leite e af

24
Raquel Pereira de Souza1 Antônio Márcio Buainain2 A competitividade da produção de leite da agricultura familiar: os limites da exclusão Introdução O sistema agroalimentar tem passado nas últimas décadas por um intenso processo de reestruturação. Uma das conseqüências mais proeminentes dessa reestruturação, no âmbito das cadeias agroindus- triais, a intensificação da concorrência e o estabelecimento de novas condições de competitividade, caracterizadas por uma maior sofis- ticação dos padrões de consumo, com implicações imediatas sobre os processos produtivos e qualidade da matéria-prima utilizada pela agroindústria, pressão para tecnificação na produção agropecuária com o objetivo de ampliar a escala de produção e a qualidade da matéria-prima (WILKINSON e MIOR, 1999). Diante desse processo de reestruturação, o principal caminho para manter a produtividade parece ser a especialização do produ- tor rural, bem como o aumento da escala e da eficiência produtiva e das condições para atender as crescentes exigências dos mercados. Estes fatores colocavam-se como sérias ameaças aos produtores de matérias-primas em cadeias produtivas tradicionais, em particular os pequenos. De fato, aqueles produtores incapazes de se adequar às novas exigências de escala de produção ou de qualidade da matéria- -prima seriam, dessa forma, excluídos. No caso da reestruturação na cadeia produtiva do leite, as mu- danças institucionais vinculadas a esse processo incluem a desregu- 1 Professora do Departamento de Engenharia de Agronegócios, da Universidade Federal Fluminense (UFF). 2 Professor Livre-Docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.

Upload: carolzazu

Post on 13-Nov-2015

24 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Agricultura familiar e produção leiteira

TRANSCRIPT

  • Raquel Pereira de Souza1Antnio Mrcio Buainain2

    A competitividade da produo de leite da agricultura familiar: os limites da excluso

    IntroduoO sistema agroalimentar tem passado nas ltimas dcadas por

    um intenso processo de reestruturao. Uma das conseqncias mais proeminentes dessa reestruturao, no mbito das cadeias agroindus-triais, a intensificao da concorrncia e o estabelecimento de novas condies de competitividade, caracterizadas por uma maior sofis-ticao dos padres de consumo, com implicaes imediatas sobre os processos produtivos e qualidade da matria-prima utilizada pela agroindstria, presso para tecnificao na produo agropecuria com o objetivo de ampliar a escala de produo e a qualidade da matria-prima (WILKINSON e MIOR, 1999).

    Diante desse processo de reestruturao, o principal caminho para manter a produtividade parece ser a especializao do produ-tor rural, bem como o aumento da escala e da eficincia produtiva e das condies para atender as crescentes exigncias dos mercados. Estes fatores colocavam-se como srias ameaas aos produtores de matrias-primas em cadeias produtivas tradicionais, em particular os pequenos. De fato, aqueles produtores incapazes de se adequar s novas exigncias de escala de produo ou de qualidade da matria--prima seriam, dessa forma, excludos.

    No caso da reestruturao na cadeia produtiva do leite, as mu-danas institucionais vinculadas a esse processo incluem a desregu-

    1 Professora do Departamento de Engenharia de Agronegcios, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

    2 Professor Livre-Docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas Unicamp.

  • 309

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    lamentao dos preos, a abertura comercial e facilidade de impor-tao de leite e derivados dos pases do Mercosul, a reestruturao da indstria (concentrao e centralizao do processamento), a di-versificao do consumo de lcteos e as exigncias sanitrias deter-minadas pela Instruo Normativa n 51 (IN n 5/2002 do Ministrio da Agricultura).

    Estas mudanas institucionais tm tido forte impacto sobre a cadeia produtiva do leite e determinado a mudana do perfil do produtor de leite, no sentido de aumento de escala e qualidade da matria-prima, desfavorveis aos produtores de leite da agricultura familiar, que em geral no so especializados, produzem em pequena escala, de forma fragmentada e nem sempre perto das unidades de processamento. Diante desse contexto, colocava-se a questo: Ser que h ainda espao para que a agricultura familiar se insira de forma competitiva na produo de commodities, como o caso do leite? Buainain, Souza Filho e Silveira (2002, p. 101) argumentam que (...) o destino da agri-cultura familiar no est dado, mas depende em grande medida da capacidade para neutralizar ou reduzir as desvantagens competitivas (...) e potencializar as vantagens (...).

    Assim, h um conjunto de aspectos que podem assegurar a com-petitividade da produo da agricultura familiar, mesmo na pro-duo de commodities, onde a vantagem de escala se manifesta mais claramente. E h evidncias que comprovam a existncia dessa com-petitividade, no que se relaciona produo de leite. Recentemente, tem havido um processo de concentrao dos novos investimentos industriais no sul do pas, onde a produo de leite basicamente realizada pela agricultura familiar. Segundo informaes coletadas por Pigatto, Souza e Morais (2009), dos 27 investimentos que foram ou vem sendo realizados pelo setor lcteo em aumento de capacida-de produtiva, 14 esto localizados no Sul do pas e, destes, sete foram realizados no Rio Grande do Sul, mais especificamente na regio Noroeste do estado, onde esto localizadas as cidades de Carazinho, Palmeira das Misses, Iju e Passo Fundo. No entanto, como explicar a ida de grande parte dos investimentos em capacidade produtiva do setor lcteo que aconteceram nos ltimos anos para essa regio que concentra bacias leiteiras formadas, preponderantemente, por agricultores familiares?

    Assim, o presente artigo tem por objetivo investigar como se expli-ca a competitividade dos agricultores familiares produtores de leite diante das maiores exigncias de carter quantitativo e qualitativo, tendo a regio de Passo Fundo como estudo de caso.

  • 310

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    Um modelo analtico para compreenso da competitividade na agricultura familiar

    Diferentes conceitos tm sido apresentados na literatura para o termo competitividade. Um destes o apresentado por Haguenauer (1989, p.13), que define a competitividade como (...) a capacidade de uma empresa, setor ou indstria de produzir mercadorias com pa-dres de qualidade que sejam especficos, que sejam requeridos por mercados determinados, de forma a utilizar recursos em nveis iguais ou inferiores aos que prevalecem em indstrias ou empresas que sejam semelhantes ao resto do mundo, durante certo tempo. Ressaltando, portanto, a questo da qualidade do produto, mas tambm a questo do custo de produo. No entanto, a operacionalidade desse conceito pode ser difcil, uma vez que a sua compreenso multifacetada, po-dendo envolver diferentes aspectos que contribuem para o alcance de um produto de qualidade e/ou com baixo custo de produo.

    Contudo, os modelos de anlise da competitividade voltados compreenso dos determinantes da competitividade no segmento industrial so insuficientes para a anlise da competitividade da agri-cultura familiar, uma vez que esta possui especificidades que preci-sam ser consideradas. Essa adequao requer algumas consideraes importantes medida que elementos caractersticos de sua realidade social, econmica e ambiental precisam ser considerados.

    Ao tratarmos da competitividade de produtores agropecurios, preciso primeiro considerar que o processo produtivo existente nesta atividade sofre interferncia direta das caractersticas edafoclimticas e, portanto, a tomada de deciso dos agentes, ou a definio de sua estratgia e consequentemente de sua competitividade, remete a con-siderao de tais caractersticas.

    A segunda considerao importante que, relativamente agri-cultura patronal3, a agricultura familiar historicamente no Brasil teve um papel marginal no acesso a recursos produtivos, enquanto a agri-cultura patronal teve acesso privilegiado a terra e crdito subsidiado pelo governo, principalmente nas dcadas de 1960 e 1970, ao longo do processo de modernizao da agricultura brasileira (WILKINSON, 1996). Isso significa que, comparativamente ao produtor patronal, a agricultura familiar sofre de uma restrio maior aos recursos de pro-duo (especificamente terra, trabalho, capital e insumos). No entan-to, essa condio restritiva permitiu o desenvolvimento de uma srie

    3 Por produtor patronal compreende-se aquele que no se enqua-dra no PRONAF.

  • 311

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    de prticas no uso e gesto dos recursos produtivos com o objetivo de melhor lidar com a escassez destes, o que no teria acontecido na mesma proporo com os agricultores patronais medida que havia tido maior acesso a tais recursos. Essas prticas podem, portanto, con-tribuir para a construo da competitividade quando se considera a agricultura familiar.

    A terceira considerao importante diz respeito questo da diver-sidade produtiva na agricultura familiar. consenso na literatura que a agricultura familiar brasileira tem como uma das suas caractersti-cas a diversidade produtiva (WILKINSON, 1996). Muitas vezes essa di-versificao segue uma lgica direcionada formao de sistemas de produo sinrgicos, em que as atividades so complementares entre si. O sinergismo entre as atividades permite muitas vezes a reduo de custos, uma vez que possibilita a substituio de insumos obtidos externamente pela prpria produo interna, bem como a utilizao de mquinas e equipamentos de forma conjunta. Nesse sentido, a constituio de sistemas produtivos sinrgicos pode contribuir para a construo da competitividade na agricultura familiar.

    A partir do exposto sugere-se um marco de anlise da competitivi-dade para a agricultura familiar apresentada pela Figura 1.

    Segundo o marco analtico apresentado, seis dimenses afetariam a competitividade das empresas, no caso as propriedades de agricul-tores familiares que produzem leite. So elas: 1) o ambiente organi-zacional; 2) o ambiente institucional; 3) o ambiente tecnolgico; 4) o ambiente competitivo (que envolve os mercados A e B da Figura 1) no qual a empresa se insere na cadeia produtiva; 5) as caractersticas edafoclimticas e 6) a disponibilidade dos fatores de produo. Cada um destes conjuntos diz respeito a mltiplas variveis.

    De acordo com a Figura 1, os ambientes organizacional, institucio-nal e tecnolgico afetariam toda a cadeia produtiva na qual os agricul-tores familiares esto inseridos. O ambiente competitivo, identificado na Figura 1 sendo composto pelos mercados A e B, afetaria somente as empresas localizadas nos elos que fazem parte desse mercado. J as caractersticas edafoclimticas e a disponibilidade de fatores de produo afetariam diretamente as estratgias das firmas, ou seja, dos agricultores familiares. A partir da ao simultnea dessas seis dimenses os agricultores familiares edificariam sua estratgia de ao. E esta, por sua vez, conduzir (ou no) competitividade dos mesmos.

    Nesse sentido, a estratgia que conduzir competitividade. Como o alcance da competitividade depende da capacidade da em-

  • 312

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    presa de produzir com qualidade e a preos competitivos (HAGUE-NAUER,1989), logo, a definio de sua estratgia passa por incorporar meios que viabilizem o alcance de um produto de qualidade com preos competitivos.

    Figura 1 Marco de anlise da competitividade na agricultura familiar

    Fonte: elaborao dos autores. Assim, o conceito de estratgia passa a ser importante. No entanto,

    quando consideramos uma propriedade familiar como unidade em-presarial, o conceito de estratgia deve ser ampliado, na medida em que o agricultor familiar ao mesmo tempo empresrio e trabalhador. Nesse sentido a sua estratgia composta por um misto da estratgia empresarial (busca pelo lucro) e da estratgia do trabalhador, que visa basicamente reproduo familiar. Assim, o conceito de estratgia de re-produo social cabe de forma adequada a essa realidade. Por estratgia de reproduo social do agricultor familiar compreende-se as respostas dadas por cada famlia a fim de assegurar ao mesmo tempo a sua prpria reproduo e a de sua explorao (SCHNEIDER, 2003, p.114), ou seja, tem como objetivo no somente o aspecto econmico que envolve a atividade produtiva, mas tambm o aspecto social, de reproduo da famlia.

    Uma forma plausvel de observar a materializao dessa estratgia nas propriedades agrcolas verificar a composio e funcionamento dos sistemas produtivos encontrados nas mesmas, poiz os sistemas produtivos refletem uma srie de determinaes sistmicas, dadas pelo conjunto das relaes internas e externas da propriedade agrco-la, que permitem o levantamento dos recursos necessrios ao alcance dos objetivos dos agricultores.

  • 313

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    Dufumier (1990) conceitua sistemas de produo como uma com-binao coerente, no espao e no tempo, de determinada quantidade de trabalho, seja familiar ou assalariada, de meios de produo (terra, mquinas, demais insumos) que permitem auferir diferentes produ-es agrcolas e/ou pecurias. Assim, a estratgia do agricultor fami-liar passa por alcanar os objetivos em nvel empresarial e familiar, sendo a definio dessa estratgia influenciada pelo meio ambiente envolvente, que no marco analtico proposto composto pelos am-bientes organizacional, institucional e tecnolgico, pela disponibili-dade de fatores de produo e pelas caractersticas edafoclimticas do ambiente no qual so desenvolvidas suas atividades. Por sua vez, a constituio dos sistemas produtivos seria a materializao dessas estratgias, uma vez que estes se constituiriam na forma escolhida pelo agricultor de atingir seus objetivos enquanto produtor e enquan-to unidade familiar.

    Nesse sentido, desenvolver uma anlise que considere os sistemas produtivos permitir observar como estes respondem s influencias do ambiente, de forma a se manter na atividade produtiva, sendo, portanto, competitivos.

    Metodologia da pesquisaA metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho a do estudo

    de caso (YIN, 2001), realizado na regio de Passo Fundo (que com-preende os municpios de No-Me-Toque, Passo Fundo, Mato Cas-telhano, Marau, Vila Maria e Casca, todos no Estado do Rio Grande do Sul), que se destaca como produtora de leite no Estado. Mas, vale ressaltar que o fenmeno da competitividade do leite produzido pela agricultura familiar ocorre em toda regio Noroeste do Rio Grande do Sul e no somente nos municpios pesquisados.

    As informaes foram coletadas por meio de pesquisa documental (relatrios de instituies, livros histricos da regio e artigos cientfi-cos, dados do Censo Agropecurio e da Pesquisa Pecuria Municipal de diferentes anos, ambos do IBGE e entrevistas realizadas na regio com produtores, lideranas dos produtores, tcnicos qualificados e representantes das indstrias processadoras. A natureza da pesquisa essencialmente qualitativa, e teve como objetivo identificar, a partir do relato dos entrevistados, os fatores percebidos como determinan-tes para explicar a sobrevivncia e expanso da produo leiteira em um contexto de mudanas institucionais.

    Ao todo foram entrevistadas, em maro de 2010, 34 pessoas, sendo 19 produtores de leite da agricultura familiar e 15 informantes qua-

  • 314

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    lificados que atuavam em instituies envolvidas com o fenmeno pesquisado. Os informantes qualificados foram selecionados por meio de mapeamento prvio junto a vrios atores que participam da cadeia produtiva. No caso dos produtores, a seleo dos entrevistados buscou incluir produtores da agricultura familiar que representassem os principais perfis produtivos (tamanho e tipo de sistema de produo desenvolvido) conhecidos na regio, tendo como base as orientaes do guia metodolgico de diagnstico de sistemas agrrios (GARCIA FILHO, 1999). Para tanto foi construda uma amostra dirigida contendo os produtores mais representativos de cada sistema de produo pre-viamente identificado (envolvendo a produo de leite). Como aponta a metodologia de diagnstico dos sistemas agrrios, o que interessa num primeiro momento no a representatividade estatstica da zona estudada, mas sim abranger a diversidade de produtores e de sistemas de produo existentes (...). Por isso, importante que sejam escolhidos estabelecimentos e sistemas de produo que revelem a diversidade e as tendncias identificadas (GARCIA FILHO,1999).

    A definio dos principais sistemas de produo representativos deu-se a partir da pesquisa sobre sistemas de produo realizada por Fritz Filho (2009), bem como do levantamento feito pelos prprios au-tores com informantes qualificados da regio. O Quadro 1 traz a rela-o dos sistemas de produo e os subsistemas identificados na regio que possuem o leite como atividade principal bem como o nmero de produtores entrevistados. Assim, produtores com sistemas produti-vos (cuja produo de leite estivesse presente) mais representativos da realidade da regio foram alvo de uma maior quantidade de en-trevistas comparativamente queles sistemas menos representativos.

    Quadro 1 Relao dos sistemas de produo encontrados em Passo Fundo e regio e o nmero de produtores entrevistados em cada sistema

    SISTEMA DE PRODUO NMERO DE PRODUTORES ENTREVISTADOSSistema leite: tendo leite como atividade principalLeite + gros (soja e milho) 4Leite + gros (soja e milho) + sunos 3Leite + gros (soja e milho) + sunos + aves 3Leite 1Sistema soja: tendo a soja como atividade principalSoja + milho + trigo + leite + aves 3Soja + milho + trigo + leite 4Soja + milho + trigo + leite + aves + sunos 1

    Fonte: elaborao dos autores.

  • 315

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    As entrevistas com os produtores e demais informantes qualifi-cados foram conduzidas a partir do marco analtico apresentado no referencial, o qual busca explorar as seis dimenses propostas para explicar a competitividade da agricultura familiar na produo de leite. Cada uma dessas dimenses composta por uma srie de vari-veis que visam explorar com maior detalhamento cada uma delas4.

    A competitividade da produo de leite na regio de Passo Fundo

    Passo Fundo e regio encontram-se no chamado Noroeste Rio--Grandense. Essa regio teve como vegetao original um misto de reas de campos e reas de matas, que, segundo DalMoro e Rckert (2004), foi determinante para a ocupao da rea e o uso da terra, e, atualmente, detm cerca de 2,5% da parcela da populao do Estado do Rio Grande do Sul (IBGE, 2010). Pelo seu tamanho e dinamismo econmico, a cidade de Passo Fundo tida como polo econmico da regio. Entre as principais atividades econmicas de Passo Fundo, destacam-se a indstria processadora de alimentos, a indstria de mquinas e implementos agrcolas, a construo civil e servios de sade de referncia nacional. A populao rural dos municpios pesquisados se distribui numa estrutura agrria onde a principal ca-racterstica a predominncia de estabelecimentos agropecurios de pequena rea. Segundo dados do Censo Agropecurio (IBGE, 2006), nos municpios pesquisados 50% ou mais dos estabelecimentos agro-pecurios possuam rea at 20 hectares.

    A produo de leite na regio de Passo Fundo no recente, sendo ela desenvolvida pelos colonos da regio; no entanto, inicialmen-te no era desenvolvida como atividade comercial, mas sim com o objetivo de subsistncia das famlias. Somente nas ltimas dcadas que a produo de leite vem ganhando cada vez mais espao como atividade voltada para gerao de renda na regio. Segundo dados da Pesquisa Pecuria Municipal de 2009 (IBGE, 2009), a microrregio de Passo Fundo a quinta maior bacia leiteira do Brasil5. Na regio cerca de 82% da produo de leite vm de propriedades da agricultura fa-miliar e cerca de 90% dos produtores de leite pertencem agricultura familiar (IBGE, 2006).

    4 Para observar com maior grau de detalhamento a construo de cada uma das

    dimenses e suas variveis, ver Souza (2011).

    5 Ficando somente atrs das bacias leiteiras de Chapec (SC), Arax (MG), Meia Ponte (GO) e Toledo (PR).

  • 316

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    Acompanhando a ampliao da produo de leite na regio foi se desenvolvendo a indstria de processamento da matria-prima, que inicialmente contava apenas com pequenas agroindstrias, mas que posteriormente passou a atrair empresas de maior porte nacionais e internacionais. No tocante ao setor agroindustrial, segundo os dados da Emater (2009), considerando a abrangncia da regional de Passo Fundo6, em 2008, a regio possua 51 pontos de captao de leite, sendo 35 indstrias e 16 postos de recebimento e resfriamento, o que representa uma capacidade diria de recebimento de 6.366.820 litros/dia. Considerando as 35 agroindstrias processadoras, a capacida-de de recebimento de 5.139.820 litros, no entanto, como aponta a Emater (2009), em setembro de 2008, o sistema industrial instalado estava funcionando com capacidade ociosa, j que o recebimento efe-tivo dirio era de 3.471.875 litros/dia.

    Anlise da competitividade na produo de leite da agricultura familiar em Passo Fundo e regio

    Na sequncia so analisados os principais aspectos referentes s seis dimenses que do competitividade agricultura familiar na regio de Passo Fundo.

    O Ambiente InstitucionalA existncia de polticas pblicas que apoiem o desenvolvimento

    das atividades produtivas, como o crdito, um fator que interfere no comportamento do agricultor. Contudo, no basta haver dispo-nibilidade de crdito, preciso haver condio de acesso. Segundo Souza, Ney e Ponciano (2009) uma parcela significativa de agricul-tores familiares no acessa os recursos do Pronaf em decorrncia das deficincias das instituies financeiras que operam o programa, como j constatado por diferentes pesquisas sobre o tema. Pesquisa da Emater de Passo Fundo, realizada em 24 municpios da regional, sobre o acesso a diferentes polticas pblicas do Governo Federal para a safra 2008/2009 em relao safra 2007/2008 constatou o elevado grau de satisfao dos produtores quanto aos parceiros que apoiam o repasse do crdito rural, seja na elaborao de projetos, seja na con-cesso de documentos necessrios ao acesso ao crdito ou ao repasse de crdito. Essa realidade corroborada pelos dados da pesquisa: dos 19 produtores entrevistados, 10 produtores acessaram o Pronaf Mais

    6 A regional de Passo Fundo considerada pela Emater composta por 70 municpios.

  • 317

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    Alimentos nos ltimos anos; sete acessaram o Pronaf Investimento e 16 acessaram o Pronaf Custeio nos ltimos anos.

    Alm disso, existente na regio uma cultura de acesso s polti-cas pblicas. A regio de Passo Fundo j tinha sido amplamente bene-ficiada pela aplicao de polticas de estmulo produo, primeiro com a produo de trigo e depois com a produo de soja, em virtude dos interesses do governo brasileiro em reduzir a dependncia do trigo importado e ampliar as exportaes de soja (MANTELLI, 2006). Assim, como coloca um dos entrevistados, esse histrico de acesso a polticas pblicas na regio fez com que os produtores perdessem o receio de acessar financiamentos para o desenvolvimento de suas atividades agropecurias.

    Um terceiro aspecto tambm ligado ao acesso s polticas pblicas e outros benefcios que os produtores tm logrado alcanar na regio decorre do forte movimento sindical na regio ligado agricultura familiar, o que amplia o poder de barganha deste segmento da agri-cultura junto ao Estado e outras organizaes. Segundo Favareto (2006), a regio do Noroeste do Rio Grande do Sul um dos beros do chamado novo sindicalismo ligado agricultura familiar.

    O cooperativismo e o associativismo tambm tm papel relevan-te na competitividade na regio. Ambos foram estimulados pelo governo na poca das polticas voltadas produo de trigo e soja (DALMORO e RCKERT, 2004). A prtica cooperativa/associativa bastante disseminada na regio, sendo uma herana cultural dos co-lonos descendentes de imigrantes europeus que ocuparam a regio. Nos pases europeus o associativismo uma forma clssica de enfren-tar as adversidades climticas e mercadolgicas (SOUZA FILHO et al., 2004). Todos os 19 produtores entrevistados afirmaram ser associados ao menos a uma cooperativa na regio, seja ela de comercializao, compra de insumos, de crdito ou sindicato de produtores.

    Outra prtica comum a formao de associaes e grupos de pro-dutores para acesso a insumo de produo, destacadamente o acesso a mquinas e equipamentos para o desenvolvimento das atividades produtivas. Tambm frequente o uso da troca de dias de trabalho, ou seja, os produtores, em pocas de excesso de trabalho, ajudam um vizinho ou amigo no desenvolvimento das atividades na propriedade do mesmo e em troca o beneficiado assume o compromisso de ajudar na propriedade do prestador de servio quando necessrio.

    Outro aspecto histrico-cultural relevante a experincia dos pro-dutores na produo de leite, mas tambm na produo de gros, j que esta atividade tem forte complementaridade com a produo de

  • 318

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    leite, uma vez que os gros (trigo, soja e milho) so utilizados para ali-mentao dos animais. As produes de gros e de leite j so desen-volvidas h vrias geraes pelas famlias, que possuem um profundo conhecimento sobre ambas, o que contribui para uma maior eficincia nas atividades produtivas, reduzindo custos e fazendo com que os produtores no desistam facilmente dessas atividades; tendo algum grau de abertura a mudanas nos padres produtivos que venham a ser impostas de fora para dentro (atravs das empresas, leis, dentre outros).

    O Ambiente OrganizacionalNa regio existe uma diversidade de organizaes que, de forma

    direta ou indireta, tm contribudo em diferentes aspectos para o fortalecimento e competitividade da produo de leite. A seguir apresentada uma sntese das organizaes que atuam na regio e como estas tm contribudo para a competitividade dos sistemas de produo que envolve a produo de leite.

    Organizaes creditcias (bancos comerciais e cooperativas de Crdito - Sicredi, Cresol, Crenor): permitem maior acesso dos produtores das diferentes atividades produtivas que com-pem os sistemas de produo (onde o leite est presente) a linhas de financiamento. Dessa forma contribuem para a ex-panso da produo, bem como para uma maior agregao de tecnologias que beneficiam as diferentes atividades. Buainain, Souza Filho e Silveira (2002) apontam que aspectos ligados s polticas agrcolas, como a disponibilidade do crdito, afetam a adoo de tecnologias. Estas organizaes apoiam ainda a pro-moo de atividades ligadas cadeia produtiva do leite, tais como feiras de tecnologias, seminrios, dias de campo, cursos.Organizaes cooperativas (Cooprolate, Pi, Santa Clara, dentre outras) em diferentes reas: desenvolvem trabalho de assistncia tcnica junto aos produtores cooperativados (e no cooperativados em alguns casos); contribuem para incorpo-rao de tecnologias por parte dos produtores; auxiliam para uma melhor negociao de preos da matria-prima incenti-vando a permanncia na atividade; apoiam atividades ligadas cadeia produtiva do leite e ainda fazem articulao poltica em prol da produo de leite.Organizaes polticas (Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Federao dos Trabalhadores da Agricultura Familiar; Conseleite): apoiam a promoo de eventos ligados cadeia

  • 319

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    produtiva do leite; incentivam a diversificao da renda por parte dos produtores, com o objetivo de reduzir a dependn-cia e os riscos de estar ligado somente a uma ou poucas ativi-dades; promovem a divulgao de um preo de referncia nos estados da regio Sul e fazem articulao poltica em prol da produo de leite.Organizaes de pesquisa (Embrapa, Universidade de Passo Fundo): realizam pesquisas ligadas qualidade do leite e ali-mentao animal; realizam e apoiam as atividades de formao promovidas por outras organizaes; realizam atividades para discutir a cadeia produtiva do leite; desenvolvem tecnologias agropecurias e apoiam as atividades de divulgao de tecno-logias. No caso da UPF, realiza ainda anlises laboratoriais do leite produzido nas propriedades da regio.Organizaes de ensino (Universidade de Passo Fundo, Sebrae): apoiam e promovem eventos ligados cadeia pro-dutiva do leite, inclusive cursos sobre diferentes aspectos da produo de leite e gesto da propriedade.Organizaes de extenso (Emater, assistncias tcnicas privadas): apoiam os produtores na escolha de mquinas, equipamentos e insumos de produo; apiam a elaborao de projetos para acesso s linhas de crdito; realizam ati-vidades de formao para os produtores; acompanham as atividades agropecurias nas propriedades buscando torn--las mais eficientes.Empresas privadas agroindustriais (DPA, Italac, Bom Gosto, dentre outras): apoiam os produtores na incorporao de tec-nologias que levem ao aumento de produo e qualidade da matria-prima; ampliam a concorrncia, levando a melhoria de preos e incentivado os produtores na atividade; fornecem assistncia tcnica aos produtores (em alguns casos).Empresas de mquinas e implementos agrcolas (John Deere, Stara, empresas regionais e locais): desenvolvem mquinas e equipamentos agrcolas para pequena propriedade, mas tambm investem em equipamentos voltados atividade leitei-ra em pequena escala, principalmente resfriadores a granel com capacidades mais adequadas mdia da produo local.Poder pblico (municipal e federal): concedem crdito aos produtores de leite e de outras matrias-primas, alm de apoiar a realizao de eventos para desenvolvimento e consolidao da agropecuria na regio, inclusive para a produo de leite;

  • 320

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    a manuteno da infraestrutura bsica para escoamento da produo de leite; a disseminao e uso de tecnologias pelos produtores; a fixao das indstrias processadoras nos muni-cpios; as atividades de capacitao dos produtores e prestao de assistncia tcnica atravs da Emater.

    Assim, diferentes tipos de organizaes tm empreendido aes que contribuem para a competitividade dos sistemas produtivos que envolvem a produo de leite. Segundo alguns dos entrevistados, o desenvolvimento de aes conjuntas, ou no, por parte dessas organi-zaes para o fortalecimento da produo de leite e tambm para a sua competitividade decore da percepo dessas organizaes da fora que a atividade produtiva do leite tem ganhado na regio e assim das oportunidades potenciais econmicas e sociais que a mesma tem aberto tanto para as organizaes quanto para aqueles grupos sociais que esto envolvidos com a atividade.

    Caractersticas EdafoclimticasO relevo predominante da regio pesquisada de planalto, o que

    acaba se constituindo em fator positivo para o desenvolvimento da bovinocultura de leite, pois, entre outras coisas, permite uma maior mecanizao da produo agrcola, contribuindo para uma maior utilizao de mquinas e equipamentos agrcolas que aumentam a produtividade do trabalho, reduzindo custos.

    Segundo um dos entrevistados, pesquisador da Embrapa especia-lizado em forragens, o clima e o solo da regio tornam (...) possvel cultivar aqui na regio qualquer espcie forrageira que se cultiva no mundo com raras excees. Completa que no Sul do Brasil possvel cultivar espcies forrageiras capazes de compor sistemas de alimen-tao para os animais atravs do pastejo 12 meses por ano. Assim, o regime hdrico associado fertilidade do solo contribui para o cultivo de forrageiras de alta produtividade e permite o cultivo de pastagem o ano todo sem maiores dificuldades, colaborando para um baixo custo de produo. no inverno, quando h entressafra da produ-o de leite no resto do Brasil, que a produo alcana os maiores patamares no Rio Grande do Sul, sendo esta a razo de a produo a base de pasto ser to desenvolvida na regio. Segundo Fontaneli (2002) os sistemas de produo de leite em que a pastagem o com-ponente principal so reconhecidamente os mais econmicos e tm sido amplamente utilizados por pases considerados competitivos na produo de leite, como o caso da Argentina e Nova Zelndia.

  • 321

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    Vale ressaltar que as caractersticas edafoclimticas contribuem tambm para a obteno de uma elevada produo de gros que so utilizados na rao e na silagem dada aos animais. Dessa forma, a complementao alimentar dos animais, que em muitas regies feita base de rao adquirida comercialmente, na regio feita com a silagem e gros produzidos domesticamente.

    Disponibilidade de recursos produtivosO acesso ao crdito viabiliza um maior investimento na proprieda-

    de quando comparado aos investimentos que seriam possveis com recursos prprios. O crdito tem sido fundamental no somente para custeio da safra, mas tambm para a realizao de investimentos e, assim, constituio da infraestrutura das propriedades. Nesse caso, o intenso recurso s tecnologias mecnicas que ocorre entre os produ-tores remete a outra caracterstica da regio que tem se revelado nos ltimos anos: a falta de mo de obra. O envelhecimento da populao rural associado ao xodo dos filhos dos produtores tem reduzido gra-dativamente a disponibilidade de mo de obra nas famlias (BUAINAN et al., 2007). Segundo dados das entrevistas, oito dos 19 produtores entrevistados apontaram que os filhos no pretendem dar continui-dade s atividades nas propriedades, seis deles responderam que os filhos pretendem dar continuidade s atividades da propriedade e cinco no sabem responder ou os filhos so crianas e/ou no ma-nifestaram suas opinies. Essa constatao tem relevncia, uma vez que a literatura sobre agricultura familiar (GUANZIROLI, BUAINAIN, DI SABBATI, 2012) aponta a mo de obra familiar como uma vantagem desse tipo de agricultura, j que o uso desse fator de produo acaba barateando os custos de produo vis--vis s propriedades que utili-zam mo de obra contratada.

    Mas a situao da mo de obra na regio revela-se ainda mais crtica. De acordo com os entrevistados (eles foram unnimes nessa resposta) h uma grande escassez de mo de obra para contratao na regio, o que fortalece a disposio dos produtores em adotar tecno-logias que economizem o fator trabalho, ainda mais considerando que a produo de leite requer um envolvimento dirio do trabalhador; portanto, tecnologias que possam substituir o trabalho e assim mini-mizar sua penosidade so bem aceitas.

    Por outro lado, a atividade produtiva do leite permite a utilizao do que Tepicht (1973) denominou de foras marginais de produo que seria a fora de trabalho das mulheres, velhos e crianas. Essa fora marginal tem um valor-trabalho somente dentro da propriedade e no

  • 322

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    externamente, no sendo, portanto, includa no custo de produo agr-cola. Na produo de leite essa fora de trabalho comumente utilizada reduzindo a ociosidade da mo de obra familiar. Os dados fornecidos pelos produtores corroboram essa afirmao, pois dos 19 entrevistados 12 afirmaram que h utilizao do trabalho de mulheres e/ou filhos na ordenha dos animais, por exemplo. Assim, a utilizao dessa fora de trabalho contribui para a reduo dos custos de produo, uma vez que reduz a necessidade da contratao de mo de obra.

    Se, por um lado, a expanso da produo de leite esbarra cada vez mais na reduo da disponibilidade de mo de obra, por outro lado, a limitada extenso de rea das propriedades da agricultura familiar do Rio Grande do Sul (exceto em algumas regies) tambm determina al-gumas caractersticas dos sistemas produtivos adotados e por conse-quncia da produo de leite. Em primeiro lugar, o tamanho das pro-priedades vem inibindo, ao menos parcialmente, o desenvolvimento de atividades onde ocorram ganhos de escala, como por exemplo, vem acontecendo com a produo de soja. Isso significa que os produ-tores vm optando por sistemas produtivos mais diversificados, em que: i) a soja somente uma das atividades; ii) os ganhos sejam dis-tribudos ao longo do ano e iii) a propriedade no seja dependente do desempenho de uma nica atividade produtiva, reduzindo o risco de perdas com intempries, pragas etc. e incorporando assim a produo de leite. Segundo o pesquisador da Embrapa, com a diminuio do tamanho do mdulo rural na regio, decorrente da prtica de diviso da rea por herana, desenvolveu-se a estratgia de intensificar o uso da terra ao longo do tempo. Dessa forma, se antigamente utilizava-se a terra somente para cultivos de vero, como a rotao de milho e soja, com o tempo as culturas de inverno foram fortalecidas, entre elas o trigo e mais recentemente o uso para a produo de forragens para alimentao animal.

    Assim, devido limitada rea das propriedades h a necessida-de de complementar a alimentao dos animais, a qual se d basi-camente de duas formas: atravs da rao produzida com base em gros modos ou da silagem de gros ou forragens. Dos 19 produtores entrevistados oito declararam utilizar a rao preparada na proprie-dade ( base dos gros produzidos internamente) na alimentao das vacas, cinco declararam comprar a rao, quatro responderam no utilizar rao e dois declararam utilizar rao comprada e tambm rao preparada internamente. No caso da silagem, dos 19 produtores entrevistados, 18 afirmaram utilizar silagem para complementao alimentar dos animais, principalmente no vero.

  • 323

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    O ambiente competitivoO mercado de mquinas e implementos agrcolas um mercado

    nacional, uma vez que so grandes empresas que dominam o segmen-to em nvel nacional e mesmo internacional. No entanto, importante destacar que h algumas especificidades regionais que interferem nesse mercado. Em primeiro lugar, ressalta-se a existncia de um setor metal-mecnico forte no estado prximo da regio da pesquisa (na regio Noroeste do estado), que concentra 77,8% da produo do segmento de mquinas e implementos agrcolas do estado. A existn-cia e o fortalecimento do setor metal-mecnico no estado relacionam--se modernizao das tcnicas agrcolas promovida pela Revoluo Verde, mas tambm ao cultivo de trigo e soja que foi fortemente es-timulado no estado e que requer o uso de mquinas e implementos, promovendo o mercado desses equipamentos (BARBOSA e PINTO, 2008). Segundo Souza Filho et al. (2004), o modelo implantando pela Revoluo Verde, que foi baseado na disseminao das tecnologias qumicas, biolgicas e mecnicas, teve incidncia no pblico dos agri-cultores familiares apenas no Sul do Brasil.

    Em segundo lugar, a proximidade entre empresas e produo agro-pecuria tem viabilizado a adequao de mquinas e implementos agrcolas realidade da agricultura familiar. Para o pesquisador da Embrapa, a disseminao da prtica de plantio direto em todo estado abriu um grande mercado para mquinas e implementos agrcolas, mas tambm para as tecnologias qumicas. Alm disso, o crescente dinamismo do mercado de resfriadores e ordenhadeiras atraiu em-presas regionais para a produo desses equipamentos, ampliando a concorrncia no setor e reduzindo os preos desses equipamentos. So exemplos as empresas gachas Celgs, Friomax, Sulinox e Lgia, que fabricam tanques de resfriamentos e ordenhadeiras e que tm, principalmente, atuao regional.

    O ambiente tecnolgicoO ambiente tecnolgico tem contribudo de forma preponderante

    para a competitividade da produo de leite na regio. Em primei-ro lugar, a histrica relao dos produtores com as tecnologias, que tem em seu bojo as polticas de incentivo produo de soja e trigo com base tecnolgica, iniciadas na metade do sculo passado. Como ambas as atividades atendiam tanto ao mercado interno quanto ao ex-terno recebiam incentivos agrcolas, facilitando o processo de adoo de tcnicas mais avanadas (MANTELLI, 2006).

  • 324

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    Esse processo foi aprofundado posteriormente (dcada de 1980) com a disseminao da prtica do plantio direto, que fez com que os produtores se abrissem mudana tecnolgica e aceitassem a incor-porao de novas tecnologias. O que se pontua nesse sentido que os produtores da regio se posicionaram em relao s novas tecnologias com desconfiana e averso, como em outras localidades, mas vendo nelas novas oportunidades de ampliar os ganhos e reduzir o trabalho.

    No entanto, essa relao antiga dos produtores com a tecnologia associada aos efeitos da Revoluo Verde acabou gerando um padro produtivo moderno na regio que ocasionou a excluso de muitos produtores a partir daquele momento (MANTELLI, 2006). Ou seja, vem ocorrendo um processo de seleo, iniciado nos anos de 1970, na agropecuria da regio que fez com que permanecessem na ativi-dade somente aqueles produtores que conseguiram acompanhar esse processo de inovao tecnolgica. Assim, de se esperar que novas exigncias em termos de quantidade e qualidade do leite no ocasio-nem a sada da atividade de muitos produtores, uma vez que aqueles que permaneceram na atividade j teriam sido selecionados por meio desse processo histrico.

    Outra prtica, que envolve mudana tecnolgica, aumento da competitividade e que tem sido alterada pelos produtores com o ob-jetivo de alcanar melhores ndices de qualidade da matria-prima e de produtividade, o melhoramento gentico. Dos 19 produtores, 10 afirmaram que a gentica tem contribudo, principalmente, para o aumento de produtividade na propriedade.

    A mudana tecnolgica dos produtores de leite na regio tem ainda tido como principais motores a Normativa 51 do MAPA, uti-lizada pelas empresas como instrumento para induzir os produtores a melhorarem a qualidade do leite, e a economia de mo de obra. Assim, considerando a adoo das duas principais tecnologias liga-das produo leiteira, que so a ordenhadeira e o resfriador gra-nelizado, dos 19 produtores entrevistados, no caso da ordenhadeira, 15 responderam que passaram a utilliz-la com o objetivo de tornar mais rpida a ordenha, economizando mo de obra e tornando mais fcil o desenvolvimento do trabalho, enquanto quatro produtores responderam que o objetivo principal foi alcanar maiores nveis de higiene e qualidade do leite. No caso dos resfriadores a granel, nove produtores apontaram que fizeram a opo pelo equipamento com o intuito principal de melhorar a qualidade do leite e cinco afirmaram que o fizeram com o objetivo de auferir ganhos maiores com a boni-ficao que as empresas pagam por litro para quem tem o equipa-

  • 325

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    mento. Nesse sentido, os produtores perceberam que a adoo dessas tecnologias lhes proporcionou vantagens, seja pela economia de um fator cada vez mais escasso que a mo de obra, seja pela gerao de ganhos atravs da garantia de sua manuteno na atividade e/ou da bonificao a ser auferida pela posse de tais equipamentos.

    A adoo das tecnologias, principalmente para agricultores fami-liares que enfrentam restries de terras e de recursos, passa ainda pela adequao destas s suas necessidades e capacidades (de finan-ciamento). Os equipamentos (ordenhadeira e resfriadores a granel) voltados produo de leite tambm sofreram adaptao em suas dimenses para atender ao pblico da agricultura familiar que no possui escala de produo como os produtores especializados para os quais estes equipamento foram idealizados. Muitas fbricas locais, regionais e multinacionais passaram a produzir esses equipamentos sob encomenda e com dimenses mais adequadas realidade dos produtores da regio. Atualmente possvel encontrar resfriadores a granel com capacidade mnima de 250 litros de empresas referncias no setor, como a Sulinox ou a Etscheid Techno. Segundo dados da pesquisa, dos 15 produtores que possuem tanque a granel, 11 deles possuem equipamentos com capacidade igual ou superior a 1.000 litros, enquanto somente quatro possuem capacidade inferior a 1.000 litros, sendo o menor de 500 litros. Considerando que a produo, a cada dois dias em mdia, dos entrevistados foi de aproximadamente 600 litros, infere-se que os equipamentos existentes nas propriedades tm sido bastante compatveis com a produo nas mesmas. Conco-mitantemente a esse processo de uma maior adequao das tecnolo-gias realidade da agricultura familiar da regio, os investimentos em gentica, alimentao etc. acabaram, por sua vez, elevando a pro-dutividade e, portanto, a escala de produo, ampliando assim as ne-cessidades de capacidade de resfriamento da matria-prima. Houve, portanto, um ajustamento tecnolgico tanto por parte das empresas que ofertam as mesmas, quanto por parte dos agricultores.

    A educao formal e tcnica tem sido tambm um fator relevante para a adoo de tecnologias. A educao est relacionada no so-mente com a habilidade de obter e processar informao, mas tambm com o uso de tcnicas de gesto e gerenciamento (SOUZA FILHO et al., 2004). No entanto, o aprendizado tecnolgico no est diretamente relacionado ao grau de escolaridade dos produtores pesquisados. Dos proprietrios familiares entrevistados, 13 produtores estudaram at o primeiro grau (completo ou no), cinco produtores estudaram at o segundo grau (completo ou no) e somente um produtor completou

  • 326

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    ou est cursando o terceiro grau. Ou seja, h um baixo grau de es-colaridade entre os entrevistados. Mas, apesar da baixa escolaridade formal, os produtores relataram participar de muitas atividades de formao tcnica realizadas nos municpios e na regio. Dos 19 en-trevistados, nove produtores afirmaram participar de atividades de capacitao promovidas pelas empresas que entregam leite ou coope-rativas das quais participam, oito produtores relataram participar de dias de campo, seminrios e outras atividades de formao organiza-das pela Emater, prefeituras e sindicatos, seis produtores relataram participar de cursos de curta durao relacionados a temas que envol-vem o desenvolvimento das atividades agropecurias. Nesse sentido, podese especular a existncia de um trade off entre educao e as-sistncia tcnica, onde uma adequada estrutura e qualidade da assis-tncia tcnica substitui, ao menos parcialmente, os anos de educao formal, no que diz respeito ao aprendizado tecnolgico. Alm disso, afirma-se que a existncia de um pool de organizaes que promovam atividades formativas para os produtores na regio tambm contribui para a adeso destes s tecnologias utilizadas no segmento leiteiro.

    ConclusesO presente artigo buscou contribuir para a construo de um refe-

    rencial metodolgico para analisar a competitividade da agricultura familiar, uma vez que os modelos tradicionais de anlise da competiti-vidade no agronegcio no logram captar algumas especificidades da agricultura familiar que so importantes para explicar a capacidade destes produtores para enfrentar situaes adversas e, ainda assim, ganhar mercado o que, em ltima anlise, um indicador claro de competitividade. A inovao metodolgica consistiu, principalmente, em admitir que a estratgia de reproduo social e econmica desses produtores determinada por seis diferentes conjuntos de fatores, e que essa estratgia explora os sistemas produtivos caractersticos dos agricultores familiares, que incorporam e refletem uma srie de determinaes micro e sistmicas dadas pelo conjunto das rela-es internas e externas da propriedade agrcola. Nesta perspectiva, a competitividade de uma determinada atividade que faz parte de um sistema de produo no construda de forma individual pela firma, mas depende tanto da interao do conjunto das firmas com os vrios elos e elementos do sistema, como de todo um conjunto de relaes da atividade especfica, leite por exemplo, com as demais atividades produtivas mantidas no interior da firma. Os sistemas produtivos refletem as escolhas dos produtores levando em conta as

  • 327

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    potencialidades e os limites do ambiente nos quais esto inseridos. A principal implicao dessa forma de observar a competitividade a necessidade de considerar a existncia e constituio dos sistemas de produo, e como as atividades que fazem parte destes contribuem para a construo da competitividade de uma determinada atividade. Partindo deste princpio, resgatar algumas particularidades do desen-volvimento da cadeia produtiva da soja, milho, trigo, dentre outros, auxiliou na compreenso da competitividade da produo de leite.

    O trabalho permitiu ainda observar que h espao para os agricul-tores familiares na produo de commodities e que estes podem ser competitivos, mesmo sendo relativamente pequenos em relao aos padres cada vez mais dominantes no agronegcio brasileiro, como o caso da agricultura familiar produtora de leite da regio de Passo Fundo analisada pelo presente artigo. No entanto, isso requer um conjunto de condies para o desenvolvimento das atividades produ-tivas e ademais, que haja sinergia entre estas atividades.

    Alm dos vrios aspectos apresentados ao longo dos resultados, importante destacar que a competitividade da produo de leite na regio est relacionada ao sistema de produo desenvolvido nas pro-priedades, no qual a produo de leite somente uma das atividades. A produo de leite na regio vivel devido s sinergias existentes entre as atividades desenvolvidas na propriedade, principalmente a produo de gros e algumas atividades pecurias (como a suino-cultura e avicultura) que fornecem insumos de produo a um baixo custo. A existncia dessas complementaridades entre as atividades produtivas desenvolvidas nas propriedades contribui para a reduo dos custos de produo do leite e, portanto, para sua competitividade.

    Vale ressaltar ainda que as polticas de financiamento de investi-mentos, quase sempre associados aquisio de tecnologia, e de cr-dito de custeio, assim como a assistncia tcnica, tiveram, e continuam tendo, fundamental importncia para a construo da competitivida-de do leite produzido pela agricultura familiar da regio. Estas po-lticas viabilizam a incorporao e o uso de inovaes tecnolgicas, contribuindo tanto para ampliar a escala de produo como para me-lhorar a qualidade da matria-prima. Assim, da mesma forma que as polticas pblicas foram historicamente importantes para a construo da competitividade dos agricultores patronais em diferentes setores, estas tambm foram e continuam relevantes para a construo da com-petitividade dos agricultores familiares produtores de leite da regio.

    Contudo, vale ressaltar que no basta a existncia de polticas p-blicas para o sucesso da produo, preciso, ainda, que o produtor

  • 328

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    seja capaz de acessar tais polticas. E nesse aspecto os agricultores familiares da regio tm demonstrado grande capacidade. O elevado grau de acesso dos produtores familiares da regio s polticas pbli-cas resulta de uma combinao de fatores, destacando-se: i) o longo histrico que esses produtores possuem de acesso a essas polticas p-blicas; ii) a existncia de vrias organizaes na regio que facilitam ou intermediam o acesso dos produtores a essas polticas; iii) a capa-cidade de organizao e reivindicao polticas desses produtores, em particular no que se refere s polticas pblicas de seu interesse. Desse modo, como j constatado de forma ampla pela literatura, atualmente no faltam polticas pblicas para o rural brasileiro, e sim melhores condies de acesso por parte dos agricultores familiares.

    Outro aspecto a se destacar a capacidade de inovao dos pro-dutores que no est somente relacionada ao fato de a tecnologia ter sido adaptada sua realidade. Est relacionada tambm histrica relao dos agricultores familiares da regio com as inovaes tecno-lgicas. H algumas dcadas os produtores daquela regio tm sido incentivados, pelos atores locais e pelas polticas pblicas, a adotar inovaes tecnolgicas na produo agropecuria, o que contribuiu para ampliar a boa receptividade dos produtores da regio s inova-es tecnolgicas.

    A constituio de uma rede de organizaes ligadas direta ou in-diretamente agricultura familiar tambm uma especificidade da regio que contribuiu para a competitividade dos produtores de leite. A existncia de organizaes ligadas a diferentes reas, tais como assistncia tcnica, fornecimento de insumos de produo, pesquisa, capacitao e comercializao, que tm trabalhado de forma conjunta ou mesmo individual para o desenvolvimento da produo de leite na regio, tambm contribuiu sobremaneira para a competitividade da produo. A crena de que o leite se tornou uma alternativa produtiva importante e adequada para os agricultores familiares e, dessa forma, para a economia da regio tem mobilizado foras nesse sentido.

    A qualidade da matria-prima na regio aumentou no somente como consequncia da presso das empresas sobre os produtores, mas tambm como resultado da Normativa 51 do MAPA. A aprova-o da normativa, associada a um conjunto amplo de aes levadas a cabo por diferentes organizaes que desenvolvem atividades com os produtores de leite da agricultura familiar, no sentido de auxili-los a alcanar os padres de qualidade exigidos pela mesma, contribuiu tambm para a melhoria da qualidade da matria-prima.

  • 329

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    Referncias bibliogrficas

    BARBOSA, M. N; PINTO, P. R. L. Estudo do setor metal-mecnico gacho atravs do comrcio intraindstria no perodo de 1989 a 2005. Trabalho apresentado no 4. Encontro de Economia Gacha, Porto Alegre, 2008.

    BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Instru-o Normativa n 51, de 20 de setembro de 2002. Aprova os Regu-lamentos Tcnicos de produo, identidade e qualidade do leite tipo... Dirio Oficial da Unio, Braslia, 18 de setembro de 2002.

    BUAINAIN, A. M. et al. Agricultura Familiar e Inovao Tecnolgica no Brasil. Caractersticas, Desafios e Obstculos Coleo Agricultu-ra, Instituies e Desenvolvimento Sustentvel. Campinas: Editora da Unicamp. v. 1, 2007, 238p.

    BUAINAIN, A.M.; SOUZA FILHO, H.M.; SILVEIRA, J.M. Inovao tecnolgica na agricultura familiar. In: LIMA, D. M. A.; WILKIN-SON J. (Org.). Inovaes nas Tradies da Agricultura Familiar. Bras-lia: CNPq, 2002, p. 47-81.

    DALMORO, S. M; RCKERT, A. A. A Agricultura no processo de desenvolvimento no Planalto Mdio rio-grandense. In: SILVA, Ana Maria Radaelli. et al. (Orgs.). Estudos de geografia regional: o urbano, o rural e o rurbano na regio de Passo Fundo. Passo Fundo: UPF, 2004.

    DUFUMIER, M. Importncia de la tipologia de unidades de produc-cion agrcolas em el analisis de diagnostico de realidades agrarias. In: ESCOBAR, G; BERDEGU, J. Tipificacion de sistemas de producci-n agrcola. Santiago de Chile: Grfica Andes. 1990.

    EMATER- RS. Elementos para reflexo e planejamento da produo de leite no Regional da EMATER/RS Passo Fundo. Relatrio do Plano Opera-tivo da Emater - RS, 2009.

    FAVARETO, A. Agricultores, trabalhadores: os trinta anos do novo sindicalismo rural no Brasil. Revista Brasileira de Cincias Sociais. v. 21, n. 62. 2006, p. 27-45.

    FONTANELI. R.S. Sistemas de produo de leite baseados em pasta-gens sob plantio direto. In: VILELA, D. et al. (eds). O agronegcio do leite e polticas pblicas para o seu desenvolvimento sustentvel. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2002.

    FRITZ FILHO, L. F Anlise das trajetrias das unidades de produo agr-colas do municpio de Passo Fundo/RS. 2009. 319 f. (Tese) Doutorado em Desenvolvimento Rural, PGDR, UFRGS, Porto Alegre, 2009.

    GARCIA FILHO, D. P. Anlise e diagnstico de sistemas agrrios Guia metodolgico. INCRA/FAO, 1999, 65p.

  • 330

    A competitividade da produo de leite da agricultura ...

    Estud. Soc. e Agric., Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, 2013: 308-331

    GUANZIROLI, C. E; BUAINAIN, A. M; DI SABBATO, A. Dez Anos de Evoluo da Agricultura Familiar no Brasil: (1996 e 2006). RESR, Piracicaba- SP, v. 50, n. 2, abr/jun 2012, p. 351-370.

    HAGUENAUER, L. Competitividade: Conceitos e Medidas; TD IEI/UFRJ; n. 211; Rio de Janeiro, 1989.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo Agropecurio. 2006. Disponvel em http://www.ibge.gov.br.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo Demogrfico. 2010. Disponvel em http://www.ibge.gov.br.

    INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Pesquisa Pecuria Municipal. 2009. Disponvel em http://www.ibge.gov.br.

    MANTELLI, J. O setor agrrio da regio noroeste do Rio Grande do Sul. Geosul, Florianpolis, v. 21, n. 41, jan./jun. 2006, p. 87-105.

    MONTOYA, M.A. et al. Mudana setorial e a nova dinmica do crescimen-to econmico do municpio de Passo Fundo. Passo Fundo (RS). Univer-sidade de Passo Fundo. CEPEAC, Texto para discusso n. 02, 2010.

    PIGATTO, G; SOUZA, R; MORAIS, E. Perspectiva do Investimento em Agronegcio: subsistema carnes e lcteos. UFRJ/ Unicamp. Relatrio de pesquisa. 2009. Disponvel http://www.projetopib.org.

    SCHNEIDER, S. A pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.

    SOUZA FILHO, H.M. et al. Agricultura Familiar e Tecnologia no Brasil: caractersticas, desafios e obstculos. In: CONGRESSO DA SOBER, 42. 2004, Cuiab. Anais... Cuiab: SOBER, v. 1. 2004, p. 1-20.

    SOUZA, P. M; NEY, M. G; PONCIANO, N. J. Comportamento da distribuio dos financiamentos do PRONAF entre as unidades da federao, no perodo de perodo de 1999 a 2009. Anais do 48- Con-gresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural, Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010.

    SOUZA, R. P. A competitividade da produo de leite da agricultura fami-liar: os limites da excluso. 2011. (Tese) Doutorado em Desenvolvi-mento Econmcio, IE, UNICAMP, Campinas, 2011.

    TEPICHT, J. Marxisme et Agriculture. Paris, 1973.WILKINSON, J. Integrao regional e o setor agroalimentar dos pases

    do Mercosul: a produo alimentar na encruzilhada. Ensaios FEE. Porto Alegre, FEE, ano 17, n. 1, 1996, p. 155-184.

    WILKINSON, J.; MIOR, L. C. Setor informal, produo familiar e pe-quena agroindstria: interfaces. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, n. 13, 1999, p. 29-45.

    YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e mtodos. 2 ed. Porto Alegre: Bookman. 2001.

  • 331

    Raquel Pereira de Souza e Antnio Mrcio Buainain

    SOUZA, Raquel Pereira de e Antnio Mrcio Buainain. A competiti-vidade da produo de leite da agricultura familiar: os limites da ex-cluso. Estudos Sociedade e Agricultura, outubro de 2013, vol. 21, n. 2, p. 308-331, ISSN 1413-0580.

    Resumo: (A competitividade da produo de leite da agricultura familiar: os limites da excluso). O artigo discute a competitividade da agricultura familiar produtora de leite. O trabalho se baseia em um estudo de caso realizado na regio de Passo Fundo (RS - Brasil), que se destaca como polo produtor de leite de base familiar. O marco analtico, focado nos determinantes da competitividade, foi construdo considerando as es-pecificidades da agricultura familiar. Entre as concluses do trabalho, h constatao que a competitividade dos produtores familiares de leite na regio est relacionada ao sistema de produo desenvolvido, capacidade de inovar tecnologicamente, existncia de polticas p-blicas ao seu grau de organizao e capacidade de presso poltica. Palavras-chave: competitividade, agricultura familiar, produo de leite. Abstract: (The competitiveness of milk production of family farming: the limits of exclusion). The article discusses the competitiveness of family farms producing milk. The work is based on a case study carried out in the region of Passo Fundo (RS - Brazil), which stands out as a hub for family based milk producers. The analytical framework, focused on the determinants of competitiveness, was built considering the specificities of family farming. Among the conclusions of the study is the finding that competitiveness of family milk producers in the region is related to the production system they use, their ability to innovate technologically, the existence of public policies, their level of organization and ability to impose political pressure.Key words: Competitiveness, Family farm production, Milk production.

    Artigo recebido em 06/06/2013Artigo aprovado para publicao em 02/10/2013