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1. Introdução; 2. Alcance e limitações dos modelos cienttftcos e de sua aplicação aos problemas urbanos; 3. Considerações sobre as teorias de mudança social; 4. Funcionahsmo e teoria de sistemas como instrumentos de análise sociol6gica; 5. Urbanização como processo de mudança social; 6. Teoria e prática no tratamento de problemas urbanos; 7. Algumas implicações para a pesquisa sociológica, o planejamento e o desenvolvimento da comunidade. Henrique Rattner * * Professor do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas. R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 1. INTRODUÇÃO Diante dos graves e complexos problemas provocados pelo crescimento ininterrupto e desordenado dos centros urba- nos e metropolitanos, os cientistas sociais enfrentam um sério dilema: por um lado, sofrem a pressão das autori- dades e da opinião pública, no sentido de proporem pla- nos e diretrizes de ação, visando atenuar a situação calami- tosa das cidades e de suas populações. Por outro, todavia, sentem-se inclinados a manter uma atitude "científica", livre de juízos de valores e acima das lutas políticas. No contexto da vida urbana na sociedade de classes, qualquer plano viário, projeto de construção habitacional ou programa de desenvolvimento comunitário torna-se ins- trumento de intervenção, de mudança dirigida nas relações entre os diversos grupos e forças de pressão, que compõem a trama da sociedade urbana. Como herança do positivis- mo, acostumamo-nos a atribuir ao conceito "mudança" a conotação de melhoria, progresso, o que pressupõe uma série de parâmetros estabelecidos, metas e diretrizes em função de objetivos e valores dos indivíduos ou grupos envolvidos por esses processos de mudança social dirigida. Ao perguntarmos aos tecnocratas e planejadores, to- davía, em função de que interesses e a partir de que mode- lO ou teoria da sociedade são elaborados planos e projetos e tomadas decisões a eles pertinentes, as respostas, geral- mente, são bem significativas: o interesse público ou as necessidades coletivas, à primeira pergunta, enquanto a segunda será eventualmente descartada com a explicação de que os planos e projetos, por estarem baseados e elabo- rados a partir do conhecimento científico, e implantados de acordo com a racionalidade tecnológica, escapariam do subjetivismo e de juízos de valor inerentes às teorias socio- lógicas. As atividades técnicas de planejamento e de exe- cução dos projetos, por sua racionalidade "científica" in- trínseca, prescindiriam de uma teoria ou de um modelo de análise e explicação da realidade social. Este trabalho pretende examinar criticamente o "in- teresse público" alegado como valor e parâmetro do plane- íjamento e, concomitantemente, analisar alguns dos mode- 'los teóricos sociológicos que fundamentam e orientam a atuação dos planejadores e dos técnicos nos diferentes se- tores da administração urbana. A relevância de tal abordagem, numa época em que os cientistas sociais se tornam cada vez mais receptivos a de- mandas por pesquisas aplicadas e ansiosos por trabalhar com problemas que sejam de implicações práticas imedia- tas, é mais do que evidente: se, por um lado, princípios científicos solidamente estabelecidos são considerados condição necessária, porém não suficiente, para uma ação inteligente e eficaz do poder público, por outro, é necessá- rio examinar os pressupostos teóricos declarados ou subja- centes desse conhecimento científico. A alegação de sua neutralidade e isenção de valores subjetivos ou políticos não é facilmente sustentada à luz de uma análise crítica das motivações e efeitos da interação social, da qual a atividade científico-técnica representa apenas um de seus 16 (3): 15-26, maio/jun. 1976 Desenvolvimento de comunidade no progresso de urbanização notas para uma crítica das teorias sociologicas do planejamento

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Page 1: lO · se à difusão cultural e à influência política dos centros mais "avançados", o que abre um vasto campo para a intervenção e manipulação das populações "atrasadas"

1. Introdução;2. Alcance e limitações dos

modelos cienttftcos e de suaaplicação aos problemas urbanos;

3. Considerações sobre asteorias de mudança social;

4. Funcionahsmo e teoria desistemas como instrumentos

de análise sociol6gica;5. Urbanização como processo

de mudança social;6. Teoria e prática no

tratamento de problemas urbanos;7. Algumas implicações para a

pesquisa sociológica, oplanejamento e o desenvolvimento

da comunidade.

Henrique Rattner *

* Professor do Departamento deFundamentos Sociais e Jurídicos

da Administração da Escola deAdministração de Empresas de São Paulo,

da Fundação Getulio Vargas.

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro,

1. INTRODUÇÃO

Diante dos graves e complexos problemas provocados pelocrescimento ininterrupto e desordenado dos centros urba-nos e metropolitanos, os cientistas sociais enfrentam umsério dilema: por um lado, sofrem a pressão das autori-dades e da opinião pública, no sentido de proporem pla-nos e diretrizes de ação, visando atenuar a situação calami-tosa das cidades e de suas populações. Por outro, todavia,sentem-se inclinados a manter uma atitude "científica",livre de juízos de valores e acima das lutas políticas.

No contexto da vida urbana na sociedade de classes,qualquer plano viário, projeto de construção habitacionalou programa de desenvolvimento comunitário torna-se ins-trumento de intervenção, de mudança dirigida nas relaçõesentre os diversos grupos e forças de pressão, que compõema trama da sociedade urbana. Como herança do positivis-mo, acostumamo-nos a atribuir ao conceito "mudança" aconotação de melhoria, progresso, o que pressupõe umasérie de parâmetros estabelecidos, metas e diretrizes emfunção de objetivos e valores dos indivíduos ou gruposenvolvidos por esses processos de mudança social dirigida.

Ao perguntarmos aos tecnocratas e planejadores, to-davía, em função de que interesses e a partir de que mode-lO ou teoria da sociedade são elaborados planos e projetose tomadas decisões a eles pertinentes, as respostas, geral-mente, são bem significativas: o interesse público ou asnecessidades coletivas, à primeira pergunta, enquanto asegunda será eventualmente descartada com a explicaçãode que os planos e projetos, por estarem baseados e elabo-rados a partir do conhecimento científico, e implantadosde acordo com a racionalidade tecnológica, escapariam dosubjetivismo e de juízos de valor inerentes às teorias socio-lógicas. As atividades técnicas de planejamento e de exe-cução dos projetos, por sua racionalidade "científica" in-trínseca, prescindiriam de uma teoria ou de um modelo deanálise e explicação da realidade social.

Este trabalho pretende examinar criticamente o "in-teresse público" alegado como valor e parâmetro do plane-íjamento e, concomitantemente, analisar alguns dos mode-'los teóricos sociológicos que fundamentam e orientam aatuação dos planejadores e dos técnicos nos diferentes se-tores da administração urbana.

A relevância de tal abordagem, numa época em que oscientistas sociais se tornam cada vez mais receptivos a de-mandas por pesquisas aplicadas e ansiosos por trabalharcom problemas que sejam de implicações práticas imedia-tas, é mais do que evidente: se, por um lado, princípioscientíficos solidamente estabelecidos são consideradoscondição necessária, porém não suficiente, para uma açãointeligente e eficaz do poder público, por outro, é necessá-rio examinar os pressupostos teóricos declarados ou subja-centes desse conhecimento científico. A alegação de suaneutralidade e isenção de valores subjetivos ou políticosnão é facilmente sustentada à luz de uma análise críticadas motivações e efeitos da interação social, da qual aatividade científico-técnica representa apenas um de seus

16 (3): 15-26, maio/jun. 1976

Desenvolvimento de comunidade no progresso de urbanização notas para uma crítica das teorias sociologicas do planejamento

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variados aspectos. Na vida social, no caldeirão de idéias,aspirações e interesses individuais e grupais, simplesmenteinexistem objetivos neutros, livres de juízos de valor e"apolíticos". Ao contrário, a seleção dos problemas a se-'rem atacados e resolvidos pela ação do poder público, bemcomo os próprios conceitos pelos quais deflnimos o pro-blema e o inserimos em determinada realidade - objetodos planos e programas de ação, são todos carregados devalores e, portanto, abertos ao subjetivismo e à "írracíona-lidade" das ideologias.

O procedimento metodológico a ser adotado nesteensaio procurará firmar uma posição crítica, e não norma-tiva; levantar dúvidas e examinar a coerência dos modelose abordagens propostos, em vez de formular diretrizes eapontar "soluções" para os problemas sociais das grandesáreas e aglomerações urbanas.

2. ALCANCE E LIMITAÇÕES DOS MODELosCIENTlFICOS E DE SUA APLICAÇÃOAOS PROBLEMAS URBANOS

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Os paradigmas de análise e explicação científtcas são tradi-cionalmente derivados da física e das outras ciências natu-rais, as quais, dados os seus métodos e técnicas exatos erigorosos, permitem quantificar, prever e, portanto, con-trolar o desenrolar dos, fenômenos-objetos da pesquisacientíftca.

Baseadas na observação, quantificação, experimen-tação e explicação por modelos causais lineares, as ciênciasnaturais perrnitiriam apreender "racionalmente" os fenô-menos de nosso mundo e, assim, controlá-lo e orientá-lode acordo com o interesse público.

No mesmo sentido, as ciências sociais estão sendopressionadas para funcionar no mundo sociopolítico: tor-nar-se instrumentos de controle "racional e neutro", paraa manipulação da vida social. Do ponto de vista dos tecno-cratas, não se justiftcaria uma distinção qualitativa entreciências naturais e humanas. A falta de rigor e de fídedig-nidade destas é apenas questão de tempo, de amadureci-mento, de mais pesquisas empíricas que devem levar àformulação de "leis" e modelos teóricos, cada vez maisprecisos e seguros.

Entretanto, a observação mais amadorista da evoluçãoe da '.problemática das grandes aglomerações metropolita-nas revelará o fracasso das medidas e "soluções" propostaspelo poder público, profundamente mergulhado nas criseshabitacional, de transportes, de saneamento básico e desegurança pública, para mencionar apenas algumas. Os fra-cassos, raramente admitidos, mesmo quando constatadosmediante processos de avaliação apropriados, são atribuí-dos, ora à falta de organização e de apoio, ora à escassezde recursos humanos e financeiros. Contudo, é no própriométodo de atuação e seus modelos teóricos explícitos ouimplícitos que devem ser procuradas as razões da poucaeftcácia da intervenção do poder público. O tratamentosuperftcial, ao nível dos sintomas dos problemas e da não-

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localização de suas raízes, próprio a um modelo causallinear e determinista, deve ser considerado responsável porboa parte dos desacertos e malogros na área de planeja-mento urbano e regional. Por outro lado, mesmo os mode-los de explicação e intervenção mais complexos e sofísti-cados não têm produzido resultados satisfatórios, por esta-rem referidos a teorias sociológicas inadequadas e distan-tes da realidade social, econômica e política dos países emdesenvolvimento. Portanto, à prática do planejamento eda administração eftcientes das áreas metropolitanas, de-vem preceder indagações teóricas sobre a natureza dosprocessos de desenvolvimento e de mudança social, dosquais a "urbanização" representa apenas um aspecto, em-bora fundamental.

E à luz das definições básicas desses conceitos e suainter-relação é que se pode aferir as funções e o alcance detécnicas de intervenção e de mudança dirigida, tais como oplanejamento e o "desenvolvimento de comunidade".

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS TEORIAS,DE MUDANÇA SOCIAL

Apesar da nossa experiência diária de um mundo imprevi-sível e, portanto, "irracional", constitui um quase aprioria crença em padrões mais ou menos fixos e invariáveis daevolução, que permitiriam prever e controlar as relações einterações dos indivíduos e dos grupos sociais. Contudo,entre os extremos de um determinismo total, do tipo reli-gioso em que tudo é previsto e dirigido por uma vontadedivina, e o "voluntarismo" absoluto, em que o todo socialseria causado e determinado pelas intenções e aspiraçõesdos indivíduos, há uma gama enorme de diferentes teoriase doutrinas' sociológicas. O que parece ser característicacomum a todas elas é a diftculdade de conceitualizar edeftnir, de forma abrangente, o social como um todo e,assim, de descrever a mudança social de um modo sinó-tico, claro e convincente.

Mais uma vez, a origem dessa diftculdade fundamentalparece residir nas definíções ambíguas e contraditórias daprópria estrutura, da interação e suas motivações sociais, oque reflete, em última análise, objetivos, valores e posiçõesídeolõgícas diferentes. Negar o caráter socialmente condi-cionado do próprio sistema conceitual, ou sua conotaçãomais ou menos explicitamente ideológica, diftculta o estu-do da mudança social.

Desde suas origens, os grandes mestres e teóricos dasociologia se distinguiam pela pretensão de possuir umesquema ou modelo de explicação sociológica - em ter-mos "científtcos" isto significaria isolar e descrever as con-dições responsáveis pela ocorrência de fenômenos sociais- buscando formulá-lo em um quadro de referência teó-rico permanente, a partir do qual seria possível analisar,compreender e prever as mudanças no sistema social.

A diftculdade encontrada pelos sociólogos do séculoXIX, bem como pelos autores subseqüentes, é que atrásdo conceito "sistema social" existem diferentes níveis de

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vida em sociedade ou diferentes subsistemas sociais, desdea pequena comunidade rural até o sistema englobado pelomercado mundial, para os quais nenhuma teoria globalpode ser aplicada satisfatoriamente.

De fato, a maioria das teorias de mudança social sãoformuladas em níveis de abstração tão elevados que apa-rentemente pouca relevância têm para a realidade empí-rica, enquanto os modelos empiristas, tão do agrado dasociologia norte-americana, se perdem na análise de aspec-tos isolados, de maneira mais descritiva que analítica.

Um exemplo de um modelo explicativo da mudançasocial em alto nível de abstração é a formulação marxistasobre o papel das "forças produtivas". Estas tenderiam acrescer e desenvolver-se, dentro da dinâmica do sistemacapitalista, em contraposição às relações de produção, cu-jas formas de propriedade se constituem em obstáculo aocrescimento econômico. As contradições cresceriam até oponto, em que, dialeticamente, a quantidade transforman-do-se em qualidade, seria rompido o precário equilíbrio, ea reorganização da superestrutura e das relações de produ-ção permitiria também a expansão econômica e o plenodesenvolvimento da sociedade. Contudo, o modelo, pormais brilhante que possa parecer ao nível teórico e abstra-to, seria de pouca utilidade para uma orientação prática,ou seja, para uma previsão, com certo grau de confiabili-dade, de uma mudança social iminente. Se a tentativa dealterar as superestruturas ou as relações de poder de acor-do com o nível das forças produtivas for mal sucedida,sempre se poderá alegar a posteriori, que estas não esta-vam suficientemente desenvolvidas para assegurar as mu-danças qualitativas do sistema social global. Ao contrário,no caso de uma Revolução ou de um golpe de Estado bemsucedido, sempre se poderá afirmar a posteriori que ascontradições entre forças produtivas e relações de produ-ção eram suficientemente acirradas para levar ao rompi-mento das estruturas sociais.

Acontece, todavia, que, contrariamente às expecta-tivas da doutrina que prevê e prescreve as mudanças pri-meiramente nos países em que o desenvolvimento e, por-tanto, as contradições capitalistas teriam alcançado seunível mais alto, estas se processaram nos países que consti-tuíram os elos mais fracos do sistema capitalista mundial- a Rússia czarista, os países da Europa Oriental, China..Cuba etc ..

Para fins didáticos, pode-se dividir o esforço de teori-zação sobre a mudança social em três categorias, com mé-todos e perspectivas bem distintos:

1. O primeiro grupo, no qual poderíamos incluir todosos grandes fílósofos sociais e sociológicos (Comte,Spencer, Marx, Durkheim e Weber), poderia ser caracteri-zado como "evolucionista", propondo seus protagonistasgrandes esquemas universais, cujas diferentes fases deve-riam ser percorridas por todas as sociedades. A previsãodas etapas a serem vencidas leva de forma explícita ouimplícita à prescrição, baseada na visão de que as forma-ções sociais que ainda não alcançaram certa configuraçãoseriam "subdesenvolvidas" e, portanto, deveriam sujeitar-

se à difusão cultural e à influência política dos centrosmais "avançados", o que abre um vasto campo para aintervenção e manipulação das populações "atrasadas".

2. Uma segunda tendência no estudo da mudança socialencontramos no empirismo sociológico norte-americano,que procura descrever e analisar os fenômenos sociais deuma forma não-especulativa, resultando seus trabalhos emrelatos, com estilo de crônica jornalística, sem o insightteórico e, portanto, de pouca relevância para uma políticade mudança social dirigida.

3. Entre as duas tendências extremas, encontrar-se-iamas teorias sociológicas "intermediárias", assim caracteri-zadas por Merton. Estas transcendem a' simples descriçãodos fatos e fenômenos sociais e são bastante abstratas paratratar dos problemas de estrutura e de comportamentosocial, permitindo a formulação de hipóteses empirica-mente verificáveis.

Nas três orientações encontramos, como preocupaçãocomum, a busca de um fator "crucial" da mudança social,o que as caracteriza como "deterministas", embora nosofereçam uma gama das mais variadas teorias OU modelos,em que, ora a tecnologia, a organização do espaço, o tipode interação social, ora determinados traços psicológicosassumem o papel de fator determinante da mudança so-cial. A presença ou ausência em maior ou menor graudesses fatores "causais" permitiriam prever e, portanto,controlar a evolução das respectivas sociedades. À insis-tência em detectar e isolar a "causa" da mudança socialestá -subjacente o valor atribuído pela civilização ocidentalà mudança como equivalente de progresso ou "desenvolvi-mento". A idéia do progresso como manifestação de umprocesso de transformações quantitativas e qualitativas foiemprestada pelos filósofos sociais do século XIX ao dar-winismo, cujos postulados de seleção e de sobrevivênciados mais aptos através de uma luta constante se adapta-vam perfeitamente ao espírito e à ética da economia capi-talista em plena fase de expansão.

A crença em "leis" da evolução social que possam serdescobertas, enunciadas e utilizadas para dominar e prever-os acontecimentos constituiu-se numa poderosa legitima-ção, tanto para a exploração econômica interna quantopara a conquista e espoliação dos povos colonizados. Por-que se a evolução era linear e por etapas, cujo paradigmaencontrava-se entre as nações mais desenvolvidas do pontode vista capitalista, então as outras teriam de seguir ocaminho prescrito, tentando vencer os obstáculos, sempresob a benévola liderança e proteção das sociedades maisavançadas.

Note-se que o mesmo raciocínio, a partir da premissade a história da humanidade ser una e homogênea, podeser aplicado e, de fato, foi usado e abusado também pelanação-líder do bloco oriental, cujo regime burocrático-po-licial se erigiu em paradigma da fase "socialista" da histó-ria, reprimindo com violência e terror os anseios para umcaminho "próprio" de seus satélites.

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Da mesma forma com que o império britânico justifi-cava suas conquistas no século passado, pelo "fardo dohomem branco", pela sua "missão civilizatória" do mundosubdesenvolvido, assim os burocratas e homens do "apare-lho" soviético legitimam sua interferência nos outros paí-ses, pela sua condição de nação-líder do "socialismo".

4. FUNCIONALISMO E TEORIA DESISTEMAS COMO INSTRUMENTOS DEANÁLISE SOCIOLÓGICA

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Tal como o evolucionismo está sendo encarado como prin-cípio fundamental da vida, também a visão do mundocomo um "sistema" ordenado e regulado está firmementeimplantada em nossa mente. Para compreender melhor osconceitos empregados na teoria e na análise de sistemascom relação à mudança social e ao planejamento, é precisoexaminar as premissas básicas do "funcionalismo".

Sua aplicação como teoria ou modelo de explicaçãorias ciências sociais tem raízes numa analogia entre a vidaorgânica e a social; tal como a análise de um organismobiológico, também o funcionalismo sociológico é "holís-tico", ou seja, considera todas as partes e aspectos dosistema social como interligados e conexos, sendõ a natu-reza e características de cada elemento determinadas eexplicáveis por referência ao conjunto. Preocupando-se,essencialmente, com as relações e a interdependência daspartes do sistema social, o funcionalismo visa explicar osfenômenos sociais sob o ângulo de sua "função" ou con-tribuição para a existência e sobrevivência do conjunto.Diferentemente do modelo analítico causal, o funciona-lismo pressupõe os princípios da interação e interdepen-dência como processos sociais básicos, afastando-se assimdo modelo causal-linear clássico das ciências exatas.

Em suas grandes linhas, o funcionalismo parte de umavisão evolucionista, considerando a transição do físico-or-gânico-humano como um contínuo de caráter universal,enquanto a história representaria as fases de ajustamentoou de adaptação "funcional" da espécie humana ao seumeio-ambiente. Em determinado momento desse proces-so, surge a estratificação social, conseqüência da divisãosocial do trabalho, a qual, gerando a necessidade de fun-ções políticas, resulta na formação da burocracia, expres-são máxima da ordem social.

Visto sob este prisma, o funcionalismo se apresentacomo uma teoria sociológica conservadora, preocupadocom a manutenção do equilíbrio social, de acordo com as"leis" inerentes ao sistema.

Não é aqui o lugar para entrar na análise das contri-,buições distintas feitas por autores como Durkheim - quedistingue entre "função" e "causa"; Malinowski - princí-pio da satisfação de necessidades primárias e secundárias;.Merton - que chamou a atenção para as funções manifes-tas e latentes e, sobretudo, para as disfunções perceptíveisnos sistemas; Kings1ey Davis, Radc1iffe-Brown e muitosoutros.

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O exemplo talvez mais perfeito do caráter ideológicoe conservador do funcionalismo e de qualquer teoria"científica" sistêmica encontramo-lo em T. Parsons.

Em seu "sistema social" por analogia ao orgânico,existe, como pressuposto, uma ordem natural, regida por"leis" que tornam o funcionamento e mesmo, inclusive, asmudanças sociais previsíveis e controláveis.

Sem querer negar o valor "heurístico" do modelofuncionalista, somos levados a indagar: estamos diante deuma descrição indiscutível e real do mundo social ou esta-ríamos apenas lançando mão de um parâmetro artificial edeliberado, cuja validade e utilidade não podem ser admi-tidose priori?

Ademais, sistemas sociais não têm necessidades, obje-tivos, requisitos ou motivações, mas os indivíduos e osgrupos sociais os têm! Não podemos, tampouco, observara "estrutura" social e ao observarmos seu "funciona-mento" verificamos que nem todas as ações e atividadesde Seus membros são orientadas para a manutenção e so-brevivência do conjunto! No fundo, o funcionalismo co-mo teoria "científica", embora pretenda ser política eideologicamente neutra, não passa de uma justificação dostatus quo, como tal, perfeitamente aceitável tanto peloregime capitalista quanto pelo "socialista".

Como instrumento de análise, supervaloriza o equilí-brio, a unidade e o consenso entre os elementos do con-junto - as classes sociais - o que o torna incapaz deexplicar o porquê das mudanças no sistema social.

Negligenciando os aspectos mais sérios e profundosdas transformações sociais, o funcionalismo como doutri-na convém aos detentores do poder, àqueles que definem"como o sistema deve ser", e quais as mudanças desejáveise permitidas.

Também na teoria geral de sistemas encontramos ca-racterísticas análogas àquelas verificadas no funciona-lismo: à visão "gestáltica" (Von Bertalanffy) e à aborda-gem "holfstica" de um conjunto composto por partes in-ter-relacionadas, podemos acrescentar o isomorfismo, ouseja, as similaridades estruturais, responsáveis pela sujeiçãode todos os sistemas aos mesmos padrões e leis de organi-zação (J. W. Forrester), e a tendência ao mesmo estadofinal. A manutenção do equilíbrio do sistema seria assegu-rada mediante mecanismos de retroalimentação e de auto-regulagem, os quais controlariam as funções das partes eevitariam, assim, a destruição do conjunto.

Novamente, poder-se-ia perguntar: os sistemas têmexistência real ou se trata de um expediente heurístico?Empiricamente, parece duvidosa a demonstração da exis-tência de um sistema ou mesmo de suas características já,assinaladas. Se é possível verificar-se a ocorrência de certasrelações, mais ou menos regulares, de elementos contidosnum conjunto, isto não implica a existência de leis sístê-rnicas gerais e uniformes.

Surgida como reação ao empirismo exagerado e aodeterminismo causal, a teoria de sistemas oferece aparen-temente uma visão prática e objetiva da realidade, paraquem procura atuar dentro da estabilidade e através da

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manutenção dos padrões de operacionalidade do conjun-to.

A aceitação do modelo foi facilitada pela adesão entu-siasta dos tecnocratas que encontraram na descrição empí-rica minuciosa das partes do sistema um substituto para obaixo grau de confiabilidade no acerto das predições quan-to à evolução global do mesmo. Por outro lado, a burocra-cia estatal, cada vez mais poderosa, necessita de uma "teo-ria" para fundamentar e aprovar uma gama crescente deintervenções e atividades na vida econômica, sociopolíticae cultural. Essa teoria legitimadora deve abstrair-se de va-lores e estar acima dos conflitos de interesses e pressõesgrupais; enfim, deve cobrir-se com o manto da neutrali-dade e racionalidade "científica" a fun de escapar do crivoda avaliação pelos critérios de custo/oportunidade e decusto social.

Dando ênfase, ainda com maior rigor do que ao fun-cionalismo, "à necessidade daquilo que é", o sucesso dateoria de sistemas como base e instrumento do planeja-mento estava plenamente assegurado.

Nas ciências sociais - economia, sociologia, política epsicologia - a teoria dos sistemas teve acolhida rápida efácil. Mostrava-se útil e até certo ponto eficaz na definiçãoe no tratamento de problemas da produção, da organiza-ção do espaço, da política monetária etc. Seus maioressucessos, todavia, o modelo e a análise sistêmicos, foramobtidos através da pesquisa operacional, durante a guerra,na programação e execução 4e ações bélicas. Dispondo docontrole praticamente total dos recursos, manipulando onúmero de variáveis limitado e tendo os objetivos clara-mente definidos, a análise sistêmica tornou-se um instru-mento terrivelmente eficaz nas mãos dos estados-maioresdas Forças Armadas.

As condições operacionais de análise sistêmica sãobem mais complexas ao nível da vida sociopolítica, emque se lida com conceitos e símbolos abstratos e intangí-veis, o que torna difícil e até inexeqüível a passagem demodelos mecanicistas para o planejamento eo controle docomportamento social. Este, por sua variedade e comple-xidade, simplesmente não- pode ser reduzido a uma "di-mensão" da racionalidade sistêmica "científica" ou, emoutras palavras, a sociedade não pode ser administrada deacordo com os padrões e normas de quaisquer projetostécnicos ou econômicos.

Diante das dificuldades em explicar os fenômenos davida social mediante a análise sistêmica, seus protagonistasrecorrem à caracterização da sociedade como sistema"aberto", capaz de dar conta da dinâmica e das mudanças,evitando ao mesmo tempo a entropia e decadência dosistema. Em alguns "modelos de desenvolvimento" apre-sentados pelos economistas, pressupõe-se mudança cons-tante, crescimento, expansão e/ou decadência do sistema ede suas partes componentes. Contudo, quanto mais mu-danças sociais são integradas no modelo, mais este se afas-ta das premissas básicas de equilíbrio, conjunto fechado,auto-regulado e retroalimentado, que o caracterizam e di-ferenciam de outras abordagens.

Despojada de seus mitos, a análise de sistemas revela-se como mais uma técnica burocrática para solucionar pro-blemas, inclusive os de ordem social e política, tornando-se assim uma forma de controle sociopolítico mais oumenos velado. Ao aceitar a análise de sistemas como méto-do fundamental no trato de problemas sociais, estes so-frem uma redefinição, a fun de serem submetidos a equa-ções técnico-matemáticas, cuja eficácia é extremamentelimitada quando aplicadas aos fenômenos sociais, produ-zindo, na melhor das hipóteses, mais descrições do queexplicações válidas e operacionais.

Quanto mais se adota o tratamento "técnico-científi-co" de causa pública, mais acentuada se torna a pressãodos tecnocratas no sentido de eliminar-se a discussão polí-tica e a confrontação pública de valores e objetivos sociais.Mas é no emprego da análise de sistemas na futurologiaque se revela de forma clara e insofisrnável sua caracterís-tica de instrumento de dominação. Combinando a aborda-gem sistêmica com as técnicas de extrapolação e projeção,as previsões e diretrizes dos "cientistas" se transformamem selffulfüling prophecies sacralizadas pela "neutrali-dade e racionalidade" da ciência.

Mas foi no campo do planejamento urbano, regional enacional que a teoria dos sistemas teve seu sucesso maismarcante como "metodologia" predileta na análise e solu-ção dos problemas enfrentados pelo poder público. Suaabordagem técnica, baseada em premissas e conclusões de-rivadas de outras áreas de conhecimento, parecia qualifi-cá-Ia como instrumento poderoso e eficaz no equaciona-mento dos problemas da grande aglomeração urbana, taiscomo habitação, transportes, abastecimento, segurançapública etc. Operando com base numa teoria de cidade co-mo um sistema composto por uma série de subsistemas eempregando técnicas quantitativas e modelos de simula-ção, a abordagem sistêmica tornou-se rapidamente a meto-dologia mais importante nos programas de formação etreinamento dos planejadores. Confrontada com os méto-dos usados anteriormente, uma mistura improvisada deJeoria psicológica aplicada, de sofisticação política e dept:átic~ econômicas elementares, a análise de sistemas pa-rece atender, da melhor e mais completa forma, aos requi-sitos de rigor científico, de racionalidade e de neutralidadepolítica. Entretanto, uma análise mais crítica da teoria eda prática sistêmicas revela claramente a presença de juí-zos de valor no desenho e na formulação dos "sistemas",não se processando a seleção dos valores por critérios"científicos", apesar de toda a retórica sobre a "efi-ciência". Em conseqüência, os objetivos dos sistemas sãoderivados dos interesses de autoridades específicas que,geralmente, desconhecem ou não consideram a naturezaproblemática da satisfação subjetiva e seu condiciona-mento social.

A quantificação de variáveis e a simulação de si-tuações sociopolíticas reais em laboratórios parecem deeficácia limitada ao planejamento social, sem querer negarcompletamente o valor heurístico da análise sistêmica. Po-:rem, deve ficar claro que esta não reproduz, de maneira

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alguma, uma qualidade ou característica fundamental davida e, sim, representa um instrumento, uma técnica que,por analogia, transfere parâmetros e modelos de uma es-trutura inorgânica e não-humana para os aspectos e pro-blemas sociais, com reforço de uma filosofia "funciona-lista" subjacente.

Em resumo, a abordagem sistêmica destaca-se e é pre-ferida, mais do que por suas funções cognitivas, pelo pres-tígio e poder que confere aos planejadores e tecnocratas.

Em oposição aos outros métodos usados no planeja-mento, considerados intuitivos e pouco exatos, a análisesistêmica dá ênfase à quantificação e à manipulação, dedados por meio de modelos matemáticos, o que permitiriamaior grau de previsão e predição. Uma das conseqüênciasinelutáveis desse enfoque, atribuindo a responsabilidadedas decisões àqueles que são detentores exclusivos doknow-how técnico-científico, é a concentração do con-trole sobre decisões e aplicações de recursos nas mãos dostecnocratas, cuja atuação tende a ofuscar os problemassociais reais, usando o jargão da expertise técnica.

A rigor, o prestígio da teoria de sistemas entre osplanejadores e tecnocratas não pode ser atribuído a seusaspectos humanísticos ou a seu valor como modelo tOO-rico, Ao contrário, sua atração reside nas característicastécnicas e seus aspectos políticos conservadores, que abs-traem ou negam simplesmente o significado do conflitocomo processo fundamental da vida social.

Não se pode negar que o grau de integração socialvaria de um sistema para outro e que as sociedades primiti-vas são mais integradas e mudam menos rapidamente doque as mais complexas.

Mas, a partir do pressuposto de que consenso e inte-:gração fossem conceitos sinônimos, ou, pelo menos, empi- .ricamente relacionados e, assim, também coerção e confli-to, foram elaborados dois modelos distintos e antagônicos,da sociedade. O modelo de "consenso" atribui aos siste-mas sociais as características de coesão, solidariedade, reci-procidade, cooperação, estabilidade e persistência, en-quanto o de "conflito" lhes atribui as características dehostilidade, coerção, má integração e mudança. O pri-meiro dá ênfase à significação das normas sociais e dalegitimidade, enquanto o segundo indica a importânciados interesses e do poder.

Críticos das teorias dualistas! apontam que certas ca-racterísticas dos dois modelos não são mutuamente exclu-sivas; consenso não significa necessariamente oposição àmudança, e o uso do poder coercitivo pode inibir ou retar-dar o processo de mudança.

A associação entre as diversas características dos res-pectivos modelos pode ser atribuída mais a inclinaçõesideológicas do que às observações empíricas "objetivas"dos cientistas sociais. Os sociólogos do século XIX esta"vam muito preocupados com o conflito e seu papel nastransformações sociais, enquanto a maioria dos sociólogosdo século XX trataram preferencialmente da coesão e per-sistência dos sistemas sociais, negligenciando tanto o con-flito quanto a mudança.

Revist« de Administração de Empresas

Por maior que seja a coerência interna de cada um dosmodelos descritos, sua operacionalidade, ou seja, seu po-der de análise e explicação de processos sociais reais élimitado, conforme tentaremos demonstrar em seguida.

5. URBANIZAÇÃO COMO PROCESSODE MUDANÇA SOCIAL

A natureza e o crescimento das cidades ocupam um espa-ço importante nos debates sobre mudança social. Na maio-ría dos trabalhos sobre urbanízaçãof é destacada a ten-dência à concentração da produção e dos serviços em cida-des-primatas ou metrópoles, no decorrer do processo decrescimento econômico. O crescimento mais do que vege-tativo das cidades é considerado vantajoso, por possibilitar'a realização de economias de escala e o oferecimento detoda uma gama de serviços técnicos, sociais e culturais queseria difícil, senão impossível, encontrar nas aglomeraçõesurbanas menores do interior do país.

Sendo considerado, portanto, como um processo na-tural e inevitável, pouca atenção é dispensada às disfun-ções das grandes aglomerações metropolitanas e aos pro-blemas decorrentes dos desequilíbrios regionais e sociais,tais como o subemprego e a marginalização de amplascamadas da população "urbanizada".

As críticas e objeções a essa política de urbanizaçãosão minimizadas ou afastadas com a invocação economi-,cista de que não se pode dividir o bolo antes de ser feito -portanto, crescer e multiplicar é a palavra de ordem. Asdisfunções serão corrigidas no decorrer do próprio proces-so e aqueles que arcam com o ônus do crescimento caó-tico serão posteriormente recompensados.

Não pretendemos discutir aqui os limites humanosdos sacrifícios exigidos e os prazos da compensação. Ver-dade é que, nos períodos de expansão econômica, os sacri-fícios são exigidos em nome da aceleração do processo(fazer o bolo crescer mais rapidamente), enquanto que nosmomentos dramáticos de recessão econômica, faltarão osrecursos para atender às necessidades das camadas da po-pulação menos privilegiadas.

Essa visão evolucionista da urbanização, cujos parâ-metros foram calcados nos modelos norte-americano e eu-ropeu das cidades, é irrelevante e até prejudicial à compre-ensão da situação dos países em desenvolvimento, porquetransfere uma problemática vivida em época, lugares econdições históricas diferentes, para as circunstâncias es-pecíficas e inéditas das cidades nos países em desenvolvi-mento. Ignorando a unicidade cultural e apoiando-se emparadigma ultrapassado, segundo o qual "o país maisadiantado mostra o caminho ao atrasado", a visão evolu-cionista da urbanização é falha porque localiza os proble-mas em sociedades' específicas, em vez de considerar arede de relações e interações de cidades, regiões e nações,com potencial econômico e poderio militar diferentes.

Tanto a perspectiva teórica européia, que pesquisa eanalisa o processo de urbanização a partir de suas origens

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históricas, na cidade medieval e pré-industríal.I quanto anorte-americana, que se concentra no estudo das modifica-çõesespacíais nas cidades industriais do século XX, sãopouco adequadas para a compreensão da dinâmica das"metrópoles incompletas't" semi-industrializadas e carac-terizadas por subemprego e marginalidade de grandes con-tingentes populacionais, nos países em desenvolvimento.

Confirmando a permeação dos próprios conceitos porvalores, as definições do processo de urbanização são for-muladas ora em termos demogrãfícos - número e densi-dade de habitantes em determinada área - ou por mode-los geográfíco-espacíaís; ora por modelos econométricosque, na melhor das hipóteses, conduzem à coleta de dadose indicadores para fins administrativos.

Durante o maior período na história do planejamentourbano moderno, prevaleceu a crença de que a organi-zação física do espaço teria efeito direto sobre o compor-tamento humano, o que conferiu aos arquitetos uma posi-ção privilegiada nos órgãos de planejamento, que começa aser disputada pelos arautos do determinismo econômico ..Contudo, a influência da abordagem físico-espacial conti-nua a permear a teoria e a prática do planejamento urba-no, como, por exemplo, no caso de "desenvolvimento decomunidade", em que os técnicos acreditam que bastariadelimitar por critérios geogrãficos o espaço, para se obtera "comunidade".

Para compreender melhor o significado da cidade, oumelhor, da vida urbana e dos tipos específicos de inte-ração social que ela gera, vejamos o que a teoria socioló-gica n~s apresenta, a este respeito.

As teorias sociológicas da urbanização enquadram-na;geralmente, num dos grandes modelos dualistas, elabo-rados e aplicados pela sociologia do desenvolvimento.-Assim, dicotomias como rural-urbano, tradicional-moder-no, .sagrado-secular etc., estão presentes na caracterizaçãoda urbanização, desde Spencer e Durkheim até Weber eParsons.ê Da mesma forma, porém, com que o dualismo éencarado pela sociologia do desenvolvimento, ou seja,duas posições polares e antagônicas de um processo evolu-cionista, assim, também, na sociologia urbana está subja-cente uma visão sistêmica e descritiva, que não chega aexplicar tendências e problemas da sociedade urbana.

Por mais minuciosa que seja a descrição das caracte-rísticas opostas dos respectivos modelos ou pólos, nenhu-ma chega a explicar as causas e a dinâmica da concentra-ção metropolitana, os custos sociais crescentes, apesar daseconomias de escala e, finalmente, as causas das tensões econflitos que ameaçam desintegrar as sociedades urbanas ..

Mas, adotando os modelos polarizados do desenvolvi-mento, e aplicando-os no estudo da urbanização, a partirda premissa de que o estabelecimento de. um contínuorural-urbano permitiria prever as tendências e a intensi-dade da mudança social, o dualismo assume característicasoperacionais e instrumentais do planejamento conven-cional, pois permite prescrever "o que deve ser".

6. TEORIA E PRÁTICA NO TRATAMENTODE PROBLEMAS URBANOS

Com o agravamento dos problemas que afligem as grandesaglomerações urbanas devido, em parte, ao crescimentopopulacional nas últimas décadas, foram feitas diversastentativas para aliviar as pressões e remediar os piores efei-tos da expansão desordenada das cidades.

Entre as técnicas mais apregoadas e aplicadas ultima-mente, encontramos o "desenvolvimento de comuni-dade". A característica distintiva dos programas de de-senvolvimento de comunidade estaria em sua ênfase na"auto-ajuda", estimulando os moradores dos distritos ebairros a participarem ativamente de empreendimentos co-letivos, que visam introduzir melhorias tanto no meio-am-biente físico, quanto nos serviços de saúde, educação, la-zer etc.

Novamente, parece fundamental fumar uma visãoteórica da problemática social, antes de se lançar em açõese programas que, embora de elevado custo monetário, sãode pouca efícãcía para atender às necessidades elementaresdas populações urbanas menos afortunadas.

A problemática das populações empilhadas nas áreasmetropolitanas, como toda e qualquer problemática so-cial, pode ser encarada sob duas perspectivas fundamental-mente diferentes: a de "consenso", segundo a qual todosos processos tenderiam para um equilíbrio harmonioso e.natural, e a de "conflito", aberta e atenta às contradiçõese divergências de interesse, como dinâmica da vida social. Aprimeira visão, sem dúvida, ingênua e conformista, leva àauto-restrição e submissão, enquanto a segunda tende agerar reivindicações e lutas políticas.

Cada teoria sociológica nos apresenta de forma explí-cita ou implícita a sua visão do homem como sujeito eobjeto da dinâmica social permitindo, assim, a avaliaçãode sua utilidade e conveniência como base para o planeja-mento. Em outras palavras, cada teoria pode ser avaliada.ipelo grau de liberdade que confere ao homem, como agen-te social consciente e transformador de suas condições deexistência.

As categorias de tipo ideal, que vão desde a ciênciapositivista, via funcionalismo e estruturalismo, até o hu-manismo, podem ser avaliadas e escolhidas pelos técnicose administradores, no planejamento e nas atividades dedesenvolvimento da comunidade.

O positivismo sociológico, calcado num determinismocientífico, procura formular princípios e hipóteses quanti-ficáveis e empiricamente verifIcáveis que possam levar àpredição e ao controle do porvir. Assim, por exemplo,explicando o comportamento humano a partir de disposi-ções inatas, passa a conjeturar sobre a estrutura social (asrelações sociais) à base da observação do comportamentoassim definido para chegar à conclusão sobre a necessidadede controle e de "orientação" do ser humano. 6

. ProcelllJO de urbanização

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A teoria sociológica interpretativa, por outro lado,rejeita a idéia de uma estrutura social monolítica comcaracterísticas deterministas do comportamento indivi-dual, e dá ênfase à intenção, às opções e à liberdade queconcorrem para a aprendizagem do significado dos objetose das situações. Em lugar de uma visão determinista dasociedade, com relações "existentes", a sociologia inter-pretativa insiste numa visão de relações sociais "criadas"pelo homem ativo, capaz de escolher, interpretar e criar, enão apenas reagir passivamente. 7

A premissa subjacente aos modelos sistêmicos e fun-cionalista é o "consenso" como princípio fundamental daordem social, dele se derivando parâmetros de "bem co-mum" e de "interesse público", que podem, por sua vez,funcionar como critérios para o planejador e o adminis-trador público. Estabelecido, assim, um acordo sobre osobjetivos mais importantes, passa-se à identificação tácitado consenso com eficiência e sistema democrático, emfranca oposição ao conflito como premissa operacional,sendo que as duas premissas diferentes levam, forçosa-mente, a definições diferentes do que seja um '''problemasocial".

Para um modelo funcionalista de análise e interven-ção, pressupondo a harmonia de interesses e eliminando aação espontânea e criativa dos indivíduos, os problemassão resolvidos por ajustamentos e acomodação, o que exi-ge medidas burocráticas.

A abordagem interpretativa define como problema so-cial a situação de determinados grupos em relação a outrose encara o recurso ao "interesse público" como instru-mento de manipulação, em função dos interesses dos gru-pos dominantes. Portanto, as autoridades ou os detentoresdo poder, mais do que resolvem, "definem" o que é ounão é problema social, com a conseqüente alocação derecursos humanos, financeiros e materiais para as áreas esetores, definidos como "problemáticos".

22 7. ALGUMAS IMPLICAÇÕES PARA APESQUISA SOCIOLÓGICA, O PLANEJAMENTOE O DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE

No elenco das técnicas de pesquisas sociológicas, o survey(levantamento) ocupa lugar de destaque pela preferênciacom que a ele recorrem os pesquisadores a serviço de pla-nejamento. Por lidar com grande número de casos e empre-gar como sistema básico de inferência a análise multívaria-cional e outras técnicas quantitativas, o levantamento éconsiderado quase equivalente à experimentação nas ciên-cias naturais. Todavia, à falta de hipóteses teoricamentefundamentadas, corre-se o perigo de obter resultados maisexatos do que significativos, a menos que se suponha: tam-bém, que os fatos são "auto-explicativos".

Os usos e abusos do survey como técnica auxiliar noplanejamento são freqüentes, especialmente quando reali-zados para confirmar ou negar hipóteses, previamente for-.muladas pelos planejadores e administradores, sobre "o

Revista de Administração de Empresas

que a população quer". Em vez de tentar saber se as pes-soas valorizam seu meio-ambiente e em que termos o fa-zem, o survey torna-se instrumento de promoção de obje-tivos e programas presumidos pelos planejadores como ne-cessários e desejados.

Não se pretende com isto negar a utilidade do survey,contanto que se defina claramente sua função explorató-ria, de procurar insights e de estabelecer prioridades (quenão são idênticas às necessidades da burocracia). Apenas, épreciso expor e esclarecer previamente as premissas teó-ricas que o orientam, sob pena de ignorar ou encobrir asprojeções ideológicas do sujeito-autor da pesquisa.

Nas duas últimas décadas, e em oposição ao planeja-mento burocrático-autoritário, surgiram tentativas basea-das na "participação" e no envolvimento das pessoas,antes passivas, na definição dos problemas do planeja-mento e na equação das soluções mais apropriadas."

. Face à crise do planejamento tradicional e à ameaçada programação de esquemas de "ação direta", como asinvasões de áreas ou conjuntos habitacionais pelos fave-lados, apareceu primeiro o advocacy-planning, pouco efi-caz, porém sustentado, durante algum tempo, por profís-.sionais competentes e honestos, desejosos de melhorar asorte dos menos afortunados, nas aglomerações urbanas. Ainocuidade da ação dos modernos narodnikis9 favoreceu aemergência de diversos esquemas de "participação", entreestes o "desenvolvimento de comunidade". Parecia umaresposta adequada à situação de impasse, despertando nopúblico a impressão do interesse dos planejadores nos va-lores sociais de representação e participação, abrindo-lhe aIpossibilidade de concorrer na definição dos principais pro-blemas e prioridades do planejamento.

Entretanto, a viabilidade de qualquer uma dessas téc-nicas de planejamento dependerá, basicamente, do contex-to social, da relação de forças e de grupos de pressão, emque for inserida. Em outras palavras, as coordenadas socio-políticas podem tornar em técnica manipulativa o "desen-volvimento de comunidade", levando-o a defender os mes-mos interesses e a apoiar os mesmos projetos do planeja-mento tecnoburocrático. Apenas, em vez de medidas im-positivas, procurar-se-á "educar" o povo para as posiçõesoficiais dos planejadores, baseadas em modelos de "con-senso" e de cientificismo econômico-espacial.

Assim, o problema fundamental do planejamento ur-bano parece resumir-se na seguinte indagação: quem terápoder para definir quais sejam os problemas mais urgentese, portanto, para decidir sobre a alocação e o controle dosrecursos disponíveis?

Assim, à guisa de conclusão deste ensaio, somos leva-dos a tecer algumas considerações sobre as relações depoder e sua relevância para o "desenvolvimento de comu-nidade".

A noção de "comunidade" tem papel fundamental noplanejamento, porque se baseia, por um lado, em modeloe fílosofía de "consenso", ou seja, uma visão do mundo eda sociedade, como "deviam ser" e, por outro lado, legiti-ma um modelo paternalista do processo decisório.

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'Não é de estranhar, portanto, que todas as teorias dasociologia urbana tradicional valorizem os contatos primá-rios e pintem uma imagem idealizada da comunidade ru-ral, à semelhança do paraíso do qual fomos expulsos, pelopecado da urbanização. Os planejadores, especialmenteaqueles com formação em arquitetura e urbanismo, ciên-cias sociais e serviço social absorveram essas noções ro-mânticas, que passaram a servir de apoio às posições con-trárias à urbanização e à sociedade urbana. 1o

A sociologia formal e clássica define e caracteriza acomunidade pelo tipo de relações sociais que ocorreriamem áreas pequenas, geograficamente limitadas. Nessas, oscontatos sociais mais importantes são de alcance local; aspessoas compartilham das características e costumes so-ciais mais importantes, dos quais resultaria um consensoquanto aos objetivos e valores fundamentais - no sentidoda "solidariedade mecânica" de Durkheim - entre osmembros do grupo. Ao nível teórico, o esquema é expli-cado pelos contatos primários, face-a-face, que levariam àamizade, coesão política e, eventualmente, ao consensodemocrático. Ao nível empírico, procede-se da convicçãode que a proximidade física de um certo número de pes-soas, por exemplo, um conjunto de moradores numa mes-ma vila ou distrito, seria condição suficiente para criar aunidade social básica - a comunidade. Concretamente, aaplicação prática dessa visão consensual da comunidadeleva à definição e delimitação da vizinhança como unidadebásica do planejamento urbano, na crença de que a solida-riedade social seria originária e genuína na pequena comu-nidade rural.

Também, a maior parte dos estudos sociológicos decomunidades, a partir dos parâmetros do modelo funcío-nalista, a elas se referem mais como unidades culturais, dasquais são ignoradas as condições políticas de sua exis-tência, incluindo as possibilidades de conflitos inter eintragrupais.

Quais seriam, então, as implicações de uma visão maisrealista da comunidade - um grupo unido por objetivos easpirações comuns, em conflito com outros grupos - parao planejamento e o desenvolvimento da comunidade?

Partimos de um truísmo, porém não facilmente admi-tido pelos cultores do cientificismo, de que o planeja-mento, em suas mais variadas facetas, é um processo polí-tico, onde o fator determinante da definição dos "pro-blemas" e da decisão sobre as "soluções" é a parcela dopoder detida pelos respectivos grupos sociais. Em outraspalavras, o uso do poder introduz um viés nas formulações"científicas", na racionalidade técnica e na neutralidadepolítica do planejamento urbano, metropolitano e regional.Definindo o que é e o que não é problema para a adminis-tração pública, a distribuição diferencial do poder limita agama das opções e, conseqüentemente, das decisões rele-vantes e praticáveis. Na ponderação real do peso do podernas decisões referentes à alocação de recursos para so-lucionar os "problemas", mesmo num sistema formal-mente democrático, é preciso convir que ao planejadorcabe, na melhor das hipóteses, o papel de "corretor do

possível", assim definido pelos que detêm o comando doprocesso político.

Aqui nos defrontamos com o problema fundamentalda posição do planejador na teia das relações sociais e quevolta à tona em todos os congressos e debates dessa cate-goria profissional. Por um lado, ele é solicitado e pressio-nado a reduzir burocraticamente a heterogeneidade e asdiferenças de necessidades e aspirações da população urba-na ou metropolitana, a fím de tomar mais eficaz a admi-nistração e de reforçar o controle social. Por outro lado,ele é comprometido por formação, fílosofía e, às vezes,por convicção à base da experiência profissional, a con-ceder maior participação - em oposição ao gerencialismoburocrático - à população envolvida pelos planos e proje-tos.

Para escapar da situação conflitante e abrir caminhospara uma atuação mais significativa, os planejadores de-vem, como primeiro passo, rejeitar a ideologia anti-urbanae, ao mesmo tempo, deixar de idealizar a pequena comuni-dade rural. A crença, segundo a .qual, o rural seria a formanatural e sadia da vida, enquanto a cidade, artificial edegenerada, seria o viveiro de todos os vícios, leva os pia-nejadores formados em urbanismo e ciências sociais e polí-ticas a preocuparem-se, predominantemente, com a confi-guração física do espaço, baixa densidade populacional e,eventualmente, descentralízação da estrutura produtiva.

Ao observador mais arguto não escapará, todavia, quea realidade nua e crua apresenta os mesmos problemasbásicos nas áreas urbanas e rurais, ou seja, a manipulaçãodas pqpulações por organizações burocráticas onipotentes,as desigualdades gritantes e a falta de acesso a oportuni-dades dt; educação, de emprego melhor remunerado e aÍnarginalização das posições de mando, nas respectivas so-ciedades.

Por motivos os mais variados, cuja discussão não cabeaqui, os planejadores preferem diagnosticar e discursar so-bre a desorganização do espaço físico-geográfico: a favela,os bairros de pobreza, a situação calamitosa dos transpor-tes, a falta de infra-estrutura de saneamento básico são ostemas prediletos em todos os planos urbanísticos básicos,integrados etc. Contudo, e mais uma vez, é a estruturainstitucional - o mercado de trabalho, os salários, a distri-buição da renda e os canais de informação e participaçãopolítica - que não funciona e, portanto, devia merecer oscuidados e o interesse prioritários dos técnicos em planeja-mento e dos administradores públicos.

Em conclusão, ao tentarmos avaliar as potencialidadese limitações do "desenvolvimento de comunidade" comotécnica de solução para os problemas das populações resi-dentes nas cidades e no campo, convém lembrar o se-guinte:

1. A experiência de satisfação e bem-estar social e indivi-dual na "comunidade" não precisa estar, necessariamente,relacionada com o padrão abstrato de qualidade' de habi-tação ou do meio-ambiente físico. O papel do fator espa-cial só pode ser compreendido à luz de seu significado na

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.ínteração social dos grupos populacionais que, por sua vez,é determinada por valores sociais e culturais.

2. A intervenção planejada de "desenvolvimento de co-munidade", por melhor intencionada, quando não sufi-cientemente lastrada em premissas teóricas depuradas daideologia do "consenso", pode levar à frustração e à auto-restrição das reivindicações participatórias, por ignorar ascondições estruturais das desigualdades e desequilíbrioseconômicos, sociais e políticos.

3. Finalmente, é preciso reexaminar criticamente as pre-missas da teoria política subjacente a certas técnicas deplanejamento, inclusive o "desenvolvimento de comuni-dade". Postular que o poder político esteja distribuído,mais ou menos uniformemente; que não estaria, porém,sendo ativado por motivos de apatia, 'ignorância ou desin-teresse de certas camadas da população parece ingênuo ecarente de comprovação empírica, embora tais argu-mentos sejam usados para justificar e legitimar o "desen-volvimento de comunidade".

Importa reconhecer e admitir a heterogeneidade con-flitiva de interesses e aspirações numa sociedade de classes,o que torna difícil, senão inviável, uma situação de "bem-estar comum" ou a satisfação das necessidades de todos.

Admitir que o resultado provável de qualquer inter-venção dirigida no processo de mudança social - planeja-mento, desenvolvimento de comunidade etc. -'- será umjogo de soma zero, talvez seja doloroso e cause desconfor-to, pois tiraria do planejador e tecnocrata o manto daracionalidade científica e o véu da neutralidade política .•

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