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1 INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR TÊXTIL Marcia Regina Gabardo da Câmara 1 Mirele Cristina Salvador 2 Marcia Gonçalves Pizaia 3 Resumo As formas de internacionalização produtiva têm ganhado importância crescente nas estratégias das empresas desse setor. As grandes empresas têm procurado internacionalizar suas funções corporativas em uma estratégia de busca de oportunidades de mercado em todo o mundo. A partir das experiências das empresas internacionais, é possível extrair algumas implicações gerenciais que podem ser úteis para que as empresas brasileiras aumentem sua pequena participação no mercado internacional. Com isso, o objetivo do trabalho é estudar os fatores que determinam a internacionalização das empresas brasileiras de estilismo e moda e sua evolução recente. Para isso, a metodologia adotada é de uma pesquisa empírica baseada na revisão de literatura. O trabalho permitiu verificar que o processo de internacionalização da empresa é gradual e dispendioso, o que torna esse investimento muito arriscado. Por isso, a maioria das empresas desse setor prefere atuar com o processo de exportação ou até mesmo de licenciamento. Outro fator importante das empresas brasileiras de moda e estilismo é a constante melhoria da qualidade e do design, assim como o desenvolvimento de produtos únicos que conquistam consumidores exigentes e de alto poder aquisitivo ao redor do mundo, como uma das estratégias de crescimento adotada por algumas firmas. Palavras-chave: Investimento Direto Externo, Internacionalização, Moda e Estilismo. Abstract The forms of international production have gained increasing importance in the strategies of companies of this sector. Large companies have tried to internationalize their duties in a corporate strategy to seek market opportunities worldwide. From the experience of international business, it is possible to draw some managerial implications that can be useful for the small Brazilian companies increase their participation in the international market. Therefore, the objective of the study is to analyze the factors that determine the internationalization of Brazilian companies of style and fashion and its recent developments. Therefore, the methodology is an empirical research based on literature review. The work has shown that the process of internationalization of the company is progressive and expensive, which makes this investment very risky. Therefore, most companies prefer to work with this sector the export process or even licensing. Another important factor of Brazilian companies of fashion and style is the constant improvement of quality and design as well as the development of unique products that earn consumers demanding and high purchasing power around the world as one of the growth strategies adopted by some firms. Key Words: the supermarket sector, retail, food-purchasing power. Área: Globalização e competitividade regional 1 Doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP), docente do Curso de Mestrado em Economia Regional, Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), da Universidade Estadual de Londrina, PR.. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-4255. E-mail: <[email protected] >. 2 Graduada em Economia pela Universidade Estadual de Londrina, PR. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-5880. E-mail: <economia>. 3 Pós-Doutora em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora e Coordenadora do Curso de Mestrado em Economia Regional - Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), da Universidade Estadual de Londrina, PR.. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-4255. E-mail: <[email protected]>.

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1

INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR TÊXTIL

Marcia Regina Gabardo da Câmara1

Mirele Cristina Salvador 2

Marcia Gonçalves Pizaia3

Resumo

As formas de internacionalização produtiva têm ganhado importância crescente nas estratégias das

empresas desse setor. As grandes empresas têm procurado internacionalizar suas funções

corporativas em uma estratégia de busca de oportunidades de mercado em todo o mundo. A partir

das experiências das empresas internacionais, é possível extrair algumas implicações gerenciais que

podem ser úteis para que as empresas brasileiras aumentem sua pequena participação no mercado

internacional. Com isso, o objetivo do trabalho é estudar os fatores que determinam a

internacionalização das empresas brasileiras de estilismo e moda e sua evolução recente. Para isso,

a metodologia adotada é de uma pesquisa empírica baseada na revisão de literatura. O trabalho

permitiu verificar que o processo de internacionalização da empresa é gradual e dispendioso, o que

torna esse investimento muito arriscado. Por isso, a maioria das empresas desse setor prefere atuar

com o processo de exportação ou até mesmo de licenciamento. Outro fator importante das empresas

brasileiras de moda e estilismo é a constante melhoria da qualidade e do design, assim como o

desenvolvimento de produtos únicos que conquistam consumidores exigentes e de alto poder

aquisitivo ao redor do mundo, como uma das estratégias de crescimento adotada por algumas

firmas.

Palavras-chave: Investimento Direto Externo, Internacionalização, Moda e Estilismo.

Abstract

The forms of international production have gained increasing importance in the strategies of

companies of this sector. Large companies have tried to internationalize their duties in a corporate

strategy to seek market opportunities worldwide. From the experience of international business, it is

possible to draw some managerial implications that can be useful for the small Brazilian companies

increase their participation in the international market. Therefore, the objective of the study is to

analyze the factors that determine the internationalization of Brazilian companies of style and

fashion and its recent developments. Therefore, the methodology is an empirical research based on

literature review. The work has shown that the process of internationalization of the company is

progressive and expensive, which makes this investment very risky. Therefore, most companies

prefer to work with this sector the export process or even licensing. Another important factor of

Brazilian companies of fashion and style is the constant improvement of quality and design as well

as the development of unique products that earn consumers demanding and high purchasing power

around the world as one of the growth strategies adopted by some firms.

Key Words: the supermarket sector, retail, food-purchasing power.

Área: Globalização e competitividade regional

1 Doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP), docente do Curso de Mestrado em Economia Regional,

Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), da Universidade Estadual de Londrina, PR.. Endereço: Campus

Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone:

(43) 3371-4255. E-mail: <[email protected] >. 2 Graduada em Economia pela Universidade Estadual de Londrina, PR. Endereço: Campus Universitário: Rodovia

Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP: 86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-5880. E-mail:

<economia>. 3 Pós-Doutora em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora e Coordenadora do Curso

de Mestrado em Economia Regional - Programa de Pós-Graduação em Economia (PPE), da Universidade Estadual de

Londrina, PR.. Endereço: Campus Universitário: Rodovia Celso Garcia Cid (PR 445), km 380. Caixa Postal 6001, CEP:

86051-990 - Londrina-PR. Fone: (43) 3371-4255. E-mail: <[email protected]>.

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1. INTRODUÇÃO

As formas de internacionalização produtiva têm ganhado importância crescente nas

estratégias das grandes empresas de diversos setores. As grandes empresas têm procurado

internacionalizar suas funções corporativas em uma estratégia de busca de oportunidades de

mercado em todo o mundo. A partir das experiências das empresas internacionais, é possível extrair

algumas implicações gerenciais que podem ser úteis para que as empresas brasileiras aumentem sua

pequena participação no mercado internacional.

Nesse trabalho será focado o mercado da moda, que vem se ampliando no mercado

brasileiro. Uma prova desse crescimento é o evento anual São Paulo Fashion Week (SPFW) que

atrai a atenção do país inteiro e até mesmo do mundo para o estado de São Paulo. O evento que

esteve no seu 11º ano, em 2006, contou com a participação de 47 grifes e estilistas brasileiros. Ao

longo dos 10 anos de SPFW, a qualidade da produção de peças de design e estilismo em moda

brasileira melhorou significativamente, com inovações na produção, na qualidade do tecido, no

design das peças, no corte diferenciado, na coloração, nos materiais utilizados e até mesmo na

publicidade das marcas.

O setor vestuário emprega um contingente substantivo de mão-de-obra, mas sua participação

na economia tem declinado frente à concorrência de produtos estrangeiros na economia brasileira –

produtos populares chineses e indianos, cujo custo de mão-obra é muito mais baixo e grifes

internacionais, cuja qualidade e design atraem as classes com maior poder aquisitivo. Uma forma

de contornar a concorrência via custo, é investir na qualidade e no design, de maneira a ampliar sua

participação no crescimento do produto interno bruto brasileiro via aumento de exportação, o que

requer criatividade e competitividade. Esses itens podem ser alcançados através da estratégia

empresarial, enfocada principalmente na relação direta entre inovação e desempenho da empresa.

O setor vestuário tem enfrentado dificuldades e entraves com a política cambial, taxa de

juros altos, enorme carga tributária e trabalhista, problemas de logística e a concorrência desleal

chinesa, fatores que atrapalham o crescimento setorial. Em contrapartida, a qualidade de design, a

tecnologia das fábricas, o profissionalismo, a responsabilidade com o meio ambiente e com o social,

das empresas brasileiras, têm conquistado maior espaço no mercado nacional e internacional.

Apesar de todos esses pontos favoráveis e desfavoráveis, a atuação de empresas brasileiras

no mercado estrangeiro, do setor de moda e estilismo, tem se tornado crescente ao longo dos anos.

O principal passo para a instalação de uma firma brasileira em outro país é a escolha de um

mercado em outro país que seja compatível com o tipo de mercado consumidor do produto

comercializado pela empresa. A existência de barreiras tarifárias e altas exigências quanto ao país

receptor da empresa para a sua instalação são fortes fatores que determinam a instalação e

divulgação de marcas brasileiras em outros mercados.

A indústria têxtil e de confecção brasileira vem aumentando o seu faturamento total

anualmente. A expansão é derivada particularmente de um aumento da exportação; também se

verifica a crescente participação de produtos de maior valor agregado, como o setor da moda.

A melhoria da qualidade e do design, assim como o desenvolvimento de produtos únicos

que conquistam consumidores exigentes e de alto poder aquisitivo ao redor do mundo tem sido uma

estratégia de crescimento adotada por algumas firmas. Logo elas têm inovado e criado mercado

alternativo e sem as limitações ao crescimento impostas pelas restrições econômicas e por um

mercado de menor tamanho e menor poder aquisitivo. Destaca-se que a estratégia tem sido

favorável aos produtos e ao negócio da moda nacional, com articulação entre os elos da cadeia têxtil

que envolve o aperfeiçoamento da qualidade das fibras e fios, o design, a confecção, a tecnologia, o

apelo fashion e até a forma de embalar os produtos.

Analisando esses pontos, a investigação reportada neste trabalho segue a seguinte pergunta

de pesquisa: Por que, apesar das vantagens competitivas apresentadas pelo setor de design e

estilismo em moda, o mercado interno brasileiro não é o grande consumidor dessa produção e as

empresas brasileiras buscam o mercado internacional?

O objetivo geral é estudar os fatores que determinam a internacionalização das empresas

brasileiras de estilismo e moda e sua evolução recente. Os objetivos específicos: 1) Descrever os

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processos de internacionalização de empresa; 2) Discutir a evolução recente dos indicadores do

setor de vestuário: produção, produtividade, consumo, exportação; 3) Identificar as principais

empresas brasileiras atuantes no setor da moda e discutir suas estratégias a partir das categorias de

análise do referencial teórico; 4) Identificar os países estrangeiros que apresentam franquias ou lojas

próprias de empresas brasileiras do setor de design e estilismo em moda e os fatores que

condicionaram o opção pelo produto brasileiro a partir da literatura; e 5) Identificar os principais

países importadores de produtos brasileiro do setor de moda e discutir os fatores relevantes que

condicionaram a adoção desta modalidade de internacionalização.

A indústria têxtil e de confecção brasileira vem aumentando o seu faturamento total

anualmente. A expansão é derivada particularmente de um aumento da exportação; também se

verifica a crescente participação de produtos de maior valor agregado, como o setor de moda.

O trabalho procura discutir e comprovar duas hipóteses a partir da revisão de literatura e da

análise quantitativa e qualitativa de dados. A primeira hipótese refere-se à melhoria da qualidade e

do design, assim como o desenvolvimento de produtos únicos que conquistam consumidores

exigentes e de alto poder aquisitivo ao redor do mundo, enquanto uma estratégia de crescimento

adotada por algumas firmas. Logo elas têm inovado e criado mercado alternativo e sem as

limitações ao crescimento impostas pelas restrições econômicas e por um mercado de menor

tamanho e menor poder aquisitivo.

A segunda hipótese refere-se à estratégia de internacionalização das firmas, ela é fruto da

realização de um investimento em um determinado mercado de destino das exportações para

ampliar e fortalecer as vendas nesse mercado. O processo de internacionalização das empresas

brasileiras de alta costura ocorre através da implantação de franquias das empresas brasileiras do

setor de design e estilismo em moda em países estrangeiros e via a instalação de lojas próprias,

inseridas no varejo de auto-luxo.

A pesquisa se justifica pelo fato do assunto crescimento econômico no mercado de alta

costura ser um tema inovador e intrigante para explicar a preferência e diferença de investimento

das empresas brasileiras em mercado internacional. A moda cresce continuamente e nunca irá parar

de crescer. Cada estação traz uma alteração nas cores, acessórios, panos, estampas e designes,

movimentando cada vez mais a economia com a criação de novos modelos de vestuário.

A tradição da alta costura nos países europeus e norte-americanos contagiou os estilistas

brasileiros que abusaram da criatividade e da grande variedade de material para se destacarem nos

mercados internacionais. A SPFW é um dos principais eventos da moda mundial, considerado até

mais importante que os desfiles de Nova York, que já possuem longos anos de tradição. Tudo isso é

devido ao desenvolvimento industrial e tecnológico brasileiro que se expandiu rapidamente

destacando o mercado de alta costura brasileiro no resto do mundo.

O presente trabalho é de natureza bibliográfica, dada a escassez de pesquisas científicas na

área. Após realizar a revisão de literatura sobre determinantes do investimento estrangeiro procura-

se detalhar a cadeia têxtil e o setor de alta costura do mercado brasileiro, pois com isso, torna-se

possível entender o motivo do crescente mercado consumidor desse setor.

Deve-se destacar a importância dos dois setores - cadeia têxtil e o setor de alta costura - na

pauta de exportação brasileira e a crescente participação. O comportamento recente dos dois

segmentos sofre a influência de transformações nos segmentos fornecedores de insumos, como o

setor químico (responsável pela criação das cartelas de cores e tintas para os tecidos), setor de jóias

(responsável pela criação de adereços complementares ao vestuário), o setor de calçados e bolsas, o

setor de cosméticos, que seguem as tendências das colorações da moda brasileira e internacional,

entre outros.

O trabalho consiste num estudo de caráter exploratório, ou seja, uma investigação ou

pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de um problema, que tem como finalidade aumentar

a familiaridade do assunto estudado.

A pesquisa está dividida em cinco partes. Esta introdução apresenta, brevemente, a teoria de

internacionalização de firmas, em especial do setor de moda. O tópico um aborda a história da moda

e os principais eventos fashion do país. A seção dois traz os modelos de internacionalização das

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firmas e seus principais autores, abordando o processo de investimento direto externo. O tópico três

relata o desenvolvimento tecnológico do segmento têxtil. A parte quatro aborda todo o processo de

exportação brasileira do setor de vestuário de auto-luxo. E para finalizar, o tópico cinco traz as

considerações finais do estudo do trabalho.

2. MODA: UM BREVE HISTÓRICO

A moda é um fenômeno social ou cultural, de caráter mais ou menos coercitivo, que consiste

na mudança periódica de estilo e cuja vitalidade provém da necessidade de conquistar ou manter

uma determinada posição social (DICIONÁRIO AURÉLIO, XX).

O termo moda surgiu no final da Idade Média, princípio da Idade Moderna, impondo-se

como um importante fator de diferenciação social e de sexo, já que até então homens e mulheres

vestiam-se de forma bastante semelhante. O surgimento da moda foi resultado da busca pela

individualidade, consagrando a transição dos valores coletivos e anônimos da Idade Média para os

valores individuais do Renascimento. A partir desse momento, as mudanças das vestimentas passam

a ter caráter sazonal, ou seja, as idéias em vigência têm certo tempo de duração. Antes do

aparecimento da moda, as mudanças eram mais lentas e pouco significativas durante longos

períodos de tempo. Roupa, independente da moda, é um elemento de diferenciação do consumidor.

Ela permite diferenciar e denunciar as camadas da sociedade à qual o portador pertence, a partir da

cor, tecido, corte, volume e técnica utilizados na confecção da indumentária.

No Brasil, a moda tornou-se mais expressiva no último século. Há anos que se tornaram

referência histórica para a moda brasileira, destacando esse setor no mercado nacional e

internacional, como em 1935 onde Rosita Libman, uma senhora uruguaia, inaugurou sua maison de

capas e peles. A casa acabou transformando-se na grife Madame Rosita, responsável pela

introdução do hábito de desfiles de moda no país.

Inicialmente, o Brasil tinha a tradição de copiar e importar as principais peças de roupa da

Europa ou Estados Unidos. Porém, com a segunda Guerra Mundial veio o bloqueio das

importações. O Brasil viu nesse acontecimento a oportunidade para começar a investir na própria

indústria têxtil e de confecções. A atividade da costureira entrou em alta, como intérprete dos

modismos saídos de figurinos de revistas importadas.

No período que sucedeu a segunda grande Guerra, o Brasil acompanhou o boom industrial.

O país vivia um período de americanização, promovido pelos Anos JK, e a criatividade estava à

solta. As formas das roupas passaram a ser as mais variáveis possíveis. Progresso era a palavra-

chave para São Paulo, segundo muitos, “a cidade que mais cresce no mundo”. A partir desse

momento, a modernidade já não é mais privilégio das elites. A produção de bens em grande escala

torna acessíveis objetos de desejo coletivo. A moda começa a abandonar os salões de alta-costura

para conviver com a indústria prêt-à-pórter, termo desenvolvido pelos franceses Weil e Lempereur

para descrever a roupa feita em série e comprada pronta.

Em 1972 foi criado, em São Paulo, o Centro da Moda Brasileira, reunindo empresas da

indústria têxtil com o objetivo de coordenar os lançamentos da moda. A moda é contaminada pelas

etnias representadas no novo híbrido americano: flower-power, black-power e hippie, traduzindo

aspirações folclóricas e artesanais.

Em 1986, as marcas paulistas Armazém, Fórum, Zoomp, Tráfico, Nessa César, T. Machione

e Giovanna Baby formam o Grupo São Paulo, com o objetivo de lançar suas coleções em desfiles

na mesma data. A cooperativa de moda une os profissionais Walter Rodrigues, Jum Nakao,

Conrado Segreto, Maira Himmelstein, Maarjorie Gueller, Silvie Leblanc, Taisa Borges e Flávia

Fiorilho, com o objetivo de criar um bureau de prestação de serviços para o mercado.

Com a abertura do mercado, a indústria local enfrentou a competição internacional. Com

informação a tempo real, a moda virou um grande show-bussiness com eventos gerando um enorme

retorno de mídia. Na largada da década de 90, uma moeda estável derruba o fantasma da inflação. O

Real vale tanto quanto o dólar. O sonho vira realidade e oferece uma jamais vista oportunidade de

consumo às classes B, C e D. Com isso, a moda nacional começa a ganhar “roupagem” de

vanguarda, pela mão de criadores e da indústria local.

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A partir de 1995, com a liberação do acesso à Internet para as empresas particulares, cresce

o conceito de e-bussiness, ou negócios feitos pela Internet. O e-comerce coloca o consumidor

brasileiro em contato com lojas do mundo inteiro, onde é possível enviar as medidas e esperar que a

roupa chegue pelo correio especial. Em 1996, é inaugurada a 1ª edição do São Paulo Fashion Week

(Calendário Oficial da Moda Brasileira, criado por Paulo Borges, idealizador e diretor artístico do

evento), reunindo uma seqüência de desfiles de marcas brasileiras, entre elas, Zoomp, Fórum, M.

Officer, Ellus, Fit, G, Beneducci e Sommer; além de estilistas como Reinaldo Lourenço, Walter

Rodrigues, Lino Villaventura, Renato Loureiro e Ricardo Almeida. A partir disso, o Brasil se

consagrou como um dos principais pólos produtores de moda mundial.

Com periodicidade semestral, a SPFW acontece no período da fundação Bienal de São Paulo

e mostra as principais coleções brasileiras de prêt-à pórter feminino e masculino e moda praia. Nos

últimos anos, consagrou-se como o evento de moda mais importante do país, tornando-se referência

no mundo todo. Diretores das consagradas semanas de moda de Londres, Milão, Paris e Nova York

já visitaram a sua estrutura (BORGES, Paulo, site oficial da SPFW).

O sucesso do setor de design e estilismo em moda fez com que muitos cursos de graduação

em moda fossem abertos. Na metade da década de 90 havia apenas oito e atualmente são

aproximadamente cem, segundo os dados do Ministério da Educação. Essa procura por

especialização na área de design e estilismo em moda e a expansão da quantidade de desfiles de

moda realizados a cada ano fez com que novas carreiras surgissem, como produtores de moda,

stylists, especialistas em visual merchandise, coordenadores de camarim e diretores de desfiles

(CAIXETA, 2002).

Uma novidade apresentada na edição de Inverno/2005 foi a venda de ingressos que davam

acesso ao prédio da Bienal e à Mostra “Olhares do Brasil”, mas não permitiam a entrada nas salas

de desfile, espaço reservado para convidados da marca, lojistas e imprensa. A atitude pioneira em

eventos de moda, exclusivos por natureza, foi uma oportunidade de propagar a cultura de moda no

país. Explica Graça Cabral, diretora de Comunicação e Relações Corporativas do evento.

Todo o crescente desenvolvimento e sucesso do evento fazem com que as peças produzidas

pelos estilistas brasileiros sejam desejadas pelo mundo a fora. As marcas e estilistas brasileiros

focam uma parte de suas produções na exportação. Porém, apesar de ser rentável e interessante para

essas marcas exportar, esse processo possui intermediários, podendo agregar uma barreiras à

divulgação das peças em outros paises. Por esse motivo, algumas marcas brasileiras estão

começando a adotar uma nova estratégia de expansão através da internacionalização de suas

empresas. Ter suas peças sendo vendidas em alguma loja multimarcas é satisfatório, mas ter sua

própria filial no país estrangeiro torna a marca mais acessível e confiável.

Com essa inserção positiva de brasileiros no mercado de moda, as culturas, produtos e

tradições brasileiras estão sendo divulgadas mundo à fora, através das manifestações de exotismo,

alegria e sensualidade levadas às passarelas pelos estilistas brasileiros.

2.1. A internacionalização de empresas e o investimento direto

O principal evento nacional de moda, o São Paulo Fashion Week (SPFW), comprova essa

afirmativa, juntamente com os desfiles do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e

outras regiões brasileiras. O evento, SPFW, realizado em duas edições anuais, (em janeiro e em

junho) ajudou a consolidar a revolução do setor de moda no país. O SPFW fez com que um grupo

de empresários e estilistas talentosos brasileiros colhesse elogios e tivessem suas roupas retratadas

nos editoriais da moda das principais revistas do mundo. Marcas e nomes brasileiros como Ellus,

Forum, Rosa Chá, Carlos Miele, Tufi Duek e Alexandre Herchcovitch, Ocimar Versolato, Patrícia

Viera e Carmem Steffens são mundialmente conhecidos como sinônimos de qualidade.

No início da corrida pelo destaque nacional no mundo da moda, os estilistas brasileiros

imitavam ou se inspiravam nos lançamentos internacionais. Hoje, esse caminho se inverteu, são os

estilistas estrangeiros que recorrem aos artigos indígenas, plumagens, cores tropicais e artesanatos

brasileiros. A comercialização da marca pelas confecções já é uma prática bastante comum tendo a

modelagem das roupas (design) como um reforço.

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O setor têxtil, que corresponde a 5% do Produto Interno Bruto do país, está intimamente

ligado ao setor de moda e é um dos principais motivos para o apelo fashion estar em ascensão

atualmente. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), Paulo Skaf afirma

que atrás de um estilista de ponta há toda uma cadeia de fiações, tecelagens, malharias e confecções

que caminham juntas. E foi a modernização do setor têxtil que impulsionou o desenvolvimento da

cadeia de design e estilismo em moda no Brasil.

Todo o processo de expansão do setor de vestuário se inicia a partir da 2ª Grande Guerra,

quando o Brasil passou a perder exportações porque os compradores dos produtos têxteis

começaram a retomar suas atividades. A saída existente para o país não perder sua posição no

mercado mundial era baixar os preços e melhorar a qualidade da produção.

Para isso, o Estado teria que facilitar as exportações e principalmente financiar a

modernização e a compra de equipamentos das indústrias mais obsoletas e com isso torná-las mais

competitivas para o mercado externo. Porém, esses fatores não foram suficientes para manter a

produção têxtil brasileira que perdeu sua posição de soberania frente aos demais setores da indústria

na economia brasileira e também no mercado mundial.

As importantes transformações da economia mundial ao longo dos anos 80 configuraram

uma nova e mais avançada etapa de progresso tecnológico e de acumulação financeira de capitais.

Com isso, as indústrias têxteis vêm adotando estratégias não só visando vendas como também de

inovação tecnológica, o que motivou a expansão do setor na década seguinte tanto em vendas

quanto em parque tecnológico. (VALE, 2003)

Por volta da metade da década passada, a cadeia têxtil brasileira mergulhou na pior crise de

sua história. A abertura das fronteiras comerciais no início dos anos 90 havia abarrotado o mercado

brasileiro de produtos estrangeiros baratos – roupas prontas, tecidos, fios, aviamentos. Entre 1990 e

1997, as importações do setor de vestuário no Brasil aumentaram drasticamente. (CAIXETA, 2002)

Tornou-se visível a “destruição” da cadeia têxtil, que em 1990 apresentava um patamar de

4.900 empresas e em 1997 somente 3.550, uma queda de 28,5%. Segundo as palavras do consultor

da ABIT, Carlos Ferreirinha – “A indústria e as confecções demitiram, quebraram, entraram em

concordata, mas o setor acabou crescendo ao perceber que precisava mudar para não desaparecer”.

Realmente, a abertura comercial permitiu aos criadores de moda ter acesso à tecnologia e pôr fim a

uma série de limitações que atrapalhavam a atividade. O mesmo dólar que facilitou a invasão de

importados permitiu a modernização da indústria com trocas de teares obsoletos por equipamentos

informatizados de última geração (CAIXETA, 2002).

Com a expansão das empresas brasileiras nesse setor, inicia-se uma corrida para a instalação

de filiais em mercados externos através de investimentos diretos, que são aqueles dos quais resulta a

transferência de parte significativa do poder de decisão gerencial da empresa que emite o ativo a

residentes no exterior. Nota-se que o investimento direto engloba muito mais que a compra de

imóveis, instalações, máquinas e equipamentos e o simples envio de capital ao exterior. Operações

no exterior requerem transferência de tecnologia, gerenciamento de habilidades, implantação de

processos de produção, relacionamento e integração com a comunidade local. Por enquanto, os

brasileiros têm mostrado que apesar das dificuldades de implementação de suas marcas em outros

mercados, são capazes de exercer tal função com empreendedorismo e muita determinação.

Todo o processo de internacionalização da empresa focaliza o estabelecimento dos

pressupostos básicos de estratégia internacional, inovação industrial, estratégias empresariais de

investimento externo direto. As empresas se expandem ao exterior, nas suas variadas modalidades,

com o intuito de conquistar fatias de mercados ainda inexplorados, aproveitar oportunidades e

garantir sua sobrevivência, em última instância. Tal internacionalização faz com que a empresa

tenha uma presença global marcante e ter essa presença no exterior é colocar toda a capacidade da

empresa à prova, vinculando a marca o sinônimo de qualidade, competência e confiança. Isso,

porque, uma empresa que preza pelo bom relacionamento vai onde o cliente está.

A estratégia de internacionalização da empresa tem que ser trabalhada, inicialmente, por

meio de representantes comerciais e distribuidores, para depois firmar presença física no país em

que pretende se instalar. Essa lenta introdução no mercado exterior ocorre devido ao elevado custo

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de instalação da empresa no país estrangeiro. São gastos com a prospecção do mercado, preparação

da rede de distribuição, armazenamento do produto, logística de transporte e cumprimento de

requisitos técnicos ou de demandas específicas do mercado. Um fracasso de uma empresa

internacionalizada representa perda significativa de investimento externo. (GARCIA, 2005)

Como a decisão de investir em um mercado externo, para facilitar as exportações, é

entendida como parte do processo de expansão das vendas externas de uma firma, os investimentos

no exterior são realizados com fundos próprios ou com financiamento externo, o que torna mais

arriscado tal investimento. Por isso que somente as principais marcas brasileiras de design e

estilismo em moda é que se arriscam nesse tipo de investimento, já que têm forte certeza de que seu

investimento não será desperdiçado.

Basicamente, os determinantes dos investimentos diretos externos (IDE) podem ser relativos

às firmas e as características dos países de origem ou a fatores locacionais. Entre os principais

determinantes de IDE encontramos fatores como tamanho e ritmo de crescimento do produto,

qualificação da mão-de-obra, receptividade em relação ao capital externo, risco do país e

desempenho das bolsas de valores.

No estudo de Nonnenberg e Mendonça (2004) são descritas as principais teorias de

investimento direto externo, que podem ser motivados principalmente pela possibilidade de

obtenção de altas taxas de lucro em mercados em crescimento, facilitados pela possibilidade de

financiamento a taxas de juros relativamente reduzidas no país de origem. Mas, a empresa só irá

preferir atender ao mercado externo por meio de investimentos diretos em vez de exportar se tiver

uma das seguintes vantagens: a concorrência imperfeita (dada por diferenciação do produto, acesso

a conhecimento patenteado/próprio ou discriminação no acesso a capital); economias de escala

internas ou externas; e intervenção governamental. Na concorrência monopolística, é a estrutura do

mercado que vai determinar a conduta da empresa que irá internacionalizar sua produção.

Existem alguns estágios no processo de internacionalização das empresas. O primeiro

estágio é a expansão dos mercados da firma por meio de exportações de caráter eventual e não

regular que se configura como uma forma absoluta de internacionalização. Em seguida, o segundo

estágio se caracteriza pela expansão mais vultosa das exportações, por meio principalmente da

contratação de representantes nos mercados em que a empresa pretende atuar. O terceiro estágio é o

estabelecimento de uma subsidiária no exterior, que normalmente tem o papel de coordenar

atividades de comercialização e logística de distribuição, mesmo quando essa tarefa é realizada por

terceiros. Já o quarto estágio envolve a instalação de unidades de produção no exterior, aliada ou

não ao estabelecimento de um centro de desenvolvimento de produtos. Através desses estágios, é

possível determinar o grau de internacionalização da empresa. Quando a produção e o controle são

no país de origem, a firma exporta; quando a decisão é produção no exterior e controle local, ela

licencia; e quando produz e controla no exterior, ocorre o investimento direto externo.

Quando a empresa atua através de exportação, o envolvimento indireto significa que a

empresa participa ou tem negócios internacionais através de um intermediário e não trata com

clientes estrangeiros. Quando atua sob um acordo de licenciamento, a firma permite à outra usar sua

propriedade intelectual por uma compensação denominada royalty. A propriedade licenciada pode

incluir patentes, marcas, tecnologia, know-how técnico ou habilidades específicas de negócios.

Refere-se, portanto, a produtos intangíveis. Por isso, o licenciamento não requer nem capital nem

detalhado envolvimento com clientes estrangeiros. Proporciona, apenas, uma oportunidade para o

licenciador continuar desenvolvendo as pesquisas necessárias para a atualização do produto. O

licenciamento pode também ajudar a evitar leis governamentais existentes para a formação de

associações, testar mercados externos sem grande envolvimento de capital ou tempo dos gerentes e

ser usado como estratégia para entrar em mercados antes dos concorrentes.

O desenvolvimento econômico do país de destino da internacionalização da firma é

fundamental para a decisão do empreendedor de investir no país. Porém, se o crescimento

econômico pode ser um poderoso estímulo ao ingresso de investimentos diretos, o aumento dos

investimentos diretos – na medida em que constitui elevação do estoque de capital existente –

também pode ser apontado como um dos fatores responsáveis pelo crescimento econômico.

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Para Cleto (1996), investimentos diretos são aqueles dos quais resulta a transferência de

parte significativa do poder de decisão gerencial da empresa que emite o ativo a residentes no

exterior e, por isso, também são denominados de capital de risco. Esse tipo de investimento engloba

muito mais que a compra de imóveis, instalações, máquinas e tecnologia, gerenciamento de

habilidades, implantação de processos de produção, relacionamento e integração com a comunidade

local. E para entender esse processo é necessário conhecer melhor esse tipo de operação, que tem o

intuito de orientar a estratégia empresarial, conduzindo os pesquisadores à formulação de modelos

que sintetizam as variáveis presentes no ambiente internacional, tanto do ponto de vista nacional

que propõe a análise do ambiente internacional das empresas a partir da vantagem competitiva que

as nações desenvolvem em determinados setores econômicos, como do ponto de vista da firma

individual que analisa como as empresas multinacionais atuais gerenciam as interfaces de Pesquisa

e Desenvolvimento, Manufaturas e Marketing em uma base global de operações.

A evidência do incremento dos números de filiais em outros países sob forma de fábricas,

filiais comerciais, joint-ventures e outras, sinaliza uma integração cada vez maior das economias

existentes. E através dessa evidência, a caracterização dos elementos que constituem a globalização

pode ser feita sob diversas óticas (CLETO, 1996): a) ótica financeira, com maior volume de

recursos transnacionais e aumento da velocidade de circulação dos recursos; b) ótica comercial, se

traduzindo em uma semelhança cada vez maior das estruturas de demanda e na crescente

homogeneidade da estrutura de oferta nos diversos países; c) ótica produtiva, verificando-se uma

convergência das características do processo produtivo nas diversas economias; d) ótica

institucional, onde o processo de globalização leva à semelhanças crescentes em relação à

configuração dos diversos sistemas nacionais; e e) ótica econômica, onde a globalização ocasiona

perda de diversos atributos de soberania econômica e política por parte de um número crescente de

países que se interagem.

A interação através da globalização torna visível a evolução dos percentuais dos países no

destino do investimento direto mundial que evidencia a concentração que a economia mundial vem

apresentando desde o início da década de 40, também presente na evidência de alta concentração

das exportações e importações mundiais.

Os fatores que levam as empresas a se internacionalizarem é a possibilidade de que em

estruturas monopolísticas de mercado, elas atinjam vantagens que as permitam operarem

lucrativamente no exterior, através dos IDE, ao contrário da exportação e licenciamento. No caso

das empresas brasileiras, verifica-se que as que internacionalizaram suas atividades apresentavam

elevado padrão tecnológico, posição mercadológica sedimentada, capacidade financeira, tecnologia

gerencial, adequação e qualidade dos produtos à realidade internacional. (CLETO, 1996)

Iglesias e Veiga (2002) apresentam uma outra visão do investimento direto externo. Eles

afirmam que a economia brasileira tem uma baixa relação exportações/PIB, um baixo coeficiente

médio de exportação na indústria e uma alta concentração das exportações em um número pequeno

de firmas e de produtos. Por isso, quando comparados com empresas coreanas ou de outros países

do Sudeste asiático ou com alguns países latino-americanos, os investimentos no exterior das

empresas brasileiras são relativamente baixos.

A experiência de internacionalização das firmas indica que o investimento para conquistar

novos mercados parece ser importante, havendo consenso em que a decisão de investir depende do

tipo de produto e das características do mercado. Por isso torna imprescindível entender as razões e

motivações que levam uma firma – que exporta através de representantes comerciais externos ou

diretamente para certo importador – a abrir escritórios comerciais, armazéns, centros de distribuição

e laboratórios ou montar ou finalizar o produto no mercado de destino.

A internacionalização da firma é tratada tanto na literatura de administração e de negócios

como na análise econômica. Na área de administração, os modelos dominantes são os

“comportamentalistas”, que visualizam o processo de internacionalização como sendo gradual ou

evolutivo, focando nas razões e características desse gradualismo. Na análise econômica, o

paradigma principal é o da teoria eclética da internacionalização, que aplica o conceito de custos de

transação às decisões de internacionalização da firma e procura explicar as características das

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firmas e dos mercados que estimulam a internacionalização da produção de uma firma,

diferenciando esse processo em termos das características do produto e dos mercados.

Para o modelo comportamentalista, existem outros fatores, além do econômico, que moldam

as decisões das firmas em relação à internacionalização. Esses fatores estão relacionados com o

ambiente externo da firma, as características da organização e as atitudes psicológicas dos seus

administradores. Esse tipo de modelo não explica por que as firmas podem não evoluir da maneira

prevista e quais seriam as restrições e as dificuldades para avançar na trajetória esperada de

internacionalização. Para isso, utilizamos a teoria eclética da internacionalização da firma.

A teoria eclética da internacionalização da firma procura explicar a decisão de produzir ou

não em um mercado externo. Determinadas falhas de mercado (custos de informação e transação,

oportunismos dos agentes e especificidades de ativos) levariam uma empresa a utilizar o

investimento direto, ao invés de licenciamento ou exportação, como modo de entrada em um

mercado externo. Segundo a teoria eclética, uma firma vai continuar o seu processo de

internacionalização – passando a produzir no mercado de destino – se possuir vantagens

proprietárias que torne necessário ou vantajoso internalizar mercados. Ela coloca que para produzir

no exterior é necessário ter vantagens de propriedade muito significativas, pois sem elas as falhas de

mercado e a existência de custos de transação não justificariam a internacionalização da produção.

A percepção existente é que firmas brasileiras com alto grau de internacionalização

exportadora têm um baixo nível de investimento no exterior. Iglesias e Veiga (2002) dizem que essa

situação pode ser resultado da falta de necessidade para suas estratégias ou resultado de algum tipo

de barreira ou restrição.

Iglesias e Veiga (2002) apresentam a classificação dos fatores determinantes de

investimentos diretos estrangeiros na ótica de Dunning, no Quadro 1.

Quadro 1 - Classificação dos investimentos diretos das multinacionais

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Fonte: Dunning (1988)

3. CONFECÇÕES, ESTILISMO E MODA: O MERCADO INTERNACIONAL

3.1. Características da Cadeia Têxtil-Confecções no Brasil e indicadores de desempenho

O complexo têxtil brasileiro é composto por aproximadamente 4.391 indústrias têxteis e 18

mil confecções registradas. O grande número de empresas informais no setor de confecções, de

acordo com estimativas extra-oficiais, chega a superar em quantidade as empresas legalmente

constituídas. De acordo com o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), o faturamento

total do setor é de aproximadamente US$ 24 bilhões (GAZETA MERCANTIL, 2000).

No ranking internacional dos maiores exportadores de produtos têxteis o Brasil ocupa o 21º

lugar. As exportações brasileiras têm mostrado-se menos dinâmicas que as de outros segmentos da

economia e são fortemente encontradas nos mercados da América do Norte e da Comunidade

Européia, que absorvem, juntos, cerca de 67% das vendas brasileiras, focando-se nos produtos fios,

tecidos e confeccionados de algodão (FEGHALI; DWYER, 2004).

De acordo com o IEMI, muito dessa produção vem de empresas têxteis com mais de

quinhentos funcionários em seus quadros. Organizações com esse perfil concentram mais de 50%

da produção e do emprego e respondem por parcelas crescentes das exportações. Tais empresas

situam-se, predominantemente, na Região Sudeste. Mas nos últimos anos, observou-se a

transferência de grandes unidades produtoras para a Região Nordeste, principalmente devido aos

incentivos fiscais, à disponibilidade e ao menor custo de mão-de-obra nessa região.

Feghali e Dwyer (2004), destacam os responsáveis pelas principais áreas de atuação do

processo de criação de uma peça de vestuário. A fiação brasileira de fibras naturais tem destaque no

Estado do Paraná, onde existe uma tendência à verticalização de cooperativas produtoras de

algodão, que estão investindo na implantação de unidades de fiação.

O segmento de fibras sintéticas e artificiais é dominado por empresas de médio e grande

portes, devido à necessidade de importantes economias de escala. Por sua vez, o segmento de

tecelagem comporta desde micro até grandes empresas, onde as grandes usufruem das seguintes

vantagens: escala de produção, integração com os demais segmentos e maior capacidade financeira

para realizar a atualização tecnológica.

No segmento de confecções, há uma grande concentração de empresas no Estado de São

Paulo, seguindo-se Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. E por final, o segmento de

acabamento que é caracterizado pelo alto custo dos equipamentos e compõe-se de empresas de

algum porte que prestam serviços ou de empresas integradas que têm seu próprio acabamento. As

grandes empresas de vestuário localizam-se na Região Sudeste com malharias e fábricas de lingerie,

na Região Nordeste como grandes produtores de calças jeans e de malhas e na Região Sul,

empresas especializadas em produtos de artigos de cama, mesa e banho.

O Brasil é considerado um dos maiores produtores e exportadores de jeans. A principal

empresa brasileira nesse setor é a Santista Têxtil, que se tornou a primeira multinacional brasileira

do setor têxtil após adquirir indústrias na Argentina em 1995 e no Chile em 1999.

Com essas aquisições e investimentos realizados nos últimos dez anos, a empresa se tornou

uma das três maiores produtoras mundiais de jeans. Por ser uma empresa inovadora nesse setor, a

Santista Têxtil exporta para mais de 50 países, atendendo às grandes marcas e cadeias de varejo.

Com uma nova fusão realizada em junho de 2006, a empresa passou a ter uma capacidade produtiva

de 150 milhões de metros/ano e receita superior a US$ 500 milhões anuais.

Por estar sempre em busca de inovação, criação e produtos diferenciados com maior valor

agregado, a empresa dispõe do principal Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Têxtil empresarial

da América do Sul, que mantém uma equipe própria de técnicos e funcionários, além de um acordo

de troca de informações com um dos principais institutos de pesquisa e desenvolvimento da Europa.

Outro importante levantamento do IEMI, no segmento jeans, mostra que no Brasil cerca de

seiscentas confecções industriais produzem mais de 126 milhões de peças e especula-se que haja

um investimento médio de R$ 500 mil por ano para o desenvolvimento de uma nova calça jeans –

do tecido à modelagem final. A renovação é constante.

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As inovações no processo produtivo na indústria têxtil estão relacionadas ao processo

tecnológico incorporados aos equipamentos, ao desenvolvimento de novas fibras e ao

aprimoramento das já conhecidas. Os diferentes graus de utilização dessas inovações afetam

diretamente os custos finais dos produtos e, conseqüentemente, a competitividade industrial.

De acordo com o Guia Moda Profissional (1992), com exceção de alguns segmentos -

malharias, tecidos para cama, mesa e banho e jeans - e de algumas empresas/grupos, que nos

últimos anos se preocuparam em atualizar seus parques industriais, o complexo têxtil/confecções

brasileiro ainda tem necessidade de se modernizar para ser competitivo internacionalmente ou para

fazer face à concorrência dos produtos importados. O investimento em equipamentos atualizados é

a questão-chave para tal modernização.

Os equipamentos para a indústria têxtil produzidos no Brasil são, na maioria das vezes,

tecnologicamente defasados e caros quando comparados com similares importados. A indústria

brasileira de máquinas têxteis opera, atualmente, com alto nível de capacidade ociosa e a própria

escala de produção reduzida é um dos principais empecilhos à sua modernização. Países como

Suíça, Japão, Bélgica, Alemanha e Estados Unidos são os principais fabricantes mundiais e

possuidores de máquinas têxteis (FEGHALI ; DWYER, 2004).

O Relatório Setorial Têxtil e Confecções (1994) traz a transformação no perfil da indústria

têxtil, que passou a ser muito mais intensiva em capital e que somada às dificuldades de

financiamento e de mercado no Brasil, resultou no aumento da heterogeneidade da capacidade

tecnológica do setor. De forma geral, foram empresas maiores – freqüentemente parte de

conglomerados industriais – que conseguiram efetivar investimentos nas novas tecnologias e,

conseqüentemente, atingir maiores níveis de desempenho competitivo.

Para fazer frente à crescente concorrência dos países em desenvolvimento (com enormes

vantagens comparativas em termos de matéria-prima e mão-de-obra), os países desenvolvidos

aprofundaram o processo de incorporação de novas tecnologias no setor. Como conseqüência, uma

indústria que tinha tecnologia estável e que utilizava a mão-de-obra com relativa intensidade,

transformou-se radicalmente. As inovações aconteceram em três segmentos: aprimoramento de

matérias-primas, das máquinas e equipamentos e introdução de mecanismos microeletrônicos no

processo produtivo (GALÃO, 2006).

Galão (2006) apresenta a composição da cadeia têxtil-vestuário e verifica-se a existência de

grande diversidade de fases produtivas. Há transformação de matérias-primas, que são naturais e

químicas, em fios e tecidos que são utilizados na produção de artigos de confecção. A cadeia têxtil

apresenta grande complexidade e variedade de elos. Na sua origem, integra o agronegócio e usa

insumos e tecnologias da indústria petroquímica, pois processa um diversificado portfólio de fibras

naturais( puras ou mistas) e de matérias primas sintéticas.

Segundo Galão (2006), no primeiro segmento há a produção de fibras naturais (algodão,

seda, rami/linho, lã e juta) e artificiais (viscose, acetato, nylon, poliéster, lycra e polipropileno). No

segundo segmento há a fiação, onde ocorre o processamento industrial das fibras têxteis naturais e

químicas. Os avanços da tecnologia na utilização de fibras químicas e na mistura de fibras químicas

e naturais têm permitido o lançamento de novos tecidos agregam tecnologia à estética, ao conforto e

à praticidade. A Figura 2 apresenta o processo industrial de uma empresa de confecções.

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Figura 2- Processo industrial de uma empresa de confecções

Fonte: Galão (2006), adaptado de Santana e Apolinário (2004)

A Figura 3 apresenta o fluxograma da cadeia têxtil-vestuário com destaque para as fibras

naturais, artificiais e sintéticas utilizadas pela indústria de confecções, sinalizando a diversidade de

materiais utilizados na fiação e na confecção.

Figura 3- Fluxograma da Cadeia Têxtil-vestuário

Fonte: Galão (2006) a partir de IEL, CNA e SEBRA (2000)

A adoção de inovações permitiu aos principais exportadores de produtos têxteis e

confecções do mundo, predominam países asiáticos, conquistar forte competitividade internacional.

Os asiáticos ofertam produtos diferenciados e de qualidade, com baixo custo da mão-de-obra e com

isso ampliaram a participação em redes internacionais de forma a incrementar as exportações nos

últimos 20 anos, conforme a Tabela 1 que apresenta a evolução entre 1980 e 2004 dos principais

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exportadores mundiais de confeccionados (GALÃO, 2006). A Europa que exportava produtos de

qualidade tem declinado sua participação no mercado internacional.

Tabela 1 – Principais exportadores mundiais de confeccionados - Participação nas

exportações mundiais em 1980, 1990, 2000, 2003 e 2004 (%)

País ou região 1980 1990 2000 2003 2004

União Européia (UE) 42,0 37,7 24,1 26,5 29,0

Outros europeus (excluindo UE) 10,4 10,5 7,4 8,4 7,4

China (a) 4,0 8.,9 18,3 23,0 24,0

Turquia 0,3 3,1 3,3 4,4 4,3

México (a,b) 0,0 0,5 4,4 3,2 2,8

Índia (c) 1,7 2,3 3,1 2,9 2,8

Estados Unidos 3,1 2,4 4,4 2,5 2,0

Bangladesh 0,0 0,6 2,1 1,9 1,7

Indonésia 0,2 1,5 2,4 1,8 1,7

Romênia - 0,3 1,2 1,8 1,8

Tailândia (b) 0,7 2,6 1,9 1,6 1,6

Coréia 7,3 7,3 2,5 1,6 1,3

Vietnã (b) - - 0,9 1,6 1,5

Paquistão 0,3 0,9 1,1 1,2 1,2

Fonte: WTO (2004.2005) apud Galão(2006).

Notas: (a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo; (b) Inclui estimativas das Secretarias; c)

2003 ao invés de 2004.

Na Tabela 2 estão os principais mercados importadores. A Europa e os EUA são os maiores

importadores, embora a participação da China também tenha crescido no período 1980/2004.

Tabela 2 – Principais Importadores mundiais de confeccionados - participação nas

importações mundiais em 1980, 1990, 2000, 2003 e 2004 (%)

País ou região 1980 1990 2000 2003 2004

União Européia 54,3 50,6 38,7 42,9 45,0

Outros europeus (excluindo UE) 23,0 25,2 22,9 25,6 24,4

Estados Unidos 16,4 24,0 32,4 30,2 28,0

Japão 3,6 7,8 9,5 8,3 8,0

Canadá(c) 1,7 2,1 1,8 1,9 1,9

Suíça 3,4 3,1 1,6 1,7 1,6

Rússia (b) - - 1,3 1,6 1,6

México(a,c) 0,3 0,5 1,7 1,3 1,0

Coréia(b) 0,0 0,1 0,6 1,1 1,0

Austrália(c) 0,8 0,6 0,9 0,9 0,9

Fonte: Galão (2006) a partir de WTO (2004, 2005).

Notas: (a) Inclui carregamentos significativos através de zonas em processo; (b) Inclui estimativas das Secretarias;

(c) Importações valoradas pelo F.O.B.; (d) 2002 ao invés de 2003.

A Tabela 3 apresenta os produtores de confeccionados no Brasil e sua evolução, segundo o

número de unidades produtivas por segmento, no período 1990 a 2004. Verifica-se que a indústria

de confeccionados e têxtil tem ampliado sua competitividade e o número de empresas ofertantes. Já

o segmento têxtil que enfrenta a concorrência dos fornecedores asiáticos, mais competitivos,

reduziu o número de empresas operantes no período 1990/2004.

Tabela 3 – Unidades de produção por segmento: Têxteis e confeccionados – 1990 a 2004 Segmentos 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Têxteis 7.244 5.278 4.463 4.500 4.503 4.130 3.847

Fiações 1.179 661 360 360 363 364 359

Tecelagens 1.481 984 434 425 431 437 448

Malharias 3.766 3.019 3.195 3.250 3.261 2.874 2.546

Beneficiamento 818 614 474 465 448 455 494

Confeccionados 15.368 17.066 18.797 18.438 17.766 18.060 19.042

Vestuários 13.283 13.908 15.634 15.367 14.767 15.156 16.531

Meias e Acessórios 731 1.235 1.235 1.290 1.256 1.189 995

Linha Lar 1.062 1.498 1.501 1.325 1.291 1.255 1.020

Outros (1) 292 425 427 456 452 460 496

Total 22.612 22.344 23.260 22.938 22.269 22.190 22.889

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Fonte: Galão a partir de IEMI (2005). Nota: (1) artigos técnicos e industriais.

A Tabela 4 revela o esforço competitivo das empresas brasileiras do ramo têxtil- confecções,

traduzindo-se em incremento paulatino da produção, a despeito da concorrência asiática no

mercado interno. Segundo Galão (2006, p.105), o maior investimento foi realizado em máquinas

importadas, havendo gastos de US$ 10 bilhões entre 1990 e 2004 de acordo com os dados do IEMI

(2005). Foram aplicados US$ 2,9 bilhões no segmento fiação, US$ 1,6 bilhão na tecelagem, US$

1,6 bilhão na malharia, US$ 1,7 bilhão no beneficiamento e US$ 1,9 bilhão na confecção.

Há inovações significativas na indústria têxtil, com destaque para máquinas e novos tecidos,

além de design. Investimentos apenas em máquinas não são suficientes. Sem uma força de trabalho

treinada para operar as máquinas eficientemente e gerenciar as fábricas, a meta de tornar eficaz o

indispensável retorno dos investimentos não será atingida. É importante que as habilidades dos

recursos humanos em todos os níveis sejam desenvolvidas para permitir que todas as novas

tecnologias sejam denominadas e os produtos corretamente comercializados (GAZETA

MERCANTIL, 1999).

Tabela 4 – Evolução da produção por segmento em volume - Têxteis e confeccionados – 1990

a 2004 (em mil toneladas) Segmentos 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Filamentos (1) 168,1 224,1 294,5 280,1 279,4 299,2 318,0

Têxtil (2) 1.309,6 1.291,0 1.738,5 1.576,2 1.505,2 1.472,1 1.574,6

Fios 1.141,5 1.066,9 1.444,0 1.296,1 1.225,8 1.172,9 1.256,6

Tecidos 803,0 845,2 1.084,7 1.232,4 1.219,8 1.179,4 1.313,0

Malhas 319,3 350,8 497,0 490,2 477,4 443,8 453,9

Confeccionados (3) 820,0 1.229,7 1.635,9 1.624,2 1.699,5 1.683,8 1.739,7

Vestuário 467,0 796,0 1.053,3 1.041,5 1.019,7 994,9 1.0200,5

Meias e Acessórios 11,4 20,2 20,4 20,5 22,5 21,9 22,1

Linha Lar 188,3 243,2 367,1 349,9 410,8 411,7 429,0

Outros 153,3 170,3 195,1 215,3 248,5 255,3 266,1

Fonte: IEMI (2005)

Notas: (1) produção de filamentos têxteis. Inclui polipropileno/polietileno; (2) a produção total têxtil, por critério, é

medida pelo volume de fios + filamentos têxteis; (3) calculada a partir do consumo de suas matérias primas básicas

(tecidos planos/malhas/etc.).

A Tabela 5 apresenta a evolução das importações de têxteis e confeccionados.

Tabela 5 – Importações de Têxteis e Confeccionados no Brasil– 1990/2004 (mil US$) Segmentos 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Fibras/Filamentos 262.265 1.026.272 831.505 512.593 424.723 496.696 669.852

Têxteis 147.962 886.847 581.569 521.275 467.111 436.635 567.880

Fios/linhas 41.696 136.477 78.220 45.071 31.267 32.593 74.361

Tecidos 60.906 534.409 222.970 239.320 244.263 213.531 262.383

Malhas 2.470 43.775 62.868 39.790 15.907 8.829 16.243

Especialidades 42.890 172.186 217.511 197.094 175.674 181.682 214.893

Confeccionados 58.639 378.738 193.007 198.818 141.589 128.391 184.497

Vestuário 43.164 286.359 123.499 140.632 100.134 90.264 134.547

Meias e Acessórios 3.863 23.510 17.302 13.301 9.552 9.859 13.685

Linha Lar (1) 7.365 53.797 33.400 28.865 19.228 15.979 18.962

Outros 4.247 15.072 18.806 16.020 12.675 12.289 17.303

Total 468.866 2.291.857 1.606.081 1.232.686 1.033.423 1.061.722 1.422.229

Fonte: Galão(2006) a partir de IEMI (2005)

Nota (1) inclui tapetes e carpetes

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A Tabela 6 apresenta a evolução das exportações no período 1990/2004 das exportações de

têxteis e confeccionados, onde se destaca a linha lar, o crescimento das exportações de vestuário

apresenta menor ritmo.

Tabela 6 – Exportação de Têxteis e Confeccionados –Brasil - 1990/2004 ( mil US$) Segmentos 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004

Fibras/Filamentos 292.180 245.245 133.732 247.593 220.023 372.124 604.022

Têxteis 524.075 656.639 534.148 500.629 440.942 639.425 736.015

Fios/linhas 273.134 194.255 137.840 105.850 111.819 173.737 159.717

Tecidos 156.710 260.316 214.977 243.328 197.144 277.226 316.355

Malhas 4.961 10.800 30.278 27.754 28.683 39.441 53.179

Especialidades 89.270 191.268 151.053 123.697 103.296 149.021 206.764

Confeccionados 426.978 539.606 554.191 557.875 524.521 644.732 739.380

Vestuário 228.000 273.855 263.573 266.363 211.183 283.216 333.677

Meias e Acessórios 1.928 7.700 10.355 7.158 3.568 5.956 6.710

Linha Lar (1) 178.137 227.447 247.376 251.202 279.547 324.136 348.276

Outros 18.913 30.604 32.887 33.152 30.223 31.424 50.717

Total 1.243.233 1.441.490 1.222.071 1.306.097 1.185.486 1.656.281 2.079.417

Fonte: Galão (2006) a partir de IEMI (2005)

Nota (1) – inclui tapetes e carpetes

A Tabela 7 apresenta a evolução recente da balança comercial têxtil-confecções e revela a

perda de competitividade das empresas brasileiras no período 1993/2001. A abertura econômica

dos anos 90, no período Collor, a acirrada concorrência asiática, somada ao câmbio valorizado no

período 1994/1998 reduziram ao ganho internacional de empresas brasileiras.

Tabela 7 – Balança Comercial Têxtil- Confecções no Brasil– 1990/2004 (US$ milhões) Ano

Exportações

Importações

Saldo

1990 1.248 463 785 1991 1.382 569 813

1992 1.491 535 956

1993 1.382 1.175 207 1994 1.403 1.323 80

1995 1.441 2.286 (845) 1996 1.292 2.310 (1.018)

1997 1.267 2.416 (1.149)

1998 1.113 1.923 (810) 1999 1.010 1.443 (433)

2000 1.222 1.606 (384) 2001 1.306 1.233 73

2002 1.185 1.033 152 2003 1.656 1.061 595

2004 2.079 1.422 657

Fonte: Galão(2006), adaptado de Abit (2005)

Entre as empresas têxteis e de confecções - exportadoras permanentes, que realizaram IDE -

Artex, Hering, São Paulo Alpargatas e Staroup - o interesse pela operação no exterior associou-se

ao interesse de vender produtos de maior valor agregado (IGLESIAS; VEIGA 2002, 398). A Tabela

8 apresenta a evolução do estoque de capital estrangeiro no país e verifica-se um crescimento

expressivo após 1995. As privatizações e os movimentos de fusões e aquisições foram responsáveis

pela mudança da participação estrangeira no Brasil.

Tabela 8 – Estoque de Investimento Direto Estrangeiro – Brasil : 1980 a 2003

Fonte: Unctad apud Queiroz e Carvalho (2005).

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A Tabela 9 revela que o setor de confecções apresenta uma baixa participação de empresas

multinacionais que realizam IDE, frente aos demais segmentos industriais.Há uma participação

maior no setor têxtil. A PINTEC – Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE - permite verificar

os esforços inovativos nos diferentes segmentos econômicos brasileiros. Verifica-se que a

participação estrangeira em têxteis e confeccionados é pequena tanto no número de empresas,

quanto no valor adicionado frente aos demais setores econômicos.

Tabela 9 – Participação de empresas de capital estrangeiro na base da Pintec (2000) e VTI

(valor da Transformação Industrial).

Fonte: IBGE (2002). PINTEC (2000) apud Queiroz e Carvalho (2005)

Verifica-se pela Tabela 10 que o número de empresas que exportam, segundo a atividade

econômica, no ano de 2000, é pequeno em relação ao número de empresas existentes, a partir da

base da RAIS. No entanto, as empresas estrangeiras embora tenham pequena participação no

número da empresas exportadoras têm um faturamento médio muito maior.

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Tabela 10 - Faturamento das empresas nacionais e estrangeiras - Brasil 2000

(1) Exportação; (2) Importação

Fonte: De Negri (2004)

A Tabela 11 apresenta a inserção no comércio exterior e a participação estrangeira no

período 1996/2000 e permite verificar o pequeno grau de abertura às exportações e o maior grau de

abertura às importações das empresas do setor têxtil e do setor de confecções (DE NEGRI, 2004).

Verifica-se que na confecção de artigos de vestuário e acessórios a participação estrangeira é muito

pequena, embora tenha quase dobrado entre 1996 e 2000.

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Tabela 11 – Inserção no comércio externo e participação estrangeira nas divisões de atividade

econômica –Brasil – 1996/2000

Fonte: De Negri (2004)

A Tabela 12 mostra os coeficientes de abertura de comércio das empresas nacionais e

estrangeiras, segundo atividade econômica, no ano de 2000.

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Tabela 12 – Coeficientes de abertura de comércio das empresas nacionais e estrangeiras,

segundo atividade econômica – em 2000.

Fonte: De Negri (2004).

Através da Tabela 13 é possível observar os gastos com propaganda de empresas nacionais e

estrangeiras, segundo divisão de atividade econômica, em percentual no faturamento, em 2000.

Tabela 13 - Gastos com propaganda de empresas nacionais e estrangeiras, segundo divisão de

atividade econômica ( % no faturamento) - 2000

Os dados das Micro e pequenas empresas (MPE) estão contidos no Gráfico 1 e nas tabelas

14 e 15.

Gráfico 1 – Evolução do número de empresas exportadoras segundo o tamanho da

firma, no período de 1998 a 2005 (1998=100).

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A Tabela 14 apresenta Valor médio exportado por MPE a cada ano e valor médio exportado

pelas mesmas no ano seguinte, discriminado segundo tamanho.

Tabela 14 - Valor médio exportado por MPE a cada ano e valor médio exportado pelas

mesmas no ano seguinte, discriminado segundo tamanho.

O número de empresas e valor exportado segundo tamanho e faixa de valor exportado pelas

firmas, estão na Tabela 15.

Tabela 15 - Número de empresas e valor exportado segundo tamanho e faixa de valor

exportado pelas firmas, em anos selecionados

Segundo a pesquisa do SEBRAE (2006), mais da metade das vendas (equivalentes a US$

1,49 bilhões) foram realizadas por 956 firmas (15,6% do total das pequenas), efetuando cada uma

vendas médias superiores a US$ 1 milhão em 2005. 26% do valor exportado foram realizadas

aproximadamente 1.000 firmas, que exportaram entre US$ 500 mil e US$ 1 milhão. E 20% do

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valor exportado foram realizadas por mais de 4.000 firmas (67% do total), que realizaram vendas

inferiores a US$ 500 mil cada.

Os dados do comércio mundial são vistos na Tabela 16, a qual mostra o valor exportado

segundo o tamanho da firma e grau de dinamismo do comércio mundial dos produtos exportados,

em anos selecionados (período de 1998 a 2005).

Tabela 16 - Valor exportado segundo o tamanho da firma e grau de dinamismo do comércio

mundial dos produtos exportados, em anos selecionados (período: 1998 a 2005).

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Pela Tabela 17 visualizam-se o valor exportado, segundo tamanho de firma e principais

produtos exportados – em anos selecionados – 1998, 2001, 2004, 2005 – Brasil.

Tabela 17 - Valor exportado, segundo tamanho de firma e principais produtos exportados –

em anos selecionados – 1998, 2001, 2004, 2005 - Brasil

3.2. Estilismo e moda brasileiros para o mundo

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 20??), os

setores têxtil e de vestuário, juntos, empregam diretamente 1,6 milhão de pessoas. Esse dado não

inclui a rede de lojistas informais e sacoleiros. É referente ao número de postos de trabalho formais

e indica que a especialização no setor é cada vez maior.

O desenvolvimento tecnológico e o investimento brasileiro feito no setor vestuário, tornou o

Brasil um país capaz de competir internacionalmente no segmento moda e estilismo. Porém, é

preciso entender que fatores como o aprimoramento e a especialização da mão-de-obra é que vão

criar facilidades para que a indústria brasileira da moda fique em sintonia com os padrões técnicos

exigidos pelo mercado e ganhe competitividade em relação a seus concorrentes internacionais,

equilibrando gastos e lucros, preço e qualidade. (FEGHALI; DWYER, 2004)

Marcas brasileiras como Forum, Osklen, Cia. Marítima, Maria Bonita, Poko Pano, Triton,

Ellus, Iódice, Cavalera e Vide Bula são reconhecidas no exterior como marcas de produto de

qualidade e luxo. E estilistas como Alexandre Herchcovitch, Tufi Duek, Cecília Prado, Glória

Coelho, Lino Villaventura, Reinaldo Lourenço e Carlos Mieli são consagrados e admirados

internacionalmente.

Essas marcas e estilistas brasileiros vêem adequando seus produtos ao mercado internacional

através de realizações de ações de marketing no exterior, que é fundamental para divulgar e

consolidar a Marca Brasil. A busca pelo aperfeiçoamento contínuo faz com que a marca cresça cada

vez mais. E por isso, crescer ajuda a convencer que a cultura interna é vibrante e envolvente.

O motivo por grandes marcas brasileiras resolverem exportar é porque uma empresa

exportadora tem a possibilidade de conquistar novos clientes e mercados, torna-se mais

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independente do mercado interno, aumenta a produção e reduz seus custos, aprimora a qualidade de

seus produtos e faz com que seu nome seja mais valorizado. A exportação é uma alternativa

estratégica de desenvolvimento de uma empresa. Nunca deve ser vista como uma saída temporária

para crises de recessão do mercado interno, pois é preciso estar certo da decisão, consciente dos

riscos e preparado para qualquer imprevisto. (APEX – Brasil on line, 2007).

Como a internacionalização da empresa de moda e estilismo é um processo de alto

investimento financeiro, poucas são as marcas e os estilistas que possuem suas lojas próprias em

território estrangeiro, como Alexandre Herchcovitch (Tóquio), Tufi Duek (Nova Yorque), Osklen

(Portugal e Itália), Poko Pano (Portugal) e outras poucas. Por isso, a maioria das marcas prefere o

processo de exportação – como a marca Poko Pano e Cecília Prado que exportam 40% e 50%,

respectivamente, das suas produções anuais - e venda de seus produtos através de lojas de

departamentos multimarcas. Os principais países importadores da moda brasileira são: Estados

Unidos, França, Japão, Austrália, Portugal, México, Alemanha, Chile, Espanha, Canadá, Nova

Zelândia, Itália e outros países com pequeno percentual.

Numa época de grandes transformações geradas pela crescente internacionalização

decorrente da globalização da economia e dos mercados, as lojas de departamentos multimarcas

ampliaram e maximizaram suas áreas para a venda de confecções. Nesses locais, há programação

visual diferenciada, valorização e segmentação de produtos por categoria, sexo, faixa etária, etc.

Outra forte tendência em crescimento nas grandes organizações é a consolidação de marcas próprias

para os produtos que comercializam, o que pode vir a representar uma associação importante e

duradoura para os fabricantes de confecção. As principais lojas de departamentos multimarcas que

apresentam em suas prateleiras produtos brasileiros são: Bloomingdale’s, JC Penney, Macy’s,

Marks et Spencer e Neiman Marcus (ORCIOLI, 1997).

Em pouco tempo, o Brasil saiu do anonimato no mundo da moda para situar-se como um

lançador e exportador de profissionais e estilos. As consciências e o trabalho produziram o bom

momento do país no mercado da moda mundial. Isso fez com que o país sofresse um boom

econômico que ultrapassou os amplos limites do mundo da moda. Com o Brasil na moda, toneladas

de peças brasileiras vendidas no exterior com etiquetas diferenciadas estampam o made in Brazil e

multiplicam o preço de duas a vinte vezes, dependendo do produto. (FEGHALI; DWYER, 2004)

Para conquistar o espaço internacional, não adianta somente ser uma marca de sucesso. Às

vezes é preciso se adaptar ao mercado que pretende exportar. Nem sempre uma peça de roupa que

faça muito sucesso no Brasil terá o mesmo sucesso em outro país por vários motivos como clima,

costumes, culturas, religiões, etc. Um exemplo dessa adaptação de mercado é a marca Cecília Prado

que foca a sua produção de vestidos mais longos para o mercado do Oriente Médio.

Foi discutida anteriormente a fama que o Brasil tem conquistado no mercado externo.

Porém, não é só dessa forma que o Brasil é reconhecido em outros países. Os empresários

estrangeiros estão perdendo o medo de investir no mercado brasileiro.

Marcas estrangeiras estão começando a abrir suas lojas no Brasil. Em São Paulo, temos as

lojas que atingem um público seleto como a Chanel, Armani, Versace, entre outras. No Rio de

Janeiro, o público que as lojas estrangeiras estão visando não é tão elitizado. Com roupas mais em

conta e modelos mais clássicos, a Zara e a MNG, duas marcas concorrentes espanholas, abriram

lojas grandes nos shoppings e nas ruas. (JENSEN, 1998)

A mudança do fenômeno globalização ocorre velozmente. Com isso, os avanços globais do

comércio poderão tornar obsoletas as tarifas protecionistas. Haverá um deslocamento das

economias nacionais auto-sustentadas para um sistema mundial de produção. Logo, os limites não

serão tão rígidos, as decisões de fornecimento serão baseadas menos nos custos de mão-de-obra e

mais no local onde os especialistas estiverem, com maior proximidade do mercado consumidor ou

do suprimento de matéria-prima.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Numa época de grandes transformações geradas pela crescente internacionalização

decorrente da globalização da economia e dos mercados, é importante uma análise das condições

pelas quais a moda se estrutura e se organiza para atingir seus objetivos de crescimento e expansão.

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Os avanços tecnológicos, a abertura de mercado e a criação de novos canais de distribuição

movimentam os negócios da moda, tornando o segmento atrativo para a economia do país.

Independentemente de qualquer época ou lugar, a roupa sempre foi um diferenciador social,

uma espécie de retrato de uma comunidade ou classe. A roupa pode revelar o perfil de uma pessoa.

Por isso, moda e estilismo sempre foram e sempre serão motivo de constante estudo e

aperfeiçoamento. Mas nas últimas décadas, a moda passou a ter um aspecto ainda mais atrativo para

um país: desenvolvimento econômico. A moda possibilitou a criação de empregos, criação de

cursos especializados e levou o nome de estilistas e marcas brasileiras para o mundo todo. Além do

processo de exportação de produtos têxteis brasileiros para o mundo, há o caminho inverso, de

importação dos produtos têxteis do resto do mundo para o Brasil. Esse fator é essencial para

aumentar a competitividade no setor e aumentar, mais ainda, a qualidade dos produtos e diminuir os

preços.

O processo de exportação de produtos têxteis brasileiros e a importação de produtos têxteis

do resto do mundo para o Brasil é essencial para aumentar a competitividade no setor, aumentar a

qualidade dos produtos e diminuir os preços. Através desse processo, nota-se uma mudança

considerável na pauta de exportação brasileira transferindo sua atividade de produtos commodities

para produtos diferenciados, intensivo em design.

Verificou-se, também, uma crescente internacionalização, através da iniciativa de

Investimento Direto Externo de empresas brasileiras como a Staroup, Osklen, Poko Pano e outras.

Com isso, através do presente trabalho, conclui-se que a moda é um grande reflexo das

sociedades em determinados períodos de tempo, o que a torna meio de análise cultural, social e

econômica.

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