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LEITURA EM SALA DE AULA – UM MESMO TEMA SOB A ÓTICA DE DIVERSOS GÊNEROS TEXTUAIS SIMONE MÜLLER (SECRETARIA MUNICIPAL DE CURITIBA). Resumo O homem é um ser inerentemente social. É através das relações que estabelece com o outro que se torna verdadeiramente humano. Sabemos que a interação humana se dá por meio de textos, sejam eles orais ou escritos. Considerando esse aspecto, entendemos que a escola deve promover a aprendizagem significativa, através do ensino contextualizado, para formar cidadãos capazes de compreender textos adequados aos diferentes contextos e práticas sociais, além de levar o estudante à compreensão dos elementos constituintes de sua língua materna, que é o seu meio de comunicação primordial. A prática de leitura constitui–se em um instrumento que possibilita a reflexão sobre o texto em todos os seus aspectos, sejam eles temáticos, organizacionais, estruturais, envolvendo aspectos semânticos, sintáticos e ortográficos. A proposta pedagógica está pautada na escolha e na abordagem de determinados gêneros textuais com o mesmo tema, de acordo com a série trabalhada: 4ª série (5° ano), levando–se em conta os diferentes níveis de complexidade e de possibilidades presentes em cada gênero, para que os estudantes apreendam características específicas e percebam as funções e intencionalidades das diferentes formas expressivas. Nessa perspectiva, o trabalho com a leitura é extremamente rico e gratificante, pois contribui para a formação de indivíduos conscientes, críticos e participativos em um mundo em constante mutação, com as mais diversas realidades. A postura do estudante, a partir do momento em que se torna um leitor autônomo e competente, possibilita a transformação individual, social e ambiental. Palavras-chave: leitura, gêneros textuais, comunicação. Introdução O presente artigo tem por objetivo apresentar um trabalho com a Língua Portuguesa, com ênfase na leitura, desenvolvido na cidade de Curitiba, Paraná, com alunos da 4ª série - 5º ano - do Ensino Fundamental. O referido trabalho pretendeu fazer a abordagem de determinados gêneros textuais com o tema "Preservação do meio ambiente", considerando-se os diferentes níveis de complexidade de cada texto apresentado e de possibilidades presentes em cada gênero, de forma que os estudantes, ao apreenderem as características específicas dos gênerose perceberem as funções e intencionalidades existentes nas diferentes formas

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LEITURA EM SALA DE AULA – UM MESMO TEMA SOB A ÓTICA DE DIVERSOS GÊNEROS TEXTUAIS SIMONE MÜLLER (SECRETARIA MUNICIPAL DE CURITIBA). Resumo O homem é um ser inerentemente social. É através das relações que estabelece com o outro que se torna verdadeiramente humano. Sabemos que a interação humana se dá por meio de textos, sejam eles orais ou escritos. Considerando esse aspecto, entendemos que a escola deve promover a aprendizagem significativa, através do ensino contextualizado, para formar cidadãos capazes de compreender textos adequados aos diferentes contextos e práticas sociais, além de levar o estudante à compreensão dos elementos constituintes de sua língua materna, que é o seu meio de comunicação primordial. A prática de leitura constitui–se em um instrumento que possibilita a reflexão sobre o texto em todos os seus aspectos, sejam eles temáticos, organizacionais, estruturais, envolvendo aspectos semânticos, sintáticos e ortográficos. A proposta pedagógica está pautada na escolha e na abordagem de determinados gêneros textuais com o mesmo tema, de acordo com a série trabalhada: 4ª série (5° ano), levando–se em conta os diferentes níveis de complexidade e de possibilidades presentes em cada gênero, para que os estudantes apreendam características específicas e percebam as funções e intencionalidades das diferentes formas expressivas. Nessa perspectiva, o trabalho com a leitura é extremamente rico e gratificante, pois contribui para a formação de indivíduos conscientes, críticos e participativos em um mundo em constante mutação, com as mais diversas realidades. A postura do estudante, a partir do momento em que se torna um leitor autônomo e competente, possibilita a transformação individual, social e ambiental. Palavras-chave: leitura, gêneros textuais, comunicação.

Introdução

O presente artigo tem por objetivo apresentar um trabalho com a Língua Portuguesa, com ênfase na leitura, desenvolvido na cidade de Curitiba, Paraná, com alunos da 4ª série - 5º ano - do Ensino Fundamental. O referido trabalho pretendeu fazer a abordagem de determinados gêneros textuais com o tema "Preservação do meio ambiente", considerando-se os diferentes níveis de complexidade de cada texto apresentado e de possibilidades presentes em cada gênero, de forma que os estudantes, ao apreenderem as características específicas dos gênerose perceberem as funções e intencionalidades existentes nas diferentes formas

expressivas, pudessem, também, identificar os espaços sociais inventados que medeiam a comunicação e desenvolver ou ampliar sua consciência ecológica.

Partindo-se do princípio de que muitos dos estudantes desse nível de escolaridade ainda não possuem o domínio da leitura, isto é, limitam-se apenas à identificação de sons, ao reconhecimento de palavras e ao domínio dos aspectos mecânicos da leitura, é que se pretendeu, com esse trabalho, desenvolver a capacidade de domínio pleno da leitura isto é, que os estudantes consigam perceber o que está explicitado, subentendido ou omitido em um texto, a intenção do autor ou as relações entre diferentes gêneros textuais, ampliando, assim, sua visão de mundo e, consequentemente, sua participação nele como cidadão consciente e responsável. A capacidade de interpretação e interação só se desenvolve com a prática da leitura e é por isso que ela deve ser priorizada.

"É a prática intensa da leitura e da escrita que permitirá que os alunos apreendam (e aprendam a manejar) as convenções que caracterizam os diferentes gêneros textuais que circulam em sua sociedade; se conscientizem da heterogeneidade inerente à sua língua materna (e a qualquer outra língua viva do mundo) e enriqueçam cada vez mais seu repertório de recursos lingüísticos (lexicais, gramaticais, estilísticos, etc.)." (BAGNO et. al., 2007, p. 9)

A consciência ecológica também deve ser formada, para que desde cedo o respeito e o cuidado para com a natureza, o meio ambiente se efetive, garantindo, assim, o futuro da Terra. Dessa forma, entende-se que são necessários contatos, leituras, estudos e reflexões de variados textos, com as mais diversas abordagens sobre o tema, vinculando a teoria com a prática efetivada em sala de aula e fora dela.

Os pressupostos teóricos que norteiam o trabalho estão baseados em vários autores, com ênfase nos estudos de Marcuschi (2008) e Bazerman (2006). Para o primeiro as noções de língua, texto, gênero, compreensão e sentido situam-se na perspectiva da visão sociointeracionista da língua. Esse tipo de visão recusa-se a considerar a língua como um sistema autônomo e como simples forma. A linguagem é vista como um conjunto de atividades e uma forma de ação: "todo uso autêntico da língua é feito em textos produzidos por sujeitos históricos e sociais de carne e osso, que mantêm algum tipo de relação entre si e visam a algum objetivo comum" (Id, ib). Bazerman (2006) segue a perspectiva sociointerativa fortemente vinculada ao aspecto histórico e cultural. Acredita que, por meio de textos, não só organizamos nossas ações diárias, mas também criamos significações e fatos sociais num processo interativo tipificado num sistema de atividades que encadeia significativamente as ações discursivas.

Inicialmente, será apresentado um breve ensaio a respeito da linha teórica que norteou o presente trabalho e, em seguida, serão fornecidas as informações sobre as etapas e metodologia aplicada no trabalho em sala de aula, bem como os resultados obtidos com os estudantes e as considerações finais.

Referencial Teórico

A expressão "gênero", ligada especialmente aos gêneros literários, remonta da época de Platão, firma-se em outros estudiosos e filósofos até chegar aos primórdios do século XX. Atualmente, a noção de gênero já não mais se vincula apenas à literatura, como afirma Swales (apud Marcuschi, 2008, p. 33), quando diz que "hoje, gênero é facilmente usado para referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem aspirações literárias".

O gênero é uma categoria essencialmente sócio-histórica e, por isso, vive um processo contínuo de transformação. Não é fruto de invenções individuais, mas uma forma socialmente evoluída nas práticas comunicativas. Nesse sentido, torna-se importantíssima a afirmação da origem sociointerativa dos gêneros, pois eles não são cristalizações formais no tempo. Bazerman (2006, p. 11) é incisivo quanto a isso, quando diz que "a definição de gêneros como apenas um conjunto de traços textuais ignora o papel dos indivíduos no uso e na construção de sentidos". A ideia de que os gêneros são formas prontas para o uso "ignora as diferenças de percepção e compreensão, o uso criativo da comunicação para satisfazer novas necessidades percebidas em novas circunstâncias e a mudança no modo de compreender o gênero com o decorrer do tempo".

O estudo dos gêneros textuais é hoje uma fértil área interdisciplinar, voltada para a linguagem em funcionamento e para as atividades culturais e sociais. Cada gênero textual tem um propósito bastante claro que o determina e lhe dá uma esfera de circulação. Tendo isso em vista, Marcuschi (2008, p.150-151) afirma que "todos os gêneros têm uma forma e uma função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua determinação se dá basicamente pela função e não pela forma."

Os gêneros textuais apresentam-se nas duas modalidades: oral e escrita, desde os mais informais aos mais formais e em todos os contextos e situações da vida cotidiana. Conforme Marcuschi (apud Bagno et. al., 2007, p. 54), "a língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em gêneros textuais para uso em situações concretas". Assim, as aulas de língua portuguesa não podem se reduzir a aulas de gramática, com regras absolutamente rígidas, imutáveis, inflexíveis. Deve-se trabalhar "leitura de material variado (jornal, revista, literatura - especialmente literatura - em alta escala, e na própria escola" (Id, ib, p. 53); "escrita constante, várias vezes por dia, todos os dias: narrativas, cartas etc. Muita leitura e muita escrita, simplesmente porque é assim que se aprende" (POSSENTI apud MARCUSCHI, 2008, p. 143-144).

Isso impõe como tarefa aos educadores contribuir para que os sujeitos participantes do processo educativo desenvolvam a capacidade de ler - a palavra e o mundo - como instrumento de intervenção e participação social.

A compreensão crítica do ato de ler não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. (...) Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (...) A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele (FREIRE apud BAGNO et. al., 2007, p. 62).

O que ensina Paulo Freire com essa reflexão é que a educação não se dá em abstrato, de forma independente dos modos concretos de vida coletiva. Portanto, o velho estudo da língua que se detinha exclusivamente na análise das palavras e, no máximo, da frase, tem de ser abandonado em favor de um ensino-aprendizagem que leve em conta as realizações empíricas da língua, que são os textos que se concretizam na forma de gêneros textuais (falados e escritos). Podemos recorrer novamente a Marcuschi (apud Bagno 2007, p. 54-55), que nos explica o que é um gênero.

[...] uma forma textual concretamente realizada e encontrada como texto empírico, materializado. O gênero tem existência concreta expressa em designações diversas, constituindo, em princípio, conjuntos abertos. Podem ser exemplificados em textos orais e escritos como tais como: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, índice remissivo, romance, cantiga de ninar, lista de compras, publicidade, cardápio, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, debate, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, fofoca, confissão, entrevista televisiva, inquirição policial, e-mail, artigo científico, tirinha de jornal, piada, instruções de uso, outdoor, etc.. Os gêneros são formas textuais estabilizadas, histórica e socialmente situadas. Sua definição não é linguística, mas de natureza sociocomunicativa, com parâmetros essencialmente pragmáticos e discursivos.

Hoje, em plena fase da denominada cultura eletrônica, com os mais diversos meios de comunicação e, particularmente, com o computador pessoal e sua aplicação mais notável, a internet, presenciamos uma explosão de novos gêneros e novas formas de comunicação, tanto na oralidade como na escrita.

O ensino tradicional, segundo Bagno (et. al., 2002), nunca levou em consideração a imensa variedade dos gêneros textuais existentes na vida social, limitando-se a abordar somente os gêneros escritos literários de maior prestígio - o conto, o romance, às vezes a crônica, raramente a poesia - e desprezando quase completamente o estudo dos gêneros textuais característicos das práticas orais, sobretudo por causa do preconceito existente há tempos contra a língua falada, tradicionalmente desprestigiada, "fragmentária", por não possuir uma estrutura gramatical consistente. Hoje, percebe-se a importância de não se trabalhar o gênero individual, mas um conjunto de gêneros, independentemente de seu prestígio social. De acordo com a concepção de Bazerman (2006), uma das

consequências diretas desse tipo de olhar para o ensino é a ideia de que não se ensina um gênero como tal e sim se trabalha com seus elementos constitutivos: composição, conteúdo temático e estilo, a compreensão de seu funcionamento na sociedade e na sua relação com os indivíduos situados naquela cultura e suas instituições.

Portanto, para que o espaço da sala de aula se transforme num verdadeiro laboratório de estudo da língua em sua multiplicidade de formas e usos, é que se faz urgente um conhecimento cada vez maior e melhor de todas as variedades sociolinguísticas, por meio dos mais diversos textos.

De acordo com os pressupostos teóricos expostos, é que o trabalho se desenvolveu, conciliando a leitura de diversos gêneros textuais ao tema "Meio ambiente". Essa prática foi uma forma de dar conta do ensino dentro de um dos vetores da proposta oficial dos Parâmetros Curriculares Nacionais (2006) que insistem nessa perspectiva.

Metodologia

O trabalho teve início com a leitura e apresentação da obra literária: A DOENÇA DA TERRA, de Maria Aparecida Pinceratti (1991), pela professora. Com esse texto, pretendeu-se introduzir o tema "Meio ambiente", destacando-se o cuidado que se deve ter com o nosso planeta, pois a história dá margem para discussão sobre a poluição, aquecimento global, chuva ácida, camada de ozônio, desmatamento, enfim, problemas que afetam a "saúde" da Terra. Os estudantes, então, discutiram a situação do planeta com base em seus conhecimentos adquiridos previamente, estimulados pela história ouvida. A obra foi analisada também em seu aspecto estrutural (períodos breves, linguagem clara, objetiva) bem como suas ilustrações.

Diversas obras e textos de diferentes gêneros foram trabalhados a partir dessa primeira apresentação e discussão, como: "Socorro! Quero respirar ar puro" (MARQUES, 1999), "Que calor!" (CNI-SESI), "A incrível história do mundo que ia morrer" (CNI-SESI), "A viagem da gotinha" (Duarte, 2008), etc. Nesse processo pedagógico, foram consideradas as duas possibilidades complementares de leitura: leitura autônoma, que se realizou com independência e fluência, demonstrando, o leitor, capacidade de solucionar os problemas que apareceram no processo, e leitura assistida, que foi acompanhada pela professora, leitora mais experiente, que já conhecia o texto (leitora-guia). Cada obra apresentada teve uma leitura diferente, supondo uma postura e uma forma específica de comprometimento do estudante leitor com o texto: ora a leitura como prazer, entretenimento, ora articulada às ações da vida diária, como orientação e formação ou como instrução.

Com a última obra citada, foi feito um trabalho mais efetivo e detalhado sobre as características do texto narrativo - seus personagens, tipo de narrador, espaço, tempo, enredo -, as mudanças, transformações ocorridas no enredo, as quais caracterizam o texto como narrativo, além da discussão sobre a intencionalidade da autora ao escrever tal história e a mensagem sugerida. Em seguida, foi apresentada a obra "Fiz o que pude" de Prado (1992), uma fábula. Essa

leitura propiciou grandes discussões sobre o tema e as características desse gênero. Os estudantes, então, fizeram uma pesquisa sobre os animais que mais aparecem nas fábulas, as atitudes que apresentam e de que forma elas são relacionadas às dos humanos. Pesquisaram também sobre os provérbios que aparecem, geralmente, após o texto. Depois de catalogados os provérbios, fez-se leitura e interpretação de cada um, com sugestões de situações para emprego deles.

Em seguida, os estudantes tiveram contato com poemas dos mais diversos autores, também sobre ecologia e meio ambiente. A partir da leitura do poema ECO, de Nicola (2002), os estudantes puderam perceber, além das características narrativas e as específicas desse gênero, o trabalho com a linguagem, com os sons, tão sugestivos no poema em questão, além do seu rico conteúdo e trabalho com a sintaxe.

O poema PARAÍSO, de Paes (1990), deu a oportunidade de se resgatarem as cantigas de roda, tão comuns na infância de nossos avós. A partir desse trabalho de leitura, pesquisa e resgate, os alunos produziram paródias, seguindo a mesma estrutura do poema anteriormente citado, sobre o respeito ao meio ambiente.

Ainda trabalhando com narrativas, os alunos tiveram contato com textos que apresentam linguagem visual (leitura de obras de arte e cartoons) e mista (histórias em quadrinhos e tiras).

A partir da leitura desses textos, como portadores de significado, iniciou-se um trabalho de interpretação e análise da língua, pois eles possuem todos os recursos gráficos significativos que devem ser analisados e sistematizados, começando pelo próprio código convencional da escrita. Em seguida, os estudantes produziram também suas histórias em quadrinho, ou tiras, abordando a necessidade de preservação do meio ambiente, o respeito à natureza.

Também foram apresentados alguns textos publicitários e discutidos com os estudantes as características comuns, os recursos utilizados como: imagens, textos, slogans, linha-fina, etc. Com a observação, leitura e análise dos textos apresentados, os estudantes conseguiram caracterizá-los. Só então trabalhamos com mais detalhes uma propaganda em especial, sobre um equipamento que, segundo seu discurso, reduz o gasto de água em até 77%, uma enorme vantagem para o "planeta água".

Desenvolvido esse trabalho, os estudantes simularam a criação de um produto que ajudasse na preservação do meio ambiente e, a partir dele, fizeram o seu texto publicitário, de forma a convencer o leitor da utilidade e vantagens em adquirir tal produto.

Também foram lidas reportagens jornalísticas - notícias ou matérias: os estudantes fizeram pesquisas em jornais atuais, buscando reportagens sobre a situação ambiental e as leram em sala de aula. Após perceberem os traços em comum entre elas, interpretá-las, caracterizá-las quanto ao gênero, trabalharem com a linguagem, em grupo, elaboraram uma reportagem, simulando uma situação e criando discursos de personagens fictícios para conferir maior credibilidade à notícia.

Os estudantes também leram uma carta, na qual o remetente escreve como se estivesse no ano de 2070, sobre as dificuldades pelas quais passa a humanidade em consequência das ações predatórias e irresponsáveis dos homens em períodos anteriores, intitulada: "Carta escrita em 2070". Esse texto foi

publicado na revista "Crónicas de los Tiempos", de abril de 2002, e apresentada com recurso multimídia. Após a leitura, conhecedores dos elementos constituintes desse gênero e tendo reconhecido a intencionalidade do mesmo, os estudantes, em duplas, produziram uma carta para uma outra dupla, pedindo que se tenha muito cuidado para com o nosso planeta. Essas cartas foram lidas, depois, oralmente, pelos receptores, de forma que toda a turma tivesse conhecimento de seus conteúdos.

Alguns clipes sobre reciclagem, água, lixo, poluição, desmatamento também foram passados à turma, ora apresentando a linguagem visual, ora apresentando a linguagem verbal oral ou escrita.

Foram elaboradas algumas pesquisas sobre os animais em extinção ou já extintos, em que se descobriram quais seus principais hábitos, em que regiões vivem ou viviam, as causas que os estão levando ou levaram a esse estado. Para a pesquisa, foram utilizados recursos multimídia, enciclopédias, revistas e livros. A partir dessas leituras, os estudantes, em pequenos grupos, elaboraram textos informativos, escolhendo um dos animais anteriormente analisados para discorrer sobre as questões analisadas.

Também foi elaborada uma enquete para ser feita com algum membro de sua família perguntando qual(is) a(s) medida(s) consciente(s) que ele(a) pratica para colaborar com a preservação do meio ambiente. Os resultados dessa pesquisa foram registrados e catalogados em gráfico, para posterior leitura e interpretação.

Grande parte desse trabalho foi compilada pela formanda em Comunicação Social da Universidade Positivo, Amanda Krause Guidolin, dando origem a uma revista intitulada: O PLANETA EM NOSSAS MÃOS (Anexo - 01 - COLE_1969-_100809161300.pdf; Anexo - 02 - COLE_1969_100809161404.pdf; Anexo - 03 - COLE_1969_100809161505.pdf; Anexo - 04 - COLE_1969_100809161608.pdf). Essa revista reuniu alguns dos trabalhos produzidos pelos estudantes em um material muito rico que, segundo o próprio editorial da revista, foi capaz de criar "um canal de comunicação específico para o público infantil".

Os conteúdos foram trabalhados em todos os textos, na perspectiva do eixo USO-REFLEXÃO-USO, abordando as três práticas do ensino de língua portuguesa - oralidade, leitura e escrita, com ênfase na leitura, pautados no trabalho com os gêneros trabalhados.

A avaliação considerou todo o processo de desenvolvimento do trabalho com a turma, sendo realizada individual e coletivamente pelos estudantes e professora. As atividades desenvolvidas em sala de aula e no Laboratório de Informática, o material utilizado, as fontes pesquisadas, a participação/cooperação de cada um, entre outros fatores, foram também objeto de análise, visando à contínua melhoria do processo.

Resultados e Considerações Finais

Considerando que o referido projeto teve início já no princípio do ano letivo, que a prática de leitura foi diária e efetiva com a participação direta dos estudantes no processo, foi observado, por meio das diversas atividades efetuadas, que houve um avanço acentuado no que se refere à leitura: fluidez, entendimento,

compreensão, estabelecimento de relações entre os diversos textos de gêneros diferenciados apresentados - intertextualidade -, percepção de intencionalidades dos autores e veículos utilizados, capacidade de interação, entre outros aspectos. O que se comprova com a postura dos estudantes, suas produções orais e escritas, definindo cada gênero para uma situação específica, bem como o suporte adequado para cada um deles.

Para conseguir formar um cidadão consciente do seu lugar social e de sua postura diante dos fatos que se apresentam, é preciso levá-lo a entender questões de língua e de significados sociais de textos, para que estabeleça relações, interaja com eles. À medida que os participantes se orientaram para esse espaço social comunicativo, eles adotaram atitudes e ações pertinentes à situação, bem como ao lugar que ocupam. Assim, essas diversas leituras forneceram condições de opções de formas de vida, dentro das quais os estudantes constroem suas próprias vidas.

Depois dessa "longa caminhada", percebeu-se um crescimento considerável no interesse e prazer pela leitura, na desenvoltura com que tratam dos mais variados exemplos de gêneros textuais, na facilidade com que conseguem desvelar, desses textos, suas informações explícitas ou implícitas. Dessa forma, o texto passou a ter um especial valor, sendo reconhecido como veículo primordial de comunicação, interação entre as pessoas, de sua natureza social. Ainda como fruto desse trabalho, ficou nítida a questão do amadurecimento dos estudantes, a responsabilidade desenvolvida com relação ao planeta em que vivem, o cuidado com ele, constatados no conteúdo da revista O PLANETA EM NOSSAS MÃOS, pois esta inclui alguns dos textos desenvolvidos nesse processo. A produção de tal material deu, ainda, a chance de os estudantes terem suas produções editadas em um dos suportes explorados durante o trabalho em sala de aula.

Nessa perspectiva, o trabalho com a leitura foi extremamente rico e gratificante, pois pretendeu contribuir para a formação de indivíduos conscientes, críticos e participativos em um mundo com inúmeros problemas, mas com igual número de soluções. A postura do estudante, a partir do momento em que se torna um leitor assíduo, autônomo e competente, possibilita a transformação individual, social e ambiental.

Referências bibliográficas

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BAGNO, M.; STUBBS, M.; GAGNÉ, G.; Língua Materna: letramento, variação & ensino; São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

BAZERMAN, C.; Gêneros Textuais, Tipificação e Interação; 2 ed.; São Paulo: Cortez Editora, 2006.

CNI-SESI. A incrível história do mundo que ia morrer; Revista Sesinho.

Crónicas de los Tiempos, abril de 2002.

DUARTE, R.; A Viagem da Gotinha; Coleção O Gato das Botas; Cascais - Lisboa, Portugal:Arte Plural Edições, 2008.

MARCUSCHI, L. A.; Produção textual, análise de gêneros e compreensão; São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

NICOLA, J. de; Entre ecos e outros trecos; São Paulo: Editora Moderna, 2002.

PAES, J. P.; Poemas para Brincar; São Paulo: Editora Ática, 1990.

Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros currriculares nacionais; Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 2006.

PINCERATTI, M. A.; A doença da Terra; Curitiba: Editora Arco-íris, 1992.

PRADO, L. J. de A.; Fiz o que pude; São Paulo: Editora Moderna, 1992.

Que calor!; Coleção Meio-Ambiente; Teresópolis:Novas Idéias, 1999.

MARQUES, Cristina, BUTZKE, Ivani Socorro! Quero respirar ar puro!; Coleção Meio-Ambiente; Teresópolis:Novas Idéias, 1999.