jornalismo participativo no rÁdio all news uma análise do jornal bandnews minas 1ª edição

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7/29/2019 JORNALISMO PARTICIPATIVO NO RÁDIO ALL NEWS Uma análise do jornal BandNews Minas 1ª Edição http://slidepdf.com/reader/full/jornalismo-participativo-no-radio-all-news-uma-analise-do-jornal-bandnews 1/51 Thayane Keila Ribeiro JORNALISMO PARTICIPATIVO NO RÁDIO ALL NEWS Uma análise do jornal BandNews Minas 1ª Edição Belo Horizonte Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) 2012 

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Thayane Keila Ribeiro

JORNALISMO PARTICIPATIVO NO RÁDIO ALL NEWS

Uma análise do jornal BandNews Minas 1ª Edição

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2012 

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Thayane Keila Ribeiro

JORNALISMO PARTICIPATIVO NO RÁDIO ALL NEWS

Uma análise do jornal BandNews Minas 1ª Edição

Monografia apresentada ao curso de Jornalismo do CentroUniversitário de Belo Horizonte (UNI-BH) como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em Jornalimo.Orientadora: Prof. Wanir Campelo

Belo Horizonte

Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

2012

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 Agradeço aos meus amados pais, que sempre se doaram para o meusucesso. Aos amigos, principalmente os da Sociedade Alternativa, queme apoiaram nos momentos de crise. À orientadora, Wanir Campelo,

 pela paciência. À equipe BandNews FM BH, sem a qual esse trabalhonunca chegaria ao fim. E, em especial, a Ele: o Mestre Jesus, peloamparo de sempre.

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RESUMO

O presente estudo mostra, por meio de análises quantitativa e qualitativa, como o ouvinte

participa da programação do jornal  BandNews Minas 1ª Edição. A partir da decupagem de

cinco edições do noticiário, foi possível observar os temas que ganham maior repercussão

entre o público alvo do programa, o espaço destinado no noticiário aos ouvintes, e a influência

das novas tecnologias na relação entre emissora e público receptor, entre elas o Twitter, que

ocupou de vez o espaço do telefone dentre os meios de interação. Percebeu-se que o público

da rádio participa ativamente da programação principalmente no que se refere à divulgação de

prestação de serviços, como a situação do trânsito, e em meio a discussão de assuntos

polêmicos, de relevância nacional. O trabalho também traz a discussão sobre as definiçõesacerca do Jornalismo Participativo, que ainda não encontra consenso entre os pesquisadores,

sendo interpretado das mais diferentes formas.

Palavras-chave: Radiojornalismo; All news; Jornalismo Participativo.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Amostragem .......................................................................................................... 36

Tabela 2  –  Participação do ouvinte no  Bandnews Minas 1ª Edição no dia 06 de agosto de2012 ......................................................................................................................................... 37

Tabela 3  –  Participação do ouvinte no  Bandnews Minas 1ª Edição no dia 14 de agosto de2012 ........................................................................................................................................ 38

Tabela 4  –  Participação do ouvinte no  Bandnews Minas 1ª Edição no dia 22 de agosto de2012 ........................................................................................................................................ 39

Tabela 5  –  Participação do ouvinte no  Bandnews Minas 1ª Edição no dia 30 de agosto de2012 ......................................................................................................................................... 40

Tabela 6 – Participação do ouvinte no  Bandnews Minas 1ª Edição no dia 07 de setembro de

2012 ......................................................................................................................................... 42

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 06

2 O FORMATO ALL NEWS NO RÁDIO BRASILEIRO ................................................. 09

2.1 O rádio no Brasil ............................................................................................................... 09

2.2 A informação no rádio – Caminhos traçados pelo radiojornalismo no Brasil ...................12 

2.3 24 horas de radiojornalismo: Implantação e características do formato all news...............16

2.4 Critérios de noticiabilidade: O que é notícia no jornalismo all news.................................19

2.5 Radiojornalismo all news em um contexto de convergência tecnológica..........................21

3 A PARTICIPAÇÃO DO OUVINTE NA PROGRAMAÇÃO RADIOFÔNICA ..........23

3.1 A busca pelo conceito e suas definições ............................................................................ 23

3.2 Jornalismo Participativo no rádio ...................................................................................... 27

3.3 A proximidade com o ouvinte ........................................................................................... 28

3.4 A fidelização do ouvinte de rádio ...................................................................................... 30

4 BANDNEWS MINAS 1ª EDIÇÃO  – O OUVINTE QUE PARTICIPA .......................... 34

4.1 Definições metodológicas.................................................................................................. 35

4.2 Análise quantitativa – O tempo destinado ao ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição .... 37

4.3 Presença do público: um noticiário em que o ouvinte se faz ouvir ................................... 42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 46

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 49

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1 INTRODUÇÃO

Com o surgimento das novas tecnologias, o rádio, implantado no Brasil em 1920, teve a morte

anunciada repetidamente. Primeiro, com o advento da televisão, em 1950, que trazia a

imagem como trunfo sobre a primeira mídia eletrônica existente no mundo. Depois, com o

surgimento da internet que, além de contar com o incremento da imagem, também abriu

espaço para a interatividade.

Após o surgimento da televisão, o rádio conseguiu se adequar às novas demandas da

sociedade, valendo-se de características próprias como o imediatismo, mobilidade e

instantaneidade para não se tornar obsoleto (ORTRIWANO, 1985). Segundo Betti e Meditsch(2008), a partir de 1970, devido ao mercado extremamente competitivo, as emissoras

radiofônicas partiram para a segmentação. Nesse contexto, a programação jornalística se

consolidou como um importante formato do mercado radiofônico e as empresas jornalísticas

procuraram aperfeiçoar os modelos de programação, entre eles o all news, caracterizado pela

divulgação de conteúdo informativo 24 horas (BETTI; MEDITCH, 2008, p.03).

Já as inovações trazidas pela internet ainda são objeto de estudo e provocam questionamentosquanto ao futuro dos meios de comunicação. A rede de computadores incorpora imagem,

áudio e imediatismo, ou seja, todas as características presentes na televisão ou no rádio, além

de contar com a interatividade (BARBEIRO; LIMA, 2003). Novamente, o rádio precisa se

adaptar, atualizar e encontrar diferentes formas para atrair o ouvinte e conquistar audiência.

Entre esses aperfeiçoamentos, o meio de comunicação aproveita de sua aproximação com o

público e também dos dispositivos tecnológicos para inserir o cidadão em sua rotina

produtiva, considerando o ouvinte não mais como apenas receptor, mas parte da programaçãoradiofônica.

Este trabalho possibilita um melhor entendimento acerca do espaço que o ouvinte tem

conquistado em meio a programação radiofônica all news. Com base em estudos de

Ortriwano (1985), percebeu-se que a presença do ouvinte no rádio existe desde o surgimento

do veículo no Brasil. As primeiras transmissões radiofônicas eram custeadas pela elite, que

também tinha grande influência sobre a programação, doando discos, recitando poemas,

cantando e tocando.

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Com a popularização do veículo, a partir da inserção da publicidade, o rádio se desvinculou

da elite e passou a ganhar as massas populares. Nesse momento, o ouvinte foi inserido na

programação radiofônica por meio dos programas de auditório, sendo levado para dentro dos

estúdios e se aproximando ainda mais das emissoras. Hoje, com o acesso facilitado à internet

e dispositivos multi-tarefas, o ouvinte não precisa mais estar dentro das emissoras para

participar da programação radiofônica. A partir do telefone, e-mail, e das mídias sociais, o

público consegue participar ativamente, não só ouvindo o rádio, mas também se fazendo

ouvir.

O interesse em pesquisar o assunto surgiu ao me deparar com a programação do jornal

 BandNews Rio 1ª Edição, da rádio BandNews FM, que se diferencia daqueles apresentadospelas outras praças pelos altos índices de audiência e pela grande participação do público. No

decorrer do jornal, os apresentadores disponibilizam os telefones da redação e celulares, além

dos canais formais de interação com o ouvinte, como SMS e e-mail, para que o público possa

comentar ou acrescentar novas informações ao conteúdo jornalístico divulgado. Dependendo

da relevância da informação, o ouvinte é colocado no ar, ao vivo, como se fosse um repórter

da emissora.

A iniciativa do programa aguçou a curiosidade sobre o que levaria o público a participar tão

ativamente da programação do jornal ao mesmo tempo em que levantou questionamentos

sobre como o veículo consegue manter sua credibilidade junto ao público mesmo aceitando

como verdadeiras informações não oficiais, divulgadas pelos ouvintes. Decidiu-se então

seguir duas linhas teóricas de estudo, o radiojornalismo all news e o jornalismo participativo.

O trabalho foi motivado pelo interesse em analisar o noticiário fluminense, mas, como asedições do programa não foram cedidas pela praça e diante da dificuldade de coletar o

material por meio de suporte eletrônico, decidiu-se analisar o programa transmitido pela praça

de Belo Horizonte, que de boa vontade disponibilizou as gravações. Embora o jornal da praça

da capital mineira não abra espaço para inserção do ouvinte no ar, ao vivo, analisou-se de que

forma o público participa da programação, divulgando seus comentários e opiniões.

Por tanto, o trabalho escolheu como objeto de estudo as edições do programa  BandNews

 Minas 1ª Edição, da rádio BandNews FM (89,5). Buscou-se analisar de que maneira o

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 jornalismo participativo está inserido no programa, os temas mais recorrentes apontados pelos

ouvintes e as formas de participação que o programa oferece ao público.

Como metodologia, fez-se a análise quantitativa da participação do ouvinte na programação

do noticiário, com objetivo de mensurar o espaço ocupado pelo ouvinte na programação do

 jornal a partir do levantamento do tempo destinado à divulgação dos canais de interação entre

redação e público e o número de vezes em que o ouvinte é citado durante o noticiário.

Também foi desenvolvida a análise qualitativa, quando foram considerados os temas mais

frequentes nas informações enviadas pelos ouvintes, a linha editorial da emissora, para

compreensão dos assuntos divulgados pelo ouvinte que ganham repercussão durante o

noticiário, e a definição de conceitos que caracterizam a participação do público noprograma, a partir das leituras bibliográficas.

Como o programa é veiculado de segunda a sábado, utilizou-se neste trabalho o método da

semana composta. A última edição, no sábado, não fez parte da amostragem por se tratar de

um noticiário de formato diferente dos demais. Sendo assim, foram analisados cada um dos

cinco dias da semana, num período correspondente a um mês e meio.

Este trabalho está estruturado em três capítulos, sendo dois teóricos e um de análise. O

primeiro é dedicado ao radiojornalismo all news, mostrando o panorama histórico do rádio, as

características do veículo, e as mundanças ocasionadas pelo desenvolvimento tecnológico.

estudo.

Já o segundo capítulo se refere ao jornalismo participativo, mostrando os conceitos acerca do

tema e como ele se caracteriza no rádio, ressaltando a relação entre rádio e ouvinte, e questõesde audiência e fidelidade do público, que justificam a participação do ouvinte no meio

radiofônico.

Por último, o terceiro capítulo consiste na análise propriamente dita, mostrando a participação

efetiva do ouvinte no programa BandNews Minas 1ª Edição.

A expectativa é que este trabalho possa agregar valores aos estudos sobre o radiojornalismo

all news e jornalismo participativo no rádio e que contribua para o avanço na área da

comunicação.

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2 O FORMATO ALL NEWS NO RÁDIO BRASILEIRO

2.1 O rádio no Brasil

O rádio foi inaugurado no Brasil na década de 1920, mas o radiojornalismo demorou um

pouco mais para chegar ao país. Segundo Ortriwano (1985), a primeira transmissão

radiofônica oficial foi realizada em setembro de 1922, em meio às comemorações do

centenário da Independência. Foram importados 80 receptores dos Estados Unidos

especialmente para a data, em um evento que contou com transmissões de trechos de ópera e

o discurso do presidente Epitácio Pessoa.

A transmissão que marcou a chegada do veículo ao Brasil foi realizada por duas companhias

americanas de energia elétrica, a Westinghouse e a Western. O problema, conforme Pinto

(1998 citado por Campelo, 2001) 1, era que o som dos aparelhos era fraco e rouco. Em meio

ao barulho infernal da festividade, poucos eram aqueles que conseguiam ouvir o conteúdo

transmitido pelos alto falantes. A Westinghouse resolveu então desistir do empreendimento e,

quatro meses depois da inauguração, desmontou sua estação e voltou para os Estados Unidos.

Já a Western fez um acordo com o governo brasileiro e entregou os equipamentos àRepartição Geral dos Correios.

Segundo Campelo (2001), as transmissões continuaram por alguns meses, mas o rádio quase

não tinha quem o ouvisse. Havia transmissão de notícias relacionadas à cotação da bolsa de

açúcar e do café, apresentações musicais e previsão do tempo, mas eram poucas as pessoas

que tinham acesso a essas informações. Isso porque, além do problema técnico, quem queria

ter um receptor em casa tinha que conseguir uma permissão concedida pelo Ministério daViação. Campelo (2001) cita uma matéria publicada no jornal Estado de S. Paulo, em 8 de

setembro de 1996, onde o jornalista Rui Castro explica que a exigência era necessária porque,

em meio à Primeira Guerra Mundial, o governo brasileiro temia que o rádio fosse usado para

levar os segredos militares aos países inimigos. Quem fosse pego com um receptor em casa

sem a devida autorização, corria o risco de até ser preso.

1 PINTO, Roquete. O rádio no Brasil, gravação do Serviço Brasileiro da BBC, disco 1. Londres,1998.

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As transmissões continuaram no país, mas com atuação pouco significativa, até que, no dia 20

de abril de 1923, ocorreu um novo evento que marcou de vez a instalação efetiva e definitiva

da radiofusão no Brasil: o surgimento da Rádio Sociedade, no Rio de Janeiro. Segundo

Ortriwano (1985) tudo começou quando o professor Roquete Pinto, acreditando no poder do

veículo como difusor de informação de qualidade e não um instrumento de guerra, decidiu

elaborar o projeto de uma rádio educativa que pudesse atingir toda a população. Para

implantar a emissora, ele contou com a ajuda do velho mestre e presidente da Academia

Brasileira de Ciências, Henry Morize.

Roquete Pinto tinha esperanças de que, a partir do rádio, a população carente teria acesso à

informação, educação e cultura, mas, conforme Ortriwano (1985), apesar de todo o esforço doprofessor em tornar a mídia popular, até meados da década de 1930, o rádio era

essencialmente um empreendimento de intelectuais, com programação montada para elite e

pela elite. Primeiro porque os aparelhos receptores eram caríssimos na época, só mesmo as

classes de maior poder aquisitivo tinham dinheiro suficiente para mandar buscá-los no

exterior. Além disso, as próprias emissoras eram sustentadas por doações de associados e

entidades privadas, uma vez que a publicidade era proibida pela legislação da época.

A grande participação da alta sociedade fez com que a programação da Rádio Sociedade fosse

seleta, com transmissão de concertos, recitais de poesia e palestras culturais. Campelo (2001)

aponta que os contribuintes financeiros das emissoras participavam ativamente na definição

de conteúdo. Os “ouvintes- patrocinadores” doavam seus discos, recitavam poemas, cantavam

e tocavam piano. Além disso, acadêmicos de diversas especialidades eram convidados a

ministrar palestras e cursos sobre seu campo de atuação durante a programação radiofônica.

Já a partir da década de 1930, o rádio sofreu uma mudança radical e passou a seguir novos

rumos no Brasil. Em 1931, conforme Ortriwano (1985), surgiu o primeiro diploma legal sobre

radiofusão, que permitiu a inserção da publicidade na programação radiofônica. A introdução

de anúncios fez com que as emissoras se tornassem independentes do dinheiro oriundo dos

associados e passassem a ser sustentadas pelas grandes empresas. A partir de então, o que

interessava não era mais informar para educar, ideal de altruísmo existente na implantação do

veículo, e sim cair no gosto do povo e atrair cada vez mais ouvintes, que seriam o mercado

para os produtos anunciados.

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A introdução de mensagens comerciais transfigura imediatamente o rádio: o que era“erudito”, “educativo”, “cultural”, passa a transformar -se em “popular”, voltado ao lazer e àdiversão. O comércio e a indústria forçam os programadores a mudar de linha: para atingiro público, os “reclames” não podiam interromper concertos, mas passaram a pontilhar entreexecuções de música popular, horários humorísticos, e outras atrações que foram surgindo e

passaram a dominar a programação. (ORTRIWANO, 1985, p.15)

Os empresários começaram a perceber que o rádio era muito mais eficiente do que os jornais

impressos para divulgar seus produtos, principalmente porque abrangia o alto número de

analfabetos existentes no país. Com o objetivo de atrair grandes audiências, Madrid (1972

citado por Ortriwano 1985)2. aponta que os programas radiofônicos começaram a ser

modelados com uma linguagem mais eclética, intimista, livre, comunicativa, com maior apelo

às emoções e de fácil entendimento do público.

O surgimento do rádio de válvulas, substituindo o de galena, também contribuiu para que o

rádio ganhasse as massas populares. O novo aparelho era mais barato, o que provocou o

aumento do número de ouvintes. Segundo Campelo (2001), aumentou a pretensão do ouvinte

e consumidor de possuir o próprio receptor, e isso fez com que houvesse uma grande procura

nas lojas especializadas. Apenas nos anos de 1930, foram implantadas 51 emissoras no Brasil:

27 em São Paulo, 10 no Rio de Janeiro, 5 em Minas Gerais e 3 no Rio Grande do Sul. Os

Estados de Santa Catarina, Ceará, Paraíba, Espírito Santo, Sergipe e Amazonas também

contavam com uma emissora cada (TAVARES, 1997, p.19).

O rádio foi então entrando na casa de cada cidadão brasileiro. De acordo com Ortriwano

(1985), a popularização do veículo implicou na criação de um elo entre o indivíduo e a

coletividade, fazendo com que o rádio fosse capaz de mobilizar massas, levando o público a

exercer uma participação mais ativa na vida nacional.

“As classes médias urbanas (principal público ouvinte do rádio) passariam a se considera rparte integrante do universo simbólico representado pela nação. Pelo rádio, o indivíduoencontra a nação, de forma idílica: não a nação ela própria, mas a imagem que dela se estáformando.” (ORTRIWANO, 1985, p.19).

A partir dos anos de 1940, o veículo já havia conquistado de vez o coração dos ouvintes e

entrou naquilo que foi denominado como “época de ouro” do rádio. As obras clássicas foram

perdendo espaço na rotina da sociedade brasileira e as rodas de conversa nas praças públicas

foram substituídas pelo recolhimento doméstico em torno do rádio. (CAMPELO, 2001, p.02).2 Madrid, André Casquel.  Aspectos da teleradiofusão brasileira. São Paulo, ECA/USP, 1972. Tese(Doutoramento)

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A concorrência entre as emissoras se tornou ainda mais acirrada e algumas começaram a se

especializar em determinados campos de atividade. Foram criadas as primeiras radionovelas,

que rapidamente se proliferaram na programação radiofônica, e surgiram as primeiras

emissoras voltadas para a divulgação de notícias esportivas. Também foi nessa época que o

radiojornalismo começou a surgir como atividade mais estruturada, com o lançamento de

 jornais como o “Repórter Esso”, “O Grande Jornal Falado Tupi” e o “Matutino Tupi”. 

Já a partir dos anos de 1950, um novo evento marcou o destino do rádio: o advento da

televisão. Segundo Ortriwano (1985), o surgimento do meio de comunicação fez com que o

rádio entrasse em crise, com perda de anunciantes e profissionais. O veículo, que até então eraa única mídia eletrônica do mundo, precisou passar por mudanças para continuar atraindo a

audiência, que estava fascinada pelo incremento da imagem oferecido pela televisão.

Entre as possibilidades encontradas para sobrevivência do rádio, Betti e Meditsch (2008)

apontam a segmentação; cada emissora procurou se especializar de forma a agradar um

público específico. Percebeu-se que a segmentação fazia com que o meio de comunicação

ganhasse personalidade própria, indo ao encontro dos desejos e preferências de seu públicoalvo. Inicialmente, as emissoras se dividiram em FM, com veiculação de música, e em AM,

voltada para a transmissão de informação, serviços e esporte, sendo que, dentro dessa

segregação, ainda havia emissoras com programação focada na elite e as com perfil

popularesco.

Ortriwano (1985) salienta que o jornalismo teve papel fundamental nesse processo de

segmentação, pois dava ao rádio um caráter mais urgente e noticioso. Já que não precisava detantos equipamentos, o veículo tinha a vantagem de chegar ao local do acontecimento antes da

televisão e transmitir as notícias ao vivo, em primeira mão. “Das produções caras, com

multidões de contratados, o rádio parte agora para uma comunicação ágil, noticiosa e de

serviços.” (Ortriwano, 1985, p. 22). 

2.2 A informação no rádio  – Caminhos traçados pelo radiojornalismo no Brasil

O radiojornalismo brasileiro passou por um processo de remodelagem de linguagem, formato

e processo de produção ao longo do tempo, acompanhando as mudanças ocasionadas pelo

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desenvolvimento tecnológico. Segundo Bianco (2004), os primeiros registros de

radiojornalismo são encontrados na Rádio Sociedade. O jornalismo desenvolvido por Roquete

Pinto seguia o modelo dos jornais impressos, tanto na forma quanto no conteúdo. Como ainda

não existiam repórteres nas ruas, os locutores alimentavam o noticiário a partir daquilo que

era publicado pela mídia impressa.

Moreira (1991) aponta que, para elaboração do Jornal da Manhã, o professor Roquete Pinto

lia as principais notícias dos jornais diários que circulavam no Rio de Janeiro e sublinhava os

trechos que considerava mais importantes. Os fragmentos eram lidos no ar, o que acabou

gerando a figura do locutor distraído, que lia informações como “continua na próxima página”

ou “como se pode ver na foto ao lado”. Para amenizar esse problema, passou-se a literalmenterecortar as notícias dos jornais e ordená-las de forma mais coerente, para facilitar a leitura. O

método “copia e lê” resistiu ao tempo a ponto de tornar -se uma prática comum no rádio

conhecida como gillette- press.

Bianco (2004) afirma que até a linguagem do radiojornalismo naquela época era pensada

como uma nova forma de apresentação da mensagem escrita. Os textos narrados eram longos,

enfadonhos, cansativos, e misturavam o relato do fato com comentários e opinião. Segundo aautora, o jornalismo de rádio só começou a trilhar caminhos próprios a partir da adoção do

teletipo nas redações, nos anos de 1940, que permitiu que o modelo de produção jornalística

fosse baseado nos padrões estéticos das agências internacionais de notícia. A adoção do

modelo de produção, conforme Bianco (2004), foi motivada pelo contexto mundial e nacional

em relação às disputas políticas, ideológicas e culturais, especialmente no período da Segunda

Guerra Mundial e da Guerra Fria. A notícia não era vista apenas como canal de informação,

mas sim um instrumento de propaganda política ideológica.

A mudança no modelo de radiojornalismo adotado pelas emissoras brasileiras foi marcada

pelo surgimento do  Réporter Esso, em 28 de agosto de 1941. Produzido pela agência UPI,

United Press International, e transmitido, inicialmente, pela  Rádio Nacional do Rio de

 Janeiro, o informativo seguia as normas rígidas e funcionais dos noticiários radiofônicos

norte-americanos. Segundo Klöckner (2011), o programa remodelou o formato de noticiário

existente no Brasil, introduzindo modelos seguidos até hoje pelas redações de rádio. “O

Repórter Esso entra no ar com regras próprias: veicular somente os fatos sem opinião, a

informação deve ser clara e objetiva, com períodos curtos, sem orações intercaladas, sem

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adjetivações.” (KLÖCKNER, 2011, p.29).

O Repórter Esso propôs uma ruptura ao modelo de leitura enfadonha e introduziu no

radiojornalismo brasileiro o lead, a objetividade, a exatidão e o texto sucinto, direto e

vibrante. É no noticiário que se cria, por exemplo, o hábito de se ler frases escritas na forma

direta - sujeito, verbo e predicado. Conforme Bianco (2004), foi a partir do Repórter Esso que

o jornalismo de rádio começou a desenvolver sua própria linguagem: o jornal falado.

“O noticiário era semelhante ao modelo de organização da informação no impresso. Naabertura as manchetes, o número da edição e data de emissão. A seguir as notícias eramorganizadas em seções (nacional, internacional e local). A metáfora do jornal falado ajudouo ouvinte de rádio a compreender melhor o noticiário do rádio, porque fazia referência a

algo com o qual já estava familiarizado de alguma forma.”(BIANCO, 2004, p.04)  

Já com o advento da televisão, nos anos de 1950, o jornalismo ganhou um grande impulso na

programação radiofônica. Segundo Ortriwano (1985), um novo tipo de programação noticiosa

foi lançado pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo. A emissora criou um sistema intensivo de

noticiário, transmitindo notícias com um minuto de duração a cada quinze minutos e, nas

horas cheias, em boletins de três minutos. O modelo pioneiro se mostrou revolucionário e

influenciou a programação de outras emissoras.

Outro ponto a favor do desenvolvimento do radiojornalismo foi o surgimento do transistor.

Embora a invenção seja de 1947, Bianco (2004) ressalta que a popularização dos aparelhos no

Brasil somente aconteceu nos anos de 1960 e 1970. O equipamento deu ao rádio sua principal

arma de faturamento, que o colocaria passos a frente da televisão: a portabilidade. A partir do

transistor, o veículo ficou livre de fios e tomadas, podendo ser ouvido a qualquer hora e em

qualquer lugar. “A disseminação do invento assegurava o caráter de intimidade do rádio, a

identidade afetiva com o ouvinte.” (BIANCO, 2004, p.05). 

Outro dispositivo técnico que facilitou a transmissão radiofônica foi o gravador portátil. O

aparelho substituiu os grandes e pesados gravadores de rolo utilizados nas externas e

possibilitou a transmissão de reportagens diretamente da rua e entrevistas realizadas fora dos

estúdios. A transmissão ao vivo levou o repórter a participar mais intensivamente da

programação, direto da cena do acontecimento, o que contribuiu para aprofundar a

característica do imediatismo inerente à natureza tecnológica do rádio.

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Também nessa época, houve uma espécie de redivisão territorial das transmissões entre o

rádio e a televisão. Segundo Bianco (2004), cada meio de comunicação descobriu seu papel e

função para conviver em harmonia. A televisão ficou responsável por formar cadeias

nacionais e comandar a cobertura dos grandes acontecimentos, enquanto o rádio delimitava

sua influência na cidade ou na região, dirigindo-se à comunidade. “Por estabelecer vínculo

com a realidade local, a informação de serviço (previsão do tempo, trânsito, situação das

estradas) conquista espaço por ter interesse coletivo.” (BIANCO, 2004, p. 04).

Ortriwano (1985) aponta que, a partir de meados de 1970, começou uma transformação para

que o rádio conseguisse sair finalmente do marasmo em que caiu em 1950. A tendência à

especialização se tornou cada vez maior. As emissoras passaram a se identificar comdeterminadas faixas sócio-econômicas-culturais, procurando atender públicos específicos.

Nesse cenário, a programação jornalística no rádio se consolidou como um formato lucrativo,

mesmo com seu alto custo. Aumentaram as emissoras voltadas para esse gênero, o que exigiu

mais segmentação, desta vez baseada no aperfeiçoamento do modelo de programação

 jornalística.

Martí i Martí (2004 citado por BETTI; MEDITSCH, 2008)3 classifica as rádios especializadas

em jornalismo que foram surgindo em duas modalidades: as emissoras voltadas para difusão

de gêneros variados e distribuídos na grade de programação de acordo com o fluxo de

audiência, e as rádios de formato fechado, que substituem a estrutura de grade por um relógio

criando uma sequência estrutural de programação informativa que se repetirá a cada período

de tempo pré-determinado. A ideia do formato fechado era conseguir uma fácil identificação

pelo público que se pretendia atingir e clara diferenciação frente às empresas concorrentes nomercado.

Ferraretto (2001) classifica os formatos informativos que se encaixaram nesse modelo

fechado em all news, exclusivamente voltado para a transmissão de notícias; all talk, em que

há predominância da opinião, conversa e entrevista; e talk and news, caracterizado pela

mistura das duas modalidades anteriores.

3 MARTÍ I MARTÍ, Josep Maria. La programación radiofónica. IN: MARTINEZ-COSTA, Maria Pilar eMORENO, Elsa M. (coords). Programación radiofónica. Barcelona: Ariel, 2004.

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2.3 24 horas de radiojornalismo: Implantação e características do formato all news 

O nascimento do formato all news é datado em 1961, quando a rádio Xetra, implantada em

Tijuana, no México, decidiu trocar a programação musical pela jornalística, com transmissão

100% informativa. Segundo Betti e Meditsch (2008), não havia reportagens externas ou

esforço extra na produção, a divulgação das notícias consistia, basicamente, na leitura de

materiais copiados dos jornais impressos, seguindo a lógica do gillette-press.

O objetivo da rádio Xetra era transmitir informações repetitivamente, em ciclos de 15

minutos, considerando que os ouvintes só sintonizariam na rádio por um curto período detempo, o suficiente para ficarem informados, e depois mudariam para sua estação de música

preferida. Segundo Betti e Meditsch (2008), o fenômeno da repetição, que surgiu na rádio,

coloca em discussão um dos pilares do jornalismo: a novidade.

O rádio all-news não transmite apenas news, mas também uma dose considerável deinformações já sabidas, cujo valor de uso para o ouvinte caduca pela repetição. Não restadúvida que tal caducidade, embora admitida pela expectativa de uma audição por tempolimitado, não é desejável, e que no acirramento da concorrência levará a melhor emfrequência de audição uma emissora que consiga reduzí-la em relação às demais. Ocorreque o pressuposto para o perfeito funcionamento do fluxo é a abundância de produção, e apossibilidade desta abundância é limitada por razões econômicas. (BETTI; MEDITSCH,2008, p.07)

Embora tenha surgido no México, o all news ganhou mais abrangência no mercado

radiofônico norte-americano, sendo desenvolvido principalmente pela emissora WINS , do

grupo Westinghouse, em 1965, e pela CBS , em 1967. Conforme Betti e Meditsch (2008), ao

contrário da rádio Xetra, as duas emissoras trabalhavam com forte produção jornalística,

acrescentando técnicas radiofônicas na produção.

Ao trocar a programação musical para a noticiosa, a WINS investiu pesado em infraestrutura.

A emissora contava com 21 repórteres espalhados pelas ruas de Nova Iorque em carros de

reportagem dotados de transmissores FM. Além disso, a rádio tinha correspondentes em

várias partes do mundo e contava com serviços das principais agências noticiosas.

Já a CBS, além de colocar os repórteres nas ruas, ainda contratou um helicóptero para

transmitir informações em tempo real sobre o trânsito da cidade e desenvolveu a própria

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previsão do tempo. Segundo Santos (2001), a emissora consolidou o chamado ciclo de 30

minutos, com noticiários consecutivos no ar pontualmente nas horas cheias e meias horas.

A partir de 1980, surgiu a  NBC News que adotava a programação dividida em ciclos de 20

minutos, com noticiários atualizados na hora cheia, aos 20 e aos 40 minutos de cada hora.

Segundo Santos (2001), a ideia de apresentar as notícias a cada 20 minutos passou a ser

adotada a partir de pesquisas que mostraram que o tempo disponível do ouvinte americano

estava ficando cada vez mais curto. Para enfatizar a vantagem dos ciclos mais curtos, a  NBC  

utilizou o slogan "Give us twenty minutes, and we’ll give you the world " (SANTOS, 2001,

p.06).4 

No Brasil, a prática do jornalismo all news surgiu na mesma época que a  NBC News, em

1980, na rádio Jornal do Brasil AM. Segundo Santos (2001), o modelo foi importado dos

Estados Unidos, satisfazendo o desejo de vanguarda do superintendente da emissora, Carlos

Lemos. No entanto, por falta de recursos e investimentos, como os aplicados nas emissoras

norte-americanas, o projeto fracassou, obrigando a emissora a retornar ao formato anterior,

mesclando música e informação voltadas para classe A.

Somente dez anos depois, em outubro de 1991, o formato all news voltou a fazer parte dos

veículos radiofônicos brasileiros, com o surgimento da CBN, Central Brasileira de Notícias,

do Sistema Globo de Rádio. Ocupando o lugar das rádios Eldorado AM 860, no Rio de

Janeiro, e Excelsior 780 kHz AM, em São Paulo, a CBN também apostou no modelo

importado dos Estados Unidos e, no início, chegou a mesclar conteúdo informativo repetitivo

e transmissão de música. Atualmente, conforme Santos (2001), a rede CBN conta com 24

afiliadas e quatro emissoras próprias. Embora ainda concentre sua programação na veiculação

de notícias, a emissora não segue mais o modelo rígido adotado anteriormente e hoje

transmite, também, partidas de futebol e programas talk.

Além da CBN, o mercado de rádios brasileiras com formato all news conta também com a

emissora BandNews FM, do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Inaugurada em 20 de maio

de 2005, a rádio atua em rede, apenas no segmento FM, com emissoras próprias, estando

presente em sete capitais brasileiras (São Paulo – 96,9, Rio de Janeiro – 94,9, Brasília – 90,5,

4 Tradução livre: Dê-nos 20 minutos, e nós lhe daremos o mundo.

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Belo Horizonte - 89,5, Curitiba – 96,3, Porto Alegre – 99,3 e Salvador – 99,1) e duas cidades

do interior de São Paulo (Ribeirão Preto – 96,7 e Campinas – 106,7).

Com o slogan “Em 20 minutos, tudo pode mudar”, muito parecido com a ideia da  NBC , a

emissora transmite noticiários que vão ao ar a cada 20 minutos, ininterruptamente por 24

horas, totalizado, assim, 72 módulos informativos diários. Com tom informal, a rádio

pretende atrair o público jovem, entre as classes A e B, procurando resgatar também a

audiência feminina, até então de pouco interesse das demais emissoras radiofônicas. (BETTI;

MEDITSCH, 2008).

O modelo all news implantado no Brasil se diferencia em diversos aspectos do modelo norte-americano. Segundo Parada (2000), no formato all news existente nos EUA prevalece o

esquema rígido de duração dos informativos. Com algumas variações, a emissora repete em

determinado período as notícias mais importantes. Na medida em que o dia avança, os fatos

novos vão superando os acontecimentos mais frios. Desta forma, sempre que o ouvinte

sintonizar na estação de rádio, ele vai ouvir as notícias mais recentes do dia.

Já as emissoras jornalísticas brasileiras, conforme Parada (2000), costumam preencher algunsperíodos do dia com entrevistas mais longas, transmissões de eventos ao vivo, e partidas de

futebol. Tanto a CBN quanto à BandNews FM misturam períodos de notícia em ritmo intenso

com debates, programas temáticos, e inserções de colunistas, principalmente nos fins de

semana, quando a agenda parece se esvaziar e o número de notícias ou fatos considerados

importantes cai drasticamente. Existe flexibilidade na duração de entrevistas e inserção de

repórteres, dependendo da importância do assunto tratado em determinado dia.

Segundo Betti (2010), os modelos all news utilizados pelas rádios brasileiras CBN e

BandNews FM não possuem apenas news, nem no sentido de novidade nem com relação ao

formato.

Este formato, ao ser aculturado no contexto nacional, incluiu especialmente osgêneros opinativos, mas também abriu espaço para crônicas e revistas. O all-newsbrasileiro define-se pelo caráter informativo da programação, no sentido de umaampliação do universo de cobertura tradicional do jornalismo radiofônico (BETTI,2010 p.30).

Além disso, Parada (2000) destaca que as equipes das emissoras norte-americanas são,

geralmente, mais enxutas que as brasileiras. Isso ocorre porque, nas empresas dos EUA, é

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comum que um funcionário faça de tudo, ou seja, o apresentador é também editor e redator; o

repórter é quem corre atrás da pauta e faz as entrevistas, grava, edita e entrega o material já

pronto. Cada vez mais é possível ver que essa tendência já está sendo seguida pelas empresas

brasileiras. Na BandNews FM, por exemplo, além de ficar responsável pela locução das

notícias, o âncora também tem como função operar as mesas de som.

2.4 Critérios de noticiabilidade: O que é notícia no jornalismo all news

A vida em sociedade é permeada de situações trágicas, engraçadas, estranhas, surpreendentes

e interessantes. No entanto, somente alguns acontecimentos do dia a dia ganham status de

notícia e são divulgados pela mídia. Os critérios utilizados para definir aquilo que será ou nãonotícia variam dependendo do veículo, da cultura local, e da redação, mas, normalmente, os

padrões de escolha dos acontecimentos são parecidos em meios de comunicação que

pretendem atingir o mesmo público.

Wolf (2003) divide os critérios de noticiabilidade, que são os componentes que vão guiar o

trabalho do jornalista, sugerindo o que deve ser recolhido, omitido ou realçado, em cinco

grupos. O primeiro está relacionado às características do conteúdo, ou seja, a importância einteresse dos acontecimentos para os jornalistas. Os acontecimentos que poderiam adquirir

status de “notícia” dependeriam então dos seguintes fatores:

  Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento. Quanto mais

importante o país ou a pessoa em uma determinada hierarquia, mais chances o fato

terá de ser exibido.

 O impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional. Esse fator leva em consideraçãoa capacidade do fato incidir nos interesses do país ou na vida de quem vive nele.

  A proximidade geográfica e cultural com o público receptor, que pode ser explicado

pelo interesse que o público tem em saber dos fatos que acontecem ao seu redor.

  A quantidade de pessoas envolvidas no acontecimento, ou seja, quanto mais pessoas

mais chance de ser notícia.

  A relevância quanto à evolução futura do acontecimento. Se um acontecimento tem

desdobramentos futuros pode gerar mais notícias, logo tem mais chance de serdivulgado.

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  A exclusividade da entrevista com a fonte.

  A institucionalização da fonte. As notícias que têm fontes relacionadas a órgãos

representativos têm mais probabilidade de serem divulgadas.

  Inversões de papéis dos envolvidos no acontecimento.

  Feitos excepcionais e heróicos.

  A vida privada de pessoas públicas.

A segunda categoria definida por Wolf (2003) diz respeito aos critérios relativos ao produto

informativo, ou seja, a acessibilidade do produto aos jornalistas. Esses fatores podem ser

divididos em:

  Disponibilidade, ou seja, se o fato for de fácil cobertura jornalística ele pode se tornar

notícia.

  A consonância com as possibilidades técnicas e os limites de cada veículo.

  A negatividade do assunto, ou seja, quanto pior o acontecimento, mais chances ele tem

de virar notícia.

  As histórias insólitas e incomuns.

 A atualidade ou o imediatismo de cada acontecimento.

  A qualidade da notícia, que pode ser explicada pela ação, ritmo, caráter exaustivo,

clareza ou equilíbrio com o conjunto.

Wolf (2003) descreve os critérios de noticiabilidade também em um terceiro grupo, que relata

características relativas aos meios de comunicação. Nessa classe, temos o tempo de

transmissão, que pode ser delimitado pela importância do assunto; o texto, que é primordial e

quase sempre contém a informação; e a imagem, já que a informação a ser apresentada ao

receptor também depende de um bom material visual.

Os critérios relativos ao público é outro grupo descrito por Wolf (2003). Nesse caso, o autor

defende que a notícia deve ter uma identificação por parte do receptor. Podem se encaixar

nesta classe as notícias de prestação de serviços, que orientam o público no dia a dia. O autor

destaca ainda um processo de blindagem exercido pelo jornalista, que procura evitar que a

mensagem fira os gostos do público ou cause pânico desnecessário.

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O último grupo citado diz respeito aos critérios relativos à concorrência. Nesse critério nota-

se a pretensão do furo e da exclusividade. Além da aspiração de apresentar a notícia da

melhor forma na comparação com o concorrente e não deixar a concorrência noticiar o que

seu veículo noticiou.

Já para Rodrigues (1999), os critérios de noticiabilidade são definidos de forma mais objetiva

e sucinta. O autor descreve apenas três critérios: excesso, falha e inversão. O critério da

inversão valoriza acontecimentos em que os papéis dos envolvidos acabam sendo invertidos.

Rodrigues (1999) cita, como exemplo de notícia, um homem que morde um cão. Já a falha, é

explicada, pelo defeito. “O actor que se esquece da deixa no meio da cena ou o revólver que

 fica encravado no momento em que o agressor executa a agressão”. (RODRIGUES, 1999,p.28). O autor ainda aponta o excesso, segundo ele, o critério mais comum identificado nos

acontecimentos noticiados. O excesso representa o anormal e o espetaculoso, tudo que está

fora da rotina, sendo no âmbito particular ou coletivo. Por exemplo, um engarrafamento

recorde ou chuvas torrenciais.

Apesar da teorização dos acadêmicos, Lopez (2009) aponta que, no cotidiano profissional, os

valores notícia estão implícitos na rotina das redações, sem a necessidade de constantesquestionamentos, mesmo que a definição do que é notícia precise conviver com as

interpretações individuais dos comunicadores. O processo de seleção e hierarquização da

informação nos meios de comunicação acaba sendo mais dinâmico e intuitivo, já que o tempo

escasso não permite análises minuciosas e acadêmicas dentro das redações. No rádio,

ressaltam-se ainda mais as características de atualidade e rapidez, inerentes ao veículo, que

fazem com que a teorização acerca do que é notícia esteja ainda menos presente.

Para pensar a notícia no radiojornalismo, Ferraretto (2001) ressalta que é necessário

considerar o relato de fatos atuais, que tenham interesse e/ou que sejam relevantes para o

público, que possa entendê-lo com facilidade. A notícia não necessariamente deve ser tratada

de maneira breve ou superficial. Deve, sim, oferecer dados suficientes para o ouvinte

compreender o acontecimento (Lopez, 2009, p. 88).

2.5 Radiojornalismo all news em um contexto de convergência tecnológica

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Com a entrada da internet nas emissoras no fim do século passado, começaram as primeiras

iniciativas que apontariam para o processo de convergência das mídias. Segundo Lopez

(2009), o processo começou a partir de 1990, quando os meios de comunicação passaram a

construir os próprios sites. Com a popularização dos dispositivos multitarefa, como celulares

e tablets, que permitem acesso rápido e fácil à rede de computadores, os meios de

comunicação foram obrigados a rever suas estruturas e rotinas e encontrar soluções para atrair

cada dia mais a audiência, exposta a diferentes tipos e níveis de informação 24 horas por dia.

Lopez (2009) destaca que o rádio foi o veículo que melhor se adaptou à integração das mídias,

se tornando o meio mais bem resolvido entre os demais. Os consumidores podem ligar a

televisão e, ao invés de procurar um canal televisivo, sintonizar em uma transmissãoradiofônica. Enquanto navega na internet, nada os impede de escutar uma webrádio. Já com o

celular, é cada vez mais comum ver pessoas nas ruas ou dentro de ônibus com um fone de

ouvido ligado ao aparelho, ouvindo música, notícias ou a transmissão de uma partida de

futebol enquanto segue viagem. Devido a sua portabilidade, o rádio se incorporou

perfeitamente nos outros veículos, apresentando bons resultados no processo de convergência.

Segundo Lopez (2009), as mudanças nas empresas jornalísticas, ocasionadas pela inserção dainternet, provocaram também alterações nas rotinas dos profissionais. Os jornalistas de rádio,

que nas primeiras décadas de implantação do veículo no Brasil, tinham apenas que ter locução

clara, voz firme e capacidade de interação com o ouvinte, passaram a acumular atividades e se

transformar em profissionais multitarefa, presentes desde a apuração de notícias à sua

veiculação.

Lopez (2009) destaca que na década de 1970, o rádio passou por duas mudanças fundamentaisque determinariam a construção da notícia no veículo: o jornalista passou a se responsabilizar

pela pesquisa e documentação, e o ouvinte passou a integrar a programação das emissoras,

sobretudo com a popularização do celular. Hoje, a presença do ouvinte na programação

radiofônica é ainda mais intensa, potencializada pelas mídias sociais, como Facebook e o

Twitter, e as outras formas de comunicação como SMS e e-mail.

Já a partir de 1990, uma nova alteração contribuiu para mudança na rotina do jornalista,

predominante nas redações até os dias de hoje: o profissional não tem que apenas apurar,

pesquisar, documentar, escrever, e narrar as notícias, mas também editar os áudios de suas

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reportagens (LOPEZ, 2009, p. 40). Já no século 21, o jornalista deve coordenar ações

multiplataforma: enquanto apresenta um programa, o profissional pesquisa informações na

internet, conversa com a equipe por telefone e interage com os ouvintes via ferramentas

digitais.

Lopez (2009) afirma que, com essas mudanças, o jornalista de rádio acumula cada vez mais

habilidades técnicas, sendo obrigado a pensar não só nas especificidades do veículo, mas

também no novo ambiente em que ele se insere.

É preciso repensar o rádio, compreender sua inserção neste novo ambiente, assim como asnovas relações estabelecidas com o ouvinte, com as fontes, com as ferramentas de

construção da informação. Trata-se de um novo desafio, que leva a uma revisão, mas quenão deve levar ao abandono, ao esquecimento ou à ruptura do rádio com sua conceituaçãofundamental. Ainda se constrói, mesmo neste ambiente multitarefa, informação sonora parao público ouvinte. (LOPEZ, 2009, p.41)

Obviamente, a característica fundamental no rádio ainda é a transmissão de áudio. Mas, com o

desenvolvimento das novas tecnologias, o veículo é cada vez mais obrigado a atender às

novas demandas do mundo digital, que exigem conteúdos multimídia como textos, imagens e

infografias. Ao lançar mão desse novo campo, o rádio começa a atrair também outra espécie

de público: o ouvinte-internauta.

Conforme Lopez (2009), o ouvinte-internauta busca informações pontuais e a atualização na

comunicação sonora, mas tem um perfil mais dinâmico e ágil, que busca por essas

complementações, interação e personalização de conteúdo.

Essa mudança no perfil do público, obriga o profissional a pensar em uma nova dinâmica de

produção, novas estratégias narrativas e a ampliação dos canais de comunicação.

3 A PARTICIPAÇÃO DO OUVINTE NA PROGRAMAÇÃO RADIOFÔNICA

3.1 A busca pelo conceito e suas definições

A participação do público na construção noticiosa não é algo novo. No rádio, a produção

colaborativa se iniciou nos anos de 1930, com a rádio Kosmos, de São Paulo, que depoispassaria a ser Rádio América. A emissora criou o primeiro programa de auditório,

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popularizando as transmissões radiofônicas (ORTRIWANO, 1985, p.17), e foi a primeira a

detalhar as informações enviadas pelos ouvintes como prestações de serviço.

Com o surgimento da telefonia móvel, a participação do ouvinte se tornou ainda mais

constante e notória. A rádio Sul América Trânsito, por exemplo, cuja programação é voltada

para transmissão de informações sobre o trânsito na capital paulista, tem grande parte de sua

apuração concentrada nos relatos de seus ouvintes. Conforme Alves (2009), um volume

considerável de SMS de ouvintes de diversas partes da cidade chega diariamente à redação e

se transforma em informação de utilidade pública.

Nos jornais impressos, a inserção do público na produção jornalística foi datada no fim dadécada de 1960. Segundo Alves (2009), a primeira publicação com um espaço destinado ao

cidadão foi registrada em 1969, nos Estados Unidos. O jornal Publick Ocurrences Both

Foreign and Domestik , o primeiro publicado no continente americano, reservava uma de suas

quatro páginas para informações de leitores. Mais tarde, os jornais impressos adotaram o

espaço destinado à “Carta do Leitor”, onde são publicados elogios, críticas e sugestões do

público.

Mas, apesar de muitos receptores colaborarem com vídeos para veículos televisivos, áudio e

informações para o rádio e fotos e comentários para jornais impressos, a inclusão do público

no processo de produção da notícia se fortaleceu mesmo a partir da disseminação da internet.

Com o acesso facilitado à rede mundial de computadores, o cidadão teve a possibilidade de

relatar o fato, interagindo a todo tempo com os profissionais da área. Segundo Pinheiro

(2009), o site OhmyNews, criado pelo coreano Oh Yeon-ho, em 2004, foi a primeira

experiência de sucesso no meio jornalístico virtual. Com o lema “Every citizen is areporter”5 , o criador da página defende que o objetivo do site é desenvolver o jornalismo

participativo, contribuindo para a democratização da imprensa e dissolvendo o poder da

informação (PINHEIRO, 2009, p.14).

No Brasil, diversos sites de notícia já contam com espaços reservados ao material enviado

pelos internautas. No portal G1, da Globo, o site tem uma seção exclusiva para os internautas,

denominada VC no G1. Na página, são postados vídeos, fotos, comentários e até mesmo

5 Tradução livre: Todo cidadão é um repórter

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notícias já prontas feitas pelo público. Na parte onde os internautas podem enviar o conteúdo,

o portal também deixa em destaque dicas de como ser simples e direto nas redações e ainda

alertas sobre a proibição de enviar conteúdos falsos, copiados de outros locais, ou que

ofendam os princípios da empresa. Além disso, Twitter  e Facebook dos internautas  já são

utilizados pelos meios de comunicação como boas fontes de notícias, principalmente quando

tratam de informações sobre trânsito e desastres causados pela chuva.

Apesar de não ser uma prática tão recente e de tantos exemplos já existentes na prática, a

inserção do público na produção do conteúdo jornalístico ainda carece de definições mais

esclarecedoras. Autores se divergem ao definir o fenômeno e teorizam várias nomenclaturas

para defini-lo. Seria Jornalismo Colaborativo, Participativo, Open Source ou ainda JornalismoCidadão, Cívico, Comunitário, visto que a colaboração/participação do público está,

comumente, aliada aos problemas que afligem seu dia a dia?

Sobre as diferenças entre Jornalismo Participativo e Colaborativo, Foschini (2006 apud Alves,

2009)6 explicam que toda matéria publicada por veículos de comunicação que inclui

comentários do público pode ser considerada fruto do Jornalismo Participativo. Já para que

haja o Jornalismo Colaborativo, os autores entendem que mais de uma pessoa deve interferir,auxiliar e cooperar para o resultado daquilo que é publicado.

Madureira e Saad (2009 apud Alves, 2009)7  definem Jornalismo Participativo como “o

princípio que todo cidadão é um jornalista em potencial e pode contribuir para a construção de

uma notícia”. Já o Jornalismo Cidadão seria mais apropriado para definir a reflexão e

ampliação do público em determinados assuntos, que promovem mudanças na pesquisa e

aproximação com os jornalistas.

Brambilla (2005) aprofunda seu estudo na prática colaborativa no meio virtual e defende que

a participação do público no ambiente informativo online deve ser definido como  Jornalismo

Open Source: “o sujeito que lê é o mesmo que escreve as notícias, compartilhando

responsabilidades e tendo no envolvimento pessoal sua principal moeda de troca.”

(BRAMBILLA, 2005, p. 92). Com o surgimento do modelo Open Source, Brambilla (2005)

6 FOSCHINI, Ana Carmem; TADDEI, Roberto Romano. Jornalismo Cidadão: você faz a notícia – SérieConquiste a rede – São Paulo, 2006.7 MADUREIRA, Francisco; SAAD, Beth. Citizen journalist or source of information: an exploratory studyabout the public’s role in participatory journalism within leading Brazilian web portals , 2009.

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acredita que é chegado o fim da hierarquia institucional, que nomeia o jornalista como rei da

informação, e a produção e a divulgação de notícias passam a estar ligadas ao interesse

pessoal dos voluntários. Segundo a autora, esses receptores que se transformaram em

produtores não só publicam aquilo que realmente os afeta, mas ainda agem de forma a

identificar erros e corrigi-los, mais rapidamente e de maneira mais eficiente do que no modelo

seguido pela mídia tradicional.

Já Targino (2009), que também analisa a prática colaborativa na internet, defende que o

Jornalismo Open Source seria uma porta para quaisquer indivíduos expressarem seus

pensamentos e emitirem suas opiniões, o que viabilizaria, portanto, a prática do Jornalismo

Cidadão, a produção do conteúdo pelo público e consequente publicação pelas mídiastradicionais.

A produção e a disseminação de matérias por indivíduos comuns legitimam o jornalismocidadão, o qual se fundamenta no princípio da citada publicação aberta. Sua função máximaé acelerar o momento de democracia gerado pela expansão de Rede, de modo avivenciarmos, com o jornalismo de fonte aberta, a mais importante dos media. (TARGINO,2009, p. 71)

Ao confrontar todos esses conceitos e nomenclaturas, Alves (2009) chega à conclusão de que

o termo mais adequado para denominar o processo de participação é o JornalismoColaborativo, “caracterizado pela produção da informação realizada por cidadãos, por meio

de textos, fotos e vídeos, distribuídos pela rede, sob uma plataforma centralizada informativa

e dependente de seus princípios estabelecidos e descritos.” (ALVES, 2009, p. 07). O autor 

entende que colaboração transcende participação. É o ato de contribuir, ajudar, produzir em

parceria, em alto grau de interatividade.

Gillmor (2004), por sua vez, considera que todas essas denominações são sinônimas quando oobjetivo é fazer com que o jornalismo se desvincule da ideia de “um para muitos” e passe a

ser uma prática comunitária, feita por várias pessoas para várias pessoas que têm interesse em

produzir, divulgar e também ler sobre aquilo que as afeta ou, de alguma forma, as incomoda.

Outro problema relacionado às nomenclaturas se refere ao indivíduo que colabora. Autores

divergem entre os termos “jornalista-cidadão”, “cidadão-repórter” e “produtor de conteúdo”

para definir o cidadão que participa, interfere e contribui durante o processo da construção da

notícia.

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3.2 Jornalismo Participativo no rádio

A participação do público na programação jornalística radiofônica, como citado

anteriormente, tem suas raízes na Rádio Kosmos, de São Paulo, que criou o primeiro

programa de auditório. Segundo Ortriwano (1985), a inovação contribuiu para a

popularização do rádio e vulgarização das transmissões de programas com a participação do

público.

Entre os programas criados pela Rádio Kosmos está o Chá Dançante, que consistia na

apresentação ao vivo de uma orquestra e dança nos salões da emissora. Na hora do programa,

o estúdio se transformava em um bar, onde várias mesas estavam disponíveis para que aspessoas pudessem beber e conversar. Em cada mesa, havia um dispositivo que, quando

acionado, fazia com que uma lâmpada no balcão se acendesse. Imediatamente, o garçom

atendia ao chamado, levando o pedido do cliente. (CAMPELO, 2001, p.35).

A partir da proliferação dos programas de auditório, as empresas radiofônicas foram

percebendo que a interatividade com o público era não só um incremento na programação,

mas totalmente necessária para sobrevivência e desenvolvimento do rádio, que tem como umade suas características intrínsecas a aproximação com o público.

Ainda na busca por mais ouvintes, a Rádio Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, lançou um

programa com divulgação de serviços de utilidade pública, contando com uma seção de

“achados e perdidos”. Seguindo a mesma linha, outras emissoras começaram a instalar 

serviço de metereologia e divulgar notícias relacionadas às condições das estradas e ofertas de

emprego. Outro grupo de emissoras passou a dar ênfase à programação mais “falada”,montando programas de trocas de informações, que iam desde receitas culinárias a fontes de

pesquisa para trabalhos escolares (ORTRIWANO, 1985, p.23). As inovações tinham como

objetivo reestabelecer o diálogo com os ouvintes, trazendo o público novamente para o centro

da programação radiofônica.

Segundo Parada (2000), as informações de prestação de serviços são as que mais atraem a

participação do público no rádio. O autor lembra da participação ativa do público

principalmente em grandes coberturas de trânsito e estradas. Na década de 1980, ainda antes

da disseminação do telefone celular, Parada (2000) destaca que os ouvintes ligavam para

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emissora de casa, telefones públicos, e até mesmo bares para relatar a situação dos

congestionamentos e acidentes.

Com o surgimento do telefone celular, a participação do ouvinte foi facilitada e passou a

contribuir com a produção de conteúdo jornalístico das emissoras. Parada (2000) afirma que,

 já nos anos de 1990, os ouvintes usavam o celular para narrar em tempo real o que acontecia

no trânsito. Ele cita, por exemplo, o caso de um ouvinte que ficou preso na Marginal Tietê, na

saída do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, e foi entrevistado ao vivo, por

cinco minutos, em um programa da Rádio Eldorado. O ouvinte contou o caos do trânsito,

alertando os outros motoristas a não passarem pelo local, e ainda estimulou outros ouvintes a

fazerem o mesmo e trocaram informações em tempo real, usando a rádio como canal decomunicação.

Percebeu-se então que a presença do ouvinte no ar aumenta o volume e rapidez da

informação, melhorando a qualidade e até mesmo audiência da programação radiofônica. Mas

o que levaria o ouvinte a escolher o rádio dentre as outras mídias para contar seus problemas,

desejos e opiniões? O próximo item visa a entender as características do rádio que permitem

que ele se comporte como uma ouvidoria, atendendo às necessidades de seu público.

3.3 A proximidade com o ouvinte

A concepção de proximidade se alterou significativamente a partir das transformações

ocorridas na era global. Apesar das pessoas estarem separadas geograficamente, o

desenvolvimento tecnológico fez com que a sensação de proximidade se modificasse ao longo

do tempo, transformando a ideia sobre aquilo que se considerava estar perto ou longe, “ocentro está aqui e está em todo o lado” (CAMPONEZ, 2002, p.25).

Santos (2011) aponta que a possibilidade do distante estar perto, no entanto, não fez com que

as pessoas se desgarrassem de onde estão inseridas fisicamente. A vizinhança, o bairro, a

cidade ou a região urbana ou rural ainda constituem pontos de referência relativamente

estáveis para a população. As pessoas ainda estão ligadas a lugares físicos, dependem umas

das outras, constroem vínculos e relações entre si e compartilham valores, emoções e

problemas. Sendo assim, ao mesmo tempo em que se interessam em se informar sobre aquilo

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que está geograficamente distante, elas também querem saber sobre aquilo que está logo a sua

volta.

Esse fenômeno foi identificado em uma pesquisa realizada por Santos (2010), com ouvintes

da Rádio Itatiaia. O levantamento apontou que uma fatia muito expressiva de ouvintes da

emissora sentia a necessidade de ver sua cidade e/ou Estado representados nas notícias. Esse

resultado confirma que as pessoas, mesmo em meio à discussão de aldeia global e diminuição

das distâncias, ainda têm raízes em lugares físicos, e desejam que eles sejam representados na

mídia. E mais que isso, a pesquisa desenvolvida por Santos (2010), ratificou que as pessoas

não querem somente ver informação na mídia, mas também participar, contar o próprio

cotidiano, para si mesmas e para aqueles com quem convivem.

Nesse contexto, o rádio aparece como uma eficiente via de comunicação com o público,

estando historicamente ligado à relação de proximidade com o receptor. Em função de

algumas de suas características como linguagem coloquial, instantaneidade e mobilidade, o

veículo é capaz de criar uma relação intimista, tornando-se companheiro de seu público.

Ortriwano (1985) aponta que a linguagem oral adotada pelo rádio é uma das característicasque mais contribuem para essa aproximação do veículo com o público. Com linguagem clara,

informal, direta e precisa, o rádio possibilita que qualquer pessoa, independente de nível

hierárquico, classe social, ou grau de instrução, entenda as mensagens transmitidas. Isto

permite que o rádio se torne íntimo do ouvinte, que se identifica com a forma oral utilizada e a

mensagem divulgada.

A mobilidade do veículo é outra característica que propicia uma maior integração com opúblico. Desde o surgimento do transistor, o rádio está livre de cabos e tomadas, podendo ser

consumido em diferentes locais e situações. Em casa, no carro, ou até mesmo no ônibus, com

um fone de ouvido conectado a um aparelho portátil, o indivíduo tem acesso às informações

divulgadas pelo veículo. Além disso, o rádio não precisa de contato visual. Sendo assim, o

receptor da mensagem pode ouvir as informações enquanto executa atividades paralelas,

encontrando no veículo uma companhia em qualquer situação.

Outra peculiaridade do rádio que faz com que ele se aproxime de seu receptor é a

instantaneidade. Segundo Ortriwano (1985), o caráter momentâneo das informações

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veiculadas pelo rádio possibilita ao ouvinte estar sintonizado com a mensagem levada ao ar

em tempo real. Essa velocidade no recebimento das informações faz com que o público sinta

que está simulando um diálogo com o próprio meio de comunicação, que estimula a

participação do receptor. “O rádio envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio da criação

de um diálogo mental com o emissor”. (ORTRIWANO, 1985, p. 80). 

Segundo Salomão (2003), todas essas características fazem com que o rádio consiga

estabelecer uma relação mais estreita com seu público, se comparada à televisão e ao jornal

impresso, marcada pela demonstração de carinho e fidelidade.

E é nesta contemporaneidade muitas vezes incompreensível e perversa aos olhos docidadão comum que o rádio, com sua maneira própria de perceber e contar as coisasda vida, parece surgir como uma ilha onde o ouvinte sente-se mais seguro. Seja pelaoferta de uma farta coloquialidade, de uma generosa previsibilidade para construçãodo discurso ou pela garantia permanente de companhia e de possibilidade de

 pertencimento a uma “família” de ouvintes, o rádio seduz, por privilegiar essacomunicação, de caráter acima de tudo relacional. (SALOMÃO, 2003, p. 27)

A partir do exposto, percebe-se que o rádio consegue estabelecer um vínculo social com seu

público, atuando como um canal para divulgação de seus desejos, ideias, e interesses. O

veículo funciona como um espaço onde os ouvintes podem expressar seus pensamentos

(criticar autoridades, protestar pela falta de justiça, reclamar dos problemas sociais e etc.),

unindo, desta forma, pessoas das mais diferentes origens sociais.

3.4 A fidelização do ouvinte de rádio

Os vínculos entre ouvinte e emissora são muito complexos. Segundo Salomão (2003), a opção

por ouvir ou não uma rádio depende das características da programação, da forma como a

informação é construída e veiculada, bem como a opinião dos apresentadores em relação a

determinados assuntos.

Para entender a preferência que faz com que o ouvinte escolha determinada emissora,

Salomão (2003) recorre ao que define como contratos de leituras. Os contratos, conforme o

autor, podem ser entendidos como a visão que o ouvinte faz da empresa jornalística, a partir

da programação que ela oferece. Uma vez firmados, a emissora precisa fidelizar esse ouvinte,para que consiga manter e aumentar a sua audiência.

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Sobre a fidelização do ouvinte, Prata (2002), ciente da falta de estudos específicos que

envolvam a fidelização de ouvintes de rádio no Brasil, parte dos conceitos que tangem à

fidelização de clientes, baseada nos princípios do marketing. A pesquisadora recorre da

definição de fidelização no dicionário: “qualidade de fiel; lealdade, firmeza; constância nas

afeições, nos sentimentos; perseverança”, e aponta as características que fidelizariam o

ouvinte em uma emissora radiofônica.

Analisando relatórios sobre audiência das emissoras de rádio produzidos trimestralmente pelo

IBOPE, Prata (2002) concluiu que quatro tipos de emissoras têm maior tendência à lealdade

do público:

1 - Emissoras voltadas para um público mais adulto. 2 - Emissoras altamentesegmentadas, com foco num público específico. 3 - Emissoras que mantêm osmesmos programas durante muitos anos. 4 - E, atualmente, as emissorasevangélicas, que possuem os mais altos índices de fidelidade do mercadoradiofônico. (PRATA, 2002, p. 6)

No primeiro tipo de emissora, voltada ao público adulto, Prata (2002) concluiu que, ao

chegarem à maturidade, as pessoas tendem a ser mais conservadoras em seus hábitos, suasamizades e seus relacionamentos. A autora aponta que as emissoras voltadas para o

público jovem, por exemplo, tem muita oscilação de audiência, o que é justificado pelo fato

de que, quem é jovem, sempre está à procura de experiências diferentes, o que inclui a

programação radiofônica.

Em relação à segmentação, a autora defende que uma rádio que trabalha com um ouvinte

específico tende a conquistar a sua fidelidade, mesmo que não alcance grandes índices deaudiência. A segmentação permite que o meio de comunicação tenha personalidade própria,

atingindo os desejos e preferências de seu público alvo. “É um engano acreditar que uma

emissora de música e notícia consiga falar para os dois públicos.” (BARBEIRO, 2003, p.14).

Sobre a relação entre segmentação e fidelização, Prata (2002) cita às rádios com programação

 jornalística 24 horas, que encontraram seu espaço no mercado, e a extinta Rádio Relógio, que

informava as horas de minuto em minuto, de segundo em segundo. Na primeira, o ouvinte

encontrava aquilo que precisava  –  informação, da mesma forma em que na última, que

mantinha alto índice de fidelidade, os ouvintes buscavam aquilo que queriam encontrar: a

hora certa.

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No que tange às emissoras que mantêm programas com longo tempo no ar, Prata (2002)

esclarece que o fator gera uma espécie de “costume” no público. Os ouvintes se acostumam

com o horário, formato, apresentador e atrações, que acabam por fazer parte de seu cotidiano.

Eles sabem que podem contar com aquele padrão de programação em qualquer dia ou hora

em que sintonizar o dial e, mesmo que não goste de determinada atração em um dia ou outro

do programa, ele continua fiel à emissora, porque já está acostumado à tê-la como parte do

seu dia-a-dia.

Nesse contexto, Prata (2002) ressalta que a tradição é importante porque, mesmo que um

programa não tenha altos índices de audiência, mas fique no ar muitos anos, ele acabatornando-se sinônimo da emissora. Da mesma forma, ficam extremamente ligados à emissora

o locutor, o formato comumente utilizado, e a linguagem adotada.

Já sobre a relação entre emissoras evangélicas e fidelidade, Prata (2002) explica que a

lealdade dos ouvintes pode ser traduzida popularmente como “fidelidade de cabresto”, uma

vez que “os ouvintes não fazem a opção livre por uma rádio, mas são altamente estimulados e,

muitas vezes pressionados, a ouvir - ou a dizer ao pesquisador do IBOPE que ouviram - umadeterminada frequência do dial.” (PRATA, 2002, p. 06). 

Em seu estudo, Prata (2002) entendeu que não é possível definir um perfil do ouvinte fiel, já

que cada emissora consegue manter a audiência exclusiva por motivos específicos, como

formato da programação, linha editorial e etc. A autora, porém, define que, do ângulo de sua

observação, ouvinte fiel seria aquele que acompanha parte ou toda a programação da

emissora, sabe os nomes dos comunicadores, conhece os horários dos programas, e aindaparticipa da programação radiofônica com sugestões e até críticas. Segundo Prata (2002), o

ouvinte fiel seria, ainda, aquele se recusa a ouvir qualquer outra emissora que não seja a de

sua preferência absoluta, faz propaganda da rádio e induz outras pessoas a também fazerem

parte do público cativo. A autora ressalta ainda que os verdadeiros ouvintes fiéis mantêm

contato constante por telefone, cartas ou e-mail com a emissora.

Ao analisar o caso específico da Rádio Itatiaia, por meio de uma pesquisa de campo

empreendida junto a funcionários da emissora e audiência, Prata (2002) conseguiu traçar 27

hipóteses que contribuiram para a fidelização dos ouvintes, que levaram à conclusão de que os

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fatores-chave para a fidelização do ouvinte são tradicionalidade, interatividade, credibilidade,

qualidade e seriedade.

No que se refere à tradicionalidade, Prata (2002) destaca que os ouvintes tendem a se tornar

fiéis quando a emissora é previsível, ou seja, quando a programação não passa por grandes

alterações frequentemente. Todos os dias a emissora traz a mesma grade, mesmo formato,

respeitando os horários de cada programa. A autora defende que a tradição gera conhecimento

que, por sua vez, traz segurança.

Em relação à interatividade, Prata (2002) ressalta o espaço dedicado à participação dos

ouvintes para manifestação de opiniões ou fonte de informação. A autora identificou que osouvintes fiéis procuram a emissora para relatar acidentes, fatos que acabaram de acontecer,

para colaborar/participar de alguma forma da programação radiofônica.

Sobre interatividade, Prata (2002) também aponta o alto número de pessoas que procuram a

emissora radiofônica solicitando a intercessão da rádio nos problemas que sofrem, sejam eles

pessoais ou comunitários. Os ouvintes procuram a emissora para fazer pedidos de doação de

sangue, cadeiras de roda, medicamentos etc, sabendo que tais pedidos serão veiculados no ar.Há ainda a prestação de serviço que inclui os apelos sociais, acompanhados de uma posição

das autoridades envolvidas no assunto, como reclamações sobre falta de estrutura viária,

transporte público de má qualidade e etc.

Prata (2002) aponta ainda o fator da credibilidade, considerada palavra-chave no dia a dia de

um veículo de comunicação, tanto do ponto de vista da informação, quanto do lado comercial.

A autora defende que os ouvintes fiéis precisam acreditar nas informações veiculadas pelaemissora, tendo certeza do que aquilo que ouviu realmente é verídico.

No que tange à qualidade, Prata (2002) aponta que são necessários investimentos para manter

uma programação de alto nível, o que também fideliza ouvintes.

Já o critério de seriedade como fidelizador do ouvinte, segundo Prata (2002), pode significar

uma análise global, resumindo todos os itens citados anteriormente. Conforme a autora, uma

emissora séria é aquela que preza pela credibilidade, qualidade, interatividade, e

tradicionalidade.

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Conclui-se, então, que para se ter uma audiência fiel, a emissora precisa ser considerada uma

empresa séria pelos seus ouvintes. Assim, o público confia naquilo que será divulgado e se

disponibiliza também a contribuir para a produção do conteúdo a ser transmitido.

4 BANDNEWS MINAS 1ª EDIÇÃO  – O OUVINTE QUE PARTICIPA

O jornal  BandNews Minas 1ª Edição é transmitido pela rádio BandNews FM de segunda a

sexta-feira, das 9 às 11 horas da manhã e, no sábado, de 9 às 10 horas, na sintonia 89,5, em

Belo Horizonte. Exceto aos sábados, quando o programa é dividido em três blocos, em todos

os outros dias o jornal é dividido em seis blocos de 20 minutos, com intervalos comerciais nofim de cada um.

O noticiário é apresentado em conjunto pelos jornalistas Antonélio Souza, Taís Pimentel, e

Luiz Fernando Rocha, que também é chefe de redação da emissora. Os dois primeiros são

responsáveis pela ancoragem do jornal enquanto o último fica responsável pelos comentários.

Seguindo o modelo imposto pela rede, o jornal tem como principal objetivo levar ao cidadãoas notícias mais importantes de Minas Gerais, com destaque para Belo Horizonte e região

metropolitana.

As matérias veiculadas no jornal são baseadas no tripé Cidades, Política e Economia. Na

última editoria, é comum que também sejam veiculadas notícias nacionais e internacionais

que afetem de alguma forma a população local. A editoria de Esportes, tão comum no rádio

mineiro, é apresentada apenas no fim do noticiário, com informações factuais sobre os trêsprincipais times mineiros (Atlético, Cruzeiro e América).

Em fevereiro de 2012, foi criado um quadro no jornal denominado Grande BH em Pauta. O

objetivo do quadro é aproximar o ouvinte da rádio a partir da discussão de problemas comuns

na cidade, que o afetem de alguma forma. São discutidos temas como problemas no trânsito,

prostituição, abuso sexual de menores, tráfico de drogas, sistema de saúde e etc. Os assuntos

são destrinchados durante a semana, por meio de reportagens especiais, que apresentam os

relatos dos personagens que sofrem os problemas e especialistas que apontam as causas e

soluções.

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Os ouvintes do programa contam com diversas ferramentas para entrarem em contato com os

apresentadores e a redação. Atualmente, estão disponíveis o sistema de recebimento de

mensagem SMS, e-mail, Twitter, Facebook, e o telefone da redação. Durante o jornal, os

comunicadores divulgam intensamente os canais de interação, com exceção do telefone. Para

enviar uma mensagem via SMS, o ouvinte precisa digitar as letras BH no início, já que o

sistema é nacional, e enviar a participação para o número 72261. O Twitter da rádio utilizado

como canal de interação com o ouvinte é o @RadioBandNewsBH e o Facebook pode ser

acessado pelo endereço radiobandnewsbh. Já as mensagens mandadas por e-mail devem ser

encaminhadas para o endereço [email protected]

As mensagens dos ouvintes são recebidas pelos apresentadores do noticiário e um estagiário,

que é responsável por apurar as denúncias enviadas pelos ouvintes com os órgãos oficiais. Já

as atualizações das mídias sociais, com a postagem de fotos, notícias, e a programação da

emissora são feitas por um operador de áudio e um estagiário.

Entre os principais assuntos enviados pelos ouvintes estão reclamações sobre o trânsito,

reivindicações por melhores condições nas áreas de transporte público, educação e segurançapública. Há ainda denúncias referentes ao desrespeito ao consumidor, comentários sobre

política e elogios e reclamações sobre o próprio programa.

Com base nessas características do noticiário, propõe-se estudar de que forma o ouvinte

participa da programação do jornal para compreender como o jornalismo participativo se

evidencia no rádio atualmente, com o surgimento das mídias sociais.

4.1 Definições metodológicas

A pesquisa será realizada por meio de análise de conteúdo das gravações do jornal BandNews

Minas 1ª Edição , da Rádio BandNews FM. O objetivo será analisar as participações dos

ouvintes nas programação, observando como o público interfere no desenvolvimento do

noticiário.

Pretende-se mensurar a participação do público no noticiário a partir da análise de conteúdo

quantitativa, e compreender a relevância dessa participação na produção de conteúdo

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 jornalístico do programa, a partir da análise qualitativa.

Como material empírico do estudo, serão utilizadas as gravações do jornal, feitas por meio de

suporte eletrônico. Para desenvolvimento do estudo, serão selecionados apenas os enxertos

que citam a participação do ouvinte e os trechos em que os apresentadores convidam o

público a se aproximar mais das discussões, enviando seus comentários, opiniões e etc.

Os dias específicos para acompanhamento das edições incluídas no projeto foram escolhidos

por meio do método da amostragem não probabilística de semanas compostas. O método

consiste em escolher uma semana que servirá como referência inicial e, dentro desta semana,

o dia em que começará a análise. Na segunda semana, escolhe-se o dia seguinte, e assimconsecutivamente, até a última semana. Justifica-se a opção por tal técnica, e não a semana

corrida, para evitar ocorrências sazonais que possam enviesar a amostra, como eventuais

catástrofes e feriados.

A semana inicial foi escolhida aleatoriamente, a começar pelo dia 06/08/12. A partir desta

data, será escolhido um dia por semana, até o dia 07/09/12. O noticiário veiculado no sábado

não foi selecionado para compor a amostra porque é transmitido em formato diferente dosdemais. A mostra, portanto, fica assim constituída:

Tabela 1

Amostragem

 Dia da Semana Data

Segunda-feira 06/08/12

Terça-feira 14/08/12

Quarta-feira 22/08/12Quinta-feira 30/08/12

Sexta-feira 07/09/12

O material completo, ou seja, as duas horas de programação diária do jornal, foi obtido junto à

redação da BandNews FM BH. Para efeito da evidenciação empírica, as gravações dos cinco

dias do programa estão disponibilizadas em CD.

Para melhor organização deste estudo, foram estabelecidas duas etapas na análise das

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gravações. A primeira fase do estudo refere-se à análise quantitativa, com objetivo de

mensurar o espaço ocupado pelo ouvinte na programação do jornal a partir do levantamento

do tempo destinado à divulgação dos canais de interação entre redação e público e o número

de vezes em que o ouvinte é citado durante o noticiário.

A segunda fase do trabalho refere-se à análise qualitativa, quando serão considerados os

temas mais frequentes nas informações enviadas pelos ouvintes, a partir da divisão por

categorias (trânsito, acidentes, política, economia, e etc); a linha editorial da emissora, para

compreensão dos assuntos divulgados pelo ouvinte que ganham repercussão durante o

noticiário; e a definição de conceitos que caracterizam a participação do público no programa,

a partir das leituras bibliográficas.

4.2 Análise quantitativa  – O tempo destinado ao ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição

A análise quantitativa aqui empreendida busca quantificar a participação dos ouvintes durante

o programa, bem como o tempo destinado à divulgação dos canais de interação, e as formas

mais utilizadas pelo público para participar do noticiário. Para evidenciar como a participação

dos ouvintes é irregularmente distribuída no tempo, optou-se pela apresentação dia-a-dia.

O primeiro dia de coleta de material iniciou-se na segunda-feira, 06 de agosto de 2012.

Abaixo, segue a tabela que quantifica a participação dos ouvintes.

Tabela 2

Participação do ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição no dia 06 de agosto de 2012

HORÁRIO CANAL DEINTERAÇÃO

TIPO DEPARTICIPAÇÃO

HOUVEDIVULGAÇÃODOS CANAIS?

DURAÇÃO DAPARTICIPAÇÃOE

COMENTÁRIOS9h30 TWITTER PEDIDO DE

AJUDA

NÃO 50 s

9h31 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 1 min 24s

9h38 _____

DIVULGAÇÃO

DOS CANAIS DE

INTERAÇÃO

SIM 35s

9h49 E-MAIL COMENTÁRIO NÃO 37s

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9h50 SMS NOTÍCIA NÃO 17s

9h51 SMS TRÂNSITO NÃO 9s

9h52 SMS TRÂNSITO NÃO 9s

10h11 E-MAIL COMENTÁRIO NÃO 7min 15s

10h40 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 1min 30s

10h42 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 40s

10h57 E-MAIL COMENTÁRIO NÃO 20s

10h58 E-MAIL TRÂNSITO NÃO 40s

O noticiário começou às 9h20 e terminou às 11h05, sendo transmitido, portanto, durante 1h e

45 min. Durante esse tempo, foi citada a participação do ouvinte 12 vezes, sendo que, os

comentários feitos pelos âncoras sobre a participação do ouvinte e a participação do público

propriamente dita ocuparam 13min e 34s do noticiário. O tempo de participação do público

representou, então, 12% de todo o conteúdo transmitido pelo programa.

Observou-se a predominância de participação dos ouvintes por meio das redes sociais, no

caso o Twitter, por e-mail, e pelo sistema de recebimento de mensagens via celular.

O segundo dia de coleta de material iniciou-se na terça-feira, 14 de agosto de 2012. Abaixo,

segue a tabela que quantifica a participação dos ouvintes.

Tabela 3

Participação do ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição no dia 14 de agosto de 2012

HORÁRIO CANAL DEINTERAÇÃO

TIPO DEPARTICIPAÇÃO

HOUVEDIVULGAÇÃODOS CANAIS

DEINTERAÇÃO?

DURAÇ O DAPARTICIPAÇÃOE

COMENTÁRIOS

9h57 E-MAIL COMENTÁRIO NÃO 5 min 37s

10h03 E-MAIL COMENTÁRIO NÃO 1 min 10 s

10h06 ______

DIVULGAÇÃO

DOS CANAIS DE

INTERAÇÃO

SIM 40s

10h07 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 17s

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10h29 SMS COMENTÁRIO NÃO 1min10s

10h32 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 33s

10h33 EMAIL PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO

NÃO 30s

10h42 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 30s

10h43 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 20s

10h43 SMS COMENTÁRIO NÃO 11s

10h44 SMS COMENTÁRIO SIM 30s

10h52 _______ COMENTÁRIO NÃO 35s

10h52 _______ CRÍTICA NÃO 19s

10h53 ________ COMENTÁRIO NÃO 1min7s

O jornal BandNews Minas 1ª Edição começou às 9h10 e terminou às 11h05, tendo duração,

portanto, de 1h55 min. Durante esse tempo, foi citada a participação do ouvinte 14 vezes,

sendo que, os comentários feitos pelos âncoras sobre a participação do ouvinte e a

participação do público propriamente dita ocuparam 13min e 49 s do noticiário. O tempo de

participação do público representou, então, 11% de todo o conteúdo transmitido pelo

programa.

Observou-se a predominância de participação dos ouvintes por meio do e-mail, em seguida

pelo Twitter, e por último pelo sistema de recebimento de mensagens via celular.

O terceiro dia de coleta de material iniciou-se na quarta-feira, 22 de agosto de 2012. A tabela

que quantifica a participação do ouvinte fica assim constituída.

Tabela 4

Participação do ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição no dia 22 de agosto de 2012

HORÁRIO CANAL DEINTERAÇÃO

TIPO DEPARTICIPAÇÃO

HOUVEDIVULGAÇÃODOS CANAIS

DEINTERAÇÃO?

DURAÇ O DAPARTICIPAÇÃO

ECOMENTÁRIOS

9h55 ___ ELOGIO NÃO 10s

9h55 ___ COMENTÁRIO NÃO 1min30s

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9h57 SMS PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO

NÃO 30s

10h19 TWITTER COMENTÁRIO SIM 37s

10h38 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 37s

10h38 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 8s

10h39 EMAIL COMENTÁRIO SIM 1min5s

10h40 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 25s

10h53 SMS SUGESTÃO NÃO 3min

10h40 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 16s

11h01 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 1min

11h13 _____ DIVULGAÇÃO

DE CANAIS DE

INTERAÇÃO

SIM 10s

11h13 EMAIL COMENTÁRIO SIM 54s

11h14 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 4min 53s

O noticiário começou às 9h33 e terminou às 11h33. Durante as duas horas de programa, a

participação do ouvinte foi citada 14 vezes, ocupando 15min e 25s do noticiário. O tempo de

participação do público representou, então, 12,5% de todo o conteúdo transmitido pelo

programa.

Houve predominância do e-mail, seguido das participações via TWITTER e, por último, via

SMS.

O quarto dia de coleta de material iniciou-se na quinta-feira, dia 30 de agosto de 2012.

Abaixo, a tabela que quantifica a participação dos ouvintes.

Tabela 5

Participação do ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição no dia 30 de agosto de 2012

HORÁRIOCANAL DE

INTERAÇÃOTIPO DE

PARTICIPAÇÃO

HOUVEDIVULGAÇÃODOS CANAIS

DEINTERAÇÃO?

DURAÇÃO DAPARTICIPAÇÃO

ECOMENTÁRIOS

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9h42 _______ TRÂNSITO NÃO 24s

9h44 _______ CANAIS DE

INTERAÇÃO

SIM 29s

9h48 SMS TRÂNSITO SIM 23s

9h55 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 45s

10h04 _______ COMENTÁRIO NÃO 42s

10h06 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 27s

10h15 _______ ELOGIO/ 

COMENTÁRIO

NÃO 20s

10h16 _______ COMENTÁRIO NÃO 1m

10h26 EMAIL COMENTÁRIO NÃO 1m35s

10h30 _______ CANAIS DE

INTERAÇÃO

SIM 20s

10h44 EMAIL PEDIDO NÃO 3min 24

10h47 TWITTER TRÂNSITO NÃO 12s

10h48 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 34s

11h05 ________ PERGUNTA NÃO 22s

11h05 ________ COMENTÁRIO/ 

PERGUNTA

NÃO 3min 40s

11h15 TWITTER COMENTÁRIO NÃO 1min40s

O noticiário começou às 9h38 e terminou às 11h33, contabilizando assim 1h e 55m de

duração. Durante esse tempo, a participação do ouvinte foi citada 16 vezes, ocupando 20 min

do noticiário. O tempo ocupado pelo ouvinte representa 17% de todo tempo destinado ao

programa.

Neste dia de análise, houve maior dificuldade na identificação do canal de interação mais

utilizado pelos ouvintes, já que em oito participações não foi citada a forma de comunicação

utilizada. Nas participações em que foi identificado o canal de interação, o Twitter foi

predominante, seguido do uso do e-mail e, por último, o sistema SMS.

O quinto e último dia de coleta de material iniciou-se na sexta-feira, feriado de 7 de setembrode 2012. O noticiário começou às 9h40 e terminou às 11h32, tendo duração, portanto, de

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1h52min. Durante esse tempo, a participação do ouvinte foi citada 7 vezes, ocupando 3 min e

49s do noticiário. Percebe-se a pouca participação do ouvinte principalmente por se tratar de

feriado prolongado, quando as pessoas aproveitam a folga para viajar.

Observou-se a predominância de participação pelo Twitter. Pela primeira vez na análise da

semana, houve participação do ouvinte via telefone e Facebook.

A tabela com o horário da participação do ouvinte fica assim constituída.

Tabela 6

Participação do ouvinte no BandNews Minas 1ª Edição no dia 7 de setembro de 2012

HORÁRIO CANAIS DEINTERAÇÃO

TIPO DEPARTICIPAÇÃO

HOUVEDIVULGAÇÃ

O DOSCANAIS DE

INTERAÇÃO?

DURAÇÃO DAPARTICIPAÇÃ

O ECOMENTÁRIO

S9h50 TWITTER PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO NÃO 30s

10h08 TELEFONE PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO SIM 1min 15

10h12 _____ D. CANAIS DE

INTERAÇÃO SIM 15s

10h40 TWITTER PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO NÃO 29s

10h40 TWITTER PRESTAÇÃO DE

SERVIÇO NÃO 31s

10h41 FACEBOOK RECLAMAÇÃO NÃO 35s

11h22 ______ D. CANAIS DE

INTERAÇÃO SIM 14s

4.3 Presença do público: um noticiário em que o ouvinte se faz ouvir

No primeiro dia de coleta da semana, 06 de agosto de 2012, observou-se que a participação do

ouvinte se referiu a comentários relacionados às Olimpíadas. Os ouvintes aproveitaram oscomentários feitos pelos comunicadores sobre o desenvolvimento do Brasil na competição

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para expressar suas opiniões acerca do assunto. Ao debaterem o tema, que vai de desencontro

com a linha editorial do jornal que prioriza assuntos locais, com foco em Belo Horizonte e

região metropolitana, percebe-se que os apresentadores priorizam o critério do impacto sobre

a nação e sobre o interesse nacional, apontado por Wolf (2003). Esse fator leva em

consideração a capacidade do fato incidir nos interesses do país ou na vida de quem vive nele.

Ao comentar sobre os assuntos apresentados pelos âncoras, firmando a participação no

programa, percebe-se que, como apontado por Santos (2011), os ouvintes queriam

compartilhar suas opiniões com os apresentadores e demais ouvintes, fortificando os laços

ufanistas que os unem.

Houve ainda, durante o noticiário, a participação de um ouvinte que pedia ajuda para

recuperar um carro que havia sido roubado. Observa-se aí a figura do ouvinte fiel, citada por

Prata (2001), que interage com os comunicadores e encontra no rádio um local para prestação

de serviços, acreditando que o veículo poderá ajudar a solucionar seus problemas. Pode-se

identificar o mesmo fenômeno nas participações referentes às informações de trânsito, quando

os ouvintes informaram a situação do tráfego local.

Ainda no dia 06 de agosto de 2012, um ouvinte participou do programa narrando um assalto

que havia ocorrido na noite anterior, no Centro de Belo Horizonte, apontando aí o Jornalismo

Colaborativo, quando o público interage de forma a contribuir para a produção de conteúdo.

No entanto, a notícia foi apenas lida pelo âncora, como qualquer um dos demais comentários,

e não houve apuração do fato. Os demais ouvintes não tiveram a confirmação de que esse fato

realmente ocorreu ou aprofundamento da notícia.

Já no segundo dia analisado, 14 de agosto de 2012, o foco das participações foi o Caso Bruno.

Acusado pelo desaparecimento e morte da ex-amante e modelo Eliza Samúdio, o ex-goleiro

do Flamengo está preso em uma penitenciária na região metropolitana de Belo Horizonte e,

devido a crueldade na execução da vítima, o caso e seus desmembramentos geram sentimento

de inconformidade no público. No dia do noticiário, uma das testemunhas no processo foi

assassinada. Ligado ao critério de noticiabilidade de negatividade, definido por Wolf (2003)

como fatos tristes, que geram inquietação no público, o assunto despertou o interesse dos

ouvintes e foi alvo de comentários ao longo de todo o jornal.

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Os ouvintes opinavam não só sobre a tragédia em si, mas também reclamavam sobre a

incompetência da Polícia Civil nas investigações e as falhas no Código Civil, que eram

evidenciados no caso, mas os atingiam em vários outros aspectos, representando as mazelas

na vida pública. Os comentários refletiam o desejo da população de mudança, característica

presente no Jornalismo Cidadão, como descrito anteriormente por Targino (2009).

A mesma definição pode ser aplicada em um comentário relacionado às eleições. Um ouvinte

alertou a população sobre o real objetivo do voto nulo, encontrando no rádio, assim, um meio

de comunicação para também cumprir seu papel de cidadão. A participação desse ouvinte

pode se enquadrar na classificação de Jornalismo Cidadão, quando o jornalismo passa a

acelerar o momento de democracia gerado pela expansão de rede. (TARGINO, 2009, p. 71).

Outro comentário em que foi evidenciado o papel do Jornalismo Cidadão foi em uma

participação de ouvinte que reclamava sobre a mobilidade urbana em Belo Horizonte. O

ouvinte citado dizia que a mídia deveria exercer seu papel de 4º poder e pressionar as

autoridades a realizar as mudanças necessárias para melhoria da qualidade de vida da

população no que tange ao transporte público.

Ainda nesta edição do jornal, observou-se a participação de um ouvinte que trouxe uma crítica

à programação da emissora, pedindo que um dos colunistas fosse tirado do ar. Segundo o

ouvinte, o comentarista apresentava informações destorcidas, que não se enquadravam na

linha editorial da emissora. A participação desse ouvinte mostra claramente a sua fidelidade à

rádio, nos conceitos definidos por Prata (2002), mostrando que ele não só conhece a emissora,

mas, de certa forma, se sente parte dela e quer que ela continue seguindo os padrões

anteriormente definidos.

No terceiro dia de análise, 22 de agosto de 2012, também foi notória a presença de um ouvinte

fiel, logo na primeira participação citada pelos âncoras. O ouvinte fez um elogio à

programação da rádio, mostrando conhecer os nomes dos comunicadores e o formato

produtivo da emissora.

A edição do noticiário também trouxe comentários relacionados à prestação de serviços, como

 já citado anteriormente, uma característica do ouvinte fiel. Um dos ouvintes alertou à

população sobre a campanha de doação de sangue, apontando a presença do Jornalismo

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Cidadão, e houve ouvinte respondendo à pergunta feita por outro ouvinte participante.

Observa-se aí a interação presente no rádio, motivada intensamente pelas redes sociais, de

onde originaram os comentários.

O jornal BandMinas 1ª Edição deste dia também contou com diversas reclamações de

ouvintes sobre a ineficiência do poder público. Acreditando no veículo como canal de contato

com as autoridades, os ouvintes sugeriam soluções para os problemas envolvendo a falta de

policiamento na cidade e cobravam do poder público atitudes mais enérgicas.

No quarto dia de análise, 30 de agosto de 2012, houve novamente participações de ouvintes

relatando a situação do trânsito e das estradas, mostrando a força da informação de prestaçãode serviço no noticiário. Em uma das participações, o ouvinte contou como o trânsito a sua

volta estava caótico e um dos comunicadores complementou a informação, explicando o

motivo do congestionamento. Nota-se, novamente, a presença do Jornalismo Colaborativo,

definido por Foschini e Taddei (2006) quando mais de uma pessoa interfere, auxilia e coopera

para o resultado daquilo que é publicado. Nesse caso, ouvinte e jornalistas trabalharam juntos

para a divulgação da notícia.

Durante o noticiário, houve grande participação dos ouvintes em relação à uma lei sancionada

pela presidência no dia anterior, que determina o sistema de cotas nas universidades. Dois

ouvintes entraram em contato com a redação, um deles expressando sua opinião sobre a nova

legislação, e o outro apontando uma dúvida, pedindo que os comunicadores explicassem

como funcionará esse novo sistema. Os jornalistas esclareceram a dúvida do ouvinte,

evidenciando o papel do jornalismo como espaço para reflexão e ampliação de determinados

assuntos, caracterizando o Jornalismo Cidadão, como apontado por Madureira e Saad (2009apud Alves, 2009).8 

Outro assunto que ganhou destaque na programação do jornal foi motivado por um ouvinte,

que enviou um e-mail à redação, informando os jornalistas sobre a existência de uma petição

elaborada por um cidadão para pedir que o Senado crie leis mais eficazes e severas no que

tange às infrações de trânsito cometidas por motoristas embriagados. O ouvinte pediu que os

âncoras divulgassem o site com a petição para que o público ouvinte pudesse acessá-lo e

8 MADUREIRA, Francisco; SAAD, Beth. Citizen journalist or source of information: an exploratory studyabout the public’s role in participatory journalism within leading Brazilian web portals , 2009.

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também assinar o documento. Os comunicadores divulgaram o endereço do site, discutiram

acerca do tema, e um tempo depois, eles divulgaram a participação de outro ouvinte, que

parabenizou a atitude dos elaboradores da petição e pediu que o endereço do site fosse

relembrado novamente. Nota-se a presença do Jornalismo Cidadão, que aqui também se

confunde com o Jornalismo Colaborativo, a partir do momento que ambos os ouvintes veêm

no jornalismo uma espaço para as discussões que afligem a sociedade e colaboram na

produção de conteúdo, trazendo informações úteis aos demais ouvintes.

Já no último dia de análise, 7 de setembro de 2012, houve pouca participação de ouvintes.

Pode-se atribuir essa ausência ao feriado prolongado da Independência, que foi comemorado

na sexta-feira, motivo para que muitos ouvintes deixassem a capital mineira e migrassem parao interior ou outros estados.

As poucas participações de ouvintes se referiram a informações do trânsito e estradas, e ainda

alerta sobre acidentes, tão comuns nas rodovias mineiras durante os feriados. A divulgação

das informações sobre o trânsito é apontado por Barbeiro e Lima (2003) como vital para

sobrevivência de uma rádio com programação all news, que deve ter a prestação de serviço

como finalidade social.

Por meio dos comentários e alertas desses ouvintes, percebe-se a presença do Jornalismo

Cidadão, já discutido anteriormente, e também a vontade de colaborar com a programação

radiofônica, característica do Jornalismo Colaborativo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde quando perdeu sua supremacia entre os meios eletrônicos de comunicação, com a

chegada da televisão, o rádio percebeu que aquilo que o sustentaria e garantiria sua

sobrevivência seria a sua aproximação com o ouvinte. Inicialmente, o veículo trouxe as

grandes massas para dentro dos estúdios, para participar ativamente da programação.

Mais tarde, com o fim dos programas de auditório, o surgimento das novas tecnologias, como

o telefone celular, faria com que a inserção do público na programação radiofônica se

consolidasse. Com acesso facilitado à internet e o alastramento das redes sociais, a

participação do público ficou ainda mais evidente nos programas de rádio e o público que,

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antes era apenas receptor da mensagem informativa, passou a também exercer um papel

importante na construção noticiosa, assumindo a função de colaborador.

Na análise do jornal BandNews Minas 1ª Edição, percebeu-se a importância das redes sociais

como canal de interação entre veículo de comunicação e público. O Twitter, que permite o

envio de mensagens com limite máximo de 140 caracteres, foi o canal mais utilizado pelos

ouvintes para opinar, reclamar, elogiar, e interagir com os comunicadores durante o jornal. Já

a participação pelo Facebook foi incipiente, praticamente nula. O fenômeno pode ser

 justificado pelo fato de que enquanto o Twitter tem, atualmente, o objetivo de permitir a troca

de informações entre as pessoas, o que é evidenciado logo na página de entrada do site com a

mensagem “Find out what’s happening, right now, with the people and organizations you

care about”9 , o Facebook já busca o compartilhamento de informações de caráter mais social,

voltado para o entretenimento, como também evidenciado na sua página pela mensagem de

abertura: “As coisas que nos conectam. Nós honramos as coisas do cotidiano que nos reúnem

e celebram as pessoas em todos os lugares se abrindo e se conectando. Compartilhe”. 

A segunda forma mais utilizada pelos ouvintes para se comunicar com a redação e participar

da programação radiofônica foi a comunicação via e-mail, que permite o envio de mensagensmaiores. A internet mostra-se, então, como mecanismo poderoso no processo de inserção do

público na programação jornalística.

Identificou-se, a partir da análise do  BandNews Minas 1ª Edição, que o uso do telefone

celular, que nos anos de 1990 impulsionou a participação dos ouvintes na programação

radiofônica vem perdendo seu espaço. Nos programas analisados, apenas uma ligação de

ouvinte foi recebida pela redação e divulgada durante a programação do jornal. No mais, otelefone celular foi usado no envio de mensagens SMS, recebidas através do sistema

exclusivo da emissora, também ligado à internet. A preferência dos ouvintes pelo uso do e-

mail e Twitter também se justifica pela gratuidade do serviço. As ligações feitas para a rádio

pelo telefone seriam, sem dúvidas, taxadas pela operadora de telefonia. Já as mensagens

enviadas via SMS são cobradas pela própria emissora, fixadas em R$ 0,31 por mensagem

enviada.

9 Tradução livre: Descubra agora o que está acontecendo com as pessoas e empresas que você se interessa.

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A análise do jornal  BandNews Minas 1ª Edição também permite visualizar a mudança de

postura do jornalista a partir do surgimento das novas tecnologias e maior participação do

público. Desde seu surgimento, a BandNews FM  já adota um esquema técnico diferente das

demais emissoras, fazendo com que o âncora, que narra as notícias, também exerça, ao

mesmo tempo, a função de operador de mesa. Além dessas duas funções que já foram pré-

determinadas, os âncoras também devem estar atentos a todo tempo às mídias sociais,

captando toda e qualquer participação do ouvinte, tanto pelo Twitter, quanto Facebook, e-mail

e SMS.

Percebeu-se que, no decorrer do jornal, os comunicadores passaram a adotar o mesmo modelo

de divulgação dos canais de interação com o público, em um discurso único, pedindo que oouvinte envie seu relato, reclamação, sugestão, ou como repetidamente dito por um dos

âncoras “o seu flagrante” via SMS, e-mail, Twitter ou facebook. Em todas as edições os

comunicadores reforçaram o uso dos canais de informação, antes, depois, ou ainda em

momentos em que não houve a participação do ouvinte.

O ouvinte da BandNews FM , por sua vez, se mostrou um público fiel, ao, majoritariamente,

divulgar comentários a respeito das notícias divulgadas durante o jornal, e também opinarsobre a programação, fazendo críticas e elogios, considerando-se parte da programação

radiofônica e fazendo-se ouvir na emissora. Percebeu-se que o público da emissora, assim

como já teorizado por Prata (2001), quer se ver representado na programação radiofônica. Ao

se preocupar em divulgar notícias sobre o trânsito, alertando os motoristas sobre acidentes,

condições de estradas, e sinalização, o ouvinte contribuiu para a produção de conteúdo do

noticiário, buscando alertar os demais ouvintes e cumprir seu papel naquilo considerado

Jornalismo Cidadão.

A análise do noticiário radiofônico permitiu então traçar essa participação do público em um

rádio all news, preocupada com a credibilidade de suas informações, em uma época marcada

pelo uso constante da internet e, principalmente, redes sociais na sociedade brasileira.

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REFERÊNCIAS

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7/29/2019 JORNALISMO PARTICIPATIVO NO RÁDIO ALL NEWS Uma análise do jornal BandNews Minas 1ª Edição

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