mediação

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Mediação: um olhar para dentro em busca de autonomia para a realização do ser. Diante de um mundo tecnicista, no qual a cada dia os seres humanos são substituídos por máquinas, o mundo jurídico, por consequência, não poderia ficar de fora desta contaminação ideológica, assim as soluções para os conflitos humanos são cada vez mais buscadas em fórmulas gerais e acabadas, externas ao mundo psíquico do ser, como se um preceito legal positivado conforme a técnica jurídica pudesse contemplar todos os casos de forma justa quando se deixa de lado o que mais importa: o indivíduo Pleitear uma decisão do Poder Judiciário por meio de uma ação, em muitos casos, é a perpetuação do conflito “ad aeternum” e não a sua solução. A simples discussão sobre um direito de herança pode desencadear a inimizade perpétua dos membros de uma família. Isto ocorre, porque em muitos casos o sistema atual de justiça estatal não propicia um espaço para o diálogo entre as partes, analisando apenas formalmente a letra fria da lei e deferindo direitos de acordo com o consenso de justiça já acordado pelos legisladores numa fórmula legal. O seguinte estudo de caso buscará identificar as falhas do nosso atual sistema jurídico processual e demonstrar que o diálogo realizado por meio de uma sessão de mediação traduz os verdadeiros anseios das partes em conflito. Analisar o caso do vídeo reproduzido em sala de aula. Filha que queria sua parte na casa depois que a mãe morreu por não aceitar o relacionamento dela com outra mulher. A dependência da lei e da decisão do juiz pode, em muitos casos, afastar a humanidade na solução do conflito. No caso analisado, se a lei tivesse sido aplicada friamente dando o direito positivado a cada uma das partes, sem a oportunidade de aprofundar o diálogo, teríamos uma solução meramente técnica e cada qual sairia apenas com sua parte material sobre bem. Diferentemente, com o aprofundamento da questão por meio do diálogo e a participação do mediador, constatamos que houve um aprofundamento nas reais causas do conflito e assim uma melhor solução pode ser encontrada, não pelo mediador, mas pelas próprias partes. É neste sentido que podemos afirmar que a mediação ao mergulhar no âmago do problema gera um olhar para dentro de si e o indivíduo pode enfim determinar-se autonomamente, sentindo-se mais realizado, pois ele próprio pode encontrar uma solução mais adequada ao seu conflito. É mais fácil tergiversar do que se aprofundar no assunto, quando nos deparamos com o novo. Isto não é exclusividade da comunidade

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Mediação: um olhar para dentro em busca de autonomia para a realização do ser.

Diante de um mundo tecnicista, no qual a cada dia os seres humanos são substituídos por máquinas, o mundo jurídico, por consequência, não poderia ficar de fora desta contaminação ideológica, assim as soluções para os conflitos humanos são cada vez mais buscadas em fórmulas gerais e acabadas, externas ao mundo psíquico do ser, como se um preceito legal positivado conforme a técnica jurídica pudesse contemplar todos os casos de forma justa quando se deixa de lado o que mais importa: o indivíduo

Pleitear uma decisão do Poder Judiciário por meio de uma ação, em muitos casos, é a perpetuação do conflito “ad aeternum” e não a sua solução. A simples discussão sobre um direito de herança pode desencadear a inimizade perpétua dos membros de uma família. Isto ocorre, porque em muitos casos o sistema atual de justiça estatal não propicia um espaço para o diálogo entre as partes, analisando apenas formalmente a letra fria da lei e deferindo direitos de acordo com o consenso de justiça já acordado pelos legisladores numa fórmula legal.

O seguinte estudo de caso buscará identificar as falhas do nosso atual sistema jurídico processual e demonstrar que o diálogo realizado por meio de uma sessão de mediação traduz os verdadeiros anseios das partes em conflito.

Analisar o caso do vídeo reproduzido em sala de aula. Filha que queria sua parte na casa depois que a mãe morreu por não aceitar o relacionamento dela com outra mulher.

A dependência da lei e da decisão do juiz pode, em muitos casos, afastar a humanidade na solução do conflito. No caso analisado, se a lei tivesse sido aplicada friamente dando o direito positivado a cada uma das partes, sem a oportunidade de aprofundar o diálogo, teríamos uma solução meramente técnica e cada qual sairia apenas com sua parte material sobre bem. Diferentemente, com o aprofundamento da questão por meio do diálogo e a participação do mediador, constatamos que houve um aprofundamento nas reais causas do conflito e assim uma melhor solução pode ser encontrada, não pelo mediador, mas pelas próprias partes. É neste sentido que podemos afirmar que a mediação ao mergulhar no âmago do problema gera um olhar para dentro de si e o indivíduo pode enfim determinar-se autonomamente, sentindo-se mais realizado, pois ele próprio pode encontrar uma solução mais adequada ao seu conflito.

É mais fácil tergiversar do que se aprofundar no assunto, quando nos deparamos com o novo. Isto não é exclusividade da comunidade científica, mas inerente a nós seres humanos. A nossa zona de conforto nos acalenta e nos dificulta o confronto com novas ideias e descobertas. Somos por natureza misoneístas, por isto tanta antipatia ao novo ou o que representa novidades.

Ambiente mais propício ao misoneísmo não poderia existir do que o próprio meio jurídico, pululado de jargões legais latinos que ao invés de disseminar a justiça à população, na verdade segrega, pois torna a linguagem uma barreira ao entendimento. Formalista e conservadores

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redigir sobre vida interior, autonomia, individualidade, responsabilidade, autodeterminação,

Uma forma de desenvolver valores

Por que deixar para o juiz uma decisão que pode ser nossa?O indivíduo pode decidir Qual a melhor forma de decidir um conflito? O que pode ser considerada uma boa solução?Muito se discute acerca deste questionamento. Alguns acreditam- Celeridade- Eficácia- Decisão em consonância com o ordenamento jurídico

Consciência acerca do conflito

“Procurar uma nova existência é um trabalho de destruição, uma morte. Se estamos preparados para essa morte, algo novo acontecerá, virá um nascimento criativo. Se nós estamos prontos para morrer, podemos ter uma nova existência. Para isso, não há perguntas, não há respostas, só o caminho de esvaziar-nos de todas as perguntas e respostas acumuladas de modo a constituir um buraco narcísico”. (Pg. 21, Surfando na pororoca: o ofício do mediador. WARAT, Luis Alberto)

Precisamos conquistar a independência e a autonomia de tomar nossas próprias decisões, de resolver a direção de nossas vidas, sem medo das consequências e do sofrimento de sair da zona de conforto. Tirar o poder de decisão de terceiro sobre nossas vidas é um caminho para o amadurecimento e responsabilidade individual.

“Haverá sofrimento, nenhum nascimento é possível sem sofrimento, por isso não tentemos fugir do sofrimento. Esse é o ponto onde nós podemos pôr tudo a perder. Não tenhamos medo”. (Pag. 22, Surfando na pororoca: o ofício do mediador. WARAT, Luis Alberto)

Tirar o poder de decisão de terceiro sobre nossas vidas é um caminho para o amadurecimento e responsabilidade individual.

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Guerra é um confronto sujeito a interesses da disputa entre dois ou mais grupos distintos de seres, que se valem da violência para tentar derrotar o adversário.

Entretanto, mesmo Pinker concorda: é exatamente na guerra que a moral humana é subitamente reprimida, e os ecos da nossa animalidade, nossa propensão à barbárie, retornam com toda a força. Mas, como acabar com a guerra? Seria com a educação?

Autenticidade:

“Na máxima autenticidade da raiva ou do amor, nesses picos, as coisas podem ser compreendidas. Elas se tornam penetrantes, e a pessoa então pode ser alertada, mediada”. (Pag. 24, Surfando na pororoca: o ofício do mediador. WARAT, Luis Alberto)

“A mente e a ciência realizam-se nas instituições, são interdependentes. O ser autêntico, como ser harmonizado (ou mediado, dá no mesmo), é aquele que rompe com as instituições e vive espontaneamente, sem ser prisioneiro de uma mente que acredita assegurar os acontecimentos”. (Pag. 25, Surfando na pororoca: o ofício do mediador. WARAT, Luis Alberto)

Liberdade:

Fundamenta sua teoria no livro O processo civilizador, de Norbert Elias (1939), um catálogo de exemplos dos arquivos da história, que demonstram que ao longo dos séculos, “começando no século XI ou XII e atingindo o apogeu nos séculos XVII e XVIII, os europeus inibiram crescentemente seus impulsos, anteciparam as consequências de longo prazo de suas ações e passaram a considerar os pensamentos e sentimentos dos outros. Um cultura da honra — a prontidão para vingar-se — deu lugar a uma cultura da dignidade — a prontidão para controlar as próprias emoções.

“O inferno são os outros”

Em tantos e tantos games de simulação de guerra, os “demônios” a serem mortos estão sempre do outro lado, na nação inimiga. Mas, e quem chora pelos demônios? Os palestinos

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choram pelos seus mortos da mesma maneira que os israelenses. Quando são atingidos por balas, sangram da mesma maneira, e até mesmo o sangue é da mesma cor… Talvez os assassinos de Columbine tenham se espelhado mais nos senhores da guerra, nos ditadores de ideologias falsas que pretendem nos fazer crer que existem seres “do outro lado”, inimigos, que não são como nós, que não pensam como nós, que não sangram ou sofrem como nós, e que merecem morrer como demônios, pois é mais fácil pegar um fuzil e matar do que negociar acordos e tratados de paz.

Analogia com os instintos

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… Que vos desprezam… Que vos escravizam… Que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!(Chaplin, em O Grande Ditador)

“Sem prejuízo da reflexão mais importante dessas observações, o que está em jogo não é o atravancamento do Judiciário, nem a intenção de aliviá-lo de uma carga insuportável de trabalho. O que se põe como inafastável é acordar a cidadania para o princípio da subsidiariedade, para o protagonismo hábil a tornar as pessoas maduras, sensatas e capazes de implementar a prometida democracia participativa, da Constituição de 1988”.

http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/02/19/incapaz-de-resolver-conflitos-brasileiro-alimenta-cultura-do-processo.htm

Embora o direito processual chame a parte, eufemisticamente, de sujeito, na verdade ela é um objeto da vontade do Estado-juiz. O litigante não tem condições de narrar, perante o juiz, tudo aquilo que o atormenta e que o levou a juízo. A cena judiciária é técnica, formalista, não admite espontaneidade. Não é raro que o interessado sequer entenda o que aconteceu com sua demanda, quando a solução é meramente formal, procedimental ou processual. Daí a insatisfação generalizada em relação ao funcionamento da Justiça. Precisamos reverter esse quadro.

http://www.conjur.com.br/2014-nov-12/renato-nalini-estimular-solucoes-dispensem-juiz

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É urgente despertar a cidadania para o princípio da subsidiariedade. Ninguém precisa pedir ao outro que o ajude a fazer aquilo que pode realizar sozinho. Se a família for capaz de atender a uma necessidade, não é necessário invocar auxílio de fora. O bairro pode assumir responsabilidades e resolver alguns problemas locais. O município idem. O Estado-membro também não é obrigado a recorrer sempre à União.

Hoje, a população é conduzida a agir como uma criança incapaz de satisfazer a mais insignificante de suas necessidades. O Estado-babá está aí para atender a todas as aspirações. Estas são infinitas. Os recursos financeiros finitos e limitados. Daí a insatisfação, a insaciabilidade egoísta, a assunção do estado de vítima impotente, que nada consegue se não houver o assistencialismo estatal.

É o que se reflete numa Justiça chamada a intervir em assuntos que poderiam ser resolvidos de maneira mais rápida, mais barata e eficiente numa conversa. Num diálogo de que participassem os advogados. Estes também precisam se recordar de que é dever profissional priorizar as conciliações e dissuadir a parte a ingressar com aventura judiciária.

http://www.comerciodojahu.com.br/post?id=1323267&titulo=Urg%C3%AAncias+da+Justi%C3%A7a%2C+por+Jos%C3%A9+Renato+Nalini