informe empreender - revista globo rural - fevereiro de 2013

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FEVEREIRO/2013 – SEBRAE.COM.BR – 0800 570 0800 paixonado por mergulho desde a juventude, o cearense Hu- dson Crizanto descobriu o potencial do mercado de peixes ornamentais há mais de vinte anos. Sua empresa, a H& K Importação e Exportação de Peixes Ornamentais, localizada em Fortaleza (CE), tornou-se um modelo de extrativismo sustentável e comércio justo. “Passamos a trabalhar com a produção de água doce, por que a legislação ambiental para pesca em águas marítimas dificultou muito a atividade”, conta ele. O que poderia ter sido um obstáculo se tornou uma oportunidade. Crizan- to começou a trabalhar com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), junto a pescadores de reservas ambientais na região amazônica há sete anos, e hoje comercializa entre US$ 60 mil e US$ 70 mil por mês em peixes da espécie acará disco. “Atualmente 75% das vendas vão para os países asiáticos e o restante para Europa e Estados Unidos. No exterior o aquarismo é um hobby de grande popularidade e no qual os consumidores investem muito”, expli- ca ele, ressaltando que, no caso do mercado da Ásia, “há ainda o fato de que peixes são considerados ícones de sorte na cultura local, o que aumenta o interesse”. BELEZA LUCRATIVA A produção de peixes ornamentais é uma atividade lucrativa e vem se mostrando uma opção de renda para pequenos produtores e extrativistas A Igor de Mello

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Tema: Beleza Lucrativa. Personagem: Hudson Crizantino (H & K Importação e Exportação de Peixes Ornamentais), Ceará. Jardel Nascimento (Aquipam), Ceará.

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FEVEREIRO/2013 – sEbRaE.cOm.bR – 0800 570 0800

paixonado por mergulho desde a juventude, o cearense Hu-dson crizanto descobriu o potencial do mercado de peixes ornamentais há mais de vinte anos. sua empresa, a H& K Importação e Exportação de Peixes Ornamentais, localizada

em Fortaleza (cE), tornou-se um modelo de extrativismo sustentável e comércio justo. “Passamos a trabalhar com a produção de água doce, por que a legislação ambiental para pesca em águas marítimas dificultou muito a atividade”, conta ele.

O que poderia ter sido um obstáculo se tornou uma oportunidade. crizan-to começou a trabalhar com o Instituto Nacional de Pesquisas da amazônia (INPa), junto a pescadores de reservas ambientais na região amazônica há sete anos, e hoje comercializa entre Us$ 60 mil e Us$ 70 mil por mês em peixes da espécie acará disco. “atualmente 75% das vendas vão para os países asiáticos e o restante para Europa e Estados Unidos. No exterior

o aquarismo é um hobby de grande popularidade e no qual os consumidores investem muito”, expli-

ca ele, ressaltando que, no caso do mercado da Ásia, “há ainda o fato de que peixes são

considerados ícones de sorte na cultura local, o que aumenta o interesse”.

Beleza lucrativa

a produção de peixes ornamentais é uma

atividade lucrativa e vem se mostrando uma opção

de renda para pequenos produtores e extrativistas

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É Uma atIVIdadE qUE ExIgE POUcO EsPaçO E PROPORcIONa Uma bOa RENtabIlIdadE, cOm POUcO UsO dE mãO dE ObRa

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pre visando à preservação das espécies, e no gerencial, que inclui também toda a burocracia envolvida no licenciamento para a produção”.

Hoje o licenciamento ambiental para pesca e/ou criação de peixes ornamentais envolve pelo menos seis órgãos públicos diferentes, entre eles o ministério da Pes-ca, o Ibama e órgãos estaduais ligados ao meio ambiente. “Os entraves ambientais aos projetos de aquicultura são grandes gargalos para o aumento da produção e ex-portação”, concorda Ênio queijada, gerente de agronegócios do sebrae Nacional.

// Potencial para crescerNão por acaso, como lembra Hudson crizanto, na década de 1970 as expor-tações de peixes ornamentais no brasil chegaram a alcançar Us$ 40 milhões, enquanto hoje não passam de Us$ 10 milhões. “Por isso começamos em minas gerais o Projeto de desenvolvimento da Piscicultura Ornamental da Zona da ma-ta. Estamos fazendo reuniões iniciais com produtores, instituições de pesquisas e órgãos públicos, para fomentar a maior

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// Mercado justocrizanto vem trabalhando entre os pe-quenos pescadores o conceito de fair trade (comércio justo), no qual o preço dos produtos “tem que incentivar a pro-dução e a sustentabilidade do projeto, que engloba não só o aspecto econômi-co, mas também o social e o ambiental”. “com isso, pela pesca de um tucunaré, por exemplo, vendido para consumo alimen-tar, o pescador recebe entre R$ 0,90 e R$ 1,50 cada, enquanto um acará disco, para aquarismo, tem preços entre R$ 8,00 e R$ 40,00 por unidade, dependendo das especificações técnicas, variedades, famí-lias, raridade”, analisa crizanto, que com-pleta, “o que fazemos é trabalhar com um mercado pequeno em termos de volume, mas com alto valor agregado, e garantin-do renda para os pescadores”.

Para chegar a este ponto, o empre-sário se uniu ao INPa, às comunidades moradoras das reservas ambientais em vários pontos de produção e às univer-sidades. depois, iniciou a capacitação com os pescadores. “trabalhamos nos aspectos produtivo e tecnológico - sem-

Hudson crizanto: pesca extrativista sustentável e mercado justo com os pescadores de reservas amazônicas

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Empreender – Informe Sebrae. Presidente do conselho Deliberativo Nacional: Roberto Simões. Diretor-Presidente: Luiz Barretto. Diretor-técnico: Carlos Alberto dos Santos. Diretor de administração e Finanças: José Claudio dos Santos. Gerente de Marketing e comunicação: Cândida Bittencourt. edição: Ana Canêdo, Antônio Viegas. endereço: SGAS 605, Conjunto A, Asa Sul, Brasília/DF,CEP: 70.200-645 – Fone: (61) 3348-7494 – Para falar com o Sebrae: 0800 570 0800Na internet: sebrae.com.br // twitter.com/sebrae // facebook.com/sebrae // youtube.com/tvsebrae

organização e estruturação do setor”, diz o gestor do projeto em Patrocínio de mu-riaé (MG), Jefferson Dias Santos. “Hoje temos duas associações na região, mas há uma grande dificuldade para obter o licenciamento, assim como o acesso à pesquisa e extensão”, conta. “Estamos trabalhando na tecnologia da produ-ção, com universidades conveniadas em questões como genética, produção sustentável, identificação de espécies e tipos de manejo. também atuamos no incentivo à obtenção do licenciamento – já conseguimos formalizar cerca de 50 produtores na região”, salienta.

Para o vice-presidente da associa-ção dos aquicultores de Patrocínio de muriaé (aquipam), Jardel Rezende do Nascimento, o principal desafio é reu-nir e organizar os produtores, para que a produção se torne mais eficiente. “Come-çamos a produzir peixes ornamentais na região em 2005, dentro de um projeto de diversificação das propriedades rurais, no qual o sebrae teve um papel muito importante”, lembra.

// Mercado pulverizadoa opção pelos peixes ornamentais e não pela aquicultura tradicional teve como objetivo obter maior valor agregado no produto. Enquanto por um quilo de ti-lápia, por exemplo, o produtor ganha cerca de R$ 4,00, um peixe ornamental da espécie beta, a mais produzida na região e uma das populares entre os aquaristas, é vendido a algo entre R$ 1,00 e R$ 1,50 a unidade.

“Estamos começando a produzir ou-tras espécies de peixes ornamentais,

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como acará e colidora, que têm maior preço no mercado, tanto interno, quan-to externo. quanto mais bonito e raro, maior o preço do peixe. temos 50 pro-dutores na associação e todos são fami-liares, pequenos e trabalham dentro de critérios de sustentabilidade, até para poderem obter o licenciamento para comercialização”, diz o vice-presidente da aquipam, JardelNascimento.

Ele mesmo é produtor e trabalha apenas com sua esposa, em uma pe-quena propriedade no município. Fez cursos de capacitação tecnológica, ge-rencial e de produção com o sebrae e atualmente vende cerca de 500 uni-dades de peixes beta por semana. “É uma atividade que exige pouco espaço e proporciona uma rentabilidade muito boa. Nossos maiores custos são ração e outros insumos para produção, compra-

dos em conjunto pela associação, para que os piscicultores consigam produzir a preços menores”, explica.

de acordo com dados da Emater de minas gerais, os municípios de Patrocí-nio de muriaé e barão do monte produ-zem aproximadamente 2,5 milhões de peixes ornamentais por ano, mas não há dados precisos sobre a produção es-tadual ou nacional. “tanto a produção quanto a comercialização são muito pulverizadas e pouco organizadas ain-da. mesmo no caso da associação, por exemplo, a comercialização, por escolha dos produtores, é feita individualmente, com os contatos que cada um foi fazen-do”, afirma Nascimento. Isso acontece, segundo ele, porque os compradores, principalmente os internos, são tam-bém pequenos e médios, localizados nos estados de são Paulo e Rio de Janeiro.

Jardel do Nascimento, vice-presidente da aquipam: criação de peixes ornamentais com mão de obra familiar