidade da água utilizada para abastecimento populacional.

18

Figura 1. Análise de Componentes Principais (ACP) de Correlação, de parâmetros físico-

químicos e biológicos das águas superficiais de 6 pontos de coleta na bacia do rio Jundiaí-

Mirim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação dos parâmetros físico-químicos promovida neste estudo, aliada à

observação paisagística do ambiente, viabilizada pelas disciplinas de Gestão Ambiental e

Recuperação de Áreas Degradadas, permitiu conhecer a qualidade em que se encontram as

águas da bacia do rio Jundiaí-Mirim, sendo que foram encontrados valores que extrapolam

os limites determinados para água doce de classe I, tornando sua qualidade inadequada para

os fins de abastecimento que apresenta, principalmente pelos altos níveis de fósforo e

sólidos totais. Também foi possível compreender a influência que o estado do meio

ambiente que envolve o corpo hídrico exerce sobre a qualidade da água. Desta forma, a

bacia do rio Jundiaí-Mirim necessita de programas de revitalização e gestão ambiental,

tanto das áreas em que seu curso percorre quanto por parte da educação ambiental da

19

população, de modo a recuperar a qualidade da água e preservar esse recurso único e

imprescindível à vida.

REFERÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO DE JUNDIAÍ – SP (DAE). Acesso em: novembro/2014. Disponível em:<http://www.daejundiai.com.br/estrutura/unidades-externas/complexo-da-barragem-do-rio-jundiai-mirimrepresa-do-parque-da-cidade/>

BUSS, D. F.; BAPTISTA, D. F.; SILVEIRA, M. P. NESSIMIAN, J. L.; DORVILLÉ, L. F. M. Influence of water chemistry and environmental degradation on macroinvertebrate assemblages in a river basin in south-east Brazil. Hydrobiologia, v.481, p.125-136, 2002.

CALLISTO, M.; ESTEVES, F. A. Biomonitoramento da macrofauna bentônica de Chironomidae (Diptera) em dois igarapés amazônicos sob influência das atividades de uma mineração bauxita. In: Ecologia de Insetos Aquáticos. Series Oecologia Brasiliensis, vol.V. PPGE-UFRJ. Rio de Janeiro, p.299-309, 1998.

CLARK, E.H. II. The off-site costs of soil erosion. Journal of Soil and Water Conservation, v. 40, n.1, p. 19-22, 1985.

CROSSON, P. Soil Quality and agricultural development. In: EVENSON, R.; PINGALI, P. (eds.). Handbook of Agricultural Economics. Volume 3 – Agricultural Development: farmers, farm production and farm markets. Amsterdam: North-Holland, 2007, p. 2911-2932.

CUNHA, C. de A. G. da. A influência do uso e ocupação do solo na qualidade das águas do rio Jacupiranga, Vale do Ribeira de Iguape, São Paulo, Brasil. In: CONGRESO INTERAMERICANO AIDIS, 31, 2008, Santiago. Anais. São Paulo: Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2008.

FREITAS, E.P.Análise integrada do mapa de uso e ocupação das terras da microbacia do rio Jundiaí-Mirim para fins de gestão ambiental. 2012. Dissertação (Mestrado Gestão de Recursos Agroambientais.) – Instituto Agronômico de Campinas- IAC, Campinas.

MARQUES, J. F. Efeitos da erosão do solo na geração de energia elétrica: uma abordagem da economia ambiental. 1995. 257f. Dissertação (Doutorado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade-USP, São Paulo.

MORAES, J. F. L.; CARVALHO, Y.M.C.; PECHE FILHO, A. Diagnóstico Agroambiental para Gestão e Monitoramento da Bacia do Rio Jundiaí Mirim. InstitutoAgronômico de Campinas (IAC). Jundiaí, 2002.

PIMENTEL, D.; HARVEY, C.; RESOSUDARMO, P.; SINCLAIR, K.; KURZ, D.; MCNAIR, M.; CRIST, S.; SPHPRITZ, L.; FITTON, L.; SAFFOURI, R.; BLAIR, R. Environmental and economic costs of soil erosion and conservation benefits. Science, v. 267, n. 5201, p. 1117-1123, 1995.

VALENTIN, J.L. Ecologia numérica. Rio de Janeiro: Interciência, 2000.

20

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE FÁRMACOS NA BACIA DO RIO

JUNDIAÍ MIRIM

COLA, Diego Faria1, FERREIRA, Helio Henrique2, RIBEIRO, Admilson Irio3, PECHE FILHO, Afonso4, MEDEIROS, Gerson Araujo3

1Biotecnólogo, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP - Sorocaba, Bolsista FAPESP, email: [email protected], 2Enfermeiro, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba,

3 Professor, Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA UNESP Campus Sorocaba 4 Pesquisador do CEA-IAC, Doutorando em Ciências Ambientais (UNESP)

RESUMO

Com o intuito de aumentar a quantidade e qualidade de seus produtos, o sistema de

produção animal utiliza uma grande quantidade de compostos bioativos, como os fármacos

veterinários. Um exemplo é a Ivermectina, amplamente utilizada a fim de minimizar os

impactos de ectoparasitas e, assim, aumentar a produtividade. Embora tenham um papel

importante na produção animal, os fármacos veterinários podem causar um grande impacto

ao ambiente. Os compostos bioativos podem ser considerados como contaminantes dos

recursos hídricos, sendo encontrados em massas de água superficiais, bem como no

subsolo. Este trabalho tem como objetivo analisar amostras de água da bacia do rio Jundiaí

Mirim utilizando-se a técnica de cromatografia líquida (CLAE), para monitorar a presença

da droga veterinária Ivermectina, amplamente utilizada na criação de animais.

Palavras-chave: Ivermectina; fármacos veterinários; ectoparasitas, gestão ambiental.

INTRODUÇÃO

O rebanho comercial de bovinos brasileiro é o maior do mundo (ANUALPEC,

2010) e nos últimos anos a bovinocultura de corte tem sido motivada pela demanda

mundial de carnes nobres. A produtividade do gado depende de vários fatores, dos quais,

podemos destacar a saúde do animal, pois a ocorrência de doenças provoca alteração no

organismo e prejudicam o desempenho produtivo do animal (JUNIOR, 1996). Nesse

contexto, os ectoparasitas podem causar perda de peso, prejuízos ao couro dos animais,

transmissão de agentes patógenos e produção de lesões que predispõem os animais a

infecções secundárias. Estes parasitas, além de sugarem o sangue e furarem o couro,

também mantêm os animais sob estresse contínuo, reduzindo a sua produtividade

(WEGHER, 2010).

21

No combate e controle de parasitas utilizam-se os fármacos veterinários, como a

Ivermectina, utilizada para tratamento das infestações por sarnas sarcóptica, otodécica e

demodécica (BOOTH; McDONALD, 1992; ANDRADE; RODRIGUES, 2002) (Figura 1).

Nesse composto o mecanismo de ação ocorre através do estimulo da liberação do

neurotransmissor inibidor GABA (ácido gama-aminobutírico) na fenda sináptica entre

interneurônios do cordão central e neurônios motores (BILL, 1993; McCALL et al., 1996).

Figura 1. Estrutura química da Ivermectina.

Fonte: Möller, 2004

As possíveis reações adversas provocadas pela administração da Ivermectina são

conhecidas e documentadas na literatura médico-veterinária. Uma forma de entrada desse

composto no meio ambiente é por meio dos efluentes veterinários, que apresentam

concentrações elevadas de fármacos veterinários, antibióticos, desinfetantes e produtos

químicos, que geralmente são lançados sem tratamento prévio nas redes urbanas de

drenagem (VECCHIA et al., 2009). Consequentemente, quando não tratados são

importantes contaminantes de mananciais de água potável, tanto superficial quanto

subterrânea, e linhagens multirresistentes de fármacos veterinários e antibioticos podem

representar riscos à saúde pública se atingirem o sistema de abastecimento (VECCHIA et

al., 2009).

Recentemente, o monitoramento de fármacos residuais no meio ambiente vem

ganhando grande interesse devido ao fato de muitas dessas substâncias serem

22

frequentemente encontradas em efluentes de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e

águas naturais, em concentrações na faixa de µg/L e ng/L. Estudos relatam que a presença

de fármacos residuais em águas superficiais pode ser um indicativo de contaminação por

esgoto das ETEs (PRADO, 2007; CETESB, 2011). Nesse contexto, o presente trabalho tem

como objetivo avaliar a presença da droga veterinária Ivermectina em amostras de água da

bacia do rio Jundiaí Mirim utilizando-se a técnica de cromatografia líquida (CLAE),

visando possíveis tomadas de decisões em gestão ambiental.

METODOLOGIA

A quantificação do fármaco veterinário ivermectina foi realizada por cromatografia

líquida de alta eficiência (CLAE), utilizando-se um equipamento da Varian® Pro Star. No

início do desenvolvimento da metodologia analítica para a quantificação do fármaco

ivermectina por CLAE, as condições cromatográficas foram ajustadas, buscando um pico

simétrico e um menor tempo de corrida, portanto, variações na concentração das soluções

do fármaco, e também na constituição da fase móvel foram realizadas para obter uma

melhor condição cromatográfica. As condições cromatográficas utilizadas para a

quantificação dos herbicidas ao longo do projeto estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Condições cromatográficas para validação da metodologia analítica para

quantificação do fármaco veterinário ivermectina.

Amostra

Fase Móvel

Volume de Injeção

Fluxo

Temperatura

Detector

Coluna

Cromatográfica

Ivermectina

Acetonitrila/água/metanol (250/90/10) (v/v)

100 μL

1,5 mL/min

Ambiente (15 oC)

Ultravioleta (UV), = 246 nm

Phenomenex, Gimini 5μ C18 110A, 150 x 4,60

nm

23

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As condições cromatográficas utilizadas foram consideradas adequadas para a

análise das amostras, pois foi possível obter pico simétrico de Ivermectina (Figura 2)

tornando a análise viável, realizando corridas cromatográficas com um tempo médio de 12

minutos.

A Figura 3 demonstra os cromatogramas dos pontos analisados. Observa-se que em

nenhum dos pontos foi observado um pico correspondente à Ivermectina, o que significa

que com as condições utilizadas não foi possível detectar o fármaco nas amostras

analisadas

Figura 2. Cromatograma da Ivermectina obtida sob as condições anteriormente descritas.

24

Figura 3. Cromatogramas correspondentes aos pontos amostrais analisados. a) Ponto 1; b)

Ponto 2; c) Ponto 3; d) Ponto 4; e) Ponto 5; f) Ponto 6; g) Ponto 7.

a b

c d

e f

g

25

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme as condições cromatográficas propostas para a análise do fármaco

veterinário, não foi possível sua detecção nos pontos amostrais analisados. Contudo, isto

não nos garante a ausência deste fármaco na bacia do rio Jundiaí Mirim, pois na data da

amostragem houve a transposição de águas do rio Atibaia e que afetou consideravelmente o

regime hídrico da bacia. Sugere-se realizar análises em equipamentos com limites de

quantificação e detecção menores, tornando isto uma alternativa viável para a detecção

deste composto. Analisar outros compostos bioativos utilizados na agropecuária também

pode agregar resultados para possíveis tomadas de decisões em gestão ambiental.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, S. F.; RODRIGUES, A. S. Regras básicas para o uso de ivermectina na clínica de pequenos animais. A Hora Veterinária, v. 21, n. 125, p. 53-57, 2002.

ANUALPEC. Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo: Agra FNP Pesquisas, 2010. BILL, R. Pharmacology for veterinary technicians. California: A&Chnicians, 1993. BOOTH, N. H.; McDONALD, L. E. Farmacologia e terapêutica veterinária. 7. ed. Rio

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Abastecem Os Principais Municípios Do Estado De São Paulo. 2011. JUNIOR, V. C. Características de adaptação nos cruzamentos de raças européias x

zebu; Cadernos Técnicos Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, n. 18, p. 29-35, 1996.

McCALL, J. W.; LINDEMANN, B. A.; PORTER, C. A. Evaluation of ivermectim and milbemycin oxime efficacy against Dirofilaria immitis infections of three and four months’ duration in dogs. American journal of veterinary research. v. 57, n. 8, p. 1189-1196, 1996.

MÖLLER, V.M. Avaliação da toxicidade sistêmica e reprodutiva dos antiparasitários à base de ivermectina e de lufenurona em ratas Wistar. 2004, 92 f. Dissertação (mestrado) – Faculdade de veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2004.

PRADO T. Avaliação da eficiência de um sistema de tratamento de efluente hospitalar por processo anaeróbio na remoção de coliformes, Pseudomonas aeruginosa , Klebsiella pneumoniae resistentes a antibióticos e Vírus da Hepatite A. Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Escola Nacional De Saúde Pública – Ensp Departamento De Saneamento E Saúde Ambiental – DSS. 2007.

VECCHIA, A.D.; THEWES, M.R.; HARB NAIME, R.; SPILKI, F.R. Diagnóstico sobre a situação do tratamento do esgoto hospitalar no Brasil. 2009

26

WEGHER, E. A. Nova tecnologia garante aumento na produtividade dos bovinos baseada no controle de verminoses e outros parasitas, 2010.

27

ANÁLISE DE CARBONO ORGÂNICO TOTAL E CARBONO ORGÂNICO

DISSOLVIDO NA SUB-BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ - SP

SILVA, Francisco Carlos da.1; COLA, Diego Faria2; MACHADO, Fernando Henrique3; GONTIJO, Erik Sartori Jeunon4; PECHE-FILHO, Afonso5; ; RIBEIRO, Admilson Írio6; MEDEIROS, Gerson Araujo6

1 Químico, doutorando, bolsista Capes, PPGCA/UNESP/Sorocaba, e-mail: [email protected] 2 Biotecnológo, mestrando, bolsista Fapesp, PPGCA/UNESP/Sorocaba

3 Administrador - Gestor Ambiental, doutorando, bolsista Capes, PPGCA/UNESP/Sorocaba 4 Eng. Ambiental, doutorando, bolsista Fapesp, PPGCA/UNESP/Sorocaba

5 Agrônomo, pesquisador científico nível VI, CEA/IAC,doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 6 Eng. Agrícola, docente das disciplinas de Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental PPGCA/UNESP/Sorocaba

RESUMO

Este trabalho apresenta os resultados de atividades de campo realizadas na sub-bacia do rio

Jundiai-Mirim, Jundiaí, SP. A área de estudo representa o principal manancial para

abastecimento de água do município de Jundiaí - SP. A análise de carbono orgânico total

(COT) e carbono orgânico dissolvido (COD) permite uma quantificação mais precisa da

matéria orgânica, possibilitando a utilização destes parâmetros como elementos-chave na

compreensão e representação de ecossistemas aquáticos assim como serve de parâmetros

para determinarmos possíveis fontes de poluição e/ou contaminação devido à ação

antrópica. Para determinação do COD e COT foi utilizado o equipamento Analyzer multi

N/C 3100. Os resultados obtidos tanto para COD como para COT foram baixos

impossibilitando uma análise sobre a influência antrópica na área.

Palavras-chave: Carbono Orgânico Total (COT); Carbono Orgânico Dissolvido (COD);

UGRHI-05; Bacia do rio Jundiaí-Mirim; Qualidade da Água.

INTRODUÇÃO

A sub-bacia do rio Jundiaí-Mirim é considerada fonte de abastecimento de água

para o município de Jundiaí. Segundo Moraes (2003) o Departamento de Água e Esgoto

(DAE) construiu dois reservatórios que capta e trata 97% da água distribuída no município.

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e a prefeitura de Jundiaí realizaram o

monitoramento nos principais afluentes do rio Jundiaí-Mirim com o intuito de verificar os

problemas de degradação ambiental por toda sua extensão em função do uso e ocupação do

solo de maneira indevida (MORAES, 2003).

28

O carbono orgânico existente na água pode ser agrupado em: carbono orgânico

dissolvido (COD) e carbono orgânico total (COT). O COD é definido operacionalmente

como a fração do carbono orgânico que passa em filtro de 0.45 µm. Ele é formado por

compostos de natureza definida como aminoácidos e carboidratos e compostos de natureza

indefinida como ácidos húmicos e fúlvicos (ROCHA E ROSA, 2003). Destaca-se que o

COD é fonte de energia nos sistemas aquáticos, além alterar a acidez da água e influenciar

na mobilidade e disponibilidade de metais (GOUVEIA NETO, 2006). O COT é constituído

pela soma do carbono orgânico particulado da biota e pelo material orgânico em suspensão,

detrito orgânico particulado, etc. A análise de COT considera as parcelas biodegradáveis e

não biodegradáveis da matéria orgânica, não sofrendo interferência de outros átomos que

estejam ligados à estrutura orgânica, quantificando apenas o carbono presente na amostra.

(CETESB, 2009).

Em águas doces o carbono orgânico origina-se de organismos vivos e de efluentes e

resíduos produzidos pelo homem. Por isso, o COT é um indicador útil do grau de poluição

do corpo hídrico. As substâncias húmicas como parte componente do COD também é um

parâmetro importante a ser considerado em sistemas de tratamento de água, visto que a sua

presença durante a etapa de cloração pode gerar compostos halogenados, que são

cancerígenos (ROCHA E ROSA, 2003). Isso é extremamente relevante considerando que a

parte da água da bacia do rio Jundiaí-Mirim destina-se ao abastecimento público.

METODOLOGIA

As amostras foram coletadas em 7 (sete) pontos distintos ao longo da bacia do rio

Jundiaí-Mirim. Para efetuar as analises de carbono orgânico total (COT), as amostras foram

coletadas em frascos de vidro âmbar previamente limpos e acidificados com ácido fosfórico

até pH menor que 2 para sua conservação, conforme conta do Standard Methods (APHA

et.al., 2005). Para o carbono orgânico dissolvido (COD) as amostras foram coletadas e

filtradas em membrana de 0,45 µm e seguiu-se o mesmo protocolo. As determinações

foram efetuadas utilizando o equipamento Analyzer multi N/C 3100.

29

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tanto os resultados das análises de COT quanto às análises de COD encontram-se

na Figura 1, onde percebe-se um decréscimo do COT em toda a extensão analisada.

Segundo Libânio et al., (2000), o limite para águas naturais estão compreendidos entre 1 e

20 mg/L, portanto o resultado ficou dentro da conformidade. O COD mantêm-se em

um suave decréscimo em praticamente todos os pontos analisado excetuando o ponto 7

(sete) onde houve um decréscimo acentuado.

O comportamento do carbono orgânico em ambas as curvas pode ser influenciado

pela transposição das águas da bacia do rio Atibaia. Nos pontos a jusante do ponto de

transposição está ocorrendo a diluição e degradação do carbono orgânico, o que pode

ajudar a explicar o decréscimo na concentração. Todavia, apesar dessa diluição, os valores

observados são superiores aqueles obtidos por Gontijo et al. (2013) cuja variação do COT

foi de 2,1 a 5.4 mg L-1 e para o COD de 1,6 mg L-1 a 2,5 mg L-1, em uma condição sem

transposição das águas.

Figura 1. Resultados de COT e COD para amostras coletas na bacia do rio Jundiaí-Mirim

CONSIDERAÇÕES FINAIS

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

1 2 3 4 5 6 7

mg/

L

Pontos

COT

COD

30

Os valores encontrados para carbono orgânico total (COT) e carbono orgânico

dissolvido (COD) foram baixos, o que nos impossibilita afirmar se esta havendo

contribuição antrópica. Recomenda-se o contínuo monitoramento da área em diversos

locais e com mais variáveis de modo que possamos correlaciona-las. O ponto de

transposição apresentou maior teor de COT e COD. O decréscimo do teor de carbono

orgânico ao longo da bacia pode ser explicado pela sua diluição e decomposição.

REFERENCIAS

APHA; AWWA; WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 21ª ed. Washington, D.C.: American Public Health Association, American Water Works Association and Water Environment Federation, 2005. 1200 p.

CETESB. Significado ambiental e sanitário das variáveis de qualidade das águas e dos sedimentos e metodologias analíticas e de amostragem. São Paulo, 2009. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/userfiles/file/agua/aguas-superficiais/variaveis.pdf>. Acesso em 10/11/2014

GOUVEIA NETO, S. C. Concentrações e balanços de Carbono Orgânico Dissolvido em duas Bacias do estado de Rondônia: uma comparação entre floresta e pastagem. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo. Centro de Energia Nuclear na Agricultura. Piracicaba, 2006. 54 p.

GONTIJO, E.S.J., MACHADO, F.H.; CARVALHO, M.E.K. Avaliação da qualidade das águas do rio Jundiaí-Mirim por meio das análises de carbono orgânico e cloreto. Memórias do I Workshop de Integração de Saberes Ambientais. Sorocaba: UNESP Campus Sorocaba, 130p., 2013

LIBÂNIO, M. et al. Avaliação da relevância do carbono orgânico total como parâmetro de caracterização de águas de abastecimento. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Volume 5. nº 4. Out/Dez 2000, p. 41-55.

MORAES, J. F. L. de (coord.). Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia hidrográfica do rio Jundiaí Mirim. Disponível em: <http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/5278/diagnostico-agroambiental-para-gestao-e-monitoramento-da-bacia-hidrografica-do-rio-jundiai-mirim/>. Acesso em: 11 nov. 2014.

ROCHA, J. C.; ROSA, A. H. Substâncias húmicas aquáticas: interação com espécies metálicas. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2003.

31

ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES POTENCIAIS PARA

A SAÚDE HUMANA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM,

JUNDIAÍ – SP

FERREIRA, Helio Henrique1, MACHADO, Fernando Henrique2, MACHADO, Leila dos Santos3; SANTOS, Larissa Gonçalves3, COLA, Diego Faria4, CARDOSO-SILVA, Sheila5; RIBEIRO, Admilson Írio6;

MEDEIROS, Gerson Araujo6. 1 Enfermeiro, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP - Sorocaba, e-mail: [email protected]

2 Administrador - Gestor Ambiental, doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 3Bióloga, mestranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP4 Biotecnólogo, mestrando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP

5 Bióloga, pós-doutoranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 6 Eng. Agrícola, docente das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP

RESUMO

A maioria das doenças de veiculação hídrica são causadas por microrganismos presentes

em reservatórios de água doce, habitualmente após contaminação dos mesmos por fezes

humanas ou de animais. A transmissão do agente infeccioso através da água pode ocorrer

pela ingestão, pelo contato com a pele durante o banho, na preparação de alimentos, ou pelo

consumo de alimentos lavados com água infectada. Este estudo analisou os padrões

microbiológicos levantados por Santos et al. (2014) e suas implicações potenciais para a

saúde humana na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, Jundiaí – SP, visando as medidas

que visem resguardar a saúde ambiental e humana. Os resultados demostraram que locais

periurbanos e urbanos apresentaram a maior incidência de contaminação, indicando a sua

priorização para medidas de saneamento ambiental e gestão urbana. Por fim, sugere-se que

haja uma maior educação ambiental.

Palavras-chave: Coliformes totais; Coliformes fecais; E. Coli; Patologias; Contaminação;

Jundiaí-Mirim.

INTRODUÇÃO

A forma como o ambiente vem sendo utilizado pelo homem nas últimas décadas

tem levado à degradação dos ecossistemas e o agravamento das condições de vida da

população que fica com sua saúde exposta a riscos. A água é um dos recursos mais

importantes do meio ambiente, é essencial à manutenção da vida e primordial para o ciclo

hidrológico. Conforme o uso que se faz deste recurso pode-se produzir consequências

32

indesejáveis ao ambiente como um todo. A ocupação humana influencia nesta qualidade,

por meio do lançamento inadequado de resíduos líquidos e sólidos nos rios, da retirada da

vegetação ripária e da construção das edificações sobre as margens, entre outros fatores.

Esta situação contribui para a existência de condições ou situações de risco que vão

influenciar no padrão e nível de saúde da população (CESA et al., 2010).

As doenças que a água tem transmitido sob forma epidêmica são, em geral,

exclusivamente de fezes humanas contaminadas por bactérias e vírus, das quais se destaca:

febre tifóide, febres paratifóides, disenterias bacilares, hepatite A e, sob reserva, a

poliomielite (CAZAJEIRAS, 2007). Essas doenças de veiculação hidrica ocorrem devido à

ingestão de alimentos, bebidas, ou água contaminados por microrganismos como bactérias,

vírus, parasitas, príons e toxinas; ou por produtos químicos, agrotóxicos e metais pesados

ou outros contaminantes. Tais doenças são conhecidas também como infecção ou

intoxicação alimentar (CVE, 2009).

A Portaria 518/04 MS no seu art. 4º VI dá a seguinte definição para Coliformes

Totais (bactérias do grupo coliforme): bacilos gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios

facultativos, não formadores de esporos, oxidase-negativos, capazes de desenvolver na

presença de sais biliares ou agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção de

ácido, gás e aldeído a 35,0 ± 0,5ºC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da

enzima ß -galactosidase. A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros

Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e

espécies pertençam ao grupo. Inclui bactérias que ocorrem no trato intestinal de animais de

sangue quente e também em cereais, em solos e em águas e efluentes contendo matéria

orgânica não necessariamente contaminadas por fezes e por isso, não são indicadores

adequados da qualidade sanitária de águas in natura.

A Portaria 518/04 do Ministério da Saúde estabelece que, para águas destinadas a

consumo humano, não é permitida a presença de coliformes termotolerantes (coliformes

fecais) em 100 ml da água, devendo ser investigada a origem da ocorrência e tomadas

providências imediatas de caráter corretivo, preventivo e realizada nova análise; tolera-se

apenas a presença de coliformes totais (Portaria 518/04).

33

A simples presença de coliformes totais no sistema de distribuição serve como

alerta para o desencadeamento de medidas corretivas e indica falhas ou possível

contaminação após o tratamento.

Dentro desse contexto, este estudo analisou os padrões microbiológicos e suas

implicações potenciais para a saúde humana na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim,

Jundiaí – SP, baseado em levantamento de Santos et al. (2014), visando à proposição de

medidas que visem resguardar a saúde ambiental e humana da região.

METODOLOGIA

A bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim possui 118 km2, é um rio de Classe 1 e

abrange 3 municípios paulistas na seguinte proporção: Jundiaí (55%), Jarinu (36,6%) e

Campo Limpo Paulista (8,4%). Esta bacia é estratégica principalmente para a cidade de

Jundiaí, pois ela fornece 97% da água consumida pelo município (Moraes, 2003).

O trabalho se baseia em levantamentos realizados por Santos et al. (2014) no dia 24

de setembro de 2014, na estação seca, em 5 pontos ao longo da bacia do rio Jundiaí Mirim,

conforme apresentado na Tabela 1:

Tabela 1. Pontos de coleta

Pontos Coordenada geográfica Descrição dos pontos Ponto 2

Reservatório agrícola

s23º06.240'w046º46.627' Localizado em um reservatório agrícola utilizado para

irrigação de culturas (hortaliças), na região das cabeceiras da bacia. Região com características de ambiente rural.

Ponto 3 Ponte na estrada

s23º08.784'w046º48.388' Localizado as margens da estrada municipal Natal

Lorencini, próximo a chácaras e apresentando características de um ambiente peri-urbano.

Ponto 4 Restaurante

s23°08.883'w046°49.347' Localizado às margens de um empreendimento

gastronômico, na região central da bacia. Ponto 5 Antes do

reservatório s23º08.828'w046º52.094'

Localizado a montante do reservatório de acumulação de Jundiaí, próximo a residências e do tecido urbano do

município. Ponto 6

Depois do reservatório

s23º09.828'w046º54.199' Localizado a jusante do reservatório de acumulação de

Jundiaí, nas proximidades do exutório da bacia.

O método de análise utilizado por esses autores foi o colorimétrico IDEXX Quanti-

Tray®/2000 MPN, que consiste em adicionar a amostra em frascos com volume de 100 ml

34

previamente autoclavados e, após introdução do reagente e homogeneizado, é incubado em

cartelas a temperatura de 35°C por 24 horas para posterior leitura.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados de Santos et al. (2014) indicaram uma variação de 816 MPN 100mL-1

a 38.732 MPN a 100 mL na concentração de coliformes totais na bacia do rio Jundiaí

Mirim, sendo os pontos 3, 4 e 5 aqueles de maiores valores atingindo 24.196 MPN 100mL-

1, 19.863 MPN 100mL-1 e 38.732 MPN 100mL-1 respectivamente. No ponto 6 foi

observada a menor concentração.

Quanto aos coliformes termotolerantes a faixa de variação foi de 24 MPN 100mL-1 a

1.203 MPN 100mL-1. A mesma tendência observada nos coliformes totais foi verificada

nos resultados de coliformes fecais, pois os pontos 3, 4 e 5 apresentaram as maiores

concentrações, as quais alcançaram 1.203 MPN 100mL-1, 921 MPN 100mL-1 e 285 MPN

100mL-1 respectivamente, excedendo o limite estabelecido pela legislação CONAMA

357/05, para rios de Classe 1, que não deverá exceder um limite de 200 coliformes

termotolerantes (ou E. coli) por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo menos 6 amostras,

coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. Observa-se tanto para os

coliformes totais quanto para os fecais que quanto mais urbanizada a região da coleta maior

a contaminação da água.

Os resultados demonstram os riscos à saúde pública pelo lançamento de esgoto

doméstico, provavelmente de áreas urbanizadas. Além de bactérias resistentes, as águas

contaminadas também contêm outros tipos de microrganismos patogênicos e que podem ser

veiculados através dos corpos receptores caso não haja um tratamento adequado destes

efluentes. Indicadores da poluição viral das águas, tais como enterovírus que são os agentes

etiológicos mais comuns de infecção em humanos causando doenças de pouca gravidade

(gastroenterite com febre baixa), mas também afecções extremamente graves, como

miocardite, meningoencefalite e poliomielite, dentre outras. Para que não haja

contaminação deveria haver uma fiscalização mais adequada além de medida educativas

35

para conscientizar que agua contaminada poderá trazer patologias e ameaçar a saúde

pública do município.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se tratamento adequado, qualquer processo que, em condições de total

segurança e eficiência, modifica as suas características físicas, químicas e biológicas,

impedindo a disseminação dos agentes patogênicos ou de qualquer outra forma de

contaminação acima de limites aceitáveis. A presença de coliformes fecais acima do nível

permitido ocasiona diversas patologias causadas direta ou indiretamente pela água

contaminada estão as disenterias, a amebíase, a esquistossomose, a malária, a leishmaniose,

a cólera, a febre tifóide, entre várias outras que se não tratada adequadamente pode

ocasionar implicações para saúde humana.

REFERÊNCIAS

CESA, M. V.; DUARTE, G. M. A qualidade do ambiente e as doenças de veiculação hídrica. Geosul, Florianópolis, v. 25, n. 49, p 63-78, jan./jun. 2010.

CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 357. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, Ministério do Meio Ambiente, 2005.

CVE- CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Doenças Relacionadas á agua ou transmissão Hídrica. Informe Técnico, 2009.

MORAES, J. F. L. (coord.) Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do rio Jundiaí-Mirim. Relatório Final – 2ª Fase. IAC/IEA/Prefeitura do Município de Jundiaí/DAE S/A. Campinas - SP, 2003.

SANTOS, L.G., MACHADO, L.S., MACHADO, F.H., FERREIRA, H.H., CARDOSO-SILVA, S.; PECHE FILHO, A., RIBEIRO, A.Í., MEDEIROS, G.A. Variáveis microbiológicas na avaliação da qualidade de água da microbacia do rio Jundiaí-Mirim, Jundiaí – SP. Memórias do II Workshop de Integração de Saberes Ambientais. Sorocaba: UNESP Sorocaba, p. 1-5, 2014. [no prelo]

36

VARIÁVEIS MICROBIOLÓGICAS NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE

ÁGUA DA MICROBACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM, JUNDIAÍ – SP

SANTOS, Larissa Gonçalves1, MACHADO, Leila dos Santos2, MACHADO, Fernando Henrique3; FERREIRA, Helio Henrique4, CARDOSO-SILVA, Sheila5; PECHE FILHO, Afonso6, RIBEIRO, Admilson

Írio7; MEDEIROS, Gerson Araujo7. 1,2 Bióloga, mestranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP, e-mail: [email protected]

3 Administrador e Gestor Ambiental, doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 4 Enfermeiro, mestrando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP

5 Bióloga, pós-doutoranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP 6 Agrônomo, Pesquisado IAC e Doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP

7 Eng. agrícola, docente das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP

RESUMO

O uso de organismos indicadores tem sido amplamente utilizado para avaliar a presença de

potenciais patógenos de veiculação hídrica correlacionados com os padrões de qualidade de

balneabilidade. Neste estudo foi utilizado como microrganismos indicadores, os coliformes

totais e os coliformes termotolerantes (fecais), dentre elas a espécie Escherichia coli. O

objetivo deste trabalho foi analisar a qualidade microbiológica da água do rio Jundiaí-

Mirim. As coletas de água foram feitas em pontos estratégicos da bacia hidrográfica do rio

Jundiaí-Mirim, a qual se enquadra como Classe 1. O método utilizado para a análise foi o

colorimétrico IDEXX Quanti-Tray®/2000 MPN e a contagem MPN (most probable

number) foi feita com o auxílio do software IDEXX MPN Generator versão 3.2. As

concentrações máximas de coliformes fecais foram nos pontos 3, 4 e 5 apresentando

valores superiores ao permitido para a classe a qual a microbacia está enquadrada.

Palavras-chave: Coliformes Totais; Escherichia coli; UGRHI-05; Jundiaí-Mirim;

CONAMA.

INTRODUÇÃO

Para avaliar a qualidade microbiológica da água a identificação de indicadores de

contaminação fecal e indicadores biológicos podem ser empregados, e quando apropriado,

utilizando-se organismos e/ou comunidades aquáticas (AMARAL, et al., 2003; BRASIL,

2005). Embora o seu uso seja generalizado, não há um consenso universal que determine

qual organismo é o indicador mais útil, tão pouco existe normas internacionais que

determinam um padrão único para os indicadores de nível bacteriano. Entretanto, no que

37

concerne a qualidade da água, indicadores retratados como padrões são utilizados em

diferentes países, sendo os mais utilizados os coliformes totais, fecais e Enterococcus

(NOBLE et al., 2003).

O índice de coliformes totais avalia as condições higiênicas e o de coliformes fecais

é empregado como indicador de contaminação fecal e avalia as condições higiênico-

sanitárias deficientes, visto cogitar que a população deste grupo é constituída de uma alta

proporção de Escherichia coli (CARDOSO et al., 2001). As bactérias coliformes pertencem

à família Enterobacteriaceae (bactérias Gram-negativas), a característica que distingue

coliformes totais e termotolerantes é a capacidade de fermentação em temperaturas

diferentes (EEA, 2002). A E. coli, componente do grupo das termotolerantes, tem como

habitat exclusivo o trato intestinal do ser humano e de animais de sangue quente (CETESB,

2008).

As bactérias são consideradas como boas indicadoras de contaminação de origem

fecal, já que são transmitidas do trato intestinal para o meio ambiente através das fezes que

podem contaminar a água e os alimentos, tornando seu monitoramento imprescindível

(CETESB, 2008). Nesse contexto, este estudo teve como objetivo analisar a qualidade

microbiológica da água do rio Jundiaí-Mirim.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, manancial de

abastecimento público de Jundiaí-SP responsável pelo fornecimento de 97% da água

consumida pelo munícipio e enquadrado como um rio de classe 1. A bacia possui uma área

total de 118 km², abrange três municípios paulistas, sendo 55% em Jundiaí, 36,6% em

Jarinu e 8,4% em Campo Limpo Paulista (MORAES, 2003).

As amostras foram coletadas no dia 24 de setembro de 2014, na estação seca, em

frasco de vidro esterilizado, acondicionado em recipiente térmico com temperatura em

torno de 5ºC e ao abrigo da luz. As leituras foram feitas no dia posterior ao da coleta.

Foram coletadas amostras em 5 pontos ao longo da bacia, assim intitulados: Ponto 2:

Reservatório Agrícola (S23º06.240' W046º46.627'); Ponto 3: Ponte na estrada (S23º08.784'

38

W046º48.388'); Ponto 4: Restaurante (S23º08.784'W046º48.388'); Ponto 5: Antes do

reservatório (S23º08.828' W046º52.094') e; Ponto 6: Depois do reservatório (S23º09.828'

W046º54.199').

O método de análise utilizado foi o colorimétrico IDEXX Quanti-Tray®/2000 MPN.

Quando o limite de detecção do método foi atingido para a amostra bruta (i.e., 1:1),

diluições foram feitas na proporção de 1:10 e 1:100. A contagem MPN (most probable

number) foi feita com o auxílio do software IDEXX MPN Generator versão 3.2.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Coliformes totais

Na Tabela 1 é apresentada a contagem MPN para coliformes totais e os respectivos

limites de confiança de 95% para os resultados. Somente para o Ponto 6 não foi necessário

fazer a diluição.

Tabela 1. Contagem MPN de coliformes totais e respectivas diluições.

Pontos de amostragem

Diluição MPN Limite de confiança 95%

Inferior Superior P2 1:1 2.419,6 1.439,50 ∞ P2 1:10 11.198,7 7.546,00 16.140,00 P3 1:1 2.419,6 1.439,50 ∞ P3 1:10 24.196,0 14.395,00 ∞ P4 1:1 2.419,6 1.439,50 ∞ P4 1:10 19.862,9 12.220,30 33.002,30 P5 1:1 2.419,6 1.439,50 ∞ P5 1:10 24.196,0 14.395,00 ∞ P5 1:100 38.732,0 24.586,00 56.704,00 P6 1:1 816,4 550,10 1.174,60

Para o Ponto 3 o limite de detecção foi atingindo, porém não foi possível uma nova

diluição devido à perda de amostra. Entretanto, os valores para este ponto são superiores a

24.196 MPN. A resolução CONAMA 357/05 não estabelece limites para coliformes totais.

Por outro lado, para critérios de balneabilidade (recreação de contato primário), a

CONAMA 20/86 (embora revogada) é a única a estabelecer que as águas doces para este

39

destino sejam enquadradas e terão sua condição avaliada nas categorias excelente quando

tiver, no máximo, 1.250 coliformes totais por 100 mililitros. Sendo assim, somente no

Ponto 6 se enquadraria como um corpo d‟água excelente para balneabilidade. O Ponto 5 foi

o que apresentou o maior valor (38.732 MPN), resultado do qual pode estar relacionado

com a urbanização no entorno do ponto. A comparação entre os resultados obtidos para

cada ponto amostrado está apresentada na Figura 1. O valor médio dos resultados foi de

18.961 e CV de 75%.

Figura 1. Distribuição MPN de coliformes totais por ponto.

Coliformes fecais

Na Tabela 2 é apresentada a contagem MPN para coliformes fecais e os respectivos

limites de confiança de 95% para os resultados.

Tabela 2. Contagem MPN de coliformes fecais e respectivas diluições.

Pontos de amostragem

Diluição MPN Limite de confiança 95%

Inferior Superior P2 1:1 24,10 14,80 36,50

P3 1:1 1.203,30 810,80 1.750,70 P4 1:1 920,80 620,50 1.282,00 P5 1:1 285,10 197,70 398,80 P6 1:1 65,70 46,80 89,20

Para usos que não envolvam a recreação de contato primário, a resolução

CONAMA 357/05 estabelece para rios de Classe 1 que não deverá ser excedido um limite

de 200 coliformes termotolerantes (ou E. coli) por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo

40

menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral.

Considerando esse padrão, os Pontos 3, 4 e 5 apresentaram valores superiores ao permitido

para a classe, conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2. Distribuição MPN de E. Coli por ponto.

Nos Pontos 2 e 6 os valores estiveram bem abaixo do padrão. O valor médio para os

coliformes foi de 500 MPN, com CV de 106%, o que demonstra a grande variabilidade dos

valores e um valor médio acima do padrão. Destaca-se que os valores são apenas

indicativos, pois outras amostragens temporais são necessárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os recursos hídricos são suscetíveis a vários tipos de contaminações, como por

exemplo, a contaminação por coliformes. Sendo que, quando o homem utiliza-se das águas

superficiais não tratadas para irrigação e abastecimento, acabam contribuindo indiretamente

para uma contaminação. Contudo, mesmo que a presença de bactérias coliformes não

indique necessariamente uma ameaça para a saúde pública, a sua detecção é uma indicação

útil em ações de saneamento ambiental que visem resguardar a saúde pública e ambiental.

REFERÊNCIAS

AMARAL, L.A.; NADER FILHO, A.; ROSSI JUNIOR, O.D.; FERREIRA, F.L.A. & BARROS, L.S.S. Água de consumo humano como fator de risco à saúde em propriedades rurais. Revista de Saúde Pública 37(4): 37-40. 2003.

CARDOSO, A.L.S.P.; TESSARI, E.N.C.; CASTRO, A.G.M.; KANASHIRO, A.M.I. & GAMA, N.M.S.Q. Pesquisa de coliformes totais e coliformes fecais analisados

41

em ovos comerciais no laboratório de patologia avícola de Descalvado. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.68, n.1, p.19-22, 2001. Disponível em:http://www.biologico.sp.gov.br/docs/arq/V68_1/4.pdf Acesso em: 05/11/2014.

CETESB - COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Monitoramento de Escherichia coli e coliformes termotolerantes em pontos da rede de avaliação da qualidade de águas interiores do Estado de São Paulo. Diretoria de Tecnologia, Qualidade e Avaliação Ambiental / Departamento de Análises Ambientais. São Paulo: CETESB, 2008. 22 p. [Relatório Técnico]

CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 020. Dispõe sobre a classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional. Ministério do Meio Ambiente, 1986.

CONAMA - CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 357. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, Ministério do Meio Ambiente, 2005.

EEA - EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. The microbiology of drinking water. Part 1 – Water Quality and Public Health Methods for the Examination of Waters and Associated Materials. Bristol: EEA, 50 p. 2002.

MORAES, J. F. L. (coord.) Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do rio Jundiaí-Mirim. Relatório Final – 2ª Fase. IAC/IEA/Prefeitura do Município de Jundiaí/DAE S/A. Campinas - SP, 2003.

NOBLE, R.T; MOORE, D.F; LEECASTER, M.K; MCGEE, C.D & WEISBERG, S.B. Comparison of total coliform, fecal coliform, and enterococcus bacterial indicator response for ocean recreational water quality testing. Water Research, vol. 37(7), p. 1637-1643. 2003.

42

ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO E ANÁLISE QUALITATIVA DA COMUNIDADE

FITOPLANCTÔNICA EM PONTOS ESTRATÉGICOS NA MICROBACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIÁI-MIRIM, JUNDIAÍ – SP

MACHADO, Leila dos Santos1; SANTOS, Larissa Gonçalves1; CARDOSO-SILVA, Sheila2; MEDEIROS, Gerson Araújo3; RIBEIRO, Admilson Írio3; PECHE-FILHO, Afonso4.

1 Bióloga, Mestranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP, e-mail: [email protected] 2 Bióloga, pós-doutoranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP;

3 Eng. agrícola, docente das disciplinas de Gestão Ambiental e Recuperação de Áreas Degradadas, PPGCA/UNESP; 4 Eng. agrônomo, colaborador nas disciplinas de Gestão Ambiental e Recuperação de Áreas Degradadas, PPGCA/UNESP

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar as condições hidrobiológicas da Microbacia do Jundiaí-

Mirim em pontos estratégicos, utilizando Índice de Estado Trófico e o fitoplâncton. A

categoria trófica dos pontos analisados variou de Oligotrófico a Eutrófico. As

características entre estes pontos e o fitoplâncton mostraram que os mesmos diferem entre

si. Estes parâmetros indicam que os processos naturais da bacia são diretamente

influenciados pela transposição. Estas constatações mostram que é necessária a adequação

dos processos de gestão dos usos e ocupações do entorno da microbacia.

Palavras-chave: Eutrofização; Fitoplâncton; Bioindicador, Gestão

INTRODUÇÃO

O crescimento populacional desordenado juntamente com as atividades antrópicas

mal conduzidas são os principais precursores da poluição do meio aquático comprometendo

a qualidade do ambiente para os organismos aquáticos, refletindo também na saúde humana

(DEBERDT, 2002). Os impactos relacionados ao uso e ocupação do solo, como a retirada

da vegetação nativa, pecuária, agricultura, urbanização, poluição difusa e lançamento de

efluentes no entorno das redes de drenagem potencializam o aporte de sedimentos e de

nutrientes para os ecossistemas aquáticos (BRAGA et al., 2005). Estas alterações

contribuem para o aumento da poluição orgânica, da eutrofização e da toxicidade do

sistema. Assim, ocorre uma reação em cadeia, elevando os níveis de produção a altos

patamares impossibilitando o sistema de consumir esta energia em proporções equivalentes

a disponibilizada (DEBERDT, 2002).

43

Uma forma importante para avaliação dos recursos hídricos é o índice de estado

trófico (IET) (LAMPARELLI, 2004), o qual tem por objetivo avaliar a qualidade da água

quanto ao enriquecimento por nutrientes e seu efeito relacionado ao crescimento excessivo

das algas. Isso porque os grupos fitoplanctônicos são controlados por vários fatores

ambientais, bióticos e abióticos, os quais podem, por sua vez, ser afetados por diversos

tipos de poluentes, produzindo mudanças na estrutura e no funcionamento da comunidade

(NASCIMENTO et al., 2013). Diante disso, este estudo teve como objetivo avaliar o estado

trófico da água do rio Jundiaí-Mirim e analisar a composição da comunidade

fitoplanctônica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Determinação do Índice de Estado Trófico (IET)

O estado trófico das águas do rio Jundiaí-Mirim foi avaliado utilizando o índice

modificado por Lamparelli (2004), empregado pela CETESB- (Tabela 1). Para as análises

de fósforo total e clorofila a, fatores para determinação do IET, foram coletadas amostras

em seis pontos ao longo da microbacia (Tabela 2).

Tabela 1. Classificação do Estado Trófico para rios segundo Índice de Carlson Modificado.

Estado Trófico Ponderação Ultraoligotrófico IET ≤ 47

Oligotrófco 47 < IET ≤ 52

Mesotrófico 52 < IET ≤ 59

Eutrófico 59 < IET ≤ 63

Supereutrófico 63 < IET ≤ 67

Hipereutrófico IET> 67

Classificação do Estado Trófico para rios

44

Tabela 2. Pontos de amostragem com as coordenadas. As abreviaturas que constam na

descrição do ponto 3 referem-se a confluência do Rio Jundiaí-Mirim (JM) com o córrego

sem nome (CSN).

Análise de fitoplâncton

A coleta de fitoplâncton foi realizada a partir do Ponto 2. Utilizou-se rede de malha

de 20 µm, para as coletas. As amostras foram fixadas em seguida com formaldeído a 4%,

para análise qualitativa. Para a identificação dos táxons foram analisadas cinco lâminas

com alíquotas de cada ponto, em microscópio óptico. Os organismos foram identificados

com auxílio da mais recente bibliografia. Foi aplicada a análise de Similaridade de Jaccard,

que tem como princípio comparar o número de presença de espécies comuns e o número

total de espécies envolvidas, excluindo o número de ausências conjuntas, entre os pontos

amostrados e entre as espécies identificadas, por meio do software Statistic 7®.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A determinação do Índice de Estado Trófico mostrou que a categoria dos pontos

analisados varia de Oligotrófico a Eutrófico (Tabela 3). A comparação entre os IET‟s

obtidos nos anos de 2013 (BEGHELLI et al., 2013) e 2014 foi possível para três pontos que

coincidiram nas duas coletas: P2, P4 e P6. Os Pontos 4 e 6 tiveram uma melhora na trofia

desde a primeira coleta (Figura 1). É importante ressaltar que esta trofia pode ser avaliada

como artificial, já que a transposição altera a dinâmica natural da bacia. Na primeira coleta,

a transposição estava inoperante, fato que pode explicar o motivo da mudança (melhora) de

trofia neste ano de 2014, promovendo certa diluição dos nutrientes presentes. O conjunto

destes e de outros parâmetros levantados por outros trabalhos relacionados (turbidez,

CoordenadasP1 Transposição S 23º 06.001' W46º 46.382'P2 Reservatório agrícola S 23º 06.240' W046º 46.627'P3 Confluência (JM e CSN) S 23º 08.784' W046º 48.388'P4 Restaurante S 23º 08.784' W046º 48.388'

P5 Antes do reservatório S 23º 08.828' W 046º 52.094'P6 Depois do reservatório S 23º 09.828' W046º 54.199'

Pontos de amostragem

45

sólidos em suspensão, erosões...) demonstram que os processos naturais da bacia são

diretamente influenciados pela transposição em modo operante de modo que, para o estado

trófico, o impacto é positivo. Estas constatações são de grande relevância, já que o destino

final destas águas é o abastecimento público.

Tabela 3. Parâmetros analisados para determinação do Índice de Estado Trófico. *Para P3,

os valores obtidos para clorofila-a encontraram-se abaixo do limite de detecção, portanto,

para determinação do IET deste ponto foi considerado apenas o valor de Fósforo (PT).

Por meio das análises qualitativas de fitoplâncton, foi possível identificar 20 táxons,

pertencentes a 8 classes. As classes mais representativas foram Cyanophyceae,

Chlorophyceae, Coscinodiscophyceae e Trebouxiophyceae. Por meio da análise de

similaridade entre os pontos e entre as espécies fitoplanctônicas, foi possível observar que

alguns pontos diferem bastante de outros (Figura 2). No ponto 5 não foram encontradas

espécies fitoplanctônicas, desta forma ele foi excluído na interpretação da análise. Somando

estes resultados aos do IET, eles se complementam, já que águas mais eutrofizadas tendem

a apresentar baixa diversidade e águas mais oligotróficas tendem a uma diversidade relativa

maior (ESTEVES, 1998). Assim, a utilização da comunidade fitoplanctônica em conjunto

com outros métodos de avaliação, tem relevância nos estudos, principalmente por serem

bioindicadores de qualidade da água dentro dos parâmetros de avaliação ambiental

(NASCIMENTO et. al., 2013). A adequação dos processos de gestão dos usos e ocupações

do entorno é necessária, assim como reavaliar as políticas públicas integradoras capazes de

sustentar a própria gestão e apresentar diretrizes norteadoras aos responsáveis por tomar

decisões (CARDOSO-SILVA et al., 2013).

P1 - Transposição 0,67 0,29 290 46,61 63,39 54,999 Mesotrófico

P2 - Reservatório agrícola 2,67 0,27 270 58,61 63,02 60,813 Eutrófico

P3 - Ponte na estrada 0 0,41 410 0 65,19 * Mesotrófico

P4 - Restaurante 0,89 0,36 360 49,10 64,51 56,806 MesotroficoP5 - Antes do reservatório 1,07 0,79 790 50,68 68,59 59,636 MesotroficoP6 - Depois do reservatório 0,89 0,07 70 49,10 56,01 52,553 Oligotrofico

Jundiaí - Mirim 2014Pontos amostrados IET (Cl) IET (P) IET (médio) Estado tróficoCl a (mg/L) P (mg) P (mg)

46

Figura 1. Comparação entre os índices obtidos na 1ª e 2ª coleta (na 1ª coleta P6 consta

como P5).

Figura 2. Análise de similaridade utilizando o coeficiente de Jaccard entre os pontos

amostrais, cuja interpretação não levou em conta o ponto 5, devido a ausência de espécies

fitoplanctônicas. Assim, nota-se que os pontos 2, 3 e 4 apresentam maior similaridade entre

as espécies, ao passo que o ponto 6 se distanciou devido a maior diversidade, de espécies

fitoplanctônicas, constatada para este ponto.

0

10

20

30

40

50

60

70

P2/P2 P4/P4 P5/P6

Val

ore

s d

e I

ET o

bti

do

s p

ara

cad

a p

on

to

Pontos equivalentes nas duas coletas

IET 2013

IET 2014

47

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas categorias de uso e ocupação do entorno da bacia, é visível o elevado

grau de fragilidade e vulnerabilidade os quais podem potencialmente comprometer a

qualidade da água em níveis mais ou menos prejudiciais, dependendo do tipo de ocupação

do entorno. Tais fatores caracterizam toda a área de drenagem da bacia como pontos de

importante atenção, pois o impacto aos quais estas áreas estão sujeitas se somam na entrada

da barragem, sendo observada uma piora crescente da qualidade da água à montante em

direção a este ponto.

Comparando os dados levantados depois da barragem, nota-se que esta exerceu um

papel esperado de depuração e estabilização dos parâmetros hidrobiológicos avaliados,

visto que sua categoria trófica está classificada como oligotrófica. As análises de

fitoplâncton complementam estas considerações, pois foi constatada maior diversidade de

espécies para este ponto, um forte indicativo de um bom índice de qualidade da água. Por

outro lado, esta melhora da qualidade após represamento nos revela uma problemática em

potencial, como o alto índice de assoreamento que o reservatório pode estar sendo exposto

devido ao grande aporte de sedimentos e outros materiais para o mesmo.

REFERÊNCIAS

BEGHELLI, et al.. Análise de Clorofila a e índice de estado trófico das águas da microbacia do Rio Jundiaí-Mirim. I Workshop de Integração dos Saberes Ambientais. Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais UNESP Sorocaba. 2013

BRAGA, et. al.. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2005. CARDOSO-SILVA, et al.. M. Diretiva Quadro D‟água: Uma revisão crítica e a

possibilidade de aplicação ao Brasil. Ambiente & Sociedade. São Paulo, vol.16 no.1 São Paulo Jan./Mar. 201339-58, 2013.

CETESB - GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Companhia de tecnologia de saneamento ambiental. Qualidade das águas interiores no estado de São Paulo. São Paulo, 2013.

DEBERDT, G. L. B. Estudo de cianobactérias em reservatório com elevado grau de trofia (Reservatório de Salto Grande - Americana - SP). Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, 2002.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro, Interciência/FINEP, 575 p. 1998.

48

LAMPARELLI, M. C. Grau de trofia em corpos d‟água do estado de São Paulo: Avaliação

dos métodos de monitoramento. 238 p. Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

NASCIMENTO, et. al.. Composição da comunidade fitoplanctônica do rio da Batateira semiárido cearense. Revista de biologia e ciências da terra, Vol. 13, Nº 1, 2013.

49

IMPACTOS AMBIENTAIS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO ATIBAIA EM

BARRAGENS NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ MIRIM

MOTA, Maurício Tavares1; HENRIQUE, Hélio2; FENGLER, Felipe3; MARQUES, Bruno4; BONIFÁCIO, Marcos Antônio.5; RIBEIRO, Admilson Írio.6; MEDEIROS, Gerson Araújo7; PECHE FILHO,

Afonso8 [email protected]

1,2,3,4 e 5 Doutorando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba 6, 7 e 8 Prof. Doutor – Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais – UNESP - Sorocaba

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo avaliar os impactos ambientais nas estruturas de

reservação de água na bacia do Rio Jundiaí-Mirim, decorrentes da transposição do Rio

Atibaia. A transposição contribui com 700 L s-1, o dobro da vazão média do rio Jundiaí-

Mirim (350 L s-1), afetando de forma preocupante o funcionamento e segurança dos

pequenos reservatórios. Foram realizadas visitas em campo a cinco reservatórios quando foi

possível identificar indicadores de impactos ambientais pelo aumento da vazão, tais como o

transporte de sedimentos, devido a erosão das margens, e a consequente sedimentação e

perda da capacidade de reservação das barragens. Este fato associado com a ausência e/ou

dimensionamento incorreto do extravasador dos pequenos reservatórios potencializa a

ocorrência de rompimentos. Portanto, sugere-se a implantação de um programa de

manutenção estrutural dos reservatórios na bacia para prevenir possíveis danos ambientais.

Palavras-chave: Transposição; Reservatórios; Impacto Ambiental.

INTRODUÇÃO

A ausência de um plano de conservação dos açudes agrícolas geram grandes perdas

na qualidade e capacidade de reservação devido ao assoreamento e acúmulo de nutrientes e

agroquímicos carreados. Particularmente na Bacia do Rio Jundiaí Mirim, a qual recebe

transposição das águas do rio Atibaia, um programa de orientação técnica aos proprietários

rurais poderiam evitar importantes impactos ambientais, sociais e econômicos.

Uma vez identificado e diagnosticado os problemas de uma barragem é possível

propor a recuperação da estrutura com medidas adequadas em cada caso, pois a sua correta

50

manutenção pode contribuir significativamente para a melhora na qualidade da água e

redução do processo erosivo na bacia.

O objetivo deste trabalho consiste em identificar os principiais problemas agravados

pelo aumento da vazão em função da transposição nas pequenas barragens rurais da bacia

do rio Jundiaí-Mirim e apontar estratégias para a implantação de ações de manutenção de

reservatórios rurais, frente a realidade da transposição do rio Atibaia.

METODOLOGIA

A Bacia do Rio Jundiaí Mirim se insere na Unidade de Gerenciamento de Recursos

Hídricos do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, sendo afluente da margem direita do rio Jundiaí

(MORAES et al, 2002). A área da bacia do rio Jundiaí Mirim abrange 108,6 km2, sendo

55% no município de Jundiaí, 36,6% no município de Jarinu e 8,4% no município de

Campo Limpo, e uma extensão de cerca de 16 km.

De acordo com o Decreto Estadual nº 10.755/77 (SÃO PAULO, 2005), o rio

Jundiaí-Mirim e todos os seus afluentes são enquadrados na classe 1 até o ponto de

captação para abastecimento público, enquanto o rio Atibaia é definido como classe 2.

Trata-se de um importante manancial, pois cerca de 95% da água utilizada pelo município

de Jundiaí provém desse rio. Em 1969, iniciou-se a captação de água do rio Atibaia,

afluente do Piracicaba, conduzida por tubulação às nascentes do rio Jundiaí Mirim, ainda

no município de Jarinu. Segundo Carvalho (2002), no período de estiagem o rio Atibaia

contribui com 700 L s-1, cerca do dobro da vazão do Jundiaí-Mirim (350 L s-1), podendo

afetar o funcionamento dos pequenos reservatórios.

O clima da região são o Cfa e Cfb de acordo com o sistema Köppen (PINTO, 1992).

A coleta de dados ocorreu no segundo semestre de 2014, com visita a cinco propriedades

rurais da bacia e análise visual de reservatórios. Com base neste diagnóstico identificaram-

se os impactos ambientais decorrentes do aumento da vazão, pela transposição do rio

Atibaia.

51

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um dos aspectos observados durante a transposição foi o transporte de sedimentos

devido a ocorrência de erosão e que levou a uma concentração de 52,8 mg L-1 de sólidos

totais, medido próximo a entrada do reservatório que armazena água para o abastecimento

de Jundiaí, em época de seca. Considerando uma transposição de 700 L s-1 e uma vazão

total de 900 L s-1 tem-se uma carga estimada de sedimentos de aproximadamente quatro

toneladas diárias, demonstrando-se um impacto potencial da transposição do rio Atibaia.

Observou-se, ainda, nas visitas de campo que a maioria dos reservatórios da bacia

tem como objetivo a irrigação agrícola e foram construídos sem uma padronização de

formas geométricas associadas ao uso pretendido, como exemplificado por Molle e Cardier

(1992).

Ao definir o uso do reservatório o produtor deve ter ciência dos princípios para o

seu correto dimensionamento. O projeto de uma barragem requer fundamentalmente a

análise e aplicação correta de dois itens relevantes relacionados à sua segurança: a) estudos

hidrológicos desenvolvidos na bacia hidrográfica em estudo - onde se determina a vazão

máxima de cheia e o volume de armazenamento necessário a regularização da vazão e b)

estudos hidráulicos utilizados principalmente no dimensionamento do sistema extravasor

(eliminação do excesso de água e dissipador de energia), do desarenador (eliminação dos

depósitos do fundo e, ou esvaziamento do reservatório), e da tomada de água (estrutura para

captação da água represada). Portanto, mesmo que os atuais pequenos reservatórios

tenham passado por esta análise técnica e hidrológica para sua correta construção, o

advento da transposição esta comprometendo de forma significativa estas estruturas e

potencializando o risco de ruptura destas barragens, dado o aumento de vazão.

O Atlas digital das águas de Minas ilustra de forma didática uma série de anomalias

mais frequentes em pequenas barragens de terra e discute suas prováveis causas e possíveis

consequência assim como aponta ações corretivas. Uma adaptação deste resultado foi

realizada para as principais anomalias identificadas nas propriedades da bacia do rio

Jundiaí-Mirim e encontra-se ilustrado no Quadro 1. Em concordância com os problemas

identificados na bacia do rio Jundiaí-Mirim, o Depto. de Ecologia do Estado de Washington

52

cita as causas mais frequentes de rupturas de barragens nos Estados Unidos.

Nesse contexto destacam-se: galgamento – 34% das rupturas (projeto inadequado

do vertedouro; bloqueio do vertedouro; recalque da crista da barragem); defeitos nas

fundações – 30% das rupturas (recalques diferenciais; deslizamentos e instabilidade de

taludes; altas sub-pressões); piping e infiltrações – 20% das rupturas (erosão no interior da

barragem causada por infiltrações – piping; infiltrações e erosão ao longo de estruturas

hidráulicas como condutos; fissuras na barragem; condutos de válvula – 10% das rupturas.

Quadro 1: Anomalias mais frequentes em pequenas barragens de terra, respectivas causas

prováveis, possíveis consequências e ações corretivas, relacionadas ao aumenta da vazão do

Rio em decorrência da transposição.

Anomalia Causa

provável Consequência Ações corretivas

Ruptura do maciço

Cheia superior a capacidade do extravasor

Inundações a jusante da barragem

Reconstrução do maciço e reavaliação dos estudos hidrológicos e dimensionamento do extravasor.

Erosão regressiva à jusante do extravasor

Erosão do canal extravasor.

Ruptura do canal extravasor e comprometimento da estrutura do maciço.

Controle da erosão após o canal extravasor, redução da energia à níveis compatíveis e suportáveis. Avaliação e dimensionamento do tipo de dissipador mais adequado.

Controle de erosão e instabilidade das encostas nas margens.

Movimentação (elevação ou rebaixamento) rápido do nível do reservatório

Focos de erosão no talude e assoreamento do reservatório

Controle de deslizamento de encostas marginais por meio da adequação da declividade do talude.

Erosão e instabilidade dos solos na área do maciço de terra.

Desmatamento e retirada de solos

Erosão na “área de

empréstimo” e

assoreamento do reservatório.

Reintegração do canteiro de obras à paisagem local. Através da remodelação do terreno, eliminando bacias de estagnação de água.

Fonte: Adaptado do Atlas digital das Águas de Minas (2014).

53

Informações obtidas em campo através de moradores apontam que os pequenos

reservatórios foram construídos em sua maioria, antes do advento da transposição, portanto,

o operador do sistema deveria prever os impactos no aumento de vazão ou, no caso dos

reservatórios localizados nos afluentes do rio Jundiaí Mirim o refluxo de água, e assim

mitigar os impactos com a reestruturação física destes reservatórios que não possuem

estruturas básicas entre as quais destacamos: escadas hidráulicas e extravasor construídos

de forma correta, muitos destes em períodos de cheia ou transposição causam erosão no

entorno da barragem e colocam em risco moradores locais e o ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, é possível concluir que a transposição tem colocado em risco os

pequenos reservatórios. Os impactos ambientais da transposição nos pequenos reservatórios

são nítidos com a ocorrência de erosões, fato que afeta significativamente o assoreamento

de rios, reservatórios e seus afluentes, além de reduzir o potencial de reservação e a

qualidade da água.

Urge a adoção de um programa de redimensionamento dos pequenos reservatórios

do Rio Jundiaí-Mirim, assim como a implantação de obras tais como construção de canal

extravasor; escadas de dissipação de energia; reforço do maciço. Tais intervenções devem

ser precedidas de estudos hidrológicos, como forma de compensação ambiental, atendendo

o princípio da precaução.

REFERÊNCIAS

ATLAS DIGITAL DAS ÀGUAS DE MINAS - Uma ferramenta para o planejamento e gestão dos recursos hídricos. Disponível em: (http://www.atlasdasaguas.ufv.br). Acesso em: Nov. 2014.

CARVALHO, Y.M.C. Atividade Sócio-Econômicas. In: MORAES, J. F. L.; CARVALHO, Y. M. C.; PECHE FILHO, A. Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do Rio Jundiaí Mirim. Jundiaí: Instituto Agronômico de Campinas, 2002. 108p. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/jndmirim/relatorios%5Csegunda_fase%5Catividades_socio_economicas_1.pdf >. Acesso em: Nov. 2014.

54

MOLLE, F., & CADIER, E. (1992). Manual do Pequeno Açude - Construir, Conservar e Aproveitar Pequenos Açudes no Nordeste Brasileiro. Recife: "Convênio SUDENE/ORSTOM".

MORAES, J. F. L.; CARVALHO, Y. M. C.; PECHE FILHO, A. Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do Rio Jundiaí Mirim. Jundiaí: Instituto Agronômico de Campinas, 2002. 108p.

PINTO, H.S. 1992. Clima da Serra do Japi. Pp. 30-38. In: L.P.C. Morellato (ed.). História Natural da Serra do Japi.Campinas, Editora da Unicamp, Fapesp.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento. Departamento de Águas e Energia Elétrica. Decreto nº 10755, de 22 de novembro de 1977. Disponível em: <http://www.daee.sp.gov.br/legislacao/decreto_10755.htm>. Acesso em: Novembro de 2014.

UNITED STATES OF AMERICA. Departament of Ecology. State of Washington. Dam Safety: 2009. Disponível em: http://www.ecy.wa.gov/PROGRAMS/wr/dams/failure.html. Acesso em: Nov. de 2014.

55

INTERVENÇÕES NAS MARGENS DEGRADADAS DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-

MIRIM COM BIOENGENHARIA DE SOLOS

SOLERA, Maria Lucia1; RIBEIRO, Admilson Irio2; MEDEIROS, Gerson Araújo2; PECHE FILHO, Afonso4 1 Bióloga, doutoranda, PPGCA/UNESP/Sorocaba, [email protected]

2 Engo Agrícola, docente da disciplina Recuperação de Áreas Degradadas, PPGCA/UNESP/Sorocaba 3 Engo Agrícola, docente da disciplina de Gestão Ambiental, PPGCA/UNESP/Sorocaba

4 Engo Agrônomo, Pesquisador Científico Nível VI, CEA/IAC, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba

RESUMO

Nas regiões tropicais o processo erosivo tem início com o desprendimento das partículas de

solo e seu arraste pela energia cinética da enxurrada. Esse processo é acelerado com a

remoção da cobertura florestal protetora, pelas mudanças no seu uso advindas de atividades

como agropecuária, mineração e empreendimentos diversos, bem como da ocupação

urbana. No que tange aos cursos d‟água, suas margens estão sujeitas à ação do processo

natural de erosão, no qual o solo erodido é transportado e depositado em pontos mais

baixos, podendo levar ao assoreamento do leito dos rios. Este trabalho discorre sobre a

aplicação da bioengenharia de solos/engenharia natural, com potencial de uso em projetos

de gestão de recursos hídricos, com vistas a recuperar ou recompor margens de cursos

d‟água erodidas na bacia do rio Jundiaí-Mirim. A bioengenharia de solos, tecnologia com

grande aplicabilidade econômica e ambiental, pode ser uma alternativa tecnológica com

melhor custo-benefício, se comparadas a tratamentos convencionais de recuperação

ambiental.

Palavras-chave: bioengenharia de solos, recursos hídricos, bacia rio Jundiaí-Mirim

INTRODUÇÃO

O solo é um dos recursos naturais mais suscetíveis ao desequilíbrio. Sua

desestabilização tem início com a remoção da cobertura florestal protetora, seguida de

mudanças no seu uso ocasionadas por atividades e empreendimentos diversos

(agropecuária, mineração e obras de infraestrutura), bem como pela ocupação urbana.

A perda da camada superficial do solo nos terrenos se dá naturalmente pela ação de

agentes erosivos, com destaque à ação da água, que contribui para o arraste de suas

56

partículas constituintes, desencadeando processos erosivos no solo e alterando os níveis de

turbidez e assoreamento no corpo d‟água receptor.

As margens dos cursos d'água estão sujeitas à ação do processo natural de erosão,

no qual o solo erodido é transportado e depositado em pontos mais baixos, podendo levar

ao assoreamento do leito dos rios.

A perda de habitats aquático e terrestre, bem como da biodiversidade; interferência

no ecossistema natural; assoreamento com influência direta no sistema de abastecimento

hídrico e energético; alterações na hidrogeografia da bacia e perda de vertentes pela água

estão entre os problemas ambientais mais graves relacionados à erosão do solo.

Desse modo, no contexto da valoração ambiental, este trabalho tem como objetivo a

proposição de ações em projetos de gestão de recursos hídricos com vistas a recuperar ou

recompor as margens de cursos d‟água comprometidas por processos erosivos na bacia do

rio Jundiaí-Mirim com uso de técnicas de bioengenharia de solos.

METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa voltada ao tema de recuperação

de áreas degradadas por processos erosivos em taludes fluviais com bioengenharia de solos,

considerada uma tecnologia que faz uso de métodos combinados das propriedades

estruturais de plantas em combinação com materiais inertes (brita, cascalho, pedra,

madeira, concreto) (EVETTE et al. 2009), utilizada para recuperar ambientes em diferentes

contextos e degradação (GRAY; SOTIR, 1996; SUTILI, 2007; EVETTE ET AL., 2009;

FERNANDES; FREITAS, 2011)

A literatura mostra e descreve diferentes técnicas da bioengenharia de solos que

podem ser aplicadas a uma gama de contextos como estabilização de taludes de corte e

aterro, controle de erosão do solo e erosão hídrica, barreira vegetativa, renaturalização de

margens de rios, recuperação de áreas degradadas, entre outras (EUBANKS; MEADOWS,

2006)

Este trabalho destaca casos da aplicabilidade de técnicas da bioengenharia de solos

para estabilizar as margens do córrego Judas, na Granja Julieta, em São Paulo, afetadas por

57

processos erosivos decorrente do aumento da velocidade da água (Figuras 1a; 1b e Figura

2). Da mesma forma, essa tecnologia foi utilizada nas margens da drenagem do Arroio

Guarda-mor, em Faxinal do Soturno, Rio Grande do Sul, para solucionar problemas de

instabilidade, resultantes da ação da água (Figuras 3a; 3b).

Figura 1. Parque Severo Gomes: (a) margem erodida (2005); (b) margem recuperada

(2007).

Fonte: Imagens cedidas por S. B. N. Picarelli.

58

Figura 2. Margem recuperada (2012).

Fonte: M. L. Solera (2012).

Figura 3. Drenagem Arroio Guarda-mor: (a) margem erodida em janeiro de 2003; (b)

margem recuperada em agosto de 2005.

Fonte: Imagens cedidas por F. J. Sutili.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O uso da bioengenharia de solos, a exemplo da construção de uma estrutura de

madeira roliça, para proteger as margens do Córrego Judas, utilizando materiais de antigas

construções do parque, assim como o uso de pilotos de madeira cravados verticalmente e

intercalados com troncos de eucaliptos no sentido longitudinal e, estacas roliças no sentido

59

horizontal e feixes vivos entre os vazios instalados nas margens do Arroio Guarda-mor,

pode ser uma alternativa para estabilizar, recuperar ou recompor as margens dos cursos

d‟água com processos erosivos em estágio inicial e avançado, observados na bacia do rio

Jundiaí-Mirim (Figuras 4a; 4b; 4c).

Figura 4. Aspecto de margens com processos erosivos.

Fonte: Fonte: M. L. Solera (2014).

O sucesso das obras de bioengenharia de solos para estabilizar ou conter processos

erosivos em talude fluviais dependerá de um melhor conhecimento das técnicas inseridas

60

nessa tecnologia, além de alguns fatores que devem ser considerados como do

conhecimento das características biotécnicas da vegetação (potencial de reprodução, época

de plantio, sistema radicular e sua flexibilidades; resistência dos ramos para serem

utilizados como componentes estruturas); das implicações da sucessão vegetação, além os

obstáculos físicos, legais e econômicos; compreensão do projeto, execução e manutenção e

dos fatores condicionantes tais como: clima, geologia, solo, hidrografia, vegetação, local e

os agentes como água, vento, temperatura e o próprio homem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O emprego de técnicas bioengenharia de solos apresenta potencial na recuperação

das margens de cursos d‟água com processos erosivos de solapamento inseridas na bacia do

rio Jundiaí-Mirim. É uma tecnologia que possibilita o uso de recursos existentes na região

(materiais e mão-de-obra), podendo ser adotada pelas administrações de municípios

carentes que não dispõem de recursos financeiros para investir em obras clássicas da

engenharia civil, bem como uma ferramenta na gestão ambiental dos recursos hídricos.

Nesse contexto, a bioengenharia de solos pode ser uma solução potencialmente

eficaz e apresentar vantagens se comparada aos tratamentos convencionais. No entanto, a

bioengenharia de solos pode não ser apropriada para todos os tipos de situações de

degradação dos corpos hídricos, necessitando do emprego de outras estruturas da

engenharia de construção civil podendo essas estruturas ser confeccionadas de forma

monolítica ou em combinação com o material vegetal vivo e outros inertes.

REFERÊNCIAS

EUBANKS, C. E.; MEADOWS, D. A soil bioengineering guide: for streambank and lakeshore stabilization. Washington, U.S.: Department of Agriculture Forest Service, Technology and Development Program, 2006.

EVETTE, A. et al. History of bioengineering techniques for erosion control in rivers in Western Europe. Environmental Management, v. 43, n. 6, p. 972–984, June 2009.

FERNANDES, J. P.; FREITAS, A. R. M. Introdução à engenharia natural. Lisboa: Empresa Portuguesa das Águas Livres, 2011. v. 2.

GRAY, D. H.; SOTIR, R. B. Biotechnical and soil bioengineering slope stabilization: a practical guide for erosion control. New York: John Wiley & Sons, 1996. 377 p.

61

SUTILI, F. J. Bioengenharia de solos no âmbito fluvial do sul do Brasil. 2007. 94 f. Tese (Doutorado) – Departamento de Engenharia Civil e Perigos Naturais, Instituto de Bioengenharia de Solos e Planejamento da Paisagem, Universidade Rural de Viena, Viena, 2007.

62

RESÍDUOS DE SISTEMAS DE BOMBEAMENTO D’ÁGUA: ESTUDO DE CASO

NA BACIA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM

BONIFÁCIO, M. A.1; MARQUES, B.V.2; FENGLER, F.H.3. RIBEIRO, A.I.4, MEDEIROS, G.A.4 [email protected]

1 e 3 Doutorando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba 2 Mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba

4 Professores das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA UNESP

RESUMO

A bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim é responsável pelo fornecimento de 97% da água

consumida no município de Jundiaí, cidade com cerca de 400 mil habitantes. Sua extensão

compreende os municípios de Campo Limpo Paulista, Jarinú e Jundiaí sendo que um dos

principais usos da água é a irrigação da agricultura perene em pequenas propriedades, que

pela necessidade adotam o sistema de barragem para armazenar a água e sistemas de

bombeamento para distribuí-la, onde o mau uso destes equipamentos e instalações

inadequadas podem gerar diversos impactos na água e no solo. O trabalho teve como

objetivo avaliar a potencial fragilização ambiental que estes equipamentos podem causar.

As avaliações foram realizadas in loco em cinco propriedades rurais, sendo localizadas nas

sub-bacias do Pitangal e Toca, tendo os dados coletados por contato direto e observação.

Foi possível constatar que nenhumas das propriedades possuem instalações adequadas além

de que em todos os equipamentos observou-se a presença de resíduos relacionados com

ações de manutenção. Diante dos resultados ficou evidente que um plano de gestão

ambiental para a bacia deve contemplar ações relacionadas ao tema manutenção de

equipamentos.

Palavras-chave: Manutenção; Bombeamento; Resíduos.

INTRODUÇÃO

A bacia do Rio Jundiaí-Mirim segundo Machado (2013), distribui-se em 117,5 Km²

de área sendo responsável por fornecer 97% da água consumida no município de Jundiaí,

que possui cerca de 400 mil habitantes (IBGE-CIDADES, 2014), além de abastecer

inúmeras propriedades rurais, que se utilizam de suas águas para atividades, desde

domésticas até irrigação. Moraes et al. (2002), destaca que esta bacia é constituída pelas

63

áreas de drenagem dos rios Piracicaba (12.400 km²), Capivari (1.655 km²) e Jundiaí (1.150

km²).

Pela necessidade deste abastecimento, estas pequenas propriedades rurais – foco do

estudo – acabam criando pequenos reservatórios, destinados à captação. E, para a retirada e

distribuição da água, utilizam-se de sistemas de bombeamento (moto-bombas, geralmente

elétricas), que potencializam a fragilidade do local pela possibilidade de contaminação da

água e do solo pela geração de resíduos, tais como, combustível, lubrificantes, óleo

isolantes e componentes substituídos em atividades de manutenção.

Assim, visando contribuir com o plano de gestão ambiental da bacia, discute-se a

inclusão de uma nova variável, neste caso, a gestão dos equipamentos utilizados ao longo

da bacia, pois instalações ou utilizações inadequadas podem agravar a fragilidade no

tocante a geração de resíduos. Desta forma, analisar o impacto destes equipamentos pode

fornecer dados importantes para determinar as formas de gerenciá-los com vistas à gestão

ambiental.

Como foco para este trabalho, traçou-se como objetivo, avaliar in loco, pequenas

propriedades rurais ao longo da bacia, que possuíssem ambientes lênticos para captação

d‟água com sistemas de bombeamento instalados e operando, que permitissem uma análise

sob a perspectiva da manutenção quanto aos riscos de contaminação pela geração de

resíduos.

De posse dos dados foi possível observar os principais impactos e a degradação

atual, para que fosse possível propor ações para o Plano de Gestão Ambiental para a bacia.

MATERIAIS E MÉTODOS

A coleta de dados se deu em novembro de 2014, ocorrendo em cinco propriedades

(figura 1), duas localizadas na sub-bacia do Pitangal e as demais na Toca. Todas

selecionadas por conveniência, já que se tratam de propriedades particulares, necessitando

de autorização para acesso, não obtido em algumas áreas incluídas no plano de

amostragem.

64

Figura 1: Localização dos pontos analisados

Para a coleta de dados utilizou-se o contato direto, que para Marconi e Lakatos

(2011), é realizado com indivíduos que podem fornecer dados ou fontes alinhadas aos

objetivos da pesquisa, complementado com o procedimento de observação, visando coletar

informações tácitas dos envolvidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Propriedades Visitadas

Ilustrando o cenário do estudo, todas as propriedades possuíam as características

esperadas, tendo os ambientes lênticos artificiais e sistemas de bombeamento instalados e

em operação, suas características seguem descritas no quadro 1.

65

Quadro 1: Descrição das propriedades visitadas

Local Sub-Bacia Caracterídticas

Propriedade 1 Pitangal

Com dois sistemas de bombeamento, ambos destinados à irrigação, sendo um movido a energia elétrica e outro a combustão interna (diesel). Este segundo em stand by, para ser utilizado apenas em alguma necessidade especifica.

Propriedade 2 Um sistema de bombeamento destinado à irrigação e um segundo destinado ao abastecimento do reservatório, ambos movidos à energia elétrica

Propriedade 3

Caxambu

Um sistema de bombeamento, também destinado a irrigação, movido a energia elétrica. A característica em destaque na área é que o rio (lótico) encontrava-se com volume tão reduzido que o reservatório (lêntico) abastecido por uma nascente, extravasa seu excesso para o rio.

Propriedade 4 Também abastecido por nascente dado ao baixo volume do rio. Conta com apenas um sistema de bombeamento destinado à irrigação, movido por energia elétrica.

Propriedade 5 Conta também com único sistema de bombeamento, destinado à irrigação e movido por energia elétrica.

Análise das Instalações

Nenhuma das propriedades possuía instalações adequadas para os sistemas (figuras

2 e 3), muito embora duas das propriedades (figura 3) possuíssem abrigos, com cobertura e

fechamento, também encontram-se com problemas, como a ausência de áreas de contenção.

Figura 2: Propriedades sem instalações

adequadas

Figura 3: Propriedades com instalações

adequadas

Análise dos Equipamentos

Em todos os equipamentos analisados (figuras de 4 a 7), observou-se a presença de

resíduos, relacionados com ações de manutenção dos equipamentos.

66

Figura 4: Equipamentos da Propriedade 1 Figura 5: Equipamentos da Propriedade 2

Ficou também evidente a falta de manutenções preventivas, pois em depoimentos,

verificou-se as manutenções necessárias são realizadas apenas quando há a quebra. Outro

ponto é a presença de resíduos destas manutenções, como peças substituídas, panos

utilizados em limpezas, etc. (figura 7), encontrados no entorno dos equipamentos.

Figura 6: Equipamentos da Propriedade 3 Figura 7: Equipamentos da Propriedade 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o objetivo tenha sido buscar evidências de impactos foi possível identificar

danos já evidentes, pois em 100% da amostra, evidenciou-se a presença de resíduos já

citados, o que sugere que estes possam estar presentes nos corpos d‟água que compõe a

bacia.

No tocante ao impacto, também em 100% das analises observou-se problemas com

as instalações, sugerindo um aumento da fragilidade do ambiente, tendo sempre a

67

possibilidade do aumento de sua magnitude em possíveis sinistros com os equipamentos.

Visando contribuir com o plano de gestão da bacia, algumas ações relacionadas ao

tema podem ser sugerida, tais como:

[1] Conscientização dos proprietários quanto a necessidade de manutenções

adequadas no sistema. Proposta de utilização do TPM–Manutenção Produtiva Total, em

especial de seu pilar MA–Manutenção Autônoma, dada vocação de integração dos

envolvidos em prol de conservação de ativos (KARDEC; RIBEIRO, 2002; TEIXEIRA,

2007);

[2] Estimular os municípios presentes na bacia (Jundiaí, Jarinu e Campo Limpo

Paulista) a disponibilizarem incentivos técnicos e financeiros para adequação das

instalações físicas, com adoção de PADRÃO de construção, incluindo especificações sobre

barreiras de contenção, tal como especificado na Resolução CONAMA Nº 293;

[3] Incluir nas DISCUSSÃO de educação ambiental o tema Manutenção de

Equipamentos, buscando tornar rotina o descarte adequado de itens substituídos ou mesmo

a adequada lubrificação das máquinas, por exemplo;

[4] Analisar quantitativamente, o impacto destes resíduos no solo e nos corpos

d‟água, permitindo verificar a severidade do dano já observado;

[5] Expandir a análise realizada aqui para outros elementos associados, tais como,

máquinas agrícolas, spare parts substituídos, oficinas de manutenção entre outros.

Estas e outras ações podem ser adotadas visando mitigar os impactos e os danos

apresentados, mas o que considera-se fundamental é que a temática Manutenção de

Equipamentos esteja presente nas DISCUSSÃO de Gestão Ambiental.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA nº 293, de 12 de dezembro de 2001. Disponível em: < http://www.mma.gov.br >. Acesso 11 de novembro de 2014.

IBGE-CIDADES, disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=352590&search=sao-paulo|jundiai>. KARDEC, A.; RIBEIRO, H. Gestão estratégica e Manutenção Autônoma. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

MACHADO, F.H., Gestão Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Jundiaí-Mirim,

68

Jundiaí – SP: Análise do Contexto Histórico, Social, Econômico e Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Jundiaí-Mirim, Jundiaí – SP. In: Memórias do Workshop de Integração de Saberes Ambientais. Sorocaba: UNESP, 2013.

MARCONI, M.de A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de Pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MORAES, J. F. L.; CARVALHO, Y. M. C.; PECHE FILHO, A. Diagnóstico agroambiental para gestão e monitoramento da bacia do Rio Jundiaí Mirim. Jundiaí: Instituto Agronômico de Campinas, 2002. 108p.

TEIXEIRA, R.F.J. Manutenção produtiva total. São Paulo: UNESP, 2007

69

RESÍDUOS SÓLIDOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM

PAES, Michel Xocaira1; CARVALHO, Marcela Merides2; PIRES, Ariane Apª Felix3; MEDEIROS; Gerson Araújo 4, RIBEIRO, Admilson Írio5. PECHE FILHO, Afonso6.

1 Mestre em Engenharia Civil e Ambiental na linha de pesquisa de Manejo de Resíduos pela Faculdade de Engenharia da Unesp (2013) e Doutorando em Ciências Ambientais também pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP), e-mail:

[email protected] 2Bióloga, UNIVAP – SJCampos, Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP Sorocaba.

3Bacharel em Química, IMAPES; Doutoranda em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba. 4,5, Professor, Recuperação de áreas degradadas e Gestão Ambiental, Unesp Sorocaba – Campus Experimental

6 Pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)

RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido na Bacia Hidrográfica do Rio Jundiaí Mirim, principal

manancial de abastecimento do município de Jundiaí. O trabalho teve como objetivos

realizar um diagnóstico e caracterização dos resíduos gerados no local e propor alternativas

de gestão e manejo dos resíduos encontrados. Para isso, foi utilizado o método de

percepção ambiental e compartimentalização de paisagens, além de registros fotográficos e

trabalhos de campo. Desta forma, foi possível detectar a presença de resíduos sólidos

advindos das atividades agrícolas, pecuárias, de silvicultura, domésticas e comerciais.

Também foi possível propor alternativas de gestão e técnicas de manejo dos resíduos, como

ações de educação ambiental, capacitação dos agricultores e alternativas para o

reaproveitamento dos resíduos, como a coleta seletiva, compostagem e combustão dos

resíduos compactados (briquetes) para a produção de aquecimento de fornos e geração de

vapor para geração de energia para abastecimento local dos moradores e agricultores.

Palavras-chave: Gestão de Bacias Hidrográficas; Resíduos Sólidos; Impactos Ambientais;

Vulnerabilidade e Fragilidade Hídrica.

INTRODUÇÃO

A gestão de bacias hidrográficas e resíduos sólidos têm relação e importância direta

quando se objetiva realizar um bom gerenciamento dos recursos hídricos. Em trabalho

realizado pelo IAC, em 2003, as DISCUSSÃO resultaram na escolha dos pontos

importantes que deveriam ser levantados com a aplicação de questionários e análises na

bacia do Rio Jundiaí-Mirim (RJM). Estes pontos são divididos em cinco temas principais:

70

ocupação do solo; resíduos sólidos; esgoto; tipos de estrada e suas condições de tráfego.

Dentro dos resíduos, pode-se destacar alguns fatores que foram selecionados para

constatação de ocorrências e potenciais impactos ambientais, sendo: coleta urbana,

residencial, construção civil, agrícola, industrial, queima, enterra e ausência de resíduos

(IAC, 2003).

A bacia hidrográfica em estudo é o principal manancial para abastecimento de água

do município de Jundiaí, no Estado de São Paulo, e está situada nos municípios de Campo

Limpo Paulista, Jarinú e Jundiaí.

A bacia está localizada na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos

(UGRHI) 5, que foi constituída pelas áreas de drenagem dos rios Piracicaba (12.400 km2 ),

Capivari (1.655 km2) e Jundiaí (1.150 km2 ), que ocupa uma área total no estado de São

Paulo de 15.205 km2, além de contar com uma pequena área localizada no estado de Minas

Gerais. Em 1993, foi constituído o comitê de Bacia Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e

organizado o consórcio de municípios para apoiar seu plano de gestão e sua aplicação

prática (IAC, 2003).

A extensão da bacia do RJM é de 109 km e abriga boa parte da agricultura destes

municípios, destacando áreas de Jarinú e Jundiaí onde são produzidos nas suas margens

frutos, hortaliças, entre outros produtos agrícolas. Próximo a cidade de Jundiaí foram

construídos dois reservatórios para captação e tratamento da água para ser fornecida à

cidade. Cerca de 95% da água utilizada em Jundiaí vem desta fonte. Em 1969, deu-se início

a captação de água do rio Atibaia, afluente do Piracicaba, perto da cidade de Itatiba. A água

é jogada por tubulação nas nascentes do Jundiaí-Mirim, ainda no município de Jarinu, na

região do bairro Pitangal. Os 5% restantes da água para abastecimento do Jundiaí, provém

do córrego Moisés (IAC, 2003).

Assim, o presente trabalho tem como objetivo diagnosticar os principais resíduos

gerados atualmente na bacia do rio Jundiaí-Mirim, além de propor alternativas de gestão

para os mesmos.

71

METODOLOGIA

Por meio do método de percepção ambiental e compartimentalização de paisagens,

assim como realização de trabalhos de campo e registros fotográficos, foi realizada a etapa

de diagnóstico na Bacia do Jundiaí Mirim em 6 pontos principais da bacia conforme

Figura1.

Figura 1.Mapa da Bacia do Jundiaí Mirim pontuando os 6 pontos estudado.

.

Também foram realizados levantamentos bibliográficos, utilizando como principal

referência para conhecimento da realidade local o estudo realizado pelo IAC em 2003,

denominado Diagnóstico Agroambiental para Gestão e Monitoramento da Bacia do Rio

Jundiaí-Mirim. O estudo demonstra que o rio Jundiaí-Mirim é definido como de classe 1

pela CETESB, enquanto o Atibaia, cuja transposição está ativa em 2014, é classe 2. No

período de estiagem o rio Atibaia contribui com 700 L/s, cerca do dobro da vazão do

Jundiaí-Mirim (350 L). A CETESB tem nove pontos de monitoramento, sendo o primeiro a

2,5 km da nascente, o oitavo na represa e o último a 1 km da foz.

Desta forma, através do diagnóstico foi realizado o levantamento dos principais

resíduos gerados na bacia, assim como seu potencial de contaminação dos recursos

hídricos. Na sequência realizaram-se propostas de gestão dos resíduos, a fim de se diminuir

a fragilidade e vulnerabilidade desta bacia hidrográfica tão importante para o município de

Jundiaí e região.

72

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi possível detectar que os principais resíduos gerados são: resíduos agroflorestais

advindos das plantações de eucalipto; fezes de animais das atividades de pecuária;

embalagens de agrotóxicos das atividades agrícolas; óleos e graxas da manutenção de

máquinas e equipamentos agrícolas; embalagens de sorvete, chicletes e caixa de leite,

provenientes da atividade comercial do ramo de restaurante. Também foram encontrados

resíduos advindos de edificações (telhas, tijolos e latas de tintas), além de restos de

alimentos e embalagens diversas (como de produtos de limpeza e garrafas de cerveja). As

estradas também se mostraram locais de despejo de resíduos por parte das pessoas, onde

houve ocorrência dos resíduos como latas de refrigerante e cerveja, garrafas PET, sacolas

plásticas e restos de alimentos.

Como forma/alternativa para diminuir a vulnerabilidade e fragilidade da Bacia

Hidrográfica do Rio Jundiaí Mirim e assim prevenir a contaminação do manancial por

conta dos resíduos, ações de educação ambiental, extensão agrícola e capacitação dos

agricultores, além da implantação de iniciativas para o reaproveitamento dos resíduos

orgânicos, como a coleta seletiva e compostagem, se apresentam como boas e viáveis

alternativas para o local em estudo. Ademais, aos resíduos provenientes das atividades

agrícola e florestal, enquadrados na classe dos resíduos lignocelulósicos, há possibilidade

de aproveitamento como biocombustível sólido, de maneira otimizada como na forma de

briquetes obtidos a partir da secagem, moagem, ajuste de umidade e compactação do

material, podendo substituir a lenha e o carvão vegetal com elevada eficiência e rendimento

energético proporcionado pela sua combustão em fornos para aquecimento, além do vapor

gerado também poder ser empregado para mover maquinário dos agricultores e moradores

locais (PIRES, 2013; QUIRINO et al., 2005).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a aplicação do método de percepção ambiental e compartimentalização de

paisagens utilizado para o diagnóstico, pode-se detectar quais são as principais atividades

que contribuem para a geração de resíduos no local de estudo, assim como quais são esses

73

resíduos. Desta forma, foi possível propor ações de gestão e técnicas de manejo dos

resíduos, com o objetivo de reduzir a fragilidade e vulnerabilidade da bacia do Rio Jundiaí

Mirim, que é o principal manancial de abastecimento da cidade de Jundiaí e tem grande

importância para a produção agrícola da região.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm. Acesso em 28 de agosto de 2011.

IAC – Instituto Agronômico de Campinas – SP. Diagnóstico Agroambiental para Gestão e Monitoramentoda Bacia do Rio Jundiaí-Mirim, Jundiaí/SP, 2003. Disponível em http://www.iac.sp.gov.br/jndmirim/. Acesso em 07 de novembro de 2014.

PIRES, A. A. F. Resíduos lignocelulósicos para biocombustível sólido: caracterização e termogravimetria aplicada. 2013. 101f. Dissertação (Mestrado em Ciência dos Materiais). Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba, Sorocaba, 2013.

QUIRINO, W. F. et al. Poder calorífico da madeira e de materiais ligno-celulósicos. Revista da Madeira, São Paulo, n. 89, p. 100-106, 2005.

74

PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ESTUDANTES DO PROGRAMA DE PÓS-

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL DA

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUNDIAÍ-MIRIM

FENGLER, Felipe Hashimoto1; MARQUES, Bruno Vicente2; CARVALHO, Marcela Merides2; CORREA, Cristina2; PECHE FILHO, Afonso3; MEDEIROS, Gerson Araujo4; RIBEIRO, Admilson Irio4

1 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais, e-mail: [email protected]

2 Mestrando(a), UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais 3 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais

4 Professor das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA

RESUMO

O desenvolvimento da percepção ambiental da comunidade constitui um desafio da

sociedade contemporânea. Nesse sentido, o trabalho buscou avaliar a percepção ambiental

de estudantes de pós-graduação em Ciências Ambientais da UNESP Sorocaba em um

estudo dos impactos negativos e danos ambientais existentes na bacia hidrográfica do rio

Jundiaí-Mirim. Os alunos visitaram 6 pontos na bacia hidrográfica, determinados através de

um planejamento preliminar. Em cada ponto foi realizada a avaliação visual da paisagem

com a determinação de elementos de destaque, que foram posteriormente associados a

impactos negativos e danos ambientais. Os elementos de destaque foram ponderados em

termos de severidade, magnitude e importância. Foi adotada uma proposta de integração

para determinação da eficiência da paisagem em cada ponto e da eficiência global da bacia

hidrográfica. Realizou-se a analise estatística dos resultados relacionado os alunos e suas

formações. Os resultados revelaram que em termos de eficiência da paisagem e eficiência

global as percepções dos alunos não apresentaram diferenças significativas. Porém sua

formação influenciou na ponderação da severidade, magnitude e significância. A

metodologia empregada e os resultados obtidos permitiram concluir que o método

empregado na análise da paisagem atenuou as possíveis diferenças nas ponderações e que

foi possível caracterizar a percepção ambiental dos alunos.

Palavras-chave: Análise da paisagem, eficiência ambiental, educação ambiental.

75

INTRODUÇÃO

Os problemas ambientais têm assumido um papel de destaque na sociedade

contemporânea. Com a sobreposição do modelo econômico sobre as questões ambientais o

desenvolvimento da percepção ambiental dos diferentes setores da sociedade torna-se cada

vez mais importante.

Segundo FERNANDES et al. (2004) a percepção ambiental pode ser definida como

sendo uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o

ambiente que se está inserido, aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo. CUNHA &

LEITE (2009) ainda expõe que diante do modelo monopolista de produção econômica, com

a exploração descontrolada dos recursos naturais e a cultura do consumo o

desenvolvimento da percepção ambiental pode apresentar-se como uma possível solução

para a construção de uma sociedade sustentável.

Nesse sentido, o trabalho tem por objetivo caracterizar a percepção de pós

graduandos em Ciências Ambientais da UNESP Sorocaba, em um estudo de caso dos

impactos negativos e danos ambientais existentes na bacia hidrográfica do rio Jundiaí-

Mirim, Jundiaí - SP.

METODOLOGIA

Caracterização do local em estudo

O local de pesquisa constitui a bacia hidrográfica do rio Jundiaí-Mirim, ocupada

pelos municípios de Jundiaí, Jarinu e Campo Limpo Paulista, entre as latitudes 23°00‟ e

23°30‟ Sul e longitudes 46°30‟ e 47°15‟ Oeste. A bacia hidrográfica é responsável por

aproximadamente 95% do abastecimento total de água do município de Jundiaí, sendo

caracterizada por um déficit de vazão no rio principal (Jundiaí-Mirim) e pela transposição

do rio Atibaia (Itatiba-SP), pois desde a década de 60 a demanda é superior à capacidade de

fornecimento de água do rio Jundiaí-Mirim (MORAES et al., 2003).

Avaliação ambiental da bacia hidrográfica do rio Jundiaí-mirim

Foram utilizados os resultados de uma avaliação ambiental da bacia hidrográfica de

14 alunos do curso de pós-graduação em ciências ambientais da UNESP Sorocaba. Foi

76

empregada uma adaptação da metodologia de análise de paisagem proposta por PECHE

FILHO (2014), constituída por quatro etapas principais: Etapa 1: Elaboração de um roteiro

de amostragem; Etapa 2: Análise da paisagem com determinação de elementos de

destaque; Etapa 3: Ponderação dos elementos de destaque em função da severidade,

magnitude e importância dos impactos ou danos ambientais; Etapa 4: Determinação do

índice de eficiência ambiental da paisagem.

As definições utilizadas de severidade, magnitude e importância dos impactos ou

danos ambientais, assim como os valores de ponderação, são apresentados a seguir:

Severidade: relacionada a uma impressão negativa causada pelo estado naquele

ponto específico, atribuindo-se a nota 1 (condição boa – equivalente ao conceito muito

baixa), nota 3 (condição média - equivalente ao conceito baixa), nota 5 (condição ruim -

equivalente ao conceito alta) e nota 7 (condição muito ruim – equivalente ao conceito

muito alta);

Magnitude: corresponde a abrangência espacial na paisagem dos diferentes meios,

atribuindo-se a nota 1 (área ocupada muito pequena), nota 3 (pequena área ocupada), nota 5

(média área ocupada) nota 7 (grande área ocupada);

Importância para a gestão: indica o quanto aquela área demandará uma atenção na

gestão ambiental da paisagem visando reverter uma situação negativa, sendo atribuídas

quatro notas: nota 1 (importância muito baixa), nota 3 (importância baixa), nota 5

(importância alta) e nota 7 (importância muito alta).

Avaliação da percepção ambiental dos alunos de pós-graduação

Os resultados das avaliações foram submetidos à Análise de variância (ANOVA),

utilizando o teste Tukey a 5% de significância para verificação das diferenças entre os

valores eficiência global da bacia hidrográfica.

Para complementar a análise realizou-se o agrupamento dos alunos conforme sua

formação e a realização do teste de chi-quadrado nas matrizes de ponderação da severidade,

magnitude e importância dos elementos de destaque. As análises estatísticas foram

realizadas utilizando os programas Assistat®, versão 7.7, e Microsoft Excel®.

77

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao total foram avaliados 6 pontos na bacia hidrográfica, de maneira a tentar

caracterizar as diferentes formas de uso e ocupação do solo e o processo de transposição de

água do rio Atibaia. As matrizes de avaliação, contendo os elementos de destaque avaliados

quanto à severidade, magnitude e importância são apresentadas no ANEXOS I. Os valores

de eficiência da paisagem apresentaram distribuição normal, conforme o teste de Shapiro-

Wilk a 5% de significância.

Os valores médios de eficiência global da bacia hidrográfica não apresentaram

diferenças significativas segundo a Análise de Variância (Tabela 1). Os resultados da

avaliação do Teste de Chi-quadrado das matrizes que contêm os valores atribuídos à

severidade, magnitude e importância, mostraram que existem diferenças significativas entre

as distribuições de notas atribuídas pelos alunos das ciências humanas, biológicas e exatas

(Tabela 2). Porém, para os valores médios de cada elemento de destaque o Teste de Chi-

quadrado revelou que não existem diferenças entre as distribuições (Tabela 3).

Tabela 1. Formação dos estudantes, profissão e resultados da análise de variância

(ANOVA).

Aluno Formação Profissão Eficiência da bacia hidrográfica (Teste Tukey α=5%)

1 Química Professor 26,9 ab* 2 Gestão ambiental Consultor 34,3 ab 3 Biologia Pesquisadora 37,9 ab 4 Administração Consultor 34,6 ab 5 Biotecnologia Funcionário publico 32,0 ab 6 Biologia Professor 42,4 ab 7 Eng. de Pesca Estudante 20,1 ab 8 Administração Professor 38,4 b* 9 Enfermagem Funcionário publico 41,2 ab

10 Biologia Consultor 33,3 ab 11 Química ambiental Estudante 29,9 ab 12 Gestão ambiental Consultor 36,0 ab 13 Administração Professor 41,4 ab 14 Biologia Professor 20,6 b

* As letras ab e b apresentam-se estatisticamente iguais.

78

Tabela 2. Teste Chi-quadrado para distribuição das notas conforme a formação dos

estudantes (α=5%).

Comparativo Chi-quadrado calculado

Chi-quadrado tabelado (α=5%)

Graus de liberdade

Ciências exatas e Biológicas 839,8* 496,6* 550,0 Ciências exatas e Humanas 675,2* 496,6* 550,0

Biológicas e Humanas 1448,8* 496,6* 550,0 *Chi quadrado calculado superior ao tabelado indica que as distribuições são diferentes.

Tabela 3. Teste Chi-quadrado para a média das notas de cada elemento de destaque

conforme a formação dos estudantes (α=5%).

Comparativo Chi-quadrado calculado

Chi-quadrado tabelado (α=5%))

Graus de liberdade

Ciências exatas e Biológicas

10,2* 34,8* 50,0

Ciências exatas e Humanas

10,4* 34,8* 34,8

Biológicas e Humanas 5,3* 34,8* 34,8 *Chi quadrado calculado inferior ao tabelado indica que as distribuições são iguais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As diferentes formações dos alunos de pós-graduação resultaram em distintas

ponderações da severidade, magnitude e importância dos elementos de destaque da

paisagem. Entretanto, a análise do teste Tukey e do teste de Chi-quadrado para os valores

médios dos elementos de destaque não mostraram diferenças significativas entre a

percepção dos estudantes e suas formações. Portanto, com base na metodologia empregada

e resultados obtidos conclui-se que:

[1] O método empregado na determinação da eficiência da paisagem atenuou as

possíveis diferenças nas ponderações, retornando resultados estatisticamente similares;

[2] A metodologia empregada possibilitou caracterizar e avaliar as diferenças na

percepção dos alunos e a robustez de método de análise de paisagem;

[3] Há a necessidade de realização do estudo sob outras condições

experimentais para aprimoramento metodológico e confirmação dos resultados.

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REFERÊNCIAS

CUNHA, A. S. da; SOUZA, E. B. PERCEPÇÃO AMBIENTAL: Implicações para a Educação Ambiental. Sinapse ambiental, 2009, p. 66-79.

FERNANDES, R. S.; SOUZA, V. J. de; PELISSARI, V. B.; FERNANDES, S. T. Uso da percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental. FCTH (Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica): São Paulo, 2004, p. 1-15.

MORAES, J.F.L.; CARVALHO, Y.M.C.; PECHE FILHO, A. Diagnóstico agroambiental para a gestão e monitoramento da Bacia do Rio Jundiaí-Mirim. In: HAMADA, E. (Editora), Água, agricultura e meio ambiente no Estado de São Paulo: avanços e desafios. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, cap. III, CD-ROM, 2003.

80

Anexo I. Elementos de destaque da paisagem.

P

onto

1

Tra

nspo

siçã

o 1 - Transposição 2 - Atividade florestal "moro abaixo" 3 - Rede de distribuição de energia elétrica 4 - Carreadores com processo erosivo 5 - Pecuária sem práticas conservacionistas * - Área ciliar com baixa diversidade; presença de gramínea e liana (cipós)

Pon

to 2

P

ropr

ieda

de R

ural

1 - Captação d'água / Manutenção nas bombas 2 - Represamento sem manutenção de drenagem 3 - Piscicultura 4 - Atividade Agrícola - Descarte inadequado de resíduos 5 - Atividade Agrícola - Armazenamento de combustível para maquinários 6 - Atividade Agrícola - Manutenção de máquinas 7 - Atividade Agrícola - Abastecimento (combustível) de máquinas 8 - Atividade Agrícola - Armazenamento de combustível 9 - Atividade Agrícola - Manipulação agrotóxicos 10 - Condução da drenagem 11 - Irrigação por aspersão / Atividade agrícola / Solo fragilizado 12 - Saneamento rural 13 - Edificações (casas / barracões / pocilga / etc.) 14 - Estrada rural (atravessando a propriedade)

Pon

to 3

R

ios

/ est

rada

1 - Atividade de caça e pesca 2 - Atividade de cultos religiosos 3 - Estrada intermunicipal (lixo difuso) 4 - Atividades florestais 5 - Delimitação de área com cerca 6 - Estado médio de conservação da mata ciliar 7 - Condomínio residencial per. urbana 8 - Edificações

Pon

to 4

R

esta

uran

te 1 - Paisagismo na zona de mata ripária (mata ciliar) - Solapamento

2 - Edificações na zona ripária (residências e comercial) 3 - Fruticultura na zona ripária 4 - Presença de animais domésticos 5 - Represamento para força motriz 6 - Trânsito de veículos na zona ripária + Estacionamento

Pon

to 5

A

ntes

da

Rep

resa

1 - Estrada rural (lixo difuso, zona ripária) 2 - Rede de distribuição energia elétrica / Iluminação pública 3 - Baixa diversidade da mata ciliar + presença de liana 4 - Pecuária extensiva na área ripária + Solapamento 5 - Presença de mancha urbana 6 - Presença da rodovia "Jundiaí-Itatiba" Constâncio Cintra 7 - Presença de reflorestamento

Pon

to 6

Sa

ída

Rep

resa

1 - Presença de Estrada (sem proteção contra acidentes) 2 - Atividades florestais 3 - Estravasador de barragem 4 - Edificações do Departamento de Água e Esgoto 5 - Mata ciliar de média diversidade 6 - Corte e aterramento na margem + entorno 7 - Presença de Linha Férrea 8 - Delimitação de área com cerca 9 - Deposito de entulho 10 - Rede de distribuição energia elétrica / Iluminação pública

Disciplina

Limnologia: Teoria e Aplicações

Responsáveis

Profa. Dra. Viviane Moschini Carlos

Prof. Dr. Marcelo Luiz Martins Pompêo

81 81

MAPEAMENTO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NO PARQUE NATURAL

DOS ESPORTES “CHICO MENDES”, SOROCABA, SP.

ANDRADE, Fabíola Magalhães1; MARQUES, Valteir Vieira1; VIOTTO, Renata Silva2; PEREZ, Diego Javier3; MOSCHINI-CARLOS, Viviane5; POMPÊO, Marcelo Luiz Martins5.

1Geógrafa (o), acadêmicos de mestrado em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, e-mail: [email protected]

2Bióloga, acadêmica de mestrado em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba 3Engenheiro agroflorestal, acadêmico de doutorado em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba

5Docentes da disciplina de Limnologia do Programa de Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba.

RESUMO

O Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”, localizado em Sorocaba (SP), é um dos

parques públicos mais antigos, preservados e importantes desse município, possuindo

diversos atrativos relacionados aos componentes naturais da paisagem; além disso, a área

pode ser considerada um refúgio para a fauna da região, bem como importante área de

escoamento de águas pluviais e abastecimento de manancial. Assim, a partir da utilização

de um SIG e aplicação de técnicas de geoprocessamento foi possível gerar o mapa de uso e

ocupação do solo que deve servir como subsídio ao planejamento ambiental e estratégico

na bacia hidrográfica, de forma geral.

Palavras-chave: parque; SIG; uso do solo; Sorocaba.

INTRODUÇÃO

As práticas de desenvolvimento correlatas às atividades humanas devem ser

coerentes à disponibilidade dos recursos naturais presentes em determinado ambiente; dessa

forma torna-se fundamental caracterizar o meio físico-natural a ser explorado. Práticas

adequadas de manejo e planejamento devem ser orientadas por órgãos responsáveis,

minimizando assim o impacto ambiental e garantindo o equilíbrio do ecossistema.

No caso das bacias hidrográficas e dos sistemas aquáticos continentais, em

praticamente sua totalidade, a submissão a um conjunto de impactos resultantes de usos

múltiplos como drenagem urbana e rural, despejo de efluentes, represamentos, retificação

de cursos, dentre outras ações modificam sensivelmente a dinâmica e as características

químicas e físicas da água (TUNDISI, 2008).

82 82

Já no que diz respeito ao uso e ocupação do solo, este refere-se às atividades

realizadas em determinado espaço geográfico, a partir das mudanças cometidas sobre a

paisagem pelas atividades humano-econômicas. Azevedo e Dalmolin (2006) cita que a

paisagem do Brasil constitui um mosaico com relação às características de uso e ocupação

do recurso natural solo. Dessa forma, a produção de mapas pode ser considerada como

agente de intervenção, por meio de técnicas empregadas pelos Sistemas de Informações

Geográficas (SIGs) onde é possível verificar uma grande variedade de aplicações,

principalmente no que se refere à evolução espaço temporal do uso da terra, gerando um

diagnóstico eficiente dos principais usos e ocupação de certa área. A utilização dos recursos

computacionais para a compreensão e a avaliação da transformação dos ambientes tem se

expandido devido à eficiência dos SIGs em produzir resultados confiáveis (ROCHA;

SEER, 2008).

METODOLOGIA

A metodologia baseou-se principalmente no uso de softwares para vetorização de

ícones componentes da área de estudo, tratamento de imagens de satélite,

georreferenciamento das mesmas, geração de banco de dados (com o início da composição

a partir do ano de 2008), interpolação das informações geradas e produção de mapa

temático (usos do solo).

O início aos trabalhos se deu a partir do software AutoCAD® Map 3D (versão 2012)

que anuncia a possibilidade de acesso a dados provindos de SIGs. Na sequencia optou-se

pela utilização dos softwares Idrisi (versão17 – Selva) e ArcGIS for Desktop Basic

(ArcView – versão 10.1) que integram funcionalidades direcionadas às aplicações em SIG e

também ao processamento de imagens, sendo possível analisar, processar e visualizar os

mais variados tipos de dados.

83 83

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização da área de estudo

O Parque Natural de Esportes “Chico Mendes” localiza-se sob o par de coordenadas

23° 28‟ S e 47° 24‟ W, no município de Sorocaba no Estado de São Paulo, ocupando uma

área de 145 mil m², com uma grande área verde, predominante de eucaliptos e com matas

ciliares preservadas, trilhas para atividades educativas e dois pequenos lagos, utilizada pela

população para prática de esportes e encontros, o parque compõe o objeto de estudo de

diversas pesquisas científicas das universidades do município (PMS/SEMA, 2014).

Esta é uma das áreas públicas mais antigas, preservadas e importantes do município

de Sorocaba, estando inclusa no Sistema de Parques do Município, no Município Verde

Azul, no Plano Diretor Ambiental e destacado em sites, pesquisas científicas e trabalhos

acadêmicos; tal área foi considerada a segunda área pública de maior relevância ecológica

no município (MELLO, 2012). Em 22 de dezembro de 1977, no governo de Armando

Pannunzio, foi decretada a criação do parque, mas somente no ano de 1989, através da Lei

nº 3034, é que recebeu o nome de Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”

(SOROCABA, 1989).

Mapeamento de uso e ocupação da bacia a montante do parque

O Parque Natural de Esportes “Chico Mendes” está inserido na bacia hidrográfica

do Ribeirão da Água Podre que conta com área total de 991hectares (ha) ou 9,91

quilômetros quadrados (km²) a montante do parque, com diversos usos do solo agrupados

em cinco categorias distintas conforme tabela com as respectivas áreas em mensuração por

ha e km² – Tabela 1.

Tabela 1. Classes de uso do solo e suas respectivas áreas

Usos do solo Área (ha) Área (km2) Vegetação rasteira 593 5,93 Vegetação densa 284 2,84

Solo exposto 15 0,15 Lagos e represas 13 0,13

Áreas densamente edificadas 86 0,86 Área total 991 9,91

84 84

A bacia hidrográfica selecionada apresenta área mais intensamente edificada entre o

parque e o centro da bacia delimitado pela Rod. Raposo Tavares, enquanto que na parte sul

existe o predomínio de áreas rurais ocupadas por vegetação rasteira (pastagens e algumas

poucas culturas) e densa (vegetação natural em diversos estágios sucessionais) indicando

boa possibilidade de desenvolvimento da área de forma planejada para a preservação dos

recursos hídricos. Boa evidência que confirma tal situação é observada no texto do Plano

Diretor Municipal atualmente em vigor que classifica boa parte desta área da bacia como

Zona de Chácaras (ZCH), que segundo indicadores do documento devem possuir 50% de

percentual de permeabilidade no terreno (SOROCABA, 2007). Embora apresente a

presença de diversos fragmentos de vegetação natural, a vegetação ciliar é descontinua ao

longo das drenagens, configurando importante demanda de ações voltadas à recuperação

destas para consequentemente manter e melhorar a preservação dos recursos hídricos

(Figura 1).

85 85

Figura 1 – Bacia hidrográfica Ribeirão da Água Podre, onde está localizado o Parque

Natural de Esportes “Chico Mendes” – demonstrado com destaque da esfera roxa.

Em relação à área do Parque especificamente, é encontrada cobertura vegetal em

estágio inicial de regeneração em sub-bosque, com espécies de Eucaliptus sp na maior parte

de sua área, que está estimada em 77,73% – onde 30,26% estão inclusas nas Áreas de

Preservação Permanente (APP) e 69,74% estão localizadas fora destas (MOTA, 2013).

Uso e ocupação do solo - Bacia Hidrográfica Ribeirão da Água Podre Sorocaba/SP- 2008

86 86

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Parque Natural de Esportes “Chico Mendes” pode ser considerado como sendo

uma área relativamente bem preservada uma vez que possui mais de 70% de vegetação

como uma das principais componentes no que se refere às classes de uso do solo,

apresentando ainda na área de sua bacia hidrográfica à montante excelentes possibilidades

de preservação e recuperação com o objetivo de manutenção da boa qualidade dos recursos

hídricos.

Embora a bacia a montante apresente a tendência à urbanização, a quantidade

expressiva de vegetação presente e a possibilidade de um desenvolvimento urbano com a

recuperação das áreas de APP aliado ainda à classificação do Plano Diretor em zonas de

moderada restrição à urbanização indicam a possibilidade de manutenção e ainda

recuperação da qualidade dos recursos hídricos. Com isso, constata-se que a partir de

produtos cartográficos, mais precisamente a confecção e interpretação de mapas temáticos,

é possível viabilizar instrumentos de auxílio à gestão de áreas, bem como ações de

conservação, imprescindíveis às mesmas.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, A. C. & DALMOLIN, R. S. D. Solos e ambiente: uma introdução. 2ª Ed. Santa Maria: Editora Pallotti, 2006.

MELLO, K. Análise espacial de remanescentes florestais como subsídio para o estabelecimento d unidades de conservação. 2012. 82p. Dissertação. Campus de Sorocaba, Universidade Federal de São Carlos, 2012. Disponível em: < http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=5163> Acesso em: nov. 2014.

MOTA, M. T. "Parques" em paisagem urbana: proposta de um sistema municipal integrando áreas verdes e áreas protegidas – estudo de caso no sudeste do Brasil. Campus de Sorocaba, Universidade Federal de São Carlos, 2013. Disponível em: < http://www.ppgsga.ufscar.br/mce/arquivo/pagina63/mauricio_tavares_da_mota.pdf> Acesso em: nov. 2014.

OLIVEIRA, J. B. de; CAMARGO, M. N.; ROSSI, M. e CALDERANO FILHO, B. Mapa Pedológico do Estado de São Paulo. Legenda Expandida. Campinas: Instituto Agronômico; Rio de Janeiro: EMBRAPA Solos, 1999.

ROCHA, M. B. B.; SEER, H. J. Fisiografia e uso da terra no município de Araxá, Minas Gerais. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Campus de

87 87

Araxá - Laboratório de Geoprocessamento. Revista Brasileira de Cartografia. Nº. 60/02. 2008.

PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA. Secretaria do Meio Ambiente. Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”. PMS/SEMA. Disponível em: <http://www.meioambientesorocaba.com.br/Pagina.aspx?pg=27> . Acesso em: nov. 2014.

SOROCABA. São Paulo. Lei nº 3034 de 24 de fevereiro de 1989. Dispõe sobre alteração de denominação do Parque Natural dos Esportes de nossa cidade. Disponível: < http://camara-municipal-da-sorocaba.jusbrasil.com.br/legislacao/542150/lei-3034-89>. Acesso em: nov. 2014.

SOROCABA. São Paulo. Lei nº 8181 de 05 de junho de 2007. Plano Diretor de Desenvolvimento Físico e Territorial do Município de Sorocaba. Disponível em: < http://www.sorocaba.sp.gov.br/servicos/plano-diretor-de-sorocaba> Acesso em: nov. 2014.

TUNDISI, J. G. Limnologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

88 88

COMUNIDADE DE INVERTEBRADOS BENTÔNICOS EM UM LAGO DO

PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES”

DE-CARLI, Bruno Paes1; SANTOS, ALKIMIN, Gilberto Dias de2; VIOTTO, Renata Silva2; MACHADO, Leila dos Santos2; Larissa Gonçalves2; ANDRADE, Fabíola3; MARQUES, Valteir Vieira3; BEGHELLI,

F.G.S. 4; MOSCHINI-CARLOS5, Viviane

1Biólogo Marinho, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, FAPESP (14/04471-0). Email para contato: [email protected]

2Biólogo (a), mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba 3Geógrafo (a), mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba

4Biólogo (a), doutorando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, FAPESP (13/03494-4) 5Profa. do Programa de Ciências Ambientais UNESP – Sorocaba

RESUMO

Os invertebrados bentônicos são organismos associados ao fundo e algumas espécies são

mais sensíveis ou tolerantes em relação a mudanças de condições ambientais. Este estudo

objetivou realizar um inventário preliminar da comunidade de invertebrados bentônicos em

um dos lagos do Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes” localizado no município de

Sorocaba-SP. Um total de 102 espécimes foram quantificados, distribuídos em Annelida,

Crustacea, Insecta e Mollusca. Os resultados demonstraram uma comunidade

desequilibrada na região destituída de vegetação devido à dominância de organismos

tolerantes a condições ambientais estressantes.

Palavras-chave: Bioindicadores, poluição aquática, Sorocaba-SP.

INTRODUÇÃO

As principais fontes de poluição dos recursos hídricos são os rejeitos domésticos, e

os resíduos químicos das atividades industriais e agrícolas (TUNDISI, 1994). Conforme

CETESB (2012), a comunidade de invertebrados bentônicos apresenta alta diversidade de

espécies e pode responder aos impactos de origem antrópica no meio aquático. Por serem

sedentárias e estarem associadas ao sedimento, suas populações são as primeiras a sofrerem

as consequências deletérias das atividades humanas do entorno.

Nesse grupo, incluem-se principalmente insetos na forma larval, anelídeos,

crustáceos, moluscos, entre outros táxons (MUGNAI et al. 2010). Este estudo objetivou

caracterizar a comunidade de invertebrados bentônicos no lago do Parque Natural dos

Esportes “Chico Mendes”.

89 89

METODOLOGIA

O município de Sorocaba está localizado no interior do Estado de São Paulo e

dentre os parques situados na cidade, segundo informações da Secretaria de Meio Ambiente

de Sorocaba – SEMA, o Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes” é constituído de

diversas atividades recreativas, lagos e densa vegetação (SEMA, 2013).

Em um dos lagos do Parque (23° 28‟ S e 47° 24‟ W) foram realizadas coletas de

amostras compostas por três varreduras com auxílio de puçá com rede tipo D malha 0,2 mm

e para comparação, foram consideradas duas áreas distintas: área com vegetação e

destituída de vegetação. O material foi lavado em rede de abertura de malha 0,2 mm e

preservado em formaldeído de forma a compor 4% das amostras. A triagem dos organismos

foi realizada em bandeja e microscópio estereoscópico para a estimativa da abundância

relativa. A identificação dos grupos taxonômicos foi realizada com base em Merritt &

Cummins (1996), Froehlich (2007), Mugnai et al. (2010) e Simone (2006). Os índices de

diversidade de Shannon-Wiener, dominância de Simpson e equitabiliadde de Pielou foram

calculados a partir do programa PAST (Paleontological Statistics, versão 1.34) (HAMMER

& HARPER, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um total de 102 espécimes foram analisados e distribuídos em: filo Annelida

(Oligochaeta e Hirudinea), filo Mollusca (Gastropoda), subfilo Crustacea (Calanoida) e

classe Insecta (Diptera e Odonata) (Figura 1). A Figura 2 ilustra os principais organismos

capturados. Conforme a Tabela 1 verificou-se maior diversidade na área com presença de

vegetação ciliar. Nesse mesmo local o valor da equitabilidade de Pielou foi de 0,85

indicando que as espécies são igualmente abundantes demonstrando equilíbrio na

comunidade.

90 90

Figura 1. Abundância relativa (%) dos táxons analisados

Figura 2. Principais grupos de invertebrados bentônicos coletados no lago do Parque

“Chico Mendes”. A = Ceratopogonidae; B = Chironomidae; C = Odonata; D = Thiaridae; E

= Ampullaridae e F = Oligochaeta.

Tabela 1. Índices de diversidade calculados a partir de percentuais de abundância.

Os oligoquetos apresentaram a maior abundância e tendo em vista o uso desses

como indicadores biólogicos, Martins et al. (2008) avaliaram a qualidade de água de um

córrego urbano no sudeste do Brasil. Esses autores constataram que esse corpo hídrico

Sem vegetação (n=69)

70%

13%

7%6% 1%

3%

0%

Com vegetação (n=33)

18%

24%

43%

3%

0%

0%

12%

Índices S/Vegetação C/VegetaçãoDominância de Simpson 0,516 0,287Diversidade de Shannon-Wiener 1,021 1,379Equitabilidade de Pielou 0,569 0,856

91 91

recebeu elevada carga de material orgânico oriundo de atividades humanas propiciando

condições ideais para esses animais.

Na outra área amostral do estudo, foi registrada maior abundância para Mollusca.

Esse grupo representa importante interesse ecológico e de saúde pública, e em termos de

riqueza de espécies é somente suplantado por Arthropoda (SIMONE, 1999). Alguns

moluscos tíarideos invasores podem causar consequências negativas para populações

nativas, apresentando ampla expansão no Brasil (Fernandez et al. 2003). Ainda de acordo

com Thiengo et al. (2013), algumas espécies de moluscos dulcícolas podem ser hospedeiras

de vermes transmissores de doenças para seres humanos.

Em relação aos Diptera, Anacleto (2012) avaliou a qualidade de águas no

nordeste do Brasil utilizando as larvas de Chironomidae. Alguns gêneros podem indicar

ambientes com alto enriquecimento orgânico e também com boa qualidade ecológica. Ao

observar os dados compilados de De-Carli et al. (2014), foi possível observar condições

supereutróficas para o lago em questão. Como consequência desse processo, ocorre uma

redução do oxigênio dissolvido devido a incremento das populações ocasionado à

mortalidade de indivíduos mais sensíveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os índices indicaram mais equilíbrio na comunidade da região preservada. Com

base nos resultados, foi possível observar variações na riqueza e abundância dos táxons.

Dentre esses, os oligoquetas podem ser considerados indicadores de poluição e, portanto

faz-se necessário o monitoramento bem como adotar medidas mitigatórias para recuperação

ambiental. Além de biondicadores, Barbosa et al. (2006) descreve que esse grupo de

organismos tem grande importância ecológica pois participa ativamente de processos

responsáveis pelo funcionamento dos ecossistemas promovendo a ciclagem de nutrientes e

manutenção das cadeias tróficas, sendo imprescindível o inventário dessa comunidade para

contribuir com o diagnóstico ambiental.

92 92

REFERÊNCIAS

ANACLÉTO, M. J. P. Chironomidae (Diptera, Insecta) como bioindicadores na avaliação da qualidade de água dos reservatórios do semiárido paraibano. 2012. 45f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas)- Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2012.

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SEMA – Secretaria do Meio Ambiente de Sorocaba-SP. Análise e parecer do processo nº 28456/2013. Dispõe sobre o pedido da UNESP – Sorocaba para doação do Parque “Chico Mendes” para expansão do Câmpus, 2013. 19p.

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93 93

TUNDISI, J.G. Tropical South America: Present and perspectives. In: MARGALEF, R. (Ed.) Limnology Now: A paradigm of Planetary Problems. Amsterdam: Elsevier, 1994. p.353-424.

94 94

CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO TRÓFICO DE UM LAGO NO PARQUE

NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES”

DE-CARLI, Bruno Paes1; SANTOS, Larissa Gonçalves2; ANDRADE, Fabíola Magalhães4; MACHADO, Leila dos Santos2; VIOTTO, Renata Silva2; PEREZ, Diego Javier3; MARQUES, Valteir Vieira4; ALKIMIN,

Gilberto Dias de2; MOSCHINI-CARLOS5, Viviane; POMPÊO, Marcelo Luiz Martins5

1Biólogo Marinho, mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, FAPESP (2014/04471-0). Email para contato: [email protected]

2Biólogo (a), mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba 3Engenheiro agroflorestal, doutorando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba, CAPES

4Geógrafo (a), mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba 5 Professores do Programa de Ciências Ambientais UNESP – Sorocaba e IB-USP (último autor)

RESUMO

O aumento de intervenções humanas em sistemas hidrológicos vem causando inúmeros

impactos ambientais, principalmente a eutrofização. Esse processo decorre de grande aporte

de nutrientes promovendo o crescimento excessivo de organismos ocasionando uma quebra

na estabilidade ecossistêmica e consequentemente comprometendo a qualidade da água.

Diante disso, este estudo objetivou avaliar o estado trófico de um lago do Parque Natural

dos Esportes “Chico Mendes” localizado no município de Sorocaba-SP. Para isso, os dados

de clorofila a e fósforo total foram determinados por meio de análises laboratoriais e

aplicados ao índice de estado trófico (IET). De maneira geral, os pontos amostrais foram

classificados como supereutróficos devido aos elevados teores de fósforo; a concentração

de clorofila a manteve-se em conformidade com a legislação. O monitoramento ambiental é

necessário para caracterizar as principais fontes de poluição, bem como adotar medidas

para restauração ecológica desse ecossistema aquático.

Palavras-chave: Eutrofização; poluição aquática; Sorocaba-SP

INTRODUÇÃO

Diversas pesquisas em ecossistemas aquáticos no Brasil (e.g TUNDISI &

MATSUMURA-TUNDISI, 2008; CETESB, 2013) descrevem que o fósforo é um

macronutriente fundamental para o compartimento hidrobiológico, porém em excesso pode

desencadear a eutrofização. Segundo os autores supracitados, o termo eutrofização pode ser

definido como um processo natural ou decorrente de interferências antrópicas de

95 95

enriquecimento por nutrientes em um corpo hídrico ocasionando inúmeros problemas

associados aos usos múltiplos e efeitos negativos nas comunidades.

A determinação de clorofila a é uma ferramenta útil em estudos de produtividade

primária, na interpretação de resultados de análises físicas e químicas, bem como

indicadora do estado fisiológico do fitoplâncton e na avaliação do grau de eutrofização de

um ambiente aquático (CETESB, 2014). Nesse sentido, este estudo objetivou determinar o

estado trófico de um dos lagos do Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”.

METODOLOGIA

O município de Sorocaba está localizado no interior do Estado de São Paulo com

área de 449, 80 km2 e grau de urbanização em torno de 98,98% (SEADE, 2014). Dentre os

parques situados da cidade, segundo informações levantadas no processo 28456/2013 da

Secretaria de Meio Ambiente de Sorocaba – SEMA, o Parque Natural dos Esportes “Chico

Mendes” é constituído de diversas atividades recreativas, lagos e densa vegetação (SEMA,

2013).

Para o diagnóstico, amostras de água superficial foram coletadas em um dos lagos

(23° 28‟ S e 47° 24‟ W) do parque em seis estações amostrais. Efetuou-se a filtragem de

água em filtros de microfibra de vidro e para extração de pigmento para determinação de

clorofila a, os filtros foram macerados com auxílio de pistilo acrescentando 10 ml de

acetona 90% (WETZEL & LIKENS,1991).

A análise de fósforo total foi realizada por meio de digestão de amostras de água

não filtrada com 5,0 ml de persulfato de potássio, 2,0 ml de hidróxido de sódio e 0,5 ml do

reagente molibdato. Os procedimentos foram realizados com espectrofotômetro (Modelo

Hach) no laboratório de Biologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de

Sorocaba. Os dados de fósforo foram comparados com o valor máximo permitido pela

Resolução CONAMA 357/2005 (CONAMA, 2006).

O cálculo do índice trófico (IET) e a classificação dos graus de trofia seguiram a

metodologia de Carlson (1977) modificada por Lamparelli (2004) para ambientes lênticos

(equações 1 e 2):

96 96

IET (CL) = 10x(6-((0,92-0,34x(ln CL))/ln 2)) (1)

IET (PT) = 10x(6-(1,77-0,42x(ln PT)/ln 2)) (2)

onde:

CL = concentração de clorofila em µg/L

PT = concentração de fósforo total em µg/L

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os níveis de fósforo total na água oscilaram de 0,31 a 0,60 mg/L (0,40 ± 0,1), sendo

que os maiores valores foram registrados nos pontos P2, P3, P4 e P6. Em todos os pontos,

os resultados demonstraram concentrações acima do máximo permitido para corpos

hídricos de classe III (até 0,05 mg/L). Ao considerar esses dados no índice trófico, todas as

estações amostrais foram classificadas como hipereutróficas (maior que 233 µg/L).

Os teores de clorofila a variaram de 0,76 a 5,34 µg/L (3,28 ± 1,7), estando em

conformidade com a legislação vigente para corpos hídricos classe I. Considerando esses

valores no índice trófico, o ambiente demonstrou um menor grau de trofia. Com a média

dos dois índices, o lago foi classificado como supereutrófico (Tabela 1).

Tabela 1. Variáveis limnológicas e estado trófico do lago no Parque Natural dos Esportes

“Chico Mendes”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes” está localizado em uma região de

elevado escoamento superficial e áreas compostas de vegetação, indústrias e condomínios

residenciais. O uso e ocupação do solo de forma indevida bem como descargas pontuais e

Parâmetros / Estações P1 P2 P3 P4 P5 P6

Fósforo total (mg/L) 0,31 0,60 0,35 0,37 0,32 0,42Clorofila (µg/L) 2,67 4,58 5,34 4,20 0,76 2,13

IET (P) 77 81 78 78 77 79IET (CL) 56 58 59 58 49 55

IET 66 70 68 68 63 67Estado trófico Supereutrófico Hipereutrófico Supereutrófico Supereutrófico Supereutrófico Supereutrófico

IET - Lago do Parque Natural "Chico Mendes"

χ

97 97

difusas de efluentes sem tratamento podem estar contribuindo com o enriquecimento de

nutrientes. Como sugestão para autoridades e gestores, faz-se necessário desenvolver um

programa de monitoramento do parque seguido de um plano de recuperação ambiental.

REFERÊNCIAS

CARLSON, R. E. A trophic state index for lakes. Limnology and Oceanography, v.2, n.2,

p. 361-369, 1977.

CETESB. Relatório de Qualidade das Águas Superficiais. São Paulo, 2014, 303 p.

CETESB. 2014. Determinação de Clorofila a e Feofitina a: método

espectrofotométrico. Norma técnica L5.306, 2014,14p.

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, 2006. Resolução nº357 de 17 de

março de 2005. Disponível em <http://www.mma.gov.br/conama> Acesso em

02/11/2014.

LAMPARELLI, M.C. 2004. Grau de trofia em corpos d’água do estado de São Paulo:

Avaliação dos métodos de monitoramento. Tese (doutorado) em Ciências no

Instituto Biociências da Universidade de São Paulo. 235p + anexos.

SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Secretaria de

Planejamento e Desenvolvimento Regional. Regiões administrativas do Estado de

São Paulo. Disponível em: <http://www.seade.gov.br> Acesso em 13/10/2014.

SEMA – Secretaria do Meio Ambiente de Sorocaba-SP. Análise e parecer do processo nº

28456/2013. Dispõe sobre o pedido da UNESP – Sorocaba para doação do Parque

“Chico Mendes” para expansão do Câmpus, 2013. 19p.

TUNDISI, J.G. & MATSUMURA-TUNDISI, T. Limnologia. São Paulo: Oficina de

Textos, 2008, 632p.

WETZEL, R. G. & LIKENS, G. E. Limnological Analyses: Springer-Verlag. 1991. 391p.

98 98

COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA E ZOOPLANCTÔNICA NO LAGO

ARTIFICIAL DO PARQUE NATURAL DOS ESPORTES “CHICO MENDES” –

SOROCABA/SP

SANTOS, Larissa Gonçalves1; MACHADO2, Leila dos Santos; DE-CARLI, Bruno Paes3; CARDOSO-SILVA, Sheila4; MOSCHINI-CARLOS, Viviane5; POMPÊO, Marcelo Luiz Martins5.

1 Bióloga, Mestranda em Ciências Ambientais, UNESP/Sorocaba, e-mail: [email protected] 2,3 Biólogos, Mestrandos em Ciências Biológicas, UNESP/Sorocaba

4 Bióloga, pós-doutoranda em Ciências Ambientais, UNESP/Sorocaba 5 Biólogos, docentes da disciplina de Limnologia: Teoria e Aplicações, PPGCA/UNESP

RESUMO

Este estudo objetivou analisar a composição da comunidade fitoplanctônica e

zooplanctônica, de um lago artificial no Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”.

Utilizou-se de redes específicas para os dois grupos de organismos coletados. Foram

realizadas análises qualitativas e quantitativas para fitoplâncton e zooplâncton. Os

resultados obtidos indicam que o lago se encontra em um processo de eutrofização, pois a

riqueza de espécies fitoplanctônicas sugere elevadas concentrações de nutrientes no lago.

Neste contexto, estudos de composição taxonômica, bem como de diversidade das

comunidades fitoplanctônicas e zooplanctônicas, são úteis para avaliar a qualidade da água

e inferir as prováveis causas de danos ecológicos ao ambiente.

Palavras-chave: Fitoplâncton; Zooplâncton; Eutrofização; Diversidade.

INTRODUÇÃO

Os ecossistemas artificiais urbanos foram desenvolvidos com a finalidade de

fornecer ao homem melhores condições de vida. Entretanto, nos ecossistemas lênticos,

alguns grupos de algas podem desenvolver altas densidades populacionais, inibindo, até

mesmo, o crescimento de outros organismos (ROUND, 1983). Estas altas densidades

populacionais ocorrem devido ao acumulo excessivo de matéria orgânica e nutriente

(fósforo e nitrogênio) no curso d‟água, processo conhecido como eutrofização, que

desequilibra os ciclos biogeoquímicos e altera a composição da biota aquática

(NOGUEIRA et al., 2005)

99 99

A comunidade fitoplanctônica ocupa a base da cadeia alimentar e é considerada

bioindicadora das mudanças ambientais (TUNDISI & MATSUMURA-TUNDISI, 2008).

Portanto, o estudo da composição taxonômica e a diversidade das comunidades de

organismos bioindicadores são úteis para avaliar a saúde do ambiente e inferir as prováveis

causas de danos ecológicos (GENTIL et al., 2008).

Sendo assim, este estudo objetivou analisar a composição da comunidade

fitoplanctônica e zooplanctônica, de um lago artificial localizado no Parque Natural dos

Esportes “Chico Mendes”, Sorocaba/SP.

METODOLOGIA

No dia 02/09/2014, em 2 estações (uma a montante e outra a jusante) de um lago no

Parque Natural “Chico Mendes”, amostras das comunidades fitoplanctônica e

zooplanctônica foram coletados.

A análise qualitativa dos organismos foi realizada através de arraste horizontal e

vertical, utilizando-se redes de abertura de malha de 20µm para o fitoplâncton e 68µm para

o zooplâncton, em seguida as amostras foram fixadas com formaldeído a 4%. Para análise

quantitativa, coletou-se as amostras na sub superfície e as mesmas foram fixadas com lugol

acético 1%. Os táxons foram analisados e identificados sob microscópio óptico com auxílio

de bibliografia específica.

Para a contagem da comunidade fitoplanctônica utilizou o método descrito por

Utermöhl (1958), em câmaras de sedimentação e microscópio invertido Zeiss (Axiovert 40

C). A riqueza de espécies foi avaliada através dos dados provenientes das análises

qualitativas e quantitativas. A diversidade específica foi calculada com base na densidade

algal e estimada através dos índices de Shannon-Wiener e Pielou (equitabilidade)

(NASCIMENTO, 2013). O zooplâncton foi agrupado por aproximação do hábito alimentar

em: pequenos filtradores (rotíferos e náuplios), médios filtradores (cladóceros e copépodas

calanóidas) e omnivoros – carnívoros (copépodas ciclopóida).

100 100

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Composição e diversidade da comunidade fitoplanctônica

Foi registrado um total de 115 espécies fitoplanctônicas, sendo: 42 no ponto 2 e 73

no ponto 3.

A classe Chlorophyceae foi dominante em todos os pontos de coleta, seguida de

Bacillariophyceae (Figura 2). Conforme Peres e Senna (2000), as clorofíceas são

características de vários tipos de ambientes, desde águas oligotróficas até ambientes

fortemente poluídos, possuindo várias estratégias de sobrevivência devido a sua alta

diversidade.

Figura 2. Contribuição de espécies por classes identificadas no lago do Parque Chico

Mendes.

A espécie Merismopedia tenuissima (Cyanophyceae), predominou no ponto 2,

obtendo uma densidade de 761.706 n.ind.mL¯¹, e no ponto 3 a espécie Dictyosphaerium

pulchellum (Trebouxiophyceae), obteve 1.186,450 n.ind.mL¯¹.

De acordo com o índice de Shannon-Wiener os pontos amostrados, respectivamente

registraram valores de diversidade entre 2,473 e 2,937 bits.cel¯¹, indicando média

diversidade no ambiente amostrado, já o índice de equitabilidade variou de 0,6615 a

0,6846, sendo considerado alto e representando uma distribuição uniforme dos táxons na

amostra analisada (NASCIMENTO et al., 2013).

0

5

10

15

20

25

30

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Classes

P2

P3

101 101

De acordo com os resultados obtidos em trabalho desenvolvido no mesmo lago e

período, apresentam elevados teores de nutrientes, sendo (0,395±0,107 mg/L) para fósforo

e (4,3±1,75 mg/L) de nitrogênio, favorecendo assim, o crescimento abundante do

fitoplâncton e o processo de eutrofização.

Composição da comunidade zooplanctônica

Um total de 10 táxons zooplanctônicos foram identificados no lago e destes, a

ordem Cladócera apresentou a maior riqueza de espécies seguida dessa ordem Rotífera

(Tabela 1).

Diferentemente dos cladóceros que geralmente são herbívoros, podendo utilizar

também bactérias como fonte complementar de alimento, os copépodos possuem um amplo

espectro alimentar. Os Calanoida são basicamente herbívoros, porém muitos Cyclopoida

são onívoros raptoriais, alimentando-se de fitoplâncton, microzooplâncton, detritos,

bactérias ou de seus próprios ovos e náuplios (MELÃO, 1999).

Tabela 1. Composição e frequência de espécies zooplanctônicas coletados no lago do

Parque “Chico Mendes”.

Os rotíferos podem se alimentar de algas, detritos, bactérias, podendo assim ser

filtradores, e também predadores (de protozoários entre outros organismos), ou até

Táxons/Áreas Montante Jusante

CopepodaCopepodito Calanoida XNauplius calanoida XCopepodito cyclopoida XNauplius cyclopoida XCladoceraBosmina sp. X XCeriodaphnia sp. X XDiaphanosoma sp. X XRotiferaAsplanchna sp. X XKeratella sp. XNematoda X

102 102

parasitas. Possuem grande sucesso ecológico graças às suas adaptações reprodutivas, sendo

assim organismos oportunistas (ROCHA et al.,1995).

Ainda, vale ressaltar a presença de alguns indivíduos do filo Nematoda. De acordo

com De-Carli et al. (2014), alguns destes vermes podem ficar aderidos a invertebrados

maiores e algumas espécies são transmissoras de doença (THIENGO et al., 2013).

Pode-se verificar com esta análise preliminar, que já existem indícios de

eutrofização nesse corpo hídrico devido à abundância de organismos tolerantes a estresses

ambientais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade da água do Lago do Parque Chico Mendes reflete bastante o processo

de urbanização e utilização do espaço público em seu entorno. Para que possamos evitar a

degradação do meio ambiente urbano, são necessárias algumas medidas que contribuam

para minimizar os efeitos danosos da antropização do Parque.

Sendo assim, os grandes impactos antrópicos e naturais a que os sistemas aquáticos

são submetidos, faz com que a utilização de organismos ganhe relevância nos estudos,

principalmente por serem bioindicadores de qualidade da água dentro dos parâmetros

utilizados para avaliação ambiental.

REFERÊNCIAS

DE-CARLI, B.P.; ROTUNDO, M.M.; PASCHOAL, L.R.P. ANDRADE, D.P. CAVALLARI, D.C.; OCEGUERA-FIGUEROA, A.; ALONSO, D.D. First record of the association between the leech Helobdella triserialis (Hirudinea, Glossiphoniidae) and two species of Pomacea (Gastropoda, Ampullariidae) in Brazil. Pan-American Journal of Aquatic Sciences, v.9(2), 136-140p., 2014.

ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. Rio de Janeiro, Interciência/FINEP, 575 p. 1998.

GENTIL, R. C., TUCCI, A. E SANT‟ANNA, C. L. Dinâmica da comunidade fitoplanctônica e aspectos sanitários de um lago urbano eutrófico em São Paulo, SP. 35(2): 265-280 p., 2008.

MELÃO, M. G. G. Desenvolvimento e aspectos reprodutivos dos cladóceros e copépodos de águas continentais brasileiras. In: POMPÊO, M. L. M. ed. Perspectivas na Limnologia do Brasil. São Luís, Gráfica e Editora União. 198p., 1999.

103 103

NASCIMENTO, K.J.; RANGEL, A.J.; GÓES, M.I.L.; OLIVEIRA, E.C.C. & LACERDA, S.R. Composição da comunidade de fitoplâncton do Rio da Batateira Semiárido Cearense. Rev. de Biologia e Ciências da Terra, Vol. 13, nº 1, 95-105p., 2013.

NOGUEIRA, N. M. C.; BARBIERI. R.; COSTA NETO, J. P.; ROCHA, O. Composition and temporal changes of phytoplankton community in Lake Quebra-Pote, MA, Brazil. Acta Limnologica Brasiliensia, São Carlos, v. 17, n. 4, 419-431 p., 2005.

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ROUND, F. E. Biologia das algas. 2ª ed., Ed. Guanabara Dois, Rio de Janeiro, 263p. 1983. PERES, A.C.; SENNA, P.A.C. Chlorophyta da Lagoa do Diogo. In: SANTOS, J.E;

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THIENGO, S.C.; SIMÕES, R.O.; FERNANDEZ, M.A.; JÚNIOR, A.M. Angiostrongylus cantonensis and Rat Lungworm Disease in Brazil. Hawaii Journal of Medicine Public Health, 7(6), 18-22p. 2013.

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UTERMOHL, H. Zur vervollkommer der quantitativen phytoplankton methodik. Mitt it Verein. Theor. Angew. Limnol, 9: 1-38. 1958.

104 104

VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS E MICROBIOLÓGICAS NO LAGO DO PARQUE

NATURAL DOS ESPOSTES “CHICO MENDES”, SOROCABA-SP

MACHADO1, Leila dos Santos; SANTOS2, Larissa Gonçalves; CARLI2, Bruno Paes de; CARDOSO-SILVA3, Sheila; VIOTTO2, Renata; ALKIMIN2, Gilberto; ANDRADE4, Fabiola Magalhães, MARQUES4,

Valteir Vieira; PEREZ5, Diego Javier, MOSCHINI-CARLOS4, Viviane 1Bióloga, mestranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP, [email protected];

2Biólogo, mestrando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP; Bióloga3, pós doutoranda em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP;

Geógrafo4, mestrando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP; Engenheiro florestal5, doutorando em Ciências Ambientais, PPGCA/UNESP; Bióloga6, docente na disciplina de limnologia, PPGCA/UNESP

RESUMO

Lagos artificiais urbanos são bastante susceptíveis a problemas relacionados à qualidade da

água. Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar as variáveis limnológicas em um lago

artificial de um parque em Sorocaba. Foram coletadas amostras de água em seis pontos

diferentes. As análises demonstraram que o lago apresenta alterações de sua qualidade

devido às atividades urbanísticas em seu entorno, apresentando um forte indicativo de

contaminação por efluentes domésticos. O monitoramento das variáveis limnológicas se faz

importante para a detecção de impactos negativos, possibilitando melhor conhecimento do

ambiente com a finalidade de fornecer subsídios para o desenvolvimento de planos de

gestão dos recursos hídricos cada vez mais eficientes.

Palavras-chave: Lago artificial; Parâmetros físico-químicos; Coliformes, Monitoramento.

INTRODUÇÃO

Estudos limnológicos em lagos artificiais de áreas urbanas de lazer ainda são pouco

abordados no Brasil. Em contrapartida, estes ambientes, amplamente utilizados pela

população urbana para fins paisagísticos e recreativos, apresentam frequentemente

florações de algas e cianobactérias devido à eutrofização (NOGUEIRA & NARDINI,

2008). Conhecer melhor tais ambientes é condição básica para o uso racional da água e para

a conservação.

Um ambiente aquático deve apresentar certas características físicas, químicas e

biológicas, não só para o consumo, como também para o desenvolvimento da biota aquática

(BRASIL, 2005). A poluição dos recursos hídricos se define como a alteração das suas

105 105

características por ações naturais ou de origem antrópica que causam impactos estéticos,

fisiológicos e ecológicos. Os principais poluentes aquáticos podem ser divididos em

poluentes orgânicos biodegradáveis (matéria orgânica biodegradável), poluentes orgânicos

recalcitrantes ou refratários (defensivos agrícolas, detergentes sintéticos, petróleo), metais,

nutrientes, organismos patogênicos (bactérias, vírus, protozoários, helmintos), sólidos em

suspensão que aumentam a turbidez da água, calor que afeta as características físicas,

químicas e biológicas do ecossistema aquático e radioatividade, que afeta as células que

estão envolvidas na reprodução dos indivíduos, prejudicando as gerações futuras (BRAGA

et al., 2005).

Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade d‟água de um lago do

Parque Natural dos Esportes “Chico Mendes”, utilizando variáveis físicas, químicas e

biológicas.

METODOLOGIA

Parâmetros físico-químicos da água

Para as análises dos parâmetros físico-químicos foram definidas cinco estações

amostrais no corpo do lago (Figura 1). Foram analisadas variáveis como sólidos totais,

material particulado em suspensão na água e concentrações de nitrogênio e fósforo.

Também foram aferidas outras variáveis por meio da sonda multiparâmetros Hanna em três

pontos, sendo eles: ponto 1 (jusante), ponto 2 (corpo central) e ponto 3 (montante). Os

parâmetros analisados por meio da sonda foram: pH, porcentagem de oxigênio dissolvido

(OD), concentração de oxigênio dissolvido em mg/L, condutividade elétrica e temperatura.

Para estes mesmos pontos, nos quais foi utilizada a sonda, também foram realizadas

aferições utilizando o disco de Secchi. A profundidade foi medida apenas no corpo central

do lago.

106 106

Figura 3. Pontos de amostragem no lago do Parque “Chico Mendes” em Sorocaba

(23º28‟S 47º24‟W).

Fonte: Adaptado do Google Earth

Parâmetros biológicos

Para a análise dos coliformes totais e termotolerantes, amostras foram coletadas em

frascos de vidro âmbar autoclavados, acondicionados em bolsa térmica com temperatura

em torno de 5ºC e ao abrigo da luz. Foram coletadas duas amostras, uma à montante e outra

à jusante do lago. O método de análise utilizado foi o colorimétrico IDEXX Quanti-

Tray®/2000 MPN, seguindo recomendações do fabricante. As análises foram aplicadas para

os dois pontos utilizando amostra bruta (1:1), e diluições nas proporções de 1:10 e 1:100. A

contagem MPN (most probable number) foi feita com o auxílio do software IDEXX MPN

Generator versão 3.2. O método para análise de clorofila foi realizado segundo Wetzel &

Likens (2000) e Lorenzen (1967).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Parâmetro físico-químicos

O lago do Parque Natural Chico Mendes é um ambiente raso, apresentando 149 cm

de profundidade no corpo central. Trata-se de um lago de pH alcalino e com baixa

transparência da água (entre 69 a 85 cm). A baixa transparência pode estar relacionada aos

resultados para sólidos dissolvidos (de 94,07 a 111,21) que, mesmo dentro dos padrões,

influencia a incidência de luz e também a condutividade elétrica, a qual variou pouco (de

132 a 134S/cm). A concentração de oxigênio dissolvido foi menor para o ponto 2 (4,18

107 107

mg/L). As concentrações de nitrogênio, fósforo e clorofila-a variaram bastante entre as

estações (Tabela 1). Os parâmetros, em geral, estiveram dentro daqueles estabelecidos pelo

CONAMA 357/05 para lagos classe 3. Apenas os valores obtidos para fósforo excederam

os permitidos, de modo que o ponto 2 (montante) foi o que apresentou maior valor para esta

variável. Sabe-se que o fósforo é um importante componente de efluentes domésticos

devido a sua presença fortemente relacionada à formulação de sabões e detergentes

(SANTOS et al., 2012). Considerando esta informação e a ocupação do entorno da área de

estudo, percebe-se que a expansiva ocupação urbana pode sugerir que este lago esteja

sofrendo impactos negativos, levando à alteração da qualidade da água. Ainda que os

demais parâmetros estejam de acordo com aqueles estabelecidos pela CONAMA 357/05, é

importante avaliá-los em conjunto a fim de diagnosticar os possíveis impactos ao

ecossistema e à própria saúde humana, já que um desajuste entre estas variáveis pode

desencadear um desequilíbrio ecológico, potencializando processos como eutrofização e

outros problemas que lesem a qualidade da água.

Tabela 2. Parâmetros físico-químicos da água obtidos para o lago do parque Natural

“Chico Mendes”. Em que: DS= Disco de Secchi, OD= Oxigênio dissolvido, Cond.=

condutividade; Temp.= temperatura; Cl-a= Clorofila A; N= Nitrogênio; F= Fósforo; SD=

Sólidos dissolvidos. Os parâmetros: DS, pH, OD, Cond. e Temp. foram aferidos apenas

para os pontos 1, 2 e 3.

Coliformes totais e termotolerantes

Na Tabela 2 é apresentada a contagem MPN para coliformes totais. A resolução

CONAMA 357/05 não estabelece limites para coliformes totais. Por outro lado, para

critérios de balneabilidade (recreação de contato primário), a CONAMA 20/86 (embora

Estações amostrais

DS (cm) pHOD

mg/LCond

(µs/cm)Temp (ºC)

Cl - a

(g.L-1)N

(mg/L)F (mg/L)

SD (mg/L)

P1 71,0 7,07 5,80 134 21,74 2,67 6,0 0,31 94,07P2 85,0 7,25 4,18 132 22,04 4,58 4,0 0,60 99,50P3 69,0 7,32 5,86 133 22,48 5,35 3,0 0,35 111,21P4 - - - - - 4,20 3,0 0,37 113,57P5 - - - - - 0,76 3,0 0,32 104,64

108 108

revogada) é a única a estabelecer que as águas doces para este destino sejam enquadradas e

terão sua condição avaliada nas categorias excelente quando tiver, no máximo, 1.250

coliformes totais por 100 mililitros. Sendo assim, ambos os pontos não se enquadrariam

dentro destes critérios. Maiores valores de coliformes totais caracterizaram a região da

montante, o que pode sugerir que o lago recebe uma grande carga de coliformes totais. Já

na jusante, ocorre uma diminuição significativa destes valores, sugerindo diluição (Figura

2).

Tabela 3. Números prováveis obtidos para Coliformes totais, em três diferentes proporções

de diluição.

Figura 4. Comparação entre os resultados obtidos para coliformes à montante e à jusante

do lago.

Na Tabela 3 é apresentada a contagem MPN para coliformes termotolerantes. A

resolução CONAMA 357/05 estabelece para lagos de Classe 3, para usos que não

envolvam recreação de contato secundário e a dessedentação de animais, que não deverá

ser excedido um limite de 4000 coliformes termotolerantes por 100 m/L em 80% ou mais

Pontos de amostragem Diluição MPN

Limite de confiança 95%

Inferior Superior Montante 1:1 2.420 1.440 ∞ Montante 1:10 24.196 16.304 47.161 Montante 1:100 72.699 47.567 104.887 Jusante 1:1 2.420 1.440 ∞ Jusante 1:10 7.701 5.490 10.940 Jusante 1:100 16.640 11.537 23.398

24.196

7.701

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

30.000

Montante Jusante

Coliformes totais

109 109

de pelo menos 6 amostras coletadas durante o período de um ano, com periodicidade

bimestral. Considerando esse padrão, os dois pontos apresentam valores dentro do

permitido para a classe. Por outro lado, nota-se novamente uma diferença grande dos

resultados da montante para jusante (Figura 3). Corroborando o aporte de efluentes

domésticos na entrada do lago, o que foi indicado por meio das demais variáveis abordadas

neste estudo.

Tabela 4. Números prováveis obtidos para Coliformes termoteolerantes, em diferentes

diluições.

Figura 5. Comparação entre os resultados obtidos para coliformes à montante e à jusante

do lago.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O monitoramento das variáveis limnológicas, abordadas neste estudo, é importante

para que sejam viabilizados planos de manejo eficientes, bem como, propostas gestão para

recursos hídricos visando a preservação e conservação dos mesmos. Garantindo assim, que

Pontos de amostragem Diluição MPN

Limite de confiança 95%

Inferior Superior Montante 1:1 186 125 269 Montante 1:10 292 185 431 Montante 1:100 < 100 0 367 Jusante 1:1 162 119 216 Jusante 1:10 96 44 169 Jusante 1:100 202 26 713

292

96

0

50

100

150

200

250

300

350

Montante Jusante

Coliformes termotolerantes

110 110

o aproveitamento adequado e seguro dos lagos artificiais que compõe a paisagem de

diversos parques urbanos, ocorra da maneira mais eficiente possível.

REFERÊNCIAS

BRAGA, et al.. Introdução à Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento sustentável. 2.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, nº 053, 18 março 2005.

LORENZEN, C. J. Determination of Chlorophyll and Pheo-Pigments: Spectrophotometric Equations. Institute of Marine Resources, Scripps Institution of Oceaography. Limnol Oceanogr. 12: 343- 346. La Jolla, California 1967.

NOGUEIRA, I. S & NARDINI, M. J. O processo antrópico de um lago artificial e o desenvolvimento da eutrofização e florações de algas azuis em Goiânia. Rev. Estudos, Goiânia, Vol. 35, nº 1/2, 23-52p., 2008.

SANTOS et al.. Poluição aquática. In: ROSA, A.H.; FRACETO. L.F.; MOSCHINI-CARLOS, V.. (Org.). Meio Ambiente e Sustentabilidade. São Paulo: Artmed/Bookman, 2012, v. 1, p. 41-61

WETZEL, R. G., LIKENS, G.E. Limnological analyses. 3 ed. 2000.

Disciplina

Modelagem e processamento da incerteza em

informação geográfica

Responsáveis

Profa. Dra. Cidália Costa Fonte

Prof. Dr. José Arnaldo Frutuoso Roveda

Profa. Dra. Sandra Regina Masalskiene Roveda

111 111

CONSTRUÇÃO DE UM SISTEMA FUZZY DE APOIO À ANÁLISE ESPACIAL

DA AUTOSUSTENTABILIDADE APLICADO AO MONITORAMENTO DA

RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

BRESSANE, Adriano1; Cidália Costa Fonte2; José Arnaldo Frutuoso Roveda3, Sandra Regina Masalskiene

Roveda4, Admilson Irio Ribeiro5, Gerson Araujo de Medeiros6 1 Engenheiro Ambiental, Universidade Estadual Paulista (UNESP), e-mail: [email protected], 2 Professora,

Modelagem e Processamento da Incerteza, Universidade de Coimbra (UC), 3 Professor, Fuzzy, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 4 Professora, Modelagem Ambiental, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 5 Professor, Recuperação de Áreas Degradadas,

Universidade Estadual Paulista (UNESP), 6 Professor, Gestão Ambiental, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

RESUMO

Embora as alterações ambientais possam ser necessárias para adequar o meio às

necessidades humanas, torna-se igualmente fundamental a recuperação das áreas

degradadas. Entretanto, declarar uma área como recuperada requer a análise integrada de

parâmetros com métricas distintas, sujeitas a imprecisões e incertezas inerentes à

complexidade dos processos envolvidos. Logo, o objetivo deste trabalho é propor a

construção de um sistema fuzzy de apoio ao monitoramento da autosustentabilidade nessas

áreas. Como resultado parcial, obteve-se a identificação de parâmetros influentes e

respectivos valores de referência para posterior modelagem dos conjuntos e sistema de

inferência pretendido, razão pela qual conclui-se pela sua contribuição ao avanço dos

estudos correlatos.

Palavras-chave: Suporte a decisão; Análise integrada; Modelagem.

INTRODUÇÃO

As alterações de características bióticas, edáficas e geomorfológicas do ambiente

são inerentes a intervenção antrópica visando torná-lo apto ao atendimento das demandas

sociais, entretanto, a ausência de práticas conservacionistas tem provocado o surgimento de

áreas degradadas. Logo, a recuperação dessas áreas representa uma estratégia fundamental

para sustentabilidade e, para orientar as práticas necessárias, têm sido instituídas diversas

normativas.

No Estado de São Paulo, diretrizes para restauração ecológica foram estabelecidas

pela Resolução SMA 32 de 2014, cujo principal objetivo é a: “restituição de ecossistema

112 112

ou comunidade biológica nativa degradada ou alterada a condição não degradada, que

pode ser diferente de sua condição original” (SÃO PAULO, 2014). Dessa forma, busca-se

recuperar a área degradada à uma condição de manter-se sem assistência antrópica,

alcançando a autossustentabilidade, isto é, uma: “habilidade que a comunidade final tem

para sobreviver com pouca ou nenhuma manutenção” (PRIMACK e RODRIGUES, 2001,

252p.).

Assim, para monitorar a autossustentabilidade como critério de decisão para

declarar uma área como recuperada, a referida norma paulista (SÃO PAULO, op. cit.),

definiu apenas parâmetros bióticos. No entanto, considera-se que seria igualmente

importante monitorar indicadores de capacidade suporte da área responsáveis por manter a

composição vegetal após cessada a assistência antrópica no processo de recuperação,

sobretudo, condições edáficas e geomorfológicas (parâmetros abióticos) (TOY, 1998).

Logo, propõe-se a construção de um sistema de apoio ao monitoramento da

recuperação de áreas degradadas através de uma abordagem fuzzy. Assim, o objetivo desse

trabalho é contribuir com subsídios para o tratamento adequado da incerteza inerente as

análises de autossustentabilidade, integrando os parâmetros bióticos previstos na norma,

com outros de natureza abiótica, identificados a partir da consulta a especialistas e literatura

técnica aplicada.

METODOLOGIA

A análise dos parâmetros relacionados ao monitoramento da autossustentabilidade

envolve a integração de dados com métricas distintas, assim como medidas e análises

sujeitas a imprecisões e incertezas intrínsecas aos processos complexos que condicionam a

recuperação de áreas degradadas. Assim, uma alternativa para o tratamento adequado

desses aspectos pode ser desenvolvida por meio de uma abordagem fuzzy (ZADEH, 1965),

mediante a construção de um sistema de inferência. Dessa forma, uma vez que alguns dos

parâmetros apresentam variação espacial, como, por exemplo, o tipo de cobertura de solo e

a declividade do terreno, o sistema poderá ser utilizado não apenas por região de interesse,

113 113

mas também no âmbito de um Sistema de Informação Geográfica, disponibilizando

resultados com variabilidade ao longo do espaço geográfico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Seleção dos parâmetros de análise e definição dos valores de referência

Como descrito anteriormente, os parâmetros bióticos adotados corresponderam

àqueles previstos na Resolução SMA 32 de 2014, cujas classes equivalentes a condição

avaliada e respectivos domínios, para fitofisionomia de mata atlântica, estão exemplificados

na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros bióticos para análise da autossustentabilidade (referente a 5 anos).

Cobertura do solo com vegetação nativa

Densidade de ind. nativos regenerantes

Número de espécies nativas regenerantes

Crítico <30% < 200 ind./ha < 3 nº. ssp Mínimo 30-80% 200-1000 ind./ha 3-10 nº. ssp Adequado > 80% > 1000 ind./ha > 10 nº. ssp

Fonte: Elaborado a partir de São Paulo (2014).

No que se refere aos parâmetros edáficos, alterações como a desagregação e

aumento da densidade do solo, a redução da permeabilidade e da capacidade de retenção

hídrica, podem comprometer o estabelecimento da biota (SANCHEZ, 2001). Assim, os

parâmetros edáficos foram definidos com base na literatura (LONGO , 2005; LEPSCH,

2002; VIEIRA, SANTOS e VIEIRA, 1988) e conhecimento de especialistas (Tabela 2).

Tabela 2. Parâmetros edáficos para análise da autossustentabilidade.

Diâmetro

Médio Geométrico Resistência Mecânica

Saturação por Alumínio

Crítico < 0,5 mm > 2,15imp/dm > 20m% Mínimo 0,5-1,5 mm 0,7- 2,15imp/dm 10-20m% Adequado > 1,5 mm < 0,7imp/dm < 10m%

114 114

Por sua vez, relacionados às condições geomorfológicas, a autossustentabilidade

pode ser prejudicada pela instabilidade de encostas, processos erosivos acelerados,

escoamento, retenção e disponibilidade hídrica alterados etc. (HANCOCK, 2004). Logo,

com base na literatura (BERTONI e LOMBARDI NETO, 1990; ROSS, 1994; TOY, 1998)

foram definidos os parâmetros propostos na Tabela 3.

Tabela 3. Parâmetros geomorfológicos para análise da autossustentabilidade.

Declividade do terreno

Erosão acelerada (perda de solo)

Sistematização do deflúvio

Crítico > 30 % > 15 t ha-1 ano-1 < 30% Mínimo 12-30 % 4,2- 15 t ha-1 ano-1 30-70 % Adequado < 12 % < 4,2 t ha-1 ano-1 >70%

Modelagem do sistema de apoio ao monitoramento da autosustentabilidade

A partir dos parâmetros e valores de referência descritos anteriormente, a

fuzzificação resultaria na modelagem dos conjuntos de entrada e saída, cujos domínios e

funções características pretende-se desenvolver mediante estudos futuros. Da mesma

forma, a construção das regras relacionais fuzzy para integração dos critérios de entrada e

respectiva inferência dos conjuntos de saída serão futuramente realizados para cada

conjunto de parâmetros (bióticos, edáficos e geomorfológicos) e, posteriormente, de forma

integrada, resultando em proposições semelhantes às ilustradas como resultado preliminar

na Tabela 4.

115 115

Tabela 4. Proposições preliminares de regras relacionais para integração dos critérios.

Condição Avaliada Nível de Autossustentabilidade Biótica Edáfica Geomorfológica

Crítica

Crítica Crítica Muito baixa Mínima Baixa Adequada Moderada baixa

Mínima Crítica Baixa Mínima Moderada baixa Adequada Moderada

Adequada Crítica Moderada baixa Mínima Moderada Adequada Moderada alta

Mínima

Crítica Crítica Baixa Mínima Moderada baixa Adequada Moderada

Mínima Crítica Moderada baixa Mínima Moderada Adequada Moderada alta

Adequada Crítica Moderada Mínima Moderada alta Adequada Alta

Adequada

Crítica Crítica Moderada baixa Mínima Moderada Adequada Moderada alta

Mínima Crítica Moderada Mínima Moderada alta Adequada Alta

Adequada Crítica Moderada alta Mínima Alta Adequada Muito alta

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os resultados obtidos, conclui-se que a abordagem fuzzy pode ser

uma alternativa para modelagem da autossustentabilidade, aplicada ao monitoramento da

recuperação de áreas degradadas. Dessa forma, a partir do modelo proposto espera-se obter

a validação e análise de seu desempenho por meio de sua aplicação em estudos futuros,

com a expectativa de contribuir no avanço do tratamento adequado da imprecisão na

modelagem e construção de sistemas de apoio aplicados à recuperação de áreas degradadas.

116 116

REFERÊNCIAS

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. 2.ed. São Paulo, Ícone, 1990. HANCOCK, G. R. The use of landscape evolution models in mining rehabilitation design.

Environmental Geology, n.46, p. 561-573, 2004. LONGO, R. M.; RIBEIRO, A. I; MELO, W. J. Caracterização física e química de áreas

mineradas pela extração de cassiterita. Bragantia, Campinas , v. 64, n. 1, 2005 . PRIMACK, R.B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina: E. Rodrigues,

2001. SÃO PAULO (estado). Resolução SMA 32/2014. Disponível em:

<http://www.ambiente.sp. gov.br/legislacao/resolucoes-sma/resolucao-sma-32-2014/>. Acesso em: 10 mai. 2014.

ROSS, J. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. In: Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n. 8, p. 63-74, 1994.

SANCHEZ, L. E. Desengenharia. São Paulo: Edusp/Fapesp, 2001. TOY, T. J. Topographic reconstruction: the foundation of reclamation. In: DIAS, L. E.;

MELLO, J. W. V. (eds). Recuperação de Áreas Degradadas. Orlando: Academic Press, 1998.

VIEIRA, L. S.; SANTOS, P. C. T; VIEIRA, M. N. F. Solos: propriedades, classificação e manejo. Brasília: MEC/ABEAS, 1988, 9 p.

ZADEH, L. A. Fuzzy sets. Information and Control.v.8, p. 338-353, 1965.

Disciplina

Modelagem matemática

Responsáveis

Prof. Dr. José Arnaldo Frutuoso Roveda

Profa. Dra. Sandra Regina Masalskiene Roveda

117 117

INTEGRAÇÃO DA MODELAGEM POR EQUAÇÕES DIFERENCIAIS A UM

SISTEMA DE INFERÊNCIA FUZZY APLICADA À GESTÃO E RECUPERAÇÃO

DE ÁREAS VERDES URBANAS DEGRADADAS

BRESSANE, Adriano1; MOTA, Mauricio Tavares da2; José Arnaldo Frutuoso Roveda3, Sandra Regina

Masalskiene Roveda4, Admilson Irio Ribeiro5, Gerson Araujo de Medeiros6 1 Engenheiro Ambiental, Universidade Estadual Paulista (UNESP), e-mail: [email protected], 2 Biólogo,

Universidade Estadual Paulista (UNESP), 3 Professor, Fuzzy, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 4 Professora, Modelagem Ambiental, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 5 Professor, Recuperação de Áreas Degradadas, Universidade Estadual Paulista

(UNESP), 6 Professor, Gestão Ambiental, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

RESUMO

O crescimento populacional e a expansão das cidades podem ser considerados reflexos

esperados da evolução urbana ao longo do tempo. Entretanto, se não houver um controle

dos impactos sobre as áreas naturais, pode haver prejuízos as condições sanitárias e

segurança da população, comprometimento da biota, bem como condições adversas às

atividades socioeconômicas. Logo, o objetivo deste trabalho é apresentar o

desenvolvimento de um modelo em construção, aplicado a gestão e recuperação de áreas

verdes urbanas degradadas. Para isso, os principais materiais foram dados censitários e

informações sobre a cobertura vegetal em Sorocaba/SP, área de estudo nesse trabalho.

Assim, a modelagem da dinâmica populacional por equações diferenciais foi integrada a

um sistema de inferência fuzzy. Como resultado, foram proporcionados subsídios para

recomendação de ações a partir da condição diagnosticada. Logo, conclui-se que os

resultados expostos representam uma importante contribuição, mas requer avanços

complementares pretendidos mediante estudos futuros.

Palavras-chave: Suporte a decisão; Análise integrada; Qualidade urbana.

INTRODUÇÃO

Apesar da capacidade da natureza em se recuperar de perturbações antrópicas,

devido ao seu crescimento a população humana tornou-se um dos principais componentes

da crise ambiental (MILLER, 1985). Assim, a ocupação urbana desordenada e respectiva

supressão da cobertura vegetal têm provocado desequilíbrios ecológicos com a ocorrência

118 118

de eventos extremos, como enchentes em determinadas regiões e secas prolongadas em

outras, como observado nos últimos anos (NOBRE, 2013).

Logo, a recuperação das áreas verdes urbanas degradadas torna-se fundamental,

pois além da manutenção do clima, ainda previnem processos erosivos, promovem

ambientes de lazer e recreação, corredores ecológicos e refúgios da fauna, reduzem a

poluição atmosférica e a propagação do ruído veicular (ANGELIS NETO et al., 2006).

Considerando a recomendação da Organização Mundial da Saúde, de

12m²/habitante (CAVALHERO e DEL PICCHIA, 1992), Bressane et al. (2014)

desenvolveram um modelo matemático por equações diferenciais para projeção da

dinâmica populacional em Sorocaba (SP) como diretriz ao incremento contínuo de suas

áreas verdes urbanas.

Nesse contexto, o presente trabalho tem por objetivo integrar aquele resultado

(ibid.) a um sistema de inferência fuzzy na construção de um Índice de Condição da Área

Verde Urbana (ICV), baseado no qual são propostas ações de recuperação das áreas

degradadas.

METODOLOGIA

Considerando dados censitários, Bressane et al (op. cit) construíram um modelo de

projeção populacional para Sorocaba (SP), baseado em Verhulst (1938), que estimou uma

população limite de aproximadamente 1,4 milhões de habitantes, resultando na equação (1):

(

1)

onde:

Δt, representa o intervalo de tempo entre o ano aferido e o ano inicial (1910);

t, corresponde ao ano aferido na projeção populacional;

P, tamanho da população projetada.

A partir da projeção populacional e da extensão da área verde estimada, calculou-se

um Índice de Área Verde Urbana (IAV), dado por (2):

119 119

(

2)

onde:

IAV(t), índice de área verde urbana no ano t (m²/hab.);

AV(t), extensão da área verde urbana no ano t (m²);

Pu(t), população urbana no ano t (hab.).

Considerando que uma densidade demográfica baixa pode mascarar o significado

do IAV, no presente trabalho ainda foi avaliado o Índice de Proporção da Área Verde

urbana (IRV) dado pela equação (3):

(

3)

onde:

IRV(t), índice de proporção da área verde urbana no ano t;

Au(t), área urbana no ano t (m²).

Por existir imprecisões inerentes ao cálculo de ambos os índices (IAV e IRV), estes

foram integrados na forma do ICV, por meio de um sistema de inferência fuzzy, introduzido

por Zadeh (1965), para a modelagem de sistemas com tais características, envolvendo

quatro etapas: fuzzificação; construção da base de regras; inferência; e defuzzificação.

A fuzzificação correspondeu à modelagem das variáveis em conjuntos fuzzy. Na

sequência, para construção da base de regras executou-se o relacionamento entre tais

conjuntos, através de conectivos lógicos que equacionam valores de pertinência calculados

por (4) (BARROS e BASSANEZI, 2006):

(

4)

onde:

μF, função característica, nesse estudo, triangular e/ou trapezoidal;

X, denota um conjunto universo clássico;

F, um conjunto fuzzy, subconjunto de X.

120 120

Para inferência foi utilizado o Método de Mandani e para defuzificação o método do

Centro de Gravidade (G), dado pela equação (5):

(

5)

onde:

φB(u) é o grau de compatibilidade do valor u com o conceito modelado pelo

conjunto B.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos procedimentos descritos, a modelagem das variáveis com seus

respectivos domínios, a proposição de modificadores linguísticos e funções características

resultaram na arquitetura do sistema de inferência fuzzy apresentada na Figura 1.

Figura 1. Modelagem do sistema de apoio a gestão estratégica de áreas verdes urbanas

121 121

Para orientar ações de gestão e recuperação das áreas verdes urbanas degradadas os

números fuzzy gerados pelo sistema de inferência foram transformados em números crisp,

aos quais podem ser associadas recomendações, como pretende-se realizar através de

estudos futuros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo exposto, considera-se que os resultados alcançados podem representar uma

contribuição importante para gestão e recuperação de áreas verdes urbanas degradadas.

Nesse sentido, para sua validação, prevê-se a aplicação da modelagem integrada ao sistema

de inferência fuzzy construído no município de Sorocaba (SP), como estudo de caso em um

trabalho futuro.

REFERÊNCIAS

ANGELIS NETO, G; et al. Controle de processos em áreas urbanas com o uso da vegetação. RESBAU, v. 1, n. 1, p. 56-61. 2006.

BARROS, L; BASSANEZI, R. Tópicos de Lógica Fuzzy e Biomatemática. Textos Didáticos: Campinas-SP, 2006.

BRESSANE, A. et al. The population dynamics as a strategic guideline for the progressive increase of urban green areas in Sorocaba, São Paulo State, Brazil. In: SIMPÓSTIO DE TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL, 1, 2014. Anais... Sorocaba, 2014.

CAVALHERO, F.; DEL PICCHIA, P. C. D. CAVALHERO, F.; DEL PICCHIA, P. C. D. Áreas verdes: conceitos, objetivos, diretrizes para o planejamento. In: CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1, 1992. Anais... Vitória, 1992. p.29-38.

MILLER, G. T. Living in the Environment. Califórnia: Pub. Inc., 1985. NOBRE, A, D. O Futuro Climático da Amazônia: Relatório de Avaliação para a

Articulación Regional Amazônica. Rio de Janeiro: Fundo Vale. 42 p., 2013. ZADEH, L. A. Fuzzy sets. Information and Control.v.8, p. 338-353, 1965.

Disciplina

Processamento de Imagens Digitais

Responsável

Prof. Dr. Antonio Cesar Germano Martins

122 122

ANÁLISE TEMPORAL DA COBERTURA VEGETAL ATRAVÉS DE CÁLCULO DO

NDVI

SANTOS, Alex Joci1; Antônio Cesar Germano Martins² 1 Mestrando, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP-Sorocaba),

e-mail: [email protected] ² Prof. Doutor, Processamento Digital de Imagens (UNESP-Sorocaba)

RESUMO

Utilizar dados de sensores orbitais junto com técnicas de Processamento Digital de Imagens

possibilita a construção de diversos indicadores referenciados geograficamente, entre esses

indicadores, o Índice de Vegetação por Diferença Normatizada que apresenta resultados

significativos na detecção de mudanças na cobertura vegetal verde, como desmatamento e

queimadas. Este trabalho teve como objetivo realizar o cálculo de NDVI dos anos de 1991

2010, a partir do mosaico de imagens do satélite Landsat 5 de uma área de 100km² do

Mosaico de Unidades de Conservação da Serra de Paranapiacaba, calculadas no software

MatLab, onde se observou que não houve mudanças significativas no período estudado.

Palavras-chave: NDVI; MatLab; PDI.

INTRODUÇÃO

O Sensoriamento Remoto é uma ferramenta poderosa no auxílio aos estudos e

monitoramento da vegetação que possibilita a construção de diversos indicadores

referenciados geograficamente. Entre esses indicadores, o Índice de Vegetação por Diferença

Normatizada que apresenta resultados significativos na detecção de mudanças na cobertura

vegetal verde, como desmatamento e queimadas (GONÇALVES et al, 2006 apud SILVA et

al, 2009).

O NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) é uma técnica bastante importante

utilizada para melhor visualizar os alvos no que diz respeito à variação da vegetação, ele é a

razão entre as bandas de alta correlação entre si e serve para realçando os alvos de interesse, a

biomassa vegetal (FREIRE; PACHECO, 2005 apud ARAÚJO et al, 2010).

Este estudo tem como objetivo principal realizar a análise temporal da cobertura

vegetal através calculo de NDVI, em duas épocas diferentes, a partir de mosaico LANDSAT

5, de uma área de 100km² do Mosaico de Unidades de Conservação da Serra de

123 123

Paranapiacaba, utilizando técnicas de geoprocessamento, processamento de imagens digitais

e calculadas no software MatLab.

METODOLOGIA

Para este trabalho foi criado um mosaico de 10 km de comprimento por 10 km de

largura, portanto 100 km² de área integrando áreas dos Parques Estaduais Intervales e

Nascentes do Paranapanema, da Estação Ecológica Xituê e da Área de Proteção Ambiental da

Serra do Mar, conforme figura 1.

Estas unidades de conservação compõe a região central do Mosaico de Unidades de

Conservação da Serra de Paranapiacaba.

Figura 1. Localização da área de estudo.

Para a realização deste estudo foram utilizadas imagens do satélite LANDSAT 5,

sensor Thematic Mapper (TM) da órbita 220 e do ponto 77 datadas em 23/05/1991 e

04/02/2010 e adquiridas gratuitamente no website do Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais – INPE.

Após download das imagens, foram separadas as bandas de interesse, que são: banda 3

(vermelho) e banda 4 (infravermelho próximo) para os dois anos de estudo, as mesmas foram

processadas no software SIG (sistema de informações geográficas) ArcMap versão 10.1 a fim

de se corrigir possíveis erros de georreferenciamento e para recorte da área de interesse,

124 124

através de polígono criado dentro da área do Mosaico de Unidades de Conservação da Serra

de Paranapiacaba com extensão de 100 km².

O software MatLab versão R2008a foi utilizado para realizar os cálculos de NDVI,

que é definido pela seguinte fórmula:

NDVI = NIR – R / NIR + R

Onde:

NIR = Infravermelho próximo (0,75 – 0,90 μm);

V = Vermelho (0,63 – 0,70 μm).

Após obter as imagens de NDVI para os anos de 1991 e 2010, foi calculada a

diferença entre os valores pixel a pixel de cada ano para detectar as áreas onde houve

alteração, ou seja, aumento ou redução no índice de vegetação.

Os valores de NDVI variam de -1 a 1, este índice corresponde, respectivamente desde

o estresse hídrico até a vegetação exuberante, portanto a água tem refletância na banda 3,

maior que na banda 4, ou seja, tem valor de NDVI negativo próximos a -1 e as nuvens tendo

refletância no infravermelho, onde os valores de NDVI são próximos de zero, já a vegetação

exuberante apresenta valores próximos a 1. (BONETTI, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As imagens NDVI foram calculadas utilizando o programa MatLab. Para cada

imagem gerou-se uma imagem NDVI, observados na figura 2 e 3.

Os valores digitais dessas imagens são normalizados no intervalo [-1, 1]. Neste caso as

regiões que possuem vegetação apresentam um tom de cinza mais claro, enquanto as demais

feições se aproximam mais do preto, com o objetivo de comparar os resultados obtidos pela

aplicação dos índices de vegetação NDVI.

125 125

Figura 2. Índice de Vegetação por Diferença Normalizada do ano de 1991.

Figura 3. Índice de Vegetação por Diferença Normalizada do ano de 2010.

Após obter as imagens de NDVI para os anos de 1991 e 2010, calculou-se a diferença

entre os valores pixel a pixel de cada ano para detectar e quantificar as áreas onde houve

alteração, ou seja, aumento ou redução no índice de vegetação, mostrado na figura 4.

126 126

Figura 4. Índice de Vegetação da Diferença Normalizada de 1991 - 2010.

A partir do histograma da imagem gerada da subtração do NDVI de 1991 e de 2010,

observou-se que houve mudanças quanto ao índice de vegetação da área de estudo, mas

nenhuma de grande impacto no período de 19 anos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização das imagens LANDSAT5/TM neste projeto se configurou como

plenamente satisfatória para a obtenção dos resultados esperados na produção do NDVI assim

como a utilização do software MATLAB que contribuiu de forma facilitada mediante a

utilização da sua rotina de programação.

Por meio dos aspectos metodológicos envolvidos foi possível apresentar a rotina de

programação do software Matlab como por exemplo, para auxiliar em estudos relativos a

degradação e desertificação de terras, pois a partir das imagens geradas foi possível classificar

níveis baixos ou ausentes de NDVI e identificar características de áreas que estejam sob

processo de degradação ou desertificação.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, I. R.. et al. CALCULO DE NDVI NO SUPORTE AO ESTUDO DE DESERTIFICAÇÃO NO MUNICIPIO DE OROCÓ-PE. Recife: 2010.

BONETTI, S. A. et al. Estudo das imagens CBERS e sua viabilidade para uso na detecção da degradação da mata ciliar da bacia hidrográfica do alto Paraguai Superior. Corumbá: INPE, 2009.

127 127

SILVA, D. S. et al. Utilização de imagem NDVI para analise temporal da cobertura vegetal estudo de caso: Teresópolis/RJ. Natal: INPE, 2007.

Sistema Ambiental Paulista. Parque Estadual Intervales. Disponível em: < http://www.ambiente.sp.gov.br/parque-intervales> acesso em: 10/11/2014.

128 128

SEGMENTAÇÃO DE ÀREAS URBANAS EM IMAGENS DE SATÉLITE

UTILIZANDO LIMIARES

PEREZ, Diego Javier1; MARTINS, Antonio César Germano2. 1Engenheiro Agroflorestal, UNESP de Sorocaba

2Docente, Processamento de Imagens Digitais, UNESP de Sorocaba

RESUMO

O estudo do uso e ocupação do solo fornece informações sobre as áreas urbana e rurais

permitindo o planejamento e gestão das cidades e populações. A identificação dos terrenos

permeáveis e não permeáveis fornece ainda dados para a prevenção de inundações. Nesse

sentido esse projeto busca a segmentação da área urbana de uma imagem digital utilizando

uma combinação da limiarizações. Inicialmente obtêm-se o valor de limiar ótimo utilizando o

método de Otsu e em seguida a limiarização na matiz. A metodologia proposta foi testada

numa região do reservatório Paiva Castro localizado no município de Mairiporã, obtendo-se

como resultado uma área urbana segmentada da ordem de 96% quando comparada com o

resultado obtido pelo método de classificação supervisionada do ArcGis.

Palavras-chave: processamento de imagens, alteração de uso e ocupação do solo,

caraterização urbana.

INTRODUÇÃO

Segundo Blaschke, (2009) a identificação de mudanças na cobertura e uso da solo

fornece informações importantes para o planejamento e gestão, sobre tudo urbana. Este tipo

de informação pode ser utilizada para planejar mudanças nos sistemas de transporte público,

na procura da ampliação de construção de moradias, problemas ambientais, entre outras. Tais

mudanças podem ser avaliadas por meio de análises multi-temporais do uso do solo urbano e

intra-urbano, pois estas áreas requerem atualizações continuas, e dados precisos e detalhados.

Para Albiol & Torres (2010) o processo de segmentação de uma imagem digital

consiste em subdividi-la em regiões ou objetos com base em características presentes em cada

uma. Desta forma, estas regiões ou objetos são compostas por um conjunto de pixels com

propriedades semelhantes.

Pinho, (2010), afirma que novos desafios estão associados com o uso de imagens

gratuitas com baixa ou alta resolução espacial, para classificar automaticamente o uso de

129 129

solos urbanos e intra-urbanos. A abordagem de classificação de pixel a pixel tradicional pode

não ser eficiente quando se precisa de muitos detalhes.

Com o uso de imagens que capturam os detalhes de cenas heterogêneas, é comum se

obter subclasses. Nas áreas urbanas, estas subclasses tornam a segmentação mais difícil, como

por exemplo, os telhados que respondem de forma diferente dependendo do tipo e idade do

material e as variações no ângulo de incidência e orientação solar.

Em geral de acordo com (CITAR) , imagens de alta resolução são caracterizadas por

uma baixa resolução espectral que compreende apenas três ou quatro bandas: azul, verde,

vermelho e infravermelho próximo.

Deve-se ainda ressaltar que existem comportamentos semelhantes no espectro visível,

como as ruas pavimentadas e telhados de amianto escurecidos, sendo estas apenas uma das

dificultardes inerentes da segmentação (Pinho & Kux, 2009).

As restrições acima mencionadas destacam a necessidade de estudos para que se

obtenha uma segmentação eficiente.

O objetivo deste trabalho foi explorar um método para segmentar áreas urbanas

visando uma posterior classificação de imagens de alta ou baixa resolução de acordo com o

objetivo.

METODOLOGIA

Para realizar os estudos foi utilizada uma imagem gratuita do Google Earth da área da

bacia do reservatório Paiva Castro localizado no Município de Mairiporã ao Norte da Grande

São Paulo, com coordenadas 23019‟40,64”S e 46

037‟32,57” O (Figura 1).

Para o processamento de imagens foi utilizado o programa Matlab® versão 2006b

instalado num computador Hibrido de Pentium - InfoWay e Itautec D 2.8 GHz com 2Gb de

RAM.

Para o presente estudo utilizou-se o modelo de cor HSV que permitiu separar os

componentes do matiz, da saturação e da intensidade.

O processamento da imagem foi dividido em duas fases: a primeira foi à aplicação do

método de Otsu, na versão em tons de cinza da imagem original para uma primeira

segmentação e em seguida a implementação de cortes na matiz.

130 130

As análises dos histogramas direcionaram os valores para se realizar os cortes na

matiz, sendo utilizados valores entre 0,20 e 0,45, que permitiram que fossem obtidos os

melhores segmentações das áreas de interesse.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com aplicação do método de Otsu dividiu-se a imagem em duas regiões (Figura 2a).

Utilizando este resultado como uma máscara, obteve-se a imagem na Figura 2b. Em seguida,

implementou-se os cortes na matiz entre 0,20 e 0,45, obtendo-se o resultado apresentado na

Figura 3.

Embora de simples concepção, o método implementado resultou em 96% da área

urbana obtida pelo método de classificação supervisionada do ArcGis.

Figura 1. (a) Área da represa Paiva Castro Colorida. (b) Mesma imagem em tons de cinza

. (a) (b) Fonte: (Adaptado de Google Earth®, 2014).

131 131

Figura 2. (a) Imagem em tons de cinza resultante do método Otsu. (b) Imagem original

filtrada.

(a) (b)

Figura 3. Segmentação final da área urbana após o corte em matiz na imagem na Figura 2b.

CONCLUSÕES.

Por meio dos resultados obtidos e a metodologia aplicada foi possível apresentar uma

estratégia simplificadora da segmentação de áreas urbanas em imagens de alta e baixa

resolução, permitindo o acompanhamento de forma eficiente das alterações na mudança da

cobertura do solo urbano.

A metodologia foi testada numa região no reservatório Paiva Castro obtendo-se uma

similitude da ordem de 96% como os resultados obtidos no processo supervisionado por um

sistema de informação geográfica SIG.

132 132

A metodologia aplicada foi eficiente, pois de um modo geral, simplificou os

procedimentos de segmentação para uma futura classificação de uso e ocupação de solos

urbanos.

REFERÊNCIAS

Albiol, A; Torres; Delp, E.J.2010 Optimum colors spaces for skin detection. In Proceedings of the International Conference on Image Processing, vol 1,pág 122-124.

BLASCHKE, T. and LANG, S., 2009, Object based image analysis for automated information extraction – a synthesis. In Measuring the Earth II ASPRS Fall Conference, 6–10 November 2009, San Antonio, TX, CD-ROM.

Nobuyuki Otsu. A threshold selection method from gray-level histograms. IEEE Trans. Sys., Man., Cyber. 9: 62–66.1979.

PINHO, C.M.D. and KUX, H., 2009, Dados do QuickBird para subsidiar o planejamento urbano: uma proposta metodológica, município de São José dos Campos, SP, Brasil (QuickBird data to subsidize the urban planning: one proposal methodology, municipality of São José dos Campos, SP, Brazil). In XI Simposio Latinoamericano sobre Percepción Remota y Sistemas de Información Espacial, 22–26 November 2004, Santiago, CD-ROM.

PINHO, C.M.D., SILVA, F.C., FONSECA, L.M.G. and MONTEIRO, A.M.V., 2008, Urban land cover classification from high-resolution images using the C4.5 algorithm. In XXI Congress of the International Society for Photogrammetry and Remote Sensing, 3–11 July 2008, Beijing, China (China: Lu Xiaohong), pp. 695–699.

133 133

IDENTIFICAÇÃO DE NUVENS E SOMBRAS EM IMAGENS DE

SENSORIAMENTO REMOTO

OLIVEIRA, Fábio Rodrigo1, MARTINS, Antonio Cesar Germano2 1Mestre, UNESP FCA Botucatu, e-mail: [email protected]

2 Professor, PDI, UNESP Sorocaba

RESUMO

Este trabalho criou um algoritmo para a identificação das nuvens e as sombras presentes em

imagens de sensoriamento remoto do sensor da NASA Landsat 8 com a composição de cor

natural obtida através do site LandsatLook Viewer1.

Palavras-chave: Processamento Digital de Imagem; Landsat8; Nuvens.

INTRODUÇÃO

Imagens de satélite são utilizadas para diversas finalidades, entre elas, os estudos dos

recursos naturais e do meio ambiente que estão em contínuas mudanças em resposta à

evolução natural e às atividades humanas. Para compreender o complexo inter-relacionamento

dos fenômenos que causam estas mudanças é necessário fazer observações com uma grande

gama de escalas temporais e espaciais, sendo que a observação da Terra por meio de satélites

é a maneira mais efetiva e econômica de coletar os dados necessários para monitorar e

modelar estes fenômenos.

Atualmente, a utilização de satélites artificiais vem sendo cada vez mais explorada nos

estudos meteorológicos, sendo que as nuvens são relevantes para obter informações sobre

furações, ciclones, frentes frias.

No entanto, em outras aplicações, a presença de nuvens dificulta a interpretação das

imagens, pois escondem a informação da cobertura do solo onde ela está sendo projetada.

Outro efeito que prejudica a análise da imagem é a sombra provocada pelo relevo,

árvores ou construções.

Assim, nuvens e sombras causam problemas na classificação automática, na análise

visual e na preparação de cartas temáticas baseadas em imagens.

1 http://landsatlook.usgs.gov/viewer.html

134 134

Em áreas como o litoral brasileiro, as nuvens são comuns o ano inteiro. As imagens

dessas áreas possuem, em geral, recobrimento de nuvens e sombras. Isso diminui a área útil

da imagem a ser analisada.

Desta forma, é importante que sejam desenvolvidos métodos que permitam identificar

estas ocorrências nas imagens para que se possa trata-las de maneira adequada.

METODOLOGIA

Para este trabalho utilizou-se imagens do sensor da NASA Landsat 8 na composição

das bandas RGB 4,3,2 gerando a composição de cor natural do imageador OLI (Operacional

Terra Imager), adquiridas no dia 29 de outubro de 2014 na cena LC82200772014302LGN00

da orbita 220 e linha 77 com 8% de nuvens na imagem. Escolheu-se a região na imagem com

a maior concentração de nuvens entre os municípios de Registro e Sete Barras no Estado de

São Paulo.

As nuvens estão na região de máximo no histograma da imagem e as sombras na de

mínimo, podendo implementar um processo que permita gerar uma imagem com nuvem e

outra com a sombra de nuvem.

Utilizou-se da composição já fornecida pelo site da NASA, efetuando-se assim um

recorte na imagem, tornando-a com as medidas 282 por 556 pixels nas três bandas.

O algoritmo consta em transformar a imagem colorida para escala de cinza, como

pode ser visto na Figura 1. Em seguida, aplica-se a função para visualização do histograma a

fim de se delimitar o valor máximo e mínimo para identificação das sombras e nuvens

respectivamente como pode ser visto na Figura 2.

135 135

Figura 6 - Imagem na escala de cinza

Figura 7. Histograma da imagem

Para se encontrar as nuvens, foi utilizado um limiar tal que se o valor do pixel da

imagem estava acima de 140, este era guardado na variável nuvem. O processo semelhante foi

aplicado para identificação das sombras, onde o melhor valor encontrado para identificar as

sombras foi abaixo de 95.

Com as sombras e as nuvens, foi feito a fusão de cada uma das imagens original, a fim

de verificar o resultado do processamento.

136 136

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para se avaliar os resultados obtidos, realizou-se um processo de fusão entre a imagem

original e as que continham as nuvens e as sombras das nuvens.

As Figuras 3 e 4 trazem os resultados obtidos, onde as nuvens e as sombras aparecem

em vermelhas segmentadas.

Figura 8. Identificação das nuvens

Figura 9. Identificação das sombras

137 137

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia aplicada foi válida no âmbito deste trabalho. Porém pode-se observar

que os métodos aplicados são incipientes para ser aplicado em outras imagens, pois este se

pautou apenas em identificar visualmente no histograma os valores que correspondiam às

nuvens e as sombras.

Sabe-se que é preciso aplicar outras variáveis no algoritmo a fim de ter melhores

resultados na identificação dos alvos, para trabalhos posteriores estes serão levados em

consideração.

REFERÊNCIAS

MOURA, Luciana Machado de. Aprimoramento de Algoritmos Para a Determinação de Cobertura Efetiva de Nuvens a Partir de Imagens de Satélite Geoestacionário. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2012

NETO, José Arimatéia Barroso; CANDEIAS, Ana Lúcia Bezerra. Uso do Matlab na Geração de Imagem Sintética Com Menor Proporção De Nuvem. Recife: III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologia da Geoinformação, 2010 p. 001 até 005.

GONZALEZ, R.C.; Woods, R.E.; Eddins, S. L. Digital Image Processing Using MATLAB. 1st Edition. Editora Edgard Blücher Ltda. 2003.

138 138

IDENTIFICAÇÃO DE POTENCIAIS CANAIS DE ESCOAMENTO DE CARGAS

ANTRÓPICAS DA MINERAÇÃO DE CARVÃO EM MOATIZE, MOÇAMBIQUE

MAFAVISSE, Isaías Mutombo1; MARTINS, Antonio César Germano2 1Geógrafo, doutorando em Ciências Ambientais, UNESP de Sorocaba 2Docente de Processamento Digital de Imagens, UNESP de Sorocaba

RESUMO

O presente trabalho objetiva aplicar o processamento digital de imagem de satélite

LANDSAT 8 para a identificação de canais que facilitem o transporte de materiais antrópicos

gerados pela mineração de carvão em Moatize. Estes chamados palho canais estão em áreas

contiguas do empreendimento mineiro e apresentam vegetação ao longo de seu curso,

decorrente do acúmulo da água durante a estação chuvosa. A partir de cortes nos canais R e G

de cor, foi possível se obter a segmentação destes canais.

Palavras-chave: Mineração; recursos hídricos; palho canais; poluição.

INTRODUÇÃO

A extração mineira no caso do Moatize é realizada a céu aberto e, portanto, acarreta

impactos ambientais decorrentes da explotação da jazida.

Em bacias carboníferas, os efeitos ambientais provocados pela atividade mineira

incluem efeitos da contaminação dos solos e dos recursos hídricos, resultantes da disposição

dos rejeitos de minas de carvão (KOPEZINSKI, 2000).

Diante deste cenário, este trabalho tem como principal objetivo identificar caminhos,

chamados de palho canais, de modo que se possa analisar a drenagem intermitente no

escoamento das águas durante a estação chuvosa nas áreas adjacentes a mineração do carvão

de Moatize, Moçambique, em direção aos afluentes e rios principais contíguos, prevendo o

transporte de contaminantes e sedimentos para o rio Zambeze, afetando desse modo o meio

ambiente na região de Moatize.

Para a materialização desse propósito, metodologicamente são utilizados

procedimentos técnicos baseados em modelos digitais de mapas em softwares,

especificamente utilizando-se o MATLAB 7.11.0.

139 139

METODOLOGIA

A área de estudo compreende a bacia carbonífera de Moatize, localizada no distrito do

mesmo nome, conforme Figura 1.

Esta bacia carbonífera pertence à bacia hidrográfica do Rio Zambeze a qual, em

território nacional, se estende no sentido oeste-este do Zumbo (na divisa com a Zâmbia e o

Zimbabwe) até à sua foz no Oceano Índico (Chinde), e da Zâmbia/Malawi ao Zimbabwe, no

sentido norte-sul. A Bacia Hidrográfica do Rio Zambeze ocupa, em Moçambique, uma

extensão de cerca de 137.000 km2 (Vasconcelos, 1995).

Figura 1: Localização da área de estudo

A rede fluvial que drena a Bacia Carbonifera de Moatize é de drenagem dentrítica,

levando suas águas para outros afluentes do Rio Zambeze os quais têm curso NE-SW. Esta

rede de drenagem é caracterizada por rios de curso intermitente (VASCONCELOS, 1948).

Esta bacia apresenta uma vegetação do tipo savana e é caracterizada por ser arbustiva

e rasteira com árvores espalhadas e dos tipos embondeiro e pau-preto (ébano).

Para a extração das feições relacionadas com os palho canais foi usada a composição

falsa-cor com as bandas do infravermelho próximo, infravermelho médio e vermelho,

respectivamente no RGB, com a finalidade de diferenciar estas linhas das demais feições.

140 140

Para isto, foram utilizadas imagens do satélite LANDSAT 8 do mês de agosto de 2014

correspondente à área de interesse.

Com o uso do MATLAB implementou-se um método de segmentação baseada em cor

a partir da imagem em falsa-cor, fazendo-se cortes nos canais R e G, sendo estes relativos ao

verde e ao vermelho no modelo RGB.

A segmentação da imagem consiste na sua subdivisão das partes ou objetos

constituintes, sendo que o grau desta subdivisão depende do problema sendo resolvido. Ou

seja, a segmentação deve parar quando os objetos de interesse na aplicação tiverem sido

isolados (GONZALEZ, 2000, p. 295).

Para a segmentação dos elementos de interesse, os palho canais, foi necessária a

realização de várias tentativas de cortes nos valores de R e G com o intuito de realçá-los

(GONZALEZ, 2000).

A escolha de se utilizar os canais R e G e não o B baseou-se na análise das

distribuições presentes nos histogramas de cada canal da imagem em estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas várias tentativas de cortes nos valores dos canais R e G buscando-se

resultados satisfatórios.

Após vários testes, finalmente conclui-se que se utilizando a segmentação baseada em

G>150 e R<120 obtêm-se o melhor resultado, conforme apresentado na Figura 2.

141 141

Figura 2. (a) Imagem em falsa cor e (b) resultado da segmentação com G>150 e R<120.

(a) (b)

Fonte: Modificado de LANDSAT 8 “http://earthexplorer.usgs.gov/”, acesso

(12/10/2014)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em geral o processo de segmentação de imagens é uma tarefa de difícil

implementação em processamento de imagens digitais.

Neste trabalho foi realizada a segmentação de uma imagem de satélite LANDSAT 8

que representa parte integrante do recorte espacial da área onde estão implantados grandes

projetos de mineração do carvão no distrito de Moatize. Portanto, esta área como todas em

que são desenvolvidas atividades de mineração a céu aberto, estão sujeitas a degradação

ambiental pelas cargas potencialmente poluidoras, geradas pela atividade de exploração do

carvão.

Neste trabalho foi possível, com o uso do processamento de imagens, identificar os

principais canais de possível escoamento de águas pluviais, carregando consigo os poluentes

142 142

adjacentes às mineradoras do carvão em direção aos rios contíguos, acarretando graves

problemas para a fauna, a flora e seres humanos na região de Moatize.

REFERÊNCIAS

GONZALEZ, Rafael C., RICHARD E. Woods. Processamento de imagens digitais, Editora Blucher; São Paulo, 2000.

KOPEZINSKI, Isaac. Mineração x Meio Ambiente: Considerações legais, principais impactos ambientais e seus processos modificadores. Ed. Universidade/UFRGS, Porto Alegre, 2000.

VASCONCELOS, Lopo Antônio Ferreira Trigoso de Sousa e. Contribuição para o conhecimento dos carvões da Bacia Carbonífera de Moatize, província de Tete, república de Moçambique, 1995. Tese (Doutor em Geologia) Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 1995, volume I, 243.

VASCONCELOS, P. Ocorrências minerais na Zambézia ocidental. In: T.C.F. HALL & P, 1948.

143 143

DIFERENTES TÉCNICAS DE SEGMENTAÇÃO DE ÁREA DE CLAREIRA EM

PLANTIO DE EUCALIPTO

ALÓ, Lívia Lanzi¹; THIERSCH, Cláudio Roberto²; MARTINS, Antônio César Germano³ ¹Engenheira Florestal, UFSCar, e-mail: [email protected].

²Professor, PPGPUR, UFSCar. ³Professor, Processamento de Imagens Digitais, UNESP.

RESUMO

Diferentes aplicações de técnicas de imageamento têm sido utilizadas para atualização de

inventários florestais. No entanto, em muitos casos, não se consegue detectar as variações do

plantio presente. O objetivo desse trabalho foi analisar diferentes métodos de segmentação de

área de clareira em plantio de eucalipto. Foram aplicados os métodos: de Otsu, de Law e a

análise de parâmetros estatísticos. Após a segmentação, aplicaram-se filtros morfológicos e

realizou-se a contagem dos pixels da área de clareira nas imagens. Tanto o Método de Law

quanto a análise estatística resultaram em uma boa segmentação. Na contagem dos pixels o

que mais se aproximou do valor de pixels da área de clareira da imagem original foi o Método

de Law e com disco de raio 20 como elemento estruturante. Porém, visualmente, a análise da

média foi a que gerou um formato mais próximo da clareira.

Palavras-chave: Inventário florestal; Processamento de imagens; Segmentação.

INTRODUÇÃO

O inventário florestal é uma ferramenta essencial, responsável por fornecer subsídios

para várias áreas de gestão florestal e visa obter informações qualitativas e quantitativas

através da amostragem da região de interesse a partir da estatística clássica.

Sabe-se que em áreas reflorestadas é possível observar variações significativas ao

longo do plantio devido a vários fatores, dentre eles: solo, topografia ou doenças. Em muitos

casos, não é possível detectar essas variações apenas com o inventário florestal, pois, na

maioria das vezes as amostras não são representativas (MELLO, et al., 2009).

Uma maneira de atualizar o inventário florestal sem a necessidade de se realizar novas

coletas de campo é a utilização de imagens digitais que podem ser obtidas com aviões, balões

ou satélites. Como é comum às empresas florestais adquirirem tais imagens para outras

finalidades, esta abordagem não acarreta novos custos.

144 144

O objetivo desse trabalho foi analisar diferentes métodos de segmentação de área de

clareira em plantio de eucalipto para o inventário florestal a partir de imagem digital.

METODOLOGIA

Aquisição das imagens

A imagem utilizada foi adquirida a partir do Google Earth, datada de 21/06/2009, da

região de São Mateus -ES com coordenadas 18°50'48.92''S e 39°51'19.83''O (Figura 1).

Figura 1. Imagem utilizada para a segmentação da clareira.

Fonte: Google earth (2014).

Processamento

O processamento da imagem foi feito através do software MATLAB®. A imagem foi

transformada para a escala de cinza e diferentes métodos foram utilizados na tentativa de

segmentar a área de clareira na imagem. A seguir são apresentados estes métodos.

Método de Otsu

A limiarização é o particionamento do histograma da imagem em duas classes por um

limiar único, rotulando assim cada pixel como sendo objeto ou fundo, dependendo se o nível

de cinza é maior ou menor que o limiar escolhido (GONZALEZ e WOODS, 2000). Segundo

Reis et al. (2010) o Método de Otsu sugere a minimização da soma das variâncias entre

classes do plano de imagem e de fundo, possibilitando encontrar um limiar global ótimo.

Método de Law

O método consiste na aplicação de uma coleção de máscaras de convolução com o

propósito de computar a energia em uma textura (NUNES e CONCI, 2003). Isto é, possui o

145 145

objetivo de caracterizar a micro textura das imagens utilizando filtros de convolução. Após a

aplicação da máscara, realizou-se a operação de binarização com um dado limiar, para que

seja possível a segmentação de regiões de interesse.

Análise de medidas estatísticas

Nesta abordagem são extraídas informações das imagens através de medidas

estatísticas obtidas em máscaras de tamanho 9x9. Na implementação utilizou-se a função

'statxture' e a 'statmoments' que calcula seis medidas estatísticas de textura: média dos níveis

de cinza, contraste médio, medida de suavidade, terceiro momento, uniformidade e entropia

(GONZALEZ et al., 2004). Com estas medidas, geraram-se imagens e aplicou-se o Método

de Otsu para se segmentar as diferentes áreas.

Filtragem morfológica

Após a segmentação, aplicou-se a filtragem morfológica para agrupar regiões,

utilizando-se as operações de abertura e fechamento com elementos estruturantes de diversos

tamanhos. A operação de abertura tem o objetivo de suavizar o contorno da imagem e

eliminar protusões finas. O fechamento, por sua vez, funde as quebras em golfos finos,

elimina pequenos orifícios e preenche fendas no contorno (GONZALEZ e WOODS, 2000).

Extração de característica

Nas imagens segmentadas foram feitas a contagem dos pixels da área de clareira.

Utilizou-se como parâmetro para comparação a contagem da área de clareira demarcada

manualmente na imagem original limiarizada sem segmentação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segmentação

Nas figuras de 2 a 4 podem-se observar os resultados obtidos em cada etapa dos

processos implementados.

146 146

Figura 2. (A) Segmentação pelo Método de Otsu; (B) Abertura com disco de raio = 2 (C)

Fechamento com disco de raio=2.

Figura 3. (A) Segmentação pelo Método de Law com limiar de 150; (B) Fechamento com

disco de raio = 15; (C) Fechamento com disco de raio = 20.

Figura 4. (A) Segmentação pela média dos valores de cinza; (B) Método de Otsu; (C)

Fechamento com disco de raio = 15; (D) Fechamento com disco de raio = 20.

147 147

O processo utilizando o Método de Otsu com a aplicação de máscaras morfológicas

não resultou em uma boa segmentação (Figura 2). No entanto, com o Método de Law e a

abordagem estatística utilizando as informações extraídas da média, e posterior aplicação de

filtros morfológicos com mesmo elemento estrutural (disco com raio igual a 20) obtiveram os

melhores resultados, como se pode observar nas figuras 3 e 4.

Contagem de pixels

Na tabela 1 é possível verificar os números de pixels segmentados da clareira

utilizando-se as diversas abordagens. Comparando-se com o valor de pixels da clareira na

imagem original o que mais se aproximou foi aquela baseada no Método de Law.

Tabela 1 - Contagem dos pixels segmentados da clareira em cada método utilizado.

Imagem Limiar Disco N° de Pixels da clareira Imagem original ------- ------- 10.018 Método de Otsu Ótimo 2 8.875

Método de Law 150 15 9.221 150 20 9.578

Método estatístico pela média

Ótimo 15 8.639 Ótimo 20 8.801

Mesmo o Método de Law tendo resultado em um número de pixels segmentados mais

próximo do original, visualmente, o uso da média apresentou o melhor formato da clareira.

Deve-se salientar que na imagem original, como pode ser observado na Figura 1,

existe a presença de sombra na parte superior do contorno da clareira, o que acarreta em um

número de pixels segmentados menor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os métodos utilizados conseguiram segmentar a área de interesse. Visualmente, o uso

da média com a aplicação de filtros morfológicos foi o que teve os melhores resultados,

considerando-se o formato da clareira da imagem original. Com relação à contagem de pixels

da área de clareira nas imagens segmentadas a abordagem que mais se aproximou do valor

encontrado na imagem original foi o baseado no Método de Law. A diferença na contagem

entre os métodos pode ser devido à presença de sombra na parte superior do contorno da

clareira.

148 148

REFERÊNCIAS

GONZALEZ, R. C.; WOODS, R. E. Processamento de Imagens Digitais, Blucher, 2000. GONZALEZ, R. C.; WOODS, R. E.; EDDINS, S. L. Digital Image Processing Using

MATLAB, Prentice-Hall, 2004. KRONKA, F.J.M; et al. Monitoramento da vegetação natural e do reflorestamento no

Estado de São Paulo. In: XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, 2005.

MELLO, J. M.; et al.. Método de amostragem e geoestatística para estimativa do número de fuste e volume em plantios de eucalyptus grandis. FLORESTA. Curitiba, v. 39, 2009.

NUNES, E. de O.; CONCI, A. Técnicas de Descrição Regional Baseadas em Textura. In: II Congresso Temático de Aplicações de Dinâmica, São José dos Campos, 2003.

REIS, B.; et al.. Análise de técnicas de limiarização adaptativa para realidade aumentada embarcada. In: Workshop de Realidade Virtual e Aumentada, São Paulo, 2010.

149 149

APLICAÇÃO DE MÉTODOS PARA A SEGMENTAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS

DE USO DE SOLO DE UMA ÁREA CONTRIBUINTE DO RIO IPANEMINHA DE

BAIXO

LEAL, Mariana Santos1; MARTINS, Antonio César Germano2 1Engenharia Florestal, Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), e-mail: [email protected]

2Docente de Processamento de Imagens Digitais, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

RESUMO

A retirada de mata nativa para a conversão do solo em outros usos pode contribuir com os

processos erosivos e de assoreamento dos cursos d‟água, influenciando na qualidade e

quantidade de água, por isso a importância de se conhecer como está sendo usado o solo. O

objetivo desse trabalho é encontrar um método para segmentar e permitir se identificar os

diferentes tipos de uso de solo em uma área contribuinte do rio Ipaneminha de Baixo por meio

do software Matlab. Para isto utilizou-se a segmentação por limiar ótimo de Otsu, filtros

morfológicos e o crescimento de regiões. Os métodos utilizados permitiram segmentar uma

estrada presente na imagem bem como a região de pastagem. No entanto, não se conseguiu

separar a região de citricultura da mata nativa, ficando os dois usos em um único objeto. Para

tal separação, deverão ser aplicados outros métodos aos resultados obtidos.

Palavras-chave: processamento de imagem digital, uso e ocupação do solo.

INTRODUÇÃO

As mudanças no uso e ocupação do solo podem provocar alterações na biodiversidade,

na fertilidade do solo, na resiliência dos sistemas biológicos e no ciclo hidrológico. O

crescimento urbano desordenado, sem planejamento, acarreta em poluição e degradação

ambiental (RIZOTTO et al., 2009).

Principalmente a retirada de florestas para a conversão do uso do solo em atividades

agrícolas e instalação de loteamentos pode contribuir com os processos erosivos e de

assoreamento dos cursos d‟água, por isso a importância da preservação da vegetação nativa ao

redor da rede hidrológica e das nascentes, como previsto na Lei no. 12.651, as chamadas

Áreas de Preservação Permanente.

A partir da identificação de cada uso de solo em diferentes épocas é possível verificar

as mudanças ocorridas na região.

150 150

O objetivo desse trabalho é encontrar um método para segmentar e assim identificar os

diferentes tipos de uso de solo na área de estudo por meio de uma imagem digital do ano de

2002, através do processamento de imagens, que permite se extrair mais facilmente as

informações nela presentes (ALBUQUERQUE; ALBUQUERQUE, 2014).

METODOLOGIA

A região de estudo abrange uma área contribuinte do rio Ipaneminha de Baixo,

afluente do rio Ipanema, onde estão presentes quatro nascentes no interior de um fragmento

florestal. Ela se encontra entre as coordenadas 23º34‟S e 47º30‟W, no município de Sorocaba

no bairro Itanguá, próximo a Rodovia João Leme de Barros. A imagem utilizada foi obtida no

Google Earth, ano de 2002.

O processo de segmentação consistiu em dividir a imagem em várias partes, neste caso

tipo de uso do solo utilizando-se o software MATLAB.

Primeiramente a imagem colorida (rgb) foi convertida para uma imagem em escala de

cinza como a função rgb2gray. As demais funções utilizadas no processamento da imagem

foram as seguintes: imextendedmin, graythresh, im2bw, imclose, imerode, regiongrowing.

A função imextendedmin, implementa um método de busca de valores mínimos de

intensidade em pixels vizinhos (MATHWORKS, 2014).

A função graythresh, implementa o método de Otsu (OTSU, 1979), encontrando

automaticamente um limiar ótimo, que ao ser aplicado na função im2bw possibilitou a

binarização da imagem.

A suavização dos contornos do objeto foi obtida pela função imclose, enquanto a

imerode, que implementam os filtros morfológicos de fechamento e erosão (GONZALEZ et

al, 2004).

Outra função que eliminou os objetos indesejados foi a regiongrowing, que permite o

crescimento das regiões a partir de um pixel semente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A imagem colorida e em tons de cinza da região de estudo pode ser observada na Fig.

1.

151 151

Figura 1. (a) Região de estudo colorida e (b) em tons de cinza

Fonte: a) Google Earth, b) elaborada pelo autor (2014) a partir da imagem (a)

A segmentação da estrada (Fig. 2) foi obtida a partir da análise da imagem original em

tons de cinza com imextendedmin (limiar de 130), imclose com elemento estruturante „disk‟

de raio 4 e regiongrowing com pixel semente (495, 289).

Figura 2. Sequência das imagens obtidas para a segmentação da estrada

Fonte: Elaborada pela autora (2014)

As imagens que compreendem a região de mata nativa e citricultura e de pastagem

podem ser observadas na Fig. 3 juntamente com as demais imagens obtidas durante o

processo de segmentação, pela aplicação da função graythresh, im2bw, imclose com elemento

estruturante „square‟ de dimensão 7 e posteriormente a função imerode com elemento

estruturante „square‟ de dimensão 5. A partir desses processos foi possível obter um objeto

contendo a área de vegetação nativa e citricultura e outro com a pastagem e estrada. Pôde-se

separar a pastagem da estrada, utilizando o resultado apresentado na Fig. 2 como uma

máscara.

regiongrowing imextendedmin imclose

Estrada

a b

152 152

Figura 3 - Sequência das imagens obtidas para a segmentação da pastagem e da mata nativa e

citricultura

Fonte: Elaborada pela autora (2014)

Infelizmente, somente com o emprego dessas funções não foi possível separar as

regiões de mata nativa e citricultura.

Também buscou-se segmentar as texturas presentes utilizando-se máscaras de Law e

de medidas estatísticas porém não obteve-se resultados satisfatórios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para a completa segmentação dos objetos desejados seria necessário obter a região de

estrada, mata nativa, citricultura e pastagem.

Os resultados encontrados mostraram que foi possível segmentar a estrada e a região

de pastagem, porém não se conseguiu separar a região de citricultura da mata nativa devido às

respostas espectrais serem muito semelhantes, o que demanda a aplicação de outras funções

para a separação.

Posteriormente, esses resultados poderão ser comparados aos resultados de uma

imagem atual, permitindo-se assim verificar as mudanças no uso do solo.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, M.P; ALBUQUERQUE, M.P. Processamento de imagens: Métodos e Análises. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Disponível em:< http://www.cbpf.br/cat/pdsi/pdf/ProcessamentoImagens.PDF>. Acesso em: 11 nov. 2014.

graythresh im2bw

imerode imclose

Imagem final

Mata nativa e citricultura

Pastagem

153 153

MATHWORKS. Documentation. Disponível em: <http://www.mathworks.com/help/images/ref/imextendedmin.html>. Acesso em: 12 nov. 2014.

GONZALEZ, R.C.; WOODS, R.E.; EDDINS, L.S. Digital Image Processing Using Matlab. 1 ed. Prentice Hall, 2004.

OTSU, N. A Threshold Selection Method from Gray-level Histograms. IEEE Transaction on Systems, Man and Cybernetics, vol. 9, n.1, p. 62-66, 1979. Disponível em: <http:ieeexplore.ieee.org/stamp/stamp.jsp?arnumber=04310076>. Acesso em: 10 nov. 2014.

RIZOTTO, D., et al. Uso e ocupação do solo na área de preservação permanente da microbacia do rio tigre município de Verê – PR. Anais do XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Campo Grande, MS, Brasil, 22 a 26 de novembro de 2009.

154 154

PARÂMETROS PARA BUSCA DE REGIÕES EM IMAGENS AMBIENTAIS

PRADO, Pierre Ferreira do 1; DUARTE, Iolanda Cristina Silveira2; MARTINS, Antonio Cesar Germano3

1 Engenheiro Ambiental Universidade Estadual Paulista, (UNESP), e-mail: [email protected] 2 Bióloga, (Universidade Federal de São Carlos(UFSCAR)

3 Professor, Processamento digital de imagens, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

RESUMO

A crescente quantidade de imagens aplicadas nas Ciências Ambientais gera a necessidade do

aprimoramento de mecanismos de busca em banco de dados seja utilizando palavras

associadas ou o próprio conteúdo digital que representam propriedades físicas ou situações

de estudo. Este artigo explora o uso de vetores de características que permitam a busca de

regiões em imagens de acordo com o conteúdo presente. Para isto, utilizou-se medidas do

espaço de cores e da estatística da textura como componentes de um vetor para se caracterizar

cada região. Os resultados obtidos na análise de regiões de uma imagem indicam que a forma

e as propriedades empregadas possuem potencial para serem usadas na recuperação em base

de imagens em ciências ambientais a partir de um classificador.

Palavras-chave: recuperação de informações; conteúdo; clusterização; banco de imagens.

INTRODUÇÃO

A recuperação de imagens baseadas em propriedades de conteúdo é considerada uma

opção em relação a necessidade de anotação humana em um contexto de uso crescente

(MURALA; JONATHAN WU, 2014). Um exemplo nas ciências ambientais é o uso de

imagens em estudos de percepção ambiental (MUCELIN; BELINI, 2007).

Um passo de grande relevância neste processo é a escolha adequada de quais

propriedades do conteúdo podem subsidiar a discriminação das divers regiões em imagens de

uma base de dados: a chamada feature extraction (MURALA; JONATHAN WU, 2014). A

escolha adequada destes parâmetros implica em flexibilidade da solução quanto ao universo

das imagens passíveis de serem organizadas e potencialmente também na redução de custos

computacionais e aumento de taxas de acerto. Este artigo trata do uso de medidas estatísticas

para se caracterizar texturas e da informação do espaço HSV de cores (matiz, saturação e

valor) e objetivou produzir conhecimentos sobre as necessidades de informações no que tange

a recuperação de regiões em uma imagem típica de um estudo em ciências ambientais.

155 155

METODOLOGIA

A imagem utilizada foi proveniente do site FLICKR sob licença Creative Commons

(https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/), sendo obtidas seis subimagens de regiões

de interesse ambiental que foram denominadas por: espuma, espuma2, pet, pet2, esgoto,

esgoto2 A imagem original e as regiões onde foram extraídas as subimagens são apresentadas

na Figura 1. A Figura. 2 apresenta as subimagens que foram analisadas a partir da criação de

um código e do uso de funções do MATLAB (MATHWORKS).

A metodologia de caracterização de cada região baseou-se na análise de máscaras de

5x5 que foram passadas sobre cada imagem da Figura 2. Para cada posição da máscara na

imagem, foram calculados os seguintes parâmetros estatísticos da textura presente: nível

médio de cinza, contraste médio, medida de suavidade da textura, 3º momento,medida de

uniformidade e entropia (GONZALEZ; WOODS, 2004); e de cor através do cálculo dos

valores médios de: matiz, saturação e valor. Em seguida, considerando-se o espaço formado

pelas medidas estatísticas, calculou-se a distância de cada ponto formado por (nível médio de

cinza, contraste médio, medida de suavidade da textura, 3º momento,medida de uniformidade,

entropia) com a origem do sistema, obtendo-se um valor dTex para cada pixel da subimagem.

Realizou-se a mesma operação para o espaço de cor, obtendo-se um valor dCor também para

cada pixel da subimagem.Por fim, criou-se um gráfico de dispersão dos valores dTex e dCor.

156 156

Figura 1. Imagem original e locais de onde foram retiradas as subimagens.

Fonte: https://www.flickr.com/photos/43271721@N07/ (acessado em 07/11/2014).

Figura 2. Subimagens obtidas a partir da Figura2. (a) espuma (b)espuma2 (c) pet (d) pet2 (e)

esgoto (f) esgoto2.

(a) (b) (c) (d) (e) (f)

Fonte: produzidas pelos autores a partir da Figura1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O gráfico de dispersão obtido para as subimagens em Figura 2 é apresentado na Figura

3, onde pode-se notar que as subimagens que contem espuma, garrafa pet e esgoto estão em

regiões distintas, embora haja alguma superposição no caso da espuma e da pet.

157 157

Figura 3. Diagrama de dispersão relativos as subimagens na Figura 2 obtidas a partir da

Figura1, onde os pontos em azul são referentes a imagem em Figura 2a, magenta a Figura 2b,

vermelho a Figura 2c, amarelo a Figura 2d, verde a Figura 2e e preto a Figura 2f.

Fonte: Produzida pelos autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os resultados obtidos pode-se notar que a abordagem aplicada tem

potencial para caracterizar regiões distintas em imagens de interesse ambiental.

REFERÊNCIAS

MUCELIN, Carlos Alberto; BELLINI, Luiza Marta. A percepção ambiental urbana com

uso de imagens fotográficas: um instrumento semiótico denominado Jogo da

Percepção. Londrina: Discursos Fotográficos, v.3, p. 221-248, 2007.

MURALA, Subrahmanyan; JONATHAN WU, Q.M. Expert content-based image retrieval

system using robust local patterns. Journal of Visual Communication and Imagens

Representation, Elsevier, v. 25, p. 1324- 1334, 2014.

158 158

GONZALEZ, Rafael; WOODS, Richards. Digital Image Processing. 3rd Edition. Prentice

Hall, 2004.

Disciplina

Recuperação de Áreas Degradadas

Responsáveis

Prof. Dr. Admilson Írio Ribeiro

Prof. Dr. Gerson Araújo de Medeiros

159 159

ESTRATIFICAÇÃO DE AMBIENTES NA GESTÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

MARQUES, Bruno Vicente1; PECHE FILHO, Afonso2; FENGLER, Felipe Hashimoto3; PAES, Michel Xocaira4; MEDEIROS, Gerson Araujo5; RIBEIRO, Admilson Irio6

1 Mestrando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais, e-mail: [email protected] 2, 3 e 4 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais

5 e 6 Professor, doutor, UNESP Sorocaba - Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais

RESUMO

As áreas degradadas se apresentam de diversas formas, é possível encontrar situações

distintas em uma mesma área, portanto faz-se necessário estratifica-las para que haja um

maior entendimento da sua complexidade ambiental. O presente trabalho teve como objetivo

estratificar uma área degrada por atividade de mineração localizada no CEA/IAC no

município de Jundiaí, utilizando de uma imagem panorâmica do local e compartimento a

paisagem de acordo com sua posição no terreno, cobertura de solo e diversidade vegetal,

quantificando subjetivamente entre alta, média e baixa o nível de degradação. Foi evidenciado

que 40,3% da área apresenta degradação de alta complexidade, 36,1% com degradação de

média complexidade e 23,6% com baixa complexidade. A metodologia se mostrou eficaz

como análise preliminar de áreas e pode gerar subsídios para um plano de gestão e

recuperação de áreas degradadas.

Palavras-chave: Estratificação, Complexidade, Gestão.

INTRODUÇÃO

As áreas degradadas se apresentam de diversas formas de acordo com o histórico de

uso e ocupação destes locais, portanto uma área degrada por atividades de mineração se

comporta de maneira diferente, por exemplo, de um local que sofreu degradação por atividade

agropecuária.

Ferreira et al. (2007), afirma que por definição ecossistema degradado é aquele que

após distúrbios teve eliminados, com a vegetação, os seus meios de regeneração biótica. Seu

retorno ao estado anterior pode não ocorrer ou ser bastante lento. Nesse caso, a ação antrópica

é necessária para a sua regeneração em curto prazo.

O termo recuperação engloba as atividades que permitem o desenvolvimento da

vegetação ou de qualquer outra utilização racional do local alterado. Na maioria das vezes, as

atividades de recuperação visam recolocar uma cobertura vegetal na área explorada, e essas

atividades incluem operações que vão desde a estética paisagística, até a revegetação

160 160

completa da área, procurando manter as espécies típicas da região. Naturalmente essa

definição não preenche todas as circunstancias que envolvem a recuperação ambiental de uma

área, principalmente sob o aspecto ecológico. Longo, 2010.

Na elaboração de um plano eficiente para recuperação de áreas degradas é necessário

analisar e descrever a degradação ocorrente e seus efeitos na paisagem. Uma forma prática é

utilizar ferramentas que auxiliem na estratificação dos diferentes ambientes da área.

O trabalho tem como objetivo aplicar uma metodologia de estratificação em área de

mineração, com o intuito de identificar diferentes ambientes, com estratégias para coletas de

dados, análise e caracterização de elementos que possam construir uma boa base para o

desenvolvimento de um plano de gestão das atividades de recuperação de forma levar em

consideração as diferentes formas de apresentação da degradação na área em estudo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em uma área degradada por mineração de areia localizada no

Instituto Agronômico de Campinas em Jundiaí que possui 2 hectares. Esta área no passado foi

utilizada como área de empréstimo para a prefeitura do município e hoje essa área serve como

referência para estudos em áreas degradas.

Para realizar o estudo utilizou-se uma imagem panorâmica que contempla com

detalhes a área, assim de acordo com a observação dos diferentes comportamentos da área na

paisagem foi possível utilizar a posição topográfica, cobertura e diversificação vegetal como

critérios de estratificação.

Foram utilizados atributos subjetivos de caracterização da intensidade alta, média e

baixa para qualificar a degradação da área e sua complexidade, conforme a situação

observada, os estratos que receberam mais conceitos baixos apresentam situações mais

complexas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise fotográfica permitiu estratificar a área em 24 compartimentos distintos

(Figura 1), foi possível observar que os padrões de cobertura de solo por vegetação se

comportam de forma diferente entre as zonas eluviais, coluviais e aluviais.

161 161

Figura 1. Estratificação de ambientes

A estratificação dos ambientes destacados na imagem possibilitou atribuir valores de

degradação e uma análise quanto ao nível de complexidade, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição dos valores subjetivos de degradação ambiental.

ESTRATO POSIÇÃO TOPOGRÁFICA

COBERTURA DIVERSIFICAÇÃO

1 Alta Alta Média 2 Alta Baixa Baixa 3 Alta Média Baixa 4 Média Média Média 5 Alta Baixa Baixa 6 Alta Alta Alta 7 Média Média Média 8 Baixa Média Baixa 9 Média Alta Média 10 Baixa Baixa Baixa 11 Baixa Alta Baixa 12 Baixa Baixa Baixa 13 Baixa Média Baixa 14 Baixa Baixa Baixa 15 Baixa Média Baixa 16 Baixa Baixa Baixa 17 Média Média Baixa 18 Média Alta Alta 19 Alta Alta Média 20 Alta Média Baixa 21 Média Média Média 22 Média Média Baixa 23 Média Alta Média 24 Baixa Alta Média

162 162

Esta análise permitiu constatar que 40,3% da área apresenta degradação de alta

complexidade, 36,1% com degradação de média complexidade e 23,6% com baixa

complexidade (Figura 2).

Figura 2. Complexidade de degradação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, com base na metodologia empregada e resultados obtidos conclui-se que:

[1] De acordo com a posição topográfica, cobertura e diversidade vegetal a

metodologia permitiu estratificar a área em 24 estratos, representando claramente que uma

área degrada possui comportamentos diferentes em uma mesma área.

[2] É possível afirmar que 40,3% da área apresenta degradação de alta complexidade;

36,1% com degradação de média complexidade e 23,6% com baixa complexidade, o que

permite definir diferentes estratégias para a recuperação ambiental desta área.

[3] A técnica de estratificação de ambientes apresentada neste estudo pode servir

como ferramenta preliminar para a construção de um plano de gestão para recuperação de

áreas degradas com detalhes e diretrizes específicas.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, W, C; BOTELLO S. A.; DAVIDE, A. C.; FARIA, J. M. R. Avaliação do crescimento do estrato arbóreo de área degradada revegetada á margem do Rio

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

Baixa Média Alta

(%)

163 163

Grande, na usina hidroelétrica de Camargos, MG. Viçosa, MG. R. Árvore. v.31, n.1, p.117-185, 2007.

LONGO, R. M. Relatório IBAMA, Documento não publicado.

164 164

ANÁLISE DAS RELAÇÕES BENÉFICAS ENTRE PLANTAS

DE ÁREAS DEGRADADAS.

BIAGOLINI, Carlos Humberto1; CARLOS, Francisco2; SOLERA, Maria Lucia3; MOTA, Maurício Tavares4, RIBEIRO, Admilson Írio5; MEDEIROS, Gerson Araújo de6; PECHE FILHO, Afonso7.

1 Biólogo, doutorando em C. Ambientais, UNESP/Sorocaba - [email protected] 2 Químico, doutorando em Ciências Ambientais, UNESP/Sorocaba 3 Bióloga, doutorando em Ciências Ambientais, UNESP/Sorocaba 4 Biólogo, doutorando em Ciências Ambientais, UNESP/Sorocaba

5Professor das Disciplinas RAD e Gestão Ambiental (UNESP) 7 Pesquisador e Colaborador das Disciplinas RAD e Gestão Ambiental (IAC)

RESUMO

O tipo de vegetação de um ambiente está associado com características de solo, umidade,

temperatura e iluminação; além de outros fatores naturais que interferem no desenvolvimento

e reprodução vegetal. Todos os organismos vegetais se relacionam direta ou indiretamente,

formando uma cadeia, onde o objetivo é permanecer íntegro e criar condições de reprodução

no local. Esta relação entre vegetais com características diferentes de cada espécie,

beneficiam o desenvolvimento de todos. Só o entendimento desta relação entre as plantas,

permite a recuperação de áreas degradadas de forma eficiente. O estudo em questão avaliou

espécies vegetais de uma área de exploração mineral ativa por 10 anos, fato que levou o solo à

um alto nível de degradação. Os resultados desta análise indicam diversos caminhos que

poderão ser utilizados na recuperação desta e de outras áreas semelhantes.

Palavras-Chave: fitossociologia, cobertura vegetal; Jundiaí; degradação de solo.

INTRODUÇÃO

Historicamente a área, objeto de estudo, passou por processo de degradação com

atividades de mineração na extração de camadas superficiais de solos por um período superior

a dez (10) anos. No contexto de recuperação de áreas degradadas, o principal objetivo dos

projetos de recuperação consiste em reproduzir o padrão natural das comunidades vegetais, o

que aumenta a probabilidade de sucesso na recuperação ambiental, além de contribuir para

reduzir os custos dos projetos de recuperação (ARAÚJO et al., 2006).

As pesquisas no Brasil, quanto à avaliação de sucesso nos reflorestamentos e

eficiência de técnicas empregadas para recuperar ambientes degradados, ainda são incipientes

(FERREIRA, et al., 2010). As áreas mineradas, frequentemente situadas em locais de

importância para a preservação da biodiversidade e dos recursos hídricos, não oferecem

165 165

condições para propiciar regeneração natural, devendo ser prospectadas técnicas adequadas

para recuperar o ambiente degradado (MECHI; SANCHES, 2010).

Neste contexto, o estudo da caracterização dos meios físicos e bióticas é essencial para

indicar as práticas mais adequadas na recuperação da área degradada, que, segundo Neri;

Sánchez (2012), DISCUSSÃO sobre boas práticas da etapa de recuperação de áreas

mineradas, incluindo a componente vegetal em termos de biodiversidade, vem ganhando

relevância no setor mineral.

O objetivo deste trabalho foi caracterizar a cobertura vegetal da área de estudo,

fornecendo informações úteis sobre a vegetação atualmente dominante do local degradado e

como as espécies vegetais se relacionam, utilizando essas informações a fim de obter sucesso

num plano de recuperação de área.

MÉTODOLOGIA

Este trabalho foi realizado na unidade Centro de Engenharia e Automação do Instituto

Agronômico de Campinas – IAC, localizado na Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto,

km 65, Jundiaí, SP. As espécies predominantes presentes no local foram fotografadas e

classificadas por denominação científica e porte.

As observações ocorreram a partir de trabalho de campo que permitiram a

identificação de principais espécies existentes na área. No geral, a cobertura vegetal está

composta por espécies de hábito herbáceo/arbustivo, adaptada ao solo seco e pedregoso

existente na área. O declive do terreno torna-se um agravante na permanência e absorção de

água em períodos chuvosos, dificultando a penetração de micronutrientes que poderiam

oferecer ao solo condições de fixar vegetação de forma satisfatória.

Além das observações in situ, foram também avaliadas posteriormente imagens

fotográficas, realizadas no local, no período de outubro/novembro de 2014, período de

profunda estiagem na região. Buscou-se nas imagens fatores relacionados com o

favorecimento ao desenvolvimento dos vegetais presentes no local.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os vegetais se relacionam uns com outros de diferentes formas, muitas vezes criando

condições que favorecem o desenvolvimento de plantas que estão em fase inicial de

166 166

formação. As principais ações observadas entre os vegetais (Figura 1), que favorecem a flora

local são:

[1] Retenção de sementes em restos vegetais. As sementes ficam presas entre galhos e

folhas, permitindo sua germinação e crescimento.

[2] Sombra promovida por galhos de arbustos de baixo crescimento vertical, com

maior desenvolvimento horizontal. Reduzindo a temperatura sobre novas sementes

[3] Crescimento de diversas plantas aglomeradas, garantindo manutenção da

umidade, retenção de água, proteção de novas sementes em desenvolvimento, etc.

[4] Raizes formando touceiras resistentes que reduzem a velocidade de descida da

água no terreno em declive, favorecendo a penetração de umidade em camadas inferiores do

solo.

[5] Os arbustos mais altos permitem o pouso de aves; mesmo que de passagem, que

por sua vez, através das fezes, disseminam sementes, ajudando no processo de reposição

vegetal no local.

[6] A presença de fungos indica decomposição de matéria orgânica, beneficiando o

enriquecimento de nutrientes do solo.

[7] A distribuição de plantas de forma aleatória existentes na área, provoca divisão do

fluxo de água pluvial na descida; ao encontrar no caminho a base de plantas, promove melhor

irrigação da área.

[8] Ruptura do solo causada por desenvolvimento das raízes, facilitando a penetração

de micro nutriente no solo, beneficiando plantas já estabelecidas e outras em fase inicial de

crescimento.

167 167

Figura 1: Ocorrências de beneficiamento aos vegetais da área.

As espécies predominantes foram identificadas e classificadas, e os dados constam no

Quadro 1.

168 168

Quadro 1. Espécies predominantes na área de estudo

Nome popular Nome científico Porte Família Aristida pallens Capim-barba-de-bode Pequeno Poaceae

Andropogon bicornis Capim rabo de burro Pequeno Poaceae Baccharis dracunculifolia Alecrim-do-campo Médio Asteraceae Pennisetum purpureum Capim napier pequeno Poaceae Achyrocline satureioides Macela do campo Pequeno Asteraceae Cecropia pachystachya Embaúba Médio Urticaceae

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade do estudo da relação entre plantas presentes em áreas degradadas

mostra-se importante pelo fato de que o mesmo poderá nortear na escolha das espécies mais

adequadas para a recomposição vegetal, bem como lançar mão do uso de boas práticas para

conservação de solo a partir da elaboração de um Plano de Recuperação de Áreas.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, F. S. et al. Estrutura da vegetação arbustivo-arbórea colonizadora de uma área degradada por mineração de caulim, em Brás Pires, MG. Revista Árvore, v.30, n.1, p.107-116, 2006.

FERREIRA, W. C. et al. Regeneração natural como indicador de recuperação de área degradada a jusante da usina hidrelétrica de Camargo, MG. Revista Árvore, Viçosa, v. 34, n. 4. p. 651-660, 2010

INSTITUTO FLORESTAL. Mapa da vegetação nativa do município de Jundiaí. 2001 MECHI, A.; SANCHES, D. L. Impactos ambientais da mineração no Estado de São Paulo.

Estudos Avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 209-220, 2010. MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and methods of vegetation ecology.

New York: Willey & Sons, 1974. 547p. NERI, A. C.; SÁNCHEZ, L. E. Guia de boas práticas de recuperação ambiental em

pedreiras e minas de calcário. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de

Engenharia e Ambiental, 2012.

169 169

ESTRATIFICAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS POR MEIO DO ESTUDO DE

ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO

CORREA, Cristina Souza1, CARVALHO, Marcela Merides2, FENGLER, Felipe Hashimoto3; PASETTO, Sabrina4; PARINI, Marcela5; NOGUEIRA, Leda6; PECHE FILHO, Afonso 7- MEDEIROS Gerson Araújo8;

RIBEIRO, Admilson Írio8. 1 Bióloga, PUC-SP – Sorocaba. Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP Sorocaba.

2 Bióloga, UNIVAP – SJCampos. Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP Sorocaba. 3 Doutorando em Ciências Ambientais UNESP- Sorocaba

4Gestora Ambiental, URUTAÍ- Goiás. Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP 5 Química Ambiental, UNESP- São José do Rio Preto. Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP

6 Engenheira de Pesca, UFAM- Manaus. Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP 7 Doutorando em Ciências Ambientais UNESP-Sorocaba e Colaborador da Disciplina

8 Professor, Recuperação de áreas degradadas e Gestão Ambiental, Unesp Sorocaba – Campus Experimenta

RESUMO

Áreas degradadas são aquelas que sofrem alguma perturbação em seu meio, independente se

sua origem for biológica, química ou física. Para sua recuperação o fator mais importante a

ser investigado, monitorado e remediado é o solo. As ações de recuperação no solo se

diferenciam conforme seu estado de agregação, textura, teor de água, matéria orgânica e

possíveis graus de alteração. O trabalho teve como objetivo avaliar as condições do solo em

uma área degradada, no CEA-IAC (Centro de Engenharia e Automação – Instituto

Agronômico de Campinas) na cidade de Jundiaí, avaliando três estratos distintos: o estrato

eluvionar, o estrato coluvionar e o estrato aluvionar quanto a parâmetros físicos do solo. Os

resultados mostraram que os estratos eluvionar e coluvionar apresentam características físicas

do solo similares. Com base na metodologia empregada e nos resultados obtidos concluiu-se

que do ponto de vista físico do solo a área degradada apresenta duas situações distintas, que

carecem de ações diferenciadas para sua recuperação.

INTRODUÇÃO

Segundo EMBRAPA (1997) áreas degradadas são locais que sofreram alguma

perturbação em seu meio, independente se sua origem for biológica, química ou física.

Projetos de rodovias, construção de hidroelétricas, mineração, além de outros onde

ocorre total remoção da camada vegetal e do solo para exploração do subsolo, dão origem às

chamadas áreas de empréstimo (ALVES & SOUZA, 2008).

O solo constitui um importante aspecto do processo de recuperação de áreas

degradadas. Os solos se diferenciam em seu estado de agregação, textura, teor de água,

170 170

matéria orgânica, carecendo de diferentes estratégias de recuperação (LLANILLO et al.,

2006).

Nesse sentido, o trabalho teve como objetivo avaliar as condições do solo em uma

área degradada, no CEA-IAC (Centro de Engenharia e Automação – Instituto Agronômico de

Campinas) na cidade de Jundiaí avaliando três estratos distintos: o estrato eluvionar, o estrato

coluvionar e o estrato aluvionar quanto a parâmetros físicos do solo, de modo a caracterizar os

estratos degradados existentes no local.

MATERIAL E MÉTODOS

Descrição da área:

O experimento foi realizado dentro do Centro de Engenharia e Automação (CEA-

IAC), numa área de estudo de 2 hectares, a qual encontra-se nos domínios da bacia do Rio

Jundiaí, na cidade de Jundiaí- SP, Latitude 23º11'20" S e longitude 46º53'01" W (Figura 1).

Figura 1. Vista aérea da área e vista frontal da área de estudo.

A coleta de amostras foi realizada utilizando anéis volumétricos metálicos de

aproximadamente 100 centímetros cúbicos de volume interno, através da amostragem

composta de cada estrato (Eluvionar, Coluvionar e Aluvionar). Para a compreensão dos dados

utilizou a análise de variância com o teste de comparação de médias teste de Tukey α = 5%.

Análise de agregados do solo DMG (diâmetro médio geométrico)

O DMG foi obtido por meio da metodologia desenvolvida pela Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 1997) sem a realização de repetições. As aberturas das

peneiras foram de 6.5mm 4,75mm, 2,36mm, 1,18mm, 0.6mm e 0,3 mm.

171 171

O cálculo do para a determinação do diâmetro médio ponderado e densidade media

granulométrica (DMG) foi realizado por meio da Equação 1.

Onde Wi: proporção de cada classe em relação ao total e Xi: diâmetro médio das

classes (mm) e Wp: peso dos agregados de cada classe (g).

Densidade total do solo

A densidade do solo foi obtida por meio da Equação 2: DT=MA/VA

Onde: DT: corresponde a densidade Total; MA: corresponde a massa do solo antes da

secagem; VA: volume do solo.

Densidade da parte sólida do solo

O teor de umidade do solo ou (h) é encontrado pela diferença entre massa do solo

antes da secagem (MA) e massa do solo depois da secagem (MD), os valores se dão a partir das

equações: Equação 3 h=(MA-MD)/MD

Equação 4 DS=DT/(1+h) onde Ds:densidade da parte sólida e Dt:densidade total.

Porosidade

Ela pode ser encontrada através da equação de CAPUTO (1988), utilizando apenas o

índice de vazios através da Equação 5: η=ε/(1=ε) onde η:é a porosidade e ε: o índice de vazios

que é obtido através da fórmula: ε = (DG/DS) – 1 o valor do DG = 2,65g/cm3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analise do DMG

Na Tabela 1, podemos avaliar os resultados da analise do DMG nos diferentes

extratos.

172 172

Tabela 1. Valores de DMG nos estratos Eluvionar, Coluvionar e Aluvionar.

Estratos DMG Eluvionar 1,37

Coluvionar 1,32 Aluvionar 1,26

A avaliação do diâmetro médio geométrico (DMG) dos solos foi capaz de identificar

níveis de degradação dos estratos dentro da área. O estrato eluvionar apresentou uma melhor

condição de agregação, seguido do estrato coluvionar. O estrato aluvionar apresentou valor

menor, sendo apresentado com menor agregação.

No entanto todos os estratos da área encontram-se com valores abaixo dos propostos

por (TISDALL & OADES, 1982) para solos agrícolas.

Os baixos valores observados, podem também significar a falta de atividade

biológica, a qual segundo Castro Filho & Logan (1991) são importantes como mecanismos de

formação de agregados.

Os parâmetros físicos do solo são apresentados na Tabela 2. Segundo Torres &

Saraiva (1999) valores de densidade do solo entre de 1,1 e 1,45 mg/m³ indicam para solos

argilosos enquanto 1,25 e 1,70 mg m3 solos arenosos. Os resultados mostram um indicativo

de composição arenosa no estrato Aluvionar, explicado pelo carreamento das partículas dos

estratos superiores.

A porosidade dos estratos apresentou-se próxima a 60% no estratos superiores e

inferior 40% no estrato aluvionar.

Tabela 2. Resultados de densidade da parte solida (DS) e porosidade (η) nos os estratos

Eluvionar. Coluvionar e Aluvionar.

Estrato Densidade do solo (mg/m³) Porosidade (%) Eluvionar (E) 1,10 59 Coluvionar (C) 1,12 58 Aluvionar (A) 1,70 36

Através da analise de variância (Tabela 3) identificaram-se dois estratos distintos na

área degradada.

173 173

Tabela 3. Resultados de Análise de variância (ANOVA).

Tratamento Médias da densidade do solo

Médias da Porosidade (%)

Eluvionar 1,10 b 58,78 a Coluvionar 1,12 b 58,00a Aluvionar 1,70a 36,00 b

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na metodologia empregada e nos resultados obtidos conclui-se que:

[1] Os parâmetros físicos permitiram caracterizar os estratos degradados existentes na

área;

[2] Os Diferentes estratos apresentam características que demandam de diferentes

técnicas de recuperação;

[3] O processo de estratificação carece de aprimoramento metodológico e

incorporação de outras variáveis de outros sistemas (químico, biológico e antrópico).

REFERENCIAS

ALVES, M. C.; SOUZA, Z. M. Recuperação de área degradada por construção de hidroelétrica com adubação verde e corretiva. Revista Brasileira de Ciência do solo, v.32, p.2505-2516, 2008.

CASTRO FILHO, C. & LOGAN, T.J. Liming effects on the stability and erodibility of some Brazilian Oxisols. Soil Sci. Soc. Am. J., 55:1407-1413, 1991.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas Aplicações - Fundamentos. Rio de janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora. Vol.1, 6a Ed. 1988.

EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro, 1997.

LLANILLO, R. F.; RICHART, A.; FILHO, J. T.; GUIMARÃES, M. F.; FERREIRA, R. R. M. Evolução de propriedades físicas do solo em função dos sistemas de manejo em culturas anuais. Semina: Ciências Agrárias. Londrina, v. 27, n. 2, p. 205-220, 2006.

TISDALL, J.M. & OADES, J.M. Organic matter and waterstable aggregates in soil. J. Soil Sci., 33:141-163, 1982

TORRES, E.; SARAIVA, O. F. Camadas de impedimento do solo em sistemas agrícolas com a soja. Londrina: Embrapa Soja, 1999. 58p. Circular Técnica, 23.

174 174

CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA SATURADA NOS DIFERENTES ESTRATOS DE

UMA ÁREA DEGRADADA PELA MINERAÇÃO NO CENTRO DE ENGENHARIA E

AUTOMAÇÃO (CEA-IAC), JUNDIAÍ-SP

FENGLER, Felipe Hashimoto1; COLA, Diego2; PIACITELLI, Leni Oalmira2; NOGUEIRA, Leda Ribeiro N.2; CORREA, Cristina2; SOLERA, Maria Lúcia3; PASSETO, Sabrina2; PECHE FILHO, Afonso3; MEDEIROS,

Gerson Araujo4; RIBEIRO, Admilson Irio4 1 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais, e-mail: [email protected]

2 Mestrando(a), UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais 3 Doutorando, UNESP Sorocaba – Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais

4 Professor das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA

RESUMO

Diversas podem ser as alterações que ocorrem em áreas degradadas. Danos no sistema

vegetal, fauna nativa, perda da camada fértil do solo ou alteração qualidade do regime hídrico,

constituem alguns dos componentes ambientais que podem ser afetados. Nesse contexto, o

trabalho buscou por meio da avaliação da condutividade hidráulica saturada caracterizar

diferentes estratos de uma área degradada localizada no Centro de Engenharia e Automação

(CEA-IAC), utilizando o permeametro de Ghelph. Foi realizada uma estratificação inicial do

local degradado baseada nas condições geomorfológicas do local. A partir dos estratos

estabelecidos realizou-se a análise da densidade do solo, porosidade total e condutividade

hidráulica saturada. Os resultados mostraram que apesar da obtenção de valores de porosidade

total superior a 50% em alguns dos estratos degradados a condutividade hidráulica saturada

apresentou valores baixos. O valor de condutividade hidráulica do estrato mais elevado

(Eluvionar) não apresentou relação com os outros índices físicos do solo conforme o

observado na literatura. Com base na metodologia empregada e resultados obtidos permitiram

concluir que os estratos avaliados apresentam diferentes resultados dos parâmetros físicos do

solo, carecendo de ações distintas de recuperação.

Palavras-chave: Análise da paisagem, índices físicos, solo.

INTRODUÇÃO

De uma forma generalizada, entende-se por área degradada aquela que sofreu, em

algum grau, perturbações em sua integridade, sejam elas de natureza física, química ou

biológica, inviabilizando o desenvolvimento socioeconômico do local.

Diversas podem ser as alterações que ocorrem nessas áreas, com danos no sistema

vegetal e fauna nativa, perda da camada fértil do solo e alteração qualidade do regime hídrico.

175 175

A recuperação, por sua vez, trata a reversão a uma condição produtiva, independentemente de

seu estado original e de sua destinação futura.

A condutividade hidráulica do solo constitui uma propriedade que expressa à

facilidade com que a água nele se movimenta, sendo de extrema importância ao uso agrícola

e, consequentemente, à produção de culturas e ao desenvolvimento vegetal em áreas

degradadas (GONÇALVES & LIBARDI, 2013).

Quanto maior for à condutividade hidráulica saturada do solo, maior será o regime de

infiltração: no início do processo de infiltração o regime é sempre relativamente maior,

diminuindo com o aumento da umidade, alcançando um valor constante. Desta forma, para

cada solo, após a fase de alcance do estágio de saturação, o que irá determinar a dimensão do

regime de infiltração será a condutividade hidráulica. Desta forma, solos arenosos, quando

saturados, apresentam maior condutividade hidráulica saturada e maior regime de infiltração.

O inverso ocorre com solos argilosos (TORRES, 2014).

Diante do exposto, o trabalho teve por objetivo avaliar a condutividade hidráulica

saturada no diferentes estratos de uma área degradada localizada no Centro de Engenharia e

Automação (CEA-IAC), na cidade de Jundiaí – SP, utilizando o permeametro de Ghelph.

METODOLOGIA

Caracterização do local em estudo

O experimento foi realizado em uma área degrada localizada no do Centro de

Engenharia e Automação do Instituto Agronômico de Campinas (CEA-IAC). O local

apresenta aproximadamente 2 hectares, e encontra-se nos domínios da bacia do Rio Jundiaí,

na Latitude 23º11'20" S e longitude 46º53'01" W.

Estratificação visual da área degradada

A área foi utilizada para a retirada de material durante o processo de pavimentação da

Avenida Antônio Pincinato. Para a caracterização dos estratos degradados, em uma avaliação

preliminar, tomou-se como critério a condição geomorfológica da área, sendo estabelecida a

estratificação ilustrada na Figura 1.

176 176

Figura 1. Proposta de estratificação da área degradada baseada nas características

geomorfológicas.

Coleta de dados e processamento dos dados

Em cada estrato degradado realizou-se uma avaliação com o permeametro de Ghelph.

Para dar suporte aos resultados determinou-se a porosidade e densidade do solo, com a coleta

de amostras aleatórias nos estratos, utilizando anéis volumétricos metálicos de

aproximadamente 100 centímetros cúbicos de volume interno.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A condutividade hidráulica saturada (Tabela 1) apresentou valores considerados

baixos pela SOIL SURVEY (1993, p. 37) em todos os estratos degradados. Observa-se que o

estrato de maior porosidade total apresentou o maior valor de condutividade hidráulica

saturada, resultado explicado pela correlação positiva e significativa existente entre os

parâmetros, conforme o identificado por SILVA et al. (2005, p.548).

Os valores de densidade do solo apresentaram comportamento similar aos observados

por SILVA et al. (2005, p.548), onde o autor evidenciou a correlação negativa e significativa

entre os parâmetros.

A condutividade hidráulica do estrato Eluvionar apresentou comportamento

diferenciado ao identificado na literatura, sendo explicado pelas condições de alva velocidade

do vento no momento da coleta do dado, que promoveu uma dificuldade de estabilização na

leitura e consequentemente a determinação inadequada da condutividade hidráulica saturada.

177 177

Tabela 1. Condutividade hidráulica saturada (Ks), densidade do solo e porosidade para os

estratos definidos visualmente.

Posição no relevo

Ks (cm/s)

ks (mm/h)

Densidade do solo (mg/m³)

Porosidade total (%)

Eluvionar 1,69x10-5 0,61 1,10 59,00 Coluvionar 6,54x10-5 2,35 1,12 58,00 Aluvionar 2,11x10-5 0,76 1,70 36,00

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na metodologia empregada e nos resultados obtidos conclui-se que:

[1] Apesar dos valores de porosidade total superior a 50% em alguns dos estratos

degradados a condutividade hidráulica saturada apresentou valores baixos.

[2] O valor de condutividade hidráulica do estrato Eluvionar não apresentou a

tendência observada na literatura, sendo caracterizado pelo erro experimental;

[3] Os resultados mostraram que os estratos avaliados apresentam diferentes

resultados dos parâmetros físicos do solo, carecendo de ações distintas de recuperação;

[4] O estudo carece de aprimoramentos metodológicos testes em outras condições

experimentais para a confirmação dos resultados.

REFERÊNCIAS

GOLÇALVES, A.D.M.A.; LIBARDI, P.L. Análise de determinação de condutividade hidráulica do solo pelo método do perfil instantâneo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 37, p.1174-1184, 2013.

SILVA, M. A. S.; MAFRA, A. L.; ALBUQUERQUE, J. A.; BAYER, C.; MIELNICZUK, J. Atributos físicos do solo relacionados ao armazenamento de água em um Argissolo Vermelho sob diferentes sistemas de preparo. Ciência Rural, v. 35, n. 3, p. 544-552, 2005.

SOIL SURVEY, DIVISION STAFF. Soil Survey Manual. Soil Conservation Servide. U. S. Departamente of Agriculture Handbook, 1993.

TORRES, R. Regime hídrico do solo. Disponível em: < http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAWZsAF/regime-hidrico-solo > Acesso em: novembro, 2014.

178 178

ANÁLISE DA FERTILIDADE DO SOLO EM ÁREA DEGRADADA PELA

ATIVIDADE DE MINERAÇÃO COMO SUBSÍDIO PARA RECUPERAÇÃO

SILVA, Francisco Carlos1; MOTA, Maurício Tavares2; SOLERA, Maria Lucia3; BIAGOLINI, Carlos4; MEDEIROS, Gerson Araújo5; RIBEIRO, Admilson Irio5; PECHE FILHO, Afonso6

1 Químico, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba, Bolsista: CAPES, [email protected] 2 Biólogo, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba 3 Bióloga, doutoranda, PPGCA/UNESP/Sorocaba 4 Biólogo, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba

5 Professor de Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental do PPGCA, UNESP/Sorocaba 6 Agrônomo, Pesquisador Científico Nível VI, CEA/IAC, doutorando, PPGCA/UNESP/Sorocaba

RESUMO

Este trabalho apresenta as atividades de campo realizadas no Centro de Engenharia e

Automação do Instituto Agronômico de Campinas – IAC, em Jundiaí, SP. Na área de estudo,

no passado, o solo, foi utilizado de forma intensa em atividades minerárias, até a sua completa

exaustão. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a fertilidade do solo de uma área de

mineração degradada, com vistas a indicar medidas corretivas e avaliar o potencial de

recuperação da área por meio de introdução de espécies do ecossistema de referência.

Palavras-Chave: fertilidade, recuperação; mineração

INTRODUÇÃO

Este estudo foi realizado em uma área degradada por atividade de mineração que teve

a remoção da cobertura vegetal e com ela a parte superficial do solo. A perda desta camada de

solo reduz de forma drástica a fertilidade do solo, tornando o solo mais denso e fino,

reduzindo a penetração das raízes e a capacidade deste reter água para disponibilidade as

plantas.

A alteração dos parâmetros como permeabilidade, densidade, estrutura, coesão,

compactação, friabilidade, susceptibilidade a erosão, capacidade de retenção de água, pode

conceituar a degradação física. Contudo, a degradação química pode ocorrer quando os

parâmetros alterados envolvem a perda de fertilidade e de elementos essenciais ao solo e a

deposição de substâncias químicas não naturais. Quanto à degradação biológica, ela pode ser

conceituada quando o solo apresenta baixa ou nula atividade de micro, meso ou macrofauna,

bem como a flora no solo ou mesmo quando os teores de matéria orgânica são extremamente

baixos (KOBIYAMA; MINELLA; FABRIS, 2001).

179 179

Este trabalho teve como objetivo analisar a fertilidade do solo com vistas a indicar

medidas corretivas do solo e avaliar o potencial de recuperação da área por meio de

introdução de espécies do ecossistema de referência.

METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado na unidade Centro de Engenharia e Automação do Instituto

Agronômico de Campinas – IAC, localizado na Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto,

km 65, Jundiaí, SP. (Figura 1; Foto 1)

Figura 1. Localização da área de estudo. Fonte: elaborado a partir go Google Earth

(03.11.2014).

180 180

Foto 1. Vista geral da área de estudo (19.10.2014).

O clima local apresenta precipitação média de cerca de 1.500 mm e as temperaturas

médias anuais variam entre 15,7° e 19,2°C nas partes mais altas e mais baixas,

respectivamente, sendo que o mês de julho corresponde ao mês mais frio e janeiro o mais

quente (PINTO, 1992).

Quanto a cobertura vegetal, em termos fitogeográficos, o município de Jundiaí, no

estado de São Paulo, está inserido no domínio de Mata Atlântica, representado pela vegetação

secundária da Floresta Ombrófila Densa Montana (I.F, 2001)

Segundo Jundiai (2008), pela delimitação constante no Plano de manejo da Reserva

Biológica Municipal da Serra do Japi, é possível concluir que a formação geológica da área de

estudo constitui de depósitos terciários que deram origem aos neossolos regolíticos, Estes

solos, são rasos e jovens, e apresentam textura arenosa e horizonte A, não ultrapassando 60

centímetros de profundidade (Figuras 2 e 3).

Figura 2. Formação geológica. Figura 3. Manchas de solo.

Fonte: Adaptado do Plano de Manejo da Reserva Biológica Municipal da Serra -

PMRBMJ (Jundiaí, 2008).

Historicamente a área, objeto de estudo, passou por processo de degradação com

atividades de mineração na extração de camadas superficiais de solos por um período superior

181 181

a dez anos conforme mostra as imagens históricas (Figuras 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10) do Google

Earth nos últimos anos. As coletas dos materiais para a análise foram retiradas de três extratos

da área classificados como solo Eluvionar (ponto mais elevado), Coluvionar (intermediária) e

Aluvionar (ponto mais baixo), conforme ilustra as Fotos 11 e 12.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os resultados obtidos por meio de análise realizada em laboratório

(Quadro 1) e, comparando-os com os dados de Raij et. Al (1996) para solos do estado de São

Paulo, tem-se as seguintes considerações: Eluvionar: deficiência de P e excesso de Cu, Fe,

Mn e Zn; Coluvionar: deficiência de P, K e excesso de Mn; Aluvionar: deficiência de P, K e

excesso de Mn.

Figura 4 – Imagem de 2014. Figura 5 – Imagem de 2013.

Figura 6 – Imagem de 2012. Fonte

Figura 7 – Imagem de 2011.

182 182

Figura 8 – Imagem de 2010.

Figura 9 – Imagem de 2009.

Figura 10 – Imagem de 2005.

Fonte: Google Earth (versão livre).

Foto 11 – Local de coleta de amostras. Foto 12 – Coleta das amostras.

183 183

Quadro 1 – Resultados das análises químicas do solo.

Fonte: S &F Laboratório de Química Agrícola S/C Ltda.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De posse dos resultados da análise química do solo e interpretação (Quadro 1) foi

observada a necessidade de se utilizar fertilizantes para elevar a biodisponiblidade de alguns

nutrientes essenciais para propiciar o desenvolvimento das espécies vegetais a serem a serem

introduzida na área degrada para sua recuperação.

REFERÊNCIAS

PREFEITURA MUNICIPAL DE JUNDIAÍ, 2008. Plano de Manejo Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi. Coord. Delgado-Mendez, J.M.; Steinmetz, S.; Zaccarelli, D.P. Jundiaí – SP, 481 p. Disponível em: <http://cidade.jundiai.sp.gov.br/pmjsite/biblio.nsf/V03.01/smpmA/$file/47.pdf>. Acesso em: nov. 2014.

KOBIYAMA, M.; MINELLA, J. P. G.; FABRIS, R.. Áreas degradadas e sua recuperação. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 22, n. 210, p.10-17, maio/jun 2001. Bimestral

PINTO, H.S. 1992. Clima da Serra do Japi. In: Morellato, L.P.C. (ed.). História natural da

184 184

Serra do Japi. Ed. UNICAMP, FAPESP, Campinas. Pp. 30-38. INSTITUTO FLORESTAL. Mapa da vegetação nativa do município de Jundiaí. 2001 RAIJ, B. van et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São

Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1996. (IAC. Boletim Técnico, 100).

185 185

ANÁLISE DA DIVERSIDADE DA ATIVIDADE BIOLÓGICA DO SOLO NA BACIA

DO JUNDIÁI MIRIM - SP

PARINI, Marcela1; CARVALHO, Marcela Merides2; MARQUES, Bruno Vicente3; CORREA, Cristina Souza4, NOGUEIRA; Leda5, RIBEIRO; Admilson Írio6, MEDEIROS, Gerson Araújo6 .

1Química Ambiental, Mestranda em Ciências Ambientais, e-mail: [email protected] 2Bióloga, Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP Sorocaba. 3Gestor Ambiental, Mestrando em Ciências Ambientais – UNESP

4Bióloga, Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP 4Engenheira de Pesca, Mestranda em Ciências Ambientais – UNESP

6 Professor, Recuperação de áreas degradadas e Gestão Ambiental, Unesp Sorocaba– Campus Experimental

RESUMO

A avaliação da diversidade da atividade biológica tem tomado grande espaço no entendimento

do estudo de áreas degradadas, já que é um importante instrumento de gestão na articulação

de decisões em estudo de casos de áreas degradadas por diferentes formas de uso e ocupação

de solo. A área de estudo em Jundiaí no Instituto Agronômico consiste de 40 anos de

diferentes usos e ocupações do solo, com intensa atividade mineradora resultando em solos

descobertos pela intensa exploração de areia. A área foi avaliada conforme a verificação da

descrição da cobertura do solo e identificação da presença de espécies vegetais.

Palavras-chave: Atividade Diversidade Biológica, Metodologia de Amostragem,

Recuperação de áreas Degradadas.

INTRODUÇÃO

A degradação ambiental observada nesse último milênio é tema de grande

preocupação tendo em vista as condições para a sobrevivência e qualidade da vida das

gerações futuras. No caso específico da mineração, o desmatamento de áreas extensas expõe

amplas parcelas de solo aos processos erosivos, caso não seja adotado medidas criteriosas de

preservação.

A qualidade do solo pode ser conceituada como a capacidade que um determinado

tipo de solo apresenta em ecossistemas naturais ou agrícolas, para desempenhar uma ou mais

funções relacionadas à sustentação da atividade, da produtividade e da diversidade biológica,

à manutenção da qualidade do ambiente, à promoção da saúde das plantas e dos animais e à

sustentação de estruturas socioeconômicas e de habitação humana (RIOS et al. 2010.).

Diversidade biológica inclui a variabilidade de organismos vivos nos ecossistemas

terrestres, marinhos e aquáticos, e ainda, a diversidade de espécies dentro de um mesmo

186 186

sistema, conforme art. 7º da Convenção sobre a Diversidade Biológica, celebrada na

Conferencia sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. Nesse contexto o estudo

baseado na observação em campo da relação ecológica entre os organismos e o ambiente em

que são inseridos é de ampla importância para avaliar impacto ambiental decorrente a

atividades humanas.

A partir da metodologia sugerida por Bennet e Humpries pode-se obter dadosfáceis e

de baixo custo para avaliar impacto ambiental através da atividade diversificada biológica,

essa análise inclui parâmetros como a observação da presença de interação de fatores

incluindo vegetação, fauna, microbiota, solo, drenagem, clima, entre outros (MAEDER et al,

2002, RAMESH and MATHIVANAN, 2009.). O conhecimento da biodiversidade local e o

uso de metodologia de amostragem apropriada facilitam a tomada de decisoes sobre açoes de

gestao na recuperaçao de áreas degradadas. Indices de diversidade e de riqueza de espécies

sao comumente usadas em estudos ecológicos e de conservaçao da biodiversidade, porque

fornecem informaçoes úteis para avaliar distúrbios de ordem ambiental, incluindo-se os

efeitos adversos da degradaçao de solos. Normalmente, uma comunidade ecológica sujeita a

experiencias de estresse sofre perdas de espécies e aumento nas abundancias de poucas

espécies- daí a dominancia. Os índices de diversidade ponderada quantificam estas alteraçoes

em abundancia relativa, possibilitando, assim, a elaboraçao de planos de manejo com o intuito

de reduzir essas alteraçoes (ORIANS, 1994).

A maneira economicamente viável de quantificar a diversidade de um ambiente ocorre

por meio de amostragem, Para Krebs (1999), uma análise representativa da populaçao de

estudo pode ser obtida quando se mede corretamente uma amostra, Por isso, a desisao sobre

um método de amostragem deve ser fundamentada nas peculiaridades da populaçao alvo.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado dentro do Centro de Engenharia e Automação (CEA-

IAC), numa área de estudo de 2 hectares, a qual encontra-se nos domínios da bacia do Rio

Jundiaí, na cidade de Jundiaí- SP (Figura 1). Suas coordenadas centrais são: latitude 23º11'20"

S e longitude 46º53'01" W e com altitude média de 762 m (altitude máxima na Serra do Japi:

1.290,6 m e mínima no rio Jundiaí, divisa com Itupeva: 673,6 m), segundo informações

cedidas pela Secretaria do Meio Ambiente do Município de Jundiaí. Analisando então a

187 187

interação da diversidade biológica em cada estrato.

Figura 1 Vista aérea da área e vista frontal da área de estudo.

A visualização dos diferentes estratos da área começa com o entendimento da micro-

paisagem do ponto de vista biológico, na integração dos organismos vivos nas seguintes

condições:, Eluvionar (ponto mais elevado), Coluvionar (intermediária) e Aluvionar (ponto

mais baixo).

A coleta de dados da área foi realizada através de uma armação de metal com

dimensão de malha amostral 70x70cm com 49 compartimentos de 10x10cm. Dentro dessa

estrutura de metal cada espaços corresponde a leitura de presença ou ausência particular de

atividade biológica. Também foram feitos registros fotográficos da malha amostral em cada

um dos pontos avaliados. A relação entre o número de observações de atividade biológica e

dados dos números de amostras para um quadro permite a obtenção de uma porcentagem da

ocorrência para essa atividade analisada (RIBEIRO et. al, 2012).

A percepção e quantificação da presença específica de atividade biológica foram feita

na superfície do solo, observando a presença de gramíneas, pequenos arbustos e insetos. Em

seguida foi feita uma limpeza superficial da cobertura vegetal repetindo o procedimento para

determinação do percentual de pequenos insetos, fungos e raízes. Novamente foram repetidas

as análises com o solo totalmente descoberto. Após a coleta dos dados do local todas as

informações foram analisadas estatisticamente para determinação do percentual de cobertura e

ponderação. Para cobertura total foi atribuído peso 2, para cobertura parcial foi atribuído peso

1. Para cobertura com gramíneas foi atribuído peso 1, pois são as espécies que se estabelecem

primeiro na regeneração natural, para os arbustivos peso 2 e para as atividades de fauna peso

188 188

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da avaliação são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Valores obtidos a partir da avaliação.

Ponto

Cobertura (%) Atividade Biológica Índice de Atividade Biológica

Diversificada T P G A F

1 87,76 12,24 18 2 1 246,49 2 53,06 28,57 10 7 5 244,41 3 6,12 6,12 3 0 2 39,73 4 2,04 26,53 9 1 1 121,20 5 2,04 4,08 2 0 1 22,41 6 0,00 10,20 5 0 1 45,82 7 4,08 6,12 7 0 1 39,65 8 2,04 38,78 5 10 0 184,18 9 4,08 8,16 9 0 1 49,82

Nota-se que o índice de Atividade Biológica Diversificada para a região Eluvionar

esta em melhores condições para uma ação de recuperação da área degradada, isso porque a

atividade biológica dessa área apresenta maior desenvolvimento de sua atividade. Como

pode-se verificar no quadro apresentado da fertilidade do solo das áreas eluvionar, coluvionar

e aluvionar esse fato relaciona-se com a melhor condição de fertilidade dessa área de estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante que dados de análises sejam cruzados para que uma melhor interpretação

de uma área de estudo seja realizada e assim sustente ferramentas para um adequado plano de

recuperação de áreas degradadas. Nesse contexto a atividade biológica diversificada

possibilita um melhor intendimento da biota presente na área degradada, sendo um importante

dado para um plano de recuperação.

REFERÊNCIAS

CLÁUDIO, Rios Ribeiro; Ana Paula de Souza Barbosa; Luciano Ricardo Braga Pinheiro; Aldo Vilar Trindade- Características químicas do solo como indicadores de qualidade do solo. Engenharia Agronômica da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2010.

189 189

Convenção sobre a Diversidade Biológica, Rio-92. MAEDER, P., Fliessbach, A., Dubois., D., Gunst, L., Fried, P. and Niggli, U. Soil fertility

and biodiversity in organic farming. Science, 296 (5573), pp. 1694-1697, 2002. RAMESH, S. and Mathivanan, N. Screening of marine actinomycetes isolated from the

Bay of Bengal, India for antimicrobial activity and industrial enxymes. World Journal of Microbiology and Biotechnology, 25(12),pp. 2103-2111, 2009.

ORIANS, G. H. Global biodiversityI; patterns and processes. In: MEFFE, G. K.; C. R. CARROL (Ed.). Principles of conservation biology.Sunderland. Massachusetts: Sinauer Associates, 1994. p. 78-109.

KREBS, C. J. Ecological methodology. 2 ed. Menlo Park: Addison Wesley Longman, 1999. 620 p.

RIBEIRO, AdmilsonÍrio; PECHE FILHO, Afonso; MEDEIROS, Gerson; FENGLER, Felipe; Environmental diagnosis in areas with different use and occupation using the perception of diverse biological activity.WIT Transactions on Ecology and the Environment.Vol. 162, pag.129, 2012.

190 190

ENSAIOS DE PENETROMETRIA EM ÁREAS DEGRADADAS PARA FINS DE

GESTÃO: ESTUDO DE CASO NO CEA/IAC-JUNDIAÍ

BONIFÁCIO, M. A.1; MARQUES, B.V.2; LINO, A. C.3; PECHE FILHO, A.3, RIBEIRO, A.I.4, MEDEIROS, G.A.4

1Doutorando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba - [email protected] 2Mestrando em Ciências Ambientais, UNESP – Sorocaba

3 Pesquisador científico, Instituto Agronômico de Campinas 4 Professores das disciplinas Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental, PPGCA UNESP

RESUMO

A recuperação das áreas degradas (RAD) deve transcender o conceito de “plantar novas

mudas”, faz-se necessário um maior entendimento dos ecossistemas de referência, buscando

as condições ambientais ideais para promover a recuperação. Medir a resistência do solo a

penetração é um dos fatores auxiliam neste entendimento. Neste trabalho desenvolvido em

área degrada por extração mineral pertencente ao CEA/IAC - Jundiaí, foram analisados 38

pontos distribuídos entre as zonas eluvionar, coluvionar e aluvionar, com o uso de um

penetrômetro digital, sendo possível obter os resultados máximos de resistência do solo a

penetração. De acordo com os resultados, foi possível constatar que o estrato eluvionar

apresenta as melhores condições, já os estratos coluvionar e aluvionar apresentam em sua

maioria sérias limitações para recuperação da área, com as maiores resistências nos horizontes

entre 11–20cm de profundidade. O estudo mostrou que a área apresenta diferentes graus de

degradação em cada um de seus estratos apontando assim a necessidade de diferentes ações

de recuperação ambiental. Constatou-se também que o uso do penetrômetro digital

possibilitou maior rapidez nas atividades, além de fornecer dados confiáveis.

Palavras-chave: Resistência a penetração; Recuperação de Áreas Degradadas.

INTRODUÇÃO

A recuperação de áreas degradadas (RAD) é uma atividade que deve transcender a

ideia de “plantar novas mudas”, assim a busca por fragmentos de referência (MEDEIROS et

al., 2014) são necessários para a determinação para que a condição “ideal” possa ser traçada

como objetivo, mas somente trabalho focados no estado final não é certeza de sucesso, pois

outros fatores também devem ser considerados. Para Ribeiro et al. (2006), um destes fatores é

consideração da preparação do solo como estratégia inicial de recuperação, sendo que

191 191

colocação de um dossel2 de espécies já adaptadas à área degradada contribua como base para

e recuperação do substrato também já degradado, antes da inclusão das espécies determinadas

como sendo as de referência. Ainda segundo o mesmo autor (2006), mesmo esta ação inicial,

dependerá de outra série de fatores ambientais para que possa se estabelecer. Um destes

fatores é a resistência do solo que para estas áreas atingem níveis de compactação elevados,

restringindo o crescimento radicular.

Este fator – resistência mecânica a penetração – deve ser considerados em propostas

de RAD, pelo impacto direto no resultado final e no tempo de realização do projeto. Para

Stolf et al. (1983), o penetrômetro é o instrumento ideal para medir esta resistência do solo,

estabelecendo além da resistência também a profundidade dos piores estratos, determinando a

estratégia de ação para a diminuição da compactação, ou diminuir a resistência para que o

desenvolvimento radicular seja possível.

Neste cenário, desenvolveu-se um procedimento metodológico para este estudo, com o

propósito de coletar informações que permitissem analisar a resistência mecânica a penetração

de uma área degradada, localizada no CEA/IAC Jundiaí, caracterizada por ter sido uma antiga

área de extração mineral (figura 1), visando traçar diretrizes iniciais necessárias para a

recuperação ambiental da área.

Figura 1: Área foco do estudo

2 Dossel é a cobertura a partir da sobreposição de galhos e folhas. Fonte: http://world.mongabay.com

192 192

As coletas distribuíram-se em três estratos de solo, eluvionar, região mais alta ou topo,

onde ocorre constante perda de material; coluvionar, região intermediária que tanto perde

material quanto o recebe; e aluvionar, que apenas recebe e acumula material por estar nas

regiões mais baixas.

MATERIAIS E MÉTODOS

As coletas de campo (medições) foram realizadas no mês de novembro de 2104,

utilizando-se como ferramenta para coleta dos dados o Sistema Automatizado de Medição de

Compactação (penetrômetro) de marca Falker, modelo SoloStar PLG-5500, com limite de

penetração máximo de 40cm e cone padrão tipo 2 com limite de 6.800 kPa (FALKER, 2010).

Como apoio, utilizou-se os softwares PenetroLOG versão 140 – embarcado no penetrômetro

–, que acumulou e disponibilizou os dados para tratamento e análise posterior realizada com o

auxílio do MS-Excel©. Os pontos foram determinados para abrangerem os três estratos de

solo, sendo distribuídos aleatoriamente, conforme figura 2.

Figura 2: Distribuição dos pontos de coleta

193 193

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a análise dos dados elaborou-se uma tabela (Quadro 1) composta das seguintes

informações de referência:

- Faixa de resistência em kPa, divididas em seis faixas/classes;

- Limitações de crescimento, em relação à resistência em kPa;

- Faixas de profundidades, divididas em quatro faixas; e

- Área para inclusão das resistências máximas.

A partir dai os resultados MÁXIMOS observados nas medições foram distribuídos de

acordo com a figura 3.

Figura 3: Medições máximas para resistência do solo a penetração.

194 194

Quadro1: Distribuição das medições

Fonte: Adaptado de CANARACH, 1990 apud. RIBEIRO, et al. 2006

Tendo como base a distribuição dos dados na tabela de análise, algumas questões

podem ser inferidas, conforme seguem:

[1] o estrato eluvionar apresenta as melhores condições de compactação, com os

resultados máximos distribuindo-se entre baixa e média compactações, que respeitando-se as

questões topográficas exigem menor intervenção para sua utilização;

[2] Ainda no estrato eluvionar, cerca de 40% das medições atingiram profundidade

máxima do instrumento (40cm), sugerindo a necessidade de pouca intervenção para o cultivo;

[3] já no estrato coluvionar 2/3 das análises encontram-se em uma zona de sérias

limitações para o crescimento das raízes, estabelecendo uma referência desta resistência na

zona entre 11 e 20cm de profundidade.

[4] No estrato aluvionar, mais de 90% das medições apresentaram resultados

posicionados em uma classe de sérias limitações para o crescimento de raízes;

kPa Classe Limitação ao crescimento

< 1.080 Muito baixa Sem limitações

1.080 - 2.450 Baixa Pouca limitação 2374

4803 3070 3689 3124 3542 3905 4199

4493

4.901 - 9.800 Alta Sérias limitações 5862 6883 6930 5267

9.801 - 14.700 Muito alta Raizes praticamente não crescem

> 14.700 Extremamente Alta Raizes não crescem

kPa Classe Limitação ao crescimento

< 1.080 Muito baixa Sem limitações

1.080 - 2.450 Baixa Pouca limitação 1492 1972

2.451 - 4.900 Média Algumas limitações 2892

5514 6914 6930 5506

6937 6945

9.801 - 14.700 Muito alta Raizes praticamente não crescem

> 14.700 Extremamente Alta Raizes não crescem

kPa Classe Limitação ao crescimento

< 1.080 Muito baixa Sem limitações

1.080 - 2.450 Baixa Pouca limitação

2.451 - 4.900 Média Algumas limitações 4385

6899 6914 5862 6899 6960 6945 6953 5143 6945

6960 6960 6914 6914 6945 6930

9.801 - 14.700 Muito alta Raizes praticamente não crescem

> 14.700 Extremamente Alta Raizes não crescem

Alta4.901 - 9.800 Sérias limitações

ZONA COLUVIAL

ZONA ALUVIAL

31 - 40 cm

31 - 40 cm

0 - 10 cm 11 - 20 cm 21 - 30 cm 31 - 40 cm

0 - 10 cm 11 - 20 cm 21 - 30 cm

0 - 10 cm

ZONA ELUVIAL

Média Algumas limitações

11 - 20 cm 21 - 30 cm

2.451 - 4.900

Alta4.901 - 9.800 Sérias limitações

195 195

[5] Ainda para o estrato aluvionar, os resultados máximos distribuíram-se nas quatro

faixas de profundidade, com ligeira concentração para o faixa de 11 – 20cm.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De maneira geral as análises da resistência mecânica do solo, contribuem para o

desenvolvimento de planos de RAD, demonstrando as condições de penetração para o

desenvolvimento radicular. Neste trabalho observou-se que a área em questão apresentou em

praticamente 2/3 dos pontos condições de “sérias limitações” para este desenvolvimento, com

resistências superiores a 4.900 kPa, isto em uma faixa de profundidade entre 11 e 20cm, nos

três estratos, apontando assim a necessidade de ações de recuperação ambiental na área.

Destaca-se também que a utilização do penetrômetro digital permitiu que as atividades

fossem realizadas com maior rapidez, confirmando sua importância para a determinação das

características físicas do solo de uma área nas quais pretende-se propor planos de RAD.

REFERÊNCIAS

FALKER. Manual técnico SoloStar PLG5500 – Sistema Automatizado para Medição de Compactação. Rev. A. Porto Alegre-RS, 2010. 7 p.

MEDEIROS, G. de A.; RIBEIRO, A. I. PECHE FILHO, A. Memórias de aula: definição dos pontos de amostragem da qualidade da água na bacia. Programa de pós-graduação em Ciências Ambientais, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Sorocaba - SP, 29/10/2014.

RIBEIRO, A. I., et al., Diagnóstico de uma área compactada por atividade minerária, na floresta amazônica, empregando métodos geoestatísticos à variável resistência mecânica à penetração do solo. Revista Acta Amazônica, Manaus, vol. 36 n.1, Jan./Mar. 2006.

STOLF, R.; FERNANDES, J.; FURLANI NETO, V. L. Recomendação para o uso do penetrômetro de impacto modelo IAA/Planalsucar-Stolf. Piracicaba: IAA/PLANALSUCAR, 1983. 9 p. (Série Penetrômetro de Impacto - Boletim nº 1)

Disciplina

Hidrogeologia

Responsável

Profa. Dra. Valquíria de Campos

196 196

ANÁLISE DO CARÁTER DE DEFINIÇÃO DO USO DE MINAS DESATIVADAS NO MUNICÍPIO DE CORDEIRÓPOLIS, COMO ALTERNATIVA PARA O

ABASTECIMENTO DE ÁGUA BELLO, Fábio Henrique1; DE-CARLI, Bruno Paes2; FRANCESCHINI; Andréa Teixeira de Lima3;

MAFAVISSE, Isaías Mutombo4; PEREZ, Diego Javier5; CAMPOS, Valquíria6 1Engenheiro Ambiental, UNESP de Sorocaba, [email protected]

2Biólogo Marinho, UNESP de Sorocaba 3Engenheira Civil, UNESP de Sorocaba

4Geógrafo, UNESP de Sorocaba 5Engenheiro Agroflorestal, UNESP de Sorocaba 6Docente, Hidrogeologia, UNESP de Sorocaba

RESUMO

A importância da água subterrânea no estado de São Paulo tem crescido significativamente

nos últimos anos. Este trabalho tem como objetivo analisar o uso de cavas de minas

desativadas como fonte de abastecimento público, destacando o caráter incipiente desta

medida emergencial de muitos municípios paulista, além de salientar a importância de

determinar a origem da água de recarga e o histórico da mina desativada. Apesar de sua

importância, pouco se sabe sobre a qualidade e quantidade de água procedente das cavas de

minas desativadas, muito menos sobre a água que recarrega esses reservatórios. Inclui-se

também nesta discussão o uso pós-mineração, como instrumento legal para reabilitação de

áreas de minerações antigas.

Palavras-chave: cava de mina desativada, escassez hídrica, abastecimento público.

INTRODUÇÃO

De modo geral, a mineração causa impacto negativo significativo ao ambiente, uma

vez que quase sempre o desenvolvimento dessa atividade implica supressão de vegetação,

exposição do solo aos processos erosivos causando alterações na quantidade e qualidade dos

recursos hídricos superficiais e subterrâneos, além de causar poluição atmosférica, entre

outros aspectos (MECHI & SANCHES, 2010).

A mineração no estado de São Paulo tem gerado inúmeras cavas secas ou inundadas,

muitas das quais com desníveis ou profundidades que chegam a 30 ou 40 m e extensões da

ordem de centenas de metros, alcançando, em certos casos, alguns quilômetros. Essas cavas,

acabam, muitas vezes, abandonadas e são invadidas pelas águas de superfície e de

subsuperfície, formando uma sucessão de lagos artificiais sem qualquer função urbana e

197 197

sujeitos à degradação ambiental, acelerada em razão do lançamento de resíduos domésticos e

industriais (BITAR, 1997).

A preocupação com a degradação e a consequente escassez dos recursos hídricos

deixou de ser somente uma bandeira de luta de ambientalistas fervorosos, passando a

representar um sério problema de saúde pública (MORAES & JORDÃO, 2002). A perda do

potencial de uso de áreas, particularmente com a geração de cavas, tem gerado um efeito

adicional aos aspectos relacionados à instalação de usos pós-mineração no interior paulista. É

o que se verifica, por exemplo, nas cidades da região de Campinas, que buscam em cavas de

minas desativadas, uma alternativa de abastecimento de água. O Consórcio das Bacias dos

rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) efetuou um levantamento de áreas com potencial

hídrico na região e, até o momento, apontou a existência de 61 cavas como possíveis pontos

para captação de água. Com a crise hídrica no estado de São Paulo, o município de

Cordeirópolis, em caráter imediatista e emergencial tem feito uso de água de cavas de minas

desativadas, para suprir o abastecimento público (LEITE, 2014).

METODOLOGIA

O cenário de análise compreende o município de Cordeirópolis. localizado na porção

centro sudeste do estado de São Paulo, na região administrativa de Campinas. A área está

assentada sobre unidades definido como Aquífero Tubarão, Aquífero Botucatu e Aquífero

Diabásio. Estes são aquíferos considerados do tipo aquiclude, entretanto, apresentam zonas

aquíferas em porções mais arenosas ou com fendas e fraturas nas litologias de granulação

fina. A profundidade das cavas pode atingir até 400 m com nível de água variado entre 36 a

42 m (TONETTO & BONOTTO, 2010).

A mina Granusso constitui uma importante fonte de matéria prima para o Pólo Cerâmico

de Santa Gertrudes. A mina Granusso localiza-se no município de Cordeirópolis e caracteriza-se

por um talude de 30 metros de altura com cava de aproximadamente 60.000 m2. Na mina

encontram-se cinco tipos petrográficos, designados da base para o topo como: siltito argiloso,

siltito variegado, siltito bandado, siltito carbonático e siltito laminado (COSTA et al., 2007).

A água armazenada em uma antiga cava de extração de minério argilo-siltoso está

desativada há mais de 10 anos e tem garantido o abastecimento de Cordeirópolis nos últimos

198 198

meses. Em razão da falta de chuvas, o município decretou estado de calamidade e emergência em

junho e, desde então, raciona o fornecimento de água.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De modo geral, esta medida proposta pelo consórcio PCJ está desvinculada do uso

recomendável envolvendo a pós-mineração, ou seja, não contempla a perspectiva de realizar a

reabilitação de antigas áreas de mineração. Visa-se, primordialmente, o abastecimento público

frente a este panorama de externalidades e crises, deixando em segundo plano as medidas

diretamente relacionadas com o uso futuro (PJC, 2014). Essa medida, de caráter incipiente

pressupõe alguns cenários alarmantes, ou seja, se a captação de água de cavas será realizada a

curto, médio ou em longo prazo, devendo-se ter o entendimento do caráter de recarga hídrica

subterrânea ou atmosférica. Se a quantidade é suficiente para o tamanho da demanda e, não

menos importante, avaliar se o recurso é próprio para consumo humano, devendo-se estar

atento ao histórico de lavra da cava de mineração desativada, uma vez que muitos depósitos

minerais apresentam metais e metaloides como constituintes.

Para restabelecer o equilíbrio entre oferta e a demanda de água, métodos e sistemas

alternativos modernos devem ser desenvolvidos e aplicados. Nesse sentido, reuso, reciclagem,

gestão da demanda, entre outras, são práticas de relevante importância. A utilização de fontes

alternativas de água é uma importante medida de racionalização (GONÇALVES, 2006). O

município de Cordeirópolis possui em sua área urbanizada 100% de distribuição de água

tratada. A responsabilidade pela captação, adução, tratamento, reservação e distribuição é do

SAAE – Serviço Autônomo de Água e Esgoto. O método utilizado em Cordeirópolis para

minimizar a escassez no abastecimento ocorre através da transferência de água da cava

Buracão para a Represa do Barro Preto (Figura 1), para posterior bombeamento até a Estação

de Tratamento de Água – ETA (Figura 2).

199 199

Figura 1. Mina "Buracão", utilizada como fonte alternativa para o abastecimento de água do

município de Cordeirópolis. (Adaptado de Google Earth®, 2014).

Figura 2. Representação esquemática de reuso de água de cava da antiga mina "Buracão",

utilizada como fonte alternativa para o abastecimento do município de Cordeirópolis (Fonte:

G1 PIRACICABA E REGIÃO, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As alterações nos regimes hidrológicos e hidráulicos e a poluição dos rios, somadas ao

maior adensamento urbano no mundo, resultam em uma baixa disponibilidade de água por

200 200

pessoa. O abastecimento público de água no estado de São Paulo é efetuado principalmente

por captações superficiais em grandes reservatórios e, secundariamente, por captações de água

subterrânea. No caso da utilização de cava de mina como fonte alternativa para captação

deve-se identificar a origem da água de recarga e estimar sua produção. Em síntese, a partir da

identificação e avaliação inicial da qualidade da água, deve-se elaborar um plano de uso e

formulação de um programa de monitoramento e manutenção das medidas implementadas,

frente a outras alternativas de uso futuro da área impactada. As citações sobre usos futuros de

áreas de mineração, encontradas principalmente na literatura internacional, têm revelado uma

ampla gama de possibilidades. Casos de habitação, agricultura, pastagens, comércio,

indústria, disposição de resíduos, reflorestamento, lazer, recreação, esportes, preservação e

conservação ambiental, piscicultura, entre outras formas de uso e ocupação do solo, vêm

sendo, há muito tempo, lembrados como alternativas de recuperação ou reabilitação para

áreas de diferentes bens minerais em países industrializados como EUA, Canadá, França,

Alemanha e outros. Desta forma, o sistema emergencial montado em Cordeirópolis impõe-se

como diretriz fundamental a busca pela qualidade e quantidade da água captada, para

alcançar o sucesso do uso pós-mineração.

REFERÊNCIAS

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Programa de Pós-graduação em

Workshop Integração de

saberes ambientaisII