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1 Instituto A Vez do Mestre Licenciatura em pedagogia MÍDIA, TECNOLOGIA E NOVAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS. Apresentação de monografia ao IAVM como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em pedagogia Por: TATIANA AUGUSTA TEIXEIRA SOBRAL Orientadora: PROF. DR. FERNANDO GOUVÊA RIO DE JANEIRO 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Instituto A Vez do Mestre

Licenciatura em pedagogia

MÍDIA, TECNOLOGIA E NOVAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS.

Apresentação de monografia ao IAVM

como requisito parcial para a obtenção

do grau de especialista em pedagogia

Por: TATIANA AUGUSTA TEIXEIRA

SOBRAL

Orientadora: PROF. DR. FERNANDO

GOUVÊA

RIO DE JANEIRO

2009

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EPÍGRAFE

Mestre não é aquele que sempre

ensina, mas quem, de repente,

aprende. (Guimarães Rosa)

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RESUMO

O objetivo deste trabalho de conclusão de curso é estudar a história da

tecnologia educacional no Brasil, suas variáveis e vertentes, observando as

mudanças na sociedade e no perfil da escola, do aluno e do professor. Aqui,

pretende-se mostrar que a tecnologia da informação pode promover a

construção do conhecimento através da colaboração e da interação para além

da escola. A revolução digital modificou a concepção da informática educativa,

que progrediu para a informatização da educação. Este é um dos assuntos

abordados neste trabalho de conclusão de curso, que apresenta as mudanças

filosóficas e pedagógicas ocorridas no uso do computador na sala de aula, e a

crescente necessidade de desenvolver experiências que facilitem o acesso a

informação na sociedade do conhecimento. Hoje, é pela informação que se dá

a interação entre o individuo e o meio. O grande marco desta mudança de

paradigma, em que a informação e o conteúdo qualificam o trabalho, mudança

deu-se através do uso massivo do computador e, posteriormente, da internet. A

informatização da sociedade e, por consequência, da escola, passam a ser

vistas como ferramenta de mediação da atitude pedagógica, gerando uma nova

prática docente. As novas tecnologias criam mais possibilidades, ampliando o

conceito de sala de aula para ambiente de aprendizagem, em que diferentes

recursos audiovisuais, a tevê, o vídeo e o computador inauguram uma nova

forma de aprender e de ensinar.

PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia educacional. EAD. Educação no Brasil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................1 CAPÍTULO I A história da tecnologia educacional no Brasil....................................................3 1.1. Educação à distância..................................................................................11 CAPÍTULO II Tecnologia educacional e informática...............................................................14 2.1. Tecnologia educacional..............................................................................15 2.2. Acessibilidade e inclusão digital.................................................................17 2.3. Planejamento educacional.........................................................................18 2.4. Novo perfil de ensino..................................................................................21 CAPÍTULO III A voz dos mestres e alunos..............................................................................24 3.1. Nativos e imigrantes digitais.......................................................................27 3.2. Construtivismo e tecnologia educacional...................................................28 3.3. Pesquisa: projeto educacional...................................................................31 3.4. Novas perspectivas....................................................................................33 Considerações finais.........................................................................................36 Referências bibliográficas.................................................................................37 Referências webgráficas...................................................................................38

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INTRODUÇÃO

O crescente avanço tecnológico que originou a informatização da

sociedade contemporânea traz a tona a necessidade de discussão dos

problemas e questões envolvendo a atividade educativa no momento atual. A

evolução da internet que vivemos até aqui nada tem de ficção científica; tornou-

se presente, papável e indispensável. Na era da acessibilidade, surge não

somente um novo usuário. Nasce um novo tipo de individuo, os nativos digitais,

entre os quais estão os nossos alunos.

Com o advento da internet, fez-se presente o futuro. Incômodo para uns,

estimulante para outros. Como utilizar com prudência e sabedoria tamanha

quantidade de informações nesta rede de ideias? Hoje, a largos passos,

cuidamos de aprendê-las, armazena-las e processa-las. No entanto, é preciso

de mais iniciativas educacionais que envolvam o uso e a produção de recursos

tecnológicos e audiovisuais para uso livre no meio educacional.

O objetivo deste trabalho é pesquisar a história da tecnologia

educacional no país, analisando opiniões e tendências na área da produção de

conhecimento através da interatividade. Examinando o impacto produzido

pelas mudanças tecnológicas na organização da sociedade do conhecimento,

esta pesquisa trata, mais especificamente, de discutir e apontar as implicações

da inclusão digital docente e a capacitação profissional, o uso de softwares

livres e, mais recentemente, a migração para o conceito de web 2.0 como

importantes alternativas pedagógicas aos educadores que busquem, através

de suas aulas, adequar o uso da tecnologia aos seus objetivos de ensino.

A tecnologia da informação pode promover a construção do

conhecimento através da cooperação e da interação que vai além da sala de

aula. Para Irving Wladawsky-Berger, visionário que atuou 37 anos na IBM, a

nova tecnologia se compara a explosão de vida no período cambriano, há 540

milhões de anos: de repente, várias trilhas se abriram para a evolução.

O presente estudo mostra que cabe aos professores uma reflexão crítica

sobre as relações entre a mídia, a tecnologia, a educação e suas relativas

dificuldades, interfaces e complementaridades. Uma análise de desempenho

global (social e acadêmico) do aluno em um contexto educacional

informatizado também se faz necessária, visto que o perfil social deste aluno

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também mudou. Compondo este cenário, encontramos o professor imigrante

digital, sem total domínio desta nova linguagem, mas que precisa navegar por

águas educacionais ainda desconhecidas e vê sua qualificação, sua didática e

sua ação educativa postas à prova pela realidade que se impôs.

Com o intuito de melhor compreender os caminhos que levaram a tais

transformações, este trabalho de conclusão de curso foi dividido em três

capítulos. No primeiro, pretendeu-se analisar a história da tecnologia

educacional no Brasil, desde o fim da ditadura civil-militar, no final da década

de 1960, analisando os programas e projetos educacionais que mais se

destacaram na busca da integração da tecnologia na sala de aula, até o

advento da internet, na década de 1990.

Após o surgimento da internet, percebe-se algumas diferenças na

concepção da informática educativa, que progrediu para a informatização da

educação, cujos defensores são muitos. Este é o principal foco de estudo do

segundo capítulo, que apresenta às mudanças filosóficas e pedagógicas

ocorridas no uso da tecnologia da informação na sala de aula, e a crescente

necessidade de desenvolver experiências que facilitem o acesso à informação,

via inclusão digital, em uma nova era denominada sociedade do conhecimento.

O terceiro capítulo mostra que a sociedade informatizada impôs uma

reforma educacional, com o objetivo de ampliar a aprendizagem e estimular a

criatividade do aluno. São abordados os conflitos e questões relacionados à

evolução tecnológica e sua aplicabilidade na escola de modo a elaborar uma

concepção construtivista da educação. São apresentadas teorias que mostram

as implicações tecnologias de tais mudanças e, por fim, a opinião dos mestres

e alunos sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação (TICs) no

processo ensino e aprendizagem.

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CAPÍTULO I

A história da tecnologia educacional no Brasil

É impossível falar em tecnologia na educação, hoje, sem trazer máxima

luz ao advento do computador e a popularização da internet. Apesar dos

incontáveis projetos educacionais envolvendo tecnologia e recursos de mídia

decorrentes ao longo da história do país, dentre eles o uso do texto impresso,

dos recursos audiovisuais, da têve e do cinema, nenhum destes meios obteve

tanto destaque, e por tanto tempo, como o processo de informatização da sala

de aula. É este o enfoque do presente texto.

Apenas no inicio da década de 1970 o Brasil iniciou sua trajetória na

informatização da educação e de sua própria sociedade, através da

capacitação em atividades de informática para seu desenvolvimento

tecnológico, econômico, político e social. Nesta época, o governo brasileiro

criou a CAPRE – Comissão coordenadora das atividades de processamento

eletrônico, da qual foram originadas a DIGIBRAS – empresa digital brasileira e

a SEI – secretaria especial de informática, órgão executivo do conselho de

segurança nacional da presidência da república durante o regime militar. Esta

secretaria tinha como principal função a regulamentação, supervisão e suporte

do desenvolvimento tecnologicamente, para a autonomia nacional, estendendo

assim as aplicações da informática aos outros setores da sociedade e o estudo

de parcerias e soluções aos problemas em tais áreas, entre as quais a

educação, a energia, a saúde, a agricultura, a cultura e a defesa nacional.

(programa nacional de informática educativa, 10/1989).

Foi neste contexto de transição tecnológica que o uso de computadores

no ensino foi mencionado pela primeira vez, na faculdade de física da USP, em

São Carlos, após seminário patrocinado pela University of Dartmouth, Estados

Unidos. Pouco tempo depois, outras experiências passaram a ser

desenvolvidas em demais universidades, entre as quais destacou-se a UFRJ –

Universidade Federal Do Rio De Janeiro, que passou a usar computadores de

grande porte como recurso de auxilio ao professor no ensino da avaliação de

sua faculdade de química. O exemplo foi seguido pela Universidade Federal do

Rio Grande do Sul – UFRJS, ao desenvolver softwares educativos.

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Foram de grande importância: os projetos educacionais voltados para

crianças com dificuldades de aprendizagem da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, em seu Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de

Psicologia – LEC, com base numa estrutura construtivista de ensino; e a

parceria da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, em 1975, com o

Laboratório de Mídia do Massachussets Institute of Technology (MIT), na

criação de um grupo interdisciplinar de pesquisa sobre o uso de computadores

com linguagem LOGO na educação infantil, buscando compreender o

raciocínio lógico-matemático de crianças e as reais possibilidades de

intervenção a fim de promover uma aprendizagem autônoma. (Valente, 1996,

p.35)

Na época, já havia no Brasil um consenso de que a educação seria o

setor mais próximo possível da construção de um conceito tangível de

modernidade, capaz de somar ao avanço científico e tecnológico ao patrimônio

cultural da sociedade, possibilitando interações. A partir desta visão e mediante

articulação da SEI, o Ministério da Educação (MEC) iniciou este processo e,

em 1982, assumiu o compromisso de desenvolvimento de mecanismos e

instrumentos que viabilizassem projetos educacionais que representassem as

primeiras investigações no ramo da tecnologia educacional.

Assim, no inicio da década de 1980, deu-se inicio a cultura nacional do

uso da informática na educação. Para que o projeto se tornasse realidade, fez-

se necessária a consulta a comunidade tecnológico cientifica do país, na

intenção de discutir metas e estratégias de implementação da tecnologia nas

salas de aula. Neste sentido, o I seminário Nacional de informática na

educação, realizado em Brasília no ano de 1981, contribuiu de forma definitiva

para o avanço da história tecnológica na educação nacional, trazendo a

colaboração de especialistas nacionais e internacionais, os quais destacaram a

importância da pesquisa e do uso do computador como ferramenta principal de

ensino. Como resultado deste seminário, surgiram recomendações que vieram

nortear o progresso da tecnologia educacional e influenciam decisões políticas

publicas na área até os dias atuais. (programa nacional de informática

educativa, 10/1989).

Em dezembro de 1981, foi lançado o documento “subsídios para a

implantação do programa nacional de informática da educação”, que

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apresentava o primeiro modelo de sistema de informática nas escolas

brasileiras. O texto recomendava que iniciativas nacionais estivessem

centradas na educação superior e não somente nas secretarias de educação,

pois fazia-se essencial à construção de conhecimento técnico-científico

nacional, através da criação de centros formadores de recursos humanos

qualificados a superar desafios.

“subsídios para a implementação do programa...” destacava, ainda, a

necessidade de combinar adequadamente os fatores de produção em

educação, viabilizando um sistema de ensino realmente adequado às

necessidades e realidades regionais, contextualizando e flexível o suficiente

para o atendimento de situações especificas, para a efetividade do ensino-

aprendizagem e, por fim, da elaboração de um programa colaborativo, tendo

como base os interesses do usuário. O documento acenou com uma

possibilidade de transformação educacional, pois refletia não apenas o impacto

motivacional do programa, mas o importante uso de metodologias inovadoras

destinadas a melhorar a qualidade da educação no país. Propunha, enfim, a

ampliação do conhecimento na área via pesquisa para a capacitação e o

desenvolvimento de softwares educativos sustentados pelos valores

pedagógicos, políticos, sociais e culturais da realidade brasileira de então.

Um ano depois, para caracterizar as ações na área da tecnologia

educacional o MEC, por iniciativa da SEI e do CNPq – Centro Nacional de

Pesquisa promoveram, na Universidade Federal da Bahia, o II Seminário

Nacional de Informática na Educação, com o objetivo de coletar subsídios para

a criação de projetos-piloto de educação, a partir de reflexões e da contribuição

de especialistas em educação, psicologia, informática e sociologia. Deste

encontro surgiram ações e visões essenciais à criação de uma política de

informática na educação como hoje se sabe. Entre estas visões, a de que o

computador em sala não deveria representar um fim em si mesmo, mas ser

encarado como um recurso a ser utilizado com fins de educar e não o contrario,

ou seja, para determinar o que deve ser ensinado.

Neste evento foi lançada a ideia do uso da máquina como ferramenta

para que o aluno exerça suas habilidades intelectuais em diferentes conteúdos.

Apesar da proposta educacional do governo federal contemplar apenas o

ensino médio, recomendou-se que as aplicações procurassem atender outros

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níveis e modalidades de ensino, com enfoque na interdisciplinaridade como

base para o sucesso das pesquisas na área (programa nacional de informática

educativa, 10/1989).

Também em 1982 foi criado o CENIFOR – Centro de Informática do

MEC, órgão subordinado a fundação brasileira de TV educativa, atual Roquette

Pinto. Sua função foi reformulada posteriormente, em março do mesmo ano,

para o melhor cumprimento de requisitos indispensáveis ao desenvolvimento e

a coordenação das atividades na área educacional, visto o interesse da

secretária geral do MEC em tomar a frente do projeto.

Em outubro de 1984 foram assinados os primeiros convênios entre o

MEC e as universidades federais do país para o inicio das atividades de

implantação de centros-piloto de informática educativa. Coube ao CENIFOR

implementar, coordenar e supervisionar o projeto EDUCOM (Educomunicação),

cuja história será apresentada a seguir.

Surgiram, através dos seminários de 1981 e 1982, diversas iniciativas de

cunho educacional em projetos universitários. Dentre estes, o projeto

EDUCOM, criado em 1984, obteve destacada importância. Com o apoio

conjunto do MEC, conselho nacional de pesquisas – CNPq, financiadora de

estudos e projetos – FINEP e secretaria especial de informática da presidência

da república – SEI/PR, o EDUCOM era voltado para a criação de núcleos

interdisciplinares, os chamados centros-piloto de pesquisa e formação de

recursos humanos nas universidades federais do país no rio grande do sul

(UFRGS), Rio de Janeiro (UFRJ), Pernambuco (UFPE), minas gerais (UFMG)

e na universidade estadual de campinas (UNICAMP). Apesar de algumas

restrições e dificuldades financeiras, o projeto foi um marco no processo de

criação de base cientifica e de formulação da política nacional de informática

na educação.

Um dado importante sobre a implantação dos centros-piloto do

EDUCOM foi à adoção de uma metodologia de planejamento essencialmente

participativa com o fim de organizar, executar e avaliar as experiências de

informática realizadas na educação do Brasil. Esta medida implicou em

frequentes consultas e ainda no envolvimento de representantes da

comunidade técnico-científica nacional, envolvendo também professores das

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secretarias de educação e a equipe técnico-administrativa, na tentativa de

evitar discriminações.

Considerando o contexto político em que foram originadas tais ações, ou

seja, durante o período do regime militar no Brasil, é inegável que existiu no

EDUCOM uma preocupação com a interdisciplinaridade e com o caráter

humanista quando da participação da comunidade nas tomadas de decisão. No

entanto, os projetos de tele-educação da época, por sua vez, ainda adotavam

uma abordagem tecnicista, sendo planejados e desenvolvidos sem a

participação pública. Muitas vezes, eram descontextualizados e desvinculados

da realidade político-social vigente, demonstrando pouco conhecimento dos

agentes locais sobre as necessidades dos beneficiários do projeto.

Ainda assim é importante registrar que o EDUCOM realizou uma

abordagem diferente quando procurou respeitar as recomendações das

comunidades cientificas nacional e internacional. O projeto acertou ao apostar

na abordagem interdisciplinar, pois acreditou que, para examinar os aspectos

educacionais em sua complexidade, seria preciso ir além do foco educacional

ou tecnológico. (ANDRADE & ALBUQUERQUE LIMA, 1993, p.57).

Em 1986, a partir dos resultados do projeto EDUCOM, o MEC criou o

programa de Ação Imediata em informática na educação, destinado a capacitar

professores do ensino fundamental e médio (projeto FORMAR) e a instaurar

estruturas de suporte nas secretarias estaduais de educação (CIED – Centros

de Informática Aplicada à Educação), universidades (CIES – Centro de

Informática na Educação Superior) e escolas técnicas federais (CIET - Centro

de Informática na Educação Tecnológica). Determinou-se que cada secretaria

de educação e instituição de ensino técnico ou superior deveria desenvolver

sua proposta pedagógica.

Uma das primeiras ações do programa de ação imediata foi a avaliação

do projeto EDUCOM, conduzida por uma comissão de experts do setor. Ao

final do relatório, a comissão alertou que os centros-piloto vinham de fato

desenvolvendo as atividades a que se propuseram, embora não houvesse

dúvidas quanto às dificuldades no alcance de suas metas, entre estas os

frequentes atrasos no repasse de verbas, a falta de incentivo de bolsas de

estudo no CNPq, o precário apoio financeiro da FINEP e SEI, que então havia

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se retirado do projeto, além de incongruências existentes dentro da própria

coordenação administrativa do EDUCOM.

O relatório recomendava a manutenção e a reativação do apoio técnico

e financeiro aos centros-piloto, maiores oportunidades de intercambio entre os

pesquisadores e o uso da pesquisa como foco principal dos centros, visando

buscar conhecimentos seguros que selassem futuras decisões políticas e ainda

viabilizassem condições de antecipação de problemas, bem como o

reconhecimento de limites e dificuldades.

A secretaria de informática do MEC assumiu a responsabilidade de

condução das ações de informática na educação em maio de 1987, assumindo

também a coordenação e a supervisão técnica do EDUCOM. Dois meses

depois, após um período de ausência de financiamento, foram transferidos

recursos para as entidades de gestão dos centros-piloto, após um longo

período de dificuldades financeiras.

O programa de ação imediata teve inicio, assim, com a alocação de

novos fundos para a pesquisa, a divulgação do primeiro concurso nacional de

software educativo e a criação do projeto FORMAR, com o lançamento de dois

cursos de especialização em informática na educação para professores em

nível de pós-graduação. (ANDRADE & ALBUQUERQUE LIMA, 1993, p.140).

Dados o apoio e o interesse da secretaria geral do MEC, a nova gestão

vislumbrou acelerar o desenvolvimento da área. Entre 1988 e 1989, foram

criados 17 CIEDs em diversos estados da federação, entre os quais grupos

interdisciplinares de professores, técnicos e especialistas trabalhavam com

vários programas computacionais de uso e aplicação na informática educativa.

Tais centros atendiam alunos e professores do ensino médio e

fundamental, e ainda a comunidade local, tornando-se verdadeiros

multiplicadores da rede pública de ensino.

Ao final da década de 1980, o Departamento de Assuntos Educativos da

Organização dos Estados Americanos (OEA), em reconhecimento ao esforço

brasileiro no setor, convidou o MEC a apresentar um projeto multinacional de

cooperação com outros países da América Latina. No México, o MEC realizou

a avaliação do projeto de informática educativa na área d educação básica, o

COEBA – Centro de Educação Básica.

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Outra ação de cooperação internacional iniciada no Brasil foi a jornada

de Trabalho Luso Latino-Americana de Informática na Educação, com o

objetivo de descobrir áreas de interesse comum relacionadas a pesquisa e

formação de recursos humanos de subsidio a outros projetos da OEA. O

evento abriu um novo olhar sobre princípios relacionados à integração,

colaboração, respeito à diversidade cultural e cooperação. As recomendações

do encontro entre mais de 15 países serviram de base para a elaboração do

Projeto Multinacional de Informática Aplicada a Educação Básica, que envolveu

8 países americanos, sendo apresentado a OEA em 1989 e aprovado para o

período entre 1990 e 1995.

Em outubro de 1989, a partir de iniciativas brasileiras e internacionais, foi

sedimentada uma base para a criação do Programa Nacional de Informática

Educativa – PRONINFE), com a proposta de “Desenvolver a informática

educativa no Brasil, através de projetos e atividades, articulados e

convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica solida e atualizada, de

modo a assegurar a unidade política, técnica e cientifica imprescindível ao êxito

dos esforços e investimentos envolvidos.” (MORAES, 1997).

Apoiado nos capítulo III e IV da atual constituição brasileira, o programa

visava à utilização e o desenvolvimento da informática nos ensinos de médio,

fundamental, superior e na educação especial: a consolidação e integração de

pesquisas; a capacitação contínua de educadores e a implementação de

núcleos em todo o país.

Outras gestões também foram iniciadas junto a Secretaria Especial de

Informática do Ministério de Ciência e Tecnologia, paralelo a criação do

PRONINFE, cujo objetivo era a inclusão de metas do programa como parte do

PLANIN, Plano de Informática e Automação (1991-1993).

O plano, aprovado pelo Conselho Nacional de Informática e Automação

(CONIN), recomendava que as políticas d informática na educação deveriam

estar de acordo com os objetivos e diretrizes da política educacional de ciência

e tecnologia, interligados e interdependentes.

Alguns resultados das ações do PRONINFE entre 1980 e 1995.

Criação de 44 centros de informática interligados a internet;

Criação de 400 centros implantados via iniciativa governamental,

a partir do modelo estabelecido pelo projeto EDUCOM/UFRGS;

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Implementação de 400 laboratórios de informática educativa em

escolas da rede pública, todos financiados pelo governo;

Cerca de 10.000 profissionais capacitados para trabalhar em

informática educativa no país, entre professores de nível médio,

fundamental e superior, além de educadores-pesquisadores com

cursos de mestrado e doutorado.

Apesar das dificuldades orçamentárias, o programa gerou, em uma

década, uma cultura nacional de informática educativa na rede pública. As

ações do PRONINFE foram ainda importantes no incentivo de diversos tipos de

bolsas de estudos. Com o desenvolvimento do setor, a informática educativa

destacou-se no RHAE – Programa de Capacitação de Recursos Humanos em

Áreas Estratégicas, do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Segundo Moraes (1997), em 1990, o MEC aprovou o PLANINFE –

Primeiro Plano de Ação Integrada. Assim como o PRONINFE, este destacava a

importância de um programa de formação de professores eficaz, e envolvia

secretarias, escolas técnicas, universidades e empresas como o SENAC e

SENAI. No final da década de 1990, o MEC criou o PROINFO, Programa

Nacional de Tecnologia Educacional criado pela portaria n°522/MEC, de 9 de

abril de 1997, para promover o uso pedagógico de tecnologias de informática e

comunicações (TICs) na rede pública de ensino fundamental e médio, com o

intuito de promover a inclusão digital destes alunos.

Com o inicio da globalização e a transformação nas relações de poder e

de acesso à informação, inaugurou-se uma economia de serviços, em que a

tecnologia e o sistema de informação que se dá a interação entre o individuo e

o capital são substituídos pela informação e pelo conhecimento, deu-se através

do uso massivo do computador e, posteriormente, da internet.

1.1. Educação à distância

O modelo apresentado como democrático e emancipador, idealmente

igualitário para a vida em sociedade, no entanto, trouxe também problemas

como a exclusão social e a dominação – questões de ordem ideológica que

pressupõem o controle da vida do individuo.

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Neste contexto, o PROINFO marcou o inicio de uma nova fase

educacional no país, com a geração de inúmeros recursos e projetos

educacionais com o intuito de informatizar todas as escolas da rede pública. O

objetivo, diminuir a desigualdade e promover a inclusão digital para

democratizar o acesso à informação, nem sempre é refletido em todas as salas

de aula da rede de ensino, como nos mostra a história recente.

Para Moraes (1997), com a popularização da internet e o

reconhecimento de seu potencial informativo, cresceram também o interesse

nos computadores e a sua influencia na sociedade. O surgimento da educação

à distância – EAD recentemente no Brasil, acompanhado pelo número de

cursos online oferecidos na rede, reforça esta afirmação.

No Brasil, vários projetos foram realizados com relativo sucesso no que

diz respeito à EAD, desde com a fundação do Instituto Rádio Monitor, em 1939,

e do Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Foram muitas as experiências

brasileiras governamentais e privadas nas ultimas décadas, com a mobilização

de grandes contingentes de recursos.

Inicialmente, o sucesso destas experiências não foi suficiente para gerar

a aceitação governamental e social da EAD Brasil, que foi normatizada pela Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (dezembro de 1996), em fevereiro

de 1998.

De acordo com o Art. 2° do decreto n° 2494/98, as propostas dos

“cursos a distância que conferem certificado ou diploma de conclusão do

ensino fundamental para jovens e adultos, do ensino médio, da educação

profissional e de graduação serão oferecidos por instituições públicas ou

privadas especificamente credenciadas para esse fim” deveriam ser

encaminhadas ao órgão do sistema estadual ou municipal responsável pelo

credenciamento das instituições e da autorização de cursos, quando esta não

for instituição vinculada ao sistema federal de ensino. Neste caso, o

credencialmente é feito pelo ministério d educação.

A definição de EAD segundo Chaves (1999, p.15):

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É o ensino que ocorre quando o ensinante e o aprendente estão

separados no tempo ou no espaço. No sentido que a expressão assume hoje,

enfatiza-se mais a distância no espaço e se propõe que ela seja contornada

através do uso de tecnologias de telecomunicação e de transmissão de dados,

voz e imagens. Não é preciso ressaltar que todas essas tecnologias, hoje,

convergem para o computador.

A Educação a Distância foi uma grande conquista para a

democratização do conhecimento intelectual, tornando possível o acesso ao

ensino de forma mais fácil. Neste sentido, o governo brasileiro criou leis que

estabelecem normas para a modalidade de educação a distância no país.

O final da primeira década do novo milênio se aproxima, e o papel da

educação hoje não é o mesmo de 40 anos atrás. Hoje, no Brasil, luta-se para

além do acesso digital, ainda que diante da desigualdade. A educação tem por

função criar estratégias de democratização da informação. Na sociedade da

informação, os recursos são compartilhados e o objetivo é que o aluno seja

criativo diante do excesso de informações. Demo (1997 apud BERTOLETTI,

MORAES E COSTA, 2003, p.01) apresenta uma abordagem diferente, ao

propor a educação pela pesquisa e o questionamento reconstrutivo. Para o

autor, a construção do conhecimento ocorre a partir da reflexão e da

reformulação de teorias e conhecimento pré-existentes, o que pode ser

executado na escola, em ambiente real, ou via VLE – Virtual Learning

Environment.

Para Peter Burke e Asa Briggs (2006, p.203), historiadores

pesquisadores da influencia da mídia e o desenvolvimento tecnológico, não há

um caminho único e desenvolvimento e a principal característica dos

fenômenos estudados na evolução é sua própria complexidade. A mesma

complexidade que aponta para a ideia de realimentação presente nas

cybertrips, mas que não pode, nem deve, ser exclusiva delas. Afinal, como

salientam os autores, “vivemos em um mundo onde há mais mediação do que

em qualquer outro momento da história”.

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A história da tecnologia educacional no Brasil ainda não terminou. Está

sujeita a demandas, fatos, mudanças, inovações, histórias de erros e acertos

que compõem um todo que ainda não é todo: está “m construção”, em um

mundo globalizado, mutante, aonde não há mais verdades absolutas.

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CAPÍTULO II

TECNOLOGIA EDUCACIONAL E INFORMÁTICA:

DEFINIÇÕES, APROXIMAÇÕES E POSSIBILIDADES

A utilização de computadores na sala de aula é tão antiga quanto sua

própria história de fabricação e comercialização. O uso de máquinas para

educar sempre foi um desafio para os pesquisadores preocupados com a

popularização dos computadores em nossa sociedade. Já em meados da

década de 1950, quando começaram a serem vendidos os primeiros

computadores com capacidade de armazenamento de informação, apareceram

às primeiras experiências do seu uso da educação. Um exemplo foi seu uso na

resolução de problemas nos cursos de pós-graduação em 1955 e como

ferramenta de ensino, em 1958, no centro de pesquisa Wastson da IBM e na

universidade de IIIinois – Coordinated Science Laboratory (Ralston & Meek,

1976, p.272).

Segundo Oliveira (2007), “a Tecnologia da Educação no Brasil foi

utilizada como instrumento de vinculação da educação aos interesses

econômicos na década de 60, para formação de mão de obra necessária ao

país, em processo de industrialização” (p.9). Para o autor, a supervalorização

da tecnologia na época fomentou por força, em muitos educadores, um

sentimento de descrédito quanto aos artefatos tecnológicos que então

deveriam ser incorporados ao ensino. Esta espécie de “cultura da repulsa

tecnológica” só poderia ser compreendida e superada via profunda reflexão e

com o desenvolvimento de uma nova visão do uso da tecnologia.

A partir do interesse de educadores de universidades brasileiras,

inspirados pelo que já vinha acontecendo em outros países como Estados

Unidos e França, começou-se a discutir e refletir sobre a real importância do

uso da informática e da tecnologia em sala de aula. Em 1971 a I conferência

nacional de tecnologia em educação aplicada ao ensino superior (I CONTECE),

realizada na universidade federal de São Carlos, E. Huggins, especialista da

universidade de Dartmouth, ministrou um seminário sobre o uso de

computadores no ensino de física (SOUZA, 1983).

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19

2.1 Tecnologia educacional

O contexto nacional de abertura política, no final da década de 1970,

favorecia o planejamento de medidas que modificassem a política educacional

vigente, com o intuito do exercício da cidadania através da democratização da

educação. No I Seminário Nacional de Informática na Educação, realizado em

Brasília, Mme. Françoise Faure, encarregada da área internacional da direção

geral das indústrias eletrônicas e de informática da França, juntamente com

Felix Kierbel, diretor do centro nacional de ensino de informática do ministério

da cultura e educação da Argentina, ministram palestras técnicas sobre a

importância da informática como ferramenta de aprendizagem (seminário

Nacional de Informática na educação 1 e 2, 1982).

A denominação tecnologia educacional (Te) não surgiu isolada, com

uma só definição, dada a compreensão diferenciada, pelos próprios

educadores, de cada um dos instrumentos tecnológicos de ensino. Para os

participantes do XI Seminário Brasileiro de Tecnologia Educacional, realizado

em 1979, a TE passou por duas fases; a primeira, dentro de um cenário

enfeitado com ideias de modernização, marcado pela supervalorização da

máquina e da instrumentalização da tecnologia, sendo esta muitas vezes um

fim em si própria, com o objetivo de ser eficiente (ABT, 1992, p.17)

Hoje, sabemos que o uso do computador pode ser feito tanto para

continuar transmitindo a informação para o aluno, reforçando o processo

instrucionista, quanto para propiciar ao aluno um ambiente de construção de

conhecimento. Segundo Mazzi (1981), a valorização inicial do instrumental

surgiu desprovida do entendimento de que os problemas educacionais não

poderiam ser resolvidos somente dentro da escola. Isto terminou por reforçar o

ensino tradicional, pois estavam sendo questionadas “as finalidades, as

contradições e as aberrações” tecnológicas (p.25,26):

(...) o perigo da TE estaria, justamente, no fato de acenar com

promessas e mudanças, obscurecendo as questões essenciais, impedindo que

emerjam os problemas substantivos. Distraídos com a possibilidade de

reformulam métodos e formas de educar, (...) os educadores anestesiaram a

própria consciência. A ilusão estaria no acreditar que, mudando equipamentos

e métodos, todo o resto poderia ficar como está.

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20

A segunda fase da tecnologia educacional compreendeu o período em

que se valoriza o planejamento das atividades tecnológicas, priorizando “os

princípios e métodos de organização da instrução” e dando pouca ênfase as

estratégias de implementação (ABT, 1982, p.17). Segundo kuenzer e Machado

(1986, a TE passa a ser vista como propulsora da produtividade, sendo usada

na escola como complemento a adequação ao modelo econômico

desenvolvimentista iniciado com o golpe de 1964.

Para Saviani (1985), entretanto, a tentativa de adequar a escola as

necessidades do momento econômico de então, em que os instrumentos se

sobrepõem ao sujeito, veio contribuir para o declínio da educação no Brasil,

especialmente nas escolas públicas do país, pois não se olhou para seus

problemas extraorais.

As primeiras ações governamentais implementadas no intuito de

interligar educação e informática ocorreram em 1979 quando a SEI escolheu os

setores da educação, agricultura, saúde e indústria para a viabilização de

recursos computacionais em suas atividades. Com a criação da comissão

especial de educação, em 1980, foram colhidos subsídios para a geração de

normas e diretrizes na área da informática educacional. Até então, não havia

interferência de setores sociais ligados ao desenvolvimento do binômio

informática-educação (FUNTEVÊ, 1985a)

Quando da entrada do computador na sala de aula, uma das iniciativas

do MEC destinadas a mudar o quadro de descrédito foi à criação do PIE –

programa de informática e educação. Poucos trabalhos foram realizados sobre

o PIE, dado o pequeno número de escolas públicas com computadores na

época, e ainda devido centros-piloto são descritas por Almeida (1987) com

considerações atuais sobre o processo de planejamento pedagógico do PIE. O

educador Jarvas Novelino Barato fez parte de uma das equipes de

desenvolvimento do programa e, em seu blog, afirma:

O PIE era uma equipe muito especial, feito por gente jovem e talentosa.

Com uma produção muito criativa, mesmo quando trabalhou com os limitados

recursos dos inesquecíveis Apple IIe. Por volta de 1988, quando não sabíamos

o que fazer para levar a frente softwares de simulação, convidei Bernie Dodge,

professor da San Diego State, para uma oficina no Brasil com a finalidade de

ajudar o PIE a conceber modelos que pudessem se converter em simulações

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bem estruturadas. Um dos trabalhos mais conhecidos do PIE foi o software

introdução ao micro, uma proposta que ajudou muita gente a lidar sem medo

com os computadores pela primeira vez na vida. O PIE cessou atividades em

1992. Com a constante mudança das configurações dos computadores

pessoais, não há hoje máquinas que possam rodar os softwares que fizemos.

A exceção é o Sherlock, um software de David Carraher, redesenhado pelo PIE

e recentemente reeditado pelo Senac.

Ao realizar levantamento bibliográfico sobre o uso da informática no

ensino no Brasil, vemos que os recursos tecnológicos do PIE priorizavam

investimentos em tecnologia educacional (SEI, 1982). Para Cysneiros, embora

estes recursos não oferecessem respostas para problemas como evasão

escolar, taxas de analfabetismo e reprovação, eles contribuíram para a

melhoria da qualidade de ensino (CYSNEIROS, 1990a). Percebe-se então uma

mudança na concepção da informática educativa, progredindo para a

informatização da educação, cujos defensores são muitos.

2.2 Acessibilidade e inclusão digital

Chaves (1988) acredita que não faltam justificativas para o uso do

computador na sala de aula. Estas vão desde a questão pedagógica até as

questões sociais, como por exemplo, a necessidade de intervenção do poder

público de forma a não permitir a disparidade entre a educação pública e a

privada. Carvalho (1985) também afirma que a desigualdade no acesso a

informação digital permite que uma pequena parcela da sociedade brasileira

caminhe efetivamente para se inserir na sociedade informatizada.

Abordando o mesmo assunto, Cysneiros (1990, p.54) afirma: (...) caso

não sejam desenvolvidas experiências que possibilitem, num futuro próximo, a

disseminação realista de microcomputador nas escolas públicas, este fato será

mais um elemento de desigualdade social, com o acesso ao conhecimento da

informática restrito a determinadas classes”.

Neste sentido, os caminhos que levam a inclusão digital no Brasil vêm

desta percepção, ou seja, da necessidade do poder público de trabalhar para a

implementação de ações que busquem formar indivíduos capazes de atuar na

sociedade contemporânea em constante processo de informatização

(CHAVES, 1988).

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Como vimos, a entrada dos computadores no setor do ensino não pode

ser dissociada dos acontecimentos tecnológicos das últimas três décadas, as

quais nos trouxeram transformações nos âmbitos produtivo e cultural. A política

de informática educativa brasileira evoluiu em conjunto com a divisão

internacional do trabalho e da crescente produção de serviços de informações

vitais para a economia. Eventos relacionados à disputa de mercado neste setor

fizeram com que uma lei fosse aprovada no Brasil para a criação de uma

reserva para a industrialização de aparelhos tecnológicos. A lei 7.232 de 1984

garante a autonomia nacional na ciência e tecnologia (TIGRE, 1982, p.5).

Almeida (1987, p.41) percebe que o domínio da informática representa

uma forma de poder. Daí a importância da acessibilidade a todos, visto que

manusear o computador representa mais que mera possibilidade pedagógica; a

inclusão digital faz parte do processo democrático em sociedade.

2.3. Planejamento educacional

Considerando as relações econômicas e de classes na sociedade

brasileira, e partindo da compreensão de que a escola é, também, um

ambiente de reprodução de ideologias e valores, faz-se necessária uma análise

de representatividade do processo de informatização educacional em nossos

professores e alunos. A forma como a nova ordem sofre interferência direta da

dinâmica e da subjetividade da escola em um cotidiano permeado por aspectos

políticos, econômicos e ideológicos (OLIVEIRA, 2007, p.54)

Esta dinâmica traz em si conflitos dentro e fora da escola, sendo a figura

do professor o ponto de conexão entre estes contextos. Todavia, a qualificação

e a cooperação entre os educadores não aconteceu espontaneamente.

Inicialmente, a divisão do trabalho sob a perspectiva da política da informática

na educação relegou o professor o papel de mero executor de atividades

preestabelecidas (GIROUX, 1986). Porém, ao analisar a prática pedagógica do

professor, devem ser considerados os valores que ele traz consigo, sem

esquecer das condições determinantes de sua existência e, especialmente, a

filosofia política e pedagógica que norteia sua formação. Ignorar estes

elementos é não perceber o que de fato define sua prática educacional.

Solange Nogueira (2003), em seu artigo “integração formação docente

inicial e continuada com a mediação de Didática e Novas Tecnologias”, além

de mapear os fundamentos da teoria crítica e pós-crítica da importância do

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currículo, da didática e da comunicação mediadas por novas tecnologias,

apresenta casos de experiências formativas que articulam a formação inicial

com a formação continuada do professor. Para a autora, a mobilização destes

saberes docentes faz-se essencial:

Os processos de ressignificação do fazer pedagógico estão relacionados

com as políticas de formação dos professores. Todavia estas políticas

apresentam uma herança hierárquica do processo escolar, formatado pelos

modelos tradicionais que refletem atividade docente que sejam incorporados

pelo coletivo social. Discutir o uso das TICs e localiza-las no contexto das

diretrizes é romper com o discurso tecnofóbico, com as resistências sobre as

potencializações e com as formas de ministrar aulas, superando os conceitos

de tempo e de espaço.

As recentes diretrizes para a formação dos professores enfatizam que os

cursos de licenciatura deverão compreender o fenômeno educativo e sua

relação com a pluralidade cultural, com a realidade escolar e com os processos

científicos e tecnológicos (SANTOS e ALVES, p.18). De modo geral, são

atribuídas as TICs os impactos causados nas formas de convivência social e

de organização do trabalho.

Segundo Porto (1992), o planejamento educacional é uma das formas

de intervenção no cotidiano escolar. As metas e ações planejadas que

contemplem a inclusão digital e a preparação do professor para o ensino da

informática e seu uso aplicado como ferramenta de construção de

conhecimento. Esta realidade engloba uma das facetas da população

informatizada e tem marcante influência no sistema educacional.

Tal perspectiva leva Porto a afirmar que os planejamentos educacionais

devem visualizar a escola como espaço de construção de conhecimento,

socialização e, tão importante quanto, um local de discussão e troca na

elaboração de uma sociedade diferente, construída por todos e para todos.

Executar um novo modelo de planejamento, segundo Cury et AL.(1996),

deve privilegiar a quantificação de variáveis, tais como avaliação, reprovação e

evasão. Estes dados são importantes na identificação de deficiências no

atendimento escolar e, além de sua analise, é preciso conhecimento do que se

passa na escola e o que determina o sucesso ou fracasso de seus alunos.

Velloso (1983, p.9), por sua vez, adiciona elementos ao abordar o

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planejamento participativo, e volta sua preocupação para a indagação se será

possível à realização de uma atividade conjunta de classes diferentes da

sociedade:

Se os processos de participação política usualmente adotados no

modelo político das sociedades capitalistas são tipicamente excludentes, não

permitindo uma participação igualitária de diferentes classes e grupos sociais,

como seria viável um planejamento participativo?

Segundo Viana (1986) há uma desarticulação entre a teoria e a prática

na sala de aula informatizada. Não basta haver computadores; o descompasso

acontece devido ao modelo de planejamento que não visualiza a educação em

sua totalidade:

A realidade é que, até hoje, poucos tipos de planejamento das atividades

escolares conseguiram efetivar a tarefa primordial de especificar, adequar e

inovar a ação pedagógica. A maioria traduz-se em passos fragmentários e

isolados de ações educativas, envolvendo apenas alguns aspectos dessa

mesma ação, esquecendo-se do todo. (VIANA, 1986, p.12).

2.4 Novo perfil de ensino

O modelo eficiente de informática educativa pressupõe professores

qualificados e aptos a planejar de forma conjunta. Requer, ainda, uma

modificação nas relações entre professores e coordenação. A forma positiva de

se relacionar com os professores por parte desta nova coordenação, de acordo

com Villas Boas (1985, p.64), é elemento indispensável ao sucesso do projeto

educacional por que:

É no respeito à personalidade do companheiro de trabalho, na justa

valorização não somente de sua produção, mas do empenho com que a ela se

aplica, no suporte oferecido no momento necessário, em seu envolvimento nas

ações como pessoa e educador, em resumo, na criação de um clima ao

mesmo tempo se empatia, segurança e estimulação, que repousa o êxito do

comportamento supervisório.

Viana (1986, p.34) acentua:

Os resultados serão analisados, avaliados, não só pelos professores ou

pela administração escolar, mas pelos alunos, seus pais e a comunidade. Com

isso, serão garantidos a continuidade do trabalho, a existência de forças

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favoráveis à efetivação das mudanças realmente necessárias e o poder para

exigi-las dos órgãos responsáveis dentro do sistema.

O planejamento e a implementação de atividades educacionais

viabilizadas pela tecnologia devem contemplar a contextualização do saber. A

ênfase está na revalorização do sujeito e na criação de sentidos para as TICs

na educação. Concordo com Santos (2000) quando destaca que esta nova

ordem exige que se pense em uma coletividade mais solidaria e humana, em

que a técnica é fundamentada em planos sociais e políticos para promover a

prática educacional,pela sociodiversidade.

Hoje, sabemos que a articulação entre tecnologia e educação ainda

caminha lentamente no Brasil, embora a discussão existisse há décadas, com

diferentes vieses. Um importante aspecto, o que talvez tenha afastado a

possibilidade de uma real integração entre a tecnologia e o fazer pedagógico,

foi à criação de um mito, persistente até hoje no meio educacional, de que o

professor seria substituído pelo computador.

Embora na década de 1980 vejamos um avanço para um nível mais

crítico desta postura, somente no final da década de 1990 surgiu um olhar

significativo da presença tecnológica na sala de aula. As contribuições trazidas

por Pretto (1996) e Pierre Levy (1993) semearam novos olhares sobre a

relação entre educação e tecnologia:

Uma nova pedagogia já está sendo inventada, que concebe as

tecnologias como meios linguagens ou fundamentos das metodologias e

técnicas de ensino, sem esquecer de considera-las como objeto de estudo e

reflexão, assegurando sua integração crítica e reflexiva aos processos

educacionais. A tecnologia é o fundamento desta nova pedagogia. (PRETTO,

1996)

As tecnologias presentes em nossa sociedade e, por consequência, na

nossa escola, passam a ser vistas como ferramentas de mediação da atitude

pedagógica, atuando na zona de desenvolvimento proximal dos sujeitos

(ALVES, 1998; Vygotsky, 1994), ampliando e alterando suas funções cognitivas

(LEVY, 1993).

Novas perspectivas abriram discussões e reflexões para a construção de

caminhos metodológicos agora mediados por elementos tecnológicos.

Contudo, ainda há grande dificuldade em efetivar a teoria, delimitando os

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fazeres pedagógicos e tecnológicos. A prática ainda é frágil porque nasceu de

uma concepção instrumentalista da tecnologia. Na visão de Bachelard (1996),

Um contra pensamento emerge no âmago do próprio ato de conhecer,

mediante lentidões e conflitos que são vivenciados pelo aprendiz (...). Os

obstáculos aos novos conhecimentos são gerados pelo saber prévio,

cristalizados pelo tempo, que resiste a instalação de novas concepções que

ameaçam a estabilidade intelectual do detentor destes conhecimentos.

Sendo o foco deste estudo a didática e, portanto, as competências

docentes, é valido tentar estabelecer relações e contrapontos sobre as antigas

e novas formas de ensino, observando como estas coexistem e se confundem

nos espaços de aprendizagem. As novas tecnologias criam mais possibilidade,

ampliando o conceito de sala de aula para ambiente de aprendizagem, em que

diferentes recursos audiovisuais, a tevê, o vídeo e o computador inauguram

uma nova forma de aprender e de ensinar.

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CAPÍTULO III:

A VOZ DOS MESTRES E ALUNOS: A INCLUSÃO

DIGITAL NO COTIDIANO ESCOLAR

A comunidade escolar é um microcosmo da vida em sociedade, e

também está sujeita as influências e transformações tecnológicas que vem

acometendo o mundo globalizado. Hoje, a exclusão digital leva, também,

exclusão social. Eis alguns depoimentos de alunos e professores brasileiros

sobre a importância do uso de computadores nos laboratórios de informática da

escola, para a inclusão digital e social:

“Sem dúvida, a escola que só transmite informações aos alunos e não

faz com que o estudante busque o conhecimento, está obsoleta. Quem não

tem contato com a tecnologia em casa chega à escola com a expectativa de

ser incluído no universo tecnológico no ambiente escolar. O aluno se torna

mais ativo no processo de construção do conhecimento.” (Giselma Augusto,

professora de historia da rede pública de ensino).

“É interessante que as escolas tenham computadores disponíveis aos

alunos e professores. É uma oportunidade de estar atualizado e buscar

qualquer tipo de informação. Além disso, os computadores despertariam o

interesse dos estudantes para as aulas. O governo precisa assumir a

responsabilidade de colocar a informática nos colégios. Essa é uma

necessidade hoje em dia” (Juliana da Silva Araujo, 17, acabou de concluir o

ensino médio.

“É de suma importância utilizar a informática na escola. Acho que os

alunos se interessariam mais pelos estudos. A internet facilita a busca pelo

conhecimento e aumenta as possibilidades de pesquisa. Há muitos estudantes

que não tem contato com essas tecnologias em casa, por conta da condição

financeira, e é importante que a escola ofereça essa oportunidade”. (Conceição

Almeida Aguiar, professora de geografia da rede publica.

“O computador faz falta na escola: para fazer pesquisas, trabalhos. Acho

que as aulas ficariam mais interessantes se as escolas oferecessem acesso à

informática. Para os professores também faz falta. Eles poderiam preparar

melhor as aulas. Eu não tenho computador em casa. Quando preciso, tenho

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que pedir para usar de algum amigo”. (Bruno Silvano dos santos, 17, está no 2°

ano do ensino médio).

Fonte: http://www.serpro.gov.br

Dados do comitê para a democratização da informática (CDI) revelam

que a “revolução digital” levou a expansão dramática da economia global,

transformando a forma como vivemos e gerando riqueza, mas apenas para

alguns locais do mundo. Na América latina, cerca de 40 % da população ainda

vive abaixo da linha da pobreza.

Educação de qualidade e assistência médica são escassas; o

desemprego beira os 30%.

Pesquisas mostram que pessoas que trabalham na indústria do

conhecimento possuem em média 12 anos de estudo na

educação formal, enquanto latino-americanos em geral têm

apenas seis.

Somente 17% da população d América latina e Caribe acessam a

internet (nos Estados Unidos e Canadá, a média é de 70%)

No Brasil, o primeiro mapa da exclusão digital (publicado em 2002

pela USAID, Sun microsystems e fundação Getúlio Vargas) já

revelava o tamanho do nosso desafio: só 12% dos brasileiros

possuíam computadores e 8 % acessava a internet em casa.

Estudos recentes mostram que 67% dos 188 milhões de

brasileiros nunca se conectaram a internet e 54% nunca usaram

um computador.

Fonte: CDI, http://www.cdi.org.br/notes/cenário_da_exclusao

Para Sorj e Guedes (2005, p.151 e 152), a exclusão digital não é um

fenômeno simples, e não se deve esperar que o analfabetismo seja erradicado

para que iniciar políticas inclusivas. “A luta pela inclusão é, também, uma luta

contra o tempo”.

A era industrial marcada pela supervalorização da máquina gerou um

profundo impacto nas relações de produção e consumo em nível econômico e

social, levando ao liberalismo econômico e a produção de novas tecnologias.

Caminhamos para chegar ao presente cenário, o da sociedade da informação

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ou do conhecimento. Permeada pelo surgimento das TICs e sua abrangência

multissetorial nos dias de hoje.

No panorama educacional, dando seguimento a luta a que se referem

Sorj e Guedes, faz-se necessária uma ação docente diferenciada, baseada na

compreensão e analise reflexiva destes fatos sociais, aliada a qualificação e

capacitação profissional contínuas, para a promoção de mudanças que

coadunem com o contexto histórico em que vivem nossos alunos, indivíduos

pertencentes a esta nova sociedade.

No Brasil, o governo federal executa e apoia ações de inclusão digital

por meio de diversos programas e órgãos. Em julho de 2009, constavam cerca

de 20 iniciativas e projetos que, entre outras atividades, incluem a distribuição d

laptops a docentes e centros vocacionais tecnológicos, bem como programas d

capacitação, como o Proinfo, programa nacional de informática na educação,

desenvolvido pela secretaria da EAD (fonte:

http://www.inclusaodigital.gov.br/inclusao/outros-programas).

Hargreaves (2004 p.22) afirma que a sociedade do conhecimento

processa a informação de modo a ampliar a aprendizagem, estimular a

criatividade e desenvolver a capacidade de adaptar-se as transformações em

sociedade. Para o autor, ensinar tornou-se uma “profissão paradoxal”.

Entre todos os trabalhos que são, ou aspiram a ser profissões, apenas

do ensino se espera que gere habilidades e as capacidades humanas que

possibilitarão a indivíduos e organizações sobreviver e ter êxito na sociedade

do conhecimento nos dias atuais. Dos professores, mais do que qualquer outra

pessoa, espera-se que construam comunidades de aprendizagem, criem a

sociedade do conhecimento e desenvolvam capacidades para inovação,

flexibilidade e o compromisso com a transformação, essenciais a prosperidade

econômica. Ao mesmo tempo, os professores devem também mitigar e

combater muitos dos imensos problemas criados pelas sociedades do

conhecimento, tais como o consumismo excessivo, a perda de noção de

comunidade e o distanciamento crescente entre ricos e pobres. No atingimento

desses objetivos simétricos reside seu paradoxo profissional. A desses

educação – e consequentemente, escola e professores – deve estar a serviço

da criatividade e da inventividade.

3.1 Nativos e imigrantes digitais

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O curso de formação na área de informática educacional deve propiciar

ao docente vivenciar situações de conflito e, sob a orientação de especialistas,

identificar pontos cruciais deste aprendizado e iniciar no educador uma

mudança de postura. O domínio do computador requer tempo, assim como a

assimilação dos diferentes conhecimentos e técnicas que fazem com que a

informática seja de fato uma ferramenta educacional, seja no ministrar de aulas

ou no planejamento. Além disso, deve abrir espaço para construção de novos

saberes em psicologia do desenvolvimento, ciência da educação e da

computação e tecnologia educacional. A partir desta concepção, o profissional

estará apto a integrar a informática a suas praticas pedagógica. Tais ideias são

elaboradas no documento que originou o curso de especialização em

informática educacional do projeto FORMAR (FERREIRA, VALENTE E

FAGUNDES, 1987).

FULLAN (2000, p.34) fala em escola total e professor total, o sujeito e o

meio voltados para a cultura de cooperação, em que a interdependência molda

o cerne das relações entre os professores, fazendo de cada um parte de um

trabalho em equipe:

A reforma educacional padronizada (isto é, que não leva em conta as

peculiaridades, necessidades e expectativas da clientela escolar) tem tanto

valor para um a economia do conhecimento vigorosa em uma sociedade civil

forte quanto gafanhotos para uma plantação de milho.

O autor ainda cita o exemplo de “escola aprendente” – menos voltada ao

ensino tradicional e mais focada em praticar o ensino para a compreensão, a

reflexão e o desempenho em um mundo em constante transformação. Decerto,

um mundo em que a sociedade do conhecimento torna-se a verdadeira

sociedade de aprendizagem.

Sobre os conflitos e questões relacionados à evolução tecnológica e sua

aplicabilidade na escola na sociedade da informação, Mark Presky em seu

artigo Digital Natives, Digital Immigrants (10/2001), coloca que as discussões

sobre o declínio da qualidade da educação não levam em conta que nossos

alunos não são mais as pessoas para as quais o sistema educacional foi

planejado. Para o autor, é claro que os estudantes de hoje, já a partir da pré-

escola – possuem formas de processar as informações diferentes de seus

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predecessores, pois já nasceram em um contexto de linguagem digital,

computadores e internet. Podem ser denominados nativos digitais.

Tal denominação leva a crer que os professores destes alunos seriam os

imigrantes, os não nascidos no mundo digital, mas que se tornaram,

naturalmente ou por força da tecnologia, atraídos para esta nova necessidade.

A importância desta distinção está no fato de que os imigrantes digitais ainda

aprendem para se adaptar ao novo ambiente em que vivem. E, como os

imigrantes de qualquer local, uns irão aprender está linguagem de forma mais

rápida ou melhor do que os outros. Alguns professores, acredita Presky, não

acham possível que seus alunos aprendam através de programas, jogos ou

recursos audiovisuais, simplesmente porque eles não conseguem.

3.2. Construtivismo e tecnologia educacional

Campos e Rocha (1998) apontam para a necessidade de uma

perspectiva construtivista educacional quando do uso da tecnologia e

informática na escola. Em seu artigo sobre Design educacional e

construtivismo, as autoras afirmam:

A tecnologia educacional tradicional é baseada num relacionamento

linear e hierárquico que envolve a pré-seleção do conteúdo, enquanto que na

tecnologia educacional com enfoque construtivista os alunos selecionam e

desenvolvem suas próprias estratégias e, são encorajados a buscar novos

domínios do conhecimento. A característica mais distinta do construtivismo, em

relação à prática pedagógica (Cunningham, 1992), é a ênfase na

argumentação, discussão e debate. Na escola construtivista é reservado ao

estudante o papel de sujeito no processo de aprendizagem. O aprendiz

constrói uma representação interna do conhecimento, uma interpretação

pessoal da experiência. Esta representação está sempre aberta para

mudanças e suas estruturas e associações formam a base para que novas

estruturas de conhecimento sejam incorporadas.

Sobre a importância da tecnologia com recursos as mudanças

educacionais, baseadas na psicologia genética de Jean Piaget e no psicólogo

Lev S. Vygotsky, Reinhardt (1995) mostra as implicações tecnológicas de tais

mudanças.

Diferentes tipos de aprendizagem podem ser descritos como o uso das

redes, hipermídia, tutores e ferramentas de trabalho corporativo, na busca de

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adequar as formas de aprendizagem aos recursos disponíveis para a

educação, segundo Romiszowiski (1981) e Campos (1997).

3.3 Pesquisa: projeto educacional

Com o intuito de associar a prática construtivista ao uso de TICs na

educação, foi realizado para a presente pesquisa um projeto educacional

envolvendo quatro educadores e 58 alunos do 3° ano do ensino fundamental

em uma escola particular bilíngue, localizada na cidade do Rio de Janeiro.

Após participação em conferencia de E-educação realizada em maio de 2009

em Santiago no Chile, com foco na atualização e na formação continuada de

professores e após devido treinamento necessário para praticar uma nova

forma de ensino a partir de recursos tecnológicos, pude levar o projeto a escola

e desenvolver com a colaboração da coordenação e equipe de professores

atividades que embasaram o projeto e sua implementação.

Inicialmente, para a realização do projeto educacional forma necessários

conhecimentos adquiridos em uma das oficinas do evento, ministrada por

Oscar Stringer, diretor e fundador da Animation for education, órgão de

consultoria atuante em escolas e universidades da Inglaterra, cuja

especialidade consiste no desenvolvimento da criatividade via projetos de

animação com o uso de softwares livres e TICs na educação. Neste contexto, a

tecnologia e os recursos audiovisuais estimulam a colaboração para promoção

da aprendizagem e construção do conhecimento. Estes recursos estão a

serviço do professor em sala de aula e da universidade corporativa, bem como

do profissional de treinamento e aperfeiçoamento que adota a educação a

distancia e a escola virtual. (Fonte: http://www.oscarstringer.co.uk/index.html)

Durante o planejamento do projeto e sobre as limitações a serem

superadas, foram levados em conta, segundo Pfromm (2001, p.157):

a) O tempo de permanência dos alunos na escola efetivamente

devotado ao projeto;

b) O número de alunos envolvidos e a necessidade de sua alocação

em grupos;

c) A adequação do projeto aos objetivos curriculares da série em

questão;

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d) Adequação de instalações, mobiliário e demais componentes do

ambiente de aprendizagem escolar, condizentes as necessidades

do projeto e dos alunos;

e) A capacitação do docente envolvido e necessidade de

treinamento;

f) Os recursos auxiliares de ensino (ex: biblioteca e materiais de

projeção);

g) A participação da coordenação no processo de planejamento e

avaliação do projeto;

h) A inclusão de alunos com necessidades especiais;

i) A necessidade de avaliação do impacto do projeto no processo de

aprendizagem dos alunos nativos digitais.

Ainda segundo Pfromm, partiu-se da concepção de que é fundamental

(...) integrar o que se faz e o que se sabe sobre cada meio de

comunicação num conjunto de diretivas, cuidados e produtos para que pessoas

de todas as partes do mundo, de todas as idades e de diferentes categorias

socioeconômicas se apropriem bem e com o máximo proveito de tudo quanto

lhes for efetivamente ensinando nas telas educativas.

Sobre a escolha do software educacional para uso pelas crianças, levou-

se em consideração sua acessibilidade e preço. Para não adicionar custos ao

projeto, foi escolhido o programa SAM Animation, software livre para download

criado por alunos universitários do centro de engenharia para a educação da

Tufts University, nos Estados Unidos. O programa apresentou justa

aplicabilidade à faixa etária para o desenvolvimento da atividade de animação

gráfica e permitiu aos alunos usar sua criatividade para a criação de vídeos

animados usando massa de modelar, um computador e um webcam,

exercendo o uso da linguagem durante o processo de colaboração para a

resolução de problemas.

3.4. Novas Perspectivas

Boaventura de Souza Santos alerta que “é por meio da imaginação que

os cidadãos são disciplinados e controlados pelos Estados, mercados e outros

interesses dominantes, mas á também a partir da imaginação que os cidadãos

desenvolvem sistemas coletivos de dissidência e novos grafismos da vida

coletiva”. (2002, p.46). Portanto, o movimento de software livre é a maior

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expressão da imaginação dissidente de uma sociedade que busca mais do que

lucro e comercialização.

Para Robert Sternberg, reconhecido pesquisador em criatividade nos

Estados Unidos, a “criatividade é a capacidade de produzir um trabalho que

seja ao mesmo tempo novidade e apropriado” (citado em Armstrong, 1998,

p.3). Pessoas reconhecidamente criativas como Pablo Picasso e Albert

Ainstein, mudaram preceitos em suas áreas de trabalho graças as suas

perspectivas inovadoras.

A execução do projeto partiu da iniciativa docente de repensar o ensino

segundo os preceitos da web 2.0, que requer uma nova visão sobre uso de

ferramentas digitais. Segundo Lankshear e Nobel (2006),

A web 2.0 descreve um modelo de negócios e serviços desenhados para

atender o usuário e muitas vezes produzidos por ele. Os valores da web 2.0

baseiam-se em três funções interligadas: participação, colaboração e

distribuição. Amadores e profissionais podem participar na produção de mídia e

conteúdo graças aos serviços e softwares disponíveis online. Esta integração

conecta diversos interesses e permite aos usuários comentar, revisar e

responder a outros usuários de forma participativa, como se vê nos blogs e

wikis.

Sob esta orientação, o conhecimento na rede 2. Reconhece que embora

haja formas de inovação, produzir algo genuinamente novo é praticamente

impossível – o que desafia como as escolas tradicionais veem a produção d

conteúdo e a questão dos direitos autorais. Neste espaço, é preciso que os

autores possam alterar e adaptar suas visões em resposta às opiniões alheias.

Não basta usar um processador de texto, mas utilizar da melhor forma os

recursos online e permanecer fiel a política da web 2.0 (Black, 2008, p.22).

Alunos podem ser criativos de diversas formas, e os nativos digitais

vivenciam uma realidade de acesso rápido a informação. Pierre Levy nos fala

de um dilúvio de informações. Nossos alunos são capazes de realizar múltiplas

tarefas ao mesmo tempo, contudo, não é raro que apresentem dificuldades

para manter o foco em uma única atividade.

Surge outro desafio para a escola: criar oportunidades para o exercício

da criatividade, visto que os conteúdos hoje são acessíveis a todos, ou seja,

como selecionar e utilizar tantas informações de modo criativo. Para Daniel,

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Lafortune e Pallascio (2003, p.18), ao “dar um exemplo, um contraexemplo,

questionando, propondo uma solução, criar novas relações e inventar

problemas”, os alunos podem usar sua criatividade para enriquecer seu

aprendizado e o dos outros.

Para o neurocientista Gary Small (Revista VEJA, edição d 12 de agosto

de 2009), a internet não mudou somente a forma como as pessoas lidam com

as informações – as ferramentas digitais alteram o funcionamento do cérebro:

A superexposição a estímulos constantes na internet afeta a maioria dos

circuitos corticais e a camada externa da área cinzenta cérebro. O resultado é

que ocorre um reforço nos circuitos cerebrais que controlam as habilidades

tecnológicas.

Ainda segundo o cientista, entretanto, os circuitos relacionados a

habilidades sociais são negligenciados neste processo. Sob este olhar, os

computadores e recursos audiovisuais devem funcionar como veículos de

aprendizado através do processo criativo Cia colaboração, uma vez que

permitem aos alunos fazer mudanças, experimentar alternativas e monitorar

seu desempenho, sendo úteis ainda na revisão e edição.

Através da interatividade, os usuários devem receber e responder a

processos e pessoas. A tecnologia lhes dá acesso a uma gama de informações

inimaginável há alguns anos. Como as maquinas podem realizar operações

complexas com relativa rapidez e facilidade, seus usuários podem dedicar

esforços a processo mais rebuscados, como a análise, a interpretação e a

síntese das informações. Os felizes depoimentos destes pequenos nativos

digitais ilustram tais fatos e encerram este capítulo:

“Hoje meu dia foi excelente e cheio de atividades. Quero voltar para a

sala amanhã e fazer outros filmes com meus amigos” (Maria Estela, 9 anos)

“Que programa legal! Eu espero que de para instalar lá em casa.” (

Rodrigo, 9 anos)

“Eu nunca pensei que poderia fazer [uma animação] com massinha.

Achei que fosse para os alunos mais velhos!” (Rafaella, 8 anos)

“Foi muito engraçado e meus amigos me ajudaram muito, principalmente

porque eu sabia fazer bonecos assim tão pequenos.” (David, 9 anos)

“Eu aprendi que leva muito tempo pra fazer [um vídeo] perfeito, mas vale

a pena porque todo mundo riu muito no final.” (Carolina, 9 anos)

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“Eu estou aprendendo para quando eu crescer eu fazer vídeos muitos

legais.” (João Vitor, 8 anos).

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Conclusão

Quando se fala em educação e aprendizado, pensa-se imediatamente

em informações: como seleciona-la, de que forma transmiti-la e utiliza-la. Neste

aspecto, o computador permite não apenas o acesso e a transmissão de

informações. Sua representação e manipulação também são desenvolvidas por

este meio sob variáveis múltiplas. A primeira vista, o casamento entre

educação e tecnologia nos parece uma associação perfeita.

Entretanto, este foco pode ser distorcido facilmente quando a educação

é compreendida como instrumentalização ou mera preparação para o mercado

de trabalho. Para que o binômio educação e tecnologia combine de forma a

movimentar o aluno em direção ao questionamento, suas experiências devem

colocá-lo, ao mesmo tempo, na posição de sujeito e objeto de seu

conhecimento. É preciso que este aluno também seja capaz de ver a si próprio

como produtor e transformador de conhecimento, responsável por utilizar o que

lhe é transmitido conforme sua capacidade criativa e suas habilidades.

Para que isto ocorra, faz-se necessário repensar a postura docente

focada no professor como detentor do conhecimento. Na era tecnológica, o

aluno, habituado a multitarefa, está no centro do processo educativo. O

professor, pesquisador de novas TICs e estratégias de ensino, torna-se

facilitador. Seu desafio reside em compreender seu papel e preparar-se

enquanto, simultaneamente, vive a reforma tecnológica da educação.

Este estudo demonstrou, através do estudo da evolução da tecnologia

educacional no Brasil, que acessibilidade só não basta. Uma perspectiva

pedagógica construtivista é imprescindível no processo de recuperação da

qualidade no ensino e na busca pelo sentido e o desejo de aprender. A partir

desta concepção, a tecnologia surge como a ferramenta que permite, quando

contextualizada, apresentar a geração online suas reais possibilidades de dar

novo significado ao saber. O processo passa a merecer o esforço intelectual

dos alunos, que se apropriam das porções de saberes produzidos na rede e

tornam-se, voluntariamente, autores de sua própria história.

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