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VII Encontro Nacional – VII ENABER
Crescimento Econômico e Externalidades Espaciais nos Municípios do
Estado do Pará: 1991 e 2000.
RESUMO
Este artigo se propõe a investigar as principais externalidades que influenciam o crescimento
econômico dos municípios do Estado do Pará. Para isso, recorreu-se aos métodos da econometria
espacial para testar a hipótese de que as externalidades espaciais geradas nos municípios estão
contribuindo, de algum modo, para a promoção do crescimento econômico do Pará, entre os anos de
1991 e 2000.
Palavras-Chave: crescimento econômico, externalidades espaciais, econometria espacial.
ABSTRACT
This article aims to investigate the main externalities that influence economic growth of the
municipalities of Para state. In order to do that, we use the methods of spatial econometrics to test
the hypothesis that these spatial externalities generated by the municipalities contribute somehow
for economic growth of Para between the years 1991 and 2000.
Keywords: economic growth, spatial externalities, spatial econometric.
2
Introdução
Em 1974 o governo militar, sob a Presidência do General Ernesto Geisel, resolveu
implementar um ambicioso projeto nacional de desenvolvimento que tinha como objetivo a
transformação do Brasil numa grande potência econômica no ano 2000. No âmbito espacial, a
estratégia de desenvolvimento regional, contida no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II
PND), definiu uma política nacional de desenvolvimento da Amazônia.
A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) ficou responsável pela
coordenação, elaboração e execução dos projetos do II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (II
PDA) – um desdobramento do capítulo correspondente do II PND. A diretriz da política nacional de
desenvolvimento regional consistiu da política de ocupação humana e de desenvolvimento
econômico da Amazônia Legal.
Num primeiro momento, essa política regional de ocupação e desenvolvimento da
Amazônia foi executada com base no avanço da fronteira da pecuária de corte extensiva. Não
obstante, logo foi percebido que tal estratégia não tinha obtido o sucesso econômico esperado pelos
seus planejadores. Pelo contrário, a incontestável destruição da floresta amazônica e dos seus
recursos naturais, além da poluição dos rios e igarapés por mercúrio no beneficiamento do ouro de
aluvial dos rios amazônicos, devido o avanço da fronteira pecuária, resultaram numa forte pressão
dos movimentos ecológicos de defesa do meio ambiente da Amazônia
Essa pressão política, no plano nacional e internacional, acabou favorecendo a revisão e a
posterior extinção da política de incentivos fiscais para a pecuária. Além disso, como uma atividade
econômica primária de base agroextrativa, a pecuária de corte em regime de pastos extensivos
gerava: 1) baixo nível de emprego; e 2) atraia a violência social devido á luta pela terra, sobretudo
no Estado do Pará.
A implementação dos projetos de infraestrutura econômica na Amazônia – a exemplo da
construção da Transamazônica (BR-230) no setor de transporte; e da construção de grandes usinas
hidrelétricas para a geração e distribuição de energia elétrica à Amazônia e o resto do Brasil, a
exemplo da Usina Hidrelétrica de Tucuruí – forneceu o capital social básico aos projetos produtivos
de exploração mineral no Pará, a exemplo do Grande Projeto Carajás. A expectativa do Governo
Federal era de que os projetos agropecuários e minerais pudessem gerar as necessárias divisas em
dólares, com as exportações de commodities minerais e carne bovina, para fazer face aos
pagamentos dos elevados encargos de juros da dívida externa contraída pelo governo militar juntos
aos bancos internacionais.
Os investimentos nos Grandes Projetos de Infraestrutura Energética e de Transporte
geraram externalidades positivas concentradas nas cidades e vizinhanças naqueles municípios
paraenses onde estão situados os Grandes Projetos de Mineração e Agropecuário. Todavia, os
efeitos gerados pelos “Grandes Projetos” – assim chamados os grandes empreendimentos de
infraestrutura econômica e de atividades produtivas dos setores de mineração e agropecuários
implantados na Amazônia paraense que exigiram recursos públicos do Governo Federal – não
foram suficientes para promover a integração econômica esperada pelos seus idealizadores.
Além disso, os Grandes Projetos de mineração podem ser considerados “enclaves” de
exportação mineral – devido os seus baixos efeitos de linkages (ligações) para o restante da
economia paraense em termos de geração de renda e emprego – porque, sozinhos, não são capazes
de induzir um robusto crescimento econômico endógeno. Não obstante, após quase quarenta anos
da implantação desses Grandes Projetos, vem ocorrendo algum crescimento econômico nos
municípios paraenses próximas aos Grandes projetos.
Apesar do baixo grau verticalização na cadeia produtiva básica da indústria do alumínio –
a exemplo da indústria de Mineração Rio do Norte (extraindo bauxita), além da Alumina do Norte
do Brasil (ALUNORTE), que transforma bauxita em alumina, e do Alumínio Brasileiro
(ALBRÁS), transformando alumina em alumínio metálico – somente agora começam a aparecer
algumas iniciativas de investimentos privados locais na constituição de atividades industriais
integradas, com maior valor agregado, ao longo da cadeia produtiva do alumínio, a exemplo da
3
metalurgia de lâminas e da indústria de móveis de alumínio. Mesmo assim, esse esforço empresarial
ainda não é suficiente para desencadear um processo amplificador dos efeitos de linkages para trás e
para frente na cadeia produtiva.
A formação de aglomerados industriais nos municípios próximas aos Grandes Projetos é
um sinal de reversão da polarização nos grandes centros urbanos do Pará. De fato, não deve ser que
os municípios onde estão às grandes corporações privadas – a exemplo da Companhia Vale do Rio
Doce (CVRD) – venham apresentando nos últimos anos um desempenho econômico superior aos
municípios que estão fora do entorno da influência dos Grandes Projetos e distantes dos grandes
centros urbanos, como Belém.
Neste sentido, com o propósito de testar a hipótese do crescimento endógeno da economia
paraense representada pela taxa de crescimento da renda per capita dos municípios do Pará,
recorreu-se a aplicação dos avançados modelos econométricos espaciais no campo da economia
urbana e regional, em que se verifica a importância do espaço humano, como conceito fundamental
subjacente à ciência regional, o que nos dias de hoje é inquestionável.
A dependência espacial do crescimento econômico de um município em relação a sua
vizinhança mais próxima é algo importante que foi considerado na escolha do tema. De fato, a
influência das localidades vizinhas no crescimento econômico de um determinado município,
através de efeitos spilllovers ou efeitos de transbordamento espaciais, é um fator importante que
contribui à formação de aglomerados econômicos.
Portanto, este artigo tem como objetivo investigar teoricamente e testar empiricamente se
as externalidades espaciais atuaram realmente como fatores determinantes do crescimento
econômico dos municípios do Estado do Pará nos anos de 1991 e 2000. Para isso, recorreu-se aos
métodos da econometria espacial para testar a hipótese de trabalho de que as externalidades
espaciais, criadas e replicadas nos municípios, estão contribuindo para o crescimento da renda per
capita do Estado do Pará.
Isto implica que os conceitos e relações estabelecidas entre as variáveis explicativas e a
variável dependente do modelo econométrico espacial necessitam ser especificadas, tal que as
variáveis selecionadas representem os significados dos conceitos contemplados nas teorias e os
dados utilizados na regressão espacial sirvam à estimação, testes de hipóteses e predições para
posterior análise dos resultados.
Dessa forma, o presente artigo está organizado em três seções, além desta breve
introdução. Na primeira seção, discute-se o conceito de externalidades tanto na visão da economia
neoclássica quanto da histórica da industrialização; na segunda seção, apresenta-se o modelo
econométrico espacial para de crescimento econômico dos municípios do Estado do Pará, a
metodologia empregada no mesmo, a especificação das variáveis usadas do modelo econométrico
espacial, as fontes e magnitudes dos dados espaciais usados, a análise exploratória dos dados
espaciais, os testes de hipóteses, de heteroscedasticidade e de robustez dos parâmetros; e, por fim, a
análise final dos resultados obtidos nessa pesquisa.
1. Externalidades
O termo genérico externalidades, também denominado de economias externas, tem sido
utilizado, desde que foi introduzido por Alfred Marshall, em vários sentidos. Marshall (1982) criou
o termo economia externa no sentido da formação de economias de escala externa a firma, em
oposição a economias de escala interna a firma, resultante da formação de aglomerações de firmas
afins localizadas próximas uma das outras num espaço contíguo denominado distrito industrial.1 A
economia interna, por sua vez, significa a criação de economias decorrente do aumento da escala de
produção no ambiente interno da firma.2
Há dois tipos básicos de economias internas da firma: as economias internas reais e as
economias internas pecuniárias. As economias de escala real podem ser de dois tipos: as economias
1 Marshall (1982, V. I, p.267-268).
2 Marshall (1982, idem); Possas (1985, p.15-20).
4
reais intra-planta que resultam do aumento do tamanho da planta industrial, independentemente se a
firma produz o mesmo produto em novas plantas ou em plantas industriais diversificadas; e as
economias de escala real inter-planta que são da mesma natureza das economias de escala intra-
firma. Por outro lado, as economias pecuniárias são as que resultam da realização de pagamentos a
preços mais baixos daqueles fatores de produção usados na produção e na distribuição do produto
devido ao tamanho do volume dos produtos comercializados quando aumenta o tamanho da planta
industrial da firma.3
Enquanto o conceito de economias internas de Marshall é claro, o de economias externas,
ou simplesmente de externalidades, às vezes pode ser objeto de controvérsia quanto à aplicação do
seu verdadeiro significado.
Scitovsky (1956) afirma que o conceito de economias externas é um dos mais vagos da
literatura econômica. A razão disso, segundo o autor, é porque o conceito é usado em dois contextos
teóricos completamente diferentes: 1) o da teoria do equilíbrio parcial e geral; e 2) outro da teoria
da industrialização dos países ou regiões subdesenvolvidas.4 As conclusões da primeira são
baseadas nas hipóteses neoclássicas de concorrência perfeita de todos os mercados e na
divisibilidade perfeita de todos os recursos e produtos. Estas hipóteses servem como base á
conclusão principal da teoria de equilíbrio geral de que economias de mercado levam a alocação
eficiente dos fatores de produção a uma situação do ótimo econômico de Pareto.5
Na teoria da industrialização de países ou regiões subdesenvolvidas – desenvolvida dentre
outros por Paul N. Rosenstein-Rodan, Ragnar Nurse e Celso Furtado – os investimentos públicos
dirigidos à formação de capital social básico no sentido de Hirschman – infraestrutura econômica e
social – geram economias externas reais que atraem para o espaço geográfico dos países ou regiões
atrasadas novas firmas fornecedoras de insumos e novas firmas produtoras de bens e serviços finais,
o que acaba promovendo o rebaixamento dos custos de instalação dessas firmas devido tanto aos
efeitos das economias externas proporcionadas pelo capital social básico, quanto pelos efeitos das
economias externas proporcionadas pela aglomeração das firmas produtoras de insumos e de bens e
serviços finais [(Rosenstein-Rodan, 1953), (Nurkse, 1953), (Furtado, 1953)].
Além das economias externas reais, geradas pela relação das firmas produtoras de bens e
serviços na cadeia produtiva, há também as economias externas pecuniárias as quais decorrem da
interdependência entre firmas na cadeia de comercialização de produtos através dos mecanismos de
mercado. As compras e vendas de produtos entre as firmas são denominadas de economias externas
pecuniárias para diferenciá-las das economias externas tecnológicas.6
Na medida em que as firmas se localizam bem próximas uma das outras num dado espaço
geográfico, formando um agrupamento econômico de firmas produtoras e vendedoras de insumos e
bens e serviços finais, então ficam criadas as economias externas de aglomeração (ou simplesmente
economias de aglomeração) que acabam contribuindo para a redução dos custos de transações e de
comercialização entre as firmas envolvidas.
1.2. Externalidades e crescimento regional e urbano
Nos modelos de crescimento endógeno, a acumulação de conhecimento do capital humano
é uma importante externalidade para promover o crescimento econômico endógeno das nações, das
regiões e das cidades. Porém, apesar da reconhecida contribuição das novas teorias do crescimento
econômico endógeno, elas deixaram um problema quanto à explicação de como as externalidades se
propagam espacialmente.
3 Koutsoyiannis (1979, p.126-137).
4 Scitovsky (1956, p.305-306).
5 Scitovsky (1956, p.302-305).
6 Scitovsky (1956, p.306-307).
5
1.2.1. Externalidades industriais e desenvolvimento regional
No campo da moderna economia regional, Hirschman (1961) e Myrdal (1968) destacaram
a importância dos governos nos investimentos públicos em capital social básico (infraestrutura) os
quais atuam como externalidades no espaço geográfico de uma região subdesenvolvida rebaixando
os custos de instalação de novas empresas. Na presença de indústrias motrizes ou indústrias-chave
há possibilidade de formação de aglomerados industriais ou integração vertical devido os efeitos de
linkages backward (para trás) e forward (para frente). Hirschman (1961) afirma que o crescimento
econômico regional é necessariamente desequilibrado espacialmente. Há uma tendência das
indústrias se concentrarem em certos pontos do espaço chamados de pólos de crescimento.
(Perroux, 1977)
Contudo, apesar dessas economias externas dos pólos econômicos serem reais, os atores do
cenário econômico freqüentemente sobreestimam este aspecto.7 De fato, mesmo tendo em conta a
importância das forças de mercado e das preferências espaciais dos atores econômicos, uma vez que
crescimento econômico se apodera de uma parte do território de uma nação, então se movimentam
outras forças que atuam sobre o restante do território.
Como observa Hirschman (1961), essas forças favorecem a difusão do progresso
econômico das regiões mais progressistas por intermédio do incremento das compras e vendas de
insumos, bens e serviços finais e de investimentos nas poucas regiões atrasadas do restante do
território. Contudo, podem também ocorrer pressões desfavoráveis ao processo de difusão que
acabam reforçando os efeitos de polarização não só aumentando o grau de concentração industrial
das regiões progressistas, mas, às vezes, até mesmo deprimindo mais as regiões atrasadas por meio
da atração da sua melhor mão-de-obra pelo processo de migração.8 Tal possibilidade supõe um
posicionamento político do governo no sentido de buscar a redução das disparidades econômicas
inter-regionais por meio de políticas nacionais de desenvolvimento regional, sobretudo para países
de dimensões continentais.9
As contribuições das teorias do desenvolvimento regional, apesar de importantes por
enfatizarem os efeitos progressivos e regressivos que afetam as regiões ricas e pobres, não explicam
a dinâmica das externalidades espaciais na formação dos centros urbanos. Assim, visando preencher
esta lacuna teórica, a Nova Geografia Econômica (NGE.), traz uma contribuição às teorias do
crescimento endógeno e as teorias de desenvolvimento regional.
1.2.2. Externalidades locacionais e as aglomerações urbanas
A importante contribuição da abordagem da Nova Geografia Econômica ou NGE para a
teoria dos aglomerados industriais destaca a importância da escolha da localização geográfica da
produção como um fator adicional da competição entre empresas. Krugman (1991) é o principal
expoente da abordagem NGE. Na formulação da sua teoria, Krugman (1991) combina o conceito de
externalidades reais de Marshall, que induz a concentração espacial, com os de economias de
aglomeração urbana e os efeitos de encadeamento da economia regional, bem como das vantagens
competitivas locacionais da teoria da localização industrial.
Krugman (1991) desenvolveu um modelo analítico em que a evolução da estrutura espacial
da economia é determinada pelo confronto de forças econômicas centrípetas e centrífugas. De um
lado, agiriam as forças centrípetas, que levam a aglomeração de atividades econômicas em uma
determinada região, geralmente, representadas por linkages setoriais, mercados densos, spillovers
de conhecimento e economias externas e de aglomeração, que induzem à concentração espacial da
atividade econômica. Do outro lado, agiriam as forças centrífugas, que levam uma dispersão das
atividades entre as regiões, que são representadas por fatores imobilizados, aluguéis,
7 Hirschman (1961, p.184).
8 Hirschman (1961, p.187-192); Myrdall (1968, p.53-67).
9 Myrdall (1968, p.107-110).
6
congestionamentos de trânsitos, poluição, custos não recuperáveis (sunk costs), custos de
commuting e as deseconomias externas, que desestimulam a concentração industrial no sentido da
formação de clusters industriais fora dos centros urbanos congestionados.
Krugman (1998) argumenta que as aglomerações das empresas são induzidas pela presença
das economias externas locais. No entanto, as economias externas seriam um produto de ações
fortuitas, e a estruturação espacial da economia seria determinada por processos resultantes das
decisões dos agentes privados operando as forças centrípetas e centrífugas de uma economia de
mercado. Neste caso, restaria pouco espaço à ação planejadora do Estado com vista à criação de
clusters industriais.
Apesar da contribuição da nova geografia econômica, para o desenvolvimento da teoria
dos clusters industriais, Fujita, Krugman & Venables (2002) reconhecem a dificuldade que esta
corrente vem tendo para modelar num sistema formal todas as variáveis representativas das forças
centrípetas e centrífugas do mundo real. O esforço de formalização de Krugman & Venables (1997)
resumiu-se a identificar as fontes dos benefícios externos, ou seja, os linkages como as forças
determinantes da concentração industrial, quando as empresas estão sujeitas tanto a baixos custos de
transportes quanto a retornos de escala crescentes, e fatores fixos como força opondo-se a
concentração.10
Por isso, talvez, essa abordagem não derive ações que impliquem na formulação de
políticas públicas promotoras de clusters industriais.
Fujita, Krugman & Venables (2002) reconhecem que a presença das externalidades
positivas e negativas de ambos os lados das forças econômicas (centrípetas e centrífugas) dificulta
qualquer pretensão normativa de pró-intervenção do Estado baseado apenas na observação empírica
de falhas de mercado ou de informação assimétrica. Por isso, os economistas dessa abordagem
esperam consolidar este enfoque da NGE, em termos teóricos e empíricos, para depois especular
quanto às suas implicações decorrentes das políticas públicas. Mesmo assim, Krugman (1994)
sugere que, às vezes, tornam-se necessárias pequenas intervenções do governo para não deixar de
fora indústrias importantes para determinadas economias.11
Porém, apenas observar o dinamismo de um aglomerado industrial (clusters) numa região
não é suficiente. De fato, do ponto de vista do desenvolvimento industrial, é preciso indagar por que
uma indústria está aglomerada e avaliar até que ponto as economias externas locais, derivadas das
inovações tecnológicas ou do tamanho do mercado, são suficientemente poderosas para merecer o
suporte governamental.12
David (1999) critica a abordagem da NGE quando observa que seus autores utilizam fatos
estilizados, que ele chama de factóides. Para David (1999), os factóides são situações idealizadas
que foram extraídos dos trabalhos dos economistas clássicos da teoria da localização industrial e da
ciência regional, que geram modelos de uma geografia idealizada da industrialização local em que
as zonas centrais industrializadas são rodeadas por atividades agrícolas e extrativas de zonas
periféricas suprimindo os “detalhes sobre importantes não-homogeneidades que estão presentes em
processos locacionais” de industrialização.13
Entre esses processos encontram-se os efeitos de spillovers do conhecimento (knowledge
spillovers) das inovações tecnológicas e também os efeitos de feedbacks responsáveis pelas não-
homogeneidades espaciais na difusão empresarial das práticas técnicas e organizacionais, que são
menos suscetíveis à modelagem matemática mais simples.14
Neste ponto, é importante focalizar as
externalidades espaciais em termos também dos efeitos cruzados dos spillovers (transbordamentos)
entre as indústrias de uma dada economia regional. É importante frisar que, apesar das indústrias
das economias regionais não terem retornos crescentes de escala indefinidamente, os processos
10
Suzigan.(2001, p.29). 11
Krugman (1994, p.223). 12
Suzigan.(2001, p.30); Suzigan et alli (2001a). 13
David.(1999,P.109-110). 14
David.(1999, p.111-112).
7
dinâmicos dessas economias são dependentes de trajetórias econômicas cujo processo evolutivo não
pode desviar-se da influência da história sobre a geografia econômica.15
Entretanto, mais recentemente, a economia mundial vem experimentando um processo de
globalização bastante avançado. Como conseqüência disso, as invenções e inovações industriais –
geradas num dado local do planeta (como o Vale do Silício nos EUA) – podem ser facilmente e
rapidamente absorvidas e adaptadas noutras localizações. Por outro lado, sem dúvida, os
investimentos diretos estrangeiros e o aumento do fluxo do comércio exterior vêm jogando um
papel relevante no desenvolvimento econômico das nações ou regiões emergentes, cujos governos
investem em capital social básico e capital humano.
1.3. Externalidades espaciais e crescimento econômico das cidades
A geografia econômica demonstra que o poder de aglomeração das cidades permanece
forte, apesar da tendência de redução dos custos de transporte e comunicação. Black & Handerson
(1998) demonstraram que o tamanho relativo das cidades norte-americanas permaneceu estável no
século XX. Esse padrão de crescimento estável das cidades foi também identificado em outros
países – como o Japão e a França (Eaton & Eckstein,1997). Por isso, merece ser ressaltado o fato
observado de que a maioria das atividades econômicas ainda persiste concentrada nas cidades;
somente poucas indústrias mudam seu centro geográfico [(Brezis & Krugman, 1997); (Black &
Handerson, 1998)].
A conclusão desses trabalhos da economia urbana é de que há fortes evidências de que as
inovações em infraestrutura de transportes – tais como nos sistemas rodoviários, ferroviários e
hidroviários interestaduais – e em infraestruturas de informação e de comunicação – a exemplo dos
serviços de correio, telégrafo, telefonia, rádio e televisão – não causam, por si próprio, o fim das
tendências históricas do processo de urbanização do capitalismo contemporâneo. Na verdade, ao
contrário, os equipamentos de transportes e serviços urbanos reforçam a tendência de localização
das atividades industriais e de serviços nas cidades e o conseqüentemente crescimento delas.16
Jacobs (1969) e Lucas (1988) observam que quando pensamos na associação entre capital
humano, conhecimento e crescimento econômico endógeno, a inclusão do papel das cidades é quase
inescapável. Idéias movem-se rapidamente nas cidades; agentes não relacionados fazem contatos e
partilham novas idéias. As externalidades resultantes das trocas de idéias entre pessoas são mais
fortes em ambientes urbanos do que em ambientes rurais. Lucas (1988) introduziu a idéia de que as
cidades jogam um papel importante na facilitação do processo de adoção e difusão do conhecimento
acumulado sobre o crescimento econômico.
As fortes externalidades de aglomeração nas cidades são importantes complementos para o
crescimento econômico endógeno, por três razões básicas: 1) as cidades, diferentemente dos países
ou das regiões, são economias abertas que permitem um intenso movimento de capital, trabalho e
idéias (inovações) intra-cidades e inter-cidades. 17
As cidades são unidades econômicas mais
concentradamente especializadas do que as regiões econômicas. Os limites das fronteiras de uma
economia nacional impedem a mobilidade dos fatores; as políticas nacionais que incentivam a
concentração industrial somente no centro-polarizador eliminam os ganhos do fator mobilidade da
diversificação e da descontração espacial; 2) vários estudos sobre o sucesso das nações afirmam que
as idéias inovadoras são importantes para o crescimento econômico nacional; e 3) recentes estudos
sobre crescimento econômico têm mostrado que a instabilidade política e a desigualdade social são
incompatíveis com o crescimento econômico endógeno.18
Os estudos sobre as economias de cidades inauguraram uma nova modalidade de pesquisa
empírica, em especial, a importância da concentração industrial nas cidades sobre o crescimento
econômico das regiões. Os trabalhos de Jacobs (1969), Henderson (1986) Glaeser (1994) foram os
15
Suzigan (2001). 16
Teaford (1986). 17
Glaeser, Scheinkman & Shleifer (1995, p.118-119). 18
Barro (1991); Barro & Sala-i-Martin (1992); Blanchard & Kartz (1992).
8
primeiros a demonstrar a importância da concentração industrial sobre o crescimento econômico
das cidades e regiões vizinhas. Na presença de políticas públicas de capacitação e treinamento dos
indivíduos (capital humano), as ocupações em termos de emprego e o aglomerado de indústrias nas
cidades fornecem um ambiente propício ao florescimento de novas ideais e de inovações que fluem
rapidamente de pessoa para pessoa.19
Jacobs (1984) afirma que essas interações nas cidades ajudam as pessoas a se apropriarem
das idéias e inovações. De fato, sem oportunidades das pessoas aprenderem com outras pessoas, e
assim melhorarem suas habilidades, não haveria razão para as pessoas pagarem aluguéis altos para
trabalhar e morar nas cidades. Na verdade, o fluxo intenso de idéias deve explicar como as cidades
sobrevivem a despeito dos aluguéis elevados. Numa visão dinâmica das cidades, as novas teorias de
crescimento endógeno associam as externalidades com a difusão de conhecimento de idéias – que é
o motor do crescimento endógeno – e destas com o crescimento econômico endógeno das cidades e,
por conseguinte, dos países e regiões. [(Romer, 1986, 1994); (Lucas, 1988)]. Por meio de pesquisas
e rápidos movimentos dos trabalhadores altamente qualificados (capital humano) entre as firmas,
idéias são rapidamente disseminadas entre as firmas vizinhas uma das outras numa cidade.
O modelo de externalidades de Marshall-Arrow-Romer (MAR) relaciona o processo de
difusão de conhecimento (idéias) entre as firmas de uma mesma indústria. Marshall (1982) afirma
que a concentração de uma indústria numa cidade, ao facilitar a difusão de conhecimentos entre as
firmas, acaba impulsionando o crescimento da indústria e da cidade; Arrow (1962) apresenta uma
primeira tentativa de formalização; e Romer (1986) formaliza um modelo de crescimento endógeno
em que a tecnologia é um vetor endógeno.
Vimos que o estoque acumulado de conhecimento é o resultado dos intencionais esforços
dos pesquisadores que buscam idéias inovadoras. Mas, a propagação do conhecimento aplicado é,
também, o resultado do esforço do empresário empreendedor de converte conhecimento científico
em inovações tecnológicas vendáveis no mercado com lucros de monopólio [Schumpeter (1982,
1984)]. Schumpeter (1982) admite que o local de monopólio é mais importante para o crescimento
econômico do que o local de competição porque o local de monopólio restringe o fluxo de idéias
com outras e assim permite que as externalidades das inovações tecnológicas sejam internalizadas
pelo empresário-inovador. Quando as externalidades são internalizadas, as inovações e crescimento
econômico crescem de forma mais rápida.
Porter (1990) também afirma que a difusão de conhecimentos especializados estimula o
crescimento econômico nas indústrias geograficamente concentradas. Porém, ele insiste em afirmar
que o local de competição, em oposição ao local de monopólio, estimula a busca e a rápida adoção
de inovações. No modelo de Porter (1990), o local de competição aumenta o processo de imitação,
porém em compensação melhora as idéias dos inovadores. Apesar do local da competição reduzir a
taxa de retorno do empresário-inovador – devido o acirramento da competição entre inovadores e
imitadores – também aumenta a pressão para inovar e este efeito acaba sendo mais forte do que o
primeiro.
A concorrência entre os competidores locais conduz a rápidas adoções de inovações de
outros e a melhoria das inovações, para fugir aos ataques dos imitadores, e isso contribui para o
crescimento da industrial. Em contraste, os locais de monopólios levam as empresas a um estado de
acomodação tecnológica como resultado dos privilégios adquiridos pelo alto padrão de consumo
dos gerentes que não querem mais correr o risco do inovador. As externalidades dinâmicas de
Porter são maximizadas nas cidades geograficamente especializadas com indústrias competitivas.
Jacobs (1969) afirma que o mais importante para o crescimento econômico das cidades é a
transferência de conhecimento (inovações) vindo do lado de fora do núcleo industrial concentrado
só no principal centro urbano do país. Como resultado, uma diversidade de indústrias localizadas
geograficamente próximas uma das outras gera sinergias positivas mais fortes do que as indústrias
especializadas localizadas geograficamente num único espaço. Jacobs (1969) é favorável ao local
19
Jacobs (1984).
9
de competição porque, como Porter, ela acredita que o local de competição permite uma rápida
adoção de tecnologia pelas firmas envolvidas que acaba promovendo o crescimento das cidades.
Neste sentido, se a proximidade geográfica entre cidades e indústrias é um vetor facilitador
da transmissão de conhecimentos, as externalidades flexíveis, resultantes do efeito transbordamento
das idéias – chamado de knowledge spillovers – são também importantes no crescimento econômico
de uma determinada região. Os fundamentos teóricos da dinâmica da difusão do conhecimento entre
pessoas nas cidades começaram com Loury (1979) e Dasgupta & Stiglitz (1980) que mostraram a
importância do efeito do knowledge spillovers, fundamentais para o crescimento econômico das
cidades.
Krugman (1991a) também apresenta um interessante modelo de externalidades no qual
destaca a importância do incremento dos rendimentos sobre o espaço geográfico. Não obstante, é o
artigo seminal de Glaeser, Kallal, Scheinkman & Schleifer (1992) que vem servindo de inspiração a
os trabalhos empíricos que destacam a importância do crescimento das cidades sobre o crescimento
econômico regional e nacional.
Há outras formas de externalidades locacionais que explicam a especialização econômica
de uma dada região e de cidades, mas que não têm como foco especificamente as externalidades de
conhecimento (knowledge spillovers) e o crescimento econômico. Marshall (1982), por exemplo,
destaca a importância das externalidades de localização, proporcionadas pelos distritos industriais,
em que firmas pertencentes a uma mesma indústria freqüentemente localizam-se bem próxima a
outra para se aproveitar dos vários insumos, inclusive da força de trabalho especializada.20
Algumas firmas de diferentes ramos industriais podem pleitear uma localização próxima
uma das outras em função da diversidade da demanda. Henderson (1986) buscou explicar porque
certas firmas preferem se localizar nos lugares em que a demanda local é elevada devido ao que ele
denominou de externalidades urbanas: igualmente como as externalidades de localização industrial,
as externalidades de urbanização explicariam os padrões da localização mais do que o crescimento
das cidades. Glaeser, Kallal, Scheinkman e Shaifer (1992) dizem que a busca de uma explicação do
porque firmas de indústrias diferentes buscam se localizar próximas uma das outras, sugere apenas
que elas não podem ser a história completa das cidades.21
As teorias das externalidades dinâmicas são extremamente atrativas porque elas procuram
explicar, simultaneamente, como se estruturam e crescem as cidades. As teorias de MAR e Porter,
sobretudo, prevêem que as indústrias especializadas e localizadas num espaço geográfico poderiam
absorver o conhecimento que transborda entre as firmas – os knowledge spillovers. Em adição,
essas teorias também prevêem que indústrias especializadas regionalmente poderiam crescer de
maneira mais rápida do que as firmas isoladas em termos geográficos.
Jacobs (1969), também, enfatiza a importância da difusão de conhecimentos como um
fator relevante para o crescimento das cidades. A idéia central desse autor é de que a externalidade
crucial nas cidades é a fertilização cruzada de idéias através de diferentes linhas de trabalho. Na
teoria de Jacobs, a variedade industrial mais do que a especialização industrial é condutora do
crescimento das cidades porque nas cidades diversificadas há mais intercâmbio de diferentes idéias
do que nas cidades especializadas. O autor afirma que indústrias localizadas em áreas altamente
diversificadas, industrialmente, podem crescer mais rápido do que em áreas especializadas. Em
contextos diferentes, admite-se que a proximidade espacial permite que idéias fluam mais
livremente.22
Esses efeitos poderiam agir para facilitar não apenas a imitação de patentes, como
demonstra o autor Jaffe (1989), mas também pela ampla imitação de atividades que requerem
agentes habilidosos. De certo modo, as habilidades são aprendidas pelo processo de imitação e o
processo de imitação é rápido nas cidades. Marshall (1890) e Jacobs (1969) admitem que a
transferência de informações é mais rápida nas cidades. Chinitz (1962) destaca a importância da
transferência de intelectuais entre as cidades e sua relação com o desenvolvimento do capital
20
Henderson (1986). 21
Glaeser, Kallal Scheinkman & Shleifer (1992, P.1130). 22
Glaeser (1994).
10
humano. Ele afirma que uma excessiva concentração industrial estanca a transferência
intergeracional das habilidades empresariais.
A despeito de suas diferenças, essas teorias da dinâmica das externalidades têm
implicações sobre as taxas de crescimento das indústrias urbanas nas distintas cidades. De fato,
essas teorias são diferentes da maioria das teorias de externalidades da urbanização e de localização
industrial padrão que enfatizam a formação e especialização das cidades, mas não do crescimento
das cidades.23
Os modelos de crescimento de cidades enfatizam o papel da dinâmica das externalidades e
mais especificamente a difusão de conhecimentos para a cidade crescer. Assim, de acordo com estes
modelos, as cidades crescem porque as pessoas que vivem nela interagem com outras pessoas, em
seus próprios setores ou em outros setores, e aprendem com elas. Na verdade, porque as pessoas
captam esses conhecimentos pagando por eles, essas rápidas difusões de conhecimentos são
externalidades.
2. Modelo econométrico espacial de crescimento econômico dos municípios do Pará
As externalidades que resultam dos investimentos públicos e/ou privados em capital social
básico – infraestrutura econômica (transporte, portos, energia e telecomunicações) e infraestrutura
social (escolas, universidades, hospitais e saneamento básico) – e as externalidades que resultam
das aglomerações urbanas (spillovers de conhecimento) vêm sendo tratadas formalmente por
intermédio de modelos econométricos espaciais de crescimento econômico urbano e de
convergências de renda per capita, dentre outros, por Anselin (1986), Anselin (1988), Anselin &
Florax (1995), Fingleton (2004), Vayá, López-Bazo, Moreno & Suriñach (2004).
Glaeser, Kallal, Scheinkman & Shleifer (1992) utilizaram as informações das cidades e das
indústrias norte-americanas para testar empiricamente as novas teorias de crescimento econômico
endógeno. Glaeser (1994) recorreu às técnicas da econometria espacial para estudar as relações
entre informações (conhecimento) e o crescimento econômico das cidades (taxa de crescimento da
renda per capita) dos EUA. Glaeser, Scheinkman & Shleifer (1995) aplicaram, posteriormente, um
modelo econométrico espacial simples para mostrar a correlação negativa existente entre os níveis
dos salários básicos e as taxas de crescimento dos salários (convergência). 24
A formulação e a aplicação do modelo econométrico espacial para investigar o crescimento
econômico dos municípios do Pará é inspirada principalmente nos trabalhos de Jacob (1969),
Glaeser, Kallal, Scheinkman & Shleifer (1992), Glaeser, Scheinkman & Shleifer (1995).
Nos modelos econométricos espaciais de crescimento econômico, as cidades são tratadas
como economias espacialmente individualizadas, porém partilham do estoque comum dos fatores
capital, trabalho e tecnologia da economia regional e da economia nacional. Os fatores de produção,
capital e trabalho, são assumidos teoricamente como móveis no espaço. Por causa dessa hipótese de
livre mobilidade dos fatores de produção, sobretudo do capital e do trabalho, o crescimento das
cidades difere somente no “nível de produtividade” e na “qualidade de vida” dos seus habitantes. 25
Tendo isso em conta, pode-se agora representar o produto econômico de uma dado
município i por uma função Cobb-Douglas homogênea de grau unitário, tal que:
tititititi LALfAY ,,,,, (1)
Em que:
tiY , = representa o nível de produto de um determinado município i no tempo t;
tiA , = representa o nível de produtividade do município i no tempo t, o qual deve ser
tomado no sentido amplo para permitir que o conjunto das forças sociais, políticas e tecnológicas
determine completamente a produtividade de um município;
tiL , = representa a mão-de-obra do município i no tempo t;
23
Handerson (1986); Glasser, Kallal & Shleifer (1992, p.1128). 24
Glaeser et al. (1995, p.121). 25
Glaeser et al. (1995, p.119-120).
11
.f = representa a função de Cobb-Douglas comum de corte transversal dos municípios;
= representa o coeficiente da função de produção .f da economia de um município
que mede a elasticidade do produto em relação à mão-de-obra do município i no tempo t;
No mercado de trabalho em equilíbrio, a renda-trabalho (salário real) é determinada pela
produtividade marginal dos trabalhadores de um município i no tempo t, tal que:
1,,, tititi LAW (2)
A utilidade total dos trabalhadores do município i no tempo t é igual aos salários
multiplicados por um índice de qualidade de vida que captura vários fatores urbanos: criminalidade,
serviços de saúde, saneamento básico (água, luz e esgotos), desigualdade de renda, densidade
demográfica e congestionamento do tráfico. O índice de qualidade de vida (IQV) é positivamente
relacionado com o produto e inversamente com o tamanho do município, tal que:
= tititi LYIQV ,,, (3)
Em que 0 .
A utilidade total dos trabalhadores tiU , é dada por:
1,,,, titititi LYAU (4)
É admitida a hipótese de livre migração entre os municípios vizinhos. Esta hipótese
assegura uma utilidade constante através do espaço num ponto do tempo, tal que o nível de
utilidade de cada indivíduo em cada município i deverá ser igual ao nível de reserva da utilidade no
tempo t, que será chamado por tU . Assim, partindo de (4), cada município terá:
ti
ti
ti
ti
ti
ti
ti
ti
L
LLn
Y
YLn
A
ALn
U
ULn
,
1,
,
1,
,
1,
,
1,1 (5)
Assume-se que:
1,',
,
1,
titi
ti
tiX
A
ALn (6a)
1,',
,
1,
titi
ti
tiX
Y
YLn (6b)
Tal que: ',tiX = é um vetor das características do município no tempo t que determina o crescimento
da qualidade de vida e o crescimento do nível de produtividade do município m em questão.
Combinando (5) com (6a) e (6b) resulta:
1,',
,
1,
1
1titi
ti
tiX
L
LLn (7)
1,',
,
1,
1
1titi
ti
tiX
W
WLn (8)
Onde ti, e ti, são os termos de erros não-correlacionados com as características urbanas
',tiX . Nestas condições, a equação (8) expressa à variação na remuneração total da mão-de-obra no
município, respectivamente, como dependente das características de ',tiX representadas por algumas
variáveis. Neste ponto, assume-se a hipótese da existência de algum tipo de dependência espacial na
variação da remuneração da mão-de-obra aqui representando um fator de crescimento econômico
desses municípios. Para modelar este dependência, a equação (8) pode ser reescrita da seguinte
maneira:
1,
'
,
,
1,
1
,
1,
1
1titi
ti
ti
ti
tiX
W
WLnN
W
WLn (9)
12
1,
'
,1
,
1,
1
1titi
ti
tiwXNI
W
WLn (10)
1,
1
1,
1
1
,
1,' titi
ti
tiwNIXNI
W
WLn (11)
Tal que tititi N ,,2, e 1,,0~ 2, Nti . A expressão
1WI é a inversa de
Leontief que associa a variável dependente com as variáveis explicativas do sistema por meio do
chamado multiplicador espacial. 1N e 2N são as matrizes de pesos espaciais do modelo espacial.
Estas matrizes podem ter uma relação de contigüidade ou de distância entre as cidades. Se 02N , o
modelo econométrico apresenta lag espacial, o que implica dizer que o crescimento econômico de
um município vizinho influência o crescimento econômico de outro município i. Já, para o caso de
01N , têm-se um modelo econométrico com erro espacial de alguma variável explicativa que
deixou de ser incluída, como uma externalidade difícil de ser mensurada, tal como a qualidade do ar
ou a instabilidade política, por exemplo. Entretanto, em ambos os casos existem externalidades
atuando sobre o crescimento econômico.26
2.1. Metodologia
Esta seção descreve como foi investigada a relação entre a taxa de crescimento da renda
per capita e as variáveis que mensuram as externalidades dos municípios do Pará entre 1991-2000.
Na prática da economia regional e urbana são desenvolvidos esforços para identificar e formular os
problemas das regiões e cidades com o propósito de extrair uma riqueza de formulações teóricas
sobre comportamento humano no espaço. A fim de se alcançar este objetivo num contexto
operacional, as teorias da economia regional e urbana e também da geografia econômica precisam
ser traduzidas e transformadas de formulações abstratas em modelos computáveis. Para realizar tal
intenção, o método aqui empregado é o da econometria espacial. Isto significa que os conceitos e as
relações existentes entre a variável dependente e as variáveis explicativas do modelo teórico devem
ser especificados num modelo econométrico espacial para que a realização dos testes de hipóteses,
estimação, predição e a análise dos resultados possam ser conduzidas. [(Gujarati,2000). O campo da
econometria espacial consiste daqueles métodos e técnicas que, baseados numa representação
matemática formal da estrutura da dependência espacial e da heretogeneidade espacial, fornece os
meios para conduzir a própria especificação, a estimação, os testes de hipóteses e a predição dos
modelos teóricos da ciência regional (Anselim, 1988, p.10).
O efeito espacial é a razão da existência da econometria espacial como um campo
especializado da econometria geral. A principal característica dos modelos de econometria espacial
é a maneira pela qual os efeitos espaciais são considerados. Isto supõe que o espaço deve ser
formalizado matematicamente de algum modo. Normalmente, o uso de uma matriz espacial
ponderada permite que os modelos econométricos espaciais possam ser operacionalizados em
diversos contextos empíricos, conquanto que a variável espacial dependente seja adequadamente
expressa e que a heterogeneidade espacial seja considerada na especificação do modelo
econométrico espacial.27
26
Oliveira (2005, p.6). 27
Anselin (1988, p. 32).
13
2.2. Especificação das variáveis do modelo econométrico espacial
De acordo com a metodologia, além da estimação pelo clássico método de mínimos
quadrados ordinários (MQO), dois outros devem ser aplicados, dependendo da estratégia adotada:
1) o modelo de autocorrelação de defasagem espacial na variável dependente (spatial lag); e 2) o
modelo de autocorrelação de erro espacial (spatial error), tal que:
Xy ; IN 2,0~ Modelo de MQO (12)
XWyy ; IN ,,0~ 2 Modelo de Defasagem Espacial (13)
Xy ; uW ; INu 2,0~ Modelo de Erro Espacial (14)
A função de reação espacial expressa como a magnitude de uma variável de decisão de um
agente econômico depende das magnitudes do conjunto das variáveis de decisões de outros agentes
econômicos.28
Isto fornece a base teórica do modelo spatial lag, assim expresso: XWyy (15).
Em que y é um vetor-coluna (nx1) que representa as taxas de crescimento dos municípios i do Pará
no intervalo de tempo t e t+1. A matriz X (nxk) representa as variáveis explicativas, em β é o vetor-
coluna (kx1) de coeficientes das proxies representativas das variáveis explicativas das
externalidades. A matriz W (nxn) é uma matriz de contigüidade (municípios que fazem fronteiras
ou vértices com outros) e ρ é o coeficiente de defasagem espacial que capta os efeitos de spillovers
(transbordamento) das taxas de crescimento da renda per capita sobre os vizinhos.
O modelo econométrico lag espacial (13) é usado quando o crescimento econômico dos
municípios vizinhos influenciam o crescimento econômico de outro município i, por exemplo
.Tanto a equação (11) quanto a equação resumida (14) mostram como a variável dependente é
determinada pelos termos de erros em todas as localizações do sistema, e não pelo termo de erro
apenas na localidade.29
Esta simultaneidade torna a variável endógena y defasada espacialmente
(wy), o que requer técnicas de estimação especiais, tais como a estimação por máxima
verossimilhança ou a estimação por meio de variáveis instrumentais.30
No modelo de erro espacial o λ é um escalar coeficiente do termo de erro e INu 2,0~ é
a condição de distribuição normal. O parâmetro λ mede a autocorrelação espacial, de forma que,
quando 0 , um choque ocorrido numa unidade geográfica se dispersa não só para os seus
vizinhos imediatos, mas pelas demais unidades. Neste caso, tem-se o modelo de erro espacial assim
especificado: 1
WIXy (16)
2.2.1. A estratégia de escolha do modelo espacial apropriado
A estratégia usada para a escolha da especificação apropriada segue a abordagem de
Florax, Folmer & Rey (2003) e Anselin (2005). Nesse caso, os instrumentos utilizados para a
identificação do modelo econométrico espacial são os testes do Multiplicador de Lagrange (ML) em
sua versão mais robusta.31
A seqüência dos passos dessa estratégia são:
1) Estimar, via MQO, o modelo wXy ;
2) Testar a hipótese de dependência espacial em razão de omissão da defasagem espacial
da variável dependente ou de omissão do erro espacial auto-regressivo, por intermédio de ML e
ML respectivamente;
3) Se ambos os testes não forem significantes, a estimação do primeiro passo deverá ser
usado como a especificação final. Caso contrário, deve-se passar para o passo 4;
28
Anselin (2002. p.3-4). 29
Anselin (2002, p.4-5). 30
Anselin (1988). 31
Florax, Folmer & Rey (2003), p562).
14
4) Se ambos os testes são significantes, deve-se estimar a especificação que apresentar o
maior valor do teste. Assim, se ML > ML , então se estima o modelo de defasagem espacial (13);
mas, se ML < ML , estima-se o modelo de erro espacial (14). Caso contrário, deve-se seguir para
o passo 5;
5) Se ML é significante, mas ML não o é, então deve-se prosseguir para o passo 6;
6) Estimar o modelo de erro espacial (14).
Por meio dessa metodologia, portanto, pode-se escolher o modelo econométrico espacial
mais apropriado para analisar quais as variáveis representativas das externalidades determinaram,
entre 1991 e 2000, a taxa de crescimento dos municípios do Estado do Pará.
2.2.2. Fonte dos dados e descrição exploratória espacial dos dados de cross-section
Há dois tipos básicos de modelos econométricos espaciais de regressão linear em função
da arquitetura da disposição dos dados estatísticos: 1) os dados de cross-section num ponto do
tempo; e 2) os dados de space-time ou de panéis. Os dados foram organizados em cross-section,
pois a estimação dos modelos econométricos espaciais deve ser realizada, preferencialmente, por
meio do método de máxima verossimilhança [(Upton & Fingleton, 1985); (Anselin, 1988)].
Os dados foram carregados considerando os parâmetros, coeficientes randômicos e outros
elementos estruturais das matrizes com as variáveis selecionadas organizadas para cross-section. As
principais fontes dos dados estatísticos obtidos foram: o Atlas de Desenvolvimento Humano do
Brasil (ADHB), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); a base de dados regional e
social foi por intermédio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Anuário
Estatístico do Estado do Pará (ano de 2006) da Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento e
Finanças do Pará (SEPOF - PA).
Os dados dos 143 municípios do Pará estão distribuídos nos anos de 1991 e 2000. Os
dados obtidos foram organizados por unidade espacial de observação do ADHB/IBGE – os
municípios – onde estão situadas as sedes (cidades) dos municípios do Pará. Os efeitos espaciais
exigiram que os dados coletados fossem organizados de tal forma que as observações pudessem ser
caracterizadas pela sua localização absoluta, usando o sistema de coordenadas, ou por sua
localização relativa baseada numa distância em termos métricos.32
Como suporte para trabalhar essa
quantidade elevada de dados estatísticos, recorreu-se ao software: Geoda 0.9.5-i e, também, o
TerraView 3.2.1, para realizar as seguintes tarefas: 1) manipulação de dados espaciais;
2) manipulação de mapas; 3) análise de autocorrelações espaciais; e 4) e a realização das regressões
espaciais.
O modelo de crescimento espacial dos municípios do Pará está representado pelo conjunto
das variáveis identificadas com base na teoria e nos trabalhos empíricos de econometria espacial
objeto da revisão da literatura: 1) a variável dependente do modelo econométrico espacial é
representada pela proxy dada pela taxa média anual de crescimento da renda per capita dos
municípios do Pará, no período compreendido entre os anos de 1991 e 2000. Os valores nominais
da renda per capita dos municípios do Estado do Pará (expressos em R$1,000/hab) foram
convertidos a preços constantes do ano 2000; 2) as variáveis explicativas do modelo espacial são as
seguintes: a) a renda per capita (expressando a produtividade capital/trabalho); b) o grau de
escolaridade (média de anos de estudos das pessoas de 25 ou mais anos) representando o capital
humano; c) a taxa de urbanização (% da população urbana na população total residente)
representando as externalidades de spilllovers; d) a densidade demográfica de cada município
(habitantes por km²) representado o efeito das economias de localização e/ou das economias de
desaglomeração (congestionamento); e) benefício do transporte rodoviário (produto da densidade
32
Anselin (1988, p.11-12).
15
rodoviária medida pela extensão das estradas em km dentro do Pará) pela unidade territorial (área
do município em km²) do Pará, representando o efeito das externalidades do capital social básico; e
f) as transferências intergovernamentais constitucionais representando papel do governo central no
crescimento econômico dos municípios do Pará. Todas as variáveis são representações, isto é,
variáveis proxies. As Figuras 1 e 1a apresentam a distribuição da renda per capita dos municípios
do Estado do Pará. Nota-se que em ambos os mapas, a renda per capita mais elevada está
concentrada nos municípios com tonalidade azul. Já os municípios com renda per capita mais baixa
estão representadas pelas cores vermelhas de tonalidade forte.
Figura 1: Renda per capita dos municípios do Estado do Pará: 1991.
Fonte: Elaboração própria a partir do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil.
Figura 1a: Renda per capita dos municípios do Estado do Pará: 2000.
Fonte: Elaboração própria a partir do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil.
2.3. Testes de Jarque-Bera e de Índice de Moran
Para evitar os tipos de erros de especificação do modelo espacial adotado, além do teste de
Jarque-Bera, se fará uso dos testes de I Moran, que indica a presença ou ausência de autocorrelação
espacial. De acordo com Cliff & Ord (1981), em termos formais, a estatística I de Moran Global
pode ser assim expressa:
16
tt
tt
tzz
Wzz
S
nI
`
`
0
t = 1, 2, 3,.......n (17)
Em que tz é o vetor de n observações para o ano t na forma de desvio em relação à média.
O N é matriz de pesos espaciais e 0S é um escalar igual à soma de todos os elementos de W. Se a
matriz de pesos é normalizada na linha, isto é, quando os elementos de cada linha somam 1, então
(1) se transforma na seguinte forma:
tt
tt
tzz
WzzI
`
` (18)
A equação (1) pode ser também formulada assim:
i
i
i j
jiij
ux
uxuxw
S
nI
2 (19)
Em que:
n = número de observações;
ix e jx = são as taxas de crescimento econômico das cidades i e j, com média u;
S = é um escalar constante igual soma de todas as distâncias entre as cidades da Pará:
i j
ijwS
A hipótese nula 1/1:0 nIH é testada contra a hipótese alternativa 1/1: nIHa ,
de forma que, se a hipótese nula for rejeitada e se 1/1 nI , então se confirma a presença de
autocorrelação espacial positiva. O teste de autocorrelação local do I de Moran, que investiga se os
valores advindos do teste de autocorrelação global são ou não significantes, é dado por:
j
jij
i
i
ii xw
x
xI
2 (20)
2.3.1. Testes de Robustez
Em que as variáveis têm o mesmo significado do teste de autocorrelação global de Moran‟s
I Bernat (1996), que distinguiu duas formas de autocorrelação espacial que também merecem ser
testadas: a forma spatial lag (lag espacial) e a spatial error (erro espacial). Os testes para conferir
se a presença ou não das componentes spatial lag e spatial error são os robustos Multiplicadores de
Lagrange – LLM para spatial lag. e ELM para spatial error. As estimativas dos coeficientes e os
testes de hipóteses serão devidamente realizados para posterior análise dos resultados.
3. Análise dos resultados
Esta seção busca apresentar e analisar os resultados obtidos da aplicação do modelo
espacial proposto para avaliar a relação existente entre externalidades e crescimento econômico dos
municípios paraenses.
Após a especificação do modelo econométrico espacial e da descrição e análise das
variáveis e suas relações é preciso agora realizar os testes necessários à estimação do modelo
escolhido. Para isso, o primeiro passo é a verificação da autocorrelação espacial. De acordo com
Anselin, Florax & Reis (2004), a autocorrelação espacial refere-se à coincidência de valores
semelhantes em locais semelhantes.
17
3.1. Resultados dos testes do Índice de Moran Global de autocorrelação espacial
Os valores dos Índices de Moran Geral foram obtidos por intermédio do software
TerraView 3.2.1. O Índice de Moran Global (I de MoranG) permite identificar a estrutura de
autocorrelação espacial que melhor descreve os dados do modelo espacial. A idéia básica é a
caracterização da dependência espacial para mostrar como os valores observados estão
correlacionados no espaço. O I de MoranG presta-se a realização do teste de hipótese: 1) a hipótese
nula é de independência espacial e, neste caso, o I de MoranG é igual a zero; 2) a hipótese
alternativa é de dependência espacial e, neste caso, se o I de MoranG é positivo (entre 0 e +1), há
correlação direta; se o I de MoranG é negativo (entre 0 e -1), existe correlação inversa. O I de
MoranG fornece um valor como medida da associação espacial, para o conjunto de dados de área, o
que é útil como caracterização da região estudada.
A Tabela 1 demonstra os resultados do I de Moran Global-EB bivariado, o desvio-padrão e
o valor-p, randomizados para 999 permutações, para os anos de 1991 e 2000. Percebe-se que os
valores I de Moran são positivos e menores do que a unidade, o que sugere a presença de
autocorrelação espacial global positiva e direta. A pseudo-significância, dada pela probabilidade do
valor-p igual a 0,0001, revela que os valores simulados não são superiores aos observados na coluna
do I de Moran. 33
Os I Moran Global foram padronizados em unidades de desvios-padrões. Isto
permite, segundo Anselin (2003), que só as observações com mais de 2 desvios-padrões possam ser
classificadas como outliers.
Tabela 1: Índice de Moran global bivariado de EB
Fonte: Elaboração próprio do autor através do software, Terra View e Geoda.
3.2. Análise dos resultados obtidos pelo modelo de MQO
O fato de algumas variáveis explicativas não terem sido incluídas do modelo econométrico
espacial devido os seus elevados índices de correlação com outras variáveis serviu para minimizar
os problemas de multicolinealidade. Por sua vez, a utilização das variáveis explicativas com valores
do período inicial foi necessária para controlar a endogeneidade, visto existir a possibilidade de uma
relação entre a variável dependente e uma variável explicativa do modelo. Esta hipótese carrega a
idéia de que os efeitos das variáveis proxies representativas das externalidades sobre a taxa de
crescimento da renda per capita não se dissipam imediatamente, mas se distribuem uniformemente,
ao longo do período, de modo a controlar a possível endogeneidade implícita no modelo.
Depois de identificada a presença de autocorrelação espacial, por intermédio do teste de I
Moran, é preciso agora identificar o modelo econométrico mais adequado. Conforme a estratégia
sugerida por Anselin (2005), a escolha depende dos indicadores que resultam da aplicação de
Mínimos Quadrados Ordinários (MQO).
A matriz de pesos utilizada foi a de contigüidade rook que considera a vizinhança e ignora
as distâncias dos lugares. A tabela 2 apresenta os resultados do modelo econométrico espacial por
MQO e os testes dos Multiplicadores de Lagrange (LM) e das razões de verossimilhança (LR) para
33
Anselin (2003, p.91).
Moran I with EB rate I de Moran Desvio-Padrão Valor-p Permutações
TLnRendapc/LnRenda91 0.1113 0.0195 0.0010 999
TLnRendapc/LnRenda00 0.1141 0.0175 0.0010 999
TLnRendapc/Escola91 0.1033 0.0243 0.0010 999
TLnRendapc/Escola00 0.1149 0.0201 0.0010 999
TLnRendapc/Urbanização91 0.1076 0.0287 0.0010 999
TLnRendapc/Urbanização00 0.1217 0.0260 0.0010 999
BenTransp91 X BenTransp91 0.2820 0.0488 0.0010 999
BenTransp00 X BenTransp00 0.2482 0.0467 0.0010 999
TransGov91 X TransGov91 0.1921 0.0525 0.0010 999
TransGov00 X TransGov00 0.3034 0.0543 0.0010 999
18
a identificação de ambos os tipos de autocorrelação. Estes testam a hipótese nula de ρ = 0 e λ = 0 da
equação (9) e ambos seguem uma distribuição χ² (qui-quadrado) com um grau de liberdade (DF).
Ressalte-se que se houver rejeição da hipótese nula no modelo econométrico com lag espacial os
estimadores de MQO são viesados e ineficientes. Mas, se houver a rejeição da hipótese nula no
modelo com erro espacial, os estimadores são não-viesados, mas não são ineficientes.
Analisando-se os resultados da regressão, nota-se um R² ajustado modesto, porém
crescente de 0,08 para 0,16. O diagnóstico da regressão consiste de três medidas tradicionais: o
número da condição de multicolinearidade, o teste de não-normalidade de Jarque-Bera(JB) e, por
fim, os três diagnósticos para heterocedasticidade [Breusch-Bagan (BG), Koenker-Bassett (KB) e
White].
O diagnóstico para detectar a presença de heteroscedasticidade é realizado por intermédio
dos testes Breusch-Pagan (BP) e Koenker-Bassett(KB). Ambos os testes são implementados no
GeoDa como testes de coeficientes randômicos, os quais assumem uma forma funcional específica
dada pelos quadrados das variáveis explicativas para heteroscedasticidade. Koenker-Bassett produz
essencialmente o mesmo resultado que o teste BP, exceto que os resíduos são padronizados, isto é,
eles são efeitos robustos para não-normalidade (Anselin, 2005). Os resultados obtidos por meio dos
testes BP e KB indicam heteroscedasticidade em cada uma das especificações. O teste de White é
um teste robusto de especificação para heteroscedasticidade, porém sem assumir a forma funcional
específica. Esse mesmo teste aproxima um grande número de possibilidades para todos os
quadrados e produtos cruzados das variáveis explicativas do modelo espacial. Os resultados obtidos
da aplicação do teste White confirmam a evidencia de heteroscedasticidade fornecida pelos dois
outros testes.
Nota-se que ambos os testes estatísticos LM-Lag e LM-error rejeitam a hipótese nula. De
fato, os valores de probabilidades (valores-p) nas quatro equações especificadas são significativos,
pois são menores que 0,05. Devem ser considerados os resultados dos testes das formas robustas
LM(lag) e LM(error). Nota-se, porém, que nenhum dos testes das formas robustas são
significantes. Neste caso, a escolha do modelo espacial depende da magnitude da significância dos
testes estatísticos LM-lag e LM-error. Comparando-se os valores de significâncias, conforme tabela
30, conclui-se que as significâncias dos LM (lag) são maiores do que as do LM (error), ou seja,
MM para as quatro equações, o que sugere que a estimação deve ser realizada pelo modelo lag
espacial.
19
Tabela 2: Crescimento econômico dos municípios do Estado do Pará: 1991-2000. Resultados
obtidos por MQO.
Variável Dependente: Ln da taxa de crescimento
da renda per capita
Sumário da Regressão Equação
(1)
Equação
(2)
Equação
(3)
Equação
(4)
Constante 0, 3664 0,2346 0,4069 0,4112 Valor-p (0,0000) (0,0003) (0,0000) (0,0000)
Renda91 -0, 0017 -0,0027 -0,0039 -0,0040 Valor-p (0,0004) (0,0000) (-0,0000) (-0,0000)
Escolaridade91 0,0474 0,1062 0,1026 Valor-p (0,0875) (0,0078) (0,0078)
Urbanização91 0,0025 0,0025 0,0026 Valor-p (0,0478) (0,0500) (0,0349)
Densidade91 (-0,00003)
Valor-p (0,8558)
Ctrans91 -0,00004 -0,00003 Valor-p (0,1506) (0,1523)
Transgov91 -0,0227 -0,0227 Valor-p (-0,0040) (-0,0039)
R² Ajustado 0, 08 0,14 0,17 0,18 Log Likelihood -3,5355 1,9545 6,6238 6,6064 AIC 11, 0709 4,0909 0,7524 -1,2127 SC 16, 9966 15,9423 21,4924 16,5644 Multicolinearidade (MCN) 4,6186 8,1113 14,2664 13,8516 Jarque-Bera (JB) 0, 6882 3,5929 5,2369 5,2753 Teste de Breusch-Pagan 0,1634 6,7361 17,0523 16,8911 Teste Koenker-Bassett 0,1903 7,2445 16,6673 16,4058 Teste de White (Robustez) 0,1909 9,9789 51,4241 45,5777 Diagnóstico de dependência espacial
Moran`I (error) 2,2417 2,5803 2,9870 2,9956 Valor-p (0,0249) (0,0098) (0,0028) (0,0027)
Lagrange Multiplier (lag) 4,8955 5,0156 5,6916 5,7089 Valor-p (0,0269) (0,0251) (0,0170) (0,0168)
Robust LM (lag) 0,8674 0,0089 0,0054 0,0058 Valor-p (0,3517) (0,9244) (0,9412) (0,9394)
Lagrange Multiplier (erro) 4,1799 5,4076 6,5889 6,6264 Valor-p (0,0409) (0,0226) (0,0102) (0,0100)
Robust LM (error) 0,1519 (0,4009) 0,9028 0,9232 Valor-p (0,6967) (0,5266) (0,3420) (0,3366)
Lagrange Multiplier (SARMA) 5,0474 5,4166 6,5943 6,6322 Valor-p (0,0802) (0,0667) (0,0369) (0,0363)
*Elaboração própria do autor a partir do software, Geoda. ** Valores p entre parênteses.
3.3. Análise dos resultados obtidos pelo modelo com lag espacial
Depois de completado o diagnóstico que sugeriu a escolha do modelo lag espacial, como o
mais adequado, apresentam-se os resultados obtidos da estimação por máxima verossimilhança do
modelo com lag espacial em quatro equações. Esses quatros modelos estimados apresentam bom
grau de adequação, o que atesta o ajuste do modelo teórico (11). As estimativas e todas as medidas
de aderência estão listadas na tabela 2.
20
Tabela 2: Crescimento econômico dos municípios do Estado do Pará: 1991-2000. Resultados
obtidos por MV do modelo com lag Espacial.
Discriminação
Variável Dependente: Taxa de crescimento da renda
per capita Equação (1) Equação (2) Equação (3) Equaçã0 (4)
Sumário da Regressão
W_TLNRENDAPC (ρ) 0,2537 0,2516 0,2610 0,2614 Valor-p (0,0237) (0,0224) (0,0164) (0,0158)
Constante 0,3082 0,1808 0,3545 0,3569 Valor-p (0,0000) (0,0056) (0,0001) (0,0000)
Renda91 -0,0016 -0,0025 -0,0038 -0,0038 Valor-p (0,0006) (0,0000) (0,0000) (0,0000)
Escolaridade91 0,0432 0,1005 0,0983 Valor-p (0,1074) (0,0076) (0,0025)
Urbanização91 0,0026 0,0027 0,0027 Valor-p (0,0314) (0,0318) (0,0205)
Densidade91 -0,00002
Valor-p (0,9080)
Ctrans91 -0,00004 0,00003
Valor-p (0,1279) (0,1279) Transgov91 -0,0229 -0,0228
Valor-p (0,0020) (0,0020)
Pseudo-R² 0,13 0,19 0,25 0,25 Diagnóstico da dependência espacial
LL -1,2278 4,3141 9,2680 9,2613
AIC 8,4545 -1,3717 -2,5361 -4,5227
SC 17,3431 16,1859 21,1667 16,2172
LIKR 4,6164 4,7192 5,2885 5,3099 Valor-p (0,0317) (0,0298) (0,0215) (0,0212)
BP 0,0647 6,1438 11,7307 11,5232 Valor-p (0,7992) (0,1048) (0,0682) (0,0419)
*Elaboração própria do autor, a partir do software, Geoda.
** Valores p entre parênteses.
Mas, antes de avançarmos na análise dos resultados, cabe uma palavra de precaução: é
tentador focar as medidas tradicionais das regressões convencionais, tal como o R² , para conferir o
grau de ajuste de um modelo econométrico de séries temporais; este procedimento não é apropriado
num modelo de regressão espacial. De fato, o valor do R² ajustado do modelo lag espacial não é o
valor do R² real, mas um Pseudo-R², o qual não pode ser diretamente comparado com o valor do R²
real do MQO, isto porque o Pseudo-R² é a razão entre a variância dos valores preditos e a variância
dos valores observados. 34
As medidas de ajustes (aderências) dos modelos de MV são: o Log-Likelihood (LL), AIC e
SC. Neste caso, nota-se uma melhoria dessas medidas com o LL aumentado de 6,6238 (MQO) para
9,2680 (MV). Compensando a melhoria da aderência da variável adicionada (variável dependente
espacialmente defasada), o valor do AIC decresce de 0, 7524 (MQO) para -2, 5361(MV) e o valor
do SC também decresce de 21, 4924 (MQO) para 21, 1667 (MV).
0s valores dos coeficientes dos testes da razão de verossimilhança (LIK) são todos
positivos e significativos em todos os modelos lag espaciais estimados, o que corrobora com os
resultados obtidos dos testes do Multiplicador de Lagrange de que, realmente, o modelo lag espacial
está bem especificado. Os coeficientes W_TLNRENDAPC representam os valores de ρ da equação
(9). Esses valores são positivos e significativos nas quatro especificações. Isto implica que o
crescimento econômico dos municípios paraenses envolve algum tipo de externalidade espacial. Em
34
Griffith (1992, p.348-350).
21
outras palavras, isto quer dizer que o crescimento econômico de um determinado município do Pará
depende do crescimento de municípios vizinhos contíguos, o que sugere a presença de
externalidades que afetam o crescimento econômico por meio dos efeitos spillovers (efeitos
transbordamentos).35
Há uma melhoria na significância das variáveis do modelo lag espacial estimado por MV
em comparação a significância das variáveis do modelo clássico estimado por MQO – com exceção
da significância da densidade91 –, mas a significância da variável Transgov91 melhora passando de
p < 0, 0004 (MQO) para p < 0, 0002 (MV). A magnitude dos coeficientes das variáveis
explicativas, consideradas no modelo econométrico lag espacial, apresenta-se decrescente em valor
absoluto. No modelo lag espacial, os coeficientes que foram significativos a 5% são apresentados a
seguir:
(a) Taxa de crescimento da renda per capita dos municípios dos Pará entre 1991 e 2000
(ρ) – os coeficientes desta variável explicativa defasada espacialmente apresentam sinais positivos,
o que sugere que um aumento da taxa de crescimento da renda per capita de um município do Pará
tende a influenciar positivamente as taxas de crescimento econômico de seus vizinhos. Os
resultados do modelo revelam que o padrão de crescimento econômico dos municípios paraenses
incorpora os efeitos de spillovers espaciais. De fato, a taxa de crescimento econômico de uma dada
cidade do estado do Pará depende das taxas de crescimento econômico das vizinhas. Na equação
(3), por exemplo, para uma taxa de crescimento econômico de 1% de uma dada cidade paraense,
0,26% advém das cidades vizinhas.
(b) Nível da renda per capita em 1991 (Renda91) – os coeficientes da renda per capita dos
municípios paraenses, em 1991, são negativos e significativos às quatros equações. Isto sugere que
as cidades dos municípios do Pará, com menores níveis de renda per capita, tendem a crescer mais
do que àquelas cidades com maiores níveis de renda per capita. Na equação (3), por exemplo, 1%
de crescimento econômico das cidades com maiores níveis de renda per capital crescem 0,0038% a
menos que os municípios de renda per capita menores.
(c) Número médio de anos de estudos das pessoas de 25 ou mais anos de idade
(Escolaridade91 - grau de escolaridade como proxy do capital humano) – os coeficientes dessa
variável explicativa, que representa o capital humano, apresentam sinais positivos e significativos.
Isto significa que o capital humano é uma variável explicativa importante para o crescimento
econômico dos municípios do Pará. De fato, os municípios paraenses que possuem níveis de capital
humano mais elevado, por certo, tendem a crescer mais rápido. Isto porque, segundo Lucas (1988),
o investimento em capital humano tem três efeitos: o primeiro é melhoria da produtividade dos
indivíduos; o segundo é a crescente melhoria da qualidade de mão-de-obra que se reflete na
formação de indivíduos capazes de gerar inovações que melhoram a qualidade de vida da
população; e o terceiro é que cidades com maiores níveis de capital humano tendem a atrair
investimentos de empresas que utilizam tecnologias avançadas. Por outro lado, as empresas
estabelecidas são propensas a adotarem inovações tecnologias se há trabalhadores altamente
capacitados. Além disso, o capital humano representado pela variável proxy também reflete o efeito
do capital humano nos municípios vizinhos, isto é, os efeitos dos knowledge spillovers que são
importantes para o crescimento econômico.
No entanto, os municípios com baixos níveis de capital humano não conseguem incorporar
os efeitos do progresso técnico e acabam tendo baixa taxa de crescimento econômico. Por isso, um
município paraense que possua uma vizinhança com bom nível de capital humano cria as condições
à troca de idéias e a difusão de tecnologias que favorecem o desempenho econômico dessa região.
Pela equação (3), por exemplo, uma taxa de crescimento econômico de 1% de um município
paraense implica numa contribuição de 0,10% de capital humano. Isto significa que é preciso mais
investimento em educação municípios do Pará para que haja uma melhoria na formação de capital
humano.
35
Oliveira (2005, p.330).
22
(d) Taxa de urbanização (Urbanização91) – os coeficientes de urbanização são positivos e
significativos, e mostram que municípios paraenses que mais crescem são àquelas de níveis de
urbanização altos. Os resultados obtidos apóiam os argumentos teóricos de Jacob (1969) da
importância da aglomeração urbana como fator estimulador do crescimento econômico das cidades.
De fato, as economias de aglomeração urbana promovem ampliam as trocas de idéias e as
experiências entre trabalhadores e os indivíduos em geral que acabam facilitando o aprendizado. O
aumento da taxa de urbanização de um município, também, causa efeitos espaciais positivos nos
municípios vizinhos, uma vez que uma vizinhança urbanizada pode gerar sinergias positivas que
facilitam as transferências de conhecimentos e a difusão de inovações tecnológicas entre cidades.36
Na verdade, há uma complementaridade positiva entre o capital humano e a urbanização que
potencializa o crescimento econômico das cidades. Glaeser & Maré (1994) afirmam que o espaço
urbano potencializa a acumulação do capital humano nas cidades porque aumenta as trocas de
idéias e experiências entre os indivíduos urbanizados ao longo da vida e, assim, formam indivíduos
mais bem capacitados para assimilarem mais facilmente novos conhecimentos.
(e) Densidade demográfica (Densidade91) – o coeficiente desta variável explicativa na
equação (3), como uma proxy que capta os efeitos das economias de localização e do
congestionamento urbano, se revelou negativo e não-significativo. Isto indica que o crescimento
econômico dos municípios do Pará ainda não estão sujeitos aos efeitos negativos das economias de
localização e das deseconomias de congestionamento. De fato, na presença de fortes economias de
localização e de congestionamento, os coeficientes negativos da densidade demográfica sugere que
as maiores densidades demográficas resultam em taxas de crescimento econômico menores. Isto
porque, o aumento da densidade demográfica de um município está associado a problemas de
congestionamento de transito, poluição e criminalidade, que funcionam como externalidades
negativas que acabam reduzindo a produtividade dos trabalhadores e, portanto, o crescimento
econômico da região e de sua vizinhança por meio do efeito multiplicador espacial.
(f) Custo de Transporte (Ctrans91)– os coeficientes desta variável explicativa, uma proxy
que capta os efeitos do capital social básico (infraestrutura física de transporte), apresentaram-se
negativos e não-significativos. Segundo Hirschman (1961), os investimentos em capital social
básico são importantes como atrativos de empresas para as cidades porque rebaixam os custos das
economias externas. No caso do Pará, entretanto, o aumento dos custos de transportes entre os
municípios, principalmente devido às péssimas condições de tráfegos das estradas durante o período
chuvoso, afeta negativamente os investimentos das empresas.
(g) Transferências intergovernamentais (Transgov91)– os coeficientes desta variável
explicativa, que é uma proxy que capta o efeito da política de transferência intergovernamental de
recursos do Governo Federal para os municípios visando financiar os investimentos públicos
promotores do crescimento econômico, revelaram-se negativos e significativos. Os resultados
obtidos vêm acentuar a importância complementar das transferências intergovernamentais no
crescimento das cidades.
Na equação (3), por exemplo, a taxa de 1% do crescimento econômico de um município é
reduzida de 0,02%. Isto porque, além do pequeno volume de recursos transferidos, os municípios
recém-criados não dispõem de registros estatísticos em 1991, o que pode ter contribuído para este
viés de especificação. Outra explicação consiste no fato de que as transferências do Governo
Federal reduzem o esforço fiscal no sentido do aumento de receitas tributárias próprias.37
Quando o
governo provê os serviços públicos – tais como escolas, universidades, postos de saúde, hospitais,
estradas e energia elétrica –, estes afetam positivamente o crescimento econômico dos municípios
em geral. Isto ocorre porque os investimentos públicos realizados em infraestrutura econômica e
social aumentam a produtividade das empresas e melhoram a qualidade de vida dos trabalhadores
dos municípios e vizinhos envolvidos – o que acaba promovendo o crescimento econômico de toda
a região e não apenas de um município isolado.
36
Glaeser & Mare (1994); Henderson (1986). 37
Carvalho (2008).
23
Considerações finais
A revisão da literatura teórica e empírica confirma a importância atribuída pelos
economistas das teorias de crescimento endógeno, sobretudo Robert Lucas e Paul Romer, ao capital
humano e a urbanização na geração e propagação de externalidades positivas nas cidades. Ambos
os fatores são relevantes à criação e replicação de knowledge spillovers para o crescimento
econômico não apenas de um município, mas também de sua vizinhança. Não menos importantes
são as externalidades que são criadas pelos investimentos em capital social básico, sobretudo os
investimentos realizados em infraestrutura econômica (energia e transporte) e infraestrutura social
(educação e saúde), como se refere Albert Hirschman e Gunnar Myrdall.
Merece destaque, também, a contribuição dada pela nova geografia econômica, através de
dois dos seus principais representantes, Paul Krugman e Masahisa Fujita, sobre a importância da
localização das cidades. Porém, a contribuição teórica de destaque, que balizou o desenvolvimento
da dissertação, foi à teoria do crescimento das cidades de Jane Jocobs. No campo da literatura
empírica, as contribuições de Edward Glaeser e Luc Anselin merecem destaque.
A análise de resultados identifica a presença de externalidades positivas para a variação da
taxa de crescimento da renda per capita e realça a relevância dos papéis do capital humano e do
grau de urbanização no processo de knowledge spillovers para um município e de sua vizinhança.
Os resultados do modelo revelam que o padrão de crescimento econômico dos municípios
paraenses incorpora os efeitos de spillovers espaciais. De fato, a taxa de crescimento econômico de
um dado município paraense depende das taxas de crescimento econômico dos municípios vizinhas.
O coeficiente da variável explicativa denominada nível de escolaridade, que representa o
capital humano, apresentou sinais positivos e significativos. Isto significa que o capital humano é
uma variável explicativa importante para o crescimento econômico dos municípios do Estado do
Pará. De fato, os municípios paraenses que possuem níveis de capital humano mais elevado, por
certo, tendem a crescer de maneira muito mais rápida. Percebe-se que o município paraense que
possuí uma vizinhança com bom nível de capital humano cria as condições à troca de idéias e a
difusão de tecnologias que favorecem o desempenho econômico mais produtivo nesta região. Já
taxa de urbanização paraense se mostrou um coeficiente muito importante para esta análise, pois os
resultados foram positivos e significativos, demonstrando que municípios paraenses que mais
crescem são àquelas de níveis de urbanização mais elevados.
No que diz respeito a variável explicativa, densidade demográfica, como uma proxy que
capta os efeitos das economias de localização e do congestionamento urbano, se revelou negativo e
não-significativo. Isto indica que o crescimento econômico dos municípios analisados não estão
sujeitas aos efeitos negativos das economias de localização e das deseconomias de
congestionamento. Isto porque, o aumento da densidade demográfica de um determinado município
está associado a problemas de congestionamento de transito, poluição e criminalidade, que
funcionam como externalidades negativas, que acabam reduzindo a produtividade dos trabalhadores
e, portanto, o crescimento econômico da região e de sua vizinhança por meio do efeito
multiplicador espacial.
Os coeficientes da variável, custo de transportes, uma proxy que capta os efeitos do capital
social básico apresentaram resultados negativos e não-significativos. No caso do Pará o aumento
dos custos de transportes entre os municípios, principalmente devido às péssimas condições de
tráfegos das estradas durante o período chuvoso, afeta negativamente os investimentos das
empresas, a logística da mesma, e o escoamento dos seus produtos. Já para o coeficiente que
representa a variável, transferências governamentais, os resultados obtidos acentuaram a
importância complementar das transferências intergovernamentais no crescimento dos municípios
paraenses. Além disso, os resultados da aplicação dos testes de Índice de Moram confirmam as
relações de dependência espacial entre os municípios paraenses e destacam, através da análise dos
quatro quadrantes, os tipos de relações de crescimento econômico. Os testes t sobre os parâmetros
da equação especificada mostraram-se significativos a 5% de erro de probabilidade. A matriz de
pesos escolhida para regressão de MQO foi à matrix rook contiguity (matriz de contigüidade) por
24
ser a mais utilizada pelos pesquisadores e melhor adequada aos propósitos da dissertação. Uma vez
identificada a presença de autocorrelação espacial, o passo seguinte foi identificar qual o modelo
espacial mais adequado.
Os testes de robustez definiram o modelo de lag espacial por máxima verossimilhança
(MV) como o de melhor aderência. Diferente da estimação por MQO que, na presença de
autocorrelação espacial, apresentam resultados ineficientes e viesados, os resultados obtidos por
intermédio de MV são assintoticamente eficientes e não-viesados. O teste de razão de
verossimilhança para a presença de lag espacial é significativo para todos os modelos estimados, o
que colabora com o uso do teste de multiplicador de Lagrange. O valor da variável defasada ρ é
significativo em todos os modelos estimados, o que implica que o crescimento econômico dos
municípios do Pará envolve algum tipo de externalidade espacial, ou seja, quer dizer que o
crescimento econômico de um município depende do crescimento dos municípios vizinhos. As
quatro equações do modelo de regressão lag espacial revelaram os valores R² superiores aos obtidos
por MQO, embora estes valores não possam ser comparados, uma vez que se trata de um pseudo-
R². No modelo econométrico lag espacial, os coeficientes das variáveis explicativas mostraram-se
significativos, com os valores-p ficando abaixo de 5%.
Os coeficientes do grau de escolaridade apresentaram sinais positivos e significativos. Isto
quer dizer que o capital humano é uma externalidade importante para o crescimento econômico no
Estado do Pará. Além disso, a externalidade do capital humano num dado município propaga os
seus efeitos de knowledge spillovers para a sua vizinhança. Os coeficientes da taxa de urbanização
são positivos e suas estatísticas significativas a 5% de probabilidade, o que comprova
empiricamente que os efeitos de aglomeração urbana para o crescimento econômico das cidades dos
municípios de acordo com a teoria das cidades de Jane Jacobs. Os coeficientes obtidos da variável
densidade demográfica, que captam as externalidades de localização e o congestionamento urbano,
revelaram-se negativos e não-significativos.
Os coeficientes da variável custo de transporte revelaram-se negativos e não-significativos,
isto significa que, embora o aumento dos custos de transportes afete negativamente o crescimento
de um município, não há razões que significativas para tal associação no caso das cidades dos
municípios do Estado do Pará. Por fim, os coeficientes das transferências intergovernamentais
revelaram-se negativos e significativos, o que significa que as transferências governamentais não
exercem uma influência positiva para o crescimento das cidades dos municípios paraenses se não
forem aplicadas em investimentos de capital social básico.
Portanto, é nítida a importância das teorias de crescimento endógeno, já que elas oferecem
uma explicação às diferenças do crescimento econômico dos municípios paraenses, embora uma
parte da teoria não tenha sido testada empiricamente. Neste sentido, a econometria espacial
mostrou-se uma ferramenta de muita utilidade para a realização dos testes empíricos de verificação
de teorias espaciais de crescimento econômico, principalmente na análise direcionada ao Estado do
Pará.
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