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ano 01 _novembro de 2013 revista política social e desenvolvimento #01 como enfrentar a crise das cidades? humberto miranda erminia maricato

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ano 01 _novembro de 2013

revista política social e desenvolvimento #01

como enfrentar a crise das cidades?

humberto mirandaerminia maricato

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FOTO EDUARDO FAGNANI

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Apresentação 06....................................................................................Eduardo Fagnani

16.......................................................................Neo desenvolvimentismo ou crescimento periférico predatório? Erminia MaricatoCidades no Brasil

08...........................Um balanço de 60 anos Humberto MirandaProblemática urbana brasileira

Índice

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Eduardo Fagnani

A melhor articulação entre as estratégias econômica e social engendrada nos últimos anos teve impactos positivos sobre as condições de vida dos brasileiros. Não obstante, a sociedade ainda é marcada por profundas desigualdades na distribuição da renda, no mercado de trabalho, no acesso aos bens e serviços sociais públicos e universais e na posse da propriedade rural e urbana. São traços do subdesenvolvimento que precisam ser superados se queremos um país mais justo e civilizado. Dadas as suas múltiplas interfaces, o enfrentamento dessas questões deve ser pensado na perspectiva de um projeto nacional de desenvolvimento. Nos últimos anos o debate sobre o tema voltou a ser objeto da reflexão de círculos de economistas. A chamada corrente “social-desenvolvimentista” procura articular a estratégia macroeconômica com inclusão social e distribuição da renda. Essas pistas são promissoras, mas ainda não dão conta da dimensão social do desenvolvimento em suas múltiplas vertentes. O enfrentamento desse desafio metodológico requer maior articulação da reflexão acadêmica entre economistas e especialistas em políticas sociais.

Com o objetivo de fomentar esse debate, em maio de 2013 o Centro de Gestão de Estu-dos Estratégicos (CGEE), o Instituto de Economia da Unicamp, a rede Plataforma Políti-ca Social e a Rede Desenvolvimentista organizaram o Seminário “Desafios e Oportuni-dades do Desenvolvimento Brasileiro”, integrado por dois módulos (aspectos econômicos e aspectos sociais).

Apresentação

Professor do Instituto de Economia da UNICAMP e pesquisador do CESIT

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O evento sobre a dimensão social contou com a colaboração de 51 especialistas reunidos em torno de diversas temáticas. Após a sua realização foi solicitado aos membros da rede Plataforma Política Social que escrevessem artigos voltados para avançar na perspectiva apontada pelo seminário. Esses esforços, que resultaram em dezenas de contribuições, motivaram a criação da Revista Política Social.

Esta edição inaugural reúne dois artigos sobre a questão urbana. O primeiro, escrito por Ermínia Maricato, sustenta que sem reforma urbana (leia-se reforma fundiária e imobiliária) não haverá desenvolvimento e sim “crescimento periférico predatório”, com reprodução da forte desigualdade social e grave deterioração ambiental. Para a autora, distribuição de renda é importante, mas insuficiente: “também é preciso distribuição de cidade”, ou seja, ampliar o direito à cidade. O que está em questão é a apropriação das rendas de localização urbana, afirma Maricato.

O segundo artigo, de autoria de Humberto Miranda, sublinha que “mais que em qualquer outro período da economia nacional, o projeto nacional de desenvolvimento reclama a centralidade da dimensão urbana”. O autor destaca que com a concorrência capitalista no contexto da globalização o controle do espaço pelo capital passou a ocor-rer “de fora do território e não se vincula, como no passado, à industrialização, mas ao circuito mercantil das commodities”. Submetida a essa lógica, a expansão das fronteiras agrícolas tem ampliado as heterogeneidades sociais e espaciais e agravado o padrão de urbanização.

Nas próximas edições serão disponibilizadas as demais contribuições temáticas dos espe-cialistas que integram a Plataforma Política Social.

Boa leitura!

Os vídeos completos das 12 mesas temáticas estão disponibilizados no siteda rede Plataforma Política Social (www.politicasocial.net.br)

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O crescimento da população urbana no Brasil tomado em dois períodos históricos longos, de trinta anos cada, com o primeiro ocorrendo no auge desenvolvimentismo, de 1950 a 1980 e o segundo, no auge do neoliberalis-mo, de 1980 a 2010, mostra a impor-tância do nexo urbano-industrial no primeiro e a perda deste no segundo. O processo de metropolização brasi-leiro inicia-se em 1950 e passa de uma urbanização suportável a problemáti-ca nos anos de 1960 para uma urba-nização acelerada nos anos de 1970 e caótica nos 1980. O primeiro período foi marcado pelo impulso dado à con-centração urbana e da renda, devido ao avanço da industrialização pesada e à intensificação do êxodo rural. Já o segundo período foi marcado pela

fragmentação urbana e enfraqueci-mento do planejamento estatal, devi-do à abertura econômica e ao baixo crescimento. Entre os dois períodos, o incremento líquido observado na população total do país foi pequeno, de 0,6% ou cerca de 400 mil pessoas. Já o incremento líquido na população urbana do país foi relativamente alto, de 24,8% ou 15,7 milhões de pessoas entre os dois períodos. Foi neste úl-timo período (1980-2010), portanto, que o incremento líquido de popula-ção urbana ganhou intensidade, sem se ter criado as condições necessárias para suportá-lo ou autosustentá-lo adequadamente.

O Brasil completou a transição rural-urbana no primeiro período (1950-

Problemática urbana brasileira:

Um balanço de 60 anos

Por Humberto Miranda

Doutor em Desenvolvimento Econômico,

Professor do Instituto de Economia e Pesquisador do Centro de Estudos de

Desenvolvimento Econômico (CEDE / UNICAMP)

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1980), passando de 03 para 18 cidades com mais de 500 mil habitantes, produ-zindo uma urbanização concentrada. No segundo, o crescimento das cidades entre 100 e 500 mil habitantes foi expressivo, passando de 124 (1980) para 245 (2010), sendo que as cidades com mais de 500 mil habitantes passaram de 18 para 38. Em termos líquidos — ou seja, conside-rando o saldo entre os dois períodos —, estamos falando de um conjunto de 37 cidades a mais, cada uma com 423,8 mil habitantes em média. O país responde, assim, por um sistema urbano concen-trado em termos metropolitanos e dis-perso em termos espaciais, onde figura também um conjunto mais expressivo de cidades médias. Esta configuração tor-nou-se complexa já que muitas cidades

médias se vincularam fortemente a ativi-dades dos setores agrominerais e agroin-dustriais e tem trajetórias particulares em cada contexto regional específico.

Completando esse quadro, podemos di-zer que a hierarquia urbana consolidou-se plenamente após 1980, com o fim do regime militar e com o aumento da par-ticipação política da população, culmi-nando na promulgação da Constituição Federal de 1988. Estes fatos colaboraram para estimular a criação (emancipação) de municípios de mais baixa posição na hierarquia (até 100 mil habitantes) na rede urbana nacional, bem como a o au-mento das cidades médias (entre 100 e 500 mil e entre 500 e 1 milhão de habitan-tes), passando de 133 para 270 (203%!)

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como se pode constatar no QUADRO 01.

Observa-se, de forma bem geral, que o nível hierárquico superior da rede urba-na brasileira, no que tange aos municí-pios com mais de um milhão de habitan-tes, chega a concentrar 37,8 milhões de habitantes, cerca de 20% da população total do país, em 12 cidades em 2010. Po-rém, o nível hierárquico inferior (até 100 mil habitantes) concentra 95% do nú-mero de municípios e 45% da população total. Como, aproximadamente, 35% da população brasileira estão concentradas em 270 municípios com mais de 100 mil e menos de um milhão de habitantes até 2010, se somarmos o nível metropolitano e o nível intermediário, veremos que 55% da população brasileira estão concentra-das em 282 municípios. Adicionalmente, temos 325 municípios com população entre 50 e 100 mil habitantes ou 11,7%

da população total em 2010, que são um conjunto de cidades intermediárias entre o menor nível hierárquico e as cidades médias, sendo este um conjunto de ci-dades menos estudado e chamado ainda genericamente de cidade média, mas, na verdade, não conhecemos bem sua hie-rarquia. O fato é que existem 607 muni-cípios, de um total de 5.565 — ou, apro-ximadamente, 11% municípios —, que concentram 127,8 milhões de habitantes. O quadro regional permite especificar a problemática como algo que caracteriza a urbanização subdesenvolvida, que recla-ma soluções próprias.

Através do gráfico 01 pode-se verificar que no segundo período houve um incre-mento de população urbana nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Cada região tem uma participação na distri-buição dos incrementos populacionais

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das suas cidades que reflete a importân-cia de sua população no conjunto do país.

A abertura externa da economia brasilei-ra nos anos de 1990 forjou novos deter-minantes para o urbano, reiterando a ex-pansão da fronteira agrícola/mineral, que não estaria voltada para atender exclusi-vamente aos objetivos de expansão inter-na do produto industrial, mas também e principalmente para atender aos impera-tivos do mercado mundial de commodi-ties, com mais países consumidores (asi-áticos) e com a prática de melhores níveis de preços. Nesse ínterim, os anos de 1990 e 2000 mostram, de um lado, os grandes centros urbanos se saturando (de gente e atividades) e as cidades médias cres-cendo vigorosamente e, de outro, novas centralidades urbanas voltando a ocorrer e pequenas cidades continuando a surgir intermitentemente nas áreas de expansão da fronteira agrícola. Em grande medida, são importantes áreas das regiões Centro-Oeste, das franjas da região Nordeste e dos fragmentos de área da região Norte que alimentam esse incremento urbano no segundo período (1980-2010). Uma urbanização que é explicada mais pela relação com diversas atividades econô-micas que por suposta dicotomia campo-cidade.

O caso brasileiro pode ser entendido dentro do caráter mais amplo de ocupa-ção territorial do capital em outros países latino-americanos. Cobos (1989 e 2008) discute a relação entre o agro e a urba-nização na América Latina, seu cresci-mento urbano anárquico e as mudanças nos processos territoriais na nova fase

de acumulação do capital, mas também “os pobres resultados do neoliberalismo” neste continente após os anos de 1990, especialmente por aumentar o nível de desigualdade e heterogeneidade territo-rial (urbano-regional). Este pesquisador é bastante claro no que diz respeito ao de-safio à nossa cultura científica e política:

Deste ponto de vista, pode-se perceber o mesmo caráter de ocupação do espaço urbano na América Latina, em que pe-sem as especificidades de cada formação nacional, que trazem a mesma problemá-tica, a do subdesenvolvimento urbano, especialmente nas análises sobre as áre-as metropolitanas. Contudo, seguindo o conselho de Cobos, precisamos entender as particularidades da urbanização sub-

“... debemos construir nuestra propia cultura científica y política para expli-car nuestra realidad particular y con-frontarla críticamente con la venida de fuera, del norte en particular; debe-mos construir las políticas territoriales para transformar nuestra realidad y resolver sus contradicciones, a partir de su explicación científica, los instru-mentos disponibles, los intereses que defendemos y nuestras posiciones en el abanico político-ideológico.”

(COBOS, 2010:19)

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desenvolvida na maneira como ela se projeta para além das áreas metropolita-nas. Afinal, são nas áreas não metropoli-tanas onde o espaço urbano se entrelaça mais fortemente com o espaço rural nos países latino-americanos e manifesta ca-balmente as implicações das desigualda-des e heterogeneidades socioespaciais.

No GRÁFICO 02 pode-se verificar a maior intensidade do crescimento da po-pulação urbana no segundo período. Esta intensidade é medida pela razão entre o crescimento da população urbana sobre a população total, sendo que um valor acima de um significa que a população urbana cresce a taxas superiores à total. Aqui há que se levar em conta a diversi-

dade regional e condições socioeconômi-cas próprias. A intensidade da urbaniza-ção na região sudeste reflete seu padrão industrial presente no primeiro período (1950-1980). As demais seguem a dinâ-mica de integração econômica de seus espaços regionais acionados por políticas nacionais ou em reação à integração com o mercado externo, especialmente no segmento de produtos primários.

Salienta-se que no período 2000-2010 aprofunda-se o processo de desconcen-tração produtiva regional engendrado na década de 1990, embora com algumas di-ferenças fundamentais: a reversão do dé-ficit comercial em superávits crescentes a partir de 2002, como consequência da

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desvalorização cambial de 1999; a redu-ção lenta e contínua das taxas de juros no-minais a um patamar inferior aos 26,5% de 2003; o crescimento contínuo do PIB agropecuário no período pós-desvalo-rização cambial (1999-2004), conforme aponta Balsadi (2008); o chamado “efeito China”, devido as suas altas e sucessivas taxas de crescimento econômico. Foram priorizadas as iniciativas de desenvolvi-mento local com maior inserção externa das regiões rurais, principalmente nos anos 2000, explicitando uma forte contra-dição entre a expansão da fronteira agro-pecuária e a exploração extensiva (espa-cialmente) e intensiva (ecologicamente) da base de recursos naturais, já que não resulta de ganhos de produtividade por hectare cultivado, mas da facilidade em manter a itinerância territorial (consultar CANO, 2002; e MIRANDA, 2012) como solução de conjunto para o crescimento da agricultura brasileira.

O geógrafo Milton Santos, no livro “A urbanização brasileira”, de 1993, já ha-via chamado a atenção para as diferenças entre população urbana, rural e agrícola, mostrando que a queda relativa da po-pulação rural era mais acentuada que o da população agrícola no Brasil. Santos (2009) aponta dois elementos para expli-car o fenômeno, um deles é a expansão da fronteira agrícola e o outro as migrações inter-regionais.

“O fenômeno não se dá de maneira homo-gênea, uma vez que são diferentes os graus de desenvolvimento e ocupação prévia das

diversas regiões, pois estas são diferente-mente alcançadas pela expansão da fron-teira agrícola e pelas migrações inter-re-gionais.” (SANTOS, 2009, p. 34)

São “cidades agrícolas” aquelas que sur-gem dotadas de um fato urbano próprio e sob o efeito do alcance do processo de expansão da fronteira agropecuária e das migrações entre regiões, transferindo contingentes social e culturalmente di-ferenciados de populações para subespa-ços regionais que se caracterizam como verdadeiras plataformas exportadoras de grãos ou carne bovina ou como retaguar-das territoriais para realização da produ-ção agropecuária. São cidades agrícolas no sentido de abrigarem no interior do município ou da hinterlândia modalida-des de produção agropecuária, e o fato urbano se manifesta de modo uniforme, como um “implante urbano”, para favo-recer a logística de escoamento dessa produção. O espaço rural do município, todavia, perde características naturais e singularidades.

Em síntese: o que parecia para muitos uma dualidade ou contraste gerado pela especificidade do processo de desen-volvimento brasileiro, crescimento das cidades e “esvaziamento” do rural, hoje pode parecer uma regularidade da for-ma de inserção da economia brasileira no mundo globalizado, embora esta não seja necessariamente decorrente de um “esvaziamento” do rural. O que parecia contraste torna-se complementaridade; o que era dualidade torna-se possibilida-

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de de maior articulação rural-urbana ou perspectiva de maior integração territo-rial. O que estava definido como espaço residual, para além dos perímetros ur-banos, hoje, o rural, parece mais “preen-cher” a dinâmica urbana do que ser seu pressuposto negativo, o não urbano. As regiões são mais agrícolas ou agromine-rais que rurais e as regiões urbanas não prescindiram necessariamente de áreas agrícolas, especialmente no caso das ci-dades médias que se tornaram ainda mais importantes regionalmente.

As áreas não metropolitanas podem re-produzir ou mimetizar o processo de urbanização das áreas metropolitanas, mas o que chama atenção é o aumento da desigualdade e heterogeneidade socio-espacial na urbanização periférica. Co-bos (2008) tem chamado a atenção para o fato que o desenvolvimento desigual produziu, nos últimos anos na América Latina, da pequena cidade à extensa ci-dade-região, múltiplas formas urbanas que se combinam complexamente, com tamanhos populacionais e estruturas eco-nômico-sociais muito distintas (COBOS, 2008: 151-152). Embora Cobos discuta esse problema ao analisar as metrópoles periféricas, aqui neste artigo tentou-se mostrar que o processo engloba tam-bém o avanço da fronteira agrícola e, por conseguinte, está presente em áreas não metropolitanas, todavia, com novas de-terminações: o controle do espaço pelo capital acontece de fora do território e não se vincula, como no passado, à in-dustrialização, mas ao circuito mercantil

das commodities, especialmente, após a ascensão da China.

De modo geral, considera-se que a di-nâmica urbana dos espaços “inter-intra” regionais brasileiros modificou-se. Se du-rante muito tempo entendeu-se a urbani-zação como um fenômeno socioespacial derivado da dinâmica engendrada por determinações mais amplas da indus-trialização e de seu produto principal, a metropolização, hoje, embora a questão metropolitana seja central nos estudos do subdesenvolvimento latino-ameri-cano, outro fenômeno reclama atenção: o avanço da urbanização em áreas não metropolitanas, criando novas áreas de concentração populacional em direção às regiões centro-oeste/norte/nordeste do Brasil. Estão no centro dessa discussão os efeitos do avanço da fronteira agrícola sobre o padrão de urbanização. Do pon-to de vista do subdesenvolvimento, isto significa aumento de heterogeneidades socioespaciais, reforçando o status quo agrário como um bloqueio estrutural à melhor distribuição territorial das cida-des e o status quo urbano através da se-gregação socioespacial nas cidades.

Diante de tal complexidade, com níveis de hierarquização diferenciados por es-tratos de população, com problemas tipi-camente metropolitanos penetrando ou-tros níveis hierárquicos intermediários, devido ao processo físico de conurbação e de interpenetração das relações capita-listas via ampliação do circuito imobiliá-rio e financeiro, bem como pela crescente

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processo de periferização nas cidades em praticamente todos os níveis hierárqui-cos, levando à generalização do fenô-meno da segregação socioespacial, não se pode negar que o enfrentamento dos problemas socioeconômicos nacionais passa necessariamente pelo tratamento

que se está dando ou que se dará à ques-tão urbana. Mais que em qualquer outro período da economia nacional, o projeto nacional de desenvolvimento reclama a centralidade da dimensão urbana.

Bibliografia

BALSADI, Otávio. O mercado de trabalho assalariado na agricultura brasileira e suas diferenciações regionais no período 1992-2004. São Paulo: HUCITEC, 2008. 291 pág.

CANO, Wilson. (2008). Desconcentração produtiva re-gional do Brasil 1979-2005. São Paulo: Editora UNESP. 294 pág.

CANO, W. (2002). Ensaios sobre a formação econômica regional do Brasil. Campinas, SP: Ed. UNICAMP. 151 pág.

COBOS, Emilio P. (2008). Presente y futuro de las metrópolis de América Latina. Territorios 18-19. Bogotá, pp. 147-181.

COBOS, Emilio P. (1989). “Acumulación de capital y estructura territorial en América Latina”, en LUNGO, Mario (comp.). Lo urbano: Teoría y métodos. CSUCA, Editorial Universi¬taria Centroamericana, San José, Costa Rica.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ES-TATÍSTICA – IBGE (2010). Censo Demográfico. Brasil. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/.

MIRANDA, Humberto (2012). Expansão da agricultu-ra e sua vinculação com o processo de urbanização na Região Nordeste/Brasil (1990-2010). EURE (Santiago), vol.38, n.114, pp. 173-201.

SANTOS, M. (1993). A urbanização brasileira. 5ª edição, 2ª reimpressão. São Paulo: Editora da USP, 2009. 174 pág.

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INTRODUÇÃO - CIDADES GLOBAIS NO CONTEXTO DO CAPITALISMO PERIFÉRICO

País subdesenvolvido, país do sul, de-pendente, periférico, semi-periféri-co, em desenvolvimento, emergente, são algumas das classificações, que foram atribuídas à condição do Bra-sil, dependendo, inclusive, da filiação ideológica ou acadêmica de quem as atribui. A sigla BRICS expressa o pres-tígio que alguns países, e entre eles o Brasil, passaram a gozar a partir de um determinado momento, no início do século XXI, marcado pela mudan-ça na geo-política mundial2. Um país que servia de piada para estrangeiros e brasileiros, torna-se um player inter-nacional e modelo, segundo a mídia do mainstream, para a inovação pro-

dutiva, gestão de políticas sociais e até para política urbana3.

A nova fase de internacionalização dos capitais e dos mercados ganhou o glamouroso nome de globalização e acompanhando a tendência algumas cidades foram cunhadas como glo-bais4.

A globalização nada mais é do que uma etapa específica do velho proces-so de internacionalização do capital (CHESNAIS, 1996). Em 1945 Caio Prado Junior, primeiro historiador marxista brasileiro, afirmava que no mundo contemporâneo não há mais história econômica de cada país, mas a história da humanidade. Ele não ignorou as especificidades do país quando escreveu “História econômica

Cidades no Brasil:Neo desenvolvimentismo ou

crescimento periférico predatório1

Por Erminia Maricato

Professora da Pós Graduação da Faculdade de

Arquitetura da USP e Professora Visitante do

Instituto de Economia da UNICAMP

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do Brasil” tanto que destacou a herança colonial portuguesa, a escravidão resis-tente, a desigualdade persistente, o papel ambíguo dos homens brancos na socie-dade escravocrata, a dominância da mo-nocultura de exportação, como heranças que contribuíram para o travamento do desenvolvimento do país. Mas em cada uma dessas características específicas Caio Prado via também a predominância da presença internacional (PRADO JR, 1972).

Essas lembranças pretendem apenas tra-zer para o começo desse texto alguns con-ceitos que a globalização sufocou durante um certo período. Estamos nos referindo às teorias sobre desenvolvimento/subde-senvolvimento que se seguiram ao esfor-ço da CEPAL- Comissão Econômica para América Latina e Caribe, para explicar o atraso econômico das sociedades latino americanas, em meados do século XX, e que hoje voltam a ocupar os estudiosos no Brasil5. Apesar de criticada em sua visão dualista a CEPAL constituiu, nes-se período, um momento de produção teórica inovador e independente sobre a condição dos países latino americanos na divisão do poder mundial.

Constatada a situação do subdesenvolvi-mento, ocuparam-se, os formuladores da CEPAL, em traçar estratégias de desen-volvimento as quais geraram as propostas de industrialização (tardia) por substitui-ção de importações, política conhecida por desenvolvimentismo.

Não se trata, neste texto sobre cidades, de discutir se existiria uma saída nacio-

nal para superar as condições atrasadas dos países latino-americanos em relação à condição dos países centrais do capi-talismo e se essa saída deveria seguir os passos daquela industrialização. Trata-se de reafirmar a heterogeneidade estrutu-ral que nos separa (e que nos une). Longe de desaparecer, essa relação se mantém e

até se aprofunda, especialmente nas cida-des, com a globalização como vamos ver. Percebemos uma certa dificuldade em usar as classificações desenvolvido e sub-desenvolvido, já que não somos nem um nem outro, mas recusamos a concepção etapista presente no conceito “em desen-volvimento”. Vamos reafirmar a manu-tenção da leitura dialética entre setores desenvolvidos (ou neo-desenvolvidos) e setores atrasados (ou neo atrasados) para explicar a realidade interna e externa de países como o Brasil no contexto mun-dial revolucionado pelo avanço tecnoló-gico das comunicações e pela mudança geopolítica.

“A nova fase de internacio-nalização dos capitais e dos mercados ganhou o glamou-roso nome de globalização e acompanhando a tendên-cia algumas cidades foram cunhadas como globais”

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Precedendo os estudos da Cepal ou por vezes seguindo o caminho aberto por ela, estudiosos brasileiros, weberianos e mar-xistas, estudaram a condição estrutural do Brasil no capitalismo periférico que muito nos ajuda a entender as cidades6.

Desigual e combinado, ruptura e conti-nuidade, modernização do atraso, mo-dernização conservadora, capitalismo travado, são algumas das definições que explicam o paradoxo evidenciado por um processo que se moderniza alimentando-se de formas atrasadas, e, frequentemente, não capitalistas, strictu senso. As cidades são evidencias notáveis dessa construção teórica e nelas, o melhor exemplo talvez seja a construção da moradia (e parte das

cidades) pelos próprios moradores (traba-lhadores de baixa renda), aos poucos, du-rante seus horários de folga, ao longo de muitos anos, ignorando toda e qualquer legislação urbanística, em áreas ocupadas ilegalmente.

Francisco de Oliveira forneceu a chave explicativa para a gigantesca prática da au-toconstrução da moradia ilegal (uma es-pécie de produção doméstica) pelos traba-lhadores ou pela população mais pobre de um modo geral. Ela está no rebaixamento do custo da força de trabalho, que ocupa seus fins de semana (horários de descan-so) na construção da casa (OLIVEIRA, 1972).

Zona Norte de São Paulo

Fonte: SEHAB/PMSP, 2004.

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Essa prática contribuiu para a acumula-ção capitalista durante todo período de industrialização no Brasil, particular-mente de 1940 a 1980 quando o país cres-ceu a taxas aproximadas de 7% ao ano e o processo de urbanização cresceu 5,5% ao ano (IBGE). À industrialização com bai-xos salários correspondeu a urbanização com baixos salários. (MARICATO, 1976, 1979, 1996). O exemplo revela que uma certa modernização e um certo desenvol-vimento (industrialização de capital in-tensiva, produção de bens duráveis) de-penderam de um modo pré-moderno, ou mesmo pré-capitalista (a autoconstrução da casa) de produção de uma parte da ci-dade. Essa imbricação foi (e ainda é) fun-

damental para o processo de acumulação capitalista nacional e internacional. Ela se aplicou perfeitamente à produção das cidades que receberam a indústria auto-mobilística a partir de 1950 - Volkswa-gen, Chrysler, Mercedes Benz - e se aplica hoje nas cidades que podemos chamar de globais.

A tabela abaixo mostra que mais de 80% dos domicílios em favelas (aglomerados subnormais contabilizadas pelo IBGE, e praticamente um terço do déficit habita-cional, estavam nas principais metrópo-les brasileiras de acordo com o Censo de 2000 (IBGE - Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística).

Figura: Concentração e desigualdade

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A população moradora de favelas cresceu mais do que a população total ou do que a população urbana nos últimos 30 anos, isto é, de 1980 a 2010 (IBGE)7.

A terra urbana (assim como a terra rural) ocupa um lugar central nessa socieda-de. O poder social, econômico e político sempre esteve associado à detenção de patrimônio seja sob a forma de escravos (até 1850) seja sob a forma de terras ou imóveis (de 1850 em diante). Essa marca – patrimonialismo - se refere também à privatização do aparelho de Estado tra-tado como coisa pessoal. O patrimonia-lismo está ligado à desigualdade social histórica, notável e persistente que marca cada poro da vida no Brasil. E essas ca-racterísticas, por outro lado, estão ligadas ao processo de exportação da riqueza ex-cedente para os países centrais do capi-talismo. Celso Furtado mencionou várias vezes em seus trabalhos o convívio da ex-portação da riqueza excedente com uma estreita elite nacional consumidora de produtos de luxo. Esse quadro forneceria as características de um mercado, por as-sim dizer, travado (FURTADO, 2008).

Recente relatório da ONU - HABITAT “Estado de las Ciudades de América La-tina y el Caribe 2012” mostra que o Bra-sil, a sexta economia do mundo, mantém uma das piores distribuições de renda no continente mesmo após os avanços, nes-se sentido, verificados nos governos do Presidente Lula. São mais desiguais do que o Brasil, na América Latina, apenas os países Guatemala, Honduras e Colôm-

bia. Essa marca, a da desigualdade, está presente em qualquer ângulo pelo qual se olha o país e, portanto, também nas ci-dades8.

Evidentemente para esse capitalismo “funcionar” como parte da divisão inter-nacional do trabalho, os trabalhadores urbanos integrados ao processo produ-tivo, mas excluídos de grande parte dos benefícios que o mercado de consumo assegura e especialmente excluídos da cidade, são submetidos a uma poderosa máquina ideológica quando não pode ser simplesmente repressora. Além da pode-rosa máquina midiática a generalização do débito político, o favor como media-ção universal, são relações que explicam muito a cidade e uma sui generis forma de cidadania no Brasil: Direitos para al-guns, modernização para alguns, cidade para alguns ... (CASTRO e SILVA, 1997)9.

Não sendo o caso de desenvolver aqui essas ideias, vamos resumir as caracterís-ticas históricas da metrópole no capitalis-mo periférico da seguinte forma10:

1) A persistente ilegalidade fundiá-ria e imobiliária forma a periferia urbana que frequentemente se configura como um depósito de pessoas em áreas não servidas ou precariamente servidas pela infraestrutura urbana e que não conta também com equipamentos sociais pú-blicos e privados. Em algumas capitais de Estados, os domicílios ilegais são mais numerosos do que os domicílios legais revelando que a “exceção é mais regra do

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que exceção e a regra é mais exceção do que regra”. São os casos das capitais dos estados do norte e nordeste (Manaus, Be-lém, São Luiz, Fortaleza, Teresina, Recife, Maceió, Natal). Entretanto, mesmo nas cidades importantes do sul, do sudeste e do leste, a porção urbana ilegal varia en-tre 15%, nos municípios centrais de regi-ões metropolitanas (São Paulo, Curitiba), 25% (Belo Horizonte, Porto Alegre) ou mais de 30% (Salvador, Rio de Janeiro)11.

2) Ligada a esse fato está a falta de controle do Estado sobre o uso e a ocu-pação do solo urbano, em uma parte da cidade e exatamente aquela de residência da população pobre. Impedidos de ocu-par a cidade formal (ou do mercado) a população pobre ocupa as áreas que “so-bram” ou que não interessam ao mercado imobiliário. Grande parte dessas áreas é ambientalmente frágil (mangues, dunas, matas preservadas por lei, Área de Pro-teção de Mananciais, Áreas de Proteção Permanente, Parques Nacionais e Estadu-ais, encostas de morros). Além da agres-são ambiental estão presentes os riscos de desmoronamentos que a cada temporada de chuvas são responsáveis por acidentes com mortes.

3) Também como variável compon-do esse quadro está o mercado residen-cial restrito, ou seja, mercado capitalista formal, legal ou como queiram chamar, para uma pequena parcela da população. A esse mercado de luxo ou especulativo, notadamente fundiário/rentista, corres-ponde um patamar produtivo baixo e in-

tensa exploração da mão de obra.12

4) As leis avançadas e detalhadas e o prestígio dos Planos Urbanísticos con-trastam com a fragilidade operacional do Estado. Leis e planos que não se aplicam ou são aplicados para uma parte da cida-de (leia-se, de acordo com as circunstân-cias) revelam a importância da retórica, dos discursos e a desimportância da re-alidade urbana quando se refere a de-terminadas classes sociais13. O poderoso aparato jurídico e burocrático do Estado no Brasil contrasta com as frágeis esferas operacionais fazendo lembrar um ... Ele-garça, ou seja, elefante com pés de garça. O poder está nos gabinetes incluindo me-lhores salários, mais recursos, mais equi-pamentos.14

“O Elegarça”

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A aplicação da legislação urbana tem um papel estratégico nas relações sociais marcando os excluídos com a condição de ilegalidade. Leis e planos, isto é, a for-malização do uso do solo acarreta a ex-pulsão. Os pobres não cabem na cidade legal. Diversas teses e mestrados sobre a cidade de Curitiba revelam esse fato15.

5) A universalização do favor, o

clientelismo, a privatização da esfera pú-blica mediam as relações sociais e se apli-cam inclusive nas relações entre o exe-cutivo, o legislativo e o judiciário. Essa “flexibilização” se combina, contradito-riamente, a uma notável burocratização resultante de procedimentos exagerados e legislação detalhista. Elaborar planos é fácil. O difícil é implementá-los nesse contexto.

Rocinha – Rio de Janeiro

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Vamos tratar dos impactos trazidos pela globalização a essa cidade no contexto es-pecífico da sociedade brasileira que para alguns está vivendo um neo-desenvolvi-mentismo, para outros um desenvolvi-mentismo de esquerda ou social desen-volvimentismo. Apesar do aumento da capacidade de consumo nas faixas de bai-

xa renda e do boom do mercado imobili-ário residencial, os padrões periféricos de urbanização se reproduzem (incluindo a nova ocorrência do loteamento fechado), agravando o presente e comprometendo o futuro da cidade global periférica.

Rocinha e Ipanema – Rio de Janeiro

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METRÓPOLES BRASILEIRAS E A GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL

As mudanças que acompanharam a rees-truturação capitalista internacional im-pactaram fortemente o território brasilei-ro dando novos rumos para as dinâmicas demográfica, social, econômica e terri-torial (portanto também rural, urbana e ambiental).

Os grandes conglomerados transnacio-

nais – principais motores da globalização - envolvidos com a produção/explora-ção e exportação de commodities como grãos, carne, celulose, minérios e etanol, lograram reorientar a secular ocupação urbana que se manteve, após o século XVII até poucas décadas atrás, próxima ao litoral. A interiorização das cidades acompanhou a estruturação de um pode-roso setor de agrobusiness de corte capi-talista, tecnologicamente avançado e isso mudou o cenário de muitas regiões além de mudar também a relação entre elas.

Figura: Brasil pré-globalização - A herança histórica: concentração urbana na faixa litorânea

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Contrariando tendência anterior, o cen-so de 1980 já apontava que as metrópo-les passavam a crescer menos do que as cidades de porte médio (entre 100.000 e 500.000 habitantes) e dentre as me-trópoles cresceram mais as do norte e do centro-oeste. Após 2,5 décadas desse

modelo, o Brasil se divide ao meio, em 2000, como mostram os levantamentos coordenados pela profa. Tania Bacelar, incorporando ao sudeste e ao sul, regiões tradicionalmente mais ricas e desenvol-vidas, o centro-oeste, território ocupado pelo agro-negócio.

Figura: Brasil na globalização - A herança da desigualdade – renda per capita

FIGURA 1 E 2 - Extraído da apresentação “Globalização e Território: Debate mundial e leitura a partir do Brasil” de Tania Bacelar. São Paulo, maio 2008

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Apesar da persistência de forte desigual-dade, todas as regiões brasileiras cresce-ram mais do que o sudeste (que mantem o epicentro industrial e pós-industrial do Brasil) o que implica numa diminuição

da desigualdade regional. O VTI- Valor da Produção Industrial do Estado de São Paulo cai, de 80,7% em 1970 para 61,8% em 2005, em relação ao conjunto do país. A região metropolitana de São Paulo era responsável, em 1970 por 61,8% do VTI brasileiro e em 2005 passa a 43,5%, em-bora a cidade continue a manter sua he-gemonia no território brasileiro.

O espraiamento das metrópoles pelas re-giões fica evidenciado por meio das no-vas estratégias de localização e logística de setores produtivos e comerciais, ativi-dades industriais inovadoras, ampliação dos serviços vinculados à comunicação, finanças e educação, arranjos urbanos re-gionais ligados à produção para exporta-ção, e especialmente, os condomínios ou

loteamentos fechados que passam a dis-putar as terras da periferia urbana com a população de baixa renda.16

Não cabe qualquer dúvida sobre o forte efeito negativo que a globalização, domi-nada pelo ideário neoliberal, impôs, com a anuência das elites nacionais, às metró-poles brasileiras, nas décadas de 80 e 90. As principais causas dessa tendência, já tratada em vasta bibliografia, se deveram à queda brusca do crescimento econômi-co com aumento do desemprego e à retra-ção do investimento público em políticas sociais. A sistematização das propostas contidas no Consenso de Washington mostra a força de tal dominação políti-ca que consegue impor, a uma sociedade desigual, em parceria com as elites locais, ações que seguem um caminho contrário ao interesse e necessidades da maior par-te da população (CANO, 1995; TAVARES e FIORI, 1997) As três políticas públicas urbanas estruturais (ligadas à produção do ambiente construído) – transporte, habitação e saneamento - foram ignora-das ou tiveram um rumo errático, com baixo investimento, por mais de 20 anos. Os precários times de funcionários pú-blicos existentes no Estado brasileiro e as instituições, que se formaram, estavam em ruínas, quando investimentos foram retomados em 2003 na gestão do presi-dente Lula (MARICATO, 2011b).

Talvez, o indicador que mais evidencia o que podemos chamar de tragédia urbana é a taxa de homicídios, que cresceu 259% no Brasil entre 1980 e 2010. Em 1980, a

“Talvez, o indicador que mais evidencia o que po-demos chamar de tragédia urbana é a taxa de homicí-dios, que cresceu 259% no Brasil entre 1980 e 2010.”

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média de assassinatos no país era de 13,9 mortes para cada 100 mil habitantes, em 2010 passou para 49,917.

Certamente essa ocorrência não se deveu apenas a esses fatores e nem se limita às cidades brasileiras. Não é possível abor-dar um assunto tão estudado em poucas palavras. Mas não há dúvida de que ela compõe o quadro de abandono do Esta-do provedor. Ainda que tratemos do pro-vedor na periferia capitalista onde a pre-vidência não era universal assim como a saúde ou a habitação. O tema da violência cujas origens estão na sociedade escravis-ta que formalmente resistiu até 1888, se

transformou numa das principais marcas das cidades brasileiras.

Nem todos os indicadores sociais são ne-gativos no processo de urbanização con-comitante ao processo de industrialização que se deu no decorrer do século XX e mais exatamente a partir de 1930. A mor-talidade infantil, a expectativa de vida, o nível de escolaridade, o acesso à água tra-tada, a coleta do lixo a taxa de fertilidade feminina, apresentam uma evolução po-sitiva a partir de 1940 até nossos dias exa-tamente devido à mudança de vida com a urbanização. (IBGE, 2008).

Figura: Indicadores de desenvolvimento humanoHuman Development Indicators

Source: IBGE; Ministry of Health,

Life Expectancy-

40,748,0

62,570,4 72,8

1940 1960 1980 2000 2008

Infant Mortality Rate-

150,0

124,0

82,8

29,6 23,3

1940 1960 1980 2000 2008

Fertility Rate (births per woman)-

6,1 6,2

4,3

2,41,9

1940 1960 1980 2000 2008

Literacy Rate (ages 15 and above)-

44,1

60,474,5

86,4 90,0

1940 1960 1980 2000 2008

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No entanto o estudo de cada caso revela as mesmas contradições que encontra-mos na macro-escala.

Apenas para dar um exemplo da lógica que orienta esses serviços, lembremos que aproximadamente 20% dos domicí-lios não estão ligados à rede de esgotos na Região Metropolitana de São Paulo. Boa parte dos esgotos produzidos é lan-çada pelas redes nos rios que cortam a metrópole. No entanto há duas estações de tratamento de efluentes com capacida-de ociosa na Região Metropolitana (a do

ABC e a de Barueri), uma delas construí-da há mais de 20 anos. É de conhecimen-to geral que as obras relativas às redes de esgotos não têm visibilidade e, portanto não interessa aos governos providenci-á-las.

NAS DÉCADAS PERDIDAS: LUTA SOCIAL PELA CIDADE

DEMOCRÁTICA

Após um longo período de crescimento, sem distribuição de renda, (1940 a 1980) a economia brasileira entra em declínio pressionada pela crise fiscal.

Figura: Indicadores de desenvolvimento humano

FONTE: IPEADATA* DADOS PRELIMINARES. TERCEIRO TRIMESTRE EM COMPARAÇÃO COM O MESMO PERÍODO DO ANO ANTERIOR.

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Movendo-se contra a corrente mundial de enfraquecimento dos partidos de es-querda18, do declínio do crescimento eco-nômico e da retração do Estado provedor, o Brasil dos anos 80 mostrava um quadro contrastante. Enquanto a economia mos-trava uma queda acentuada, ao mesmo tempo em que lutavam contra o governo ditatorial movimentos sociais e operários elaboravam plataformas para a mudan-ça políticas com propostas programáti-cas. Na década de 80 foram criados no-vos partidos como o PT, outros partidos de esquerda saíram da clandestinidade como, por exemplo, o PC do B - Partido Comunista do Brasil e o PCB - Partido Comunista Brasileiro. As lutas operárias e sindicais lograram a construção da CUT – Central Única dos Trabalhadores, e os nascentes movimentos sociais urbanos – uma novidade na cena política brasileira, pelo menos nessa escala – criaram a CMP - Central de Movimentos Populares.

Um vigoroso Movimento Social pela Re-forma Urbana recuperou as propostas elaboradas na década de 1960, no contex-to das lutas revolucionárias latino-ame-ricanas. Tratava-se de construir a ponte com uma agenda que a ditadura havia interrompido a partir de 1964. Na década de 1960 o Brasil tinha 44,67% da popula-ção nas cidades (censos IBGE). Em 1980 já eram 67,59%. Houve um acréscimo de cerca de 50 milhões de pessoas nas cida-des e os problemas urbanos se aprofun-daram. Esse movimento reunia entidades profissionais (arquitetos e urbanistas, engenheiros, advogados, assistentes so-

ciais), entidades sindicais (urbanitários, sanitaristas, setor de transportes), lide-ranças de movimentos sociais, ONGs, pesquisadores, professores, intelectuais, entre outros. Por sua influência foram criadas comissões parlamentares e foram eleitos prefeitos, vereadores e deputados.

No que se refere ao destino das cidades, na agitada cena política estavam presen-tes: a) as mobilizações sociais, os sindica-tos e os partidos políticos, b) a produção acadêmica que passa a desvendar a cida-de real (com diagnósticos sobre as estra-tégias de reprodução dessa força de tra-balho de baixos salários) desmontando as construções simbólicas e ideológicas dominantes sobre as cidades e c) gover-nos municipais inovadores que experi-mentaram novas agendas com programas sociais, econômica e politicamente inclu-dentes e participativos.

Durante o regime de exceção (1964-1985) os prefeitos das capitais eram indi-cados pelos governadores que eram indi-cados pelo Presidente da República que eram indicados pelas Forças Armadas. Portanto as experimentações de gestão local democrática se davam nos demais municípios onde havia eleição direta para prefeito. Entre os urbanistas ganhou im-portância nessa fase as experiências de Diadema, município operário da Região Metropolitana de São Paulo, com suas propostas de inclusão social e urbana ela-boradas em contexto de forte luta social19. Após 1985, quando a eleição direta retor-na às capitais, ganha destaque a inovado-

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ra experiência do Orçamento Participati-vo em Porto Alegre20. Em São Paulo, duas mulheres foram eleitas com um intervalo entre elas – Luiza Erundina (1989-1992) e Marta Suplicy (2001 e 2004) para go-vernar a cidade mais importante do país. Propostas originais podem ser encontra-das nas áreas de habitação, assistência social, transporte coletivo, cultura entre outras21. Muitas outras cidades também apresentaram novidades que extravasam o espaço desse paper: Recife, Belo Hori-zonte, Fortaleza, Belém, Aracaju, entre outras22.

Os governos municipais que inaugura-ram gestões inovadoras, autodenomi-nada de “democrática e popular” prio-rizavam a “inversão de prioridades” na discussão do orçamento público e a par-ticipação social em todos os níveis. Os governos do PT foram tão bem sucedidos que passaram a se diferenciar sob a mar-ca do “modo petista de governar”23. As propostas eram criativas e efetivas, res-pondendo com originalidade os proble-mas colocados pela realidade local. Nesse sentido os projetos arquitetônicos, urba-nísticos e legais, relacionados ao “passivo urbano” (cidade ilegal, auto-construída, e precariamente urbanizada) ganha im-portância, pois sempre foi ignorado pelo urbanismo do main stream. Por isso, os programas de governo se dividiam entre os que buscavam recuperar a cidade ile-gal consolidada (onde não houvesse obs-táculo ambiental para isso) e a produção de novas moradias e novas áreas urbanas.

Os principais programas relacionados à política urbana eram os seguintes:

a) Em relação ao passivo urbano:

Grande parte das cidades, que era extre-mamente precária, invisível para os car-tões postais e por vezes, até mesmo para os mapas das secretarias de planejamen-to, exigia intervenção urgente na busca de melhorias habitacionais, urbanas, pai-sagísticas, de saneamento, de drenagem e ambientais. A urgência se refere à elimi-nação de risco de vida devido a enchentes, desmoronamentos, epidemias, insalu-bridade, dificuldade de mobilidade. As-segurar boas condições de saneamento, drenagem, retirada de lixo, iluminação, circulação viária ou de pedestre, limpeza urbana, e instalar também alguns equipa-mentos públicos (saúde e educação) sem remover a maior parte da população que tinha apego à sua casa e ao bairro, exigia planos detalhados.

O programa mais importante nessa linha de intervenção foi o de urbanização de fa-velas ou recuperação de áreas degradadas. Foram muitas as experiências em todo o Brasil que contribuíram para buscar uma normatização para obras que apresentam muitas particularidades. Praticamente cada caso é um caso que exige projeto es-pecífico definindo os domicílios a serem removidos (e evidentemente a solução para estas famílias deveria ser providen-ciada com antecedência) devido à passa-gem das redes de água, esgoto, drenagem

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e circulação viária e de pedestre. Outros motivos também geram necessidade de remoção em tais obras como a proteção e recuperação ambiental24.

Completando essas obras que se desti-navam a levar “cidade” para áreas de-gradadas e sem urbanização estavam os programas pelos quais os movimentos sociais haviam lutado muito como a re-gularização urbanística e jurídica.25

Os cortiços nas áreas centrais também constituíam um passivo social que exi-giam atenção. Estudos haviam mostra-do que a renda de aluguéis em cômodos estreitos e insalubres resultava maior do que nas condições do aluguel formal (KOHARA, 1999). Além de fazer exigên-cias sobre as condições de higiene e se-gurança, as prefeituras garantiram assis-tência jurídica gratuita para a população pobre. Esse programa inspirou uma lei municipal N. 10.928/2001 que pretendia forçar donos de cortiços implementar melhorias nos imóveis.

Essa assistência jurídica também se dedi-cava à defesa contra o despejo e a buscar novas formas de posse de imóveis que se encontrassem em áreas públicas.

Uma das iniciativas mais importantes que buscava dar mais qualidade para a vida de crianças e adolescentes nos bair-ros pobres foi a construção e operação de CEUs (Centros Educacionais Unifi-cados)26. Tratava-se de criar um edifício

Construção em mutirão - Gestão Luiza Erundina. (Fonte: SEHAB/PMSP, 1990)

de destacada qualidade arquitetônica, bem equipado, que oferecia cursos regu-lares, cinema, ginástica, artes plásticas, programas teatrais e musicais, inéditos nos bairros pobres. Incluiu-se no centro dos bairros periféricos um pedaço de um universo discrepante em relação ao en-torno precário.

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b) Em relação à produção de novos espaços na cidade:

A produção de novos espaços urbanos e habitacionais visava, nessa perspectiva de justiça social, dar alternativas habita-cionais para minimizar o crescimento ou adensamento das favelas existentes ou formação de novas. Propiciar novas opor-tunidades para a inserção dos pobres nas cidades abrindo um caminho novo para a construção da cidade democrática.

Reforma ou construção, individual ou coletiva com assistência técnica gratuita de engenheiros e arquitetos com especial atenção para a participação social desde a escolha do terreno, elaboração de pro-jeto e construção de moradias, foi um caminho muito profícuo seguido pelos movimentos sociais e Escritórios de As-sistência Técnica. A verba destinada à as-sistência técnica que prestava assessoria às entidades sociais organizadas deveria estar incluída no orçamento da obra. A criação dessas ONGs ou pequenas em-

Conjunto COPROMO-Osasco, Mutirão com projeto da Assessoria Usina, 1996 (Acervo João S. Whitaker)

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presas foi o caminho usado por jovens arquitetos, engenheiros e advogados que não queriam trabalhar para o mercado de luxo ou mercado formal da moradia em São Paulo e demais capitais. Toda uma geração de arquitetos se formou (e continua se formando) com essa prática, buscando garantir a implementação do “direito à arquitetura” e do “direito à ci-dade”27. A construção por mutirão foi motivo de muitos debates entre arquitetos e depois entre arquitetos e a população organiza-da que, inicialmente, preferia construir por mutirões para dominar o processo de

produção, controlar a qualidade do que era produzido e aprofundar a organiza-ção social28.

Várias prefeituras também investiram na instalação de Usinas de pré fabricação de peças de argamassa armada visando a ur-banização de novas áreas ou complemen-tação de áreas precariamente urbaniza-das. As peças eram utilizadas também na construção de equipamentos públicos29.

Na área de drenagem engenheiros, ge-ólogos e ambientalistas que passaram a ocupar cargos nas prefeituras utilizaram novas técnicas para urbanização de cór-

CEU da PAZ – Brasilândia. Fonte: Google Maps, 2012.

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regos a céu aberto (corrigindo a engenha-ria que durante décadas contribuiu para o tamponamento de córregos e impermea-bilização em fundo de vales com avenidas asfaltadas) que tinham a finalidade paisa-gística, mas acima de tudo ambiental.

c) Em relação à legislação urbana:

Foram elaborador e aprovados novos ins-trumentos legais que buscavam remeter à responsabilidade do mercado respon-der por parcela da produção da moradia social ou responder pelo custo da urba-

nização de renovações de áreas nobres. Foram eles: Operação Urbana visando a recuperação de áreas que pudessem fi-nanciar a moradia social, Zonas Especiais nas quais uma das partes do empreendi-mento (privado) deveria ser destinada a moradia social, Zonas Especiais voltadas para a urbanização ou regularização da moradia autoconstruída, impostos pro-gressivos e novos cadastros imobiliários visando arrecadação com justiça social, novas regras para o projeto arquitetônico visando ampliar o “direito à arquitetura” e especialmente buscava-se aplicar algu-

Ceu da PAZ – Brasilândia. Fonte; Google Street View, 2012.

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ma punição ao imóvel considerado ocio-so, com mais razão, se estivesse servido de infraestrutura urbana. Nos projetos de urbanização de favelas diversos estudos buscavam definir padrões urbanísticos adaptados a uma situação de ocupação sinuosa e espontânea muito diferente dos padrões ortogonais modernistas, de ruas largas da cidade formal. Algumas dessas propostas integravam Planos Diretores ou legislação complementar que preten-diam reorientar o crescimento da cidade desigual garantindo o objetivo de nossa busca obsessiva: a função social da pro-priedade, ou seja, a subordinação da pro-priedade ao interesse social e o controle do Estado sobre o uso do solo.

A inexperiência inicial daqueles que ali-mentavam a utopia de construir uma ci-dade mais democrática obrigou muitos ativistas a refletir sobre as limitações e a consequente adaptação que deveria ser feita nas propostas.30 Os conflitos diários vinham dos movimentos sociais que co-bravam mais agilidade da parte do gover-no e também de adversários que podiam fazer parte da Câmara Municipal, do Ju-diciário quase sempre conservador, mas, em especial e de modo generalizado, da mídia do main stream, que atuou como partido político representando a elite do país.

Com o passar do tempo, durante as déca-das de 80 e 90, pesquisadores, professores universitários e profissionais de diversas áreas, socialmente engajados, criaram o que podemos chamar de Nova Escola de

Urbanismo. Se antes esses agentes eram críticos do Estado e das políticas públicas, a partir da conquista das novas prefeitu-ras, e com o crescimento dos partidos de esquerda, notadamente do PT, eles foram se apropriando de parcelas do aparelho de Estado nos executivos, nos parlamen-tos e com menos importância, até mesmo do judiciário. Novos programas, novas práticas, novas leis, novos projetos, novos procedimentos, sempre com participação social, permitiram o desenvolvimento também de quadros técnicos e de know-how sobre como perseguir maior quali-dade e justiça urbana. As travas da ma-croeconomia estavam colocadas como obstáculos a serem resolvidos no futuro.

Essa dinâmica política que incluía três frentes- produção acadêmica, movimen-tos sociais e prefeituras democráticas - avançaram conquistando importantes marcos institucionais além da eleição do Presidente da República em 2002. Dentre eles destacam-se a) um conjunto de leis que, a partir da Constituição Federal de 1988, aporta instrumentos jurídicos vol-tados para a justiça urbana, sendo o Esta-tuto da Cidade a mais importante delas31 b) um conjunto de entidades, como o Ministério das Cidades (2003) e as secre-tarias nacionais de habitação, mobilidade urbana, saneamento ambiental e progra-mas urbanos, que retomava a questão urbana agora de forma democrática e c) consolidação de espaços dirigidos à par-ticipação direta das lideranças sindicais, profissionais, acadêmicas e populares como as Conferências Nacionais das Ci-

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dades (2003, 2005, 2007) e Conselho Na-cional das Cidades (2004)32.

A RETOMADA DO INVESTIMENTO PÚBLICO: NEO-

DESENVOLVIMENTISMO?

Para garantir a posse, caso fosse eleito, Lula firmou, em 2002, um compromisso com as forças do mercado financeiro que impuseram uma limitação ao seu gover-no. O começo do governo foi marcado pela afirmação do ideário neoliberal que por outro lado estava presente nas rotinas da máquina pública. As poucas brechas se deram na forma de gastos focados na extrema pobreza, como, aliás, era orien-tação do BIRD - Banco Mundial. Já em 2003 decidiu-se aplicar recursos onero-sos no saneamento básico, seguindo ou-tra regra do receituário do BIRD, ou seja, a de retorno dos recursos investidos (cost recovery) apesar dos protestos da equipe de profissionais ativistas que ocupavam o Ministério das Cidades.

Mas as rígidas regras do FMI - Fundo Monetário Internacional- não eram as únicas que impediam realizar o interesse social na execução orçamentária. De ou-tro lado estava o tradicional clientelismo que impunha aplicação pulverizada de recursos pelo território brasileiro em tro-ca do apoio parlamentar nas votações do Congresso. Como planejar nesse contex-to? Isso não impediu que todos os Minis-térios que tinham orientação progressista ou de esquerda fossem tomados por uma febril elaboração de planos. Tratava-se de retomar o papel planejador, regulador e promotor do Estado.

Com o passar do tempo, parte do ideário neoliberal foi abandonado. Isso tem iní-cio com a entrada de Dilma Rousseff na Casa Civil e a substituição do Ministro

“Não há dúvida de que as políticas sociais fizeram di-ferença na vida de milhões de brasileiros. Os principais programas sociais do gover-no Lula que tiveram conti-nuidade na gestão de Dil-ma Rousseff foram: Bolsa Família, Crédito Consigna-do, Programa Universidade para todos – ProUni (bolsa de estudo em universidades privadas trocadas por im-postos), Programa de For-talecimento da Agricultura Familiar - Pronaf e Progra-ma Luz para Todos.”

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da Fazenda, Antonio Palocci por Guido Mantega.

Não há dúvida de que as políticas sociais fizeram diferença na vida de milhões de brasileiros. Os principais programas so-ciais do governo Lula que tiveram con-tinuidade na gestão de Dilma Rousseff foram: Bolsa Família, Crédito Consigna-do, Programa Universidade para todos – ProUni (bolsa de estudo em universi-dades privadas trocadas por impostos), Programa de Fortalecimento da Agri-cultura Familiar- Pronaf e Programa Luz para Todos. Garantiu-se um aumento real do salário mínimo (de cerca 55%, entre 2003 e 2011, conforme DIEESE). Além desses programas o crescimento da economia e do emprego, propiciado por condições de troca internacional, trou-xeram alguma perspectiva de esperança de dias melhores.

Ao invés de reforçar explicações que veem, no aumento da renda de uma gran-de camada, a emergência de uma nova classe média, Marcio Pochmann classifica como um reforço das camadas que se en-contram na base da pirâmide social. Es-tes aumentaram sua participação relativa na renda que estava abaixo de 27% para 46,3% entre 1995 e 2009. Os classificados em “condição de pobreza” diminuíram sua representação de 37,2% para 7,2% nesse mesmo período. Parte dessa popu-lação que migrou da condição de pobreza para a base da pirâmide empregou-se na construção civil (POCHMANN, 2012).

O Ministério das Cidades começou por seguir a orientação do Projeto Moradia elaborado com a coordenação de Lula em 2001. A tese central do Projeto era a seguinte: ampliar o mercado residencial privado para abranger a classe média (considerando as mudanças necessárias para isso) para que o Estado se ocupe das camadas de baixa renda com alocação de subsídios.33 Uma proposta relativa aos recursos financeiros necessários para im-pactar o déficit habitacional e outra que tratava da reforma fundiária permitiram elaborar um projeto acompanhado de or-çamento e cronograma. Políticas setoriais de transporte e saneamento complemen-tavam o quadro de propostas. Como qua-se 1/3 do déficit habitacional brasileiro está nas metrópoles estas foram conside-radas prioridade para o Projeto Moradia.

Para viabilizar a ampliação do mercado re-sidencial em direção à classe média foram propostos ao Congresso Nacional alguns projetos de lei sobre a atividade empresa-rial e tomadas algumas medidas regulado-ras do financiamento cujos fundos prin-cipais foram os mesmos utilizados pela significativa atividade de construção re-sidencial havida durante os governos mi-litares (especialmente entre 1970 e 1980): SBPE- Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (um sistema de poupança privada) e o FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, gerido pelo Estado em parceria com entidades de trabalhado-res (um sistema de poupança compulsória que servia também como fundo desem-prego para trabalhadores formais).

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A retomada dos investimentos começou lentamente, freada pelas travas neo libe-rais que proibiam gastos sociais, ainda que os recursos não fossem exatamente públicos mas a partir de 2007 o governo federal lançou o programa PAC – Progra-ma de Aceleração do Crescimento e em 2009 lançou o Programa MCMV - Mi-nha Casa Minha Vida. Com o primeiro a atividade de construção pesada começa a decolar e com o segundo é a construção residencial que decola.

O PAC se destina a financiar a infraes-trutura econômica (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e toda a infraestrutura de geração e distribuição de energia) e

a infraestrutura social (água, esgoto, dre-nagem, destino do lixo, recursos hídricos, pavimentação).

O PAC federalizou o Programa de Urba-nização de Favelas. Finalmente o Estado brasileiro reconhecia a cidade ilegal e o passivo urbano buscando requalificar e regularizar áreas ocupadas ilegalmente. Muitos bairros pobres de um universo gi-gantesco passaram por projetos de recu-peração urbanística elevando a condição sanitária e de acessibilidade, entre outras. Com o MCMV é diferente. Retoma-se a visão empresarial da política habitacio-nal, ou seja, de construção de novas ca-sas, apenas, sem levar em consideração o

Figura: PIB Brasil x PIB Construção Civil

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Figura: Taxa de desemprego x total de atividades x construção

espaço urbano em seu conjunto, e muito menos a cidade já comprometida pela baixa qualidade.34

Com a finalidade explícita de enfrentar a crise econômica de 2008 o MCMV apresenta pela primeira vez uma po-lítica habitacional com subsídios do governo federal. Desenhado pela Casa Civil do Governo Federal (com Dilma Rousseff à frente) em parceria com os maiores empresários do setor, o pro-grama inclui regras para a securitiza-ção do empréstimo. Buscava-se evitar o saldo desastroso que havia caracteriza-

do o fim do sistema que foi realizado durante a ditadura com as instituições centrais- Banco Nacional de Habitação, Plano Nacional de Saneamento e Agen-cia Nacional de Transporte Urbano.

Uma das principais finalidades do Pro-grama MCMV foi a reversão do impacto da crise de 2008 no Brasil e para tanto o Programa foi bem sucedido.

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Em 2007, 17 empresas brasileiras de cons-trução e incorporação haviam aberto ca-pital na bolsa de valores. Compraram um estoque de terras e estavam justamente aguardando fundos para a provisão de

Planos, estratégias e critérios de aplica-ção dos investimentos desenvolvidos no Ministério das Cidades não contaram muito para a elaboração do MCMV.35

Apesar da ampliação do mercado que, nesse período passou a incluir a classe média (5 a 10 salários mínimos) do es-forço do governo federal para a produ-ção de moradias para a baixa renda, a reprodução da desigualdade e da segre-

moradias. O MCMV, de cuja formulação esses empresários participaram, respon-de a essa necessidade e as empresas pas-saram imediatamente a construir febril-mente (FIX, 2011 ROYER, 2009).

gação se deu pela agressividade com que os capitais imobiliários reassumiram o mercado de terras expulsando literal-mente, até mesmo com despejos vio-lentos ou incêndios cujas origens nun-ca foram bem explicadas, as favelas ou ocupações ilegais situadas em áreas com algum potencial de valorização.36

Figura: FGTS – Valor dos subsídios concedidos entre 2003 e 2011 (valores em R$ mil)

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Figura: Financiamento Habitacional SBPE - No Financiamentos concedidos

Figura: Financiamento Habitacional SBPE – valores (R$ bilhões)

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Vivemos um paradoxo, quando final-mente o Estado brasileiro retomou o investimento em habitação, saneamen-to e transporte urbano de forma mais decisiva, depois de 29 anos Um intenso processo de especulação fundiária e imo-biliária promoveu a elevação do preço da terra e dos imóveis considerada a “mais alta do mundo”37. Entre janeiro de 2008 e setembro de 2012 o preço dos imóveis subiu 184,9% no Rio de Janeiro e 151,3% em São Paulo, à semelhança tantas outras

cidades brasileiras (FIPE ZAP)38. E tudo especialmente porque a terra se mante-ve com precário controle estatal apesar das leis e dos planos que objetivavam o contrário. No mais dos casos as Câmaras municipais e prefeituras flexibilizaram a legislação, ou apoiaram iniciativas ilegais para favorecer empreendimentos pri-vados.39 Uma simbiose entre Governos, parlamentos e capitais de incorporação, de financiamento e de construção pro-moveu um boom imobiliário que tomou

Incêndio em favela da Zona Sul de São Paulo - Foto: Evelson de Freitas/AE

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as cidades de assalto.40 Se nos EUA o mote da bolha imobiliária foi a especulação fi-nanceira, cremos que no Brasil o core do boom foi a histórica especulação fundiá-ria (patrimonialista) que se manteve no contexto da financeirização. O “nó da ter-ra” continua como trava para a superação do que podemos chamar de subdesenvol-vimento urbano.

Para esboçar alguma defesa do governo Federal é preciso lembrar que a questão urbana/fundiária é de competência cons-titucional dos municípios, ou estadual

quando se trata de região metropolitana. Mas nenhuma instância de governo to-cou nas propostas da Reforma Urbana, sequer em discurso. A centralidade da terra urbana para a justiça social desapa-receu. Aparentemente a política urbana é resultado da soma de obras descom-prometidas com o processo de planeja-mento. Os planos cumpriram o papel do discurso mas não orientaram os investi-mentos. Outros fatores como os interes-ses do mercado imobiliário, o interesse de empreiteiras, a prioridade às obras viárias ou de grande visibilidade, deram o rumo

Reintegração de posse Pinheirinho – São José dos Campos/SP - Foto: Roosevelt Cassio/Reuters

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para aplicação dos recursos. O que mais se vê atualmente são planos sem obras e obras sem planos.

Os motivos do enfraquecimento das for-ças que lutaram pela Reforma Urbana ou que puseram de pé e implementaram uma política urbana que contrariou, ain-da que por um período limitado, a cidade selvagem, ainda estão a espera de melho-res análises mas sem dúvida muitos dos participantes dessa luta foram engolidos

pela esfera institucional. Atualmente, a maior parte deles está em cargos públicos ou ao redor deles. (MARICATO, 2011a). O pragmatismo tomou conta dos prin-cipais partidos de esquerda que abando-naram os princípios éticos. Foram sendo abandonados os processos de ampliação da consciência social sobre a manipula-ção dos orçamentos públicos e o desres-peito aos direitos legais.

Reintegração de posse Pinheirinho – São José dos Campos/SP - Foto: Roosevelt Cassio/Reuters

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MEGAEVENTOS: COPA E OLIMPÍADAS

O Brasil foi escolhido para sediar a Copa do mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 (Rio de Janeiro). Depois de esco-lhido como “emergente” o país está qua-lificado para sofrer o ataque dos capitais que acompanham os megaeventos. Serão acrescentados mais alguns graus na febre que acompanha o atual boom imobiliá-rio. Seguindo a trajetória dos países que sediam esses grandes eventos, a “máqui-na do crescimento” é posta a funcionar buscando legitimar, com o urbanismo do espetáculo, gastos pouco explicáveis para um país que ainda tem enorme precarie-dade na área da saúde, da educação, do saneamento e dos transportes coletivos.

Muitos exemplos poderiam ser dados sobre a truculência com que as grandes obras expulsam moradores das redonde-zas para viabilizar um processo de expan-são imobiliária e de construção de um pedaço do cenário urbano global.41 Boa parte dessas grandes obras resta subuti-lizadas após abocanhar um significativo naco dos cofres públicos em sua constru-ção.42 A dinâmica que acompanha os me-gaeventos articula, de um modo geral, os arquitetos do star system, como nomeia Otília Arantes, legisladores que acertam um conjunto de regras de exceção para satisfazer as exigências das agencias in-ternacionais esportivas ou culturais, go-vernos de diversos níveis que investem em obras visando a visibilidade e o re-torno financeiro sob a forma de apoio

à futura campanha eleitoral, e empresas privadas locais e internacionais. A biblio-grafia repete a receita dessa nova frente de acumulação de determinados capitais analisando casos de diferentes países.43

O IMPERIO DO AUTOMÓVEL. TRANSPORTE COLETIVO EM RUÍNAS

Após muitos anos de ausência de inves-timentos nos transportes coletivos (de 1980 até 2009, aproximadamente), com algumas exceções, a condição de mo-bilidade nas cidades tornou-se um dos maiores problemas sociais e urbanos. É importante dar alguns dados para quali-ficar esse quadro de inacreditável irracio-nalidade para a mobilidade social, mas de efetiva racionalidade para certos capitais.

O tempo médio das viagens em São Pau-lo era de 2:42 h.44 Para 1/3 da população esse tempo é de mais de 3 hs. Para 1/5 são mais de 4 horas, ou seja, uma parte da vida é vivida nos transportes, seja ele um carro de luxo ou então o que é mais co-mum e atinge os moradores da periferia metropolitana, num ônibus ou trem su-perlotado.45 Estresse, transtornos de an-siedade, depressão, são doenças que aco-metem 29,6% da população de São Paulo segundo pesquisa do Núcleo de Epide-miologia Psiquiátrica da USP.46 Dentre cidades de 24 países pesquisados, São Paulo é a cidade que apresenta o maior comprometimento da população e parte importante dessas mazelas é atribuída ao tráfego de veículos.

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Os congestionamentos de tráfego nes-sa cidade, onde circulam 5,2 milhões de automóveis, chegam a atingir 295 km de vias.47 A velocidade media dos automó-veis em São Paulo, entre 17:00 h e 20:00 h em junho de 2012 foi de 7,6 km/h, ou seja, quase a velocidade de caminhada a pé. Durante a manhã a velocidade passa a ser de 20,6 km/h, ou seja, de uma bici-cleta.48 Todas as cidades de porte médio e grande estão apresentando congestiona-mentos devido à avalanche de automóveis que entram nelas a cada dia. O consumo é incentivado pelos subsídios dados pelo governo Federal e alguns governos esta-duais para a compra de automóveis.49 Em 2001 o número de automóveis em 12 me-trópoles brasileiras era de 11,5 milhões e em 2011 era de 20,5 milhões. Nesse mes-mo período e nessas mesmas cidades o número de motos passou de 4,5 milhões para 18,3 milhões. Em diversas metrópo-les o número de automóveis dobrou nesse período.

O governo brasileiro deixou de recolher impostos no valor de R$ 26 bilhões des-de o final de 2008 (nesse mesmo período foram criados 27.753 empregos) e US$ 14 bilhões (quase o mesmo montante dos subsídios) foram enviados ao exterior, para as matrizes das empresas que estão no Brasil aliviando a crise que estas es-tavam vivendo na Europa e Estados Uni-dos.50

Sabemos todos que, em todo mundo, mesmo cidades que contam com boa rede de transporte apresentam congestio-namentos de tráfego devido ao conforto e ao fetiche representado pelo automóvel. Mas é preciso conhecer os impactos eco-nômicos, ambientais e na saúde que esse modo de transporte implica nas cidades brasileiras para compreender e passar à perplexidade inevitável.

Comparado com os transportes coletivos, os automóveis são responsáveis por 83% dos acidentes e 76% da poluição.51

Segundo o Ministério da Saúde, nos úl-timos 5 anos morreram em acidentes de trânsito 110 pessoas por dia e aproxima-damente 1.000 ficaram feridas. Quase o dobro do número de pessoas mortas em acidentes de trânsito fica com algum grau de deficiência. Em São Paulo, no ano de 2011 morreram em acidentes de trânsito 1365 pessoas sendo que 45,2% (617) fo-ram atropeladas o que revela a inseguran-ça de pedestres. Desses acidentes ainda, 512 vitimaram motociclistas. A moto foi a forma encontrada para driblar os con-gestionamentos e fazer entregas rapida-mente. Raramente esses chamados moto-boys respeitam regras de trânsito pois a rapidez é sua vantagem competitiva.52

A tabela abaixo, retirada do Relatório Ge-ral de Mobilidade Urbana 2010 da ANTP - Associação Nacional de Transportes

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Públicos traz dados sobre o modo das viagens nas 438 cidades brasileiras com mais de 60.000 habitantes. O dado que mais chama atenção é o número de via-gens a pé, ou seja, pelo menos em um ter-ço dos moradores das cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Esse dado não indica que as cidades atingiram o equilí-brio de aproximar casa, trabalho, estudo e demais equipamentos e serviços urba-nos que demandam viagens diárias. Ao contrário, nas periferias metropolitanas

raramente há bons equipamentos de saú-de, abastecimento, educação, cultura, es-porte, etc. E como o transporte é ruim e caro os moradores, em especial os jovens, vivem o destino do “exílio na periferia”, como cunhou Milton Santos (SANTOS, 1990). Nunca é demais lembrar que po-breza e imobilidade é receita para a vio-lência.

Figura: Porcentagem de viagens por modos e população da cidade

Fonte: ANTP, 2012

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Em que pese a ainda baixa participação dos automóveis no número de viagens e o estímulo dado ao seu consumo, fal-ta lembrar que as obras viárias ganham prioridade sobre, por exemplo, as obras de saneamento, nos orçamentos munici-pais. De fato elas têm mais visibilidade e prestígio acabando por influenciar os vo-tos nas eleições. O impacto da poluição do ar promovida por tal condição de mobilidade sobre a saúde vem sendo estudado pelo profes-sor da USP, Paulo Saldiva e sua equipe. Vamos reproduzir suas próprias palavras:

De acordo com a OMS, os elevados níveis de poluição na cidade de São Paulo são responsáveis pela redução da expectativa de vida em cerca de um ano e meio. Os três motivos que encabeçam a lista são: câncer de pulmão e vias aéreas superiores; infarto agudo do miocárdio e arritmias; e bron-quite crônica e asma. Estima-se que a cada 10 microgramas de poluição retiradas do ar há um aumento de oito meses na expec-tativa de vida (...).Aproximadamente 12% das internações respiratórias em São Paulo são atribuíveis à poluição do ar. Um em cada dez infartos do miocárdio são o produto da associação entre tráfego e poluição. Os níveis atuais de poluição do ar respondem por 4 mil mor-tes prematuras ao ano na cidade de São Paulo. Trata-se, portanto, de um tema de saúde pública.53

Poderíamos citar outros impactos nega-tivos que a mobilidade baseada no auto-

móvel acarreta para a qualidade de vida em qualquer cidade como impermeabi-lização do solo, espraiamento da urbani-zação ou outras mazelas que ocuparam longas horas em seminários acadêmicos ou profissionais. Muito papel com análi-ses críticas e muitas propostas foram ela-boradas para melhorar esse quadro, mas essa prioridade indiscutível que é dada ao automóvel na matriz urbana não está afirmada em nenhum documento, dis-curso ou plano, no Brasil. Ao contrário, todos os anos as autoridades comemo-ram o Dia Mundial sem Carro (22 de se-tembro) com a repetidas ênfases sobre a importância da bicicleta e da caminhada para a saúde.

CONCLUSÃO: RUMO À TRAGÉDIA URBANA. CRESCIMENTO

INSUSTENTÁVEL

Numa das vezes que retornou ao Brasil vindo do exílio imposto pela ditadura militar, Celso Furtado encontrou, no iní-cio dos anos 80, um país que estava sob o impacto da crise fiscal. A desigualdade se aprofundara apesar do alto crescimento econômico das décadas anteriores agra-vando a pesada herança histórica. Com a lucidez de um brilhante analista e a gene-rosidade de quem se comprometia com a ação, julgou necessária uma atitude de prevenção em relação ao cenário que via se desenrolar à sua frente. Destacou que a subordinação aos bancos e ao FMI nos conduziria à recessão e ao desemprego especialmente no que se referia ao trata-mento da Dívida Externa (FURTADO,

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“Mas nossas energias não se devem esgotar em per-plexidade e indignação. Mais importante é encon-trar uma pista que nos conduza à saída do sub-terrâneo a que fomos con-finados.” Celso Furtado 1983, p.10

1983). Infelizmente sua premonição se confirmou e o Brasil viveu a década per-dida (ou décadas perdidas) que acarretou muito sofrimento na vida de uma parce-la da população do país. Sua convicção, muito repetida, era de que o país deveria fazer reformas estruturais, especialmente com a distribuição dos ativos, terra (re-forma agrária) e educação.

Acompanhando a história das cidades brasileiras por 40 anos e conhecendo as forças que orientam sua forte dinâmica de crescimento, atualmente, poderíamos repetir Celso Furtado. Sendo mais espe-cíficos, já que tratamos de cidades, po-demos afirmar que sem reforma urbana (leia-se reforma fundiária e imobiliária) não haverá desenvolvimento mas apenas crescimento com reprodução da forte desigualdade social e profunda predação ambiental. Distribuição de renda é im-portante, mas não garante a “distribuição de cidade”, ou seja, o direito à cidade. O que está em jogo é a apropriação das ren-das de localização e os pobres, quando próximos, deprimem o valor dos imóveis por isso são “empurrados”, em grande parte, para fora das áreas urbanizadas consolidadas. O que está em jogo é quem manda nas cidades.

Distribuição de renda e diminuição de impostos sobre determinados produ-tos como o automóvel pode incentivar o consumo, garantir empregos, mas não garantirá cidades melhores e mais igua-litárias. A ampliação da propriedade do automóvel para todos não vai levar à so-

nhada liberdade individual, mas atravan-car nossa mobilidade (LUDD, 2004). Os pobres com automóveis continuarão na ilegalidade, sem o “direito à cidade”. Os jovens nas favelas terão computadores, MP3 ou qualquer “gadget” semelhante, mas não terão casas dignas, saudáveis e seguras. Como lembra Francisco de Oli-veira, na globalização, o informal é ao mesmo tempo, trabalhador e mercado de consumo para as transnacionais (OLI-VEIRA, 2003).

Temos leis festejadas no mundo todo, te-mos Planos Diretores em todas as cidades com mais de 20.000 habitantes com ins-trumentos jurídicos inovadores, temos conhecimento técnico, temos experiên-cia acumulada, mas nossas cidades estão piorando... A lógica dominante da atual

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“máquina de crescimento” que insufla nossas cidades não é, como sabemos, a da racionalidade social ou ambiental, mas é sim formada pelos interesses dominantes que lideram os demais: do capital imobi-liário, das empreiteiras de construção pe-sada e das indústrias automobilísticas em simbiose com o financiamento de campa-nhas eleitorais.

Durante muitos anos trabalhamos na ela-boração de propostas de políticas públi-cas para as cidades sem deixar de conhe-cer as limitações dadas pelo estágio do capitalismo contemporâneo na periferia latino-americana ou no resto do mundo. Tratava-se “apenas” de minimizar desi-gualdades por meio de reformas susten-tadas por ampla movimentação social e sustentação partidária. Reconhecer que depois de muitas conquistas institucio-nais nossas cidades estão piorando e que fomos atropelados pela voracidade do “boom” imobiliário, em sua versão peri-férica54, é difícil, mas necessário.

Durante o V Fórum Urbano Mundial – FUM (Rio de Janeiro, março de 2010), Peter Marcuse lembrou, com sua voz cal-ma e pausada, que nem tudo que fazemos está subordinado ao mercado. Há muito de trabalho voluntário ou de ação livre, espontânea, quando cuidamos das crian-ças, ou dos mais velhos, quando nos en-contramos com os amigos, quando pra-ticamos esporte, quando fazemos amor... Sem dúvida, Peter estava querendo que-brar o clima de desesperança numa reu-nião que pretendia fazer um balanço do impacto da política neoliberal nas cida-

des e nas sociedades mundiais entre o final do século XX e começo do século XXI. A conclusão sobre a ampliação do domínio do fetichismo da mercadoria e da derrota das ideologias de esquerda, ou mesmo social-democratas, parecia inevi-tável, mas a poesia cobrou o lugar da es-perança.

A consideração aos mais jovens exige esforços em duas direções: a) que sejam informados da experiência que vivemos em perseguição à utopia da cidade mais justa num determinado contexto histó-rico e geográfico e b) que busquemos “uma pista que nos conduza à saída do subterrâneo” a que nossas cidades foram confinadas.

Para garantir uma metrópole mais demo-crática, mais solidária e mais sustentável no Brasil, é preciso levar em consideração a centralidade da questão da terra urbana e garantir, entre muitas outras iniciativas previstas nas plataformas da Reforma Ur-bana: a) a aplicação do instrumento legal da função social da propriedade previs-to no Estatuto da Cidade b) o controle público sobre a propriedade e o uso da terra e dos imóveis (conforme compe-tência legal constitucional), e c) tomar os transportes coletivos e transporte não motorizado como prioridade da matriz de mobilidade urbana.

Trata-se de uma reforma possível que de-pende da correlação de forças pois o qua-dro jurídico/institucional e a experiência técnico/administrativa já existem.

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Notas deRodapé

1. Texto para discussão para II Lehmann Dia-logues – Harvard 2012. Proibida reprodução das ima-gens. A elaboração desse texto contou com a edição de Leticia Sigolo e Karina Leitão.

2. BRICS foi uma sigla bem sucedida criada pela Goldman Sachs (a empresa que definia risco de países como o Brasil, mas esqueceu de olhar seu próprio risco, pois quase foi à bancarrota em 2008). A Revista The Economist reconhece que a sigla “garantiu aos ban-cos muitos negócios” (Encarte de Carta Capital/jan/fev.2011)

3. Comenta-se, sem provas, que o presidente francês Charles De Gaulle afirmou, durante visita ao país: “O Brasil não é um país para ser levado a sério”. Sobre inovações e criatividade dos BRICS, ver fonte da nota anterior. Ver elogios ao urbanismo brasileiro na Bienal de Arquitetura de Roterdã no jornal Folha de São Paulo. Uma pinguela em Roterdã. Folha de São Paulo, 15 de julho de 2012. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/54483-uma-pinguela-em-roter-da.shtml.

4. Saskia Sassen talvez seja a autora que mais divulgou o conceito de cidade global baseada no novo papel que as metrópoles, transformadas pelo setor de serviços e finanças, desempenham no mundo.

5. A discussão gira eminentemente em torno da natureza do recente processo de crescimento econômico no país e suas reais possibilidades de reverter dinâmicas sociais estruturantes. Cf. http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5537.

6. Sobre os autores marcados pela “obsessão de ex-plicar o Brasil no contexto do capitalismo internacional” ver ARANTES e ARANTES, 1997.

7. Dados sobre população em favelas na cidade de São Paulo, entre 1973 e 2007, ver Saraiva e Marques (2011).

8. ONU/Habitat, 2012.

9. A baixa escolaridade e o baixo nível de infor-mação combinam-se a uma forte indústria cultural (especialmente a TV) que se comporta como um partido classista (FONSECA, 2010).

10. Esse resumo foi extraído dos trabalhos da autora (MARICATO, 1996, 2000, 2011).

11. Não há dados rigorosos sobre essa ocorrência já que a metodologia do IBGE não dimensiona a totalidade de assentamentos precários e irregulares no país, pois o instituto não dispõe de informações sobre a condição fundiária dos domicílios. Essas estimativas se baseiam em levantamentos municipais, pesquisas acadêmicas ou opiniões de especialistas incluindo a autora deste texto. Ver a respeito MARICATO, 2001.

12. O boom imobiliário no Brasil, a partir do final da primeira década do século XXI, está ampliando o acesso da classe média à moradia impactando o nível de produtividade de forma sempre contraditória como rev-elam as pesquisas de José Baravelli, aluno do doutorado da FAUUSP.

13. Sergio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Flo-restan Fernandes, se referem a essa tradição discursiva e distância da ação, na sociedade brasileira.

14. O elegarça foi criado pela autora e seu estagiário em 2010, Fernando Mendes Castro. Essas ideias aqui re-sumidas foram desenvolvidas em dois livros MARICATO 1996 e 2011.

15. PILOTTO (2010); ALBUQUERQUE (2007); MOURA (2001); OLIVEIRA (2000); GARCIA (1993).

16. Os loteamentos fechados constituem empreen-dimentos ilegais diante da Lei Federal n. 6766 de 1979. Ruas e áreas verdes são públicas pela lei e não poderiam estar muradas. No entanto, eles proliferam no entorno das cidades já que são o produto de maior taxa de lucro do mercado imobiliário, Constatamos que moram nos loteamentos fechados juízes, promotores públicos entre outros operadores do direito e proprietários dos meios de comunicação.

17. Mapa da Violência 2012, disponível em http://mapadaviolencia.org.br.

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18. ANDERSON, Perry. Spectrum: From Right to Left in the World of Ideas.London: Verso, 2005.

19. Sobre as experiências em Diadema, ver: HERE-DA, Jorge Fontes; ALONSO, Emílio. “Política urbana e melhoria da qualidade de vida em Diadema”. In BON-DUKI, Nabil (org.), Habitat: As práticas bem-sucedi-das em habitação, meio ambiente e gestão urbana nas cidades brasileiras, Studio Nobel, São Paulo, 1996.

20. GENRO, T.; DUTRA, O. O desafio de adminis-trar Porto Alegre. Porto Alegre, 1989.

21. Os programas da prefeitura de São Paulo du-rante as gestões de Luiza Erundina (1989/1992) e Marta Suplicy (2001-2004) foram objeto de um grande número de teses e dissertações acadêmicas. As que se referem à política urbana, à política de habitação e ao direito social à arquitetura podem ser encontradas especialmente nas bibliotecas dos cursos de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da USP - Universidade de São Paulo.

22. A autora deste texto foi Secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Município de São Paulo entre 1989/1992.

23. Sobre o “modo petista de governar” ver: MAGALHÃES, I.; BARRETO, L.; TREVAS, V. (org.) Governo e Cidadania: Balanço e reflexões sobre o modo petista de governar. São Paulo, Ed. Fundação Perseu Abramo, 1999.

24. Cf. BUENO, 2000; CARDOSO, 2009; DENAL-DI, 2003; LABHAB, 1999, MINISTÉRIO DAS CI-DADES, 2010.

25. Essas ações nada tiveram a ver com as teses do peruano Hernando de Sotto ou do Banco Mundial. Elas foram resultado de mobilização dos moradores que que-riam a segurança contra despejos.

26. Os CEUs foram criados na gestão da prefeita Marta Suplicy em São Paulo a partir de 2001. Projetos elaborados por arquitetos funcionários públicos.

27. A Federação Nacional de Sindicato de Arquite-tos conseguiu fazer aprovar uma lei federal que institui a assistência técnica pública ligada a essa experiência. Trata-se de mais uma lei que espera aplicação.

28. A generalização dos avanços incluídos nos proje-

tos, nos materiais, na produtividade, exigia, para serem incorporados à produção de moradias, mudanças na sociedade brasileira, a começar pela aplicação da função social da propriedade. Como as mudanças não vieram essas experiências continuam a existir como casos de exceção. A respeito da experiência de mutirões, ver BIS-ILLIAT-GARDET, 1990.

29. A Prefeitura de São Paulo criou em 1990, uma Usina para produção de placas de argamassa armada para canalização de córregos a céu aberto e produção de equipamentos coletivos. A linha de produção e os desen-hos foram inspirados no trabalho do notável arquiteto brasileiro Lelé (João Filgueiras Lima).

30. Embora a governabilidade buscada nas alianças que incluem conservadores seja explicada como uma necessidade para governar nesse contexto muitos dos governos municipais bem sucedidos não ampliaram demais o arco de alianças.

31. Um conjunto de novas leis constituiu um novo quadro jurídico após a Constituição Federal de 1988: Estatuto da Cidade 2001, Lei dos Consórcios Públicos 2005, Marco legal do Saneamento, 2007, Lei dos resíduos sólidos 2011, Lei federal da Mobilidade Urbana 2012 (CARVALHO & ROSSBACH, 2010.).

32. O Instituto Cidadania, que tinha Lula como presidente, uma ONG destinada a formular propos-tas de políticas públicas, formulou em 2001 o Projeto Moradia visando enfrentar o problema da habitação no Brasil. A proposta de criar um Ministério voltado para as cidades fez parte desse projeto, mas já estava presente nos programas de Governo do PT durante as campanhas eleitorais dos anos 90.

33. Praticamente 90% do déficit habitacional bra-sileiro estava concentrado nas famílias que ganhavam de 3 salários mínimos para baixo. Nesse período (2001) o mercado privado atendia quase que somente as famílias que ganhavam de 10 salários mínimos para cima. (MARICATO, 2001)

34. O Ministério das Cidades exige um plano habitacional e de saneamento para liberar recursos oner-osos ou de subsídios.

35. Em 2006, foi contratado o Plano Nacional de Habitação – PLANHAB pela Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades. Ele usou uma

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forma inovadora de diagnóstico – a tipologia de cidades – para definir prioridades orçamentárias.

36. Ver a respeito a significativa e suspeita relação entre incêndio em favelas e a proximidade de grandes obras de infraestrutura ou áreas valorizadas. Entre ja-neiro e agosto de 2012, 46 favelas vivenciaram incêndios em São Paulo. (Para remoções forçadas ver Observatório de Remoções de São Paulo - http://observatoriodere-mocoes.blogspot.com.br/ - e sobre Incêndios nas favelas da cidade ver Fogo no Barraco - http://fogonobarraco.laboratorio.us/)

37. “Imóveis a maior alta do mundo”. In: Revista Exame 18/05/2011. Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0992/noticias/a-maior-al-ta-do-mundo. 38. Disponível em: http://www.zap.com.br/imoveis/fipe-zap.

39. Ver a respeito os estudos de Ana Fernandes e Jurema Rugani que se referem a Salvador e Belo Hori-zonte. Em São Paulo as ZEIS- Zonas Especiais de Inter-esse Social foram modificadas por decreto do prefeito.

40. Os capitais financeiros não se comportam no Brasil de forma semelhante à da bolha americana. Apesar dos esforços de “copiar” as incríveis criações de que o capital fictício foi capaz nos EUA os empresários e representantes de bancos não lograram avançar muito no Brasil, nessa direção (FIX, 2011; ROYER, 2009)

41. Ao todo 170.000 moradores estão sendo re-movidos diretamente pelas obras da Copa do Mundo, no Brasil, e das Olimpíadas, especificamente no Rio de Janeiro. Muitos deles estão organizados em torno de comitês populares (ver Comitê Popular da Copa http://portalpopulardacopa.org.br)

42. Ver a respeito ARANTES, 2000, 2011, 2012, VAINER, 2000, ROLNIK, 2012. Na cidade de Natal, um estádio de futebol que raramente ficava lotado foi posto abaixo para dar lugar à construção de outro maior para atender às exigências do evento. Na África do Sul e na China, a ociosidade de algumas grandes obras tem dado motivos para a discussão sobre o que fazer com elas.

43. Idem.

44. Segundo pesquisa Origem destino da Cia do

Metro de São Paulo, em 2007.

45. Dados da Rede Nossa São Paulo, http://www,re-denossasaopaulo.org.br mai/2012 de pesquisa contratada ao IBGE.

46. Mental Disorders in Megacities: Findings from the São Paulo Megacity Mental Health Survey, Brazil, de Laura Andrade e outros, pode ser lido em www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0031879.

47. Essa marca recorde foi atingida no dia 1 de jun-ho de 2012.

48. Os dados são da CET- Companhia de Engenha-ria de Tráfego e foram divulgados pelo Jornal O Estado de São Paulo, 23/09/2012

49. Quando não constar fonte específica, os dados que se seguem estão na matéria Especial Trânsito do informativo digital Carta Maior de setembro de 2012. (disponível em: http://www.cartamaior.com.br/tem-plates/index.cfm?home_id=144&alterarHomeAtual=1)

50. Artigo de Nazareno Stanislau Afonso na revista do IPEA

51. Relatório Geral de Mobilidade Urbana 2010. ANTP (disponível em: http://portal1.antp.net/site/simob/Downloads/Relat%C3%B3rio%20Geral%202010.pdf)

52. O filme brasileiro “Os 12 trabalhos de Hércules” (dirigido por Ricardo Elias) mostra um dia na vida de um motoboy, morador da periferia de São Paulo, com riqueza de detalhes.

53. Professor da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de São Paulo. Ver entrevista: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?mate-ria_id=20651

54. O papel específico do mercado imobiliário em países da América Latina foi desenvolvido no trabalho de LESSA e DAIN, 1980.

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