linhas de transmissão

40
1 PROGAGAÇÃO EM LINHAS DE TRANSMISSÃO 1 - Definição: Linhas de transmissão (LT) são dispositivos usados para a transmissão de sinais (informação) ou de energia através da propagação guiada de ondas eletromagnéticas. 2 - Tipos de Linha de Transmissão (exemplos): Exemplo: Transmissão através de um cabo coaxial. 3 - Teoria de Circuitos × Teoria de Linhas de Transmissão Exercício: Calcular a tensão na carga para: a) l = 5 m e f = 60 Hz; b) l = 1000 km e f = 60 Hz; c) l = 5 m e f = 10 MHz. Considere que a onda eletromagnética de tensão se propaga sem atenuação e com v = 3×10 8 m/s. Linha bifilar Cabo coaxial Microfita (microstrip) v L (t)

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propagação em linhas de transmissão

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  • 1

    PROGAGAO EM LINHAS DE TRANSMISSO

    1 - Definio: Linhas de transmisso (LT) so dispositivos usados para a transmisso de sinais

    (informao) ou de energia atravs da propagao guiada de ondas eletromagnticas.

    2 - Tipos de Linha de Transmisso (exemplos):

    Exemplo: Transmisso atravs de um cabo coaxial.

    3 - Teoria de Circuitos Teoria de Linhas de Transmisso

    Exerccio: Calcular a tenso na carga para:

    a) l = 5 m e f = 60 Hz; b) l = 1000 km e f = 60 Hz; c) l = 5 m e f = 10 MHz.

    Considere que a onda eletromagntica de tenso se propaga sem atenuao e com v = 3108 m/s.

    Linha bifilar Cabo coaxial

    Microfita (microstrip)

    vL(t)

  • 2

    a) l = 5 m e f = 60 Hz:

    Por teoria de circuitos (diviso de tenso):

    .tf2cos5tvL

    Entretanto, o atraso de propagao introduz uma defasagem :

    m10560

    103

    f

    vcom,

    2 68

    o6

    600036,0rad1025

    105

    2

    Portanto: 0L 00036,0tf2cos5tv .

    b) l = 1000 km e f = 60 Hz:

    o6

    672rad

    5

    210

    105

    22

    Assim: 0L 72tf2cos5tv .

    c) l = 5 m e f = 10 MHz:

    m301010

    103

    f

    v6

    8

    o603

    530

    22

    Portanto: 0L 60tf2cos5tv .

    Concluso: A teoria de circuitos, que uma aproximao da teoria mais geral de Linhas de

    Transmisso, apresenta bons resultados somente quando l

  • 3

    4 - Parmetros Primrios de uma LT:

    R = resistncia srie por unidade de comprimento [/m] associada s perdas e s quedas de tenso ao longo da linha devidas s imperfeies nos condutores;

    L = indutncia srie por unidade de comprimento [H/m] associada s quedas de tenso ao longo da linha devidas ao fluxo magntico produzido pelas correntes nos condutores;

    G = condutncia paralela por unidade de comprimento [S/m] associada s perdas e s correntes de conduo entre condutores devidas s imperfeies no dieltrico;

    C = capacitncia paralela por unidade de comprimento [F/m] associada s correntes de deslocamento entre condutores devidas ao fluxo eltrico produzido pelas cargas neles.

    5 - Possveis Circuitos Equivalentes de um Segmento z de uma LT:

    6 Anlise de uma Linha de Transmisso:

    Usando o Modelo T no domnio da frequncia:

    Modelo T Modelo

  • 4

    LTK (lao externo):

    .0VVz2

    Lj

    2

    R)II(z

    2

    Lj

    2

    RIV SSSSSS

    Ou seja, .ILjR2

    1I)LjR(

    z

    VSS

    S

    Fazendo z 0, tem-se que IS 0. Assim, a taxa de variao da tenso com a distncia ao longo da linha dada por:

    .I)LjR(z

    VS

    S

    (1)

    A equao (1) mostra que a variao da tenso proporcional impedncia srie da linha e

    corrente nos condutores.

    LTK (lao interno):

    .0Iz)CjG(

    1z

    2

    Lj

    2

    RIV SSS

    Ou seja, .zILjR)CjG(2

    1V)CjG(

    z

    ISS

    S

    Fazendo z 0, obtm-se a taxa de variao com a distncia ao longo da linha:

    .V)CjG(z

    IS

    S

    (2)

    Como esperado, equao (2) mostra que a variao da corrente proporcional admitncia

    paralela da linha e diferena de potencial entre os condutores.

    A partir de (1) e (2), possvel obter uma equao nica em termos apenas de uma varivel (a

    tenso, por exemplo). Para isso, deriva-se (1) em relao a z:

    .z

    I)LjR(

    z

    V S2

    S

    2

    Utilizando (2), tem-se:

    .V)CjG)(LjR(z

    VS2

    S

    2

    (3)

  • 5

    A equao anterior uma equao diferencial linear a coeficientes constantes, a qual pode ser

    reescrita como:

    ,Vz

    VS

    2

    2

    S

    2

    onde:

    j)CjG)(LjR( (constante de propagao). (4)

    Solues de (3):

    z0S eVV onda de tenso se propagando no sentido +z (onda incidente)

    z0S eVV onda de tenso se propagando no sentido -z (onda refletida).

    Soluo completa:

    Como a equao linear, a soma de duas solues tambm uma soluo vlida. Assim:

    SSS VVV .

    Considerando uma linha sem reflexes )0V( S

    zjz

    0

    z

    0S eeVeVV (domnio da frequncia).

    No domnio do tempo:

    ).ztcos(eV)t,z(V z0

    (5)

    6.1 - Comparao das equaes das LTs com as equaes da O.P.U.:

    OPU

    LT

    ySxS Hjz

    E

    SS I)LjR(

    z

    V

    xS

    ySE)j(

    z

    H

    S

    S V)CjG(z

    I

    xS2

    xS

    2

    E)j(jz

    E

    S2

    S

    2

    V)CjG)(LjR(z

    V

    Desta forma, verifica-se que existe uma grande semelhana entre as equaes que regem a

    propagao numa linha de transmisso e as equaes que regem a propagao de uma onda plana

    uniforme.

  • 6

    6.2 - Analogia entre as grandezas:

    OPU

    ExS

    HyS

    LT

    VS

    IS

    L

    G

    C

    R

    Assim, as equaes e definies associadas s linhas de transmisso podem ser obtidas por

    analogia com as equaes obtidas anteriormente para as OPUs.

    OPU

    LT

    1 - Campo eltrico

    z

    0x

    z

    0xxS eEeEE

    1 - Tenso

    z

    0

    z

    0S eVeVV

    2 - Constante de Propagao

    j j j( )

    2 - Constante de Propagao

    j)CjG)(LjR(

    3 - Impedncia Intrnseca

    j

    j

    H

    E

    yS

    xS

    Para meios sem perda: /

    3 - Impedncia Caracterstica

    CjG

    LjR

    I

    VZ

    S

    S0

    Para linhas sem perda: C/LZ0

    4 - Campo Magntico

    z0xz0xyS e

    Ee

    EH

    4 - Corrente

    z

    0

    0z

    0

    0S e

    Z

    Ve

    Z

    VI

    5 - Velocidade de Fase

    fvf

    Para meios sem perdas: 1vf

    5 - Velocidade de Fase

    fvf

    Para linhas sem perdas: LC1vf

  • 7

    OPU

    LT

    6 - Coeficiente de Reflexo

    12

    12

    10x

    10x

    E

    E

    OI

    OR

    OT

    meio 1 meio 2

    1 - meio onde se propaga a onda incidente;

    2 - meio onde se propaga a onda transmitida.

    6 - Coeficiente de Reflexo

    0L

    0L

    0

    0

    ZZ

    ZZ

    V

    V

    +

    -

    VL ZLZ0(LT)

    Meio 1: linha Meio 2: carga

    0 - linha de transmisso;

    L - carga (ex.: antena, circuito receptor, etc.).

    7 - Coeficiente de Transmisso

    12

    E

    E

    12

    2

    10x

    20x

    7 - Coeficiente de Transmisso

    1ZZ

    Z2

    V

    V

    0L

    L

    0

    L

    8 - Coeficiente de Onda Estacionria

    1

    1

    E

    ESWR

    mnx

    mxx

    8 - Coeficiente de Onda Estacionria

    1

    1

    V

    VVSWR

    mn

    mx

    9 - Impedncia de Entrada (meio sem perda)

    121

    1121

    z1yS

    1xSin

    tgj

    tgj

    H

    E

    z z 0

    in

    1 2

    Meio 1 (sem perdas) Meio 2

    z

    9 - Impedncia de Entrada (LT sem perda)

    tgjZZ

    tgjZZZ

    I

    VZ

    L0

    0L0

    zS

    Sin

    ZL

    z = 0z = - Zin

    Z0

    Linha sem perdascarga

  • 8

    7 - Linha de Transmisso Sem Perdas:

    Uma linha sem perdas feita com condutores perfeitos (c ) e com dieltricos perfeitos (d = 0). Desta forma, tem-se: R = 0 e G = 0. Portanto:

    Constante de propagao: LCj 0 e LC (6)

    Impedncia caracterstica: C

    LZ0 . (7)

    Assim, para uma linha sem perdas, as ondas de tenso e corrente esto em fase (no tempo e no

    espao) e se propagam sem atenuao.

    8 - A Linha sem Perdas Terminada

    A figura abaixo mostra uma LT sem perdas, com impedncia caracterstica Z0, terminada numa

    carga arbitrria ZL, a qual pode representar uma antena transmissora, um circuito receptor, uma

    outra linha, um elemento localizado, etc.

    Coeficiente de reflexo: 0L

    0L

    inc

    ref

    ZZ

    ZZ

    V

    V

    (8)

    Coeficiente onda estacionria (VSWR): (VSWR = Voltage Standing Wave Ratio)

    1

    1

    VV

    VV

    V

    VVSWR

    refinc

    refinc

    min

    mx (1 VSWR < ) (9)

  • 9

    Mdulo da tenso ao longo da linha: (para Vinc = 1 V e = 0,3).

    Potncia refletida: inc2

    ref PP (10)

    Potncia transmitida carga: inc2Ltra P1PP . (11)

    8.1 - Definies adicionais:

    Perda por reflexo (reflection loss): 2tra

    inc 1log10P

    Plog10loss.ref

    [dB] (12)

    Perda de retorno (return loss):

    log20

    P

    Plog10loss.ret

    ref

    inc [dB]. (13)

    8.2 - Casos particulares:

    a) linha casada (sem reflexo): ZL = Z0

    = 0 VSWR = 1 ref. loss = 0 dB ret. loss =

    b) linha curto-circuitada (reflexo total): ZL = 0

    = -1 VSWR = ref. loss = ret. loss = 0 dB

    c) linha em aberto (reflexo total): ZL =

    = 1 VSWR = ref. loss = ret. loss = 0 dB

  • 10

    8.3 - Impedncia de entrada: razo entre os fasores tenso e corrente na entrada da linha.

    l

    l

    l

    tgjZZ

    tgjZZZ

    I

    VZ

    L0

    0L

    0

    z

    in (LT sem perdas) (14)

    Casos particulares:

    a) linha casada (ZL = Z0): L0in ZZZ

    b) linha terminada em curto-circuito (ZL = 0): l tgjZZ 0in (-j < Zin < j)

    c) linha terminada em circuito aberto (ZL = ): l

    tg

    jZZ 0in (-j < Zin < j)

    d) l = /2: l = (2/)(/2) = tg l = 0 Lin ZZ

    e) l = /4: l = (2/)(/4) = /2 tg l = L

    2

    0

    inZ

    ZZ (transformador de /4)

  • 11

    EXERCCIOS

    Exerccio 1: Uma linha de transmisso sem perdas (usada como fio de descida de antenas de TV) possui

    impedncia caracterstica Z0 = 300 . Em 82 MHz, o comprimento de onda na linha de 2 m. Calcular os valores de L e C (por unidade de comprimento) da linha.

    LT sem perdas: R = 0 e G = 0

    s/m1046,210823fLC

    1v 86f

    300C

    LZ0

    C

    1

    C

    L

    LC

    1Zv 0f

    3001046,2

    1

    Zv

    1C

    80f m/pF6,13C

    2122

    0 300106,13ZCL m/H22,1L .

    Exerccio 2: Em que condies uma linha de transmisso com perdas tem impedncia caracterstica real?

    jCG

    jLR

    C

    L

    jCGC

    jLRL

    CjG

    LjRZ

    0.

    Condio para Z0 real: C

    G

    L

    R (condio de Heaviside)

    Observao: Implicaes da condio de Heaviside:

    jCGLC)jCG(C)jLR(L)CjG)(LjR(

    LCjC

    LG .

    Portanto: RGG

    RG

    C

    LG

    LC LC

    1vf

    .

  • 12

    Desta forma, verifica-se que quando a condio de Heaviside obedecida, tanto a atenuao quanto a

    velocidade de propagao da onda na linha so independentes da frequncia. Portanto, neste caso, sinais com

    diferentes componentes de frequncia se propagam sem distoro.

    Em linhas telefnicas, de maneira geral tem-se que R/L >> G/C. Assim, a condio de Heaviside pode ser

    atendida aumentando-se artificialmente a indutncia distribuda da linha. Isso pode ser feito inserindo

    bobinas regularmente espaadas ao longo da linha.

    Essa tcnica conhecida como pupinizao, em homenagem ao fsico srvio-americano Mihajlo Pupin, que a props em 1899. Atualmente, as linhas telefnicas transmitem sinais digitais, menos sujeitos a efeitos

    da distoro. Por conta disso, as linhas no so mais pupinizadas, pois a pupinizao diminui a largura de

    faixa do sistema, limitando as taxas de transmisso.

    Exerccio 3: Uma linha com Z0 = 50 alimenta uma carga composta por um resistor de 20 em srie com um capacitor C, produzindo um coeficiente de onda estacionria VSWR = 4. Se a frequncia de operao

    de 600 MHz, calcule o valor de C.

    41

    1VSWR

    53

    50jX20

    50jX20

    ZZ

    ZZ

    C

    C

    0L

    0L

    5

    3

    jX70

    jX30

    C

    C

    5

    3

    X70

    X302C

    2

    2C

    2

    C

    174,36XC

    CfX2

    1C

    pF2,7C .

  • 13

    Exerccio 4: Uma linha de transmisso sem perdas, com 2,0 m de comprimento, conecta uma antena a um

    receptor FM. A linha tem Z0 = 300 e vf = 2,5 108 m/s. A impedncia de entrada do receptor FM de

    300 e a antena receptora pode ser modelada por seu equivalente de Thvenin: fonte de tenso alternada com amplitude de 0,6 mV e impedncia interna de 300 , com f = 100 MHz. Determinar a tenso, a corrente e a potncia ativa (mdia): a) na entrada da linha; b) na carga.

    vg(t) = 0,6 cos(2 108t) [mV]

    Zg = ZL = Z0 = 300

    l = 2 m

    VS, IS, VL e IL fasores

    a)

    300Z

    tgjZZ

    tgjZZZ

    I

    VZ 0

    L0

    0L0

    S

    Sin l

    l (linha sem reflexo: 0L ZZ ).

    Circuito equivalente (visto pela fonte):

    Corrente: A010300300

    0106,0

    ZZ

    VI 06

    03

    ing

    g

    S

    At102cos1ti 8s

    Tenso: V0103,0010300IZV 0306SinS mVt102cos3,0tv 8s

    Potncia: 063

    SefSefSS0cos

    2

    10

    2

    103,0cosIVP

    pW150W105,1P 10S .

    b) Como no h reflexo (linha casada), h uma nica onda na linha, propagando-se da fonte para a carga.

    Uma vez que a linha sem perdas, essa onda sofrer apenas um atraso de fase ao longo do comprimento da

    linha.

    m/144m/rad8,0105,2

    102

    v

    0

    8

    8

    f

    ( = 0)

    Assim, a propagao ao longo dos 2 m da linha introduz um atraso de fase de 2 144 = 288. Portanto:

  • 14

    V288103,0V 03L mV288t102cos3,0tv 08L

    A28810I 06L A288t102cos1ti 08L

    063

    LefLefLL0cos

    2

    10

    2

    103,0cosIVP

    pW150W105,1P 10L .

    Como a linha sem perdas, a potncia na sada igual potncia na entrada ( SL PP ).

    Exerccio 5: Refazer o exerccio anterior supondo que a carga agora formada por dois receptores FM

    idnticos, cada um com impedncia de entrada de 300 , ligados em paralelo na sada da linha.

    vg(t) = 0,6 cos(2 108t) [mV]

    ZL = 300 // 300 = 150

    l = 2 m l = 288

    a)

    6,205j4,46679,2371,509

    )288(tg150j300

    )288(tg300j150300

    tgjZZ

    tgjZZZZ 0

    0

    0

    L0

    0L0in l

    l.

    Circuito equivalente (visto pela fonte):

    A02,151056,76,205j4,466300

    0106,0I 07

    03

    S

    A02,15t102cos756,0ti 08s

    V77,81085,302,151056,779,2371,509V 04070S mV77,8t102cos385,0tv 08s

    063

    SefSefSS79,23cos

    2

    10756,0

    2

    10385,0cosIVP

    pW133W1033,1P 10S .

  • 15

    Observa-se que a potncia que entra na linha menor do que no exerccio anterior. Isso ocorre porque

    antes se tinha mxima transferncia de potncia da fonte pra linha (Zin = Zg =300 ), o que no acontece no caso presente (Zin Zg). Alm disso, agora se tem duas ondas propagando-se na linha (uma da fonte para a carga e outra no sentido oposto). Assim, a tenso na entrada da linha corresponde soma das tenses das

    duas ondas em z = -l. e, do mesmo modo, a tenso na carga corresponde soma das tenses das duas ondas em z = 0. Por essa razo, no se pode usar o mesmo procedimento do exerccio anterior para calcular a

    tenso e a corrente na carga. Entretanto, como a linha sem perdas, tem-se:

    W1033,1PP 10SL .

    Como a carga puramente resistiva (real):

    L

    2

    efLL

    R

    VP

    rms410

    LLefLV1041,11501033,1RPV .

    Portanto: 4efLpicoL

    1041,12V2V mV2,0V picoL

    150

    102,0

    R

    VI

    3

    L

    picoL

    picoL

    A33,1I picoL .

    Neste caso particular, como a linha sem perdas, ainda foi possvel calcular os valores de pico da tenso

    e da corrente na carga. O equacionamento geral do problema ser feito na prxima seo.

    9 Forma Hiperblica das Equaes de Linhas de Transmisso

    O objetivo aqui o de fazer o equacionamento completo de um sistema que inclui uma linha de

    transmisso, a qual poder ser com ou sem perdas e estar ou no casada com a carga.

    9.1 Introduo: Antes de proceder anlise, ser apresentada uma breve reviso das funes hiperblicas.

    Definio: ee2

    1cosh (A)

    ee2

    1senh (B)

    cosh

    senhtgh . (C)

  • 16

    Identidades: 1senhcosh 22 (D)

    BsenhAcoshBcoshAsenhBAsenh (E)

    BsenhAsenhBcoshAcoshBAcosh . (F)

    Relao entre as funes circulares e as funes hiperblicas:

    jj ee2

    1cos (G)

    jj ee2

    1senj . (H)

    Comparando (A), (B), (G) e (H):

    cosjcosh (I)

    senjjsenh (J)

    coshjcos (K)

    senhjjsen . (L)

    Funes hiperblicas com argumento complexo:

    BsenAcoshjBcosAsenhjBAsenh (M)

    BsenAsenhjBcosAcoshjBAcosh . (N)

  • 17

    9.2 Equacionamento:

    Seja o sistema de transmisso:

    +

    VS -

    +

    V

    -

    ZL

    IL

    I

    +~-

    Vg

    Zg

    +

    VL -

    LT: Z0

    IS

    z = z = 0

    Na figura anterior, V e I representam, respectivamente, os fasores tenso e corrente num ponto

    arbitrrio da linha ( metros esquerda da carga). A tenso total em qualquer ponto a soma da tenso da onda incidente V

    + (que se desloca da

    fonte para a carga) com a tenso da onda refletida V- (que se desloca da carga para a fonte):

    z

    0

    z

    0 eVeVVVV . (15)

    O mesmo vale para a corrente:

    z

    0

    0z

    0

    0 eZ

    Ve

    Z

    VIII

    . (16)

    Em z = 0 (ou seja, na carga), tem-se que V = VL e I = IL. Portanto:

    00L VVV (17)

    0

    0

    0

    0L

    Z

    V

    Z

    VI

    00L0 VVIZ . (18)

    Fazendo (17) + (18) e (17) - (18), tem-se:

    2

    IZVV L0L0

    (19)

    2

    IZVV L0L0

    . (20)

  • 18

    Substituindo (19) e (20) em (15) e (16):

    zL0LzL0L e2

    IZVe

    2

    IZVV

    (21)

    zL0LzL0L e2

    IZVe

    2

    IZVI

    . (22)

    Para z = e rearranjando os termos:

    ee2

    1IZee

    2

    1VV L0L (23)

    ee2

    1

    Z

    Vee

    2

    1II

    0

    LL . (24)

    Usando as funes hiperblicas:

    )(senhIZ)cosh(VV L0L (25)

    )(senhZ

    V)cosh(II

    0

    LL . (26)

    As equaes (25) e (26) permitem calcular a tenso e a corrente em qualquer ponto da linha em

    funo da tenso e da corrente de carga.

    9.3 - Impedncia de entrada

    A partir das equaes (25) e (26), pode-se calcular a impedncia de entrada vista a partir de um

    ponto genrico da linha ( metros esquerda da carga):

    senhZ

    VcoshI

    senhIZcoshV

    I

    VZ

    0

    LL

    L0L

    z

    in , com LLL IZV .

    Dividindo numerador e denominador por cosh(), vem:

    )(tghZZ

    )(tghZZZZ

    L0

    0L0in

    (LT genrica). (27)

  • 19

    Para uma linha sem perdas ( je0 ):

    Neste caso, tem-se:

    )(jtg)cos(

    )(jsen

    )jcosh(

    )j(senh)j(tgh)(tgh

    .

    Portanto:

    )(tgjZZ

    )(tgjZZZZ

    L0

    0L0in

    (LT sem perdas). (28)

    Essa mesma equao j tinha sido obtida anteriormente usando a analogia entre a propagao das

    OPUs (em que o meio 1 era sem perdas) e a propagao nas linhas de transmisso.

    Para uma linha genrica sem reflexo (ZL = Z0): L0in ZZZ .

    9.4 - Tenso e corrente na carga a partir da tenso e da corrente na entrada da linha:

    O objetivo aqui calcular a tenso e a corrente na carga (VL e IL) a partir da tenso e da corrente

    na entrada da linha (VS e IS).

    Nas equaes (25) e (26), se corresponde ao comprimento total da linha, tem-se que:

    SL0L V)(senhIZ)cosh(VV (29)

    S

    0

    LL I)(senh

    Z

    V)cosh(II . (30)

    As equaes (29) e (30) representam um sistema linear com duas equaes e duas incgnitas (VL

    e IL), o qual pode ser facilmente resolvido para se obter:

    )(senhIZ)cosh(VV S0SL (31)

    )(senhZ

    V)cosh(II

    0

    SSL . (32)

    Obviamente, a corrente pode ser calculada mais facilmente usando a Lei de Ohm: L

    LL

    Z

    VI .

  • 20

    EXERCCIOS

    Exerccio 6: No Exerccio 5, calcular a tenso e a corrente na carga usando as equaes hiperblicas das

    linhas de transmisso.

    f = 100 MHz

    Z0 = 300

    ZL = 300 // 300 = 150

    )(senhIZ)cosh(VVS0SL

    Mas, do exerccio anterior: A02,151056,7I 07S

    V77,81085,3V 04S

    l = jl = j1,6 rad

    0288cos6,1cos)6,1jcosh()cosh( 0288senj6,1senj)6,1j(sen)(senh

    Portanto:

    )(senhIZ)cosh(VVS0SL

    )288(senj02,151056,7300)288cos(77,81085,3V 007004L

    V72100,2V 04L

    mV72t102cos2,0tv 08L

    A721033,1150

    72100,2

    Z

    VI 06

    04

    L

    LL

    A72t102cos33,1ti 08L .

    Verifica-se que os valores calculados concordam com os que foram obtidos no Exerccio 4.

  • 21

    Exerccio 7: Uma linha telefnica com = 100 km, Z0 = 685 j92 e = 0,00497 + j0,0312 Np/km em 1kHz, alimenta uma carga resistiva de 2000 . A fonte tem tenso de pico de 102 V e impedncia interna de 700 . Determinar:

    a) a tenso, a corrente e a potncia ativa na entrada da linha; b) a tenso, a corrente e a potncia ativa na carga.

    V0210V 0g

    Zg = 700

    ZL = 2000

    l = 100 km

    a) 00 65,715,69192j685Z

    Como a linha com perdas, tem-se que:

    )(tghZZ

    )(tghZZZZ

    L0

    0L0in

    ,

    com j52,3j497,0100)0352,0j00497,0(

    518,0497,0senhsenh

    126,1497,0coshcosh

    369,052,3sensen

    929,052,3coscos

    019,139636,0sencoshjcossenhjsenhsenh

    064,169063,1sensenhjcoscoshjcoshcosh

    0

    0

    0

    45,30598,064,169063,1

    19,139636,0

    cosh

    senhtgh

    .

    Assim,

    0

    00

    000

    in 48,2025,92045,30598,0200065,715,691

    45,30598,065,715,691200065,715,691Z .

  • 22

    Circuito equivalente (visto pela fonte):

    A65,111087,8

    48,2025,920700

    0210

    ZZ

    VI 03

    0

    0

    ing

    g

    S

    mA65,11t102cos87,8ti 03s

    V83,816,865,111087,848,2025,920IZV 0030SinS V83,8t102cos16,8tv 03s

    03

    SefSefSS48,20cos

    2

    1087,8

    2

    16,8cosIVP

    mW9,33PS .

    b) Tenso na carga: )(senhIZ)cosh(VVS0SL

    003000L 19,139636,065,111087,865,715,69164,169063,183,816,8V

    V87,15642,6V 0L V87,156t102cos42,6tv 03L

    A87,1561021,32000

    87,15642,6

    Z

    VI 03

    0

    L

    LL

    mA87,156t102cos21,3ti 03L

    03

    LefLefLL0cos

    2

    1021,3

    2

    42,6cosIVP

    mW3,10PL .

    Como a linha tem perdas, a potncia na carga menor do que a potncia na entrada da linha. A potncia

    total perdida ao longo da linha igual a 23,6 mW (PS - PL).

  • 23

    Exerccio 7: Uma linha de transmisso com Z0 = 683 j138 tem 200 km de comprimento e alimentada por um gerador senoidal com tenso de 10 Vrms e resistncia interna de 500 . A impedncia da carga igual impedncia caracterstica da linha e a constante de propagao = 0,0074 + j0,0356 Np/km. Determinar os valores eficazes da tenso e da corrente bem como a potncia mdia (ativa): a) na entrada da linha; b) na

    carga.

    rms0

    g V010V

    Zg = 500

    ZL = Z0

    l = 200 km

    a) Como a linha com perdas, tem-se que:

    )(tghZZ

    )(tghZZZZ

    L0

    0L0in

    .

    Mas a linha est casada com a carga (ZL = Z0). Nesse caso, tem-se:

    00in 42,118,696138j683ZZ .

    Circuito equivalente (visto pela fonte):

    rms03

    0

    0

    S A65,61040,842,118,696500

    010I

    rmsefS mA40,8I

    rms0030S V77,485,565,61040,842,118,696V rmsefS V85,5V

    03SefSefSS 42,11cos1040,885,5cosIVP mW2,48PS .

    b) Para calcular a tenso na carga, pode-se usar a equao (31). Entretanto, como neste caso a linha est casada, h apenas uma nica onda propagando-se na linha, da fonte para a carga. Por isso, a tenso na carga

    pode ser obtida mais facilmente a partir da tenso de entrada levando em conta a atenuao e o atraso de fase

    totais ao longo do comprimento da linha.

  • 24

    eVV SL

    12,7j48,102000356,0j0074,00L e77,485,5e77,485,5V

    rms0000L V72,5233,172,41233,195,407228,077,485,5V rmsefL V33,1V

    rms03

    0

    0

    L

    LL A30,411091,1

    42,118,696

    72,5233,1

    Z

    VI

    rmsefL mA91,1I

    03LefLefLL 42,11cos1091,133,1cosIVP mW49,2PL

    10 Npers e Decibis

    At aqui, a atenuao nas linhas de transmisso foi dada em npers por metro (Np/m).

    Entretanto, particularmente em linhas de transmisso usadas em telecomunicaes, mais usual

    exprimir a atenuao na linha em decibis por metro. O objetivo aqui de definir decibel e fazer a

    transformao de npers em decibis.

    10.1 - Definio de decibel:

    Na figura abaixo, o sistema representa um quadripolo qualquer (por exemplo, um amplificador,

    um filtro, um atenuador, uma linha de transmisso, etc.):

    Ganho em decibis:

    S

    L

    P

    Plog10)dB(G (33)

    Atenuao em decibis: )dB(GP

    Plog10)dB(D

    L

    S

    . (34)

    Por exemplo, se a potncia na sada for 1000 vezes maior que a potncia na entrada, tem-se que

    o ganho de 30 dB. Tambm, caso a potncia na sada seja 100 vezes menor que a potncia na

    entrada, a atenuao ser de 20 dB.

  • 25

    10.2 Atenuao numa linha de transmisso:

    Seja o sistema de transmisso de sinais:

    Zin = Rin + jXin

    ZL = RL + jXL

    Como a potncia ativa desenvolve-se apenas na parte real (resistiva) das impedncias, tem-se:

    L

    2

    L

    LL R

    Z

    V

    2

    1P e in

    2

    in

    SS R

    Z

    V

    2

    1P .

    Assim, a atenuao em decibis na linha de transmisso dada por:

    L

    2

    L

    L

    in

    2

    in

    S

    L

    S

    RZ

    V

    2

    1

    RZ

    V

    2

    1

    log10P

    Plog10)dB(D . (35)

    Para uma linha sem reflexo, tem-se que Zin = Z0 = ZL e Rin = RL. Assim, as potncias na entrada

    e na sada desenvolvem-se sobre impedncias de mesmo valor. Nesse caso, tem-se:

    L

    S

    2

    L

    S

    V

    Vlog20

    V

    Vlog10)dB(D . (36)

    10.3 Transformao de npers para decibis:

    Para uma linha sem reflexo, tem-se apenas a onda que se propaga no sentido fonte-carga, cuja

    amplitude sofre uma atenuao exponencial com a distncia. Assim, a amplitude da tenso na carga

    dada por:

    eVV SL . (37)

  • 26

    Atenuao em Npers:

    N NSL eVV . (38)

    Por exemplo, uma atenuao de 1 Np corresponde a uma reduo na amplitude da tenso por um

    fator e-1

    , 2 Np corresponde a uma atenuao da tenso por um fator e-2

    , etc.

    Atenuao em decibis:

    A partir de (36) e (37), vem:

    .elog20elog20eV

    Vlog20

    V

    Vlog20)dB(D

    S

    S

    L

    S

    (39)

    Ou seja,

    N686,8686,8)dB(D 686,8)dB(D

    . (40)

    Tem-se, portanto, que uma atenuao de 1 Np/m corresponde a uma atenuao de 8,686 dB/m.

    Dessa forma, a converso feita usando as equaes abaixo:

    m/dB686,8m/Np1 e m/Np1151,0m/dB1 . (41)

    Exerccio: Uma linha de transmisso com = 50 m, terminada em sua impedncia caracterstica, fornece 1250 W carga. Se a potncia na entrada da linha de 1600 W, determinar:

    a) o rendimento (eficincia) da transmisso; b) a constante de atenuao da linha; c) a relao entre as amplitudes da tenso no ponto mdio da linha e nos terminais de entrada.

    a) 1600

    1250

    P

    P

    S

    L %1,78781,0

  • 27

    b) dB072,11250

    1600log10

    P

    Plog10)dB(D

    L

    S

    .

    Assim, a atenuao por unidade de comprimento na linha de 1,072 dB/50 m = 0,02144 dB/m. Como

    no h reflexo, pode-se usar (40):

    686,8

    02144,0

    686,8

    )dB(D

    m/Np1047,2 3 .

    c) 2/SPM eVV 2/

    S

    PM eV

    V

    251047,2

    S

    PM3

    eV

    V 94,0V

    V

    S

    PM .

    11 Casamento de Impedncias

    A figura abaixo mostra um sistema de transmisso de sinais, incluindo dois dispositivos para

    adaptao de impedncias.

    Dispositivo de casamento 1: tem a funo de casar a linha com a carga, de modo a no haver ondas

    refletidas na linha de transmisso.

    Condio: Zin1 = Z0.

    Dispositivo de casamento 2: sua funo possibilitar a mxima transferncia de potncia da fonte

    para a entrada da linha e, consequentemente, para a carga.

    Condio: Zin2 = Zg*.

    Na prtica, os circuitos de transmisso so projetados para terem impedncia Zg com o mesmo

    valor da impedncia caracterstica da linha (Z0), o qual geralmente corresponde a algum valor

    padronizado (50 , por exemplo). Assim, o dispositivo de casamento 2 geralmente desnecessrio.

  • 28

    11.1 Exemplos de dispositivos de casamento

    a) Transformador de quarto de onda: segmento de uma linha de transmisso sem perdas, com

    impedncia caracterstica Z0' e comprimento ,4/' colocado entre a linha principal e a carga.

    preciso lembrar que o comprimento de onda no transformador de quarto de onda no igual ao

    comprimento de onda na linha principal, ou seja, ' . O comprimento do casador deve corresponder a um quarto do comprimento de onda nele prprio , conforme ser visto na sequncia.

    A impedncia de entrada do transformador de quarto de onda terminado na carga ZL dada por:

    L

    '

    0

    '

    0L

    '

    0

    L

    '

    0

    '

    0L'

    0in

    jZtg

    Z

    jZtg

    Z

    ZtgjZZ

    tgjZZZZ

    ,

    com 24

    '

    '

    2

    2tgtg .

    Assim,

    .Z

    )Z(

    Z

    ZZZ

    L

    2'

    0

    L

    '

    0'

    0in

    (42)

    Para no haver reflexo, necessrio que Zin = Z0:

    0

    L

    2'

    0 ZZ

    )Z( L0

    '

    0 ZZZ . (43)

    Portanto, a impedncia caracterstica do transformador de quarto de onda tem que ser igual

    mdia geomtrica entre a impedncia da linha principal e a impedncia de carga.

  • 29

    Exemplo: Projetar um transformador de quarto de onda para casar uma linha sem perdas, cujos parmetros

    primrios so L = 1,22 H/m e C = 13,6 pF/m, com uma carga resistiva de 560 .

    12

    6

    0106,13

    1022,1

    C

    LZ

    300Z0

    560300ZZZ L0'0 410Z

    '0 .

    Por exemplo, pode-se projetar a linha de transmisso a ser usada como transformador de quarto de onda

    de modo que seus parmetros primrios sejam L' = 2,05 H/m e C' = 12,2 pF/m ( 410'C'LZ '0 ).

    Caso a frequncia de operao seja de 100 MHz, o comprimento do casador calculado conforme abaixo.

    1268

    f

    102,121005,2104

    1

    'C'Lf4

    1

    f4

    'v

    4

    '

    m5,0 .

    Desta forma, um segmento de linha Z0' com l = 0,5 m, intercalado entre a carga e a linha principal, faz o casamento de impedncias na frequncia de 100 MHz.

    O transformador de quarto de onda tem duas limitaes principais:

    - o casamento s obtido numa frequncia nica. De fato, no exemplo acima, o perfeito casamento

    s obtido na frequncia de operao de 100 MHz. Para outros valores de frequncia, o

    comprimento do casador deixa de corresponder a um quarto de onda, de modo que a equao (42)

    no mais vlida. Nesse caso, a escolha de Z0' conforme (43) no garante mais um casamento

    perfeito. Portanto, o transformador de quarto de onda um casador de banda estreita. Entretanto,

    pode-se mostrar que a largura de banda do casamento pode ser aumentada com o uso de mais de um

    transformador de quarto de onda em cascata.

    - O valor de impedncia obtido a partir de (43) dificilmente corresponder a um valor padronizado

    (50 ou 75 , por exemplo). Portanto, deve-se projetar e construir uma linha especificamente para usar como casador, o que nem sempre vivel.

    b) Casamento com elemento localizado

    Esta tcnica consiste em conectar um elemento de circuito, em paralelo com a linha, a uma dada

    distncia a partir da carga, de modo a evitar ondas refletidas na linha esquerda do ponto de

    conexo. O valor do elemento de circuito e a posio exata onde ser conectado so calculados de

    forma a obter o casamento.

    Exemplo: Uma linha sem perdas, com impedncia caracterstica Z02 = 600 e l = 0,2, terminada numa carga ZL = 200 . A linha de 600 carga de uma outra linha de transmisso, com Z01 = 300 . Que impedncia deve ser conectada (em paralelo) na juno das linhas de modo que no haja ondas refletidas na

    linha de 300 ?

  • 30

    A onda, vindo da esquerda, propaga-se na linha de impedncia Z01 = 300 . Ao chegar ao ponto de juno, enxerga o paralelo de Z com Zin. Assim para que no haja reflexes no ponto de juno entre as

    linhas, deve-se ter:

    01inZZ//Z

    300

    1

    Z

    1

    Z

    1

    in

    .

    Mas l

    l

    tgjZZ

    tgjZZZZ

    L02

    02L

    02in,

    com o72rad4,02,02

    .

    Assim:

    o

    o

    o

    in 08,3856,296.172tg200j600

    72tg600j200600Z .

    Portanto:

    300

    1

    Z

    1

    08,3856,296.1

    1o

    8,62j9,35403,104,360Z o .

    Observa-se que a impedncia requerida para o casamento tem uma parte resistiva. Na prtica, isso deve

    ser evitado, pois a parte resistiva est associada dissipao de potncia. Assim, deve-se usar um elemento

    puramente reativo (indutor ou capacitor). Isso no foi possvel neste caso porque j se fixou previamente a

    posio a partir da carga onde a impedncia seria conectada. Num caso prtico, tanto a posio quanto o

    valor do elemento reativo devem ser calculados simultaneamente.

  • 31

    c) Acoplamento com Linha em Derivao (stub ou toco)

    Conforme visto anteriormente, possvel obter o casamento de impedncias usando um

    elemento reativo conectado num dado ponto a partir da carga. Entretanto, particularmente em

    frequncias mais elevadas, o comportamento dos elementos de circuito bastante diferente de seu

    comportamento ideal. Por exemplo, para um indutor, as capacitncias entre espiras podem ser mais

    significativas do que a prpria indutncia. Para um capacitor, a indutncia de seus terminais pode

    tambm ser bastante relevante. Alm disso, podem-se ter perdas devido ao efeito pelicular e a

    radiaes indesejveis. Por isso, pode ser vantajoso simular o comportamento de um elemento

    reativo usando um segmento de linha de transmisso terminado num curto-circuito (ou num circuito

    aberto). Stubs ou tocos so trechos de linhas de transmisso terminadas em curto-circuito ou em circuito aberto cujas impedncias de entrada so puramente reativas. A figura abaixo ilustra um

    stub terminado em curto-circuito.

    A partir de (14) ou (28), com ZL = 0, tem-se:

    20stub dtgjZZ . (44)

    Como a funo tangente assume valores entre - e +, pode-se simular qualquer elemento reativo usando um stub. Para isso, basta escolher o valor de d2 de modo que Zstub tenha o valor

    requerido.

    O casamento com um stub feito conforme a figura abaixo.

    O objetivo determinar os valores de d1 e d2 de modo que a linha esteja casada, ou seja,

    Zin1//Zstub = Z0. Nessa condio, no haver ondas refletidas esquerda da juno do stub com a

    linha.

  • 32

    Exemplo: Determinar os menores valores de d1 e d2 para casar uma linha com impedncia caracterstica Z0 = 100 com uma carga ZL = 150 + j50 . Considerar que o comprimento de onda na linha e no stub = 10 m.

    Para que no haja reflexes no ponto de juno entre a linha e o stub, deve-se ter:

    0stub1in ZZ//Z 0stub1in Z

    1

    Z

    1

    Z

    1 .

    Mas

    1

    1

    1L0

    10L01in

    dtg50j150j100

    dtg100j50j150100

    dtgjZZ

    dtgjZZZZ

    e 220stub dtg100jdtgjZZ .

    Assim:

    100

    1

    dtg100j

    1

    dtg100j50j150100

    dtg50j150j100

    21

    1

    .

    Simplificando a expresso, obtm-se:

    1dtg2j

    1

    dtg21j3

    dtg3jdtg2

    21

    11

    .

    Assim, d1 e d2 so obtidos a partir da equao acima. Para facilitar a resoluo, faz-se:

    1dtgA e 2dtgB .

    Tem-se, portanto:

    1

    B2j

    1

    A21j3

    A3jA2

    1A2B3j1A2B3AB3jA2B .

    Igualando parte real com parte real e parte imaginria com parte imaginria nos dois lados da igualdade,

    obtm-se:

    .1A2B3AB3

    1A2B3A2B

    Tem-se ento um sistema (no linear) de duas equaes e duas incgnitas. Para resolv-lo, pode-se isolar

    B nas duas equaes:

    1A

    1A2B

    e

    1A

    3B

    .

    Igualando:

  • 33

    1A

    3

    1A

    1A2

    02A2A2 .

    A equao anterior tem duas razes: A = 1+3 = 2,732 e A = 1-3 = -0,732. Uma vez que A = tg(d1) e como se quer o menor valor positivo de d1, apenas a soluo positiva vlida (a soluo negativa levaria a

    um ngulo d1 no segundo ou no quarto quadrante, sendo maior que o d1 no primeiro quadrante obtido com a soluo positiva). Assim:

    732,231dtgA 1 rad22,19,69732,2arctgdo

    1

    22,1d2

    1

    m94,1194,0d1 .

    Igualmente:

    732,13131

    3

    1A

    3dtgB 2

    rad3/60732,1arctgd o2

    3d

    22

    m67,16/d2 .

    Da mesma maneira que ocorre com os exemplos vistos anteriormente (transformador de quarto

    de onda e casamento com elemento localizado), o casamento com stub apresentado de banda

    estreita. De fato, os valores de d1 e d2 so calculados em funo do comprimento de onda, de modo

    que haver ondas refletidas caso a frequncia de operao no seja exatamente igual quela usada

    no projeto. Entretanto, pode-se mostrar que a largura de banda do casamento pode ser aumentada

    com o uso de mais de um stub, conforme ilustra a figura abaixo.

    Uma das vantagens do casador com stub a no necessidade de ter que projetar uma linha

    especfica para o casamento, o que o caso do transformador de quarto de onda. De fato, para fazer

    o stub, usa-se um segmento do prprio cabo usado como linha principal.

  • 34

    12 Clculo dos Parmetros Primrios das Linhas de Transmisso

    Conforme visto anteriormente, calcula-se a constante de propagao e a impedncia

    caracterstica de uma linha de transmisso a partir do conhecimento de seus parmetros primrios

    (R, L, G e C por unidade de comprimento). Estes dependem dos aspectos construtivos da linha

    (geometria e materiais usados) e podem tambm variar com a frequncia. Nesta sesso, sero

    apresentadas as equaes para o clculo dos parmetros primrios dos principais tipos de linhas de

    transmisso. O equacionamento completo no ser apresentado, mas segue o procedimento descrito

    na sequncia.

    Clculo de R: Para calcular a resistncia distribuda da linha de transmisso, usa-se a equao

    abaixo.

    S

    2R

    , (45)

    onde l o comprimento total da linha de transmisso e S a rea da seo transversal por onde flui a corrente, O fator 2 no numerador deve-se ao fato de a resistncia por unidade de comprimento da

    linha incluir a resistncia dos dois condutores que a compem. A rea da seo transversal deve

    levar em conta o efeito pelicular, caso seja relevante.

    Clculo de L: Para calcular a indutncia distribuda, aplica-se uma corrente na linha, a qual produz

    um campo magntico. A partir do clculo do fluxo magntico total (m) entre os condutores, calcula-se a indutncia conforme abaixo:

    IL m

    . (46)

    Vale lembrar que m inclui tanto o fluxo magntico no espao entre os condutores (fluxo externo) quanto o fluxo dentro dos prprios condutores (fluxo interno). Assim, a indutncia total

    por unidade de comprimento dada por:

    extintextint LL

    IL

    . (47)

    Clculo de C: Para calcular a capacitncia distribuda, aplicam-se densidades lineares de cargas

    eltricas de sinais opostos ( q, em C/m) em cada um dos dois condutores da linha, o que produz um

    campo eltrico. Fazendo a integrao de linha do campo eltrico ao longo de qualquer percurso

    ligando os dois condutores, tem-se a diferena de potencial (V) entre eles. Assim, pode-se calcular a

    capacitncia distribuda:

    V

    qC . (48)

    Clculo de G: Para calcular a condutncia distribuda, aplica-se uma diferena de potencial (V)

    entre os condutores e calcula-se o campo eltrico resultante. A partir do campo eltrico, obtm-se a

  • 35

    corrente de conduo no dieltrico (Jc = d E), o que permite calcular a corrente I (por unidade de comprimento, em A/m) que flui entre os dois condutores da linha. Assim, a condutncia distribuda

    dada por:

    V

    IG . (49)

    Os parmetros Lext, C e G no dependem da distribuio de corrente dentro dos condutores. Por

    essa razo, so independentes da frequncia. J os parmetros R e Lint dependem da distribuio de

    corrente e, portanto, dependem da frequncia. Quanto maior a frequncia, mais intenso ser o efeito

    pelicular, de modo que R aumenta com a frequncia e Lint diminui. Nas equaes que seguem, ser

    considerado que os todos os materiais so no magnticos ( = 0).

    12.1 - Cabo Coaxial: Consiste num par de condutores concntricos preenchidos com um

    dieltrico. Sua principal vantagem reside no fato de no apresentar campos externos (ou seja,

    autoblindado). Por isso, no interfere em circuitos prximos nem sofre interferncia de campos

    externos.

    Parmetros:

    b

    ca

    Condutor: c , 0

    Dieltrico: d , 0 ,

    a

    bln

    2C [F/m] (50)

  • 36

    a

    bln

    2L 0ext [H/m] (51)

    a

    bln

    2G d [S/m]. (52)

    Observao: Pode-se mostrar que, para qualquer linha de transmisso, as seguintes relaes so

    vlidas:

    0ext CL (53)

    d

    GC

    . (54)

    Portanto, basta calcular apenas um parmetro (C, Lext ou G) e os outros dois podem ser obtidos

    diretamente a partir de (53) e (54).

    Em baixas frequncias: Neste caso, o efeito pelicular desprezvel. Assim, pode-se considerar que

    as correntes tm distribuio uniforme na seo reta dos condutores.

    Condio: a e bc c0f/1

    222

    c bc

    1

    a

    11R [/m] (55)

    b

    cln

    bc

    b4b3c

    )bc(88L

    22

    422

    22

    00int [F/m]. (56)

    Em altas frequncias: Neste caso, o efeito pelicular intenso e as correntes fluem pela periferia

    externa do condutor interno e pela periferia interna do condutor externo.

    Condio: a e bc

    b

    1

    a

    1

    2

    1R

    c

    [/m] (57)

    b

    1

    a

    1

    4L 0int [F/m]. (58)

    Como diminui com o aumento de frequncia, R aumenta e Lint diminui para frequncias mais elevadas.

  • 37

    Exerccio: Seja um cabo coaxial oco (preenchido com ar), com condutores de alumnio (r = 1 e

    c = 4 107 S/m), tendo a = 0,5 mm, b = 4 mm e c = 4,5 mm. Que percentagem da indutncia total a

    indutncia interna representa em a) f = 0; b) f = 10 MHz e c) f = 100 MHz.

    5,0

    4ln

    2

    104

    a

    bln

    2L

    70

    ext m/nH416Lext

    a) Em f = 0:

    b

    cln

    bc

    b4b3c

    )bc(88L

    22

    422

    22

    00int

    4

    5,4ln

    45,4

    44435,4

    )45,4(8

    104

    8

    104L

    22

    422

    22

    77

    int m/nH4,57Lint

    Portanto: 121,04164,57

    4,57

    L

    L

    total

    int

    totalint L%1,12L .

    b) Em f = 10 MHz:

    777c0 10410410

    1

    f

    1

    mm025,0

    4

    1

    5,0

    1

    4

    025,0104

    b

    1

    a

    1

    4L

    70

    int m/nH63,5Lint

    Portanto: 0134,041663,5

    63,5

    L

    L

    total

    int

    totalint L%34,1L .

    c) Em f = 100 MHz:

    778c0 10410410

    1

    f

    1

    mm00796,0

    4

    1

    5,0

    1

    4

    00796,0104

    b

    1

    a

    1

    4L

    70

    int m/nH79,1Lint

    Portanto: 0043,041679,1

    79,1

    L

    L

    total

    int

    totalint L%43,0L .

    De maneira geral, para qualquer tipo de linha, observa-se que a indutncia interna pode ser desprezada em

    frequncias mais elevadas. Entretanto, em frequncias baixas (60 Hz, por exemplo), a indutncia interna

    pode representar uma parcela significativa da indutncia total. Por essa razo, geralmente a indutncia

    interna no levada em conta nos clculos dos parmetros em frequncias usadas em telecomunicaes, mas

    considerada em clculos envolvendo linhas de transmisso de potncia.

  • 38

    12.2 - Linha Bifilar Paralela: Consiste num par de condutores paralelos. Sua principal

    vantagem a facilidade de construo e o baixo custo. Entretanto, apresenta campos externos,

    podendo assim ter problemas de interferncia com circuitos prximos, alm de perdas por radiao.

    Parmetros:

    a2

    dharccos

    C [F/m] (59)

    a2

    dharccosL 0ext [H/m] (60)

    a2

    dharccos

    G d [S/m]. (61)

    Em baixas frequncias: Efeito pelicular desprezvel.

    Condio: a .

    2

    c a

    2R

    [/m] (62)

    4L 0int [F/m]. (63)

    Em altas frequncias: Efeito pelicular intenso.

    Condio: a .

  • 39

    a

    1R

    c

    [/m] (64)

    a2L 0int

    [F/m]. (65)

    Observao: Como 1xxlnxharccos 2 , tem-se que x2lnxharccos para |x| >>1. Assim,

    a

    dln

    a2

    dharccos para d >> a. Por essa razo, comum ver as equaes dos parmetros

    da linha bifilar dados em termos da funo ln, e no em termos de arccosh. As mesmas equaes tambm se aplicam s linhas de transmisso de potncia constitudas de condutores em

    paralelo.

    12.3 - Linha do Tipo Microfita (ou Microstrip): composta por um plano condutor (plano de terra) e uma fita condutora de espessura W, separados por uma camada dieltrica (substrato) de

    espessura h e constante dieltrica relativa r. de fcil construo (utiliza os mesmos processos que os circuitos impressos convencionais) e tem vasta gama de aplicaes, no s como linhas de

    transmisso, mas tambm como filtros, antenas, acopladores, etc. As linhas de microfita apresentam

    baixo perfil, peso reduzido e so de fcil integrao com outros componentes na mesma placa

    (componentes eletrnicos, antenas impressas, etc.). Suas principais desvantagens so a baixa

    capacidade de transmisso de potncia, as perdas elevadas e a possibilidade de interferncias com

    circuitos prximos.

    A principal dificuldade de anlise reside no fato de os campos existirem em dois meios com

    propriedades diferentes (o ar e o substrato dieltrico). Desta forma, anlises precisas envolvem a

    resoluo das equaes de Maxwell, geralmente feita atravs de mtodos numricos. Aproximaes

    analticas tambm podem ser obtidas, permitindo uma anlise mais simples e direta. As equaes

    dadas abaixo so aproximaes bastante simples, servindo apenas como referncia.

  • 40

    Impedncia caracterstica:

    )2h

    W(

    377Z

    r

    0

    []. (66)

    Verifica-se que diferentes valores de impedncia caracterstica da linha de microfita podem ser

    facilmente obtidos simplesmente ajustando a largura da trilha (W). Isso pode ser bastante til, por

    exemplo, no projeto de transformadores de quarto de onda.

    Permissividade efetiva da linha microfita (r'): Como os campos existem em dois dieltricos com permissividades diferentes, necessrio calcular a permissividade efetiva (ou equivalente) da linha.

    2/1

    rr'

    rW

    h101

    2

    1

    2

    1

    . (67)

    Velocidade de fase: Sabe-se que a velocidade de propagao depende da permissividade do

    dieltrico. No caso de uma linha de microfita, tem-se dois dieltricos diferentes. Entretanto, como a

    onda deve se propagar atravs da linha com uma velocidade nica, esta calculada usando a

    permissividade efetiva da linha.

    '

    r

    f

    cfv

    [m/s]. (68)

    Atenuao: A onda se propaga atravs da linha de microfita e sofre atenuao basicamente devido a

    trs fatores: perdas nos condutores (por conta de sua condutividade finita), perdas no substrato

    dieltrico (por ter condutividade no nula) e perdas por radiao. Desconsiderando as perdas por

    radiao, a atenuao numa linha de microfita pode ser calculada conforme abaixo.

    tg

    1

    13,27

    WZ

    R686,8

    '

    rr

    r

    '

    r

    0

    s [dB/m], (69)

    onde W

    1R

    c

    s

    (Resistncia da fita condutora, em /m);

    0r

    dtg

    (Tangente de perdas do substrato dieltrico).