leonardo de medeiros garcia luciano l. figueiredo · ensino renato saraiva (cers). ... os elementos...

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4ª edição: Revista, ampliada e atualizada 2014 Leonardo de Medeiros Garcia Coordenador da Coleção Luciano L. Figueiredo Advogado. Sócio do Figueiredo & Figueiredo Advocacia e Consultoria. Graduado em Direito pela Universidade Salvador (UNIFACS). Especialista (Pós-Graduado) em Direito do Estado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor de Direito Civil, atualmente, na Faculdade Baiana de Direito, Escola dos Magistrados da Bahia (EMAB); Associação de Procuradores do Estado da Bahia (APEB); Fundação da Escola Superior do Ministério Público do Estado da Bahia (FESMIP) e Complexo de Ensino Renato Saraiva (CERS). Palestrante. Autor de Artigos Científicos e Livros Jurídicos. [email protected] | www.direitoemfamilia.com.br/ Twitter: @civilfigueiredo Roberto Lima Figueiredo Procurador do Estado da Bahia. Advogado e Mestre em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Sócio Fundador do Pedreira Franco Advogados Associados. Professor de Direito Civil na Universidade Salvador (UNIFACS). Professor Convidado da Especialização em Direito Civil da Universidade Federal da Bahia, da Especialização em Direito Civil da Faculdade Baiana de Direito, da Escola Superior de Magistrados da Bahia – EMAB. Professor Convidado da Escola Superior de Advocacia Orlando Gomes – ESAB/OAB. Professor da Associação de Procuradores do Estado da Bahia – APEB. Professor Convidado do Curso Jurídico em Curitiba, Paraná. Professor do Complexo de Ensino Renato Saraiva – CERS. Palestrante em eventos e seminários. Autor de Livros e Artigos Científicos. [email protected] | www.direitoemfamilia.com.br / Twitter: @Roberto_Civil

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Page 1: Leonardo de Medeiros Garcia Luciano L. Figueiredo · Ensino Renato Saraiva (CERS). ... Os elementos genéricos de validade estão disciplinados no artigo 104 do Código Civil

4ª edição: Revista, ampliada e atualizada2014

Leonardo de Medeiros GarciaCoordenador da ColeçãoLuciano L. FigueiredoAdvogado. Sócio do Figueiredo & Figueiredo Advocacia e Consultoria. Graduado em Direito pela Universidade Salvador (UNIFACS). Especialista (Pós-Graduado) em Direito do Estado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor de Direito Civil, atualmente, na Faculdade Baiana de Direito, Escola dos Magistrados da Bahia (EMAB); Associação de Procuradores do Estado da Bahia (APEB); Fundação da Escola Superior do Ministério Público do Estado da Bahia (FESMIP) e Complexo de Ensino Renato Saraiva (CERS). Palestrante. Autor de Artigos Científicos e Livros Jurídicos.

[email protected] | www.direitoemfamilia.com.br/ Twitter: @civilfigueiredo

Roberto Lima FigueiredoProcurador do Estado da Bahia. Advogado e Mestre em Direito pela Universidade Federal da Bahia. Sócio Fundador do Pedreira Franco Advogados Associados. Professor de Direito Civil na Universidade Salvador (UNIFACS). Professor Convidado da Especialização em Direito Civil da Universidade Federal da Bahia, da Especialização em Direito Civil da Faculdade Baiana de Direito, da Escola Superior de Magistrados da Bahia – EMAB. Professor Convidado da Escola Superior de Advocacia Orlando Gomes – ESAB/OAB. Professor da Associação de Procuradores do Estado da Bahia – APEB. Professor Convidado do Curso Jurídico em Curitiba, Paraná. Professor do Complexo de Ensino Renato Saraiva – CERS. Palestrante em eventos e seminários. Autor de Livros e Artigos Cientí[email protected] | www.direitoemfamilia.com.br / Twitter: @Roberto_Civil

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Guia de leitura da Coleção

A Coleção foi elaborada com a metodologia que entendemos ser a mais apropriada para a preparação de concursos.

Neste contexto, a Coleção contempla:

• DOUTRINA OTIMIZADA PARA CONCURSOS

Além de cada autor abordar, de maneira sistematizada, os assuntos triviais sobre cada matéria, são contemplados temas atuais, de suma importância para uma boa preparação para as provas.

Os concursos, ao conceituarem os direitos da personalidade, o fazem com base em uma noção relacional, criando ligações com os direitos e garantias fundamentais e a dignidade da pessoa humana.

• ENTENDIMENTOS DO STF E STJ SOBRE OS PRINCIPAIS PONTOS

Como decidiu o STF? Cite-se o emblemático caso decidido pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário n. 201.819-RJ, publicado em 11.10.2005, que deter-minou a reintegração de associado excluído do quadro daquela pessoa jurídica, em direito à defesa e contraditório como comprovação forense da eficácia horizontal destes direitos fundamentais. Em outras oportu-nidades o Supremo Tribunal Federal prestigiou os direitos da personali-dade e a teoria irradiante, como se infere nos Recursos Extraordinários 160.222-8, 158.215-4, 161.243-6.

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LUCIANO FIGUEIREDO E ROBERTO FIGUEIREDO

• PALAVRAS-CHAVES EM OUTRA COR

As palavras mais importantes (palavras-chaves) são colocadas em outra cor para que o leitor consiga visualizá-las e memorizá-las mais facilmente.

Os elementos genéricos de validade estão disciplinados no artigo 104 do Código Civil. Tal artigo, somado a outras disposições codificadas, adjetivam os elementos da existência, conferindo va-lidade. Assim, para o negócio ser válido: a) o agente da existência há de ser capaz e legitimado; b) a forma da existência há de ser prescrita ou não defesa em lei; c) o objeto da existência há de ser lícito, possível, determinado ou determinável; d) a vontade da existência há de ser livre e desembaraçada, não sendo admi-tidos defeitos na sua manifestação, sendo o que se denomina de consentimento válido.

• QUADROS, TABELAS COMPARATIVAS, ESQUEMAS E DESENHOS

Com esta técnica, o leitor sintetiza e memoriza mais facilmente os principais assuntos tratados no livro.

Decursodo Tempo

PotestadeInércia

do TitularDECADÊNCIA

• QUESTÕES DE CONCURSOS NO DECORRER DO TEXTO

Através da seção “Como esse assunto foi cobrado em concurso?” é apresentado ao leitor como as principais organizadoras de concurso do país cobram o assunto nas provas.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?No concurso de Juiz do Trabalho da 9ª Região/2009, foi considerada incorreta a seguinte alternativa: “O ordenamento jurídico brasileiro não admite lei de vigência temporária, permanecendo o vigor até que outra a modifique ou revogue”.

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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO – LINDB

C a p í t u l o I

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDBSumário: 1. Noções introdutórias e funções da LINDB – 2. Vigência normativa: 2.1. Princípio da Continui-dade ou Permanência; 2.2. Repristinação – 3. Obri-gatoriedade das normas – 4. Integração normativa: 4.1. Analogia; 4.2. Costumes; 4.3. Princípios Gerais do Direito – 5. Interpretação normativa – 6. Aplica-ção da lei no tempo ou direito intertemporal: 6.1. Direito Adquirido; 6.2. Coisa julgada; 6.3. Ato Jurídi-co Perfeito – 7. Eficácia da Lei no espaço ou direito espacial: 7.1. Estatuto Pessoal; 7.2. Sucessão do Es-trangeiro; 7.3. Bens; 7.4. Obrigações Internacionais; 7.5. Pessoas Jurídicas Internacionais; 7.6. Compe-tência e Meios Probatórios; 7.7. Sentenças estran-geiras, cartas rogatórias, divórcios e laudos peri-ciais estrangeiros podem ser cumpridos no Brasil?

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS E FUNÇÕES DA LINDB

Inicialmente, uma importante informação preliminar. A antiga Lei de Introdução ao Código Civil (LICC) mudou de nome, especifica-mente no dia 30.12.10, através da Lei nº 12.376, passando a denomi-nar-se de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).

A mudança veio em boa hora, ao passo que consiste em norma jurídica autônoma, independente, não sendo um mero apêndice do Código Civil (CC). Sua aplicabilidade, portanto, estende-se a todo o direito, sendo universal, ressalvada as normas específicas de cada ramo autônomo. Tecnicamente, que fique claro, foi essa a única mu-dança produzida pela Lei 12.376/10, restando intocáveis os demais artigos do Decreto-Lei 4.657/42.

Destarte, justamente por conta de sua autonomia é que a LINDB, datada de 1942, continua vigendo, mesmo em face da publicação no novel diploma civilista em 2002, o qual não teve o condão de revogá-la. Frise-se: a LINDB não integra, de forma dogmática, a Parte Geral do Código Civil, apesar de, em regra, ser tratada no volume

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das diversas obras dedicadas ao Direito Civil, como aqui também soe acontecer.

Diferentemente das outras normas, cujo objeto é o compor-tamento humano, a LINDB cinge a sua análise na própria norma, dedicando-se ao tratamento da aplicação das leis no tempo e no espaço, sua compreensão e vigência. Nessa linha de pensamento, muitos denominam a LINDB de um código de normas, código sobre as normas, norma de sobredireito ou Lex legum.

Passado os olhos nesse diploma normativo, o qual contém 19 artigos, verifica-se a sua estrutura e funções, as quais ficam repre-sentadas da seguinte forma:

Vigência Normativa (Art. 1º e 2º)

Obrigatoriedade Geral e Abstrata das Normas ou do Ordena-mento Jurídico

(Art. 3º)

Integração Normativa ou Colmatação de Lacunas (Art. 4º)

Interpretação das Normas ou Função Social das Normas (Art. 5º)

Aplicação das Normas no Tempo ou Direito Intertemporal (Art. 6º)

Aplicação da Lei no Espaço, Direito Espacial ou Direito Inter-nacional

(Art. 7º a 19)

Após verificarmos quais as funções da LINDB, passamos as nos debruçar sobre o seu aprofundamento, tratando-as de forma apar-tada. Dessa forma, confere-se a esta sinopse visão sistemática com método de abordagem dedicado às provas concursais.

2. VIGÊNCIA NORMATIVA

O devido processo legislativo é tema inerente ao estudo do Direito Constitucional, tendo disciplina nos arts. 59 e seguintes da Constituição Federal (CF). Decerto, tratando-se este trabalho de uma sinopse na seara do Direito Civil, buscar-se-á em Constitucional tão somente os conceitos basilares para o desenvolvimento deste tema privado.

Assim, após a elaboração das normas – com casa iniciadora, revisora, quorum de aprovação, parecer das respectivas comissões, sanção ou até mesmo recusa – a norma será promulgada.

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A promulgação é o ato capaz de configurar a existência e vali-dade às normas, consistindo em sua autenticação pelo ordenamen-to jurídico nacional. Assim, afirmar que uma norma é válida significa identificá-la como compatível com o ordenamento jurídico nacional. Por outro viés, declará-la como inválida é o mesmo que considerá-la como inconstitucional ou ilegal.

A invalidade normativa pode decorrer de uma questão formal, quando referente a vício no seu devido processo legislativo de cria-ção, ou material, no momento em que o problema reside na matéria tratada pela norma, a qual não era de sua alçada ou competência.

A não observância do quorum de três quintos, em cada casa do Congresso Nacional, para aprovação de emenda constitucional, torna-a inválida por vício de forma, pois a afronta foi ao seu devido processo legislativo (art. 60, § 2º da CF/88). Caso, porém, elaborada por um Estado membro, observando todo o seu devido processo legislativo, mas tenha no seu conteúdo tema que é de competência exclusiva da União (art. 22 da CF/88), estar-se-á diante de uma inva-lidade material.

Todavia, a promulgação não tem o condão de gerar eficácia ou vigência normativa. Quando tal obrigatoriedade acontece?

É com a publicação – ato que se segue à promulgação no devido processo legislativo – que se torna factível à norma adquirir obriga-toriedade ou coercibilidade. Ainda assim, tal vigência, de forma con-comitante à publicação, não é a regra, sendo possível tão somente para normas de pequena repercussão (art. 8º da Lei Complementar 95/98 modificada pela Lei Complementar 107/2001). Isso porque o legislador nacional entende necessário que a lei, em regra, possua um tempo mínimo de divulgação e amadurecimento, intervalo esse no qual a norma já é existente, válida, mas ainda desprovida de vigor. Tal lapso temporal denomina-se de vacatio legis.

Do aludido no parágrafo anterior, infere-se de forma cristali-na que a necessidade da vacatio legis não se impõe às normas de pequena repercussão, porquanto desprovidas de maiores conse-quências sociais. Certo, porém, que apesar do comando legislati-vo geral impondo a vacatio legis às normas, excepcionadas as de pequena repercussão, na prática legislativa verifica-se uma série de comandos legislativos, de repercussão social ímpar, com ordem

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de vigência na data da sua publicação. Isso porque o conceito de grande ou pequena repercussão é vago. Apenas a título ilustrativo, remete-se à Lei 11.441/2007, responsável por descortinar no orde-namento jurídico nacional, a possibilidade de inventário, partilha e divórcio extrajudicial, desde que todos os envolvidos sejam maiores e capazes, haja consenso e presença de advogado. Ora, apesar de ser uma norma com imensa repercussão social, não só pelos nume-rosos divórcios no país – principalmente após a Emenda Constitucio-nal 66/10, que não mais exige a necessidade de qualquer prazo –, mas também por ser o processo de inventário e partilha obrigatório (art. 989 do CPC), fora ordenada no seu corpo a vigência imediata.

Mas, que fique claro: para provas concursais objetivas a va-catio legis é imposição, sendo apenas possível o seu afastamento, excepcionalmente, no que tange às normas de baixa repercussão social.

Tal vacatio legis, na dicção do artigo primeiro da LINDB, em regra será de 45 (quarenta e cinco) dias para o território nacional e 3 (três) meses para o estrangeiro.

Atenção!O prazo geral para a vigência no exterior é de 3 (três) meses, e não 90 (noventa) dias, pois a forma de contagem do prazo em meses e dias é diferenciada.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?(MPT_14º CONCURSO) Complete com a opção CORRETA. Nos Estados es-trangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia ____________ depois de oficialmente publicada. a) 2 meses; b) 3 meses; c) 4 meses; d) 5 meses; e) não respondida. O item correto é a letra “b”, 3 meses.

Ainda sobre a vacatio legis da lei brasileira nos estados estrangeiros, no concurso para Advogado da Fundação CASA/2011 foi considerada correta a alternativa que afirmava que “nos Estados Estrangeiros, a obrigatorie-dade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.”.

Destarte, fala-se de um prazo geral ao passo que o próprio art. 1º da LINDB aduz a possibilidade da norma autodeclarar sua data

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de vigência. Explica-se: o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias para o território nacional e 3 (três) meses para o estrangeiro apenas terá aplicabilidade caso a norma, no seu corpo, não remeta a outro pra-zo. É plenamente possível, portanto, que uma norma veicule prazo diverso, a exemplo do Código Civil, o qual trouxe no seu art. 2.044 o prazo de vacatio de um ano. Recorda-se, porém, que para a vigên-cia no ato da publicação, além da autodeclaração, mister tratar-se de norma de pequena repercussão.

Assim, apenas para organizar as ideias no tempo, verifica-se no devido processo legislativo:

Elaboração Promulgação(Existência)(Validade)

VACCATION LEGIS

Publicação(Vigência?)

Apenas para normas de pequena repercussão

com autodelcaração.

Vigência(Obrigatoriedade)(Coercibilidade)

VACATIO LEGIS

Brasil:45 Dias

Estrangeiro:3 meses

Autodeclaração: Prazo definido na própria lei.

Outrossim, a LC 95/98, no seu art. 8º, modificado pela LC 107/2001, estabelece uma forma diferenciada de contagem do prazo de vaca-tio legis, que é diversa daquela utilizada nos prazos de direito ma-terial cível (art. 132 do CC) e nos processuais (art. 184 do CPC), os quais excluem o dia da publicação e incluem o último dia do prazo. Assim, para contagem do prazo da vacatio legis dever-se-á incluir o dia da publicação e o dia da consumação do prazo, entrando a lei em vigor na data subsequente.

Ademais, o mesmo art. 8º da LC 95/98, dito acima, afirma que quando a norma autodeclarar o seu prazo de vacatio legis deverá fazê-lo em dias, e não em meses ou anos. Trata-se de mais um co-mando legislativo nem sempre respeitado no Brasil.

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No particular, interessante anotar uma falha técnica do Código Civil de 2002. O que fazer com o art. 2.044 do CC, o qual fora publica-do em 11.01.2002 – após a vigência da LC 107/2001 – e desrespeitou a forma de contagem do prazo, pois culminou um prazo de vacatio de 1 (um) ano?

O entendimento majoritário – segundo a doutrina de Mario Luiz Delgado, Maria Helena Diniz e Flávio Tartuce, bem como a jurispru-dência do STJ (Vide REsp 698.195/DF. Rel. Min. Jorge Scartezzini. 4ª Tur-ma. Julgado em 04.05.2006. DJ 29.05.2006. p. 254) e notícia oblíqua do Enunciado 164 do Conselho da Justiça Federal – tem como data do início da vigência do Código Civil o dia 11.01.2003. Fundamenta-se a tese na contagem na forma do art. 8º da LC 95/98, com a inclusão do dia da publicação (11.01.2002) e do último dia do prazo (10.01.2003), ganhando a norma vigência na data subsequente 11.01.2003, contan-do o prazo em dias.

Não se olvida da existência de entendimentos divergentes, a ser utilizados apenas em provas subjetivas e que passam a ser enunciados. Zeno Veloso defende uma simples contagem do prazo em ano, como determinado no art. 2.044 do CC, afirmando a vigência desse diploma em 12.01.2003: dia posterior ao fechamento de um ano da sua publicação (11.01.2002). Há ainda, como noticia Mário Luiz Delgado, quem adote a tese da ilegalidade do art. 2.044 do CC em face do art. 8º da LC 95/98, sufragando o entendimento da conse-guinte aplicação do prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, consignado na regra geral do art. 1º da LINDB, defendendo uma vigência inicial datada de 25.02.2002.

Voltando-se à LINDB, costumam questionar as provas concursais: o que fazer quando a norma é corrigida no curso da vacatio legis?

Havendo norma corretiva, ordena o art. 1º da LINDB que a norma deverá ser novamente publicada, tendo novo prazo de vacatio legis reiniciado do zero. Infere-se, portanto, ser hipótese de interrupção do prazo, ao revés de suspensão. Diga-se que se essa correção foi parcial, sendo republicado apenas um trecho da norma, somente este terá nova vacatio, e não toda a norma. Que reste claro: nova vacatio apenas para aquilo que fora republicado. Seria uma hipóte-se ímpar de uma norma fracionada em diversas vacatios. Segue-se, no particular, o posicionamento de Maria Helena Diniz.

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Tal norma corretiva, porém, apenas far-se-á necessária se o erro for relevante, entendendo-se como tal o equívoco substancial capaz de ocasionar divergência de interpretação. Entrementes, em sendo o erro irrelevante, é possível o próprio ajuste por mecanis-mos de interpretação.

Caso, porém, a aludida modificação ocorra após a finalização da vacatio legis e início da vigência, apenas poderá se dar mediante lei nova (art. 1º da LINDB), com novo processo legislativo (elaboração, publicação e vigência), novo número e nova vacatio.

Questão interessante é como proceder em relação à vacatio da-quelas normas parcialmente vetadas pelo Poder Executivo, e pos-teriormente promulgadas pelo legislativo por recusa do veto. Consi-derando o caráter suspensivo do veto, aliado à segurança jurídica, coaduna-se aqui com o posicionamento de Arnoldo Wald, defenden-do-se a ideia de diferenciados prazos de vacatio: um iniciado da sanção presidencial para aquilo que fora aprovado e o outro da promulgação do legislativo quando da recusa do veto. Seria mais uma hipótese ímpar de uma norma fracionada em diversas vacatios. No particular, como bem pontua Carlos Roberto Gonçalves, não se olvida da existência de opiniões em contrário.

Por fim, lembre-se que a vacatio não se aplica aos regulamen-tos e decretos administrativos, cuja obrigatoriedade dar-se-á desde a publicação, salvo disposição em contrário, não alterando a data da lei a que se referem. Com efeito, recorde-se que a ausência de norma regulamentadora hodiernamente é remediada com o manda-do de injunção.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?No concurso de Promotor/PB/ 2010 foi considerada incorreta a seguinte proposição: “A obrigatoriedade do decreto se inicia trinta dias depois de oficialmente publicado, salvo disposição em contrário”.

Para provas mais aprofundadas, importante noticiar que Tércio Sampaio Ferraz Jr. traça importantes distinções conceituais em seus estudos sobre a teoria geral do direito. Assim, o referido autor faz tênue distinção entre vigência e vigor, sendo aquela (vigência) o período de validade da norma (questão meramente temporal), e o

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vigor a sua real produção de efeitos (questão de efetiva eficácia), sendo impossível as pessoas se esquivarem do império da norma. Logo, afirma Carlos Roberto Gonçalves, que vigência se relaciona ao tempo de duração, ao passo que o vigor diz respeito à força vincu-lante da norma.

Nessa senda, possível afirmar que o CC/16 não mais possui vi-gência. Entrementes, nas hipóteses de ultra-atividade normativa ele tem vigor, como será visto no tópico posterior.

Por eficácia, lembram Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, enten-de-se a aptidão genérica de uma norma produzir efeitos. Essa efi-cácia pode ser:

a) social: produção concreta de efeitos;

b) técnica: já tem a possibilidade de produzir efeitos, mas não necessariamente os produz, por haver ausência de aceitação social (ineficácia social). Exemplifica-se com a norma soteropoli-tana que exige atendimento bancário em no máximo 15 (quinze) minutos: norma vigendo, porém, desprovida de eficácia social;

c) função de bloqueio: o objeto da norma é bloquear a ocorrência de certas condutas, como as que vedam comportamentos sob pena de punição;

d) função de programa: são as normas programáticas, as quais ob-jetivam atingir um determinado programa do legislador;

e) função de resguardo: normas que visam assegurar uma conduta desejada.

Nesse cenário, para concretização da eficácia, a norma pode se configurar como uma norma de:

a) eficácia plena: função eficacial é imediatamente concretizada;

b) eficácia limitada: há necessidade de outra norma para realiza-ção da eficácia completa;

c) eficácia contida: inicialmente com eficácia plena, mas sendo pos-sível a posterior restrição de tal fator de eficácia.

No particular, relembra-se, como dito alhures, que não é escopo deste trabalho uma ampla revisão de temas constitucionais, mas sim o seu recorte para análises das questões civilistas. Com efeito, em

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vista às referências de direito constitucional, o futuro aprovado terá acesso a variações da aludida classificação.

Verificada a vacatio e seus desdobramentos, pergunta-se: uma vez vigente, até quando a norma produzirá os seus efeitos?

Para resposta a essa indagação, mister a visita ao princípio da continuidade.

2.1. Princípio da Continuidade ou Permanência

Uma vez vigente, submete-se a lei, em regra, ao princípio da continuidade ou permanência, explica-se: produzirá os seus efeitos até que outra norma a torne, total ou parcialmente, ineficaz, através do mecanismo da revogação (art. 2º da LINDB).

Como posto, a noção de continuidade é uma regra, sendo pos-sível elencar, ao menos, duas espécimes legislativas que não se sub-metem a tal preceito, quais sejam: leis temporárias e circunstan-ciais, as quais caducam.

As leis temporárias são aquelas que possuem prazo de valida-de, com um termo ad quem previamente ajustado. É o exemplo das normas relativas a planos plurianuais, cuja duração é de 4 (quatro) anos. Já as circunstanciais vigem enquanto durar uma determinada situação, como o congelamento de preços em períodos bélicos, ou redução de IPI em tempos de crise, conforme assistimos recente-mente em nosso país.

Como esse assunto foi cobrado em concurso?No concurso de Juiz do Trabalho da 9ª Região/2009, foi considerada in-correta a seguinte alternativa: “O ordenamento jurídico brasileiro não admite lei de vigência temporária, permanecendo o vigor até que outra a modifique ou revogue”.

Outrossim, importante salientar que a retirada da eficácia nor-mativa não quer significar completa impossibilidade de aplicação da norma revogada, ao passo que há normas que possuem ultrativida-de, pós-eficácia ou pós-atividade normativa. Explica-se: há normas cujos efeitos são produzidos mesmo depois de revogadas, pois já incidiram à época da ocorrência do fato – subsunção anterior, nos

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dizeres de Pontes de Miranda. Para provas concursais, dois são os corriqueiros exemplos sobre o tema:

a) lei que incide na sucessão: O Código Civil, em seu art. 1.787, afirma que regula a sucessão a lei da época da sua abertura, a qual acontece com a morte: droit de saisine (art. 1.784 do CC). Logo, a sucessão daquele morto à época da vigência do Código Civil de 1916 é regulada por esse Código (de 1916), ainda que o inventário seja aberto apenas após a vigência do Código Civil de 2002.

Justo por isso que sumulou o Supremo Tribunal Federal (STF) entendimento (verbete 112 do STF) no sentido de que a alíquota incidente do imposto de transmissão é a da época da morte, e não do momento da decisão da partilha, ao passo que essa sentença possui eficácia retroativa (ex tunc), tudo consoante o princípio da droit de saisine;

b) leis temporárias e circunstanciais incidindo em eventos daquele período, com aplicação posterior. Por exemplo, a avaliação da legalidade da destinação de recursos dar-se-á segundo o plano plurianual do respectivo período, e não o atual.

Dessa forma, lembra Tércio Sampaio Ferraz Jr. que uma norma:

a) pode ser válida, mas ainda não ter vigência: vacatio legis;

b) pode ser válida e vigente, mas não ter eficácia, em vista de uma ineficácia social;

c) pode não ser válida, não ter vigência, mas ainda ter vigor em virtude de uma pós eficácia normativa.

Entrementes, como posto neste trabalho, a regra geral caminha no sentido da continuidade até a retirada de eficácia (obrigatorie-dade) da norma por outra, a qual ocorre mediante o fenômeno da revogação. Tal retirada de eficácia (revogação) acontece quando uma lei posterior expressamente declara retirar a anterior, é com essa incompatível ou regula inteiramente e de forma diversa o tema da norma anterior (art. 2º da LINDB).

Passa-se a aprofundar tais modalidades de revogação em para-lelo com sua classificação doutrinária:

a) Quanto à abrangência ou extensão:

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LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO – LINDB

i) ab-rogação – revogação total – Ex.: CC/02 ab-rogou o CC/16, mediante a redação do artigo 2.045 do CC, tendo retirado por completo a eficácia da norma anterior;

ii) derrogação – revogação parcial – Ex.: CC/02 derrogou a pri-meira parte do Código Comercial de 1850, conforme infere--se do art. 2.045 do CC, sendo retirada apenas parcialmente a eficácia do Código Comercial.

Tanto a revogação total (ab-rogação), como a parcial (derroga-ção) podem ser classificadas ainda:

b) Quanto à forma ou modo:

i) expressa ou direta – quando há comando legislativo ex-presso na nova norma, retirando a eficácia de uma norma anterior;

ii) tácita, indireta ou oblíqua – quando há incompatibilidade ou uma nova norma regula inteiramente a matéria tratada na anterior de forma colidente. Exemplifica-se com o art. 2.043 do CC, o qual afirma que até que por outra forma se disciplinem, continuam em vigor as disposições de natureza processual, administrativa ou penal, constantes de leis cujos preceitos de natureza civil hajam sido incorporados a este Código.

Atenção!Hodiernamente resta possível o questionamento da manutenção, ou não, da revogação tácita, ao passo que o art. 9º da LC 95/98, modificado pela LC 107/2001, afirma que a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas.

Tal premissa levaria a assertiva da negativa de possibilidade da revogação tácita, pois o artigo supracitado fala em deverá, ao revés de poderá. Entrementes, a maioria dos manuais, buscando uma interpretação conforme da realidade prática com a possibili-dade normativa, afirma pela permanência da modalidade tácita de revogação, entendendo, porém, que há uma preferência por sua faceta expressa, ao passo que se coaduna com o fenômeno da se-gurança jurídica.