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MARKETING INTERNO EM EMPRESAS DE SERVIÇOS: UM ESTUDO DE CASO NA VIAÇÃO ÁGUIA BRANCA Jorge Porcaro Instituto COPPEAD DE Administração Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Mestrado em Administração Orientadora: Letícia Moreira Casotti, D.Sc. Rio de Janeiro 2002

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MARKETING INTERNO EM EMPRESAS DE SERVIÇOS:

UM ESTUDO DE CASO NA VIAÇÃO ÁGUIA BRANCA

Jorge Porcaro

Instituto COPPEAD DE Administração

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Mestrado em Administração

Orientadora: Letícia Moreira Casotti, D.Sc.

Rio de Janeiro

2002

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“De tudo o que fiz, o mais importante foi coordenar o talento daqueles que

trabalharam para nós e indicar-lhes o objetivo pretendido.”

Walt Disney

À Doutora Rosa Maria Porcaro,

minha maior professora.

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AGRADECIMENTOS

À Juliana, incansável companheira, que participou ativa e pacientemente de todos os momentos

desse trabalho.

Aos meus pais, Pedro e Dalva, pelo apoio e torcida.

A minha tia, Rosa, pelas orientações precisas em relação a esse trabalho, e muito mais importante

do que isso, por me tranqüilizar, orientar e incentivar em todos os momentos da minha vida.

Aos meus tios, Jorge e Lise, pelo incentivo, amizade e ajuda, sem os quais seria muito mais difícil

cumprir essa etapa tão importante para minha carreira.

A minha orientadora, Letícia Casotti, por mostrar o caminho e pelas orientações fundamentais para

a conclusão desse trabalho.

Aos professores Frederico de Carvalho e Valdecy Leite, pelas enormes contribuições ao trabalho.

Aos profissionais da Águia Branca, em especial à Cristina Xible, pelas preciosas informações.

Aos meus revisores Túlio Garcia e Joelma de Riz.

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MARKETING INTERNO EM EMPRESAS DE SERVIÇOS:

O CASO DA VIAÇÃO ÁGUIA BRANCA

Jorge Porcaro

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em

Administração - COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

________________________

Letícia Moreira Casotti - COPPEAD/UFRJ - Orientadora

________________________ Prof. Frederico A. de Carvalho - COPPEAD/UFRJ.

________________________

Prof. Valdecy Faria Leite – FACC/UFRJ.

Rio de Janeiro2002

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Porcaro, Jorge.

Marketing interno em empresas de serviço: o caso da Viação

Águia Branca. Jorge Porcaro. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002.

xi, 159p. ; il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro,Coppead, 2002. Orientadora: Letícia Casotti

1. Marketing interno - Tese. 2. Marketing de serviços – Tese. 3.Marketing - Tese. I. Título. II. Tese (Mestr. - UFRJ/COPPEAD)

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Porcaro. Jorge. Marketing interno em empresas de serviço: o caso da Viação Águia Branca.

Orientadora: Letícia Moreira Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação

(Mestrado em administração).

RESUMO

Este trabalho buscou observar como as recomendações dos autores revistos sobre marketing

interno se apresentam na prática. Isto foi feito por meio da uma análise do marketing interno da

Viação Águia Branca, empresa que tem se destacado na relação com seu público interno,

figurando por dois anos consecutivos entre as melhores empresas para se trabalhar no Brasil.

Foram feitas entrevistas com os executivos responsáveis pelo marketing interno da empresa para

que se descrevesse o programa de marketing interno em detalhes. Alguns funcionários foram

entrevistados para que se pudesse observar os efeitos do programa em seu público-alvo.

O programa de marketing interno da Viação Águia Branca tem alcançado excelentes resultados

junto aos funcionários. A uniformidade do discurso dos executivos e dos empregados mostra que a

gerência vem atuando com eficácia para criar um ambiente interno favorável. As ações da empresa

se mostraram em conformidade com as recomendações dos autores pesquisados. Isso dá suporte

às recomendações teóricas. Pontos altos da política de marketing interno da empresa são os

programas educacionais, a socialização e, principalmente, a comunicação interna. A socialização e

os programas educacionais incluem também os familiares dos funcionários, o que não estava

previsto na literatura revisada. A comunicação interna flui com grande eficiência na Águia Branca

beneficiando as demais atividades do marketing interno.

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Porcaro. Jorge. Marketing interno em empresas de serviço: o caso da Viação Águia Branca.

Orientadora: Letícia Moreira Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertação

(Mestrado em administração).

ABSTRACT

The objective of this work is to realize how the theoretic recommendations of internal marketing are

used in practice. This was done through a case study of the Viação Aguia Branca, a bus company

that has been recognized by its good relationship with its employees and considered one of the

best companies to work for in Brazil for the past two years by Exame magazine. The data was

collected in interviews with the executives responsible for the internal marketing of the company to

describe the program in detail. Additionally, some employees were interviewed with the objective of

analyzing the practical results of the internal marketing program.

The internal marketing of the Viação Águia Branca has gotten some very good results with its

workers. Both the executives and the other employees expressed the same opinion, this is an

evidence that the management of the company has been acting vigorously to implement a good

work environment. The activities of the internal marketing of the company are in tune with this

theory. The most relevant items of the program are the educational activities, the socialization of the

group, and, most of all, internal communications. The families of the workers are included in the

socialization and educational events, and this was not predicted in the theory review. Internal

communication flows easily through the company, which gives extra benefits to the others activities

of the internal marketing program.

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Lista de tabelas

Tabela 2.1: Diferenças entre bens físicos e serviços

Tabela 2.2: Marketing de relacionamento vs. marketing de transação

Tabela 2.3: Os três níveis do marketing de relacionamento

Tabela 3.1: Perfil dos entrevistados

Lista de figuras

Figura 2.1: O espectro mercadorias-serviços

Figura 2.2 : Níveis de contato do cliente com a organização de serviço

Figura 2.3: A armadilha da gestão estratégica

Figura 2.4: Três tipos de marketing em setores de serviços

Figura 2.5- Cadeia do lucro nos serviços

Figura 2.6 - Ciclo do fracasso vs. ciclo do sucesso

Figura 6.1 – Sistema complexo com relações de duplo sentido entre todas as atividades

Figura 6.2 - Motivação como ponto de convergência das demais atividades

Figura 6.3 - Comunicação interna como suporte para as demais atividades

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1

1.1 - OBJETIVOS DO ESTUDO 31.2 - RELEVÂNCIA DO ESTUDO 41.3 - ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 5

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 6

2.1 - SERVIÇOS 62.1.1 - DEFINIÇÃO 62.1.2 - CARACTERÍSTICAS 72.1.3 - BENS FÍSICOS X SERVIÇOS 112.1.4 - INTERAÇÃO FUNCIONÁRIO-CLIENTE EM SERVIÇOS 142.1.5 - DIMENSÃO FUNCIONAL DA INTERAÇÃO 152.1.6 - NÍVEIS DE CONTATO 172.2 - MARKETING EM SERVIÇOS 192.2.1 - VISÃO SISTÊMICA DO MARKETING 222.2.2 - MARKETING DE RELACIONAMENTO 27Definição e conceitos 27Vantagens do marketing de relacionamento 30Sistemas de medida 32Seleção de clientes 33Três níveis de relacionamento 342.3 - MARKETING INTERNO 38Conceito e princípios 38Importância 39Objetivos 42Público-alvo 422.3.1 - RECRUTAMENTO E CONTRATAÇÃO 43Quem contratar 43Como contratar 452.3.3 - AMBIENTE INTERNO – RETENÇÃO E MOTIVAÇÃO DOS EMPREGADOS 46O problema da alta rotatividade 46Fatores que motivam as pessoas no trabalho 48Estresse e trabalho em equipe 51Liderança com confiança 532.3.4 - TREINAMENTO 55Gerentes como professores 582.3.5 - EMPOWERMENT 59Achatar a pirâmide 622.3.6 - SISTEMAS DE AVALIAÇÃO E RECOMPENSA 64Avaliação 64Recompensas 642.3.7 - COMUNICAÇÃO INTERNA 66

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2.3.8 - FECHAMENTO DA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 69

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA 71

3.1 - TIPO DE PESQUISA 713.2 – PERGUNTAS DA PESQUISA 723.3 - A ESCOLHA DO CASO 723.4 - COLETA DOS DADOS 733.5 - TRATAMENTO DOS DADOS 763.6 - LIMITAÇÕES DO MÉTODO 77

CAPÍTULO 4 - RESULTADOS DA PESQUISA 78

4.1- HISTÓRICO E DESCRIÇÃO DA EMPRESA 784.2 - ENTREVISTAS COM OS EXECUTIVOS 814.3 - ENTREVISTAS COM OS FUNCIONÁRIOS 102

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DOS RESULTADOS 118

5.1 - AMBIENTE INTERNO E MOTIVAÇÃO 1185.2 - O CLIENTE EXTERNO 1225.3 - CONTRATAÇÃO 1255.4 - TREINAMENTO 1285.5 - EMPOWERMENT 1315.6 - AVALIAÇÃO E RECOMPENSA 1325.7 - COMUNICAÇÃO INTERNA 1355.8 - QUADRO-RESUMO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS 139

CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 142

SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS 150

CAPÍTULO 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 152

ANEXO I - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS COM OS EXECUTIVOS 157

ANEXO II - ROTEIRO DAS ENTREVISTA COM OS FUNCIONÁRIOS 159

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Capítulo 1 - INTRODUÇÃO

O setor de serviços representa a parte mais significativa da economia na maioria dos países do

mundo ocidental. Isto, mesmo sem considerar as atividades de serviços inseridas nas indústrias de

bens físicos, como serviços técnicos de reparo e manutenção, treinamento dos clientes,

consultoria, programas conjuntos de pesquisa, entrega, cobrança e outros. Estes serviços ganham

importância crescente como fator de vantagem competitiva para empresas que não queiram

competir agressivamente por meio de preço. Tal situação demonstra que a relevância dos serviços

tem sido subestimada pelas estatísticas oficiais. Ainda assim, o setor representa 80% do PIB norte-

americano (Correa 2001) e mais de 55% do PIB brasileiro em 2001, sendo responsável por 57%

dos empregos no País, em 20001. Acredita-se que a participação dos serviços na economia

continue crescendo. Isso porque a tecnologia tem um impacto menor no número de empregos no

setor de serviços do que na indústria. Além disso, cresce a demanda nas empresas industriais por

serviços especializados, como consultorias, engenharia e pesquisa de mercado. Por fim, as

mudanças da sociedade – como a mulher no mercado de trabalho, maior longevidade, maior

preocupação ecológica, maior complexidade da vida, que aumenta a procura por conveniência e

lazer – contribuem para o crescimento dos serviços, como setor da economia e como fonte de

vantagem competitiva sustentável para os demais setores econômicos (Grönroos 1995).

A sociedade anterior à Revolução Industrial é descrita por Bell (apud Grönroos 1995) como “jogo

contra a natureza”, enquanto a pós-Revolução Industrial é descrita como “jogo contra a natureza

fabricada”. A sociedade atual, baseada em serviços, é definida pelo autor como “jogo entre

pessoas”. Isso mostra a característica relacional do setor de serviços, em que o relacionamento

entre as pessoas é central no processo, seja entre os funcionários da empresa ou entre os

funcionários e os clientes. Esta diferença estrutural entre os setores industrial e de serviços faz

com que seja necessária uma abordagem teórica diferenciada das tradicionais, baseadas na

concorrência por bens manufatirados, tanto na parte estratégica, como na operacional. Schiesinger

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e Heskett (1991) afirmam que o modelo industrial baseado em produção em massa leva

invariavelmente à degradação da qualidade do serviço que uma empresa consegue prestar, pois o

setor de serviços é intensivo em contato entre pessoas. Em decorrência disso, as empresas de

serviços precisam colocar em primeiro lugar os funcionários que interagem com os clientes,

projetando o sistema de negócios em torno deles. Já o modelo industrial apregoa ser preferível

depender da tecnologia, das máquinas e dos sistemas a depender de seres humanos. Chiesa

(2001) aponta que os recursos humanos de uma empresa passaram a ser sua principal fonte de

vantagem competitiva, uma vez que estratégias podem ser imitadas, produtos copiados e

tecnologia comprada. Reforçando essa visão, Grönroos (1995) afirma: “a pedra angular mais

central da qualidade dos serviços está nas interações entre a organização e seus clientes, onde

ocorrem as horas da verdade” (1995, p. 239). E quem gerencia essas horas da verdade são os

funcionários da linha de frente.

O marketing interno surge neste contexto oferecendo um corpo conceitual que ajuda a

compreender e preparar os funcionários de atendimento, buscando desenvolver neles a orientação

para serviços e a consciência da importância central do cliente para o sucesso da companhia. É

fundamental que o público interno seja percebido e gerenciado como parte integrante do marketing

das empresas que prestam serviços, para que seus esforços possam ser capitalizados no sentido

de conseguir a satisfação e a retenção dos clientes.

Há diversas publicações prescritivas que apontam o marketing interno como fator crítico de

sucesso em empresas de serviço. Entretanto, pesquisas empíricas sobre o tema são escassas

(Quester e Kelly 1999). Assim, o presente trabalho representa uma análise do marketing interno da

Viação Águia Branca, uma empresa de serviços que tem se destacado em sua relação com seu

público interno, figurando por dois anos consecutivos entre as melhores empresas para se

trabalhar no Brasil. Desta forma este estudo se constitui na observação de uma empresa que é

considerada referência em gerência de pessoas e atendimento aos clientes, o que representa uma

1 Dados referentes ao Brasil foram obtidos no site do IPEA (Instituto Pesquisa Econômica Aplicada). O

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oportunidade de observar, na prática, as ações e pensamentos de um marketing interno sofisticado

e com resultados bastante positivos, podendo-se assim testar as recomendações teóricas em um

estudo de caso, seja pela conformidade ou divergência entre as partes. Os resultados práticos das

políticas de marketing interno da empresa foram analisados por meio de entrevistas com os

funcionários da empresa. As observações podem servir para verificar quão avançadas as

empresas brasileiras estão em termos de estratégia de serviços.

1.1 - Objetivos do estudo

A Viação Águia Branca representa um caso extremo de sucesso no relacionamento da empresa

com seu público interno e deste com os clientes, visto que esteve entre as melhores empresas

para se trabalhar no Brasil por dois anos consecutivos, 2000 e 20012, segundo levantamento feito

pela revista Exame. O estudo aprofundado dessa empresa tem por objetivo levantar informações

relativas às práticas de marketing interno que vêm sendo intensamente abordada na literatura de

marketing (Heskett et al.; Grönroos; Berry e Parasuraman; Barnes a Morris; Lawson; Reichheld;

Lau, Chiesa).

Esse estudo visa compreender como o programa de marketing interno da Águia Branca é visto

pelos executivos responsáveis pela sua implementação e qual a visão de alguns funcionários que

participam desse programa. Os dados obtidos por meio de entrevistas com gerentes e empregados

da Águia Branca serão analisados à luz da teoria levantada na Revisão Bibliográfica. As

divergências e conformidades entre o programa da empresa, incluindo os resultados práticos sobre

o público interno, e as recomendações dos autores estudados destacam pontos que podem ser

explorados e melhorados no marketing interno da empresa, e pontos positivos do programa. Este

contraponto levanta possíveis questionamentos sobre tópicos levantados na literatura.

endereço eletrônico é www.ipeadata.gov.br.2 Os dois últimos resultados antes da conclusão deste trabalho.

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Outro objetivo da pesquisa de caráter exploratório é levantar perguntas a serem respondidas. A

descrição do programa da Água Branca e seus efeitos no seu público trazem informações sobre

ações de marketing interno ou mesmo inter-relações entre as atividades de marketing interno que

não haviam sido observadas, ampliando assim o conhecimento sobre o assunto.

A análise detalhada do caso Águia Branca oferece informações importantes sobre o nível em que o

marketing interno se encontra na empresas brasileiras, visto que o público interno da Águia Branca

parece ser uma de suas preocupações centrais.

1.2 - Relevância do estudo

Muitos estudos apontam que a qualidade no atendimento é um dos tópicos mais importantes para

a retenção dos clientes (Chiesa 2001; Correa 2001; Grönroos 1995), qualidade esta que consiste

na energia no atendimento, a empatia, a segurança do funcionário e sua habilidade de

comunicação. Dessa forma, o funcionário de linha de frente representa um dos recursos mais

críticos do marketing das empresas de serviços. O marketing interno representa a abordagem

estratégica e operacional de gerir esses recursos de forma a capitalizá-los como geradores de

receita para as empresas. Observar na prática como o marketing interno é usado por uma empresa

que é referência na gerência de pessoas no Brasil é fundamental para que se possa aferir a

aplicabilidade de seus conceitos neste ambiente e, ainda, observar o nível de competitividade das

empresas de serviço brasileiras. Serviços são estruturalmente divergentes da indústria e requerem

uma bordagem própria, por isso, é fundamental que essa abordagem seja testada e aprimorada,

tendo em vista as especificidades do mercado e do trabalhador brasileiro. A importância crescente

do setor de serviços na economia do País e a crescente internacionalização dos mercados

reforçam a relevância de um tema referente à competição em serviços.

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1.3 - Estrutura da dissertação

A dissertação é dividida em capítulos, cada qual com seu conteúdo específico, sendo que a

presente introdução constitui o primeiro deles. O segundo capítulo do trabalho representa uma

revisão da literatura referente a serviços, marketing de relacionamento e a marketing interno e suas

atividades, que servirá de base para a análise do estudo de campo. Em seguida é apresentada a

metodologia da pesquisa, com suas características e limitações. Um breve histórico e uma

descrição da empresa estudada são apresentados na introdução do capítulo quatro, que segue

com a descrição dos resultados obtidos nas entrevistas. O seguinte representa a análise dos

resultados da pesquisa, que para ser realizado deverá haver o resgate da revisão teórica a fim de

que possa servir de base a essa análise. Finalmente, no capítulo das considerações finais são

apontados os principais achados e hipótese as serem verificadas.

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Capítulo 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este capítulo traz uma revisão do trabalho de diversos autores sobre serviços, marketing em

serviços e marketing interno. Primeiramente observou-se o que os autores estudados escrevem

sobre as propriedades dos serviços. Em seguida o marketing voltado para empresas de serviço é

analisado. Finalmente, o marketing interno, como parte do marketing em empresas de serviços, é

discutido em detalhe.

2.1 - Serviços

2.1.1 - Definição

A palavra serviços tem muitos significados distintos e define um fenômeno complexo, o que torna

difícil dar uma definição completa. A riqueza de significados que a palavra possui faz com que seja

fundamental esclarecer e especificar bem a noção de serviço a que se está referindo (Johns 1999).

Dessa forma, o capítulo tem início focando, brevemente, o conceito de serviços a partir de suas

características.

A propriedade mais destacada dos serviços e que aparece na maioria das definições dadas a eles

é sua intangibilidade. Os serviços não podem ser experimentados fisicamente, não são coisas;

eles são atividades ou processos, do ponto de vista do prestador, e são experiências, do ponto de

vista do consumidor. Kotler define serviço como um desempenho e sua essência como a

intangibilidade:

“Serviço é qualquer ato ou desempenho que uma parte possa oferecer a

outra e que seja essencialmente intangível e não resulte na propriedade de

nada. Sua produção pode ou não estar vinculada a um produto físico.”

(Kotler 1998, p. 412)

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Assim, qualquer empresa, mesmo que não classificada como empresa de serviço, possui em suas

operações atividades de serviço, como: entrega, cobrança, manuseio de pedidos e central de

reclamações. Atividades que podem ser capitalizadas como fonte de diferenciação pelas empresas

mas que em geral são ignoradas e deixadas imperceptíveis aos olhos dos clientes (Grönroos

1995). Neste sentido, Grönroos define serviço como um tipo de atividade, não restringindo sua

definição às organizações tradicionalmente consideradas como empresas de serviço. Sua

definição é a seguinte:

“O serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou

menos intangível – que normalmente, mas não necessariamente, acontece

durante interações entre clientes e empregados de serviço e/ou recursos

físicos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços – que é fornecida

como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s)”. (Grönroos 1995, p. 34)

Para Grönroos, a interação entre o cliente e a empresa tem grande importância no conceito de

serviços. Essa característica traz implicações gerenciais relevantes para empresas que prestam

serviços e será abordada com maior profundidade mais adiante neste capítulo. É fundamental

observar as demais propriedades que caracterizam os serviços, pois delas podem-se tirar

conclusões práticas para o marketing de quaisquer empresas, sejam as focadas em serviços ou

empresas manufatureiras que também possuam atividades de serviços.

2.1.2 - Características

As características próprias dos serviços apresentadas a seguir são fortemente relacionadas entre

si, podendo uma originar a outra ou se reforçarem mutuamente tendo conseqüências comuns. Na

verdade, nem todos os serviços apresentam todas as características, mas todos apresentam a

maioria delas e outras que são conseqüências delas. Essas características se contrapõem às

propriedades essenciais dos bens manufaturados.

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A primeira característica importante dos serviços já foi introduzida, é a intangibilidade. Serviços são

percebidos de maneira subjetiva pelos clientes. Expressões abstratas são utilizadas, como:

experiência, confiança, tato e segurança. A intangibilidade torna o serviço algo difícil de ser

avaliado pelo cliente, pois é difícil atribuir valor distinto à confiança ou ao tato (Grönroos 1995).

A segunda característica é a simultaneidade ou a inseparabilidade. Um produto é produzido em

uma fábrica, estocado, transportado e distribuído para os canais de venda, comprado e em

seguida consumido, podendo o ser em um lugar diferente de onde foi comprado. Com os serviços

isso não se dá assim. A produção ou a prestação do serviço se dá no mesmo momento em que é

consumido. Dessa forma, o prestador não pode ser separado do serviço. Se quem prestou o

serviço foi uma pessoa, ela faz parte do serviço. O mesmo se observa com o cliente. O resultado é

afetado pela forma com que o consumidor participa no processo (Kotler 1998).

A inseparabilidade traz conseqüências para o prestador e para os clientes. Do ponto de vista do

prestador do serviço, o fato de os serviços serem produzidos e consumidos simultaneamente faz

com que seja extremamente difícil fazer o controle de qualidade, pois, como Grönroos escreve

(1995 p. 39), “não há qualidade pré-produzida para ser controlada com antecedência, antes do

serviço ser produzido e consumido”. Assim, tanto o controle de qualidade como o marketing tem

que ocorrer no momento e no lugar da produção e do consumo do serviço. Diferente é a situação

dos bens manufaturados, em que pode haver um controle de qualidade no local de produção, em

um momento anterior à venda e ao consumo.

Do ponto de vista do cliente, a simultaneidade juntamente com a intangibilidade fazem com que

uma avaliação do serviço anterior ao consumo por parte dos clientes seja praticamente impossível.

Bens manufaturados podem ser observados, tocados, cheirados, provados antes da compra, mas

um cliente só poderá conhecer um serviço se experimentá-lo. Um comprador pode testar um

produto, a exemplo do que faz com um carro novo: senta-se na poltrona, dirigi-o em um test-drive e

chuta os pneus. Mas para comprovar se um serviço, como um pacote turístico, é mesmo bom, ele

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precisa vivenciá-lo. Portanto, a percepção de risco por parte dos clientes diante da compra de um

serviço é muito maior do que diante da compra de um produto. Para poder julgar um serviço antes

de comprá-lo os clientes lançam mão da comunicação “boca-a-boca”, confiando muito mais nessa

propaganda do que na comunicação realizada pela empresa. Outra forma de julgar o serviço a ser

comprado é com as atitudes dos prestadores de serviço, da forma como o pessoal de serviço se

comporta na frente dos clientes. Um garçom rude, um médico esnobe, um motorista de táxi

indiferente afetarão as impressões do cliente acerca do serviço prestado. A terceira forma de julgar

um serviço é por meio das evidências físicas. São elas: o ambiente físico, o preço e as

comunicações externas da empresa. O ambiente físico inclui a aparência dos empregados. Uma

vez que os clientes não distinguem o prestador do serviço, um garçom relaxado é um restaurante

relaxado. O ambiente físico e todas as evidências físicas usadas para tornar o serviço mais

tangível para os clientes são chamados de tangibilizadores e são fatores muito importantes de

diferenciação para as empresas de serviço, pois eles ajudam a definir o serviço, que não pode se

definir por si (Berry e Parasuraman 1995; Kotler 1998).

A terceira característica dos serviços a ser discutida é a variabilidade ou a heterogeneidade. Um

serviço prestado a um cliente muito dificilmente poderá ser repetido de forma idêntica no futuro,

haja vista que, em geral, serviços são prestados de pessoas para pessoas, mesmo que elas

estejam representando empresas. Ao mudar o cliente, mesmo permanecendo o prestador, a

interação se dará de forma diferenciada. Não pode haver homogeneidade em relações sociais.

Essa característica é fonte de um dos grandes problemas no gerenciamento de serviços, pois

como controlar e garantir uma qualidade percebida uniforme dos serviços produzidos e entregues

aos clientes? E mesmo medir a produtividade dos funcionários se torna muito difícil. Pode ser

muito complicado atender um cliente, isso pode tomar muito tempo do prestador, o que não

significa que este seja incompetente (Haksever et al 2000; Grönroos 1995).

A quarta propriedade dos serviços é a perecibilidade, ou seja, serviços não podem ser estocados

para consumo posterior. Se um vôo parte com acentos vazios, estes acentos não são mais

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recuperáveis, eles não podem ser vendidos no dia seguinte. O mesmo ocorre com quartos de

hotel, assentos de um teatro, consulta agendada com um advogado, mesa reservada em um

restaurante. A capacidade não usada é perdida. Isso está relacionado à simultaneidade entre a

produção e o consumo Por isso, dimensionar corretamente a capacidade é algo crítico em

serviços (Grönroos 1995). As quatro características acima são as mais citadas pela literatura

(Haksever et al 2000; Kotler 1998; Chiesa 2001), mas há outras delas decorrentes, como as duas a

seguir.

A “não transferência de propriedade” é outra característica dos serviços. Após uma viagem de

avião, a pessoa está em outro lugar, mas não possui nada de novo. Da mesma forma, ao retirar o

dinheiro do banco, a pessoa não ganha nada, pois o dinheiro já pertencia a ela, o banco apenas

prestou o serviço de guardá-lo. Em outros setores, como o dos supermercados, o cliente, ao utilizar

o serviço, sai com a propriedade de bens tangíveis (Grönroos 1995).

O cliente participa do processo, até certo ponto. Essa participação própria dos serviços pode ser

aproveitada de forma estratégica para reduzir custos e agilizar o processo, como nos restaurantes

de auto-serviço (Kotler 1998; Grönroos 1995).

A Tabela 2.1 resume as principais características dos serviços, contrapondo com as características

próprias dos bens físicos.

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Tabela 2.1 - Diferenças entre bens físicos e serviços

Bens físicos ServiçosTangível Intangível

Homogêneo HeterogêneoProdução e distribuição separadas do

consumoProdução, distribuição e consumo são

processos simultâneosUma coisa Uma atividade ou processo

Valor principal produzido em fábricas Valor principal produzido entre compradore vendedor

Clientes normalmente não participam doprocesso de produção

Clientes participam da produção

Pode ser mantido em estoque Não pode ser mantido em estoqueTransferência de propriedade Não transfere propriedade

Fonte: GRÖNROOS, C. Marketing - gerenciamento e serviços: a competição por serviços na hora da verdade.

Rio de Janeiro: Editora campus,1995. Cap. 2, p. 38.

2.1.3 – Bens físicos X serviços

Após a caracterização dos serviços, feita por contraste com as ofertas das empresas que fabricam

produtos físicos, é importante relativizar essa separação em dois pólos distintos, antes de observar

com mais detalhes o caráter interativo dos serviços.

Muitos autores apresentam uma escala, ou um continuum, em que classificam os diversos tipos de

empresa segundo o grau de tangibilidade daquilo que vendem (Kotler 1998; Berry e Parasuraman

1995; Haksever 2000). No espectro mercadorias-serviços, apresentado na Figura 2.1, um dos

extremos é “Mercadorias relativamente puras”, no qual os serviços representam uma parte muito

pequena da oferta, produtos como alimentos prontos. Já no outro extremo estão os “Serviços

relativamente puros”, como o de babá (baby sitter), que, mesmo sendo essencialmente um serviço,

lança mão de “tangibilizadores”. Mas note que não há serviços 100% puros ou bens físicos 100%

puros neste espectro, pois mesmo os bens físicos possuem uma parcela abstrata em seu valor,

como o prestígio da marca e o investimento em pesquisa e design. Para Berry e Parasuraman

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(1995), todas as empresas são empresas de serviço, mas algumas são mais fundamentadas em

serviço do que outras.

Figura 2.1 - O espectro mercadorias-serviços

Parte tangível do produto Parte intangível do produto

alimentosprontos

transporteem automóvel particular

lanchonete transporte aéreo

baby-sitter

mercadoriarelativamente pura

mercadoriaque dependede serviço

híbrido serviço quedepende demercadorias

serviçorelativamentepuro

Fonte: BERRY, L.L.; PARASURAMAN, A. Serviços de marketing: competindo através da qualidade. São

Paulo: Maltese-Norma, 1995, p. 22.

As empresas deveriam buscar movimentar-se no espectro para sua parte central. Isso significa que

as empresas mais centradas em bens físicos deveriam buscar oferecer mais serviços e empresas

essencialmente de serviços, acrescentar mais evidências físicas e imaginárias aos serviços que

prestam, buscando a sinergia entre o tangível e o intangível, o que irá acrescentar valor a suas

ofertas e diferenciá-las das dos concorrentes (Kotler 1998; Berry e Parasuraman 1995).

Stan Davis e Christopher Meyer (1999) apontam que os avanços tecnológicos, principalmente os

relativos às áreas de informação e telecomunicação, estão tornando a fronteira que separa as

“empresas prestadoras de serviços” das “empresas que fabricam bens físicos” ainda mais difusas,

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fazendo com que haja uma indefinição entre bens físicos e serviços nas novas ofertas. A

tecnologia permite que serviços sejam embutidos em bens físicos, como no caso dos softwares, e

que estes bens físicos/serviços possam ser atualizados ou substituídos regularmente para seus

clientes, criando entre estes e o fornecedor uma relação própria das empresas de serviço. A

tecnologia permite, também, que produtos tangíveis, como carros ou máquinas industriais de

últimas geração, estejam conectados on-line com os produtores por meio de sensores que

permitem que as empresas antecipem falhas de funcionamento e acionem um serviço de

manutenção que vá até o cliente. Com os serviços embutidos nos bens físicos, por meio de

tecnologia de informação, os autores afirmam:

“um produto é simplesmente um serviço esperando para entrar em ação; o

serviço é o produto em ação.” (Davis e Meyer 1999, p. 20)

Neste contexto de alta tecnologia, Davis e Meyer (1999) afirmam que as empresas deveriam

buscar compor suas ofertas de forma que possuam a economia dos bens físicos e a

adaptabilidade dos serviços, buscando, assim, combinar o melhor dos dois mundos.

Grönroos (1995) também rejeita a separação rígida entre empresas de serviço e empresas de bens

físicos, preferindo considerar as diversas atividades de uma empresa em separado. Haveria, então,

atividades de serviço e não empresas de serviço. Uma fábrica de produção de bens duráveis

possui atividades próprias de serviço em suas operações, como a entrega, a cobrança, a

instalação e a administração de reclamações, embora sua atividade principal seja a manufatura.

Observa-se, assim, que não há uma distinção rígida entre empresas de serviço e empresas de

produção de bens tangíveis. Mas há claramente um paradigma de serviços e também um

paradigma de produção. Este tem seu foco em inputs, bens físicos e processos e quer satisfazer

as necessidades de seu público por um output tangível. Em contraste, paradigma de serviços

baseia-se na interação com os clientes, em criar relacionamentos com eles, e visa a satisfazer as

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necessidades dos seu clientes por meio de ações. Para Johns (1999), no entanto, esses

paradigmas simplesmente representam diferentes pontos de vista gerenciais e ambos podem ser

aplicados a empresas de qualquer setor.

2.1.4 - Interação funcionário-cliente em serviços

As interações das empresas que fabricam bens físicos embalados e seus consumidores envolvem

basicamente as comunicações externas da empresa. Mas em empresas essencialmente de

serviços, essas interações são muito mais complexas (Kotker 1998). Em serviços, corpo, mente,

bens ou informações do cliente são processados. Para isso o cliente deve entrar em contato com

a empresa. Esses contatos são denominados de encontros de serviço ou de momentos da

verdade. O termo momentos da verdade foi criado para dramatizar a importância destes encontros

para as organizações de serviços. Sua definição é a seguinte:

“Um encontro de serviço ou momento da verdade é qualquer episódio em

que o cliente entra em contato com algum aspecto da organização e tem

uma impressão da qualidade do serviço que ela presta.” (Haksever et al

2000, p. 22)

Os encontros de serviços mais críticos e importantes ocorrem entre os clientes e os funcionários

que os atendem, mas também é preciso observar os encontros entre os próprios clientes e entre

os clientes e os equipamentos de auto-atendimento (Lovelokc 2001).

O cliente é o elemento central em uma interação de serviço. Os demais elementos da interação,

como o funcionário, o sistema de entrega e as evidências físicas, devem ser organizados com o

objetivo de satisfazer as necessidades do consumidor da forma mais eficiente possível, sempre

com atenção para a segurança, o conforto e o bem-estar das pessoas atendidas. Antes de tudo, o

cliente é um ser humano e, portanto, uma saudação e um tratamento cortês constituem um padrão

mínimo do que se espera receber em um atendimento. Os clientes também desejam ser tratados

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igualmente e receber um serviço do mesmo nível que os demais clientes. Estes são os requisitos

básicos de um encontro para qualquer tipo de empresas de serviço.

É nos momentos da verdade que a empresa é “criada” na mente dos consumidores. São nestas

poucas e breves interações que a empresa pode mostrar a qualidade dos seus serviços e criar

uma boa impressão para conquistar seus consumidores. Os encontros de serviço são verdadeiros

momentos de oportunidade. O que deixa claro que as empresas não podem deixar esses

encontros ao acaso, se desejam clientes satisfeitos e que continuem voltando (Haksever et al

2000; Grönroos 1995). Berry e Parasuraman revelam a importância central do momento da

prestação do serviço para o sucesso de empresas que interagem com seus clientes:

““Uma companhia de serviços que faça relativamente pouco marketing pré-

vendagem mas que seja dedicada a prestar um serviço de qualidade gozará

de uma eficácia maior do marketing – maior retenção de clientes, mais

vendas para os clientes existentes, maior êxito na conquista de clientes

potenciais através do boca-a-boca – do que uma empresa que dê ênfase ao

marketing pré-vendagem mas falhe no momento da prestação do serviço.”

(Berry e Parasuraman 1995, p. 20)

2.1.5 - Dimensão funcional da interação

Os momentos de interação do cliente com a empresa fazem com que a qualidade percebida pelos

clientes tenha uma dimensão diretamente ligada a esses encontros. Assim, a qualidade em

serviços é composta por duas dimensões: Uma técnica, que se refere ao produto final que o cliente

recebe, é o que os clientes recebem. É denominada qualidade técnica do resultado. A outra

dimensão é a funcional, o como o cliente recebe o serviço. Está relacionada à empatia e à

presteza dos funcionários, à limpeza do ambiente e à facilidade de acesso. Muitas vezes, é difícil

para o cliente avaliar a qualidade técnica do serviço, então, seu julgamento recai sobre a dimensão

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funcional do processo. Uma qualidade funcional ruim pode fazer com que o esforço realizado para

entregar uma qualidade técnica do resultado excelente seja anulado, o cliente mal atendido

perceberá a qualidade total como ruim. Evidentemente a qualidade técnica deve ser mantida

sempre em foco, pois melhorias técnicas são necessárias na competição por serviços (Grönroos

1995; Kotler 1998).

Diversas pesquisas dão destaque para a dimensão funcional, na percepção de qualidade pelos

clientes. No Brasil, em outubro de 2000, a DLH, empresa de transporte expresso, fez uma

pesquisa com seus clientes para identificar quais os atributos eles consideravam mais importantes

na prestação de um serviço de qualidade. O principal elemento da qualidade, ao contrário do que

se esperava, foi considerado pelos clientes como a atitude do courier, o funcionário que faz as

entregas (Correa 2001).

Um outro estudo realizado pela companhia aérea British Airways revelou o que seus passageiros

apontavam como sendo o mais importante na sua experiência de vôo. Os itens mais importantes

foram: 1) cuidado e atenção com os passageiros; 2) espontaneidade e presteza dos funcionários;

3) funcionários que saibam solucionar os problemas e que sejam habilitados para o cargo e 4)

recuperação do serviço: se algo dá errado há alguém preparado para lidar com a situação.

Também nesta pesquisa, a dimensão funcional foi destaque. Somente o item 3 é fator relacionado

à qualidade técnica, os demais estão relacionados ao processo (Grönroos 1995).

Uma pesquisa realizada por Keiser (apud Grönroos 1995) descobriu que 68% das empresas

mudam de fornecedor por causa da indiferença dos empregados, enquanto somente 14%

mudaram por insatisfação com o produto, o que novamente reforça a importância da dimensão

funcional do processo.

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2.1.6 - Níveis de contato

Evidentemente, a quantidade, a duração e a intensidade das interações entre os clientes e a

empresa variam muito de indústria para indústria. Em conseqüência, a dimensão funcional da

qualidade possui um peso diferente para cada tipo de serviço prestado, sendo mais importante

nas empresas onde os contatos são mais longos, freqüentes e intensos. Por causa disso,

Lovelock (2001) agrupou os serviços em três níveis de contato, que representam o grau de

interação do cliente com a empresa (Figura 2.2). Há os serviços de alto, médio e baixo contato. E

em cada nível há os serviços que enfatizam o contato com o pessoal de serviços e aqueles que

enfatizam o contato com os equipamentos. Serviços de alto contato tendem a ser aqueles em que

os clientes vão à empresa para receber o serviço. Os clientes são envolvidos com a organização e

com seu pessoal, por exemplo, serviços de saúde e cabeleireiro. São serviços que em geral

processam as próprias pessoas, não suas posses. Serviços de médio contato são aqueles em que

há um contato inicial ou mesmo regular, mas o cliente não participa ativamente durante a

execução do processo principal ou mantém um contato moderado com o pessoal de serviço. São

exemplos os serviços que processam as posses do cliente e cinema. Nos serviços de baixo

contato, há pouco ou nenhum contato direto entre clientes e fornecedores. Em seu lugar, o contato

ocorre em uma base impessoal de canais de distribuição eletrônicos ou físicos, como em serviços

prestados pela Internet. Este tipo de serviço é uma tendência em rápido crescimento na sociedade

atual por causa da busca por conveniência.

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Figura 2.2 - Níveis de contato do cliente com a organização de serviço

viagem de aviãobom restaurante

enfermagem em casacorte de cabelo

consultoria

banco por telefoneoficina mecânica

lavanderia

ônibus urbanocinema

tv a cabo

serviços pela internet

fast food

ENFATIZAENCONTROS COMPESSOAL DE SERVIÇOS

ENFATIZA ENCONTROSCOM EQUIPAMENTOS

BAIXO CONTATO

ALTOCONTATO

Fonte: LOVELOCK, C. Serviços - Marketing e Gestão . Ed. Saraiva, 1ª edição, 2001. p. 55.

No presente item, os serviços foram definidos e caracterizados. Mostrou-se que não há distinção

fácil entre empresas de bens físicos e empresas de serviços, embora observe-se que há um

paradigma de serviços baseado na interação entre a empresa e o cliente e que essa interação

acrescenta uma dimensão extra à qualidade total percebida pelos clientes, tão ou mais importante

que a dimensão técnica da qualidade, que é a dimensão funcional do processo. A dimensão do

processo diz respeito à forma como a interação empresa/cliente ocorre. No próximo item serão

observadas as implicações, para o marketing, das características próprias das empresas

centradas em serviços, especialmente a interatividade com os clientes.

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2.2 - Marketing em serviços

As funções tradicionais do marketing são distintas para serviços e bens físicos. O marketing

tradicional nas empresas de manufatura inclui atividades como pesquisa de mercado, avaliação de

capacidades e recursos da empresa, determinação do marketing mix3 e implementação e controle

dos programas de marketing. As ações referentes ao marketing mix da empresa são papéis pós-

produção, ou seja, ocupam um lugar intermediário entre a produção e o consumo, de forma que

seu objetivo é estimular a demanda por meio dos seguintes papéis: a criação de uma consciência

da marca, indução à experimentação, demonstração dos benefícios e elaboração da preferência

pela marca. Essas atividades são desempenhadas pelo departamento de marketing e, em

empresas de produção, levam geralmente a bons resultados (Rocha e Christensen 1999; Berry e

Parasuraman 1995; Grönroos 1995).

Berry e Parasuraman (1995) afirmam que, para um produto, o fato de a produção anteceder o

consumo faz com que seja possível que os benefícios possam ser mostrados aos clientes antes

da compra, para que, após a compra, tais benefícios sejam comprovados. Graças ao caráter

tangível do produto e sua demonstração visível, os papéis de estímulo da demanda podem ser

desempenhados com eficácia antes de os clientes se comprometerem com a compra. Assim, o

cliente pode experimentar o produto, julgando-o por si mesmo, antes mesmo de comprar.

Já para os serviços a produção e o consumo se dão em um mesmo momento, é a simultaneidade

própria dos serviços. O cliente precisa comprar o serviço, experimentá-lo, para realmente

conhecê-lo. Assim os que fazem o marketing de serviços podem criar consciência de marca e

induzir à análise antes da venda, mas, como o serviço é intangível, a demonstração de benefícios

e a elaboração de preferência pela marca somente poderão ser feitas depois da venda. Como os

resultados só poderão ser avaliados a posteriori, a percepção de risco em relação à compra por

3 Marketing mix é o instrumental à disposição dos gerentes de marketing para atuar no mercado. Tradicionalmente ele ésubdividido em quatro funções distintas conhecidas como “os quatro P´s”. São eles: a) Produto (características, qualidade,marca, design etc.); 2) Preço (preço básico, descontos, formas de pagamento etc.); 3) Praça (canais de distribuição,distribuição física, transporte, armazenagem etc.; e 4) Promoção (venda pessoal, propaganda, promoção de vendas,relações públicas etc.) (Rocha e Christensen 1999).

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parte dos clientes aumenta. Isso faz com que estes sejam mais refratários em relação à

comunicação tradicional feita pelas empresas de serviço. Como já assinalado, em situações em

que avaliar uma oferta antes da compra se torna muito difícil, os clientes precisam buscar

informações com pessoas que já passaram pelo serviço e, assim, a comunicação “boca-a-boca”

ganha importância central neste tipo de compra. Berry e Parasuraman afirmam:

“Em geral, quanto mais difícil para o cliente a avaliação dos aspectos mais

evidentes de um produto antes da compra, mais forte será o potencial de

influência das comunicações “boca-a-boca” e mais um produto precisará

receber marketing como serviço.” (Berry e Parasuraman 1995, p.19)

Por isso, os autores acima citados afirmam que a essência do marketing de serviço é o próprio

serviço. Ou seja, a comunicação “boca-a-boca” será favorável se o serviço que as pessoas

recebem for muito bom, tanto na qualidade técnica, quanto na qualidade funcional (Berry e

Parasuraman 1995). Portanto, o marketing de serviços deve gerenciar as horas da verdade. Como

em geral são os funcionários de contato com os clientes que cuidam das interações, Coopper e

Cronin (2000) afirmam que a forma de gerenciar a propaganda “boca-a-boca” é garantir que eles

estejam satisfeitos, motivados, treinados e sejam leais à empresa.

Evidentemente, o sucesso nos contatos com os clientes não depende somente dos funcionários.

Lau (2000) atenta para a chamada “Armadilha dos Recursos Humanos”, onde todas as coisas

boas e ruins que acontecem aos clientes são creditadas à política de recursos humanos. O autor

afirma que os fatores humanos, sozinhos, não entregarão um serviço de qualidade aos clientes.

Todos os sorrisos do mundo não vão ajudar se os serviços que a empresa entrega não for o que o

cliente deseja. Todos os demais elementos do serviços, tais como design do sistema, layout da

empresa, sistema de informação e comunicação, também são importantes para entregar um

serviço de qualidade nas duas dimensões, técnica e funcional.

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Mesmo assim, muitos autores concordam que as pessoas que atendem os clientes são de longe o

fator mais crítico para o marketing de serviços (Lovelock 1999; Grönroos 1995; Berry e

Parasuraman 1999). Grönroos, por exemplo, afirma:

“Com freqüência, o pessoal de contato constitui-se no recurso mais crucial

para um prestador de serviço. Os sistemas, a tecnologia e os recursos

físicos constituem um suporte valioso, porém, a maioria das organizações

de serviço dependem mais de seu pessoal de contato do que dos outros

recursos.” (Grönroos 1995, p. 264)

Roger Dow, vice-presidente de vendas e serviços de marketing da Marriott Hotels and Resorts, é

mais enfático sobre essa questão. Para ele, no marketing de serviços, os quatro P´s do marketing

mix são: pessoas, pessoas, pessoas e pessoas. A forma de gerenciar as pessoas para que elas se

transformem em agentes eficientes de marketing é chamada marketing interno e é o tema a ser

tratado no próximo item do capítulo (Grönroos 1995).

Dessa forma, observa-se que a abordagem tradicional do marketing mix para produtos

manufaturados se mostra bastante limitada para as empresas de serviços. Assim, alguns autores

(Kotler 1998; Cowell 1984) sugerem que mais 3 P´s sejam adicionados à lista dos 4 P´s

tradicionais (produto, promoção, praça e preço). São eles: pessoas, presença evidente e

processo4. Presença evidente é o que foi chamado anteriormente5 de evidências físicas; a

apresentação dos funcionários e o ambiente. A presença evidente sugere fortemente as

características da empresa a seus clientes. Os processos também refletem a proposta de

marketing da empresa. Empresas com muito auto-serviço sugerem um público-alvo que busca

economia e praticidade, como em um restaurante a quilo. Já um serviço com muitas pessoas

participando do atendimento, como um restaurante de luxo, indica que o público-alvo quer conforto

e sofisticação. As pessoas que atendem precisam estar motivadas e treinadas, pois os clientes não

4 Do inglês: people, physical evidence e process.

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separam o atendente do serviço que recebem e nem este da empresa. Um atendente indiferente é

uma empresa indiferente (Kotler 1998; Lovelock 2001).

2.2.1 - Visão sistêmica do marketing

Uma vez que em serviços a produção faz parte do consumo (simultaneidade) e, na maioria das

situações, são os funcionários que entregam ou prestam o serviço, o marketing em empresas de

serviço deve ser integrado à produção e à gerência de recursos humanos. Desta forma, a

organização inteira se torna responsável pelo seu marketing. Assim, é preciso ter uma visão mais

abrangente do marketing, que vá além das funções tradicionais do departamento de marketing,

passando-se a envolver também os responsáveis pela interação com os clientes e aqueles que

dão suporte à linha de frente. O marketing deve ser a filosofia de trabalho de todas as pessoas,

funções e departamentos da organização. Deve-se integrar todos os departamentos da empresa

em um objetivo comum, que é a entrega de um serviço de qualidade total (técnica e funcional)

excelente, sob o ponto de vista do cliente. O foco no cliente deve ser a força primeira que orienta

todas as ações na empresa. Grönroos afirma:

“No competitivo mundo dos negócios de hoje, as empresas não podem mais

se dar ao luxo de manter barreiras entre funções e departamentos. A

filosofia de marketing deve se alastrar através da organização e as soluções

organizacionais têm que apoiar a aceitação desta filosofia.” (Grönroos 1995,

p. 163).

Um departamento de marketing isolado do resto da empresa, preocupado somente em realizar

suas tarefas tradicionais de pesquisa e implementação do marketing mix, funciona em empresas

manufatureiras que não prestam serviço direto ao seu consumidor, como muitas empresas de bens

de consumo. Mas essa prática pode significar uma armadilha gerencial perigosa para empresas

que precisam interagir com seus clientes, como as empresas de serviço. Esse perigo é mostrado

5 2.1.4 - Interação funcionário-cliente em serviços.

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no ciclo vicioso apresentado no parágrafo seguinte (Lovelock 2001; Grönroos 1995, Berry e

Parasuraman 1995).

De maneira geral, as empresas de serviço costumam avaliar seus funcionários com medidas de

eficiência interna6, como telefonemas/hora para o pessoal de telemarketing. Então, para melhorar a

eficiência, pensando-se sempre na eficiência interna, toma-se medidas de contenção de despesas

e redução de custos. Dentre essas medidas estão a contratação de trabalhadores mais baratos

possíveis, a realização de pouco ou nenhum treinamento e mesmo a diminuição do número de

atendentes. Desinvestindo na linha de frente da empresa, os funcionários ficam desestimulados,

aumenta a rotatividade e o atendimento ao cliente se deteriora. Os clientes percebem que a

maneira como recebem o serviço piora, mesmo que a qualidade técnica permaneça, pois passam

a ser atendidos por pessoas inexperientes, mal treinadas e incapazes de resolver seus problemas.

Isso dá início a um ciclo vicioso, pois os clientes transmitem seu descontentamento aos

empregados e aos demais clientes. Os empregados ficam frustrados por não estarem conseguindo

realizar bem seu trabalho e perdem qualquer motivação. A atmosfera interna se deteriora. A

conseqüência é uma queda nas vendas, pois a comunicação boca-a-boca se torna negativa. Em

geral, a reação das empresas é o apelo ao marketing tradicional de atração, aumentando os

esforços de comunicação com o mercado, muitas vezes com promessas irreais que não podem ser

cumpridas, o que prejudica a imagem da empresa e gera descontentamento entre os clientes que

não tiveram suas expectativas atendidas. Desse modo, o ciclo se perpetua, como se pode

observar na Figura 2.3 (Lovelock 2001; Grönroos 1995).

6 Grönroos (1995, p. 121) define eficiência interna como a produtividade que a empresa consegue de seusrecursos, como mão-de-obra e capital. A eficiência externa ou qualidade total percebida é a forma como osclientes percebem as operações e o resultado do serviço da empresa.

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Esse processo destrutivo surge da incompreensão da interdependência entre as interações com os

clientes e da qualidade total percebida na competição em serviços. Em vista disso, fica evidente

que os elementos envolvidos nos encontros de serviços, especialmente as pessoas, precisam ser

gerenciados como parte integrante do marketing. Os funcionários que entregam o serviço estão

envolvidos no marketing da empresa, mas não como especialistas. Essas pessoas são

denominadas de “agente de marketing de tempo parcial”7 (Grönroos 1995), de forma que Grönroos

divide as atividades de marketing em duas funções: a primeira, chamada de marketing externo, é a

função especializada do marketing, como pesquisa de mercado, publicidade, fixação de preços,

promoção nas vendas, relações públicas e outras atividades do marketing mix. Todas essas

atividades tem como objetivo divulgar a marca, gerar interesse por parte dos clientes e transformar

o interesse em vendas e são responsabilidades do departamento de marketing e de seus

especialistas.

7 Part-time marketer.

Figura 2.3 – A armadilha da gestão estratégica

Fonte: GRÖNROOS, C. Marketing – gerenciamento e serviços: a competição por serviços na hora da

verdade. Rio de Janeiro: Editora campus,1995, p.122.

Problemas financeiros ou competição mais intensa

Decisões relativas àeficiência interna(normalmente influenciandoos empregados)

Qualidade do serviço em deterioração

Clientes insatisfeitos

Atmosfera interna em deterioração

Qualidade do serviço emdeterioração

Mais esforços de marketing tradicional para atrair novos clientes

Clientes insatisfeitos(apesar dos esforços)

Imagem empresarial em deterioração

Economias de custosmarginais

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A segunda função do marketing de serviços, a função interativa do marketing, é a parte do

marketing relacionada às interações comprador-vendedor. A função interativa do marketing, por

sua vez, pode ser subdividida em dois itens distintos. O primeiro, conhecido como marketing

interativo, é aquele que ocorre no momento exato da prestação do serviço. Aqui, as tarefas de

marketing são realizadas pelos “agentes de marketing de tempo parcial”, pela linha de frente da

empresa. Nesse momento, as ações, juntamente com o marketing externo, devem visar à

transformação dos interesses em vendas e buscar criar um relacionamento duradouro com os

clientes, gerando vendas repetidas e cruzadas8. No marketing interativo, a comunicação boca-a-

boca é criada, podendo ser positiva ou negativa. As empresas de serviço possuem grande

dependência de uma comunicação boca-a-boca favorável.

O segundo item da função interativa é o marketing interno, que é o esforço da empresa em

proporcionar condições para que os funcionários da linha de frente possam realizar suas tarefas

com eficiência. Aqui estão incluídos o treinamento e a motivação dos funcionários, tanto os da

linha de frente como aqueles que dão suporte a estes. No marketing interno o departamento de

marketing está, ou deveria estar, diretamente envolvido, juntamente com o departamento de

recursos humanos da empresa. A equipe do departamento de marketing deve agir de forma a

difundir por toda a organização uma mentalidade de marketing, orientando os funcionários para a

construção de relacionamentos com os clientes. Berry e Parasuraman afirmam:

“Nas empresas de serviço a equipe de diretores de marketing transforma o

marketing em uma função de linha. Sua filosofia é ajudar a organização a

tornar-se uma instituição de marketing, mais do que apenas fazer o

marketing para a organização.” (Berry e Parasuraman 1995, p. 96)

A Figura 2.4 sintetiza as interações dos três tipos de marketing existentes em uma empresa de

serviços.

8 Vendas cruzadas são vendas de outros produtos que a empresa oferece.

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Figura 2.4 - Três tipos de marketing em setores de serviços

EMPRESA

EMPREGADOS CONSUMIDORES

Marketingexterno

Marketinginterno

Marketinginterativo

Fonte: KOTLER, P. Administração de Marketing. 5ª ed. Atlas, São Paulo, 1998, p. 418.

Esses três tipos de marketing de uma empresa de serviços não são independentes, eles devem

ser integrados e coordenados para que a empresa possa ter sucesso em sua relação com o

mercado. O fator em torno do qual o marketing externo e a função interativa do marketing devem

estar harmonizados são as promessas feitas pela empresa. O marketing externo faz as promessas

aos clientes, por meio da comunicação. E o marketing interativo é responsável por manter as

promessas, entregando o serviço que a comunicação divulgou. O marketing interno dá suporte

para que os funcionários tenham condições e vontade de entregar o melhor serviço possível,

alcançando ou superando a qualidade prometida pela comunicação. Somente atendendo ou

superando as expectativas dos clientes é que estes desejarão voltar e criar um relacionamento

com a empresa. Um relacionamento envolve confiança mútua. Isso significa que ambas as partes

devem cumprir o que prometeram (Bitner apud Chiesa 2001; Gronroos 1995).

Criar um relacionamento com o cliente é o objetivo do marketing em uma empresa de serviços. Por

isso, essa forma de atuar no mercado, dando grande valor e capitalizando as interações com os

clientes para que eles desejem sempre voltar e comprar mais, é denominada de marketing de

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relacionamento, detalhado a seguir, com a apresentação de seu conceito, importância e

vantagens, assim como os três níveis possíveis de relacionamento com os clientes.

2.2.2 - Marketing de relacionamento

Definição e conceitos

Grönroos define o marketing em termos de relacionamento dizendo que suas funções devem ter

como objetivo a criação e a manutenção de relações com clientes. Sua definição é a seguinte:

“O marketing deve estabelecer, manter e ressaltar (normalmente, mas não

necessariamente, sempre em longo prazo) os relacionamentos com clientes

e outros parceiros, com lucro, de forma que os objetivos das partes

envolvidas sejam atendidos. Isto é alcançado através de troca mútua e do

cumprimento de promessas”. (Grönroos 1995, p. 175)

Berry e Parasuraman caracterizam o marketing de relacionamento da seguinte forma:

“O marketing de relacionamento diz respeito à atração, desenvolvimento e

retenção dos relacionamentos com os clientes – seu princípio básico é a

criação de verdadeiros clientes”. (Berry e Parasuraman 1995, p. 158)

Grönroos (1995) explica os princípios do marketing de relacionamento, que possui foco no longo

prazo, apresentando uma oposição entre esse tipo de marketing e o marketing de transação, no

qual o foco do esforço está na atração de clientes para uma transação pontual, sem procurar

desenvolver um relacionamento. As empresas podem se situar no meio de um espectro que liga os

dois tipos de marketing, utilizando elementos das duas estratégias, embora uma deverá

prevalecer. De maneira em geral, as empresas de manufatura tendem a adotar uma estratégia de

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marketing de transação, enquanto as empresas de serviço tendem a buscar um marketing de

relacionamento.

No marketing de relacionamento a função mais importante é o marketing interativo. O desempenho

dos “agentes de marketing de tempo parcial” é fator crítico nessa estratégia, pois é na interação

que o valor para o cliente é criado e “o valor é a cola que une empresa e cliente” (Berry e

Parasuraman 1995, p. 169). Além disso, é na interação que a comunicação boca-a-boca é criada.

Mas as funções tradicionais do marketing não devem ser negligenciadas, elas continuam tendo

muita importância. Já no marketing de transação as funções tradicionais de marketing

predominam, pois a atração é o objetivo primeiro.

Outro aspecto que diferencia as duas estratégias está na avaliação da qualidade pelos clientes. No

marketing de relacionamento a qualidade relacionada a processo predomina na percepção da

qualidade total pelo cliente. A qualidade técnica é um pré-requisito para que o serviço seja

considerado uma opção de compra, mas a avaliação é feita em cima da qualidade funcional. Já no

marketing de transação a qualidade técnica relacionada a resultados é mais importante, pois o

produto em si é o que importa (Grönroos 1995).

A sensibilidade a preço é mais acentuada no marketing de transação, pois o relacionamento é

limitado ao produto. Em aparecendo um concorrente com um preço melhor, a substituição de

fornecedor se faz mais facilmente do que no marketing de relacionamento. No marketing de

relacionamento, o cliente relutará mais em mudar de fornecedor por vantagens de preço, pois

outras vantagens são oferecidas aos clientes e algumas vezes o fornecedor de serviços e o cliente

podem estar ligados estruturalmente, compartilhando informações. Assim, há menos sensibilidade

ao fator preço nas estratégias de relacionamentos (Grönroos 1995, p. 187).

Finalmente, em uma abordagem de relacionamentos a interface do marketing e as demais funções

dos negócios são de importância estratégica. A interface entre o marketing e as operações

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aumenta muito, por causa do importante papel executado pelos “agentes de marketing de tempo

parcial”. Em um marketing de transação, como o normalmente aplicado por profissionais de

marketing que lidam com bens de consumo por impulso, toda a função do marketing pode ficar nas

mãos dos especialistas.

Tabela 2.2 - Marketing de relacionamento vs. marketing de transação

Marketing de Transação Marketing de Relacionamento

Função dominante do marketing Marketing mix tradicional Função interativa do marketing

Dimensão da qualidade

predominante

Dimensão técnica Dimensão funcional

Sensibilidade a preço Clientes muito sensíveis Clientes menos sensíveis

Importância estratégica da interface

entre marketing e demais funções

Limitada ou inexistente Substancial; a interface é de

importância estratégica

Fonte: GRÖNROOS, C. Marketing - gerenciamento e serviços: a competição por serviços na hora da verdade.

Rio de Janeiro: Editora Campus, 1995, p. 185.

Berry e Parasuraman (1995) apontam alguns pré-requisitos para que se possa estabelecer um

relacionamento de alto nível com os clientes. O primeiro deles é o “jogo limpo” ou honestidade.

Pois, como em qualquer relação, o relacionamento com o cliente exige confiança mútua e isso não

se constrói sem honestidade. Para tanto é necessário que haja uma interação harmoniosa entre as

duas partes, para que, com sensibilidade, haja um entendimento das preocupações de um e de

outro, além da possibilidade de troca de informações precisas e importantes, e, principalmente,

manutenção das promessas feitas por cada uma das partes. Para realizar uma ação, recomenda-

se às empresas que se perguntem se é correto, se é legal (Berry e Parasuraman 1995).

O segundo pré-requisito para o marketing de relacionamento é o marketing pessoal. Ou seja,

cortejar os clientes atuais, mantendo uma comunicação freqüente com eles, tratando-os de forma

personalizada e especial. O mais comum é ser complacente na manutenção dos relacionamentos

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já conquistados, dando mais importância aos clientes novos. Para que o marketing pessoal possa

ser realizado, é importante que a empresa seja acessível, ou seja, que haja canais por onde o

cliente possa iniciar o contato. Além disso, a comunicação deve ser nos dois sentidos; é

importante que a empresa tome a iniciativa de contatos freqüentes para buscar avaliações do seu

próprio serviço e identificar as novas exigências dos clientes, ou seja, que busque aprofundar o

conhecimento sobre ele. O conhecimento dos clientes e o atendimento personalizado de baixo

custo requerem o uso de uma estrutura tecnológica, principalmente de informação e comunicação.

O pessoal da linha de frente precisa ter acesso fácil a um banco de dados com preciosas

informações sobre os clientes e mesmo sobre os serviços.

Por fim, o terceiro pré-requisito para o relacionamento com os clientes é a suplementação do

serviço. Os extras aumentam a percepção de valor do serviço e são capazes de diferenciá-lo dos

da concorrência. É fundamental que esses extras sejam importantes para os clientes,

operacionalmente e financeiramente viáveis e de difícil reprodução por parte dos concorrentes. O

marketing de relacionamento se baseia no valor prestado aos clientes.

Vantagens do marketing de relacionamento

Atrair novos clientes requer grandes orçamentos de marketing. Por isso, proteger a base de

clientes com relacionamentos duradouros está se tornando cada vez mais importante em várias

indústrias de serviços, especialmente no cenário mais competitivo de hoje. Grönroos (1995) cita

uma regra empírica que diz que custa seis vezes mais atrair um novo cliente do que realizar novas

transações com clientes antigos e recuperar um ex-cliente insatisfeito custa à empresa pelo menos

vinte e cinco vezes mais. Outra pesquisa, feita por Reichheld e Sasser, revela que o lucro das

empresas pode aumentar de 25% a 85% se ela reduz a fuga de clientes em 5%. (apud Berry e

Parasuraman 1995). Assim, reduzir a necessidade de investimento em marketing de atração é um

primeiro benefício do relacionamento.

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Os clientes novos representam alguns custos para a empresa além de altos investimentos no

marketing de atração, como em campanhas de publicidade e promoções. Há custos para

apresentar o serviço a eles quando sua participação é importante. Também há custos para iniciar o

negócio, como criar um cadastro. Por outro lado, os clientes antigos representam as melhores

oportunidades de lucro para as empresas, pois uma vez que o fornecedor adquire a confiança do

cliente este comprará mais do serviço que já adquiriu e terá preferência por adquirir outros serviços

de uma empresa que já conhece. Além disso, os clientes antigos são mais dispostos a pagar um

preço mais alto por serviços que eles já conhecem e confiam e dificilmente deixarão seu

fornecedor por vantagens unicamente referentes a preço, por causa do risco de se envolver em um

fornecedor desconhecido. O conhecimento mútuo entre cliente e empresa faz com que haja

cooperação de ambas as partes, o que torna o atendimento a um cliente antigo mais rápido e fácil.

Não é preciso apresentar o serviço a ele e, muitas vezes, o cliente já sabe o que quer e como quer.

É psicologicamente menos desgastante manter contato com esses clientes, o que libera tempo e

energia para outras tarefas. Os clientes antigos também são mais tolerantes a possíveis falhas no

serviço, pois já o conhecem bem e sabem que o erro foi uma exceção (Berry e Parasuraman 1995;

Grönroos 1995; Heskett et al 1997) .

O cliente que já foi conquistado pela empresa representa sua mais poderosa e barata forma de

comunicação com o mercado, por meio da divulgação “boca-a-boca”. Heskett (1997) chama de

clientes apóstolos aqueles altamente satisfeitos, que convertem não-iniciados ao serviço. O

marketing de relacionamento também diminui o número de clientes terroristas, que não perdem a

oportunidade de reclamar de uma empresa que tenha prestado um serviço insatisfatório. Os

terroristas podem atingir centenas de clientes potenciais.

As vantagens citadas acima, diminuição dos custos de atração, melhores oportunidades de

negócio e criação de comunicação “boca-a-boca” positiva fazem com que o marketing voltado para

a retenção dos clientes seja anterior ao esforço para atraí-los. Não faz sentido lutar para atrair os

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clientes e ser negligente quanto aos cuidados para mantê-lo e criar um relacionamento com ele

(Cooper e Cronin 2000; Berry e Parasuraman 1995).

Berry e Parasuraman apresentam uma interessante ilustração na qual um professor desenha um

barril no quadro-negro e, em seguida, faz uma série de furos nesse barril, dando-lhes nomes como:

grosseria, falta de estoque, serviço ruim, empregados sem treinamento etc., com jorros de água

saindo pelos furos, representando a evasão de clientes. O professor observou que para sustentar

um negócio como esse a empresa deve “despejar” constantemente novos clientes, um processo

muito caro. Para conseguir bons resultados e crescer, há de se tampar esses furos e buscar reter

clientes, caso contrário, este fluxo improdutivo de clientes, com grandes gastos para atraí-los, será

um processo sem fim (Berry e Parasuraman 1995).

Sistemas de medida

Sistemas de medida adequados são fundamentais para a criação de um marketing de

relacionamento eficiente, pois as medidas dão suporte ao aprendizado organizacional. Infelizmente

os sistemas de contabilidade medem os efeitos de curto prazo e não consideram o valor criado

para os clientes. Gerentes avaliados em períodos de um ano, para ganhar a bonificação, apelarão

para atalhos como aumentar os preços e cortar investimentos, aumentando o retorno imediato.

São medidas que raramente criam valor para o cliente. Os clientes irão, aos poucos, buscar

empresas alternativas e os primeiros a evadirem são os melhores clientes. Os sistemas de medida

de empresas de serviço precisam ter foco no longo prazo, relacionando a lucratividade à lealdade

dos clientes. Os retornos devem derivar um relacionamento contínuo e duradouro e, para isso, é

preciso oferecer um serviço de alta qualidade (Reichheld 1996).

Qualidade percebida requer investimentos e melhorias que alguns gerentes podem considerar

caros demais. Mas Grönroos (1995) argumenta que não é a qualidade que custa, e sim a falta

dela, pois cerca de 35% dos custos operacionais advêm das correções e recuperações em

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serviços mal feitos, o que significa falta de qualidade. Sem mencionar a receita que se deixa de

ganhar com o ex-cliente e a propaganda negativa que ele divulgará...

O sucesso de empresas que buscam a lealdade dos clientes é medido pela taxa de retenção

destes. Fazer as coisas certas para os clientes não entra em conflito com a geração de grandes

margens de lucro. Ao contrário, é a única forma de garantir lucratividade em longo prazo

(Reichheld 1996; Grönroos 1995).

Uma boa forma de relacionar lucratividade com lealdade é o conceito de valor vitalício do cliente,

ou seja, qual seria a venda total para um único cliente caso ele compre na empresa por muitos

anos de relacionamento. Uma estimativa aponta que o valor vitalício de um cliente de

supermercado nos Estados Unidos é da ordem de 250 mil dólares (Berry e Parasuraman 1995).

Um cliente leal de pizza pode render 8 mil dólares nos Estados Unidos e um cliente fiel de Cadillac

rende 332 mil dólares (Heskett et al, 1997).

Seleção de clientes

É preciso saber com que tipo de clientes a empresa quer manter e aprofundar relações. As

empresas precisam buscar os clientes certos, aqueles aos quais pode oferecer real valor com suas

ofertas e que estão dispostos a um relacionamento duradouro. Ressalta-se que cada empresa tem

seu cliente adequado, pois atende a nichos de mercado específicos. Assim, o cliente bom para

uma empresa pode não ser para outra. Uma análise bem feita mostrará um segmento homogêneo

de clientes, o que facilita o atendimento e diminui seu custo, pois reduz a complexidade de um

sistema desenhado para muitos tipos diferentes de clientes e, com isso, os retornos melhoram. Um

segmento de serviços precisa ser mais homogêneo que o de produtos físicos, pois muitos tipos

diferentes de clientes podem ficar satisfeitos com um mesmo produto. Isso não ocorre com

serviços, pois as expectativas são altamente pessoais.

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Sabendo-se quais são os clientes certos, com grandes possibilidades de se tornarem fiéis, a

empresa fica conhecendo também os clientes que dificilmente se tornarão fiéis e pode desviar

recursos destes para aqueles. Promoções especiais e outras vantagens de preço são orientadas

para chamar a atenção de novos clientes indiscriminadamente, atraindo os clientes mais difíceis de

conservar. Estas ações promocionais deveriam premiar a permanência dos clientes com a

empresa e não sua entrada (Reichheld 1996; Davidow e Uttal 1991).

Três níveis de relacionamento

Parasuraman e Berry (1995) apresentam uma classificação do marketing de relacionamento em

três níveis, na qual o grau de envolvimento aumenta conforme o nível cresce e, por conseqüência,

aumentam também as recompensas.

O nível um do relacionamento de marketing é baseado em incentivos de preço, para aumentar o

envolvimento do cliente com a empresa. Como exemplo, um banco que oferece taxas de juros

mais altas para contas maiores, um supermercado que dá descontos para compras grandes e as

companhias aéreas com seus programas de milhagem, que premiam um cliente que viaja bastante

com uma passagem “grátis”. Por essas características o nível um do marketing de relacionamento

é chamado de marketing de “freqüência” ou de “retenção”. Mas o preço é o elemento mais

facilmente imitável do marketing mix e, por si só, não oferece vantagem competitiva sustentável. O

autor nota que os elos com os clientes devem ter duas características para serem bem sucedidos

em um mercado competitivo: as vantagens precisam ser importantes para os clientes e difíceis de

serem imitadas pelos concorrentes. Os programas de milhagem são importantes, mas facilmente

imitáveis e, por isso, não garantem diferenciação.

No nível dois do marketing de relacionamento, os profissionais de marketing vão além do incentivo

de preços. Eles não ignoram a importância do preço no mercado, mas procuram formar e manter

elos sociais com seus clientes e isso vem antes das vantagens em preço. Os que fazem o

marketing de relacionamento de nível dois dão ênfase ao serviço personalizado e à transformação

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de consumidores em clientes. Essa diferenciação entre consumidores e clientes é central para este

tipo de relacionamento. A citação de Berry e Thompson retrata bem isto:

“Os consumidores podem não ter nome para a instituição, mas os clientes

não podem deixar de ter. Os consumidores são atendidos como parte da

massa (...), os clientes são atendidos pessoal e individualmente. Os

consumidores são estatísticas (...), os clientes são entidades, em si e por si;

as especificidades sobre eles – informações pessoais, serviços utilizados,

exigências especiais – estão num banco de dados. Os consumidores são

atendidos por qualquer empregado que esteja disponível; os clientes são

atendidos (pelo menos em suas necessidades não rotineiras) pelo

profissional (...) designado para eles.” (apud Parasuraman 1995, p. 164)

Este nível de relacionamento dá ênfase ao contato com o cliente, ao conhecimento de suas

necessidades e desejos e à personalização dos relacionamentos, com bases em informações

sobre os clientes e na venda dos benefícios gerados pelo relacionamento. A ligação social tem

limites, ela não supera a franqueza no preço ou no serviço, mas oferece grandes vantagens: o

cliente relutará em mudar-se para um concorrente sem razões fortes para isso e a empresa ganha

um campo mais receptivo para realizar as recuperações do serviço e para responder às ofertas

que os concorrentes fazem aos clientes. A qualidade do relacionamento é função da manutenção

de um contato periódico com o cliente e reavaliação de suas necessidades, tratamentos

personalizados, trocas de informações entre as partes e a demonstração de uma atitude de

serviços cooperativa e receptiva.

O nível três do marketing de relacionamento diz respeito a elos estruturais, sem deixar de se

preocupar com as dimensões financeiras e sociais. São serviços valiosos para os clientes e que

não estão prontamente disponíveis em outras fontes. Em geral, são baseados em tecnologia,

ajudam os clientes em sua eficiência e produtividade e os custos de mudança, para outro

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prestador, são altos. Aparentemente os elos estruturais são mais aplicáveis aos serviços

industriais, mas Berry e Parasuraman afirmam que não é bem assim:

“Os elos estruturais podem ser criados no marketing de serviços do

consumidor. É uma questão de inteligência, criatividade e empenho na

filosofia do marketing de relacionamento”. (Berry e Parasuraman 1995, p.

167)

A Tabela 2.3 resume os três níveis de marketing de relacionamento.

Tabela 2.3 - Os três níveis do marketing de relacionamento

Nível Tipo de

ligação

Orientação

do marketing

Grau de

personalização

Elemento

básico do mix

de marketing

Potencial de

diferenciação

competitiva

sustentada

Um Financeira Consumidor Baixo Preço Baixo

Dois Financeira e

social

Cliente Médio Comunicações

pessoais

Médio

Três Financeira,

social e

estrutural

Cliente Médio a elevado Prestação de

serviço

Alto

Fonte: BERRY, L.L.; PARASURAMAN, A. Serviços de marketing: competindo através da qualidade. São

Paulo: Maltese-Norma, 1995, p. 162.

Neste segundo item do capítulo 2 foi feita a análise das implicações no marketing das

características próprias dos serviços, como a intangibilidade e a interatividade. Em empresas de

serviço o marketing deve ser mais abrangente, ir além de suas funções tradicionais, incluindo

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também a função interativa e atuando em toda a organização, a visão sistêmica do marketing. O

objetivo primeiro do marketing em serviços deve ser a retenção do cliente, mantendo e

aprofundando uma relação de longo prazo, estratégia chamada de marketing de relacionamento.

Para isso, o pré-requisito mais significativo é o marketing interno, no qual a empresa constitui uma

equipe de funcionários competentes, capazes de conduzir com eficiência a interação com os

clientes nos momentos da verdade.

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2.3 - Marketing interno

Conceito e princípios

Para Berry e Parasuraman (1995), marketing interno é a filosofia em que se deve tratar os

empregados como clientes e, também, é a estratégia de moldar os produtos-trabalho, para que se

adaptem às necessidades dos seres humanos. A frase de Susan Wall, da cadeia de hotéis Hyatt,

expressa bem este conceito:

“Um empregado bem informado e satisfeito é o nosso melhor agente de

marketing. Tratamos nossos empregados da mesma forma que desejamos

que eles tratem nossos hóspedes”. (apud Berry e Parasuraman 1995, p.

179)

Grönroos (1995) define marketing interno como uma estratégia de gerenciamento cujo objetivo é

assegurar que todos os funcionários compreendam e vivenciem o negócio, desenvolvendo neles

uma consciência da importância central dos clientes, ou seja, o marketing interno busca

desenvolver uma cultura organizacional orientada para o cliente espalhando a filosofia do

marketing por toda a empresa. Busca, principalmente, assegurar que os funcionários estejam

motivados e preparados para agir de forma orientada para serviços, para que eles possam exercer

de forma eficaz seu papel de agentes de marketing.

Para isso é preciso uma abordagem ativa do marketing, na qual suas atividades são usadas

internamente de forma coordenada e ativa. O marketing interno começa com a noção de que os

empregados são o primeiro mercado para as organizações. Se os bens, os serviços e as

campanhas de comunicação externas não puderem ser vendidos para o público interno, não serão

bem-sucedidos para vendê-los aos clientes externos. Dessa forma, o sucesso do marketing

externo de uma organização depende do seu marketing interno.

O marketing interno não será bem-sucedido se for implementado como mais uma campanha

isolada ou totalmente sem conexão com outros fatores gerenciais; ele deve ser um processo

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contínuo (Quester e Kelly 1999). Nils Divert (apud Grönroos, p. 282) diz: ”o marketing interno é

como um casamento, você convive com ele todos os dias, nunca termina”.

O marketing interno deve estar na estratégia da empresa, na estrutura organizacional. Dessa

forma, ele só será bem-sucedido se começar pela alta gerência. Somente a direção da empresa

pode criar e difundir uma cultura de serviços e inspirar todos os níveis subsequentes, envolvendo-

os no processo do marketing interno (Grönroos 1995).

Importância

Diversos autores concordam com a relação positiva entre a motivação e a capacitação das

pessoas que trabalham nas empresas de serviços e o aumento nos lucros mediante maior

retenção dos clientes. (ver Heskett et al 1997; Gronrros 1995; Berry e Parasuraman 1995; Barnes a

Morris 2000; Lawson 2001; Reichheld 1996; Lau 2000). Empregados mais capacitados e

motivados oferecem mais valor e um melhor atendimento aos clientes. As compras repetidas

costumam ser maiores porque os clientes confiam mais na empresa. O ciclo se completa voltando

para os empregados, pois é mais fácil atender clientes experientes por eles já conhecerem os

procedimentos e por serem conhecidos do pessoal da linha de frente. Investindo na linha de frente,

portanto, cria-se um ciclo virtuoso. Heskett (apud Lau 2000) apresenta o conceito de cadeia do

lucro nos serviços9 (Figura 2.5), que ilustra a relação entre a lucratividade de uma empresa e a

forma como ela trata seus funcionários.

9 Service profit chain

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Figura 2.5 - Cadeia do lucro nos serviços

Fonte: LAU, R.S.M. Quality of work life and performance: an ad hoc investigation of two key elements in the

service profit chain model. International Journal of Service Industry Management, vol. 11, nº 5, 2000, pp.

422-437.

As pessoas de contato estão em uma posição propícia a conhecer o cliente e saber seus desejos e

suas particularidades e muitas vezes são as que melhor conhecem as necessidades dos clientes,

seja por observação, perguntando diretamente, ou reagindo ao comportamento deles. Algumas

vezes os empregados chegam a criar relações pessoais com as pessoas que atendem (Lau

2000). Assim esses funcionários constituem uma valiosa fonte de informação para os gerentes. E

ainda são capazes de acompanhar de perto a qualidade do serviço prestado e de tomar ações

corretivas em caso de alguma falha ocorrer (Grönroos 1995; Bateson e Hoffman 2001; Berry 2001;

Schneider et al, 1996).

Qualidade Interna do Ambiente

Satisfação do Empregado

Produtividade do

Empregado

Retençãodo

Empregado

Valor doserviço

Prestado

Satisfaçãodo Cliente

Lealdade do Cliente

(relacionamento)Aumento nos

Lucros

Crescimentosnas vendas

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O mesmo é observado por Reichheld (1996). Ele afirma que os funcionários que lidam diretamente

com os clientes têm uma influência poderosa na lealdade destes. É com esses funcionários, e não

com os altos executivos, que os clientes estabelecem um elo de confiança e expectativas e quando

essas pessoas se vão o elo se rompe.

Jaclyn R. Jeffery (1997) realizou uma pesquisa sobre atendimento ao cliente em 14 organizações

americanas de qualidade comprovada neste quesito, dentre elas A.T. Cross Company, Florida

Power & Light, GE Answer Center, General Motors, Polaroid Corporation, S.C. Johnson Wax e 3M.

O primeiro ponto comum foi a grande importância que essas empresas atribuem aos funcionários

da linha de frente e a convicção de que estes têm um papel primordial na empresa. Todas as 14

organizações acreditam que os funcionários de atendimento podem formar a opinião dos clientes a

respeito da empresa e que são parte de uma estratégia geral da empresa que deseja satisfazer e

manter clientes, pois a forma como lidam com problemas pode representar a diferença entre

consolidar um relacionamento de longo prazo com os clientes ou perdê-los.

Alguns empresários de sucesso como Hal Rosnbluth, dono de uma rede de agências de viagens, e

Herb Kelleher, da Southwest Airlines, afirmam que o primeiro foco de uma empresa deve ser seus

funcionários, pois somente quando uma pessoa sabe como é ser a primeira aos olhos de outra é

que ela consegue partilhar essa sensação com os outros de forma sincera (Lovelock 2001;

Haksever e Render, 2000), concluindo que o marketing interno é essencial para o sucesso de uma

empresa.

Ainda assim, a abordagem administrativa tradicional vê seus empregados como custos e não como

recursos geradores de receita. A estruturação do quadro de pessoal na maioria das empresas

mostra o pouco valor que elas enxergam no potencial de marketing em sua linha de frente, por

meio das ações dos “agentes de marketing de tempo parcial”. Nas empresas de serviços, as

funções com maior contato com os clientes são delegadas a pessoas que acabaram de ser

contratadas, que em geral são mal remuneradas e não possuem nenhuma perspectiva de carreira.

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Um excelente desempenho nessas funções leva a uma promoção para um cargo, em geral

administrativo, de baixo contato. Com isso, as empresas colocam seu sucesso nas mãos de

pessoas inexperientes e menos treinadas (Grönroos 1995; Bateson e Hoffman 2001).

Objetivos

O marketing interno tem dois objetivos a serem alcançados. O primeiro é gerenciar as atitudes dos

empregados, o que significa motivá-los e capacitá-los para uma ação voltada para o serviço, para

que realizem com êxito suas funções de “agentes de marketing de tempo parcial” no marketing

interativo. O segundo objetivo é atrair e reter bons empregados, e quanto melhor funcionar o

marketing interno, mais atraente será a empresa como empregadora, aumentando sua oferta de

talentos (Grönroos 1995).

Para Berry e Parasuraman (1995), os objetivos do marketing interno são: a atração, o

desenvolvimento, a motivação e a retenção dos funcionários. A atração significa que as empresas

devem concorrer pelos melhores talentos no mercado de trabalho da mesma forma com que

concorrem por clientes nos mercados em que atuam. Os autores afirmam que bons profissionais

são raros no mercado de trabalho atual, principalmente por causa do enorme crescimento do setor

de serviços. Por isso as empresas devem buscar esses talentos com agressividade e criatividade,

investindo em sua imagem como boa empregadora, além de boa prestadora de serviços. Os

demais objetivos são internos e altamente relacionados. Eles serão trabalhados com mais detalhes

mais adiante neste capítulo.

Público-alvo

O pessoal da linha de frente constitui um mercado-alvo natural para o marketing interno, mas

muitos autores alertam para o fato de que todos os empregados precisam estar envolvidos

(Grönroos1995; Lovelock 2001; Quester e Kelly, 1999; Brooks et al 1999; Bradley e Morris 2000),

uma vez que o pessoal da linha de frente depende do suporte das outras funções na organização.

Muitos empregados não entram em contato com o cliente externo, mas seus serviços influenciam

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indiretamente o serviço final da empresa. Portanto, o pessoal das funções de apoio deve estar

orientado para o cliente e servir seus clientes internos. Em verdade, eles também são “agentes de

marketing de tempo parcial” e precisam ser incluídos como público-alvo nos programas de

marketing interno.

A seguir são evidenciadas as atividades mais importantes do marketing interno, como contratação,

motivação, treinamento, empowerment, avaliação e comunicação.

2.3.1 - Recrutamento e contratação

O primeiro ponto importante para um bom marketing interno está na contratação das pessoas

adequadas para os cargos. Isso é fundamental para a qualidade do atendimento e da prestação do

serviço. A displicência na contratação é uma das principais causas do serviço medíocre e da alta

rotatividade do empregados. A carência de mão-de-obra qualificada para atuar no setor de

serviços faz com que ter uma boa imagem no mercado de trabalho seja uma vantagem competitiva

importante em serviços (Berry e Parasuraman 1995; Berry 2001).

Quem contratar

Certas atitudes importantes para a prestação de serviço não podem ser ensinadas. Como exemplo

temos cordialidade, simpatia, energia, atenção aos detalhes, ética no trabalho e asseio. Por isso

elas precisam ser buscadas na hora da contratação (Lovelock 2001; Lau 2000). As empresas

pesquisadas por Jefrey (1997), todas com excelência reconhecida em atendimento, buscam

candidatos que gostem de trabalhar com pessoas, que tenham empatia, saibam se comunicar e

também indivíduos capazes de resolver problemas com muita energia, além de alertas e

profissionais em situações de conflito, pois sabem que essas qualidades são difíceis de se

transmitir em programas de treinamento. Em uma das empresas o gerente afirma: “os melhores

candidatos a um cargo de atendimento são aqueles que buscam transformar a insatisfação de um

cliente em um aumento da fidelidade deste à empresa”. Um funcionário concorda com isto: ”gosto

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de pegar uma situação adversa e resolvê-la para o cliente”. A filial brasileira da empresa de

transporte expresso DLH pesquisou entre seus clientes qual o atributo mais importante para a

prestação de um bom serviço e descobriu que é a atitude do funcionário. Percebeu, então, que seu

recrutamento precisava mudar. O lema passou a ser: ”contrate pela atitude e treine as habilidades”

(Correa 2001).

Lovelock (2001) aponta algumas características que são importantes em um funcionário de

contato. São elas: habilidades interpessoais, aparência e apresentação pessoal, conhecimento do

produto e da operação, capacidade de venda e habilidades na co-produção (trabalhar em conjunto

com os clientes para criar o serviço desejado). Para o autor, tanto habilidades técnicas como

interpessoais são necessárias.

As empresas têm personalidade, a cultura empresarial, e tendem a atrair e repelir certos tipos de

indivíduos. Assim, não há funcionário ideal, pois há tipos variados de empresa, bem como cargos

diferenciados dentro de uma mesma empresa. Os critérios de recrutamento precisam refletir a

“personalidade” da empresa e identificar pessoas que se encaixam nela (Lovelock 2001).

As 14 empresas estudadas por Jeffrey (1997) representam algumas das melhores companhias

norte-americanas na área de atendimento ao cliente. Essas empresas possuem critérios bem

estabelecidos de contratação. Um exemplo é a ênfase no recrutamento interno. Elas dão

prioridade aos funcionários que já trabalham na empresa em outras áreas para ocupar as vagas

em aberto. Isso traz uma série de vantagens para as empresas. Primeiro, mostra que elas

valorizam seu próprio pessoal, promovendo e dando oportunidade primeiramente para quem já

trabalha na empresa. Segundo, essa prática diminui o tempo e os custos de seleção e treinamento,

pois a empresa e o funcionário já se conhecem.

Muitas empresas de sucesso na retenção de clientes, como a rede de restaurantes americana

Oliver Garden, contratam pessoas da própria comunidade, pois elas têm a vantagem de já serem

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conhecidas e de gozarem da confiança dos residentes locais, além de saberem quais são os

clientes mais interessantes para a empresa (Reichheld 1996).

Como contratar

O primeiro passo para uma boa contratação é ter uma descrição dos cargos na empresa com

pormenores sobre as habilidades necessárias para as atividades da posição, incluindo as tarefas

de “agentes de marketing de tempo parcial”. Tal descrição é feita a partir das expectativas dos

clientes. O que os clientes externos desejam irá influenciar fortemente o perfil esperado de um

candidato. Essa descrição deve levar em conta os valores da empresa e habilidades interpessoais

para interagir com os clientes e com as outras pessoas da organização. Em geral, os cargos de

contato com os clientes são desenhados para serem tão simples e limitados quanto possível,

cargos à prova de incompetentes. Isso leva à pouca atenção no recrutamento e,

conseqüentemente, a menos contatos competentes com os clientes (Berry 2001; Bateson e

Hoffman 2001; Berry e Parasuraman 1995; Grönroos 1995).

Para competir no mercado de trabalho é importante que a empresa ofereça produtos internos ou

produtos-trabalho de valor aos empregados, caso contrário os melhores profissionais irão embora

para outras empresas que o façam. Produto interno é tudo aquilo que a empresa oferece ao

empregado, incluindo salário, benefícios, ambiente de trabalho, oportunidades, as próprias tarefas

e os desafios. Os produtos internos das empresas precisam atrair, motivar, desenvolver e reter os

bons funcionários (Berry e Parasuraman 1995; Grönroos 1995). Isso requer a utilização de duas

técnicas de marketing: pesquisa e segmentação.

Pesquisa interna é fundamental, pois é preciso conhecer as preocupações, atitudes e aspirações

dos funcionários para que se possa desenhar cargos mais atraentes ao seu público interno. Em

geral, as suposições acerca dos clientes internos são equivocadas, o que faz com que pesquisa de

marketing seja tão importante para os clientes internos como para os externos. As empresas

devem estar preparadas para escutar seus funcionários e para responder com ações as

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solicitações e críticas por eles feitas, caso contrário a pesquisa de marketing interno terá um efeito

oposto, desmotivando os funcionários e fazendo com que a administração perca a credibilidade.

Les Butler do First Pennsylvania Bank afirma:

”Não faça perguntas se você realmente não as quer escutar. Não faça

perguntas se você só está atrás de sua resposta pré-concebida. Valorize a

informação, valorize a participação, explique por que suas idéias estão

sendo procuradas e como elas serão usadas.” (apud Berry e Parasuraman

1995, p. 201)

Segmentação também é importante na oferta de produtos-trabalho, pois as aspirações das

pessoas são diferentes, de forma que oferecer uma oferta flexível de cargos abre espaço para que

talentos com diferentes necessidades sejam atraídos para trabalhar na empresa. Há pessoas que

colocam maior importância no salário, outras nas oportunidades de carreira, outras na flexibilidade

de horários. Uma oferta rígida de cargos pode causar o desinteresse de ótimos candidatos

(Quester e Kelly, 1999; Berry e Parasuraman 1995).

Berry (2001) diz que as empresas de sucesso que ele estudou praticam uma “contratação

paciente”. Os candidatos precisam passar por diversas etapas classificatórias com diversos

entrevistadores, incluindo funcionários da linha de frente das empresas. Muitas dessas empresas

se utilizam de perguntas abertas como: ”fale-me de algum fato do qual você tenha se orgulhado”.

2.3.3 - Ambiente interno – retenção e motivação dos empregados

O problema da alta rotatividade

A satisfação com o trabalho é de importância central para o marketing interno de uma empresa,

pois altos índices de rotatividade dos funcionários impossibilitam o desenvolvimento de

relacionamento com os clientes. A empresa incorre em altos custos de recrutamento, contratação e

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treinamento dos substitutos. Além disso, a produtividade cai bastante e a satisfação dos clientes é

prejudicada. Um estudo do pessoal de vendas de uma revendedora de automóveis desenvolvido

pela Abt Associates concluiu que o custo médio mensal da reposição de um representante de

vendas com cinco a oito anos de experiência por um empregado com menos de um ano chegava a

36 mil dólares em vendas (Heskett, 1997).

A grande rotatividade dos funcionários é mal avaliada pelos gerentes, que muitas vezes não

percebem seus custos. Lovelock (2001) cita algumas variáveis omitidas na avaliação: primeiro, o

custo do constante recrutamento, contratação e treinamento, que significam investimento de tempo

e dinheiro; em segundo lugar, o custo da menor produtividade dos novatos inexperientes; terceiro,

o custo da atração constante de novos clientes. Variáveis de receita também são ignoradas, como

os fluxos de caixa das transações futuras dos clientes, que agora vão fazer negócio com um

concorrente, e a receita que se deixa de ganhar de clientes desencorajados a experimentar o

serviço pela comunicação “boca-a-boca” negativa. Há também custos muito difíceis de quantificar,

como perturbações ao serviço durante o tempo que um cargo ficou vago e a lacuna em termos de

conhecimento deixada pelo funcionário que saiu. Altos índices de rotatividade incorrem em um

ciclo vicioso, pois empresas com elevado turnover se sentem desencorajadas a investir nos seus

funcionários, porque perdem o investimento quando eles vão embora (Berry 2001; Correa 2001).

Para completar, Shiesinger e Heskett (1991) adicionam mais um item à lista de conseqüências

negativas de altos índices de rotatividade: o número de pedidos de indenização e processos

trabalhistas tem relação direta com o número de demissões.

Schlesinger e Heskett (1991) afirmam ser necessária a criação de novos indicadores para medir a

economia da rotatividade, pois as práticas contábeis tradicionais são incapazes de detectar seus

benefícios e, na verdade, reforçam o ciclo vicioso da rotatividade. A intangibilidade própria dos

serviços dificulta muito essa tarefa, mas algumas empresas estão empregando esforços para medir

os custos plenos da rotatividade dos empregados. Um exemplo ocorreu na Marriott Corporation,

onde a gerência estudou as relações entre rotatividade, retenção dos clientes e rentabilidade.

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Estimaram que uma redução de 10% na rotatividade reduziria a perda de clientes em 1% a 3% e

aumentaria a receita em US$ 50 milhões a US$ 150 milhões. Solomon (apud Lau 2000) reportou

que os custos para preencher uma vaga, incluindo o treinamento, giram em torno de 1,5 a 2,5

vezes o salário anual do funcionário que deixa a empresa.

Fatores que motivam as pessoas no trabalho

A alta rotatividade é muito cara e impede o desenvolvimento do marketing de relacionamento.

Assim, é preciso oferecer um produto interno que retenha os bons funcionários, dando motivos

para que permaneçam na empresa satisfeitos e motivados. Heskett (1997) observou que a

qualidade interna de um ambiente de trabalho (Quality of Work Life - QWF) é o que mais contribui

para a satisfação dos empregados. Qualidade interna é o sentimento que o funcionário nutre pelo

seu trabalho, pelos seus colegas e pela companhia em que trabalha. A qualidade interna se

caracteriza pela atitude que as pessoas têm umas com as outras e pela forma como elas servem

umas às outras dentro da organização.

Em uma pesquisa realizada pela MCI, uma empresa norte-americana de telefonia, mostrou que os

fatores responsáveis pela satisfação do empregado são, em ordem decrescente de importância,

satisfação com o trabalho em si, treinamento, remuneração, justiça nas promoções, tratamento

com respeito e dignidade, trabalho em equipe e o interesse da empresa no bem-estar de seus

empregados. Outro estudo, realizado em 1991 por uma empresa de seguros, concluiu que uma

das principais fontes de satisfação dos empregados era a capacidade de atender as necessidades

dos seus clientes. Os funcionários que conseguiam atendê-las indicavam níveis de satisfação no

emprego maiores em mais do que o dobro daqueles que achavam que não o estavam fazendo

(Heskett et al, 1997).

Albrecht e Zemke (apud Weatherly e tasink, 1993) sustentam que um ambiente motivador depende

de quatro fatores: (1) Qualidade de vida profissional, que inclui satisfação e segurança no trabalho,

salários, benefícios e oportunidades para progredir; (2) estado de ânimo, que corresponde a um

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alto nível de comprometimento; (3) nível de energia, que representa o combustível emocional para

prestar bons serviços; (4) otimismo, uma crença em novas possibilidades, novos desafios e novas

oportunidades.

Lawson (2001) afirma que o funcionário precisa de autonomia, de opinar e requerer assistência

para se sentir útil e valioso para a empresa e, portanto, motivado. Logo o empowerment tem uma

relação direta com a motivação.

Para Berry e Parasuraman (1995), a motivação dos empregados depende fundamentalmente de

uma causa pela qual valha a pena trabalhar. É importante que a empresa tenha um lema de ação

e o transmita com paixão e entusiasmo em todos os momentos possíveis. O lema deve ser simples

e claro, resumido em uma frase ou três palavras, como na SouthWest Airlines, onde a idéia é:

“produtividade, diversão e o trabalho em conjunto, como em uma família”. É uma obrigação da alta

direção estar pessoalmente envolvida com a comunicação da idéia ou lema, aproveitando todas as

ocasiões para transmiti-la, mostrando a todos os funcionários a importância de suas atividades

para o funcionamento da empresa como um todo, isto é, conferir dignidade ao trabalho.

Atendimento é um trabalho que exige muito, então, é preciso acreditar que vale a pena fazê-lo bem

feito (Berry e Parasuraman 1995). Berry (2001) diz ser importante que os funcionários tenham

orgulho do seu trabalho, vejam o que fazem como algo importante, pois isso fará com que eles

entendam a importância de fazer bem o serviço.

Izzo e Withers (2001) enumeraram seis fatores-chaves para encontrar e manter bons empregados.

São eles:

1) Oferecer um melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal por meio de horários flexíveis e

creche no trabalho, por exemplo. A produtividade irá melhorar e a rotatividade irá diminuir;

2) Dar uma causa nobre pela qual se trabalha. Pesquisas revelam que 86% das pessoas

escolheriam ‘ganhar suficientemente e fazer algo que torne o mundo melhor’ a

simplesmente ‘fazer muito dinheiro’;

3) Oferecer chances para desenvolvimento e crescimento profissional;

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4) Tratar funcionários como parceiros, dando-lhes voz ativa, provendo-os com informação,

recompensando-os de acordo com sua performance, tendo líderes menos autoritários e

oferecendo feedback constante;

5) Promover o senso de comunidade, criando mais oportunidades para interação, tanto

intelectual como social, dando boas-vindas a novos membros, para que se sintam partes

da comunidade;

6) Construir confiança. Os funcionários precisam sentir que a ética é recompensada e que a

falta dela traz conseqüências, deve haver consistência de ação. Criar diálogo franco e

direto no ambiente de trabalho

Smith (2001) pesquisou o que causa maior insatisfação no trabalho. Os resultados apontam muita

burocracia, problemas com os supervisores, benefícios e pagamentos fracos, falta de treinamento,

de oportunidade e de reconhecimento como os problemas mais citados. O autor perguntou

também quais seriam as principais ações que as empresas poderiam tomar para aumentar a

retenção dos empregados e as principais sugeridas foram: treinar melhor os gerentes, inovar, ouvir

e pagar mais, selecionar melhor os gerentes, dar o exemplo e contratar melhor. Essas informações

sugerem que os funcionários querem participar mais, ter mais influência em seu local de trabalho e

gerentes que os escutem e implementem suas sugestões. Eles querem também ser reconhecidos

por seus colegas e gerentes e isso significa ações simples, como uma salva de palmas para um

funcionário de destaque com todos reunidos, certificados de funcionário do mês e prêmios por

destaque. Essas pequenas demonstrações de reconhecimento podem fazer uma enorme diferença

no ambiente de trabalho e, portanto, na qualidade do serviço. Smith acrescenta que essas ações

devem ser prazerosas, divertidas para conseguirem mais participação e energia. Assim, idéias

criativas, apresentadas em um tom mais descontraído, são mais eficazes que demonstrações de

reconhecimento tradicionais e formais.

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Estresse e trabalho em equipe

O trabalho em serviços exige muito do prestador, física e psicologicamente. A simultaneidade entre

a produção e o consumo que caracteriza os serviços faz com que seja preciso alta concentração

em todos os encontros, para que não haja falhas. Os prestadores devem lidar com a variabilidade

inerente aos serviços e ter “jogo de cintura” para oferecer um bom atendimento a todo tipo de

pessoa. Clientes grosseiros e impacientes são uma realidade para os profissionais de serviços e

acabam por esgotar o atendente, que tende a perder o entusiasmo e a motivação no trabalho.

Esses clientes-problemas e o lema apregoado por muitas empresas de que o cliente tem sempre

razão resultam em uma grande fonte de estresse e de insatisfação por parte dos funcionários.

Além disso, os incidentes causados por tais clientes incomodam e podem afastar os bons clientes

(Lovelock 2001; Bateson e Hoffman 2001).

As pessoas que lidam com os clientes possuem na empresa um papel que transpõe limites, pois

estão na interface entre a empresa e o ambiente em que ela atua, estão sujeitos aos desejos dos

clientes que atendem e da empresa que os emprega, além de seus próprios desejos, que muitas

vezes são conflitantes e geram uma ambigüidade com a qual é difícil de lidar, resultando em

estresse no trabalho. Esses funcionários estão sujeitos às tensões de uma área limítrofe a que os

funcionários de backoffice não estão. Estes precisam atender somente aos desígnios da empresa.

Tais conflitos de papéis são positivamente relacionados às intenções dos funcionários de

abandonar a empresa (Bateson e Hoffman 2001; Weatherly e Tansik, 1993). Há ainda o desgaste

causado pelo que Lovelock (2001) chama de trabalho emocional, ou seja, a representação perante

o cliente de um estado de espírito diferente daquele que o atendente está vivenciando no

momento. O sucesso de um encontro de serviços pode depender disso.

Berry e Parasuraman (1995) pregam o trabalho em equipe como antídoto para o esgotamento e o

estresse próprios dos serviços. Criar um sentimento de grupo no qual os colegas são parceiros

dispostos a colaborar, a dividir os problemas, deixará o ambiente mais tranqüilo, além de inspirar e

divertir os funcionários no trabalho. As pesquisas realizadas pelos autores atestam que o trabalho

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em equipe é absolutamente necessário para a prestação de um serviço excelente. O autor

sustenta ainda que o trabalho em equipe aumenta o interesse no bom desempenho de cada

indivíduo do grupo, pois

“a decepção da equipe pode ser pior que a decepção do chefe. Poucos

motivadores são mais fortes que o respeito dos colegas. Bem lá no fundo as

pessoas querem se identificar com um grupo, elas querem contribuir,

expressar-se e exercer sua criatividade. Elas querem lutar juntas para

atingir metas. Querem sentir-se bem em suas funções, porque isso se

traduz em sentir-se bem internamente.” (Berry e Parasuraman 1995, p. 191)

Grönroos (1995) reforça a idéia de que o ambiente interno é uma forma importante de controle

indireto sobre os prestadores de serviço, uma vez que policiar as horas da verdade é muito

complicado. Isso se dá criando uma atmosfera na qual todos sintam que os serviços são a norma

que orienta suas ações. Essa ética coletiva criada irá realizar o controle dos funcionários, ou

melhor, os funcionários farão um autocontrole.

Berry (2001) recomenda reuniões antes do início do expediente. Muitas empresas de sucesso que

o autor estudou utilizam-nas com resultados interessantes. Essas reuniões, assim como as

reuniões comuns em equipes esportivas, servem para que os funcionários se planejem, se voltem

para objetivos maiores e assumam compromissos entre si. Esse agrupamento gera liderança e

energia para entrar em cena.

A estruturação e a gerência de equipes não é algo trivial e que deva ser deixado ao acaso. Deve-

se cuidar para que haja liderança, metas comuns, avaliação e recompensas da equipe e de seus

componentes. Em equipes integradas a liderança pode ser compartilhada, ou seja, diferentes

tarefas possuem diferentes líderes, não é preciso uma liderança única (Berry e Parasuraman 1995;

Taborda 2000).

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Capodagli e Jackson (2000) escreveram um livro sobre a forma de gerenciar de Walt Disney.

Segundo eles o fato de Walt Disney reconhecer o valor da colaboração de todos é uma medida de

sua grandeza. Disney promovia o trabalho em equipe. Ele dizia: “Sigo as opiniões das pessoas

comuns que encontro e tenho orgulho do trabalho em equipe estreitamente unido de minha

organização”. Os autores pregam a importância de equipes multifuncionais reunidas em torno de

um propósito em comum. É necessário que haja um certo grau de liderança para que uma equipe

possa funcionar, mas o excesso de estratificação e hierarquia provavelmente irá matar a iniciativa

e sufocar a inovação. Os autores sugerem que as operações de uma organização devem ser

estruturadas em torno das equipes, sendo que todos os membros do elenco devem ter sua opinião

respeitada, o que ajudará a derrubar as rígidas barreiras gerenciais e criará um ambiente

estimulante para todos.

A equipe deve ser recompensada como um todo. Fomentar a competição interna traz resultados

menos satisfatórios do que a ênfase na cooperação. A grande maioria dos estudos que comparam

cooperação e competição suporta esse ponto de vista. Alfie Kohn (apud Capodagli e Jackson

2000) afirma: “desempenho superior não somente não requer competição; parece requerer sua

ausência”.

Liderança com confiança

Liderança é muito importante para que uma equipe gere resultados. Para Gilpatrick (2001) os

líderes devem oferecer apoio aos subordinados e devem ser acessíveis e flexíveis. Devem ser

mais mentores e menos controladores e desejar trabalhar com uma política de “portas abertas”. Os

empregados devem ter oportunidade de errar e aprender com seus erros.

Berry (2001) afirma que empresas de serviço altamente dependentes de mão-de-obra precisam

construir uma relação de confiança com seus empregados para que eles construam uma relação

com seus clientes. As empresas precisam investir na confiança mútua, pois uma vez que se abale

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este sentimento é muito difícil de retificar. O autor comparou o ambiente nas empresas bem-

sucedidas que ele estudou como semelhantes a um ambiente familiar.

“Os membros de famílias fortes se reúnem periodicamente para se

comunicar, compartilhar as coisas e acontecimentos, festejar, resolver

problemas, se consolar, se ajudar ou se divertir uns com os outros – da

mesma forma que os membros das organizações fortes. (...) Em famílias

fortes, os pais são acessíveis e companheiros. São pessoas de verdade, e

não retratos na parede ou no relatório anual de acionistas. É fácil e

confortante estar na presença deles. Os relacionamentos são pessoais,

autênticos e amáveis. O mesmo acontece nas organizações fortes. Os

líderes são acessíveis, companheiros e cuidadosos. Os relacionamentos

são personalizados. O respeito mútuo é abundante. E a confiança

organizacional fica nutrida. (...) justiça, consistência e imparcialidade são

marcas de famílias fortes – e de empresas de elevada confiança. As

empresas constroem confiança organizacional através de tratamento igual a

todos os funcionários com cargos gerenciais e não-gerenciais” (Berry 2001).

As empresas estudadas por Berry (2001) tratam as pessoas pelo primeiro nome, diminuindo as

distâncias entre elas. Essas empresas encorajam a confiança organizacional ao confiarem em

seus membros e não esperam que estes ajam de forma desonesta, como ocorre nas relações em

família. A confiança não pode ser parcial e, assim, faz com que o controle disciplinar em cima dos

funcionários seja desnecessário. Berry observa que alguns funcionários podem agir de forma

desonesta, mas isso pode ser considerado uma aberração que não implica que a gerência vigie a

todos.

Os funcionários precisam estar bem informados, conhecer bem a empresa em que trabalham, o

serviço que vendem, inclusive informações financeiras da companhia. A comunicação aqui tem um

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papel crítico; é imprescindível munir os funcionários com informações importantes. As pessoas

querem saber o que está acontecendo em seu local de trabalho. Quando sabem, se sentem parte

do todo. Além disso, elas querem ser ouvidas.

2.3.4 - Treinamento

A capacitação e treinamento contínuos do funcionário para realizar suas tarefas são fatores

essenciais para que se alcance os objetivos do marketing interno. São eles: atrair, desenvolver,

motivar e reter os empregados. Em verdade, a preparação tem impacto em todos esses fatores. E

o que se observa é que o treinamento do pessoal que atua em serviços não é de forma alguma

satisfatório. Seja porque é insuficiente, tardio, não é do tipo necessário, ou, como é comum, o

treinamento é restrito à parte técnica, ao ‘o que’, enquanto para a parte funcional, o ‘como’, não há

treinamento algum. Outro erro comum é não dar continuidade ao processo de treinamento, que

deve ser constante (Lawson, 2001; Gilpatrick, 2001; Berry e Parasuraman 1995).

O treinamento adequado que realmente capacita o funcionário para exercer sua função é uma

grande fonte de motivação e de auto-estima. É improvável que um funcionário se sinta motivado a

fazer um trabalho para o qual não se sente preparado. Empregados que aparentam estar com má

vontade podem estar, na verdade, inseguros (Berry e Parasuraman 1995). Smith (2001) afirma que

programas de treinamento podem ser oferecidos como excelentes prêmios por bom desempenho,

pois as pessoas desejam melhorar suas habilidades.

Para Berry (2001), investir na aprendizagem dos funcionários oferece uma série de vantagens às

empresas. Primeiro porque nos programas de treinamento a empresa pode reforçar os valores

essenciais dela mesma, além de demonstrar compromisso com esses valores. Segundo porque

educação motiva, pois a aprendizagem constrói autoconfiança, que é um motivador poderoso.

Terceiro porque, assim, o funcionário aprende que a busca pelo aperfeiçoamento não tem fim;

aprender é uma jornada e não um destino. E, por fim, o aprendizado profissionaliza o papel da

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prestação de serviços, criando uma atitude baseada em auto-estima e não em servilismo. Berry

(2001) apresenta a seguinte visão dos benefícios de investir em aprendizagem: “aprender é uma

alternativa para a estagnação, o tédio, o cansaço e a ineficácia. Estimula e rejuvenesce. Renova o

espírito de servir e repõe a energia”.

Grönroos (1995) considera que o treinamento é um componente básico de um programa de

marketing interno. Três tipos de treinamento são classificados pelo autor. Primeiro um treinamento

que propicie uma visão holística da empresa, para que o funcionário compreenda como funciona

uma estratégia para serviços e qual é o seu papel dentro da empresa como um todo. O segundo

tipo de treinamento é doutrinário e visa ao desenvolvimento de atitudes favoráveis em relação ao

cliente, para que o funcionário compreenda e saiba desempenhar bem seu papel de “agentes de

marketing de tempo parcial”. Cooper e Cronin (2000) afirmam que este tipo de treinamento é

negligenciado, embora seja de vital importância para a formação da reputação da empresa. O

terceiro tipo de treinamento visa a desenvolver as habilidades técnicas dos funcionários, dando

reforço a suas habilidades de comunicação, vendas e serviços.

Cooper e Cronin (2000) sugerem que os treinamentos incluam aprendizado em salas de aula, on-

the-job e o aprendizado constante por meio do contato com parceiros e supervisores. O

treinamento deve transcender o conhecimento técnico. Os autores afirmam que os funcionários

desejam melhorar e avançar na profissão e que isso pode ser usado para motivá-los nos

treinamentos.

A pesquisa realizada por Jaclyn R. Jeffrey (1997) em 14 empresas de excelência reconhecida no

atendimento ao cliente constatou que o treinamento contínuo é fundamental para desenvolver nos

funcionários as características que os clientes valorizam. Os programas de treinamento dessas

empresas vão muito além de mostrar ao funcionário como atender o telefone. Os programas

incluem reuniões com a alta gerência já no primeiro dia, para mostrar o comprometimento com a

excelência nos serviços. Nessas 14 empresas o treinamento supera o modelo tradicional – que

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focaliza habilidades de atendimento e solução de problemas dos clientes. Nelas os funcionários

são treinados para falar em público, em vendas e em gerenciamento de crises. Para reagir aos

desafios empresariais, eles são treinados para servir segmentos específicos de clientes e enfrentar

situações singulares. Essas empresas também testam as competências aprendidas antes de

passar para outros tópicos. As empresas realizam intercâmbio de profissionais entre seus

departamentos, para que os atendentes entendam corretamente sua filosofia e operações. Isso

pode servir de estímulo ao trabalho em equipe e ao mesmo tempo fornecer aos funcionários

contatos importantes na empresa, que podem ajudar a resolver muitos problemas dos clientes.

Muitas vezes as organizações pesquisadas usam antigos funcionários de atendimento para

ministrar parte do treinamento aos novos. Isso dá maior credibilidade às informações apresentadas

e também demonstra que a empresa valoriza a experiência de seus profissionais.

O treinamento do pessoal da linha de frente deve incluir habilidades que capacitem o profissional

para a recuperação do serviço, pois o funcionário em contato com o cliente é o único

suficientemente próximo para reconhecer e avaliar um problema, corrigi-lo e preservar o cliente.

Empresas como a rede de hotéis Marriott, a FedEx e a Ford incluem habilidades de recuperação

de falhas em seus programas de treinamento. Na Ford, habilidades consideradas importantes para

a recuperação adequada do serviço incluem: comunicação oral e escrita, habilidades de escuta,

análise de problemas, organização, flexibilidade e administração do estresse. O treinamento inclui

simulação de encontro com um cliente zangado (Lovelock 2001).

As empresas de sucesso estudadas por Berry (2001) realizam programas formais de treinamento

em sala de aula. E praticam também o coaching, sistema em que um funcionário sênior é

responsável pelo desenvolvimento de um ou mais novatos. Muitas vezes os funcionários sentem

satisfação por ensinar, pois esse papel serve de estímulo para eles. Freqüentemente, ocorre um

coaching informal quando compartilhar informações está entre os valores pregados pela empresa.

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Empresas que desejam implementar um programa de coaching devem se preocupar em preparar

os funcionários veteranos para o papel de coach (treinador). É importante que eles dêem ênfase

em alavancar os pontos fortes dos novatos sob sua orientação, ou seja, eles devem ter foco nas

características positivas, pois há poucas fraquezas que se consegue consertar. O coaching será

certamente ineficaz se o aprendiz não tiver energia e motivação para aprender ou não tiver

inteligência e potencial para o cargo. Essas pessoas devem ser eliminadas na fase de seleção. A

empatia entre o novato e seu coach é fundamental, de forma que um deve poder avaliar o outro,

para que a gerência se assegure que há uma relação que satisfaça ambos: treinador e aprendiz

(Johnson in HRfocus 2001).

Gerentes como professores

O apoio da gerência é fundamental para que os programas de treinamento tenham efeito. O que

ocorre muitas vezes é que os supervisores não têm interesse no que os funcionários aprenderam

nos programas de treinamento e não se interessam em utilizar os conhecimentos adquiridos. Um

funcionário que tenha se entusiasmado em um treinamento e queira colocar em prática o que

aprendeu poderá desanimar ao sentir um gerente inseguro e que se sente ameaçado por

novidades. Esse desinteresse por parte dos chefes que parecem não considerar o treinamento

como algo útil desestimula qualquer tentativa de implementar os conceitos aprendidos e as novas

idéias. Isso destruirá os efeitos favoráveis de atitude do treinamento. Mesmo que se treine e

instrua o pessoal da linha de frente, é preciso que o conhecimento seja posto em prática, para que

com a repetição o novo conhecimento seja assimilado.

Os gerentes devem encorajar os empregados a implementar as novas idéias e ajudá-los a

compreender como elas poderiam ser usadas no ambiente de trabalho específico do funcionário.

Treinamento no próprio lugar de trabalho é um complemento importante para os treinamentos

externos. Encorajamento e reconhecimento fazem parte de um bom programa de treinamento.

Portanto, há de se ter cuidado na seleção dos administradores intermediários, capacitando-os para

que se tornem bons professores e possam lidar com as novidades trazidas pelos funcionários, bem

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como eles mesmos ministrarem cursos ao seu pessoal da linha de frente. Gerentes com espírito de

professor representam uma fonte de capacitação dos funcionários. Esta oportunidade de

treinamento geralmente é desperdiçada pelas empresas, pois pessoas erradas costumam ocupar

cargos de gerência (Berry e Parasuraman 1995; Grönroos 1995). Para isso, é necessário que os

gerentes sejam profissionais com perfil de líder: ”a capacidade para ensinar é uma das principais

características dos líderes” (Berry e Parasuraman 1995, p. 189).

As empresas de reconhecida excelência no atendimento pesquisadas por Jaclyn R. Jeffrey (1997)

pagam aos gerentes de atendimento para treinar o pessoal e não para fazer serviços burocráticos.

As empresas garantem que seus supervisores tenham as habilidades de treinamento necessárias

para manter a motivação da equipe. Os gerentes são responsáveis por abastecer os funcionários

de linha de frente com informações, habilidades, ferramentas e conhecimentos, para que possam

tomar boas decisões.

2.3.5 - Empowerment

O método de controle de linha de produção aplicado na administração de pessoal baseia-se em

papéis claramente definidos, sistemas de controle de cima para baixo, estrutura organizacional

hierárquica e suposição de que a administração é quem sabe. O empowerment é o oposto: baseia-

se no envolvimento e no compromisso, supõe que os funcionários conseguem tomar boas

decisões. No modelo do controle, quatro aspectos centrais da gerência de pessoal estão

concentrados no topo da organização. No modelo do empowerment, toda a organização está

imersa nestes quatro aspectos. São eles: 1) informações sobre o desempenho organizacional; 2)

recompensas baseadas no desempenho organizacional; 3) conhecimento que possibilita aos

funcionários compreenderem e contribuírem para o desempenho organizacional; 4) poder para

tomar decisões.

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Os defensores do empowerment afirmam que ele tende a gerar funcionários mais motivados e

clientes mais satisfeitos do que o método de linha de produção. Funcionários com poderes

concentram-se mais nos clientes e são mais prestativos para atender às necessidades destes. Tais

funcionários se engajam mais na recuperação de uma falha no serviço. Eles tendem a se sentir

melhor em relação ao seu trabalho e a si mesmos e isso se reflete no atendimento que prestam

aos seus clientes. Eles serão autenticamente mais atenciosos e amigáveis (Lovelock 2001;

Bateson e Hoffman 2001).

Para Berry e Parasuraman (1995), as pessoas da linha frente devem ter autonomia de ação, serem

capacitadas e até receberem incentivos para pensar, pois os clientes desejam ser atendidos por

pessoas que possam resolver seus problemas de forma flexível. Isso não significa deixar os

funcionários completamente soltos para fazer o serviço, mas norteá-los com valores, idéias e

metas. As pessoas não são robôs; é preciso que elas sejam estimuladas pela possibilidade de usar

a criatividade e de ter liberdade de ação. É claro que as companhias precisam de regras, o que os

autores pregam é a redução delas ao mínimo necessário.

É importante compreender que são os empregados da linha de frente que criam valor para os

clientes. O resto da empresa, as funções de retaguarda, bem como a administração e o pessoal de

apoio, formam um suporte para o pessoal da linha de frente. É o desempenho do pessoal de

contato que determina se uma organização de serviços será bem-sucedida e lucrativa, pois eles

são os responsáveis pelas horas da verdade. Por isso Grönroos (1995) condena a estrutura militar,

com o centro estratégico da empresa isolado da realidade, sem contato com o mundo externo. O

autor prega a inversão da pirâmide, com a linha de frente em sua parte superior e o resto da

organização dando suporte a sua atuação.

O grande desafio para as empresas pesquisadas por Jaclyn R. Jeffery (1997) é propiciar motivação

diária para seus funcionários da linha de frente de forma que eles continuem atingindo a excelência

mesmo diante de tensão constante. Um dos segredos é justamente dar autonomia a esses

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funcionários. Um gerente de atendimento afirmou: ”tentamos recompensar o bom julgamento e não

ter regras que os desencorajem”. Em outra empresa, os funcionários são encorajados a pensar da

seguinte maneira quando enfrentam situações novas: “O que eu faria se fosse o dono?”.

Lawson (2001) ressalta a importância do empowerment como sendo fundamental para criar

satisfação no trabalho e alta performance dos funcionários. A autora apresenta quatro ações para

o empowerment dos funcionários:

1) Envolver os funcionários em tomadas de decisão, dando a eles a possibilidade de opinar e

sugerir. Isso não significa seguir todas as sugestões dos funcionários, mas simplesmente

oferecer um canal aberto para que eles se sintam parte da empresa. Funcionários que não

têm oportunidade de tomar decisões tendem a se tornar apáticos e letárgicos;

2) Envolver os funcionários no processo de planejamento. Permitir que os funcionários

participem das decisões sobre metas de venda, por exemplo, faz com que eles fiquem

muito mais comprometidos em alcançá-las do que se forem simplesmente repassadas a

eles. Além do que, as metas serão mais realistas;

3) Oferecer elogios. Funcionários ficam ansiosos quando não sabem como estão se saindo.

Elogios são bons estimuladores e os funcionários irão desejar continuar acertando e terão

mais coragem para arriscar e criar. Eles ficarão mais motivados a ajudar a empresa;

4) Treinamento contínuo. O treinamento formal deve ocorrer sempre e o funcionário deve ter

a abertura para perguntar. Buscar esclarecimento de suas dúvidas deve ser passado como

algo positivo para os funcionários, um sinal de força, não de fraqueza. Quando os

funcionários sabem que podem receber a assistência que precisam, eles têm autonomia

para uma maior eficiência no trabalho.

Segundo Lovelock (2001), o empowerment pode ser classificado em níveis. O primeiro nível

consiste no ‘envolvimento por sugestão’; a empresa está aberta a sugestões dos funcionários, por

meio de programas formalizados, mas as atividades cotidianas de seu trabalho não mudam. O

segundo nível é o ‘envolvimento no cargo’, quando os cargos possibilitam que os funcionários

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utilizem um leque mais amplo de habilidades, o que requer mais treinamento. O terceiro e mais

profundo nível de empowerment é o ‘alto envolvimento’, quando as informações são amplamente

compartilhadas em todos os níveis da organização. Os funcionários desenvolvem habilidades de

trabalho em equipe, de solução de problemas e de operações. Estão altamente comprometidos

com os resultados da empresa.

Existem empresas mais propícias a adotar o sistema de empowerment dos funcionários. São

empresas com relações prolongadas com os clientes, que empregam tecnologias complexas e de

caráter não rotineiro, e estão em um ambiente imprevisível. Bateson e Hoffman (2001) afirmam que

o empowerment dos funcionários gera custos, pois requer investimentos maiores em treinamento,

recrutamento e remuneração. Além disso, funcionários com poderes irão personalizar o produto, o

serviço irá variar conforme o funcionário. Empresas que desejam consistência em suas ofertas,

como é o caso do Macdonald´s, não se atrevem a delegar poderes aos seus funcionários, de forma

que dar autonomia de decisões não é uma política adequada a todas as empresas.

Achatar a pirâmide

Grönroos (1995) recomenda que as empresas de serviços jamais devem ser desnecessariamente

burocráticas, com um grande número de níveis hierárquicos. Qualquer organização de negócios

que busque estabelecer uma orientação para o cliente e queira criar uma boa impressão durante

as “horas da verdade” tem que se tornar mais horizontal, ou seja, achatar a pirâmide eliminando

níveis hierárquicos. O gerenciamento é transferido da sala executiva para o nível operacional onde

todo mundo gerencia sua própria situação. Quando os problemas acontecem, cada funcionário

possui a autoridade necessária para determinar a ação apropriada. As pessoas na linha de frente

têm que tomar decisões operacionais, pois influenciam mais diretamente a impressão que os

clientes têm da empresa.

Um caso ilustrativo de sucesso na eliminação de burocracia foi implementado por Werner

Tarnowski na SAS (Scandinavian Airlines System). Lá a carga de trabalho era irregular. O pessoal

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de carga, por exemplo, tinha pouco o que fazer nos grandes intervalos entre os vôos, enquanto em

outros setores os funcionários estavam sobrecarregados com a quantidade de trabalho. Werner

resolveu acabar com esta divisão rígida de funções e implementou o que se chamou de

treinamento recíproco, no qual os funcionários ensinaram seu trabalho aos colegas responsáveis

por outras tarefas, para dar aos empregados o conhecimento total das operações. Assim, a

empresa se tornou mais flexível e o serviço melhorou, pois sempre havia alguém disponível, uma

vez que todo mundo atende telefonemas, todo mundo vende passagens, faz o check-in dos

passageiros, lida com problemas dos clientes e faz a verificação da carga. Além de tudo, para

muitos empregados, o trabalho ficou mais agradável e desafiante.

Levar a autoridade e responsabilidade para baixo na empresa é algo complexo, pois haverá a

resistência de alguns empregados que preferem padrões já definidos de ação, ao invés da pressão

de ter que encontrar soluções criativas e correr o risco de errar. Outra resistência vem da parte da

gerência de nível médio, pois estes podem perceber a delegação de autoridade como perda de

controle sobre seus subordinados. É preciso instruir esses gerentes quanto aos riscos do excesso

de controle e perceber as vantagens de se ampliar o nível decisório de seus subordinados.

Implementar essa mentalidade nas organizações é difícil e requer esforço e paciência (Bery e

Parasuraman 1995). Schelsinger e Heskett (1991) apontam que no modelo de empresas de

serviços centrado no pessoal de linha de frente os gerentes de nível médio realmente atrapalham.

Seu número deve ser diminuído, pois sem uma estrutura enxuta a alta gerência não consegue

transmitir as decisões operacionais até a linha de frente e, além disso, sem cortes de pessoal na

gerência média a empresa não pode redistribuir os ganhos.

Bernie Nagle (apud Brown, 2001) vê com muito ceticismo a onda de empowerment, especialmente

nas grandes organizações. Para ele o empowerment é mais um sedativo gerencial para fazer com

que as pessoas pensem que elas têm um futuro melhor. Segundo ele as grandes organizações

não fazem idéia do que seja dar poder a alguém. Baseado nesse depoimento, Brown afirma que

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empowerment não acontece espontaneamente, é preciso realmente desejar compartilhar poder

com outros e implementar as mudanças necessárias com energia.

2.3.6 - Sistemas de avaliação e recompensa

O sistema de avaliação e recompensa dos funcionários é um ponto crítico para um bom marketing

interno. De maneira geral os sistemas de avaliações se concentram no resultado, medindo a

exatidão das transações, ou o número de falhas, dando pouca atenção a variáveis

comportamentais que se referem ao processo, como a empatia ou a presteza do funcionário ao

servir o cliente.

Avaliação

Para ser bom, um sistema de avaliação deve ser condizente com o treinamento que o funcionário

recebeu, ser coerente com o papel desempenhado pelo profissional, ser compreendido pelos

funcionários que são avaliados por ele, ser igualitário, ou seja, aplicado de forma homogênea por

todo o grupo, sem predileções ou exceções, ser freqüente, para minimizar a influência de um único

encontro, usar métodos diversificados, para proporcionar visões de ângulos diferentes do

desempenho do serviço e ser passível de comentários dos próprios avaliados. O feedback para o

empregado é um ponto fundamental. Os sistemas de avaliação devem ser simples e de

conhecimento dos empregados. Foi constatado em uma pesquisa que a maioria dos empregados

não sabe como está se saindo no trabalho, pois não conhecem ou entendem o sistema de

avaliação e, portanto, não sabem como melhorar seu próprio desempenho. O sistema deve ser

justo para que tenha credibilidade. Um funcionário que se sinta injustiçado ou preterido por outro

terá um forte impacto negativo em sua motivação (Berry e Parasuraman 1995).

Recompensas

Para Reichheld (1996), os bons funcionários não permanecerão na empresa, a menos que haja

incentivos para isso. E se todo o resto for igual, os melhores ficarão com a empresa que pagar

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mais. Por isso, as empresas líderes de lealdade dos clientes compartilham os excedentes gerados

pela retenção de clientes com os funcionários. Elas vêem os melhores funcionários como vêem

seus melhores clientes; fazem de tudo para conservá-los. Essas organizações oferecem incentivos

como maiores salários, bonificações e comissões. Essas premiações precisam sintonizar os

interesses dos funcionários com os interesses da empresa. Para isso, devem ser baseadas nas

taxas de retenção de clientes e aumentar conforme o tempo de permanência do cliente na

empresa.

São feitas recomendações para o sistema de recompensas. Primeiramente, o sistema deve dar

ênfase ao positivo, premiar e comemorar o sucesso, não punir o erro. Em segundo lugar, ele deve

recompensar a equipe como um todo para incentivar o trabalho em conjunto. Deve, também,

abranger a todos na companhia, não somente a linha de frente, pois todos prestam algum serviço

a alguém. Em quarto lugar, é interessante usar métodos diversificados de premiação. E, por fim,

deve incluir o reconhecimento sincero, pois isso é um motivador eficaz. Um bom sistema de

recompensas fará com que os profissionais de desempenho acima da média queiram ficar,

enquanto aqueles com baixo rendimento vão embora ou melhoram. Esse sistema fará uma

pressão seletiva sobre os empregados para que a equipe melhore sempre. Outro problema

observado nas empresas é a restrição das recompensas a incentivos financeiros. O consultor

George Reider realizou uma pesquisa sobre a importância relativa de diferentes recompensas e

constatou que o dinheiro era importante, mas não o mais importante. A confiança da empresa,

delegando mais responsabilidade, dando treinamentos e se preocupando com o desenvolvimento

da carreira do profissional era a recompensa mais importante (Berry e Parasuraman 1995).

As empresas pesquisadas por Jaclyn R. Jeffery (1997) investem muito na preparação de seus

funcionários de atendimento, por isso é importante mantê-los na empresa. Para tanto, as

remunerações praticadas por essas empresas estão acima da média do mercado. O próprio

treinamento também tem uma função motivadora, pois melhora as competências do funcionário e

mantém neles a sensação de que há desafios a serem vencidos. Muitas empresas retiram os

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funcionários do local de trabalho por curtos períodos, para poder aliviar a tensão própria da

posição. Essas empresas oferecem planos de carreira aos seus profissionais de atendimento e

percebem isso como fator fundamental para a permanência do empregado. As organizações

pesquisadas também oferecem aconselhamento para que os funcionários progridam dentro do

departamento. Em alguns casos, os funcionários de atendimento chegam a ser promovidos para

outras divisões, em virtude dos amplos conhecimentos que reúnem sobre os produtos e os

processos corporativos. As empresas pesquisadas constataram que recompensas não-financeiras

possuem efeito mais duradouro de satisfação profissional. Os funcionários valorizam o fato de

serem reconhecidos por seus colaboradores e superiores. Essas empresas lançam mão desses

recursos e utilizam homenagens exibindo cartas de clientes, fotos, concursos do tipo “funcionário

do mês” e menções honrosas em jornais internos. Além de recompensar os melhores funcionários

no atendimento ao cliente com prêmios como ingressos de eventos artísticos ou esportivos e

viagens.

2.3.7 - Comunicação interna

Gerenciar a comunicação é reconhecer que os prestadores de serviço e os gerentes precisam de

informação para realizar bem as suas tarefas com os clientes externos e internos. Informações

sobre suas rotinas de trabalho, políticas da empresa, características das mercadorias e dos

serviços, as promessas feitas aos clientes pelas campanhas de comunicação externas, o próprio

desempenho e assim por diante. Por outro lado, a comunicação interna deve fluir em todas as

direções, não só da gerência para os funcionários mas também no sentido inverso, pois os

funcionários possuem valiosas informações sobre os clientes e os sistemas da empresa.

Um papel chave da comunicação é reduzir a incerteza e ambigüidade no ambiente de trabalho.

Reduzindo-se a incerteza, reduz-se também o medo e a ansiedade entre os funcionários e isso

libera energia para uma maior e melhor produtividade. Os empregados que trabalham para uma

gerência aberta e comunicativa têm de três a quatro vezes mais chances de se sentirem satisfeitos

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com seu trabalho e duas vezes mais chances de se comprometerem com a organização.

Questiona-se se um empregado pode se comprometer com uma empresa quando ele não sabe o

que está acontecendo e não pode dar sua opinião. O absenteísmo é sensivelmente menor quando

os funcionários recebem muita informação. E, em geral, os gerentes são menos eficientes em

passar as informações importantes para seus funcionários do que acreditam ser. Dessa forma,

conclui-se que a comunicação interna deve ser alvo de muita atenção e cuidado por parte da

gerência.

A troca de informações precisa ser multilateral, ou seja, deve ocorrer entre quaisquer

departamentos na empresa. Simplesmente despejar informações sobre os empregados faz com

que o impacto dessas informações seja fraco, pois eles não ficam receptivos a uma comunicação

desse tipo. Além disso, para realizar suas tarefas as pessoas precisam da cooperação de outros

profissionais. A empresa é um sistema integrado, de forma que relações de trabalho mais

próximas, com base na troca aberta de informações, são fundamentais para se conseguir uma

cultura organizacional orientada para a qualidade. Os funcionários devem poder comunicar suas

necessidades e exigências, suas idéias de como melhorar seu próprio desempenho e suas

descobertas sobre o que os clientes desejam (Tourish e Hargie, 1993; Grönroos 1995).

É importante que os funcionários tenham um feedback das avaliações a seu respeito e que

também possam avaliar as pessoas com as quais interagem em seu trabalho. Assim, uma pessoa

recebe as avaliações feitas a seu respeito vindas de diferentes fontes e de diferentes pontos de

vista: dos seus chefes, colegas e subordinados. E, se é feita uma avaliação negativa, talvez ela

possa ser ignorada. Mas quando há muitas avaliações com a mesma percepção, o feedback fica

mais consistente e é mais facilmente levado a sério.

Alguns pontos são importantes em um sistema em que se pode opinar a respeito de todos e que

essas opiniões são recebidas por seus alvos. Primeiro, é melhor que as avaliações sejam

anônimas, para encorajar a franqueza nas avaliações. Em segundo lugar, deve-se ensinar as

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pessoas a fazer críticas construtivas, mesmo que anônimas, para que a observação possa ser feita

de uma forma menos dolorosa para o receptor e seja melhor aceita por ele. Dessa forma a

avaliação pode ser melhor aproveitada. Terceiro, é mais interessante que essa avaliação seja

periódica. Um ano é um período muito longo; três em três meses é a freqüência usada pela

Synygy´s, empresa norte-americana que obteve grande sucesso com seu sistema de avaliação e

feedback. Isso irá ajudar os empregados e gerentes a reagirem e se reposicionarem de acordo

com os objetivos da empresa mais rapidamente. Esse tipo de avaliação pode demandar muito

tempo de quem estiver cuidando do processo. No caso da Synygy´s, uma semana a cada três

meses. Mas o tempo utilizado vale a pena. Um gerente da Synygy´s afirma: “se não fizermos isso,

iremos passar o dobro do tempo resolvendo problemas que não teriam se desenvolvido de outra

forma. Logo, o investimento compensa” (Kiger, 2001).

As campanhas externas deveriam passar primeiro pelo público interno. Há casos em que os

funcionários se sentem ofendidos por anúncios de suas empresas ou simplesmente podem rejeitar

a mensagem e não se comprometer com o que está sendo dito aos clientes. É importante que a

comunicação externa seja mostrada em primeira mão aos funcionários, para criar

comprometimento e desfazer possíveis confusões, além de uma atitude favorável às promessas

feitas. É importante, também, ouvir a opinião dos funcionários a respeito da comunicação externa.

Um passo adiante seria desenvolver as campanhas com a colaboração dos empregados afetados

por essa comunicação (Witt 2001; Grönroos 1995).

Grönroos (1995) afirma que realizar o planejamento em conjunto com o pessoal de linha de frente

representa uma excelente oportunidade para a empresa, pois os atendentes possuem informações

valiosas dos desejos e das necessidades dos clientes. Além disso, essa atitude é uma forma de

obter comprometimento antecipado das ações. O envolvimento dos funcionários no processo de

planejamento e de sugestões é largamente usado pelas empresas estudadas por Jaclyn R. Jeffrey

(1997). Isso é um grande motivador para os funcionários. Um atendente afirmou: ”o que me dá

mais satisfação é poder encontrar formas de facilitar nosso trabalho ou torná-lo mais produtivo”.

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Com isso, os funcionários se sentem valorizados, além de apresentarem soluções que os gerentes

não teriam percebido.

Vários materiais de suporte, como folhetos, quadros de aviso, revistas internas, memorandos,

videoteipes e outros recursos visuais podem e devem ser utilizados para informar os funcionários

sobre as novas estratégias de serviço e fazê-los compreender e aceitar as novas estratégias e

programas da empresa. Mas, em geral, esses são veículos de comunicação unilateral. Os meios

digitais, como intranets, são indicados pela economia, praticidade e interatividade. As empresas de

alta performance em atendimento pesquisadas por Jaclyn R.Jeffrey (1997) se valem destes meios

de comunicação interativos de alta tecnologia para acelerar a disseminação de informações

relativas a novos produtos e políticas da empresa aos profissionais da linha de frente e para que

estes tenham um canal aberto para dar sua contribuição à empresa.

2.3.8 - Fechamento da revisão bibliográfica

No primeiro item do capítulo foi mostrado que serviços possuem características próprias que os

distinguem de produtos manufaturados. No item seguinte foram discutidas as implicações dessas

diferenças no marketing. Nesta análise, foi observado que a lucratividade de uma empresa de

serviços depende de um relacionamento sadio e duradouro entre a organização e seus clientes – o

marketing de relacionamento. O presente item (Marketing interno) tratou da importância

fundamental do relacionamento entre as empresas de serviços e seus funcionários para obter

sucesso no marketing de relacionamento. Na Figura 2.6 estão representados, em conjunto, os

ciclos do sucesso e do fracasso (Lovelock 2001). Esses ciclos ilustram as inter-relações entre

empresa, funcionários e clientes. As ações da gerência têm efeitos que se retroalimentam, gerando

ciclos que reforçam esses efeitos. Isso mostra a armadilha perigosa que uma estratégia de

marketing equivocada pode gerar, no caso do ciclo vicioso do fracasso. Mas também mostra os

enormes benefícios que uma estratégia coerente e bem implementada pode trazer, no exemplo do

ciclo virtuoso do sucesso.

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Figura 2.6 - Ciclo do fracasso vs. ciclo do sucesso

1) Ciclo vicioso do fracasso

alta rotatividadede clientes

ênfase repetida na atraçãode novos clientes

insatisfação do cliente

sem continuidadena relação com o cliente

fracasso em desenvolver fidelidade do cliente

baixas margens de lucro desenho de cargos estreito

para acomodar baixo nível de qualificação

uso de tecnologia para controlar a qualidade

pagamento de baixos salários

minimização do esforço de seleção

minimização do treinamento

alta rotatividade dos funcionários;qualidade deficiente do serviço

insatisfação dos funcionários;atitude deficiente noatendimento

ênfase nas regrase não no serviço

Funcionários não podem resolver problemas do cliente

Funcionários se tornamentediados

CICLO DO CLIENTE

CICLO DO FUNCIONÁRIO

2) Ciclo virtuoso do sucesso

Baixa rotatividadede clientes

Ênfase repetida na fidelidadee retenção dos clientes

Alta satisfação do cliente

Continuidadena relação com o cliente

Fidelidade do cliente

Margensde lucro mais altas

desenho de cargos ampliados

Treinamento e empowerment para o peesoal de linha de frente controlar a qualidade

pagamento de salários acima da média

Esforço de seleção internos

Treinamentoprolongado

Baixa rotatividade dos funcionários;qualidade no serviço

Satisfação dos funcionários;atitude positiva noatendimento

CICLO DO CLIENTE

CICLO DO FUNCIONÁRIO

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Capítulo 3 – METODOLOGIA

Neste capítulo, os métodos relativos à esta pesquisa são discutidos. Algumas classificações deste

trabalho são apresentadas no item que seguinte. Em seguida mostra-se que perguntas se

pretendeu responder com esta pesquisa. O item seguinte justifica a escolha da Viação Águia

Branca como o caso estudado. Os dois próximos itens apresentam como os dados foram

coletados e tratados. As limitações intrínsecas a este tipo de pesquisa são apresentadas no último

item.

3.1 - Tipo de pesquisa

Vergara (1997) propõe dois critérios básicos que devem ser usados para classificar pesquisas.

Segundo a autora, uma pesquisa deve ser classificada quanto aos fins e quanto aos meios. No que

diz respeito aos objetivos da pesquisa, este estudo pode ser classificado como exploratório.

Quanto aos meios de investigação, o trabalho trata-se de um estudo de caso.

Um estudo é considerado exploratório quando há pouca familiaridade e referência sobre seu tema,

ainda se encontrando nos primeiros estágios de investigação. Embora haja uma vasta literatura

prescritiva sobre marketing interno, os estudos empíricos sobre o tema são escassos (Chiesa,

2001). Os objetivos de uma pesquisa exploratória são familiarizar e elevar a compreensão de um

problema em perspectiva e gerar hipóteses explicativas e variáveis a serem verificadas (Révillion,

2001).

A teoria levantada na revisão bibliográfica, que teve a função de servir de base às observações

empíricas, foi obtida principalmente em livros e artigos acadêmicos. Em campo, foi realizado um

estudo de caso que consiste num método de pesquisa exploratória objetivista, caracterizado pelo

estudo em profundidade, mais detalhado, de um ou poucos objetos. O estudo de caso é bastante

recomendado para pesquisas exploratórias por sua grande flexibilidade, podendo o pesquisador

estar aberto a novas hipóteses e variáveis que surjam no decorrer da pesquisa. É, portanto, um

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método qualitativo, pois, em verdade, o objetivo de um estudo de caso não é quantificar, mas

compreender. O estudo de caso deve auxiliar na elaboração, aprimoramento, ou verificação da

teoria existente (Mattar, 2001). Segundo Yin (apud Révillion 2001), um ou poucos casos são

recomendados quando representam casos críticos para testar teoria bem formulada. Este método

é indicado para problemas de pesquisa de caráter sistêmico, nas quais há muitas inter-relações

entre os fatores envolvidos, sendo difícil compreender cada fator individualmente sem considerar

as influências dos demais dentro do sistema. O marketing interno se enquadra nesse ponto, pois

suas atividades – contratação, criação do ambiente interno favorável, motivação, disseminação da

filosofia de marketing, treinamento, empowerment e a comunicação interna – interagem e se

influenciam fortemente de maneira sistêmica (Révillion 2001).

3.2 – Perguntas da pesquisa

Este estudo responde às seguintes perguntas:

1) Qual é a política de marketing interno da Águia Branca na visão dos executivos responsáveis

pelo programa?

2) Como o programa de marketing interno da Águia Branca é visto pelos funcionários que o

vivenciam?

3.3 - A escolha do caso

O caso escolhido foi o da Viação Águia Branca, empresa de transporte rodoviário com escritório

central em Cariacica, no Espírito Santo. A Águia Branca entrou no “Guia Exame - as 100 melhores

empresas para você trabalhar” nas edições de 2000 e 2001. Para entrar nessa seleta lista, a

empresa deve se candidatar fazendo a inscrição até março do ano da edição. Em seguida recebe

dois tipos de questionário. O primeiro é direcionado a um número representativo de funcionários,

para que eles avaliem seu relacionamento com a organização, ambiente de trabalho, benefícios e

oportunidades que recebem e seu orgulho em trabalhar na empresa. Esse questionário tem um

peso de 80% na avaliação a ser feita. Assim, o que realmente decide a participação, ou não, da

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companhia no Guia Exame é a opinião dos seus funcionários. O segundo tipo de questionário é

direcionado à administração e pergunta sobre as políticas e práticas de RH. Trata-se de um

modelo de avaliação bastante testado e que possui muita credibilidade (revista Exame, Ed. 749,

2001)10. Ao escolher uma empresa que se insere nesse guia, espera-se encontrar filosofia e ações

mais sofisticadas de marketing para seu público interno. Assim, a escolha do caso foi feita por

julgamento, selecionando uma empresa que reconhecidamente possui uma relação positiva com

seus funcionários. Com isso, desejou-se observar o “estado da arte" da prática de marketing

interno em empresas brasileiras de serviço de grande interação com o cliente.

3.4 - Coleta dos dados

A revisão bibliográfica (Cap. 2) teve como principais fontes livros, artigos acadêmicos, revistas de

grande circulação, como a Exame, além de pesquisa na Internet. Primeiramente foram descritas as

características próprias das empresas de serviços e suas implicações na gerência de marketing.

Foi observado, nessa fase, que o relacionamento com o cliente é o principal determinante do lucro

neste tipo de empresa e que, para se ter relacionamento, é preciso haver um eficiente marketing

interativo, realizado pelos funcionários nas “horas da verdade”. Por fim, o marketing interno e suas

atividades, que representam os esforços da gerência para conseguir um marketing interativo de

alto nível, foram descritos com mais detalhes.

Os dados da pesquisa de campo foram obtidos primeiramente em entrevistas com os executivos

responsáveis pelos programas direcionados ao público interno. Foi feita uma entrevista com um

executivo da área de marketing, o assessor comercial, e duas entrevistas, em dias separados, com

a coordenadora de recursos humanos da empresa. A escolha de um profissional dessas áreas

deve-se a idéia defendida por muitos autores de que em empresas de serviços o marketing e os

recursos humanos devem ser coordenados de forma muito eficiente para excelência no

10 As empresas com as melhores notas recebem a visita de um jornalista da revista, que irá entrevistar osgerentes e os funcionários, para avaliar se, de fato, as pessoas estão satisfeitas com a empresa. Essa avaliação,inclusive o conteúdo dos questionários, é feita com a orientação do instituto americano “Great Place to

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atendimento ao cliente (Grönroos 1995; Lovelock 2001; Chiesa 2001). De forma que o marketing

interno é resultado da integração entre essas duas áreas, que passam a coexistir, sem limites

claros na atuação de cada uma (Rafik e Ahmed 1993). Esse contato inicial teve como objetivo

descrever o marketing interno na empresa, buscando entender sua filosofia, seus objetivos e as

ações implementadas. Essas entrevistas foram semi-estruturadas e profundas, para que se

pudesse entender o programa com riqueza de detalhes. Havia um roteiro, transcrito no Anexo I,

baseado na revisão bibliográfica previamente feita para guiar o entrevistador e permitir uma

comparação entre todas as entrevistas realizadas. A transcrição e o resumo das entrevistas foram

mostrados para os executivos para que eles aprovassem seu conteúdo (Vergara, 1997). Algumas

alterações foram recomendadas e aceitas.

Após a coleta de dados junto aos executivos, foram realizadas entrevistas com alguns funcionários

da Viação Águia Branca, para que se pudesse analisar a percepção que eles têm das ações

internas realizadas pela empresa e como esses programas influenciam suas atitudes em relação

ao cliente e à própria empresa. As entrevistas foram realizadas nos mesmos moldes daquelas

feitas com os executivos, semi-estruturadas e em profundidade. O roteiro das entrevistas se

encontra no Anexo II. No total foram entrevistados três motoristas, um agente de vendas e um

funcionário interno. O maior número de motoristas deve-se ao fato de que estes profissionais

atuam mais próximo ao cliente de que os demais funcionários da empresa, recepcionando o

passageiro e conferindo sua passagem, realizando o P.O.11, respondendo dúvidas durante a

viagem e se despedindo dos passageiros no desembarque. Os motoristas foram selecionados pela

empresa. Os profissionais estavam de plantão quando o entrevistador se encontrava na sede da

empresa e, portanto, disponíveis. A gerência solicitou que eles cooperassem com a pesquisa. Os

dois profissionais restantes foram abordados em uma visita do pesquisador ao guichê da empresa

na rodoviária de Vitória e, após consultar por telefone a administração da empresa, cederam seu

Work”, que faz essa mesma pesquisa em muitos países, como Estados Unidos, Chile, Dinamarca, Suíça,Portugal, Itália e Reino Unido.11 Procedimento operacional (PO) é a ação do motorista, antes de começar a viagem, de se apresentar aospassageiros, informar os serviços a bordo (como água, café a toalete) , dizer o tempo de viagem e onde serãoas paradas.

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tempo para a pesquisa. O pesquisador solicitou um agente de vendas e um funcionário que não

trabalhasse em contato com o cliente, para observar se o marketing interno da Águia Branca vai

além da interface com o cliente e abrange toda a organização, segundo o conceito de cliente

interno. Todos os funcionários entrevistados trabalhavam há muito tempo na empresa, o que

permitia uma maior segurança nas respostas, já que conheciam bastante a Viação Águia Branca.

Isso reduz a chance de percepções erradas e julgamentos precipitados sobre as ações da

empresa, que poderiam decorrer em entrevistas com funcionários recém-contratados. Por causa

da consistência das respostas de todos os cinco entrevistados, não houve a necessidade de

entrevistar mais funcionários da empresa, pois Mattar afirma:

“O número de entrevistas a realizar (em pesquisa exploratória) não é

definido, e deverão ser realizadas tantas quantas for necessário. A partir do

momento em que perceber que novas entrevistas não estão mais trazendo

contribuições significativas para ampliar a compreensão do assunto é

chegado o momento de parar.” (Mattar, 2001, p. 21)

O conteúdo dessas entrevistas foi comparado com a teoria levantada.

Abaixo a tabela 3.1 mostra um perfil resumido de todos os entrevistados.

Tabela 3.1 – Perfil dos entrevistados

Entrevistado Formação Idade Tempo naempresa

Coordenadora de RH Bacharel em Serviço Social,especialização em recursoshumanos e MBA em gestão

empresarial

37 anos 15 anos deempresa

Assessor comercial MBA em marketing 29 anos 4,5 anosMotorista 1 1o grau completo 36 anos 6 anos

Motorista 2 1o grau completo 39 anos 10 anosMotorista 3 2o grau completo 43 anos 15 anos

Agente de vendas 1o grau completo 34 anos 15 anosFuncionário interno

(tesouraria)Cursando o 2o grau 37 anos 16 anos

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As entrevistas individuais em profundidade têm alguns pontos positivos. Primeiro, o respondente

sente-se menos constrangido, por estar com um único entrevistador e por saber que seu nome

será mantido em sigilo. Estando só com o entrevistador, o entrevistado reduz a preocupação com o

próprio desempenho e se torna mais espontâneo. O respondente não precisa se deslocar para as

entrevistas, uma vez que o entrevistador vai até ele. Isso traz facilidades para o entrevistado, que

só precisa doar um pouco do seu tempo (Révillion 2001). A presença do pesquisador traz a

vantagem adicional de se poder explicar e discutir mais calmamente as questões a serem

respondidas, o que traz maior clareza aos questionamentos e, assim, evitam-se possíveis erros de

interpretação por parte do respondente. A flexibilidade deste tipo de entrevista a torna mais

dinâmica, pois permite que entrevistador e entrevistado se aprofundem em tópicos que não

estavam previstos, mas que se revelam interessantes durante a entrevista. Por isso, esta forma de

coleta de dados é bastante indicada em pesquisas exploratórias.

3.5 - Tratamento dos dados

O objetivo de uma pesquisa exploratória é levantar novos fatos e hipóteses e, também, estabelecer

relações com a literatura existente. Assim sendo, os dados obtidos com os executivos, que

serviram para descrever o programa de marketing interno da Viação Águia Branca, foram

analisados à luz da teoria levantada para que se pudesse observar os pontos positivos e, também,

as possíveis carências ou “falhas” do programa, seguindo as recomendações dos autores

pesquisados.

As entrevistas com os funcionários da empresa objetivaram analisar a percepção que eles têm

acerca das ações da organização e os impactos que elas causaram em suas atitudes e nas suas

relações com a empresa e os clientes, de forma que o conteúdo destas entrevistas correspondem

ao resultado prático do programa de marketing interno da empresa. O tratamento desses dados foi

qualitativo. Buscou-se principalmente os pontos comuns que formam a percepção coletiva do

grupo selecionado. Além disso, foram anotados relatos exclusivos de alguns funcionários, com

conteúdos que conduziram a criação de hipóteses. Esses depoimentos serão confrontados com as

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entrevistas feitas com os executivos a fim de que se possa identificar os pontos de divergência e

as concordâncias em relação ao marketing interno da empresa. Também serão analisados com

base na teoria levantada, para testá-la quanto às atitudes e percepções do público-alvo do

marketing interno.

3.6 - Limitações do método

Uma primeira limitação de pesquisas exploratórias qualitativas é a falta de objetividade, pois não

há métodos formais de observação e coleta de dados (Révillion 2001). Essa limitação é o

contraponto da flexibilidade própria desse tipo de pesquisa. A interpretação pessoal do

pesquisador tem impacto direto no resultado da pesquisa. Vergara fez a seguinte observação, que

representa bem essa questão:

“ A atividade básica da ciência é a pesquisa. Todavia, convém não esquecer

que as lentes do pesquisador, como as de qualquer mortal, estão

impregnadas de crenças, paradigmas e valores. Negar isso é negar a

própria condição humana de existir. Refuta-se, portanto, a tão decantada

“neutralidade científica” (Vergara, 1997, p. 11)

Este método de pesquisa não permite que se faça generalizações a respeito do que foi encontrado

no estudo, pois a escolha do caso foi feito por julgamento, não sendo representativa de qualquer

população (Révillion 2001). O grupo de funcionários entrevistados era formado por profissionais

que trabalham na empresa por um longo período – a maioria ultrapassa dez anos como funcionário

da Águia Branca. São funcionários que já possuem um maior conhecimento sobre a empresa e

afinidade com a cultura de trabalho. Isso pode ter influenciado na questão da satisfação e do

impacto do programa de marketing interno, com um viés para um resultado positivo.

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Capítulo 4 - RESULTADOS DA PESQUISA

Este capítulo será introduzido com um breve histórico e uma descrição da empresa. Em seguida,

as observações feitas durante as entrevistas são apresentadas integralmente, seguidas dos relatos

mais importantes que as confirmem e ilustrem. Após cada citação será identificado o autor,

podendo ser a coordenadora de recursos humanos ou o assessor comercial, para os executivos.

Os motoristas foram identificados por 1, 2 ou 3, de acordo com a ordem em que foram

entrevistados. Os demais funcionários foram identificados pelos próprios cargos, são eles: o

agente de vendas e o funcionário interno.

4.1- Histórico e descrição da empresa12

O fundador do Grupo Águia Branca, Carlos Chieppe, era filho de imigrantes italianos. Ele

trabalhava transportando cereais e café entre o campo e a cidade no Espírito Santo. Começou com

uma tropa de burros e em 1946 comprou um caminhão para o serviço. Seis meses depois, vendeu

seu caminhão e comprou seu primeiro ônibus de passageiros, começando a operar na linha entre

Governador Valadares e Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Seu filho Vallécio era cobrador e

responsável pela limpeza do carro. Dentro de seis meses ocorre a aquisição do segundo ônibus,

surgindo a Viação Auto 13.

Em 1950, após perder a concessão da linha de Governador Valadares, Carlos e Vallécio

associam-se ao irmão mais novo de Carlos, João Chieppe. O grupo começa a operar na linha entre

Colatina e Vila Pancas, no Espírito Santo. Em 1956, Vallécio deixa a sociedade para, no ano

seguinte, associar-se a João Godoy na compra da Empresa de Transportes Águia Branca. A

empresa contava com 12 carros e operava no trajeto entre Colatina, Montanha e Barra de São

Francisco (ES). Essa nova administração recupera a empresa e em um ano adquire mais dois

veículos novos. Em 1961, a Empresa de Transportes Águia Branca funde-se à Viação Brasil. Esta

12 Texto produzido a partir da revista interna da Viação Águia Branca - Edição Comemorativa dos 50 anos dogrupo. Também foram usados o site da empresa e o trabalho de Netto (2000).

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era controlada pelos irmãos de Vallécio, Wander e Aylmer. Dessa fusão nasceu a Viação Águia

Branca Ltda., com uma frota de 40 carros.

No final da década de 60 a cultura cafeeira no ES entra em crise, e, muitas pessoas começam a

migrar para outros estados. Isto tinha efeito negativo imediato sobre o setor de transportes. Assim,

buscando diversificar sua linha de atuação, Vallécio compra fazendas no Pará, com o objetivo de

investir na indústria frigorífica. Foi o primeiro movimento de diversificação de negócios do grupo.

Logo em seguida, em 1971, o grupo adquire a concessionária Mercedez-Benz em Governador

Valadares, a Valadares Diesel.

Na década de 70, a empresa continua crescendo e se diversificando com um movimento de

aquisições, como a compra da Sayonara, empresa de transporte urbano de Coronel Fabriciano

(MG) e a aquisição das linhas do norte do Espírito Santo da Viação Itapemirim, o que dobrou sua

frota para 150 ônibus na região. Em 1978, a empresa compra a Companhia Viação Sulbaiano, a

Sulba, que a coloca atuando em todo o sul da Bahia. Nesta mesma década foi inaugurado o

parque Rodoviário de Cariacica, com 12 mil metros quadrados, onde hoje está a sede da empresa.

Em 1975, a Águia Branca inicia o processo de informatização do seu setor administrativo. Nessa

época, a empresa era coordenada por Vallécio, Wander e Nilton Carlos.

Na década de 80, o processo de crescimento e diversificação teve continuidade. Em 1982, a

empresa adquire a Vitória Diesel, uma revendedora Mercedez-Benz. Nesse mesmo ano, a

empresa incrementa o serviço de fretamento de ônibus para empresas do Espírito Santo, Minas

Gerais e Bahia, pela compra da Viação Capixaba, que é voltada exclusivamente para este setor. O

grupo entrou no ramo de transporte de cargas, constituindo, em 1984, a Águia Branca Cargas. O

marco desta década ocorreu em 1987, com a criação da Holding Águia Branca Participações Ltda.,

com o objetivo de racionalizar a administração dos negócios do grupo. As diversas empresas foram

divididas em unidades de negócios.

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A Holding Águia Branca é responsável pelo planejamento estratégico do grupo, o que envolve

questões de qualidade, comunicação e marketing, análise de novas oportunidades e o

acompanhamento e suporte para as unidades de negócio. Seu objetivo é fazer com que o Grupo

Águia Branca seja reconhecido pela excelência em produtos e serviços de transporte. A Holding

observa o mercado para identificar as melhores oportunidades para investimento, tanto em termos

de novas tecnologias e métodos como na prospecção de novos nichos ou mercados.

Atualmente, as empresas do grupo estão divididas em cinco unidades de negócios, todas sob a

direção da Holding Águia Branca. A primeira é a Unidade de Passageiros, na qual se insere a

Viação Águia Branca, a Companhia Viação Sulbaiano e a transporte Urbano Águia. A segunda é a

Unidade de Cargas, composta por duas empresas, a Águia Branca Cargas e a Catarinense

Cargas. Em seguida tem-se a Unidade de Serviços, que teve início com a compra da Viação

Capixaba, que atuava no setor de fretamento para transporte de pessoal para grandes empresas e

viagens de turismo. Esta empresa passou a chamar-se Vix Locadora Ltda. e atua nos mercados de

São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. A Unidade de Comércio é

composta por concessionárias de veículos e lojas de pneus, dentre as quais estão duas

concessionárias Mercedez-Benz, que também comercializam pneus Michelin e utilitários Toyota

Bandeirante. São elas: a Vitória Diesel, com duas lojas localizadas na Grande Vitória, e a Linhares

Diesel, em Linhares, norte do ES. Ainda na Unidade de Comércio estão a Vitória Diesel Pneus, a

Granvix Veículos, que comercializa veículos Wolkswagen, e a Kurumá, concessionária Toyota,

com lojas em Linhares e Vitória. A última unidade de negócios é a de Infra-estrutura. A única

empresa deste grupo é a Citágua, que fornece água e esgotamento sanitário em Cachoeiro do

Itapemirim (ES).

A Viação Águia Branca, que deu origem a todo o empreendimento, é hoje a empresa com o maior

faturamento do grupo e com o maior número de empregados. Com um quadro de 2.375

funcionários, seu faturamento em 2000 foi de R$ 117.300 milhões de reais, passando para R$

151.786.371,00 no ano seguinte. Sua frota de ônibus é atualmente de 868 carros para as linhas

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rodoviárias. Possui garagens em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas gerais e no Espírito

Santo. A central se localiza em Cariacica, na Grande Vitória. Transportou 15.831.043 passageiros

em 2001. É uma das empresas mais conhecidas e conceituadas do Espírito Santo.

A empresa é pioneira na prestação de serviços diferenciados em transporte de passageiros. No

início da década de 80 lançou a linha executiva, com ar-condicionado, e os ônibus leito, com

serviço de bordo. Hoje, seus carros e serviços estão divididos nos seguintes grupos:

- Carros Leito: 23 lugares, ar-condicionado, serviço de bordo, toalete e apoio para os pés.

- Leito Turismo: 34 lugares, ar-condicionado, serviço de bordo, som, TV, vídeo, toalete e apoio

para os pés.

- Executivo Plus: 40 lugares, ar-condicionado, serviço de bordo, toalete e apoio para os pés.

- Executivo: 46 lugares, ar-condicionado, serviço de bordo e toalete.

- Convencional Semi-direto: 46 lugares e toalete.

- Convencional Parador: 50 ou 44 lugares, sem toalete.

- Urbano: 40 a 50 lugares, sem toalete.

A venda de passagens é outro serviço importante para a Viação Águia Branca, que prima pela

conveniência e comodidade do passageiro. A empresa dispõe de agências de passagens nas

rodoviárias e outros pontos de vendas próprios, além de agências de passagens comissionadas

para aumentar a cobertura geográfica e o Disque Passagem, que consiste na venda por telefone

com entrega domiciliar, com pagamento do custo adicional do motoboy pelo cliente.

4.2 - Entrevistas com os executivos

Ambiente Interno

Na Águia Branca, o ambiente de trabalho parece ser descontraído e informal, baseado em

amizade e respeito. Os executivos compreendem bem a importância da satisfação do funcionário

no trabalho para que ele tenha um ótimo desempenho em suas funções.

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“O ambiente de trabalho na Águia Branca é um dos melhores. Inclusive

estamos entre as 100 melhores empresas para se trabalhar e um dos

fatores fortes é este: relacionamento..., respeito.” (coordenadora de RH)

“O ambiente interno é informal, é gostoso, é amigável, é bem-humorado. A

gente gosta de estar aqui. A maioria dos funcionários é muito comprometida

e bem-relacionada.” (coordenadora de RH)

A Águia Branca declara possuir 5 dimensões em sua administração que a empresa busca estar

sempre monitorando e melhorando. São elas: atendimento ao cliente, moral do funcionário,

qualidade do serviço, segurança e custo. Dessa forma, os funcionários parecem representar uma

dimensão importante na administração da empresa. A dimensão moral dos funcionários está

diretamente ligada à dimensão atendimento, como explica a coordenadora de RH, Cristina Santos:

”Uma pessoa, para estar bem com a outra, precisa estar bem com ela mesma”.

Para medir o desempenho da dimensão “moral dos funcionários” é feita uma pesquisa anual de

satisfação do público interno. A meta da empresa é atingir 85% de satisfação, entre bom e ótimo.

Essa pesquisa é feita por profissionais de fora da empresa, mas a coordenadora de RH declara

que pretende realizar seu próprio monitoramento de clima interno:

“Com a pesquisa de satisfação interna, os gestores observam o que foi

abaixo da meta e fazem planos de ação para melhorar os pontos mais

fracos. O RH monitora estas ações. Este ano eu tenho a intenção de fazer

uma pesquisa interna, independente desta que a gente contrata, que é

anual, para medir a satisfação. Muitas vezes coisas assim, bobas, que os

funcionários colocam, puxa o resultado da pesquisa para baixo. Por

exemplo: às vezes eles falam que não conhecem os benefícios da empresa,

mas é impossível não conhecer, se 100% dos funcionários que entram na

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empresa no treinamento recebem a explicação de todos os benefícios. E aí

a gente vai ver que não é que ele não conhece, ele conhece, mas como ele

não usa, ele esquece. Nós definimos que agora vamos colocar cartazes

para que ele fique vendo, mas mesmo assim não será 100%. Vamos tomar

ações que a gente acha que vão impactar na satisfação dele.”

(coordenadora de RH)

A liberdade de se expressar parece ser constantemente reforçada para os empregados. Os

indivíduos são sempre incentivados a dizer o que pensam e a resolver os problemas por meio do

diálogo. Para que o funcionário esteja sempre buscando se comunicar, é fundamental que toda

comunicação tenha um retorno. O RH dá muita ênfase a estas duas questões: o funcionário deve

falar e a chefia deve dar um retorno.

“Trabalhamos muito esta questão. Se você percebe alguma coisa, se

alguma coisa não está bem para você, você tem que falar com sua chefia.

Nós incentivamos muito eles a buscarem os líderes e batemos muito nesta

tecla: dos líderes estarem preparados, estarem ouvindo e resolvendo.

Quando alguém vai falar alguma coisa, tem que ter resposta, seja positiva

ou negativa. Ele tem que ser valorizado porque está falando e ter um

retorno.” (coordenadora de RH)

Os discursos dos executivos da empresa indicam que na Águia Branca, o trabalho em equipe é

incentivado e o resultado coletivo deve preceder as metas individuais. Ou seja, a competição é

substituída pela cooperação.

“ Em algumas empresas as pessoas têm uma preocupação individual maior

do que a preocupação coletiva. As pessoas se preocupam com o

desempenho individual de cada um, as pessoas querem se sobressair

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demais. Aqui, não, o pessoal pensa mais na coletividade. Há um espírito de

trabalho em equipe muito forte.” (assessor comercial)

A cultura de relacionamentos abertos, em que todos são acessíveis, inicia-se na direção da

empresa e se espalha para os níveis hierárquicos inferiores, fazendo com que um comportamento

divergente deste seja inaceitável. Como demonstram os testemunhos colhidos:

“Isso vem desde a cultura da empresa do relacionamento que os acionistas

sempre tiveram com os funcionários. E isso vai passando de geração a

geração, é cultural...o respeito, o cumprimento, o aperto de mão...”

(coordenadora de RH)

“O dono da empresa está andando pelo pátio disponível para qualquer

cobrador, qualquer motorista, para o faxineiro, para o gerente, para o

diretor. Isso é o diferencial. Porque se o acionista faz isso, como a equipe

dele não vai fazer? Como aqueles que estão abaixo não vão estar

disponíveis?” (assessor comercial)

Logo, a interação constante dos funcionários com a gerência sugere que o trabalho em equipe é

reforçado, mostrando que todos estão unidos para atingir um mesmo resultado. Os eventos sociais

aparecem como um dos importantes instrumentos para aproximar os gerentes e demais

empregados.

“Nosso diretor participa de todos os eventos na associação recreativa. Ele

está próximo do motorista. Isto vai gerando uma interação, o funcionário se

sente valorizado e respeitado.” (assessor comercial)

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A Águia Branca cita programas para melhorar a qualidade de vida de seus funcionários. Um

exemplo foi o projeto “Durma bem, acorde bem”, que procurava orientar os funcionários, em

especial os motoristas, em como proceder para ter uma boa noite de sono. A empresa também

promove eventos direcionados para os familiares dos funcionários. Em alguns deles, não há a

participação dos funcionários, como no Acampeonato, uma gincana realizada para os filhos dos

empregados, que passam um fim de semana no centro recreativo da empresa. Há também

palestras para que os funcionários levem suas esposas ou maridos. Assim, integração para a

Águia Branca não ocorre somente entre os funcionários, mas envolve também os familiares. Os

testemunhos colhidos demonstram essas ações e as preocupações para suas realizações:

“A gente incentiva que os gerentes comemorem com suas equipes o

aniversariante do mês. Tem um que faz uma festa, tem um que sai para

comer churrasco, um faz um bolinho na própria área...cada um faz do jeito

que quiser.” (coordenadora de RH)

“Faz parte do programa realizar palestras para funcionários e familiares (...).

Serão três focos apontados na palestra: o universo familiar, a educação de

filhos e a mulher nesta era de transformação, pois estamos no Dia

Internacional da Mulher. Isso mexe com a moral dos funcionários, isso é

bom, faz com que fiquem satisfeitos com a empresa, além de se tornarem

seres humanos mais preparados para a vida.” (coordenadora de RH)

“Comemoramos as datas festivas, o Natal, o Dia das Crianças, o Dia do

Trabalhador. Tem a semana da Águia Branca (...) quando oferecemos

palestras, café da manhã para todos os funcionários, como uma forma de

integração de todos.” (coordenadora de RH)

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A Águia Branca parece promover não só eventos para seus funcionários mas também ações de

cunho social e ambiental. Agir de forma responsável com a sociedade faz parte da cultura da

empresa, que procura mostrar suas ações aos funcionários ou mesmo envolvê-los em seus

programas sociais, procurando, assim, conseguir um maior entrosamento dos empregados

funcionários das diversas filiais. Essas ações fazem com que o funcionário tenha orgulho de ser da

Águia Branca, de fazer parte de uma empresa que se empenha em ajudar a sociedade, como

mostram as declarações abaixo:

“A empresa ajuda em atividades sociais. Ela tem programas de apoio a uma

série de atividades sociais, oferecendo suporte a entidades carentes. Aquilo

que a empresa pode fazer ela vai fazer. Isso gera, em contrapartida,

orgulho para o funcionário, que vai refletir em sua atuação, pois ele sabe

que está em uma empresa comprometida.” (assessor comercial)

“Outro dia nós tivemos uma palestra em que o pessoal da área técnica

mostrou o que a empresa faz pelo meio ambiente. Eles mostraram um

processo de eliminação de baterias de ônibus.(...) Essa preocupação acaba

revertendo em orgulho do funcionário e no fato de a Águia Branca ser uma

das melhores empresas para se trabalhar, porque eu posso falar que

trabalho em uma empresa que se preocupa com o meio ambiente.”

(assessor comercial)

O cliente

A Águia Branca é uma organização que parece ter uma orientação gerencial para o marketing. O

cliente é visto como a razão de a empresa existir. Essa orientação gerencial aparece ao analisar-

se as cinco dimensões já citadas que orientam as ações da empresa. Uma delas é o atendimento

ao cliente, outra, a segurança, que também evidencia a preocupação da empresa com seu

público, tanto externo como interno.

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“O cliente é a razão de a empresa existir. Uma coisa que deixamos muito

claro a todos os funcionários é que nosso jargão é: “do pê ao pê”. Do

porteiro ao presidente, todo mundo tem que entender que todos nós

estamos trabalhando porque o cliente está ali. É porque tem um cliente

querendo viajar de ônibus que eu estou aqui, que o faxineiro está aqui e que

o presidente também. Quando o funcionário está entrando na empresa,

deve ficar claro que toda esta estrutura, todo este trabalho é para aquela

pessoa que vai viajar de um ponto ao outro.” (assessor comercial)

“Ensinamos que não se deve ver o cliente só como dinheiro, mas como ser

humano, com todas as diferenças que existem entre nós e que precisam ser

respeitadas.” (coordenadora de RH)

A empresa declara realizar pesquisas junto ao cliente para medir a satisfação deste com os

serviços. Um dos aspectos que tem recebido elogios é o atendimento por parte dos funcionários da

linha de frente. Ainda assim, a gerência continua buscando melhores resultados com base na visão

de melhoria contínua. O clima de diálogo aberto facilita o retorno das avaliações, que ocorrem

constantemente, como diz a coordenadora de RH:

“Nós fazemos pesquisas de satisfação junto aos clientes e um dos itens

mais altos é o atendimento, é a qualidade do atendimento do motorista. Eles

falam que realmente é muito bom e muito calmo. Mesmo sendo boa a visão

do cliente, a minha visão de RH e da área comercial é que temos sempre

que melhorar. E é bom pensar assim, porque a gente fica no pé dos nossos

funcionários.” (coordenadora de RH)

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Recrutamento

Quando realiza um recrutamento, a Águia Branca busca pessoas que possuam habilidade de

trabalhar em equipe, de interagir com pessoas e, também, tenham o desejo de crescer e se

desenvolver profissionalmente. Como pode ser observado nas declarações que seguem:

“No geral, todos precisam ser dinâmicos, ter iniciativa, ser comprometido

com resultado, ter um bom relacionamento.” (coordenadora de RH)

”Queremos aqui pessoas que querem crescer junto com a empresa.

Pessoas que tenham capacidade de multiplicar. Pessoas que gostem de

entender o cliente. Como trabalhamos com serviço, trabalhamos com

pessoas, você tem que contratar gente que goste de trabalhar com

pessoas.” (assessor comercial)

A empresa define valores como gostar de pessoas, trabalhar em equipe e desejar crescer como

básicos para selecionar um candidato. Mas o departamento de RH sugere que cada cargo possui

suas especificidades e que em alguns cargos o “perfil Águia Branca” seria inadequado. Para saber

qual o perfil desejado para uma determinada vaga, existe um manual de descrição de cargos que

descreve a função, as tarefas e as características da pessoa ideal para ocupar a posição,

incluindo escolaridade, perfil psicológico e habilidades. Assim, os candidatos não são vistos de

forma homogênea, mas comparados com a posição a que aspiram, como explica a coordenadora

de RH:

“Por exemplo, uma pessoa para trabalhar no setor de controle de receita,

que é um trabalho muito rotineiro, no qual você fica ali fazendo o controle de

bloco, da receita da empresa, não seria uma pessoa extremamente

dinâmica, porque ela vai ficar entediada. Existem outras funções, no

entanto, que precisam de dinamismo em alto grau. Determinamos isso de

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acordo com o que entendemos ser as atividades do cargo.” (coordenadora

de RH)

Quando surge a necessidade de contratar alguém, o RH da empresa busca primeiramente em seu

quadro de pessoal interno. O processo de seleção é, então, divulgado na empresa para que os

funcionários fiquem sabendo da nova oportunidade. A empresa, com isso, valoriza todos os

funcionários e mostra que há oportunidades de crescimento dentro da empresa. Caso a vaga não

possa ser preenchida internamente, procura-se dentro do banco de currículos do RH. A última

alternativa – caso não haja ninguém com o perfil desejado no banco de dados – é buscar um

profissional no mercado, por meio de anúncios em jornal. A valorização do funcionário e de sua

progressão dentro da empresa é explicada pelo assessor comercial:

“Nós temos um faxineiro que virou diretor...Olha o nível de importância que

é dado para qualquer funcionário! Temos gerentes que eram cobradores,

temos um gerente que era auxiliar de escritório...” (assessor comercial)

Mesmo sendo palco desses bons exemplos, a empresa parece ter problemas com a rotatividade

dos motoristas. A em presa declara que a rotatividade dos motoristas se deve não apenas ao

grande contingente deste profissional, mas ao próprio perfil da profissão, que é o de estar

constantemente viajando e conhecendo outros lugares, o que faz com que eles criem laços

pessoais em outras cidades. A empresa lembra ainda o fato de que os concorrentes da Águia

Branca têm sedes próximas às da empresa o que faz com que seus profissionais tenham muita

facilidade para ingressar nessas outras empresas, que conhecem o rígido processo de seleção,

treinamento e controle dos profissionais da Águia Branca, como explica a coordenadora de RH:

“Nosso motorista sai daqui e entra tranqüilamente na Itapemirim, na São

Geraldo. O salário é o mesmo e se ele se aperta financeiramente pode fazer

um acordo com a empresa e receber o Fundo de Garantia. Aqui ele só entra

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novamente se tiver sido um ótimo funcionário, se não tiver tido nenhum

problema, tanto quanto em segurança quanto em comportamento.”

(coordenadora de RH)

“A única rotatividade que tem é nesta área, mas nós temos muitos

motoristas com muitos anos de casa e como o universo é muito grande (só

aqui em Campo Grande nós temos mais de 300 motoristas), a maioria deles

tem mais de três anos de empresa.” (coordenadora de RH)

A coordenadora da área de recursos humanos explica como é feito o processo de seleção na

empresa:

“A gente faz entrevista, dinâmica de grupo e avaliação psicológica, para ver

o que melhor se adequa àquela função. Há entrevista com o RH, há

entrevista com o gestor da área. Na verdade quem escolhe não é o RH, é o

gestor da área. O RH dá apoio. A gente faz a seleção e fala para o gestor:

“tem estes três candidatos que estão aptos”. Aí ele vai escolher, porque o

importante é trabalhar com quem você tem empatia, em quem você está

acreditando. Não adianta o RH impor uma pessoa. Tem sempre que ter

mais de um candidato para a pessoa poder escolher. Ocorre de haver um

processo e não ser escolhido ninguém, e aí começamos tudo de novo.”

(coordenadora de RH)

Treinamento

Segundo os executivos entrevistados, quando o funcionário entra na empresa ele passa por um

treinamento de ambientação. Nesse treinamento ele vai conhecer a Águia Branca como um todo e

saber onde seu trabalho se insere no funcionamento geral da companhia. Com isso, pode circular

melhor pela empresa. Assim, observa-se que a Águia Branca tem uma preocupação em receber

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bem o novato, para que ele possa se ambientar rapidamente, conhecendo a forma de trabalhar, os

valores e local de trabalho. A empresa parece atribuir muita importância ao treinamento, mesmo

reconhecendo que muitos de seus funcionários, em especial os motoristas, poderão ir para os

concorrentes. Os executivos explicam como se dá essa etapa inicial de treinamento:

“100% dos funcionários passam por um treinamento de ambientação. (...)

Tem alguns módulos que são iguais, por exemplo: a parte referente ao

Grupo Águia Branca, políticas e diretrizes de recursos humanos, benefícios,

a parte de segurança no trabalho. Outros módulos são específicos, como

direção defensiva, manutenção e treinamento no carro escola para os

motoristas. O agente de vendas faz procedimentos operacionais na função

dele, faz treinamento no PO de atendimento ao cliente, faz treinamento

prático nas agências...” (coordenadora de RH)

“A equipe comercial tem um momento com os funcionários. Então nos

primeiros dias do funcionário aqui nesse treinamento que nós chamamos de

treinamento de ambientação, ele já passa por essa visão e já passa a

entender que todos têm que reconhecer a sua importância no processo para

o cliente.” (assessor comercial)

“Esse treinamento é para, primeiramente, conhecer o todo da empresa, as

áreas da empresa. Um rapaz contratado para o administrativo vai conhecer

e saber como o operacional funciona. Aquele que está sendo contratado

para o operacional vai saber o que a administração faz. E você gera uma

integração de todas as equipes.” (assessor comercial)

Além do treinamento de ambientação, a Águia Branca oferece cursos constantes para seu quadro

de pessoal. Esses cursos de reciclagem ocorrem de ano em ano para cargos de motoristas e

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agentes de venda e, para os demais cargos, conforme os gerentes ou os próprios funcionários

sentem necessidade.

“O motorista, cobrador e agente de vendas, todo ano eles fazem

aperfeiçoamento. Os demais vão fazendo de acordo com a necessidade

que o gerente da área sente.” (coordenadora de RH)

“Os motoristas, por exemplo, têm treinamento de aperfeiçoamento. Então,

eles têm treinamento de condução econômica, de manutenção, de

atendimento ao cliente, condução com segurança, direção defensiva.”

(assessor comercial)

Outro programa de treinamento que a Águia Branca possui é Programa de Capacitação Gerencial

(PCG). Este programa é direcionado a funcionários que a empresa acredita possuírem potencial

para assumir cargos de liderança dentro da organização ou profissionais que já são líderes e

precisam se atualizar. O PCG possui quatro pilares que orientam seus módulos: aprender a

conhecer, aprender a conviver, aprender a ser e aprender a fazer. O programa é extenso e dura

mais de um ano, o PCG vigente é o PCG 2002/2003, que teve início em fevereiro. O primeiro

módulo foi “Conhecendo a empresa/Ambiente interno”.

A Águia Branca declara apoiar o desenvolvimento pessoal de cada funcionário, ajudando-o a

continuar seus estudos. A empresa disponibiliza cursos secundários em suas dependências e

financia cursos de especialização de sua equipe. Isso é uma parte importante do treinamento, pois

com funcionários mais preparados o resultado de treinamentos mais específicos é otimizado. O

incentivo aos estudos também tem grande importância no pacote de benefícios que os funcionários

recebem e que servem para motivá-los em seu trabalho.

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“A Águia Branca incentiva os estudos em todos os estágios. A gente tem

sala de aula aqui mesmo, tem supletivo acontecendo dentro da própria

empresa. Ela custeia alguns cursos. Eu, por exemplo, tenho meus estudos

custeados pela empresa.” (assessor comercial)

Além das habilidades técnicas, o desenvolvimento de habilidades interpessoais parece ser uma

grande preocupação da empresa. O RH procura desenvolver muito as habilidades de

relacionamento dos funcionários, seja entre os colegas, na vida pessoal e com os clientes. Todos

na empresa aprendem a lidar com clientes, pois o conceito de cliente interno está muito claro para

a gerência. Todo relacionamento pode ser visto como uma relação entre o prestador de serviço e

seu cliente e deve envolver respeito mútuo. A empresa reconhece o estresse no trabalho daqueles

que lidam diretamente com os consumidores, trabalhando na interface entre a empresa e seu

público externo e os treinamentos abordam esta questão, preparando o funcionário para manter a

calma diante de um cliente emocionalmente alterado.

“Nos treinamentos são ensinadas habilidades técnicas e comportamentais.

Você vai preparar o profissional para ser um melhor técnico e um melhor ser

humano. Tem motorista nosso que já fez treinamento de neurolingüística, de

competências interpessoais, no qual ele faz uma revisão de crenças e

valores, para ver o que precisa mudar nele.” (coordenadora de RH)

“Nós damos vários treinamentos sobre como atender o cliente, falar em

público, uma vez que eles falam, que lidam com o público, para não ficarem

com vício de linguagem, com vício de postura, por exemplo, não falar com a

pessoa olhando para o lado, principalmente motorista, cobrador e agente de

vendas. Eles devem estar sempre de bem com eles mesmos, partindo do

princípio que se você está bem com você mesmo, você vai estar de bem

com o outro.“ (coordenadora de RH)

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“Nós sempre lembramos a nossos funcionários que nós estamos aqui para

atender ao cliente, que devem pensar que quando estão transportando

alguém ou vendendo passagem para alguém, muitas vezes a pessoa que

estão atendendo nunca leu um livro, nunca participou de um treinamento,

não teve educação dos pais para te tratar bem. Por isso temos que ter um

controle emocional. Não é porque você foi xingado que vai xingar. Mas pelo

contrário, você pode ser um exemplo para o outro.” (coordenadora de RH)

De acordo com as informações colhidas na empresa, os gestores participam ativamente do

treinamento de sua equipe. São eles que decidem o que precisa ser melhorado e incluído em um

programa de treinamento. Isso é encaminhado ao departamento de Recursos Humanos, que,

observando-se as limitações de orçamento, monta o programa. Os líderes também dão um retorno

ao RH, para avaliar qual foi o resultado prático do treinamento. Mas os próprios funcionários

podem requisitar temas para serem trabalhados em cursos. Muitas vezes a iniciativa para um novo

treinamento vem do RH, que procura mostrar aos gerentes as possibilidades de novos programas.

“Há uma planilha com o nome de todos os funcionários e com o

conhecimento técnico e as habilidades interpessoais deles. O gerente

avalia, de acordo com a descrição de funções do cargos, se o funcionário

está bem nisso ou está precisando melhorar naquilo. No que ele está

precisando melhorar ele coloca em vermelho. E então montamos um

treinamento para desenvolver as habilidades e conhecimentos necessários.”

(coordenadora de RH)

“Não adianta querer fazer um treinamento em que o gestor não comprou a

idéia. Então, quando definimos um treinamento, definimos junto: o corpo

gerencial e o Recursos Humanos.” (coordenadora de RH)

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A empresa declara utilizar diversas metodologias em seus treinamentos. Os recursos disponíveis

na Águia Branca para realizar os treinamentos parecem bons e variados. A empresa possui um

centro de treinamento com salas de aula equipadas com retroprojetor, TV e videocassete. Além

disso a associação recreativa está à disposição para dinâmicas de grupo, além de um auditório

equipado com datashow. Sempre que necessário, a empresa traz pessoas externas para ministrar

treinamento em sua própria estrutura.

“Tudo depende do treinamento que vai ser feito. Por exemplo, se a gente

faz um treinamento em que queremos desenvolver as habilidades de

relacionamento interpessoal, eu levo toda a minha equipe para fazer um

treinamento na associação recreativa da empresa, se quero um ambiente

mais descontraído, desvinculado do dia-a-dia da empresa.... Essa

flexibilidade a empresa dá.” (assessor comercial)

Quanto à avaliação do treinamento, os entrevistados declararam que o principal é o feedback que

vem do próprio funcionário:

“Definimos aquelas habilidades que vamos querer trabalhar com nossa

equipe e eles passam por um aperfeiçoamento. E o funcionário, ao término

de cada treinamento, avalia o treinamento e dá sugestões para situações

futuras. Depois de cada treinamento vamos colher dele, se valeu a pena, se

está valendo a pena.“ (assessor comercial)

“ (...) tem uns treinamentos que já medimos, por exemplo, o treinamento de

direção defensiva. Já comprovamos que com o treinamento a empresa teve

bons resultados, diminuindo o índice de acidentes. O treinamento de

manutenção, já conseguimos provar que também teve bons resultados,

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medindo o índice de reparo mecânico do motorista. Alguns processos já

conseguimos medir, outros ainda estamos trabalhando na expectativa de

conseguir.” (coordenadora de RH)

Avaliação e recompensa

A Águia Branca não possui um programa formal de avaliação para todos os funcionários. Para os

motoristas há um programa denominado Programa de Produtividade, que os avalia em vários

tópicos, como aparência, atendimento ao cliente, pontualidade e direção segura e econômica. As

declarações abaixo explicam esse processo de avaliação:

“os motoristas recebem pela produtividade. A gente avalia o desempenho

dos motoristas e se dentro do mês ele conseguiu fazer tudo o que é da

obrigação dele – não bater, atender bem ao cliente, dirigir de maneira

segura, não tiver nenhum problema, tiver com boa aparência, tiver atingido

a meta de óleo diesel, estiver fazendo tudo o que é ensinado a fazer e que é

da obrigação dele –, ele recebe um prêmio em ticket refeição. Isso vai

acumulando pontos para quando ele sair de férias ele receber um valor a

mais. Fica como um 14o salário. Ele tem a possibilidade de receber até 40%

do seu salário. Ele já começa o mês ganhando 100 pontos, ou seja,

estamos acreditando que ele vai trabalhar 100%. Ele inicia o mês com

crédito e cada vez ele vai somando pontos. Eles estão supersatisfeitos. O

gerente faz um controle mensal de quem ganha. Outros profissionais que

também ganham por produtividade são os agentes de venda, que ganham

comissão da venda de retorno de passagem, de conexão.” (coordenadora

de RH)

“Temos várias formas de controlar a segurança: a patrulha, o uso de

bafômetro, o tacógrafo, que é aquele aparelho colocado dentro do ônibus,

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para medir a velocidade. Fazemos o exame de fadiga do sono, que é feito

antes e depois da viagem, para saber se os motoristas estão bem

descansados para a viagem. A patrulha é um carro, um gol, com motorista e

um instrutor, que viaja mais de 5000 km por mês para acompanhar as

viagens em pontos estratégicos, em pontos que o motorista não esteja

sabendo. Justamente para patrulhar, para ver se tem alguém fazendo

besteira, alguma ultrapassagem indevida, por exemplo. Estas ações nos

deixam mais tranqüilos.” (coordenadora de RH)

Além do programa de avaliação formal, a comunicação aberta que a empresa destaca – a

possibilidade e o incentivo de estarem sempre falando e se manifestando - gera uma avaliação

informal constante entre gerentes e funcionários que independe de qualquer programa formal. As

pesquisas de satisfação também são um canal de avaliação de seus chefes, colegas,

subordinados e a empresa como um todo, conforme pode-se observar nos depoimentos que

seguem:

“Todo mundo avalia todo mundo. Os motoristas também avaliam. A partir do

momento que eles têm um canal aberto com a direção da empresa, tem

uma avaliação constante. Este é o processo mais importante para que essa

avaliação ocorra: as portas abertas. Na própria pesquisa de satisfação do

funcionário ele avalia a atuação dos gerentes.” (assessor comercial)

Quanto à remuneração, a empresa diz praticar uma remuneração de mercado, ou seja, seus

salários são compatíveis com os salários pagos pelos concorrentes. Os benefícios da Águia

Branca, no entanto, não se restringem ao salário, pois o ambiente de trabalho, os programas de

treinamento, os programas sociais, além de benefícios como a associação recreativa, os

alojamentos para os motoristas, prêmios por desempenho e o próprio reconhecimento da empresa

junto à comunidade formam um conjunto de benefícios que o funcionário valoriza muito.

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“Sempre ouvimos falar que a remuneração não é tudo. A idéia é criar um

pacote que dê orgulho ao funcionário. Você tem que ter muito mais que a

remuneração. Quando o funcionário fala que trabalha na Águia Branca, ele

fala com a boca cheia.” (assessor comercial)

Empowerment

Os gerentes entrevistados parecem compreender a importância da autonomia para que seus

funcionários possam executar suas tarefas, principalmente para os motoristas, que passam a maior

parte do tempo sozinhos com os passageiros, quando estão em trânsito. Os motoristas precisam

resolver problemas e tomar decisões, muitas vezes longe de qualquer outro funcionário da Águia

Branca que possa ajudá-los, eles são os representantes da empresa quando estão na estrada,

ampliando os limites da Águia Branca. A empresa incentiva os funcionários a agirem por conta

própria, resolvendo as questões sem precisar consultar outras pessoas. Isso é feito dando uma

diretriz clara aos funcionários: ”as decisões devem favorecer os clientes”.

“A entrega do nosso produto acontece na hora, você não tem tempo de ficar

consultando. O funcionário tem que ir lá decidir; ele toma a decisão. O que a

gente quer é que a decisão seja favorável ao cliente. Isso é claro para o

funcionário, ele nunca vai ser punido porque tomou uma decisão favorável

ao cliente.” (assessor comercial)

“Ele é incentivado a resolver . Ele só não vai resolver se for uma coisa que

ele não sentir segurança ou quando ele achar que deve ser o encarregado.

Queremos que todo mundo resolva o problema, porque se não for assim,

primeiro, acumula tudo em um só, e, segundo, o problema vai demorar a ser

resolvido.” (coordenadora de RH)

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Comunicação interna

De acordo com os executivos entrevistados, os funcionários podem e devem falar, discutir e

comunicar suas idéias ou reclamações. A troca de informações deve ocorrer livremente em todas

as direções. Qualquer funcionário pode ir à sala do diretor para conversar, sem que isso gere

constrangimento. A comunicação aberta parece ser um excelente motivador, pois as pessoas

gostam de saber que serão ouvidas. As declarações abaixo mostram essa abertura que é dada ao

funcionários:

“Você tem uma hierarquia bem definida, bem clara. O negócio é que os

níveis hierárquicos são acessíveis. O grande diferencial que eu vejo na

Águia Branca é que os níveis hierárquicos interagem. Não necessariamente

um motorista vai conversar com um encarregado, que vai conversar com um

gerente, que só então vai conversar com um diretor. Não, um motorista

pode vir aqui e marcar um horário com um diretor e o diretor vai receber ele

sem o menor problema. E isso não vai gerar nenhuma situação de estresse

nem ciúme com o encarregado, nem com o gerente. Isso não acontece.

Esse acesso, esse canal de comunicação, é um grande diferencial da Águia

Branca.” (assessor comercial)

“Aqui a administração participativa é incentivada. Incentivamos os

funcionários a sempre participar, sempre colaborando com sugestões,

sempre avaliando. Acreditamos que a empresa só cresce com a cooperação

e a participação de todos e o funcionário que está no dia-a-dia, ali no

trabalho, com certeza sabe algumas coisas que o gerente que não está não

sabe. Eles têm toda autonomia para chegar, para falar.” (coordenadora de

RH)

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“ Para conseguir isso é importante que o retorno sempre seja dado, sendo

positivo ou negativo. O funcionário tem que saber porque aquela sugestão

que ele deu não será aceita, tem que ter o porquê. Ele tem que ter uma

resposta e se isto não acontecer ele pára de sugerir.” (coordenadora de RH)

Embora a coordenadora de recursos humanos admita que estejam constantemente reforçando a

liberdade do funcionário em se comunicar com os níveis hierárquicos superiores, muitos

funcionários resistem à idéia de poder reclamar e falar. Existe o medo de ser ignorado ou

repreendido. A coordenadora explica esse problema:

“Por mais que a gente fale, por mais que se incentive, alguns têm medo de

falar com a liderança da empresa, talvez porque muitos de nossos

funcionários tenham uma escolaridade inferior. Quem não é motorista ou

cobrador só entra com segundo grau, no mínimo. Mas como nós temos um

volume enorme de motoristas e cobradores e manutenção, o nível nestes

cargos vai de primeiro a segundo grau. E não é só escolaridade, é o próprio

nível cultural. Eles têm um pouco mais de dificuldade de aceitar isso. Você

diz que ele pode chegar na chefia e falar, porque vai ser ouvido. Ele diz que

não, sem nem tentar.” (coordenadora de RH)

“Já quebramos muitos paradigmas. Muitas pessoas hoje já falam, já

acreditam que podem falar, que serão ouvidas, mas ainda tem alguns que

não e sempre vai ter.” (coordenadora de RH)

Quanto às diferentes formas de comunicação, a Águia Branca cita a Intranet, mural e jornal interno.

O departamento de recursos humanos recomenda que uma informação importante seja passada

por vários meios, melhorando a eficácia da comunicação.

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“A gente sempre pede que as comunicações sejam feitas corpo-a-corpo. O

gerente reunindo a equipe para falar... o RH vai às áreas conversar com o

gerente que faz esse papel. Tem cartas que a gente manda no

contracheque, quando é alguma coisa que a gente precisa realmente que

eles saibam. Por exemplo; mudou o seguro de vida, aumentou o prêmio...

Com esses assuntos é feita divulgação em quadro de aviso, na Intranet,

protetor de tela, o gerente conversando com a equipe, carta no

contracheque. Tem coisa que a gente vai por todos os lados, para fazer

bem a comunicação. Porque, infelizmente, nem todo mundo lê jornal, nem

todo mundo lê os quadros de avisos.” (coordenadora de RH)

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4.3 - Entrevistas com os funcionários

Ambiente interno

Quando perguntados se gostam de trabalhar na empresa, os cinco funcionários entrevistados

foram unânimes em dizer que a Águia Branca é um ótimo lugar para se trabalhar. O ambiente é

considerado por eles bastante amigável e descontraído. A liberdade de comunicação e de

relacionamento com todos na empresa, inclusive os acionistas, apareceu como um ponto muito

importante para formar um ambiente de trabalho positivo.

“Eu gosto, estou satisfeito. Tem 15 anos que trabalho na empresa.”

(Motorista 3)

“Tudo muito à vontade, o ambiente é descontraído, com muita brincadeira.

Não tem ninguém que não aceite uma brincadeira, um cara nervoso.”

(Motorista 3)

“O ambiente de trabalho é muito bom com o gerente, encarregado e com o

dono da empresa. Se o dono da empresa estiver a pé no pátio é como se

ele fosse um empregado. Pega na mão de todo mundo, conversa. Gerente,

também é a mesma coisa, encarregado...todo mundo. O ambiente aqui é

muito bom mesmo. Aqui você acessa qualquer dependência da empresa do

jeito que eu estou aqui, de bermuda e de chinelo. Todo mundo te conhece

e te chama pelo nome. Aqui não tem esse negócio: ‘ah, aquele ali é

motorista, aquele é cobrador’; aqui é tudo igual.” (Motorista 2)

“A Águia Branca é uma família. A gente não se sente inibido de falar, seja

com nosso gerente, seja com nosso superior. E a empresa sempre dá um

retorno.” (agente de vendas)

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Valores

Quando perguntados sobre quais valores a empresa procura transmitir aos funcionários, eles

mencionaram a valorização dos próprios empregados, tornando-os pessoas melhores, valorização

do cliente e trabalho em equipe. Os funcionários citaram a integração que a empresa promove

entre eles e também a preocupação de envolver suas famílias nesse processo de entrosamento e

educação. Os motoristas mencionaram, ainda, o fator segurança na direção, em que são bastante

cobrados.

“ A Águia Branca procura passar para a gente “ser mais humano”, no

trânsito, no tratamento com os passageiros e até com a família. No

treinamento de reciclagem de ano em ano, eles colocam a nossa família

também. Ensinam a ser alguém no serviço e a não levar seus problemas do

trabalho para dentro de casa. Então a Águia Branca valoriza muito a gente e

quer que a gente dê valor ao nosso trabalho, lógico.” (motorista 2)

“Auto-estima, valorização pessoal, eles sempre têm buscado isso aí, para

atender bem o cliente...Na verdade tudo se resume a clientes, então para

atender bem os clientes, tem que se valorizar.” (funcionário interno)

“Você tem que estar bem com você mesmo para que possa transmitir isso

aí ao cliente. Cliente interno, externo... Em qualquer empresa de

atendimento a pessoas, comércio, serviço, você tem que estar bem com

você, com a família.” (funcionário interno)

“A empresa trabalha muito a segurança. Se a gente vacilar muito, a

empresa não perdoa. Ela dá oportunidade e você tem que aproveitar. Ela vê

muito o lado da segurança, tanto da gente quanto do passageiro.” (motorista

1)

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“A empresa valoriza o ambiente em grupo. Todo ano tem a reciclagem, que

é um encontro entre os agentes para trocar idéias. É um trabalho em

equipe.” (agente de vendas)

Os funcionários parecem perceber com clareza os esforços da empresa em integrar o grupo.

“De três em três meses, mais ou menos, temos uma confraternização,

dentro do nosso setor, e, às vezes, também com o setor da empresa lá de

cima. Fazemos uma festa, com churrasco, para integrar as famílias também.

A empresa procura trazer e unir as famílias.” (agente de vendas)

O cliente

A percepção dos funcionários acerca do cliente foi questionada. Todos os funcionários

entrevistados parecem compreender o cliente como sendo a razão da existência da empresa.

Embora, alguns funcionários lembrem que o cliente muitas vezes abusa dessa posição favorável e

criam situações em que eles sentem-se prejudicados frente a empresa.

“Temos que tratar bem o cliente. Ela (Águia Branca) trabalha muito em cima

disso também. Tem uma linha 0800. Se um passageiro liga e conta dez

mentiras, elas valem mais que uma verdade da gente. O cliente é que está

pagando nosso salário. Isso é passado para a gente em treinamento.”

(motorista 1)

“O cliente é folgado. Tem o passageiro da Bahia que é de um jeito, tem o

passageiro do Rio que é de outro e tem o passageiro daqui da BR 262.

Mas, todos eles sabem, não sei como, que a Águia Branca cobra. “Barra

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pesada” mesmo aqui dentro. Eles sabem que uma reclamação deles aqui

dentro prejudica o motorista no disque-Águia.” (motorista 2)

“A empresa valoriza o cliente, porque sem o cliente eu não tenho emprego.

É minha obrigação de berço mesmo tratar todo mundo bem. A gente trata o

cliente bem. A Águia Branca valoriza muito o cliente, porque se não tiver o

cliente para transportar, eu não vou ter emprego. O cliente é folgado, ele é

abusado, mas nós temos que tratar bem. A Águia Branca prega muito o

cliente em primeiro lugar. Então, tudo o que puder fazer, sem prejudicar

você ou a empresa, para ajudar o cliente você tem que fazer. E se você faz

alguma coisa para ajudar o cliente, para quebrar um galho, em algumas

situações, a empresa te apoia.” (motorista 2)

“Precisamos do cliente. A gente vive para servir o cliente. Então, o que ela

manda: sempre atender bem o cliente. Ele está com a razão mesmo se o

cliente estiver nervoso. Somos treinados para lidar com o público, para

trabalhar com o cliente – mesmo que ele chegue nervoso, agitado, a gente

tem que procurar acalmar e tranqüilizar o cliente.” (motorista 3)

Os funcionários percebem que a manutenção de um bom relacionamento é importante, não só

para que se possa manter no emprego, mas para a sobrevivência da empresa. Eles mostraram,

inclusive, uma sensibilidade para se colocarem no lugar do cliente.

“Se eu tivesse com minha família eu queria ser bem tratado e que o

motorista se mostrasse cordial comigo. Isso é importante. Se eu tiver de

cara feia, mal-humorado, e passar isso, você não vai querer viajar na Águia

Branca.” (motorista 2)

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“É importante, caso contrário ele não volta para viajar com a empresa. Se

eu não atendê-lo bem, se eu não der boa viagem, ele não volta. E nossa

empresa só vai caindo, e hoje nossa empresa...olha como já cresceu!”

(motorista 3)

Os funcionários foram perguntados sobre o que mais os motiva no trabalho. As respostas dos

motoristas demonstram razões pessoais para a motivação, como a família e o gosto pela profissão.

Apareceu ainda nas respostas o cuidado que a empresa tem com seus funcionários, no que tange

questões como a pontualidade no pagamento e os benefícios oferecidos. Os outros dois

funcionários mencionam o ambiente de trabalho, os colegas e a possibilidade de falar dentro da

empresa, ou seja, a política de escutar o que todos têm a dizer dentro da Águia Branca.

“Eu me sinto motivado. Gosto do que faço. Se alguém estiver aqui por

causa de salário e não gostar de dirigir, não vai se dar bem em nada.”

(motorista 1)

“Adoro o que eu faço. Gosto mesmo. O meu prazer é dirigir um ônibus

cheio de passageiros.” (motorista 2)

“O que me motiva a trabalhar primeiramente é minha família. Se eu não

fosse casado, não tivesse filho, eu não estaria aqui na Águia Branca, estaria

pelo mundo. Mas o que me motiva a trabalhar aqui é que estou aqui há dez

anos e nunca o pagamento atrasou e tudo o que eu fiz eu recebi.” (motorista

2)

“Eu me sinto motivado por que eu gosto de dirigir.” (motorista 3)

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“O que me motiva? A equipe de trabalho, o relacionamento com a gerência,

com os encarregados. A gente sempre teve liberdade para se comunicar,

para expressar diante da empresa a nossa situação. A empresa dá essa

liberdade para a gente. Se você trabalha em uma empresa que não é uma

ditadura, você pode colocar suas opiniões, isso é importantíssimo.”

(funcionário interno)

Quando perguntados sobre se têm orgulho de trabalhar na empresa, os funcionários disseram que

sim e que o motivo principal foi a reputação da Águia Branca junto à comunidade, como uma

empresa grande, em que os profissionais são muito exigidos.

“Eu tenho orgulho de ser Águia Branca. A minha mulher até diz que quando

vai comprar, fala até de boca cheia que eu trabalho na Águia Branca. É uma

empresa que é falada em tudo que é lugar.” (motorista 1)

“Trabalhar na Águia Branca hoje tem um certo respeito aí fora. O pessoal já

te olha com outros olhos, por causa da exigência da empresa em cima do

profissional. Em cima do que a gente já sabe, mas eles cobram. Você se

sente por cima, sou motorista da Águia Branca. Quando se fala motorista da

Águia Branca, esse motorista não bate, esse motorista não faz

ultrapassagem errada, esse motorista trata o passageiro bem..” (motorista

2)

Recrutamento e contratação

Os funcionários entrevistados responderam sobre o processo de seleção pelo qual passaram para

entrar na Águia Branca. Para alguns foi o primeiro emprego. Dois afirmaram que experiência não é

pré-requisito indispensável para ser contratado, pois a empresa pode moldar o funcionário à sua

maneira com treinamentos. Dessa forma, a empresa parece se preocupar mais com a índole da

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pessoa, sua habilidade interpessoal. Um motorista apontou que experiência na estrada é

importante, mas esse mesmo funcionário ressaltou o valor que a empresa dá à capacidade do

indivíduo em se relacionar com os outros.

“Em primeiro lugar (a empresa observa), o profissionalismo. A empresa olha

muito o passado do sujeito. Se ele já teve algum problema de Justiça ou de

qualquer outro tipo, a empresa não vai nem chamar para o teste. Mas ela

valoriza primeiramente o cara ser profissional, tarimbado. Já tem que vir

com uma certa experiência, que aqui dentro ela faz ele do jeito que ela quer.

Ela molda ele. E não precisa trabalhar em ônibus, ele pode vir de caminhão

e aqui ela faz ele do jeito que ela quer. Tem que ser profissional, sem

problema de Justiça. Ela valoriza muito o cara que é honesto.” (motorista 2)

“Ela olha primeiro a experiência que ele tem na estrada. Ela faz um exame

psicotécnico para ver o estado de espírito dele. Olha o relacionamento...até

em casa, ás vezes. Que aqui ele vai se relacionar com pessoas.” (motorista

3)

“Eu não tinha experiência. De repente a empresa viu que ela poderia ter

uma pessoa, apesar de inexperiente. Ela poderia moldar a pessoa de

acordo com o querer dela e que poderia ser uma pessoa de futuro. Muitas

coisas na vida é melhor pegar uma pessoa que não conhece para você

formar. Porque a pessoa que conhece tem aquela parte negativa, o que ela

aprendeu de errado, para acertar aquilo é complicado.” (funcionário interno)

Treinamento

Os motoristas, quando entraram na empresa, passaram por um treinamento inicial que durou

aproximadamente um mês, para que aprendessem sobre a empresa, e como ela queria que eles

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trabalhassem, o que ela esperava deles. Os demais funcionários passaram pelo treinamento inicial

algum tempo depois de já terem começado. Vale lembrar que esses funcionários estão há muito

tempo na empresa e que hoje todos passam primeiramente pelo treinamento de ambientação.

“Quando eu fui contratado, eu demorei 28 dias para dirigir um ônibus

sozinho. A gente acha enjoativo, mas é bom para gente mesmo. Porque tem

muita coisa que o motorista chega aqui não sabe, ele vem aprender aqui na

sala. Hoje é mais rápido. Tem muita gente que vem de fora e não sabe o

que é dirigir um ônibus, não sabe o que é trabalhar numa empresa de

transporte de passageiro. Transportar passageiro não tem nem como

comparar com outras coisas. A vida humana... não tem nem como

comparar.” (motorista 2)

Os funcionários passam por treinamentos anuais de reciclagem nos quais aprendem sobre a

dimensão técnica do seu trabalho, como direção defensiva e mecânica, para os motoristas, ou

técnicas de atendimento, para os agentes de venda. Eles falam, ainda, das atividades para

desenvolver suas habilidades interpessoais e de comunicação e integrar mais a equipe.

“A empresa todo ano fornece treinamento para todos os funcionários da

área de vendas em atendimento ao cliente...” (agente de vendas)

“Treinamento. Todo ano temos reciclagem e sempre fala de tudo.

Treinamento de segurança, de apresentação, como tratar um cliente.”

(motorista 1)

“Aprende a conviver com o público. É muito difícil. Você aprende a se

expressar. Tem muita gente que chega aqui e não consegue falar com o

passageiro, se apresentar... Então, aqui a gente aprende a levantar a

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cabeça e falar com o passageiro. Chegar dentro do carro e falar com os

passageiros, ou aqui na sala mesmo, falar com os colegas. Tem gente aqui

que não consegue. Se tiver cheio de gente, ninguém fala. Então, ajuda a

gente muito neste ponto, no treinamento. A gente se abrir mais. Tem uma

mulher que dá um treinamento aqui, que faz a gente até dançar junto,

abraçar o outro aqui dentro, desinibir o cara, para ele não ficar fechadão.”

(motorista2)

Os motoristas hoje precisam realizar o procedimento operacional (P.O.), em que eles se

apresentam aos passageiros e dizem como será a viagem e o que o ônibus oferece, como água e

café. Isso é um desafio para muitos deles, que precisaram aprender a se desinibir. Há um P.O.

também para os agentes de vendas para uniformizar o atendimento e não haver conflitos entre as

informações passadas aos clientes. Sabendo que lidar com clientes não é trivial, o RH reforça isso

sempre nos treinamentos e está sempre aberto para dar apoio aos funcionários que estão com

dificuldades no P.O.. Isso gera um treinamento informal, solicitado pelo próprio funcionário. Os

relatos do motorista 1 mostram essas dificuldades:

“Quando eu entrei na empresa, há 5 anos, isso não tinha. A gente não tinha

que falar nada, agora já tem. No começo ficava um pouco nervoso, mas fui

me soltando. Antes a gente chegava ali e fechava a porta e não falava

nada, e hoje você já fala alguma coisa, dá um bom dia, uma boa tarde.”

(motorista 1)

“Tem vez que, quando eu embarco, eu me sinto bem para falar, mas tem

dia...depende, né? O modo como o passageiro trata também, a gente fica

com medo. Por isso nós ainda temos treinamento.” (motorista 1)

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“Quando estamos em dificuldade, não procuramos direto o gerente, vamos

procurar direto a Cristina (RH). Se eu disser: ‘olha, Cristina, eu estou com

dificuldade de falar. Ela vai me tirar um dia para conversar, para ensinar

uma técnica nova.” (motorista 1)

Empowerment

Pelos testemunhos coletados, parece claro para os funcionários que a empresa valoriza a

iniciativa e a capacidade de resolver problemas sem passá-los a diante. A orientação de que a

ação deve favorecer o cliente é bem compreendida pelos empregados.

“Eu tenho autonomia para resolver alguma coisa, eles dão. Eles falam que

quem está na estrada é a gente. Então, não adianta ligar e ficar passando

problema. Temos que resolver e depois passar para frente.” (motorista 1)

“Você está fora do núcleo operacional. Então, se chega na estrada, tem

um problema com o bilheteiro e ele resolve. Quando você chega, ele se

afasta e vem para você o problema. Aí, na porta do carro você tem que

resolver, decidir ali. Problema de documentação, problema de passageiro

menor, falta de cadeira, você tem que resolver. Isso a empresa valoriza

muito. Você pega sua ficha, anota o problema que aconteceu, tudinho, e

traz para cá que eles ficam sabendo.” (motorista 2)

“Tem, tem autonomia. Quando nossos superiores não estão ou quando

estão sobrecarregados, temos autonomia de resolver certas pendências.

Depois deve ser comunicado para eles, principalmente em época de

movimento, que a gente tem um grande fluxo de carro saindo. A gente

sempre discute a respeito de que hoje a empresa não está na dependência

de uma só pessoa. A gente trabalha em equipe.” (agente de vendas)

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Avaliação

Os gerentes avaliam constantemente seus subordinados. Isso parece ser bastante favorecido pela

cultura de diálogo aberto. O empregados entrevistados reconhecem a importância de uma

avaliação positiva para motivá-los. Os motoristas parecem ser avaliados e controlados de forma

mais rígida, sendo o único cargo com um programa formal de avaliação, conforme mostram os

relatos abaixo:

“Ah sim, a gente é avaliado! E a avaliação é importante, não só para mim

como para os demais funcionários, no sentido de que você vê que seu

trabalho está sendo bem feito. Porque nós temos...na época de movimento,

por exemplo, você faz o seu trabalho. E se ninguém chega para você e diz:

‘olha, você fez aquilo lá e tal, meus parabéns’, a pessoa desanima. Porque

ela vai achar: ‘puxa, eu estou me matando aqui e ninguém está vendo’. Do

mesmo modo, se você está fazendo certo ou errado é avaliado: ‘tal dia você

fez assim, assim, assim: errado; tal dia, você fez assim, assim, assim:

certo.” (agente de vendas)

“Todo mês a gente tem que entregar a folha de média. A minha

apresentação pessoal para trabalhar: gravata, uniforme direitinho, sapato,

cabelo, barba. Você é avaliado no tráfego, quando você está na estrada tem

a “patrulinha” que fica te vigiando, te seguindo. Na rodoviária, se você tem

um problema, é só ligar para eles resolverem lá. Mas se você resolver, é

ponto para você. Se a “patrulinha” te seguiu e não viu nada errado, você fez

uma viagem beleza, é ponto. Disco de tacógrafo é uma leitura detalhada,

eles sabem sua viagem todinha o que você fez. Então vai para o tráfego, te

elogiando.” (motorista 2)

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Benefícios

Quando perguntados sobre os benefícios que recebem da empresa, fio lembrado o novo programa

de bônus para os motoristas, pelo qual eles recebem em vale-refeição caso tenham cumprido com

suas obrigações. Eles afirmam que esse sistema de gratificação é um incentivo importante para

que se esforcem para trabalhar melhor e não cometam excessos no trânsito. Esse sistema de

premiação, no entanto, não estava bem claro para todos.

“Agora tem um prêmio por mês. Isso motiva mais ainda. Eu mesmo já

procurei diminuir os excessos que cometia nas viagens. Justamente visando

ganhar o prêmio, ser o motorista ‘top’ no final do ano. Então, isso me motiva

a trabalhar bem.” (motorista 2)

Os funcionários afirmam que a empresa reconhece o trabalho bem feito, e o próprio programa de

bônus para os motoristas representa esse reconhecimento. O agente de vendas também afirma

que a empresa os avalia de acordo com as metas e que concede benefícios para os funcionários

que trabalham bem.

“O trabalho é reconhecido. Eu andei uns dias aí pendurado, mas eu mesmo

andei errando. Se erra, eles puxam sua orelha, mas toda vez que eu ‘estava

atuando’ fui reconhecido. Chegaram, deram parabéns. Disseram para

continuar assim.” (motorista 1)

Um dos motoristas, no entanto, demonstra sua insatisfação com a patrulhinha que notifica suas

faltas, mas não notifica seus acertos:

“Não elogiam. Quem elogia é o passageiro lá fora. Quando o passageiro

liga para o Disque-Águia, ou ele te dedura ou ele te elogia. Porém, a

patrulha da Águia Branca são três Gol, que ficam 24 horas aí na BR. Os

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caras que estão dentro dele vão seguindo o motorista, se o motorista faz

alguma coisa errada, eles notificam e mandam para cá. Aí o motorista perde

escala, é um problema sério. Mas se um motorista pegou um trânsito

enorme, daqui para o Rio, daqui para a Bahia, se o motorista pegou um

trânsito enorme aí... igual época de carnaval, o motorista está fazendo o

trabalho dele direitinho, bonitinho, eles estão atrás e não elogiam. Precisava

ter um elogio para ter mais motivação. Isso aí não tem, elogio não tem.

Porque eles acham o seguinte: o cara que é funcionário, ele é obrigado a

fazer um trabalho bem-feito. Não sou contra, se você é profissional, você é

obrigado a fazer seu trabalho bem-feito. Mas como tem essa patrulha para

notificar o motorista das coisas erradas, se o motorista está na estrada, fez

tudo certinho, não viu o cara fazer nada de errado, pôxa, elogie o cara! Se

você elogiar ele hoje, amanhã a “patrulinha” não vai ter o trabalho de ficar

atrás dele, porque sabe que ele não vai fazer nada de errado.” (motorista 2)

Os funcionários entrevistados percebem que ossalários na empresa são iguais aos pagos pelas

concorrentes. Mas há uma série de benefícios que fazem os funcionários da Águia Branca terem

preferência pela empresa.

“Já dormi na garagem da Itapemirim, então já vejo como lá é diferente.

Nosso dormitório aqui são dois em cada quarto, tudo com ar-condicionado...

lá dormia quinze, em beliches, em um quarto. Entendeu? Tem que fazer o

quê? Segurar, né? Porque lá fora...” (motorista 1)

“Eu tenho um adicional de tempo de serviço. Quem entra hoje não tem

mais. Horas extras, se fizer, recebe. Tem seguro de vida, que a empresa

paga para a gente. Tem o ticket, também. Tem uma série de coisas como

benefício. Uniforme você não compra, é de graça. Alojamento...eu não sei

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se você conhece o alojamento aqui, você precisa ver, é um hotel. Eu acho

muito importante essas coisas que a Águia Branca dá.” (motorista 2)

Os motoristas apontam que uma das maiores vantagens da Águia Branca em relação as suas

concorrentes é o cuidado que a empresa tem com a família dos funcionários. Os motoristas

passam muito tempo longe de casa e esta mostrou ser uma preocupação bastante pertinente.

“Olha, eu gosto. A Águia Branca dá mordomia para a gente. Tem tudo aqui.

Família...eu posso viajar, igual viagem de turismo, despreocupado. Porque

eu sei que qualquer coisa eles vão atender na hora que minha mulher ligar

para cá. Sempre fui atendido. Porque eu já fiz serviço assim, que eu estou

de plantão, e precisar e eles me atenderem em casa...Então, a empresa é

atenciosa com a família da gente. O que a gente precisa é isto aí, né? Se eu

for correr atrás de salário, não adianta. Itapemirim, 2001, Águia Branca, tudo

é um salário só, então não tem como correr. Então você tem quer ver onde

você tem segurança.” (motorista 1)

Comunicação interna

Quando perguntados sobre a comunicação na Águia Branca, os funcionários declararam ter a

liberdade de falar e se expressar com qualquer pessoa na empresa e que sempre têm um retorno.

Alguns deles sentem receio de conversar com um superior que eles não conhecem ou com quem

não tenham intimidade.

“Eu nunca fui não, mas dizem que na hora que chegar na porta deles eles

estão prontos para atender sem problemas. Já tive colega que já foi e foi

bem-recebido. Quer dizer, você trabalha em uma empresa que a qualquer

hora está pronta para te ouvir. Tem empresa aí que você nunca vê o chefe,

o dono, nem nada, né? Eles não, eles passam de carro aí de manhã, se as

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pessoas tiverem perto, eles param, dão bom dia. É difícil você ver isto.”

(motorista 1)

“Aqui, se eu quiser falar com qualquer um, não precisa nem marcar hora.

Pode chegar na sala do gerente, do assessor do gerente, do coordenador

de tráfego. Eles te escutam, se não puder fazer para você na hora eles

anotam tudinho e te dão um retorno. Não fica sem retorno, não.” (motorista

2)

“Você pode falar sem medo de ser reprimido. Aqui ninguém te reprime, não.

Mas você tem que falar com certeza. Aqui você tem um canal aberto, pode

falar o que sente. Se está se sentindo prejudicado, vem aqui com as

meninas do RH: ‘olha, está acontecendo isso, isso, isso comigo e com

fulano de tal’. Ela vai chamar e vai resolver o problema. Nem por isso o cara

lá vai ficar te perseguindo, porque se ele estiver te perseguindo você vem

aqui de novo. Aqui, você pode abrir o jogo .” (motorista 2)

“Do supervisor de tráfego até o presidente da empresa, eu tenho acesso a

todos.” (motorista 3)

“A relação com os supervisores é ótima. Na hora que eu precisar falar com

ele, é só chegar na porta : ‘preciso falar com o senhor’. Ele atende. Agora é

uma gerente. Ela passa pela gente, simpática, ‘bom dia’, dá a mão a

gente... Ela é sempre aberta.” (motorista 3)

“Sempre tem o retorno.” (agente de vendas)

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Os relatos dos motoristas sobre comunicação fazem referência ao diálogo direto. Os demais

funcionários comentam sobre as outras possibilidades de comunicação.

“Tem o sistema de Outlook, o e-mail, e tem também o setor de malote, que

manda correspondência. Mas o que é mais utilizado é o Outlook, o telefone

e o fax. Depende do tipo de informação, se for uma coisa rápida, precisa ser

achada, a gente passa pelo Outlook, e se a pessoa não está lá, então

passamos pelo telefone, fax.” (agente de vendas)

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Capítulo 5 - ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise dos resultados faz um paralelo entre as práticas de marketing interno da Águia Branca,

descritas no capítulo anterior, e a teoria apresentada na revisão bibliográfica. Primeiro, foi

observado em que pontos as ações da empresa vão ao encontro das recomendações feitas pelos

autores estudados, assim como os principais pontos de divergência e, em seguida, foram

analisados os efeitos dessas ações nos funcionários.

5.1 - Ambiente interno e motivação

Tanto os executivos como os funcionários da Águia Branca descreveram o ambiente na empresa

como informal e amigável, ou seja, um ambiente familiar, que sugere um bom relacionamento entre

os funcionários da empresa. Heskett (1997) afirma que a qualidade interna do ambiente de

trabalho é o que mais contribui para a satisfação dos empregados. O autor entende que a

qualidade interna do ambiente de trabalho é o sentimento que o funcionário nutre pelo trabalho,

pelos colegas e pela companhia.

A Águia Branca mostrou possuir muitos dos fatores que os autores estudados apontam como

fundamentais para se ter uma equipe motivada e satisfeita. O sentimento de poder opinar e se

expressar na empresa faz com que os funcionários se sintam úteis e valorizados. Lawson ( 2001) e

Smith (2001) apontam isso como indispensável para motivá-los. A comunicação aberta parece ser

um dos pontos altos da administração da Águia Branca:

“Do supervisor de tráfego até o presidente da empresa, eu tenho acesso a

todos.”(Motorista 3)

Vale lembrar que o papel dos dirigentes na criação desta cultura de diálogo e de respeito parece

fundamental. São os dirigentes da empresa que iniciam e difundem esta atitude receptiva, criando

um ambiente trabalho onde as pessoas ficam à vontade para falar:

“Se o dono da empresa estiver a pé no pátio é como se ele fosse um

empregado”(Motorista 2)

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O que está de acordo com Grönroos(1995) quando afirma que não há outro ponto de partida para

o marketing interno, que não seja da alta gerência da empresa.

Parece ser prática na Águia Branca promover o sentimento de que qualquer funcionário é

importante para o resultado final, reforçando sempre que todos estão ali para servir bem aos

clientes. Segundo os executivos entrevistados, ao funcionário, independente da posição que

ocupa, é mostrado onde seu trabalho se insere no todo e porque ele é importante para o cliente,

“isto vale para o porteiro, para o contador, para qualquer indivíduo”, como aponta o assessor

comercial. Para Berry e Parasuraman (1995), as empresas devem mostrar a cada funcionário a

importância do seu trabalho, e que as atividades que realiza são fundamentais para seu

funcionamento. Isto confere dignidade ao trabalho e faz com que o indivíduo tenha orgulho do que

faz, sinta que sua função é importante e veja a relevância em fazer bem feito.

Izzo e Withers (2001) apontam que promover o senso de comunidade, criando oportunidades para

interação, é fundamental para manter bons empregados. A Águia Branca vai além do que os

autores recomendam, promovendo o senso de comunidade entre os funcionários, incluindo,

também, as famílias em seus programas. Outro ponto relevante para reforçar a satisfação dos

funcionários é oferecer um “equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal”. A empresa busca ajudar a

chegar a este equilíbrio ministrando programas educacionais como o “Durma bem, acorde bem” e

palestras com temas voltados para a vivência familiar. Esse tipo de preocupação da empresa é

reconhecido pelo funcionário como mostram as declarações abaixo:

“No treinamento de reciclagem, eles colocam a nossa família

também.”(Motorista 2)

“A empresa procura trazer e unir as famílias.”(Agente de vendas)

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Os executivos apontaram que a Águia Branca procura tornar seus funcionários mais humanos,

ensinando a eles a tratar com respeito qualquer pessoa, seja ela um colega, um familiar ou um

cliente. Afirmam, ainda, que a empresa procura valorizar a autoestima dos empregados. Isto

mostra que a Águia Branca tem grande interesse no bem estar do seu público interno. Esta

demonstração de interesse e o tratamento com respeito é apontado pela teoria levantada como

fatores importantes na satisfação dos empregados (Heskett et al., 1997). Os funcionários

reconhecem os esforços da empresa em cuidar deles, o que sugere um maior comprometimento

dos empregados com o trabalho:

“A maioria dos funcionários é muito comprometidos, e bem relacionados.”

(Coordenadora de RH)

Executivos e funcionários da Águia Branca concordam que há incentivos para o trabalho em

equipe e não há estímulos para a competição entre os funcionários. A maioria dos estudos que

compara competição com cooperação recomenda que esta deve prevalecer (Capodagli e Jackson,

2000). Para Berry e Parasuraman (1995) o sentimento de equipe torna o trabalho divertido e, ao

mesmo tempo, é um estímulo para o bom desempenho, pois todos querem o respeito dos colegas.

Além disso, o sentimento de grupo é, lembram os autores, um excelente antídoto para o estresse.

Ainda segundo Berry e Parasuraman (1995) as empresas deveriam oferecer um lema, uma idéia,

uma causa pela qual valha a pena trabalhar que deve ser transmitida em todas as oportunidades

com paixão e entusiasmo. Tal lema deve ser simples e claro, resumido em uma frase ou três

palavras. Na Águias Branca esse lema pode ser reconhecido nos cinco pilares que orientam as

ações na empresa: atendimento ao cliente, moral dos funcionários, qualidade, segurança e custos.

Embora representem um lema de ação, diferem da clareza e objetividade recomendadas pelos

autores. Esta forma de lista com cinco pilares parece tornar difícil sua transmissão com

entusiasmo. Além disso, assemelha-se mais a uma instrução de como trabalhar, do que a uma

idéia, causa ou lema que possa unir os funcionários em torno de uma causa clara. Os gerentes

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parecem compreender bem quais são as diretrizes, mas, os funcionários demonstram em seus

testemunhos não visualizar estes pilares como um lema de ação.

A Águia Branca realiza ações sociais nas comunidades onde atua, e promove ações para

preservar o meio ambiente. Estas realizações são reflexos da filosofia de administração da diretoria

da empresa, embora não estejam formalizadas nas diretrizes (pilares) que orientam as ações

gerenciais. Estas atividades foram apontadas pelos executivos como motivadoras dos funcionários,

despertando neles o orgulho de ser um funcionário da Águia Branca. Os funcionários, por sua vez,

não mencionaram espontaneamente as ações sociais da empresa como motivo de orgulho. Esta

questão precisaria ser observada com mais detalhe. Possivelmente, a não existência de um lema

de trabalho que inclua o bem estar da sociedade faça com que estas ações não sejam claramente

percebidas e não tenham destaque. Entretanto, os funcionários declararam que sentem orgulho de

trabalhar na empresa devido à reputação que a mesma tem na sociedade de uma companhia

grande e respeitável, com funcionários muito bem treinados e exigidos, como pode ser ilustrado

pelos testemunhos abaixo:

“A minha mulher até diz que quando vai comprar, fala até de boca cheia que

eu trabalho na Águia Branca.” (Motorista 1)

“Trabalhar na Águia Branca hoje, tem um certo respeito aí fora.”(Motorista 2)

Anualmente é feita uma pesquisa para medir a satisfação do funcionário. Esta pesquisa encontrou

índices altos, acima da meta da empresa de 85%. Isto representa o sucesso dos esforços da

gerência em formar um ambiente de trabalho positivo. Os funcionários entrevistados disseram

estar muito satisfeitos com a empresa e alguns afirmaram que o que mais os motiva a trabalhar é

justamente o ambiente interno, o companheirismo e a liberdade de expressão. Isso indica que o

ambiente interno de trabalho na Águia Branca é de fato de boa qualidade.

A rotatividade dos funcionários na Águia Branca é declarada como baixa. A única exceção são os

motoristas, que apresentam uma rotatividade maior:

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“A única rotatividade que tem é nesta área (motoristas).”(Coordenadora de

RH).

Os motivos dos altos índices de turnover dos motoristas estão relacionados às características

intrínsecas à profissão e às características do ambiente competitivo:

“É comum o motorista, com as viagens, acabar arrumando mais de uma

família, aí, vêm as dívidas e quando está numa situação assim, ele

sai.”(Coordenadora de RH)

“Aqui em Vitória, temos grandes concorrentes em termos de motorista.

Nosso motorista sai daqui e entra tranqüilamente na Itapemirim, na São

Geraldo.”(Coordenadora de RH)

Altos índices de turnover representam um problema pois os custos para repor profissionais são

altos. Mas, como esta rotatividade não está relacionada à satisfação com a empresa e o ambiente

de trabalho, seria preciso observar os índices de seus concorrentes, para efeito de comparação.

As especificidades da profissão fazem com que compará-la com as demais funções dentro da

empresa não seja um procedimento adequado.

5.2 - O cliente externo

Na Águia Branca os funcionários sabem da importância fundamental do cliente para a empresa.

Quando perguntados sobre como a empresa vê seu cliente, surgiram respostas como: “é o cliente

que paga nossos salários”, “esta empresa existe para servir o cliente”. O executivo de marketing

afirma:

“Do ‘p’ ao ‘p’- do porteiro ao presidente – todos estão aqui por causa do

cliente.”

Todos os entrevistados, executivos e funcionários, mostraram uma orientação par ao cliente. Eles

reconhecem que a satisfação do cliente é o grande objetivo da empresa e que precisam trabalhar

para isto.

“A Águia Branca prega muito o cliente em primeiro lugar .“(Motorista 2)

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Os funcionários acreditam que seu trabalho é vital para a satisfação do cliente com a empresa,

reconhecendo sua importância na relação da empresa com os clientes, conforme pode-se observar

nas declarações abaixo:

“Se eu não atendê-lo bem, se eu não der boa viagem, ele não volta.”

(Motorista 3)

“Se eu tivesse com minha família eu queria ser bem tratado e que o

motorista se mostrasse cordial comigo. Isso é importante.”(Motorista 2)

Assim, observa-se que a atuação da administração, ao disseminar nos funcionários uma

orientação para o cliente, mostra estar conquistando bons resultados.

O conceito de cliente interno na Águia Branca parece ser bastante difundido. A coordenadora de

RH relatou em sua entrevista que busca passar aos funcionários que qualquer relação pode ser

vista como uma relação entre um prestador de serviço e seu cliente e que, no momento da

entrevista, o entrevistador era seu cliente. Assim, o tratamento deve ser atencioso, respeitoso e

amigável e o serviço prestado deve ser o melhor possível. Isto cria um ambiente de cooperação e

de grande envolvimento entre os funcionários da linha de frente e os funcionários de apoio.

“Ensinamos que não se deve ver o cliente só como dinheiro, mas como ser

humano, com todas as diferenças que existem entre nós e que precisam ser

respeitadas.”(Coordenadora de RH)

A Águia Branca declara que esses conceitos - orientação para marketing e cliente interno - estão

presentes no dia-a-dia da empresa, o que está em conformidade com a visão de muitos autores

(Grönroos 1995; Berry, Parasuraman 1995; Heskett 1997; Lovelock 2001; Kotler 1998), que

afirmam que o marketing deve ser a filosofia que orienta o trabalho de todos na empresa e que a

satisfação do cliente é objetivo e responsabilidade de cada funcionário. Segundo Berry e

Parasuraman (1995), os profissionais de marketing de empresas de serviço devem incentivar a

empresa a ter uma orientação para o cliente. Para isto, o marketing interno deve ser direcionado a

todos, pois os funcionários da linha de frente dependem do serviço de outras pessoas. Em

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verdade, todos os empregados estão servindo a alguém, seja para um cliente externo ou interno,

como Grönroos (1995) afirma.

Os funcionários que lidam com os clientes externos trabalham no limite entre a empresa e o

mercado, tendo então que servir a dois “chefes”: a empresa e o cliente. Esta situação ambígua

pode gerar conflitos, confusões e estresse caso não esteja claro para o funcionário qual deve ser

seu curso de ação. Colocando a satisfação do cliente como prioridade na empresa e reforçando

com energia esta visão para todos os funcionários, a Águia Branca tem uma orientação de ação

clara para os empregados que sabem que se agirem favorecendo o cliente, estarão agindo

corretamente e favorecendo a empresa.

“O que a gente quer é que a decisão seja favorável ao cliente.” (Assessor

comercial)

Isto resolve parcialmente a questão do estresse de trabalhar em uma zona limítrofe – entre o

mercado e a empresa - e representa a orientação correta para a maioria das situações, segundo

diversos autores (Kotler 1998; Grönroos 1995; Berry e Parasuraman 1995). Entretanto, algumas

vezes os funcionários se deparam com “clientes problema”. Um motorista relatou:

”O cliente é folgado, é abusado.” (Motorista 2)

Embora as declarações dos funcionários da Águia Branca indiquem empregados motivados e

satisfeitos, alguns testemunhos demonstram um certo ressentimento pela força que as

reclamações dos clientes têm dentro da empresa. Alguns autores (Lovelock, 2001; Haksever e

Render, 2000) afirmam que o público primordial da empresa deve ser o interno, pois somente

quando uma pessoa é a primeira aos olhos das outras é que ela consegue partilhar esta sensação

de forma sincera, o que parece não ocorrer na Águia Branca, segundo as declarações abaixo:

“Se um passageiro ligar, dez mentiras deles, uma verdade da gente, o que

vale mais é o cliente.” (Motorista 1)

““Barra pesada” mesmo aqui dentro. Eles sabem que uma reclamação deles

aqui dentro prejudica o motorista, no disque-Águia.”(Motorista 2)

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A Águia Branca possui uma série de controles para seus motoristas. A empresa coloca a

“patrulinha” na estrada para verificar como os motoristas estão trabalhando. Há, ainda, o tacógrafo,

que descreve a viagem, os testes do sono e o bafômetro. Isto parece ir de encontro ao que Berry

(2001) prega. O autor afirma que em ambientes familiares a confiança deve prevalecer, e o mesmo

deve ocorrer em empresas. Para o autor, a confiança não pode ser parcial pois a empresa não

deve esperar que seus funcionários ajam de forma desonesta. Os funcionários que agem

desonestamente são uma aberração, uma exceção, e isto não implica que a empresa deva vigiar a

todos. Entretanto, dois dos três motoristas entrevistados afirmaram que hoje cometem menos

excessos por conta dos prêmios para quem trabalha em conformidade com o que a empresa

orienta. Reconhecer a tendência a cometer excessos no trânsito é reconhecer a necessidade de

controle e vigilância. Os motoristas demonstraram não se importar e acreditam que estas ações

são importantes para eles próprios, pois reforçam a orientação de trabalhar observando sempre a

segurança. Um motorista lembrou no entanto que mecanismos de controle que anotam as falhas,

como a “patrulhinha”, deveriam também elogiar e notificar os aspectos positivos:

“Se você elogiar ele, amanhã a “patrulinha” não vai ter o trabalho de ficar

atrás dele, porque sabe que ele não vai fazer nada de errado.” (Motorista 2)

Isso deve ser observado cuidadosamente pela empresa, é possível que o bom comportamento

seja observado, mas não seja corretamente divulgado.

O controle dos funcionários em campo pela empresa pode ser usado a favor dos motoristas no

caso de reclamações falsas de “clientes problema”, ou poderia reforçar a queixa. A vigilância por

parte da empresa, que é justificável e parece não incomodar os motoristas, poderia ser um

instrumento para reduzir o ressentimento de alguns motoristas que têm sua palavra preterida em

relação à palavra do cliente.

5.3 - Contratação

A Águia Branca possui uma descrição de cargos com os perfis desejados para cada função, que

descreve as habilidades, a escolaridade e a experiência exigida do candidato. E, ao contrário do

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que sugerem os autores Grönroos (1995), Berry e Parasuraman (1995), o perfil das pessoas da

linha de frente não são feitos por meio de pesquisas junto aos clientes. Ainda assim, as pesquisas

internas da empresa apontam que os clientes aprovam o atendimento recebido e elogiam bastante

os funcionários.

Os autores estudados recomendam que os fatores comportamentais sejam bastante observados

no momento da contratação, pois certas atitudes – como simpatia, asseio, gostar de pessoas e

energia – são muito difíceis de serem ensinadas em treinamento (Lau 2001; Lovelock 2001;

Jeffery 1997; Correa 2001). A Águia Branca declara observar bastante estas atitudes nos

candidatos, além da qualificação técnica. A seleção procura pessoas que gostem de trabalhar em

equipe e que saibam se relacionar com as pessoas, conforme mostra o relato abaixo:

“Como trabalhamos com serviço, trabalhamos com pessoas, você tem que

contratar gente que goste de trabalhar com pessoas.”(Assessor comercial)

Isso é importante, pois essa é a cultura de trabalho da companhia. A empresa procura pessoas

que queiram crescer e se desenvolver junto com ela, o que também está em sintonia com a

mentalidade de melhoria contínua da gerência e reforça o pensamento coletivista. Nesse sentido, a

Águia Branca fez com que o perfil desejado na contratação refletisse a “personalidade” da

empresa, como recomenda Lovelock (2001).

A Águia Branca faz primeiramente o recrutamento interno, segundo os executivos entrevistados.

“É uma forma de você estar dando oportunidade dentro da

empresa.”(Coordenadora de RH)

Os funcionários não citaram o recrutamento interno como um fator de motivação. Entretanto,

excetuando-se os motoristas, os outros dois funcionários entrevistados começaram na Águia

Branca em outra função, e estão na companhia por muitos anos. Mesmo os motoristas já foram

promovidos para trabalhar no setor de turismo da empresa, em que têm alguns benefícios extras. A

boa retenção dos funcionários pode estar relacionada à oferta de oportunidades dentro da

empresa, pela grande mobilidade informal criada com o recrutamento interno.

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“Nós temos um faxineiro que virou diretor, um gerente que era auxiliar de

escritório...Olha a importância que é dada para qualquer funcionário.”

(Assessor comercial)

Recrutar internamente faz com que o funcionário que chega em um novo cargo conheça bem as

operações e as pessoas dos setores em que já trabalhou. Isso ajuda a empresa a criar maior

integração e cooperação entre os setores e a fazer com que os funcionários tenham uma melhor

compreensão de onde seu trabalho se insere no funcionamento geral da Águia Branca. Assim, a

contratação interna é um excelente fator para melhorar a comunicação interna. Jeffrey (1997) fez

uma pesquisa nos EUA com 14 empresas que são referências em atendimento ao cliente. Essa

pesquisa apontou que uma das práticas mais comuns é a ênfase no recrutamento interno, assim

como ocorre na Águia Branca. Segundo a autora, dar oportunidade primeiro para quem já está na

empresa confere grandes vantagens para a organização, além de economia de tempo e dinheiro.

Primeiro, a empresa já conhece muito sobre os candidatos, o que ajuda na escolha. Segundo, o

candidato já conhece a empresa, o que facilita no treinamento.

Berry e Parasuraman (1995) apontam que o descuido na contratação é uma das principais causas

da prestação de um serviço medíocre. Berry (2001) estudou empresas de grande sucesso nos

Estados Unidos e observou que elas são muito cuidadosas com seus processos de contratação.

Essa forma de contratar, com muitas etapas classificatórias e muitas entrevistas, o autor chamou

de “contratação paciente”. A Águia Branca é uma empresa que pratica esse tipo de contratação. O

departamento de RH submete os candidatos a vários testes e avaliações para observar suas

aptidões. Quando pelo menos dois são considerados aptos eles são levados para a apreciação

dos coordenadores da área. Caso os coordenadores não se interessem por nenhum dos

escolhidos pelo RH, então o processo se reinicia, não há pressa e isso é um indicador de que a

empresa realiza a “contratação paciente” sugerida por Berry (2001).

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5.4 - Treinamento

Grönroos (1995) afirma que há três tipos importantes de treinamento. O primeiro deles deve

proporcionar uma visão holística da companhia, para que o funcionário entenda onde sua função

está inserida no funcionamento geral da empresa. Um segundo tipo de treinamento é doutrinário e

tem por objetivo transmitir os valores da empresa e atitudes favoráveis ao cliente, para que o

funcionário compreenda seu papel de “agente de marketing de tempo parcial”. O último tipo de

treinamento é o que busca desenvolver as habilidades técnicas. A Águia Branca diz oferecer os

três tipos de treinamento no programa de ambientação, em que os novos contratados da empresa

precisam passar. Nesse treinamento inicial, os funcionários conhecem o grupo Águia Branca, do

qual a viação faz parte, e aprendem como a empresa opera. O RH e a direção da empresa

apresentam os valores da companhia, especialmente a cultura de diálogo aberto. O marketing tem

um tempo nesse programa para transmitir a orientação para o cliente. Esses módulos são comuns

a todos os funcionários. Os módulos específicos de cada profissão procuram desenvolver as

habilidades técnicas. Os motoristas, por exemplo, ficam um mês em treinamento de ambientação

antes de começar a dirigir, mesmo quando já são experientes, pois precisam entender como a

empresa quer que trabalhem. Os funcionários parecem reconhecer a importância deste

treinamento inicial, principalmente os motoristas, que aprendem que transportar pessoas é uma

grande responsabilidade, assim como parecem reconhecer a importância das orientações técnicas.

“Transportar passageiro não tem nem como comparar com outras coisas.”

(Motorista 2)

“Eu demorei 28 dias para dirigir um ônibus sozinho. A gente acha enjoativo,

mas é bom para gente mesmo.”(Motorista 2)

Compreendendo que treinamento é um processo que deve ter continuidade, a Águia Branca

oferece cursos de reciclagem para todos os cargos. Sendo que para motoristas e agentes de

venda, esses programas ocorrem todos os anos. Para os demais cargos, conforme surja a

necessidade. Nestes treinamentos os profissionais podem ter cursos na parte técnica, como um

reforço em técnicas de venda para os agentes de venda, mas também é comum que eles

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aprendam a desenvolver habilidades interpessoais, de comunicação e dinâmicas de integração,

conforme relata a coordenadora de RH:

“Tem motorista nosso que já fez treinamento de neurolingüística, de

competências interpessoais, onde faz uma revisão de crenças e valores.”

Esse investimento no funcionário, não só como profissional, mas como pessoa, aproxima a Águia

Branca das empresas estudas por Jeffrey (1997), que representam as melhores empresas de

atendimento dos Estados Unidos. Estas também proporcionam um aperfeiçoamento mais

abrangente e não restrito às atividades de cada função.

Muitos autores afirmam que programas de treinamento são bons motivadores, podendo até serem

usados como prêmios por bom desempenho (Berry 2001; Berry e Parasuraman 1995, Smith 2001).

Os programas de treinamento da Águia Branca retratam bem este benefício extra. Os funcionários

falam com orgulho do que aprenderam, dos cursos que tiveram, em especial dos cursos que

procuram desenvolver as habilidades interpessoais. Os relatos abaixo mostram isso:

“Nós já tivemos até curso de etiqueta.”(Motorista 3)

“Aprende a conviver com o público. É muito difícil. Você aprende a se

expressar.” (Motorista2)

Indo além das habilidades técnicas, de retorno óbvio para a empresa, a Águia Branca mostra uma

preocupação em investir no indivíduo. Como foi comentado, mostrar preocupação com o

funcionário é um fator de motivação. Reforçando isso, a Águia Branca relata que estimula os

estudos dos funcionários em todos os níveis, mostrando que todos devem buscar crescer e

melhorar. O PCG, Programa de Capacitação Gerencial, é um exemplo de treinamento como

prêmio por desempenho. Os funcionários que apresentam as habilidades necessárias para

assumir cargo de chefia são convidados a participar deste programa, o que representa um prêmio

pelo reconhecimento de um trabalho bem feito.

Os treinamentos técnicos são ministrados por profissionais que se destacam na área e que

possuem habilidades para ensinar. A Águia Branca prepara essas pessoas que irão assumir a

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posição de treinadores com cursos que ensinam técnicas de sala de aula, que são apresentados

por profissionais especializados, de fora da empresa, o que está de acordo com Johnson (in

HRFocus 2001) quando afirma que esse treinamento entre funcionários não pode ser deixado ao

acaso. Os treinadores precisam ser preparados para que o programa tenha bons resultados. Este

programa – que coloca os profissionais mais novos aprendendo com profissionais mais experientes

e que se destacaram – têm um duplo benefício na visão de Berry (2001). Primeiro, confere mais

credibilidade ao treinamento, pois muito da experiência prática do treinador pode ser passada aos

alunos, e, segundo, isso é um grande motivador para os profissionais que estão na posição de

treinador.

A teoria levantada aponta que um dos problemas que dificultam a eficácia dos treinamentos é a

resistência dos gerentes à aplicação do que foi aprendido, seja por insegurança, resistência ao que

é novo ou à possível diminuição do poder que eles detêm em relação aos subordinados. Esse

problema parece ser combatido pela Águia Branca direto na fonte, ou seja, o processo que dá

início ao treinamento começa com os gerentes. Segundo os executivos entrevistados, são os

próprios gestores que fazem a requisição dos treinamentos, apontando as habilidades que

precisam ser desenvolvidas. A coordenadora de RH da Águia Branca relata:

“É o gestor que pede o treinamento e que acompanha o resultado.”

O RH ajuda oferecendo sugestões de treinamentos possíveis e que estão de acordo com as

diretrizes da empresa, mas o aval dos gerentes é importante; eles precisam “comprar” a idéia.

Como o ambiente interno na empresa é de cooperação e integração, os líderes de cada área, em

geral, ficam satisfeitos com a melhora dos seus funcionários, em vez de se sentirem ameaçados.

Os funcionários relatam que quando têm dificuldades em realizar alguma tarefa, podem recorrer ao

pessoal do RH, que disponibiliza um tempo para conversar, podendo apresentar e praticar novas

técnicas junto com o empregado. Essa abertura, que decorre da própria cultura de diálogo da

empresa, traz uma oportunidade de treinamento solicitada pelo próprio funcionário no momento em

que ele está precisando. Isso ocorre principalmente com os motoristas que hoje necessitam falar

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aos seus passageiros quais são os serviços disponíveis no ônibus, o tempo de viagem e desejar a

todos uma ótima viagem e se sentem inibidos. O motorista 1 coloca isto de forma clara:

“Quando estamos em dificuldade vamos procurar direto a Cristina (RH).”

Essa liberdade de pedir ajuda ao RH parece fundamental para que eles não se sintam inseguros e

desestimulados por terem que realizar uma tarefa para a qual não se sentem preparados como

alertam Berry e Parasuraman (1995).

5.5 - Empowerment

A Águia Branca declara que incentiva seus funcionários a resolverem os problemas que aparecem,

praticando o empowerment em sua administração. A empresa compreende que se o empregado

precisasse comunicar tudo à chefia, isso geraria uma demora na solução do problema que, muitas

vezes, o cliente não está disposto a esperar e acarretaria em uma sobrecarga de trabalho em

alguns poucos funcionários. Como as operações da empresa ocorrem com uma dispersão

geográfica muito grande parece fundamental que a empresa delegue autonomia aos seus

colaboradores no campo de atuação. As declarações dos funcionários sugerem que a gerência

incentiva e valoriza que eles próprios resolvam os problemas. Alguns precisaram tomar decisões

não rotineiras e foram elogiados por isso, outros relatam casos de colegas que tiveram que agir por

conta própria e que também tiveram o apoio da gerência. Isso reforça a recomendação da

empresa e encoraja os funcionários. Como declara o motorista 1:

“Eles falam que quem está na estrada é a gente, então, não adianta ligar e

ficar passando problema”

Muitos autores acreditam que funcionários com autonomia para agir são mais motivados e

comprometidos com os resultados e que isso tem um impacto na forma como eles servem aos

seus clientes. Os próprios clientes desejam ser atendidos por pessoas que resolvam seus

problemas e possam retificar as falhas cometidas (Lovelock 2001; Bateson e Hoffman 2001, Bery

e Parasuraman 1995; Grönroos 1995). De forma que esta política de incentivo à autonomia da

Águia Branca parece trazer benefícios à orientação da empresa para o cliente e à motivação dos

funcionários.

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Berry e Parasuraman (1995) reforçam a importância de atribuir autonomia aos funcionários e

acrescentam que isto não significa que eles possam ficar completamente soltos para fazer o

serviço; eles precisam de valores, idéias e metas para norteá-los no momento da tomada de uma

decisão. A Águia Branca parece seguir esta orientação, como ilustra o depoimento:

“aquilo que foi feito para beneficiar o cliente foi bem feito”.

Lovelock (2001) classifica o empowerment em três níveis. No primeiro o funcionário pode somente

fazer sugestões por meios de programas formais. No segundo, indo um pouco mais além, o

funcionário pode usar um leque mais amplo de habilidades em seu trabalho, o que exige

treinamento. No terceiro e mais profundo nível, as informações são amplamente compartilhadas

em todos os níveis da organização; desenvolve-se o trabalho em equipe na solução de problemas

e nas operações. As informações fornecidas pelos entrevistados sugerem que o empowerment na

Águia Branca está no nível três, devido à liberdade de comunicação existente e à cultura de

diálogo aberto e informal. A autonomia parece gerar satisfação e comprometimento do funcionário

que reconhece a sua importância quando declara:

“Se você trabalha em uma empresa que não é uma ditadura, você pode

colocar suas opiniões, isso é importantíssimo.”(Funcionário interno)

5.6 - Avaliação e recompensa

A Águia Branca implementou um programa de avaliação para os motoristas denominado Programa

de Produtividade no qual os profissionais são avaliados em vários tópicos como aparência,

atendimento ao cliente, pontualidade, direção segura e econômica. Caso os motoristas estejam

cumprindo suas obrigações conforme a empresa pede, eles são premiados, no mês, com 25 reais

em vale-refeição, e, no final do ano, conforme o número de pontos acumulados, eles ganham um

adicional que pode chegar a 40% do salário. Esse programa está tendo excelentes resultados com

os motoristas, segundo a coordenadora de RH. Alguns motoristas entrevistados relataram estar

muito satisfeitos com o programa e que realmente estão se empenhando mais para ganhar os

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bônus. Para os profissionais, esse sistema mostra o reconhecimento da empresa com seu

trabalho. O motorista 2 mostra isso em sua declaração:

“Eu mesmo já procurei diminuir os excessos que cometia nas viagens.

Justamente visando ganhar o prêmio, ser o motorista “top” no final do ano.”

O programa possui alguns tópicos que estão de acordo com as recomendações de Berry e

Parasuraman (1995) para formar um bom sistema de avaliação e recompensa. Primeiro, este

programa premia o positivo, em vez de punir o negativo. Com isso o funcionário e a empresa

comemoram o sucesso juntos, cria-se um comprometimento verdadeiro e não fruto do receio de

uma represália. Além disso, os programas de avaliação devem ser condizentes com o treinamento

que o funcionário recebeu e ser bem compreendido por quem está sendo avaliado. Esta

compreensão do sistema de avaliação por parte do avaliado é fundamental para que o programa

funcione e tenha uma boa aceitação junto a seu público-alvo. Os motoristas entrevistados

afirmaram que a empresa cobra aquilo que ensinou nos treinamentos, que eles sabiam como

funcionava o programa e como estavam sendo cobrados.

“Em cima do que a gente já sabe, mas eles cobram.” (motorista 2)

Ainda de acordo com Berry e Parasuraman (1995), o feedback deve ocorrer com freqüência em um

bom sistema de avaliação. No caso da Águia Branca o resultado formal da avaliação é dado todo

mês. Por fim, os autores lembram que o sistema deve ser igualitário, avaliando todos de forma

homogênea, sem privilégios. Os entrevistados não apontaram que a empresa utiliza suas

avaliações em favor de alguns, o que indica que esse programa foi desenhado conforme

recomendações feitas por Berry e Parasuraman (1995).

Na Águia Branca não há avaliação formal para os demais cargos. A gerência da empresa afirmou

que implementar programas formais para todos na companhia está dentro dos planos. Mas, a

comunicação aberta e informal, entre todos na empresa, independente do cargo que ocupam, cria

uma avaliação informal que ocorre constantemente. Nesse processo, os chefes avaliam os

subordinados e dão o feedback imediatamente. Além disso, como os subordinados têm liberdade

para falar com os chefes e com todos na empresa, o funcionário avalia seu superior

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constantemente. Assim, diálogo franco e direto parece substituir com vantagem um programa de

avaliação formal, por ser muito mais amplo e freqüente. O assessor comercial relata:

“A partir do momento que eles têm um canal aberto com a direção da

empresa, tem uma avaliação constante.”

A Águia Branca não oferece vantagens de salário para seus funcionários e declara que paga na

média do mercado. Reichheld (1996) afirma que os excedentes gerados pela lealdade do cliente

deveriam ser compartilhados com os funcionários pois os melhores funcionários ficarão com a

empresa que pagar mais, se todo o resto for igual. No caso da Águia Branca o resto parece não

ser igual. A empresa oferece uma série de benefícios extras, que os executivos denominaram

“pacote de benefícios”, que para os funcionários faz a diferença. Dentre os benefícios oferecidos

estão premiação por tempo na empresa, seguro de vida, uniforme, auxílio-doença, passagens de

férias, kit escolar e licença-casamento. Outros benefícios são apontados pelos próprios

funcionários como fundamentais: o alojamento dos motoristas foi considerado um benefício muito

importante, a justeza e a pontualidade no pagamento, a atenção com as famílias, o respeito no

trato com os funcionários, o ambiente interno familiar, a possibilidade de falar e se expressar e a

confiança da empresa no funcionário com o empowerment, investimento nos empregados com

treinamento e incentivo aos estudos. Os relatos abaixo mostram isso:

“eu não sei se você conhece o alojamento aqui, você precisa ver, é um

hotel.”(Motorista 2)

“Eu posso viajar despreocupado, porque eu sei que eles vão atender na

hora que minha mulher ligar para cá.”(Motorista 1)

Berry e Parasuraman (1995) apontaram pesquisas que mostram que dinheiro é importante, mas

não é o mais importante. E que outros benefícios como os que a Águia Branca concede têm um

efeito mais duradouro. Um funcionário apontou que a empresa compartilha os ganhos quando as

metas são atingidas, não em dinheiro, pois seria pouco para dividir com muitos, mas com

comemorações, folgas e outros benefícios.

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Pode-se observar que o programa de benefícios da Águia Branca, relatado pelos executivos, está

de acordo com a teoria revisada. A empresa parece igualar suas ações com os programas de

benefício das empresas estudadas por Jeffrey (1997). O reconhecimento sincero – por meio de

homenagens como “destaque do mês”, que a Águia Branca faz em seu informativo mensal – e o

grande investimento no empregado com treinamento estão entre os pontos comuns. As

divergências em relação ao estudo de Jeffrey (1997) estão no fato de que a remuneração na Águia

Branca não está acima da média de mercado e não há um plano formal de carreira para os

funcionários, elementos que as empresas estudadas por Jeffrey consideram fundamentais para a

permanência do empregado na empresa. O que compensa o fato de a remuneração estar na

média de mercado parece ser o pacote de benefícios já mencionados. E a falta de um plano de

carreira pode ser compensada pelo recrutamento interno, que mostra que há oportunidades para

quem permanecer na Águia Branca, ou seja, a mobilidade informal que a empresa oferece parece

cobrir a carência de um plano de carreira formalizado.

5.7 - Comunicação interna

A comunicação tem grande importância no marketing interno de uma empresa de serviços pois os

funcionários precisam de informações para realizar suas atividades e, além disso, necessitam

dialogar e buscar esclarecimento com os gerentes o que reduz a incerteza e a ambigüidade do

trabalho e com isso reduz o estresse. A comunicação no outro sentido, ou seja, partindo dos

funcionários para a empresa, também deve ser alvo de muita atenção pelas companhias pois os

funcionários são fontes de preciosas informações sobre os clientes e precisam, por isso, ter

liberdade para falar e sugerir (Grönroos 1995; Tourish e Hargie 1993).

A administração de portas abertas, na qual o funcionário tem a liberdade de procurar as pessoas

de níveis hierárquicos superiores, parece ser enfatizada com energia pela gerência da Águia

Branca. Os funcionários sabem que têm acesso livre a qualquer pessoa na empresa. Segundo os

executivos, isso é bem aceito pelos gerentes de nível intermediário. Caso um motorista queira falar

diretamente com um diretor ou com a coordenadora de RH, isso será visto como algo natural por

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parte do superior imediato do funcionário. Caso haja algum problema em decorrência disso, o

funcionário pode ir novamente ao diretor ou à coordenadora que ele terá proteção contra as

possíveis perseguições do chefe. Mas, os executivos e os funcionários entrevistados afirmam que

atritos assim não costumam ocorrer na empresa pois a Águia Branca é um ambiente em que o

diálogo franco e aberto é estimulado. Muitos dos superiores vieram de baixo, aproveitando as

oportunidades de crescimento que a empresa oferece. Isso facilita a compreensão dos problemas

dos funcionários e ajuda na integração entre as pessoas. Os relatos abaixo evidenciam isso:

“Aqui, você pode abrir o jogo .” (Motorista 2)

“Do supervisor de tráfego até o presidente da empresa, eu tenho acesso a

todos.” (Motorista 3)

A administração participativa também parece ser uma realidade na Águia Branca. A gerência diz

comunicar sempre aos funcionários que empresa só poderá crescer com a participação e a ajuda

de todos. O RH estimula que todos falem, se comuniquem, sem medo de represália. Os

funcionários sabem que podem perguntar, sugerir e comunicar e sabem, ainda, que qualquer

solicitação ou sugestão terá uma resposta por parte da gerência. Um funcionário não fica sem

retorno. Uma sugestão não será necessariamente aceita, mas será explicado ao funcionário o

motivo pelo qual aquilo não pode ser feito. Segundo os executivos entrevistados, o retorno é um

estímulo à participação do funcionário, pois ele sabe que está sendo escutado. Assim, a empresa

usufrui desta preciosa fonte de informações que são as pessoas que atendem diretamente os

clientes. Os relatos abaixo mostram essa cultura:

“O funcionário tem que saber por que aquela sugestão que ele deu não será

aceita, tem que ter o porquê.”(Coordenadora de RH)

“Não fica sem retorno não.” (Motorista 2)

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Um problema que a empresa diz enfrentar e que tem implicação, tanto na administração de portas

abertas como na administração participativa13, é o medo que alguns funcionários têm de falar com

os superiores. Isso ocorre principalmente entre motoristas, trocadores e agentes de venda, que

são o maior contigente de funcionários na empresa e possuem um baixo grau de escolaridade.

Alguns funcionários entrevistados evitam ter que se dirigir à administração, como se isso fosse

sinal de problemas. O motorista 1 confirma seu receio:

“Até conhecer todo mundo (os gerentes), a gente fica um pouco inibido.”

Em um dos casos relatados pelos executivos, um funcionário precisou ser bastante encorajado

para ir agradecer pessoalmente a um diretor pela ajuda recebida. O RH demonstra saber desse

problema e parece atuar com bastante vigor para quebrar esse receio dos funcionários, como

mostra a coordenadora de RH:

“ Por mais que a gente fale, por mais que se incentive, alguns têm medo de

falar com a gerência da empresa”

Segundo a coordenadora de Rh, a empresa tem conseguido grandes avanços nesse aspecto e

isso apareceu no discurso de alguns funcionários, inclusive motoristas, que não demonstram

nenhum receio em se dirigir à administração, afirmam ter acesso livre a qualquer um na empresa.

Todos apontaram que seu relacionamento com os superiores é muito bom, o que tem grande

importância para que o funcionário se envolva no trabalho e queira contribuir com a empresa. Para

incentivar essa cultura do diálogo aberto, a participação da alta gerência é fundamental; eles

andam pelo pátio e conversam com seus funcionários, diminuindo as barreiras e criando canais de

comunicação. Isso inspira todos na empresa a receber e conversar com qualquer colega,

independente do nível hierárquico. O assessor comercial confirma a importância da alta gerência

nesse processo:

“Porque quando o acionista faz isto, como a equipe dele não vai fazer?”

13 Na administração de portas abertas o funcionário tem a liberdade de poder falar com a gerência. Naadministração participativa ele é estimulado a opinar, a ajudar e, também, a solicitar e a reclamar. Assim, umapolítica complementa a outra.

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A comunicação na empresa é feita por muitos meios, dentre eles o quadro de avisos, o jornal

interno, telefone e a Intranet. Muitos meios são utilizados simultaneamente para reforçar uma

mensagem importante. Mas a comunicação pelo diálogo é sempre estimulada, por ser mais

eficiente e garantida, como afirma a coordenadora de RH:

“A gente sempre pede que as comunicações sejam feitas corpo-a-corpo.”

Na empresa, a maioria dos funcionários, formada por motoristas trocadores e agentes de venda,

prefere a conversa direta. A utilização intensa do diálogo reduz a importância relativa dos demais

meios, sendo estes mais utilizados para divulgar eventos, homenagear funcionários, relatar fatos

sobre a empresa, como resultados financeiros, novos empreendimentos e entretenimento. No

entanto, isso não significa que a gerência não lance mão desses meios também para fins

administrativos.

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Ambi

ente

inte

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Con

trat

ação

5.8 - Quadro-resumo da análise dos resultados

Recomendações dos autoresrevisados

Ações da empresa (executivos) Resultados práticos (funcionários)

- Qualidade interna do ambiente- Liberdade de expressão- Senso de comunidade- Integração- Trabalho em equipe- Oferecer um lema de ação para o qual

valha a pena trabalhar- A formação de um bom ambiente interno

deve partir da alta gerência.

- Ambiente interno familiar- Liberdade total de se expressar- Senso de comunidade, indo além dos funcionários e

abrangendo a família- Trabalho em equipe- Ações sociais como importante motivador- Não há um lema, embora haja diretrizes- Os diretores e acionistas são os formadores do

ambiente interno familiar, da cultura do diálogo aberto.

- Gostam do ambiente de trabalho- Sabem que podem opinar- Valorizam a integração dos funcionários e das famílias- Trabalho em equipe sempre- Não mencionaram as ações sociais como um

motivador- Conhecem as diretrizes de trabalho- Os dirigentes são receptivos e conversam com todos

- O cliente é de responsabilidade detodos. Todos são “agente de marketingde tempo parcial”

- Há clientes internos e externos e todossão importantes

- Deve-se oferecer uma diretriz clara quenorteie as ações

- O público interno é o primeiro público daempresa

- Deve-se confiar em seu público interno- Não há necessidade de controles

rígidos.

- A orientação para o cliente é ensinada a todos- A noção de cliente vai além da definição de interno e

externo. Qualquer relação com qualquer público éuma relação entre o prestador de serviço e o seucliente

- Há uma diretriz clara de ação: ‘Primeiro o cliente”- O cliente externo tem prioridade- Há mecanismos de controle, especialmente para

motoristas

- Compreendem que o cliente é sua responsabilidade eque o trabalho que realizam é importante para suasatisfação

- O tratamento com respeito a qualquer pessoa é vistacomo muito importante

- Sabem que se favorecem o cliente em uma decisãoestarão agindo corretamente

- Sabem que a palavra do cliente tem prioridade emrelação à sua. Porém, ressentem-se disso

- Os mecanismos de controle não os incomodam.Reconhecem que por causa dos prêmios por um bomdesempenho estão cometendo menos excessos.

- O único descontentamento com um sistema decontrole decorreu do fato de que a “patrulinha” anotaas falhas, mas deveria também anotar os acertos.Deveria elogiar mais.

- O perfil desejado de um funcionário delinha de frente deveria vir de pesquisasjunto aos clientes

- Deve-se observar habilidadesinterpessoais e de comunicação. Aatitude é mais importante que aexperiência

- Contratar internamente- Contratação paciente e cuidadosa- Ter boa imagem no mercado de trabalho- Segmentar os benefícios para atrair

mais talentos

- Há uma descrição de cargos, mas não é feita consultaaos clientes

- As habilidades de relacionamento e vontade decrescer são mais importantes que experiência

- Prioridade para a contratação interna- Realiza uma contratação paciente e com muito

cuidado- Excelente imagem no mercado de trabalho- Não há segmentação de benefícios

- Não mencionaram a contratação interna. Mas haviaexemplos de funcionários que mudaram de posição naempresa

- Confirmaram que passaram por uma enorme bateriade testes para entrar na empresa. Confirmaram acontratação paciente

- A imagem da Águia Branca junto à comunidade foi umgrande atrativo

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140

Trei

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alia

ção

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ecom

pens

a- Deve abranger a visão holística da

empresa, as atitudes e a parte técnica- Deve ser um processo contínuo- São excelentes motivadores e servem

como prêmio- Treinamentos com funcionários antigos

oferecem ótimos benefícios. Ostreinadores devem ser orientados

- O superior imediato do funcionáriocostuma não valorizar o treinamento eanula seu resultado

- Os treinamentos devem ser avaliados,para se saber os resultados práticos

- Vai além da parte técnica. Incluindo a visão holísticada empresa e o treinamento de atitudes e motivação

- É anual para motoristas, trocadores e agentes devendas e sempre que se tem a necessidade para osdemais.

- Alguns treinamentos são oferecidos como prêmiospara pessoas que se destacam, como o PCG

- Realiza treinamentos com funcionários maisexperientes e prepara os treinadores

- O superior imediato e a gerência escolhem ostreinamentos que serão ministrados

- Os treinamentos são avaliados pelos funcionários epelos seus superiores imediatos, para saber suaeficácia

- A abertura de comunicação faz com que o funcionáriotenha liberdade para pedir ajuda ao seu chefe ou aoRH. Isso cria um treinamento informal importante

- Valorizam muito os cursos que a Água Brancapromove. Tanto os treinamentos técnicos como oscomportamentais

- Não apontaram nenhuma resistência dos gerentes aouso dos conhecimentos adquiridos. Pelo contrário, sãocobrados naquilo que aprenderam

- Mencionaram a abertura de comunicação com aempresa como uma importante forma de receberajuda em pontos que os próprios funcionários sentemque estão com dificuldades

- É parte fundamental no atendimento.Clientes querem atendentes queresolvam seus problemas

- É um ingrediente fundamental namotivação do funcionário

- Deve haver uma orientação clara deação e não normas rígidas.Empowerment exige flexibilidade

- No nível mais avançado deempowerment, as informações sãoamplamente compartilhadas

- A empresa estimula com energia a autonomia dedecisões de seus funcionários

- A orientação de ação é clara: ”favoreça o cliente”- As informações são compartilhadas, resultado de uma

comunicação interna forte

- Sabem que a empresa estimula e valoriza a tomadade ações por conta própria

- Sabem que a decisão deve favorecer o cliente- Não têm receio de tomar as decisões, pois a equipe

deve funcionar sem sobrecarregar algunsprofissionais. O trabalho em conjunto requer que seconfie nos colegas e delegue responsabilidades

- A avaliação deve ser de acordo com otreinamento e compreendida pelofuncionário (regras claras). Devetambém ser igualitária

- O feedback deve ocorrer sempre- Deve-se premiar o positivo em lugar de

punir o negativo- Dinheiro é importante, mas não é o mais

importante e seu efeito é menosduradouro

- Reconhecimento sincero, plano decarreira e outros benefícios sãoimportantes

- Cobra-se aquilo que foi passado nos treinamentos- O funcionário compreende como funciona o programa- Há avaliação informal constante em decorrência da

abertura de comunicação entre todos. Avaliaçãoformal só para motoristas

- O feedback ocorre sempre- Há prêmios para quem não tiver cometido erros e para

quem atingiu as metas- Não há vantagens de salário em relação aos

concorrentes- Oferece um pacote de benefícios que inclui

alojamentos melhores e cuidado com as famílias- Há reconhecimento sincero, mas não há plano formal

de carreira

- A avaliação é constante. Os superiores avaliamsempre

- Sempre recebem feedback- O programa de benefícios por desempenho para os

motoristas tem tido excelente reposta junto aosprofissionais. Esse programa recompensa o positivo, éconhecido por todos, não concede privilégios e ofeedback é constante

- Vêem o salário como igual entre as principaisempresas de transporte rodoviário

- Reconhecem que a Águia Branca tem um diferencialnos benefícios, como ambiente interno saudável,cuidado da gerência com os funcionários e tratamentorespeitoso

- Sentem que o bom trabalho é recompensado

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141

Com

unic

ação

inte

rna

- Os funcionários precisam deinformações para realizar seu trabalho esão fonte importante de informaçõessobre os clientes e o funcionamento daempresa

- Poder falar e opinar é importante paraque o funcionário se envolva com aempresa e se sinta motivado

- Toda comunicação deve ter um retorno

- O diálogo franco e aberto é estimulado na empresa- As informações são compartilhadas e os funcionários

estimulados a participar (administração participativa)- Toda comunicação tem um retorno- Alguns funcionários têm receio de falar com a

gerência

- Sabem que têm acesso a qualquer pessoa naempresa

- sabem que serão ouvidos e que terão um retorno- Alguns ainda têm receio de falar

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Capítulo 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Águia Branca realiza muitas atividades de marketing interno de forma bastante profissional, com

ações que estão em conformidade com as recomendações da literatura. Muito embora o termo

marketing interno não tenha aparecido nas declarações e não haja um programa formal integrado

denominado marketing interno, sua filosofia e idéias estão presentes na atuação da empresa, a

começar pela ação inspiradora dos diretores e acionistas, que se colocam à disposição de todos os

colaboradores e andam entre eles para reforçar idéias como liberdade de se expressar, tratamento

respeitoso a todos os indivíduos, valorização do trabalho em equipe e a importância do

atendimento ao cliente, tudo isso constitui a base do marketing interno. Cabe ressaltar, que a

participação da alta gerência na instauração e manutenção de um sistema de marketing interno é

apontada como uma característica de fundamental importância.

Na contratação, no treinamento, no empowerment, no trabalho em equipe e na comunicação

interna, a Águia Branca representa uma empresa que vivencia as melhores práticas que alguns

autores revisados (Berry 2001, Berry e Parasuraman 1995, Grönroos 1995, Kotler 1999) apontam,

indo, algumas vezes, além do que é recomendado, como, por exemplo, no caso da integração dos

funcionários e da integração de suas famílias. Segundo a teoria levantada, recomenda-se que eles

possam se socializar para formar um time coeso e sinérgico. A Águia Branca promove a integração

entre os funcionários, mas também procura fazer com que as famílias destes interajam em

festividades e programas educacionais. Esta questão merece destaque no marketing interno da

empresa, pois revela que a Águia Branca ampliou o conceito de cliente interno e público interno ao

incluir os familiares em seus esforços. Observa-se uma extensão do consumidor interno, que

nenhum autor estudado mencionou ou sugeriu. Os benefícios destas ações necessitam ser

levantados em outros estudos. Da mesma forma, as ações sociais, que também funcionariam

como um motivo de orgulho para o funcionário, aparecem como um aspecto extra em relação à

teoria levantada, embora os funcionários não tenham se lembrado de forma direta deste ponto.

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Assim, o caso da Águia Branca apresenta-se como um exemplo de sucesso de aplicações

criteriosas do marketing interno.

Apenas em alguns aspectos, a empresa estudada parece divergir das recomendações teóricas. Na

Águia Branca, não há um lema inspirador, que os funcionários possam ter como guia de ação em

tudo o que fazem. Isso pode estar relacionado ao fato de as ações sociais não terem sido

mencionadas pelos funcionários. Um slogan que incluísse o bem estar social, poderia servir como

um divulgador desses programas e inspirar o público interno. Em verdade, há diretrizes claras,

como a segurança, o atendimento e a moral dos funcionários. A divergência em relação à teoria

levantada se dá somente quanto à forma de apresentar esses lemas ao público interno. O

assessor comercial utilizou uma frase que ele denominou de jargão interno, ele disse: “do ‘p’ ao ‘p’

- do porteiro ao presidente – todos estão aqui por causa do cliente.” Esta frase se aproxima mais

da oferta de uma idéia a ser reforçada a todo o tempo na empresa, como sugerem Berry e

Parasuraman (1995). Esta expressão possui algumas virtudes do ponto de vista da comunicação,

como simplicidade, clareza e harmonia. Como nenhum funcionário entrevistado mencionou esta

expressão, nem mesmo a coordenadora de RH, acredita-se que esta expressão não seja utilizada

com freqüência ou mesmo como lema de ação da empresa.

Outro ponto divergente, que merece destaque, é o fato de a empresa exercer uma fiscalização

rigorosa sobre seus motoristas. Berry (2001) afirma que em uma relação de confiança, esse

controle torna-se desnecessário. Vale lembrar que os próprios funcionários reconheceram que o

controle junto a benefícios por trabalhar em conformidade com as recomendações da empresa

fizeram com que eles se esforçassem em não cometer as faltas que estavam cometendo. O

controle parece não incomodar os motoristas, que o encaram de forma muito natural. Berry (2001)

faz uma observação de forma generalizada, que parece não se aplicar a alguns casos específicos,

principalmente quando a fiscalização rigorosa visa à segurança do funcionário e do cliente, ou

mesmo a alguns ambientes culturais onde o nível de escolaridade seja baixo e regras e padrões

sejam bem vindos. Desta forma, este aparente desencontro entre as idéias do autor e as ações da

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empresa talvez possa ser relevado. O único aspecto ressaltado por um motorista que o incomoda

no sistema de fiscalização é que uma forma de detectar falhas para fazer críticas deveria também

detectar acertos para fazer elogios. Este problema parece ser atenuado pelo fato de que os

funcionários citaram que há benefícios para o trabalho bem feito, de forma que o elogio e o

reconhecimento estão presentes na empresa. Sugere-se que a empresa analise esse aspecto com

cuidado.

Pode-se concluir, a partir das informações levantadas nas entrevistas, que o marketing interno na

Águia Branca é bem sedimentado. A uniformidade no discurso dos executivos e dos funcionários

mostra que a gerência tem atuado com bastante energia ao interagir com os empregados,

procurando incutir neles pensamentos e filosofias de ação da empresa. Essa administração

atuante é reconhecida no discurso dos funcionários que apontaram que a empresa enfatiza muito

suas diretrizes, como a segurança, o diálogo e o trabalho em equipe. Disseram, também, que a

empresa cobra muito que o trabalho esteja em conformidade com essas diretrizes. Interessante

observar que a cobrança rígida ocorre juntamente com um ambiente de trabalho familiar, em que o

diálogo com todos é estimulado. Isto parece sugerir que pressão não é opressão; existe liberdade

para trabalhar, desde que respeitadas as orientações da gerência.

Inter-relações entre as atividades do marketing interno

As atividades principais do marketing interno apontadas por Berry e Parasuraman (1995) e

apresentadas na revisão bibliográfica são o recrutamento e contratação, ambiente interno e

motivação, treinamento, empowerment, avaliação e recompensa e, por fim, comunicação interna.

Todas estão relacionadas fortemente entre si, influenciando-se mutuamente, e , em geral, de forma

positiva. A contratação eficiente, por exemplo, irá facilitar o desempenho de todas as outras

atividades, pois indivíduos mais habilitados àquele tipo de serviço estarão trabalhando na empresa.

A contratação pode ainda servir como um motivador, caso se dê preferência às pessoas que já

trabalham na empresa. O treinamento, que deve ser ministrado aos funcionários, é uma

oportunidade de doutriná-los segundo a filosofia da empresa e também funciona como um

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excelente prêmio por bom desempenho. O treinamento é um pré-requisito para a autonomia, que

por sua vez é importante para a motivação. A criação de um ambiente interno favorável depende

da existência de uma comunicação interna eficiente, sentimento de trabalho em equipe, avaliações

e benefícios que reforcem o positivo. Muitas outras inter-relações entre as atividades podem ser

inferidas. Desta forma uma representação gráfica das inter-relações entre as atividades seria um

sistema em que cada atividade é conectada a todas as demais, através de setas de duplo sentido,

devido à retroalimentação no sistema ( figura 6.1). Um sistema bastante complexo, que para ser

analisado precisa ser decomposto em partes mais simples.

Figura 6.1 – Sistema complexo com relações de duplo sentido entre todas as atividades

relacionadas ao marketing interno

Observa-se na empresa estudada que a motivação é uma conseqüência esperada quando as

demais atividades são feitas de forma correta. A motivação, ou seja, a energia, o desejo e o prazer

de trabalhar, pode ser vista como ponto de interseção ou de convergência das outras atividades do

marketing interno da Águia Branca. Mesmo a avaliação. Um funcionário relatou que a avaliação é

importante para que ele tenha o desejo de se esforçar mais e melhorar seu trabalho, se não

TREINAMENTO

RECRUTAMENTO

EMPOWERMENT

AVALIAÇÃO

BENEFÍCIOS

COMUNICAÇÃOINTERNA

TRABALHO EMEQUIPE

AMBIENTEINTERNOMOTIVAÇÃO

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houvesse alguém para apreciar seu trabalho, e um colega que não se esforçasse como ele tivesse

o mesmo retorno, ele se acomodaria. Assim, pode-se representar graficamente as inter-relações

entre as funções do marketing interno, com a motivação no centro e as demais atividades

convergindo para ela, o que representa uma parte de um quadro muito mais complexo

representado na figura anterior. Estas relações estão representadas na Figura 6.2.

Figura 6.2 - Motivação como ponto de convergência das demais atividades de marketing

interno

Na Águia Branca a comunicação interna tem destaque. O ambiente de conversa informal e diálogo

aberto são apresentados como uma realidade em todos os níveis da empresa. Os funcionários

relataram que têm acesso a qualquer dependência da organização e também têm a liberdade de

se dirigir a todas as pessoas, seja um acionista ou um diretor. Isso sem precisar marcar hora com

antecedência. Alguns empregados ainda possuem receio de se dirigir à gerência. Os executivos

sabem disso e declararam atuar firmemente para melhorar esse quadro. Percebe-se, assim, que a

TREINAMENTO

RECRUTAMENTO

EMPOWERMENT

AVALIAÇÃO

BENEFÍCIOS

COMUNICAÇÃOINTERNA

TRABALHO EMEQUIPE

AMBIENTEINTERNO

MOTIVAÇÃO

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comunicação interna na empresa vai além das recomendações dos autores estudados. A empresa

não só dá liberdade para que os funcionários se expressem, mas também atua encorajando-os,

incentivando a participação, o diálogo, a liberdade de falar com qualquer pessoa. Pode ser que

diferenças culturais e educacionais expliquem o fato dos autores estudados não considerarem este

problema.

O principal canal de comunicação interna na Águia Branca parece ser o diálogo, um canal eficiente

e amplamente utilizado que traz muitos benefícios à empresa. A equipe de marketing e a de

recursos humanos, por exemplo, interagem constantemente para que cada setor complemente o

trabalho do outro junto aos funcionários. O marketing deseja difundir uma orientação para o cliente

por toda a empresa, principalmente no pessoal da linha de frente. Os dois setores juntos podem

definir treinamentos e programas de avaliação e recompensa para motivar os funcionários a agir

em favor do cliente. A associação entre marketing e RH, que a teoria levantada recomenda

amplamente para o sucesso do marketing interno, ocorre naturalmente na companhia em

decorrência de sua política de comunicação interna.

A comunicação interna baseada na liberdade de expressão atua diretamente em outras atividades

de marketing interno na empresa. Primeiramente a liberdade de se expressar e de dar idéias é um

importante requisito para a motivação e para a criação de um ambiente de trabalho de boa

qualidade. A liberdade de falar aproxima os colegas de trabalho, favorecendo o trabalho em

equipe. A avaliação dos funcionários ocorre a todo tempo na empresa, com feedback instantâneo,

pois os gerentes possuem liberdade de falar e orientar seus subordinados. O próprio funcionário

pode avaliar seu chefe, pois pode se dirigir a ele sem constrangimento, ou ir ao chefe do seu chefe

caso tenha alguma queixa mais complicada. O diálogo aberto facilita o treinamento dos

funcionários, que podem pedir ajuda ao chefe ou ao RH para superar alguma dificuldade, gerando

um treinamento informal requisitado pelo próprio funcionário. Essa possibilidade de treinamento

on-the-job é importante para que o funcionário tenha segurança para exercer sua autonomia, o

empowerment, e assim resolver os eventuais problemas por conta própria. A liberdade de falar e

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suas conseqüências positivas fazem parte também do pacote de benefícios que os funcionários

recebem, sendo apontado por eles como um grande diferencial da Águia Branca em relação às

empresas concorrentes. A relação entre comunicação interna e recrutamento decorre do fato de

que na empresa o primeiro recrutamento é interno e depende de uma boa divulgação dentro da

empresa, para que apareçam candidatos. Como sempre aparecem muitos candidatos, segundo os

executivos, a comunicação interna, baseada em diálogo e apoiada por outros canais, se mostra

bastante eficiente. Pode-se dizer que a comunicação interna da Águia Branca é um ponto de

interseção e convergência entre as atividades, assim como a motivação. A diferença é que a

motivação aparece como um resultado das atividades bem feitas, tendo o principal sentido da

relação indo das atividades para a motivação, já a comunicação interna eficiente é um fator que

apoia, dá suporte para que as demais atividades possam se desenvolver bem, e o principal sentido

da relação parte da comunicação interna para as demais atividades. Estas inter-relações estão

representadas graficamente na Figura 6.3.

Figura 6.3 - Comunicação interna como suporte para as demais atividades de marketing

interno

TREINAMENTO

RECRUTAMENTO

EMPOWERMENT

AVALIAÇÃO

BENEFÍCIOS COMUNICAÇÃOINTERNA

TRABALHO EMEQUIPE

AMBIENTEINTERNO

MOTIVAÇÃO

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Do exposto, observa-se que o presente trabalho contribui para consolidar o marketing interno como

um corpo teórico de importância central para a competitividade em serviços. A aplicação de seus

conceitos representa a disseminação por toda a empresa de uma orientação para marketing, com

foco na prestação de um serviço excelente. Isso implica que o marketing interno deve estar

presente na cultura da empresa, fazendo parte da sua estratégia de atuação no mercado. O

marketing interno representa um campo de estudo bastante rico e dinâmico, que segue evoluindo.

Isso pode ser observado nas hipóteses sugeridas a partir deste estudo exploratório:

• ações sociais não ajudam a formar um sentimento de orgulho no funcionário de linha de frente;

• um lema de ação que sirva como motivador é importante para valorizar o trabalho dos

funcionários;

• um lema de ação que inclua as ações sociais poderia alavancar o efeito destas, como motivo

de orgulho para o empregado;

• controle rígido pode ser bem aceito pelos funcionários;

• o envolvimento da família dos funcionários nos programas de integração traz benefícios

adicionais em relação aos programas que incluem somente a equipe

• as diferenças de formação e educação inibem os funcionários na comunicação com seus

superiores.

Observa-se, por fim, que as particularidades do funcionário e do mercado brasileiro em relação

aos países onde a teoria é formulada e desenvolvida fazem com que estudos de campo – que

podem revelar esses detalhes e mostrar como as empresas nacionais estão aplicando os

conceitos – tenham muito a contribuir para o desenvolvimento de um marketing interno mais

adaptado para a realidade do país.

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Sugestões para pesquisas futuras

As dissertações de Chiesa (2001) e Franca (2002) procuraram observar as políticas

organizacionais que pudessem ser caracterizadas como programas de marketing interno. A

primeira coletou dados em cinco hospitais do Rio de Janeiro, enquanto o segundo fez uma

pesquisa em três hotéis, com quatro e cinco estrelas, da mesma cidade. Os dois trabalhos

procuraram coletar dados no lado institucional. Os autores sugeriram que uma seqüência natural

de suas pesquisas seria observar a percepção dos funcionários sobre as atividades do marketing

interno. O presente trabalho procurou incluir os resultados práticos do marketing interno no seu

público-alvo, o que representa uma continuidade destas duas pesquisas precedentes.

Dentre as possíveis pesquisas referentes ao tema, seria de grande valia trabalhos que façam a

análise do programa de marketing interno em empresas semelhantes à estudada, pois essas

pesquisas representariam uma possibilidade bastante rica para comparar os efeitos de programas

diferenciados, podendo-se assim observar melhor os resultados das recomendações teóricas na

prática.

Estudos que incluam o público externo, analisando a percepção do cliente acerca do serviço

prestado, representam uma continuidade nos efeitos de um programa de marketing interno ou os

efeitos de sua ausência. Na seqüência da cadeia serviço-lucro (Figura 2.4) poderia ser avaliado o

impacto na lucratividade de um programa de marketing interno em uma empresa de serviços, para

que se averiguasse o objetivo final das ações voltadas para o público interno.

Pesquisas quantitativas poderiam ser implementadas para averiguar as hipóteses levantadas nesta

etapa exploratória. Por exemplo, verificar o impacto das ações sociais no orgulho que o funcionário

sente em trabalhar na empresa ou a questão do controle rígido como fator de descontentamento

entre funcionários.

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Pode-se ainda sugerir uma análise quantitativa quanto à compreensão do termo marketing interno

e o uso de suas técnicas pelas empresas brasileiras, verificando se as ações voltadas para o

público interno possuem importância estratégica para a atuação da empresa no mercado.

Por fim, dada a escassez de trabalhos empíricos sobre o tema, pesquisas que investiguem os

aspectos do marketing interno, exploratórias ou explicativas, poderiam ser indicadas como

pesquisas futuras que poderiam trazer contribuições importantes.

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Capítulo 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Anexo I - Roteiro das entrevistas com os executivos

1) Como é o ambiente de trabalho na empresa?

2) Quais são as filosofias de trabalho e os valores transmitidos aos funcionários?

3) Como a empresa vê seu cliente?

4) Como a importância do cliente para a empresa é enfatizada para os funcionários?

Recrutamento e contratação

5) Esta empresa é um bom lugar para se trabalhar? Por quê? Como a empresa compete no

mercado de trabalho?

6) Que habilidades a empresa considera mais importantes em seus candidatos? O que se avalia

nos processos de seleção?

7) Como essas características foram determinadas? Por meio de pesquisas junto aos clientes?

8) Há características que dependem do cargo? Como elas são determinadas?

9) Como é o processo de seleção na empresa?

Ambiente Interno

10) Como é o ambiente interno? O que é feito para construir um ambiente de trabalho de boa

qualidade?

11) Como é feita a socialização dos funcionários?

12) Como é feita a motivação dos funcionários?

13) Eles sentem orgulho de trabalhar nessa empresa?

14) Como o trabalho em equipe é estimulado? Como?

15) Como é a relação dos funcionários com seus gerentes?

16) São realizadas pesquisas para identificar as necessidades, carências, opiniões e desejos dos

funcionários?

Treinamento

17) Como são os programas de treinamento na empresa? Duração? Freqüência?

18) O que é ensinado nestes programas? Habilidades técnicas? Valores e filosofia da empresa?

habilidades interpessoais?

19) Quais são os métodos usados no treinamento?

Como os gerentes são envolvidos no treinamento e na preparação dos funcionários?

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Empowerment

20) O funcionário possui alguma autonomia no trabalho?

21) O funcionário é estimulado a agir para resolver os problemas dos clientes?

22) O funcionário participa de decisões na empresa?

Avaliação e recompensa

23) Como são os sistemas de avaliação do desempenho dos funcionários?

24) Que métodos são utilizados? O que é avaliado? Qual a freqüência?

25) O funcionário conhece o sistema de avaliação? Ele sabe o que é cobrado dele? Ele recebe um

feedback do resultado?

26) Como é a remuneração da empresa? Há plano de carreira? Bônus?

27) Há recompensas oferecidas pela empresa pelo desempenho excelente? Quais?

28) Há o reconhecimento por um bom trabalho dentro da empresa? Como é feito?

Comunicação interna

29) Como é feita a comunicação interna na empresa? Que veículos são utilizados? Que

informações a gerência transmite aos funcionários?

30) Como o funcionário pode se comunicar com a administração?

31) A empresa dá “voz ativa” aos seus funcionários? Eles são ouvidos?

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Anexo II - Roteiro das entrevistas com os funcionários

1) Como é trabalhar na empresa? Como é o ambiente de trabalho?

2) Qual é o “lema” da empresa? Quais valores a empresa considera importantes? E como ela

procura transmitir isto a você?

3) Como você vê o cliente da empresa?

4) Como a empresa procura ressaltar a importância do cliente?

Recrutamento e contratação

5) Por que esta empresa é um ótimo lugar para se trabalhar?

6) Que características a empresa valoriza em seus funcionários?

7) Como foi o processo de seleção que você passou para entrar na companhia?

8) Por que você acredita que a empresa te contratou?

Ambiente Interno

9) Como é o ambiente de trabalho?

10) Como é a interação entre os colegas de trabalho e os demais funcionários da empresa?

11) Você se sente motivado com seu trabalho? Por que?

12) Você sente orgulho de trabalhar na empresa? Por que?

13) Nesta empresa as pessoas trabalham em equipe?

14) Como é sua relação com seu gerente? Você tem facilidade de se comunicar com ele?

Treinamento

15) Como é o treinamento na empresa? Que métodos são utilizados?

16) O que é ensinado nestes programas?

17) O que você aprende nestes programas é importante para seu trabalho?

18) Seus gerentes o apoiam a aplicar os conhecimentos adquiridos?

Empowerment

19) Você tem autonomia para tomar decisões na empresa?

20) Que atitudes você já teve que tomar em situações inéditas para resolver os problemas dos

clientes?

21) Você participa de decisões na empresa?

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Avaliação e recompensa

22) Como o seu desempenho na empresa é avaliado? O que é avaliado?

23) Você recebe um retorno do resultado da avaliação?

24) Que benefícios estão incluídos na sua remuneração?

25) Há recompensas para um trabalho excelente na empresa?

26) Você sente que seu trabalho é reconhecido pela empresa? Como?

Comunicação interna

27) A gerência transmite as informações necessárias para que você execute bem seu trabalho?

Que informações ela passa aos funcionários?

28) Como você pode se comunicar com a administração para dar sugestões ou reivindicar algo?

Você sente que sua opinião é ouvida?