introd ao cap 1 geo mb

9
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO 1. IDENTIDADE E TERRITÓRIO, PROCESSO E PERSPECTIVAS 1.1 Território e identidade Constituindo um dos fundamentos e símbolo da identidade nacional o território brasileiro tem na sua dimensão e diversidade natural sua diferença fundamental, residindo aí, em grande parte, as chances reais e potenciais de desenvolvimento, e de se inserir, com relativa autonomia, no mundo globalizado atual. A sua configuração é marcada por dinâmicas de duas naturezas. De um lado, pela força da constante pressão da exploração econômica do patrimônio ambiental, como suporte para a geração crescente de riquezas, ameaçando várias áreas do País com o esgotamento das suas reservas naturais, e o conseqüente empobrecimento da população local com repercussão inquestionável sobre o conjunto maior. Ao mesmo tempo, é também marcada pela fragilidade da articulação, sempre inacabada, em permanente reconstrução, portanto fragmentada e cheia de rupturas de diversos níveis e dimensões da realidade de conteúdos extremamente desiguais, tais como contextos históricos, interações entre grupos sociais – muito ou pouco desiguais, e impactos frente à sociedade nacional e internacional. Assim, nossas múltiplas e impermanentes concepções de território e de identidade, como essas, se nos apresentam; 1

Upload: thereza-carvalho

Post on 30-Mar-2016

212 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Constituindo um dos fundamentos e símbolo da identidade nacional o território brasileiro tem na sua dimensão e diversidade natural sua diferença fundamental, residindo aí, em grande parte, as chances reais e potenciais de desenvolvimento, e de se inserir, com relativa autonomia, no mundo globalizado atual. 1.1 Território e identidade 1. I DENTIDADE E TERRITÓRIO , PROCESSO E PERSPECTIVAS 1 2

TRANSCRIPT

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

1. IDENTIDADE E TERRITÓRIO, PROCESSO E PERSPECTIVAS

1.1 Território e identidade

Constituindo um dos fundamentos e símbolo da identidade nacional o território brasileiro tem na sua dimensão e diversidade natural sua diferença fundamental, residindo aí, em grande parte, as chances reais e potenciais de desenvolvimento, e de se inserir, com relativa autonomia, no mundo globalizado atual.

A sua configuração é marcada por dinâmicas de duas naturezas. De um lado, pela força da constante pressão da exploração econômica do patrimônio ambiental, como suporte para a geração crescente de riquezas, ameaçando várias áreas do País com o esgotamento das suas reservas naturais, e o conseqüente empobrecimento da população local com repercussão inquestionável sobre o conjunto maior. Ao mesmo tempo, é também marcada pela fragilidade da articulação, sempre inacabada, em permanente reconstrução, portanto fragmentada e cheia de rupturas de diversos níveis e dimensões da realidade de conteúdos extremamente desiguais, tais como contextos históricos, interações entre grupos sociais – muito ou pouco desiguais, e impactos frente à sociedade nacional e internacional.

Assim, nossas múltiplas e impermanentes concepções de território e de identidade, como essas, se nos apresentam; estão, por conseguinte, “em andamento” – ao sabor dos diferentes ritmos de interações entre grupos sociais de diferentes origens e culturas, entre si, e com o meio ambiente onde vivemos – as conquistas e conflitos daí decorrentes, e dos impactos frente à sociedade nacional e internacional (Almeida e Cruvinel, 2001).

O território do País pode, portanto, ser percebido, como plano de confluência de processos naturais e sociais que se polarizam e, ao mesmo tempo, se compõem como elos de uma mesma corrente de múltiplos significados. Dessa construção participam as diversas políticas públicas setoriais, passadas e presentes, seus formuladores, gestores, assim como todos nós usuários e sofredores das suas conseqüências econômicas, sociais, ambientais e geopolíticas aqui discutidas (Santos, 2001).

Nesse sentido, o território, como elemento do sistema social - onde interagem os recursos naturais, humanos, tecnológicos e financeiros, e novas atividades - é resultante de um sistema de regulação assim como de fluxos. As crescentes inter-relações entre o território e a globalização são verificáveis na transformação dos atores e suas atividades, na necessidade de conexão entre espaços, na ampliação crescente de fluxos de pessoas, de informações, de mercadorias. A perspectiva de desenvolvimento territorial do País, definida no documento “Avança Brasil”, ilustra o

1

ponto. Ao mesmo tempo em que contempla mecanismos de indução à interiorização do desenvolvimento, enfatiza a necessidade de concentração de esforços em áreas e segmentos capazes de gerar efeitos mais significativos sobre o restante da economia tendo em vista o propósito de realçar a inserção do País na economia internacional. Essa diretriz política tende, todavia, a privilegiar áreas que possuem vantagens comparativas, acirrando as disparidades inter e intra-regionais com a concentração de investimentos, atividades e sobreexplotação dos recursos de toda a ordem nas regiões mais desenvolvidas e, portanto, mais densamente ocupadas. A urbanização se apresenta, neste sentido, não apenas como processo de agregação populacional, mas também, e sobretudo, como pré-condição para a criação de oportunidades de desenvolvimento além do nível de subsistência, aproveitando das economias de aglomeração, fundamental para o almejado incremento dos pequenos negócios. As interações cumulativas e crescentes, entre o meio ambiente e a oferta desses serviços, em áreas de elevada concentração populacional têm, por sua vez, efeitos degradantes sobre ambos: tanto o meio ambiente, quanto a qualidade dos serviços a serem ofertados, gerando congestionamentos e carências.

Quando e onde a gestão territorial não é implantada de forma integrada, ou não é realizada de maneira eficiente, ocorrem vários tipos de conflitos, como esses já citados, em detrimento, e no médio prazo, de todos os envolvidos. Todos perdem. A implantação da gestão territorial integrada no Brasil tem, potencialmente, condições de contribuir para coibir ou reduzir diferentes modalidades de agressões ambientais ainda praticadas nos vários biomas brasileiros.

1.2 O processo GEO no Brasil

O processo de elaboração do primeiro relatório GEO brasileiro, iniciado em maio de 2001, foi marcado pela mesma diversidade e complexidade que distingue o nosso meio ambiente e a nossa biodiversidade. A estratégia adotada - de incentivar a participação conjunta de instituições públicas, de pesquisa, universidades e ONGs, as mais renomadas instituições que atuam na área ambiental do País – teve, como propósito original, produzir um “documento de consenso sobre a situação do meio ambiente no Brasil”. A consecução de tal objetivo exigiria, no entanto, uma prática de articulação interinstitucional orientada para a gestão integrada do território, ainda incipiente no País. Empreendimentos como este, de elaboração do GEO, cujo produto final ora apresentamos, contribui sobremaneira para que um dia esta prática venha a se consolidar, na medida em que cria arenas, ainda que temporárias, de discussão e confronto das diferenças. A obtenção de uma visão de consenso sobre a situação do meio ambiente precisará ser, gradativamente, construída. Por enquanto, o presente relatório reúne, em um único documento, as diferentes visões, tematicamente setorizadas, das diferentes instituições convidadas a colaborar, apresentando, por conseguinte, as diferenças previsíveis quanto às estatísticas por estas citadas como fundamento para suas distintas posturas em relação ao tema da situação do meio ambiente no país.

Foram convidadas a colaborar as seguintes instituições: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca; IPEA – Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada; EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária; CPRM – Serviço Geológico do Brasil; IBAMA/DIREN – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente; FUNDAÇÃO BIODIVERSITAS; MMA/SRH – Ministério do Meio Ambiente / Secretaria de Recursos Hídricos; IEAPM – Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira; IBAMA/DEPAQ - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente; COPPE/UFRJ – Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos / Universidade Federal do Rio de Janeiro; IBAM/PARC – Instituto Brasileiro de Administração Municipal; CEPED/UFSC – Centro Universitário de Estudos e Pesquisa sobre Desastres / Universidade Federal de Santa Catarina; FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz; MMA – Ministério do Meio Ambiente; IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia; além de professores colaboradores do CIORD/UnB – Centro Integrado de Ordenamento Territorial da Universidade de Brasília e do LACTTA/UFF – Laboratório de Estudos de Cidadania,

2

Territorialidade, Trabalho e Meio Ambiente da Universidade Federal Fluminense, aos quais coube a árdua tarefa de elaborar o presente relatório, dando o devido realce às importantes contribuições aportadas por cada centro participante.

O desafio dessa equipe de consultores contratada para organizar e produzir a integração temática de todas as contribuições dos vários centros colaboradores foi significativo. Três objetivos nortearam seus esforços. O primeiro foi não esconder as diferenças existentes. O segundo objetivo foi realçar, sempre que possível, as inter-relações entre os vários temas, a partir da identificação das pressões e impactos de uns sobre os demais. Como terceiro objetivo, procurou-se contribuir para o sucesso da implantação do GEO no Brasil, agregando, nos Capítulos 1, 3 e 4, alguns conteúdos não previstos inicialmente, mas que marcam o momento atual brasileiro.

Dentre esses conteúdos destaca-se, no Capítulo 1, a avaliação ambiental estratégica, como base para o zoneamento ecológico-econômico – a ser concluído este ano – e para a gestão integrada do território e do desenvolvimento do País em bases sustentáveis. Ao mesmo tempo, no Capítulo 3, ressaltou-se as modificações em andamento no papel do Estado brasileiro e suas repercussões sobre a proliferação de políticas públicas setoriais, de instrumentos normativos, com a crescente fragmentação das responsabilidades gestoras entre uma pluralidade de novos atores estratégicos, recém constituídos como gestores de um processo que ainda desconhecem, e pelo qual não são – em última instância, os responsáveis políticos perante a sociedade. Por fim, procurou-se, no Capítulo 4, superar a setorização temática, que parece reforçar a fragmentação dos nossos sistemas gestores com uma síntese territorial de futuros possíveis, através da formulação de cenários tendenciais e desejáveis por biomas brasileiros.

1.3 A estrutura e o conteúdo do relatório

A estrutura deste relatório compreende cinco capítulos, cujos temas centrais – a seguir apresentados, atendem à definição estabelecida pelo IBAMA a partir do exame comparativo de relatórios GEO anteriormente realizados por outras instituições. Cada capítulo contou com a contribuição de diferentes colaboradores-autores das instituições participantes, além dos professores e consultores que integram a equipe de produção do relatório GEO - Brasil 2002, cujos créditos técnicos estão listados em conjunto, e na sua totalidade, no início deste relatório.

Capítulo 1 - INTRODUÇÃO: Este capítulo apresenta o processo de elaboração do GEO, a composição desta publicação, a abordagem adotada, seus propósitos e antecedentes, destacando alguns pontos e questionamentos levantados ao longo do processo da sua elaboração. A metodologia, sugerida pelo IBAMA às instituições colaboradoras para a elaboração das suas respectivas contribuições, foi aquela que o PNUMA vem utilizando na elaboração dos GEO globais. Privilegia as avaliações de pressão/estado/impacto/resposta (SPIR) em um dado momento. A sua adequada aplicação no Brasil exigiria, no entanto, a disponibilidade de séries temporais de dados ambientais, hoje inexistentes, tendo em vista possibilitar a identificação de tendências e formulação de cenários para todos os temas elencados. Os capítulos a seguir apresentarão, através da abordagem multiinstitucional e multidisciplinar adotada, os sete temas originalmente previstos: solos, florestas, biodiversidade, água, ambientes marinhos e costeiros, atmosfera, ambientes urbanos e industriais – assim como outros desdobramentos surgidos a partir do processo de articulação para elaboração do documento.

Capítulo 2 – O ESTADO DO MEIO AMBIENTE: Trata do estado do meio ambiente no Brasil, principais fatores de pressão e seus impactos, segundo os temas originalmente definidos pelo Conselho Diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, em sua 18ª

3

sessão, em maio de 1995, e implementada através do primeiro Global Environmental Outlook, ou GEO 1, publicado em 1997 pelo PNUMA (UNEP- United Nations Environment Programme). Dada a diversidade do País, foram acrescentados aos sete temas originais: subsolos, pesca, desastres ambientais, e saúde e meio ambiente, constituindo – esses dois últimos, elementos conectores de integração entre todos os demais.

Capítulo 3 – RESPOSTAS DE POLÍTICAS: A análise das políticas setoriais que impactam as dinâmicas territoriais do presente, suas tendências, conflitos e desafios, demanda – ao mesmo tempo, a caracterização dos esforços do estado e de uma pluralidade de novos atores da sociedade, os quais, com freqüência, atuam de forma segmentada e isolada, em resposta aos conflitos e demandas críticas mapeadas em partes anteriores deste relatório. O propósito central deste capítulo é, pois, expor as diferenças de visão entre as várias instituições colaboradoras quanto às ações consideradas respostas aos problemas identificados anteriormente, no intuito de contribuir para o processo de aperfeiçoamento do sistema de planejamento e de gestão territorial, hoje praticados no país.

Capítulo 4 - CENÁRIOS: A construção de cenários toma por base a identificação dos principais vetores de pressão sobre os grandes biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Campos Meridionais e Zona Costeira. Pressões essas que alteram as condições ambientais, e contribuem para a deterioração da qualidade de vida, comprometendo a manutenção das atividades econômicas e a sobrevivência das culturas autóctones. Os biomas, como grandes unidades territoriais de análise, constituíram-se na unidade espacial para diagnóstico e análise das tendências. Para tanto, foram identificados os principais vetores e os impactos deles decorrentes, construindo os cenários tendencial e desejado para cada um dos biomas.

Capítulo 5 – RECOMENDAÇÕES: Este capítulo trata das recomendações necessárias, que conduzam a uma significativa mudança de atitude, face aos dois desafios que se apresentam como de fundamental importância enfrentar. O primeiro determina buscar melhorar a qualidade de vida nas áreas já ocupadas, particularmente as grandes aglomerações urbanas, em grande parte degradadas, em termos de sobreutilização de recursos naturais (água, por exemplo), para a provisão da infra-estrutura imprescindível à vida em todos os seus aspectos, tal como saneamento básico. O segundo desafio consiste em garantir tanto a preservação, quanto a exploração competente dos recursos naturais remanescentes, na forma do manejo sustentável desses recursos, condição para que a expansão das áreas, hoje ainda não tão densamente ocupadas, se dê de maneira mais adequada.

Os ANEXOS, que finalizam este relatório, foram acrescentados com o intuito de apoiar possíveis futuras pesquisas. Apresentam conjuntos de indicadores ambientais, econômicos e financeiros, produzidos pelo IBGE e pelo IPEA, com as bases de dados estatísticos correspondentes, e a extensa bibliografia consultada, além de uma compilação dos principais atos normativos que regulamentam os usos e a preservação do meio ambiente no Brasil.

Estabelecidos estes princípios norteadores, a análise da qualidade do meio ambiente urbano

no Brasil foi elaborada partindo-se de dois eixos:

um de caracter introdutório, que delineia o contexto urbano industrial do país,

descrevendo a atual distribuição espacial das cidades e da população e destacando as

interfaces entre o novo processo produtivo, esta estrutura e os Recursos Naturais;

4

outro, que emprega a metodologia PEIR para descrever as PRESSÕES que as

atividades humanas exercem sobre o ambiente natural e artificial, que se revelam

através do ESTADO do comprometimento da qualidade – e quantidade - dos Recursos

Naturais e da vida da população e que produzem os IMPACTOS sobre os seres e os

ecossistemas, induzindo às RESPOSTAS - por parte de governos, sociedade e empresas

– para a prevenção e mitigação de danos ao meio ambiente e recuperação de áreas

degradadas.

Figura 2 – Ciclo metodologia PEIR

Assim, a contextualização do quadro urbano e industrial brasileiro fornece a base para

aplicação da metodologia PEIR na análise da qualidade ambiental e no destaque das ações

empreendidas na reversão e correção dos problemas sócio -urbano - ambientais

identificados.

5