maricato, erminia - construindo a política urbana participação democrática e o direito à cidade...

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  • Construindo a Poltica Urbana: participao democrtica e o direito cidade

    Ermnia Maricato*

    Orlando Alves dos Santos Junior** Um dos movimentos de resistncia ao neoliberalismo no Brasil diz respeito promoo de importante processo participativo na formulao de polticas pblicas em nvel nacional.1 Alm das Conferncias e Conselhos Nacionais que tm ocorrido ao longo dos ltimos anos como parte de sistemas institucionais, como o caso do SUS Sistema nico de Sade e do SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente, pode-se dizer que desde 2003, com o incio do governo Lula, est em curso a construo de um novo modelo de gesto pblica participativa. Durante o ano de 2006 foram realizadas 29 conferncias nacionais que envolveram a discusso dos seguintes temas: criana e adolescente (2003 e 2005); agricultura e pesca (2003 e 2006); direito humanos (2003 e 2004); cidades (2003 e 2005); sade (2003); assistncia social (2003 e 2005); meio ambiente (2003 e 2005); infanto-juvenil pelo meio ambiente (2003 e 2006); medicamentos e assistncia farmacutica (2003); segurana alimentar e nutricional (2004); esporte (2004 e 2006); poltica para as mulheres (2004); arranjos produtivos locais APLs (2004 e 2005); promoo da igualdade racial (2005); cultura (2005); sade do trabalhador (2005); cincia, tecnologia e inovao (2005); dos povos indgenas (2006); direitos da pessoa com deficincia (2006) e; direito do idoso (2006). Estima-se que mais de 2 milhes de pessoas, lideranas sociais ou representantes de organizaes governamentais e no governamentais, se envolveram na realizao das conferncias municipais e estaduais que antecederam e prepararam as conferncias nacionais. Vamos lembrar algumas premissas que esto na base dessa edificao de uma esfera poltica participativa embora elas sejam mais intudas do que assumidas claramente. Esse processo leva em considerao que a poltica nacional no se esgota na poltica federal. A definio da poltica nacional vai alm quando exige uma construo que incorpora os trs nveis de governo e outros poderes do Estado, alm da chamada sociedade civil. A cooperao federativa fundamental especialmente se considerarmos a poltica urbana que tem as competncias constitucionais distribudas pelos municpios, governos estaduais e governo federal. A participao da sociedade civil por meio da representao de interesses diversos tem o papel de garantir, em primeiro lugar a incluso, no debate democrtico, daqueles que estiveram historicamente alijados das discusses sobre os rumos do pas e em segundo lugar

    * Arquiteta e Urbanista, professora titular da Faculdade de Arquitetura da USP. Foi Secretria Executiva do Ministrio das Cidades de 2003 a 2005 e Secretria de Habitao e Desenvolvimento Urbano de So Paulo na gesto de Luiza Erundina (1989-1992) ** Socilogo, doutor em planejamento urbano, professor visitante do IPPUR/UFRJ, pesquisador da Rede Observatrio das Metrpoles. Foi integrante do Conselho das Cidades entre 2004-2005. 1 Uma verso resumida desse artigo foi publicada como Maricato, Ermnia e Santos Junior, Orlando Alves dos Santos. In Teoria e Debate, n. 66, abr-jun 2006.

  • fazer aflorar os conflitos de interesses e dar a eles um tratamento democrtico o que indito em nossa sociedade, na escala considerada. No se trata de ignorar, ingenuamente, o papel da luta de classes, que ganha contornos dramticos, no capitalismo global. Nem se desconhece a sobrevivncia da tradicional e cultural manipulao do aparelho do Estado como coisa privada e pessoal no Brasil. Mas trata-se de dar visibilidade aos conflitos, sempre ocultados pela tradio do homem cordial e construir novos paradigmas de conscincia e organizao social que contrariem o patrimonialismo na conduo do Estado. De fato a organizao social informada pelo conhecimento acumulado sobre determinados temas pode constituir uma forma eficaz de explorar as contradies da administrao pblica sob a dominao patrimonialista, exacerbada a partir do final do sculo XX, pela lgica do capitalismo financeiro: desprestgio das polticas sociais bem como a falta de continuidade e acmulo em relao a elas; falta de transparncia; longa distncia entre retrica e ao; arbitrariedade, clientelismo e privilgios decorrentes da privatizao da esfera pblica; dominao ideolgica (presente na linguagem tcnica) que mascara a lgica dos investimentos e aes, entre outras.2 Ao promover a participao de todos governos e sociedade na formulao de polticas pblicas ampliadas que incorporam a demanda e agenda dos movimentos sociais, o governo federal gerou espaos de contraposio s suas prprias polticas conservadoras de contingenciamento dos recursos oramentrios e de superavit fiscal, adotadas na rea econmica. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que, tal como expressou a filsofa Marilena Chau, estamos diante do melhor da tradio do Partido dos Trabalhadores PT e da importante herana democrtica acumulada nos 25 anos da sua histria.

    Aqui, nosso objetivo fazer uma breve avaliao desse ciclo, sob o ponto de vista das Conferncias das Cidades, e do funcionamento do Conselho das Cidades buscando identificar avanos, limites e alguns dos principais desafios para a construo e gesto democrtica da poltica nacional de desenvolvimento urbano. Crise urbana e a poltica nacional de desenvolvimento urbano Nas ltimas duas dcadas do sculo XX, a questo urbana e os processos de excluso social se constituram em problemas centrais para pensar o futuro da humanidade. Os efeitos perversos do redesenho do papel do Estado e das macro-polticas econmicas preconizadas pelo Consenso de Washington e sua ideologia neoliberal so bastante conhecidos: agravamento das desigualdades nas cidades, massificao da pobreza, insegurana generalizada e excluso crescente (Boron, 2000; Davis, 2006; Harvey, 2004). A dcada de 1990 apresentou uma verdadeira guinada contra-reformista no Brasil. Com o incio do governo Collor de Melo (1989), passando pelos dois governos de

    2 Ver a respeito o posfacio de Erminia Maricato no livro de Mike Davis, Planeta Favela. O conceito de homem cordial foi desenvolvido por Sergio Buarque de Hollanda no clssico Razes do Brasil. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1971.

  • Fernando Henrique Cardoso, uma agenda de reformas econmicas estruturais de carter neoliberal comeou a ser implementada, com a adoo de polticas de liberalizao econmica e a privatizao de empresas estatais. Como resultado do ajuste fiscal e do rumo adotado na poltica econmica, o Brasil chegou ao ano 2000 como um pas marcado pela contradio. Embora tendo figurado como a oitava economia do mundo o Brasil ostenta um dos maiores ndices de desigualdades sociais e de concentrao de renda, com 10% dos mais ricos detendo quase metade da riqueza nacional (Dupas, 1999, Mantega, 1998 e 1999). De fato, as condies de vida nas grandes cidades, principalmente nas metrpoles, tm se deteriorado a olhos vistos configurando o que podemos chamar de crise urbana. De espao de mobilidade social e lugar de acesso diversidade cultural, melhores oportunidades de emprego e qualidade de vida, elas tm se tornado aglomeraes, em grande parte depsito de pessoas, marcadas pela fragmentao, dualizao, violncia, poluio e degradao ambiental. Nesse cenrio, os direitos sociais, econmicos e polticos, que foram conquistados atravs das lutas histricas dos trabalhadores, esto sendo perdidos e isso no se deve apenas, como pensam alguns ao crescimento da populao urbana mas ao fato de que esse crescimento demogrfico acompanhado pelo baixo crescimento econmico o que implica em desemprego. Na dcada de 1980 o crescimento brasileiro atingiu nveis negativos e ficou perto de 2% nos anos 1990 produzindo uma imensa massa de desempregados excludos dos direitos humanos elementares. A negao do direito cidade se expressa na irregularidade fundiria, no dficit habitacional e na habitao inadequada, na precariedade e deficincia do saneamento ambiental, na baixa mobilidade e qualidade do transporte coletivo e na degradao ambiental. Paralelamente, as camadas mais ricas continuam acumulando cada vez mais e podem usufruir um padro de consumo de luxo exagerado. no contexto dessa contradio expressa na segregao urbana que explode a violncia e cresce o poder do crime organizado na cidade. Os paradigmas hegemnicos do urbanismo e do planejamento urbano tm revelado seus limites e no esto conseguindo dar respostas aos problemas contemporneos das grandes cidades (Maricato, 1996). Ao mesmo tempo, em termos institucionais, a poltica urbana nunca esteve entre as prioridades do Estado brasileiro mesmo na nica oportunidade que mereceu uma formulao holstica, durante o Regime Militar. Os sucessivos governos nunca tiveram um projeto estratgico para as cidades brasileiras envolvendo, de forma articulada, as intervenes no campo da regulao do solo urbano, da habitao, do saneamento ambiental, e da mobilidade e do transporte pblico. Sempre de forma fragmentada e subordinada lgica de favorecimento que caracterizava a relao inter-governamental, as polticas urbanas foram de responsabilidade de diferentes rgos federais. Tomando como referncia a poltica de habitao, vale a pena registrar que, de 1985 a 2002, a poltica de habitao foi de responsabilidade de diferentes Ministrios: de 1985 a 1987, do Ministrio do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente; de 1987 a 1988, do Ministrio da Habitao, Urbanismo e Meio Ambiente; de 1988 a 1990, do Ministrio do Bem Estar Social; de 1990 a 1995, do

  • Ministrio da Ao Social; de 1995 a 1999, da Secretaria de Poltica Urbana, vinculada ao Ministrio do Planejamento; de 1999 a 2002, da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano, vinculada Presidncia da Repblica. Assim, podemos dizer que a criao do Ministrio das Cidades, em 2003, representou uma resposta a um vazio institucional, de ausncia de uma poltica nacional de desenvolvimento urbano consistente, capaz de apontar para um novo projeto de cidades mais sustentveis e mais democrticas. Por isso, a criao desse Ministrio expressou o reconhecimento por parte do governo federal da questo urbana como uma questo nacional a ser enfrentada por macro polticas pblicas3. De fato, grande parte da competncia em matria de poltica urbana est hoje descentralizada, principalmente depois da aprovao do Estatuto da Cidade, em 2001, que consolidou e fortaleceu o papel dos municpios no planejamento e na gesto das cidades (Ribeiro e Cardoso, 2003). No entanto, os problemas urbanos envolvendo a questo habitacional, o saneamento ambiental, a mobilidade e os transportes tm dimenses que necessitam de tratamento nacional, seja pela sua importncia ou pela sua amplitude, nos quais o governo federal continua tendo um papel relevante. Em especial no que se refere s metrpoles, percebe-se a importncia de uma interveno nacional, tanto na definio de diretrizes como no desenvolvimento de planos e projetos, de forma a impulsionar polticas cooperadas e integradas que respondam complexidade da problemtica urbana-metropolitana no pas. Analisando em uma perspectiva histrica, pode-se dizer que tanto a criao do Ministrio das Cidades, como a implantao do Conselho das Cidades e a realizao das conferncias nacionais so conquistas do movimento pela reforma urbana brasileira que, desde os anos 80, vem construindo um diagnstico em torno da produo e gesto das cidades e propondo uma agenda centrada (a) na institucionalizao da gesto democrtica das cidades; (b) na municipalizao da poltica urbana; (c) na regulao pblica do solo urbano com base no princpio da funo social da propriedade imobiliria; e (d) na inverso de prioridade no tocante poltica de investimentos urbanos (Santos Junior, 1995). Em relao ao movimento social pela reforma urbana, vale destacar importncia do Frum Nacional de Reforma Urbana FNRU. O Frum uma coalizo de organizaes que rene movimentos populares, organizaes no-governamentais, associaes de classe, e instituies acadmicas e de pesquisa em torno da defesa da reforma urbana, da gesto democrtica e da promoo do direito cidade. Como principal expresso do movimento nacional pela reforma urbana, o FNRU foi importante protagonista em vrias conquistas da histria urbana do nosso pas: (i) na elaborao da emenda constitucional de iniciativa popular em torno do captulo de poltica urbana durante a Constituinte de 1987-1988; (ii) na discusso e aprovao do Estatuto da Cidade, em 2001, que regulamentou os instrumentos que definem a funo social da cidade e da propriedade; (iii) na elaborao do Projeto de Lei de

    3 Ermnia Maricato participou da equipe de transio do governo Fernando Henrique para o Governo Lula com a tarefa de definir uma proposta para o Ministrio das Cidades em dezembro de 2002. A proposta de criao do Ministrio estava prevista no Projeto Moradia, elaborado em 2000 pelo Instituto Cidadania, e em vrias verses do Programa de Governo Lula, durante diversas campanhas eleitorais para presidente da Repblica, sempre como reivindicao de foras sociais organizadas.

  • Iniciativa Popular que criou o Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social, que reuniu 1 milho de assinaturas e foi sancionado pelo governo Lula, em 2005, depois de mais de 10 anos de tramitao; e (iv) na criao do Ministrio das Cidades, em 2003. Na perspectiva da agenda da reforma urbana, a realizao das conferncias nacionais, bem como a implantao e o funcionamento do Conselho das Cidades deveria criar uma nova dinmica para a gesto das polticas urbanas, com a participao do poder pblico e dos movimentos populares, organizaes no-governamentais, segmentos profissionais e empresariais. Depois de duas conferncias realizadas e de mais de dois anos de funcionamento do Conselho das Cidades, podemos realizar um primeiro balano, indicando os avanos na direo da elaborao de uma poltica nacional de desenvolvimento urbano para o pas. A participao ampliada na definio da poltica nacional de desenvolvimento urbano: o ciclo de conferncias das cidades A primeira Conferncia Nacional das Cidades foi realizada entre os dias 23 e 26 de outubro de 2003, em Braslia, tendo como tema Cidade para Todos e como lema Construindo uma poltica democrtica e integrada para as cidades. Segundo o decreto de convocao, a conferncia tinha por objetivo propor alteraes na natureza e atribuies do Conselho das Cidades, opinar sobre sua estrutura e composio, indicar os membros titulares e suplentes, bem como sugerir a formao de comits tcnicos e sua composio. Um texto base foi elaborado para fundamentar e dar unidade aos debates em todo o pas. A formulao democrtica da poltica urbana no dispensa o conhecimento organizado que deve manter uma relao dialtica com o conhecimento que resultante da vivncia popular. Em conformidade com seu Regimento Interno, elaborado por uma coordenao executiva composta por 33 representantes de diversos segmentos da sociedade civil, participaram da Conferncia Nacional das Cidades 2.510 delegados, divididos por segmentos sociais assim distribudos: (i) gestores, administradores pblicos e legislativos, envolvendo o governo federal, os governos estaduais e municipais e o Distrito Federal, 40% (sendo 20% para o nvel municipal, 10% para o estadual e 10% para o federal); (ii) movimentos sociais e populares, 25%; (iii) organizaes no-governamentais ONGs, entidades profissionais, acadmicas e de pesquisa, 7,5%; (iv) trabalhadores, atravs de suas entidades sindicais 10%; (v) empresrios relacionados produo e ao financiamento do desenvolvimento urbano, 7,5% e; (vi) operadores e concessionrios de servios pblicos, 10%. Excetuando os 250 representantes do Poder Pblico Federal, indicados pelo Executivo, os(as) delegados(as) para a Conferncia Nacional foram escolhidos atravs de dois processos: 75% dos(as) delegados(as), ou seja 1.689 participantes, foram eleitos nas Conferncias Estaduais das Cidades e os(as) demais 25%, 561, indicados(as) pelas organizaes nacionais envolvidas com a poltica urbana e com as polticas setoriais de habitao, de saneamento e de transportes e planejamento

  • territorial. Percebe-se, por este mecanismo de escolha, a preocupao de garantir o mximo de representatividade combinando um processo de eleio direta com a representao das organizaes de carter nacional. Apesar do Ministrio das Cidades, recm criado, ainda estar se estruturando e de um calendrio preparatrio apertado, nossa avaliao que a convocao da primeira Conferncia alcanou um alto grau de mobilizao no mbito dos municpios e estados. Tal mobilizao pode ser evidenciada pelo fato da Conferncia Nacional ter sido precedida de 1.427 conferncias municipais, 185 conferncias regionais o regimento facultava a opo pela realizao de conferncias conjuntas para os municpios de uma mesma regio envolvendo 3.457 municpios em todos os estados da federao. Alm disso, 26 governos estaduais, dos 27 existentes, convocaram conferncias estaduais. No total, mais de 300.000 mil pessoas participaram desse processo, nmero que por si mesmo expressa o grande interesse da sociedade em participar do processo de discusso da poltica urbana e do futuro das cidades no Brasil. Aberta pelo Presidente da Repblica, Luiz Incio Lula da Silva, a Conferncia avaliou cerca de 3.850 propostas originrias das conferncias municipais e estaduais; e aprovou (i) princpios, diretrizes, objetivos e aes da poltica nacional da poltica urbana; (ii) as atribuies, a estrutura de funcionamento e a composio do Conselho das Cidades; e (iii) as diretrizes, os objetivos e as aes das polticas especficas de habitao, saneamento ambiental e mobilidade e trnsito. Por fim, ainda na Conferncia, foi eleito o Conselho das Cidades formado por 71 membros e 27 observadores. Sua composio inclui representantes dos trs nveis de governo, movimentos sociais, empresrios, sindicatos, universidades, ONGs, entidades profissionais e de pesquisadores alm de um representante da Frente Nacional de Vereadores pela Reforma Urbana. Avaliando o contedo das teses aprovadas, cremos que possvel afirmar que, de uma forma geral, as propostas aprovadas correspondem ao iderio da reforma urbana e esto em acordo com as principais reivindicaes dos movimentos sociais ligados reforma urbana, habitao, ao saneamento ambiental e ao transporte4. A Segunda Conferncia Nacional das Cidades foi realizada em Braslia entre os dias 30 de novembro e 03 de dezembro de 2005. Com o lema Reforma Urbana: Cidades para Todos" e o tema "Construindo uma Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano", o Decreto Presidencial, acolhendo a deciso do Conselho Nacional das Cidades, convocou a Conferncia, atribuindo-lhe as seguintes finalidades: (i) propor diretrizes para a Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano; (ii) propor a periodicidade, a convocao e a organizao das prximas conferncias nacionais das cidades; (iii) avaliar a atuao do Conselho das Cidades, propondo alteraes na sua natureza, composio e atribuies e; (iv) propor orientaes e recomendaes quanto aplicao da Lei n 10.257, de 10 de julho de 2001, especialmente sobre a elaborao de planos diretores.

    4 As tese aprovadas nas Conferncias das Cidades esto disponveis no site do Ministrio das Cidades (www.cidades.gov.br).

  • Mantendo regras similares primeira edio, a Segunda Conferncia tambm foi antecedida de conferncias municipais, regionais e estaduais. Desta vez foram realizadas conferncias em todos os 27 estados, sendo que em dois deles (Par e Rio de Janeiro), convocadas pela sociedade civil organizada. Com a participao de 1820 delegados e 410 observadores de todos os estados brasileiros e de diferentes segmentos, na mesma proporcionalidade da primeira edio, a Conferncia avanou na discusso da Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano - PNDU, discutindo e aprovando resolues em torno de quatro temas: Participao e Controle Social; Questo Federativa; Poltica Urbana Regional e Metropolitana e Financiamento do Desenvolvimento Urbano. Esses temas pretendiam preparar o aprofundamento da PNDU superando a abordagem setorial e construindo uma viso abrangente de modo a incluir a questo econmica, a questo territorial, a questo federativa e a questo da democracia. A nova etapa da PNDU j estava em curso no Ministrio, a partir do incio de 2005, como veremos mais adiante, mas foi interrompida com a sada do Ministro Olvio Dutra. Todos os quatro temas exigiam o tratamento transversal.5 Entre suas principais deliberaes, a Segunda Conferncia das Cidades definiu que a Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano deve conter um Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano estruturado nas vrias esferas da Federao e contar com instncias de representao do poder pblico e da sociedade civil descentralizadas, permanentes, consultivas, deliberativas e fiscalizadoras, conforme suas atribuies, visando articulao das polticas e aes das reas setoriais do desenvolvimento urbano, expressas por conferncia, conselhos, fruns de integrao setorial e fundos de desenvolvimento urbano, envolvendo os trs mbitos de governo, municipal, estadual e federal. Analisando as deliberaes podemos afirmar que estas avanam na construo de uma Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano ao estabelecer (i) as bases de um projeto nacional que promova o direito cidade, o desenvolvimento social, econmico e ambiental, o combate desigualdade social, racial, de gnero, e regional. (ii) diretrizes e instrumentos que promovam a integrao das polticas urbanas, atravs das polticas de habitao, saneamento ambiental, transporte e mobilidade, baseadas nas deliberaes da 1 e 2 Conferncia Nacional das Cidades e do Conselho das Cidades, considerando o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01) e a Constituio Federal; (iii) diretrizes e prioridades para a cooperao, a coordenao e a articulao de aes intergovernamentais na rea do Desenvolvimento Urbano, em particular nas matrias de competncia comum entre Unio, Estados e Municpios; (iv) a garantia da participao da populao e de associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade na formulao, execuo e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; e (v) diretrizes e orientaes que garantam que os investimentos pblicos sejam aplicados para o

    5 O Ministrio contratou estudos relativos a todos esses temas para fundamentar a II Conferencia das Cidades. Os trabalhos de Amir Khair Financiamento do Desenvolvimento Urbano; Nelson Saule Competncias Constitucionais e Pacto Federativo; Luiz Csar de Q. Ribeiro Regies Metropolitanas: anlise social, urbana, fiscal e institucional; Tnia Bacelar Tipologias de Cidades, Urbanizao e Territrio Nacional; e finalmente de ............... - Participao e Controle Social nas Polticas Pblicas. Com exceo dos dois ltimos estudos, os primeiros foram divulgados pelo MCidades por meio de CDs com o ttulo Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano distribudos na II Conferncia.

  • enfrentamento das desigualdades sociais e territoriais, para a distribuio de renda e o crescimento econmico com justia social. Cabe sublinhar o fato da questo metropolitana ter sido assumida como um dos temas centrais da II Conferncia. Segundo as resolues aprovadas, a Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano PNDU deve estabelecer diretrizes para programas e aes dirigidos a Regies Metropolitanas, Regies Integradas (RIDES) e aglomerados urbanos, considerando: a) os indicadores de desigualdade scio-urbansticos intra-urbanos; b) a identificao de reas vulnerveis intra-urbanas; c) a expresso metropolitana da regio nacional, regional, local; d) a economia regional polarizada pela regio e) o nvel de integrao dos municpios perifricos ao municpio sede; f) a institucionalidade da gesto metropolitana; g) o grau de complementaridade e a articulao entre os municpios que compem uma regio; h) instrumentos para articulao das polticas, projetos e aes nas reas de habitao, saneamento ambiental, mobilidade, integrao atravs do transporte coletivo, regularizao fundiria e controle do uso e ocupao do solo; e i) mecanismos para implementar os instrumentos de participao popular. No entanto, no que concerne aos instrumentos da Poltica Regional e Metropolitana, as resolues da Conferncia no avanam muito, ficando restritos aos j estabelecidos pelo Estatuto da Cidade: os planos diretores, planos de desenvolvimento regionais e metropolitanos, e gesto participativa com a instituio dos Conselhos das cidades. Outro aspecto a ser destacado que a Segunda Conferncia das Cidades deu um importante passo na consolidao do Conselho Nacional das Cidades, elegendo sua nova composio, agora com 86 membros, divididos por segmentos sociais assim distribudos: poder pblico federal (16); poder pblico estadual (9); poder pblico municipal (12); movimentos sociais e populares (23); entidades empresariais (8); entidades sindicais e trabalhadores (8); entidades profissionais, acadmicas e de pesquisas (6) e; organizaes no-governamentais ONGs (4). Alm desses titulares, com direito voz e voto, o Conselho contar com igual nmero de suplentes e mais 9 observadores dos estados, garantindo a presena de todas as unidades da federao nesse espao. No restam dvidas que jamais na histria desse pas a poltica urbana mereceu um debate democrtico to abrangente como vem acontecendo desde 2003, com o processo de realizao das Conferncias e o funcionamento do Conselho Nacional das Cidades. Outro sistema, o Sistema Nacional de Habitao de Interesse Social SNHIS aprovado por lei n. 11.124 em 2005, retoma a proposta de um sistema nacional de habitao baseado em cooperao federativa para a estruturao da poltica habitacional. Trata-se de uma construo absolutamente indispensvel para reverter o rumo excludente de crescimento das cidades. Ele garante o financiamento subsidiado que se combina terra, objeto do Estatuto da Cidade e do Plano Diretor.

  • Os dois primeiros anos de Funcionamento do Conselho das Cidades: um breve balano. Como o ciclo de Conferncias est articulado ao funcionamento do Conselho Nacional das Cidades, cabe registrar que esse espao foi fundamental na discusso e aprovao de resolues sobre as polticas urbanas nacionais. Na anlise dessas resolues, percebemos que se tratam de questes relevantes, relativas s diretrizes gerais e a regulamentao das polticas nacionais, aos programas desenvolvidos pelo Ministrio das Cidades, poltica econmica e seus impactos sobre as polticas urbanas, e ao funcionamento do prprio Conselho. Entre elas, destacam-se os seguintes temas: poltica nacional de habitao; poltica nacional de saneamento ambiental (gua, esgoto, resduos slidos e drenagem); poltica nacional de mobilidade, transporte e trnsito; campanha do plano diretor participativo; programa de regularizao fundiria e reviso da legislao existente; e a programa nacional de capacitao para a poltica nacional de desenvolvimento urbano. Desta forma, ao invs de proceder ao relato de cada uma das reunies ocorridas o que pode ser obtido atravs das atas das mesmas optamos por fazer uma leitura analtica dos dois primeiros anos de funcionamento do Conselho das Cidades que permitisse a identificao dos seus avanos, limites e desafios, na perspectiva da poltica nacional de desenvolvimento urbano e nesta, em particular, da dimenso metropolitana. Assim, tomaremos dois eixos de anlise na avaliao da sua dinmica de funcionamento: (i) o Conselho das Cidades enquanto canal plural de participao da sociedade organizada; e (ii) as condies de funcionamento e o processo decisrio no Conselho das Cidades.

    1. O Conselho das Cidades enquanto canal plural de participao da sociedade A pluralidade do Conselho est relacionada efetiva participao de uma diversidade de sujeitos coletivos nesta esfera pblica. Isto requer um tipo de institucionalizao que garanta o carter deliberativo do Conselho na sua rea de atuao e garanta o reconhecimento das decises e pactos estabelecidos no seu interior. Ao mesmo tempo, esta institucionalizao deve tornar o Conselho um espao permanente, para que seu funcionamento no esteja vinculado vontade dos gestores no exerccio dos seus mandatos, sujeito, portanto, a descontinuidade, j que sua existncia e funcionamento poderiam ser ameaados a qualquer momento pelo governo, frente a qualquer descontentamento. Por fim, tambm devem ser criados mecanismos e instrumentos para tornar a participao dos segmentos populares efetiva, tendo em vista que as reunies nacionais, em Braslia, criam um custo para a participao, que devem ser assumidos pelo Ministrio das Cidades, na perspectiva da criao de um modelo nacional de participao institucionalizada na gesto da poltica urbana. Evidentemente nenhuma medida formal burocrtica suficiente para dar conta dos problemas levantados, ainda que a democracia liberal burguesa, que prev papis definidos para os executivos e os parlamentos, esteja vivendo uma crise. Apenas a correlao de foras favorveis, dada na luta poltica, que pode garantir essas condies. No entanto essas questes emergiram no Conselho das Cidades e se tornaram objeto de preocupao dos participantes, motivo pelo qual so trazidas aqui.

  • Para a discusso do ConCidades enquanto um canal plural de participao da sociedade civil, tomaremos como referncia trs aspectos: (a) o tipo de institucionalizao do ConCidades; (b) a diversidade social na sua composio interna e; (c) a adoo de mecanismos e procedimentos de garantia da participao autnoma da sociedade. O Conselho das Cidades foi regulamentado pelo Presidente Luiz Incio Lula da Silva atravs do decreto n. 5.031, de 2 de abril de 20046. No primeiro artigo desse decreto, o governo estabeleceu que o Conselho das Cidades um rgo colegiado de natureza deliberativa e consultiva, integrante da estrutura do Ministrio das Cidades, tendo por finalidade propor diretrizes para a formulao e implementao da poltica nacional de desenvolvimento urbano, bem como acompanhar e avaliar a sua execuo, conforme disposto no Estatuto da Cidade. Torna-se preocupante o fato do ConCidades ser resultado de um decreto presidencial e no de uma lei aprovada pelo Poder Legislativo, tornando sua institucionalidade frgil e sua dinmica dependente da vontade do poder executivo. No entanto, apesar da limitao imposta pelo formato institucional, o Conselho das Cidades conseguiu se constituir em um espao dinmico de discusso, mostrando capacidade de tomada de decises em torno das polticas urbanas discutidas em seu interior, conforme veremos com mais detalhes posteriormente. Para isso, a nosso ver, foi decisivo o alto grau de compromisso do Ministrio das Cidades, com destaque para a postura do Ministro Olvio Dutra, que presidiu o Conselho Nacional das Cidades at sua substituio, em julho de 2005, quando em funo da reforma ministerial e da necessidade de ampliar sua base de apoio no Congresso, o presidente Lula nomeia Marcio Fortes como Ministro das Cidades. Alm disso, necessrio registrar a atuao dos secretrios e tcnicos do Ministrio, que apostaram e investiram nesse espao como arena de formulao e gesto participativa das polticas urbanas. interessante registrar que mesmo com a troca de Ministro o Conselho das Cidades manteve seu funcionamento regular, a II Conferncia Nacional das Cidades foi realizada conforme previsto e o os conselheiros(as) nela eleitos(as) foram empossados(as) em junho de 2006. Por outro lado, no possvel negar que a troca de ministro trouxe conseqncias em termos do perfil poltico do Ministrio, tornando-o mais conservador e interrompendo algumas das propostas em andamento, apesar desse efeito ter sido um pouco minimizado pela permanncia de grande parte da equipe do Ministrio nas diversas secretarias que o compe. Se antes era possvel perceber o investimento na direo da articulao das polticas urbanas, com o novo ministro passam a serem perceptveis os sintomas de fragmentao das mesmas. Em suma, podemos dizer que, apesar da fragilidade do Conselho, em razo da natureza institucional e de suas atribuies consultivas, foi decisivo o compromisso do Ministrio em tornar o Conselho das Cidades uma esfera pblica ampliada e democrtica de discusso e deciso em torno das polticas urbanas.

    6 O Conselho das Cidades foi criado, em 2001, por Medida Provisria n. 2220 emitida pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, aps a aprovao do Estatuto da Cidade.

  • Retomando a discusso sobre a pluralidade, percebe-se que na composio do ConCidades existe uma grande diversidade de segmentos sociais representados. Considerando-se os titulares e suplentes que compem o ConCidades, contata-se a presena de7: (i) Instituies Governamentais, com a representao do poder executivo e do poder legislativo nos mbito federal, estadual e municipal; (ii) Instituies sindicais e associaes profissionais; (iii) Instituies empresariais e patronais; (iv) Instituies da sociedade civil, envolvendo organizaes do movimento popular e organizaes no-governamentais. A anlise das organizaes sociais que compe o ConCidades indica que os principais sujeitos coletivos relacionados s polticas urbanas se representam no espao do Conselho das Cidades, abrangendo um amplo leque de identidades, padres de ao coletiva e segmentos sociais, alm do prprio setor governamental, representado por uma diversidade de Ministrios e rgos pblicos. No obstante essa diversidade, preciso ter clareza que a representao social no Conselho das Cidades est vinculada aos segmentos sociais com capacidade de organizao nacional e presena na cena pblica, e que conseguiram de alguma forma legitimidade social na temtica urbana. Alm disso, constata-se que alguns segmentos sociais importantes tm pequena representao, ou ainda no se fazem representar nesse espao, como por exemplo, o movimento ambientalista, as organizaes ligadas aos catadores de resduos slidos, organizaes feministas e o movimento negro, colocando como desafio ampliar os segmentos sociais envolvidos com a dinmica do Conselho das Cidades. Em relao composio de gnero, percebe-se a predominncia masculina no Conselho das Cidades, em todos os segmentos sociais, apesar das grandes diferenas entre estes. Mas cabe registrar a mudana ocorrida da I para a II Conferncia das Cidades, decorrentes, em grande medida das discusses envolvendo a adoo de critrios de gnero na composio desse espao. Assim, como pode ser observado na Tabela 1, podemos perceber que as mulheres ocupavam apenas 15,5% das 71 vagas titulares do ConCidades na gesto 2004-2005 e passam a representar 22,6% na gesto 2006-2007. A anlise de gnero no deve, porm, ser limitada composio do Conselho, mas abranger a avaliao das polticas e resolues aprovadas, j que a categoria gnero se constitui em um dos principais elementos articuladores das relaes sociais no contexto urbano. Sua utilizao nos permite entender como os sujeitos sociais esto sendo constitudos cotidianamente por um conjunto de significados impregnados de smbolos culturais, conceitos normativos, institucionalidades e subjetividades sexuadas que atribuem a homens e mulheres um lugar diferenciado no mundo, sendo essa diferena atravessada por relaes de poder que conferem ao homem, historicamente, uma posio dominante (Macedo, 2001). No entanto, o Conselho das Cidades no aprovou nenhuma resoluo ou poltica especfica para as mulheres, o que indica que a questo de gnero ou ainda no foi reconhecida como um aspecto relevante, ou est muito secundarizada na agenda do Conselho.

    7 Note-se que no utilizamos a classificao dos segmentos sociais utilizadas no Conselho das Cidades.

  • Tabela 1 Composio de Gnero no Conselho Nacional das Cidades Gesto 2004-2005 Gesto 2006-2007 Segmento Social

    % de mulheres

    N. de Mulheres sobre o total de titulares

    % de mulheres

    N. de Mulheres sobre o total de titulares

    Poder Pblico Federal 14,3 2 (14) 35,7 5 (14) Poder Pblico Estadual e Distrito Federal

    16,6 1 (6) 11,1 1 (9)

    Poder Pblico Municipal 10,0 1 (10) 16,7 2 (12) Movimentos Populares 21,0 4 (19) 30,4 7 (23) Entidades da rea empresarial 0 0 (7) 0 0 (8) Entidades da rea dos trabalhadores

    14,3 1 (7) 12,5 1 (8)

    Entidades da rea profissional, acadmica e de pesquisa.

    10,0 1 (5) 33,3 2 (6)

    Organizaes no-governamentais

    33,3 1 (3) 25 1 (4)

    Total 15,5 11 (71) 22,6 19 (84) Fonte: Os dados de 2004/2005 foram tabulados por Taciana Gouveia, ONG SOS Corpo, 2004 e os dados de 2006/2007 por Orlando Alves dos Santos Junior, FASE.

    Apesar das limitaes observadas, cremos que possvel afirmar que o Conselho das Cidades se apresenta como um espao pblico de representao dos principais sujeitos coletivos envolvidos com a problemtica urbana brasileira, mostrando capacidade para discutir e estabelecer pactos sociais em torno das polticas de desenvolvimento urbano, incluindo as polticas de habitao, saneamento ambiental e transporte e mobilidade. O perfil da representao poltica majoritariamente ligada aos movimentos sociais (incluindo a alm das entidades populares, ONGs, sindicatos e representaes profissionais) se deve ao longo processo de luta pela Reforma Urbana no Brasil que unificou diferentes e diversos atores, vis que foi fortemente apoiado pelo Ministro Olvio Dutra. O perfil dessa representao contraria os canais tradicionais pelos quais o governo federal e seus recursos so disputados: prefeituras e governos estaduais buscam canais partidrios ou utilizam parlamentares como despachantes (as emendas parlamentares cumprem um papel importante nas campanhas parlamentares o que gerou a expresso deputado-vereador); empresrios sempre tiveram canais diretos com a rea econmica do governo e seus lobbies funcionam tambm junto ao Congresso. Como essas formas de presso sobre o oramento federal mantm-se muito vivas no cenrio da coligao partidria para sustentao do governo Lula, o Conselho das Cidades convive com a tenso permanente sobre seu real poder poltico j que seu frum no a principal esfera reconhecida pelos municpios e nem pelos empresrios (em que pese a convivncia positiva e ainda a surpreendente

  • representao empresarial na segunda Conferencia das Cidades) como arena central de interlocuo com o governo.8 Uma das condies para que um conselho de gesto se constitua em uma esfera pblica ampliada com capacidade de mediao de conflitos e construo de consensos est relacionada aos mecanismos e procedimentos de garantia da participao autnoma9 da sociedade, tanto na escolha dos seus representantes, quanto na dinmica de funcionamento do Conselho. Nossa avaliao do Conselho das Cidades indica a adoo desses mecanismos e procedimentos, atravs de trs medidas: na escolha dos membros da sociedade que compem o Conselho, eleitos atravs dos segmentos sociais; na garantia de recursos para deslocamento e hospedagem dos membros dos movimentos sociais, das ONGs e dos trabalhadores10; e na definio da agenda de discusso do Conselho. O decreto presidencial N. 5.031, de abril de 2004, que dispe sobre a composio, estruturao, competncias e funcionamento do Conselho das Cidades, estabelece que os representantes, titulares e suplentes, dos segmentos da sociedade civil devero ser eleitos em assemblia de cada segmento, convocada especialmente para esta finalidade pelo Presidente do Conselho das Cidades o Ministro das Cidades, devendo ser convocada por meio de edital publicada no Dirio Oficial da Unio, sessenta dias antes do trmino do mandato de seus membros. Alm disso, conforme determina o Regimento Interno do Conselho, aprovado na sua primeira reunio, as vagas pertencem aos rgos ou entidades, mediante eleio no respectivo segmento, exceto os representantes do poder pblico, indicados pelos titulares dos rgos e entidades representados. Vale registrar que as funes dos membros do Concidades no so remuneradas, sendo seu exerccio considerado servio de relevante interesse pblico. Para viabilizar essa deciso, a assemblia de cada segmento foi realizada durante as conferncias nacionais, reunindo os delegados dos segmentos sociais eleitos nas conferncias estaduais e os indicados por organizaes sociais de carter nacional. Os procedimentos adotados garantiram que os segmentos escolhessem autonomamente seus representantes, sem a interferncia do poder pblico, j que os delegados tambm foram eleitos pelos respectivos segmentos nas conferncias estaduais e municipais. Conhecendo a tradio poltica brasileira, de bom alvitre no subestimar a possibilidade dos governos locais e das mquinas clientelistas terem influenciado a eleio de delegados da sociedade civil no mbito local e regional, mas improvvel que este setor tenha capacidade de articulao nacional a ponto de controlar esta escolha, como as duas Conferncias Nacionais vem demonstrando. Alm

    8 A ambigidade das aes do governo federal para atender s presses do Concidades e s presses dos empresrios ficam evidentes na alocao de R$ 1 bilho solicitado pelo Conselho para o FNHIS- Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social em 2006 e as medidas que desoneram a atividade de construo solicitadas pelo empresariado no mesmo ano. Para 2007 a lei oramentria prev uma queda de recursos para o FNHIS contrariando solicitao de R$ 3 bilhes feita pelo Concidades. 9 A participao autnoma da sociedade diz respeito s condies necessrias para que as organizaes sociais possam se fazer representar na esfera pblica e tomar decises no dilogo com os demais atores. 10 Na primeira gesto, somente o segmento dos movimentos sociais tinha direito passagem area, garantindo o deslocamento de seus representantes para Braslia, Na II Conferncia, a medida foi estendida para os representantes dos segmentos ONG e trabalhadores.

  • disso, acreditamos que as organizaes sociais de carter nacional tiveram, e tm, maior capacidade de se articularem dentro dos seus respectivos segmentos para elegerem seus representantes, o que garante legitimidade ao Conselho eleito. Assim, avaliamos positivamente os procedimentos adotados e cremos que eles deveriam ser mantidos nas prximas conferncias.11

    2. As condies de funcionamento e o processo decisrio no Conselho das Cidades

    A possibilidade dos conselhos de gesto se constiturem em canais democrticos de interao entre governo e sociedade depende da sua efetividade, no sentido da sua capacidade de (i) funcionar enquanto uma arena de debates, gesto de conflitos e construo de consensos, e (ii) tomar decises e torn-las efetivas no que diz respeito s polticas pblicas. Nesta perspectiva, buscamos avaliar as resolues aprovadas no mbito do Conselho e sua efetividade, como expresso da capacidade deste rgo em tomar decises e de fazer cumpri-las atravs de aes desenvolvidas pelo Ministrio das Cidades ou pelo prprio Conselho, quando for o caso. Nos dois primeiros anos de abril de 2004 at fevereiro de 2006 nas oito reunies que realizou, o Conselho das Cidades aprovou 38 resolues12 ligadas poltica urbana. Analisando essas resolues, percebemos que se tratam de questes relevantes, relativas s diretrizes gerais e a regulamentao das polticas nacionais, aos programas desenvolvidos pelo Ministrio das Cidades, poltica econmica e seus impactos sobre as polticas urbanas, e ao funcionamento do prprio Conselho13. Com o objetivo de facilitar a anlise, optamos por classificar as resolues em seis temticas: (i) dinmica de funcionamento do Conselho das Cidades; (ii) habitao; (iii) saneamento ambiental; (iv) transporte e mobilidade urbano; (v) planejamento territorial urbano; e (vi) poltica econmica, Oramento Geral da Unio e questes federativas, conforme pode ser observado na Tabela 2 e no Anexo, que traz uma sntese das resolues aprovadas por temtica. Pela anlise realizada, percebemos que o Conselho das Cidades demonstrou boa capacidade de efetivao das decises tomadas, sobretudo quando se tratavam de recomendaes dirigidas ao Ministrio das Cidades. Neste ponto, cabe registrar que o Conselho das Cidades, segundo o Decreto Presidencial que o criou, tem competncias deliberativas e consultivas, cabendo-lhe, de fato, na maior parte das suas atribuies, propor, recomendar ou sugerir medidas ou polticas dirigidas aos rgos

    11 No se pode ignorar que parte das lideranas dos movimentos sociais no esto isentos de se renderem aos vcios comuns da prtica poltica brasileira: clientelismo, mandonismo, perpetuao no poder impedindo o surgimento de novas lideranas, manipulao da informao, cooptao, etc. As caractersticas de movimentos de massa dificultam mais a manipulao da representao a do que nas demais foras representadas no Concidades mas seria ahistrico consider-los puros e isentos dos vcios citados. Os exemplos que confirmam essa afirmao so abundantes. 12 Em geral, as resolues foram apresentadas pelos quatro Comits Tcnicos que compem o Conselho das Cidades, que reuniram-se antes do Plenrio do mesmo. Mas, sobretudo nas matrias relativas dinmica de funcionamento do Conselho das Cidades, tambm foram apresentadas resolues pelos conselheiros(as) diretamente no Plenrio. 13 Uma descrio detalhada das resolues aprovadas pode ser encontrada no site do Ministrio das Cidades (www.cidades.gov.br).

  • governamentais. No obstante esta limitao institucional, constata-se que o Ministrio das Cidades, atravs da Secretaria Executiva do Conselho das Cidades ou das diversas secretarias do Ministrio, deu encaminhamento a praticamente todas as resolues aprovadas, demonstrando compromisso com a construo dessa esfera pblica.

    Tabela 2 Balano das Resolues Emitidas pelo Conselho das Cidades Deliberaes Tomadas pelo Conselho das Cidades 2004-2005

    Temtica Total Resolues 1. Dinmica de Funcionamento do Conselho das Cidades e das Conferncias das Cidades.

    7 Implementadas: 5 Em implementao: 1 Sem resultados: 1

    Habitao 5 Implementadas: 4 Em implementao: 1 Sem resultados: 0

    Saneamento Ambiental 7 Implementadas: 4 Em implementao: 1 Sem resultados: 2

    Transporte e Mobilidade Urbana 5 Implementadas: 1 Em implementao: 0 Sem resultados: 4

    Planejamento Territorial Urbano 5 Implementadas: 2 Em implementao: 2 Sem resultados: 1

    Poltica Econmica, Oramento Geral da Unio e Questes Federativas.

    12 Implementadas: 7 Em implementao: 0 Sem resultados: 4

    Fonte: Tabulao produzida pelos autores, a partir do balano produzido pelo Ministrio das Cidades e das resolues publicadas no Dirio Oficial da Unio, com base nas resolues aprovadas nas oito reunies realizadas entre abril de 2004 at fevereiro de 2006. Observaes: Na anlise das resolues, utilizamos os seguintes critrios: (i) Implementada: decises que foram cumpridas pelos rgos competentes, e produziram resultados efetivos ou parciais, conforme a resoluo aprovada no Conselho das Cidades; (ii) Em implementao: refere-se quelas resolues onde as medidas esto em fase de implementao e que sua efetividade ainda no pode ser ainda plenamente avaliada; (iii) Sem resultados: resolues que no foram implementadas pelos rgos governamentais responsveis ou que, quando implementadas, no produziram resultados efetivos. Apesar disso, percebe-se dois tipos de resolues aprovadas, aquelas dirigidas ao Ministrio das Cidades, e, portanto, sob sua responsabilidade direta, e outras dirigidas a outros rgos ou Ministrios, nas quais as deliberaes foram aprovadas na forma de recomendaes e onde o Ministrio das Cidades tem pouca governabilidade alm de informar a deciso ao rgo ou Ministrio responsvel. De fato, a implementao das decises ocorreu, via de regra, sob as resolues que incidiam diretamente sob aes do prprio Ministrio das Cidades. Aqui, cabe destacar o tema da poltica econmica, onde das 12 resolues aprovadas, quatro no tiveram resultados concretos, sendo ignoradas pelos rgos competentes para onde as resolues foram encaminhadas Ministrio da Fazenda, Ministrio do Planejamento, Conselho Monetrio Nacional e Banco Central.

  • Uma questo importante a ser destacada se refere intersetorialidade das aes no campo da poltica urbana. A articulao entre os programas de regularizao fundiria, de habitao, de saneamento ambiental e de transporte e mobilidade urbana ainda se mostraram incipientes, no se observando resolues voltadas para a integrao efetiva das diferentes polticas setoriais. Tampouco os Comits Tcnicos fizeram reunies entre si para discutir programas, projetos e aes conjuntas. Assim, as possibilidades de articulao das diversas secretarias ficaram restritas s Plenrias do Conselho das Cidades, onde foram apresentadas as discusses dos diversos Comits Tcnicos, e s reunies realizadas no mbito do Ministrio, o que, a nosso ver, limitou as potencialidades do Conselho das Cidades como espao de gesto de polticas urbanas integradas. A sada do Olvio Dutra do Ministrio das Cidades interrompeu a continuidade da estratgia traada para a PNDU Poltica Nacional de Desenvolvimento Urbano. Nos primeiros dois anos os esforos foram dirigidos para a institucionalizao e funcionamento do Ministrio, a retomada dos investimentos pblicos (que foram bem sucedidos em habitao e saneamento ambiental), a estruturao das Secretarias Nacionais com suas polticas setoriais, a readequao dos organismos que foram herdados pelo Ministrio (Denatran, CBTU e Transurb) e especialmente a realizao da Conferencia Nacional das Cidades e a implantao do Conselho das Cidades, o que ocorreu no primeiro semestre de 2004. Para dar continuidade a essa estratgia estava em curso o desenvolvimento de vrias propostas que tinham uma abordagem mais holstica e que estavam sendo cobradas especialmente pelo Ministrio da Reforma Agrria e pelo Ministrio do Desenvolvimento Regional alm do prprio Concidades. De todas as propostas iniciadas no comeo de 2005 interessa destacar trs: 1. Elaborao de um Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano para a definio de prioridades no territrio brasileiro baseada em indicadores scio-econmicos-ambientais-territoriais, em consonncia com a Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional. Para tanto contratado um diagnstico sobre as cidades brasileiras, elaborado pela Professora Tnia Bacelar, o qual foi apresentado ao Concidades no ms de julho de 2005. Infelizmente esse trabalho no teve continuidade, mas o excelente produto finalizado ainda pode servir de base para um futuro plano e para a definio de prioridades do desenvolvimento urbano no territrio brasileiro e em suas diversas regies. 2. Programa para Regies Metropolitanas. Trs trabalhos foram previstos para servir de base formulao e institucionalizao desse programa:

    2.1. Competncias constitucionais e pacto federativo. Por meio do qual se pedia ao jurista constitucionalista Nelson Saule para estudar, no mbito do pacto federativo, a necessidade ou no de lei complementar CF de 88 para precisar o conceito de Regies Metropolitanas e as exigncias para sua gesto visando, com a devida cautela para no agredir o pacto, aperfeioar suas definies e forma de gesto. Esse trabalho tambm foi apresentado ao

  • Conselho das Cidades em julho de 2005, mas tambm no teve prosseguimento. O Conselho deveria discutir a possvel apresentao pelo governo federal de lei complementar CF 88 sobre RMs, ao Congresso Nacional. 2.2. Anlise das metrpoles brasileiras (fiscal, institucional, socioeconmica e territorial) e mapeamento das reas vulnerveis nas principais metrpoles brasileiras. Esse trabalho, coordenado pelo Prof. Luiz Csar de Queiroz Ribeiro e elaborado por professores de 12 universidades brasileiras, forneceu material para a construo da cooperao federativa em torno das RMs. Este trabalho tambm no teve aproveitamento aps a sada do Ministro Olvio Dutra. 2.3. Por fim, estava previsto ainda o incio de uma grande concertao com representantes governamentais de RMs visando constituir um frum e um pacto sobre o Programa para as RMs. A ONG encarregada dessa agenda no chegou a ter o contrato fechado com a mudana de Ministros.

    3. Poltica Nacional de Pesquisa para o Desenvolvimento Urbano. A parceria entre o MCidades e a ANPUR- Associao Nacional de Ps Graduao em Planejamento Urbano e Regional estava em andamento em 2005 bem como tratativas com CNPQ, FINEP e CAPES para discusso de um documento contendo um levantamento das linhas de pesquisas prioritrias para a PNDU tanto gerais quanto setoriais. O Ministrio previa envolver todos os professores e pesquisadores nacionais nesse debate e j tinha o acordo da ANPUR que se responsabilizou em promover essa mobilizao nacional. Infelizmente esse processo tambm foi paralisado e nem chegou discusso no Concidades.14 Todos esses estudos e propostas, desenvolvidos no mbito da Secretaria Executiva em colaborao com as secretarias nacionais, pretendiam fundamentar a equipe do Ministrio e o Conselho das Cidades para os prximos passos da PNDU. Sua paralisao teve evidente impacto negativo, mas com a permanncia dos secretrios nacionais e respectivas equipes, na mudana de ministros, ele foi minimizado. No mbito do que foi aprovado pelo Concidades vale a pena destacar a campanha Plano Diretor Participativo: cidade de todos, lanada em maio de 2005 pelo Conselho das Cidades, a qual representou uma experincia de articulao intersetorial interessante. A Campanha definiu como seus eixos: (i) a promoo da incluso territorial, de forma a assegurar que os melhores lugares da cidade possam ser compartilhados pelos pobres; (ii) a posse segura e inequvoca da moradia, com o acesso terra urbanizada para todos e; (iii) a gesto democrtica da cidade, com a instituio da participao de quem vive e constri a cidade nas decises e na implementao do Plano. Apesar de todos os limites para a efetivao dessa

    14 Some-se a essas propostas, os trabalhos tambm interrompidos, total ou parcialmente, com a sada do Ministro Olvio Dutra: Indicadores Intra-urbanos e a proposta do IQVU- ndice de Qualidade de Vida Urbana, elaborado pelo IDHS/MG; Programa Nacional de Capacitao das Cidades e Sistema Nacional de Informao das Cidades, desenvolvidos no contexto do Ministrio. Estava pronta para entrar no ar ainda a REDE DU Rede Desenvolvimento Urbano que pretendia colocar em contato e permitir a troca de informaes entre entidades e instituies na rea do Desenvolvimento Urbano.

  • articulao, em razo da nfase dos planos diretores na regulao do uso do solo, entendemos que a reflexo em torno dessa experincia pode produzir aprendizados, tendo em vista que a campanha do Plano Diretor Participativo ampliou os sujeitos polticos nas discusses sobre as cidades e pode dar frutos para a implementao da funo social da propriedade, aps muita luta e conflito social, com certeza. O desafio est relacionado a construo de metodologias que permitam tratar de forma articulada as temticas estratgicas da poltica urbana, sobretudo as questes relativas produo das cidades, envolvendo a articulao entre a propriedade da terra, o financiamento habitacional e a rede de transportes e de infra-estrutura, o que implica na compreenso da dinmica espao-temporal sob o capitalismo contemporneo e em especial a relao entre o capital e o trabalho na produo do especo urbano (Harvey, 2000). Em geral, as polmicas neste primeiro ano de funcionamento do Conselho das Cidades ficaram circunscritas a questes pontuais das polticas setoriais habitao, saneamento ambiental, transporte e mobilidade urbana, e planejamento territorial urbano, dividindo segmentos sociais especficos15. Os representantes do governo federal, em geral, e o Ministrio das Cidades, em particular, se posicionaram, via de regra, favorveis s resolues aprovadas, participando das negociaes em torno da sua elaborao. De fato, o Ministrio das Cidades s foi derrotado na sua posio duas vezes. A primeira foi na votao de uma resoluo sobre a regulao dos veculos moto-txi, que depois de aprovada teve que ser revogada em funo da reao da imprensa e de amplos segmentos da sociedade, o que no foi contestado pelo prprio Conselho das Cidades, indicando que a mesma pode ter sido votada sem o necessrio aprofundamento da sua parte. A segunda, quando da aprovao do regimento para a II Conferncia das Cidades, se referia definio dos percentuais de participao dos delegados dos diversos segmentos sociais, onde o governo federal defendia uma diminuio do percentual de delegados dos movimentos populares e um aumento no percentual dos delegados dos governos estaduais e municipais. Neste caso, o Conselho das Cidades aprovou a manuteno dos mesmos percentuais utilizados na I Conferncia, o que foi acatado pelo governo federal, que decidiu diminuir o seu prprio percentual de forma a aumentar a participao dos governos estaduais e municipais. Frente quantidade de resolues aprovadas, e apesar dos dois pequenos conflitos apontados acima, cremos que possvel afirmar que tem sido gerada uma nova interao entre o Ministrio das Cidades e os diversos segmentos sociais com presena no Conselho, se constituindo uma dinmica de negociao, gesto de conflitos e

    15 A proposta de poltica nacional de saneamento ambiental, por exemplo, aprovada no Comit Tcnico de Saneamento Ambiental e no Conselho das Cidades em 2005, s no recebeu o apoio dos representantes da AESBE Associao das Empresas de Saneamento Bsico Estaduais, da ABES Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e pelo observador do Estado de Paraba (que tem direito a voto no Comit Tcnico), alcanando um grau de consenso que envolveu o segmento governamental, empresarial, movimentos populares, associaes profissionais e organizaes no-governamentais.

  • construo de consensos, capaz de influenciar as decises do poder pblico, ou seja, do Ministrio das Cidades e dos rgos do governo responsveis pela poltica urbana. Concluso: desafios para a construo de uma poltica nacional de desenvolvimento urbano sustentvel e democrtica. De acordo com nossa Constituio Federal a poltica urbana deve ser, necessariamente, produto resultante de uma cooperao federativa. Mas a questo no apenas jurdica. O Brasil no tem tradio de pacto federativo e compartilhamento na soluo de problemas da esfera pblica. Interesses paroquiais se superpem a interesses gerais. Como explicar que metrpoles como So Paulo e Rio de Janeiro, que so maiores do que a maior parte dos pases da Amrica Latina, no tenham um organismo de gesto compartilhada para seus 17 e 10 milhes de habitantes, respectivamente? Quais as conseqncias econmicas, sociais e ambientais da ausncia de uma poltica metropolitana e de acordos intergovernamentais num mesmo territrio? Qual o custo de tamanha irracionalidade e desarticulao que se escancara na desorganizao do transporte coletivo ou no destino do lixo, por exemplo? Como garantir que a ao federal supere o clientelismo das emendas parlamentares para constituir regras, prioridades e diretrizes resultantes de indicadores socioeconmicos e territoriais? E, o que mais difcil, como garantir uma proposta que seja duradoura e democrtica? A construo de uma esfera com participao direta, se no d conta de todos esses problemas, ainda a forma mais eficaz de perseguir esses objetivos. Ela pode constituir uma forte resistncia extino de conquistas alcanadas pelo movimento nacional de reforma urbana ao longo dos ltimos anos, em especial daquelas garantidas no governo Lula, e forte alavanca para alcanar metas pactuadas. Trata-se da construo de paradigmas que articulam conhecimento tcnico e crtico, fruto da produo acadmica e profissional, com o conhecimento trazido pelos que vivem e produzem a cidade. A construo de paradigmas que orientam e organizam as lutas sociais, ainda que setorialmente, no deve ser desprezada. Alis, pelas lutas e contradies vividas no cotidiano que muitas pessoas comeam a desenvolver sua conscincia social. Apesar do desprezo pela questo urbana (por parte dos economistas do stablishment e pela mdia especialmente) no h projeto de desenvolvimento que no passe pelas cidades. E estas ainda constituem um desafio para a esquerda brasileira, um desafio que no banal para a histria do pas. A anlise do funcionamento do Conselho das Cidades e do ciclo de conferncias das cidades no perodo 2005-2006 nos leva a concluir que esse processo representou uma importante inovao na participao social e na intermediao entre governo e sociedade, envolvendo processos de negociao, construo de consensos, deliberao e influncia sobre a gesto do Ministrio das Cidades. Alguns aspectos da experincia do funcionamento do Conselho das Cidades fundamentam esta assertiva. Primeiro, o Conselho das Cidades est se constituindo em uma arena de interao entre o governo e a sociedade, nas quais os interesses oriundos da sociedade, do mercado e do poder pblico so expressos, mediados, criando, portanto, condies para a

  • instaurao de processos consensuais de tomada de decises e aumento da eficcia e efetividade das polticas pblicas locais. Esta interao propiciou a criao de uma agenda legitimada de problemticas e polticas que impulsionaram aes do Ministrio das Cidades, conforme pudemos perceber na anlise da efetividade das resolues aprovadas pelo Conselho. O contato dos atores nacionais entre si e com os dirigentes e tcnicos governamentais, em segundo lugar, propiciou a emergncia de acordos cognitivos sobre o diagnstico dos problemas urbanos e sobre as prioridades e desafios do poder pblico, alm do estabelecimento de parcerias e alianas, pontuais e estratgicas, entre esse conjunto de atores nacionais. Por exemplo, o poder pblico, normalmente visto como monoltico, pde ser compreendido na sua complexa teia institucional, e o setor empresarial, geralmente visto com desconfiana pelos segmentos populares, pde ser conhecido na sua diversidade, permitindo, assim, alianas em torno de interesses comuns. De fato, esta experincia possibilitou uma nova forma de fazer poltica para os todos os atores envolvidos, o que implica, ao mesmo tempo, no reconhecimento dos interesses contraditrios e conflitantes, sem os quais no pode haver negociao e construo de consensos verdadeiros. Por fim, como conseqncia, podemos dizer que a dinmica do Conselho representou um processo de educao republicana e democrtica em torno do debate sobre a cidade e as polticas urbanas. Mas, apesar de todos os avanos identificados, tambm importante reconhecer alguns desafios que devem ser enfrentados na perspectiva de construir o Conselho enquanto um canal de democratizao da poltica nacional de desenvolvimento urbano: (i) alguns segmentos sociais importantes ainda no esto representados no Conselho das Cidades, como, por exemplo, o movimento ambientalista, as organizaes feministas e o movimento negro, tornando necessrio ampliar a participao dos atores sociais de carter nacional envolvidos nessa experincia; (ii) de fato, o Conselho Nacional das Cidades ainda se mostra fortemente impulsionado pelo compromisso do Ministrio das Cidades, o que restringe o seu alcance na definio de polticas e programas articulados com a ao de outros rgos governamentais. Assim, fundamental envolver os diversos Ministrios representados no seu interior, de forma a aumentar a capacidade decisria do Conselho; (iii) a inexistncia de um sistema de participao em torno das polticas urbanas, nos estados e municpios, tambm se revela como um desafio, tornando necessrio desenvolver mecanismos e instrumentos inclusive vinculados ao repasse de recursos que incentivem a institucionalizao de conselhos estaduais e municipais das cidades; (iv) em termos do seu funcionamento, parece importante avanar em alguns limites evidenciados no decorrer dessa experincia, sobretudo no que refere-se ao enfrentamento da questo metropolitana, assumindo-a como temtica estratgica para pensar um novo projeto de desenvolvimento para o pas, e o monitoramento do oramento do Ministrio das Cidades, na divulgao das decises tomadas e na relao com a sociedade; (v) por fim, tambm imprescindvel reconhecer os limites decorrentes do Decreto Presidencial que o criou e alterar o estatuto institucional-jurdico do Conselho das Cidades, de forma a torn-lo uma

  • instncia participativa aprovada por lei pelo Congresso Nacional e garantir seu carter deliberativo. Como tentamos argumentar, o ciclo de Conferncias das Cidades indica o potencial desse espao em se constituir em esfera pblica de concertao entre os diferentes atores e seus respectivos interesses em torno de polticas pblicas pactuadas socialmente, possibilitando a proposio de uma nova poltica de desenvolvimento urbano e de polticas de novo tipo nas reas de habitao, de saneamento ambiental, de mobilidade e transporte, e de planejamento territorial urbano. O grande desafio est ligado produo de alternativas para as desigualdades sociais nas cidades, enfrentando as tendncias ao desenvolvimento desigual que se verificam no cenrio urbano brasileiro. Ao contrrio do que muitos pensam, a busca de um pacto num debate aberto que conta com a participao de governos e sociedade, onde esto presentes interesses divergentes relacionados produo e usufruto da cidade, no pretende criar falsos pactos ou subordinar interesses, mas fazer emergir conflitos que sempre foram sufocados pela tradio poltica brasileira. O debate democrtico profundamente transformador no Brasil por isso ele acontece to raramente e to pontualmente. A poltica resultante depende da correlao de foras e por isso limitada, mas estamos diante de um processo que emancipador na medida em que se amplia o nvel de conscincia sobre a realidade e, portanto, sobre as relaes que perpetuam a desigualdade e a dominao. Mas os desafios so maiores do que a ampliao da conscincia: h que se edificar um espao de debates com capacidade de definir propostas coletivas que possam transformar as cidades brasileiras, tal como buscam os Conselhos e as Conferncias das Cidades. Bibliografia AVRITZER, Leonardo. Cultura Poltica, Associativismo e Democratizao: uma anlise

    do associativismo no Brasil . DCP/FAFICH/UFMG. mimeo. 1998. BORON, Atilio A. Tras El Bho de Minerva: mercado contra democracia en el

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  • Anexo Tabela Sntese das Resolues Emitidas pelo Conselho das Cidades Deliberaes Tomadas pelo Conselho das Cidades 2004-2005

    Temtica Total Resolues 1. Dinmica de Funcionamento do Conselho das Cidades e das Conferncias das Cidades.

    7 Implementadas: 5 Em implementao: 1 Sem resultados: 1

    Aprovao do regimento interno do Conselho das Cidades (2004).

    Implementada o regimento foi cumprido, orientando o funcionamento do ConCidades.

    Prope diretrizes e recoendaes para criao de Conselhos Estaduais e Municipais da Cidade ou equivalentes (2004).

    Em implementao as recomendaes progressivamente esto sendo implementadas pelos governos estaduais e municipais.

    Instituir um Grupo de Trabalho (GT) para elaborar uma proposta de anteprojeto de lei de institucionalizao do Conselho das Cidades e das Conferncias Nacionais (2004).

    Sem resultado O GT chegou a fazer uma reunio em 2005, mas no chegou a apresentar a proposta de anteprojeto.

    Instituir um Grupo de Trabalho (GT) com a finalidade de fazer uma proposta de organizao para a II Conferncia Nacional das Cidades (2004).

    Implementada O GT funcionou satisfatoriamente e apresentou a proposta de regimento na ltima reunio de 2004.

    Aprova o Regimento da 2 Conferncia Nacional das Cidades (2004).

    Implementada O Regimento foi aprovado e efetivamente adotado na organizao da II Conferncia.

    Acrescenta normas ao Regimento da 2 Conferncia Nacional das Cidades (2005).

    Implementada O Regimento foi aprovado e efetivamente adotado na organizao da II Conferncia.

    Acrescentar normas ao Regimento Interno da 2 Conferncia e dispe sobre o processo eleitoral de renovao dos membros do Conselhodas Cidades (2005).

    Implementada as normas foram adotadas e o processo eleitoral de renovao dos membros do ConCidades foi efetivamente cumprido.

    Habitao 5 Implementadas: 4 Em implementao: 1 Sem resultados: 0

    Recomendar ao Senado Federal a aprovao do PL 2710/92 (Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social), j aprovado na Cmara dos Deputados (2004).

    Implementada. A lei do Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social foi aprovada no Senado e posteriormente sancionada pelo Presidente da Repblica.

    Apia e recomenda a urgente votao do Projeto de Lei 3065/2004, que estabelece mecanismos e instrumentos que ampliam as garantias e proteo ao comprador de imvel (2004).

    Implementado. Trata do patrimnio de afetao, transformando-se na Lei 10.931.

    Cria um grupo de trabalho com a finalidade de mapear os conflitos relativos a deslocamentos e despejos no pas e identificar as tipologias do problema sugerindo solues estruturais (2005).

    Em implementao O GT fez poucas reunies, com funcionamento pouco efetivo. Em 2006, com a posse do novos conselheiros, o GT foi retomado.

    Recomenda ao Ministrio das Cidades a no obrigatoriedade da garantia (por parte

    Implementado As regras foram alteradas e agora o seguro corresponde

  • do agente financeiro) dos valores referentes ao total dos subsdios, nos prximos leiles do PSH Programa de subsdio Habitao de Interesse Social (2005).

    metade do total dos subsdios, divididos em duas parcelas, sendo a segunda liberada aps a execuo das obras correspondentes a primeira metade.

    Prope a composio do Conselho Gestor do Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social FNHIS (2006).

    Implementada a Composio do Conselho do Fundo aprovada pelo ConCidades foi adotada pelo governo federal.

    Saneamento Ambiental 7 Implementadas: 4 Em implementao: 1 Sem resultados: 2

    Prope a fiscalizao dos projetos e aes includos no Programa de Saneamento Ambiental e Urbano em Regies Metropolitanas, pelos Conselhos Municipais de Sade e pelos futuros Conselhos Municipais da Cidade (2004).

    Sem resultados Efetivamente o Programa no foi fiscalizado e monitorado pelos conselhos municipais.

    Apia o Anteprojeto de Lei da Poltica Nacional de Saneamento Ambiental e decide realizar diversos Seminrios no pas para discutir o mesmo (2004).

    Implementada O Conselho das Cidades manifestou apio ao projeto de lei da poltica nacional de saneamento ambiental e realizou seminrios em todas as regies do pas. Como resultado foi institudo um GT Interministerial para discusso do projeto.

    Recomenda que o Ministrio das Cidades intervenha no debate sobre o PL Complementar 01/2003, que restringe a aplicao de recursos do setor de sade em saneamento ambiental (2004).

    Implementada a deciso gerou um debate com o Conselho Nacional de Sade e um entendimento conjunto visando a aprovao do projeto com emendas que contemple as preocupaes do Conselho das Cidades (ver prxima resoluo).

    Apia os esforos do Conselho Nacional de Sade pela tramitao em carter de urgncia/urgentssima do PLC n. 01/2003, com os ajustes da redao dos incisos que trata dos recursos para saneamento (2004).

    Em implementao o PL ainda est em tramitao, com o apoio do Conselho das Cidades e do Conselho da Sade.

    Apia o anteprojeto de lei que regulamenta a poltica de saneamento elaborado pelo Grupo de Trabalho Interministerial de Saneamento Ambiental, institudo por Decreto Presidencial de 22 de setembro de 2004, e recomendar seu encaminhamento ao Congresso Nacional (2005).

    Implementado O Anteprojeto foi encaminhado ao Congresso Nacional em 2005.

    Recomenda ao Ministrio das Cidades o desenvolvimento de um programa de sensibilizao sobre saneamento ambiental e planejamento urbano visando incorporao da temtica de saneamento ambiental nos Planos Diretores Municipais (2005).

    Sem resultado Efetivamente no foi desenvolvido o programa de sensibilizao.

    Recomenda ao Ministrio das Cidades Implementado os critrios para

  • que continue a observar os critrios para alocao de recursos do OGU para o Programa de Saneamento Ambiental em Regies Metropolitanas definidos na seleo de municpios em 2005 e 2006 (2005).

    alocao de recursos no programa foram efetivamente observados pelo Ministrio das Cidades.

    Transporte e Mobilidade Urbana 5 Implementadas: 1 Em implementao: 0 Sem resultados: 4

    Apia as aes do Ministrio das Cidades visando a reduo dos custos do transporte coletivo urbano e baratear suas tarifas (2004).

    Sem resultados. O Conselho manifestou seu apoio, mas o objetivo de reduzir as tarifas no foi alcanado.

    Apia a campanha Jornada Mundial na cidade sem meu carro (2004).

    Implementada a Jornada Mundial na cidade sem meu carro foi realizada no dia 22 de setembro com o apoio do ConCidades.

    Recomendar ao Ministrio da Fazenda e do Planejamento, Oramento e Gesto a imediata utilizao dos recursos contigenciados do Fundo Nacional de Segurana e Educao do Transito (FUNSET) em projetos e programas de educao e segurana no trnsito (2004).

    Sem resultados. Os recursos do FUNSET no foram liberados.

    Apia os encaminhamentos do Ministrio das Cidades visando a reduo de 50% no preo do leo diesel com o objetivo de reduzir o valor das tarifas em 10% no mnimo (2004).

    Sem resultados O Conselho manifestou seu apoio, mas o objetivo de reduzir as tarifas no foi alcanado.

    Determina que o Ministrio das Cidades envide aes junto ao governo federal para a reativao do Grupo de Trabalho, que inclu Governos Estaduais, os operadores dos servios, os fabricantes de veculos, com vistas efetivao das medidas propostas para o barateamento das tarifas do transporte coletivo (2005).

    Sem resultados Apesar do posicionamento do ConCidades, o GT no foi reativado pelo governo federal.

    Planejamento Territorial Urbano 5 Implementadas: 2 Em implementao: 2 Sem resultados: 1

    Decide realizar uma Campanha Nacional de Sensibilizao e Mobilizao visando a elaborao e implementao de Planos Diretores Participativos, com o objetivo de construir cidades includentes, democrticas e sustentveis (2004).

    Implementada A campanha foi lanada e realizada durante 2005 e 2006.

    Emite orientaes e recomendaes para os municpios, voltadas para a implementao dos Planos Diretores de acordo com o Estatuto da Cidade (2005).

    Em implementao diversos municpios esto progressivamente incorporando as recomendaes emitidas pelo Conselho.

    Solicita Comisso de Desenvolvimento Urbano da Cmara Federal a realizao de uma audincia, em agosto de 2005, para

    Sem resultados Apesar da solicitao do ConCidades, a Comisso de Desenvolvimento Urbano no promoveu a

  • discusso do substitutivo da PL 3057 (lei de parcelamento do solo urbano e regularizao fundiria) (2005)

    audincia para discusso desse substitutivo.

    Emite as orientaes e recomendaes sobre os contedos mnimos do Plano Diretor (2005).

    Em implementao As orientaes foram divulgadas para os municpios e tm orientado e influenciado a elaborao dos planos diretores municipais.

    Recomenda ao Ministrio das Cidades a incluso do critrio de priorizao dos municpios com populaes tradicionais no Manual da Sistemtica 2006 do Programa Fortalecimento da Gesto Urbana Plano Diretor (2006).

    Implementado O critrio proposto foi includo conforme deliberao do ConCidades.

    Poltica Econmica, Oramento Geral da Unio e Questes Federativas.

    12 Implementadas: 7 Em implementao: 0 Sem resultados: 4

    Recomenda a autorizao de recursos suplementares pelo Banco Central e pelo Conselho Monetrio Nacional CMN, para aes de saneamento ambiental (2004).

    Implementada O Conselho Monetrio Banco Central, de acordo com a deciso do ConCidades, aprovou a suplementao dos recursos para aes em saneamento.

    Recomenda ao Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Servio (FGTS), que mantenha os limites percentuais histricos do FCP-SAN (2004).

    Implementada O Conselho Curador do FGTS, de acordo com a deciso do ConCidades, manteve os limites percentuais histricos do FCP-SAN.

    Recomendar ao Congresso Nacional e ao Conselho Curador do FGTS a no aprovao de propostas que alterem as regras que definem as reas nas quais os recursos podem ser aplicados (2004).

    Implementada o Congresso Nacional e o Conselho Curador do FGTS, de acordo com a resoluo do ConCidades, no aprovaram alteraes nas regras de utilizao dos recursos.

    Recomenda aos Parlamentares do Congresso Nacional que as emendas de alocao de recursos para o Ministrio das Cidades sejam destinadas, prioritariamente, para apoiar os municpios na sua elaborao dos Planos Diretores Participativos (2004).

    Sem resultados O Conselho fez a recomendao ao Congresso, mas o objetivo de alocar recursos do OGU para a elaborao dos Planos Diretores no foi alcanado.

    Recomenda a participao do Ministrio das Cidades no CMN, na discusso e tomada de decises sobre temas relacionados ao desenvolvimento urbano, em especial, Sistema Financeiro da Habitao, Sistema Financeiro de Saneamento, e Sistema de Financiamento Imobilirio (2004).

    Sem resultados O Conselho fez a recomendao, mas a participao do Ministrio das Cidades no CMN no foi garantida.

    Recomenda aos Ministrios da Fazenda, Planejamento, ao Banco Central e ao Conselho Monetrio Nacional que reavaliem os critrios estabelecidos na definio das capacidades de endividamento e de pagamento para a concesso de financiamentos ao setor publico, em

    Implementado Parcialmente algumas regras foram alteradas, apesar das restries da lei de responsabilidade fiscal.

  • saneamento ambiental (2004). Recomenda que o Ministrio da Fazenda que decida pelo retorno dos patamares das alquotas do Cofins cobrados das companhias de saneamento bsico (2005).

    Sem resultados Apesar da recomendao do Conselho das Cidades, o Ministrio da Fazenda no adotou a medida, mantendo o aumento da Confins cobrado das companhias de saneamento bsico. A medida est sendo contemplada no projeto de lei.

    Recomenda ao Ministrio da Fazenda a busca de alternativas que permitam s autarquias de saneamento com boa situao financeira acessar fontes pblicas de financiamento independentemente da situao financeira dos municpios (2005).

    Sem resultados Apesar da recomendao do Conselho das Cidades, o Ministrio da Fazenda no adotou medidas alternativas que permitissem as autarquias acessar recursos pblico na situao descrita.

    Recomenda ao Conselho Monetrio Nacional que adote medida permitindo ao Sistema Financeiro Nacional contratar, no exerccio de 2005, operaes de crdito com tomadores pblicos para o financiamento de empreendimentos de saneamento ambiental no valor de pelo menos R$ 3,3 bilhes (2005)

    Implementada O CMN adotou medida permitindo ao SFN contratar operaes de crdito no valor de R$ 2,9 bilhes.

    Recomenda ao Ministrio do Planejamento a suplementao oramentria para destinao de recursos para o Fundo Nacional de Habitao de Interesse Social no valor de R$1.200.000.000,00 (2005).

    Implementado Essa resoluo, em conjunto com a seguinte, serviu de presso para a efetivao da proposta. O Governo Federal suplementou o oramento destinado para o Fundo Nacional de Habitao atravs de medida provisria no valor de R$ 890 milhes.

    Recomendar ao Ministrio do Planejamento o encaminhamento de emenda retificativa ao Congresso Nacional para efetivar o compromisso de alocar 600 milhes no Oramento Geral da Unio de 2006 (2005)

    Implementado Essa medida, junto com a anterior, serviu de presso para a efetivao da proposta. O Governo Federal suplementou o oramento destinado para o Fundo Nacional de Habitao atravs de medida provisria no valor de R$ 890 milhes.

    Conclama o Presidente da Repblica a regulamentar, com a mxima urgncia possvel, a Lei no. 11.107, de 6 de abril de 2005 Lei de Consrcios Pblicos (2006).

    A

    Fonte: Tabulao produzida pelos autores, a partir do balano produzido pelo Ministrio das Cidades e das resolues publicadas no Dirio Oficial da Unio. Observaes: Na anlise das resolues, utilizamos os seguintes critrios: (i) Implementada: decises que foram cumpridas pelos rgos competentes, e produziram resultados efetivos ou parciais, conforme a resoluo aprovada no Conselho das Cidades; (ii) Em implementao: se refere quelas resolues onde as medidas esto em fase de implementao e que sua efetividade ainda no pode ser ainda plenamente avaliada; (iii) Sem resultados: resolues que no foram implementadas pelos rgos governamentais responsveis ou que, quando implementadas, no produziram resultados efetivos.