irradiaÇÃo de direitos fundamentais nas relaÇÕes … · 2010-07-29 · liberdade e a igualdade...

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IRRADIAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO: A APROXIMAÇÃO DE PÓLOS DICOTÔMICOS L'IRRADIATION DE DROITS CONSTITUTIONNELS FONDAMENTAUX DANS LES RELATIONS JURIDIQUE PRIVE: L'APPROCHE DES PÔLES DICOTÔMICOS Ricardo Goretti Santos Paula Castello Miguel RESUMO A irradiação de direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídico-privadas é fenômeno que, paulatinamente, ganha força no direito brasileiro. Analisa-se a questão a partir do pensamento balizador de Boaventura de Souza Santos, em discurso de identificação da aproximação e da justaposição da dicotomia público/privado, como traço característico da passagem do “projeto da modernidade” para o fenômeno da “transição pós-moderna”. Extraem-se do “projeto da modernidade” duas características básicas e coexistentes: a fertilidade de dicotomias em diversas lógicas da racionalidade (como por exemplo, sujeito/objeto, cultura/natureza, arte/vida, estilo/função, sociedade/indivíduo, público/privado e formal/informal) e a dificuldade ou ausência de mediação entre os referidos pólos dicotômicos. Da combinação das aludidas características advinha a extrema polarização dessas dicotomias, constituídas por pólos ciclicamente oscilantes no tempo e espaço, de maneira que ora prevalecia o público (no Walfare State, no início do século XX), tornando enfraquecida a incidência do privado, ora predominava o privado (no liberalismo do fim do século XVIII a início do século XX), atenuando a vigência do público. Na seqüência, encontra na “transição pós- moderna”, marcada pelo colapso, aproximação ou justaposição das dicotomias clássicas da modernidade, a justificativa para o fenômeno revelador do tema central sobre o qual gravita o estudo: a privatização do direito público e publicização do direito privado no direito brasileiro. Destaca que, ao passo que a recorrente oscilação dos pólos constitutivos da dicotomia público/privado (resultante da deficitária capacidade de mediação entre os aludidos pólos exageradamente polarizados) perde força, o público e o privado abandonam a condição pólos auto-excludentes para coexistirem. Mediante o exercício da problematização de situações concretas afetas ao tema em discussão, ilustra-se o fenômeno da justaposição da dicotomia público/privado a partir da irradiação dos direitos fundamentais na ordem jurídica civil de países estrangeiros. A analise da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal finaliza o estudo que identifica a aproximação dos pólos dicotômicos em tela, no direito brasileiro, fazendo a aplicação da teoria anteriormente apresentada. PALAVRAS-CHAVES: RELAÇÕES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. PROJETO DA MODERNIDADE. TRANSIÇÃO PÓS-MODERNA. APROXIMAÇÃO DA DICOTOMIA PÚBLICO/PRIVADO. 7259

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IRRADIAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO: A APROXIMAÇÃO DE PÓLOS

DICOTÔMICOS

L'IRRADIATION DE DROITS CONSTITUTIONNELS FONDAMENTAUX DANS LES RELATIONS JURIDIQUE PRIVE: L'APPROCHE DES PÔLES

DICOTÔMICOS

Ricardo Goretti Santos Paula Castello Miguel

RESUMO

A irradiação de direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídico-privadas é fenômeno que, paulatinamente, ganha força no direito brasileiro. Analisa-se a questão a partir do pensamento balizador de Boaventura de Souza Santos, em discurso de identificação da aproximação e da justaposição da dicotomia público/privado, como traço característico da passagem do “projeto da modernidade” para o fenômeno da “transição pós-moderna”. Extraem-se do “projeto da modernidade” duas características básicas e coexistentes: a fertilidade de dicotomias em diversas lógicas da racionalidade (como por exemplo, sujeito/objeto, cultura/natureza, arte/vida, estilo/função, sociedade/indivíduo, público/privado e formal/informal) e a dificuldade ou ausência de mediação entre os referidos pólos dicotômicos. Da combinação das aludidas características advinha a extrema polarização dessas dicotomias, constituídas por pólos ciclicamente oscilantes no tempo e espaço, de maneira que ora prevalecia o público (no Walfare State, no início do século XX), tornando enfraquecida a incidência do privado, ora predominava o privado (no liberalismo do fim do século XVIII a início do século XX), atenuando a vigência do público. Na seqüência, encontra na “transição pós-moderna”, marcada pelo colapso, aproximação ou justaposição das dicotomias clássicas da modernidade, a justificativa para o fenômeno revelador do tema central sobre o qual gravita o estudo: a privatização do direito público e publicização do direito privado no direito brasileiro. Destaca que, ao passo que a recorrente oscilação dos pólos constitutivos da dicotomia público/privado (resultante da deficitária capacidade de mediação entre os aludidos pólos exageradamente polarizados) perde força, o público e o privado abandonam a condição pólos auto-excludentes para coexistirem. Mediante o exercício da problematização de situações concretas afetas ao tema em discussão, ilustra-se o fenômeno da justaposição da dicotomia público/privado a partir da irradiação dos direitos fundamentais na ordem jurídica civil de países estrangeiros. A analise da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal finaliza o estudo que identifica a aproximação dos pólos dicotômicos em tela, no direito brasileiro, fazendo a aplicação da teoria anteriormente apresentada.

PALAVRAS-CHAVES: RELAÇÕES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. PROJETO DA MODERNIDADE. TRANSIÇÃO PÓS-MODERNA. APROXIMAÇÃO DA DICOTOMIA PÚBLICO/PRIVADO.

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RESUME

L'irradiation de droits constitutionnels fondamentaux dans les relations juridique privé est phénomène qui, progressivement, gagne force dans le droit brésilien. Il analyse la question à partir de la pensée baliseur de Boaventura de Souza Santos, dans le discours d'identification de l'approche et de la juxtaposition de la dichotomie publique/privée, comme trace caractéristique du passage du « projet de la modernité » pour le phénomène de la « transition post-moderne ». Il extrait du « projet de la modernité », de deux caractéristiques basiques et coexistentes : la fertilité de dichotomies dans de diverses logiques de la rationalité (comme par exemple, je sujet/objet, à culture/nature, art/vie, style/fonction, société/personne, public/privé et formel/informel) et la difficulté ou l'absence de médiation entre mentionnés pôles dicotômicos. De la combinaison des faites référence caractéristiques il arrivait l'extrême polarisation de ces dichotomies, constituées par des pôles cycliquement oscillants dans le temps et l'espace, de sorte que quelques fois prévalait le public (à le Walfare State, dans le début du siècle XX), en rendant affaiblie l'incidence privé, quelques fois prédominait le privé (dans le libéralisme de la fin du siècle XVIII à début du siècle XX), en atténuant à validité du public. Dans la séquence, il trouve dans la « transition post-moderne », marquée par l'effondrement, l'approche ou la juxtaposition des dichotomies classiques de la modernité, la justification pour le phénomène révélateur du sujet central de l'étude : la privatisation du droit public et le devenir public du droit privé dans le droit brésilien. Il détache que, à l'étape que la récurrente oscillation des pôles constitutifs de la dichotomie publique/privée (résultant de la déficitaire capacité de médiation entre les faits référence pôles exagérément polarisés) perd force, le public et le privé abandonnent la condition pôles, que si autoexclure, pour coexistent. Moyennant l'exercice de la visualisation de situations concrètes tu touches au sujet en discussion, s'illustre le phénomène de la juxtaposition de la dichotomie publique/privée à partir de l'irradiation des droits fondamentaux dans l'ordre juridique civil de pays étrangers. Il analyse, finalement, la jurisprudence du Suprême Tribunal Fédéral, afin d'identifier à l'approche des pôles des dicotômicos dans écran, dans le droit brésilien.

MOT-CLES: RELATIONS JURIDIQUES DE DROIT PRIVÉ. EFFICACITÉ DES DROITS FONDAMENTAUX. PROJET DE LA MODERNITÉ. TRANSITION POST-MODERNE. APPROCHE DE LA DICHOTOMIE PUBLIQUE/PRIVÉE.

1 INTRODUÇÃO

O fenômeno da irradiação dos direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídicas de direito privado inevitavelmente nos remete a uma tendência que se explica, justifica-se e cristaliza-se na intermediação de dois ramos do direito: o público e o privado. Dois pólos dicotômicos que gradativamente se aproximam, fazendo do exercício da tutela das relações jurídicas de direito público e de direito privado uma tarefa permeada por comandos normativos distintos em suas finalidades precípuas, que

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ora se associam, tornando-se complementares, mas que ora se dissociam, tornando-se colidentes.

A identificação dessa tendência, todavia, somente pode ser sentida a partir da fragilização dos sistemas jurídicos característicos do Estado Liberal, que não concebiam a irradiação de direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídicas de direito privado, sob pena de violação de primados clássicos, como a autonomia da vontade, a liberdade e a igualdade paritária ou isonomia perante a lei – igualdade formal.

Buscaremos na lição balizadora de Boaventura de Souza Santos[1], em estudo dedicado à descrição do processo de passagem do “projeto da modernidade” para o fenômeno da “transição pós-moderna”, as explicações ou justificativas para a crescente consolidação de uma tendência que, hoje, claramente se faz observada: a incidência ou irradiação das normas de direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídicas de direito privado.

Movidos por esse propósito, iniciamos nossos trabalhos pela delimitação do que chamou o sociólogo português de “projeto da modernidade”, oportunidade na qual, identificaremos como características coexistentes da modernidade a fertilidade de dicotomias nas mais diversas lógicas da racionalidade e a dificuldade (ou mesmo ausência) de mediação entre pólos dicotômicos, dentre os quais enfatizaremos os pólos constitutivos da dicotomia público/privado.

A fertilidade de dicotomias da modernidade, aliada à ausência de mediações entre pólos em oposição, nos servirão de fundamento para justificar a cíclica oscilação, no tempo e no espaço, dos pólos constitutivos da principal dicotomia do direito: a dicotomia público/privada. Desta oscilação, advém a justificativa para a prevalência: ora do direito privado em detrimento do público (no liberalismo do fim do século XVIII a início do século XX); ora do direito público em detrimento do privado (no Walfare State, no início do século XX).

Em seqüência, analisaremos o processo de enfraquecimento desse quadro de oscilação entre o público e o privado, que perde força com a consolidação do fenômeno da “transição pós-moderna”: inaugural de uma nova era, marcada pelo colapso da dicotomia público/privado, bem como pela conseqüente irradiação das normas de direitos fundamentais nas relações jurídicas privadas.

A seguir, a título de ilustração da tendência em apreço, apresentaremos alguns exemplos de situações representativas da justaposição da dicotomia público/privado a partir da irradiação de direitos fundamentais nas relações jurídicas de direito privado, ocorridas em países estrangeiros.

A analise da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal finaliza o estudo, identificando a aproximação dos pólos dicotômicos em tela, no direito brasileiro, fazendo a aplicação da teoria anteriormente apresentada.

2 A FERTILIDADE DE DICOTOMIAS E A AUSÊNCIA DE MEDIAÇÕES: CARACTERÍSTICAS COEXISTENTES DO “PROJETO DA MODERNIDADE”

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A modernidade, nas mais diversas lógicas da racionalidade, acentuou Boaventura de Souza Santos[2], se revela estruturada a partir de modelos dicotômicos de diferentes naturezas: “na racionalidade instrumental-cognitiva, as dicotomias sujeito/objeto e cultura/natureza; na racionalidade estético-expressiva, as dicotomias arte/vida e estilo/função; na racionalidade moral-prática, as dicotomias sociedade/indivíduo e público/privado”, além da dicotomia formal/informal, subjacente e presente em todas elas, de várias formas.

Além da fertilidade e da extrema polarização de dicotomias, é característica do que denominou o autor português “projeto da modernidade” [3], o déficit ou, por vezes, a total ausência de mediação entre pólos dicotômicos.

O resultado da combinação das aludidas características é a extrema polarização de dicotomias constituídas por pólos ciclicamente oscilantes no tempo e espaço.

Detalhando a dinâmica do movimento pendular de pólos dicotômicos, a partir da combinação interativa da mencionada dupla característica do “projeto da modernidade”, Boaventura de Souza Santos[4] descreveu o seguinte processo:

[...] o déficit da capacidade de mediação exacerba a polarização das dicotomias e, inversamente, esta última agrava o primeiro. O efeito conjunto destes dois processos tem sido a recorrente oscilação entre os pólos das dicotomias e, consequentemente, a vigência exagerada de um ou outro pólo. Em momentos diferentes da vida social, atribui-se total precedência, ora a um dos pólos, ora ao outro, ao subjetivismo ou ao objetivismo, ao esteticismo ou vitalismo, ao coletivismo ou ao individualismo ou ainda, na base de todas estas, vigências exageradas, ao formalismo ou ao informalismo. A prioridade total dada num certo momento a um dos pólos suscita uma reação que contribui, por si mesma, para que no momento seguinte a prioridade seja dada ao pólo oposto.

O recorrente movimento e temporariedade da oscilação de pólos igualmente atingem aquela que se insurge como a mais relevante para o nosso estudo, e que se revela a “grande dicotomia” do direito, qual seja: a dicotomia público/privado.

Confirma-se essa caracterização com o entendimento de que uma “grande dicotomia” se revela caracterizada

[...] quando nos encontramos diante de uma distinção da qual se pode demonstrar a capacidade: a) de dividir o universo em duas esferas, conjuntamente exaustivas, no sentido de que todos os entes daquele universo nelas tenham lugar, sem nenhuma exclusão, e principalmente exclusivas, no sentido de que um ente compreendido na primeira não pode ser contemporaneamente compreendido na segunda; b) de estabelecer uma divisão que é ao mesmo tempo total, enquanto todos os entes aos quais atualmente e potencialmente a disciplina se refere devem nela ter lugar, e principal, enquanto tende a fazer convergir em sua direção outras dicotomias que se tornam, em relação a ela, secundárias.

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A oscilação entre as esferas do público e do privado, conforme salientou Norberto Bobbio[5], figura dentre as mais freqüentes discussões envolvendo o debate sobre a relação entre estes dois ramos do direito.

Um dos lugares-comuns do secular debate sobre a relação entre a esfera do público e a do privado, é que, aumentando a esfera do público, diminui a do privado, e aumentando a esfera do privado diminui a do público; uma constatação que é geralmente acompanhada e complicada por juízos de valor contrapostos.

Deste modo, tomando como base a dicotomia público/privado, estabelecendo-se uma análise comparativa de diferentes marcos temporais e espaciais, é possível constatar que, em razão da deficitária capacidade de mediação entre os aludidos pólos exageradamente polarizados, ora prevaleceu o privado, atenuando a vigência do público, ora o público, tornando enfraquecida a incidência do privado.

3 O FENÔMENO DA “TRANSIÇÃO PÓS-MODERNA”: O DECLÍNIO OU O COLAPSO DA SEGREGAÇÃO E DA OSCILAÇÃO DE DICOTOMIAS

O auge da separação bipolar, envolvendo o direito privado (responsável pela criação de regras mínimas de convivência entre particulares que se relacionavam com amplas liberdades individuais) e o direito público (disciplinador das relações verticalmente travadas entre particulares e o Estado, pautando-se, para tanto, na garantia daqueles perante este, assim como no interesse geral) dá-se no Estado Liberal. Neste momento, “o direito limita-se a fixar as regras do jogo, sem conceder privilégios a qualquer dos jogadores, considerados dessa forma, iguais perante a lei” [6].

Como o ponto de partida para o surgimento da concepção liberal do Estado, sobrelevada no século XIX, tem-se as revoluções do século XVIII, sinalizadoras da transformação de uma sociedade eminentemente feudal para uma sociedade burguesa, juridicamente assinalada pela igualdade formal, bem como pelos direitos de primeira geração, notadamente os chamados direitos de defesa ou imunização à atuação interventora do Estado. [7]

O sistema jurídico característico do Estado liberal não concebia a irradiação de direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídicas de direito privado por considerá-las travadas entre indivíduos autônomos em razão dos indiscutíveis primados da liberdade e da igualdade paritária (igualdade formal ou isonomia perante a lei).

Todavia, como bem assentou Jane Reis Gonçalves Pereira[8], “era falsa a premissa de que as relações privadas estabeleciam-se entre indivíduos iguais, livres e autônomos. [...] O liberalismo, assim, tornou-se causa daquilo que, ao menos no discurso, visava combater: as diversas formas de servidão”.

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Afastar a aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações jurídicas de direito privado passou a significar uma negação à própria finalidade dos direitos de tal ordem, responsáveis por propiciar aos indivíduos a coexistência pacífica de níveis máximos de autonomia e dignidade humana.

Eis, em síntese, a justificativa maior para a consolidação de uma tendência que gradativamente faz transparecer uma crescente aplicabilidade dos direitos fundamentais, não só nas relações jurídicas de direito público (para proteger os indivíduos contra eventuais excessos por parte do Estado), como também nas de direito privado (para garantir a proteção de uns em relação aos outros).

A propósito, inaugurando artigo destinado à análise da vinculação de particulares a direitos constitucionais fundamentais, aduziu Daniel Sarmento[9]:

De acordo com a doutrina liberal clássica, os direitos fundamentais limitar-se-iam à regência das relações públicas, que tinham o Estado como um dos seus pólos. Tais direitos eram vistos como limites ao exercício do poder estatal, que, portanto, não se projetavam no cenário das relações jurídico-privadas. Todavia, dita concepção, tributária que era no individualismo possessivo que caracterizava o constitucionalismo liberal-burguês, revela-se hoje profundamente anacrônica. De fato, parece indiscutível que se a opressão e a violência contra a pessoa provêm não apenas do Estado, mas de uma multiplicidade de atores privados, presentes em esferas como o mercado, a família, a sociedade civil e a empresa, a incidência dos direitos fundamentais na esfera das relações entre particulares se torna um imperativo incontornável.

Neste sentido, leciona o Ministro Gilmar Ferreira Mendes[10]:

A concepção que identifica os direitos fundamentais como princípios objetivos legitima a idéia de que o Estado se obriga não apenas a observar os direitos de qualquer indivíduo em face das investidas do Poder Público (direito fundamental enquanto direito de proteção ou de defesa – Abwehrrecht), mas também a garantir os direitos fundamentais contra agressão propiciada por terceiros (Scutzpflichtdes Staats).

Com a superação do individualismo liberal e a ascensão de uma doutrina social definidora de uma nova concepção estatal – o Estado social, empenhado na redução de desigualdades –, “o direito civil – assim como os outros ramos do chamado direito privado, o direito comercial e o direito do trabalho – assiste a uma profunda intervenção por parte do Estado [temeroso de que] a exasperação da ideologia individualista continuasse a acirrar as desigualdades”. [11]

Tal reação contra a concepção liberal do Estado, sobretudo no último século, suplanta o individualismo particular do privado, contribuindo, assim, para o que Norberto Bobbio[12] denominou de “primado do público”, que, segundo o estudioso, significaria

[...] o aumento da intervenção estatal na regulação coativa de comportamentos dos indivíduos e dos grupos infra-estatais, ou seja, o caminho inverso ao da emancipação da sociedade civil em reação ao Estado, emancipação que fora uma das conseqüências históricas do nascimento, crescimento e hegemonia da classe burguesa.

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Com uma maior intervenção estatal, suplanta-se a visão puramente individualista acima criticada, para alimentar um novo entendimento, didaticamente sintetizado por José Carlos Vieira de Andrade[13], com as seguintes palavras:

[...] os direitos fundamentais são pressupostos elementares da vida humana livre e digna, tanto para o indivíduo como para a comunidade: o indivíduo só é livre e digno numa comunidade livre; a comunidade só é livre se for composta por homens livres e dignos.

Os miseráveis, eis que deficitários, processos de mediação dos aludidos pólos dicotômicos tendem, assim, a perder força em suas oscilações. Em virtude disso,

[...] não podemos mais conceber o direito privado como um feudo, dentro do qual reina a vontade absoluta de seu senhor. Tampouco logra persistir a imagem do direito privado como ramo jurídico formado apenas por normas dispositivas – em oposição ao direito público, reino das normas cogentes, ou de ordem pública. Isto representa um dos pontos essenciais que nosso trabalho pretende assentar: também o direito privado, atualmente, contempla normas de ordem pública; também o direito público contém preceitos de interesse geral; também os institutos de direito privado possuem marcada função social. [14]

Trata-se do fenômeno, cunhado por Boaventura de Sousa Santos[15], de “transição pós-moderna”: uma tendência atualmente identificada, de forma clara, nas mais diversas lógicas da racionalidade, inaugurando uma nova era, determinada pelo que se denomina o “colapso das dicotomias da modernidade” [16].

Conseqüência do aludido colapso, dentre tantas outras, seria a flagrante aproximação entre o público e o privado, que abandonam a condição auto-excludente de duplo pólo antagônico em oposição, para coexistirem respeitadas e reconhecidas suas identidades. Deste modo:

O surgimento de uma série de institutos, no âmbito das novas tecnologias, do direito bancário, da bioética e do biodireito, dizendo respeito à reprodução assistida, aos transplantes de órgãos, ao transexualismo e à engenharia genética, bem como os desafios relativos à responsabilidade civil, mostram a insuficiência dos compartimentos antes previstos para a sua classificação, não se podendo afirmar, diante da realidade social emergente, que os novos institutos se situam exclusivamente no campo do direito público ou do direito privado. [17]

Fenômeno acompanhado pelos Textos Constitucionais oitocentistas – tradicionalmente associado às expressões[18] do tipo “eficácia dos direitos fundamentais”, “eficácia externa”, “vigência horizontal”, “aplicação horizontal” ou mesmo “privatização de direitos fundamentais” –, a irradiação dos direitos fundamentais nas relações privadas, torna-se, assim, cada vez mais diretamente incidente.

4 A APROXIMAÇÃO DA DICOTOMIA DIREITO PÚBLICO/DIREITO PRIVADO E OS FENÔMENOS DA PRIVATIZAÇÃO DO DIREITO PÚBLICO E A PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO PRIVADO

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No Brasil, a incidência ou a irradiação dos direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídico-privadas vem sendo construída na doutrina pátria, desde o advento da Constituição Federal de 1988. Neste sentido,

O legislador constituinte, de maneira categórica, pretende evitar que a iniciativa econômica privada possa ser desenvolvida de maneira prejudicial à promoção da dignidade da pessoa humana e da justiça social. Rejeita, igualmente, que os espaços privados, como a família, a empresa e a propriedade, possam representar uma espécie de zona franca para violação do projeto constitucional. [...] Explica-se, nesse contexto, as diversas expressões que surgidas em doutrina, espelhavam a mudança ocorrida na dogmática do direito civil. Socialização, despatrimonialização, repersonalização, constitucionalização do direito civil, em seus diversos matizes, tendem a significar que as relações patrimoniais deixam de ter justificativa e legitimidade em si mesmas, devendo ser funcionalizadas a interesses essenciais e sociais, previstos pela própria Constituição no ápice da hierarquia normativa, integrantes, portanto, da nova ordem pública, que tem na dignidade da pessoa humana o seu valor maior. [19]

Hoje é incontestável a relação de complementaridade firmada entre as esferas do público e do privado. Mas não podemos, todavia, deixar de reconhecer que a mesma interpenetração de pólos que aproxima o direito público e o direito privado é também responsável pela geração de conflitos tradicionalmente superados mediante a utilização de critérios hermenêuticos de proporcionalidade.

Referimos-nos aqui a diversos focos de tensão que são tradicionalmente identificados na Carta Magna quando da tutela constitucional de assuntos relacionados ao direito de propriedade[20], por exemplo.

A coexistência ou a interpenetração entre os eventos em questão, cristalizada com clareza indiscutível na Constituição de 1988, assim foi delineada por Norberto Bobbio[21]:

O primeiro [a publicização do privado] reflete o processo de subordinação dos interesses do privado aos interesses da coletividade representada pelo Estado que invade e engloba progressivamente a sociedade civil; o segundo [privatização do público] representa a revanche dos interesses privados através da formação dos grandes grupos que se servem dos aparatos públicos para o alcance dos próprios objetivos.

A Constituição Federal de 1988, ao introduzir concepções ideológicas novas a respeito dos valores supremos da ordem jurídica, torna mais próxima a coexistência entre o público e o privado, na medida em que abarca diversos pontos do relacionamento privado, referentes, por exemplo:

[...] aos direitos da personalidade; ao relacionamento familiar e à separação conjugal; ao aspecto moral nas obrigações; ao dirigismo estatal na contratação privada; às limitações à propriedade e à temática da responsabilidade civil, em particular, quanto à objetivação crescente de sua base; à problemática das atividades perigosas e a das nucleares; à responsabilidade do Estado, a dos bancos e dos administradores de empresas. [22]

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Ao multiplicar seus pontos de contato com o direito privado, comprovando mais uma vez que os fenômenos da privatização do direito público e da publicização do direito privado coexistem, o Texto Constitucional de 1988 acaba por tornar imperiosa a necessidade de se adequar a codificação civil às suas novas diretrizes. [23] Em razão de tal exigência,

[...] inúmeros reflexos estão-se fazendo sentir no Código Civil, desde a inclusão dos direitos da personalidade em seu frontispício (arts. 11 a 21) à redução do limite da menoridade (art. 5º); à reforma do Direito de Família (arts. 1.511 e ss.); à inserção de elementos morais no âmbito das relações obrigacionais (art. 186); à previsão de mecanismos de intervenção estatal em contratos privados (arts. 157 e 478 a 480); à consagração legislativa do princípio da responsabilidade objetiva (art. 927, parágrafo único), com a teoria da responsabilidade nas atividades perigosas e outras tantas orientações de vulto, modificando, sensivelmente, o alcance dos institutos de direito privado. [24]

À medida que a Constituição combina atividades de regulação do poder político, assim como da sociedade civil, de modo a conferir ao ordenamento jurídico uma unidade cada vez maior, “[...] não há mais limites precisos que separem direito constitucional e direito privado, não sendo possível concebê-los como compartimentos estanques” [25], impermeáveis, separados e governados por lógicas absolutamente distintas.

Podemos, assim, depreender que os processos de publicização do direito privado (resultante do narrado processo de inserção de valores constitucionais nas relações jurídico-privadas, como fundamento de validade destas) e privatização do direito público (decorrente da ascensão de princípios fundamentalmente afetos ao direito civil, ao plano constitucional), nada mais são do que estados de concretização da tendência de interlocução de pólos dicotômicos cada vez mais aproximados em razão de uma inafastável coexistência.

5 EXEMPLIFICANDO A JUSTAPOSIÇÃO DA DICOTOMIA PÚBLICO-PRIVADO A PARTIR DA IRRADIAÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO

Para fins de ilustração de situações representativas do fenômeno da justaposição do duplo pólo dicotômico em análise (evento que ao mesmo tempo alimenta e é alimentado pela irradiação de direitos constitucionais fundamentais nas relações jurídico-privadas) utilizamo-nos de estudo elaborado por José Joaquim Gomes Canotilho[26] em homenagem ao professor Paulo Bonavides. Do aludido ensaio, materializado em artigo compromissado com a abordagem da eficácia dos direitos fundamentais na ordem jurídico-civil, no contexto pós-moderno, extraímos quarto casos[27] expostos pelo autor para fins de ilustração da discussão em tela.

O primeiro dos cinco casos apresentados pelo constitucionalista português a título de problematização do tema (intitulado “A urbanização quimicamente branca” ou a “action under color of State law”) versa sobre a imposição de cláusula proibitiva de

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venda de imóveis urbanos localizados em determinada cidade norte-americana para pessoas negras. A referida limitação, contratualmente estampada como condição para o firmamento do instrumento contratual por parte dos compradores, é ignorada pelo adquirente de uma das unidades, que aliena sua propriedade a um indivíduo que, segundo previsão contratual expressa e anuída, jamais poderia figurar como adquirente. O conflito de interesses é levado ao Estado que, por intermédio dos tribunais, coroando o princípio da liberdade contratual, acata a tese de violação da cláusula contratual, reconhecendo a nulidade da venda.

O problema central em discussão gira em torno do debate sobre o que seria nulo: a venda (como entenderam os tribunais), ou a cláusula contratual (entendimento que desaguaria na possibilidade de imputação ao Estado a responsabilidade pela transgressão do princípio da igualdade).

O segundo caso (denominado “A ‘terceira mulher’: da ‘mulher diabolizada’ e da ‘mulher exaltada’ à ‘mulher criadora do seu papel”), também conhecido como o caso do “diferencialismo das executivas” acontece em uma empresa multinacional que lança para uma de suas executivas a proposta de promoção ao cargo de chefia, desde que a mesma não se opusesse a aceitar uma cláusula proibitiva de gravidez durante dez anos, inserida no contrato. No auge de seus vinte e seis anos, a executiva teria que optar pelo importante cargo que lhe foi oferecido, ou por ser mãe nos próximos dez anos. A discussão aqui seria a seguinte: em tempos de reconhecida autonomia contratual, considera-se nula a cláusula que possibilitaria a invenção da “mulher criadora de seu papel”?

O terceiro caso (das “antenas parabólicas dos emigrantes portugueses”) versa sobre a história de um emigrante português que tem negada, por parte do senhorio de um prédio que tomou em arrendamento, a autorização para instalar, no telhado, uma antena parabólica de televisão. Interessado na captação de canais portugueses, inconformado, o português provoca a tutela jurisdicional, com fundamento na alegação de que a proibição violaria seu direito fundamental à informação. Junto aos tribunais ordinários o êxito do demandante foi nulo, mas isso não ocorreu perante o Tribunal Constitucional Alemão que, diante da questão, firmou entendimento no sentido de reconhecer a aplicabilidade da norma fundamental (direito à informação) na ordem dos contratos.

O quarto caso (intitulado “Liberdade de consciência ou ciência aplicada? O caso do químico anti-radiactivo”) contempla situação vivenciada por um cientista de uma empresa de produtos químicos envolvida em pesquisas sobre tratamentos contra doenças geradas em conseqüência de acidentes nucleares. Na condição de defensor da utilização pacífica de energia atômica, por considerar o referido projeto atentatório aos seus princípios, o cientista se recusou a participar da empreitada. A demissão do cientista era iminente, trazendo para o debate a seguinte ponderação: poderia o mesmo invocar o direito fundamental de liberdade de consciência, como fundamento para a manutenção de seu emprego, ou seria esta violação de deveres funcionais uma justificativa contratualmente plausível para a sua justa dispensa?

Apenas para destacar a revelância do tema em debate, convém informar que o Ministro Gilmar Ferreira Mendes[28] reforça a importância e a pertinência dos direitos fundamentais para as relações jurídicas de direito privado ao lançar, dentre outras, as seguintes indagações:

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[...] o princípio da igualdade impediria que, na adoção de critérios para contratação, uma empresa privilegiasse determinada categoria de pessoas, v.g., as adeptas de uma concepção filosófico-social? [...] os proprietários ou administradores de shopping centers poderiam impedir a distribuição de informações sobre temas de interesse público no seu interior sob alegação de que se cuida de um espaço submetido exclusivamente ao regime de propriedade privada?

A discussão suscitada nos aludidos casos e questionamentos acerca do problema da aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações jurídico-privadas divide opiniões doutrinárias e jurisprudenciais, visto que, consoante Jane Reis Gonçalves Pereira[29], apenas parte da doutrina, de matriz liberal, nega a aplicação direita de direitos fundamentais nas relações jurídicas travadas entre privados. Importantes setores da doutrina, prossegue a autora, defende a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, sejam elas firmadas com o Estado, ou entre particulares.

6 A IRRADIAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES DE DIREITO PRIVADO NOS JULGAMENTOS DE SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: OSCILAÇÕES QUE TRANSFORMAM AS DICOTOMIAS

Durante a vigência da Constituição de 1988, o debate sugestionado nos casos acima apresentados foi discutido no Supremo Tribunal Federal em poucas oportunidades e sem a merecida profundidade.

Pesquisa[30] realizada revela que a questão foi enfrentada explicitamente em um único julgado. O recurso extraordinário n. 201819[31], litígio entre União Brasileira de Compositores (UBC) e Arthur Rodrigues Villarinho - que será denominado de Caso UBC - é paradigmático no que tange a essa questão.

Importante, todavia, compará-lo com outro julgado, o recurso extraordinário n. 158215-4[32], litígio entre Ayrton da Silva Capaverde e outros e Cooperativa Mista São Luiz Ltda – que será denominado Caso São Luiz - que, embora possam parecer semelhantes, guardam diferenças profundas.

O Recurso Extraordinário n. 158.215-4, Caso São Luiz, de 30.04.1996, trata de expulsão de sócio de cooperativa sem o atendimento da garantia do contraditório e da ampla defesa. Transcreve-se trecho da ementa:

COOPERATIVA – EXCLUSÃO DE ASSOCIADO – CARÁTER PUNITIVO – DEVIDO PROCESSO LEGAL. Na hipótese de exclusão de associado decorrente de conduta contrária aos estatutos, impõe-se a observância ao devido processo legal, viabilizado o exercício amplo da defesa.

Não se pode deixar de destacar, todavia, que no caso em tela não houve, por parte da cooperativa, a observância das regras estatutárias. A exclusão do associado poderia ser declarada nula por meio da interpretação exclusiva das regras de direito privado, uma vez que o estabelecido pelos associados não foi cumprido. Ainda assim, a aplicabilidade

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dos direitos fundamentais foi suscitada nesse caso, pois o descumprimento das regras privadas gerava, também, o descumprimento de direitos fundamentais. Nesse caso, os direitos fundamentais trabalharam ao lado das regras de direito privado para proteger o associado expulso por meio de processo inadequado.

Elementos do direito público fazem-se presentes no direito privado. Como percebeu Boaventura, “as prioridades polares de um certo momento permanecem residualmente nas que se lhe seguem” [33]. Este direito privado não é mais o mesmo direito privado do Estado Liberal, pois já foi contaminado pelo pólo oposto, o direito público.

O Recurso Extraordinário n. 201819-8, Caso UBC, de 11.10.2005, também trata de expulsão de um membro de associação sem atendimento ao contraditório e a ampla defesa. Há uma peculiaridade que faz desse julgado um marco nas decisões do STF. A expulsão do associado obedeceu rigorosamente às regras estatutárias. Este ponto deu margem à divergência no julgamento do recurso.

Entendeu a Ministra Ellen Gracie que:

[...] a controvérsia envolvendo a exclusão de um sócio de entidade privada resolve-se a partir das regras do estatuto social e da legislação civil em vigor, sendo totalmente descabida a invocação do art. 5º, LV da Constituição [...]. Obedecido o procedimento fixado no estatuto da recorrente para a exclusão do recorrido, não há ofensa ao princípio da ampla defesa.

Já o Ministro Gilmar Mendes manifestou-se defendendo a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, trazendo ampla doutrina sobre o tema e decisões anteriores da corte constitucional a fim de comprovar a afirmação de que o Supremo Tribunal Federal já possui histórico identificável de uma jurisdição constitucional voltada para a aplicação desses direitos às relações privadas.

A interferência do direito público no direito privado é amenizada por um argumento. O Ministro Gilmar Mendes entende que a entidade da qual o associado foi expulso, integra “aquilo que poderíamos denominar como espaço público ainda que não estatal”. Em trecho de seu voto, diz que:

Todavia, afigura-se-me decisivo no caso em apreço, tal como destacado, a singular situação da entidade associativa, integrante do sistema do ECAD, que, como se viu na ADI n. 2.054-DF, exerce uma atividade essencial na cobrança de direitos autorais, que poderia até configurar um serviço público por delegação legislativa.

Esse caráter público ou geral da atividade parecer decisivo aqui para legitimar a aplicação direta dos direitos fundamentais concernentes ao devido processo legar, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º, LIV e LV, da CF) ao processo de exclusão de sócio de entidade.

A sua conclusão, que defende a aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas, está marcada pelo entendimento que a entidade possui caráter público, ainda que não estatal.

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Estando convencido, portanto, de que as particularidades do caso concreto legitimam a aplicabilidade dos direitos fundamentais referidos, já pelo caráter público, ainda que não estatal – desempenhado pela entidade, peço vênia para divergir parcialmente da tese apresentada pela eminente relatora.

A aplicação dos direitos fundamentais justifica-se, na sua argumentação, pelo caráter público da entidade. Público e privado se misturam, permitindo a inexorável aproximação dos pólos dicotômicos.

Vale destacar o voto do Ministro Celso de Mello, pois abordou a questão sob o prisma da eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações entre particulares, aduzindo que “o reconhecimento, ou não, de uma eficácia direta dos direitos e garantias fundamentais, com projeção imediata sobre as relações jurídicas entre particulares, assume um nítido caráter político-ideológico”.

Apresentou, ainda, ensinamento de Ingo Sarlet revelando que:

[...] uma opção por uma eficácia direta traduz uma decisão política em prol de um constitucionalismo da igualdade, objetivando a efetividade do sistema de direitos e garantias fundamentais no âmbito do Estado social de Direito, ao passo que a concepção defensora de uma eficácia apenas indireta encontra-se atrelada ao constitucionalismo de inspiração liberal-burguesa.

O referido Ministro apesar de fundamentar a sua decisão nos preceitos constitucionais apóia-se nas regras de direito civil ao invocar o art. 57 do Código Civil Brasileiro que exige a justa causa e a adoção de procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto, para admitir a exclusão do sócio.

Concluo, pois, Senhores Ministros, no sentido de reconhecer que assiste, ao associado, no procedimento de sua expulsão referente à entidade civil de que seja membro integrante, a prerrogativa indisponível de ver respeitada a garantia do contraditório e da plenitude da defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, consoante prescreve, em cláusula mandatória, a Constituição da República, em seu art. 5º, inciso LV, não obstante se trate no caso, de ato praticado na esfera e sob á égide de uma típica relação de ordem jurídico-privada.

Novamente, elementos do direito público fazem-se presentes no direito privado. Nas regras civilistas estão expressos os princípios da ampla defesa e do contraditório. Vê-se o direito privado transformado, não só na sua aplicação pelos tribunais, mas nos dispositivos legais.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deste breve ensaio sobre a polêmica em torno do fenômeno da irradiação de direitos fundamentais nas relações de direito privado, seguindo a ordem cronológica de construção das idéias que estruturaram nossa construção argumentativa, foi-nos possível

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concluir que a extrema polarização e a oscilação dos pólos constitutivos da dicotomia público/privado atravessam um momento de superação, em decorrência do que chamamos de colapso das dicotomias da modernidade.

A grande dicotomia do direito perde força em suas periódicas oscilações para se posicionar em tom de aproximação. A partir desta, o direito público, cada vez mais, lança pesadas influências na ordem jurídica privada, intensificando a projeção de seus preceitos de interesse geral nas relações jurídicas travadas entre particulares.

O RE n. 201.819-8, Caso UBC, revelou um caso em que os direitos fundamentais se sobrepuseram ao direito privado. A aproximação, todavia, ocorreu quando a associação de direito privado ganhou contornos de entidade pública e quando as regras do Código Civil socorreram o julgador que parecia temer uma aplicação direta dos preceitos constitucionais, enfraquecendo o direito privado.

Normas de direito público e de direito privado, ainda que mantenedoras de alguns pontos de tensão geradores das chamadas antinomias, abandonam o status de pólos auto-excludentes para se interpenetrarem, acompanhando, assim, as mais novas exigências da complexa sociedade atual. Essa situação pôde ser visualizada no RE n. 158.215-4, Caso São Luiz, quando as regras de direito privado e os direitos fundamentais atuaram de forma complementar.

A Constituição Federal de 1988 e o Código Civil de 2002 seguramente podem ser apontados como marcos na textualização da coexistência ou da justaposição de dois processos, à primeira vista, absolutamente antagônicos. Falamos aqui, da interlocução de pontos de contato entre pólos de irradiação de influências, esboçada nos fenômenos da privatização do direito público e da publicização do direito privado. O artigo 57 do Código Civil, utilizado no julgamento do RE n. 201.819-8, Caso UBC, revela a harmonia, em determinadas situações, entre pólos dicotômicos direito público/direito privado.

Situações ilustrativas da justaposição do duplo pólo dicotômico em apreço consubstanciaram a riqueza e a pertinência dos debates delas decorrentes, reforçando a tese que reconhece a importância dos direitos fundamentais como instrumentos de limitação ao uso descabido da autonomia.

Deste modo, desde que respeitadas as particularidades do duplo ramo em questão (reconhecendo-se o basilar caráter essencialmente auto-regulatório do direito privado, para fins de se evitar o que poderíamos chamar de banalização do direito constitucional), parece-nos não fazer sentido qualquer sorte de dissenso rígido ou extremado quanto à aplicabilidade de normas constitucionais fundamentais nas relações jurídico-privadas, seja a título de resposta às violações de direitos operadas pelo Poder Público, ou mesmo por terceiros particulares.

Está claro, todavia, que essa oscilação constante transforma as dicotomias. Tem-se, hoje, um direito privado transformado pelas influências do direito público. Trata-se do que Boaventura denomina de processo de “descaracterização recíproca” [34]. Neste caso, constata-se que o pólo mais pujante, o direito público, coloniza seu oposto e transforma no seu duplo. O direito privado absorve, assim, o discurso de direito público, que se impõe mediante a irradiação de normas de direitos humanos e fundamentais nas

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relações jurídicas de direito privado, seja a título de resposta às violações de direitos operadas pelo Poder Público, ou mesmo por terceiros particulares.

A eficácia horizontal dos direitos de ordem humana ou fundamental, além de contra-hegemônica, é “micro-revolucionária” [35], na medida em que privilegia os preceitos humanos e fundamentais, em detrimento dos primados do privado (como a autonomia da vontade, por exemplo), que tendem a ser flexibilizados, em cada caso ou luta concreta que venha a ser submetida à apreciação dos tribunais.

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[1] SANTOS, Boaventura de Sousa. O estado e o direito na transição pós-moderna: para um novo senso comum. Revista Humanidades, Brasília: UNB, c. 7, n. 3, 1991, p. 268-282.

[2] SANTOS, Boaventura de Sousa. O estado e o direito na transição pós-moderna: para um novo senso comum sobre o poder e o direito. Revista Humanidades, Brasília: UNB, c. 7, n. 3, 1991, p. 268.

[3] Ibidem, p. 268.

[4] Ibidem, p. 268.

[5] Ibidem, p. 14.

[6] COMPARATO, Fábio Konder. Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 1995, p.06.

[7] GEHLEN, Gabriel Menna Von. O chamado direito civil constitucional. In: MARTIRNS-COSTA, Judith (org.). A reconstrução do direito privado: reflexos dos

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princípios, diretrizes e direitos fundamentais constitucionais no direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 175.

[8] PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação das normas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 146.

[9] SARMENTO, Daniel. A vinculação dos particulares aos direitos fundamentais no direito comparado e no Brasil. In: BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 193-194.

[10] MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais: eficácia das garantias constitucionais nas relações privadas. Análise da jurisprudência da corte constitucional alemã. Revista dos tribunais. Cadernos de direito constitucional e ciência política. São Paulo, Ano 7, n. 27, p. 33- 44, abr-jun. 1999, p. 37.

[11] TEPEDINO, Gustavo. A constitucionalização do direito civil: perspectivas interpretativas diante do novo código. In: FIUZA, César; SÁ, Maria de Fátiva de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira (orgs.). Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 115-129.

[12] BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 9.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 24.

[13] ANDRADE, Jospe Carlos Vieira de, citado por PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação das normas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 151.

[14] LUDWIG Marcos de Campos. Direito público e direito privado: a superação da dicotomia. In. MARTIRNS-COSTA, Judith (org.). A reconstrução do direito privado: reflexos dos princípios, diretrizes e direitos fundamentais constitucionais no direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 99.

[15] SANTOS, Boaventura de Sousa. O estado e o direito na transição pós-moderna: para um novo senso comum sobre o poder e o direito. Revista Humanidades, Brasília: UNB, c. 7, n. 3, 1991, p. 268-282.

[16] Ibidem, p. 268-282.

[17] TEPEDINO, Gustavo. A constitucionalização do direito civil: perspectivas interpretativas diante do novo código. In: FIUZA, César; SÁ, Maria de Fátiva de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira (orgs.). Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 120.

[18] Expressões extraídas de: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Civilização do direito constitucional ou constuticionalização do direito civil? A eficácia dos direitos

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fundamentais na ordem jurídico-civil no contexto do direito pós-moderno. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (orgs.). Direito constitucional: Estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 108-115.

[19] TEPEDINO, Gustavo. A constitucionalização do direito civil: perspectivas interpretativas diante do novo código. In: FIUZA, César; SÁ, Maria de Fátiva de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira (orgs.). Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 118-119.

[20] O direito de propriedade versado no artigo 5º da Constituição de 1988 reflete bem a configuração de uma antinomia, ao passo que, ao mesmo tempo em que assegura o direito de propriedade privada no inciso XXII (uma garantia clássica do Estado liberal), protege a função social da propriedade no inciso XXIII (medida intervencionista particular do Estado social) e exige sua compatibilização com a preservação do meio ambiente (bem de uso comum do povo assegurado no artigo 225 da Constituição). LÔBO, Paulo Luiz Netto. Constitucionalização do direito civil. In: FIUZA, César; SÁ, Maria de Fátiva de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira (orgs.). Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 211.

[21] BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. 9. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 27.

[22] BITTAR, Carlos Alberto; BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Op. Cit., p. 18, nota 27.

[23] Pertinente, neste momento, se faz o registro da crítica depositada por Gustavo Tepedino a um novo Diploma Civil que já nasceu obsoleto, “... principalmente por não levar em conta a história constitucional brasileira e a corajosa experiência jurisprudencial, que protegem a personalidade humana mais do que a propriedade, o ser mais do que o ter, os valores existenciais mais do que os patrimoniais”. (TEPEDINO, Gustavo. A constitucionalização do direito civil: perspectivas interpretativas diante do novo código. In: FIUZA, César; SÁ, Maria de Fátiva de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira (orgs.). Direito civil: atualidades. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 128.

[24] BITTAR, Carlos Alberto; BITTAR FILHO, Carlos Alberto. Direito civil constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 24.

[25] PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação das normas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 120.

[26] CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Civilização do direito constitucional ou constuticionalização do direito civil? A eficácia dos direitos fundamentais na ordem jurídico-civil no contexto do direito pós-moderno. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (orgs.). Direito constitucional: Estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 108-115.

[27] No intuito de evitar a repetição exaustiva da obra utilizada como fonte dos cinco casos em referência, desde já, evitando-se, assim, as futuras remissões que se revelam

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desnecessárias, referenciamos: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Civilização do direito constitucional ou constuticionalização do direito civil? A eficácia dos direitos fundamentais na ordem jurídico-civil no contexto do direito pós-moderno. In: GRAU, Eros Roberto; GUERRA FILHO, Willis Santiago (orgs.). Direito constitucional. Estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 108-115.

[28] MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais: eficácia das garantias constitucionais nas relações privadas. Análise da jurisprudência da corte constitucionais alemã. Revista dos tribunais. Cadernos de direito constitucional e ciência política. São Paulo, Ano 7, n. 27, p. 35, abr-jun. 1999.

[29] PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Apontamentos sobre a aplicação das normas de direito fundamental nas relações jurídicas entre particulares. In: BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 121.

[30] Foi realizada pesquisa jurisprudencial no sítio do Supremo Tribunal Federal com o objetivo de localizar decisões abordando questões relativas à irradiação dos direitos fundamentais nas relações jurídico privadas. O período pesquisado foi de 01.01.1990, escolhido em razão de ser logo posterior a promulgação da Constituição Federal de 1988, a 01.01.2009, data de realização da busca. No sistema de busca foram lançadas as seguintes expressões: “direitos fundamentais e relações privadas”, irradiação dos direitos fundamentais nas relações privadas”, “constitucionalização do direito privado”, direitos fundamentais e direito privado”. A pesquisa restringiu-se a buscar decisões de direito civil e empresarial por estarem claramente classificadas com direito privado.

[31] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos. União Brasileira de Compositores. Exclusão de Sócio sem Garantia da Ampla Defesa e do Contraditório. Eficácia dos Direitos Fundamentais nas Relações Privadas. Recurso Extraordinário. nº 201819/RJ. União Brasileira de Compositores - UBC e Arthur Rodrigues Villarinho. Relator: Gilmar Mendes. 11 out. 2005. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2009.

[32] BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Cooperativa, exclusão do associado, caráter punitivo, devido processo legal. Recurso Extraordinário. nº 158215-4/RS. Ayrton da Silva Capaverde e outros e Cooperativa Mista São Luiz Ltda. Relator: Ministro Marco Aurélio. 30 abr. 1996 Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2009.

[33] Ibidem, p. 271.

[34] Ibidem, p. 268.

[35] Ibidem, p. 282.

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