investigação temática aos três momentos pedagógicos contribuições para um currículo crítico

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Um currículo critico

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  • INVESTIGAO TEMTICA AOS TRS MOMENTOS

    PEDAGGICOS: CONTRIBUIES PARA UM CURRCULO

    CRTICO

    Lucas de Paulo Lameu - [email protected]

    Gisele Maria Pedro Garcia - [email protected]

    Rita de Cssia Magalhes Trindade Stano - [email protected]

    Universidade Federal de Itajub

    Itajub MG

    Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta de um plano de aulas, de Biologia e de

    Fsica, para o Ensino Mdio, a partir do tema Enchentes, baseado em referenciais freireanos

    relacionados ao enfoque CTS a fim de propiciar a construo de experincias curriculares

    crticas. Discute as possibilidades de como se chegar a um tema gerador por meio da

    investigao temtica. Tambm discorre sobre a formulao do plano de aulas tomando

    como referncia os trs momentos pedaggicos e, destacando a importncia da relao

    pertinente teoria e prtica promovendo a criticidade nos alunos. Discorre sobre a

    importncia do trabalho interdisciplinar, entre a Biologia e a Fsica, destacando

    os contedos de tais disciplinas que podem ser trabalhados no tema Enchentes. Promove,

    pois uma discusso das implicaes do enfoque temtico no Ensino de Cincias, uma vez que

    este favorece flexibilidade no currculo de Biologia e Fsica, alm de contribuir para a

    construo de um currculo crtico, que no fica aqum dos contedos necessrios a serem

    ensinados no Ensino Mdio pelo currculo prescrito. Para tanto, o currculo colocado neste

    trabalho como um caminho presente na educao formal estabelecendo fronteira com a

    realidade social em que se encontra o educando.

    Palavras-chave: Currculo, Abordagem temtica, Trs momentos pedaggicos.

    1 INTRODUO

    De acordo com Brasil (2008) a reflexo sobre o currculo est instalada na escola e as

    ltimas dcadas o currculo tem sido um ponto central nos debates da academia, da teoria

    pedaggica, da formao docente e pedaggica.

    Neste contexto podemos acrescentar as compreenses de Moreira et al. (2002), quando

    este menciona que o currculo um artefato to complexo, importante e polmico. Para o

  • autor, o currculo deve ser entendido numa dimenso que vai muito alm de um simples conjunto ordenado de conhecimentos que so ensinados na escola (MOREIRA et al., 2002, p.59).

    Ainda sobre a definio de currculo, Sacristn (2000) destaca que o mesmo pode ser

    analisado a partir de cinco mbitos formalmente diferenciados: sua funo social ser uma

    ponte entre a sociedade e a escola; um projeto ou plano educativo, pretenso ou real, com

    diferentes aspectos, contedos, etc.; a expresso formal e material desse projeto que deve

    apresentar, a partir de determinado formato, seus contedos, orientaes dentre outros; um

    campo prtico; e ainda um tipo de atividade discursiva acadmica e pesquisadora sobre todos

    estes temas.

    Focando o papel especfico do currculo na escola, temos a citao da Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional (LDB) e esta comenta que:

    Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum,

    a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma

    parte diversificada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da

    cultura, da economia e da clientela. (LDB 1996, artigo 26)

    Mediante esse prisma acrescentamos que tem acontecido dentro das salas de aula um

    distanciamento entre teoria e prtica. Guimares (2011) cita que um dos maiores problemas

    curriculares a distncia entre o currculo prescrito e o currculo vivido e ainda que o

    caminho a ser percorrido no ato de educar no deve ser reduzido prescrio. Assim, para

    que o aluno possa perceber o significado no que tem aprendido na escola, a distncia entre os

    contedos ensinados e sua realidade no devem ser estanques. Algumas reflexes, que um

    professor pode ter para romper o distanciamento entre o currculo prescrito e o vivido, so

    elencadas por Freire (1996) ao destacar que ensinar exige pesquisa, respeito aos saberes dos

    educandos, criticidade, reconhecimento da identidade cultural e apreenso da realidade.

    Uma das possibilidades de mudar o currculo do Ensino de Cincias trabalhar com

    enfoques temticos, por meio de temas controversos via enfoque CTS ou por temas geradores

    via enfoque freireano. Santos (2007) cita que o enfoque CTS surgiu de um movimento que

    passou a refletir criticamente sobre as relaes entre Cincia, Tecnologia e Sociedade (CTS),

    propondo novos currculos no ensino de cincia. Auler et al. (2009) traz que o enfoque

    freireano tem sido pautado numa perspectiva curricular cuja lgica de organizao

    estruturada com base em temas, a partir dos quais os contedos so selecionados. No enfoque

    CTS o tema pode ser global como, por exemplo, a questo da poluio em grandes cidades, e

    no enfoque freireano, o tema subordinado realidade local, a partir de um estudo da mesma.

    A abordagem temtica pode ser vista, por Delizoicov et al.(2002), como sendo uma

    perspectiva curricular que estruturada em temas, com os quais so selecionados os

    contedos de ensino das disciplinas, numa abordagem, cuja conceituao cientfica da

    programao subordinada ao tema.

    Sendo assim, a abordagem temtica uma forma de trabalhar com vrias disciplinas de

    modo a situar o aluno na realidade em que ele vive, aproximando os conceitos escolares dos

    fenmenos presenciados por ele dia a dia.

    Sob esse enfoque possvel que professores de reas diferentes possam trabalhar o

    mesmo tema, porm focando tpicos de sua respectiva rea. Kawamura (1997) comenta que a

    interdisciplinaridade um conceito novo, cujo incio se deu junto s reivindicaes estudantis

    do movimento de maio de 1968. A ideia fundamental era a criao da fragmentao do

    conhecimento. Embora duas reas apresentem conhecimentos especficos, elas podem ser

    trabalhadas em conjunto para tratar um determinado tema, abrangendo uma maior gama de

    contedos.

  • Para se entender ainda a relao existente entre o currculo e o enfoque temtico

    necessrio compreender as fases na objetivao do significado do currculo. Sacristn (2000)

    destaca cinco fases, porm enfatizaremos trs: o currculo prescrito que se relaciona com a

    escolaridade obrigatria e que depende de um pas para outro; o currculo apresentado aos

    professores atravs de meios elaborados por diferentes instncias que interpretam o

    significado e os contedos do currculo prescrito; e o currculo moldado pelos professores

    atravs do plano ou programao, em nvel individual ou em grupo.

    Portanto, a proposta de nosso trabalho elaborar um plano de aula, devido relevncia

    do papel do professor em frente ao currculo, a partir de um tema especfico, Enchentes,

    envolvendo contedos de Biologia e de Fsica, para serem aplicadas em turmas do Ensino

    Mdio. Entretanto, antes de aprofundarmos nesse assunto, apontaremos as compreenses

    sobre os currculos de Biologia e de Fsica utilizados no ensino Mdio em Minas Gerais.

    2 OS CURRCULOS DE BIOLOGIA E DE FSICA

    Sobre os contedos de Fsica e Biologia a serem ensinados no Ensino Mdio, em nvel

    nacional, temos como referncia as Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio (OCEM).

    Elas foram elaboradas a partir de ampla discusso com as equipes tcnicas dos Sistemas

    Estaduais de Educao, professores e alunos da rede pblica e representantes da comunidade

    acadmica. O seu objetivo contribuir para o dilogo entre professor e escola sobre a prtica

    docente. Tanto a Biologia quanto a Fsica se incluem no grupo denominado Cincias da

    Natureza, Matemtica e suas Tecnologias.

    Sobre o ensino de Biologia, as OCEM destacam:

    O ensino de Biologia, assim como seu desenvolvimento, deve ser pensado e

    executado tendo por base as finalidades do ensino mdio expressas na LDBEN/96,

    nos seguintes termos: Art 35 (...) III o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual e

    do pensamento crtico (...) (BRASIL, 2006, p.32-33)

    Segundo as OCEM apud Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio

    (PCNEM) o conhecimento da biologia deve subsidiar o julgamento de questes polmicas, ou seja, embasado em informaes e conhecimento, o cidado deve construir suas decises. (BRASIL, 2006, p.219). Elas ressaltam que cabe ao professor mediar o dilogo entre

    informao cientfica, valores e crenas de cada educando, pois ora esses elementos

    caminharo juntos ora contrapor-se-o. E ainda, o ensino de Biologia deve servir como meio para ampliar a compreenso sobre a realidade, recurso graas ao qual os fenmenos

    biolgicos podem ser percebidos e interpretados, instrumento para orientar decises e

    intervenes (BRASIL, 2006, p.21) Por outro lado, em relao ao ensino de Fsica, as OCEM destacam:

    Assim, o que a Fsica deve buscar no ensino mdio assegurar que competncia

    investigativa resgate o esprito questionador, o desejo de conhecer o mundo em que

    se habita. No apenas de forma pragmtica, como aplicao imediata, mas

    expandindo a compreenso do mundo, a fim de propor novas questes e, encontrar

    solues. (BRASIL, 2006, p. 53)

    As OCEM tambm trazem uma diviso do currculo tanto para a disciplina Biologia

    quanto a disciplina Fsica no Ensino Mdio. Nesse sentido, por exemplo, a Fsica dividida

    atravs de seis temas gerais, por exemplo, o tema 1 se refere ao estudo do movimento,

    variaes e conservaes. Tais temas so acompanhados de competncias mais especficas,

  • apontando o objetivo da aprendizagem. Logo, os contedos atravs dos temas refletem o

    que deve ser ensinado nacionalmente.

    Alm dos parmetros que formatam um currculo nacional, para o estado de Minas Gerais

    foi elaborada uma proposta curricular especfica: os Contedos Bsicos Comuns (CBC). Eles

    abrangem todos os contedos do Ensino Fundamental e Mdio, que inclui a Biologia e a

    Fsica.

    Segundo os CBC de Biologia, o aprendizado de Biologia deve encontrar complementao

    e aprofundamento dos conceitos apresentados aos estudantes no Ensino Fundamental. Nesse

    sentido, os CBC para Biologia propem uma relao entre diferentes especialidades da

    Biologia e diferentes competncias do conhecimento cientfico-tecnolgico como parte

    essencial da formao cidad e a preparao para o trabalho.

    Os CBC de Biologia foram organizado em II Eixos e 5 Temas contendo Tpicos e

    Habilidades, que devem ser ensinados para todos os alunos do primeiro ano do Ensino Mdio.

    Os contedos apresentados neste ano podem ser retomados, aprofundados e ampliados nos

    prximos anos seguintes.

    Em relao ao CBC de Fsica ocorre o seguinte entendimento:

    No CBC, que destinado a todos os alunos, procurou-se focalizar os elementos de

    Fsica considerados essenciais na formao cultural-cientfica do cidado dos dias

    atuais, sugerindo uma abordagem mais fenomenolgica, deixando para os anos

    seguintes a abordagem mais dedutiva e quantitativa. (MINAS GERAIS, 2007, p. 11)

    Os tpicos de Fsica foram divididos em VII eixos temticos, e estes subdivididos em 17

    temas. Tais contedos devem ser trabalhados no primeiro ano do Ensino Mdio. Os aspectos

    destacados neste ano podem ser retomados e ampliados nos prximos dois anos seguintes.

    Sobre a distribuio de contedos relacionados ao currculo, de uma forma geral,

    Sacristn (2000) traz que o projeto cultural do currculo no uma mera seleo de contedos justapostos ou desordenados sem critrio algum. (SACRISTN, 2000, p. 75), j que a cultura da escola est presente neste currculo elaborado. Aqui, tambm se inclui o

    currculo de Fsica e de Biologia. Este autor explora ainda mais esta questo ressaltando que

    os contedos foram planejados para formar de fato um currculo escolar. (SACRISTN, 2000, p. 75)

    Sendo assim, a diviso do currculo em disciplinas, como na Biologia e na Fsica, no

    deve implicar numa diviso de saberes e conhecimentos estanques, j que o currculo est

    ligado seleo cultural. O conhecimento se d atravs da curiosidade ingnua, como destaca

    Freire (1996), uma vez que h uma superao entre ingenuidade e criticidade, j que a

    curiosidade ingnua por ser curiosidade se criticiza. Ainda sobre a importncia da criticidade

    presente no currculo, Freire (1987) destaca que necessrio ter um pensar verdadeiro e um

    pensar crtico, que leva a perceber a realidade como processo e no como algo esttico.

    Sobre o enfoque curricular, ns entendemos, baseado em Brasil (2008), que vem

    crescendo as sensibilidades para o currculo das escolas, porque percebeu-se que a

    organizao curricular afeta a organizao do trabalho de todos envolvidos com educao

    desde os sujeitos da ao educativa, os profissionais, educadores-docentes e at dos

    educandos. Ainda pode ser destacado que:

    O currculo, os contedos, seu ordenamento e sequenciao, suas hierarquias e

    cargas horrias so o ncleo fundante e estruturante do cotidiano das escolas, dos

    tempos e espaos, das relaes entre educadores e educandos, da diversificao que

    se estabelece entre os professores (BRASIL, 2008, p.18)

  • Nesse sentido, os educandos sujeito tambm centrais da ao educativa, so condicionados pelos conhecimentos a serem aprendidos e, sobretudo, pelas lgicas e tempos

    predefinidos em que tero de aprend-los. (BRASIL, 2008, p.20) O currculo, segundo Guimares (2011), pode ser apontando como um caminho a ser

    percorrido no ato de educar e no deve ser reduzido prescrio. Nesse sentido, o autor

    menciona que os rumos prescritos para a transmisso, organizao, seleo e aplicao de

    saberes contidos nos currculos, so parte fundamental para o entendimento do que se concebe

    para o educar formal, entretanto, no esgotam as dimenses do currculo na sua

    complexidade.

    Diante desse cenrio explicaremos a escolha do tema gerador e a elaborao de planos de

    aula, uma vez que pretendemos unir as disciplinas Fsica e Biologia na insero da temtica

    enchente.

    3 ESCOLHA DE UM TEMA GERADOR E ELABORAO DE UM PLANO DE

    AULAS

    Auler et al. (2009) apud Freire (1987) destacam que os temas geradores, resultam de um

    processo de investigao/reduo temtica, constitudo de cinco etapas:1) levantamento

    preliminar: feito um levantamento das condies da localidade, onde, atravs de fontes

    secundrias e conversas informais com os indivduos, realiza-se a primeira aproximao e uma recolha de dados; 2) anlise das situaes e escolha das codificaes: feita a escolha de

    situaes que encerram as contradies vividas e a preparao de suas codificaes; 3)

    dilogos descodificadores: os investigadores voltam ao local para os dilogos

    descodificadores, sendo que, nesse processo, obtm-se os temas geradores; 4) reduo

    temtica: consiste na elaborao do programa a ser desenvolvido na 5 etapa. Identifica-se e

    selecionam-se conhecimentos necessrios compreenso dos temas identificados na etapa

    anterior; 5) trabalho em sala de aula: somente aps as quatro etapas anteriores, com o

    programa estabelecido e o material didtico preparado, que ocorre o trabalho de sala de aula.

    Nosso trabalho levanta algumas propostas para se trabalhar o tema Enchentes. Para se

    chegar a este tema, necessrio estudar comunidades locais e/ou cidades, que passam por este

    constante problema ao longo do ano, devido a fatores relacionados com a infraestrutura da

    construo de casas ao longo das proximidades de rios, negligncia em relao

    canalizao e tratamento de esgotos, poluio, a fatores naturais e geogrficos, dentre outro.

    No caso da cidade de Itajub, a mesma tem passado por enchentes ao longo de sua

    existncia. Para verificar se este tema interessante para se trabalhar em sala de aula, no

    sentido de ser um tema gerador, podem ser feitos alguns processos de investigao. Neste

    processo, uma escola selecionada. Assim, so feitas entrevistas com os alunos, com os

    professores, com os funcionrios e com a vizinhana local. Nela pode ser analisada, se h a

    presena de associao de bairro, postos de sade, e outras instituies. Alm disto, mdias

    como jornais, rdios, sites, podem ser analisados. Enfim, se depois de toda a investigao,

    todos os dilogos convergirem para um tema, o mesmo pode ser explorado e a partir dele um

    plano de aulas deve elaborado.

    Depois de supostamente selecionado o tema gerador, no caso, Enchentes, ns procuramos

    neste tema, quais contedos podem ser trabalhados na Fsica e na Biologia. Em geral, uma das

    causas das enchentes a poluio ambiental e uma das consequncias so as possveis

    doenas que elas causam na comunidade afetada.

    Portanto, somente chegar a um tema gerador, e elaborar aulas, puramente tradicionais no

    muda em nada a concepo de formar um aluno crtico sua realidade. Para tal tarefa Freire

    (1987) destaca que:

  • O educador problematizador refaz, constantemente seu ato cognoscente, na

    cognoscibilidade dos educandos. Estes, em seu lugar de ser recipientes dceis de

    depsitos, so agora investigadores crticos, em dilogo com o educador,

    investigador crtico tambm. (FREIRE, 1987, p. 40)

    Sendo assim, propomos a elaborao de um plano de aulas que levam ao uso dos trs

    momentos pedaggicos. Os autores Muenchen e Delizoicov (2011) explicam o que so os trs

    momentos. O primeiro a Problematizao Inicial - questes ou situaes reais que os alunos

    conhecem sobre o tema so apresentadas. Aqui, os alunos so desafiados a expor o que

    pensam sobre as situaes, a fim de que o professor possa ir conhecendo o que eles pensam.

    O segundo Organizao do Conhecimento - sob a orientao do professor, os

    conhecimentos necessrios para a compreenso do tema e da problematizao inicial so

    estudados. O terceiro momento a Aplicao do Conhecimento feita uma abordagem sistematicamente do conhecimento incorporado pelo aluno, para analisar e interpretar tanto as

    situaes iniciais que determinaram seu estudo.

    Utilizando, ento, os trs momentos pedaggicos para a elaborao dos planos de aula, a

    partir do tema Enchentes. Estes podem ser dados em todas as sries do Ensino Mdio e

    apresentam quatro aulas para cada disciplina. Sua estrutura apresenta: objetivos especficos,

    contedo, recursos didticos, desenvolvimento metodolgico e avaliao.

    4 RESULTADOS E DISCUSSES

    Aqui apresentamos os planos de aulas elaborados a partir da abordagem dos trs

    momentos pedaggicos.

    4.1 Plano de aula de Biologia

    Sobre os tpicos de Biologia a serem trabalhados no tema Enchentes, destacamos duas as

    doenas transmitidas durante as chuvas e as enchentes, sendo elas: Leptospirose e o Clera.

    Sabemos que em pocas de chuvas importante prestar ateno em relao aos riscos que as

    inundaes podem causar sade. As guas que transbordam dos rios e bueiros entram em

    contato com a rede de esgoto, com animais portadores de doenas e seus excrementos. Nesse

    sentido, as guas ficam contaminadas e em contato com a pele criam oportunidades para

    entrada de vrus, bactrias e at mesmo vermes, principalmente se houver feridas. Alm disso,

    podem causar doenas quando consumimos este tipo de gua ou alimentos contaminados por

    essas guas.

    Sob esse prisma ser abordada a doena leptospirose, causada por uma bactria,

    transmitida por guas, alimentos contaminados e objetos contaminados por urina de ratos,

    ces e outros animais portadores de bactria. A outra doena que abordaremos ser o Clera,

    tambm causada por bactria, que transmitida por ingesto de gua ou alimentos

    contaminados, crus ou mal cozidos. O objetivo de abordar tais doenas a partir do tema

    Enchentes o de permitir que o aluno seja informado de que certas bactrias so causadores

    de diversas doenas humanas, como a leptospirose e o Clera. Alm disso, permite que o

    aluno conhea as formas de tratamento e de preveno dessas doenas. Ressaltamos que

    optamos por trabalhar as moneras (bactrias) atravs dessas doenas, uma vez que atravs

    desse contedo podem-se compreender as interaes entre organismos e ambiente,

    principalmente relacionadas sade humana, permitindo ao aluno interpretar, avaliar ou

    planejar medidas de preveno com relao sade individual e coletiva.

    Nesse sentido, abordaremos tais doenas dentro dos trs momentos pedaggicos, sendo

    que na problematizao inicial sero discutidos as causas das enchentes e seus impactos na

    sade humana, no momento da organizao do conhecimento sero a discutidos a concepo

  • e o desenvolvimento, tratamento e preveno das doenas mencionadas e na aplicao do

    conhecimento sero dados atividades relacionadas ao tema.

    4.2 Plano de aula de Fsica

    Na disciplina Fsica os tpicos a serem trabalhados no tema Enchentes, destacamos dois:

    1. A reciclagem e o conceito de densidade. 2. A questo da poluio ambiental e o conceito de

    empuxo. Uma das causas das enchentes a negligncia de autoridades em relao a polticas

    pblicas sobre a coleta seletiva de lixo. Isto envolve a questo de no haver polticas sobre a

    coleta de materiais reciclveis, que muitas vezes so jogados nas ruas, e ainda de no haver o

    incentivo da populao em relao educao ambiental. A partir disto, pode ser trabalhado o

    conceito de densidade, j que a diviso dos materiais reciclveis apresentam densidades

    diferentes.

    Ainda sobre a questo da poluio, outro tpico da Fsica pode ser trabalhado. o

    conceito de empuxo, que uma fora proveniente de fluidos sobre um corpo. O seu estudo

    permite compreender que alguns corpos podem flutuar e outros afundar. No caso das

    enchentes importante seu conhecimento, uma vez que, as pessoas ao jogarem lixo nas ruas,

    os mesmos podem voltar s suas casas numa situao de inundao. E ainda, permitir com

    que o aluno entenda que numa situao de enchente, deve-se tomar muito cuidado ao

    caminhar pelas ruas alagadas, j que podem existir objetos afundados e que podem causar

    acidentes. Logo, alm de ensinar os conceitos de densidade e empuxo, tambm se relaciona o

    fato de estimular o aluno a ter uma viso crtica do tema e ainda lev-lo a perceber que o

    mesmo tem responsabilidades sociais diante situao.

    De acordo com os trs momentos pedaggicos, ns temos que: na problematizao inicial

    sero discutidas as causas das Enchentes; na etapa relacionada organizao do

    conhecimento sero explorados os conceitos de densidade e empuxo a partir da problemtica

    sobre poluio; e na aplicao do conhecimento sero dados exerccios relacionados ao tema.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Embora o currculo prescrito determine o estudo de contedos especficos nas disciplinas

    diversas do Ensino Mdio, o professor pode elaborar propostas de temas, quer seja na vertente

    CTS quer seja na vertente freireana, para promover aulas que tratem a realidade do aluno, e

    no aulas estanques e longnquas de sua viso de mundo. Alm disso, o enfoque temtico

    requer a elaborao de aulas que possam explorar a criticidade que envolve o tema, uma vez

    que se no ocorrer tal processo, as aulas voltam novamente a ter um carter expositivo.

    Buscando promover aulas que tratem da realidade do aluno, entendemos que podemos

    conferir educao uma dimenso dialgica. Segundo Guimares (2011) baseado nos

    entendimentos que Freire evoca, existe uma dimenso comunicativa do humano e sua

    ancestralidade social, uma vez que o dilogo sela o ato de aprender, que nunca individual.

    Nesse sentido, a construo dos contedos d dimenso coletiva ao educar; pois se considera

    o outro (educando-educador) como destino e fonte de conhecimento. A elaborao e escolha

    do contedo so prticas fundamentais na diferenciao entre uma educao bancria, como sendo um depsito de conhecimento, e uma educao problematizadora, formando alunos crticos diante sua realidade.

    No entanto, entendemos que o fato de promover a elaborao de aulas por meio de temas

    geradores ou controversos no indica que o professor no ir trabalhar aquilo que se anseia no

    currculo de determinada disciplina, mas implica o fato de que a ordem dos contedos vai ser

    diferenciada, alm de serem trabalhados a partir do cotidiano do aluno.

    Para se chegar a um tema para elaborao de aulas, um conjunto de professores pode

  • utilizar da investigao temtica. Para isto pode focar a comunidade escolar e a comunidade

    local para se chegar a um tema que pode ser trabalhado em disciplinas diferentes. Mas, alm

    disto, a elaborao de um plano de aulas (projeto) assim como sua aplicao tambm deve ser

    diferenciada. O professor pode usar os trs momentos pedaggicos que envolvem: a

    problematizao inicial, a organizao do conhecimento e aplicao do conhecimento. Ao

    longo deste processo, devem estar includas uma metodologia e uma avaliao condizente

    com esta nova proposta de currculo.

    Em nosso trabalho, lanamos a proposta de trabalhar o tema gerador Enchentes. E partir

    dele, elaboramos um plano de quatro aulas, para duas disciplinas, Biologia e Fsica, que

    podem ser dadas em qualquer um dos trs anos do Ensino Mdio. O tema proposto tambm

    pode ser explorado por outras disciplinas, e isto depende do interesse dos professores e da

    afinidade da disciplina com o tema.

    Embora nosso plano de aula seja uma proposta que no foi aplicada em sala de aula, o

    mesmo foi elaborado, pensando na sua possvel aplicao, uma vez que teoria e prtica no

    devem estar distanciadas, mas sim analisadas como complemento uma da outra.

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    do livro de Fsica. In: SIMPSIO NACIONAL DE ENSINO DE FSICA, 19, 2011, Manaus.

    Anais do XIX Simpsio Nacional de Ensino de Fsica. Manaus: UFAM, 2011. p 1-10.

    SACRISTN, J. G. O currculo: uma reflexo sobre a prtica. Traduo Ernani F. da F.

    Rosa. 3 ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

    SANTOS, W. L. P. Contextualizao no Ensino de Cincias por meio de temas CTS em uma

    perspectiva crtica. Cincia & Ensino. v. 1, nmero especial, 2007.

    THEMATIC RESEARCH TO TREE PEDAGOGICAL MOMENTS:

    CONTRIBUITIONS TO A CRITICAL CURRICULUM

    Abstract: This paper presents a proposal for a lesson plan for Biology and Physics class to

    High School, based on the theme Floods, benchmarks on the Freires approach related to STS in order to provide the construction of critical curricular experiences. It discusses the

    possibilities of how to arrive at a generative theme and the formulation of the lesson plan by

    reference to three pedagogical moments, highlighting the importance of the connection theory

    and practice promoting criticality in the students. It brings the importance of interdisciplinary

    work between Physics and Biology. It mentions which contents of such subjects may be

    worked on the theme Floods. It promotes a discussion of the implications of the thematic

    focus in Science teaching, since it promotes flexibility in the curriculum of Biology and

    Physics and contributes to building a critical curriculum, which is not for from the required

    content to be taught in prescribed curriculum of High School. Therefore, the curriculum is

    placed here as a path in formal education setting the borderline with the social reality in

    which the student is.

    Key-words: Curriculum, Thematic approach, Tree pedagogical moments.