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TEORIA E PRÁTICA DA MEDIUNIDADE - CADERNO 3/3 WILSON DA CUNHA 1 Material de Estudo – Tema 6 Teoria e Prática da Mediunidade Caderno 03/03 Baseado em conteúdo do livro “Diversidade dos Carismas”. O médium: eclosão, desenvolvimento e exercício de suas faculdades.

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TEORIAEPRÁTICADAMEDIUNIDADE-CADERNO3/3 WILSONDACUNHA

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Material de Estudo – Tema 6

Teoria e Prática da Mediunidade

Caderno 03/03

Baseado em conteúdo do livro “Diversidade dos Carismas”.

O médium: eclosão, desenvolvimento e exercício de suas faculdades.

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ÍNDICE

01–PSICOGRAFIA 3

02–INCORPORAÇÃO 7

03–PSICOFONIA 10

04–GRADUAÇÃODAPASSIVIDADE 12

05–PARTICULARIDADESDOTRABALHOMEDIÚNICO 15

06–REGRESSÃODAMEMÓRIAEPASSIVIDADE 19

07–PROCESSODEINCORPORAÇÃO 24

08–DESDOBRAMENTOÀDISTÂNCIA 27

09–DESINCORPORAÇÃODEUMESPÍRITODOENTE 30

10–CLARIVIDÊNCIAEVIDÊNCIA 32

11–COMUNICAÇÃOMEDIÚNICAMENTAL 33

12–FORÇAMENTAL 50

13–EXPERIÊNCIASDEUMDOUTRINADOR 50

CONSIDERAÇÕESPESSOAIS 112

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01 – Psicografia

A psicografia é uma diferente modalidade de transmissão. Para

melhor entender vamos observar o exemplo de Regina:

“Com alguns manifestantes, Regina vê, em imagens, o que o

espírito lhes transmite e quando isso acontece, desliga-se do texto que

a sua mão escreve, acompanhando a narrativa. Não pelas palavras,

mas pelas próprias imagens.

Não ocorre aí uma tradução. Ela acha que nesses casos, ela vê

diretamente o que se passa na mente dos manifestantes, onde não há

sons nem palavras, mas imagens. Ou talvez eles projetem tais

imagens externamente pelo simples trabalho intelectual de pensar

enquanto eles próprios escrevem.

Há espíritos que preferem ditar as comunicações e ela vai

anotando o que ouve.

Outros se aproximam e apenas solicitam que ela dê tal ou qual

recado para esta ou aquela pessoa.”

Entendemos que a técnica empregada por eles nessas diferentes

formas de transmissão varia segundo o estado evolutivo de cada

espírito:

• Alguns articulam claramente as palavras enquanto falam –

essa exposição será melhor refletido no item 10 –, como

qualquer pessoa comum que ali estivesse a dizer alguma

coisa;

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• Outros aproximam-se de Regina, colocam a mão sobre sua

cabeça e como que transfundem para a mente dela o

pensamento puro.

Ainda outros parecem também falar, mas ela não percebe

nenhum tipo de articulação das palavras, ou melhor, os lábios deles

não se movem. No entanto, ela tem a nítida convicção de ouvi-los

normalmente e é até capaz de distinguir sons familiares de voz, uma

vez habituada a eles.

Estamos, pois, diante da audição coclear, ou seja, os espíritos

manifestantes movimentam energias específicas junto à cóclea, no

ouvido interno, sem nenhuma interferência com a instrumentação

auditiva externa, que serve para captar sons e encaminhá-los aos

centros nervosos específicos.

Pode acontecer também, em tais casos, que ela veja as imagens

enquanto eles lhe falam, ou seja, combina-se a visão diencefálica com

a audição coclear.

Concernente a psicografia, estamos tão habituados a considerar

como fenômeno tipicamente mediúnico que nos esquecemos dela

como fenômeno anímico, quando o sensitivo funciona como médium

de si mesmo, ou seja: ele escreve uma mensagem do próprio espírito.

A psicografia é um fenômeno que pode estar em ambas

categorias, anímica ou mediúnica.

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É preciso observar ainda que, nem sempre a comunicação

psicográfica de característica mediúnica provem de um espírito

desencarnado.

Kardec já nos alertava para esse aspecto, ao informar que o

espírito encarnado também pode comunicar-se através de um

médium, como se ele estivesse desencarnado, pois não deixa de ser

espírito somente porque está preso a um corpo material.

Sobre esse aspecto, o Dr. Fodor tem interessante contribuição a

oferecer. Segundo ele, o jornalista inglês Willian T. Stead recebeu

durante quinze anos comunicações dessa natureza de vários de seus

amigos encarnados.

Aqui cabe uma pergunta:

É possível alguém transmitir pela psicografia, coisas que

nunca lhe diria pessoalmente?

Os espíritos assim se manifestam em resposta: o ser encarnado

não revela segredos pessoais a não ser deliberadamente, mas que o ser

real é muito diferente – ele fica atrás dos sentidos físicos e da mente,

usando um e outro como lhe apraz.

Não há como ignorar a dificuldade que existe em atestar

positivamente se um texto recebido por psicografia é de ordem

mediúnica ou anímica. Dificuldade igualmente encontrada no caso da

vidência, principalmente se o médium tem o desejo de mentir.

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Quanto a psicografia, não estamos dizendo que é impossível

atestar se a mensagem é mediúnica ou anímica, nas duas situações a

dificuldade é a mesma.

A doutrina espírita não ignora ou minimiza tais dificuldades,

mesmo na psicofonia, mas alerta para o fato de que o fenômeno

anímico não exclui nem renega o fenômeno espírita ou mediúnico. Ao

contrário, confirma que se o espírito encarnado tiver desejo, ele pode

manifestar-se por outra faculdade ao seu alcance, inclusive

materializando-se parcialmente.

Mas independente de anímico ou mediúnico, onde está o mal se

o conteúdo é saudável?

v A psicografia é a faculdade através da qual, espíritos

encarnados ou desencarnados se manifestam por escrito.

Podendo ter presença anímica;

v É uma faculdade anímica quando o próprio espírito do

sensitivo encarnado que se manifesta, em tais casos, pode

perfeitamente revelar um conhecimento acima do seu nível

habitual como encarnado;

v A terceira opção de manifestação seria aquela na qual os

espíritos encarnados se manifestam através do sensitivo,

também encarnado.

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Elaboramos um curso de desenvolvimento mediúnico

denominado de cinco fases onde acreditamos ter encontrado o

mecanismo de identificação quando ao animismo ou não na

psicografia que logo mais estará no site.

02 – Incorporação

As ligações do espírito manifestante com o médium se dá por

uma espécie de acoplamento do respectivo períspirito na faixa da

aura. A incorporação não é a mesma coisa que a aproximação, que

ocorre nos pontos sensíveis do médium, via chacras e plexos, sem

adentrar com seu períspirito no corpo do médium.

Segundo Kardec, “não é possível e nem preciso que o

manifestante substitua o espírito do médium. O que ocorre portanto, é

a ligação entre ambos, pelos terminais do períspirito – pontos de

sensibilidade – de cada um, como o plug da eletricidade que se liga

ou desliga da tomada”.

Quanto ao acoplamento, Hernani Guimarães Andrade assim

entende:

“O mecanismo de incorporação é fácil de compreender. Ele

pode principiar pela aproximação da entidade que deseja comunicar-

se. Este poderá, eventualmente, influenciar o médium, facilitando-lhe

o transe.

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O médium passa então a sofrer um desdobramento astral,

juntamente com o corpo astral, desloca-se parcial ou totalmente de

maneira a permitir que o corpo astral do espírito comunicante ocupe

parcial ou totalmente o campo livre deixado pelo corpo astral do

médium.

A incorporação é tanto mais perfeita quanto maior o espaço

cedido pelo astral do médium ao afastar-se do seu corpo físico,

deixando lugar para o acoplamento com o corpo astral do

comunicante.

Este – o espírito comunicante – deverá também sofrer um

processo semelhante ao desdobramento astral para permitir que o seu

corpo astral possa juntar-se ao espaço livre deixado pelo médium.”

A superposição do corpo astral do espírito ao restante

equipamento mediúnico implica na justaposição do cérebro astral da

entidade comunicadora ao cérebro fisiológico do médium.

Embora grande parte da consciência do médium tenha se

deslocado juntamente com a sua contraparte astral, ele ainda mantém

o controle da situação, graças à sua ligação com o corpo físico através

do cordão prateado.

Motivo de o médium nunca estar inteiramente inconsciente

durante o processo da incorporação deste tipo. As ideias que lhe

afluem ao cérebro, por indução do cérebro da entidade, podem no

momento parecer-lhe ideias próprias. Mas passado o transe, ele quase

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sempre se esquece do que foi exatamente registrado à sua mente em

ocasião.

Sabendo que não existe fenômeno mediúnico sem acoplamento

– encarnado x desencarnado – é oportuno explicar que o médium usa

seus próprios meios de expressão, inclusive o linguajar comum. Isto,

porém, não impede que as ideias transmitidas sejam do espírito. As

ideias são dos espíritos, o médium então reveste a linguagem e os

pensamento dele com suas próprias palavras.

Muitas pessoas desistem do estudo, acreditando que pouco

dessas complicadas informações foram absorvidas pelo intelecto.

Estão enganados, pois os registros tornam-se imortais, pois tudo

que aprendemos e temos interesse o cérebro físico transfere

automaticamente ao cérebro espiritual. Se assim não fosse, um

profissional de regressão de memória não teria sucesso. Esse

profissional obtém sucesso ao escutar os relatos de particularidades de

algumas existências daquela pessoa. Eis o psiquismo.

De posse momentânea do corpo do encarnado – quando o

envolvimento é mais profundo – o espírito se serve dele, como se

fosse seu, ou seja: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com

os seus braços, tudo conforme o faria se estivesse vivo, entre nós.

No fenômeno da mediunidade-simples de psicofonia, a chamada

incorporação tem o aspecto telepático, em que o espírito encarnado

fala transmitindo o pensamento de um desencarnado.

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Sobe esse aspecto do problema, há a seguinte informação no

“Livro dos Médiuns”, capítulo 22, item 240:

“A subjugação pode ser moral e corporal. No primeiro caso, o

subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e

comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele juga sensato: é

como uma fascinação. No segundo caso, o espírito atua sobre os

órgãos materiais e provoca movimentos voluntários”.

03 – Psicofonia

A respeito da psicofonia, assim se manifestou Allan Kardec em

“O livro dos Médiuns”, capítulo 19, item 166:

“Os médiuns audientes que apenas transmitem o que ouve não

são a bem dizer, médiuns falantes – psicofônicos. Esses últimos, na

maior parte das vezes, nada ouvem. Neles o espírito atua sobre os

órgãos da palavra, como atuam sobre a mão dos médiuns escreventes.

Querendo comunicar-se, o espírito se serve do órgão que se lhe

depara mais flexível no médium. A um, toma da mão, a outra, da

palavra; a um terceiro, o ouvido.

“O médium falando – psicofonia-sonambúlica – geralmente se

exprime sem ter consciência do que diz e muitas vezes diz coisas

completamente estranhas às suas ideias habituais, aos seus

conhecimentos e até fora do alcance da sua inteligência.

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Embora se ache perfeitamente acordado e em estado

aparentemente normal – sempre com consciência alterada – raramente

guarda lembrança do que diz. Em suma, nele a palavra é um

instrumento de que se serve o espírito.

Nem sempre, porém, é tão completa a passividade do médium

falante. Alguns há que tem a intuição do que dizem, no momento

mesmo em que pronunciam as palavras”.

O codificador distingue ainda o audiente do psicofônico,

chamando a atenção para o fato de que o primeiro limita-se a repetir o

que está ouvindo do espírito comunicante, enquanto que o outro não

tem necessidade disso porque o espírito vai diretamente ao seu

aparelho fonador, sem precisar falar-lhe ao ouvido.

É interessante dizer: o espírito recorre ao instrumento que lhe

parece mais adequado no médium, para desenvolver o seu trabalho.

Por isso escreve por meio de um, fala por meio de outro, ou dita ao

ouvido de um terceiro. Eis uma boa razão pela qual o médium deva

deixar que suas faculdades passem por esse processo de seleção

natural, por iniciativa dos próprios espíritos que o procuram para se

comunicar.

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04 – Graduação da passividade

Creio que vale a pena estudar esse aspecto, pela importância que

tem o conceito da passividade nos diversos mecanismos da

mediunidade em operação.

Muitos entendem que tornar-se passivo, ou dar passividade, é

entregar---se totalmente aos espíritos manifestantes para o que der e

vier. Chico era um exemplo disso, ele se entregava completamente,

mas jamais deixava de ser o comandante.

Passividade total, sem reservas, é inércia, é indiferença, é

inatividade. O médium espírita não é cavalo.

Podemos observar, portanto, que a passividade é graduada,

como muito bem afirmou Kardec, com a sua indiscutível competência

de linguística.

Receber uma comunicação sem resistência e transmiti-la

fielmente, sem reações emocionais é dever do médium responsável.

Não se deve, porém, entregar-se indolente ou indiferentemente ao

espírito manifestante para que ele diga o que quiser e faça o que bem

entender com o seu corpo, sua inteligência, seus conhecimentos ou a

sua falta de cultura.

O médium precisa dispor de uma bem treinada passividade, na

qual ele consiga matizar, graduar nas suas manifestações. Uma

passividade seletiva que lhe permita uma boa filtragem da

comunicação, mas que não se deixe dominar pelo comunicante ao

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ponto de este forçar a sua passagem com qualquer tipo de

procedimento.

Para que o exposto seja possível, a chave desse segredo está no

comportamento diário do médium controlado, sereno e equilibrado. O

médium impertinente, atento aos mil nadas da vida, naturalmente tem

uma mente composta de lixos mentais e inquietude excessiva. A sua

consciência ausenta-se temporariamente do corpo físico, enquanto

este serve de instrumento para que a manifestação mediúnica se

produza, mas não deixa de funcionar alhures no veículo perispiritual.

Eis o problema da pessoa que não se enquadra no silêncio do seu

mundo interior.

Portanto, da próxima vez que ouvirmos alguém dizer que os

médiuns devem “dar passividade”, é bom ter em mente o que

significa isso, com maior nitidez e convicção, pois o médium pode e

deve interferir quando for necessário filtrar a comunicação carregada

de impurezas, mas deixa que ela siga o seu curso fluentemente, com

paciência e tolerância.

Uma posição difícil, mas a mediunidade é difícil mesmo. Quem

não estiver suficientemente preparado para a tarefa ou disposto a

suportar seus contratempos, sem ser portador de mediunidade tarefa, é

melhor ser um bom e silencioso doador de energia de sustentação

vibracional nas sessões de desobsessão.

A seguir será demonstrado o que entendo por um médium

responsável que, longe de entregar-se às cegas ao exercício da

mediunidade, procura estudá-la, observá-la, esmiúça-la nas suas mais

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sutis características, a fim de orientar-se devidamente pelos seus

meandros, segredos e mistérios.

O espírito do médium não perde sua autonomia nem a sua

autoridade e soberania sobre o corpo emprestado à outra

individualidade que o manipula. O espírito do médium empresta sua

aparelhagem física, mas continua dono dela.

Tanto é assim que, se julgar necessário, poderá interromper a

comunicação em qualquer momento, voltando a oferecer a

passividade. Não há mediunidade inconsciente a rigor. O espírito está

sempre consciente e atento.

Essa consciência não se expressa pelo cérebro físico – que

naquele momento está sendo manipulado por uma mente estranha –,

mas sim no períspirito do médium, usualmente desdobrado, mas

presente à curta distância. Por isso é difícil ao médium registrar a

comunicação transmitida por intermédio do seu cérebro físico, mas

gerada por outra mente.

Coisa semelhante acontece com o sonho do qual nem sempre

podemos nos lembrar, porque as atividades desenvolvidas pelo

sonhador não ficam registradas no cérebro físico, e sim na sua parte

espiritual. Isso não quer dizer que a pessoa ficou inconsciente

enquanto sonhava. Apenas não guardou a lembrança do que

aconteceu.

Vamos a um pequeno entendimento em torno da mediunidade

inconsciente. A princípio não sabemos dizer qual é o nível de

implicação física e de aura. Assim sendo, buscamos nas informações

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do senhor Boddington em seu livro “University of Spiritualism”,

citado no livro “Diversidade de Carismas”:

“Indivíduos sujeitos a estados de transe profundo são as

pessoas mais práticas e objetivas, sem a menor ambição por se

projetarem dessa maneira. O transe inconsciente, ocorre em menos

frequência àqueles que pensam rápido e que aparentemente não

possuem a qualidade especial de aura, através da qual o estado de

transe se torne possível”.

05 – Particularidades do trabalho mediúnico

Para uma visão mais prática e ampla da mediunidade de

psicofonia em ação, procuremos estudar alguns aspectos dos trabalhos

mediúnicos da médium Regina.

“A medida que determinado espírito amigo se aproxima parece

que a sua mente vai se interiorizando e em seguida, ela experimenta

sensações semelhantes às que tem quando se desdobra e expande.

Outras vezes, sente como se alguém a abraçasse, envolvendo-a

em uma atmosfera diferente da habitual. Tem a impressão de estar

balançando para frente e para trás, até que perceber estar fora do

corpo, aí o espírito comunicante assume.

De outras vezes, vê-lo chegar por um lado, um pouco atrás,

colocar a mão direita sobre a sua cabeça, o que lhe causa uma

sensação de estar diminuindo de tamanho. Em seguida, ele começa a

falar.”

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Regina comentou as suas sensações em momentos diferentes e

com espíritos amigos diferentes. A respeito dos mesmos, cabe

algumas perguntas:

Quando o médium registra a presença de espíritos amigos e o

grupo se questiona. Por que eles não oferecem aquela mensagem que

tanto gostaríamos de ouvir?

A médium Regina certa vez perguntou a eles porque nem ele –

seu amigo – e ou mentores que se comunicavam com mais frequência

não brindavam o grupo com belas mensagens.

“Já dissemos tudo o que precisava ser dito. – respondeu ele –

Todos tem conhecimento das responsabilidades e já aprenderam que

dificuldades e lutas são instrumentos de aprendizado evolutivo. O

momento agora é de trabalhar. Nosso tempo é escasso e precioso. Não

podemos utilizá-lo em conversas meramente sociais. Há muito o que

fazer”.

Aí está contida uma lição de seriedade, responsabilidade e

pedagogia espiritual. Os espíritos sérios não fazem elogios, e quando

falam, a fala tem caráter de

instrução ou de estímulo.

Exemplo: “Temos obrigação de lembrarmos que é alegria

merecer a honra de servir ao Cristo.”

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Quanto ao desenrolar dos trabalhos – cada médium tem a sua

particularidade e situações que são diferentes em cada momento

mediúnico. Alguns exemplos dessas situações:

1. Quando as auras se ligam, o médium quase sempre experimenta

um choque, como se tivesse tocado um fio elétrico;

2. Às vezes, já fora do corpo, sente dificuldade na garganta, como

se alguém estivesse a remexer com ela ou como se estivesse

engasgado. Isto é certamente um resultado das manipulações um

tanto inábeis do manifestante no centro nervoso que comanda a

fala. O médium, como simples espectador do que se passa

percebe que o corpo fala, gesticula e argumenta – aí está um

estado mais profundo no estado mediúnico: de desdobramento

em suas diversidades;

3. O médium sente a repercussão dos males físicos de que se

queixa a entidade ou mesmo quando ela não se queixa. Como

nesse caso o fenômeno não é telepático, o médium não consegue

falar se o espírito manifestante teve a sua língua cortada.

A mediunidade nem sempre se apresenta como dita:

mediunidade telepática, na qual o médium reveste com as suas

palavras aquilo que o espírito deseja dizer. Eis os carismas da

mediunidade, suas nuanças.

Naturalmente, o médium experimenta desconforto físico das

mazelas orgânicas, mas também sente as mazelas sentimentais, o

estado de aflição, a angústia, desespero, revolta ou ansiedade. É difícil

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livrar-se dessas verdadeiras contaminações físicas e psíquicas, dado

que as sensações fluem de um períspirito para outro, através das

tomadas que ligam as auras.

Interdependência das mentes:

Como pode-se entender tal questão?

Nos fenômenos mediúnicos, as memórias individuais

permanecem autônomas em ambas as entidades – médium e espírito

comunicante. Faltando ao manifestante a palavra ou expressão

adequada, ele precisa buscar no dicionário verbal do médium, mesmo

aí, contudo, parece haver uma consulta entre ambos. Sem que um

invada a memória alheia.

Parece haver um confronto mental no campo do pensamento

puro e que o espírito do médium “traduz” na expressão que ele usaria

para se fazer entendido pelos destinatários da comunicação.

São diferentes os circuitos utilizados. É como se, em um

sofisticado equipamento de som e imagem, fosse cedido apenas o

acesso aos dispositivos de comando do toca-disco, não os circuitos

eletrônicos da parte nobre do sistema.

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06 – Regressão da memória e passividade

Para entender a situação exposta, é necessário observar duas

situações:

1. É preciso deixar o espírito falar tão livremente quanto possível,

dentro das normas habituais do procedimento, a fim de que se

possa ter uma visão nítida da sua problemática. Do contrário,

não é possível ajudá-lo. Principalmente nessa fase de exame, nas

profundezas das suas dores, ele não deve estar magnetizado ou

hipnotizado, ou seja, não se deve oferecer qualquer tentativa de

magnetização para que ele fale exatamente o que sente no

momento.

Observação: em situações de mediunidade consciente ou

inconsciente em desdobramento, com a consciência parcialmente

alterada ou sob severo controle, com palavras bem escolhidas, sem

veemências verbais e gestos de impaciência ou de nervosismo, aí sim

haveria dúvida quanto à autonomia da entidade.

Em tais casos, poderia haver a suspeita de que o espírito a falar

era do próprio médium e não um espírito desencarnado. Seria

desastroso para o trabalho que o comunicante fosse dominado pelo

médium de tal maneira a ponto de produzir uma comunicação bem

educada e artificial que jamais conduziria ao verdadeiro núcleo dos

seus problemas.

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É esta exagerada contenção dos médiuns equivocadamente

treinados para serem “bem comportados”, com as mãos imobilizadas

sobre a mesma, olhos fechados e voz controlada, o fator responsável

por muitas dificuldades encontradas pelos grupos em ajudar certos

espíritos que comparecem para serem tratados. Como ajudá-los se o

informe recebido deles não é uma expressão dos seus problemas e sim

uma versão toda arrumadinha e comportada, produzida em segunda

mão pelo médium inibidor.

O dirigente e o médium devem encontrar um meio entre permitir

que o espírito faça tudo quanto entender e como bloqueá-lo de tal

maneira que fixamos sem saber das suas verdadeiras e profundas

motivações. Não se pode exigir de um espírito indignado com uma

situação, que para ele é uma das mais aflitivas, que se comporte como

um bem educado, diplomata, em uma conferencia internacional de

negociações políticas. Pedir para que ele não quebre a mesa com seus

murros, é claro, mas que lhe seja permitido dizer dos sentimentos e

das emoções que lhe sacodem o ser.

O médium que não consegue esse equilíbrio entre os dois

extremos não está corretamente preparado para a sua tarefa.

Se bloquear demais, estará dando a sua versão do conflito que

lhe é mostrado, mesmo nas palavras, expressões, gestões e emoções

de quem as sofre. Em suma: convertendo a comunicação mediúnica

em uma narrativa anímica.

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Não se deve culpar o médium por essa atitude restritiva, mas à

sua formação, que não foi adequada.

2. Mesmo depois de hipnotizado ou magnetizado e regredido no

tempo, em busca de suas memórias pregressas, ele não está à

mercê da vontade e do arbítrio do doutrinador. É certo que ele

experimente, quase sempre, uma compulsão de dizer coisas que,

sob condições normais, ele não diria. Ouvirmos com frequência,

o espírito declarar que não sabe o motivo de estar dizendo isto

ou aquilo.

Observamos inicialmente a sua resistência à magnetização e

posteriormente, a relutância em dizer o que ele sabe que precisa dizer.

Nunca, porém, é forçado a dizer o que não quer.

Pelo contrário, frequentemente pedimos a ele que diga apenas o

que desejar. Não é forçá-lo a contar a sua história para satisfazer

eventuais curiosidades, mas para que tome conhecimento dos

fantasmas e das aflições que traz arquivadas na sua memória, mas que

ele bloqueou para esconder---se por algum tempo da dor.

Por isso, hipnotizado ou não, o espírito não é apenas deixado

livre para expressar seus pensamentos e emoções, mas até estimulado

a fazê-lo a fim de que possamos avaliar toda a extensão de sua dor, de

suas angústias e podermos, dessa maneira, ajudá-lo a resolver seus

impasses.

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A técnica da regressão é de grande eficácia nos casos em que o

espírito manifestante se coloca obstinadamente na posição de quem

está apenas cobrando uma dívida, no exercício pleno de um direito

que lhe asseguram as leis divinas, ao vingar-se de alguém que, no

passado, tenha cometido contra ele atrocidades e arbitrariedades.

Em princípio, isso é verdadeiro, pois é fato que a lei autoriza, ou

melhor, tolera ou permite a cobrança da dívida cármica. O Cristo

advertiu que: “pecador é escravo dos pecados, que nossas faltas nos

seriam cobradas até o último ceitil e que não insistíssemos nelas para

que não nos acontecesse ainda pior”.

Isso não quer dizer, contudo, que a vítima tenha de tomar a

vingança em suas mãos ou assumir a postura de cobrador para que a

reparação se faça perante a lei cósmica. Quer ele se vingue ou não, o

devedor tem seus ajustes programados.

“O bem é a moeda que paga as nossas dívidas”.

O apóstolo Paulo entrou na vida física como devedor e a deixou

dizendo: “hoje estas mãos estão limpas”.

O espírito vingativo nos sente como éramos e não como somos

no presente.

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Em qualquer situação, quem sofre fica livre do problema e quem

causa a dor se dá mal, porque reabre o ciclo da dor que virá como

reação futura.

Quem se condiciona ao ódio vingativo, tem a ilusão de que

aplaca as dores. Acha que vingando, estará se libertando, quando ao

contrário, fica preso ao antigo algoz, convertido em vítima.

É diante de semelhante impasse que costumamos recorrer à

técnica de regressão da memória, para que o vingador seja

confrontado com o seu passado e se certifique das razoes pelas quais

sofreu as aflições que lhe foram impostas pela sua vítima de hoje. O

objetivo da regressão, é portanto, ir buscar na memória do vingador

de hoje, o episódio que o expôs aos rigores da lei, quando sofrem nas

mãos do seu adversário.

O processo da regressão da memória é um instrumento auxiliar à

mediunidade que nos permite, mostrar ao perseguidor de hoje o

argumento irrespondível, fornecido por ele mesmo, para convencê-lo

de que ele pode continuar praticando o mal, se ainda existe débitos,

mas se ele foi conduzido ao trabalho mediúnico é porque chegou o

momento do basta. Evitando assim, outra reviravolta, em futuro

imprevisível, mas inevitável.

Na literatura espírita, observamos que a magnetização para se

obter a regressão é praticada via passes dados no corpo do médium –

nesse caso alguém precisa dispor de tais faculdade no grupo

mediúnico. No nosso caso, eu utilizo as mãos na testa do médium,

sem tocá-lo, e usamos as palavras como comando e elemento indutor.

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Aí cabe uma pergunta: que efeito tem essa regressão sobre o

médium?

É claro que ele recebe a sua quota de magnetismo. Ele fica um

tanto sonolento, mas ao retornar, logo que o espírito manifestante é

desligado, ele retorna ao normal, poderá ser ajudado por meio de

passes dispersivos, aplicados de preferência transversalmente ao invés

de longitudinal.

Os passes longitudinais não são também dispersivos?

Sim, são dispersivos, mas no início da regressão, o médium foi

saturado de fluidos magnéticos. Assim sendo, no final do atendimento

ao espírito necessitado, parece-nos aconselhável a retirada dos fluidos

ainda existentes no médium via o passe dispersivo transversal, ou

longitudinal, conforme opção do passista.

07 – Processo de incorporação

Vamos mais uma vez recorrer ao exemplo de Regina: “Ela

percebe que a entidade às vezes se recusa a incorporar-se, e mesmo

estando ali, ao seu lado, ainda se mostra indecisa ou mesmo disposta a

recuar.”

Nesse caso, é aconselhável que o médium informe ao dirigente,

para que utilizando palavras cheias de sentimento, ofereça estímulo ao

desencarnado e se necessário, a imposição das mãos na cabeça do

médium, com moderação.

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“Ela diz sentir os entrechoques da luta que se passa na

intimidade do espírito em forma de pressão indefinível que, se durar

muito tempo, causa-lhe enorme canseira.

Em certas ocasiões, ela precisa mesmo pedir ajuda do dirigente

para que a ligação se faça com o auxilio de passe magnético. Nesses

casos, o impacto do choque elétrico é bem mais forte. Parece que

chega com uma carga superior à sua.” Não há como ligar suavemente

os dois campos magnéticos em situações como essa. Como na

eletricidade, o circuito está aberto ou fechado, ligado ou desligado.

Não pode estar meio aberto ou meio fechado.

“De outras vezes, ela vê a entidade à sua frente, antes da

incorporação, a fazer-lhe ameaças, dizendo que vai acabar com ela.”

Nessas situações, ela também pede ajuda, mesmo porque já se

encontra naquela etapa da incorporação, com a sua sensibilidade um

tanto exacerbada, como se estivesse com os nervos à flor da pele.

Como ainda não se acha no seu próprio corpo e está

condicionada às suas limitações, acaba por registrar uma tendência à

intimidação.

Cabe ao doutrinador, nesse momento, proporcionar ao médium

o conforto de sua presença e de sua confiança, assegurando-lhe que

nada poderá acontecer àquele que está a serviço do bem, o que é

estritamente verdadeiro.

O médium é o culpado pelo afastamento do espírito sem autorização

do responsável pelo trabalho mediúnico?

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Na maioria das vezes, sim. Até porque, o observamos que o

mesmo não acontece com outros elementos do grupo.

Quais são os motivos?

O mais comum e o principal é o mundo íntimo do médium, o

qual se desvia do foco vibratório. Ou no momento de indecisão,

quanto a sua capacidade em atender aquela entidade.

O afastamento feito a revelia do dirigente tem alguma consequência?

Tal afastamento torna-se constrangedor, pois deixa o dirigente

falando sozinho e como se não bastasse, cria a possibilidade desse

espírito permanecer, perturbando o médium após o término da

reunião.

Nesse momento tem alguma providência que o doutrinador possa

tomar?

Sim, a de solicitar que o espírito retorne ao processo de

incorporação para que a sua doutrinação seja concluída. Não resta

dúvida que tal procedimento será prejudicial se o grupo ou o médium

não entender essa postura do dirigente.

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08 – Desdobramento à distância

Abaixo será exposto alguns exemplos de atividades mediúnicas

em desdobramento à distância e suas nuanças:

v Há casos em que a entidade a ser tratada não se encontra no

recinto da reunião, mas no reduto. Regina percebe ou é

informada pelos amigos espirituais responsáveis pelo trabalho

que terá de ser desdobrada – tudo indica que nesse

desdobramento o seu corpo físico tenha ficado consciente – e é

levada até onde se encontra a entidade com a qual se deseja o

diálogo. E onde o espírito tem suas instalações e o seu grupo é

que é efetivada a ligação períspirito a períspirito, a partir de lá é

que a comunicação é transmitida ao corpo físico, junto à mesa

do trabalho mediúnico;

v Regina desligou-se do corpo e saiu, após caminhar algum tempo

– esse tempo é diferente do nosso – chegaram a uma região onde

o terreno era bastante acidentado. O amigo espiritual trazia uma

pequena lanterna semelhante a um lampião. Desceram por um

branco, percorrendo uma trilha estreita. Era possível divisar

pequenas cavernas, mais abaixo, simples buracos abertos no

branco. Foi daquele sinistro cenário de pesadelo que a

comunicação se transmitiu, pois se tratava de um espírito de

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nariz adunco – expressão facial indescritível – vestindo um

manto indefinível;

v Outra experiência assustador para Regina foi o seu encontro, em

desdobramento, para servir de médium junto a uma comunidade

de bruxos. De repente, eles começaram a dançar um ritual com a

óbvia intenção de intimidá-la. Até aí ela descreveu as peripécias

ao doutrinador. Mas não se lembrava de mais nada depois disso.

É que o chefe daquela fantástica confraria de sombras acabara

de incorporar-se, isto é, estabelecer com ela a ligação

perispiritual para dialogar com o doutrinador. Embora a

literatura não tenha dito que esse “apagão mental” tenha sido

motivado pelo exercício da mediunidade inconsciente, eu

acredito que sim;

v Em outra oportunidade, Regina foi levada ao local onde terrível

entidade estava de plantão debaixo de uma árvore e dali não

concordava em arredar o pé. Feita a ligação, pode ser

doutrinada. Já na reunião seguinte, foi possível levá-la a sala

mediúnica;

v A médium tem uma ternura muito especial e antiga por uma

dessas entidades. Regina foi sua filha em agitado período da

civilização egípcia – certa vez comunicou-se dessa maneira –

encerrava-se o atendimento da noite aos espíritos necessitados,

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quando Regina divisou, ao longe, através de um cone luminoso,

a figura da entidade. Foi de lá mesmo que ela começou a

transmitir-lhe seu pensamento, mas não por incorporação ou

contato espiritual, e sim por palavras via telepatia. Ela parecia

falar e Regina repetia o que ouvia como uma intérprete. A

entidade, porém, preferiu modificar o processo para que a

comunicação fosse mais nítida. Logo sentiu-se desdobrada e

levada até o espírito.

O espiritou puxo-a para si, deitou-lhe a cabeça em seu colo e começou

a acariciá-la mansamente. A partir desse momento ela percebeu que,

através do seu corpo, lá na sala mediúnica, a comunicação chegava

aos demais companheiros. Foi um momento inesquecível para ela. De

volta ao corpo, foi vencida pelas emoções e começou a chorar;

v Ela se lembra de determinada comunicação, em que fora levada

a determinado local, por um caminho iluminado. Subitamente,

venerável entidade aproximou-se, parando a poucos passos dela.

O espírito ergue o braço direito e começou a transmitir o seu

pensamento enquanto o corpo físico, junto aos companheiros

encarnados, reproduzia o teor da mensagem.

Todos os exemplos expostos acima têm o objetivo de fortalecer

o entendimento de que nada na mediúnica é estático, ela é dinâmica.

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30

Os espíritos superiores ou não, tem as suas técnicas pessoais,

relacionado com as possibilidades mediúnicas do médium.

Todos os fenômenos quanto à mediunidade são produzidos via

particularidades de cada médium. Esses três cadernos retratam as

experiências de Regina, mas as diversidades dos carismas são

individuais, mesmo o espiritismo sendo um só.

09 – Desincorporação de um espírito doente

A desincorporação dos companheiros em tratamento sempre

causa certo choque, como no início, ao serem feitas as ligações

perispirituais.

De volta ao corpo físico, Regina, como outros médiuns, pode

necessitar de alguns momentos para reassumir a consciência de sua

própria identidade, do local onde se encontra e coisas assim.

É como se, subitamente acordada por uma explosão, ela

precisasse tomar conhecimento do que se passa. A intensidade dessa

dissonância depende, obviamente, do estado de desarmonia do

espírito que acaba de servir-se de seu corpo físico.

Alguns deles, mesmo que causando choque inicial ao se

incorporar, desligam-se sem grandes problemas, porque conseguem

tranquilizar-se durante o longo diálogo mantido, em função dos passes

que receberam e das preces que foram pronunciadas a seu favor.

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Após certas incorporações mais traumatizantes – quando os

espíritos despertam em desespero para uma realidade dolorosa – ela

volta com uma terrível sensação de vazio na mente, como se não

tivesse mais cérebro, fosse incapaz de pensar e nem mesmo soubesse

sua identidade. É uma sensação angustiante e aflitiva.

Ela percorre o ambiente com o olhar, observa as pessoas em

torno da mesa, rostos familiares, afinal de contas nada daquilo faz

sentido – pensa ela. E pergunta-se onde está, quem é aquela gente ali,

que estão fazendo. É o momento de o doutrinador interferir mais uma

vez com os passes para dispersar fluidos que ainda a envolvem e a

relembrar de que ela é Regina.

A profundidade dessas sensações não é corriqueira. No caso de

Regina, é que ela se doa totalmente, propiciando exteriorização em

grau elevado do seu corpo perispiritual, pelo fato de ter alcançado um

alto grau de evolução de sua mediunidade e coração evangelizado,

possibilitando essa grande confiante.

Se algum médium, ao retornar ao corpo físico, sofrer

repercussões dos resíduos ali deixados pela entidade manifestante,

basta alguns passes para que ele se refaça com relativa presteza.

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10 – Clarividência e vidência

Existe diferença entre elas?

Sim. Partindo do exemplo formulado por Allan Kardec de que

“médium é a pessoa que pode servir de intermediário entre o espírito

e os homens, não há como deixar de concluir que somente há

fenômenos mediúnicos quando entra em ação essa estrutura básica, na

qual figuram o espírito desencarnado e os seres encarnados”.

Para melhor entender, propomos a separação do termo

clarividência para caracterizar apenas os fenômenos de vidência à

distância pelo espírito encarnado em desdobramento, o que o

conceitua como fenômeno anímico.

Neste caso, ficaria o termo vidência reservado apenas para os

fenômenos de natureza nitidamente mediúnica, quanto contamos com

o esquema básico de que falamos, ou seja: quando há espírito (fonte

transmissora). Por certo comodismo foi adotado a primitiva expressão

clarividência, palavra proposta pelos primeiros magnetizadores

franceses. Em torno da palavra vidente – não estamos falando de

sensitivo que vagamente vê, e percebe intuitivamente – muito ainda se

tem que estudar, se levarmos em consideração dois aspectos:

1. O médium vidente julga ver com os olhos, os espíritos, como os

que são dotados de dupla vista, quando na realidade é a alma

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quem vê, por isso é que eles tanto vêem com os olhos fechados,

como com os olhos abertos;

2. Quanto aos médiuns videntes propriamente ditos, ainda são mais

raros e há necessidade de se ter muita prudência em relação a

sua classificação e à sua condução, senão diante de provas

positivas.

Provas positivas: procurando sanar essa e outras dificuldade em

torno dos fenômenos da mediunidade, elaboramos um curso teórico e

prático assim identificado “Regras e normas para o desenvolvimento

mediúnico”.

11 – Comunicação mediúnica mental

A comunicação mediúnica é via linguagem dos pensamentos?

Kardec nos esclarece dizendo: “Os espíritos só têm a linguagem

do pensamento, não dispõem da linguagem articulada, pelo que só há

para eles uma língua”.

Seguindo Kardec, temos o entendimento do porque os espíritos

que ao dirigirem-se ao médium, não o fazem em francês, inglês, árabe

ou grego, mas pela linguagem universal que é a do pensamento.

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Nesse conjunto de mente e cérebro, que após recebido o

pensamento gerado pelo comunicante, incubem-se de comandar os

instrumentos necessários à fala ou a escrita.

Aqui cabe mais uma vez um dos exemplos de Regina quanto ao

registro de Kardec:

“Alguns articulam claramente as palavras (...) – disse Regina”.

Essa afirmação está correta, pois ela referia---se à mediunidade

de psicografia e Kardec refere-se ao fenômeno de psicofonia –

mediunidade de incorporação.

Assim entendido, tudo fica claro e fácil, mas é necessário não

desprezar as nuanças, denominadas por Hermínio C. Miranda de

“Diversidade dos carismas”.

Aqui começa uma epopeia em torno da teoria e prática da

mediunidade:

Como funciona o fenômeno da xenoglossia, segundo o qual o

comunicante fala a sua própria língua e não a do médium?

O processo continua sendo o mesmo: a entidade comunicante

emite seu pensamento e o envia através dos canais condutores do

médium, nos quais pode encontrar matrizes de línguas que o médium

tenha falado em outras existências ou aprendido na atual existência. O

que nos parece, é que uma ação conjunta se apresenta, quanto a quem

transmite quanto a quem recebe.

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Convém enfatizar que não é no cérebro físico do médium que

ficam gravas lembranças de línguas faladas em outras encarnações. O

cérebro somente registra o que se aprende durante a existência do

corpo físico a que pertence.

A linguagem que ali está com as suas estruturas arquivadas,

podemos comparar a um computador, composto de símbolos sonoros

e gráficos, cada um com o seu valor próprio. Mas não é aí que ocorre

o processo da elaboração do pensamento, que vem da individualidade

do espírito, através do períspirito.

Observando o croqui a seguir, fica mais fácil o entendimento

quando ele mostra o espírito a esquerda, transmitindo o seu

pensamento ao médium a direita, ligeiramente desdobrado:

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36

Eis a telepatia estabelecida entre espírito e médium, na qual em

seguida o médium reveste com as suas palavras e transmite ao

encarnado que se encontra ao seu lado.

Se o espírito manifestante pudesse transmitir o seu pensamento

diretamente ao ser encarnado com o qual desejasse comunicar-se, não

precisaria recorrer a nenhum intermediário – médium – e por

conseguinte, nem ao recurso da linguagem humano, utilizando-se

diretamente da única linguagem de que se dispõe, ou seja: a do

pensamento.

É nessa linguagem de indução mental que os espíritos

irresponsáveis, ao encontrar espaço na pessoa, atuam para prejudicá-

la. Em mediunidade expressa, o problema que os espíritos encontram,

na maioria das pessoas, é a falta de condições necessárias e

suficientes para o processo de comunicação.

Precisa-se valer de alguém que lhe sirva de intermediário e que

possa captar o seu pensamento, convertendo-o em palavras escritas,

ou faladas, inelegíveis à(s) pessoa(s) às quais a mensagem se destina.

Logo, a comunicação mediúnica é a resultante de um

entendimento telepático – de mente a mente. Não esquecendo que o

espírito comunicante, como diz Kardec, “compreende” todas as

línguas, pois que as línguas são expressão de um pensamento.

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37

Expressão de um pensamento: o espírito do alemão, do

italiano, do argentino, projetando telepaticamente o pensamento de

uma cachoeira, qualquer médium do mundo terá condições de dizer

na sua língua a palavra “cachoeira”.

Diante da dinâmica dos planetas, do dia-a-dia da humanidade, é

correto engessar o nosso entendimento somente em uma direção

quanto ao acima citado?

Entendo que não. Até porque, Kardec nos orientou dizendo que:

“toda vez que a ciência dos homens descobrir novos horizontes e a

doutrina espirita considerar verdadeira, o espiritismo deve aceitar,

pois é verdadeira”. Ainda a respeito da “expressão do pensamento” –

a qual representa o entendimento de linguagem universal dos espíritos

– ela pode sofrer alterações em algumas situações:

v Os desencarnados em campo de batalha na segunda guerra

mundial, necessitados de socorro imediato, não sabiam que

tinham desencarnado e continuavam lutando no campo de

combate.

O mundo espiritual mobilizou-se como nunca ao atendimento a

esses combatentes, muitos dos quais atrelados a sua inferioridade

moral. Nessa ajuda, particularidades tinham que ser consideradas,

umas delas é que os voluntários ao resgate falassem a língua do

desencarnado.

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Nesse caso, não foi citado a “linguagem mental”. Não se pode

afirmar se nesses casos, o entendimento em relação a linguagem

mental seria possível, visto que eles estavam em condições

psicológicas precárias.

Para entender melhor a “expressão do pensamento”, basta

observar os comentários de Kardec.

Ao nosso ver, só existem duas realidades:

I. Expressão do pensamento dos espíritos;

II. Expressão do pensamento entre desencarnados e encarnados.

Como entender quando determinada voz apresenta-se forte

como um trovão e amorosa quanto o carinho de uma mãe vinda do

céu, conforme narra o apóstolo Joao em Apocalipse, capítulo 21, vv.

3:

“E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: eis aqui o

tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará e eles

serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu

Deus”.

Cabe aí três entendimentos:

A. Construção pela espiritualidade de uma garganta ectoplasmática,

produzindo o som da voz, mas se assim fossem, todos

escutariam ou;

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39

B. Fenômeno idêntico ao que acontece com Regina, talvez com

algumas particularidades, visto que João era médium ou;

C. Todas as vem do céu, mas de qualquer forma, vem também de

outra dimensão.

Ainda a respeito em relação ao entendimento do fenômeno da

psicofonia comum, entre médiuns do nosso dia-a-dia:

Se o espírito não fala, mas apenas usa a linguagem do pensamento,

como é que pode elaborar em conjunto com o médium um sotaque –

não estamos falando da linguagem africana?

Para responder a essa pergunta, citamos como exemplo uma

experiência pessoal, muito grata, oferecida por um espírito africano,

utilizando um médium conhecido nosso, desenvolvido nos moldes

Kardequianos.

A sua colaboração vinha no momento em que não sabíamos

oferecer mais detalhes a não ser o oferecido por Hermínio C Miranda

– que embora não atendesse nossa pretensão, era a única: “é possível

que o espírito, com o auxílio do médium, faça adaptações à garganta,

pois sem esse recurso não consegue ativar de maneira adequada e

eficaz os centros cerebrais de comando da fala”.

Já tínhamos definido esse entendimento, quando comentando a

nossa inquietação ao médium em questão que nos visitava, quando

recebemos espontaneamente a visita de um espírito que fora escravo

via uma incorporação.

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40

Ele pediu-nos que tivesse um pouco mais de paciência, que

teríamos logo mais um entendimento detalhado.

Falou-nos que realmente, a mediunidade acontece pelo processo

telepático, com as palavras inarticuladas do desencarnado, entretanto,

nos lembrava que não podemos esquecer que existe um conjunto de

fatores orgânicos participando do fenômeno – acreditamos que a

mente transcendental e o cérebro físico sejam os principais.

Com referência ao sotaque, ele nos esclareceu de uma forma

muito prática e simpática:

v A sua fala inicial através da médium, era carregada de sotaque

comum dos pretos velhos nos tempos de Umbanda. Em pouco

tempo a sua fala foi modificando-se para um português bonito e

perfeito. E aí ele acrescentou: não esqueçam que esse fenômeno

tem a sua origem na experiência conjunta, deste que vos fala e

da médium que fora escrava.

Frederick W. Myers informou, já na condição de espírito,

através da mediunidade da Sra. Geraldine Commins:

“É muito difícil, deste lado em que nos encontramos, lidar com

a mente do médium. Nós a impressionamos com a nossa mensagem,

nunca impressionamos diretamente o cérebro do médium. É a mente

que recebe a nossa mensagem e a envia ao cérebro. Este é um

simples mecanismo. A mente é como cera macia, recebe nossos

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41

pensamentos como um todo – como um bloco de informações -, mas

deve produzir as palavras como que vesti-los”.

Informação essa que só confirma o que já foi dito: não é no

cérebro físico que ficam gravadas lembranças de línguas faladas em

outras encarnações do médium. O cérebro somente registra o que se

aprende durante a existência atual do corpo físico.

Aí fica uma dúvida, se o cérebro somente registra o que se aprende

durante a existência do corpo, podemos entender que é o físico que

intelectualiza o nosso mundo mental e espiritual?

Sim, em todos os aprendizados existenciais, o cérebro físico vai

transmitindo as suas experiências ao cérebro espiritual. É nesse

conjunto de experiências que vamos dotando o nosso psiquismo de

sabedoria, ou seja: intelectualizando o nosso espírito.

Situações existem em que os espíritos precisam do cérebro do

médium, do contrário não conseguiriam movimentar a sua mão – eis o

fenômeno de efeito físico – e nem fazê-lo expressar na língua que lhe

é própria, o pensamento que é dele.

v Os efeitos inteligentes são aqueles para cuja produção o espírito

se serve dos materiais existentes no cérebro do médium.

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Os espíritos afirmam consistentemente que é mais fácil para eles

utilizarem das próprias palavras e expressões do médium do que

despejar sobre eles ideias completamente novas.

No sistema que produz a comunicação mediúnica, desde a

mente do espírito comunicante até o conhecimento do destinatário

encarnado, o elo fraco da corrente é o médium.

Quanto melhor for o médium, mais seguro o sistema e em

consequência, melhor o processo.

Se o grupo de estudo experimenta alguma dificuldade em aceitar

isso como válido, basta dar uma parada e prestar atenção em si

mesmo. Se você está pensando em comprar um livro, viajar ou

escrever um artigo, você vai pensar em palavras existentes em sua

intimidade, sobre cada passo que tiver que dar.

Por exemplo: “amanhã, na hora do almoço, na cidade, vou

entrar em uma livraria, na avenida, procurar um vendedor e pedir a

ele tal ou qual livro. Se ele tiver o livro, eu lhe pergunto o preço. Se

for tanto reais, fico com ele, mando-o embrulhar, pago, recebo o troco

e saio”.

Esse exemplo é para mostrar que assim como nós, a entidade

espiritual pensa sem palavras. Ela é pensada simplesmente em nível

onde a palavra não aparece, porque não se faz necessário.

Nos casos em que você pensa sem palavras, é o seu espírito que

está em pleno comando e ele não precisa de nenhuma língua para

falar consigo mesmo.

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Médiuns, se já é difícil a uma mente bem arrumada e rica em

informações converter seu próprio pensamento em palavras, faladas

ou escritas, imaginem a dificuldade encontrada por aquele que precisa

preparar-se para isso, em virtude de sua própria desarrumação mental

ou falta de conhecimento.

Nessa relação de conversação não encontramos um ponto

critico, ou seja: dialogar, interpretar corretamente o pensamento do

espírito comunicante, converter em palavras suas, adequadas e fiéis

aos conceitos que recebe? E não estamos falando em pensamentos de

conceitos que nunca ouvimos falar, nunca lemos, mas as que o

médium recebe por meio de palavras inarticuladas dos pensamentos.

Sim, existem vários pontos críticos entre tantas situações, um

exemplo simples: certa vez um médium perguntou se seu pai já

falecido costumava vender patos “Drake”. Ele afirma que não. Por

que então, insiste em me mostra um pato pela linguagem do

pensamento? Porque ele só poderia transmitir a palavra “Drake”

mostrando um animal com esse nome, ou seja: projetando, com a

força do seu pensamento, essa ave conhecida.

Toda essa confusão se deu porque o espírito somente queria

dizer que o seu nome era esse, ou seja, que ele era o velho Sr.

“Drake”.

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Por que razão o espírito comunicante não disse logo o seu nome ao

invés de mostrar um pato, ou seja, ao invés de criar a imagem de um

pato?

A obrigação do espírito é projetar o pensamento em forma de

linguagem, cabe ao médium dar forma, corpo ou expressa esse

pensamento de maneira inteligente. Ou seja, a codificação de

símbolos e sons próprios ao médium e não familiares a entidade

comunicante. Entram pois, em conflitos, os dois sistemas de

expressão, sendo necessário um esforço do comunicante para

converter suas palavras em símbolos correspondentes.

Episódios como esses são prontamente agarrados pelos

negadores profissionais para invalidar o fenômeno mediúnico.

A verdade, porém, é que os espíritos, como vimos há pouco, não

se utilizam de palavras, mas de pensamentos.

Podemos acreditar que esse assunto em torno da linguagem dos

espíritos esteja devidamente dissecado e entendido por todos?

Não.

Nos livros de André Luiz e em todos os demais, lemos que os

espíritos “falam tal coisa”. É uma informação verdadeira.

Hermínio C. Miranda apresenta duas razoes para que assim seja:

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A. Os livros de André Luiz são narrativas dramatizadas, escritos

em linguagem didática, na qual o pensamento já aparece

convertido em palavras que o nosso Chico psicografou;

B. Os diálogos reproduzidos pela espiritualidade não são

comunicações mediúnicas, mas conversações entre espíritos

desencarnados.

Regina ainda oferece a sua colaboração acrescentando que os

espíritos lhe diziam o nome para identificar-se, especialmente os que

comparecem como visitantes ao grupo em que ela serve.

Outros “conversam normalmente com ela”.

Isto também é certo, entretanto é preciso lembrar que ela dispõe

de recursos mediúnicos adequados a receber, pela audição coclear –

psicoaudiência. Os diálogos mentais, usualmente, senão sempre, são

realizados em estado de transe mais profundo, ou mais superficial.

Regina acrescenta: observo com muita frequência a dificuldade

que certos espíritos encontram em transmitir nomes, datas, aspectos

geográficos e outros dados concretos e objetivos. “Drake” por

exemplo.

Como podemos observar, o que está em jogo no mecanismo da

captação de uma comunicação espiritual não são os sentidos

individuais – visão, audição, tato e etc. – mas o dispositivo central que

comanda e integra os sentidos em uma percepção global, onde a

mensagem captada não é visão, nem audição e muito menos palavras,

mas sim uma ideia, de vez que os instrutores foram taxativos e

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enfáticos ao declarar que os espíritos não têm linguagem articulada,

apenas os pensamentos.

Logo, eles não impressionam os sentidos um por um, mas o

núcleo central, no cérebro, onde as impressões sensoriais não

analisadas, são processadas e convertidas em imagens, sons ou

palavras faladas e escritas, ou permanecem como meras impressões,

que jamais atingem o estágio sensorial.

A tradução do pensamento recebido do espírito manifestante já é

a elaboração do médium e não emissão do espírito.

Hermínio C. Miranda nos ajuda: como certos espíritos atuam

diretamente sobre os centros nervosos da visão – diencéfalo – ou da

audição – cóclea –, uns tantos outros devem atuar diretamente sobre

os centros nervosos da fala ou da motricidade.

Basicamente, o processo é um só: a força do pensamento que

expede comandos mentais aos diversos centros, como se o corpo que

lhe está sendo emprestado pelo médium fosse seu próprio, tal como

ensina Kardec. Isto explica ainda, porque é possível a um só médium,

como tem sido observado, receber simultaneamente dois ou três

espíritos, um deles escrevendo com a mão direito, outro utilizando a

esquerda, enquanto um terceiro fala por psicografia.

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A comunicação mediúnica compreende quatro etapas distintas:

I. Transmissão de pensamento do espírito manifestante para o

médium;

II. Recepção desse pensamento e processamento dessa informação

na unidade central sensorial do médium, que a converte em

imagem, som ou palavra;

III. Quando o médium emite para o destinatário não mais um

pensamento, mas a palavras, seja escrita ou falado, com a qual

procurar descrever a “imagem” ou “som” recebido do espírito

sob forma de pensamento puro;

IV. Essa etapa vem diferenciar a realidade do médium em torno da

mediunidade consciência, semi-consciente ou mesmo a

sonambúlica, assim como os estados de desdobramento.

Essa quarta etapa é em torno do estado de hipnose relatada por

Léon Denis no livro “No invisível”:

“Em mais elevadas graduações, no estado de hipnose, a

exteriorização se acentua até o desprendimento completo. A alma,

quando liberta de sua prisão carnal, paira nas alturas; seus modos de

percepção, subitamente recobrados, lhe permitem abranger um vasto

círculo e se transporta com a rapidez do pensamento. A essa ordem de

fenômenos pertence o estado de transe, que torna possível a

incorporação de espíritos desencarnado ao envoltório do médium,

deixando-o livre, semelhante a um viajante que penetra em cada

devoluta.”

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Eis a realidade dos médiuns que fazem cirurgias espirituais, pois

colocam o seu físico a disposição dos médicos espirituais.

Os “Carismas da Mediunidade” são palavras exatas para não

criarmos atavismos em torno do entendimento quanto se os espíritos

falam ou não falam.

Afinal, os espíritos falam ou não entre eles?

Tenho notícias de que Chacrinha continua fazendo

apresentações juntamente com Clara Nunes, Cazuza e outros, para

beneficiar o despertar da consciência dos espíritos recolhidos nos

umbrais.

A linguagem universal dos espíritos, em essência, é sim a do

pensamento, mas as variáveis surgem em função de espíritos muito

ligados a matéria.

Na pratica mediúnica, o fator importante de uma boa

comunicação reside nas condições morais do médium. Por isso é

importante que ele esteja sempre vigilante, policiando seus atos e

pensamentos, como alguém atento a limpeza e a higiene de sua casa.

É preciso ser zeloso mesmo quando está só, como também

nunca se sabe a que hora poderá chegar uma pessoa necessitada de

um passe, ou amigos espirituais buscando-o para um atendimento

urgente.

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A consciência de sua responsabilidade pessoal é essencial a sua

mediunidade. Somente vivendo em responsabilidade, a mediunidade

se torna confiável, proporcionando que o pensamento do comunicante

chegue ao destinatário da comunicação na maior pureza possível.

Médiuns orgulhosos, vaidosos e preconceituosos sempre

relutam em ceder seus canais e neles conceder suficiente espaço e

liberdade ao comunicante.

As deficiências morais como o medo, o orgulho, a vaidade e a

lisonja formam bloqueios e criam obstruções e interferências. Quando

o receptor da comunicação se encontra defeituoso, podemos comparar

com um rádio em estática e interferências causados pelo mal tempo.

O livro “Muito além dos neurônios” de Núbor C. Facure da

Ame-Brasil – Associação Médica Espírita – aborda o assunto da

seguinte maneira:

“O nosso cérebro nos predispõe para um determinado tipo de

atuação diante do mundo que nos cerca. Acreditamos que a mente

instrumentaliza o cérebro para sua inserção no mundo físico e que o

cérebro não pode conter toda a potencialidade da mente se a

considerarmos como espírito que vivenciou múltiplas experiências em

vidas sucessivas.

Podemos conjecturar que hoje, somos apenas aquilo que nosso

cérebro nos permite estar sendo e não tudo aquilo que o espírito é ou

já foi”.

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Nada na vida ou no espiritismo deve ser engessado e em torno

do fenômeno mediúnico, veremos que cada colocação está certa, ou

seja, devemos procurar retirar a essência de cada situação.

12 – Força mental

A mente é dínamo gerador de energia de difícil catalogação. É a

exteriorização do espírito, interpretado pelo cérebro que o transforma

em ideias. O seu teor vibratório é resultado do sentimento daquele que

o emite.

13 – Experiências de um doutrinador

Todo o conteúdo apresentado foi com relação a assuntos

atinentes à mediunidade. A partir de agora estaremos transcrevendo

algumas experiências doutrinárias do engenheiro pela Universidade

Federal do Ceará e professor de Ciências e de Matemática na rede

pública do estado, Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro.

A nossa intenção é pode pincelar algumas informações que

atendam as necessidades individuais de cada um de nós. É necessário

que os médiuns, além de conhecer as nuanças do fenômeno

mediúnico, conheçam também os procedimentos doutrinários

exercidos pelo doutrinador do seu grupo. Esse entrelaçamento

beneficia os resultados da reunião mediúnica.

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A exposição do doutrinador Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro é

interessante e tem o poder, em cada momento, de nos forçar a refletir.

Se o nosso coração não tiver a luz do amor, o tédio irá se apresenta,

pelo motivo de não conseguirmos sentir o que está escondido em suas

entranhas filosóficas e cientificas.

Podemos entender que o trabalha seja somente uma ocupação

material?

Segundo a pergunta 675 do Livro dos Espíritos, o espírito

trabalha com o corpo. Toda ocupação útil é trabalho.

Observação: É inerente ao grupo empenhado em trabalho

desobsessivo, de que esse trabalho continua durante o sono físico. São

resgastes, doutrinação, treinamentos, cursos, passes em enfermos.

-Houve uma semana em que alguns de nós, estivemos ausentes dessa

salutar atividade noturna – comenta o Dr. Luiz

– Prestos, os espíritos nos pediram persistência e bom ânimo, para que

o trabalho do Cristo não viesse a sofrer interrupções.

Como doutrinador, perguntei aos companheiros a razão da

ausência de alguns no costumeiro trabalho durante o sono e repouso

do corpo. Não souberam responder, visto manterem-se firme no

propósito de acertar, frente aos compromissos assumidos. Resolvi

dialogar com o dirigente espiritual, que elucidou:

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-Alguns médiuns estão acompanhando a série que a televisão

está mostrando – holocausto – e como a mesma apresenta cenas muito

fortes e violentas, eles vão dormir com tais cenas registradas na

mente, dificultando o trabalho.

-Mas isso é suficiente para refletir no trabalho? – insisti.

-Vão dormir tarde. Impressionam-se com os episódios e

dificultam o desdobramento na hora aprazada (...). Chamo, ainda, a

atenção dos irmãos para as leituras indevidas, filmes não

recomendados, conversações fúteis e inoportunas e o excesso de

alimentação carnívora, fatores que dificultam o desdobramento (...)

Este deve ser o pensamento do trabalhador, cujo esforço o

credencia a perseverar até o fim, com os que serão salvos segundo

afirmativa de Jesus.

Esse dirigente, em um bate-papo descontraído, se expressa

brincando: nesses grupos em formação, identificamos médiuns com as

seguintes características:

v O médium diamante, portador de muitas arestas a serem

lapidadas nos dias subsequentes. Ao final do primeiro mês de

treinamento, percebi que um dos médiuns o havia abandonado,

talvez em razão da rígida disciplina que procuramos cultivar,

indo procurar outro centro, mas retornando ao nosso convívio

posteriormente;

v Um segundo, acostumara---se a orar baixinho, quebrando o

silêncio do ambiente com leves assobios;

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v Um terceiro, alternava---se em presenças e faltas;

v Um quarto, geralmente dormia com muita facilidade após a

penumbra invadir a sala.

Iniciei a quinta reunião do grupo falando sobre essas

dificuldades a serem administradas pelo doutrinador e sobre os

diversos tipos de mediunidade. Após exposição séria e compenetrada

de trinta minutos, comentei que existiam outros tipos de médiuns,

ainda não catalogados nos estudos doutrinários:

• O médium macaco: é o irmão que não se contenta com as

normais disciplinares e fica sempre a procura de outros

grupos. E quando o problema não é do centro, e sim dele,

pois não consegue adaptar-se a lugar nenhum, ficando a

pular de galho em galho, até que em determinado ele terá

que aterrissar, acordando para a realidade;

• O médium passarinho: é aquele que ainda não aprendeu a

orar mentalmente, sentindo a necessidade de pronunciar as

palavras da oração, emitindo sons e silvos, que embora

baixinhos, prejudicam a concentração dos demais

companheiros;

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• O médium bate-fofo: é aquele com cuja presença não se

pode seguramente contar. Ele arranja sempre um pretexto

para ausentar-se da reunião, dificultando o próprio

aprendizado;

• O médium sonolento: sonolento não é a mesma coisa que

sonambúlico. Este primeiro aproveita a música e a

penumbra para tirar uma soneca dizendo estar desdobrado.

Eu ia continuar quando um dos companheiros me fez a seguinte

indagação:

-E o doutrinador, não pode ter nenhuma mediunidade? -Não é

aconselhável outra mediunidade a não ser a intuitiva – respondi – A

de vidência poderia ser muito útil, mas com muita disciplina.

-Mas acabo de detectar um tipo de mediunidade no senhor –

respondeu ele.

-Em mim? Qual? – perguntei surpreso.

-O senhor é médium tesoura, pois não nos tem poupados nas

falhas que apresentamos – explicou ele.

-Peço desculpas pelas tesouradas e agradeço a crítica benéfica

que me fez, possibilitando-me identificar a sua mediunidade.

-Minha? Mas não sou médium, sou apenas passista. -Engana-se

amigos! Você é médium, a sua mediunidade possui inestimável valor.

É médium diamante. -Diamante? – perguntou ele, sem entender. -

Sim! A única coisa que pode cortar uma tesoura.

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Temos a necessidade de refletir. Mesmo sendo um momento de

descontração, existe um universo de comportamentos a serem

alinhados nessa educação entre pessoa do mesmo grupo mediúnico.

O espírito que anima o corpo de uma criança é tão desenvolvido

quando do adulto?

Resposta do Livros dos Espíritos, pergunta 379: Pode ser até

mais, se progrediu. Não são os órgãos imperfeitos que o impedem de

se manifestar. Ele age de acordo com o instrumento, com a ajuda do

qual pode se manifestar.

“Ninguém tem mais do que aquele que dá a vida pelo seu irmão. Essa

foi a lição de Lucinha – espírito desencarnado que nos auxilia nas

reuniões de desobsessão, que veio a nos ensinar, quando a atendemos

em movimentada noite de socorro aos necessitados.

A princípio, foi uma comunicação como outra qualquer. Uma

criança de oito ano, que levara um tiro desencarnara. Mas a medida

que ela contava a sua história, eu me emocionava mais a cada

instante, a tal ponto de quase ver, ou melhor, quase enxergar pelos

olhos da mente, a cena que a transportou para o mundo dos espíritos,

onde se ambientou logo nos primeiros dias.

-Tio! – disse ela – Eu amo as árvores, as flores, o céu, eu amo as

pessoas e os bichos. Amo porque sei que tudo foi feito por Deus, e

como aprendi que Deus é amor, vejo Deus em todas as coisas. Sabe

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Tio, aquele homem ia matar o passarinho, mas ele não podia fazer

aquilo. Um passarinho embeleza o mundo. O passarinho ama as

plantas e canta tão lindo! Eu não podia deixar aquele homem matar o

passarinho. Ele podia ter filhotinhos que estavam esperando por ele.

Então aquele médico me trouxe para falar com o senhor.

Hoje Lucinha trabalha conosco, ensinando às crianças que

recolhemos que o amor é a única força capaz de reverter a dor em

calma, a angústia em esperança, o desespero em paz.

Quando os enfermos se apresentam para atendimento, eis o que

Lucinha entrega, uma rosa para cada um. Lê páginas de

reconfortantes mensagens. Lembra Jesus, o médico divino, que

prescreve o amor como infalível remédio para os males da alma.

Quando o vingador, o obsessor, se apresenta rancoroso, Lucinha é

avistada orando por ele, ofertando-lhe flores, lembrando esta ou

aquela virtude que possuem, soterrada pelo entulho da rebeldia.

Quando algum médium está desmotivado, depressivo, o recado

é instantâneo, parecendo até que nos segue sempre vigilantes, para

que a tristeza e o desânimo não nos arme, tocaias, desgastando-nos as

energias. Invariavelmente, o seu recado é sempre sobre o amor.

-Quem ama não tem tempo para ser infeliz, é o que dizem – diz

ela.

Às vezes, espíritos maldosos agridem-na verbalmente em

retribuições a seus recados amorosos.

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-Esses são os que mais precisam de amor – é a conclusão que ela

tira do desamor.

E quando fora do centro, palmilhando o cotidiano, avisto

agressões generalizadas entre irmãos, agressão à vida, à natureza,

lembro da menina que deu a vida por um passarinho e ela me diz

sempre: “O amor não tem outras razoes. Só o que ele quer e faz é

amar”.

Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?

Livro Dos Médiuns, cap. XX, tomo 226: Perfeito? É pena, mas

bem sabes que não há perfeição sobre a terra. Se não fosse assim, não

estaria nela. Digamos antes bom, e já é muito, pois são raros. O

médium perfeito seria aquele a que os maus espíritos jamais ousassem

fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, sintonizando-se

somente com os bons espíritos, tenha sido menos vezes enganado.

Diante do acima exposto, quero fazer um comentário quanto a

uma companheira médium do nosso grupo, a título de aprendizado de

todos nós.

Para mim ela era uma médium perfeita. Muitos anos de prática e

estudos mediúnicos, aliados a uma sólida moral evangélica, que me

faziam assim acreditar.

Ao dar passividade, fosse o espírito comunicante um enfermo,

um suicida, um obsessor, um pseudo-sábio, a educação ali se

expressava, em forma de controle da mensagem e da ação de quem a

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usava como instrumento de comunicação. Nada de gritos, de alteração

na respiração, de gestos agressivos, de bater na mesa.

Minha atitude para com ela era de inteira confiança, razão pela

qual afrouxava um pouco a vigilância no tocante ao uso da crítica

sincera e no emprego do bom senso ao avaliar suas comunicações.

Um dia comunicou-se através dela um companheiro com todas

as características de real necessitado:

-Ajude---me por favor! Faça-me uma caridade!

Acorri com passes e palavras de esperança para o irmão, que

apesar da ajuda emergencial, continuou seus lamentos de doente

grave. Fiz uma prece a Jesus, solicitando, na medida da urgência, da

necessidade e do seu merecimento, alívio para aquele sofredor.

Voltei a dialogar com ele, lembrando-lhe preceitos evangélicos

que lhe incutissem um pouco de esperança e otimismo.

Ele caiu na gargalhada.

-Eu não disse que um dia te enganava? Peguei dois bobos de

uma vez só – e continuou a zombar – Onde a médium perfeita? Vocês

são todos uns patetas. Estou gozando de muita saúde.

-Você tem razão quando nos lembra da nossa imperfeição –

respondi – Contudo, somos imperfeitos a procura da perfeição. E

pobre de ti, que és imperfeito e te comprazes na imperfeição. Não nos

enganaste por completo. Enganaste a ti mesmo, pois que te julgar

saudável, quando estás doente carregando dores atrozes.

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-Doentes? Eu? Estou é vendendo saúde.

-É o que pensas. Vejo que teu coração se acelera, começas a

suar frio. Breve sentirás forte aperto nas têmporas. A dor é inevitável

nesses casos – através de sugestão e de um pedido mental, solicitei

aos dirigentes espirituais que, por meio de técnicas hipnóticas e

magnéticas, o levassem a sentir-se realmente doente.

Em particular, eu entendo que no conhecimento diário entre o

doutrinador e os mentores espirituais daquela reunião, não seria

necessário o pedido, pois nas atitudes do doutrinador eles já sabem

qual o remédio corretivo que o espírito rebelde necessita.

Esses são momentos em que o remédio recomendado pelo

dirigente de forma precipitada, pode não ser o adequado. É necessário

muita cautela e sintonização com a intuição.

O espírito começou a sentir tremenda pressão na cabeça, e disse:

-Seu bruxo! – ele já demonstrava os sintomas da doença que lhe

sugerimos ser portador.

-Aí está o resultado de tua gracinha, meu amigo, não se deve

brincar com as coisas sérias. Enganaste a ti próprio, pensando-te

saudável. A verdade é que somos todos doentes, precisando do

médico divino que é Jesus.

Terminada a reunião, conversei com a médium. O comunicante

apresentara-se com o períspirito chagado e a aparência debilitada, o

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que lhe imprimira o aspecto doentio, encenação armada com a sua

mente.

Para melhor enganar a médium, ele atraiu para si fluídos

característicos de doentes, os mesmos utilizados pelos dirigentes da

casa para mostrá-lo enfermiço. Disciplina correta.

Voltei então à prática costumeira de observar atentamente as

comunicações, como aconselhou o mestre Kardec. Analisar

criteriosamente, independente de quem seja o médium ou o

comunicante, pois a perfeição ainda é algo que os séculos estão

preparando na fornalha do tempo, para a terra do futuro.

Quantos aos médiuns, muita ajuda e orientação.

Qual a causa do abandono do médium pelos espíritos?

Livro dos Médiuns, cap. XVII, tomo 220: O uso da mediunidade

é o que mais influi sobre os espíritos bons. Podemos abandoná-lo

quando ele a emprega em futilidades ou com a finalidade ambiciosa,

quando se recusa a transmitir as nossas palavras ou a colaborar na

produção dos fenômenos para os encarnados que apelam a ele ou que

precisam ver para se convencer.

Esse dom de Deus não é concedido ao médium para o seu

prazer, e menos ainda para servir às suas ambições, mas para servir ao

seu progresso e para dar a conhecer a verdade aos homens. Se o

espírito vê que o médium não corresponde mais aos seus propósitos,

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nem aproveita as instruções e os conselhos que lhe dá, afasta-se e vai

procurar um protegido mais digno.

A mediunidade exercida por seres evoluídos é coisa rara em

nosso planeta, sendo muito mais comum o caso em que o exercício

mediúnico é realizado por espíritos devedores da lei, que solicitam ou

recebam essa faculdade como prova, prova vencida quando bem

desempenhada.

Esses irmãos recebem a incumbência de pagar com amor as

dores que provocaram em seus semelhantes. No sistema de crédito

divino, uma dor não exige como pagamento uma dor por igual. Jesus

afirmou: “Ninguém entrará no reino dos céus sem pagar o último

ceitil”. E como o amor é a moeda corrente em todo o universo, jamais

serão negados ao médium os créditos ou fiadores de que necessita.

A mediunidade é considerada, desse modo, uma escada de

acesso para Deus, desde que aquele que a possui ostensivamente a

utilize dentro dos padrões éticos espirituais.

Ser médium não é apenas tornar-se passivo ao companheiro que

o busca, facultando-lhe o direito à voz. É fiscalizar suas intenções,

pensamentos que carrega. No caso, um chicote enrolado no ombro e

outros instrumentos, selecionados segundo a missão que vai

desempenhar.

Ele é acompanhado dos médiuns em regastes perigosos, em

ambientes de grande hostilidade. Traz obsessores rebeldes que

necessitam comparecer à reunião, exus ou quaisquer outros agressores

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de aluguel para que possam desfazer seus trabalhos, muitos dos quais

feitos contra o grupo mediúnico. E isso ele fez como ninguém.

Em nosso grupo temos o estimado Arakati:

Depois de tantos anos de convivência com ele, aprendi que suas

armas não são ornamentos estéticos. Na hora de utilizá-los ele não

vacila, malgrado a opinião de alguns “amantes da mansidão”, que

geralmente nunca participam de uma reunião de desobsessão para

verificar de perto a violência que é praticada pelos espíritos trevosos,

em nome da justiça.

Estes se arvoram em “defensores da justiça”, em nome dela

praticam as maiores atrocidades, espalhando a violência e o medo,

sendo eles mesmo facínoras, criminosos, torturadores, tentando burlar

a lei transvestindo-se de justiceiros.

As pessoas que acham que uma palavra enérgica, a imobilização

de um agressor, a sua prisão em grande, o tolhimento da visão e a

interrupção da voz são falta de caridade, não entendem que existe um

limite para o livre-arbítrio, que se ultrapassado, exige cerceamento

imediato a favor da ordem e da disciplina universal.

Muitos espíritas inexperientes nem se quer sabem como é

comum espíritos dessa natureza declararem que são inimigos do

Cristo.

Os bons espíritos não podem e nem devem ficar inertes diante

das agressões das trevas, pois estaria caracterizando a “omissão dos

bons”, também no plano espiritual.

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Então, estudando, trabalhando, amando, renovando-se, a pessoa

se firma como operário de Jesus, aprendiz dos bons espíritos e

vencedor de si mesmo, através da atividade incessante de várias

reencarnações.

A respeito da Mistificação, o Livro dos Médiuns, cap. XXIV,

tomo 259 explica:

Um meio às vezes usado com sucesso para assegurar a

identidade quando o espírito se torna suspeito, é fazê-lo afirmar em

nome de Deus todo poderoso que é ele mesmo.

Acontece de muitas vezes o usurpador recuar diante do

sacrilégio. Depois de ter começado a escrever –, na comunicação

falada essa técnica oferece o mesmo resultado satisfatório – afirma

em nome (...), para e risca encolerizado traços sem significação ou

quebra o lápis.

Sendo ainda mais hipócrita, contorna o problema através de uma

omissão, escrevendo por exemplo: “eu vos certifico de que digo a

verdade” ou ainda “atesto em nome de Deus, que sou eu mesmo que

vos falo” e outros. Mas há ainda os que não são assim escrupulosos e

juram por tudo o que se quiser.

Um deles se comunicava com o médium dizendo-se o próprio

Deus, o médium, então, muito honrado com tão elevada graça, não

hesitou em acreditar. Evocado por nós, não ousou sustentar a

impostura e disse:

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-Eu não sou Deus, mas sou seu filho.

-Então sois Jesus? Isso não é provável, porque Jesus está muito

elevado para empregar subterfúgios. Ousais afirmar em nome de

Deus, que és o Cristo?

-Eu não disse que sou Jesus, disse que sou filho de Deus, porque

sou uma de suas criaturas.

Deve-se concluir disso que a recusa de um espírito em afirmar a

sua identidade em nome de Deus é sempre uma prova de que usa de

impostura, mas que a afirmação nos dá apenas uma presunção e não

uma prova de identidade.

Como doutrinador, utilizo-me às vezes de um médium vidente,

como auxiliar, no caso de dúvida quanto a identidade de algum

espírito, quando desconfio que ele não é quem afirma ser.

Estou convicto de que esse procedimento não deve ser

frequente, uma vez que o doutrinador deve ter segurança e seguir as

intuições que, em geral, não lhes faltam em momentos difíceis.

No mais, ele deve estar preparado intelectualmente, conhecendo

pelo menos as obras da codificação espírita, o que lhe propicia

inúmeras saídas para as situações em que percebe o embuste, por

minúcias técnicas ou psicologias, incluindo entre estas a própria

expressão facial do médium que, em muitos casos, consegue retratar

as emoções do espírito comunicante.

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Certa feita – diz Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro – um espírito

apresentou-se com uma voz melosa – que me pareceu um pouco

artificial, o que deve ser o suficiente para deixar o doutrinador atento

a seus gestos, palavras e intenções – dizendo-me:

-Venho agradecer a esse grupo maravilhoso, que muito tem sido

testado na fé, superando os mais difíceis obstáculos, pelas curas que

vem proporcionando a inúmeros necessitados. Louvo o trabalho

incessante de vocês, que já são espíritos conscientes, possuidores de

muitos méritos junto ao Senhor da Vida. Quantos dariam tudo para ter

essa luz que vejo em vocês! Quantos ainda se arrastam na lama,

enquanto vocês já contam com as venturas do evangelho instalado em

seus corações.

Notando-lhe a prodigalidade de elogios, fiz---lhe o seguinte

convite:

-Já que o irmão acompanha e aprova o nosso trabalho,

observando-nos constantemente, oremos juntos pelos doentes, pelos

injustiçados, para que a verdade se sobreponha à mentira, a luz

afugente as trevas e a honestidade venha finalizar o reinado do

engodo, da mentira e da falsidade sobre a terra.

Grande foi a minha surpresa quando o ouvi fazer uma prece tão

linda quanto a de Caritas. Uma verdadeira poesia, uma preciosidade

literária. Após a oração, contudo, veio o conselho, cujo veneno

sutilmente velado, identificou-lhe os objetivos:

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-Apesar de todos aqui estarem com o Cristo e deles receberem

força, o ânimo e a coragem na luta diária, noto na fisionomia de

alguns o cansaço pelas árduas tarefas. Conversei com o mentor de

vocês, e ele permitiu que aquele que estivesse se sentido afastado,

pudesse ausentar-se por alguns dias ou semanas, para a recuperação

devida. Deus supre a falta.

Identificada estava a sua farsa e evidente a sua missão: minar

pela vaidade através dos elogios, provocar baixas no grupo pela

ausência de alguns invigilantes que lhe aceitassem a sugestão.

Paralelamente, os seus comparsas tratariam de provocar nesses

companheiros, sensações de esgotamento, de cansaço, irritação e

vertigens. Essa foi a intuição que recebi claramente.

Intrigado com a prece que eu ouvira, principalmente porque não

notara nela o sentimento, a emoção e o fervor que caracterizam a

sinceridade na oração – fato que mais o identificava como

mistificador – perguntei baixinho ao nosso médium vidente:

-Como se apresenta esse espírito?

Eis o momento da ajuda útil, quando o médium vidente percebe

que é o momento exato de dizer rapidamente: esse espírito está

mentindo. Nunca dizer: o médium está equivocado.

Paradoxalmente, o vidente é aquele que vê muito e deve falar

pouco, para não quebrar o silêncio da vibração do grupo. O vidente

corre muito risco de ser enganado pelas projeções e visões

equivocadas.

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Entretanto, no decorrer da sua atividade nas reuniões

mediúnicas, dificilmente vemos algum espírito dizer: tal informação

não é verdadeira. Eis a segurança que o dirigente/doutrinador tem

naquele momento.

Uma informação equivocada tem um peso terrível na harmonia

do médium, no doutrinador e no grupo mediúnico. O vidente deve

adotar como norma, o seu policiamento no falar em relação ao que vê.

Se assim não proceder, ele eventualmente cairá na cilada dos inimigos

da luz.

Uma informação equivocada, independente de qual tipo de

mediunidade ela venha, conduz o grupo a considerações não

expressas a princípio, mas que logo mais desaguam no “disse me

disse”. Desarmonia previamente orquestrada pelos inimigos da luz.

Luiz Gonzaga declara que suas consultas – via vidência – são

raras, pois ele acredita que a constância nessas indagações pode levar

o doutrinador a uma espécie de dependência, inibindo a sua intuição,

tornando-o inseguro, uma vez que com isso, ele passe a enxergar

apenas pelos olhos do vidente – o qual também pode ser mistificado,

descrevendo cenas preparadas pelos seus adversários.

Outro inconveniente dessa prática é gerar no médium

consultado, caso ele seja descuidado, a vaidade de ser frequentemente

requisitado, com o que pode empavonar-se, passando a caminhar em

baba de quiabo. É como jogar a casca de banana para o médium

escorregar.

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Voltando a pergunta, o médium vidente respondeu: -Ele trouxe a

prece escrita em um papel e apenas leu. Descoberta a sua farsa, ele

quis retirar-se. Era um jovem ator utilizado por espíritos trevosos

empenhados em constante luta contra as casas espiritas. A dor ainda

não o havia ensinado suficientemente sobre a dignidade nos palcos da

vida.

Recomendei-lhe outro papel: o de trabalhador da última hora, do

semeador que saiu a semear as suas sementes.

Ele estava amedrontado pela falha na interpretação do papel que

lhe haviam encomendado. Por isso queria fugir daqueles que o

contrataram.

Eis o momento em que digo a mim mesmo: Jesus, temos

conosco a ovelha que foi colocada em nossas mãos, não permita que

seja extraviada.

Ofereço a minha opinião em relação a participação do médium

vidente em trabalho de obsessão:

Confirmo que o médium vidente, quando solicitado pelo

doutrinador, é um auxiliar precioso. Mas deve ter muita prudência,

quando voluntariamente venha a tecer comentário no momento em

que o médium esteja envolvido mediunicamente.

Ao comentar tal situação na qual não retrata a realidade que o

médium está percebendo, ele desarmoniza o psiquismo do médium,

que se vê forçado a questionar-se: “ele disse isso, mas eu vejo aquilo

ou sinto assim.”

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Mesmo Chico tinha muito cuidado em não ser enganado no

exercício da vidência.

Na atividade mediúnica, é natural que o médium vidente torne-

se psicologicamente imperativo e impulsivo em relação ao farto

material mediúnico que lhe é dado a observar. Acredito que esse

impulso seja maior se ele não estiver prepara para apenas observar,

mantendo-se em silêncio mental.

Não estamos falando que deve ser um vidente mudo, mas a falta

da disciplina interfere na harmonia psíquica do médium.

Como se tal imperatividade não bastasse, ele percebe, assim

como outros médiuns, com alguma nitidez, que nem sempre o

doutrinador é feliz na condução de tal diálogo. São momentos em que

ele deve abster-se do comentário, pois nem os mentores espirituais

interferem em nossos equívocos.

Em nenhum momento a doutrinação deve tornar-se dupla, ou

seja, não deve haver interferências mentais – pois em silêncio muitos

se tornam doutrinadores.

A doutrinação também se torna dupla quando um trabalhador se

levanta sem ser solicitado e vai ao encontro de determinado médium

que esteja apenas mediunizado. Pobre médium esse que está

administrando o momento certo para ceder à passividade, pobre

doutrinador que ainda não terminou um atendimento e percebe o risco

de haver comunicação simultânea.

Esse levantar-se e ir até o médium colocando a sua mão na

cabeça, cria um campo energético, forçando-o – mesmo sem a

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intenção – a ceder a uma comunicação fora de hora. Toda imposição

indevida na cabeça do médium é energia transmitida que poderá

oferecer o risco de desdobrar-se facilitando o exercício do animismo.

Tudo tem a sua hora, se alguém cria um momento diferente que

não está na intimidade do doutrinador, ele ficar desarticulado na sua

sintonia.

Não devemos, com isso, deixar de utilizar a participação

importante de quem identifica um momento saudável de ajudar. E

assim sendo, cabe a pergunta:

Por que aquele que se propõe a atividade no dia-a-dia dos

trabalhos mediúnicos não pode se levantar e se aproximar do

médium, orando por ele e pelo necessitado que está próximo, sem

impor as mãos?

A pergunta em si já é a resposta. Orar não quer dizer impor as

mãos com o risco de uma incorporação em momento importuno. Orar

emitindo sentimentos de paz, fé e esperança não é interferir na

condução da atividade mediúnica do doutrinador. Mesmo assim, esse

levantar-se não deve se tornar rotineiro, ou seja, as pessoas devem

orar sentados em seus lugares.

Como o doutrinador deverá proceder se ele ainda está ocupado com

um atendimento que ainda está em andamento e tal pessoa, ao

levantar-se e pela imposição das mãos, acelera a incorporação?

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Se o trabalho não estiver estruturado em bases sólidos, os

espíritos infelizes poderão deixar o doutrinador na roda das

comunicações simultâneas.

Outras pessoas não poderão ajudar o doutrinador nesse momento?

Respondo com outra pergunta: quem poderia ajudar, quem

poderiam ser promovidas a doutrinadores tão rapidamente? Estariam

essas pessoas em sintonia? E se for uma pessoa que tenha

mediunidade ostensiva e se incorpore no decorrer do trabalho?

Sabemos que em cada incorporação, o grupo deve ficar vibrando

naturalmente e prestando atenção por ser um aprendizado. Mas qual é

o comportamento adequado havendo manifestações simultâneas?

Deverá cada um adquiri capacidade auditiva seletiva, selecionando e

escolhendo para a sua atenção a comunicação do José, do Benedito ou

da Margarida?

Toda a indisciplina torna-se perigosa. Não está incluso aí os

médiuns que são incorporados por espíritos que vem em auxilio a

doutrinação, trazendo informações preciosas ao doutrinador e de

reflexão ao comunicando.

Ø Do que foi dito, nada tem a ver no caso do trabalhador,

que no final de uma incorporação levanta-se e aplica o

passe, ajudando o médium a recompor-se fisicamente e

psiquicamente. Assim como, na necessidade de o

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doutrinador socorrer o médium em uma necessidade, ou

facilitando a incorporação de um irmão que reluta em se

manifestar.

Acredito ser mais correto alguém ficar sentado fora da mesa

com a missão de atender o médium após cada atendimento mediúnico.

Qual pode ser o efeito das fórmulas e prática com a ajuda das quais

certas pessoas pretendem dispor da vontade dos espíritos?

Livro dos Espírito, perg. 553 – o efeito de torná-las ridículas se

não for de boa fé; caso contrário, são patifes que merecem um castigo.

Todas as fórmulas são enganosas. Não há nenhuma palavra

sacramental, nenhum sinal cabalístico, nenhum talismã que tenha uma

ação qualquer sobre os espíritos. Porque estes são atraídos pelos

pensamentos e não pelas coisas materiais.

• Os falsos profetas que aí estão não incorporam na sua

intimidade os preceitos evangélicos ditados por Jesus: “Quem

com ferre fere, com ferro será ferido” e “De ti será cobrado até o

último ceitil”.

Não há senão os espíritos elevados que cumprem missões?

Livro dos Espírito, perg. 561: A importância da missão está em

relação com a capacidade e a elevação do espírito. O estafeta que leva

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um despacho cumpre também uma missão, mas que não é aquela do

general.

• De Dr. Luiz Gonzaga, Tibiriçá é um amigo índio –

desencarnado – que impressiona à primeira vista pelo seu porte

majestoso de guerreiro. Traz além da lança, trabalho e

renovação. É o primeiro enfermeiro daquele que o solicita,

mesmo para aqueles que o buscam para feri-lo.

Mediunidade é doação, porque sem ela só existe mediunismo,

descompromissado com a doutrina. Observemos que os riachos e rios

recebem água, mas só se tornam férteis quando a devolvem a outras

fontes e ao próprio mar.

Da mesma forma, se apenas recebemos e retemos, distanciamo-

nos da vida. Quando o médium adquire essa consciência, inicia-se

realmente o seu apostolado. No nosso dia-a-dia vimos muitos dele

suportarem as situações mais críticas com fé, desejo de renovação,

procurando-se manterem-se com bom humor e otimismo.

O verdadeiro médium não encontra obstáculos no uso da

vassoura ou da caneta, ao atender o mentor ou o obsessor. Tudo é

oportunidade digna de serviço, portanto, deve ser aproveitada.

A casa espírita que não se estruturar nessas bases, cujas pilastras

não tenham o cimento da fraternidade os tijolos do amor ao próximo,

melhor seria fechar as suas portas para o questionamento, reabrindo-a

somente quando adquirissem o discernimento necessário.

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O médium não é sofredor, nem santo, nem um ser especial

diferente dos outros, mas não deve ser igual a todo mundo. Deve ter

Jesus como guia, Kardec com estudo. Mas claro que isso não é uma

imposição ou fruto do fanatismo. É apenas uma conquista do espírito

consciente e forte.

O médium deve sentir-se feliz atuando. Pois assim procedendo,

ele/ela não abandonará a sua atividade mediúnica, ou seja, fará dela

uma profissão extra, diminuindo ainda mais o tempo reservado ao

descanso. Se for mãe e esposa, somente encontrará sucesso nessa

profissão transcendental oferecendo o amor incondicional, a renúncia

e paciência extremas. Descobrindo, aos poucos, que sem estudo e

aperfeiçoamento, o seu trabalho encontra-se sempre aquém de suas

possibilidades.

Agressores ficam impunes entre os encarnados por força do

dinheiro que possuem. Mas no plano espiritual a moeda é a virtude.

Os dirigentes espirituais não permitem que agressores fiquem

imunes aos apelos da justiça. Querem que eles esgotem seus estoques

de violência e maldade e decidam por si próprio largar o punhal e

tomar o arado.

Pode um homem mau, com o auxílio de um mau espírito que lhe é

devotado, fazer mal ao seu próximo, um homem bom?

Não, Deus não permitiria – Livro dos Espíritos, pergunta 551.

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Deus não permite. E como Deus não vai pessoalmente em forma

de figura humana e toma a pulso o espírito mau, utiliza seus auxiliares

em qualquer estágio de evolução. Quanto a trazê-los imobilizados, é

pelo fato da recusa a um convite formal e à zombaria que fazem dos

conselhos evangélicos.

É sabido por todos que ingressam nas fileiras mediúnicas que, o

escudo da prece e a armadura da vigilância são ferramentas do

cotidiano na construção de muralha protetora contra o assédio dos

espíritos imperfeitos – estes nos observam diuturnamente, como um

clínico a auscultar os sintomas, que sempre existem em nossa

intimidade, visto que ainda nos encontramos distantes de tão desejada

saúde moral capaz de nos colocar a salvo de tais companhias.

Sempre recomendamos que o ambiente da reunião de

desobsessão fique resguardado de conversações fúteis ou sobre fatos e

acontecidos na semana. Esse conselho, entretanto, às vezes se mostra

de difícil acolhimento, em virtude da invigilância dos médiuns.

Por isso, em reuniões mediúnicas sérias, existem sentinelas que

a protegem da invasão e do ataque dos espíritos trevosos que a têm

como quartel inimigo. Natural que haja lanceiros, guerreiros, bravos

como Luiz Tibiriçá.

Se a ordem é trazer alguém, logo mais esse alguém aparece, seja

com seus pés ou carregado, livres ou enlaçados por seu chicote.

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Tenho presenciado centenas de vezes a lança encostada no

pescoço de vampiros que procuram prejudicar os médiuns. Os exus

costumam dizer: “Só estou aqui porque foi esse índio que me trouxe,

senão...”.

Ou então: “Mas o que é isso? O senhor está fazendo apologia da

violência?”

Mansos e pacíficos, acalmem-se, pois sou totalmente contra a

violência. Por isso mesmo, devo zelar para que não a pratiquem.

Uma noite, enquanto a reunião de desobsessão transcorria em

ritmo acelerado, uma das médiuns me chamou discretamente e disse:

-Estou desdobrada, mas ocorre que estou me vendo criança.

Meu períspirito modificou-se independente de minha vontade e está

aparentando uns doze anos de idade.

Então, como um raio, um vampiro sexual tomou-lhe o corpo

carnal e exclamou:

-Onde está a menina? Eu preciso pegá-la.

O vampiro respirou ofegante, procurando a vítima para saciar-

se.

Entendi rapidamente o que se passava. O dirigente espiritual

havia atraído o vampiro à reunião utilizando a médium como isca.

Como fiquei sabendo depois, aquele vampiro havia sido um

estuprador de crianças. Tinha preferência por elas.

Coloquei uma das mãos sobre a testa da médium e a outra sob a

sua nuca, ele logo que percebeu que caíra em uma armadilha.

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Começou a sentir choques provindos de minhas mãos e passou a

ficar desesperado.

Assemelhava-se a um dependente de drogas na síndrome de

abstinência:

-Eu preciso de sexo! Eu preciso dessa menina! – repetia ele com

delírio.

Foi então que o ouvi dizer:

-Não faça isso homem! Você é louco? Não faça isso! Tire essa

lança daí!

-Se você não ficar bem quietinho, o índio decepa o seu órgão –

disse o dirigente.

E para minha surpresa, ele deu tremendo grito de dor e

exclamou:

-Você é louco! Você cortou! Como vou viver agora?

E foi retirado, como aquela cena gravada na memória. Depois

perguntei ao médium que sensação ela sentia por ocasião do corte. O

espírito sentiu-se decepado. Tanto sentiu a dor como a exclusão do

órgão. Foi a primeira vez que vi Tibiriçá fazer isso e confesso que não

entendi bem.

Será que aquilo se passou apenas na mente do espírito ou a lança

realmente decepou o órgão?

Só havia uma maneira de saber, perguntando a Luiz Tibiriçá. Foi o

que fizemos.

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Duas semanas depois do episódio, já no final da reunião, ele

tomou a palavra e disse:

-Você queria falar comigo e aqui estou. Pode perguntar o que

quiser sobre o acontecido com o vampiro sexual.

-Gostaria de saber se a sua lança decepou o órgão sexual

daquele pobre louco ou se os espíritos utilizaram alguma técnica para

que ele se sentisse decepado.

-O pobre louco a que você se refere foi um maníaco sexual, com

preferência por crianças, havendo violentado várias delas. Na prisão

onde foi encarcerado, os outros presos o castraram, por considerá-lo

um infame indigno de viver. Quando desencarnou, continuou com a

sua loucura sexual, transformando-se em perigoso vampiro, que

precisava ser detido, a fim de não provocar crimes bárbaros através de

influência sobre outros desajustados ainda em permanência na carne.

E continuou:

-A ordem que recebi de meus superiores foi de trazê-lo à

reunião, no que utilizei a médium como isca. Quando ele se viu

aprisionado, encostei a lança em seu órgão, mas não o decepei. Os

dirigentes da reunião fizeram nele uma regressão de memória,

obrigando-o a regredir ao momento em que fora castrado. Devo dizer

que ele sentiu toda a dor da castração e saiu daqui convicto de que

estava sem o órgão sexual.

-E quanto àqueles que se sentem amarrados, tolhidos,

chicoteados, com coceiras ou queimaduras?

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-O trabalho que faço está diretamente ligado à linguagem que o

espírito entende. Utilizo de fluido urticante, encosto a lança no

pescoço dos valentes e não vacilo em usar o chicote quando

necessário. Sei que você sabe que isso não me dá prazer, mas se é

para fazer, não dou viagem perdida. Se é para o bem, se é uma ordem

superior, se é por amor a Deus, considero a missão cumprida. Alguém

teria que fazer esse trabalho. Os bons espíritos, doces e meigos, têm

outras ocupações e confiam em nós, guerreiros, para essas tarefas

específicas – disse Tibiriçá, com seus olhos serenos contrastando com

seu corpo atlético.

O fato é, os espíritos necessitados de atendimento, os

obsessores, os suicidas, todos já se encontram no recinto, além dos

nossos colaboradores espirituais, empenhados em avaliar atentamente

a nossa boa vontade e responsabilidade. Por esse motivo, só devemos

adentrar ao ambiente da reunião quando as nossas necessidades de

conversar com os companheiros estejam serenadas em nossas

intimidades. Recomenda-se sentar-se à mesa em atitude de reflexão,

alguns minutos antes do estudo de abertura da prece. Harmonizando-

--se com o clima psíquico salutar já preparado pelos operários da

caridade. A sala mediúnica é o local das cirurgias efetuadas na alma

dos necessitados.

Muitos companheiros alegam que as conversas são

disciplinadas, mesmo assim, devemos ter muito cuidado.

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Exemplo:

Em uma dessas conversações, uma das médiuns falava sobre

pequena enfermidade de seu marido. Naturalmente, era conduzida de

forma fraterna e com nobreza de sentimentos. Seu marido, também

trabalhador da casa, o qual atuava como doutrinador em trabalhos de

educação mediúnica, dizia a irmã:

-Há três dias, meu marido está com um sério problema na

coluna. Ele não está podendo nem se mexer. Pediu para que nós

fizéssemos uma vibração para ele.

Como vemos, não há nada que desabone o mérito dessa

conversa. Aí fica fácil entender quando Jesus disse “orai e vigiai”.

“Eu escuto muito constantemente:

-Sr. Wilson, o senhor é muito exigente, durão. Ao que eu

respondo:

-Durão sim, mas malcriado não.”

Os participantes do grupo dos médiuns não percebem que

procedendo dessa maneira, estou oferecendo a todos segurança e

lealdade ao espiritismo.

Durante a reunião, um espírito com ares de vencedor, comunica-

se, dirigindo-se a companheira cujo marido estava enfermo:

-Eu já iniciei o trabalho de acabar com o grupinho. Comecei

pelos mais fracos. Bastou um jeitinho na coluna e ele caiu como uma

galinha morta.

Dr. Luiz Gonzaga Pinheiro disse:

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-Tive um momento de cristalina intuição de que era um pobre

sofredor querendo tirar vantagem por meio da informação que ouvira.

Estava fazendo passar por feiticeiro, imputando a si, poderes que não

possuía e nem sequer entendia, imaginando com isso, tornar-se

temido, respeitado, ou que o doutrinador o tratasse como distinção

pelo pseudo-estrago que dizia ter causado em nossas tarefas.

Estudando o caso com mais cuidado depois da reunião,

registramos as consequências que poderiam advir para o grupo caso

cedêssemos à sua ameaça.

A atitude do espírito, tentando apresentar-se como o autor da

enfermidade em nosso trabalhador, constitui mais uma técnica de

combate, muito usada pelas entidades que se empenham em dispersar

participantes de grupos espíritas.

As intenções do espírito, na realidade eram:

v Desacreditar o doutrinador enfermo perante o grupo, que

poderia considerá-lo fraco, sem vigilância, porque teria

possibilitado a ação do agressor por ter---lhe cedido alguma

brecha ou espaço;

v Deixar o próprio companheiro em dúvida quanto ao seu

desempenho, podendo torná-lo indeciso, vulnerável e menos

enérgico para com os agressores, por reconhecer---se igualmente

falho;

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v Exaltação do espírito procurando tornar patente o seu pseudo-

poder de ascendência sobre os médiuns, apresentando-se como

capaz de subtrair-lhes a saúde. O médium que admitisse que tais

poderes eles tinham, entrando na faixa vibratória do medo,

poderia ficar neutralizado para o serviço e teria grandes

possibilidades de realmente adoecer.

Pode-se liberar da influência dos espíritos que nos solicitam ao mal?

Sim, porque eles não se ligam senão aos que os solicitem por

seus desejos ou os que os atraem por seus pensamentos. – Livro dos

Espíritos, perg. 467.

O problema da companhia prende-se, em última análise, aos

tipos de pensamentos que emitimos – brechas abertas em nossa

intimidade. Pensar, pela ótica espírita, significa emitir ondas

carregadas de informações e imagens até coloridas.

Quando essas ondas são persistentes, refletindo um desejo do

espírito, eis que acorrem para atendê-lo, ou para simplesmente

acompanhá-lo, os seus iguais. Espíritos que, por união de esforços e

mentes influenciando-se reciprocamente, alimentando-se da mesma

atmosfera ou clima psíquico, no fenômeno da sintonia gerada, partem

para a materialização do desejo alimentado, do ideal acalentado, da

ideia obsedante.

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Nada melhor para identificar o espírito do que os seus

pensamentos. Somos o que pensamos, e quando exteriorizamos uma

ideia, fruto do nosso pensamento, ela sempre reflete aquilo que

caracteriza o conteúdo do nosso coração. O estudo do pensamento

como fator de atração e repulsão entre os espíritos veio destruir a

ideia da solidão, pelo fato de nunca estarmos sozinhos.

Desde que pense, ninguém nunca está só. E se pensa, pela lei

das probabilidades, deve existir outro que pense da mesma maneira

análoga, pelo menos em relação a alguns desses conceitos.

Se pensam de forma semelhante, então na mesma frequência, de

onde se conclui que estão solidários e presentes em pensamento, aí

estará o espírito que o criou.

Contamos, portanto, com as companhias que conquistamos pelo

nosso pensar. São as nuvens de testemunhas das quais falou Paulo de

Tarso, constituídas por entidades com afinidades conosco por uma

identificação clara e firme na área psíquica, o que nos torna

irmanados com elas, manifestando-se em nós e através de nós,

disseminando aquilo que se caracteriza, promovendo alegria ou mal-

estar – de acordo com as ideias que agasalhem.

Pensar, tanto entre os encarnados como entre os desencarnados,

é a arte da criação, através da qual promovemos encontros ou

desencontros, construímos ou destruímos, conforme seja o teor,

benigno ou leal, da onda gerada por nós.

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Deve-se portanto, cuidar de selecionar os pensamentos, vigiar o

verbo, acautelar---se no agir, essas são atitudes sensatas do aprendiz

espírita. Agir como garimpeiro, separando na mina da mente o

cascalho representado pelos pensamentos fúteis, e, retendo para

lapidação o diamante do pensamento translúcido, jóia rara que

promove o bem.

Infelizmente, grande parte da humanidade faz exatamente o

oposto. Usa o cascalho das paixões materiais para soterrar o diamante

da elevação espiritual.

Em um desdobramento efetuado por um dos médiuns em

reunião de estudos doutrinários, ele percebeu que não estava sozinho.

Era seguido por desagradável companhia, entidade a ele ligada por

sintonia estabelecida, como viemos a descobrir mais tarde – não pela

sua insistência em pensar no objeto que dera margem a ligação, mas

por não saber desligar-se no momento preciso de tal pensamento ou

desejo.

O processo de ligação do espírito ao médium ocorreu sem que

este percebesse, em virtude do ambiente desagradável e promíscuo,

frequentado por viciados e prostitutas pelo lado material, e de farta

vampirizacão pelo lado espiritual, nos momentos em que se vê

obrigado a tomar o ônibus para chegar até as proximidades do centro

espírita.

Eis como ele próprio narra o que lhe sucedeu após o

desdobramento:

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-Nós estamos em uma sala, onde observamos algumas pessoas

executando música. É uma orquestra, regida por um senhor bastante

adestrado. Ao meu lado, um irmão que não conheço, diz que eu

preciso voltar a determinado local porque está havendo uma

interferência na minha faixa mental, na minha vibração.

E continuou:

-Esta interferência ocorreu não por minha total responsabilidade.

Um espírito aproximou-se de mim hoje, no local onde eu apanho a

lotação e seguiu junto comigo em desdobramento, como se estivesse

imantado em meu períspirito. O meu retorno é para que os espíritos

façam o desligamento. Esse vampiro imantou-se a mim sem que eu

percebesse. Uma de suas ventosas está presa às minhas costas e a

outra aos meus órgãos intestinais.

E por fim falou:

-Agora, uma mulher está ministrando um passe sobre o vampiro,

que ao sentir descargas energéticas à semelhança de choques, afasta-

se aborrecido. Dois guardas o estão levando para a reunião que está

ocorrendo no andar de baixo – desobsessão – a onde ele deverá

manifestar-se se houver médiuns adestrados para isso. Fui levado

agora à Rua 24 de Maio, a rua onde ocorreu a ligação.

Conversei com ele sobre o ocorrido, havia sido invigilantes em

seu pensar.

Basta um filme erótico, um pensamento lascivo, um desejo

oculto na área sexual. É o bastante para estabelecer uma sintonia, uma

indução.

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Por que no mundo, os maus sobrepujam os bons em influência tão

frequentemente?

Pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os

bons são tímidos. Quando estes o quiserem, dominarão – Livros dos

Espíritos, perg. 932.

É comum nas reuniões de desobsessão, o espírito rebelde não

aceita a argumentação do doutrinador, repelindo os conceitos

evangélicos que o capacitam, senão à paz, pelo menos ao conforto de

livrar-se da incômoda posição de devedor sem posses e iniciar o

pagamento parcelado de suas promissórias kármicas.

Além da recusa, forma demonstrada pela agressividade e pela

intolerância, uma vez que somente não esbofeteia o doutrinador

devido ao servo controle que o médium lhe impõe, ainda usa de todos

os meios ao seu alcance para ridicularizá-lo.

Uma das técnicas mais usadas por tais irmãos é falar

ininterruptamente, sem permitir que o doutrinador intervenha. Com

esta técnica, eles visam dois pontos, para eles capitais. O comunicante

que assim se apresenta vem disposto a não ouvir, pois imagina que,

não ouvindo os lembretes evangélicos que lhe soam como

reprimendas e acusações reforçadas. Pela sua consciência, ele pode

permanecer invulnerável em sua posição de ideias anestesiantes, que

funcionam como defesa. Contra a luz celestial não existem barreiras.

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Assim procedendo, ele tenta esquivar-se de ceder ao

chamamento da ternura, que possui o poder de abrir as portas do

remorso ou do arrependimento, dando vazão aos sentimentos

positivos que, às vezes, encontram-se apenas levemente adormecidos

pelo narcótico do ódio ou da insensatez.

A ternura tem o poder de abrir corações de pedra e derreter o

gelo das grandes inimizades. Ninguém resiste à ternura por muito

tempo. Ou se aceita o seu carinho, ou foge-se dela.

Isso ocorreu quando o doutrinador, agindo com habilidade, após

escutar o drama do comunicante, revelado mesmo que a contragosto,

detecta no caminho do infeliz, alguma fagulha do passado que lhe

tenha sido cara no passado. Essa fagulha pode surgir na figura de uma

mãe, esposa, filha ou até mesmo de um amigo.

O importante é trazer de volta essa emoção, que ele

deliberadamente procura deixar lacrada em cofre forte, por saber que

essas lembranças tem o poder de quebrar-lhe a guarda, de franquear

uma passagem para a esperança que ele quer e ao mesmo tempo não

quer, temendo fragilizar-se ao contato com ela.

Para evitar esse enfrentamento, ele fala como um

desequilibrado, para que o doutrinador fique a margem, fazendo com

que aquilo que deveria ser um diálogo, se transforme em um

monólogo.

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Uma outra maneira de intimidação ao doutrinador, visando

desmoralizá-lo e a recusa do espírito em deixar o médium, pode

simplesmente dizer:

-Eu não vou sair! E agora? O que você vai fazer? Vai me

amarrar? Vai me bater?

Muitas vezes, eles são retirados à força pelos guardar

milicianos, sentinelas da casa espírita. De outras vezes, através de

técnicas hipnóticas, os espíritos os fazem sentir--- se com o corpo em

brasa, com queimaduras e coceiras contundentes, enorme peso na

cabeça, chicoteados.

Cada equipe espiritual tem os seus próprios métodos. Em

absoluto, isso não constitui falta de caridade. É uma medida

disciplinar necessária, sem a qual o espírito que assim procedesse,

recusando-se a deixar o médium, simplesmente tomaria todo o tempo

da reunião em ameaças e impropérios, não levando em conta o

desgaste físico do médium.

O médium pode bloquear uma comunicação. Mas, uma vez

concretizada, torna-se dificultoso o alijamento do hóspede abrigado.

Esse é o motivo do rigor das técnicas usadas, que visam

exclusivamente mostrar ao espírito rebelde que o seu pretenso poder é

muito limitado e que a disciplina é regra áurea da reunião.

Lembro-me de que, certa feita, um desses espíritos garantiu que

não deixaria o médium e que poderíamos usar as técnicas que

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desejássemos. Permaneci tranquilo e cerrei a mente em oração

silenciosa. Ele passou a sentir chicotadas sobre o dorso.

Logo disse:

-Índio covarde!

A cada chicoteada, contorcia-se como a sentir profunda dor.

Suportou apenas três doses. Disse baixinho, talvez para consigo

mesmo:

-Não vale a pena apanhar por tão pouco.

Um espírito de aspecto muito robusto, que foi resgatado por

nossos amigos espirituais após o desencarne, sentindo-se agradecido

com o tratamento recebido, ofereceu os seus serviços na luta do bem

contra a ignorância.

Em outra oportunidade, lidando com outro companheiro rebelde

e teimoso, os espíritos o fizeram sentir-se tolhido através de cordas.

Ele não cedeu. Veio a cegueira. Ele passou a não mais visualizar nada

ao seu redor. Apenas a treva da qual se dizia filho. Por ultimo, a

sensação de ter uma pedra sobre a cabeça, curvando-se para frente,

impossibilitado de voltar à posição vertical. Foi então que ele disse,

em tom de quem entregava aos pontos:

-Vocês são piores do que a gente!

Um terceiro, que teimou em permanecer junto ao médium, para

que este não continuasse o seu trabalho de atendimento aos enfermos,

foi convidado a deixar-nos por outro método bastante persuasivo.

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Notando que o evangelho não lhe penetrava a consciência

naquele momento, visto recebê-lo com zombaria e sarcasmo, recorri à

prece costumeira, despedindo-me e desejando-lhe paz.

-Quem disse que eu vou sair? – disse ele, em resposta aos meus

pensamentos.

-Você está preparado para as consequências da sua recusa? –

perguntei.

-Muito bem preparado, para o que der e vier! – e bateu o pé no

chão com força.

-Não torne a fazer isso! Dessa vez você teve a sorte de não ter

fraturado o pé com os pregos que eu coloquei no chão – exclamei.

Ele bateu o pé com mais força. Dessa vez, porém, emitiu um

grito de dor, em virtude de ter tido a sensação de que seu pé havia

sido perfurado por um prego, de modo que, entre choro e lamentos,

qual menino desconsolado, retirou-se, nos tachando de feiticeiros.

Assim é aplicada a terapia da obediência a irmãos que,

indigentes, julgando-se superiores, inadaptados ao bem, ousam não

conduzir sua vida pelo caminho do bem, anestesiando-se contra os

afagos da quietude dinâmica da paz.

É certo que são espíritos doentes e necessitados. Mas a doce

caridade do evangelho não lhes penetra, pois no momento, a espessa

couraça de ódio e indiferença a que se acostumam. A disciplina – e

não a violência – se faz imperiosa para que a força bruta não se

sobreponha à harmonia geral, em um mundo no qual a violência já é

bastante elástica pela omissão dos bons.

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Poder-se-ia acusar a Deus de ser mau, pela existência do câncer,

hanseníase, amputação do recém-nascido? Na história dos

semeadores, alguns não utilizaram a gleba para a prosperidade das

urtigas e outros para vastos trigais? Seria possível à vida, tão sábia na

matemática das penas e recompensar, negligenciar em tão delicado

tema?

Segundo o Livro dos Médiuns, cap. XIV, tomo 172, “o

sonambulismo pode ser considerado como uma variedade da

faculdade mediúnica, ou melhor, trata-se de duas ordens de

fenômenos que se encontram frequentemente reunidos. O sonâmbulo

age por influência do seu próprio espírito. É a alma que, nos

momentos de emancipação, vê, ouve e percebe além dos limites dos

sentidos. O que ele diz procede dele mesmo. Em geral, suas ideias são

mais justas do que o estado normal, seus conhecimentos são mais

amplos porque sua alma está livre. Em uma palavra, ele vive por

antecipação a vida dos espíritos”.

É comum vermos espíritas ortodoxos cerrarem barreirar contra a

inclusão no estudo espírita de pontos não abordados por Kardec.

Essas pessoas pararam no tempo, esquecendo-se de que o

espiritismo é uma doutrina evolutiva, e que o seu processo crítico

configura-se também na disposição de acompanhar o

desenvolvimento das ciência, prioritariamente daquelas que lhe são

afins.

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Não foi o próprio coordenador da doutrina quem mencionou a

necessidade dela caminhar passo a passo com a ciência?

Quando a humanidade se mostrava preparada para um entendimento

mais racional das leis divinas, não nos visitou Jesus, ministrando tal

atualização, adaptando os ensinamentos à nova realidade da época?

O espiritismo não veio como passo posterior, seguindo a mesma linha

de pensamento e raciocínio?

Perguntamos aos temerosos do avanço doutrinário em áreas não

mencionadas por Kardec: Qual a razão? Fobia do novo? Descrença na

sinceridade dos pesquisadores? Preguiça de estudar? Esperam

revelações contundentes do plano espiritual ditando fórmulas e

normas? Ou medo de descobrir erros ou limitações na Doutrina?

Se tudo está em constante evolução, como o espiritismo poderia ficar

restrito ao que o próprio Kardec afirmou? Já não invadem os espíritos

os canais de televisão, os telefones, os gravadores e os computadores?

Não á ostensiva a participação do pensamento dos desencarnados nas

artes, nas ciências e na filosofia?

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Na terra, a evolução apresenta-se a todo instante, e os

desencarnados de logo mais serão os que estarão participando da

evolução do mundo dos espíritos.

Estão aí as pictogravuras, as psicografias, as materializações, os

transportes, as cirurgias... Será que que todos esses fatos não são

suficientes para mostrar a vontade e o impulso dos desencarnados

nesse contexto evolucionista?

Não estou considerando em absoluto que a obra de Kardec está

superada. Eu o louvo, e conclamo os estudiosos de boa vontade a

prosseguirem na mesma linha de pesquisas austera e coerente com os

princípios já estabelecidos. Mas o espírita deve preocupar-se em

formar a sua opinião a respeito dos eventos novos que os próprios

espíritos mostram no dia-a-dia.

Eis pensamentos contraditórios:

• “Isso é assunto da ciência”;

• “Esse tema não pertence à minha religião”;

• “Aquilo que o orador falou não passa de enxerto”;

• “A codificação não fala sobre o tema, por isso não me

interesso”.

Frases como essas, bem demonstram a estreiteza da visão de

quem as pronuncia e a facilidade com que atestam a própria

incompetência em focalizar o assunto dentro do contexto religioso a

que se filia.

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Não se deve esquecer do que Kardec nos disse:

“Eu não dei a palavra final, toda vez que fatos novos surgirem

à luz da verdade, deveremos acatá-las.”

O próprio Jesus assim se manifestou quanto às informações aos

homens:

“Tenho muito para vos dizer, mas não estão preparados. Em

época oportuna mandarei o espírito da verdade para vos esclarecer.”

É responsabilidade da doutrina espírita, procurar respostas,

aprofundando-se no entendimento do Criador, da criatura e da criação

temática na qual se encontra o cerne da indagações humanas.

Prender-se ao que Kardec bateu e rebateu já seria muito se o

fizessem com afinco. Todavia, espera-se muito mais do espírita

autêntico. Espera-se o alongamento filosófico, a objetividade prática,

a busca científica.

Tudo mais que se disser como argumento contrário, sempre

será, a nosso ver, sintomas de acomodação, ou seja, o engessamento

da própria dinâmica da vida.

Acomodação essa que se disfarça com mil máscaras,

travestindo-se de verdade, mas que não reside ao toque vibrátil da

coragem.

Paulo de Tarso, após o desencarne, encontrou-se cego no plano

espiritual, caído embaixo de uma árvore amiga. “O homem precisa

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servir a Deus, ainda que tateando em densas trevas” – pensou ele,

levantando-se para a ação.

És cego? Paralítico? Hanseniano? Canceroso?

Mesmo que a resposta fosse sim, seria melhor que a morte te

encontrasse com um livro na mão do que em conversações estéreis

acerca da cor da porta do céu, onde julgarias adentrar-se logo mais.

Conversando certa vez com um confrade, homem nascido na

doutrina, tido como conhecedor das intrincadas questões mediúnicas,

este me confidenciou:

-Conheço um médium que se desdobra em quase todas as

reuniões para buscar o espírito necessitado em longínquas áreas,

trazendo-o para comunicar-se. Não acredito nessas coisas. Se vai com

os espíritos, porque estes não vão sozinhos e trazem os necessitados?

Nada respondi, por falta de oportunidade, pois o início da

palestra nos distanciou, interrompendo o diálogo. Fiquei pensando

nos desdobramentos citados. Ao meu ver, o desdobramento é uma

faculdade mediúnica de grande valia nas reuniões de desobsessão,

bem como instrumento de revelação no que tange aos dois planos

onde trabalhamos.

Eu já os tenho assistindo e auxiliando as centenas. E nas

mesmas condições a que ele aludira, sem motivos de descrença

quanto a sua veracidade. Outras informações a respeito da utilidade

do médium em atividade de desdobramento virão a seguir.

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Como se fazer visível a quem não se encontra tal materializado

a não ser com a colaboração do médium? Por que a dúvida, ou

melhor, a reprovação do companheiro?

Rebusquei a memória, dela retirando velhas lembranças que ora

transcrevo. São regastes, nos quais os nossos médiuns se dirigem a

regiões de difícil acesso, acompanhados pelas nossas vibrações e

orações. Eis os relatos que eles fizeram na ocasião:

Primeiro relato:

O local onde me encontro é muito quente. Aparenta ser uma

espécie de cratera vulcânica. Sinto um calor horrível que está me

causando pesado mal-estar. O instrutor me diz que esse recanto se

destina ao aprisionamento, pelos espíritos encarregados de limpar o

ambiente espiritual, dos criminosos, agressivos e violentos. São

espíritos cruéis que aqui ficam isolados em virtudes de suas

tendências guerreiras. Apesar de funcionar como uma prisão, eles não

sabem que são prisioneiros nesse ambiente. São mentes capazes de

muita crueldade.

Observo alguns, possuem aspectos animalescos. Quase

perderam a forma humana. Estamos aqui para resgatar um jovem que

cometeu alguns assassinatos, com requinte de crueldade. Há anos ele

se encontra aqui. Por intercessão de sua mãe, e também por já estar

em condições melhores, ele vai ser resgatado e levado a um

educandário, onde deverá reabilitar-se através do trabalho. Existe uma

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espécie de guarda que mora aqui. Esse homem possui cachorros.

Esses animais descobrem o espírito pelas vibrações.

Segundo relato:

Estamos andando em uma floresta muito fechada. Tão espessa

que a luz não consegue penetrar. À proporção que vamos adiante, a

paisagem vai se modificando. Atravessamos um rio cuja água é

amarelada, barrenta. As vibrações do ar parecem modificadas,

pesadas por assim dizer. Estamos agora amarrados uns aos outros, e

eu me situo no meio da fila indiana. Atingimos uma região deserta.

Não vejo uma árvore sequer e tudo parece escuro como a noite. A

paisagem é formada por pedras escorregadias, lodo, furnas. Sinto o

corpo tão pesado que me desloco com grande dificuldade. O espírito

que vamos resgatar não tem mais forma humana.

Ele já foi localizado atrás de umas pedras e, apesar da escuridão,

nossos amigos dizem que é ele mesmo. É engraçado que consigo ver

no escuro. Sinto que o rosto desse espírito é humano e diviso em

placas dérmicas em lugar da pele. Seus braços são curtos, terminando

em garras – nesse momento o médium sente muita dificuldade em

falar e respirar. Quase não escutamos a sua conversa com os espíritos:

-Por que tenho que ir na frente? Ele está fugindo! Como vou

chamá-lo? Devo chamar pelo nome? Mas qual é o seu nome? Neide?

É uma mulher? Neide! Ela escutou! Ela vai me atacar!

Nesse instante ocorreu a incorporação. O médium passou a

rosnar tendo-se-lhe encurvado as mãos em forma de garras. Procurei,

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chamando-a pelo nome, lembrando-lhe a condição humana. Falei de

seus pais, da sua infância, de como sua mãe a ensinou a orar. Ela

conseguir articular a palavra “mãe”, passando a repeti-la

sucessivamente. Apesar dos passes, das preces e do demorado

monólogo, onde lhe tomei as mãos, solicitando que as abrisse, não

conseguimos maiores resultados.

Ela adormeceu, ainda na forma com a qual chegou, ou seja,

como “mulher crocodilo” nos dizeres do médium.

Terceiro relato:

Estamos penetrando uma mata cerrada. À nossa frente, um

espírito de aspecto um pouco rústico. Ele está nos vestindo com uma

espécie de gibão de couro à semelhança daqueles usados pelos

vaqueiros. Agora seguimos em frente, com ele abrindo caminho entre

os galhos com um facão que trazia à cinta.

Somos três, ouço muitos gritos e lamentos, mas o instrutor diz

que não devemos nos deter para ouvi-los, nem nos deixarmos

impressionar. Cada grito estremece dentro de mim. Atingimos uma

lama escura e pegajosa. Sou alertada para me manter em prece

silencioso, porque esse pântano abriga muitos espíritos desajustados.

Atravessamos a lama e atingimos uma caverna. A paisagem é

tão estreita que temos que nos curvar bastante para penetrarmos em

seu interior. O guia acendeu uma tocha. Vamos em regaste a uma

homicida que se encontrar perdido nessas faunas, como se fugisse de

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si mesmo. Quase não existe ar para respirarmos aqui. Esse homicida,

em um acesso de loucura, matou os quatro filhos.

Consigo ver alguns habitantes dessas furnas. Eles nos causam

medo pelo aspecto sombrio que ostentam. O guia já o encontrou, mas

ele tenta fugir. Seu estado é deplorável. O guia tenta segurá-lo e trazê-

lo até nós. Coitado! O instrutor nos diz que era filho dele. Agora

temos que sair rápido. Essa caverna parece sugar nossas energias.

O irmão que nos dirige diz que esses espíritos podem nos buscar

como âncora de salvação, motivos pelo qual precisamos sair breve.

Esse espírito tinha, ao comunicar-se, o pensamento fixo no crime que

praticara e pedia perdão a Deus constantemente.

Observando a esses três fatos, creio que podemos oferecer

algumas respostas, objetivando esclarecer a razão desses

desdobramentos a locais tão assustadores e o longo detalhamento,

exigindo por parte do médium muita oferta de energias e, limitando o

tempo, para que outros atendimentos houvessem naqueles dias.

v Situações assim servem como treinamento para o médium que

também participou de resgastes semelhantes durante o sono

físico;

v Constitui material de estudo para os aprendizes do espiritismo;

v O períspirito do médium, impregnado de fluídos vitais, favorece

o socorro de emergência ao necessitado.

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Quando a dúvida do dirigente, a respeito da necessidade da

espiritualidade levar com eles o espírito do médium, essas

observações respondem:

Em geral, o períspirito do médium, sendo mais denso, é avistado

por aquele que deve ser socorrido e facilita o momento, pelo fato da

visão restrita não captar a presença dos instrutores espirituais;

Os preparativos para o contato do resgate com o médium,

visando ministrar-lhe o choque anímico, são efetuados no local do

resgate. Ou seja: a comunicação mediúnica, se for o caso, é feita in-

-loco, sem que o espírito manifestante esteja presente na reunião

mediúnica – existem nesses casos, outros dois aspectos que merecem

algumas considerações:

I. As mentes enfermiças criam cenários grotescos, cuja geografia

lhe dificulta o próprio regaste e;

II. O períspirito pode atravessar a matéria do plano físico, mas o

mesmo não ocorre com a matéria do plano espiritual, obrigando-

se a escalar montanhas, atravessar rios, cortar a mata e etc.

A respeito do desdobramento, qual o maior obstáculo ao progresso?

Segundo o Livros dos Espíritos, perg. 785, “o orgulho e o

egoísmo. Eu quero lhe falar do progresso moral, porque o progresso

intelectual caminha sempre e, à primeira vista, parece dar a esse

vícios um redobramento de atividade, desenvolvendo a ambição e o

amor das riquezas que a seu turno, excitam o homem às procuras que

esclarecem seu espírito. É assim que tudo se tem, tanto no mundo

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moral quanto no mundo físico e que do mal mesmo pode surgir o

bem. Mas esse estado de coisas é breve e mudará, à medida que o

homem compreenda melhor que fora dos prazeres dos bens terrenos

há uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável.”

O orgulho é um vício bastante arraigado no coração humano.

Desvencilhar-se dele é trabalho hercúleo, no qual a boa vontade e o

esforço devem empreender longas e árduas batalhas ao longo dos

séculos, pois ninguém se torna humilde entre um nascer e um pôr-do-

sol. É esse vicio que causa ao indivíduo em particular às nações

inumeráveis malefícios.

É por esse sentimento orgulhoso que os crimes se avoluma, as

contentas se instalam nos lares e ambientes, que milhares de

obsessões são alimentada, que as mágoas são conservadas e que o

progresso do mundo é dificultado, retardando a instalação definitiva

da paz e da concórdia no planeta.

Os espíritos não estão imunes à sua virulência. Apesar de

conscientes do seu alto poder corrosivo – com o qual se tornam mais

responsáveis pela intimidade com o que se agasalham. São comuns as

atitudes hostis entre os aprendizes que, empolgados pela luminosidade

e lógica dos postulados espíritas, ingressam na doutrina sem a

legítima prioridade da reforma interior.

Infelizmente, esse vício está incrustado em todas as religiões,

qual células cancerosas a ameaçar órgãos e sistemas. Basta o orgulho

chegar para afastar os nascentes raios do perdão, o embrião da

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humildade, as tenras hastes da fraternidade, a gestação da paz. A

construção do anjo deve passar obrigatoriamente pela destruição

desses vícios milenares. É só através do esmeril da boa vontade, do

buril do esforço e da lixa do trabalho edificante que o espírito

consegue subtrair-se do seu jogo, mostrando a luminosidade a que foi

destinado.

Fomos chamados, certa feita, a ministrar pequenos curso sobre

mediunidade a médiuns que já tinham alguma prática, mas que ainda

eram carentes de subsídios teóricos.

Iniciei o curso fazendo ligeiro histórico da mediunidade,

despertando bastante interesse por parte de todos, que se desdobraram

em perguntas e apreensões. Um deles, entretanto, considerado a

estrela da casa – porque além de ser médium psicofônico ainda

atendia a clientela doente transcrevendo mediunicamente receitas e

remédios – permanecia algo crítico e indiferente às nossas

observações.

Ele logo se ausentou do curso, por dizer-se conhecedor do

assunto estudado e por julgar que ser médium era apenas receber

espíritos.

Talvez se considerasse um profundo conhecedor, ou quem sabe,

se sentisse inibido em participar junto com os outros companheiros de

estudos por ele considerados primários, de vez que há mais de dez

anos exercia dignamente a sua mediunidade.

Passei uma semana, conforme nos narra o Dr. Luiz Gonzaga

Pinheiro, com os companheiros, discutindo à luz da codificação

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espiritas, os assuntos específicos a cada tipo de mediunidade que

apresentavam. Transmiti conselhos recebidos de instrutores da casa

espirita onde trabalho e que muito me ajudaram dado que aclaravam

em muitos pontos dos livros doutrinários.

No último dia, fizemos uma espécie de aula prática. Dispusemo-

nos à mesa e dirigimos a reunião. No final, após os comentários e

observações sobre o desempenho do grupo, um dos médiuns me

entregou um papel com mensagens por ele psicografadas.

Eram conselhos de um amigo para o médium faltoso, ou seja, do

medico que o auxiliava no seu trabalho, pedindo-lhe pelo menos para

ler as bulas de remédios para facilitar a sua atuação através dele,

minorando, com isso, os sofrimentos daqueles buscavam a casa.

Estava faltando ao médium a virtude da humildade, para

reconhecer-se aprendiz.

Como definir o limite em que as paixões deixam de ser boas ou más?

Segundo o Livro dos Espíritos, perg. 908, “As paixões são como

um cavalo, que é útil quando está dominado e que é perigoso quando

é ele que domina. Reconhecei, pois, que uma paixão torna-se

perniciosa a partir do momento em que não podeis governá-la e que

ela tem por resultado um prejuízo qualquer para vós ou para outrem”.

Se o cérebro material nos é desconhecido, é fácil imaginar o

quanto ignoramos a mente, como complexo mecanismo criador e

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modelador. Basta lembrar que há nas regiões trevosas espíritos cujo

poder mental é incontestável, dominando vastas populações,

submetendo legiões de ignorantes que lhes obedecem cegamente,

escravizados, mantidos na condição de serviçais, através de métodos

hipnóticos ou magnéticos, e também, é lógico, pela afinidade das

vítimas com o trabalho que lhes é imposto.

Nesses recantos escuros, eles reinam sem contestação,

manipulando as forças mentais ou utilizando-se da crueldade, com

argumentos respeitados pelos seus subordinados, os quais os elegem

para os postos de comando nessas regiões trevosas.

Essas associações belicosas são frequentemente requisitadas por

espíritos que firmam com eles os mais diversos tipos de

compromissos e negociatas, interessados em vinganças, obsessões,

combate às casas espiritas e toda sorte de trabalhos indignos.

Todavia, aqueles que se escudam na oração e na vigilância, e em

cuja conta cármica não consta maiores débitos, pode prosseguir sem

tropeços, mesmo caminhando no gume da navalha, atingindo, afinal,

os seus objetivos, graças ao suor derramado no esforço de subida.

Assim também tem sido nas casas espíritas.

Ao notar que perdera alguns de seus auxiliares e que outros não

conseguiam cumprir adequadamente os seus propósitos junto aos

médiuns da casa, visitou-nos em certa reunião um desses espíritos-

chefes, assumindo postura calma, porém de intimidação.

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Através da psicofonia, passou a enumerar, para cada um de nós,

as deficiências mentais que ostentávamos, tentando estabelecer um

paralelo para mostrar em que pontos a nossa posição mental era

sensível à sua atuação.

-Já coloquei muitos a dormir aqui – disse ele – basta leve

sugestão e logo sente mal-estar, sono, irritação, desânimo.

E continuou:

-Você não se pergunta ainda por que o seu grupo de estudos está

diminuindo? Pois bem! Aqui estou eu! Vamos! Tentem! Façam-me

sentir coceiras, queimaduras, cegueira! Façam-me sentir amarrado,

imobilizado. Vocês são uns tolos! Domino todas essas técnicas

primárias. Sou um mestre, ouviram? Um mestre!

Tentei dizer-lhe que o único mestre a quem reconhecemos é

Jesus, e que não havia nenhum poder magnético superior à prece,

porém, ele continuou a zombar da nossa fragilidade. Passamos a orar,

mas a prece parecia não surtir efeito algum, apesar de todo o grupo

estar coeso em pensamentos e de dois passistas estarem em constante

atividade junto ao desafiante.

Um dos mentores da casa, após solicitar a permissão para falar,

dirige-lhe palavras de amor e fraternidade, tendo ele respondido que

estava imunizado contra tudo aquilo.

Passamos então, sem desespero nem afobação, com a mesma

calma com a qual saudáramos no início, a mentalizar a figura do Dr.

Bezerra de Menezes, solicitando o seu auxílio.

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O espírito permaneceu igualmente tranquilo, ciente da sua

superioridade. Passados dois minutos – que nunca pareceram tão

longos – de mentalização, ele começou a lutar contra o que dizia ser

uma sugestão que o dominava, fazendo-o sentir-se cego. Exclamava

para si mesmo:

-Não! É apenas uma sugestão!

Mas não logrou recuperar a visão. Após alguns instantes de

esforço mental sem resultado prático, ele se rendeu:

-Então, onde está o mestre que dominou a minha mente com

essa sugestão? Sei que foi isso. Apenas ele tem a mente superior à

minha. Onde ele está? Eu preciso conhecê-lo.

Contudo, nem nós sabíamos onde ele se encontrava. Teria o Dr.

Bezerra feito aquilo à distância, ou se deslocara até nós, atendendo ao

SOS que emitíamos? O comunicante ainda se sentia cego, retirou-se

com uma ameaça:

-Vou voltar aqui! Vou estudar essa técnica. Vou aprofundar-me

mais e voltarei para conhecer esse mestre que me sugestionou.

Ato contínuo, um amigo espiritual nosso comunica-se com

informações sobre o visitante:

-Chamara-se Hermógenes. Vivera em épocas recuadas no Egito

antigo, já dominando técnicas de hipnotismo e de magnetismo

avançadas para a sua época. Sempre tiveram grande paixão por esses

estudos e ainda hoje, continuava pesquisando e aprofundando-se, sem

associar seus conhecimentos ao fator crescimento espiritual, para si

ou para o próximo. Pode-se dizer que ele é um grande mago, mestre

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em magia negra e em hipnotismo. Domina muito bem a manipulação

dos fluídos e as correntes mentais e está ligado a uma organização

trevosa que provoca verdadeiras deformações perispirituais naqueles

que lhes caem no domínio. Ele é responsável pelos casos de

licantropia e zoantropia levados a efeito por essa organização, mas

apesar de tanto poder mental, não passa de um pobre irmão

necessitado, situado nas faixas inferiores da evolução.

Ao mesmo tempo em que esse amigo espiritual nos passava

essas informações, ele atuava com vistas a absorver os fluidos

enfermiços, carregados de pesado lastro de toxidez, propositalmente

deixados no ambiente pelo espírito necessitado que fora retirado.

Para nós, era mais uma demonstração de que o amparo e a

assistência de Jesus nunca estão ausentes quando a necessidade nos

pressiona. Alguém comentou depois:

-E se o Bezerra não tivesse vindo?

-Observação inócua, – respondeu o outro – não foi Jesus quem

disse que “tudo o que pedires orando, credes que o terás e assim vos

será feito”? Se ele não tivesse corrido em nosso auxílio, a lógica nos

diz que a causa teria sido insuficiência da nossa prece, que não teria

sido convincente, não atingindo, portanto, os seus objetivos.

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Há culpa em estudar os defeitos dos outros?

Segundo o Livro dos Espíritos, perg. 903, “se é para criticar, há

muita culpa, porque é faltar com a caridade. Se é para fazê-lo em seu

proveito pessoal e os evitar em si mesmo, isso pode, em algumas

vezes, ser útil. Mas é preciso não esquecer que a indulgência pelos

defeitos alheios e uma das virtudes na caridade. Antes de fazer aos

outros uma censura de suas imperfeições, vede se não se pode dizer a

mesma coisa de vós. Esforçai---vos, portanto, em terdes as qualidades

opostas aos defeitos que criticais nos outros, esse é o meio de vos

tornardes superiores”.

Ø Se censuras por serem avarentos, sede generoso;

Ø Se por serem orgulhosos, sede humilde e modesto;

Ø Se por serem duros, sede dóceis;

Ø Se por agirem com baixeza, sede grande em todas as vossas

ações;

Fazei de tal maneira que não vos possam aplicar estas palavras

de Jesus: “Ele vê um argueiro no olho do seu vizinho e não vê uma

trave no seu próprio”.

Em um grupo espírita sempre existe a necessidade de se fazer,

de quando em quando, uma parada para a avaliação do seu próprio

desempenho. Há sempre algo a corrigir, a aperfeiçoar, a exigir

arranjos e complementações.

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Criaturas em aperfeiçoamento que somos, distanciados ainda da

iluminação plena, estamos constantemente a introduzir parcelas de

nossas imperfeições no trabalho a que nos vinculamos, o que não quer

dizer, evidentemente, que dele nos devamos afastar, para retomá-lo

apenas quanto estivermos santificados, o que, bem o abemos, não

ocorrerá antes que muitas rochas se desgastem pelo atrito dos

fenômenos meteorológicos.

Enquanto essa santificação não estiver em nós, devemos

oferecer coerência e harmonia aos trabalhos em que nos empenhamos,

assim sendo, vamos edificando aos poucos via regência do tempo e da

dor.

É em regime de urgência que nós, os imperfeitos, conscientes de

nossas imperfeições e da necessidade de reduzi-las através das

oportunidades de serviço, firmemos as mãos a serem calejadas na

base do arado, removendo a terra árida da incompreensão humana, na

tentativa sempre digna de servir a Deus.

Esses são, no fundo, os pensamentos dos centros espíritas:

v Ninguém se santifica tão somente por ingressar no espiritismo;

v Ninguém vivencia o evangelho simplesmente porque o explica;

v Ninguém conquista as dulcificantes virtudes do amor ao

próximo, simplesmente por apontá-lo como salutar

medicamento para a obtenção da paz.

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Constitui-se assim o centro espírita, em aglomerado de irmãos

sofredores que procuram auxiliar a outros ainda mais sofredores.

Justamente através da luta incansável contra suas fragilidades é

que entendem e entram em sintonia com outros, ainda mais frágeis.

Auxiliando, são auxiliados. Doutrinado, acabam sendo doutrinados.

Amando, constroem amizades sólidas que os tornam amados.

A casa espíritas é uma abençoada oportunidade de serviço e de

renovação, materializando o chamamento de Jesus, quando enfatizou:

“toma a tua cruz e segue-me!”. Eis o convite ao trabalho voluntário,

que em nada se diferencia do convite à nossa redenção espiritual.

Adentremo-nos nessa oficina, portanto, conscientes de tais

perspectivas, firmes no desejo de servir, certo de que ali, somos

igualados pela dor e pela bravura diante do sofrimento, visto que

ainda nos caracterizamos mais pela enfermidade do que pela

santidade.

E como disse Jesus, será o maior, aquele que mais servir, o mais

humilde, aquele que tiver a caridade como norma de conduta, sendo,

portanto, o que menos fere.

Mesmo que a espora da dor, o cabresto da ingratidão, a cangalha

da maledicência e o chicote das agressões venham a nos atingir

quando em vez, isso será ainda o que necessitamos por não reunirmos

ainda condições de sermos promovidos a burrinho de cela.

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Com a graça de Deus, chegamos ao final desses três cadernos,

solicitando de nós mesmos que de tempos em tempos, façamos

individualmente o seguinte balanço moral em torno do nosso

procedimento:

1. Observar a disciplina e a assiduidade no trato com as funções

realizadas na casa espírita;

2. Fui instrumento dócil aos bons espíritos, tanto nas

mentalizações quanto na mediunidade ostensiva, participando

ativamente da ajuda prestada aos irmãos desencarnados?

3. Fui comprometido com as complementações das tarefas

mediúnicas durante o sono físico, como servos úteis à causa do

bem?

4. Consegui ser espírita fora do centro espírita, guardando as

proporções, mas mantendo uma relatividade com os esforços

empreendidos?

5. Fui atuante como fator de harmonização, evitando as fofocas, as

críticas infundadas, os melindres, a exteriorização do orgulho, as

agressões verbais e outras atitudes correlatas?

6. Consegui renunciar em muitas ocasiões ao repouso domiciliar,

ao convívio com os filhos, ao programa de televisão, à conversa

animada com as visitas, aos aniversários, colocando como

prioridade o cumprimento assumido comigo mesmo perante a

doutrina?

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7. Ofereci orações a meus irmãos, consegui perdoar, espalhar a

solidariedade e sobretudo, colocar a mão no arado sem olhar

para trás?

Depois de tudo ter sido exposto, resta agora o mais difícil,

incorporar na nossa intimidade os sentidos desse aprendizado.

Considerações Pessoais

Filhos – Marcelo, Marco e Mariane – se o que foi exposto não

encontrou guarida em seus corações, alguns séculos terão ainda que

percorrerem.

Cuiabá/MT – 2010 (Revisado em 2014).