março de 2006

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2 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006 DUAS PALAVRAS Propriedade, Redacção e Administração Federação Nacional dos Professores Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 LISBOA Tels.: 213819190 - Fax: 213819198 E-mail: [email protected] Home page: http://www.fenprof.pt Director: Paulo Sucena Chefe de Redacção: Luís Lobo [email protected] Conselho de Redacção: António Avelãs e Manuel Grilo (SPGL), António Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo (SPRC), Manuel Nobre (SPZS) Coordenação: José Paulo Oliveira [email protected] Paginação e Grafismo: Tiago Madeira Composição: FENPROF Revisão: Inês Carvalho Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A. Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto 2135-114 Samora Correia Tiragem média: 70 000 ex. Depósito Legal: 3062/88 ICS 109940 O “JF” está aberto à colaboração dos professores, mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva- se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicar quaisquer artigos, em função do espaço disponível. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. SINDICATO DOS PROFESSORES DA GRANDE LISBOA R. Fialho de Almeida, 3 - 1070-128 Lisboa Tel.: 213819100 - Fax: 213819199 E-mail: [email protected] Home page: www.spgl.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DO NORTE Edif. Cristal Park R. D. Manuel II, 51-3º - 4050-345 Porto Tel.: 226070500 - Fax: 226070595 E-mail: [email protected] Home page: www.spn.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO CENTRO R. Lourenço Almeida de Azevedo, 20 3000-250 Coimbra Tel.: 239851660 - Fax: 239851666 E-mail: [email protected] Home page: www.sprc.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA ZONA SUL Av. Condes de Vil’Alva, 257 7000-868 Évora Tel.: 266758270 - Fax: 266758274 E-mail: [email protected] SINDICATO DOS PROFESSORES DA REGIÃO AÇORES Av. D. João III, Bloco A, Nº 10 9500-310 Ponta Delgada Tel.: 296205960 - Fax: 296629698 Home page: www.spra.pt SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA Edifício Elias Garcia, R. Elias Garcia, Bloco V-1º A - 9054-525 Funchal Tel.: 291206360 - Fax: 291206369 E-mail: [email protected] Home page: www.spm-ram.org SINDICATO DOS PROFESSORES NO ESTRANGEIRO Sede Social: Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 Lisboa Tel.: 213833737 - Fax: 213865096 E-mail: [email protected] Home page: www.spefenprof.org Sindicatos membros da FENPROF Luís Lobo Governo Português condenado por desrespeito à Constituição da República Portuguesa [email protected] O ataque ao direito de exercício da actividade sindical, o direito de Greve, o direito de opinião e de reunião… tudo, tudo está a ser cilindrado, apesar da resitência e da acção. E se estas não são suficientes é urgente adicionar mais força à torrente. Ës quinze horas do passado dia 24 de Março, reuniu em Lisboa o Tribunal que viria a julgar o governo português por “desrespeito à dignidade profissional e pessoal dos trabalhadores da administração pública e por degradar a qualidade e acessibilidade dos ser- viços e direitos dos cida- dãos, tornando-os mer- cadoria, por assumir uma postura de subjugação face aos interesses eco- nómicos privados e por praticar a destruição das funções sociais do Es- tado”. Um extenso rol de acusações todas dadas como provadas. Assim, a acusação lembrou os ataques diri- gidos aos trabalhadores em particular, designa- damente pelo facto de o governo “fomentar a precariedade e a insta- bilidade laboral através do contrato individual de trabalho, na ameaça de colocação de milhares de trabalhadores em supranumerários, contratos a termo certo, recibos verdes, programas ocupacionais, falsos estágios, aluguer temporário de mão de obra…” O Libelo”Acusatório do Tribunal de Opinião Pública, realizado pela Frente Comum, ataca fortemente as opções do governo em matéria de serviços públicos, manifestando-se contra o encerramento de hospitais e maternidades, serviços de atendimento permanente, contra o aumento das taxas moderadoras, desinvestindo nos cuidados de saúde primários, diminuindo os medicamentos comparticipados e alargando o negócio a privados — uma situação na Saúde que faz com que, em Portugal, os utentes do SNS tenham de pagar já parte significativa das despesas, cerca de 40%. Foi de grande projecção a iniciativa na Casa do Alentejo. Justiça, Segurança, Notariado, estabelecimentos Fa- bris das Forças Arma- das, Administração Lo- cal, Política da Água, Agricultura, tudo e todos sob mira do mas- sacre dos serviços pú- blicos, numa caminha- da que tem de ser pa- rável, unindo esforços, mobilizando vontades, tomando a iniciativa. A acusação ao go- verno não podia esque- cer a Educação. O ata- que ao direito de exer- cício da actividade sindical, o direito de Greve, o direito de opinião e de reunião… tudo, tudo está a ser cilindrado, apesar da resitência e da acção. E se estas não são suficientes é urgente adicionar mais força à torrente. O encerramento de milhares de escolas com 2 a 200 alunos, cego e frio, constitui um dos mais poderosos e determinados ataques ao direito à educação pública, inclusiva, demo- crática e universal. É um dos mais largos passos para a privatização da Educação e do Ensino, ao mesmo tempo que se abastarda a profissão docente e se denigre sem remorsos a imagem social e profissional de dezenas de milhar de professores. Julgado e Condenado, falta cumprir a pena!… o que não é estranho, nos tempos que correm. | Luís Lobo

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Jornal da FENPROF - Março de 2006

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Page 1: Março de 2006

2 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

DUAS PALAVRAS

Propriedade, Redacção e AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 - Fax: 213819198E-mail: [email protected] page: http://www.fenprof.pt

Director: Paulo Sucena

Chefe de Redacção: Luís [email protected]

Conselho de Redacção: António Avelãs e ManuelGrilo (SPGL), António Baldaia (SPN), FernandoVicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo(SPRC), Manuel Nobre (SPZS)

Coordenação: José Paulo [email protected]

Paginação e Grafismo: Tiago Madeira

Composição: FENPROF

Revisão: Inês Carvalho

Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A.Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto2135-114 Samora CorreiaTiragem média: 70 000 ex.Depósito Legal: 3062/88ICS 109940

O “JF” está aberto à colaboração dos professores,mesmo quando não solicitada. A Redacção reserva-se, todavia, o direito de sintetizar ou não publicarquaisquer artigos, em função do espaço disponível.Os artigos assinados são da exclusivaresponsabilidade dos seus autores.

SINDICATO DOS PROFESSORESDA GRANDE LISBOAR. Fialho de Almeida, 3 - 1070-128 LisboaTel.: 213819100 - Fax: 213819199E-mail: [email protected] page: www.spgl.pt

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Sindicatos membrosda FENPROF

Luís Lobo

Governo Português condenadopor desrespeito à Constituiçãoda República Portuguesa

[email protected]

O ataque ao direitode exercício da actividade

sindical, o direito deGreve, o direito de opiniãoe de reunião… tudo, tudo

está a ser cilindrado,apesar da resitência

e da acção. E se estasnão são suficientes

é urgente adicionar maisforça à torrente.

Ës quinze horas do passado dia 24 de Março,reuniu em Lisboa o Tribunal que viria a julgar ogoverno português por “desrespeito à dignidadeprofissional e pessoal dos trabalhadores daadministração pública epor degradar a qualidadee acessibilidade dos ser-viços e direitos dos cida-dãos, tornando-os mer-cadoria, por assumir umapostura de subjugaçãoface aos interesses eco-nómicos privados e porpraticar a destruição dasfunções sociais do Es-tado”.

Um extenso rol deacusações todas dadascomo provadas.

Assim, a acusaçãolembrou os ataques diri-gidos aos trabalhadoresem particular, designa-damente pelo facto de ogoverno “fomentar aprecariedade e a insta-bilidade laboral através do contrato individualde trabalho, na ameaça de colocação demilhares de trabalhadores em supranumerários,contratos a termo certo, recibos verdes,programas ocupacionais, falsos estágios,aluguer temporário de mão de obra…”

O Libelo”Acusatório do Tribunal de OpiniãoPública, realizado pela Frente Comum, atacafortemente as opções do governo em matériade serviços públicos, manifestando-se contra oencerramento de hospitais e maternidades,serviços de atendimento permanente, contra oaumento das taxas moderadoras, desinvestindonos cuidados de saúde primários, diminuindoos medicamentos comparticipados e alargandoo negócio a privados — uma situação na Saúde

que faz com que, em Portugal, os utentes doSNS tenham de pagar já parte significativa dasdespesas, cerca de 40%.

Foi de grande projecção a iniciativa na Casado Alentejo. Justiça,Segurança, Notariado,estabelecimentos Fa-bris das Forças Arma-das, Administração Lo-cal, Política da Água,Agricultura, tudo etodos sob mira do mas-sacre dos serviços pú-blicos, numa caminha-da que tem de ser pa-rável, unindo esforços,mobilizando vontades,tomando a iniciativa.

A acusação ao go-verno não podia esque-cer a Educação. O ata-que ao direito de exer-cício da actividadesindical, o direito deGreve, o direito deopinião e de reunião…

tudo, tudo está a ser cilindrado, apesar daresitência e da acção. E se estas não sãosuficientes é urgente adicionar mais força àtorrente. O encerramento de milhares de escolascom 2 a 200 alunos, cego e frio, constitui umdos mais poderosos e determinados ataques aodireito à educação pública, inclusiva, demo-crática e universal. É um dos mais largos passospara a privatização da Educação e do Ensino,ao mesmo tempo que se abastarda a profissãodocente e se denigre sem remorsos a imagemsocial e profissional de dezenas de milhar deprofessores.

Julgado e Condenado, falta cumprir apena!… o que não é estranho, nos tempos quecorrem. | Luís Lobo

Page 2: Março de 2006

JORNAL DA FENPROF 3MARÇO 2006

SUMÁRIO

24

EDITORIALPrevisões e VoliçõesPaulo Sucena5

7

1417

6

12

O ME tinha anunciado paraFevereiro a apresentação do seuprojecto de revisão do ECD. Nãocumpriu a promessa o que,convenhamos, é degravidade baixa perante todo o rolde promessas que o actual governonão só não cumpriu comocontrariou.

A revisãodo E.C.D.já começou!

A FENPROF e a AssociaçãoNacional dos MunicípiosPortugueses (ANMP), reunidasem finais de Março, concordamque o processo deencerramento de escolas e de(re)ordenamento da rede esco-lar não deve ser um processoadministrativo imposto porquem está longe da realidade edos verdadeiros problemas dascomunidades.

Convergênciade posiçõesentre FENPROF e ANMPsobre o encerramentode escolas

ACTUALIDADEQuem é o mexilhão nesta história dos concursos?Anabela Delgado

CARREIRA DOCENTEEstatuto da Carreira de A a Z (1ª parte)

ACTUALIDADEGreve de 20 a 24 de Fevereiro: um protestocontra o “faz de conta”António Avelãs

REDE ESCOLARO Governo abate escolas,a requalificação do 1º Ciclo pode esperar!Francisco Almeida

DIREITOSDireitos sindicais em perigoAdriano Teixeira de Sousa

PRÉ-ESCOLAR — CALENDÁRIOFENPROF leva o assunto à Assembleia da República

27INTERNACIONALFrança: opinião pública, estudantes e sindicatoscontra a injustiçaJosé Janela

29 INTERNACIONAL«Atelier» da IE em SesimbraJPO

30CULTURAISMaior exposição europeia sobre Frida Kahlo no CCBem Lisboa até 21 de Maio“Bicentenário de Bocage: o poeta através da imprensa”e “Impressões Fotográficas”: exposições no Porto

MARÇO 2006

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15

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4 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

A revisão do E.C.D.já começou!

1

REVISÃO DO ECD

Mário Nogueira (Membro do Secretariado Nacional da FENPROF)

A revisão do Estatuto da CarreiraDocente já teve o seu início. Não osECD’s do Ensino Superior (Politécnicoe Universitário), que esses são jásuficientemente negativos para que

o Governo e Mariano Gago sintam necessi-dade de os rever, mas o que se aplica aoseducadores de infância e aos professoresdos ensinos básico e secundário.

2. Não de adivinha nada de bom ou,sequer, de razoável para esta revisão que,efectivamente, já teve o seu início. É essa arazão por que já está congelado o tempode serviço, agravadas as regras de apo-sentação, aumentados os horários detrabalho, abastardadas as funções docentes,pervertidas as componentes lectiva e nãolectiva dos docentes, revogados diversosartigos que compõem o ECD...

3. Como se tudo o que se referiu em 2.não bastasse, o ME alterou ou anuloudiversas regras do ECD através de quadroslegais de negociação obrigatória mas quenão foram negociados. São os casos da Lei43/2005, imposta pela socrática maioriaabsoluta; do DL 121/2005, imposto peloConselho de Ministros; dos despachosministeriais 16795 e 13783, ambos deAgosto de 2005, que consagram, impu-nemente, ilegalidades e abusos diversos.Desde Novembro de 2005 que os seusnormativos foram assimilados pela FNE queos impôs, de forma agravada, aos seusassociados do ensino particular e coo-perativo, através do contrato colectivo detrabalho que assinou com a representaçãodas entidades patronais.

4. Foi com todas estas medidas que oME provocou, conscientemente, a desor-ganização pedagógica das escolas. Pretendeagora, dirá, tomar as medidas inevitáveis àsua (re)organização; “como se impõe”acrescentará com aparente convicção.Medidas que passarão por retirar maisalguns direitos aos docentes; “privilégios”esclarecerá a ministra, coadjuvada pelo seusecretário de estado preferido.

5. O ME tinha anunciadopara Fevereiro a apresentaçãodo seu projecto de revisão doECD. Não cumpriu a promessao que, convenhamos, é degravidade baixa perante todoo rol de promessas que o ac-tual governo não só nãocumpriu como contrariou.Não o fez ainda e um dosmotivos reside no facto defaltarem definir, ou, pelomenos, divulgar, o conjunto completo demedidas da designada reforma da Adminis-tração Pública. Também essa está em curso,através da imposição de normativos avulsos,mas só neste mês de Abril se conhecerá emtoda a sua extensão e diversas dimensões.Só depois, diz-se que em Maio, cadaministro deverá apresentar as propostasconcretas para aplicar as novas orientaçõesno seu sector.

6. Contribui também para este atraso,o facto de ainda não estar terminado otrabalho sujo, iniciado na DREL e que agoraparece transferido para o âmbito dosecretário de estado da Educação, destinadoa impedir os professores e educadores de,ao longo do processo de revisão, se juntaremparticipando em reuniões sindicais. Ogoverno actual tenta apurar argumentosque lhe permitam interpretar uma lei do 25de Abril, de forma a que a sua aplicaçãoseja semelhante ao que acontecia antesdessa data libertadora em que a simplesreunião sindical era proibida e punida commulta que podia chegar a cem escudos.Depois, dependendo da “gravidade” dasdecisões, o caso poderia acabar com cargapolicial, detenções, julgamentos sumáriose anos nos calabouços da pide...

7. Concluídos os dois processos referidosem 5. e 6., falta apenas dar início a maisuma infame campanha contra os pro-fessores, o seu profissionalismo, o seuempenhamento, a sua dedicação à escola...Será fácil. No ME há “experts” no assunto ena comunicação social luta-se por obter o

exclusivo da notícia. No dia da publicaçãoas rádios organizarão os seus “fóruns” deforma a que alguns “Albinos” façam escoar,sem censura, o seu fel e à noite, nastelevisões, lá surgirá o exemplo atirado parafecho de emissão como forma de manteratentos a todo o jornal os apreciadores dosangue alheio.

8. É lamentável que um Governo queafinal é novo, tem apenas um ano de vida,tão rapidamente tenha envelhecido. Velhonas atitudes, velho no discurso, velho nasmedidas e velho na sanha contra osprofessores. Que se cuide, outros anteshouve que, apesar de novos, caíram develhos. E os professores deram o seucontributo...

O ME tinha anunciado

para Fevereiro a

apresentação do seu

projecto de revisão do

ECD. Não cumpriu a

promessa o que,

convenhamos, é de

gravidade baixa perante

todo o rol de promessas

que o actual governo não

só não cumpriu como

contrariou.

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JORNAL DA FENPROF 5MARÇO 2006

Paulo Sucena (Secretário Geral da FENPROF)EDITORIAL

Previsões e Volições

E

JORNAL DA FENPROF 5MARÇO 2006

stou a escrever este editorial quando está achegar ao fim a primeira metade do ano lectivode 2005-2006, com o convencimento cada vezmais profundo de que as medidas da Ministrada Educação tão saudadas por muita e diversa

gente, não vão contribuir em nada para a consecuçãodo grande objectivo da Professora Maria de LurdesRodrigues - melhorar a qualidade da escola pública econsequentemente diminuir o insucesso escolar. Poroutro lado, também me parece que a aposta namobilização dos Conselhos Executivos e do corpodocente das escolas e agrupamentos se vai saldarnegativamente, enquanto, infelizmente, não há sinaisde que os agrupamentos e respectivos projectoseducativos mostrem saltos positivos relativamente aanos lectivos anteriores. É evidente que me estousempre a referir a todo o universo escolar o quesignifica que não esqueço os casos em que, por diversascircunstâncias contextuais, o ano lectivo de 2005-2006 está a correr melhor do que anos anteriores.

O que se pretende afirmar é que a FENPROF tinharazão, quando nos finais do ano lectivo de 2004-05,alertou a Ministra da Educação para possíveisconsequências negativas dos projectos anunciados,nanja negociados, à FENPROF. O tempo está a dar-nos razão porque a sua origem provinha mais de umvoluntarismo obsessivo e do doentio pressuposto deque os docentes eram os culpados de tudo que denegativo se passava no sistema educativo do que deum rasgo da Ministra, ambiciosamente inovador, capazde pôr escolas e professores em movimento na buscade um futuro melhor para a Educação. Pelo contrário,a classe docente viu-se apertada numa constrangedoramalha e batida por uma opinião pública, alimentadapelo poder politico e por alguns plumitivos, que viamnos docentes os mais privilegiados e relaxadostrabalhadores portugueses.

Reitero, com mais fundamentos, a opinião daFENPROF de que o país corre o risco de ver encerrareste ano lectivo como um dos piores dos últimos anos,entre outras razões, porque a Ministra da Educaçãotem queda para se fazer afogar em algumas palavras.Por exemplo, a palavra aluno, não se esquecendo deafirmar que não há escolas sem alunos, mas olvidandototalmente que não há alunos sem professores e euacrescentaria com uma boa formação inicial econtínua, com um estatuto de carreira valorizador dasua profissão e com o prestígio social que o seu papelna sociedade justifica, alcançado com o seudesempenho pessoal e reforçado pelo discurso de quem

governa a nação. Porém, esse discurso teve sinalcontrário e assim não se vai lá…

Outra das consequências do afogamento napalavra aluno traduziu-se no facto de a Ministra daEducação confundir os direitos dos alunos comobrigações dos professores, absurdamente aumen-tadas sem proveito para ninguém. É essa uma falhairremediável: a dos verdadeiros direitos das criançase dos adolescentes não terem sido devidamentecuidados e, ainda terem sido postergados a favor documprimento de um único direito, o de terem todasas aulas, todos os dias da semana. Alguém teráperguntado aos alunos que suportam uma cargahorária bastante pesada, que se debatem comprogramas por vezes excessivos, outras vezes malarticulados, horizontal e verticalmente, que vivem naescassez de recursos pedagógico-didácticos em muitasescolas, se não será um direito deles gozarem um“feriado” quando um professor falta e não será outrodireito deles terem espaços para usarem da forma quelhes der mais prazer esse tempo que inesperadamentese tornou livre para eles? Porventura a pergunta foifeita e a maioria dos alunos preferiu ter aulas desubstituição mesmo que dada pelo professor maisfechado da escola. Custa-me a crer… Pensemos emduas hipóteses impossíveis e finjamos que erampossíveis: o Luís Figo acabada a carreira de futebolista,licenciava-se em Educação Física e seguia a carreiradocente. Pergunto: - se o Figo faltar os alunos sentem-se defraudados pela ausência do Figo ou consomem-se, carregados de tristeza, se (e lá vem a outra hipóteseimpossível) o professor Cavaco Silva não vier substituiro seu professor de Educação Física? Se a SenhoraMinistra soubesse por onde passam os direitos dascrianças, dos adolescentes e dos jovens eu escusavade estar a consumir-me com esta prosa.

Mas como a esperança é a última coisa a morrer,formulo, a terminar, um profundo desejo, vindo domais universal da minha vontade: Senhora ProfessoraMaria de Lurdes Rodrigues, abandone, por favor, AMesa da Solidão, um belíssimo título do poeta Raulde Carvalho e escolha o título de um poema do mesmoRaul de Carvalho “Serenidade és Minha” e comececomo o poeta: “Vem, serenidade!”. Depois de por elaestar possuída, mande sentar, numa solar e francaTávola Redonda, os dirigentes sindicais e, como umalídima representante do Rei Artur, com eles procureabertamente os caminhos que possam erguer osistema educativo à altura que todos os portuguesesdesejam.

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6 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

Novos Grupos de Docência Quadros de Escola Quadros de Zona PedagógicaPos. Neg. Pos. Neg.

310 - Latim/Grego 0 0 0 0

320 - Francês 0 0 19 0

340 - Alemão 0 0 0 0

430 - Economia/Contabilidade 13 327 0 2

530 - Ed. Tecnológica 47 831 0 9

ontudo, situação mais grave viverãoos docentes mais jovens ou commenos anos de serviço que aindanão tiveram a oportunidade deingressar nos quadros, ainda que

tenham anos e anos de serviço na situaçãode contratados. Estes, se não conseguiremuma vaga de quadro no concurso para opróximo ano, têm uma certeza - até 2009/2010 manter-se-ão na situação de con-tratados (fora da carreira) ou, even-tualmente de desempregados.

Alguns manter-se-ão contratados, semnecessidade de se submeterem a um con-curso de contratação, por via do mecanismode renovação de contrato. Se foremprofissionalizados e tiverem a sorte de sercolocados em horário completo que con-tinue a existir nos anos seguintes e desdeque o órgão de gestão da escola dê parecerfavorável à renovação do contrato, terãoemprego mais um ano! Assim, dependendoda sorte de cada um, a não obtenção derenovação de contrato, poderá remeter parao desemprego, muitos docentes, ainda quesejam mais graduados do que os seuscolegas que, tendo tido mais sorte, obtive-ram colocação em escola onde foramreunidas as condições para a renovação docontrato.

Como em matéria de concursos o tempo deserviço é ouro, por esta via, nos próximos con-cursos para os quadros, 2009/2010, a graduaçãode cada um poderá estar completamentedistorcida relativamente à actual.

Quanto aos novos licenciados emensino, têm a incerteza e a falta deexpectativa pela frente – mesmo quecompletem a sua formação profissional esteano, só poderão candidatar-se a lugares doquadro em 2009/2010. Se não bastasse estasituação, veio recentemente o Ministério daEducação anunciar na comunicação social

a realização de uma prova nacional paraseriação dos candidatos à docência!... Nãoterá o sistema maneira de controlar aqualidade dos cursos, intervindo directa-mente nas instituições cuja qualidade deformação seja comprovadamente defi-ciente?! Terão que ser sempre as pessoas apagar as deficiências do sistema?

No centro da luta da FENPROF temestado a questão da vinculação dosdocentes. Vinculação entendida como oingresso nos quadros de escola e/ou de zonapedagógica. Isto é, no centro da questãoestá o número de lugares de quadrocolocados a concurso e os critérios usadospara a sua determinação. Infelizmente noconcurso que agora decorre, apesar dosanúncios propagandísticos do Ministério daEducação sobre a abertura de mais de 8000vagas de quadro, o número de lugares ficamuito aquém do que seria necessário para ohorizonte temporal de 3 anos em que nãohaverá novo concurso para ingresso nosquadros. Nem a criação de lugares de quadropara a Educação Especial resolverá o problemacomo pretenderia o Ministério da Educação.

E que dizer dos milhares de lugares quese prevê serem encerrados e dos horárioszero provocados pela alteração introduzidaà pressão e à última hora aos grupos dedocência? Particularmente as fusões de

grupos, algumas sem qualquer nexo,contribuíram já para o encerramento decentenas e centenas de vagas e contribuirãoa curto prazo (quando da distribuição deserviço nas escolas) para um elevadonúmero de docentes com horários zero que,por destacamento, ocuparão rapidamenteo reduzido número de horários dos gruposatingidos. Também a divisão dos grupos bi-disciplinares de línguas e o modo como seconvencionou fazer a recuperação de vagas,teve já como consequência a não aberturade qualquer lugar de quadro nos grupos deAlemão e Latim/Grego e a abertura de unsmíseros 19 lugares de quadro de zonapedagógica no grupo de Francês (segundalíngua na maioria das escolas). Para melhoresclarecimento da situação, observe-se oquadro abaixo onde, a título de exemplo,se apresenta o número de lugares a con-curso e lugares a fechar nos grupos onde asituação parece mais caótica.

Finalmente e embora o concurso estejaa decorrer com relativa normalidade, é deassinalar de forma negativa o modo comofoi tratada a situação dos docentes dosquadros dos Açores, situação colocadadesde a primeira hora, ainda em sede denegociação ao Ministério da Educação. Osserviços mantiveram até à véspera do últimodia para a apresentação de candidatura do

ACTUALIDADE

Quem é o mexilhão nesta históriados concursos?

Anabela Delgado (Direcção do SPGL e SN da FENPROF)

A não ser alterada a situação imposta pelo Ministério da Educação em matéria de concursos, nopróximo ano iniciar-se-á um período de três anos durante os quais os docentes dos quadros se terão demanter no lugar de colocação (longe ou perto da residência familiar), isto é, iniciar-se-á um período defixação administrativa dos docentes à escola ou à zona pedagógica que lhes “cair em sorte”!

C

Page 6: Março de 2006

JORNAL DA FENPROF 7MARÇO 2006

Entre 20 e 24 de Fevereiro muitosdocentes não asseguraram as actividadesnão lectivas marcadas no horário lectivocorrespondendo à greve decretada pelaFENPROF. Desde o início ficou claro quese pretendia atingir fundamentalmenteas duas “imposições” que mais têmagredido professores e educadores: asinúteis e esgotantes aulas de substituiçãonos 2º e 3º ciclos e os prolongamentosno 1º ciclo, não tanto contestados em simesmos mas necessariamente denun-ciados como um prolongamento enca-potado do horário lectivo dos professoresdo 1º ciclo e educadores e dos docentesde outros ciclos a quem estes prolon-gamentos têm sido impostos. Mastambém desde o início houve clarapercepção de que muitos docentesexigiam poder mostrar o seu protestocontra as arbitrariedades a que têm vindoa ser sujeitos com a marcação no seuhorário das mais variadas actividadescom alunos apesar de designadas como“não lectivas”: os apoios educativos, as salas de estudo, etc...Daí que, embora fosse dado particular ênfase às aulas desubstituição e aos prolongamentos, se tivesse redigido um pré--aviso de greve que cobrisse todas as actividades não lectivasmarcadas nos horários. Não foi necessário grande esforço deretórica para convencer os docentes a aderir a esta forma poucousual de greve. Perante imposições que conduzem a acçõesinúteis e situações pouco menos que absurdas, perantecampanhas organizadas entre o governo e uns tantos“comentadores oficiais” nos principais órgãos de comunicaçãosocial atacando arbitrariamente a profissão docente, o mal--estar e uma mal contida “raiva” instalaram-se. E os reparosfeitos pelos docentes à greve decretada foram que talvez devesseter sido mais cedo...

Que a greve incomodou o ministério e o governo ficoupatente com o facto de logo no primeiro dia o primeiro--ministro(!) ter descido a terreiro com uma impensada novidadecom laivos evidentes de retaliação: a extensão das aulas desubstituição ao ensino secundário no próximo ano lectivo. E deseguida, num perigosíssimo hábito desta equipa ministerial, maisumas ilegalidades tentando impedir (ou pelo menos dificultar)a prática de reuniões sindicais nas escolas e fora delas. E

ameaçando “castigar” os grevistas como desconto de todo um dia de salário,mesmo quando os professores eeducadores asseguraram a parteessencial da sua actividade: as aulas!São claramente reacções de quemsentiu o peso da resposta dos docentes;em vez de repensar medidas tãomassivamente contestadas, o MErecorre à ameaça e à intimidação,dando uma triste imagem do sentidode estado que é suposto os governantesterem.

Numa greve deste tipo é prati-camente impossível calcular comobjectividade percentagens de adesão.No limite, se nenhum professor faltassenesse dia, não haveria aulas desubstituição, mas daí não se poderiaconcluir que a adesão era nula... Comoprofundamente arbitrário seria concluirque porque um professor tinha aceitadofazer uma substituição, a greve nãotinha adesão - poderia ter havido 4 ou

5 que a tivessem recusado... E se os prolongamentos foramassegurados por pessoal auxiliar, por pais ou monitores, tal nãosignifica que a greve tenha falhado. Mas se a quantificação édifícil, as indicações recolhidas nas escolas durante esses diasnão deixam margens para dúvidas: os docentes estavam mesmoà espera desta greve e o ministério mereceu-a. E em doisagrupamentos da área de Lisboa, os docentes decidiram mesmoprolongá-la.

A FENPROF aproveitou esta luta para alertar e precaver con-tra os projectos do Ministério da Educação em torno daanunciada revisão do ECD. A composição do horário, a definiçãodo que é componente lectiva e não lectiva, os deveres funcionaisdos professores e educadores serão uma frente de batalha paraa qual temos de estar preparados e mobilizados. Não sequestiona a necessidade de encontrar soluções para a ausênciaimprevista de um professor; não se trata de pôr em causa que,embora por razões exteriores à escola, se torna necessáriogarantir a ocupação dos mais pequenos até às 17.30 ou 18horas. Trata-se, isso sim, de encontrar para estes problemassoluções adequadas e não apenas atirar poeira para os olhos daopinião pública. São precisas medidas adequadas, não meros“faz de conta”. | António Avelãs

Greve de 20 a 24 de Fevereiro: um protesto contra o “faz de conta”

1º grupo de candidatos a informação de queestes docentes teriam de se apresentar a con-curso no continente como candidatosexternos. Finalmente a 16 de Março a situaçãoficou esclarecida por um despacho. Énecessário agora que os serviços aceitem arectificação da situação dos candidatos que

eventualmente tenham submetido a suacandidatura antes do dia 16 e o tenham feitocomo candidatos externos!

Em nome da estabilidade das escolas edo respeito pelos alunos e pelos docentes,é tempo do Ministério da Educação ter maisatenção às pessoas, não as tratando e não

tratando os problemas das escolas e daeducação exclusivamente em função dosdados estatísticos que possui ou emfunção do que é mais ou menos popularpara a opinião pública. Esta estratégiaservirá por algum tempo (e está a servir),mas a seu tempo esgotar-se-á.

Não se trata de pôr em causaque, embora por razõesexteriores à escola, se tornanecessário garantir a ocupaçãodos mais pequenos até às 17.30ou 18 horas. Trata-se, isso sim,de encontrar para estesproblemas soluções adequadase não apenas atirar poeira paraos olhos da opinião pública. Sãoprecisas medidas adequadas,não meros “faz de conta”.

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8 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

ENTREVISTA

8 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

"Ninguém nos enfia pela garganta abaixo,sem luta, um estatuto indigno da classe docente""A FENPROF considerou que arevisão do Estatuto daCarreira Docente, em 1997,sob a égide de um Governosocialista, o tornou umEstatuto globalmente positivo,mas a FENPROF não tem umaatitude fixista na esfera dapolítica e deste modo, perantea decisão do ME de rever oECD, de imediato tomoumedidas para, desde logo,começar a reflectirinternamente sobre osaspectos mais relevantes doEstatuto para poder abrir umdiálogo amplo masfundamentado com osprofessores e as escolas",destaca Paulo Sucena.Em entrevista exclusiva ao"JF", o secretário-geral daFENPROF responde a temas devincada actualidade na vidaprofissional dos docentesportugueses. Referindo que"um dos veios centrais dopensamento político desteGoverno é o do ataque aosdireitos sindicais e ao seuexercício", Paulo Sucenagarante que a FENPROF "vaicontinuar a reagir por duasvias – a da luta e damobilização dos professores ea da via jurídica e judicial".

"JF" – A ministra Lurdes Rodriguesafirmou em entrevista recente a ummatutino que "há uma oposição siste-mática e gratuita da FENPROF aoMinistério. Eles têm uma agenda que nadatem a ver com a Educação". O Primeiro-ministro diz que os sindicatos são"conservadores". Como é que a FENPROFinterpreta estas questões?

P. S. – Maria de Lurdes Rodrigues terávastos conhecimentos na área em que éespecialista e com eles e sobre elesdiscorrerá, com certeza, de forma brilhantee, possivelmente, merecerá até a designaçãode sábia. Mas, em rigor, os seus admiradoressó lhe deveriam chamar meia sábia, porquehá aspectos que também costumam fazerparte do conceito de sábio de que a senhoraministra é pungentemente destituída, comoos da ponderação e da sensatez das atitudesou os da forma avisada como se deveriamovimentar na complexa esfera da política,que recentemente abraçou. Falta-lhe aindaa capacidade de ouvir os professores e assuas organizações sindicais e articular aspropostas por elas apresentadas com umaobservação criteriosa dos contextos em que

Paulo Sucena ao "JF":

se desenvolve a actividade que está sob tu-tela do Ministério que dirige.

Infelizmente, esta última parte estáirremediável e lamentavelmente fora dassuas capacidades.

Portanto, mesmo que a ministra mere-cesse o epíteto de sábia, seria quanto muitouma sábia claudicante.

Mas a afirmação da Ministra por vocêscitada prova, reconheço, que não estamosperante uma sábia claudicante mas tão-sóperante meia sábia…

"JF" – Porquê?P. S.- Porque aquela declaração sofre de

profunda insensatez, porque é ofensiva paratodas as personalidades do País, da Univer-sidade do Minho à do Algarve, deixando defora os investigadores com obra publicadade alta qualidade, que têm colaborado coma FENPROF e muito têm contribuído para oaprofundamento e enriquecimento dopensamento da FENPROF sobre os maisdiversos temas e problemas da Educação, dodesempenho profissional dos professores, daestrutura do sistema educativo e funcio-namento das escolas.

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JORNAL DA FENPROF 9MARÇO 2006 JORNAL DA FENPROF 9MARÇO 2006

Tivesse estado Maria de Lurdes Rodri-gues atenta às jornadas pedagógicas queos diversos sindicatos da FENPROF desen-volvem desde a década de 70, tivesse lido,mesmo em diagonal, os Cadernos daFENPROF, tivesse perguntado a alguém oque disseram, em dezenas e dezenas deiniciativas da FENPROF, os Lícinios Lima, osAlmerindos Janela Afonso, os Steve Stoer,os Manuel Matos, as Luisas Cortesão, osJosés Alberto Correia, as Luisas Veiga, osRogérios Fernandes, os Antónios Nóvoa, osBaratas Moura, os João Barroso, as Ma-nuelas Esteves, para só falarmos de algunse dos mais antigos na arte, jamais a Ministrada Educação poderia ter proferido talbarbaridade. Até porque, com certeza, elanão assume que toda aquela ilustre gentedas Ciências da Educação emprestaria o seuhonrado nome a uma Federação de Profes-sores que desenvolvesse uma agenda que"nada tem a ver com a Educação"…

Mas, afinal, o início da declaração daMinistra que citaram explica de algummodo a falta de rigor da frase seguinte ("Elestêm uma agenda que nada tem a ver com aEducação" : é que a Ministra não suporta aoposição, a discordância da FENPROF demuitas das suas decisões e depois reageimbuída do mais profundo ressentimentoque Vladimir Ulianov considerava ser, empolítica, o pior dos males.

"JF" - E a declaração do Engº Sócrates,criticando os sindicatos por serem"conservadores"?

P. S. - Quanto a essa afirmação doPrimeiro-Ministro é mais uma demons-tração da propensão que tem para cair doalto da sua arrogância no mais constran-gedor ridículo. O ilustre politólogo, mescladode filósofo, propõe uma nova definição deconservador: é toda aquela pessoa, singu-lar ou colectiva, que discorda das medidas"inovadoras" e "altamente positivas" do seuGoverno. O pressuposto das qualidades dasmedidas não carece de demonstração. O quelhe falta em reflexão sobra-lhe em ousadiabalofa.

"JF" – Multiplicam-se os atentados eas ameaças do ME ao direito e ao exercíciode actividade sindical (Junho de 2005, 18de Novembro, recentemente com oimpedimento do direito de reunião). EsteGoverno parece empenhado na criação desérias dificuldades à actividade sindical.Parece mesmo que o ME encara omovimento sindical, em primeiro lugar,como um inimigo e, em segundo lugar,

que tem de ser abatido. Como vai reagir aFENPROF?

P. S. - Um dos veios centrais dopensamento político deste Governo é o doataque aos direitos sindicais e ao seuexercício. É impossível que a Ministra daEducação quando põe a funcionar o seusemi-hemisfério de sábia não se apercebadas consequências perigosíssimas para oregime democrático abertas pela suadecisão de decretar "serviços mínimos" naárea da sua tutela; por isso considero muitograve o ter ousado cercear o direito dereunião. É o mal do ressentimento a invadir-lhe a razão.

A FENPROF vai continuar a reagir porduas vias - a da luta e da mobilização dosprofessores para que vençam o medo e nãoalienem os seus direitos e a da via jurídicae judicial.

"JF" - O que está por trás do discursodivisionista do Primeiro Ministro e daMinistra da Educação que coloca asescolas, os professores e os sindicatos emplanos diferentes e que não se interre-lacionam? Uma tentativa de virar a opiniãopública contra os professores?

P. S. - Creio não estarmos numa fasede "tentativa de virar..." De facto, o Governoe o Ministério da Educação enveredaram porcaminhos de delírio político. O que podeganhar o País e a Educação no fim de umacampanha altamente ofensiva da dignidadeprofissional, humana e social dos seusprofessores? Nada. Depois o "crime" entrounum movimento de declínio do mais geralpara o mais particular - dos professores,passou-se aos sindicatos e dos sindicatosaos seus dirigentes. Sobre estes escreveu-se da prosa mais reles e desprezível quealgum dia li.

Deste movimento de envenenamento daopinião pública, pensou o Governo tirarvários proveitos: primeiro, o de remeter asculpas das insuficiências e falta de quali-dade do sistema educativo para os profes-sores; segundo, o de atribuir o falhanço dassuas medidas políticas aos sindicatos;terceiro, emendar a mão reaccionária que,num País democrático, ataca despudora-damente o movimento sindical e desviar aatenção das suas reais intenções para osdirigentes sindicais que são um estorvo,porque apenas pretendem roubar brilho àcintilante política do Governo.

É preciso, portanto, na opinião doGoverno, mudar estes dirigentes por outrosque transformem sindicatos "conser-vadores" em sindicatos revolucionários

"Maria de Lurdes Rodriguesterá vastos conhecimentos na

área em que é especialista ecom eles e sobre eles

discorrerá, com certeza, deforma brilhante e,

possivelmente, merecerá atéa designação de sábia. Mas,

em rigor, os seusadmiradores só lhe deveriam

chamar meia sábia, porque háaspectos que também

costumam fazer parte doconceito de sábio de que a

senhora ministra épungentemente destituída,

como os da ponderação e dasensatez das atitudes ou os

da forma avisada como sedeveria movimentar na

complexa esfera da política,que recentemente abraçou."

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10 JORNAL DA FENPROF MARÇO 200610 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

porque altamente empenhados em ajudara levar para a frente as decisões governa-mentais mesmo aquelas que em vez demelhorar pioram a saúde da vida escolar.

"JF" - Existe um clima de medo entreos professores, dizem uns, enquanto serealizam grandes plenários, os maiores desempre, grandes greves e enormesmanifestações… não há aqui uma aparentecontradição?

P. S. - Não sei se de medo, mas deprofundo desencanto, de enorme frustraçãosócio-profissional, de desmotivação, issocom certeza. Não é impunemente que setransformam os docentes portugueses noshumilhados e ofendidos desta sociedade.

Se o Ministério da Educação promoverum inquérito junto dos professores portu-gueses, creio que a maioria das respostascairão noutra vertente que não a do medoporque os aspectos que vocês referem, asadesões às greves, os grandes plenários emanifestações provam o que afirmo.

"JF" - Para alguns "analistas" esta éuma ministra corajosa porque está a fazer,passando por cima dos professores, apesarde não ignorar como o seu empenhamentoé fundamental para levar por diante assuas políticas. Não poderá ser esta a causade serem estes o Governo e o Ministérioda Educação mais contestados dos últimosanos?

P. S. - Será com certeza. Este Ministérioda Educação raciocina e age guiado por umaverdade absoluta: não há escolas semalunos, por isso estes têm de ser o centrodas preocupações governamentais. Talatitude sofre de dois graves males: primeiro,só o Ministério da Educação sabe defenderos alunos e assim só a ele cabe tomardecisões; segundo, porque não havendoalunos sem professores, uma atitudegovernamental ofensiva da profissio-nalidade dos docentes tem reflexos nega-tivos no desenvolvimento dos processos deensino e de aprendizagem, sendo os alunosos principais prejudicados.

Não é preciso procurar mais razões parauma forte contestação à atitude ministerial.

"JF" - Como caracteriza este últimoano de Governo para a Educação, em par-ticular, mas também para o País e para odesenvolvimento, em geral?

P.S. - Foi um ano negativo que aconjuntura nacional e internacional por sisó não justificam.

"JF" - Hoje, é evidente para todos quea ministra governa com "uma mão nacarteira" e "com a boca no trombone",como diz o povo. Quais são os sinais maisevidentes desta necessidade de mediatizara mentira?

P. S. - São a frequência do discursopúblico, a paixão pelas viagens e visitas àsescolas, o diálogo com interlocutorespreviamente seleccionados, com o desprezopelos que podem ser incómodos.

Deixem-me todavia dizer-vos que eu lhenão chamaria a "mediatização da mentira",

porque esta acção é impulsionada pelooutro hemisfério, o que está nos antípodasda sageza, por isso ela é fruto da obsessão,da paixão doentia de uma alma que se julgaa salvadora do país e com poderes demiúr-gicos relativamente ao futuro, por isso eupreferia dizer que ela não mente desca-radamente mas erra apaixonadamente. E,por favor, poupem-me comentários à minhaporventura infundamentada generosidade…

"JF" - Diz-se que a FENPROF intervémmuito, debate e discute tudo com os

Uma alma pesada… de números"Numa freguesia em que há uma escola com três crianças alguémacredita que ainda terá alma?" – as palavras são da ministra. Quecomentário se pode fazer a uma declaração destas?

Paulo Sucena - A Ministra tem a alma pesada de números e mostra--se incapaz de a erguer para o mais pequeno voo metafísico…

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JORNAL DA FENPROF 11MARÇO 2006 JORNAL DA FENPROF 11MARÇO 2006

professores, abre-se ao diálogo e ànegociação, agenda acções de luta e obtéma adesão dos trabalhadores que representa.No entanto, resultados positivos não há.O tempo é de perdas sucessivas. Trata-sede uma inevitabilidade? Este é um tempode derrotas? Há uma perda de expectativasem relação ao movimento sindical? Qualo papel que a FENPROF mantém nosistema educativo e político português?

P.S. - A esse molho de perguntasencadeadas, de que possivelmente jáesqueci alguma, gostaria de responder deum modo largo, dizendo que só é derrotadoquem desiste de lutar e a FENPROF nãodesiste, que na luta sindical não há vitóriasnem derrotas eternas e que muitas vezesresistir é o começo de uma vitória futura.Finalmente um sindicalismo docenteimpulsionado pelo movimento de grandenúmero de professores não acumula perdassucessivas porque o movimento é dialéctico.A inacção é que é um reservatório dederrotas sucessivas. A partir daqui é que secoloca a vossa questão fundamental, a daperda de expectativas relativamente aopapel dos sindicatos. E como esse papel éfundamental cabe aos sindicatos a indecli-nável responsabilidade de encontrarem asestratégias necessárias para tornar visívelaos olhos de todos os trabalhadores a acçãoindispensável das organizações e movi-mentos sindicais na construção de umasociedade melhor.

"JF" - Vem aí a revisão do Estatuto daCarreira dos educadores de Infância e dosProfessores dos Ensinos Básico e Secun-dário. Vai ser mais um cumprir calendário?

P. S. - Tal nunca pode ser nem acontecerou a FENPROF não seria a FENPROF. Ninguémnos enfia pela garganta abaixo, sem luta, umestatuto indigno da classe docente.

"JF" - A FENPROF manifestou-seinicialmente contra a revisão do Estatuto, masnum recente encontro de quadros decidiutomar a iniciativa e estabelecer o seu própriocalendário. O que significa isto, afinal?

P. S. - A FENPROF considerou que arevisão do ECD, em 1997, sob a égide deum Governo socialista, o tornou um estatutoglobalmente positivo, daí aquela opinião,mas a FENPROF não tem uma atitude fixistana esfera da política e deste modo perantea decisão do ME de rever o ECD, de imediatotomou medidas para, desde logo, começara reflectir internamente sobre os aspectosmais relevantes do ECD para poder abrir um

diálogo amplo mas fundamentado com osprofessores e as escolas.

"JF" - Quais são os aspectos essenciaisdesta revisão que podem condicionarqualitativamente o ECD?

P. S. - Esperem pelas propostas do ME elogo verão. Acho que não devo jogar na mesa,antes de tempo, os trunfos da FENPROF.

"JF" - Como é que a FENPROF vaipautar a sua actuação no âmbito dasnegociações para a revisão do ECD?

P.S. - A seu tempo se verá e talvez nãofosse avisado tornar pública desde já aestratégia da FENPROF porque se trocaremo agente e o paciente da vossa primeirapergunta talvez encontremos uma verdademeridiana: há uma oposição sistemática doMinistério da Educação à FENPROF.

"JF" - O agravamento da política doME e do Governo contra os educadores eprofessores não está a empurrar ossindicatos para formas de luta mais duras?E os professores têm condições paraacompanhar esta necessidade?

P. S. – Foi o profundo e amplo descon-tentamento dos docentes que levou, esempre reflectidamente, ainda que compontuais erros, os sindicatos a decretaremformas de luta. Permitam que acrescenteque os docentes sabem que a FENPROFnunca as refreou em momentos queconsiderou azados para que elas setravassem. Como um dia disse: a greve nãoé uma festa é uma necessidade inultra-passável e quem a define são os professores.Creio, pois, que não há formas de luta maisou menos duras, há apenas lutas que têmde ser travadas porque, entre outras, há comcerteza razões profissionais, éticas e sociaisque o exigem. Nesses momentos tenho todaa confiança em que os docentes e aFENPROF estarão presentes.

"JF" - É ou não verdade que a acçãodeste Governo acentuou opções políticasneoliberais, configurando e instalando umamplo centrão sustentado pela economia?

P. S. - O Governo, tal como todos os quemais servilmente obedecem aos ditamesdesta globalização capitalista, não está acaminhar para uma "sociedade do conhe-cimento" mas para uma "economia doconhecimento", porque o seu desprezo pelosdireitos dos trabalhadores e pela coesão so-cial está quotidianamente a atentar contrao conceito de sociedade. | LL/JPO

"O que pode ganhar o País ea Educação no fim de umacampanha altamenteofensiva da dignidadeprofissional, humana e socialdos seus professores?Nada."

"O Governo, tal como todosos que mais servilmenteobedecem aos ditames destaglobalização capitalista, nãoestá a caminhar para uma"sociedade doconhecimento" mas parauma "economia doconhecimento", porque o seudesprezo pelos direitos dostrabalhadores e pela coesãosocial está quotidianamentea atentar contra o conceitode sociedade."

"Cabe aos sindicatos aindeclinávelresponsabilidade deencontrarem as estratégiasnecessárias para tornarvisível aos olhos de todos ostrabalhadores a acçãoindispensável dasorganizações e movimentossindicais na construção deuma sociedade melhor."

"Só é derrotado quemdesiste de lutar e a FENPROFnão desiste, que na lutasindical não há vitórias nemderrotas eternas e quemuitas vezes resistir é ocomeço de uma vitóriafutura."

"É preciso, na opinião doGoverno, mudar estesdirigentes sindicais poroutros que transformemsindicatos "conservadores"em sindicatosrevolucionários porquealtamente empenhados emajudar a levar para a frente asdecisões governamentais,mesmo aquelas que em vezde melhorar pioram a saúdeda vida escolar."

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12 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

CARREIRA DOCENTE

12 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

MARÇO DE 1989“JF” nº 52

“A luta que os professores travam desdeque em Março de 1988 o Ministério daEducação apresentou o seu projecto deEstatuto da Carreira da Educação Pré-Esco-lar e dos Ensinos Básico e Secundário,conduziu à obtenção de alguns importantesresultados e deve agora prosseguir emfunção de objectivos adequados à novasituação”.

Estatutoda Carreirade

ECD com históriaSeria absurdo e prejudicial que os

professores não assumissem claramente asvitórias que resultaram da sua unidade eda sua acção. Foi a luta conduzida pelaFENPROF, sobretudo durante o primeiroperíodo lectivo, que tornou claro o isola-mento em que o ME se encontrava e que olevou a modificar o seu projecto emaspectos fundamentais. (…)

“Não Satisfaz”

É um facto positivo que a avaliação dodesempenho tenha como norma a atri-buição administrativa do “Satisfaz” àgeneralidade dos professores.

Todavia, as condições para a atribuiçãode “Não Satisfaz” carecem de ser profun-damente ponderadas.

(…) A intervenção dos órgãos de gestãoda escola no processo que conduz à atri-buição de “Não Satisfaz” só pode ser vistaquando existirem ideias mais claras de comoevoluirá a gestão democrática no quadrodas reformas educativas”.

Da Resolução sobre a actual fase do processodo Estatuto da Carreira Docente

Construir uma nova identidadepara a profissão docente

“(…) Hoje os professores vivem nestaencruzilhada de retorno ao seu papel

primitivo ou de reforço e de permanênciados novos papéis adquiridos há 15 anos.Enquanto não se encontrar o caminho certo,a apreensão e mal-estar latente não serãoultrapassados.

(…) Nos últimos tempos alguns governose instituições intergovernamentais têmpressionado no sentido da introdução desistemas de avaliação externos ao trabalhodocente. Tais intenções inscrevem-se numcontexto geral de restrições orçamentais, aque se pretende dar resposta através doaumento da “rentabilidade” do ensino, etraduzem-se na situação profissional dosprofessores em tentativas de aumentar acarga de trabalho e de criar modelos decarreira assentes num sistema de remune-rações de mérito, que permita, a essesgovernos, evitar uma revalorização geral daprofissão docente pela criação de expecta-tivas elevadas a alguns. Tais propósitoscorrespondem, em Portugal, à organizaçãoda carreira docente por níveis. A FENPROF,no plano nacional e internacional, pro-nuncia-se frontalmente contra essespropósitos.”

Do Ante-projecto de Tema de Estudo do IIICongresso Nacional dos Professores

“Professor uma profissão de futuro”, —Profissão docente: realidades de hoje, desafios do

futuro. As responsabilidades do movimentosindical docente.

A a Z(1ª parte)

AAvaliação do Desempenho — sendo um

instrumento fundamental para a progressãona carreira, faz com esta não seja deprogressão automática, o que dá substânciaà reclamação de ilegalidade do congela-mento das progressões.

Os docentes portugueses, ao contráriodo que a demagogia de Sócrates quer fazercrer, são obrigados a frequentar um minímode 10 horas de formação por cada ano deserviço, do conjunto de acções homologadaspelo governo português.

Têm de cumprir de forma adequadacom as suas obrigações profissionaisdefinidas pelo artigo 10.º do ECD, manterum bom relacionamento e apoio aos seusalunos e exercer os cargos para os quais

tenham sido eleitos ou designados. Nestecaso a recusa da aceitação do cargo temde ser devidamente fundamentada.

BBonificação da assiduidade — Excluindo

diversas faltas (por greve, acção sindical,formação, entre outras), tratava-se de ummecanismo que apoiava a antecipação daaposentação para aqueles que, durante todoum ano lectivo não dessem qualquer falta.Foi revogado por este governo!…

CComponente Lectiva – Este é um dos

pontos centrais do conflito entre professores

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JORNAL DA FENPROF 13MARÇO 2006 JORNAL DA FENPROF 13MARÇO 2006

no alvo

e Ministério da Educação. As lutas desen-volvidas ao longo deste ano lectivo,centraram-se muito na dignificação dafunção docente e contra a sua desca-racterização. Por esse motivo LurdesRodrigues considerou os professoresfechados no seu corporativismo. Umaacusação tão injusta quanto se sabe queda correcta definição destes conceitos resul-tarão ganhos importantes para a escolapública portuguesa. Em causa estão, como éóbvio, os dois Despachos autoritaria eextemporaneamente publicados em Agosto— o 17387/05 e o 16795/05.

DDireito à negociação colectiva e de

participação no processo educativo — Noâmbito da negociação colectiva devem serconsiderados, entre outros aspectos, saláriose remunerações, aposentação e pensões dereforma, acção social e acção socialcomplementar, relação jurídica de emprego,carreiras e estruturas remuneratórias,duração e horário de trabalho, férias, faltase licenças, direitos de exercício colectivo,higiene, saúde e segurança no trabalho,formação contínua e formação profissional,estatuto disciplinar, mobilidade, recru-tamento e selecção de pessoal docente; jáquanto aos aspectos ligados, os programasdevem ser ouvidos e considerados emmatéria de programas de emprego, fiscali-zação e avaliação das condições defuncionamento e de trabalho, gestão dasescolas e do sistema educativo, qualidadedos serviços, acidentes de serviço e doenças

profissionais, sistema educativo, expe-riências pedagógicas e sua avaliação.

EEstatuto da Carreira Docente — Com a

publicação em 28 de Abril, do Decreto-Lein.º 139-A/90, os professores e educadoresviram consagrado em diploma legal oconjunto mais significativo de normas,deveres e direitos reguladores da profissão,satisfazendo assim um dos seus principaisanseios, pelo qual lutaram gerações deprofessores, desde a 1.ª República, passandopelos Grupos de Estudo.

A aprovação de um estatuto profissionalque consubstancia o reconhecimento dafunção docente, caracterizando-a, e dacondição de professor foi, sem dúvida, umdos passos mais significativos do país emdefesa de uma escola pública de qualidade.

Se é verdade que com a sua publicaçãorenasceram lutas fundamentais como asque tiveram por base a defesa de umacarreira única com uma formação da maisalta qualidade, que esteve na base da lutacontra a prova de candidatura ao 8.º escalão,ou pela contagem integral do tempo deserviço, com a sua resolução vitoriosa osprofessores viram consagrada uma profissãomais valorizada e mais revalorizada.

No próximo número do JF: FormaçãoContínua, Graus Académicos, Horário de

Trabalho, Intercomunicabilidade,Justificação de Faltas

Os funcionários públicos portuguesessão os que estão a ser mais penalizadosno seu poder de compra, quando com-parados com os seus pares de setepaíses comunitários. Quer se consi-derem os que estão com défices exces-sivos quer os países da Coesão. Emboranão sejam os únicos a sofrer as agrurasda contenção orçamental, contando coma companhia de franceses e espanhóis,os servidores do Estado português nãosó tiveram a maior erosão salarial em2005 - dois pontos percentuais - comosão os que sofrem esse embate há maistempo, desde há seis anos. Um pano-rama que se repete este ano, poisperderão 0,8 pontos.

Num conjunto de oito países analisa-dos pelo DN (Portugal, Espanha, Itália,França, Reino Unido, Alemanha, Irlandae Grécia), os britânicos e os irlandesessão os que mais se destacam pelapositiva. Tal como em 2005, este ano osfuncionários ingleses verão os seussalários aumentar 3,54%, em média,quando a inflação prevista não irá alémdos 1,75%, o que reflecte um ganho realde 1,8 pontos.

(…) Na Grécia, um país que acumulaa situação de défice excessivo com ofacto de pertencer ao grupo dos menosdesenvolvidos, as condições tambémprometem deteriorar-se. Mesmo assim,no ano passado os funcionários tiveramaumentos de 3,5%, equivalentes àinflação, embora este ano percam 0,2pontos.

(…) O caso irlandês é o de mais difícilcomparação, pois para além dos au-mentos anuais faseados os funcionáriosbeneficiaram de acréscimos que resul-taram de um benchmarking com osaumentos no sector privado, em relaçãoaos quais perdiam terreno. Assim, desde2004 o aumento médio acumulado foi de8,9%, sendo que o básico em 2005 foida ordem dos 3% e em Junho deste anoserá de 2,5%. | DN, 19/03/2006

Funcionáriosportuguesessão os quemais perdem

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14 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

REDE ESCOLAR - ABATE DE ESCOLAS

14 JORNAL DA FENPROF

O Governo abate escolas,a requalificação do 1º Ciclo pode esperar!

O Ministério da Educação e oPrimeiro-Ministro têm vindoa fazer um significativo esfor-ço no sentido de levarem osportugueses a acreditar que oanunciado abate de milharesde escolas é uma inevita-bilidade sustentada em razõesde natureza pedagógica.

astaria o facto de esta medida estara ser anunciada em simultâneo como encerramento de centros desaúde, maternidades, repartições definanças, tribunais, esquadras de

polícia, etc., para ficar claro que as razõessão outras e bem distantes dos interessesdas crianças e das famílias. O que está emcausa é reduzir o Estado ao estado mínimo.O que está em causa é acabar com aresponsabilidade do Estado nas funçõessociais que a Constituição da República lheatribui. O que a alguns pode parecerestranho é o facto de ser um Governosustentado no Partido Socialista que estáapostado em reduzir o Estado apenas àsfunções de soberania: segurança interna,negócios estrangeiros e justiça.

Do nosso ponto de vista o ordenamentoda rede escolar exige a ponderação de, pelomenos, cinco questões que a seguir seabordam sucintamente.

1. No domínio do ordenamento da redeescolar, a complexidade das determinantes queantecedem as decisões desaconselha auniformidade e o centralismo hoje instalado,apesar da conversa em contrário que o Governovai fazendo. Portanto, não é possível estabelecerum padrão nacional para a manutenção ouencerramento de escolas. Qualquer decisãodeve ser contextualizada. Recentemente, emreunião com a FENPROF, um dirigente da ANMPdizia que até as questões climatéricas devemser tidas em conta quando se pensa noordenamento da rede escolar.

3. Quando a decisão consensualmenteencontrada, for o encerramento de algumasescolas, a concentração de crianças tem queser feita em escolas melhores – com cantina,espaços para actividades de educação física,com equipas educativas constituídas,ocupação de tempos livres, com pessoalauxiliar em número adequado, com o ma-terial pedagógico e didáctico adequado –enfim, uma Escola Nova.

Neste domínio, a Ministra da Educaçãoe o Primeiro-Ministro mentem descarada-mente. Dizem que as crianças de 1.500escolas a encerrar vão ser transferidas paraescolas melhores, mas na quase totalidadedos casos a escola de destino é igual à queencerra – o mesmo tipo de edifício e amesma pobreza de recursos humanos,materiais e financeiros.

E tudo o que se conhece confirma o quea FENPROF e os seus Sindicatos têm vindoa dizer - o abate de escolas nada tem quever com qualquer processo de requalificaçãodo 1º Ciclo do Ensino Básico. Para confirmaresta afirmação basta ler o mail dirigido pelaDREC aos conselhos executivos dos agrupa-mentos de escolas onde se solicita aelaboração de “uma estimativa de custospara a realização de obras consideradasindispensáveis” nas chamadas escolas de

2. A contextualização das decisões nestedomínio implica a construção de consensos comas comunidades, as autarquias e os professores.

Ora, como se sabe o Governo fezexactamente o contrário – decidiu de formaautocrática “do alto da sua maioria abso-luta” – estas maiorias dão sempre nisto. Ascomunidades foram confrontadas comdecisões preparadas nos gabinetes do ME edas direcções regionais. Os professores e assuas organizações não foram “tidos nemachados” e, arrogantemente, o Governo dizque não foram ouvidos, nem serão. O paísficou recentemente a saber que as câmarasmunicipais também não tiveram oportu-nidade de dizer o que pensam – porexemplo, o SPRC divulgou recentementeque, na região centro, dezenas de autarquiasconfirmaram, através da cópia das actas dassuas reuniões, que nunca foram ouvidas eque se opõem ao abate de escolas que oME tem em curso.

A Ministra da Educação foge e recusadialogar com pais e professores, comoaconteceu recentemente no Governo Civilde Viseu – recusou receber uma delegaçãode pais e professores que simplesmentequeriam entregar-lhe um documento e umabaixo-assinado de diversas aldeias. É umestranho conceito de democracia ….

Francisco Almeida (Secretariado Nacional da FENPROF)

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alientando que “nesteprocesso é necessário quese cumpram determi-nados requisitos”, aFENPROF aponta desde

logo “o respeito pela opinião dascomunidades, com especial des-taque para as autarquias”, tendoem conta também “a opinião dasassociações de pais e das organi-zações sindicais docentes.”

Depois, observa a Direcção daFENPROF, há que garantir sem-pre, por um lado, “um financia-mento adequado com vista aassegurar a deslocação e permanênciadas crianças fora das suas famílias, areforçar a Acção Social Escolar e agarantir obras de requalificação dasescolas que acolherão as criançasdeslocadas”; e, por outro, que, “em todosos casos a escola de acolhimento temmelhores condições do que tinha(m) a(s)escola(s) encerrada(s).”

A nota divulgada pela FENPROFrefere mais adiante que “as duas partesmanifestaram preocupações quanto àdimensão do encerramento pretendidopelo Ministério da Educação, nãoaceitando a ANMP que as 1500 escolasanunciadas pelo ME, para este ano,sejam escolas a encerrar. Admite quesejam escolas “elegíveis” mas só aceitaque encerrem quando se verificaremtodos os requisitos estabelecidos.”

Uma mentira

A FENPROF aproveitou para mani-festar preocupação pelo encerramentoprevisto já para este ano, mas tambémreafirmou uma enorme preocupaçãopela dimensão do encerramento que seanuncia para a Legislatura (4500estabelecimentos, ou seja, cerca de 60%dos existentes). “Se considerarmos que

Convergência de posiçõesentre FENPROF e ANMPsobre o encerramento de escolas

há 2784 escolas com menos de 20alunos, desconhece-se quais são os1700 a mais que estão na “linha deabate”, observa a nota à comunicaçãosocial. “Tem de se concluir”, destaca odocumento enviado à imprensa, “quese mente no ME quando se fala emencerrar escolas com menos de 20alunos e, destas, as que apresentemelevados índices de insucesso. Como semente quando se afirma que o processoestá a ser negociado com as autarquiase que estas estão de acordo com oencerramento das suas escolas. Umamentira que se denuncia através dasmuitas dezenas de cartas recebidaspelos Sindicatos da FENPROF queafirmam o contrário.”

FENPROF e ANMP considerarammuito útil este encontro, em que seabordaram outros assuntos como osprolongamentos de horário do 1º Ciclo, acomponente sócio-educativa e de apoioàs famílias na Educação Pré-Escolar e oInglês no 1º Ciclo. Em todas as questõeshouve um grande consenso de apreciaçãoe de posições quanto ao que se considerapositivo para, no futuro, garantir umensino de maior qualidade e uma escolapública mais forte, conclui a notadivulgada pelo Secretariado Nacional daFederação no passado dia 24 de Março.

acolhimento. E, a mesma direcção regional,esclarece noutro mail que “só devem serconsideradas obras de beneficiação noscasos em que manifestamente se justifique ena exacta medida em que esta necessidadedecorra do facto de a escola passar a acolhermais alunos.” Fica tudo cada vez mais claro –as escolas fecham a requalificação pode esperar.

4. A manutenção de pequenas escolasé, em algumas regiões, um importantecontributo para ajudar a combater adesertificação crescente que hoje atingevastas áreas do país.

Sem a escola, sem extensões dosserviços de saúde, sem atendimentonocturno nos centros de saúde, sem apequena estação de correios que antesexistia, sem transportes públicos… quemdecide viver em milhares de aldeias? Diz aMinistra da Educação que a manutençãoda escola não resolve o problema dadesertificação. O problema é que estediscurso ignora deliberadamente que oencerramento de escolas faz parte de umprocesso de destruição de diversos serviçoslocais. Um caminho que visa reduzir oEstado ao estado mínimo.

5. Finalmente, importa salientar que aescola situada nas pequenas aldeias éaquela que está mais perto das famílias e,no processo ensino-aprendizagem, o esco-lar não se pode distanciar do educativo eque este só ganha sentido quando enraizadona comunidade e cimentado nas vivênciasdas crianças. Por outro lado, dada a largadimensão geográfica que caracteriza muitosdos nossos concelhos, a manutenção daescola da aldeia pode contribuir para umsaudável desenvolvimento da criançaevitando a permanente deslocação e odesenraizamento cultural.

Este é um modelo que vai de encontroàs reais necessidades, expectativas einteresses das crianças, alicerçado nainclusão cultural e comunitária, por formaa rentabilizar o capital de vivências e deconhecimentos que as crianças transportamconsigo potenciando, desta forma, oobstáculo em recurso, assumindo-se, aescola, como um verdadeiro pólo dedesenvolvimento local.

Talvez também por isso, estudos doInstituto das Comunidades Educativas (ICE)demonstram que nas escolas do meio ruralas taxas de sucesso educativo das criançassão semelhantes às dos centros urbanos.Esses estudos chegam mesmo a demonstrarque, nas zonas rurais onde se desenvolvemprojectos específicos, o sucesso educativodas crianças é superior ao que se verificaem centros urbanos.

A FENPROF e a Associação Nacional dos MunicípiosPortugueses (ANMP), reunidas em finais de Março,concordam que o processo de encerramento de escolas ede (re)ordenamento da rede escolar não deve ser umprocesso administrativo imposto por quem está longe darealidade e dos verdadeiros problemas das comunidades.

S

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DIREITOS

Ao anunciar que ponderadescontar um dia de salárioaos professores e educadoresque cumpriram o seu dia detrabalho, mas aderiram àGreve às actividades desubstituição ou aosprolongamentos de horário(isto é, descontar um dia aquem cumpriu acomponente lectiva e,depois disso, fez greve, porexemplo, a 45 minutos decomponente não lectiva, ouseja, a uma substituição) ,confirma que a actualequipa ministerial optoupela via do confronto com alegalidade e com osprofessores quando mais senecessitava de diálogo enegociação, sublinha umanota divulgada recentementepelo Secretariado Nacionalda FENPROF

M.E. opta em definitivopela via do confronto com a legalidade

pesar de, no passado e com governosde diferentes quadrantes políticos, osdocentes portugueses terem feitogreve às horas extraordinárias, grevea determinados tempos, ou greve a

turnos e de, naturalmente, só lhes terem sidodescontados os tempos de greve – a lei nãopermitia nem permite outro procedimento –os actuais responsáveis do Ministério daEducação ameaçam agora com um absurdo“fundamento” jurídico que é perfeitamenteirrelevante perante a intenção política quelhe subjaz, regista a Direcção da FENPROF,que acrescenta:

Esta atitude de confronto permanentecom os professores e educadores e as suasorganizações sindicais, é, actualmente, umdos principais motivos da grande insta-bilidade que atinge a Educação e as escolase do enorme descontentamento destesprofissionais.

Recorda-se que desde a tomada de possedo Governo, há cerca de um ano, os docentesportugueses têm sido dos principais alvos dosseus ataques, encontrando-se hoje com as

carreiras congeladas, a idade de aposen-tação aumentada, o tempo de serviçoroubado, os horários de trabalho agra-vados, as funções docentes abastardadas,o Estatuto da Carreira Docente desres-peitado e empobrecido de alguns artigosimportantes, o regime de concursos revistonegativamente, os direitos sindicais postosem causa…

Em simultâneo, têm sido várias ascampanhas de degradação da imagem dosprofessores na sociedade, a mais media-tizada das quais foi a falsa acusação deque existiria um elevadíssimo índice deabsentismo docente.

A equipa ministerial também nãoperdeu a oportunidade de ameaçar, coagir,fazer chantagem e intimidar os professorese educadores, como aconteceu em Junhode 2005, quando estes realizavam umagreve que teve uma significativa adesão.

Com a divulgação, agora, da possibi-lidade de descontar o salário de um dia detrabalho, apesar do seu cumprimento,ministra e secretários de estado apenas

AA Ministra da Educação e os seus secretários de estado não disfarçam o seu incómodo peladinâmica da actividade sindical, a começar pela participação de milhares de educadores eprofessores nos Plenários convocados pelos Sindicatos da FENPROF

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Direitos sindicaisem perigo

revelam mau perder, pois não esperavamque a greve aos prolongamentos e àssubstituições fosse tão expressiva, quetantos docentes participassem nas reuniõese plenários promovidos pelos seus Sindi-catos e que tantas fossem as Moçõesaprovadas nas escolas ao longo da semana,de contestação à política educativa.

De grande significado é, também, ofacto de esta posição ministerial, queconfirma um profundo desrespeito pelosdocentes, ser divulgada precisamente no diaem que cerca de 50.000 docentes, atravésde abaixo-assinado, exigiram ser respei-tados pelo ME!

A FENPROF irá aguardar a posição finaldo Ministério da Educação, pois as escolasreceberam uma Informação, com despachofavorável do secretário de estado daEducação, sobre o desconto das horas degreve à componente não lectiva. Informaçãoessa cujo conteúdo corresponde à possi-bilidade legal de efectuar esse desconto.

Respondendo à ameaça da notíciadivulgada pelo ME, a FENPROF decidiuaccionar todos os mecanismos políticos,institucionais, jurídicos e judiciais ao seualcance no sentido de a contestar. Assim:

- Apoiará todos os professores que odesejarem, sejam ou não sindicalizados.

- Solicitou audiências ao SenhorPresidente da Assembleia da República,Senhor Provedor de Justiça, Senhor Presi-dente da Comissão Parlamentar de AssuntosConstitucionais, Direitos, Liberdades eGarantias, Secretário-Geral da Internacionalde Educação e Presidente do ComitéEuropeu de Sindicatos, os dois últimos emBruxelas.

- Apresentou queixas junto de todosos Grupos Parlamentares, Tribunal Cons-titucional, Director-Geral da OIT, ParlamentoEuropeu (designadamente junto dos parla-mentares portugueses).

O Governo e o Ministério da Educaçãopoderão pensar que, através da instauraçãode um clima de medo, será possível silenciaros professores e educadores ou calar aFENPROF e os seus Sindicatos… Enganam--se! A luta por mais e melhor Escola Pública,pela elevação da qualidade do ensino e daeducação, pela estabilidade e valorizaçãodos professores e educadores sempreorientou e continuará a orientar a acçãosindical da maior e mais representativaorganização sindical docente de Portugal.Por essa razão, a luta vai continuar… eforte como exige a ofensiva do ME e doGoverno!

Como se não bastasse... como se não bastasse o agravamentodas condições de trabalho e do regime de aposentação, ocongelamento das progressões na carreira, a tentativa dedescaracterizar a profissão, vem agora o ME investir contraos direitos sindicais.

Já em Fevereiro, a DREL tinha levantado dificuldades à realizaçãode reuniões ao abrigo da lei sindical, alegando que estas só poderiamter lugar nos locais de trabalho dos docentes. Esta orientação levou oSPGL a interpor uma providência cautelar, que, tendo sido aceite peloTribunal Administrativo, teve como consequência a imediata suspensãoda aplicação da referida orientação. Apesar desta decisão, a DRELpersiste em não querer comunicar às escolas a suspensão da suaorientação, o que configura um claro desrespeito pela decisão do tribunal.

Em início de Março, o ME, através de um despacho do Secretário deEstado Valter Lemos, considera que só podem ser justificadas ao abrigoda lei sindical as faltas dadas para participação em reuniões que decorramno próprio local de trabalho e desde que não comprometam o normalfuncionamento do serviço.

Com esta leitura redutora da legislação, inédita em 32 anos dedemocracia, o ME pretende restringir drasticamente o exercício daactividade sindical dos docentes, impedindo, por exemplo, a participaçãodestes em iniciativas concelhias, regionais ou nacionais.

Esta medida insere-se num contexto em que se multiplicam discursosanti-sindicais, dos quais ressaltam pela sua gravidade as declaraçõesda ministra da Educação ao jornal “Correio da Manhã, no passado dia26 de Fevereiro. Nessa entrevista, a ministra acusa a FENPROF deuma oposição sistemática e gratuita ao Ministério e chega ao ponto deafirmar que a Federação “ (...) tem uma agenda que nada tem a ver coma educação.”

Fica claro, se dúvidas houvesse, que o ME encara os sindicatos, eem particular a FENPROF, como forças de bloqueio ao caminho traçadopelo Governo para a educação, o que justifica que se criem dificuldadesao desenvolvimento da sua actividade de envolvimento e mobilizaçãodos professores.

A esta decisão não será igualmente alheia a previsão, por parte doME, de que o processo de revisão do ECD irá desencadear uma fortereacção e mobilização dos professores, no sentido de defender direitosarduamente conquistados em 1990 e 1998.

Em face desta situação, a FENPROF decidiu recorrer para os tribunaiscompetentes, interpondo uma providência cautelar, que permitasuspender de imediato este despacho. Tomou igualmente a iniciativa depedir reuniões à Comissão de Assuntos Constitucionais, DireitosLiberdades e Garantias e à Comissão de Educação da Assembleia daRepública.

Perante este ataque aos direitos sindicais, com uma dimensãoinusitada e surpreendente, só pode haver uma resposta”– a denúnciadas arbitrariedades e o exercício de direitos fundamentais da democracia.

Adriano Teixeira de Sousa (Secretariado Nacional da FENPROF)

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PRÉ-ESCOLAR

Àeducação pré-escolar tem vindo aser aplicado, desde 2002, umcalendário escolar específico. Estadiferenciação teve, à data, comoargumentação por parte do Minis-

tério da Educação, o facto de ser necessário“dar uma resposta social às famílias”. Desdeentão, e apesar dos sucessivos protestos dosEducadores de Infância e da contra-argumentação que a FENPROF e os seusSindicatos têm vindo a desenvolver deforma fundamentada, a situação dediscrepância entre o calendário escolar daeducação pré-escolar e o calendário esco-lar do ensino básico persiste. Perante talfacto vem a FENPROF, junto de Vªs Exªsenumerar um conjunto de factos quecomprovam a legitimidade dos Educadoresde Infância reclamarem a aplicação a estesector do mesmo calendário escolar do 1º e2º ciclos da educação básica.

1. Resposta Social às Famílias

Com a publicação da Lei Quadro daEducação Pré-Escolar (Lei nº 5/97 de 10/2) e com a publicação do Decreto Lei nº147/97 de 11/6, ficaram definidas as duasfunções da educação pré-escolar: a funçãoeducativa e a função sócio-educativa. O artº3º, ponto 3, da Lei Quadro da Educação Pré--Escolar define os serviços a prestar pelosestabelecimentos de Educação Pré-Escolare o Decreto-Lei nº147/97 explicita, no seuartº12º, a responsabilidade do educador deinfância em cada uma das valênciasreferidas anteriormente. No seguimentodesta legislação e com o objectivo deoperacionalizar a vertente da Componente deApoio à Família é assinado em 1998 oProtocolo de Cooperação entre Ministério daEducação, Ministério da Solidariedade eSegurança Social e Associação Nacional deMunicípios, que define responsabilidadesinstitucionais, incluindo as áreas de respon-sabilidade directa das autarquias na imple-mentação da Componente de Apoio à Família,contando para tal com verbas, anualmenteactualizadas, por parte do Estado.

Estes três documentos vieram possi-

bilitar o alargamento de horário dos Jardinsde Infância da rede pública do Ministérioda Educação, passando estes a funcionarnum horário para além das 5h diárias deactividades lectivas (artº 9º, Dec_Lei 147/97), garantindo assim o serviço de refeiçõese a ocupação das crianças durante osperíodos de interrupção das actividadeslectivas. Com o intuito de melhorar aresposta dos serviços prestados na Compo-nente de Apoio à Família, o então designadoDEB editou em Março de 2002 o manual“Organização da Componente de apoio àFamília” com orientações e princípios paraa qualidade deste tempo sócio-educativo,assim como editou “Pensar a Formação”dossiers com materiais e sugestões para aformação dos animadores/monitores queacompanham as crianças nestes períodos.O mesmo departamento tinha já publicadoem 1998 a Circular nº17 que veio clarificaras responsabilidades dos diversos inter-venientes na implementação da Compo-nente de Apoio à Família

Em face do exposto anteriormente, éevidente a ilegitimidade da argumentação quesubsiste desde 2002, pretendendo justificar aaplicação à Educação Pré-Escolar de umcalendário escolar específico, com vista a daruma resposta social às famílias. Esta estáprevista, legislada, em funcionamento eimplementada. Onde tal não acontece deve--se ao facto das famílias não terem demons-trado essa necessidade ou a autarquia nãoter subscrito o Protocolo de Cooperação.

2. Qualidade na Educação Pré-Escolar

A Lei Quadro da Educação Pré-Esco-lar (Lei nº 5/97 de 10/2) define este sectorcomo a primeira etapa da educação básica,ou seja, na sequência do estipulado na Leide Bases do Sistema Educativo, a educaçãopré-escolar é o sector de base onde se iniciao processo formal de educação ao longo davida. No cumprimento deste pressupostoque confere intencionalidade educativa aoprocesso ensino/aprendizagem na educaçãopré-escolar é publicado em 1997 o Des-pacho nº5220 de 4/8, Orientações

FENPROF leva o assuntoà Assembleia da República

Calendário Escolar

A FENPROF pede aintervenção da ComissãoParlamentar de Educação,Ciência e Cultura e dosGrupos Parlamentares juntodo Ministério da Educação,“possibilitando que aEducação Pré-Escolar sejaassumida, efectivamente,como a primeira etapa daEducação Básica,reconhecendo a qualidadepedagógica do trabalho queé desenvolvido peloseducadores de Infância, oque passa pela aplicação domesmo calendário escolarque é publicado anualmentepara o 1º e o 2º Ciclos daEducação Básica”.

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Curriculares para a Educação Pré-Escolarque define as áreas de conteúdo queorientam o currículo neste sector deeducação e explicitam o papel do educadorde infância na concepção e desenvol-vimento do mesmo, na organização doambiente educativo e ainda nas questõesrelacionadas com a observação, planificaçãoe avaliação.

O Perfil Específico de Desempenho doEducador de Infância (Decreto-Lei nº 241/01 de 30/8) vem reafirmar e consolidar avertente intencional da intervençãopedagógica do Educador de Infância,acentuando as suas responsabilidades naconcepção e desenvolvimento do currículo“através da planificação, organização eavaliação do ambiente educativo, bem comodas actividades e projectos curriculares, comvista à construção de aprendizagensintegradas”. No que se refere à avaliação,pode ler-se ainda - CapÍtulo II, ponto 3,alínea e) - que o Educador de Infância“avalia, numa perspectiva formativa, a suaintervenção, o ambiente e os processoseducativos adoptados, bem como o desen-volvimento e as aprendizagens de cadacriança e do grupo”.

Face ao exposto constata-se que alegislação publicada tem como objectivocriar condições para a concretização de umaeducação pré-escolar de qualidade nocumprimento da sua função enquantoprimeira etapa da educação básica, tendo--se definido os instrumentos que possi-bilitam a consolidação da intencionalidadeeducativa deste sector de educação no processoensino/aprendizagem ao longo da vida.

3. Educação Pré-Escolar como parteintegrante do sistema educativo

A Lei de Bases do Sistema Educativoassume a educação pré-escolar como parteintegrante do mesmo. O Estatuto da CarreiraDocentes define os mesmos direitos edeveres profissionais para os docentes daeducação pré-escolar, dos ensinos básico esecundário. Já referenciámos legislaçãoespecífica que veio consolidar a posiçãodeste sector no sistema educativo, contudooutros documentos/legislação reforçam oposicionamento da educação pré-escolarquer a nível organizacional, quer ao níveldas competências, nomeadamente avalia-ção de alunos.

Referimo-nos, quanto ao primeiroaspecto, ao Decreto-Lei nº115/A /98 de 4/5, Regime de Autonomia e Gestão dosEstabelecimentos de Ensino, que integraos Jardins de Infância públicos nos Agrupa-

mentos de Escolas, conferindo-lhes umaposição de igualdade face aos estabe-lecimentos dos 1º, 2º e 3º ciclos do ensinobásico, com todos os direitos e deveres noque respeita à participação deste sector nadinâmica organizacional e burocrática e,consequentemente, aos Educadores deInfância na participação nos diversos órgãosde gestão e nas estruturas intermédias dosmesmos (conselho de docentes, conselho detitulares de turma, conselho pedagógico…)na consecução das tarefas de carácteradministrativo e pedagógico exigidas atodos os docentes.

Ao nível das competências, e no querespeita especificamente à avaliação, a Leinº 31/02 de 20/12, Sistema de Avaliaçãoda Educação e do Ensino não Superior,que define o sistema de avaliação, refereno artº 2º, pontos 1 e 2, que o referidosistema “abrange a educação pré-escolar”e “aplica-se aos estabelecimentos deeducação pré-escolar”, atitude coerente eem consonância com o estipulado nasOrientações Curriculares que no Capítulo IIIrefere que é competência do Educador deInfância “Avaliar o processo e os efeitos….”da sua intervenção pedagógica e educativa,assim como o referido no Perfil específicode Desempenho do Educador de Infância noque diz respeito à competência de avaliar eque já foi citado neste documento. Recen-temente, o Ministério da Educação, atravésda Direcção Geral de Inovação e Desenvol-vimento Curricular publicou um docu-mento, datado de 25/11/05 , sobre“Procedimentos e práticas organizativase pedagógicas na avaliação na educaçãopré-escolar” onde a avaliação é consideradauma componente integrada do currículo daeducação pré-escolar, que envolve mo-mentos de reflexão e decisão sobre oprojecto pedagógico/curricular. Refere-seainda que a avaliação tendo como princi-

pal função a melhoria da qualidade dasaprendizagens (…) implica, no quadro darelação entre o jardim de infância, a famíliae a escola, uma construção partilhada quepassa pelo diálogo, pela comunicação deprocessos e de resultados, tendo em vista acriação de contextos facilitadores de umpercurso educativo e formativo de sucesso.

Ainda no âmbito deste ponto, diversosdocumentos/Legislação remetem para aarticulação entre ciclos, no caso específicoentre Pré-Escolar e 1ºCEB, numa perspectivade sequencialidade/continuidade educativae de transição para a escolaridade obriga-tória e, de tal modo isto é importante queo Despacho do Calendário Escolar, nasregras que determina para a educação pré--escolar, refere no ponto 1.6, que “Naprogramação das reuniões de avaliação,devem os órgãos de direcção executiva dosestabelecimentos assegurar a articulaçãoentre os educadores de infância e osdocentes do 1º ciclo do ensino básico, demaneira a garantir o acompanhamentopedagógico das crianças no seu percursoda educação pré-escolar para o 1º ciclo doensino básico”.

Mas como será possível cumprir estesprincípios e regras se a discrepância de

Temas fundamentais como“a resposta social às famílias”,a “qualidade na EducaçãoPré-Escolar” e a interpretaçãodeste sector como “parteintegrante do sistemaeducativo” e, concretamente,como primeira etapa daeducação básica, são tratadosnesta tomada de posiçãoda FENPROF enviadaà Assembleia da República

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datas entre o calendário escolar da educaçãopré-escolar e o calendário escolar do 1ºciclonão possibilita momentos comuns a estesprocedimentos?

Nas interrupções lectivas do Natal e Páscoa,a primeira semana, período em que decorre oprocesso de avaliação de alunos e em que asestruturas intermédias reúnem para análise eavaliação do projecto curricular de turma, doprojecto curricular de escola, do projectoeducativo do agrupamento e de outros suportespedagógicos de orientação educativa, osEducadores de Infância estão ainda nocumprimento da actividade lectiva. Estasituação agrava-se no 3º período já que osdocentes da educação Pré-Escolar se vêemobrigados ao desenvolvimento de actividadeseducativas/lectivas com as crianças até meadosde Julho, sendo-lhes assim vedada a possibi-lidade de participarem em conjunto com os seuspares nas reuniões promovidas no âmbito doagrupamento a que pertencem nomeadamenteas que respeitam à avaliação do projectoeducativo, à avaliação do trabalho desenvolvidocom as crianças, espaços e momentos funda-mentais de articulação e sequencialidadeeducativa, coordenação das actividadesprevistas para as crianças dos estabelecimentosque constituem o agrupamento.

Não podemos deixar de referir que estasituação discriminatória só se verifica noContinente. Na Madeira e nos Açores ocalendário escolar da educação pré-escolar é omesmo da educação básica. Um estudorealizado pela FENPROF em 2003, a nível dospaíses que integram a União Europeia, por viade informação recolhida junto das Embaixadas,permitiu-nos concluir que na maioria dos paíseso calendário escolar é comum a todos ossectores que correspondem à educação básica,nomeadamente, Bélgica, Dinamarca, Grécia,Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Escócia,Irlanda e Luxemburgo.

É por estas incongruências e pelo desajusteentre o que a legislação prevê e o que oMinistério da Educação vem impondo àEducação Pré-Escolar e aos docentes deste sec-tor, que se torna pertinente a intervenção dosGrupos Parlamentares e da Comissão Parla-mentar de Educação, Ciência e Cultura juntodo Ministério da Educação no sentido de in-verter este processo, possibilitando que aeducação pré-escolar seja assumida, efectiva-mente, como a primeira etapa da educaçãobásica, reconhecendo a qualidade pedagógicado trabalho que é desenvolvido pelos Educa-dores de Infância, o que passa pela aplicaçãodo mesmo calendário escolar que é publicadoanualmente para o 1º e 2º ciclos da educaçãobásica.

José Sócrates

O Benemérito!…É verdade. O primeiro-ministro português será porventura, em

relação aos seus antecessores, que tanto criticou, um modelo deprimeiro ministro preocupado com o bem-estar dos trabalhadoresda administração pública. O não cumprimento da sua promessa deque teriam aumentos que cobrissem o valor da inflação e de queiniciaria a recuperação do poder de compra deverá resultar (apenas!)de uma mera distracção, pois as suas preocupações com as OPA’s,que não trazem nada de importante para o crescimento do ProdutoInterno Bruto (de que tanto necessitamos…), são muito maisrelevantes do que meros aumentos de salários. Afinal de contas, queimportância têm alguns cêntimos se os compararmos com os milhõesdos lucros da Banca ou dos grandes grupos económicos portugueses?

Pois, e porque de cêntimos se trata, decidi fazer uma revelaçãoextraordinária, necessariamente antecedida do reconhecimento deJosé Sócrates como o grande mecenas, um benemérito de casta, oextraordinário…

… Isaura foi aumentada 87 cêntimos por dia.É verdade! À Professora Isaura, como consta do seu recibo de

vencimento, foram atribuídos retroactivos, em resultado daactualização salarial de 2006 para a administração pública, no valorde 51,66 euros, relativos aos meses de Janeiro e Fevereiro. Poréma realidade atinge níveis máximos do ridículo, do humilhante e gerauma revolta tremenda quando fazemos as contas para outrascomponentes do recibo. Assim, Isaura teve um aumento 12 cêntimosno subsídio de refeição (4,92 euros de retroactivos) e de 47 cêntimos/mês por filho no abono de família (1,88 euros de retroactivos).

Esta é a situação de uma professora no 7.º escalão. Que dirãoos que se encontram a iniciar as suas vidas profissionais ou, piorainda, aqueles que, sendo uma percentagem muito significativa dostrabalhadores da administração pública, recebem um salárioequivalente ao ordenado mínimo!?

Situação esta tão insustentável que contrasta tanto com os luxose os bons empregos e os altos rendimentos de uma minoria quevegeta em torno deste poder tão hipócrita quanto arrogante.Comemorar Abril é, também, recusar esta política de ames-quinhamento da Cidadania e da Democracia. | LL

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pesar de ter recuado em relação aoque disse, devido às reacções queprovocou, Correia de Campos“aumentou as taxas das urgênciasem 23% tornando-as proibitivas

para muitos portugueses.”Nesse estudo, o economista demonstra

ainda que é possível garantir a susten-tabilidade do SNS sem aumentar a parcelapaga pelos utentes que, percentualmente,é já uma das mais elevadas entre todos ospaíses da União Europeia.

Eugénio Rosa defende o cabal esclare-cimento da opinião pública sobre estaimportante matéria e uma ampla mobilizaçãode todos os trabalhadores em defesa de “odireito a um SNS tendencialmente gratuitocomo estabelece a Constituição da República”.

O resumo do estudo

Este estudo releva o facto de em Portu-gal, entre 1970 e 2003, “a mortalidadeinfantil ter diminuído em 51,4 pontospercentuais, na Alemanha 18,3 pontospercentuais, na Dinamarca 9,8 pontospercentuais e, nos Estados Unidos, em 13pontos percentuais”, ao mesmo tempo que

“a esperança de vida ànascença aumentou, emPortugal, 9,8 anos; naAlemanha 8 anos; na Dina-marca 3,9 anos; e, nosEstados Unidos, 6,3 anos.”

Segundo Eugénio Rosa,“estes ganhos de saúde fo-ram conseguidos com au-mento de despesa por ha-bitante, em Portugal, de1.716 dólares; na Ale-manha de 2.726 dólares;na Dinamarca de 2.368dólares; e nos EstadosUnidos com um aumento5.288 dólares por habi-tante. Entre 1970 e 2003, em percentagemdo PIB, as despesas com a saúde au-mentaram em Portugal 7 pontos percen-tuais; na Alemanha 4,9 pontos percentuais;na Dinamarca 1 ponto percentual; e, nosEstados Unidos, o aumento atingiu 8,1pontos percentuais.”

“Os valores referidos”, refere o econo-mista, “incluem as despesas públicas e asdespesas pagas directamente pelos utentes,ou seja, por todos os portugueses. Se aanálise se circunscrever à parte pública,conclui-se que, em 2003, em Portugal, elarepresentava apenas 69,7% da despesa to-tal com a saúde. Uma das mais baixas daUnião Europeia. Na Alemanha atingia78,2% e, na Dinamarca, 83%.”

Um dado muito importante referidonesse estudo tem a ver com a despesa feitacom a Saúde, o que inclui as despesasrealizadas por todos os ministérios, pois estáa diminuir, se calcularmos a percentagemque representa em relação à despesa totalcom a saúde em Portugal.

Assim, “em 2004, a despesa do Estadocom a saúde representava 61,1% da despesatotal com a saúde no nosso País e, em 2006,prevê-se que represente apenas 59,5%; istosignifica que 40,5% das despesas já serãopagas pelos utentes (portugueses), paraalém dos impostos e taxas moderadoras quetêm de pagar.”

O estudo de Eugénio Rosa, que seencontra disponível em www.fenprof.pt,depois de abordar aspectos relacionadoscom a ineficiência em alguns segmentos do

SNS, de comparar os níveis de desempenhoem diversos serviços e de se referir aos cus-tos médios por utente, conclui que asituação é, em muitos casos e numa parte,consequência de uma deficiente utilizaçãodos meios humanos e materiais existentes.

Segundo Eugénio Rosa, “o Tribunal de Contasfez, em 2003, uma auditoria ao Serviço Nacionalde Saúde tendo concluído que o desperdício derecursos financeiros no SNS atinge 25% domontante afectado à saúde (Regulação daSaúde, Rui Nunes, pág. 39). 25% da despesaprevista do SNS para 2006 corresponde a maisde 2000 milhões de euros.”

Neste estudo é também valorizado oentendimento de que “é possível duplicar adespesa de saúde por habitante sem aumentara percentagem do PIB que as despesas comsaúde já representam. Basta que a economiaportuguesa cresça, e que o PIB por habitanteem Portugal se aproxime da média comunitária(UE15), já que ele representava, em 2005,apenas 48,7% do PIB médio por habitantecomunitário”.

A terminar, “eliminar as importantesineficiências que existem a nível do SNS quesegundo o Tribunal de Contas determinamdesperdícios em meios financeiros quecorrespondem a 25% das despesas; e umapolítica de crescimento económico, portantonão centrada no défice como é a actual” serãoas formas de garantir a sustentabilidade do SNSsem que haja uma acréscimo das despesas desaúde já pagas pelos portugueses e uma maiorsobrecarga óbvia na bolsas familiares. “E istonão se consegue privatizando o SNS”.

O Serviço Nacionalde Saúde é sustentável

ESTUDO

O economista Eugénio Rosarealizou um importante estu-do sobre o serviço nacional desaúde, a propósito do qualrefere que, sendo uma dasquestões que preocupa maisos trabalhadores o acesso aosserviços de saúde, é preocu-pante que o Ministro da saúdetenha afirmado “que é neces-sário aumentar a parcela dasdespesas da saúde paga pelosutentes, ou seja, pelos tra-balhadores, para garantir asustentabilidade do ServiçoNacional de Saúde”.

“O Tribunal de Contas fez, em 2003, umaauditoria ao Serviço Nacional de Saúdetendo concluído que o desperdício de

recursos financeiros no SNS atinge 25%

do montante afectado à saúde (Regulaçãoda Saúde, Rui Nunes, pág. 39). 25% dadespesa prevista do SNS para 2006corresponde a mais de 2000 milhões deeuros.”

A

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22 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

1º CICLO

«Escolas que são gaiolasexistem para que os pássarosdesaprendam a arte do voo.»

Rubem Alves

competitividade, a produtividade, aracionalidade, a rentabilidade, en-tre outros conceitos hoje domi-nantes, dão corpo a lógicas pode-rosas. A Escola a Tempo Inteiro (ETI)

é um sintoma ou sinal dos tempos. Elatraduz princípios e opções ditadas pelomercado.

A realidade social impõe-se: os paistrabalham e precisam de um local paradeixar os filhos. A escola torna-se o depósitopossível de crianças. É a vida "moderna",dizem. Os governos querem cidadãoscompetitivos. É a economia, dizem.

Mais escola não corresponde, necessa-riamente, a melhor escola. As ETI são vendidascomo o céu na terra, como se outra opçãosignificasse o caos ou a condenação ao atraso.

Em lugar da sociedade organizar-se deoutra forma, para que as famílias possamter mais tempo para o acompanhamentodos filhos, ou procurar outras respostas ealternativas para ocupação dos meninos,atira-se com todas as incapacidades econtradições (frustrações) da dita moder-nidade para cima da escola.

Em lugar de transformar-se a escola,insistimos num paradigma com centenas deanos.

Na Madeira, desde os anos 90

A Madeira lançou o projecto da ETI, em1994, como medida de apoio à famíliafuncionando entre as 8:15 e as 18:15. A essefactor foram sendo acoplados os necessáriosfins pedagógico-educativos, justificação daguarda dos meninos pela escola, para tornaros miúdos mais competitivos, procurandolhes dar ferramentas como a informáticaou o inglês desde tenra idade, como "impõe"a modernidade.

Maior número de professores para acomponente extracurricular e a construção

de novas escolas são facto-res positivos, que se su-blinham. Bem como o aces-so a certas ferramentaspelas crianças de contextosmenos favorecidos.

Fecharam-se já mais de150 escolas – «seriam equi-valentes a 6 mil no País,considerando o rácio dedimensão 1/40, Madeira/País». Soa bem em termos deracionalidade e rentabili-dade e não se admite que aconsequente concentração(massificação), em edifíciosde média ou grande dimen-são, traz alguns problemas em termoseducativos.

Mais alunos num espaço não é igual,necessariamente, a melhor socialização ousucesso escolar. Criam-se mais factores detensão e desassossego.

Por outro lado, as ETI a funcionar comdois turnos – regime cruzado – penalizam,com cansaço, os alunos que começam ajornada com a componente extracurriculare têm à tarde a componente curricular.

A maximização de espaços deve preva-lecer face ao interesse educativo e peda-gógico? Sendo a Educação o futuro e aprioridade da nossa sociedade, não jus-tificaria mais investimento?

Reverso da medalha

O progresso é ambivalente. Animadospela modernidade, os decisores entenderamque o apoio à família justificava os efeitosnegativos da ETI, inclusive ao nível peda-gógico-educativo, do bem-estar e cresci-mento equilibrado das crianças.

Um estudo da Secretaria Regional daEducação da Madeira, em 2004 (http://www.madeira-edu.pt/parse - clicar em"Avaliação da ETI"), evidencia efeitosnefastos: tempo excessivo passado naescola, cansaço, indisciplina, superesco-larização das actividades e menor convíviofamiliar. Urge ultrapassá-los.

Sem esquecer o menor tempo para o

Entre benefícios e insuficiênciasEscola a Tempo Inteiro na Madeira:

sonho e a brincadeira, sem ser-se dirigido,sem estar-se confinado ao mesmo espaço.«É difícil ser aluno de ETI na Madeira», disseAriana Cosme, no ano passado.

Tais efeitos têm repercussão no desem-penho e felicidade – esta corre o risco detornar-se uma ideia retrógrada e dispen-sável nos tempos que correm – das crianças.Enfartá-las de informação, técnicas,actividades e trabalho não é educação dequalidade. É de quantidade.

Feição produtivista e instrumental

A competitividade manda pressionar odesenvolvimento das crianças para que

A escola a tempo

inteiro, para funcionar

em termos educativos,

obriga à reinvenção da

escola. Enfartar as

crianças de informação,

técnicas, actividades e

trabalho não é educação

de qualidade, mas sim

de quantidade.

Nélio de Souza (Direcção do SPPM)

A

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JORNAL DA FENPROF 23MARÇO 2006 JORNAL DA FENPROF 23

cresçam mais rápido e se transfor-mem em tecnocratas a partir doberço – o mercado manda.

O ensino é hoje uma actividademais tecnocrática, frenética, deenchimento das cabeças para ser-sebom em exames e no emprego. Osaber viver e ser feliz é secundário –o mercado é alheio.

Mesmo as actividades de temposlivres ou extracurriculares sãotransformadas em escolarização ex-tra. É preciso mais e mais. Insiste-semais na instrução. Perde-se o equi-líbrio.

Como refere Licínio Lima, do-cente da Universidade do Minho, a«edificação da escola moderna comoorganização especializada na trans-missão do conhecimento e, espe-cialmente, na socialização dascrianças e dos jovens seguiu asorientações mais típicas das ideo-logias organizacionais da moder-nidade e do capitalismo.

Em busca da relação óptima en-tre meios e fins e do princípio do «theone best way», a organização esco-lar adoptou uma feição produtivistae instrumental, fragmentou o cur-rículo escolar e taylorizou a ins-trução».

Nessa outra modernidade

Quando o mercado de trabalhonão precisar de tantos pais, nessaoutra "modernidade", então dir-se--á que não é bom as criançaspassarem tanto tempo na escola,num mesmo espaço, em actividadessempre dirigidas por adultos, quepassar tanto tempo com muitasoutras crianças não é tão benéficocomo se julgava, que as referênciasde adultos, além dos professores,são fundamentais, entre outrasideias que agora são "mentira" e"retrógradas".

Perante a ideia de que háapenas um caminho, um pensa-mento possível, é preciso pensa-mento e acção alternativos paracontrariar tal dictato e os valores eopções inerentes.

Será a ETI um mal necessáriotrazido pelas vicissitudes da socie-dade actual ou será o mais cómodo?

[email protected]

OPINIÃO

Asemana de 20 a 24 de Fevereiro, semana de grevedos professores e educadores aos prolongamentosde horário no 1º ciclo e às actividades desubstituição nos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico,começou, logo na 2ª feira, com o anúncio do

Primeiro Ministro de que as “aulas de substituição” serãoalargadas, já no próximo ano lectivo, também ao ensinosecundário. Dizendo não compreender a luta dosprofessores, foi adiantando que era injusta porquecontestava medidas que visam a melhoria da escola pública.

Estas declarações encerram em si muita sobranceria emuito desrespeito pelos professores. Desde logo, porque aomesmo tempo que se vai dizendo que os professores têm umpapel insubstituível, se ignoram ostensivamente as razõesdo seu descontentamento. Pior: faz-se subliminarmentepassar a mensagem de que eles não estão verdadeiramenteinteressados na melhoria da educação. Ou, em alternativa,que não são suficientemente inteligentes para perceberem oalcance educativo das medidas que tão sabiamente o Governo lhes tem imposto.

Claro que os problemas existem e há outras formas de os resolver. Só que não coincidem com asque a ministra da Educação idealizou e portanto não são consideradas por quem se julga investido deuma missão transcendente, está convicto de que tem as soluções e não admite ser contrariado.

É assim completamente irrelevante para quem nos governa que milhares de professorestenham durante esta semana reafirmado que, independentemente das intenções subjacentesa muitas destas medidas, estas se têm traduzido, na prática, num “faz-de-conta”: “faz-de-conta” que os alunos estão envolvidos em actividades significativas durante os furos; “faz-de-conta” que a indisciplina diminuiu só porque foi transferida dos recreios para as salas deaulas, onde muitos professores se vêem obrigados a fazer o que os auxiliares de acção educativafaziam em anos anteriores; “faz-de-conta” que os professores têm condições nas escolas parafazer o trabalho que habitualmente fazem em casa e continuam a dispor de tempo suficientepara preparar as suas aulas, elaborar materiais pedagógicos e fazer a avaliação contínua dosalunos; “faz-de-conta” que o desgaste acrescido a que os professores estão sujeitos não temlevado já alguns dos mais empenhados (e que nunca faltavam) a ter que faltar.

Extraordinário é que alguém com responsabilidades nesta área possa pensar que a desvalorizaçãosocial dos professores, a descaracterização do conteúdo funcional da profissão docente e adegradação das suas condições de trabalho possam alguma vez reverter em melhor educação paraas crianças e jovens com quem, e para quem, os professores e educadores trabalham.

O episódio do final da semana é apenas mais um exemplo do autoritarismo (que algunsapelidam de determinação) da actual ministra de Educação. Depois de, em Junho de 2005, terameaçado com processos disciplinares e faltas injustificadas os professores que não cumprissemos serviços mínimos (tornados máximos, já que todos estavam convocados) e de, em 18 deNovembro, dia em que os docentes portugueses fizeram a maior greve nacional dos últimos15 anos, ter divulgado um estudo inacabado sobre as faltas dos professores, quase já nemsurpreende que, no final do último dia de greve, o ME tenha anunciado a possibilidade dedescontar o salário de um dia de trabalho aos docentes que tenham faltado apenas a algunstempos da componente não lectiva, situação devidamente enquadrada no pré-aviso de greve.Isto apesar de o mesmo ME ter tornado pública na semana anterior uma orientação para asescolas sobre a forma como deviam ser calculados estes descontos por tempos.

A frequência destas tristes ocorrências não nos pode levar a aceitar como normal aarrogância ou o recurso à intimidação e à ameaça. O Primeiro Ministro tem repetido quelamenta a atitude dos professores e lamenta a atitude dos sindicatos. Eu também lamento, econfesso que nunca esperei, ver um Governo do Partido Socialista, 32 anos depois do 25 deAbril, com tanta falta de cultura democrática…

Carta enviada ao “Público”, Março 2006

Ao que chegámos…Manuela Mendonça (Direcção do SPN e do SN da FENPROF) *

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24 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

EDUCAÇÃO ESPECIAL

A criação dos lugares dequadro de Educação Espe-cial nas escolas-sede deagrupamento só aparen-temente vem responder aesta antiga exigência daFENPROF, dado o reduzidonúmero de vagas efecti-

vamente postas a concurso: 2155, apesarde repetidamente o ME ter anunciado queseriam acima das3000.

Este número éclaramente insu-ficiente, já que nesteano lectivo estãodestacados, em fun-ções de educação es-pecial, cerca de 7500docentes. Para alémde não ser previsível,ou aceitável, que, nopróximo ano lectivo,os alunos com ne-cessidades educa-tivas especiais abandonem o sistemaeducativo ou sejam transferidos parainstituições particulares e da rede social, ésentida, há vários anos, uma maior ne-cessidade de apoio da educação especial nasescolas.

Com esta redução, o ME:• presta um péssimo serviço às crianças

e jovens com necessidades educativasespeciais e descura a sua responsabilidadeperante as escolas e a sociedade;

• comete uma grave ilegalidade, pois onúmero reduzido de vagas resulta daconsideração, apenas, das necessidadeseducativas especiais de carácter pro-longado, que contraria o disposto noDecreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto,entre outros quadros legais;

• contraria Convenções Internacionais

subscritas pelo Governo Português, nomea-damente a Declaração de Salamanca;

• afasta da Educação Especial muitosdocentes especializados, ao não considerara aquisição da sua especialização comoprofissionalização para este grupo dedocência e ao penalizar profissionalmenteos que venham a optar por este quadro;

• induz uma nova forma de instabilidadeprofissional, instituindo, na prática e, por

esta via, os “qua-dros de agrupa-mento”, numa ló-gica de gestão e depoupança de recur-sos de que resul-tará, inevitavel-mente, uma dimi-nuição da quali-dade educativa naprestação dos ser-viços de educaçãoespecial, aos alu-nos com NEE;

Como se as me-didas não bastassem, o ME/Governoconfronta os educadores e professores,ainda, com um elevado grau de autori-tarismo, prepotência e com uma profundafalta de sensibilidade relativamente àsquestões da Educação Especial e com a suacompleta indiferença perante as conse-quências das medidas tomadas.

Pelas razões enunciadas, a FENPROFdenuncia, junto dos responsáveis doMinistério da Educação e da OpiniãoPública, com muita preocupação, asituação extremamente negativa queresulta do número reduzido de vagaspostas a concurso para a Educação Espe-cial e as suas consequências nefastas paraa construção de uma Escola Pública,Democrática, de Qualidade, Gratuita everdadeiramente Inclusiva.

Concentração à porta do ME

Uma escola de qualidadeverdadeiramente inclusivaexige mais vagaspara a educação especial

Desde há muito que aFENPROF exige alterações naorganização dos concursospara os docentes deEducação Especial, querespondam a uma duplanecessidade: umsignificativo alargamento donúmero de vagas para estaárea do nosso SistemaEducativo, por forma agarantir um efectivo apoio atodos os alunos comnecessidades educativasespeciais, no contexto deuma Escola Pública, deQualidade, Gratuita eInclusiva e, em simultâneo, apromoção de uma efectiva eadequada estabilidadeprofissional destes docentes.

Como se as medidas nãobastassem, o ME/Governoconfronta os educadores eprofessores, ainda, com umelevado grau de autoritarismo,prepotência e com uma pro-funda falta de sensibilidaderelativamente às questões daEducação Especial

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JORNAL DA FENPROF 25MARÇO 2006

actual legislação de concursos –Decreto-Lei n.º 20/2006, de 31 deJaneiro – refere que, no que respeitaà definição de formação especia-lizada para os grupos de recruta-

mento de Educação (E1, E2 e E3), “…docentes portadores de qualificação pro-fissional para a docência, desde que sejamportadores de habilitação para a edu-cação especial , de acordo com os nor-mativos em vigor”.

Assim, face à legislação e, sobretudo porforça do Aviso n.º 2174-A/2006, Cap. V,ponto 3.4.1., a), um docente habilitado parao grupo de recrutamento E1 poderáconcorrer, em primeiro ou segundo lugar,conforme tenham “formação especializadaacreditada nos termos do Decreto-Lei n.º 95/97, de 23 de Abril, no domínio dos problemascognitivos, dos problemas motores ou damultideficiência” ou formação especializadaem “Educação Especial, acreditada nostermos do citado diploma cujo certificadoe/ou diploma não explicitem o domínio daespecialização.

Estas definições constituem uma formade hierarquização dos cursos de especia-

ABAIXO-ASSINADODocentes de Educação Especialexigem igual tratamento

Alização, a nosso ver, arbitrária, porquanto,dentro do mesmo domínio, todos os cursosde especialização, desde que enquadradosna legislação em vigor, estão revestidos domesmo estatuto científico-pedagógico.

A criação de dois níveis para os cursosde especialização que conferem habilitaçãopara o grupo de recrutamento E1 vem, pois,acrescentar novas distorções ao concursopara os lugares de quadro de Educação Es-pecial, (a somar à não ponderação do tempode serviço em educação especial, para alémde 365 dias, ou à não consideração daclassificação dos cursos de especializaçãopara determinação da graduação profissio-nal), que urge corrigir, ainda no âmbito desteconcurso, de modo a salvaguardar oprincípio da justiça, a que deve obedecer aorganização de um concurso público.

Assim, os docentes abaixo-assinadosreclamam que:

• Todos os cursos de especializaçãoque conferem a habilitação especializadapara o grupo de recrutamento E1 sejamreconhecidos de igual forma comoqualificação para este domínio deEducação Especial.

Milhares de postos detrabalho suprimidos,redução do número dedocentes de educação espe-cial em apoio directo àsescolas e jardins de infância,abandono da concepçãomais inclusiva da educaçãoespecial, negando asresoluções e convençõesinternacionais sobre estamatéria, recusa deconsideração das taxas deincidência, nomeadamenteas que deveriam decorrer daavaliação realizada pelopróprio Conselho Nacionalde Educação… uma imensalistagem de provas querevelam quanto afastado daEscola Inclusiva andam esteministério e este governo.Porém, se já era grave aforma como o poder olha asnecessidades educativasespeciais e a necessidade derecursos humanos, osprofessores têm razões paragrande insatisfação, pois oconcurso de professores quese realizou recentementediscrimina indevidamentedocentes, por razões que seprendem com a meradesignação dos cursos querealizaram.Por esse motivo a FENPROFlançou em todo o país umabaixo-assinado que seencontra a ser subscrito ecujo texto aqui se divulga.

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26 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

MONTRA DE LIVROS

“Jornalismo, Grupos Económicose Democracia”

É uma realidade incontes-tável que os media (enten-didos aqui no sentido res-trito de órgãos de comu-nicação social) ocupamhoje um lugar central nanossa sociedade. Isto deve--se à força da sua influên-cia conjunta, em particulardaqueles que iremos ca-

racterizar como os media dominantes, mas,essencialmente, ao peso da televisão, quersobre a opinião pública e a consciência so-cial quer sobre os outros meios; à transfor-mação dos media em geral num importanteramo de negócios que implica vultuososinvestimentos, mas também capaz de gerarenormes lucros, no que se refere às grandesempresas do sector; ao enorme poder dosmedia – isto é, – daqueles que têm o podernos media - sobre os políticos e as insti-tuições políticas à escala nacional e mundial– deste modo provocando uma perigosaperversão no funcionamento da democracia.

“Os Jornalistas e as Notícias?”

Quem são os jornalistasportugueses, o que fazeme como fazem? Qual temsido a evolução da paisa-gem mediática em Portu-gal? Quais os traços mar-cantes da última década?Quais as relações entre apublicidade e as notícias?Que papel desempenham

na actividade jornalística a cultura e aideologia profissionais, a organização dotrabalho na sala de redacção e o enqua-dramento na empresa? Que valores e quecritérios, e porquê estes e não outros,

Fernando Correia é licenciado em Filosofia pelaFaculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Mestreem Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informaçãopelo ISCTE. É Professor Associado Convidado naLicenciatura em Ciências da Comunicação e da Culturada Universidade Lusófona de Humanidades e Tecno-logias, Área de Jornalismo, de cujo Conselho Científicofaz parte. Lecciona igualmente no Mestrado emComunicação nas Organizações (ULHT), no Curso dePós-Graduação em Jornalismo, organizado pelo

Departamento de Sociologia do ISCTE e pela Escola Superior de ComunicaçãoSocial, e no Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação(ISCTE).

É membro fundador e investigador do Centro de Investigação Media eJornalismo (CIMJ) e integra a Comissão de Redacção da Media & Jornalismo,revista do CIMJ.

Jornalista desde 1966 (Carteira Profissional n.º 51), é Chefe de Redacçãoda revista Vértice e Editor de publicações periódicas da Editorial Caminho,membro do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas, membro fundador doClube de Jornalistas, membro do júri dos Prémios Gazeta de Jornalismo e Di-rector Editorial da revista JJ-Jornalismo e Jornalistas. Pertenceu às comissõesorganizadoras dos três congressos de jornalistas portugueses já realizados.

É autor, nomeadamente, de Os Jornalistas e as Notícias. A Autonomia

Jornalística em Questão, Lisboa: Editorial Caminho (1.a edição, 1997, 4.a edição,2003), e Jornalismo e Sociedade, Lisboa: Editorial Avante, 2000. Apresentoudezenas de comunicações em seminários, debates, conferências e congressos,relacionadas com os media e o jornalismo, parte das quais editadas em jornaise revistas e em obras colectivas.

Poder, jornalismo e comunicação social

presidem à elaboração das notícias? Qual aimportância do mercado e da concorrênciae quais os seus reflexos no plano ético? Oque diferencia a situação dos jovensjornalistas e da elite jornalística? Quais astendências de evolução e as novas respon-sabilidades que se colocam a este grupoprofissional? Eis algumas das questões queeste livro procura ajudar a esclarecer, noquadro da análise da prática jornalística eda autonomia dos jornalistas.Contrariando a visão redutora que vê nojornalista o grande e exclusivo culpado dasderrapagens mediáticas dos nossos dias,

mas sem transigir com estratégias dedesculpabilização nem alimentando mitosdo passado, pretende-se contribuir parauma melhor compreensão de uma pro-fissão e de profissionais muito falados masmal conhecidos. Fernando Correia éjornalista profissional e actualmente chefede redacção da revista «Vértice» e editorde publicações periódicas da EditorialCaminho. Desenvolve igualmente acti-vidade docente na área do Jornalismo. Élicenciado em Filosofia e mestre emComunicação, Cultura e Tecnologias deInformação.

Importantes contributos em dois livros de Fernando Correia

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JORNAL DA FENPROF 27MARÇO 2006

INTERNACIONAL

A França está novamente nocentro das atenções devidoaos conflitos sociais centradosem alterações da legislaçãolaboral. A contestação ao CPEé o motivo central.

A Lei do CPE diz «As condições em queestá a ser praticado e os seus efeitos sobreo emprego serão objecto, o mais tardar atéao fim de 2008, de uma avaliação por umacomissão associando organizações deempregadores e de assalariados.» noentanto, a aprovação da Lei não foiantecedida por qualquer negociação. Houvesomente um breve debate na AssembleiaNacional.

O CPE não recolhe o consenso no própriopartido UMP dirigido por Sarkozi, que apoiao governo Villepin. O diário “Le Monde”afirma: “nunca, desde a sua chegada aMatignon, Villepin recebeu um tal suporteda sua maioria: como uma corda suporta oenforcado”. A apoiar abertamente o CPEestão o MEDEF (a confederação patronal),um sindicato estudantil minoritário dedireita ligado ao UMP e pequenos movi-mentos estudantis de extrema-direita queforam protagonistas de agressões a mani-festantes anti-CPE (em Paris e Toulouse).Os partidos da oposição estão contra o CPE,François Hollande, secretário geral do PSdisse “temos de lutar contra o CPE por todosos meios”.

O Movimento começou nos estudantesuniversitários através dos seus sindicatosmais representativos logo acompanhado por

vários sindicatos de trabalhadores. Asmanifestações de Março foram unitáriascom as cinco principais confederaçõessindicais de trabalhadores, incluindo a CFDT.Os sindicatos dos estudantes dos liceustambém se juntaram ao movimento. AFederação de Pais de Alunos também apelouà participação nas manifestações.

O que é o CPE?

É o contrato primeiro emprego para osjovens com menos de 26.

Qual é o período em que um trabalhadorestá à experiência?

Passa de 1 a 3 meses para 2 anos.Os direitos dos trabalhadores são

alterados?Com um CPE o trabalhador fica fragi-

lizado, pois o empregador não tem que sejustificar, pode despedir um trabalhador/aque se recuse a fazer horas extraordinárias,que tenha exigências salariais, de condiçõesde trabalho, que esteja sindicalizado, ouainda que esteja doente ou grávida.

França: opinião pública, estudantese sindicatos contra a injustiça

Contrato de Primeiro Trabalho (CPE)

José Janela (Direcção do SPZS e membro do CN da FENPROF)

IV Fórum Social EuropeuAtenas, 4 a 7 de Maio

A Assembleia preparatória do IV FSE decorreuentre os passados dias 3 e 7 de Março, emFrankfurt, na Alemanha.Em foco estiveram, entre outros, aspectosrelacionados com a programação do IV Fóruma realizar de 4 a 7 de Maio próximo na capitalda Grécia, Atenas.Para mais informações, visite:http://www.fse-esf.org/

Para mais informações consultar:www.stopcpe.netColectivo Unitário Stop CPE que agrupa

14 organizações das juventudes dossindicatos de trabalhadores, dos partidos deesquerda e dos sindicatos estudantis.

www.paris.indymedia.orgCentro de Média Independente de Paris

(da rede www.indymedia.org) onde acobertura dos acontecimentos é feita empermanência.

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28 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

INTERNACIONAL

Trabalhadores sobre a ponte do Guaíba

Mais de 50 organizações de diversosquadrantes da sociedade portuguesa, in-cluindo o Conselho Português para a Paz eCooperação (CPPC) e a CGTP-IN, assinalaramtrês anos de invasão do Iraque e três anos deresistência do povo iraquiano à ocupação. Asiniciativas decorreram em Lisboa (Largo deCamões), no dia 18, e no Porto (Pr. D. João I eTeatro Rivoli), no dia 19.

Como foi recordado, os trabalhadores e opovo português manifestaram-se massiva-mente em Outubro de 2002, em 15 de Fevereiroe em 20 de Março de 2003, em expressivasacções populares e unitárias pela Paz.

É um facto que contra a opinião públicamundial e as instâncias internacionais o impe-rialismo fez prevalecer a força sobre o direito,lembraram os participantes nas iniciativas deMarço de 2006, realizadas um pouco por todo

Três anos de ocupaçãoIraque

o mundo, nomeadamente na Europa, nos EUAe na Ásia.

Todos os dias nos chegam imagens daviolência que se vive no Iraque, dos crimesde guerra cometidos pelas tropas de ocu-pação, mas também da resistência de umpovo, que luta contra a ocupação do seu paíse que é merecedor do nosso apoio - esta foiuma das mensagens em destaque nasconcentrações realizadas no nosso país. Najornada de Lisboa a actriz Maria do CéuGuerra deu a conhecer o manifesto subscritopelas 57 organizações promotoras daconcentração, à qual chegou uma mensagemdo presidente da Aliança Patriótica Iraquiana.“Estamos convictos de que as vossas vozes seelevam com determinação e regozijo pelo

movimento da resistência iraquiana. A solida-riedade que expressam é um elemento de fun-damental importância para nos ajudar a libertaro Iraque e alcançar a paz”, realça a mensagemenviada po Abdul Jabbar al-Kubaysi.

“Reafirmamos o nosso veemente repúdiopela invasão e ocupação do Iraque pelastropas dos EUA e seus aliados e exigimos asua retirada imediata e incondicional e adevolução da soberania ilimitada ao povoiraquiano. Instamos igualmente o Governoportuguês a respeitar a Constituição daRepública e acabar, de uma vez por todas,com o envolvimento directo ou indirecto dePortugal nesta guerra de agressão e pilha-gem”, sublinha, entretanto, uma notadivulgada pela CGTP-IN.

No fim de semana de 28 a 30 de Abrilterá lugar a vigésima edição do EncontroGalego-Português de Educadores/as pelaPaz, tendo como tema de debate a educaçãopara o desenvolvimento: aprender asolidariedade. Os Encontros galego--portugueses realizam-se alternadamenteem Portugal e na Galiza e este ano terãolugar no Hotel Torre de Núñez, em Lugo.Como em edições anteriores, será orga-nizado pela Associação Galego-Portuguesade Educação para a Paz, pelos Educadores/as para a Paz-Nova Escola Galega, pelo Dto.de Pedagogia e Didáctica da Universidadeda Corunha e pelo Movimento dosEducadores para a Paz de Portugal (MEP).

O Encontro começará na sexta-feira,dia 28, às 18 horas com uma sessão dejogos cooperativos, a que se seguirá aConferência/Debate: “Educação para odesenvolvimento: Aprender os direitoshumanos e a solidariedade nas nossasescolas” por Jurjo TORRES SANTOMÉ,Catedrático da Universidade da Corunha eautor de numerosos livros.

A manhã de sábado será dedicada àsoficinas: “Os jogos cooperativos na educa-

XX Encontro Galego-Português de Educadores pela Pazabordará a Educação para o Desenvolvimento

ção física”, “Danças do Mundo”, “A risoterapiana educação”, “Precisa-se deum amigo/a”, “Outros povos,outras culturas”, “Contospara a Paz a partir da diver-sidade”.

Na tarde de sábado ha-verá duas conferências. Naprimeira, “Uma Educaçãopara o desenvolvimento e omeio ambiente” interviráViriato SOROMENHO MAR-QUES, professor catedrático da Universidadede Lisboa, Joaquim Pinto, presidente daAssociação Portuguesa de Educação Am-biental, Jesús Ángel REMACHA ELVIRA,presidente da Acção Educativa de Madrid, eterá como moderador Américo NUNES PERES,professor da Universidade de Trás os Montese Alto Douro.

A segunda conferência terá como tema: “Aglobalização e os movimentos alternativos”, seráproferida por Carlos TAIBO, professor daUniversidade Autónoma de Madrid e moderadapor Xesús Jares, catedrático da Universidade daCorunha e presidente da AGAPPAZ.

O Encontro termina no domingo de manhã

Os interessados em participar podem entrarem contacto com:PORTUGAL: EB1 nº 8 do Barreiro, Rua de CaboVerde, 2830 Barreiro (Portugal)Telef/Fax:. 212 03 34 19 (Helena Proença)Correio electrónico: [email protected]É ORGANIZADORAsdo. Xesús R. Jares (Coordenador deEducadores/as pela Paz-Nova Escola Galega).Correio electrónico: [email protected]

Os Encontrosgalego-portugueses

realizam-sealternadamente

em Portugal e naGaliza e este ano

terão lugar no HotelTorre de Núñez,

em Lugo

com a apresentação de experiências e decomunicações que serão moderadas porGlória RAMIREZ, da UNAM, México e a soltada Pomba da Paz na Praza Maior de Lugo.

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JORNAL DA FENPROF 29MARÇO 2006 JORNAL DA FENPROF 29

or iniciativa da estrutura pan-europeia da Internacional de Educa-ção (IE) - Comité Permanente doEnsino Superior e Investigaçãodecorreu , entre os dias 16 e 18 de

Março, em Sesimbra, um atelier subor-dinado ao tema "Os novos desenvolvimentosno Ensino superior e na Investigação:consequências para o pessoal académico".

As questões relacionadas com a mobili-dade do pessoal docente no quadro doProcesso de Bolonha mereceram particulardestaque, como sublinhou à reportagem do«JF» Paul Bennett, da IE e do NATFHE (TheUniversity & College Lecturers' Union).

Além de várias matérias relacionadascom o Processo de Bolonha e a participaçãodos docentes, estiveram em foco nestareunião internacional o balanço da Confe-rência da IE sobre ensino e investigaçãorealizada em Melbourne, na Austrália, em

Dezembro de 2005; o trabalho do ComitéSindical Europeu de Educação, nomea-damente o balanço das reuniões deDezembro no Luxemburgo; os resultadosdum questionário lançado pela IE; ofuncionamento da União Europeia (ECOSEC,órgão consultivo - tema apresentado porMário David Soares); iniciativas e matériasde internacionais no âmbito da OCDE eUNESCO e os próximos encontros detrabalho da organização.

Em Fevereiro de 2007, a IE realizará umaconferência preparatória e um semináriosobre a mobilidade, iniciativas que decorre-rão antes da conferência ministerial previstatambém para a capital inglesa em Maio dopróximo ano.

João Cunha Serra e Manuel Pereira dosSantos, do Departamento de Ensino Supe-rior e Investigação da FENPROF, participaramneste encontro de Sesimbra.|JPO

«Atelier» da IE em Sesimbra

P

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30 JORNAL DA FENPROF MARÇO 2006

Pintura

Maior exposição europeia sobre Frida Kahlo no CCB em Lisboa até

CULTURAIS

Picasso: uma exposiçãodiferente em Madrid

Cinema

June Tabor

A maior e mais com-pleta exposição so-bre a obra da pintoramexicana Frida Kahlorealizada nas últi-mas décadas na Eu-ropa pode agora serapreciada no CentroCultural de Belém(…).

Depois de terpassado pela TateModern de Londres e

a Fundación Caixa Galicia, em Santiago deCompostela, cabe à capital portuguesa receber26 obras provenientes do Museu Dolores Olmedo,no México, onde se encontra a maior colecçãomundial da artista.

Passados 51 anos sobre a sua morte, apintura de Frida Kahlo (1907-1954) continua adespertar o interesse do público devido à suaarte controversa e à história da sua vida, marcadapelo sofrimento físico devido à doença e poramores difíceis.

Entre 1926, quando pintou o seu primeiroauto-retrato, e a sua morte, quase trinta anosdepois, Kahlo produziu cerca de duas centenasde quadros.

A relação amorosa com o pintor muralistamexicano Diego Rivera despo-letou o lançamento da suacarreira, mas Frida Kahlo viria aconsolidar a sua obra e a tornar--se a pintora mexicana maisconhecida em todo o mundo,conseguindo expor os seusquadros, ainda em vida, nomea-damente no meio artístico deNova Iorque.

"Pensaram que eu eraSurrealista, mas nunca fui”

A obra de Kahlo foi influen-ciada por uma época de grande ebulição políticae social, mas ficou marcada sobretudo pelavivência pessoal da artista, que fez de si própria

o tema principal dos quadros que pintava.Amante da cultura tradicional mexicana, em

especial do legado Azteca, esta artista auto-didacta descr Surrealista, mas nunca fui. Nuncapintei sonhos, só pintei a minha própria reali-

dade", disse um dia Frida Kahlo.Aos 16 anos, quando se-

guia para a escola num auto-carro, sofreu um acidente deviação que a forçou a ficaracamada durante muito tem-po, mas essa situação infelizproporcionou as condiçõespara começar a pintar.

Devido ao grave acidentesofrido, a artista passou grandeparte da sua vida imobilizada,foi alvo de diversas operações,não conseguiu ter filhos, comomuito desejou, e padeceu

sempre de dores fortes.Este sofrimento é expresso em quadros como

"A Coluna Partida" (1944), "O Camião" (1929),

“A Coluna Partida” (1944)

Até 23 de Maio , podem ser apreciados no MuseuNacional/Centro de Arte Rainha Sofia, emMadrid, 13 quadros de Pablo Picasso, resultadode um empréstimo especial do Museu NacionalPicasso da capital francesa.As obras, expostas na mesma sala da colecçãopermanente do museu, oferecem “ao público apossibilidade de contemplar, reunido, este sin-gular conjunto de trabalhos do pintor”, sublinhaem comunicado a direcção do museu madrileno.Esta exposição inédita ”ilustra melhor o períodopicassiano centrado em Marie-Thérése Waltercomo musa do artista e a sua fase criativa dopós-guerra”, segundo o diário ”El País”.“A leitura” (1932) e “Nu no Jardim” (1934) sãodois dos trabalhos em destaque agora em Madrid.No próximo Verão será organizado um grandecertame comemorativo dos 25 anos da chegadade “Guernica” a Espanha.

A Confederação Internacional dos Cinemasde Arte e Ensaio (CICAE) escolheu este ano a22ª edição do Festival de Cinema “Festroia”(Setúbal, de 2 a 11 de Junho próximo) paraatribuir o seu prémio anual, revelou aorganização do certame. O galardão pretende“distinguir e apoiar um filme de grandequalidade artística e humanista”.A organização do “Festroia” considera que aescolha se deve “ao reconhecimento daqualidade artística e criativa dos filmeshabitualmente exibidos no festival” e que ocertame “fica em condições de apoiar aindamais a difusão internacional das obras emcompetição, provenientes de países que nãoproduzem mais de 30 filmes por ano”.O filme distinguido com o Prémio de Arte eEnsaio beneficiará da acção promocionalCinediversité, que consiste em apoiar a suaexibição em várias salas de cinema, principal-mente na Alemanha, França e Itália.Além de sugerir o filme para que sejadivulgado em diversas salas, de colocar cópiasem circulação e de informar o público acercada película galardoada, a CICAE asseguraainda a promoção do filme premiado juntodos distribuidores e de numerosos festivais.Fundada em 1955, a CICAE visa a cooperaçãointernacional das federações ou associações dosteatros cinematográficos de arte e ensaio,

Festroia escolhido para atribuiçãode prémio de Arte e Ensaio

agindo junto das autoridades nacionais para queapoiem e reconheçam o cinema de arte e ensaioe promovendo as obras cinematográficas queconsidera de qualidade nos países aderentes.Presentemente, a CICAE integra mais de 400salas de arte e ensaio em 18 países e, emPortugal, apenas três salas são reconhecidaspela organização, uma das quais é o AuditórioCharlot, em Setúbal, onde decorre parte daprogramação do “Festroia”.Em 2004, na 20ª edição do Festroia, a CICAEmanifestou-se solidária com a organizaçãodo festival que se viu quase comprometidapor falta de fundos. Na altura, a confederaçãoconsiderou que o Festroia “desenvolve, desde1985, uma política inovadora em favor docinema de autor, com uma abertura muitoparticular aos novos países produtores enovos realizadores”. Lusa, 6/03/2006

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JORNAL DA FENPROF 31MARÇO 2006

21 de Maio

MultimediaCartoons

"Unos Quantos Piquetitos" (1935), "HospitalHenry Ford" (1932) e "Auto-Retrato comMacaco" (1945).

Esta exposição inclui também uma colecçãode fotografias e objectos pessoais pertencentesàquele museu mexicano e que oferecem umregisto da vida da artista desde a infância até àsua morte.

A exposição ficará patente até 21 deMaio.|Lusa, 17/02/2006

“O Autocarro” (1929)

O IAC-Instituto Açoriano de Cultura pro-moveu, nas Lajes do Pico, o lançamentoda edição multimédia (CD-ROM) dosInventários do Património Imóvel dosConcelhos da Ilha do Pico.Toda a informação do Inventário doPatrimónio Imóvel desta ilha constante

dos três livros publicados (concelhos de São Roque, Madalena eLajes do Pico) está agora reunida e acessível num único CD-ROM,uma edição da Direcção Regional da Cultura e do IAC que permite oacesso rápido e fácil a essa informação, inclusivamente navegar apartir de uma base cartográfica da ilha e descer ao pormenor decada um dos casos inventariados, identificando o seu local precisode implantação no terreno. Paralelamente a este lançamento, o IAC-Instituto Açoriano de Cultura apresentou o sítio do Inventário doPatrimónio Imóvel dos Açores (www.inventario.iacultura.pt) com umanova imagem e organização, aproximando a imagem do site à doCD-ROM.

Inventário do património imóveldos Açores em CD-ROM

Na sede do Museu Nacionalda Imprensa estão patentes aopúblico até 30 de Junho asexposições “Bicentenário deBocage: o poeta através daimprensa” e “Impressões Foto-gráficas”.

A mostra sobre Bocagepretende evocar a sua vida eobra através da imprensa,celebrando o bicentenário damorte de um dos maiores poetas de línguaportuguesa.

É composta por várias publicações perió-dicas e livros, podendo ver-se poemas e sonetosdo autor, bem como livros de Teóphilo Braga eHernâni Cidade, sobre Bocage.

A repercussão na imprensa do centenárioda morte, em 1905, e do bicentenário donascimento, em 1965, pode ser apreciada nosdiversos jornais expostos, com destaque para aprimeira notícia que se publicou sobre Bocage,na Gazeta de Lisboa, depois da sua morte.

Esta exposição insere-se na linha deoutras que o Museu Nacional daImprensa tem realizado sobre grandesfiguras da literatura nacional e estran-geira: Júlio Verne, Victor Hugo, Eça deQueiroz, Almeida Garrett e Cervantes.

A exposição “Impressões Foto-gráficas” é constituída por 72 foto-grafias sobre o espólio do MuseuNacional da Imprensa e resulta de umdesafio lançado a oito fotógrafos:

Alfredo Cunha, Augusto Baptista, Francisco Ávila,Gaspar de Jesus Jorge Viana Basto, João PauloSottomayor, Pereira de Sousa e Ricardo Fonseca.

O olhar especial de cada fotógrafo reteve omelhor da colecção do Museu que integra dezenasde relíquias tipográficas.

As exposições podem ser visitadas no horáriohabitual do Museu: todos os dias, incluindodomingos e feriados, das 15h às 20h.

O Museu está instalado na cidade do Porto, amontante da Ponte do Freixo e a cinco minutosda Estação CP/Metro de Campanhã.

“Bicentenário de Bocage: o poeta através da imprensa”e “Impressões Fotográficas”: exposições no Porto

Até 30 de Junho

O Museu Nacional da Imprensaapresenta até 30 de Abril, no Museuda Graciosa, nos Açores, a exposição“Água com Humor”, que integrou ascomemorações do Dia Mundial daÁgua.Constituída por cerca de 40 cartoons,a exposição apresenta os melhorestrabalhos do V Porto Cartoon-WorldFestival, que teve como tema a “Água”em sintonia com a designação da

UNESCO para 2003: Ano Internacional da Água. Este tema mobilizoucartunistas de todo o planeta para o problema da escassez de água no mundo,podendo ser vistos, na exposição, trabalhos provenientes de países tãodiferentes como a Albânia, a Colômbia, a China, Cuba, Irão, o Peru, paraalém dos principais países europeus.Os cartoons expostos ajudam o público a pensar sobre hábitos, carências einsensibilidades humanas perante a crescente escassez de água a nívelplanetário.O PortoCartoon é um festival internacional realizado anualmente pelo MuseuNacional da Imprensa, sendo considerado pela FECO (Federation of Car-toonists Organisations), um dos três principais festivais de desenhohumorístico do mundo.O famoso cartunista francês, Georges Wolinski, presidente do júri doPortoCartoon, dedica uma página do seu mais recente livro “Les Carnets deVoyage” à viagem que realizou ao Porto, em 2004, na qualidade de membrodo júri do PortoCartoon-World Festival.A exposição “Água com Humor”, que já foi vista por milhares de pessoas nosvários locais por onde passou, incluindo a Galiza, é valorizada pelo álbum“Água com Humor”, uma co-edição do Museu Nacional da Imprensa e dasEdições ASA.A exposição pode ser visitada no seguinte horário: de segunda a sexta-feira,das 9h00 às 12h30h e das 14h00 às 17h30.

“Água com Humor” na Graciosa

Em digressão pelo País, o Grupo “OBando” apresenta “Gente feliz comlágrimas”, um texto de João de Melo

com encenação de João Brites e interpretação de Nelson Monfortee Sara Castro. No dia 22 de Abril, às 21h30, a peça será apresentadano Cine-Teatro de Alcobaça. Informações pelo telefone 262580890.

Teatro

“Gente feliz com lágrimas”