internacional - extremos · uma forma diferente. que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo...

10

Upload: lenguyet

Post on 10-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir
Page 2: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

www.m

ountainvoices.com.br

03

ALESSANDRA ARRIADA | RS

Internacional

Desfrutar a vida significa para muitos ter um dia adia normal, sentar com a família para almoçar eter desafios profissionais interessantes. Para ou-tros ter um conta bancária gorda, um trabalho euma família legal sem complicações. Ou aindasimplesmente ter um dinheiro no final do mês euma praia para tomar uma cerveja comtranquilidade de vez em quando. Tranquilidade,segurança, felicidade, são conceitos. Subjetivos,individuais, conceitos.Mas muitas pessoas percebem em um certo mo-mento de sua vida que precisam apreciar tudo deuma forma diferente. Que precisam se misturar,vivenciando e aprendendo tudo de mais perto.Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá,se despir de todas as ideias e costumes e experi-mentar entendimentos únicos de como é estarnaquele lugar, com aquelas pessoas e daquelejeito. E para isso, é preciso viajar.Quem gosta da montanha indiscutivelmente gos-ta dessa satisfação. A de buscar explorar e conhe-cer infinitas possibilidades. A de apreciar o novo,se maravilhar diante de um lugar incrível de es-calada e observar quem mora no local, comoescala, o que usa, o que pensa e fala, conhecer acultura e levar sempre um pouco para si deixan-do mais ainda para quem fica. A troca, o desafiode se tornar mais um no meio de tanta gente, deestar sem ninguém conhecido por perto e de es-tar aprendendo tudo novo.Estar em um novo lugar significa começar denovo, se testar de novo, seja em uma nova via,seja em uma nova situação.E há quem consiga e quem escolha viver assim,dia após dia. Seja por facilidades econômicas,situação cultural, patrocinadores, estilo de vida,determinação, não importa. Há quem largue tudoe opte pela busca do simples. Escalar todos osdias em lugares diferentes, com pessoas diferen-tes, sem casa, sem supermercado no fim do mês,sem décimo terceiro nem conta de luz.

O casal de escaladores Joey Kinder e ColetteMcInerney, americanos, ele de New Hampshiree ela de Nashiville, escolheram ‘the climbingway of life’ e vivem na estrada em busca dosmelhores spots, melhores imagens e melhoresmomentos de suas vidas.Ambos patrocinadospor Fiveten, Gregory Packs, Petz, SterlingRopes, Verve, Metrolius, Nutriex e outros, figu-ram entre os melhores escaladores da atualida-de, dividindo seus dias com Dave Graham eLuke Parady.Joey começou a escalar com 13 anos em EstesPark quando viajava com a família, não paran-do até seu 5.14d. Patrocinado há mais de dezanos, tornou-se atleta com 20, e vive viajandohá 5. Os amigos e colegas sempre o definiramcomo obcecado e extremamente motivado e,além de ótimo escalador, se tornou artista gra-duado na Escola de Arte de Maine, com espe-cialização em pintura. Mas além da pintura oque realmente lhe impressiona são as imagens,fotografias e vídeos. Joey produz pequenos fil-mes de suas incursões pelo mundo e ele e suanamorada editam maravilhosas fotos e textosonde vão relatando seus ideais e experiênciase os locais de escalada por onde passam emseus sites pessoais.Colette teve uma infância eclética de pais pou-co usuais que cedo a fizeram imaginar o quan-to uma vida pode ser aproveitada, assistindo ashows de rock e fazendo aulas de yôga. Mas foiao viajar para a Europa para visitar parte desua família que ficou apaixonada pelo estilode vida livre e confirmou a necessidade de semisturar ao invés de tentar se ajustar ao dife-rente. Colette tem 29 anos mas parece estar noauge de seu momento como escaladora, parti-cipando de campeonatos, viajando e estandoentre as melhores atletas com Daila Ojeda,Jennifer Vennon, Nina Caprez, Charlote Duriffe todas as outras, estando no time da Petzl eFiveten.

Eles se conheceram escalando, compraram umcarro e foram conhecer países como Alemanha,França, Espanha, Áustria e Suécia. Entre os com-promissos com os patrocinadores, eles fecham amochila, abrem a barraca e estacionam em umoutro lugar. Dali ficam alguns dias, registram tudo,trabalham para algumas marcas de esportesoutdoor e viajam novamente. No caminho vãose juntando com outros escaladores ouglobetrotters, mochileiros ao redor do mundo,como o próprio Dave Graham, Emily Harringtone Sasha DiGiuliam. Ou ainda partem de um fes-tival na China diretamente para um casa alugadaem Red River George com um grupo de amigospara escalar e descansar full-time. Jogam dominó,escrevem no computador, conversam, esperam achuva passar e..adivinhem...escalam.Para quem acha arriscado viver de maneira tãointensa porém instável, Joey diz que não vê ou-tra maneira de seguir aquilo que acredita a nãoser investir inteiramente no que ele respira e viveque é a escalada, e que, dessa forma, não hácomo não dar certo. Vivendo um mês em cadalugar ele diz ter como objetivo escalar o maiornúmero de vias e visitar o maior número de luga-

res humanamente possíveis e que se considerauma pessoa extremamente afortunada por con-seguir alcançar esse objetivo. Para ele, não há amenor possibilidade de enjoar desse estilo devida, ainda mais tendo Colette como compa-nheira inseparável nessa vida de esforço.Para cada realidade, há uma possibilidade, oestilo e a maneira como cada um decide levar asua vida é o que menos importa. Mas saber quehá algo do lado de fora, saber que há um mundoa ser explorado cheio de ideias bem diferentesda nossa talvez nos torne pessoas mais conscien-tes de nossas próprias limitações, mais humildes.E vez ou outra explorar este mundo, desapegan-do dos problemas terrenos, das contas, do traba-lho e demais emoções, ou da mesma pedra quea gente vai todo final de semana, nos torna comcerteza escaladores melhores, se não em gradu-ação, em postura, em amizade, em respeito, emsatisfação. Nos ensina a aprender com o novo, enão a ter medo dele. E nos deixa além da expe-riência, muita história boa para contar.

Collete

Page 3: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

www.m

ountainvoices.com.br

04 indoor

www.m

ountainvoices.com.br

05

ANDRÉ BEREZOSKI| SP

Com vários anos de Campeonato Brasi-leiro, muitos casamentos entre Estados,Federaçõese ginásios pelo Brasil, nosdois últimos anos o Campeonato Brasi-leiro de dificuldade ficou quase órfão, maspara mudar esta situação e para salvaresta importante competição foi dada peloorganizador e escalador entusiasta depaixão, Yan Ouriques, proprietário do gi-násio Rokaz, em Belo Horizonte, a seguin-te afirmação:“Prefiro o desgaste e o sacrifício em orga-nizar um evento deste porte a ter que re-cordar após anos que houve uma lacunatremenda para a história do CampeonatoBrasileiro”.Este argumento é mais que suficiente parauma nova arrancada geral no cenário dascompetições no Brasil, uma vez que essecampeonato chegou a ter o “recorde incrí-vel” de 4 participantes no masculino. A ne-cessidade de se levar adiante o esporte,levou a “mãe solteira” a dar os primeirospassos novamente.O Campeonato Brasileiro já passou pelaexcelente fase de contar com quatro eta-pas, divididas entre vários estados, comum número bem significativo de participan-tes, que girava na média dos 40escaladores no masculino e 25 no femini-no, grandes eventos em locais de imensadivulgação e ótimo acesso ao público emgeral; mas como a escalada no Brasil émarcada estatisticamente por ciclos dealtos e baixos, houve um período onde o“baixo” chegou a ser muito inferior a umasituação ruim. Creio que esta fase ruimpassou, pois nos dois últimos anos, gra-ças à iniciativa do ginásio Rokaz, houvequem levantasse em mãos o título decampeão(ã) brasileiro(a) de dificuldade,mesmo acontecendo em etapa única, oque para os competidores pode se tradu-zir em ter que estar presente e contar coma sorte em uma única chance.2010 e 2011, a Rokaz realizou dois even-tos de primeira, revelando novos campe-ões (ãs) nacionais, escaladores que fize-ram por merecer, treinando e competindopor vários anos insistentemente. Mesmoficando em colocações baixas em suasprimeiras experiências, nunca desistiram,e assim como todos que chegaram a tereste título, passaram por frustrações e ale-grias gradativas até atingir o topo do pódio,situação bem diferente presenciada atu-almente, onde quem se propõe a compe-tir só entra se houver uma chance real deestar entre os três primeiros, caso contrá-rio preferem não se expor, levando as com-petições para um lado de status e não dereconhecimento e trabalho árduo pelo ca-minho percorrido. Em 2010 revelou EricTeles e Thaís Makino como dois melho-res exemplos de determinação e motiva-ção pelas competições, levantando o

caneco de campeões brasileiros nesteano.Em 2011, a Rokaz mais uma vez foi palcodeste grande espetáculo da escalada na-cional, e mais um ano foi marcado pelaapresentação de mais um nome na listade campeão nacional, Felipe Camargo,que após ter vencido a maioria das com-petições este ano, sagrou-se finalmentevencedor deste título que desde os seus14 anos já almejava, mais um exemplo defoco direcionado no que se propôs a al-cançar. E por falar em exemplo, JanineCardoso realizou uma prova excepcional,sendo a única a completar a semifinal, (1ªvia dos homens, onde houve poucascadenas) garantindo assim seu oitavo tí-tulo nacional após empatar com ThaísMakino na final. O desempate veio pela viaanterior, na qual demonstrou que mesmoapós tantos anos escalando e competin-do, a motivação e a paixão pelo esporte aelevam a níveis inimagináveis.O nível deste ano estava altíssimo, umavez que estavam presentes nomes depeso que competem no circuito internaci-onal, como Cesar Grosso, FelipeCamargo, Janine Cardoso, Thais Makino,Jean Ouriques, Anna Shaw. O ajuste finodas vias montadas foi de deixar em algunsgraus acima da média das últimas com-petições, e minha participação neste cam-peonato foi a de apresentar vias que pu-dessem ser disfrutadas pelosescaladores, sem deixar de apertar fre-quentemente mas, ao mesmo tempo, comum atrativo diferenciado para o público:movimentos mirabolantes, dinâmicos e,de certa forma, até circenses fizeram par-te do espetáculo, onde quem competiu edigladiou pelo título fez o público suar asmãos e levantar a torcida a cada movimen-to. Foi uma competição acirrada até os últi-mos segundos e aliado ao imenso espe-táculo de luzes, som, estrutura e, acimade tudo, uma organização impecável daequipe Rokaz, tudo ocorreu perfeitamen-te, dentro do cronograma. Um ponto muitoimportante foi o focovoltadopara as cate-gorias de base, ao mesmo tempo em queaconteciam as provas dos escaladorestops, competidores amadores tambémdisputavam o mesmo título em diversascategorias de base, e um festival de toprope apresentava para os mais novosadeptos da escalada um mundo novo eempolgante das competições. Fato que,sem sombra de dúvida, influencia, e mui-to, as novas gerações de competidores.Mesmo com a estagnação da escaladade competição ou, pelo menos, com pou-cas ou apenas uma etapa, o mais impor-tante é a iniciativa privada de continuar aescrever a história das competições noBrasil sem deixar páginas ou anos embranco e,quem sabe, para 2012 direcionarmais para as competições de Boulder,

Brasileiro de 2011Um evento filho único, de uma mãe solteira

uma vez que sefomentou muito em nú-mero de eventos e de praticantes esseano de 2011. Organizar um circuito naci-onal de Boulder já está sendo bravamen-te discutido e a exemplo de todos os pa-íses que sediam competições de esca-lada, existir circuitos independentes deBoulder, dificuldade e até mesmo veloci-dade, é estar em sintonia com a organi-zação mundial para que a nova geraçãotambém leve o nome do Brasil para com-petições no exterior e que tudo leve emdireção para a escalada estar de umavez por todas nos Jogos Olímpicos.Para isso tudo acontecer, é muito impor-tante deixar claro que uma entidade sozi-nha não faz tudo, é preciso um movimen-to e uma mobilização geral, desde asso-ciações, federações, clubes, ginásios e,principalmente, gente com novo ânimopara fazer parte das entidades já exis-tentes que tanto faz para o esporte, masque precisam de reforços reais ajudan-do fisicamente na parte de organização.Pessoas dispostas a agregar todo co-nhecimento do que já foi feito até então econtinuar este trabalho que definitiva-mente é muito cansativo e por muitas ve-zes desmotivante. Aos escaladores, maisincentivo em estar presentes nos even-tos, entender que como tudo que é feitono Brasil pela escalada é sempre com-plicado, e por muitas vezes não satisfaza todos os competidores, lembrar-se dainiciativa já é um grande passo, deslo-car-se hoje em dia até outro Estado paracompetir já não é mais desculpas comtantas passagens aéreas tão baratas, oescalador de 15 anos atrás sequer tinhaesta opção, nem o poder aquisitivo que amaioria possui, ainda assim, passáva-mos o mês todo, todos os finais de se-mana, enfurnados no ônibus, rodando deEstado a Estado, competindo em pare-des simples, isolados em banheiros deshoppings por até 10 horas, mas com amotivação por encontrar velhos amigose lutar por um título era o força motorapara tanto sacrifício.Espero que este ano de 2012 seja re-cheado de eventos, competições e que aescalada esportiva de competição tenhavários pais adotivos. E a todos osescaladores, montanhistas, muito obri-gado pelo apoio durante o ano e feliz2012.Adendo da matéria sobre o SumbaBoulder (edição 122). Nos agradecimen-tos às empresas que fizeram o eventoacontecer, por uma falha na lista, faltoumencionar a empresa AltoEstilo, queapoiou imensamente ao evento, e comofoi citado no texto, uma das empresas deescalada de raiz, que tem um compro-metimento fiel com a escalada eescaladores, nosso muito obrigado àEquipe Alto Estilo Equipamentos.

Page 4: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

06

www.m

ountainvoices.com.br

07

www.m

ountainvoices.com.br

LUCIANO FERNANDES | SP

Assistir a um filme com temática outdoornos dias de hoje não é nenhuma novida-de, ao menos para quem pratica estesesportes. Com equipamentos de filma-gem modernos a preços acessíveis, euma comunidade efervescente de“videomakers” em câmera DLSR(câmeras profissionais de fotografia) aquantidade de filmes está cada vez maispopular.Como característica principal de um filmeassim é o retrato do espírito dos protago-nistas que realizam à sua maneira o es-porte retratado. Não é necessariamente aexibição do esporte e sim a tentativa decompartilhar de maneira quase sensorialalgum acontecimento O principal que é re-tratado é o espírito humano e os motivosque fazem buscar aquela determinadaaventura. É aí neste ponto que se distin-gue um documentário de esporte de umfilme outdoor.Ainda desconhecido do grande públicobrasileiro, os filmes de cultura de monta-nha e natureza extrapolam muito mais queum simples gênero documentário. Hojeeste tipo de gênero já possui linguagemprópria. Esportes como escalada,Mountain Bike, Snow boarding, Surf, Expe-dições, Trekking e muitos outros, ligadosà atividade de natureza já possuem circui-to de exibições e lançamentos periódicosde DVD e BluRay para comercialização.As principais marcas deste segmentoapóiam e patrocinam com grande entusi-asmo, recém criadas produtorasespecializadas no gênero.Com o crescimento deste nicho inúme-ros festivais para celebrar este tipo de gê-nero para que todo o público alvo pudes-se, além de se encontrar, assistir aos últi-mos lançamentos. A conseqüência dissofoi o surgimento desenfreado de festivais,e a natural necessidade de padronizar ealinhar o calendário de todos eles.Com esta idéia de alinha todos em ter-mos de conteúdo, formato e calendárioque foi criado o International Alliance forMountain Film em Fevereiro de 2000, queé um tipo de “sindicato” para que houves-

Não é segredo para ninguém que já se foio tempo de que assistir um vídeo de esca-lada era algo raro. Os pouquíssimos títu-los disponíveis se resumiam aos já clás-sicos “Master of Stone”, e distribuídos emfitas VHS, e envolvia toda uma logísticaparticular para compra e entrega. No Bra-sil os filmes mais tradicionais e que mos-tram verdadeiras lendas vivas da escala-da brasileira (de comportamento, posturae feitos) é a coleção Lobotomia.Fazendo uma análise mais minuciosa darealidade atual há de concordar que ape-sar do saudosismo, e da nostalgia queenvolve estes vídeos, a qualidade de ima-gem e edição não eram exatamente pri-morosas. Possivelmente por ter várias di-ficuldades como logística e preço do equi-pamento os títulos, e produtoras, de filmesde escalada eram poucos. Até mesmo osrecursos para a edição eram caros alémde tecnologia complexa se comparadacom a disponível hoje.Nos últimos anos os filmes de atividades

outdoor em geral tiveram um crescimen-to de títulos e produtoras impulsionadopelo barateamento e modernização dacaptação e edição de imagens. Hoje hágrandes produtoras de vídeos de escala-da (como a Sender Films) e produtoresindependentes já reconhecidos e comuma linguagem própria (Chuck Fryberger)com lançamentos periódicos quearrebanham cada vê mais patrocinado-res para suas produções.A conseqüência disso é a multiplicaçãode festivais, e mostras, de filmes Outdoorno mundo tudo. Todos, diga-se, de quali-dade, e ainda com pouca importânciadada pela maioria mídia especializadaoutdoor aqui no Brasil, muito por ser umanovidade relativamente recente.Com a velocidade de banda de internetaumentada e a criação de sites de vídeocomo o youtube e Vimeo muitosvideomakers anônimos tiveram a suachance de realizar e exibir suas peque-nas produções. Outrora praticamenteinexistente, hoje é muito fácil encontrarfilmes e vídeos produzidos que sãodisponibilizados para a exibição (e atémesmo download) na internet.Para quem deseja criar a sua filmoteca, osite iClimb (http://www.iclimb.com/) foi cri-ado com o fim de disponibilizar títulospara o público interessado. Ou seja, emmédia por cerca de aproximadamente 20dólares existe a possibilidade de fazerdownload e assistir em HD (alguns atémesmo em Full HD) os últimos vídeos deescalada disponíveis. Há uma variaçãomuito grande, porém o tamanho dos fil-mes fica entre 1gb a 2gb.O volume de filmes disponíveis é muitogrande. Os principais lançamentos queaté mesmo fazem parte de festivais defilmes Outdoor (como o Rocky Spirit emSão Paulo e Banff World Tour no Rio deJaneiro) podem ser baixados pelo site ouaté mesmo no site das produtoras. Umadas desvantagens de quem não idiomanenhum idioma estrangeiro (em geral asproduções são realizadas em Inglês) éde que os filmes na sua grande maiorianão possuem legendas.Mesmo com toda a facilidade de acesso

LUCIANO FERNANDES | SP

se um alinhamento de idéias, datas deexibição e tipos de filme a serem exibi-dos.Hoje no total fazem parte do calendário doInternational Alliance for Mountain Film 19datas oficiais. Alguns festivais tambémconsiderados de destaque como oMountain Film Telluride nos EUA (que tevea exibição de alguns de seus filmes noRocky Spirit realizado em São Paulo) ou oFestival de Filmes de Montanha do Rio deJaneiro (que exibe os vencedores do fes-tival do Canadá com o Banff World Tour)não fazem parte da aliança.Vale a observação para os realizados noBrasil : o Rocky Spirt não pode ser consi-derado em sua essência um festival, poisapenas exibe filmes já premiados, e nãopossui , ainda, uma premiação por algumjúri especializado. O mesmo se aplica ao“Reel Rock Tour”, que está sendo progra-mado para uma etapa brasileira no anoque vem em São Paulo, nele apenas sãoexibidos filmes. O Festival do Rio de Ja-neiro ainda possui dias bem distintos, e acada ano altera sua formula, apesar desempre haver premiações para filmesparticipantes.Em termos práticos nada muda na quali-dade, ou importância de um festival fazerou não parte da International Alliance forMountain Film. Porém fazendo parte des-ta aliança há ao menos a certeza de queos filmes não serão exibidos em umamesma data, por exemplo. Uma outra van-tagem é de que há o compromisso de pre-zar pelo futuro e qualidade dos filmesoutdoor produzidos, tendo até mesmo ummuseu mantida pela associação.Fazendo um paralelo com os filmes co-merciais, a premiação nestes festivais háum peso, ao menos em glamour, para fil-mes premiados nos festivais daInternational Alliance for Mountain Film.Considerado como dos mais importan-tes, talvez por ser um dos primeiros (des-de 1974) o festival de Banff no Canadá sedestaca. Logo atrás estão festivais igual-mente reconhecidos como KendalMountain Film Festival e Festivalinternazionale film della montagna diTrento.

Festivais de filmes outdoor pelo mundo

Nome do Festival Ano de Criação Cidade País Data Realização

Festival International du Film de Montagne 1984 Autrans França DezembroBanff Mountain Film Festival 1976 Banff Canadá NovembroInternational Film Festival for Mountains 1998 Bansko Bulgaria NovembroInternational Mountain Film Festival Dom•ale 2007 Dom•ale Eslovênia AbrilDundee Mountain Film Festival 1983 Dundee Escócia NovembroInternationales Berg und Abenteuer Filmfestival 1986 Graz Austria NovembroKathmandu International Mountain Film Festival 2000 Kathmandu Nepal DezembroKendal Mountain Film Festival 1980 Kendal Inglaterra NovembroFestival International du Film Alpin Les Diablerets 1969 Les Diablerets Suíça SetembroFestival dei Festival 1993 Lugano Suíça JunhoMoscow International. Festival 1996 Moscou Russia AbrilMedzinárodný Festival Horských Filmov Poprad 1993 Poprad Eslováquia OutubroTaos Mountain Film Festival 2001 Taos EUA OutubroInternationalen Bergfilm-Festival Tegernsee 2003 Tegernsee Alemanha OutubroMezinárodni Horolezecký Filmový Festival 1980 Teplice nad Metují Rep. Tcheca AgostoFest. de Cinema de Muntanya Torelló 1983 Torelló Espanha NovembroFest. internazionale film della montagna di Trento 1952 Trento Italia MaioFest. Inter. de Cine De Montaña Ushuaia Shh. 2007 Ushuaia Argentina AgostoSpotkania z Filmem Górskim 2007 Zakopane Polonia Setembro

Filmes e vídeos deescalada e montanhismo

a equipamento de boa qualidade deimagem e som, assim como softwaresde edição, algo importantíssimo nãomudou com o tempo: os conceitos deprodução de vídeos. Com um volumede vídeos disponibilizados muito gran-de, é também volumosa a quantidadede vídeos que utilizam muitas imagensde ação e ângulos inovadores, maspeca em um quesito básico: o roteiro.Mais importante do que qualquer equi-pamento, personagem ou local, o rotei-ro de vídeos outdoor faz toda a diferen-ça. O público que aprecia somente ima-gens bonitas e música instrumental(eletrônica ou não) e não se importacom a história é muito pequeno. Geral-mente um vídeo que abusa de movi-mentos plásticos e imagens de impac-to se assemelha muito mais a umvideoclipe do que mesmo um vídeo in-teressante.Por me interessar muito sobre vídeosoutdoor (não somente de escalada)estarei aqui no Mountain Voices sem-pre fazendo a crítica dos filmes de es-calada disponibilizados (gratuitamenteou não) assim como divulgando os me-lhores vídeos postados na página noFacebook do Blog de Escalada (http://www.facebook.com/blogdescalada). Oobjetivo é divulgar para a comunidadeescaladora as melhores produções,produtores mais promissores e quaisvalem à pena baixar. Quem gosta deum bom vídeo, e tem sempre a curiosi-dade de saber se vale a pena assistirnão deixem de acompanhar aqui noMountain Voices.

� A Gruna, escalada na Chapada Diamantina, BA.� Lobotomia, de Eliseu Frechou e Wiland Pinsdorf.

on the rockspublicações

Page 5: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

08 on the rocks

www.m

ountainvoices.com.br

09

www.m

ountainvoices.com.br

Falésias com paredes verticais e negati-vas, ou grandes paredes com fendas per-feitas, fendas verticais e longas, diedros etetos, grandes paredes de arenito ebasalto separados por camadas, dezenasde montanhas ainda intocadas pormontanhistas. Neste cenário, poucas pa-redes são um destaque, o Morro da Minaé um.São 200m de parede vertical e negativa depuro arenito, uma das poucas paredesgrandes fora dos cânions, um morro tes-temunho que fica na entrada do vale doSão Pedro, vale que serviu de caminho,de acesso para os campos de cima daserra no início do tropeirismo brasileiro, a“trilha dos tropeiros”é até hoje utilizadapelos moradores locais, turistas emontanhistas. Vale do São Pedro onde ficao Morro da Galeria, grande parede ondetem lindas vias tradicionais, também emarenito. Este caminho é o que eu semprefreqüento para escalar, caminhar, acam-par... E sempre neste caminho, onde dei-xo o carro e inicio a caminhada, enquantome preparo, almejo aquela grande pare-

de apelidada pelos locais de Paredón,mais conhecido como Morro da Mina. Pa-rede na qual o cume não haveria sido al-cançado. Parede onde já haviam iniciadouma via a 10 anos, mas por motivos even-tuais de afastamento da duplaidealizadora, a via continuou parada pormuitos anos, até outras duplas tentaremcontinuar o trabalho, acho que umas 4investidas, abriram 45m de via. Essainvestida fez o Paredón ser visto com maiscarinho, com um olhar mais criterioso dosescaladores, novamente iniciaram asinvestidas no setor, a trilha foi reaberta, fi-zemos visitas em toda base da paredeoeste, procuramos água, e depois de ana-lisar bem a parede joguei a idéia da linhada via no ar para os meus parceiros deconquistas.Já estavámos no meio do ano, mas ostreinamentos para essa conquista já vi-nha deste o início da temporada, objetivotraçado no final do ano passado (2010) foiconquistar algumas vias tradicionais nosetor da Serrinha, repetir outras importan-tes e encarar o Paredón no final da tempo-

rada. Conquista de vias tradicionais foiuma novidade para mim este ano, aindamais em vias totalmente limpas, com equi-pamentos de proteção móvel, e proteçõesfixas apenas para fazer os rapéis.Todas essas conquistas foram de grandevalia na abertura da via no Paredón, o quepassamos em dezenas de vias, passa-mos no Paredón, a tradicional escaladaem móvel nas paredes de arenito na Ser-ra Geral de Santa Catarina, trechos comfendas perfeitas paralelas onde protegeré o mais simples, trechos com fendas ce-gas, ou apenas algumas rachaduras ondeproteger é uma obra de arte e cair é a últi-ma opção, trechos de arenito ruim, que-bradiço, podre, com areia, trechos onde éum passeio, escalar e curtir o visual e de-pois proteger com a boca na orelha. Tudoisso é possível encontrar em uma via naSerra, como na via “Um maluco sonhadore o segredo” que abrimos no Paredon,com grandes tetos e diedros perfeitos elongos.Iniciamos a conquista com um trecho emarenito liso, sem agarras e sem fendas,

foram 25m de uma cordada toda em artifi-cial de rebites de 2,5cm com 0,5cm parafora para laçar com o cabo do nut e ape-nas 4 proteções, todas apenas tirando ofator de queda do chão, até chegar na P1no início do mais lindo diedro de arenitoque já vi. Um diedro de 45m todo com fen-da para escalar entalando desde os de-dos até off-width que acaba em um tetogigante. Diedro que foi vencido com paci-ência, boa administração de equipamen-tos e muito cuidado com os blocos soltosembaixo do teto, logo antes de uma pas-sagem exposta. Esse diedro exige bas-tante de quem está na ponta da corda, são45m de dureza, de fenda difícil vertical enegativa, onde colocar muitas proteçõesé inevitável, mas poupar proteção é obri-gatório, uma luta do psicológico com a ex-posição, do medo com o perigo. Vencidoaquele diedro impressionante acabamosdebaixo de um teto ainda mais impressio-nante, um platô de vinte centímetros porum metro era o que nos dava o confortopara continuar a empreitada. Os próximosmetros não se via onde proteger, a fenda

desapareceu, e no lugar, uma rocha queparecia mais uma areia, sem condiçõesde ficar com um clif, sem condições deuma proteção fixa segurar uma queda. Aesperança era que a fenda continuassemais acima, mas para achar a continua-ção, foram escalados uns 8m virando umteto em livre, protegendo em bicos de pe-dras, acreditando que fosse segurar ouque ao menos absorvesse a queda de fa-tor 2. A fenda apareceu, outro teto para vi-rar e um buraco com uma árvore para ser-vir de parada, foi uma enfiada de apenas15m, curta devido aos arrastos da cordanos tetos e o terceiro teto acima da P3. Oterceiro teto tinha fenda, mais tranqüilopara passar, diferente do trecho antes daP2 e na saída da P2 que são E3. Na repe-tição da via é interessante fazer uma para-da móvel bem abaixo para evitar o fator dequeda na parada e o fator 2.A virada do terceiro teto foi o início do se-gundo diedro, ao contrário do primeiro, aparede fica do lado esquerdo e o segundodiedro a parede fica do lado direito. Diedrode 35m onde fazer uma parada em móvelé obrigatória e tranqüila em um buraco naparede, uma bolha onde dá pra sentar tran-qüilo. Neste ponto tem que deixar uma cor-da fixa, que sai da P2 passa pela P3 eacaba na P4, para conseguir voltar paraas paradas no rapel. Mais 25m de con-quista achamos um platô perfeito para obivaque. Todo esse trecho foi conquistadodebaixo de chuva forte, mas pela paredeser negativa, nos 125m de via que con-quistamos até o platô, a chuva passavalonge.Iniciamos a tração das cargas já no inícioda noite, meia hora depois, já escuro, osmoradores ao pé da montanha acenavamcom lanternas e gritos querendo saber oque estava acontecendo, o que estávamosfazendo na parede, quem são esses ma-lucos. E os feches de luzes dos morado-res durou um bom tempo, curiosos com osobe e desce de luzes no meio da paredeaté as 21h00. O platô é perfeito para umpernoite, dormiram duas pessoas no chãoe uma em rede, protegidos da chuva queinsistiu durante a noite. O dia amanheceucom o tempo bom, algumas nuvens bai-xas nos cânions e o sol dando o ar dagraça uma vez ou outra.A sexta enfiada, na saída do platô, era oque ia dar a direção da via. Todo o trechoanterior foi seguindo fendas óbvias até oplatô, mas nesse trecho as fendas acaba-

ram e deu lugar a um trepa-mato ondeteríamos que escolher por onde continu-ar, e foi pela direita, em direção a outroplatô confortável. Faltava pouco para che-gar no cume, mas tínhamos algumas op-ções para continuar, nenhuma delas mui-to agradável, escolhemos chegar nodiedro da direita, um trecho de uns 15msem fendas prejudicava a progressão,pensamos em mais um artificial, subimos4m em livre e batemos o 1º pino da viafora do trecho em artificial. Neste momentofoi visto a possibilidade de mandar os mo-vimentos em livre e proteger em uma pe-quena laca pra ver o que tinha mais pracima. Movimentos difíceis, umas quedase atingimos a laca que entrou uma peçabem pequena, este é outro trecho comum arenito ruim, não sei até quanto elesuporta de queda, esses é um daquelestrechos onde cair não é uma boa opção eem que cair não é muito difícil. Outro bu-raco avistado, mais alguns metros de pro-gressão, outra peça colocada e no des-canso a peça quase saiu, torcendo com-pletamente, quebrando a fenda. Ainda nãosabemos o que pode acontecer em umaqueda neste trecho, se as peças saca-rem é um E4, caindo no platô 15m abaixo,se nada sacar é um E1. Passado essetrecho ruim, iniciava-se um diedro que foimandado em artificial, às colocações nãoforam muito boas e a fenda estava suja.Depois de 30m de enfiada chegamos aoutro platô, agora já estávamos com amão no cume, um trecho muito bonito comum arenito fragmentado e várias fendascom movimentos fáceis. Uma chaminé, eum bloco de mais de 1m escorrega eprensa o guia no meio da chaminé dei-xando quase sem movimentos. Na hora,nos segundos que passamos, muita coi-sa passou pela cabeça, e um resgate nãoestava fora dos pensamentos. Mas umresgate naquele lugar, a 5m do cume, con-quistando uma via onde não existiam in-formações alguma, nenhum resgatistapronto para uma ação daquele porte naregião, com alguém preso em uma cha-miné por uma pedra... Esse é um mo-mento parecido com aqueles que, cair éa última opção. Mas por sorte o bloco par-tiu em dois, uma das partes passou aonosso lado destruindo tudo onde passa-va e a outra ainda estava nas mãos doguia que conseguiu soltar para dentro dachaminé. Depois do susto 5m acima foiatingido o cume do Paredón com 210m

de via toda em arenito e com proteçõesem móvel predominando toda a linha.Sugerimos a graduação da via de D5 7 a(VIIb/ A0) E3. Mas todas as graduações sãosugeridas e precisam de algumas repeti-ções para concretizar. Uma dupla esca-lando muito bem e entrosada pode repetira via em um dia, mas o rapel se torna muitoperigoso a noite, a base da via não é boapara pernoitar, descer e subir a trilha a noitese torna muito perigoso pelos trechos ex-postos que ela tem.Para o acesso da parede é necessário 2hde trilha pesada. Aproveite, escale com

A serra catarinense é uma região rodeada de paredes de arenito dos mais diversos tamanhos,muitas delas ainda esperando a primeira ascensão.

tempo e aproveite o visual de uma monta-nha testemunho de frente para o Vale doSão Pedro.Ainda não temos o conhecimento de umavia em arenito maior que essa no Brasil.Essa conquista teve o apoio da MontanhaEquipamentos e Sapo Agarras.Os conquistadores foram; Filipe Ronchi,Lindomar (Sapo) e Renato Ronchi.Agradecemos ao apoio da Aline eFernanda que acompanharam de lunetatoda empreitada e nos esperaram de bra-ços abertos até horas da noite quandochegamos e a Su que ficou na torcida.

Page 6: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

10

www.mountainvoices.com.br

11

www.m

ountainvoices.com.br

on the rocks

Desde que a Chaminé dos Coroas, pri-meira via de escalada na Pedra do Baúem São Bento do Sapucaí foi aberta,cada vez mais este complexo rochosoatraiu a atenção dos escaladores emontanhistas. Em 1994, outras paredescomeçaram a receber vias e hoje, há umcorredor de montanhas e paredes comvias de tradicionais e esportivas que vaide Campos do Jordão até Itajubá.Se até a década de 90 éramos poucosconquistadores, hoje são muitos os quecontribuem para o aumento destepatrimônio esportivo, que já soma maisde 300 rotas catalogadas em duas dúzi-as de points. Da escalada artificial aoboulder, aqui se pode encontrar de tudoo que o granito em suas várias formaspode oferecer. Positivos ou negativos etetos, face ou fissuras e chaminés.Quem conhece, sabe. Quem ainda nãoesteve aqui, nem imagina o que está per-dendo.O desenvolvimento da região pode sermedido em números. Se há dez anos,havia meia dúzia de vias na face nortedo Bauzinho, este número duplicou. E aqualidade, ética e estilo das vias semanteve a mesma, o que é outro fato aser comemorado. O Seminário deMontanhismo de Mínimo Impacto no

Complexo Pedra do Baú que aconte-ceu em junho de 2009 teve papel im-portante para que os montanhistasengajados nas soluções e numa for-ma de montanhismo moderno, pudes-sem entrar em acordo quanto às práti-cas que queremos neste lugar.Se nas paredes do complexo Pedrado Baú, impera a escalada de aventu-ra, nas falésias a maior parte das viastem orientação esportiva. Como a his-tória da região é relativamente nova,as proteções estão em sua grandemaioria em excelente estado, propor-cionando segurança ao escalador. Asprincipais falésias da região continu-am sendo a Pedra da Divisa e aFalésias dos Olhos. A excelente pro-teção das vias, todas em parabolts de10mm é uma das razões para quequem está afins de escalar rotas aci-ma do nível, se atire parede acima sempreocupação com a segurança.Com o crescimento da modalidade dobouldering, escaladores locais comoLeandro Pardal e André Berezoski,descobriram a abriram novos points elances de altíssimo grau, inserindo aregião no circuito nacional desta mo-dalidade, até então ofuscada pelo ta-manho das grandes paredes.

E falando de escaladores, se tive a “sor-te” de aqui chegar em 1989, com nemuma dezena de rotas abertas na região ecom nenhum outro escalador a menos de100km, mas muito o que fazer e aprovei-tar, com linhas maravilhosas esperandopor serem abertas, nos últimos seis anos,foi grande a vinda de escaladores de to-das as partes do Brasil que atraídos pelopotencial local, elegeram São Bento doSapucaí para viver. Hoje, há mais de 40escaladores morando ou com casa sejaalugada ou comprada na cidade, o que éum grande exemplo de como a escaladapode gerar divisas econômicas nos luga-res que a acolhem.

Novo Manual de EscaladasNeste mês, foi impressa a 6ª. Edição doManual de Escaladas da Pedra do Baú eSul de Minas Gerais, no qual selecioneio que há de melhor nestas paredes, masa cada vez que um novo guia está sendodiagramado e impresso, também novasvias estão sendo finalizadas. Então, peçoque quem abrir ou souber de novas rotas,encaminhe à mim as informações paraque estas sejam inclusas nas ediçõesfuturas. Isso pode ser feito por e-mail:[email protected] ou mes-mo pessoalmente em minha casa em

São Bento do Sapucaí, onde concen-tramos as atividades de edição.

MoNaVale lembrar que ano passado, o Com-plexo do Baú e seu entorno foram de-cretados Monumento Natural. SegundoSilverio Nery, presidente da CBME, “oMonumento Natural da Pedra do Baú,será administrado conjuntamente pelaPrefeitura de São Bento do Sapucaí epela Secretaria Estadual do Meio Am-biente. Os montanhistas participaramexpressivamente do processo de cria-ção dessa nova UC e o documento fi-nal do nosso Seminário foi entregue ofi-cialmente para os gestores do Monu-mento Natural, que deverão adotar essedocumento como diretriz para gestãoda escalada do Monumento Natural.”Portanto a partir de agora, mas não porsomente este motivo, as ações dosmontanhistas e seus impactos, estãosendo monitorados, então é importanteque sigamos as normas que serãosugeridas para que possamos ter coma direção do MoNa, uma relação de par-ceria em prol da região que tanto nosatrai.

As clássicas mais frequentadas do Complexo:� Vitor Frechou na Normal da Pedra do Baú.� Carol e LeandroVoloschko na Lixeiros, Ana Chata.

Page 7: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

www.m

ountainvoices.com.br

1312

www.m

ountainvoices.com.br

on the rocks

Galba Athaíde 4°VsupFabio A. Cascino, Olavo Cardeirae Michael Wimert. 05.Primeira via grampeada aesquerda do Bauzinho. Iníciofácil e primeira chapeleta cercade 8 metros do chão.Viatotalmente grampeada.Há um grande diedro de mato aesquerda da via. Rapel comduas cordas de 60m.

Mãetiqueira 5°VIsupRoberto Pavani, Rodrigo Braga. 09.Via logo a esquerda da Galba Athaíde.Após a chaminé da terceira enfiada, há apossibilidade de sair pela esquerda, oufazer um lande em VIII ou A1, logo após achapeleta. Leve frieds, inclusive grandes,cliffs, estribos. Rapel com duas cordas de60m.

Face Norte do Bauzinho1 Galba Ataíde 2 Mãetiqueira 3 Lidiane Arnaud 4 V de Vitória 5 Estica que Dá6 V de Vingança 7 Dança da Chuva 8 Quem Tem Boca Fala O Que Quer9 Malacrida 10 Neurônios Fritos 11 Normal 12 Corneto13 Fúria de Kimera

Falésia do Tião TinoLeandro “Pardal” Costa e outros (1 a 6) Diogo Marassi (7). 09.Siga o trajeto para a Ana Chata. Na última bifurcação, siga a esquerda, em direção ao Restaurante Pedra do Baú. Estacioneno restaurante e siga a trilha que vai até a escada da face norte. Cerca de 15 minutos após o restaurante, a Falésia do Tião Tinoestará a esquerda da trilha.1 Força Bruta 2 Poseidon 3 Damocles 4 Casa de Boneca 5 Hephaestus (projeto) 6 Tião Tino 7 Zé Aresta.

Leandro Costa na Casa de boneca,falésia Tião Tino

S de voltar 4°IVsupBernardo Collares, Silvério Nery, 09Início abaixo do platô dos Gaviões. Primeiraenfiada exposta, em rocha quebradiça.Leve nuts e friends. Rapel com duas cordas

Surfista Prateado 4°IVsupEliseu Frechou. 94.Vinte metros após a base da JohhhyQuest, escale um lance fácil e suba nalaca até encontrar a base.Rapel possível com uma corda nasparadas.

Johnny Quest 4°IVsupEliseu Frechou, Márcio Bruno, Flávio Bekeredjian. 93.Tem início 200m após Elektra procure por um rebite,que é a primeira proteção.Rapel possível somentecom duas cordas.

Ana Chata face norteLocalização das principais vias1 Pateta 2 Justiceiro 3 Cidade Deserta 4 Peter Pan 5 Lixeiros 6 Tom Sawyer 7 Elektra 8 Johnny Quest9 Surfista Prateado 10 Capitão Caverna 11 Cavaleiro das Trevas 12 Nirvana

O acesso à Ana Chata se dá por São Bento do Sapucaí, partindo em direção da estrada do Paiol Grande. No final entre a direita e 200m a frente novamente a direita.Siga até o final do asfalto e estacione na frente da casa do sr. Chico Bento, local conhecido como Graminha.A trilha começa na porteira, atravessa um riacho logo no início e outro 15 minutos a frente. Caminhe por mais cinco minutos até um grupo de araucárias, onde a trilhapara a Pedra do Baú segue pela esquerda e uma picada para a Ana Chata, pela direita. Siga sempre subindo por este caminho que está geralmente bem fechado emdireção do grande teto, no meio da montanha.

Page 8: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

www.m

ountainvoices.com.br

1514

www.m

ountainvoices.com.br

Após a visita dos irmãos Pou no Brasil,em fevereiro de 2011 para o Red Bullpsicobloc, os mesmos tiveram conoscomais uma vez em setembro no Rio de Ja-neiro, quando nos fizeram um grande con-vite, conhecer e conquistar um grande se-tor de psicobloc na meca da modalidade:Mallorca na Espanha, onde nasceu opsicobloc. No mês de outubro partimospara esse grande convite, onde aproveita-mos para conhecer também outro estilode escalada que fica em Peak District, re-gião no interior da Inglaterra onde conhe-ceríamos de perto a rocha chamada Grit eo estilo de escalada onde grampos sim-plesmente não existem, o Hard Grit.

MallorcaSaímos do Rio dia 30 de setembro, as19h00 chegando ao Aeroporto de Palmaas 13h00 de sábado, dia 1 de outubro,Eneko Pou e sua namorada Dalila nosesperavam de carro para irmos até a casaque alugamos juntos onde ficaríamos nósquatro e também Natxo, amigo de Eneko.Infelizmente Iker Pou não pode estarconosco, devido ao fato de estar trabalhan-do em sua próxima expedição pela Tur-quia.Do aeroporto, sem passar em casa oudescansar, Eneko nos levou direto paraum novo setor que não consta nos guias.E foi desta maneira que ele confirmou oque já havia mencionado enquanto esti-vera no Rio: Eneko estava naquele mo-mento nos mostrando o setor aonde nós

iríamos juntos conquistar novas vias depsicobloc. Nunca recebemos honra mai-or, abrir vias em nada menos que Mallorcae ao lado de um escalador de renome queé Eneko Pou.Infelizmente, o mar estava muito agitadoe nós muito cansados da viagem. Nestedia não rolou conquista somente os obje-tivos foram traçados. Nem por isso fomospara casa, insistimos e tivemos nosso pri-meiro contato com a escalada de Mallorcaem uma calma praia ali perto.No dia seguinte, ligamos para o LucasMarques (Jah) que já estava em Mallorcanos aguardando para escalarmos juntose ao longo dos dias seguintes. Eneko nosapresentou vários setores. De Calles deMallorca, onde estávamos hopedados po-díamos dirigir para o norte e conhecerCalla Barques e Porto Cristo ou para osul onde estão Cala Sa Nau, Cala Mitjana,Cala Serena e Porto Colom entre váriasoutras. Tudo muito perto. Em alguns des-ses setores escalamos muito bem emoutros apenas visitamos, pois era dia dedescanso ou porque, por azar, o mar nãopermitiu.O primeiro de todos os setores que co-nhecemos foi Cala Barques. Clássicosem dúvida, o local estava repleto deescaladores, mas ao mesmo tempo nãoestava “lotado”. Todos trabalhandoharmonicamente seus projetos com a vi-bração e apoio alheio no melhor clima deunião. E entre os escaladores, ChrisSharma. Temos que admitir que vê-lo es-

calando era de encher os olhos. Ícone daescalada esportiva atual, Chris Sharmaquebrou barreiras e ali, de férias, estavaapenas se divertindo. Tivemos a oportu-nidade também de escalar e trocar algu-mas palavras com ele que se mostrouincrivelmente humilde e simpático. Nestesetor curtimos a via Hercules, linda linhaque cruza a aresta e o teto de um beloarco. E também a via Snatch, difícil e ex-tremamente bonita cruzando a outra arestado mesmo arco, entre muitas outras queexperimentamos no setor.Conhecemos também a Cueva Del Diabloonde nosso grande amigo Lucas Marquesestava tentando o famoso projeto Loskotand Two Smoking Barrels. Este setor ésem dúvida o mais difícil da ilha, quasetodas as vias ali estão na casa, ou acimado 9º grau brasileiro. O próprio destrepede aproximação já é um VIsup/VIIa. Mui-tos escaladores fortes estavam presen-tes e foi onde também tivemos a honra deconhecer o autor do guia Daimon Beail ea editora do site PsicoblocWorld.comEmma Harrinton. Neste dia Jah se dedi-cou intensamente ao projeto do bote quesó saiu alguns dias depois, mas não fi-cou somente nessa via levando tambéma cadena de Ejector Seat 9b. VengaaaaJameicaaaa!!!Após alguns dias nos points clássicos,voltamos ao setor novo, juntamente comEneko Pou, para o objetivo maior da via-gem: as conquistas. O setor que fica en-tre Cala Serena e Cala Ferrera possui uma

gruta fantástica de onde saem as vias eonde é possível se abrigar para descan-so. A gruta já possuía algumas linha deEneko, Iker , Miquel Rieira e Dalila e rece-beu mais 6, quatro do Felipe e duas mi-nha.E este foi o setor onde mais escalamos evoltamos. Ao todo, voltamos ali em cincodias diferentes. Voltamos, até mesmo noúltimo dia, no último minuto para que Felipetentasse realizar seu projeto. O projeto, in-felizmente não saiu, mas quem sabe nãoé melhor assim agora é certo que voltare-mos nesse paraíso mais rápido que nun-ca. Gostamos bastante do lugar, suas ca-racterísticas de hora do sol, condição deaproximação e descanso, além da belezae estilo das vias farão dali, certamente, umfuturo clássico point de Mallorca. Estamosfelizes de ter tido a oportunidade de abrirvias neste setor e agradecemos a EnekoPou, mais uma vez, pelo convite.Nas duas semanas em que estivemos nailha pudemos comprovar os motivos quefazem de Mallorca a Meca do Psicoblocmundial. A Ilha toda é cercada de penhas-cos e falésias de pedras com as caracte-rísticas perfeitas para a prática. Muitos ne-gativos e arcos com quedas limpas naágua. Mas escalar ali não é tão simples,em quase todos os setores para você co-meçar a escalar o lugar exige que se façauma desescalada de sexto grau de 15 a20 metros até chegar na base da via dese-jada. Esta mesma linha de sexto grau deveser escalada para ir embora. A logística de

resgate caso aconteça algum acidente ébem complicada, pois é necessáriohelicoptero para tirar o escalador da água.E não podemos negar que a altura e o marafetam o psicológico e mesmo não pare-cendo a mente termina cansada no fim dodia. Detalhes que só dão mais valor aoestilo e ao lugar. Durante anos muitosescaladores conheceram em Mallorca umdos estilos mais puros de escalada. Emum de nossos passeios a Palma e rece-bemos outro convite, assistir uma palestrade Miquel Riera, o “Pai” do psicobloc, e logoapós a palestra fomos jantar com o mes-mo onde tivemos a oportunidade de con-versar bastante e conhecer melhor a histó-ria do primeiro a registrar, em 78, oficial-mente uma via no estilo Deep WaterSoloing ou Psicobloc. Esta via fica em Por-to Pi ou Dic Del ´Oest, na cidade de Palma.A via chama-se Cuquets e a escalamosbem no dia do aniversário do Felipe, quepresentão! Neste mesmo dia conhecemosSanta Ponça, outro setor próximo da capi-tal. Este, porém é recém descoberto porIker e Eneko Pou. Com menos de três me-ses conquistado já é altamente frequenta-do pelos moradores da ilha.Com tantos psicoblocs e dias de mar epraia poderíamos dizer que acabou, masnão, Mallorca é muito mais que isso. A ilhatambém possui montanhas e muita esca-lada esportiva e não podemos deixar decitar o pouco que conhecemos.Juntamente com Eneko Pou, Dalila e Natxonos encontramos também com Churri umaargentina que vive em Palma e nós seisseguimos para Gorg Blau para um poucode esportivas. A rocha de calcário forman-do grandes paredes de até 40 metros eramde encher os olhos. A rocha alaranjada e a

on the rocks

Numa viagem à ilha que é considerada o berço do psicobloc, os brasileiros Flávia dos Anjos,Felipe Dalorto e Lucas Marques narram a abertura de um novo setor de escaladas, à convite dosirmãos espanhóis Eneko e Iker Pou.

parede negativa não são nada como a pai-sagem do Rio de Janeiro. Vias de extre-ma explosão e resistência de antebraço.Das vias que fizemos destacamos Aixoes L´Habana, negativa com grandes agar-ras e buracos, a Sa Primera, a mais belade todas com duas enormes churreiraspara se catar de pinça indo do inicio aofim da mesma e a via Estreny El Dits, combelos regletes em calcário e movimentostécnicos.Somente com estas escaladas já estáva-mos bastante impressionados com a va-riedade encontrada na ilha, mas paracompletar ainda teve mais. Na quarta dodia 12 de outubro, feriado nacional naEspanha, Eneko e Dalila decidiram ir a ElParedon, maior montanha da ilha ondeexistem vias de até 300 metros, fomostambém. Quando chegamos ao local nosdeparamos com uma linda parede verti-cal com trechos negativos. A rocha é cinzae branca, de agarras grandes e lisas, típi-cas de calcário. Uma das montanhasmais lindas que escalamos. Enquantoque Eneko e Dalila entraram na viaCommon nós nos direcionamos a Directadel Pilar, sem croquis, porém ficou difícilencontrar a base. Sabendo que dali, sai-am várias vias de alto grau de dificuldadee exposição, decidimos que não valia apena correr o risco de entrar na via errada.Com 1 hora de atraso entramos tambémsem croqui e à vista na Common seguin-do o rastro de Eneko e Dalila. A via é linda,a primeira enfiada já mostra a cara da via,um 5 sup de agarra grandes e levementenegativa já nos faz chegar com os ante-braços gritando na parada. Eu guiei estae Felipe a segunda, que também seguiapelo mesmo estilo. Continuamos alternan-

do até a quarta enfiada onde a graduaçãocomeça a se elevar, lances técnicos alter-nados com explosivos de sexto sup. Nes-se momento estávamos pouco mais dametade da via, mas o sol já se punha. Aparede era de face sul recebendo sol o diatodo e, portanto começamos tarde. Istosomado com a hora que perdemos paraentrar na via tornou inevitável o desfecho,não terminamos e optamos por descerjunto com os últimos raios de sol, já as19h50 da noite.Agradecemos a todos que nos deram for-ça para esta incrível viagem.

Ao Edemilson Padilha e a empresa Con-quista Montanhismo pelos equipamentosfornecidos.Aos irmãos Pou e em especial a EnekoPou por ter estado conosco em Mallorca epelo convite para conquista de psicobloc.Aos amigos que fizemos na Espanha;Dalila, Natxo e Churri e ao nosso grandehermano Lucas “Jah” Marques pela forçae companheirismo nesta viagem.

Felipe em duas vias de Mallorca:� Estranha realidade� Snacht

Page 9: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

16

www.m

ountainvoices.com.br

17

www.m

ountainvoices.com.br

montanhismo

O Parque EstadualAcaba de ser criado um novo Parque no Estadodo Rio de Janeiro, chamado de Cunhambebe.Em 2008 foi estabelecida uma expressiva áreade 38 mil ha, abrangendo os municípios litorâne-os de Itaguaí, Mangaratiba e Angra dos Reis,além da região adjacente de Rio Claro. É o se-gundo maior parque do Estado, atrás apenas dode Três Picos, na região serrana fluminense.O Cunhambebe abrange as encostas altas dosmunicípios costeiros, bem como as áreas dasdivisas destes com o planalto, incluindo o entor-no da Represa do Ribeirão das Lages. A estra-tégia para sua localização foi evitar a inclusãode regiões agropastoris já ocupadas. Como re-sultado, ele só é continuo nas paredes litorâne-as e nas regiões serranas elevadas. Nas en-costas do planalto, explorados desde os tem-pos do café, ele ocupa apenas os espigões dasserras. Isso lhe dá um desenho extremamenteirregular.Por esta razão, 95% de sua área é representa-da por matas bem conservadas – apesar depredominantemente secundárias. Você encon-trará árvores frondosas, como angicos, cedrose jequitibás. As florestas abrigam monos carvo-eiros, lontras e queixadas, além de espéciesameaçadas, como antas e onças. Na superfícieda represa podem ser avistados patos selva-gens e martins pescadores. O Parque contémtambém as ruínas da vila de São João Marcos eda estrada imperial que a ligava a Mangaratiba.Ele formará uma importante extensão contínuacom os 100 mil ha do Parque Nacional da Serrada Bocaina, junto com a pequena área que abri-ga os índios guaranis na Reserva Indígena deBracuhy. Por sua vez, a Bocaina é contígua aos300 mil ha do Parque da Serra do Mar, que seestende até os limites da Juréia. Esta é outraregião protegida, que se conecta no Paraná àde Guaraqueçaba. Desta forma, algo como 600km de nosso litoral, desde Mangaratiba até a Ilhado Mel, estão hoje envolvidos por áreas de con-servação permanente.

O Cacique CunhambebeNo início da nossa colonização, não foi pacíficaa ocupação portuguesa da costa brasileira. Osíndios tamoios alojavam-se num vasto territóriono Sudeste do país, desde São Sebastião atéCabo Frio e desde o litoral até o Vale do Paraíba,

região dos guaianases. Divididos nas tribos dostupinambás e dos tupiniquins, aliaram-se aosfranceses e combateram corajosamente os in-vasores portugueses, que os destruíam e es-cravizavam.O chefe da nação tupinambá era o gigantescoe destemido Cunhambebe. Atraído pelos jesuí-tas, acabou celebrando com os portugueses oTratado de Iperoig, que pôs fim à guerra. Umavez desarmados, os portugueses expulsaramos franceses e dizimaram os indígenas. No sé-culo seguinte, já não restava nenhum deles vi-vos na região do Rio de Janeiro. Aqueles queconseguiram fugir para o sertão originaram osatuais caiçaras.Atualmente, Cunhambebe é lembrado pelo mai-or dos distritos da sua região natal de Angrados Reis, que alcança inclusive parte da áreado Parque que leva o seu nome.

A Serra das Três Orelhas

Meu conhecimento do Parque de Cunhambebe ésuperficial, até mesmo porque ele ainda não dis-põe de nenhuma estrutura ou sequer de umasimples portaria. Passei apenas três dias cami-nhando pela sua área de planalto – e, natural-mente, já conhecia algumas das regiões litorâ-neas. Agradeço ao apoio de Eviedson Aventu-reiro Fragoso([email protected]), que é dospoucos que conhece o Cunhambebe por inteiro.O Parque é muito recortado e dividido em umadezena de setores. Seu miolo fica a oeste e éconstituído pelas Serras do Piloto, do Sinfrônio,das Três Orelhas e do Pinto. Para os praticantesde montanhismo, o mais interessante dos seto-res fica em Mangaratiba: é o da Serra das TrêsOrelhas, assim chamada devido às três corco-vas rochosas que aparecem em sucessão. Tal-vez seja melhor avistar do que visitar esta for-mação – segundo soube, a trilha encontra-semuito fechada, pois não é percorrida há cercade 2½ anos.

Mas perto dela existem duas belas montanhas:as Pedras Chata e do Fogo, ambas acima de1.500m. Os acessos a estas duas formaçõespartem de Lídice, vila que é um distrito de RioClaro, e bem mais interessante do que este.Eles são parecidos, 8 a 9 km em estradinhasde terra em condições razoáveis, pelo menosno inverno. Suas trilhas percorrem íngremesencostas inseridas na floresta exuberante,com ascensões de 550 a 600 metros.A Pedra Chata é mais conhecida, com umasubida na direção sul de 4 km, que pode serfeita em 2½ hs. Já o caminho da Pedra doFogo é mais longo, com 7.5 km no rumo sudes-te, que passa por trechos mal definidos demata e pode demandar até 5 hs só de ida. Doalto das pedras, há uma linda vista da superfí-cie do mar, que envolve a Restinga deMarambaia e banha a planície de Porto Belo,bem como das Três Orelhas e do sertão deRio Claro.Igualmente, existem os acessos a duas ou-tras montanhas que, devido aos seus forma-tos sugestivos, podem ser reconhecidas delonge. São ambas pertencentes à Serra dasTrês Orelhas - o Pão de Açúcar e o Pico doPapagaio. Confesso, porém, que tenho dificul-dade em imaginar as razões para estes no-mes, pois não se parecem com seus modelos.Este interessante conjunto de cumes próxi-mos é considerado com razão o cartão postaldo Parque.

Os Setores no PlanaltoMas existem outros setores interessantes.Você percorrerá o da Serra do Sinfrônio aolongo da sinuosa rodovia asfaltada que descede Rio Claro a Angra dos Reis. Ela é bem su-gestiva, atravessando túneis escavados emrocha e mirantes sobre a Baía da Ilha Grande.O Pico do Sinfrônio é uma formação agressi-vamente empinada, com cerca de 1.600m, omais elevado de Angra. Sua ascensão seguenum rumo oeste, sempre dentro da mata fe-chada - por esta razão, não tem sido pratica-da. Serão provavelmente 6 km de ida, com umdesnível de 600 metros. Seu cume deverápermitir uma preciosa vista de grande parte doCunhambebe, devido à sua altitude desemba-raçada e à sua localização central no ladooeste do Parque.Já a cachoeira da Carmem, no vale ao lado do

Uma semana dedicada ao Montanhismo

Em 2012 vai fazer 100 anos que omontanhismo começou a ser praticado noBrasil, tendo como marco simbólico a con-quista do Dedo de Deus, na Serra dos Ór-gãos (RJ). E para festejar o centenário, aConfederação Brasileira de Montanhismo eEscalada (CBME) e a Federação deMontanhismo do Estado Rio de Janeiro(FEMERJ) estão organizando a 1ª SemanaBrasileira de Montanhismo, um grande even-to que vai acontecer no Rio de Janeiro, entre23 de abril e 1º de maio de 2012.

A cidade do Rio de Janeiro é o maior centrode montanhismo em área urbana no planeta,com mais de 1.200 vias (rotas) de escalada ecentenas de trilhas para caminhada de fácilacesso, com alta qualidade. “O montanhismobrasileiro irá demonstrar sua cultura e histó-ria nesse evento inédito que irá quebrarparadigmas e mostrar a imagem de um Brasilsustentável”, explica Delson de Queiroz, Pre-sidente da FEMERJ.

Além de reunir toda a comunidade demontanhistas e admiradores em geral, a

Semana Brasileira de

MontanhismoCBME e a FEMERJ têm, por meio do evento,outros dois objetivos importantes: (1) honraro compromisso das entidades com a ética demontanha e a proteção do meio ambiente e (2)organizar o futuro do montanhismo e da es-calada no Brasil. Por isso, a Semana vai con-gregar uma série de eventos:

+ 2º Congresso Brasileiro de Montanhismo eEscalada.+ 2º Encontro de Parques de Montanha doBrasil.+ 1º Encontro de Pesquisas Sobre Uso e Con-servação de Montanhas.+ 25ª Abertura de Temporada de Montanhismo(ATM)*.+ Campeonato Brasileiro de Escalada Esporti-va.+ Cine Montanha na Praça.+ Curso: Acesso e Conservação em Áreasde Montanhismo.+ Exposição “Cem Anos de Montanhismo noBrasil”.+ Exposição fotográfica.+ Palestras com atletas internacionais convi-dados.+ Oficinas de segurança em escalada.

Todos eventos gratuitos e abertos ao públi-co em geral.

Os eventos irão acontecer no Bairro da Urca,importante point de escalada do Rio e doBrasil. Para mais informações, acesse o sitesemanademontanhismo.com.br ou contateKika Bradford pelo e-mail:[email protected] Primeira Semana Brasileira deMontanhismo é uma realização da Confede-ração Brasileira de Montanhismo e Escala-da (CBME), com organização da Federaçãode Montanhismo do Estado do Rio de Janei-ro (Femerj), apoios do ICMBio, INEA, Riotur.A 1ª Semana Brasileira de Montanhismo -2012acontecerá de 23 de abril até 1 de maio de2012no Bairro da Urca, Rio de Janeiro - RJ

A cidade do Rio de Janeiro sediará em março de 2012 o maior eventode montanhismo que o Brasil já teve. Serão várias atividades e deba-tes a respeito da história e futuro que os montanhistas e comunidadedesejam para o esporte e as montanhas.

Selo comemorativo dos 100 Anos

A CBME e Femerj lançaram no início dedezembro, o selo comemorativo dos100 anos de Montanhismo no Brasil. Aação é uma das primeiras da 1ª Sema-na Brasileira de Montanhismo, o even-to comemorativo do centenário do es-porte no país, na última semana deabril de 2012, no Rio de Janeiro.

O seu lançamento foi realizado junto ascomemorações do Dia Internacionaldas Montanhas, no Parque Nacional daTijuca (RJ), e contou também com aexibição do filme Caminho Teixeira querevive a conquista do Dedo de Deus em1912, marco do montanhismobrasileiro. Na ocasião aconteceram di-versas outras atividades, que aconte-ceram por conta das comemorações do150º Reflorestamento do Parque Naci-onal da Tijuca.

O selo e o seu manual de aplicaçãopodem ser baixados online no site doevento pelos interessados:www.semanademontanhismo.com.br.

Este é o mais recente parque naturalfluminense, debruçado sobre a regiãomarítima de Angra dos Reis eMangaratiba. Recoberto por densas flo-restas, contém montanhas de formatospeculiares, com belas vistas para o li-toral. Mas também existem riosencachoeirados, com piscinas naturais equedas d´água, além de paredes de esca-lada e rampas de vôo livre, que podeminteressar a um público amplo e varia-do.

Texto e fotos: Alberto Ortenblad, SP

Sinfrônio, é muito especial. Situada num localremoto, possui uma longa laje de pedra por ondese verte a água do Rio Papudo. Ele forma umapequena piscina natural, à frente de uma antigacasa de madeira que lembra um refúgio de mon-tanha. Ela tem à sua volta um jardim rústico, emque árvores e flores convivem com muros depedras.O setor do Ribeirão das Lages fica em Rio Claroe circunda a represa, contendo as ruínas davila de São João Marcos. Era uma linda cidade,uma espécie de Parati rural. Ela foi tragicamen-te evacuada e demolida, pois seria submersapela represa, fato que acabou nunca ocorren-do. Nas proximidades, há os vestígios das cal-çadas e dos muros da estrada imperial que liga-va esta vila a Mangaratiba, incluindo a PonteBela, esta sim parcialmente submersa.Adjacente a este setor, fica o da Serra do Pilo-to, cujo longo perfil recortado é visível das ruí-nas de São João Marcos. Nele ocorrem algu-mas quedas d´água pequenas, como as Ca-choeiras dos Escravos, do Rubião e da Benga-la, distribuídas pela zona rural. A Prefeitura deMangaratiba escolheu duas trilhas para rece-berem sinalização, ambas leves com 6 km, po-rém ainda não implantadas. Existem mais trilhascurtas em outros setores, também esperandopor sinalização.

Os Setores LitorâneosAlguns dos setores são próximos ao litoral, apre-sentando poços, rios, cachoeiras e, natural-mente, muita visitação, como são os casos deMuriqui, de Jacareí e do Sahy. A Pedra da Con-quista fica neste último setor – os escravosfugitivos abrigavam-se nela e pulavam dela paraa morte, em protesto contra a cruel escravidão.A Prefeitura de Mangaratiba selecionou a curtarota dos escravos para receber sinalização.A mais bela das cachoeiras do Cunhambebetalvez seja a do Espelho: ela é assim chamadadevido ao reflexo do sol da tarde em suas águas.Fica no setor Jacuecanga (onde existe um enor-me estaleiro), com três quedas sucessivas de50 metros, alcançáveis por uma caminhada de2½ hs na densa mata do Rio Caputera. Osparedões do Morro da Boa Vista localizam-seneste setor. Alguns dos setores restantes sãodescritos como escarpados e isolados.O Parque apresenta potencial para travessias,embora que eu saiba elas não sejam praticadasregularmente. Uma delas requer dois dias – elaparte da vila da Banqueta próximo ao litoral,segue pela antiga linha férrea para Barra Man-sa e chega mata a dentro ao sertão do Sinfrônio,passando por piscinas naturais e atravessan-do uma flora variada.Uma versão deste cami-nho chega a Lídice, com uma bela visão do lito-ral perto da localidade de Cameru.

Um Potencial a ExplorarAlém da diversidade de trilhas, vale lembrar queem muitas das paredes do Cunhambebe sãopraticadas escaladas, em especial na Pedra daConquista, na Serra da Cachoeirinha e no Mor-ro da Boa Vista. Se você for adepto do vôolivre, da canoagem, do mountain bike ou doenduro, poderá encontrar locais para a práticadestes esportes.Por razões para mim até hoje misteriosas, acriação de parques naturais no Brasil nunca éacompanhada de medidas para realmenteconhecê-los. Nem vou citar os exemplos, me-lhor seria perguntar se alguma vez sequer issodeixou de acontecer.Como o Parque de Cunhambebe tem o raro pri-vilégio de ser gerido por um montanhista, espe-ro que sejam logo implantadas estruturas paravisitação. Os andarilhos da natureza agrade-cerão se o Parque vier a inaugurar uma novapostura de comprometimento com o ecoturismo.

Page 10: Internacional - EXTREMOS · uma forma diferente. Que precisam se misturar, vivenciando e aprendendo tudo de mais perto. Que não basta ouvir falar, que precisam ir até lá, se despir

www.m

ountainvoices.com.br

Mountain Voices é um informativobimestral de circulação dirigida aoexcursionismo brasileiro e patrocinadopelos anunciantes. Seu objetivo é fomentara pratica deste esporte no Brasil, em suasvárias modalidades: montanhismo, escala-da e espeleologia. Reprodução somentecom autorização dos autores, e desde quecitada a fonte. Não temos matérias pagas.Frizamos que o excursionismo expõe o pra-ticante a riscos, inclusive de morte, que esteassume deliberadamente. O uso de equi-pamento de segurança, bem como o acom-panhamento de guia especializado, se faznecessário, porém não elimina totalmenteo risco de acidentes.Editores: Eliseu Frechou, Vitor B. FrechouArtur B. Frechou e Jorge B. Frechou.Contatos: Cx.Postal 28, São Bento doSapucaí, SP, cep 12490-000. E-mail:[email protected]. Web site:www.mountainvoices.com.br. Agradecemosa todos os colaboradores deste número:patrocinadores, assinantes, e todas as pes-soas que nos escreveram enviando artigos,criticas e apoio.

Assine Mountain Voices e ajude na divulgação de seu esporte

Nome.....................................................................................................................

Endereço...............................................................................................................

Cidade..........................................................................................Estado.............

CEP..........................-...............Telefone.(............)................................................

E-mail....................................................................................................................

Idade ...................................... Profissão............................................................

Como conheceu Mountain Voices?..................................................................Já participou de: ( ) Campeonato ( ) Encontro ( ) PalestraQue modalidade pratica com mais assiduidade: ( ) Caminhada( ) Escalada tradicional ( ) Escalada esportiva ( ) Boulder

Para fazer sua assinatura, renovação, envie este formulário junto com cheque cruzadoe nominal à Eliseu Frechou, Cx.Postal 28 - CEP 12490-000 - São Bento do Sapucaí-SP.

Preços válidos até 30/05/2012.

( ) Assinatura Mountain Voices - R$ 25,00( ) Renovação assinatura - R$ 20,00( ) Assinatura 2 anos - R$ 40,00( ) Número atrasado do Mountain Voices - R$ 5,00 / exemplar( ) Livro Com Unhas e Dentes - Sérgio Beck - R$ 30,00( ) Manual de Escaladas da Pedra do Baú e Região - R$ 20,00( ) Manual de Escaladas de Itatiaia e Região - R$ 20,00( ) Manual de Escaladas da Serra do Cipó, Lapinha e Rod - R$ 20,00( ) DVD Terra de Gigantes - R$ 25,00( ) DVD Lobotomia 2 Pedra do Baú e Região - R$ 25,00( ) DVD Lobotomia 3 do PE ao RS - R$ 25,00( ) Disco HD Dias de Tempestade - R$ 25,00( ) DVD Karma - R$ 25,00 Total ........................,00

123Capa: Rogério Santos prestes a chegarna base de Tomahawk Pedra da Divisa,São Bento do Sapucaí, SPFoto: Eliseu Frechou

18