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PARCERIAS E OPORTUNIDADES PARA A VIABILIZAÇÃO DE PROJETOS VOLTADOS À MELHORIA DA GESTÃO EM CONTEXTO LOCAL E O CASO DE N ITERÓI GIOVANNA GUIOTTI TESTA VICTER M ARÍLIA SORRINI PERES ORTIZ FLÁVIA ABRANCHES I ANA COSTA

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PARCERIAS E OPORTUNIDADES PARA A VIABILIZAÇÃO DE PROJETOS VOLTADOS

À MELHORIA DA GESTÃO EM CONTEXTO LOCAL E O CASO DE NITERÓI

GIOVANNA GUIOTTI TESTA VICTER MARÍLIA SORRINI PERES ORTIZ

FLÁVIA ABRANCHES IANA COSTA

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Painel 28/084 A coordenação de estratégias inovadoras para a melhoria da gestão pública no município de Niterói

PARCERIAS E OPORTUNIDADES PARA A VIABILIZAÇÃO DE

PROJETOS VOLTADOS À MELHORIA DA GESTÃO EM CONTEXTO LOCAL E O CASO DE NITERÓI

Giovanna Guiotti Testa Victer

Marília Sorrini Peres Ortiz

Flávia Abranches Iana Costa

RESUMO

No cenário brasileiro cuja descentralização administrativa para os municípios ainda

enfrenta desafios como o desequilíbrio fiscal e a dependência financeira de outros entes federativos, ganha relevo na agenda de questões públicas a celebração de

parcerias e financiamentos capazes de viabilizar as políticas públicas em contexto local. Partindo desta problemática, o artigo aborda as estratégias para a captação de recursos adotadas pela SEPLAG Niterói para implementar iniciativas voltadas à

eficiência e eficácia da administração pública. Entre as estratégias adotadas estão : a parceria junto ao movimento Brasil Competitivo (MBC) e aos empresários

niteroienses da Associação Conselho Empresarial e Cidadania (ACEC) para financiar a elaboração do Plano Niterói que Queremos para os próximos 20 anos; o termo de cooperação com o Governo do Estado para implantar um programa voltado

à informatização da gestão pública; e o acesso à linha de crédito PMAT do BNDES. Como condições preponderantes para a captação de recursos destacam-se: a centralidade política da agenda de gestão, o comprometimento com a gestão fiscal

responsável e a entrega de resultados tangíveis, como o aumento da arrecadação e a qualidade do gasto.

3

1 INTRODUÇÃO

O pacto federativo estabelecido desde a promulgação da Constituição

Federal de 1988 logrou consagrar a descentralização político-administrativa e, como

consequência, a expansão da autonomia dos municípios na implementação das

políticas públicas. Ao passo que este novo arranjo expandiu os recursos dos

municípios, suas responsabilidades também se ampliaram significativamente no

atendimento às demandas sociais. Como exemplos desta maior participação direta

na prestação de serviços têm-se: a municipalização do ensino infantil e fundamental

na área da educação; e a gestão plena e semiplena da saúde – por meio do SUS –

e da assistência social – por meio do SUAS.

A ideia de promover a descentralização foi suportada pelo intuito de

restaurar a federação por meio do fortalecimento do poder político e aumento da

capacidade tributária dos entes subnacionais, além de promover o aprofundamento

da democracia com o fomento à participação das comunidades locais no processo

decisório das políticas públicas. Convém destacar que esta prerrogativa fora

adotada não apenas pelo Brasil, como também se tornou parte de uma série de

reformas ocorridas em diversos países ao longo da década de 80 produzindo aquilo

que Arretche (1996) caracteriza como “um grande consenso em torno da

descentralização”.

Segundo a autora, a visão otimista em torno do processo de

descentralização deve ser problematizada sob um prisma mais analítico que leve em

conta os limites do modelo adotado no caso brasileiro. Nas suas palavras:

(...) para além dos esforços de descentralização de alguns programas

públicos e dos resultados descentralizados que as iniciativas dos níveis subnacionais têm ensejado, não existe uma estratégia ou programa nacional de descentralização que, comandado pela União, proponha um

rearranjo das estruturas políticoinstitucionais do Estado (ARRETCHE, 1996; p. 12).

No bojo dos dilemas enfrentados pelos entes subnacionais diante do

modelo de descentralização brasileiro, ganharam relevo : a “guerra fiscal” resultada

da maior autonomia tributária e o aumento da responsabilização na gestão das

contas públicas. Nesse cenário, a compatibilização entre recursos suficientes e

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geridos com responsividade frente à demanda crescente dos municípios na

prestação de serviços tornou-se um grande desafio compartilhado pelas

administrações municipais.

Nos anos subsequentes ao período de redemocratização e com o

aprofundamento do modelo de descentralização brasileiro, a luta pela

universalização dos serviços básicos de educação, saúde e assistência, as

responsabilidades pelas políticas de habitação, conservação e a demanda por mais

investimentos na infraestrutura urbana lograram ampliar significativamente a

responsabilidade dos municípios e, consequentemente, seu endividamento face ao

enorme crescimento das demandas sociais. A título ilustrativo, conforme a pesquisa

de Afonso (1994, p. 14 apud ARRETCHE, 1996) aponta, entre os anos de 1988 e

1991 o número de matrículas nos municípios correspondente ao ensino de 1o grau

aumentou a uma taxa média anual de 3.1 por cento – o que representa um índice

bastante superior ao da expansão demográfica.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar no 101 de 2001)

passou a estabelecer um papel fundamental na saúde financeira das contas públicas

para garantir o equilíbrio da política macroeconômica do país. Parte das críticas

atribuídas aos limites e vinculações constitucionais reforçados pela Lei de

Responsabilidade Fiscal reside no fato de que amarram o processo de

descentralização na medida em que engessam o orçamento e estabelecem

parâmetros comuns a entes subnacionais com características bastante diferentes

entre si.

Em relação à questão da vinculação da receita, Afonso (1994, p. 374)

aponta que esta deve ser compreendida como um instrumento valioso para garantir

a viabilização da transferência de encargos do Governo Central para os

subnacionais, desde que flexível. Em sua opinião:

O melhor seria fixar tais vinculações nas leis que comandam o processo orçamentário brasileiro – as do Plano Plurianual e das Diretrizes Orçamentárias. Com fonte de recursos definidas, repasses regulares e

automáticos, seguindo critérios de rateio pré-fixados em lei e de cálculo público (acabando com barganhas políticas ad hoc e com convênios), seriam montados fundos já comentados anteriormente para financiar as

atuais despesas federais, que passariam para execução estadual ou municipal. As proporções das receitas ao desaparecimento a longo prazo, de modo que, nesse prazo, as transferências fossem substituídas por

receitas próprias dos governos subnacionais.

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Como abordado, ainda que nesses últimos anos o aumento da

arrecadação própria dos municípios tenha se ampliado significativamente

(AFFONSO, 1994; AFONSO, 1992), a dependência financeira em relação ao

repasse das transferências vinculadas é premente no atual contexto dos entes

subnacionais. Isso traz aos entes municipais grande dificuldade de priorização no

investimento de áreas-chave para o desenvolvimento como infraestrutura e

modernização administrativa e fazendária em prol da eficiência e accountability da

máquina pública.

Não por acaso a grande maioria dos 5.564 municípios brasileiros

apresenta estrutura administrativa defasada e incapacidade de gerenciamento

eficiente de suas informações. De acordo com Bravo e Mariano (2006, p. 70) a baixa

capacitação do funcionalismo público em técnicas de gestão, poucos instrumentos

motivacionais e a falta de instrumentos eficazes de controle e gestão retardam, de

forma significativa, o desenvolvimento dos municípios.

O cenário colocado para os municípios no que diz respeito a sua

capacidade de investimento na melhoria da gestão administrativa e fiscal é

complexo. De um lado, cobra-se maior autonomia fiscal, compromisso com a

responsabilidade fiscal e com a transparência das contas públicas. De outro, faltam

recursos disponíveis para viabilizar investimentos voltados ao aprimoramento da

gestão pública capazes de garantir que tais exigências sejam cumpridas.

Com a prerrogativa de contribuir para que os municípios possam modificar

esse cenário e promover um movimento virtuoso de priorização da agenda de

gestão pública em prol do incremento de suas capacidades administrativas e de

arrecadação, este artigo apresenta estratégias recentes adotadas pela Secretaria de

Planejamento, Modernização da Gestão e Controle (SEPLAG) de Niterói que têm

garantido a realização de projetos voltados a eficiência e eficácia de suas práticas

de gestão pública.

A ideia central do texto é apoiar o desenvolvimento da administração

pública municipal apresentando as motivações que levaram à formulação de

projetos voltados ao aprimoramento da gestão pública no caso de Niterói e o

percurso para garantir que fossem viabilizadas por meio da celebração de parcerias

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e financiamentos. O trabalho também elenca desafios enfrentados e aprendizados

estabelecendo uma análise comparativa em relação às condições e garantias

necessárias pelo município na efetivação das parcerias.

O caso de Niterói é abordado com base na experiência dos gestores e

técnicos da SEPLAG envolvidos nas iniciativas apresentadas, incluindo o momento

de pleitear as parcerias, até a execução dos projetos e prestação de contas. Como

fonte de referência para a apresentação das estratégias relatadas foram utilizados

documentos institucionais da SEPLAG e dos parceiros/financiadores.

Além desta introdução, o artigo possui mais duas seções. Primeiramente

o trabalho aborda as três estratégias adotadas pela SEPLAG para viabilizar os seus

projetos prioritários nas áreas de planejamento, controle e modernização da gestão

para, posteriormente, estabelecer um comparativo entre o formato das

parcerias/financiamentos em termos de montante de recursos, requisitos para

pleitear os recursos e prestação de contas.

É conveniente ressaltar que o artigo não intenta dar o “caminho das

pedras” para os municípios, mesmo porque as realidades e necessidades de cada

ente variam e as alternativas de financiamento e parcerias nem de longe se esgotam

dentro das possibilidades existentes. Antes, enseja estimular o registro e a troca de

experiências de referência partindo da crença de que as estratégias retratadas

podem ser úteis aos municípios que desejam aprofundar suas iniciativas na área de

gestão, tendo em vista a escassez de recursos disponíveis para o investimento de

seu desenvolvimento no cenário brasileiro.

2 ESTRATÉGIAS PARA A VIABILIZAÇÃO DE PROJETOS VOLTADOS AO

FORTALECIMENTO DA GESTÃO EM NITERÓI

Niterói possui uma população de aproximadamente 491 mil habitantes

com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de R$11,2 bilhões (IBGE, 2012),

figurando como o 5o município com maior PIB do Rio de Janeiro e o 41o município

mais rico do Brasil. O município conta com um IDHM de 0,837 (IBGE, 2010), o que

lhe confere o título de sétima melhor cidade em qualidade de vida do país.

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Apesar de indicadores de desenvolvimento econômico e social positivos

em relação a maioria dos municípios brasileiros, na última década Niterói o aumento

do dinamismo econômico e o crescimento demográfico da cidade não foram

acompanhados de maneira alinhada aos investimentos em infraestrutura, melhoria

da mobilidade urbana e oferta de serviços públicos de qualidade. Ademais, a

situação fiscal do município encontrava-se em situação delicada.

Com o advento da atual gestão em 2013, o prefeito Rodrigo Neves

estabelece como prioridade política a realização de um “choque de gestão” e o

ajuste fiscal no poder público municipal. Para tanto, cria a SEPLAG cuja atuação

passa a ser estabelecida a partir de quatro iniciativas prioritárias: a) a criação de

uma cultura de planejamento no município com metas de curto, médio e longo

prazos para todos os órgãos; b) implantação de um software de gestão integrada (e-

cidade) e modernização da estrutura tecnológica; c) a implementação de iniciativas

voltadas ao aumento da transparência; e d) o controle e a auditoria das contas

públicas.

Tais demandas exigiram da Prefeitura a busca de recursos capazes de

viabilizá-las e a SEPLAG assumiu para si a tarefa de buscar formas de implementar

seus projetos por meio da efetivação de parcerias e financiamentos de natureza

diversas que não comprometessem o ajuste das contas públicas.

Nesta seção essas estratégias adotadas pela SEPLAG para viabilizar os

seus projetos estratégicos na área de gestão são apresentadas buscando destacar

em cada caso: a problemática que impulsionou a criação do projeto, a localização da

oportunidade de parceria/financiamento, os termos contratuais celebrados e o atual

estágio de desenvolvimento da iniciativa.

2.1 A Niterói que Queremos para os próximos 20 anos e o apoio do setor privado

Quando a atual gestão assumiu o governo, em janeiro de 2013, promoveu

um Plano de Metas de 100 dias que teve como propósito a definição de 90 objetivos

em diversas áreas da administração e acompanhamento de metas baseadas

principalmente no ajuste fiscal e reestruturação da máquina pública.

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O plano emergencial teve uma taxa de cumprimento de 90% e

impulsionou a criação de um novo plano de ação para 2013 no qual as Secretarias,

Fundações e Autarquias definiram cinco metas a serem cumpridas até o final do

primeiro ano de governo. Três metas refletiram objetivos finalísticos das áreas e

outras duas a medidas de ajuste fiscal e modernização da gestão. Os planos dos

órgãos e entidades municipais foram subdivididos em três eixos: Social;

Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável; e Gestão Pública com a finalidade de

facilitar o monitoramento integrado das áreas de resultado.

Essas primeiras iniciativas buscaram estabelecer a cultura de

planejamento na administração pública municipal e impulsionaram a ideia de realizar

um Planejamento Estratégico de Desenvolvimento de longo prazo para cidade de

Niterói nos próximos 20 anos em consonância com as necessidades dos cidadãos

niteroienses. Para viabilizar esse projeto, a SEPLAG buscou referências de

trabalhos robustos de planejamentos estratégicos já realizados por outros governos

no país e oportunidades de financiamento.

No levantamento de estratégias capazes de suportar a elaboração de um

desse projeto, a SEPLAG identificou oportunidade de parceria junto ao Movimento

Brasil Competitivo (MBC). A organização qualificada como Organização da

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) tem como objetivo apoiar iniciativas

em diferentes governos voltadas à melhoria da gestão e comprometidas com

estratégias de longo prazo, independentemente de mudanças governamentais. Para

tanto, promove a intermediação para a captação de recursos privados para

investimento e comparti lha metodologias bem sucedidas na área de gestão com

entidades do setor público.

Localizada a oportunidade de parceria, a SEPLAG entrou em contato com

representantes do MBC em Brasília para estreitar necessidades e formalidades. A

partir disso, foi estruturado um modelo de parceria ideal para o município de Niterói

desenvolver o seu planejamento estratégico de longo prazo.

O município então formalizou sua adesão ao “Programa Modernizando a

Gestão Pública” do MBC por meio de um Termo de Cooperação no qual a

organização disponibilizou a Prefeitura de Niterói um projeto para a elaboração de

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um planejamento estratégico de longo prazo inteiramente financiado por doadores

privados, empresas ou entidades interessados em melhorar a gestão pública local.

Por sua vez, a Prefeitura ficou responsável por disponibilizar infraestrutura e

recursos humanos, sendo o agente principal mobilizador da iniciativa privada para a

captação de recursos.

A captação de recursos feita por meio de fundraising junto aos

empresários locais contou com o apoio da Associação Conselho Empresarial e

Cidadania de Niterói (ACEC). A Associação congrega empresas e entidades de

classe que representam mais de 90% do PIB do município. A ACEC é apartidária e

sem fins lucrativos e tem como valores a independência para atuar como

comunidade representativa dos empresários de Niterói, além do compromisso com a

melhoria da qualidade de vida e da sustentabilidade social, econômica e ambiental

do município. O processo de captação de recursos para a viabilização do projeto de

construir um planejamento estratégico para o município foi logrado com êxito. Foram

captados R$ 1.382.500,00 para o projeto de planejamento de longo prazo de Niterói.

Para a execução do projeto no município de Niterói, o MBC firmou

Contrato de Prestação de Serviços com a consultoria Macroplan para oferecer

respaldo técnico na execução do projeto. A Macroplan foi escolhida tendo em vista

expertise acumulada no apoio a diversos projetos nos três níveis de governo –

federal, estadual e municipal. Dentre os trabalhos realizados na esfera municipal, a

Macroplan foi responsável pela elaboração do projeto “Cenários e Planejamento

Estratégico 2010-2030 e Implantação da Gestão Estratégica Orientada para

Resultados na Prefeitura de Belo Horizonte” – referência para o modelo adotado

por Niterói.

Como contrapartida, a Prefeitura comprometeu-se a prestar contas por

meio das reuniões periódicas, a fim de exibir os produtos e os avanços do projeto

aos financiadores. A cada três meses, o comitê de liderança do projeto se reunia

para apresentar os principais resultados, prestar contas aos patrocinadores e

garantir o cumprimento de todos os procedimentos demonstrados anteriormente.

Além disto, como forma de garantia da qualidade da execução do projeto, todas as

principais tomadas de decisões aconteciam nestas reuniões.

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O Planejamento Estratégico então intitulado “Niterói que Queremos 2033”

foi desenvolvido em duas etapas. Primeiramente foi realizado um diagnóstico

profundo da situação socioeconômica da cidade. Posteriormente, iniciou-se a etapa

participativa do Plano, por meio da realização de uma pesquisa com mais de cinco

mil pessoas na internet, da escuta das sugestões de quarenta personalidades da

cidade (líderes políticos, artistas, esportistas, professores, etc.), de um congresso

com mais de mil pessoas e de um concurso de desenho e redação do qual

participaram cinco mil crianças com propostas para a cidade.

Na manhã de 22 de novembro de 2014, dia do aniversário de 441 anos de

Niterói, a prefeitura lançou no Teatro Municipal, o “Plano Niterói que Queremos

2033”. Com o intuito de promover Niterói no período de longo prazo como “A melhor

cidade do Brasil para se viver e ser feliz”, o Plano Niterói que Queremos apresenta

os indicadores, os projetos e as metas de curto, médio e longo prazo incorporando

as sugestões levantadas na etapa de escuta pública.

As metas transformadoras do Plano Estratégico foram divididas em sete

grandes áreas de resultado: Niterói Mais Organizada e Segura (mobilidade,

desenvolvimento e ordenamento urbano e segurança); Saudável (saúde,

saneamento básico e gestão de resíduos); Escolarizada e Inovadora (educação e

ciência e tecnologia); Próspera e Dinâmica (desenvolvimento econômico e inserção

produtiva); Vibrante e Atraente (meio-ambiente, cultura, esporte, lazer e

entretenimento); Inclusiva (igualdade de oportunidades); e Eficiente e Comprometida

(gestão pública, integração regional).

Os objetivos de curto prazo foram incluídos em 32 projetos estruturadores

que deverão ser concluídos até 2016, diretamente vinculados às sete áreas de

resultado. Entre eles, tornar Niterói a primeira cidade do Brasil com mais de 500 mil

habitantes a ter todas as crianças na educação infantil em horário integral, 100% da

população mais vulnerável economicamente coberta pelo programa Médico de

Família e possuir 100% de todas as regiões e bairros da cidade com água tratada e

esgoto tratado e coletado.

11

Após o lançamento do Plano, os objetivos agora giram em torno do

monitoramento das metas, que são realizados através da Coordenação do Núcleo

de Gestão Estratégica da Prefeitura e podem ser consultadas através do portal

Niterói Feita por Você (http://niteroifeitaporvoce.com.br/), oferecendo as informações

à visão de futuro que norteia as ações estratégicas da administração municipal.

A etapa atual abrange a passagem da elaboração do “Plano Niterói que

Queremos 2033” para um efetivo processo de gestão e monitoramento em tempo

real das ações estratégicas. O governance do plano está sendo realizado com base

em um Manual de Gestão Estratégica Orientada para Resultados, por meio de um

Sistema Informatizado de Gestão.

Atualmente o desafio colocado é implementar o Plano no município de

Niterói e garantir sua sustentabilidade e perenidade. Para tanto, diversos

empréstimos estão sendo celebrados com órgãos como o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID) e Cooperação Andina de Fomento (CAF) para garantir a

realização dos projetos estruturadores do Plano nas áreas finalísticas, bem como o

monitoramento intensivo do Plano por um Escritório de Gerenciamento de Projetos

ligado diretamente ao Gabinete do Prefeito.

Especificamente no que diz respeito à parceria com o MBC, convém

destacar que foi assinado um termo aditivo que garante condições de financiamento

para que a Prefeitura de Niterói implemente no município o modelo de Gestão para

Resultados confirmando que os projetos estruturadores do “Plano Niterói que

Queremos 2033” saiam do papel e sejam uma realidade cada vez mais presente da

administração pública nos próximos anos.

2.2 O software livre de modernização da gestão e-cidade e o modelo de articulação intergovernamental da parceria para sua implantação

Quando a atual gestão da Prefeitura de Niterói assumiu o governo, em

janeiro de 2013, foi realizado um diagnóstico das contas públicas e dos instrumentos

de gestão. O diagnóstico detalhou a existência de um passivo de R$ 573 milhões,

restos a pagar de R$ 100 milhões e folha de pagamento de dezembro em atraso no

valor de R$ 40 milhões. Também foi constatado um grande aumento da dívida

consolidada que evoluiu de R$ 67 milhões para R$ 433 milhões em apenas quatro

anos, entre 2008 e 2011.

12

Nesse mesmo diagnóstico, uma avaliação minuciosa dos ativos de

tecnologia, dos sistemas de protocolo, gestão, recursos humanos, tributário, fiscal e

controle mostrou que não havia qualquer integração entre eles. Além de

equipamentos obsoletos, a Prefeitura contava com um quadro de infraestrutura

lógica, elétrica e de refrigeração totalmente incompatível com as necessidades

básicas para a implantação de qualquer sistema ou equipamentos que

promovessem a integração das informações.

O diagnóstico demonstrou a coexistência de mais de 40 sistemas de

protocolo, 11 sistemas de folha de pagamento e 10 sistemas contábeis. Por sua vez,

o controle e a contabilidade pública operavam sendo geridos e consolidados em

planilhas de Excel. Ademais, foi detectada uma enorme fragilidade da segurança de

dados sigilosos e nenhuma ferramenta que permitisse garantir a transparência da

gestão com dados atualizados e fidedignos.

Diante de tal quadro, diversas reuniões foram realizadas entre as equipes

técnicas da Prefeitura de Niterói, incluídas as Secretarias de Planejamento,

Modernização da Gestão e Controle (SEPLAG), Administração, Fazenda, Ciência e

Tecnologia e a equipe técnica do Centro de Tecnologia da Informação e

Comunicação do Estado do Rio de Janeiro (PRODERJ) para realizar um minucioso

levantamento das necessidades de infraestrutura para implantação de um sistema

de gestão integrado, bem como para a construção de um Plano Diretor de

Tecnologia da Informação e Comunicação (PDTIC) para Niterói.

O apoio do PRODERJ nesse processo foi fundamental para suportar o

desenho de alternativas que viabilizassem a implantação de um sistema de gestão

integrada no município de Niterói. A empresa pública do Estado do Rio de Janeiro

acumula expertise no tema, vez que suporta o desenvolvimento de estratégias de

informatização da gestão em software livre em uma série de municípios fluminenses

por meio do “Programa Municípios Eficientes”.

O Programa é liderado pela SEPLAG do Estado do Rio de Janeiro e

surgiu em 2009 com o intuito de aprimorar a gestão dos municípios, sendo o

PRODERJ o órgão executor e representante técnico da iniciativa e a Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ e a Associação

Estadual dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro – AEMERJ os apoiadores.

13

Entre 2011 e 2014 – etapa piloto e expansão – participaram do Programa vinte e

dois municípios que contaram com o apoio técnico e financeiro do Estado do Rio de

Janeiro para a implantação de um software de gestão integrada.1

A solução destacada pela empresa pública no escopo do Programa

Municípios Eficientes foi a implantação do software e-cidade disponível no Portal do

Software Público Brasileiro – SPB. Tal opção por esse software deu-se pelos

seguintes fatores:2

o PRODERJ já participava ativamente deste ambiente SPB;

o software e-cidade contemplava toda a demanda da SEPLAG do

Estado do Rio de Janeiro;

o software e-cidade é livre dando liberdade ao município de aprender,

alterar e não precisar, necessariamente, ficar dependente de

empresas;

o software e-cidade já estava implantado em diversas prefeituras de

diferentes portes pelo território nacional;

o software e-cidade já utilizava tecnologia de total conhecimento do

mercado e do PRODERJ, permitindo que este pudesse se preparar

para atender diretamente aos municípios em algum momento.

Assim, tendo em vista a expertise acumulada pela SEPLAG e PRODERJ

na execução do Programa Municípios Eficientes e o conhecimento do software

público e-cidade, desenhou-se uma proposta de cooperação técnica

intergovernamental entre a Prefeitura de Niterói e esses entes. Nessa proposta de

cooperação técnica colocava-se como desafio implantar o software e-cidade em um

município de grande porte, tendo em vista que havia sido implantado anteriormente

apenas em municípios menores, de até 100 mil habitantes.

A estratégia de implantação no caso de Niterói demandava uma estrutura

robusta e bem delineada atinente aos desafios prementes da gestão pública

municipal à época que haviam sido explícitos no diagnóstico inicial. Por esse motivo,

estruturou-se um projeto específico para o município intitulado “Gestão da

1 Informações extraídas do Portal do “Programa Munic ípios Eficientes”. Disponível em <http://www. municipioseficientes.rj.gov.br/>, acesso em 13 de abril de 2015.

2 Idem.

14

Informação para o Fortalecimento da Ação Governamental” com a prerrogativa de

implantar uma solução em TI capaz de aprimorar a qualidade do serviço público

ofertado à sociedade para racionalizar gastos e gerar informações organizadas de

forma sistemática e digitalizada permitindo maior agilidade dos gestores nas

tomadas de decisões estratégicas e subsídios para a elaboração e monitoramento

das políticas públicas.

Após diversas tratativas entre o município de Niterói e o Estado do Rio de

Janeiro, o termo de cooperação técnica para a implantação do software público e-

cidade foi elaborado com a previsão de investimentos de R$ 14 milhões, sendo R$ 5

milhões repassados pelo PRODERJ entre 2013 e 2014 e outros R$ 9 milhões da

própria Prefeitura entre 2015 e 2016. Os recursos oriundos do Governo do Estado

do Rio de Janeiro foram repassados ao município de Niterói por meio de

transferência voluntária com interveniência do PRODERJ e execução pela empresa

DB Seller contratada por adesão à Ata de Registro de Preços, sem que

representasse ônus direto para a Prefeitura de Niterói.

Como responsabilidades de cada ente envolvido nas cláusulas

contratuais3 definiram-se:

Responsabilidades SEPLAG do Estado do Rio de Janeiro

a) Promover a articulação entre os atores estaduais responsáveis pela

viabilização do Projeto;

b) Fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento e a implementação do

Projeto;

c) Contribuir para a solução de eventuais problemas apontados pelo

município e/ou entes responsáveis pela implantação do projeto;

d) Supervisionar, em conjunto com o PRODERJ e a Prefeitura,

cronograma de uti lização do sistema e povoamento da base de dados;

e) Estabelecer metas de preenchimento dos dados no sistema

implantado, em conjunto com o PRODERJ;

3 Optou-se por expor as cláusulas contratuais do termo de cooperação tendo em vista a relevância de abordar de forma pormenorizada as responsabilidades de cada ente na celebração do acordo tendo

em vista sua complexidade.

15

f) Decidir, quando for o caso, sobre a permanência do município no

Projeto;

g) Descentralizar ao PRODERJ os recursos financeiros necessários para

a execução do Projeto, de acordo com o plano de trabalho aprovado e

a disponibilidade de recursos da SEPLAG.

Responsabilidades da Prefeitura de Niterói

a) Disponibilizar instalações, equipamentos, pessoal e materiais de

acordo com os requisitos necessários ao desenvolvimento do Projeto;

b) Fornecer condições materiais e humanas, dados e informações que

favoreçam a implementação do Projeto, em especial às instituições

públicas e privadas envolvidas no Projeto, incumbidas do

desenvolvimento, implementação, controle e acompanhamento das

soluções de tecnologia da informação;

c) Elaborar, em conjunto com o PRODERJ e sob a supervisão da

SEPLAG, o cronograma de utilização do sistema e povoamento da

base de dados;

d) Cumprir o cronograma elaborado e as metas do preenchimento dos

dados no sistema implantado que serão estabelecidas em conjunto

pela Prefeitura, SEPLAG e PRODERJ;

e) Disseminar, junto a seus servidores, a importância dos avanços e

benefícios propiciados pelo Projeto;

f) Manter, no mínimo, duas pessoas responsáveis na Prefeitura de

Niterói, com a função de disseminar, divulgar e multiplicar o

conhecimento do sistema implantado, garantindo a utilização plena do

mesmo (tais responsáveis deverão assegurar conhecimento das

regras de negócio do software);

g) Manter os módulos disponibilizados do software instalado em sua

base de dados por um período mínimo de 2 (dois) anos, com

atualizações periódicas dos dados, atendendo as metas de

implantação estabelecidas pela SEPLAG e PRODERJ;

h) Prestar a devida manutenção e atualização no software após o

término deste termo de cooperação técnica;

16

i) Em caso de doação de equipamentos ao município de Niterói, os

mesmos deverão ser utilizados e/ou a serviço da Prefeitura de Niterói;

j) Em caso de consecução e disponibilização de links de internet para as

unidades de trabalho sem conectividade, via parceria com operadoras

telefônicas ou Ministério das Comunicações, fica a Prefeitura

responsável pelo custeio.

Responsabilidades do PRODERJ

a) Ser o órgão responsável tecnicamente pelo Projeto, avaliando e

aprovando todos os produtos gerados pela empresa contratada para a

realização do serviço de customização, implantação e treinamento, da

solução de gestão selecionada;

b) Aprovar os procedimentos técnicos e operacionais necessários à

implantação do Projeto, em comum acordo com a SEPLAG;

c) Provisionar os recursos computacionais necessários no ambiente do

Data Center do PRODERJ;

d) Servir de contingência e hospedar nos servidores do Data Center do

PRODERJ, a solução relacionada na cláusula primeira, quando

demandado pelo município, mediante formalização de contrato de

prestação de serviços;

e) Realizar a licitação para contratação de empresa que executará os

serviços de implantação, customização e treinamento da solução de

TI para gestão municipal;

f) Elaborar o cronograma de utilização do sistema e povoamento da

base de dados, em conjunto com a Prefeitura e com a supervisão da

SEPLAG;

g) Colaborar com a contratada para a execução do Projeto, na definição

dos padrões de rede e equipamentos no município de Niterói, sendo

responsável pela aquisição dos equipamentos e posterior doação

quando necessário;

h) Elaborar e entregar à Prefeitura uma cartilha de boas práticas de

utilização da estrutura lógica e física, para a área de tecnologia de

informação da Prefeitura;

17

i) Fiscalizar, em conjunto com a SEPLAG, por intermédio de metas de

preenchimento, o desempenho de implantação do sistema na

Prefeitura ao longo do período de vigência do Projeto;

j) Colaborar com possíveis soluções e parceiros, com objetivo de

disponibilizar para as unidades de trabalho do município de Niterói,

toda a infraestrutura de rede e conectividade necessárias para que

100% das mesmas estejam cobertas até o fim do Projeto;

k) Capacitar-se junto à contratada sobre as rotinas de atualização do

software objeto do Projeto para que possa futuramente assistir à

Prefeitura, caso necessário.

A delimitação do papel de cada um dos entes no termo de cooperação

técnica foi realizada de forma minuciosa durante o acordo, principalmente no que diz

respeito à responsabilidade na supervisão e suporte tecnológico à implementação

do Projeto na Prefeitura de Niterói. O contrato do termo de cooperação tripartite foi

assinado no dia 23 de agosto de 2013, sendo que a implantação do sistema e-

cidade foi efetivamente iniciada a partir de janeiro de 2014 na Prefeitura.

A implantação do software no município tem seguido um cronograma

rígido na qual os módulos e a aderência dos órgãos são realizados de forma

paulatina. O e-cidade é segmentado em áreas de negócios, subdivididas em

módulos. Os módulos selecionados para ser implantados pelo município de Niterói

foram:

Área financeira: Orçamento, PPA e LDO, Contabilidade, Empenho e

Tesouraria;

Área recursos humanos: Estágio probatório, Recursos humanos e

Folha de pagamento;

Área patrimonial: Compras (pré-empenho), Licitações, Contratos,

Almoxarifado, Patrimônio, Protocolo, Ouvidoria e Frota (veículos);

Área tributária: Arrecadação, Cadastro técnico municipal, Cadastro

socioeconômico, ITBI, Cobrança administrativa, Projetos, Notificações,

Fiscalização, Cemitério, Contribuição e Inflatores.

18

Cada módulo acima discriminado é implantado nos órgãos da Prefeitura

envolvendo as etapas de: aderência ao módulo, migração de sistemas, capacitação

dos servidores, implantação do sistema, homologação do sistema e monitoramento

do funcionamento.

A primeira etapa de implantação do e-cidade já foi concluída no município

de Niterói e hoje já é possível unificar a execução orçamentária, contábil e

financeira. Atualmente, a segunda etapa em curso pretende finalizar a implantação

dos módulos previstos como o tributário e folha de pagamento.

O melhor controle da execução orçamentária e financeira, e a otimização

da arrecadação municipal a partir de um controle tributário mais eficiente propiciado

pelo sistema e-cidade têm possibilitado ao município aumentar sua capacidade de

investimento em serviços públicos e promover o ajuste fiscal, zelando pela boa

saúde financeira das contas públicas.

Como desafio para os próximos anos está promover a sustentabilidade da

iniciativa – o que inclui estruturar e implementar um Plano Diretor de Tecnologia da

Informação e Comunicação (PDTIC) que garanta a autonomia do município em

relação à estrutura do PRODERJ para armazenamento da base de dados. A

descrição da iniciativa a seguir pretende, entre outros objetivos, garantir a viabilidade

deste objetivo.

2.3 O Programa de Modernização da Administração Tributária (PMAT)

O PMAT é uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) voltada ao apoio de projetos de investimento nos

municípios que visam à modernização da administração tributária e à melhoria da

qualidade do gasto público, a fim de proporcionar aos municípios uma gestão

eficiente, que gere aumento de receitas e/ou redução do custo unitário dos serviços

prestados à coletividade. Atualmente, esse financiamento representa na Prefeitura

de Niterói a principal fonte de recursos das iniciativas de modernização da gestão e

dos projetos das áreas administrativa e fiscal.

19

A opção por essa linha de crédito do BNDES foi realizada após minuciosa

avaliação da Prefeitura das possibilidades existentes de financiamento voltadas à

modernização da gestão. Além do PMAT, foram analisadas outras linhas de crédito

similares junto a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Entretanto, o PMAT

foi aquele que apresentou as melhores taxas praticadas no mercado e o escopo de

investimento mais aderente às necessidades de Niterói.

Após decisão da Prefeitura por pleitear financiamento na linha de crédito

PMAT, a SEPLAG passa a liderar o processo de tratativas junto ao BNDES e a

levantar as necessidades de financiamento das “áreas -meio” – como a Secretarias

de Fazenda, Administração, Ouvidoria e Escritório de Projetos da Vice-Prefeitura –

para a elaboração de projetos que tivessem como foco principal a modernização da

administração voltada a eficiência administrativa, o aumento da arrecadação, a

qualidade do gasto, a agilidade no atendimento ao munícipe e a eficiência nos

serviços prestados. Esse levantamento contemplou uma minuciosa pesquisa de

preços no mercado buscando garantir a estimativa das aquisições dentro do melhor

custo-benefício possível.

Após esse levantamento, delineou-se como principais eixos de atuação:

1. Modernizar as instalações da Prefeitura;

2. Implantar sistema integrado de gerenciamento de projetos;

3. Aprofundar as iniciativas de transparência ativa e passiva;

4. Promover o modelo de gestão de competências por meio de

capacitações de servidores;

5. Efetivar a “Gestão para Mudanças” no município garantindo a

sustentabilidade das iniciativas empreendidas nas áreas de RH e

cultura organizacional;

6. Implantar um sistema de Geoinformação a fim de otimizar a

arrecadação tributária e garantir a cobertura dos serviços de

atendimento aos cidadãos;

7. Implantar o modelo de “Gestão para Resultados” na Prefeitura;

8. Modernizar o atendimento ao cidadão na Ouvidoria e na Secretaria

de Fazenda;

20

9. Implantar a gestão eletrônica de documentos e tramitação de

processos;

10. Construir e equipar sala de monitoramento e controle de metas;

11. Implantar do núcleo de estudos e pesquisas da Prefeitura;

12. Modernizar o ambiente de TI e atualizar o Plano Diretor de

Tecnologia da Informação e Comunicações (PDTIC);

13. Implantar e garantir a sustentabilidade do sistema de gestão

integrada na Prefeitura.

Conforme orientação do BNDES, foi elaborado um documento intitulado

“Consulta Prévia” detalhando todas as atividades referentes aos objetivos

supracitados, os custos e o cronograma de realização/desembolso no período de

dois anos. O montante final do projeto descrito no projeto foi de R$ 28 milhões,

sendo este valor autorizado pela Câmara Municipal dos Vereadores em 04 de

dezembro de 2013. Após autorização pela Câmara foi possível dar prosseguimento

ao processo de obtenção dos recursos junto ao BNDES e o envio formal da

“Consulta Prévia”, além de documentos financeiros e jurídicos exigidos pelo Banco

para a análise e aprovação de operações junto ao Município de Niterói.

A partir de então foi iniciada a parte mais demorada e complexa de todo o

processo de aprovação. O BNDES exigiu da Prefeitura uma série de

documentações, declarações, certidões e pareceres que atestassem jurídica e

financeiramente a veracidade das informações da “Consulta Prévia” e as efetivas

condições do município para receber recursos de acordo com as normas do Banco.

Ademais, foram cumpridas inúmeras solicitações exigidas pela Secretaria do

Tesouro Nacional (STN) para que o BNDES aprovasse a operação em Niterói.

Paralelamente a entrega dos documentos, o Banco solicitou ainda o refinamento dos

instrumentos de planejamento e avaliação dos resultados utilizados para o

acompanhamento da execução dos projetos.

Dia 18 de dezembro de 2014, após um ano da entrega da “Consulta

Prévia”, a liberação da verba é finalmente aprovada e o contrato assinado. As

condições de empréstimo do PMAT/BNDES envolvem carência de dois anos para

início do pagamento pelo município e prazo máximo de oito anos para amortização

da dívida. A taxa de juros incide considerando a divisão de dois subcréditos.

21

No subcrédito A, correspondente a 30% do valor total, incidem encargos atrelados a

taxas de mercado, qual seja 2,2% a.a. acima da variação acumulada das taxas

médias diárias da SELIC. Por sua vez, o subcrédito B corresponde a 70% do valor

financiado com incidência de TJLP + 0,9% a.a. + 1,0 a.a% de remuneração do

BNDES. É compromisso do município garantir contrapartida de pelo menos 10% do

total do valor pleiteado, sendo válidos os investimentos realizados até o 6o mês

anterior à data de apresentação da “Consulta Prévia”.

Importante destacar que no escopo dos itens passíveis de aquisição pelo

PMAT é necessário que máquinas e equipamentos estejam credenciados na

listagem do “Financiamento de máquinas e equipamentos” (FINAME) e do “Cartão

BNDES”. Outra exigência para efetivar as aquisições é que todas estejam

classificadas como investimento na execução orçamentária. Despesas de custeio

não são cobertas pelo Banco.

No que tange ao monitoramento e prestação de contas, o Banco exige a

apresentação de relatórios periódicos discriminando com a comprovação dos

gastos, informações referentes a licitações, notas de empenho e cópias dos

contratos celebrados, entre outros documentos. Além disso, exige a apresentação

de relatórios trimestrais com dados e informações qualitativas que comprovem o

status de execução dos projetos e resultados aferidos. A não apresentação desses

documentos e/ou a apresentação de informações insuficientes podem impactar na

liberação das parcelas dos recursos, uma vez que os desembolsos são efetuados

trimestralmente.

Os desembolsos no escopo do PMAT foram iniciados em janeiro de 2015

e a previsão é que até dezembro de 2016 sejam concluídos. Até o momento, o

BNDES já totalizou a liberação de quase R$ 5.000.000,00 ao município de Niterói

em duas parcelas. O financiamento tem possibilitado ao município investir na

continuidade do projeto de integração dos sistemas de informação por meio do e-

cidade, no aprimoramento da transparência, no mapeamento e redesenho da

estrutura organizacional e dos processos administrativos.

22

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS: COMPARAÇÃO ENTRE AS ESTRATÉGIAS

ADOTADAS

Como vimos, as estratégias uti lizadas pela SEPLAG Niterói para

desenvolver os seus projetos prioritários diferem bastante entre si em termos de

formato de investimento e modelo de acompanhamento/prestação de contas (ver

quadro abaixo). Nessas considerações finais apresentam-se algumas ponderações

em relação a cada tipo de parceria/financiamento celebrado de acordo com as

características de cada um.

Quadro 1 – Comparação dos tipos de parceria/financiamento

Projeto/s viabilizado/s

Parceria/ financiamento

celebrado

Formato do investimento

Modelo de acompanhamento/

prestação de contas

Construção do

“Planejamento Estratégico Niterói que Queremos –

2033”

Movimento Brasil Competitivo (MBC) e

Associação Conselho

Empresarial e

Cidadania de Niterói (ACEC)

Investimento privado por

meio de fundrising

Reuniões trimestrais

para apresentar resultados aos

investidores da ACEC e

relatórios ao MBC

Implantação de Sistema Integrado

de Gestão e-cidade

Governo do Estado

do Rio de Janeiro (SEPLAG e PRODERJ)

Termo de cooperação

que estabelece repasse direto do Estado (adm

direta) para o

PRODERJ com prestação de serviços

na Prefeitura de Niterói

A SEPLAG de Niterói atesta os serviços

prestados pela empresa

contratada DB Seller e comunica ao PRODERJ

para solicitação de

pagamento

Projetos de modernização da

gestão, qualidade do gasto e aumento

da arrecadação.

Linha de

financiamento PMAT/BNDES

Empréstimo

Relatórios de desempenho trimestrais

com detalhamento

apurado de todos os gastos efetuados e monitoramento de

indicadores de execução

Fonte: elaboração própria das autoras.

No que diz respeito ao financiamento via fundrising viabilizado pelo MBC

e ACEC, a vantagem para o município é a facilidade de contratação e execução do

projeto que esse tipo de parceria propicia. Ademais, o fato de não gerar qualquer

ônus financeiro à Prefeitura também deve ser considerado como ponto positivo.

23

Coloca-se como desafio neste tipo de financiamento para outros entes, a

capacidade de efetivamente conseguir captar os recursos necessários, uma vez que

depende da disponibilidade de doação da iniciativa privada.

Convém destacar que a atuação direta do empresariado na tomada de

decisões sobre a execução das ações conforme acordo de parceria exige deve ser

vista com cautela no sentido de permitir que outros segmentos da sociedade

também possam se envolver no projeto. O caso de Niterói pode ser destacado como

um bom exemplo nesse sentido, uma vez que o processo de planejamento “Niterói

que Queremos 2033” foi realizado mediante amplo processo de escuta das

propostas da sociedade.

Em relação ao Termo de Cooperação efetivado entre a Prefeitura de

Niterói e o Governo do Estado do Rio de Janeiro – por meio da SEPLAG e o

PRODERJ – para a implantação do e-cidade, deve ser destacada a inovação do

modelo de governança tripartite no âmbito das parcerias celebradas na

administração pública para garantir projetos na área de modernização da gestão. O

compartilhamento nas responsabilidades e no investimento, além do apoio no

armazenamento de dados junto ao governo do Estado do Rio de Janeiro foi

essencial para que o software e-cidade fosse implantado no município.

A informatização dos sistemas de gestão nos municípios é uma

necessidade compartilhada de diversos municípios brasileiros, principalmente

daqueles de menor porte. Afinal, as exigências em relação à accountability e

transparência referentes à LRF e a Lei Complementar 131 estabeleceram a

necessidade de disponibilização de dados fidedignos e em tempo real de todas as

despesas e receitas efetuadas. Entretanto, os recursos disponíveis para

financiamento de soluções em TI nos municípios são extremamente limitados. Nesse

sentido, o “Programa Municípios Eficientes” do Governo do Estado do Rio de Janeiro

junto aos municípios fluminenses deve ser ressaltado como exemplo relevante para

disseminação em outros estados da federação.

Como desafio deste modelo de parceria deve-se ressaltar a necessidade

de que o município trace um plano de sustentabilidade para que a utilização do

sistema seja perene e não haja descontinuidade com a mudança de gestão. Por

24

isso, além de recursos para a etapa de implantação, é necessário estruturar um

plano de médio e longo prazos que inclua a atualização do parque tecnológico e

manutenção do sistema considerando as deficiências enfrentadas pelos municípios

nessas áreas.

Sobre o PMAT/BNDES deve-se apontar que atualmente é considerado

uma das grandes oportunidades para que os municípios modernizem sua gestão

administrativa e tributária. Apenas neste primeiro semestre de 2015 o BNDES

aprovou para investimentos nos municípios de Niterói, Uberlândia e Osasco o

montante de R$ 135,6 milhões nessa linha de crédito.

Este investimento foi estruturado no BNDES para garantir que a

descentralização fiscal seja efetivada e os municípios adquiram maior autonomia em

relação a outros entes federativos. A obtenção desse empréstimo tem o intuito de

que não represente o crescimento do endividamento no município, mas impulsione a

melhoria da gestão fiscal e administrativa levando ao aumento da arrecadação e na

melhoria da qualidade do gasto.

Para os municípios que queiram pleitear os recursos, convém ressaltar

que os trâmites para aprovação do empréstimo e a prestação de contas são

extremamente burocráticos. O processo de aprovação do contrato de empréstimo é

lento e extramemente cauteloso. Da mesma forma, a prestação de contas ao banco

é realizada mediante a apresentação de uma série de documentos e comprovantes

necessários para o efetivo desembolso.

Por fim, destacamos que no caso de todos os financiadores/apoiadores a

execução eficiente é uma exigência presente. O comprometimento com a entrega de

resultados, seja junto a iniciativa privada, o governo do estado ou o governo federal

é condição para a efetivação das parcerias. Da mesma forma, a comprovação de

antemão na fase de captação de recursos de que o município conta com uma

gestão fiscal responsável mostrou-se como condição sine qua non em todas as

parcerias efetivadas no caso de Niterói.

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REFERÊNCIAS

AFFONSO, Rui. A crise da federação no Brasil. In: Ensaios FEE, 15, 2: 321-37, 1994.

AFONSO, José R. Aspectos conceituais das relações financeiras intergovernamentais. In: Estudos Econômicos, São Paulo: USP/FIPE, v. 22, n. 1, p. 5- 34, jan./abr.1994

ARRETCHE, Marta T. S. Mitos da descentralização: mais democracia e eficiência nas políticas públicas? In: Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 31, ano 11,

jun./1996.

ARRETCHE, Marta. Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e autonomia.In: São Paulo Perspec., São Paulo, v. 18, n. 2, p. 17-26,

jun./2004 .

BRAVO, Alfredo. L.; MARIANO, Sandra. R. H. O papel dos sistemas de informação

na modernização da gestão pública. In: Gestão. Org, v. 4, n. 1, Jan./Abr. 2006

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AUTORIA

Giovanna Guiotti Testa Victer – Secretária. Secretaria de Planejamento, Modernização de Gestão e Controle (SEPLAG) – Prefeitura de Niterói/RJ.

Endereço eletrônico: [email protected]

Marília Sorrini Peres Ortiz – Diretora de Projetos de Modernização da Gestão. Secretaria de Planejamento, Modernização de Gestão e Controle (SEPLAG) – Prefeitura de Niterói/RJ.

Endereço eletrônico: [email protected]

Flávia Abranches – Diretora de Comunicação. Secretaria de Planejamento, Modernização de

Gestão e Controle (SEPLAG) – Prefeitura de Niterói/RJ.

Endereço eletrônico: [email protected]

Iana Costa – Assistente de Projetos Especiais. Secretaria de Planejamento, Modernização de Gestão e Controle (SEPLAG) – Prefeitura de Niterói/RJ.

Endereço eletrônico: [email protected]