polarização regional na região de influência da br 230...

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1 Polarização Regional na Região de Influência da BR 230 Transamazônica: Uma Análise a partir de Modelos Gravitacionais RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre polarização e desenvolvimento regional em 19 municípios da região de influência da BR 230. Esta é uma região isolada dos centros de decisão e julga-se importante perceber as dinâmicas locais e regionais e para discutir desenvolvimento regional. A expansão das cidades ao longo da rodovia se deu em um contexto de expansão da fronteira de ocupação da Amazônia para promover a expansão da agropecuária e ocupar o “grande vazio demográfico”. A ocupação inicialmente programada foi-se modificando e torna-se necessário entender o processo de configuração espacial da economia dessa região uma vez que a rodovia vai ser asfaltada e para a região está prevista a construção de uma nova hidroelétrica prevendo-se novas configurações de ocupação. A metodologia baseia-se em modelos gravitacionais, no qual são aplicadas as massas originadas de conjunto de aglomerações dos municípios. Esse modelo é reforçado pela preposição de Isard (1956), onde os resultados estão positivamente correlacionados com probabilidades com que os lugares, em um dado momento produzem atração mútua e, assim, de um lugar ser centro para outro. A análise dos componentes principais foi utilizada visando correlacionar variáveis construindo scores dos municípios analisados. O estudo indica que os municípios de Santarém, Marabá e Altamira possuem maior poder de atração sobre os demais, demonstrando uma expressiva posição polarizadora. Palavras chaves: BR 230, polarização, desenvolvimento regional ABSTRACT The aim of this paper is to discuss on polarization and regional development within nineteen municipals in the BR230 influence region. The area is considered isolated from other decision centers thus it is important to understand local and regional dynamics to discuss regional development. The cities growth around the road reminds of a frontier occupation and was planned, by former governments, to actually occupy with population Amazon forest and, at the same time, expand its agribusiness activity. However, the initial programmed occupation has been transformed into something completely different and its necessary to understand the new scenario in a context of a projected asphalt for the road and the construction of a hydroelectric power plant, which will turn into new spaced occupations. The methodology used here is based on gravitational models where are applied the original forces from the urban agglomerations. It was introduced the Isard model (1956) where the results are positively correlated with the probability that places in a certain point in time are attracted by each other producing center hierarchies. Principal components analysis was used to correlate variables and give municipal scores. Results indicate that Santarém, Marabá and Altamira have a higher attraction power over the others thus, configuring the hierarchy of poles within the region. Key words: BR 230, polarization, endogenous development.

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Polarização Regional na Região de Influência da BR 230 – Transamazônica:

Uma Análise a partir de Modelos Gravitacionais

RESUMO

O objetivo deste artigo é refletir sobre polarização e desenvolvimento regional em 19

municípios da região de influência da BR 230. Esta é uma região isolada dos centros de

decisão e julga-se importante perceber as dinâmicas locais e regionais e para discutir

desenvolvimento regional. A expansão das cidades ao longo da rodovia se deu em um

contexto de expansão da fronteira de ocupação da Amazônia para promover a expansão da

agropecuária e ocupar o “grande vazio demográfico”. A ocupação inicialmente programada

foi-se modificando e torna-se necessário entender o processo de configuração espacial da

economia dessa região uma vez que a rodovia vai ser asfaltada e para a região está prevista a

construção de uma nova hidroelétrica prevendo-se novas configurações de ocupação. A

metodologia baseia-se em modelos gravitacionais, no qual são aplicadas as massas originadas

de conjunto de aglomerações dos municípios. Esse modelo é reforçado pela preposição de

Isard (1956), onde os resultados estão positivamente correlacionados com probabilidades com

que os lugares, em um dado momento produzem atração mútua e, assim, de um lugar ser

centro para outro. A análise dos componentes principais foi utilizada visando correlacionar

variáveis construindo scores dos municípios analisados. O estudo indica que os municípios de

Santarém, Marabá e Altamira possuem maior poder de atração sobre os demais,

demonstrando uma expressiva posição polarizadora.

Palavras chaves: BR 230, polarização, desenvolvimento regional

ABSTRACT

The aim of this paper is to discuss on polarization and regional development within nineteen

municipals in the BR230 influence region. The area is considered isolated from other decision

centers thus it is important to understand local and regional dynamics to discuss regional

development. The cities growth around the road reminds of a frontier occupation and was

planned, by former governments, to actually occupy with population Amazon forest and, at

the same time, expand its agribusiness activity. However, the initial programmed occupation

has been transformed into something completely different and its necessary to understand the

new scenario in a context of a projected asphalt for the road and the construction of a

hydroelectric power plant, which will turn into new spaced occupations. The methodology

used here is based on gravitational models where are applied the original forces from the

urban agglomerations. It was introduced the Isard model (1956) where the results are

positively correlated with the probability that places in a certain point in time are attracted by

each other producing center hierarchies. Principal components analysis was used to correlate

variables and give municipal scores. Results indicate that Santarém, Marabá and Altamira

have a higher attraction power over the others thus, configuring the hierarchy of poles within

the region.

Key words: BR 230, polarization, endogenous development.

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1 INTRODUÇÃO

A expansão da fronteira agrícola em direção à Amazônia tinha por objetivo a produção

de grãos e produtos vegetais exportáveis além da implantação da pecuária, os quais,

justamente com a exploração das riquezas minerais: ferro, manganês, bauxita, caolinita,

cassiterita, cobre, ouro, (outras que pudessem atender exigência do mercado internacional).

Dentre os planos governamentais da década de 70, para a criação de uma rede logística que

respondesse a essa nova expansão e planejamento econômico s inseriu a construção da

rodovia Transamazônica e foi uma das metas de maior prioridade (LEOPOLDO, 2003).

A sua construção foi iniciada em setembro de 1970 e dada por inaugurada em 1974. O

projeto dessa estrada, que corta a Amazônia no sentido leste-oeste, surgiu após a maior seca

ocorrida nos últimos 30 anos no árido nordeste brasileiro e conforme cita Goodland e Irwin

(1975) a mesma se justificava em função da necessidade de se interligar o Nordeste do Brasil

a Amazônia Ocidental, com o que se cortaria o intenso fluxo migratório da população

nordestina para o resto do país, principalmente o Sul, dirigindo-o para a escassamente

povoada na região Amazônica. A estrada, permitiria também o acesso a áreas virgens e semi-

virgens apropriadas, segundo técnicos do governo, ao desenvolvimento de atividades

agropecuárias produtivas. Paralelamente a esses objetivos, as estradas amazônicas facilitariam

a acesso e exploração dos recursos minerais (Pereira, 1971) ou ainda, um melhor

patrulhamento das zonas de fronteira, salvaguardando-se, assim, a soberania nacional

(Pinto,1967). Muitos desses argumentos, utilizados na justificativa de sua construção ou

mesmo de outras estradas, foram considerados impróprios face ao alto custo de sua

construção e o que, ela, em realidade, representaria para o desenvolvimento do país

(Goodland e Irwin, 1975).

Guerra e Herrera (2006), discutem em artigo que a Região da Transamazônica, como

ficou conhecida a rede de municípios influenciados pela existência da BR 230, rodovia

federal aberta a partir de 1970. Têm participação expressiva no contexto da história do país

pela forma como integrou as ações governamentais desde os anos 1950.

Qualquer discurso sobre o processo de ocupação da região, seja ele no mundo

acadêmico seja no dos cidadãos comuns, terá como determinante histórico a abertura da

estrada BR 230, a Transamazônica. A periodização entre o antes e depois da estrada é

consenso em todos os campos. Haverá porem distintivos no que concerne ao pioneirismo,

sendo acentuadas as contradições entre os empresários do ramo do extrativismo (borracha,

castanha, madeira), da criação bovina extensiva, e dos ocupantes de pequenos

estabelecimentos agrícolas voltados para a produção de subsistência ou comercial estimulada

pelo processo de modernização agrícola. De fato será este o contexto no qual devemos refletir

e pensar os processos em andamento nesta região ainda indefinida no que concerne ao seu

futuro e aos arranjos que possam ali se consolidar.

As teorias que abordam o desenvolvimento a partir de delimitadas regiões, sofreram

grandes transformações, conforme comenta Amaral Filho (2001): “... de um lado provocadas

pela crise e pelo declínio de muitas regiões tradicionalmente industriais e, de outro, pela

emergência de regiões portadoras de novos paradigmas industriais.”

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Cabe lembrar para efeito de um melhor entendimento, que foi durante a década de

1950 que se desenvolveram conceitos e estratégias mais atraentes sobre o tema, os quais

chamaram a atenção dos sistemas de planejamento nos anos 1960, notadamente no Brasil,

quando dos planos de desenvolvimento instituídos pelos governantes no chamado período da

“ditadura militar”, como por exemplo, a idéia de “ Pólos de Crescimento”, (Perroux, 1955),

evoluindo anos mais tarde, para os estudos de Arthur (1994) e de Krugman(1995) que

empenharam-se em refazer uma teoria da localização e devolver à Economia Regional seu

devido lugar no mainstream da Ciência Econômica.

A análise dos diferenciados aspectos econômicos regionais requer o tratamento de

diferenciadas variáveis, tais como os fluxos comerciais, financeiros, mobilidade do capital e

da força de trabalho, além de tratamento específico das relações técnicas e políticas que se

impõem como condição de desenvolvimento e expansão das relações de produção e das

condições de desenvolvimento regional. Do mesmo modo a delimitação de elementos

próprios da constituição do capital social de cada região homogênea se soma as específicas

variáveis econômicas, dotando os gestores públicos e privados do necessário diagnóstico

técnico que possibilite sua intervenção.

A consideração da região como um espaço delimitado para estudos não é de maneira

alguma algo resolvido em termos da teoria econômica. Tomá-la como uma abstração de um

conjunto de agentes atuantes sobre um certo espaço geográfico, necessariamente terá que

agregar os condicionantes históricos e as forças de convergência e divergência econômicas

que atuam de modo deliberado ou casuístico sobre o “complexo regional”, daí a necessária

referência ao tratamento de vetores culturais e sociológicos.

Observando um registro de reconfigurações importantes na geografia econômica

nacional (evidencia-se que tal redesenho do espaço por dinâmicas econômicas assenta-se

sobre bases estruturais diversas), neste contexto o estágio que se apresenta a BR 230 uma

região de fronteira que cresce sem planejamento, é necessário entender o processo de

configuração espacial da economia da região de influência dessa área, através de

metodologias que interajam modelos gravitacionais com elementos das atuais teorias de

desenvolvimento (desenvolvimento endógeno e polarização). Conhecer as realidades

regionais e locais se faz necessário na medida em que este conhecimento resulta em uma

maior eficácia das medidas e ações a serem aplicadas sobre determinado contexto

socioeconômico.

A região de influência da transamazônica é muito extensa, fato que levou-nos a optar

pela análise de variáveis do ambiente econômico, social e ambiental de dezenove (19)

municípios1, localizados nas Mesorregiões Sudeste Paraense, Baixo Amazonas e Sudoeste

Paraense. A partir do exposto, emerge uma questão central, cuja busca de resposta orientará a

realização deste trabalho: qual a configuração espacial (polarização) da economia no território

da Transamazônica?

1 ALTAMIRA, ANAPU, BELTERRA, BRASIL NOVO, ITAITUBA, ITUPIRANGA, JACAREACANGA,

MARABÁ, MEDICILÂNDIA, NOVA IPIXUNA, NOVO REPARTIMENTO, PACAJÁ, PLACAS, PORTO

DE MOZ, RURÓPOLIS, SANTARÉM, SENADOR JOSÉ PORFÍRIO, URUARÁ E VITÓRIA DO XINGU

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O objetivo deste artigo é analisar a configuração espacial da economia no território da

Transamazônica, verificando, a partir de metodologias que integrem modelos gravitacionais

com elementos das atuais teorias de desenvolvimento regional, as principais aglomerações, a

hierarquia espacial por elas conformadas e seus fundamentos agrários e urbanos. Compondo

um novo quadro de promoção de ações para a integração e o desenvolvimento regional, o que

pode de fato ser definida como um modelo de regionalização mais centrado na integração dos

espaços econômicos mais deprimidos e que requerem uma intervenção concentrada e

centralizada dos diversos programas públicos.

2 TEORIA DOS PÓLOS E DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO

As preocupações iniciais com a concentração ou aglomeração de atividades

econômicas em determinados espaços geográficos estão vinculadas com as teorias da

desigualdade regional, elaboradas por François Perroux nas décadas de 1950 e 1960 ao

observar a concentração industrial na França, em torno de Paris, e na Alemanha, ao longo do

Vale da Ruhr (Perroux, 1977). Referidas teorias introduziram os conceitos de “pólos de

crescimento”, ou seja, focos de desenvolvimento socioeconômico e político-institucional

inter-relacionados e localizados em centros privilegiados de determinado espaço geográfico.

Referidos pólos, geograficamente situados, manteriam, de acordo com a teoria, fortes vínculos

em termos políticos, socioeconômicos, institucionais e culturais com suas áreas de influência

(Haddad et al, 1989).

Dessa forma, o pólo representa um conceito complexo sendo considerado, no âmbito

da teoria do desenvolvimento regional, um espaço-tempo que guarda semelhanças embora

não implique em uniformidade. Assim, duas tipologias de lugar ou região se sobressaem: os

espaços homogêneos e aqueles polarizados. Os espaços ou regiões homogêneos se

fundamentam no princípio da identidade entre seus subespaços constituintes. As regiões

polarizadas, por sua vez, se fundamentam no princípio da interdependência entre seus

subespaços constituintes, o que implica heterogeneidade. A diferenciação ou heterogeneidade

dos subespaços que compõem as regiões polarizadas resulta do pressuposto de

interdependência entre esses subespaços, uma vez que ela deve resultar da cooperação ou da

exploração econômica, política, social e institucional entre unidades geográficas com

atributos diferentes, portanto heterogêneas (Haddad et al, 1989).

Os centros onde se desenvolvem atividades de natureza econômica, política e social e

onde são tomadas as decisões que geram fluxos de mercadorias, criando relações de

influência com centros de escalões inferiores, são chamados de “pólos de atração”.

Conforme a intensidade e a natureza das relações de dependência, um estímulo

exercido sobre o pólo de atração causa repercussões diretas e indiretas nos centros

dependentes e no próprio pólo de atração em questão. Os centros de maior interesse, em

princípio, são aqueles que apresentam as maiores taxas de desenvolvimento econômico e

social. Assim, se caracterizam por fatores que fazem os sistemas a que pertencem se

desenvolverem a taxas diferentes. Os pólos que apresentam as maiores taxas de crescimento

são chamados de “pólos de desenvolvimento econômico”. Por outro lado, os pólos potenciais

de desenvolvimento econômico são centros que apresentam condições em potencial que lhes

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asseguram um grande desempenho econômico em futuro próximo, desde que sejam

convenientemente ativados.

Para Barquero (2002), a teoria do desenvolvimento endógeno analisa os elementos e

mecanismos que dão impulso ao crescimento local, reconhecendo que os sistemas produtivos

locais “são uma das diferentes formas de organização da produção que contribuem para

melhorar a produtividade e a competitividade de empresas e territórios.” Nesse sentido, o

autor sustenta que a teoria do desenvolvimento endógeno se constitui em um paradigma

adequado para interpretar a dinâmica de produção capitalista.

Questões como a concentração e aglomeração, ocupam lugar central nas teorias e nos

modelos tradicionais de localização industrial, em grande parte de origem alemã, que

dominaram a Ciência até recentemente. Essas teorias estão relacionadas a autores como

Weber, Cristaller e Isard. No entanto, os argumentos de Krugman (1991), sugerem que as

mesmas encontram limites ao tentar explicar o processo de localização e de endogeneização

regional, porque, em razão da sua escolha metodológica, não conseguem apreender a

complexidade dos processos dinâmicos da concentração das atividades econômicas sobre um

determinado espaço.

Malinvaud (1993), é quem argumenta que este novo ângulo de se enxergar o

desenvolvimento é um dos aspectos mais interessantes no conjunto de dos modelos recentes

de crescimento, segundo ele, este processo pode ser entendido como crescimento econômico

que implica numa contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção,

bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do

excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de

outras regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da

renda do local ou da região.

Um outro aspecto desse modelo está associado ao perfil e á estrutura do sistema

produtivo local, ou seja, a um sistema com coerência interna, aderência e sintonia local e que

o grau de autonomia (comercial, tecnológica e financeira do sistema ali existente, é

particularmente importante, e que essa autonomia relativa é conseqüência de numerosas inter-

relações entre empresas e os diferentes setores produtivos locais. Garofoli (1992).

3 PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA BR 230 - TRANSAMAZÔNICA

De acordo com Guerra e Herrera (2006), a Região da Transamazônica, conjunto dos

municípios localizados às margens e/ou próximos da Rodovia - BR 230 – Transamazônica,

apresentava antes da abertura da rodovia, uma dinâmica de exploração extrativista,

prioritariamente a coleta do látex, para a produção da borracha. No final da década de vinte,

ocorre queda na aceitabilidade do látex, promovendo êxodo, fazendo com que grande parte da

população direcione-se aos garimpos próximos e presentes na região.

O refluxo à região ocorre através de incentivos governamentais, para retomar o

desenvolvimento da atividade extrativista do látex, para a exportação de borracha, cumprindo

o Acordo de Washington firmado com os EUA durante a segunda guerra mundial.

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Percebe-se que a região despontava para mudança na sua formação socioeconômica,

ainda na década de trinta e pouco mais acentuada e perceptível nos anos cinqüenta,

aproximadamente vinte anos antes da rodovia, mas, “por diversas situações e concepções

muitos vêem o progresso e o desenvolvimento vinculado à abertura da Rodovia

Transamazônica nos anos 70” (UMBUZEIRO, 1987), bem como mostra FURTADO (1982)

em seu clássico Formação Econômica do Brasil.

Ocorre a constituição de uma linha temporal e espacial (no caso definida pela

Transamazônica) distinguindo o desenvolvimento econômico e agrícola em duas fases

distintas: antes da abertura da rodovia (baseada fundamentalmente no extrativismo com

pouca prática agrícola) e a outra posterior à abertura da Transamazônica, como conseqüência

da política governamental.

Considerada como região de fronteira, sofre influência de pelo menos dois fatores

durante sua ocupação e evolução. Segundo Becker, considera-se fronteira:

... não por ser zona de limitação geográfica e sim pelo seu caráter

social, já que se pode considerar a participação dos pequenos produtores

e dos grandes empreendimentos capitalistas e suas respectivas

participações, no contexto sócio-econômico da região (BECKER, 1998).

O primeiro fator, por apresentar conflitos entre duas lógicas opostas e incompatíveis

de pensar e utilizar a terra: o modo camponês, em que o direito de posse é gerado pelo

trabalho, moradia e produção (GUERRA, 2001), e o modo capitalista baseado na propriedade

da terra (MARTINS, 1996).

O segundo situa-se na imagem oficial governamental da época em que a fronteira era

vista como espaço vazio, que poderia sanar os conflitos e problemas sociais vividos nas

demais regiões do país, através da imigração coletiva, experiência que caracterizou um mito,

pois negou a existência das populações indígenas e caboclas das sociedades locais.

Muitos atribuem a abertura da Rodovia Transamazônica como resolução de duas

situações ligadas à questão do espaço vazio: a primeira com o caráter protecionista, a

Amazônia, vasta área que participa da massa continental sul-americana compartilhada com

países vizinhos, onde os mesmos tentaram a exploração em áreas desocupadas no território

brasileiro.

Outrora, corresponde à ocupação desse espaço vazio por pessoas oriundas de outras

regiões do país, as quais vivenciavam problemas socioeconômicos e precisavam de novas

áreas para tentar se reproduzir.

Segundo Smith, (1982 apud WALKER, 1997) a origem das famílias que participaram

da ocupação da região tinha origem diversificada, sendo 41% da Região Nordeste, 16% do

Centro-Oeste, 14% do Sul, 11% do Sudeste e 18% de outros lugares da própria Região Norte.

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Com relação a esse fluxo migratório de ocupação da Amazônia, Valverde (1989), faz

consideração de causa e efeito atribuindo a fenômenos ocorrentes em outras regiões do país,

como os prejuízos dos cultivadores de café em função da forte geada no ano de 1975, assim

como os ciclos de seca no Nordeste, a estrutura fundiária, o crescimento populacional, dentre

outros fatores.

Partindo desses fatos, a abertura da Rodovia Transamazônica é o catalisador da

formulação definitiva da integração e segurança nacional, da correção dos desníveis regionais

e de uma justiça social e econômica mais equânime, de acordo com o generoso e cordial

espírito do povo brasileiro.

O projeto responsável pela abertura da Rodovia teve seu início de forma ordenada no

ano de 1969, com a publicação do trabalho intitulado O Papel da Rodovia no

Desenvolvimento da Amazônia, elaborado pelo engenheiro Eliseu Resende, o qual ocupava

na época o cargo de Diretor Geral do Departamento de Estradas e Rodagem. Em 06 de junho

de 1970, o governo através do decreto 1.106, instituiu o Programa de Integração Nacional

(PIN), que tinha como objetivo financiar o plano de obras de infra-estrutura nas áreas de

atuação da Superintendência de desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da

Superintendência da Amazônia (SUDAM), tentando desta forma, integrar de modo mais

rápido essa região ao restante do país.

4 POLARIDADE E GRAVITAÇÃO NA BR 230 – TRANSAMAZÔNICA

A regionalização visando à determinação da estrutura espacial polarizada de uma área

geográfica busca revelar a interdependência existente entre os diversos centros localizados

dentro da área e com o exterior (Ferreira, 1989).

A capacidade de polarização dos municípios da região de influência da BR 230, pode

ser melhor entendida com resultados obtidos utilizando o modelo gravitacional de Isard

(1960), os resultados mostram o poder que alguns municípios possuem em um conjunto da

região. O modelo gravitacional permite o delineamento inicial dos limites das áreas de

influências dos centros, ou seja, do desenho da estrutura de polarização de um sistema de

municípios de um espaço geográfico num determinado período de tempo.

É necessário reconhecer a importância da “interdependência espacial” do sistema de

municípios, onde se deve avaliar os efeitos diretos e indiretos de uma dada ação exercida

sobre determinado município, como também a importância relativa que cada município ocupa

no desencadeamento dessas repercussões e as conseqüências econômico-sociais de dominação

ou dependência dos mesmos.

As forças de interação de um centro não se fazem apenas pelas variáveis no próprio

centro, mas também pelas variáveis de outros centros que o influenciam direta ou

indiretamente.

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4.1 Análise das variáveis de maior poder de polarização

A polarização sugere que os lugares se conformam em centros hierarquizados na razão

direta de suas populações (“massas” de um sistema gravitacional) e inversa das respectivas

distâncias. Estabelece potencial hierárquico intuído na concentração da população/renda.

Iij indica o grau de interação entre o Centro i e o Centro j;

Ai, Aj são a dimensão dos aglomerados (população) dos Centros i e j;

dbij é a medida da distância entre i e j;

G é a constante semelhante à constante gravitacional numérica;

b é um parâmetro exponencial.

Podemos usar índices distintos para Ai, Aj, dependendo da referência de

hierarquização (população, renda, ou índice de concentração). As áreas de influência de cada

centro dependem da respectiva posição num sistema amplo de gravitação P. Finalmente, se

dividirmos este valor pela massa do aglomerado i teremos a grandeza adimensional P*,

potencial por unidade de massa.

Além das variáveis tradicionalmente utilizadas no modelo gravitacional de Isard

(1969), população e renda per capita, verifica-se a necessidade de outros indicadores para uma

melhor análise da polarização.

Uma “massa”, dificilmente poderá ser representada por uma única variável, por mais

importante que seja. Pois a rigor tal grandeza deve expressar a interação entre as variáveis, de

cujo sinergismo deriva a força de atração, isto é, o poder de concentração manifesta em um

lugar.

b

ij

ji

ijd

AAGI

.

b

ij

jin

J

n

j

ijid

AAGIP

.

11

n

j ij

j

i

ijn

J

id

AG

A

IP

11

*

9

Assim, construir uma massa mais representativa, como força de concentração, comum

aos 19 municípios em estudo da região de influência da BR 230, localizados nas

Mesorregiões Sudeste Paraense, Baixo Amazonas e Sudoeste Paraense, é uma necessidade

compatível com as características do modelo gravitacional e a proposta de medir polarização.

Quais seriam as variáveis determinantes para compor uma massa coerente com este contexto?

A tabela 1 apresenta 46 variáveis selecionadas após levantamentos, estudos e

comparação com outras pesquisas socioeconômicas. Estas variáveis estão distribuídas pelos

19 municípios em estudo na região de influência da BR 230, que é a referência espacial. As

variáveis selecionadas estão aliadas ao tipo de fundamento econômico: capital físico, capital

humano, capital social ou capital natural.

Há variáveis que informam quanto à qualidade da educação ministrada nos

municípios, como número de professores, matrícula e taxa de alfabetização. Sobre a

economia, tem-se a distribuição do pessoal ocupado nos diversos setores e ramos de

produtivos (no extrativismo vegetal, nos setores rurais, na indústria e nos serviços em geral:

banco, comércio e transportes), além de variáveis do setor agrário: extrativismo, culturas

temporárias, culturas permanentes, horticultura, silvicultura e pecuária. Sobre o setor público,

o valor total das receitas e despesas municipais próprias, das transferências constitucionais e o

Valor do Fundo de Participação dos Municípios. Sobre os serviços vitais a saúde, verifica-se:

número de leitos hospitalares, número de postos de saúde e o pessoal ocupado no setor.

4.2 As variáveis e a delimitação dos “pólos”

Observados os diferentes potenciais de participação das variáveis de concentração, é

possível dizer algo sobre a existência de causalidade entre elas? Que variáveis influem sobre

as variáveis na determinação de eventuais polaridades? As variáveis com maior grau de

concentração reforçam-se entre si; as variáveis com menor grau de concentração reforçam-se

entre si seu caráter difuso. Como seria possível integrá-las estatisticamente, fazê-las se

comunicar entre si na criação de uma massa “A”?.

Integrando as 46 variáveis pelo cálculo dos componentes principais2, feito através dos

recursos do softwaer estatístico S.PLUS 4.0., foram encontrados componentes significativos,

para a região em estudo, que em conjunto explicam a variância total do conjunto de variáveis.

2 A Análise de Componentes Principais (ACP) é um método estatístico não-paramétrico que nos permite criar

índices a partir da combinação de séries estatisticamente independentes. Resume a informação de bases de dados

multivariados em uma matriz de variáveis transformadas de dimensão reduzida, com mínima perda de variância.

Esta combinação se dá através de uma técnica de decomposição da variância das séries chamada de

Ortogonalização. O objetivo é achar uma matrix ortogonal Γ de dimensão pxp que determine uma mudança de

variável na forma: X*=ΓY

Onde:

X*= Matriz inversível de observações em forma de desvio (da média)

Y= Matriz de Variáveis Transformadas

Cada vetor Yi vai representar uma combinação linear de cada vetor de observações Xi* , ponderado pelos

elementos de cada vetor τi da matriz Γ. O Primeiro componente principal é o autovetor que corresponde ao

maior autovalor da matriz de covariância amostral, o segundo componente corresponde ao segundo maior

autovalor, e assim por diante.

10

Tabela 1: Variáveis e sua participação nos Componentes principais

VARIÁVEIS

COMPONENTES PRINCIPAIS

1 2 3 4 5 TOTAL

1 Depósitos à vista - governo -

2 Depósitos à vista - privado -

3 Operações de Crédito X 1

4 No Contratos Agric Custeio -

5 VL Contratos Agric Custeio X X 2

6 No Contratos Pecuaria Custeio X X 2

7 Vl Contratos Pecuaria Custeio -

8 No Contratos Agric Inv X 1

9 VL Contratos Agric Inv X 1

10 No Contratos Pecuaria Investimento -

11 VL Contratos Pecuaria Investimento X 1

12 Esperança de vida ao nascer, 2000 -

13 Matrícula - Ensino fundamental, 2003 -

14 Docentes - Ensino fundamental, 2003 -

15 Matrícula - Ensino médio, 2003 X 1

16 Docentes - Ensino médio X X X 3

17 Estabelecimentos de Saúde total, 2002 X 1

18 Leitos Hospitalares, 2002 X 1

19 Pessoal Ocupado na saúde, 2002 -

20 População urbana, 2000 X 1

21 População rural, 2000 X X 2

22 Número de eleitores, 2000 X X 2

23 Valor do Fundo de Participação dos Municípios - FPM, 2002 X 1

24 Receitas orçamentárias, 2002 X X 2

25 Despesas orçamentárias, 2002 X 1

26 Valor da produção Lavoura permanente (Mil Reais) -

27 Valor da produção na extração vegetal Madeira em tora(Mil Reais) X 1

28 Valor da produção na extração vegetal Lenha(Mil Reais) X X 2

29 Valor da produção na extração vegetal Carvão vegetal(Mil Reais) -

30 Valor da produção Lavoura termporária (Mil Reais) -

31 Produção de origem animal Leite (Mil litros) X 1

32 Valor da produção Leite (Mil Reais) -

33 Efetivo dos rebanhos Bovinos (Cabeças) X 1

34 Pessoal ocupado na agricultura, pecuária, silvicultura, exploração

florestal e pesca, 2000

-

35 Pessoal ocupado na indústria de transformação, 2000 -

36 Pessoal ocupado na construção, 2000 X 1

37 Pessoal ocupado no comércio, reparação de veículos automotores,

objetos pessoais e doméstico, 2000

-

38 Pessoal ocupado em alojamento e alimentação, 2000 X 1

39 Pessoal ocupado no transporte, armazenagem e comunicação -

40 Taxa de alfabetização, 2000 -

41 Pessoas sem instrução e menos de 1 ano de estudo, 2000 -

42 Pessoas entre 1 e 3 anos de estudo, 2000 -

43 Pessoas entre 4 e 7 anos de estudo, 2000 -

44 Pessoas entre 8 e 10 anos de estudo, 2000 -

45 Pessoas entre 11 e 14 anos de estudo, 2000 -

46 Pessoas com 15 anos ou mais de estudo, 2000 -

11

Nos 19 municípios em estudo na região de influência da BR 230 (PA), a análise dos

componentes principais demonstra que a variância do componente 1 expressa 73%,

incorporando o componente 2 a variância chega a 87,3% da significância total (figura 1).

Correspondendo à expectativa teórica, onde as variáveis de Capital social, natural, físico e

humano se relacionam demonstrando as concentrações urbanas nas mesorregiões onde os

dezenove municípios em estudo se localizam.

Figura 1- Componente principal mesorregião Sudoeste – PA

Fonte: processamento através do software S.PLUS 4.0

Comp. 1 Comp. 2 Comp. 3 Comp. 4 Comp. 5 Comp. 6 Comp. 7 Comp. 8 Comp. 9Comp. 10

05

10

15

20

25

Relative Importance of Principal Components

Vari

ances

0.73

0.873

0.952

0.9841

1 1 1 1 1

V37 V13 V34 V35 V12 V36

0.0

0.1

5

Comp. 1

V21 V27 V5 V28 V22 V26

-0.2

0.2

Comp. 2

V24 V6 V22 V5 V25 V15

-0.4

0.2

Comp. 3

V23 V26 V32 V24 V5 V15

-0.4

0.0

Comp. 4

V27 V22 V11 V32 V26 V18

-0.2

0.2

Comp. 5

12

4.3 Delimitação dos “pólos”

Com o auxílio da análise dos componentes principais, encontrou-se os scores do

conjunto de variáveis para cada um dos municípios em estudo. Os valores dos scores foram

ajustados por um fator de 4,69, para torná-los positivos e maiores que um.

Os valores dos scores ajustados serão utilizados como as novas “massas” para se obter

os valores do potencial P* (Isard, 1969). Esse valor é obtido a través da integração das forças

da nova “massa” tendo como denominador a distância, por entender que, dados determinados

estoques em duas localidades, os fluxos entre elas serão tanto maiores, quanto menores forrem

a distância que as separa.

Após essa divisão entre a massa e a distância obtêm-se o fator de atratividade para

cada par de município ij. O potencial de cada município será a soma da força de atração desse

município em relação a cada um dos outros municípios (Costa, 2003). As cargas de atração

encontradas contribuem na análise dos municípios que apresentam maior poder de polarização

dos 19 municípios da região de influência da BR 230. O resultado está na tabela 2, onde as

colunas dois, três e quatro apresentam o potencial de cada um dos dezenove municípios em

estudo em relação aos três municípios pólos.

Tabela 2: Municípios pólos com respectivos municípios de influência

Município

Municípios com maior potencial de

atração:

Distribuição dos municípios pelos respectivos

pólos de atração

(função da maior carga de atração)

MARABÁ SANTARÉM ALTAMIRA MARABÁ SANTARÉM ALTAMIRA

MARABÁ 5.0509 0.0196 0.3499 1

SANTARÉM 0.0107 2.7465 0.0113 1

ALTAMIRA 0.1897 0.0113 2.7389 1

MEDICILÂNDIA 0.0270 0.0157 0.0319 1

BRASIL NOVO 0.0261 0.0086 0.0337 1

URUARÁ 0.0082 0.0245 0.0089 1

PLACAS 0.0063 0.1743 0.0067 1

VITÓRIA DO XINGU 0.0351 0.0054 0.0435 1

SENADOR J PORFÍRIO 0.0278 0.0050 0.0286 1

ANAPU 0.0219 0.0045 0.0180 1

PACAJÁ 0.0170 0.0042 0.0146 1

PORTO DE MOZ 0.0292 0.0051 0.0370 1

BELTERRA 0.0050 0.0495 0.0052 1

NOVO REPARTIMENTO 0.0154 0.0040 0.0133 1

ITUPIRANGA 0.0642 0.0049 0.0382 1

NOVA IPIXUNA 0.0265 0.0043 0.0205 1

RURÓPOLIS 0.0040 0.0183 0.0042 1

ITAITUBA 0.0029 0.0069 0.0030 1

JACAREACANGA 0.0014 0.0022 0.0015 1

TOTAL 5,5691 3,1147 3,4086 6 7 6

Fonte: Processamento do autor, 2009.

13

Os resultados encontrados na tabela 2, mostram que os municípios de Santarém,

Marabá e Altamira apresentaram-se como centros com maior potencial polarizador nas

mesorregiões do Baixo Amazonas, Sudeste e Sudoeste Paraense, respectivamente.

Considerando a força de atração representada por uma massa “A”, grandeza que resulta da

inter-relação de variáveis que indicam tanto possibilidades de ganhos de escala (como

população) como outras que apontam para potencial de rendimentos crescentes (como as

variáveis associadas à escolaridade da força de trabalho, além da disponibilidade de

serviços públicos e privados), e a ação centrífuga das distâncias entre o centro e todos os

municípios da Mesorregião, estabeleceu-se a hierarquia de lugares que representam o que

aqui se entende como pólos regionais.

A configuração espacial da economia na BR 230, através da metodologia utilizada

neste trabalho, pode ser verificada na figura 1 que demonstra o grau de polarização de cada

um dos municípios em estudo. Vale notar que o método utilizado neste trabalho para o cálculo

gravitacional refere-se apenas às mesorregiões definidas pelo IBGE. Assim, cada um dos três

municípios pólos destacam-se em suas respectivas mesorregiões, onde os resultados e

observações encontradas neste trabalho correspondem à expectativa teórica do

desenvolvimento endógeno e confirmam a realidade vivenciada na região, apontado os

municípios de Santarém, Marabá e Altamira como os “pólos” na BR 230.

Figura 1 – Potencial de gravitação dos municípios em estudo Fonte: processamento através dos softwares S.PLUS 4.0 e Arcview 3.0

14

A “força” de atração do cálculo gravitacional, apontou a potencialidade

socioeconômica dos três municípios “centrais” em cada um das três mesorregiões na

região de influência da BR 230: Santarém, Marabá e Altamira. Ao longo do trabalho e a partir

da análise e interpretação dos dados disponíveis, estes municípios comprovaram que

podem, de fato, funcionar como “pólos” de desenvolvimento na região estudada, pois

exercem a polaridade nas mesorregiões que fazem parte e assim como em toda a região de

influencia da BR 230. As políticas públicas, quando levam em consideração a

potencialidade de cada lugar e a efetividade (social, econômica, política e cultural) de

seus principais atores, tendem a colher resultados positivos, impulsionando o crescimento no

tempo e no espaço.

É importante ressaltar que os municípios de Santarém, Marabá e Altamira, de

fato, estão entre aqueles que, no contexto da região de influência da BR 230 assim como

em suas respectivas mesorregiões, apresentam os maiores e melhores indicadores

socioeconômicos (tamanho populacional, arrecadação agregada, número de escolas, número

de professores existentes, consumo de energia elétrica, variedade e expressão numérica

de estabelecimentos, entre outros). O que fundamenta a validade da teoria gravitacional

abraçada neste trabalho.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A regionalização visando à determinação da estrutura espacial polarizada de uma área

geográfica busca revelar a interdependência existente entre os diversos centros localizados

dentro da área e com o exterior.

Após encontrar a nova “massa” para compor a formulação de Isard (1969), verifica-se

a validade do cálculo gravitacional que apontou a realidade das potencialidades dos

municípios centrais na Região de influência da BR 230: Santarém, Marabá e Altamira. A

partir da análise e interpretação dos dados, estes municípios comprovaram que atualmente são

os “pólos” de desenvolvimento da região de influência da BR 230.

Esses municípios mesmo que não sejam os únicos, são os três que se destacam por

apresentarem maior “atratividade” numa apreciação econômico-espacial. Apresentam-se

como “pólos” regionais. Aponte-se o fato que os três municípios polarizadores encontrados

pelo seu poder de atração, localizam-se cada um em uma das três mesorregiões que os 19

municípios em estudo estão dispostos, portanto, mais “sensível”, em tese, a ações públicas

e privadas, podendo “responder” mais rapidamente aos investimentos e intervenções.

É importante ressaltar que os municípios que exercem a polaridade na região, de

influência da BR 230 estão entre aqueles, que no contexto da área de influência apresentam

maiores e melhores indicadores socioeconômicos. O que contribui com a validade do modelo

gravitacional utilizado neste trabalho.

15

Nesta breve reflexão sobre o cenário de polarização da Transamazônica, alguns

elementos devem ser ressaltados como fundamentais para uma compreensão da dinâmica que

ali ocorre. A mais importante delas é de que estamos em um contexto de fronteira, em que

ainda estão se definindo as forças dos atores sociais e acomodações sócio-econômicas. “Hoje”

os pólos gravitacionais de maior atratividade na Região influência da BR 230 são Santarém,

Marabá e Altamira, de certa forma, fruto de uma série de fatores que, uma vez em sinergia

(cooperação), geram resultados no tempo e no espaço, a partir de suas condições (realidades)

edafoclimáticas, sócio-econômicas, político-culturais, etc.

Se no passado, outros municípios puderam apresentar melhores potencialidades para o

desenvolvimento local e regional, amanhã outros poderão fazê-lo melhor. Como não se pode

exercer pleno conhecimento e controle sobre o amanhã, somente com o passar do tempo

novas configurações poderão surgir.

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