instituições do direito romano

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Instituições do Direito Romano A história conta o nascimento da cidade de Roma, pelo simples fato de que, pastores da região do rio Danúbio, localizado no centro- europeu, se deslocaram para as planícies da região do Lácio, localizado na península Itálica, circundada por sete montes. Esses pastores, chamados latinos, passaram a morar em cabanas de uma das sete colinas, convivendo com os pastores seminômades da região, que se incluem os sabinos. Desse modo, surgiu uma federação de pequenos reinos localizados nas sete colinas, chamado septimontium, dos quais se destacavam as tribos latina e sabina, cuja intenção era a defesa ante as incursões do povo etrusco, de origem asiática, ao norte da região do Lácio. No ano 900 a. C., os Etruscos se estabeleceram na região, edificando várias cidades. E no início do século VII a. C., invadiram a região do Lácio, transmitindo novos saberes, sobretudo no meio rural, além de formas de governo mais sólidas para os povos conquistados, instalando no topo do monte Palatino a Roma quadrata, capital das novas conquistas etruscas. No ano 625 a. C., o lugar é drenado, passando a ser o centro político-comercial de Roma. Nesse período, bem como, em toda a história romana, influenciando inclusive o direito, a religiosidade é uma característica marcante do povo romano em geral, independente de classes sociais, abrangendo de um lado, uma fiel adoração a deuses privados para as mais diversas necessidades do cotidiano, e por outro lado, uma grande demonstração de superstições baseadas nas tradições e costumes locais. Os romanos atribuíam aos grandes fenômenos da natureza, como a chuva e as tempestades, aspectos divinos que de outro modo não puderam explicar. Aos mortos romanos deveria ser prestado honra e glória, a título divino, se foi em vida virtuoso, honesto e bom para com a comunidade e para Roma, ou se tomou atitudes levianas e más, deveriam ser esquecidos. Ao contrário das religiões monoteístas, a saber, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, em que há a prática pública da fé, a mitologia grecorromana era uma religião de culto doméstico ou particular em que cada família detinha seu próprio deus, e a ele devia-lhe respeito e adoração em troca da proteção divina oferecida. Assim, a prosperidade de uma determinada família nos assuntos políticos ou econômicos era sinal da forte presença divina protegendo tal família, a qual serviria de exemplo para a comunidade. Cargos político-administrativos não eram ocupados sem antes consultar as vontades dos deuses, por meio dos sacerdotes. A sociedade romana, desde o princípio, se estruturou por meio de distinções sociais, a saber, patrícios, clientes, plebeus e escravos. Os patrícios eram descendentes dos fundadores de Roma, detinham origem divina, e possuíam deuses próprios particulares em que prestavam culto, sendo cada família patrícia indivisível e chefiada por um pater familiae (pai) que detinham uma enorme autoridade sobre toda a família, tendo até o direito sobre a vida de seus membros. Esse chefe familiar, tendo prestado culto aos deuses da cidade, podia ser titular de direitos com cidadão romano ao qual ele podia votar e ser votado, honrava-se em participar e até comandar as legiões romanas, detinha o direito à propriedade e ao saque nas guerras, serem sacerdotes,

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Instituições do Direito Romano

A história conta o nascimento da cidade de Roma, pelo simples fato de que, pastores da região do rio Danúbio, localizado no centro-europeu, se deslocaram para as planícies da região do Lácio, localizado na península Itálica, circundada por sete montes. Esses pastores, chamados latinos, passaram a morar em cabanas de uma das sete colinas, convivendo com os pastores seminômades da região, que se incluem os sabinos. Desse modo, surgiu uma federação de pequenos reinos localizados nas sete colinas, chamado septimontium, dos quais se destacavam as tribos latina e sabina, cuja intenção era a defesa ante as incursões do povo etrusco, de origem asiática, ao norte da região do Lácio.

No ano 900 a. C., os Etruscos se estabeleceram na região, edificando várias cidades. E no início do século VII a. C., invadiram a região do Lácio, transmitindo novos saberes, sobretudo no meio rural, além de formas de governo mais sólidas para os povos conquistados, instalando no topo do monte Palatino a Roma quadrata, capital das novas conquistas etruscas. No ano 625 a. C., o lugar é drenado, passando a ser o centro político-comercial de Roma.

Nesse período, bem como, em toda a história romana, influenciando inclusive o direito, a religiosidade é uma característica marcante do povo romano em geral, independente de classes sociais, abrangendo de um lado, uma fiel adoração a deuses privados para as mais diversas necessidades do cotidiano, e por outro lado, uma grande demonstração de superstições baseadas nas tradições e costumes locais. Os romanos atribuíam aos grandes fenômenos da natureza, como a chuva e as tempestades, aspectos divinos que de outro modo não puderam explicar. Aos mortos romanos deveria ser prestado honra e glória, a título divino, se foi em vida virtuoso, honesto e bom para com a comunidade e para Roma, ou se tomou atitudes levianas e más, deveriam ser esquecidos.

Ao contrário das religiões monoteístas, a saber, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, em que há a prática pública da fé, a mitologia grecorromana era uma religião de culto doméstico ou particular em que cada família detinha seu próprio deus, e a ele devia-lhe respeito e adoração em troca da proteção divina oferecida. Assim, a prosperidade de uma determinada família nos assuntos políticos ou econômicos era sinal da forte presença divina protegendo tal família, a qual serviria de exemplo para a comunidade. Cargos político-administrativos não eram ocupados sem antes consultar as vontades dos deuses, por meio dos sacerdotes.

A sociedade romana, desde o princípio, se estruturou por meio de distinções sociais, a saber, patrícios, clientes, plebeus e escravos. Os patrícios eram descendentes dos fundadores de Roma, detinham origem divina, e possuíam deuses próprios particulares em que prestavam culto, sendo cada família patrícia indivisível e chefiada por um pater familiae (pai) que detinham uma enorme autoridade sobre toda a família, tendo até o direito sobre a vida de seus membros. Esse chefe familiar, tendo prestado culto aos deuses da cidade, podia ser titular de direitos com cidadão romano ao qual ele podia votar e ser votado, honrava-se em participar e até comandar as legiões romanas, detinha o direito à propriedade e ao saque nas guerras, serem sacerdotes, contrairem matrimônio e ter seus direitos grantidos na justiça.

Os clientes eram estrangeiros, que não eram considerados cidadãos por não serem romanos puros, sendo alijados das cerimônias religiosas. Contudo, foram recebidos amistosamente pelos patrícios, visto que, muitos forasteiros possuíam mais riquezas que os cidadãos romanos, adquirindo, dessa forma, o status de cliente, estrangeiros que podiam cultuar deuses romanos de seu patrício, devendo prestar obediência a esse cidadão romano. O cliente auxiliava militarmente o patrício, que em troca este protegia-o socialmente.

Os plebeus eram artesãos, agricultores, e comerciantes que não eram considerados cidadãos romanos, viviendo marginalizados na sociedade romana, não possuindo direitos de nenhuma natureza. Os escravos eram considerados coisas (res), possuindo seus proprietários os direitos de vida, morte, e abandono sobre ele.

Roma teve como primeiro regime político uma monarquia que teve origem no ano de 754 a.C, com Rômulo, fundador da cidade, e sucedendo-lhe Numa Pompílio, ambos latinos. Em seguida, Túlio Hostílio e Anco Márcio, foram reis sabinos. Com a invasão etrusca, se iniciou a dinastia de reis etruscos, sendo Sérvio Túlio, o rei recenseador que começou a diminuir o fosso social entre patrícios e plebeus. O rei tinha a chefia política e religiosa, sendo eleito pelo Senado romano, sob a aprovação dos deuses.

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Tinha o poder de tratar de assuntos militares, civis e religiosos, declarar guerra, e nomear senadores, podendo ele aplicar a lei.

O Senado romano era a reunião dos chefes familiares, aconselhando o rei quando necessário, aprovando ou não as decisoes das assembleias populares, fiscalizando as despezas públicas, o exército, e as relações diplomáticas.

As assembleias populares eram divididas em Comitia Curiata, apenas patrícios detinham acesso, votavam assuntos de ordem privada, como a cobrança de impostos e recrutamento militar; Comitia calata convocada pelo rei para celebrar a paz ou a guerra; e a Comitia Centuriata que os plebeus começaram a ter acesso no 540 a. C.

Direito Romano Arcaico: Direito Quiritário

O direito e a religião se confundem nesse tempo, sendo o sacerdote interpretador da vontade divina e aplicador da justiça no caso concreto, aconselhando e dirimindo conflitos entre particulares. Esse direito, denominado de jus civile, ou direito quiritário, exigia não só fórmulas rígidas como a externalização de riSai o rei entram dois cônsules, indicados pela comitia centuriata, protegido pelos deuses e sendo intermediários de suas vontades na Terra,tos formais para o cumprimento dos atos da vida civil, sendo o direito quiritário apenas expresso oralmente. O costume e as leis régias são tratados como as únicas fontes do direito desse período, sendo que o último não sobreviveu aos nossos tempos, sendo o costume consideradas a única fonte de direito que sobreviveu ao nosso período que caracteriza essa sociedade.

Época da República Romana: Direito Pré-ClássicoA realeza caiu por beneficiar os plebeus em detrimento dos patrícios, que resentidos com os atos

do rei etrusco (invasor) derrubaram a monarquia, instalando a república, que por volta do ano 500 a.C. já tinha conquistado toda a Península Itálica, tornando Roma o centro da confluência de vários povos conquistados. Sai o rei entram dois cônsules, indicados pela comitia centuriata, protegido pelos deuses e sendo intermediários de suas vontades na Terra, cabendo a um o poder público, e ao outro o poder de fazer a guerra e realizar a paz. Eles presidiam o Senado, convocando as assembleias populares, julgava causas criminais, aludia ao direito de apelação as assembleias populares ante o acusado sob pena de morte, e indicava juízes para demandas civis, depois de ouvidas as partes.

Pretor,foi uma magistratura criada em 367 a.C., objetivando resolver os litígios entre cidadãos romanos. O Pretor peregrino, cargo criado em 241 a.C., procurou dirimir conflitos entre romanos e não-romanos, bem como entre não-romanos. O pretor ouvia as partes, e depois falava o direito a ser aplicado pelos juízes escolhidos, que eram particulares indicados pelo pretor. Os pretores publicavam um édito, na qual declarava antecipadamente os princípios pelos quais ele se norteará para resolver os conflitos cotidianos da justiça. Os conteúdos dos éditos "amoleceram" a rigidez do direito quiritário (direito pretoriano).

Os censores, eleitos pela comitia centuriata, realizavam o censo a cada 5 anos, julgava as pessoas em boas, podendo elas, no futuro, almejar cargos da magistratura romana, e se consideradas infames, seriam tiradas direitos da cidadania romana, como votar no Senado e participar das legiões romanas. Fiscalizavam as finanças públicas. Os Edis zelavam pela administrações públicas das cidades. No fim da República, os plebeus conseguem o acesso ao voto no Senado, sem o direito de opinar sobre os assuntos discutidos, sendo as decisões importantes promovidas pelo Senado, reunidas no Senado-consulto, importante fonte do direito posterior.

Na República, os plebeus conseguem maior participação na assembleia centuriata, com os mesmos poderes do tempo da monarquia. Foi criado a Comitia Plebis, que era uma assembleia exclusiva da plebe, com competência eleitoral, legislativa e judiciária, que só valia para a própria plebe, e suas decisões foram conhecida como plebiscita. Ainda na Monarquia, os plebeus obtiveram o acesso as legiões romanas por falta de homens na guerra, o que gerou um endividamento por parte dos plebeus,

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já que abandonavam os campos e os negócios, sendo obrigados, depois das guerras, a recorrer à empréstimos com os patrícios, tornando-se muitas vezes escravos por dívidas.

A partir da lei das XII tábuas, os plebeus inciaram e foram conseguindo, gradativamente, maior equiparação de direitos sociais com relação aos patrícios, passando os plebeus a participar do senado, a terem suas exigências votadas nas assembleias próprias (plebiscita) vigorarem em toda Roma com força de lei, a não ter escravidão por dívidas, o direito ao casamento entre classes. O tribuno da plebe é uma magistratura destacada na defesa dos interesses da plebe ante os governantes da República, fiscalizando seus atos para que não ofendam a classe plebeia, lutavam pela igualdade de direitos entre plebeus e patrícios.

Pelo multiculturalismo da sociedade romana, que se diversificou pela entrada de novos povos conquistados, ou pelas relações de comércio, o dieito quiritário teve que ceder espaço para o direito pretoriano, menos formal e rígido, e também ao direito das gentes, direito internacional baseado no direito natural, não dependente da religião romana, sendo um direito secular

Fonte dos Direito Romano Pré-clássico

No ano 451 a.C., é feito a primeira legislação escrita romana que é a Lei das XII tábuas, um código de leis rígido, formal e incompleto, desfavorável aos plebeus, pois mantinha-se a servidão por dívidas. Para se dirimir conflitos não previstos pela legislação, usava-se muito o direito arcaico baseado no costume. Além do próprio costume, e das leis da XII Tábuas, os éditos dos magistrados, senatos-consultos, os plebiscitos, e a jurisprudência tabmém eram fontes do direito romano pré-clássico. As leis comiciais eram leis votadas nas assembleias populares com força de lei, caso aprovadas pelo Senado, formam importante fonte do direito romano.

No direito arcaico, apenas os pontícies e sacerdotes poderiam ser juristas, e aconselhar as pessoas sobre o direito. Entretanto, no final do século IV a.C., pessoas de grande saber jurídico passaram a dar conselhos e pareceres as questões jurídicas do cotidiano, sem ocupar cargos religiosos. Os jurisconsultos passam a ser laicos, na medida que atendem as várias demandas sociais sem estar vinculado a um tipo de religião, e passam a ser universais, em contraposição aos jurisconsultos dos primeiros tempos de Roma, religiosos e restritos a uma pequena localidade. Os pareceres desse jurisconsultos reunidos pela jurisprudência formara um importante fonte do Direito Romano.

Direito Romano Clássico - Época do Império e PrincipadoOs últimos anos da República foram conturbados, havendo mudanças bruscas de poder, guerras

civis, e o afastamento do povo diante da religião. Essa situção só se normalizou a ascensão de Otávio Augusto, que iniciou a época do principado, na qual as magistraturas e até o Senado continuavam a existir, contudo com poderes reduzidos. O Príncipe tinha amplo poderes: poderia declarar a guerra ou a paz, julgava recursos junto com o senado, indicava nomes nas diversas magistraturas romanas. O consulado deixou de ter poderes, transmitidos ao Imperador, os Pretores continuaram com as suas funções de dirimir conflitos entre particulares, os Censores só realizavam o censo público nesse período, o tribunato da plebe já não mais defendia os plebeus, função esta exercida pelo próprio prínicpe, cabendo a esta a vigilância de sepulturas. As assembleias populares foram extintas.

Os imperadores recebiam orientações jurídicas dos jurisconsultos e alguns poderiam até representar o imperador em seus pareceres, desse modo, esse pareceres se tornaram verdadeiras normas com força de lei, perfazendo o direito jurisprudencial.

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O costume foi considerado, nesse período, fonte secundária de direito. As leis eram criadas, exclusivamente, pelo Príncipe. As constituições imperiais eram feitas pelos jurisconsultos e pelo Imperador, em que se tratava de pareceres, decisões e consultas para resolver problemas da sociedade. Os senatos-consultos continuaram vigentes.

O direito romano foi em muito influenciado pela filosofia grega, em especial pelo pensamento estoico e epicurista, bem como pelo direito natural de Aristóteles, com a ideia do justo. A ideia de justiça mediana, desprezando os extremos, foi em muito considerda pelos juristas romanos.

Período do Dominato (Baixo Império) - Direito Pós-ClássicoRoma volta a viver em crise, devido a não mais guerrear, não conseguindo mais escravos,

enfraquecendo a economia. Junto a isso, imperadores fracos e autoritários tomam o poder por meio de golpe de estados e guerras civis enfraquecendo a ordem interna e as instituições políticas da nação. Com o despotismo imperial, as magistraturas perderam ainda mais poderes políticos para o Imperador, a exemplo, o jurisconsulto se tornou apenas um funcionário estatal e não mais criava legislações. O costume continuou sendo uma fonte secundária, só usada onde houvesse lacunas da lei.